Curso de Heráldica
CURSO DE HERÁLDICA I – O Início da Heráldica
Quantas vezes nos deparamos, em filmes e jogos de rpg principalmente, com escudos e brasões e nos perguntamos – perguntamos – será que existe uma lógica, uma regra nisto tudo? Pois é, a heráldica desvenda os mistérios seculares de uma das atividades que já foi umas das mais raras e requisitadas da sociedade ocidental. Numa sociedade cujo meio de comunicação e transmissão de conhecimento era a palavra falada e a imagem, a necessidade de transmitir informações e mensagens claras era primordial. Isso não seria possível sem um ordenamento, uma regra estabelecida. A heráldica surgiu como uma solução para isso. Um conceito um tanto frio é dado nessas palavras: “heráldica é a ciência que estuda e interpreta as origens, evolução, significado social e finalidade da representação icônica da nobreza, isto é, dos escudos de armas. Como ciência, a heráldica é atual e autônoma, embora intimamente ligada à história e à arte”. Infelizmente eu considero ele parcial pois quem já estudou, mesmo que de forma superficial sabe que estudar um brasão é como desvendar um mistério, como procurar nuances escondidas num quadro pintado, tentando perceber o que o artista estava tentando transmitir. É a apreciação da arte num de seus mais interessantes elementos. Durante a Idade Média uma das atividades mais importantes e requisitadas para a realização dos torneios de cavalaria e justas era a do “heraldo”. À ele caia a responsabilidade de apresentação dos cavaleiros, assim como a sua identificação adequada, atestando sua nobreza. Isso por si só já demonstra a importância do procedimento de dar um símbolo à uma pessoa passando este a ser sua verdadeira identidade. A história da heráldica ainda não tem pontos seguros para seu início. A teoria mais aceita a remonta para o início das invasões árabes à Europa, remontando o surgimento da heráldica à Península Ibérica em pleno século VIII. Mesmo assim o reconhecimento de uma organização e codificação apenas aconteceu muito tempo depois, no século XII. Mas por que essa necessidade? Uma razão aceita, e até certo ponto muito simples, era de que a heráldica surgiu para pura identificação de cavaleiros durante as batalhas ou sua função. Numa época em que um cavaleiro usando uma armadura completa fica sem possibilidade de que fossem identificados, um sistema que sanasse isso era imperativo. Fosse num torneio, fosse num combate, a confusão sobre quem era aliado ou inimigo ocorria. Com isso emblemas pessoais eram pintados nos escudos, elmos, nas roupas sobre a armadura e nas coberturas dos cavalos.
Inicialmente a aceitação foi tão grande que rapidamente se difundiu por toda a comunidade cavaleiresca e aristocrática. Nesta fase os emblemas representavam um cavaleiro de forma individual e, em certos casos, seus laços de vassalagem (ligação à um outro nobre) e as terras que possuía. Mas a confusão foi evidente já que por vezes os cavaleiros usavam até mais de um emblema. Para sanar duplicações e confusões criou-se uma rígida normatização. Os brasões começaram a ser „concedidos‟ pelo monarca como uma recompensa por serviços. Para a criação desses brasões de armas instituiu-se instituiu-s e o serviço de “arautos-de“arautos-de-armas”. armas”. À eles foi deixada a tarefa de criação de uma norma. Num primeiro momento usaram cores contrastadas e figuras simples – simples – era a heráldica dando seus primeiros passos. Durante o século XII, logo após a codificação, a posse desses brasões passou a ser hereditário e representativo de uma família ou linhagem. Outra grande modificação aconteceu no século XIII com o aparecimento dos primeiros emblemas para mulheres (nesse caso recebiam o nome de „Lisonja‟).
II – Conceitos Vamos começar com uma série de conceitos e entendimentos necessários para podermos ter uma compreensão melhor do assunto. O brasão seria o trabalho completo, com todos os seus elementos e trazendo a mensagem que deve ser dada e transmitida à quem o olha. As regras são uma normatização de como cada elemento do brasão será utilizado e trabalhado. Essas regras conceituam formas, cores, adereços e elementos decorativos dando um norte para quem trabalha com a fabricação de brasões – brasões – esta atividade se chama „brasonar‟. Muitas o brasão em si é confundido com um outro termo que serve quase como sinônimo – sinônimo – escudo. Na verdade o Escudo é um dos elementos, o elemento primeiro, de um brasão. Mas não podemos confundi-los para bem de não criarmos conceitos errados ou entendimentos equivocados. O último conceito necessário, neste primeiro momento é com relação à posições – posições – esquerda (sinistra) e direita (destra). Sempre que utilizamos essas referências de posição não podemos esquecer de que ela deve ser utilizada pela perspectiva perspectiva de quem está segurando o „escudo‟. Isso no início pode causar um pouco de confusão, mas rapidamente será absorvido por vocês. O brasão de armas pode ter duas formas. O Brasão de Armas Maior seria o brasão composto pelo escudo e por todos os adereços que compõe a figura. A segunda forma seria a apresentação apenas do escudo, quando o espaço não possibilita a apresentação do desenho completo (por isso que a confusão dos termos, apresentada anteriormente, surgiu).
Inicialmente a aceitação foi tão grande que rapidamente se difundiu por toda a comunidade cavaleiresca e aristocrática. Nesta fase os emblemas representavam um cavaleiro de forma individual e, em certos casos, seus laços de vassalagem (ligação à um outro nobre) e as terras que possuía. Mas a confusão foi evidente já que por vezes os cavaleiros usavam até mais de um emblema. Para sanar duplicações e confusões criou-se uma rígida normatização. Os brasões começaram a ser „concedidos‟ pelo monarca como uma recompensa por serviços. Para a criação desses brasões de armas instituiu-se instituiu-s e o serviço de “arautos-de“arautos-de-armas”. armas”. À eles foi deixada a tarefa de criação de uma norma. Num primeiro momento usaram cores contrastadas e figuras simples – simples – era a heráldica dando seus primeiros passos. Durante o século XII, logo após a codificação, a posse desses brasões passou a ser hereditário e representativo de uma família ou linhagem. Outra grande modificação aconteceu no século XIII com o aparecimento dos primeiros emblemas para mulheres (nesse caso recebiam o nome de „Lisonja‟).
II – Conceitos Vamos começar com uma série de conceitos e entendimentos necessários para podermos ter uma compreensão melhor do assunto. O brasão seria o trabalho completo, com todos os seus elementos e trazendo a mensagem que deve ser dada e transmitida à quem o olha. As regras são uma normatização de como cada elemento do brasão será utilizado e trabalhado. Essas regras conceituam formas, cores, adereços e elementos decorativos dando um norte para quem trabalha com a fabricação de brasões – brasões – esta atividade se chama „brasonar‟. Muitas o brasão em si é confundido com um outro termo que serve quase como sinônimo – sinônimo – escudo. Na verdade o Escudo é um dos elementos, o elemento primeiro, de um brasão. Mas não podemos confundi-los para bem de não criarmos conceitos errados ou entendimentos equivocados. O último conceito necessário, neste primeiro momento é com relação à posições – posições – esquerda (sinistra) e direita (destra). Sempre que utilizamos essas referências de posição não podemos esquecer de que ela deve ser utilizada pela perspectiva perspectiva de quem está segurando o „escudo‟. Isso no início pode causar um pouco de confusão, mas rapidamente será absorvido por vocês. O brasão de armas pode ter duas formas. O Brasão de Armas Maior seria o brasão composto pelo escudo e por todos os adereços que compõe a figura. A segunda forma seria a apresentação apenas do escudo, quando o espaço não possibilita a apresentação do desenho completo (por isso que a confusão dos termos, apresentada anteriormente, surgiu).
III – O Escudo Reconhecidamente como o elemento principal do brasão, o escudo é onde está a maior parte da informação – informação – ou a parte principal dela – dela – que o brasador desejar transmitir. Por isso mesmo é, também, a parte mais complexa do brasão. Ele possui uma série de elementos que podem transmitir milhares (ou mais) de informações quando em junção com outros elementos. Por isso será a parte mais complexa e demorada deste pequeno curso. O mais complicado é que grande parte deste elemento muda conforme a nacionalidade do brasão ou conforme o período da história. Muitos livros e sites tentam dar uma certa organizada nisso, mas é claro que perdemos uma grande parcela de informação com isso. Tentaremos deixar isso o mais organizado possível, sendo criando apartes para informações pertinentes e interessantes. Os elementos ligados ao escudo tem a ver com a forma que ele possui, a posição em seu interior, as cores utilizadas em sua pintura em diversas de suas partes, elementos que são sobrepostos ao interior do escudo e figuras que podem ser gravadas no escudo.
Escudo: As formas Este é um elemento estranho. Digo isso pois, ao mesmo tempo em que ele é a alma do brasão, visto que nele estarão todas as informações que serão interpretadas pelo „heraldo‟, ao mesmo tempo sua forma simplesmente não possui qualquer elemento interpretativo. Muito do que está relacionado à forma do escudo decorre de simples estética. Embora alguns estudos digam que em alguns casos essas formas podem indicar informações como nacionalidade e época de criação, mas mesmo essas informações não são confiáveis e fixas. Abaixo apresentamos apenas algumas das muitas formas existentes.
Escudo: Os esmaltes Os esmaltes nada mais são do que as cores aplicada à estrutura do escudo e ao resto do brasão. Eles são elementos fundamentais para a compreensão do brasão. Se dispuséssemos apenas da forma teríamos uma quantidade muito limitada de interpretações. Mas com os
esmaltes – e sua mistura – esmaltes – mistura – essa interpretação aumenta em muito em quantidade. Existem três tipos de esmaltes: os metais, as cores e as peles. Eles são divididos em setes esmaltes trad icionais (cinco cores e dois metais), m ais as peles (sendo duas as principais, mas existindo mais dez) e mais cinco esmaltes secundários (ou de uso restrito). Existem duas formas de representarmos essas cores. A primeira delas é com a própria coloração nos sendo possível, visualmente, identificar suas diferenças. Mas o que fazemos quando desejamos representar tais esmaltes, mas não dispomos de colorações para tanto? Esse problema surgiu no século XVII quando havia uma grande dificuldade de demonstrarmos os esmaltes. A solução veio com um sistema de representação gráfica criada pelo padre Pietra Santa. Cada um dos esmaltes ganharam um equivalente representado por pontos ou traços. Assim, mesmo que não tenhamos a cor em si, podemos descobrir qual ela é. Os metais são Ouro e Prata. As cores são Azul, Verde, Vermelho, Preto e Púrpura (como as cinco cores tradicionais) e Laranja, Escarlate, Vinho, Marrom e Cinza. As peles são Arminhos e Veiros (ainda existindo muitas outras). Vamos vê-los um a um.
Metais Eles são em número de dois – dois – ouro e prata. Esses dois metais têm uma representação nobre (embora fosse e pudesse ser utilizado em qualquer brasão).
Ouro
Cor: Ouro (amarelo dourado) Outros Idiomas: gold, or, oro. Representação: superfície pontuada Metal: ouro Pedra preciosa: topázio Astro celestial: sol Elemento da Natureza: fogo Dia da semana: Domingo Mês: Junho Virtude: caridade e excelência da nobreza Na armaria real: „tol‟ Na armaria de nobres: „topázio‟ Na armaria restante: „ouro‟ Obrigações cavaleirescas: servir seus soberanos cultivando as belas letras.
Prata
Cor: Branco Outros Idiomas: silver, argante (arjante e arjent) Representação: superfície lisa Metal: prata Pedra preciosa: pérola Astro celeste: lua Elemento da natureza: água Dia da semana: segunda-feira Mês: Junho Virtude: fé, pureza, integridade Na armaria real: lua Na armaria nobre: pérola Na armaria restante: prata Obrigações cavaleirescas: servir seu soberano na náutica, defender as donzelas e amparar os órfãos.
Escudo: Os esmaltes Cores Como já dito as cores são em número de cinco tradicionais sendo conhecidas também como tinturas escuras (enquanto os metais são conhecidos como tinturas luminosas), e mais outras cinco não-tradicionais, conhecidas por manchas. O uso das cores pode variar muito entre países sendo algumas muito usadas em uns e raramente em outros. As cinco cores tradicionais usadas são Azul, Verde, Vermelho, Preto e Púrpura. As cores que não são tradicionais surgiram e foram usadas em países específicos ou momentos históricos específicos. Por exemplo, na heráldica britânica se usou o Vinho (conhecido por eles como Murrey), o Escarlate (semelhante ao sangue e também conhecido por vermelho-sangue) e o Laranja (conhecido por Tenne). Haviam ainda o Cinza e o Marrom. De forma extremamente rara usavam o Cravo (ou a cor da pele humana) e o Azul celeste. De qualquer forma essas manchas eram usadas por questões distintas em cada país recebendo, muitas vezes, nomes e denominações específicas. Um termo relacionado às cores é „cor adequada‟ ou „bom‟, quando uma cor é usada da mesma forma que aparece na natureza (folhas verdes ou água azul). Assim, quando descrevemos algum elemento de um escudo que esteja com sua cor em conformidade da forma como aparece na natureza usamos esses termos. Por exemplo, a representação de uma folha verde seria descrita como “uma boa folha verde” (ou „au naturel‟). Cada tintura escura, assim como as luminosas, representa virtudes e compromissos principalmente no que diz respeito à vida cavaleiresca. O mais importante para o entendimento de como realizar a construção de um brasão são principalmente as regra para a utilização das tinturas. Elas serão apresentadas após a apresentação e descrição das tinturas escuras e manchas.
Vermelho Outros idiomas: gules, rouge, red, rot, rosso e rojo. Representação: linhas traçadas na vertical Metal: Pedra preciosa: rubi Astro celeste: Marte Elemento da natureza: fogo Dia da semana: terça-feira Mês: março e outubro Virtude: fortaleza, bons cuidados, valor, fidelidade, alegria e honra. Na armaria real: marte Na armaria nobre: rubi Na armaria restante: gules Obrigações cavaleirescas: socorrer os oprimidos injustamente.
Verde Outros idiomas: vert, green, grün e sinople. Representação: superfície traçada em oblíquo de cima para a direita. Metal: Pedra preciosa: esmeralda Astro celeste: Mercúrio Elemento da natureza: água Dia da semana: quarta-feira Mês: maio e agosto Virtudes: esperança, cuidado, constância, intrepidez, silêncio, abundância e amizade. Na armaria real: Vênus Na armaria nobre: esmeralda Na armaria restante: sinople Obrigações cavaleirescas: servir ao rei no comércio e socorrer os lavradores.
Púrpura Outros idiomas: jacinto, purpure Representação: linhas traçadas em oblíquo de cima para a esquerda. Metal: estanho Pedra preciosa: ametista Astro celeste: Terra Elemento da natureza: terra Dia da semana: quinta-feira Mês: fevereiro e novembro Virtudes: justiça, cuidados humanos, ingenuidade, verdade, grandeza, sabedoria e amor. Na armaria real: Mercúrio Na armaria nobre: ametista Na armaria restante: púrpura Obrigações cavaleirescas: defender as personalidades eclesiásticas. Azul
Outros idiomas: blue, azurre, blau, celester, bleu, blu. Representação: linhas traçadas na horizontal. Metal: Pedra preciosa: safira
Astro celeste: Vênus Elemento da natureza: ar Dia da semana: sexta-feira Mês: setembro e dezembro Virtudes: justiça, lealdade, inocência e piedade. Na armaria real: júpiter Na armaria nobre: safira Na armaria restante: azul Obrigações cavaleirescas: promover a agricultura, socorrer os necessitados injustamente por seus senhores.
Preto
Outros idiomas: negro, black, sable. Representação: linhas traçadas na horizontal e na vertical juntas. Metal: ferro Pedra preciosa: diamante Astro celeste: Saturno Elemento da natureza: Dia da semana: sábado Mês: janeiro e abril Virtudes: prudência, cuidados humanos, modéstia, temor e discrição. Na armaria real: saturno Na armaria nobre: diamante Na armaria restante: sableObrigações cavaleirescas: servir ao rei politicamente e militarmente.
Escudo: Os esmaltes Cores II Depois de apresentarmos as tinturas escuras – os esmaltes tradicionais representados por seis cores – vamos falar hoje das manchas. Elas seriam, como já foi dito, as cores utilizadas na confecção de brasões que não são tradicionais (ou seja, são utilizadas de forma esporádica e localizada, ou com interpretações específicas para cada região). Embora as mais comuns dessas manchas sejam em número de quatro, acrescido da cor da pele ou carnação (cravo), existem uma infinidade de tons espalhados pelos pavilhões de muitas nações. Outra coisa à se acrescentar é que, diferente das tinturas escuras, onde cada esmalte tinha uma interpretação equivalente e reconhecida de forma geral, as manchas, por serem de abrangência muito restrita, não possuem interpretações quanto ao que representam. Em suma, as manchas são muito mais representações estilísticas do que elementos para interpretação. Eles possuem uma representação por linhas da mesma forma que as tinturas escuras e metais, mas a proximidade entre eles fica apenas nisso.
Laranja Outros idiomas: orange Representação: linhas traçadas na horizontal, sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a esquerda. Seu uso mais conhecido era nos Países Baixos, na Casa de Orange-Nassau. Escarlate Outros idioma: sanguine Representação: linhas traçadas na horizontal, sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a direita. Morado Outros idiomas: vine, vinho, murrey Representação: linhas traçadas em oblíquo de cima para a esquerda, sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a direita. Esta mancha trás consigo uma lenda sombria. Segundo a lenda Murrey teria sindo um reino supostamente entre o Mar Negro e o Mar Cáspio. Seu governante, Márvio III, traumatizado pela perda de seu filho, ordenou a morte de todas as crianças do reino, extinguindo posteriormente toda o seu povo. Então o uso desta mancha não trazia boa impressão em algumas partes da Europa.
Marron Outros idiomas: pardo, brown, tan, tenné, sépia Representação: linhas traçadas na vertical, sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a direita. Carnação A cor da pele humana foi utilizada na Europa quase que exclusivamente.
Cendrée O cinza-escuro que recebe seu nome do francês, onde foi amplamente utilizado. Ciel Azul-celeste que também recebe seu nome do francês.
Escudo: Os esmaltes Peles Desde o início da história do homem um dos principais materiais utilizados para a proteção contra o frio e a intempérie foram as peles. Na Europa isso foi uma constante. Não por menos que esse elemento acabou ganhando seu espaço na representação de armas de muitos cavaleiros e reinos. As principais peles usadas em brasões eram de roedores europeus conhecidos por arminhos. Eles possuem uma pelagem muito branca com uma mancha preta apenas na ponta da cauda. Existem duas interpretações para o uso da peles desses animais. A primeira seria uma lenda européia. Segundo esta lenda os arminhos seriam animais extremamente limpos. E, se fossem encurralados, onde a única forma de escapar fosse por um caminho que sujasse a sua pelagem, eles prefeririam ser mortos. Isso era interpretado como alguém que preferia a morte a ter seu nome e posição sujos. A outra explicação veria de uma interpretação um pouco mais realista. Segundo ela as peles desses roedores eram muito mais caras e representativas de riqueza e status (diferente de peles de animais maiores). Essa segunda versão também era corroborada pelo fato de a maioria dos mantos e vestimentas reais eram forradas por essas peles. De qualquer forma as peles acharam seu lugar dentro da construção dos brasões. Tradicionalmente as duas peles mais utilizadas pela heráldica, embora não sejam as únicas, são a de Arminho e de Vieiro.
Arminhos Essas são as mais tradicionais e as mais usadas peles da heráldica. Os arminhos são roedores semelhantes às doninhas com uma pelagem extremamente branca. Na heráldica as peles são representadas de forma estilizada representando o animal à que pertence. No caso dos arminhos a representação clássica é feita pela Mosqueta. Esse termo representa a pegada do arminho e sua cauda negra.
A representação do arminho (como de todas as peles) na heráldica necessita de alguma atenção. Sua representação e descrição parte do esmalte do escudo e depois descreve a cor da mosqueta. Veja os dois primeiros escudos abaixo.
O primeiro é: de prata, com três mosquetas em negro colocadas 2 e 1. Na segunda: de ouro, com três mosquetas em vermelho colocadas 2 e 1. Isso é quase que uma regra. Apresentamos a tintura aplicada ao escudo, e depois apresentamos a cor da mosqueta e sua disposição (isso será explicado depois). A segunda representação das peles parte da relação da mosqueta com o escudo e sua tintura (veja os quatro escudos abaixo, na figura acima). Vamos entender da seguinte forma. Normalmente a mosqueta em cor negra é depositada sobre uma tintura (seja cor ou metal), embora na grande maioria das vezes isso aconteça com metais. Desta forma temos quatro representações possíveis. Nos quatro escudos da figura podemos perceber bem a relação da mosqueta com seus respectivos escudos. Conforme o metal, ou sua inversão na cor escudo-mosqueta, dá seu nome. É considerado como base a mosqueta negra sobre a prata, recebendo propriamente o nome de Arminho. Todas as outras três nomenclaturas são relacionadas à esse nome. É importante salientar que toda a explicação das nomenclaturas é relativamente complicada, mas muito necessária se qualquer um ter em mãos a descrição de um brasão sem sua imagem.
Veiros Esta é a segunda pele mais comum nos brasões. Sua representação é ainda mais estilizada que a dos arminhos. As figuras estilizadas representam a pelagem do Esquilo da Sibéria, que possui uma coloração azulada em suas costas e a cor branca na barriga. Durante a Idade Média os mantos eram forrados com as peles desse esquilo de forma alternada, lado a lado, cinza-azulado ao lado de branco. Por esse motivo que a estilização ficou com a configuração apresentada. Essa disposição das peles costuradas também deram o nome „veiro‟, que vem do latim „de variis coloribus‟, que significa „de cor variada‟, passando para o francês „vair‟ e espanhol „vero‟, e chegou ao português „veiro‟. As imagens estilizadas são formadas por peças dispostas horizontalmente. Essas peças têm a forma de uma campânula (vaso de vidro ou metal em forma de sino). Devido à cor da pelagem do animal a cor básica do veiro é uma peça em azul, seguido de seu inverso em metal. Quando temos a campânula com outra cor de esmalte, dizemos que o mesmo está „veirado‟ (por exemplo, se as cores fossem ouro e vermelho diríamos que a peça estaria „veirada de ouro e
vermelho‟). É importante salientar que o veiro deve sempre ocorrer entre uma cor e um metal, nunca podendo deixar lado a lado duas cores ou dois metais.
A variedade de disposições é enorme como, se pode perceber.
Escudo: Partes O escudo, como forma básica e central do brasão, é dividido tradicionalmente em nove partes. É importante, antes deixarmos claro a diferença entre “partes” e “partições”. Estaremos falando sobre as parte (os campos) existentes imaginariamente no escudo. A linha externa que delimita o escudo é chamada de Bordo do escudo. Para um bom entendimento das posições no escudo (como já foi dito anteriormente) é preciso termos claro a questão de esquerda e direita, também chamadas de dextra e sinistra.
A partir daí temos uma denominação específica para cada uma das partes do escudo. A parte superior do escudo possui caráter de destaque e é considerada com a parte mais nobre. Ela é chamada, no conjunto das três partes, de a “Parte do Chefe”, como referência ao elemento central. Mas a forma correta de denominação seria “Topo do Escudo”. As duas laterais superiores são chamadas de cantões (cada uma das quatro extremidades) – cantão direito ou dextro do chefe e cantão esquerdo ou sinistro do chefe. Veja a seguir:
A parte intermediária do escudo é composto por dois flancos – flanco direito ou dextro e flanco
esquerdo ou sinistro. A parte central possui o nome de “Coração” ou “Abismo” do escudo. Especificamente dizemos que uma peça (isso será visto posteriormente) está no “coração do escudo” quando ela tiver o mesmo tamanho das peças restantes. Ao mesmo tempo dizemos que ela está no “abismo do escudo” se a peça tiver um tamanho menor do que das restantes.
A parte inferior é denominada, em seu conjunto, por “Ponta do Escudo”. As laterais são chamadas também de “cantões” – cantão esquerdo ou sinistro da ponta e cantão direito ou dextro da ponta. A parte central é chamada simplesmente de “Ponta”.
Dois pontos importantes são referenciados pelas partes do escudo. O primeiro deles fica entre o „chefe‟ e o „coração‟ e é chamado de “Ponto de Honra”. O segundo fica entre o „coração‟ e a „ponta‟ e é chamado de “Umbigo do Escudo”.
Partições do Escudo I Pode parecer a mesma coisa, mas „partição‟ é bem diferente de „partes‟. O escudo possui partes específicas que não importa o que fizermos, elas sempre estarão ali. Mas as partições são algo imposto ao escudo, algo que pode ou não estar nele. As partições têm o objetivo de identificar e localizar um esmalte no escudo. Primeiramente o escudo pode ser limpo, sem nenhuma divisão visível. Neste situação dizemos que o escudo é “Pleno”. A partir desta situação ele pode ser dividido em duas, três ou mais partes, seguindo algumas regras e denominações específicas. Outra informação importante é que as partições quase nunca são impostas ao escudo quando de sua criação (o termo técnico de quando algo está no escudo desde sua criação é “de origem”). Na grande maioria das vezes, as partições significam alianças entre famílias ou territórios, o que significa que elas são colocadas no escudo posteriormente à sua criação. Existem quatro partições básicas. Cada uma delas representa um dos quatro grandes golpes que uma espada ou machado podem infringir à um escudo. São eles „Partido‟, „Cortado‟, „Fendido‟ e „Talhado‟.
Após percebermos que um escudo possui partições como designar e localizar, apenas verbalmente, os esmaltes e em que parte eles estão na partição? Essa pergunta é uma questão básica. No caso dessas quatro partições básicas começamos sempre pelo esmalte que está mais próxima do Topo do Escudo ou em maior quantidade no Topo do escudo. No caso do escudo „Partido‟ descrevemos primeiramente o esmalte que está do lado direito do escudo. Vejamos como ficariam descritas as quatro imagens anteriores.
Essas quatro partições básicas podem se reproduzir novamente dentro do escudo. Assim, ao invés dele ser dividido em dois, será em três partições. Chamamos isso de “Terciado”. Neste caso a nomenclatura se baseia na posição da partição central. Vendo os exemplos abaixo claramente entendemos os nomes específicos de cada terciado. Então, quando dizemos „terciado em pala‟, significa que o escudo foi particionado em três partes onde a parte central é uma „pala‟. E isto vale para todos os quatro tipos – pala, faixa, banda e barra. Vejamos os exemplos abaixo.
A descrição dos esmaltes é diferente do exemplo das partições básicas. Iniciamos a descrição pelo esmalte da partição central, e depois passamos para a descrição do esmalte mais próximo do Topo do Escudo ou em maior quantidade no Topo do Escudo.
Uma coisa muito importante que não sei se todos se deram conta. Para um escudo ser „terciado‟ ele deve necessariamente ter esmaltes diferentes em cada uma de suas três partições. Caso contrário, se a primeira e a terceira partição fossem do mesmo esmalte, seria descrito como um faixa de um determinado esmalte sobre um escudo de determinado esmalte, não sendo mais terciado, como no exemplo abaixo:
Partições do escudo II O último artigo foi um tanto pesado,no que diz respeito à quantidade de informações. Heráldica não é, sem dúvida alguma, um tema simples, muito menos simplista. Continuando com o tema das partições do escudo temos agora um tipo especial de terciado. Ele se chama „Terciado em Mantel‟. Esta partição seria o resultado de uma partição partida junto com a partição talhada. Como já foi dito anteriormente, as partições apresentam se mpre esmaltes diferentes nos três espaços, como visto no exemplo abaixo.
A descrição utilizada para este tipo de partição é simples e segue a mesma lógica apresentada na postagem anterior. Começa-se a descrição pelo esmalte mais acima e mais à direita do escudo (lembram da posição dos flancos do escudo que se baseia pela posição de quem segura o escudo?). Depois passamos para a o esmalte mais acima e mais à esquerda. Por fim descrevemos o esmalte mais abaixo.
Desta forma, no exemplo acima, temos primeiro o ouro, depois o vermelho e, por último o verde. Como mostrado na gravura acima temos Terciado em mantel, primeiro em ouro, segundo em vermelho e terceiro em verde.
Partições do escudo III Depois das partições principais vamos avançar às subpartições. O que seriam elas? As subpartições ocorrem quando existem partições (divisões) dentro do espaço de uma partição. De forma técnica seria melhor explicado quando dito que subpartições são quando existe combinação entre partições. Vamos à elas. O esquar telado é a combinação do „partido‟ com o „cortado‟. Está é a subpartição mais freqüente da heráldica. Como podemos ver o esquartelado produz quatro áreas iguais, cada uma delas chamada de „quartel‟. Para uma descrição começamos sempre pelo quartel superior direito do escudo.
Como se pode verificar, no esquartelado, usa-se dois esmaltes de forma alternada. Um deles ocupará os quartéis 1 e 3, enquanto o outro ocupará os quartéis 2 e 4. Assim a descrição apresentará dois esmaltes dessa forma: esquertelado em cor tal, esquartelado em cor tal. No exemplo abaixo seria: esquartelado em ouro, esquartelado em vermelho. Como as cores se repetem não necessitamos descrever todos os quartéis, apenas os dois primeiros.
O contra-esquartelado seria quando temos um escudo esquartelado e algum de seus quartéis também é esquartelado. Parece meio complicado, mas visualmente tudo fica mais simples. Veja a figura abaixo. Olhando bem o escudo acima fica muito mais fácil de entender. O primeiro e o terceiro quartel estão esquartelados. Esses quartéis contra-esquartelados possuem, ou não, os mesmos esmaltes dos quartéis do esquartelamento.
A descrição dos contra-esquartelamentos segue a mesma regra do esquartelamento já apresentado. Assim, segundo o exemplo apresentado, ficaria: esquartelado, o primeiro e o quarto contra-esquartelado – os primeiro e quarto de ouro, os segundo e terceiro de vermelho; os segundo e terceiro de verde.
Partições do Escudo IV Continuando com nosso curso vamos ir mais fundo hoje. Como vocês podem ter notando a questão do particionamento vai se complexando conforme adiantamos. Hoje veremos o Franchado e o Gironado. O escudo Franchado é quando o escudo é particionado numa combinação do „fendido‟ e do „talhado‟. Essa combinação dá idéia visual de um „xis‟. Outro nome usado para esta partição, embora menos comum, é „esquartelado em aspa‟. Da mesma forma que o esquartelado há uma ordem para a visualização das partições. Veja abaixo.
A disposição começa pela partição superior, tendo à direita do escudo a segunda e à esquerda do escudo a terceira partição, e por fim abaixo a quarta. A descrição do franchado é bem fácil. Simplesmente deve-se indicar quais das partições têm cada esmalte.
O Gironado seria a união de todas as partições principais (partido, cortado, fendido e talhado). Cada uma das partições do gironado é chamado, neste caso, de „girão‟.
A descrição é um pouco diferente, já que não há numeração como nos casos do esquartelado e do franchado. Neste caso existe um ponto inicial para a descrição, mas sem numeração. Este ponto de início é convencionado. A descrição começa pelo esmalte do girão indicado, passando a seguir para o esmalte do próximo girão no sentido horário.
Partições do escudo V Até agora apresentamos as partições mais simples e usuais. Mas elas não ficam apenas nelas. O „partido‟ e o „cortado‟ podem se combinar em uma série de múltiplas partições. Este tipo de partições acontecem quase sempre como resultado de alianças familiares. Como já acontece em outras partições, esses espaços são chamados de „quartéis‟. De qualquer forma esses múltiplos quartéis não devem ultrapassar os 32 quartéis, por medo de ser muito vulgar. O mais comum são partições em 4, 6, 8, 10, 12 e 16 quartéis.
A partição simples de „partido‟ e „cortado‟, formado em 4 quartéis, já foi apresentado na „Partições de Escudos III‟, chamado de esquartelado. Mas há uma diferença na questão dos esmaltes utilizados nessas múltiplas partições. Como elas r esultam de combinações de brasões de famílias diferentes, é regra que cada quartel seja de um esmalte diferente. Raramente eles serão de esmaltes iguais, acontecendo apenas quando, por coincidência, brasões sejam iguais em seu esmalte de uso. Essa regra vale para qualquer quantidade de múltiplas partições. A nomenclatura é muito própria. Sempre apresentamos primeiro o número de „partidos‟ e depois e número de „cortados‟ (veja as imagens abaixo com suas respectivas nomenclaturas).
Partições do escudo VI As partições podem ser subdivididas de forma independente. Seria uma divisão em apenas uma das partições. É um elemento muito pouco utilizado. Esta forma de subdivisão acontece apenas nos escudos „cortados‟ e „partidos‟. A descrição é bem simples e segue as formas anteriores. No exemplo abaixo a descrição segue o que já foi visto, onde primeiro mostrarmos o primeiro o tipo de partição e seu esmalte, depois a subdivisão e seus dois esmaltes.
Como último item deste tópico sobre partições um detalhe importante. As partições não ficam limitadas apenas à estrutura do escudo – ela pode ser utilizada nas peças internas do escudo. Nesse caso são utilizadas as quatro partições básicas – cortado, partido, fendido e talhado. Importante informar que a partição é para a figura e não para o escudo. A descrição segue as mesmas normas já apresentadas. Neste caso descrevemos, na ordem, primeiro o esmalte do escudo, depois a figura informando seu esmalte superior, o tipo da partição, seu esmalte inferior, e depois outras informações sobre a figura (que veremos mais adiante). Veja o exemplo abaixo:
Assim encerramos este longo tópico sobre as partições.
Regras Gerais I Depois desta primeira parte onde mostramos e descrevemos os esmaltes, as formas e as partições dos escudos, deixamos as regras específicas para mais tarde. Durante toda a apresentação das partições regras foram mostradas e devem ser seguidas, mesmo sem receber uma postagem exclusiva para isso nem o status de „lei‟. Elas foram separadas, pois considero que as regras com relação às partições funcionam mais como „orientações‟ para a constituição dos escudos. Contrário à isso as regras estabelecidas (e consideradas como tal) chegam a serem consideradas e chamadas de „Leis da Heráldica‟ e dizem respeito à muitos temas, inclusive muitos dos que nos veremos apenas mais adiante neste curso. Vamos apresentar as regras conforme formos introduzindo os assuntos às quais elas se referem.
1ª Regra: Como regra fundamental não devemos sobrepor metal sobre metal, nem cor sobre cor. Esta regra não existe sem fundamento. Tradicionalmente, e historicamente, diz-se que quando se pintava um escudo, antes das batalhas, procurava-se não colocar cor sobre cor para que não houvesse a possibilidade do risco de borrarem as tintas. Outra vertente histórica dizia que a explicação seria mais funcional, onde cores fortes e contrastantes seriam muito mais facilmente identificáveis. Se todos recordarem as postagens anteriores essa regras não se aplica quando falamos em partições. Isso é fácil de explicar. As partições seriam, em última análise, como se pegássemos partes de escudos e as montássemos num só. É só lembrarem quando mostramos os escudos „Terciados‟, por exemplo. Essa regra se aplica muito bem para o que chamamos „Peças Internas‟, elementos muito parecidos com as partições. As peles não sofrem essa restrição, podendo ser sobrepostas tanto à metais quanto às cores, mas não pode uma pele sobrepor outra pele. Esta regra pode ser quebrada, embora não seja aconselhável. Quando isso acontecer devemos deixar claro na descrição do escudo a intenção de tal procedimento. Para isso usamos o termo „cosidos‟. Por exemplo, um escudo vermelho com uma cruz azul ao centro, diz-se „escudo vermelho, com uma cruz cosida de azul‟. Outra exceção é quando uma figura está sobreposta à um escudo partido. Como exemplo podemos imaginar um escudo partido de ouro e vermelho e sobre a cor e o metal uma cruz azul. Neste caso não se aplica a regra. Esta regra também não se aplica quando esmaltes específicos são utilizados em detalhes de alguma figura que compõe o escudo.
Linhas de partições Vamos dar continuidade ao nosso curso de heráldica depois de uma breve parada. O tema de hoje é apenas um interlúdio entre as partições e as honrarias, que será nosso próximo assunto. As linhas de partições são exatamente o que dizem. As linhas de uma partição não precisam ser necessariamente retas. Elas podem assumir variações em sua forma, mas sempre separando partições, ou seja, duas áreas ou mais áreas independentes e não sobrepostas do escudo. Outra coisa importante por salientar é que essas linhas não possuem em si um elemento interpretativo. Quanto à descrição confesso que não sei informar, embora tenha perdido alguns dias sobre livros e sites de variados idiomas, não encontrando nada sobre isso. Com relação à isso, alguns estudiosos da heráldica escocesa e britânica apresentam exemplos onde um mesmo tipo de linha pode variar na sua incidência (exemplo deste tipo é o número de pontas no estilo „recuado‟). Isto é tão são regras não há consenso sobre quais são as linhas tradicionais e quais não são. Mesmo quando olhamos a nomenclatura de um país para outro percebemos que as traduções nem sempre são fixas.
Peças de Honraria I À primeira vista as peças de honraria podem ser facilmente confundidas com as partições do escudo (já visto anteriormente). Isso ocorre, pois geometricamente analisando, algumas formas são idênticas. A diferença reside primeiro no conceito. Enquanto as partições possuem uma função de localização de um esmalte dento do corpo do escudo, as peças de honrarias existem para simbolizar alguma honraria concedida para quem detém o escudo. Um segundo diferencial está nas cores. Lembrem-se do que foi explicado anteriormente. Na quase totalidade das vezes as partições apresentam cores distintas em cada uma de suas partes. Já nos escudos que possuem honrarias, vocês perceberam que a impressão que temos é de que um elemento (a honraria em si) foi depositada sobre um escudo de uma só cor. Por esse motivo elas são quase que tratadas como objetos.
Por definição as peças de honraria são uma figura geométrica simples, limitada por linhas retas e indo de um lado ao outro do escudo (de cima à baixo, ou de lado à lado). Elas são divididas em ordens. As peças de primeira ordem (ou também conhecidos por Ordinários) são em número de oito. Já as peças de segunda ordem (ou subordinadas) existem em grande número e com significados diversos. As peças de honrarias de primeira ordem são: Aspa, Asna, Banda, Barra, Chefe, Cruz, Faixa e Pala.
Hoje vamos conhecer as honrarias Chefe e Pala. A peça de honraria Chefe tem a forma de uma banda horizontal na borda superior do escudo. Há uma certa controvérsia sobre qual o tamanho que esta banda deve ter. Alguns dizem que ela deve ter no máximo de um quarto à um terço do tamanho do escudo. A lógica que se usa é que quanto mais objetos sobre a área do escudo (se usa o termo „quanto mais carregado o escudo está‟), mais estreita é a faixa.
Pela importância desta honraria ela pode ser usada em conjunto com outras, principalmente com Pale ou Aspa, mas nunca superado (nunca sendo sobrepostos) por elas.
Já a Pala é uma honraria que apresenta-se como uma banda que corre de cima à baixo pelo centro do escudo. Seu tamanho varia entre um terço e um quinto do escudo. Normalmente ela também atinge as beiradas do escudo. Quando isso não acontece a denominamos como „couped‟. Da mesma forma que a Cruz ela pode ser utilizada com outras honrarias. A simbologia dela representaria a lança do cavaleiro.
Peças de Honraria II Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Cruz . A Cruz é o cruzamento de duas faixas, uma vertical com uma horizontal, depositada no centro do escudo, não tendo uma largura especificada, mas que ocupe pelo menos um quinto do escudo e que cada braço tenha o mesmo tamanho (este modelo é chamado de „cruz grega‟ (ou crux immissa quadrata) para diferenciar da „cruz latina‟ onde o braço inferior é maior‟) e é a mais comum. A cruz como um elemento simbólico é um dos que mais possui variações e significados no mundo. Em heráldica não seria diferente, fazendo com que a variedade de formas de honrarias em cruz seja enorme. Não por menos que é um dos elementos mais complicados de se fazer a nomenclatura. Isso acaba também por criar uma grande variedade de interpretações. Ao mesmo tempo a cruz pode aparecer também como adorno em escudos, tendo uma outra nomenclatura e significação diferente – mas isso será visto muito mais adiante. Como significado, em heráldica, as interpretações mais comuns seriam como elemento religiosos, já que nesta época a igreja católica esta intimamente inserida na sociedade européia, ou como elemento representando a ligação do divino e do mundano. Existem pelo menos trinta e cinco formas ou características diferentes para cruzes dentro da heráldica, segundo alguns manuais. Mas são aceitas oito características como as principais, sendo o resto considerado excessão:
Posição da cruz na heráldica (Cruz de San George): a cruz deve ter quatro braços de tamanhos iguais e centralizados no centro do escudo. Este tipo de cruz, como já dito, é denominada „cruz grega‟, a diferenciando da „cruz latina‟, onde o braço inferior é maior.
As beiradas da cruz estão sujeitas à variedade de flexões (Sire Thomas de YNGOLDTHORP): As cruzes podem ter suas beiradas em formas variadas como dentada, ondulada, recortada etc. Isso não influencia em nada a cruz, desde que obedeça a posição dos braços e sua localização no escudo.
As cruzes podem ser de tinturas diferentes : uma mesma cruz pode ter mais de uma tintura em sua estrutura. O escudo de Eustace de Witeneye é um exemplo disso.
A cruz pode ser usada com outros elementos : ela pode ser adornada outros elementos que não sejam normalmente usados na heráldica, como no caso do escudo de Sir Nicholas de Valeres, que tem a cruz vermelha de seu escudo adornada com conchas.
A cruz pode ter duas tinturas : Isso pode se dar de mais de uma forma. Pode ser por parte de cada braço (como no primeiro exemplo, no escudo de Thomas Langton) ou em equivalente inverso (chamamos isso de contra-alternado) de toda uma área (como no segundo exemplo, de Bevercott).
Quando, porém, a cruz é composto por assim dizer, de cinco peças ou divisões, sendo que o campo do centro é da mesma cor do fundo (como se fosse vazado), o termo quartas-deperfurado é usado (veja o exemplo abaixo par ao escudo de BOISY de Ile de France). Escritores heráldico, no entanto, inventaram vários termos como, por exemplo, quartas-deanulado e quadrado-perfurado. E alguns caso é descrito a forma (tendo em conta o campo), como "chequy de nove painéis”.
A cruz pode ser anulada : A cruz é descrita como anulada quando a parte central dos quatro membros da tintura é igual ao campo (o fundo do escudo). Isso pode ser visto no mesmo exemplo anterior, no escudo de BOISY de Ile de France. Note que o centro é como se fosse vazado. Uma segunda forma dela ser uma cruz anulada seria tendo duas cruzes sobrepostas, onde a superior teriam braços mais finas e a inferior teria braços mais largas (assim ela assume a forma de uma borda dos braços da cruz superior). Uma terceira forma da cruz ser anulada é se ela possuir uma borda formada por um adorno onde o exemplo mais clássico seria uma meia flor-de-liz, como no brasão abaixo (escudo de Atkins).
Ela pode ser uma ‘cross couped’:
isso acontece quando os braços da cruz não tocam as laterais do escudo. Ou seja, teríamos uma cruz grega ao centro do escudo sem alcançar as beiradas.
Como foi dito existe uma enorme variedade de tipos e interpretações para outras cruzes além destas apresentadas acima. Abaixo temos alguns exemplos:
Peças de Honraria III Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Faixa.
A Faixa é facilmente reconhecida como uma barra horizontal no centro do escudo. Existe muita controvérsia sobre os significados desta peça. A forma mais clássica dá conta de que a Faixa representa a armadura do cavaleiro, por isso mesmo sendo uma das formas mais comumente utilizadas nas construções dos escudos. Algumas interpretações associam a Faixa com o cinto militar, mas gerando mais debates do que certezas. De uma forma mais genérica a Faixa é associada à todas as funções e responsabilidades dos agentes de armas.
Outra coisa que deve-se notar é que a honraria „Chefe‟, mostrada na postagem Curso de Heráldica 15, localiza-se na parte superior do escudo. Assim, a posição da Faixa, logo abaixo do Chefe teria lógica do posto de comando dos cavaleiros subalternos apenas ao senhor das terras às quais ele vive.
Segundo as regras da heráldica esta Faixa deveria ocupar um terço da altura do escudo, mas isso dificilmente é vislumbrado constantemente (ela varia de um terço à um quinto), ficando, como já dito, localizado próximo do centro.
Ele pode estar localizado levemente acima ou abaixo do centro. Nesses casos ele recebe denominações próprias. Quando acima ele é chamado de „transposto‟, e quando abaixo do centro ele denomina-se „abaisse‟. Essas variações claramente destinam-se a dar mais clareza às relações de poder e posição social e de comando dentro da comunidade em questão.
Não podemos nos esquecer que existem ainda as variações com relação às bordas da Faixa. Elas podem não ser retas apenas na parte superior, apenas na parte inferior, ou em ambas. Essa possibilidade abre margem para uma infindável variedade de bordas, embora as retas sejam as mais comuns.
Peças de Honraria IV Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Banda. A Banda é uma peça reta que se estende do ângulo superior esquerdo na direção do inferior direito. Estudiosos e manuais do século XVIII e XIX dizem que a origem da „banda‟ estaria nos cinturões baudrick (ou baldrick) – um cinturão medieval de uso comum entre os cavaleiros que ajudaria a fixar a espada. Este cinto era uma marca da cavalaria.
A Banda deve ter largura de cerca de um terço do tamanho do escudo. Mas isso pode variar se houverem outros elementos juntos, assumindo aí uma largura de um quinto, como no exemplo do brasão do Conselho distrital de Richmondshire.
Suas margens podem ser retas ou não. Os exemplos do brasão do Conselho Cleethorpes, na Inglaterra, e de Michel Picard, no Canadá, deixam claro isso. Mas sempre que isso acontecer deve ser descrito claramente.
As descrições, quando falamos de peças de honrarias, são complicadas principalmente devido à sua variedade, sendo necessário uma grande precisão dos termos. Uma banda padrão é fácil de descrever. Veja abaixo o escudo da Bôsnia que seria descrito simplesmente com: escudo em azul com banda em prata (excluí a descrição das flores de lis).
Mas isso pode ficar bem mais complicado. Para terem um exemplo cada espessura da Banda assume um nome diferente. Como já disse o padrão é uma espessura de por volta de um terço do escudo. Se a espessura tiver a metade do tamanho normal ela assume o nome de „Bendlet‟ (sem tradução para o português). Se tiver um quarto do tamanho normal assume o nome de „Cotise‟ (sem tradução para o português), aparecendo somente aos pares. Uma terceira variação é quando existe um mesmo número de bandas, neste caso sendo chamado de „Blendy‟ (sem tradução para o português). Veja abaixo:
Estes três exemplos seriam descritos assim: o primeiro seria um escudo em ouro com três blendlet azuis; o segundo seria escudo em prata com banda vermelha cotisado em vermelho; e o terceiro seria escudo com seis bandas prata e vermelho ou escudo prata com três blendy vermelhas. Para nomenclatura devemos levar em conta sempre o esmalte do fundo (ou o esmalte do escudo) e depois indicando o tipo e a cor da honraria; e nos casos em que há igualdades deve-se descrever primeiro o metal e depois o esmalte. Isto vale para qualquer nomenclatura em que se descreva esmaltes.
O primeiro escudo é o do conselho da cidade de Manchester e a nomenclatura do escudo em si (excluindo o elementos extras) seria: escudo em vermelho, com três blendlets em ouro, com chefe em prata com ondas do mar e barco ao seu centro.
Peças de Honraria V Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Aspa. A Aspa, ou sautor (originário do francês sautoir), é uma honraria baseada na cruz em que Santo André foi crucificado (a chamada bandeira de Santo André é um fundo azul com uma aspa vermelha). Em última análise uma aspa nada mais é do que uma cruz colocada de lado, ou verticalizada. Algumas obras, principalmente do meio e final do século XIX, descrevem a aspa como a junção de outras duas peças de honraria – a banda e a contra-banda (ou barra). Sua espessura média é de cerca de um quarto à um quinto da largura do escudo. Caso a aspa seja formada por braços mais estreitos, esta aspa é denominada „saltorel‟.
Sua caracterização clássica estende-se até as bordas do escudo. Se seus braços não chegarem até as extremidades chamamos de uma aspa „cortada‟, como acontece com o brasão de Greenwood. Diferente da peça de honraira „Cruz‟, as aspas não possuem variações tão diversas quanto ela. Suas alterações residem apenas no tipo de linha lateral que forma a aspa. A única excessão é um aspa formada por duas linhas entrelaçadas que recebe o nome de „saltire parted and fretty‟ (sem tradução exata para o português).
Eles também podem aparecer mais de um vez sobre um escudo. Não esqueçam que as honrarias são peças colocadas sobre o escudo, desta forma podem estar sobre o escudo sem a necessidade de estar a disposto simetricamente e todas serão consideradas „aspas cortadas‟. Um exemplo claro disso é o estranho brasão de Greenland (cuja descrição seria „três aspas cortadas, verdes, sobre escudo prata‟) na imagem abaixo. Necessriamente, quando temos mais de uma aspa no escudo, elas serão „cortadas‟.
Caso o escudo apresente dois esmaltes diferentes postos de forma regular (os mesmos em cima e em baixo, e outro nos flancos), nos espaços criados pela „aspa‟, começamos a descrição pelo esmalte nas partes superior/inferior (áreas do chefe e base), descrevendo depois o esmalte dos flancos. Caso haja mais de dois esmaltes, descrevemos primeiro o superior, em segundo o flanco esquerdo, depois o do flanco direito, e por último o da base inferior. No exemplo abaixo temos um caso do primeiro tipo apresentado. Ele poderia ser descrito como „aspa em prata, com escudo em azul e negro, com flor de liz acima e abaixo e símbolo do signo de gêmeos nos flancos etc‟.
Além disso, podemos ter figuras em uma posição de aspa, como no caso do brasão do Vaticano, onde temos duas chaves cruzando-se no centro do escudo. Para o brasonamento deste tipo de caso colocamos primeiro a descrição da figura informando sua possição em aspa e depois damos as informações do escudo.
Peças de Honraria VI Depois de tanto tempo sem postar nada para o Curso de Heráldica, eis que voltamos com tudo no pós-carnaval. Vamos retomar exatamente de onde havíamos parado a bordando agora a honraria chamda de Asna. O termo em francês (e usado também em inglês) é chevron (ou do francês antigo cheveron, significando ‘caibro de telhado’), em espanhol é chamado de cabria. A Asna é uma peça de honraria representada por um esquadro invertido com um ângulo inferior à 45º, ou seja, a ponta fica para cima. Está ponta ficaria quase encontrando a borda superior do escudo (de forma mais específica, e técnica, diz-se que ele fica distante da borda superior uma duodécima parte da largura do escudo). Pode-se dizer que a Asna pode ser considerada como uma combinação parcial das peças de honraria Barra e da Banda.
A Asna representa as esporas dos cavaleiros. O símbolo é um dos mais antigos da humanidade, remontando pinturas no palácio de Cnossos, em Cretar, por volta de 1800 a.C., e aparecendo posteriormente em escudos das fases mais antigas de Esparta. Não por menos que ela aparece até os dias de hoje como representantes das patentes militares. E mais, ela é a única que representa qualitativamente uma honra ou um posto, visto que ela, quando é acrescida de mais asnas, representa um posto superior ou uma elevação de posto. Assim, ela pode ser repetida até três vezes (embora mais vezes possa aparecer de forma raríssima), toma ndo-se o cuidado de estreitar suas espessura à cada vez que se repete a honraria.
Ela possui muitas variações. A Asna pode estar deslocada para a esquerda ou direita, como se saísse da borda lateral. Nesses casos a asna pode ser di ta que ela está ‘brisada’ para destra (direita) ou sinistra (esquerda). Outra variação seria uma inclinação que pode ser parcial (um quarto de volta para ser mais específico) para um lado ou outro. Ou ainda a asna pode estar com sua ponta na posição horizontal.
Ela pode ter um tamanho menor do que o normal, onde suas extremidades não se encontram com as beiradas do escudo em nenhum dos lados. Quando nesta condição ela é chamada de
‘chevronel’. Uma variação mais rara é quando as asnas são entrelaçadas estando uma ao lado da outra.
Objetos podem estar dispostos em uma posição que represente uma asna. Assim di zemos que os objetos estão chevronados. A honraria também pode estar ligada à uma das partições do escudo ou interligada à outra honraria. Como nos exemplos abaixo e m que asnas estão dispostas dentro de uma
Como regra básica para esta honraria segue as mesmas que para as demais. A honraria e o fundo (o escudo) não podem ser de mesmo tipo de tintura. As sim, se a asna for um esmalte, o escudo será um metal ou uma pele e vice-versa. Pode-se inclusive postar mais de um esmalte de um mesmo tipo, desde que a asna os separe.
Peças de Honraria VII Esta é a última das oito honrarias principais do escudo. A Barra também pode ser conhecida por Contra-banda, visto sua posição invertida em relação à Banda. Em muitos casos a Barra não é considerada uma honraria, mas uma simples inversão da Banda. Da mesma forma que a Banda, a Barra também é simbolicamente a visão da correia que o cavaleiro usa, mas de forma inversa, do ombro à cintura.
Historicamente, a Barra era vista como uma peça de desonra (não por menos que o termo ‘esquerdo’ por muito tempo simbolizou algo errado, trocado, invertido. Os filhos bastardos, em tempo da Idade Média, eram chamados de ‘nascidos do lado esquerdo’. Em heráldica, filhos bastardos também tinham direito ao brasão da família, mas haveria uma ‘barra/contra- banda’ sobre o seu brasão.