Etnomusicologia: 100 anos 100 anos de Etnomusicol Etnomusicologia ogia e a “éra fonográfica” da disciplina no Brasil
Introduzindo
Centenários e aniversários redondos sempre chamam à memória acontecimentos passados, incentivam a lembrança de trajetórias e a realizaço de comemoraç!es" # curioso, por$m, %ue no caso da etnomusicologia no se nota maior movimento em torno de seus cem anos de e&ist'ncia" Certo $ %ue no se (ez, por parte de uma de suas instituiç!es, declaraço o(icial deste centenário" )pesar de comentários e ind*cios espársos, a %uesto ainda no (oi tematizada com maior 'n(ase +1" -uero prop./la com base na discusso de documentos %ue me parecem indicar o surgimento da disciplina nos anos 10 e 102" 3ou tratar destas evid'ncias, %ue se con(iguram em uma esp$cie de 4certido de nascimento5 da disciplina, considerando tamb$m os seus antecedentes e a relaço destes primórdios da etnomusicologia com o per*odo das gravaç!es (onográ(icas no 6rasil" 7ortanto, se nos (oi solicitado (alar sobre presente e (uturo da etnomusicologia +8, importa tamb$m saber do seu passado" # a este %ue me re(iro nas páginas %ue seguem, pois $ o passado %ue nos (az entender melhor o presente e, %uem sabe, prever algo para o (uturo" Antecedentes
9o conhecidos os marcos %ue antecederam o advento da etnomusicologia, ou melhor, da 4musicologia comparativa5, o primeiro nome dado à nossa disciplina" m desses marcos $ a menço à uma sub/área da musicologia, (eita em 1;; pelo musicólogo austr*aco
esmo %ue, a esta altura do (inal do 9$c" ?@?, já e&istissem vários estudos sobre m=sica e práticas musicais no ocidentais, $ este catedrático da universidade de 3iena o
primeiro a inserir (ormalmente a pes%uisa da m=sica no/ocidental no escopo da ci'ncia musicológica" Ao seu importante artigo 4Bbjeto, m$todo e meta da musicologia5 +1;;2 )dler (az a tentativa de justapor em planos paralelos a parte histórica e uma parte %ue denomina de sistemática da ci'ncia musicológica" + # neste 8D grupo das 4musicologias5 / o ramo da sistemática / %ue )dler abriga as culturas musicais no europ$ias e tamb$m o (olclore europeu, denominando o estudo dos mesmos de 4musiologie5, como indica no =ltimo de %uatro *tens %ue enumera: >usicologia 9istemática a ac=stica +harmonia, ritmo e melodia, b est$tica +o 4belo musical5, c pedagogia e didática musical e d 4musiologie5, ou seja a 4investigaço e comparaço +dos produtos musicais, FGonproducteF, para (ins etnográ(icos5 +)dler 1;;2" Em trabalho posterior, um grande comp'ndio de história da m=sica em tr's volumes +)dler, 18, )dler re(orça a separaço entre a m=sica dos 4povos naturais e orientais5 da%uela do Bcidente, dando a esta uma organizaço histórica, %ue inicia na esmo a separaço em m=sica ocidental de um lado, sistematizada historicamente, e no/ocidental e popular do outro, mant$m/se amplamente em muitos es%uemas de história da m=sica 180 anos depois" >ostra/se, inclusive, nas prateleiras de lojas de discos, onde, desde o (inal dos anos 1;0, um novo rótulo denominado 4Horld >usic5 (igura como categoria %ue engloba todas as m=sicas populares e tradicionais do mundo al$m/ocidente anglo/americano" 7or esta sua sistematizaço
musicologia comparativa, predicado %ue, a meu ver, jamais reclamaria para si, pois o trabalho de )dler ignora por completo a verdadeira importIncia de sistemas musicais no pertencentes ao dom*nio cultural do Bcidente" Jica evidente a partir de )dler %ue a musicologia comparativa se ocupa e&clusivamente da m=sica de tradiço oral e no europ$ia, mesmo %ue o seu nome aponte para um m$todo +a comparaço e no necessariamente para uma segmentaço geográ(ica ou cultural" )o mesmo tempo %ue na Kustria )dler esboçava seu plano para o estudo da m=sica impingindo/lhe aspiraç!es universais, na @nglaterra o (*sico e (onólogo )le&ander L" Ellis +1;1/1;0 e&aminava a particularidade de escalas e a(inaç!es em instrumentos orientais com e%uipamentos de mediço ac=stica, pouco preocupado ainda com as colocaç!es de )dler ou com %uais%uer outros conceitos e pre/conceitos da musicologia histórica" Ellis, %ue, ao lado de )dler, tamb$m $ visto como precursor da musicologia comparativa, preocupou/se diretamente com sistemas de a(inaço" Me(endeu %ue o %ue o estudo de mani(estaç!es musicais estranhas ao mundo ocidental, deveria adotar a comparaço como principal recurso metodológico" Em 1;;2 Ellis publicou suas descobertas (eitas a partir de análises ac=sticas em instrumentos de m=sica do sudeste asiático e a(ricanos do acervo do 7itt/Nivers/>useum, pró&imo a Oondres" 7ara descrever os intervalos %ue encontrou em instrumentos de a(inaço (i&a utilizou/se de uma unidade m*nima de mediço, os Cents" Estabeleceu %ue cada intervalo de semitom temperado teria 100 Cents e %ue, portanto, a oitava comporia 1800 Cents" Com base nas suas mediç!es, Ellis p.de a(irmar %ue diversos intervalos musicais encontrados nos instrumementos, %uando (i&ados em Cents, no pertenciam a um sistema sonoro 4natural5 +o %ue se acreditava ser o sistema ocidental mas %ue estes intervalos representariam construç!es culturais" Me certa (orma, Ellis apontava para o caráter ilusório de uma suposta lei dos intervalos ac=sticos, considerada pelas ci'ncias de sua $poca como sendo natural" B veredito (inal do seu artigo 4Bn the musical scales o( various nations5 $ (ulminante: 4""" a escala musical não é apenas uma, não é natural, nem mesmo necessariamente fundamentada nas leis de constituição do som musical, (...) mas muito diversificada, muito artificial e muito caprichosa5 +Ellis, 1;;2"
Ellis conclui o seu artigo comentando %ue uma nova área de pes%uisa deveria se
estabelecer atrav$s de longas e cuidadosas observaç!es por parte de (*sicos com noço de m=sica" Com isso, Ellis aponta para a di(iculdade inicial %ue membros de uma cultura musical espec*(ica t'm de ouvir e de reconhecer com propriedade outros sistemas de a(inaç!es +1;;2:28P, sugerindo, pois, %ue m=sicos +ou musicólogos do Bcidente no seriam os pro(issionais mais ade%uados para o estudo da m=sica no ocidental" )pesar de submetidas posteriormente a certas correç!es +9chneider, 1PQ, as mediç!es ac=sticas de Ellis puderam dar uma primeira e&plicaço detalhada do slendro javanes como sendo uma escala pentá(ona temperada" 7rovaram tamb$m a e&ist'ncia da escala hepta(.nica temperada +pelog, igualmente de Lava" 7es%uisas cient*(icas como as de Ellis e a sistematizaço de )dler no bastaram para vermos nascer uma nova disciplina" )dler permanecia (iel à musicologia histórica e Ellis contribu*a à (*sica ac=stica e à psicologia, primeiramente" Ao entanto, já se percebe uma n*tida ampliaço do campo musicológico, de(inida mais ade%uadamente como %uebra ou ruptura" Esta ruptura na musicologia, essencialmente epistemológica, resume/se em dois pontos: +1 a descoberta de %ue a m=sica ocidental no obedece a leis universais e, por conseguinte, +8 o (ato de a cultura musical do ocidente no ser =nica e tampouco representar modelo obrigatório sine %ua non para toda e %ual%uer prática musical do globo" )pesar da importIncia das descobertas ac=sticas de 1;;2 ainda nos encontramos no per*odo %ue antecede o nascimento da disciplina etnomusicológica" A importância dos primeiros arquios fonográficos
-uando em 100 um grupo de m=sicos provenientes do 9io +hoje GailIndia se apresenta em 6erlim, o che(e do instituto de psicologia da niversidade de 6erlim, Carl 9tump( +1;;/1Q, (az e&perimentos de percepço musical com os m=sicos e tamb$m algumas gravaç!es, iniciando assim uma primeira coleço de (onogramas" 9tump( aproveita tamb$m para medir as escalas dos instrumentos siameses" @nspirado pelo trabalho de Ellis e preocupado com a relaço entre a (isiologia
das percepç!es sensórias e a reaço psicológica às mesmas, 9tump( nota %ue, %uando habituado a certas relaç!es de intervalos, principalmente tamb$m às a(inaç!es diat.nicas e temperadas da m=sica ocidental, o ouvido corrige, automaticamente, determinadas 4desa(inaç!es5 alheias" 9tump( descobre assim %ue estar 4(ora do tom5 ou 4desa(inado5 em si já so conceitos etnoc'ntricos, pois pressup!em %ue o outro está errado pelo (ato de estar (ora das normas do mundo musical próprio, este sim, supostamente 4no tom5 e 4a(inado5" ) contribuiço %ue Carl 9tump( dá com a sua pes%uisa a uma escola berlinense de musicologia comparativa e tamb$m à (undaço do ar%uivo (onográ(ico do @nstituto de 7sicologia da niversidade de 6erlim, está vinculado diretamente ao emprego do (onógra(o de Edison, inventado em 1;PP por Ghomas )lva Edison" B (onógra(o $ o principal recurso t$cnico do %ual os pes%uisadores norte/americanos e europeus disp!em agora para captarem os mais di(erentes estilos musicais, para registrarem a(inaç!es desconhecidas provenientes de todo o mundo" # este o momento da criaço dos importantes ar%uivos (onográ(icos" B primeiro $ o ar%uivo de 3iena, o 4Hiener 7honogrammarchiv5 junto à )cademia @mperial de Ci'ncias, de 1;" Ao m's de julho de 100 cria/se o ar%uivo sonoro da 9oci$t$ dF)nthropologie de 7aris, cujo propósito, 4la constitution dFun mus$e phonographi%ue5, previa o uso do (onógra(o para 4(inalidades antropológicas5 +
Em 3iena estas metas permanecem em pauta durante todo o 9$culo ??" ) m=sica, portanto, somente $ uma entre tr's grandes áreas de documentaço sonora" Roje soam curiosas as observaç!es de 1; da comisso (undadora do ar%uivo, %uando sugere %ue no caso de (alas de povos 4selvagens, por$m cristos5, o pes%uisador (aça primeiramente o registro de uma verso do 7ai Aosso, a(im de (acilitar a comparaço lingu*stica e (onológica posterior" Em breve os pe%uenos cilindros de cera do (onógra(o de Edison chegavam à
Europa na bagagem de antropólogos e de viajantes, com registros de sons, melodias, cInticos e (alas de todos os continentes, (azendo crescer os rec$m instituidos ar%uivos de 3iena, de 6erlim e de 7aris" # signi(icativo estes ar%uivos terem sido criados por pes%uisadores no/musicólogos" )s áreas de investigaço diretamente interessadas no novo tipo de registro (onográ(ico, %ue agora era tanto ac=stico %uanto cultural, pertenciam às ci'ncias e&atas, à (isiologia, à psicologia e às ci'ncias sociais" Ao entanto, o ar%uivo %ue mais se destacaria, justamente por dirigir seu (oco principal sobre a m=sica, $ o 7honogrammarchiv de 6erlim" Este ar%uivo p.de em breve reunir importantes pes%uisadores, nomes %ue logo estariam entre os pioneiros da musicologia comparativa" B 6erliner 7honogrammarchiv cresce rapidamente e se torna uma importante instituiço de pes%uisa e de produço de saber" 7or tr's d$cadas consecutivas e&erceria in(lu'ncia sobre pes%uisadores e instituiç!es a(ins em todo o mundo" Em 6erlim $ o aluno e sucessor de 9tump(, Erich >oritz von Rornbostel +1;PP/ 12 %ue amplia a coleço iniciada por 9tump( no instituto de psicologia" Rornbostel no era musicólogo, tampouco psicólogo tal %ual seu pro(essor Carl 9tump(" Era %u*mico, orientando de Nobert H" 6unsen, o %ue e&plica a (orte (iliaço da musicologia comparativa da escola de 6erlim, de um lado à psicologia e, do outro, aos m$todos das ci'ncias biológicas e e&atas" ) m=sica gravada representava o material de trabalho %ue era estudado, (ornecendo as in(ormaç!es necessárias para %ue, com o tempo, pudesse surgir uma viso global de todos os estilos musicais do nosso planeta" B essencial para isso era a coleço sistemática das (ontes sonoras" 7ara ampliar o mais rapidamente esta coleço Rornbostel (azia, em 102, o seguinte apelo: O mais importante, todavia, é &ue se encontre o maior número poss'vel de colecionadores &ue não temam as pe&uenas dificuldades da ravação fonorfica, mesmo &ue nela não este$am diretamente interessados
+Rornbostel, 102" Rornbostel salienta %ue para resolver %uest!es básicas da musicologia atrav$s de um estudo comparativo de larga escala era necessário ter/se ao menos provas de mani(estaç!es musicais de todos os pontos do globo +Rornbostel, 102" )ntropólogos de vários pa*ses contribu*am para este (im" ) coleço, %ue na d$cada de 80 já contava com 0 mil (onogramas gravados, possuia registros (eitos por celebridades da antropologia como Jranz 6oas ou Evans/7ritchard"
Murante d$cadas os aparelhos do 7honogrammarchiv S a maior coleço de (onógra(os de uma instituiço p=blica de seu tempo S eram remetidos a vários continentes para acompanharem as mais diversas e&pediç!es de pes%uisa" )inda em 1P, >arius 9chneider, sucessor de Rornbostel, enviava um aparelho ao 6rasil, via embai&ada brasileira em 7aris e por iniciativa do ento che(e do Mepartamento Cultural da 7re(eitura de 9o 7aulo, >ário de )ndrade" !oos paradigmas
3imos %ue inicialmente a musicologia comparativa recebeu a sua orientaço cient*(ica de áreas %ue no pertenciam à musicologia" Em compensaço $ o momento tamb$m em %ue surge o novo 4paradigma musical5 em outra área de pes%uisa: na antropologia, uma ci'ncia do homem %ue se abre à es(era cultural al$m do dom*nio europeu" ) simultaneidade destes dois movimentos S ruptura de um lado e e&panso para o outro S $ essencial para o surgimento da etnomusicologia +ainda denominada de musicologia comparativa en%uanto disciplina cient*(ica" ) construço de seu próprio per(il se dá a partir de id$ias novas e de orientaç!es espec*(icas de pes%uisa do in*cio de s$culo, uma disciplina %ue elege como seu campo pro(*cuo de aço o estudo do homem atrav$s de sua m=sica" 3eri(ica/se claramente %ue a preocupaço dos primeiros representantes de uma musicologia comparativa se en%uadra nas %uest!es da virada para o 9$culo ??" @ncentivada pela teoria evolucionista, vigora a preocupaço em se delinear uma história da humanidade, incluindo os seus vários estágios, dos supostamente mais primitivos aos mais evolu*dos" 7ara entend'/los, a antropologia (ornecia (arto material ilustrativo +embora os antropólogos no necessariamente apoiassem esta viso de história" >as tamb$m um ar%uivo como o de 6erlim dispunha de material (onográ(ico, agora devidamente organizado, %ue poderia comprovar os di(erentes estágios estil*sticos de uma história mundial da m=sica" 7or sua vez, o desenvolvimento das ci'ncias e&atas, em especial a (*sica, culmina com a primeira verso da 4Georia da Nelatividade5 de )lbert Einstein, precisamente em 102" B jovem Einstein consegue provar a (alsidade da crença cient*(ica %ue at$ ento imperava sobre espaço e tempo, energia, luz e mat$ria" Me maneira revolucionária descobre um novo conceito de relatividade" Aeste mesmo per*odo, e em reaço à postura evolucionista de história da humanidade, propaga/se uma contra/corrente na antropologia, inicialmente
atrav$s do chamado di(usionismo, %ue se op!e à id$ia da linearidade =nica de uma evoluço cultural" # outro jovem cientista, o antropólogo Jranz 6oas +1;2;/11, %ue, depois de permanecer em campo entre os inuit +es%uimós das ilhas de 6a((in, se distancia de(initivamente da id$ia +evolucionista da e&ist'ncia de estágios altos e bai&os de desenvolvimento cultural em di(erentes sociedades: e perunto muitas ve%es, &uais as vantaens &ue a nossa *#oa+ sociedade tem so#re a&uela de *selvaens+. heo - conclusão &ue &uanto mais o#servo seus costumes, menos temos o direito de olhar de cima so#re eles (...). sta viaem me fortaleceu (en&uanto pessoa &ue pensa) o ponto de vista da relatividade de todas as maneiras de trato cultural (/ildun)" +Citado em
Lonaitis, 1:188 Este respeito perante a cultura 4do outro5, mesmo %ue completamente di(erente dos princ*pios da própria sociedade, espelha/se tamb$m em muitas das abordages de Rornbostel, %ue independente de opini!es contrárias, por vezes (erozes, vindas da musicologia histórica, mantinha/se convicto da validade de suas descobertas e teorias" # o próprio 6oas %ue o convida a (azer suas primeiras +e =nicas pes%uisas de campo nos E) com ind*genas norte/ americanos" B 0eiteist dos primeiros anos do 9$culo ??, portanto, $ prop*cio para o surgimento da etnomusicologia" Ao pode ser coincid'ncia, ento, a disciplina se apresentar moderna, avançada e arrojada desde o momento dos seus primeiros passos" Ela $ moderna na mesma acepço dada ao termo pelos modernistas, movimento %ue se (ortalece rapidamente neste in*cio de s$culo" Como estes, tamb$m a etnomusicologia prev' o (inal das convenç!es tradicionais de certas linhas de pes%uisa, ou se op!e a opini!es est$ticas onde as artes so vistas unicamente em conse%u'ncia do seu meio natural" # o momento para se abrir ao mundo desconhecido S (ala/se em 4e&otismo5 S e abandonar convenç!es ultrapassadas" 9urgem obras emblemáticas das artes plásticas, inspiradas no descobrimento deste e&otismo, como 4Oes Memoiselles dF)vignon5 de 7ablo 7icasso" @ndependente de alguns de seus representantes, como Curt 9achs, %ue ainda se prende ao evolucionismo histórico, a musicologia comparativa em si tamb$m e&pressa esta renovaço, no se submetendo à
tradiço oitocentista, basicamente (ilológica, das ci'ncias humanas de seu tempo e representada pela musicologia histórica" Esta nova musicologia comparativa já demonstra ser aliada dos recursos tecnológicos, dos %uais se bene(icia desde o in*cio" )ssim, a sua abertura e vontade de inovar $ a mesma das descobertas tecnológicasT a sua independ'ncia de um locus geográ(ico e temporal (i&o $ semelhante ao da (*sica da Georia da Nelatividade, seu credo est$tico dialoga com a%uele dos modernistas, dei&ando para trás tudo a%uilo %ue pouco antes parecia =nico e incontestável" @ncontestável ainda se pretendia a id$ia do mais c$lebre dos teóricos da m=sica deste inic*o de s$culo, Rugo Niemann, %uanto ao 4edi(*cio sonoro da humanidade5" # Niemann, precisamente, %ue mais se incomoda com o 4relativismo musical5 dos comparativistas: e um dos mais recentes ramos da musicoloia, a etnorafia musical, parte da utili%ação de técnicas modernas de pes&uisa de ravaçes de c3nticos de povos naturais e e4ames e4atos de instrumentos de música para chear a resultados &ue dão um tapa no rosto das mais antias tradiçes da teoria das relaçes dos tons (intervalos de 5 de tons, terças *neutras+ etc.), não é tarefa da historiorafia dei4ar influenciar6se no retrato &ue constr7i do passado, a partir destas o#servaçes de ho$e. 8re a&ui uma séria advert!ncia aos historiadores da música, para &ue não dei4em turvar a sua visão pelos pes&uisadores dos métodos das ci!ncias e4atas. (...) A oitava su#dividida em 12 semitons (...) é um fato hist7rico, &ue não se derru#a com aluns apitos mal feitos da 9olinésia ou com desempenhos de canto &uestionveis de mulheres de c:r" +Niemann, 10
) convicço de Niemann, ainda amplamente compartilhada em 10, no poderia mais sustentar/se para os pioneiros da etnomusicologia" )gora havia um 4projeto etnomusicológico5 en%uanto viso %ue renovaria a musicologia, %uestionando com esta renovaço a posiço (ilológica das ci'ncias humanas como um todo" # o momento em %ue se encerram os antecedentes e em %ue nasce, de (ato, a nova disciplina" "urge a disciplina
Aos anos de 10 e 102 so publicados alguns te&tos %ue, meta(oricamente,
podemos chamar de 4certid!es de nascimento5 da etnomusicologia, pois anunciam claramente o incipiente campo de estudos, situado epistemologicamente entre a musicologia e a antropologia" >esmo (iliada, a partir deste momento, a ambas as ci'ncias, esta pes%uisa de 4m=sicas e&óticas5 ainda permaneceria, por um bom tempo, sem o devido reconhecimento pleno por nenhuma das duas" >as %uais so as mencionadas certid!es de nascimentoU # com o convite a Rornbostel para dirigir o )r%uivo Jonográ(ico de 6erlim em 10, %ue se lhe imprime a marca de uma instituiço s$ria de pes%uisa" Este pes%uisador e seus colegas introduzem a nova orientaço à pes%uisa musicológica a partir de 102" Aa v$spera de assumir o )r%uivo, Rornbostel publica, em conjunto com Btto )braham, o artigo 49obre a importIncia do (onógra(o para o trabalho musicológico comparativo5 +4Vber die 6edeutung des 7honographen (Wr vergleichende >usiXissenscha(t5" B te&to prop!e um primeiro programa de pes%uisa, signi(icativamente sem (alar em >usicologia Comparativa en%uanto disciplina, mas apenas em 4trabalho musicológico comparativo5" ma das colocaç!es centrais do te&to $ a sugesto dos autores, de %ue será necessário, neste tipo de pes%uisa, buscar compreender as di(erenças musicais a partir de suas espec*(icidades culturais: arefa do tra#alho musicol7ico comparativo é distinuir as diferenças entre os traços culturais espec'ficos
9em d=vida, esta $ uma constataço %ue se tornará verdadeiramente programática para a disciplina a partir das d$cadas seguintes" @mportante notar, tamb$m, %ue a observaço denota um distanciamento da musicologia histórica, e uma subse%Wente apro&imaço à antropologia cultural, dentro da linha de Jranz 6oas" Nec$m empossado como diretor e pes%uisador do ar%uivo (onográ(ico, Rornbostel publica o seu c$lebre artigo 47roblemas da >usicologia Comparativa5 +Rornbostel, 102, o segundo documento %ue testemunha o surgimento da nova disciplina" Aa introduço, o autor aponta para a di(iculdade em de(inir um ramo especial de uma ci'ncia, %ue ainda no tem maiores
resultados a apresentar" 7or isso opta por delinear as metas a serem alcançadas por este jovem 4rebento5 +4 pruseu de )ntropologia de 6erlim, Jeli& von Ouschan, dá aos representantes da musicologia comparativa uma primeira acolhida" # sinal de %ue o 4novo paradigma musical5 chega à antropologia e tamb$m às suas instituiç!es" Com a publicaço de um artigo %uase hom.nimo ao supra/citado de Rornbostel e )braham, intitulado: 4) importIncia de gravaç!es (onográ(icas para a )ntropologia5 +Ouschan, 10, Ouschan no esconde as d=vidas iniciais
%uanto à utilidade do (onógra(o para as pes%uisas antropológicas, mencionando %ue at$ mesmo as e&peri'ncias de Jranz 6oas com *ndios norte/americanos no haviam trazido provas convincentes da importIncia do aparelho para o trabalho de campo antropológico" Joi somente por interm$dio de palestras de Rornbostel, diz Ouschan, %ue o (onógra(o lhe pareceu como uma (erramenta indispensável para a pes%uisa de campo antropológica" Conclui S e esta colocaço $ decisiva S a(irmando %ue O &ue (...) se reali%ou neste campo fa% prever, desde $, &ue dentro de pouco tempo a musicoloia comparativa se tornar uma das mais importantes e interessantes disciplinas da antropoloia5 +Ouschan, 10:801"
Em uma r$plica, publicada logo após ao artigo de Ouschan, o psicólogo e (undador do )r%uivo Jonográ(ico de 6erlim, Carl 9tump(, reitera os anseios do antropólogo: e dever #uscar criar um ar&uivo para fonoramas, preferencialmente como parte do useu tnol7ico +10:8
3emos ento %ue, rejeitada inicialmente pela musicologia e acolhida pela antropologia, a etnomusicologia se constitui e logo ganha o per(il %ue lhe $ próprio: 4duplo5 e 4dividido5 +" Como este in*cio de s$culo $ de contestaço art*stica, de renovaço tecnológica e de reorientaço conceitual em muitas ci'ncias, o momento no poderia ser melhor para uma nova disciplina %ue busca entender o %ue $ estranho, %ue valoriza o %ue $ desprezado, al$m de essencialmente preocupada em aumentar o próprio horizonte do saber, atrav$s do re/conhecimento de um mundo cada vez mais moderno, e, por isso mesmo, cada vez mais diversi(icado e m=ltiplo em seus sentidos"
Gabela #rimeiras graa$%es fonográficas no Brasil
# no esp*rito de tomada de novas metas mencionado acima, %ue se inserem as primeiras gravaç!es (eitas com o (onógra(o de Edison no 6rasil, no conte&to de viagens de pes%uisa etnográ(ica" Mesde o in*cio do s$culo ?@? viajantes pes%uisadores percorreram o 6rasil em várias e&pediç!es de coleta e de investigaço" )s pes%uisas antropológicas e culturais recebiam, ao lado das biológicas e z.o/botInicas, um lugar permanente e de desta%ue" )pesar de já encontrarmos re(er'ncias a tradiç!es musicais do pa*s no s$culo ?@?, notadamente atrav$s das transcriç!es musicais %ue encontramos nos volumes de 9pi& e 3on >artius de 1;8, ou nas gravuras de >oritz Nugendas, $ justamente o (onógra(o de Edison %ue abre perspectivas novas para a documentaço musical de (ato" Mado o interesse dos pes%uisadores alemes pelo 6rasil e o (ato de em 6erlim se encontrar o maior centro de documentaço da m=sica mundial, no $ coincid'ncia %ue os primeiros registros de m=sica (eitos no 6rasil com o (onógra(o de Edison ainda na primeira d$cada do s$culo ??, dei&em o pa*s rumo à Europa na bagagem de pes%uisadores alemes" )s primeiras gravaç!es (onográ(icas (eitas durante e&pediço de pes%uisa no 6rasil e das %uais se tem not*cia, (oram (eitas por uma misso da academia imperial de ci'ncias da Kustria sob a direço de Nichard Hettstein em 101 no sul do pa*s" Grata/se de poucas amostras ac=sticas do idioma guarani, de uma
cantiga religiosa e de um breve relato" )l$m disso (oram registradas em 9o 7aulo (alas do portugu's do 6rasil +9tangl, 8000:12" )s primeiras coleç!es e&pressivas de m=sica brasileira gravada em campo so de 10; a 11, (eitas pelos antropólogos Hilhelm Yissenberth +1;P; / 1 e Gheodor Yoch/" 3on Rornbostel" Entre o material %ue Yoch/au&i, Gaulipan, Guano, Mesana e [ecuanan" Como no era capaz de avaliar todo o material musical ind*gena, solicitou a Rornbostel %ue se encarregasse da análise de instrumentos e da transcriço das gravaç!es" B trabalho conjunto elaborado a partir da id$ia de Yoch/
brasileiras, e, mais tarde, das diversas escalas captadas pelo (onógra(o de Yoch/
Me especial relevIncia para a história da musicologia no 6rasil, $ um artigo publicado por Rornbostel anos mais tarde, 4>=sica dos >au&i, Gaulipan e [euanan5 baseado nas gravaç!es (eitas por Yoch/ato useu Aacional, Nio de Laneiro" B resultado de suas pes%uisas está e&posto no seu livro 4Nond.nia5 +No%uette 7into, 11P"
Ao in*cio dos anos 80 >ário de )ndrade deparou/se com a obra monumental de Yoch/au&i sobre o herói >au/Aaima, %ue em 18; se torna protagonista do grande romance modernista de >ário de )ndrade: 4>acuna*ma5" Mepois de conseguir as cópias das gravaç!es de Yoch/ário de )ndrade tamb$m solicita ao museu de 6erlim um (onógra(o para gravaç!es de campo" B aparelho chega ao 6rasil em 1P e $ encaminhado à cantora e violonista Blga 7raguer Coelho, %ue grava cantigas do candombl$ baiano" Grata/ se do primeiro registro sonoro deste repertório do %ual tenho not*cia" Com esta gravaço de Blga 7raguer, se encerra a era do (onógra(o de Edison" B gravador el$trico, tanto de (itas magn$ticas como de 4bolacha5 +disco, inventado na d$cada de 0, mais so(isticado e ade%uado para o trabalho de campo etnomusicológico, já começa a ser empregado em campo no 6rasil a partir de 1;" B %ue permanece da era (onográ(ica $ a sonoridade dos pe%uenos cilindros, com tomadas de no má&imo dois minutos de m=sicaT sons %ue (icam nos ar%uivos, mas %ue tamb$m ressoam nos ouvidos de todos a%ueles %ue um dia travaram contato com estes pe%uenos suportes de som, antropólogos e musicólogos" & dilema da graa$'o fonográfica
Com a possibilidade da realizaço de registros ac=sticos em campo, a etnomusicologia a(irma de(initivamente a sua natureza dupla, situada entre a musicologia e a antropologia" ) tradiço humanista nas ci'ncias já havia demonstrado di(iculdade (ace à (alta de documentos escritos na antropologia, portanto, à aus'ncia de (ontes pass*veis de e&ames (ilológicos" )s coleç!es de cultura material dos museus vinham, at$ certo ponto, suprimir parte desta (alta de dados escritos, pois eram os arte(atos produzidos pela mo do homem, %ue agora substituiam o te&to ine&istente" )creditava/se %ue a decodi(icaço hermeneutica dos objetos levaria à leitura do processo mental %ue dera origem aos arte(atos, viabilizando assim a compreenso apro(undada da cultura em %uesto"
7ara a musicologia as m=sicas de outros continentes tamb$m careciam de um te&to, ou seja, de partituras escritas, (ontes de pes%uisa imprescind*veis para uma investigaço musical histórica" Entravam a%ui novos 4arte(atos5, mais apropriados do %ue os instrumentos musicais, representados pela gravaço sonora" Mecodi(icar estes arte(atos sonoros se dava atrav$s da análise e transcriço" 9itua/se a%ui, portanto, uma ligaço direta entre o procedimento antropológico da recolha de 4cultura material5 e da necessidade musicológica de um 4te&to5 musical, %ue, em =ltima instIncia, era tamb$m uma necessidade das humanidades oitocentistas" ) etnomusicologia reconheceu logo a importIncia da ponte entre a antropologia e a musicologia, uma ponte %ue somente ela poderia construir, graças, essencialmente, ao registro (onográ(ico, um registro tanto 4material5 %uanto de 4te&to5, e %ue se presta simultaneamente à deci(raço e à decodi(icaço" Aeste esp*rito 4(ilológico5 das humanidades, as gravaç!es auditivas de m=sica (eitas por Yissenberth ou por Yoch/
intervenço direta, %ue ocorre assim com este diapaso, a posiço do investigador, %ue necessita inserir o seu re(erencial no momento do registro, demonstra claramente no apenas a postura deste diante da cultura estranha, mas suscita tamb$m o dilema básico do labor antropológico: todo e %ual%uer tipo de avaliaço da cultura alheia está (undada na percepço %ue só (unciona a partir do padro próprio de concepç!es da%uele responsável pela investigaço" B m$todo comparativo passa, ento, a ser a principal (erramenta de operaço na busca pelo outro e por sua mani(estaço cultural" B breve sopro do diapaso marcando a posiço da nota 4lá5 no conte&to sonoro geral, ilustra este dilema do antropólogo na sua busca por elos %ue possam apro&imar os dois universos conceituais, o próprio e o da sociedade %ue está sendo estudada" >esmo com a renovaço no campo tecnológico e nas orientaç!es de pes%uisa, e tamb$m (ace a %uest!es %ue se tornaram importantes hoje em dia, permanece o dilema do lugar isolado ocupado pela etnomusicologia, meta(oricamente ilustrado pelo tom 4lá5 do diapaso de Yoch/
Concluindo estas re(le&!es sobre o centenário da etnomusicologia, caberia comentar o seu desenvolvimento no 6rasil" # um dos anseios da 4)ssociaço 6rasileira de Etnomusicologia5 +)6EG trabalhar e tornar p=blica esta história brasileira da disciplina, %ue considero ser um cap*tulo muito signi(icativo da etnomusicologia como um todo" ) tare(a %ue se prop!e ainda carece do es(orço conjunto de muitos dos membros da )6EG, pois, na verdade, cada uma das regi!es do pa*s tem a sua verso para relatar sobre a disciplina, ou sobre empreendimentos etnomusicológicos %ue no aconteceram sob este rótulo ou em seu nome" Oimito/me, por isso, a enumerar alguns momentos da etnomusicologia no 6rasil, con(orme já apontados parcialmente no te&to, na e&pectativa de %ue em breve sejam completados por mais outros dados relevantes" )(inal, hoje já podemos dizer %ue os cem anos da etnomusicologia, so cem anos de uma disciplina %ue tamb$m $ brasileira"
100 anos de etnomusicologia no 6rasil: alguns dados 101 >isso austr*aca com primeiros registros de (ala no 9ul 10P^ 1_ gravaço sonora de campo na )mazonia por antropólogos alemes 118 1_ gravaço sonora de campo de antropólogo brasileiro +No%uette 7into no >ato isso de 7es%uisas Jolclóricas5 do Mepartamento de Cultura da 7re(eitura de 9o 7aulo, dirigido por >ário de )ndrade >elville e Jrances Rersovits na 6ahia Ouis Reitor Correa de )zevedo no Aordeste e >inas isso do >usee de lRomme +Mre(us/Noche na 6ahia e no ?ingu 1Q0 S ; 9$rie 4Mocumentário 9onoro do Jolclore 6rasileiro5 +iniciado por )losio de )lencar 7into e continuado por Elisabeth Gravassos 1P; 4Aova5 etnomusicologia no 6rasil com en(o%ues antropológicos: Na(ael Los$ de >enezes 6astos: >usicológica Yamaurá usic, anuel 3eiga: 6razilian Ethnomusicolog" )merindian 7hases 1; Mescoberta das 4terças neutras5 na m=sica do Aordeste +Giago de Bliveira 7into, 1; 1;Q 7rimeira gravaço de campo digital no 6rasil +6) 1;P]0 7rogramas de etnomusicologia em escolas de m=sica de niversidades Jederais +Nio, 6) 8001 Criaço da )6EG no Nio de Laneiro 800 7rojeto de re/ediço da viagem da 4>isso de 7es%uisas Jolclóricas5 de 1;: 4Nesponde a roda outra vez5 +coordenado por Carlos 9androni 800 Era do M )udio sem (ita ou CM +suporte de dados: (lash card" 7rimeiras gravaç!es de campo em 9o 7aulo com e%uipe da 97"
!otas
1" 6runo Aettl (az menço a algo como uma celebraço de 180 anos da etnomusicologia, partindo de 1;;2, ano em %ue )le&ander L" Ellis publica o resultado de suas pes%uisas ac=sticas +Ellis, 1;;2" Aa verdade Aettl inclui o per*odo %ue antecede o nascimento da etnomusicologia con(orme busco argumentar neste ensaio" Aettl toma os 20 anos da 49ociet (or Ethnomusicolog5 como ensejo para re(letir sobre as datas importantes da disciplina +Aettl, 8002" 8" ma verso reduzida deste te&to (oi apresentada na mesa redonda 47resente e (uturo da Etnomusicologia no 6rasil5 +8D Enconcontro Aacional da )6EG em 9alvador, novembro de 800" )inda estavam presentes à mesa >anuel 3eiga e Na(ael Los$ de >enezes 6astos" ) mesa (oi presidida por 9alXa El 9haXan Castelo/6ranco" " 7ara uma discusso mais apro(undada sobre a comple&a relaço entre a musicologia histórica e sistemática, vide >enezes 6astos, 12" " Esta dupla natureza da etnomusicologia $ logo tematizada no primeiro cap*tulo de um dos livros/chave da disciplina, no Ghe )nthropolog o( >usic de )lan 7" >erriam: A etnomusicoloia carrea dentro de si as sementes para a sua pr7pria divisão, pois sempre foi composta por duas partes distintas, a musicol7ica e a etnol7ica, e talve% seu maior pro#lema se$a a mistura das duas em um s7 modo de ser, &ue não enfati%a nenhuma das duas, mas &ue toma am#as em consideração" +>erriam, 1Q
Bbs: 9o minhas as traduç!es das citaç!es do ingl's e do alemo
+efer,ncias iliográficas
)dler,
1;;2 4m(ang, >ethode und iel der >usiXissenscha(t5, 3ierteljahrschri(t (Wr >usiXissenscha(t, vol" 1: 2/80 18 Randbuch der >usigeschichte" Jran(urt a" >ain Ellis, )le&ander L" 1;;2 \Bn the >usical 9cales o( 3arious Aations4, Lournal o( the 9ociet o( )rts, vol" : ;2/28P usiXissenscha(t5, Hissenscha(t und Heltbild, vol" 82 ] 8: 121/12; Rornbostel, Erich >" von 102 4Mie 7robleme der vergleichenden >usiXissenscha(t5, eitschri(t der internationalen >usigesellscha(t, vol" P ] : ;2/P 10 4Vber einige 7anp(ei(en aus AordXest/6rasilien5, Gheodor Yoch/ usi der >auschi, Gaulipang und [euaná5, Gheodor Yoch/" )braham, Btto 10 4Vber die 6edeutung des 7honographen (Wr vergleichende >usiXissenscha(t5, eitschri(t (Wr Ethnologie, vol" Q Lonaitis, )ldona 1 Jrom the Oand o( the Gotem 7oles" Ghe AorthXest Coast @ndian )rt Collection at the )merican >useum o( Aatural Ristor" AeX [or, 9eattle Ouschan, Jeli& von 10 4Mie 6edeutung phonographischer )u(nahmen (Wr die Ethnologie5, eitschri(t (Wr Ethnologie, vol" Q >enezes 6astos 1;2 4Esboço de uma teoria da m=sica: para al$m de uma antropologia sem m=sica e de uma musicologia sem homem5, )nuário )ntropológico, vol" :/P
>erriam, )lan 7" 1Q Ghe )nthropolog o( >usic" Evanston Aettl, 6runo 8002 4) [ear o( )nniversaries5, 9E> AeXsletter, ] : 2 Niemann, Rugo 10 Randbuch der >usigeschichte, vol" 1" Oeipzig No%uette 7into, Edgard 11P Nond.nia" Nio de Laneiro 9chneider, )lbrecht 1PQ >usiXissenscha(t und Yulturreislehre" 6onn 9tangl, 6urhard 8000 Ethnologie im Bhr" Mie Hirungsgeschichte des 7honographen" 3iena