História da psicologia e sistemas psicológicos: Behaviorismo
Caio Souto
2º semestre/2015 UFSCar S!o Carlos
Sumário
"ula 1 1#/0$/2015: história e sistema "ula 2 % 20/0$/2015: &reve história 'losó'ca da (orma)!o do co*ceito de re+e,o "ula # % 2-/0$/2015: empirismo e re+e,ologia "ula . % 0#/0/2015: o ue possvel co*hecer3 "ula 5 % 10/0/2015: da re+e,ologia ao &ehaviorismo "ula 4 % 1-/0/2015: &ehaviorismo metodológico e positivismo lógico "ula - % 2./0/2015: o *eo&ehaviorismo: olma* e Hull "ula $ % 01/10/2015: uma ruptura epistemológica: o &ehaviorismo radical de S6i**er "ula % 22/10/2015: o so*ho de S6i**er "ula 10 % 2/10/2015: aspectos espec'cos do comportame*to opera*te "ula 11 % 12/11/2015: co*trole e resist7*cia "ula 12 % 1/11/2015: a co*cep)!o s6i**eria*a de su8eito "ula 1# % 24/11/2015: do comportame*to ver&al como opera*te
Sumário
"ula 1 1#/0$/2015: história e sistema "ula 2 % 20/0$/2015: &reve história 'losó'ca da (orma)!o do co*ceito de re+e,o "ula # % 2-/0$/2015: empirismo e re+e,ologia "ula . % 0#/0/2015: o ue possvel co*hecer3 "ula 5 % 10/0/2015: da re+e,ologia ao &ehaviorismo "ula 4 % 1-/0/2015: &ehaviorismo metodológico e positivismo lógico "ula - % 2./0/2015: o *eo&ehaviorismo: olma* e Hull "ula $ % 01/10/2015: uma ruptura epistemológica: o &ehaviorismo radical de S6i**er "ula % 22/10/2015: o so*ho de S6i**er "ula 10 % 2/10/2015: aspectos espec'cos do comportame*to opera*te "ula 11 % 12/11/2015: co*trole e resist7*cia "ula 12 % 1/11/2015: a co*cep)!o s6i**eria*a de su8eito "ula 1# % 24/11/2015: do comportame*to ver&al como opera*te
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[1. Introdução] [1.1 Perguntas iniciais] Nosso curso buscará responder a duas questões principais que não pode odem ser sepa separradas adas radi radica calm lmen ente te.. A prim rimeira eira pode pode ser ser for formula mulad da basicamente desse modo em que condições a Análise do Comportamento
se constituiu como uma ciência? Para respond!"la# recorremos a duas noções que $á estão contidas no t%tulo da disciplina as noções de História e de Sistema. &efa'endo a pergunta# ter% ter%am amos os algo algo mais mais ou meno menoss assi assim m em que que cond condiç içõe õess a Anális nálisee do
Comportamento
se
constituiu
historicamente
como
um sistema
psicológico? quaiss sã são o os (á a segu segund nda a ques questã tão o pode pode ser ser assi assim m colo coloca cada da quai prin princi cipa pais is as aspe pect ctos os pelo peloss quai quaiss a Análi nálise se do Comp Compor orta tame ment nto o se reconhece como uma ciência? Para tentar elaborar mel)or essas questões# recorreremos * )ist+ria do be)a,iorismo. -as o interesse pela )ist+ria s+ fa' sentido se puder auiliar a compre compreend ender er mel)or mel)or o pr+pri pr+prio o sistem sistema a psico psicol+g l+gico ico do be)a,i be)a,iori orismo smo## que parece não depender de sua )ist+ria para funcionar como um sistema da Análise do /omportamento. 0 esse problema inicial que iremos abordar na aula de )o$e. [1.. 2ist+ria e sistema] 3ntre )ist+ria e sistema )á um limite intranspon%,el# porque são dois termos que di'em respeito a coisas não s+ diferentes# mas que em muitos aspectos at4 mesmo se opõem. A )ist+ria implica a análise das mudanças pelas quais passa alguma coisa# em nosso caso# uma ci!ncia espec%fica. 3la 3
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se
interessa
pelas
instabilidades#
pelas
impre,isibilidades#
pelos
acontecimentos repentinos que marcam as transformações que fa'em com que algo no,o apareça no lugar de algo que deiou de eistir. 5rata"se de uma disciplina que lida com acasos e conting!ncias. (á o termo sistema di' respeito a algo consolidado# constru%do a partir de relações necessárias entre seus termos# em geral $á compro,adas pela eperi!ncia# ou# no caso de um sistema cient%fico# aceitas por uma comunidade cient%fica. Nesse sentido# )ist+ria e sistema parecem se op6r mutuamente. Por outro lado# seria poss%,el que um sistema se constitu%sse sem uma )ist+ria7 3ssa relação entre a transformação )ist+rica# entre a instabilidade# a mutabilidade# o acontecimento repentino e impre,is%,el# que são as caracter%sticas da )ist+ria# e a consolidação do paradigma de um sistema# a aceitação por uma comunidade cient%fica# a aplicação de seus conceitos e de suas práticas# a relação coerente entre seus termos# a relação entre esses termos opostos 8mudança )ist+rica e fiide' sist!mica9 não constitui um paradoo. Ao contrário# 4 somente a partir dessa relação que se pode compreender um problema que 4 anterior a uma ci!ncia especificamente considerada# mas que está na base de sua consolidação. : problema da sua condição de possibilidade de eist!ncia. 3sse 4 o ponto que articula# que coordena# que ,incula# que conecta o estatuto atual de uma ci!ncia constitu%da como sistema e a )ist+ria de sua constituição. Pois uma ,e' compreendidas todas as implicações de suas condições de possibilidade# compreendem"se tamb4m os alicerces dessa ci!ncia# os quais# se ,ierem a ser alterados )istoricamente# modificarão certamente o estatuto dessa ci!ncia. 5ais alicerces constituem o ;ponto cego< de uma ci!ncia# aquilo que ela mesma não pode ,er# 4
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pois não pode ser colocado por ela# pois 4 um elemento que l)e 4 etr%nseco# que 4 dado na )ist+ria. 0 o que buscaremos compreender a prop+sito da ci!ncia que cuida da análise do comportamento. [. 2ist+ria] [.1. : estudo da )ist+ria] =omente a )ist+ria permite mostrar em que medida a constituição de uma teoria cient%fica de,e# ou não de,e# sua eist!ncia a elementos que# em seu estágio atual# l)e eram estran)os# estrangeiros# elementos que eram# enfim# etracient%ficos. A )ist+ria permite recuar no desen,ol,imento de uma ci!ncia at4 o ponto em que aquela ci!ncia ainda não eistia enquanto tal e ,erificar as etapas de sua construção. Al4m disso# a )ist+ria permite recuperar elementos pr4"cient%ficos da formação de uma ci!ncia# não apenas para mostrar como e por que eles agora são re$eitados pela ci!ncia em questão 8que no nosso caso será a análise do comportamento9# mas para# com isso# tentar atuali'á"los no momento em que deiaram de pertencer ao estatuto normal dessa ci!ncia. =omente assim 4 poss%,el perceber por que determinada ci!ncia não poderia ter eistido em um dado per%odo )ist+rico considerado e constatar quais foram as condições de possibilidade para o seu surgimento. Isso porque a )ist+ria $amais se repete# pois cada acontecimento 8se$a no plano das práticas# se$a no plano cient%fico > pois eistem acontecimentos estritamente cient%ficos9 está atrelado *s condições )ist+ricas em que ocorreu. /on)ecer a )ist+ria 4 con)ecer a constituição do conteto atual em que ,i,emos# que 4 o conteto em que as ci!ncias que con)ecemos eistem. Por fim# somente atra,4s do estudo da )ist+ria da psicologia 4 que se torna poss%,el compreender as relações# os elos entre os di,ersos sistemas 5
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psicol+gicos )o$e eistentes. =e )á alguma coisa em comum entre o behaviorismo# a psicanálise# a daseinanálise# a esquizoanálise# a Getalt # 4 que
todas elas compartil)am de uma )ist+ria da psicologia que possui desdobramentos diferentes# mas uma mesma condição de possibilidade )ist+rica. [.. A questão do ,alor] Por4m# analisar a )ist+ria não 4 apenas organi'ar cronologicamente o curso de acontecimentos que se sucedem ao longo do tempo. 3ssa sucessão con)ece não apenas continuidades# mas tamb4m rupturas. A )ist+ria 4 articulada# encadeada# ;contada<# segundo o ponto de ,ista do )istoriador# e em nosso caso espec%fico# do )istoriador da psicologia e dos sistemas psicol+gicos. 0 ele quem elege fatos que considera rele,antes# oculta 8ou esquece9 fatos que aparentemente não di'em respeito * )ist+ria de sua ci!ncia. Al4m disso# promo,em uma a,aliação sobre esses fatos e $ulgam quais são os mais importantes. ?esse ponto de ,ista# o )istoriador da psicologia menos instru%do poderia muito bem supor que a psicologia moderna em seu estado atual 4 superior aos seus rudimentos que l)e originaram remotamente. Poderia di'er que seu passado consistia em erros que a psicologia moderna teria superado. -as aqueles ;erros< esta,am articulados ao modo de pensar daquela 4poca# que esta,am atrelados a um modo de ,ida e a um modo de pensar correlatos. Na atualidade# o que mudou foi toda essa con$untura. Nosso modo de ,ida atual e nosso modo de pensar formam as condições de possibilidade da ci!ncia de )o$e# que l)e 4 correlata. Nesse sentido# não se pode di'er que )á uma sucessão linear# um 6
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desen,ol,imento linear# num sentido @nico# entre os modos de pensar do passado e do presente. /omo pertence ao presente# o )istoriador da psicologia atual sempre fala do pensamento de outra 4poca a partir do seu presente# com os instrumentos e segundo os resultados apresentados por sua ci!ncia no seu atual estágio de desen,ol,imento. 3m suma# 4 sempre a partir de seu presente que o )istoriador atual a,alia 8,alora# $ulga9 a )ist+ria de sua ci!ncia. A )ist+ria não 4 apenas uma sucessão de acontecimentos no tempo# mas a a,aliação 8a ,aloração# o $u%'o# o $ulgamento9 que a ci!ncia do tempo presente pode reali'ar sobre seu passado. eremos ao longo do curso como isso se dá no que di' respeito * formação do sistema psicol+gico con)ecido como be)a,iorismo. [B. =istema] 3mbora a ci!ncia possua uma rai' )ist+rica que 4 correlata e indissociá,el a um modo de ,ida e a um modo de pensar mais abrangentes# tamb4m 4 ,erdade que a ci!ncia possui uma especificidade que a distingue das demais formas de pensamento. A forma de pensamento de que a ci!ncia por definição se distingue 4 a do senso comum. Para alguns pensadores# a ci!ncia aprimora o senso comumC para outros ela rompe radicalmente com ele. A maior diferença entre ci!ncia e senso comum 4 que este não promo,e uma autoin,estigação# não reflete sobre si pr+prio# enquanto a ci!ncia se caracteri'a $ustamente pelo fato de construir eperimentos que# a todo momento# colocam em eque suas conclusões e procuram responder a problemas que ainda não foram resol,idos. No curso desse processo# que 4 um procedimento racionalista# e não intuiti,o# a ci!ncia se emancipa do pensamento do senso comum# ela se autonomiza. [3emplo Podemos encontrar um bom eemplo na e,olução dos sistemas 7
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computacionais. =ua rápida e,olução nas @ltimas d4cadas pode ser obser,ada pelo menos de duas maneiras. A primeira# que corresponde a uma )ist+ria interna dos computadores# se concentraria na e,olução dos hardwares# dos softwares# das relações estabelecidas entre si# das redes de informática# da
diminuição de custas na criação de transmissores de dados# na redução do taman)o dos aparel)os# na cada ,e' maior facilidade de transporte# na ,elocidade dos fluos de informação etc. 3sta forma de análise não costuma le,ar em consideração as relações entre o ob$eto de estudo )ist+rico in,estigado e o seu mundo circundante# o seu conteto.] /omo afirma um dos autores que estudaremos neste curso# D. E. =Finner ;A ci!ncia 4 uma disposição de aceitar os fatos mesmo quando eles são opostos aos dese$os< 8 Ciência e comportamento humano . =ão Paulo -artins Eontes# GGH# p. 1B9. Isso significa que a obser,ação dos fatos muitas ,e'es contraria o dese$o do cientista. 3sse dese$o 8como tamb4m mostra muito bem a psicologia9 4 constru%do na relação entre o indi,%duo 8no caso o cientista9 e a sociedade. -as a obser,ação cient%fica# ao contrariar o dese$o# eige um desprendimento do cientista# eige que ele se$a fiel ao que p6de obser,ar com base na eperi!ncia. A seguir# =Finner apresenta os dois principais estágios de consolidação de uma ci!ncia. : primeiro di' respeito * busca por uma ordem# uma uniformidade entre os e,entos da nature'a# que se dá a partir da obser,ação de epis+dios singulares. : segundo se dá na medida em que se obser,a a regularidade entre di,ersos epid+dios obser,ados# o que permite que se a,ance no sentido de um aprimoramento na demonstração# no cálculo e na pre,isão de determinados acontecimentos# c)egando"se ao arran$o de um con$unto sistemático. uando se c)ega a esse segundo estágio# 8
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está"se diante da consolidação de uma ci!ncia# de um sistema cient%fico. [A compreensão da ci!ncia por =Finner que apresentamos acima 4 do tipo puramente induti,ista# pois não procura partir de concepções ou regras pr4,ias para ser ,alidadas ou refutadas pelos eperimentos 8o que seria uma concepação )ipot4tico"deduti,ista de ci!ncia9] [J. Programa do curso )ist+ria do be)a,iorismo como sistema] /om esse ob$eti,o# nosso curso tentará intercalar a )ist+ria do be)a,iorismo com a sua constituição enquanto sistema. Para isso# iniciaremos uma abordagem da formação do conceito de refleo# que surgiu no conteto do s4culo KII e KIII# atendendo a finalidades epistemol+gicas muito diferentes daquelas que passaria a cumprir em relação ao funcionalismo e ao be)a,iorismo. Leremos alguns trec)os da obra de Meorges /anguil)em a esse respeito. 3m seguida# de,eremos abordar os prim+rdios do be)a,iorismo com Pa,lo, e a formação do conceito de refleo condicionado# a partir de tetos do pr+prio autor. Posteriormente# leremos o teto de atson considerado como pioneiro do be)a,iorismo. Por fim# adentraremos alguns tetos de =Finner sobre o be)a,iorismo radical. 5al tra$et+ria )ist+rica terá o interesse de demonstrar as condições de possibilidade de surgimento de um sistema psicol+gico como o be)a,iorismo# o qual pretende se consolidar tendo como base a ideia de ci!ncia em que o cálculo e a pre,isão de resultados de,em se fec)ar de modo o mais completo e determinado poss%,el.
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[1. A )ist+ria de um erro] amos meditar um pouco sobre a frase com a qual Pa,lo, 81OJ"1BQ9 inicia um de seus artigos# que na pr+ima aula de,eremos ler de modo um pouco mais detido# antes de adentrarmos o eame do conceito de reflexo condicionado.
;Nosso ponto de partida foi o conceito cartesiano de reflexo< 8PAL:. ;: conceito de refleo e sua etensão<. =ão Paulo Abril /ultural# 1HJ# p. 1B. /oleção ;:s Pensadores<9. 3m nota# são indicadas outras refer!ncias que tamb4m remetem a ?escartes 81RQ"1QRG9 como fonte primeira da qual a análise do mo,imento refleo partiria. ?e fato# não apenas os autores fundamentais da análise do comportamento 8refleologia russa# be)a,iorismo americano9# mas tamb4m os mel)ores manuais de )ist+ria da psicologia costumam creditar a este autor a paternidade do conceito de refleo. No entanto# o estudo de )ist+ria da fisiologia proposto por /anguil)em 81GJ"1R9 contesta essa afirmação. =eu estudo sobre a formação do conceito de refleo demonstra que# embora )a$a uma teoria do mo,imento in,oluntário do corpo 8dos animais e dos seres )umanos9# não se trata da teoria do refleo. 2istoricamente# tal conceito teria recebido sua primeira formulação por outro autor 5)omas illis 81Q1"1QHR9. Antes de con)ecermos os principais passos dessa constatação que s+ uma epistemologia de caráter )ist+rico poderia fa'er# 4 necessário compreender por que o sistema cartesiano não poderia conter a formação de um conceito como o de refleo. [. ?escartes] 10
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[.1 : sistema filos+fico cartesiano] 2á dois tratados principais# na obra cartesiana# que in,estigam cada uma das duas substSncias que# segundo ele# eistiriam autonomamente o corpo e a alma. As Medita!es metaf"sicas buscam dedu'ir um princ%pio primeiro a todo o pensamento. No camin)o da d@,ida met+dica# o eu que pensa de,e du,idar da eist!ncia de seu pr+prio corpo# cu$a percepção bem poderia resultar de sensações falsas. :s pr+prios sentidos são colocados em d@,ida# pois para ?escartes eles são com frequ!ncia enganadores e s+ fornecem dados confusos ao pensamento. A @nica coisa de que o eu que pensa não pode du,idar 4 do fato de que# ao pensar# ele está pensando. 3is a primeira e,id!ncia que aparece ao su$eito de con)ecimento. =e eu penso# esse eu que pensa de,e eistir. 5rata"se da dedução o Co#ito como substSncia pensante. (á a eist!ncia do corpo 8de tudo aquilo que eiste como etensão no espaço9 4 dedu'ida depois. A busca por um princ%pio primeiro# auto"e,idente# se $ustifica porque# para ?escartes 8que se insere na tradição racionalista9# todo o con)ecimento procederá por dedução a partir de um primeiro princ%pio 8$á ,imos que =Finner utili'a o m4todo induti,o# e não o deduti,o# pelo que tentará afastar a necessidade de um princ%pio primeiro9. 5endo sido esse princ%pio garantido pela ideia do Co#ito# ?escartes se considera apto a dedu'ir# a partir do Co#ito# a eist!ncia de outras coisas que possam eistem para al4m do pensamento [suprimimos aqui a pro,a da eist!ncia de ?eus# que confere unidade e ,alidade ontol+gica a todo o con)ecimento# mas que# na ordem das e,id!ncias# 4 segunda com relação * e,id!ncia do Co#ito]. Por fim# tentará dedu'ir a eist!ncia da mat4ria# que tem como qualidade primária a etensão#
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que se de,e ao fato de eistir no espaço etenso. Por4m# para ele a eist!ncia dos corpos não pode aparecer de modo claro e distinto para a consci!ncia do eu pensante# porque a nature'a dos corpos no espaço 4 distinta da nature'a do pensamento. A @nica coisa que o pensamento pode dedu'ir com clare'a e distinção são as formas matemáticas e geom4tricas e as relações entre suas grande'as. Por4m# o eu tamb4m recebe influ!ncias dos sentidos# tamb4m percebe cores# sons# sabores# dor e outras coisas semel)antes. ?onde um aparente paradoo ;$á que# de um lado# ten)o uma ideia clara e distinta de mim mesmo# na medida em que sou apenas uma coisa pensante e inetensa# e que# de outro# ten)o uma ideia distinta do corpo# na medida em que 4 apenas uma coisa etensa e que não pensa# 4 certo que este eu# isto 4# min)a alma [ou psiqu! " /.=.]# pela qual eu sou o que sou# 4 inteira e ,erdadeiramente distinta de meu corpo e que ela pode ser ou eistir sem ele< 8?3=/A&53=. Medita!es metaf"sicas. =ão Paulo Abril /ultural# 1HB# p. 1J. /oleção ;:s Pensadores<9. A pro,a da eist!ncia do mundo eterior se fa' segundo o argumento de que todas as outras faculdades que não di'em respeito ao pensamento# ou ao entendimento e * imaginação 8atributos do pensamento9# de,em di'er respeito a outra substSncia# pois o pensamento 4 imaterial e# sendo imaterial# não poderia gerar efeitos na mat4ria# nem receber os efeitos desta. A essa outra substSncia# ?escartes c)amou substSncia etensa# de nature'a corp+rea. [. : mecanicismo cartesiano] :s dois tratados cartesianos que eploram mais detidamente o funcionamento da substSncia etensa se c)ama o $ratado sobre o homem e %s paix!es da alma. Partindo da mesma ideia de que )á uma diferença de
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nature'a entre alma e corpo# ?escartes epõe sua concepção do corpo# compreendido por ele como uma máquina de ossos# ner,os# m@sculos# ,eias# sangue e que funcionariam de modo aut6nomo * substSncia pensante# portanto# sem interfer!ncia da alma. No curso de sua argumentação# ?escartes afirma que ;nada resta em n+s que de,emos atribuir * alma# eceto nossos pensamentos< 8?3=/A&53=. %s paix!es da alma. =ão Paulo Abril /ultural# 1HB# p. BJ. /oleção ;:s Pensadores<9. 3liminando# assim# do funcionamento do corpo qualquer interfer!ncia dessa outra substSncia# ?escartes o restringiria *s suas relações causais e mecSnicas# o que os autores da refleologia russa entendiam estar na origem do mo,imento refleo. No entanto# /anguil)em se atenta para algo indissociá,el ao sistema cartesiano. Pois 4 tamb4m nas &aix!es da alma que ?escartes argumenta )a,er uma união entre alma e corpo# apesar da diferença de nature'a entre essas duas substSncias. 0 a alma que confere unidade ao corpo que# por sua ,e'# por ser material# 4 infinitamente di,is%,el. A alma não se liga a uma parte do corpo em especial# mas ;está ,erdadeiramente unida ao corpo todo< 8?3=/A&53=. %s paix!es da alma. op' cit' p. BO9. ?ito de outro modo# a alma seria uma forma# enquanto o corpo seria a mat4ria que a informa 8relação entre forma e informação# relação esta que perduraria# sem d@,ida# em muitos dos desdobramentos da Gestalt e da fenomenologia9. =omente este ponto $á seria suficiente para afastar ?escartes da tradição de uma psicologia ob$eti,a e# consequentemente# do be)a,iorismo. Tm dos tetos mais influentes de Milbert &Ule 81GG"1HQ9# em $he concept of mind # por eemplo# dedica"se a criticar essa união que ?escartes estabelece
entre alma e corpo# inserindo um fantasma na máquina # o que &Ule di' ser um 13
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;erro categorial<# por confundir duas categorias do pensamento e tentar articulá"las. : erro estaria no fato de que a alma não poderia ser concebida como uma substSncia imaterial# $á que ela seria# antes# um predicado 8um enunciado9 coleti,o para determinado comportamento obser,á,el. eremos isso com mais detal)es em aulas futuras. oltando a /anguil)em# di'%amos que a tese de que a refleologia 4 de matri' cartesiana era contestada pela )ist+ria da fisiologia. Al4m da introdução da ideia contestá,el do fantasma da máquina 8a alma no corpo9# o mecanicismo cartesiano# se considerarmos apenas o modo como concebe as relações entre as partes do corpo# tamb4m eclui a possibilidade de que o mo,imento refleo ten)a a% lugar. 2á uma longa tradição na )ist+ria da fisiologia que remonta * Antiguidade# segundo a qual )a,eria um centro no corpo dos animais e dos seres )umanos# pelo qual passariam todas as sensações e relações entre as demais partes. e$amos bre,emente os dois principais modelos de compreensão do corpo que eistiram desde a Antiguidade e que perduraram at4 o s4culo de ?escartes para compreendermos por que o conceito de refleo não poderia surgir dentro de nen)um desses modelos# ambos re,estidos de um teor metaf%sico# $á que esse centro do corpo foi tradicionalmente concebido como o lugar da relação do corp+reo com o incorp+reo# do material com o imaterial# da alma com o corpo. [retomamos aqui o li,ro de /anguil)em sobre a formação do conceito de refleo] [B. Antiguidade dois modelos fisiol+gicos] Na Antiguidade# os dois autores mais rele,antes para a )ist+ria da fisiologia são o grego Arist+teles 8BOJ a./. " B a./.9 e o romano Maleno 81
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d./. " 1H d./.9. [B.1 Arist+teles] [B.1.1 : primeiro motor e o coração] Arist+teles emprega# para os corpos animados# a tese do primeiro motor im+,el como princ%pio primeiro da ,ida# segundo a qual aquilo que fa' mo,er não pode estar em mo,imento 1. =ua definição de alma 4 a seguinte ;A alma 4 o primeiro ato de um corpo natural que possui ,ida em pot!ncia< 8 (e anima# J11aH9. =endo a alma aquilo que anima o corpo# tais termos 8corpo e alma9 não podem ser des,encil)ados. Para que a alma se eerça no corpo e o mo,imente 4 necessário um +rgão# um instrumento# o qual s+ pode eistir na mat4ria# no corpo. A alma não pode eistir sem o corpo# pois ela 4 uma capacidade de certo tipo de corpo# aquele que possui ,ida em pot!ncia a alma está para o corpo assim como a forma está para a mat4ria . A alma tamb4m 4 um eemplo de ato# e o corpo um eemplo de pot!ncia# o que e,idencia de outro modo sua união indissol@,el. =endo a alma 8psique9 o primeiro motor dos corpos que possuem ,ida em pot!ncia# ela necessita de um +rgão espec%fico no corpo a partir do qual ela eerce sua ação# que depois se estende a todas as demais partes do corpo. : estudo sobre os animais feito por Arist+teles le,ou"o a afirmar que o 1 :
mo,imento 4 equiparado por Arist+teles * mudança# que pode ser substancial# qualitati,a# quantitati,a ou local# de modo que todo mo,er implica uma mudança naquilo que 4 mo,ido ;: mo,imento 4 a ati,idade do que não alcançou o seu fim< 8(e anima JB1AH9. =endo a alma um fim em si mesma# não pode estar em mo,imento. 5al tese 8(e anima JGQaJ ss.9 4 eposta tamb4m na )"sica 8III.R# RQaB ss.9 e na Metaf"sica. No (e anima # considerado um teto de maturidade escrito ap+s os di,ersos tratados sobre a )ist+ria# as partes# o mo,imento# a progressão e a geração dos animais# al4m dos tratados menores reunidos sob o t%tulo &arva naturalia# Arist+teles buscou atribuir uma definição precisa * alma# termo que possui outra conotação em portugu!s# por isso costuma ser tradu'ido por alma e não por psique.
=ua relação trata"se de um caso particular do )ilemorfismo aristot4lico 8onde )il! 4 mat4ria e morp)os 4 forma9 apresentado na )"sica 8II.B9 e na Metaf"sica 8I.B# ,.9. 2
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instrumento desse primeiro sopro ,ital# desse pnema# desse primeiro mo,ente# desse primeiro calor# se centrali'aria no coração 8ou em +rgão equi,alente nos animais inferiores9# região que aqueceria o sangue e o faria circular por todo o corpo 8(e motu an' HGBa1J"1QC (e partibus an' QQHaH"9# de modo que o coração de,eria ser o +rgão do mo,imento 8 (e motu an' HGBaG9. 0 o que nota /anguil)em# que toma tal asserti,a como ponto de partida para a,aliar o estatuto do problema do mo,imento animal em Arist+teles 0 o coração que passa a ser a sede absoluta do mo,imento# o pi,6 central# o ponto corporal onde a alma comunica ao organismo a ,ida# a sensibilidade e o mo,imento. : coração 4 origem e princ%pio# anatomicamente e funcionalmente. [V] 0 a sua teoria metaf%sica segundo a qual todo mo,imento de um mo,ente requer um primeiro motor im+,el# um princ%pio primordial de mo,imento transcendente ao ob$eto mo,ido# que condu'iu Arist+teles a conferir ao coração essa condição eminente e pri,ilegiada que 4 a sua em meio a todas as partes do corpo 8/ANMTIL23-# M. *a formation du concept de r+flexe aux ,-.. e et ,-... e si/cles. Paris PTE# 1RR# pp. 1G"119.
[B.1. A questão do dese$o e do mo,imento ,oluntário] 5endo eplicado a origem do mo,imento dos corpos que tem ,ida em pot!ncia# e tamb4m locali'ado no coração o +rgão atra,4s do qual tal mo,imento iniciaria a ação sobre todas as demais partes do corpo# Arist+teles buscou eplicar como esse primeiro motor resultaria# em alguns seres espec%ficos 8como os animais e os )umanos9# em mo,imento. /onstatou que de,eria )a,er algum aspecto espec%fico da alma que produ'iria o mo,imento que ele c)amou de ;,oluntário<# $á que não são todos os seres animados que se mo,em. As plantas# por eemplo# que s+ dispõem da capacidade nutriti,a# não se mo,em# por isso não de,eria ser a nutrição a capacidade que produ' o mo,imento 8(e an' JBa1J9. Igualmente# a capacidade percepti,a não parecia produ'i"lo# $á que muitos animais que a possuem permanecem fios por toda a 16
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,ida 8(e an' JBa1Q9. Não sendo nem a nutrição nem a percepção os aspectos da alma que produ'em mo,imento# perguntou se não seria a capacidade de entendimento. Para ele# o entendimento se subdi,idiria em entendimento teor+tico# meramente passi,o# e entendimento prático# aquele que raciocina em ,ista de um fim e# por isso# imprime mo,imento 8 (e an' JBBa1J9. Para Arist+teles# o fim ,isado pelo entendimento prático 4 um ob$eto de dese$o# de modo que não pode mo,er sem o dese$o# que 4 na ,erdade o princ%pio do mo,imento 3iste apenas uma coisa# então# que mo,e a faculdade desiderati,a. 3# se duas coisas mo,essem > o entendimento e o dese$o ># mo,eriam de,ido a algum aspecto comum. Agora o entendimento não parece mo,er sem o dese$o# pois a ,ontade 4 um dese$o# e# quando nos mo,emos de acordo com o racioc%nio# mo,emo"nos tamb4m de acordo com uma ,ontade 8A&I=5W53L3=. Sobre a alma . 5rad. Ana -aria L+io. =ão Paulo -E -artins Eontes# G1B# p. 11B [JBBa1]9.
?e modo que a faculdade desiderati,a seria a parte da alma que produ' mo,imento# estando o ob$eto de dese$o em repouso e# por isso# mo,endo sem se mo,er. 5rata"se daquilo pelo qual toda ação 4 efeti,ada# mediante uma faculdade do entendimento prático que se dirige a um fim. &esulta de sua teoria# a partir do que $á ,imos# que tal ação de,a estar articulada necessariamente ao corpo atra,4s do organismo# estabelecendo"se a união da alma 8psique9 e do corpo segundo uma ati,idade desiderati,a. Importa para n+s que o mo,imento ,oluntário# para Arist+teles# tem origem na sua teoria metaf%sica do primeiro motor 8que tamb4m eplica os mo,imentos dos astros# conforme sua )"sica# e a eist!ncia de todas as coisas# conforme o conceito de substSncia de sua Metaf"sica9# a qual 4 utili'ada para eplicar a ,ida e o mo,imento dos corpos dito ,i,os 8que t!m ,ida em pot!ncia9# e dos que se mo,em 8que possuem capacidade desiderati,a9. 17
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uanto ao +rgão pelo qual esse primeiro mo,imento se imprimiria nos corpos# encontrou"o no coraçãoC quanto ao mo,imento# encontrou o ob$eto dese$ado como finalidade da capacidade do entendimento prático# ob$eto esse que permaneceria estático# eercendo a função do motor im+,el. [B. Maleno o c4rebro como origem do mo,imento do corpo] (á Maleno apresenta uma concepção muito diferente# pro,eniente de uma formação filos+fica que possui outras refer!ncias 84 um ecl4tico9# que tem como fundo uma outra metaf%sica 8a qual se constitui de uma mistura entre Platão# Arist+teles e o estoicismo9 B. /onsidera"se que a fisiologia emp%rica ten)a nascido com ele# pelo que seus estudos t!m uma base eperimental muito maior. : que nos interessa aqui 4 que a concepção de Maleno foi a primeira a identificar a ati,idade de todos os +rgãos do corpo segundo uma origem funcional situada no c4rebro# origem anat6mica dos ner,os que compõem os m@sculos. As eperimentações de Maleno o impediam de encontrar a origem dos mo,imentos num +rgão como o coração. 3le constatou )a,er uma estrutura complea no organismo animal que articularia os ner,os# os tendões e os ligamentos ao c4rebro. Ap+s ter operado a cisão do ner,o# Maleno encontrou a fonte primeira dos mo,imentos do corpo no c4rebro# de onde partem e para onde são le,adas as correntes de ner,os que culminam nos m@sculos. /ada medula espin)al passou a ser compreendida# por sua ,e'# como responsá,el pela sensibilidade e pelo mo,imento de todas as partes do 3 =ua
concepção de alma não inclui a nutrição e o crescimento como elementos constituti,os# para ele meros efeitos da nature'a ;:s animais são go,ernados ao mesmo tempo por sua alma e por sua nature'a# e as plantas apenas por sua nature'a# e esse crescimento e nutrição são os efeitos da nature'a# não da alma< 8MAL3N. 0n the natural faculties . 5rad. Art)ur (o)n DrocF. /)icagoXLondonX5oronto 3ncUclopaedia Dritannica# 1R# p. 1QH9. A alma s+ se definirá pelo mo,imento 8e suas quatro dimensões que implicam mudança alteração# transfer!ncia# g!nese e destruição9 e pela percepção# o que significa que as plantas não podem ter alma. 18
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corpo que se situam abaio dela ;o ner,o tem a estrutura e as funções de um tubo que condu' ao m@sculo um fluido cu$a cisão interrompe o seu influo [ou est%mulo# /.=.]< 8/ANMTIL23-# op' cit'# 1RR# p. 1J9. Para Arist+teles# como ,imos# o princ%pio do mo,imento ,oluntário residia no ob$eto de dese$o im+,el para o qual se dirigia o entendimento prático# uma das capacidades da alma# comum apenas aos )omens e aos animais. (á Maleno# a partir da eperimentação emp%rica 8como as di,ersas cisões de ner,os de animais que reali'ou9# afirmou ser o c4rebro a fonte primeira dos mo,imentos ,oluntários# de onde partem e para onde são le,adas as correntes de ner,os que culminam nos m@sculos. Para ele# os mo,imentos do coração# das art4rias e das ,eias# não seriam ,oluntários# mas naturais por isso não reportam * alma J. Apenas os mo,imentos que se ligam pelos ner,os ao c4rebro 4 que tem origem na alma# sendo portanto mo,imentos ps%quicos e ,oluntários. :utra diferença importante entre Maleno e Arist+teles# al4m do +rgão ao qual cada um atribui a função de origem do mo,imento do corpo# di' respeito * qualidade filos+fica dessa origem. 3m Arist+teles# o mundo e a mat4ria estão baseados num repouso essencial 8o primeiro motor permanece im+,el9. (á para Maleno# ;o mo,imento do ser ,i,o 4 o efeito de uma força imanente ao organismo< 8/ANMTIL23-# op' cit'# p. 1H9. :corre contudo que# tanto a teoria anat6mica de Maleno# quanto a de Arist+teles# igualam"se no que di' respeito a um ponto que para /anguil)em será decisi,o. Ambos consideram )a,er um princ%pio absoluto de todo mo,imento ps%quico# ainda que difiram radicalmente a respeito de sua locali'ação.
=ua concepção de alma não inclu%a a nutrição e o crescimento como elementos constituti,os# para ele meros efeitos da nature'a ;:s animais são go,ernados ao mesmo tempo por sua alma e por sua nature'a# e as plantas apenas por sua nature'a# e esse crescimento e nutrição são os efeitos da nature'a# não da alma< 8MAL3N. 0p' cit .# 1R# p. 1QH9. A alma s+ se definiria pelo mo,imento 8e suas quatro dimensões que implicam mudança alteração# transfer!ncia# g!nese e destruição9 e pela percepção# o que significa que# para ele# ao contrário do que pensa,a Arist+teles# as plantas não poderiam ter alma. 4
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Permanece a mesma dificuldade em eplicar os c)amados mo,imentos in,oluntários.
[B.B A )erança desse problema no s4culo de ?escartes] A questão de atribuir ao c4rebro ou ao coração a origem dos mo,imentos dos m@sculos e demais partes do corpo perduraria# como mostra /anguil)em# at4 ?escartes
?a tradição galenista# ele [?escartes] mant4m a distinção do mo,imento ,oluntário e do mo,imento natural# a noção do m@sculo como +rgão do mo,imento# a relação dos ner,os e dos m@sculos# a origem encefálica dos ner,os# a distinção das ,ias da sensibilidade e da motricidade# a distinção dos esp%ritos animais e dos esp%ritos ,itais. Ao que se acrescenta# sob a influ!ncia de Eernel# a noção de uma certa independ!ncia da função locomotora com relação * ,ontade. ?a descoberta de 2ar,eU# ?escartes ret4m apenas a circulação. -as quando ele atribui ao coração um calor interno# fonte da impulsão inicial de todos os mo,imentos dos m@sculos# 4 a Arist+teles que ele remonta# para al4m de Maleno 8/ANMTIL23-# 1RR# pp. R"Q9.
/anguil)em# com tal análise inicial# quer mostrar que a teoria do mo,imento refleo não pode ter origem em ?escartes 8nem muito menos em Arist+teles ou Maleno9. Isto porque# para todos eles# )a,eria um centro primeiro de onde deri,aria todo o mo,imento do corpo 8fosse ele o c4rebro ou o coração9# uma ,e' que por trás de todas concepções )a,eria um fundamento metaf%sico ;=+ um metaf%sico pode formular# sem risco de absurdidade inicial# embora por fim descobertos# os princ%pios de uma biologia mecanicista< 8/ANMTIL23-# op' cit'# p. RQ9. 3ssa 4 a análise com que /anguil)em inicia sua tese sobre a formação )ist+rica do conceito de refleo# que pretende mostrar que a teoria do refleo não pode ter origem num sistema filos+fico que baseado numa metaf%sica que remetia a uma origem comum a todo o mo,imento dos corpos. Isso porque o refleo 4 um mo,imento que se inicia a partir de um est%mulo que se dá na 20
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periferia do corpo e que# ap+s ser condu'ido pelos ner,os * medula e ao sistema ner,oso# retorna * periferia. 0# em sua ess!ncia# portanto# um mo,imento perif4rico. : recurso aos sistemas fisiol+gicos antigos fe' notar como a compreensão cartesiana do corpo preser,a a necessidade de um ponto comum entre corpo e alma 8psique9# e que isso 4 anterior * sua eperimentação emp%rica e a guia. :corre que a filosofia de ?escartes# como nota /anguil)em 8mas tamb4m outros fil+sofos importantes# como -. Mueroult e 0. Milson9# pressupõe uma finalidade aos organismos# encontrada na sua relação com a alma e# em @ltima instSncia# com a ideia de ?eus que l)e dá suporte. Por isso# seu sistema não poderia compor um mecanicismo plenamente coerente# posta em eque por essa união pressuposta entre alma e corpo. No intuito de uni"las# ?escartes ret4m de Maleno a ideia de que o c4rebro de,eria estar na origem de todos os mo,imentos do corpo# o que 4 para muitos )istoriadores da fisiologia 8como $á ,imos no in%cio desta aula9 a origem da teoria do refleo. -as ?escartes tamb4m )erda de Arist+teles# a ideia de que de,e ser o coração o +rgão que transmite o calor ao corpo# elaborando uma mistura entre as duas grandes tradições da fisiologia antiga# que perdurariam at4 meados do s4culo KIK. [J. 5)omas illis] 5)omas illis 4 tido por muitos )istoriadores da biologia e da fisiologia como um mero continuador de ?escartes. -as /anguil)em nota# de sa%da# uma diferença radical entre duas posturas metodol+gicas. ?escartes parte de uma ideia filosoficamente pr4concebida de normal para# em seguida# estudar as ,ariações patol+gicas a partir dela. =ua eperimentação emp%rica 4 guiada 21
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de antemão por uma orientação metaf%sica. illis# ao contrário# parte de sua análise de comportamentos patol+gicos 8principalmente da epilepsia9 para# em seguida# buscar formular uma teoria do que seria o comportamento normal. A primeira grande diferença entre a fisiologia de illis e a de ?escartes di' respeito * ideia de que o coração 4 a origem do calor de todo o corpo# illis# na esteira de . 2ar,eU 81RHO"1QRH9# di' que o coração não 4 nada al4m de um m@sculo dentre outros. =ua importSncia não se dá pelo que seria uma função metaf%sica 8a de imprimir ao corpo um ato transcendente ao corpo# o primeiro ato9# mas por uma função constru%da pelas relações estabelecidas com os demais +rgãos do corpo# a de circulação e de ritmo. A segunda grande diferença di' respeito * base metodol+gica utili'ada por cada autor. ?escartes parte da mecSncia e tem no rel+gio o modelo para a compreensão dos corpos"máquinas. illis# por sua ,e'# parte da qu%mia# e compreende a função dos +rgãos como a de deflagração de uma eplosão 8* maneira da poeira espal)ada pelo estouro de um can)ão9 que pro,oca as contrações e os mo,imentos do corpo. Isso fa' com que compreenda o c4rebro como radiação 8paradigma qu%mico9# e não como ramificação 8paradigma f%sico"geom4trico9. A propagaçao dos mo,imentos 4 compreendida# assim# como da ordem de uma irradiação ;A instantaneidade da descarga ner,osa 4 assimilada * transmissão da lu'< 8/ANMTIL23-# op' cit'# p. QQ9. :s ner,os não são mais da ordem de canais ou cordas# mas funcionam * maneira de pa,ios. 5ais diferenças teriam permitido a illis formular o conceito de refleo como um duplo mo,imento deflagrat+rio de propagação centr%peta e centr%fuga que ele mesmo denominou ora de refleão 8 reflexio9# ora de mo,imento 22
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refletido ou refleo 8 motus reflexus9 ;3m todo mo,imento# 4 preciso considerar os tr!s aspectos seguintes primeiramente# a origem da ação# quer di'er# a primeira indicação do mo,imento a eecutar# que sempre te,e lugar no c4rebro ou no cerebeloC em segundo lugar# a ecitação# quer di'er# a transmissão *s partes m+,eis do mo,imento começado# a qual se fa' no interior dos ner,os pelo deslocamento dos esp%ritos que nele afluemC e# em terceiro lugar# a pr+pria força motri'# quer di'er# a manifestação dos esp%ritos contidos nas partes motri'es numa força de contração ou de epansão. ?essa tripla fonte decorrem ,ária esp4cies e ,ariedades de mo,imentos. /oncernindo * origem do mo,imento ou a seu ponto de partida# notamos que aquele que procede do c4rebro# com consci!ncia do apetite e da iniciati,a# 4 dito espontSneoC aquele que# por outro lado# 4 )abitualmente ecitado a partir do cerebelo# ou rege a lei da nature'a# esp4cie que compreende o pulso e a respiração# entre outras# 4 dita puramente natural ou in,oluntária<. 8ILLI=. 0pera 0mnia# tomo I. LUon 1QO1# p. QHB# apud /ANMTIL23-# op' cit'# pp. QH"QO9.
=egundo /anguil)em# ?escartes teria tratado o mo,imento ,oluntário como algo natural# pois subordinou a ação da alma a uma anatomia mecanicista compreendida segundo o paradigma da geometria# que tin)a como fonte o mo,imento do coração# que aconteceria naturalmente. illis# por sua ,e'# com sua teoria %gnea# teria in,ertido essa relação# compreendendo o mo,imento in,oluntário como uma esp4cie de animação. Al4m disso# e pela primeira ,e'# todos os mo,imentos do corpo seriam reportados ao c4rebro 8teoria que não se encontra,a em Maleno# que distinguia entre os mo,imentos naturais " mo,imentos do coração# das art4rias e ,eias# os mo,imentos referentes * ati,idade da nutrição# entre outros " e os mo,imentos ,oluntários# apenas estes reportados ao c4rebro9. -as distinguido# tamb4m pela primeira ,e'# as funções do c4rebro e do cerebelo# illis teria criado uma teoria segundo a qual )a,eria como que duas almas uma alma cerebral# responsá,el pelos mo,imentos espontSneos e ,oluntários# sendo# portanto# uma alma racionalC eC uma alma cerebelar# 23
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responsá,el pelos mo,imentos naturais e in,oluntários# uma alma ,ital. Por fim# o que distingue a teoria de illis da de ?escartes 4# al4m de resultar de um determinismo qu%mico# e não f%sico"geom4trico# al4m de ter distinguido a função do cerebelo# sendo o primeiro a tentar destituir o poder central do c4rebro# principalmente o fato de ter demonstrado ser o mo,imento refleo a manifestação na periferia# isto 4# no pr+prio m@sculo# de uma energia que te,e in%cio num est%mulo reali'ado na pr+pria periferia# não sendo# portanto# o mero efeito perif4rico de uma ação comandada por um motor central. [R. : s4culo KIII] No s4culo seguinte# o conceito de refleo sofreria alguns acr4scimos# mantendo basicamente os termos de sua formulação por 5)omas illis. &eprodu'imos os parágrafos em que /anguil)em as resume# culminando na definição apresentada no teto proposto como leitura# 0 conceito de reflexo no s+culo ,., ;Isso dito# temos de lembrar que ?escartes propõe uma teoria geral do mo,imento in,oluntário# fundada sobre a suposição de um determinismo mecSnico de estrutura e de função# comandado pelo alto por dos centros independentes mas con$ugados# o coração e o c4rebro. No g!nero do mo,imento in,oluntário 4 illis que# pela primeira ,e'# inscre,e as pala,ras e a noção espec%ficas de mo,imento refletido# obedecendo * lei f%sica da refleão da lu'# no conteto de uma teoria energ4tica dos mo,imentos comandados pelo @nico centro encefálico. As pala,ras mo,imento refleo# antes da noção# fa'em uma aparição fugidia numa mecSnica biol+gica# a de Dagli,i. 3is o que temos a di'er sobre o s4culo KII. No s4culo KIII# a noção de refleão de influo ner,oso# segundo a lei f%sica de refleão da lu'# 4 utili'ada sistematicamente por Astruc# numa teoria mecanicista das simpatias admitindo a unicidade de um centro de refleão# o c4rebro. : fen6meno do refleo 4 descrito# sem a utili'ação da pala,ra nem da noção# por )UttC mas as leis *s quais obedece esse fen6meno são presumidas não serem puramente f%sicas# pelo fato da ligação da reação reflea com o instinto de conser,ação. )Utt sustenta que a relação da sensibilidade com a motricidade não 4 centrali'ada# mas difusa# não mecSnica# mas ps%quica# e não l)e atribui# por consequ!ncia# nen)um suporte 24
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anat6mico especiali'ado. Tn'er pensa# ele tamb4m# que a lei do fen6meno não 4 estritamente mecSnica# mas ele utili'a sistematicamente o termo e a noção de refleão numa teoria descentrali'adora da relação sens+rio"motora * qual ele atribui m@ltiplos suportes anat6micos 8gSnglios e pleos ner,osos# e tamb4m o c4rebro9. 3nfim# Proc)asFa ret4m a pala,ra e a noção de refleão# subordina seu mecanismo f%sico a um sentido de conser,ação da totalidade orgSnica# descentrali'a a função reflea atribuindo"l)e como suporte anat6mico epl%cito o bulbo e a medula espin)al 8e tamb4m ,erdadeiramente os gSnglios simpáticos9 e nota# sendo aparentemente o primeiro# que o automatismo da reação não encadeia necessariamente o inconsciente. Legallois estabelece# o que não )a,ia feito Proc)asFa# que a medula espin)al não possui uma estrutura de ner,o e redu'# sem utili'ar a pala,ra nem a noção# a função reflea a uma função medular cu$a di,isão metam4rica ele mostra eperimentalmente. 3is portanto qual 4# em 1OGG# a definição recapitulati,a do conceito de refleo# definição ideal em seu todo# mas )ist+rica em cad um de seus elementos# com a indicação dos autores que primeiro formularam eplicitamente# ou que retomaram por sua conta# essas noções elementares 0 movimento reflexo 12illis3 + aquele que4 imediatamente provocado por uma sensa5o antecedente 12illis34 + determinado se#undo leis f"sicas 12illis4 %struc4 6nzer4 &rochas7a34 8e em rela5o com os instintos 12h9tt4 &rochas7a3:4 pela reflex5o 12illis4 %struc4 6nzer4 &rochas7a3 das impress!es nervosas sensitivas em motrizes 12h9tt4 6nzer4 &rochas7a3 no n"vel da medula espinhal 12h9tt4 &rochas7a4 *e#allois34 com ou sem consciência concomitante 1&rochas7a3 < 8/ANMTIL23-# op' cit'# pp 1BG"1B19.
[Q. : s4culo KIK] Eoi apenas no s4culo KIK# com o surgimento de importantes estudos sobre o refleo# inclusi,e a primeira teoria a respeito do arco refleo em 1OJJ por &udolp) agner 81OGR"1OQJ9# que se passou a tentar atribuir a algu4m a paternidade desse conceito. -ars)all 2all 81HG"1ORH9 foi o primeiro a tentar tomar para si tal cr4dito# mas logo perceberam sua d%,ida para com Proc)asFa 81HJ"1OG9. -as foi em 1ORO que ?u Dois &eUmond 81O1O"1OQ9 contestou tal filiação e a reportou a ?escartes# di'endo que seu mecanicismo estaria plenamente de acordo com a teoria do refleo e dando duas pro,as de sua formulação a descrição do mo,imento das pálpebras 8artigo 1B de %s paix!es 25
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da alma9 e o uso do termo esp"ritos refletidos 8artigo BQ de %s paix!es da alma9.
: que nos condu' ao ponto onde cessamos a @ltima aula. Eoi por um acaso# por uma conting!ncia )ist+rica# que o nome de ?escartes passou a figurar na )ist+ria da fisiologia# e posteriormente da psicologia quando esta se constitui como uma ci!ncia ob$eti,a. A partir de então# repete"se o que ?u Dois &eUmond )a,ia dito sem a reali'ação de um eame mais apurado# o qual de,eria demonstrar que não )á lugar para uma teoria como a do refleo no sistema cartesiano. Al4m disso# 4 interessante notar que a origem de tal conceito se deu por um autor que não comp6s uma teoria mecanicista# mas que encontrou na eplosão do fogo o elemento ,ital que estaria na origem de todos os mo,imentos dos corpos. A esse fen6meno# /anguil)em c)amou ;efeito retroati,o do ,erdadeiro<. =endo a teoria cient%fica atual aceita como ,erdadeira# ela retroagiria at4 seu primeiro ponto de aparecimento# ,alidando toda sua )ist+ria como a )ist+ria do aparecimento de uma ,erdade. : que a ;genealogia cient%fica< de /anguil)em re,ela# ao contrário# 4 a )ist+ria dos fracassos# dos esboc)os# dos son)os# das retificações# em suma# a )ist+ria dos erros. Assim# /anguil)em p6de acusar de inconsistente a )ist+ria cient%fica praticada no s4culo KIK# que creditara a ?escartes a paternidade pelo conceito de refleo# e que ainda )o$e predomina. Para ele# não )a,endo $u%'o final quando se trata de ci!ncia# mesmo os $u%'os )ist+ricos são acontecimentos cient%ficos# que re,elam intensões e podem tra'er * lu' ou esconder toda a )ist+ria de uma questão 8cient%fica e filos+fica ao mesmo tempo9. 3m suma# por que ?escartes go'aria de prest%gio maior para que a origem do conceito de refleo de,esse ser creditada a ele 8um 26
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mecanicista que pro$etou seu sistema com base na mecSnica9 e não a 5)omas illis 8que tin)a a qu%mica como base97 Praticando essa )ist+ria# recolocando e atuali'ando seus problemas# tornamo"nos os pensadores antigos se tornam mais pr+imos de n+s.
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“A ciência frequentemente fala sobre coisas que não pode ver ou medir” B. F. Skinner [1. Introdução] Nesta aula, prosseuiremos com a tentativa de reconstituir brevemente a !ist"ria do be!aviorismo enquanto sistema psicol"ico, seundo duas tarefas# a$ retomar a !ist"ria da psicoloia dos s%culos &'((( e &(& sob o ponto de vista do empirismo brit)nico* b$ prosseuir at% os primeiros anos do s%culo && com a escola russa de refle+oloia, primeira manifestaão da psicoloia considerada como ciência ob-etiva, a qual e+erceu fundamental influência na psicoloia estadunidense, principalmente sobre o!n /atson que viria a fundar o be!aviorismo em 0102.
[1.1 &etomada] Na aula passada, apresentamos o livro de 3anuil!em sobre a formaão do conceito de refle+o em que se descontr"i a ideia viente seundo a qual a primeira teoria do ato refle+o se deve a 4escartes. 3om efeito, 3anuil!em defende que, não apenas a denominaão refle+o s" aparecem com 5!omas /illis, mas tamb%m a sua teoria, a qual não tin!a luar no sistema cartesiano. (sso porque a aão do corpo, em 4escartes, relacionava6se com um centro do corpo encontrado situado na l)ndula pineal, local de interaão entre as duas subst)ncias aut7nomas corpo e alma. 5al filosofia mecanicista do corpo revelava por tr8s uma metaf9sica da união da alma e do corpo que não permitiria uma teoria do refle+o como movimento nascido e sinteti:ado na periferia do corpo. 3om essa tese, o epistem"loo e !istoriador da fisioloia ;. 3anuil!em buscava combater a ideia de que !averia uma continuidade ininterrupta na !ist"ria das ciências, demonstrando, a prop"sito desse caso espec9fico, que !avia antes uma ruptura entre as teorias de 4escartes e de /illis. 'eremos como a an8lise do comportamento que se praticar8 posteriormente# a$ 28
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prescinde de um centro emanador de todo o movimento do corpo e* b$ e+clui a ideia de alma e, consequentemente, de que !averia uma união entre alma e corpo, compreendidas como duas subst)ncias aut7nomas.
[. : empirismo britSnico] No s%culo &'((, o s%culo de 4escartes, outra importante corrente do pensamento ocidental floresceu nas il!as brit)nicas, a qual se op
s empiristas di:iam que tudo o que % con!ecido deriva de e+periências sens9veis. [.1 (o)n LocFe] ?ara o!n @ocke =0260CDE$, !averia as faculdades mentais, em primeiro luar, e, depois, em outro plano, as e+periências que nos mostram que !8 o corpo, que !8 a e+tensão, que !8 as diversas coisas que e+istem no mundo. A f"rmula de @ocke que ficou con!ecida % a de que a mente % uma p8ina em branco# “Supon!amos então que a mente se-a, como se di:, uma fol!a de papel em branco, sem nada escrito, nen!uma ideia* como % que ela % preenc!ida 3omo % que ela se torna esse vasto reposit"rio que a incans8vel e ilimitada imainaão do ser !umano pinta com uma variedade quase infinita 3omo % que ela possui todos os materiais da ra:ão e do con!ecimento A essas perguntas, eu respondo com uma só palavra: experiência. Na e+periência -a: o fundamento de todo o nosso con!ecimento, o qual, em
Gltima an8lise, dela prov%m” =@>3HI, Ensaio sobre o entendimento humano , “>s ?ensadores”, p. J$. 29
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3omo todo o sistema cartesiano derivava de constatautro rande representante da escola empirista brit)nica % o bispo irlandês ;eore BerkeleM =0J60C2$. A obra de @ocke suscitou muitos problemas para a posteridade, dentre os quais dois foram reelaborados por BerkeleM# a$ se tudo vem da e+periência, não restava luar para 4eus, para uma ordem suprema e absoluta* b$ a divisão entre qualidades prim8rias e secund8rias parecia arbitr8ria, pois se tudo vem da e+periência, não deveria !aver qualidades prim8rias inerentes aos ob-etos. BerkeleM articulou as duas quest
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"tica, BerkeleM perscrutou o fato de que a visão opera uma inversão da imaem refletida no lobo ocular, isto %, opera uma adaptaão do que percebe como sendo mais pertinente conforme o -u9:o. Sendo toda percepão do mundo mediada pelos sentidos, BerkeleM concluiu que não poderia !aver uma materialidade pr"pria Os coisas. 5udo seria devida O percepão de alu%m. Nesse sentido, op
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secund8rias, para s" pela refle+ão culminar na apreensão das qualidades prim8rias$, poderiam ser ob-eto de refle+ão, a qual cuminaria na sua apreensão. > empirismo de Pume % mais radical. ?ara Pume, não !8 nen!uma arantia de que as qualidades prim8rias possam ser alcanadas tais como se d8 de modo inerente aos ob-etos. @ocke arumentava que as qualidades prim8rias eram uma esp%cie de poder de que os ob-etos eram providos que os fa:ia ser tais como eram e que tin!am como efeito a produão da sensaão como e+periência para a percepão de outrem. Lesmo o idealismo absoluto de BerkeleM não re-eita a afirmaão de que !averia essa relaão causal entre o ob-eto percebido e a sensaão percebida. Apenas com Pume, e isso se seuir8 em Stuart Lill, /illiam ames e tamb%m em Skinner =conforme o admir8vel ensaio de Bento ?rado unior, Hume, Freud, Skinner $ % que essa relaão causal ser8 posta em +eque. > fato de que o entendimento !umano simplesmente não consia alcanar diretamente as qualidades prim8rias das coisas =o que far8 com que BerkeleM c!eue mesmo a re-eit86las$ não % uma ineficiência ou uma falta. ?elo contr8rio, % -ustamente devido a essa caracter9stica inevit8vel de que não se dão a con!ecer as qualidades prim8rias das coisas que o entendimento deve se ocupar apenas com a reularidade dos fen7menos que aparecem para o su-eito de con!ecimento. 3omo a ideia de que !8 uma cone+ão necess8ria sure da mera repetião emp9rica dos fen7menos apresentados a nossa mente, sure do costume ou do !8bito, assim a ideia de que !8 uma liberdade por tr8s de todas as nossas a
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fim, a reularidade dos !8bitos ter8 como elemento principal os efeitos retroativos das consequências dos atos dos indiv9duos =o reforo$.
[B. Tma ci!ncia ob$eti,a] No s%culo &(&, como vimos no final da aula passada, suriram os primeiros randes estudos sistem8ticos sobre o movimento refle+o. A primeira teoria a respeito do arco refle+o em 0JEE por Qudolp! /aner =0JD60JE$. Lars!all Pall =0C1D60JC$ tentou tomar para si o cr%dito de ter criado o conceito de refle+o, at% que 4u Bois QeMmond, em 0JJ, reportou tal paternidade a 4escartes, como vimos sem ra:ão. Iste mesmo fisi"loo era frequentado pelo russo Sec!enov =0J1601D$, que com sua obra e!lexos do c"rebro =0J2$
inauurou na QGssia os estudos sobre o comportamento
animal e !umano baseado unicamente no refle+o e suas rela
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)umano em um reino separado# ao que segue tamb4m o fim de pri,il4gios sociais# com a difusão do igualitarismo entre as pessoas. [B.1. Dec)tere,] Na introdução de sua obra &sicolo#ia ob;etiva# Dec)tere, di' que a psicologia não se de,e limitar ao estudo dos fen6menos conscientes# mas de,e buscar analisar todos os fen6menos referentes * ,ida ps%quica do indi,%duo 8p. 1B9. -esmo atos que não se ,inculam diretamente * consci!ncia# como o funcionamento dos +rgãos internos# t!m interesse ao estudo da psicologia# pois se relacionam com os atos ps%quicos. ?onde a seguinte definição de psicologia ;A ci!ncia da ,ida neurops%quica em geral# e não apenas de suas manifestações conscientes< 8p. 1J9# o que inclui as condições biol+gicas de suas manifestações. uanto a tais condições# incluem"se tamb4m as sociais e coleti,as# )a,endo portanto uma psicologia indi,idual# uma infantil# uma pedag+gica# uma patol+gica# uma criminal# uma fisiol+gica# uma social# uma dos po,os e outra 'ool+gica. : materialismo da psicologia ob$eti,a 4 demonstrado# por eemplo# com a afirmação de que ;não )á fen6meno ps%quico algum que se$a unicamente sub$eti,o ou espiritual no sentido filos+fico da pala,ra# e que não corresponda a um processo material<. A psicologia ob$eti,a se baseia unicamente nas condições materiais 8isto 4# cerebrais9 dos fen6menos ps%quicos. 3clui"se a obser,ação interna# os dados internos da consci!ncia 8illiam (ames# Dergson9# para reter"se apenas do controle dos fatos ob$eti,os. uanto * apreensão da eperi!ncia 8dos eperimentos9# 4 preciso que )a$a um controle sobre os fatores e as ,ariantes segundo os quais essa eperi!ncia foi produ'ida. 34
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Para Dec)tere, ;nossas sensações são# para di'!"lo com propriedade# os s%mbolos sub$eti,os de certas ,ariações no estado do organismo< 8p. G9. 3 o autor compreende todos os elementos da cultura como sistemas de reações em correspond!ncia com determinados impulsos eternos 8p. 19. &etomando a afirmação de =ec)eno, ;5odo ato neurops%quico pode ser redu'ido ao esquema de um refleo em que a ecitação# ao c)egar ao c+rte cerebral# desperta os ,est%gios das reações anteriores e encontra nestas o fator que determina o processo da descarga< 8p. 19. A obser,ação emp%rica da psicologia ob$eti,a limita"se a tais ;,est%gios< no n%,el do c4rebro# $á que todos os demais mo,imentos do corpo# que resultam no comportamento# tem de algum modo uma relação com eles. 3 desse modo# re$eitando de antemão a consci!ncia sub$eti,a# tomando o mo,imento do arco refleto em sua totalidade e utili'ando"se de uma eperimentação emp%rica# a psicologia pretende se constituir como uma ci!ncia ob$eti,a do refleo# um ramo das ci!ncias naturais# a refleologia. [B.. Pa,lo,] (á o teto de Pa,lo, ;: conceito de refleo e sua etensão< 4 mais espec%fico que o de Dec)tere,# que por sua ,e' apresenta,a a ,isão gen4rica da no,a ci!ncia do refleo. : teto de Pa,lo, concentra"se na eposição daquela que 4 a menor e mais simples estrutura a ser analisada pela refleologia# o refleo. =eu con$unto forma o sistema mecSnica de uma máquina )umana ou de uma máquina animal. /amin)a"se assim do mais simples ao mais compleo# do refleo ao comportamento. :s refleos são di,ididos em dois grandes grupos os ecitat+rios e os inibi+rios. As relações que os m@ltiplos refleos pode estabelecer entre si 4 35
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infinita# mas o cálculo e a pre,isão podem aproimar"se cada ,e' mais do controle das ,ariá,eis que interferem na produção dos refleos em sua relação com o meio ambiente. -esmo o que comumente se concebe como instinto 4 referido por Pa,lo, como um con$unto ou uma cadeia complea de refleos. 3 sendo o refleo esse elemento mais simples# o instinto uma compleidade de refleos# sendo o m4todo da refleologia o eperimental# qual relação será que )á entre a psicologia ob$eti,a e o empirismo britSnico que percorremos bre,emente no in%cio da aula7
[J. Dre,e apontamento )ist+rico] A psicologia ,i,eu )istoricamente tr!s grandes momentos •
como ci!ncia natural 8de Arist+teles e Maleno ao s4culo KIII# com os empiristas britSnicos9C
•
como ci!ncia da sub$eti,idade a9 f%sica do sentido eterno 8?escartes# -alebranc)e# 2elm)olt'# 2erbart# Eec)ner# undt# Dergson9C b9 ci!ncia do sentido internoC c9 ci!ncia do sentido %ntimo 8Diran#
•
como ci!ncia do comportamento refleologia e be)a,iorismo 8&@ssia e 3TA9
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[1. Introdução]
Na aula passada, vimos alumas rela
Antes de avanarmos, conv%m colocarmos alumas questão referentes aos três autores que apresentamos, a fim de verificar por que nen!um deles pode ser plenamente identific8vel com a refle+oloia russa. [.1 LocFe]
Na tentativa de refutar o arumento cartesiano seundo o qual a e+tensão =e+istência de coisas no espao e+teriores ao Cogito$ derivava dedutivamente da evidência primeira, @ocke !avia discernido entre as qualidades das coisas o que c!amou qualidades prim8rias R desinando essas de modo similar ao que 4escartes !avia concebido como a pr"pria subst)ncia e+tensa R e o que c!amou qualidades secund8rias R o c!eiro, o tato, o aspecto, a cor etc., qualidades espec9ficas de cada ob-eto particular. > camin!o de acesso Os qualidades prim8rias se daria por interm%dio da e+periência, pela qual se dariam a con!ecer primeiramente as qualidades secund8rias e, ap"s, as qualidades prim8rias, que no entanto seriam condi
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secund8rias. 3om esse arumento, @ocke teria deslocado o con!ecimento da e+tensão do procedimento l"ico6dedutivo para o procedimento emp9rico, derivado da e+periência. Seria convidativo pensar que Os qualidades prim8rias corresponderiam os est9mulos, elemento primeiro e constitutivo do refle+o. 5amb%m não seria absurdo pensar que a !erana filoen%tica do refle+o, ao que ?avlov concebia como refle+o inato, seria a pr"pria qualidade prim8ria. >corre, no entanto, que o termo “prim8rio”, tal como empreado por @ocke, não pode se identificar ao aspecto de uma coisa em particular, mas a aspectos de todas as coisas em eral# forma, mat%ria, e+tensão e movimento. 4esse modo, para que o empirismo de @ocke dia respeito O refle+oloia, % necess8rio compreender mesmo o est9mulo e a !erana como qualidades pr"prias do refle+o, que % uma coisa em particular, por isso como qualidades secund8rias. > que dei+a intacto o problema que condu: aos demais autores que vimos. [. DerFeleU]
> pr"+imo autor de que falamos tem sua import)ncia liada ao fato de ter questionado a e+istência de tais qualidades prim8rias =repita6se# forma, mat%ria, e+tensão e movimento$, as quais seriam inerentes aos ob-etos. Ile refuta in totum a e+istência de tais qualidades prim8rias, -8 que estas não podem derivar da e+periência, isto %, da percepão. ?ara ele, como -8 dissemos, s" e+istiriam os ob-etos percebidos, não !avendo portanto nada que os precedesse em sua percepão, ou se-a, nen!uma qualidade inerente ou intr9nseca a eles. ?ara resolver a questão referente aos ob-etos que não seriam percebidos pelo ser !umano, disse que, mesmo esses ob-etos, seriam percebidos por uma divindade superior. [.B 2ume] 38
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> problema levantado por BerkeleM a prop"sito de @ocke foi radicali:ado pelo pr"+imo pensador que analisamos# 4avid Pume. Pume ataca a possibilidade admitida por @ocke de c!ear Os qualidades prim8rias por uma refle+ão, ainda que esta fosse posterior O e+periência e portanto dela derivasse. 3omo todo o con!ecimento deve derivar da e+periência, não !averia nen!uma arantia, apenas a partir dos dados recebidos atrav%s da e+periência, de que se pudesse c!ear O conclusão de que !averia qualidades inerentes Os coisas, mesmo de que as coisas e+istam, de que elas ten!am forma, de que elas se movimentem e de que elas se-am compostas por alum tipo de mat%ria. Atacando o conceito de causalidade =cone+ão necess8ria entre dois eventos$, Pume inviabili:a a possibilidade da refle+oloia, pois inviabili:a a possibilidade de toda e qualquer ciência# % a postura c%tica. uerendo falar dos fen7menos observ8veis, como a ciência o fa:, como seria poss9vel resistir ao problema colocado por Pume, que radicali:ara o procedimento empirista seundo o qual tudo o que con!ecemos nos % dado pelos nossos sentidos e, por isso, adv%m da e+periência [B. : racionalismo]
'e-amos brevemente o outro lado da questão, para compreendermos um pouco mel!or o cen8rio de disputas em que emeriu um pensamento que propun!a validar e fundamentar a possibilidade de um con!ecimento verdadeiro sobre os dados emp9ricos da sensibilidade. 'imos como @ocke !avia refutado a ideia de que a e+tensão se dedu:iria loicamente da evidência do Cogito, pois sua e+istência deveria ser produ:ida por refle+ão a partir da e+periência, pela qual a percepão das qualidades secund8rias das coisas levariam O percepão de suas qualidades prim8rias. >ra,, não foi s" entre os 39
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empiristas que 4escartes encontraria refuta
Spino:a fa: uso do arumento monista seundo o qual todas as coisas que e+istem pertencem a uma Gnica subst)ncia, que % causa de si mesma. 4iferentemente de 4escartes, para quem !averia duas subst)ncias, para Spino:a s" !8 uma Gnica. ?ensamento e e+tensão seriam dois atributos dessa subst)ncia Gnica, os dois Gnicos con!ecidos pelo !omem, mas essa subst)ncia, por ser infinita, tamb%m teria outros infinitos atributos, descon!ecidos pelo !omem. 4esse modo, Spino:a postula um princ9pio primeiro =o da unidade da subst)ncia$, donde deriva todos os demais princ9pios. [B. Leibni' 81QJQ"1H1Q9]
@eibni:, por sua ve:, entra em debate com @ocke a prop"sito das ideias inatas. ?ara ele, ao contr8rio de @ocke, as ideias não poderiam provir meramente da e+periência, pois teria de !aver alo anterior O e+periência que a produ:isse, uma esp%cie de motor =alo parecido com Arist"teles, mas para @eibni: não !8 um Gnico
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motor e esse motor não % im"vel$. ?ara @eibni:, !averia no mundo infintas coisas e+istindo em relaão, e cada um de n"s seria formado por uma diversidade de coisas de que não temos con!ecimentos, mas podemos nos aperceber de tais coisas e passar a ter con!ecimento a respeito daquilo que -8 estava em n"s e -8 nos constitu9a. Issas coisas que constituem todo o mundo, para @eibni: foram compreendidas como part9culas simples =sem partes$, e+istindo em nGmero infinito, ao que ele c!amou de m7nadas. [B.B &acionalismo empirismo]
3olocando em lados opostos os defendores do racionalismo, de um lado, e, de outro, os defensores do empirismo, a filosofia nos s%culos &'(( e &'((( se fe: devedora desse debate, que, embora modificado, encontra lastro nas discuss
[J. Yant 1HJ"1OGJ]
?ara responder tal questão, recorremos a outro autor, fundamental para compreendermos o ponto em que queremos c!ear, o das ciências positivas dos s%culos &(& e &&, entre as quais est8 a refle+oloia russa e o be!aviorismo metodol"ico# Hant. 5endo dado aula de metaf9sica durante mais de duas d%cadas, tratando portanto de temas como 4eus, alma e mundo com seus alunos de um modo mais pr"+imo do racionalismo, servindo6se dos manuais de metaf9sica dispon9veis na Aleman!a, e considerando os avanos na 8rea promovidos por @eibni: e /olff, Hant um dia tomou 41
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contato com a obra do c%tido 4avid Pume, que colocava em questão a possibilidade de se falar de tais coisas, bem como de se falar a respeito de qualquer evento da nature:a de maneira cient9fica, -8 que inviabili:ava o princ9pio de causalidade, ou se-a, a possibilidade de se estabelecer uma cone+ão necess8ria entre dois eventos. I assim, dando ra:ão a Pume, Hant admitiu que a relaão de cone+ão necess8ria que se poderia atribuir de direito entre dois eventos não poderia ser e+tra9da da e+periência. Sendo todo o con!ecimento derivado da e+periência, como Hant resolveria a questão, -8 que não se via satisfeito com os resultados do ceticismo de Pume que impediam toda a construão cient9fica. Hant efetuou assim uma divisão entre o que denominou as faculdades do su-eito de con!ecimento# de um lado, a sensibilidade* de outro, o entendimento. Intre as duas faculdades, atuando na sua interaão, desenvolveu uma teoria c!amada es#uematismo, em que o entendimento pode se aplicar O sensibilidade. [J.1 Eormas da sensibilidade tempo e espaço]
Antes de sermos atinidos em nossos sentidos pelas coisas, !averia no pr"prio su-eito formas a priori da sensibilidade, que Hant denominou como tempo e como espao. 5udo que ocorre em nossa mente, pensou, deve se e+ercer no tempo e no espao. Las essas duas formas não são e+ternas ao su-eito, mas são condi
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fen7meno, que % o modo como a coisa aparece para o su-eito, % que pode ser con!ecido, pois a coisa em si não % acess9vel pela e+periência. 3om o termo a priori, Hant compreende -ustamente aquilo que est8 para al%m da nossa e+periência. Sendo o tempo e o espao condi
Al%m das formas puras da sensibilidade, que arantem que os fen7menos apaream para o su-eito de con!ecimento, tamb%m são intr9nsecos a esse su-eito determinados conceitos que permitem que o conteGdo da e+periência se-a orani:ado seundo certas rela
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Nesse plano que Hant foi o primeiro a desenvolver e que cun!ou com o termo transcendental, trata6se de aspectos que são universais e necess8rios a todo o con!ecimento, e não apenas circunstanciais ou emp9ricos. uanto ao termo deduão, tamb%m empreado por Hant, temos aqui uma apropriaão de um termo comum O %poca de Hant que !o-e perdeu o sentido espec9fico que tin!a nas disputas -ur9dicas da %poca. [J.B : sentido $ur%dico do termo dedução]
Numa deduão -ur9dica, queria6se provar a oriem de um direito, em eral quanto O transmiss 4ireito Natural que Hant utili:a como seu paradima recon!ece uma aquisião oriin8ria. As condi
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4esse modo, a ra:ão teria encontrado um limite O sua propensão natural, uma limitaão que l!e seria imposta a partir de si mesma, a qual instauraria um estado civil especulativo, restrinindo a sua liberdade de con!ecer o que quer que se-a, mas para arantir um mel!or e mais adequado uso de sua liberdade, uma ve: que seria enfim livre para se e+ercer plenamente no dom9nio dos fins Gltimos, no uso moral da ra:ão pr8tica. 5endo assim respondido aos c%ticos =aqueles n7mades$, e deles se resuardado no porto seuro do entendimento, restaria ainda responder aos dom8ticos. Qetomando Penric!, a 4ial%tica transcendental seria a ocasião em que se daria a palavra Oqueles que acreditam que a ra:ão pode estender os limites de seu dom9nio para al%m do “pa9s do entendimento puro”. Las o que o procedimento dedutivo =na acepão -usnaturalista$ então encontraria % uma total impossibilidade de se estabelecer a leitimidade de uma tal pretensão. Nos casos das disputas concretas, quando isso ocorria =a prova da impossibilidade da oriem de um direito$ a parte envolvida no conflito deveria declinar de seu requerimento, o que não levava necessariamente O uma vit"ria da outra parte. A ra:ão recuaria de sua pretensão em avanar os limites circunscritos ao )mbito da e+periência, e se restriniria ao territ"rio o qual estaria seura de possuir leitimamente. 3onstraner6se6ia a um pacto civil onde sua pretensão natural ao con!ecimento ficaria restrita ao reistro especulativo. ?or%m, conforme a m8+ima “se uma disputa sobre o acerto de um uso não possa ser resolvido, o uso continua com o possuidor”, uma ve: que a ra:ão continua em posse de suas ideias =dada a indemonstrabilidade do contr8rio, ainda que ela tamb%m não possa provar a leitimidade desse uso$, o camin!o para uma filosofia “puramente pr8tica” permaneceria em aberto. I se a ra:ão deveria e+perimentar um interesse le9timo pela coisa em si, não o deveria fa:er no campo especulativo, devendo busc86lo num n9vel superior, o dos seus fins Gltimos, tarefa que -8 estaria anunciada pelo fundo 45
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metodol"ico de uma 4eduão transcendental das cateorias, a aferir o uso le9timo do entendimento e, consequentemente, do que restaria como pr"prio O ra:ão pensar, independentemente dos limites especulativos do con!ecimento. A questão da Cr$tica da ra%&o pura,
centrali:ada na 4eduão transcendental, seria portanto a de uma deduão
filos"fica dos direitos adquiridos em filosofia, a passaem de um estado de nature:a filos"fico a um estado civil filos"fico, O maneira como aluns -usnaturalistas entendiam tais termos aplicados ao estudo da pol9tica e do direito, arumentando que a !umanidade, quando c!eada ao estado civil, enfim efetivaria os seus fins Gltimos. [R. /onsequ!ncias]
4esse modo, a partir de Hant a filosofia não mais poderia reali:ar especula
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entanto, a possibilidade de pensar o incondicionado e de uiar as nossas a
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;Num sistema de psicologia inteiramente resol,ido# dada a reação# os est%mulos podem ser pre,istosC dados os est%mulos# a reação pode ser pre,ista< (o)n D. atson
[1. Introdução] At4 o encontro passado# di,idimos cada aula em duas partes# sendo uma das partes constitu%da por uma aula epositi,a# e a segunda de uma ati,idade# indi,idual ou em grupo. :s temas tamb4m esta,am di,ididos# pois buscá,amos estabelecer um paralelo entre a )ist+ria do be)a,iorismo e sua constituição como sistema psicol+gico 8relação entre )ist+ria e sistema9. Para isso# retomamos alguns autores que $ulgamos importantes para reconstituir o cenário em que o be)a,iorismo como ci!ncia nasceu. Nesse percurso# remontamos * antiguidade 8Arist+teles# Maleno9# * aurora da modernidade 8?escartes9# * querela entre empirismo 8LocFe# DerFeleU# 2ume9 e racionalismo 8?escartes# =pino'a# Leibni'9# at4 c)egarmos * figura de Yant como aquele que teria proposto uma forma de restringir o alcance de cada uma dessas correntes para fundamentar o con)ecimento ob$eti,o e cient%fico apenas com base naquilo de que o su$eito de con)ecimento pode se aperceber com base na eperi!ncia. A partir de )o$e# ,eremos como a refleologia russa e o ;be)a,iorismo metodol+gico< americano 8fundado por atson9 prosseguem a partir da senda aberta por Yant# isto 4# como propõem ser ci!ncias ob$eti,as que epurgam da possibilidade do con)ecimento as ideias de ?eus# alma e mundo# e com elas a ideia de fen6menos intr%nsecos * consci!ncia e de introspecção. [. Eundação do be)a,iorismo (o)n D. atson 81OHO"1RO9] : be)a,iorismo como ci!ncia psicol+gica ob$eti,a tem uma data de 48
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nascimento# um pai e um manifesto. (o)n D. atson# que estudara psicologia comparada por mais de de' anos# utili'ando"se do m4todo de pesquisas dos refleologias russos 8sobretudo de Dec)tere,# pois Pa,lo, ainda era pouco con)ecido nos 3stados Tnidos9# proclamou em 11B o nascimento do be)a,iorismo com a publicação do manifesto ;A psicologia como o be)a,iorista a ,!<. [.1 3struturalismo funcionalismo] Pre,aleciam em seu pa%s duas escolas que ri,ali'a,am as atenções dos estudantes de psicologia e cada uma delas tin)a seus representantes ocupando cadeiras importantes nas uni,ersidades. 3ram o estruturalismo e o funcionalismo# o primeiro centrado nos elementos fundamentais da estrutura da consci!ncia# o segundo em seu funcionamento. Ambos# no entanto# elegiam como ob$eto da psicologia a consci!ncia# isto 4# a introspec5o. [.1.1 : estruturalismo] : principal epoente do estruturalismo foi 3. D. 5itc)ener 81OQH"1H9# que fora aluno de undt em Lep'ig. Pode"se resumir o ob$eti,o do estruturalismo com a seguinte frase sua ;: primeiro ob$eti,o do psic+logo [...] 4 determinar a nature'a e o n@mero dos elementos mentais. 3le toma a eperi!ncia mental# parte por parte# di,idindo"a e subdi,idindo"a# at4 que a di,isão não possa prosseguir. uando atinge esse ponto# ele encontrou o elemento da consci!ncia<. 5itc)ener definiu a psicologia estrutural em analogia com a anatomia# di'endo que a psicologia funcional esta,a em analogia com a fisiologia. Para ele# o estudo das funções do corpo 8fisiologia9 e das funções da consci!ncia
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8psicologia funcional9 dependiam de uma análise pr4,ia dos elementos que esti,essem em relação. : m4todo segundo o qual 5itc)ener acredita,a poder alcançar a estrutura fundamental da consci!ncia era o eperimental# pois# para ele# era o @nico meio de conseguir descobrir a estrutura básica da mente )umana. Al4m de encontrar a estrutura# a psicologia estrutural tamb4m ,isa,a encontrar as leis de coneão dos processos mentais. Por fim# sua ci!ncia de,eria poder fornecer uma eplicação do modo como o sistema ner,oso produ'ia os fen6menos sensoriais# percepti,os e cogniti,os. 5itc)ener elaborou um sistema em que dispun)a as categorias de sensações# imagens e afetos# encontrando elementos essenciais que formariam cada um desses tr!s con$untos ps%quicos. Tma das cr%ticas que atson fará ao estruturalismo 4 a de que não poderia )a,er um consenso entre psic+logos de formação di,ersa quanto aos atributos essenciais de um fen6meno ps%quico 8qualidade# etensão# duração# intensidade# ordem# clare'a# tetura etc.9. [.1. : funcionalismo] Ao contrário do estruturalismo# o funcionalismo busca,a estudar o funcionamento integrado das funções ps%quicas# não partindo de uma análise de suas partes elementares. : primeiro funcionalista importante foi (o)n ?eZeU 81OR"1R9. =ua compreensão do arco refleo modificou o modo de compreend!"lo# at4 então pensado como uma rede conecta entre est%mulo# s%ntese no sistema ner,oso# e resposta. Para ?eZeU# tal compreensão separa,a as partes integradas do refleo# que de,eria ser compreendido como uma função complea. Para eplicá"lo# ser,iu"se do eemplo da c)ama de uma ,ela. uando uma criança toca uma ,ela# não )á tr!s e,entos que acontecem 50
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separadas e que se relacionam * maneira de uma rede# mas um @nico e,ento que se criará no aparel)o ps%quico da criança e que constituirá um sentido para ela. -enos interessados nos conte@dos mentais do que os estruturalistas# os funcionalistas busca,am as opera!es mentais# seu sentido e direção. Isso porque# para eles# os elementos da consci!ncia com que se preocupa,a 5itc)ener s+ eistiam em con$unto e integrados a um todo orgSnico# concepção da mente muito pr+ima da que elaborará a psicologia da Gestalt . Não pensa,am que seria poss%,el analisar qualquer elemento estrutural básico da psique# pois não seriam mensurá,eis e isolá,eis# como as partes do corpo estudadas pela anatomia. A mente não seria concebida como um compleo de elementos mais simples# mas sim como um todo orgSnico# uma função# um funcionamento integrado e impass%,el de separação em partes menores. 3 esse todo estaria em relação de adaptação com o meio. :utros nomes importantes do funcionalismo são (ames &. Angell 81OQ" 1J9# 2ar,eU /arr 81OHB"1RJ9# 3dZard 5)orndiFe 81OHJ"1J9# &obert oodsZort) 81OQ"1Q9 [. A psicologia comparada] : estudo de psicologia animal# tão caro *s análises dos refleologistas russos e tamb4m ao be)a,iorismo estadunidense# disseminou"se sobretudo sob a influ!ncia de /)arles ?arZin. : e,olucionismo darZinista apregoa,a que )a,ia uma continuidade entre as esp4cies# sendo a esp4cie )umana tin)a ra%'es e,oluti,as em outras esp4cies. ?arZin c)egou a fa'er estudos eperimentais sobre alguns aspectos emocionais nos seres )umanos# buscando relações com outras esp4cies. ?epois dele# outros autores como 51
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Meorge &omanes 81OJO"1OJ9# ?ouglas =palding 81OJ1"1OHH9 e /. LloUd -organ 81OR"1BQ9 praticaram eperimentos famosos que transitaram na fronteira entre a etologia e a psicologia# dando as bases para a psicologia comparada que seria fundamental para a consolidação do be)a,iorismo. /omumente# os et+logos não concordam com o controle e isolamento dos animais para seu estudo# pois entendem que estes s+ podem ser compreendidos em seu ambiente natural. Isso gerou di,ersos debates entre et+logos e be)a,ioristas# e um eemplo pode ser encontrado na querela en,ol,endo 5)orndiFe e -ills. [para aprofundar o estudo das semel)anças e diferenças entre etologia e be)a,iorismo# ,er P&A?:# L@cia. ;3tologia e be)a,iorismo<. IN P&A?: (r.# Dento. )ilosofia e comportamento. =ão Paulo Drasiliense# 1O# pp. 11"1B. Para a autora# a diferença entre etologia e be)a,iorismo 8$á dialogando com o be)a,iorismo radical de =Finner9 reside em que# para a primeira# o desen,ol,imento ontogen4tico não 4 necessariamente aprendido# isto 4# não 4 necessariamente efeito de conting!ncias de reforço# mas 4# antes de tudo# o resultado
da
;reali'ação
progressi,a
de
estruturas
geneticamente
determinadas<# p. 1R] [.B : manifesto de atson] 3m 11B# atson publica o teto ;A psicologia como o be)a,iorista a ,!<. Logo no in%cio# a9 insere a psicologia como um dos ramos das ci!ncias naturaisC b9 esclareceu seus ob$eti,os como sendo a previs5o e o controle do comportamentoC c9 re$eitou a introspecção como ob$eto de análiseC d9 aboliu a marca di,is+ria entre )omem e animal. /om isso# atson re$eita,a# a um s+ tempo# tanto o estruturalismo quanto o funcionalismo# pois entendia que ambas 52
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as escolas não eram ob$eti,as# $á que não se limita,am a estudar os dados ob$eti,amente obser,á,eis# controlá,eis e pre,is%,eis os est%mulos e suas reações no comportamento. /ontrole normati,idade 8normal e patol+gico9 e equil%brio. Para obterem efeito# os est%mulos de,em corresponder * estrutura do organismo. uando não correspondem# os be)a,ioristas consideram que o comportamento 4 patol+gico. A obser,ação pressupõe um obser,ador fio 8o su$eito de con)ecimento não pode ser mutá,elC aquele que obser,a e fa' ci!ncia de,e ter sua ,aloração sobre os fatos ob$eti,os anulada9C pressupõe que as ,ariá,eis se$am controlá,eis 8o que raramente se obser,a na prática9C : isolamento o circuito obser,ado de,e ser isolado 8o que tamb4m não condi' com a realidade fática9. uanto a esse isolamento# dá a pensar que a @nica causa do refleo 4 um est%mulo eterno# quando na ,erdade ele tamb4m necessita de toda uma predisposição do organismo para ocorrer# ao que a Gestalt c)amará estrutura.
: fato de ter inclu%do a psicologia entre as ci!ncias naturais fa' com que ela passe a querer go'ar do mesmo n%,el de cientificidade da f%sica e da qu%mica# por isso atson te,e de re$eitar a introspecção# mesmo compreendida segundo o paradigma estruturalista# $á que este acaba,a por redu'ir o dado ob$eti,o 8que atson encontra no est%mulo9 * finalidade por ele atingida no plano da consci!ncia# o que faria com que ele perdesse sua ob$eti,idade. Logo a seguir# atson dá uma eplicação a respeito do uso do m4todo eperimental em animais# di'endo que os mesmos elementos refleos 8os est%mulos9 são encontrá,eis nos animais. 3 desafia os psic+logos a que possibilitem# então# o 53
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uso de )omens como cobaias para seus estudos# $á que preferem que não utili'e os animais. 3 como não podendo construir um conte@do consciente nos animais# atson concluiu que# não )a,endo nen)uma diferença de nature'a entre )omens e animais# tamb4m nos )omens não se poderia supor que )ou,esse uma.
[B. :s limites do con)ecimento ob$eti,o] Dec)tere,
afirma
que
;os
fen6menos
neurops%quicos
nunca
permanecem definiti,amente internos ou ocultos# senão que# como os refleos# acabam por transformar"se no trabal)o mecSnico dos m@sculos ou no trabal)o molecular das glSndulas e outros tecidos do organismo. Ad,erte"se# pois# que ao obser,ar as reações musculares e glandulares que resultam do impulso neurops%quico estudamos a ati,idade neurops%quica em sua forma ob$eti,a# imediatamente acess"vel < observa5o < 8D3/253&3. *a psicolo#"a ob;ectiva#
p. BH9. [B.1 : su$eito de con)ecimento] 3sta @ltima frase# que grifamos# tra' consigo um pressuposto o de que os fen6menos sobre os quais 4 poss%,el produ'ir con)ecimento cient%fico são aqueles fen6menos obser,á,eis. :ra# mas se são obser,á,eis# eles o são por quem= e em que condi!es= 3,identemente que a obser,ação de um
fen6meno implica que )a$a algu4m obser,ando# um su$eito de con)ecimento# e que esse su$eito possua caracter%sticas uni,ersais# $á que de,e poder ser qualquer su$eito. A esse su$eito da obser,ação emp%rica que pretende constituir uma ci!ncia# c)amaremos ;su$eito de con)ecimento<. Na ci!ncia positi,ista# essa figura de,e ser fia# imutá,el# de estrutura uni,ersal# pois se ela se 54
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modificasse sua obser,ação não poderia constituir ci!ncia. 5al 4 uma primeira condição para o con)ecimento ob$eti,o. Para os empiristas# as faculdades do su$eito de con)ecimento di'iam respeito a uma relação que esse su$eito poderia manter para com a realidade eterior. Apenas ap+s Yant 4 que essas faculdades serão da ordem da constituição intr%nseca do su$eito de con)ecimento# que possui uma estrutura uni,ersal e imutá,el# tendo como formas a priori 8independentes da eperi!ncia9 da sensibilidade tempo e espao # e como uma das categorias a priori uni,ersais e necessárias para a organi'ação de todo e qualquer
fen6meno que apareça para o su$eito a causalidade. [B. A obser,ação] A segunda condição para o con)ecimento ob$eti,o que 4 posta como essencial por Dec)tere, * psicologia que queira se apresentar como ci!ncia 4 a obser,ação imediata dos fen6menos. :ra# o termo fen6meno# utili'ado por Dec)tere,# tamb4m reporta * tradição Fantiana. Een6meno 4 aquilo que aparece para o su$eito de con)ecimento segundo as formas da sensibilidade 8tempo e espaço9. : fen6meno 4 aquilo que aparece# no Smbito de uma eperi!ncia# para o su$eito de con)ecimento. Não se confunde com a coisa"em" si# pois essa 4 inapreens%,el pelo su$eito pois está para al4m dele e não pode aparecer para a sensibilidade. =endo# no entanto# a obser,ação de ordem imediata# ela 4 plenamente identificá,el ao fen6meno tal como apareceria a
todo e qualquer su$eito# segundo sua estrutura uni,ersal e necessária. Por isso# a obser,ação imediata dos fen6menos 4 a condição para a formação do con)ecimento ob$eti,o. uerendo constituir"se como uma ci!ncia ob$eti,a# a psicologia de,e limitar"se * obser,ação imediata dos fen6menos. 55
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[B.B Een6meno e coisa em si] Ea'endo"o# a psicologia ob$eti,a de,e redu'ir seu ob$eto de análise apenas a tais fen6menos obser,á,eis. Aquilo que a psicologia tin)a como seu ob$eto de análise# a consci!ncia# de,e ser redu'ido a relações entre elementos obser,á,eis fenomenicamente. A psicologia ob$eti,a fe'# assim# redu'ir a consci!ncia a uma soma de m@ltiplos refleos e refleos condicionados# $á que o refleo seria a menor estrutura obser,á,el# a qual estaria na constituição de todas as estruturas mais compleas 8como os instintos e a consci!ncia9. : que a psicologia não ob$eti,a c)ama,a ;aparel)o ps%quico< será dora,ante concebido apenas como um efeito secundário das relações entre os refleos. A compreensão cient%fica de tais refleos restringe"se ao que pode ser obser,ado cientificamente por um su$eito de con)ecimento em condições eperimentalmente controladas. : est%mulo de uma lu'# por eemplo# na ,isão de um animal ou de um ser )umano não permite que se fale algo a respeito da lu' em si mesma# mas apenas a respeito de como esse est%mulo se eerce enquanto elemento inicial de um refleo no organismo. =egundo essa teoria# as relações estabelecidas entre os m@ltiplos refleos não t!m uma relação intr%nseca entre si# ou se$a# o elemento de determinado refleo não participa necessariamente da constituição de um outro refleo. =e ocorrem relações compleas entre os refleos 8como no caso de um instinto ou de um refleo condicionado ou associado9# isso se dará de modo contingente# não necessário 8o instinto 4 uma conting!ncia filogen4tica e o refleo condicionado uma conting!ncia temporal9. [B.J /ausalidade] 5endo restringido# desse modo# a utili'ação das categorias do 56
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entendimento# como a categoria de causalidade como coneão necessária entre dois e,entos# a epistemologia positi,ista 8que se desen,ol,eu na senda aberta por Yant9 postula pela possibilidade de aplicação da causalidade aos fen6menos obser,á,eis. A causalidade poderá ser aplicada sempre que )ou,er a concorr!ncia dessas tr!s caracter%sticas seguintes ao e,ento A# se segue o e,ento DC sempre que ocorre o e,ento A# ocorre o e,ento DC quando não ocorre o e,ento A# não ocorre o e,ento D. :bser,adas essas tr!s ocorr!ncias# tem"se a legitimidade em aplicar"se a categoria da causalidade. ?esse modo# tal epistemologia sobre,i,e a 2ume que# sendo coerente com o empirismo# abolia toda possibilidade de aplicação da categoria de causalidade a qualquer fen6meno. 5endo# no entanto# restringido sua utili'ação apenas aos fen6menos obser,á,eis pelo su$eito de con)ecimento em eperimentos formalmente controlados# Yant reabilitou o uso dessa categoria 8a de causalidade9 a tais fen6menos# mantendo interditada# por4m# sua utili'ação quanto a tudo o que etrapola o n%,el da obser,ação emp%rica# como ocorria com os conceitos de ?eus# de alma e de mundo. Por isso# uma psicologia ob$eti,a tamb4m precisou epulsar de seu Smbito de análise as categorias de consci!ncia e de introspecção. [B.R 3st%mulo " &esposta] A refleologia estabeleceu# assim# redes de relações causais entre est%mulo e resposta# sendo que o primeiro 4 compreendido como causa do segundo. uanto * causa dos est%mulos# a ci!ncia dos refleos limita"se a in,estigá"las apenas na medida da possibilidade de obser,ação ob$eti,a# não se preocupando com a sua causa primeira# ou com seu princ%pio. 57
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(á o organismo# uma ,e' que 4 uma relação complea de refleos# não tem nen)uma espontaneidade 8ati,idade# ,olição9# 4 uma passi,idade respondente aos est%mulos. =ua ati,idade eiste apenas enquanto efeito do mecanismo refleo. 3 tendo os refleos sempre in%cio em um est%mulo que nasce de uma influ!ncia eterna# segue"se que o comportamento 4 um mero efeito do meio [nesse ponto# a Gestalt se oporá a Pa,lo, e atson# di'endo que# por outro lado# 4 o organismo que constitui a maneira como receberá os est%mulos eternos. Por isso# para a Gestalt # a forma interna que o organismo encontra de ser estimulado 4 que de,e ser ob$eto de ci!ncia# e não os est%mulosC para a Gestalt # o comportamento não 4 efeito do meio# mas uma forma de eist!ncia num dado meio. -erleau"PontU prosseguirá com tais cr%ticas em % estrutura do comportamento].
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;: mundo não cont4m nen)um mist4rio insondá,el< -. =c)licF
[1. Introdução] 3ntre 1 e 1BQ# em iena# um grupo de fil+sofos reuniu"se em torno da figura de -orit' =c)licF 81OO"1BQ9 para discutir os pressupostos cient%ficos e filos+ficos do empirismo. 5al grupo ficou con)ecido como o /%rculo de iena e a filosofia por eles professada ficou con)ecida como o ;positi,ismo l+gico<# embora seus colaboradores preferissem c)amá"la de ;empirismo consistente< 8como se con)ece tal filosofia com o primeiro nome# por comodidade 4 o que adotamos dora,ante9. uando =c)licF morreu# assassinado por um na'ista em 1BQ# o grupo se dispersou# mas suas ideias continuaram eercendo influ!ncia sobre di,ersas tend!ncias do pensamento durante o s4culo KK# sobretudo na assim c)amada filosofia anal%tica de l%ngua inglesa. 5entaremos mostrar a relação entre o pensamento do /%rculo de iena e os pressupostos do be)a,iorismo metodol+gico de atson 8que tamb4m ,alem para a refleologia russa9. [seria oportuno reali'ar um estudo sobre a relação entre a recepção da refleologia nos 3TA# psicologia estrangeira# que combate a psicologia genuinamente americana do pragmatismo de (ames e ?eZeU# e a recepção# um pouco posterior# do positi,ismo l+gico do /%rculo de iena# que tamb4m 4 adotado pela filosofia anal%tica americana contra o pragmatismo]. [. Proposição e ,erificação] : teto ;=entido e ,erificação< se inicia abordando a questão do sentido de uma proposição. Para n+s# interessará tal discussão pois a relação condicional entre duas proposições 8como P # que implica que sempre que 59
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P for ,erdadeiro# tamb4m será9 será equi,alente * relação condicional entre est%mulo e resposta 8como = que implica que sempre que = ocorrer# & tamb4m ocorrerá9. =c)licF discute o problema do sentido de uma proposição. Na refleologia e no be)a,iorismo metodol+gico# tal problema corresponde * redução ontol+gica de todas as reações no organismo * relação entre est%mulo e resposta. As proposições que estão para al4m da eperi!ncia poss%,el por um sistema lingu%stico são eclu%das de sentido# tal como tudo aquilo que não 4 obser,á,el 8portanto controlá,el9 4 eclu%do da análise da psicologia ob$eti,a. Para o positi,ismo l+gico# uma proposição difere de uma frase ou de uma sentença pois estas são destitu%das de sentido# do mesmo modo como# na psicologia ob$eti,a# tudo o que escapa ao cri,o do eperimento tamb4m não 4 considerado como pro,ido de sentido l+gico. A l+gica 4 um procedimento pelo qual uma sentença 8um con$unto de pala,ras9 adquire um sentido# segundo circunstSncias espec%ficas. 5ais circunstSncias são aquelas em que a linguagem pode ser compreendida por aquele que ou,e a sentença# sem margem para d@,ida ou interpretação. =egundo tais condições espec%ficas# uma frase ou sentença poderá ser considerada uma proposi5o# ou se$a# sua ,eracidade poderá ser ,erificada e a frase ou sentença poderá ser considerada verdadeira ou falsa.
: que implica imediatamente no estabelecimento de um m4todo ;: significado de uma proposição constitui o m4todo da sua ,erificação< 8=/2LI/Y# -. ;=entido e ,erificação<. 5rad. Lui' (oão Dara@na. =ão Paulo Abril /ultural# 1HR# p. 19. : m4todo l+gico possibilita que as frases e sentenças se tornem preposições# isto 4# se$am epressas numa linguagem 60
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mais simples# com poucos pressupostos# cu$a admissão e con)ecimento são condições para a sua utili'ação por aqueles que mane$am aquela l%ngua. Para isso# 4 necessário ;tradu'ir< o que se di' em linguagem comum e ordinária para a linguagem l+gica. Isso corresponde# na ci!ncia que estamos estudando 8a ci!ncia do comportamento9# ao reducionismo que fa' com que todas as sensações# representações etc. se$am epressas tão somente na linguagem simples entre est%mulo e resposta# cu$o @nico pressuposto admitido 8e que portanto não precisa ser ob$eto de pro,a9 4 de que todo est%mulo implica uma resposta. imos# a prop+sito de Yant# que a categoria da causalidade está autori'ada a ser aplicada aos fen6menos# isto 4# aos ob$etos tais como aparecem para o su$eito 8que ocorrem no tempo e no espaço9. Por4m# se regredirmos na busca pela causa dos fen6menos teremos de etrapolar o Smbito da eperi!ncia para estabelecer que )a$a uma relação de causalidade entre um fen6meno e sua causa primeira. A essa causa primeira# Yant denominou o incondicionado# pois uma causa primeira não pode ter uma causa eterna# de,e ter a si mesma como causa. Na psicologia ob$eti,a# como o be)a,iorismo metodol+gico# a eplicação a respeito da causa primeira de um est%mulo não pode ser ob$eto de ci!ncia# porque não pode deri,ar da eperi!ncia. Por isso# não se fa' recurso * eplicação a partir das ideias de mundo 8uma causa eterna dos est%mulos9# de alma 8uma causa como a consci!ncia ou a psique9 e de ?eus 8uma causa absoluta de tudo9. 3ssas ideias simplesmente não interessam *s ci!ncias ob$eti,as. : positi,ismo l+gico buscou a fundamentação l+gico"epistemol+gica de tal restrição# alegando que as proposições de,em ser epressas numa 61
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linguagem que permita a ,erificação de seu sentido# isto 4# a passibilidade * eplicação emp%rica. -as isso não 4 uma postura filos+fica isenta de pressupostos. 5emos que os pressupostos do positi,ismo l+gico são os mesmos do be)a,iorismo metodol+gico de atson# desen,ol,idos no camin)o aberto pela >st+tica transcendental Fantiana [A primeira parte da Cr"tica da raz5o pura recebe esse nome. 0 o momento em que Yant define o fen?meno e
o diferencia da coisa@em@si # inapreens%,el ao su$eito# pois al)eia * sensibilidade# isto 4# não pode se dar no Smbito da eperi!ncia sens%,el]. uanto * ,erificação do sentido de uma proposição# =c)licF redu' todas as situações compleas a uma definição de ordem o mais simples poss%,el# a defini5o indicativa ;?aqui conclu%mos que não eiste nen)uma possibilidade
de entender um sentido sem referir"nos em @ltima análise a definições indicati,as# o que implica# em um sentido +b,io# refer!ncia * \eperi!ncia ou * \possibilidade de ,erificação< 8=/2LI/Y# op' cit'# p. 19. Indica"se o conte@do de uma proposição na realidade# assim tem"se a definição de sua ,eracidade. As proposições mais compleas são sempre combinações de definições indicati,as# as mais simples. 5amb4m )á um paralelo aqui com as ci!ncias emp%ricas# $á que as combinações mais compleas podem ser redu'idas a um con$unto ordenado de definições simples. A consci!ncia# por eemplo# cu$a eist!ncia aut6noma 4 refutada pela psicologia ob$eti,a# passa a ser concebida como uma combinação complea de est%mulos# os quais são estruturas simples e seus efeitos podem ser ,erificados eperimentalmente. Assim# o sentido de uma proposição sempre tem como condição a sua ,erificação na eperi!ncia. 3ssa ,eificação não precisa ser atual# não precisa se reali'ar no momento da enunciação. : que 4 condição para o sentido de uma proposição 62
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são as condições de ,erificabilidade# a qual pode se reali'ar no futuro. : que precisa eistir no ato da enunciação são essas condições# segundo as quais a proposição pode ser demonstrada ser ,erdadeira ou falsa# ainda que depois de ser enunciada. Isso elimina a -etaf%sica e )abilita proposições sobre acontecimentos futuros# desde que obser,á,eis empiricamente ;/om efeito# o \aguardar constitui um m4todo de ,erificação perfeitamente leg%timo< 8=/2LI/Y# op' cit'# p. R9. [.1 Princ%pios da l+gica] :s princ%pios da l+gica são tr!s o princ%pio de identidade# segundo o qual uma mesma preposição# nas mesmas circunstSncias# será sempre id!ntica a si mesmaC o princ%pio de não contradição# segundo o qual entre duas preposições contradit+rias# uma de,e ser ,erdadeira e a outra falsaC e o princ%pio do terceiro eclu%do# segundo o qual para qualquer preposição# ou ela 4 ,erdadeira# ou sua negação 4 ,erdadeira# não )a,endo uma terceira possibilidade. [B. /i!ncia e senso comum] : positi,ismo l+gico tem como correlato um epistemologia que não sustenta )a,er uma descontinuidade entre ci!ncia e senso comum. /omo ,imos na primeira aula# )á# com efeito# uma diferença entre o con)ecimento cient%fico e o con)ecimento do senso comum# por4m# para =c)licF 8como para Yarl Popper# cu$o princ%pio de falseabilidade está de acordo com as formulações fundamentais do /%rculo de iena# embora tamb4m o critique em outros pontos espec%ficos9 essa diferença não di' respeito aos pressupostos iniciais do con)ecimento# mas a seu desen,ol,imento ;: nosso conceito não apenas concorda inteiramente com o senso comum e com o m4todo cient%fico# 63
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senão que deles deri,a< 8=/2LI/Y# op' cit' p. 9. [A tese da continuidade entre ci!ncia e senso comum não 4 uni,ocamente aceita pelos epistem+logos. =ua ,ertente francesa 8Dac)elard# /a,aill^s# YoUr4# /anguil)em9 postula uma ruptura radical entre ci!ncia e senso comum# pois tais autores acreditam que o con)ecimento cient%fico possui uma autonomia relati,a perante o pensamento comum. 5al autonomia 4 correlata a um racionalismo cient%fico que se constr+i segundo eig!ncias epistemol+gicas que são di,ersas das da ,ida comum. 5)omas Yu)n# apesar de ter desen,ol,ido uma teoria pr+pria# está mais perto dessa ,ertente. Para ele# que criou o conceito de paradigma cient%fico# uma teoria cient%fica 4 uma construção aut6noma que não se desen,ol,e * maneira da refutação e da falseabilidade a partir das teses mais comuns da ,ida cotidiana. Para Yu)n# dois paradigmas cient%ficos são incomensurá,eis# isto 4# não possuem nen)um ponto de contato entre si. 3ntre eles o que eiste 4 uma re,olução# uma ruptura# que põe fim ao anterior e fa' nascer o posterior. Por fim# cabe mencionar tamb4m o assim c)amado ;anarquismo epistemol+gico< de P. EeUerabend# para o qual não pode )a,er um @nico princ%pio epistemol+gico a norter todo o con)ecimento cient%fico# o que o le,a a defender a tese de um pluralismo cient%fico# segundo o qual )á a coeist!ncia num mesmo per%odo )ist+rico de di,ersas metodologias# com ob$eti,os e resultados igualmente di,ersos]. [J. Possibilidade emp%rica e possibilidade l+gica] =c)licF diferencia entre a possibilidade emp%rica de uma proposição# que 4 a sua ,erificabilidade 8possibilidade de ,erificação# ainda que no futuro9# e sua possibilidade l+gica# que 4 a sua epressabilidade. 3sta @ltima corresponde *s regras admitidas por uma comunidade cient%fica que permite 64
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que um enunciado possa ser considerado ,erdadeiro. Por4m# * diferença da possibilidade emp%rica# a possibilidade l+gica corresponde# não * verifica5o# mas ao sentido da proposição. 3ste inere não *s condições das leis naturais e da adequação do discurso com elas# mas sim * pr+pria constituição l+gica intr%nseca ao discurso. /omo di' =c)licF ;?enomino \logicamente poss%,el um fato ou processo se este puder ser descrito# ou se$a# se a sentença que o descre,e odebece *s normas da graática que estipulamos para a nossa l%ngua< 8=/2LI/Y# op' cit'# p. O9. Na mesma página# o autor oferece eemplos de frases que não são poss%,eis logicamente# ou porque não são ,erificá,eis# ou porque afirmam dois ou mais fatos que se contradi'em entre si. Al4m de propor tal distinção entre sentido e verifica5o# =c)licF ainda subordina o primeiro * segunda# ao di'er que a ,erificabilidade condiciona o sentido de uma proposição ;: resultado das nossas considerações 4 o seguinte a ,erificabilidade " que constitui a condição suficiente e necessária do sentido ou significação " 4 uma possibilidade de ordem l+gicaC a ,erificabilidade deri,a do fato de construirmos a frase em conformidade com as regras pelas quais são definidos os seus termos< 8=/2LI/Y# op' cit'# p. 9. :u se$a# somente mediante a ,erificação# garantida pelo uso comum da linguagem# 4 que pode ser atribu%do sentido a uma proposição. Por outro lado# se uma proposição 4 formulada logicamente# se ela possui portanto um sentido# e 4 por isso ,erificá,el# a falta de uma efeti,a ,erificação $amais poderá abolir seu sentido# porque se ela possui de fato um sentido " e se ela 4 uma proposição formulada logicamente ela o possui necessariamente " a pend!ncia de ,erificação poderá ser suprida quando as condições de obser,ação da realidade emp%rica o permitirem. Isso quer di'er 65
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que a obser,ação coloca limites apenas de ordem emp%rica ao con)ecimento# por isso meramente pro,is+rios# $á que no futuro podem ser supridos. As proposições que ainda não podem ser ,erificadas constituem quest!es# isto 4# problemas cu$a ,erificação 4 buscada ;Tma aut!ntica questão 4 aquela para a qual eiste possibilidade l+gica de resposta< 8=/2LI/Y# op' cit'# p. 1G19. [R. -ente e mundo eterior] Na @ltima parte do ensaio# =c)licF busca descontruir a ideia de que a eperi!ncia se dá no Smbito de um su$eito. imos nas duas @ltimas aulas como Yant )a,ia formulado o problema da eperi!ncia segundo as formas puras da sensibilidade. Ealá,amos que# ap+s Yant# )a,ia uma grande di,isão entre os fil+sofos que# #rosso modo# poder"se"iam reunir em dois grupos. : daqueles que se preocuparam em in,estigar as condições sub$eti,as da eperi!ncia 8fenomenologia# filosofias da consci!ncia# psicanálise9 e o daqueles que passaram a in,estigar as condições ob$eti,as do con)ecimento 8positi,ismo# psicologia ob$eti,a# como a refleologia e o be)a,iorismo metodol+gico9. =c)licF está a buscar estabelecer os princ%pios do con)ecimento segundo bases ob$eti,as. Por isso# critica a ideia de que a eperi!ncia aparece para uma mente# para um su$eito ou para uma consci!ncia ;A eperi!ncia original 4 \sem um su$eito< 8=/2LI/Y# op' cit'# p. 1GH9. Nesse sentido# a f+rmula cartesiana ;3u penso< de,eria ser substitu%da por ;Pensa"se< 8 idem# p. 119# $á que o pensamento não di' respeito a um su$eito# ele 4 um impessoal# o que garante a neutralidade cient%fica# tão cara ao positi,ismo. [Q. : be)a,iorismo metodol+gico e o /%rculo de iena] Abolindo a -etaf%sica do Smbito do sentido e da ,erificação# o /%rculo de iena buscou limitar o con)ecimento ob$eti,o. : mesmo fi'eram# em per%odo 66
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quase contemporSneo# os representantes da refleologia russa 8=ec)eno,# Dec)tere,# Pa,lo,9 e do be)a,iorismo metodol+gico 8atson9# que eclu%ram os dados internos da consci!ncia e a introspecção de seu ob$eto de estudo# $á que não )a,eria como obser,ar e ,erificar sua eist!ncia eperimentalmente# portanto a formulação de proposições com sentido sobre tais fen6menos não seria poss%,el. Nesse sentido# apenas os est%mulos e suas relações 4 que poderiam constituir o ob$eto da psicologia. ?i'er que todas as proposições# mesmo as mais compleas# mesmo as meramente ,erificá,eis# mas ainda in,erificadas# reportam a definições indicati,as# as quais di'em respeito * materialidade eperimentalmente apreens%,el# como fa' =c)licF# 4 o mesmo que di'er que todos os processos mentais correspondem a um processo cerebral# igualmente ,erificá,el eperimentalmente# como fa' atson. 3nfim# )á uma )omologia entre di'er que para cada proposição de,e corresponder um fato 8obser,á,el e ,erificá,el# ainda que futuramente9# e di'er que para cada processo mental corresponde um est%mulo e uma reação cerebral. atson di'ia que todos os fen6menos obser,á,eis no comportamento animal e )umano poderiam ser redu'idos a est%mulos. 5al redução# assim como no caso do /%rculo de iena# não 4 apenas de teor epistemol+gico# mas# por ambicionar tratar de todas as reações 8assim como de todas as proposições9 possui caráter ontol+gico. 5rata do ser e dos fatos# não apenas da ci!ncia e do con)ecimento# $á que a insufici!ncia da ci!ncia corresponde sempre meramente a uma insufici!ncia emp%rica# dos aparel)os de obser,ação e dos fen6menos obser,á,eis.
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;:s )omens agem sobre o mundo# modificam"no e# por sua ,e'# são modificados pelas consequ!ncias da sua ação< D. E. =Finner
[1. Introdução] : que aconteceu depois da publicação do manifesto be)a,iorista de atson em 11B7 0 certo que atson continuou suas ati,idades de pesquisador uni,ersitário at4 ser afastado de seu cargo# por moti,os pessoais 8en,ol,imento com uma aluna9# em 1G 8depois disso# tornar"se"ia um empresário e publicitário muito bem sucedido# tendo aplicado os princ%pios be)a,ioristas * propaganda# at4 terminar seus dias ,i,endo no campo9. :corre que as afirmações de atson# um tanto quanto eageradas# suscitaram a recusa daqueles de todos os que não concorda,am em ,er a mente e demais processos ;conscientes< submetidos a meras relações entre est%mulos. e$amos um eemplo do eagero de atson# que c)egou mesmo a di'er que o pensamento era equi,alente * fala sub,ocal Mostaria de a,ançar mais um passo esta noite e di'er deem"me uma d@'ia de crianças saudá,eis# bem formadas# e um ambiente para criá"aque eu pr+prio especificarei e eu garanto que# tomando qualquer delas ao acaso# prepará"la"ei para tornar"se qualquer tipo de especialista que eu selecione " um m4dico# ad,ogado# artista# comerciante e# sim# at4 um pedinte ou ladrão# independentemente de seus talentos# pendores# tend!ncias# aptidões# ,ocações e raça de seus ancestraisV 0 fa,or notar que# quando esse eperimento for reali'ado# estarei autori'ado a especificar o modo como elas serão criadas e o tipo de mundo em que terão que ,i,er. 8A5=:N apud -ar _ 2illi# 1HQ# pp JJ"JR9.
No ambiente cient%fico# seu manifesto te,e enorme repercussão# sendo que# a partir de sua publicação# tornou"se imperati,o a todo psic+logico estadunidense posicionar"se fa,orá,el ou criticamente com relação ao be)a,iorismo metodol+gico. ?e um lado# )a,ia aqueles que recon)eceram no be)a,irorismo nascente a consecução da psicologia ob$eti,a em germe desde 68
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as d4cadas anteriores# em consonSncia com os resultados eperimentais da refleologia russa. ?e outro lado# posicionaram"se os que não aceitaram a recusa da consci!ncia como ob$eto da psicologia e da introspecção como m4todo. 3m suma# o manifesto de atson representou um marco di,is+rio em tal disputa. /om a difusão da pesquisa eperimental com animais# um crescente interessa a respeito da aprendi'agem e da pedagogia do comportamento# uma maior recepção e con)ecimento dos estudos de Pa,lo, nos 3TA e um con)ecimento tamb4m maior do positi,ismo l+gico do /%rculo de iena# criou"se o ambiente ideal para a disseminação do be)a,iorismo. : mo,imento disperso e )eterog!neo que ,ice$aria entre os anos 1BG e 1QG nos 3TA ficou con)ecido como neobe)a,iorismo. [. Neobe)a,iorismo] 3ntre atson e o principal reno,ador do be)a,iorismo# D. E. =Finner 81GJ"1G9# fundador do be)a,iorismo radical# dois outros autores merecem ser mencionados# para compreendermos a e,olução )ist+rica do be)a,iorismo 3dZard /. 5olman 81OOQ"1R9# fundador do assim c)amado be)a,iorismo intencional# e /larF L. 2ull 81OOJ"1R9# que criou um sistema l+gico"deduti,o. [.1. 5olman e o be)a,iorismo intencional] 5olman 4 con)ecido por ter inserido a categoria de intenção no be)a,iorismo. -ante,e a cr%tica * consci!ncia 8alma# psique9# por transcender * materialidade obser,á,el. -as em sua obra fundamental Comportamento intencional nos animais e nos homens 81B9 introdu'iu um elemento na l+gica
binária entre est%mulo"resposta que não era le,ado em consideração por atson# e nem pela refleologia russa a intenção# o prop+sito. 5rata"se da introdução# ou da reintrodução# de um elemento cogniti,o na análise estrita do 69
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comportamento que atson )a,ia elaborado. 5olman defendia um finalismo nos organismos animais e )umanos# isto 4# acredita,a que o organismo persegue uma finalidade. Por isso# sua teoria tamb4m 4 con)ecida como behaviorismo co#nitivo# e influenciou muitos autores que tentam trabal)ar a
fusão entre o cogniti,ismo e o be)a,iorismo. : m4todo eperimental 4 apropriado por 5olman# pois a instrospecção# segundo ele# gera,a resultados muito du,idosos e sem ob$eti,idade. Por4m# na sua interpretação dos dados ob$eti,os# 5olman pressupõe sempre# de modo sub$acente# uma intenção# uma cognição# a qual atson re$eita,a de antemão. Al4m disso# 5olman inseriu uma di,isão no monismo de atson# entre comportamento molecular e molar # que ele di' $á eistir no be)a,iorismo metodol+gico# mas não de forma e,idente 3m resumo# de,emos concluir que atson utili'ou# na realidade# duas noções diferentes de comportamento# embora ele pr+prio não ten)a energado claramente at4 que ponto eram diferentes. Por um lado# definiu o comportamento em função de seus rigorosos detal)es f%sicos e fisiol+gicos sub$acentes [V] ?esignaremos isto como a definição molecular do comportamento. 3# por outro lado# acabou recon)ecendo [...] que o comportamento# como tal# 4 mais do que 8e diferente de9 a soma de suas partes fisiol+gicas. : comportamento# como tal# 4 um fen6meno \emergente que tem propriedades descriti,as e definidoras pr+prias. 3 a isto daremos o nome de definição molar do comportamento. 85:L-AN apud /A&&A&A# Yester. Aehaviorismo radicalB cr"tica e metacr"tica. =ão Paulo Tnesp# GGR# p. OR9.
?ese modo# como o pr+prio 5olman irá admitir mais tarde# o que ele tentou fa'er foi adaptar ao no,o m4todo be)a,iorista os preceitos da antiga psicologia mentalista 8cogniti,ista9# abrindo camin)o# assim# para outras tentati,as de fusão ainda )o$e eistentes entre a terapia cogniti,a e a comportamental. : que caracteri'a o be)a,iorismo de 5olman 4 di'er que a intenção poderia ser operacionalmente definida# o que não a distinguiria# portanto# do r eal como uma 70
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outra instSncia paralela 8paralelismo entre mente e corpo de =pino'a e Leibni'9. :corre que essa solução reconciliat+ria entre cognição intencional e comportamento não foi aceita por todos os be)a,ioristas# e não o será por =Finner# que formulará o conceito de operante como baseado unicamente no reforçamento anterior e na resposta dada pelo organismo# prescindindo assim de uma interpretação cogniti,a. [.. 2ull e o be)a,iorismo )ipot4tico"deduti,o] (á 2ull formulou outro sistema que merece menção em qualquer )ist+ria do be)a,iorismo# tendo publicado sua principal obra# &rinc"pios do comportamento# em 1JB. 5amb4m parte da análise dos est%mulos e de sua
relação causal com uma resposta. Por4m# * diferença da causalidade binária admitida por atson# 2ull formula todo um sistema de premissas l+gicas que necessitam ser compro,adas pelos eperimentos. 3stes são constru%dos isolando"se as ,ariá,eis em laborat+rio e podem ,erificar ou não as )ip+teses deduti,as elaboradas. 3is o modo como 2ull compleifica a relação entre = " & de atson e cria sistemas de proposições muito mais compleos# com formulações intrincadas e bastante espec%ficas para cada eperimento. Por4m# não se trata de inserir ,ariantes intencionais ou cogniti,as# mas sim estritamente l+gicas e abstra%das da eperi!ncia emp%rica. =eu be)a,iorismo# tal como o de atson# 4 materialista e positi,ista# apenas mais compleo logicamente. /omo eemplo de sua formulação abstrata e cient%fica# ,amos ler a definição que 2ull dá do termo wat # que ele cun)a assim em )omenagem a atson : wat 4 o des,io"padrão m4dio do potencial de reação momentSneo 83 / &9 de ratos albinos t%picos# de no,enta dias de idade# em situação de aprendi'agem de um simples ato de manipulação que requer uma pressão de de' gramas# mediante ensaios distribu%dos ao longo de 71
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J )oras# ap+s B )oras de fome 8e dieta de água9# com a recompensa na forma de uma ração de #R gramas do usual alimento# sendo a m4dia tomada de todos os ensaios de reforço que produ'am uma força de )ábito de G#HR at4 G#OR habs# inclusi,e. 82TLL# apud /A&&A&A# Yester. Aehaviorismo radicalB cr"tica e metacr"tica . =ão Paulo Tnesp# GGR# p. G9.
A ecessi,a especificidade de seus conceitos# como a de seu wat # foi um +bice a que sua teoria fosse utili'ada por outros psic+logos# $á que com frequ!ncia eram aplicá,eis apenas * situação emp%rica em estudo. Assim como atson# 2ull definirá os est%mulos de modo estritamente fisicalista# redu'indo" os a fen6menos f%sico"qu%micos# o que o diferirá de =Finner# para quem os est%mulos serão concebidos segundo suas consequ!ncias reforçadoras. 5olman inseriu na relação est%mulo"resposta fatores inter,enientes sub$eti,os 8a cognição9# enquanto 2ull introdu' fatores ob$eti,os 8duração do eperimento# n@mero de ,e'es em que o ensaio foi reali'ado# intensidade dos est%mulos9. [B. De)a,iorismo radical] : termo ;radical< cun)ado por =Finner para diferenciar o seu be)a,iorismo de,e ser entendido em sentido estrito trata"se de tomar o comportamento como rai' de si mesmo# como rai' do pr+prio comportamento. =Finner opera a maior ruptura epistemol+gica dentro da teoria psicol+gica do be)a,iorismo desde sua fundação por atson# a qual eerce efeito tamb4m sobre seus antecessores da refleologia russa. 5anto a refleologia quanto o be)a,iorismo anterior 8atson# 5olman# 2ull9 ,incula,am"se a uma metodologia cient%fica positi,ista# a qual respeita,a o princ%pio de causalidade e compreendia todo o comportamento segundo a relação causal entre est%mulo e resposta. -esmo a inclusão de ,ariá,eis inter,enientes por 5olman 8a intenção# o prop+sito9 e a compleificação l+gica de 2ull não )a,iam sido suficientes para
deslocar
a
compreensão
estritamente
causal
da
análise
do 72
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comportamento. Apenas com =Finner 4 que a causalidade será abolida como pressuposto cient%fico# metodol+gico e epistemol+gico dessa ci!ncia. 3m seu lugar# reinará o ;determinismo probabil%stico<# caracteri'ado pela relação de consequ!ncia do comportamento estimulado# o que =Finner c)amará de reforço# o qual s+ poderá ter seus efeitos a,aliados a posteriori # e nunca de maneira causal. ?a% os reforçadores manterem para com o comportamento uma relação de probabilidade# não de causa e efeito. A essa relação causal entre est%mulo e resposta# =Finner c)amará de ;comportamento respondente<. (á * relação probabil%stica dependente das consequ!ncias do reforçamento#
c)amará ;comportamento operante<. /ontrariamente ao
cogniti,ismo# sistema psicol+gico que passará a dominar o cenário estadunidense a partir da d4cada de 1QG# o be)a,iorismo radical não concede nen)uma importSncia * ,ontade no controle das condutas indi,iduais# que são efeito# não mais dos refleos e dos est%mulos# mas das respostas reforçadas pelas conting!ncias do meio# sempre retrospecti,amente 8as consequ!ncias 4 que reforçam o comportamento9. Nesse sentido 4 que =Finner dirá que o be)a,iorismo radical 4 uma filosofia. 3ssa filosofia# necessária * análise do comportamento como ci!ncia# 4 a,essa ao positi,ismo l+gico e sua metaf%sica materialista 8quanto a isso# ,er os tetos de Abib e ?e &ose citados na bibliografia do curso em P&A?: (&.# Dento 8org.9 )ilosofia e comportamento9. -ant4m"se do be)a,iorismo anterior a base eperimental# com ampla coleta de dados# controle das ,ariá,eis# registro e combinação dos resultados# a fim de criar uma base de dados de est%mulos antecedentes# que se con,erterão em reforço# com o ob$eti,o de mel)or pre,er os comportamentos# 73
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sobretudo os operantes que se seguem a esses est%mulos. A admissão de continuidade entre os comportamentos animal e )umano tamb4m se mant4m# bem como as consequentes análises de psicologia comparada. =Finner não nega que )a$a e,entos ;por baio da pele<# ele apenas di' não )a,er nen)uma e,id!ncia cient%fica de que tais e,entos possam causar o comportamento. ?onde no,amente se fa' notar o sentido da radicalidade de seu be)a,iorismo# para o qual o comportamento 4 a @nica causa de si mesmo# ou mel)or# não pode ter nen)uma causa eterna a si mesmo e s+ pode ser pre,isto e controlado probabilisticamente segundo os reforçadores apenas aferidos a posteriori . 3 con)ecendo o funcionamento dos controladores eternos 8o meio ambiente e demais causas e agentes culturais e sociais reforçadores9# o indi,%duo poderia mel)or controlar a si mesmo. e$amos as respostas que =Finner dá *s ob$eções de que o be)a,iorismo negaria a consci!ncia : que o be)a,iorista radical tem a di'er sobre a consci!ncia 4 isto a9 a estimulção que se origina no interior do corpo representa papel importante no comportamentoC b9 os sistemas ner,osos por meio dos quais ela se torna efeti,a desen,ol,eram"se por causa do seu papel na economia interna e eterna do organismoC c9 no sentido em que di'emos estar uma pessoa consciente daquilo que a cerca# ela tem consci!ncia dos estados ou acontecimentos de seu corpoC está sob o controle deles enquanto est%mulos. Tm lutador que ;ten)a sido posto inconsciente< não está respondendo aos est%mulos atuais quer dentro# quer fora de sua peleC e uma pessoa pode continuar a falar ;inconsciente do efeito de suas pala,ras sobre os ou,intes< se esse efeito não esti,er eercendo controle sobre seu comportamento. Longe de ignorar a consci!ncia nesse sentido# uma ci!ncia do comportamento desen,ol,eu no,os meios de estudá"laC d9 uma pessoa torna"se consciente num diferente sentido quando uma comunidade ,erbal organi'a conting!ncias em que não apenas a pessoa ,! um ob$eto# mas tamb4 identifica o que está ,endo. Neste sentido especial# a consci!ncia ou percepção 4 um produto socialC e9 o con)ecimento introspecti,o que a pessoa tem de seu corpo " o autocon)ecimento " 4 deficiente por duas ra'ões a comunidade ,erbal não pode p6r o 74
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comportamento autodescriti,o sob o controle preciso de est%mulos pri,ados e não )ou,e oportunidade para a e,olução de um sistema ner,oso que pusesse algumas partes muito importantes do corpo sob total controleC f9 dentro desses limites# o autocon)ecimento 4 @til. A comunidade ,erbal fa' perguntas acerca dos acontecimentos pri,ados porque eles são produtos colaterais de causas ambientais# acerca das quais ela pode# com isso# fa'er infer!ncias @teis e o autocon)ecimento torna"se @til para o indi,%duo por ra'ões semel)antesC g9 não se pressupõe nen)um tipo especial de mat4ria mental. : mundo f%sico gera tanto a ação f%sica quanto as condições f%sicas no interior do corpo *s quais uma pessoa responde quando uma comunidade ,erbal organi'a as conting!ncias necessárias. 8=YINN3&. Sobre o behaviorismo . 5rad. -aria da Pen)a illalobos. =ão Paulo /ultri e 3dusp# 1O# pp. 1OH"1OO9.
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;Não se pode isolar completamente um operante< D. E. =Finner
[1. Tma ruptura epistemol+gica no be)a,iorismo] uanto aos seus pressupostos metodol+gicos e epistemol+gicos# podemos desconsiderar as diferenças entre os autores pertencentes * refleologia russa 8=ec)eno,# Dec)tere,# Pa,lo,9 e ao be)a,iorismo pr4" sFinneriano 8atson# 5olman# 2ull9# $á que todos eles partil)am do m4todo positi,ista# que encontraria sua epressão l+gico"filos+fica em =c)licF e nos demais autores do /%rculo de iena. :corre que a grande ruptura epistemoló#ica que ,iria reconfigurar toda a construção te+rica do
be)a,iorismo seria lograda por =Finner# amplamente recon)ecido pela bibliografia especiali'ada como o maior reno,ador do be)a,iorismo. 3 tal ruptura con)eceria tamb4m uma )istoricidade intr%nseca ao pr+prio pensamento desse autor# que em seus primeiros tetos e eperimentos# at4 meados da d4cada de 1JG# utili'a,a"se tamb4m do m4todo positi,ista# segundo o qual para toda reação )a,eria uma causa antecedente# considerada pelos antecessores de =Finner mencionados# e por ele mesmo at4 então# como o est"mulo# causa dos refleos 8absolutos ou condicionados9. ?urante a d4cada de 1JG# =Finner desen,ol,eu eperimentos que permitiram a ele obser,ar que# para al4m da relação causal estrita entre est%mulo"resposta# o comportamento dos animais e dos )omens tamb4m opera,a de acordo com os efeitos ou as consequências de determinadas contin#ências do meio ambiente. Isto 4# o efeito de determinada conting!ncia# o
qual s+ seria ,erificado a posteriori # reforava o comportamento do animal ou do ser )umano. =egundo as consequ!ncias de uma dada conting!ncia# o comportamento teria mais probabilidade a repeti"la de modo positi,o ou 76
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negati,o. Isso deslocou a compreensão a respeito das causas do comportamento e da relação entre o organismo e o meio ambiente. Para al4m da mera relação causal entre est%mulo e refleo# que =Finner denominaria comportamento respondente# agora tamb4m se tornaram considerá,eis para
essa ci!ncia as conting!ncias e seus efeitos subsequentes# reforçadores do que =Finner passaria então a denominar o comportamento operante. A introdução do conceito de operante reformularia para sempre o edif%cio te+rico e cient%fico do be)a,iorismo# pois deslocaria a relação causal de seu primado ontol+gico# como ocorria entre os be)a,ioristas anteriores e entre os refleologistas russos. [. /omportamento respondente] Ao eplicar a origem do conceito de refleo# =Finner 8assim como fi'era Pa,lo,# como $á ,imos9# associa"o ao mecanicismo cartesiano. erdade que =Finner não dispõe da mesma meticulosidade )ist+rico"epistemol+gica de /anguil)em a prop+sito da formação do conceito de refleo entre os s4culos KII e KIK# e limita"se a fa'er o necessário a atingir o seu prop+sito# não di,erso de seus precursores# qual se$a construir uma lin)a e,oluti,a do mecanicismo cartesiano at4 sua pr+pria teoria 8efeito retroati,o do ,erdadeiro# como di'ia /anguil)em9. :corre que# nessa lin)a e,oluti,a# )á um corte instaurado por =Finner que consagra todos os autores anteriores a um paradigma cient%fico di,erso daquele que será então formulado. : paradigma anterior passou a ser denominado como be)a,iorismo metodol+gico# e o conceito principal que o articula,a foi definido por =Finner como comportamento respondente# $ustamente a relação causal entre determinado con$unto de est%mulos e suas 77
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respecti,as respostas que cria,am uma função comportamental. =Finner desen,ol,e a seu modo essa )ist+ria at4 culminar na formulação pa,lo,iana de reflexos
condicionados#
que tamb4m
se integra
ao comportamento
respondente. [B. /omportamento operante] -as para al4m do comportamento respondente# =Finner constr+i outro conceito cient%fico# a partir da interpretação de eperimentos cient%ficos# para eplicar fatos que# segundo ele# não o eram suficientemente pelo be)a,iorismo anterior. =eu conceito de comportamento operante define o resultado do comportamento não mais segundo a relação causal direta e imediata entre os est%mulos e a resposta. =egundo esse no,o conceito# o comportamento 4 eliciado pelos resultados subsequentes do condicionamento do organismo
pelas conting!ncias do meio. 5al teoria coincide# 4 ,erdade# com o e,olucionismo darZinista# pois perse,era a compreensão de que )a,eria uma continuidade entre todas as esp4cies animais da nature'a# sendo a compleificação de determinadas esp4cies 8como a da esp4cie )umana9 resultante das conting!ncias do meio segundo o processo de seleção natural. No entanto# o conceito de comportamento operante não 4 mero resultado de uma e,olução cient%fica que
monotonamente se teria desen,ol,ido desde o mecanicismo cartesiano. 3clu%do# ainda# este ponto inicial# mesmo assim não )a,eria qualquer e,olução poss%,el entre a teoria do refleo e a teoria do comportamento operante. : que =Finner pro,ocou no be)a,iorismo foi uma reformulação de todos os seus pressupostos cient%ficos# metodol+gicos e epistemol+gicos# a qual reorgani'a o con$unto te+rico desse sistema psicol+gico. 78
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Nesse no,o sistema# o antigo conceito de comportamento respondente 8dora,ante denominado assim9 passa a ter uma outra função# mais espec%fica# na análise do comportamento. Al4m disso# o conceito darZinista de seleção natural tamb4m encontrará uma no,a função# dado que no be)a,iorismo metodol+gico 8como tamb4m no positi,ismo l+gico9 as conting!ncias não eerciam o mesmo papel que eercerão na teoria de =Finner. 5ais e,id!ncias autori'am que falemos numa ruptura epistemoló#ica lograda pelo be)a,iorismo radical# que reformula a rela5o causal entre est%mulo e resposta. : operante encontra sua causa numa funcionalidade eliciada por conting!ncias reforçadoras que s+ podem ser obser,adas subsequentemente. A causa do comportamento 4 deslocada de sua ação antecedente para os resultados esperados# o que se calca numa compreensão não linear da temporalidade[1]. A ci!ncia do comportamento eigirá então uma filosofia# * qual =Finner dará o nome de be)a,iorismo radical. [J. Probabilidade e cur,as de aprendi'agem] : operante 4 compreendido# não segundo uma relação de causalidade# mas segundo o aumento da probabilidade de ocorrer determinado comportamento# segundo determinadas conting!ncias reforçadoras. ?esse modo# =Finner reelabora as conclusões etra%das a partir dos m4todos eperimentais de 5)orndiFe 8funcionalista que ,imos na Aula R9# o que constitui um bom eemplo de como uma ruptura epistemoló#ica ressignifica as teorias do passado. :corre que =Finner obser,a que $ustamente o comportamento operante não )a,ia sido identificado por 5)orndiFe ;As cur,as de aprendi'agem mostram como os ,ários tipos de comportamento e,ocados em situações compleas se separam# se afirmam e se reordenam. : processo 79
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básico da fiação de um determinado ato acarreta esta mudança# mas não 4 diretamente descrito por ela< 8=YINN3 Ciência e comportamento humano . =ão Paulo -artins Eontes# a ed.# 1J# p. HG9. [As famosas caias"problema de 5)orndiFe 8,er eemplo no `outube )ttpsXXZZZ.Uoutube.comXZatc)7,3PQMs3?G2mF9 eram caias em que os gatos eram colocados e de,iam praticar algum tipo de comportamento espec%fico para sair. uando sa%am# recebiam comida. medida em que esses gatos eram recolocados na caia# conseguiam repetir o mesmo procedimento de modo cada ,e' mais rápido. At4 que atingiam um n%,el de ,elocidade para al4m do qual não podiam mais a,ançar. A esse a,anço esperado# 5)orndiFe c)amou Lei do 3feito# e e elaborou gráficos para epressar a e,olução desses n%,eis.] 3 quando =Finner introdu' o conceito de ;probabilidade de resposta< para eplicar os resultados dos eperimentos de 5)orndiFe# o que fa' 4 reformular seus pressupostos epistemol+gicos# cient%ficos e filos+ficos. Pois =Finner dirá que uma resposta não poderá nunca ser definiti,amente pre,ista a partir do controle das contig!ncias que a antecedem# apenas o que se poderá pre,er 4 sua probabilidade ;?esta forma# a unidade de uma ci!ncia prediti,a não 4 uma resposta# mas uma classe de respostas. Para descre,er"se esta classe usar"se"á a pala,ra \operante. : termo dá !nfase ao fato de que o comportamento opera sobre o ambiente para gerar consequ!ncias. As consequ!ncias definem as propriedades que ser,em de base para a definição da semel)ança de respostas.< 8=YINN3 op' cit'# p. HB9. : mesmo ocorre na cr%tica ao conceito pa,lo,iano de refleo condicionado. Para Pa,lo,# o reforço associa,a"se a um est%mulo# isto 4# a uma 80
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causa antecedenteC $á no conceito de comportamento operante# o reforço 4 contingente a uma resposta# isto 4# a uma probabilidade subsequente. 0 essa probabilidade que será aumentada na medida em que for sendo reforçada# ob$eti,o da análise do comportamento# que dora,ante tem o be)a,iorismo radical como filosofia.
[R. : reforço] : reforço 4 o conceito fundamental da teoria do comportamento operante# segundo a qual a probabilidade de ocorr!ncia de determinado comportamento 4 reforçada positi,a ou negati,amente pelas conting!ncias do meio# que sempre podem ser controladas. Tm reforço se dá por um e,ento que pode ser efica' com relação a determinado indi,%duo# a determinado grupo ou a determinada esp4cie# podendo sempre )a,er eceções a cada indi,%duo# o que torna imposs%,el uma generali'ação a respeito dos reforços. 5amb4m 4 poss%,el que um reforço se$a associado a est%mulos respondentes# pois o operante e o respondente podem se dar de modo con$ugado. 2á uma discussão a respeito da causa do reforçamento# uma ,e' que 4 pelas consequ!ncias das conting!ncias que o comportamento 4 reforçado. Isso indu' a pensar que )a,eria uma circularidade no reforço# $á que ele ;reforça porque reforça<# não )a,endo# assim# moti,o eterno ao pr+prio reforço a que ele reforce o comportamento. Isso le,a =Finner a admitir a necessidade de esperar pelo efeito de um reforço para que ele se$a identificado como um reforçador 8a tese do Dento a respeito de sua circularidade# $á mencionada em nota# gan)a força9 ;Não 4 correto di'er que o reforçamento operante \reforça a resposta que o precede. A resposta $á ocorreu e não pode ser mudada. : que 81
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muda 4 a probabilidade futura de resposta da mesma classe< 8=YINN3 op' cit'# p. J9R.
:utra possibilidade de contingenciamento do comportamento 4 a superstição# a qual ocorre quando# por )a,er conting!ncias acidentais entre um e,ento e caracter%sticas pretensamante reforçadoras# o indi,%duo cria modos de comportar"se que# na realidade# não possuem relação com os resultados. :s reforços podem ser intermitentes 8em tempo cont%nuo9# fragmentados de modo circunstancial ou acidental 8o que gera o comportamento supersticioso9# ou ter inter,alos regulares 8o que gera um controle mais efeti,o9# mas tamb4m podendo ocorrer di,ersas coneões compleas entre esses inter,alos e mesmo entre os di,ersos reforços poss%,eis. 5ais combinações compleas substituem aquelas que )a,iam no be)a,iorismo metodol+gico entre os est%mulos# com as diferenças substanciais que $á ,imos.
uanto ao aspecto circular do operante, ver ?QA4> Q. “Breve nota sobre o operante# circularidade e temporalidade”. (N# WWWWWW. Alguns ensaios. São ?aulo# La+ @imonad, 01J, pp. C6J. 5
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;5odos os )omens son)am# mas não da mesma forma. :s que son)am * noite# nos mais fundos recessos de suas mentes# despertam ao aman)ecer para descobrir que tudo não passa,a de ilusão. -as os son)adores do dia são )omens perigosos# pois podem se empen)ar por seus son)os de ol)os abertos e con,ert!"los em realidade.< 5. 3. LaZrence# 0s sete pilares da sabedoria ;At4 lá# o son)o ainda merece ser son)ado< =Finner# 2alden ..
[1. ?e 2alden a 2alden .. ] Por que o criador do be)a,iorismo radical teria escrito uma no,ela ut+pica7 Antes de propormos uma refleão sobre essa questão# que tal,e' nem possa mesmo ser suficientemente respondida# façamos uma bre,%ssima reconstituição da )ist+ria da utopia# a qual 4 ati,ada na pr+pria obra 2alden .. 81JO9 por seu personagem principal# o cientista Era'ier. Primeiramente# cabe notar que a 2alden remete * obra de 2enrU 5)oreau 81O1H"1OQ9# fil+sofo transcendentalista estadunidense que criou uma ficção# com lastro em sua realidade ,i,ida# na qual descre,ia a a,entura de um indi,%duo que fora ,i,er num reduto distante do con,%,io com os demais indi,%duos em sociedade. No prefácio * edição de 1Q de 2alden .. # =Finner caracteri'a a obra de 5)oreau como uma obra indi,idualista# e por isso di' ser necessária uma outra obra que a complemente# ,isionando uma comunidade para di,ersos indi,%duos# e não apenas a ,ida de um indi,%duo. No entanto# preser,a algumas caracter%sticas do pensamento de 5)oreau. Preser,a o eame que a9 o indi,%duo de,e fa'er sobre si mesmo# b9 a necessidade de mudança 8caso se note algo a mudar9# c9 a desconfiança com relação * ação pol%tica# d9 a busca pela pa'# e e9 a simplificação das necessidades. 5udo isso condu'iria a um a ,ida feli'. A ,erdadeira felicidade 4# portanto# o mote tanto de 5)oreau quanto de =Finner. -as 2alden .. # por sua pretensão coleti,ista# acrescenta f9 que as pessoas 83
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de,em conseguir ,i,er $untasC g9 que de,e )a,er medidas 4ticas de controle 8e,itando" se o policiamento militar9C )9 que de,e )a,er uma eficiente transmissão da informação pela educaçãoC i9 que de,em )a,er reforços positi,os para o trabal)o# e,itando"se os reforços negati,osC $9 que a eperimentação de,e estar em primeiro plano. 3m todo caso# )á uma condição fundamental para que o eperimento de d! certo# a de que a comunidade se$a relati,amente pequena. : que está 2alden .. d! em $ogo aqui 4 a noção de 3stado como totalidade de indi,%duos# e em seu lugar aparece a noção de uma multiplicidade de comunidades relacionadas relacionadas entre si sem um princ%pio de totali'ação# se$a ele pol%tico# ideol+gico# filos+fico ou cient%fico. Apenas a eperimentação# sempre singular a cada grupo ou comunidade# 4 que estaria na base de cada uma dessas comunidades.
[. ?a ci!ncia * utopia ou da utopia * ci!ncia7] 5ais caracter%sticas que modificam o pro$eto de 5)oreau com o ob$eti,o de torná"lo comunitário implicam que a ci!ncia do comportamento se$a correlata a um son)o ambicionado pelo cientista. =e tais posicionamentos te+ricos 8o do son)o e o da eperime eperimentaç ntação ão cient%fica cient%fica99 de,em de,em camin)ar camin)ar $untos $untos no be)a,iori be)a,iorismo smo radical radical## como atesta a relação que estabelecem entre durante toda a obra de =Finner 8de modo mais ou menos e,idente9# como estabelecer o primado se$a ao son)o 8especulação te+rica9 se$a * prática 8eperimentação 8eperimentação emp%rica97 :ra# tal foi $ustamente# e desde os mais remotos tempos# o que teria norteado a escrita de tantas obras utópicas desde a Antiguidade. Aliás# são muitos os traços comun comunss entre entre a epDbli de =Finner no que di' respeito * epDblica ca de Platão e 2alden .. de estrut estrutura uração ção da comunidade então pensada utopicamente. 3m ambas as obras# o eerc%cio efeti,o do controle pol%tico dos indi,%duos e de suas ,ariá,eis está a ser,iço de um saber que# em @ltima instSncia# 4 eercido pela figura daquele a quem se atribui
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a caracter%stica de estar mais pr+imo do con)ecimento ,erdadeiro. No caso de Platão# trata"se do rei"fil+sofo. No caso de =Finner# =Finner# do cientista. A despeito de todas as diferenças com relação ao m4todo eleito como o prefer%,el para aferir como se c)ega a esse saber ,erdadeiro 8que# no caso de =Finner# 4 eperimental# enquanto para Platão di'ia respeito *s formas intelig%,eis9# o que respalda essa opção 4 o modo de ,ida tido como mais ,aloroso# mais ,erdadeiro ou# como =Finner o dirá a partir de uma reelaboração o pro$eto de 5)oreau# o mais feli'. /omo resultado# o modo de ,ida ambicionado por =Finner tem como garantia o controle por um con$unto de administradores# os quais deterão o acesso aos dados adquiridos eperimentalmente a partir da ,ida dos indi,%duos naquela comunidade. Aqui# )á uma diferença diferença com relação a Platão# Platão# para quem a aferição da ,ida ,ida ,erdadeira $amais poderia ser alcançada pela eperimentação# eperimentação# pois essa esta,a condicionada condicionada * obser,ação pelos sentidos. =omente a ra'ão 4 quem poderia acessar a ,erdade# e uma ,ida ,erdadeira de,eria buscar esse camin)o. No entanto# a moti,ação pela elaboração de uma obra ut+pica 4 correlata *quela de =Finner# $á que )a,erá sempre um modo de ,ida a ser perseguido# o qual pretende ser efeti,ado na prática# o que a utopia buscar antecipar. 3 esse ob$eti,o ut+pic ut+pico o não pode pode ad,ir ad,ir## ele# ele# de uma eperi eperimen mentaç tação ão.. =omen =omente te o plane plane$a $amen mento to criterioso feito por um )omem de saber# se$a ele um fil+sofo ou cientista# 4 que pode resultar numa utopia# ainda que# nessa utopia tal como pensada# a eperimentação se sobressaia *s especulações filos+ficas que de,em estar a ser,iço daquela. ?onde a formulação da questão como imaginar uma correlação entre ci!ncia e utopia7
[B. A noção de utopia] 85
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A utopia# segundo a definição# um ;sem lugar<# mas que# segundo o sentido# possui alguma efeti,idade no real. Nesse sentido# toda sociedade# todo pensamento e toda ci!ncia possuem# em seu ponto cego# algo que se aproima de uma utopia. A utopia# ou son)o diurno# não pode ser entendida apenas como pro$eção de um outro mundo ineistente# como paião pelo lugar sem lugar# como se fosse eterior e estran)a. Ao contrário# ela de,e possuir um caráter concreto. /aracteri'a"se como uma presença# pois coeiste com os outros n%,eis da realidade concreta. 0 poss%,el recon) recon)ece ecerr essa essa coei coeist! st!nci ncia a em muitos muitos tetos tetos antigo antigos s $á na epDblica # Platã Platão o trata,a de um mundo outro a ser constru%do# embora o termo s+ ten)a sido cun)ado depois# no s4culo KI por 5)omas -orus. ?esde então# muitos autores buscaram no,as formas de formular o tema da utopia e da busca por esse outro lugar que de,er% de,er%am amos os constr construi uir# r# se$a se$a indi, indi,idu idual al ou con$u con$unta ntamen mente te Dacon# Dacon# /ampan /ampanell ella# a# os socialistas ut+picos são alguns eemplos. A utopia consiste# em certa medida# no oposto da mem+ria. A mem+ria 4 coei coeist! st!nci ncia a do passa passado# do# em seus seus di,ers di,ersos os n%,eis n%,eis de antig antigui uidad dade# e# no presen presente# te# sempre pass%,el de ser reatuali'ada em diferentes contetos que a ressignificam. : fluo de uma ,ida se constitui nesse recorrente retorno# por4m sempre a liberar uma diferença pr+pria ao momento @nico em que essa repetição do $á ,i,ido acontece. (á a utopia 4 algo que ainda não 4# mas que coeiste no presente com o que eiste atua atualm lmen ente te e# por por isso isso## pode pode prod produ' u'ir ir muda mudanç nças as conc concre reta tas# s# assi assim m como como as lembranças do passado tamb4m podem# em outro sentido# modificar a constituição do presente a partir de sua reelaboração. reelaboração.
[J. : son)o de atson e son)o de =Finner] =empre com esse sentido da utopia em mente# o qual aparece em di,ersas falas do cientista Era'ier ao longo da no,ela# =Finner constr+i um pensamento ut+pico que 4 correlato ao seu pensamento filos+fico"cientifico. -as será que sua ci!ncia 86
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deri,a dessa utopia7 imos que# para os refleologistas russos e para os be)a,ioristas metodol+gicos estadunidenses# )a,ia uma ;utopia< não manifesta em seu pensamento# a de um realismo. 5odos os autores circunscritos a essas duas correntes pensa,am que# se um dia poss%,el ter aparel)os de medição e de isolamento das ,ariá,eis# seria poss%,el tamb4m pre,er todos os fen6menos do comportamento animal e )umano. 5rata"se do son)o positi,ista. Para =Finner# ao contrário# a utopia 4 deslocada desse sentido realista e integrada num pro$eto que s+ poderia se efeti,ar plenamente se respeitar as conting!ncias referentes a cada eperimento poss%,el# o que nunca resultaria num determinismo absoluto da realidade concreta# o que está em sintonia com os desen,ol,imentos das ci!ncias f%sicas de seu tempo 8princ%pio de incerte'a de 2eisenberg# por eemplo# citado em Ciência e comportamento humano 9. ?esse modo# =Finner reati,a o antigo sentido de uma sociedade ut+pica# que não possui meramente um sentido cient%fico# mas que adentra a esfera 4tico"politica. Isso porque# para =Finner# o son)o do controle não se tradu' numa possibilidade de que a ci!ncia possa tradu'ir# em sua pr+pria linguagem# todos os e,entos da realidade fática 8que ocorrem segundo uma outra linguagem espec%fica# que não a da ci!ncia9. =eu son)o condi' com a poss%,el integração# nunca total e sempre por se fa'er > o que se perfa' com a integração da conting!ncia no Smbito das pre,isões cient%ficas ># de um pro$eto 4tico"pol%tico de busca pela felicidade 8princ%pio que não se dedu' pela ci!ncia# pois se baseia unicamente em modos de ,ida de indi,%duos singularmente considerados9 com o rigor cient%fico da ci!ncia do comportamento# que tamb4m não repousa mais# como no positi,ismo# numa crença realista.
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História dos sistemas psicológicos: Behaviorismo Caio Souto "ula 10 % 2/10/2015: aspectos espec'cos do comportame*to opera*te
Na Aula O# analisamos os aspectos do conceito de comportamento operante em sua generalidade. imos em que ele difere do comportamento respondente# termo com o qual =Finner resumiu os refleos 8absolutos e condicionados9 e# com isso# todo o be)a,iorismo anterior e# com ele# tamb4m a refleologia russa. 2o$e#
,eremos
algumas
caracter%sticas mais espec%ficas
do
comportamento operante definidas nos cap%tulos I# II e III de /i!ncia e comportamento )umano.
Cap. !. "odelagem e manutenção do comportamento operante Continuidade : primeiro conceito espec%fico do comportamento operante que de,e nos interessar 4 o de continuidade. =egundo esse conceito# o reforçamento não opera segundo saltos abruptos ou descontinuidades. Ao contrário# ele se fa' continuamente
no
tempo.
=ua
compleidade
8dado
que
nen)um
comportamento 4 simples# pois 4 sempre um feie de relações de comportamentos9# embora possa ter suas partes isoladas para fins de análise# s+ se dão con$untamente. Para al4m da multiplicidade de comportamentos ,ariados#
portanto#
)á
uma
s+
e
mesma
;nature'a
cont%nua
do
comportamento<. Por isso# um reforçamento que atua diretamente sobre um comportamento espec%fico sempre irá afetar outros comportamentos indiretamente# o que =Finner concebe como ;transfer!ncia<. Assim como 2ume# =Finner compreende )a,er um feie tão grande de relações entre todas as coisas# 88
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embora a real nature'a dessas relações não possa ad,ir ao )omem unicamente pela eperi!ncia. : eemplo do comportamento ,erbal esclarece que um átomo de discurso nunca pode ser isolado de todo um sistema lingu%stico no qual esses átomos 8fonemas9 produ'em sentido.
#eforço diferencial :utra caracter%stica espec%fica do comportamento operante 4 caracteri'ada pelo termo reforço diferencial. 5rata"se de uma conting!nica que aperfeiçoa especificamente uma determinada )abilidade 8os eemplos que =Finner dá são os da bola de gude# do tiro# do bolic)e# do camin)ar no con,4s de um na,io9. Para que ocorra esse aperfeiçoamento espec%fico 4 necessário que esse reforço se$a imediato. Aqui# a retroação do comportamento 4 sentida imediatamente# o que permite que esse feedbacF imediato reforce o comportamento naquele sentido espec%fico da )abilidade a ser aperfeiçoada.
A manutenção do comportamento ?o mesmo modo como um comportamento 4 reforçado por no,as conting!ncias# ele tamb4m pode ser etinto# caso não )a$a tais conting!ncias. Não )á interesse quanto ao eame da ;aquisição originária< de determinado comportamento# mas sim quanto * probabilidade de sua recorr!ncia.
#eforço intermitente ?o mesmo modo como =Finner afirma o aspecto da continuidade do comportamento operante# o que implica em sua compleidade# segue"se disso 89
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que um reforço 4 mais efica' quando 4 intermitente# isto 4# quando ocorre segundo inter,alos 8regulares ou não9# e não de uma s+ ,e'. 2á o reforço por ra'ão 8fia ou ,ariá,el9 ocorre segundo um termo que pode ser fio 8eemplo do aluno que fa' o trabal)o final do curso apenas no final do semestre e que não tem mais Snimo para fa'er nada ap+s a entrega9 ou ,ariá,el 8eemplo das casas de $ogo 3 o reforço por inter,alo 8fio ou ,ariá,el9 os inter,alos de reforçamento se dão de modo fio ou não. 2á uma possibilidade muito efica' de se entrecru'ar o reforço por ra'ão e o por inter,alo. 3m todo caso# para que )a$a reforço 8seleção do comportamento por consequ!ncia9# 4 necessário )a,er determinada frequ!ncia em suas respostas.
Cap. !! $iscriminação operante 3sse conceito 4 muito importante para a compreensão da diferença entre o comportamento operante e o comportamento respondente. : operante não pode ser eliciado# não pode ser estimulado# embora# por ser compleo e cont%nuo# ten)a relações com di,ersos respondentes e com o mundo eterior. A discriminação que um organismo põe em relação o est%mulo# a resposta e o reforço# mas implica uma probabilidade de ocorr!ncia do resultado# e não sua necessidade.
Comportamento %oluntário e in%oluntário e$amos# pela seguinte frase# a modulação que =Finner pro,oca no 90
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be)a,iorismo# como $á ,imos ;: est%mulo discriminati,o não elicia a resposta# simplesmente altera sua probabilidade de ocorr!ncia< 8=YINN3 /i!ncia e comportamento )umano# op. cit.# p. 11R9. Nesse sentido 4 que =Finner dirá que a diferença entre comportamento ,oluntário e in,oluntário equi,ale aquela eistente entre est%mulos eliciadores e est%mulos discriminati,os. : que inclui di'er que o comportamento operante 4 ,oluntário 8discriminati,o9 e o comportamento refleo 8respondente9 4 in,oluntário.
#epertórios discriminati%os :s eemplos dos esportes 8t!nis# esgrima9# da m@sica 8a orquestra9 da dança 8o par que dança $unto9 auiliam a compreensão da criação de repert+rios de comportamento que podem ,ariar e que# em seu con$unto# ,ão no sentido do aperfeiçoamento do est%mulo discriminati,o.
Atenção /omo )á uma ,ariedade de ações estimulantes no meio# a seleção se dá por meio da atenção do organismo# que seleciona o que l)e interessa# de acordo com o con$unto de reforçadores.
#elações temporais entre est&mulo' resposta e reforço A mesma compleidade obser,ada na formação de um comportamento operante se dá no pr+prio meio ambiente. :corre que essa compleidade inclui o fator da temporalidade# o que implica analisar tamb4m esse fator de modo apurado# $á que ele interfere no comportamento e na tr%plice conting!ncia que o 91
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constitui 8est%mulo# resposta# reforço9.
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História dos sistemas psicológicos: Behaviorismo Caio Souto "ula 11 % 12/11/2015: co*trole e resist7*cia
(poro Tm inseto ca,a ca,a sem alarme perfurando a terra sem ac)ar escape. ue fa'er# eausto# em pa%s bloqueado# enlace de noite rai' e min4rio7 3is que o labirinto 8o) ra'ão mist4rio9 presto se desata em ,erde# so'in)a# antieuclidiana# uma orqu%dea forma"se. /arlos ?rummond de Andrade
[1. /ontrole e resist!ncia] : be)a,iorismo pode ser utili'ado tanto como um modelo cient%fico para mel)or submeter os organismos a condições que l)es são ad,ersas quanto para produ'ir neles estrat4gias para resistir a tais condições. : limite 4 muito t!nue. 5al,e' o poema de ?rummond lance lu' sobre esse problema. 3scrito durante a II Muerra -undial# ele propõe uma sa%da para a situação bloqueada * qual os organismos 8a ,ida9 se encontram. A linguagem tamb4m 4 uma prisão. As pala,ras aprisionam o sentido daquilo que quer se dar ou se prestar ao mundo de uma forma singular o pensamento. Por mais @nico e particular que se$a o sentido de um pensamento# 4 apenas segundo a conting!ncia da linguagem que ele pode se epressar. : poema se constr+i sob uma forma fia# o soneto. Não o soneto clássico# pois $á está dissol,ido no ,erso quase li,re sem rima. -as ainda um soneto. poro# nome de um inseto# de um organismo ,i,o# de um organismo que se comporta# se ,! a ca,ar sem encontrar sa%da ou escape. 3stá preso a um determinado ambiente# como os indi,%duos numa dada situação de guerra. poro# nome de uma situação de impasse em que não se encontra sa%da# 4 toda a situação de um po,o# de 93
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um grupo# do destino )ist+rico da )umanidade. -as 4 desse aprisionamento# desse confinamento do sentido pela palavra 8;áporo<9# do or#anismo pelo meio em que ele está# meio este que tamb4m o modela# o integra e constitui# que a prisão se desata# que o labirinto encontra sua pr+pria sa%da# a partir de si mesmo e de sua pr+pria configuração. : organismo# preso *s conting!ncias de determinado meio# a partir de si mesmo# não por algo que $á l)e constitu%a de antemão 8como um instinto# uma ess!ncia ou uma ,ontade primiti,os9# mas por algo que ele constitui no fluo mesmo de sua eist!ncia# e que no entanto 4 correlato ao meio que l)e 4 eterno# como a pala,ra que 4 ao mesmo tempo uma forma fia eterna ao sentido e uma forma que se dá a si mesma seu pr+prio sentido em cada conteto# o áporo# nome de uma orqu%dea# agora solitário# ao abrigo do meio que# no entanto# nunca o abandona# dá a si mesmo sua pr+pria forma# e o fa' contra a l+gica# contra as epectati,as# contra a pre,isão# contra as regras da geometria que 3uclides inaugurou. : poema de ?rummond possui esses tr!s sentidos da pala,ra áporo. /onfinados a uma forma po4tica fia dada# essa pala,ra ,ai implodindo cada um desses sentidos# conquistando terreno para al4m do aprisionamento de uma linguagem que l)e da,a forma# encontrando uma sa%da# conferindo a si mesma seu sentido mais singular# modelando seu comportamento na direção de uma forma no,a e ineistente pre,iamente no mundo. ;Tma orqu%dea forma@se< o ,erbo reflei,o implica uma afecção do su$eito sobre si mesmo. : formar"se do sentido final do poema 4 dado a partir de si mesmo enquanto resist!ncia a uma situação na qual ele esta,a# dentro da qual ele criou a possibilidade de uma sa%da# a qual 4 dada no modelar de si mesmo resiliente ao meio.
[. : meio ambiente no be)a,iorismo radical] 5al poder da ação do comportamento sobre si mesmo 4 bem con)ecido de 94
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=Finner# e ele o nomeia como ;impulso< a ação do operante. No cap%tulo III de Ciência e comportamento humano # =Finner fornece uma eplicação sobre a
importSncia da ação do meio ambiente sobre o organismo# a qual# segundo ele# teria sido negligenciada por muitos psic+logos. ?i,ersas patologias# a psicose por eemplo# são comportamentos que inobser,am a configuração real do mundo. A compreensão de =Finner acerca do meio ambiente pretende ser como a da E%sica# isto 4# um con$unto de ,ariá,eis independentes que se dão mutuamente e que eercem influ!ncias umas sobre as outras. : comportamento se dá nesse con$unto de relações e 4 estimulado por essas relações. : est%mulo 4 compreendido por =Finner como ;uma particular combinação de propriedades< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1BQ9. /omo# para o be)a,iorismo radical# não )á uma determinação estrita
do comportamento pelos est%mulos# a pre,isão do comportamento se dá sempre segundo uma indução 8ou generali'ação9 e con)ece infinitas ,ariações que nunca podem ser esgotadas ou absolutamente pre,istas# apenas sua probabilidade. Na busca pela pre,isão de tais probabilidades# o be)a,iorismo propõe o isolamento de algumas dessas ,ariá,eis# ou de determinados con$untos de ,ará,eis. A esse isolamento# =Finner deu o nome de ;abstração<. A abstração produ' um ;estreitamento do controle eercido pelas propriedades dos est%mulos< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1BH9# isto 4# permite que aumente a probabilidade do
controle sobre o organismo na medida em que diminui abstratamente as ,ariá,eis que agem sobre ele. :corre que sempre )a,erá relações entre essas ,ariá,eis e as demais que não foram abstra%das# )a,endo uma mediação entre aquelas e estas que 4 s+ pode ser entendida pela ci!ncia atra,4s da infer!ncia. 3 sendo o mundo compreendido segundo um con$unto compleo de realidades f%sicas# a ci!ncia do comportamento pode compreender a este com algo que pertence a essa mesma realidade. Por4m# embora ele se$a correlato ao mundo# isso não eclui 95
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que ele tamb4m se$a algo di,erso do mundo. Por isso# =Finner di' que ;nossa \percepção do mundo > nosso \con)ecimento do mundo > 4 o nosso comportamento em relação ao mundo. Não de,e ser confundido com o mundo propriamente dito ou com outro comportamento em relação ao mundo ou como comportamento de outros em relação ao mundo< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1J9. /om essa frase# o autor define a relação entre o comportamento e o mundo# distinguindo"os entre si. 3ssa distinção equi,ale a di'er que o comportamento não 4 apenas resultado da ação do meio# ou da ação dos est%mulos. : operante 4 $ustamente o conceito criado para distinguir o que )á de irredut%,el ao meio no comportamento. Tma ,e' compreendia essa descontinuidade )a,ida entre essas duas realidades 8comportamento e meio9# cabe saber qual a função da análise comportamental# se 4 colaborar para que o comportamento se submeta *s conting!ncias do mundo# ou auiliá"lo a criar uma resist!ncia.
[B. : conceito sFinneriano de impulso] No pr+imo t+pico# =Finner analisa as duas principais situações a que o comportamento pode ser submetido pelo meio e que possibilita um controle sobre ele. =ão elas a pri,ação# por interm4dio da qual o organismo 4 pri,ado de algo que pode ser alimentação ou seo# por eemplo# e a saciação# que consiste em seu oposto. 5oda a argumentação de =Finner neste ponto se dá no mesmo sentido $á esboçado em todas as demais etapas da construção do paradigma te+rico do be)a,iorismo radical# sempre em contraposição ao be)a,iorismo metodol+gico. 5rata"se sobretudo de di'er que# embora a pri,ação e a saciação afetem a probabilidade de certos comportamentos# isso não se dá segundo o modelo da causa e efeito# isto 4# da necessidade.
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Para =Finner# a necessidade 8tão cara ao be)a,iorismo metodol+gico# que aborda,a o comportamento em termos de causa e efeito9 4 da mesma ordem dos impulsos# dos dese$os# dos apetites# numa pala,ra# da pulsão ,ital# todos eles consistentes em causas interiores. :corre que admissão da eist!ncia de algum desses termos implicaria um problema eperimental insol@,el# $á que todos eles são apenas ;recursos ,erbais como o qual descre,emos um estado de frequência de comportamento< 8Ciência e comportamento humano # p. 1JR9. =+ se pode submeter * eperi!ncia esse resultado obser,ado segundo uma frequ!ncia maior ou menor# o que 4 da ordem da probabilidade# e não da determinação. Isso implica uma definição de ;impulso< que 4 diferente# ao mesmo tempo# do be)a,iorismo metodol+gico 8cu$os princ%pios formais estão adstritos ao positi,os l+gico# como $á ,imos9 e da psicanálise freudiana. : teto em que Ereud mel)or define o que seria o ;impulso< 8pulsão9 4 &ara al+m o princ"pio do prazer # escrito em 1G# poucos anos antes da reformulação de sua t+pica. /omo ensina :sZaldo Miac+ia (r.# trata"se de mais um passo regressi,o em direção a um ;elemento originário que ser,e de base para uma deri,ação gen4tica# bem como para instituir# )euristicamente# um regime sistemático de analogias entre uma s4rie de fen6menos at4 então desconectados< 8MIA/WIA# G1G# p. J9 : que enfim permite consolidar# no plano te+rico"conceitual# a analogia entre ;o primiti,o# a criança e o neur+tico# bem como a psicologia social e indi,idual# a filog!nese e a ontog!nese< 8MIA/WIA# G1G# p. J9. 5orna"se cada ,e' mais claro a Ereud a necessidade de reformulação de sua t+pica# porque aquela estrutura consciente"pr4"consciente"inconsciente $á não da,a conta mais de eplicar a origem de alguns fen6menos ps%quicos que eram em parte conscientes# em parte inconscientes# e não parecia muito clara essa di,isão. 2á di,ersos conte@dos que pertencem de pleno direito ao 3go# mas que não são inteiramente conscientes. Por outro lado# )á restrições e interdições que possuem
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ra%'es inconscientes mas que etrapolam para a consci!ncia. 3 $otem e $abu [11B] $á )a,ia conclu%do que )á certas estruturas inconscientes que possuem estruturas gerais e )istoricamente )erdadas. 0 tendo isso em ,ista que# pouco tempo depois# Ereud publica 0 >#o e o .d [1B]# onde epõe sua segunda teoria do aparel)o ps%quico. ?ora,ante# seu conceito de inconsciente será ligeiramente modicado e serão introdu'idos tr!s no,os conceitos os de 3go 8 .ch9# Id 8>s9 e =uperego 8 [email protected] 9. : Id caracteri'a"se como um polo pulsional da personalidade em que residem os conte@dos e epressões ps%quicas das pulsões. 0 o mais primiti,o constituinte da psique )umana e nele residem tanto os conte@dos cong!nitos quanto aqueles ad,indos da eperi!ncia pessoal do indi,%duo# sendo inteiramente inconsciente. uando as rei,indicações pulsionais do Id são cerceadas ou bloqueadas# ele entra em conflito com o 3go e com o =uperego. : =uperego# por sua ,e'# se constitui como censor# que 4 socialmente desen,ol,ido enquanto consci!ncia moral# e eerce a função que# na primeira t+pica freudiana# era eercida pelo mecanismo da censura 8consciente e inconsciente9. (á o 3go# está em tensão com as outras duas dimensões# possuindo uma autonomia apenas relati,a em relação aos imperati,os do =uperego 8atreladas sobretudo ao princ%pio de realidade9 e aos anseios do Id# que nunca pode reali'ar plenamente. e$amos como =Finner propõe um modelo diferente da relação entre o comportamento e o meio ambiente e que# no entanto# pretende le,ar em consideração problemas parecidos. Para ele# o impulso 4 o resultado operante de um organismo que# na sua relação com o meio# estabelece estados inter,enientes que podem ser obser,ados segundo determinada frequ!ncia e probabilidade. Por4m# o impulso não se redu'# para ele# i9 a um est%mulo# como para os be)a,ioristas metodol+gicos# para os quais a ação do organismo era sempre resultante direta de certo est%mulo#
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condicionado ou nãoC ii9 a um estado fisiol+gico# o que tamb4m o afasta do be)a,iorismo anterior# que opera,a um reducionismo ontol+gico# e $á ,imos que =Finner opera um reducionismo meramente epistemol+gicoC iii9 a um estado ps%quico# $á que o impulso 8como são os da pri,ação ou da saciação9 não se refere apenas a um dado interno do organismoC i,9 a um estado de frequ!ncia# $á que as relações entre o impulso e o comportamento são compleas# como $á ,imos a prop+sito dos conceitos de ;compleidade< e de ;reforço intermitente<. /omo decorr!ncia disso# ;a saciação e a pri,ação estão ob,iamente relacionadas com o reforço operante< 8=YINN3 Ciência e comportamento humano # p. 1RG9 e são# por isso# compleas e relati,as a di,ersos condicionamentos. 3 dentre toda essa compleidade de impulsos# para =Finner não 4 poss%,el estabelecer qual se$a propriamente o impulso primordial ou originário. No,amente# )á uma distinção com relação * psicanálise freudiana# que priori'aria a pulsão libidinal 8seual9 dentre as demais. Para =Finner# embora a seualidade ten)a grande importSncia para a análise do comportamento# não )á pri,il4gio nen)um com relação aos outros impulsos. /omo todos os impulsos estão inter"relacionados# a seualidade seria# por sua ,e'# um impulso com relações m@ltiplas com os demais impulsos. Por isso# condicionar a seualidade no comportamento de um organismo implica interferir em outros impulsos# todos eles inter"relacionados. : que tem efeitos tamb4m com relação a qualquer )ierarquia entre os impulsos. uanto *s relações entre os impulsos# =Finner elege a ,ariá,el do tempo como aquela que# nos eperimentos# demonstra ser a principal. Assim como para 2ume# a ;nature'a )umana< 4 compreendida como um feie de relações# sem que )a$a uma ;,erdadeira nature'a<# ou um impulso fundamental.
[J. As emoções uma falsa causa] 99
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=Finner re$eita algumas c)amadas ;causas fict%cias< do comportamento# como por eemplo as emo!es . Parte da definição de (ames"Lagen# segundo a qual as emoções são correlatas ao comportamento# embora não se$am as suas causas 8para (ames# são as consequ!ncias de determinados comportamentos9. Para =Finner# as emoções carecem de lastro eperimental# por isso não podem integrar a análise do comportamento# sendo por isso absolutamente dispensá,eis. =ubstitui a análise das emoções por análise das probabilidades demonstradas por determinados indi,%duos a agirem de determinadas maneiras ;:s nomes das assim c)amadas emoções ser,em para classificar o comportamento em relação a ,árias circunstSncias que afetam sua probabilidade< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1Q9. /orrelata * análise das probabilidades está a compreensão da compleidade. A emoção tamb4m 4 um con$unto compleo de di,ersas respostas dadas por um determinado comportamento a um con$unto dado de conting!ncias. =endo pass%,eis de eperimentação# as conting!ncias# e suas ,ariações# podem ser compreendidas como funções de outras ,ariá,eis# e assim 4 poss%,el compreender eperimentalmente as emoções. =Finner oferece a seguinte definição de emoção ;um estado particular de alta ou baia frequ!ncia de uma ou mais repostas indu'idas por qualquer uma dentre uma classe de operações< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1QR9. Ao comportamento operante contingente a todo um compleo con$unto de reações# compreendido este em sua totalidade# =Finner deu o nome de emo5o total . ?entre as emoções totais# estão# por eemplo# as fobias# a depressão# a perda de interesse# a frustração# a ansiedade# entre outras. 3m todo caso# não são compreendidas como causas de comportamentos. : afastamento da emoção como causa condi' ademais com o que 4 mais caracter%stico no be)a,iorismo radical# a substituição da determinação pela probabilidade ;A @nica causa ,álida 4 a condição eterna da qual se demonstra que o comportamento de
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negligenciar# como parte de um padrão emocional con)ecido como ansiedade ou triste'a# 4 uma função< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1QH9
[J.1. Alguns casos especiais de emoções ansiedade# antecipação] ?o mesmo modo como ocorre nas demais definições do be)a,iorismo radical# despro,idas de conte@do determinista# o que define o assim c)amada est"mulo aversivo para =Finner não 4 nen)uma caracter%stica f%sica# mas a consequ!ncia de
seus efeitos ;?i'"se que um est%mulo 4 a,ersi,o apenas quando sua remoção for reforçadora.< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1HG9# ao que se complementa ;pela apresentação de um est%mulo a,ersi,o# cria"se a possibilidade de reforçar uma resposta pela retirada do est%mulo< 8 Ciência e comportamento humano # p. 1H19. /omo todo o comportamento s+ se di' de um imenso compleo de relações# o mesmo se dá com o comportamento a,ersi,o# o qual estabelece di,ersas relações emocionais com outros comportamentos e isso dificulta que ele se$a obser,ado isoladamente. /omo os est%mulos a,ersi,os costumam ter resultado imediato# seu uso 4 bastante disseminado em laborat+rio# mas por seus efeitos colaterais de,e ser e,itado. Para a etinção de comportamentos# tamb4m 4 muito comum utili'ar"se reforço a,ersi,o condicionado. =ua compleidade implica# tal como para os demais conceitos relati,os ao comportamento# uma intermit!ncia com relação ao tempo# o que pode ser utili'ado na modelagem com o ob$eti,o de etinguir determinados comportamentos. ?entre as conting!ncias com alta probabilidade de ocorrer em casos de est%mulos a,ersi,os está a ansiedade # na ,erdade o nome que se dá a um con$unto compleo de caracter%sticas do comportamento. Algo como o seu contrário tamb4m costuma ocorrer# a c)amada antecipa5o # comportamento de relati,a euforia 8muito comum entre crianças9 que ocorre na ,4spera de algum fato que se pressupõe se$a positi,o. -as# a eemplo de todas as demais emoções# tanto a ansiedade quanto a antecipação não são causas de nen)um comportamento# são o mero nome que se dá 101
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a um ;con$unto de predisposições emocionais atribu%das a um especial tipo de circunstSncias< 8Ciência e comportamento humano # p. 1H9.
[R. Punição e o retorno do reprimido] :s eperimentos de 5)orndiFe com os gatos em caias"problemas são muito famosos pelos resultados que esse cientista apresenta,a# sobretudo para a psicologia da aprendi'agem. 3le descobriu que os comportamentos considerados errados não tradu'iam a oposição simples entre certo e errado. =Finner propõe outra interpretação dos dados col)idos nos eperimentos de 5)orndiFe. 3ste atribu%a ao comportamento certo uma recompensa e ao errado uma punição. Por4m# =Finner ,erifica que a punição não 4 o oposto da recompensa# $á que seus efeitos não são opostos. Isso ocorre porque a punição possui alguns efeitos espec%ficos. : primeiro efeito 4 meramente eliciador# pro,ocando a etinção imediata de determinado comportamento. : segundo efeito 4 o de que# no futuro# a probabilidade de aquele comportamento ocorrer será menor# mesmo sem que )a$a a punição. (unto a isso# podem ocorrer fortes predisposições emocionais caso o comportamento punido ,olte a ocorrer 8o que o senso comum denomina como culpa# ver#onha # sentimento de pecado9. : que# para =Finner# 4 o principal efeito da punição se segue a esses dois
efeitos. :s est%mulos que acompan)am a punição# sempre que ocorrer em outras situações# será condicionada# isto 4# implicará os efeitos da punição. Aqui# =Finner fa' uma comparação entre esse subproduto da punição e a repressão. No,amente# Ereud 4 in,ocado e sua teoria da repressão 4 logo recusada# apenas di'endo"se que ela etrapola o dom%nio do comportamento. : que ocorre# assim como no caso que $á dissemos acima a prop+sito da pulsão libidinal# 4 que# para Ereud# o que 4 reprimido 4 algo de mais primiti,o e de mais originário na constituição 102
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do ser )umano. : trabal)o da psicanálise seria o de elaborar essa repressão com o ob$eti,o de dirigi"la para a sublimação# e não para o recalque# sendo aquela uma ati,idade socialmente produti,a e aceitá,el. :ra# a diferença maior entre =Finner e Ereud# neste ponto# di' respeito ao princ%pio de suas teorias# sendo a ideia de pulsão em Ereud recusada por =Finner# $á que etrapola o dom%nio do comportamento. uanto aos seus resultados# no entanto# )á uma inesperada similaridade# como apontara Dento Prado (r. 81OR9. :utro efeito da punição segundo =Finner# decorrente de tudo o que $á foi dito# 4 o de que# ao etinguir a punição# o comportamento punido retorna. :ra# aqui )á tamb4m outra similaridade com relação * psicanálise e ao conceito de ;retorno do reprimido<. =egundo esse conceito# o inconsciente formula figuras deformadas daquilo que foi epulso da consci!ncia# e essas figuras retornam# ,e' ou outra# * consci!ncia de modos distintos. A punição# em =Finner# etingue 8;reprime<9 comportamentos# mas estes podem retornar quando o reforço negati,o deia de ser produ'ido# e com eles muitos subprodutos se criam. Poder%amos compreender isso como uma reformulação das bases te+ricas do conceito freudiano de ;retorno do reprimido 8ou do recalcado9<. A diferença 4 que# para =Finner# o que ;retorna< 4 sempre tradu'ido em termos comportamentais. Por fim# =Finner apresenta alternati,as * punição o esquecimento do comportamento# com o ob$eti,o de que ele se$a etintoC o condicionamento a um comportamento incompat"vel # sempre um reforço positi,o.
[Q. : traço e o aspecto] A seguir# =Finner aborda o que denomina como trao em relação com o aspecto. Nesse item# o que está em $ogo 4 a seleção por compet!ncia dos indi,%duos.
Nen)um traço caracter%stico de um indi,%duo 4 causa de seu comportamento. :
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comportamento 4 contingente a efeitos de efeitos de reforços que não possuem neo causal entre si. Por isso# ol)ar para os traços de determinado indi,%duo 4 menos importante do que atentar"se para as condições de possibilidade de seu comportamento# as quais são dadas pela )ist+ria desse indi,%duo e do meio em que ele nasceu e cresceu. : que retorna mais uma ,e' * questão da compleidade# $á que os indi,%duos possuem comportamentos pr+prios# mas todos possibilitados por conting!ncias as quais são pass%,eis de controle.
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;: mais profundo 4 a pele< Paul al4rU
[1. Tnidade e compleidade] =Finner compreende o comportamento como um con$unto compleo de ,ariá,eis. A nature'a das relações eistentes entre tais ,ariá,eis não pode ser aferida atra,4s da eperi!ncia# por isso não se pode di'er nada acerca da causalidade possi,elmente eistente entre elas. No entanto# isso constitui +bice a que se faça uma ci!ncia do comportamento. Para tanto# 4 necessário compreender a este como uma compleidade# a qual nunca se dá completamente ao ol)ar cient%fico# que s+ pode abstrair algumas de suas ,ariá,eis# o que não impede que a ci!ncia possua uma eficácia na modelagem do comportamento. 3m todo caso# esse modo de analisar o indi,%duo como uma compleidade se dá de um modo di,erso do que ocorre com outras correntes da psicologia e da filosofia. Na fenomenologia# por eemplo# o su$eito 4 compreendido como forma# a qual# por não ser a mera soma das partes# não se dá segundo uma compleidade# mas segundo uma unidade. Para a Gestalt # a forma 8o todo9 possui uma diferença de nature'a com relação *s partes. (á para o be)a,iorismo radical# não )á diferença de nature'a entre o indi,%duo e todas as ,ariá,eis que o compõem. No entanto# )á uma diferença entre o que =Finner concebe como ;o que )á por baio da pele<# tamb4m c)amados ;e,entos pri,ados< ou ;comportamento encoberto< e o que ocorre em na superf%cie. -as essa diferença não 4 de nature'a# mas apenas de percepção para o ol)ar cient%fico. :corre que os e,entos pri,ados não são ,is%,eis# mas somente percept%,eis ao indi,%duo que se compreende como função daquelas ,ariá,eis impercept%,eis aos demais indi,%duos.
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: que não impede que se possa falar algo sobre tais e,entos# $á que a ci!ncia# como o be)a,iorista radical a ,!# não de,e proceder apenas por obser,ação# mas tamb4m por infer!ncia. Nesse sentido# os comportamentos encobertos tamb4m se dão no mesmo feie de relações compleas que os demais comportamentos# segundo ,ariá,eis de mesma ordem e nature'a. =endo assim# qual o procedimento cient%fico mane$ado por =Finner para apreender tais comportamentos7 =eria de fato equi,alente *quele utili'ado por Ereud 8cf. ADI?# 1H97 :u )a,eria uma diferença tão grande como a que )á entre a topografia e a perfuração do solo 8cf. P&A?: (&.# 1ORa97 Nesse caso# não ,aleria a pena recuperar a frase de Paul al4rU# que ?eleu'e tanto gosta,a# segundo a qual ;o mais profundo 4 a pele<7
[. : comportamento encoberto] =Finner introdu' a noção de comportamento encoberto para denominar aqueles e,entos tradicionalmente abordados como da ordem da introspecção ou da cognição 8o pensamento# a ,isão# as emoções# entre outros9. Assim como os demais comportamentos# são tamb4m dotados de dimensões f%sicas e se relacionam a conting!ncias de reforço presentes no ambiente com o qual o organismo interage 8cf. 5:T&IN2:# GG1# p. J9. Isso suscita esclarecimentos quanto * aquisição do comportamento encoberto# que se dá geralmente de forma p@blica ou aberta e que# s+ posteriormente# 4 que retroagem ao comportamento encoberto. : eemplo dado por =Finner 81O9 4 o do $ogo de damas o $ogador aprende abertamente como fa'er cada mo,imento# mas depois o assimila de modo pri,ado# reali'ando os mo,imentos no seu pr+prio 106
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pensamento# que nada mais 4 do que um comportamento cu$a ,isibilidade não 4 p@blica. uanto * manutenção do comportamento encoberto# pode ficar su$eita ao controle eterno por consequ!ncias do ambiente# ou tamb4m pode ficar sob o controle unicamente de consequ!ncias pri,adas ;uer di'er# como um comportamento encoberto não afeta o ambiente f%sico e social com o qual o indi,%duo está interagindo# ele não pode produ'ir mudanças reforçadoras nesse ambiente. Nesse caso# ou ele 4 reforçado por uma consequ!ncia igualmente interna# ou ele 4 reforçado por uma consequ!ncia que se segue a um outro comportamento que 4 p@blico e subsequente ao comportamento encoberto< 85:T&IN2:# GG1# pp. JB"JJ9.
[B. Tma concepção de )omem] 2á uma concepção de )omem em =Finner# tradu'ida pela noção de comportamento operante. 3ste @ltimo produz consequ!ncias# as quais modificam o mundo e consequentemente modificam o comportamento daquele que o produ'. Assim# resol,e"se o problema a respeito do antagonismo entre determinação e plane$amento. As classes de respostas acidentais logo são reforçadas pelo comportamento subsequente. Nesse mo,imento# o plane$amento passa a produ'ir as suas pr+prias consequ!ncias# produ'indo assim as no,as condições de sua pr+pria produção.
[J. Autocon)ecimento como consci!ncia] Isso le,a =Finner a propor a possibilidade de o indi,%duo 8aquele que sente o 107
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comportamento encoberto9 ter controle sobre suas pr+prias ações# na medida em que tem controle sobre alguma ,ariá,el independente que 4 função de determinados comportamentos. Isso 4 poss%,el quando o indi,%duo consegue ;identificar o comportamento a ser controlado< 8=YINN3 1J# pp. "B9. -as# para =Finner# isso não quer di'er que esses comportamentos remontem a um mundo para al4m do f%sico 8metaf%sico9# $á que o que os distingue 4 apenas a possibilidade de controle estar adstrita tão somente ao indi,%duo que o sente# o qual se liga# como elos em cadeia# a outros e,entos que são ou podem ser p@blicos
uando di'emos que um )omem se controla# de,emos especificar quem está controlando quem. uando di'emos que se con)ece# de,emos tamb4m distinguir entre o su$eito e o ob$eto do ,erbo. 3,identemente o eu 4 m@ltiplo e portanto não de,e ser identificado com o organismo biol+gico. -as# se assim 4# o que são esses \eu7 uais são suas dimensões em uma ci!ncia do comportamento7 3m que medida um eu 4 uma personalidade integrada ou um organismo7 /omo pode um eu agir sobre outro7 8=YINN3 1J# p. B9.
(ustamente por )a,er essa necessária relação com os outros 4 que a sub$eti,idade s+ pode aparecer situada. Para =Finner# o acesso ao con)ecimento de n+s mesmos 4 necessariamente mediado pela comunidade ,erbal * qual pertencemos# sendo por isso o autocon)ecimento um produto social
5odas as esp4cies# eceto o )omem# comportam"se sem saber que o fa'em e# presumi,elmente# isto tamb4m era ,erdadeiro no caso do )omem at4 surgir uma comunidade ,erbal que fi'esse perguntas acerca do comportamento# gerando assim o comportamento autodescriti,o. : con)ecimento de si pr+prio tem origem social e 4 inicialmente @til para a comunidade que propõe perguntas. -ais tarde# torna"se importante para a pr+pria 108
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pessoa [V] ?iferentes comunidades geram diferentes tipos e quantidades diferentes de autocon)ecimento e diferentes maneiras de uma pessoa eplicar"se a si mesma e aos outros 8=YINN3 1O# p.1JQ9.
:ra# tamb4m Niet'sc)e e mesmo Ereud $á )a,iam operado cr%ticas * noção de consci!ncia parecidas com essa. Para Ereud# a consci!ncia seria um mero resultado tardio# na e,olução filogen4tica da )umanidade# das relações entre mecanismos inconscientes repressi,os e a pulsão de ,ida. : que 4 diferente em =Finner 4 o modo como ele compreende essa ;profundidade< da qual emanaria a consci!ncia. 3sse ;fundo<# o inconsciente freudiano# 4 compreendido na pr+pria superf%cie de relações f%sicas de uma mesma nature'a. 5udo se passa como se a profundidade fosse encontrada na superf%cie. Nesse sentido# Dento Prado (r. diria que )á uma notá,el continuidade entre as empresas sFinnerianas e guattari"deleu'ianas# $á que a esqui'oanálise tamb4m se propõe a perscrutar as formações superficiais da consci!ncia# seus rele,os# sua topografia# sua multiplicidade de plat6s. : esqui'e corresponde a uma produção de diferença na superf%cie a qual se produ' de um transe# de um re,e'amento em que o indi,%duo 8aquilo que não se di,ide9 se cinde. Não poder%amos estar mais longe de uma psicologia da forma 8 Gestalt 9 da qual a fenomenologia 4 irmã. Isso porque# em =Finner# ;o comportamento 4 função do ambiente< 8=YINN3 1J# p. JH9# o que quer di'er que mesmo o comportamento encoberto 4 função de e,entos superficiais que se dão ;sobre a pele<# ainda que ;parte do uni,erso este$a encerrada dentro da pr+pria pele de cada um< 8=YINN3 1J# p. JO9. Isso fa' =Finner di'er que ;um conceito de eu não 4 essencial em uma análise do comportamento< 8=YINN3 1J# p. HB9. uando =Finner abre mão dessa perfuração do subsolo da psique )umana e di' que e eu 4 meramente um sistema de 109
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respostas funcionalmente unificado # tornando central a categoria da fun5o# encontra a
profundidade 8a dimensão ps%quica da sub$eti,idade9 na pr+pria superf%cie das funções correlacionadas. 3le mesmo utili'a o termo ;subdi,isões topográficas< 8cf. =YINN3 1J# p. HB9 para se referir * di,ersidade de personalidades. 3 seguindo ainda a mesma caracteri'ação do comportamento como uma compleidade# =Finner admite )a,er relações entre os eus que se dão como relações de compleidades entre si# as quais são da mesma nature'a daquelas que )á entre respostas simples ou con$untos de respostas quaisquer. ?o mesmo modo# um mesmo comportamento pode eercer di,ersas funções em situações e ambientes diferentes 8o piedoso crente dominical pode ser um comerciante rai,oso na segunda"feira9.
[R. : son)o] =Finner recon)ece a grande contribuição freudiana para a interpretação dos son)os# que permitiu ,erificar relações entre son)os e ,ariá,eis do comportamento do indi,%duo. /ontudo# para =Finner# ;essas esp4cies de comportamento [V] são precisamente o tipo com maior probabilidade ser punido< 8=YINN3 1J# p. O19. Isto 4# para =Finner# mesmo o son)o poderia ser analisado segundo os mesmos crit4rios da topografia# análise de superf%cie das ,ariá,eis do meio ambiente das quais o comportamento 4 função. A @nica diferença no son)o# para =Finner# e que tamb4m se estende ao comportamento art%stico e literário# 4 que nesses casos o comportamento não está su$eito * punição# o que nos fa' retornar * diferenciação entre as posturas comportamental e psicanal%tica que propusemos na aula anterior# a prop+sito do teto de Dento Prado (r. Para este autor# a etinção da punição poderia ligar"se secretamente * liberação do princ%pio do pra'er pela sublimação# o que ainda se ,erificaria no que di' respeito ao son)o# * arte e * literatura# com as diferenças que 110
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o pr+prio =Finner fa' questão de remarcar.
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FComportamento verbal refere@se ao comportamento de indiv"duos [V] Flin#ua#em refere@se
=Finner# Comportamento verbal
: li,ro Comportamento verbal foi publicado por =Finner em 1RH. 3sse termo substitui# em grande medida# o termo linguagem# em geral compreendido como algo que o su$eito possui ou mane$a. A linguagem costuma ser entendida como uma estrutura constru%da pre,iamente ao su$eito# organi'ada segundo as regras da gramática. =egundo a teoria do operante# para =Finner a linguagem 4 uma esp4cie de comportamento modelado# mantido por consequ!ncias# estabelecido e mantido por reforçamento mediado por outra pessoa 8reforçamento mediado# o qual necessita de ao menos um interlocutor# con$unto que =Finner denomina ;epis+dio ,erbal<9. : comportamento ,erbal 4 sempre reforçado# mantido ou etinto segundo os efeitos que pro,oca em uma comunidade ,erbal. -as para que o epis+dio ,erbal ocorre# 4 necessário que o ou,inte con)ece as regras do comportamento ,erbal do falante# o que s+ 4 poss%,el se os dois pertencerem a uma mesma cultura. ?esse modo# o reforço s+ ocorre quando os dois con)ecem as mesmas regras. : eemplo do )omem sedento que pede um copo d água 8relação com o teto de Niet'sc)e9. : comportamento ,erbal pode ser ec+ico 8imitação9C pode se dar pelo tato 8nomeação9 ou pode ser tetual 8a leitura em ,o' alta9. Na análise funcional# de,e"se ,erificar o quanto se consegue produ'ir ou controlar os comportamentos ,erbais# 112
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alterando as condições nas quase eles ocorrem. : comportamento ,erbal em =Finner não se restringe * fala. Pode ser gestual# facial# ,ocal# escrito. ?iferença entre o comportamento não",erbal e o ,erbal Não",erbal modifica o ambiente de maneira direta# imediata e mecSnicaC $á o ,erbal o fa' de modo indireto# mediato# não"mecSnico# mediado por relações sociais. : ,erbal 4 sempre social. : não",erbal pode não s!"lo. 5rata"se de uma definição contextualista@pra#mática do comportamento ,erbal# segundo a qual todo fen6meno 4 dependente de seu conteto. A gramática surge para que os )omens consigam efeti,ar mel)or seu comportamento ,erbal. /omportamento ,erbal não 4 linguagem porque aquele di' respeito apenas * probabilidade de pre,isão do comportamento de indi,%duos falantes# enquanto esta se refere *s regras de comportamento de comunidades ,erbais inteiras ou de ou,intes# go,ernados por regras gramaticais no conteto da cultura. : comportamento ,erbal 4 o instrumento que o analista possui para acessar os e,entos sub$eti,os do analisado. 3m geral# a teoria da linguagem di' respeito *s relações que as pala,ras e as coisas podem manter entre si ou entre os usuários# ou *s regras meramente formais que as pala,ras mant!m entre si. =ão as teorias representacionais do significado 8semSntica filos+fica# lingu%stica# semi+tica# gramática tradicional9. : gerati,ismo de /)omsFi# por sua ,e'# ressalta a dimensão sintático"transformacional. (á ittgenstein e Austin acentuam a dimensão pragmática da linguagem# quando o significado das pala,ras passa a depender da aplicação da linguagem por seus usuários. 113
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