Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitoria Graduação Curso dede Psicologia Trabalho de de Conclusão de Curso Curso Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
N LÚDICAS NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS NO SETTING A IN INFL FLU U NCIA DOS JTERAPÊUTICO OGOS OGOS E ATI ATIVI VIDA DADE DES S L DIC ICA AS NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS NO SETTING TERAPÊUTICO TERAPÊUTICO
Autor: Renata Fernandes Carneiro Orientador: Marília Marques da Silva Autora: Renata Fernandes Carneiro Orientadora: Marília Marques da Silva Brasília – DF 2011 RENATA FERNANDES CARNEIRO
Brasília - DF 2011
RENATA FERNANDES CARNEIRO
A INFLUÊNCIA DOS JOGOS E ATIVIDADES LÚDICAS NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS NO SETTING TERAPÊUTICO
Monografia apresentada ao curso de Graduação
em
Psicologia
da
Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Psicologia Orientadora: Marília Marques da Silva – Doutora em Psicologia
Brasília 2011
Monografia de autoria de Renata Fernandes Carneiro, intitulada “ A INFLUÊNCIA DOS JOGOS E ATIVIDADES LÚDICAS NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS NO
SETTING TERAPÊUTICO”,
apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Psicóloga no Curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em 25 de novembro de 2011, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:
__________________________________________ Profª. Dra. Marília Marques da Silva Orientadora Psicologia - UCB
_________________________________________ Profª. Dra. Erenice Natália Soares de Carvalho Psicologia - UCB
Brasília 2011
Dedico esta monografia à minha mãe, mulher guerreira, que sempre me incentivou à leitura e ao conhecimento. Laurita mulher de luz e de amor que dedicou a sua vida aos teus filhos.
AGRADECIMENTO
Agradeço pelo apoio e carinho de todas as pessoas que contribuíram para a realização desta monografia como a minha mãe Laurita que me mostrou o caminho do amor e da sabedoria. Ao meu pai Luiz Carlos que me ensinou a sensibilidade e empatia que são fundamentais para a atuação de um psicólogo. Ao meu marido Adriano que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis e me ensinou o real significado da abnegação e do espírito de liderança. Aos meus filhos Maria Isabelle e Paulo Humberto que trouxeram luz a minha vida, sendo os maiores incentivadores para a concretização dos meus sonhos. A minha irmã Meire que contribuiu com sua experiência profissional e amor. A minha irmã Fábia que soube me ouvir e me apoiar nos momentos de mais intenso trabalho. Ao meu irmão Rogério que contribuiu com a sua própria vivência e dor. A minha sogra Neiva que disponibilizou momentos de sua vida para me apoiar com todo carinho. E finalmente agradeço a minha orientadora Marília, no qual contribuiu com seu conhecimento e dedicação para a concretização deste projeto.
RESUMO
Referência: CARNEIRO, Renata Fernandes. A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico. 30 folhas. Psicologia. Universidade Católica de Brasília, Taguatinga/DF, 2011.
O objetivo deste estudo é o de investigar se a utilização de jogos e atividades lúdicas em contexto de intervenção psicoterapêutica estabelece e incrementa habilidades sociais em crianças com autismo. Por acreditar que a socialização é importante para o desenvolvimento e de que a criança autista apresenta inabilidade social surgiu a hipótese de que as atividades lúdicas possam ajudar no repertório de comportamentos promovendo a socialização das mesmas. Procurou-se também, identificar quais atividades lúdicas podem interferir no desenvolvimento de repertórios funcionais no contexto terapêutico, contribuindo para os profissionais da área. A pesquisa foi qualitativa e teve como participantes três psicólogas que atuam na área clínica e atendem crianças autistas e uma criança com autismo. Entrevistas semi-estruturadas com as profissionais e uma observação com uma criança foram os instrumentos de coleta de dados. Conclui-se que, a criança autista pode ser estimulada na aquisição de habilidades sociais, por meio do uso de jogos e atividades lúdicas no atendimento psicoterápico, obtendo uma melhora significativa nas interações sociais. Dessa forma, favorece o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.
Palavras-chave: Autismo. Interação social. Jogos e atividades lúdicas. terapêutico.
Setting
ABSTRACT
Reference: CARNEIRO, Renata Fernandes. The influence of games and recreational activities in the social skills of autistic children in the therapeutic setting. 30 sheets Psychology. Universidade Católica de Brasília, Taguatinga/DF, 2011.
The main goal of this study was to investigate whether the use of games and ludic activities in the context of a psychotherapeutic intervention can help establish and increment social abilities in children with autism. The hypothesis that ludic activities can help in the development of a more elaborate repertoire of behaviors and facilitate the autistic child’s socialization process stems from the assumption that the socialization process is important to the child’s development and that the autistic child presents social inability. We also tried to identify which kind of ludic activities interfere in the development of functional repertoires in the therapeutic context with the goal of providing more effective clinical interventions contributing to the mental health field. This is a qualitative research with the participation of four subjects: three psychologists specialized in clinical psychotherapeutic work with autistic children and one autistic child. The instruments used in the study to collect the data entailed semi-structured interviews for the psychologists and the observation of the child. The analyses of the results showed that the autistic child can be stimulated in the acquisition of new social abilities with the use of games and ludic activities in the psychotherapeutic setting, obtaining a significant increase in the child’s social interactions, contributing to the overall cognitive and emotional development of the child. Key words: Autism. Social interaction. Games and ludic activities. Psychotherapeutic setting.
SUMÁRIO
Introdução _______________________________________________________ 8 Referencial Teórico ______________________________________________
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Metodologia ___________________________________________________ 13 Resultados e Discussão ___________________________________________ 18 Análise de dados das entrevistas ____________________________________ 18 Análise de dados da observação_____________________________________ 27 Considerações finais______________________________________________ 34 Referências_____________________________________________________ 37 Apêndice A – Termo de consentimento Livre e esclarecido para entrevistas com os psicólogos ___________________________________________________ 41 Apêndice B – Termo de consentimento livre e esclarecido da observação para os pais ou responsáveis legais_________________________________________43 Apêndice C – Termo de consentimento livre e esclarecido da observação para os psicólogos _____________________________________________________46 Apêndice D – Roteiro de entrevistas para os psicólogos _________________ 48 Apêndice E – Protocolo de observação_______________________________
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INTRODUÇÃO Desde a gestação ocorre uma troca de comunicação entre o bebê e a mãe. Já nos primeiros anos de vida da criança existe a necessidade de interação e comunicação social com as pessoas e o ambiente que a circunda. A criança, desde o nascimento, responde a estímulos sociais e estabelece uma interação social. Dessa forma, a relação mãe e filho, pode servir como mediadora de experiência cognitiva e de socialização para o aprendizado da criança (ZAMBERLAN, 2002). No entanto existem crianças que apresentam uma dificuldade de interagir com o mundo exterior e assim apresentam padrões de comportamentos estereotipados e atividades restritas. No caso trata-se de crianças com autismo no qual apresentam um aparente prejuízo na interação social e na comunicação. A síndrome autística tende a se caracterizar pelo aparecimento de comprometimentos no desenvolvimento da atividade, adaptação e imaginação. Os pais tendem a desconfiar de que há algo diferente na criança entre os 12 e 18 meses, pois a linguagem tende a não aparecer (KLIN, 2011). Bleuler em 1911 usou o termo “autismo” pela primeira vez com o intuito de indicar uma inabilidade em se comunicar, tendo o sujeito uma perda do contato com a realidade. O psiquiatra norte-americano Leo Kanner, em 1943 descreveu 11 crianças que tinham a dificuldade inata para manter contato afetivo e interpessoal e considerou como uma síndrome rara devido ao número ínfimo de casos. Já em 1944 Asperger relatou casos de crianças que tinham dificuldade em estabelecer uma interação social, mas apresentavam ausência de retardo no desenvolvimento da linguagem (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004). O autismo é um distúrbio do desenvolvimento complexo com graus variados de severidade. De acordo com Gadia, Tuchman e Rotta (2004) as dificuldades nas habilidades sociais são diversas como ausência de contato visual, isolamento social, indiferença afetiva ou dificuldade em demonstrar afeto, ausência de empatia social ou emocional. Relatam também que a dificuldade em estabelecer amizades e a pobreza nas habilidades sociais persistem na idade adulta, apesar de ocorrer uma melhora significativa no isolamento social. Algumas crianças não desenvolvem habilidades de comunicação e outras apresentam um repertório pobre de linguagem, tendo um número significativo de autistas que permanecem sem a fala na fase adulta. Os que possuem
9 habilidades verbais podem ter dificuldades durante uma conversa por não compreender sutilezas de linguagem ou não compreender a linguagem corporal. Dessa forma, os pais tendem a procurar o atendimento psicoterápico como um dos recursos possíveis para estimular a criança com autismo a desenvolver habilidades sociais. Os recursos lúdicos usados na psicoterapia infantil podem ajudar na aceitação da terapia pela criança; podem avaliar o grau de desenvolvimento da criança; contribuir para a formulação de estratégias de solução de problemas criando situações simuladas; modelar respostas mais funcionais e desenvolver novas habilidades (SILVARES, 2000). Com o intuito de disponibilizar a comunidade recursos que a ajudem a interagir com essas crianças que essa pesquisa pretendeu atuar. Partindo do pressuposto que a socialização é importante para o desenvolvimento da criança e de que o autista apresenta inabilidade social, surgiu a hipótese de que as atividades lúdicas podem ajudar significativamente no repertório de comportamentos que permitam a socialização das mesmas. Pretendeu-se também enfatizar e evidenciar quais atividades lúdicas podem interferir no desenvolvimento de repertórios funcionais no contexto terapêutico, contribuindo, assim, para os profissionais que atuam na área. A questão de pesquisa foi “A utilização de jogos e atividades lúdicas no setting terapêutico contribuem para a socialização de crianças autistas?”. OBJETIVO GERAL: Investigar se a utilização de jogos e atividades lúdicas em contexto de intervenção psicoterapêutica estabelece e incrementa habilidades sociais em crianças com autismo. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: •
Verificar se as crianças autistas respondem e interagem aos jogos e atividades lúdicas.
•
Verificar quais jogos e atividades lúdicas são utilizadas no setting terapêutico.
•
Averiguar se as crianças autistas estabelecem vínculos por meio dos jogos e atividades lúdicas.
•
Averiguar se a atividade lúdica no setting terapêutico pode promover mudanças no comportamento social de crianças autistas.
•
Investigar se as interações que acontecem por meio de atividades lúdicas diminuem o comportamento de isolamento e dispersão das crianças autistas.
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REFERÊNCIAL TEÓRICO No Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais DSM-IV (APA, 2002), o autismo está classificado no quadro dos transtornos invasivos do desenvolvimento (TID). Os critérios para diagnósticos estão entre: dificuldades na interação social recíproca e comunicação; comportamentos e atividades estereotipados. Foi constatado que 60 a 70% têm retardo mental, podendo ser classificado entre retardo mental leve, moderado ou profundo. Considera-se retardo mental, perfis que possuem déficits consideráveis de raciocínio abstrato, dificuldades em conceituar um verbo e em estabelecer uma integração, além da inabilidade em participar de atividades que exijam raciocínio verbal e compreensão social (KLIN, 2011). Por outro lado, segundo Carvalho (manuscrito didático)1 o termo deficiência mental vêm sendo substituído pelo termo deficiência intelectual adotada pela Associação Americana de Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento – AADID no qual apresenta um modelo funcional e multidimensional que abrange habilidades intelectuais, participação, comportamento adaptativo, contexto e saúde. Dessa forma, quando o sujeito passa por um processo de avaliação considera-se a forma como compreende e reage ao ambiente a sua volta. De acordo com Caballo e Simon (2007) o autismo é uma síndrome de difícil diagnóstico. Para distingui-la de outras síndromes deve-se considerar a idade com que se apresenta a síndrome, geralmente antes dos trinta meses, dificuldades no desenvolvimento social, dificuldades nas habilidades lingüísticas, comportamentos repetitivos e estereotipados e resistência à mudanças. Podem se tornar agressivos diante de estímulos auditivos muito fortes e mudanças de rotinas com gritos ou choros prolongados. Polaino (1982 apud CABALLO; SIMON, 2007) relatam que na parte motora o sujeito com a síndrome do autismo pode apresentar: [..] um retardo no controle de esfíncteres, autolesões, caretas, agitação reiterativa de braços e pernas, giros, balanço de cabeça e corpo, saltos sobre si mesmo, caminhar na ponta dos pés, hiperatividade, espernear e estereotipias ( pág.324 ).
Os que apresentam comportamentos estereotipados podem ter resistência a mudanças, insistência em rotinas e fascínio em objetos com movimentos como hélice e rodas. Nas brincadeiras os autistas se preocupam mais em manusear e alinhar os objetos 1
Manuscrito didático elaborado por Erenice Natália Soares de Carvalho em 2011.
11 do que em utilizar esses objetos com sua finalidade simbólica. Podem também apresentar estereotipias como bater palmas, se movimentar com movimentos circulares, repetir frases e se balançar (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004). Os autistas podem apresentar alteração no desenvolvimento social, incapacidade para a imaginação e dificuldade na comunicação. Segundo Tamanaha et al., (2006) o desenvolvimento de linguagem pode estar alterado devido as falhas na imaginação e capacidade simbólica. Dessa forma, a análise do brincar se torna um instrumento fundamental para diagnóstico e tratamento psicoterápico. Tanto o CID 10 (OMS, 1993) como o DSM IV (APA, 2002) consideram como característica para inclusão diagnóstica do autismo, a ausência do jogo e da atividade imaginativa durante a infância. A deficiência na capacidade simbólica leva o autista a ter dificuldade nas habilidades sociais. De acordo com Falcone (2008), a criança que tem a habilidade de interagir socialmente pode ser beneficiada no campo das relações interpessoais. Já os comportamentos sociais inadequados tendem a promover problemas clínicos. Segundo Delfrate, Santana e Massi (2009) a criança com autismo pode conseguir falar palavras, mas apresenta uma dificuldade em entender conceitos. Assim a criança com autismo não apresenta o interesse subjetivo de interagir com outra criança, o que interfere no desenvolvimento da linguagem. Dessa forma, o retraimento social é uma conseqüência da dificuldade em desenvolver a linguagem de maneira funcional. Carpenter e Tornasello (2000 apud LAMPREIA, 2007) acreditam que: Para adquirir um símbolo, a criança precisa ser capaz de determinar a intenção comunicativa do outro e se engajar em imitação com inversão de papéis. Isso significa que a criança precisa ser capaz de compreender as intenções do adulto com relação à sua própria atenção... Ela também precisa ser capaz de usar o novo símbolo com relação ao adulto da mesma maneira e com o mesmo objetivo comunicativo que o adulto. (p.107)
O recurso lúdico, como a literatura infantil, pode contribuir para aumentar o repertório comportamental da criança. Desenvolve seu comportamento verbal e os seus comportamentos criativos, possibilitando apresentar soluções originais. O livro pode ser apresentado a criança por meio de músicas e palmas dos pais quando interagem com o filho (VASCONCELOS, 2008). O jogo funcional é fundamental para o desenvolvimento da capacidade simbólica. A criança quando utiliza um jogo de faz-de-conta vivencia o uso funcional de objetos e acaba utilizando-o para representar o seu mundo social. Pode-se observar o autista utilizando um jogo funcional, de modo restrito, apesar da dificuldade na
12 capacidade imaginativa. A presença do adulto na interação com a criança autista também é fundamental como modelo adequado de exploração lúdica, no qual estas crianças podem interagir por meio da imitação. Crianças autistas possuem também a dificuldade em participar de atividades compartilhadas e imaginativas (TAMANAHA et al., 2006). A brincadeira tem uma grande importância para o desenvolvimento da criança. De acordo com Fiaes e Bichara (2009) o brincar tem uma função adaptativa, dessa forma, a criança que tem uma infância protegida e estendida tende a desenvolver habilidades complexas e flexibilidade comportamental que contribuem na vida adulta. Através do brincar a criança pode explorar o ambiente aprendendo meios adaptativos de sobrevivência. A brincadeira também apresenta resultados a curto prazo, pois contribui para as demandas sociais, físicas e cognitivas que fazem parte da infância. O lúdico exerce uma função essencial no desenvolvimento e amadurecimento de determinadas estruturas do organismo humano. O autista tende a se tornar incapaz de viver independente, sendo necessário o apoio da família, comunidade e instituições para reverter esse quadro. Quando adultos, podem apresentar uma melhora significativa nos relacionamentos sociais e nas habilidades de autocuidado (KLIN, 2011). Para alguns tipos de transtornos considerase importante a intervenção conjunta envolvendo a criança, pais e psicólogos. A colaboração dos pais pode auxiliar no desenvolvimento e na aquisição de novos conceitos e regras da criança, sendo fundamental a discussão com os pais do trabalho de intervenção de forma clara e inteligível. Os pais podem contribuir para as dificuldades dos filhos e precisam, muitas vezes, se convencer da necessidade de modificar o seu próprio comportamento em função do filho (SILVARES, 2000). Entre os recursos lúdicos possíveis encontra-se a fantasia. Esta pode ser utilizada como instrumento avaliativo e terapêutico. Por meio desta o terapeuta pode identificar o aspecto comportamental externo (investigar por meio de relatos de eventos externos, por familiares e por observações diretas) o comportamento externo, o aspecto comportamental encoberto (sentimentos, sensações e pensamentos) e o aspecto conceitual (história de vida, regras e crenças). A fantasia contribui para que o terapeuta identifique os comportamentos manifestos e encobertos, além de dar pistas sobre as funções das variáveis. Também pode auxiliar o terapeuta na escolha das técnicas de intervenção (REGRA, 1997).
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METODOLOGIA Este trabalho teve uma abordagem qualitativa. Segundo Creswell (2010, p. 188) “[...] a pesquisa qualitativa é uma pesquisa interpretativa, com o investigador geralmente envolvido em uma experiência sustentada e intensiva com os participantes.” A pesquisa foi qualitativa, pois tem como objetivo a compreensão interpretativa das experiências dos indivíduos dentro do contexto em que foram vivenciadas. Além de que cada caso concreto foi compreendido considerando sua singularidade e subjetividade (CRESWELL, 2010). Participantes A pesquisa teve como participantes três psicólogas e uma criança atendida por uma delas. A psicóloga 1 atua na área clínica e trabalha com a abordagem comportamental. A mesma tem mestrado na área da educação e trabalha com autista desde que era estudante de psicologia em 1997. Depois foi professora da Educação Especial, onde começou a ter esta vivência durante 4 anos. Atua na área clínica há 13 anos. A Psicóloga 2 tem 20 anos que atua na área clínica com abordagem cognitivocomportamental e coordenando projeto com crianças autistas.
A mesma tem
especialização em Transtorno do Espectro Autista pela Organização Mundial de Autismo. Já a psicóloga 3 atua na área clínica com a abordagem comportamental. Além disso, é psicopedagoga e tem formação em Ludoterapia e Terapia de família. Esta também atendia crianças autistas no CAPSi e trabalha com autista há 16 anos e atualmente apenas atua em clínica particular. A criança observada tem três anos e é do sexo masculino. O cliente apresenta uma hipótese diagnóstica de CID 10: F84, por apresentar características semelhantes àquelas descritas como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Transtorno do Espectro do Autismo2. Na data da observação a criança estava em processo terapêutico havia seis meses e não possui comorbidades mentais, pois outras doenças mentais poderiam interferir no resultado da pesquisa. Os pais da criança observada apresentaram como queixa principal da criança atraso no desenvolvimento, sobretudo na linguagem. Também relataram para a psicóloga que a criança apresentava um repertório comportamental caracterizado por
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O autismo pode ocorrer tanto em meninos quanto em meninas, apesar de ser mais comum em meninos.
14 dificuldade no relacionamento e muita resistência para realizar atividades simples da vida diária (banho, alimentação, etc). Instrumentos Como instrumentos foram elaborados um roteiro de entrevista e um protocolo de observação. O roteiro de entrevista (Apêndice D) contém questões abertas com o intuito de explorar as relações estabelecidas por meio dos jogos e atividades lúdicas utilizadas no setting terapêutico. O conteúdo e a elaboração das entrevistas foram definidos de acordo com o objetivo geral e os objetivos específicos do projeto. O Protocolo de observação (Apêndice E) foi elaborado para que fosse possível verificar as formas de interações ocorridas por meio dos jogos e atividades lúdicas e os instrumentos que foram utilizados pelo psicólogo durante a sessão terapêutica. Este protocolo foi elaborado de acordo com os objetivos geral e específicos do projeto em questão e adaptado da escala de “Avaliação do Comportamento Adaptativo – ECA”. O local das entrevistas e da observação foi o próprio consultório de atendimento clínico das psicólogas entrevistadas. Recursos Materiais Foram utilizadas folhas A4, caneta, gravador, CDs, livros e espaço para a realização das entrevistas e observações. Procedimentos de coleta de dados: Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Conselho de Ética de pesquisa com seres humanos da UCB. As psicólogas foram convidadas a participarem de uma entrevista (Apêndice D), por contato telefônico. Foi estabelecido o contato com psicólogos que atendem crianças diagnosticadas com autismo e marcado um encontro, visando esclarecer sobre o objetivo da pesquisa e solicitar a autorização para a realização do estudo. As psicólogas e o pai da criança observada assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndices A, B e C). As entrevistas foram individuais e tiveram duração de 20 a 40 minutos. Posteriormente foi marcado com apenas uma das psicólogas (psicóloga 1), de acordo com o dia de atendimento psicoterápico da criança que atendia o pré-requisito da pesquisa, uma sessão no qual ocorreu a observação (Apêndice E). Para Vergara (2009),
15 o método de observação é utilizado para complementar entrevistas e é útil para descobrir causas efeitos ou interações. A observação no caso da pesquisa é estruturada e não participante, pois têm objetivos e propósitos definidos e não há envolvimento do observador. Antes do atendimento psicoterápico individual da criança observada, a psicóloga 1 pediu a autorização do pai do paciente para que a observação pudesse acontecer. O pai assinou o termo de compromisso, sendo informado, assim sobre o objetivo da pesquisa e sobre os termos de consentimento da observação, como o sigilo, riscos e benefícios. A autorização durou 15 minutos, tempo suficiente para o responsável legal se inteirar sobre a pesquisa. Procedimento de análise de dados: Os dados desta pesquisa foram analisados pelo método da Análise de Conteúdo de Bardin (2009), pois as descobertas de novos conteúdos podem beneficiar ou esclarecer elementos significativos que podem não ter sidos compreendidos. Este método pôde, desta forma, enriquecer a leitura. Os elementos foram organizados nos textos de forma homogênea, exaustiva, exclusiva, objetiva e adequada ao conteúdo e objetivo deste projeto (KUDE, 1980). De acordo com Bardin (2009) a categorização é um processo no qual diferenciase os dados coletados e em seguida são analisadas em categorias. Para se formar essas categorias procura-se termos que tenham os mesmos princípios em comum e elabora-se um título. Dessa forma o conteúdo das entrevistas foram agrupadas em categorias de acordo com o objetivo da pesquisa. A análise de conteúdo foi elaborada relacionando-a com o conteúdo bibliográfico previamente selecionado. Os dados encontrados nas entrevistas com as psicólogas foram analisados de acordo com o eixo temático “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no
setting
terapêutico”. Em seguida os dados foram
divididos em 8 subtemas que foram organizados de acordo com os objetivos específicos: a) Estabelecer e incrementar habilidades sociais b) Formas de interação apresentadas nas atividades. c) Estabelecer vínculos sociais d) Mudanças no comportamento social e) Comportamento de isolamento e dispersão
16 f) A função do brincar g) O psicólogo e a utilização dos jogos h) A contribuição dos pais na psicoterapia Já o conteúdo da observação foi baseado em um protocolo que foi elaborado de acordo com os objetivos específicos do projeto. Segundo Danna e Mattos (2006) o protocolo de observação deve identificar a data, horário, sujeito, ambiente físico, ambiente social e informações mais específicas. A pesquisadora teve o cuidado de ao relatar a observação, fazê-la com uma linguagem objetiva. Danna e Mattos (2006) relatam que a linguagem objetiva possibilita eliminar impressões e interpretações pessoais e subjetivas. A linguagem também foi elaborada possibilitando uma fácil compreensão e procurou representar os fatos com precisão. As expressões faciais foram relatadas tomando-se o cuidado de não utilizar termos que se referem a estados subjetivos. As observações foram registradas cursivamente pelo tempo de duração da sessão. Os registros que não puderam ser anotados durante a observação, foram descritos após o término da sessão, [registros de memória (DANNA; MATTOS, 2006)]. A análise da observação do atendimento psicoterápico da criança autista foi articulada a partir das seguintes referências: - Protocolo de observação adaptado pela autora deste estudo da escala de “Avaliação do Comportamento Adaptativo – ECA”; - Categorização de habilidades sociais elaboradas a partir dos critérios de Del Prette e Del Prette (1999 apud BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2002). Sendo estas as categorias: •
Resolução de problemas.
•
Habilidades de comunicação.
•
Expressão de sentimentos e defesa dos próprios direitos.
- Objetivos da observação que são verificar as formas de interação ocorridas por meio dos jogos e atividades lúdicas e os instrumentos utilizados pelo psicólogo no atendimento; - As considerações dadas pela psicóloga que atendeu a criança autista após a sessão de observação. Assim, a análise da observação foi dividida nos seguintes subtemas: a) Resolução de problemas. b) Habilidades de comunicação.
17 c) Expressão de sentimentos e defesa dos próprios direitos. d) Instrumentos utilizados na sessão de psicoterapia. Dessa forma, foi utilizado o agrupamento dos comportamentos em classes, ou seja, comportamentos que possuem características e funcionalidades em comum. Este tipo de agrupamento é usado quando pretende-se analisar o efeito do comportamento sobre o ambiente (DANNA; MATTOS, 2006).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise dos dados das entrevistas: a) Estabelecer e incrementar habilidades sociais: As inabilidades sociais das crianças autistas são citadas por Gadia, Tuchman e Rotta (2004) como isolamento social, dificuldades em manter ou demonstrar um contato afetivo, pouco ou nenhum contato visual, privação de empatia social ou emocional. Essas inabilidades fazem parte do quadro do autismo no qual apresentam graus variados de severidade. Segundo as psicólogas: [...] Então é uma criança que não consegue fazer nenhum desenho, é uma criança que não tem nada e de repente ela vê ali uma música, ela vê um reforço imediato. E aí em cima daquilo ela estabelece um reforço. Quando ela consegue tudo isso ela estabelece uma relação comigo inicialmente que estou nesta situação e depois em casa ela estabelece isso também e aquela música que escuta ali passa a ser uma brincadeira dentro do setting terapêutico e depois dentro de casa e brinca com os irmãos. Então mesmo as mais comprometidas, crianças bem mais graves, agente tem esta mesma resposta. (Psicóloga 1) [...] Primeiro pela questão do entendimento das regras do jogo, então por aí você vê a condição da criança compreender comandos. E isso interfere muito na socialização porque uma criança que não atende comandos ela causa mais transtorno no ambiente, ela dá mais trabalho, ela interage menos. Então isso é realmente muito importante. E também para a questão do repertório verbal, comportamental e a questão cognitiva. Não dá para trabalhar sem jogos e brincadeiras, principalmente com crianças. (Psicóloga 2) [...] Então eu acho assim, não é para a socialização só, mas é para o desenvolvimento dele. E aí eu vou bater na tecla do desenvolvimento porque agente trabalha muito com o desenvolvimento. Então ele tem etapas a vencer. A partir do momento que ele me permite entrar, brincar com ele, e daqui a pouco ele me permite trazer um outro para junto com ele também e aí eu vou estar criando uma ampliação desse repertório social dele. (Psicóloga 3)
Nas falas das três psicólogas entrevistadas observa-se um reconhecimento de uma influência da utilização dos jogos nas habilidades sociais de crianças autistas. De acordo com a psicóloga 1, independente do grau de comprometimento da criança autista, a utilização do lúdico no setting terapêutico estabelece habilidades sociais. Esta interação social se inicia no consultório e se estende para os familiares. A psicóloga 2 relata que a utilização dos jogos no setting terapêutico é fundamental devido as regras do jogo que ajudam a criança a compreender comandos. Estes comandos são importantes para que a criança autista aprenda a adquirir habilidades sociais. Já a psicóloga 3 acredita que a utilização de jogos no atendimento psicoterápico não amplia
19 apenas o repertório social mas também interfere no desenvolvimento da criança. Elas apontam os jogos como, por exemplo, promotores das relações familiares, do entendimento e uso de instruções e regras e fatos sociais como o compartilhar, esperar a vez que são fundamentais para a organização emocional, cognitiva e social do desenvolvimento dos sujeitos. Segundo Vygotsky (1989 apud POLETTO, 2005) o desenvolvimento do brincar pode apresentar diversas funções: [...] preencher as diversas necessidades da criança, permitir o envolvimento da criança no mundo ilusório, favorecer a ação na esfera cognitiva, fornecer um estágio, possibilitar maior autocontrole da criança, uma vez que lida com conflitos relacionados às regras sociais e ao seus próprios impulsos. (p.68-69)
De acordo com Piaget (1971 apud SANTOS; DIAS, 2010) o ato de brincar possibilita, por meio dos processos de assimilação e acomodação, verificar o nível de desenvolvimento. O brincar permite colocar em prática representações gerais e abstratas de uma realidade, o conjunto das reações observáveis dos sujeitos, e habilidades que foram previamente adquiridos. b) Formas de interação apresentadas nas atividades: As formas de interações apresentadas pela criança autista no setting terapêutico, são importantes para se compreender os tipos de respostas apresentadas por estas crianças, quando estão em contato com os jogos e atividades lúdicas. Estes jogos devem ser utilizados com uma função terapêutica. Como relata Vasconcelos (2008) o recurso lúdico pode ser fundamental para estimular a aquisição de novos repertórios comportamentais, desenvolver seu comportamento verbal e criativo. Quando a criança autista utiliza um jogo de faz-de-conta possibilita o desenvolvimento da sua capacidade simbólica. A criança autista tende a utilizar um jogo simbólico de modo restrito devido a dificuldade na capacidade imaginativa, (TAMANAHA et al., 2006). Outro déficit que o autista pode apresentar é a dificuldade de compartilhamento de experiências sociais, conforme demonstrado por Bosa (1998 apud BOSA, 2001). Estereotipias como se movimentar circularmente, se balançar e bater palmas são exemplos de comportamentos que podem ser apresentadas pelas crianças autistas no ato de brincar. A forma como o autista tende a utilizar os brinquedos podem não atingir a sua função simbólica e se preocupar apenas em alinhar e manusear os brinquedos (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004). As psicólogas entrevistadas relatam que:
20 A gente tem que considerar que a criança com autismo é uma criança, ela tem a singularidade dela, mas ela é uma criança. Ela pode responder de uma forma diferente, mas dentro da situação de clínica agente está para ensinar a brincar também. No início ela não sabe, mas depois ela vai fazer. Ela pode não conseguir fazer jogos que são esperados adequados para a faixa etária dela. Mas aí agente adapta. (Psicóloga 1) [...]Depende de como esta criança chega, qual é o nível de desenvolvimento dela. Quando ela é pequena geralmente você tem que fazer toda essa introdução, você vai montando os jogos com os objetos que ela escolhe. [...]Eles costumam repetir muito, então querem jogar aquele jogo muito. (Psicóloga 2) [...] tem criança que não vai aceitar a regra, tem criança que não vai aceitar aquele tempo do brinquedo. Então se você pensar em um brinquedo que tem direcionado ele não vai fazer aquela brincadeira direcionada.[...] Depende do quadro de autismo, eu tenho quadros que são muito mais complicados que eu não vou conseguir com brincadeiras direcionadas. (Psicóloga 3)
Pode-se inferir que as crianças podem apresentar comportamentos estereotipados no momento em que estão interagindo com o psicoterapeuta por meio do jogo. A Psicóloga 1 relata que estas crianças podem responder ao ato de brincar de uma forma diferenciada mas isto não significa que não possa desenvolver o comportamento de brincar no setting terapêutico. A Psicóloga 2 salienta que para a criança interagir nos jogos depende do grau de desenvolvimento desta criança, mas que o psicoterapeuta pode ir introduzindo este comportamento gradativamente. Já a psicóloga 3 acredita que dependendo do grau do autismo o psicoterapeuta não consegue utilizar brincadeiras direcionadas pois a criança autista pode não aceitar regras, por exemplo. c) Estabelecer vínculos sociais: O autista pode apresentar uma melhora no isolamento social na vida adulta mas pode continuar a apresentar uma permanência da inabilidade em fazer amizades e em interagir socialmente (GADIA: TUCHMAN; ROTTA, 2004). De acordo com a psicóloga 1: Todas as crianças autistas estabelecem vínculos, nem que seja para aprender a guardar, aí eu tenho que utilizar os jogos de acordo com o interesse dela. Primeiro sou eu que estabeleço esse vínculo com ela [...]Depois ele tem que se adaptar com as minhas possibilidades também, mas de início eu tenho que montar o que for interessante para ele. E aí depois agente vai ampliando. Mas é daí que eu ofereço a oportunidade de estabelecimento de vínculo. [...]ensinar a criança a desenvolver o uso do faz de conta, ensinar a criança a ninar uma boneca tem um efeito muito grande. Essa criança vai ganhar um irmãozinho, então eu vou ensinar essa criança a ser afetiva com este irmão que está chegando. Então você tem milhares de relações que você pode estabelecer, de vínculo que você pode estabelecer também (Psicóloga 1).
21 Apesar de existir uma dificuldade em estabelecer vínculos sociais na criança autista, infere-se baseado na fala da psicóloga 1 que muitos autistas podem desenvolver o comportamento de estabelecer vínculos. E esta habilidade pode ser trabalhada no setting terapêutico
por meio de atividades lúdicas no qual a criança amplia o seu
repertório comportamental. Dessa forma, a criança estabelece vínculos com seu terapeuta e consequentemente com seus familiares. Moura (1993 apud CAMARGO; BOSA, 2009, p. 66) acredita que “É no contexto das relações sociais que emergem a linguagem, o desenvolvimento cognitivo, o autoconhecimento e o conhecimento do outro”. Por, muitas vezes, não desenvolverem a habilidade de comunicação ou terem um repertório pobre de linguagem, o autista tende a apresentar uma dificuldade em compreender sutilezas de linguagem (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004). A Psicóloga 2 cita um exemplo de um paciente autista no qual está trabalhando a questão do fracasso e que tem dificuldades para compreender algumas expressões com duplo sentido. Nos momentos em que estão jogando, a psicóloga procura sempre ganhar deste paciente. Esta criança autista se sentiu irritada por não ganhar e procurou meios de melhorar o seu desempenho no jogo. A Psicóloga 2 relata: Ele até pediu para a mãe dele comprar um jogo em casa para ele treinar muito para ganhar de mim. Eu falei “Ahh assim você está roubando” E ele disse “Como assim roubando?” Porque as expressões na realidade eles não entendem os provérbios, as expressões. Então eles tem muita dificuldade com essas palavras de duplos sentidos. (Psicóloga 2).
d) Mudanças no comportamento social: As crianças com autismo podem apresentar dificuldade em tarefas que exijam o uso da imaginação e da capacidade simbólica no qual acaba comprometendo a linguagem e a habilidade de interagir socialmente (TAMANAHA et al., 2006). Apesar da criança autista ter dificuldades de desenvolver habilidades sociais, de acordo com o relato das psicólogas 1 e 2, pode-se deduzir que com a introdução dos jogos e atividades lúdicas na psicoterapia a criança desenvolve comportamentos sociais. Dessa forma, passam a interagir com os familiares e amigos. Também promove uma inclusão escolar, pois o mesmo passa a responder aos comportamentos dos colegas não apenas imitando a outra criança, mas aprendendo a compartilhar as atividades. As regras dos jogos podem promover uma modelação dos comportamentos da criança autista possibilitando, assim, mudanças no comportamento social.
22 Até das mais comprometidas as mães relatam que crianças que não conseguiam dentro de casa participar de momentos da família de assistir televisão ou ir ao cinema elas conseguem depois de um tempo fazer estas questões.[...] Aprender a jogar, são joguinhos que fazem com que ele chegue na escola. Estou falando de inclusão, e as crianças que percebem que é uma criança que não fala, que não tem as mesmas respostas que ele, falam “Nossa tia, ele já está conseguindo fazer esse joguinho”[...] Dentro da família ele começa ser mais aceito também. Então as pessoas brincam melhor com ele. [...] Ele consegue socialmente pode ir ao restaurante porque ele pode ir ao restaurante quando está lá esperando chegar a comida ele consegue levar um carrinho para brincar na mesa, porque a mesa passa a ser a estrada.[...] Então eu acho que o jogo, assim como a terapia, promove a modificação de comportamento, oferece aprendizagem. ( Psicóloga 1). Primeiro é a questão de entender o que está acontecendo. É a compreensão das regras do jogo, pois isso é importante. Com isso ele fica menos ansioso, quando ele compreende. Muitas vezes, agente vê nas crianças autistas e principalmente as crianças autistas mais clássicas é quando eles não entendem eles partem para a agressão. Então em muitos casos agente vê uma diminuição da agressividade nestas crianças. Uma menor ansiedade, uma menor agressividade, uma maior compreensão. (Psicóloga 2).
e) Comportamento de isolamento e dispersão: Bosa (2001) relata que o autista apresenta uma sobrecarga sensorial quando estão interagindo socialmente. O isolamento social e as estereotipias são formas de se afastar desta sobrecarga. Como a criança pode apresentar uma dificuldade em manter a atenção a criança autista acaba apresentando comportamentos obsessivos no qual os repetem incansavelmente. Segundo Falcone (2008) os comportamentos sociais inadequados, como as estereotipias, podem acarretar em um adoecimento. A psicóloga 1 comenta que a utilização da atividade lúdica como um recurso terapêutico pode ser fundamental para que ocorra uma diminuição do comportamento de isolamento e dispersão. Mas a psicóloga 2 reforça a importância de se respeitar esse momento de isolamento do autista, que faz parte do quadro do autismo e que não será eliminado totalmente. Pode ocorrer apenas uma redução deste comportamento e o lúdico contribui trazendo a criança autista para a realidade. O retraimento social pode gerar diversos problemas clínicos. Dessa forma, é fundamental a utilização do lúdico para se promover uma reinserção social. Por não possuir o interesse subjetivo de se relacionar com outras crianças o autista pode ser estimulado por meio dos jogos e atividades lúdicas durante um atendimento psicoterápico. O isolamento diminui, a ecolalia diminui. Não estou colocando o jogo como o único recurso terapêutico, mas é um importantíssimo recurso terapêutico [...] Acho que sem o lúdico o autista funciona menos, funciona bem melhor com o aspecto lúdico na jogada. (Psicóloga 2). Então eu acho que o grande barato com a criança autista é agente conseguir trazê-la mais para o nosso mundinho, para que ela consiga sair um pouco
23 desse isolamento. Mas sabendo que ela vai ter que ter o momento dela de isolamento sim. E que aquilo deve ser respeitado. Muitos pais colocam que o que mais incomoda é quando eles ficam muito dentro do mundinho deles ou quando eles ficam parecendo muito com deficientes mentais por conta das estereotipias, do pular, do gritar, aquela coisa toda. Agente consegue uma redução disso, mas agente não consegue uma eliminação total disso. (Psicóloga 3).
Segundo Baron-Cohen (1993 apud BOSA, 2001) a criança autista apresenta uma inabilidade em meta-representar, o que acarreta em déficits no comportamento social e na linguagem. Dessa forma, estas crianças tendem a ter dificuldades, no ato de se comunicar, dando um sentido ao modo que as pessoas se comportam e pensam. Assumpção Jr et al. (1999) comentam que esta incapacidade de meta-representação dificulta o autista a ter a habilidade da percepção de informações de estados mentais quando se visualiza uma expressão facial, por exemplo. Delfrate, Santana e Massi (2009) relatam que a criança autista não apresenta o interesse subjetivo de interagir com o outro o que interfere na linguagem. Assim, a dificuldade em desenvolver a linguagem também leva ao retraimento social. f) A função do brincar: Segundo Amorim, Oliveira e Mariotto (1997 apud POLETTO, 2005) na perspectiva cognitiva, o ato de brincar pode propiciar para a criança uma internalização da realidade por meio da simbolização. As psicólogas 1 e 3 referem que brincar é fundamental para a aquisição de habilidades sociais e para o desenvolvimento da criança. Agente aprende brincando. Dentro do jogo você aprende... primeiro que todo jogo tem uma regra e seguir regra é saber viver em sociedade, então eu acho importante agente trabalhar com as regras do jogo, aprende a questão eu jogo é o meu momento é o momento do outro. (Psicóloga 1). A brincadeira vai dar para a gente desenvolvimento. Desenvolvimento combina com aprendizagem. E se ele consegue levar essa aprendizagem para a vida real está de bom tamanho. (Psicóloga 3).
De acordo com Fiaes e Bichara (2009) a brincadeira favorece o desenvolvimento da criança. Por meio da experimentação e da aprendizagem o brincar pode beneficiar à criança a aquisição de habilidades sociais e atividades que serão importantes para a fase adulta. O desenvolvimento de estruturas e funções dos organismos pode ocorrer quando se estende a infância e o momento de brincar da criança. Pellegrini e Bjorklund (2004 apud FIAES; BICHARA, 2009) relatam que a brincadeira pode ter benefícios a longo prazo, ou seja, para a vida adulta e resultados a curto prazo. De acordo com Pellegrini et
24 al. (2007, apud FIAES E BICHARA, 2009, p.233) a brincadeira pode apresentar a curto prazo “a geração de comportamentos e estratégias inovadoras, especialmente na brincadeira social” e também Pellegrini e Smith (1998 apud FIAES; BICHARA, 2009, p.233) citam como um dos resultados a curto prazo “habilidades afiliativas e de teoria da mente, que se desenvolvem principalmente nas brincadeiras sociais e simbólicas.” Dessa forma, é possível visualizar que o ato de brincar pode gerar mudanças no comportamento social, bbcognitivo e emocional da criança, sendo estas mudanças geradas num período curto e longo, dependendo do que se pretende atingir. Este ato tende a ser muito mais eficaz quando utilizado no contexto terapêutico porque é baseado em técnicas, regras e conceitos pré-definidos. g) O psicólogo e a utilização dos jogos: Uma das estratégias mais usadas na psicoterapia infantis são os recursos lúdicos que podem ajudar no processo terapêutico. As funções dos recursos lúdicos são diversas como fazer com que a criança aceite a terapia com mais facilidade; identificar os sentimentos e pensamentos de uma criança sobre outras pessoas de seu convívio; verificar os aspectos significativos das interações que a criança estabelece no seu meio social; e estimular a criança a elaborar auto-regras (SILVARES, 2000). Por meio da fala da psicóloga 1 concluí-se que os recursos lúdicos devem ser utilizados na psicoterapia de forma ética. O psicólogo deve se preocupar em fazer o uso adequado dos instrumentos lúdicos para que seja funcional para o cliente. Os benefícios que este recurso terapêutico pode proporcionar só serão efetivados se o profissional de psicologia tiver o manejo clínico para lidar com este instrumento. Eu acho importante ressaltar que muito mais do que o psicólogo ter acesso ao jogo é importante que ele saiba conduzir essa utilização dos jogos e saiba conhecer o quadro clínico do seu paciente e mais ainda dali estabelecer uma relação significativa. Não adianta eu ter o jogo, eu ter o autista e ali eu não conseguir fazer essa ponte. Cabe ao profissional ao psicólogo, [...] utilizar isso de uma forma adequada, ser criativo e pontuar de uma forma que seja funcional para esta criança porque se não não adianta.[...] Usar o brinquedo é saber brincar com a criança e ás vezes as pessoas dentro de uma situação clínica elas estão dando para a criança situações muito mecanizadas e elas perdem esta relação muito positiva com a criança. (Psicóloga 1)
O uso da fantasia pode ser utilizado para a avaliação, intervenção e identificar as variáveis que controlam o comportamento. Assim, pode-se conhecer não só os acontecimentos externos como os acontecimentos privados. O psicoterapeuta pode identificar o aspecto comportamental externo, o aspecto comportamental encoberto e o
25 aspecto conceitual. A fantasia também contribui para a escolha da técnica de intervenção que será usada no atendimento (REGRA, 1997). A psicóloga 1 relata que: Desenvolver a função simbólica é dar significado para alguma coisa. E o objetivo da terapia é dar significado para as relações sociais, para o uso funcional dos objetos dos brinquedos também. É uma criança que a princípio não sabe atribuir ao boneco, ao faz de conta, representar ali o boneco como sendo a figura de um amiguinho. (Psicóloga 1).
Pode-se concluir com a fala da Psicóloga 1 que a criança pode desenvolver a função simbólica, dando significado as suas ações, por meio do brinquedo. Assim podese avaliar os comportamentos manifestos e encobertos, por meio do uso da fantasia, no qual a criança desenvolve a habilidade de atribuir ao boneco a identidade de uma pessoa significativa de seu convívio. h) A contribuição dos pais na psicoterapia: A criança com autismo apresenta uma inabilidade em se tornar independente quando adultos. Dessa forma, é importante que haja uma rede de apoio no qual estão inseridas a família e comunidades com o objetivo de promover uma maior autonomia e independência para os mesmos (KLIN, 2011). Com o intuito de beneficiar a criança autista os pais podem colaborar auxiliando no desenvolvimento e na introdução de regras e normas. Dessa forma, os pais precisam, em alguns momentos, modificar o seu comportamento para contribuir diante da modificação de comportamento do filho (SILVARES, 2000). A Psicóloga 1 relata que: Eles são os maiores terapeutas na modificação de comportamento. Eu falo para os pais e para os pacientes adultos que a terapia é como se fosse a gasolina de um carro. Então agente só pode na próxima sessão abastecer se a pessoa tiver gasto este combustível. Se a pessoa não gastou não tenho como botar. Então é importante que a família dê continuidade a isto. (Psicóloga 1).
Os pais são um complemento da terapia. É importante que os pais ajudem os seus filhos a vivenciarem e treinarem o que foi trabalhado em sessão, pois são os pais que ficam a maior parte do tempo com seus filhos e podem ajudar a extinguir os comportamentos inadequados e reforçar os comportamentos desejados. Sprovieri e Assumpção Jr (2001) acreditam que os pais podem ser considerados peças fundamentais para estimular a criança autista no seu tratamento e desenvolvimento. Já Favero-Nunes e Santos (2010) ressaltam a importância do
26 atendimento psicológico não só para a criança autista, mas também para os pais que podem desenvolver um estresse conjugal. É importante que ocorra uma adequação do comportamento dos pais em relação às inabilidades do filho. De acordo com Lino Silva (1998 apud FAVERO-NUNES; SANTOS, 2010) o processo de atendimento psicológico também pode ser utilizado com o intuito de encontrar uma linguagem em comum com a criança de forma que beneficie a relação dos pais com o autista. A Psicóloga 3 relata um exemplo no qual o comportamento do pai foi fundamental para a aquisição de uma nova habilidade. Eu tenho um paciente meu que é o máximo, ele adora cinema[...]. Ele conhecia Brasília toda pelos sinos das igrejas que tocavam. Então ele sabia distinguir o badalar do sino e sabia qual igreja que era. E eu tinha que saber também. O que o pai fazia. Ele levava ele no final de semana sempre em uma igreja diferente para ouvir o sino. Porque ele estava na época do sino. E aí lá ele contava a história daquele santo, a história daquela igreja e hoje ele está apaixonado por história e geografia. Foi uma contribuição do pai em cima de uma manifestação que teve. (Psicóloga 3) .
Polleto (2005) relata que se integrar a um grupo, compartilhar brincadeiras e se identificar com os outros, são habilidades importantes que ocorrem na relação de duas pessoas da mesma faixa etária e que passam a ser necessárias na segunda infância. Dessa forma, não só a família, como todas as pessoas que fazem parte das relações sociais daquela criança, passa a contribuir para o seu desenvolvimento. Segundo Hartup (1989 apud CAMARGO; BOSA, 2009) a criança precisa experienciar dois tipos de interações. Na primeira interação a criança se apega a uma pessoa com um poder social ou conhecimento maior. O segundo tipo de interação ocorre entre pessoas de mesma idade e de forma igualitária. Os dois tipos de interação são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades sociais.
27
Análise dos dados da observação: As pessoas precisam desenvolver habilidades de interações sociais, pois necessitam no seu dia a dia realizar diversas formas de comunicação interpessoal. Del Prette e Del Prette (1999 apud BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2002) relatam que: [...] as habilidades sociais abrangem relações interpessoais, incluindo a assertividade (expressão apropriada de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos) e as habilidades de comunicação, de resolução de problemas interpessoais, de cooperação e de desempenhos interpessoais nas atividades profissionais (p.228).
Dessa forma, foi fundamental classificar os tipos de habilidades sociais para categorizar os dados, organizando-os de modo que possibilite compreender de que forma a criança autista se engajou em alguma forma de comunicação interpessoal dentro do setting terapêutico. O critério utilizado para definir a freqüência dos comportamentos formulados no protocolo de observação e apresentados na sessão observada foi determinado por “várias vezes”, “poucas vezes” ou “não”. Quando a criança apresentava os comportamentos na maioria dos jogos propostos pela psicoterapeuta no atendimento observado era definido como “várias vezes”. Quando a freqüência dos comportamentos esperados acontecia na minoria das atividades propostas era selecionada a opção “poucas vezes”. Mas quando a freqüência dos comportamentos previamente elaborados no protocolo de observação era nula em todos os jogos estipulados escolhia-se a opção “não”.
28 Quadro 1 – Habilidades sociais apresentadas pela criança na sessão terapêutica. Habilidades Sociais Resolução de problemas
Comportamentos
Várias vezes
Segue aos comandos e regras de cada jogo ou atividade lúdica proposto pelo psicoterapeuta. Consegue terminar a atividade proposta.
Poucas vezes
Não
X X
Ajuda a psicoterapeuta a guardar os brinquedos depois de cada atividade. Seleciona os brinquedos que quer brincar primeiro. Precisa de incentivo para cumprir a tarefa. Apresenta comportamentos de dispersão. Habilidades Sabe utilizar os brinquedos com sua função de simbólica. comunicação Interage com a psicoterapeuta durante os jogos e atividades lúdicas. Mantém contato visual com a psicoterapeuta durante os jogos e atividades. Apresenta interesse nos jogos e atividades lúdicas. Fica atento (olha em direção a, coopera, troca informações ou ações) a atividade proposta por mais de 5 minutos. Demonstra interesse pelo outro compartilhando ou mostrando os brinquedos para o psicoterapeuta. Interage com o psicoterapeuta por meio de imitação. Apresenta comportamentos estereotipados durante as atividades e jogos. Expressão de Sabe controlar a ansiedade para participar sentimentos das atividades e jogos. e defesa dos Apresenta algum som vocálico ou palavra próprios quando está utilizando os jogos e atividades direitos lúdicas. Acena com a cabeça ou sorri para demonstrar felicidade durante as atividades. Expressa prazer ou contrariedade através de vocalizações durante ás atividades lúdicas e jogos. Apresenta comportamentos agressivos (joga objetos, agride fisicamente) durante as atividades e jogos. Inicia jogos e atividades lúdicas.
X
Indica o que quer apontando ou fazendo barulhos durante os jogos.
X
X X X X X X X X X X X X X X X X X
29 a) Resolução de problemas: Durante a sessão pode-se perceber que a criança observada em alguns momentos apresentava comportamentos mais assertivos como seguir aos comandos e regras, terminar as atividades propostas e ajudar a psicoterapeuta a guardar os brinquedos depois de cada atividade. O pedido da psicoterapeuta para que o paciente sentasse, foi respondido imediatamente. No entanto para os outros comandos, era necessário que a solicitação fosse repetida várias vezes. O paciente apresentava comportamentos de dispersão, o que de acordo com Marques e Dixe (2010), seria uma das características das crianças com autismo que apresentam também, impulsividade, desatenção, baixa tolerância à mudança e dificuldade em compreender regras sociais. b) Habilidades de comunicação: No atendimento psicoterápico o cliente conseguiu utilizar dois brinquedos com função simbólica. No jogo de encaixe a criança associou os animais e seus filhotes, e no jogo de computador “O coelho sabido” conseguiu preencher os espaços estipulados. De acordo com a psicóloga esta habilidade em parte foi adquirida por meio dos jogos e atividades lúdicas no setting terapêutico. Considerando que o autista pode possuir um déficit no uso do faz-de-conta e no uso do simbólico (Lampreia, 2004), esta aquisição torna-se fundamental para a criança autista, pois pode permitir que metáforas e simbolismos sejam compreendidos para que ocorra uma intencionalidade na comunicação (PASSERINO; SANTAROSA, 2007). Em alguns momentos a criança interagiu com a psicoterapeuta e conseguiu manter o contato visual com a mesma. Segundo Lampreia (2004), é comum em crianças autistas ter uma falta de antecipação postural e contato ocular. Mundy e Sigman (1989 apud LAMPREIA, 2004) relatam que o déficit no contato visual pode acontecer apenas em alguns ambientes. A psicóloga 1 disse que o cliente tinha dificuldade de manter contato visual quando iniciou a psicoterapia. Dessa forma, pode-se inferir que este comportamento foi estabelecido depois que iniciou o tratamento psicoterápico. O cliente apresenta resistência para ficar perto de pessoas desconhecidas. Marteleto et al. (2011) fez um estudo no qual verificou com as mães entrevistadas que os filhos autistas gostam de estar com os pais e pessoas mais próximas e evitam ficar com pessoas que tem pouco ou nenhum contato. A presença da observadora durante o atendimento interferiu no comportamento do cliente, pois o mesmo aumentou o número de comportamentos estereotipados e teve resistência em completar as atividades. De
30 acordo com Klin (2006) a modificação de rotina ou ambiente podem gerar um grande sofrimento para a criança. Apresentou também o comportamento de sedução em relação a observadora, chamando a atenção da mesma, andando em volta dela e olhando-a nos olhos. Com este comportamento pôde ser verificado que a criança apresenta interesse pelo outro. Segundo a psicoterapeuta toda vez que introduz limites e regras o cliente apresenta episódios de birras com gritos, chutes, choro e recusando-se a fazer a atividade proposta com o intuito de manipulação de atenção. De acordo com Camargo e Bosa (2009) as regras dão estruturas para os jogos que exigem cooperação e competição. Pode-se inferir que como as crianças autistas têm dificuldades em compreender regras e limites e possuem baixa tolerância a frustração, tendem a apresentar comportamentos agressivos quando são apresentadas novas regras e limites. Neste atendimento pela primeira vez a criança não apresentou esses tipos de comportamentos. O que sugere que a presença de pessoas desconhecidas, como a observadora, tende a modificar o seu padrão comportamental. No jogo do coelho sabido e no jogo de encaixe demonstrou interesse pelos instrumentos utilizados. Já com a bola não aderiu a atividade proposta pela psicoterapeuta, demonstrando neste momento comportamentos estereotipados como ficar aproximando dos olhos os dedos e ficou engatinhando pela sala e se escondendo embaixo da mesa . Segundo Klin (2006) os comportamentos estereotipados podem ser utilizados como forma de prazer, se auto-acalmar ou se tornam exacerbados por estarem expostos a situações de estresse. Manteve sua atenção no jogo do coelho sabido por mais de 20 minutos. No jogo de encaixe esteve em alguns momentos disperso e apresentou o comportamento estereotipado de aproximar dos olhos a cortina várias vezes, comportamento este ainda não apresentado no
setting terapêutico.
Também durante este jogo interagiu com a
terapeuta imitando alguns dos seus comportamentos como a forma de movimentar as cartas. Passerino e Santarosa (2007) relatam que a criança autista tem dificuldade de manter a atenção visual em alguma atividade e chamar a atenção da outra pessoa para interagirem. c) Expressão de sentimentos e defesa dos próprios direitos: No
setting
terapêutico o cliente não apresentou comportamentos com
características de ansiedade para participar do jogo do coelho sabido, mantendo sua
31 atenção na atividade. Já no jogo de encaixe demonstrou ansiedade quando apresentou o comportamento estereotipado de aproximar e afastar a cortina de seus olhos. E com a bola demonstrou ansiedade, pois engatinhava no
setting terapêutico
e apresentou o
comportamento estereotipado de aproximar e afastar os dedos dos olhos, se recusando a participar da atividade que já tinha uma habilidade e interesse. O cliente apresentou sons vocálicos e sorriu durante a atividade do jogo “O coelho sabido”. Expressou contrariedade em uma das páginas do jogo emitindo sons vocálicos e se movimentando de um lado para o outro até a psicoterapeuta mudar a imagem do jogo. Ramachandram e Oberman (2006 apud LAMEIRA; GAWRYSZEWSKI; PEREIRA JR, 2006) relatam sobre a dificuldade que a criança autista tem em demonstrar emoções: Crianças com autismo têm grande dificuldade para se expressar, compreender e imitar sentimentos como medo, alegria ou tristeza. Por isso se fecham num mundo particular e acabam desenvolvendo sérios problemas de socialização e aprendizado. O comportamento autista reflete um quadro compatível com a falha do sistema de neurônios-espelho. O entendimento de ações (essencial para a tomada de atitude em situações de perigo), a imitação (extremamente importante para os processos de aprendizagem) e a empatia (a tendência em sentir o mesmo que uma pessoa na mesma situação sente, a qual é fundamental na construção dos relacionamentos) são funções atribuídas aos neurônios-espelho e são exatamente essas funções que se encontram alteradas em pessoas autistas.
O cliente não apresentou nenhum comportamento agressivo, como jogar objetos ou agredir alguém fisicamente, neste atendimento. A criança apresentou resistência a frustração, pois no jogo do encaixe, em momentos que não conseguia desempenhar a atividade proposta, demonstrou irritação. Acessos de raiva são comuns quando a criança tem que cumprir atividades ou ocorre uma mudança de rotina (KLIN, 2006). A criança apresentou comportamentos afetivos com afagos e carinhos na psicoterapeuta, sem que lhe fosse solicitado. Segundo a Psicóloga este comportamento foi conquistado no decorrer da terapia. De acordo com Sanini et al. (2008) a criança autista pode apresentar apego seletivo com o intuito de buscar segurança. Já Rutter (1978 apud LAMPREIA, 2004) relata que é pouco provável que haja uma procura de outros, pela criança autista, para se obter consolo e afeição, pois eles tendem a apresentar poucas ou nenhumas respostas às emoções dos outros; mas como foi observado, a demonstração destes comportamentos afetivos podem ser aprendidos no processo psicoterapêutico.
32 Durante o atendimento o cliente não iniciou nenhuma das atividades propostas, precisando do incentivo da psicoterapeuta para começar os jogos. A criança apontou e emitiu sons no jogo de computador o coelho sabido para indicar qual página queria jogar. Dessa forma pode expor qual era a parte do jogo que queria mexer, demonstrando um comportamento de defesa dos próprios direitos. De acordo com Passerino e Santarosa (2007) o uso do computador, utilizado como instrumento de mediação na interação social, beneficia a criança autista no seu desenvolvimento e na qualidade de sua interação. d) Instrumentos utilizados durante a sessão de psicoterapia: Os instrumentos utilizados na sessão foram o jogo Coelho Sabido, o jogo de encaixe: Mamãe e filhote e bola. Na observação e, jogos com manipulações e funções diversas foram referidos: •
jogos pedagógicos para aquisição de conceitos;
•
jogos que passam a questão do tempo e da atenção como o encaixe e quebra cabeça;
•
brinquedos “de afeto” que podem trabalhar a aceitação na criança autista da chegada de um novo irmão;
•
jogos de sequência e que envolvem a questão da mímica, do entendimento, de sequência lógica;
•
jogos de equilíbrio que podem trabalhar a coordenação motora; jogos de tabuleiros e a bola que podem estimular as interações sociais;
•
jogos de memória visual e auditiva que pode estimular a cognição e a linguagem;
•
jogos de computador que podem trabalhar a questão do tempo, pois a criança não consegue burlar o tempo do computador, apesar do uso do computador ser utilizado sem exageros para que não interfira na socialização do sujeito;
•
jogos de faz-de-conta como o fantoche que trabalham a imaginação e o uso do simbólico.
Para Vygotsky (1998 apud DELFRATE; SANTANA; MASSI, 2009) toda brincadeira imaginária tem regras, não as regras já pré-formuladas, mas as regras que originam no próprio jogo de faz-de-conta. Assim, pode-se criar uma sequência lógica e regras durante o jogo no qual podem ser associadas com inabilidades da criança autista
33 que precisam ser estimuladas e desenvolvidas, relacionando-as com rotinas do seu diaa-dia. Nos jogos citados acima várias habilidades são trabalhadas ao mesmo tempo.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como objetivo geral investigar pela perspectiva de psicólogas atuantes, se a utilização de jogos e atividades lúdicas em contexto de intervenção psicoterapêutica estabelece e incrementa habilidades sociais em crianças com autismo. O método utilizado possibilitou verificar que a habilidade social na criança autista, pode ser trabalhada no
setting
terapêutico por meio de jogos, e pode modificar os
comportamentos inadequados e possibilitar a aquisição de um novo repertório comportamental. Os resultados sugerem que a utilização dos jogos na psicoterapia pode possibilitar uma melhora nas relações familiares e o entendimento do uso das regras nas interações sociais. Pode-se inferir que o ato de brincar no atendimento psicoterápico contribui para a criança aprender a dar um sentindo ao modo como o outro pensa e se comporta estimulando, assim, a aquisição da habilidade de simbolizar. No atendimento psicoterápico pode-se utilizar objetos lúdicos com o intuito de promover a metarepresentação. A ausência da brincadeira pode levar a atrasos no desenvolvimento da criança que pode não desenvolver novas habilidades para se adequar a vida adulta em sociedade. A análise das entrevistas possibilitou verificar que as crianças diagnosticadas com autismo respondem e interagem aos jogos e atividades lúdicas. Mas tendem a responder ao ato de brincar de forma diferenciada, apresentando comportamentos estereotipados. O que não as impedem de assimilarem e apreenderem novas formas de interação social por meio dos jogos. Algumas crianças, com um grau de comprometimento psíquico e cognitivo mais alterado, podem não conseguir participar de brincadeiras direcionadas por não aceitar regras. Por meio das regras dos jogos a criança aprende a compartilhar uma atividade com o outro na escola ou em casa. Quando a criança compreende as regras tende a ficar menos ansiosa e diminuir, assim, a agressividade. Infere-se que os jogos e atividades lúdicas são recursos terapêuticos que possibilitam a aquisição de novas habilidades de comunicação, no qual a criança pode estabelecer vínculos com seu psicoterapeuta e conseqüentemente se estende para os familiares e amigos. Essas crianças também podem apresentar ausência ou fala incipiente de comunicação verbal e não verbal. E as que possuem a habilidade de falar podem ter dificuldades de compreensão da linguagem.
35 Também se verificou que os comportamentos sociais inadequados podem contribuir para o aparecimento de problemas clínicos como a dispersão e o isolamento social. Como o autista tende a não apresentar o interesse subjetivo pelo outro, a criança pode ser estimulada no setting terapêutico, por meio dos jogos e atividades lúdicas, a desenvolver esta habilidade. É importante enfatizar que a criança autista pode diminuir o comportamento de se isolar. Mas este comportamento não será extinto, pois a criança autista tende a ter os seus momentos de isolamento e estes momentos deverão ser respeitados pelos familiares e amigos. Com a presença da observadora no atendimento psicoterápico, a criança autista aumentou o número de comportamentos estereotipados e teve resistência em completar atividades. Relacionado este fato, com a teoria e com as entrevistas, tem-se a evidência de que a mudança de rotina e de ambiente podem estimular comportamentos inadequados e produzir um grande sofrimento psíquico. Para promover mudanças nos comportamentos e a aquisição de novas habilidades das crianças autistas, os psicoterapeutas utilizam em seus consultórios diversos tipos de jogos e atividades lúdicas. Pode ser verificado nesta pesquisa, a utilização de jogos pedagógicos, de seqüência, equilíbrio, memória visual e auditiva, jogos que passam a questão do tempo e da atenção, brinquedos “de afeto”, jogos de computador e jogos de faz-de-conta. Por meio das análises dos textos, entrevistas e observação da criança autista pode-se concluir que estes instrumentos tendem a trabalhar a aquisição de conceitos, entendimento, seqüência lógica, coordenação motora, linguagem, cognição, imaginação e estimular as interações sociais. Dessa forma, o psicoterapeuta, promove a aquisição de novas habilidades, a modificação de comportamentos inadequados e a reinserção social. Apesar de não ter sido o foco da entrevista, as psicólogas falaram da importância dos pais na aquisição de habilidade social da criança. Os pais são uma extensão do trabalho terapêutico, pois podem contribuir no desenvolvimento e na aquisição de novas regras para a criança. Esses, muitas vezes, precisam mudar o seu comportamento em relação aos filhos, pois estas mudanças podem ser fundamentais para que a criança consiga desenvolver novas habilidades sociais. Concluí-se que o brincar pode ser considerado, se utilizado de forma ética pelo profissional de psicologia, um instrumento válido, e que contribui para a aquisição de novas habilidades sociais na criança autista. O conhecimento gerado neste estudo tratase apenas de um recorte que contribui para uma maior compreensão das formas de
36 percepção e aquisição de conteúdos pelo autista. Percebe-se a importância de se desenvolver novos estudos sobre o efeito da utilização do lúdico no atendimento psicoterápico de criança autista, com o objetivo de conhecer melhor os limites e possibilidades da criança autista diante das habilidades sociais.
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APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA ENTREVISTAS COM OS PSICÓLOGOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado a participar, como voluntário da pesquisa “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico”. No caso de você concordar em participar, por favor, assine ao final do documento. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com os pesquisadores ou com a instituição. Eu ___________________________________________________________ concordo em participar como sujeito da pesquisa “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico” que tem como objetivo investigar com terapeutas infantis de crianças autistas, se a utilização de jogos e atividades lúdicas em contexto de intervenção psicoterapêutica estabelece e incrementa habilidades sociais. Estou ciente de que a pesquisa terá uma entrevista (Apêndice D), que conterá questões abertas com o intuito de explorar as relações estabelecidas por meio dos jogos e atividades lúdicas utilizadas no
setting
terapêutico. Também serão utilizadas
observações (Apêndice E) de crianças autistas no setting terapêutico com o objetivo de verificar as formas de interações ocorridas por meio dos jogos e atividades lúdicas. Também estou ciente de que meu nome será mantido em sigilo e não haverá riscos a minha integridade física. Mas oferece riscos aos voluntários, pois os mesmos poderão se sentir constrangidos com a realização de algumas perguntas. Com o intuito de minimizar os possíveis riscos será tomado o cuidado de utilizar técnicas de entrevistas que facilitem o contato e interação entre entrevistador e entrevistado, com o intuito de evitar constrangimento. Como benefício terei acesso ao projeto finalizado, podendo assim visualizar novos conteúdos que esclareçam os elementos significativos, que podem não ter sidos compreendidos ou acessados, da influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades de crianças autistas. Possibilitando o enriquecimento do processo de utilização de instrumentos no atendimento psicoterapêutico infantil. Não
42 terei nenhum custo, reembolso ou gratificação por participar da pesquisa. Os únicos dados que serão divulgados serão os relacionados ao objetivo da pesquisa. Declaro que fui informado e devidamente esclarecido sobre os procedimentos do projeto, quanto aos itens da resolução 196/96, pela pesquisadora Renata Fernandes Carneiro do curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília.
Nome:____________________________________________________ RG:____________________ Data de nascimento:____/____/_____ Sexo: M( ) F( ) Endereço:_____________________________________________________________ Bairro:_________________
Cidade:_____________
Estado:_____
CEP:__________________ Tel.: ( ) _____________________ Local e Data: Brasília, _____ de ___________________ de 2011. Nome e Assinatura do declarante: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ (Nome por extenso / CRP)
Em caso de dúvidas entrar em contato com a pesquisadora responsável: Renata Fernandes Carneiro – 8407 4591
Declaração da pesquisadora Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual obtive de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do declarante acima, qualificado para a realização desta pesquisa. ________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora
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APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DA OBSERVAÇÃO PARA OS PAIS OU RESPONSÁVEIS LEGAIS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado a participar, como voluntário da pesquisa “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico”. No caso de você concordar em participar, por favor, assine ao final do documento. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com os pesquisadores ou com a instituição. Eu __________________________________________________________ Concordo que
_____________________________________________________________venha
participar como sujeito da pesquisa “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico” que tem como objetivo investigar com terapeutas infantis de crianças autistas, se a utilização de jogos e atividades lúdicas em contexto de intervenção psicoterapêutica estabelece e incrementa habilidades sociais. Estou ciente de que será feita uma observação (Apêndice E) de um atendimento do ______________________________________________________________________ no setting terapêutico com o objetivo de verificar as formas de interações ocorridas por meio dos jogos e atividades lúdicas. Também estou ciente de que o nome desta criança, no qual sou responsável legal, será mantido em sigilo e não haverá riscos a sua integridade física. A observação oferece riscos psicológicos aos voluntários, pois as crianças autistas quando tem que interagir com pessoas desconhecidas tendem a se incomodar, dependendo do grau do comprometimento clínico, podendo mobilizar conflitos psíquicos. Os riscos previstos no projeto serão minimizados devido ao fato da observação ser feita no
setting
terapêutico que o paciente já tem familiaridade, além do fato da psicóloga que já faz os atendimentos terapêuticos estar presente conduzindo a sessão. Durante a seleção dos pacientes que participarão das coletas de dados será tomado o devido cuidado, com a ajuda da psicóloga que os atendem, de escolher apenas pacientes no qual o
44 comprometimento clínico permite fazer observação. No caso de observância de fatores de riscos serão tomadas medidas terapêuticas no qual a psicóloga que estará presente na observação poderá intervir e interromper o procedimento caso julgue necessário. Como benefício terei acesso ao projeto finalizado, no qual poderei adquirir conhecimentos que podem me ajudar a lidar com as limitações da síndrome, aumentando o repertório de suas habilidades sociais e permitindo a ampliação do espaço social e afetivo. Não terei nenhum custo, reembolso ou gratificação por participar da pesquisa. Os únicos dados que serão divulgados serão os relacionados ao objetivo da pesquisa. Declaro que fui informado e devidamente esclarecido sobre os procedimentos do projeto, quanto aos itens da resolução 196/96, pela pesquisadora Renata Fernandes Carneiro do curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília. Nome:____________________________________________________ RG:____________________ Data de nascimento:____/____/_____ Sexo: M( ) F( ) Endereço:_____________________________________________________________ Bairro:_________________
Cidade:_____________
Estado:_____
CEP:__________________ Tel.: ( ) _____________________ Local e Data: Brasília, _____ de ___________________ de 2011.
Nome e Assinatura dos pais ou responsáveis: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ (Nome por extenso) Em caso de dúvidas entrar em contato com a pesquisadora responsável: Renata Fernandes Carneiro – 8407 4591
Declaração da pesquisadora Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual obtive de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do
45 declarante acima, qualificado para a realização desta pesquisa. ________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora
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APÊNDICE C TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DA OBSERVAÇÃO PARA OS PSICÓLOGOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado a participar, como voluntário da pesquisa “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico”. No caso de você concordar em participar, por favor, assine ao final do documento. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com os pesquisadores ou com a instituição. Eu ___________________________________________________________ concordo que meu cliente ___________________________________________________ venha participar como sujeito da pesquisa “A influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades sociais de crianças autistas no setting terapêutico” que tem como objetivo investigar com terapeutas infantis de crianças autistas, se a utilização de jogos e atividades lúdicas em contexto de intervenção psicoterapêutica estabelece e incrementa habilidades sociais. Estou ciente de que será feita uma observação (Apêndice E) de um atendimento do ______________________________________________________________________ no setting terapêutico com o objetivo de verificar as formas de interações ocorridas por meio dos jogos e atividades lúdicas. Também estou ciente de que o nome desta criança, no qual faço atendimento psicoterápico, será mantido em sigilo e não haverá riscos a sua integridade física. A observação oferece riscos psicológicos aos voluntários, pois as crianças autistas quando tem que interagir com pessoas desconhecidas tendem a se incomodar, dependendo do grau do comprometimento clínico, podendo mobilizar conflitos psíquicos. Os riscos previstos no projeto serão minimizados devido ao fato da observação ser feita no setting terapêutico
que o paciente já tem familiaridade, além do fato da psicóloga que
já faz os atendimentos terapêuticos estar presente conduzindo a sessão. Durante a seleção dos clientes que participarão das coletas de dados será tomado o devido cuidado, com a minha orientação, de escolher apenas pacientes no qual o
47 comprometimento clínico permite fazer observação. No caso de observância de fatores de riscos serão tomadas medidas terapêuticas no qual poderei intervir e interromper o procedimento caso julgue necessário. Como benefício terei acesso ao projeto finalizado, podendo assim visualizar novos conteúdos que esclareçam os elementos significativos, que podem não ter sidos compreendidos ou acessados, da influência dos jogos e atividades lúdicas nas habilidades de crianças autistas. Não terei nenhum custo, reembolso ou gratificação por participar da pesquisa. Os únicos dados que serão divulgados serão os relacionados ao objetivo da pesquisa. Declaro que fui informado e devidamente esclarecido sobre os procedimentos do projeto, quanto aos itens da resolução 196/96, pela pesquisadora Renata Fernandes Carneiro do curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília. Nome:____________________________________________________ RG:____________________ Data de nascimento:____/____/_____ Sexo: M( ) F( ) Endereço:_____________________________________________________________ Bairro:_________________
Cidade:_____________
Estado:_____
CEP:__________________ Tel.: ( ) _____________________ Local e Data: Brasília, _____ de ___________________ de 2011. Nome e Assinatura do declarante: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ (Nome por extenso/ CRP) Em caso de dúvidas entrar em contato com a pesquisadora responsável: Renata Fernandes Carneiro – 8407 4591
Declaração da pesquisadora Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual obtive de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do declarante acima, qualificado para a realização desta pesquisa. ____________________________________________ Assinatura da Pesquisadora
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APÊNDICE D ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA OS PSICÓLOGOS 1. A utilização de jogos e atividades lúdicas no setting terapêutico contribui para a socialização de crianças autistas? Como? 2. (se não, porque não e quais recursos ou estratégias então são usados.) 3. De que forma a utilização do lúdico estabelece e incrementa habilidades sociais? 4. As crianças autistas estabelecem vínculos por meio dos jogos e atividades lúdicas? Porque não?? 5. Como as crianças autistas respondem e interagem aos jogos e atividades lúdicas? 6. Quais jogos e atividades lúdicas você utiliza no setting terapêutico? 7. A criança autista desenvolve a habilidade de utilizar os brinquedos com sua função simbólica durante o atendimento psicoterápico? 8. Quais padrões comportamentais você consegue observar na criança autista que possibilitem demonstrar uma maior autonomia e independência ao manusear os brinquedos no setting terapêutico? 9. As interações estabelecidas por meio do lúdico promovem mudanças no comportamento social de crianças autistas? 10. Você consegue perceber uma diminuição do comportamento de isolamento e dispersão das crianças autistas com a utilização do lúdico? 11. Dê exemplos de atividades lúdicas utilizadas no teu consultório que podem ter contribuído para propiciar ao cliente tecer a sua própria rede, permitindo assim a ampliação do espaço social e afetivo. 12. Os familiares das crianças diagnosticadas com autismo identificam e relatam mudanças significativas no repertório social das crianças devido a introdução dos jogos e atividades lúdicas? Se sim relate exemplo de mudanças? 13. De que forma os pais podem ser uma extensão do trabalho terapêutico, contribuindo para estimular a criança autista na aquisição de novas habilidades sociais?