INTRODUÇÃO:
DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO O diácono tem um papel importante na igreja e deve ser treinado para auxiliar seu pastor. A questão é: que tipo de homens tem sido colocado nesse ofício? Concílios e congregações, que tipo de homens vocês nomeiam e elegem? Diáconos, que tipo de homens vocês são em toda a sua vida?Um grande perigo para as igrejas e crentes é que começamos a formar nossas próprias idéias de qual tipo de homens é mais capaz de servir no ofício da igreja. Nossa natureza nos levaria a nomear ou votar naqueles de quem mais gostamos, ou com quem mais nos relacionamos; ou num bom administrador que pensamos ser mais bem equipado para manusear nosso dinheiro; ou alguém que busque coisas (coisas terrenas, espirituais mas nãoessenciais, ou qualquer outra coisa) da nossa maneira.Contudo, é errado seguir a direção da nossa natureza ao nomear ou votar em diáconos.
I
Pressupostos para uma boa qualidade de vida Diaconal. DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO.
1. O elemento fundamental “E perseveravam na doutrina dos apóstolos ...” Esta parte inicial do texto de Atos2.42 mostra que os membros da Igreja Primitiva participavam com fidelidade do ensino dos apóstolos. Portanto, ser fiel é exercitar a fé nos ensinos do Senhor, que os apóstolos transmitiam à Igreja.A escuta e a obediência aos ensinos do Senhor se constitui o primeiro traço característico da comunidade cristã de todos os tempos e espaços. Desta maneira os leitores de todos os tempos e espaços têm diante dos olhos um projeto de comunidade cristã ideal no qual inspirar-se.O elemento fundamental e que qualifica a comunidade é a perseverança ou fidelidade no empenho assumido. O verbo escolhido por Lucas, “proskarterein” significa “ser assíduo, perseverante em alguma coisa”, com ressonância litúrgica e cultural, ressalta muito bem o comportamento de dedicação constante e comprometida dos convertidos.A perseverança se exprime em momentos ou estruturas essenciais: O ensinamento dos apóstolos, a comunhão fraterna e a fração do pão. 1
2
Cf. FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apóstolos. Tradução e comentários. São Paulo: Loyola, 1991, p.
75 ss. 3
GRUNDMANN, proskartereô, GLNT V, 225-229. In: FABRIS, 76.
2. O ensinamento dos apóstolos O vocábulo grego “didakê” designa a instrução ou aprofundamento que segue à adesão de fé inicial selada pelo batismo. O conteúdo abrange a releitura de textos bíblicos à luz de Cristo, e a evocação dos ensinamentos de Jesus, para guiar as opções práticas dos crentes.O ponto de partida de uma comunidade cristã é a escuta da Palavra. O seu crescimento e amadurecimento dependem também do aprofundamento e interiorização da Palavra. Uma palavra que não é ideologia e moralismo, mas testemunho autorizado dos apóstolos. Assim, o ensino dos apóstolos é a transmissão fiel do que Jesus ensinou.
3. A comunhão fraterna A expressão traduz um vocábulo grego que ocorre só em Lucas, “koinônia”.4 Podese dizer que a comunhão fraterna é a união espiritual dos crentes baseada na mesma fé e no mesmo projeto de vida.5 A comunidade cristã realiza o ideal dos amigos entre os quais tudo é comum. Assim, a lógica proprietária e patronal é substituída pela da participação e da solidariedade. Em outros autores – Paulo e João - o termo “koinônia” indica a comunhão de fé com Deus ou com Cristo e a união mais profunda entre os crentes, que se exprime e atua na fé comum, na experiência eucarística e na participação espontânea dos bens.
4. A fração do pão Partir o pão ou fração do pão, no ambiente judaico, significava cumprir o gesto ritual ao início da refeição em comum: o pai de família ou o chefe do grupo toma entre as mãos o pão, dá graças a Deus e o parte para distribuí-lo aos comensais. Na linguagem de Atos, a expressão refere-se a toda refeição (2.42,46). Todos participam, na condição não mais de uma família em particular, mas como família da fé com um alto projeto de vida em comum. A refeição comum e reservada dos cristãos acontece num clima de alegria e de simplicidade de coração. É a alegria
2
festiva que acompanha a experiência ou a esperança da libertação ou salvação messiânica.
5. As orações Trata-se daquelas orações que demarcam o dia do judeu piedoso, a profissão de fé no início e no final do dia, a ação de graças antes das várias ações. O grupo dos cristãos toma parte assiduamente e unido na liturgia do templo. O templo de Jerusalém, para Lucas, é o centro da história salvífica, o lugar onde Jesus se manifestou como sabedoria (Lc 2.41-50) e ensinou ao povo (Lc 10.47; 21.37; 22.53). O grupo dos discípulos, após a páscoa, toma o lugar de Jesus no templo (24.53). Lucas, assim, ressalta a continuidade entre a nova comunidade messiânica e a antiga história da salvação, concentrada no símbolo do templo. Uma comunidade unida, solidária, pronta a repartir até os bens materiais, é aberta à esperança e reconhecida a Deus. Este estilo de vida traduz-se espontaneamente num estilo de oração, que dá o ritmo da vida comum dos primeiros discípulos após a páscoa.
6. conexão entre a fundamentação e a prática Como já foi visto anteriormente, a diaconia tem seu fundamento no ensino bíblico teológico. Está fundamentado no ensino de Jesus Cristo no Novo Testamento. Mas, é preciso ir do ensino à prática, gerando uma conexão que permita um existir sempre com o outro. A Igreja, o comunitário, é o lugar da chagada, ponto onde se fortalecem a fé, a esperança e o amor. A Igreja, a comunhão dos santos, fortalece para novo testemunho e envio. Por isso a fé não pode ser algo individual, particular. A fé precisa ser vivida e testemunhada para fora, na vida social.Observemos as flores. Há as que jogam a sua semente para bem longe do pé.Sua semente está numa cápsula que,quando madura, explode e joga sua semente para longe. Assim é o cristão. Ele tem a necessidade de jogar a sua semente para bem longe, a fim de que ela possa achar solofértil, germinar, crescer e ser testemunho para outros.
II
Conceito Bíblico para Diaconia. DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO. 3
É muito importante para nós termos uma visão do que significa na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, a palavra “diaconia”. Esta palavra aparece em três formas: 1. Diakoneo = servir (verbo) 2. Diakonia = serviço (substantivo) 3. Diakono = diácono (substantivo) DIAKONEO – SERVIR (VERBO) ““ Diakoneo” significa ‘ser servo, ser assistente, servir, esperar em, ministrar, prestar qualquer tipo de serviço’” (VINE). O verbo “diakoneo” (servir) é usado no Novo Testamento de diferentes maneiras. 1. Designa o serviço doméstico, serviço realizado para preparar refeições aos convidados, servir às mesas. Lucas 10.40 - Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços [diakonia - subs]. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir [diakoneo] sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. 2. Expressão usada pelos apóstolos tanto para se referir ao serviço de amor fraternal, atendendo às necessidades das viúvas. Atos 6.2-4 – “Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir [diakoneo] às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério [diakonia subs] da palavra”. OBSERVAÇÃO: 1 Muitos enxergam aqui o início do cargo de diáconos na igreja. Entretanto a palavra “diácono” não é usada para designar os sete homens escolhidos para atender às necessidades das viúvas. Também daqui se conclui a idéia de que o serviço do diácono é essencialmente atender pessoas com necessidades físicas e materiais. Creio que esta inferência é forçada. Os diáconos são, de maneira ampla e geral, os auxiliares dos líderes onde for necessário. Este serviço, também, pode ser temporário. Quando a necessidade não existe mais, como foi no caso da igreja em Jerusalém, o ministério se extingue.
3. Refere-se ao cuidado por outras pessoas. Mateus 25.44 - E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos (diakoneo). 4
4. Serviço prestado aos irmãos na Igreja. Hebreus 6.10 - Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes [diakoneo] e ainda servis [diakoneo] aos santos. 5. É usado no contexto da coleta aos santos de Jerusalém. Romanos 15.25 - Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço [diakoneo] dos santos. 6. É expressão da pregação do Evangelho. 2 Coríntios 3.3 - Estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério [diakoneo - “ministrada por nós”], escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. 7. Foi usado por Jesus para descrever seu trabalho e ministério. Marcos 10.45 - Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido [diakoneo], mas para servir [diakoneo] e dar a sua vida em resgate por muitos. Lucas 22.27 - No meio de vós, eu sou como quem serve [diakoneo]. A Diakonia não evocava nenhum tipo de autoridade, soberana, ou poder.
Como Servo
● Servo é aquele que está disposto a servir; ● É a posição mais difícil na vida do cristão. Muitos só querem mandar, ser senhores; ● Jesus, Senhor e Mestre, deu-nos o exemplo (Mt 20.25-28;Jo13.4-812 15). ● É necessário tomar a posicão de servo. Lucas17:10 Somos servos inúteis Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer. Lucas17:10 O servo inútil a qual fala o versículo e o servo a quem nada se deve, que cumpre os seus deveres. Aqui inútil não é no sentido de não prestar para nada, folgado, que não serve para o serviço ou que não sabe fazer o serviço, pois o servo fazia tudo para o seu senhor. Esse servo e alguém a quem o Senhor não deve agradecimento 5
ou favor. Alguém a quem o Senhor não fica “obrigado” para com o seu servo, quando este cumpre todas as suas ordens, pois ele não fez mais do que a sua obrigação de servo. O servo trabalha movido por um senso de dever e lealdade, e não com a esperança de ganhar recompensas. De fato, depois de ter cumprido todas as ordens (Aqui o servo era vaqueiro, agricultor e também cozinheiro), ele diz: “Nada me devem; cumpri apenas o meu dever”. Sintetizando o sentido de diakonia e o da vida, em que Jesus Cristo doa-se com sua morte para pagar auto preço do pegado. (Isaías 53:3-7) ● A primeira responsabilidade de um diácono ou pastor ou líder é definir a realidade. A última é dizer obrigado. No meio, o diácono é um servo. ● Se não somos servos, devemos repensar se somos realmente cristãos. ● Conforme Max De Pree “Um servo é aquele que está disposto a fazer o que Jesus Cristo fez, dando a sua própria vida para cumprir a missão. ( escritor ) 8. É usada para designar a consagração e o serviço do discípulo de Cristo. Lucas 22.26-27 - Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve [diakoneo]. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve [diakoneo]? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve [diakoneo]. A diakonia apontava para Jesus Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir. Indicara o amor e o serviço como distintivos de todos os seus seguidores. Jesus é o filho que tomou a decisão de servir a Deus e aos irmãos. 9. O apóstolo Pedro usa esta palavra para designar serviço realizado no uso dos dons espirituais. 1 Pedro 4.10 - “Servi [diakoneo] uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. 10. EXPOSIÇÃO do verbo “servir” (“diakoneo”)
● verbo “servir” (“diakoneo”) recebe seu sentido neo-testamentário da pessoa de Jesus e do seu Evangelho. Jesus é aquele que nos serviu da maneira mais profunda e intensa possível não procurando os seus interesses, mas dando sua vida pela nossa salvação (“Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser 6
servido[diakoneo], mas para servir [diakoneo] e dar a sua vida em resgate por muitos” - Mar 10.45). “Servir” se tornou a palavra que caracteriza as ações e as obras de amor, que brotando do amor de Deus alcança o irmão e o próximo. O serviço de Jesus aos homens e aos seus discípulos foi uma demonstração do amor de Deus e uma demonstração daquilo que é a essência da verdadeira humanidade como Deus a quer. Jesus disse:“No meio de vós, eu sou como quem serve [diakoneo]”(Luc22.27) e “o Filho do Homem, que não veio para ser servido [diakoneo], mas para servir [diakoneo] e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mat 20.28). Este exemplo de Jesus (João 13.15) se tornou um desafio para os seus discípulos: “entre vós aquele que dirige seja como o que serve [diakoneo]” (Luc 22.26). Cada um deve servir com o dom que recebeu de Deus (“Servi [diakoneo] uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” - 1 Ped 4.10). Quem dá de comer a um faminto, abriga a um sem teto, visita a um doente, ou preso (Mat 25.35, 36), este “serve” [diakoneo] (Mat 25.44) ao próprio Jesus (“Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” - Mat 25.40). Muitas mulheres “serviam” a Jesus com os seus bens (“e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência [diakoneo] com os seus bens” - Luc 8.3). Portanto “servir” é o amor em ação. “Servir” é ver as necessidades e dar de sua vida, de seu tempo, de seus bens, para suprir a estas necessidades. “Servir” é praticar as boas obras que Deus preparou que nós as realizássemos (“Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós.” – Ef 2.10). Jesus nos “serviu” dando a sua vida. De acordo com 1João 3.16-18 nós servimos dando nossa vida para os irmãos. “Dar a vida pode significar, em raros casos, até morrer pelo irmão. Entretanto o exemplo que João usa não é “morrer”, mas dar de seus bens, de seus recursos, portanto, de sua vida, para os irmãos necessitados. “Diakonia” se refere a “ que indica a função e o trabalho de um diakonos” (VINE). Este substantivo é usado 34 vezes no Novo Testamento. Usa-se, também, de diferentes maneiras, contextos e sentidos. 7
● Serviço atendendo às necessidades domésticas. Lucas 10.40 - Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços [diakonia]. ● Serviço de amor, num sentido genérico. 1 Coríntios 16.15 - Sabeis que a casa de Estéfanas são as primícias da Acaia e que se consagraram ao serviço [diakonia] dos santos. Apocalipse 2.19 - Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço [diakonia], a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. ● Serviço de amor expresso na coleta para irmãos necessitados. Atos 11.29 - Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro [diakonia] aos irmãos que moravam na Judéia. Atos 12.25 - Barnabé e Saulo, cumprida a sua missão [diakonia], voltaram de Jerusalém, levando também consigo a João, apelidado Marcos. ● Serviço da obra missionária e da pregação da Palavra. 2 Timóteo 4.11 - Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério [diakonia]. Atos 20.24 - Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério [diakonia] que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. ●Todos os serviços e ministérios realizados na Igreja. Efésios 4.12 - Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço [diakonia], para a edificação do corpo de Cristo. (Lit.: “...aperfeiçoamento para a obra/trabalho da diakonia”). 2 Coríntios 4.1 - Pelo que, tendo este ministério [diakonia, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos. ● Serviço dos anjos. Hebreus 1.14 - Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço [diakonia] a favor dos que hão de herdar a salvação? ● As funções carismáticas que são exercidas dentro da igreja
8
1 Coríntios 12.5 - E também há diversidade nos serviços [diakonia], mas o Senhor é o mesmo. ● Expressão técnica para se referir ao labor evangelístico Romanos 11.13 - Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério [diakonia]. 2 Coríntios 5.18 - Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério [diakonia] da reconciliação. 2 Timóteo 4.5 - Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério [diakonia]. ● Expressão usada pelos apóstolos para se referir ao seu trabalho apostólico de pregação e oração Atos 6.2-4 – “Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir [diakoneo¯ - verbo] às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério [diakonia] da palavra”. Observação: Há aqueles que vêem aqui o início da separação fatal que tem acompanhado a trajetória da igreja, separação entre as pessoas e igrejas que dão ênfase no trabalho social em detrimento da evangelização, e aqueles que enfatizam a evangelização em prejuízo do trabalho assistencial. Entretanto esta divisão não pode ser deferida deste texto. Pelo contrário, vemos aqui as duas ênfases na igreja primitiva, mas realizada por pessoas diferentes de acordo com os dons e o chamado de Deus.
Para a compreensão do substantivo diakonia (serviço) permanece no Novo Testamento a idéia básica da comunhão à mesa com o seu serviço peculiar (Atos 6.1). Podemos pensar no “partir do pão” nas casas, nos ágapes, nos quais os irmãos mais abastados proviam para os irmãos carentes (1Cor 11), nas igrejas nas casas, como, por exemplo, a casa de Estéfanas que praticava a diaconia (“sabeis que a casa de Estéfanas são as primícias da Acaia e que se consagraram ao serviço [diakonia] dos santos” - 1Cor 16.15).
9
Este serviço, no qual as forças e os bens são investidos a favor dos outros, se revela como o elemento fundamental para a manutenção da comunhão (koinonia) (“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” - Atos 2.44-47). Este serviço que envolve não apenas o dinheiro e os bens, mas, também, o corpo e a vida (2 Cor 8.5 - “E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus”), se torna uma força que dinamiza todo o Corpo de Cristo (Ef 4.12 - “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”). Por isso Paulo chama as funções carismáticas que são exercidas dentro da igreja de “serviços” [diakonia] (1 Cor 12.5 - “E também há diversidade nos serviços [diakonia], mas o Senhor é o mesmo”). Mas “diakonia” pode se referir, também, a um único carisma (Rom 12.7 “se ministério [diakonia] dediquemo-nos ao ministério”). Paulo amplifica o conceito de diakonia ainda mais quando ele se refere a toda a obra salvadora de Deus como a uma diakonia de Deus em Cristo a favor de todos os homens. Já no Velho Testamento havia uma diakonia de Deus, mas no sentido da lei e, por isso, da morte, da condenação (2 Cor 3.7,9). Mas por meio de Jesus irrompeu o ministério (diakonia) do Espírito, da justiça, da reconciliação (2Cor 3.8,9 - Como não será de maior glória o ministério [diakonia] do Espírito? Porque se o ministério [diakonia] da condenação tinha glória, muito mais excede em glória o ministério [diakonia] da justiça”). Este ministério foi confiado ao apóstolo que como embaixador de Cristo proclama: “Deixai-vos reconciliar com Deus”. “Mas todas as coisas provem de Deus, que nos reconciliou consigo
10
mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério [diakonia] da reconciliação” - 2Cor 5.18-20). A palavra “diakonia”, de certa maneira, é, portanto, uma palavra técnica para se referir ao trabalho evangelístico. DIAKONO – DIÁCONO (SUBSTANTIVO) “Diakonos” denota primeiramente ‘criado’, quer aquele que faz trabalhos servis, ou o ajudante que presta serviços voluntários, sem referência particular ao seu caráter. Servo, criado, assistente, auxiliar. O termo diakonos deve, falando de modo geral, ser distinguido do termo doulos, ‘servo, escravo’. O termo diakonos encara o servo e relação ao seu trabalho; o termo doulos o vê em relação ao seu mestre. Veja, por exemplo, Mt 2.2-14: aqueles que chamam os convidados e os trazem (Mt 22.3,4,6,8,10) são os douloi. Aqueles que executam a sentença do rei (Mt 22.13) são os diakonoi” . Este substantivo é usado 29 vezes no Novo Testamento e é, também, usado de diferentes maneiras. 1. Designa primariamente aquele que serve à mesa. João 2.5,9 - Então, ela falou aos serventes [diakonos]: Fazei tudo o que ele vos disser.... 2. Designa aquele que serve num sentido bem amplo. Mateus 20.26 - Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva [diakonos]. (“Esse será o vosso servo”). 3. Paulo se designa como: ● Diácono da Nova Aliança 2 Coríntios 3.6 O qual nos habilitou para sermos ministros [diakonos] de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. ● Diácono do Evangelho Colossenses 1.23 - “Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro [diakonos]. ● Diácono de Cristo 11
2 Coríntios 11.23 - “São ministros [diakonos] de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes”. ● Diácono de Deus 2 Coríntios 6.4 - “Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros [diakonos] de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias. ● Diácono da Igreja Colossenses 1.24,25 - “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro [diakonos] de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus”. ● Diácono, junto com Apolo, pelo qual os coríntios chegaram à fé 1 Coríntios 3.5 - Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos [diakonos] por meio de quem crestes. 4. Paulo designa seus cooperadores de diáconos. Efésios 6.21 - E, para que saibais também a meu respeito e o que faço, de tudo vos informará Tíquico, o irmão amado e fiel ministro [diakonos] do Senhor. Colossenses 1.7 - Segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro [diakonos] de Cristo. Colossenses 4.7 - Quanto à minha situação, Tíquico, irmão amado, e fiel ministro [diakonos], e conservo no Senhor, de tudo vos informará. 1 Tessalonicenses 3.2 - E enviamos nosso irmão Timóteo, ministro [diakonos] de Deus no evangelho de Cristo, para, em benefício da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos. 5. Cristo é chamado de “diácono”. Romanos 15.8 - Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro [diakonos] da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais. 6. As autoridades são “diáconos” de Deus. Romanos 13.4 - visto que a autoridade é ministro [diakonos] de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz 12
a espada; pois é ministro [diakonos] de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. 7. Cargo na Igreja junto com os bispos (presbíteros). Filipenses 1.1 - Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos [diakonos] que vivem em Filipos. 1 Timóteo 3.8ss - Semelhantemente, quanto a diáconos [diakonos], é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância ... EXPOSIÇÃO 8. O diácono como alguém que serve num sentido amplo e Geral Paulo se vê, repetindo o já exposto antes, como: ● Diácono (servo) do Evangelho (“Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro [diakonos]” – Col 1.23). ● Diácono (servo) pelo qual os coríntios chegaram à fé (“Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos [diakonos] por meio de quem crestes” (1Cor 3.5). ● Diácono (servo) da Nova aliança (“O qual nos habilitou para sermos ministros [diakonos] de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” – 2Cor 3.6). ● Diácono (servo) de Cristo (“São ministros [diakonos] de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes” – 2Cor 11.23). ● Diácono (servo) de Deus (“Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros [diakonos] de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústia” – 2Cor 6.4). ● Diácono (servo) da igreja (“Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro [diakonos] de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento
13
à palavra de Deus” – Col 1.24,25). O diácono está envolvido na tarefa de servir amorosamente à igreja, aos irmãos e às pessoas seja por meio da diaconia da palavra ou da diaconia das ações. Pedro disse: “Servi [diakoneo - verbo] uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve [diakoneo- verbo], faça-o na força que Deus supre” (1Ped 4.1011). O diacóno, é aquele que serve, que ministra de acordo com o dom que recebeu. Sempre o diácono é alguém que serve a partir do grande Diácono que é Cristo. Ele continua a obra de diaconia, a obra de servir, de Cristo e, deste modo está envolvido ativamente na obra da salvação das pessoas. Esta preocupação com o bem das pessoas envolve o corpo e a alma e, deste modo, Paulo se empenha tanto para a coleta para os irmãos pobres da Judéia (2 Cor 8.4 - usa a palavra diakonia), como para a pregação do Evangelho. A pregação e a ação de ajuda amorosa são um todo inseparável. Também os seus companheiros Paulo chama de “diáconos”. ● Sua Origem. Fil. 1.1 e 1 Tim 3.1-13 Sua origem está em Atos cap 6. Houve necessidade de pessoas que atendessem à distribuição diária de alimentos às viúvas. Os apóstolos disseram que não podiam deixar a “diaconia” da palavra e a oração, para se dedicar à “diaconia” das mesas. Deste modo a igreja escolheu 7 homens que ficaram encarregados deste serviço. Eles não são chamados de “diáconos”, mas a “diaconia”, especialmente pela palavra dos apóstolos, está no pano de fundo deste acontecimento. Percebemos aqui que os diáconos foram instituídos para ajudar aos apóstolos, para que eles pudessem estar livres para realizar o seu ministério principal. Creio que esta é até hoje a função principal dos diáconos nas igrejas locais: ajudarem os presbíteros na realização de seu trabalho. Esta ajuda pode ser a ministração na igreja aos pobres e carentes, ou outro serviço qualquer. O ministério da batista regular se entende igualmente deste modo: ser um braço da igreja para realizar, não em lugar da igreja, mas junto com a igreja e como uma inspiração para a igreja, o ministério diaconal de multiformes maneiras, conforme a direção e vocação do Senhor da Igreja e da Irmandade, o Grande e Supremo Diácono.
14
III. OBRAS COMO RESULTADO DA SALVAÇÃO. DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO. A experiência de salvação na vida de uma pessoa deve resultar, sempre, em obras, em frutos e, em segundo lugar, qual deve ser a motivação do cristão na prática das boas obras. O texto de Efésios 2.8-10 deixa bem claro que somos salvos pela fé e não pelas obras, contudo, a salvação pela fé resulta em frutos, em obras nas vidas dos salvos. Paulo nos afirma que fomos “criados em Cristo Jesus para as boas obras”, obras que “Deus preparou de antemão para andarmos nelas”. Um exemplo de transformação da vida pós-salvação temos em Zaqueu que disse: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Mt 19.8). Portanto... 1. A salvação deve ter frutos em nossa vida; 2. A salvação deve apresentar resultados em nossa vida; 3. A salvação que não modifica a vida não é salvação. O texto de Tito 2.13,14 mostra, também, que “Jesus se deu por nós a fim de nos remir de nos remir de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”. O resultado da redenção, da purificação, o resultado de fazermos parte de um povo que pertence exclusivamente a Jesus, é sermos “zelosos de boas obras”. Quando a Bíblia afirma que “Deus preparou obras para andarmos nelas” (Ef 2.10). Isto significa que nós não podemos fazer tudo o deve ser feito, mas há algo que Deus quer que nós façamos, coisas que Ele “preparou de antemão para nós”. Por exemplo, considerando a parábola do Bom Samaritano sabemos que muitas pessoas eram assaltadas, muitas pessoas estavam caídas, necessitadas à beira do caminho. Havia o problema social da violência e da insegurança nas estradas, mas o Bom Samaritano, fez a sua parte, fez aquilo que lhe cabia fazer: Atendeu ao caído. Na parábola do Rico e do Lázaro o rico foi responsabilizado por não ter atendido aquele pobre que estava à sua porta. Sem dúvida existiam muitos outros miseráveis, mas aquele pobre era a sua 15
responsabilidade. Quando Lucas nos conta a experiência de Felipe evangelizando ao eunuco no caminho de Gaza que estava deserto, mostra que, apesar de existirem multidões necessitadas, aquele homem, naquele momento, naquela estrada, era a sua responsabilidade. IV. MOTIVAÇÃO PARA FAZERMOS A VONTADE DE DEUS DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO. Ao fazermos o bem várias podem ser as nossas motivações. Inclusive podemos fazer o bem por motivações erradas, como Jesus expôs, condenando os fariseus que davam esmolas “para serem vistos pelos homens” (Mt 6.2) Qual deve ser a nossa motivação ao praticarmos o bem? 1. O exemplo de Cristo Certamente, a primeira e grande motivação é o exemplo de Cristo. Jesus disse: “Porque eu vos dei o exemplo para que como eu vos fiz”, façais vós também” (João 13.15). O que foi que Cristo fez? Ele... ● Lavou os pés aos discípulos; ● Serviu se curvando diante deles; ● Fez um serviço de escravo. Em atos 10.38 Pedro pregando na casa de Cornélio disse: “(Jesus) qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (Atos 10.38). Jesus fez o bem... ● À uma adúltera, afirmando a ela: “Nem eu tão pouco te condeno, vai e não peques mais”. ● A um leproso o curando e o tocando com a sua mão. ● À uma viúva afirmando: “Não chores mais” e lhe restituindo com vida o filho morto. ● À Maria Madalena, a libertando de 7 demônios O que mais que Cristo fez? Acima de tudo ele deu a sua vida por amor a nós. João afirmou: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). O ap. João usa o sacrifício de amor de Jesus como exemplo para o que 16
nós devemos fazer. Pessoas tocadas pelo amor de Cristo irão, também, dar a sua vida pelos irmãos. De acordo com o exemplo que, neste texto João apresenta sobre o que significa “dar a vida pelo irmão”, aprendemos que não é morrer pelo irmãos, mas “dar de sua vida”, dar de seus recursos, para suprir as necessidades do irmão. Se meu irmão tem uma necessidade e eu tenho um recurso que pode ajudá-lo, eu devo abrir meu coração em amor, e agir a seu favor. Pode ser em coisas bem pequenas, como um abraço carinhoso, um sorriso amigo, um telefonema numa hora oportuna ou podem ser coisas maiores como investir uma noite ao lado de sua cama de enfermo. Não importa, o amor de Jesus que deu sua vida por mim me levará a dar de minha vida para os meus irmãos. O grande missionário Carlos Studd disse: “Se Jesus Cristo sendo Deus morreu por mim, não haverá, então, sacrifício demasiado grande para eu fazer por Ele”. 2. A glória de Deus Outra motivação cuja importância não pode ser adequadamente enfatizada e a glória de Deus. Jesus ensinou: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Tudo o que fazemos deve ter um propósito maior: A glória de Deus. Podemos ter outros motivos, motivos... ● Errados; ● Egoístas; ● Mesquinhos; ● A busca da fama, glória para nós. Mesmo na realização do serviço de ajuda social podemos ter motivações erradas. Num boletim da Visão Mundial se apresentam motivações erradas para o serviço social: ● Vazio, ou sentimento de culpa; ● Competição com outras igrejas; ● O empreguismo; ● Ativismo impensado; ● Modismo; ● Disponibilidade de verbas; ● Isca evangelística; 17
● Manipulação política; ● Ocupação de espaços ociosos nas igrejas; ● Ideologias, quer políticas, quer religiosas. Jesus só tinha uma motivação em tudo o que fazia: A Glória de Deus. Mesmo diante da cruz a sua oração foi: “Pai glorifica o teu nome” (Jo 12.28). Que seja esta, também, a nossa motivação em tudo o que fizermos. 3. Nossa própria experiência Mas uma outra motivação em fazer o bem para o próximo deve ser a nossa própria experiência. Quando Deus ordenou que o povo de Israel não oprimisse os estrangeiros, a razão que Deus apresentou foi que eles mesmos tinham sido estrangeiros no Egito e, portanto, conheciam o coração do estrangeiro, suas angústias e aflições: “Pois vós conheceis o coração do forasteiro, visto que fostes forasteiros na terra do Egito” (Êx 23:9); “Amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito” (Lv 19.33-34) Deus está dizendo ao povo: ● Vocês se lembram de quando foram estrangeiros no Egito? ● Vocês se lembram das necessidades que tinham? ● Vocês se lembram de suas angústias? ● Vocês se lembram do que queriam que acontecesse com vocês? ● Vocês se lembram de como queriam que os egípcios agissem com vocês? Pois bem: tratem bem os estrangeiros. A lembrança das experiências passadas como estrangeiros no Egito devia lhes dar um coração compassivo para com os estrangeiros. Conosco também deve ser assim. Nós estivemos alguma vez em necessidades e fomos ajudados? Já estivemos em dificuldades e alguém nos estendeu a mão? Pois bem: Esta experiência deve nosmotivar a ajudar aos que estão em necessidades. 4. A responsabilidade que temos Não só as nossas experiências nos devem levar a fazer o bem, mas também a responsabilidade que Deus colocou sobre nós. Deus coloca sobre nós a responsabilidade para com as outras pessoas, a começar com a nossa própria família. Jamais deveríamos ter a atitude 18
de Caim, que quando questionado por Deus ácer de seu irmão Abel deu de ombros e disse: “Não sei, por acaso eu sou o guarda do meu irmão?” (Gn 4.9). Nós somos responsáveis pelas pessoas que Deus nos confia. Somos responsáveis pelo sangue, pela vida, pelas almas das pessoas que Deus coloca em nosso caminho. Deus pedirá contas de nós do que fizemos ou deixamos de fazer para com a nossa família, colegas, vizinhos aos quais deveríamos ter feito o bem, e o maior de todos os bens, compartilhando Jesus. Anos atrás houve um desastre de trem. Dois trens se chocaram. Quando um dos maquinistas foi retirado das ferragens ainda vivo, ele tirou um papel amassado do bolso e disse: “Tomem isto e verão que recebi as ordens erradas”. Diante do tribunal de Cristo não poderemos dizer que recebemos as ordens erradas. O Senhor falou claramente que nós somos responsáveis. 5. A necessidade do irmão. Uma outra poderosa motivação para fazermos o bem é a visão da necessidade do irmão. João disse: “Aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus” (1Jo 3.17). Toda a ação começa com uma visão. O Bom Samaritano viu a pessoa caída e ajudou-a. Jesus “viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se dela porque eram como ovelhas que não tem pastor e passou a ensinar-lhes muitas coisas”. Obras missionárias começaram com a visão das almas perdidas: Hudson Taylor viu os milhões da China. William Carey viu os milhões da Índia. Quantas obras de ajuda e de diaconia começaram também comuma visão. Visão... ● Dos famintos; ● Das crianças desabrigadas; ● Dos leprosos; ● Dos desabrigados; ● Dos refugiados. Certa vez um navio naufragou, no meio de uma tempestade, perto da costa, onde havia uma colônia de pescadores. Muitos náufragos se debatiam nas ondas tempestuosas. Os pescadores vez após vez foram ao mar, com o risco de suas vidas, para salvá-los. Finalmente estavam todos completamente exaustos. Mas um deles lançou o desafio: “Há ainda um homem lá fora no mar, quem irá comigo para 19
salvá-lo?” A mãe do pescador se lançou ao pescoço do filho suplicando: “Meu filho não vá. Seu pai morreu no mar. Seu irmão Guilherme foi ao mar e nunca mais tivemos notícias dele. Você é tudo que me resta. Não vá!” Delicadamente se desvencilhou dos braços da mãe dizendo: Há um homem se afogando. Tenho que ir salvá-lo”, e com mais alguns, se lançou, com o pequeno barco, mais uma vez ao mar. Na praia todos aguardavam cheios de medo e ansiedade. Finalmente, no meio da bruma avistaram o barquinho. Na frente estava o pescador que gritou mais alto que o barulho da tempestade: “Nós o encontramos, nós o salva-mos, e digam para a mamãe que é meu irmão Guilherme”. Quantos de nossos irmãos estão naufragando, se afogando, no mar tempestuoso da vida... ● Pessoas que não conhecem a Deus pessoalmente, ● Que precisam a salvação em Jesus, ● Afundando na falta de sentido de suas existências, ● Na incapacidade de vencerem no meio de seus problemas ● No fracasso de seus lares e suas famílias. Quem irá jogar-lhes a bóia da salvação. Quem lhes irá falar de Jesus, que Ele salva e transforma?
DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO
V. ELEIÇÃO DE DIÁCONOS NAS IGREJA BATISTAS REGULARES. Os diáconos, conforme lemos em At 6.1-7, foram escolhidos dentre os cristãos de Jerusalém para auxiliar os apóstolos, ocupando-se da beneficência e das questões administrativas. Nas igrejas batistas, são eles os oficiais que assistem o pastor, liberando-o para ocuparse primeiramente da palavra e da oração.São escolhidos pela igreja, observando-se as recomendações do apóstolo Paulo a Timóteo (1Tm 3.8-10). A eleição de diáconos e um ato da igreja local, cabendo a esta determinar a quantidade de oficiais e o período para o exercício da função, podendo submetê-los a um período probatório. O diaconato pode ser entendido como uma função com prazo determinado ou enquanto bem servir. Deve-se observar que, quando um diácono se transfere de igreja, automaticamente está abrindo mão de sua função na igreja de origem, devendo ser recebido apenas como membro. A igreja é responsável pelo exame do testemunho, do conhecimento doutrinário e da aptidão para o diaconato. A celebração ou não de um culto solene é facultativa. 20
● Observação: Mesmo que uma seja consagrada ao ministério por uma outra igreja caberá a igreja local, criar algum meio para examinar e verificar os requisitos de 1Tm.3; vida desse pastor. Por isso, a mesma coisa deve ser feita quanto ao diácono. É a igreja que deve reconhecer como diácono ou não. Não é uma transferência automática de uma igreja para outra., mesmo que ele tenha sido batizado e até assumido cargos em sua ex igreja O processo de eleição dos Diáconos nas igrejas Batistas Regulares: A duas formas de eleição? 1. Outras igrejas Batistas Regulares, não há indicações , os nomes são escolhidos diretamente pela congregação. Atos 6.5 silencia, mas é mais provável que este tenha sido o procedimento. No entanto, uma igreja imatura, através de infidelidade ou politicagem, pode eleger pessoa que não aceita a indicação ou dos quais a liderança, ou outro Membro, com muito amor e fraqueza tenha que trazer objeções quanto às suas habilidades, criando constrangimentos. 2. Em outras igreja Batistas Regulares, têm as indicações feitas por comissão e complementadas na comissão. Há um equilíbrio entre a praticidade a comissão, com muitas orações e cuidados, faz uma relação dos nomes que têm os pré-requisitos bíblicos de ( Atos 6 e 1Tm 3. ) a comissão sonda se esses irmãos e se aceitarão as suas indicações ao cargos.
V. Qualificações Bíblicas exigidas Os diáconos servem a Igreja como, na verdade são, servos de Cristo. 1. Ter Boa Reputação ( Atos 6.3), é o terceiro requisito para o ofício de diácono na Igreja do Senhor. O diácono precisa ter o reconhecimento público de uma vida digna. (Vide comparativamente: At 10.22; 1ª Tm 5.10; Hb 11.2, 4). DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO. “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço.” 2. Ser Cheio do Espírito Santo (At 6.3). Os diáconos precisam ser cheios do Espírito (como todos os verdadeiros crente, conforme a recomendação de Efésios 5.18), para poderem, de modo especial, desempenhar as suas atividades dignamente, demonstrando amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio, que são partes integrantes do fruto do Espírito (Gl 5.22,23).
21
3. Ser Cheio de Sabedoria (At 6.3). Esta sabedoria tem pouco ou nada a ver comconhecimento cultural ou científico. Os diáconos precisam ter a sabedoria concedida peloEspírito Santo, para saberem como resolver os problemas existentes e outros que, certamente, ainda vão surgir. “Se alguém necessita de sabedoria, peça a Deus que a todos dá liberalmente. Peça-a, porem, com fé...” (Tg 1.5, 6). 4. Ser Respeitável (ITm 3.8). O diácono precisa ter honestidade, dignidade e seriedade (1ª Tm 3.8,11; Tt 2.2; Fp 4.8), para conquistar respeitabilidade, para ser respeitável. Deve ter um procedimento sério, digno de todo respeito e admiração, como resultado da submissão a Deus dos seus sentimentos e pensamentos. 5. Ter Uma Só Palavra (I Tm 3.8). O diácono deve ser de uma só palavra (1ª Tm 3.8). A idéia é de que não devem ter “duas palavras”. Tal expressão pode ser entendida de três formas não excludentes: a) O diácono não deve ser um difamador, levando e trazendo casos dos lares que visita (não deve ser mexeriqueiro); b) Não deve ser alguém que pense uma coisa e diga outra; c) não deve ser alguém que diz uma coisa para uma pessoa e algo diferente para outra, falando conforme o interesse do seu interlocutor. 6. Não Ser Inclinado a Muito Vinho (I Tm 3.8). Essa orientação de Paulo indica o perigo da embriaguez, ao que parece, existente mesmo entre os crentes (I Co 11.21). Sobre o diácono pesava grande responsabilidade. Ele teria acesso aos lares, tomaria conhecimento dos problemas íntimos e, também teria de administrar os bens da Igreja dedicados aos necessitados. Tudo isso requer sobriedade. Eu creio que a abstinência total seja recomendável (Rm 14.21; I Ts 5.22). 7. Não Cobiçosos de Sórdida Ganância (I Tm 3.8). Isto é, alguém que lucra desonestamente, adaptando, modificando os ensinamentos aos interesses de seus ouvintes a fim de ganhar dinheiro deles. Não nos esqueçamos do princípio bíblico expresso em textos como I Tm 6.10; Tt 1.10, 11; Ec 5.10; Sl 62.10. 8 . Deve Conservar o Ministério da Fé com a Consciência Limpa (I Tm 3.9). Paulo ensina que os diáconos devem ser bem instruídos no mistério da fé; porque, embora não desempenhem o ofício docente, exercem um ofício público na 22
Igreja e sempre ministram conselhos a outros; o que precisam fazer bem, com a consciência limpa, por terem orientado e aconselhado de acordo com a palavra do Senhor. 9. Sejam Primeiramente Experimentados (I Tm 3.10). O vocábulo empregado aqui dá a idéia de provar, examinar. Esta palavra era aplicada para se referir ao teste dos metais preciosos, para avaliar a sua qualidade, ressaltando o aspecto positivo de “provar” para “aprovar”, indicando a genuinidade do que foi testado ou provado. Sobre este assunto, Calvino, em sua obra As Pastorais, faz o seguinte comentário: “Numa palavra, a designação de diáconos não deve consistir de escolha precipitada de alguém que se encontra à mão, senão que a escolha deve ter por base homens que se recomendem por sua anterior maneira de viver, de tal forma que, depois de serem submetidos à um interrogatório, sejam investigados profundamente, antes que sejam declarados aptos.” A conduta do diácono deve ser tão boa que ninguém tenha de que oacusar; seja irrepreensível. Este reconhecimento deve ser por parte da Igreja e dos “de fora”. (Vd. I Tm 3.7).
VI. A Família do Diácono DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO.
1. Sua esposa também deve ser piedosa Esse requerimento é apresentado em 1 Timóteo 3:11-12 (ARA): "Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa."Três perguntas se levantam à medida que estudamos esses versículos que falam sobre a situação familiar do diácono. ● Primeiro, os diáconos devem ser casados e terem filhos? ● Segundo, que tipo de esposas eles devem ter? ● Terceiro, o que é requerido deles com respeito a como governam em seus lares?Qual é o ponto real do requerimento que o diácono deve ser "marido de uma só mulher?" Homens solteiros podem servir nesse ofício? Caso sua esposa morra, pode um diácono se 23
casar novamente?A ênfase desse requerimento cai sobre a palavra "só." Esse é o ponto que Espírito está enfatizando para a igreja: "O diácono seja marido de uma só mulher." Que essa palavra recebe a ênfase é claro a partir da ordem das palavras da sentença no original grego: "O diácono seja de uma só mulher marido." "Só" vem primeiro. A ênfase não é primariamente sobre o diácono ser casado ou não, mas sobre o número de esposas que tem. Se a ênfase fosse sobre ele ser casado ou não, a palavra "só" não seria necessária. "O diácono seja marido de uma mulher," ou de maneira mais simplificada, "o diácono seja casado," seria suficiente. Mas o Espírito Santo adicionou a palavra "uma," e a colocou num lugar enfático na sentença.
2. Por que esse requerimento é necessário? Historicamente, é bem possível que esse requerimento era necessário por causa da poligamia na igreja primitiva. E devemos lembrar que poligamia não é uma coisa do passado, inofensiva à igreja de Jesus Cristo! O novo casamento de pessoas divorciadas, enquanto seu ex-cônjuge – e único cônjuge legítimo aos olhos de Deus – está vivo é uma forma moderna de poligamia. Nenhum homem divorciado e casado novamente, cuja esposa ainda vive, pode servir no ofício de diácono. De fato, não deveria nem mesmo ser membro da igreja.Além do mais, essa qualificação é necessária porque ressalta um princípio positivo sobre os casamentos cristãos em geral, e o casamento de um diácono em particular: nossos casamentos devem ser caracterizados por estabilidade e fidelidade. Ao requerer que os diáconos sejam maridos de uma mulher, Deus não requer meramente o óbvio, que haja um relacionamento legal de casamento entre um diácono e sua esposa. Antes, Deus enfatiza que o diácono, o marido, deve ser o homem de uma mulher, fiel à sua esposa em tudo. Ele deve ser um marido piedoso, amando sua esposa com o amor altruísta e imutável que Cristo tem por sua igreja.Outros que têm estudado essa passagem chegaram à mesma conclusão, que a ênfase cai sobre o amor e a devoção de um diácono à sua esposa. James Barnett escreve: "… o melhor entendimento dessa passagem é que o requerimento é um de fidelidade à sua esposa… O bispo ou diácono deve ter um casamento estável e harmonioso, que dará certeza que ele realizará o serviço pastoral desse ofício com dignidade e eficiência."2 O Pr.. George Lubbers, explicando a mesma frase como aplicada aos presbíteros (1Tm. 3:2), escreve: "A ênfase cai sobre a qualidade do homem e não 24
muito sobre o número de esposas que ele tem. Ele deve ser um homem estritamente leal à sua única esposa; não deve ser um galanteador. Nesse respeito, deve ser de integridade inquestionável. Não é suficiente que tenha apenas uma esposa; nenhuma menção perversa deve ser feita dele, e os homens não devem sussurrar sobre ele."3Entendendo a ênfase apropriada do texto, podemos fazer várias observações.Primeiro, o Espírito Santo não pretende proibir um homem solteiro de ter o ofício. O ponto do texto não é requerer que ele seja casado, mas que seja certo tipo de homem quando for casado. Talvez seja preferívelque os diáconos sejam casados; certamente é preferível que a maioria dos diáconos numa congregação seja casada. O casamento dá a um homem oportunidades específicas para crescer em paciência, compaixão e entendimento da natureza humana (especialmente da sua; aprendi algumas coisas nos últimos quatro anos!). É muito possível que o diácono casado que deve visitar uma família que pediu benevolência teria um melhor entendimento do que uma família precisa para viver, e seria mais capaz de ver quais sacrifícios financeiros essa família particular em necessidade já está fazendo, do que um diácono solteiro. Contudo, o Espírito não requer que todo diácono seja casado. Compaixão, paciência e discernimento são dons que Deus dá também a alguns homens solteiros em sua igreja.Segundo, o que já foi dito se aplica também àqueles diáconos que são casados, mas a quem Deus não deu filhos. O texto refere-se aos filhos dos diáconos: "governe bem seus filhos e a própria casa". Mas uma vez mais, isso não significa que um homem que não tenha filhos não esteja qualificado para o ofício. Antes, significa que se um homem tem filhos, e não os governa bem, ele não está qualificado para o ofício. Assim como a ênfase da frase "marido de uma só mulher" cai sobre a qualidade do seu casamento, assim a ênfase aqui cai sobre a qualidade de seu relacionamento com seus filhos, não sobre se tem ou não filhos. A isso retornaremos em breve.Terceiro, o texto não proíbe que um diácono cuja esposa tenha morrido se case novamente. Alguém poderia chorar ao ouvir que não somente existem igrejas que colocam essa restrição sobre os diáconos, mas que até mesmo versões da Bíblia traduzem assim o texto. A The New Revised Standard Version, por exemplo, traduz o texto dessa forma errônea: "casado apenas uma vez". Em nenhum lugar a Escritura proíbe o novo casamento de uma pessoa na igreja cujo cônjuge tenha morrido. De fato, ela dá explicitamente liberdade para assim o fazer: "A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo em que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre 25
para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor" (I Co. 7:39).E finalmente, embora tenhamos notado que o texto não requer que um diácono seja casado, é triste também que algumas igrejas proíbam pessoas casadas (mesmo uma única vez) de ser diáconos, ou que se casem uma vez que estejam no ofício. Roma, sabemos, faz tais restrições. E essas restrições têm sua origem nas decisões de concílios da igreja primitiva. O Concílio de Elvira (aproximadamente 305 d.C., perto de Granada, Espanha) ordenou: "Determinou-se unanimemente estabelecer a proibição de que os bispos, os sacerdotes e os diáconos, isto é, todos os clérigos constituídos no ministério, se abstenham de esposas, e não gerem filhos: e, aquele, quem for que seja, que o tenha feito seja declarado decaído da honra da clericatura."4 Mesmo que I Timóteo 3:11-12, propriamente entendido, não requeira que os diáconos sejam casados, certamente a passagem permite isso, e até mesmo assume que eles casarão. Proibir que os oficiais sejam casados é colocar sobre eles um fardo que Cristo não colocaria. Tais regras de proibição são regras de homens, 5 não de Deus, e indica que tais igrejas não fazem da Palavra de Deus sua autoridade para o governo da igreja.
3. As esposas de diáconos casados devem ter certas marcas espirituais.6 O versículo 11aprsentas quais são essas marcas espirituais: ● Primeiro Marca , deve ser honesta. Essa palavra é usada também com referência ao diácono no versículo 8, como explicamos em nosso último artigo. Ela deve ser séria e digna; sua conduta e atitudes devem trazer sobre ela o respeito dos outros. ● Segundo Marca , ela não deve ser maldizente. A palavra é literalmente "diabólica" – uma palavra freqüentemente usada para se referir a Satanás e seus métodos enganadores. Ela diz respeito a todos os pecados da língua, todos os pecados contra o nono mandamento. Que as esposas dos diáconos não falem mal dos outros, nem acusem falsamente, imprudentemente, ou sem conhecimento; que não vivam de fofocas, mentiras e nem espalhem rumores. Positivamente, que elas falem a verdade sempre em amor, e visando a edificação. Se não puderem falar em amor, que fiquem quietas! 26
● Terceiro Marca, ela deve ser sóbria, isto é, temperante. Não somente com respeito ao vinho, mas a todos os bens e prazeres terrenos, ela deve ser autocontrolada, não dada ao excesso. Os prazeres e desejos espirituais devem encher sua alma, e as atividades espirituais devem tomar o seu tempo. Quarto Marca: Lugar, ela deve ser fiel em tudo. Deve ser uma pessoa confiável, responsável, devotada à causa do reino de Deus e ao seu serviço.Por que Deus faz esses requerimentos de uma esposa de diácono? Por que, à luz do fato que ela não possui ofício na igreja? E por que o capítulo não dá nenhum dos tais requerimentos para a esposa de um diácono?As esposas dos diácono também devem ser mulheres piedosas. Para um presbítero, diácono, ou pastor ter tal esposa seria uma evidência de sua própria piedade. Ele procurou pelo tipo correto de esposa! Sua preocupação foi casar no Senhor! A piedade de sua esposa é também evidência que seu marido trabalha para edificar crentes na fé e piedade, começando em sua própria casa com sua esposa.Mas há uma razão mais fundamental pela qual as esposas dos diáconos devem ser tais mulheres, e porque o requerimento não é feito explicitamente quanto às esposas dos presbíteros. A obra e autoridade do diácono se estendem além do reunir e distribuir caridades; inclui também a manifestação prática de misericórdia para com os enfermos, idosos, e outros em necessidade especial. Alguns dos neófitos podem ser mulheres idosas ou inválidas que precisam de ajuda com seu cuidado especial. A obra de cuidar de tais mulheres é propriamente a obra dos diáconos, pois é uma obra de misericórdia. Mas seria muito inapropriado um homem ajudar a uma mulher inválida. Em tal caso, as esposas dos diáconos podem ajudar oportunamente os seus maridos. Assim, as esposas deles devem satisfazer certos requerimentos.O caso é diferente com os presbíteros, cuja obra é ensinar e governar. A esposa de nenhum presbítero pode ajudá-lo a fazer essa obra. Deus proíbe que a mulher ensine ou governe na igreja. E nenhum presbítero pode pedir para que sua esposa faça uma chamada disciplinar no seu lugar – mesmo a uma mulher! Assim, os requerimentos não são dados para as esposas dos presbíteros.Talvez os diáconos inscreverão a ajuda de outras na congregação para atender às necessidades físicas dos doentes e inválidos – seja arrumando transporte até o escritório do médico, conseguindo mantimentos, etc. Então o princípio do versículo 11 se aplica a essas ajudantes também – que sejam exemplares em sua piedade!Um dia, se Deus quiser, após termos lidado com outros 27
aspectos do ofício e obra dos diáconos, retornaremos a examinar em maiores detalhes essa idéia das ajudantes dos diáconos, ou "diaconisas" num sentido apropriado.
VII. Ministério Feminino nas igrejas locais: DIACONOS: SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO. uma abordagem dos principais textos bíblicos sobre o papel das mulheres nas igrejas. Introdução Qual é o papel da mulher nas igrejas locais? Será que elas podem assumir ministérios como pastoras, presbíteras, diaconisas, professoras? Quais ministérios as mulheres podem exercer no Corpo de Cristo? Há restrições ao ministério de mulheres nas igrejas? Nossas respostas a estas perguntas vão depender, essencialmente, de nossa forma de interpretar a Bíblia, ou seja, dependem de nossa hermenêutica e de nossa fidelidade ao que a Bíblia diz. Há pessoas que dizem que das circunstâncias específicas nas quais escritor
e
destinatários
estavam
envolvidos
não
podemos
tirar
princípios
permanentes, ou seja, aplicáveis para a igreja do século XXI. Se interpretarmos a Bíblia assim, qualquer assunto poderá ser descartado, até mesmo a ordem de se fazer discípulos de Mt 28.18-20. Portanto, neste trabalho vamos considerar atentamente o que certas passagens bíblicas chaves acerca do ministério feminino podem nos ensinar. De início, podemos considerar duas categorias sobre quais são os ministérios apoiados teologicamente para as mulheres. De um lado temos o chamado movimento feminista evangélico, também denominado “igualitaristas”. Do outro lado temos os “diferencialistas” ou “complementaristas”. Em resumo o que cada um destes grupos defendem? Os “igualitaristas” dizem que não há “diferença alguma entre o papel do homem e o papel da mulher. Dizem que, de fato, é injusto e discriminatório sustentar tais diferenças”.1 Dizem também que “Deus originalmente criou o homem e a mulher iguais; a subordinação feminina foi parte do castigo divino por causa da Queda, com conseqüentes reflexos sócio-culturais”.2 1 2
PIPER, John; GRUDEM, Wayne, compiladores.Homem e mulher: seu papel bíblico no lar, na igreja e na sociedade. p. 5 LOPES, Augustus Nicodemos. Ordenação de mulheres: Que diz o Novo Testamento? p. 5
28
“Os diferencialistas, por sua vez, entendem que desde a Criação – e portanto, antes da Queda – Deus estabeleceu papéis distintos para o homem e a mulher”.3 Neste trabalho vamos argumentar em favor da posição diferencialista, usando como base textos chaves desta questão. Vamos também considerar os argumentos levantados pelos igualitaristas, mas desde já, podemos dizer que as suas principais argumentações estão baseadas no próprio avanço da participação das mulheres nas sociedades modernas, ou seja, os argumentos são mais culturais do
que
exegéticos,
conseqüentemente
demonstram
certas
dificuldades
de
interpretação das Escrituras. 1. Gênesis 1.26-28; 2.18-25 “Homem e mulher os criou” – O texto é bastante claro e enfatiza que na criação Deus criou o homem e a mulher de forma distinta. Em Gênesis 2 fica claro também que Deus criou o homem para liderar e a mulher para auxilia-lo. Estas são marcas da masculinidade e da feminilidade antes da queda e não tem nada a ver com questão de quem tem mais valor e quem tem menos valor perante Deus. O termo usado se referindo a mulher: “ajudadora” é o mesmo usado em relação a Deus em outras passagens, ou seja, o Antigo Testamento retrata Deus como nosso Ajudador. Isto “prova que o papel de ajudador é um papel glorioso, digno até mesmo do Todo-Poderoso” 4 e nada tem a ver com desvalorização ou inferioridade. Realmente há abusos de dominação por parte de alguns homens, mas não é isto o que a Bíblia ensina. A Bíblia ensina que a liderança masculina deve ser gentil e amorosa, deve respeitar e considerar de forma significativa a sua auxiliadora, que como ele foi criada a imagem e semelhança de Deus. 2. Gênesis 3.16-17 A sentença com relação à mulher: 1. Dor do parto - “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez” – Deus determinou que a mulher sofreria em relação aos seus filhos. A punição não foi o parto em si, mas a dor multiplicada. 3 4
Id. PIPER, John; GRUDEM, Wayne. p. 42
29
2. Relação com o marido - “o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará”. – “Por ter usurpado a liderança do marido, na tentação, Deus a entrega à miséria da competição com aquele que, por direito, é seu líder. Isto é justiça, uma resposta na proporção do seu pecado”.5 Seja qual for o sentido desta sentença para a mulher, o certo é que antes mesmo da queda o homem já havia sido colocado na posição de líder sobre a mulher. A sentença com relação ao homem: Deus diz que Adão pecou não somente por ter comido o fruto, mas também por ter abandonado sua liderança. “E a Adão disse: Visto que atendeste a voz da mulher...”. Deus se dirigiu assim ao homem evidenciando que Adão era o líder naquela relação. 3. Romanos 16.7 Este versículo tem sido usado pelos defensores da ordenação de mulheres devido a citação de Júnias como possivelmente uma “apóstola”. Mas será que é isto mesmo que o texto diz? Vejamos três questões a respeito deste texto: 1. O nome “Júnias” – “Júnias” é um nome feminino ou masculino? As pesquisas sobre este nome são inconclusivas. O que podemos afirmar é que o nome foi usado tanto para homem quanto para mulher e que há mais evidências para defendermos que era um nome masculino. Outros nomes masculinos também têm a mesma terminação: André (Andreas); Elias e Zacarias. 2. A expressão “são notáveis entre os apóstolos” – Esta expressão gramaticalmente pode ser entendida de duas formas diferentes: Primeiro que Andrônico
e
Júnias
eram
apóstolos
de
destaque,
apóstolos
de
grande
reconhecimento; a segunda interpretação é a que diz que Andrônico e Júnias eram pessoas de grande apreço aos olhos dos apóstolos, ou seja, os apóstolos os tinham como notáveis. Sendo assim, mesmo que “Júnias” fosse realmente uma mulher, ela poderia estar sendo identificada como outras mulheres foram chamadas de ajudadoras de Paulo (Fp 4.2-3 – Evódia e Síntique; Rm 16). 3. O termo “apóstolos” – Temos que lembrar que o termo foi usado para identificar os doze chamados por Jesus, mas também para alguns homens associados a estes doze como Barnabé e Silas (At 14.14;). Porém o termo em si – 5
Id. p. 47
30
não técnico - significa “enviado”, “mensageiro”, “representante”, sentido usado em Fp 2.25 em relação a Epafrodito e também em 2 Co 8.23 a outras pessoas. Logo, é possível que Andrônico e Júnias estejam sendo citados como mensageiros e não como apóstolos propriamente ditos. Como vimos, Romanos 16.7 não tem base suficiente para defender a ordenação de mulheres ao ministério. 4. Gálatas 3.28 O versículo não diz que todos são iguais como dizem os feministas. O versículo diz que todos são um em Cristo, portanto são duas coisas diferentes. Basta respeitarmos o contexto para interpretarmos corretamente a passagem. Paulo escreveu a Epístola aos Gálatas tratando da doutrina da justificação pela fé. No capítulo três precisamente Paulo fala sobre a lei de Moisés que teve a função de aio e destaca no versículo 28 que todos são um em relação a justificação pela fé. Então, o versículo não está tratando sobre os papéis de homem e mulher, e sim sobre a unidade na justificação em Cristo. A Bíblia é clara em dizer que tanto mulheres quanto homens são participantes da graça de Deus. Ambos são iguais espiritualmente, mas têm papéis diferentes. 5. Atos 2.16-18 Será que este texto fundamenta adequadamente a posição daqueles que defendem a ordenação de mulheres ao ministério pastoral? Certamente não. O texto realmente diz que as mulheres receberiam o Espírito Santo, da mesma forma que os homens. O versículo diz que as mulheres (“vossas filhas profetizarão”) profetizarão, mas não diz que serão pastoras. Se no período do Novo Testamento, logo após o evento do Pentecostes de Atos 2, as mulheres estivessem exercendo os mesmos ministérios que os homens, com base nesta passagem, por que Paulo ao instruir Timóteo e Tito quanto a ordenação de presbíteros não mencionou as mulheres? Por que também usaria expressões claramente se referindo a homens, tais como: “marido de uma só esposa”, “deve governar bem a sua casa e seus filhos”? E também porque nenhuma mulher foi citada em todo o Novo Testamento como pastora?
31
Profetisas no Novo Testamento – O Novo Testamento nos dá a entender que mulheres exerciam o ministério de profecia (At 21.9 e 1 Co 11.5) 6, todavia não há ligação com o ministério da pregação no aspecto pastoral. Profetizar não era apenas uma função dos pastores, sendo assim, quem profetizava não necessariamente era um pastor. Mesmo que as mulheres profetizassem na igreja primitiva, não podemos deixar de mencionar que o ministério exercido por elas não estava em pé de igualdade com os homens. Vamos notar esta diferença especialmente em 1 Co 11.3-15, quando as mulheres tinham que profetizar com a cabeça coberta, demonstrando submissão as lideranças masculinas. Profetisas no Antigo Testamento – Jz 4.4 diz “Débora, profetisa, mulher de Lapidote julgava a Israel naquele tempo”. Débora era uma profetisa no Antigo Testamento, uma juíza, porém não agia da mesma forma que os demais juízes. Nos versículos 6 e 7 vemos que ela recebeu a Palavra do Senhor convocando Baraque para a ação militar. Podemos notar que Débora não tinha a função militar e que ela priorizou um homem. No versículo 8 Baraque diz que só vai a batalha se Débora for também. E no versículo 9, Débora mais uma vez anuncia a Palavra de Deus falando sobre a glória que será de uma mulher, mas não se identificando como esta mulher, pois foi uma referência a Jael (vv. 17-24). Durante toda a conversa com Baraque, Débora não impôs sua liderança sobre ele. Outro destaque que podemos dar é que o versículo 5 diz que Débora atendia os filhos de Israel que iam até ela. Logo, suas instruções eram individuais e não públicas como faziam os profetas do Antigo Testamento. Até a Palavra dada a Baraque foi de forma individual (v. 6) – “Mandou ela chamar a Baraque...”. Em 2 Rs 22.14-20 temos algo bem parecido. Mensageiros de Josias foram até a profetisa Hulda. Mais uma situação de uma profetisa que não agia contra a liderança masculina. O Antigo Testamento também menciona Miriã (Ex 15.20) e a esposa de Isaías (Is 8.3) como profetisas, mas é certo que Israel não teve nenhuma rainha, nem no Reino do Sul, nem no Reino do Norte (Atalia tomou o trono). Profecia e ensino – É importante diferenciarmos “profecia” de “ensino”. Olhando
para
1
Co
14.29-33
nos
parece
que
profecia
era
baseada
em
manifestações voluntárias. Já o ensino é uma explicação, uma exposição das 6
Ana (Lc 2.36-39).
32
verdades bíblicas manifestadas por Deus. Tanto que no Antigo Testamento temos citações de algumas profetisas, mas nenhuma como sacerdote, uma vez que os sacerdotes eram responsáveis pela instrução do povo (Lv 10.11; Ml 2.6-7). 6. Atos 18.2, 24-26 (Rm 16.3; 1Co 16.19; 2 Tm 4.19) Priscila e Áquila “expuseram o caminho de Deus”, com mais exatidão a Apolo. Esta passagem também não serve de base para a ordenação de mulheres ao ministério da Palavra. A simples menção do nome de Priscila antes do nome de seu marido Áquila não serve de fundamento para dizer que Priscila tinha uma função especial de liderança na igreja apostólica. Podemos considerar dois aspectos: Primeiro que o ensino foi dado de forma particular e não pública (“tomaram-no consigo”); segundo, mesmo que Priscila tenha ensinado a Apolo, ela não fez isto sozinha, estava com Áquila, evidenciando um relacionamento de amor. Concluímos que o que Priscila fez não foi ensinar com autoridade publicamente como liderança da igreja. 7. 1 Coríntios 11.2-16 Esta não é uma passagem fácil de interpretar. Os estudiosos da hermenêutica costumam abordar as dificuldades de se recuperar totalmente as questões culturais nas quais os destinatários e os remetentes dos escritos bíblicos estavam inseridos. Roy Zuck aborda este assunto chamando de abismo cultural. Porém, o que podemos notar na passagem de 1 Co 11.2-16 é que era necessário que as mulheres ao orarem ou profetizarem estivessem com a cabeça coberta, isto é, com véu – uma espécie de xale. Parece que de alguma forma, as mulheres em Corinto estavam deixando de usar o véu, que era um sinal de subordinação na cultura da época, isto é, para as igrejas do primeiro século do mundo grego (1 Co 11.16). As mulheres não estavam sendo proibidas de participarem dos cultos, mas sim de não expressarem a subordinação esperada e de expressarem uma independência do marido. “O adorno apropriado mostra que uma mulher é submissa à liderança masculina até mesmo enquanto profetiza”7. No judaísmo do século I e no mundo grego-romano, cobrir a cabeça em público de fato era sinal de submissão da mulher ao marido. Não usar a
7
Id. p. 93
33
cobertura indicava insubordinação ou rebeldia. Há menção disso em 3 Macabeus 36 e nos escritos de Plutarco, estadista romano8.
“No versículo 10 Paulo se refere ao véu como sinal de autoridade. O texto grego original diz literalmente que ‘a mulher deve trazer autoridade sobre a cabeça’. Um paralelo bíblico é o de Gênesis 24.65, quando Rebeca, ao tomar conhecimento de que seria apresentada ao seu futuro marido e senhor, Isaque, tomou o véu e cobriu-se”.9 A hermenêutica é mais uma vez extremamente importante. Nesta passagem podemos encontrar princípios que dependiam da cultura e princípios que eram transculturais. Quais são eles? O uso literal do véu era um costume cultural das igrejas do mundo grego, logo, as mulheres de hoje não precisam usa-lo, porém, o princípio supra cultural (permanente na igreja cristã) é a subordinação das mulheres aos homens. Por que é transcultural? Porque os argumentos de Paulo foram a partir da relação entre as pessoas da Trindade (11.3) e também com a maneira que Deus criou o homem e a mulher (11.8-9), ou seja, duas situações acima de qualquer costume, acima de qualquer questão cultural. Subordinação não é desvalorização. A prova disso é a relação de Deus com Cristo. São co-iguais, mas exercem papéis diferentes. Da mesma forma, o homem não é superior a mulher, e sim, se completam no exercício de papéis distintos. É uma questão de ordem estrutural estabelecida por Deus, o Criador da família e da igreja. Também temos ordens como a de sujeição as autoridades em Romanos 13, nem por isso os crentes são vistos como desvalorizados em relação aos governantes. 8. 1 Coríntios 14.33b-38 O termo usado por Paulo aqui nesta passagem é bem geral: “falar” Este verbo não tem nada de especial para que pudéssemos rapidamente entender o que Paulo quis dizer. Considerando outras passagens bíblicas como 1 Co 11.5 e Ef 5.1819 (“falando entre vós”), podemos deduzir que as mulheres não estavam sendo impedidas de falar totalmente. Então que restrição Paulo faz em 1 Co 14.33b-38? Algumas interpretações têm surgido deste texto. Uma delas é que o apóstolo está proibindo que as 8 9
ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica. 108-109 LOPES, Augustus Nicodemus, p. 31
34
mulheres falem em línguas nos cultos públicos; outra é que as mulheres não devem falar em voz alta; mas o que parece mesmo é que a proibição está mais uma vez relacionada a questão de gênero. “No contexto imediato Paulo fala do julgamento dos profetas no culto (v. 29), o que envolveria certamente questionamentos, e mesmo a correção dos profetas por parte da igreja reunida”.10 Neste caso, não caberia a mulher impor sua opinião sobre a de um homem em um culto público. Não caberia a mulher questionar como parecendo alguém pertencente a liderança pastoral da igreja local. Mais uma vez, é algo só para os coríntios? Parece que não. O verso 33b diz “Como em todas as igrejas dos santos”. Além do mais há uma referência a “lei” no versículo 34, que aparentemente é uma maneira de citar as Escrituras, possivelmente lembrando do princípio da criação em Gênesis. 9. 1 Timóteo 2.11-15 Nesta passagem o apóstolo Paulo “determina que as mulheres crentes de Éfeso aprendam a doutrina cristã em silêncio, submetendo-se à autoridade eclesiástica dos que ensinam – no contexto, homens (v. 11)”.11 Homens em geral, e não no sentido restrito – “marido”. Mais uma vez a argumentação está em torno de Gênesis, quando é citada a ordem na criação (v. 13) e o engano por parte da mulher (v. 14). A ordem da criação para enfatizar a posição de liderança do homem sobre a mulher e o engano por parte de Eva para mostrar o que aconteceu quanto Eva assumiu a posição de Adão. Mesmo os dois tendo pecado, em Rm 5.12-21 Paulo menciona Adão como culpado, lembrando que Deus chamou a ele em Gn 3.9 para prestar contas – “Onde estás?” – “Adão tinha a responsabilidade primária de liderar sua esposa em uma direção que glorificaria a Deus”.12 Por que está citação? No contexto geral da Epístola a Timóteo, Paulo trata os ataques que a igreja em Éfeso estava sofrendo por parte dos falsos mestres. Um destes ataques era contra o casamento – ceticismo como um meio de adquirir espiritualidade (4.13) e várias mulheres estavam sendo enganadas pelos falsos mestres (1 Tm 5.12,15 e 2 Tm 3.6,7). Parece que contra estes ensinos Paulo faz uma correção dizendo “Quero, portanto, que as viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não dêem ao adversário ocasião favorável de 10
Id. p. 43 Id. p. 45 12 PIPER, John; GRUDEM, Wayne. p. 46 11
35
maledicência.” (1 Tm 5.14).
Paulo também valoriza a função de mãe para as
mulheres em 1 Tm 2.15. Agora, o que quer dizer a expressão “será salva”, “será preservada”13? É uma expressão difícil de interpretar, mas não nega a ênfase no principal papel da mulher. Vejamos a explicação de John MacArthur: Paulo, de fato, ensina que, embora a mulher tenha provocado a Queda, as mulheres são preservadas deste estigma por meio da maternidade. Uma mulher levou a humanidade ao pecado, mas outras beneficiam a raça humana renovando-a. Além disso, elas têm a oportunidade de levar a humanidade à piedade por meio de sua influência sobre as crianças. Longe de ser cidadãs de segunda classe, as mulheres têm a responsabilidade primária de criar filhos piedosos14.
Algo interessante é que Paulo expressou seu desejo de que as mulheres aprendessem15. Isto é importante porque era um avanço cultural, já que essa prática não era comum entre os judeus. “O judaísmo do primeiro século não tinha consideração pelas mulheres. Embora não fossem impedidas de entrar na sinagoga, também não eram incentivadas a participar do ensino".16 “Não permito que a mulher ensine” – Não é uma proibição geral. De alguma forma, as profetisas tinham algo a dizer de forma instrutiva à igreja na era apostólica, mas sem exercer autoridade sobre a liderança masculina. Em outras passagens temos mandamentos recíprocos a todos os membros do Corpo de Cristo (Cl 3.16). Em Tt 2.3-5 a um mandamento para que as mulheres mais velhas ensinem17 as mais novas. Em 2 Tm 2.15 e 3.15 temos menção dos ensinos de Eunice e Lóide em favor de Timóteo. Então, fica claro para nós que a proibição não era geral, mas sim de alguma forma específica. Pelo contexto, a proibição é do ensino em posição de autoridade. Lembrando que o verbo “ensinar” nas Epístolas Pastorais tem o sentido de instrução autoritativa, ou seja, um sentido mais restrito que denota a cuidadosa transmissão da verdade, função exercida apenas pelos pastores (1 Tm 4.11, 5.17, 6.2). Sendo assim, podemos concluir que a proibição é que a mulher não seja ordenada ao ministério pastoral e que não se envolva com o que chamamos de “pregação”.
Palavra derivada do verso - salvo, liberto, preservo, livro, curo. MacARTHUR JR., John. Homens e mulheres: a intimidade espiritual no casamento. p. 157 15 Forma imperativa de – da mesma raiz de: discípulo, aprendiz. 16 Id. p. 147 17 O termo usado por Paulo em Tt 2.4 não é a mesma palavra para “ensino” em outras passagens das pastorais. É que significa avisar, incentivar ou instar. 13 14
36
10. Romanos 16.1-2 Aqui temos a menção do nome de Febe. Esta mulher é citada como “diaconisa”? O interessante é que o termo “diakonos” usado nesta passagem é um termo genérico, é o mesmo termo usado em Fp 1.1 e 1 Tm 3.8. Portanto, Paulo se refere a Febe como “diácono” e não como “diaconisa”. Literalmente o texto diz: “Recomendo a vós Febe a nossa irmã, sendo diácono da igreja em Cencréia”. Algumas pessoas acham que Paulo também identifica Febe como líder no versículo 2, dizendo que o vocábulo traduzido como “protetora” pode ser traduzido também como “líder”. Mas isto não é verdade. O termo pode sim ser traduzido como “ajudadora, protetora”. Além do mais será que Paulo realmente estaria dizendo que Febe tinha uma posição de autoridade sobre ele mesmo? Não é o que texto quer dizer. O termo “diakonos” também tem seu uso não-técnico, ou seja, esta palavra pode se referir ao oficial auxiliar, especialmente de serviços práticos em prol das necessidades congregacionais, mas também a qualquer pessoa que sirva na obra de Deus (o próprio Paulo e Apolo – 1 Co 3.5; Tíquico - Ef 6.21). Logo, o apóstolo Paulo pode estar se referindo a Febe como uma serva de Deus e não como uma mulher diácono (“diaconisa”). “Assim, temos aqui a indicação de uma mulher que servia a uma comunidade cristã como cooperadora do evangelho, uma auxiliadora de muitos, inclusive do próprio apóstolo, sob a liderança específica da igreja”.18 11. (1 Timóteo 3.11 ) Não se pode negar que este versículo está no meio das descrições exigidas dos diáconos (8-10 e 12-13). A pergunta é: trata-se de “diaconisas” ou das mulheres dos diáconos? E mesmo que seja uma abordagem sobre as “diaconisas” parece ser fundamental que elas sejam as esposas dos diáconos. Enfim, o que é de mais relevância é entender que o ofício de diácono não tem a função de liderar ou governar a igreja local, tanto que ser apto para ensinar e governar a igreja não fazem parte da responsabilidade dos diáconos (1 Tm 3.2,5; Tt 1.9; At 20.28). Este ofício está relacionado ao auxílio pastoral, sendo assim o texto bíblico não dá base para a ordenação de mulheres para o ministério pastoral. Considerações finais: 18
AMARAL, Wagner Lima. Ministério pastoral feminino. p. 11
37
Para
concluir
vale
a
pena
mencionar
uma
argumentação
dos
“igualitaristas” que dizem que muitas mulheres têm sido usadas por Deus para abençoar e edificar outros por meio de seus ensinos e pregações. Este é um argumento muito subjetivo, mas podemos dizer que nenhum resultado justifica a prática utilizada. A Bíblia apresenta limitações de ministério para as mulheres, mas há muitas outras áreas nas quais elas podem e devem atuar, visando a glória de Deus19: Semelhante a Priscila, as mulheres podem acompanhar seus maridos, visando edificar vidas (At 18.26). Semelhante a Priscila, as mulheres devem estudar a Palavra de Deus (At 18.26; 1 Tm 2.11). Semelhante a Febe, as mulheres podem trabalhar em benefício da obra de Deus e de seus obreiros (Rm 16.1-2). Semelhante a Dorcas, as mulheres podem exercer ministérios notáveis de trabalhos sociais (At 9.36-43, esp. 36). As mulheres podem apoiar e acompanhar seus esposos diáconos (1 Tm 3.11). As mulheres podem ensinar outras mulheres e praticarem seus dons nesta área (Tt 2.3-5). As mulheres podem evangelizar qualquer pessoa (Sl 68.11; Jo 4.39; não estará exercendo autoridade pública sobre os homens – 1 Tm 2.11-15). As mulheres podem exercer ministérios de oração (At1.13-14) As mulheres podem exercer ministérios em relação as crianças (Lóide e Eunice em relação a Timóteo – 1 Tm 1.5; 3.15). As mulheres têm como uma das mais significativas funções os ministérios de mãe (Pv 1.8; 31.26) e esposa (Pv 31.10-31; 1 Tm 5.14). As mulheres podem exercer funções administrativas e de direção de cultos (dependendo da forma da estrutura da igreja e de como estas funções são realizadas). Esta não é uma lista exaustiva, mas apenas uma tentativa de mostrar como são vastas as opções para a atuação das mulheres nas igrejas locais.
19
As mulheres na igreja primitiva: At 1.14; 12.12,13; 1 Co 11.5, 14.34; 1 Tm 2.11; Mc 15.46,47; 16.1-6; Lc 23.27,28,49, 55, 56; 24.1-10.
38
CONCLUSÃO A diaconia (ato de servir) é o estilo de vida do cristão. Sendo servidos pelo Senhor, servimos às pessoas realizando aquelas obras que Deus preparou para nós e que são a nossa responsabilidade pessoal. Lembre-se sempre de que ser diácono é ser servo, servidor e ministro de Deus.
Marcos 10.4 5 Pois o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir.
39
Referências bibliográficas AMARAL, Wagner Lima. Ministério pastoral feminino: uma avaliação de sua razão e de sua autenticidade. São Paulo. DUSILEK, Sérgio Ricardo Gonçalves. Débora, uma “pastora” no Antigo Testamento. In: Revista Mulher cristã hoje. Ano 10. n. 4. 1999. p. 12-13. LOPES, Augustus Nicodemos. Ordenação de mulheres: que diz o Novo Testamento? São Paulo: PES, 1997. MacARTHUR JR., John. Homens e mulheres: a intimidade espiritual no casamento. Tradução de Josué Ribeiro. Rio de Janeiro: Textus, 2001. Título original: Different by design.
40
PIPER, John; GRUDEM, Wayne, compiladores. Homem e mulher: seu papel bíblico no lar, na igreja e na sociedade. São José dos Campos: Fiel, 1996. Título original: Recovering biblical manhood and womanhood. STOTT, John. A mensagem de I Timóteo e Tito: a vida da igreja local: a doutrina e o dever. Tradução de Milton Azevedo Andrade. São Paulo: ABU, 2004. Título original: The message of 1 Timothy and Titus. ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. Tradução de César de F. A. Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1997. Título original: Basic Bible interpretation.
41