Marcia Regina Zemella Luccas
Libras
Revisada por Marcia Regina Zemella Luccas (maio/2012)
APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Libras, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidisciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail . Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suplemento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
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1 MOVIMENTO HISTÓRICO HISTÓRICO DA LÍNGUA DE SINAIS .......... ..................... ...................... ...................... ...................... ............... .... 7 1.1 Resumo do Capítulo .......................................................................................................................................................9 1.2 Atividade Proposta..........................................................................................................................................................9 Proposta..........................................................................................................................................................9
2 UM POUCO DA HISTÓRIA DOS SURDOS .......... ..................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...........11 11 2.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................18 2.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................19
3 AS TENDÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS........... ...................... ...................... ...................... ...................... ................ ..... 21 3.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................26 3.2 Atividade Proposta.......................................................................................................................................................26 Proposta.......................................................................................................................................................26
4 LÍNGUA E LINGUAGEM
................................ ..................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... .................. ....... 27 4.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................30 4.2 Atividade Proposta.......................................................................................................................................................30 Proposta.......................................................................................................................................................30
5 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) .......... ..................... ...................... ...................... ...................... ...................... .................... .........31 31 5.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................35 5.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................35
6 A LIBRAS E SUA GRAMÁTICA
................................. ..................... ....................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... .............. ... 37 6.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................39 6.2 Atividade Proposta.......................................................................................................................................................40 Proposta.......................................................................................................................................................40
7 ESTRUTURA LINGUÍSTICA DA LIBRAS ........... ...................... ...................... ....................... ....................... ...................... ...................... .............. ... 41 7.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................52 7.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................52
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
..................... .......... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ............... 53
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ............ ....................... ...................... .............. ... 55 REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Esta apostila busca apresentar a você, aluno(a) do curso de graduação em Pedagogia e Licenciaturas da Unisa, na modalidade a distância, os fundamentos da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Nesta disciplina, temos como objetivos: refletir acerca das diferenças entre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e o Português; entender a importância da Língua Brasileira de Sinais para os surdos; conhecer e respeitar a diferença linguística entre surdos e ouvintes; e capacitar futuros educadores na Libras. Discutiremos aspectos fundamentais sobre língua e linguagem, a diferença entre as línguas orais-auditivas e visuais-espaciais, a estruturação da língua, assim como aspectos diferenciados da gramática da Libras. Desenvolveremos a competência e habilidade de percepção visual e observação, aprendendo a diferenciar a estrutura linguística das línguas orais e a de sinais, e percebendo as características dos sinais a partir dos seus parâmetros. Iremos estudar, também, o alfabeto datilológico, a composição dos sinais e sua legitimidade enquanto língua. Lembramos que o conteúdo apresentado é introdutório e que, portanto, ninguém, ao término deste curso, terá proficiência em Libras, mas o foco desta disciplina é propor questionamentos e apontar possibilidades de trabalho com alunos surdos, em relação à sua língua materna. Não há respostas prontas em relação à língua, mas temos a certeza de que cada conteúdo aqui discutido irá beneficiar a sua reflexão e o trabalho com seu(sua) aluno(a). Bem-vindo ao mundo das línguas visuais. Bom trabalho! Profa. Marcia Regina Zemella Luccas
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MOVIMENTO HISTÓRICO DA LÍNGUA DE SINAIS
Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceitei a pessoa... Quando eu rejeito a língua, eu rejeito a pessoa, porque a língua é parte de nós mesmos... Quando eu aceito a língua de Sinais, eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente que o surdo tem o direito de ser surdo. Nós não devemos mudá-los, ensiná-los, ajudá-los, mas temos que permitir-lhes permitir-lhes ser surdo.
Anônimo
Caro(a) aluno(a), escrever sobre a história da Libras e do movimento que ocorreu no Brasil é uma tarefa árdua, pois, quando falamos sobre esse assunto, não estamos falando somente de um modo de comunicação, mas de uma concepção de sujeitos e nos referindo à possibilidade de respeito a essa população surda, que, muitas vezes, é invisível (MONTEIRO, 2006). É importante salientar que é bastante difícil conhecer o número de deficientes auditivos e surdos existentes no Brasil, pois, quando é realizado o censo populacional, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela pesquisa, tem dificuldades para especificar este número, uma vez que a pesquisa solicita o número geral de “pessoas portadoras de deficiências”, cias”, não especificando a questão da surdez. Alguns autores, entre eles Monteiro (2006), apontam que, apesar de todas as dificuldades, dados recentes do IBGE estimam que o número total de surdos brasileiros seja de 5,7 milhões (divididos em: surdos profundos e deficientes auditivos). Esses dados também apontam que, no Estado de São Paulo, há 480.000 e que, na capital paulista, esse número é de 150.000 surdos e deficientes auditivos.
Saiba mais Podemos entender a deficiência auditiva quando há uma diminuição da audição, que produz uma redução na percepção de sons e dificulta a compreensão das palavras. palavras. A dificuldade aumenta com o grau de perda. O deficiente auditivo é aquele que, com a utilização de uma prótese auditiva (aparelho de amplificação sonora), poderá reconhecer os sons do meio ambiente, inclusive os sons da fala. A surdez pode ser caracterizada pela impossibilidade de se ouvir, mesmo com a utilização de próteses. próteses.
Podemos observar pelos dados citados que o número de pessoas surdas é gigantesco. Entendemos, então, que a Lei nº 10.436/02 (BRASIL, 2002), que institui a Libras, é importante não só para que se reconheça uma língua, mas um movimento social e político para o resgate dos surdos da marginalização linguístico-educacional vivenciada por eles durante décadas. O Reconhecimento da Libras como Língua Vamos entender agora como, então, a Libras passou a ser reconhecida como língua? Foi um processo longo e deveu-se principalmente ao envolvimento e movimento da comunidade surda. Pensar é produzir conhecimento, portanto, a partir do reconhecimento da Libras como a língua própria dos surdos, houve uma mudança na caracterização dos surdos brasileiros, pois, no momento em que sua língua foi reconhecida socialmente, eles passaram a ser considerados cidadãos. cidadãos.
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Como você já deve saber, os conhecimentos que compõem a sociedade são transmitidos pela classe dominante e esta acaba por “ditar” as normas através das quais os seres humanos serão julgados. julgados. Muitas Muitas vezes, vezes, a sociedade sociedade vê no cidadão cidadão surdo apenas um ser com um limite na audição e nega reconhecer nessa pessoa um ser de direitos e deveres, com uma língua e cultura próprias. A conquista e o reconhecimento da Libras como língua, e a modificação da visão do surdo como uma pessoa que não possui uma deficiência, mas uma diferença no diferença no modo de aprender e apreender o mundo, ainda são tímidos, mas já houve resultados significativos, como, por exemplo, a aprovação da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que prevê a formação de intérpretes de língua de sinais para possibilitar aos surdos o acesso à informação (BRASIL, 2000). Com a Lei nº 10.436/02, que institui a Libras como língua materna dos surdos, o que passa a existir é a possibilidade de uma mudança de comportamento e de visão da sociedade em relação a essa população.
Dicionário Lei: (do verbo latino ligare, que significa “aquilo que liga”, ou legere, que significa “aquilo que se lê”) é uma norma ou conjunto de normas jurídicas criadas através dos processos próprios do ato normativo e estabelecidas pelas autoridades autoridades competentes para o efeito. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei.
Art. 2º Deve 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. único. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS não poderá substituir a modalidade escrita da Língua Portuguesa. Art. 5º Esta 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Preste atenção agora! Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e outros recursos de expressão a ela associados.
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Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da IndeInde pendência e 114º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza. (BRASIL, 2002).
Como dito anteriormente, a Lei nº 10.436 foi sancionada a partir do movimento das comunidades surdas brasileiras. Vale ressaltar que, apesar dessa lei ter sido sancionada em 2002, somente em 22 de dezembro de 2005 é que sua regulamentação foi aprovada, no Decreto nº Decreto nº 5.626, que define o que são pessoas com surdez, em seu art.
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2º: “Considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS. Sinais-LIBRA S.” (BRASIL, 2005).
formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia. Assim, todos os cursos de licenciatura nas diferentes áreas do conhecimento também deverão oferecer essa disciplina. Atenção
Dicionário Decreto: refere-se a atos meramente administrativos da competência dos chefes dos poderes executivos (presidente, governadores e prefeitos). Um decreto é usualmente utilizado pelo chefe do po der executivo para fazer nomeações e regulamentações de leis (como para lhes dar cumprimento efetivo, por exemplo), entre outras coisas.
Saiba que é importante ressaltar que, nessa nova legislação, há uma mudança significativa: passa-se a utilizar o termo “surdo” no lugar de deficiente auditivo, presente em documentos anteriores. Determina, ainda, que a Libras deve ser disciplina curricular obrigatória nos cursos de
A Lei nº 10.436 aponta um grande avanço na questão do reconhecimento dos surdos enquanto sujeitos de direito, bem como o reconhecimento da sua comunicação enquanto uma cultura diferenciada.
Assim, caro(a) aluno(a), afirmamos que a língua de sinais preenche as mesmas funções que a língua portuguesa falada, portanto, para ser adquirida, preferencialmente é necessário que crianças surdas tenham o convívio com adultos surdos, que possam inseri-las no funcionamento linguístico-discursivo dessa língua.
1.1 Resumo do Capítulo Neste capítulo, observamos a dificuldade que os surdos tiveram para que pudessem ser reconhecidos como pessoas que têm uma cultura diferenciada e principalmente uma língua própria. A Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005 modificam a perspectiva dessa comunidade surda e suas possibilidades de interação social.
1.2 Atividade Proposta Vamos verificar sua aprendizagem? 1. Quem são as pessoas consideradas surdas nessa legislação?
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2 UM POUCO DA HISTÓRIA DOS SURDOS Caro(a) aluno(a), vamos conhecer agora um pouco sobre o percurso histórico da educação dos surdos. Os surdos, ao longo da nossa história, foram considerados deficientes e, assim como estes, ficaram “escondidos” da sociedade. Este trabalho irá trazer alguns fatos que subsidiarão o conheci-
mento do ponto de vista histórico dos movimentos dos surdos e dos intérpretes da Libras no Brasil e seu reconhecimento no país. Há pessoas surdas em todas as partes do Brasil, porém muitos surdos são invisíveis à sociedade.
Saiba mais “Em décadas passadas, existiam famílias ouvintes que ‘escondiam’ os filhos surdos pela ‘vergonha’ de terem concebido uma criança fora dos padrões considerados normais; e por isso os surdos quase não saíam de casa ou sempre ficavam acompanhados dos pais. A comunicação dos pais com os filhos fil hos surdos era muito complexa, pois esses não sabiam a Língua de Sinais e também não a aceitavam; achavam que era ‘feio’ fazer‘gesto’ ‘gesto’ ou‘mímica’(não Língua de Sinais) como forma de comunicação com sua criança e, consequentemente, não aceitavam a língua de sinais como a primeira língua dos surdos. Os filhos surdos, por sua vez, sentiam-se ‘isolados’ e sem comunicação alguma. Desse modo, muitas vezes criavam ‘complexos’ e/ou ficavam ‘nervosos’. Por muitos anos, os próprios surdos não compreenderam a importância da comunicação através da Língua de Sinais para o processo de construção de sua Identidade Cultural, bem como para o desenvolvimento de sua cognição e linguagem. Consequentemente, o bloqueio no desenvolvimento da Língua de Sinais causou problemas sociais, emocionais e intelectuais na aquisição da linguagem nos surdos. Além disso, esses indivíduos também não conseguiam alcançar suas metas e seus objetivos devido ao preconceito e à marginalização existentes, na sociedade, em relação à Língua de Sinais e à construção da Identidade e Cultura Surda Brasileira. A sociedade ignorava as comunidades surdas brasileiras, que eram ‘isoladas’e ‘discriminadas’ discriminadas’. Ultimamente, observa-se um processo de mudança significativa do olhar da sociedade em relação à questão do surdo, sua língua e cultura. Entretanto, esse é ainda um processo muito lento dentro das políticas educacionais da sociedade brasileira. Até poucos anos atrás, a Língua de Sinais Brasileira era ainda vista como ‘tabu’, pois não havia sido atribuída a língua de sinais o status de língua. Essa era apenas considerada como ‘Linguagem’e não ‘Língua’.” (MONTEIRO, 2006, p. 279).
A língua que conhecemos hoje como Libras não é a língua de sinais como sua forma mais antiga. Como muitas das línguas faladas, a língua de sinais, em sua forma mais antiga, não foi preservada. Por meio de pesquisas, foi possível estabelecer algumas circunstâncias entre as quais a educação e a instrução formal de uma língua sinalizada aconteceu. Como vimos anteriormente, apesar da escassez de informações sobre as línguas antigas, acreditar que pessoas surdas não possuíam uma língua sinalizada para sua comunicação, seria um equivocado.
Na história da nossa civilização e cultura, os surdos e sua comunicação aparecem pela primeira vez no registro de dois grandes filósofos, Platão e Aristóteles. Infelizmente, o pensamento de Aristóteles (século IV a.C.) reflete-se até hoje no modo como algumas pessoas encaram o surdo. A audição contribui para a maior parte do pensamento, porque a linguagem é a causa da instrução. Compõe-se, com efeito, (a linguagem) de palavras e cada uma das palavras é um signo. É por isso, que entre os homens privados congenita-
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mente de um sentido, os cegos-natos são mais inteligentes que os surdos-mudos. (COUTINHO, 2008, p. 31).
Como você pode perceber, a partir desse pensamento, podemos entender que os gregos defendiam que a fala era de origem divina e que, para as pessoas surdas, deveria ser negada a instrução, pois não falavam, portanto não eram consideradas pessoas dignas. Em outro momento histórico, têm-se as leis romanas e feudais que refletem a ideia de que o surdo deveria ser excluído da sociedade e que não possuía direitos: “ao surdo não era permitido o acesso a herança e aos privilégios feudais” (COUTINHO, 2008, p. 32). Nos casos mais comuns, viviam como camponeses ou eram tolerados como “idiotas ou débeis”. Apesar da aparente exclusão dos surdos e da sua impossibilidade de participar ativamente da vida comunitária, existem alguns registros de que, em algumas comunidades religiosas, os surdos eram recolhidos e esses religiosos se beneficiavam dos conhecimentos da comunicação gestual. São Jerônimo (final século IV) observa que havia surdos que aprendiam o evangelho por meio de gestos. Já Santo Agostinho aponta que conhecia uma família surda muito respeitada da burguesia milanesa, “cujos gestos formam palavras de uma língua e escreve que sua alma poderia ser enriquecida por meio dos gestos que produzem.” (COUTINHO, 2008, p. 32). No século XVI, surgem as primeiras tentativas de “educar” os surdos. Os primeiros educadores de pessoas surdas; Pedro Ponce de Leon, Juan Pablo Bonet, entre outros, não reconheceram explicitamente a comunicação por sinais como uma possibilidade linguística, mas defendiam a ideia de que, utilizando os seus “gestos naturais”, poderiam ensinar nossa própria língua (oral). Além disso, Juan Pablo Bonet afirma que as crianças “surdas e mudas” não são mudas em termos de pensamento, mas sim surdas, logo “são capazes de aprender qualquer língua ou ciência”. Já Montaigne (século XVI) defende a seguinte ideia:
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Os nossos mudos disputam, argumentam e contam histórias por gestos. Eu próprio os vi de tão flexíveis e formados sobre aquilo que a verdade se refere que não lhes falta nada para a perfeição de se saberem fazer entender [...] necessitam para se exprimir do alfabeto dos dedos e de uma gramática de gestos. (COUTINHO, 2008, p. 34).
Até o presente momento do texto, pudemos observar que a sociedade renegou os surdos, porém vimos que as experiências educacionais promoveram uma modificação no modo de a sociedade encarar o surdo; concluiu-se que os surdos são pessoas inteligentes que podem aprender uma linguagem para exprimir seu pensamento. Sendo assim, os professores passam a utilizar os gestos para ensinar seus alunos surdos, mas apenas como um modo de eles aprenderem a língua oral e se expressarem através dela. Apesar do sucesso do trabalho de Ponce de Leon, entre outros, no século XVII e XVIII o conceito de homem educado é aquele que fala bem. Logo, se não há palavra, não há pensamento. Como estamos falando do percurso da educação e do reconhecimento dos surdos na sociedade, podemos apontar uma grande mudança na educação dos surdos que acontece em 1755, com o Abade L’Epée, que, apesar de não adotar na íntegra a língua gestual da comunidade surda parisiense, utiliza-a para criar uma língua supostamente universal e estruturada de acordo com a sintaxe da língua francesa (o que hoje é chamado francês sinalizado). Ele juntou sinais dos surdos franceses e outros inventados por ele mesmo para demonstrar as inflexões, os artigos e outras características do francês. O que muda, basicamente, é a importância da língua gestual, que passa a ser utilizada como meio de ensino. Em 1776, publica sua metodologia de ensino com seus “sinais metódicos”.
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Curiosidade O abade, por meio da educação ministrada, “[...] conduziu pela primeira vez na história da cultura ocidental, o acesso de muitos dos seus alunos surdos à cidadania. [...] os surdos já não eram educáveis pela palavra, pela oralidade: eram, reconhecidamente, cidadãos como todos os outros; e, pela lei promulgada em 1791 pela Assembléia Francesa, reconhecia-se os surdos o direito de beneficiarem-se plenamente dos direitos dos homens.” (COUTINHO, 2008, p. 37).
O que se pode observar, é que em pouco tempo, passa a existir na França uma escola de surdos em cada cidade e mais, graças ao reconhecimento implícito da comunicação gestual, aparece a figura do professor surdo para ensinar alunos surdos. Os primeiros professores surdos foram ex-alunos de L’Epée, os quais tiveram destaque tanto como professores quanto em outras áreas de atuação. É importante esclarecer um aspecto em relação à metodologia de ensino utilizada por L’Epée, o abade criou seus sinais metódicos, que se referiam à utilização dos sinais aprendidos com os surdos de Paris, porém acreditava que essa linguagem era desprovida de gramática, portanto precisando da gramática francesa para que tivesse sentido. O principal sucessor de L’Epée foi o Abade Sicard, que teve outros sucessores, como os Abades Clerc, Messieu e Bébian. Bébian percebeu que a linguagem de sinais natural era autônoma e completa, e modificou a metodologia de ensino, passando a utilizar o bilinguismo, ou seja, a língua natural de sinais e o ensino da língua francesa escrita, cada uma com gramática e estrutura próprias. Ferdinand Berthier, aluno da escola de surdos, teve a oportunidade de desenvolver sua escolaridade no ensino bilíngue. Ele é considerado um dos “sucessos” da educação tendo como metodologia de ensino o bilinguismo. Tornou-se professor, escritor e um dos mentores da primeira associação de surdos de Paris.
Diversos fatores foram compondo e consolidando o ensino de surdos através do bilinguismo. Saiba mais “Em 1779, um encadernador de livros surdo de Paris, Pierre Desloges, escreveu um livro ‘Observações de um surdo-mudo, parisiense’. Desloges sentiu-se compelido a escrever o livro, ele disse, depois de ouvir as declarações de um certo abade Deschamps, afirmando que as línguas de sinais não poderiam ser consideradas línguas e que, portanto, não teriam utilidade na educação das crianças surdas. Frente a essa declaração, Desloges pensou ser seu dever falar em favor da língua sinalizada natural dos surdos franceses... Essa língua era passada de uma pessoa surda para outra, do mesmo modo que línguas que não sejam popularmente aceitas em instituições educacionais são também transmitidas para as gerações mais novas falantes. Ao descrever um jovem surdo típico da França no século XVIII, Desloges escreveu o seguinte: Ele encontra surdos-mudos com mais conhecimento do que ele aprende a combinar e aperfeiçoar seus sinais... Ele rapidamente adquire, nas interações com seus companheiros, a tão difícil – assim eles dizem! – arte de expressar e pintar seus próprios pensamentos, até os mais abstratos, através de sinais naturais, como se ele soubesse todas as regras da gramática, tamanha a ordem e precisão...” (MOODY, 1987 apud SACKS, 1990, p. 301).
Continuando a história, houve um fato importante em 1816: Thomas Hopkins Gallaudet chega a Paris e encontra-se com Clerc, Massieu e Sicard. Gallaudet estava à procura de uma metodologia adequada de ensino de surdos nos Estados Unidos, que permitisse fazer com que os surdos tivessem real acesso à palavra de Deus. Os franceses o convencem de que esta é a melhor metodologia de ensino, o bilinguismo, e assim, em 1817, Laurent Clerc vai aos Estados Unidos com Gallaudet e funda em Hartford uma escola para “surdos “surdos e mudos”, mudos”, o American Asylum As ylum for the Education and Instruction of the Deaf and Dumb. Como pudemos verificar, a educação dos surdos teve grande desenvolvimento ao longo dos anos, porém um fato irá modificar todo esse percurso. Em 1880, acontece o Congresso de Milão, marco histórico na educação dos surdos. Nesse congresso, a educação de surdos passa a ado-
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tar como metodologia de trabalho o oralismo. Esse método considera a fala, ou a oralização, o único meio de comunicação e de educação para os surdos. Saiba mais A mudança na vida dos surdos! O Congresso de Milão “O debate sobre a melhor forma de educar os surdos, se através da fala ou dos sinais, foi ganhando novos adeptos e culminou com a vitória do método oral, em 1880, no Congresso de Milão. Como conclusão do Congresso, decidiu-se que: 1- Dada a superioridade incontestável da fala sobre os sinais para reintegrar os surdos-mudos na vida social e para dar-lhes maior facilidade de linguagem, o congresso declara que o método de articulação deve ter preferência sobre o de sinais na instrução e educação dos surdos-mudos. 2- O método oral puro deve ser preferido, porque o uso simultâneo de sinais e fala tem a desvantagem de prejudicar a fala, a leitura oro-facial e a precisão de idéias.” (LANE, 1989 apud SACKS, 1990, 1 990, p. 394).
A modificação histórica que acabamos de verificar reflete as consequências devastadoras que o Congresso de Milão trouxe. Vários autores, entre eles Coutinho (2008), apontam que o que aconteceu no ensino de surdos foi “um autêntico desastre educacional [que] resultou do uso da linguagem oral, falada ou escrita, para instruir crianças surdas.” Desde então, foram excluídas todas as possibilidades de uso das línguas de sinais na educação desses sujeitos. Atualmente, os surdos educados por esse método falam dos horrores e das perseguições que sofreram ao usarem a língua de sinais. Depois de quase um século de trabalho oralista, na década de 1960, nos Estados Unidos, inicia-se a implementação de uma nova filosofia de ensino chamada Comunicação Total e, nos anos 1980, há um retorno ao bilinguismo como melhor forma de ensino para pessoas surdas. O Brasil seguiu com alguns anos de atraso essas mesmas tendências e, hoje, procura o caminho do bilinguismo.
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Curiosidade Outra história que se destaca é sobre a língua de sinais de Vineyard. Esta é uma situação única que se desenvolveu nesse local específico, no final do século XVII: Martha’s Vineyard é uma ilha a cinco milhas da costa sudeste de Massachusetts. De 1690 até a metade do século XX, uma elevada taxa de surdez genética aparecia entre a população da ilha. Martha’s Vineyard é um exemplo de uma comunidade surda... O primeiro educador surdo que lá chegou com sua esposa e família em 1692 era fluente em algum tipo de língua sinalizada. Muitas das famílias que habitaram a ilha provinham da área de Boston e, antes disso, muitas outras haviam imigrado de uma região da Inglaterra conhecida como Weald, Weald, no interior de Kent... Com o florescimento da comunidade surda, consolidou-se também a sua língua... essa língua se expandiu por toda a ilha, e quase todos os habitantes da ilha, surdos ou não, foram capazes de utilizar a língua de sinais... A surdez não era vista como uma incapacidade. Naquela ilha, os surdos participavam, integralmente, em todos os aspectos da vida social. (GROCE, 1985 apud WILCOX; WILCOX, 2005, p. 36).
E no Brasil? Um pouco da História da Educação dos Surdos no Brasil Como você pôde observar, a história dos surdos no mundo não foi simples! Como será que se deu então a educação dos surdos aqui n Brasil? Bem, podemos iniciar nossa história em 1856, que foi quando chegou ao Brasil Brasi l o professor Eduard Huet, surdo francês que trouxe o alfabeto manual francês e alguns sinais para o Brasil. Os surdos brasileiros, que já utilizavam um sistema de sinais próprio, em contato com a Língua de Sinais Francesa (LSF), (LSF), produziram a Língua de Sinais Brasileira. No ano seguinte, no dia 26 de setembro de 1857, foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro e deno-
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minado o atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). É interessante ressaltar que esse Instituto era ligado ao governo central e possuía uma comissão de alto nível, formada por juristas, ministros e sacerdotes, que deveriam supervisionar os trabalhos. Fica claro que essa e outras instituições para deficientes da mesma época só foram criadas porque houve a intermediação de pessoas influentes que possuíam interesse nessas escolas. Essas pessoas importantes da época procuraram transmitir ensinamentos especializados aceitos como fundamentais e ficaram diretamente ligadas à administração pública de tais instituições. Como você sabe, antigamente, diferentemente de agora, as pessoas estudavam em internatos; e com os surdos acontecia o mesmo. Os surdos vindos de outras cidades do Brasil dormiam na escola, que era um internato. Os surdos que viviam no INES aprendiam por meio da língua de sinais, mas nessa época não existia exist ia a Libras, então eles utilizavam a Língua de Sinais Francesa e a Língua de Sinais Brasileira antiga. Esse fato foi importante, pois dessa instituição partiram os líderes surdos que têm divulgado, durante muitos anos, a língua de sinais em todo o país. Sabemos que grande número de crianças surdas são filhas de pais ouvintes, mas algumas famílias que possuem a surdez pela hereditariedade transmitem a seus filhos a Libras como forma de comunicação efetiva. Esse fato fez com que a língua de sinais, mesmo com o oralismo imperando durante muitos anos na educação dos surdos, não se extinguisse e criou resistências significativas, as quais acabaram por refletir na sociedade o crescente movimento que hoje se dá através da aprendizagem da língua de sinais por ouvintes e surdos. É importante saber que a primeira iconografia dos sinais realizada aqui no Brasil foi em 1873, de autoria do aluno surdo Flausino José de Gama, que estudava no Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. Em 1881, a história narra o fato de a língua de sinais ter sido proibida no INES e em todo o Brasil. Como consequência dessa proibição, em
1895, teve o declínio do número de professores surdos nas escolas para surdos e aumentou o número de professores ouvintes. Curiosidade Outra escola que é importante na história dos surdos é o Instituto Santa Terezinha, em São Paulo, fundado em 1925 e dedicado à educação de moças surdas. Nessa época, as surdas comunicavam-se somente fora das salas de aulas utilizando sinais. Dentro das salas de aula, era utilizado principalmente o oralismo, visando ao desenvolvimento da fala.
A Importância da Convivência entre Pessoas da mesma Cultura Como você sabe, é fundamental para que possamos desenvolver uma língua o convívio com pessoas que a utilizem, certo? Quando pessoas de uma mesma cultura convivem, elas desenvolvem uma linguagem própria. Com as pessoas surdas não é diferente, elas desenvolveram uma linguagem própria, própria, visual-motora, chamada língua de sinais. Muitas pessoas perguntam: a Língua de Sinais é universal? Não! Existe, no mundo, um grande número de línguas de sinais, diferente do que muitas pessoas ouvintes pensam. Quando falamos em língua de sinais, não estamos falando de alguma forma de comunicação manual do Português ou, mesmo, de um Português sinalizado, mas de uma língua, com gramática e léxico próprios, expressiva, eloquente e graciosa. Podemos dizer que os seres humanos possuem uma capacidade inata de adquirir linguagem, seja a fala ou o sinal.
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lações de afeto que ocorrem, refletindo necessidades e interesses pessoais do indivíduo.
Atenção A aquisição do sinal, da fala ou de ambos, depende do intercâmbio com as pessoas à volta, do ouvir sua fala, ou do assistir seu sinal. Se aos cinco ou seis anos a criança já tiver desenvolvido a fluência em linguagem, seja o sinal ou a fala, ela pode esperar ter uma vida rica de comunicação e de intercâmbio comunitário, e desenvolver fluência em leitura e escrita. Mas se ela não tiver tido a oportunidade de desenvolver desenvolver a linguagem a esta altura, então, ela pode esperar ter uma vida de restrições e empobrecimento cultural, e de incapacidade de ler e escrever. Naturalmente para pessoas que nascem surdas, é muito mais fácil adquirir uma linguagem visual como primeira língua; e, dada uma firme fundação nessa linguagem elas podem aprender a ler e escrever e, talvez, a falar, ou seja, tornam-se bilíngues e biculturais, culturais, o que é ideal para elas (SACKS, 2000).
Nenhum de nós é capaz de lembrar como adquiriu a linguagem. Santo Agostinho propõe a seguinte ideia: Também não somos como pais, chamados a ‘ensinar’ a linguagem a nossos filhos; eles adquirem ou parecem adquirir de uma forma automática, pela virtude de serem crianças, nossas crianças, e pelos intercâmbios comunicativos entre nós. (SACKS, 1990, p. 77).
O primeiro uso da linguagem é, normalmente, através da mãe; a linguagem acontece entre os dois, portanto o que podemos depreender é que ninguém aprende a língua sozinho. É impossível aprender, adquirir linguagem sem uma capacidade inata, mas essa capacidade é ativada apenas se o sujeito estiver em um meio no qual possa ser desenvolvida, ou seja, se outra pessoa já possuir competên competência cia linguística. linguística. Segundo Vigotsky, é através da “negociação” com outras pessoas que se adquire a linguagem. O intercâmbio social e emocional começa desde o primeiro dia de vida. Mãe, pai, professor, qualquer pessoa que fale com a criança leva o bebê a níveis superiores de linguagem. Contudo, as palavras da mãe não teriam sentido se não correspondessem a alguma coisa em sua própria experiência. É necessário lembrar, também, as re-
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Atenção É importante ressaltar que a linguagem é um intrincado mundo de significados gramaticais, verbais e intenção comunicativa, sendo que todos esses elementos estão juntos no aprendizado e uso da linguagem.
As crianças aprendem a língua como aprendem a andar. Ninguém lhes ensina a andar ou a falar. Aprender a andar ou aprender a falar é diferente de aprender a ler ou aprender a andar de bicicleta. Embora todas essas atividades envolvam habilidades cognitivas, em condições normais, as duas primeiras acontecem inexoravelmente, enquanto as duas últimas podem não ser desenvolvidas e permanecer desconhecidas, sem que isso represente um distúrbio. Portanto, caro(a) aluno(a), a aquisição da linguagem acontece de forma assistemática, descontínua, com interrupções e ruídos de comunicação. Entretanto, o resultado é surpreendente: a criança não só aprende a língua, com todas as sutilezas de sua articulação gramatical, semântica e pragmática, como o faz de forma completa, isto é, não existe conhecimento de língua materna pela metade ou parcial, qualquer pessoa normal sabe a língua de sua comunidade e a utiliza de forma natural. Dada a constatação de que as crianças têm o domínio do sistema complexo da língua em um curto prazo, sem esforço, com poucos desvios ou erros (em face das opções que podem ser extraídas dos dados a que são expostas), independentemente da natureza do ambiente (com mais ou menos reforço ou correção) e na ausência de certos tipos de evidência cruciais em situações de aprendizagem por instrução, conclui-se que o ser humano é dotado de um estado cognitivo inicial rico, complexo, uma faculdade inata de adquirir linguagem, porém essa capacidade é ativada apenas por outra pessoa que já possui competência
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linguística. David Wood, em seu estudo, de longo prazo, de crianças surdas, escreve: Imaginem um bebê surdo com pouca ou nenhuma consciência do som. [...] Quando olha para um objeto ou evento, não recebe nada da ‘música de clima’ que acompanha a experiência social do bebê auditivo. Vamos supor que desvie os olhos de um objeto que atrai sua atenção para um adulto que está partilhando sua experiência com ele, e o adulto fala sobre o que o bebê acabou de olhar. Será que o bebê sequer percebe que está ocorrendo uma comunicação? Para descobrir os relacionamentos entre uma palavra e seu referente, o bebê surdo precisa lembrar alguma coisa que acabou de observar e relacionar essa lembrança com outra observação [...] o bebê surdo precisa fazer mais, precisa ‘descobrir’ os relacionamentos entre duas experiências visuais muito diferentes que estão deslocadas no tempo. Essas e outras importantes considerações, eles acham, podem causar graves problemas de comunicação muito antes do desenvolvimento da linguagem. As crianças surdas filhas de pais surdos tem boas possibilidades de serem poupadas dessas dificuldades interacionais, pois os pais sabem muito bem, por sua própria experiência, que toda comunicação e todos os jogos devem ser visuais e que a ‘conversa de bebê’, em particular, deve se realizar em termos visuais e gestuais. O corolário de tudo isso é que se a comunicação não se tornar significativa, afetará o crescimento intelectual, o intercambio social, o desenvolvimento da linguagem e as atitudes emocionais, tudo ao mesmo tempo, de forma simultânea e inseparável. Isso é o que normalmente acontece quando uma criança nasce surda. (SACKS, 1990, p. 79-80).
mo que este lhe forneça poucas pistas. Vygotsky aponta que a comunicação é a percepção de um mundo e essa percepção leva a um mundo conceitual. Ele fala de um “salto da sensação para o pensamento”; isso envolve não somente a fala, mas o tipo certo de fala, um diálogo rico em intenção comunicativa. Para que a criança possa realizar esse “salto” “salto” com sucesso, não importa essencialmente se a comunicação, o diálogo entre mãe e filho, é pela fala ou sinal, o que importa é a intenção comunicativa. Essa intenção pode estar na direção saudável de promover seu crescimento, autonomia e expansão da mente. Mas o uso de sinais torna claramente a comunicação mais fácil no início da vida, porque os bebês surdos espontaneamente absorvem os sinais, mas não podem absorver a fala da mesma forma. (SACKS, 1990, p. 84).
Vários estudos foram realizados nos últimos anos em relação à surdez e à aprendizagem da língua de sinais por surdos. A partir dos aspectos apontados, entende-se que um surdo que tenha acesso à convivência com falantes de sua própria língua irá se desenvolver sem atrasos e dificuldades. Significa dizer que as crianças surdas possuem muito mais que um diagnóstico médico apontando uma “deficiência” “deficiência”,, mas, na verdade, o que ocorre é um fenômeno cultural, no qual os padrões sociais, emocionais e linguísticos estão intrinsecamente ligados.
Então, o que podemos depreender desse relato? É que as crianças surdas acabam por viver em um mundo diferente, muitas vezes sem que haja uma comunicação, e ela passa a tentar realizar as conexões com o mundo ouvinte, mes-
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Saiba mais McCleary (2000, p. 672-681) destaca: “Natissurdos, por não terem acesso ao som da fala, não podem adquirir a fala naturalmente, através dos processos com que toda criança adquire língua desde sua infância, na interação com falantes da língua, com o processamento cognitivo dos inputs lingüísticos auditivos. Quando aprendem a língua oral, o fazem através de um processo de ensino e treinamento mais artificial do que qualquer programa de ensino de língua estrangeira, e a língua que acabam falando carrega as marcas desse processo. O quadro ideal para o desenvolvimento lingüístico de uma criança surda é o de crescer dentro de uma família fluente em língua de sinais, para não sofrer nenhum atraso de aquisição de linguagem. Mas isso ocorre apenas com os cerca de 10% de surdos que nascem em famílias de surdos. A grande maioria de natissurdos nasce em famílias de pais ouvintes. No melhor dos cenários, cenári os, os pais descobrem logo que o filho é surdo, começam a aprender língua de sinais para poderem se comunicar com o filho e colocam o filho em contato com surdos fluentes na língua. Isso raramente acontece. Na maioria dos casos, os pais não têm informações sobre a língua de sinais, ou, tendo, rejeitam-na por preconceito e por medo de o filho ser ‘diferente’ diferente’ e excluído. Na pior das hipóteses, os pais rejeitam o filho e interagem minimamente com ele. Dessa forma, muitos surdos crescem até a idade escolar essencialmente sem língua, com apenas alguns sinais ‘caseiros’ caseiros’(quando há), estabelecidos na comunicação com os familiares. famil iares. Existem evidências de que esse atraso até o limite da ‘idade crítica’ de aquisição de linguagem (cerca de cinco anos) pode causar seqüelas lingüísticas, cognitivas e psicológicas. Por outro lado, crianças (surdas e ouvintes) expostas a uma língua de sinais nos primeiros anos de vida adquirem essa língua com tanta naturalidade, como acontece com frequência, então, que surdos começam a adquirir sua primeira língua já em idade escolar, ou até em idade mais avançada, quando começam a ter contato com outras outras pessoas surdas. Existem relatos de indivíduos surdos adultos que experimentam um ‘segundo nascimento’ ao descobrir o mundo surdo e sua língua totalmente acessível e expressiva.
Curiosidade Há dois tipos de surdos: •
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os Natissurdos pré-linguais: ficaram surdos antes de aprender a falar (têm muita dificuldade em aprender a falar); os Ensurdecidos ou pós-linguais: Ficaram surdos após terem adquirido a linguagem falada. Fonte: http://www.asgfsurdos.org.br/?page_id=17.
2.1 Resumo do Capítulo Aprendemos neste capítulo sobre a história da língua de sinais, suas raízes e como ela se mantém até os dias atuais em nossa sociedade. Pudemos analisar o percurso realizado no Brasil, a criação da primeira escola para surdos e como ela era restrita em seu atendimento. Estudamos também a importância da comunicação e da interlocução na língua materna dos surdos, a língua de sinais (Libras), para que este sujeito suj eito possa ter um desenvolvimento cognitivo e linguístico linguísti co significativo e equivalente aos das crianças ouvintes.
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2.2 Atividades Propostas Responda às questões abaixo e verifique se você aprendeu. 1. Quem é a personagem histórica que modifica o percurso da educação dos surdos, passando a utilizar a linguagem gestual no ensino? 2. Complete: a) Em 1880 ocorre o _________________________ que modifica a educação dos surdos para o _______________. b) Hoje, o Brasil busca a metodologia ________________________ na educação dos surdos. 3. Os surdos, quando têm acesso acesso na primeira infância à língua língua de sinais, terão um desenvolvidesenvolvimento similar aos ouvintes?
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AS TENDÊNCIAS NA EDUCAÇÃ EDUC AÇÃO O DOS SURDOS
Caro(a) aluno(a), neste capítulo você irá conhecer mais sobre as metodologias de ensino para alunos surdos. Como vimos nos capítulos anteriores, as tendências de educação escolar para pessoas com surdez concentram-se basicamente em dois polos: a inserção dos alunos em escolas comuns ou em escolas especiais para surdos. Existem diversos métodos de ensino para surdos, porém os mais importantes ao longo da nossa história podem ser delimitados basicamente a três tendências educacionais: a oralista, a comunicação total e a abordagem bilinguista. As escolas comuns ou especiais que utilizam o oralismo visam à capacitação da pessoa com surdez para utilizar a língua na modalidade oral, como única possibilidade linguística, de modo que se utilize a voz e a leitura labial, tanto na vida social quanto na escola. O oralismo não conseguiu alcançar resultados muito positivos, pois, de acordo com Sá (1999), ocasiona déficits cognitivos e legitima a manutenção do fracasso escolar, provocando dificuldades no relacionamento familiar. Este método não aceita o uso da língua de sinais e discrimina a cultura surda. O Oralismo
Atenção A tendência educacional do oralismo fundamenta-se na perspectiva de aquisição da linguagem oral como requisito básico para que o surdo seja integrado à sociedade, que é ouvinte.
Na abordagem oralista, a linguagem falada é tida como forma prioritária de comunicação com os surdos e a aquisição da linguagem oral como fundamental para o desenvolvimento global da criança surda. Dentro do processo da oralização, ficam proibidos os usos de sinais ou gestos e do alfabeto datilológico. Como você pode ir percebendo, a via sensorial priorizada, nessa abordagem educacional, é a oral, sendo enfatizadas as habilidades auditivas (restos auditivos) e a leitura orofacial como pré-requisitos para o desenvolvimento da linguagem. A abordagem dominou a educação de surdos tanto na Europa quanto nas Américas desde 1880, quando ocorreu o Congresso Internacional para Surdos em Milão, no qual foi aprovada a obrigatoriedade do uso exclusivo da linguagem oral na educação de surdos. Diversos autores discorreram sobre as abordagens do oralismo: há métodos de ensino unissensoriais, em que o indivíduo só se utilizaria de restos auditivos; e os multissensoriais, nos quais diversos canais (sensoriais, táteis e visuais) são utilizados como pistas para o surdo acessar a informação. Como vimos anteriormente, com a disseminação do oralismo, a imagem social socia l dos surdos foi sendo progressivamente danificada, sendo que passaram a ser tratados apenas como deficientes. Como consequência do método oralista e a forte ênfase que era dada à oralização, observou-se uma dificuldade significativa de aprendizagem desses sujeitos e, ao invés de os educadores questionarem o método de ensino, que dava ênfase somente ao canal sensorial que faltava ao surdo, passou-se a questionar a possibilidade de cognição dos surdos. Capovilla (2000) observa
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que, na Inglaterra, foi analisado que, após anos de escolaridade especial, dos alunos com 15/16 anos somente 25% conseguiam articular-se de modo inteligível aos seus professores e que menos de 10% desses alunos tinha nível de leitura apropriado à sua idade. Apesar de todas as críticas a esse método, vamos explicitar alguns dos aspectos práticos para que possa ser desenvolvida a aprendizagem dos surdos através do método oralista (ressaltamos que ainda hoje ele é muito utilizado). Atenção Os aspectos que devem ser desenvolvidos com o aluno deficiente auditivo são: •
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diagnóstico precoce (anterior aos dois anos de idade): este é um dos aspectos fundamentais e, de certa forma, determinante até os dias de hoje para que o surdo possa desenvolver fala; adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), nos dois ouvidos, logo após o diagnóstico de deficiência auditiva; estimulação auditiva precoce (até os cinco anos de idade); desenvolvimento da fala através de feedback auditivo; desenvolvimento desenvolvimento de leitura orofacial: discriminação e identificação dos movimentos orais do emissor; treinamento para o desenvolvimento de pistas visuais, auditivas e táteis; treinamento auditivo, que seria a estimulação auditiva (com a utilização de próteses), para reconhecimento e discriminação de ruídos e sons ambientais; treinamento e desenvolvimento da fala: emissão e recepção de fonemas utilizando exercícios, mobilidade e tonicidade dos músculos da face; exercícios de relaxamento e respiração para colocação dos fonemas.
Para o máximo aproveitamento auditivo, o Oralismo tem como princípio a indicação de prótese individual, que amplifica os sons, admitindo a existência de resíduo auditivo em qualquer tipo de surdez, mesmo na profunda. Esse método procura assim, reeducar auditivamente a criança surda, através da amplificação dos sons juntamente com técnicas específicas de oralidade. Quanto ao trabalho de
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linguagem, desenvolvido no Oralismo, procura-se ‘ensinar’ linguagem através de atividades estruturais sistemáticas. (DORZIAT, 2008).
Você deve ter percebido que são utilizados para o desenvolvimento da linguagem oral em crianças surdas aparelhos de amplificação sonora, treinamento auditivo, auditi vo, entre outras técnicas. Todas Todas elas, segundo Goés (1999), tem o propósito terapêutico de tratar e reduzir os déficits auditivos, ou seja, ela assume o surdo como um deficiente auditivo, alguém a quem falta um dos sentidos, a audição, mas que pode, através de tratamento, realizar de forma compensatória a leitura orofacial. Ainda, a educação oralista vê no surdo alguém que precisa ser reabilitado, entendendo a língua oral como meta e objetivo final de compreensão e de possibilidade de inserção desses sujeitos na sociedade ouvinte. Você conseguiu perceber a dificuldade dos surdos em desenvolver a língua oral? Pois é, mas houve mudanças ao longo dos anos, apesar apesa r de infelizmente podermos dizer que ainda muitas famílias apostam nessa aprendizagem, bem como médicos, terapeutas e professores. Comunicação Total Vamos agora conhecer outro tipo de ensino, a Comunicação Total! Depois de quase um século envolta em um ensino oralista os surdos puderam ter acesso a outra forma de aprendizagem. Esta era composta de oralização e também de sinais. Vamos conhecê-la um pouco mais. A Comunicação Total envolve o uso de todas as modalidades possíveis de comunicação: língua de sinais, alfabeto digital, amplificação sonora com AASI, fala, leitura orofacial, leitura e escrita, expressão facial, mímica e gestos; todos esses recursos podem ser utilizados a fim de potencializar as interações sociais e possibilitar um melhor desenvolvimento da competência linguística.
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Saiba mais A Comunicação Total foi importante na história da educação dos surdos, pois possibilitou depois de quase um século o retorno dos sinais na vida dessa comunidade. Apesar de ter como objetivo o desenvolvimento da fala e a utilização do sinal somente como apoio.
Essa abordagem educacional tem como meta estimular o desenvolvimento linguístico, permitindo que a criança surda tenha acesso ao maior número de códigos possível, de forma que possa eleger aquele que lhe permita ter melhor compreensão. Essa filosofia de ensino possui uma maneira própria de compreender o surdo, ou seja, não o considera portador de uma patologia, mas uma pessoa e a surdez, uma marca, que adquire características e significações sociais. A Comunicação Total é incorporada em diversos lugares, mas, como não é um método, apresenta versões muito variadas, caracterizando-se basicamente pela aceitação de vários recursos comunicativos, com a finalidade de ensinar a língua majoritária e promover a comunicação. Saiba mais “Apesar da idéia generalizada de oposição entre Comunicação Total e Oralismo, devido à inclusão de sinais na prática daquela, Marchesi (1987) afirma que a Comunicação Total não está em oposição à utilização da língua oral, mas apresenta-se como um sistema de comunicação complementar. Os adeptos da comunicação total consideram a língua oral um código imprescindível para que se possa incorporar a vida social e cultural, receber informações, intensificar relações sociais e ampliar o conhecimento geral de mundo, mesmo admitindo as dificuldades de aquisição, pelos surdos, dessa língua.” (DORZIAT, 2008).
Como vimos, a Comunicação Total se propunha a fazer uso de qualquer meio de comunicação (palavras, símbolos, gestos, sinais naturais ou artificiais), tudo para permitir que a criança
surda adquirisse linguagem. Aparentemente, essa filosofia de trabalho traria um desenvolvimento linguístico e competência em leitura e escrita. Entretanto, esse fato não acontece, pois a comunicação total, apesar de utilizar a comunicação de modalidade visual-motora, usava os sinais na estrutura da língua oral. Marchesi (1987) apresenta a variedade desses sistemas: língua falada de sinais (codificada em sinais); língua falada sinalizada exata (variante do sistema anterior, distinguindo-se pela busca da reprodução precisa da estrutura da língua); associação de códigos manuais para auxiliar na discriminação e articulação de sons (configuração) de mão perto do rosto, dando apoio à emissão de cada fonema); e combinação diversa de sinais, fala, datilologia, gesto, pantomina etc. A abordagem educacional bimodalista destaca-se nesses sistemas. As práticas são qualificadas como bimodais ou simultâneas porque envolvem combinações de uso concomitante de duas modalidades, isto é, os sinais e a fala. Para Stewart (1983), entretanto, a utilização da fala codificada em sinais, caracteriza-se como duas modalidades da mesma língua, porque baseia-se apenas na língua majoritária. Góes (1994) diz que essa idéia é variável entre pesquisadores e educadores, porque existe também a noção de um instrumento de comunicação em que se inserem parâmetros de uma língua de sinais para acompanhar a fala. (DORZIAT, 2008).
Nos Estados Unidos, como os resultados esperados não foram alcançados, as aulas de professores que utilizavam a língua inglesa sinalizada foram filmadas e, posteriormente, analisadas. O que pode ser percebido é que, com a criação de muitos sinais artificiais para se marcar flexões verbais, conjunções e outros aspectos utilizados na língua oral, o discurso não fazia sentido nem para os professores nem para os alunos.
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Curiosidade “Para tanto, eles filmaram as aulas em comunicação total ministradas pelas professoras em que elas sinalizavam e falavam ao mesmo tempo [...] mostraram as professoras a filmagem sem som, e quando estavam impossibilitadas de ouvir a fala que acompanhava a sinalização, as professoras exibiram uma grande dificuldade em entender o que elas próprias haviam haviam sinalizado. sinalizado. [...] A conclusão desconcertantemente obvia é a de que durante todo o tempo, as crianças não estavam obtendo uma versão visual da língua falada na sala de aula, mas sim, uma amostra lingüística incompleta e inconsistente, em que nem palavras faladas e nem os sinais.” (CAPOVILLA, 2000, p. 108).
A sociedade educacional percebe que a utilização dos sinais auxiliou no desenvolvimento dos alunos surdos, pois o canal de comunicação era visual. Nessa época, início da década de 1980, vários linguistas estudavam as línguas de sinais e perceberam a riqueza dessas línguas; assim, a sociedade começou a perceber que talvez o bilinguismo fosse a saída para o desenvolvimento integral dos surdos. Bilinguismo
Dicionário Bilinguismo: aplicado ao indivíduo, indivíduo, pode significar simplesmente a capacidade de expressar-se em duas línguas. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bilinguismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Bilinguismo..
Apesar de variações entre os profissionais de diferentes países, em relação à época em que vai se introduzir as duas línguas e se a segunda língua será a oral ou a escrita, o consenso entre todos é a importância do contato da criança surda com a língua de sinais logo cedo. Um dos primeiros países a adotar o bilinguismo foi a Suécia, que reconheceu politicamente os surdos como minoria linguística, com direi-
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tos assegurados à educação em línguas faladas e de sinais. Vários autores, baseados em diversas pesquisas realizadas na Dinamarca, Suécia e Estados Unidos, apontam a importância da educação bilíngue. Atenção “A aprendizagem do bilinguismo inclui, o desenvolvimento adequado de competências linguísticas e comunicativas, aquisição espontânea da linguagem, com o desenvolvimento intuitivo de regras linguísticas e em contextos sociais motivados linguisticamente a conexão baseada na experiência entre o uso da linguagem e a formação de conceitos, o desenvolvimento de padrões de linguagem apropriados apropriados a faixa etária, e finalmente o respeito e identidade próprios como pessoa surda.” (CAPOVILLA, 2000, p. 112).
Veja um aspecto importante: a maioria dos alunos surdos chega à escola sem o desenvolvimento da linguagem, muito diferente das crianças ouvintes que chegam à escola com a linguagem desenvolvida, cabendo à instituição educacional trabalhar e desenvolver o conhecimento da linguagem escrita. Para os surdos, diferentemente, cabe à escola, muitas vezes, desenvolver a linguagem desse aluno, principalmente a língua de sinais. Para Ferreira Brito (1993), numa linha bilíngue, o ensino do Português deve ser ministrado para os surdos da mesma forma como são tratadas as línguas estrangeiras, ou seja, em primeiro lugar devem ser proporcionadas todas as experiências lingüísticas na primeira língua dos surdos (língua de sinais) e depois, sedimentada a linguagem nas crianças, ensina-se a língua majoritária, (a Língua Portuguesa) como segunda língua. Apesar dos argumentos favoráveis à aprendizagem da língua de sinais, existem obstáculos para sua concretização. Esses vão além da habilidade manual. A competência na língua de sinais depende também do conhecimento de como a própria comunidade de surdos se organiza, através do
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contato extra-institucional do professor com os surdos. Tal contato é reduzido devido às limitações de oportunidades para que isso ocorra. Além disso, os surdos, no contato com os ouvintes, realizam adaptações e ajustes na língua de sinais (linguagem pidgen), visando a um melhor entendimento, que acaba dificultando a exposição dos professores à língua de sinais. (DORZIAT, 2008).
Atenção O bilinguismo, como o próprio nome indica, propõe a exposição do surdo a duas línguas, sendo a primeira a língua de sinais.
E no Brasil? Aqui no Brasil, concebemos a perspectiva da educação bilíngue a partir da ideia de que a Libras é a primeira língua dos surdos, é sua língua natural, e a Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita, a segunda língua. É por esse motivo que hoje você está estudando esta disciplina! A partir dessa concepção, entendemos que a criança surda deve viver “a” e “na” língua de sinais, não somente restrita ao ambiente escolar, mas em todos os ambientes em que habita socialmente. Se a língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua e se a língua oral é
adquirida de forma sistematizada, então as pessoas surdas tem o direito de ser ensinadas na língua de sinais. A proposta bilíngüe busca captar esse direito. (QUADROS, 1997, p. 49).
Para finalizar, a educação bilíngue tem como meta o desenvolvimento da criança surda, para que ela possa perceber e compreender o interlocutor surdo. Para isso, deverá conhecer e utilizar a língua de sinais para realizar pedidos, estabelecer uma comunicação, estabelecer conversas informais, dando sua opinião, concordando ou discordando de seus interlocutores. A partir da aprendizagem e desenvolvimento da língua, como qualquer outra pessoa que vive em uma sociedade, o surdo terá possibilidades de desenvolver a aprendizagem da língua escrita e ter acesso a todo o conhecimento desenvolvido pela sociedade. Podemos concluir, então, caro(a) aluno(a), que o oralismo e a comunicação total obtêm resultados questionáveis. Os enfoques, tanto da comunicação total quanto do oralismo, negam a língua natural das pessoas surdas e provocam perdas consideráveis nos aspectos cognitivos, socioafetivos, linguísticos, político-culturais e na aprendizagem desses alunos. Por fim, o bilinguismo é visto, hoje, como a melhor forma de abordagem educacional para o surdo, pois visa a capacitá-lo na utilização de duas línguas: a língua de sinais e a língua escrita da comunidade em que vive. A língua de sinais é, certamente, o principal meio de comunicação entre as pessoas com surdez.
Multimídia Para você conhecer um pouco mais sobre a surdez e os métodos de ensino, assista aos filmes: Mr. Holland: Meu Adorável Professor Filhos do Silêncio
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3.1 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), pudemos verificar neste capítulo as diferentes metodologias de ensino para os surdos ao longo da história, porém ainda hoje há muita controversa quanto à melhor forma de ensinar o surdo. Sabe-se por meio de pesquisas pesquis as que o bilinguismo tende a ser a melhor metodologia, metodologi a, pois a criança irá desenvolver em primeiro lugar a comunicação em sinais e depois irá aprender a língua escrita de seu país como segunda língua. Apesar desse fato, ainda há muitas famílias e profissionais da medicina que apostam no oralismo.
3.2 Atividade Proposta Vamos checar sua aprendizagem? 1. Descreva brevemente: brevemente: a) Oralismo. b) Comunicação Total. c) Bilinguismo.
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4 LÍNGUA E LINGUAGEM Querido(a) aluno(a), pudemos discutir até o presente momento a importância da aprendizagem e desenvolvimento de língua, vimos a importância do ensino bilíngue para pessoas com surdez e as dificuldades que vivem para aprenderem. A linguagem é o canal para o desenvolvimento dos seres humanos, reafirma a pessoa humana e a sua humanidade. Sim, é a linguagem que nos diferencia dos outros animais! É por meio da linguagem que nós, indivíduos, armazenamos informações (o nosso mundo interior, o mundo ao nosso redor, o mundo com o qual sonhamos). É também utilizando a linguagem que a humanidade pode transmitir seus valores, sua história, sua cultura. Língua Atenção Língua - “É um sistema de signos Definição de Língua compartilhado por uma comunidade linguística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes línguas. línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema coletivo de uma determinada comunidade linguística. A língua é a expressão linguística que é tecida em meio a trocas sociais, culturais e políticas. As línguas naturais apresentam propriedades propriedades específicas da espécie humana: são recursivas (a partir de um número reduzido de regras, produz-se um número infinito de frases possíveis), são criativas (ou seja, independentes de estímulo), dispõem de uma multiplicidade de funções (função argumentativa, função poética, função conotativa, função informativa, função persuasiva, função emotiva, etc.) e apresentam dupla articulação (as unidades são decomponíveis e apresentam forma e significado).” (QUADROS, 2002, p. 8).
Os linguistas possuem várias definições sobre língua. Neste curso estamos partindo dos ensinamentos de Quadros (2002), que com base em Saussure (1995), que define língua como a parte determinada da linguagem, essencial a ela. A língua é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções que são necessárias para o exercício da comunicação entre os indivíduos. Ele lembra que a faculdade – natural ou não – de articular arti cular palavras não se exerce senão com a ajuda de instrumento criado e fornecido pela coletividade. Para esse autor, é a língua que faz a unidade da linguagem. Como vimos, a partir da definição de Saussure, outros linguistas também consideram as línguas um produto das convenções e dos valores sociais, do qual derivam as regras que tornam compreensíveis as intercomunicações dos indivíduos e asseguram a sobrevivência e coesão das sociedades. Portanto, as línguas naturais não são um decalque nem uma rotulação da realidade; elas delimitam aspectos de experiências vividas por cada povo e essas experiências, como as línguas, não coincidem, necessariamente, de uma região para outra. Do mesmo modo que as línguas diferem na análise da realidade, elas diferem também entre si, por possuírem sons típicos (fonemas). Os fonemas de que se valem os falantes de diferentes idiomas para se expressar são semeseme lhantes, mas não absolutamente iguais. Outros linguistas, entre eles Bakhtin (1992 apud KOBER, 2008), filósofo da linguagem e defensor de uma concepção sócio-histórica de língua, criticam essa visão saussuriana de língua que coloca o sistema de formas fonéticas, gramaticais e lexicais da língua como o centro organizador de todos os fatos da língua, independentemente de
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todos os atos de criação individual. indivi dual. Para eles, a língua está colocada fora do fluxo da comunicação verbal. Nesse sentido, Bakhtin (1992 apud KOBER, 2008) argumenta que, na prática viva da língua, a consciência linguística do locutor e do receptor nada tem a ver com um sistema abstrato de formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido de conjunto dos contextos possíveis de uso de cada forma particular. O essencial na tarefa de decodificação não consiste em reconhecer a forma utilizada, mas em compreendê-la num contexto preciso, compreender sua significação numa enunciação particular.
mais diversos. Ele é comumente empregado para designar, indiferentemente, fenômenos tão afastados como a linguagem dos animais, a linguagem falada, a linguagem escrita, a linguagem das artes e a linguagem dos gestos. É comum a observação de que os animais são capazes de exteriorizar (comunicar) o medo, o prazer, a cólera etc. por meio de determinados sons ou gestos (comunicar aqui se toma no sentido de influenciar o comportamento de outros animais que presenciarem tais manifestações). Pode-se chamar esse tipo de comunicação de linguagem? Na verdade, apesar de muito preciso e “en[...] os indivíduos não recebem a língua genhoso”, esse sistema de comunicação entre as pronta para ser usada; eles penetram na abelhas ou outro tipo qualquer de sistema de cocorrente da comunicação verbal; ou memunicação utilizado pelos animais não constitui, lhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua consciência desperta para Lopes, ainda uma linguagem, pelo menos e começa a operar [...] Os sujeitos não adno sentido em que utilizamos o termo quando quirem sua língua materna; é nela e por falamos da linguagem humana. Em primeiro lumeio dela que ocorre o primeiro despergar, porque a linguagem dos animais não é um tar da consciência. (BAKHTIN apud KOproduto cultural (a cultura é tipicamente humaBER, 2008, p. 163). na). Essa linguagem não é senão um componente da organização físico-biológica das abelhas (por Então, você está acompanhando a discusexemplo), herdada com a programação genética são? Podemos dizer então que a língua não está da espécie. A linguagem humana, por seu lado, pronta, mas se desenvolve no processo de internão é herdada: o homem aprende a sua língua. locução. Em segundo lugar, a linguagem dos animais é Outro pesquisador importante, Geraldi invariável, no tempo e no espaço. Ela fornece (1997), que atua principalmente na área de ensempre, ao mesmo grupo, o mesmo tipo de inforsino da Língua Portuguesa, fundamenta-se em mação (alimento, por exemplo). Por outro lado, uma concepção sócio-histórica que, como a proa linguagem dos animais é composta de índices, posta por Bakhtin, considera que a língua não isto é, de um dado físico ligado a outro dado físico está de antemão pronta, pronta, dada como um sistema por uma causalidade natural; ela não se compõe, de que o sujeito se apropria para ao contrário da usá-la, mas que o próprio procesnossa, de signos Atenção so de interlocução, na atividade que nascem das de linguagem, está sempre e a Linguagem – “É utilizada num senDefinição de Linguagem – convenções feitas tido mais abstrato do que língua, ou seja, referecada vez se “reconstruindo”. pelo homem. -se ao conhecimento interno dos falantes-ouvinLinguagem Diversos autores apontam que o termo “linguagem” apresenta uma notável flutuação de sentido, prestando-se aos usos
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tes de uma língua. Também pode ser entendida num sentido mais amplo, ou seja, incluindo qualquer tipo de manifestação de intenção comunicativa, como, por exemplo, a linguagem animal e todas as formas que o próprio ser humano utiliza para comunicar e expressar ideias e sentimentos além da expressão linguística (expressões corporais, mímica, gestos etc.). (QUADROS, 2002, p. 8).
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Libras
Em sua tese de doutorado, Trenchi observa: Atenção Para Saussure (1995), o exercício da linguagem repousa numa faculdade que nos é dada pela natureza, ao passo que a língua constitui algo adquirido e convencional.
Linguistas apontam, a partir das ideias de Saussure, que todos os humanos depois da infância sabem utilizar a linguagem para se comunicar com seus semelhantes; é essa capacidade que distingue o homem de todos os outros seres. Isso não quer dizer que os outros seres vivos não se comunicam com os membros da sua espécie; é claro que o fazem e alguns deles têm sistema de comunicação complexos e suficientemente flexíveis que merecem o nome de “linguagem”, como as abelhas e os golfinhos. Todavia, nenhuma dessas linguagens se aproxima da complexidade e da flexibilidade de qualquer das línguas humanas. Então, caro(a) aluno(a), podemos dizer que, o lugar privilegiado da linguagem é a interlocução, ção, entendida como espaço de produção de linguagem e de constituição de sujeitos (GERALDI, 1997). Focalizar a linguagem a partir do processo interlocutivo e, com esse olhar, pensar o processo educacional exige instaurá-la sobre a singularidade dos sujeitos em contínua constituição. Dicionário Interlocução: conversação conversação entre duas ou mais pessoas; diálogo. Fonte: http://www.dicio.com.br.
A concepção sócio-histórica de linguagem é adotada também por outros autores, como Abaurre (1999), que a define como lugar de interação humana, de interlocução. Tomada como atividade, como trabalho, a linguagem, ao mesmo tempo em que constitui os polos da subjetividade e da alteridade, é também constantemente modificada pelo sujeito que sobre ela atua. Como vimos, a linguagem é fundamental para o desenvolvimento dos seres humanos.
O termo sócio-interacionismo é utilizado para refletir aos estudos sobre desenvolvimento da linguagem que se afiliam às propostas de Vygotsky (1984), entre outros, e de terem em comum o fato de considerarem o social um lugar de inserção do organismo na ordem simbólica e a essa como condição necessária para o pensamento e para construção do conhecimento. Fundamentado nessas idéias, o sócio-interacionaismo enfatiza a natureza da linguagem enquanto atividade cognitiva (de ação sobre o mundo) e comunicativa (de ação sobre o outro)... O diálogo enquanto fenômeno de natureza discursiva é, portanto, o lugar de inserção da criança na linguagem. Nessa perspectiva, ele é o fundamento da possibilidade de a criança vir a falar. Nele, a criança é falada antes de falar. Falam por ela, dela e para ela inicialmente. Nesse processo, ela passa da condição de interpretado para interprete. Ou seja, a interação é vista como matriz de significação e a linguagem como atividade simbólica, através da qual a criança vai incorporando, gradualmente, mas não de modo linear, as categorias linguísticas. O adulto aqui não é o provedor, mas o co-autor no processo de constituição da linguagem, ou seja, aquele que interpreta comportamentos comunicativos da criança, atribuindo-lhes significado. (TRENCH, 1995, p. 65; 74-75).
Essa concepção de linguagem permite não só visualizar uma relação dinâmica e constitutiva entre o sujeito e a linguagem, como também voltar a atenção para os sujeitos reais e suas histórias individuais de relação com a linguagem. Dentro da concepção assumida pela autora, interessam as situações reais de interlocução, historicamente situadas. Ora, sujeitos reais costumam usar a linguagem, seja em sua forma oral, seja em sua forma escrita, de maneira por vezes absolutamente singular.
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Atenção A linguagem é um aspecto desenvolvido pelos seres humanos a partir de situações de interlocução!
4.1 Resumo do Capítulo Você se lembra de tudo que vimos neste capítulo? Vamos então recordar: a linguagem é fator fundamental para o desenvolvimento do ser humano, é ela que nos diferencia dos outros animais. O texto nos propõe a reflexão da importância da interação e interlocução para que a linguagem seja significada. O adulto é o coautor no processo de constituição da linguagem, aquele que atribui significado aos comportamentos comunicativos. Multimídia Para entender melhor sobre o desenvolvimento de linguagem e língua assista aos filmes: O Garoto Selvagem O Milagre de Anne Sullivan
4.2 Atividade Proposta Vamos treinar um pouco agora! 1. Complete: a) a) Refere-se ao conhecimento interno dos falantes-ouvintes de uma língua. Também pode ser entendida num sentido mais amplo, ou seja, incluindo qualquer tipo de manifestação de intenção comunicativa. Estamos falando sobre a ____________________. b) b) É um sistema de signos compartilhado por uma comunidade comunidade linguística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A ______________ é um fato social, ou seja, um sistema coletivo de uma determinada comunidade linguística.
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5 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) Então o que você achou até aqui? Está gostando de aprofundar seus conhecimentos sobre as questões da língua? Agora, nós vamos conhecer mais sobre a língua de sinais, lembrando que essa língua possui uma modalidade visomotora. As pessoas estão acostumadas a relacionar língua com fala. “Assim, quando falamos em língua de sinais, que exige uma associação de língua com sinais, normalmente as pessoas apresentam concepções equivocadas.” (QUADROS, 1997, p. 46). Atenção As línguas de sinais apresentam-se em uma modalidade diferente da das línguas orais.
Elas são línguas espaço-visuais, ou seja, a realização dessas línguas não é estabelecida através de canais orais-auditivos, mas através da visão e da utilização do espaço. Preste atenção!!! A diferença na modalidade determina o uso de mecanismos sintáticos especialmente diferentes dos utilizados nas línguas orais. As línguas de sinais são sistemas linguísticos independentes das línguas orais, desmistificando a idéia de que as línguas de sinais derivam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. (QUADROS, 1997, p. 46-47).
Outro fato importante para pensarmos é a forma como foram criadas as línguas de sinais. Elas são línguas naturais, pois refletem a capaci-
dade humana para a linguagem e porque surgem da mesma necessidade específica das línguas orais, ou seja, a necessidade de os seres humanos utilizarem um sistema linguístico que é transmitido através de gerações para expressarem ideias, sentimentos e ações. Quadros (1999) observa que, até recentemente, as pessoas acreditavam que as línguas de sinais eram representações miméticas, miméticas, totalmente icônicas icônicas e sem nenhuma estrutura formativa. No entanto, várias pesquisas vêm sendo realizadas e apontam que essas línguas são sistemas abstratos de regras gramaticais. Apesar de apresentarem formas icônicas, elas são altamente complexas e apresentam mecanismos sintáticos espaciais, evidenciando os recursos e sua complexidade. Assim, como em qualquer outra língua, é possível produzir e reproduzir expressões metafóricas (poemas, expressões idiomáticas, piadas etc.) utilizando a língua de sinais. Dicionário Dicionário Mimético: que imita algo ou outrem; reproduz algo ou um comportamento de modo idêntico. Fonte: www.dicionarioinformal.com.br. Icônico: que representa, que reproduz, que foi copiado; adj - 1. Relativo a ícone. 2. Relativo à imagem ou imagens. 3. Que é conforme ao modelo. 4. Que representa com exatidão. Fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.. aspx?pal=ic%C3%B3nico.
Como foi dito até aqui, as línguas de sinais apresentam as propriedades específicas das línguas naturais, sendo, portanto, reconhecidas enquanto línguas pela Linguística. São visual-espa-
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ciais, captando as experiências visuais das pessoas surdas. Elas vêm mostrando que são comparáveis às línguas orais no que diz respeito à expressão de ideias e à sutileza que as caracteriza. Os usuários das línguas de sinais, no caso do Brasil, da Libras, podem discutir Filosofia, sonhos, ideias, política, declamar poesias etc., ou seja, podem expressar todas as funções que o Português realiza. Como toda língua, a língua de sinais é viva, dessa forma, ao longo do tempo, vão sendo incorporados novos vocábulos/sinais a ele; assim, quando há a necessidade, surge um novo sinal e, desde que se torne aceito pela comunidade, será aceito e incorporado à língua. Você acha que a língua de sinais é universal? univers al? Pois não é. Esta é uma fantasia corrente, principalmente entre ouvintes, que a língua de sinais seja universal. Assim como as línguas orais, cada localidade possui a sua língua. Podemos citar o exemplo de países que utilizam a mesma língua de sinais, Estados Unidos e Canadá. Embora cada língua de sinais seja diferente e possua a sua estrutura gramatical, é inegável que surdos de países diferentes comunicam-se com maior facilidade uns com os outros, mesmo que não conheçam a outra língua, diferentemente do que ocorre na oralidade. Para você saber, no Brasil, as comunidades surdas utilizam a Libras, mas, além dela, há diversos registros de outra língua de sinais, que é
utilizada pelos índios Urubus-Kaapor, na Floresta Amazônica. Muitas pessoas acreditam, também, que a Libras é o Português feito com as mãos, que os sinais substituem as palavras dessa língua e que ela é uma mímica e só consegue expressar conceitos concretos. As Relações Espaciais e as Línguas de Sinais Bem, caro(a) aluno(a), como estamos podendo observar, observar, a Libras é uma língua língua que possibilita uma comunicação completa, porém sua característica é diversa do oralismo. A língua de sinais Libras utiliza o espaço para a sua comunicação e, para que haja uma organização desses sinais, ela possui parâmetros para a sua utilização. Como estamos verificando, as relações espaciais nas línguas de sinais são muito complexas. Na Libras, assim como verificado na Língua Americana de Sinais ( American American Sign Language Language – ASL), as relações gramaticais são especificadas através da manipulação dos sinais no espaço. As sentenças ocorrem dentro de um espaço definido, na frente do corpo, em uma área limitada pelo topo da cabeça e que se estende até os quadris. Além disso, o final de uma sentença, em Libras, é indicado por uma pausa. A Figura 1 ilustra o espaço de realização dos sinais na Libras, conforme Langevin e Ferreira Brito (1998).
Figura 1 – Espaço de realização dos sinais na Libras.
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Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
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Libras
Então, como vimos, os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos em um determinado local e de uma determinada forma são chamados de parâmetros. Portanto, o que é denominado palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas é denominado sinal nas sinal nas línguas de sinais. Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo esse lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Essas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e, às vezes, aos morfemas, são chamadas parâmetros. Para realizarmos então os sinais, precisamos utilizar os parâmetros. Nas línguas de sinais, de acordo com o MEC (2007), podem ser encontrados os seguintes parâmetros: Agora, preste muita atenção!
Configuração das mãos: mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou formas feitas pela mão predominante ou pelas duas mãos do sinalizador. A Libras apresenta 46 configurações de mãos; são elas: Figura 2 – Configuração de mãos.
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Ponto de articulação: é articulação: é aquela área no corpo, no espaço de articulação definido pelo corpo ou perto do qual o sinal é articulado. Na Libras, o espaço onde o sinal é realizado é uma área que contém todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos. Dentro desse espaço de enunciação, que seria cabeça e tronco, pode-se determinar um número limitado de lugares, sendo alguns mais exatos, como, por exemplo, a ponta do nariz, e outros mais abrangentes, como a frente do tórax. Em algumas situações, a localização do sinal será reposicionada, pois o sinal pode estar vindo de outro interlocutor; por exemplo: B faz sinal para A. Nesse caso, a localização deve levar em consideração as localizações dos interlocutores, na enunciação ideal; Movimento: Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Ferreira Brito (1990) menciona que os movimentos podem estar nas mãos, pulsos ou antebraço e ser unidirecionais (para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda, para fora, para dentro, para a lateral inferior esquerda ou direita, para a lateral superior esquerda ou direita) ou bidirecionais (para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita, para dentro e para fora, para laterais opostas – superior e inferior direita ou esquerda); Orientação/direcionalidade: os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros citados. Assim, os verbos ir verbos ir e vir se opõem em relação à direcionalidade, como os verbos. Na Libras, temos seis tipos de orientações da palma das mãos: para cima, para baixo, bai xo, para o corpo, para frente, para a direita e para a esquerda; Expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados, em sua configuração
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também têm como traço diferenciador a expressão facial e/ou corporal, como os sinais alegre e triste. triste. Há sinais realizados somente com a bochecha, como ladrão e ato sexual; sexual; sinais feitos com a mão e a expressão facial, como bala como bala,, e, ainda, sinais em que sons e expressões faciais complementam os traços manuais, como os sinais de helicóptero e moto. moto. Atenção São cinco parâmetros: configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação e direcionalidade direcionalidade e expressão facial e/ou corporal.
Você já viu um surdo fazendo sinais? Se sim, notou como eles modificam sua expressão facial e corporal. Por que isso acontece? Duas estudiosas da língua de sinais, Quadros e Karnopp (2004), linguistas, apontam a importância das expressões não manuais (expressão dos olhos, movimento da face, da cabeça ou tronco), que têm como função marcar sentenças interrogativas, relativas, concordância, foco, entre outros aspectos. Ressaltamos que duas expressões não manuais podem acontecer simultaneamente, como, por exemplo, marcas de interrogação e negação. Apresentamos, a seguir, algumas possibilidades de expressões não manuais da língua de sinais brasileira: Rosto: Rosto: sobrancelhas franzidas, olhos arregalados, lance de olhos, sobrancelhas levantadas; bochechas infladas, bochechas contraídas, lábios contraídos e pro jetados e sobrancelhas sobrancelhas franzidas, correr da língua contra a parte inferior interna da bochecha, apenas bochecha direita inflada, contração do lábio superior, franzir do nariz.
celhas franzidas, cabeça projetada para trás e olhos arregalados. Tronco: Tronco: para frente, para trás; balanceamento alternado dos ombros; balanceamento simultâneo dos ombros. Balanceamento único ombro. (QUADROS; KARNOPP, KARNOPP, 2004, p. 61).
Como apontamos anteriormente, portanto, “falar com as mãos” não é simplesmente fazer mímicas ou indicar algo, mas é a utilização de uma combinação de elementos que produzirá sinais, os quais, combinados, formarão frases em um contexto. É importante lembrar que a Libras vai transmitir todas as informações necessárias, utilizando os sinais, porém é preciso que se tenha em mente que: a) o Português e a Libras são línguas completamente distintas, não apenas em relação à estrutura (gramática e léxico), mas ao próprio suporte; b) a sentença em Língua Portugu Portuguesa esa possui redundâncias (como a concordância de número, gênero e pessoa gramatical), que seriam suprimidas no processo de representação em Libras; c) a sentença, em Língua Portuguesa, possui informações (como a ordem dos constituintes) que nem sempre são relevantes para a representação.
Saiba mais Para conversarmos, em qualquer língua, não basta conhecermos as palavras, ou vocabulário, é preciso incorporar as regras gramaticais para a formação das frases. Na língua de sinais, além disso, a utilização das expressões não manuais é fundamental para a compreensão do que está sendo dito!
Cabeça: Cabeça: balanceamento para frente e para trás (sim), balanceamento para os lados (não), inclinação para frente, inclinação para o lado e inclinação para trás. Rosto e Cabeça: Cabeça: cabeça projetada para frente, olhos levemente cerrados, sobran-
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5.1 Resumo do Capítulo
Neste capítulo pudemos conhecer melhor as características das línguas de sinais, sua modalidade, ou seja, é uma língua visomotora, diferente da língua oral que é de modalidade oral-auditiva. Conhecemos o espaço onde são realizados e os parâmetros que devem ser levados em consideração para que os sinais sejam realizados de forma correta.
5.2 Atividades Propostas Para finalizar, vamos relembrar alguns conceitos deste capítulo. 1. Os parâmetros da língua de sinais são: são: 2. Podemos dizer que a língua de sinais é, simplesmente, “falar com as mãos”?
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6 A LIBRAS E SUA GRAMÁTICA Caro(a) aluno(a), Muitas vezes ficamos pensando se a Libras pode ser grafada. Sim, de duas maneiras: por meio de sinais ou por meio do alfabeto manual ou datilológico. Utilizamos a datilologia somente quando vai se digitar o próprio nome ou quando queremos designar uma palavra que não possui um sinal. No restante do tempo, não há digitação ou utilização do alfabeto manual. Cada pessoa possui um sinal que a designa, portanto, em uma conversa, não se utiliza o nome da pessoa que se quer perguntar ou referir;
na verdade, cada pessoa que participa da comunidade surda possui um sinal próprio (essa designação é sempre realizada pela comunidade surda e a partir de uma marca ou característica pessoal). Saiba mais Comunicar-se em Libras não é ficar digitando todas as palavras! Como dito anteriormente, a digitação, ou utilização do alfabeto manual ou datilológico, é somente usada para explicitar um nome ou explicitar um termo que não exista correspondência em sinais.
Alfabeto Manual ou Datilológico Figura 3 – Alfabeto – Alfabeto manual – Letras.
Fonte: valpimentinha.blogspot.com.
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Figura 4 – Números.
Fonte: Fonte: eeblmlibras.blogspot.com.
Fonte: Fonte: aprendendoporlibras.zip.net.
Os Pronomes Pessoais Quando estamos utilizando a Libras para nos comunicarmos, também utilizamos os pronomes pessoais. Devemos seguir as seguintes normas, se for falar “eu”, deve-se apontar o indicador para o próprio peito (pessoa que está falando); o sinal para “você” é apontar para o receptor. Se for “ele” ou “ela”, apontar para a pessoa, que não está na conversa, ou um lugar que foi convencionado para determinar a outra pessoa. Quando vamos falar “grupo”, fazer o numeral com a mão predominante. Podemos grafar esse sinal de duas maneiras básicas: fazendo o número (por exemplo, dois), mais a palavra “grupo”; ou grafar o número
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e, com a configuração da mão em “d” “d”,, fazer um semicírculo à frente ou ao lado do interlocutor. É normal, na conversação em Libras, a omissão da primeira pessoa. Já os pronomes pessoais na terceira pessoa não possuem marca para gênero (masculino e feminino), sendo grafados, para termos de escrita, com o sinal @.
Atenção Quando estamos falando em Libras na primeira pessoa, não é necessário fazer o sinal de “eu”.
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Pronomes Demonstrativos e Advérbios de Lugar Como dissemos acima, temos os pronomes em Libras assim como na língua portuguesa. Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar, em Libras, estão relacionados às pessoas do discurso. Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar relacionados a primeira pessoa (“est@ aqui”) são representados por: apontar para o local onde está, acompanhado do olhar do emissor. Se a pessoa não estiver presente, devemos olhar e apontar para o local predeterminado da pessoa em questão. Se formos falar “ aquel@ aquel@ lá”, devemos apontar para um local mais distante, direcionado para a coisa/pessoa ou lugar. Pronomes demonstrativos ou advérbio de lugar EU (olhando para o EST@/AQUI (olhando para a receptor) coisa/lugar, perto da 1ª pessoa) VOCÊ (olhando para o receptor) ESS@/AÍ AQUI (olhando para a coisa/lugar, perto da 2ª pesEL@ (olhando para o soa) receptor) AQUEL@/ LÁ AQUI (olhando para a coisa/lugar distante apontada) Pronomes pessoais
Pronomes Possessivos Os pronomes possessivos são utilizados na Libras também, eles estão relacionados à pessoa do discurso e não ao objeto possuído. Preste atenção agora! Para a primeira pessoa (meu (meu),), pode haver duas configurações de mão:
mão aberta com os dedos juntos, que bate levemente no peito do emissor; mão em “p” com o dedo médio batendo no peito (quer dizer “meu próprio”).
Em relação a você ou el@, o movimento de “p” é em direção à pessoa de quem se fala. Não há sinal específico para as pessoas no plural.
6.1 Resumo do Capítulo Você aprendeu neste capítulo o alfabeto datilológico ou manual e sua importância na língua de sinais. Pudemos entender como são utilizados os pronomes pessoais, demonstrativos e os pronomes possessivos. Entendemos que os surdos utilizam a digitação, ou soletração somente em algumas situações específicas, como para designar o nome de uma pessoa, ou lugar, ou ainda quando não há sinal específico para a palavra, então digitamos a mesma e explicamos seu significado.
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6.2 Atividade Proposta
Vamos testar agora o que aprendeu? 1. Complete: a) O alfabeto datilológico é utilizado quando:
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7 ESTRUTURA LINGUÍSTICA DA LIBRAS Prezado(a) aluno(a), vamos observar como é a estrutura da Libras. Atenção “A LIBRAS é dotada de uma gramática constituída a partir de elementos constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico (o conjunto das palavras da língua) que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam especificidade, mas seguem também princípios básicos gerais. Estes são usados na geração de estruturas linguísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número infinito de construções a partir de um número finito de regras. É dotada também de componentes pragmáticos convencionais, codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos metafóricos, ironias e outros significados não literais.” (BRITO, 2006).
Buscando compreender a estrutura de uma língua, devemos observar seus aspectos:
Morfológico – – Morfologia é a ciência que estuda a estrutura interna das palavras; Fonético – – Fonologia é uma área que busca interpretar sons da fala, tendo sempre por base os sistemas de sons das línguas e os modelos teóricos disponíveis.
Em relação à língua de sinais, esses estudos também são realizados, porém essas áreas da Linguística se detêm no estudo das unidades mínimas dos sinais. A preocupação da Fonética é “descrever as unidades mínimas dos sinais” e a
Morfologia “é o estudo da estrutura da palavra ou do sinal, assim como as regras que determinam a formação de palavras.” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 83, 86). Quando aprendemos a Língua Portuguesa, temos o som, os fonemas e a sua representação através de letras, como, por exemplo, na palavra “certo”. Falamos “/sertu/” e escrevemos escrevem os “certo”. “certo”. Temos, aqui, cinco letras ou grafemas componentes da palavra escrita; não consideramos a letra uma unidade mínima, como o fonema, porque o fonema, às vezes, é representado, na escrita, por mais de uma letra. Assim, como vimos acima, são cinco os componentes ou as unidades mínimas constitutivas das palavras em Português. Essas unidades mínimas são chamadas fonemas, que sabemos serem sequencialmente combinadas para formar as palavras. certo - /s e r t u/ Em LIBRAS, as unidades mínimas ou componentes da palavra ou sinal CERTO são os seguintes:
CM = configuração de mãos; M = é o movimento linear, para baixo com retenção final;
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PA = é o ponto de articulação do sinal, isto é tronco, busto, lado direito;
Os Pares Mínimos
O = é a orientação da palma da mão para a esquerda; S = é a simetria no movimento ou uso da mão esquerda, realizando o mesmo movimento que a esquerda, também como articulador e não apenas como mão de apoio;
Veja, agora, várias possibilidades de modificação dos sinais a partir dos pares mínimos! Os pares mínimos, na língua de sinais, acontecem quando temos um dos parâmetros dos sinais modificados. Essas modificações podem ser quanto a:
Em português, as unidades mínimas ou componentes da palavra certo /sertu/ podem ser descritas da seguinte forma:
Configuração de mãos
/s/ som com passagem obstruída (consoante), surdo, fricativo; /e/ som com passagem livre (vogal), sonoro, aberto, médio; /r/ som com passagem obstruída (consoante), sonoro, vibrante; /t/ som com passagem obstruída (consoante), surdo, oclusivo; /u/ som com passagem livre (vogal) sonoro, fechado, posterior. (BRITO, 2006).
Você percebeu a diferença entre a descrição das unidades mínimas de “certo” em Libras e em Português. Na Libras, as características dos sinais são espaciais (configuração de mão, ponto de articulação, movimento e orientação) e, no Português, as unidades da palavra são acústico-sonoras. Como pudemos verificar, as palavras na Libras também se utilizam de unidades mínimas. Quando uma dessas unidades é modificada, gera um novo significado.
Atenção
Acostumar
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
No sinal de educar, a configuração da mão direita é em “L” e, no sinal de acostumar, a configuração da mão direita é “mão “mão aberta” abert a”.. É uma diferenciação pequena, porém significativa; 1. Ponto de articulação:
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Na Libras, assim como na língua portuguesa, a modificação de um parâmetro modifica o vocábulo. Por exemplo, se na palavra “lobo” mudar o lugar de uma letra, “b” por “l”, teremos outra palavra, “bolo” e não mais “lobo”. Da mesma forma na língua de sinais, se modificarmos um dos parâmetros (configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, ou orientação) estaremos mudando o sinal.
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Educar
As duas palavras apresentadas nesse exemplo – aprender e sábado –, possuem a mesma configuração de mão e, também, o mesmo movimento, porém o que as distingue é o local onde cada uma delas é realizada. Na palavra “aprender” “aprender”,, a localização do sinal é na testa e, no sinal de sábado, o ponto de articulação é em frente à boca. A alteração desse parâmetro modifica o significado das palavras.
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Saiba mais Uma das possibilidades de alteração de parâmetro é a mudança no ponto de articulação. “Isto é, há uma característica espacial distinta nos sinais, o ponto de articulação, que os distingue. Essas características, /na testa/ e /na boca/, são unidades mínimas distintivas equivalentes aos fonemas das palavras pata e bata do português, /p/ e /b/, que também distinguem as formas linguísticas e seus significados.” (BRITO, (BRITO, 2006). 2006) .
2. Movimento:
Verde (SP)
Gelado (SP)
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
As palavras “verde” e “gelado” são também pares mínimos, pois há a modificação de um parâmetro; nesse caso, a diferença é o movimento. Como pudemos observar, pelos exemplos citados, que, tanto na Libras quanto no Português, as palavras são constituídas a partir de unidades mínimas. Apesar de o número dessas unidades ser finito e pequeno, combinados, geram um número infinito de palavras. Assim, o léxico da Libras, como de qualquer outra língua, é infinito, pois sempre há a possibilidade de novas palavras. O fato de, em algumas línguas, não haver vocábulos para designar alguns campos semânticos não quer dizer que a língua seja “pobre”, pois ela possui todos os mecanismos para criar palavras para qualquer conceito que venha a ser utilizado pela comunidade. Verifica-se, também, que os princípios e mecanismos utilizados na Libras são os mesmos utilizados em qualquer outra língua. A grande diferenciação entre a Libras e outras línguas é sua característica visual. Preste atenção!
É devido às mesmas restrições que as unidades ou fonemas do português se organizam ou estruturam seqüencialmente ou linearmente no tempo, enquanto que as unidades ou ‘fonemas’ da LIBRAS se estruturam simultaneamente ou ao mesmo tempo no espaço. (BRITO, 2006).
Morfemas e Formação de Palavras por Derivação As duas linguistas Quadros e Karnopp (2004) apontam que uma das principais funções da Morfologia é a utilização de uma ideia de uma palavra em outra classe gramatical. Na Libras, a função de derivação é muito utilizada; por exemplo: derivar nomes de verbos ou vice-versa. “[...] observa-se que a Língua de Sinais Brasileira pode derivar derivar nomes de verbos pela mudança no tipo de movimento. Este pode ser encurtado no caso do verbo e repetido no caso do nome”. nome”. (BRITO, (BRI TO, 2006). Por exemplo, no verbo “sentar”, o sinal é realizado uma única vez. Já no substantivo “cadeira” “cadeira”,, é utilizado u tilizado o mesmo sinal de sentar, mas ele possui movimento repetido, ou seja, o sinal de sentar é realizado duas vezes. Portanto, o sinal de cadeira é derivado do sinal de sentar. Se observarmos o exemplo a seguir (BRITO, 2006), nos sinais de “falar” e de “falar muito”, ou “falar pelos cotovelos”, cotovelos”, a modificação modifi cação acontece na sua duração.
FALAR
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
FALAR SEM PARAR FALAR PELOS COTOVE� LOS FALAR + aspecto continuativo
No exemplo a seguir (BRITO, 2006), podemos perceber que o sinal de “saber” possui uma
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configuração de “mão aberta”. A modificação do sinal para a negativa “não saber” altera a configuração de mão; a configuração de mão utilizada nesta palavra é a configuração número treze (13), o que modifica o sinal e incorpora a negativa.
SABER
NÃO SABER
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Formação de Palavras por Composição Podemos observar então que, assim como na Língua Portuguesa palavras derivam de outras, também podemos formar diferentes palavras a partir do processo de composição. A composição é o processo de juntar duas palavras, como, por exemplo, “guarda-chuva”; no caso dos sinais, isso ocorre pela adjunção de dois sinais simples, transformando-os em formas compostas. Por exemplo: CASA + CRUZ = IGREJA MULHER + PEQUENO = MENINA HOMEM + PEQUENO = MENINO É importante ressaltar que alguns sinais são distintos quanto à forma e à categoria e o que vai defini-los é a sua função na frase ou, como os surdos nos apontam regularmente, dependerá do contexto.
Podemos apontar, no exemplo a seguir, “Ela falou com você semana passada”, que o aspecto pontual vai pontual vai se referir a essa ação que ocorreu em um determinado momento definido no passado. Nessa frase, podemos dizer que a ação aconteceu em um determinado momento: “semana passada”. Preste atenção! Em LIBRAS, temos um sinal FALAR para um contexto linguístico similar. Por exemplo, ELE FALAR VOCÊ ONTEM (= ele falou com você ontem). Entretanto, temos também ta mbém o sinal s inal FALAR SEM PAPARAR que se refere a uma ação que tem uma continuidade no tempo como no exemplo ELE FALAR SEM PARAR PARAR AULA (= ele falou sem parar p arar durante a aula) (BRITO, 2006).
FALAR (aspecto pontual)
FALAR SEM PARAR (aspecto continuativo)
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
O aspecto durativo durativo vai indicar outro elemento do sinal e da conversação: quando, em Libras, queremos mostrar a intensidade do sinal, modificamos um ou mais parâmetros e temos uma nova palavra. Podemos entender melhor com os exemplos a seguir, retirados de Brito (2006):
Aspecto Verbal Assim como em outras línguas, a Libras vai distinguir alguns aspectos dos sinais. Essas modulações são três: pontual, pontual, continuativo ou durativo e vo e interativo interativo..
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OLHAR (pontual (pontual)) OLHAR VOCÊ ONTEM VOCÊ NÃO ENXERGAR (pontual (pontual))
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É importante ressaltar que esse tipo de evento não acontece na Língua Portuguesa. Itens Lexicais para Tempo e Marca de Tempo
OLHAR (durativo (durativo)) ELE FICAR OLHANDO LONGAMENTE MAR (durativo) durativo) A modificação no parâmetro é o ponto de articulação, que mudou do olho para a ponta do nariz.
Um aspecto importante para observarmos é que na Libras não há a marcação de tempo no sinal. A língua de sinais não possui marcação de tempo verbal como o Português. Para demonstrar o tempo verbal, utilizamos os sinais adverbiais como ontem, hoje, amanhã, semana passada, próximo ano etc. Com a utilização dessa marcação, não há risco de ambiguidade temporal; sabe-se exatamente o tempo que está sendo narrado, pois, enquanto não aparecer outro item lexical, o tempo é o que foi marcado a priori .
OLHAR (durativo (durativo)) ELA PASSAR TODOS OLHAR CONTINUADAMENTE (durativo (durativo))
Atenção Os sinais que veiculam conceito temporal, em geral, vêm seguidos de uma marca de passado, futuro ou presente da seguinte forma: Movimento para trás, para o passado; Movimento para frente, para o futuro; e Movimento no plano do corpo, para presente. Alguns desses sinais, entretanto, incorporam essa marca de tempo não requerendo, pois, uma marca isolada como é o caso dos sinais ONTEM e ANTEONTEM.
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Já o aspecto interativo pode aparecer em contextos em que seja necessário apontar uma interação com o meio. Por exemplo, “PAULO VIAJAR- MUITAS-VEZES”. O sinal interativo se dá quando o evento ou ação acontece repetidas vezes. Veja o exemplo a seguir, retirado de Brito (2006):
Veja o exemplo do que acabamos de explicar:
ONTEM VIAJAR (pontual)
ANTEONTEM
VIAJAR (interativo)
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Outros sinais como ANO requerem o acompanhamento de um sinal de futuro ou de presente, mas, quando se trata de passado, ele sofre uma alteração na direção do movimento de para frente para trás e, por si só já significa ‘ano passado’. Os sinais de ANO e ANO-PASSADO podem ser observados nas ilustrações que se seguem:
UMA-VEZ
DUAS-VEZES
TRÊS-VEZES
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Em alguns momentos, alongando o movimento do sinal e acelerando-o, estamos marcando sua intensidade ou quantidade. No exemplo a seguir, temos o sinal de longe e, com a intensificai ntensificação do movimento e seu alongamento, temos a expressão “muito longe”. ANO
ANO-PASSADO
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Quantificação e Intensidade Quando precisamos apontar uma quantificação em Português, normalmente dizemos “há muitas pessoas nesta festa” ou “há pouco espaço nesta escola”. Essas expressões não são utilizadas na Libras. Utilizamos a configuração de mãos para mostrar a diferença; por exemplo: se for uma única pessoa, será apenas um dedo para mostrar quem é; se forem muitas pessoas, vamos utilizar as duas mãos, apontando para o espaço, mostrando “todos” “ todos”.. Se for necessário utilizarmos alguma marcação com número, como para horas, meses, dias, semanas ou pessoas, podemos nos referir a até três incorporados ao sinal. No exemplo a seguir, a figura está mostrando uma vez com o numeral um, dois e três. Há a modificação do parâmetro, o que modifica o sinal. Se a quantidade for acima de cinco, faz-se o sinal do número e, em seguida, o sinal referente ao vocábulo. Observe no exemplo do desenho:
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LONGE
MUITO-LONGE
Fonte: Brito Fonte: Brito (2006).
Como você pode ver, pudemos verificar várias formas de utilizar a linguagem que é característica da língua de sinais e não é utilizada nas línguas orais. Classificadores Muitas pessoas dizem que os surdos fazem “mímica”. “mímica”. Na verdade isso não acontece, mas exisex iste um componente da gramática da língua de sinais que se chama classificadores. Os classificadores compõem um aspecto que pode ser encontrado também nas línguas orais. Segundo Brito (2006):
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[...] como algumas línguas orais e como várias línguas de sinais, a LIBRAS possui classificadores, um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou sinal para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrevê-lo quanto à forma e tamanho, ou para descrever a maneira como esse referente é segurado ou se comporta na ação verbal.
Em Libras, os classificadores são incorporados ao sinal e têm como característica atribuir uma qualidade a um objeto, pessoa, animal. Por exemplo: se queremos demonstrar que o “copo é quadrado”, utilizaremos os classificadores para designar a forma e o tamanho do copo. Ao se atribuir uma qualidade a uma coisa, por exemplo: arredondada, quadrado, cheio de bolas, de listras, entre outras, isso representa um tipo de qualificação. Assim, classificadores são formas que, substituindo o nome que as precede, vêm do verbo. Portanto, os classificadores na LIBRAS LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: pessoa, animal, coisa. Os classificadores para pessoa ou animal podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. Os classificadores para coisa representam, através de concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal. (FELIPE, 2007, p. 150).
tuguês. Realmente, no que diz respeito à ordem das palavras, há uma diferença, pois o Português é uma língua de base sujeito-verbo-predicado, enquanto que a Libras é uma língua do tipo tópico comentário. Quadros e Karnopp (2004) mencionam dois trabalhos que mostram a flexibilidade na ordem das frases na Libras. Para eles, Felipe e Ferreira Brito apontam que há várias possibilidades de ordenação das palavras nas sentenças, mas que, apesar da flexibilidade, há uma ordenação básica, que seria sujeito-verbo-objeto. Todas as frases que utilizam essa organização são gramaticais. Veja alguns exemplos de possibilidades de frases em Libras, retirados de Quadros e Karnopp (2004, p. 140-143): 1- Ela gosta de futebol S V O Nessa frase, há uma marca não manual, ou seja, o narrador marca com a direção dos olhos, que acompanha a concordância de pessoa associada ao verbo. 2 - TV ela assiste O S
V
3 - Futebol ele gosta O S V Ele futebol gosta S O V
Atenção Os classificadores não são “mímica”, mas sim a atribuição de uma qualidade ou característica ao sinal.
Essas construções de frases mostram frases simples em que o referente não está presente; porém, se a frase tiver uma estrutura mais complexa, não será possível mudar o objeto da ordem. Por exemplo:
A Estruturação de Sentenças em Libras Não é difícil encontrar pessoas que apontam que a constituição da estrutura das sentenças em Libras é completamente diferente no Por-
Eu querer Maria trabalhar melhor S V O
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Uma possível explicação para a flexibilidade da ordem das frases na língua de sinais está relacionada à topicalização, topicalização, que está associada à marcação não manual. A seguir, você poderá verificar o estudo de Quadros e Karnopp (2004) a respeito das formas
pronominais para marcar as pessoas no discurso. Os desenhos e texto citados são da Professora Ronice Quadros em seu estudo sobre Linguística da Libras (1997, p. 49-64).
Figura 5 – Formas pronominais usadas com referentes presentes.
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 49-64).
do sinalizador. A apontação pode designar, tamO desenho apresentado anteriormente bém, lugares e/ou objetos no espaço. aponta como as relações na Libras podem ser complexas, ou seja, de O exemplo a seguir que forma o sinalizador esclarece como o sinaliSaiba mais pode marcar as pessoas zador atua para marcar do discurso. Essas pessoas “A referência referentes não presentes. referência anafórica requer que o sinalizador aponte podem estar presentes ou (olhe ou gire o corpo) um local pré-estabelecido, isto O sinalizador irá relacioé, após a introdução de um nominal co-referente a um não no diálogo; quando nar um local à sua direita ponto estabelecido no espaço, esse ponto no espaço presentes, a sinalização referir-se-á àquele nominal, mesmo depois de outros e irá nomeá-lo; por exemacontece apontando-se sinais serem introduzidos no discurso.” (QUADROS, plo: João à direita e à sua 1997, p. 50). diretamente ao referente. esquerda Maria. Todas as Se o referente não estiver vezes que ele mostrar ou presente, ou temporareferir-se à sua direita esriamente ausente, é realizado o mecanismo de tará se referindo a João e, à esquerda, Maria. Obapontação, apontação, que é direcionado para um local esserve o desenho: pecífico, sempre na horizontal defronte ao corpo
Figura 6 – Formas pronominais para marcar as pessoas do discurso.
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 193).
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Como você pode observar, o sinalizador não distribui os locais referentes aleatoriamente. Os referentes somente serão arbitrários, segundo Lilo-Martin e Klima (1990), se forem referentes abstratos (parlamentarismo, presidencialismo) ou para referentes descritos individualmente não interagindo com outros (diferentes turmas dentro de uma escola). Os locais devem distribuídos no espaço, de forma que possam ser diferenciados, ou seja, que não gere confusão nos interlocutores. É importante, também, ressaltar a importância do olhar do sinalizador, pois, se o sinalizador estiver olhando para o interlocutor A (exemplo a seguir), ele estará se referindo a “você\tu”. “você\tu”. Figura 7 – Pronome de 2ª pessoa: VOCÊ/TU.
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 53).
É importante ressaltar que, se o sinalizador estiver olhando para B quando apontar para A, significa que serão ambos ele/ela. Figura 8 – Pronome de 3ª pessoa: ELE(A).
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 53).
Atenção agora!!!
Vamos mostrar, agora, alguns mecanismos utilizados para estabelecer referentes no espaço. São eles: a) fazer o sinal em uma localização particular (se a forma do sinal permitir); b) apontar um substantivo em uma localização particular; c) direcionar a cabeça e os olhos (e talvez o corpo) em direção a uma localização particular, fazendo o sinal de um substantivo ou apontando para o substantivo; d) usar um pronome antes de um sinal para um referente; e) usar um pronome numa localização particular quando é óbvio o referente; f ) usar um um classificador classificador (que representa representa aquele referente) em uma localização particular; g) usar um verbo direcional direcional quando é óbvio o referente. (QUADROS, 1997, p. 53). Ressaltamos que, se o sinalizador modificar sua localização no espaço, todos os envolvidos no discurso também sofrerão alteração. Concordância Verbal A concordância verbal é um aspecto importante em qualquer língua. Quadros (1997) aponta as diversas classificações dos verbos. Para a autora, os verbos, na Libras, apresentam a flexão e a concordância através do sinalizador, que é identificado como primeira pessoa se a orientação do movimento for do sinalizador para outra pessoa ou pessoas. Se a direção do sinal for de outro local (referencial não presente), o sinalizador será considerado segunda pessoa do discurso, pois ele estará “sofrendo” a ação. Outras localizações utilizadas no discurso podem identificar as terceiras pessoas do discurso. Vamos visualizar o exemplo do verbo ‘dizer’ ‘dizer ’.
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Salientando a observação de Baker e Cokely, Padden (1983 apud QUADROS, 1997, p. 61) apresenta as seguintes formas de concordância pessoal: a) Primeira Pessoa: Pessoa: próximo ao corpo do sinalizador;
b) Segunda Pessoa: Pessoa: na direção do interlocutor, determinado pelo contato do olhar com o interlocutor real ou marcado discursivamente; c) Terceira Pessoa: Pessoa: o marcador de concordância terá o mesmo ponto no espaço neutro assinalado 3º pessoa.
Figura 9 – Verbo ‘dizer’ em concordância na Libras.
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 61).
A autora aponta ainda que, segundo Padden, a primeira pessoa do discurso é sempre fixa e que a segunda e a terceira podem ter infinitas possibilidades a partir da localização que ocupam. Assim, a concordância do verbo se dará a partir do movimento e orientação do sinal. No exemplo anterior, com dizer, dizer, no primeiro quadro, o sujeito é o próprio sinalizador. A personagem está dizendo algo a alguém; sabemos disso pela orientação e pelo movimento do sinal (ele sai dela, sinalizador, para outra pessoa). No quadro B, a sinalização se inicia em outro local marcado no espaço, portanto a primeira pessoa
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do discurso é uma pessoa não presente, mas diz algo ao sinalizador, que é a segunda pessoa do discurso. No quadro C, a primeira pessoa é alguém não presente, nomeado como “c”, que diz algo para “a”, que também é um referencial não presente. No quadro D, a primeira pessoa é o sinalizas inalizador, que diz algo a todos os interlocutores desse diálogo. Podemos observar o mesmo fenômeno descrito com o verbo ‘dizer’ nos exemplos a seguir:
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DAR: Figura 10 – Verbo “dar” com concordância na ASL e na Libras.
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 63).
AJUDAR e OLHAR: Figura 11 – Variações do verbo “olhar”. “olhar”.
Fonte: Quadros Fonte: Quadros (1997, p. 49-64).
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Após todos os exemplos apontados, podemos dizer:
Libras é uma língua, não uma linguagem, e possui recursos infinitos para designar quaisquer que sejam os assuntos a serem discutidos.
Quando pensamos então em uma abordagem de ensino bilíngue, que é a proposta de ensino aos surdos no Brasil, cabe a nós, profissionais, adquirirmos e desenvolvermos proficiência nessa língua, para que a interação com o aluno ocorra verdadeiramente.
7.1 Resumo do Capítulo Este capítulo foi longo e por meio dele pudemos compreender aspectos da gramática da língua de sinais. Observamos novamente a importância dos parâmetros dos sinais em comparação com a língua portuguesa e sua característica dos sinais serem espaciais. Os pares mínimos que são elementos da língua de sinais e são caracterizados quando há a alteração de somente um dos parâmetros modificando assim o sinal seu significado e significante. Outros aspectos da língua de sinais que pode ser observado também na língua portuguesa oral e escrita são as palavras por derivação, ou seja, quando uma modificação no parâmetro modifica a palavra inicial, por exemplo cadeira e sentar. As palavras em sinais podem ser formadas a partir do processo de composição, ou seja, dois sinais diferentes juntos possuem um significado diferente, por exemplo casa + estudar = escola. A intensidade do sinal também pode modificar sua característica inicial. A organização das frases em Libras é diferenciada do português e finalmente pudemos aprender sobre os classificadores, que são aspectos importantes na comunicação dos surdos.
7.2 Atividades Propostas Vamos retomar agora, para que você fixe bem o conteúdo. Responda: 1. 2. 3. 4. 5.
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Quais são, em Libras, Libras, as unidades unidades mínimas ou componentes componentes do sinal? O que são pares mínimos? O que são palavras por composição? O que é a apontação? O que são os classificadores?
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) aluno(a), Temos a certeza de que a aprendizagem da Libras está apenas começando e que, nesta apostila, não esgotamos o assunto. O importante é que este momento tenha servido para reflexão acerca do outro diverso, do diferente e do quanto temos a aprender com ele; isso já foi válido. Nossa posição, enquanto professores, não é dizer o que é certo ou errado, mas entender que não existe uma única realidade. O mundo não é nem ouvinte nem surdo, mas é da forma como o criamos, mediante nossa percepção, disposição e possibilidade de relação.
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RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS
Caro(a) aluno(a), Apresentamos, a seguir, as respostas esperadas para as atividades propostas. CAPÍTULO 1 1. Como vimos no no decorrer do capítulo, capítulo, o Decreto Decreto nº 5.626, considera surdo surdo a pessoa que, por ter perda auditiva, interage e compreende o mundo utilizando-se de experiências visuais e manifestando sua cultura, principalmente, pela Libras. Nessa legislação, não se leva em consideração somente a perda auditiva, mas principalmente a utilização da cultura surda por meio da língua. CAPÍTULO 2 1. O personagem mais importante na educação educação dos surdos foi o Abade L’Epèe, pois ele modificou a visão da educação dos surdos em sua época e possibilitou o acesso ao conhecimento historicamente acumulado dessa população. Como você pôde perceber ao longo da apostila, várias pessoas tentaram educar os surdos utilizando recursos de gestos, mas somente o Abade L’Epèe é quem conseguiu reconhecimento. 2. Para completarmos completarmos essas perguntas, perguntas, é necessário necessário voltarmos ao texto. Releia e compreenda compreenda bem o que ali está dito. a) Em 1880, ocorre o Congresso de Milão, que modifica a educação dos surdos, para o oralismo. O Congresso de Milão conforme vimos no texto foi um marco histórico na educação dos surdos, pois modificou a visão dessas pessoas e suas possibilidades de aprendizagem. b) Hoje, o Brasil busca a metodologia do bilinguismo na educação dos surdos. O Brasil, assim como outros países, busca o bilinguismo como metodologia de ensino, tendo em vista o fato de que pesquisas foram realizadas e constatou-se que essa é a melhor forma de aprendizagem desses alunos. 3. Espero que sua resposta tenha sido Sim. Sim. As crianças surdas que aprendem a língua de sinais na primeira infância e têm acesso a falantes nativos da língua terão um desenvolvimento desenvolvimento sem atrasos, de forma similar às crianças ouvintes, porém em uma língua de modalidade visomotora. É importantíssimo que, para que se desenvolva a língua, as crianças tenham vivência com pessoas proficientes; o que irá modificar sua forma de aprendizagem e de apreensão do mundo que a cerca.
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CAPÍTULO 3 1. Descreva brevemente: brevemente: a) Como pudemos verificar verificar durante nossos estudos, o oralismo foi a forma de ensino empregada após o Congresso de Milão. Ele visa ao desenvolvimento da fala como objetivo primordial. Utiliza-se de próteses de amplificação sonora, pistas visuais, treinamento e desenvolvimento da fala, emissão e recepção de fonemas. Essa forma de ensino perdura até os dias de hoje, porém não necessariamente traz benefícios para a aprendizagem dos surdos. b) Veja: a Comunicação Comunicação Total Total é uma metodologia de ensino desenvolvida após quase um século de fracasso na educação dos surdos, que buscou alternativas para sua aprendizagem. A Comunicação Total tem como objetivo estimular o desenvolvimento linguístico, utilizando-se de todas as modalidades possíveis de comunicação, como: língua oral sinalizada, utilização de AASI, fala, leitura orofacial, leitura e escrita. Considera o desenvolvimento da língua oral imprescindível para o surdo. Além disso, a Comunicação Total foi importantíssima historicamente, pois trouxe nova luz sobre a educação dos surdos após tantos anos utilizando o oralismo, mas hoje não é mais utilizada. c) Conforme discutimos, o bilinguismo é a forma mais completa de ensino para pessoas surdas, ele possibilita a aprendizagem de duas línguas, a primeira de sinais e a segunda principalmente na modalidade escrita. Bilinguismo: é a utilização da língua de sinais como primeira língua na primeira infância e o ensino da língua escrita e oral do país como segunda língua. Essa metodologia de ensino é hoje considerada a melhor forma de proporcionar acesso ao conhecimento. CAPÍTULO 4 1. Conforme estudamos, a língua e a linguagem são aspectos fundamentais fundamentais para para o desenvolvidesenvolvimento dos seres humanos. humanos. A grande diferenciação diferenciação dos seres humanos em relação relação aos animais é o potencial de desenvolvimento desenvolvimento da língua e linguagem. a) Atenção: refere-se refere-se ao conhecimento interno dos falantes-ouvintes de uma língua. Também pode ser entendida num sentido mais amplo, ou seja, incluindo qualquer tipo de manifestação de intenção comunicativa. Estamos falando sobre a Linguagem. b) Observe atentamente: é um sistema de signos compartilhado por uma comunidade linguística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema coletivo de uma determinada comunidade linguística. CAPÍTULO 5 1. Você deve observar que os parâmetros parâmetros na língua de sinais são fundamentais, pois é por meio meio deles que os sinais podem ser realizados. São cinco os parâmetros que formam os sinais: configuração de mãos, ponto de articulação, ar ticulação, movimento, movimento, orientação e direcionalidade, e expressão facial e corporal. 2. Espera-se que sua resposta tenha sido negativa. Muitas vezes as pessoas confundem confundem a mímica ou outras formas de gestos cotidianos com a comunicação em Libras, mas elas são absolutamente diferentes. As línguas de sinais, como a Libras, são a utilização de uma combinação de elementos que produzirá sinais, os quais, combinados, formarão frases em um contexto. É importante lembrar que, como a Libras é uma língua, vai transmitir todas as informações necessárias, utilizando os sinais.
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CAPÍTULO 6 1. Conforme observamos, o alfabeto alfabeto datilológico datilológico tem uma função importantíssima na língua de sinais, porém utilizá-lo não quer dizer comunicar-se em Libras. Lembre-se que o alfabeto é utilizado somente em algumas situações, mas a maioria das vezes a comunicação em Libras é realizada em sinais. a) O alfabeto datilológico é utilizado quando precisamos apresentar o nome de uma pessoa ou designar uma palavra que não possui um sinal próprio. CAPÍTULO 7 1. Lembre-se que para para realizarmos os sinais, é fundamental fundamental levarmos em consideração onde, como e com quais movimentos eles devem ser realizados. realizados. Para isso existem os parâmetros da língua de sinais, que são: configuração de mãos, movimento, ponto de ar ticulação, orientação e simetria. 2. Espera-se que você tenha tenha respondido respondido que os pares mínimos ocorrem quando quando temos um dos critérios do sinal modificado; quando se dá esse fato temos um outro sinal. Essa modificação é chamada de pares mínimos. Na língua de sinais, acontece quando temos um dos parâmetros dos sinais modificados, transformando-o em outro sinal. Por exemplo: no sinal de educar, a configuração da mão direita em “L” e, no sinal de acostumar, a configuração d da mão direita é “aberta”. Os outros parâmetros são os mesmos. 3. Como estudamos, estudamos, as palavras palavras compostas expressam expressam um único vocábulo, vocábulo, porém necessitam de mais de um sinal si nal para expressá-las. As palavras por composição são aquelas que são formadas no processo de junção de duas palavras. No caso dos sinais, esse fato ocorre com a junção de dois sinais simples e a transformação deles em formas compostas. Por exemplo, a palavra “escola”: sinal de casa + estudar. 4.
Você deve ter ter se lembrado lembrado de que a apontação é um fenômeno fenômeno que ocorre ocorre somente nas línguas de sinais, nas línguas orais ela não existe, pois não nos utilizamos do espaço para manifestar uma ideia. A apontação pode designar um lugar, objeto ou pessoa. Esse ponto, no espaço, refere-se refere-se àquele nominal do discurso. Esse recurso na língua de sinais é fundamental, pois a língua é espacial e, portanto, marca no espaço onde estão os personagens do diálogo ou narrativa.
5. Espero que você tenha tenha se lembrado lembrado de que os classificadores classificadores são ferramentas importantíssimas na língua de sinais, é por meio deles que designamos informações. São por meio deles que podemos expressar uma ideia utilizando formas inequívocas inequívocas de compreensão, compreensão, por exemplo, para expressar o termo “lavar louça”, o sinal será realizado mostrando de forma icônica o lavar um prato, por exemplo, que será diferente de quando vamos lavar o chão. Os classificadores são a atribuição de qualidades ao objeto animal ou pessoa. Utilizamos os classificadores quando queremos designar forma, tamanho ou características particulares par ticulares ao objeto.
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REFERÊNCIAS
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Marcia Regina Zemella Luccas
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