Sociologia das Brazzaviles Negras Um livro à frente do seu tempo Pedro Manuel Patacho1
[email protected] Sociologia das Brazzavilles Negras, Negras , publicado pela primeira vez em 1955, no dei!a tran"uilos os seus leitores. #le in"uieta$nos ainda ho%e. # isto acontece por"ue Sociologia das Brazzavilles Negras foi Negras foi um livro à frente do seu tempo, para o "ual continua a ser importante olhar pelo seu car&cter anunciador. #m muitos aspectos, a aborda'em de (eor'es )alandier antecipa$se aos intensos debates epistemol*'icos "ue se produziram nas d+cadas de 19- e de 19- e apresenta uma outra perspectiva de investi'a/o em ci0ncias sociais. livro "ue a'ora se publica na colec/o 2eler 3frica + a tradu/o da se'unda edi/o francesa, revista e aumentada, publicada em 1945 e "ue, para al+m do te!to ori'inal composto por uma introdu/o e sete captulos, inclui ainda nas suas 64- p&'inas uma nova introdu/o de (eor'es )alandier, 7- anos depois da edi/o ori'inal, ori'inal, al'umas al'umas snteses snteses de outras outras obras obras entretant entretantoo publicadas publicadas pelo autor 8contra$te!tos e coment&rios finais da autoria de :ean :ea n ;opans.
a etnolo'ia dominante marcava o seu desinteresse pelas cidades? 8p.11, refor/ando a perspectiva de "ue a cidade, a verdadeira cidade, incontest&vel na sua "ualidade, apenas poderia ser a branca, a cidade colonial. )alandier se'uiu pelo sentido inverso. ;oncentrou a sua aten/o no estudo da"uilo a "ue chamou a nova nova cidade africana, resultante resultante da implanta/o implanta/o colonial, "ue se caracteriz caracterizav avaa por ser um lu'ar de intensa transforma/o. seu estudo foi o primeiro realizado numa capital africana pertencente ao con%unto colonial franc0s "ue a considerou efectivamente como uma cidade ne'ra e no como uma >realiza/o e"uatorial da cidade branca, em "ue os centros ind'enasA seriam apenas, de certa forma, os complementos servis? 8p.1-. seu ob%ectivo era >definir um con%unto urbano em forma/o e manifestar manifestar a l*'ica "ue li'ava li'ava todos os seus componentes, componentes, assim como as contradi/Bes "ue dele resultavam? 8p.1-. 1 Cnstituto Duperior de ;i0ncias #ducativas, #ducativas, Portu'al e Universidade da ;oruEa, #spanha.
Para )alandier, )razzaville constitua a verdadeira materializa/o desta nova cidade africana. #m pouco mais de tr0s d+cadas tinha chamado a si certa de 1--.--- habitantes de inFmeras etnias. Go nFcleo central, branco e colonial, a )razzaville branca, opunham$se os nFcleos ne'ros, as )razzavilles ne'ras. Hoi neste con%unto urbano, neste >laborat*rio de mudan/a?, como lhe chamou, "ue o autor "uis compreender e descrever o social e o cultural na sua '+nese, apreendendo os problemas e as "uestBes crticas em conte!to, no seu ambiente natural. I deste ponto de vista "ue classifica a sua aborda'em de dinamista, no sentido em se foca no movimento, na apreenso do social e do cultural tal como + vivido, com todas as suas contradi/Bes e incoer0ncias, determina/Bes e acasos, ordem e desordem. Jito de outra forma, )alandier reconhece e aceita a comple!idade do estudo das estruturas sociais num conte!to de mudan/as numerosas e aceleradas. ;ontudo, recusa "ue essa comple!idade constitua um obst&culo à produ/o do conhecimento cientfico. Pelo contr&rio, aceita a comple!idade dos universos de vida e ade"ua os m+todos de pes"uisa a uma nova concep/o ontol*'ica do ob%ecto de estudo, o "ue na sua perspectiva inovadora constitui a base para um outro conhecimento cientfico menos deformador do real. ;omo nos diz )alandier, >a aborda'em resultara de uma necessidade pr*pria colocada pelo terrenoA? 8p.11, >em "ue tudo se mostra li'ado na ac/o e na interac/o? 8p.16. Cmpunha$se uma pluralidade de m+todos na tentativa de conse'uir captar uma pluralidade de universos de vida em transforma/o. )alandier no esteve sozinho no desenvolvimento do seu estudo. Hoi apoiado por um 'e*'rafo "ue procurou >definir a cidade no seu meio e no seu espa/o evolutivo? 8p.16, o "ue se revelava particularmente importante num momento de 'rande crescimento provocado pelo aflu!o de rurais "ue se or'anizam em diversos bairros e tamb+m num perodo em "ue )razzaville beneficiou da constru/o de novas infraestruturas e da instala/o de novos servi/os administrativos. determinar o "ue era... desi'nado como elementos constituintes da morfolo'ia social?. Hoi sobre estas bases "ue definiu o seu estudo sociol*'icoK a escolha do terreno de investi'a/o 8Poto$Poto, uma das )razzavilles ne'ras, dos bairros de Poto$Poto formados em diferentes datas e,
dentro destes, dos >blocos onde conduzir a observa/o dos 'rupos residentes e das situa/Bes individuais? 8p.16. G observa/o participante, a redac/o de fichas bio'r&ficas e de hist*rias de vida, as entrevistas abertas permitiram a (eor'es )alandier >identificar as rela/Bes sociais prevalentes e os procedimentos individuais de ne'ocia/o da "uotidianidade... Lcondensando o "ue era movimento, cria/o de a%ustamentos e de formas culturais novas, conflito e reivindica/o? 8p.16. ;entrou$se na produ/o de uma sociolo'ia do vivido, preocupada com as respostas "ue os su%eitos constroem perante situa/Bes inst&veis >pr*prias de uma cidade colonial em completa transforma/o? 8p.16. I por isso "ue toda a obra se estrutura em torno de problemas especficos "ue a interpreta/o dos dados recolhidos em conte!to procurou iluminar. No primeiro captulo da obra + analisado o crescimento das )razzavilles ne'ras e o problema do 0!odo rural. Go lon'o deste captulo o autor destaca al'uns aspectos hist*ricos relacionados com o sur'imento e o crescimento de )razzaville, para se debru/ar a se'uir sobre a paisa'em urbana da nova cidade africana e discutir o 0!odo rural a "ue est& associada, com implica/Bes si'nificativas tanto para a vida urbana como para os meios rurais tradicionais. se'undo captulo debru/a$se sobre a estrutura demo'r&fica e a estrutura do povoamento. Para o efeito, o autor centra$se nos dois principais centros em redor de )razzaville, a saber, Poto$Poto e )acon'o. No terceiro captulo o autor analisa os problemas do trabalho nas )razzavilles ne'ras. I o maior captulo da obra, %& "ue o trabalhador sur'iu na investi'a/o de )alandier como o actor social principal da nova cidade africana, havendo por isso a necessidade de conhecer em profundidade as suas viv0ncias, bem como os desafios e as dificuldades com "ue se deparava na sua e!ist0ncia urbana. O&rios temas so detalhadamente tratados ao lon'o deste captuloK a estrutura da popula/o activa, as caractersticas do trabalhador assalariado na nova cidade, os sal&rios e os nveis de vida, a or'aniza/o profissional, a consci0ncia de classe do novo trabalhador assalariado e, ainda, a actividade dos trabalhadores no$assalariados. "uarto captulo aborda os problemas da or'aniza/o social e da vida poltica, procurando descrever os 'rupos sociais, a or'aniza/o administrativa da nova cidade e o despertar poltico dos citadinos. "uinto captulo descreve as principais situa/Bes de conflito e os anta'onismos decorrentes tanto da ampla diversidade "ue caracterizava o meio urbano, como
de novas formas de estar, de ser e de fazer "ue se iam produzindo sob a influ0ncia citadina e "ue marcavam formas radicalmente novas de viver em meio urbano, "uando comparadas com os costumes tradicionais. Gl+m disso, o autor no se furta à an&lise das rela/Bes entre a cidade branca e as cidades ne'ras. captulo se!to constitui provavelmente um dos mais interessantes de toda a obra. )alandier aventura$se na constru/o de casos individuais com os "uais pretende ilustrar o muito "ue ficou dito at+ a acerca das especificidades das )razzavilles ne'ras en"uanto motores na nova cidade africana. #sta op/o por estudos de caso, en"uadrados no estudo mais vasto "ue levou a cabo, + bem e!emplificativa do ras'o de )alandier no "ue à investi'a/o em ci0ncias sociais diz respeito. No s+timo e Fltimo captulo da obra, o autor destaca a forma como muito da"uilo "ue fica dito sobre da nova cidade africana, acerca da e!presso da sua suposta modernidade 8;f. atour, 199=, no pode ser desli'ado do facto de se tratar de um estudo em meio afrancesado pela educa/o formal sob o domnio colonial e, portanto, poderamos n*s acrescentar, em muitos aspectos, ocidentalizado. I por isso, provavelmente, "ue )alandier apresenta a se'uir um ponto de vista africano sobre a nova cidade, baseado$se na sua an&lise documental de arti'os escritos na imprensa local. ;ontudo, essa viso particular apenas serve para destacar o "uo evidente era na"uela altura a desconfian/a dos lderes e activistas urbanos "uanto às potencialidades e recursos "ue podiam revelar os saberes e as pr&ticas tradicionais. ;om efeito, no se vislumbravam ainda, nesta +poca, na perspectiva desses lderes e activistas, possibilidades de articula/o entre os saberes e pr&ticas tradicionais e os saberes e pr&ticas ditos modernos 8cf. Qountond%i, 6-16. Je certa forma, como nos lembra Mudimbe 86-17, encontravam$se violentamente domesticados, intelectualmente falando, preocupando$se sobretudo com "uestBes de evolu/o moral em direc/o a uma modernidade imitativa sob o domnio de uma ordem discursiva "ue, ainda "ue no se apercebessem, lhes era imposta como a"uela "ue deveriam se'uir. Na parte final da obra so apresentadas al'umas notas relativas a outras obras do autor. livro termina com os coment&rios finais de :eans ;opans. as )razzavilles ne'ras no so simplesmente um testemunho si'nificativo do nascimento de uma cidade simb*lica. I uma obra de m+todo para re'ressar no
tempo, tal como se d& corda a um rel*'io? 8p.66. ;om efeito, o trabalho de )alandier tem um car&cter anunciador das profundas discussBes epistemol*'icas "ue em breve se iriam produzir no seio da comunidade cientfica. Jeste ponto de vista + um olhar poderoso, como diz ;opans nos seus coment&rios finais. )alandier afastou$se propositadamente de uma concep/o de investi'a/o em "ue tanto a teoria como o m+todo so anteriores ao ob%ecto de estudo "ue, para poder ser estudado, tem de ser concebido de tal forma "ue possibilite a sua aborda'em no Rmbito de um modelo linear de investi'a/o e dos m+todos por ele admitidos. No ser& de estranhar, como ;opans parece fazer, a "uase aus0ncia de refer0ncias te*ricas, nem a forma como a aborda'em se entre'a ao seu ob%ecto. ;opans + suficiente subtil na sua an&lise para conse'uir dizer, ap*s e!pressar estas in"uieta/Bes, "ue o efeito estrat+'ico das op/Bes de )alandier + ine'&vel, ou se%a, >à realidade nova, discurso novoS ao discurso novo, conceitos in+ditos? 8p.6=. ;ontudo, parece ficar implcito al'um desconforto 6 relativamente a uma concep/o do ob%ecto de estudo das ci0ncias sociais "ue se%a ela pr*pria determinante da aborda'em metodol*'ica, e no o contr&rio. Para muitos investi'adores, durante muito tempo, e ainda ho%e, o processo de investi'a/o >se'ue o m+todo cientfico, ou se%a, propBe um problema a resolver, formula uma hip*tese, de forma operacional 8test&vel e, ento, tenta verificar esta hip*tese por meio da e!perimenta/o? 8si'nifica diferentes coisas em diferentes momentos... #m 'eral, trata$se de uma actividade situada "ue coloca o Linvesti'ador no mundo... um con%unto de pr&ticas interpretativas atrav+s das "uais os investi'adores procuram compreender os fen*menos no seu conte!to natural, captando o seu si'nificado do ponto de vista dos su%eitos "ue neles se encontram implicados? 8(uba incoln, 199=, p.117. #stamos, com efeito, perante duas visBes muito diferentes do "ue + 8e pode ser investi'a/o cientfica no vasto campo das ci0ncias sociais.
6 G prop*sito destas in"uieta/Bes e de um eventual desconforto relativamente às op/Bes te*ricas e pr&ticas de )alandier, ser& um e!erccio certamente interessante confrontar a an&lise "ue :ean ;opans faz da investi'a/o do autor com a an&lise "ue <. ben'a faz de al'uns trabalhos de :ean ;opans, en"uanto africanista. Oer, a este respeito, ben'a, <. 86--1 Le sens de la lutte contre l’africanisme eurocentriste. ParisK AQarmattan 8a publicar em Maio de 6-17 na colec/o 2eler 3frica, #di/Bes Mulemba V #di/Bes Peda'o
#stas diferentes visBes so reveladoras das disputas entre paradi'mas no seio da investi'a/o em ci0ncias sociais. Ja "ue o ponto de partida para "ual"uer investi'ador deva ser, precisamente, uma profunda refle!o acerca destes paradi'mas e dos ar'umentos "ue os suportam. G defini/o de um ob%ecto de estudo e a escolha do m+todo sero ento posteriores ao posicionamento do investi'ador, bem como à sua tem&tica, no seio de um determinado paradi'ma. s paradi'mas de investi'a/o constituem assun/Bes b&sicas "ue representam uma viso do mundo e "ue definem a pr*pria realidade. #sses diferentes paradi'mas de investi'a/o podem ser definidos em fun/o das respostas "ue os seus defensores do a pelo menos tr0s "uestBes fundamentaisK a "uesto ontol*'ica, a "uesto epistemol*'ica e a "uesto metodol*'ica 8(uba incoln, 199=. Nas d+cadas de 19- e 19- produziram$se intensos debates em torno da"uelas "ue so reconhecidas como as duas 'randes aborda'ens na investi'a/o em ci0ncias sociais, a saberK a orienta/o positivistaVempirista e a orienta/o construtivistaVfenomenol*'ica. #stas orienta/Bes esto li'adas a debates filos*ficos anti'os, mas + amplamente aceite "ue a orienta/o positivistaVempirista moldou fortemente as ci0ncias sociais nos seus prim*rdios 8HlicT 6--5S Jenzin incoln 6-11. Na d+cada de 194- do s+culo passado aprofundaram$se as cliva'ens entre essas aborda'ens, sur'indo com todo o vi'or novas posturas epistemol*'icas "ue, nal'uns casos, se vieram a revelar totalmente inconcili&veis. Num interessante arti'o publicado em 1949, N.. (a'e falava de uma 'uerra de paradi'mas para se referir ao "ue desi'nou de ata"ues devastadores dos anti$naturalistas, dos interpretativistas e dos t*ricos crticos. (a'e sistematizou nesse arti'o a"uilo "ue considerava serem os ata"ues à perspectiva positivistaVempirista e "ue a"ui recuperamos de forma muito resumida. G crtica anti$empirista reclamava a no e!ist0ncia de um m+todo de investi'a/o comum a todas as &reas do conhecimento "ue reivindicam o estatuto cientfico. #sta "uesto metodol*'ica fundava$se em divisBes ontol*'icas profundas "ue apontavam para visBes radicalmente opostas de conceber o ob%ecto de estudo das ci0ncias sociais, a rela/o su%eito$ob%ecto e a natureza do conhecimento produzido no conte!to dessa rela/o. G crtica
interpretativista reclamava "ue "ual"uer conhecimento produzido + sempre sub%ectivo, %& "ue implica sempre a ac/o interpretativa de um su%eito investi'ador "ue + intrinsecamente sub%ectivo. Por sua vez, a teoria crtica colocava em causa a ideia de uma suposta neutralidade cientfica, de uma busca desinteressada do saber, reclamando a no e!ist0ncia de tal coisa como conhecimento neutro, pois todo e "ual"uer conhecimento + sempre influenciado pelos valores e interesses "ue esto na base da sua '+nese. #stes
debates,
profundamente
li'ados
a
aspectos
ontol*'icos,
epistemol*'icos e metodol*'icos, marcariam as d+cadas se'uintes e transformariam a investi'a/o em ci0ncias sociais, orientando os investi'adores, cada vez mais, para problem&ticas at+ a i'noradas ou insuficientemente trabalhadas, li'adas a
"uestBes especficas, comple!as e
localmente
conte!tualizadas. G investi'a/o "ualitativa emancipou$se e definiu o seus pr*prios crit+rios de "ualidade. G partir da, e de forma permanente, a chamada investi'a/o "ualitativa passou a ser muito mais do "ue uma mera colec/o de m+todos de recolha de dados. Muito pelo contr&rio, passou a si'nificar um modo especfico de entender a realidade social e os su%eitos humanos en"uanto ob%ectos de estudo, bem como um modo particular de entender a rela/o entre o ob%ecto de estudo e o m+todo. No seu manual de investi'a/o "ualitativa em ci0ncias sociais UWe HlicT chama$nos à aten/o para a pluralidade dos universos de vida, o "ue e!i'e >uma nova sensibilidade para o estudo emprico das "uestBes? dada a >acelerada mudan/a social e a conse"uente diversidade? "ue >confrontam cada vez mais os cientistas com novos conte!tos sociais e novas perspectivas? "ue as metodolo'ias dedutivas tradicionais so insuficientes para e!plicar com a a necess&ria profundidade, sendo, por isso mesmo, >a investi'a/o... cada vez mais for/ada a recorrer a estrat+'ias indutivas?, em "ue >o conhecimento e a pr&tica so estudados na "ualidade de conhecimento e pr&tica locais?, e em "ue >o estudo dos si'nificados sub%ectivos e da e!peri0ncia e pr&tica "uotidianas + to fundamental como a an&lise das narrativas e discursos? 86--5, p.6. Nesta perspectiva, + uma nova concep/o da realidade social "ue impBe uma pluralidade os m+todosS m+todos "ue t0m for/osamente "ue ser abertos por"ue t0m de se a%ustar a comple!idade de um ob%ecto de estudo inst&vel e incerto.
(eor'es )alandier antecipou esta discusso com uma limpidez not&vel. Je certa forma, )alandier, en"uanto africanista, abriu as portas a outras possibilidades de apro!ima/o cientfica à realidade social africana em transforma/o. #le foi um percursor deste debate, mas seria necess&rio ir muito para al+m de )alandier para ima'inar uma nova ordem para as ci0ncias sociais em 3frica. Deria necess&rio, para invocarmos a"ui a e!presso de :ean$Marc #la 8199=, pensar 3frica para al+m do Gfricanismo. s intelectuais africanos haveriam de a'arrar este debate e de torn&$lo seu. Der& precisamente a partir desta altura "ue uma nova 'era/o de africanos reivindicar& a no/o de vigilância epistemológica 8Mudimbe, 6-17. #sta 'era/o sur'ir& sobretudo preocupada com os paradi'mas de investi'a/o e com a an&lise das dimensBes polticas do conhecimento, bem como dos procedimentos para instituir novas perspectivas te*ricas e pr&ticas nas ci0ncias sociais e, em particular, nos chamados #studos Gfricanos. Por+m, em vez de refor/arem os paradi'mas vi'entes iro "uestionar o seu si'nificado de uma forma bem assertiva, iro interro'ar a sua credibilidade e desafiar a escala avaliativa tanto dos processos cientficos de investi'a/o como dos pressupostos ideol*'icos do trabalho em ci0ncias sociais 8Mudimbe, 6-17. #nto, o "ue aprendemos ho%e, "uase seis d+cadas depois, com )alandierX #m primeiro lu'ar, esta importante obra de (eor'es )alandier recorda$nos da importRncia de orientar os esfor/os da investi'a/o em ci0ncias sociais no sentido de compreender as transforma/Bes socioculturais na
3frica
contemporRnea, como de resto foi declarado pouco tempo depois, em 1959, no De'undo ;on'resso dos #scritores e Grtistas Ne'ros, "ue teve lu'ar em 2oma 8;f. #la, 199=. #m se'undo lu'ar, somos for/ados a concordar com )alandier "uando ele afirmava "ue a cidade era o motor na nova 3frica. ;om efeito, + no seio da cidade "ue a antropolo'ia e a sociolo'ia encontram ho%e os seus novos ob%ectos de estudo. ;omo dizia #la, em 199=, %& >no + necess&rio ir para o fundo das florestas ou das savanas para e!ercer a profisso de antrop*lo'o? 8p.17. Neste "uadro, e na esteira de )alandier, o autor desperta$nos a aten/o para a possibilidade e, porventura, a imperiosa necessidade, de >esclarecer e compreender a actualidade a partir dos rituais e dos c*di'os, das ima'ens e dos
mitos, dos ob%ectos e dos sinais oferecidos à investi'a/o no mundo Lurbano de ho%e? 8p.17. Por
fim,
)alandier
apela
decididamente
à
criatividade
e
à
interdisciplinaridade da investi'a/o em ci0ncias sociais, servida por uma pluralidade metodol*'ica "ue se%a menos redutora e deformadora da realidade social. Csso remete, de forma indiscutvel, para a necessidade de os acad+micos e investi'adores assumirem a sua actividade en"uanto cientistas sociais como o e!erccio de uma intensa democracia criativa num "uadro de responsabilidade social 8Ya%iban'a, 6--4, de forma "ue a compreenso profunda, sofisticada e densa das realidades socioculturais possa resultar em benefcios duradouros e solidamente fundados para as institui/Bes e para a sociedade. Referências
)alandier, (. 86-17. Sociologia das Brazzavilles Negras. isboaVuandaK #di/Bes Peda'oV#di/Bes Mulemba. Qountond%i, P. 8r'. 86-16. O Antigo e o Moderno. A produço do sa!er na "frica contemporânea. isboaVuandaK #di/Bes Peda'oV#di/Bes Mulemba. Jenzin, N. incoln, Z. 8199=. #and!oo$ of %ualitative &esearc'. Qistorical] DTetch of 2esearch on
Mudimbe, O. Z. 86-17. A -nvenço de "frica. 2nose3 4ilosofia e a Ordem do on'ecimento. isboaVuandaK #di/Bes Peda'oV#di/Bes Mulemba.