A formação do professor reflexivo O professor reflexivo é um profissional que tem como base a consciência das capacidades de pensar e refletir que o ser humano possui, e considerao, portanto, como ser criativo e não somente reprodutor de práticas e idéias exteriores. Este professor está sempre buscando o próprio aperfeiçoamento através de sua reflexão e age, portanto, de maneira coerente, flexível e inteligente, se sobressaindo às situações-problema. A idéia de professores reflexivos, teve uma enorme repercussão devido à esperança qual todos depositaram na mudança da educação como um todo. Tal como a responsabilidade do professor na formação curricular, as crises de confiança nos métodos de ensino, as complexidades dos grandes problemas sociais e a valorização do professor, são apenas alguns dos fatores que devem ser considerados, já que até o surgimento deste professor inovador não haviam sido abordados como temáticas influentes na prática de ensino-aprendizagem. Por conta dessas expectativas, a atual decepção. Pois, ainda se há muito a fazer. Os problemas de formação do individuo, desenvolvimento e até mesmo a melhoria do prestígio social, o reconhecimento, não estão extintos por completo e nem vão. A melhora cotidiana carece de uma luta incessante: a busca pela consciência das dificuldades pessoais e da instituição a qual é pertencente, a dos alunos a serem educados e vários outros fatores. O professor reflexivo deve apoiar-se em uma escola reflexiva. Ele não executará sozinho todos os seus projetos, e juntamente com os seus colegas de trabalho, deve estabelecer e desenvolver esta relação de batalha contra o ensino estigmatizado, abrindo portas para o ensino pragmático e contextualizado. A escola tem de ser reflexiva bem como o professor; atuar gerando situações reflexivas, coletivas e individuais, para que assim a comunidade de forma completa comece a aderir e entender o verdadeiro objetivo de todas essas reflexões, que não são únicas do docente. Para se formarem professores reflexivos, devem-se ensinar a teoria, mas dar certa autonomia para o aluno, fazendo-o perceber que cada qual tem a sua própria singularidade ao executar a mesma tarefa. Dando-o a noção de que ele pode criar e improvisar o que é exterior, como toda a informação que pode ser captada e direcionada à alguma atividade específica que se deseja realizar. Assim por exemplo, surgem os pintores, que um dia, aprenderam simplesmente a mistura de cores de tintas e foram se aprimorando até descobrirem a tela e seus talentos. O desejo principal é que os professores sejam pensantes e autônomos de suas próprias idéias, que sejam também capazes de gerir e lidar com a sua ação profissional, e que a escola se questione constantemente e seja reflexiva para manter a função que desempenham e assim, colaborem para a resolução de dilemas sociais. Essa reflexão precisa ser sistemática, e apresenta três características importantes: a contribuição para mudança, o caráter participativo,
motivador e apoiante do grupo e o impulso democrático. A aplicação deste método científico produz um conhecimento associado à um bom resultado. É o que chamamos de pesquisa – formação – ação, o trinômio que leva a reflexão como essência primordial, avaliação e compreensão da realidade, e a prática posterior e conseqüente da pesquisa e formação. Nestas três construções teóricas é permitido o entendimento do valor da pesquisa – formação – ação no desenvolvimento individual e coletivo dos professores e da escola em que se inserem, que são: a pesquisa-ação, a aprendizagem experiencial, a abordagem reflexiva. Onde a pesquisa-ação se apóia nos ciclos de planificação, ação, observação e reflexão. Como parte de um problema que se pretende solucionar e como se sabe que é preciso caracterizar este problema para que ele seja bem resolvido. Considerando a abordagem experiencial, concebido por Kolb (1904), relembraremos que a aprendizagem “é um processo transformador da experiência no decorrer do qual se dá a construção de saber.” É um processo que compreende quatro fases: a experiência concreta, a observação reflexiva, a conceptualização e a experimentação ativa. Através de observação e reflexão, a experiência é analisada e conceptualizada. Os conceitos resultantes deste processo servem de guias para novas experiências, o que gera um ciclo de desenvolvimento e aprendizagem. O que ocorre na segunda fase é uma adequação à conceptualização da solução a planificar, decorrentes de observação e reflexão. Depois de compreendido o problema, planifica-se a solução, e em seguida, a executa. A reflexão na ação acompanha a ação e conversa com ela, refletimos no decurso da ação, sem interrupções. A reflexão sobre a ação pressupõe um distanciamento da ação, para que haja uma analise mais profunda e retrospecta. E o processo de meta-reflexão, por Schon, coloca a relevância da reflexão sobre a reflexão na ação. A tentativa de encontrar soluções para problemas do cotidiano revelam um comprometimento profissional e uma vontade de aperfeiçoar-se, trazendo melhorias e qualidade para a educação. Porém, é preciso mais que pensamentos e reflexões, é necessário a prática, é necessário sair da teoria e ser mais responsável, autônomo e crítico. Para complementar a pesquisa-ação, existem estratégias de desenvolvimento da capacidade reflexiva, que são: a analise de casos, as narrativas, a elaboração de portfólios reveladores do processo de desenvolvimento seguido, o questionamento dos outros atores educativos, 0o confronto de opiniões e abordagens, os grupos de discussão ou círculos de estudo, a auto-observação, a supervisão colaborativa, as perguntas pedagógicas. A expressão do pensamento sobre uma situação concreta é o que caracterizamos caso. Os casos precisam ser bem esclarecidos e dissecados, porque vão muito além de meras descrições, eles participam da totalidade do ser que o conta, ou seja, os casos revelam atributos de como pensam, sentem, conhecem, fazem os seres que os exprimem.
A escrita é o meio o qual usamos para exteriorizar o nosso intimo, é quando falamos com nossos próprios pensamentos. Essa escrita é enriquecida devido à narratividade presente nos textos, que podem se referir aos contextos físicos, psíquicos, emocionais e sociais. A escrita revela como as pessoas experienciam o mundo e quanto mais longe se consegue chegar com indagações e insatisfações, maior é o crescimento do ser. O professor pode usar de tudo isso para obter caráter autobiográfico ou para enfatizar a educação e suas finalidades frente aos alunos e sociedade. O hábito de se escrever narrativas é dificilmente ganho, porém uma vez adquirido, perdurará por toda a vida, assim como todos os hábitos que mesmo depois da vida profissional, persistem. Este trabalho, é um ato de auto-reconhecimento, que auxilia no processo de descoberta de aspectos de nós mesmos, realizados de modo inconsciente. A relação entre casos e narrativas é que a narrativa está na base do caso. Os casos contêm valor significativo de conhecimentos e de saberes. Os casos são narrativas elaboradas com o objetivo de darem visibilidade ao conhecimento. As narrativas podem trazer subentendido em seu contexto, conhecimentos subjacentes escritos pelos próprios professores para exemplificarem suas próprias teorias. Os portfólios passaram a ter um significado mais abrangente e saíram das artes para a construção pessoal do ser em sua forma peculiar e singular, onde o mesmo se revela e se conhece, traçando sua própria rota de explicação coerente e competente. O portfólio promove o desenvolvimento reflexivo, estrutura a organização dos conceitos, fundamenta os processos de reflexão, estimula a criatividade e originalidade individualistas. O progresso das idéias é um momento de aprendizagem e desenvolvimento, que é resultado da emancipação e manifesto do espírito critico que os professores sugerem. A forma de abordar o questionamento vale muito para se certificar de onde e como vão resultar as reflexões, se o objetivo será atingido. Smyth agrupa em quatro tipos fundamentais o valor das perguntas pedagógicas de desenvolvimento pessoal: descrição, interpretação, confronto e reconstrução, que trazem seqüencialmente o seu valor. As perguntas de descrição estão relacionadas ao nível dos professores, o que eles sentem ou fazem. As perguntas interpretativas focam-se no significado das ações ou dos sentimentos. As perguntas de confronto mostram as novidades e o incomodo de outras perspectivas, e muitas vezes nos fazem mudar de opinião, inovando e reconstruindo nossa linha de pensamento. Para a formação do profissional docente, existem inúmeras estratégias teóricas, que tem como anseio, os tornar mais competentes e capacitados para analisarem questões com maior clareza de idéias e conseqüentemente, com um leque de alternativas mais extenso; tornando a problemática, uma real exemplificação do que o aluno poderá enfrentar em sua vida, e como o conhecimento poderá ser útil, e não vago. É preciso que a escola e a comunidade atuem em conjunto com os professores, para que essa interação traga a garantia de uma boa realização de todas as partes envolvidas, que tem como pretensão
modificar o método de ensino-aprendizagem para obter-se uma educação digna. A partir das reflexões, o professor reconhece sua responsabilidade, se auto-conhece e conta também com a colaboração da instituição, da comunidade e dos alunos. Assim, sempre reciclando suas propostas e buscando melhorar a qualidade do ensino, através de uma interpretação profunda e inerente viabilizando a prática posterior de suas reflexões na rotina escolar, que se estende para as vidas de todos os educandos.