Esta narrativa que se enreda na ruptura com o compromisso dos grandes acontecimentos verifica-se também no seu teatro. Tchekhov registra os acontecimentos da vida numa sucessão de quadros, como se fosse um mosaico, abandonando a construção tradicional, que previa uma ação, com desenvolvimento, clímax e desenlace. Também no conto, a tal unidade tradicional, calcada na obediência ao início, meio e fim, é prejudicada. Alguns contos seus não crescem em direção a um clímax. Ao contrário, mantêm um tom menor, às vezes por igual no decorrer de toda a narrativa. Ou então realizam uma curva descendente, conforme afirmação do próprio Tchekhov, em carta a Suvórin, referindo-se à peça A gaivota: “Bem, terminei a peça. Eu a comecei forte e acabei pianissimo — contrariamente a todas as regras da arte dramática” (p. 146). Curiosamente, o autor atribui, por vezes, este arrefecimento da narrativa à premência do dinheiro. A revista mensal Siéviernii Viéstnik não era rica, e ele era um dos seus colaboradores mais caros. Por isso é que, segundo ele,
“o começo de minhas estórias é sempre muito promissor, é como se eu estivesse começando um romance, o meio é confuso e o fim, como num breve quadro, rápido como fogos de artifício” (p. 11). Mas é pelo seu meio que o conto de Tchekhov torna-se mais original:
“estando acostumado a estórías curtas que consistem somente num começo e fim, eu afrouxo e começo a ‘ruminar’ quando passo a escrever o meio” (p. 8).
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