UNIVERSIDADE GAMA FILHO VICE-REITORIA ACADÊMICA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E ATIVIDADES COMPLEMENTARES PÓS-GRADUAÇÃO EM TRADUÇÃO DO INGLÊS
ADAPTAÇÕES CULTURAIS PRESENTES NA LEGENDAGEM E DUBLAGEM DO FILME SHREK 2
Por Ariene Cristina Della Libera dos Santos
São Paulo 2012
UNIVERSIDADE GAMA FILHO VICE-REITORIA ACADÊMICA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E ATIVIDADES COMPLEMENTARES COMPLEMENTARES PÓS-GRADUAÇÃO EM TRADUÇÃO DO INGLÊS
ADAPTAÇÕES CULTURAIS PRESENTES NA LEGENDAGEM E DUBLAGEM DO FILME SHREK 2
Monografia apresentada à UGF como Requisito parcial para conclusão do Curso de pós-graduação latu sensu Em Tradução do Inglês
Por Ariene Cristina Della Libera dos Santos
Professora orientadora Maritxell Almarza
São Paulo 2012
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM TRADUÇÃO DE INGLÊSPORTUGUÊS E PORTUGUÊS-INGLÊS
ADAPTAÇÕES CULTURAIS PRESENTES NA LEGENDAGEM E DUBLAGEM DO FILME SHREK 2
Ariene Cristina Della Libera dos Santos - R.A: 41340 __________________
AVALIAÇÃO
1. CONCEITO Nota_____________ Conceito_______________ Carlos Nougué ____________________________________ Nota_____________ Conceito_______________ Meritxell Almarza ____________________________________
NOTA FINAL:_____________CONCEITO:________________
São Paulo,______de _________________de 2012.
________________________________________________________ José Luis Sánchez
Ao meu marido, Adriano, Meu filho, Thyerry, Minha filha, Aymê, E a minha mãe, Ceile.
AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado forças e vontade para continuar minha vida acadêmica. Agradeço imensamente ao meu marido, Adriano, por ter me dado forças, pelo apoio, tanto financeiro quanto psicológico, e pelo incentivo para fazer este estudo acadêmico. Agradeço à minha mãe pelo apoio sempre que precisei, tanto financeiro, como psicológico. Agradeço ao meu filho, Thyerry, que, por ter assistido junto comigo inúmeras vezes ao filme Shrek, tenha me dado o incentivo necessário que precisei para iniciar e terminar esse projeto acadêmico. Agradeço também, a minha filha, Aymê, por estar me dando uma das razões para eu completar essa minha fase acadêmica. Agradeço aos professores da Gama Filho por terem contribuído para meu crescimento acadêmico, com todos seus ensinamentos e pensamentos que dividiram durante as aulas por esses meses de estudo. Agradeço, igualmente, aos meus colegas de classe que também contribuíram para o meu desenvolvimento acadêmico, com os trabalhos feitos em sala e os pensamentos divididos durante as aulas. Agradeço a todos que direta ou indiretamente me ajudaram para que eu me tornasse uma tradutora melhor do que quanto ingressei neste curso de pós graduação. Muito obrigada.
Toda a graça está em como você diz alguma coisa
Robert Frost
RESUMO Este trabalho tem por finalidade analisar as instâncias de adaptação cultural escolhidas pelo tradutor das linhas da dublagem e legendagem do filme Shrek 2. O objetivo deste trabalho acadêmico é contribuir para a pesquisa de adaptação cultural, legendagem e dublagem de textos originais em Inglês com a tradução para português. A fundamentação teórica do trabalho consiste em adaptações culturais sofridas nas traduções, assim como o processo de legendagem e dublagem de filmes no Brasil. O método utilizado na elaboração deste trabalho consiste na coleta de dados manual, referente a seleção de trechos e instâncias nas quais as adaptações culturais são encontradas no texto original, assim cverificar como essas passagens foram traduzidas na legenda e dublagem para o português. Na analise dos dados, as opções do tradutor para cada uma destas passagens na dublagem e legendagem para o português foi discutida. Este trabalho foi motivado pela minha atenção às ocorrências de referências tipicamente brasileiras na dublagem do filme Shrek. A partir desta observação, busquei identificar e analisar como as instâncias de referências culturais dos Estados Unidos, país onde o filme foi produzido, foram traduzidas tanto na dublagem como nas legendas do filme Shrek 2. Os resultados obtidos foi que na dublagem, a maioria das passagens onde referências culturais foi citada em inglês, estas foram substituídas por alguma referência da cultura do Brasil. Ao contrário, na legendagem, as referências culturais americanas foram mantidas na tradução.
ABSTRACT This paper aims at eliciting and analyzing the instances of cultural reference was present in the original text of the movie Shrek 2, and observe how this passages were translated into Portuguese in dubbing and subtitling. The main goal of this academic paper is to contribute to the field of cultural adaptation research, as well as to the field which studies dubbing and subtitling from English to Portuguese. The review of literature consists of how cultural adaptations are delt in translation, as well as the process of dubbing and subtitling of the foreign movies presented in Brazil. The data collection was done by selecting the passages which presente cultural references of the American culture, as well verifying how these passages were translated into portuguese, in dubbing and subtitling. This paper was motivated by my attention to the passages translated in the dubbed version, which contained a lot of Brazilian references. From this observation, I checked what references were present in the original. Results showed that in dubbing, most original references were replaced by a Brazilian reference, which did not occured in the subtitled verson, which mantained, in mosto f its instances, the original references.
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................10 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................12 3. ANÁLISE DE DADOS – A DUBLAGEM E LEGENDAS PARA O PORTUGUÊS DO FILME SHREK 2 ........................................................................................................16 4. CONCLUSÃO............................................................................................................24 5. BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................26
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INTRODUÇÃO
Como em grande maioria dos desenhos de longa metragem produzidos nos Estados Unidos, o filme Shrek 2, objeto de estudo deste trabalho, é vasto o uso de expressões e referenciais culturais tipicamente americanas. Referências a lugares, pessoas, assim como costumes são correntemente usados nas falas dos personagens. Não bastante, as referências culturais são frequentemente usadas no filme em questão com finalidade humorística, usando assim paródias, ironias, alusões, sarcasmo ou mesmo jogo de palavras. Segundo Toury (1978), “A tradução é um tipo de atividade que, inevitavelmente, envolve, pelo menos, duas línguas e duas tradições culturais” (p.200, tradução livre). Então, uma vez que o humor criado pelo autor do filme é subjetivo ao telespectador, considerando que a cultura do país onde o filme foi criado (EUA) e a do país para qual este foi traduzido (Brasil) seja distinta, a tradução destas instâncias de humor é de grande questionamento pelos tradutores. No Brasil, os filmes estrangeiros são submetidos a duas técnicas para que os falantes nativos da língua portuguesa possam entendê-los: dublagem e legendagem. A dublagem é bastante usada em filmes direcionados a crianças, o que é compreensível, uma vez que as crianças ainda não saibam ler ou ainda não tenham fluência na leitura suficiente para conseguirem prestar atenção ao filme e acompanharem a legenda ao mesmo tempo, a qual disponibiliza pouco tempo para ser lida por crianças que acabaram de aprender a ler. A legenda, ao contrário, é mais direcionada ao público adulto ou adolescente, que algumas vezes entendem um pouco de inglês, mas não o suficiente para assistirem ao filme sem legendas. Como o filme Shrek 2 é direcionado tanto para crianças como para adultos, as duas versões, com legenda e dublagem estão disponíveis no DVD. O filme Shrek 2 é uma animação computadorizada, produzida nos Estados Unidos, em 2004, pela DreamWorks LLC, dirigido por Andrew Adamson, Kelly Asbury e Conrad Vernon. Este filme foi uma adaptação do conto “Shrek!”, escrito por William Steig, publicado em 1990, o qual conta a história de Shrek, um ogro, casado com fiona, uma princesa que, ao anoitecer transformava-se em ogro. Eles casaramse no primeiro filme de Shrek e em Shrek 2, eles visitam os pais de Fiona no reino de Tão, Tão Distante.
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No filme há uma grande quantidade de humor verbal e visual, fazendo referências sarcásticas aos tradicionais contos de fada. Embora Shrek 2 seja destinado ao público infantil, adultos também são atraídos pelo filme, devido ao fato de haver uma vasta alusão e paródias de filmes destinados a adultos, como, por exemplo, Matrix, Missão Impossível, A Máscara do Zorro, entre outros. A linguagem usada no filme é humorística tanto para as crianças como para os adultos. Entretanto, as instâncias que os adultos acham graça não são necessariamente as mesmas que são engraçadas para as crianças. Sendo assim, uma vez que Shrek 2 tem suas versões legendadas e dubladas, além de conter grande quantidade de instâncias humorísticas com alusões a cultura do país onde foi criado (Estados Unidos), este torna-se interessante para ser estudado do ponto de vista da escolha do tradutor para sua legenda assim como para sua dublagem. O campo de estudo deste trabalho consiste em estudos da tradução, assim como dublagem, legendagem e aspectos de adaptação cultural. A coleta de dados foi feita através das elicitações em que ocorre alguma referência cultural em inglês e então, a análise de como esta referência foi traduzida para o português, tanto na legenda como na dublagem do filme. O presente estudo será concluído com a discussão da análise que foi feita sobre as instâncias onde ocorrem referências culturais no filme Shrek 2.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – ADAPTAÇÃO CULTURAL, DUBLAGEM E LEGENDAGEM Tratando-se, primeiramente, de tradução, principal assunto discutido neste trabalho, há várias teorias da tradução, as quais, todas abordam um assunto com especial relevância neste trabalho: (1) tradução é possível? E quando consideramos que sim, a questão é: como essa deve ser feita? Segundo CamposDevemos manter a forma e a escolha das palavras do texto original, ou devemos traduzir o sentido que foi proposto no original? Neste estudo, presumimos que a tradução é possível, mas a questão que será analisada é sobre a conduta do tradutor ao deparar-se com termos de referências culturais da língua inglesa para serem traduzidos para a língua portuguesa – especificamente, sobre o filme Shrek 2, a tradução da legenda e da dublagem são feitas a partir do conceito de traduzir e manter as palavras do original, ou manter principalmente o conceito que o autor buscou passar no texto original? Considerando as adaptações culturais quando mencionadas por tradutores, uma das primordiais questões que são trazidas a discussão é sobre a “fidelidade” do tradutor. Se considerarmos como verdadeira e coerente a citação de Aubert, a qual ele afirma que “é preciso haver não uma, mas duas fidelidades – com a mensagem em si e com o destinatário, ou seja, quem vai ler sua tradução (AUBERT, 1993, p. 76), o assunto fica, então, mais relevante tratando-se de legendagem e dublagem de filmes. Porém, antes de discutirmos as opções dos tradutores, devo discursar primeiramente sobre o processo de legendagem e dublagem no Brasil. De acordo com Carvalho (2005), no Brasil, não há predominância de uma modalidade sobre a outra. Ainda seguindo Carvalho (2005), a dublagem consiste em substituir o áudio do filme original por um áudio gravado por atores, na língua oficial em que o filme será transmitido. Estes atores interpretam as linhas da dublagem feita por um tradutor. Esta interpretação deve ser feita de forma que haja uma sincronia dos instantes em que os lábios dos atores do filme se movimentam com a voz gravada para esta fala. Como o som original é substituído pelo som gravado em estúdio para o filme, o telespectador não tem referências do texto original.
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Sendo assim, na dublagem, o tradutor tem que “preencher” os espaços
criados para a fala dos personagens no filme original. Desta forma, acréscimos de conteúdo, assim como redução dos mesmos é uma técnica frequentemente utilizada neste processo. Em relação as referências culturais, o tradutor também tem vantagens ao produzir o texto, uma vez que as adaptações não podem ser comparadas com o texto original. O tradutor, então, tem mais liberdade ao criar as linhas do texto da dublagem. A legendagem é feita através da tradução do script do filme original, a qual deve da mesma forma que a dublagem, ter sincronia com o texto original. O telespectador espera que apareça uma legenda enquanto o ator do filme tem uma fala e que esta legenda desapareça quando esta fala termina. Outro assunto pertinente a legendagem é que, segundo Gorovitz, A legendagem, submetida a imposições técnicas, é um texto „deficiente‟ e, embora possibilite a apreensão geral do diálogo, fazendo-se ponte indispensável, constituise numa transposição da linguagem oral, com todos os elementos que ela carrega para uma expressão escrita econômica e restrita. (GOROVITZ, 2006, p.10)
Sendo assim, devido às imposições de regras que os tradutores de legenda têm que seguir, como, por exemplo, o número restrito de caracteres por legenda (2 linhas, com 35 caracteres em cada linha), o tradutor é obrigado a, frequentemente, fazer escolhas por uma palavra, que, mesmo não sendo as mais apropriadas para a tradução daquela linha, é a palavra que cabe na quantidade de caracteres destinados a legenda daquela cena. Ao contrário da dublagem, o telespectador tem acesso ao conteúdo original do filme, e, com isto, pode comparar o que foi dito no original com a legenda mostrando a tradução do trecho. Tratando-se das referências culturais, o tradutor tem, desta vez, desvantagens, se compararmos a legendagem com a dublagem. Uma vez que nomes ou referências de lugares são facilmente reconhecidos pelo telespectador, o tradutor obriga-se a ater-se mais aos termos e nomes mencionados no texto original. Como citado por Alarcón, A legenda nos obriga, além de ver a imagem, ler o que está escrito por sobre esta imagem e nos remete, de certa forma, ao texto literário. Ela é uma interferência na tela, um auxílio, um artifício utilizado para que se possa compreender a sequêcia de imagens que se sucedem na tela de cinema ou TV (ALARCÓN, 2008, p.7)
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Concluindo, o tradutor, ao fazer a linha da dublagem, tem muito mais liberdade para usar referências culturais do país da língua de chegada, do que o tradutor que faz as linhas das legendas, uma vez que este tem acesso ao conteúdo de áudio original do filme. Como citado na introdução (Capítulo 1), o filme Shrek 2, objeto de estudo deste trabalho, é destinado tanto para crianças como para adultos. Tratando-se da legendagem e dublagem deste filme, consideramos que crianças menores, antes dos 6 ou 7 anos, assistirão ao filme dublado, uma vez que ainda não aprenderam a ler fluentemente, o que é requerido por telespectadores que usarão a legenda para compreenderem o filme, enquanto que crianças maiores e adultos são o público alvo das legendas feitas para este filme. Tratando-se das referências culturais recorrentes no filme, observamos que este utiliza-se de sátiras em sua linguagem, assim como utiliza-se desta sátira em aspectos não linguísticos, como é o caso dos nomes das lojas no reino de Tão, Tão Distante, por exemplo, que fazem alusão as lojas encontradas na “ Rodeo Drive”, em Hollywood. Entretanto, neste trabalho, somente as referências culturais linguísticas serão analisadas. Tratando-se de tradução, as referências culturais são frequentemente tratadas como um problema central e arbitrário com relação à opinião dos tradutores. A questão é a ser tratada é sobre até que ponto as referências do original devem sem mantidas ou substituídas por alguma referência similar na tradução. Em um contexto de tradução, onde a invisibilidade do tradutor, criticada por autores com Lawrence Venuti, é frequentemente questionada, este assunto fica então, ainda mais delicado, pois, como citei no parágrafo acima, em um texto que tenham várias referências culturais do país em que a legenda ou qualquer outro texto seja traduzido, começamos a notar a presença deste tradutor, pois imediatamente notamos que este texto, o traduzido, teve que sofrer várias interferências do tradutor para que esteja mais perto da cultura do país para onde este texto foi traduzido. Sendo assim, da mesma forma que ajuda o texto a fluir mais naturalmente do que se referencias a produtos e nomes americanos, no caso do longa Shrek 2, fossem mantidos, este recurso pode causar uma certa estranheza por parte do telespectador ao se deparar com tantas referências culturais do Brasil.
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Com relação a essas referências, cabe ao tradutor a escolha entre duas possibilidades: a de manter o aspecto estrangeiro do texto ou nacionaliza-lo, ou domesticá-lo, adaptando, assim, nomes de personagens e ocorrências que aparecem no original para correspondências similares na língua de chegada, ou até mesmo a omissão dos termos que fazem referência ao país de origem do filme, para que estes não causem estranhamento quando lido ou ouvido pelo telespectador. Se a segunda opção foi feita pelo tradutor, uma possível correspondência do termo na cultura da língua de chegada é encontrada, para que ela possa substituir o elemento citado na língua de partida. Além desta observação, se esta última opção for a escolhida pelo tradutor, a questão da invisibilidade do mesmo será completamente desvanecida. Sendo assim, podemos concluir que, de acordo com a escolha do tradutor, o texto a ser traduzido pode sofrer tanto apagamento ou ênfase às citações referentes às questões culturais mencionadas no original. Embora haja vários métodos que podem ser usados tratando-se de referências culturais, tais como omissão, exclusão, equivalência, nacionalização, e adaptação, entre outros, neste trabalho, somente as referências culturais serão analisadas e discutidas com relação a nacionalização ou não das mesmas. Segundo Lawrence Venuti, “as traduções, em outras palavras, inevitavelmente realizam um trabalho de domesticação (p. 17)”.
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3. ANÁLISE DOS DADOS – AS LEGENDAS E DUBLAGEM PARA O PORTUGUÊS DO FILME SHREK 2. Sendo assim, este trabalho tem como principal objetivo elicitar as instâncias de referências culturais americanas no filme e analisar se estas referências sofreram alguma adaptação cultural para aproximar-se do público alvo. Tenho também como finalidade comparar a linha da legenda com a dublagem destas referências e verificar se há uma maior tentência em manter a tradução mais próxima ao original na legenda do que na dublagem, uma vez que na legenda, o espectador tem o texto original ao alcance, o que não ocorre na dublagem. Como mencionado anteriormente, o principal objeto deste trabalho é levantar os momentos em que o texto original do filme Shrek 2 sofreu adaptação para aproximar-se do público alvo, tanto na legenda quanto na dublagem deste para o português. Sendo assim, neste capítulo, os momentos em que alguma referência cultural no original foi feita será analisada e a tradução desta será comparada entre a legenda e a dublagem da mesma. Paródia, ironia e sarcasmo estão presentes em várias partes do filme, assim como alusões ou mesmo o jogo de palavras, como no caso de Wheels of Torture, referêcia a Wheels of Fortune, um programa de grande audiência nos Estados Unidos que está no ar desde 1975, que é claramente criticado pelo personagem “Bolacha”. No primeiro texto do filme que aparece uma referência cultural, Shrek e Fiona, os principais personagens do filme, estão voltando de sua lua de mel quando deparam-se com o Burro, outro personagem, melhor amigo de Shrek em sua casa. Shrek quer que o Burro saia, e o Burro está tentando convercer Shrek que ele deve ficar. Então, ele faz ao Shrek para jogarem o jogo Parcheesi, um jogo de tabuleiro. No Brasil, nós temos o Ludo, um jogo que muito se assemelha ao Parcheesi, mencionado no texto original. Entretanto, o tradutor optou pelo jogo “buraco”, na dublagem, e excluiu o termo Parcheesi na legenda. O texto original é: (ex:1) Or how about a game of Parcheesi? Na dublagem, ficou: Que tal um joguinho de buraco? E na legenda: Ou fazer um joguinho? Creio que na dublagem o tradutor tenha optado pelo jogo de “buraco” por fazer mais parte da nossa cultura do que o Ludo, o qual para as crianças que
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estariam assistindo ao filme, provavelmente não fariam nenhum sentido, pois estaria muito distante de seu cotidiano. Acredito que o tradutor preferiu preservar o sentido da frase (um jogo comum), ao invés de ater-se ao nome do jogo mencionado pelo personagem Burro Falante. Como citado por Rónai, o que se deve é “traduzir não as palavras, mas a ideia do autor, procurando reproduzir-lhe naturalmente com toda a exatidão possível os ingredientes lógicos e sentimentais” (RÓNAI, 1987, P.44). Já na legenda, o tradutor poderia ter substituído pelo nome do jogo similar em português, uma vez que os telespectadores poderiam ter uma melhor referência do que foi dito pelo personagem, ao invés de ter eliminado completamente o nome do jogo e ter traduz ido como “joguinho”. Mais uma vez, acredito que isso se deve ao fato do tradutor ter preferido manter o sentido, um jogo comum, idéia que está implícita no termo “”joguinho” do que ter a possibilidade de causar alguma estranheza no telespectador quando lesse Ludo, o qual não é popular há muito tempo. Na segunda instância em que aparece uma referência cultura é quando os soldados e mensageiros da corte do reino de Tão, Tão Distante levam à Fiona e Shrek um anúncio dos pais de Fiona convidando-os para visitarem o reino e para que seus pais conheçam seu “príncipe encantado”. Então, quando Shrek está se recusando a fazer a visita ao reino, e Fiona diz que seus pais não são como Shrek pensa que são, ele faz o seguinte comentário: (ex:2) How do you explain Sergeant Pompous and the Fancy Pants Club Band? Na dublagem: Então como é que você explica esse bando de mauricinhos de saia? E na legenda: E essa “Banda de Sargento Pompa de Calça Esquisita”? Nesta cena, Shrek refere-se ao álbum dos Beatles Sgt. Pepper‟s Lonely Hearts Club Band, o qual não foi mantido nem na legenda nem na dublagem. A crítica de Shrek nesta fala foi ao modo rude e arrogante que os guardas deram a mensagem a Shrek e Fiona, e, sarcasticamente, com música de fundo. O tradutor, neste caso, preferiu ater-se a palavra “mauricinhos de saia”, term o em que está implícito a crítica às pessoas mais afortunadas e esnobes da era moderna. Já na legenda, o tradutor preferiu manter a referência, a qual não ficou clara ao nome do álbum dos Beatles. Sendo assim, perdeu-se a referência, mas manteve a tradução mais literária. A próxima cena analisada é quando, Shrek e Burro perdidos na floresta, tocaia que o pai da Fiona programou para que o Gato de Botas, matador de aluguel,
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matasse Shrek, eles se veem perdidos na floresta. Após passarem várias vezes pelo mesmo lugar, o Burro comenta: (ex:3)The bush shaped like Shirley Bassey! Na dublagem: E esse arbusto aqui, que é a cara da Fafá de Belém? E na legenda:... até o arbusto Shirley Bassey. O Burro faz referência a uma famosa cantora nos Estados, de seios fartos, nascida no país de Gales, que teve como uns dos principais sucessos temas do filme “James Bond”. Na dublagem, o tradutor preferiu, mais uma vez, manter a mensagem da fala do Burro ao invés de ater-se ao nome da cantora. A idéia da referência manteve-se de uma maneira muito eficiente, uma vez que as duas referências são cantoras de seios fartos; o que provavelmente não aconteceria se o tradutor tivesse optado por manter o nome original. Na dublagem, entretanto, como esta é destinada ao público adulto e que pode ou não ter conhecimento desta referência, o tradutor optou por manter o nome na tradução da legenda. Outro provável motivo é que, como na legenda o telespectador tem acesso ao conteúdo original, poderia causar certa estranheza se ele reconhecesse o nome (Shirley Basse) e este fosse substituído por Fafá de Belém escrito na legenda. No próximo exemplo de referência cultural, nesta mesma cena em que o Burro e o Shrek estão perdidos na floresta, o Gato de Botas, matador contratado pelo pai de Fiona, aparece para matar Shrek. Entretanto, quando ele daria seu golpe fatal em Shrek, ele engasga com uma bola de pelos e não consegue fazer o ataque. Neste momento, Shrek, zangado, pega o Gato pelo cangote e pergunta ao Burro o que devem fazer com ele. Então, o Burro responde: (ex:4) Take the sword and neuter him. Give him the Bob Barker treatment. Na dublagem: A gente devia pegar essa espada e acabar com ele aqui mesmo. Cortar o mal pela raiz. E na legenda: Usamos a espada aqui mesmo. Tratamento a Bob Barker! A referência a Bob Barker, apresentador de um programa dos Estados Unidos, que fala claramente sobre sua visão contra a superpopulação de animais, não faria nenhum sentido se fizesse parte da tradução para a dublagem, uma vez que este fato não é de conhecimento geral do público alvo do filme. Como no primeiro exemplo discutido anteriormente, nenhuma alusão ao nome foi mantido na dublagem pois o tradutor provavelmente preferiu manter a mensagem do texto e não ateu-se as referências originais. Já na legenda, como citado no exemplo anterior, uma vez que é destinada ao público adulto e que pode ou não ter conhecimento desta referência, o tradutor optou por manter o nome na tradução da legenda, além
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dato do telespectador ter acesso ao conteúdo original, o que poderia causar uma certa estranheza se ele reconhecesse o nome (Bob Barker) e este não estivesse escrito na legenda. Concluindo, na versão legendada, o tradutor tem menos possibilidade de usar termos e expressões que são claras ao telespectador no original, como, por exemplo, o reconhecimento de um nome, enquanto na dublagem, o significado real da idéia pode ser substituído pela tradução literal, pois o telespectador não tem como comparar esta versão com o original. A próxima cena em que ocorre referência cultural acontece quando, depois de uma discussão com o pai de Fiona, e depois, com Fiona, Shrek decide procurar ajuda da Fada Madrinha, a qual havia visitado Fiona antes de sua briga com Shrek. Ao chegar na fábrica de poções da Fada Madrinha, Burro exclama: (ex:5) Oh, no. That’s the old Keebler’s place. Na dublagem: Essa não, parece a casa da Mãe Joana. E na legenda: É a casa dos duendes “Keebler”. Quando Burro menciona, no texto original a casa de Keebler, ele faz referência a maior marca de bolachas e biscoitos dos Estados Unidos, Keebler Company, a qual tem um duende como mascote da marca. Como este contexto está muito longe do cotidiano dos brasileiros, o tradutor, na dublagem, opta pela expressão “a casa da mãe Joana”. Entretanto, neste caso, não há uma relação direta entre o texto original e a referência feita pelo tradutor na legenda, pois quando ouvimos “casa da mãe Joana”, pensamos em algo bagunçado, o que, provavelmente, não foi o principal conceito que queria ser passado pelo autor. Na legenda, como visto nos outros exemplos anteriores, o tradutor preferiu manter o termo de referência do texto original, e citar Keebler. Além do nome, entretanto, o tradutor adicionou a palavra “duendes”, pro vavelmente para inserir o contexto do texto original. Entretanto, para os telespectadores do Brasil, esta marca de biscoito, ou mesmo o mascote na marca não são conhecidos. Então, assim como em outros exemplos anteriores, manteve-se o termo, mas não a mensagem expressada pelo autor. O próximo exemplo ocorre na cena em que, ao recepcionista da Fábrica de Poções dizer a Shrek, Burro, e o Gato de Botas, que agora acompanha a dupla, que a Fada Madrinha não está, ela pede, pelo interfone de sua sala um lanche: (ex:6) Coffee and a Monte Cristo. Na Dublagem: Me traz um café com um bauru. E na Legenda: um café e um sanduiche Monte Cristo!
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O sanduiche Monte Cristo é um sanduiche de pão com presunto e queijo. Apesar de haver variações, o original é feito com queijo Emmental or Gruyère . A opção do tradutor, no caso da dublagem, foi substituir este pelo conhecido Bauru no Brasil. Entretanto, temos um sanduiche que é mais similar ao Monte Cristo, que seria um misto quente, do que o Bauru. Seria uma opção válida, uma vez que este também está inserido em nosso cotidiano, e assemelha-se mais ao sanduiche citado pelo autor. Outro fato que causa estranheza por parte do telespectador é de tomar “café” com bauru. Não faz parte da nossa cultura o “café” acompanhar um sanduíche. Na versão com legenda, o tradutor optou, mais uma vez, por manter a referência original do autor, citando o sanduiche Monte Cristo. Como discutido nos exemplos anteriores, o tradutor ateou-se ao termo do texto original e, desta forma, o sentido da frase pode ficado prejudicado, uma vez que o sanduiche Monte Cristo não é um sanduiche popular para os telespectadores do filme no Brasil. O próximo exemplo acontece após Shrek e companheiros, após mentirem para o recepcionista que eram do “Sindicato de Magia”, e entrarem na fábrica, encontrarem com a Fada Madrinha em sua sala de fabricar poções. Enquanto ela está terminando de fazer uma poção, avista Shrek e exclama: (ex:7) What in Grimm’s name are you doing here? Na dublagem: Por La Fontaine! O que você está fazendo aqui? E na legenda: Em nome de Grimm! O que faz aqui? Neste exemplo, a referência da Fada Madrinha no original é aos Irmãos Grim, que foram dois alemães que se dedicaram ao registro de várias fábulas infantis, e ganharam grande notoriedade. Na dublagem, o tradutor escolheu outra referência a literatura, La Fontaine (Jean de La Fontaine), que foi membro da Academia Francesa, escritor de obras literárias, como fábulas e poemas, entre outros. Esta referência é intrigante, uma vez que, no Brasil, os irmãos Grimm não são menos conhecidos que La Fontaine. Na legenda, como ocorreu nos exemplos anteriores, o tradutor preferiu manter o original e fazer referência aos Grimm. Como sabemos que existe restrição ao número de caracteres permitidos nas linhas de cada legenda, este deve ser o motivo pelo qual o tradutor não acrescentou a palavra “irmãos”, o que provavelmente ajudaria os telespectadores a remeterem ao sobrenome Grimm. No exemplo a seguir, Shrek, Burro e o Gato de Botas, depois de saírem da sala da Fada Madrinha, resolvem entrarem em uma sala onde estão estocadas as
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poções feitas por ela. Shrek, então, pede ajuda ao Gato para subir nas prateleiras e pegar uma poção que faça a Fiona ficar mais feliz. O Gato, em cima das prateleiras, começa a ler os nomes das poções para que Shrek escolha a mais apropriada. Então, o Gato lê: (ex:8) Elfa Seltzer? Na dublagem: Feitiço sumiço? E na legenda: “Algas Seltzer” O autor, ao citar Elfa Seltzer faz referência ao remédio “Alka Seltzer”, um efervescente indicado para dores de cabeça, indigestão, gazes, dores estomacais e azia. No Brasil, como não temos conhecimento deste medicamento, o tradutor optou por substituir o nome e manter a rima entre as duas palavras. Entretanto, o sentido do texto perdeu-se, pois, como telespectadores, não conseguimos estabelecer uma relação direta entre o sentido e alusão do texto original de um medicamento para indigestão, e o termo escolhido pelo tradutor “feitiço sumiço”. Na legenda, a opção do tradutor causa um pouco mais estranheza, quando ele substitui o termo original por “Algas Seltzer”. Novamente, acredito que o telespectador encontre dificuldade em relacionar este termo escolhido pelo tradutor a qualquer sentido que remete o texto original – o remédio. No exemplo que segue, a cena acontece quando, antes de beber a poção, Burro adverte Shrek para que não beba, pois ele pode passar mal. Então, Burro, advertindo, diz ao Shrek: (ex:9) And if you think that I’ll be smearing Vapo Rub over your chest, think again! Na dublagem: E se vc acha que eu vou ficar aqui fazendo massagem no seu peito, pode tirar o burrinho da chuva. E na legenda: Se acha que vou esfregar Vick no seu peito, esqueça! Na dublagem, embora o produto Vick Vapo Rub seja popular pelos brasileiros, o tradutor opta por excluir este termo, mantendo somente o verbo “fazer massagem”. Na legenda, ao contrário, o produto é citado, mas no termo que o produto encontra-se disponível no Brasil – Vick, e não Vapo Rub, uma vez que o termo Vick não causa estranheza alguma este termo pelos telespectadores, ao contário do termo Vapo Rub sem o termo Vick. No próximo exemplo, os personagens Bolacha, Pinóquio, Os Três Porquinhos, o Lobo Mal e Os Três Ratinhos Cegos estão assistindo televisão. Então, a Bolacha diz: (ex:10) Flip over to Wheel of Torture! Na dublagem: Muda pra Roda da Tortura! Na legenda: Mude para a “Roda da Tortura”! Neste episódio, o autor refere- se a “Roda da Fortuna”, programa de grande audiência nos Estados Unidos. No Brasil, tivemos um programa similar, apresentado
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por Silvio Santos, no canal SBT, também chamado Roda da Fortuna, o qual os participantes tinham que acertar, através de algumas dicas, uma palavra. Como o programa foi ao ar no Brasil, o tradutor, tanto na legenda como na dublagem, optou por manter a referência do original, uma vez que, quando o telespectador lê ou ouve “Roda da Tortura”, ele consegue, n aturalmente, relacionar este termo ao programa de TV “Roda da Fortuna”. Mesmo que o telespectador não tenha assistido a esse programa no Brasil, este programa nos Estados Unidos é frequentemente citado na televisão e filmes passados no Brasil. Sendo assim, de uma forma ou outra, o telespectador não terá problemas para identificar a alusão ao programa americano e ao termo usado pela Bolacha. O penúltimo exemplo é sobre a cena em que Shrek e seus amigos acabam de escapar da prisão, com a ajuda dos outros amigos, que os viram pela televisão. Shrek, ao ver o Biscoito e, ao fundo, a cidade, visualiza o Biscoito como um gigante, e tem a ideia de salvar a Fiona, que está prestes a casar-se com o Príncipe Encantado, filho da Fada Madrinha. Nesta cena, Shrek pergunta ao Biscoito: (ex:11) Do you still know the Muffin Man? Na dublagem: Você ainda conhece o padeiro? Na Legenda: Ainda conhece o padeiro? O termo usado pela Bolacha é referência à cantiga de origem inglesa “The Muffin Man”, a qual segue: Do [or "Oh, do"] you know the muffin man, The muffin man, the muffin man, Do you know the muffin man, Who lives in Drury Lane? Yes [or "Oh, yes"], I know the muffin man, The muffin man, the muffin man, Yes, I know the muffin man, Who lives in Drury Lane
A opção do tradutor, tanto na dublagem como na legenda, foi substituir o termo por “padeiro”, pois, embora o Muffin aos poucos tenha sido incorporado na cultura brasileira, não faria sentido algum ao telespectador ouvir ou ler “Homem Muffin ”, ou algo parecido. Sendo assim, o tradutor optou pela exclusão do termo para que este não causasse estranheza por parte dos telespectadores. Uma questão a ser levantada é a opção que o tradutor teria em manter o termo em inglês, Muffin Man , na legenda, uma vez que este foi o procedimento adotado por ele em outras instâncias em que apareciam referências culturais. Como
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ele manteve, por muitas vezes, os termos originais nas legendas por, provavelmente, supor que o telespectador que assiste a versão do filme com legenda seja adulto e tenha um conhecimento cultural geral suficiente para entender as referências mantidas por ele, seria coerente que ele mantivesse também este termo. A última referência cultural discutida neste trabalho refere-se ainda a mesma cena anterior. Depois que Shrek pergunta a Bolacha “Do you still know the Muffin Man?”, esta responde: (ex:12) Well, sure! He’s down on Drury Lane. Na dublagem: É claro que sim! Ele é um velho amigo meu. Na legenda: Claro! Mora em Drury Lane. Por quê? Desta vez, a tradução da legenda e da dublagem tiveram duas conclusões distintas. Na dublagem, seguindo o mesmo raciocínio, o tradutor modificou completamente a frase, retirando qualquer referência ao termo original “ Drury Lane ”, o qual não faria sentido, pois refere- se a música do “ Muffin Man ”, apresentada acima. Drury Lane , citado na cantiga, é referente a uma viela de Londres. Em oposição a opção feita pelo tradução na dublagem, desta vez, o tradução na legenda manteve a referência original do termo “ Drury Lane ”, causando estranheza por parte dos telespectadores, que não conseguiram fazer qualquer alusão do termo “ Drury Lane ”, da música Muffin Man , já que este não foi citado na legenda anterior.
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4.
CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo a análise das opções escolhidas pelos tradutores nas legendas e dublagem do filme Shrek 2. As considerações por mim tomadas foram baseadas na intensão do tradutor em manter as referências culturais originais propostas pelo autor, ou fazer adaptações para que estas referências fiquem mais próximas a realidade do telespectador brasileiro. Assim sendo, de acordo com a análise dos dados discutidas no capítulo anterior, podemos verificar que houve várias instâncias de domesticação para a língua portuguesa e para o cotidiano dos telespectadores brasileiros, na versão dublada do filme. Das frases analisadas, somente a referência a “Roda da Tortura”, que no texto original aparece como “ Wheels of Torture ”, é mantida. Os outros onze casos analisados sofreram adaptação para os termos, na visão do tradutor, mais próximos ao cotidiano dos brasileiros. Um dos principais fatos que contribuem para esse resultado é que, como na versão dublada o telespectador não tem acesso ao texto original, o tradutor tem mais liberdade para fazer as adaptações sem que causem estranheza por parte dos telespectadores, uma vez que estes não tem acesso aos termos originais para comparar a tradução com o texto fonte. Enquanto em alguns casos o tradutor substituiu o termo original por outro correspondente em português (ex.:Fafá de Belém, La Fontaine , entre outros), outrora ele preferiu eliminar as referências, trocando as frases por conceitos completamente distintos do original (ex.: Drury Lane , dublado em “Ele é um velho amigo meu”). Entretanto, na grande maioria das instâncias analisadas, o tradutor da dublagem preferiu manter o sentido da frase proposta pelo autor a manter o termo original e prejudicar o sentido do termo proposto pelo autor. Por outro lado, quando observamos a versão legendada do filme, notamos que as referências originais tendem a ser mantidas nas legendas, como é o caso de dez entre os doze exemplos analisado no capítulo anterior. Das instâncias analisadas, as únicas palavras que sofreram adaptação para o português, sem nenhuma referência ao que foi dito no texto original foram as palavras “ Parcheesi ”, traduzida por “joguinho”, e a palavra “ Muffin Man ”, traduzida por “padeiro”. Todas as outras referências originais foram mantidas na legenda.
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Contrária a posição das traduções da dublagem, o tradutor preferiu ater-se aos termos originais a fazer adaptações que fossem mais próximas do vocabulário cotidiano dos telespectadores brasileiros. Concluindo, como veremos na análise das instâncias onde aparecem as referências culturais, verificamos que a substituição por uma referência tipicamente brasileira é muito mais comum na dublagem, a qual o telespectador não tem nenhuma base de qual foi o texto original, do que na legenda, onde o telespectador pode comparar o que foi dito com o que foi traduzido.
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