®ma Hfntrotrução ao glrmímamámo Clássico HIST HISTÓ ÓRIA, RIA, DOUTRIN TRINAS EFUNDAMENTAÇÃO BÍBLI BÍBLIC CA Z w in g lio R o d r ig u e s é
* F H IT OPJ A
ClUli T \j \ j n A1
Cpossível a um verdadeiro istã istãoo ter um a vida piedosa baseada na Bíblia, ter mvicção da sua salvação e desconhecer po r completo testões teológicas históricas, m indivíduo assim estaria livre do conflito e da *brig *b rigaçã açãoo de po posicio sicio na nar-se r-se tio armmiano ou calvinista. Embora, aparentemente, esses termos sejam mais apropriados apro priados aos círcul círculos os los los sem se m inários inár ios teológ teológico icos, s, sua utilização tem •xtrapolado as fr f r o n t e i r a s das salas de aula levido à sua importância den ológica. ológica . Isso Isso,, p o r si só só, ustificaria a publicação ' s/e livro. Mas há também m outro motivo, revelado noss grupos ar m inianos no ini anos das redes sociais onsiderado como uma dasiusas da calvmização das igrejas pentecostais: pentecostais: bequeno número de títulos publicados a respeito de u ó A rm ínio e suas idé idéia ias, s, ue as expliquem com zelo e hone stidade intelect intelectual. ual. Por isso, a Sal Cultural ’m a satisfação de trazer ao público esta esta rodução ao arm/nianismo, in a certe cer teza za de que o leitor lei tor íonlrará nela os subsídios ssános para aprofundar-se aprofundar-se no assunto.
Cpossível a um verdadeiro istã istãoo ter um a vida piedosa baseada na Bíblia, ter mvicção da sua salvação e desconhecer po r completo testões teológicas históricas, m indivíduo assim estaria livre do conflito e da *brig *b rigaçã açãoo de po posicio sicio na nar-se r-se tio armmiano ou calvinista. Embora, aparentemente, esses termos sejam mais apropriados apro priados aos círcul círculos os los los sem se m inários inár ios teológ teológico icos, s, sua utilização tem •xtrapolado as fr f r o n t e i r a s das salas de aula levido à sua importância den ológica. ológica . Isso Isso,, p o r si só só, ustificaria a publicação ' s/e livro. Mas há também m outro motivo, revelado noss grupos ar m inianos no ini anos das redes sociais onsiderado como uma dasiusas da calvmização das igrejas pentecostais: pentecostais: bequeno número de títulos publicados a respeito de u ó A rm ínio e suas idé idéia ias, s, ue as expliquem com zelo e hone stidade intelect intelectual. ual. Por isso, a Sal Cultural ’m a satisfação de trazer ao público esta esta rodução ao arm/nianismo, in a certe cer teza za de que o leitor lei tor íonlrará nela os subsídios ssános para aprofundar-se aprofundar-se no assunto.
Zwinglio Rodrigues
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HISTÓRIA, DOUTRINAS E FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
Digital Dig italizad izado o por: Jolosa
Editora Sal Cultural Maceió 2015
Zwingíio Rodrigues
Copyright @ 2015 Editora Sal Cultural Todos os direitos reservados
Coordenação Editorial: Eduardo Vasconcellos Revisão: M arlon M arques Capa: Glória Hefzibá Projeto Gráfico e diagramação: Sal Cultural
Ia Edição - Fevereiro 2015
Ficha Catalográfica RODRIGUES, Zwingíio. Uma introdução ao Arminíanismo Clássico: História, Doutrinas e Fundamentação Bíblica. Maceió: Editora Sal Cultural, 2015 ISBN 978-85-67383-02-6 1. Jacó Armínio 2. Arm iníanismo 3. Sínodo de Dor t4 . Remonstrância 5. Graça Preveniente 6. Livre-arbítrio CDD 230 / 233.7 / 234 / 273
Editora Sal Cultural Av. Aryosvaldo Pereira Cintra, 181 Maceió/AL - Tel.: (82) 3033-0834
Para Priscilla Rodrigues, esposa amada.
Hgrabecímentos
Agradeço ao irmão Douglas Ferreira por ter incentivado a escrita desse livra. Ele disse uma vez: “faça o melho r que p ude r.” Fiz, Douglas. Sou grato também ao Pb. Va lmir Nascimen to por ter endossado esse livro e ao Pr. Kleb er M aia po r ter escrito o prefácio. Devo gratidão a Samuel Coutinho e Luis Henrique por terem permitido o uso nesta obra de textos traduzidos por eles e que constam nos anexos. Por fim, agradeço à Editora Sa! Cultural e ao Pr. Eduardo Vasconcellos por darem essa oportunidade de publicar Uma introdução ao Arminíanismo Clássico: história, doutrinas e funda m entaç ão bíblica.
p r e f á c i o
O livro do Pr. Zwingíio Rodrigues é muito oportuno e necessário para a teologia brasileira. Embora a maioria dos evangélicos tupiniquins concorde com a soteriologia arminiana, a história e as asserções do teólogo holandês Jacó Armínio permanecem sendo inju stamente ignoradas e gro sseiramente mal in terp retadas por muitos. Uma das razões para isto é a pequena oferta de literatura especializada no assunto em português. O livro deste pastor baiano vem oferecer uma importante contribuição para que este quadro seja mudado, enfeixando-se a outras obras que dispõem sobre esta matéria. O autor fornece aos leitores brasileiros uma excelente introdução ao arminíanismo clássico, fruto de uma pesquisa bibliográfica ampla e acurada, que inicia defendendo o arminíanismo de uma das principais acusações injustas que este recebe, quando o distingue do Pelagianismo e Semipelagianismo (ou Semiagostianismo) e mostra que Armínio, diferentemente dos proponentes destes sistemas, defendia uma antropologia pessimista e cria na absoluta necessidade da graça divina. N a segunda parte do livro, Zw in gíio traz um resg ate histórico da vida de Armínio, “destacando sua infância marcada por tragédias, seu labor acadêmico, seu testemunho cristão, sua credibilidade diante de poderosos e pessoas simples, o fato dele ter sido um grande e piedoso pastor, suas refregas com proponentes do calvinismo rígido, sua oposição ao infralapsarianismo, sua estima elevada para com as Escrituras e o respeito profundo de amigos dedicados". O autor também defende Armínio das denúncias de envolvimento com o Catolicismo Romano e o Socinianismo e ainda mostra os desdobramentos teológicos após a morte do teólogo holandês, com o Remonstrance (documento que defende os princip ais pontos do arm in íanism o) e o Sínodo de Dort, asse mbleia ecle siástica onde estes pontos foram rejeitados e que, apesar de ser apresentado como documento oficial de condenação do Arminíanismo, devido à parcialidade, não teve força para deter a disseminação daquelas assertivas. N a te rc eira parte do livro, Zwin gíio Rodrigues esmiu ça os cinco artigos remonstrantes, que defendem a Eleição Condicional, a Expiação Ilimitada, a Depravação Total e a Graça Resistível, além de apresentar o entendimento dos remonstrantes quanto à Perseverança dos Santos, uma perseverança condicionada pela manutenção da fé. O autor apresenta uma sustentação bíblica e teológica vasta e contundente para cada um destes artigos. O pastor baiano conclui sua obra apresentando dois conceitos muito importantes: a graça preveniente, ponto central do arminianismo, e o livre arbítrio, que na visão arminiana clássica é libertário, possibilitado pela graça divina. Zwingíio arremata sua obra mostrando que o arminianismo clássico é uma teologia válida e sólida, biblicamente fundamentada e com fortes raízes históricas. Uns afirmam que não são armimanos, no entanto seguem o pensamento do teólogo holandês. As igrejas pentecostais, em sua maioria, seguem a soteriologia
Zwingíio Rodrigues
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arminiana, mas não conhecem as asserções desta teologia nem a história do seu pro ponente. De fato, tanto os que discord am de seu pensamento quanto aq ueles que seguem as suas proposições necessitam conhecer melhor a verdadeira teologia arminiana, e para isto este livro é uma grande introdução. Assim, o trabalho do Pastor Zwingíio Rodrigues é de grande valor, tanto para os arminianos como para os contrários. Natal, 28 de outubro de 2014. Pr. Kleber Maia, pastor da Igreja Evangélica Assembléia de Deus.
áèmmárto Prefácio 7 Introdução 11
Parte I - Pelagianismo, S emipelagianismo e Arm inianismo Capítulo 1 - 0 Arminianismo Clássico Distinguido dos Sistemas Pelagiano e Semipelagiano 17
Parte II - Levantamentos Históricos Cap ítulo 2 - Uma Historiog rafia da Vida de Jacó Armínio (Parte 1) D o Nascim ento A té Alg uns Comentários Sobre Seu Suposto Calvinismo 35 Capítulo 3 - Uma Historiografia da Vida de Jacó Arm ínio (Parte 2) D o Conflito com Francis co Gomarus Até a M orte 47 Capítulo 4 - Rem onstrance e Rem onstrantes 61 Capítulo 5 - Breves Conside rações H istoriográficas Sobre o Sínodo de Dort
Parte III - Doutrinas Arm inianas Capítulo 6 - Primeiro e Segundo Artigos Rem onstrantes (Parte 1) Eleição, E xpiação Ilimitada e Breves Fundam entações Bíblicas 91 Capítulo 7 - Terceiro e Quarto Artigos Rem onstrantes (Parte 2) D epravação Total, Graça Resis tível e Breves Considera ções Bíb licas Capítulo 8 - Quinto Artigo R emon strante (Parte 3) Perseveran ça dos Santos 125 Capítulo 9 - Graça Preveniente 137 Cap ítulo 10 - Livre-Arbítrio 145 Co nsideraçõ es Finais Apêndices 161 Anexos 175 Bibliografia 181 N o ta s 187
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| In tr odução ; : ■.■'iiiinmramiw
Sntrobução Iniciand o esta introduçã o, é pre ciso esclarec er o que é este livro para nc - : que ele não é. Este livro é, antes de qualquer coisa, uma compilação. O leitor já e: percebendo que nossa esc rita , a partir desta introdução, está na prim eira pessoal plu ral. Isso não é por acaso, mas pro posital, visto o farto uso de uma exten bibliogra fia para a arq uitetura deste livro. Não estamos apre sentando um traball inédito que esteja oferecendo resultados de uma nova pesquisa acadêmica envolvendo arminianismo clássico. O que segue é uma historiografia calcada no que já foi escrito articulações interpretativas fundadas em especialistas da Teologia Exegética. Para confecção desse livro, passamos a nos tomar devedores de muitos autores. Portant este trabalho é mais deles do que de qualquer outra pessoa. Se somos merecedores c algum crédito o mesmo consiste na pesquisa, escolha da bibliografia e composição c texto. Se assim for, já está de bom tamanho. Este livro não é para nós um trabalho que pretenda qualquer atribuição d autoridade no tocante ao arminianismo clássico. Estamos cientes, até onde temo podid o constata r, que não existe um trabalh o como esse esc rito no Brasil por um autc brasileiro. Mas, em hipótese alguma, isso nos circunsc reve em um âmbito de autoridad sobre o tema. Sabemos que há muitas pessoas inteiradas discutindo e defendendo ■ arminianismo clássico no Brasil com propriedade. Nossa pretensão com esse livro é de contribuir para o debate teológico em tomo da teologia do arminianismo clássic* muito mal compreendida no Brasil. Ditas essas coisas, prossigamos. Este livro é uma introdução ao arminianismo clássico, sistema teológict originado de Jacó Armínio, teólogo holandês do século XVI. A finalidade deste livro < dar a conhecer, de modo introdutório, a matriz da tradição teológica conhecida comc arminianismo clássico, observar algumas doutrinas arminianas clássicas e propoi algumas discussões bíblicas. De antemão esclarecemos que não é nossa intenção provocar controvérsias teológicas, pois a Igreja está saturada delas. No entanto, no decurso da leitura, o leitor notará que não nos eximimos de apontar erros históricos e hermenêuticos por parte dos críticos quando se debruçam sobre o arminianismo clássico para discuti-lo. No apontamento desses erros, cremos ter tomado os cuidados devidos para não infrigirmos violência lingüística e/ou simbólica contra os críticos de Armínio e do arminainismo clássico. Esperamos de coração ter alcançado esse propósito. Há muita inverdade disseminada sobre o arminianismo clássico e, em nome do exercício de alguma justiça, tais inverdades precisam ser confrontadas. Julgamos que será facilmente percebido pelo leitor que em alguns momentos nossas abordagens são de caráter exortativo e pastoral. Para tanto, optamos escolher como divisa norteadora desse trabalho a seguinte declaração do profeta Zacarias: “Não por força nem por violência, m as pelo M eu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos“(Zc 4:6).
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Zwingíio R odrigues
Lamentavelmente, o perfil traçado do arminianismo clássico no Brasil é caricato. Em nossa opinião, a principal razão tem a ver com o ótimo trabalho realizado pelo s teólo gos e mestres calvinistas. A literatu ra e as palestras dos irmãos calvim stas, sempre que precisam fazer menção a Armínio e ao arminianismo clássico, primam por caricaturá-los. Tal comportamento, em nosso parecer, c uma tentativa de modelar o máximo possível segmentos diversos da Igreja Evangélica Brasileira à imagem e semelhança do calvinismo. Para tanto, afirmar qualquer coisa sem o devido rigor acadêmico, em alguns casos e sem a preeminência da honestidade intelectual em outros, tem sido a tônica dos discursos antiarminianismo. Infelizmente. Que é o “arminianismo clássico”? Delimitamos neste trabalho a adesão aos cinco artigos da Remonstrance e a conclusão final dos remonstrantes no tocante ao 5o Artigo como definidor do que vem a ser o “arminianismo clássico”. Estamos cientes da elasticidade dada à designação “arminianismo clássico”, no entanto, compreendemos que o mínimo delimitador faz-se necessário para a manutenção da pureza do movimento original iniciado com Armínio e constituído como um movimento de fato com os remonstrantes. Na esteira da desconstruçâo das pro positais versões disto rcid as e exageradas do arminianismo clássico, propomo-nos delinear os autênticos perfis de Armínio e do arminianism o clássico. Na tentativa de concretização desse intento, dividimos esse livro em três partes: Pelagianismo, Semipelagianismo e Arminianismo ; Levanta mento s H istó ric os e Doutr in as Armin ia nas. Na primeira parte, ocupar-nos-emos em m ostrar o arminianismo distinguido dos sistemas teológicos pelagianos e semipelagianos. Quanto à segunda parte, traçaremos em dois momentos um percurso histórico sobre a vida de Armínio, faremos uma incursão histórica envolvendo o Rem onstrance e os Rem onstr ante s e, por fim, teceremos comentários concomitantes e posteriores a informes históricos sobre o Sínodo de Dorr. Por fim, na terceira parte, discutiremos as doutrinas apresentadas nos Artigos Rem onstr ante s e, em capítulos a parte, discutiremos mais duas doutrinas caras ao arminianismo, a saber: a graça preveniente e o livrearbítrio. O leitor ainda contará com três apêndices. Nestes, manteremos a discussão sobre o arminianism o clássico através de pequen os textos. Entendemo s que introduzir o leitor o máximo possível nas discussões envolvendo o arminianismo clássico será de grande proveito para você. Os textos dos apêndices são mais curtos, diretos e não são inéditos, pois estão postados no blog D okim os1. Eis os títulos: A s Antiquíssim as Doutr in as da Graça de D eus , Ordo Salutis . D ébil Exclu siv ism o e Gnosticismo, e Confirmando Nossa Eleição. Todos foram escritos pelo autor desse livro. Ainda mais, o leitor poderá ler em anexos, o M em oria l a Jacó Arm ínio , escrito por Simão Episcópio, e a Defesa Rem onstrante Contra a Acusação de Pela gia nismo e Sem ipelagia nismo entregue ao Sínodo de Dort. Esses textos estão diretamente relacionados ao coipo do texto escrito nas pág inas desse livro.
1Dokimos é o blog de Zwingíio Rodrigues, www .dokimos.com .br
| Introduç ão ao Arm inianism
Convidamos o leitor para ler nosso trabalho de mente aberta e ser preconceitos. N osso público alvo são cristãos leigos, líderes e estu dantes de teologia arminianos ou calvinistas. Bo a leitura!
Jàarte l Iklagtantámo, emtpelagtantsimo e lirmtntamámo
Introdução ao Arminianismo
Capítulo l Hrmtmamámo Clásíâtco tuátíngutUí) íioá üuátemaá pelagiano e áê>emtpelagtano Que nenhum homem esbraveje contra o arminianismo a menos que saiba o que ele significa. John Wesley Introdução
O arminianismo clássico é comumentc confundido com os sistemas teológicos pelagiano e semip elagiano. Essa confu são de corre de du as razões: 1“Desconhecimento absoluto das premissas dos três sistemas e, 2“A seleção arbitrária de opiniões de teólogos que abandonaram a soteriologia. original do arminianismo clássico. No tocante a esta segunda razão, exprimida na introdução do livro, alguns estudiosos deveriam dedicar-se mais à acuidade intelectual honesta evitando colocarem no mesmo bojo os teólogos que negara m as prim eiras premissas do siste m a arminiano clássico ju nto s aos teólogos fiéis às mesmas. Não é honesto ro tu lar todos calvim stas de liberais ap enas porq ue Friedrich Schleiermacher (1768-1834), calvinista, e considerado o pai da teologia liberal, abandonou a ortodoxia, como argum enta Ro ger Olson. Com o dem onstraremos por todo esse trabalho, linkar o arminianismo clássico com o pelagianismo e o semipelagianismo se constitui em uma fraude intelectual ou, no mínimo, revela uma ignorância acadêmica. Não negamos a existências de muitas denominações ditas arminianas que não passam de instituições dadas aos discursos e práticas francamente pelagianas e/ou semipelagianas. No entanto, é do nosso pare cer que essas denominações vinculadas ao espectro evangélico arminiano, semelhantes quanto ao pen sar teológico pelagiano e semipelagiano, portam -se assim devido o desconhecimento das premissas fundantes dos três sistemas a serem discutidos brevemente neste capítulo. A ra zão dos equívocos é a ignorância, que, segundo Confúcio, “é a noite da mente, uma noite sem estrelas e sem lua.” Vamos às considerações.
/. Pela gia nis m o Que é pelagianismo? O termo deriva de Pelágio (360-420 d.C)), teólogo e professor britânico bem popular em Roma e notável por causa de sua erudição e elevado padrão moral. Pelágio era um homem de caráter impoluto, dotado de muita
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Zwingiío R odrigues
austeridade e temperamento equilibrado'. Não se sabe ao certo a data de seu nascimento e de sua morte. Possivelmente, ele tenha sido um monge, embora sejam grandes as incertezas quanto a algum monacato exercido por ele. Para o erudito J.N.D. Kelly (1909-1997), Pelágio não pertenceu a nenhuma ordem religiosa. Porém, Kelly atribui a Pelágio o título de monge ( monachus ) como designação conotativa de “servo de Deus.”" Suas doutrinas foram expostas primeiramente em Roma, de 409 a 411 d.Q. Ele elaborou um sistema doutrinário controverso incluindo a defesa da vontade humana como sendo livre para escolher o bem e a negação do pecado original. Para Pelágio, no tocante à vontade livre, Adão nâo possuía uma santidade positiva. Ou seja, originalmente Adão nâo estava em uma condição de santidade ou pecaminosidade e sim em um es.tado de neutralidade podendo inclmar-se livremente em qualquer direção que desejas sej nos exp lica Louis B erkh of (1873-1957).'" O sistema teológico de Pelágio tratava a natureza humana diametralmente em oposição às reflexões de Agostinho (354-430), bispo de Hipona, com quem travou uma grande co ntrovérsia. O historiad or Alister M cG rath1' apon ta os seguintes pontos princip ais envolv endo a polê m ic a entre Pelág io e Agostinho: • O conceito de “livre-arbítrio • O conceito de pecad o; • O conceito de graça; • O conceito das bases pa ra a justificação. Para Pelágio, a vontade humana depois da Queda não tem tendência intrínseca de praticar o mal. Nâo há pecado original na alma recentemente criada por Deus2. A alma nâo herda a contaminação do pecado de Adão, mas ela é pura, intacta, incorrupta e dotada de condições, caso o homem queira, de viver em plena obediência a Deus. (a queda de Adão prejudicou apenas a ele mesmo. Não há vín culo org ânico entre Adão e seus descendentes. Não há transmissão hereditária. Então, não há pecado orig in al.) Caso Pelágio tivesse melhor refletido que, pelo simples fato do homem ter um “eu”, a permanente possibilidade de egoísmo é iminente e isso deve volver o homem para o pecado origin al, pois, esta, segundo G. K. Chesteiton (1 874-1 936), é “um a das prim eiras coisas em que acreditam os." ' Mas o caminho in vestigativo de Pelágio é outro. Daí reafirmar que o homem é o que é devido à desobediência proposital." E o homem quem pratica o bem ou o mal, sentenciava o teólogo britânico. Seu pecado contra Deu s deve ser comp reendido com o um ato deliberado eele é o respon sável por suas decisões. O u seja, o pecado é um ato e nâo existe fora dele. As pessoa ssó podem Pelágio refere-se à origem da alma. Em sua opinião, as almas são criadas por Deus no momento da concepção. Esta teoria é chamada de teoria criacionista. De acordo com a teoria, o elemento imaterial constituinte do ser do homem é criado diretamente por Deus. Ou seja, sempre que há a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, Deus cria uma alma nova e intacta. Opõemse a esta teoria as teorias da pré-existência e do traducianismo.
| Introdução ao Arminianismo
ser cham adas de pecado res depo is que pecam.} N essa esteira, Pelágio não desconsiderava o mau ambiente comseus costumes perniciosos na deformação da criança inocente como nos informa Paul Tillich (1886-1965).v" Segundo Kelly, Pelágio tinha a natureza humana pós-queda em tão elevada conta que ensinava ser possível ao homem escapar do pecado (impeccantia). jO poder para nâo pecar (posse non pecaré ) c um equipamento humano dado ao homem desde a criação.''"' A natureza humana, em essência, é livre e não está enfraquecida por qualquer fraqueza misteriosa.lx A queda adâmica e o próprio satanás não podem destruir isso. Admitir ao homem ser impossível não pecar era um insulto a Deus. De acordo com McGrath, para Pelágio “qualquer imperfeição em um ser humano teria um reflexo negativo sobre a bondade de Deus.”x Portanto, o homem nasce sem desejos e tendências para o mal em sua natureza. Nascem inocentes como Adão. Pelágio descreve a capacidade do cristão viver sem pecado: O cristão é aquele que o é não em palavras, mas em obras, aquele que imita e seg ue a Cristo em tudo, aquele que é santo, inocente, sem mácula, sem culpa, em cujo coração não há maldade alguma, mas apenas piedade e bondade, aquele que se recusa a injuriar ou ferir a quem quer que seja, mas socorre a todos [...] E cristão aquele que, com justiç a, pode diz er: ‘Eu não ofe ndi ninguém , tenho vivido correta mente para com todos
O teólogo britânico citava Escrituras como “Santos sereis, porque eu [...] sou santo” (Lv 19:2) e “[...] sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48) para sustentar a doutrina da impeccantia. Ora, se Deus ordena ao homem que não peque, mas faça o bem , conclui-se que o homem pode cum prir a ordem , raciocinava. De fato, para Pelágio, o homem não necessita pecar, porém ele não concebia uma vida sem pecado obtida de uma vez por todas, mas defendia a possibilidade da perfeição, fruto de um esforço extraordinário, e sua manutenção fincada numa determinação cres ce nte.'11 Em seu embate com Agostinho, Pelágio incomodava-se com a seguinte oração do bispo hiponês: “O Deus, ordena tudo que quiseres, mas dá o que tu ordenaste.” Pelágio ficou perturbado com esse tipo de oração porque lhe parecia um convite à passividad e, fazia do homem uma marionete controlada pela graça div in a e sugeria uma perm issão para pecar até que o desejo pecamin oso desaparecesse dando ao homem a condição de viver sem pecado. Reagindo, Pelágio apresenta a pedra de toque de seu sistema: o livre-arbítrio. Através desse instrumental, o homem age voltando-se para o mal ou para o bem conforme bem en tender - já dissemo s isso reiteradas vezes. Pelágio não compreendeu Agostinho. Roger Olson transcreve uma resposta de Agostinho mostrando o quanto o teólogo britânico entendeu errado o bispo de Hipona: “Ainda que as pessoas façam boas coisas que pertencem ao serviço de Deus, é ele próprio quem faz com que elas façam o que Ele orden ou .”M1' Ou seja, a graça de Deus aux ilia o ho mem no cumprimento das exigências divinas.
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Zwingíio Rodrigues
Para explicar a universalidade do pecado, Pelágio apontava para a fraqueza da carne humana. De acordo com o historiador Earle E. Cairas, o pensamento pelagiano ensinava que “os pecados das pessoas da geração passada enfraqueciam a carne da geração atual.”'"' O excerto a segu ir mostra como a antro polo gia de Pelágio era otimista: [Em vez de considerarmos os mandamentos de Deus um privilégio]... clama mo s a Deus e dizemos, "Isto é fa tiga nte d em ais! Isto é difícil demais! Não podem os fazê-lo! Somos apenas humanos, e a fraqu eza da carne nos impede!”. Loucura cega! Presunção ostensiva! Com isso, acusamos o Deus do conhecimento de uma dupla ignorância ignorância da própria criação de Deus e dos próprios mandamentos de Deus. Seria como se, esquecendo-s e da fraqueza da humanid ade - su a própria cria çã o - Deus tivesse im posto sobre nós mandamento s que somos incapazes de suportar. E, ao mesmo tempo - que Deus nos perdoe! - atrib uím os injustiça ao Justo e crueld ade ao Santo ; prim eiro, nos queixando de que Deus ordenou o impossível, segundo, imaginando que alguns receberão a condenação de Deus por algo de que não são culpados; de modo que - ah! Que blasfêmia! - Deus é tido como Aquele que busca nos castigar, e não salvar... Ninguém conhece a extensão de nossa for ça melhor do que o Deus que nos deu essa força ... Deus não decidiu or denar nada impossível, po is D eus é jus to; e não condenará ninguém p o r algo de que não é culpado, po is D eus é santo™
Pelágio sustentava sua antropologia apresentando figuras do Antigo Testamento como provas da condição humana de viver sem pecado. A questão para Pelágio era pragmática, pois era causa de assombro as desculpas dos pecadore s ao atribuírem a culpa dos pecados à combalida natureza humana. Pelágio ficava estupefato frente às ideias consideradas pessimistas e desmoralizantes em relação à natureza humana. Depois do início de sua refrega com Agostinho em 405 d.C., Pelágio só vai ser encontrado nos registros históricos quatro anos mais tarde. Ele conseguiu algumas adesões episcopais ao seu construto teológico, mas, como escreve o historiador Justo L. González, enfrentou um duro embate com Jerônimo que “trovejava do seu retiro em Belém, e fazia ch ov er fogo e enx ofre sobre a cabeça de Pe lágio.”XV1 O pelagianismo foi condenado finalmente em 43l_d.C. no terceiro Concilio de Efeso, o mesmo que condenou o nestorianismo. Mas, antes, recebera condenações em Cartago no início de 412 d.C., sendo representado por Celéstio, discípulo e amigo de Pelágio, em Cartago e Milevo, em 416 d.C., e em Cartago novamente, num grande concilio realizado nesta cidade em 418 a.C. Gradativamente, o pelagianismo foi perdendo terreno no Ocidente e Oriente. Na opin ião de Olson, “o pelagia nismo ain da está muito vivo e atuante - até mesmo em com unidades cristãs.”"" Co ncordamos com essa asserção. Vamos a um exemplo.
Introdução ao Arminianismo
O filósofo francês Jean Jaques Rousseau (1712-1778) aproximava-se dos velhos conceitos antropológicos de Pelágio. Primando por conclusões como a perfeição da natureza humana e a negação do pecado original, 'Rousseau atribuiu às instituições sociais a culpa por toda mazela social, inocentando, assim, o homem, ou, o “bom selvagem”, conceito usado por ele para apresentar o impoluto ser humano.) A antropologia pelágio-rousseaunean a está representada na cristandade, por exemp lo, pela filo so fia da religião emergindo do liberalismo teológico protestante de Schleiermacher. O cristianismo liberal3 considera a narrativa da criação do Gênesis um mito4. Esse conceito foi aplicado não apenas ao relato da criação do homem, mas a todo evento miraculoso registrado na Bíblia. Portanto, Adão, Eva, a serpente, a Queda e o pecado origin al não passam de mitos. Assim, por causa da Queda , não precisamos admitir uma antropologia pessimista. Em seu labor teológico e hermenêutico, o liberalismo teológico, com uma variação ou outra quanto a seus adeptos, propõe a supressão e abandono do elemento sobrenatural encontrado na Bíblia. Feito isso, o homem não tem o “gene” nefasto transmitido por qualquer pecado original, mas, em seu íntimo, o homem possui uma fagulha divina, e isso significa que o ser humano é bom, pre cisando apenas de motivações para fazer o certo. Isso é o mais puro pelagianismo. Outros exemplos de pelagianismo na igreja são a crença corrente de que o homem pode efetuar algum bem espiritual sem o auxílio da graça sobrenatural divina ou, então, quando o homem pensa poder decidir, per s e , usando sua “liberdade individual”, ser a favor ou contra Deus, comenta Olson. Sim, o pelagianismo pode ser encontrado nas igrejas cristãs. A seguir, faremos um contraponto entre os sistemas de Pelágio (pelagianismo) e Armínio (arminianismo clássico). Para tanto, apontaremos as distâncias entre ambos no tocante à antropologia teológica e a hamartiologia (doutrina do pecado). As diferenças entre eles no que concerne àquelas disciplinas, tem repercussão direta 110 pensar soterioló gic o de cada um.
J Um texto breve, mas muito esclarecedor sobre a teologia liberal e sua sobrevivência entre cristãos, foi escrito pelo Dr. Augustus Nicodemos sob o título “O Liberalismo Teológico Morreu?”. Disponível em < http://tempora-mores.blogspot.com.br/2011/09/o-liberalismoteologico-mo!reu.html > Acesso 23 out. 2014. 4 O historiador das religiões e filósofo, Mircea Eliade (1907-1986), define “mito”: “A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos imperfeita, por ser a mais ampía, é a seguinte: o mito conta uma história sagrada: ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do "princípio". Em outros termos, o mito nana como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano. instituição.” (ELIADE. Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 9.1
Zw ingíio Rodrigues
L 1.
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D is tâ ncia s conceituais entr e Pelá gio e A rm ín io
A respeito da natureza humana, conforme dito acima, Pelágio não cria no pecado original ou no pecado herdado. Como diz o Caims: “Para Pelágio [...] cada alma é uma criação de Deu s, não herd ando por isso a contam inação do pecad o de A dão .”" 111Assim , não existe depravação humana total e nem em qualquer outro sentido. Desse modo, então, para o teólogo britânico, o homem pode alcançar a salvação apenas por meio de suas boas obras. Pelo próprio esforço o homem pode deixar o hábito de pecar e viver como foi criado, a saber: “sem tendências e desejos maus em sua n a tu re z a .T e m o s então uma antropologia otimista. ■A antropologia de Armínio, por sua vez, era altamente pessimista, Ipois ele cria na total d epravaçã o5 do homem e sua depen dência da graça divina para fé. Ele escreveu: [...] Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e p o r si mesmo, pensar, desejar, ou fa zer aquilo que é realm ente bom l-]-" "
O contraponto é claro. Nào apenas notamos a distância entre os teólogos no tocante à antropologia, mas também quanto à hamartiologia (doutrina do pecado). Para Armínio o homem está caído e em estado de pecado como conseqüência da Queda. Ou seja, a natureza pecaminosa do homem procede do pecado original. Armínio defendeu que o pecado original expõe o homem à ira de Deus e francamente aceitava o conceito agostiniano de pecado original. Portanto, Armínio nunca resvalou em Pelágio. Na an álise de R ichard Tay lor, com a qual concord amos, Arm ínio era agostiniano no tocante ao estado do homem pós-queda adâmica: (ênfase nossa) e John Wesley eram totalmente agostinianos nos seguintes aspectos: (a) a raça humana é universalmente depravada como resultado do pecado de Adão; (b) a capacidade do homem de querer o bem está tão debilitada que requer a ação da graça divina pa ra que po ssa alterar seu curso e ser salvo."'
Jacó
A rm ín io
Agostinho e Pelágio divergiam abertamente sobre a condição humana pósqueda adâmica. A crença de ambos era antípoda. Agostinho sempre renegou a doutrina do pecado de Pelágio. Portanto, sendo agostiniano, conforme dissemos, nesse quesito Armínio jam ais p oderia ser taxado de pelagiano. Gonzalez reuniu nove pontos destacados por Agostinho relacionados às doutrinas de Pelágio e seu mais proeminente discípulo, Coelestius. Segue uma lista com alguns desses pontos, os quais, em todo percurso desse livro, serão negados pelas crenças de Armínio. Desta maneira, será demonstra n vezes o quanto é inadequado rotular Armínio e o arminianismo clássico de pelagiano e que apenas insistem nesta Trabalharemos esse conceito mais de perto no capitulo 7.
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acusação pessoas alheias aos sistemas teológicos daqueles teólogos ou que optam pela desonestid ade intelectua l. Vamos aos pontos de Pelágio.XXI1 • Que o pecado de Adão feriu somente ele próprio , e não toda a raça humana. • Que existiram alguns antes do tempo de Cristo que viveram sem pecar. • Que recém-nascidos estão no mesmo estado em. que Adão estava antes de sua queda. • Que a totalidade da raça humana não morre na morte ou queda de Adão [...]. • Que, se nós desejarmos, pod em os viver sem pecado. Um estudo cuidadoso dos escritos de Armínio não nos leva a tais conclusões. Para a contraposição aos pontos 2, 5 e 6, envolvendo o alcance do pecado dos nossos prim eiros pais, transc revemos a seguin te declaração de Arm ínio: “em Adão ‘todos nós pecam os’ (Rm 5:1 2).”XX1" Aqui Arm ínio ne ga três teses pelagianas de um a só vez: • Apenas Adão fo i ferid o p o r seu pecado; • A humanid ade nâo morre com ele; • As cria nças nascem em estado de pureza. No to cante a este últim o ponto , para Arm ín io as crianças não têm sobre si imputado o pecado adâmico, mas, devido à morte de Cristo, o pecado original é posto de lado. No entanto, isso não significa isenção da corrupção resultante do pecado original, pois Armínio não nega a liderança federal de Adão sobre a raça humana. Rodríguez conclui: “O pecado original segundo Armínio, é um ato, o ato de Adão e também um ato de todos e como tal ninguém está livre da culpa e da pena.”vuv Em sua D is puta VII , vol. 1, p. 356 , de suas Obras, .Armínio confirma o ensino agostiniano da raça humana estar sob os lombos de Adão triangulando as seguintes Escrituras: “porquanto todos pecaram” (Rm 5:12); “são por natureza filhos da ira” (Ef 2:3) e “carecem da justiç a e santidade origina l” (Rm 5:12, 18-19). No to cante aos pontos 4 e 7, ao com enta r exatamente sobre a (suposta) impecabilidade humana, Armínio, em uma de suas defesas, disse nunca ter afirmado isso, porém, deixou a questão em suspensão para averiguações posteriores. Aqui viram nele sinais de pelagianismo. Sobre essa acusação, ele declarou: há muita discussão entre a respeito da perfeição dos crentes [...] nesta vida. E relatado que eu tenho uma opinião imprópria sobre este assunto quase aliada à dos pelagianos, a saber: "que é po ssíve l para o regenerado nesta vida , viver perfe itam ente os preceitos de Deus ". A isto respondo: ainda que esta fosse minha opinião, eu não deveria ser considerado pelagiano, seja parcial ou totalmente, pois eles poderia m fa z e r isso apenas pe la graça de Cristo e não de outra maneira
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Armínio continua sua defesa: “[...] declaro que este pensamento de Pelágio é herético e está diametralmente em oposição a essas palavras de Cristo: ‘sem mim nada podeis fazer’ (Jo 15:5).”WI Ain da explicando-se diante dos críticos, Arm ínio lembravaos que Agostinho defendia a possibilidade de um homem viver sem pecado amparado pela graça de Cristo. Outra linha demarcatória entre o teólogo britânico e o teólogo holandês é o conceito de “graça”] Para Armínio a graça é sobrenatural, é uma Pessoa, é o Espírito Santo. Já para Pelágio, de acordo com Kelly, ela é, também, “o próprio livre-arbítrio ou a possibilidade de não pecar com que Deus nos dotou no momento de nossa criação.”XXV!1 “G raç a” é a auto nomia humana (livre-arbítrio) co nferida po r Deus à hum anidade, concluiu Pelágio. Em bora Arm ínio cresse no livre-arbítrio, ele não o concebia como um equipamento humano capaz de levar o homem a viver de modo agradável a Deus sem o auxílio da graça divina. Defendendo-se novamente da acusação de pelagianismo, Armínio respondeu: No tocante à graça e o livre-arb ítrio, meu ensino es tá de acordo com as Escrituras e a po siçã o ortod oxa: o livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro e espiritual , sem a graça.11'”'
Uma d efesa suficiente. Vamos a um sumário do que discutimos nesta seção: • A natureza do pecado pa ra Pelágio prescinde de uma propensão hum ana par a o pecado. • Para Arm ínio a hum anidad e fo i totalmente, atingida pe lo pecado, uma doença passada de geração a geração. Pelágio negou o conceito de transmissão hereditário do pecado. • Pelágio entendia a gra ça como o livre-arbítrio. A rmínio a entendia como sendo uma Pessoa , o Esp írito Santo. • Arm ínio negava a capacidade humana natural do homem em voltar-se para Deus ou fa z e r o bem. Pelá gio consid erava a natu reza humana capaz de cum prir a vontade divina por su a pró pria escolha.
Assim, concluímos que as teologias de Pelágio e Armínio sustentam-se em premissas diferen tes, resultando daí em distanciamento s teoló gicos entre am bos. Armínio fez questão de declarar a existência de uma abissal distância entre ele e Pelágio e ainda o chamou de herege conforme mostramos. Portanto, a acusação de que o sistema de A rmínio (e o arminianism o clássico) é pelagiano, labora em erro.
Introdução ao Arminianismo
2.
S em ip ela gia nis m o
No to cante ao sistema semip elagiano, seu princip al re presenta nte foi o teólogo ■ia Alta Idade Média João Cassiano (360-435): Cassiano foi um monge do sul da Gália responsável pela introdução do monasticismo oriental no ocidente. Após a morte de Agostinho, aqueles que o apoiaram no embate contra Pelágio não aceitaram suas doutrinas predestinacionista e da graça irresistível. Cassiano foi o mais notável teólogo ce seu tempo a contestar os ensinos agostinianos. De igual modo, ele se opunha ao peiag ianismo. O uso da terminologia “semipelagianismo” indica a adoção de uma forma modificada do sistema teológico pensado por Pelágio. No entanto, tal termo é impreciso. Para Gonzalez, ! os assim cham ados sem ipelagianos eram, na verdade, 'semiagostinianos' que rejeitavam as doutrinas de Pelágio e admiravam e respeitavam Agostinho, embora não estivessem dispostos a seguir o bispo de Hipona até as últimas conseqüências de su a teologia."" / O esclarecimento acima é importante, pois nos afasta da sensação de que o semipelagianismo tenha brotado do seio do pelagianismo. Como anotou Gonzalez, o movimento parte do núcleo agostiniano que, além de objetar contra as premissas de Pelágio, negava algumas premissas de Agostinho. f Pon do-se entre a predestinação de Ag ostinho e a visão o timista da natureza humana segundo Pelágio, o semipelagiano Cassiano dizia haver no homem força volitiva remanescente, pós-queda, para colocar em movimento o início da salvação. No homem há uma condição residual que o possibilita realizar o movimento inicial de fé.1 Passemos a palavra ao Massiliano: Apesar de, às vezes, o prim eir o im pulso de uma boa vonta de proceder claramente de Deus, outras vezes ela tem origem na própria volição do homem, e Deus a confirma e fo r ta le c e i
Ouçamos Cassiano, novamente: Tão logo ele [Deus] vê em nós o começo de uma boa vontade, ele ilumina, estimula e direciona isso para salvação, dando crescimento àquilo que ele mesmo plantou, ou àquilo que ele tem visto nascer do nosso próprio esforço .
(Sintetizando, na natureza humana há capacidade para retomar a Deus, no entanto, esta capacidad e só é operada pela ação d ivina.j Para Cassiano , segun do o historiador Williston W alker ( 1860 - 1922), a vo ntade hum ana perm anece sem pre livre. Disso, decorre que a vontade humana apenas foi enfraquecida na queda, mas não
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totalmente corrompida. A crença na ação de uma boa vontade humana para com Deus, à parte da manifestação prévia da graça divina, foi condenada em 529 d.C. no Segundo Concilio de Orang e, na França 1 Este Concilio foi convocado para averiguar o semipelagianismo em contraposição ao agostinianismo. Como resultado da reunião, o semipelagianismo não saiu vitorioso, porém, o agostinianismo também não. A decisão do Concilio é descritas nos seguintes termos po r Olson: Os bispos ali reunidos afirmaram que até mesmo o começo de uma boa vontade pa ra com Deus é uma obra da graça d e Deus. Porém, condenaram igualmente qualquer fé na predestinação divina para o mal ou o peca do, e perm itiram aos cristãos fié is cre rem no livre-arbítrio que coo pera c om a graça divina.*"'"
O Concilio, de acordo com Olson, Kelly e Gonzalez, claramente, contesta e rejeita ensinos semipelagianismos e agostinianos, Leiamos, respectivamente, o cânone 7 e um trecho da conclusão do Concilio.
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Se alguém afirmar que podemo s form ar alguma opinião correta ou faz er qualquer escolha correta que se relacione com a salvação da vida eterna, como é expediente p o r nós, ou que po ssa m os ser salvos, isto é, assentir à prega ção do evangelho através de nossos pod eres naturais sem a. iluminaçã o e inspiração do Esp írito Santo, que fa z co m qu e todos os homens alegremente assintam e creiam na verdade, está desencaminhado por um espirito herético, e não entende a voz de Deus que diz no Evangelho, “ Po rque sem mim nad a po de is fa ze r ” (João 15:5), e a pa lav ra do Apóstolo, “ Não que sejamo s com petentes, po r nós, de pe ns ar algum a coisa, como de nós mesm os; mas a nossa competência vem de Deus ” (2 Coríntios 3:5). [...] Nós não somente não cremos que haja qualquer mau pré-ordenado p o r Deus, mas até mesm o declaramos com absolu ta aversão que se há aqueles que desejam crer numa coisa tão má, que sejam anátemas i - r -
No cânone, temos a condenação do sem ipelagianism o e na conclusão lemos a condenação da predestinação divina para o mal agostiniana. Outro cânone, o 2, condena o pelagianismo: Se alguém assevera que o pec ado de Adão afetou somen te a ele e não os seus descendentes também, ou pelo menos se ele declara que é somente a morte do corpo que é a punição pelo o pecado, e não também aquele pecado, o qual é a morte da alma, passado através de um homem para
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ioda a raça humana, fa z injustiça a D eus e co ntradiz o Apóstolo, que diz, “Portanto , como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim ta mbém a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram. ” (Romanos 5:12).
Ainda no tocante ao agostinianismo, é bastante curiosa a seguinte declaração do historiador Jessy Lyman H uribut (184 3-19 30): [...] a teologia de Agostinho tornou-se a regra ortodoxa da igreja. Somente mais tarde, nos tempos modernos, na Holanda, sob a orientação de Armínio (ano de 1600), e no século dezoito com João Wesley, é que a igreja se afastou do sistem a doutrinário ag o st in ia n o .^'
O agostinianismo tornou-se regra ortodoxa da igreja? Só depois de cerca de mil e duzentos anos é que teses de Agostinho foram confrontadas e abandonadas pela igreja? Isso não é verdade. Que é “ortod oxia"? Palavra originária do grego orthós, "reto” e dóxa “opinião”. Daí “ortodoxia” vir a significar “crença correta”. A palavra "ortodoxia” não está na Bíblia. No entanto, seu sentido etimológico pode ser encontrado em Gálatas 2:14: “Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho [...].” A palavra “corretamente” vem da palavra grega orthopodeo composta de orthós. “reto” e, figuradamente, “correto”, e podeo, “pé”. A junção dessa s palavras nos leva à sentença “não pro cediam corretam ente” ou “não andavam [pé] corretamente.” Já nos Concílios do século IV e V, a palavra “ortodoxia” era usada para detinir crenças como crenças correias. Quando as crenças divergiam dos consensos eclesiásticos, elas eram taxad as de heterod oxas6. Algu ns en sinos da teologia ago stiniana são heterodoxos. O problema com a afirmação de Hulburt em relação às doutrinas agostinianas é que elas, lato sensu, nun ca foram unanimidade na h istória da Igreja. P or exemplo; as doutrinas da graça irresistível, dupla predestinação e expiação limitada, ensinos caros à soteriologia agostiniana não são ortodoxas no sentido apontado por Hulburt, pois elas nâo são encontradas nos Pais gregos pré e pós nicênicos, os mesmos nos quais Armínio se apoia na defesa de sua soteriologia. elas foram negadas pelo Concilio de Orange.-Martinho Lutero (1483-1546) acreditava na expiação ilimitada. O reformador luterano Philip Melancthon (1497-1560) cria na graça resistível e rejeitava a predestinação incondicio nal, crendo, do mesm o modo que Arm ínio cria, em uma predestinação como contingente à pre sciência div ina, A té Pró spero de Aquitânia, representante do agostinianismo contra os setnipelagianos, suavizou algumas das doutrinas mais radicais de Agostinho, nos informa Gonzalez. Enfim, a teologia de Agostinho, bem como sua soteriologia, nâo são regras quanto à totalidade de suas premissas. A ig reja não ad otou a soteriolo gia agostiniana m totwn em tempo algum. Fazendo referência a Agostinho ainda vivo, Kelly escreve: Do grego heterodoxos - oposto à ortodoxia: considerado herético, a princípio.
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Agostinho não podia afirm ar com ju stiça que seu en sino dis tintivo f o ra totalmente ratificado pela igreja. No que diz respeito ao Oriente, suas ideias não tiveram, conforme veremos, nenhum impacto perceptível. No Ocidente, especialm ente no sul da Gália, havia muitas pessoa s, incluindo ardorosos defensores do concilio, que achavam absolutamente ofensivas alguma s delas. E ntre elas destacav am -se a suge stão de que, em bora livre em seu estado caído, a vontade é incapaz de escolher o bem, e o fatalism o que parecia in erente em sua te oria da predestinação.^™ '
Louis Berkhof, indo na mesma direção, comenta que apenas a doutrina da salvação unicamente pela graça prevaleceu, ao passo que a doutrina da graça irresistível e a doutrina da predestinação dupla foram preteridas. Ora, o importante Concilio de Orange é convocado exatamente por causa da falta de unanimidade em tomo das teses agostinianas. Como informado, o resultado do Concilio não consolidou todas as teses de Agostinho. Quer no Oriente, quer no Ocidente, Agostinho e alguns de seus ensinos foram resistidos e rejeitados. Espanta ler Charles Hodge (1797-1878) dizendo que o sistema agostinian o foi “em tod as as épocas [...] a vida da igreja.” "™ 11 Sendo assim, a acusação de heterodoxia que Hurlbut impõe sobre Armínio (e Wesley) é um equívoco, pois Armínio, no tocante à soteriologia, está em consonância com a voz da Igreja em um sentido mais amplo que Agostinho. Caso Hurlbut esteja dizendo que .Armínio contraditou a ortodoxia dos calvinistas (séculos XVI e XVII) fundadas em Agostinho e, por isso, deve ser considerado um heterodoxo, não nos opomos, pois, de fato, Armínio opô-se a algumas declarações de fé calvinistas. Mas o mais honesto aqui é enxergar Armínio como ortodoxo no tocante à Palavra de Deus e atribuir heterodoxia à outra parte. Outro nome pertencente à escola semipelagiana é Faustus de Riez (410-495) ardoroso expositor das teses antagônicas ao agostinianismo. Ele dizia que o initium ftd ei, o primeiro passo da fé. nâo é possível à parte da liberdade humana, mas desta depende totalmente. Mesmo admitindo a realidade do pecado original, Riez, segundo Walker, insistia ter o homem a “possibilidade de se esforçar para a salvação.”xxxlx Encontramos também com algum destaque Vincente de Lérins ("f antes de 450 d.C.), um monge de Lérins, no sul da Gália. Indiretamen te, consoan te Gonzalez, Lérins, devido à soteriologia agostiniana, chamou Agostinho e seus seguidores de “inovadores”. Lérins compreendia os ensinos agostinianos como divergentes da doutrina eclesiástica. Ou seja, tais ensinos não eram no que os cristãos sempre creram. Lérins escreveu: “[...] nós devemos ter certeza que nós conservamos aquilo que tem sempre sido crido por todos e em todo lugar (quod ubique, quod semper, quod abi omnibus).”^ Em linhas gerais, a soteriologia semipelagiana é essa esboçada. Armínio nunca a subscreveu. Vejamos.
Introdução ao Arminianismo
2.1.
D iferenças conceituais entr e João Cassiano e A rm ín io
No to cante a uma suposta relação entre o pensamento soterioló gico de Arm ínio, Cassiano e demais representantes do movimento semipelagiano, Albert Outler (1908 1989) disse: '‘Armínio defende que o homem tem vontade de se voltar para Deus cintes que a graça o incite Esta afirmação sugere um Arm ínio acreditando na habilidade inata do ser humano em exe rcer boa vontade para com Deus. O utler não leu Armínio. Ou então leu e não entendeu. Leiamos Armínio: Confesso que a m ente de um homem carnal e natural é obscura e sombria, que suas afe iç ões são corrup tas e excessivas, q ue sua vontade é obstinada e desobediente, e que o hom em está morto em pec ado s.xlu
Com o o hom em, no estado descrito acima pode ter alguma v ontade de se voltar para Deus sem a ação prévia da graça? Passemos a palavra para Arm ín io mais uma vez: Neste es tado [de queda], o livr e-arbítrio do homem está ferid o, mutilado, doente, curvado e enfraquecido para a realização de qualquer bem verdadeiro [...] está preso, destruído, e perdido. Suas habilidades estão debilitadas e são inúteis a menos que seja [o homem] assistido e estim ulado pe la graç a divina. ''1"
Evidente que no escopo soteriológico de Armínio o homem nunca dá o primeiro passo da fé (initium fid e i ) e não tem nenhuma boa vontade para com Deus sem o auxílio de Sua graça sobrenatural. Armínio não incorreu no mesmo erro que Agostinho. Este confessou: "convenci-me também do erro, quando nele laborava, julg ando que a fé, que nos leva a crer em Deu s, não era dom de Deus, mas se originava em nós por nossa iniciativa (ênfase nossa).dlv Sim, o gérmen do semipelagianismo pode se encontrado em um Agostinho an terior. Não se pressupõe em parte alguma dos escritos de Armínio a capacidade humana de dar o primeiro passo da fé nem a ideia da conservação intacta do livre-arbítrio humano depois da Queda. A fraqueza é completa (impotentiaf^. Kelly apresenta quatro ponderações de Cassiano contra a posição de Agostinho. Citaremos três delas já contraditadas por Armínio conforme fragmentos apresentados acima. Vejamos. • A pesar de, às vezes (e.g., nos caso s de M ate us e Paulo), o prim eir o impulso de uma boa vontade proceder claramente de Deus, outras vezes (e.g., no caso de Zaqueu) ela tem origem na pró pria volição do h omem e Deus a confirma e fo rta le ce. • Apesar dos efeitos calamitosos da queda, Adão mante ve seu conhecimento do bem.
Zwingíio Rodrigues
• O problema da vontade humana não é tanto estar morta, mas doente i-rCompare as afirmações de Cassiano com as declarações de Armínio e responda: que convergência há entre eles? A soteriologia, antropologia e harmatiologia de Armínio estão diametralmente opostas aos ensinos dos semipelagianos. Conclusão
Face ao que foi dito até então, compreendemos serem levianas as acusações feitas a Armínio e sua teologia quando equiparados ou aproximados ao pelagianismo e ao semipelagianismo. As premissas teológicas das partes envolvidas são antagônicas. Enquanto Pelágio pregava contra a doutrina do pecado original, Armínio, em seu tempo, afirmava uma antropologia altamente pessimista ensinando não haver qualquer remanescente de bondade no homem. Para Armínio o homem é totalmente depravado. Nesse quesito, Pelágio era antiagostiniano, Arm ín io agostiniano. É necessária m aio r distinção? Já em relação aos semipelagianoss, defensores do initium fid e i , Armínio estava numa posição distinta da deles, pois, em seu escopo doutrinário, não havia espaço para a crença em uma espécie de poder residual no homem depois da Queda que facultasse qualquer condição de ir a Deus independente da graça divina. A acusação de que Armínio e o arminianismo clássico sustentam que a vontade humana caída está livre não passa de uma inverdade. Apenas entre os teólogos, desertores dos ensinos de Armínio, e que se aproximaram do liberalismo teológico, a vontade do homem caído está livre. Embora existam teólogos calvinistas que acusam Armínio e o arminianismo clássico de semipelagiano, por exemplo, Berkhof, que acusa àqueles de “suavizarem a dou trina do pecado original”xlviJ, outros teólogos calvin istas, como R ob ert Peterson e Michael Williams, citados por Olson, optam pela verdade dos fatos. Eles concluíram: • Armínio cria na absolu ta necessid ade da graça. • O arminiansimo não ép elag iano e nem semipelagiano. • Para Armínio e arminianas clássicos a vontade humana está totalmente corrompida. E como diz a Escritura: “A justiça do sincero endireitará o seu caminho, mas o perv ers o pela sua falsidade cairá” (Pv 11:5). Para fins didáticos, apresentamos o seguinte quadro comparativo.
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Disciplinas Antropologia
Hamartiologia
Soteriologia
Diferenças dos Sistemas Teológicos Arminianismo Semipelagianismo Pelagianismo Pessimista: o livreOtimista: a vontade Otimista: o homem arbítrio hum ano hum ana não está nasce com a está destruído. morta, apenas vontade livre, enferma. intacta. A queda adâmica Apesar dos efeitos A raça humana não atingiu toda calamitosos da mo rre com a queda humanidade queda, Adão de Adão. levando-a ao estado manteve seu de depravação conhecimento do total. bem . 0 homem pode dar o 0 homem não tem 0 progresso da mérito algum na primeiro passo santidade do salvação, mas a (initium fid eí) em hom em e, portanto, salvação do direção à salvação. em última análise, homem, em tudo, sua salvação, do início ao fim, ocorre pelos depende da graça méritos humanos. de Deus. Quadro I
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I Introdução ao Arminianismo
Capítulo 2 33
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©o ôeit naônmento ati alguns comentários; áofare o áeu éupoèto Calbtnismo Viveu na Holanda um homem a quem os que não o conheciam não o podiam estimar suficientemente; aqueles que não o estimavam jamais o haviam conhecido suficientemente. Pedro Bertius Introdução
Quem foi Jacó Arm ínio? ' Para muitos, Armín io foi um herege, um racionalista, um inimigo da cruz. Certamente eie está no rol dos teólogos mais mal compreendido da história da igreja. Pouco conhecido e ignorado. O Dr. Richard Muller, erudito calvinista, admira-se: “É surpreendente, portanto, que Arminio tenha recebido tão pouca atenção positiv a por parte dos eru ditos.” *1'" 1 Ao debruçarmo-nos sobre a história e teologia de Armínio demo-nos conta de sua importância para o pensamento teológico no século XVI. Ele foi um gigante na defesa da teologia, soteriologia, hamartiologia e antropologia bíblica. O teólogo e filósofo da religião, José C. Rodríguez, citando um escritor do século XIX, escreve: "(Armínio) o mais importante dos três grandes teólogos da Igreja. Atanásio compreendeu Deus; Agostinho compreendeu o homem; Armínio compreendeu a relação entre Deus e o homem.”xllx Para Rodríguez, talvez o escritor esteja exagerando um pouco. Certamente, para os calvinistas, isso é um exagero sem medida. Mas o fato é que a história de Armínio nos apresenta um teólogo notável. Algumas razões para os rótulos impostos a Armínio em nossa opinião são, conforme já apontado, o desconhecimento de sua história e desonestidade intelectual. Rodríguez comenta sobre alguns calvinistas que acusam Armínio de ensinar heresias secretas posteriormente ao escrutínio de sua teologia e da constatação de que, abertamente, nada há de heterodoxa nela. No capítulo anterio r co meçamos nosso trabalh o de desconstrução das infâmias lançadas sobre Armínio mostrando como sua teologia é ortodoxa em oposição à heterodoxia do pelagianismo e semipelagianismo, dísticos impressos em sua biografia. Neste capítulo, a in tenção é fazer um resgate histó rico da vid a do teólo go holandês Seu nome latinizado era Jacob Harmenszoon.
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Zwingíio Rodrigues
destacando sua infância marcada por tragédias, seu labor acadêmico, seu testemunho cristão, sua credibilidade diante de poderosos e pessoas simples, o fato dele ter sido um grande e piedoso pastor, suas refregas com proponentes do calvinismo rígido, sua : oposição ao infralapsarianismo, sua estima elevada para com as Escrituras e o respeito pro fu ndo de am igos dedicados. N ossa ex pectativa é que ao final da leitura desse capítulo , uma relevante panorâm ic a a respeito da vid a de Arm ínio te nha sido ap resentada. 1.
Arm ínio: D o seu nascimento até alguns comen tários sobre seu suposto calv in is m o
Jacó Arm ínio nasceu em 10 de outubro de 1560 na cidade de Ou dew ater no sul da Holanda, ao norte de Roterdã. Adulto, como de costume entre os estudantes de sua época, latinizou seu nome. O udew ater era um p eque no po voad o de uma beleza natural . vivida onde vivia um povo amável e agradável.1Quando Armínio nasceu Oudewater estava sob o dom ínio da Espan ha e da Igreja Católica. A rmínio, segund o W alker, fez i seus estudos primários em Utrecht (1572) possivelmente na Escola São Jerônimo, ! fundada pelos Irmãos da Vida Com um no século XV .1’ Samira Saad Pulchério Lancilloti8 apresenta-nos a Escola: “Irmãos da V ida Com um - com unidade religiosa católica, fundada em 1371 pelo ministro neerlandês Gehard Groote (1340-1384).”'" Esta comunidade, segundo a autora, exerceu grande influência sobre a reforma protestante. O professor calvinista Pedro Y. De Jong credita aos Irmãos da Vida Comum um trabalho de estimado valor junto à população dos Países Baixo. Ele escreveu: A Ir mandade da Vida Comum, uma organização leiga dedic ada a educar o pov o e estimular a vida piedosa, conduziu muitos a uma m ais profunda esp iritualidade.1,11
É notável a presença das características da Irmandade em Armínio. um homem sensível, obediente, interessado na vontade de Deus e de fortes e profundas convicções m orais.11' N o to cante a família de Arm ínio , seu pai, Herm ann Jak obs. era um fabrican te de armas. Sua mãe Angélica e irmãos em 1575 foram assassinados no massacre de Ou derw ater realizado po r soldados católicos leias à Espan ha.1' Nessa época, seu pai, um ferreiro, já tinha falecido.1' 1O senh or Herm ann faleceu antes do n ascimento de Armínio e deixou sua família em dificuldades de diversas ordens, inclusive, financeira. Possivelmente, Armínio pertencia a uma famílía de classe média até antes da morte de seu pai e seu nascimento. O Dr. Carl Bangs, considerado o maior erudito em Armínio, escreveu:
s Doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp.
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E muito po ssível que Armínio não venha de uma fam ília desconhecida e, quem sabe , seja esta a razão dele ter chamado a atenção de vários benfeitores desejosos de assegurar o acesso a melhor educação p o s s ív e lh"
São escassos os dados sobre a infância de Armínio. Depois da morte de sua família e agora, sozinho, Armínio ficou sob o cuidado do benfeitor Theodore Aemilius (morte em 1574), um ex-sacerdote católico, alma bondosa, co nvertid o ao Pro testantismo. De acordo co m o his to riador Laurence M. Vance, Aemilius treinou Armínio em latim, grego e em teologia. Aemilius, saindo de Ouderwater, levou Armínio para a cidade de Utrecht. Foi Aemilius quem matriculou Arminio na Escola de Sâo Jerônimo. Quando Armínio tinha quinze anos de idade, seu benfeitor e am igo, Aemilius, morre. In staura-se aqui urna nova crise. Mais uma vez sozinho e sem ajuda para continuar os estudos, Armínio vive essa crise. Entra em cena Ru dolph us Snellius (1547-1613), m atemático e poliglota. Snellius se condescendeu de Armínio, acolheu-o e enviou-o para estudai- na Universidade de M arburg .1'"1 Em 1575, seus estudos são interrompidos p or causa do massacre de Ouderwater realizado pelos espanhóis. Todos os soldados da cidade e tantos quantos estiverem frente a frente com os espanhóis foram mortos. Armínio, ao retomar à sua terra natal, encontra-a desolada, sua mãe e irmãos mortos. Ele retoma a Marburg e, possivelmente, estuda na Universidade por um ano.l,v Em 23 de outubro de 1576, Armínio torna-se um dos primeiro alunos da recem criada Universidade de Leyden. Esta Universidade foi fundada por Guilherme de Orange em 8 de fevereiro de 1575. O Príncipe Guilherme com suas tropas libertou a cidade de Leyden do jugo espanhol e do domínio da Igreja Católica. Um dos primeiros atos do Príncipe foi criar a primeira Universidade protestante da Holanda. Em Leyden, Armínio estudou com o professor Johann Kolmann, um opositor do hipercalvinismo9. As primeiras disciplinas cursadas foram matemática, lógica, teologia e hebraico. Os estudos de Armín io em Leyd en se encerram aos vinte e dois anos de idade. E le concluiu a discência com ex celência e louvor. Armínio era considerado um dos jovens mais promissores para o ministério, por isso a Igreja Reformada de Am sterdã custeou seus estudos em Leyden e Ge neb ra.Ix Ele foi ordenado no ano de 1588 e aos vinte e nove anos tornou-se pastor da igreja em Amsterdã, centro da vida comercial holandesa, depois de ter sido convidado pela Corte Eclesiástica de Amsterdã. Ali exerceu o pastorado por quinze anos sob uma notoriedade honrosa devida suas prédicas e dedicação pastorallxj. Seus paroquianos e a magistratura 9 “Escola do calvinismo supralapsariano dos “cinco pontos” que enfatiza muito a soberania de Deus por enfatizar demasiadamente a vontade secreta sobre a vontade revelada e a eternidade sobre o tempo; que minimiza a responsabilidade dos pecadores, notadamente com respeito a negação do uso da palavra “oferta” em relação a pregação do evangelho; assim, solapa o dever universal dos pecadores de crer salvificamente no Senhor Jesus com a certeza de que Cristo realmente morreu por eles e encoraja a introspecção na busca de alguém saber se e eleito ou não.” FERGUNSON , S. B.; WR1GHT, D. F., 2009, p. 505.
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nutriam muita estima por ele. Peter Bertius (1564-1629), pastor da Igreja Reformada em Roterdã, amigo de Armínio, disse, de acordo com Vance, que “tão logo ele (Armínio) foi visto no púlpito, é impossível descrever a graça e o favor extraordinários que ele obtinha do s hom ens de tod as as classes.”lx" M ildred Bang s W ynk oop comenta: Era um pregador brilhante, dotado exegeta bíblico, cristão humilde e consagrado. Suas mensagens expositivas lhe deram especial celebridade e sua oratória o fe z popular, atraindo mu itos ouvintes
Narrativas da época dão conta de seu notável labor pasto ral, pois ele revelava uni forte espírito de cuidado, pregava com poder e sabedoria. Destacou-se a tal ponto quanto à piedade e ao combate ao mal, que foi chamado de “navalha para ferir os erros da época” e “filete da verdade”. Juntamente com sua família, dedicava-se ao rebanho em meio aos maiores desafios e perigos. Rodríguez expõe a repercussão do pastorado de Armínio: Prontamente, se distinguiu como pastor e pregador. Como pastor, ganhou o amor e a confiança de rodos. Como pregador da Palavra e da sã doutrina, ganhou respeito e admiração do poro. comerciantes, estudantes e professores '
O esmero pastoral de Armínio pode ser dimensionado pelo seguinte caio contado por seu biógrafo Caspar Brandt: Achando-se o pastor, certa vez. num disrrito pobre , ouviu gem id os fracos, parti dos do interior de humilde moradia. Entr ou e viu algumas pessoas que parecia m dominadas pela enfermidade e p ela sede. Depois de as socorrerem, deixou recursos em d inheiro com os vizinhos pa ra lhes ma nterem a assistência. D ava assim pro vas de bom sam aritano ,!x'
Apesar de tantos reconhecimentos, não faltou quem se indispusesse com Armínio por causa de seus ensinos distintos do calvinismo rigoroso. Uma dessas pessoas foi seu companheiro Petrus Plancius (1 552-1622) que “ se opôs a Arm inius durante todo seu pastorado em Amsterdã e professorado em Leyden, e continuou a atacá-lo mesmo depois de sua morte.,,Kv,(Amsterdã foi o palco de três dos quatro grande embates de Armínio com o calvinismo. A primeira foi com Plancius, a segunda com Franciscus Junius (1545-1602) e a terceira com o teólogo anglicano e docente de Cambridge William Perkms (1558-1602). O quarto embate foi em Leyden com Francisco G omarus (1563-1641). ^ A esposa de Armínio chamava-se Elizabeth Real, irmã de um magistrado em Am sterdã e com ela teve doze filho s sendo q ue três deles falece ram p rem atu ram en te.ixM1 Eles se casaram em 16 de setembro de 1590. O pai de Elizabeth chamava-se Laurens Jacobs Reael, um homem de negócios. Com esse casamento, Armínio entrou para o
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grupo de pessoas distintas e de grande influência em toda Holanda. Compor esse grupo fez de Armínio um homem influente. Tal condição em momento algum o tornou autoritário, arrogante ou ambicioso frente ao cargo pastoral. Até seus críticos viam-no como um homem dotado de elevado padrão moral e espiritual. Falando sobre ambição, Armínio abriu o coração: Com relação à Ambição, eu não a possuo, exceto aquela espécie honrosa que me impele a este serviço, - a indagar com toda a dedicação nas Sagradas Escrituras pela Verdade Divina, e brandamente e sem contradição declará-la quando encontrada, sem prescrevê-la a ninguém, ou trabalhar par a for ça r consentimento, muito menos através de um desejo de "ter domínio sobre a f é dos outros ” mas, antes pelo propósito de vencer algumas almas para Cristo, para que eu possa ser um doce aroma a Ele, e possa obter uma reputação aprovada na igreja dos Santos.!xiiií
Depois de pastorear em Amsterdã, no ano de 1603, observando os trâmites legais, Armínio torna-se professor em Ley den, cargo nâo desejado, segundo Rodríguez, por causa das seguin tes razõ es: • Com promisso com a cidade e igreja de Amsterdã. • O cultivo da santificação espiritual j á era dificil no pastorad o e m ais ainda seria com a docência. • A excelente relação com os ma gistrados de A msterdã. • A fam ília era muito importante pa ra ele; o salário era bom e ele estava seguro que a cidade cuidaria de seus filhos e esposa depois de sua morte. Ele assumiu o lugar do Dr. Franciscus Junius (1545-1602). Mesmo relutante Armínio aceitou a função com a certeza de ter à sua frente mais uma oportunidade de servir a Deus e a causa do Ev angelho . Esta cá tedra ele o cup ou até sua m orte.lxi>l •jlJm dos mestres de Armínio foi Teodoro Beza (1519-1605), sucessor do teólogo francês João C-alvino (1509-1564) e extremado defensor do predestinismo rígido.)Segundo Walker, Beza assumir a e desenvolv era a doutrin a da predestinação de Calvino, dando-lhe uma precisão lógica e ordenação sistemática que não se encontra no próprio Calvino, e tornando-a o centro do sistema teológico .,ur Teodoro Beza era um escritor conhecido e atuou como docente na Universidade de Geneb ra de 1559 a 1599. Esta Un iversidade foi fundad a po r Calvino para preparar ministros. McGrath diz que a Academia era um instituto para treinamentos de ministros calvinistas. De todas as partes da Europa jovens se dirigiam para Genebra no ensejo de
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ingressarem na Academia. Ali, Armínio se matriculou na Universidade em Io de janeiro de 1582. A grande obra de Beza escrita em três volumes, Tractationes Theologicae (Tratados Teológicos), apresenta os principais pontos da teologia reformada a partir da lógica aristotélica.lxxi Beza tinha Armínio em alta conta devido a seus talentos intelectuais e sua vida piedosa. Ele expressava abertamente sua admiração pelo brilh antismo de Arm ín io. Por isso, em um a carta, recom endou Arm ínio à ig reja reformada de Amsterdã. Em um trecho ele diz: Deus lhe deu um apto intelecto tanto ao que concerne a aprec iação quanto ao discernim ento das coisas. Se, doravante, este fo r re gido pela piedade [...] in evitavelm ente este p od er in te le ctu al [...] irá produzir os ma is ricos fr uto s.lxx"
Armínio não aceitava (ou deixou de aceitar?) o predestinismo de Beza, e, ao contrapô-lo, inicia seu embate contra o calvinismo rígido. Ele contrapunha-se ao predestinism o ríg id o por falta de cristo centricid ade no raciocín io quanto à eleição. Em seu esquema dos decretos divinos Armínio não começa pela criação, mas por Jesus como sendo o predestinado. Leiamos. f O prim eiro decreto absoluto de Deus, concernente à salvação do homem pecador, é que Ele decretou desig nar seu Filho Jesus Cristo^ por Mediador, Redento r, Salvador, Sacerdote e Rei, que p ode destr uir o pecado p o r sua própria morte, pode obter, p o r sua obediência, a salvação que havia sido perdida, e pode comunicá-la por sua própria vir tude .,xxf [ Em sua teologia da redenção, Arm ínio tem Jesus Cristo como o ponto principal da predestinaç ão divina. Beza ensinav a ser a graça depen dente da eleição ao passo que para Arm ín io a eleição segue a graça.^Esse modo de pensar de Arm ínio faz de Cristo o fundamento da eleição e nega ser Ele meramente a causa de uma salvação pre determinada. Para Armínio, o predestinismo de Beza empobrece a obra redentora de Cristo. Nesse sentido, W alker explica: Ele (Armínio) ensinava, ao invés, que Deus primeiro nomeara Jesus Cristo como o Redentor e Salvador do pecador, e que os crentes são predestinados p a ra a salvação som ente em Cristo. O pr im eir o e abso luto decreto de Deus, portanto, teve Cristo somente como seu objeto, e a predestinação tem que ser dis cutida apenas nes se co ntexto cristológico !xx‘'
Deus salva a"s pessoas de m ane ira con dicional. Ou seja, ao receb er a Jesus, o eleito, as pessoas são salvas. Quem O rejeita, está condenado (no capítulo seis re;omaremos esse assunto estendendo a compreensão arminiana clássica sobre a
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doutrina da eleição). Tendo Beza com o m estre, a educação teológica de Arm ínio em Genebra foi calvinista. Aqui surge a pergunta: Armínio era calvinista em algum sentido? Vance apresenta um trecho de uma carta de Armínio no qual ele diz ter mudado de concepções. Leiamos. Eu não me envergonho de ter ocasionalmente abandonado algumas opiniões que tinham sido instiladas por meus próprios mestres, visto que me pare ce que eu posso pro va r pelos argumentos mais convincentes que tal muda nça ocorreu par a m elhor kxv
Uma dessas “opiniões” seria o predestinismo de seu mestre Beza? Para Walker, Arm ínio “d iscordou (de Beza) desde o início” .lxxw De acordo com R obe rt E. Picirilli1™ 11, Carl Ban gs dizia estar conven cido de que Armínio nun ca subscrev era a formulação de Beza da doutrina da predestinação. Bangs disse: “( m o há) evidência clara de que Arm ínio ten ha aceitad o a d outrina da prede stinação de B eza.'’1*™" O reverendo Frederick Calder (1808-1851), escritor de M emoir s o f Sim on Episcopius (Memórias de Simão Episcópío), narra que alguns calvinistas sublapsarianos (infralapsarianos) publicaram um trabalho chamado Responsio ad argumenta qumdam Beza el Calvini ex Tractatu de Predestination {Resposta aos Argumentos de Beza e Calvino Sobre a Predestinação — tradução livre) onde eles questionavam a doutrina da predestinação de Calvino e Beza. Esse documento chegou às mãos de Martinus Lydius (c. 1539-1601), ex-pastor em Amsterdã, que incumbiu Armínio de refutar os sublapasananos. Vance apresenta os nomes dos ministros de Delft a serem refutados: Arent Comeliszoon (1547-1605) e Reynier Donteklok (c. 1545-c. 1611). Calder continua: Para executar esta tarefa, Armínio era o mais preparado, pois ele retornara recentemente de Genebra, onde havia assimilado totalmente os ensinos de seu antigo me stre B e z a hxix
É atribuída a essa incursão a guinad a teológica de Armínio. Outra possibilidade, segundo Gonzalez, tem a ver com a tentativa de refutar Dirkc Koomhert (1522-1590), humanista e Secretário de Estado Holandês, questionador da doutrina da predestinação dos calvinistas rígidos a quem Armínio tentou rebater, mas logo sucumbiu à exatidão de alguns pontos defendidos por Koomhert. Essa história popular, segundo Carl Bangs é uma lenda ou, na melhor das hipó teses, com o d e difícil atesta çâo lNX\ Bangs, ao cha m ar de lenda a histó ria e depois chamar de hipótese de difícil atestação, não sepulta, obviamente, a explicação envolvendo Koomheert. Mas, Wynkoop a tem como verídica. Pelo menos de acordo com o seguinte excerto:
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Em 1589, um leigo instruído, Koornheert, da Holanda, levantou uma tormenta nos círculos teológicos por suas dissertações e escritos em refutação da teoria supralapsahana dos decretos divinos. E significativo que o tremendo descontentamento gerado com a posição de Calvino e Beza, tenha levado um leigo a fa ze r ta l coisa. Koornheert argumentava que, s e fo ss e com o Beza argumentava, Deu s causar ia o peca do; então, em realidade, Ele é seu autor. A Bíblia não ensina tal monstruosidade. Koomheert atraía um número cada vez maior de ouvintes e como pole m iz asse de fo rm a tão brilhante, chegou-se a temer que seu pensam ento sola passe a estrutu ra to ta l do calvinismo, e mesm o a estabilidade política dos Países Baixos. Parecia qu e nenhum m in is tr o era capaz de refutá-lo e, p o r isso, A rmínio fo i incum bido desta tarefa
(ênfase nossa).lxxu
Para Wynkoop, Annínio, ao estudar a Epístola aos Romanos visando refutar Koomheert, convenceu-se quanto ao fato da doutrina da predestinação de Beza estar equivocada e, por isso, “jam ais se realizou a refutação da ‘he resia ’ de K oo m hee rt.” 1™'1 Por fim, talvez a mudança de paradigma tenha ocorrido por causa dos incansáveis estudos de Armínio. Rodríguez admite uma transição metodológica e teológica quando o confronto com Beza se desenrolava. Como pano de fundo dessa transição, estão os estudos da Bíblia, da doutrina da graça e dos pais da igreja. Bom, diante desse leque de possibilidades, talvez seja mais prudente admitir que as mudanças consentidas por Armínio estejam envolvidas na ausência de evidências históricas que deem conta de esclarecer quais foram elas. Ademais, apenas por te r es tu dado sob a docência de Beza não nos leva à conclu são da adesão ao sistema soteriológico de seu professor. Porém, três fontes consultadas para a compilação desse trabalho dizem ter sido Annínio um calvinista. A primeira fonte destacada apresenta uma afirmação do erudito Carl Bangs, uma das referências mais confiáveis do século XX em matéria de Armínio e arminianismo segundo Olson. Citando a dissertação Arm in iu s and Reform ed Theology (Armínio e a Teologia Reformada) de Ph.D do Dr. Bangs, J. Matthew Pinson em seu artigo Que o Verdadeiro Arm inius se Apre sente! escreve: E evidente que tais relatos de Arminius pressupõem uma definição do arminianismo que não pode ser derivado do próprio Arminius. Isto significa que os autores começam com pré-concepções daquilo que se espera que Arminius deveria dizer e depois quando procuram em suas obras publicadas não encontram exatamente aquilo que procuram. Dem onstram im paciê ncia e desaponta mento co m seu calv in is m o (ênfase nossa) e em seguida mudam sua pesquisa para algum período posterior
Introdução ao Arminianismo
quando o arminianismo passa a ser aquilo que estão procurando: um sistema não calvinista, sinerg ético e talvez semipe lagiano [ ...]!°
Observe a parte em negrito. Arm ínio “tinha um calvinismo” . Ora, se tinha um calvinismo era calvinista. Passemos a palavra para Gonzalez, nossa segunda fonte: Ele [Arm ínio] f o i um calv in is ta con ve ncido, e perm an eceu com o tal po r to da sua vida (ênfase nossa), embora em muitos dos pontos debatidos, ele óbvia e conscientemente se afastou dos ensinos de Calvino!xxm'
Armínio foi um calvinista convencido diz o historiador. Em outro trabalho, Gonzalez ain da diz: “ [...] James A rmínio, calvinista de boa qualidade [...]”‘“otlv e “ Em quase tudo mais, Armínio continuava calvinista [,..]”lxxxv E, ainda mais, dessa vez citado por Rodríguez: “A rm ín io e os remonstrantes haviam sido consid erados calvin istas tanto por católicos como por lu tera nos.”'XXXV1 Leiamos Wynkoop: “Armínio viveu e morreu como calvinista (ênfase n o s s a ) . A q u i Armínio nunca deixou de ser um calvinista. Bom, as fontes são objetivas: Armínio foi um calvinista. A bem da verdade, essas fontes não mostram porq ue consid eram Arm ínio um calvinista. Rodríguez tece um comentário: Anos depois da morte de Arm ínio, alguns calvinistas dizia m em Am sterdã que este havia perdid o a ve rdadeira f é calv in is ta (ênfase nossa). Armín io po de d ar pro va s de que todas essas acusações eram r j Ixxxviii falsas.
O autor toma a acusação de abandono da fé calvinista por parte de Armínio como mais uma mentira dos detratores. Talvez Armínio seja considerado um calvinista porque subscrevia o Catecismo de Heildelberg (1563) e a Confissão Belga (1561)'1: “Eu confiantemente declaro, que eu nunca ensinei qualquer coisa [...] que fosse oposto à Confissão de Fé Holandesa, ou ao C atecism o de H eild elb erg ”.|XXX1Xan oto u Arm ínio. Ou talv ez por ter recom endado a leitura dos comentários de Calvino e o consentimento às doutrinas ali apresentadas: “Eu os aconselho a ler os comentários de Calvino [...]”. Ou então, porque, segundo Olson, ele tenha tido uma educação calvinista: “sua formação cristã na juventude não foi pesadamente calv in ista.,,xc Concord amos que tudo isso é bastante nebulo so . Mas aí estão as impressões ou confissões de estudiosos de destaque.
10 PINSON, J. Matthew. Qu e o V erd ad eiro A rm iniu s Se A presen te! Um Estudo da Teologia de Jacobus Arminius à Luz de Seus Intérpretes. 2003, p. 2. Publicado originalmente em: Integrity: A Journal of Chrísnan Thought, vol. 2, 2003, p. 121-139 Traduzido por Kenneth Eagleton. Revisão: Rejane Eagleton. Traduzido e publicado com autorização. 11 O Catecismo e a Confissão são os símbolos de fé das Igrejas Reformadas holandesas e belgas.
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Pertinente a esta discussão é entender o contexto teológico de onde Armínio emerge. Ele não surge em um vácuo intelectual e sim de uma conjuntura onde diversas correntes teológicas e filosóficas eram ensinadas no final do século XVI e início do século XVII. Armínio não era indiferente a elas. Este contexto plural influenciou o pensamento de Arm ín io, segundo Rodríguez: o escolasticismo pro testante , a filoso fia tomista (Tomás de Aquino), o professor de lógica e filosofia da Universidade de Pádua, Giacomo Zabarella (1533-1589), a metafísica de Francisco Suarez (1548-1617), teólogo e filósofo jesuíta e Luís de Molina (1535-1600) jesuíta e teólogo espanhol, de quem originou a teoria “mo linista”, conh ecida tanibém como “conhecim ento m édio.” 12 No que concerne a essa última informação de Rodríguez, a influência de Molina sobre Armínio é posta em dúvida por Olson. Qualquer aproximação de Annínio à teoria de Molina não durou muito, pois Annínio teria notado incongruências entre o molinismo e a doutrina do livre-arbítrio libertário. Como foi possível notar, são muitas as influências de Armínio. Richard Muller acaba por definí-lo assim: “Talvez, Armínio possa ser classificado melhor como um pensador eclético com um enfo que centro-tomista.” xu Rodríguez tam bém cham a A nn ínio de eclético. Calvinista ou não, Armínio sempre se considerou reformado em um sentido mais lato e isso é mais importante, pois liga seu pensamento teológico à Reforma Protestante. Olson, recorrendo ao trabalho Arminiu s: A Stu dy in the D utc h Refo rmation (Armínio: Um Estudo da Reforma Holandesa), de Carl Bangs, diz que “Armínio sempre se considerou reformado e na linha dos grandes reformadores suíços e franceses Zwingíio, Calvino e Bucer.’'xc" Walker comenta: Ele (Armínio) tem sido descrito frequ entem ente como hum anista ou racionalista, mas é muito melhor vê-lo como encontrando-se na tradição dos reform adores (ênfase nossa) protestantes holandeses autóctones que pouco ou nada deviam ao ca lvin is mo genebrin o.xcw
Ro dríguez també m liga Arm ínio à tradição reformada: “Arm ínio está definitivamente na tradição reformada quanto ao conteúdo essencial de sua teologia.,,xclv Pinson classifica-o como “consistentemente reformado ”^ '. Trabalhar o conceito de “reformado” seria o ideal nesse momento. No entanto, não faz parte de nosso escopo, pois o assunto é amplo, complexo e o espaço aqui insuficiente. Porém, devido à insistência de negarem a Armínio e, por conseguinte, ao anninianismo clássico, um espaço na “taxonomia dos tipos protestantes”xcvl, alistamos alguns pontos levantados por Olson que podem legitimar a inclusão do “arminianismo dentro d a ampla catego ria da família refo rmada da fé.”xcv"
12 Conhecimento médio, “grosso modo, é o conhecimento de Deus do que cada criatura livre, que pudesse criar, faria em cada circunstância possível na qual ela fosse colocada. O conhecimento médio de Deus dos atos livres futuros não determina, mas certamente repousa sobre o que aquelas escolhas serão.” (MORELAND; CRAIG. 2005. p. 351).
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• Origens e temas comuns são abundantes; • Ênfases partilhadas s ão mais num erosas do que a maioria das pessoas pensa; • Muitos teólogos reformados moderados agora reconhecem o arminianismo e a teologia reformada como intimamente ligados; • Arminio não se opôs a tudo no calvinismo ou teologia reformada, mas tentava enfatizar pontos comuns; • Armin io e sua te olo gia rep rese nta m uma va rie dade do pensamento reformado, mesmo fo ra do grupo dominante. Estudiosos como Vance não apenas põem Arminio entre os teólogos reformados, mas o declara como ortodoxo: “Arminius merece ser classificado como um teólo go holandês reformado ortod ox o.”XCM" O leitor deve estar lembran do que acim a fizemos uma breve defesa dessa ortodoxia. Conclusão
A vida de Arminio foi intensa, em todos os sentidos, como foi possível notarmos. Já nessa primeira parte historiográfica de sua vida, uma figura cativante e com inquestionáveis marcas de piedade no melhor estilo bíblico foi-nos apresentada. No pró xim o capítulo continuare mos nossa histo riografia sobre a vida apaixonante de Arminio.
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Capítulo 3 © m a bíáã bíáãoo iM átorí átoríoo gráf gráfic icaa ba ^ tb a be fa c ó üí üírmüuo rmüuo B e áeu conf confli lito to co com Jfrancíôco Jfrancíôco (êo m aru è até áua jfô jfôlort orte Este servo de Deus, Arminio, a fim de estar aprovado diante de Deus, escolheu escolh eu suport sup ortar ar o ódio e a contradi cont radição ção de toda a humanidade, antes de violar a sua consciência. Ele hasteou a todo o mundo cristão a insígnia da paz e da concórdia, e desejou iniciar isto nas Igrejas Reformadas. Simott Episcápio
In I n tr o d u ç ã o
N e s s e c a p ítu ít u lo, lo , c o n fo rm e o s u b títu tí tulo lo,, d a rem re m o s d e sta st a q u e à d isp is p u ta en tre tr e Arminio e Gomarus. Nesse percurso, veremos Arminio se defendendo bravamente contra a acusação de antitrinitarianismo, de papismo, de pelagianismo, novamente e, também, tomaremos conhecimento de sua defesa da sola scriptura, tota scriptura acima da fidelidade aos credos e confissões. Ainda há mais: voltaremos ao debate envolvendo a doutrina da eleição e a total negação da doutrina da predestinação rígida por parte de Arminio. Dessa feita estará em foco o debate com Gomarus. O leitor ainda encontrará neste capítulo a apresentação do contexto onde foi foijado o pensamento teológico de Arminio, o que o inocenta da acusação de ter sido um inovador. Por fim, chegaremos às informações concernentes à sua morte. 1.
Arm inio: D e seu conflito conflito com Francisco Gom arus até sua morte morte..
Em clima de total discordância do predestinismo rígido de Beza, a inevitável e mais ferrenha colisão acadêmica entre Arminio e o calvinismo rígido aconteceu em Leyden quando ele foi indicado como professor de Teologia (1603). Seu opositor foi Francisco Gomarus (1563-1641), um colega, mas também um calvinista e teólogo supralapsariano. Ele considerava Arminio um elemento perigoso à formação das novas gerações de ministros. Con forme Van ce, a contrové rsia entre entre ambos ambos foi tão intensa intensa ao po p o nto nt o d e e n v o lv e r n a d isp is p u ta estu es tu d an tes te s de te o lo g ia e tra tr a b a lh a d o res re s têx tê x teis te is.. Gomarus reagia de modo irracional diante das ideias de Arminio chegando a levantar falsas acusações. Olson escreve: “Gomarus acusou Arminio de socinianismo13, 13 Doutrina formulada por Lélio Socino (século XVI). Seu sobrinho sobrinho Fausto Socino (1539-1604) desenvolveu doutrinas antitrinitárias, negou a deidade ontológica de Jesus Cristo, a expiação substitutiva e o pecado original crido como uma total depravaçâo herdada. “Ele foi o heresiarca
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que era uma negação da Trindade e de quase todas as demais doutrinas cristãs clássicas.”xc,x No tocante a essa acusação, no capítulo seguinte trataremos dela mais de pe p e rto rt o , p o is os p rim ri m e iro ir o s seg se g u id o res re s d e A rm ín io tam ta m b é m fora fo ram m a c u s ad o s de antitrinatarianismo. No entanto, vale a pena antecipar a discussão passando a palavra pa p a r a A rm ínio ín io:: Ess a pe sso a é o Filho de Deus e Filho do homem; consistindo de duas duas naturezas, divina e humana, inseparavelmente unidas sem mistura ou desordem , cuja união foi denominada pelos antigos de hipostática [...] Ele herdou a natureza humana da virgem Maria sobre a qual veio a operação do Espírito Santo para que por sua instrumentalidade, nascesse de modo sobrena tural o Messias prometido. prometido. ‘
E possível apresentar uma declaração mais trinitariana que essa? Nela está garantida a deidade ontológica do Senhor Jesus, diferente da tese de Fausto Socino (153 9-16 04), u nitan ni tan sta e fun dad or das primeira s igrejas un itaria na s14 s14 na Eu rop a.Cl No N o in íco íc o de a g o s to d e 1598 15 98,, os s o c inia in iann o s C h isto is topp h o ru s O s to ro d e A n d reas re as Voidoxius chegaram a Amsterdã. Eles atraíram logo a atenção das autoridades devido à doutrina sociniana. Armínio foi acusado de alinhar-se a esses socinianos e de exaltá-los a tal ponto como teólogos que nem Calvino e Beza poderiam refutá-los.0'1Rodríguez diz: “nada disso está do cu m en tad ta d o ”01 ”01" Ban gs declarou : “Arm “A rmínio ínio leu os escritos socinianos e apresentou a seus alunos argumento convincentes contra eles.”clv Ele fòi acusado diversas vezes de ser sociniano e não mediu esforços para desmentir a calúnia. ti o n V (Sobre E m D is p u ta tio (Sobre a Pessoa do Pai e do Filho) e VI (Sobre o Espírito Santo), em The Works o f Jam es Arminius, vo vol. l. 2, Armínio se mostrou ortodoxo em suas concepções a respeito da trindade. Não há uma linha sequer antitrinitariana nas obras de Annínio. Mas todas as tentativas de defesa por parte de Armínio não o livrava das improcedentes suspeitas levantadas. A ortodoxia de Armínio no tocante ao debate trinitariano pode ser constatada no o quadro abaixo.
da Europa protestante no século XVI” (Olson, 2013, p. 103). Armínio afirmou por diversas vezes não ser sociniano e não mediu esforços para demonstrar isso. Vem de “unitarismo - [Do lat. lat. unitas + ismo]. Doutrina que, embasada no monoteísmo radical, rejeita a realidade bíblica da Santíssima Trindade.” (ANDRADE, 1998, p. 283).
j In tr o d u ç ã o ao A rm in ia n is m o
A Trindade
Pontos Básicos A Unidade de Deus
A Eternidade Eternidade das Três Pessoas da Trindade
Relações Trinitarianas
A Ordem Redentora da Trindade
Arminio "Esta doutrina da sagrada e indivisível Trindade contém um mistério que ultrapassa todo entendimento humano e angélico, se ela for considerada segundo a união interna que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e de acordo com a relação entre eles quanto a origem e pr p r o c e d ê n c i a . ” (ARMINIUS, vol. 1, p. 350) "A respeito da divindade do Filho de Deu D eu s, tenh te nhoo e n s ina in a d o q u e o P a i n u n c a existiu sem seu Verbo e seu Espírito. ” (ARMINIUS, vol. I, p. 330) “Porque o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, Santo, não tem apenas um a relação relação natural entre entre si [... [...]] Existe um apro cessã o interna nas pesso as; e há outro externo, externo, que é cham ado nas escrituras escrituras e nos escritos do Pai, com o nome de ‘M iss ã o ' ou 'enviar’. ” (ARMINIUS, vol. 1, p. 28) ‘‘Por que o Pai m anifesta o evangelho através de seu Filho e Espirito. Manifestao p o r m eio de seu Filho Filho ao ser enviado com o pro pósito de ser M ediador entre entre D e u s e os p e c a d o r e s [... [. ..]] E le m a n ife if e s ta também através do seu Espírito [...] ” (ARMINIUS, vol. 1, p. 28) Quadro 2
A doutrina da Trindade crida por Arminio é ortodoxa. Acima ele afirma a unidade da divindade e defende a eternidade e divindades das três Pessoas. Como dissemos, voltaremos a esse sub-tema adiante. Por causa de uma viajem a Roma em 1586 Arminio foi acusado por seus opositores em Amsterdã de • Ter se a ssociado aos jesuíta s; católico; co; • Tom ar-se católi • Be ijar os sapatos do Papa; Papa; • Tornar-se amigo íntimo íntimo do Card eal Bellarmine, a pologeta católico católico e inimigo do calvinismo rígido de Beza.
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A partir disso, Armínio passou a ser papismo. M as ele era anti-c ató lico e disse: “o Igreja. Porque ele gaba-se de sê-lo, o m erecidam ente .”1" C itand o a tese de Armínio On
culpado de levar muitas pessoas ao pontífice ro m ano não é a cabeça da título de Anticristo lhe pertence Idolatry , Vance transcreve:
O Pontífice Romano é ele mesmo um ídolo: E que aqueles que o estimam como a pessoa que ele e seus seguidores ostentosamente descrevem-no ser, e que apresentam a ele a honra q ue ele exige, p o r esses m esmos atos mostram -se idó latras.cVl
N a Itália, .Armínio não manteve ligações com lideranças eclesiásticas católicas, mas apenas desfrutou da presença de seu amigo Adrian Junius. Dessa viagem a Roma Papal, Armínio chega as seguintes conclusões: “’o mistério da iniqüidade ’ em uma forma mais sórdida, repulsiva e detestáve l Está para além de qualqu er razoabilidade pensar em um .Armínio papista. Mais ainda: até aqui, todas as denúncias de envolvimento com o Catolicismo Romano, Socinianismo e Pelagianismo estão, a nosso ver, devidamente refutadas. Todas essas acusações tinham como fundamento apenas a discordância da venerada doutrina da predestinação rígida. Armínio constantemente apontava esse estratagema dos calvinistas: [...] Qualquer contradição oferecida a esta doutrina despoja Deus de sua glória e graça, assim o mérito da salvação é atribuído ao livrearbítrio do homem, seus pró prios pode res e forç a, e isso cheira a Pelagianismo.'"'"
Em 6 de maio de 1603. em Haia, Armínio encontra-se, finalmente, com Gomarus conforme reivindicação deste. Neste encontro foram debatidos vários temas e' o final do mesmo ocorreu com algum grau de fraternidade. Posteriormente, a situação se agravou entre ambos e os mesmos foram convocados a comparecerem perante A Corte Suprem a em Haia, no dia 30 de maio de 1608, na presença de oito ministros pará exporem suas divergências teológicas. Uma dessas diferenças girava em tomo da ênfase à graça de Deus dada por Gomarus que relegava a nada a fé como o elemento do lado humano na questão da salvação. Armínio. por sua vez, tentava conciliá-las. Nesta tentativa não há qualquer licença para o homem se envaidecer por causa da sua salvação. Para evitar esse tipo de conclusão meritória, Armínio trabalhou o conceito de graça preveni ente (discutiremos esse conceito na parte 3). O ato de crer som ente é possível por causa da graça sobrenatural de Deus e, por isso, não pode ser considerad o meritório. Outro embate entre Armínio e Gomarus envolveu a autoridade da Bíblia. Wynkoop escreveu: A li (em Leyden) chocou-se direta mente como o "elevado calv in ismo de Gom arus Este desafiou Arm ínio sobre o fun dam ento da autoridade
[ Introdução ao Arminianismo
bíblica. Arminio negou-se a submeter sua interpretação escriturística aos credos. No calor da controvérsia, postulou-se que “as Escrituras dev iam s er in terpr etad as segu ndo as Confissões e o C atecism o ”clx.
A isso Arminio replicou com duas questões constrangedoras: “Deve prevalecer a palavra do homem sobre a Palavra de Deus?”. “Deve estar ligada a consciência do hom em cristão p ela Palavra de Deus ou pela Palavra do ho m em ?”cx Pinso n relata: Em 1607. em uma reunião da Convenção Preparatória para o Sínodo Nacional, Artninius, ju ntam ente com outros delegados, arg umenta ram que a regra de f é e prá tica da igreja deveria se r as Escrituras, não a Confissão ou o Catecismo, enfatizando a prioridade da Palavra de Deus ac im a das confiss ões.CXI
A Palavra de Deus deve ser a autoridade final para toda questão teológica. Arminio não estava disposto a negociar a autoridade da Bíblia como fundamento para a ortodoxia. Toda questão teológica deve submeter-se ao juízo das Escrituras assim como credos e confissões quaisquer que sejam. Ele escreveu: Que possa abertamente par ece r a todo o mundo que atribuímos à palavra de D eus apenas a honra devid a e adequada, ao ponto de estabelecê-la acima de todas as disputas grande demais para ser assunto de qualquer objeção e digna de toda aceitação™ 1
Esse era o espírito das palavras de Arminio. Nessa esteira, ele não se sentia “obrigado a adotar todas as inteipretações particulares dos reformados”™". Para Arminio, sola scriptura, toia scriptura. Por isso, conforme Rodriguez, “mais importante é que em su a herm enêutica as Escritu ras sem pre tem a prim azia .’'CXIV Tais posicio nam ento s de Arm in io , no entanto, não o levava a desconsid erar o Catecismo de Heidelberg e a Confissão Belga. Diversas vezes ele foi acusado de distanciar-se desses documentos.”' Arminio apenas reputava o Catecismo e a Confissão como obras hum anas e, tê-las como tal, não imp lica em ultraje. Ness e embate, Arm in io, sempre m ais condescendente e pacífico, dizia não ter como intenção impor suas ideias a ninguém. Nas discussões ele sempre optava por debater a respeito dos pontos convergentes, embora, muitas vezes, fosse forçado a argumentar contra os extremismos calvinistas. Já Gomarus vivia por condená-lo diante de seus ouvintes durante sua prédica e diante de autoridades provinciais. Frente a tantas hostilidades de Gomarus e a amabilidade de .Arminio. foi dito por alguém, de acordo com Calder, o seguinte: -"prefiro morrer com a caridade de Arminio do que com a fé de Gomarus.'t'" Essa foi uma resposta dada a Gomarus por um leigo presente na reunião de 30 de maio diante da Suprema Corte, em Haia. por Gomarus ter dito: “não me agrada co m parecer diante de Deus, o juiz, com as o piniões teológicas de Arm ínio.”CXV11
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Retomemos a questão da eleição nesse no contexto de polêmica entre Armínio e Gomarus. Arm ínio neg ava o sup ralapsa rianism o15 de Go ma rus objetivam ente e insistia que o infralapsa rianism o16 tam bém incorria em erro.' No supralapsarianism o Deus decretou na eternidade a eleição e não eleição de algumas pessoas e permitiu a queda para que ela fosse o meio através do qual esse dec reto divino absolu to fosse executado. N o infralapasarianismo Deus perm itiu a queda e, dep ois desse vento , decre to u a eleição e não eleição das pessoas. Para Armínio, esses sistemas lapsários são problemáticos. N o to cante ao primeiro, em seu parecer,* Deus se to m a o auto r do pecad o, inexoravelmente. Armínio condenou essa heresia com tais palavras: D e todas as bla sfêmia s que podem profe rir-se contr a Deus, a mais ofensiva é aquela que O declara autor do pecado; o peso dessa imputação é aumentado seriamente se lhe agrega que, segundo essa perspectiva, Deus é o auto r do pecado co metido p ela criatura, para p o der condená-la e la nçá-la à perdiç ão ete rna que lhe havia destinado p a ra ela de ante mão sem ter relação com o pe cado. Porque, desse modo, “Ele seria a causa da iniqüidade do homem para poder infligir o sofri mento eterno”... Nada imputará tal blasfêmia a Deus, a quem todos concebem como bom... Não pode atribuir-se a nenhum dos doutores da Igreja Reformada, que eles “aberta mente declarem Deus como auto r do p e c a d o ”... No entanto, “é provável que alguém possa, p o r ignorância, ensinar algo do qual fo ra possível, como claro resultado, deduzir que, p o r essa doutrina, D eus perm aneça decla rado auto r do pecado. ” Se tal fo r o caso, então... (os doutores) devem ser admoestados a abandonar e desprezar a doutrina da qual se tem tirado tal inferência .cx' ul
Para Armínio, partindo da análise teológica sob a luz das Escrituras, era impossível chegar a uma heresia desta natureza. No entanto, a subsunção da teologia pela ló gica poderia pro duzir (como pro duziu ) um a heresia desta grandeza. Em relação às duas posições, supra e infralapsariana, Armínio as concebia como doutrinas sem cristocentricidade. Gonzalez escreve: “Armínio estava pro fu ndamente pre ocupado com que qualq uer doutrin a da pre destinação fosse cristocêntrica.”cxf Co nforme já indicamo s, salta aos o lhos o cristocentrismo n os escritos de Armínio. Para ele, Cristo deve ser a fonte e causa da salvação e não os decretos divinos.VNo supralapsarianismo, posição original do calvinismo, a eleição de alguns
" Palavra derivada do latim supra (antes de) e lapsus (queda). O conceito diz ter Deus determinado o destino eterno de cada pessoa antes de seu decreto de criar o homem e a mulher permitir a queda adâmica. Palavra derivada do latim infra (abaixo de) e lapsus (queda). Deus determinou o destino de :ida pessoa logo após seus decretos para criar e perm itir a queda de Adão.
Introdução ao Arminianismo
para a vid a vem em primeiro plano. Posteriorm ente, Deus pensou em pro ver um Redentor para salvar os eleitos. Dessa forma, o sacrifício de Jesus toma-se secundário visto que Sua morte objetiva atender a uma eleição prévia e imutável e nada mais. O infralapsarianismo, em seus decretos, de igual modo trata o sacrifício de Jesus em segundo plano. Nestas teorias Cristo não passa de mero instrumento que concretizará o decreto abstrato de eleição. Ou seja, os hom ens foram pred estinado s à salvação antes de Cristo ser predestinado a salvá-los e nega a Jesus o mérito pondo-o como uma causa subordinada da salvação pré-ordenada. Essa doutrina desonrava ao Senhor Jesus, nosso salvador, dizia Armínio. Seu esforço consistia na apresentação de uma predestinação cristológica: “O primeiro decreto de Deus foi nomear a Jesus Cristo como mediador, salvador e rei dos hom ens.” ] Karl Barth (1886-1968), pastor e teólogo reformado, criticava o calvinismo exatamente neste ponto onde Cristo era excluído da teoria da eleição. Em um de seus escritos, Barth ressalta seu pensamento cristocêntrico nos seguintes termos: “Eleitos estamos nós q uando dizemo s sim a nossa eleição em Jesus C risto.”cx' Barth, assim como Armínio, negava a “dupla predestinação” calvinista, pois esta desconsiderava o ensino bíblico (Efésios 1:4) de que Deus esco lheu Cristo e nEle nós somos escolhidos. Não ab rindo mão da distinção de Cristo, portanto , não repetindo o mesmo erro dos calvinistas rígidos, Armínio apresenta os decretos de Deus conforme ele entendia estarem mais em conformidade com a Bíblia: O prim eiro decreto absoluto de Deus, concernente à salvação do homem pecador, é que Ele decreto u desig nar seu Filho Jesus Cristo por M edia dor , Redento r, Salvador, Sacerdote e Rei, que pode destr uir o pecado po r sua própria morte, pode obte r , p o r sua obediência, a salvação que havia sido perdida, e pode comunicá-la por sua própria virtude. O segu ndo decreto absoluto de Deus é aquele no qual Ele decretou r eceber em fa v o r os que se arrependem e creem, e, em Cristo, p o r Seu am or e po r intermédio dele , realizar a salvação de tais penitente s e cre ntes confo rme perseveram até o fim; mas deix ar em pecado e sob a ira to dos os im penitente s e descrentes, e condená-los como desconhecidos de Cristo. O te rceiro decreto divino é aquele pelo qual Deus decretou administrar de uma maneira suficiente e eficaz os meios necessários pa ra o arrependimento e a fé ; e ter tal administração instituída ( l) de acordo com a Sabedoria Divina pela qu al Deus conhece o que é próprio e adequado tanto par a su a m isericórdia quanto pa ra sua severidade, e (2) de acordo com sua Justiça Divina, pela qual Ele está preparado a adota r tu do o que sua sabedoria possa prescrever e colo cála em execução. Estes resultam no quarto decreto, pelo qual Deus decretou salvar e condenar certas pessoas específicas. Este decreto tem sua base na presciência de Deus, pelo qual Ele sabia desde toda a eternidade as pesso as que iriam, po r intermédio de sua graça preventiva crer, e, por intermédio de sua graça subsequente, perseverar, - de
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acordo com a administração antes descrita destes meios que são apropriados e adequados pa ra a conversão e a fé ; e que, pela presciê ncia, ele. igualm ente conhecia os que não creriam e não perseveraria m .cxx'
Parece-nos claro o quanto a doutrina da predestinação de Armínio, em relação ao supralapsarianismo de Gomarus e ao infralapsarianismo, é disparada e consistentemente cristocêntrica. Neste sentido, Armínio presta um grande serviço ao calvinismo, pois propõe a correção de um erro doutrinário perigoso. Segundo Rodríguez: Jacó Arm ín io liberto u a doutr ina da predestinação da rig id ez calv in is ta , do universalimo, do pelagianismo humanista e a interpretou de acordo com as Escrituras, assim como Martinho Lutero, no século XVI, fez com a doutrina da justificação libertando-a do sistema sacram ental da Igreja Católica Rom ana, retornan do às suas bases b íblicas .cxxn
Esta doutrina extraiu de .Armínio mais energia e tempo que qualquer outra. A pre destinação absolu ta (supralapsarianism o) de Beza e Gomarus foi re chaçada por Armínio firmemente. Ele apontou vinte razões para isso em suas The Works o f James Arm inius, vol. 1, pp. 142-161. Por falta de espaço, citamos algumas: • Esta d outrina nunca fo i admitida, decretada e aprovada em nenhum concilio geral ou particular durante os primeiros 600 anos depois de Cristo. • Nen hum dos doutores e teólogos da igreja dos prim eiros 600 anos depois da morte de Cristo apresentou esta doutrina nem lhe deu aprovação. • Esta d outrina não concorda com a Confissão Belga nem com o Catecismo de H eidelberg. • Esta doutrina inverte a ordem do evange lho de Jesus Cristo. O evangelho requer arrependimento e fé po r parte do homem par a que se converta (Mr 1:15, 16:18; Jo 3:10, 36). • Esta doutrina da predestinação fo i negada anteriormente e em nossos dias pela grande maioria dos que professam o cristianismo. • Es ta predestinação é injuriosa á glória de Deus porque o fa z autor do pecado (para fu ndam entar a afirm ação, armínio cita quatro argumentos capazes de pr ov ar sua certeza). O embate de Armínio com Gomarus teve outros episódios, mas ele se encerra com a morte de Armínio em P ieterskerkh of por causa de tuberculose. E possível que Armínio tenha ficado estupefato com tanta oposição calvinista, pois “as ig rejas reform adas das Pro vín cias Unid as na época de Arm ínio eram
| Introdução ao Arm inianismo
gen ericam ente protesta ntes em vez de rigidam en te calvinistas ”cxxm. Ele foi acusad o de ter deflagrado discórdias nas Províncias Unidas por causa de suas “novidades” teológicas. No entanto, não é isso que os historiadores consultados dizem. Acim a, Olson nega uma prevalência do calvinismo rígido. Já existiam disputas entre as Igrejas Reformadas por causa dos ensinos de Beza. Não havia uma predominância do supralapsarianismo de Beza sobre, por exemplo, o sinergismo de Philip Melancthon (1497-1560). Os ensinos de Melancthon encontraram aceitação e livre fluxo na Holanda muito antes dos ensinos de Calvino. Calder, citando um livro sobre uma história eclesiástica da Holanda, publicado em alemão e escrito po r Heinrich Lu do lf Ben them (1661-172 3), no ano de 1678, sob o título Hollandis cher Kirch im d Schulen Sta at (História da igreja e Universidades da H ola nda), registra: No iníc io do século passado, uma pessoa com o nome de Hard en berg, morador de Emden, pre gou c ontra a Igreja Romana. Ele logo atraiu muitos ouvintes, vários dos quais abraçou seus ensiname ntos. Entre os ouvintes estava um com o nom e de Clemens Martenson. Este homem, no ano de 1554, publicou uma obra, na qual ele tratou da eleição condicional. Este livro fo i posteriormente aprovado p or Henry Anto nid es, professor de te ologia em Fra neker . O livro foi muito vendido e contou com muitos admiradores e defensores. Isso foi notório na província de Utrecht, onde os ministros, sem exceção, aderiram aos ensinos defendidos no livro. Na Holland e em Friesland, ocorreu a mesm a coisa [...] ax,v
Observe a data: 1554. Nesse ano, pelo menos, já se defendia a eleição condicional. Armínio nasceu em 1560. Aos vinte e dois anos, mais ou menos, iniciou seus estudos em Genebra e, com cerca de quarenta e três anos assumiu a docência de teologia em Leyden. Em Genebra, estudou sob Beza e, posteriormente, se contrapôs ao pre destm ism o do mestre. Em Leyden colidiu com Gomaru s, predestinista alinhado com Beza. Fazendo as contas, passaram-se cerca de quarenta e três anos para Armínio começar a defender abertamente a eleição condicional. Portanto, ele não foi um inovador. Tal acusação não passava de um artifício das relações de poder. O fato dos críticos de Armínio rotulá-lo de inovador não passa da tentativa de quererem transmitir a falsa mensagem de que o calvinismo foi o sistema teológico pioneiro, corrente e predom in ante na Holanda de Arm ínio. Isso nada mais é que um discurso caindo na categoria de “tradição inventada”, conceito pensado pelo historiador britânico Erick Hobsbawn (1917-2012). O Sínodo de Dort, assunto do capítulo cinco, foi convocado, dizem, para combater a “novidade” teológica trazida por Armínio aos Países Baixos. Mas não foi isso. As injúrias de inovador, agitador, foram pretextos para justificar o cruel e injusto Sínodo de Dort, conclui Calder. Contudo, admitindo a exatidão da última informação de Calder baseado em Benthem, as doutrinas de Armínio, mais notadamente a eleição
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condicional, não eram inovações, mas antes faziam parte da vida comum. Não há inovação, mas repercussão de uma doutrina amplamente difundida e apresentada antes do calvinismo. Leiamos Calder mais uma vez: Sendo este o caso, segue-se que os inovadores sobre a opinião pública, não eram os defensores da predestinação condicional, mas aqueles que divulgaram as doutrinas de C alvin o.'1"
Inovações eram as doutrinas calvinistas. Por ironia, repete-se aqui a acusação de Vincente de Lérins contra Agostinho citada no primeiro capítulo. Lérins chamou Agostinho e seus discípulos de “inovadores" saindo em defesa das doutrinas tradicionais. Falando sobre o propósito de um de seus trabalhos, ele escreve: “descrever aquelas coisas que foram legadas a nós por nossos ancestrais e deixadas conosco, e fazê-lo com a fidelidade de um narrador, e não com a presunção de um autor (ênfase no ssa).” LX" ' Essa é uma crítica à dou trina ago stiniana da predestinação que “não é o que tem sido ensinado po r todos e em lodo lugar.”" * '” Ag ostinho, d escon siderando a doutrina eclesiástica anterior, é chamado de autor presunçoso. A doutrina da pre destinação de Agostinho, outrora tida como inovação, mais uma vez em outro contexto, é considerada uma inovação. E exatamente pelo fato dos ensinos de Melancthon estarem em sintonia com a patrística anterior a Agostinho que recebiam ampla aceitação nas Províncias Unidas antes do supralapsarianismo: “Os ensinos de ívlelancthon estavam mais de acordo com os pais gregos primitivos do que os de Agostinho, e, sendo mais antigos, eram amplam ente ac eito s'’" '" ’"1, escreve Cald er. Ou tra inform ação env olvend o Mc lancthon diz que professores de Leyden tinham permissão de ensinar segundo o pensamento do reformador sinergista Phlillip Melanchton: “Alguns professores de Leyden sentiam-se livres para ensinar em conformidade com a doutrina de Melancthon”cxxlx, anota o mesm o autor. A diversidade doutrinai trazia também em seu rol as doutrinas da graça universal e sua resistibilidade. Calder anota: Alg uns teólogos da Refo rm a mantiveram publicam ente os prin cípio s da graça universal, da resistibilidade da graça e da predestinação condicional, ensinando-os a muitos holandeses, e defendendo-os abertamente, antes de Arminius ter pregado em Amsterdã. Eles haviam sido apresentados em palestras públicas em Leyden, muito antes de Gomarus se insurgir contra ele. Suas obras (dos teólogos) ainda existem[...]cx"
Agora o autor absolve Armínio de ser um inovador quanto à graça universal e a resistibilidade da graça:
introduçã o ao Arminianismo
Sendo este o caso , segue-se que os inovadores sobre a opinião pública, não eram os defensores da pre des tinação condicional, m as aqueles que divulgaram as doutrinas de Calvino.1'*"
Esse mesmo autor ainda certifica a fluidez dos escritos de Erasmo e Meiancthon entre as pessoas da província em detrimento das hipóteses rígidas do calvinismo. Além disso, em 1567, alguns ministros franceses adeptos da predestinação absoluta, sob a atenção e apoio do Príncipe de Orange, foram encorajados a prepararem uma confissão calvinista gerando muito desconforto, pois, como estamos instando, esta sim era uma inovação. Apresentada a confissão, alguns teólogos holandeses reagiram devido ao ineditismo da doutrina oposta à teologia corrente. Dentre esses estudiosos, Calder cita John Isebrand, pregador em Roterdã; Gellius Snecanus, pregador em Friesland; John Holmann, professor de teologia em Leyden; Jasper Koolhaes, de Leyden; Herm an H erberts, de Dort; Cornelius M einards e Com elius W iggerts, de Hom, entre outros. Mesmo com o surgimento da nova doutrina e a rejeição da confissão, não havia animosidade entre os m inistros e o povo. T odos mantinham um a convivência respeitosa e os rótulos de herege e heresia nunca foram opções para um grupo designar o outro, como insistiu Gomarus, gomaristas e os políticos alinhados com Maurício de Nassau (1567-1625) em relação a Armínio e E piscópio, por exemplo. Assim, ficamos sabendo da existência de um cenário doutrinário plural no contexto onde Armínio atuou como teólogo da graça. A novidade era a predestinação rígida, por sinal a mais arbitrária de todas as novidades. Rodríguez descreve a situação religiosa e teológica, plural, dos Países Baixos, antes de Armínio atuar, apontando o seguinte d esenvolvimento: • An tes da R eform a Luterana se instalar, havia nos P aíses Baixos um intenso movimento de reforma. • Os Irmã os da Vida Comum, j á prese ntes nos Países Baixos, prepararam o solo para a fe rti lização das sem en tes da Reforma. • Pregadores luteranos che garam à região e con seguiram muitas conversões. • Depois, os a nabatistas, seg uidores dos ensinos de M lechor Hoffman, chegaram ao país. • Anabatistas m ais radicais tentaram se fixar em algumas cidades, mas não foram bem sucedidos. • Po r último, chegaram os pregadores calvinistas , oriundos da França, de Gen ebra e do su l da Alem anh a.'1"'"
Sem dúvidas, um contexto altamente eclético e aberto à diferença teológica. As Províncias Unidas eram uma terra revolvida e com o húmus da abertura religiosa e teológica.
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A conexão entre Armínio - p o st mortem - e ensinos como a eleição condicional, a graça resistível e a universalidade da graça têm sentido, pois ele as defendeu habilmente. No entanto, qualquer conexão entre ele e essas doutrinas no sentido de que ele as introduziu entre os holandeses não passa de uma falsa afirmação. Finalmente, gravemente enfermo, Armínio vive um misto de serenidade, pois iria para seu Senhor, e preocupação quanto ao suprimento das necessidades de sua família depois de sua morte. Matías Martinus, seu amigo, depois de uma visita, a descreve: “Me deu a impressão de ser um homem que verdadeiramente temia a Deus [ ]„cx.vx"r g m dg 1609, aos 49 anos, em casa, Armínio falece ladeado por familiares e amigos. De sua prole, apenas dois filhos estavam vivos. Seu testamento revelava uma fé inabalável no Senhor e a certeza de um iminente encontro celestial com seu Salvador. Também declarou estar certo de não ter corrompido a sà doutrina. Ele escreveu: Acim a de tudo, confio minha alma, em sua partida do corpo, às mãos de Deus, que é seu Criador e fiel Salvador; ante o qual eu ta mbém testifico que caminhei com simplicidade e sinceridade, e “com toda a boa consciência, ” em meu oficio e vocação; e que tenho guardado com a maior solicitude e prudência, de expor ou ensinar qualquer coisa, que, após uma diligente busca nas Escrituras, não tenha concordado com os registros sagrados; e que todas as doutrinas po r mim expostas fora m na intenção de levar à propagação e crescimento da verdade da Religião Cristã, da verdadeira adoração a Deus, da devoção de todos, e de uma sagra da relação entre os homens, - e também pa ra contribuir, de acordo com a palavra de Deus, a um estado de tranqüilidade e paz característico do nom e cristão; e que destes fa vo re s eu ex cluí o Papado, com o qual nenhuma unidade de fé, nenhum laço de pied ad e ou da paz cristã pode ser conservado axxn
Em seu funeral, Bertius proferiu as seguintes palavras: Viveu na Holanda um homem a quem os que não o conheciam não o podia m estim ar suficiente mente ; aquele s que não o estimavam j am ais o haviam conh ecido súfic iente m ente.cxxxv
Armínio não sistematizou suas doutrinas. Seu grande trabalho, a coletânea de três volumes, The Works o f Jam es Arm inius (As Obras de James Arminius), somam mais de 1.700 páginas e não está traduzido para o português. No tomo I, econtramos temas como “o sacerdócio de Cristo”, “quatro discursos sobre a natureza da Teologia” e, ainda, “vinte e cinco debates públicos”. No tomo II, há uma “carta sobre o pecado contra o Espírito Santo”, uma discussão a respeito da “divindade do Filho de Deus”, da “predestinação”, do “livre-arbítrio” entre outros. No tomo III, Armínio apresenta uma
Introdução ao Arminianismo
“análise do capítulo 9 da Epístola aos Romanos” e muito mais. Sobre esse trabalho, Olso n diz: Eles contêm discursos eventuais, comentários e cartas. Estes escritos nâo são uma teologia sistemática, embora alguns dos tratados mais longos de Armínio abranjam uma grande porção de assuntos teológicos.cxxxvi
Segundo Rodríguez, o lema de Armínio era: “Bona conscientia pa rad isus" (Uma b oa co nsciência é o paraíso). A teologia de Armínio ficou exposta à inquisição pública de políticos e teólogos. Depois de sua morte, Simon Episcópio (1583-1643), nome de destaque do arminianismo clássico no período imediatamente posterior à morte de Armínio, assumiu a cadeira de teologia deixada por ele em Leyden. Contra Episcópio, Gomarus voltou sua artilharia. Episcópio, com John Uyttenbogaert (1557-1644), pregador da Corte, lideraram os seguidores de Armínio. Bangs sugere um número desses seguidores e indica suas nacionalidades: Existem muitos seguidores de Armínio [...] provavelmente centenas [...] alguns são holandeses, outros ingleses, alguns franc eses, outros espanhóis, indonésios e americanos. 1
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Conclusão
Esses últimos dois capítulos ocuparam-se em narrar um pouco da história desse grande teólogo da graça de Deus chamado Armínio. Parece-nos ter ficado claro o quanto ele foi injustiçado e, assim mesmo, preferiu viver o injusto escárnio à negação da piedade. Claro que ele nâo se portou passivamente e nem poderia, porém seus enfrentamentos com seus desafetos sempre primaram pelo alto nível da discussão teológica, filosó fica e bíblica. A morte de Armínio não amainou a difusão do arminianismo clássico. Desse modo, Gomarus e seus seguidores pressionaram a saída de todos os professores arminianos da Universidade de Leyden. Como reação, quarenta e seis (o número exato 'é incerto) pastores e leigos assinaram o Rem onstrance.
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Capítulo 4 Bftemcmôtrance e JXemonsítranteá [...] a Remonstrância [...] é o documento de origem do arminianismo clássico. Seu foco principal está nas questões da salvação e, em especial, na predestinação. Roger Olson Intr odução
Neste capítulo discutiremos aspectos dos ev entos seg uintes à morte de Arm ín io aos 49 anos de idade. Sua morte não amainou as coisas nas Províncias Unidas. As disputas com Gomarus e calvinistas rígidos continuaram, pois amigos, admiradores e adeptos da teologia de Armínio não arrefeceram e insistiram na crítica ao supralapsarianismo de Beza, Gomarus e, mantiveram a lutar pela liberdade religiosa. Acuados pelo poder político, eles foram instados, um ano depois da morte de Armínio, a comparecerem diante das autoridades para apresentarem suas causas. Então, eles escreveram o Rem onstr ance um documento contendo explicações sobre a doutrina arminiana para ser exposto em uma conferência de líderes eclesiásticos e políticos. Além desta discussão neste capítulo, colocaremos em relevo dois remonstrantes destacáveis, por razões distintas, para um olhar mais detido sobre eles. Trata-se de Simon Episcópio e Philip Limborch. Episcópio talvez seja o maior nome de destaque depòis da morte de Armínio. Ele foi fiel às premissas teológicas de seu mestre. Já Limborch abandonou a ortodoxia de Armínio e se aproximou do liberalismo teológico. Muitas acusações contra o arminianismo clássico partem dos ensinos de Limborch, mas ele não está no rol de arminianos clássico e sim no de arminianos da c ab eça.17 1.
Remonstrance
Rem onstr ance significa “protesto”. Esse foi o título do documento que rejeitando tanto o supralapsarianismo de Beza e Gomarus, como o infralapsarianismo, apresentava os chamados Cinco Artigos Arminianos , possivelmente escrito por Simon Episcópio, proeminente líder dos seguidores de Armínio. Outro candidato à autoria do Rem onstr ance é João Uyttenbogaert (1557-1644) líder político dos R em onstr antes .CXXXV1"
17 Arminianos do Coração - São classificados como tal os teólogos que continuaram a trilhar os mesmos passos de Armínio, ou seja, sua teologia é perfeitamente compatível com as idéias por ele defendidas. Arminianos da Cabeça - São os que abandonaram alguns dos princípios basilares da teologia arminiana clássica, tal como a crença no pecado original e na depravação total.
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Zwinglio Rodrigues
Laurence Vance credita a Uyttenbogaert a autoria do documento. Episcópio e Uyttenbogaert, segundo Walker, foram amigos próximos de Armínio e, conforme escreve Rodríguez, sistematizaram e desenvolveram os ensinos de Armínio. O Rem onstrance teve como signatários 43 teólogos e pastores holandeses (o nú mero é inc erto)CXVM\ O do cumento respo nd ia a um pe did o an terio r dos Estado s da Holanda.txl Convocados por Uyttenbogaert, eles se reuniram em 14 de janeiro de 1610, em Gouda, na Holanda, e formularam o documento. Em junho de 1611, segundo Calder, o documento foi apresentado aos Estados-Gerais. Segue um resumo do docum ento:
Artigo 1 2 3 4 5
Cinco Artigos da Remonstrance Descrição Deus decretou salvar aqueles que irão crer em Jesus Cristo e perseverar na fé; deixando no pecad o os incrédulos para serem condenados. Jesus Cristo morreu por todos os homens, proporcionando redenção se alguém crer nele. O homem está num estado de pecado, incapaz de si mesmo fazer qualqu er coisa verdadeiramente boa, m as necessita ser nascido de novo. O homem nâo pode sem a graça de Deus realizar qualquer boa obra ou ação, m as esta graça pod e ser resistida. Crentes têm po der para perseverar, mas se eles pod em apostatar-se, isso deve ser mais particularmente determinado pelas Sagradas Escrituras. Quadro 3
Esses artigos seguiram à discussão onde foi rechaçado inapelavelmente o calvinismo. Assinaram o documento, ministros, leigos respeitados, estadistas e líderes políticos. Além do já m encio nado Uyttenboagaert, um re speitável político, fizeram também parte desse rol de políticos importantes, João Oldenbarneveldt (1547-1619), personagem de destaque nos Esta dos Gerais das Pro vín cias Unid as e o emin ente historiador e juris ta Hu go Grotius (1 58 3-1 64 5).18 Esse grupo de personalidad es tinha como marca a defesa da liberdade de consciência. Walker descreve-os como políticos republicanos e tolerantes no tocante à expressão Religiosa e teológicacx\ Como anotamos no capítulo anterior ,\ as Províncias Unidas eram plurais e abarcavam uma diversidade de tendências teológicas onde até o predestinismo radical 18 Autor da famosa obra De ju re belli ac pacis (Das leis de guerra e paz - 1625), que lhe rendeu o título de "fundador do direito internacional”, de acordo com Walker. Grotius defendeu a teoria da expiação governamental. Esta teoria afirma não haver na natureza divina nenhuma necessidade de propiciação. Deus não precisava entregar Seu Unigênito, pois Ele não tinha que punir os pecados. Caso quisesse, poderia perdoar os pecados sem buscar uma satisfação para sua justiça. Nesse sentido, o objetivo da morte de Cristo foi dar um exemplo do ódio divino para com o pecado. Armínio nunca defendeu essa teoria. Ele cria em um sacrifício substitutivo, expiatório e propiciatório, informa-nos Olson (2013).
Introdução ao Arminianismo
de Beza e Go marus encontrou pouso po steriormente. Apenas quando esta última tentou se impôr a ponto de querer suprimir doutrinas cridas, praticadas e defendidas anteriormente é que colisões e enfrentamentos ganharam espaço culminando no Sínodo de Do rtJassunto do p róximo capítulo. Os Artigos remonstrantes foram apresentados na tentativa de pôr fim às perseguições nas lo calidades onde o clero calvinista era majo ritário. Os min istros calvinistas distorciam as crenças dos remonstrantes. Com a divulgação da Rem onstrance o anseio pela proteção e liberdade religiosa era anunciado. Ao analisar o documento, as Províncias Unidas o recebeu favoravelmente e determinou: • • •
Os ministros remonstrantes não deveriam sofrer censura eclesiástica por causa dos Cinco Artigos; Aos candid atos ao min isté rio não deveria ser im posta qualq uer doutrina que v iolasse suas consciências; M in istros removidos do minis tério por nâo tere m subsccrito a predestinação absolu ta deveria m ser rein te grados às suas atividades eclesiásticas.
Estas decisões contrariaram os gomaristas (calvinistas rígidos). De acordo com Calder, eles não obedeceram às decisões das Províncias Unidas argumentando que questões eclesiásticas deveriam ser resolvidas pelo clero. Assim, reivindicaram um sínodo. Tum ultos se seguiram por causa da insatisfação dos calvinistas rígidos até culminar na famosa Conferência de Haia montada para tentar encontrar lima saída amigável. Seis ministros de cada lado compareceram diante dos nobres e poderosos na tentativa de dirimir as dúvidas e pôr um fim ao litígio. No entanto, o empenho para evitar cismas e promover a comunhão e o convívio fraterno não logrou êxito. O Sínodo de Dort é o ícone maior dessa intolerância religiosa instalada e nem ele pôs fim às contendas. Aliás, não poderia, pois foi instituído exatamente para reduzir a pó a Rem onstr ance e os remonstrantes. Apenas com a morte do Príncipe Maurício de Nassa, partid ário dos gomaristas e es tes daq uele, é que a paz e a liberd ade voltara m a rein ar nas Províncias Unidas. Em 1621 os remonstrantes publicaram a The Arm inian C onfession o f 162! (A Confissão Arminiand) documento breve e de fácil entendimento de sua fé, conclui Olson (2013). Neste documento, acusações de que Armínio e os remonstrantes eram socinianos, negavam a trindade, seriam pelagianos e semipelagianos foram respondidas de m odo claro e in equ ívoc o.0*1" O docu m ento tam bém serviu p ara apresen tar a opção dos arminianos por um método teológico mais bíblico em detrimento do racionalismo reform ado e toda sua esp eculação teo lóg icacxlm. Para os remo nstran tes, com o p ara Arm ínio, a teolo gia era totalmen te prá tica 19 e nâo es pecu lativa ou teórica. Esse asp ecto especulativo, diziam, buscava o exercício da curiosidade e não a adoração a Deus. 19 Esse caráter prático da teologia para Arm ínio (e remonstrantes) está vinculado ao modo como Petrus Ramus (1515-1572), filósofo e educador francês, concebia que a teologia deveria ser.
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Zw inglio Ro drigues
A elaboração da Confissão, resultado de discussões quando os remonstrantes estavam exilados em Antuérpia, tornou-se responsabilidade de Simon Episcópio e mais dois ou tros, porém , o labo r caiu no colo d aque le"'1". Em 6 de fevereiro de 1620 o texto estava pronto. Submetido ao diretório, algumas revisões foram feitas. Coube a Episcópio e Uyttenbogaert traduzi-lo para o holandês e, em 9 de fevereiro, os remonstrantes aprovaram e acataram o documento. Digna de nota era a preocupação dos remonstrantes quanto à confecção da Confissão , pois temiam dar à mesma o status de “credo” e, por conseguinte, criar algum tipo de credalismo, coisa contra a qual eles sempre se opuseram. Os credos p ara Episcópio são secundários com parado s à B íbliacxl'. Isso não significa desconsiderar as Confissões e o Catecismo, assim como não fez Armínio. Em síntese, xa Confissão quis informar, a quem interessasse, quais eram as crenças dos remonstrantes da primeira geração e, ao mesmo tempo, desejava defenderse das mentiras e calúnias de seus detratores após o Sínodo de Dort. Olson classifica a Confissão de “um a afirmação bastan te ortodo xa d a doutrina pro testante”cMv|./ Dois nomes remonstrantes que merecem uma atenção especial, por razões distintas, são Simon Episcópio e Phillip Limborch. 2.
O R em onstr an te Sim on E pis cópio
Episcópio (1583-1643) nasceu em Amsterdã, em 08 de Janeiro de 1583. Seus pais se ch amavam Egbert Remm etzen e Geertru yd Jan. Pobre, Episcópio teve dez irmãos, dentre os quais setes deles morreram na infância ou muito cedo. Em 1602 ele perd eu o pai por causa da peste bubônica que assolo u Amsterd ã. A peste dizim ou cerca de 20.000 pessoas e, consoante Rodríguez, o evento “foi motivo para que todos examinassem a si mesmos e pensassem no verdadeiro significado e propósito da vida.’**1™ Mal Episcópio viveu o luto com suas dores, sua mãe morre transpassando mais ainda seu coração. No entanto, essas perdas não lhe tiraram o vigor acadêmico e ele, laborio sam ente, seguia em frente.cxKl" Assim com o seu m estre Armínio, teve seus estudos bancados por benfeitores que não negaram-lhe a meíhor educação possível na Holanda. Tomou-se especialista em grego e latim, estudou filosofia por três anos e depois se dedicou à teologia segundo informações de Calder. Foi em 1600 que ele conheceu e estreitou sua amizade com Armínio na Universidade de Leyden. De acordo com Vance, ali ele foi educado sob Armínio e, posteriormente, assumiu a vaga de Ramus entendia que a teologia deveria ser prática, redundando em doutrina (fé e obras) e disciplina (obras consistindo de oração e obediência por um lado e sacramentos por outro), informa-nos Rodríguez. Em seu trabalho pastoral, Armínio constatava isso e, por causa disso, aproximou-se de Ramus. Armínio também lançou mão da lógica de Ramus que questionava a lógica aristotélica, pois a entendia como rígida. Ramus formulou um método mais prático na expectativa de fazer da lógica “uma ciência prática” (RODRÍGUEZ, 2013, p. 42). Desde seu tempo de estudo em Leyden, Armínio usava a lógica ramaniana. Para mais detalhes a respeito da lógica de Ramus, recomendamos a leitura do livro de Rodríguez alistado na bibliografia deste livro.
| Introdução ao Arm inianismo
pro fessor de teolo gia deix ada por G om ara s, de quem foi aluno tam bém ^1'*. Em 27 de fevereiro de 1606 recebe o grau de mestre e desenvolveu sua vida acadêmica sempre envolvida em embates teológicos. Em 1610 Episcópio se tomou pastor em Bleyswick, uma pequena aldeia perto de Roterdã. Episcópio era um defensor da liberdade de consciência.01 Autor da Confissão de 1621, de outros importantes documentos dos remonstrantes e, talvez, possa ser considerado como o principal líder dos remonstrantesdl, foi ele, Episcópio, com Uyttenbogaert, quem desenvolveu e sistematizou os pensamentos de Armínio depois de sua morte em outubro de 1609. Esta perda pro duziu m uita tristeza e frustração em seu coração. O reconhecim ento de Episcópio entre aqueles que compartilhavam da teologia de Armínio avançou rapidam ente. Em 1612 Episcópio é convidado para assumir o lugar de Gomarus como pro fessor de te olo gia na Univ ers id ade de Leyden. Isto, ce rtamente, serv iu como um pro pulsor para a div ulg ação das id eias dos remonstrantes. Após o Sínodo de Dort Episcópio tomou-se o responsável pela sobrevivência do Arminianismo. Quando foi permitid o reto m ar do exílio im posto por Dort, Episcópio fu ndou o Sem inário Rem onstrante n a Holanda e ali exerceu seu professorado ensinando a geração posterior de teólogos, professo res e pastores. Episcópio ficou exilado em Antuérpia, Rouen e Paris por sete anos (de 1619 até 1626). Nesse interregno, em 1623, escreveu um M em oria l a Arm ínio 20. Embora exilado, ele era incansável, e neste período defendia o movimento e animava os remonstrantes para que perm anecessem na Holanda. O fim do ex ílio inicia-se com a morte do Príncipe Maurício em 1625 e com a assunção à direção do país de seu meio-irmão Henry, um simpatizante do movimento Remonstrante. Uma tentativa de Lucas Estofo (1588-1657) para conquistá-lo à fé ro m ana en volv eu-o tam bém em uma polêm ica com o famoso je s u íta dn No mês de julh o de 1926 Episcópio chega a R oterd ã onde trabalh ou arduamente ministrando, revitalizando a igreja em Amsterdã e fundando o Seminário Remonstrante, já citado, em 1632. Episcópio viveu por 16 anos depois de seu retomo do exílio. Doente, ele morre em 4 de abril de 1643 em paz. Phillip Limborch, no funeral, exclamo u: “ Ó líder! Ó lider! Q uanta sab edo ria havia den tro de vo cê!” .dm 3.
O R em onstr ante P oste rio r Phillip Lim borch
Considerado um remonstrante posterior, Limborch (1633-1712) fez o arminianismo aproximar-se da teologia liberal, infelizmente. Ele faz parte do grupo denominado arminianos da cabeça. Provavelmente, ele tenha sido influenciado pelo Ilumínismo do século XVII e pelo socianismo, diz Roger Olson. A razão de destacar Limborch é que os críticos posteriores do arminianismo conheciam seus ensinos próximos ao semipelagianismo e que estavam amalgamados com a nova religião natural do Iluminismochv. Muitos ao se referirem ao arminianismo dizem do mesmo como sendo um mo vimento herético geralmente partindo dos erros de 20
Leia em anexo a. ,
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Zwinglio Rodrigues
Limborch. Por exemplo, a acusação sobre o arminianismo clássico de defender uma antropologia otimista. Armínio jamais negou que a vontade humana é totalmente depravada ou afirmou que ela sofreu apenas uma “miséria universal'’ como afirmou LimborchcK. Além desse desvio, Limborch adotou a teoria governamental da expiação01' 1, desen volveu um a doutrina da justifica ção distante de Arm ínio 21 e fez da von tade human a a base da fé. Os desvios de Limborch não se tom aram regra para todos os arminianos. John Wesley (1703-1791) é um imponente exemplo disso. Posteriormente a sua morte, muito teólogos de destaque tornaram-se seus seguidores, dentre os quais estão Richard Watson (1781-1833), Thomas Summers (1812-1882) e W illiam Burtot) Pope (1 822-1903).L|VI1 4.
Uma pa lavra aos crític os do s R em onstr ante s e do arm in ia nis m o clá ssico
Os críticos de Armínio e de remonstrantes como Episcópio, precisam voltar àqueles para compreenderem o quanto foram ortodoxos. No tocante a Armínio e seus críticos, Pinson comenta: é uma irresponsabilidade simplesmente ler os temas destes arminianos poste rio res e deduzir que fo ssem a posiç ão de Arm in iu s somente porque o seu nom e está ligado aos sis tem as teo lóg icos a rm inian os11' "‘.
Partindo de Limborch, por exemplo, e pondo todos remonstrantes no mesmo bojo, os críticos cometem uma grande in justiça. Reiteramos: os ataques consistem em um desconhecimento total do arminianismo clássico ou então em desonestidade intelectual. Em alguns casos a segunda alternativa é a razão de tantas calúnias. Uma marca do movimento remonstrante era a supremacia das Escrituras sobre toda tradição, filosofia, fontes e normas extrabíblicas. Os remonstrantes não rejeitaram a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg, reformados à semelhança de Armínio, porém não os estimaram como im utáveis cânones de fé. Vance escreve que os remonstrantes discordavam das doutrinas pregadas por Beza, Gomarus e companhia porq ue elas não figuravam na Palavra de Deus e nem no Catecismo de Heid elb erg (1563). Eles seguiam a Arm ínio com esta conclusão. Em uma ocasião, segundo Vance, Armínio apresentou como uma das razões de sua rejeição à doutrina da predestinação a Pergunta 20, com sua respectiva resposta, do documento de Heidelberg. Vamos ao Catecismo:
21 Como Arminio foi questionado também sobre sua doutrina da justificação , cabe aqui a seguinte declaração: “Não tenho consciência de ter ensinado qualquer pensamento sobre a justificação do homem diante de Deus que não tenha sido aceita unanimem ente pelas igrejas reformadas e protestantes Esta declaração encontra-se em The Works o f James Arminius, vol. 1. IX. p. 135. Neste tópico IX ele desenvolve seus argum entos. Ainda em The Works of James Arminius. vol. /, XIX, Armínio escreve sobre a justificação. Também, em The Works of James Arminius, vol. 2, XLVII, p. 89-90 e V, p. 334-336, o assunto é novamente tratado.
j In tr odução ao Arm in ia nis m o
P.20. Então, todos os homens foram salvos por Cristo, exatamente como p o r meio de Adão todos pereceram ? R. Não. Só estã o salv os os que, p ela verdadeir a fé, fo ram enxerta dos em Cristo e ace itaram todos os Seus benefícios.chx
Partindo da resposta, Armínio raciocina: A partir desta resposta, concluo que Deus não predestinou absolutamente nenhum homem para a salvação; mas apenas aqueles que em seu d ecreto ele considerou com o crente.dx
Nesse episódio , Arm ín io foi m uito arguto. O Catecismo re sponde que a salvação é para quem tem a “verdadeira fé”. Esse é o critério e não qualquer pre destinação rígida. Os remonstrantes atribuíram autoridade apenas à Palavra observando a necessidade da Confissão e do Catecismo serem sempre desafiados pelas Escrituras. A Bíblia era inerrante para os remonstrantes. Episcópio declarou: “Estes muitos livros (da Bíblia) perfeitamente contém uma revelação plena e mais que suficiente de todos os mistérios de fé.clx'” Para os remonstrantes uma doutrina não pode ser fundada em passagens obscu ras nem tampouco em especulações lógicas. A opção é pela su ficiência das Escrituras e crença em sua perspiscuidade como ensinava o reformador alemão Martinho Lutero. Os remonstrantes defendiam sola scriptura, tota scriptura, conforme dissemos. São notáveis nos escritos dos remonstrantes as seguintes compreensões sobre as Escrituras: • Revela ção plena e mais que su ficiente. • Crença na inspiração sobrenatural. • Regra de fé e prática. • Autor ia divina. • Exclusiva supremacia. • Auto rid ade absoluta. • Subm issão à sua autoridade. Resumindo: as Escrituras, para os remonstrantes, são suficientes, possuem autoridade intrínseca e nâo de homem e são regra permanente de fé. Nada mais ortodoxo. Os remonstrantes também foram acusados de heterodoxia quanto à Trindade. A razão descansava na defesa da antiga doutrina da Monarquia do Pai. Assim como Armínio, o remonstrante Episcópio, por exemplo, cria nesta doutrina. A doutrina •'Monarquia cio Pai' advoga que a essência das outras Pessoas da T rindade tem a sua origem por geração e expiração. O Filho foi gerado, o Espírito expirado. Esse é um assunto difícil e um dos mais complexos da doutrina de Deus.clxn
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Por defenderem a M onarquia do P ai , Armínio e Episcópio foram acusados de nega r a divindade do Filho. Mas não era o caso. O que ambos ensin avam era a negação da íbnnula p u totheos\D eu s em si mesm o ou Deus de Deus ) empregada ao Filho. Esta fórmula é aplicada apenas ao Pai que, segundo Orígenes, é o único “ingerad o” agennetos .“ Disso não se deduz que o Filho não seja da mesm a essência que o Pai. B erkh of explica: A proprie dade caracte rística do Filho consis te em que ele é eternamente gerado do Pai [...] (e) lhe comunica a essência divina em sua • . • c lx iii inteireza.
O Pai é a fonte da divindade. As E scrituras ensinam: [...] Tu és meu Filho, eu hoje te ge re i (Sl 2:7). E o verbo se fe z carne, e habitou entre nós, cheio de gr aça e de verdade, e vimo s a sua glória, gló ria com o do unigênito do Pai. (Jo 1:14).
O Filho, ao ser chamado repetidas vezes “o Unigênito” (Jo 1:18; 3:16, 18; 1 Jo 4:9), sugere sua geração, eterna, a partir do Pai. Atanásio (298-373 d.C.), Patriarca de Alexandria, defendeu a M onarquia do Pai: Assim como o Pai é sem pre bom p o r naturez a, Ele ta mbém é p o r natureza sempre generativo. E plenamente correto, chamá-lO de geração eterna do Pai, pois o Ser pate rno jam ais esteve incompleto, nunca prec isou que se Lh e acrescentasse algum aspecto essencial: nem a geração do Filho é como a de um hom em em relação a seu pai, o que exigiria que ele tivesse vindo à existência depois do Pai. Pelo contrário, Ele é geração de Deus, e, uma vez que Deus é eterno e Ele Lhe perte nce com o Filho, existe desde a eternidade. E característico dos homens, devido à imperfeição de sua natureza, gerar no tempo: mas a geração de Deus é eterna, sendo Sua natureza sempre perfeita [...] Porque o Filho pertence à substância do Pai e porque ele è totalmente semelhante ao Pai [...] A divindade do Pai é idêntica à do Filho [...] A divindade do Filho é a divindade do Pai [...] A plenitude da divindade do Pai é o ser do Filho f...] E (o Filho) obviamente outro em relação ao Pai, como geração, mas como Deus Ele é o mesmo e único; Ele e o Pai são um só na união íntima de Sua natureza e na identidade de Sua Divindade [...] Desse modo, Eles são um, e Sua
22 Sugerimos para um estudo mais aprofundado sobre o assunto os livros Patrística de J.N.D. Kelly e História do Pensamento Cristão de Paul Tillich. O primeiro publicado pela editora Vida Nova e o segundo pela ASTE.
| Introdução ao Arm inianismo
D iv in dade é uma, de maneira que tudo aquilo que se atr ib ui ao Filho é atribuído ao Pai.dxiv
Para Atanásio, o Filho tem a mesma natureza do Pai, é da mesma substância do Pai, são pessoas distintas, dotadas da mesma essência, de divindade idêntica, tudo isso partin do da doutrin a da geração ete rna do Filho, geração m is te riosa.clxv R eafirmam os a complexidade do assunto. Aderentes a essa doutrina, Armínio e Episcópio se articularam cuidadosamente para em nenhum momento pôr em cheque a plena identidade da divindade do Filho. A essência divina do Filho é a mesma do Pai, que é Deus, assim com o o Filho é Deus. L eiamos Armínio: A palavra "D eus”, porta nto , sig nific a que Ele tem a verdadeira essê ncia divina; mas a pa lav ra "F ilho” significa que ele tem a essê ncia divina procedente do Pai. P o r isso ele é correta m ente denominado Deus e Filho de Deus. Mas, desde que ele não pode ser chamado Pai, nâo é possível dizer que tem a Essênc ia D ivina de si mesm o e de outro qualque r.chv'
Armínio apresentou a divindade do Filho nos seguintes termos: • A P essoa de N osso S en h or Jesu s Cristo “Essa pessoa é o Filho de Deus e o filho do homem, dotado de duas naturezas, a divina e a humana, inseparavelmente unidas, sem mistura ou confusão [...] os antigos denominaram, corretamente, esta união de hipostática [...] Ele tem a mesma natureza com o Pai [...]”clxv“ A qu i Arm ínio repercu te o Credo de Calcedônia"'’ (451 A .D.) • Ofício Sa cerdotal de Cristo “Deus lhe concedeu o domínio sobre todas as coisas e plenos poderes para salv ar e condenar co m uma ord em ex pressa: ‘que todos honrem o Filho como honram o Pai’. E que ‘diante dele todo joelho se dobre para a glória de Deus Pai”’. a"'" Arm ínio lembra que a honra dada a Jesus deve ser na mesm a proporção à honra dada ao Pai (Jo 5:23). Adoração ao Cristo, e não uma
23 O Credo de Calcedônia é o resultado do Concilio de Calcedônia (451) que, de acordo com Andrade, foi "convocado por Marcion, imperador oriental, em 451, teve como principal finalidade estabelecer a unidade eclesiástica do Oriente” (1998, p. 88). O Credo de Calcedônia apresentou uma declaração cristológica que passou a ser aceita como ortodoxa.
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obediência forçada e obrigatória, é recomendada ao citar Filipenses 2 :10.
• A R essurreição de Cristo
“Atribuímos essa ressurreição não só ao Pai através do Espírito Santo, mas também ao próprio Cristo que tinha todo poder de tomar a sua vida novam ente.’*1''1* Armínio faz uma clara referência ao conteúdo de João 10:17-18. Nesta, Jesus revela possuir autoridade para entregar e reaver sua vida. Nin guém mais, além do próprio Deus, poderia realizar tal coisa. Esses exemplos da elevada cristologia de Armínio encontram-se em The Works o f James Arminius - Vol. 2. Vejamos mais em The Works o f Jam es Arm inius - Vol. 1, p. 14. • Plena divindade - Armínio escreve: “Em Cristo, Deus revela toda a Sua bondade.” (p. 13). Em seguida, apresenta as seguintes Escrituras: “Porque aprouve ao Pai, que n’Ele residisse toda a plenitude” (Cl 1:19); “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15); “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1:3) e “Quem me vê a mim, vê o Pai” (Jo 14:9). Toda bondade do Pai está revelada no Filho porque o Filho é Deus. • Im uta bil id ade divina - Armínio comenta: “Deus é apresentado a nós como imutável em todos os aspectos. Não só no tocante à sua natureza, mas também quanto à sua vontade [...]” (p. 14). Para corroborar sua declaração, Armínio cita Hebreus 13:8: “Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para sempre.” A conclusão é óbvia. • Poder e Sabedoria de Deus - Armínio conclui: “Por isso Cristo é chamado ‘poder de Deus e sabedoria de Deus (1 Co 1:24)’”. (p. 14). Em 13 de outubro de 1608, Armínio apresentou um artigo intitulado The Deity o f lhe Son o f God (A Deidade do Filho de Deus) às autoridades holandesas em Haya na tentativa de esclarecer sua crença. Muitas discussões surgiram em torno das declarações de Armínio. Consoante Rodríguez, em uma tarde na Universidade, um debate em tomo da divindade do Filho de Deus levou um estudante a fazer a seguinte objeção: “o Filho de Deus é autotheos e Cristo, portanto, tem sua essência de si mesmo e não do Pai.”ob;x A isso, Armínio respondeu dizendo que a palavra autotheos tem dois significados: Io “Um que é verdadeiro Deus”; 2o “Um que é Deus de si mesmo”. Desses, apenas o prim eiro podia ser atribuíd o ao Filho. Porém, o aluno não se deu por vencido e contra-
] introdução ao Arminianismo
argumentou insistindo na aplicação do segundo significado ao Filho. Na tréplica. Armínio alegou que a Palavra de Deus, a igreja grega e latina criam na geração eterna do Filho. ( Para Armínio, o Filho é Deus como o Pai. No entanto, emb ora o Filho tenha a verdadeira essência divina, esta essência procede do Pai, o único dentre as Pessoas da Trindade que não é gerado e de ninguém procede. A respeito do Espírito Santo Armínio expressou: “E infinito, eterno, incomensurável^ e da mesma divindade com o Pai e o Filho, isto é, não é uma criatura, m as D eu s.”clxM) Em sua Confissão de Fé, Episcópio dedica um capítulo para tratar sobre a Trindade e responde às acusações de negação da deidade de Jesus Cristo. Leiamos alguns trechos. /. D eus deve ser consid era do distintamente em três pessoas ou substâncias, como Ele mesmo as tem expressado na sua Palavra, pois assim deve ser conhecido e contemplado por nós. Esta Trindade de pessoas é conhecid a p o r nós como: Pai, Filho, e Esp irito Santo. Uma destas pessoas divinas ou hipóstases da Deidade é âvahioç (anaitios), isto é, sem causa e ingerada. A outra tem a sua causa ou è gerada pelo Pai, a saber, o unigênito do Pai. E também a outra igualmente procede e ema na do Pai pe lo Filho. 2. Porém, só o Pai é desprovido de origem ou ingerado. No entanto, Ele tem comunicado desde toda eternidade a sua própria Deidade ao seu Filho unigênito, feito Filho, não por criação, como os anjos fora m feito s filho s de Deus, nem m eramente po r uma graciosa comunicação de poder divino ou glória como ser mediador, mas por uma real geração. embora secreta e inefável, e também ao Espirito Santo, que desde toda eternidade, tem procedido de ambos por uma secreta emanação ou expiração , Portanto, o Pai é mais corretam ente considerado a fo nt e e a origem de toda Deidade. 3. Portanto . o Filho e o Espirito Santo, em relação ao seu ser ou substância, sâo verdadeiramente distintos do Pai. Todavia, são verdadeiramente participantes da mesma Deidade e também pela mesma essência Divina distintos do Pai, isto se torna mais evidente quando as Sagradas Escrituras lhes dão os mesmos nomes, e lhes atribuem as mesmas propriedades que as do Pai. Por isto, o Credo dos Apósto lo s sobre este assunto, que cord ia lm ente crem os, e todas as declaraç ões que adotam os, diz; “[Cre mo s] em Deus Pai, todo poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo. Seu único Filho, etc. [Cremos] no Espirito Santo, etc. Destaquemos algumas confissões. • Con siderado distintamen te em três pe ssoa s ou substâncias;
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• Esta Trindade de pe sso as é conhe cida p or nós como: Pai, Filho, e Esp írito Santo; • Uma destas pessoas (o Pai) divinas ou hipóstases da Deidade é sem causa e ingerada; • A outra pesso a tem a su a cau sa ou é gerad a pelo Pai, a saber, o unigênito do Pai; • E também a outra pessoa, o Espírito Santo, igualmente pro ced e e emana do Pai pe lo Filho; • Ele tem comunicado desde toda eternidade a sua própria Deidade ao seu Filho unigênito; • Ele tem com unicado desde toda eternidade a sua própria Deidade [,..] também ao Espírito; • Espírito Santo, que desde toda eternidade, tem procedido de ambos (do Pai e do Filho) p o r um a secreta emanação ou expiração. Os primeiros remonstrantes eram heterodoxos quanto às doutrina de Deus e de Cristo? As afirmações de Episcópio acima podem ser resumidas assim: O Pai, ingerado; o Filho, gerado; e o Espírito Santo procedente do Pai e do Filho. Eis ai a Tríndadel Armínio e Episcópio, flagrantemente, deixam claras suas crenças em uma Trindade Ontológica.\ A cusá-los de negarem a divindade do Filho compromete Atanásio. Como vimos, não há negação alguma. Os Pais Capadócios como Basílio (330-379 d.C.), Dídimo, o Cego (313 -398 d.C.), Gregório de Nanzianzo (330-389) e Gregório de Nissa (330-395 ) tam bém ado taram a teolo gia de A tanásioclMI". Log o. co nd enar Arm ínio e Episcópio como arianos devido à doutrina da Monarq uia do Pai é acusar esses patrís ticos também. A doutrin a dos primeiros remonstrantes so bre a Trindade era ortodoxa.) A má compreensão de alguns contemporâneos de Episcópio no tocante a doutrina da M onarquia do Pai (por isso também a acusação de socianismo) recebe maior relevo na seguinte narrativa de Calder: Festus [...] dirigindo-se a Epíscopius. disse: "mas senh or , você vai negar que em suas palestras na faculdade, nâo interpretas quase todas as passagens das Escrituras [...] de acordo com o modo adota do pelo s Socinianos? ” Ep íscopius rsspo nde : "Senhor, estou totalmen te surpreso ao ouvir esta acusação, pois tens me honrado com sua presença em minhas palestras desde que estou na cadeira do professor." "Tenho acompanhado seus debates", respondeu Festo. "Bem, senhor, nessas ocasiões você nunca me ouviu dizer qualquer coisa que estava em oposição direta às opiniões da Igreja? Ouvistes minha oposição às opiniões de Socino? [...] Sei que depois de partícípares de uma das minhas palestras, díssestes a Borrhius que eu tinha brava e sabiamente defendido a divindade de Cristo em oposição aos que a ne go u." "Não fo i isso", respond eu Festus. "Não era em relação à divindade de C risto que eu estava falando, mas de seus pontos de vista sobre a Trindade [...]
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"Bem, senhor, na defesa da divindade do Filho, não defendo a doutrina da Trindade? Para manter a doutrina da Trindade, por conseqüência, tenho q ue su sten tar a d ivind ade de Cristo dxx,v
Xeque-mate! Calder diz que nesse momento, o ministro Festus, de sobrenome Hommius, sentiu-se superado. Reconhecendo isso, teria dito: “Senhores, eu concordo. Quando a reposta é satisfatória, estou disposto e pronto a reconhecer sua validade.”clxxv Porém, Festus não parou por aí, mas insistiu em tentar flagrar Episcópio em algum desvio interpretativo. Conclusão
Os remonstrantes defenderam-se devidamente de todas as difamações apresentadas contra eles. Mas o clima do Sínodo de Dort se aproximava e ele era eminentemente político, pois a teologia estava vinculada à política, segundo Walker. Sendo assim, portanto, o Sínodo era inflexível a qualquer argumento racional e piedoso e as opiniões dos remonstrantes foram condenadas como heresia e eles submetidos às mais vergonhosas humilhações.
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Capítulo 5 Prebeá ConètberaçÕesí ?|ts;tortográfícas áobre o üúnotici bc ©ort
y
O sínodo de Dort. um nó; toda a assembléia, doente; a conferência, vento; a sessão, palha. Amém Richard Watson
/ Intr odu ção
Nosso assunto agora é o famoso Sínodo de Dort. Antes de apresentarm os uma historiografia sobre este sínodo. entendamos o significado da palavra “sínodo” e o que é um “sínodo”. Um sínodo é uma assembléia eclesiástica convocada para deliberar sobre um assunto conflituoso ou nào. Podem compor um sínodo tanto eclesiásticos como leigos. A palavra “sínodo” vem do grego synodos que significa “caminhar jun tos ”. /.
O Sínodo de Dort
O Sínodo de Dort se reuniu na cidade de Dort (atual Dordrecht), Holanda, durante sete meses (13 de novembro de 1618 a 9 de maio de 1619). Sua convocação foi feita pelo estadista geral da Holanda para discutir a controvérsia arminiana. Neste sínodo foram realizadas oitenta sessões. Outros sínodos já tinha ocorrido em Dott, mas esse convocado para tratar da questão arminiana foi mais notório ao ponto de ser den om inad o de “o grande s íno do ”cl' xvl. A esse respeito, De Jon g escreve: H is to ria dores tem reconhecid o ampla mente que o g rande Sín odo de Dort (1618-1619) merece ser lembrado como um dos dois ou três eventoschave na história dos Países Baixos. A história posterior da Holanda e das igrejas holandesas não po de se r adequadam ente compreendida fora do S ínod o.'1'^ "
Para estudiosos calvinistas como De Jong, esse sínodo é de grande valor histórico e religioso. Carl Bang s m ostra a sua dimen são para os calvinistas apresentando as seguintes palavras comumente ditas: “O Calvinismo chegou, Arminius quase o arru inou , o Síno do de Dort o res tau rou”1'1''""1. Para os calvin istas, a im portân cia ultrapassa os limites eclesiásticos envolvendo o destino do Estado conforme exprime De Jong. Segundo este último autor, o S ínodo é, pelo m enos, avaliado de três maneiras:
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Alg uns o co nsid eram como um fenôm eno temporário do ce nário da história holandesa. Para outros, trata-se do triunfo temporário de um sistema teológico severo e inflexível sobre pessoas amantes da liberdade que precisava m ser sufocadas, pois ameaçavam (supostamente) a unidade nacional. Pa ra outros, ainda, o Sínodo foi um ato do Sen ho r de toda a história que m ostrou fa vo r ao pa ís protegendo sua unidade política e a in te grid ade confe ssio nal da Igreja .ÜXXLX
A princípio, em nossa opinião, pelas razões dadas ao longo desse capítulo, o Sínodo foi a tentativa de ura sistema teológico rígido, valendo-se do contexto político do momento, de sufocar a diversidade do pensar teológico característico das Províncias Unidas. Nestas, as pessoas podiam se identificar com a linha teológica que desejasse. A garantia da diversidade teológica, assunto já abordado no capítulo três, é com entada por Calder: A cada um a das provín cia s, pelo Tratado de Utrec ht24, fo i dada liberdade pa ra regular os assuntos de religião da m aneira que m ais conviess e aos seus interesses.c,xxx
Ainda por Calder, somos informados que três das províncias, Utrecht, Holanda e Overyssel, eram contra o Sínodo de Dort exatamente por conta da autonomia de cada pro vín cia quanto as questões religiosas. M as, o que altero u esse ce nário plural? As relações de poder. Segundo Olson, foram questões políticas os propulsores por trás das mudanças: _ A questã o é que a igreja prote stante hola ndesa ante rio r abarcava diversidade teológica; tanto monergistas quanto sinergistas eram representados nela. Somente o poder do príncipe (Maurício de Nassau)
ia l.q j ra^acj0 jg Utrecht era um conjunto de acordos estabelecidos pelos países europeus depois da Guerra de Sucessão espanhola (1701-1714), firmado entre 1713 e 1715. Em 1705, as potências em litígio deram sinais de esgotamento e iniciaram contatos que levaram, definitivamente, à paz, após a ascensão de Carlos VI ao trono imperial, em 1711, e a mudança de atitude da diplomacia inglesa. A Convenção de Fontainebleau (agosto de 1712) propôs o armistício geral; os países envolvidos no conflito, com exceção da Áustria, se dispuseram a firmar a paz, o que implicava o reconhecimento de Felipe V como rei da Espanha. A Áustria continuou a guerra, mas o esgotamento econômico e militar tomou necessário colocar um fim na briga com os Bourbons em 6 de março de 1714, em Restadt. Utrecht estabeleceu uma nova ordem europeia regida pela “balança de poderes”, ou seja, um sistema de contraposição de forças antagônicas destinado a assegurar a paz, mediante o equilíbrio militar. Mas, além disso, Utrecht firmou as bases do primeiro império britânico, já que a Grã-Bretanha recebeu Gíbraltar e Menorca e obteve vantagens territoriais no continente americano,” Disponível em http://klick.com.br/bcoresp/bcoresp_mostra/0,6674,POR-971-4047-h,00.html Acesso 14 ago. 2014.
Introdução ao Arm inianismo
perm iti u ao partid o monergista contr ola r a igreja, e com o poder do estado p er se gu ir os sine rgis tas.dxxxi
Depois da morte de Armínio em 19 de outubro de 1609, a controvérsia que dividiu a nação con tinuou viva com os remonstrantes que escreveram o Rem onstr ance e o apresentaram em 14 de janeiro de 1610 aos Estados Gerais, conforme apontado no capítulo anterior. Como resposta, os Contra-Remonstrantes (calvinistas) apresentaram um documento contendo os chamados Cinco Pontos do calvinismo. Com o reinicio dos conflitos, o Parlamento convocou o Sínodo Nacional para resolver o impasse. O Sínodo de Dort não foi ecumênico, protestante, pois o maior número de delegados era da Holanda alinhado com os acusadores. Segundo Vance, em 25 de ju nh o de 1618, os convites foram env iados a alguns estrangeiros solicitando a pre sença de seus princip ais teólo gos para particip arem do Sínodo na qualidade de delegados. Receberam as cartas convite: • Rei Tiago da In gla te rra • D eputa dos das igre jas re fo rmadas da Fra nça • Eleitor do Palatinado e Brandenburg • Conde de Hesse • Repúblicas refo rmadas da Suíç a • Duques de Wetterau • República de Genebra • República de Bremen • República de Emden O teólogo calvinista Hermisten Maia apresenta a composição do Sínodo como segue: O Sínodo fo i constituído de 35 pastores, um grupo de presbíteros das igrejas holandesas, cinco catedráticos de teologia dos Países Baixos, dezoito deputados dos Estados Gerais e 27 estrangeiros, de diversos países da Europa, tais como: Ingla terra , Alemanha, França e Suíç a.clxxxi'
Gon zalez também descreve a formação do Sínodo: O pro pósito dos estados gerais ao convocá-lo fo i conseguir o apoio não somente dos calvinistas no pais, mas também dos do resto da Europa. Por isso estenderam convites a outras igrejas reformadas e um total de vinte e sete delegados apresentaram-se, desde a Grã-Bretanha, Suíça e Ale m anha (os franceses não puderam assis tir porque Luís X III os proib iu ). Os hola ndeses er am quase setenta, dos quais aproxim adamente a m etade eram m inistros e profes sores de teologia , a quarta parte de anc iãos leigos e o res to me mbros do s Esta dos ger ais .chxx,u
Zwmpiio Rodrigues
Geralmente as informações não são precisas. Por exemplo: Maia disse que representantes franceses estiveram no Sínodo ao passo que Gonzalez nega isso e aponta a razão. Wynkoop diz que 13 representantes dos arminianos estiveram presentes, porém. Rodríguez fala de 12 re presentantes. Apesar da pre sença dos re monstrantes, segundo Walker, eles “estavam presentes apenas como acusados; não tiveram assento.”clx’" lv Para Vance, a presença dos delegados seculares em um sínodo eclesial indica a intenção de garantia de um resultado político esperado. O pano de fundo do concilio era, a rigor, sobre questões políticas locais. De Jong apressa-se a dizer que Dort não foi uma assembléia política. Mais adiante, apontamos que para Gonzalez o viés político ditou as coisas. A esse respeito, posterior às nossas pesquisas, seguimos Rodríguez: “O propósito princip al do Sínodo era condenar o arm in ianismo. Porém, M aurício também queria resolver os problemas políticos e econômicos que estavam dividindo a H o l a n d a . V o l t a r e m o s à q ue stão p olítica m ais a frente. Para presidir o Sínodo foi escolhido um calvinista rigoroso, defenso r da pena de morte para “hereges”, chamado João Bogerman (1576-1637 ). Bogerman considerava os remonstrantes como heréticos e demonstrava sempre uma disposição iracunda com os “réus"'. Em um episó dio, depois de um m ês de deliberaç ões, em 14 de jan eiro de 3619, Bogerman perguntou ao remonstrante Episcópio se eles iriam capitular e passariam a obedecer ao Sínodo. Episcópio e demais remonstrantes disseram não. Em ato contínuo, B og cm an . vociferando, disse: “ Para que não demo remos mais, vocês estão despedidos. Vão em bora!’"’1''' Bogerman era um calvinista tão extremado que dizia ser necessário interpretar as Escrituras à luz do Catecismo e da Confissão. Tal compreensão foi pronunciada numa conferência, antes de Dort, que reuniu Bogerman, Gomarus, Uyttenbogaert e Armínio. A Bogerman, Arm ínio respondeu: Como alguém poderia afirmar mais claramente que eles estavam decididos a canonizar estes dois documentos humanos , e instituí-los . como os dois bezerros idolátricos em Dã e Berseba?dwv" \ Imagine a fúria de Bogerman depois destas palavras. Além do absurdo da pena de morte defendida e levada às últimas conequências por Bogerm an e pelo Sínodo, outras aç ões repugnantes foram cometidas: • Os remonstrantes tinham uma sala anexa à princ ipal onde aconteciam as reuniões. Compareciam apenas quando chamados pelo presidente sinodal. • Ao apres entar seus argum entos, os remonstrantes eram retirados e decisões eram tomadas sem tréplicas. • Os remonstrantes não escolheram seus representantes, antes foram os calvinistas que fizer am isso.
Introdução ao Arminianismo
• Os remonstrantes fora m intimados a comparecerem como réus. • Os remonstrantes for am impedidos de expressarem diante de todas suas teses p or d iversas vezes. • Os remon strantes fo ra m obrigados a responder às indagações em latim. • A cassação do direito de voto dos teólogos arminianos. Tais absurdos denotam o quanto foi parcial e intolerante o Sínodo que estava pró xim o de uma eclésia de malfeitores. Matthias Martinius (1572-1630), um dos delegados presentes, arrematou: “(havia) alguns divinos, alguns humanos, alguns dia bó lico s”clx>:xvm. M as houve q uem dissesse: “ Se algum a vez o Espírito Santo esteve pre sente em um Concilio, ele esteve presente em Dort”clx“ ". Ora, como tudo isso é possível visto as ações indignas acim a listadas e, ain da mais, como chegar a uma conclusão daquela lembrando que os arminianos estavam sendo julgados, mas só puderam se apre sentar no Sínodo na vigésim a segunda sessão?cxc In crivelm ente, estas ações claramente injustas e ardilosas do Sínodo estavam sob o seguinte juramento:
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Prometo diante de Deus, no qual creio e ao qual adoro, como estando presente neste lugar, e como sendo o Pesquis ador de todos os corações, que durante o curso dos procedimentos deste Sínodo, que examinarei e ju lgarei, não ap en as os cinco pontos, e todas as diferenças que deles resultam, mas também qualquer outra doutrina, eu não usarei nenhuma com posição humana, mas somen te a pala vra de Deus, que é uma infalível regra de fé. E dura nte todas estas discussões, som ente objetivarei a glória de Deus, a paz da Igreja, e especialmente a preservação da pureza da doutrina. Então me ajude, meu Salvador, Jesus Cristo! E u lhe suplico assis tir-m e pelo seu Esp ír ito Santo !cxu
Pelo visto, na prática as coisas não seguiram o rumo piedoso do juramento acima. Na última aparição dos remonstrantes junto ao sínodo, Episcópio declarou: “O Senhor julgará entre nós sobre as artimanhas e mentiras que vocês prepararam para nossa acusação.”cxc" Interessante é o tom de imparcialidade, lisura e justiça que o teólogo calvinista Anthony A. Hoekema (1913-1988) tenta dar ao Sínodo. Ele escreve: O Sínodo de D ort fo i form ad o p ara resolver a controvérsia nas igrejas reformadas da Holanda, ocasionada pelo aparecimento do arminianismo - um sistema teológico iniciado po r jac ob Arminius, professor de teologia na Universidade de Leiden. Um grande número de seguidores de A rm in iu s, cham ados arm in ia nos ou rem onstrante s, esta va presen te n o sín odo; seu s pon to s de vista fo ra m reje itados (ênfase noss a).t''u"
Um grande número de arminianos? Quantos? Wynkoop diz 13, Rodríguez 12. De fato, “um grande número”. Seus pontos de vista foram rejeitados? Eles tiveram a oportunidade de defenderem-se amplamente apresentando-se diante do Sínodo apenas
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R.icngues r.;. vigésim a segun da sessão? O Sínodo foi mo ntado ape nas por uma qu estão pró-form a i de sagacidade, pois o veredito já era previsto. O reverendo Cald er escreve so bre isso: A condenação f u i dete rm in ada ante s do Sínodo N acio nal [...] montado, não tanto para examinar as doutrinas dos arminianos com o objetivo de analisar se eles eram dignos de tolerância e indulgência, mas para denotar um certo a r de solenidade e jus tiça [...]. Contando com a presença de min istros estrangeiros, auto ridades resp eitáve is, busc avam legitimar uma sentença elaborada e acordada anteriormente entre aqueles que estiveram à fre nte dos trâmites para a instalação do Sínodo ."l'v
O autor compara as articulações do Sínodo de Dort com o Concilio de Trento (1545-1563)25 que decidiu a causa protestante antes de examiná-la. A esse respeito, Calder diz que os arminianos estavam bem informados. O Sínodo de Dort foi um massacre previamente arquitetado. Além do exposto até aqui no tocante a falta de justiça em Dort, os arminianos foram injustiçados ainda com a acusação de fazerem ressurgir o pelagianismo e semipelagianismo. No entanto, os remonstrantes apresentaram uma defesa robusta e conv incente.26 O cap ítulo um dá conta de de scon struir essa falácia calvinista do passado e do presente. Entretanto, optamos por mais uma ênfase de quanto é estapafúrdia a acusação dos críticos listando a seguir alguns esclarecimentos contidos na defesa apresentada pelos remonstrantes. • Não há initium jidei (início da fé ) a pa rte da graça so brenatural como propunham os massüianos, seguid ores de João Cassiano. • Não há mérito no homem para mere cer a graça. Esfo rç os humanos sã o inúteis. • Não há perseverança para o bem sem a graça especial. • Le m bran ça da vontade livre do homem contra a indolência espiritual. • C entralidade da gra ça contra a vaidade e arrogâ ncia espiritual. • A g raç a e o livre-arbítrio operam em conjunto. • O livre-arbítrio ê aperfeiçoado pe la graça. /
2' “Desde a Reforma, a Igreja Católica convocou três concílios a que deu o nome de "ecumênicos”, ainda que nenhuma outra igreja os reconheça. O primeiro e o mais importante deles foi o de Trento, que se reuniu em três estágios distintos entre 1545 e 1563. Após tentativas iniciais frustradas de incluir, pelo menos, alguns protestantes no encontro, a posição do Concilio endureceu e se tomou extremamente hostil a Reforma. Trento teve seu tempo todo tomado na definição e regulamentação das doutrinas e práticas católicas que os reformadores haviam atacado, e o fez de tal modo que conseguiu polarizar a Igreja de Roma, levando-a a uma Contrarreforma, que a caracterizou ate o século XX.” (FERGUSON; WRIGHT, 2009, p. 212) '6Lei em anexo b.
j In tr odução ao A rm in ia nis m o
Desse conjunto de esclarecimentos quanto a pontos de fé, não dá para extrair nada pertencente a Pelágio e ao semipelagiano João Cassiano. Definitivamente, os epitetos ofensivos não cabem nos remonstrantes nem em Armínio, como já demon stramos n o capítulo um. Mas, o Sínodo já tinha deliberado con denar a teologia arminiana. Voltando à discussão política, conforme dissemos, o Sínodo tinha um indiscutível viés político e econô mico que exigia um a solução imediata para a disputa e, portanto , explicações teológicas não precisavam ser entendidas, pois a co esão política e a supressão da diversidade política deveriam ser estabelecidas. Centralizar o governo e operacion alizar uma política eclesiástica presbiteriana eram as intenções. Gonzalez vai direto ao ponto e explica em tomo de quais questões girou o debate depois da publicação do Rem onstrance'. [...] a co ntrovérsia fic ou envolvida num conjunto de questões po líticas e sociais. A maioria das províncias marítimas, e especialmente a burguesia, que era numerosa e poderosa naquelas províncias, tomaram a posição arminiana. As classes baixas rurais, bem como aqueles das ilhas que viviam da pe sca , apoiaram o Calvinismo rígido de Gomarus, e fo ra m acom panhadas nesta posição p o r diversos es tr angeir os exilados p ara quem a pureza da fé era essencial. Assim como as provín cia s marítimas apoiaram João Barneveldt em sua oposição ao poder crescente de Maurício de Nassau, os arminianos contaram com o apoio de Barneveldt, en quanto M aurício era a fa v o r dos Gom aristas. Quando Roterdã optou pela posiç ão re monstratense, Amsterd ã, que há muito era su a rival, assum iu a pos ição oposta. D e qualque r form a, em 1618, Mauríc io de Nassa u e seu partido tinham consolidado seu poder, e , porta nto , quando o Sínodo de D ort fo i convocado estava claro que ele con denaria a po siç ão rem onstratense.CXLV
N a Holanda era debatido como deveria ser a relação com a Esp anha. A oligarquia desejava manter relações abertas com os espanhóis para favorecer as transações comerciais. Já as camadas mais pobres se opunham, pois elas não desfrutavam da mesma prosperidade e, portanto, ressentida, apoiaram as incursões de Gomarus e Nassau para condenar e frear o arminianismo tanto em seu aspecto políticoec onômico quan to teoló gico.CXCV1 Maurício de Nassau era um homem de caráter duvidoso. Como o movimento remonstrante recebia crescente apoio, Nassau tratou de filiar-se aos cultos da igreja gomarista juntamente com toda a corte. Ele é descrito por Calder como despótico e um homem de rancor político. Sir James Mackintosh, citado por Calder, e seu trabalho H is to ry o f th e Revolu tion o f E ngland (História da Revolução na Inglaterra), de 1688, descreve Maurício de Nassau:
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Maurice, o f ilho mais velho de William, ultrapass ou seu pai em gênio militar, mas fic o u a quém dele no toccmte ao dom ínio pró prio (temperamento) e princípios, virtudes mais importantes e indispensáveis para o líder de um es ta do li vre.''" "
Maurício de Nassau. depois de um estratagema frustrado usando a viúva Princesa de Orange, na tentativa de conseguir o apoio político dc Oldetibameveldt, sem o qual suas aspirações políticas ficariam ameaçadas, resolveu alinhar-se abertamente ao partid o calv in ista e ju nto com os gomaristas conseguiu ascender ao poder, diz Calder. O Sínodo de Dort foi o instrumento da vingança de Maurício de Nassau. Rodríguez comenta: O propósito principal do Sínodo era rechaçar e condenar o arminianismo. Porém, Maurício também queria resolver os problemas polí ticos e econômic os que estavam div id in do a H ola ndaf xcv"’
A imagem ' a seguir ilustra o peso do viés político pred om inand o em Dort.
"' Disponível em http:Ver).wikipedia.org/wiki/File:Allegory_of_theological_disputeAbraham_van__der_Eyk-MBA_Lyon_Hl 151-IMG_0428.jpg Acesso 27 nov. 2014
Introdução ao Arm inianismo
Esta imagem representa as obras de Armínio e dos Remonstrantes sendo postas na balança para serem contabalanceadas com as obras de Calvino. Do lado direito, notamos a espada do Príncipe Maurício dando maior pessoa às obras de Calvino o que significa que enquanto o calvinismo contar com o apoio de Maurício, a questão anniniana estará fadada ao desterro. Apenas com a ajuda e os interesses políticos do Príncipe é que o arminianismo foi considerado heresia. Caso não fossem as controvérsias comerciais, o arminianismo não teria sido banido. Ocupando-se com aspectos políticos, sociais e econômicos, e valendo-se destes para um fim re ligio so, o Sínodo de Dort (1 618-1 644) co ndenou os remonstrantes e estabeleceu a doufrina reformada dos Cinco Pontos - acrônimo, TUL IP*. em inglês em 23 de abril de 1619. Vejamos os Cinco Pontos dispostos no qu adro a seguir.
Cinco P ontos Calvinistas Inglês Totkl D epravity Unconditional Election Lim ited Atonem ent Irresistible Grace Perseverance o f the Saints
Tradução Depravação Total Eleição Incondicional Expiação Limitada Graça Irresistível Perseverança dos Santos Quadro 4
Esses Cinco Pontos não admitem as teses extremas de Gomarus, também um membro do Sínodo. No entanto, Vance diz que esse desfecho doutrinário de Dort deixou o Rei Tiago da Inglaterra perplexo a tal ponto de se expressar do seguinte modo: Esta doutrina é tão horrível, que eu estou persuadido que, se houvesse um concilio de espíritos imundos reunidos no inferno, e seu prín cipe o diabo fosse colocar a questão a todos eles em geral, ou a cada um em particula r, para aprender sua opinião sobre o meio mais provável de incitar o ódio dos homens contra Deus seu Criador; nada poderia ser inventado por eles que seria mais eficaz para este propósito , ou que poderia colo car uma afronta m aio r sobre o am or de Deus pela humanidade, do que esse infame decreto do recente Sínodo, e a decisão dessa detestável fórmula, pela qual a imensa maioria da raça humana é condenada, ao inferno por nenhuma outra razão senão a mera vontade de Deus, sem qualquer consideração pelo pecado; a necessidade de pecar, assim com o a de ser condenado, es ta ndo fixado sobre eles p or esse gra nde preg o do decreto previa m ente me ncio nad o.LXC,X 28 "Não se sabe cora segurança a origem do acróstico TULIP. Parece que primeiramente foi usado em 1905 pelo Reverendo Cleland Boyd Mcafee, em uma conferência da União Presbiteriana, Newark, NJ.” (RODRÍGUEZ, 2013, p. 263).
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A decisão doutrinária do Sínodo desagradou sobremaneira ao Rei Tiago que enviou delegados para Dort. A queixa acima é voltada para a doutrina da predestinação fixada. Os Cinco Pontos serão contraditados nos capítulos 6, 7 e 8 quando trataremos dos Cinco Artigos Remonstrantes. Dort, com seus Cinco Pontos , não adotou as ideias supralapsarianas de Gomarus, mas deliberou favoravelmente ao infralapsarianismo que, por sua vez, mesmo consid era do um calv in ismo m odera do, não te m amparo patrísticcre foi rejeitado pelos remonstrantes seguindo mais uma vez a Armínio. Os calvinistas rígidos, dentre os quais Gomarus, com a ajuda dos regentes das Províncias Unidas, mais notadamente o príncipe Maurício de Nassau, condenaram em Dort os remonstrantes. Gomarus conseguiu convencer Nassau de que o calvinismo representava proteção mais segura contra a influência do catolicismo espanhol que se espalhava pela Europa. Vejamos como Gonzalez e Rod ríguez, respectivamente, descrevem o resultado do Sínodo. Imedia ta m ente dep ois do Sín odo de Dordrecht to mara m medid as contra os arminianos e seus partidários... Quase uma centena de ministros de convicções arminianas fo i banida e outros tantos for am privados dos púlpitos. Aos que insistiam em continuar pregando fo i dete rm in ada a pris ão perpétu a. Os leigos que assistiam aos cultos armin ianos corriam o perigo de ter que pagar pesadas multas. Para se assegurarem de que os ministros não ensinassem do utrinas arminianas, tam bém fo i exigidoa aceitarem form alm ente as decisões de D ordrecht. Em alguns lugares se chegou a exigir dos tocadores de órgão uma decisão semelhante. Contase que um deles comentou que não sabia como tocar no órgão os cânones de Do rdrecht.cc Quando o Sínodo de Dort se reuniu em 1618, os remonstrantes esperavam ser reconhecidos como iguais e que o sínodo ocorresse com espírito de fraternidade, mas não fo i assim. Imediatam ente depois do Sínodo, começa ram as represálias e per seg uiçõe s dos remonstrantes. Um total de 200 m inistros arminianos for am depostos de seus cargos; 80 foram ex ilados; quase 70 fizeram um acordo para deixare m seus ministérios e guardarem silêncio. Líderes políticos tiveram seus bens apreendido. Van Oldenb arneved elt fo i declarado culpado de traição e em 14 de maio fo i decapitado. Grócio fo i sentenciado à prisã o perpétua, porém com a aju da de sua esposa , que o escondeu em um baú grande, supostamente cheio de livros, pod e escapar e fu g ir em 1621.
N o to cante a sentença e execução de O ld enbarn eveldt, leiamos a narrativa de Calder sobre os últimos momentos do ancião remonstrante:
I Introdução ao Arminianismo
Na manhã seg uinte, 13 de maio de 1619, o último ato dessa tr agédia foi realizado com o assassinato da vítima inocente, para servir como o selo de sanção d os trabalhos do Sínodo. Trazido à pr ese nç a de seus juizes, a senten ça fo i lida [...] que terminava assim: "John Oldenbarn eveldt sairá p ara o lo cal da ex ec ução, terá a cabeça cortada pela espada da justiça, e seus bens serão confiscados." Ele recebeu esta sentença de morte [...] com um semb lante destemido, e disse: “Eu estava com boas esperanças de que vossas excelências [...] perm itissem que m eus bens ficasse m pa ra minha esposa e filhos. ” Estas últimas palavra s ele pronu nciou com uma voz fra ca e semblante abatido, mas sendo informado pelo presidente que ele deveria submeter-se a sua sentença, retomou a sua firmeza, e levantando-se da assento fo i imediatamente conduzido através do grande salão pa ra o cadafalso. A sa la estava cheia de seus am igos e conhecidos. Ele nâo tomou conhecimento de nenhum deles quando passou, e continuou a dar-se com a mesm a grandeza e serenidade em seu caminho para o cadafalso, apoiado em seu cajado, e apoiado p or seu servo. Quando chegou lá, pergun tou: "Será que não há almo fada ou banquinho para que eu me ajoelhe? " e, em seguida, ajo elh ando-se sobre as tábuas ásperas, ele orou p o r um tempo. Então, levantou-se e começou a preparar-s e, dizendo, ao aponta r para o carra sco: "Esse homem não precis a me tocar." Ajo elh ando-s e para receber o golp e fatal, ele se dirigiu ao pov o, exclaman do em v oz alta. "Bons cidadãos, n ão acredito que morro como um traidor, mas, pelo contrário, como um verdadeiro patr io ta "; e, em seguida, ajo elhando-se, levanta ndo as mãos para o céu, disse: "Cristo é o meu guia; Senhor, tem piedade de mim, Pai, nas tuas mão s entrego o me u es pírito ”; fo i quando o carrasco deu um golp e só em su a cabeça. E as sim caiu e ste ilustre estadista e cristão? ' "
Houve muita comoção por parte das pessoas que assistiram a execução. Outro rem onstrante foi decap itado p ub licam ente00"1. Incrível! Tudo isso, oc orreu m esmo com a garantia de que nenhum mal séria infringido a eles. Leiamos Calder novamente:
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Os Estados da Holanda, por meio de seus deputados, prometeram, verbalmente, que nenhum dano fís ico deveria ser infringido a eles, visto que o Sínodo estava sendo montado para examinar os pontos em disputa [...]. Mas, eles violaram a sua palavr a, como os prín cipes católicos fizeram com John Huss. Pois, embora tivessem feito a prom essa acima, não lhes permitiram sair de Dort, visitar suas casas, mesmo quando na ocorrência das aflições fam iliares mais urgentes , ou em caso cie morte [...]; e, finalmente, for am banidos do país como c rim in o so s.^
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Esse teatro de horrores nos faz voltar à Genebra de Calvino. O notável pesquisador Dave Hunt (1 926-2013), em seu artigo O Lad o “B ” do Calvinismo escreveu: Censura de imprensa fo i usada e ampliada sobre os Católicos e precedente s seculares: livros... com te ndência s im ora is foram banidos., fa la r d esrespe itosam ente de Calvino ou do clero era crime. A prim eira violação dessas ordens era punida com uma adve rtência, violações posteriores com multas, persistir na violação com prisão ou banimento da cidade. Forn icaçào era pu nid a com o exílio ou afogamento; adultério, blasfêmia ou idolatria com a morte... uma criança fo i decapitada po r agredir seus pais. Nos anos de 1558-1559 houve 414 processos por ofensas morais; entre 1542 e 1564 houve 76 banimentos e 58 execuções; a população de Genebra era na época de 20.000 pessoa s .LC>
O poder político e o prestígio social parecem ter fomentado na Igreja cristã e em alguns de seus personagens, historicamente falando, uma obssessão pela perseguição e im posição de padrõ es doutrin ários estritos. De acord o com o histo riador luterano J. H. Kurtz (1809-1890), a liderança de Calvino em Genebra inaugurou “um reinad o inqu isitorial de terro r” .CCV1 Calv inistas em Dort seguiram Calvino à risca nesse ponto . Claro que as pro porções devem àer observ adas. M as, o espírito de vio lência é o mesmo. , Os relatos nos mostram como as Escrituras foram abandonadas, e, por conseguinte, a piedade cristã. D esconsideraram E scrituras como Zacarias 4:6: “Não por força nem po r poder, mas pe lo m eu Espírito, diz o Senhor dos exércitos”; 2 Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade” e Mateus 5:44: Amai aos vossos i n i m i g o s A lei do amor, sinal inconteste da mais profunda espiritualidade, foi preterida por Calvino e o Sínodo de Dort. N ão in co rremos no eq uiv oco do anacronismo, pois não estamos retratando aqueles contextos distantes partindo de uma análise calcada em nosso tempo e sem levar em cosideração o contexto e os costumes, mas, apontamos aquelas atrocidades em tom de total desaprovação porque as comparamos com as Escrituras, cujos preceitos e mandamentos são perenes. As Escrituras são o fundamento da nossa crítica. Aqueles cristãos tinham as Escrituras em mãos e simplesmente a desconsideraram no tocante, pelo menos, à seguin te re gra evangélica: "O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles” (Lc 6:31) Desconsideraram toda e qualquer ética da reciprocidade. Lamentável! Após a morte de Maurício de Nassau em 1625 os remonstrantes receberam tolerância pelo país, não na Igreja Reformada. Sucedendo a seu irmão Maurício, Frederick Henry (1584-1647) concedeu aos remonstrantes exilados o direito de reto m arem 00''1'. Em 1630 foi-lhes c oncedido liberdad e para seguir sua religião em paz, para construir igrejas e escolas. Em 1795, a Igreja Rem onstrante foi oficialm ente
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reconhecida e permanece até o dia de hoje. Assim, todas as acusações contra os arminianos foram suspensas e ficaram no p a p e l . U m Seminário Teológico Remonstrante foi fundado em Amsterdã, com Episcópio e Hugo Grócio (1583-1645) entre os seus primeiros professores. Estes acontecimentos pós-morte do Príncipe Maurício de Nassau confirmam que o Sínodo alcançou resultados esperados pelos calvinistas rígidos, a saber: o banimento de lideranças políticas arminianas e a asfixia da liberdade religiosa. Mas, mais que isso: o poder político despótico logrou êxito. Sobre os crimes do príncipe Maurício de Nassau contra os arminianos. Olson registra as seguintes palavras de um historiador moderno: “o modo dc [o príncipe] Maurício tratar os estadistas arminianos só pode ser considerado um dos grandes crimes da História”.ccix ~ Apesar dos efeitos do Sínodo terem sido desfavoráveis aos arminianos, depois de suspensas as infames decisões contra eles, o arminianismo triunfou e Os Cinco Artigos Arm in ia nos foram mantidos. O historiador Roberi H. Nichols atesta isso: “Mas o ensino destes foi vitorioso na Holanda e se espalhou por toda a Inglaterra e, depois, 11a Am érica. ”cc' O teólo go Franc isco Lafarga Cu eva (191 1-2005) com enta o alcance do arminianismo pós a forte e contundente resistência do Sínodo: Os teólogos ingleses fo ra m receptivos cio aiminianism o, incorporando-o à teologia inglesa posterior do anglicanismo, como do metodismo, o que fa voreceu sua div ulg ação univ ersal de modo e f i c a z ‘A!
A perseguição e os decretos de Dort não foram capazes de deter o arminianismo. Quatro províncias da Holanda, diante do apoio popular ao arminianismo, recusaram subscrever o Sínodo. Na Holanda, a evolução do arminianismo, pós Dort, foi possível devid o os esfo rços de H. Uyttenbogaert,, E piscópio, Hugo Gró cio, en tre outros. A Inglaterra, representada no Sínodo, conforme mencionado acima, também não subscreveu o Sínodo. O arminianismo também triunfou em Brandenburg, Bremen e Genebra. A Rem onstr ance foi publicada em Leiden cm 1629, Frankfurt em 1631 e 1635 e foi amplamente divulgado. Os menonitas aderiram ao arminianismo. As Igrejas Batistas Gerais de John Smyth e Thomas Helwys, em 1612, foram influenciadas pelo arminianismo através dos menonitas em Amsterdã. Movimentos restauradores como as Igrejas de Cristo, século XIX, também adotaram a teologia arminiana. Enfim, o arminianism o fincou raizes na Holanda e extrapolou fronteiras. Segundo Kevin Jackson00'", um acontecimento espetacular em meio a essa bata lh a política, com alg um viés ec lesiástico e que obscurece as páginas da história eclesiástica, é a “conversão” de alguns calvinistas ao arminianismo. John Hales (1584 1656), teólogo inglês; Thomas Goad (1576-1638) clérigo inglês e Daniel. Tilenus (1563-1633), professor e ex-calvinista rígido negaram o calvinismo e aderiram ao arminianismo. Poucos opositores do arminianismo clássico sabem disso. Tilenus, consoante Calder, escreveu um trabalho defendendo os remonstrantes da acusação de pelagianismo. C ald er corita que os re monstrantes eram recebidos de modo côrtez por
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muitos teólogos estrangeiros no Sínodo e se indignavam com o tratamento dados aos arminianinos: Geralmente , eles eram recebidos com muita gentileza e cortesia pelos teólogos estrangeiros. Muitos desses senhores manifestaram desagrado ao ouvir que os Rem onstrantes for am depostos dos seus ministérios, removidos de suas igrejas, enquanto a causa deles ainda estava pendente , ou melhor, antes de ser levado p erante o Sínodo. ccx‘"
Co nsideramos esses acontecimentos como resultados da obra do Vento (Jo 3:8) soprando de modo livree indicando reprovação a tanta ingerência do mal em um infeliz Sínodo. Para encerrar, tomam os po r emp réstimo o lema de Calvino: Post Tenebras L u x (D epois das trevas, a luz ) Conclusão
Bom , a história é longa e, claro, repleta de variantes. Evidente que esse trabalho não pode com portá-las. M as, fica registrada essa sintética historiografia. Para encerrar esse capítulo, transcrevemos novamente as impressões de Richard Watson, teólogo arm iniano do século XIX , a respeito do Sínodo de Dort: _— O sínodo de Dort, um nó; toda a assembléia, doente; a conferência, vento; a sessão, palha. Amém. (Dordre chti synodus nodus; chorus integer . aeger; Conventus, ventus; sessio, stramen, A m e n .f
iParte 3 ©outrinaá Hntuntanasí
Introdução ao Arminianismo
Capítulo 6 &rtígosí íRemonsítranteá dBletção, Cxptação Hílímítatia c pketoes Jfunfcamentações Ptblttas Deus decretou salvar aqueles que irão crer em Jesus Cristo e perseverar na fé ; deixando rio pecado os incrédulos para serem condenados. Artigo I o Jesus Cristo morreu por todos os homens, proporcionando redenção se alguém crer nele. Artigo 2°
Intr odução
A partir desse capítulo passamos a uma discussão dos Cinco Artigos remonstrantes apresentados no capítulo quatro. Ali nós propusemos, por uma breve incursão historiográfica, explicar o quê e quais são os Artigos, a finalidade da elaboração deles e o impacto causado nos chefes das Províncias Unidas e nos calvinistas. Já aqui, e nos capítulos sete e oito, associaremos cada artigo a Armínio e, bre vemente, os sustentaremos com an álises bíblicas. 1.
Primeiro Artigo: Deus elege ou reprova com base na f é ou na incredulidade previs tas .
No que tange a esse artigo, os re monstrantes se fu ndamentaram nas seg uintes palavras de Arm ínio: Deus dete rmin ou salv ar e condenar ce rtas pessoas em particula r. Este decreto tem seu fundam ento no pré-conhec imento de Deus, pelo qual ele conheceu desde toda a eternidade aqueles indivíduos que, por meio da sua graça preventiva [i.e., precedente], creriam e perseverariam por meio de sua graça subseqüente, de acordo com a administração anteriormente descrita daqueles meios que são adequados e próprios
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para a conversão e a fé; e, p o r esse mesm o pré-c onhecim ento . ele semelhantemente conheceu aqueles que não creriam eperseverariam.ccxv
Decorre desse comentário a ideia da salvação do homem não porque ele é um eleito, mas, porque recebe a Cristo como Senhor e Salvador e, assim, toma-se um eleito. Não existe seleção de algumas pessoas para a salvação nem para condenação. A eleição é condicional à resposta do homem e depende da presciência divina que antevê a fé. É tendo por base a presciência que Deus predestina ou elege indivíduos para a salvação ou perdição. Armínio negou a doutrina da eleição incondicional que é incompatível com o caráter de Deus. Podemos apontar como exemplo desta incompatibilidade a negação da onibenevolênciacc™ de Deus. Deus é Todo-amoroso e por isso ama a todos (Jo 3:16; Rm 5:8; Rm 8:3 5,38-39; 2a Co 5:14; T t 3:4-5; Ia Jo 4:7 8,10). Eleger arbitrariamente uns para a salvação e outros^paralfpeíHíçlo nega aquele atributo moral divino. Os remonstrantes repercutiram Armínio conforme o Artigo I o: “Deus decretou salvar aqueles que irão crer em Jesus Cristo e perseverar na fé; deixando no pecado os incrédulos para serem conden ados.” ) Em resposta ao artigo remonstrante, o Sínodo de Dort concluiu: Esta eleição não é baseada em fé prevista, em obediência d e fé, santidade ou qualquer boa qualidade ou disposição, que seria uma causa ou condição previamente requerida ao homem para ser 1t ■ 1 c c x v i i escolhido.
A resposta calvinista não faz jus à Ia Pe 1:2: “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai A prognosis (presciência) d ivina "sabe de antemã o (Rm 8:29) qu em responderá com arrependimento e fé à obra do Espirito Santo no momento da"pregação do Evan gelho. N esse instante, efetivamente, dá-se a eleição. ( o arminianismo clássico acredita numa eleição incondicional, mas, isso no tocan te ao po vo de Deu s. (Quanto a pessoas específicas, a eleição é sem pre con dicional ao uso que os homens fazem dos meios de graça. A dupla predestinação calvinista é um terror para aqueles que, conhecedores de tal doutrina, vivem se perguntando se são ou não eleitos. Ela é irreconciliável com o Deus que é amor (1 Jo 4:8). Calvino ensinou a dupla predestinação: “Deus ordenou desde a eternidade a quem quer abraçar em amo r e exerce sua ira contra q uem qu er.”00*''"' Assim está neg ad a a un iversalidade do am or de Deus.[Em Calvino, a glória de Deus substitui o amor de Deus.jA dupla predestinação é tão chocante que Calvino, segundo Calder, exclamou: “decretum horribile!29". Tillich, citando Calvino, ano ta: “ [...] trata-se de um decreto ho rrível, co nfesso !”.ccx'x Há calvinistas que negam a dupla predestinação, mas seus argumentos não passam de pontu ações semân ticas. In exoravelm ente, o decreto de salv ar alguns leva ao decreto de conden ar outros. 29 “Em latim horrível não significa horrível. Significa ‘o que inspira reverência”’. No entanto, a teoria é horrível e causa espanto.
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O artigo remonstrante em foco condiz mais com o caráter de Deus e dá à humanidade o conforto de que mesmo estando todos perdidos, o sacrifício alcança àqueles que, pela fé, recebem o Filho como Senhor e Salvador. Jesus é o eleito e nEIe Deus elege aqueles que Ele anteviu expressarem fé em Seu Filho posteriormente ao arrependimento dos p ecados^ A doutrina da eleição na perspectiva arm iniana clássica é a única que pode apresentar Deus como sendo bom, amável e justo. Apenas ela faz da apresentação do Evangelho uma oferta sincera, pois. de fato, é para todos, chamando-os seriamente ( serio vocantur). \ Os remonstrantes disseram o seguinte no Sínodo de Dort: “Aquele que Deus chama para a salvação ele chama seriamente ( serio vocat), isto é, com intenção sincera e desejo de salvar completamente, sem hipocrisia.”ccxx Isso porque os remonstrantes criam na eleição condicional e não na dupla predestinação calvinista. Nesse último caso, como anunciar sinceramente o Evangelho para quem em hipótese alguma, por determinação divina, poderá experimentar os benefícios de seu poder? Algumas razões que fazem do sistema arminiano clássico um portador do anúnico bem intencionado do Evangelho são as seguintes: • A ofe rta do Evangelh o é universal; • De us deseja que os ouvintes (todos) do Evangelho sejam salvos; • A eleição é cond icional e a expiação é ilimitada; • A pregação do Evangelho é gra ça pa ra todos perdidos. Dadas essas razões, posto está que apenas o arminianismo clássico pode anunciar o conteúdo de Ezequiel 33:11, Ia Timóteo 2:4, 4:10, Tito 2:11, 2a Pedro 3:9 sem incorrer em encenações. Embora os Cânones de Dort. Capítulo H ~íF tTgõ ~5'‘. defendam que a mensagem do Evangelho pregada pelos calvinistas seja bem intencionada, discordamos desta defesa, pois afirmar que Deus deseja salvar a todos, conforme as Escrituras acima, quando na verdade Ele só salvará os eleitos, não passa de jo go de cena. É contraditório crer nas doutrin as da eleiç ão in co ndicio nal e ex piação limitada e ao mesmo tempo ensinar que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos oshomens” (Tt 2:11). Tanto o calvinismo supralapsariano, como o infralapsariano, caem nessa contradição ao tentarem harmonizar essas doutrinas. O calvinista Herman H oeksem a (1886-1965 ) censura: Eles professam crer que a expiação é limitada, e que Cristo morreu só pelos ele itos; ain da assim, p o r outro lado, ta mbém in sistem que Deus sinceramente tem boa intenção na oferta da salvação a todos os hom ens.LÍ1X>
Esse é um caso de duplipensar, conceito pensado pelo escritor inglês Goerge Orwell (1903-1950) e que significa manter na mente duas crenças contraditórias. Anthony Hoekema reconhece:
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Urna vez que a Bíblia ensina tanto a eleição eterna quanto a boa intenção da vocação do evangelho, continuaremos a manter nossa crença em am bas as doutrinas, mesmo que não possa m os reconciliá-las em no ssa men te fi n it a .ÍLXX“
Bom, esse é um conflito desnecessário, pois as Escrituras não corroboram com a expiação limitada nem com a eleição incondicional. Isso é sofrer mentalmente por nada. Alhures, o teólogo calvinista Vincent Cheung disse que essa tentativa de conciliação, desnecessária, é crer como um calvinista e pregar como um arminiano. Em outras palavras, ele está dizendo: “desça do muro”. Relembrando uma questão importante: no sistema arminiano clássico, Cristo não é um mero instrumento que concretizará o decreto abstrato de eleição, mas Ele é a razão da eleição. Leiamos Armínio novamente: O prim eir o decreto absoluto de Deus, concernente à salvação do homem pecador, é que Ele decretou designar seu Filho Jesus Cristo p o r M ediador, Red entor, Salvador, Sacerdote e Rei, que pode destr uir o pecado por sua própria morte, pode obter, por sua obediência, a salvação que ha via sido perdida, e po de comun icá-la po r sua própria • * c c x x ii i virtude.
E deste primeiro decreto divino que emerge a doutrina da predestinação de Armínio. Os três decretos seguintes já foram apresentados anteriormente. Mas, para fins didáticos, seguem, mais uma vez os quatro decretos, agora, em formato de diagrama.
I Introdução ao Arminianismo
PRIMEIRO DECRETO
Nomear Jesus Cristo como
SEGUNDO DKf RFT o TERCEIRO DEÇRFTn
Eleição Repxovaçãn
Adm inistrar os meios
QUARTO DECRFTn
Salvar e condenar certas pessoas. Fundamentos deste decreto;
principal «faS! ^ ^ « ^ ^ ^ >eiy . cr*8,oc^nlr!COt P °b « » * • com Jesus Cristo, sujeito sublime por KaHBarthf * e'eÍÇâo d™ a * descrita de modo Sobre Je sm C™ t°, nada sabemos com maior certe~a e Pm tu ^
a
essa
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eleição se dá na eleição de Jesus Cristo e por meio dela, nesse ato de livre obediência e po r m eio dele, p or obra de Seu Filho [...] E nele que a eleição eterna se converte imediata e diretamente na pro m essa da nossa eleição, d ecretada que fo i no tempo do nosso chamado, ou vocação, para a fé , do consentimento p o r nós concedido pa ra a intervenção a nosso fa vor, da revelação de nós mesm os com o filh os de Deus.ccxx,x 2.
B reve fu n dam en ta ção bíb lica do prim eiro artig o de f é re m onstrante .
A “eleição’7é um decreto divino anterior á salvação e depende totalmente da livre e soberana expressão da misericórdia de Deus: “não me escolheste vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (Jo 15:16). D eus é a causa eficiente da eleição. Soberan amen te ele decreta. A teologia arminiana clássica reconhece isto tanto no sentido de uma eleição de comunidades (Dt 7:6; 14:2; At 13:17) e eleição de indivíduos (Rm 16:13; 2a Jo 1:1, 13), sendo esta última o sentido mais elevado que as Escrituras dão à eleição. O arminianismo clássico sustenta que Deus determinou salvar e condenar certas pessoas em particular. Este decreto tem seu fu ndamento no pré-c onhecim ento de Deu s, conforme demonstração imediatamente acima. Deus elege antevendo a resposta de fé e a perseverança. Os atos livres das pessoas em aceitar ou rejeitar a graça de Deus são levados em conta (Lc 13:34; At 7:51). O decreto arbitrário proposto pelo calvinismo não é uma doutrina bíblica, mas, apenas, uma especulação filosófica. Com o indicado, a eleição e a reprovação (não entenda “reprovação” como um a preord enação para a condenação) no sistem a arm in iano clássico se re lacio na com a doutrina da presciência cognitiva divina que antecipa o conhecimento de Deus quanto aos pensamentos e ações das pessoas. O apóstolo Pedro escreveu: “eleitos, segundo a pre sciência de Deus pai [...]” (I a Pe 1:2). Paulo escrevendo aos Roman os diz: “porque aos que dantes conheceu [...]’’ (Rm 8:29). Vincular eleição à presciência não supõe causalidade visto que Deus não necessita predestinar para conhecer previamente, pois Ele é onisciente. Esse pensamento não pressu põe que Deus se ja surp reendid o pela decisão de alguém . A pre sciência div in a envolve tudo. Como a eleição é por pre sciência, ela é condicional, ou seja, depende da resposta em arrependimento e fé de quem ouve o Evangelho: “[...] arrependei-vos e crede no Ev angelh o” (Mc 1:15). N o N ovo Testamen to a eleição dos crentes é apresentada de modo individual ou coletivo, conforme dissemos. A eleição individual pode ser vista em expressões como “Deus escolheu vocês (pessoas) para a salv ação” (2a Ts 2:13), “ nos predestinou (indivíduos)” (Ef 1:4-5, 11). Rufo, em Romanos 16:13 é identificado como um “eleito”. Nesse sentido, concluímos que a eleição nâo está restrita a um plano impessoal, mas envolve indivíduos. A respeito da eleição corporativa, assim como Israel no Antigo Testamento, ela é para um serviço; para o anúncio das boas novas. Porém, não ap enas isso, mas é um a eleição para a salvação, reiteramos. Expressões como “raça eleita’’ (Ia Pe 2:9), “senho ra ele ita ” e sua “irmã eleita” (2a Jo 1.13), refletem e ssa eleição coletiva.
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Na teolo gia arm in ia na clássica incondicional. O lson explica:
tam bém
há
lu gar para
uma eleição
Os arminianos interpretam o conceito bíblico de eleição incondicional (predestinação para a salvação) como corporativa. Deste modo , a predestinação tem um sig nific ado pessoal (p re sc iência de es colhas individuais) e um significado coletivo (eleição de um povo). A primeira é condicional, a última é incondicional.. A predestinação de Deus de pessoas é condic io nada pela f é des ta s /(a eleição de Deus de um povo para sua gló ria é in condicional. A últim a englo bará todos os que creem .c c x c v )■
A eleição é incondicional para o arminianismo clássico apenas no tocante a um coletivo. Neste caso, a Igreja. Conforme dito anteriormente, trata-se de uma eleição incondicional para o serviço. No escopo soteriológico divino a Igreja deve cumprir sua missão de disseminação do Evangelho e da expansão do Reino de Deus. Deus não abre negociação quanto a isso. Diferente, a eleição incondicional no calvinismo consiste em que Deus escolhe alguns indivíduos para a salvação enquanto os que não são chamados irresistivelmente vão para o inferno. E difícil não admitir que a eleição incondicional calvinista contraria as Escrituras. Não há uma oferta sincera do Evangelho, pois é impossível para alguns pecadores, ouvindo as Boas novas de salvação, converterem-se. 2.1.
A soberania divin a
É comum os arminianos clássicos serem acusados de negligenciarem a sob erania30 divina. D izem q ue no ssa v isão é m inimalista, pois a isto nos levam doutrinas como a eleição condicional. Discordamos, é claro. Arminianos clássicos não negam a soberania de Deus nem mesmo quando argumentam em favor da eleição condicional. Até porque eleição condicional nâo implica em enfraquecimento da soberania divina. Caso Deus sofresse alguma coação de fora, algo impensável em qualquer circunstância, poderíamos aceitar,a acusação, mas nâo existe situação onde seja cabível a ideia de Deus ser coagido.^O que o arminianismo clássico ensina em consonância com as Escrituras é que Deus, em Sua soberania, escolheu livremente e segundo seus propósitos criar um universo com pessoas livres capazes de tomar decisões o que, por conseguinte, e evidente, determina situações. Por exemplo: “Mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados po r ele” (Lc 7:30 ).” ; Lucas mostra a reação dos fariseus frente ao mensageiro de Deus, João Batista. N ão é de se adm irar tal re sistê ncia quando voltamos aos capítulos 5:17 a 6:11 onde eles 30 Uma explicação clara e objetiva do conceito de soberania de Deus nos é dada por Andrade: “Autoridade inquestionável que Deus exerce sobre todas as coisas criadas, quer na terra, quer nos céus, dispondo de tudo de acordo com os seus conselhos e desígnios.” (1998, p. 265)
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reagiram negativamente ao Filho de Deus. Esses momentos de oposição caracterizam a opção dos fariseus po r sua própria justiça em detrimento da justiça de Deus revelada em Jesus (v. 29). Ag indo assim, eles, segundo Lucas, “r e je ita ra m o desígnio de Deus” . O verbo em negrito no texto grego é atheteo. No Dicionário Vine, atheteo em Lucas 7:30, significa “baldar a eficácia de algo, invalidá-lo, frustrá-lo.”0"™ Com o o ho mem pod e frustar (ou como diz James Strong: “arruinar, rejeitar”ccxxv") o desígnio divino se não for por uma concessão div in a vin cula da à Sua vontade de lidar com criatu ras livres0 A história emerge das agências divina e humana. Aqui temos a agência humana definindo o resultado e a soberania divina sendo limitada pela escolha libertária dos fariseus. Isso ocorre sempre? Não! Como explica o teólogo arminiano Henry Clarence Thiessen (1883-1947): • D eus às vezes perm ite que o homem aja confo rme bem entender. • A s vezes, Deus im pede o homem de fa ze r o que, em sua liberdade, ele poderia vir a fa zer. • Deus sempre preva lece sobre o qu e o homem fa z pa ra os Seus próprios fins. Mantemos que nós, arminianos clássicos, não negligenciamos a soberania divina como dizem os calvinistas. Avancemos um pouco mais nesse assunto. O teólogo arminiano John Miley (1813 -1895) explica: Não pom os em dúvid a uma verdadeira soberania divina, mas rejeitam os uma qu e seja para m ente arbitrária p o r se r totalmente inconsistente com a natureza de D eus e com os grandes fa to s da Su a pro vidê nc ia.ctxxvm
Deus é soberano no universo e isso nunca foi negado pelo arminianismo clássico. “Deus está no controle sem controlar tudo”ccxxlx, diz Olson, e essa é a razão da queixa calvinista contra os arminianos clássicos. Eles exigem o exercício de uma soberania meticulosa, nós não, pois um governo absoluto para ser caracterizado como tal não necessita da impostura de um controle das minúncias e toda particularidade da vida dos governados. Ademais, uma concepção de soberania aos moldes calvinistas, em última análise, faz Deus ser o autor do pecado e do mal moral, fato veementemente negado pelo arminianismo clássico. Escrevendo a seu amigo Hippolytus Collibus, Armínio disse: “Deus não pode ser acusado de autor do pecado”.ccxxx A essa altura não dá para esquecer dois conceitos fundamentais e decisivos para o distanciamento entre os modos de entender a soberania divina e o controle da história humana por parte dos arminianos clássicos e calvinistas. Os conceitos, em latim, são: de facto e de jure . Valendo-nos de Olson, por meio de quem chegamos a esses conceitos, explicamos. O primeiro significa que Deus já controla a história de forma determinista e minunciosa. Nesse sentido, nada frustra a vontade divina. Lucas 7:30 não concorda com isso. Quanto ao segundo, por direito e poder. Deus está no controle da histó ria humana, mas não exclu in do a liberd ade
Introdução ao Arminianismo
humana nem fazendo dEle o autor do pecado. Desta forma, Deus, apenas em parte, controla as coisas no presente de facto .CCXSX1 Olson arremata: Jes us ensinou seus discípulos a orar “seja feita a sua vontade, aqui na terra como no c é u ” (M T 6:10). Se a soberania de Deus já estivesse com pletamen te exercida de facto , p or que alguém precisaria ora r pa ra a vontade de Deus ser feit a naterra? N este caso, ela j á estaria sempre sendo fe ita na terra. Esta diferença entre a soberania de Deus de facto e de ju r e é ex igid a na Oração do Pa i No sso .ccxxx,t
Disso inferimos ser antibíblico um conceito de soberania que propõe strictu senso, um sentido de controle absoluto. Wynkook se expressa de forma sublime quanto ao modo como os arminianos clássicos refletem sobre a soberan ia divina: Sua sob erania sup rem a é o fun da m en to da totalidade da teologia cristã. Não se pode perm itir nenhuma te oria filosófica que admita a mais leve brecha nessa soberania. C ada doutrina cristã depend e desse ensinamento f...] Se Deus não é completamente soberano não pode su sten tar a fé cristâ .ccaxm
A doutrina da eleição condicional foi pensada pelo próprio Deus. Ele arquitetou como deveriam ocorrer as coisas concernentes à salvação do homem./O que há de errado em um D eus soberano, em sua soberania, conceder ao homem alguma m edida de autodeterminação?/feeria a reação divina a alguma ação humana? Ora, mas o perdão divino dado ao homem não é em resposta ao arrependimento por causa de seu ato pecam in oso? Não há aqui um a ação div in a condicio nada ao com portamento human o? Dar aquela medida de autodeterminação consagra mais a soberania de Deus do que negá-la. Oonipo tente Deus concedeu essa autod eterminaç ão aos anjos e seres humano s. Portanto, reiteramos: arminianos clássicos não negam a doutrina da soberania de Deus mesmo mantendo a doutrina da eleição condicional que, por sua vez, em hipótese alguma, anula aquela. Mesmo que os calvinistas não admitam nossa reflexão, isso não a torna ilegítima, pois o conceito de soberania não é m onopó lio deles. 3.
S egu ndo A rti go: Cristo m orreu p o r to dos e p o r ca da hom em .
Para Armínio, a salvação era universal, ou seja, o sacrifício de Jesus Cristo foi extenso em seu alcance: Em relação à extensão e po tencia lidade do preço e em relação à única causa [gera l] da humanidade, o sangue de Cristo é a redenção de todo o mundo. M as aqueles que pa ssam p o r esta vida sem fé em Cristo, sem
Zw inglio Rodrigues
o sacramento J ~ C X X X .T ÍV redenção.
da
regeneração,
são
totalmente
estranhos
à
Jesus m orreu por todos os homens. Porém, a salvação depend e de uma resposta de fé. Ao s seus interlocutores, Armínio lembra que essa era crença na antiguidade. A conexão entre a resposta de fé e a salvação não nega a preeminência da graça, pois toda a salvação na soteriologia arminiana clássica, conforme já apontamos, é inteiramente da graça divina. Leiamos Armínio novamente: “Eu atribuo à graça o começo, a continuidade e a consumação de todo bem”. A resposta da fé é assistida pela graça preveniente, ação operante do Espírito Santo junto ao homem. Para Arm ín io , o sacrifício de Cristo disponibiliza salvação a todos os homens, mas a conquista apenas para os que creem. Armínio, em The Works o f Arm inius Ar ticle XII, vol. I, p. 227 ' , desafiou seus contemp orâneos defensores da expiação limitada a contestarem as Escrituras de 1 João 2:2 ; João 1:19, 6:51; jlo m a n o s 14:15 e 2 Ped ro_ 2ü . Em um de seus artigos, ele recorreu ao amigo de Agostinho, Próspero3eAquitânea (390-460) para mostrar a antiga crença da expiação ilimitada. Aquitànea disse: “Quem disse que o Salvador não foi crucificado para a re denção de to do o mundo, não consid era a virtude do sacramento, senão ã causa dos incrédulos, posto que o sangue de Jesus Cristo é o preço pago por todo o mundo.”ccxxxv Para Armínio e os remonstrantes, Jesus é o salvador do mundo. O Artigo 2 o da Rem onstrance diz: “Jesus Cristo morreu por todos os homens, propo rcionando redenção se alguém crer nele.”A redenção é universal (Jo 3:16; IJo 2:2), mas isso não leva ao universalism o real31. O tipo de universalismo à nossa frente é o qualificado q ue advog a ser a expiação ilimitada quanto ao fato de ter Cristo morrido por todos, mas sua obra de redenção alcança apenas as pessoas arrependidas e que manifestam fé nEle. O teólogo arminiano do século XX Orton H. Wiley (1877-1961) seguindo os passos dos re monstrantes e Arm ín io explica a expiação universal: A expia ção é universal. Isto não quer diz er que toda a hum anid ade se salvará incondicionalmente, mas apenas que a oferta sacrificial de Cristo satisfez as pretensões da lei divina, de maneira que tornou a salvação possível para todos. A redenção, portanto, ê universal ou geral no sentido de provisão, mas especial ou condicional na sua aplicação ao indivíduo c“ x™,
O conceito de expiação ilimitada foi defendido por Calvino:
31 Segundo esta teoria, Deus, no final dos tem pos, reconciliará todos os homens a Si, independente de suas obras, intenções e mérito. Ela não será discutida porque é rejeitada pelos particularistas e adeptos do universalismo qualificado. A razão desta rejeição se dá devido ao fato das Escrituras negarem perem ptoriamente a sua validade como doutrina.
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[...] A pala vra “muitos ” (em Marcos 14:24) não significa somente uma pa rte do mundo, mas a to ta lidade da raça hum ana [...] E inco nte stá vel que Cristo veio pa ra a expiação dos pecad os da hum anidade como um todo"""h.
Calvino, Armínio e os remonstrantes convergem nesse ponto. Lutero e a patrística grega também diziam isso. Jo hn W esley, um arm in iano clássico, comentando I a Tim óteo 2:6 escreveu: “É um res gate para quantas alm as for ne ce ssário.”1^ *™11' Em outro lugar ele disse: “(Cristo) se deu a si mesmo em resgate por todos.”ccxxxl!t O teólogo Dan iel B. Peco ta (1929-1 997 ), teólogo pentecostal, escreveu: “antes da ascensão do calvinismo, o universalismo qualificado havia sido a opinião majoritária desde o início da igreja.”ccxl O professor Walter A. Elwell diz: Os que defendem a redenção gera l começam indicando que ela é o ponto de vista histórico da igreja sendo sustentado pela vasta maioria dos teólogos, reform adores, evang elistas e pais , d esde o início da igreja até o dia presente, incluindo praticamente todos os escritores antes da Reforma, com a p ossív el exceção de Agostinho. Entre os reformadores , a doutrina encontra-se em Lutero, Melanchton, Bullinger, Latimer, Cranmer, Coverdale e até mesmo Calvino, em alguns de seus comentários.crxh
Contra todo testemunho histórico, os Cânones de Dort, no Artigo VIU do Capítulo II, p. 7, defendeu um escopo salvífico exclusivista. Pois este fo i o soberano conselho, a vontade graciosa e o propó sito de Deus, o Pai, que a eficácia vív ific ante e salv ífíc a da p recio síssim a morte de seu Filho fo ss e estendida a todos os eleitos.
Por ser exclusivista, a crença acima é antibíblica. A soteriologia bíblica é inclusivista, ou seja, propõe salvação para todos, portanto, fundado nas Escrituras apresentadas acima, o Artigo em discussão remonstrante procede. Continuemos evocando e analisando bases bíblicas para darem sustentação à doutrina da expiação ilimitada. 4.
B reve fu n dam en tação bíb lica desse artigo de f é rem onstr ante
Referências como Jo 1:29, 3:16, 6:33; Rm 11:12, 15 e Uo 2:2 ensinam ter sido a morte de Jesus em favor de todo o mundo. O uso desse vocábulo nessas referências (entre outras) aponta para todas as pessoas constituintes da raça humana. Leiamos Ia Jo 2:2: “Ele [Jesus] é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos pró prios, mas ainda pelo s do mundo inteiro.” Segundo James Strong, “mundo” trata-se
Zwinglio R odrigues
de uma metonimia, e como tal, refere-se aos “habitantes da terra, os homens, a humanidade.,,ccxl" O mundo é a comunidade de todos os homens pecaminosos e a redenção em e por meio de Cristo é ofertada a to dos os homens desde Adão até ao últim o. Toda ensaio de impor limites a essa referência consitui-se em erro. Essa tentativa é uma ofensa sem tamanho contra a palavra de Deus. Nenhuma limitação pode ser imposta a Ia João 2:2. A expiação de Cristo é apresentada como sendo potencialmente universal. O crítico da expiação ilimitada levanta uma nuvem de fumaça quanto à questão do significado de “mundo” em Ia João 2:2. Esse vocábulo tem sentidos variados na Bíblia. No entanto, embora “mundo” (kosmos) possa significar, também, por exemplo, o sistema maligno sob o domínio do diabo, em nenhum lugar do Novo Testamento esta palavra é usada como sinônim o para “ele itos” ou “mundo dos ele itos” como advogam os calvinistas. Consultando os lexicógrafos James Strong (1822-1894), W. E. Vine (1873-1949), F. Wilbur Grinch (1901-1993) e Frederick W. Danker (1920-2012) não notamos neles kosmos (mundo) aparecendo no Novo Testamento com o sentido de mundo dos eleitos. Armínio insistiu na disputa com o Dr. William Perkins (1558-1602), teólogo anglicano da Universidade de Cambridge, que “mundo” nas Escrituras refere-se a todo corpo da humanidade e em lugar algum das Escrituras é possível inferir “mundo” como sendo “mundo dos eleitos” sem que sérias suspeitas hermenêuticas suijam, inforraa-nos Olson e Rodríguez. Ia João 2:2 é uma Escritura nitidamente inclusiva e isso toma a conjectura calvinista arbitrária. O amor de Deus é lato ao ponto de envolver a todos. Por isso é dito: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12:32). A obra de Cristo na cruz é a base sobre a qual o perdão divino é oferecido a todos os homens de todas as nações através das gerações. Comentando João 3:16, os seguintes comentaristas concluem: Earl Radmacher (1965-1989) [et al.\. “A morte de Cristo é suficiente para todos, mas só é eficiente para os que creern nele. Nem todos serão salvos, mas Jesus oferece salva ção a todo s.”**'1”1 Leon Afom's(T914-2006): “Cristo fez ampla provisão; a sua provisão tem eficácia para os pecados do mundo in teiro (ênfase no original).”ccxhv A. T. Roberts on (1863-1934): “A propiciação operada por Cristo provê salv para todos (v er Hb 2:9), contanto que se reconciliem com Deus (v er 2 Co 5:1 9-2 1).”codv John Albert Bertgel (1687-1752): “A propiciação é tão grande quanto o pecado .”ccx,v’ Ron Rhodes, em seu artigo A Exte nsão da Expia ção Cí'hu, apresenta uma lista de dicionários, enciclopédias e léxicos, em inglês, consultados por ele e nos mesmos kosmos . “mundo”, nunca é associada a “mundo dos eleitos”. As obras são as seguintes: • KitteVs Theological D ictionary o f the N ew Testament. • Vin e’s Expository Dictionary o f N ew Tes tament Words. • VincentVs Word Studies in the New Testament.
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• Thayer's G reek-English Lexicon o fth e New Tesíament. • So uter 's Pocke t Lexicon o f the N ew Testament. • The Ne w Schaff-Herzog Encyclopedia o f Religious Knowledge. • Hastings ’ D ictionary o f the Bible. • The International Stand ard Bible Encyclopedia. • The N ew Bible Dictionary. • Baker s Dictionary ofTheology. • A rndt and Gingrich ’s A Greek-E nglish Lexic on o fth e New Testament. Outras escrituras inclusivistas podem ser encontradas nas Epístolas Pastorais: O qual (Deus) deseja que to dos os hom ens seja m salv os e cheguem ao
ple no conhecim ento da verdade. ( I a Tm 2:4) O qual (Senhor Jesus) a si mesmo se deu em re sgate p o r todos: testemun ho que se deve pr es tar em tempos oportunos. ( I a Tm 2:6) Ora, é pa ra esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salv ador de to dos os hom ens, especialmente dos fiéis. (Ia Tm 4:10) Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a to dos os h om ens (Tt 2:11). '
Todo capítulo 2 de Ia Timóteo enfatiza a possibilidade de todos os homens serem salvos. Eles são objetos do poder salvífíco de Deus. No capítulo 4, Paulo mais uma vez introduz essa certeza. Para Tito, Paulo escreve sobre essa universalidade da pro visão div ina da salvação. Cristo, a efetivação histó rica da graça sa lv adora divina, oferta o dom da salvação para “todos os homens” e não para alguns. Pedro segue nessa esteira: N ão reta rda o Senhor a su a p rom essa, como alg uns a ju lga m dem orada; pelo contrário, ele é lo ngânim o para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento (2a Pe ' 3:9) ..
Então, ternos João, Paulo e Pedro ensinando claramente a expiação ilimitada. A graça divina não é estendida a um grupo seleto de pessoas, mas interessa-se por todos. Duas podero sas razões nos dão a certeza disso: Ia A cruz : “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12:32). 2a A parousia : “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2a Pe 3:9). A parousia ainda não ocorreu, diz Pedro, porq ue Deus anseia pela salvaç ão de todos. Essas Escritu ras escaparam à an álise do
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Zwinglio Rodn gues
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Sínodo de Dort quando no Cânone Artigo VIII do Capítulo II se diz “[...]preciosíssima morte de seu Filho fosse estendida a todos os eleitos (ênfase nossa)”? Parece que sim. Já para os remonstrantes, não. No Rem onstr ance está escrito: “(Jesus) morreu por todos os homens e por cada um deles, de tal forma que ele obteve tudo para eles, por meio de sua morte na cruz, redenção e perdão de pecados”.ccxlvi“ Qual declaração faz mais jus às Escrituras abordadas? Alister McGrath vai direto ao ponto: O Novo Testamento proclam a a salvação universal de Deus. D eus deseja que todos se salvem. “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Romanos 10:13). Mas isso é só parte da história, embora trate de uma pa rte m uito importante. Há, porém , uma fal ha q ue desd e os prim órdio s fo i nociv a à his tó ria das cr enças fundam enta is do cristianismo. Po r exemplo, é muito m ais fá c il fa la r de Jesus como homem justo , ou como Deu s justo, e ignorar os problem as complicados que advêm do fato de falarm os dele em sua condição de deus e homem simultaneamente. Contudo, uma teologia responsável exige que contemos a história p o r inteiro, sejam quais for em as dificuldades intelectuais que po ssa m surgir. A história com pleta é a seguinte: a. Deu s quer muito que todos sejam salvos. b. A salvaçã o é condicional, po is depende da nossa resposta a cristo. (Romanos 10:7-1 7 resu m e bem esse s po nto s) ,ccxUx
A cruz é inclusiva e isso é notado escrituristicamente. O único impedimento dessa conclusão é a adoção de uma teologia irresponsável. O calvinismo tem um modo estranho de interpretar passagens como Ia Timóteo 2:4. Ele supõe que a declaração totalizante “todos os homens” não implica enT^oSos” no sentido de cada homem, mas que essa é uma referência a “todas as classes e tipos de homens”. Essa compreensão remonta a Agostinho e ela é inconsistente em qualquer aspecto. Segu ndo J. N. D. Kelly, o bispo de Fíipona distorce I a Tim óte 2:4 “interpretando que Ele (Deus) deseja salvação de todos os eleitos, entre os quais estão representados homens de todas as raças e tipos.”ccl Notável é o fato de Agostinho, anteriormente, ter sido um defensor da expiação ilimitada: Se, na verdade, aconteceu de alguns terem sido retirados da influência desta claríssima luz da verdade, e dos quais a cegueira exige esta iluminação, até mesmo para estes, não te m os dúvid a de que, a mesma graça haverá de encontrar o seu caminho seguro, mesmo que tardiamente, p elo fa v o r m is eric ordio so daquele D eus “qu e fa r á com que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da ve rd ad e” LCl
Esta é uma declaração inclusivista.
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Honestamente, o calvinista Charles Spurgeon (1834-1892) evitava impor sobre Ia Tim óteo 2 :4 seus pressup ostos calvinistas. L eiamos um de seus c om en tário s^1": E então ? Tentaremos colo car um outro sentido no texto do que já tem? Penso que não. Precisa-se, para a maioria de vocês, conhecer o método comam com qual os nossos amigos Calvinistas mais velhos lidaram com esse texto. ‘Todos os homens, ’ dizem eles, — 'quer dizer, alguns homens como se o Espírito Santo não po der ia ter fala do ‘alguns hom ens ’ se quis esse fa la r algu ns hom ens. ‘Todos os hom ens, ’ dizem eles; ‘quer dizer, alguns de todos os tipos de homens'; como se o Senhor não poderia ter falado ‘Todo tipo de homem ’ se quis esse fa lar isto. O Esp irito Santo a través d o ap óstolo e scre veu ‘todos os hom ens, ’ e sem dúvida quer dizer todos os homens. Estava lendo agora mesmo uma exposição de um doutor m uito apto o qual explica o texto de tal for m a que muda o sentido; ele aplica dinamite gramatical no texto, e explode o texto expondo-o [...] O meu amor pela consistência com as minhas próprias doutr in as não é de ta l ta manho para me auto rizar a alterar conscientemente um só texto da Escritura. Respeito grandemente a ortodoxia, mas a minha reverência para a inspiração é bem maior. ÇPrefiro parecer cem vezes ser inconsistente comigo mesmo do que ser inconsistente com a palavra de D eus.tJ“ j
Educadam ente, Spurgeon diz que calvinistas -
• mudam o sentido da Escritura; • aplicam dinamite gramatical no texto; • explodem o texto expondo-o; • alteram o texto em fa vo r de suas próprias doutrinas; • estima m mais a ortodoxia do que a inspiração bíblica; • e são inconsistentes. Caso os arminianos dissessem tais coisas, eles seriam tomados como hereges. Mas Spurgeon não é um berege. Entre os “pais da Igreja" pré e pós-nicêmcosJ' a doutrina da expiação ilimitada era corrente. Eis algumas citações’’:
32 Referência ao Primeiro Concilio de Nicéia (325 A.D.) convocado pelo imperador Constantino a fim de resolver problemas causados pelo arianismo que dividiam a cristandade. 33 Exceto as citações de Clemente de Roma e Epístola de Diogneto que foram constatadas in loco , as demais foram pinçadas da obra de Norman Geisler, Teologia Sistemática e do artigo A Extensão da Expiação de Ron Rhodes.
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Pais ante-nicenos • Clemente de Roma (30-101 d.C.) "Percorramos todas as gerações e aprendamos que de geração em geração o Senhor deu possibilidade de conversão àqueles q ue a ele quiseram retornar." • Epístola de Diogneto (120 d.C.): “Se também desejas alcançar esta fé, primeiro deves obter o conhecim ento do Pai. Deus, com efeito, amou os homens. Para eles (todos os homens) criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão sobre a terra. Deu-lhes (a todos os homens) a palavra e a razão, e só a eles perm itiu contemplá-lo. Form ou-o s (todos os hom ens) à sua imagem, enviou-lhes o seu Filho unigênito, anunciou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado.” • Justino M ártir (100 - 165 d.C.): “Toda a raça hum ana estará debaixo de maldição [...] O Pai de todos desejou que o seu Cristo, no lugar de toda a família humana, levasse sobre si a maldição de todos.” • Irineu (130-202 d.C.): “Ele dotou a obra das suas próprias mãos de salvação, ao destruir o pecado. Pois ele é o santíssimo e misericordiosíssimo Senhor, e Ele ama a raça h um ana.” • Orígenes (182-254 d.C.): “Ele tira o pecado até que todos os inimigos sejam destruídos, tendo como último deles a morte - para que o mu nd o-' todo possa ser liberto do pecado.” • Clemente de Alexandria (150-215 d.C.): “Cristo gratuitamente traz... salvação a toda a raça humana.” Pais pós-nicenos • A tanásio (296-373 d.C.): “Cristo o Filho de Deus, tendo assumido um corpo como o nosso, pois fomos todos expostos à morte [que abrange mais do que os eleitos], se entregou à morte por todos nós como um sacrifício para Seu Pai.” • Gregário de Nazianzeno (330-390 d.C.): “O sacrifício de Cristo é uma expiação imperecível do mundo todo .” • Basílio (330-379 d.C.): “Mas algo foi achado que foi equivalente a todos os homens... o santo e precioso sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, que Ele derramou po r todos nós.” • Am brósio (337-397 d.C.): “Cristo sofreu por todos, ressuscitou por todos. Mas se alguém não crê em Cristo, ele se priva deste benefício geral.” Ele também disse, “Cristo veio para a salvação de todos, e garantiu a redenção de todos, porquanto Ele trouxe um remédio pelo qual todos podem se salvar, embora haja muitos que... estão indispostos para ser curados.” Até onde temos podido constatar, todos os pais da igreja dos quatro primeiros séculos defenderam uma expiação ilimitada.
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Recapitulemos os nomes dos estudiosos, teólogos e eruditos citados até então que compreendem as Escrituras arroladas acima como inclusivistas. • Earl Radmacher • Leon Morris • A. T. R oberts on • John Albert Bengel • J.N.D. Kelly • Agostinho • Ron Rhodes • Charles Spurgeon • Clemente de Roma • Justino Mártir • Irin eu de Lion • O rígenes • Clemente de Alexandria • Atanásio • Gregário de Nazianzeno • B asílio • A mbrósio • Colin Brown Rhodes ainda cita: M artinho L u te ro : Cristo não é um cruel exator. mas é aquele que perdoa os pecados do mundo todo... Ele se entregou a Si mesmo por nossos pecados, e com uma oblação retirou os pecados do mundo todo... Cristo retirou os pecados, não de certos homens apenas, mas ta mbém os seus, sim, do mundo todo... Não somente meus pecados e os seus, mas também os pecados do mando todo... Aproprie m -s e de Cristo. Philip M elanchton: E necessário saber que o Evangelho é uma promessa universal, isto é, essa reconciliação é oferecida e prometida a toda a humanidade. E necessário sustentar que esta promessa é universal, em oposição a quaisquer imaginações sobre a predestinação, a fim de que não raciocinamos que esta promessa dizem respeito a poucos outros e nós mesmos. M as declaramos que a prom essa do Evangelho é universal. E a isto são trazidas essas expressões universais que são usadas constantemente nas Escrituras.
Zwinglio R odrigues
P h ilip S c h a f f i 1 819-1893): Sua graça sa lvadora flui e superabim da a todos e. p o r todos, so b a simples condição de fé... Se, pela graça de Deus, eu pu der converter um único cético a um a f é inocente nele, que viveu e morreu po r mim e po r todos, eu sentiria que eu não vivi em vão. B. F. W estc ott (1825-1901): Potencialmente, a obra de Cristo estende para o mundo todo. E o amor de Deus é sem limite de Sua parte, mas para apropriar a benção do amor, o hom em d eve cum prir a condição necessária da fé.
Uma lista de respeito. Mas, deve prevalecer, em última análise, a melhor hermenêutica em uso. Partindo desta, o intérprete compreenderá que a regra básica, “tomar a palavra em seu sentido usual e comum”, livra-o rapidamente de incorrer em eisegeses. É disso que trata Spurgeon. Nas Escrituras inclusivistas, “mundo”, quer dizer a totalidade dos humanos, “todos” diz respeito a todas as pessoas. Repetimos: tomar a pala vra em seu sen tido usu al e comum possib ilita de pro nto a compreensão da presença daqu eles vocá bulos em Escrituras com o Ia Tim óteo 2:6 e Ia João 2:2. Ainda no tocante a interpretação bíblica, propomos um olhar sobre o vocábulo grego holos nas passagens de Ia João 5:19 e 2:2. Holo s, segundo James Strong, significa “’todo’ ou "tudo’, i.e., ‘completo’: emextensão ou quantidade [...] como advérbio: tudo, inteiramente.”ccliv Gingrich e Danker estão de acordo e Rieneck er e Rog ers idem. Passem os à leitura das referências bíblicas. Sabem os que somos de D eus e que o mundo todo ja z no maligno. ( I aJo 5:19)
“Mundo todo”, nesta referência, em termos de quantidade, indica a totalidade das pessoas. Nenhum intérprete calvinista ousa impor (ou ousa?) ao texto uma espécie de categoria de pessoas, mas toma a referência como um todo inclusivo, pois o autor está a tratar disso, pois o estudioso calvinista sabe que o mundo, a humanidade inteira, rebelde, está nas garras do maligno. No entanto, ao ler Ia João 2:2, a coisa muda de figura. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelo s nossos próprio s, mas ain da p elo s do mundo todo.
“Mundo todo” aqui para intérpretes calvinistas significa “mundo dos eleitos”. Dessa forma, em um mesmo texto, sob a pena do mesmo autor, em um contexto imediatíssimo, esses intérpretes dão sentidos diferentes à mesma palavra (todo) e expressão ( mundo todo). Estive34 em uma mesa de debate com o doutor em ’4 Peço licença para o uso da primeira pessoa do singular nesse instante.
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hermenêutica e interpretação bíblica, Augustus Nicodemus, e ele chamou a atenção para a necessid ade de se entender uma palavra revestida de alg uma obscuridade exatamente no contexto mais imediato possível. Ou seja, antes de ir a outros textos e autores é preciso averiguar se a palavra ou expressão ocorre no mesmo texto e autor estudado. Perfeito! Logo, encerra-se ser necessário usar do mesmo procedimento no tocante à palavra “todo” e a expressão “mundo todo” nas referências joaninas em foco. Portanto, o “mundo todo” em 5:19 que está em pecado é o “mundo todo” de 2:2 passív el de receber os benefício s da expiação . A boa hermenêutica deve ch egar a essa conclusão, pois estamos tratando de regras básicas. A análise gramatical, p e r se, resolve a questão. Dizendo isso demonstramos o alto valor que damos ao sentido gramatical. Nisso também seguimos Armínio. Sobre o significado e interpretação das Sagradas E scrituras ele disse: Somente pelo sentido gramatical é possível buscar argumentos eficazes para provar a doutr in a.cch
Em seguida Arm ínio comenta: A interpreta ção das pala vras deve alc ançar o sig nific ado que es tá de acordo com o sentido primário das palavras, bem como alcançar a intenção autoral na passagem. Além disso, deve-se estudar diligentemente o contexto. Deve-se considerar a ocasião, seu propósito, a conexão com o que precede e se segue. Também deve observar as circ unstâ ncias das pe ss oa s e dos tem pos.ccly:
Como dissemos, a gramática dá conta de resolver o (suposto) impasse quanto à intenção d o autor em 1 a João 2:2 ao dizer “todo mu ndo” . Não sendo su ficiente para alguns, o pró xim o passo herm enêutico é a análise contextual, e esta prova não poder comportar outro significado que não seja entender “todo mundo” como a totalidade das pessoas. Ademais, João fala sobre “pelos nossos pecados”, referindo-se aos crentes, e “pelo s do mundo in teiro” re fe rindo-se aos descrentes. Duas categorias bem distintas. Outro malabarismo interpretativo proposto por calvinistas chega ao ponto de concluir que quando João diz “pelos nossos” ele está se referindo aos judeus convertidos e quando diz “pelos do mundo inteiro” trata-se de uma indicação dos gentios conv ertidos. Disso supõe-se serem os interlocutores de João todos jude us. Ora, a primeira Epístola de João é um texto tardio escrito em cerca de 90 d.C. e as comunidades já há muito eram compostas de crentes judeus e gentios. Tomando por certo que as epístolas joaninas foram endereçadas às comunidades cristãs da Ásia Menor, reforça-se ainda mais o caráter misto das igrejas. Portanto, o apelo calvinista ao contexto histórico também desconstrói a interpretação dada à palavra “todo” e à expressão “mun do todo” chegando ao sentido de “mundo dos eleitos” .
Zwinglio Rodrigues
Os arminianos clássicos seguem a boa hermenêutica e contentam-se tranquilamente com a intenção autoral. A gramática, o contexto imediato e o contexto histórico observados seguidamente nos informa que “mundo todo” em 5:19 e 2:2 trata da totalidade das pessoas sem ocupar-se com eleitos e não eleitos. Em extensão, a expiação é em favor de todos. Seguindo a interpretação agostiniana posterior sobre o assunto, os calvinistas alinham-se, de algum modo, a um exclusivismo herético do primeiro século. U m a doutrina herética judaica, ou gnóstica35, ou uma espécie de judaísmo gnosticizado, sugeria que a salvação pertencia a uma classe de pessoas. Para Colin Brown a mensagem paulina inclusivista apresentada nas Pastorais tem como foco opor-se ao exclusivism o de jud eu s e gjiósticos. Ele escreveu: Contrastam-se (as Epístolas Pastorais) com a atitude exclusiva da sinagoga e dos gnósticos, que prometiam a salvação somente para os ju stos ou p ara aqueles que possuem o conhecim entocchu
Leiamos, mais uma vez, as seguintes passagens e depois vejamos algumas conclusões: “O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (Ia Tm 2:4). “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2:11). Essas Escrituras quando analisadas em seu contexto imediato e histórico leva-nos às seguintes certezas: • Todos os homens são alvo da redenção. • Deus está interessado nos homens. • A salvação é oferecida a todos e não há um a classe especial de pessoas. • Es sa salvação é o mais elevado nível de glória. A mensagem universal, sincera, de intenções salvíficas ao alcance de todos, era a m ensage m de Arm ínio e dos remo nstrantes. Portanto, eles faziam ju s ao testemunho bíb lico e ao mesmo tempo colo cavam-se distantes da here sia com batida nas Pastorais e alinhavam-se aos patrísticos dos quatro primeiros séculos. O consenso histórico está do lado das conclusões dos remonstrantes. Repetimos Walter A. Elwell: Os que defendem a redenção gera l começam indicando que ela é o ponto de vista histórico da igreja , sendo sustentado pela vasta maioria dos teólogos, reformad ores, evangelistas e pais, desde o inicio da igreja até
35 Gnosticismo, “escola teológica que floresceu nos primórdios do Cristianismo. Contrariando as pregações dos apóstolos, seus adeptos diziam-se os únicos a possuírem um conhecimento perfeito de Deus” (ANDRADE, 1998, p. 167). Gnosticismo vem do grego gignoskein, que significa “saber”.
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O dia presente, incluindo praticamente todos os escritores antes da Reforma, com a po ssível ex ceção de A gostinho [...] Conclusão
Estamos convencidos a respeito da condicionalidade da eleição e do sacrifício universal de Cristo. As razões para essa crença estão para além de qualquer argumento logico, filosofico, mas brotam da clareza e da substancialidade das Escrituras citadas
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Capítulo 7 Artigos SRemonátranteá ©epratoação ÍEotal, (fèraça Stóísittbcl e preties jfuníramentaçficá ptblúasí O homem está num estado de pecado, incapaz de si mesmo fa ze r qualquer coisa verdadeiramente boa, mas necessita ser nascido de novo. Artigo 3U O homem não pode sem a graça de Deus realizar qualquer boa obra ou ação, mas esta graça pode ser resistida. Artigo 4 " Intr odução
Nesse capítulo apresentaremos os artigos terc eiro e quarto do Remonstrance. Discutiremos as doutrinas da depravação total e graça resistível. Este último é razão de grande controvérsia teológica entre arminianso clássicos e calvinistas. 1.
Terceiro Artigo: O homem é tão depravado que a gra ça divina é necessária ta nto p a ra a f é com o p a r a as boas ob ras .
Diferente do pensamento comum entre os calvinistas, Armínio e os primeiros remonstrantes não negaram a depravação total. A humanidade está sob a égide do pecado. Todos nascem “filh os da ira” . A antropolo gia de Arm ín io e seu im ed iato seguidor, Episcópio, é pessimista, fato devidamente demonstrado em capítulos anteriores. Apenas pela graça preveniente36 o homem é capacitado a crer na mensagem do Evangelho e a fazer qualquer coisa boa. Os remonstrantes disseram “que o ser humano [...] no estado de apostasia e pecado, não pode por si mesmo pensar, desejar ou fazer qualquer coisa que seja verdadeiramente boa”cdvm. Armínio escreveu: [...] Mas em seu estado caído epecaminoso, o homem não é capaz , de e p o r si mesmo, pensar, desejar, ou fa ze r aquilo que é realm ente bom ; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo
'6Este conceito será trabalhado no capítulo 9.
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através do Espírito Santo, par a que ele po ssa s er capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele è capaz de pensar, desejar e fa ze r aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina.
Armínio trata da Queda juntamente com suas conseqüências em um tom de seriedade. Sua confissão nega qualquer antropologia elevada. Para ele o homem está caído, desamparado espiritualmente e em estado de escravidão da vontade. Não há nenhuma habilidade humana natural dando ao homem condições de iniciar sua salvação. Em outro momento Armínio afirmou: “(O homem) não vai fazer nenhum bem (ênfase nossa), nem resistir a qualquer tentação do mal, sem a graça.” Simão Episcópio escreveu: O homem [...] vivendo no estado de pecado ele não pode pensar, muito menos desejar ou fazer q ualque r coisa boa que seja, de fato, parcim onio sam ente bom de ou a aprtir d e si [...] 'ax
No rol dos remonstrantes, devemos observ ar, mais uma vez, uma exceção quanto a Phillip Limborch, que abandonou, conforme expusemos no capítulo quatro, a teologia de Armínio defendendo uma "‘miséria universal” em detrimento de uma “depravação total”.?Para Limborch, os homens nascem sem herdar uma natureza corrupta e corrompem-se posteriormente devido à influência do meio familiar. Exatamente como ensinava Pelágio. Segundo Olson, Limborch não merece ser chamado de arminiano. Armínio e os remonstrantes criam que os homens nascem espiritual e moralmente em estado de total depravação e, por isso, são incapazes de realizar qualquer bem diante de Deus sem o amparo de Sua graça preveniente. Tal incapacidade é física, intelectual e volitiva. Todo aspecto da natureza e personalidade humanas são afetados. Não há nenhum bem espiritual que o ser humano possa fazer á parte da graça divina. Apenas pela graça os efeitos do pecado original podem ser superados e o ser humano, finalmente, poderá cumprir os mandamentos espirituais de Deus. A depravação total é extensiva, alcançando, inclusive, o livre-arbítrio. A vontade humana tomou -se escrava do pecado. A crença na depravação total conforme entendida por Armínio e os remonstrantes foi defendida por teólogos arminianos posteriores como Orton H, Wiley (1877-1961). Em seu comentário da Carta aos Hebreus, escreveu: A vontade do homem to rnou-s e p er\rersa, o intelecto dele obscureceu-se, e as afeições fica ra m alienadas; e, em virtude do medo da morte, toda a sua vida fico u sujeita à servidão. cclxi
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Todo arminiano clássico defende a doutrina da depravação total. Cremos que os humanos são totalmente incapazes de fazer qualquer bem espiritual à parte da graça divina, pois como Agostinho via a si mesmo, conforme Deus o mostrava a ele mesmo, nós vemos a humanidade caída. Nas Confissões, Capítulo VIL p. 74 Agostinho descreve-se: “Tu me colocavas diante de meu próprio rosto para que visse como estava indigno, disform e, sórdid o, m anchad o e ulceroso.”cclxi‘ É importante explicar que a depravação total não é intensiva, mas extensiva. Por depravação total intensiva entende-se a destruição integral da natureza humana e de suas potencialidades essenciais. Ou seja, em estado de depravação total intensiva o pecador é tão pecador o quanto possível e se envolve em to das as form as possív eis de pecado. M illard J. Erickson nega esse quadro dizendo: Não queremos diz er , com depravação total, que pessoa não-regenerada seja totalmente insensível em questões de consciência, de certo e errado [...] a depravação total implica que mesmo o altruísmo da pessoa nãoreg ene rad a sem pre contém um elem ento de motivação imprópria. cc!x“‘
N orm an G eisle r conco rda: Apesar dessa depravação não sig nific ar que todos os seres humanos sejam potencial e extremamente maus, ela significa que eles não são tão bons quanto precisariam ser [...] a graça, e somente a graça, pode supe rar os efeitos grave s e devastadores do pecado ."dxn
Para ambos, a depravação total é extensiva, isto é, estende-se “a todas as dimensões do nosso ser.”cdxv Ela afeta a plenitude do ser do homem. Como disse Armínio: “[...] Confesso que a mente (animalis) de um homem carnal e natural é obscura e sombria, que suas afeições são corruptas e excessivas, que sua vontade é obstinada e desobediente, e que o homem está morto em pecados.” No quad ro a seguir dim ensio nam os essa extensão com as dev idas referências bíb licas.
Depravação Total Extensiva Referências Areas Rm 6:6, 12; 7:24 O corpo humano Rm 1:21; 2a Co 3:14-15 A razão humana G1 5:24; 2a Tm 3:2-4 As emoções humanas Rm 6:17 A vontade humana Quadro 5
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2.
B reve fu n dam en ta ção bíb lica desse artigo de fé .
O homem foi criado “à imagem de Deus” (Gn 1:17) e “Deus fez o homem reto” (Ec 7:29), dizem as Escrituras. Mas o homem caiu (Gn 3). Admitir a Queda conforme apresentada na B íblia faz de quem nela crê um cristão. Negá -la confirma o descrente como sendo um pagão. O pecado de Adão afetou toda a humanidade (Rm 5:12-21; Ia Co 15:21-22). D a qued a adâmica, a hum anidad e passo u para o estado de depravação total. O pecado, com sua sombra, cobriu toda a existência humana e os dramas da vida mo stram isso. Em Adão cada ser humano estava presente de forma potencial, por isso, quando ele escolheu o mal, seus descendentes herdaram o estigma do pecado. As referências seguintes são claras: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e p elo pecado a morte, assim ta mbém a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Porque, assim como pela desobediê ncia de um só homem muitos fora m constituídos pecadores, assim também pela obediênc ia de um, m uitos serão co nstituídos ju st os (Rm 5: 12, 19).
Tais Escrituras admitem a participação da humanidade no pecado original. Devemos salientar a não exclusão da ideia do pecado de cada indivíduo. Por ambas, ele ,será condenado. Russel Nonnan Champlin apresenta a seguinte figura como ilustração: >“0 pecado de Adão é a raiz; os pecado s da hum anidad e são os ramos; e os pecado s individuais são os frutos.?’"*"1 O arminiano John Wesley empregava algumas expressões fortíssimas para descrever esse estado de depravação. São elas: 1 - “morto em transgressões e pecado”; 2 - ‘'imp iedade e injustiça”; 3 - “irremediavelmente p erverso”; 4 - “só má con tinuam ente”; e 5 - “totalm ente dep ravado e corromp i do” .ctlxv" É assim que a B íblia descreve o estado da humanidade decaída sob os efeitos devastadores do pecado original: “ímpios” (Rm 5.6), “filhos da desobediência” (Cl 3.6), “filhos da ira” (Ef 2.3), “servos do pecado” (Rm 6.20), “abominável e corrupto” (Jó 15.16), “insensatos, desobe dientes, extraviado s” (Tt 3.3). Arm ínio comenta: Qualquer que tivesse sido a punição dada aos nossos primeiros pais, teria sido da mesm a for m a transmitida e mesm o assim continuada a toda a sua posteridade: De for m a que todos os homens são p or natureza filh os da ira' (E f 2.3), dete stá veis para condenação, e para a morte . cclxviii • . temporalJ assim como eterna.
Esse estado decaído e irredimivel, claro, à parte da graça preveniente, deixou a humanidade e cada indivíduo em particular mortos: “a morte passou a todos os homens” (Rm 5:12). Essa morte é tanto física (Rm 5:14) como espiritual (Rm 5:17-18,
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21). Outros estragos são os seguintes: a imago Dei no homem foi danificada. Isso não quer dizer que foi destruída. Rich ard J. Sturz (1924 -2009 ) recorda isso argum entando que “a imago De i tom ou -se (na aliança n oética) a base d a lei da ‘vida pela vida .’”“ Lvlx; a mente humana fico u corrompida e obscurecida (são os chamados efeitos noèticos"'). Vide Rm 1:28; 2 Co 4:4.; a vontade hum ana fo i infeccionada (Rm 3:11; 9:16). A universalidade do pecado adâmico e sua relação com a raça humana é uma dou trina basilar da fé cristã ortodoxa. Adão pe cou e seus descendentes O resultante do pecado adâmico é o “p ecado orig in ar7, a “co rrupção herdada”, a “polu ição origin al” , como queiram designar, e apenas isso explica satisfatoriamente o estado no qual se encontra o mundo e explica com propriedade porque o homem é responsável por seus atos. Algumas conseqüências da depravação total do homem em relação a Deus podem ser as sim esboçad as: • Por sua rebeldia, o homem afasta-se de Deus (Rm 3:12); • Po r isso recebe o salário do peca do, a saber, a morte (Rm 6:23); • O homem não po de agradar a Deus (Rm 8:8); • Ele está em estado de inimizade com Deus (Rm 8:7). N egam o conceito de depravação to tal confo rm e tratado aqui, teólogos liberais, cientistas sociais, racionalistas, entre outros. No capítulo primeiro fizemos menção ao conceito do “bom selvagem” apresentado pelo filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Ele disse que o homem nasce bom e livre, porém, sua maldade e deterioração é fruto da influência da sociedade (ou cultura). E por contaminação social que o homem se degenera, dizem. Esse argumento da teoria ambiental, sociológica, também foi usado pelo filó so fo alem ão Karl M arx (1818-1 883). Posicio nam ento semelh ante, partin do da teologia, teve Albrecht RitschI (1822-1889) afirmando ser o homem degenerado devido à transmissão comunal, ao ambiente social. Nada disso suplanta a explicação da depravação total como resposta p ara a tendência à m aldade hum ana e a própria maldade humana. Tudo isso não passa da tentativa de livrar o homem da responsabilidade por seus pró prios atos.L'cL“ O arm inianismo clássico não adm ite qualq uer isenção hu mana no tocante à culpa adâmica e aos pecados dos homens. Para o arminianismo clássico, a doutrina da depravação total é inegociável em qualquer sentido que seja. 3.
A rtigo Quarto: P ode-se resis tir à g raça divina.
Arm ínio negou a irresistibilidade da graça. Este modus operandf8 da “graça” não faz jus às Escrituras. Uma graça suficiente e universal segue a pregação do Evangelho e ela pode ser resistida, ou não, dependendo da vontade de cada um. Esta capacidade de responder à graça de Deus aceitando-a ou recusando-a não fora perdida 37 Do termo grego nous, “mente”. jS Expressão latina que significa “modo de operação”.
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com a qued a do homem . Em um de seus escritos Arm ínio declarou: “ creio, segundo as Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que lhes é oferecid a.” N ou tra ocasião, ele disse: A graça de Deus é uma certa fo rç a irresistível? Isto é, a controvérsia
não diz respeito àquelas ações ou operações que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino muitas destas ações ou operações quanto qualque r um,) mas ela diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irres istível ou não. A re speito da qual, creio, de acordo co m as es critura s, que m uitas pessoas resis te m ao Esp írito Santo e rejeitam a graça que é ofe recid a (ênfase nossa).cdxx'
Algumas passagens bíblicas eram citadas para sustentar esse ensino (Mt 23:37; Lc 7:30; At 7 :5 1; 2a Co 6:1; Hb 12:5). Tais referências prov am que ninguémélxTagi a aceitar a graça dívina, ação operante do E spírito Santo jun to ao hom em. Disso, incorre-se em erro inferir ou afirmar que Armínio negava a salvação apenas pela graça como fazem alguns de seus críticos. Os remonstrantes mantiveram-sc comprometidos com o legado deixado por Arm ínio no tocante a esse ponto. O Rem onstr ance diz que “o pecad or n ecessita da graça de De us, sem a qual nada lhe é possível; todavia, ela não é irresistível.” cdxx" Olson transcreve as seguintes palavras de Episcópio: “o homem, portanto, não possui fé salvífíca de ou a partir de si m esmo [...j’*01’01''1. O espírito arminiano da negação de uma “graça irresistível” é apresentado por C. S. Lewis (1898-1963): O “Irre sistíve l” e o “Inq ue stion áve l” são as duas armas que a pró pria natureza dos plan os de Deus o proíbem de usar. Seria inútil pa ra Ele [. ..] simp lesme nte pas sar p o r cima da vontade humana. Ele é incap az de violentar, tudo o que Ele po de fa ze r é per sua dir.cdxxn
Deus não arrasta, Ele persuade, chama, atrai. A Epístola de D iogneto (início do segundo século) já demonstrava que a crença corrente era de uma ação divina pers uasiv a e não vio lenta. Leiamos um trecho da Epístola: Deus o enviou, e o enviou como ho mem para os hom ens; envio u-o para nos salvar, p a ra persuadir , e não p a ra violen tar, pois em Deus não há violência. Enviou-o p a ra chamar, e não pa ra castigar; enviou-o, finalm ente , para amar, e não para ju lgar.
( Deus atua pela graça preveniente chamando, convencendo, iluminando e capacitando. Posteriormente a isso, com o arbítrio libertado, o homem pode resistir à graça divina. Apenas assim é possível conceber uma obra salvífíca sem violência^] Aliás,
Introdução ao Aiminianismo
a obra do Espírito nunca está vinculada a atos violentos, por isso, se diz: “Não por força nem p or violência, mas pelo m eu Espírito, diz o Sen hor dos Exércitos” (Zc 4:6). A defesa da resistibilidade da graça leva à conclusão que optando por aceitá-la isso se torna o fator decisivo na salvação? Ora, uma mera aceitação livre de um presente faz com que ele deix e de ser um pre sente? V ejamos um sím ile39 pro posto por Arm ínio, citado po r Olson: Um homem rico entrega esmolas a um mendigo fam into e miserável, com as quais ele pod erá ma nter-se a si mesm o e a sua fam ília. Será que isto deixa de ser um presente puro pelo simples fato do mendigo estender a sua mão para recebê-las? Será que poderíamos dizer com propriedade que “as esmolas dependem, em parte, da liberalidade do Doador e, em parte , da liberdade do recebe dor, ’’ apesar de não ser possível ao segundo a po sse dela não fos se pelo estender da sua m ão? [...] Se estas afirmações não pude rem ser verdadeiramente feita s acerca de um mendigo que recebe esmolas, de que for m a poderiam ser feita s acerca do dom da fé, cujo recebimento exige atos muito maiores da Graça D ivin a!ccLxv '
O encontro cooperante da graça com o livre-arbítrio não implica em méritos do homem regenerado. Não se trata de obra meritória. Em outro momento, Armínio exalta uma graça transmissora do bem e do amor às criaturas sem mérito algum da parte destas. Qualquer reação de boa vontade para com Deus é e sempre será obra da graça divina. Tudo é pela graça. O arminiano John Wesley descartou o mérito humano em sua salvação com bastante clareza:
• A salvação é gratuita; • Não depe nde de q ualquer força ou mé rito no homem, nem em nível algum, nem no todo, nem em parte; • Ela não depende, em nenhum sentido, das boas obras ou jus tiça do receptor, nem de quaisquer coisas que ele (a) tenha feito ou quaisquer coisas que ele (a) seja; • Ela não depende de esforços; • Ela não depe nde de boa índole, desejos bons, propósitos bons e intenções boas, pois todos estes fluem da graça livre de Deus.00'™'1
O arminianismo clássico confessa uma teologia da sola gratía (somente a graça) em qualquer circunstância. Nos trabalhos de Armínio vemos a graça divina
y> Figura de linguagem que se aproxima de uma meláfora. Ela torna vivida a representação de uma verdade.
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tratada em altíssima conta. Seus sentimentos a respeito da graça são, entre outros, os seguintes: • A graça é uma Pess oa; • A salv ação é pela graça e não pelas obras; • A graça resta ura o livre-arbítrio; • Em todo proce sso de redenção do homem, ele nada po de fa ze r sem a graça de Deus; • Atribu o à gra ça o começo, a co ntinuação e a consum ação de todo bem; • A graça começa a salvação, aperfe iç oa e a consu ma; • A graça é absolu ta mente necessária p ara ilumin ar a mente; • A graça infunde bons pensamentos. Essas declarações estão em A Decla ration o f The Sentiments (D eclarações e Sentimentos), IV, apresentado às Províncias Unidas, em Haia, em 13 de outubro de 1608, e A Letter Adressed to H ip poly tu s A. Collibus (C arta Escrita a Hip poly tu s A. Collibus), Article V, carta escrita ao amigo Hipo llytus em 5 de abril de 1608. O reformador Philip Melanchton afirmava a graça resistível. Isso, juntamente com o fato dos pais gregos dos quatro primeiros séculos também crerem na resistibilidade da graça, reforça a defesa de que o arminianismo é um a opção evangélica ortodoxa promotora dos símbolos da fé cristã, como conclui Olson. 4.
B reve fu n dam en taçã o bíb lica desse artigo de f é rem onstrante.
Os defensores da graça irresistível argumentam que os desígnios divinos não podem ser obliterados pelas decisões human as. Caso tivesse Deus planeado um esquema sotenológico para salvar todos os homens, tal esquema deveria ser cumprido inapelavelmente, dizem. Essa conclusão não leva em conta uma série de senões bíblicos. Vejamos. Atos 7:51 é uma Escritura que comprova a resistibilidade ao Espírito: “homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis (no grego, antipiptõ) ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis.” Ora, como pud eram os interlocutores de Estevão resistir ao Espírito Santo? Com o eles foram capazes de, como diz W. E. Vine {et ai), “esforçar-se contra”cclxxv" o Espírito? Ou então, como diz James Strong (1822-1894), “opor-se a [0]”ccb“vi" Espírito? Esta não foi a primeira vez que isso aconteceu, pois Estevão lembra à sua audiência o mesmo comportamento de seus antepassados frente aos profetas enviados pelo Espírito Santo. As gerações anteriores abertamente se rebelaram. Mataram os profetas por se negarem a enxergar neles valor espiritual (v. 52). Assumiram uma postura de “incircuncisos de coração e de ouvidos.” Estevão lembra Escrituras como Deuteronômio 10:16 e Jeremias 4:4. A atitude dos antepassados foi de desobediência deliberada ao Senhor. Eles impediam a aproximação do Espírito junto a seus corações. Trocaram a substância das
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coisas divinas pela adoração às formas externas. Foi assim com eles como costuma ser conosco. E. H. Trenchard comenta ter sido o comportamento dos contemporâneos de Estevão mais grave que o dos antepassados: Eles haviam resistido ao empenho do Espírito Santo de for m a até mais persistente que os seus pais , pois os seus predecessores haviam martirizados os profetas, e eles haviam traido e assassinado o Justo (cf. 3;14; 22:14), tem a de pr om es sa s pro fética s.crlxxix
O maior grau de resistência por parte da audiência de Estevão é identificado com a negação do Cristo. Em suma, ajmrêxiÊse de Estevão, segundo Richard J. Dillon, lembra: • Todo Israel, ou seja, as gerações presentes e do passado, é acusado de resistência obstinada à pala vra de D eus; • Deus enviou pro fetas repetidamente pa ra corrigir seu m odo de agir; • Eles rejeitaram e pers egu iram (e mataram) os profetas; • D eus im pôs um te rrív el juízo sobre eles em fo rm a do fi m dos rein os de Israel (2Rs 17; 18) e d eJu d á (Ne 9:27).^ hXK No ano 70 d.C., Jeru salém foi assolada pelo General Tito. O escritor aos Hebreus também trata sobre as gerações passadas dos filhos de Israel desafiando a autoridade divina de modo aberto e franco. Tendo-as como exemplos negativos, ele exorta seus leitores: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (3:7-8). Em Isaías 63:10 o profeta anota: Mas eles fo ram rebeldes, e contris ta ram o seu Esp ír ito Santo pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele me smo pelejou contra eles.
O verbo “contristar” em hebraico é asabh , e, de acordo com Strong, em um mau sentido, significa “contrariar”. Contrariaram o Espírito por serem rebeldes, por desobe decerem a voz do Espírito Santo que insta jun to aos homens diutumamente. Desobedecer é conseqüência da resistência. Gênesis 6:3 diz: “Então disse o Senhor: o m eu E spírito não agirá para sem pre no hom em, pois este é carnal [...].” Outra Escritura contundente é Lucas 7:30. Mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitara m, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados.
Os intérpretes da lei “rejeitaram”, anularam (atheteo) “o desígnio divino”, a determinação, a decisão, o decreto, a vontade ( boule ) de Deus. Rienecker escreveu: “Os 121
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líderes frustraram ou aniquilaram o desígnio redentor de Deus para si mesmos e para os outros.”cdvxxi A resistência deles foi tão obstinada que afetou a outras pessoas. Jesus os acusou: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando” (Mt 23:13). Está previsto, dentro do plano soteriológico, a resistência humana à graça divina, pois as pessoas foram dotadas por Deus de vontade e Ele não salva à revelia da volição humana. Isso parte de uma decisão soberana de Deus. O homem desafia a vontade divina. São muitas as referências bíblicas mostrando a vontade de Deus sendo desafiada (Mt 7:21, 12:50; Jo 5:40, 7:7; Ia Ts 4:3; Ia Jo 2:17). do encontro entre a graça preveniente (esta não dobra a vontade humana) e o assentimento humano (arbítrio libertado) que os benefícios da expiação de Cristo podem ser aplicados na vida de uma pessoa. ]Caso um a pessoa re jeite as convicções do Espírito Santo, Deus não so fre pre ju íz os, mas a pessoa/R esistir à operação da graça exalta, a Deus, pois, Ele mesmo, em sua soberania, decidiu ser possível ao homem resisti-lo. jNitidamente, as Escrituras exibem Deus manifestando desejos condicionais e incondicionais. As referências a seguir mostram Deus desejando, mas não sendo correspondido: O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, n ão querendo que nin guém se perca, senão que to dos venham a ar repender- se. 2aPedro 3:9 Je rusalé m, Jerusa lém, que mata s os profe ta s , apedrejas os que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pin tos debaixo das asas, e não o quiseste! M ate m 23:3 7
O direito do uso do livre-arbítrio permanece. Esta é a razão óbvia de nem todos serem salvos. O fato é que resistir ao Espírito não nega a onipotência de Deus. Há coisas que Deus não pode fazer, como, por exemplo, colidir com Sua própria natureza. Hebreus 6:8 diz: “para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta [...]”. Este corpus argumentativo apresentado até então não implica em afirmar que o cerne do arminianismo é o livre-arbítrio como caluniam os críticos. O arminianismo inicia com a bondade de Deus e termina ao afirmar o livre-arbítrío.cd™ Este é o percurso. Então, o livre-a rb ítrio nâo é a pedra angular do constru to teoló gico arminiano clássico em oposição ao determinismo calvinista. No capítulo dez voltaremos ao tema livre-arbítrio. a)
João 6:44
Passemos nesse instante a uma discussão de João 6:44 tão usado pelos críticos para tentar negar a resistibilid ade da graça. João escreveu: “N in guém pode vir a mim , se o Pai, que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último Dia.”
Introdução ao Arminianismo
O teólogo calvinista R. C. Sproul está convencido que a palavra grega traduzida por “trouxer” deve sig nificar “com pelir” , “arrastar”. P o r é m , o vocábulo helkõ pode ser traduzid o ta m bém por “atrair” (Strong), “atrair” e “trazer” (R ienecker e Rogers). Para Sproul, o verbo “compelir” denota um ato vigoroso. Em nossa opinião “compelir” na pena de Sproul é um eufemismo para “violentar”. Uma “atração forte” pode ser admitida, porém, um a “ atração na marra” , um “arraste vio lento ”, não concebemos, pois os lexicógrafos não nos permitem chegar a esse ponto interpretativo. Sproul cita duas referências onde helkõ aparece, na tentativa de suster seu significado preferido. São elas: Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem, e não são eles que vos arrastam pa ra tribunais? Tg 2:6 Vendo os seus senhores que lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando Paulo e Silas, os arrastaram para a praça, à presença das autoridades. At 16:19
Ambas tratam de ações do homem sobre o homem. Na primeira, temos a opressão dos ricos sobre os pobres. Na segunda, encontramos Paulo e Silas sendo conduzidos aos magistrados num clima de extrema violência. E cabível esperar do homem atitudes de violência contra o homem. Nesse sentido, Sproul está correto em optar por “arrastar” como tradução e, por conseguinte, como significado. Mas, no tocante ao texto joanino, à luz de Zacarias 4:6 que diz “.Vão po r fo rç a nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”, cremos que significados agressivos não caem bem. Sproul e demais calvinistas estão convencidos que D eus coage, arrasta forçosam ente os eleitos até C risto e João 6:44 prov a isso. Talvez a palavra grega mais apropriada para denotar o que se deseja dizer com “graça irresistível” seja surõ cujo significado é “arrastar, puxar”. Helkõ, como foi dito, implica em termos mais suaves como “atrair” e "trazer". Vamos ao comentário de Vine {et. al.): Este significado menos violento, presente normalmente no termo helkõ , mas sempre ausente em surõ, é visto no uso metafórico de helkõ, para significar "p ux ar " po r po de r interior, m ediante impulso divino. (Jo 6:44, 12:32).cdmiv
Observe que helkõ em João 6:44 é usado de modo metafórico para tratar de uma ação de influxo e resposta, ou seja, o Pai influencia (atrai) a pessoa e esta, por sua vez, respon de positiva ou negativamente. O pod er interior atuante é de atração e não de arraste. Nesta situação de influxo e resposta, helkõ não pode ser tomada com o sentido de surõ. Isso, p e r se , descarta o paralelo proposto por Sproul com os textos de Tiago e Atos que lidam com situações concretas, físicas, de relacionamentos humanos cujos
Zwinglio Rodrigues
contextos claramente expõem ações violentas, de força, iguais ao ato de arrastar uma rede (Jo 21:6, 11). Em Tiago e Atos cabe a interpretação de helkõ com o sentido de surõ. Gingrich e Danker separam “puxar”, “arrastar” e “atrair” quando apontam o significado de helkõ'. “£A.kíkú ( helkuo ) e fAko) (he lkõ)p ux ar , des embainhar Jo 18.10; At 16.19; 21.30; lançar Jo 21.6, 11; arrastar Tg 2.6. A trair Jo 6.44; 12.32.”ccIxxxv Esses lexicógrafos enxergam uma ação irresistível, forçosa, em Tiago 2:6, mas não em João 6:44. Igualmente, faz James Strong: sàk v o j
(helkyÕ) ou s ã k c o (helkõ): arrastar (literal ou figurado): - puxar. Puxar, arra star (Jo 21:6, 11; 18:10). Refer ind o-se a pes so as: arrastar, trazer à fo rç a d iante de magistrado s (At 16:19; Tg 2:6) [...] De modo metafórico: atrair, induzir alguém a vir (Jo 6:44; 12:32).cchxxV!
Ora, “induzir alguém a vir” nunca é “arrastar alguém a”. Induzir significa aconselhar, incutir instigar alguém a algum ato. A “atração” aludida por João nâo é mecânica, não é exercida sem o consentimento volitivo do homem. Não é um ato violento, mas amoroso: “Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí” (Jr 31:3). “Atraí-os [...] com laços de am or” (Os 11:4). Então, podem os che gar à conclusão do desamparo lingüístico e lexicógrafo de Sproul. O “texto-prova” usado por ele o deix a em mau s lençóis, pois os especialistas acim a fazem naufragar a conexão entre João 6:44 e um “arraste violento”. Conclusão
Para fechar esse capítulo onde demonstramos a crença do arminianismo clássico na depravação total e na graça resistível tendo como fundamento a clareza bíblica sobre o assu nto , pre cisamos, a esta altura, refe rir que o arm in ianismo clássico acredita em graça irresistível, mas nâo no sentido calvinista, claro. Na soteriologia arminiana clássica, a graça é irresistível em dois momentos: ll° a gra ça preveniente não po d e ser resis tida no se ntido que nin guém pode exim ir -s e de ser alv o dela. 2 o um a vez alvejado pela graça, o homem tem seu arbítrio liberto para receber ou não (resistir ou não) a Cristo. Recebendo-o, a graça eficaz opera em sua vida levando-o, irresistivelmente, à regeneração, 't Desse modo, além de exaltarmos a Deus entendendo que Ele mesmo, em Sua soberania e arquitetura salvífica, decidiu permitir ao homem resisti-lo, exaltamo-lo também reconhecendo instâncias de irresistibilidade da graça divina conforme pondera mos im ediatam ente acima. Arm ínio enfa tizava o papel da graça na ord em da salvação exaltando-a citando Efésios 2:7: “para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça (ênfase nossa) pela sua benignidade para conosco em C risto Jesus.” Amém.
| Introdução ao Arm inianismo
Capítulo 8 glrtígosí í&emonótratttesí ^eráeberança íiosíá^antoé Crentes têm poder para perseverar, mas se eles podem apostatar-se, isso deve ser mais particularmente determinado pelas Sagradas Escrituras. Artigo 5" Introdução
Chegamos ao quinto e último artigo remonstrante: a perseverança dos santos. É possív el decair da graça? Se sim, esse lapso pode se constitu ir em um estad o definitivo? Agostinho, o primeiro a ponderar sobre uma perseverança incondicional (uma vez salvo, salvo para sempre), caia em contradição quando admitia a possibilidade de certas pessoas chamadas, batizadas, portadoras da vid a e da fé au têntica, se perderem por não receberam a “graça da pe rseveran ça” .cdvxxv“ Como veremos, Armínio e os remonstrantes criam em uma perseverança condicional (condicionada pela manutenção da fé), ou seja, sem o cuidado devido, um autêntico crente pode ir morrendo lentamente até chegar ao estado definitivo de morte espiritual. Isso não implica em uma salvação auto-sotérica40. Pretendemos deixar isso claro. 7. A rti go quin to : S e to dos os verdadeir os regenerados perseveram co m ce rteza na f é é um a questã o qu e exig e m aio r investig açã o.
Armínio declarou: “é certo que o regenerado por vezes perde a graça do Espírito S anto.”cdxxxvm Ele ainda arg um en ta sob re a qu eda do crente: “ sem pre teve mais adeptos na igreja de Cristo do que aqueles que negam. ”cdxxx,x Outra declaração é apresentada por Bangs: “Se o crente não cuidar de si mesmo, volta-se para o pecado e morre lentamente; morrendo completamente, deixa de ser um membro (de Cristo).”ccxc Armínio respondeu a William Perkins quanto à sua doutrina da segurança etema. Valendo-nos mais uma vez do trabalho de Rodríguez, compomos o seguinte quadro resumindo alguns argumentos de Perkins usados na defesa da perseverança incondicional dos santos e as respostas de Armínio. 40 Referente a uma salvação realizada pela própria pessoa.
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Perseverança dos Santos Perkins: incondicional Armínio: condicional Refletindo sobre Mateus 16:18, Perkins Armínio responde dizendo que não é pelo conclui que as portas do inferno não poder do infern o, mas por su a pró pria pre vale cerã o contra to dos que estão von tade que a pesso a cai da fé. edificados n a rocha. Ancorou-se também em Mateus 24:24 que Em resposta, Armínio disse que ser diz os eleitos não serão enganados. enganado é diferente de apartar-se. Apartar-se totalmente da fé exige um Armínio cita Romanos 11:23, “poderoso é segundo enxerto para ser salvo. Deu s para os tom ar enxertar.” Perkins baseava-se em 1 João 3:9: Para Armínio esse era o argumento mais “Q ualquer que é nascido de Deu s não vive forte. Eie tomava a palavra “permanece” na prática do pecado; porque a sua com o sentido de “morando”. Enquanto a semente permanece nele; e não pode viver semente permanece, o crente não comete o pecando, porq ue é nascido de Deus." pecado para a morte, mas aos poucos a semente pode deixar seu coração. Quadro 6 Outros argumentos de Perkins seguidos das respostas de Armínio são apresentados por Rodríguez. Os citados acima bastam para nos dar uma ideia de como Armínio concebia o assunto. Armínio emitiu o parecer de que Perkins não refutou a doutrina da possibilidade da queda de um crente da verdadeira fé. O Artigo 5° do Rem onstr ance é o maio r de todos e o transcrevem os na íntegra. Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e q ue assim fora m feitos pa rticipantes de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotados de poder pa ra lu tar contr a Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e de ga nha r a vitória; semp re — b em entendido —com o auxílio da graça do Espírito Santo, com a assistência de Jesus Cristo em to das as su as tentações, através de seu Espírito; o qual estende para eles suas mãos e (tão somente sob a condição de que eles estejam preparados para a luta, que peç am seu auxílio e não deixar de ajudar-se a si mesmos) os impele e sustenta, de modo que, por nenhum engano ou violência de Satã, sejam transviados ou tirados das mãos de Cristo. Mas quanto à questão se eles não são c apazes de, p o r preguiça e negligência, esquecer o in ício de sua vid a em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes fo i entregue, de perder a sua boa consciência e de negligenciar a graça isto deve ser assunto de uma pesquisa mais acurada nas
j In tr odução ao Arm in ia nis m o
Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo com inteira segurança.ccxc'
O artigo não nega nem afirma, porém, deixa o assunto em stand by até maiores pesquisas. Embora os signatários do Remonstrance tenham tido essa cautela, eles, segundo Richard Watson, em outro documento tratando dos “cinco pontos” disputados com os calvinistas e que foi entregue ao Sínodo de Dort, negam a perseverança incondicional dos crentes dizendo: Entretanto, embora os verdadeiros crentes às vezes caiam em graves pecados e, como tal, destroem a consciência, não cremos que eles imediatamente se afastam de toda a esperança de arrependimento; mas reconhecemos que. este não é um evento impossível de ocorrer; que Deus, de acordo com a multidão das suas m isericórdias po de voltar a chamálos por sua graça ao arrependimento; e mais, somos da opinião que tal cham ado o corre frequentemente, embora tais crentes caídos não podem ser “mais ple nam ente convencidos ” sobre aquilo que c ertamen te e indubitavelmente , r CC XC Ü acontecera.
Bastante objetivos os remonstrantes. Sendo assim, a rejeição da graça inamissível (graça da qual ninguém pode cair) cede lugar a uma perseverança continge nte na fé e santidade am parada pela graça. Arm ínio disse isso a Perkins. Em resposta ao Artigo 5, o Sínodo de Dort, no Capítulo V. Artigo 6, p. 3 , declarou: Pois Deus, que é rico em misericórdia, de acordo com o imutável propósito da eleição, não retira com ple ta mente o seu Espír ito dos seus, mesmo em sua deplorável queda. Nem tampouco permite que venham a cair tanto que rec aiam da graça d a adoção e do estado de justificados. Nem perm ite que com eta m o pecado que leva à morte, isto é, o pecado contra o Espírito Santo e assim sejam totalmente abandonados por ele, lançando -se na per diçã o eterna.
E isso que ensinam as Escrituras? E qu anto às exortações a perm anec er na fé? E as advertências contra a apostasia? E os casos de apostasia? Passemos às análises. 2.
B reve fu n dam en ta ção bíb lica desse artig o de f é rem onstra nte.
Como vimos, o Remonstrance optou por suspender qualquer juízo sobre a pers evera nça dos santo s até que maiores estu dos fossem realizados. Porém, seguin do Armínio, Episcópio e Limborch, cremos na possibilidade de um autêntico cristão decair
Zwinglio Rodrigues
da fé e perder-se, finalmente. Há uma lista considerável de advertências bíblicas (Mt 24.12,13; Lc 9.62; Lc 17.32; Jo 15.6; cf. Rm 11.17-21; 1 Co 9.27; Cl 1:21-23; G1 5.4; 1 Tm 1.19; f T n f i l ; 2 Tm 2.12; Hb 3:6, 12, 14; 2 Pe 3:17 entre outras ) e exortações à perm anência na fé: “V enho sem dem ora. Conserv a o que tens, para que nin guém tome a tua coroa” (Ap 3:11); “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2:10); “Porque nos temos tomado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firmes, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos” (Hb 3:14); "Sede vigilantes, perm anecei firm es na fé ” (IC o 16:13); “”Quem perm anece em mim , e eu, nele, esse dá muito fruto” (Jo 15:5); “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois realmente meus discípulos” (Jo 8:31); “Aquele que perseverar até o fim, será salvo” (Mt 10:22). Esse conjunto de advertências só fazem sentido caso seja possível tanto o desvio da fé (o caso do filho pródigo) com o a apo stasia final. Que é apostasia? A definição dada por Ferguson e Wright é muito clara: “E o ab ando no geral d a relig ião ou negação da fé po r aqueles que antes a su stentavam .” CCXC1“ A palavra vem do vocábulo grego aphistêmi (“retirar-se”, “ausentar-se de”, “apo stata r”)ccxclv e po de ser encon trada em 1 Tim óteo 4:1: “O ra, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios.” Outras passagens são Lucas 8:13 e Hebreus 3:12. A apostasia é possível de forma real? Já sinalizamos que sim. Analisemos um a passagem b íblica emblemática. 3.
A n áli se de H ebreus 6:4 -6
Essa passagem é muito discutida. Leiamos. E impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom ce lestial, e se to rn aram particip ante s do Espír ito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.
Para alguns defensores da perseverança incondicional, as advertências contidas no texto em apreço e a clara ideia da possibilidade da apostasia não passam de uma articulação autoral hipotética com o objetivo de assustar crentes verdadeiros. Temos aqui a chamada interpretação “calvinista hipotética” defendida por Millard Erickson. Outro modo de interpretação calvinista é a “calvinista franca” para a qual os apóstatas nunca foram cristãos genuínos. Aderiu a essa vertente, por exemplo, o teólogo calvinista Anthony H oekema. N outro espectro, encontramos armin ianos com pre endendo as ad moestações como alertas a respeito da possibilidade de uma apostasia real. Entre eles destacam-se os argumentos “arminiano normal” e “arminiano radical”. Para o primeiro, a passagem de Hebreus apoia a teoria da apostasia real de um crente verdadeiro. Daniel B. Pecota
| Introdução ao Arm inianismo
aderiu a essa perspectiva. O segundo, defendido por Myer Pearlman (1898-1942), diz que um genuíno cristão não apenas pode apostatar da fé, mas que seu retomo é impossível. Outra maneira de interpretar a referência em questão é a chamada “interpretação do paradoxo” que diz serem a segurança eterna dos crentes e a possib ilid ade real de queda deles lados diferentes de uma verd ade maior. Defende-a Russel Norman Ch amplin. A princípio, podemos afirmar que por toda a epístola o autor chama a atenção dos destinatários sobre o perigo de rejeitarem a Palavra de D eus e, devido à indiferença, abandonarem a fé negligenciando a caminhada de perfeição até a glória da ressurreição, fato que redu nd ará em juízo e tem o (2:1-3; 3:12 -14; 4:1, 6, 11; 10:25-27, 31; 12:16-17, 25, 29). Lendo e relendo o texto integral, notamos reiteradas vezes o escritor advertindo aos destinatários quanto ao zelo no empreendimento espiritual para não retomarem aos antigos caminhos. Isso nos parece claro em toda a epístola. Vejamos um sumário. • Gs crentes hebreus professaram a fé cristã. - Hb 5:12. • A profissão de f é era genuína e a paciência frente à intensa perseguiç ão fo i um sin al disso - Hb 10:33-34. • O ápice do sofiime nto era alcançado na luta contra o pecado e quando enfrentavam a derrisão —Hb 12:3-4; 13:13. • A fraq ue za se apoderou a tal pro nto que o escritor usa a m etáfora de um corpo débil eprostrad o - Hb 12:12. • Arrefeceram no desenvolvimento espiritual e estavam em vias do desvio e, quiçá, da apostasia, caso permitissem o endurecimento do coração H b 6:1-4; 3:3 O elucidativo comentário de Pearlman nos ajudará a entender mais vividamente os alertas e a real situação de perigo dos interlocutores do au tor da epístola: Aquele s aos quais fo ra m dirig id as ess as palavras eram cristãos hebreus, que, desanim ados e perse guido s (10:32-39), estavam tentados a voltar ao Judaísmo. Antes de serem novamente recebidos na sinagoga, requeria-se deles que. publicamente, fizessem as seguintes declarações (10:29): que Jesus não era o Filho de Deus; que seu sangue havia sido derramado justa m en te como de um malfeitor comum; e que seus milagres jora m operados pelo po de r do maligno. Tudo isso está implícito em Hebreus 10:29. Antes de sua conversão, havia pertencido à nação que crucificou a Cristo; voltar à sinagoga seria de novo crucificar o Filho de Deu s e expô-lo ao vitupério; seria o terrível pec ad o da apostasia (Hb 6:6); seria como o peca do imperdoável pa ra o qual não há remissão, porque a pessoa que está endurecida a ponto de cometê-lo não po de ser “renovada pa ra arrepen dime nto ”; seria digna dum castigo
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rSESK
Zwinglio R odrigues odrigues
mais terrível do que a morte (10:28); e significaria incorrer na vingança do Deus vivo (10:30, 31).ccxt'
A perseguição e o desânimo produziram uma apatia espiritual (“vos tomastes lentos para ouvir”) e nesse estado eles estavam expostos às falsas doutrinas (Hb 13:9), pre p ress tes te s a s ere er e m lev le v a d o s p o r elas el as c o m o u m a n a u d isp is p e rsa rs a p elo el o v e n to e m a r a g ita it a d o s . P o r isso a epístola deve ser lida como uma advertência a autênticos cristãos passíveis de expe rimen tarem as as agruras do do aband ono da genu ína fé. fé. Po r isso isso se se diz diz:: a v o s s a c o n fia fi a n ça ; e la tem te m g r a n d e galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo havendo feito a vontade de D eus , alcanceis a promessa. (Hb 10:35-36)
N ã o
a ba n d o n e is, is , po p o r ta n to ,
A epístola foi dirigida a autênticos crentes e negar isso força-nos a admitir termos à frente um texto cristão dialogando com não cristãos. cristãos. Isso é possível? Passemos a uma análise análise da passagem dividindo-a assi assim: m: iluminados ados.. • Oue uma vez fora m ilumin • Provaram o dom celestial. • E se tornaram tornaram participantes participantes do Espírito San Santo to,, e prova ram a boa pa p a l a v r a d e D eus. eu s. vindouro. ro. • Os pod eres do mundo vindou sim, é impossível outra vez renová-los pa ra arrepend imento. • Caíram e, sim,
À primeira vista, a ideia passada por essas descrições é que o autor trata de autênticos cristãos. Elas sinalizam para uma experiência salvífica real. Na última descrição, somos instruídos sobre um tipo de queda na fé que não permite um retomo ao estado anterior. Aqueles que chegam a esse nível de fracasso espiritual são chamados po r Donald Gu thrie thrie (1916-1992 ) de os “sujeit “sujeitos os da impo ssibilidade” ssibilidade” . A crença nesse tipo de afastamento da fé remonta ao segundo século d.C. Segundo as41 (c. 148 d.C.) talvez tenha Gerald F. Hawthome (1925-2010), O Pa stor de He rm as41 sido o primeiro a apresentar essa interpretação. No Quarto Mandamento, capítulo 29, ele escrev esc reve: e: “Par “P araa os serv os de D eu s ex iste ist e ape a pena nass um a con c on ve rsã o.” o. ” CC!'CV1 Ass um imos essa interpretação. interpretação. N a tentativa de justifica r esta adesão, na na seqüência, apresentamos a interpretação dos versículos onde estão as palavras-chave, articulada por alguns intérpretes que concluem, a partir da totalidade do argumento, a po p o s s ib ilid il id a d e real re al d a a p o s tas ta s ia d e u m cre cr e n te co n v e rtid rt idoo .
41 Livro muito lido entre os séculos II e IV da era cristã. Faz parte do Códice Sinaítico, do século IV, como um dos livros livros do Novo Testamento.
! Intr In troduç odução ão ao Armini Arminiani anismo s mo
3.1. 3.1 .
F o r a m ilu il u m in a d o s
p h ô tis ti s th e n ta s . Leiamos cinco A palavra grega usada para “iluminados” é ph explicações sobre este vocábulo.
• Fritz Rienecker e Cleon Rogers escrevem que ela indica “a iluminação indica que Deus dá o entendimento e os olhos da luz espiritual. ”ccxcv" • James Strong diz “que o processo de salvação inicia-se com Deus ” CC' ;CVI" concedendo lu z ’ a todos os homens. homens. ”C • Fritz Lau bach afirma: afirma: “trata-se de um acontecim ento de f é caracterizado como único [...] A iluminação que acontece uma única vez deve e star se referindo referindo à funda ção da fé, ao recebimento do Espírito Espírito Sa nto nt o na co nv ersã er sã o e no r enas en ascim cim ento en to.. ”LCXUX • Donald G uthrie uthrie comenta que “aqueles que são referidos aqui, portanto, devem ter alguma rev elação inicial inicial de Jesus Crist Cristo. o. ’,ccc • Gerald F. Ha wtho me explica explica que essa "expressão pode significar iluminação iluminação interior completa completa - a capacidade dada p or Deu s par a ente nde r e resp on onde derr d e for m a pos itiva à me nsag em cristã. cristã. '*Q '*QQ1 p h ô tis ti s th e n ta s pelo escritor Que nos parece, depois da leitura acima? O uso de ph canônico indica que em algum momento os sujeitos da impossibilidade alcançaram entendimento e luz suficientes para a sua salvação. Ocorreu a fundação da fé e, como veremos, o recebimento do Espírito Santo com o qual uma comunhão mística foi inaugurada. Sem dúvidas, a experiência de salvação foi consumada: Em Hb 10:32 consta: " Le L e m b r a i-v i- v o s , po p o r é m , d os d ias ia s a nter nt er iore io ress , em que, depois de iluminados (phôtisthentas), sustentastes grande luta e sofrimentos. sofrimentos. Também a form ulaç ão "... depois de termos recebido o pl p l e n o c o n h e c im e n to d a v e r d a d e ... .. . ” (Hb (H b 10:26) remete-nos a um acontecim aco ntecim ento fun da m en ta l na vida hum ana ana.C .CCL"
Fritz Laubach está dizendo que a "iluminaçãov de Deus na mente dos indivíduos traz compreensão da glória de Deus. Simon Kistemaker fala sobre o uso de ph p h ô t is th e n ta s em 10:32 apresentando uma expressão sinônima de “conhecimento da verdade” (Hb 10:26). Então, os indivíduos da impossibilidade obtiveram uma revelação especial do Salvador. Esta “iluminação” é “a iluminação dada pela fé em Cristo”cccll‘, diz Myles M. Bourke (1917-2004). Bourke reforça sua conclusão citando 2 Coríntios 4:6: Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória d e Deus, Deus, na fa ce de Jesu s Cris Cristo to..
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Laubach segue na mesm a direção. direção. Se compararmos o que diz o apóstolo Paulo em 2Co 4:6, ao descrever o mesm o acontecimento com essas palavras, som os levados à conclusão de que a iluminação [...] [...] deve estar se referindo à fun da çã o d a fé, ao recebimento do Espírito Santo na conversão e no renascimento [...].ccc,v
Sendo assim, a luz do evangelho penetrou coneretamente na vida dos sujeitos da impossibilidade. Tentar reduzir essa iluminação a uma mera acuidade intelectual faz do texto um a zombaria. p h ô t is th e n ta s em H ebreus 6:4 Para W ayne G rudem, teólogo calvinista, calvinista, o uso de ph não implica em salvação de pessoas. Estas foram iluminadas, mas não responderam p h ô t iz o não ser um termo com uma fé autêntica. Ele argumenta sobre o fato da palavra ph técnico que carregue em si a necessidade de ser tomado como indicativo de uma regeneração. Mas há um problema para esse tipo de explicação superar. O termo grego hápax, presente no texto sob análise, traduzido pela expressão “uma vez”, denota, segundo Vine (et. al.), “ ’de uma vez p or tod as’, acerca acerca do qu e é de validade perpétua e não requer repetição (Hb 6:4, 9:28, 10:2; 1 Pe 3:18; Jd 3, 5).ccc' Observe: a “ilum inação” é um a exp eriência sem repetição. Perguntam os: o sentido restrito da experiência de “iluminação” reivindicado por Grudem não pode mais acontecer em hipótese alguma na vida de uma pessoa? Possivelmente nenhum calvinista dirá sim. Duas coisas: coisas: Ia A palavra hápax não revela que a experiência não vai se repetir condicionada às razões a o u b, mas ela simplesmente dá como certo que a experiência passada não mais ocorrerá ocorrerá em qualquer mo mento futuro. futuro. 2a Wiley escreveu: “Na presente acepção, não significa uma vez no sentido de pre p re p a ra ç ã o p a r a alg al g o a seg se g u ir, ir , m a s de uma vez po r todas .”CCCvl Grudem nega a experiência real, regenerativa, mas Laubach a confirma. Voltemos a Wiley: Wiley: D e v e o b s e r v a r -s e tam ta m b é m q u e a e x p r e s s ã o u m a v e z (ê n fas fa s e n o ss a ) nã nãoo modifica meramente o primeiro particípio, iluminados, mas aplica-se a todos os particípios seguintes .CÍCWÍ
Ou seja, seja, as experiências segu intes foram foram reais e tamb ém são irrepetíveis. irrepetíveis. 3.2. 3. 2.
P r o v a r a m o d o m c e le s tia ti a l, a b o a P a la v r a d e D e u s e o s p o d e r e s do m u n d o v in d o u r o.
No N o g reg re g o , “ p ro v a ra m ” é geuomai e esta palavra de acordo com Rienecker e Rogers “expressa o desfrutar real e consciente das bênçãos apreendidas em seu verd ve rdad adeir eiroo cará ca ráter ter.”C .”CCCV11’ D av id P ete rson rs on escreve esc reve:: “ suger su geree exp erim er im en tar algo de form fo rm a real e pess oal - e não simplesm sim plesm ente u ma deg ustação usta ção .”cc .”ccc,x Pa ra esses au tores,
Introdução ao Arminianismo
“provaram” significa uma experiência profunda. Calvino interpretava geuomai como indicando apenas um movimento feito com a ponta dos lábios.cccx Assim, ele evidencia a distinção entre “provar” e “beber”. Ou seja, os sujeitos da imposibilidade, metaforicamente falando, provaram, mas não beberam, não ingeriram, em outras palavras, não tivera m um a experiência pessoal de fé, de salv ação co nsumada. Rienecker e Rogers, e Peterson, discordam de Calvino. Strong explica o sentido: “[...] De modo metafórico, experimentar, provar, partilh ar de (H b 2:9, 6:4 -5 )”cccx' A novid ade aq ui é a refe rê ncia 2:9. Leiam os. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fo ra feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pe la gr aça de D eus, pro vas se a morte po r todos.
Vamos ao ponto: Jesus provou a morte em sentido amplo e irrestrito ou ele apenas “provou-a com a ponta da língua”? A palavra é a mesma: gueomai. Strong não entende haver variação de significado da palavra passando de uma referência à outra; passando de um a experiência à outra. In tere ssante é o que dizem Grinch e Danker: ysv opai provar, exper im entar, desfr uta r Lc 14.24, Jo 2.9; A t 20.11; Cl
2.21; comer At 10.10. Fig. chegar a conhecer, experimentar Mc 9,1; Jo 8.52; Hb 2.9; 1 Pe 2.3; obte r H b 6 .4 fccxn
Os lexicógrafos acima optam pela palavra “obter”. Compreendemos que isso contribui para não deixar dúvidas quanto a uma experiência real. verdadeira, de posse, de consumação de uma experiência de regeneração. Nos escritos rabínicos, o termo “provar” significa “participação”, “experiência em”, sem qualquer modificação da ideia.cix*"' 3.3.
Tornaram -s e partic ipan te s do E spír ito Santo.
A palavra grega para “participantes” é metochos. Também pode ser traduzida por “com panheiros” (Lc 5:7). M as, nesse contexto em análise, Vine (et. al.) confirma-a como “participantes”. Laubach entende a declaração “tomaram-se participantes do Espírito Santo”, como outra forma de descrever a nova vida recebida por meio de Cristo Jesus. Recorrendo ao contexto imediato, encontramos a mesma palavra grega com o mesmo sentido atrelada a uma real experiência de conversão. Hebreus 3:1: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial...”; em 3:14: “Porque nos temos tomado participantes de Cristo...” Guthrie comenta: Visto que em 3:1 o escritor está se dirigindo àqueles que participam de uma vocação celeste, o mesmo sentido deve se r pre tend ido aqui. A idéia de participar do Espírito Santo é notável. Isto imediatamente distingue a
Zwinglio Rodrigues
pessoa daquela que não tem mais do que um conhecim ento superficia l do cristianis m o.LLCXn
Guthrie confere à experiência dos “sujeitos da impossibidade” o status de uma experiência de salvação integral. De fato, houve uma comunhão mística entre eles e Cristo. Eles também “provaram a boa palavra de Deus” (v. 5) e “os poderes do mundo vinvdouro’’ (v. 5), sinais da genuína experiência cristã. Até aqui, quatro experiências relativas à conversão foram trabalhadas: • • • •
Foram iluminados. Provara m o dom celestial. Torna ram-se participa ntes do Espírito Santo. Provaram a boa pala vra de Deus.
A magnitude dessas experiências espirituais é eloqüente e se tais experiências não confirmam um a autênctica conversão, não sabemos mais como descrevê-la. 3.4.
Caíra m
Agora, o alerta passa da constatação do estágio de progresso espiritual autêntico e profundo dos sujeitos da impossibilidade para o ponto alto da advertência: a admissão de um estado de queda irredimível. N o grego a palavra é parapip to sendo traduzida por cair, cair pa ra fo ra , desviar-se^"'. Trata-se de um assunto tão excepcional, que esta palavra aparece em 6:6 e em nenhuma outra parte do Novo Testamento, informa-nos Strong, Laubach e Guthrie. Dai, parapip to revestir-se de um significado teológico ímpar. A “queda” em relevo é a apostasia, a negação total e cabal da fé em Cristo. Essa negação eleva-se ao nível da mais profunda inimizade. Otto Michel (1903-1993) escreveu: A cr uz de Jesus to rna-s e um aconte cim ento atual, do qual são culpados não somente os adversários de Jesus, mas também os membros da igreja que fracassam . Com a apostasia começa uma situação que entrega Cristo ao mundo, combatendo-o. Portanto, não basta dizer que o cristão que decai da fé ê privado da for ça da cruz , pelo contr ário , ele com eça a participar direta mente da luta contr a Cristo.cccxv‘ A razão da queda era de ordem doutrinai e litúrgica. Possivelmente, alguns crentes estavam querendo voltar, ou voltaram, às práticas sacrificiais do Levítico. Guthrie comenta: Qualquer pessoa que voltasse do cristianismo para o judaísmo se identificaria não somente com a descrença judaica , como também com aq uela mald ade que levo u à crucific ação de Je su s CCCiV"
Introdução ao Arminianismo
Também estaria servindo como fator de desestimulo e apatia espiritual, possib ilitando a ru ín a espiritual abissal, o te m or das atrozes perseg uições. 3.5.
Im possív el outra vez renová-los pa ra arrependim ento
A palavra grega utilizada para “impossível” é adynaton. A mesma é usada em Hb 6:18; 10:4 e 11:6. De acordo com Guthrie, todos esses usos encerram “declarações ab so lutas”CCLXVm. Por isso, o p róprio Guth rie, conforme dissemos acim a, usa a designação “sujeitos da impossibilidade”. Eles não podem mais ser “renovados”. No grego o vocábulo traduzido por “renovar” é anakainízein, m ais um a palavra encontrada apenas em Hebreus. James Strong apresenta seu sentido: “Renovar, restaurar ao estado original. Em o Novo Testamento, utilizado de forma metafórica em referência às pessoas que caíram da fé verd adeira; trazer de volta ao arrependim ento e à fé original.”CCC!tlxO estad o deles é irrecup eráv el. Arrep enderam -se um dia, mas ago ra estão impossibilitados de serem renovados “outra vez para arrependimento”. Os apóstatas não podem ser re cuperados. Kistem aker comen ta: O escr itor não revela a identidade do agente implicado. Está ele dizendo que Deus não permite (6:3) um segundo arrependimento? Ou ele quer dizer que uma pessoas que caiu, que se desviou do Deus vivo não pode ser restaurada ao arrependimento por causa do coração endurecido? Embora o escritor não dê a resposta, nós entendemos que ambas as pergunta s poderia m receber uma resposta afirm ativa.LL"XÍ
Disso tudo, podemos concluir existir um estado do qual um retorno à fé original é impossível. Daí o apóstata ser incluído na seguinte escritura: “De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por pro fano o sangue do testam ento , com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:29). Conclusão
Alguém só pode chegar a um grau de apostasia como esse se de fato foi regenerado. A gravidade desse estado sem retorno exige uma experiência de salvação autêntica e esta é descrita abertamente nos versículos 4-5. A advertência em termos tão enfáticos não está na Epístola apenas para dar sustos a respeito do que não pode ocorrer. Crer nisso toma o texto inspirado uma zombaria. O autor escreve para crentes que corriam o perigo da apostasia. A Epístola foi escrita para crentes, refere-se a eles e os compromete com o conteúdo de 6:4-6. Esta escritura registra o que é impossível e o que é possível, a saber: é impossível um apóstata ser recuperado e é possível um
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Zwinglio Rodrigues
autêntico crente apostatar.42 Desse modo, a doutrina da perseverança incondicional dos crentes é negada. . Por fim, passando a palavra a Kistemaker, registramos: “a apostasia nao acontece de repente e inesperadamente. Antes, é parte de um^processo gradual, um declínio que vai da descrença á desobe diência e até à ap ostasia .,,LCCI“ _
42 Para uma leitura sobre a construção gramatical do texto (Hb 6:4-6), ler MACKN1GHT, citado por WILEY, A Excelência da Nova Aliança em Cristo, p. 293. Para uma posição contrária ao nosso modo de interpretar Hebreus 6:4-6, ler HOEKEMA, Salvos Pela Graça , pp. 243-244. Avisamos: Hoekema não se dá ao trabalho de observar a construção gramatical do texto.
| Introdução ao Arm inianismo
Capítulo 9 ^rebentente A salvação começa com o que é usualmente denominado (e de form a muito apropriada) de “graça preveniente incluindo o primeiro desejo de agradar a Deus, o primeiro alvor de luz em relação à vontade dEle e a primeira leve e transitória convicção de ter pecado contra Ele. John Wesley In tr odução
Discutiremos neste capítulo o conceito de graça preveniente, conceito caro ao arminianismo clássico. Caro porque frequentemente o arminianismo é culpado de não ser uma teologia da graça, mas do homem, salvador de si mesmo, que põe o livrearbítrio à frente da graça e pode, p e r se, dar o initium fid ei (primeiro passo da fé). Nada disso procede conforme já apontamos ao longo do livro. Armínio e o arminianismo clássico apresentam uma sólida teologia da sola gratia. 1,
A graça de Deus
Em The Works o f Armirims: A D eclaration O f The Seníiments (Declarações e Sentimentos), IV, Vol. 1, p. 130, apresentada às Províncias Unidas, em Haia, em 13 de outubro de 1608, Armínio, segundo Rodríguez, apresenta sua compreensão sobre a graça de Deus de modo claro e completo. Armínio propõe três partes com declarações sublimes a respeito da graça. N a primeira, descreve a graça como a manifestação da bondade de Deus que, afe tu osamente, volv e-se para o hom em em estado de miséria e, com amor, envia seu Filho “para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna.” Encontrando-se com o Salvador, ato contínuo, Deus justifica o pecador arrependido e em Cristo Jesus con cede o direito filial e a salvação. N a segunda, a graça é o Espírito Santo operando no entendimento e na vontade da pessoa realizando uma regeneração infundindo no pecador, desprovido de qualquer condição de pensar, e fazer qualquer coisa boa, fé, esperança e amor. Terceira, a graça é a assistência contínua do Espírito Santo inspirando o homem quanto às coisas boas, infundindo pensamentos louváveis e bons desejos. Esse modo de conceber a graça conforme acabamos de descrever, juntamente com as declarações sobre a graça de Deus apresentadas no tópico 2, deixa Armínio confortável para mostrar quão injustas eram as acusações de reduzir a graça à uma posição de seg unda categoria ao passo que dava um valo r ao livre -a rb ítrio humano
Zwinglio R odrigues
acima da graça de Deus. Também, Armínio podia provar que jamais passou por sua cabeça a admissão de que o homem pode salvar a si mesmo. 2.
O valo r da graça
Observando os excertos de Armínio transcritos ao longo desse trabalho, é nítido o valor dado à graça de Deus por parte do teólogo holandês. Não há conflito com a Bíblia. Em todo momento é enfatizada a preeminência da graça divina na salvação do homem. Partindo dos textos lidos e dos fragmentos citados aqui podemos apresentar tal supremacia da graça divina assim: • Ela é gratuita, pois advém apenas da redenção divina p o r m eio de Jesus Cristo. • A graça é a única cansa eficaz da salvação. • Nin guém p ode deseja r Deus sem que a graça atu e interiorm ente. • A graça ante cede todo movim ento da vontade em dir eção à sa lvação. • Ela é a única base de todo bem espiritual que uma pes soa po de realizar. • A graça vai à fr ente do homem para atr aí-lo em direção à jè. • Pesso a alguma po de se arrepen der e crer sem a influência da graça divina. • E a graça divina e não o mé rito huma no q ue salva. • O pecad o original incapacita o hom em a dar o prim eiro passo da fé. Apenas a g raça pode dar início à relação divino-hum ana. • A graça não é uma fo rça, mas um a P esso a.
Portanto, conclusões como “o arminianismo faz com que a redenção seja uma ob ra hum ana”CCLM1‘, admitida pelo teólog o calvinista R. C. Sp rou l, po r ex em plo, é falaciosa e indigna de crédito. Armínio trabalhou a necessidade e primazia da graça divina de modo consistente e intenso nos melhores moldes calvinistas. Claro que de maneira distinta dos calvinistas, o que de fato os incomoda. No entanto, devemos dem arcar que uma coisa é não com preender um m odo distinto de explicar a supremacia da graça, outra é atribuir a esse modo particular uma série de acusações insustentáveis. 3.
G ra ça p reven ie n te
Em sua A Letter A ddressed to H ip poly tu s A Collibus, Arti cle IV , ( Carta escrita a Hipollytus A Collibus, Aritgo IV) Armínio escreve a seu amigo Hipólito sobre a importância da doutrina da graça em seu pensamento teológico e diz: “Esta graça pre cede (praevenit ) , acompanha, segue; excita, ajuda, opera para que queiramos e coopera para que não desejemos em vão.” A graça “precede” qualquer ação hum ana em direção a Deus. Assim , a graça preven iente (preceden te) é o ato de Deusilum pecador em trevas e in fluênciá-lo a desejar e buscar a espiritualidade. Ouseja, agraça
Introdução ao Arminianismo
preveniente é a ca usa eficaz de to da boa ação espiritual. Não há volv er humano das trevas para a luz da salvação sem a graça preveniente, que é uma pessoa, que é o Espírito Santo que, simbolicamente, é luz. Da ação do Espírito Santo, as faculdades humanas são esclarecidas e restauradas por Ele que transmite à pessoa tudo o que con cerne à salvação em e por meio de Cristo. Agostinho de Hipona concebia a “graça” de várias formas. A primeira dentre elas era a graça preveniente (gratia praevenians ) que, segundo ele, “Deus desperta em nossas almas qu alquer bem q ue im aginam os, ansiam os ou d esejamos.” cc‘;x’im A gostinho usou o termo em sua disputa com Pelágio. A Escritura que o hiponês apresentava de antemão era Salmo 59:10: “Sua misericórdia irá adiante de mim.” A misericórdia pre cedia, era precedente, pre veniente. Armínio tom a o termo “graça preveniente” emprestado de Agostinho. Mas, por volta de um século antes, o teólogo holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536) debateu com Lutero por causa da controvérsia monergismo/sinergismo e defendeu a graça pre veniente co mo a libertadora da vontade hum ana e a possib ilitadora da dec isão livre de aceitar ou rejeitar a salvação. Também o escolástico To más de Aquino (1225-1274), já tinha feito uso do term o. Aquin o em sua Suma Teológica comenta sobre o amor de Deus como preveniente: “Deus nos amou primeiro”. Continuando, afirma ser a graça o efeito do amo r de Deus e isso leva à conclusão de que a graça é preveniente. , O teólogo arminiano H. Ray Dunning explica que a graça preveniente “não é um termo bíblico, mas uma categoria teológica desenvolvida para capturar um tema bíb lico central.”CCCXX1VÉ como o term o Trindade. O term o graça pre veniente, in troduzido no círculo teológico, passou a ocupar um lugar de destaque e ele pode ser encontrado em contextos teológicos protestantes e católicos de caráter sinergistas.' Expondo sua compreensão acerca da predestinação, Armínio, em seu quarto decreto divino , diz: [...] Deus decretou salvar e condenar certas pessoas específicas. Este decreto tem sua base na presciência de Deus, pelo qual Ele sabia desde toda a eternidade as pessoas que iriam, por intermédio de sua graça prev en ti va (ênfase nossa) crer, e, por intermédio de sua graça subsequente, perseverar, - de acord o com a adm inistração antes descrita destes meios que são apropriados e adequados pa ra a conversão e a fé; e que, pe la presciên cia, ele igualme nte conhecia os que não creriam e não perseverariam.
Deus salva por Seu pré-conhecimento e essa é a causa da eleição. Em arrependimento e fé o homem responde ao chamado do Evangelho. Porém, para Armínio e o arminiansimo clássico, isso não significa que o fator determinante para a salvação é a resposta humana. Como está dito de modo claro no excerto acima, antes de crer, o pecador é assistido pela graça preventiva (preveniente). Esta graça, chamada também de “preventiva” ou “precedente”, é a graça que antecede qualquer decisão do
Zw inglio Rodrigues
homem frente aos apelos do Evangelho, conforme já nos exprimimos. A graça pre veniente é ilumin adora, convin cente, conciliadora, convid ativa e capacitadora. Esta graça atua de modo colaborativo com a vontade humana, mas no arminianismo clássico isso não implica em um nivelamento entre ambas, ou que elas são iguais. A preeminência é sempre da graça divina. A ação divina tem prioridade. No entanto, o arminianismo clássico reconhece a existência de um mistério por trás dessa colaboração. Tal cooperação não é complementar ou substitutiva, em qualquer aspecto que seja, à obra da graça divina. A salvação é de Deus! Ao homem cabe apenas não resistir à Sua graça. Cedendo às convicções do Espírito Santo, finalmente, a obra salvífíca fundada unicamente nos méritos de Cn sto é levada a efeito na vida do ho mem por meio da regeneração. E evid ente que o ato de não re sistir à graça im plica no assentimento humano. Todavia, em hipótese alguma, isso faz do homem seu próprio salvador: Armín io escreveu: Atr ib uo à graça o início, a continuid ade e a consumação de todo o bem, de tal forma elevo sua influência, que um homem, embora regenerado, não pode conceber, desejar, fazer qualquer bem, resistir ao mal, sem esta graça preveniente e estimulante, seguinte e cooperante .c" "
Armínio é claro quanto à incapacidade humana de iniciar sua salvação ou de auxiliar no processo, bem como esclarece que o homem não é seu próprio salvador. Isso já foi discutido so bejamente nos capítulo s anteriores. Sem a gra ça divin a o homem não pode fazer qualq uer movim ento em direção a Deus. A razão é simples: o homem está morto em delitos e pecados (Ef 2:1). Ou seja, o homem está em estado de depravação total, e, por si só, não tem condições de arrepender-se. Por isso toma-se necessána uma ação graciosa da parte de Deus que venha tomar a vontade humana livre para escolher ou não cooperar com o Espírito Santo. A graça preveniente é fundamental na soteriologia de Armínio e arminianos clássicos. A graça é o fator decisivo na salvação do homem. A graça salvífíca opera bem an tes da obra re generadora e santificadora do Espírito. A graça preveniente faz emergir a convicção do pecado e pretende elevar as pessoas à salvação moral e metafísica. 4.
R em on str an te s e Graça P reven ie nte
Os remonstrantes também criam na graça preveniente como o fundamento de todo bem espiritual conforme demonstrado. Para eles a graça antecede qualquer movimento humano em direção a Deus. Isso está numa posição diametralmente oposta da antropologia otimista dos semipelagianos aos quais Armínio, os remonstrantes e arminianos clássicos são associado s frequentemen te. Leiamo s o remo nstrante Episcópio:
i Introdução ao Arm inianismo
A fé , a co nvers ão e todas as boas obras, e todas as ações pie dosas de salvação , nas quais alguém pode pensar, são totalmente atribuídas à gr aça de De us em Cristo com o su a prim eir a e pr inc ipa l causa .cccxxv‘
Episcópio segue na mesma esteira que A rmínio. O remonstrante posterior e “arminiano da cabeça”, Phillip Limborch, no tocante à graça preveniente, estava em sintonia com Armínio e Episcópio. Porém, ele tomou seu próprio caminho quando tentou relacionar graça e fé. Olson comenta: Os problemas de Limborch começaram quando ele tentou explicar a relação entre a graça e a fé ; a fé começou a se afastar de seu embasamento arminiano na graça como sua única causa, e Limborch desloca seu embasam ento pa ra o livre-arbítrio." rr!V,’i £J
. Para Limborch, a graça preveniente não libera a vontade, mas fortalece-a. Aqui ele é semípelagiano, pois concebe um residual de boa vontade no homem caído. A este falta apenas o conhecimento devido a respeito do que fazer. Esse é um afastamento total do arminianismo clássico. 5.
Gra ça Preven ie nte e R egeneração
Antes de irmos ao ponto deste subtópico, faz necessário dizer que Armínio não tinha uma ordo salutis (ordem da salvação)43 no sentido dado pela Teologia Sistemática. Sem dúvida, ele tentava arranjar sua teologia da redenção de tal modo que seus pares e alunos pudessem co mp reendê-la com alguma ordem lógica. Q uem diz isso é Rodríguez que detecta nos escritos de Armínio, em linhas gerais, uma discussão sobre a ordem da redenção. Armínio cria em uma graça preveniente regeneradora. Que isso quer dizer? Leiamos O lson novamente: Arm ín io acreditou veementem ente na graça prevenie nte como graça regenerativa. Para ele, a graça preveniente não é somente persuasiva; ela também renova a pes soa na imagem de Deus e libera a vontade de modo q ue a pe sso a pode, pe la primeira vez, exercitar uma boa vontade para com Deus em arrependim ento e
O termo “regeneração” aqui não deve ser tomado stricto sensu. Ou seja, para Armínio não se trata ainda da salvação consumada, mas trata-se de uma iluminação. Esta iluminação está para além de qualquer acuidade intelectual e deve ser entendida como a luz da verdade de Deus infundida no entendimento humano e em sua vontade. Que estamos d izendo? Esta regeneração, pensada em u m sentido lato sensu, está entre a 43 Apresentamos uma ordo salutis arminiana no apêndice 2.
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informação intelectual e a regeneração stricto sensu. A graça preveniente opera vigorosamente deixando o homem em condições de d iscernir - visto estar sendo iluminado - verdades básicas relacionadas à salvação, bem com o dota-o de condições de resistir ou não à graça divina, pois sua penetração vai à “câm ara escura”, que é o coração humano para Agostinho, e liberta a vontade humana. Esta regeneração que está sendo tomada como uma iluminação para além da acuidade intelectual é a mesma apresentada de modo poético por Paulo em Efésios 1:18: “sendo iluminados os olhos do vosso entendimento [...].” Portanto, “regeneraç ão” para Arm ínio nào exige o sentido de d ovo nascimen to ainda. Arm ínio sempre acreditou que po sterior ao arrependimento e à fé é que se concretiza a salvação. Em seu ótimo artigo, Jacó Armín io : Regeneração e Fé, Samuel Paulo Coutinho44 demonstra que a regeneração, pensando em ordo salutis (ordem da salvação), é uma incursão teológica posterior a Armínio. Coutinho diz: Os teólogos protestantes anteriores e contemporâneos a Arm inio nâo se preocuparam em desenvolv er um arranjo seqüencia l dos processos salvíficos. A atenção deles estava muito mais voltada para os aspectos ob jetivos do que para os a sp ec tos s ub jetiv os da salvaçã o.CCCXXLX
Portanto, ao lermos Armínio dizendo “mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado (ênfase nossa) e renovado”, ratificamos que não devemos compreender “regenerado” no sentido de tomado salvo, pois as disputas envolvendo a ordo salutis são relativamente recentes na história da Igreja. Olso n escreveu: “a alma do p eca do r está sendo regen erada. ”cccxxx Era pensando nesse processo que Armínio disse: “[...] é necessário que ele seja regenerado [...].” Cou tinho demon stra ser plausível enxergar em A rmínio o uso da palavra “regeneração” para referir-se a três fenômenos distintos. O que nos in tere ssa é o seguinte: O proce sso pelo q ual o Espírito leva o homem ao novo nascimento; um a seqüência prog ressiva e abrangente, composta de obras prepar atórias e conducentes à vivificação do novo homem, todavia, distinta da própria CCCXXXÍ ■ vivijicaçao.
, O Espírito Santo opera poderosamente na alma humana com vistas à salvação dela. O que está em curso é a iluminação e não, ainda, uma vivífícação que pode não ocorrer desde que a pessoa rechace a graça ao resistir ao Espírito Santo. E extamente isso que o conceituadíssimo teólogo puritano John Owen (1616 1683) parece ap on tar quando escreve: 44 Samuel Coutinho é um estudioso do arminianismo. É também editor do site www.deusamouomundo.com
| Introdução ao Arminianismo
H á ce rto rt o s e feit fe itoo s inte in tern rnos os,, o p e ra d o s na nass alm al m a s d o s h om ens, en s, d os q u a is a p r e c e d e m a pa p a l a v r a p r e g a d a é a c a u s a inst in stru ru m en tal, ta l, e q u e g e r a lm e n te pr re r e g e n e r a ç ã o (ênfase nossa). E estes sâo a iluminação, a convicção e a reforma. A primeira diz respeito apenas à mente; a segunda à mente, cons co ns ciê nc ncia ia e afeiç af eiçõe ões; s; e a terc te rceir eiraa à vida vi da e ao co com m po porta rta m en ento to "CLXXX“
Esses esclarecimentos são importantes porque alguns teólogos querem dar o sentido às palavras de Armínio que concorde com a ordo salutis calvinista na qual a regeneração precede à fé. Como está posto, no arminianismo clássico, ou pensando numa ordo salutis arminiana, a fé precede a regeneração stricto sensu. 6.
B ase Bíb lica Para a Graça Prev eniente
Com frequência os arminianos são requisitados a apontarem bases bíblicas que deem sustentação à doutrina da graça preveniente. Para responder aos calvinistas e subsidiar arminianos em seus estudos, alistamos algumas passagens da Bíblia. Fu ndam ento Bíbl Bí blii co Há muito mui to que o SENHOR SENH OR me apareceu, aparec eu, E uma certa mulher, chamada Lídia, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe po p o r isso com benigni beni gnidad dadee te atrai. J r 31.3 abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. At 16.14 Jerusalé Jeru salém, m, Jerusalém Jeru salém,, que matas mat as os profe p rofetas, tas, E de um só sangue fez toda a geração dos e apedrejas os que te são enviados! quantas homens, para habitar sobre toda a face da terra;, ;, determinando os tempos j á dantes dantes vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a terra ordenados, e os limites da sua s ua habitação; pa para ra galinha ajunta os seus pintos debaixo das ordenados, que buscassem ao Senhor, se porventura, asas, asas, e tu não quiseste! Mt 23.37 tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós. At 17.26, 27 Porque o Filho do homem veio buscar e Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, salvar o que se havia perdido. Lc 19.10 19.10 ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Rm 2.4 D e sorte so rte qu quee a f é é pel p eloo ouvir, e o ou ouvir vir pel p elaa Ali A li estava est ava a luz verdadeira, verdad eira, que ilumina ilum ina a De pala pa lavra vra de Deus. De us. Rm 10.17 todo o homem que vem ao mundo. Jo 1.9 Ninguém Nin guém po pode de vir a mim, se o Pai que me Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no e isio não vem de vós, é dom de Deus. Ef2.8 último dia. Jo 6.44 E eu, quando for levantado da terra, todos Porque a graça salvadora de Deus se há manifestad mani festadoo a todos os homens. homens. Tt 2.11 atrairei a mim. Jo 12.32 Homens Hom ens de dura dur a cerviz, e incircimc incir cimcisos isos de Porque Deus é o que opera em vós tanto o coração e ouvido, vós sempre resistis ao querer como o efetuar, segundo a sua boa Espírito Santo; assim vós sois como vossos vontade. Fp 2.13 pais. A t 7.5 7.51 ... .
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«asse
Zwinglio Rodrigues
Sentimos que nada somos, pois Tudo és Tu e está em ti; Sentimos que somos algo, e isso também ' veio ve io de Ti; Ti; Sabemos Sabemo s que nada somos, mas Tu nos ajuda aju dará ráss a s e r algo. Santificado seja o teu nome, Aleluia!
Conclusão
Sem dúvida, o arminianismo clássico apresenta uma teologia da graça de alto valor. O livre-arbítrio não precede ou suplanta a graça no escopo soteriológico arminiano clássico, pois é admitido o estado de depravação total do homem. Todo bem espritual procede da graça de Deus e isso nega qualquer mérito natural. Em sua salvação, o homem nada complementa, pois resta-lhe fazer no momento de sua salvação “nada de nada”cccx''xlu. Para fechar este capítulo, propomos a agradável leitura do poema de Alfred Tennyson (1809-1892)4' cheio de graça:
45 Alfred Tennyson, Io Barão de Tennyson, nasceu em Somersby, Lincolnshire, Inglaterra. Poeta inglês consid considerado, erado, muitas vezes, como o principal princip al da era Vitoriana. Vitorian a. Disponível Dispo nível em < http://global.britannica.com/EBchecked/topic/587422/Alfred-Lord-Tennyson > Acesso em 10 out. 2014.
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Capítulo 10 Hüjre-Arbítrio A existên exis tência cia e a naturez nat urezaa do livre-arb livre -arbítrio ítrio são questões ques tões de importância prática, de como empregaremos uma perspectiva ética em nossas condutas individuais e sociais com os outros. William Lane Craig & J. P. Moreland In I n tr o d u ç ã o
A expressão “livre-arbítrio” (liberum arbitrium) não é bíblica. Segundo Alíster McGrath, ela entrou na igreja ocidental por meio do teólogo do segundo século T ertu lian o.cw o.cwxxxlv O livre-arbítrio livre-a rbítrio , co nfo rme rm e Geisl G eisler er & Fein berg , “su stenta sten ta que no ssas ações livres nem são causadas por outras, nem estão sem causa. Pelo contrário, são causadas por si mesmas.”cccxxxv Ou seja, o próprio agente exercita livremente seus po p o d e r e s c a u sais sa is e faz fa z o p ç õ e s e n tre tr e a g ir o u n ão d e d e term te rm in a d a m a n e ira ir a d eb a ixo ix o d as mesmas condições. Era palavras diferentes, o indivíduo pode escolher entre A e B sem que causas outras determinem o modo como ele fará sua escolha. O agente é livre! “Ele é um primeiro motor ou motor não-movido: nenhum evento ou causa eficiente o faz agir,,cccxxx", dizem os filósofos J.P. Moreland & Willian Lane Craig. Distrinchando mais ainda, citamos o filósofo Alvin Plantinga: O que é relevante para a defesa do livre-arbítrio é a ideia de ser livre com respeito a uma ação (ênfase no original). Se uma pessoa for livre com respeito a uma dada ação, então, tem a liberdade de realizá-la ou não; nenhuma das condições anteriores e/ ou leis causais determinam que ela realizará ou não a açào.cccxxxvu
Segundo Olson, “os arminianos afirmam o livre-arbítrio libertário. Quando um agen ag en te age ag e liv l ivre rem m en te no sen se n tid ti d o lib li b ertá er tári rioo , n ad a fo f o ra do ser se r cau c ausa sa a aç a ç ã o .” CCOXXXV111 É exatamente o que disseram os teóricos acima. Esta capacidade do agente decidir sobre seu comportamento sem causas antecedentes que não seu próprio poder de realizar ou não uma ação, segundo McGrath, “encontra-se distorcido pelo pecado”tccxxx,x e sua restauração só é poss ível através através da operação da graça de Deus. Em A rmínio, o livre-arbítr livre-arbítrio io para o bem está totalmente d estruído: estruído: Ne N e s te e s tad ta d o o L iv r e -A r b itr it r io d o h o m e m em d ir e ç ã o ao V erd er d ad adei eiro ro B e m não está apenas fer id o , mutilado, débil, inclinado, e enfraquecido; mas também aprisionado, destruído, e perdido: E seus poderes não estão apenas debilitados e inúteis a menos que eles sejam assistidos pela
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graça, mas nâo têm poder nenhum exceto se excitados pela graça D iv in a.cccxl
; Para o teólogo holandês o homem em seu estado caído está destituído do livre arbítrio para as questões espirituais - “Verd adeiro B em ”. Porém, no tocan te às questões de ordem natural, mesmo sob a intensa influência dos efeitos nefastos da Queda , os homens maus sabem dar boas coisas a seus filhos, disse Jesus. Sabem por que podem decidir em oposição a uma força contrária. Esta é a razão pela qual o ser hum ano p ode ser responsabilizado por seus pecados. A propensão para o mal perdura, mas, como o homem não é mau em toda potencialidade máxima, ações boas podem ser executadas por uma opção livre. Tem os aqui um modo distinto de fa lar sobre o livre-arb ítrio. Sim, Armínio realça em cores vivas os efeitos da depravação humana pós-queda adâmica. N o entanto, mesm o nesta condição de in clinação para o mal, qualq uer decisão do homem é originada, iniciada, independente da corrupção moral de sua natureza. 1.
A doutrina da providê ncia divina e o livre-arbítrio segundo Arm ínio e arm in ia nos cláss icos.
An tes de discorrermos sobre o que propõe este tópico, precisamo s com preender o que é a doutrina da providência divina. Para tanto, franqueamos a palavra a Henry Clarence Thiessen: O cristianismo afirma que Deus não simplesmente criou o universo, ju ntam ente com todas as suas proprie dades e poderes, e que Ele está supervisionando tudo que criou, mas que um Ser santo, benevolente, sábio e onipotente também exerce controle soberano sobre eles. Este contr ole sob era no é cham ado de Prov idê ncia.CCLXh Desta explicação, somos informados a respeito da atividade governamental de Deus e sua extensão. Deus governa e nada escapa ao governo divino. Armínio cria nisso: Meus pensam ento s a respeito da provid ência div in a são os seguin tes: a provid ência está presente com e governa sobre todas as co isas; e todas as coisas, segundo suas essências, quantidades, qualidades, relações, ações , paix ões, lugares, tempos, estações e hábitos, estã o suje itos ao Seu governo, co ns en aç ào e direção. Eu também não excluo [...] as vontades livres dos homens ou de anjos, bons ou maus. Aind a mais, eu não removo o governo da providência divina até sobre o pecado levando em consideração seu início, pro gress o e término .CCLxln
Eis o alcance do governo da providência divina para Armínio. Um alcance amplo e irrestrito.
[ Intr In troduç odução ão ao Armini Arminiani anismo s mo
A doutrina da providên providên cia divina tem tem um lugar muito muito importante importante na teologia teologia de Armínio. Rodríguez chegou a essa conclusão e aponta duas razões para sua te m p o d e d ica ic a d o ao a s s u n to p o r A r m ín io ; 2 a P o r c a u sa compreensão: I aA a te n ç ã o e o tem da implicação que a doutrina da providência tem para várias doutrinas importantes e essenciais essenciais pa ra a teologia teologia reformad a de seu tempo tempo.. Armínio discute a doutrina da providência em pelo menos dois momentos. Em The Works o f Arminius, vo vol. l. 2: A Le tter A dre sse d to to Hippoíytus A. Collibus Collibus e The Works Works o f Arm inius, vol vol.. 1: A Declaration of T h e Sentiments. Sentiments. Ele trabalha a doutrina no tocante ao alcance da providência divina, sua relação com o pecado, a providência e o pa p a c to, to , a p ro v i d ê n c ia e o d o m ín io d e D e u s, a cria cr iaçç ã o e a p ro v id ê n c ia d iv ina in a , en tre tr e o u tros. tro s. N o q u e im p o rta rt a a e s te tóp tó p ico ic o , d e s tac ta c a m o s a re laç la ç ã o en tre tr e a p ro v id ê n c ia d iv ina in a e liv li v re arbítrio. Vimos acima que para Armínio nem os atos livres dos homens estão fora do governo de Deus. No entanto, isso em hipótese alguma significa que os atos dos homens são determinados pela providência. providência. Para Armínio, a providência não determina determina a volição humana. E isso que desejamos fixar. Embora Deus seja soberano sobre todas as coisas, isso não precisa ser concebido como uma soberania toda-detemiinativa. No po p o n to 6 re to m a re m o s ao a ssu ss u n to. to . 2.
O s c o n c e ito it o s d e d e te r m in is m o , d e te r m in is m o d u r o e d e te r m in is m o b ra n d o.
O determinismo duro e brando são pontos de vista opostos ao livre-arbítrio libertário. Geisler e Feinberg explicam determinismo e os dois tipos de determinismos. Determinismo: E a cr enç a de qu e todo s os even tos são go ver na nado doss p o r leis .cc .cccxk“
Determinismo duro: duro: Ac A c e ita it a um p o n t o d e v ista is ta inc in c o m p a tib ti b ilis il ista ta,, d e q u e a lib li b e r d a d e e o deter m inism o não po de m se r re con ciliado s.cc s.cccxkv
Determinismo brando: brando: E o ponto de vista [...] de que somos livres e, portanto, às vezes responsáveis pelas nossas ações, posto que não haja qualquer constrangimento externo. Estamos meramente agindo de acordo com nossa no ssa s pr óp ria s escolhas, escolh as, desejos, e volição. ':calv O determinismo tem como característica básica a certeza de que tudo o que acontece tem uma causa. Qualquer acontecimento do universo é resultado de um conjunto de condições que, se repetidos, redundariam no mesmo acontecimento. Para
Zwinglio Rodrigues
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um efeito, há uma causa e isso remonta infinitamente para trás. O determinismo duro sustenta ser a causalidade uma verdade e que “tudo, mesmo toda causa, é o efeito de alguma causa ou grupo de causas',cccxlvl, concluem Geisler & Feinberg. Assim, liberdade e determinismo são irreconciliáveis. Quanto ao determinismo brando, admite-se o compatibilismo, ou seja, ações podem ser determinadas por causas anteriores (hereditariedade e o ambiente) e mesmo assim os resultados dessas ações devem ser aceitos com o livres. Esses conceitos são naturalistas e deles discordamos. Mas nossa preocupação aqui é com o conceito de determinismo teísta. 3.
D e te r m in is m o te ísta ís ta
Ferguson e Wright explicam o determinismo teológico: O determinismo teológico é a doutrina de que a forma de todos os eventos é determinada de acordo com o propósito determinado e o préc o n h e c im e n to d e D e u s .CCLXlv"
. Defendendo o livre-arbítrio, Armínio e o arminianismo clássico não admitem qualquer tipo de determinismo, pois qualquer determinismo isenta o homem de suas responsabilidades visto que suas escolhas não são realmente suas. Ninguém pode ser responsável por suas ações, pois nada daquilo que se pensa ou faz é realizado pelo indivíduo. indivíduo. Na tentati tentativa va de afirmar a responsabilidade hum ana ao m esmo tempo em que defendem o determinismo divino, calvinistas propõem a crença em um determinismo compatibilista. Ou seja, Deus pode determinar a todas as pessoas que façam o que Ele quer sem suprimir a liberdade delas. Ora, liberdade e determinismo não são compatíveis, pois se não é possível a uma pessoa decidir livre e diretamente em oposição a qualquer maior influência recebida, ela não pode ser responsabilizada por seu ato ato já que não dispõe de poder para de cid ir.To m á-la responsável por qualquer ação ação sem possibilidade de uma escolha livre é injustiça.. Pelo menos três razões podem ser levantadas contra o determinismo teísta: experiência. a. • Fa zer o que não quero é contrario à experiênci livre po de causa r um ato livre livre.. • Um agente livre A s p e s s o a s nã nãoo s ã o m á q u ina in a s, p o r t a n to to d a id e ia m e c a n ic is ta d a • As pe p e r s o n a l id a d e h u m a n a la b o r a e m erro er ro..
N o s u b tóp tó p ico ic o s e g u in te tec te c e m o s o u tra tr a s c o n s ide id e raç ra ç õ e s . Fechando esse subtópico, deixamos esta desconcertante reflexão de C. S. Lewis sobre o determinismo: Para o determinismo (teísta ou natural) ser verdadeiro, seria necessária uma base racional racional pa ra seu pensamento. Mas, Mas, se o determinismo é
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verdadeiro , não há base racional para o pensamento , j á q u e tudo tu do é determinado. Portanto, se o determinismo for verdadeiro, então deve ser fa f a l s o . cccxh™ ' 4.
L iv r e - a r b ítr ít r io e a r e s p o n s a b ilid il id a d e h u m a n a
As discussões voltadas para juízos morais do dia a dia são instigantes. Questões como “posso fazer?”, “fiz voluntariamente?”, “sou responsável?” necessitam de respostas as mais claras possíveis para a atribuição de responsabilidade aos homens. O livre-arbítrio libertário em contraposição aos tipos de determinismos (teológico e natural) citados, larga na frente, pois, dentre os três, ele oferece explicações que ju j u s tif ti f ic a m m a is s a tis ti s fato fa to ria ri a m e n te o e s tab ta b e lec le c im e n to d e p a d r õ e s d e ju lg a m e n to , atribuição de responsabilidade e as repreensões ou louvores. O livre-arbítrio é condição sine qua non para a responsabilização humana. Admitir a ação humana como resultado da compulsão divina e não de uma ação livre, compromete a responsabilidade do homem a tal ponto de criar uma situação de injustiça ao condenar o homem. Assim compreendia Armínio, antes dele, Agostinho, Tomás de Aquino e René Descartes, por exemplo. O eu é um agente livre (com livre-arbítrio) e po p o r isso is so p o d e faz fa z e r e s c o lha lh a s m o ra is .cc .cccxllx E m b o ra sob so b a fort fo rtee e n e f a s ta infl in fluu ê n c ia recebida das conseqüências da Queda, o homem tem condições de escolher o bem, o bo b o m , c o n tra tr a ria ri a n d o a m a io r in flu fl u ê n c ia rec re c e b ida id a . P a u lo c o n firm fi rm a iss is s o ao d ecla ec lara rar: r: “Aquilo que quero, isso não faço” (Rm 7:19). Temos uma prova bíblica sobre ser o livre-arbítrio parte de nossa essência. Temos livre-arbítrio! Como escrevem Kreeft e Tacelli: “A alternativa de possuir ou não livre-arbítrio não seria para um ser humano, mas para um ani animal mal ou para para uma máquina. máquina.”^ ”^ 1 ít r io e a o r ig e m d o p e c a d o 5. L iv r e - a r b ítr
O livre-arbítrio é uma doutrina fundamental para Armínio e o arminianismo clássico. clássico. R azão básica: o livre-arbítrio é a causa da Queda e não qualquer determinismo divino. Arm ínio considerava uma blasfê m ia fazer recair sobre os omb ros de Deus a culpa pelo pecado do homem. Seu opositor, Francisco Gomarus, se satisfazia em dizer que Deus movia a língua dos homens para blasfemar. Argumentando, o teólogo holândes escreveu: “nós deduzimos [...] que Deus, de fato, peca [...] que Deus é o único pe p e c a d o r [,.. [, ..]“ ]“cccdl E m o u tro tr o m o m e n to ele el e e s c rev re v e s o b re essa es sass p e rsp rs p e c tiv ti v a s calv ca lvin inis ista tas: s: “nem mesm o o próp rio diabo pôd e con ceber em seu propó sito m ais malign o.”‘' o.”‘'cül1 Armínio inferia, inexoravelmente, a partir dos decretos calvinistas, que Deus era o autor do pecado e do mal moral. Ele afirmou: “Segue-se, a partir de sua doutrina, que Deus é o autor do pecado.”Lcdl“ Não havia conclusão mais lógica. De fato, há calvinistas que não escon dem suas certezas quanto a De us ter sido sido o criado r do do mal. Por exemplo,,,Edwin H. Palmer (1922-1980): “A Bíblia é clara: Deus ordena o pecado.”cccliv; R.C. Sproul Jr.: “[...] Deus quis que o homem caísse em pecado. Não estou acusando Deus de pecar; estou sugerindo que Deus criou o pecado.”ccclv e Gordon Clark (1902-
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1985): “ Portanto, a Bíb lia en sina ex plicitam ente que Deus cria o pecado . ”ceclvi Nos reformadores Ulrich Zwinglio (1484-1531) e João Calvino (1509-1564) encontramos o mesmo ensino. Porém, embora esses reformadores admitissem ter Deus incluido o pecado em Seu Decreto, Ele jam ais poderia ser co ncebid o como o auto r do pecad o. ; Adm itamos duas coisas emergentes: 1. A cu sar Deus de ter sido o criador do mal mo ral é uma blasfêmia, escreve o teólogo calvinista Louis Berkhof: Todos os conceitos deterministas [...] Por implicação, eles fazem de Deus o auto r do pecado f . . . f LÜ'" A lu z dis so tudo (referência s bíb licas), seria blasfê mia fa la r de Deus como o autor do pecado [ .. .f cd"“
2. As Escrituras negam frontalm ente que tenha passado pelo coração de Deus criar o mal m oral e determinar que o hom em p ecasse: E edificaram os altos de Baal, que estão no Vale do Filho de Hinom, para fa zerem passar seus filh os e suas filhas p elo fo g o a Moloque; o qu e nunca lh es or de nei, nem veio ao m eu co ra ção, que fi zessem ab om in ação. para fa zerem pecar a Judá. iJeremia s 32:35 ..
tal
Reflita nos trechos em negrito. Sugerimos o utras Escrituras: Jó 34:10; Is 6:3; Dt 32:4; SI 92:16. ~ Armínio tinha o conhecimento das tentativas calvinistas de isentarem Deus como o criador do pecado, mas ele não se omitia e declarava não poder se chegar a outro resultado. As articulações teológicas de Armínio negando ter sido Deus o autor do pecado não descansava em um a tentativa de denuncia r a vio lação do livre-arb ítrio por parte das crenças calvinistas. A questão era outra e mais re vestida de seriedad e. Tratava-se da injúria à glória de Deus, pois colocava em xeque Sua natureza. Três ponto s esclarecem isso: A doutr in a calvinista não condiz com a natu reza de Deus; E um insulto à glória de Deus; Não s e ajusta ao cará ter de Deus. 6.
Sob eran ia divina e livre-arbítrio .46
Defender a doutrina do livre-arbítrio cria problemas para a doutrina da soberania divina? Não, embora os calvinistas digam que sim. Tudo é uma questão de perspectiva. O arm in ianismo clássico concebe:
46 Esse ponto é uma paráfrase do texto Soberania e Livre-Arbítrio de Jack Cottrel disponível etn Acesso 08 nov. 2014.
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• Um plano divino todo-abrangente. Ou seja, não há problemas em argumentar que todos os detalhes dos acontecimentos envolvendo os seres humanos estão inclusos no decreto divino. Diferente do calvinista, o arminiano concluirá que admitir um plano divino todoabrangente não implica em ter que afirmar um plano divino todo-determinativo. Em outras palavras, Deus não determinou todas as ações humanas de antemão. Mas Ele determinou dotar o hom em de livre-arbítrio. • Que Deus decreta o que lhe apraz. Qual lógica pode suster que caso Deus desejasse dotar o homem de livrearbítrio e permitisse que este executasse ações livres Sua soberania estaria comprometida? Deus decretou dotar o homem de livre-arbítrio e isso exalta Sua soberania e não a diminui. O oposto colocaria Deus em uma situação de não poder fazer o que Lhe apraz. Daí sim chegaríamos, inexoravelmente, à conclusão de que Ele é finito e limitado. • Um D eus que se auto-limita. '■ O hom em exerce seu livre-arbítrio à parte do controle divino não porque o homem detenha poderes divinos ou poderes próximos aos de Deus, mas, porque Deus, soberanamente, escolheu autolimitar-se deixando po r sua própria vontade espaço para a ação livre do homem. • Que De us é absolutamente soberano. Deus é absolutamente soberano mesmo sem determinar todas as coisas. * desejar fazer alguma coisa é diferente de não poder fazer alguma coisa. Deus pode fazer o que deseja, inclusive não determ inar todas as coisas, logo, é soberano.,; Dissemos que a compreensão da harmonia entre soberania divina e livrearbítrio tem a ver com perspectiva. Dados os pontos acima comentados de modo brevíssim o, não vemos pro blem a com a perspectiva armin iana clássica. 7. O livre-arbítrio não é o cerne do arm inianismo Cabe nesse instante, devido à importância da doutrina do livre-arbítrio para Armínio e o arminianismo clássico, comentar, de passagem, a respeito da acusação dos críticos que afirmam ser o cerne do arminianismo o livre-arbítrio. Roger Olson mostra que Armínio e Episcópio em momento algum apelam para o livre-arbítrio como a razão primeira para oporem-se ao determinismo divino (aos decretos calvinistas supra e infralapsarianos). Nem Philip Limborch, controvertido
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remonstrante posterior, confomie demonstrado, partiu de tal premissa em sua oposição ao calvinismo. Olson escreve sobre Armínio: Contrário à opinião popular, Armínio não começou com o livre-arbítrio e chegou até a eleição condicional ou graça resistível. Antes, seu impulso teológico básico é absoluto: com prom is so co m a bondade de D eus (ênfase nossa). Sua teologia é cristocéntrica; Jesus Cristo é a nossa me lhor pista para o caráter de Deus, e nele D eus é revelado como compassível, misericordioso, a m ável e ju sto
Armínio estava comprometido com a bondade de Deus. Esse era o fio condutor de seu embate contra os teólogos William Perkms e Francisco Gomarus, seus contemporâneos, e contra os sistemas supralapsariano (e infralapsariano também), que para ele fazem de Deus auto r do pecado, co nfo rm e afirm ado acim a, e isso era insuportável para Armínio. Vam os passar rapidam ente os olhos na disputa de A rmínio com Perkins. Ela começou depois do lançamento do livro de Perkins chamado The O rder A nd Mode o f Prede stinaiion (A Ordem e o Modo da Predestinação). Armínio lida com o pensamento de Perkin s em The Works o f Jam es Arm inius, vol. 3. A intenção de Perkins era apresentar uma doutrina da predestinação mais razoável que o supralapsarianismo. Ao ler o livro algu mas vezes, Arm ínio o reprov ou por div ersas razõ es.cccK O pro blem a da autoria do pecado era uma delas. Para Perkins, Deus era o autor do pecado? N egando, explicava chamando a aten ção para a doutrin a da “perm is são”. A Queda foi “permitida” por Deus, mas não à parte de Sua vontade. Essa combinação, segundo Perkins, não implicava na atribuição a Deus da autoria do pecado. Armíno estranhava essa articulação, pois lhe parecia ilógica. Ele ponderou: “Como pode ocorrer a queda porque Deus a deseja e a vontade de Deus não ser a ca usa da queda.” ccclxi D eus perm itiu o pecado por duas razões: Ia a liberdade (libertas voluntaria ); 2a a manifestação da perfe iç ão divina. Esta permite às criaturas racionais irem além das ordens prescritas com o intuito de exaltar a justiça, sabedoria, poder e bondade de Deus, explicou A rm ínio.i;CLlx” Para dar supo rte ele cita Ag ostinh o: “D eus, em sua b o n d ad e, nu nca permite o mal, a menos que, por sua onip otência, Ele suscite o bem do mal.”cl'cIxi11 f E a bondade divina o âmago do arminianismo e não o livre-arbítrio. Deus não pode ser o criador do mal porq ue Ele é bom. Partimos dessa premissa . O livre-arb ítrio segue-a.) Consideremos as conseqüências das perspectivas de Armínio e as de seus contrários a partir das conclusões do próprio Armínio, segundo Olson. a) A bon dad e Deus • Jesus Cristo : m isericórdia , am or e ju stiça. • Deus é bom po r natureza.
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• D eus é necessaria mente bom. • Deus é glo rific ado exata mente p o r revela r sua bondade na cria ção e redenção. • A natureza boa e ju sta de Deus leva-o a desejar a salvação de todos os homens. b) Os d ecreto s in fra e su p ra la p sário s • Arbitra riedade. • Injustiça. • Deus deseja destruição dos impios. • Deus o auto r do pec ado. • Deus desejou e tornou certa a Queda dos homens. • D eus opta apenas p o r salvar um a parce la da humanidade. Armínio coroava sua ênfase na bondade de Deus como ponto de partida para chegar a temas como a eleição condicional. Para ele, Deus é bom devido a uma necessidade interna e natural e Ele deseja alguma coisa porque ela é correta e coadunase com Sua natureza (essencialismo).) Desse modo, Armínio negava o voluntarismo, conceito que “insiste que algo é correto, por ser o desejo de Deus; ou seja, Deus decide que algo é correto, e então passa a ser correto.” ccclxiv O filósfo greg o Só crates foi quem levantou essa questão, perguntando: “Uma coisa é direita porque Deus a determina pela sua vontade, ou Deus determina alguma coisa porque ela é direita?”ccclxv O voluntarista dirá que algo é direito porque Deus disse que o é. Ou seja, a vontade divina precede qualquer abordagem envolvendo, por exemplo, o caráter moral. Para a manuntenção da soberania divina, ou para fazer justiça a ela, os voluntaristas sustentam ser um princípio válido, ou moralmente bom, apenas pelo fato de Deus desejar assim. Por exemplo, se Deus desejou a dupla predestinação, essa é Sua vontade, Seu desejo, portanto , está correto e isso não deve sofrer objeções e inquirições. Objetamos, como Armínio, essa noção filosófico-teológica, pois ela contrasta com o livre-arbítrio. Também ela exige o assentimento de uma ação divina qualquer mesmo que contradiga as ideias de moralidade do homem. O teólogo calvinista John Gresham Machen (1881-1937) declarou: “Todas as coisas, incluindo até mesmo as ações malévolas dos homens perversos e dos demônios, são trazidas à existência de acordo com o propósito eterno de Deus.’
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toda a ação.47 Para M achen e mu itos calvinistas. Deus d esejou o estupro de u ma criança com três anos de idade, realizado por um adolescente de quatorze anos de idade que teve sua orelha decepada por populares. Mesmo que nós jam ais desejássemos um a coisa horrenda como essa por causa de nossas ideias de moralidade, estamos errados em negar o voluntarismo divino, pois Deus quis que as coisas fossem assim e Ele sabe o que faz. É isso que propõem os voluntaristas. Bom, que Deus sabe o que faz disso não temos dúvida, mas, rebaixar o padrão de moralidade de Deus em qualquer sentido é uma blasfêmia. Deus ter desejado aquele circo de horrores O rebaixa a tal ponto dEle ficar aquém do nosso padrão moral. Isso é inaceitável, pois, devido Sua suprema santidade, é impossível que o Eterno induza alguém ao mal (Tg 1:13) ou que tenha programado as pessoas para a execução de atos horrendos. Conclusão
A doutrina do livre-arbítrio é bíblica: antes da Queda vemos o livre-arbítrio em Gênesis 1:27, 28; 2:16-17; 3:6, 11, 13. Depois da Queda o livre-arbítrio é encontrado em Gênesis 2:17; 3:9-10; Mt 23:37; Jo 7:17; Ap 22:17. Esta última referência claramente insinua o concurso do livre-arbítrio humano para a salvação: “O espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve, diga: Vem. Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.” “Quem quiser”, implica em, diante da oferta, poder escolh er ou não, sem co ações, beber da água da vida. D ess edentar-se é uma possib ilid ade universal: “quem quis er” . Encontramos a doutrina do livre-arbítrio também em eminentes patrísticos: Justino Mártir (100-165 d.C.), Irineu de Lion (130-200 d.C.), Clemente de Alexandria (150-215 d.C.), Orígenes (185-254 d.C.), Jerônimo (347-420 d.C.) entre outros. Sem livre-arbítrio, a obrigação moral toma-se um absurdo. Qual sistema moral poderá subsistir se culp a o hom em por aquilo que ele não pode evitar? Justino M ártir, em sua Apolo gia 43:2-3, escreveu: Nós aprendemos dos profe tas e afirmamos que esta castigos e tormentos, assim como as boas recompensas um confor me as suas obras. Se não fo ss e assim, mas p o r destino, não haveria absolu ta m ente livre-arb ítrio.
é a verd ade: os são dadas a cada tudo acontece sse Com efeito, se j á
está determinado que um seja bom e outro mau, nem aquele merece elogio, nem este, vitupério. Se o gênero humano não tem poder de fugir,
p o r livre determ inação, do que è vergonhoso e escolh er o belo, ele não é irres pon sáve l d e nenhum a ação que fa ça .ccc!xv“
47 Noticia disponível em http://varelanoticias.com.br/video-garoto-de-14-anos-tem-orelhaarrancada-apos-ser-suspeito-de-abusar-crianca-de-tres/ Acesso set. 2014
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1 S eg un do o trec ho em neg rito , p ara Ju stin o, é im p ossív el j u lg a r u m a p es so a ca s suas ações estejam condicionadas às causas anteriores sem que ela pudesse agir de outra man eira caso desejasse. ' N eguem o livre -a rb ítrio humano e destruam os mandamento s morais das Escrituras.
Introdução ao Arminianismo
Conôtberaçõesí Jf tnatá
N ossa pro posta com este livro foi ofere cer in fo rm ações prelimin ares e históricas a respeito de Armínio e do arminianismo clássico amparando suas doutrinas bib licamente. Entendemos te r alcançado esses objetivos. Com esse êxito, esp eramos que um entendimento mais claro e honesto a respeito de Armínio e do arminianismo clássico tenha cheg ado a você, caro leitor. Armínio e o arminianismo clássico apresentam uma teologia válida e sólida, escrituristicamente falando, além de se mostrar como um ramo teológico imbricado diretamente com a história da igreja desde a patrística dos quatro primeiros séculos até os dias atuais. As premissas teológicas apresentadas e defendidas neste trabalho são mais antigas que as defendidas pelos calvinistas. Se os calvinistas podem falar a respeito de sua soteriologia como sendo “as antigas doutrinas da graça”, os arminianos podem tranqüila e corajo samente referir-se à sua doutrin a da salvação como “as antiquíssimas doutrinas da graça de Deus” e isso, conforme entendemos, foi demonstrado ao longo deste livro. A luz dos resultados da nossa pesquisa, é impossível classificar o arminianismo clássico como heterodoxo em qualquer sentido que seja. Ortodoxia é que não falta à teologia arminiana clássica. A teologia arminiana nunca buscou fundar-se em fontes espúrias, duvidosas, mas, seguindo Armínio, buscou cercar-se de teólogos e ramos teológicos de excelência. Até Agostinho, herói dos calvinistas, foi chamado diversas vezes para fundamentar o pensamento de Armínio e ele atendeu ao chamado. Portanto, os críticos d everão se resignar para passarem a tratar Armínio e o armin ianismo clássico com justiça e responsabilidade. Muitos desconhecem que a maioria das igrejas evangélicas no Brasil são arminianas. Isto, para o bem e para o mal. Para o bem porque estamos certos que a soteriologia arminiana clássica é mais fiel às Escrituras. Para o mal, porque muitas denominações não são bem orientadas, por exemplo, quanto à supremacia da graça divina sobre o livre-arbítrio humano. Oramos para que mestres surjam ensinando a sã doutrina e tais denominações se alinhem à soteriologia dos apóstolos naquilo que for necessário. N o Brasil, são denomin ações arminianas as Assembléias de Deu s, os Batistas gerais (que nâo são particularistas), as Metodistas do Brasil e Metodistas Wesleianas, Metodistas Livres, Igreja do Nazareno entre outras. Note que são denominações importantes e sérias. Há um contigente muito grande de arminianos no Brasil. Somos majoritários comparados aos calvinistas. Findamos nosso trabalho orando ao E terno pa ra que Ele nos abençoe.
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üpênbtce l Sá SntígutÊtéímasí IBoutrínaá ba #raça be IBeué Intr odução
O critério mais importante usado pela Crítica Textual*H para determin ar se um texto bíblico está mais próximo de seu autógrafo é o da “antiguidade”. Quanto mais antigo for o documento em análise, maiores são as chances de correspondência com o original. Sendo mais recente, a credibilidade diminui. Outro critério adotado tem a ver com a citação patristica. Escolhe-se um texto de uma versão antiga e recorre-se aos pais da Igreja em busca de conferência. Ao estudioso, os “pais” poderão informar sobre a interpretação e o entendimento de determinados textos ao mesmo tempo em que demonstram a compreensão adotada na época. Passemos a um exemplo. Devemos tomar Júnia em Romanos 16:7 por nome masculino ou feminino? Valendo-se do testemunho antigo, o teólogo calvinista Augustus Nicodemusccclxvin cita Epifãnio (310 - 403 d.C), bispo de Salamina, para dizer que Júnia muito provavelmente era homem. Nicodemus argumenta ainda, retrocedendo no tempo, que Orígenes cita Júnia no masculino em um comentário da Epístola aos Romanos. Aqui há uma vivida evocação de testemunhos antigos. Com estas palavras introdutórias desejo apontar que evocar a “antiguidade” nos estudos bíblicos é sinônimo de evocar “autoridade”. Sabedor disso, o teólogo calvinista Paulo Anglada, citando Charles Spurgeon, escreve: A velha verdade [...] que Agostinho pre gava, que Paulo pregava, é a verdade que tenho que pregar hoje [...]“ clxlxSpurgeon disse “velha” . O título do livro de An glada traz o mote calvinista “As An tigas Doutrinas da Graça de Deus”. Portanto, para os calvinistas, quanto mais “antigo”, melhor. Para nós também. Denomina-se de “As Antigas Doutrinas da Graça de Deus” o acrônimo TULIP (tulipa em inglês): • Total Depravity = D epravação Total • Unco nditional Election = Eleição Incondicional • Lim ited Ato nement = Expiação L imitada 48 “A critica textual é a atividade que se dedica a restaurar o texto original de documentos que possam ter sido expostos a incidentes devido a sucessivas cópias e recópias” (FERGUSON; WRIGHT, 2009, p. 265).
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• Ir resis tible Grace = Graça Ir resistível • Perseverance ofthe Saints = Perseverança dos Santos Para dar o tom de antiguidade a essas doutrinas, Spurgeon evoca Agostinho e Pauio. Aqui ocorre um dado digno de nota. Entre Paulo e Agostinho há uma distância de 300 anos de história da igreja. Logo, há uma história anterior a Agostinho. Este ensinou os cinco pontos acima. Assim, os calvinistas estão corretos em falar sobre “antigas doutrinas da graça de Deus”. Porém, no tocante a Igreja anterior a Agostinho e poste rio r a Pau lo, o que fo ra dito a respeito dos cinco ponto s? Tirando o primeiro ponto e o quinto, que deve ser pensado como uma perseverança dos santos de modo condiciona], os demais, até onde temos podido constatar, são negados pelos pais apostólicos e gregos. Como não podemos nos alongar demais neste texto, vamos apresentar testemunhos mais antigos que posso para demonstrar isso. Citaremos Clemente de Roma e a Epístola de Diogneto. E le iç ão Incon dic io nal
Isto não existe na Epístola aos Coríntios escrita por Clemente no final do prim eiro século. Clemente foi discípulo de Ped ro, o apóstolo, seg undo Irineu de Lion e, de acordo com Orígenes e Eusébío de Cesaréia, foi cooperador do apóstolo Paulo (Fp 4:3). Na Primeira Epístola, ele escreve: “Por causa da fé [...] Raabe, a prostituta, se salvou.”ccclxx O autor diz que a causa da salvação de Raabe foi a fé. Desse modo, deparamo-nos com uma eleição condicional (Rm 8:29; 16:13; Ia Pe 1:2; 2a Jo 1:1, 13). E xpia ção Lim itada
A Epistola de Diogneto (texto antiquíssimo contado entre os “pais apostólicos”) diz:
Se também desejas (é pa ra quem desejar) alcan çar esta fé, primeiro deves obter o conhecimento do Pai. Deus, com efeito, amou os homens. Para eles (todos os homens) criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão sobre a terra. D eu-lhes (a todos os hom ens) a pala vra e a razão, e só a eles pe rm itiu contemplá-lo. Form ou-os (todos os homens ) à sua imagem, enviou-lhes (a quem? a todos os homens aos quais Deus amo u e deu a razão) o seu Filho unigênito (JOAO 3:16), anunc iou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado (ênfase nossa).Lcclxu
Eis uma completa declaração antiquíssima sobre expiação ilimitada (Jo 1:29, 3:16, 6:33; Rm 11:12, 15 e Uo 2:2). A parte em negrito é um arremate que nos remete ao sacrifício de Cristo disponibilizando salvação a todos, mas conquistando-a apenas para os que creem. Ali está também a doutrin a da eleição condicional.
Introdução ao Arminianismo
Graça Irresistível
Clemente Romano escreveu: “Percorramos todas as gerações e aprendamos que de geração em geração o Senhor deu possibilidade de conversão àqueles que a ele quiseram retomar/’ Observe: deu possibilidade de salvação aos que quiseram. “Querer” sempre é importante na soteriologia bíblica. Realçamos: primeiro tem que querer retomar (isso depois da pregação do Evangelho, óbvio) para depois se converter. Caso não queira, a possibilidade de salvação não existe. Com esta fala, “anunciou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado”, a Epístola de Diogneto também nos conduz à doutrina da graça resistível (Mt 23:37; Lc 7:30; Jo 5:40; At 7:51; 2 Pe 3:9). Perseverança dos S anto s
Esta é bíblica, mas, como dissemos acima, deve ser pensada de modo condicional. Recorramos novam ente ao testemunh o antiquíssimo de Clemente Romano: “Já que vê tudo e ouve tudo, temamos a Ele e abandonemos os maus desejos das ações desonestas para nos pouparmos por Sua piedade dos futuros juízos. Para onde poderia algum de nós fugir de Sua mão forte? Qual mundo receberia alguém que desertou De le?” Observe o verbo “desertar”. Para Clemente não existe perseverança incondicional dos santos como propõe o calvinismo, mas perseverança condicional. Note: Clemente viveu entre 30 a 101 d.C e foi presbítero entre 90 a 100 d.C. Se Agostinho é um intérprete antigo, Clemente é antiquíssimo. Conclusão
Pensamos ter demonstrado que as doutrinas da eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança incondicional dos santos, apresentadas pelo acrônimo TULIP carecem de testemunho patrístico antigo mais próximo dos apóstolos e, portanto, da igreja do primeiro século. Por isso que Spurgeon só pode falar “a velha verdade [...] que Agostinho pregava Jack Cottrell diz: Como estudante de teologia, quando li pela primeira vez os pais apostólicos, fiz anotações nas margens de todas as passagens que contradizem as doutrinas do Calvinismo. As margens de minha velha edição de Lightfoot estão cheias das letras T, U, L, I, e P, indicando declarações que mostram que estes escritores NAO acreditavam nos ccdxxii • _ . cinco pontos.
Spurgeon não pode contar com a antiquissima tradição dos pais apostólicos e gregos. Visto tal dificuldade calvinista, felizmente, a mesma não pode ser atribuída ao
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arminianismo clássico. Suas crenças, em perfeita sintonia com os pais gregos, foram sintetizadas pela Rem onstrance em cinc o artigos, a saber: • Deus ele ge ou reprova com base na J é ou na in cr ed ulidade previs ta s (eleição condicional). • C risto morreu po r todos e p o r cada homem (expiação ilimitada). • O homem é tão depravado que a graça divina é necessária tanto pa ra a fé como pa ra as boas obras (depravaçã o total). • Pode-se re sistir à gr aça divina (graça resistível). • Se todos os verdadeiros regenerados persev eram com certeza na fé, é uma questão qu e exige maio r investigação (perseverança dos santos). Acima, dissemos que a doutrina da depravação total é bíblica e, portanto, encontrada na patrística anterior a Agostinho. T ambém informamos que a perseverança dos santos é escriturística. Nesse caso, destacamos que ela deve ser pensada como condicional. No 5o artigo, a Rem onstr ance deixa a questão em aberto. Porém os arminianos se dividem nesse ponto. Em nossa opinião, seguindo Escrituras como Mt 24.12,13; Lc 9.62; Lc 17.32; Jo 15.6; cf. Rm 11.17-21; 1 Co 9.27; G1 5.4; 1 Tm 1.19; 1 Tm 4.1; 2 Tm 2.12; Hb 3:6, 12, 14, e tomando como referência patrística os testemunhos de Clemente Romano, por exemplo, a perseverança dos santos é condicional. Os demais artigos, Io, 2o, e 4o, todos eles estão em consonância com os antiquíssimos testemunhos dos pais apostólicos citados. Devemos nos recordar que evocar a “antiguidade” significa apontar “autoridade”. Agostinho é antigo e, portanto, uma autoridade, pois está mais próximo dos apóstolos que nós. Claro que sua autoridade como teólogo não se restringe ao fator “antiguidade”. Porém antes de evocá-lo como referência de intérprete das doutrinas da graça de Deus, é necessário fazer um percurso ascendente - dos apóstolos até ele. Mediante argumentações apresentadas, ao fazer tal percurso, os ensinos agostinianos que amparam a soteriologia calvinista não são encontrados nos cerca de trezentos anos de história do pensamento cristão anterior a ele, conforme demonstrações feitas por nós e conforme asseverou Cottrell. Já a soteriologia de Armínio apontada nos cinco artigos da Remonstr ance pode ser claramente observada. Apenas dois “pais” antiquíssimos serviram para demonstrar isso. Finalmente, nosso breve texto não foi escrito para dizer que os calvinistas estão errados em usar a expressão “As Antigas Doutrinas da Graça de Deus”. A intenção foi, com algum fundamento sólido, ressaltar que só os arminianos clássicos podem dizer a respeito de suas crenças soteriológicas como fundadas nas “Antiquíssimas Doutrinas da Graça de Deus” .
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^pênbtce 2 (0rbo Salutis, ©éíiíl (Excluátbtsmo e <&no£tm£mo Intr odução
Seguem comentários sobre crenças arminianas relacionadas à doutrina bíblica da salvação. Iniciamos apresentando a ordem da salvação, em seguida questiono a insistente ideia de uma expiação limitada denominada por mim de débil exclusivismo e, por fim, destacamos uma soteriolo gia particularista do gnosticismo do I século que fazem nossos pensamentos retomarem para a segunda questão sobre a qual falaremos pouco , mas de modo consistente - crem os. /.
Ordo Salutis
A ordem da salvação na qual acredito é essa: eleição, arrependimento, fé, regeneração, justificação, adoção e perseverança. Explico tal ordem assim: 1.1.
Eleição
O Novo Testamento ensina uma eleição individual (2a Jo 1:1, 13) e coletiva (laPe 2:9). Tais eleitos são todos aqueles que creem no poder eficaz do sangue de Jesus derramado na cruz. Esses eleitos são os pred estin ad os por presciência. 1.2.
Fé
A fé salvífíca é um d om de Deu s (E f 2:8), no entanto, o ato de crer é humano. A fé é dada divinamente e não imposta e, assim, o homem a usa para o propósito original caso queira. 1.3.
Arrependimento
Deus notifica a todos os homens que se arrependam (At 17:30). Os homens devem ceder às convicções do Espírito Santo que objetiva convencê-los do pecado para que sejam salvos. É necessário lembrar que o arrependimento sozinho não confirma a salvação. 1.4.
Regeneração
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É o resultado do genuíno arrependimento e de uma fé subjetiva que confia a vida a Cristo. Esta obra é implementada pelo Espírito Santo que gera o novo homem no homem (Jo 3:3; 2a Co 5:17; Ia Pe 1:3). O homem que experimenta a regeneração nasce de novo e é aquele que fora eleito. Tal regeneração não é em hipótese alguma processual. 1.5.
Justificação
O homem é eleito via a predestinação por presciência. Salvo, visto ter ele se arrependido dos seus pecados e direcionado, livremente, a fé dada por Deus, à obra de Cristo, é tom ado jus to diante de Deus, o Pai (Rm 5:1). 1.6.
Adoção
É um passo além da justificação. Neste momento, o homem toma-se membro da família de Deus e passa a desfrutar dos direitos e deveres relacionados a este novo relacionamento familiar. É como diz Paulo: “Herdeiro de Deus, e Co-Herdeiro de Cristo” (Rm 8:17). 1 . 7.
Perseverança
Tem a ver com a capacitação que o Espírito Santo concede aos crentes para irem permanecendo fielmente nos caminhos de Cristo até o fim. No entanto, tal perseverança não significa que uma vez em graça, sempre em graça. A re sponsabilid ade do salvo em permitir-se ser conduzido pelo Espírito é uma necessidade diária que pode ser preterida, pois o auxílio do Espírito Santo não é automático e nem imposto, mas deve ser buscado e admitido. Uma perseverança que leva o salvo ao gozo da salvação eterna é fruto da parceria entre ele e o Espírito. São várias as advertências a respeito da apostasia - em alguns casos, irreversíveis ( I a Tm 1:19; 4:1; Hb 6:4-6). Este estágio da salvação está intimamente ligado à vida de santificação, elemento sem o qual ninguém verá a Deus (Hb 12:14). Eis aí a ordo salutis que consideramos ser a que mais leva em conta o todo soteriológico do Novo Testamento. Esta ordo é arm iniana clássica. Antes de partir para os próx imos tem as, é necessário d izer que tudo isso acontece em um único ato. No entanto, para efeitos didáticos, tal ordo salutis é apresentada como se fosse dividida em etapas. 2.
D ébil E xclu siv is m o
A afirmação de alguns estudiosos de que a salvação é para apenas um grupo de eleitos é considerada por mim como débil. Razão: tanto Paulo como João oferece-nos referências bíblicas que esmagam a tese de uma soteriologia exclusivista. Vejamos.
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2.1.
I a Tim óte o 2:4
0 qual [Deus] deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao ple no conhecim ento da verdade.
Esse texto é uma golel49 sobre o elitismo salvífico pregado pelos calvinistas. O texto afirma categoricamente que é vontade de Deus que todos os homens se salvem. Um desejo como esse só pode ser procedente se o mesmo tiver condições de ser alcançado. A ideia de eleição e reprovação prévias, por parte de quem tem poder para salvar, determina como sendo sem nenhuma chance de concretização o seu próprio desejo. Se assim for, o que temos à nossa frente é alguém que brinca consigo mesmo a partir da miséria etern a de outros seres que sào, por natu reza, im potentes. Graças a Deus que as coisas não são assim! E interessante como os elitistas gostam de incluir nesta referência, depois da palavra “todos”, a frase “os eleitos”. Será que o co ntexto im ed iato perm ite isso? Não! O contexto bem p róxim o a esca referência, cita, por mais três vezes, a palavra “ todos” . A prim eira está no verso 1. Aqui o escrito r fa la da necessid ade de orar “em favor de todos os homens”. Nenhum intérprete comprometido com a verdade nega que a palavra “todos” é totalmente inclusiva. Nela estão em foco todos os tipos de pecadores e sanios. Observando com cuidado o texto do versículo 1 ao 8, não é possível outra conc lusão que o “todo s os hom ens ” do verso 1 é inclusivo e o do verso 4 é exclusivo. O versículo 3 diz: “Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso salvador”. Que é bom e aceitável para Deus? A oração universal por todos os homens referida no verso 1. Este mesmo Deus que se agrada da intercessão constante por “todos os homens”, também, segundo o escritor, “deseja que todos os homens sejam salvos”. Quais “todos os homens” sâo estes últimos? São os mesmos primeiros “todos os homens”. Isso é evidente e lógico. O versículo 3 faz essa ponte de maneira cristalina. A segunda vez em que temos a referência a “todos os homens” esta no verso 6: “o qual (Cristo Jesus, homem) a si mesmo se deu em resgate por todos. ” Essa passagem trata de um univ ersalism o qualificado, pois é isso que exig e o co ntexto imediato. Lembramos aqui que, mesmo sendo a expiação ilimitada, é necessário que o homem creia, pois nada há de automático na aplicação da obra de Jesus Cristo. Sendo assim, Ia Timóteo 2:4 e seu contexto imediato, de fato, ferem mortalmente a teoria partic ula rista de alguns. 2.2.
I aJo ão 2:2 E ele (Jesus) é a propiciação pelos nossos pecados, e não som ente pelos nossos próprios, mas ainda pe los do mundo inteiro.
■,l>A pesadíssima pedra que cobria a entrada do túmulo de Jesus.
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Qualquer tentativa de reduzir esta declaração a um grupo de eleitos é um ultraje à Palavra de Deus. Os calvinistas costumam interpretá-la assim: “pelos pecados do mundo inteiro dos eleitos”. Claro que essa interpretação é presumida. O peso de uma redenção potencialmente universal é sentido no tom joanino. Seu escopo é de uma redenção universal. Há uma ampla e suficiente provisão para todo homem. Mas isso não significa que a eficiência é tão ampla quanto, pois se faz necessário uma apropriação individual de Cristo. João não titubeia, mas é enfático ao ensinar que Jesus é a “propiciação” pelos pecados do mundo inteiro (todos os homens). O universalismo qualificado se apresenta novamente. Ainda nesta mesma epístola, João diz: E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo.
O apóstolo enfatiza o inclusivismo novamente em detrimento da teoria de um grupo de seletos. Devido à tamanha objetividade e clareza do texto, não há muito que dizer para provar que o escritor inclui toda hum anidade em sua afirmação. Mas, m esmo assim, caso alguma dúvida paire, observemos a breve seqüência: • C risto, “p ropiciação pelos nossos pecado s” “Pelos nossos” indica, obviamente, os salvos. • “M as ainda pelo mu ndo inteiro” "Mundo inteiro ” só po de se r uma r eferência à hum anidade inteira, visto que os salvos, como categoria, são distinguidos no início do versículo. Tal “humanidade inteira” é a mesma descrita em João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” Há muito mais nas páginas do Novo Testamento que negam a teoria de uma expiação limitada. A elevação de tal teoria prescinde da clareza das Escrituras para favorecer apenas a um co nstruto teológico. 3.
G nosticism o
O Gnosticismo foi um movimento herético e intricado que perturbou a Igreja tanto no período dos apóstolos como em um determinado tempo dentro do período patrístico. N este período, os gnósticos tivera m que enfrentar o gig ante írin eu (130-2 00 d.C), bispo de Lion. Já no tempo apostólico, o gnosticismo foi muito combatido por Paulo e João. As referências destacadas no tópico 2, a saber, Ia Timóteo 2:4 e Ia João 2:2, que abordam uma soteriologia inclusivista, foram escritas exatamente para combater um dos ensinos que compunha o sistema soteriológico dos gnósticos: a salvação exclusivista.
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Provavelmente, o grupo gnóstico chamava-se elquesaítas e ele pregava um mix de filosofia grega, jud aísm o e cristianismo. Os gnósticos tinham criado um ensino particularista, exclusivista, elitista, que dizia existir um grupo definido de eleitos para a salvação. Para combater este ensino, João e Paulo afirmam categoricamente que todo exclusivismo salvífico não procede de um a doutrina da salvação sadia. Para eles, a salvação é para todos os homens, para toda a humanidade. Não temos dúvid as de que a maneira enfática co mo am bos negam o particularism o gnóstico, serv e para negar também qualq uer elitism o soterioló gico pre tendid o ainda hoje. Isso in dependente de qual pena bro te tal ensino. Conclusão
Como dissemos, a ordo salutis descrita é arminiana. O arminianismo nega, com base nas Escritu ras Ia Tm 2:6 e Ia Jo 2:2 , que a ex piação seja limitada e vai na contramão do calvinismo, pois este é exclusivista, fato que nos leva ao problema de uma semelhança entre a soteriologia gnóstica e a calvinista. Dizendo isso, claro que esta vinculação não nos impede de lembrarmos que as premissas do gnosticismo, no tocante a seu elitismo, são bem diferentes das premissas particularistas calvinistas. No entanto, é bom sempre destacar que o Nov o T estamento não apoia nem um nem outro.
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^pênbtce 3 Conftrmaníio jBtoáôa Cletção Segue a análise de mais um texto-prova que alicerça a crença da perseverança condicional dos santos. 2a Pedro 1 :1 1 o au tor escreve: Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senh or e Salvado r Jesus Cristo.
Pedro relaciona a entrada de um cristão no reino eterno de Cristo ao cumprimento de condições prévias. Ele diz: “desta maneira”. Como? Confirmando a “vo cação e eleição” (v 10). Esse verso é claram ente sin ergis ta1’0. O autor não escon de sua convicção da necessidade de uma cooperação humana na concretização da eleição, nem oculta a crença sobre uma “chamada” resistível. É importante ter certeza se os receptores da epístola em foco eram pessoas conversas. Em Escrituras que suscitam questões como “possibilidade de queda” e “segurança eterna”, não deixar dúvidas quanto ao tipo de experiência espiritual dos interlocutores é condição sine qua non. Uma razão para isso é a afirmação arbitrária de alguns sobre passagens como essas não fazerem referência a autênticos cristãos nem terem relação com crentes genuínos leitores potenciais de tais textos. Escrituras de alertas são dirigidas a pseudo crentes, dizem. Lamentavelmente, isso é feito sem o men or pudo r hermenêutico. Mas, para Pedro, sua epístola estava sendo escrita para orientar crentes autênticos ou não? No verso 10 o escritor usa o título “irmãos”. Por cerca de trezentas vezes esse título é aplicado aos crentes no Novo Testamento. O versículo em foco trata de um desses momentos. Mesmo diante de tanta falta de inquirição espiritual, havia esperança no autor sagrado de que seus “irmãos” recobrassem os sentidos e passassem à fruição e frutificação espiritual. Outra prova encontra-se no verso nove: “havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados”. Esses esquecidos são aqueles que deveriam procurar “diligentemente fazer firme a [...] vocação e eleição” (v 10). Ou seja, os “irmãos”, crentes verdadeiros, aqueles que são dos nossos. Em inatividade espiritual, as virtudes 30 Tal sinergismo não é humanista nem para o autor (isso deve ser óbvio) nem para mim. Nas Escrituras, toda habilidade de cooperação humana no processo salvífíco é um dom divino e nunca algo inato.
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elencadas nos versículos 5-7 não fluiriam de forma robusta e a ausência delas implicaria no esquecimento do perdão dos pecados cometidos anteriormente à conversão. Retrocedendo um pouco mais, leiamos os versículos 3 e 4, respectivamente: “visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida [...]” e “pelos quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas [...]”. Pedro, ao usar o pronome “nos”, não duvida que seus interlocutores são irmãos de fé genuínos. Esta certeza não muda no ato do alerta. Ao d izer “vós” em 1:5, ele se dirige às mesmas pessoas contadas com ele nos vers ículo 3-4 co mo membro s da pro le divina. Nin guém deveria duvidar que Pedro fala a homens e mulheres convertidos, mas sempre tem quem teime em dizer o contrário. Retomemos a afirmação de que estamos diante de um texto sinergista. Notamos no versículo 11 e 10 o autor trabalh ando com duas fren tes: a in iciativa divina e a reação do homem. O cristão é instado a “confirmar” sua eleição. Esta não pode ser levada às últim as conseqüências caso exista frouxidão moral e espiritual. Pedro não dá como questão líquida e certa que seus irmãos perseverarão finalmente, embora tenha esta expectação. Isso pode ser percebido na cadeia de declarações enfáticas e intensas como “procurai”, “com diligência”, “cada vez maior”, “confirmar”. O fato é que há uma real possibilidade de queda se não forem cultivadas virtudes próprias à vida de um cristão. Por isso os leitores são convocados a serem frutíferos. Uma vez tendo a fé sufocada, a eleição não é confirmada, e esse crente não consta, nem constou, no rol dos eleitos. Expressões bíblicas como “não apagueis o Espírito” e “sem a santificação ninguém verá ao Senhor” seguem na mesma linha da intenção petrina. Similarmente, Paulo dialoga com os filipenses de modo sinergístico (Fp 2:12-13). Em Ia Coríntios 10:1-12 o apóstolo dos gentios exorta os crentes a deixarem o pobre nível de espiritualidade que eles estavam vivendo, caso contrário, seus privilégios salvíficos se perderiam. Analogamente. Paulo cita a experiência de Israel depois da libertação do Egito. Sendo conduzidos em graça e sob o favor divino e na comunhão do Senhor, muitos israelitas sucumbiram por causa da idolatria, murm uração e rebelião. “Confirmar” a eleição vivendo a fé, o conhecimento, o domínio próprio, a persevera nça, a piedade, a fratern id ade e o am or, é resguard ar-se do tropeço (v 10). Tal tropeço pode ser temporário (o filho pródigo, por exemplo) ou definitivo (Hb 6:4-6). A responsabilidade dos “irmãos”, diz Pedro, em outras palavras, é fundamental para a contínua revolução moral da alma deles. No que concerne a Deus, tudo foi feito e pro vid enciado para que fosse “amplamente concedid a a entrada no rein o eterno do [...] Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Porém, quanto aos irmãos, haviam condições a serem observadas de modo sério e diligente, caso contrário sofreriam o desastre espiritual de conseqüências eternas.
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jfôlemoriaí a Sfacó A rm ínio - ü>tmão Cptácópío, 30.30. 1623* Este servo de Deus, Armínio, a fim de estar aprovado diante de Deus, escolheu suportar o ódio e a contradição de toda a humanidade antes de violar a sua consciência. Ele hasteou a todo o mundo cristão a insígnia da paz e da concórdia, e desejou iniciar isto nas Igrejas Reformadas. Sendo um homem paidente e de espírito brando, percebeu que estas igrejas estavam dispersas e separadas umas das outras de várias formas, e até agora nâo se observou medida alguma para acabar com estas dissensões. Portanto, os seus esforços foram usados para induzir as partes contenciosas a pôr de lado a animosidade, e cantar um cântico fúnebre sobre as suas inimizades e disputas desnecessárias. Este era o plano de Armínio: que todos os esforços fossem empregados a fim de se fazer um relato acurado destas doutrinas que são absolutamente desnecessárias, e que cada uma das partes se conftne dentro destes limites; que, em relação a todo o resto, tudo o que fosse tolerável ou que não dificultasse a salvação, recebesse tolerância; que a regra da Prudência e Caridade, por si só, fosse suficiente para este pro pósito; e que, sem estas coisas, a contínua contenda e ódio seriam perpetu ados, os quais fariam as lágrimas da Igreja fluírem novamente. Arm ínio pers istiu nisto até o fim da su a vida. Este plano se to m ou um a fonte de dor e tristeza para ele, em virtu de da re sistê ncia obstinada daq ueles que deveriam ter se mostrad o mais favoráveis a este plano. Se isto foi louvável ou nâo, deixemos que eles se julguem afetados pela comiseração à vista de toda a cristandade dividida em minúsculos partidos: eu me rio, sem dúvida, disto ter um propósito piedoso. Armínio era tão grande admirador e praticante da direção apostólica, “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. ”, (F1 4.5) que sempre se mostrou indulgente em expressões amargas ou injuriosas. Ele nunca será pego difamando, muito menos incitando o ódio e caluniand ou injuriando por uma palavra sequer aqueles a quem Capellus cham a de “os reformadores” . N a verdade, ninguém jam ais discordou deles com tamanha moderação. Que os escritos de Armínio sejam examinados e que a minha afirmação seja encontrada correta. Esta era, de fato, a modéstia deste homem piedoso e instruído, que consid era va que to dos os erros, especialm ente aq ueles que demonstrou serem injuriosos à piedade, deveriam ser atacados com ousadia e segundo o pensamento dos seus autores; porém, que os pró prios errantes deveriam ser tratados * Agradecemos a Luis Henrique, tradutor desse Memorial , por ter permitido a inclusão do texto nesse livro. Luis Henrique é editor do blog www.personaret.blogspot.com.br , um arminiano de coração e é graduado em Teologia pela ULBRA, Canoas - RS.
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com brandura e segundo a mente de Cristo Jesus. Visto ele saber o quão fácil é cometer algum erro, o quão injusto é disciplinar com opróbio aquele que está no erro, o quão desagradável é falar mal de um homem piedoso, e o quão isto é necessário para um cristão, e particularmen te a um bispo, não ser violento, mas paciente (lT m 3,3), gentil para com to dos os homens, apto para in struir com mansid ão aq ueles que lhe opõem (2Tm 2,24). Tal foram os seus sen timentos, tal foi a sua cond uta - mu ito contrária às vergonhosas artes que Capellus emprega! Armínio era tão avesso a uma nova Confissão quanto era de um cisma. Estas coisas que ele considerava como desiderata (desejáveis) na Igreja, deveriam ser corrigidas pela Igreja e dentro dela mesma. Armínio pensava que estas coisas poderiam ser alteradas com maior eficiência e segurança. Ele não esperava um remédio das novas confissões, na verdade, temia angústias ainda mais perigosas. Aderir somente as Escrituras ou tolerar algumas frases impróprias afirmadas em qualquer confissão, unicamente por um ódio do cisma, e também reconciliá-las com a Escritura com o beneficio de um a leve inte rp re tação ou corrigi-las com o auxílio de revisões lícitas era, em sua opinião, uma direção muito melhor do que dispender trabalho em novas confissões que poderiam servir para fomentar cismas. Pois como um homem prudente ele percebeu, nesta época frutífera em contendas e disputas, a conseqüência mais comum onde novas confissões são escritas, os corações dos homens se dividem e se distraem por causa das suas opiniões diferentes. - Em nenh um mom ento da sua vida ele afirmou, muito menos contestou, que o artigo sobre a Predestinação nas Confissões Holandesas era falso ou que apresentava evidentes marcas de falsidade, que continha heresias ou que sobejava delas, muito menos que ele abundava numa multidão de heresias. Como prova irrefutável disto pode-se declarar que Armínio sempre se esforçou para acomodar os seus sentimentos com vários e fortes argumentos da própria Confissão Holandesa.le Ele professou que estava preparado para se retirar do ministério se em algum momento, seja em secreto ou em público, tivesse falado ou escrito qualquer coisa contrária a esta fórmula. Armínio sempre negou que os sentimentos os quais combatia eram aqueles da Confissão. Ele dizia que combatia os sentimentos de alguns teólogo s em pa rticular, dos quais ele era perfeitamen te livre para discordar. Armínio nunca disse que toda a raça humana foi, ao mesmo tempo, reconciliada e curada pela satisfação de Cristo. Ele era um hom em de grande acurácia para falar algo desse tipo. Ele disse que a humanidade foi reconciliada pela satisfação de Cristo: Mas quem, exceto um tolo, diria que eles foram curados? Armínio apenas ensina que Deus, por causa de Cristo, concede aqueles que lhe são reconciliados através de Cristo, uma nova potência (capacidade), quando são chamados pelo Evangelho, a fim de que possam ser capazes de se libertarem da su a serv id ão, desde que usem diligentemente esta capacitação, não a queiram para si mesmos senão para a graça de Deus. Pois bem, Armínio ensina isto, ensina uma doutrina contrária a que Capellus deseja. Para este homem que nos ensina, aqueles que sâo reconciliados ainda estão sob a servidão do pecado, mas que, com au xílio da gra ça recém -c oncedid a, é possív el ser gradualm ente curado de sua servidão. Porque uma coisa é dar a capacidade para qualquer um, pela
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qual tal pessoa pode sair da sua servidão, porém outra coisa é sair verdadeiramente da servidão ou ser curado dela. As pessoas que viveram com Armínio, e que como diz a frase, comeram um saco de sal em sua companhia, podem dar testemunho da sua sinceridade e integridade. A França, seu país, nunca produziu um espírito dotado de tão grande integridade. A menos que ele tivesse sido estudioso destas virtudes, ele jamais teria incorrido na chance de tanto ódio, não se submetendo ao perigo de tal obstinada contradição. Se ele ocasionalmente se usou da prudência, a partir de um grande respeito a sua própria consciência e da paz pública, ele não fez nada mais além do dever de um bom homem e cristão. Ele podia fazer isto, e realmente fez, sem qualquer desejo de enganar ou, melhor ainda, o fez com o desejo de se aprovar mais diante de Deus, o único que sonda o interior dos corações e que sabe que um hipócrita é mais detestável que um homem abertamente ímpio. Pois quando um homem mau quer se aparecer como um homem bom, ele é então o pio r de to dos os homens. Qual seria o desejo mais aberto, sincero e enérgico do que a Declaração de Armínio diante dos estados da Holanda? Gostaria que os seus adversários tivessem, com a mesma franqueza e ingenuidade, declarado os seus sentimentos sobre a Reprovação, na Conferência de Haia, e mais recentemente no Sínodo de Dort! Mas se alguma vez estas pessoas foram dissimuladas, ou se recusaram a revelar os seus sentimentos, estas foram certamente os membros destas duas assembleias. Na verdade, esta é uma ocorrência comum - quando um homem percebe ser culpável de algum crime, ele rapidamente o descarrega sobre os outros, a fim de que pareça estar na maior distância possível do mesmo. Portanto, concluo dizendo que Armínio agiu em todas as coisas com perfeita boa fé e sinceridade; que ele abertamente pro fe ssou a doutrin a a qual acreditav a; que segundo a sua própria declaração, ele sempre espertamente acreditou que esta doutrina era contrária as fórmulas das Igrejas; que ele nunca condenou as fórmulas; e que ele nunca divulgou, exceto na assembleia dos Estados e ao seu comando, as considerações que ele havia sublinhado segundo o decreto do Supremo Magistrado e a pedido do Sínodo. Assim sendo, Capellus sem qualquer causa justa, lamenta a ausência de sinceridade neste homem muito sincero. - Exam en Thesium I. Capelli
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©efeáa 3&emonsítrante Contra a glcuáação be jpelagtamámo e ê>emípeIagtaní£ímo (Entregue ao Üúnobo íie Jiort* Mas nós devemos declarar, semelhantemente, o nosso juizo concernente ao semipelagianismo. Os Massilianos parcialmente corrigiram e parcialmente man tiveram o erro de Pelágio, por isso eles receberam de Pro sper a denom inação de relíquias ou restos de Pelágio, e são comumente intitulados semipelagianos. Eles consentiram com a existência da graça preveniente, mas som ente aquela que precede ou vem antes de boas obras, não aquela que também precede o início de fé e de uma boa vontade, por isso eles criam que o homem precedia Deus (mas isso não sempre, mas vez por outra). Contrário a isso, dizemos que Deus precede ou vem antes do início da fé e de uma bo a vontade, e que é d a graça tanto a nossa vo ntade ser excitada para com eçar o bem, como igualmente, estando assim preparada, ela será levada até a benção da regeneração. Os semipelagianos afirmavam que o homem, através das pré-disposições que haviam sido implantadas em sua natureza, obtinha a graça como uma recompensa, e, embora eles talvez, por vezes, recusam o uso do termo mérito, de modo algum eles excluíam o mérito próprio. Mas nós negamos que, através dos esforços da natureza, o homem torna-se merecedor da graça. A opinião dos semipelagianos era que, para a pre serv ação da graça do Espírito Santo, não desejamos nada mais do que aq uilo que pela natu reza podemos ter, ou aq uilo que um a vez podemos obter em conju nto com a graça. M as nós reconhecemo s que, para a nossa perseverança no bem , a graça especial é também necessária. Portanto somos injustamente acusados de semipelagianismo pelos contra-remonstrantes, uma vez que condenamos nos semipelagianos aquelas coisas que anteriormente a igreja universal havia condenado neles. No entanto, são grandes sinais de inconstância e, consequentemente, de um falso juízo que, enquanto alguns deles fixam sobre nós o pelagianismo e os outros o semipelagianismo, há outros que afirmam que somos quase semipelagianos. Todos eles tendo escolhido e empregado esses epítetos apenas para fins de ódio. Nossa conclusão, portanto, é que não derrogamos nada da graça divina, mas reconhecemos seus atos sobrenaturais e imerecidos, e sua absoluta necessidade para o trabalho de conversão. Mas, por outro lado, francamente confessamos que a indiferença ou a liberdade da vontade não é removida pela graça, mas é aperfeiçoada para o melhor; e que a vontade não é compelida, ou tão afetada rumo ao que é bom de forma que não seja capaz de fazer o oposto. * Agradecemos a Samuel Coutinho, tradutor dessa defesa remonstrante, por ter permitido o uso do documento em nosso trabalho. Samuel é editor do site arminiano www.deusamouomundo.com. É um profundo conhecedor do arminianismo.
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Este foi também o julgamento de toda a antiguidade e da igreja universal, e os ortodoxos consideraram esta maneira ser a mais segura, que ficava entre dois precip ício s,; de um lado o dos maniq ueus, e do outro o dos pelagianos. São Jerô nim o diz: “Nós, portanto, preservamos o livre-arbítrio, de forma que não negamos a ele a ajuda de que necessita em cada coisa que ele executa,” Dialog. adversus Pelagiu m. E Santo Agostinho, que foi em outros tempos o defensor mais feroz da eleição incondicional, criteriosamente observa, em sua quadragésima sexta carta a Valentino, “Se não há graça de Deus, como ele salva o mundo? E se não há livre-arbítrio, como é que ele julga o mundo?” E, como São Bernardo diz no início de seu livro On Grace and Free Will, “Tire o livre-arbítrio, e não haverá nada para ser salvo; tire a graça, e então não haverá nada a partir da qual a salvação pode vir.” Consideramos ambos, para que, se negarmos a existência da liberdade da vontade, não incentivemos a preguiça e indiferença dos homens; ou sem a existência da graça, venhamos a perder o controle para o orgulho e para a arrogância. A partir dessas citações [e outros que eles apresentaram] é evidente que a opinião dos pais era, que o livre arbítrio e a graça tão completamente conspiram juntos, que o livre arbítrio é aperfeiçoado pela graça, e não destruído; a destruição da vontade, neste caso, sendo uma calúnia inventada pelos Pelagianos, foi refutada pelos patronos da gr aç a.'1
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Zwinglio Rodrigues é ministro da ' Igreja Batista Vida , em Vitória da Conquista, Bahia. Atualmente cursa Mestrado em Educação na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESfí). Tem Especialização em Metodologia do Ensino Superior e Ciências da Religião e ê formado em Pedagogia e Teologia.