A PRODUTIVIDADE DA MÃO-DE-OBRA NA EXECUÇÃO DE REVESTIMENTOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA ARAÚJO, Luís Otávio Cocito de (1); SOUZA, Ubiraci Espinelli Lemes de (2) (1) Eng. Civil. Mestrando do Departamento de Construção Civil, PCC-EPUSPP Av. Prof. Almeida Prado, trav.2, n. 271 CEP 05508 900 São Paulo SP Brasil. E-mail:
[email protected] (2) Eng. Civil. Prof. Dr. Departamento de Construção Civil, PCC-EPUSPP. Av. Prof. Almeida Prado, trav.2, n. 271 CEP 05508 900 São Paulo SP Brasil. E-mail:
[email protected] Palavras-chave: Palavras-chave: produtividade, revestimentos, argamassa
RESUMO Este trabalho dedica-se ao estudo dos revestimentos de argamassa no que se refere ao consumo de mão-de-obra para a sua execução. Procede-se uma análise da produtividade, quanto à execução de contrapiso e revestimento de fachada, a partir do levantamento de informações em 5 canteiros de obras, totalizando-se ... dias úteis de levantamento de dados em campo. A comparação da produtividade diária e cumulativa para diferentes obras define o nível de desempenho atual quanto aos serviços em avaliação, bem como permite a detecção dos fatores que fazem tal desempenho variar de um dia para outro em uma mesma obra, bem como de uma obra para outra. outra. Além de se levantar números mais confiáveis para balizar o processo de orçamento e controle das obras, o estudo da produtividade traz subsídios para a comparação de diferentes tecnologias. Com isto se imagina favorecer tanto a gestão quanto o desenvolvimento desenvolvimento tecnológico dos revestimentos de argamassa.
1. INTRODUÇÃO As empresas têm hoje de conviver com um novo cenário: a estabilização da economia nacional, interrompendo o processo inflacionário e impedindo que setores mais abastados da nossa economia lucrem apenas com especulação financeira; o processo irreversível de abertura de mercado, mercado, levando levando a um acirramento acirramento da concorrência concorrência em níveis internacionais; a grande carência de obras aliada à escassez de recursos financeiros; o novo código de defesa do consumidor, resguardando um comprador cada vez mais exigente exigente e intransigente quanto quanto à qualidade do do bem adquirido. Todos estes fatores têm levado o setor da construção civil civil brasileira a tomar consciência da necessidade de uma completa reestruturação, em seus diferentes níveis, sendo isto crucial para a sobrevivência de suas empresas.
Neste processo de reestruturação, que vem ganhando maiores proporções neste final de século, várias iniciativas têm sido tomadas: implantação da racionalização construtiva, maior preocupação com a coordenação e qualidade de projetos, busca por melhores patamares gerenciais, seja em nível organizacional ou operacional. Dentro deste contexto, uma bandeira sempre presente nas discussões sobre a melhoria pretendida diz respeito à redução sistêmica de desperdícios. Justifica-se assim o aumento da preocupação quanto ao consumo dos recursos inerentes à atividade. Tais recursos podem ser classificados em físicos e financeiros; os físicos envolvem a utilização dos materiais, equipamentos e mão-de-obra. É evidente que, dentro de um quadro de competição entre empresas, onde a meta seja alcançar os melhores custos, deva haver uma interação entre o sucesso financeiro quanto à aquisição dos recursos físicos e a eficiência na utilização dos mesmos. Dentro deste espírito, o presente trabalho atenta para a questão da produtividade da mão-de-obra, entendida como primordial para o sucesso das empresas de construção civil; ela representa um item extremamente importante na composição dos custos das obras de construção. Mais que isto, pode ser considerada como o recurso de mais difícil gestão no canteiro de obras (SOUZA, 1996). O conhecimento da produtividade da mãode-obra, bem como o entendimento das razões que a fazem ser melhor ou pior, constituem ferramentas importantes para apoiar as decisões dos engenheiros de construção civil. Esta preocupação cabe quanto aos serviços de construção em geral e, em especial, quanto aos revestimentos de argamassa, normalmente demandantes de grande contingente de trabalhadores, onde a análise de desempenho da mão-de-obra pode trazer subsídios também para a melhoria da especificação dos materiais. Este trabalho apresenta resultados levantados em um grupo de construções, quanto ao estudo da produtividade da mão-de-obra, utilizando-se o Modelo dos Fatores, nos serviços de revestimentos feitos com argamassa.
2. A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR O PROCESSO DE EXECUÇÃO DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA Além da enorme importância técnica, os revestimentos representam uma parcela significativa do custo de construção de edifícios. A Revista Construção São Paulo 1 indica que estes podem significar de 10% a 30 % dos gastos da construção, variando em função de a obra ser do tipo habitacional, comercial ou industrial. Os revestimentos de argamassa, muitas vezes, podem representar a maior fração dos custos citados.
1
REVISTA CONSTRUÇÃO SÃO PAULO. São Paulo, PINI, junho de 1998.
Tal serviço ainda envolve o manuseio e aplicação de um volume significativo de materiais. SOUZA (1997), utilizando indicadores usuais de mercado, estimou que as relações entre o volume de argamassa e a área em m2 de piso apresentavam valores da ordem de 0,04 m 3/m2 para a realização de contrapiso, 0,035 m 3/m2 para revestimento interno e 0,05 m3/m2 para revestimento externo. A totalização de 0,13 m 3 de argamassa para cada m2 de piso, demonstra a relevância do consumo de materiais neste serviço. LICHTENSTEIN (1987) chega a resultados parecidos: 0,137 m 3 de argamassa por m 2 de piso. Tal expressividade na quantidade de materiais vem acompanhada de uma igual relevância na demanda por mão-de-obra, na medida que a unidade de serviço implica num razoável consumo de trabalho (TCPO 10). Ressalte-se ainda que a produtividade da mão-de-obra na execução dos revestimentos de argamassa pode ser prejudicada por eventuais sobrespessuras da camada de revestimento; e, segundo AGOPYAN (1998), essas variações podem ser bastante significativas na construção brasileira. Todos os aspectos citados ressaltam a importância de se estudar o processo de execução dos revestimentos de argamassa. Em particular, o estudo do consumo de mão-de-obra no serviço pode ser útil para subsidiar decisões quanto à gestão e mesmo a concepção dos revestimentos.
3. FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA PARA O ESTUDO PRODUTIVIDADE DA MÃO-DE-OBRA NA CONSTRUÇÃO
DA
O estudo da produtividade é tradicional na Indústria Seriada, tendo recebido uma atenção maior na Indústria da Construção apenas mais recentemente. No entanto, em função das peculiaridades de tal atividade, torna-se relevante a utilização de metodologias especialmente desenvolvidas para este Setor. Este é o caso do Modelo dos Fatores, que cria um caminho ao mesmo tempo simples e eficaz para se mensurar o consumo de mão-de-obra nos serviços de construção. THOMAS e YIAKOUMIS (1987) propuseram um modelo, para se medir e analisar a produtividade, específico para a construção civil; o mesmo foi denominado “Modelo dos Fatores”, sendo suas características básicas: o foco na produtividade da mão-de-obra em nível de equipe (medida em homenshora por unidade de serviço); a possibilidade de consideração dos efeitos da curva de aprendizagem; a detecção de correlação de vários fatores, que podem ser mensurados, com a produtividade.
Graficamente ilustrado na Figura 1, o desenvolvimento do Modelo dos Fatores assume a existência de uma condição padrão de trabalho; sob esta, a produtividade diária será a de referência (pode-se ou não assumir a existência de aprendizado). Variações no conteúdo ou no contexto do trabalho fazem a produtividade real variar em relação à ideal. O modelo relaciona a produtividade real diária às características diárias do trabalho (SOUZA, 1996).
2,5 e d a d i v i t u d o r P e d r o d a c i d n I
2
real
1, 5
referência
∆
= f (conteúdo e contexto do
1 0
1
2
3
4
5
6
7
8
Dias de trabalho Figura 1 – Representação gráfica do Modelo dos Fatores. Fonte: (SOUZA, 1996)
A observação da Figura 1 ressalta o fato de o modelo referir-se à discussão da variação da produtividade diária. Se as condições de trabalho se mantivessem constantemente iguais a um padrão definido (situação de referência), a produtividade somente variaria caso houvesse aprendizado (SOUZA, 1996).
4. METODOLOGIA PARA O ESTUDO DA PRODUTIVIDADE DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA A produtividade da mão-de-obra na execução de revestimentos de argamassa é medida, neste trabalho, através de um índice parcial, denominado razão unitária de produção (RUP). A RUP relaciona os homens-hora despendidos (entrada) à quantidade de serviço executada (saída), e é expressa como: RUP = homens-hora / quantidade de serviço Pode-se ter diferentes tipos de RUP em função do período de tempo ao qual se relacionam as medidas de entrada e saída. A RUP pode ser medida com base diária (calculada a partir dos valores de homens-hora e quantidade de serviço relativos ao dia de trabalho em análise) ou cumulativa (calculada a partir dos valores de homens-hora e quantidade de serviço relativos ao período que vai do primeiro dia em que se estudou a produtividade até o dia em questão). Enquanto a RUP diária mostra o efeito dos fatores presentes no dia de trabalho sobre a produtividade, a RUP cumulativa serve para se detectar tendências de desempenho do serviço, sendo útil para se fazer previsões (para a obra em questão ou para orçamentação de futuras obras).
4.1 Padronização Quanto À Medição Da Produtividade Para que se tenha uma padronização desta medição, há que se padronizar as apropriações tanto das entradas quanto das saídas.
9
4.1.1 Padronização Da Apropriação Das Entradas THOMAS (1991) faz algumas recomendações, prescritas em um manual elaborado na Pennsylvania State University, e que foram adotadas por SOUZA (1996), como sendo as principais regras para uma uniformização quanto à apropriação do consumo de mãode-obra. São elas:
deve-se calcular as horas de trabalho despendidas por uma equipe, que consiste de um encarregado e os membros da equipe sob seu comando; horas de absenteísmo não são contadas; pessoal de suporte somente é considerado quando seu trabalho é devotado exclusivamente à equipe em estudo.
4.1.2 Padronização Da Apropriação Das Saídas No que se refere à medição das saídas, os revestimentos de argamassa são avaliados quantificando-se a área de superfície revestida. Algumas particularidades, no entanto, precisam ser citadas:
não são considerados os vãos de aberturas; não são computados requadros dos caixilhos e portas; diferentes camadas do revestimento (ex: chapisco, emboço) são quantificadas em separado.
5. LEVANTAMENTO DA PRODUTIVIDADE EM CAMPO Neste trabalho se discute a produtividade na execução de: contrapiso (obras A e B) e revestimento de fachada com massa única (obras C e D).
5.1 Características Das Obras Estudadas As Tabela 1 e 2 indicam, respectivamente, as características relevantes de cada obra estudada quanto aos serviços de contrapiso e revestimento de fachada.
Tabela 1- Características das obras e dos serviços de contrapiso.
OBRA A Edifício comercial
Características relevantes do serviço serviço subempreitado, pagamento por m2; O área útil: 200,11 m 2 / pavimento-tipo; S I equipe composta por 1 pedreiro, 1 ½ oficial e 1 P A Número de servente; R T pavimentos-tipo: espessura real média “in loco” variando de 3,9 cm a 6,4 N 11 cm; O C taliscamento realizado com antecedência de 24 h; argamassa transportada em jericas/elevador de obras.
OBRA B Edifício Residencial
Características relevantes do serviço serviço subempreitado, pagamento de prêmio para cumprimento do prazo pré-estipulado para cada andar; área útil: 234,53 m 2 / pavimento tipo; O S Número de contrapiso é base para assoalho de madeira aparafusado; I P pavimentos-tipo: espessura real média: 4,0 cm; A R 18 não possuiu interferências com serviços de instalações T elétricas/hidráulicas; N O não possuía projeto específico para o serviço; C argamassa tipo farofa, traço 1:3 em volume; não havia espera entre taliscamento e execução do contrapiso propriamente dito.
OBRA C Edifício residencial
Características relevantes do serviço serviço subempreitado, pagamento por m 2; área útil: 67,00 m 2 / pavimento-tipo; contrapiso é base para piso cerâmico; O S I Número de espessura real média: 3,2 cm para áreas secas, 1,5 cm P A pavimentos-tipo: para banheiros e 2,1 cm para cozinha e área de serviço; 2,5 R 11 cm como média geral; T N havia interferências com serviços de instalações O elétricas; C não possuía projeto específico para o serviço; argamassa tipo farofa, traço 1:3 em volume; não havia espera entre taliscamento e execução do contrapiso propriamente dito.
Tabela 2 - Características das obras e dos serviços de revestimento de fachada.
OBRA D
Características relevantes do serviço serviço subempreitado, pagamento por m 2, medição mensal; Edifício espessura média: 5,0 cm; A D residencial aplicação da argamassa em 2 “cheias”; A execução de juntas verticais; H C Número de argamassa produzida a partir de argamassa A F pavimentos tipo: intermediária; E 5 argamassa transportada em jericas/elevador de obras até D o andar; O T o chapisco sobre estrutura é industrializado e aplicado N E com desempenadeira; sobre a alvenaria é convencional; M acabamento de massa única: desempenado quando base I T para pastilha e camurçado quando base para pintura; S E subida do balancim: limpeza, fixação da alvenaria, V E correções de falhas e mapeamento; descida do balancim: R taliscamento, mestras e massa única (duas cheias);
OBRA E
A D A H C Edifício A residencial F E D Número de O T Pavimentos-tipo: N 17 E M I T S E V E R
Características relevantes do serviço serviço subempreitado; revestimento em massa única projetada; espessura variando de 2,5 cm a 8,0 cm (neste caso ocorreram duas cheias e colocação de telas submersas); aplicação de chapisco projetado, cobrindo toda a estrutura e parcialmente a alvenaria; argamassa industrializada fornecida em silos, transportada até o andar por bombeamento a seco; subida do balancim: mapeamento, colocação de contramarcos, chapiscamento até 7 ° pavimento; descida do balancim: do 17° ao 7° pavimento para terminar chapisco; subida do balancim: sem trabalho; descida do balancim: massa única; não se usou taliscas e não foram executadas mestras.
5.2 Resultados Obtidos e Análise Quanto à Execução Do Contrapiso A Tabela 3 indica os valores de produtividade diária e cumulativa das obras A, B e C. Observe-se que a produtividade foi calculada computando-se apenas os Hh dos operários trabalhando no andar da execução; aqueles envolvidos com o preparo da argamassa e movimentação no pavimento térreo não foram considerados.
Tabela 3: Valores da produtividade da mão-de-obra do serviço de contrapiso
DIA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
OBRA A RUP RUP Diária cumulativa 2 (Hh/m ) (Hh/m2) 0,42 0,42 0,41 0,42 0,41 0,41 0,38 0,41 0,41 0,41 0,43 0,41 0,44 0,42 0,40 0,41 0,44 0,42 0,38 0,41 1,02 0,44 0,46 0,44 0,41 0,44 0,38 0,43 0,48 0,43 0,51 0,44 1,90 0,46
OBRA B RUP RUP Diária cumulativa 2 (Hh/m ) (Hh/m2) 1,06 1,06 1,45 1,23 0,90 1,10 1,20 1,12 1,18 1,13 1,12 1,13 1,75 1,18 1,21 1,18 1,12 1,18 1,06 1,16 1,39 1,18 1,47 1,20 1,39 1,20 -
OBRA C RUP RUP Diária cumulativa 2 (Hh/m ) (Hh/m2) 1,02 1,02 1,01 1,01 0,98 1,00 1,00 1,00 0,83 0,96 2,31 1,04 1,09 1,05 0,99 1,04 0,92 1,02 1,07 1,03 -
Comparando-se as RUP cumulativas, tem-se um desempenho sensivelmente melhor para a obra A em relação às demais. A principal justificativa encontra-se no fato de que tal obra apresentava uma ampla frente de trabalho, na medida em que não existiam alvenarias intermediárias delimitando “panos” pequenos de contrapiso. Comparando-se as obras B e C quanto às RUP cumulativas, nota-se um melhor desempenho da obra C, que pode ser explicado em função de uma menor espessura média da camada de contrapiso (2,5 cm da obra C contra 4,0 cm da obra B). Analisando-se as RUP diárias percebeu-se, no âmbito da obra B, que nos dias de concretagem (2, 4, 7 e 11) aparece uma tendência de piora da produtividade. Isto se explica em função de aumentar-se a dificuldade de transporte de argamassa para o contrapiso, ao se estar concorrendo com o concreto usinado pelo uso do elevador de obras. No caso da obra C, o dia 6 foi marcado por retrabalho, em função do esquecimento de embutimento de instalação elétrica, implicando num aumento da RUP diária, que se apresenta bastante mais elevada que a dos demais dias. Na obra A, os dias relativos a pavimentos com menores espessuras reais de contrapiso (dias 4, 5, 13 e 14) tiveram menores RUP diárias.
5.3 Resultados Obtidos e Análise Quanto à Execução Do Revestimento De Fachada A Tabela 4 indica os valores de produtividade diária e cumulativa das obras D e E . Observe-se que a produtividade foi calculada computando-se apenas os Hh dos operários trabalhando no andar e envolvidos apenas na execução da massa única (não se computou os gastos de Hh no chapisco); aqueles envolvidos com o preparo da argamassa e movimentação no pavimento térreo não foram considerados. Tabela 4: Valores da produtividade da mão-de-obra do serviço de revestimento de fachada
DIA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
OBRA D RUP RUP Diária cumulativa 2 (Hh/m ) (Hh/m2) 2,33 2,33 1,30 1,67 4,16 2,08 13,96 2,82 3,24 2,96 2,37 2,75 1,66 2,38 2,11 2,32 2,01 2,27 1,85 2,21 2,86 2,26 1,72 2,22 1,70 2,17 1,40 2,09
OBRA E RUP RUP Diária cumulativa 2 (Hh/m ) (Hh/m2) 1,65 1,65 1,47 1,53 3,95 2,01 1,95 2,00 4,59 2,28 1,85 2,23 -
Embora se estivesse utilizando um processo de aplicação de argamassa (jateamento) potencialmente mais produtivo, a obra E apresentou RUP cumulativa mais elevada que a obra D. Isto ocorreu em função do mal dimensionamento da equipe, que implicava num mal aproveitamento simultâneo dos operários. Isto vem de encontro à idéia de que apenas tecnologia não basta; há que se ter também uma boa gestão. Analisando-se as RUP diárias, constatou-se na obra D que os dias 3, 4 e 5 foram marcados por anormalidades (dos seguintes tipos: excesso de requadros a executar na fachada, chuva e frio), elevando-se os valores das RUP diárias. Na obra E, as RUP diárias apresentaram uma grande oscilação. Embora não se tenha feito constatações quanto à ocorrência de anormalidades, acredita-se que a existência de áreas de fachada com revestimentos de espessura bastante distinta (2,5 cm a 8,0 cm), além de tarefas mais complicadas que marcaram alguns dos dias (por exemplo, arremates de janelas), tenham produzido tal variabilidade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Tabela 5 reúne os resultados obtidos para o serviço de contrapiso nas obras estudadas junto com os valores preconizados por um dos manuais de orçamentação mais utilizados no país (TCPO 10). O mesmo acontece com a Tabela 6 quanto ao revestimento de fachada. Tabela 5: Valores de RUP cumulativa para o serviço de contrapiso.
FONTE
RUP cumulativa (Hh/m2)
Obra A
0,46
Obra B
1,20
Obra C
1,03
TCPO*
0,50
* contrapiso com espessura de 3,0 cm executado com argamassa de cimento e areia no traço 1:5 em volume de materiais secos (a mão-de-obra para o preparo e transporte de argamassa até o andar em execução não está incluída).
Observe-se que apenas a obra A (onde supõe-se ter havido desempenho satisfatório) apresentou valor similar ao preconizado pelo TCPO. Detecta-se uma tendência de os valores reais observados serem maiores que os orçados por um manual tradicionalmente adotado pelo mercado. Note-se, no entanto, que o TCPO faz suas previsões relativas a um contrapiso de 3,0 cm de espessura, quando os valores reais observados foram, em dois casos, superiores (alguns pavimentos com 3,9 cm e outros com 6,4 cm na obra A; 4,0 cm em média na obra B; e 2,5 cm como média geral na obra C). Tabela 6: Valores de RUP cumulativa para o serviço de revestimento de fachada.
FONTE
RUP cumulativa (Hh/m2)
Obra D
2,09
Obra E
2,23
TCPO*
1,20
* valores relativos a emboço áspero de 2,0 cm de espessura para receber reboco (a mão-de-obra para o preparo e transporte de argamassa até o andar em execução não está incluída).
Nota-se que os valores detectados nas obras estudadas são bem superiores aos indicados pelo TCPO. Possíveis explicações para tal fato, além de uma eventual subestimação por parte do manual, podem ser: o TCPO orça um emboço com espessura de 2,0 cm, quando detectou-se nas obras valores bem superiores (5,0 cm de média real na obra D e valores variando entre 2,5 cm a 8,0 cm na obra E); o TCPO orça um emboço áspero como base para posterior reboco, enquanto nas obras D e E tem-se a execução de uma massa única com maiores preocupações quanto ao acabamento superficial;
as obras D e E estavam com um desempenho pior do que o potencialmente alcançável (nota-se que existem alguns valores de RUP diária bem menores que o da RUP cumulativa).
Como considerações finais pode-se dizer que muito há que se estudar ainda quanto à produtividade da mão-de-obra na execução de revestimentos de argamassa. Tal estudo é importante, seja enquanto instrumento para a melhoria da gestão ou como parâmetro para auxiliar o desenvolvimento tecnológico do serviço. É importante, pois, ampliar-se o banco de informações sobre o assunto para permitir um aprofundamento no entendimento de quais fatores (e com qual intensidade) influenciam a produtividade da mão-de-obra nestes serviços.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOPYAN, V.; SOUZA, U.E.L; PALIARI, J.C.; ANDRADE, A. C. Alternativas para redução do desperdício em canteiros de obra. Volume 3. In: Relatório FINEP, SÃO PAULO SP, 1998 LICHTENSTEIN, N.B. Formulação de modelo para o dimensionamento do sistema de transporte em canteiros de obra de edifícios de múltiplos andares. Tese de doutoramento apresentada à EPUSP. São Paulo, PCC-EPUSP, 1987. 268 p. SOUZA, U.E.L. de. Metodologia para o estudo da produtividade da mão-de-obra no serviço de fôrmas para estruturas de concreto armado. São Paulo, 1996. Tese (Doutorado). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 350p. SOUZA, U.E.L. de. Subsídios para a opção entre: elevador ou grua, andaime fachadeiro ou balancim, argamassa industrializada ou produzida em obra. EPUSP. São Paulo, 1997. BT 176. TCPO 10: Tabelas de composição de preço para orçamentos. 1 ° edição – Sào Paulo. Editora PINI, 1996. THOMAS, H.R. ; YAKOUMIS, I. Factor model of construction productivity. Journal of Construction Engineering and Management, ASCE, v.113, n.4, p.623-39, 1987 . THOMAS, H.R., HORNER, R.M.W. & SMITH, G.R. Procedures manual for collecting productivity and related data of labor-intensive activities on commercial construction projects: concrete formwork. State College, PTI Report, 1991. 63p.