Escola: Disciplina: Turma: Data: 2015-11-26 Aluno:
Questão 1 Seleciona a opção correta.A "Crónica de D. João I" foi escrita por Fernão Lopes, por volta de 1450 e é considerada... a mais perfeita do cronista, sucedendo às crónicas de D. Pedro e D. Fernando. a mais perfeita do cronista, sucedendo às crónicas de D. Afonso IV e D. Fernando. a menos importante do cronista de todas as que ele escreveu. menos perfeita quando comparada com as crónicas anteriores.
Questão 2 Seleciona a opção correta.A "Crónica de D. João I" , escrita por Fernão Lopes por volta de 1450,... relata a vida do Mestre de Avis até à sua subida ao trono. relata, essencialmente, os acontecimentos que conduziram Portugal à batalha de Aljubarrota. relata a vida do Mestre de Avis após a sua subida ao trono. relata os momentos conturbados que se seguiram à morte de D. Fernando, centrando-se na figura do Mestre de Avis e no seu reinado.
Questão 3 1 / 18
Estabelece a correspondência correta entre as partes da "Crónica de D. João I" e os principais assuntos nelas tratados. Primeira parte
Morte de D. João I.
Segunda parte
Sublevação popular, assassinato do Conde Andeiro, alvoroço da multidão que acorre a defender o mestre, morte do bispo de Lisboa e subida ao trono de D. João I.
Terceira parte
Reinado de D. João I até 1411, legitimação do poder do rei pela ação do povo e Batalha de Aljubarrota.
Questão 4 Lê os textos e completa as frases com as opções corretas. Fernão Lopes narra num tom _________________, mas nem por isso deixa de usar _________________. Nas suas linhas, o cronista deixa transparecer o seu _________________, raramento neutro, e usa alguma _________________. Consultar anexo 1Consultar anexo 2Consultar anexo 3 Opções: Espaço 1 - coloquial, formal, monótono Espaço 2 - latinismos, linguagem erudita, recursos expressivos Espaço 3 - futuro, ponto de vista, legado Espaço 4 - formalidade, ironia, altivez
Questão 5 Lê o texto e completa a frases com as opções corretas. Diz-se com frequência que Fernão Lopes escreve quase ao estilo de um _________________, uma vez que nos apresenta textos _________________, narrados de forma _________________, com várias deslocações _________________ e alternância de _________________. Consultar anexo 3 Opções: Espaço 1 - poeta, repórter, jesuíta Espaço 2 - muito hiperbólicos, desorganizados, bem estruturados Espaço 3 - jornalística, erudita, formal Espaço 4 - temporais, espaciais, sensoriais Espaço 5 - planos, linguagem, estilos
Questão 6 2 / 18
Lê os textos e completa as frases com as opções corretas. Na "Crónica de D. João I", o _________________ assume o papel de personagem _________________ e Fernão Lopes atribui-lhe _________________ relevo. Nesta obra de Fernão Lopes há, então, a presença de uma _________________ coletiva. Consultar anexo 3Consultar anexo 2Consultar anexo 1 Opções: Espaço 1 - clero, povo, conde Espaço 2 - individual, coletiva, interior Espaço 3 - muito, pouco, nenhum Espaço 4 - alma, consciência, perfídia
Questão 7 Ordena os acontecimentos de acordo com a progressão temática do texto.
Consultar anexo 3. Indica o número correspondente à posição de cada elemento a ordenar. ___ O pajem e Álvaro Pais apelam ao povo para socorrer o Mestre de Avis. ___ O povo movimenta-se pelas ruas com as armas de que dispunha. ___ Vendo que o Mestre já não corria perigo, todos o aclamam.
Questão 8 Lê o texto e classifica as seguintes afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F). Consultar anexo 3. O povo tentou socorrer o Conde Joam Fernandez. Todos se dirigiram aos Paços da Rainha. O Mestre era filho do Rei D. Fernando I de Portugal. Álvaro de Pais tentou trair o Mestre. O povo emocionou-se ao ver o Mestre vivo.
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Questão 9 Lê o texto e seleciona a opção correta. Como é que Álvaro Pais se refere às pessoas que aborda nas ruas? Consultar anexo 3. Camaradas Senhores Amigos Povo
Questão 10 Lê o texto e completa a frase com as opções corretas. Os apelos de Álvaro de Pais ao povo são feitos na _________________, o que indicia que ele _________________ no auxílio ao Mestre. Consultar anexo 3 Opções: Espaço 1 - segunda pessoa do plural, primeira pessoa do singular, primeira pessoa do plural Espaço 2 - não se quer envolver, também se compromete, pede aos outros para se envolverem
Questão 11 Lê o texto e completa as frases com as opções corretas. A intensidade dramática do relato de Fernão Lopes, no capítulo XI, é _________________, pois vai enfatizando as ações do povo para socorrer o Mestre, em resposta ao apelo _________________, até atingir um _________________, quando o Mestre se mostrou à janela, _________________ depois dramaticamente à medida que o povo dispersa porque sente que D. João I já não corre perigo. Consultar anexo 3 Opções: Espaço 1 - decrescente, crescente, contínua Espaço 2 - deste, de Álvaro Pais, do Conde Andeiro 4 / 18
Espaço 3 - anticlímax, clímax Espaço 4 - decrescendo, crescendo, permanecendo imutável
Questão 12 Lê o texto e classifica as seguintes afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F). Consultar anexo 3. Fernão Lopes utiliza o discurso direto e o indireto, alternando períodos curtos com longos. Ao longo do excerto, não há alterações de ritmo narrativo. O cronista polvilhou os seus textos com pormenores que ajudam significativamente a uma dramatização crescente. Redigidas num tom coloquial, as linhas deste excerto estão carregadas de emoção.
Questão 13 Lê o texto e ordena os momentos apresentados de acordo com o excerto do capítulo CXV. Consultar anexo 2. Indica o número correspondente à posição de cada elemento a ordenar. ___ Elogio à coragem dos portugueses. ___ Recolha de alimentos. ___ Preparação da defesa da cidade de Lisboa. ___ Emoção do cronista ao enaltecer o cerco da cidade e a defesa feita pela sua população.
Questão 14 Lê o texto e completa a frase com as opções corretas. Durante o cerco de Lisboa, o _________________, apesar de temer o poder do _________________, evidenciou _________________, _________________ e _________________. Consultar anexo 2 5 / 18
Opções: Espaço 1 - rei de Castela, Mestre, povo Espaço 2 - povo, Mestre, rei de Castela Espaço 3 - cobardia, coragem, nostalgia Espaço 4 - egoísmo, medo, solidariedade Espaço 5 - falta de iniciativa, capacidade de organização, resignação com a derrota
Questão 15 Lê o texto e estabelece a correspondência correta entre cada excerto e o respetivo ponto que marca o desenvolvimento do capítulo CXV. Consultar anexo 2. "(...) recolherem pera a cidade os mais mantimentos que haver pudessem, assim de pão e carnes como quaisquer outras causas."
Defesa
"Os muros todos da cidade não haviam míngua de bom repairamento."
Alimentação
"(...) foram feitos fortes caramanchões de madeira, os quais eram bem fornecidos de escudos e lanças e dardos, e bestas de tomo" "E iam-se muitos às liziras em barcas e batéis, depois que Santarém esteve por Castela, e dali traziam muitos gados mortos que salgavam em tinas e outras cousas de que fizeram grande acalmamento."
Questão 16 Lê o texto e classifica as seguintes afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F). Consultar anexo 2. Fernão Lopes tratou o tempo e o espaço de forma dramática, dando-lhes os ajustes necessários de redução ou ampliação. Nas suas linhas nunca estão presentes recursos expressivos, nem a ironia ou a emoção.
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Fernão Lopes alternou com sabedoria planos de conjunto com planos de pormenor ou grandes planos. O cronista conduz habilmente o leitor pelos acontecimentos, num estilo coloquial, como que de conversa ou de um contador de histórias, mas mostrando-nos o seu ponto de vista, raramente neutro.
Questão 17 Lê o texto e estabelece a correspondência correta entre os excertos e os planos de visão usados. Consultar anexo 2. "Um tão alto e poderoso senhor como é elrei de Castela com tanta multidão de gentes, assim per mar como per terra, postas em tão grande e tão boa ordenança, ter cercado tão nobre cidade."
Visão de pormenor
"E iam-se muitos às liziras em barcas e batéis, depois que Santarém esteve por Castela, e dali traziam muitos gados mortos que salgavam em tinas"
Visão de conjunto
"(...) e em setenta e sete torres que ela tem a redor de si, foram feitos fortes caramanchões de madeira, os quais eram bem fornecidos de escudos e lanças e dardos, e bestas de tomo, e doutras maneiras, com grande avondança de muitos virotões."
Questão 18 Lê a seguinte frase e seleciona a opção correta."Em tanto que diziam os que viram que tão formoso cerco de cidade não era em memória de homens que fosse visto de mui longos anos até aquele tempo". Qual é a a ideia aí veiculada? Consultar anexo 2. A população jamais tinha visto um cerco como este de Lisboa, devido à sua organização e às qualidades exibidas pelo povo. Tinha havido muitos cercos como este de Lisboa e os mais antigos conservavamnos na sua memória. 7 / 18
O povo facilmente se esqueceu do cerco de Lisboa, dada a quantidade de cercos realizados naquela cidade e noutras vizinhas. Só passados muitos anos é que se viu um cerco da cidade de Lisboa bem organizado e que tornou a população solidária.
Questão 19 Estabelece a correspondência correta entre os excertos abaixo e as sensações que despertam. Consultar anexo 1. "soou um dia pela cidade que o Mestre mandava deitar fora todolos que não tivessem pão que comer"
Sensação visual
"Mas quem poderia ouvir sem gemidos e sem choro tal ordenança de mandado àqueles que o não tinham?"
Sensação auditiva
"Os padres e madres viam estalar de fame os filhos que muito amavam" "Ora esguardai como se fôsseis presentes"
Questão 20 Estabelece a correspondência correta entre os capítulos da "Crónica de D. João I" e os assuntos abordados.
Capítulo XI
Cerco da cidade de Lisboa e os preparativos do povo para enfrentar os castelhanos.
Capítulo CXV
As tribulações que Lisboa padecia devido à falta de mantimentos e a união na defesa da cidade.
Capítulo CXLVIII
O alvoroço que se viveu na cidade de Lisboa por causa do perigo de vida que corria o Mestre de Avis. 8 / 18
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Anexo 1
Crónica de D. João I, capítulo CXLVIII 1
Das tribulações que Lixboa padecia per mingua de mantiimentos.
Estando a cidade assi cercada na maneira que já ouvistes, gastavom-se os mantimentos cada vez mais, por as muitas gentes que em ela havia, assi 2 dos que se colherom dentro, do termo3, de homeẽs aldeãos com molheres e filhos, come dos que veerom na frota do Porto; e alguũs se tremetiam 4 aas vezes em batees e passavom de noite escusamente5 contra6 as partes de Ribatejo, e metendo-se em alguũs esteiros7, ali carregavom de triigo que já achavom prestes, per recados que ante mandavom. E partiam de noite remando mui rijamente, e algũas galees quando os sentiam viinr remando, isso meesmo8 remavom a pressa sobre eles; e os batees por lhe fugir, e elas por os tomar, eram postos em grande trabalho. Os que esperavom por tal triigo andavom per a ribeira da parte de Exobregas9, aguardando quando veesse, e os que velavom, se viiam as galees remar contra lá, repicavom logo por lhe acorrerem10. Os da cidade como ouviam o repico, leixavam o sono, e tomavom as armas e saía muita gente, e defendiam-nos aas beestas se compria11, ferindo-se aas vezes dũa parte e doutra; porem nunca foi vez que tomassem alguũ, salvo ũa12 que certos batees estavom em Ribatejo com triigo, e forom descubertos per uũ homem natural d’Almadãa, e tomados per os Castelãos; e el foi depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado. E posto que tal triigo algũa ajuda fezesse, era tam pouco e tam raramente, que houvera mester de o multiplicar como fez Jesu Cristo aos pães, com que fartou os cinco mil homeẽs. Em esto gastou-se13 a cidade assi apertadamente14, que as pubricas esmolas começarom desfalecer15, e neũa geeraçom16 de pobres achava quem lhe dar pam; de guisa que a perda comum vencendo de todo a piedade, e veendo a gram mingua dos mantiimentos, estabelecerom deitar fora as gentes minguadas 17 e nom perteencentes pera defensom; e esto foi feito duas ou tres vezes, ataa lançarem fora as mancebas mundairas18 e Judeus e outras semelhantes, dizendo que pois taes pessoas nom eram pera pelejar, que nom gastassem os mantiimentos aos defensores; mas isto nom aproveitava cousa que muito prestasse. Os Castelãos aa primeira19 prazia-lhe com eles, e davom-lhe de comer e acolhimento; depois veendo que esto era com fame20, por gastar mais a cidade, fez el-Rei tal ordenança que nẽuũ de dentro fosse recebido em seu arreal, mas que todos fossem lançados fora; e os que se ir nom quisessem, que os açoutassem e fezessem tornar pera a cidade; e esto lhes era grave de fazer, tornarem per força pera tal logar, onde chorando nom esperavom de seer recebidos; e taes i havia que de seu grado se saíam da cidade, e se iam pera o arreal, querendo ante de todo seer cativos, que assi perecerem morrendo de fame. Como nom lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que 21 o Meestre mandou saber em certo pela cidade que pam havia per todo em ela, assi em covas 22 come per outra maneira, e acharom que era tam pouco que bem havia mester sobr’elo23 conselho? Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro que as pobres gentes nom podiam chegar a ele; ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quarenta soldos; e a canada do vinho tres e quatro livras; e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que, ainda que dessem por uũ pam ũa dobra, que o nom achariam a vender; e começarom de comer pam de bagaço d’azeitona, e dos queijos 24 das malvas e raizes d’ervas, e doutras desacostumadas cousas, pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham em alféloa 25. No logar u costumavom vender o triigo, andavom homeẽs e moços esgaravatando a terra; e se achavom alguũs grãos de triigo, metiam-nos na boca sem teendo outro mantiimento; outros se fartavom d’ervas, e beviam tanta agua, que achavom mortos homeẽs e cachopos jazer inchados nas praças e em outros logares. 10/ 18
Das carnes, isso meesmo, havia em ela grande mingua; e se alguũs criavom porcos, mantiinham-se em eles26; e pequena posta de porco, valia cinco e seis livras que era ũa dobra castelãa; e a galinha, quareenta soldos; e a duzia dos ovos, doze soldos; e se almogávares27 tragiam alguũs bois, valia cada uũ sateenta livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras; e a cabeça e as tripas, ũa dobra; assi que os pobres per mingua de dinheiro, nom comiam carne e padeciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom soomente os pobres e minguados, mas grandes pessoas da cidade, lazerando28, nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame, bem mostravom seus encubertos padecimentos. Andavom os moços de tres e de quatro anos pedindo pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas madres, e muitos nom tinham outra cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que era triste cousa de veer; e se lhes davom tamanho pam come ũa noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tinham crianças a seus peitos per mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos a que acorrer nom podiam, choravom ameúde sobr’eles a morte ante que os a morte privasse da vida. Muitos esguardavom as prezes alheas29 com chorosos olhos, por comprir o que a piedade manda, e nom teendo de que lhes acorrer, caíam em dobrada tristeza. Toda a cidade era dada a nojo30, chea de mezquinhas querelas, sem neuũ prazer que i houvesse: uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos atribulados; e isto nom sem razom, ca se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso nas cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que fariam aqueles que as continuadamente tam presentes tiinham? Pero com todo esto, quando repicavom, neuũ nom mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus ẽmigos. Esforçavom-se uũs por consolar os outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava conforto de palavras, nem podia tal door seer amansada com neũas doces razões; e assi como é natural cousa a mão ir ameúde onde see 31 a door, assi uũs homẽes falando com outros, nom podiam em al departir32 senom em na mingua que cada uũ padecia. Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a Deos devotamente por o estado da cidade! E ficados os geolhos, beijando a terra, braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas prezes nom eram compridas! […] Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas d’ouvir taes novas; e veendo estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas orelhas do rumor do poboo. Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguũs homẽes e molheres, que tanta deferença há d’ouvir estas cousas aaqueles que as entom passarom, como há da vida aa morte? Os padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam33 as faces e peitos sobr’eles, nom teendo com que lhe acorrer, senom planto e espargimento de lagrimas; e sobre todo isto, medo grande da cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de tomar; assi que eles padeciam duas grandes guerras, ũa dos ẽmigos que os cercados tiinham, e outra dos mantiimentos que lhes minguavom, de guisa que eram postos em cuidado de se defender da morte per duas guisas. Pera que é dizer mais de taes falecimentos 34? Foi tamanho o gasto das cousas que mester haviam que soou uũ dia pela cidade que o Meestre mandava deitar fora todolos que nom tevessem pam que comer, e que somente os que o tevessem ficassem em ela; mas quem poderia ouvir sem gemidos e sem choro tal ordenança de mandado aaqueles que o nom tiinham? Porem sabendo que nom era assi, foi-lhe já quanto 35 de conforto. Onde sabee que esta fame e falecimento que as gentes assi padeciam, nom era por seer o cerco perlongado, ca36 nom havia tanto tempo que Lixboa era cercada; mas era per aazo das muitas gentes que se a ela colherom de todo o termo; e isso meesmo da frota do Porto quando veo, e os mantiimentos seerem muito poucos. Ora esguardae37 como se fossees presente, ũa tal cidade assi desconfortada e sem neũa certa feúza de seu livramento38, como veviriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de taes aflições? Ó geeraçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro 39 de taes padecimentos! Os quaes a Deos por Sua mercee prougue de cedo abreviar doutra guisa, como acerca 40 ouvirees. Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos), apres. crítica de Teresa Amado, Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 193-199, com supressões] 11/ 18
Vocabulário
1. tribulações: adversidades; aflições. 2. assi: tanto. 3. termo: limite. 4. tremetiam: arriscavam. 5. escusamente: em segredo. 6. contra: em direção a. 7. esteiros: braços estreitos de rio. 8. meesmo: igualmente. 9. Exobregas: margem do rio, em Xabregas. 10. repicavom logo por lhe acorrerem: tocavam os sinos para os socorrerem. 11. aas beestas se compria: com tiros de besta, se fosse necessário. 12. salvo ˜ua: com exceção de uma vez. 13. gastou-se: consumiu-se. 14. apertadamente: com dificuldade. 15. desfalecer: faltar. 16. geeraçom: família. 17. minguadas: miseráveis. 18. mundairas: prostitutas. 19. aa primeira: a princípio. 20. fame: fome. 21. que: se. 22. covas: silos ou celeiros subterrâneos. 23. sobr’elo: acerca disso. 24. queijos: bolbos. 25. alféloa: melaço cristalizado. 26. mantiinham-se em eles: viviam disso. 27. almogávares: negociantes de gado. 28. lazerando: passando fome. 29. prezes alheas: súplicas dos outros. 30. nojo: tristeza. 31. see: está. 32. departir: discutir outra coisa. 33. rompiam: feriam. 34. falecimentos: misérias. 35. quanto: um pouco. 36. ca: porque. 37. esguardae: olhai. 38. sem ne˜ua certa feúza de seu livramento: sem confiança na libertação. 39. foi quinhoeiro: participou. 40. acerca: em breve.
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Anexo 2
Crónica de D. João I, capítulo CXV Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.
Nem uũ falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido 1, que poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de Castela sobr’ela; e per que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que dentro eram, por nom receber dano de seus ẽmigos; e o esforço e fouteza2 que contra eles mostravom, em quanto assi esteve cercada. Onde sabee que como3 o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras cousas. E iam-se muitos aas lizirias 4 em barcas e batees, depois que Santarem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavom em tinas, e outras cousas que fezerom grande açalmamento 5; e colherom-se dentro aa cidade muitos lavradores com as molheres e filhos, e cousas que tiinham; e doutras pessoas da comarca d’arredor, aqueles a que prougue6 de o fazer; e deles 7 passarom o Tejo com seus gaados e bestas e o que levar poderom, e se forom contra 8 Setuval, e pera Palmela; outros ficarom na cidade e nom quiserom dali partir; e taes i houve que poseram todo o seu, e ficarom nas vilas que por Castela tomarom voz 9. Os muros todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento 10; e em seteenta e sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caramanchões 11 de madeira, os quaes eram bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos e beestas de torno, e doutras maneiras com grande avondança de muitos viratões 12. Havia mais em estas torres muitas lanças d’armas e bacinetes 13, e doutras armaduras, que reluziam tantas que bem mostrava cada ũa torre per si que abastante era pera se defender. Em muitas delas estavom troõs14 bem acompanhados de pedras, e bandeiras de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros alguũs senhores e capitães que os poinham nas torres que lhes eram encomendadas 15. E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros pelos fidalgos e cidadãos honrados16; aos quaes derom certas quadrilhas17 e beesteiros e homẽes d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como 18 cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tinham cárrego das torres viinham espaçar19 pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a homeẽs de que muito fiavom; outras vezes nom ficavom em elas senom as atalaias; mas como davom aa campãa20, logo os muros eram cheos, e muita gente fora. […] E nom embargando21 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria 22 per muitas vezes de noite os muros e torres com tochas acesas ante si, bem acompanhado de muitos que sempre consigo levava. Nom havia i neuũs revees 23 dos que haviam de velar, nem tal a que esqueecesse cousa do que lhe fosse encomendado; mas todos muito prestes a fazer o que lhe mandavom, de guisa que, a todo boom regimento que o Meestre ordenava, nom minguava avondança de trigosos24 executores. De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomendadas a boõs homẽes d’armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes neũa pessoa, que muito conhecida nom fosse, havia d’entrar nem sair, sem primeiro saber em certo por que razom ia ou viinha; e ali atrevessavom paos com tavoado pera dormir os que tal cuidado tiinham, por de noite seerem deles acompanhadas, e neuũ malicioso seer atrevido de cometer neuũ erro. 13/ 18
E dalgũas portas tiinham certas pessoas de noite as chaves, por razom dos batees que taes horas iam e viinham d’aalem com trigo e outros mantiimentos, segundo leedes em seu logar; outras chaves apanhava25 uũ homem cada noite de que o Meestre muito fiava, e veendo primeiro como as portas ficavom fechadas, lhas levava todas aos Paaços onde pousava. […] Na ribeira havia feitas duas grandes e fortes estacadas 26 de grossos e valentes paos, que o Meestre mandara fazer ante que el-Rei de Castela veesse, por defender o combato da ribeira; e eram feitas des27 onde o mar mais longe espraia ataa terra junto com a cidade. E ũa foi caminho de Santos, a fundo 28 da torre da atalaia contra aquela parte, onde entendeo que el-Rei poeria seu arreal29; outra fezerom no outro cabo da cidade junto com o muro dos fornos da cal contra o moesteiro de Santa Clara; as quaes eram d’estacadas dobradas e assi bastas, que neuũ de cavalo podia passar per elas, e tam pouco os homeẽs de pee sem primeiro sobindo per cima da altura dos paos, que lhe seeria grave cousa de fazer; e antre as ordeẽs30 das dobradas estacas havia espaço sem pedra deitada, em que uũ batel podesse caber sem remos, postos através, se comprisse31 de se ali colher. Nom leixavom os da cidade, por seerem assi cercados, de fazer a barvacãa 32 d’arredor do muro da parte do arreal, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d’Alvoro Paaez, que nom era ainda feita, que seeriam dous tiros de beesta; e as moças sem neuũ medo, apanhado pedra pelas herdades, cantavom altas vozes dizendo: Esta é Lixboa prezada, mirá-la e leixá-la. Se quiserdes carneiro, qual derom ao Andeiro; se quiserdes cabrito, qual derom ao Bispo, e outras razões semelhantes. E quando os ẽmigos os torvar33 queriam, eram postos em aquel cuidado em que forom os filhos de Israel, quando Rei Serges 34, filho de Rei Dario, deu lecença ao profeta Neemias que refezesse os muros de Jerusalem; que guerreados pelos vezinhos d’arredor, que os nom alçassem, com ũa mão poinham a pedra, e na outra tiinham a espada pera se defender; e os Portugueeses fazendo tal obra, tiinham as armas junto consigo, com que se defendiam dos ẽmigos quando se trabalhavom35 de os embargar, que a nom fezessem. As outras cousas que perteenciam ao regimento da cidade, todas eram postas em boa e igual ordenança; i nom havia nẽuũ que com outro levantasse arroido nem lhe empecesse per talentosos36 excessos, mas todos usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito comuũ. Ó que fremosa cousa era de veer! Uũ tam alto e poderoso senhor como el-Rei de Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas em tam grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida contra ele de gentes e d’armas com taes avisamentos 37 por sua guarda e defensom! Em tanto que diziam os que o virom, que tam fremoso cerco de cidade nom era em memoria d’homeẽs que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo. Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos), apres. crítica de Teresa Amado, Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 170-176, com supressões]
Vocabulário
1. Nem uũ falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido: referência ao capítulo anterior, em que se descreveu o acampamento castelhano. 2. fouteza:afoiteza, coragem. 3. como: logo que. 4. lizirias: lezírias; terras que se encontram nas margens dos rios. 5. açalmamento: abastecimento. 6. prougue: agradou. 14/ 18
7. deles: alguns. 8. contra: em direção a. 9. voz: partido. 10. repairamento: fortificação. 11. caramanchões: coberturas. 12. viratões: setas grandes. 13. bacinetes: peças de armadura para proteger a cabeça. 14. troõs: peças de artilharia que arremessavam pedras. 15. encomendadas: confiadas à sua guarda. 16. honrados: de boa categoria social; burgueses. 17. quadrilhas: locais da muralha onde estavam os vigias. 18. como: logo que. 19. espaçar: espairecer; folgar. 20. campãa: sino. 21. nom embargando: não obstante. 22. requeria: visitava. 23. revees: rebeldes; soldados que faltavam à chamada, desobedientes. 24. trigosos: diligentes; rápidos. 25. apanhava: recolhia. 26. estacadas: cercas feitas de estacas. 27. des: perto; junto. 28. a fundo: por baixo. 29. arreal: arraial; acampamento. 30. ordeẽs: fileiras. 31. se comprisse: se fosse necessário. 32. barvacãa: muro exterior da fortaleza. 33. torvar: estorvar. 34. Rei Serges: Xerxes, rei da Pérsia. 35. trabalhavom: procuravam; se esforçavam. 36. talentosos: provocados pelo desejo imoderado. 37. avisamentos: preparativos; defesas.
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Anexo 3
Crónica de D. João I, capítulo XI Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele.
O Page do Meestre que estava aa porta, como lhe disserom que fosse pela vila segundo já era percebido1, começou d’ir rijamente a galope em cima do cavalo em que estava, dizendo altas vozes, braadando pela rua: – Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Meestre que matam! E assi chegou a casa d’Alvoro Paaez que era dali grande espaço 2. As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar uũs com os outros, alvoroçavom-se nas voontades3, e começavom de tomar armas cada u ũ como melhor e mais asinha4 podia. Alvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa5 na cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duũ cavalo que anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava dizendo: – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca 6 filho é del-Rei dom Pedro. E assi braadavom el e o Page indo pela rua. Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de 7 marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u 8 deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar 9 morte. Alvoro Paaez nom quedava d’ir pera alá10, braadando a todos: – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê 11! A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom logares escusos12, desejando cada uũ de seer o primeiro; e preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava13 quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha. E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom14 com talente15 de o vingar, como forom16 aas portas do Paaço que eram çarradas 17, ante que chegassem, com espantosas palavras começarom de dizer: – U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas? Ali eram ouvidos braados de desvairadas18 maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem pera entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela. Deles19 braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o treedor20 e a aleivosa21. Outros se aficavom22 pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem determinavom neũa 23 cousa. E nom somente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles per u home ẽs e molheres podiam estar. ˜Uas viinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija 24 pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo muitos doestos25 contra a Rainha. De cima nom minguava quem braadar26 que o Meestre era vivo, e o Conde Joam Fernandez morto; mas isto nom queria neuũ creer, dizendo: – Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos. Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais, disserom que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas gentes, doutra guisa27 poderiam quebrar as portas, ou lhe poer o fogo, e entrando assi dentro per força, nom lhe poderiam depois tolher28 de fazer o que quisessem. Ali se mostrou o Meestre a ũa grande janela que viinha sobre a rua onde estava Alvoro Paaez e a mais força de gente, e disse: 16/ 18
– Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças. E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre era morto, que taes havia i que aperfiavom29 que nom era aquele; porem conhecendo-o todos claramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam uũs contra os outros: – Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele! Creedes em Deos30, ainda lhe há de viinr alguũ mal per ela. Oolhae e veede que maldade tam grande, mandarom-no chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Ó aleivosa! já nos matou uũ senhor 31, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d’acabar por estas cousas que faz. E sem duvida se eles entrarom dentro32, nom se escusara a Rainha de morte, e fora maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar. O Meestre estava aa janela, e todos oolhavom contra ele dizendo: – Ó Senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento 33 seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais. E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo. Veendo el estonce que neũa duvida tiinha em sua segurança, deceo afundo e cavalgou com os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui ledos arredor dele, braadavom dizendo: – Que nos mandaes fazer, Senhor? que querees que façamos? E el lhe respondia, aadur34 podendo seer ouvido, que lho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester35. E assi encaminhou pera os Paaços do Almirante u pousava o Conde dom Joam Afonso irmão da Rainha com que havia de comer. As donas da cidade, pela rua per u el ia, saiam todas aas janelas com prazer dizendo altas vozes: – Mantenha-vos Deos, Senhor. Beento seja Deos que vos guardou de tamanha traiçom, qual vos tiinham bastecida36! Ca neuũ por estonce podia outra cousa cuidar. E indo assi ataa entrada do Ressio, e o Conde viinha com todolos seus, e outros boõs 37 da cidade que o aguardavom, assi como Afons’Eanes Nogueira, e Martim Afonso Valente, e Estevam Vaasquez Filipe, e Alvoro do Rego, e outros fidalgos; e quando vio o Meestre ir daquela guisa, foi-o abraçar com prazer e disse: – Mantenha-vos Deos, Senhor. Sei que nos tirastes de grande cuidado, mas vós mereciees esta honra melhor que nós. Andae, vamos logo 38 comer. E assi forom pera os Paaços u pousava o Conde. E estando eles por se asseentar aa mesa, disserom ao Meestre como os da cidade queriam matar o Bispo39, e que faria bem de lhe ir acorrer; e o Meestre quisera aló ir 40. Disse estonce o Conde: – Nom curees disso, Senhor, se o matarem, quer o matem quer nom 41; ca posto que ele moira, nom minguará outro Bispo portuguees que vos serva melhor que ele. Ao dito do Conde cessou42 o Meestre de sua boa voontade, e o Bispo foi morto desta guisa que se segue. Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos), apres. crítica de Teresa Amado, Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 95-100]
Vocabulário 1. percebido: preparado. 2. espaço: distância. 3. voontades: disposições de espírito. 4. asinha: depressa. 5. coifa: parte da armadura que defendia a cabeça. 6. ca: porque. 7. logo de: em lugar de. 8. u: onde. 9. escusar : evitar. 10. alá: lá. 11. por quê: razão. 12. escusos: evitados. 13. nom minguava: não faltava. 14. coraçom: desejo. 15. talente: propósito. 16. como forom: logo que chegaram. 17. çarradas: fechadas. 18. desvairadas: contraditórias. 19. Deles: alguns deles. 20. treedor : traidor (alusão ao Conde Andeiro). 21. aleivosa: adúltera (alusão a D. Leonor Teles). 22. aficavom: teimavam. 23. ne ũa: nenhuma. 24. carqueija: planta comum, que serve para atear fogo. 25. doestos: injúrias. 26. braadar : bradasse; gritasse. 27. guisa: modo; maneira. 28. tolher: impedir. 29. aperfiavom: juravam. 30. Creedes em Deos: Tão certo como 17/ 18
Deus existir. 31. já nos matou uũ senhor : alusão à morte de D. Fernando. 32. entrarom dentro: tivessem entrado. 33. beento: bendito. 34. aadur : abaixo. 35. nom havia deles mais mester : não tinha mais necessidade deles. 36. bastecida: preparada. 37. boõs: homens que participavam na administração municipal. 38. logo: imediatamente. 39. Bispo: bispo de Castela. 40. aló ir: lá ir. 41. quer o matem quer nom: tanto faz que o matem como não matem. 42. cessou: acedeu.
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