CONCEPCÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO FÍSICA1 LIANA CARVALHO BRAID 2 Para Para haver haver ensino ensino é necess necessári ária a a existê existênci ncia a da aprend aprendiza izagem gem,, portan portanto to há uma relaçã relação o indissociável e necessária entre as ações de quem ensina e as ações de quem aprende. A prática prática de todo professor, professor, mesmo que de forma pouco consciente, consciente, apóia-se em determinad determinada a concepção de aluno, ensino e aprendizagem que é responsável pelo tipo de concepção que o professor constrói sobre o seu papel, o papel do aluno, a metodologia, a função social da escola e os conteúdos a serem trabalhados (DARIDO, 2007) A literat literatura ura aprese apresenta nta divers diversas as catego categoria rias s de concep concepçõe ções s de ensino ensino-apr -aprend endiza izagem gem,, aqui aqui sintet sintetiza izadas das em duas duas grande grandes s catego categoria rias: s: Concep Concepção ção Tradic Tradicion ional al ou Bancár Bancária ia e Concep Concepção ção Problematizadora ou Ativa.
1. Característ Características icas da Concep Concepção ção Tradic Tradicional ional/Ban /Bancária cária • O ensino é transmitido do(a) professor(a) para o(a) aluno(a), o que implica que o(a) professor(a) é
o centro do processo e o(a) aluno(a) não é considerado; • O(a) O(a) profes professor sor(a) (a) dá import importânc ância ia suprem suprema a ao conteú conteúdo, do, consid considera erando ndo-o -o como como acúmul acúmulo o de informação, portanto o ensino pode ser comparado a um depósito bancário; geralmente o conteúdo é descontextualizado, distante da realidade do(a) aluno(a); • O planejament planejamento o fundamenta-s fundamenta-se e nos conteúdos dos livros, livros, em saberes saberes que são tradicionalment tradicionalmente e considerados científicos, mesmo que não tenham vinculação com a vida do(a) aluno(a), portanto este não é considerado como ponto de partida para os planos de ensino do(a) professor(a). •O(a) aluno(a) é passivo(a), seu papel é de mero receptor(a) no processo de ensino-aprendizagem, memorizando, imitando, reproduzindo o que o(a) professor(a) transmite. Na Educação Física a Concepção Tradicional ou Bancária surge em dois modelos ou tendências de ensino-aprendizagem: Militarista e Tecnicista.
1. 1. Tendência Militarista Também conhecida como Tendência Eugênica, a Educação Física Militarista vigorou por grande período de tempo (1930 a 1945, segundo Ghiraldelli e 1930 a 1964, segundo Palafon) e foi tão forte, forte, que ainda ainda podem podem ser observada observadas s hoje hoje em dia, dia, alguma algumas s das suas suas caract caracterí erísti sticas cas e princípios em aulas de Educação Física. Por surgir num período de guerra e de ditadura no país (a ditadura civil), tinha como fundamental fundamental objetivo objetivo ou função, função, a obtenção obtenção de uma juventude forte, obediente obediente e saudável, saudável, capaz de suportar o combate, a luta, a guerra e defender a pátria (GHIRALDELLI, 1992; TAVARES E PACHECO, 1993; BRAID, 2003). Os conteúdos da Educação Física Militarista são a ginástica e o esporte. A metodo metodolog logia ia utiliz utilizada ada por profess professore ores s que aderem aderem a esta esta tendên tendência cia é a mesma mesma dos quarté quartéis, is, se consti constitui tuindo ndo,, portan portanto to mais mais de uma instru instrução ção física física do que educaç educação, ão, sendo sendo os professores extremamente autoritários que consideram aluno ideal aquele passivo e obediente. 1
Texto apresentado na disciplina Planejamento Planejamento de Ensino e Avaliação. Curso de Educação Física Física da Unifor. 2011.2. Doutoranda em Ciências do Desporto (UTAD). Mestre em Educação (UFC). Especialista em Didática Aplicada em Educação Física (UFC). Licenciada em Educação Física (UNIFOR). Coordenadora e professora do Curso de Educação Física da UNIFOR,. 2
Crítica à tendência Militarista: falta de autonomia da Educação Física quanto a sua proposta pedagógica; autoritarismo dos professores e passividade dos alunos.
1. 2. Tendência Tecnicista ou Competitivista Baseada na Psicologia Comportamental (Behavorismo), a Tendência Tecnicista ou Competitivista, tem como objetivo produzir comportamentos adequados a determinadas situações/necessidades, servindo, portanto profundamente à ditadura militar. Os adeptos desta tendência acreditam no homem como organismo passível de manipulação, sujeito, portanto à doutrinação, de acordo com os interesses de quem o manipula. Quanto ao conteúdo, o programa de Educação Física é todo voltado para os esportes e distribuído em etapas (bimestres) em função das temporadas de competição, sendo que nas escolas publicas, devido as deficiências de espaço, materiais ou do próprio professor, o programa termina sendo dividido assim: futebol para os meninos e voleibol (ou qualquer outra modalidade) para as meninas, o ano inteiro. A metodologia utilizada por professores que aderem ao tecnicismo é a mesma de um treinamento esportivo, portanto as aulas de Educação Física se assemelham a um treino de equipes de alto rendimento. Crítica à tendência: Moreira (1992) enfatiza que o tecnicismo, apresenta como objetivo principal a competição exacerbada; a “superação individual” como valor desejado; e foi com esta tendência que se iniciou uma exagerada valorização do esporte, a busca do “atleta herói”, enfim, o processo de elitização do esporte e seu uso como “analgésico” à situação conflituosa existente no país no período da ditadura militar.
2. Características da Concepção Problematizadora ou Ativa • O processo de ensino-aprendizagem é vivido pelo(a) professor(a) e pelo(a) aluno(a) e, para tanto,
o(a) professor(a) propõe desafios ou problemas para o(a) aluno(a) resolver; • O nível de conhecimentos, habilidades e atitudes, apresentados inicialmente pelo(a) aluno(a), é o ponto de partida do planejamento do(a) professor(a); • Ensinar-aprender é considerado um processo no qual se pretende atingir gradativamente uma transformação em quem aprende, através de uma assimilação de conhecimentos, habilidades e atitudes, de forma ativa; • O processo de ensino-aprendizagem é desenvolvido por meio de uma assimilação ativa e para tento é necessária a ação externa do(a) professor(a) como facilitador do processo, entretanto acredito que em vez de facilitador(a), o(a) professor(a) deverá ser um dificultador (dificultador quando propõe desafios para o(a) aluno(a) resolver e espera que este(a) os resolva, de forma relativamente autônoma). Aprender numa Concepção Problematizadora ou Ativa pressupõe que: Qualquer conhecimento a respeito da realidade externa é uma criação interna; aprender é estar o tempo todo se renovando, reinventando quem somos; uma nova aprendizagem (conhecimento, habilidade, atitude) só surge dentro de nós quando, finalmente, nos tornarmos abertos a ela. Ensinar numa Concepção Problematizadora ou Ativa é: Colocar o conteúdo a ser ensinado no horizonte interrogativo do(a) aluno9a); Ajudar os(as) alunos(as) a conhecerem as suas possibilidades de aprender; Orientar quando houver dificuldades; Indicar métodos de estudo e como colocar em prática o conhecimento aprendido; Propor atividades que provoquem aprendizagem autônoma e independente; Dirigir a atividade docente para os objetivos da aprendizagem do educando. • • •
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Na Educação Física a Concepção Problematizadora ou Ativa se apresenta por meio de três Tendências Pedagógicas: Psicopedagogicista; Histórico-Crítica ou Crítico-social dos Conteúdos; Saúde Renovada.
2. 1. Tendência Psicopedagogicista Esta tendência surgiu da preocupação em dar à Educação Física um valor educacional, e por assim dizer, como contra-proposta às tendências militarista e tecnicista. Segundo Moreira (1992) ela advoga que a Educação Física tem por objetivo não apenas promover a saúde (...) mas a educação do movimento (...), para a promoção de uma educação integral. A Tendência pedagogicista baseia-se nas teorias de Piaget, Le Boulch, Vayer e outros psicólogos e psicomotricistas, os quais influenciaram sobremaneira seis pressupostos teóricos. Por basear-se na psicomotricidade, esta tendência é utilizada por professores que atuam na Educação Infantil (creche pré-escola) e nas primeiras séries do Ensino fundamental. Os conteúdos das aulas são organizados em torno dos fundamentos da psicomotricidade, como: esquema corporal, lateralidade, coordenação motora ou praxia ampla e fina, organização espacial e temporal, os quais são desenvolvidos respeitando as etapas de desenvolvimento infantil propostas por Piaget e pelos psicomotricistas. A sua metodologia de ensino prioriza: (1º) a não diretividade nas aulas, investindo no nãoautoritarismo (se contrapondo ao autoritarismo da militarismo e tecnicismo) e; (2º) a utilização do jogo ou brincadeira como estratégia para o ensino-aprendizagem. O Pedagogicismo busca então outras alternativas que vão além do esporte performance na escola, procurando abrir espaço à participação de todos (TAVARES E PACHECO, 1993) havendo, portanto um avanço no que se refere ao respeito à individualidade do aluno. Crítica à tendência: por apresentar na sua prática pedagógica relações entre o uso do corpo psicomotor e o desenvolvimento cognitivo, conquistou um espaço muito importante para a Educação Física, a qual passou a ser de alguma forma mais valorizada pela escola. Como conseqüência da relação entre psicomotricidade e cognição, surgiu então um interesse entre professores de outras disciplinas em utilizar a Educação Física como reforço de seus conteúdos. Segundo Tavares e Pacheco (1993), esse interesse teve conseqüências negativas, pois, a Educação Física deixa de ser uma atividade com objetivos e conteúdos específicos para ser apenas uma importante atividade de apoio metodológico, criando um tipo de identidade de classe secundária.
2.2- Tendência Crítica, Histórico-Crítica ou Crítico-Social dos Conteúdos Surgiu por meio de um movimento questionador quanto ao caráter alienante da Educação Física na escola. Tavares e Pacheco (1993); Coletivo de Autores (1993); Resende e Soares (1996); Darido (2003); Azevedo & Shigunov (2004) salientam que nessa tendência o objetivo da Educação Física na escola é o estudo da cultura corporal, sistematizada por meio de grandes temas: jogo, ginástica, dança, esporte e luta, os quais, a partir de um tratamento/adaptação didático-pedagógico/a*, se transformam em conteúdos para a Educação Física escolar. *A adaptação/transposição didática para o desenvolvimento dos temas da cultura corporal, se refere à valorização de um saber teórico (resgate histórico do tema; contextualização social, técnicas, táticas e regras, dentre outros); de um saber fazer (habilidades motoras e/ou técnicas) e dos aspectos sócio-afetivos (saber ser e conviver em grupo ou viver junto) A Tendência Crítico-Social utiliza como metodologia de ensino, a problematização, a partir de situações concretas, provocando confrontos entre os conhecimentos e habilidades que o(a) educando(a) já possui, com saberes e habilidades que serão ensinados pelo(a) professor(a). Crítica a esta tendência: a falta de propostas práticas leva os objetivos da Educação física para níveis abstratos, deixando a atividade motora em terceiro plano; não interpreta o ser humano na sua individualidade e subjetividade mas sim por classes (classe dominante x classe trabalhadora).
2.3- Tendência Saúde Renovada (ou da Aptidão Física e da Promoção da Saúde) Darido (2003; 2004) denomina esta tendência de Saúde Renovada, já Moreira (2001) e Azevedo & Shigunov (2004) a denominam de Abordagem da Aptidão Física e da Promoção da Saúde. Apesar das denominações diferentes, as propostas teóricas apresentadas em Darido; Moreira e Azevedo & Shigunov, são as mesmas, bem como os estudiosos que estes citam: Farinatti; Guedes e Guedes; Nahas, dentre outros. Os autores citados apontam como objetivos para a Educação Física escolar a promoção de uma educação para a saúde, com vistas ao desenvolvimento de um estilo de vida mais ativo. Estes pesquisadores questionam a prática exacerbada do esporte na escola e indicam a necessidade dos professores oferecerem outras opções de práticas (por exemplo, ginástica, dança, jogo) que promovam a melhoria dos elementos da aptidão física relacionados com a saúde (flexibilidade, resistência aeróbica, força e resistência muscular localizada), por meio da incorporação da atividade física na vida dos(as) educandos(as). Nesta perspectiva Darido (2003) salienta que é essencial que o(a) professor(a) ensine ... os conceitos básicos da relação entre aptidão física e saúde, adotando uma metodologia que contemple , não apenas os aspectos práticos, mas também a abordagem de conceitos e princípios teóricos que propiciem subsídios aos escolares, no sentido de tomarem decisões quanto a adoção da hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda a vida. Moreira (Id), citando Guedes e Guedes, sugere também a seguinte metodologia: que os professores prescrevam e orientem atividades relacionadas à manutenção da saúde, oferecendo variedades de rotina que possam atender as preferências pessoais. Há ainda a necessidade de se dar atenção a todos os alunos e, em especial, aos de baixa aptidão física e aos portadores de deficiência física. Os professores de Educação Física têm assim um novo papel, qual seja o de serem promotores da conscientização da população quanto aos benefícios da atividade física na promoção da saúde. Crítica à tendência: minimiza a função da Educação Física na escola, com priorização de aspectos biológicos em detrimento de aspectos sócio-antropológicos específicos da cultura corporal. Há ainda uma concepção de ensino utilizada por alguns professores de Educação Física que, acredito, precisa desaparecer: Tendência do oba-oba. Suas características apontam os malefícios que causa à Educação Física na escola: Função da Educação Física - ocupação do tempo do aluno; Conteúdo ensinado - nenhum; Metodologia – o(a) professor(a) entrega bolas para meninos e meninas e estes(as) se organizam sozinhos, geralmente escolhendo as seguintes atividades: os meninos escolhem times para “bater racha”de futebol e as meninas brincam de carimba. Enfim... Professor oba-oba é aquele que finge que ensina; turista na escola; “boa praça”, mestre em não fazer nada - faz desserviço à profissão.
BIBLIOGRAFIA AZEVEDO. Edson; SHIGUNOV, Victor. Reflexões sobre as abordagens pedagógicas em Educação Física. Kinein. Vol. 1, No. 1, dez/2000/ Disponível em: www.kinein.ufsc.br/Kinein/artigos/originais/edsonresumo.html Acesso em: 16/07/04.
BRAID, Liana Ma. Carvalho. Educação Física na Escola: uma proposta de renovação. Revista Brasileira em Promoção da Saúde – RBPS. 16 (1), 2003. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino em educação física. São Paulo: Cortez, 1992. DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. _____. Os conteúdos da educação Física escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Disponível em: < www.uff.br/gef/revista/revista21/suraya.srtf>. Acesso em: 10/02/04. GHIRALDELLI JR., Paulo. Educação Física Progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a Educação Física brasileira. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1992. LOEKES, Solange. O Cotidiano de Educação Física Escolar e suas Tendências. Revista Motrivivência, ano VI, n. 4, junho, 1993. MOREIRA, Evandro Carlos. Abordagens da Educação Física escolar: um olhar sob o prisma cultural. Corpoconsciência. 1o Sem., No. 8, p. 15-35, 2001. MOREIRA, Wagner Wey. Educação Física Escolar: uma abordagem fenomenológica. Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, 1992. PALAFON, Gabriel H. Nuñoz. As Tendências Pedagógicas em Educação Física e sua Relação com as categorias Idealistas e Materialistas da História. Revista Motrivivência, ano VI, n. 4, junho, 1993. RESENDE., Helder Guerra de; SOARES, Antônio Jorge Gonçalves. Conhecimento e especificidade da Educação Física escolar na perspectiva da cultura corporal. Revista paulista de educação física. São Paulo, supl. 2, p. 49-59, 1996. TAVARES, Otávio e PACHECO, Guilherme. Educação Física no Brasil: história e atualidades. In boletim da série de Educação Física - Um Salto para o Futuro, programa n. 2, 1993.