TRADUÇÃO REVISTA 2002 R. AMBELAIN Grão-mestre do Rito de Memphis-Misraim Memphis -Misraim Grão-mestre de Honra do Grande Oriente do Brasil
SCALA PHILOSOPHORUM ou A SIMBÓLICA DOS INSTRUMENTOS NA ARTE REAL ―A Ciência Maçônica é o espírito informador
das Ciências, ela é a Gnose no sentido exato do termo; não se detém nos fenômenos, vai até a essência; dos atributos e das qualidades ela infere a natureza própria dos seres e das coisas...‖ C. Chevillon: ―Le Vrai Visage de la Franc Maçonnerie‖.
1965
SCALA PHILOSOPHORUM
ÍNDICE
Introdução (Parte 1) Prefácio A Arte Real A Escada Filosófica As Origens da Franco Maçonaria Noções Gerais de Alquimia (Parte 2) Da Alquimia a Androquimia
3 4 8 12 19 29 32
A Escolástica Exotérica A Escolástica Esotérica
38 44
(Parte 3)
OS INSTRUMENTOS DO APRENDIZ (Parte 4) O Avental As Luvas brancas (Parte 5) O Maço (Parte 6) O Cinzel (Parte 7) A Alavanca (Parte 8)
47 47 53 59 66 76
OS INSTRUMENTOS DO COMPANHEIRO O Nível A Perpendicular (Parte 10) O Esquadro (Parte 11)
84 85 92 100 10 0
(Parte 9)
AO INSTRUMENTOS DO MESTRE (Parte 12) O Compasso A Régua (Parte 13) A Trolha (Parte 14) O Gnômon (Parte 15) Conclusão A Gnose Maçônica O Tetragrama dos Veneráveis Coma Raciocinar Maçonicamente (Parte 16)
107 10 7 108 119 11 9 131 13 1 142 14 2 144 146 152 158 15 8
INTRODUÇÃO O presente método de formação maçônica repousa sobre a Tetractys alquímica dos Rosa-Cruzes Do Oriente . Uma primeir a vez aplicamos este ―esquema‖ iniciático na formação moral e espiritual de Cabalistas operativos 1. Urna segunda aplicação, no plano místico puro, foi dada em intenção de Martinistas desejosos de seguir a via Interior de Louis Claude de Saint-Martin, o ―filósofo desconhecido‖ 2. Damos aqui uma terceira aplicação, unicamente intelectual e moral, destinada aos Maçons das Lojas Simbólicas. A via que seguimos aqui é muito diferente da precedente. mística implicava, de acordo com Na ―Alquimia Espiritual‖, a aplicação deste esquema à via mística implicava, o próprio uso alquímico (or et labor), no emprego de uma técnica de oracão segundo um método especial. Na presente obra é bem diferente. As ―virtudes‖ ( do latim virtus: força) não têm
exatamente o mesmo significado. A franco-maçônica não é a fé religiosa! A vida em Loja faz com que o Maçom desenvolva formas e usos diferentes dos da via interior e solitária do iniciado martinista.
Além disso, estritamente intelectual e moral , a formação maçônica comentada nesta obra se interessa pelas ciências tradicionais e desenvolve faculdades que não têm tanto interesse para o mìstico. Em uma palavra, o caráter universal desse ―quadro‖ se apresenta de maneira muito diferente nesses três métodos. Contudo, o Maçom espiritualista, e crente, poderá ulteriormente e de modo útil completar a presente técnica, estritamente maçônica, com aquela, ainda que muito diferente, dada na obra precedente. Particularmente quando ele alcançar o grau da hierarquia maçônica escocesa em que surgirá a que stão da misteriosa ―Palavra Perdida‖. O caráter universal desse esquema rosacruciano permite evidentemente aplicá-lo à solução de problemas iniciáticos os mais diversos: alquimia material, alquimia espiritual, formação intelectual, moral, mística, etc. É justamente nisso que reside o seu profundo valor.
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La Kabbale Pratique (Niclaus éditeur, Paris 1951). L‘Alchimie Spirituelle (La Difusion Scientifique éditeur, Paris 1963)
PREFÁCIO ―A Ciência Maçônica está totalmente contida no simbolismo dos Instrumentos...‖
(J. Corneloup, Grande Comendador de. Honra do Grande Oriente de França.) Prefaciando a sexta edição de ―O Homem na Descoberta de sua Alma‖, do saudoso
C. G. Jung , o doutor Roland Cahen nos diz o seguinte:
―Um dos horizontes mais importantes que nos abre es ta obra é o das projeções.
A projeção é este fenômeno singular, singular mas original, pelo qual um indivíduo imprime sobre um objeto ou um ser do mundo ambiente um conteúdo ou uma tonalidade psíquica que é em si mesma em verdade um traço da sua vida interior. A projeção revelou-se de uma importância igual à percepção. Hoje em dia é necessário afirmar-se que o indivíduo tem duas ligações com o mundo: a percepção e a projeção. Estes dois liames, embora se exercendo em direção inversa, têm igual importância e também igual irracionalidade‖ Mais adiante ele nos precisa a natureza dos arquétipos estudados por Jung: ―Os arquétipos são, no plano das estruturas mentais e das representações, os
corolários dinâmicos daquilo que são os instintos no plano biológico, modelos de ação e de comportamento ‖ 3 . Vê-se o quanto a técnica milenar da Franco-maçonaria, no domínio da formação intelectual e moral, é válida em vista da psicologia contemporânea e seus modos de atividade. Realmente, constituir um instrumental 4 que repouse sobre uma enéada emblemática (a exemplo dos antigos e tradicionais sistemas agrupados no seio da Gnose) e atribuir-lhes um simbolismo iniciático tão coerente quanto sutil, é confiar a arquétipos a missão de exprimir de maneira tão imprescritível quanto imutável, é aplicar o método de Jung antes que ele o definisse, é antecipar de muitos séculos a ciência oficial no domínio da psicologia aplicada. Isto talvez surpreenda os Maçons e os profanos insuficientemente documentados, e para quem a Maçonaria Especulativa remonta ao décimo oitavo século. Nós nos limitaremos a sublinhar alguns fatos e documentos históricos. Eles nos demonstram, sem contestação possível, que a antiga Maçonaria Operativa dos Companheiros , carpinteiros e cortadores de pedra, sempre possuiu uma interpretação iniciática de seus instrumentos . E é bem provável que muitos séculos antes da nossa era já houvesse Maçons Aceitos , assim como no décimo sétimo e décimo oitavo séculos, recrutados nos meios intelectuais, e provavelmente condutores ocultos das corporações operativas que neles haviam depositado confiança. Dissemos ―a técnica milenar‖.
Citaremos antes de mais nada esta inscrição iraniana, cuja idade deve estar perto dos vinte e cinco séculos: ―Submete -te ao Esquadro, a fim de servir. Uma pedra que pode encontrar lugar na parede jamais ficara sem ser usada ...‖ 5
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C.G.Jung: ―O Homem na Descoberta de sua Alma‖ (Payot édìteur, 1963). Instrumenta: instrumentos, em latim. Cfe. C.W.Leadbeater: ―O Lado Oculto da Franco Maçonaria‖ (Paris 1950).
Em um grande edifício da ilhota V da primeira região de Pompéia, no curso das escavações descobriu-se, no meio do triclínio, um mosaico que apresentava emblemas maçônicos e pitagóricos. Esse mosaico foi reproduzido na pagina 105 (prancha IX) do segundo tomo do ―Número de Ouro‖ de Matila G. Ghyka. Ele representa uma roda de seis raios sobre a qual está pousada uma borboleta. Acima, um crânio descarnado, e coroando o conjunto, bem no alto, o nível triangular com seu fio a prumo. Quando lembramos que o termo grego psykhê é sinônimo de alma e também de borboleta , compreende-se por que a borboleta está sobre a roda, símbolo das transmigrações. Tanto mais que o termo psíquico era aplicado, no mundo antigo, e sobretudo no seio da Gnose, aos profanos ligados ao mundo terrestre e material por suas imperfeições e por seus desejos. O simbolismo desse mosaico é evidente: o profano (borboleta) , ligado à roda das transmigrações, só escapará por uma morte total (crânio), morte que o integrará no Pleroma inicial, simbolizado pelo Nível , imagem da igualdade original reconquistada e do Retorno à Unidade Primordial . Nessa mesma época encontramos esta frase insólita, da pluma de Platão, no Filebo: ―O que eu entendo aqui por beleza das formas não é o que o profano entend e
geralmente por esse nome, mas sim aquilo que reside no sábio e judicioso emprego do Compasso, do Cordel e do Esquadro ... Sobre este simbolismo puramente iniciático dos instrumentos Maçônicos, um esquadro metálico descoberto perto de Limerick, na Irlanda, e tendo gravada a data de 1517, vai nos esclarecer através de uma inscrição que afirma a perenidade de seu significado:
―Eu me esforço por levar uma vida amorosa e sábia, guiando -me pelo Nível e o Esquadro...‖ 6
O que pensar ainda deste mesmo Esquadro, sempre de metal, descoberto perto de Mogúncia, tendo gravada a data de 1546, com uma inscrição também significativa: ― Custodi animam meam ‖, ou seja, ― Guarda minha alma ‖, segundo versìculo do Salmo 86? Será necessário lembrar as tumbas templárias, sobre cuja pedra a cruz habitual é flanqueada, em um dos seus ângulos superiores, por um Esquadro, associando o Instrumento da salvação e o símbolo da retidão moral 7? Bernard Fay (o escritor anti-maçom que se ilustrou durante a ocupação alemã na Biblioteca Nacional!) afirmava em uma carta a Albert Lantoine, em 1930, ter tido em mãos, nos Estados Unidos, as provas da existência de uma Maçonaria especulativa desde o 15º século . De que a terminologia maçônica neste terreno (o dos Instrumentos ) se refere aos Arquétipos evocados por C.G.Jung, nós queremos por prova somente as tão numerosas passagens da Bíblia, documento cuja antigüidade certa ninguém negará, e onde estão mencionados o Arquiteto, o Templo , as Colunas, o Cordel, a Régua, o Nível, o Côvado, etc... , considerados em seus aspectos celestes e não terrestres. Essas passagens são muito numerosas para serem citadas aqui. O leitor que se interessar as encontrará facilmente em qualquer Chave Bíblica. Elas contêm a prova do interesse do simbolismo maçônico expresso em seus Instrumentos tradicionais e justificam o presente trabalho 8. 6
Citado por C.W.Leadbeater em seu livro ―O Lado Ocul to da Franco Maçonaria‖ (Adyar éditeur, Paris 1930)
Citados por Louis Lachat: ―A Franco Maçonaria Operativa‖ (Figuière éditeur, Paris 1934). Convém observar que a versão vétero-testamentária que possuímos foi estabelecida por Esdras após o Cativeiro na Babilônia e de memória. Não será impossível supor que tenham sido estabelecidos contatos entre as corporações judaicas e as da Babilônia. Mas isto implica igualmente em relações entre a casta sacerdotal de Israel e essas mesmas corporações judaicas. E aí voltamos à possibilidade de existência de ―membros aceitos‖, já naquela época, em Israel. O que é confirmado pelo fato de que todo israelita, inclusive os levitas e os doutores da Lei, deviam praticar um ofício manual, e portanto pertencer a uma corporação. 7 8
Para concluir, precisemos ainda o seguinte: este livro é de caráter estritamente maçônico , conforme às nossas tradições, mas sobretudo ao pensamento daqueles que as codificaram há mais de três séculos: os Rosa-Cruzes. Portanto quem procurar nele os elementos do um materialismo cômodo e fácil, ou de um ateísmo tranqüilizador fechará o livro, decepcionado. É em suas significações rosacrucianas, altamente espiritualistas, que os nove Instrumentos da Franco-maçonaria Especulativa são aqui analisados. Nós ainda nos permitiremos fazer observar a alguns Maçons franceses que talvez o ignorem, que é somente em França que as Obediências Maçônicas de tendência racionalista representam maioria considerável. No plano internacional é bem diferente. A Franco-maçonaria dita espiritualista constitui imensa e esmagadora maioria. Não nos cabe absolutamente tirar disso conclusões ou fazer julgamento. Limitamo-nos a constatar, e isto implica evidentemente em que esta obra tenha isso em conta na natureza e na escolha das citações. Antecipadamente pedimos desculpas aos nossos leitores. Mas, para sermos eqüitativos, devemos frustrar os nossos adversários permanentes. Para ser espiritualista um Maçom Franco não vai por isso a Canossa, ou a Genebra. Na época da grande ofensiva anti-maçônica em 1934, que preludiava as perseguições, pilhagens e seqüestros de 1940 a 1944 (tornados tão fáceis em vista da presença do invasor alemão), um adversário de nossa Ordem escrevia: ―A Franco- Maçonaria é o homem, livre em seu pensamento e em sua consciência, que forma para si sua moral e a impõe a si mesmo como um imperativo categórico...‖ 9 Que homenagem mais bela, ainda que involuntária, esta definição tão exata vinda de um adversário... Retenhamos apenas desta declaração tão nìtida que querer ser ―livre em seu pensamento e em sua consciência‖ é, aos olhos desse católico, um erro imperdoável. A
oposição permanece pois, total, irredutível, entre os que querem a sociedade sob seus absolutos dogmáticos e aqueles que se recusam a impor qualquer entrave à introspecção humana. Toda organização religiosa (Igreja, Judaísmo, Islam, etc.) se quer e se diz infalível e perfeita . ―Mas, dirá o Maçom car tesiano, quem me prova que vós sois uma sociedade infalìvel e perfeita?...‖ ―As santas escrituras, ditadas por Deus a tal profeta, afirmam isto...‖, responderá a Igreja. ―Mas enfim, dirá o Maçom cartesiano, quem me prova que estas santas escrituras tenham sido de fato ditadas pelo pr óprio Deus?...‖ Eu mesma, responde a Igreja, so ciedade infalìvel e perfeita, eu atesto que assim o foram...‖ ―E quem me prova que sois uma sociedade infalìvel e perfeita?‖ ―As santas escrituras, ditadas por Deus mesmo, o ensinamento...‖ etc., etc. O célebre ―Romance de Muguet‖, que embalou nossa infância, repousava sobre silogismos muito próximos destes! A não ser que o próximo Concílio promulgue sabiamente enfim esta liberdade de consciência na ordem do dia de sua próxima sessão, dando assim, e finalmente, um desmentido às palavras do papa Pio XII: ―A liberdade de consciência, esse delìrio?... 10‖ Não era Jesus companheiro carpinteiro, e fil ho de companheiro carpinteiro? Citado por Antônio Cohen e Michel Dumesnil de Grammont, antigos grão-mestres da Grande Loja de França, em ―A Franco -maçonaria Escocesa‖ (Figuière éditeur, Paris 1934). 10 Os anticlericais fazem geralmente suas críticas apenas contra a Igreja Romana, mas parecem muito indulgentes para com o Islam, o Judaísmo ou as Igrejas Reformadas. Nós o seremos menos! Por volta de 1950, em Aden, tendo um jornalista árabe rompido, por um dia, o jejum ritual do Ramadan, foi condenado a vinte e quatro chibatadas, à confiscação de seus bens, e a cinco anos de prisão. Ele havia comido em público, ao meio dia, um sanduíche. Uma condenação tão severa equivale praticamente ali a uma 9
condenação à morte. Na Europa ninguém se comoveu. Em alguns estados protestantes (ignoramos a seita exata) dos Estados Unidos, leis arcaicas, redigidas há três séculos por imigrantes puritanos, recalcados e pudibundos, pretendem controlar e dirigir a vida sexual e mais secreta de casais legítimos. Toda infração a essas leis, revelada, conhecida e demonstrada, leva à justiça o homem e a mulher culpados... Na Grã Bretanha, nos Países Baixos, toda infração ao repouso dominical é sancionada por leis, leis tendo em conta o papel privilegiado de uma religião de estado .
A ARTE REAL
No silêncio do Templo o malhete do Venerável acaba de bater um golpe. - ―Meu irmão, de onde vindes? - Muito Venerável Mestre, da Loja de São João. - O que se faz na Loja de São João? - Elevam-se Templos à Virtude e cavam-se masmorras aos vícios. - O que vindes fazer aqui? - Vencer minhas paixões, submeter minha vontade e fazer novos progressos na Maçonaria. - O que entendeis por Maçonaria? - O estudo das Ciências e a prática das Virtudes‖. Tais são as frases rituais do ―Catecismo do Aprendiz‖ em um manuscrito clássico do décimo oitavo século: ―Compilação da Maçonaria Adonhiramita‖. Frases muito
precisas e claras.
A Maçonaria é, pois, a arte de construir em si mesmo um novo homem, no qual as virtudes desabrocharão, e os vícios desaparecerão na proporção inversa do desenvolvimento das primeiras. E a técnica descrita na presente obra repousa totalmente sobre este princípio. Por uma espécie de geração psíquica misteriosa, à medida que se expandir a clássica série das quatro Virtudes Cardinais da antiga escolástica medieval (Prudência - Tolerância - Justiça - Força) , criar-se-á no subconsciente do Maçom uma espécie de ―clima‖ interior qu e favorecerá a gênese, o desenvolvimento e a expansão das três Virtudes Teologais (FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE ). E, por sua vez, estas serão as geratrizes de um ―clima‖ superior análogo que, no mesmo Maçom, permitirá a gênese, o desenvolvimento e a expansão das duas Virtudes Filosofais: Inteligência e Sabedoria . Ambas constituirão o último e real desabrochar da Luz no Maçom, que assim terá atravessado a fronteira misteriosa que separa a Iniciação do Adeptado 11. Paralelamente a essas elaborações sucessivas das faculdades espirituais e morais no Homem-Interior , também misteriosas, nascerão faculdades que serão sua conseqüência prática. A própria escolástica medieval lhes dava a denominação de ―dons‖. Esta palavra vem do Latim ― Donum ‖ e tem por sinônimo no próprio latim ― facultas ‖, significando capacidade, talento, meio, força de ação, faculdade . A imprensa católica fez predominar, na Idade Média, o termo DOM, subentendido ―do Espìrito Santo‖. Observemos todavia que a palavra VIRTUDE deriva do latim virtus: força, poder . E, ligadas a estas faculdades por um esoterismo secular, nove ciências tradicionais levarão ao maçom a matéria prima geral sobre a qual e pela qual será ele capaz de utilizar esta ―arte de construir‖ que o Catecismo do Aprendiz , citado acima, chama tão 11
Iniciado deriva do Latim — initium — começo, inicio. Adepto deriva de Adeptus - aquele que adquiriu... O Iniciado é o Companheiro, o Adepto é o Mestre. O Aprendiz é apenas o Aspirante do antigo Companheirismo.
justamente de maçonaria. Tais são os nove Instrumentos que permitirão ao maçom construir em si um verdadeiro Templo Interior e tornar-se seu próprio ―rei‖, segundo a feliz expressão de Louis-Claude de Saint-Martin, o ― Filósofo Desconhecido ‖ da Tradição Martinista12. Por isso a Maçonaria Especulativa foi denominada a Arte Real , o termo real deriva do latim regalis , que forneceu a velha expressão realengo, outro sinônimo de real . A água régia é a água com que se experimenta o Ouro, o rei dos Metais. Mas os familiarizados com a misteriosa linguagem dos pássaros , isto é, a cabala fonética utilizada pelos alquimistas rosacrucianos de outrora, o bservarão imediatamente o quanto o latim regula está próximo de regalis .... No latim, efetivamente, regula significa ―régua, esquadro, preceito, princípio, lei ‖ . (conforme Henri Goelzer: Dicionário Latino . Garnier Editora. Paris. 1937 ). E, de fato, o princípio de um estado, sua lei, são formulados pelo rei, no mundo antigo. Assim, pois, praticando a Maçonaria, o Homem é a sua própria RÉGUA, ele se identifica com o Esquadro. Ele se torna esses instrumentos. É por esta razão que as três maneiras de entrelaçamento do Esquadro (imagem do Homem) e do Compasso (símbolo do Grande Arquiteto) expressam a tríplice etapa da identificação do primeiro com o segundo. Que os antimaçons incorrigíveis, que se sobressaltarão quando lerem esta passagem, se tranqüilizem, a teologia católica conhece uma divinização progressiva do Homem (por outro caminho, bem entendido). Esta Régua , nós a reencontraremos no decorrer deste estudo da simbólica dos Instrumentos. Compreenderemos por que a Maçonaria Especulativa no décimo oitavo século, e os Rosa-Cruzes , seus codificadores, a substituìram por um ―Livro Sagrado‖, compêndio de Princípios e de Leis morais. Mas compreenderemos também por que, numa época em que por seiscentos anos, do Concílio de Toulouse em 1229 até a Revolução Francesa (o período do édito de Nantes colocado à parte), nenhum leigo podendo ter o antigo ou o novo testamento, os maçons operativos se limitaram a associar a Régua ao Compasso e ao Esquadro , de preferência a um livro... O que poderiam fazer? E como? A maioria não sabia ler. O Evangelho ou o Antigo Testamento eram acessíveis somente como manuscritos, tão raros quanto dispendiosos. A invenção da imprensa nada lhes deveria facilitar nesse domínio. As Bíblias impressas eram raras, de alto custo, volumosas e incômodas. Se sua posse e sua leitura eram acessíveis às pessoas instruídas e opulentas, isto acontecia somente nos Estados totalmente afeiçoados à Reforma. As nações católicas (França, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria) eram obrigadas a respeitar a interdição romana, formulada e apoiada pelo braço secular. Acrescentemos que a Maçonaria Operativa tinha uma dupla razão para preferir a Régua à Bíblia. Antes de mais nada, associada ao Compasso e ao Esquadro, dispostos os três de uma determinada maneira, ela permitia as operações mais secretas do Mestrado, notadamente aquelas relativas à orientação dos monumentos em construção. E nisto o Livro mais ―sagrado‖ não teria podido substituì -la. Não esqueçamos que a bússola, por mais conhecida que fosse pelas Cruzadas, permaneceu um instrumento raro e dispendioso durante séculos, e que numa época em que a instrução não era obrigatória, não existiam livros, jornais, rádio, nem televisão, o po vo, a burguesia e a nobreza ficaram durante séculos fora do conhecimento científico mais elementar. As vésperas da 12
Sabe-se que foi Louis Claude de Saint-Martin, um dos criadores do Martinismo, quem deu à Francomaçonaria do XVIII século a célebre divisa: ―Liberdade, Igualdade, Fraternidade‖, que. depois se tornou a da França!!
Revolução, numerosas são as filhas de nobres que não sabiam ler nem escrever no momento de seu casamento. Um segundo aspecto do interesse que os Mestres de Obra e os Companheiros poderiam atribuir à Régua , era o fato de que ela representava, antes de mais nada um elemento de medida , mas certos significados permaneceram secretos durante quarenta e cinco séculos aproximadamente, pois algumas dessas medidas esotéricas subentendiam a existência de conhecimentos, uma boa parte dos quais era apanágio de um reduzido número de Iniciados. Em seguida veremos quais eram elas. Mas independente do seu papel de padrão , a Régua , disposta sobre o Compasso e o Esquadro de determinada maneira, implicava no conhecimento de elementos de Adivinhação e de Magia , vindos da China, por intermédio dos hindus, gregos, árabes e persas . Isto implicava em segredo ainda mais severo se recordarmos as condenações contra o Companheirismo expressas por diversas Universidades. Não esqueçamos que a ―muito santa Inquisição‖ condenava sem ouvir , nem mesmo interrogar, salvo pela tortura, e que o braço secular sucedia o braço sacerdotal quando o interrogatório estava concluído. A Inquisição nasceu somente no século XI, porém já no século IV o imperador Graciano, um dos sucessores de Constantino, autorizou a pena de morte contra os heréticos: Gnósticos, Hermetistas, Platônicos, Pitagóricos , etc. Mas se admitirmos que do conhecimento destes elementos de Adivinhação e de Magia , compreendidos por determinado simbolismo da Régua colocada sobre o Compasso e o Esquadro , decorria uma doutrina metafísica absolutamente estranha à tradição cristã banal, e por este fato justificava a própria interdição destas ciências, compreender-se-á que os raros iniciados que velavam pela Maçonaria Operativa dessas épocas, foram obrigados a observar o mais rigoroso segredo 13. Assim, pois, a Régua é verdadeiramente o emblema desta Arte Real que constitui a Maçonaria Especulativa, e veremos logo que a Alquimia é o seu esquema de aplicação no plano espiritual, moral e intelectual. A tradição secular do segredo , que constitui o elemento essencial incluído no Juramento Maçônico , este segredo que tanto irrita nossos adversários, apóia contudo seu princípio na própria aplicação da palavra das Escrituras: ―Se é coisa honro sa revelar e proclamar as obras de Deus, é bom manter oculto o segredo real‖ (Tobias XII, 7). O que quer que pensem os Maçons, este segredo existe . Ele tem relação com diversos aspectos do pensamento e do conhecimento esotérico , e com diversas aplicações destes. Foi uma das armas essenciais da Rosa-Cruz no décimo sétimo século. E continua sendo! Enfim, por que o juramento de Segredo do Maçom seria imoral, se o Bispo, no início da cerimônia de sua sagração presta um idêntico (juramento canônico) ―Quanto ao segredo que eles me teriam confiado (os Papas), por eles mesmos, por seus Núncios, ou por escrito, não o revelarei conscientemente a ninguém em seu prejuìzo ...― (parágrafo 2 do juramento, que se compõe de 12).
13
Uma tradição da Idade Média diz que um bispo alemão do Reno, tendo conseguido aprender do filho de um Mestre de Obra o essencial de alguns ritos e operações secretos que haviam sido praticados à meia-noite dois dias antes no canteiro de uma nova catedral, pelos Companheiros - Construtores, este bispo foi misteriosamente executado por eles algumas horas mais tarde. Sem dúvida, a sua tagarelice punha em perigo a liberdade e provavelmente a vida desses Maçons Operativos.
A ESCADA FILOSÓFICA
Antes de subir a enigmática escada de três, cinco e sete degraus, no decorrer de sua vida maçônica, o profano candidato à Iniciação, é convidado a descer a uma espécie de ― in-pace ‖ , denominado ― Câmara de Reflexões ‖ . Observemos de passagem que não se trata de reflexões no sentido dos verbos refletir, meditar, mas sim de realizar uma espécie de análise de si mesmo, de se refletir , reproduzir a imagem como em um espelho. Convidado a redigir seu testamento filosófico (que nenhuma relação tem com o testamento profano, nem com suas últimas vontades), ele se esforça por definir seu pensamento no que concerne a três problemas que lhe são apresentados pela Francomaçonaria de Tradição: a) quais são seus deveres para com um Ser Supremo , que o mundo profano denomina Deus , e que a Maçonaria qualifica de Grande Arquiteto do Universo, b) quais são seus deveres para com o Universo , considerado como o conjunto das criaturas que desenvolvem sua existência própria paralelamente à sua, c) quais são seus deveres para consigo mesmo , considerado como um microcosmo que reflete, de maneira infinitesimal, o Macrocosmo . Nesse reduto que é a sini stra ― Câmara de Reflexões ‖ as paredes são pintadas de negro. Uma mesa de madeira tosca, espessa e pesada, sobre a qual estão diversos objetos: -
um Crânio humano , colocado por vezes sobre duas tíbias ,
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um pedaço de pão ,
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uma vasilha com água ,
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um recipiente contendo sal grosso,
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um recipiente contendo Enxofre ,
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uma lanterna acesa,
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uma Ampulheta , que limitará o tempo de sua permanência e o fará perceber, diante das dificuldades que terá para expressar seus sentimentos quanto às três questões, o quanto a vida do Homem é curta em vista da tarefa que lhe incumbe,
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material de escrita (caneta, papel)
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um tamborete sem encosto, igualmente de madeira tosca, completa o mobiliário. Frente à mesa, pintados em branco sobre o negro da parede, diversos emblemas e sentenças:
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um galo,
- uma foice, - a palavra ―V.I.T.R.I.O.L.U.M‖, - diversas sentenças:
―Se a curiosidade te conduziu aqui, vai - t e:‖ ―Se o teu coração está invadido pelo medo, não vás adiante‖ ―Aquele que souber vencer os horrores da Morte, saíra vivo do seio da terra e tomará lugar entre os Deuses ‖14
Ali, e geralmente sem que ele saiba, o Profano é colocado em presença de um simbolismo vindo das mais distantes idades, simbolismo introduzido na Maçonaria Operativa e, sem que o soubessem, na época em que os Rosa-Cruzes nela penetraram e a reformaram, nos séculos XVII e XVIII. Este simbolismo é o da Alquimia , tanto operativa como especulativa. O Galo , pássaro atribuído a Hermes, a Thot e a Mercúrio, todos nomes que designam a força misteriosa condutora das almas no mundo dos mortos (a Igreja latina os substituiu por São Miguel), força que provavelmente não é senão uma vasta corrente psíquica , polarizada pelas próprias ALMAS. Corrente positiva e ascendente, e corrente negativa e involutiva, o Galo é, em Alquimia, a imagem do Fogo Secreto . O Sal e o Enxofre comuns colocados na Câmara, evocam o Sal e o Sulfur dos Filósofos, que estudaremos em outros capìtulos. O crânio é o ―caput -mortum‖, o resìduo, a terra-danada dos Hermetistas. Quanto à palavra ―V.I.T.R.I.O.L.U.M.‖, pelo fato de ela tradicionalmente estar pontuada, nos diz que cada uma das nove letras de sua composição deve ser a letra inicial de uma palavra. E de fato assim é; a palavra Vitriolum é apenas a sigla que exprime a máxima rosacruciana: — ―Visita Interiora Terrae Rectifican do Invenies Occultum Lapidem Veram Medicinam‖, ou seja, ―V isita o interior da terra e retificando, descobrirás a pedra oculta, verdadeira medicina‖ 15 .
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Quando o candidato tiver sido recebido Aprendiz e depois de ter efetuado as três simbólicas Viagens de purificação através da Água , do Ar e do Fogo , que sucedem a meditação no seio da Terra, ele terá finalmente recebido o choque da Luz , ele terá sido colocado em presença dos Quatro Elementos e da Quinta-essência que disto resulta. Ele receberá então, e antes de qualquer outra coisa, um Avental de pele absolutamente branca, cuja abeta triangular ele deverá conservar levantada enquanto for Aprendiz. E os cinco lados desse Avental lhe lembrarão as cinco fases essenciais da sua Recepção. A ele serão confiados Instrumentos, dos quais alguns lhe serão simbolicamente entregues em sua recepção de Aprendiz, outros na de Companheiro. Esses Instrumentos são em número de nove , ou seja, três vezes três. São esses nove Instrumentos que constituem os Símbolos essenciais de sua Iniciação Maçônica, e é bastante lamentável que o esquecimento ou a negligência das Chaves Esotéricas que os Rosa-Cruzes inseriram outrora nos Rituais da Francomaçonaria Especulativa tenham aos poucos diminuído consideravelmente a profundidade dessa mesma iniciação.
14
Esta máxima encontra sua explicação na página 156, com o comentário sobre a obtenção da Integridade póstuma.
15
Ou ainda: medicina de verdade.
Aqueles que codificaram, há muitos séculos, os rituais da Franco Maçonaria Especulativa limitaram em nove o número dos instrumentos destinados a servir de suporte às meditações filosóficas do Franco-maçom, pois nove é o número que simboliza ―a extrema multiplicidade fazendo retornar à unidade o número da solidariedade cósmica, da redenção, da reintegração final...‖, nos diz o Dr.Allendy em seu ―Simbolismo dos Números‖. É também um símbolo de plenitude, pois dez é apenas o retorno à Unidade associada ao nada (zero). ―Sabe que todo número, qualquer que seja, nos diz Avicena, nada mais é do que o número nove , ou seu múltiplo, mais um excedente. Pois estes signos que exprimem os números têm somente nove caracteres e valores, com o zero...‖ É por isto que a Franco-maçonaria de Tradição fez dele o símbolo da imortalidade humana, expressa pelos nove Mestres que encontram o túmulo de Hiram e levam-no de volta à vida, pela incorporação do no vo iniciado... Notre-Dame de Paris, maravilhosa jóia de arte gótica, mas também assombroso Livro de Pedra , nos oferece a imagem desta necessária enéada iniciática, e Fulcanelli a interpretou magistralmente em seu livro ―O Mistério das Catedrais‖: ―Franqueemos o pórtico, e comecemos o estudo da fachada pelo grande portal, dito pórtico central ou do Julgamento‖.
O pilar, que divide em dois o vão da entrada, oferece uma série de representações alegóricas das ciências medievais. Frente ao Átrio, em lugar de honra, a Alquimia está representada por uma Mulher cuja fronte toca as nuvens. Sentada sobre o trono, ela tem na mão esquerda um cetro - insígnia da soberania - enquanto que a direita sustenta dois livros: um fechado (esoterismo) e outro aberto (exoterismo). Mantida sobre os seus joelhos e apoiada contra seu peito se levanta a Escada de Nove Degraus — scala philosophorum — hieróglifo da paciência que devem possuir seus fiéis ao longo das nove operações sucessivas do labor hermético 16... Assim, pois, com seus nove Instrumentos, a Franco--Maçonaria Especulativa oferece aos seus filiados sua Matéria Prima e um Instrumental que devem, judiciosamente utilizados, levá-los a uma luz interior, de que a luz elementar ofuscante da cerimônia da sua recepção como Aprendiz foi um pálido reflexo. * * * Antes de abordarmos o simbolismo tradicional dos Instrumentos (sua significação superior e esotérica será abordada nos capítulos ulteriores) convém lembrar o do Avental que, com estes mesmos nove Instrumentos, constitui a Década , a partir da qual só existe a volta para trás, a renovação, a passagem por formas de pensamento análogas, embora em pontos diferentes da espiral. O Avental , que para o Aprendiz tem sua abeta levantada, protege ao mesmo tempo o baixo-ventre e o epigástrio, isto é, a parte do corpo de onde provém os sentimentos e as emoções (coração) e as paixões e os desejos (órgãos genitais). Assim, pois, esse Avental de pele absorve pouco a pouco e naturalmente, por uma espécie de osmose simpática, as radiações físico-psíquicas que poderiam perturbar a harmonia e a paz Fulcanelli, cujo nome verdadeiro era Jean-Julien Champagne (ele acrescentou o prenome Hubert em um perìodo de sua vida) , ilustrador do ―Mistério das Catedrais‖ e das ―Mansões Filosofais‖, é também o autor. Foi ele quem redigiu os prefácios iniciais, que foram assinados por um de seus alunos, M.E.Canseliet. A vida de Jean- Julien Champagne foi publicada, ilustrada com fotografias, no numero IX dos ―Cadernos da Torre Saint-Jacques‖ consagrados à parapsicologia, em 1962. Nasceu em 23/01/1877, morreu em 26/8/1932. Seus dois únicos discìpulos foram M.E. Canseliet e Jules Boucher (autor da ―Simbólica Maçônica‖ e do ―Manual de Magia Prática‖). Possuìmos uma série de documentos e de fotografias atestando a veracidade desta identificação de Fulcanelli e de Champagne, não publ icados. 16
profundas que devem reinar em um Templo Maçônico. É um condensador e um isolador ao mesmo tempo. Neste último aspecto ele é um vetor. Ele absorve e igualmente condensa as radiações físico-psíquicas que provierem de outros participantes, ele protege seu portador. O Avental permite assim aos membros de uma Loja permanecerem eles mesmos, e sem perturbarem as tentativas de expressão dos outros Maçons. Convém observar que as Lojas (ou simplesmente os Maçons) que abandonam o uso (que é imprescritível na Tradição Maçônica) do Avental de pele ou de seda (igualmente perfeito isolante) e se contentam simplesmente com o porte do Colar ou Faixa, perdem quase sempre o sentido iniciático da verdadeira Maçonaria. Como diz o antigo adágio : ―É o Avental que faz o Maçom ...‖ O Avental, primeira alfaia maçônica conferida ao Iniciado depois de sua passagem pela Câmara de Reflexões, é igualmente o seu primeiro Instrumento. Mas é um Instrumento passivo, uma simples proteção. Praticamente destinado a proteger o talhador de pedras das lascas que se desprendem no decorrer do corte (eles trabalhavam outrora com o peito nu, e no mundo antigo quase totalmente nus, apenas com um pedaço de pano ao redor da cintura), o Avental lembra a materialidade terrestre, ele é o símbolo do elemento Terra. Símbolo insubstituível da qualidade maçônica, usado necessariamente tanto pelo Aprendiz, como pelo Companheiro e pelo Mestre, ele é a imagem de um trabalho permanente. Sua significação é pois: ―constância no labor‖. Deve -se notar ainda que os Maçons que abandonam o uso do Avental pa ra usar simplesmente o Colar ou a Faixa reconhecem que o fazem por negligência ou por esquecimento. O abandono do Avental tem um significado mais profundo do que se possa imaginar. Provém destes gestos inconscientes , cuja importância jamais escapou a psicanalistas do valor de Freud ou de Jung. ―Não menosprezemos os pequenos sinais, nos diz Freud em sua ―Introdução à Psicanálise‖, eles podem conduzir - nos a coisas mais importantes.‖ O Maçom sem avental é sempre um Maçom ―exterior‖... *
*
*
O significado classicamente atribuído a cada um dos nove Instrumentos é o seguinte: MAÇO - Vontade na aplicação.
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CINZEL - Discernimento na investigação
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ALAVANCA - Esforço na realização
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PRUMO - Profundidade na observação
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NÍVEL - Serenidade na aplicação
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ESQUADRO - Retidão na ação
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COMPASSO - Exatidão na realização
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RÉGUA - Regularidade na aplicação
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APRENDIZ
COMPANHEIRO
MESTRE
TROLHA - Perfeição e unificação
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Vê-se por esta distribuição que cada um dos três graus da Franco-maçonaria Especulativa tem por símbolos próprios três Instrumentos. O Aprendiz desbasta a Pedra Bruta. Para isso ele utiliza o Cinzel, cuja ação é aplicada ou amplificada com o auxílio do Maço. A Alavanca lhe é indispensável se ele quiser desbastar o bloco informe em suas diferentes superfícies, o que exige virá-la e revirá-la. O Companheiro trabalha na Pedra assim desbastada pelo Aprendiz. Sua finalidade é a obtenção de uma Pedra perfeitamente cúbica. Está bem evidente que os mesmos Instrumentos do Aprendiz lhe são necessários: Cinzel, Maço e Alavanca, se ele quiser obter a transformação desse bloco grosseiramente esquadrejado em uma Pedra Cúbica perfeitamente regular. E não é menos evidente que a Perpendicular (Fio de Prumo), o Nível e o Esquadro lhe serão absolutamente indispensáveis, se ele deseja obter faces regulares e de iguais valores. O Mestre trabalha, segundo a Tradição Maçônica, sobre a Prancha de Traçar. Possuindo a arte da geometria, pois que chegou ao Mestrado, só tem de fato necessidade de dois instrumentos: - a Régua , necessária para a obtenção de uma linha reta perfeita, e para toda a medição linear retilínea; - o Compasso , que lhe permitirá obter perpendiculares sobre toda a reta obtida pela Régua, realizar toda linha curva de que ele tenha necessidade para a obra à qual se dedica, trasladar toda medida sobre qualquer linha, reta ou curva, e traçar toda figura poligonal. O Compasso, usando-se um de seus braços, servirá como ponta de traçar e pode ser usado sobre a Pedra cúbica talhada pelo Companheiro, cada uma de suas seis faces servindo como prancha de traçar. A Trolha tem por significado ―proteção e unificação‖. Efetivamente, é dela que se servirá o Mestre para unificar e harmonizar o conjunto da sua Loja. Assim como a Trolha permite desfazer os excessos de cimento, do mesmo modo, por sua benevolência e por sua serenidade, o Mestre de Loja poderá manter a harmonia entre os membros de sua Oficina, desfazendo eventuais diferenças e hostilidades. Daì a expressão ―passar a Trolha‖, significando retornar à harmonia. ―A Trolha, nos diz Plantagenet, é o sìmbolo do amor fraternal que deve unir todos os Maçons, único cimento que os obreiros podem empregar na edificação do Templo...‖
A Trolha não é apenas o símbolo de um apagar de toda irregularidade sobre a face da Pedra Cúbica. Ela é ainda a lembrança, a imagem do cimento que une as pedras entre si, e sabe-se que as pedras do Templo simbolizam os próprios Franco-maçons. E nas mãos desse Mestre particular que é o Venerável de uma Loja, ela é, por sua forma triangular, a imagem do Delta Luminoso ao Oriente do Templo, símbolo da Causa Primeira não precisada e indefinida, segundo o verdadeiro costume maçônico, e que é designada pelo nome de Grande Arquiteto do Universo. Vê-se que o Aprendiz trabalha em um mundo informal, simbolizado pela Pedra Bruta . O Companheiro trabalha em um Universo em parte organizado e que ele colocará em três dimensões, mundo simbolizado pela Pedra Cúbica. O Mestre trabalha em um Mundo extraformal, mundo de duas dimensões, simbolizado pela Prancha de Traçar. É o Mundo das Imagens, o plano das ―Idéias Eternas ‖ de Platão. Estes três mundos correspondem ao Corpo (o Soma dos gregos), à Alma (Psique ) e
ao Espírito (Nous ). Remontamos assim do plano da Forma ao da Imagem, refazendo em sentido inverso a rota que permitiu aos Arquétipos Eternos do Pleroma se refletirem e se multiplicarem em todos os seus aspectos polimorfos constitutivos do tenebroso Kenoma . Tal deve ser, cremos nós, e à luz das correspondências analógicas tradicionais, a repartição dos nove Instrumentos através dos três graus. Todas as divisões modernas destes são tão pouco racionais e lógicas que os três Ritos mais difundidos: Escocês, Francês e Memphis-Misraim divergem entre si quanto às divisões no que diz respeito à recepção ao Grau de Companheiro. Não é absolutamente necessário fazer figurar o que quer que seja dentro do Triângulo Luminoso (Delta ) radiante, ao Oriente da Loja, acima da Cadeira do Venerável. Ele se basta a si mesmo e é diminuir a grandeza deste símbolo acrescentar-lhe as quatro letras hebraicas do Tetragrama (Jehovah), ou inserir nele um olho. Pois, lembremos aos Maçons ligados a um Rito que impõe a presença da Bíblia sobre o Altar, a luz é a própria imagem de DEUS nas Escrituras:, ―P or tua luz, nós vemos a luz.. .‖ (Salmo XXXVI, 10), ―E u sou a luz do mundo . ..‖ (JOÃO VIII, 12) e ― a vida era a luz dos homens . ..‖ (João 1: 4). Quanto à palavra God , significando Deus em língua inglesa, sua transcrição no seio do Delta tenderia a tomar aquela por uma língua hierática e sagrada. Afirmamos, nesta grande confusão, que nos recusamos a considerar qualquer língua viva e moderna como tal. Lembramos simplesmente que estas três letras G, O e D (em hebraico: Guimel, Vau e Dalet ) são as iniciais das três palavras hebraicas: Gomer, Hoz e Dabar, que significam respectivamente Sabedoria, Força e Beleza , designação das três Colunas tradicionais do Templo Maçônico. É, por outro lado, interessante lembrar que estas três letras, bem como o Gama grego, representam um Esquadro , sendo o Guimel hebraico completado por um traço horizontal inferior, evocador do Nível . Desejando-se efetivamente fazer figurar esta sigla God dentro do Delta , convém então transcrevê-la em hebraico: Guimel — Vau - Dalet . Acontece a mesma coisa com a palavra INRI, cujas traduções latinas são bastante numerosas, mas que tendem a fazer esquecer que são as iniciais (ainda aqui uma sigla!) das quatro palavras hebraicas: Iammim (Água), Nour (Fogo), Ruah (Ar) e Iebeschah (Terra). A Cruz dos Elementos , sustentando em seu centro a Rosa , imagem da Crisopéia , é assim um verdadeiro símbolo alquímico, sem por isto revestir a menor significação sacrílega em vista do instrumento da Paixão do Cristo . A Cruz é, de fato, o símbolo hermético do crisol, o qual é chamado em latim Crucibulum .
AS ORIGENS DA FRANCO-MAÇONARIA
O exame dos Rituais do antigo Companheirismo operativo (talhadores de pedra, carpinteiros, ferreiros, etc.) mostra que as suas cerimônias e seu simbolismo eram bastante diferentes dos da Franco-maçonaria clássica que, no entanto, sem contestação possível saiu desse mesmo Companheirismo. A razão é muito simples. Em 1507, Henri Cornelíus Agrippa, cavaleiro da Milícia de Ouro, médico do Imperador Carlos V, autor da célebre obra ―De Occulta Philosophia‖, constitui segundo os conselhos de seu mestre e amigo Jehan Trithème, abade de Spanheim e de Würzburg, uma organizaçã o que agrupa os hermetistas europeus, chamada ―Associação da Comunidade dos Magos‖. Os membros possuìam palavras e sinais de reconhecimento. Em 1536, Paracelso (Aureolus Phllippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, dito Paracelso) publica a sua celebre ―Prognosticação‖, em que revela, pela primeira vez, o símbolo da rosa sobre a cruz, e nos fala de Elias Artista 17. Em 1570, na Alemanha, aparece uma associação, que provavelmente saiu da precedente, chamada, nos diz Mìchel Maier, os ―IRMÃOS DA ROSA -CRUZ DE OURO‖. Quatro anos mais tarde, em 1574, o conde de Falkenstein, bispo de Trêves, é citado como um dos chefes da Rosa-Cruz. O prestigioso vocábulo começa a se espalhar e inquietar a Igreja. Em 1586, em Lunéville, cidade então situada na Alta-Lorena, como feudo da casa de Vaudémont, tem lugar a primeira assembléia capitular da ―Milìcia Crucìfera Evangélica‖. Aí se fala de um Templo Místico, da Rosa e da Cruz, da Reintegração do Homem Cósmico, da regeneração do Universo. Em Londres é o apogeu do movimento rosacruciano inglês, que vem de lançar Jacques VI da Escócia (ele não é ainda Jacques I da Inglaterra); é a época das reuniões rosacrucianas na taverna ―A Sereia‖ 18. Em 1593, o mesmo Jacques VI de Escócia constitui a ―Rosa -Cruz Real‖, com 32 cavaleiros19 da Ordem do Cardo de Santo André, saída primitivamente das comendadorias templárias desse Estado, em 1314, no final da batalha de Banneckburn. Em 1598, em Nüremberg, Simon Stubion constitui a ―Milìcia Crucìfera Evangélica‖,
que rapidamente se reunirá aos Rosa-Cruzes.
Em 1603, Jacques VI da Escócia, tornando-se Jacques I da Inglaterra, deixa o Grãmestrado dos maçons operativos escoceses, e se torna o grão-mestre dos maçons operativos ingleses. Lord William Sinclair de Roslin o sucede como Grão-Mestre dos maçons operativos do reino de Escócia. Em 1609, Maurício de Hesse-Cassel, filho de Guilherme IV, o Sábio, landgrave de Hesse-Cassel (protetor e amigo de Tycho de Brahé e dos hermetistas europeus em geral) , constitui o famoso ―Capìtulo Rosacruciano‖ de Cassel. Em 1610, no ano seguinte portanto, em Londres, nascimento da ―Rosae Crucis‖, que constituirá um pouco mais tarde o ―Invisìvel Colégio‖, e este último dará nascimento em seguida à ―Real Sociedade‖. Em 1611, em Londres, nascimento da ―Aurea - Crucis‖, saìda dos ― Irmãos da Cruz de Ouro‖, associação rosacruciana da Alemanha. 17
R. Ambelain: ―Templários e Rosa —Cruzes‖ (Adyar Editores, Paris 1955).
18
R. Ambelain: ―Templários e Rosa —Cruzes‖ (Adyar Editores, Paris 1955).
19
Em relação com as XXXII Vias da Sabedoria, da Cabala.
Em Ratisbona, em 1614, primeira e oficial manifestação dos Rosa-Cruzes, por intermédio da ―Fama Fraternitatis‖ e da ―Confissão Fratrum Ros ae Crucis‖. Em 1615, Maurício de Hesse-Cassel modifica a constituição do ―Capìtulo Rosacruciano‖ dessa cidade. Os prìncipes e os iniciados ai se reúnem: prìncipe Frederico Henrique, stadhouder dos Países —Baixos; landgrave Luiz de Hesse-Darmstadt, marquês de Brandenburg, Eleitor Frederico III, príncipe cristão de Anhalt, Valentim Andreae (autor das célebres ―Nolces Chymiques‖) , Michel Maier (médico do Imperador Rodolpho II, ele próprio hermetista e alquimista em Praga) , Raphael Eglinus (de seu verdadeiro nome Goëtz, autor, entre outras obras, da ―Disquisitio de Helia Artista‖ e de ―Assertio Fraternitatis R.C. quam Rosae- Crucis vocant‖) , Antonio Thys, Jungmann, etc. No ano seguinte, Míchel Maier, vai tomar contato em Londres com Robert Fludd e sir Francis Bacon representando os rosacrucianos ingleses (1616) Em 1622, em Haia, assembléia dos Rosa-cruzes no palácio do príncipe Frederico Henrique, stadhouder dos Países Baixos. Em 1644 morre J. B. Van Helmont, artesão da união entre os Rosa-cruzes naturalistas (hermetistas puros de tendências racionalistas), e os Rosa-cruzes místicos (de tendências teúrgicas, cabalistas cristãos em sua maioria) Ainda em 1644, o célebre Elias Ashmole (autor de diversas obras sobre a RosaCruz) é recebido por William Backhouse no seio da ―Rosae -Crucis‖. Londres em 1645, Boyle, Locke e sir Wren constituem o ―Invisìvel Colégio‖, saìdo da ―Rosae Crucis‖ como dito acima. Em 1646, (e não em 1644 como erroneamente escrevemos em nossa obra rosacruzes e Templários), Elias Ashmole é recebido pelos Maçons Operativos (Companheirismo inglês), com o ―Maçom Aceito‖. Ele não é o primeiro intelectual admitido no seio da Franco-maçonaria operativa, outros já o haviam precedido. Ele nos diz o seguinte em seu ―Jornal‖, pagina 603: ―1646, 16º dia de outubro, 4 horas e 30 minutos após o meio dia, fui feito Franco-
maçom em Warrington, no Lancashire, com o coronel Henry Mainwring, de Karticham (condado de Chester). Os que se encontravam então na Loja eram: Sir Ríchard Penkett Warden, Sir James Colher, Sir Richard Stankey, Henry Littler, John Elam e Hugh Brewer ‖.
Além desses Maçons Aceitos , mais antigos que ele, havia um núcleo de Maçons Operativos que havia recebido estes outros? Não o sabemos. Mas é possível. Elias Ashmole de fato toma o cuidado de distinguir as categorias sociais entre aqueles que cita como s eus predecessores na Loja. O ―Sir‖ que precede os três primeiros nomes realmente significa de uma forma particular a polidez inglesa: ―SENHOR‖ 20, que Elias Ashmole não emprega para os últimos três Maçons Aceitos. Estes e ram, sem dúvida, plebeus. Também nada há de estranho no fato de que ele não mencione os nomes dos verdadeiros Maçons da Loja primitiva. Como quer que seja, é aproximadamente nessa época que devemos situar a penetração insidiosa e silenciosa das Lojas da Franco-maçonaria Operativa inglesa pelos rosacrucianos. Discretamente Lojas Maçônicas exclusivamente especulativas vão se constituir ao redor dos Stuards, principalmente entre os oficiais e os gentis-homens da casa real. Essa Maçonaria especulativa, a mais antiga, será, documentos incontestáveis o provam, de obediência religiosa católica. O juramento hipoteca a fidelidade do recipiendário para com Deus ―e a Santa Igreja‖. 20
N.T. – ―Sir‖ – título que precede o nome de batismo de baronetes e cavaleiros.
E será então, em 1717, a 24 de junho, festa de São João de Verão, que quatro Lojas de Maçons Aceitos (excluindo qualquer membro operativo) se reunirão em Londres para aí constituir a Grande Loja de Londres, a qual se tornará mais tarde a Grande Loja da Inglaterra. Essa Maçonaria será de Obediência Protestante e, em oposição à que a precedeu, ela não mais será stuardista, mas orangista 21. Os rituais serão modificados, todo alto grau de caráter cavaleiresco será repudiado. Mas o simbolismo iniciático será, no entanto, cuidadosamente respeitado em seu conjunto. *
*
*
Compreender-se-á facilmente que se, desde aproximadamente dois séculos, hermetistas, alquimistas, cabalistas, gnósticos, adeptos da Magia, da Teurgia, da Astrologia, reunidos no seio das grandes organizações rosacrucianas evocadas acima, tomam o cuidado de penetrar e de se apropriar pacientemente de uma organização tão antiga como a Maçonaria Operativa, é porque tem suas razões. O que eles querem é ―unir o esquadro e o compasso‖, o primeiro representando a
Terra e o segundo representando o Céu. Os rosa-cruzes têm uma filiação espiritual: a filiação apostólica recebida de Bispos que secretamente aderiram às suas idéias, desde o século XVI. Por meio desses bispos (secretamente heréticos do ponto de vista de Roma!), nossos rosa-cruzes remontam aos Apóstolos, por filiações das quais a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa mantém cuidadosamente em dia a seqüência oficial. E pelos Apóstolos esses ―poderes‖ remontam ao Cristo, que se diz ―pontìfice segundo a ordem de Melchisedek‖, unindo assim a iniciação que partiu de Abraham (oferenda do pão e do vinho - Gênesis: 14:18) com a dos sacrifícios sangrentos da Antiga Aliança. Tudo isso é muito importante aos olhos de nossos rosa-cruzes, imbuídos do misticismo bíblico. E Abraham se situa, segundo os historiadores e os exegetas, lá pela décima segunda dinastia, quanto à história do Egito, em pleno Médio-império, e pouco depois da época heracleopolitana. Isto nos leva a mais ou menos dezenove séculos antes da nossa era, ou seja, há quase quatro mil anos ... Mas essa filiação espiritual, tão antiga quanto seja, não lhes basta. Se eles têm objetivos muito ambiciosos: regeneração espiritual do Homem, da Criação toda, restituição da Matéria Universal ao seu estado sutil inicial, etc., também têm um problema político muito claramente colocado. E eles não dissimulam esse programa: destruição do poder temporal de Roma, destruição das monarquias hereditárias e absolutas, com a finalidade de constituir um vasto estado universal, retorno a um cristianismo despojado de suas imagens exotéricas e liberado dos interesses sórdidos das oligarquias, tanto religiosas como dinásticas ou financeiras da época. Para a realização deste plano gigantesco, eles terão o apoio de soberanos inteligentes, ou interessados em alguma parte do seu programa. Henrique IV, e seu ―grande plano‖, que lhe inspirara o rosacr ucíano Irineu Filaleto, Jacques VI da Escócia, ligado a Guilherme IV, o Sábio, landgrave de Hesse-Cassel, e a Tycho de Brahé, e também numerosos pequenos príncipes alemães. Mas o golpe decisivo chegará, rápido como um raio. Ravaillac assassinara Henrique IV, e os historiadores modernos acabarão por encontrar nesse assassinato a responsabilidade da Liga do Bem Público , da Sociedade de Jesus , e da rainha de França: 21
Observaremos aqui que a ―regularidade‖ maçônica, tão cara à Maçonaria anglo -saxônica. se perde por efeito do cisma. Ora, a Grande Loja da Inglaterra, orangista e protestante, é um cisma da precedente, stuardista e católica... Ela queimou os arqui vos e os rituais da precedente. Sua pseudo ―regularidade‖ é uma brincadeira...
Maria de Médicis . Mas não será somente aos poderes temporais que os rosa-cruzes pedirão assistência para a realização de seu plano gigantesco, com alcance de vários séculos. Não esqueçamos que eles recorrerão a todo o conjunto das ciências ditas ocultas: alquimia, astrologia, magia, etc. E se os ―poderes‖ misteriosos da sucessão apostólica os relig aram ao Céu , é
necessário que possuam também os da Terra ... Nossos rosa-cruzes se voltarão para o que subsiste das antigas iniciações de caráter ―terrestre‖; e eles os pedirão à Maçonaria Operativa . Somente quando tiverem entrado na posse dessa filiação iniciática é que terão ―unido o esquadro e o compasso‖. De fato, a Maçonaria Operativa de sua época é cristã, e tem por patrono o próprio São João. Contudo seria vão supor que sua fonte iniciática o fosse! Muito antes, a tradição maçônica havia sido veiculada pelos Collegia greco-romanos, que repousava sobre o mito dos Cabires, ou o de Hércules e de seus ―trabalhos‖. E antes destes Collegia , os depositários da tradição maçônica haviam constituído as célebres e antigas corporações fenícias de construtores, então colocadas sob a proteção de Kousor, o Hefaisto de Filon de Biblos. Muito provavelmente estes deram a iniciação às corporações judaicas. E nós reencontramos um eco da presença destas últimas na célebre visão de Ezequiel (capítulos XL a XLIV), onde se vê o Arquiteto Celeste , portador da cana de medir e do cordel de linho, tomar todas as medidas para a realização da Jerusalém do Alto . Aliás é provável que o patrono dessas corporações judaicas fosse o Metatron da Cabala, o ―Mediador‖ de quem fala São Pa ulo, Sar-ha-Olam (Príncipe do Mundo), ainda chamado El Acher (o Outro Deus). E todas essas organizações bem diversas: talhadores de pedra, carpinteiros, ferreiros, sobretudo, provieram das que se encontram já constituídas em Madian, quinze séculos antes da nossa era. De fato, os ferreiros e mineiros medianitas haviam se agrupa do em torno do Sinai, com as outras tribos de Madian vindas de outras regiões. Nos flancos do monte, ferreiros e artesãos de cobre vizinhavam com os cortadores de pedra e os mineiros das minas de turquesa e de cobre. E, sempre nos flancos do monte, no cume do qual Moisés, unificador do Israel e seu libertador, evocará Metatron, já nessa época, existe um templo, e este templo é consagrado a Hator. De fato, já então uma mesma repulsa misteriosa do mundo profano e uma tradição esotérica comum situam ferreiros e mineiros fora das populações comuns, portanto fora do dito mundo profano . Conseqüentemente nesse tempo (há quase quatro mil e quinhentos anos), nem São João, nem Hércules, nem os Cabires, nem Kousor, nem Melkart, nem mesmo Salomão ou Hiram, eram a alma e encobriam o segredo dessas tradições, e sim Hator, a deusa dos ―olhos de turquesa‖, a ―Dama da Tarde , a ―Dama do Poente‖, com o diadema de cornos de antìlope ou de vaca, deusa guerr eira e de rigor (como Ishtar). Era considerada a mãe de Horus (assim como a Virgem Maria, mãe do Verbo), era a ―deusa distante‖ e também a ―deusa gata‖. Portado ra da máscara de leão, era a ―guerreira‖, e assentada sobre um leão, ela prefigurava Cibele a Terra-Mãe. Era por vezes a Natura Naturata , outras a Natura Naturanda . Ao amor da deusa pelos humanos responde o amor de seus fiéis. Os títulos mais doces lhe são dados. Ela é a ―deusa‖, a ―dama‖, a ―mãe misericordiosa‖, ―a que ouve as preces‖, ―a que intercede junto aos deuses irritados‖, ―a que os apazigua‖, ela é a autora ―do Universo e da Humanidade‖. Um profundo sentimento de ternura anima os hinos e as preces que lhe são dirigidas. Os devotos de Ísís não encontraram expressões mais tocantes. Ela é ex altada acima de tudo, ela se torna a ―Deusa das deusas‖, ―a Rainha de todos os deuses‖, ―a Soberana do Céu e da Terra‖. Aqueles que tiverem seguido a discussão conciliar do Vaticano II sobre a Virgem Maria, ―Rainha dos Anjos‖, ―Mediadora‖, ―Redentora‖, sab erão reencontrar aqui o arquétipo da ―Mãe Eterna‖, guardiã dos mortos e
resgatadora dos vivos, que o inconsciente fetal do homem traduz ulteriormente por Deusa-Mãe , mãe dos Iniciados, e que os leva para fora da Caverna (útero), pelas Águas sagradas (águas amnióticas), para a Luz esperada (a Vida)... É provavelmente a lembrança, inconsciente mas tenaz, desse avatar da Grande Isis egìpcia, protótipo de nossas ―Mães‖ gaulesas e das Virgens Negras que as sucederam, que faz com que inconscientemente o ― azul ‖ sej a o termo pelo qual são designados comumente os três graus da Maçonaria simbólica, sobretudo se considerarmos que o azul é tradicionalmente , o azul turquesa , ou o azul celeste (e não o azul-marinho da Maçonaria moderna anglo-saxônia). É ainda por uma reminiscência, à qual a Maçonaria simbólica não poderia se subtrair, que a Estrela Pentagramática , chamada ―flamejante‖, evocando tanto a Ishtar assíria como a Astarté fenícia (duas palavras cuja raiz comum significa estrela ), brilha ao Ocidente do Templo para a quinta e última ―viagem‖ do Companheiro, bem como para guiar a marcha para trás do candidato ao Mestrado... Assim, ao Ocidente do Templo, está imutavelmente sublinhado seu papel de ―Stella Vespertina‖, outro nome da ―Dama da Tarde‖ e da ―Dama do Poente‖, da ―Dama das Turquesas‖, condutora dos Iniciados. E até mesmo a China antiga conhece Si-Wang-Moû , a ―Dama Rainha do Ocidente‖, que reina em um paìs fabuloso, sobre a simbólica Montanha de Jade ... Assim sendo (e o leitor nos perdoará esta colocação), por que aureolar com um ambiente religioso, particular e absoluto, um esoterismo que se apresenta de fato como um universalismo iniciático ? Assim como não poderia existir uma geometria protestante, uma gramática católica, uma matemática judaica, uma física islâmica, o esoterismo maçônico não poderia ser aprisionado dentro de uma crença particular e codificada. É, aliás, bastante estranho constatar que ao longo de tantos séculos humildes artesãos, provenientes de religiões tão diversas, souberam conservar intuitivamente, não esta noção de deus criador comum a todos os povos, mas uma outra, tão particular, de deus construtor, ordenador de um Caos pré-existente; o que é muito diferente. De fato, um deus criador é sempre criador ex nihilo , ao passo que o deus construtor ou ordenador utiliza uma matéria prima já existente. Essa teoria leva a uma outra. Assim como a Alma constrói sua morada de carne no decorrer dos nove meses de gestação, e (talvez ...) transmigra de formas em formas, também se pode imaginar que o Espírito Universal , ordenador de sua própria morada, este universo, transmigra do mesmo modo de criações em criações, e de universo para universo... Em resumo, os artesãos de todas as raças e de todas as épocas, filiados às confrarias esotéricas, ou acreditavam depender apenas de um Demiurgo , deus secundário a serviço de um Deus Supremo (e talvez desconhecido do Homem) , ou então proclamavam que, em seu sistema metafísico, a Matéria era considerada como eterna e portanto coexistente com seu Ordenador . Isto implica (muito antes de Orígenes), na crença em uma Criação eterna como seu Ordenador (isto e, seu Criador ), na qual os Universos sucedem aos Universos , com a diferença, todavia, de que a Criação é impermanente enquanto que permanente é o Criador , de quem ela seria assim apenas o Inconsciente. Notar-se-á que a Eva bíblica, desdobramento de Adam , guardião do Éden, significa em hebraico ―sonho, sono‖. Então somos levados a considerar, subjacente à enéada dos Instrumento s emblemáticos da Franco-maçonaria, os Arquétipos , isto é, os símbolos de entidades metafísicas secundárias, os Demiurgi . Isto nos conduz inevitavelmente às nove Sefiroth da Cabala, que emanam de Kether , ―o Umbral da Eternidade‖, aos nove C oros Angélicos , mais ou menos densificados devido ao seu afastamento do Criador, aos nove Eons da Gnose, etc... O aspecto inferior dos demiurgi em relação ao Demiurgo, o Ordenador supremo, perpetuou-se na linguagem artesanal com o termo pejorativo de ― instrumento ‖, que os bons obreiros aplicam aos aprendizes e aos co mpanheiros tecnicamente ―insuficientes‖...
Seja como for, compreende-se agora porque, possuindo a filiação apostólica e de Melquisedek, os rosa-cruzes quiseram possuir a filiação da Maçonaria Operativa. Eles haviam intuitivamente compreendido que toda iniciação, para ser realmente potencial e virtual, deveria compor-se de uma dupla polaridade. É muito certamente um dos aspectos iniciáticos das duas colunas JAKIN e BOOZ, que flanqueavam a entrada do Templo de Salomão, em Jerusalém, e que nossos Templos conservaram cuidadosamente. Mas é evidente que tais concepções, tão heterodoxas e inquietantes quanto à disciplina católica e protestante, terminaram por insinuar -se fora dos núcleos estritamente rosacrucianos. O número nunca trouxe qualidade. E pouco a pouco, assim como a Franco-maçonaria Operativa havia sido penetrada pela Rosa-Cruz e havia se tornado a Franco-maçonaria Especulativa, esta última foi penetrada por elementos diversos, estranhos ou hostis ao vasto plano rosacruciano. Nobres empolgados, ou cansados de sua nobreza, e que vinham para a Maçonaria à busca de títulos e futilidades novas, burgueses ambiciosos, encantados por estabelecerem relações com gentis-homens e serem por eles chamados de ―meu irmão‖, todas estas pessoas não desejavam figurar como conspiradores e ―mágicos‖. Incapazes de adivinhar nos altos conhecimentos esotéricos vindos do fundo dos séculos as aplicações práticas de uma verdadeira física transcendental , todas estas ciências misteriosas, que eles adivinhavam existir nos altos graus dos Cenáculos os mais fechados, faziam com que atraíssem sobre si a cólera real, a ira romana e, por fim, a danação de sua alma... E, é claro, a reação veio violenta, intolerante, antifraternal, contrária aos juramentos de fraternidade e de fidelidade. E foi o Rito Templário, esquecido de suas origens e de suas finalidades, que deu o sinal ! Era 1763, na Convenção de Altenberg, perto de Iena, o Regime conhecido sob a denominação de Retificação do Dresde foi submetido a uma severa reforma e todos os Maçons suspeitos de serem cabalistas, hermetistas, alquimistas, teurgos, etc., foram excluídos. Isso ocorreu por incitação de fidalgotes alemães ignorantes, que acabavam de tomar em suas mãos a organização templária renovada, e dos quais alguns eram cavaleiros teutônicos, ordem então severamente católica. Essa exclusão turbulenta havia sido precedida de uma outra, mais discreta. Na Convenção de Kholo, em 1742, uma série de expulsões havia tido lugar, pelos mesmos motivos. A hostilidade da Maçonaria aristocrática alemã contra as altas ciências esotéricas suscitou de imediato uma reação involuntária. Na Rússia, desde 1741, vemos a Estrita Observância Templária servir de antecâmara à Rosa-Cruz 22 (1) . Em França rapidamente aparecerão as Obediências de um caráter iniciático muito marcante: os Elu-Cohen de Martinez de Pascuallis; os ―Rosa -Cruzes do Grande Rosário‖ do Rito Primitivo , fundado pelo marquês de Chefdebien, cuja fonte eram os Rosa-Cruzes de Praga, e que serviu de Obediência de base ao Rito Primitivo de Memphis-Misraim ; os Philalèthes , de Savalette de Lange; os ― Iluminados de Avignon ‖ , de Dom Pernety, etc., todas Obediências altamente esotéricas, e que repousam agora no seio desse Rito de Memphis-Misraim. Mas ao passo que se desenvolvia e sobretudo que aumentava o recrutamento da Franco-maçonaria Especulativa, na Europa, os segredos iniciáticos se diluíam, perdiam sua precisão; os ensinamentos se deformavam, se truncavam, se esqueciam. Por sua vez a Rosa-Cruz era engolfada na torrente vitalizadora. Todavia, que seus .membros tenham considerado a Maçonaria como uma ciência real , verdadeiro compendium dos conhecimentos ocultos, e principalmente da alquimia, Até o XIX século, na Rússia, o Martinismo, a Maçonaria Templária, a Rosa-Cruz, constituíram a hierarquia clássica do encaminhamento iniciático tradicional, em três etapas principais. 22
tanto material como espiritual, não é coisa de duvidar. Queremos por provas não mais que extratos do gênero : — ―Os antigos faziam da Medicina Universal um ato de religião, e a ocultavam sob mistérios sagrados. Eis ai a verdadeira Maçonaria...‖ (Conforme o ―Diadema dos Sábios‖, por Filantropos, cidadão do mundo ( sic), pagina 148, Paris, 1781). “... era necessário a muitos homens este vil adorno exterior que, em seguida, levou à verdadeira maçonaria toda essa superficialidade que lhe era estranha. Se a verdadeira Maçonaria houvesse subsistido, os Irmãos falariam bem alto, e o mistério teria subsistido somente na Obra...‖ (Conforme ―Le Denier du Pauvre‖, por Etteila,. página 55, Paris, 1785). ―O tempo desta grande e importante operação é de aproximadamente dois anos
comuns. E quando ele termina, o aprendizado de nossa Maçonaria, pois não existe senão esta verdadeiramente, este aprendizado concluído, dá lugar ao companheirismo, cujas provas são muito menos longas e menos rudes...‖ 23 (―Recreações Herméticas‖, manuscrito atribuído a Jean Vauquelin des Yvetaux, 1651-1716). Na verdade é bem anterior à infiltração dos Rosa-Cruzes na Maçonaria Operativa a utilização que faziam de alguns símbolos maçônicos, tais como o Compasso e o Esquadro. No ―Tripus aureus, hoc est Tres Tractatus chymici selectissimi ‖ , publicado em
Frankfurt em 1618, o autor, o monge Basílio Valentin, está representado na página do titulo como um monge com suas vestimentas, e segura contra o peito um livro grande. Ora, o braço faz o sinal do esquadro .
No ―Azoth Philosophorum , ‖ do mesmo autor, há uma ilustração repleta de simbolismo
maçônico. Vê-se um globo alado, inscrito com um triângulo em um quadrado. Um dragão repousa sobre o globo, e sobre ele se apóia uma forma humana tendo duas mãos e duas cabeças. A forma humana está. rodeada pelo sol, a lua e cinco estrelas representando os sete planetas. Uma das cabeças é a de um homem, e a outra a de uma mulher. A mão que se encontra do lado masculino da figura segura um Compasso , e a que se encontra do lado feminino segura um Esquadro. Essa obra é anterior em cinco anos à precedente, e foi editada em Frankfurt em 1613. Observa-se que o simbolismo tradicional é respeitado: o Compasso é masculino , designa o Céu, e o Esquadro é feminino e designa a Terra . Eis ai a imagem e a evocação dessa dupla filiação iniciática que os rosa-cruzes procuraram associar em uma única filiação... Aqui podemos, portanto, entender a formulação lapidar do saudoso Grão-mestre Chevillon: ―A Ciência Maçônica e o espírito informador das ciências , ela é a Gnose no sentido
próprio do termo; ela não se detém nos fenômenos, vai até a essência ; dos atributos e das qualidades ela infere a própria natureza dos seres e das coisas ...‖ (Conforme C. Chevillon em ―O Verdadeiro Rosto da Franco -maçonaria‖, página 25, Deram Editores, Lyon, 1939). Acrescentemos que ela não está ligada a qualquer mística religiosa particular, pois ela as veicula todas: conforma-se à Moral absoluta para poder se expressar de acordo com a Tradição Iniciática Universal , apresentando simplesmente ao Homem os nove Instrumentos simbólicos da Franco-maçonaria de Tradição.
23
Encontra-se o texto completo das ―Recreações Herméticas‖ na bela obra de Bernard Husson: ―Dois Tratados Alquìmicos do XIX século: Curso de Filosofia Hermética‖, por Cambriel, e ―Hermes Desvelado‖, por Cyliani (Omnium Littéraire, Paris 1964). As ― Recreações Herméticas‖ aparecem como aditivo, ao fim da obra. As duas primeiras obras, esgotadas, encantaram nossa juventude, e Jules Boucher, assim como seu mestre Fulcanelli, as ti nham em alta estima.
É necessário que essa Tradição Iniciática Universal não seja sistematicamente atacada e sufocada por sectários e ignorantes que, tendo orientação intelectual ou espiritual oposta, nem por isso são menos destruidores e adversários do Espirito. Lembremo-nos de que para compreender um interlocutor é absolutamente necessário conhecer a sua linguagem . Ora, os Rosa-cruzes substituíram alguns elementos da ritualística operativa por elementos novos, que melhor expressavam a sua doutrina geral. Sabe-se que eles foram os criadores e os codificadores do grau de Mestre, pois a Maçonaria Operativa conhecia apenas os graus de Aprendiz e de Companheiro. Foram os Rosa-cruzes que introduziram a Lenda de Hiram, que a Bíblia ignora, mas que é certamente de origem oriental (Oriente Médio). Sabe-se que eles introduziram na Maçonaria Operativa uma simbólica que lhe era desconhecida e estranha. Sabe-se o quanto a Alquimia, material e espiritual, tinha lugar entre eles. Sabe-se que eles usaram todos os conhecimentos esotéricos que possuíam (cabala, mística e prática, gnose, magia, teurgia, astrologia, geomancia, espagíria, medicina hermética, arte metálica, etc.) para sustentar seu combate. De todas essas coisas fica o essencial, no mais profundo de nossos costumes e de nossos rituais. Mas se quisermos compreender, se desejarmos chegar à herança, ao ―tesouro oculto‖, é necessário traduzirmos o grimório, é necessário assimilarmos seu modo de pensar, fazer nossas as suas teorias, ainda que alguns de nós tenham que abandona-las em seguida. É necessário nos impregnarmos delas... Em algumas correntes maçônicas, particularmente suscitadas e inspiradas por elementos políticos conservadores, mesmo reacionários, estranhos à Ordem em si mesma , a grande preocupação é de sufocar o ―grande projeto‖ dos Rosa -cruzes. Por isso, se quisermos nos beneficiar com a indulgência dessas correntes, é inadequado nos preocuparmos com os interesses da Cidade, da Nação, no seio da Loja. E toda alusão política está interditada. Neutralidade relativa, diremos nos. Em outras correntes maçônicas, freqüentemente as mesmas, toda alusão aos problemas religiosos contemporâneos está interditada, do mesmo modo que a precedente. Mas os meios religiosos, tão bem protegidos por estas correntes, não se privam de interferir na vida maçônica, sem nenhum pudor nem reserva, e por vezes mesmo de combatê-la por diversos meios. Não se viu já profanos se permitirem julgar e censurar determinados rituais maçônicos?... Em uma terceira categoria de correntes maçônicas, oposta às precedentes, só há preocupações de ordem política e antiespiritualista, confundindo anti-clericalismo e antireligião, praticando sectarismo e intolerância, por medo do sectarismo e da intolerância . E nessas mesmas correntes existe o hábito de misturar em uma mesma reprovação aqueles que há apenas dois séculos pudessem ter sido inquisidores, e aqueles que na mesma época possam ter sido vítimas! Que ninguém se assombre, pois, se a Franco-maçonaria atual. não se parece em nada com a do décimo oitavo século. O presente estudo não tem outro objetivo que o de fazer os maçons contemporâneos refletirem, e de coloca-los em presença dos Objetos simbólicos que lhes são familiares, sob um ângulo ao qual não estão acostumados. Fazêlos entrever, através da própria banalidade desses Objetos, a possibilidade de alcançar, pelo manejo de um esoterismo bem codificado, uma visão do Mundo e de si próprios com a qual não estão habituados. Há muitos maçons modernos, espalhados pelo mundo, que não sabem ―nem ler, nem escrever‖ , e freqüentemente apenas ―soletrar‖...
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NOÇÕES GERAIS DE ALQUIMIA Para compreender um interlocutor é necessário entender sua linguagem. À luz da história revelamos o papel desempenhado pela Rosa Cruz na gênese da Francomaçonaria Especulativa. Sabemos a importância que este movimento atribuía, como meio de ação , aos conhecimentos misteriosos que acompanharam, ao longo das idades, o desenvolvimento das doutrinas esotéricas tradicionais e, entre elas, à Alquimia material e espiritual. Ê importante, pois, dar um apanhado geral, pois toda a evolução interior do Maçom repousa sobre esses dados. A terminologia hermética emprega palavras e expressões que não têm relação direta com seus equivalentes no mundo profano. É então indispensável familiarizar-se com aquilo que se entende por certas palavras essenciais, que são os nomes dos elementos constitutivos da Matéria Prima e de sua evolução até o estado último: o Ouro, símbolo da perfeição na vida metálica e naquela à qual aspira o Maçom. a)
AS QUATRO QUALIDADES ELEMENTARES O Frio , origem da fixação, se manifesta por uma ausência total ou parcial da vibração, cujo efeito é o de coagular ou de cristalizar a Matéria, destruindo o princípio de expansão que está no Quente (conservação), seu oposto. Sua ação é, pois, adstringente, fixadora, frenadora, cristalizadora. O Úmido , origem da feminilidade, se traduz por uma vibração de natureza atrativa, mutável, instável, suavizante, emoliente, relaxante, umectante que, penetrando os átomos, divide os homogêneos e une os heterogêneos, provocando assim a evolução da Matéria, ou a sua desagregação. Sua ação é temperante, suavizante, emoliente, dispersante. O Seco , seu contrário, origem da reação, se manifesta por uma vibração de natureza retentora, erétil, irritante, irritante, que contraria e retém o impulso dado. Sua ação é retrativa. O Quente , origem da masculinidade, se traduz por uma vibração de natureza expansiva, dilatante, rarefativa, que provoca a evolução dos atamos. Sua ação é vitalizante, produz cozimento, é estimulante, dinâmica.
No Homem estas Homem estas quatro Qualidades Elementares produzem: Elementares produzem:
b)
Frio : impassibilidade, ceticismo, egoísmo, desejo de abso rção. Úmido : passividade, variação, assimilação, desejo passivo de submissão. Seco : reação, oposição, retenção, desejo passivo de dominação. Quente : expansão, entusiasmo, ação, desejo ativo de persuasão. OS QUATRO ELEMENTOS Terra : A ação reativa do Seco sobre o Frio divide-o e assim, opondo-se à sua total fixação, transforma-o em elemento Terra , princípio concentrador e receptor. Água : A ação refrigerante, coaguladora, atômica e fixadora do Frio sobre o Úmido espessa-o, torna-o pesado e transforma-o em Água , princípio de circulação. Ar : A ação expansiva, dilatante e rarefativa do Quente sobre o Úmido transforma-o em Ar , princípio da atração molecular. Fogo : A ação reagente, retentora, erétil e irritante do Seco sobre o Quente transforma-o em Fogo , princípio de dinamização violenta e ativa.
No Homem , estes quatro elementos dão: elementos dão:
Terra : inquietude, taciturnidade, reserva, prudência, ternura contida ou egoísmo, espírito concentrado ou pretensioso, desconfiado, reflexivo, engenhoso, estudioso, solitário. Água : passividade, preguiça, desgosto, lassidão, indolência, submissão, inconsistência, versatilidade, preguiça, inconsciência, incerteza, timidez, tem or. Ar : amabilidade, cortesia, diligência, habilidade, sutileza, iniciativa, perspicácia, assimilação, engenhosidade, harmonia. Fogo : violência, autoridade, ambição, entusiasmo, presunção, orgulho, irascibilidade, ardor, fervor, coragem, generosidade, paixão, prodigalidade, impetuosidade, vaidade.
c) OS TRÊS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS
Sulfur Princípio : O Quente contido no Fogo e no Ar gera um princípio de natureza quente, fecundante, fermentativo, que se chama Sulfur . É o princípio masculino de toda semente, e dele nasce o sabor, a cor fundamental vermelha. No Homem corresponde ao Espírito. Mercúrio Princípio : O Úmido contido no Ar e na Água , engendra um princípio de natureza vaporosa, sutil, mutativa, geradora, que se chama Mercúrio . É o princípio feminino de toda semente e dele nasce o odor, a cor fundamental azul. No Homem corresponde à Alma . Sal Princípio : O Seco contido no Fogo e na Terra , gera um princípio de natureza seca, coesiva, coaguladora, que se chama Sal. É o princípio de unificação do masculino e do feminino herméticos, bem como o resultante de sua união. Dele nascem a forma e forma e o peso , e a cor fundamental amarelo 24. No Homem corresponde Homem corresponde ao Corpo .
Estes são os três Princípios que, no vocabulário da Alquimia tradicional, constituem a Substância próxima dos próxima dos seres e das coisas. d) OS DOIS METAIS DOS SÁBIOS
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Prata dos Sábios : Também denominada Mercúrio dos Sábios , por oposição ao Mercúrio Filosófico , que o precede no estado anterior, e que não devemos confundir com o Mercúrio dos Loucos que é o argento-vivo (azougue) vulgar. A Prata dos Sábios é também denominada Prata Filosófica . Resulta da absorção de uma determinada quantidade de Sulfur Princípio por uma determinada quantidade de Mercúrio Principio ou, mais facilmente ainda, pela absorção de uma quantidade proporcional de Ouro Vulgar por uma determinada quantidade de Mercúrio Principio . Este Ouro Vulgar não deve ter sofrido anteriormente nem exaltação (sublimação ou volatilização ), ), nem transfusão . Em uma palavra, não deve ter sido refundido ou ligado a si mesmo, deve ser virgem. Ouro dos Sábios : Também denominado Sulfur dos Sábios , por oposição ao Sulfur dos Filósofos que o precede no estado anterior, ou ao Enxofre dos Loucos que é o enxofre vulgar. O Ouro dos Sábios é Sábios é também chamado de Ouro Filosófico . Resulta da absorção de uma determinada quantidade de Sal Princípio por uma determinada quantidade de Sulfur Princípio ou, mais facilmente, por absorção de uma quantidade proporcional de Prata vulgar por uma quantidade determinada de Sulfur Princípio . Essa Prata vulgar não deve ter sofrido anteriormente nem exaltação, (sublimação ou volatilização), nem transfusão. Em uma palavra, não deve ter sido refundida ou Lembremos que só existem três cores fundamentais, de onde saem, por combinações, outras três cores, ditas secundárias. São elas o vermelho, o azul e o amarelo, de onde nascem o violeta, o verde e o laranja.
ligada a si mesma, deve ser virgem. Estas duas Operações resultam Operações resultam de uma serie de cocções sucessivas (multiplicação). e) A CRISOPÉIA ou PEDRA FILOSOFAL Crisopéia : é obtida pela lenta cocção no Ovo Filosófico (matraz), Filosófico (matraz), este colocado em banho de areia , no seio do Athanor (forno alquímico), da mistura e da co-destruição do Ouro dos Sábios e Sábios e da d a Prata dos Sábios. Observar-se-á que estes nove princípios do Hermetismo correspondem perfeitamente às nove entidades metafísicas às quais aludimos na pagina 16. São as manifestações tangíveis no seio da Matéria, assim como o Espírito Universal dos alquimistas e o Grande Arquiteto dos Maçons são provavelmente idênticos. Em todo caso, para os Maçons alquimistas do décimo oitavo século, esta identidade não deixava qualquer duvida 25. Ora, se estas nove potencialidades estão em ação na matéria dita inanimada, como não o estariam igualmente no domínio do espírito, que não é senão a própria matéria em seu aspecto mais sutil?
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Nossos adversários exclamarão que é panteísmo! Citemos, pois, as ―Logia Agrapha‖: ―Ergue a pedra e ali Me encontrarás... Fende a madeira, pois Eu aì estou...‖ Ora, são palavras de Jesus, que referem os papiros de Oxirrinco, descobertos descobertos no século l9. E citemos ainda o apóstolo apóstolo Paulo: ―O Deus Supremo é o Arquiteto Arquiteto e o Fundador...‖ (Hebreus 9:10).
DA ALQUIMIA A ANDROQUIMIA O Homem , coroamento da Natureza, é um Microcosmo , composto exatamente como o Macrocosmo , do qual ele é o reflexo e a síntese. Nele, como em toda a fração da Matéria , se combinam, associando-se ou opondo-se, as quatro Qualidades Elementares (Frio, Úmido, Seco, Quente ), as quais produzem por essas mesmas combinações os quatro Elementos (Terra, Água, Ar, Fogo ). No Homem essas reações produzem aquilo que se costuma denominar Temperamentos , que são evidentemente também em número de quatro: melancólico (nervoso), linfático, sangüíneo e o bilioso . Por sua vez, esses Temperamentos geram no Homem os quatro Humores , que são de fato as manifestações dos quatro Elementos . São eles: a Melancolia , a Linfa , o Sangue , a Bile . * *
Vamos passá-los em revista um a um. * Temperamento Melancólico - (Produto do Seco e do Frio )
No físico, o Melancólico é débil, a sua musculatura é débil, seu contato é seco e frio , sua pele descorada, sua tez é terrosa, seu pulso duro e curto, sua digestão lenta, sua capilaridade rara, de cor imprecisa, a urina pouco abundante, o ouvido é duro. O Melancólico é análogo ao Elemento Terra . Ele é, portanto, frio e reservado, modesto, desconfiado, triste, estudioso, reflexivo e circunspecto, prudente, profundo, meditativo, criador fácil, engenhoso e solitário. O Quente e o Úmido estão nele em proporções insuficientes para moderar o Seco e o Frio , que retardam a circulação, cristalizam os líquidos por adstringência, e retêm os produtos da combustão orgânica. O Melancólico é o oposto do Sangüíneo ; há nele a hiperprodução de um humor seco, frio e pesado, chamado bile negra . A diátese mórbida do Melancólico é o artritismo e a uremia. Esse humor pesado, seco e frio é anti-vital e ele traz incômodos profundos, que têm uma repercussão direta sobre os nervos e o cérebro. Acontece que o indivíduo se torna triste, hipocondríaco, histérico, neurastênico, misantropo, e se crê subestimado ou incompreendido. Por vezes encara a vida com desgosto e pode ter uma certa propensão ao suicídio. Ele é inativo, inerte, sonhador, indiferente às coisas da vida, nunca satisfeito e sempre taciturno. Temperamento Linfático - (Produto do Frio e do Úmido ) No físico, o Linfático é mais gordo, sua carne é mole, seu contato é flácido e frio, seus músculos relaxados, estatura baixa, sua tez pálida, lívida, seu pulso fraco, lento e frouxo, seu hálito freqüentemente mau, sua saliva e sua urina abundantes, seus cabelos são abundantes. Ele é análogo ao Elemento Água : flutuante, instável, inconstante, lascivo, relaxado, versátil, fraco, tímido, submisso, impessoal, sensitivo, sem energia, indeciso, preguiçoso, pacífico. Seus órgãos fracos são o estômago, a nuca, o cerebelo. Há nele abundância de líquidos frios, a circulação e lenta, falta de calor, de onde sobrevém urna superprodução de albumina, de Linfa e de serosidade.
O excesso desse estado conduz à anemia e à escrofulose. Disto nascem as afecções purulentas, as doenças da pele, dos gânglios, a psoríase, as impigens, as ulceras, e até a elefantíase. Os ossos são por vezes bastante ameaçados. Temperamento Sangüíneo - (Produto do Quente e do Úmido ) No físico o Sangüíneo tem as carnes firmes, os músculos cheios, as formas harmoniosas, a pele é tépida e branda, a tez é clara e florescente, o pulso regular e normal, os cabelos são abundantes e em geral castanhos. O Sangüíneo é de aparência física harmoniosa, o seu caminhar é leve e gracioso. Tem tendência notada para a boa disposição. Sua pessoa e seu organismo são equilibrados, as funções respiratória e circulatória são normais. O Sangüíneo é atraído pelos exercícios físicos, os prazeres sensuais, e os prazeres da mesa. Sua inteligência é viva, sua memória aberta e sua imaginação fértil. Mas o Sangüíneo é mais brilhante do que profundo, mais espiritual do que filósofo, seu julgamento é, no entanto, equilibrado. Análogo ao Elemento Ar , o Sangüíneo tem por natureza própria as particularidades que lhe confere esse Elemento. Ele é generoso, amável, sagaz, instintivo, móvel, ligeiro, inconstante, amante dos prazeres, tendo sentimentos altruístas e nobres. O desequilíbrio aparece nele devido ao abuso dos prazeres da mesa e de sua sensualidade. Sua diátese mórbida é a pletora. Quando esse estado se agrava, podem aparecer males graves dos quais o artritismo e a gota são os mais comuns. As inflamações locais devem ser temidas. Temperamento Bilioso - (Produto do Quente e do Seco ) No físico, o Bilioso tem os músculos salientes e duros, é magro, de tez amarela e corada, de contato quente e rugoso, os cabelos são marrons. O pulso é duro, rápido, magro. O Bilioso é instintivo e irascível, tem apetites repentinos e impetuosos e em muitos casos tem sede permanente. O Bilioso estando sob a influência do Elemento Fogo partilha de sua natureza, assume as suas propriedades. Ele está freqüentemente em um estado febril muito nítido, com uma agitação e movimentos irregulares. Suas noites são com freqüência agita das por sonhos ou pesadelos. Ele é pronto, impaciente, ambicioso, audacioso, temerário; a inteligência é mais espontânea do que refletida, mais intuitiva do que profunda, mas menos equilibrada do que no Sangüíneo . Os atos do Bilioso são espontâneos, violentos, parciais, irrefletidos e instintivos. O Bilioso é suscetível de coragem e também de sangue frio, de devotamento, de entusiasmo, mas ele é freqüentemente parcial e injusto. Sua audácia o expõe aos acidentes e à discórdia; sua imprudência e sua ambição lhe criam inimigos. O Temperamento Bilioso é caraterizado por um excesso de combustão orgânica e vital; o Frio e o Úmido são no Bilioso insuficientes para moderar o Seco e o Quente . Desta falta de um elemento temperante, resulta um excesso de vitalidade, que se traduz por um exagero de movimento e de motricidade, que a natureza retentiva e retrativa do Seco torna repentinos, intermitentes e desprovidos de harmonia, e que o Quente torna impetuosos e violentos. Esses análogos se reproduzem no moral. O Bilioso é irritável, orgulhoso, dominador e irascível.
A digestão do Bilioso é rápida e fácil, e essa função é nele a melhor. Em amor o Bilioso é fiel, mas ciumento, vingativo e sem piedade. A sua diátese mórbida é o mal hepático, as lesões do fígado por obstrução ou por cálculos são freqüentes. Os rins são igualmente ameaçados e os fluxos de bile podem produzir graves desordens em seu organismo tais como: derramamentos, hipertrofias, cálculos biliares, cirrose, icterícia, amarelão. A cólera no Bilioso é pronta e violenta, é para ele uma perpétua ameaça. * * * 1) A BILE NEGRA OU MELANCOLIA - (Natureza: Terra . Qualidades: Seco-Frio) A Melancolia ou Bile Negra é um humor pesado, produto dos resíduos funcionais do organismo. Se estes resíduos são abundantes, há no indivíduo predominância da Melancolia . Esses excessos de resíduos funcionais podem nascer de duas causas: a) por retardamento na série dos desdobramentos fermentativos que sofre a molécula albuminóide em meio redutor, de onde sobrevém a produção de creatinina, de corpos úricos e de leucomaínas. Daí resulta o artritismo; b) por retardamento das funções eliminatórias, de onde sobrevém a produção de uréia. Daí resulta a uremia. Quase sempre os estados mórbidos gerados pela Melancolia provocam profundos males nervosos, o que é a causa de uma deformação do diagnóstico nos autores modernos, os quais substituíram a Melancolia por ―doenças de nervos‖. Esse humor , quando aumenta no organismo, é o último termo da evolução humoral, e é também o sinal que prenuncia a velhice. 2) A LINFA - (Natureza: Água. Qualidades: Frio-Úmido) A Linfa é um humor aquoso e frio, que desempenha um papel importante no organismo como temperante do Quente e do Seco . Ela tem relação com o aparelho circulatório pelos vasos linfáticos e com o aparelho digestivo por vasos especiais que recebem seus produtos, assim com as veias quilíferas. A Linfa tem também relações evidentes com o sistema nervoso. Os vasos linfáticos são muito numerosos nos tecidos serosos e passivos, e além disso, o sistema linfático está intimamente associado às funções da pele. Como o tecido dermatóide tem estreita conexão com os tecidos ósseos, a Linfa , por ricochete, tem uma grande influência sobre os ossos. 3) O SANGUE - (Natureza Ar . Qualidades: Úmido-Quente ) O Sangue é o líquido vital por excelência; suas relações com o ar dos pulmões, sua anastomose através das camadas de tecido celular acabam a obra da circulação exterior. Sua ação sobre os nervos, que ele banha e vivifica, é pois manifesta. É tão verdade que o músculo se ―nutre‖ do Sangue , que ele reflete exatamente a
plasticidade deste. O próprio coração e apenas um músculo oco. A endocardia e a pericardia são somente a repercussão das afecções reumáticas articulares sobre o coração. Além disso as funções sexuais, sobretudo no homem, tem estreitas relações com o aparelho circulatório, principalmente com o ato eretivo e a secreção espermática.
4) A BILE - (Natureza: Fogo . Qualidades: Quente-Seco ) A Bile é um humor quente e seco, que é produto da irritação. Sua sede está sobretudo no fígado e na vesícula biliar. Este humor, facilita as funções digestivas, dissolvendo as matérias graxas e albuminóides. Em suma, é um humor excremental, sobretudo quando está carregado com impurezas tiradas do estômago. A Bile absorve os ácidos e sua abundância no organismo torna as digestões alcalinas. A Bile pode se tornar tóxica quando está em excesso ou sobrecarregada de impurezas. Se, neste caso, ela irrompe na circulação, pode trazer graves conseqüências. O fígado funcionando anormalmente dispõe o indivíduo às doenças da Bile , até mesmo o diabete - pois o fígado produz açúcar. *
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* É bem evidente que o Homem nunca é uma manifestação absolutamente pura de um Temperamento e nem está submetido a um único Humor . Tudo nele são combinações de influências diversas. E de fato é possível estabelecer uma hierarquia de conjunto, é possível dar a cada Temperamento e a cada Humor seu lugar em urna classificação temperamento-humoral, por meio de coeficientes de influências. Mas, dirá o leitor, eis-nos aqui longe desta Alquimia intelectual e moral , que o autor nos fazia entrever no início deste estudo. Chegaremos lá. Cada Temperamento correspondendo analogicamente, como de resto cada Humor , a um modo de manifestação da personalidade, deve-se poder associar cada um deles de maneira quaternária a uma das quatro Virtudes Cardinais (Prudência - Temperança – Justiça – Força ), assim como aos quatro Vícios Cardinais (Gula - Luxúria - Preguiça - Avareza). E abordamos finalmente o domínio da Arquitetura Filosófica , com a simbólica tradicional dos Instrumentos na Arte Real ... Há muito tempo a evolução do Homem e a sua espiritualização progressiva por intermédio da Via Iniciática têm sido comparadas à construção de um verdadeiro Templo Interior . É por isto que o rosacruciano Robert Fludd, um século antes da aparição da Franco-maçonaria Especulativa, nos diz: ―É assim que se construirá um Templo Interior, do qual os de Moisés e de Salomão
foram apenas pré-figurações. Então, quando esse Templo esteja consagrado, suas pedras mortas viverão, o metal impuro se transmutará em ouro fino, e o Homem recobrará seu estado primitivo d e pureza e perfeição...‖ (Robert Fludd: ―Summum Bonum quod est verum: Magiæ, Cabala, Alchymiæ, Fratrum Rosæ Crucis verotum‖ 26 . E três séculos mais tarde, Fulcanelli 27 lhe fará eco nestas palavras que não desiludirão o Maçom avisado: 26
27
―Este Templo é como o Céu, em todas as suas partes ...‖ (inscrição no templo de Ramsés II). ―O Templo do Salomão... foi construído à imagem do Homem e à imagem do Universo. Estudar o simbolismo secreto do Templo é estudar um e outro...‖ (J.B.Willermoz, manuscrito nº 5.475 da Biblioteca de Lyon, 1778) Fulcanelli: „As Mansões Filosofais: tomo II. Faremos observar ao leitor que as correspondências analógicas e as atribuições da T etractys alquímica, dadas nesta obra, são as da Tradição esotérica clássica. Decorrem dos próprios princípios do Hermetismo, e dependem estreitamente umas das outras. São as da técnica da Alquimia Espiritual, nada inovamos. Se nos detivemos a justificar algumas relações e laços ocultos entre os Instrumentos da Arte Real e as potencialidades intelectuais e morais clássicas, foi porque temíamos que escapasse m aos Maçons pouco familiarizados com o simbolismo analógico.
―Não se poderia desc r ever melhor a dupla natureza do Magistério, suas cores e o
alto valor desta Pedra Cúbica que contém toda a Filosofia... A Filosofia confere àquele que a esposa, um grande poder de investigação. Ela permite penetrar a intima compleição das coisas, que ela corta como uma espada, descobrindo aí a presença do spiritus mundi de que falam os mestres clássicos...‖
A ESCOLÁSTICA EXOTÉRICA ―A Ignorância é um crime quando ela é o
resultado da indiferença pela verdade. Lê, pois, aproveita, reflete e trabalha...‖
(Evangelho dos Cortadores de Pedra e Mestres de Obra, Companheiros Estrangeiros do ―Dever de Liberdade‖. Manuscrito do 18º séc.) A antiga escolástica medieval dividia o conjunto dos conhecimentos humanos necessários a toda vida intelectual em duas categorias: o quadrivium (ou via quádrupla) e o trivium (ou via tríplice). O todo constituía, pois, um setenário de conhecimentos perfeitamente profanos, como aquele que os Maçons de altos graus que em matéria de
anos ‗não contam mais‖ encontraram na noite da iniciação maçônica, frente à águia
joanita de prata e de sable e diante da tradicional scala philosophorum.
De fato, esta última era já mais completa do que seu paredro do mundo profano medieval. Ao setenário das ciências se acrescentava o das virtudes. Infelizmente não é menos verdade que a atual ―scala‖ maçônica está incompleta. Lamentavelmente, em nenhuma parte mais a Maçonaria apresenta a maravilhosa síntese gnóstica que os Cenáculos ultra-secretos da Idade Media gótica ofereciam aos iniciados e aos adeptos. A autêntica scala philosophorum está sempre presente diante do Maçom. Ela o acompanha desde o momento em que ele recebe a luz como Aprendiz, através das diferentes ―viagens‘ que devem levá -lo até o Mestrado e além. Mas seus maravilhosos símbolos estão de tal maneira velados que muito poucos são os Maçons que podem descobrir os laços que ligam uns aos outros. Cremos, pois, especialmente útil restituirlhes todo o relevo, sem o qual o Maçom das Lojas simbólicas permanecerá sempre na expectativa de uma revelação iniciática que nunca virá. A escolástica medieval profana voluntariamente ignorava a existência de uma escolástica iniciática, detectada, compreendida e codificada pelos Hermetistas dessa época. Estes últimos, aliás, eram os herdeiros das antigas gnoses desaparecidas, cujo berço situava-se ao mesmo tempo no Egito, na Assíria e no Irã, há dezenas de séculos. Essa escolástica medieval exotérica agrupava, pois, os conhecimentos úteis em dois grupos: 1º - Quadrivium : Geometria, Astronomia, Musica, Aritmética. 2º - Trivium : Dia1ética (ou Lógica), Retórica, Gramática. A escolástica medieval esotérica acrescentou um terceiro termo, o Bivium , que englobava a Astrologia e a Alquimia . Devemos de fato reconhecê-lo, é a posse destes nove conhecimentos que nos propiciou tantos pensadores de valor nessa época, e mesmo durante a Renascença que se seguiu à Idade Média e a sufocou. Lembremos resumidamente, para o leitor a quem suas denominações não são muito familiares, as suas antigas definições e em quê consistem.
Q U A D R I V I U M Geometria Ciência que tem por finalidade a medida das linhas, das superfícies e dos volumes. Em geometria só são reconhecidas as definições que os lógicos denominam de definições de nome, isto e, apenas as imposições de nome às coisas claramente designadas, em termos perfeitamente conhecidos. Denomina-se geometria elementar aquela que se limita a considerar as propriedades das linhas retas, das linhas circulares, das figuras e dos sólidos que dependem destes dois tipos de linhas. Denomina-se geometria antiga aquela que emprega somente a síntese, ao modo de Euclides. A geometria transcendente é aquela que emprega o cálculo infinitesimal. A geometria analítica ou geral é aquela que, como fez Descartes em primeiro lugar, emprega o cálculo algébrico na analise das propriedades das curvas e das superfícies e que, desta maneira, resolve de um modo geral as questões que anteriormente eram resolvidas somente em cada caso particular. A geometria dos infinitamente pequenos é a parte da geometria geral que emprega o cálculo diferencial e integral. A geometria descritiva é o conjunto de métodos que permitem resolver
graficamente, ou sobre um único plano, os problemas de três dimensões. Finalmente, dá-se o nome de Geometria do compasso a um método que permite resolver graficamente alguns problemas com. o auxilio somente do compasso. No seio do Companheirismo de outrora, ela era o apanágio dos Mestre de Obra. Em nossa época as necessidades de suas próprias descobertas compeliram Einstein a construir uma geometria não-euclidiana . Astronomia Ciência que engloba o estudo do conhecimento que inventaria os Astros e as leis que regem seus movimentos, e em nossa época é o estudo da sua constituição físico-química, bem como a do próprio Espaço intersideral. Denomina-se astronomia matemática aquela que se ocupa em especial do cálculo das forças ás quais os Astros obedecem. A astronomia física se ocupa mais particularmente das condições físicas dos Astros. Finalmente, a astronomia náutica engloba toda a parte desta ciência que tem por objetivo conduzir qualquer elemento de navegação, marítima ou aérea. Música No sentido antigo e primitivo, a música não era urna ciência particular; ela era tudo aquilo que pertencia às Musas, ou delas dependia. Atualmente denominamos este conjunto Artes Liberais , em número de nove . São elas: a História, a Música, a Comédia, a Tragédia, a Dança, a Elegia, a Poesia Lírica, a Astronomia, a Eloqüência ou Poesia Heróica. Vê-se que se tratava de uma Ciência muito importante, incluindo toda Arte que pudesse trazer ao espírito do Homem a noção de algo agradável e bem ordenado. Para os Egípcios, de acordo com Platão, a Música consistia no regulamento dos costumes e no estabelecimento e manutenção dos bons costumes. Em nossos dias damos o nome de Música a uma ciência que trata do emprego dos sons chamados racionais , isto é, que entram em uma escala denominada gama . Esta significação parece ter sido decidida nitidamente já na escola de Aristóteles, mas sem nunca ter em absoluto excluído os outros sentidos na antigüidade. Assim, nós definiremos a Música como uma aplicação e uma combinação da arte dos ritmos e dos sons .
Aritmética A Aritmética é a ciência dos números e do seu emprego. É necessário não confundir o número , que e uma abstração, com a cifra , que nada mais é do que um símbolo gráfico. A Aritmética e, pois, a arte de calcular. Atualmente empregamos mais o termo Matemática para designar esta ciência dos números e seu manejo. Denomina-se Matemática pura aquela que só se ocupa da teoria, sem nenhuma idéia de aplicação. Denomina-se Matemática mista aquela que considera propriedades de grandeza em alguns corpos ou objetos particulares:.
TRIVIUM Dialética (ou Lógica )
A Lógica é a ciência que tem corno finalidade as propriedades do raciocínio. É , pois, uma ciência eminentemente útil ao Maçom. Pascal entende que a Lógica possivelmente tomou emprestadas as suas regras à Geometria , sem compreender a sua força. Chama-se lógica natural a faculdade de raciocinar que recebemos da natureza, independente de regras. A Lógica é, está visto, uma ciência que tem por objetivo o estudo dos processos de raciocínio . A Dialética é uma arte que tende a permitir a demonstração de alguma coisa em particular. Assim como a Lógica raciocina, a Dialética argumenta. A Lógica se aplica em distinguir o verdadeiro do falso; a Dialética procura apresentar uma proposição de maneira tal que ela pareça verídica e assim seja admitida pelo interlocutor. O termo Dialética é aplicado principalmente nos processos de argumentação , enquanto que a Lógica é aplicada nos processos de raciocínio . É assim que se fala da dialética de Platão, mas não de sua lógica. A Lógica é indiscutivelmente superior à Dialética , pois sua etimologia o prova. Esta palavra deriva do grego lógos , que significa razão. Na filosofia platônica, Deus é considerado como a Razão e o Verbo do Mundo, contendo em si as idéias eternas , os arquétipos das coisas. Não poderia, então, haver nele nada de errado ou de impermanente. Retórica A Retórica é a arte de bem exprimir a natureza dos sentimentos e das coisas, é de fato a arte de persuadir. Ela se coloca assim ao serviço da Dialética , escrava da Lógica , e a Retórica tem por auxiliar a Eloqüência . Aproximando-se deste modo à concepção antiga da Músic a, isto é, da ciência dos ritmos e dos sons. Um verdadeiro lógico alcança a verdade através da Lógica . Se ele for ao mesmo tempo um excelente dialético, a Dialética lhe permitira ser persuasivo, pela escolha dos melhores argumentos para convencer o interlocutor ou o adversário. Se ele for ao mesmo tempo um excelente retórico (dizia-se na antigüidade um retor), o valor de seus argumentos e a excelência de suas proposições serão colocados ainda mais em evidência. Mas se, além disso tudo, ele possuir a ciência dos ritmos e dos sons , se suas frases forem harmoniosamente cadenciadas, se as finais (as ―quedas‖) se afinarem em harmoniosos ecos, evocando de algum modo a cadência poética, então seu discurso torna-se uma espécie de encantamento, de carmen (lat. canto, poesia). É por esta razão que na Magia do mundo antigo, as encantações destinadas a realizar sortilégios deviam sempre ser recitadas (e não lidas) e compostas em verso, como se fossem poemas. Tratava-se de fascinar o deus, de encantá-lo. Gramática Chama-se Gramática a arte de expressar os pensamentos pela escrita e pela palavra, de maneira a estarem conformes às regras estabelecidas pelo uso, repousando este último sobre uma ciência certa de etimologias válidas. A Gramática , arte de escrever e de falar corretamente, repousa sobre quatro princípios, que são: a razão, a antigüidade, a autoridade e o uso. Se devemos à Lógica a justeza do discurso, à Retórica a beleza de seus ritmos e de suas seqüências, devemos à Gramática a pureza do discurso, a precisão dos termos empregados e sua correção. Chama-se Alta Gramática um estudo especial das qualidades que caracterizam o estilo, considerado no que tem de agradável ou de desagradável para o leitor, ou para o ouvinte. Chama-se Gramática Geral a ciência racional dos princípios comuns a todas as
línguas. Designa-se sob o nome de Gramática Comparada , o estudo comparativo das diferentes línguas. Pode-se dizer que a Gramática engloba igualmente a arte da Escrita, pois a primeira tem por etimologia o grego gramma , que significa letra . E a maneira pela qual os sons são graficamente expressos não e coisa indiferente. Seria desarmônico redigir um poema moderno em gótico antigo, por outro lado, um texto antigo nada ganharia em ser transcrito em caracteres ultramodernos. Chama-se escrita ideográfica a que expressa diretamente as idéias. Assim a escrita chinesa antiga, ou os signos de pontuação em nossos países. Chama-se escrita fonética a que expressa por ideogramas os sons da palavra. São deste gênero os pontos massoréticos do hebreu quadrado. Designa-se sob o nome de escrita silábica aquela que representa os sons da voz humana por meio das letras do alfabeto. A escrita hieroglífica , particular ao Egito antigo, representava geralmente, não sons, mas sim, palavras. A escrita demótica deriva desta última, mas sob um aspecto cursivo. É certo, muito bem estabelecido pela experiência, que a escrita expressa perfeitamente o caráter e o temperamento do escritor. A arte de descobrir estes últimos recebeu a denominação de grafologia . A Franco-maçonaria possui sua escrita própria. Estudaremos suas origens e sua estrutura esotérica (extremamente profunda) em uma obra posterior. Ela deriva do principio dos Quadrados Mágicos , e mais particularmente do de nove casas , aliás do mesmo modo que o antigo hebraico quadrado 28. * * * A Escolástica Exotérica usava ainda, no âmbito da Teologia mais especialmente, termos e palavras às quais dava um sentido particular e que reservava a esta ciência. Assim o latim donum , significando dom, faculdade estava reservado à ação própria do Espírito Santo. Para a Escolástica Exotérica tratava-se de faculdades adormecidas no Homem, e que o Espírito Santo colocava em ação quando o julgava útil para este, tornado suficientemente dócil pelo exercício das Virtudes habituais. Es sas faculdades, naturais ao Homem, insistimos neste ponto, somente podiam ser colocadas em ação se o Homem, por sua docilidade, permitisse ao Espírito Santo guiá-lo por uma espécie de instinto divino , que substituísse o instinto natural: No decorrer do presente trabalho, empregaremos por vezes a palavra dom , e por vezes o termo faculdade . Que o leitor saiba que para nós se trata de faculdades naturais , que ao Iniciado cabe desenvolver, utilizar e ampliar. Por outro lado, no domínio da Iniciação Maçônica, não se trata aqui do aspecto sobrenatural destes mesmos dons como entendidos pela Teologia clássica, mas do seu aspecto natural, O dom das línguas não é para nós o fato de alguém expressar-se em francês e de ser milagrosamente compreendido por ouvintes que ignoram essa língua. O Dom de discernimento dos Espíritos não consiste em saber discernir uma manifestação demoníaca de uma teofania angélica. Mas, como aliás acontece com todos os outros dons , devemos ver ai faculdades muito humanas que a Iniciação Maçônica, bem compreendida e seguida adequadamente, está em condições de ampliar por uma espécie de ascese moral e intelectual. Será o mesmo com os carismas . A Escolástica antiga, e sobre tudo a Teologia, as via como graças , extraordinárias, transitórias, ocasionais por vezes, e conferidas ao 28
Observemos que a ordem planetária dos Quadrados Mágicos deve ser invertida, isto é, o quadrado de três casas sobre três é o da Lua, o de 4 x 4 é o de Mercúrio, o de 5 x 5 de Vênus , o de 6 x 6 do Sol , o de 7 x 7 de Marte , o de 8 x 8 de Júpiter , o de 9 x 9 de Saturno ; pois Saturno e o número nove estão intimamente ligados.
Homem para o bem de seus semelhantes. Nós as vemos também como faculdades , que derivam dos precedentes, dos dons . Este termo, derivado do grego Charitès , designa as três Graças: Aglaé (a Brilhante), Talia (a Verdejante) e Eufrosina (a alegria da Alma). Elas eram as dispensadoras da boa graça, da alegria, da igualdade de humor, das maneiras agradáveis, da liberalidade, da eloqüência, da sabedoria. Elas presidiam à beneficência e ao reconhecimento. Seus símbolos próprios eram a Rosa, o Dado e a Mirto . Elas partilhavam, em templos freqüentemente comuns, das honras rendidas a Vênus, a Mercúrio e às Musas, todas elas divindades de marcado caráter iniciático. Assim pois, o leitor que nos verá utilizar, por comodidade e por facilidade de uso, os termos dons, carismas no decorrer do presente trabalho, saiba que para nós estes vocábulos designam faculdades naturais , que é importante fazer brotar no profano no curso da ascese maçônica, e através dela. Aqui é importante lembrar o ensinamento do rosa-cruz J. B. van Helmont: ― Uma força oculta, adormecida pela Queda, está latente rio Homem. Ela pode ser d espertada, pela graça de Deus, ou ainda pela Arte da Kabala...‖ (J.B. van Helmont em ― Hortus Medicinae ‖ . Leyde, 1667) . Ambicionando apenas os domínios de ação do plano moral e do plano intelectual a Arte Real pode, sem ambição insensata, substituir a Cabala para o desenvolvimento natural dos dons latentes em toda a personalidade profana, e com vistas a estes planos apenas. Alias, não é ilógico pretender reencontrar no Homem , e mais especialmente no Maçom , psiquicamente despertado pelo ritual iniciático, potencialidades análogas àquela de que dispõe o Ordenador Universal para a sua Grande Obra cósmica. Vimos na pagina que os nove Instrumentos podiam muito bem simbolizar, desde sempre, no esoterismo secreto dos Collegia , as nove Entidades metafísicas auxiliares do Grande Arquiteto , este considerado corno o ponto culminante desta hierarquia, transformando, por sua presença, a enéada em década, e realizando assim a divina Tetractys . Vimos que estas nove Entidades podiam ser encontradas na Cabala, com Kether e suas nove Sefiroth secundárias; nos nove Eons da Gnose, no mito de Apolo e suas nove filhas, as Musas , etc. Simples emanações divinas, entidades-princípio distintas do Criador, cada uma delas é necessariamente imperfeita, pois tudo aquilo que não é estritamente ele próprio lhe é assim totalmente estranho . De onde, repetimos, o sentido pejorativo e injurioso dado no Companheirismo operativo ao termo ―instrumento‖, designando o aprendiz (ou o ―jovem‖), e o companheiro, tecnicamente insuficiente, preguiços o ou inepto. Se o Homem é um Microcosmo , reprodução e reflexo exato do Macrocosmo , o mesmo deve ocorrer nele, e das potencialidades cósmicas de que dispõe o Grande Arquiteto para ordenar e organizar o Universo, o Homem deve possuir o equivalente, a fim de ordenar a si próprio, psíquica e espiritualmente. A tradição judaico-cristã, exotérica e comum, que influi, mais pesadamente do que em geral se crê, sobre o pensamento ocidental, só nos deixa a escolha entre o corpo e a alma, ou (São Paulo), entre o corpo, a alma e o espírito. Segundo ela o homem seria duplo ou triplo. A tradição oriental é mais generosa, é ela que provavelmente tem razão com os seus sete ou nove corpos sutis . E não se diz de um homem que retoma a plena posse de seus diversos modos de açã o, que ele retorna ― seus espíritos ‖ 29?
29
Convém reconhecer aqui que em alguns de seus grandes dicionários teológicos, a Igreja Romana define a Alma segundo a tradição judaica da Kabala: gouph, nephesh, ruah e neshamah. O que dá quatro princípios cada vez mais sutis e próximos do divino, e não mais dois, ou mesmo um.
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A ESCOLÁSTICA ESOTÉRICA O VITRIOL FILOSÓFICO Se a lição da ―Câmara de Reflexões‖ não foi perdida, o Aprendiz sabe que deve em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, fazer morrer o ―velho homem‖, d espojar-se de
sua personalidade passada, que era ilusória e imprópria para lhe permitir alcançar os modos superiores do pensamento. Cremos que aqui será útil citar o grande hermetista Grillot de Givry, nesta excelente pequena obra ― A Grande Obra‖ , consagrada à Alquimia Espiritual:
―Coordena, pois, todas as tuas ações e todas as tuas impressões, a fim de formar
um conjunto harmônico perfeito. Esforça-te por adquirir a extrema lucidez do teu entendimento. Desvia-te daquilo que suja a tua vista. Não ouças aquilo que polui o ouvido. Exalta em ti o sentimento da personalidade, para te esforçares a seguir em absorvê- la no seio do Absoluto...‖ (Cf. Grillot de Givry, obra citada II). A exemplo de seus predecessores operativos, o Maçom especulativo deve ser construtor. Mas para construir, é conveniente primeiro limpar o lugar destinado a tornar-se canteiro de obra. É necessário primeiro desbravar, limpar, em uma palavra destruir certas formas e certos modos de vida, que são obstáculos para o edifício futuro. Nem todas as manifestações da personalidade são necessariamente boas e desejáveis, como imagina determinada escola anglo-saxônica. Há impulsos e atividades que, apesar de todas as suas tendências para se objetivar e passar ao ato, devem permanecer no seu habitat natural: as profundezas . Ë por meio de uma disciplina de todos os momentos que se realiza o verdadeiro mestrad o que é, antes de mais nada, o domínio de si mesmo. Cada instrumento da enéada maçônica estará revestido de um duplo modo de utilização: destruidor e criador , e mesmo de um tríplice aspecto: destruidor... dos maus pendores, em número de nove purificador... dos sentidos físicos e psíquicos, em número de nove igualmente, criador ... das faculdades superiores, em numero de nove também, mas que se subdividem cada um em dois modos de atividade secundária, ou seja vinte e sete ao todo30. É esta vigilância interior de cada instante, este autocontrole em todas as suas atividades, que para o Maçom constitui o Vitriol Filosófico .
30
O antigo companheirismo medieval tinha o seu “Circuito da França” (Tour de France), que era feito com paradas
em vinte e sete cidades diferentes, de etapa e de parada, onde o Aspirante (Aprendiz) se aperfeiçoava antes do grau de Companheiro . O número vinte e sete é também o das “estações” diárias da Lua no curso do seu périplo mensal. Ê igualmente o tempo exigido por Saturno (um dos três cronocratas - senhores do tempo - celestes), ou seja, vinte e sete anos para percorrer o Zodíaco; e cada uma das “casas” diárias lunares equivale a um domicílio anual de Saturno. Eis porque as Escrituras podem afirmar que o dia é como um ano.
Sabe-se que na Via Úmida da Alquimia Operativa é por meio de um ácido especial, que em si mesmo é um segredo da Arte, que o Alquimista ataca a Matéria Prima . Acontece o mesmo com a Alquimia Especulativa. Corrosivo dos ―cascões‖ psìquicos e morais do Maçom, este ―ácido‖, por abstr ato que seja, conserva os mesmos efeitos dolorosos de um ácido material. Não renunciamos sem aflição, tanto aos ―estupefacientes‖ que são as nossas paixões habituais e muito humanas, quanto às ―cadeias‖ que são os hábitos. *
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INSTRUMENTOS DO APRENDIZ 1 - O
AVENTAL
A TERRA DOS FILÓSOFOS (Constância no Labor) O Avental tem numerosas correspondências analógicas, que são as clássicas do elemento Terra . Damos a seguir as mais comuns, dentro do quadro da classificação esotérica medieval, classificação em que ninguém deve se admirar (tendo em vista o modo de pensar na época) de ver vizinharem com os sentidos os dons do Espírito Santo ,
decorrentes das Virtudes Cardinais, Teologais, Filosofais , e em oposição aos Pecados Capitais . O Maçom habituado a esta forma particular de ‗tradução da antiga escolástica que é a analogia (velha regra hermética), verá logo a relação entre a vida corrente e a vida iniciática. O Avental é, em primeiro lugar, o símbolo da Prudência, especialmente no exercício dos sentidos em geral. Outrora se dizia erguer o avental para expressar que uma donzela se preparava para sacrificar a sua virtude . Chamava-se avental uma espécie de toalha que se amarrava ao abdômen d o carneiro para impedir que cobrisse as ovelhas; e esse nome era dado a um prolongamento exagerado dos grandes lábios vulvares de determinadas mulheres negras do Sul da África. Era, no antigo Companheirismo, o símbolo da passagem do Aprendiz ao grau de Companheiro ; ele pagava então o direito do Avental , ou direito de passagem . Esta palavra designa o tabuleiro de uma ponte levadiça ou de uma ponte comum, e é então a imagem da passagem . Está ligada às três letras L. D. P ., que figuram sobre determinadas alfaias dos altos graus maçônicos, associadas ao mito do retorno ao mundo inicial (abandono do mundo profano) com o simbolismo da reconstrução do Templo por Zorobabel. Estas três letras significam Liberdade de Passagem . Chama-se tabuleiro (tablier) o lado do jogo de damas ou de xadrez sobre o qual se desenrola a partida, e que é dividido em casas pretas e brancas. Ê a lembrança do Pavimento de Mosaicos da Maçonaria Simbólica, quadriculado de modo semelhante. O adágio as brancas jogam e ganham exprime simplesmente a fé e a esperança maçônicas em um futuro indefinidamente perfectível, no triunfo final da Luz sobre as Trevas . O Pavimento de Mosaicos deve ter 108 casas: 9 x 12. A palavra francesa tablier (avental) deriva do latim tabula : table em francês (mesa), que é encontrada também nas palavras tabelião : (latim: tabellio ) escriba, escrivão, notário, e no árabe tabel: escrivão público. O tabardo era uma espécie de capa, de casula curta, geralmente armoriado, e que revestiam os arautos de armas como distintivo de sua função. Portadores do tabardo , os arautos eram inatacáveis, um pouco à maneira dos embaixadores. Seu aventa l (tabardo) era a sua armadura moral e diplomática, assim como o Avental Maçônico é para o Maçom. O Tabernáculo (latim taber naculum : armário sagrado) vem igualmente de table (mesa), assim como o Tablier (Avental). A esse título o Avental maçônico exprime esotericamente um caráter sagrado e misterioso. Aproximamo-nos do sentido secreto com a palavra Tableau (Quadro em francês), que significa imagem , e com o verbo tabular : embasar, apreciar, fundamentar. Como o latim tabula significa igualmente prancha , não nos surpreendamos por encontrar o Avental (Tablier) no início da hierarquia maçônica, com o Aprendiz , e reencontrá-lo no fim dessa mesma hierarquia com o Mestre trabalhando sobre a Prancha de Traçar . Ele abre e fecha todo o ciclo do trabalho maçônico. Mais ainda, sobre um Tabuleiro (Tablier) sábia e corretamente talhado e cortado, se poder desenvolver traçados e rebatimentos geométricos do mais alto interesse, e muito significativos dos mistérios da Ordem 31. O Avental do Aprendiz possui cinco lados (abeta levantada). Aqui são enfatizados os cinco sentidos, fonte de conhecimento materia l e dos erros que daí decorrem. Tornando-se Companheiro (abeta baixada), ele reproduz no seu avental quatro lados, e Há séculos, quando a Maçonaria Operativa detinha ainda algumas tradições mágicas, era um Avental pentagramático que servia de toalha de altar, de Mesa Operativa. 31
quatro é o número denominado poder divino no simbolismo numérico tradicional. Eis as correspondências analógicas do Avental : Sentido .............................. O Tato Vício Capital ....................... A Avareza Cor do Prisma ..................... O Índigo Forma Ascética ................... O Silêncio 32 Virtude Cardinal ................ A Prudência Faculdade Espiritual ............. O Dom de Conselho Carisma Secundário .............. Dom da Interpretação Artes Liberais ........................ A Geometria Elemento ........................... A Terra ( Matéria Prima ) Temperamento ................... Melancólico Humor .................................. A Melancolia ou Bílis Negra Qualidades Elementares ..... Combinação do Frio e do Seco * * * O TATO
Mortificação sobre a qual pouco há que dizer. O sentido do Tato , no domínio profano, só é perigoso quando desperta em nós os elementos passionais, ou contatos suscetíveis de alterar nossa saúde ou nossa vida. Neste primeiro caso, estão: o contato de uma arma colocada na mão de um adolescente e que pode despertar nele o desejo de poder, e até de violência criminal; na mão de um apaixonado cego de ciúme, o desejo de se vingar e de matar. As carícias por vezes constituem apelo à volúpia dos sentidos, e podem levar a desvarios degradantes. Observa-se, em alguns avaros, que o contato do ouro, do dinheiro, das cédulas ou de títulos financeiros suscita uma espécie de febre de poder, ainda que não empregado. No segundo caso, o Tato pode levar a imprudentes contatos que, por infecção microbiana, são suscetíveis de alterar gravemente nossa saúde. De qualquer maneira, se deve ter cuidado para não sofrer, sob vagos pretextos iniciáticos, toques em determinadas regiões do corpo, toques que possam despertar em nós centros sutis de forças que, ainda muito mal conhecidas, devem, como medida de prudência, continuar adormecidas. Nada mais perigoso do que os chamados despertamentos psíquicos, efetuados por ignorantes que não conhecem seu incalculável alcance, ou que, dissimuladamente, tomam seu discípulo como objeto de experiências. A AVAREZA Sabe-se em que consiste este vício: no amor desordenado pelos bens aqui de baixo, bens que se deseja conservar para si só. Ora, é importante distinguir entre estes bens. Uns são necessários, para o presente e para o futuro. É pois, um dever adquiri-los por meio de trabalho honesto. Outros são úteis somente para aumentar gradualmente os nossos recursos, assegurar o nosso bem-estar e o dos outros, contribuir para o bem público favorecendo as ciências e as artes. Ninguém está proibido de adquiri-los, nem mesmo de desejá-los, para uma finalidade beneficente, honesta, e é bom que nos lembremos do pobre e do indigente. A Avareza existe de três maneiras: - na intenção. Deseja-se apaixonadamente as riquezas por si mesmas, como um fim em si. É uma espécie de idolatria, culto do bezerro de ouro; viver em função do dinheiro. - na maneira de adquirir os bens materiais. Procura-se com avidez, por quaisquer meios, em detrimento dos direitos de outrem, às vezes mesmo em detrimento da própria saúde 32
Note-se a relação que a expressão esotérica estabelece entre a abeta (bavette) do Aprendiz, que deve ficar levantada, e a tagarelice (bavardage) que lhe é proibida por sua qualidade... Diz -se tailler une bavette (conversar) , e a expressão figura nos dicionários. Tailler une bavette é portanto, estar liberado da regra do silêncio. Note-se a analogia com o uso militar da Idade Média em que se cortava as duas pontas da flama que ornava a lança do cavaleiro, quando este passava à qualidade de senhor de pendão , cujo emblema era um estandarte quadrado. De igual modo, tornando-se Companheiro, o Aprendiz adquire o direito de fazer perguntas aos mestres em Loja aberta, e também o de baixar a abeta triangular de seu Avental.
ou da dos seus. - na maneira de usar. Gasta-se com remorso, considera-se o seu uso como um esbanjamento, ignoram-se os pobres, recusa-se o auxílio a outrem. Capitalizar, isto é o que importa 33. Mas existe igualmente uma Avareza espiritual. Ela impulsionará o Maçom, embora advertido, a um isolamento total e estéril. Desvelar, revelar, ensinar, transmitir tudo o que ele próprio recebeu ou aprendeu de seus predecessores será para ele sempre uma coisa dolorosa e chocante. Ele amontoará livros e manuscritos, documentos e iniciações, mas jamais conceberá que é apenas um instrumento de transmissão, um elo na Cadeia secular. As filiações iniciáticas extra-maçônicas às quais ele se tenha ligado, ele as fracionará novamente, multiplicando as provas, os graus, as classes, com a única finalidade de retardar o mais possível o instante em que será obrigado a terminar seu próprio papel, e do aluno de ontem fazer o seu igual de hoje, talvez o seu superior de amanhã. Em Loja ele sistematicamente se recusará a conceder qualquer aumento de salário aos seus Irmãos. Seus trabalhos serão sempre incompletos, não por ignorância, mas por exagero do segredo , argumento muito cômodo para dissimular sua recusa em transmitir, sua avareza intelectual. O SILÊNCIO Para o Aprendiz , o silêncio da língua consiste evidentemente em não reclamar presunçosamente a palavra (visto que não tem direito a ela), e em escutar simplesmente as trocas de idéias entre seus Irmãos mais antigos. Para todo Maçom, isto consiste na abstenção de falar inutilmente, pelo simples prazer de tomar a palavra e de manifestar a sua presença, terminando por nada relatar de interesse a respeito do assunto tratado. Consiste também no silencio do coração , que é fazer calar suas paixões e seus jogos de imaginação, em fazer calar qualquer pensamento que não esteja relacionado com os seres e as coisas criados, e com o que lhes seja útil. O Silêncio é o primeiro elemento constitutivo de um conhecimento pessoal. A PRUDÊNCIA O Avental, destinado a proteger o Aprendiz contra as lascas da Pedra que ele se esforça em desbastar, está legitimamente associado à Prudência . A Prudência é um princípio de ação moral que aperfeiçoa a razão prática do homem com a finalidade de que, em cada uma de suas ações, ele disponha e ordene as coisas com convém, impondo-se a si mesmo (ou àqueles cuja ação está subordinada à sua e que dela dependem) aquilo que convém fazer a cada instante para a realização perfeita da tarefa empreendida ou do objetivo procurado. aspectos, a saber:
A Prudência , em suas aplicações correntes é constituída de diversos
a) a lembrança atenta das coisas passadas, ou memória, b) uma clara visão dos princípios de toda ação, geral ou particular, assim como de suas conseqüências, c) a reverência a respeito do que determinaram os Irmãos mais sábios, que nos precederam, d) a sagacidade para descobrir aquilo que seria impossível exigir subitamente de alguém outro e que poderia ofendê-lo, 33
A Avareza suscitou no século passado essa forma odiosa de exploração da mão-de-obra por uma classe cúpida e sem ideal, que permitia legalmente, sob a monarquia orleanista de 1830, fazer trabalharem crianças de seis anos doze horas por dia nas fiações, e fazer outras descerem às minas aos dez anos! Será sempre um título de honra ao mérito das Lojas do Rito de Memphis-Misraim terem, em 1876, solicitado aos poderes públicos que limitassem em oito horas a jornada dos trabalhadores.
e) o são exercício da razão, aplicada a cada ação, f) a previdência ou a determinação quanto à substância de um ato exigida no momento da ação, g) a circunspecção a respeito de tudo o que acompanha dito ato, h) a precaução contra tudo o que poderia colocar um obstáculo ou comprometer o resultado. A Prudência é propriamente a virtude do domínio: - domínio sobre si mesmo, ou prudência individual, - domínio na família, ou prudência familiar, - domínio na Sociedade, maçônica ou profana, denominada outrora prudência real . O DOM DE CONSELHO Se negligenciarmos o aspecto particular sobre o qual insistia (no cristianismo medieval) a antiga escolástica, podemos definir sob este termo uma disposição superior e transcendente que aperfeiçoa a razão prática do homem, em virtude de uma Iniciação real . Esta disposição particular a torna então pronta e dócil para encarar tudo o que é necessário para a sua iluminação final, que todo verdadeiro Maçom considerará como o único fim da Arte Real . Esta disposição vem em socorrer da razão humana sempre que necessário. Pois, ainda que provido de todas as virtudes, adquiridas ou infundidas desde o nascimento, a razão humana continua sempre sujeita ao erro ou à surpresa, na infinita complexidade das circunstâncias que afetam sua ação, em si mesma, ou em relação a outrem. São as armadilhas que a Prudência freqüentemente pode evitar. Como essencial ao desenvolvimento futuro, ela é, pois, a primeira a ser adquirida, e com ela o dom de Conselho . Ambos são obtidos pela prática do Silêncio , que corresponde à Terra Filosófica , e as três constituem um dos primeiros Instrumentos do Aprendiz O DOM DE INTERPRETAÇÃO Respeitador da regra do Silêncio que lhe e imposta pela Tradição maçônica, o Aprendiz tem o direito de ser socorrido por urna espécie de dom particular, incluído na Iniciação do primeiro grau, e ligado ao choque da Luz. Este dom é aquele que a antiga escolástica medieval religiosa denominava: interpretatio sermonum ou dom de interpretação . Consiste na faculdade de compreender intuitivamente, ou por via imaginativa, e quase instantaneamente, aquilo que os Irmãos da Loja e particularmente os Oficiais exprimem através dos Rituais (tanto de Abertura e de Fechamento dos Trabalhos, como de Iniciação) de um lado, ou pela leitura das Instruções , dos Catecismos ou pelo estudo dos Sinais e ‗ Palavras ‘, que lhe foram ensinados. Para os Maçons que ultrapassaram os dois graus seguintes (Companheiro e Mestre), esse dom de Interpre tação consistirá no fato de interpretar exatamente e de acordo com a Tradição Maçônica os Rituais, Catecismos, Instruções, etc., e não cometer erros em sua aplicação. Igualmente em transmitir tudo isso exata e claramente aos Aprendizes que estão a seu cargo. A GEOMETRIA É indiscutivelmente a ciência do Aprendiz , mas é também a de todo o Maçom que quer verdadeira e exatamente se tornar um obreiro do Templo . Que ninguém entre aqui se não for geômetra ... tal era a regra imprescritível imposta por Pitágoras em seus centros iniciáticos. É lamentável constatar o quanto o estudo desta ciência, essencial para o Maçom especulativo, é negligenciada em nossos dias nas diversas Obediências.
No entanto, nada é mais filosoficamente esotérico do que a Geometria, e aquele que quiser lançar-se ao trabalho de procurar em seus teoremas essenciais a Metafísica que está secretamente contida neles, descobrirá um maravilhoso jardim . Se duvidarmos, bastará nos lembrarmos que a palavra teorema vem do grego theoria ; este termo deriva oficialmente de théôrein : examinar, considerar . Mas podemos observar que esta palavra exprime preferencialmente a idéia de teoria . Ora, teoria vem também do grego theoria , que significa procissão de deuses , cortejo religioso . Assim, o prefixo theôs , que significa em grego divino , é a raiz do nosso teorema , e a Geometria é então a ciência do Divino ; no sentido platônico da palavra. O Avental do Aprendiz, cuja silhueta pentagramática permite, sobre o seu próprio esquema, tantos traçados secundários plenos de esoterismo, está assim intimamente associado à Geometria .
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AS LUVAS BRANCAS ―As manoplas, formadas de lamínulas ou de malhas de
ferro que se superpõe, protegem as mãos do cavaleiro dos ferimentos, mas sobretudo dos contatos impuros. Que ele nunca esqueça que toda força vem de Deus, o Soberano Senhor, e que após ter deposto suas armas e tirado suas manoplas (luvas) resta-lhe o imperioso dever de juntar as mãos nuas para render graças, pela prece, a Aquele que lhe deu a força para vencer...‖ Raymundo Lullo Avental e Luvas Brancas constituem a vestimenta do Maçom. As Faixas , ou os Colares dos Oficiais são decorações . Na ―Simbólica Maçônica ‖ nosso saudoso Irmão e amigo Jules Boucher nos diz: ―As luvas brancas dos Maçons são, é preciso dizer, o símbolo da pureza. O
costume de usar luvas brancas ainda não caiu em desuso, e muitos Maçons franceses respeitam essa tradição. Seria desejável que este costume fosse generalizado. Em alguns países estrangeiros isto é uma regra estrita, que não sofre qualquer exceção ‖. Jules Boucher escreveu estas linhas em 1947. A Franco-Maçonaria francesa, acabava de sair do negro período que foi o sinistro e vergonhoso Governo de Vichy, e havia retomado suas tradições seculares. Hoje, dezessete anos mais tarde, há poucas Lojas maçônicas bem conduzidas que não respeitam este costume. ―As luvas brancas são na Maçonaria não apenas um símbolo, mas também objetos
rituais. Sabe-se, de maneira certa, que um magnetismo real emana da extremidade dos dedos, e as mãos enluvadas de branco só deixam filtrar um magnetismo transformado e benéfico. Em uma assembléia de Maçons onde todos estão com luvas brancas, cria-se um ambiente muito particular que até o menos avisado sente muito nitidamente. Uma impressão de apaziguamento, de serenidade, de quietude segue-se muito naturalmente. A modificação trazida por este ―signo exterior‖ é mais profunda do que se poderia crer. Ocorre o mesmo com muitos de nossos símbolos, que se tornam eficientes quando passam do plano ―mítico‖ para o plano ―ritual ‖ ... (J. Bouch er : Simbólica Maçônica) O exemplar original que Jules Boucher nos ofereceu traz a seguinte dedicatória,
em ouro fino: ― A meu caro e velho amigo e Irmão Robert Ambelain, que me deu a Luz
Maçônica em 30 de novembro de 1943, com meus sentimentos afetuosos e cordiais: J. Boucher ‖. De nossa parte, agradecemos a Jules Boucher por ter ele deixado aos Maçons este magnífico trabalho que é seu livro, e felicitamo-nos por ter conseguido acrescentar à Cadeia milenar de nossa Ordem este ―e lo‖ de alto valor. Quando de sua recepção nas Obediências fiéis à tradição maçônica secular conscientes de suas responsabilidades iniciáticas , o Aprendiz recebe dois pares de luvas brancas, um para ele próprio e que usará no decorrer dos trabalhos em Loja, e o segundo destinado à mulher que ele mais estima ...
Aqui citaremos Oswald Wirth, discípulo de Stanislas de Guaita, pleno de esoterismo: ―As luvas brancas recebidas no dia de sua iniciação, evocam ao Maçom a lembrança de seus compromissos. A mulher que os apontará quando estiver a ponto de falhar, lhe aparecerá como sua consciência viva, como a guardiã de sua honra. Que missão mais elevada poderia ser confiada à mulher que mais se estima? ―O Ritual, contínua Oswald Wirth, faz observar que nem sempre é a que mais se
ama, pois o amor, freqüentemente cego, pode se enganar a respeito do valor moral desta que deve ser a inspiradora de todas as obras generosas e grandes ...‖ (O livro do Aprendiz, Oswald Wirth) De fato, no século dezoito, a grande época da Franco Maçonaria , dava-se o nome de clandestina à mulher julgada a mais digna pelo novo Maçom. Este termo vem do latim clandestinus que tem relação com o mesmo latim ― clam ‖ que significa secreto, oculto . Podemos supor que se tratasse ai da dama do pensamento dos Cursos d‘Amor dos trovadores e, portanto, próximo como tradição do Amor Perfeito caro a Dante, aos Cátaros e a toda a Cavalaria medieval. Esse gesto da oferenda das Luvas simbólicas nos proporciona um novo aspecto quando Goethe, recebido Aprendiz em Weimar a 23 de junho de 1780, São João de Verão, ofereceu as suas à Senhora de Stein e lhe fez observar que, se em aparência o presente era muito modesto, ele apresentava o caráter peculiar de só poder ser ofertado por um Maçom uma vez em sua vida ... *
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A Igreja, muito antes da Franco-Maçonaria especulativa, sua irmã gêmea no universo dos arquétipos, conheceu bem cedo o uso das Luvas . Seu emprego, sob a denominação latina de Wanti ou Manicae , todavia não é anterior ao fim do nono século. No décimo segundo século era tão habitual que Honorius d‘Autun, bispo dessa cidade, fazia remontar sua origem aos Apóstolos. Há aì apenas urna adaptação litúrgica de uma peça de vestimenta profana, com a finalidade de ornar as mãos do Bispo, como seus pés o eram desde bem antes (ver o cerimonial do lava-pés considerado como sacramento em determinada época e em certas regiões da Cristandade.) Reservado de direito aos Bispos, o uso das luvas como insígnia de dignidade foi concedido aos Abades desde 1070. Fora de Roma elas eram usadas freqüentemente com a Capa. Do décimo ou décimo segundo século em diante as luvas eram ordinariamente de fio. A seda o substituiu pouco a pouco embora até o fim da Idade Média houvesse ainda luvas de fio e também de lã. Durand de Monde parece conhecer somente o uso de luvas brancas, mas também são encontradas luvas de cor (a da liturgia do dia) a partir do décimo segundo século.
As luvas litúrgicas foram sempre luvas com dedos separados e não mitenes. Cada dedo, correspondendo a uma simbólica planetária particular 34 , devia conservar sua independência e, portanto, sua irradiação própria . A exemplo do Manto Sagrado, freqüentemente exigia-se que a luva fosse tecida em uma só peça, para mostrar que a diversidade de irradiações oferecida pelos dedos se ajustava a uma dependência geral em vista da finalidade comum: a b enção e a vida espiritual . Sua forma se modificou com o tempo, adaptando-se à moda laica. Freqüentemente as luvas eram ornadas, no dorso da mão, com plaquetas de metal esmaltadas ou não, ou ainda com medalhões bordados, emblemas do papel sacramental das mãos do Oficiante. No fim da Idade Média, estes ornamentos móveis foram substituídos por bordados executados sobre o próprio tecido da luva, a exemplo do que acontecia com as vestes. No simbolismo litúrgico as luvas episcopais, qualquer que seja seu material (fio, seda, lã), evocam as mãos de Jacob, recobertas de pele de cabrito (ver Gênesis 27:16). Sabe-se que Jacob significa sup1antador . Conhece-se a visão de Salomão: ― E eu vi o segundo Adolescente levantar-se em lugar do Outro ‖ (Eclesiastes 4:15) . No uso das luvas existe a idéia de franquia, de sucessão, de substituição. O novo homem suplanta o velho homem , a luz afasta as Trevas do Não Ser , cujos limites últimos jamais deveriam ser ultrapassados. O ―Novo Adão‖ suplanta o tenebroso soberano que ele havia dado a si mesmo imprudentemente. Tal é o ensinamento esotérico do cristianismo realmente iniciático. Ele pode ser aceito e Interpretado pelo Maçom. Observar-se-á a importância das luvas episcopais no fato de que, no final da Cerimônia de Sagração de um Bispo, o Consagrador entrega, ao mesmo tempo , ao novo Eleito, a Mitra e as Luvas 35 . O Bispo recém sagrado ilustra então a frase célebre dos Evangelhos: ―Eis a hora em que o Prìncipe deste Mundo vai ser lançado fora...‖ (João 12:31). Como reflexo do Cristo, também ele é um suplantador . Talvez o Maçom deva reler a Lenda de Hiram, na versão drusa relatada por Gérard de Nerval em sua Viagem ao Oriente , muito particularmente os últimos parágrafos das Noites De Ramazan : ―Assim se realizou a predição que a sombra de Enoque havia feito, no império do Fogo, a seu filho Adoniram, nestes termos: ―Tu estás destinado a nos vingar, e este templo que tu elevas causará a perda de Salomão‖. É, pois, em memória de Hiram, o suplantador de Salomão junto a Balkis, que os Filhos da Viúva usariam luvas, símbolo dessa missão permanente: destruição de toda tirania36 *
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Maçonicamente, a luva se reveste de aspectos mais sutis ainda que os da liturgia religiosa cristã. A luva simbolizará de fato a doçura , a complacência, a deferência para com a Ordem e para com os Irmãos da Loja. Em francês se diz ―tomar as luvas‖ quando se quer expressar todas estas qualidades. Expressará igualmente o mérito do Aprendiz que triunfou das provas iniciáticas e 34
O indicador: Júpiter — O médio: Saturno — O anular: Sol — O auricular: Mercúrio — O polegar: Vênus — A percussão: a Lua. 35 Cf. R.Aigrain: ―Liturgia‖, Blond e Gay Editores, Paris 1947. 36 Balkis é o sìmbolo esotérico da misteriosa ― Noiva ‖ do Cântico dos Cânticos , ou seja, a Shekinah divina.
obteve do Venerável da Oficina que lhe conferisse finalmente a Luz . Pois a antigo locução francesa ―dar - se as luvas de tal coisa‖ significa apropriar - se do mérito dessa coisa 37. É também o símbolo da honra e da dignidade . Na Idade Média o senhor suzerano, quando conferia um cargo ou um feudo em ―arrendamento‖, era obrigado a dar sua s luvas aos agentes que o haviam assistido, ele e seus vassalos presentes. Isto expressava uma marca de confiança e de gratidão pela guarda assim assegurada. A luva é ainda um símbolo iniciático por excelência, é a iniciação em si, pois para expressar o fato de ter a p rimeira idé ia, o mérito , o proveito , a descoberta de alguma coisa, dizia-se outrora que se ―tinha as luvas‖, isto é, a in iciativa primordial. É também o símbolo da precisão , da perfeição : ―isto me cai como uma luva‖. Era igualmente a imagem do inédito , da revelação , de uma mensagem , pois outrora eram entregues luvas ao mensageiro portador de uma notícia importante. Esta lo cução ainda existe na Espanha, ―para guantes‖ é de fato o equivalente ibérico (para as luvas) da expressão francesa ―gorjeta‖. A luva é ainda símbolo da pureza , da retidão , da fé . A antiga locução sobre as moças ―que perderam suas luvas‖, significa que perderam sua virgindade. São conhecidos os versos de La Fontaine: ―Muitas moças perderam suas luvas
E mulheres em troca se tornaram, Que não sabem na maioria das vezes Como esta coisa aconteceu‖. *
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Luva de Nossa Senhora é o nome dado à aquilégia , também denominada aiglantine (rosa silvestre), e que não é outra senão a aquiléia. Leonardo da Vinci a colocou à entrada de seu Labirinto. A aquiléia é a planta de que se serviam os geomantes taxistas da velha China para confeccionar as cinqüenta varinhas com que interrogavam o I-KING, o livro das transposições divinatórias estabelecido peio mítico Fo-Hi. É o símbolo da própria adivinhação 38 . Esta planta servia além disto, nos antigos herbários, depois de colhida e posta em infusão segundo ritos precisos, para curar os males dos olhos, ampliar a visão . Dai seu outro nome de aiglantine , pois a águia (―aigle‖ em francês) é o único pássaro capaz de, por causa da sua dupla pálpebra, contemplar o Sol de frente. Assim, pois, colocada por Leonardo da Vinci à entrada do seu Labirinto, a ―luva de Nossa Senhora‖ é a imagem da adivinhação , da clarividência , suscetível de conduzir o Iniciado através dos artifícios do Labirinto até a misteriosa Câmara do Meio , e por seu nome de aiglantine , ela nos sugere o valor da doutrina joanita para esta delicada operação. Observemos que o Labirinto clássico tinha três entradas, assim como as Catedrais góticas construídas pelos Maçons construtores. E isto o liga ao simbolismo da Virgem Celeste , que vai da Isis antiga, mãe de Horus, o Verbo de Osíris, até Maria, mãe de Jesus, o Verbo do Pai. Assim, pois, as luvas maçônicas relacionam-se com o simbolismo zodiacal do Signo da Virgem 39. 37
38 39
Todas estas locuções antigas figuram nos antigos dicionários franceses de Littré. Ver ―Adivinhação chinesa pelo I - King‖, de Yüan -Kuang (Paris, 1950, Voga edit.) É por sua ―luva‖ que se diz que ―Nossa Senhora‖ de São W andrille (a cé lebre abadia beneditina) conduz
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Observemos igualmente que o mais célebre dos Labirintos antigos era o de Cnossos em Creta, descoberto em 1902 pelo Doutor Evans, de Oxford. Era denominado em latim Absolum , palavra bem próxima do nosso Absoluto . Acrescentemos que para os Alquimistas familiarizados com a celebre ―cabala solar‖ ou cabala fonética , Cnossos está bem próximo de Gnosis , que significa Conhecimento . E encontramos novamente a luva maçônica com todos os seus precedentes significados esotéricos: adivinhação, clarividência, conhecimento, iniciação , etc. Se tomarmos o seu outro nome aiglantine (erva da águia), evocamos a doutrina joanita pois a águia é o pássaro que, no Tetramorfo , corresponde a São João. Isto nos leva aos Templários , de quem os Maçons construtores constituíam de algum modo a ordem terceira , pois que estavam sob a proteção dos senhores do Templo. E existe ainda material de jogo para a cabala fonética , ou cabala solar, pois as luvas em latim se chamam manicae (de manus : mãos, evidentemente), termo sobre o qual se pode estabelecer um jogo de palavras com maniqueu, epíteto aplicado aos Templários e aos Cátaros pelos seus adversários. E, de fato, se o dualismo não existe no Absoluto , existe no Relativo . Daì o juramento pitagórico: ―Pelo Céu e pela Terra , pela Luz e pelas Trevas , pelo Dia e pela Noite, pelo Sol e pela Lua , pelo Fogo e pela Água ...‖ Ora, assim como os Maçons, os maniqueus se diziam “ Filhos Da Luz‖, e são dois pares de luvas que o Venerável entrega ao novo Aprendiz 40...
o Iniciado para a Luz, pois que é dita: “... a neqotio perambulante in Tenebris ...“ ou seja: ―Aquela que conduz os que caminham nas trevas...‖ O que significa que é pelo conhecimento que o Iniciado assegura sua salvação pós tuma. ―Se tivéssemos de escolher entre a Salvação e a Gnose, nos diz Clemente de Alexandria, nosso interesse seria escolher a Gnos e...‘. O fato de tirar as luvas é, por outro lado, marca de honra, quando nos preparamos para encontrar alguém a quem desejamos manifestar nosso respeito, como quando da apresentação a um Soberano, ou quando os Maçons fazem a cadeia de união, invocando o Grande Arquiteto do Universo. Um dos aspectos mais profundos desse uso secular se encontra no ritual da caça (caça com galgos e a cavalo). No momento em que o chefe da equipe deve ―servir‖ (abater) a ―caça nobre‖, (cabrito montês, cervo), com a adaga (ou seja, a ferro, como um gentil- homem), e isto em presença dos ―vassalos‖ (os membros da equipe) e dos valetes de armas (os cães da matilha) , as trompas soam o ―halali, em terra‖ . (Deve-se descer do cavalo). Neste momento todos tiram as luvas , é privilégio do primeiro picador confiscar as luvas daqueles que esquecem que as honras prestadas ao animal que vai morrer, unem em um mesmo sacrifício, tão misterioso quanto grandioso, o Homem, o Animal e a Floresta . 40
―Eu sou Elohim, o único Senhor, criador da Luz e criador das Trevas...‖ Isaías 45:6-7 . ―Eu Faço a Paz, e crio o Mal...‖ Isaías 45:7. Não são essas, na Bíblia, alusões maniqueístas?
2 - O MAÇO A ÁGUA DOS FILÓSOFOS (Vontade na Aplicação) Assim como para a Alavanca e todos os outros Instrumentos da Arte Real, encontraremos numerosas correspondências analógicas para o Maço . A chave é dada pelo Elemento que lhe corresponde. É ele que liga misteriosamente todas estas coisas. Se assim não fosse, não distinguiríamos um parentesco esotérico entre elas. O mesmo acontece com os seres vivos, e sem um elemento imperceptível, a hereditariedade , assistido por uma combinação de genes e de cromossomos , como poderíamos afirmar que existe um laço de parentesco entre um indivíduo da nossa época e seu longínquo ancestral do período carolíngio? O Maço tira seu nome do latim malleus : martelo, que deu igualmente o termo maleável , isto é, susceptível de ser amolecido. O malleus , ou martelo latino é apropriado para amolecer qualquer coisa. Daí sua analogia com a Água , o elemento de amolecimento por excelência. Derivando das analogias esotéricas da Água , as do Maço são as seguintes: Sentido
O Gosto
Vicio Capital Cor do Prisma Forma Ascética Virtude Cardinal Faculdade Espiritual Carisma Secundário Artes Liberais Elemento Temperamento Humor Qualidades Elementares
A Gula 41, que suscita a mastigação destinada a amolecer. O Verde 42 A Solidão A Temperança O Dom do Temor O Dom das Línguas A Aritmética A Água Linfático 43 A Linfa Combinação do Frio e do Úmido .
O GOSTO O Gosto é o sentido pelo qual somos levados a distinguir os sabores. Tem por sede o palato e a língua. Rege igualmente os pendores que podemos ter por uma certa forma de beleza, por determinadas formas de harmonia: poesia, literatura, escultura, pintura , música, etc. Todavia, o sentido do Gosto deve ser disciplinado, o que, transposto, nos faria dar muita importância, e até mesmo gerar a paixão pelas riquezas livrescas, as ricas e belas encadernações, os manuscritos ou os textos raros, a qualidade e o número de nossos livros. É o Gosto que, bem domado, evitará que nos embeveçamos com exposições por demais sedutoras, onde a doçura das palavras vazias, o véu das frases sem conteúdo, o ineditismo de teorias assim enunciadas, apenas mascaram o mais completo vazio; coisas que tenderiam a nos arrastar para pseudo-ensinamentos sem nenhum caráter iniciático real. O sentido do Gosto correspondendo à Água Elementar é também o domínio da sensibilidade. Evitaremos, pois, ceder a uma sensibilidade igualmente sem profundidade. O Amor é uma palavra aviltada desde muitos lustros, uma palavra que freqüentemente mascara o mais completo vazio. O verdadeiro Amor é construtivo, e o Ágape dos gregos , não supõe indulgência ou fraqueza frente ao Erro , mas sim a preocupação com a Justiça e a Verdade . A GULA A Gula é o amor desordenado pelos prazeres da mesa, o beber e o comer. A desordem (que é a de grande número de gastrônomos) consiste em procurar o prazer da comida por si mesma, considerando-o explícita ou implicitamente com um fim, ou buscá-la em excesso, sem cuidar as regras que dita a sobriedade, e por vezes mesmo contrariando o que seria bom para a saúde. Por vezes é reforçada, com o único objetivo de obter a percepção de sabores particulares, com atos de crueldade inegáveis cometidos contra animais (como quando são cozidos vivos). A Gula tem diversos aspectos: do guloso até o glutão, passando pelo comilão, existem diversas nuances. Às vezes se acrescenta o egoísmo e a falta de caridade para com outrem como quando, para satisfazer os seus próprios apetites, o indivíduo diminui ou suprime aquilo que deveria destinar aos pobres. Pode-se comparar as quantidades espantosas de alimentos raros e custosos imprudentemente esbanjados nos banquetes reais do Antigo Regime por inumeráveis A mastigação decorre da Gula, ela amolece os alimentos. O verde é simbolicamente, em seu m au aspecto, a corrupçã o , que produz um amolecimento. 43 O linfático é mole . 41 42
parasitas da Corte, com a subalimentação e a miséria popular, tão bem descritos por Vauban em sua Memória sobre o Dízimo Real. O mal da Gula é que ela submete o espírito ao corpo carnal, materializa o homem, enfraquece a sua vida intelectual e moral, e o prepara, tornando-o insensivelmente indulgente consigo mesmo, para o culto dos sentidos. Às vezes ela conduz à intemperança da língua, e faz violar a discrição, desvelar aquilo que deve ficar oculto, faltar aos juramentos, e freqüentemente, à justiça e à caridade para com outrem por meio de palavras cáusticas proferidas após repastos muito abundantes. A SOLIDÃO A Solidão é o meio de assegurar o silêncio da língua. Ela consiste em: a) evitar misturar-se material e inutilmente com multidões profanas, com preocupações fúteis, com reuniões sem objetivos válidos. Esta é a primeira via do Aprendiz ; b) evitar interiormente, por misturarem-se com os jogos de nossa imaginação e de nossa memória, o contato com imagens que nos lembrem essa multidão, os indivíduos que a compõem, e que não nos ajudam em nossa caminhada iniciática, bem como todas as visões suscetíveis de nos degradar moral ou espiritualmente. Esta é a via real do Companheiro e do Mestre . A Solidão obedece a três moveis: a) b) e)
evitar o mal que possa provir dos Homens; evitar o mal que se possa fazer ao próximo, a nossos Irmãos; permitir ao Espírito Maçônico manifestar-se plenamente em nós. Só a Solidão proporciona o conhecimento do Mundo material.
A TEMPERANÇA A Temperança é uma virtude que mantém sempre a afetividade sensível aos ditames da razão, a fim de que ela não se lance indevidamente aos prazeres que os cinco sentidos exteriores propiciam. Ela se manifesta de diversos modos: a) a continência, que consiste na decisão de não seguir cegamente os movimentos violentos da paixão; b) a clemência, que consiste, de acordo com a virtude da Caridade , na correção do mal cometido por outrem, e que a virtude de Justiça exige ver mais eqüitativamente corrigido e expiado, coisas fatalmente necessárias; c) a mansuetude, que consiste em aplacar o movimento interior da paixão pela eqüidade a fim de que não se torne a Cólera ; d) a modéstia, que consiste em refrear, moderar ou regular a parte afetiva nas coisas menos difíceis que as precedentes, isto é, o desejo da sua própria excelência, o desejo de conhecer aquilo que não nos é imediatamente útil, ou o que e inútil para seguirmos a nossa senda maçônica e espiritual, as ações e os movimentos exteriores do nosso corpo carnal, e as atitudes exteriores como a maneira de se comportar ou de se vestir e ornar. Entre o Maçom que vai à Loja vestido de maneira negligente e aquele que quer deslumbrar seus Irmãos com sua elegância exagerada, há lugar para o Maçom temperante . E essa virtude pesará igualmente no domínio da escolha dos adornos maçônicos. Entre o Maçom que negligencia o uso das simbólicas luvas brancas , (lembrança de sua recepção como Aprendiz ) e o Maçom com paramentos sobrecarregados de bordados inúteis e caros, há lugar
para o Maçom discreto, corretamente vestido e decorado, cujas Luvas, Avental, Colar ou Faixa ornados com as jóias regulamentares , estarão sempre limpos e sem qualquer mancha; e) a tolerância , que consiste em respeitar as opiniões e as crenças dos outros como gostaria que fossem respeitadas as suas próprias.
É seguramente um domínio em que a Franco-Maçonaria se realiza e se reconhece melhor. No entanto, nem sempre é coisa fácil, pois a Maçonaria-Princípío é uma coisa, e a Maçonaria-Humana é bem outra. Em uma Oficina que seja em sua grande maioria espiritualista, um Candidato racionalista será impiedosamente recusado. Em uma outra Loja, composta de Maçons racionalistas, todo profano que fizer profissão de fé espiritualista, será freqüentemente rejeitado. E não poderiam ser recriminados esses Maçons, fiéis ao clima inicial de sua Loja, se tais rejeições muito justificadas fossem completadas pela indicação e recomendação de que esses profanos fossem encaminhados a uma outra Loja, onde seriam certamente recebidos. Convém, aliás, dirigir a atenção dos Maçons anglo-saxões que se pretendem regulares, para as condições que podem justificar a ruptura das relações com determinadas Obediências européias. Pois este é sempre um problema atual. Que algumas dessas Obediências se permitam abreviar os Rituais clássicos a ponto de truncá-los, que os diversos graus da Maçonaria simbólica (que é a Maçonaria
essencial, com usos imprescritíveis) sejam transmitidos sob formas que não constituem mais do que uma banal colação por comunicação própria de certos altos graus secundários, em suma, que uma indiferença desdenhosa seja assim manifestada a respeito de nossas tradições e de nossas formas iniciáticas, e estará então justificada a ruptura, pois já não existirá mais de fato a Maçonaria verdadeira nesse meio. Mas que sejam rompidas as relações sob o falacioso pretexto de que esta ou aquela Obediência se recuse a impor às suas Lojas a crença de que foi o Deus Supremo que pessoal e realmente ditou o Antigo Testamento, ou o Novo, ou ainda o Alcorão, ou Bhagavad Gita, ou as leis de Manú, ou todo o conjunto, é violar o juramento de fraternidade e desdenhar a tolerância. E necessário lembrar a esses Maçons que recusam admitir a Maçonaria que não esteja ligada a esta ou aquela forma religiosa particular, quando a própria Igreja Católica em seu concílio Vaticano II reconhece a liberdade de consciência como um direito imprescritível, Deus tendo querido o ser humano livre e responsável, e tendo em conta que a fórmula adotada definiu essa mesma liberdade de consciência como ―o direito que todo ser humano tem de permanecer na confissão religiosa na qual foi educado, ou se ligar a qualquer outra confissão de sua escolha, ou ainda não ter nenhuma‖? Sendo a Fé uma graça que Deus dispensa ou recusa, reprovar um homem por não tê-la, é fazer esta reprovação a Deus. Ignoram eles, estes Maçons ―cristãos‖, as palavras de Santo Agostinho: ―Aquele que se diz fora da Igreja todavia está em seu seio, e aquele que se crê dentro dela já está fora‖? Ë necessário lembrar-lhes o texto da ―Declaração dos Direitos do Homem‖: Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões, mesmo religiosas...‖? O que subentende e inclui as opiniões não religiosas. É bem evidente todavia que a tolerância não poderia ser aplicada aos que querem destruí-la. Não há liberdade para aqueles que querem estrangular a liberdade! E praticar essa mesma tolerância a respeito de partidos políticos e de jornais que fazem campanha a favor de uma ditadura, seja ela qual for, a favor de um programa que vise amordaçar a opinião pública, para instaurar um governo classista, o racismo, as perseguições ideológicas contra os cidadãos, os campos de concentração pelos delitos de opinião, a tais programas não poderia ser aplicada a tolerância . Frente a eles, o Maçom deve colocar-se como adversário . f) o liberalismo , que consiste em não obrigar outrem a viver segundo princípios, crenças, usos, costumes e prescrições, às quais ele se recusa a atribuir uma importância ou um valor qualquer. O liberalismo é sempre próprio dos espíritos equilibrados, generosos e bons. O seu contrário é o sectarismo cujo aspecto mais corrente é o puritanismo . Diz-se de um liberal que ele tem o espírito aberto , e do seu contrário, que ele tem o espírito estreito , duas expressões que eloqüentes44. A Franco-Maçonaria francesa pode orgulhar-se a justo título do progresso realizado em quase três quartos de século em matéria de liberalismo , tanto na sociedade como nos indivíduos, e isto graças à aplicação de seus próprios princípios. O
44
DOM DAS LÍNGUAS
As campanhas contra a escola leiga (escola do diabo ) , o ostracismo mundano contra os ―divorciados‖ (em que a indissolubilidade do casamento apenas amplia os ódios sórdidos e defende interesses muito materiais), a verberação contra as segundas núpcias dos viúvos e das viúvas, a pudicícia (pretendendo -se virtude) freqüentemente associada à falta de higiene, e à asneira, tudo isso origina-se no sectarismo, quando não em uma banal hipocrisia. Será necessário lembrar a história daquele antigo ministro, distribuidor oficial dos prêmios de virtude na Academia, ou a do parlamentar conservador (chamado por seus colegas Pai do Pudor), e que se revelaram um dia, à luz de escândalos célebres, como autênticos depravados sexuais ?
O Dom das Línguas (genera linguarum na velha escolástica medieval) é diversamente interpretado segundo os autores antigos. Corresponde a uma espécie de facilidade de elocução, que permite encontrar instantaneamente as palavras e as frases, assim como os argumentos, mais próprios para se fazer entender por seu interlocutor, e para convencer e persuadir uma assistência perante a qual se fale. Consiste ainda em uma certa facilidade de assimilação das línguas estrangeiras, que assim permitem combater e ultrapassar uma das principais fontes de divisão entre os homens, geradora de sua mútua incompreensão. Pode também consistir no fato de ser compreendido intuitivamente pelo Irmão que se deseja colocar ―na senda‖ mesmo que falando por ―palavras veladas ‖ . Duas expressões maçônicas que exprimem. perfeitamente o dom das línguas. O DOM DO TEMOR O Dom do Temor consiste em colocar-se, ante a Tradição Maçônica a mais antiga, ante seus Usos, seus Ritos, seus Mistérios, seu modo de expressão, seus Símbolos, com um justo e inteligente respeito, ainda quando nos possam parecer impossíveis de decifrar. Querer suprimir ou modificar aquilo em que não se penetra em seguida, é um sinal de orgulho e de auto-suficiência. O mesmo Dom do Temor consiste ainda, para o Maçom realmente desejoso de construir em si mesmo um Templo Interior em não considerar as Cerimônias das quais participa como ações sem qualquer valor. Numerosas são as interferências que elas introduzem em nosso psiquismo, e por intermédio deste em nossos estados de consciência superiores. Existe uma forma de sugestão inegável nas iniciações maçônicas, e a esse título, por meio da repetição do seu ritual., elas podem, em outro domìnio, lembrar os famosos ―exercìcios‖ espirituais que Inácio de Loyola impu nha aos seus discípulos. A
ARITMÉTICA
A ciência dos números e de seu manejo, bem como o estudo de seu simbolismo é, junto com o da Geometria, essencial para o Maçom digno deste nome. Os Números permitem alcançar toda uma filosofia e uma verdadeira metaf ísica. ―Tudo está ordenado segundo o Número...‖, nos diz Jâmblico citando o ― Iéros Logos ‖ de Pitágoras, afirmação retomada por Aristóxenes d e Tarento. E em sua ―Introdução à Aritmética‖ , Nicômaco de Gerase afirma que: ― Tudo aquilo
que a Natureza ordenou sistematicamente no Universo parece, em suas partes como no todo, ter sido determinado e colocado em ordem de acordo com o Número, pela previdência e pelo pensamento d‘Aquele que criou todas as coisas...‖. O que Theon de Smirna comentava assim, em seu ―Expositio Rerum Mathematicorum‖ : ― Os pitagóricos consideravam todos os termos da série natural dos Números como princípios, de maneira que, por exemplo, Três seja o princípio de todos os Três entre os objetos sensíveis, e quatro o princípio de todos os qua tro nos mesmos...‖. Theon do Smirna nos revela aqui um aspecto da metafísica pitagórica, fazendo com que entendamos que os dez primeiros Números ou seja, a célebre Tetractys , constituem a classificação inicial de todos os outros números ordinários e, por conseguinte, são potências metafísicas, transcendentes ao Universo. Elas só se tornam imanentes por intermédio dos números vulgares que dai decorrem. Está aí a noção do Número-Idéia, ou Número-Puro, dos ―Theologumena Arithmeticae‖ de Nicômaco de Gerase que, nos mesmos, nos diz que a Década é o Todo , ―pois que ela serviu de medida para o Todo, assim como o Esquadro e o Cordel na mão do Ordenador... ‖.
É isto que Salomão, emblemático grão-mestre da Franco-Maçonaria Universal, expressa quando nos diz: ― Mas Tu, ó Eterno, Tu regulas todas as coisas com Medida, Numero e Peso .. .‖. (Sabedoria 11:21).
3 - O CINZEL O AR DOS FILÓSOFOS (Discernimento na Investigação) Em grego Cinzel se diz kopéus , no qual se encontra o prefixo kopa : golpear, cortar. É ainda denominado egkopéus e glarís , mas este último é mais especialmente a marreta dos cortadores de pedra, espécie de maço pontudo de um lado e afiado do outro. Em latim Cinzel se diz caelum e designa tanto o cinzel como o buril. Ora, o mesmo termo caelum significa a atmosfera, o céu, o ar, o clima. Vê-se que a nossa Scala Philoso- phorum tem suas correspondências perfeitamente verificadas. Veremos que elas o são muito mais ainda pelas combinações das Cores que são atribuídas a cada elemento dessa Tetractys, combinações estas que demonstram de maneira rigorosa o fundamento das analogias. Que o Cinzel seja análogo ao Elemento Ar fica estabelecido por sua homonímia com a mesma palavra latina que designa este Elemento . Acrescentemos que sua tradução grega e também muito expressiva, pois se kopéus (que deu origem a corte ) significa cortar, temos uma expressão segundo a qual um vento norte seja cortante , diz-se dos planaltos que são cortados pelos ventos e, inversamente, diz-se fender o vento norte ; e ter o rosto ou a pele cortados pelo vento são expressões correntes. Derivando das analogias esotéricas deste Elemento , as do Cinzel são: Sentido Vício Capital Cor do Prisma Forma Acética Virtude Cardinal
O Olfato A Luxúria O Violeta O Jejum A Justiça Faculdade Espiritual Piedade
Maçônico Carisma Secundário Artes Liberais Elemento Temperamento Humor Qualidades Elementares
sentido
do
Dever
O Discernimento dos Espíritos A Música O Ar Sanguíneo O Sangue Combinação do Úmido e do Quente *
O
ou
*
*
OLFATO
O Olfato é o sentido que permite perceber e distinguir os odores. Tem por sede as mucosas nasais. Metaforicamente está associado a uma expressão usada para definir alguém fazendo-se uma apreciação instintiva. Diz-se às vezes de alguém que não é tido em odor de santidade, expressando assim que não é uma pessoa apreciada e que esta impressão é puramente intuitiva, ou ainda, que uma situação não nos cheira bem.
O uso imoderado dos perfumes do mundo profano, a influência que permitimos que exerçam sobre nós, sejam eles industriais, ou naturais, freqüentemente são pretextos para satisfazer nossa sensualidade inferior, ou nos incitar a volúpias por vezes degradantes. Acontece o mesmo com as combustões aromáticas, familiares aos Maçons Ocultistas. As emissões odoríficas que sobem das caçoletas e dos incensórios são ao mesmo tempo ondas de apelo destinadas a nos colocar em contato psíquico com ―planos‖, ―mundos‖ ou ―dimensões‖ ontologicamente diferentes dos nossos. Elas não se destinam à satisfação do nosso olfato, nem do nosso desejo inferior de um ambiente pseudo-místico. E muito menos a impressionar o profano, dando-lhe a impressão de que possuímos o segredo de certas fumigações misteriosas, deixando-o supor que a evolução do seu intelecto e da sua espiritualidade dependem de banais impressões olfativas. Bem ao contrário, elas devem servir para criar em nós , num instante preciso , um clima interior que nos permita, microcosmo analogicamente idêntico ao Macrocosmo , o despertar de ―planos‖ superiores deste último, incluídos em potência no primeiro , isto por uma verdadeira reversão analógica. Por outro lado, se existem emissões odoríferas suscetíveis de nos fazer tomar consciência desses ―mundos‖ ou ―dimensões‖ desconhecidos, também há os que são suscetíveis de nos fazer descer a profundezas opostas: odores sui generis que incitam à sexualidade excessiva, perfumes operacionais de caráter nitidamente involutivo e que nos colocam em contato com centros psíquicos de forças interiores , igualmente incluídas em potência em nós, mas até então adormecidas ou neutralizadas. Todavia, é com justa razão que em sua ― Simbólica Maçônica‖ Jules Boucher
lamenta que as fumigações estejam em nossos dias negligenciadas ou banidas da Maçonaria Especulativa clás sica. ― Os círios e as fumigações são, a nosso ver, nos di z ele, o adjuvante indispensável das Cerimônias Maçônicas, às quais elas dão uma conotação sagrada que deve reinar nos Templos. Dissemos um adjuvante, pois é evidente que elas em nada modificam os ritos fundamentais da Ordem Maçônica... ‖ (Obra citada, páginas 122/123) Acrescentaremos nosso pesar ao seu, e nós o estenderemos principalmente à liturgia dos Altos-Graus, não estudada aqui, liturgia que, todavia, menciona fumigações de incenso e de benjoim para muitos graus superiores, décimo oitavo, trigésimo, trigésimo terceiro notadamente. A catarse pitagórica, nos dizeres de Plutarco, em seu ―De Iside‖ , comportava,
antes do sono do Iniciado , certos acordes de lira e certo perfume, o kuphi 45 , do qual nos dá a receita, e que: ―... apaziguam como por encanto a pa rte sensível e irracional da alma, atenuando e desligando, como nós, as preocupações do dia, polindo e purificando, como em um espelho, aquilo que, nessa alma, é imaginativo e suscetível de receber os sonhos ....‖. O kuphi, nos conta Plutarco em seu ―De Iside‖, se compunha de uma mistura de
dezesseis ingredientes: mel, passas de uvas, junça (ciperácea dos países quentes), resina (de pinho), mirra, pau-rosa (que não é madeira de roseira, mas a madeira da physocalymnia floribunda ), séseli (gênero de umbelífera das regiões mediterrâneas), lentisco (pistácia cujo suco dá lágrimas odorantes chamadas mastique , em árabe masqueth ), betume, junco cheiroso, paciência (espécie de poligonácea, com raízes antiescorbúticas), grande e pequeno zimbro, cardamomo (espécie de amomo da Índia), e cálamo (trata-se da calamita, espécie de goma -resina odorante).
45
Leia-se ―cufi‖.
Algumas Lojas clandestinas do Rito de Memphis-Misraim 46 utilizaram, durante a ocupação alemã ou sob o governo de Vichy, um perfume composto de: Incenso pulverizado ........................................ 3 partes Mirra pulverizada ......................................... 2 partes Benjoim pulverizado ..................................... ...1 parte Açúcar em pó ................................................. ½ parte Sal de Nitro .................................................... ½ parte Total .................7 partes É esta mistura que aconselhamos às Lojas que desejam voltar aos antigos ritos, mistura facilmente realizável, de baixo custo. Ela acalma instantaneamente o sistema nervoso, acalma o mental, leva paz à alma, e sobretudo dá serenidade a uma assembléia. A LUXÚRIA A Luxúria é a capitulação, parcial ou total, ante os desejos sexuais, a recusa em manter uma disciplina racional, em seu próprio comportamento genésico, assim como nos jogos de imaginação que precedem geralmente o desejo das aproximações físicas. A liberação inconsiderada e anárquica desses impulsos permite que outros, geralmente latentes nas profundezas do ser, subam à tona e se manifestem. A objetivação destes últimos é muitas vezes f acilitada pela Curiosidade , e sob o pretexto de evitar o recalque, escorrega-se pouco a pouco pela encosta da libertinagem voluntária e consciente, e por vezes à homossexualidade47.
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Notadamente a ― Alexandria do Egito ‖ , cujas sessões ritualìsticas se realizaram secretamente, du as vezes por mês, de 1941 a 1944, em nosso domicìlio! Nessa Loja Jules Boucher (autor da ― Simbólica Maçônica ‖ ) foi recebido sucessivamente Aprendiz, Companheiro e depois Mestre. O Grão Mestre da Grande Loja de França, Michel Dumesnil de Grammont, dignou-se presidir a primeira reunião oficial dessa Loja, pouco depois da Libertação de Paris, em 1944... 47 A suposta liturgia gnóstica, falsamente atribuída à Igreja gnóstica de Lyon por A. Delmas, na Revista Internacional das Sociedades Secretas (número de 1/2/1928) é, na realidade, a dos grupos luciferianos do muito célebre Crowley! Mas os fanáticos anti -maçons e anti-semitas da R.I.S.S. decidiram atribuí-la a J ean Bricaud, a fim de desacreditar as Organizações sob sua responsabilidade (Maçonaria, Martinismo, Gnosticismo) .
Não é o caso de negar a necessidade de uma vida sexual harmoniosa e perfeitamente normal, onde o coração justifica muitas vezes o violento impulso dos sentidos. Amar é uma coisa natural para todos os seres, e a castidade não é a continência. Mas o excesso é um mal em tudo. Então a Luxúria , nos fará introduzir um certo sensualismo em todos os domínios iniciáticos onde nós, Maçons, estivermos trabalhando. Aquele que é dela escravo inconsciente será sempre a priori hostil às doutrinas e aos ensinamentos espirituais, ou cuja disciplina, intelectual e moral, lhe pareça muito severa. Ele sustentará sempre a necessidade de se comportar de maneira mais liberal com as exigências da natureza humana inferior. As religiões e as doutrinas em que a sexualidade desempenha um papel importante (tantrismo dito ―de esquerda‖, gnosticismo licencioso, vintrasismo; magia sexual, etc.) terá nele sempre um defensor. Mas esta falha se pronunciará sobretudo no domínio da facilidade: ele transmitirá, sem ponderação, as iniciações e os ensinamentos dos quais seja depositário a impetrantes não adaptados ou estranhos a essa corrente. Ele cederá facilmente os segredos iniciáticos aos indivíduos do sexo oposto, em troca de seus favores. Enfim, assim como para as ―fornicações‖ e os ―adultérios‖ espirituais reprovados em Israel por seus profetas, ele se tornara sectário de doutrinas, de iniciações, de cerimônias com freqüência diametralmente opostas. Ele não hesitará, por interesse ou prazer, ou incitado por uma simples curiosidade, em se dirigir para as formas irracionais e involutivas de iniciação, quando for levado a constatar que, materialmente, os aspectos superiores desta nada lhe dizem. O equilíbrio sexual, frenador da Luxúria , nunca implica, no entanto, na adesão a princípios e a modos de vida totalmente ultrapassados. O Maçom é, antes de mais nada, um homem livre e de bons costumes , aí esta toda a medida. A moral maçônica não poderia se acomodar ao terrível rigorismo cátaro de outrora, ao puritanismo intolerante de certas igrejas protestantes, ao integrismo católico , ao fanatismo muçulmano próprio de certas seitas. O verdadeiro Maçom deve ser um homem perfeitamente equilibrado , e equilibrado porque é razoável . Ora, seria irracional pretender fazer viver, estrita e integralmente, e contra a sua vontade , os habitantes de uma grande capital moderna unicamente de acordo com as múltiplas, e muitas vezes estranhas, leis que Moisés ditou, há trinta e sete séculos para tribos beduínas, pastoris e nômades, com a finalidade de torná-los um só povo: Israel! No Concílio Vaticano II, um dos padres conciliares achou útil lembrar que nesse domìnio nós não estamos mais ― nos tempos de São Paulo...‖. O JEJUM O Jejum consiste na redução do alimento, e isto leva à redução natural das necessidades desse gênero. Ele deve ser feito de maneira racional, para que a saúde física e moral não sofram qualquer dano. A questão não é que o Maçom se prive de uma alimentação necessária, a palavra Jejum é aqui apenas uma expressão conforme aos dizeres da antiga escolástica, e na presente exposição de maneira alguma significa a mesma coisa. No entanto, em termos de medicina, constatou-se inegáveis e excelentes resultados em dietas bem conduzidas. O Jejum não é aqui considerado como um modo de penitência, assim como acontece nas formas da prática religiosa clássica, mas como uma dieta destinada a liberar o espírito por um uso racional, moderado e harmonioso. As faculdades intelectuais e morais só poderão melhorar, a compreensão e a assimilação serão maiores. Por outro lado, segundo uma tradição muito antiga do Islam iniciático, o Jejum permite o conhecimento do mal, permite distingui-lo e evitá-lo. A JUSTIÇA
Vimos que o Cinzel encontra a sua etimologia na palavra grega que significa trinchar, cortar . Não é de admirar, pois, que corresponda na Tetractys alquímica à Justiça da qual o Gládio é tradicionalmente o emblema. O Gládio corta a Injustiça , assim como o Cinzel corta as imperfeições da Pedra Bruta. A Justiça é uma virtude que tem por objetivo fazer reinar entre os membros de uma sociedade uma harmonia de relações baseada sobre o respeito dos membros entre si e daquilo que constituí em diversos graus os seus bens próprios, morais ou físicos, espirituais ou materiais. Ela também tem por objetivo principal regular nossos deveres estritos a respeito dos outros seres. Como tal ela se distingue da Caridade , que é de espírito diferente e menos submissa do que a Justiça a normas limitativas. Ela faz reinar a paz e a ordem na vida individual, bem como na coletiva. Ela se aplica tanto aos bens temporais como à reputação e à dignidade espiritual e moral do próximo. Ousaríamos dizer que em nenhum caso o Maçom digno deste nome poderia se identificar com o explorador de subúrbio, pobre imitador de uma corja que ele admira em seu inconsciente, mas que sua falta de audácia impede, felizmente, de imitar? Se efetivamente é legítimo, e mesmo desejável, ver o Maçom apelar ao fraternal apoio de seus Irmãos nas dificuldades da vida (pois a fraternidade maçônica não deve ser uma vã palavra), isto jamais deve ocorrer a expensas de outrem e ninguém deve achar -se lesado. Por outro lado, é na participação regular e legitima no governo da cidade, como cidadão, que o Maçom poderá colocar em prática a virtude da Justiça assim como ela lhe foi inculcada e expressada em Loja por nossas tradições e nossos princípios. Um costume, que algumas Obediências consideram imprescritível, é o de que toda exposição, e toda discussão que se seguir, sejam interditadas pela Maçonaria de Tradição se abordarem algum assunto político ou religioso No primeiro caso é recusar todos os trabalhos históricos, pois eles implicam freqüentemente em uma conclusão, explícita ou implícita, que é de fato uma tomada de posição política. No segundo caso, e riscar dos programas de estudos tudo o que tem a ver com religiões comparadas, com a história das crenças, e renunciar à análise ou exposição de alguns dos mais profundos sistemas metafísicos concebidos pelo Homem, tais como a Kabala, a Gnose, etc. É deixar estagnar-se o espírito de nossos jovens Irmãos numa mediocridade intelectual, indigna da Franco-Maçonaria. E se, por outro lado, ante a necessidade destes estudos, constituirmos cenáculos paralelos para o estudo destas matérias, estas organizações é que serão iniciáticas e a Maçonaria se tornará inútil. No caso da recusa obrigatória de todo estudo político em Loja se inculca no inconsciente do jovem Maçom, sem que ele se dê conta disto, uma espécie de abdicação inconsciente e progressiva de seus deveres de cidadão. Recusar-se-á à própria Maçonaria o direito de trabalhar ativamente na edificação do Templo Perfeito que ela pretende, aliás, ter recebido a missão de realizar aqui em baixo. Há provavelmente para este uso uma muito antiga e interesseira razão de ser; não nasceu sozinha no século décimo oitavo! De fato, a primeira maçonaria inglesa era católica e ligada à dinastia dos Stuards. Jurava-se fidelidade ―a Deus e à Santa Igreja‖. A segunda maçonaria inglesa (depois da queda dos Stuards) foi protestante, ligada à casa de Orange. A atual é anglicana e ligada à casa de Hannover (Windsor atualmente). Ora, num caso como noutro há uma única orientação política, a do soberano, então absoluto. Não se discute, nem para aprovar, nem para reprovar. O rei reina , seus ministros governam em seu nome. Falando dele, dizem: O rei meu mestre... Não há discussão religiosa possível, pelo próprio fato da existência de uma religião de estado,
apoiando e legitimando o soberano, o qual agradece aplicando seus dogmas ou, sendo necessário, impondo-os pela força. Pois ele o stenta, entre outros tìtulos, o de ― Defensor da Fé ‖. E as Lojas estão abundantemente guarnecidas de ministros desta mesma religião48. Não estamos mais nessa época; os Maçons não são mais súditos, mas cidadãos. Ao menos em França. E concordaremos em que os membros de uma Loja conservam o direito imprescritível de abordar, ocasionalmente e quando a necessidade o exigir , desde que as formas rituais de Abertura dos Trabalhos tenham sido escrupulosamente observadas (com a finalidade de constituir o clima necessário a uma ação eficiente do espírito maçônico ), os grandes problemas políticos ou sociais que a eles se impõem. O reino da Igreja não é deste mundo mas isto não impede, convenhamos, que se atente para a sorte daqueles que sofrem ou para a melhoria da cidade terrestre. Por que seria diferente na Franco-Maçonaria? Eis porque nós continuamos persuadidos de que a ação inteligente de Maçons que tiverem altamente desenvolvido em si mesmos, e no comportamento coletivo de suas Lojas, as virtudes de Prudência , de Temperança, de Justiça e de Força , só poderá ser benfazeja e das mais aproveitáveis para a Cidade. Em todo caso, ela não seria mais perigosa do que a das oligarquias financeiras, ou a das ideologias políticas ou religiosas do mundo profano... Esta posição é a do cristianismo clássico, aliás reivindicada pelos Maçons de obediência anglo-saxônica: ―Procurai a paz da cidade na qual Eu vos exilei, e rogai ao Sen hor por ela, pois que vossa paz se encontra na sua.‖. (Jeremias : 29:7). ―Eu vos conjuro mais do que todas as coisas a que sejam feitas súplicas, preces,
votos, ações de graças, por todos os homens, pelos reis, por todos aqueles que estão elevados em dignidade, a fim de que tenhamos uma vida pacífica e tranqüila...‖ (1ª Epístola de Paulo a Timóteo 2:1-2). Vê-se que a Bìblia, ―terceira jóia‖ na Loja de acordo com a tradição maçônica anglo-saxônica, de modo algum ensina que as comunidades devam se desinteressar do que é temporal. A FACULDADE DE PIEDADE A palavra Piedade vem do latim pietas , significando não somente a idéia de respeito para com as entidades metafísicas, mas primeiro e antes de tudo, a noção do dever. Assim, a Piedade maçônica evocará a ternura, o amor, a afeição, tanto para com o nosso próximo como para com os nossos Irmãos. Este será também o amor, pacífico e justificado, por nossa cidade natal, nossa pátria, suas tradições e seus ideais. Igualmente a Piedade maçônica nos convidará a tratar com todos os outros homens, em nossas relações exteriores com eles, não tomando em consideração a sua raça ou nacionalidade, segundo manda o bem superior que nos une a todos, mais ou menos, por toda a Terra. A Piedade é seguramente aquilo que coloca o selo mais perfeito nas relações exteriores que os homens podem ter e devem ter entre si, tanto no plano familiar como no plano social. Esta faculdade é o coroamento da virtude de Justiça e de todas as que se anexam a ela. Nós a identificaremos com o sentido do Dever M açônico.
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Não existe atualmente qualquer monarquia que não esteja na obrigação de defender uma ―religião de estado‖. A atual rainha Elizabeth traz, desde a sua sagração, os tìtulos tradicionais de ―Rainha da Grã Bretanha, da Escócia, da Irlanda, dos Territórios de Além Mar, Condutora da Comunidade, Defensora da Fé‖. Ela é o chefe temporal da Igreja Anglicana.
No domínio da Piedade Maçônica ou sentido do Dever, se situa o problema do Juramento . Urna vez que existe em realidade, o que quer que pensem os Maçons, um Segredo Maçônico , mesmo que este Segredo não seja revelado em Loja ao Maçom, pela interpretação das formas iniciáticas tradicionais, virá o tempo em que ele o descobrirá, como conseqüência do seu próprio desenvolvimento interior. É, pois, indispensável encarar esta eventualidade e assegurar a perpetuação do silêncio maçônico a seu respeito. Por outro lado, não é de maneira alguma imoral prestar juramento de silêncio. Os bispos católicos prestam um, solenemente, no dia de sua sagração. Trata-se aí de numerosas questões, e igualmente do segredo: ―Quanto ao segredo que eles (os Papas ) me tiverem confiado, por eles próprios, pelo seu Núncio ou por escrito, conscientemente eu não o revelarei a ninguém em seu prejuìzo...‖ ( Pontifical : Sagração do Bispo, juramento canônico, parágrafo 2). Ainda mais, e neste mesmo capítulo do Juramento Maçônico , é Incluído algumas vezes o de fidelidade para com o Chefe de Estado, em alguns Ritos: Emulação, York, Escocês Retificado. A priori, não há inconveniente, o Maçom sempre deve ser um bom cidadão, não participando de nenhum complô político. Na aplicação, pode às vezes ser diferente. Onde começa e onde termina esta fidelidade? Basta que um Chefe de Estado não persiga a Franco-Maçonaria, para que o Maçom deva ficar indiferente ante todas as demais formas de intolerância? Teria sido o suficiente que Hitler não tivesse atacado as Lojas para que os Maçons alemães lhe devessem fidelidade, em virtude do seu juramento? Esta fórmula é perigosa. Ela fez de todo o episcopado alemão, de 1933 até 1945, o cúmplice tácito de Hitler, porque todos os bispos alemães, em conseqüência da Concordata assinada entre o Vaticano e o Governo Nazista, haviam prestado juramento de fidelidade ao regime hitleriano. Ora, não esqueçamos que desde 1933 os campos de concentração foram instaurados na Alemanha com seus sinistros pijamas de uniforme: vermelhos para os socialistas e para os comunistas, rosa para os homossexuais, azuis para os judeus. Estes campos, repórteres da grande imprensa internacional (notadamente franceses, e o do Jour-Echo de Paris em particular) foram convidados a visitá-los e relataram em seus jornais. Então? Sem dúvida, o Maçom verdadeiro deve recusar-se a participar de qualquer complô que se proponha a modificar pela violência a forma de um regime político. A este respeito e segundo sua própria consciência, deve utilizar as formas regulares e democráticas de toda consulta popular. Mas se estas formas não existem mais? Se por intimidação, por astúcia, concussão ou violência, as correntes políticas se apoderaram do Poder, e se a opinião pública é iludida, ou submetida a uma propaganda intensa? Neste caso a Franco- Maçonaria deverá se reportar ao documento mais comovente e o mais nobre que ela jamais propôs aos homens, a imortal ―Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão‖, promulgada pela França em 1789. Poderá aì ler que: ―Contra a Tirania e a Opressão, a Insurreição é o mais sagrado dos deveres... ― O DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS OU PSICOLOGIA O Discernimento dos Espíritos (discretio spiritum na antiga escolástica medieval) é o que se chama igualmente um carisma . Quando esta faculdade secundária está finalmente desenvolvida no espírito do Maçom, ela lhe permite penetrar bem rapidamente, às vezes quase instantaneamente, no segredo dos corações, e distinguir o que é corrompido, perverso ou mal orientado daquilo que é puro, desinteressado e benfazejo. Intuitivamente o Maçom perceberá no jovem Irmão o que o detém na senda realmente iniciática, ele discernirá os obstáculos que se opõem ao seu avanço intelectual e moral. E pode se admitir que esta faculdade nele se desenvolverá paralelamente à Faculdade de Conselho . Nós a identificaremos, em nossa época e no plano estritamente intelectual da Maçonaria, com a Psicologia.
A MÚSICA A Música esta ligada, por efeito deste estranho simbolismo da ― Scala Philosophorum ‖ ao Dom de Conselho e ao do Discernimento dos Espíritos. Vimos o que é necessário entender por isto. Em todo caso é curioso sublinhar que a expressão ―conhecer a música‖ designa exatamente as partic ularidades destas duas faculdades! Prestígio misterioso da linguagem ―de meias palavras‖. Seja como for, vimos precedentemente que a Música, no clima pitagórico do mundo antigo, designava não a ciência das harmonias sonoras, mas as nove Ciências essenciais personificadas pelas nove Musas. É inegável que o Maçom deve ser um homem instruído, e instruído ao máximo. Clemente de Alexandria, grande admirador de Platão, nos diz em seus ― Stromates ‖ que ― se tivéssemos que escolher entre a Salvação e a Gnose, nosso interesse seria o de escolher a Gnose... ‖ (do grego gnosis — conhecimento). A tradição judaica nos enuncia a mesma coisa: ― Meu povo é destruído porque lhe falta a Gnose! E, pois que rejeitaste a Gnose, Eu te rejeitarei e tu serás despojado do Meu Sacerdócio... (Oséas 4:6). Acontece o mesmo com o Cristianismo verdadeiro: ―Infelizes de vós, doutores da Lei! Vós possuíeis as chaves da Gnose, e vós não vos servistes delas para vós mesmos, mas para impedir que os outros entrassem. ... (Lucas 11:52). Eis-nos aqui, longe de certa mística, beata e simplista, erigindo a Ignorância em virtude salutar. Quanto a determinadas correntes, reacionárias ou conservadoras, que acham que o povo sempre sabe o bastante, o problema nos parece resolvido pelas citações de uma epítome escritural à qual estes mesmos meios se referem! O termo Música vem do próprio nome das Musas . Este último é originário do grego mousa , particípio presente do verbo maomai , forma primitiva de maino : exaltar-se, pensar, desejar, compreender. O que existe de mais significativo? Não se fala da ― alegria de conhecer ‖? Uma outra origem é às vezes atribuída ao termo Música . Mousikos derivaria de mousa : musa, derivado de muos : fábula, alegoria, esoterismo. Ora, a Alquimia, arte esotérica por excelência, veremos em seguida, era chamada na Idade Média, a arte da música . Fazia-se alusão aí aos aspectos teúrgicos particulares desta Arte, que tinha por divisa: ― Or et Labor ‖ , trabalhar e orar. E efetivamente, a vida interi or é tão importante para o alquimista, como as atividades operativas, de acordo com os velhos autores. É por isto que uma das admiráveis lâminas do Amphitheatrum Sapientiae Aeternae de Henry Kunrath (1610) nos mostra, no laboratório do filósofo, uma mesa coberta de instrumentos de música. Alusão ao papel da vibração sonora , aliada ao verbo humano, nas operações da Arte. Por isso, no esoterismo Islâmico dos sufis, o Vinho é o símbolo da Gnose , pela embriaguez (alegria de conhecer) que ele proporciona.. É de se notar que o Pentagrama (Estrela de Cinco Pontas), imagem do Conhecimento (Gnosis ), constituí a figura geomântica chamada Loetitia : a Alegria .
4 - A ALAVANCA O FOGO DOS FILÓSOFOS (Esforço para a realização) Sabe-se em que consiste uma Alavanca : é uma barra de ferro ou aço, longa, inflexível, fixa em um ponto de sua extensão, chamado Ponto de apoio , e destinada a
levantar, mover e sustentar um corpo muito pesado a ser manipulado pelo homem. Seu nome provém do verbo levantar , que tem vários significados, dos quais alguns são aparecer, nascer, começar, emergir. Assim, a Alavanca é efetivamente o símbolo do Mestre futuro que se ergue no Aprendiz. Levantar tem igualmente o sentido de descobrir, evocar, obrigar a se manifestar . (Diz-se em jargão de policia: ―levantar a lebre‖, e a prostituta ―levanta um cliente‖) . A analogia da Alavanca com o Fogo e a Lu z é aqui bastante evidente. Todavia, é um instrumento mais perigoso do que os outros, na enéada dos Instrumentos , pois permite manipular pesadas cargas, com as quais convém tomar cuidado. Se ela pode ampliar consideravelmente a potência de manipulação do Aprendiz , o perigo de acidente, e a gravidade deste, estão na razão direta do tamanho da massa colocada em movimento. Eis as correspondências analógicas da Alavanca: Sentido ................................................ a Vista Vício Capital ........................................ a Preguiça Cor do Prisma ..................................... Alaranjado Forma Ascética ....................................a Vigília Virtude Cardinal .................................. a Força Faculdade Espiritual ............................a Coragem, ou Força Menor Carisma Secundário ..........................a Perspicácia (o Profetismo da antiga escolástica canônica Artes Liberais ............................................. a Astronomia Elemento ............................................. o Fogo Temperamento .................................... Bilioso Humor ................................................. a Bílis Qualidade Elementar ........................... Combinação do Quente e do Seco A
VISÃO
Correspondendo analogicamente ao Fogo e portanto à luz que dele se desprende, ao calor que dele irradia, a Alavanca tem por correspondência a Visão . Sabe-se em que consiste a Visão : na função sensorial pela qual os olhos colocam o homem e os animais em relação perceptìvel com o mundo exterior por intermédio da luz. Não se diz ―pesar (avaliar) com o olhar‖? Não se fala de um ―olhar pesado‖? Antes de mais nada são os espetáculos que podem despertar o desejo sexual que devem ser evitados. É necessário não cair em excesso nesse campo. E Clemente de Alexandria nos diz com razão: ―Não devemos ter vergonha de órgãos que a Providência não teve vergonha de nos dar ...‖ Mas há em toda parte espetáculos mais malsãos e mais grosseiros que o de nudezes mais ou menos harmoniosas. Um belo nu é uma visão de arte, um feio é um espetáculo degradante. Mas o que dizer daqueles que apelam aos sentimentos e aos instintos mais perigosos do ser humano, à sua violência e à sua crueldade: rinhas de galos, corridas de touros, caça moderna, em que Joseph Prud‘homme, burguês que se tornou caçador, ignorando as velhas tradições cavalheirescas da caça de outrora, não sabe que existe uma fanfarra que tem o belo nome de ―retirada da graça ‖ , que as trompas de c aça soavam quando o cervo ou o javali haviam combatido bem; batidas cinegéticas que são apenas pretextos para massacres de animais inocentes, sem qualquer justificação ou desculpas a não ser as bebedeiras que freqüentemente as acompanham; execuções capitais, etc. Com menor gravidade, as lutas de boxe, de catch, são freqüentemente espetáculos pouco elevados para o homem, e o Maçom que deseja se elevar moral e espiritualmente fará melhor desinteressando-se desses espetáculos.
Para o Maçom realmente esoterista a visão de certos livros, bibliotecas, coleções de objetos, quadros, pode excitar a Curiosidade, a Inveja, a Avareza : esquemas misteriosos, gravuras sabiamente ocultadas, textos enigmáticos, etc. Pode-se acrescentar a visão de certas alfaias e ornamentos mais ou menos sedutores e pomposos, que incitarão a Inveja e o Orgulho , e é certamente um costume muito sábio que exige que sejam usados nos trabalhos maçônicos somente as decorações do Grau em que se trabalha. Um Maçom, digno deste nome evitará, pois, se apresentar com alfaias maçônicas excessivamente ricas. Juntar-se-á facilmente à ascese da Visão determinadas leituras imprudentes (aspecto da Gula , se se desejar muito em seguida adquirir os textos em questão). Tomar-se-á cuidado para evitar também toda leitura que possa fazer surgir em nós a Cólera (se nos opusermos com violência, interior ou exteriormente, às idéias expressas), ou a Preguiça (se a leitura nos incita a um deplorável quietismo). Há jornais e livros que são verdadeiros venenos psíquicos pelas reações que suscitam violentamente em nós: imprensa extremista religiosa ou política, ou que incite ao ódio contra outras categorias de cidadãos; campanhas com maior ou menor fundamento que tentam denegrir outrem; há escritos que são, insidiosamente, verdadeiros apelos ao homicídio. A PREGUIÇA A Preguiça convida à posição horizontal. Ao contrário, a atividade subentende o estar de pé, e nós vimos que a Alavanca tira sua etimologia do verbo levantar . A Preguiça é então o vicio contrário ao simbolismo deste Instrumento que evoca inevitavelmente o esforço máximo. A Preguiça incitará o Maçom tomado por ela, a uma espécie de quietismo que o fará considerar o seu aperfeiçoamento moral e intelectual como dependente de uma simples presença aos trabalhos de sua Loja, na inação de seu cérebro e na ausência de toda obra ativa. Ele achará inútil participar ativa e seriamente no estudo dos assuntos colocados na ordem do dia de sua Loja. Por uma falsa modéstia, ele sempre se recusará a aceitar um cargo, uma incumbência, deixando aos outros o cuidado de alimentar as sessões com conferências ou de assegurar a vida ritualística da Loja. Ele desempenhará em sua Oficina o papel do zangão na colméia. Suas ausências serão geralmente justificadas pelo mau tempo, pelo rigor da estação, ou então, ao contrário, pela satisfação de uma viagem, de maneira muito profana. E como não ousará apresentar estes pretextos com franqueza, ele praticará, nesta circunstância, a Mentira , o que agravará a sua Preguiça. No mundo profano, ele ficará indiferente aos males e às penas dos seres que o rodeiam ou, se ele os percebe, nada fará para os aliviar, achando que as provas que oprimem os outros são o resultado fatal, eqüitativo, de seus próprios erros, no passado. Por fim, ele se desinteressará de si próprio, entregando ao acaso ou à Sociedade a tarefa de lhe facilitar o acesso a uma perfeição moral que ele acha terrivelmente fatigante assumir por si mesmo. Se pressionado, lhe ocorrerá sustentar que a Ignorância é uma via tão segura quanto o Conhecimento. A VIGÍLIA A Vigília é o fruto do Jejum , aquilo que denominamos Dieta , sem considerá-la uma mortificação, mas um ―regime‖. De fato, a Dieta afasta o sono pesado e inútil, conseqüência de uma alimentação muito rica, muito pesada, e de refeições muito abundantes. Em nossa vida moderna, tão sobrecarregada, a Vigília permitirá ao Maçom o trabalho solitário, à noite, na calma de sua casa quando todos dormirem. Há duas espécies de Vigília : a) a Vigília do coração, que procura instintivamente a contemplação interior de imagens mentais que manterão, na alma do Maçom digno desse nome, as noções de ideal, únicas capazes de elevá-lo; b)
a Vigília do olho (visão), que a realiza e objetiva no coração do Maçom, esse
coração que coração que é simultaneamente seu Templo Interior em Interior em elaboração permanente e o Ovo Filosófico onde Filosófico onde se gera o novo homem. Só a Vigília proporciona, segundo o esoterismo islâmico, o conhecimento da Alma. Ela tem por objetivo a Meditação . É um processo de introspecção de diversos problemas, particularmente importantes para o Maçom, e que se apresentam a ele na caminhada iniciática. A Meditação tem como elementos de base a Razão , a consideração dos elementos do problema e de seus argumentos próprios. Ela repousa necessariamente sobre um perfeito conhecimento da Via Maçônica , sobre uma comparação eqüitativa e racional dos argumentos analisados e sobre uma independência serena a respeito de todo dogma formulado por Homens . É na prática da Meditação racional que o Maçom devera lembrar-se de que foi admitido no Templo como jovem Aprendiz somente porque era considerado ―livre e de bons costumes ‖. ‖ . A independência a respeito de to do dogma formulado por homens não consiste em uma cômoda condescendência para consigo mesmo49. A
FORÇA
A Alavanca subentende Alavanca subentende o esforço máximo, a virtude cardinal correspondente é a Força . ―Dai -me uma alavanca, dizia Aristóteles, e levantar ei o mundo...‖ A Força é uma virtude que tem por finalidade a perfeição de ordem moral da parte afetiva e sensível no Homem. Ela consiste em manter-se contra os maiores temores, bem como em moderar os movimentos de audácia mais ousados, a fim de que o Homem, em tais ocasiões, não se desvie do seu dever. a) b) e) d) A
Ela se manifesta de diversos modos, que são: a magnanimidade, que consiste em fortalecer a esperança a respeito das obras grandes e belas que se desejaria realizar; a magnificência, que consiste na disposição da parte afetiva que afirma ou regula o movimento da esperança a respeito daquilo que é árduo á rduo ou difícil de cumprir; a paciência, que tem a propriedade de suportar suportar com estoicismo as tristezas que tivermos de enfrentar nesta vida, de suportar mais particularmente a intervenção hostil dos outros homens em suas relações conosco; a perseverança, que consiste consiste em combater o temor pela duração de um esforço esforço ou pelo seu insucesso. FACULDADE DE FORÇA
Esta faculdade, que a antiga escolástica medieval denominava o dom de Força , é na verdade a Coragem. Esta faculdade volta-se aos males e aos perigos que absolutamente não estão no poder do Maçom evitar, enquanto que a virtude de Força se dirigia às ações que ele tinha liberdade do empreender ou não. Assim, a Coragem lhe Coragem lhe permitirá suplantar a dor que acompanha a separação de todos os bens e as alegrias da vida ocasionada pela morte ainda que não ofereça um bem superior que os compense e os supra. Esta substituição efetiva, fácil e desejável, que a Coragem (ou Força da Alma ) permite fazer entre a noção de repouso, de liberação, de fim de um combate e a de abandono dos bens materiais contingentes é na verdade a vitória do Maçom sobre a morte e sobre todos os terrores que ela e la inspira. 49
O Maçom Maçom deve ser ser liberal a esse ponto. Parece-nos difícil admitir que um profano profano intimamente submetido a um ― diretor de consciência ‖ pos sa ser um homem livre e, assim, ser recebido na Maçonaria.
Por isso que se usa dizer de um Maçom morto, que ele ― passou para o Oriente Eterno ‖, ‖ , pois que durante a sua vida, e mesmo na Ordem Maçônica , esta expressão
exprime a idéia de uma glorificação, da consa gração do mérito. Sabe-se efetivamente que é privilégio dos Mestres que preencheram as funções de Veneráveis tomarem lugar ao oriente de uma Loja, ao lado daqueles que estão em exercício. E estaremos lembrados igualmente de que os primeiros têm direito, na Franco-Maçonaria de Tradição, ao título de ―Mestres Passados ‖, ‖ , termos que designam os ―condutores invisìveis‖ da Ordem Maçônica , na antiga Maçonaria do décimo oitavo século, tão plena de tradições ocultas e místicas. A
PERSPICÁCIA
A antiga escolástica medieval religiosa denominava esta faculdade secundária o carisma de profecia (prophetia). (prophetia). Trata-se de um dom, de uma faculdade que nos permite perceber no futuro ou no presente, por uma espécie de precognição que repousa sobre a experiência, o raciocínio e a intuição, fatos que normalmente devem se realizar, ainda que o vulgo não seja capaz de distinguir os sinais precursores. A mesma faculdade permite igualmente adivinhar com antecedência o comportamento e as reações de um indivíduo ou de uma coletividade, colocada em presença de uma situação ou de acontecimentos particulares. E também encontrar a gênese oculta ou os motivos secretos de tais acontecimentos passados. Ainda uma vez, e somente no quadro maçônico, não se trata aqui de qualquer ―magia‖, mas simplesmente de um sentido superior, a intuição , sustentada pelo raciocínio e esclarecida pela experiência . É um fato bem averiguado e certo que aqueles que, por uma ascese e por uma grande elevação de alma, souberam s e libertar do fardo do mundo e da escravidão das paixões, estes lêem facilmente na alma de seus interlocutores. A ASTRONOMIA Na linguagem tradicional da Maçonaria, os sete Oficiais principais da Loja se chamam ―sete luzes‖. São eles: o Venerável, o Primeiro Vigilante, o Segundo Vigilante, o Orador, o Secretário, o Tesoureiro, o Hospitaleiro . Estas sete ―luzes‖ lembram igualmente os sete Planetas da antiga Astronomia (antes de ser descoberto Urano, Netuno e Plutão), as sete estrelas da Grande Ursa, o ―guardião do Norte‖ de todas as antigas civilizações. lu z , e ―Não perder o norte‖ é igualmente não perder a luz. Assim, associada à noção de luz esta à do Fogo , é lógico que a ciência das estrelas seja associada analogicamente à Alavanca , regida pelo elemento Fogo. A Astronomia, como indica a origem grega de seu nome ( aster aster - astros, e nomos - lei), é a ciência dos movimentos dos corpos celestes. Freqüentemente é designada pelos termos de Uranografia e Uranografia e Cosmografia a Cosmografia a parte puramente descritiva da Astronomia. O Maçom sempre terá interesse em se manter ao corrente dos diversos progressos alcançados nesta ciência, a mais bela de todas, pois que ela implica no conhecimento da maior parte das demais: matemática, física, química, ótica, etc. Não é sem razão que a terminologia maçônica dá às velas rituais acesas em Loja durante uma sessão, o nome de estrelas . O seu número varia com o grau em que a Loja trabalha no dia. dia . É de nove (3x3), ou doze (4x3), ou quinze (5x3), dispostas de determinada maneira. Algumas são fixas, outras podem tornar-se móveis e preceder a entrada solene em Loja d e um alto dignitário, levadas por determinados Oficiais, enquanto os demais Maçons presentes constituem a célebre ―abóbada de aço‖, com o auxílio das espadas cujas pontas devem estar reunidas três a três (e três (e não duas a duas). A Astronomia Moderna está efetivamente na base dos trabalhos de Einstein, explicando e conciliando os de seus predecessores imediatos. São estes trabalhos que
permitem ao Maçom fazer uma idéia do Universo, um pouco mais precisa do que a que era a de nossos pais. Será sempre difícil para um Maçom cujo hobby seja a ciência do Céu se apaixonar por assuntos grosseiros ou totalmente profanos. A visão do firmamento estrelado é geradora, invariavelmente, dos pensamentos mais elevados. De todas as ciências a Astronomia é a que pode melhor esclarecer-nos sobre nosso valor relativo, fazer-nos conhecer melhor as relações que ligam nosso globo terrestre ao resto do Universo. Sem ela, como testemunha a história dos séculos passados, nos seria impossível saber onde estamos, quem somos, nem estabelecer uma comparação instrutiva entre o lugar que ocupamos no espaço e a totalidade do Universo. Sem ela ignoramos ao mesmo tempo a extensão real de nossa pátria cósmica; sua natureza e a nebulosa à qual ela pertence. Presos nas fraldas tenebrosas da ignorância, não podemos fazer a menor idéia da disposição geral do universo. Então um nevoeiro espesso cobre o horizonte estreito que nos encerra, e nosso pensamento se torna incapaz de se elevar além das preocupações mesquinhas da nossa vida diária, de franquear a esfera estreita traçada pelos limites da ação de nossos sentidos. É por isto que o Maçom, a quem a ciência do Céu terá assim transfigurado, poderá fazer suas as palavras do grande Ptolomeu de Pelusa que, ―prìncipe dos astrólogos‖ nos dizeres da tradição, foi igualmente o melhor astrônomo da sua época: ―Eu sei que sou mortal e que minh a carreira aqui em baixo não poderá ser de longa
duração. Mas quando percorro em espírito o caminho dos Astros, então meus pés não estão mais ligados ligados à Terra! Assentado perto de Zeus como os Deuses o estão, eu me nutro da ambrosia celeste... ― (Cf. Ptolom eu de Pelusa: ―Sintaxe Matemática‖ ou o ―Almagesto‖).
5 - O NÍVEL O SAL DOS FILÓSOFOS (Serenidade na aplicação) A palavra latina que designa o Nível é libella , designando o nível d’água (que não é o usado pelos Maçons operativos), ou ainda libra , que significa uma balança, um livro, uma unidade de peso, o contrapeso e o equilíbrio, ou ainda æqualitas , significando a igualdade. É certamente esta palavra latina que expressa melhor o Instrumento simbólico que figura nos Rituais Maçônicos. E realmente o Nível maçônico outra coisa não é que um Esquadro Justo cujo ângulo superior é de 90 graus. Ele é composto de um triângulo de madeira, cujo vértice constitui um ângulo efetivamente desse valor (90º), e do ápice pende um fio a prumo que divide em duas partes iguais a base do triângulo e constitui assim a bissetriz do ângulo superior do Nível. Quando o chumbo pendente da ponta do fio se justapõe exatamente ao encaixe que designa o centro da base do triângulo, indica que a base está perfeitamente horizontal. A imagem do Nível Maçônico , freqüentemente encimado por um boné frígio , é muito usada como paradigma da própria Franco-Maçonaria, de um lado por ser antes de tudo um triângulo, imagem muito popularizada da própria Ordem , e por outro lado porque exprime esotericamente a Igualdade, princípio essencial da Franco-Maçonaria Especulativa, e por conseguinte o retorno a uma situação de base , à posições originais , a uma ordem inicial , a uma conclusão. Vimos que a palavra libra , designando o Nível , significa balança e evoca assim a idéia de Justiça , de retribuição . Era por vezes substituído pelo Corde l. Ora, o emprego do Cordel . acessório de nivelamento empregado sobre as grandes superfícies em lugar do Nível , estava ligado no mundo antigo a um ritual particular, como o ato primeiro (e magicamente perigoso) das escavações de fundação. Realmente, o Nível e o Cordel estão ambos muito próximos de um simbolismo de destruição daquilo que é, de substituição, renovação, retorno a um estado inicial incondicionado. É por isto que a tradição judaico-cristã emprega esse simbolismo no mesmo sentido: “Eis o que diz o Eterno, o Deus de Israel. Eu farei vir sobre Jerusalém e sobre Judá as desgraças que ensurdecerão os ouvidos de qualquer um que ouvir a descrição. Eu estenderei sobre Jerusalém o Cordel de Samaria e o Nível da casa de Achad 50 . E eu limparei Jerusalém como um prato que se limpa e se vira de baixo para cima depois de o haver limpado... “ (II Reis 21:13). “Eis que as torrentes de Edom serão mudadas em pez, e sua poeira em
enxofre. Sua terra será como a do pez que queima, sem extinguir-se nem de dia nem de noite. E o fumo se elevará eternamente pois, de época em época será desolada... Estender-se-á aí o Cordel da desolação e o Nível da destruição... “ (Isaias 34:9-12) Oswald Wirth soube reencontrar involuntariamente esse simbolismo espantoso do Nível em seu Livro do Companheiro: “O Primeiro Vigilante (cujo emblema é o Nível), é o guardião desse ardor
laborioso, que ele estimula sempre que diminua. O Segundo Vigilante contrasta com o Primeiro por sua doçura. Ele compreende tudo e sabe desculpar aquilo que é desculpável. Constrangido a confessar uma falta, o iniciando se dirige a ele com confiança...” 50
Samaria e o reino de Achab eram os adversários de Israel. Sua vitória sobre Israel era então vista como um castigo divino. Nivelavam-se as cidades vencidas.
Vê-se que o Primeiro Vigilante representa em Loja o Rigor e o Segundo Vigilante, a Misericórdia. Eis as correspondências analógicas do Nível: Sentido ..................................... a Audição Vício Capital ........................... ..a Inveja 51 Cor do Prisma ......................... .o Amarelo Forma Acética ........................ ..a Pobreza Virtude Teologal ..................... ..a Caridade Faculdade Espiritual ............... .o Dom da Sabedoria Carisma Secundário ................ o Dom da Fé (ou da Persuasão) Artes Liberais .......................... .a Gramática Elemento da Obra .................... o Sal dos Filósofos A AUDIÇÃO A Audição e aquele dos nossos cinco sentidos pelo qual nós recebemos os sons. No quadro da ascese espiritual, intelectual e moral própria da iniciação maçônica, a disciplina deste sentido nos incitará a nada dizer nem ouvir que seja contrário à Caridade, virtude à qual este sentido está ligado dentro da Tetractys alquímica rosacruciana, à Dignidade dos costumes , à Modéstia . Ainda mais, dentro do quadro da Caridade , nada dizer nem fazer que desperte em outrem, ou em nós mesmos, qualquer eco que possa suscitar um desfalecimento moral. Evitar-se-á, pois, relatar com detalhes fatos que possam desencadear em outrem a Cólera, o Rancor, a Inveja e a Luxúria. Há ainda um aspecto particular da disciplina da Audição sobre o qual temos que chamar a atenção de Irmãos que tenham recentemente entrado na FrancoMaçonaria. É a necessidade, imperiosa, absoluta, na qual se encontram, pelo próprio fato de terem entrado na senda iniciática, de ouvirem expor opiniões, teorias, hipóteses que possam ofender suas antigas opiniões e crenças, com total e sincera serenidade. Nós nos dirigimos aqui muito particularmente a alguns Maçons jovens que, tendo pertencido ou freqüentado anteriormente ambientes de uma orientação filosófica ou religiosa particular, bem como àqueles que, ligados a uma das grandes religiões contemporâneas, são levados a encontrar em Loja Irmãos de crenças ou de opiniões diametralmente opostas. Nós conhecemos um jovem ocultista desejoso de tomar-se Maçom que se indignou porque foi colocada em dúvida a historicidade do Cristo! Nós lhe respondemos que nós mesmo, Maçom espiritualista e cristão, achávamos que sua indignação não podia ter manifestação em Loja, pois que ele poderia chocar do mesmo modo a outrem por sua opinião nesse terreno e que ele deveria escutar com a mesma serenidade uma exposição a favor e uma exposição contra esta mesma historicidade. É realmente próprio de um Maçom digno deste nome expor cortesmente, sem chocar nenhum de seus Irmãos, o que ele crê ser verídico, e ouvir em seguida a refutação de sua exposição (refutação que deve igualmente ser cortês e fraternal) e admitir em seguida o valor (se valor houver) com toda a objetividade. Enfim, e sempre no terreno da Audição, o Maçom banirá o tumulto em geral, ambiente no qual a alma não poderia se encontrar, nem se conhecer; igualmente, as músicas de dança discordantes e inarmônicas ligadas a uma determinada moda, particularmente excitadoras do elã da sexualidade animal; ou aquelas por demais 51
Observa-se, aliás, que o Amarelo é tradicionalmente atribuído, na Simbólica das Cores, ao Ciúme e à Inveja, e que certas formas de reivindicações excessivamente igualitárias são suscitadas, não pela noção de Equidade e de Justiça, mas, muito egoisticamente, pela simples Inveja .
marciais, dissolventes de toda espiritualidade apaziguante: marchas militares, canções políticas, etc. A INVEJA O Nível subentendendo igualdade e nivelamento (no sentido de destruição e renovação), o que implica em abaixamento do Orgulho desejoso de se elevar acima do conjunto 52, o defeito que lhe está intimamente ligado é a Inveja. A Inveja levará o Maçom, insuficientemente iniciado, a faze-lo desejar não somente os primeiros lugares e as pseudo-honras ligadas aos cargos em Loja, mas ainda e muito rapidamente o acesso aos graus superiores. Para tanto, às vezes, ele não hesitará em retardar, e mesmo impedir, o avanço de outros Irmãos, quando percebe em alguns deles uma superioridade que possa eclipsar a sua. Ele calará sobre as tradições, os ensinamentos, os livros e os documentos que possam favorecer os outros ou diminuir suas próprias chances de acesso aos cargos e aos graus superiores e assim retarda a sua ascensão. Ele fará por possuir tudo aquilo que os outros Irmãos possuem, considerando corno ofensa e injustiça que possa haver alguma coisa que ele próprio ainda não possua, ainda que de antemão saiba com certeza que nunca se servirá daquilo, até mesmo por estar intelectualmente em oposição a ele. É assim que as vezes podem ser encontrados em certas Lojas, Maçons de um real valor intelectual e moral, e que são literalmente mantidos, além do prazo normal de espera, nos graus de Aprendiz ou de Companheiro unicamente pela inveja de alguns pseudo-Irmãos. Que eles se consolem, considerando que o mesmo acontece nas grandes Igrejas, em toda parte neste Mundo muito imperfeito o mal ladeia o bem, o vício acompanha a virtude, e em toda parte os maus reprimem os bons. A
C A R I D A D E:
O Nível , subentendendo igualdade e nivelamento , implica em partilha , primeiro aspecto da Caridade . Aqui nos voltamos para os nossos adversários habituais, os integristas anti-maçons, e lhe colocaremos sob os olhos as palavras que cuidadosamente evitam citar: “Pois se trata não de vos expor à angústia para aliviar os outros, mas de
seguir uma regra de igualdade. Vosso supérfluo proverá as suas necessidades, a fim de que o seu supérfluo possa prover paralelamente as vossas, de maneira que haja igualdade segundo esta escrito: Aquele que tiver juntado muito, não terá demais, e àquele que tiver juntado pouco, nada lhe faltará.” (São Paulo, 2ª Epístola aos Coríntios 8:13-14). afeição.
52
A Caridade (em latim Caritas ) é um termo que exprime amor, ternura,
Em certas Obediências é usual que o Venerável, quando seu mandato trienal é concluído, se torne ipso facto o Trolhador da Loja. Esse uso repousa aliás em um simbolismo profundo: durante três anos, o Venerável teve assento ao oriente do Templo, e quando chega o momento de seu declínio, ele toma lugar no mais profundo do ocidente, entre as Colunas que enquadram o Umbral do Templo, como o Sol de que era a imagem. Mas para ele a esperança permanece, pois à sua esquerda, a noroeste por conseguinte, e precedendo-o em seu retorno ao oriente, se situa a Estrela Flamígera, que o antecede no caminho da Aurora, como a estrela matutina precede a volta do Sol...
Ela comporta, além de seus aspectos teológicos superiores, que não serão abordados aqui, os aspectos clássicos, conhecidos, mas que sempre é útil abordar: 1º ) a Misericórdia , que faz com que a gente se apiede da miséria e do sofrimento dos outros seres, em todos os aspectos ontológicos da Vida, e que tenhamos essa miséria e esse sofrimento como nosso, a ponto de sofrer em nós mesmos, realmente e intimamente. Se não experimentamos muito naturalmente esse sofrimento, será porque em nós a Caridade ainda não despertou. Há “iniciados” para quem o acesso aos conhecimentos que lhe foram
benevolamente comunicados, seja oralmente, seja através de livros, alçou ao cume da suficiência, e que fazem ostentação do seu menosprezo condescendente pelos seres que eles chamam de animais. Estes estão fora de qualquer encaminhamento inciático válido , e marcham com certeza para o Obscurantismo. O sinal de partida foi dado, outrora, infelizmente pelos cultos judaicocristãos e seus dogmas mal assentados. Aí, por uma vez, a Igreja e a Sinagoga associaram-se, ignorando sem dúvida, os próprios textos do seu corpus sagrado: “Quem sabe se o sopro do homem sobe para o Alto, e o sopro da besta desce para as Profundezas?... “ (Eclesiastes 3:22). “O homem e a besta, realmente, o Senhor os salva...” (David – Salmos
26:3)
“E Jerusalém não será mais rodeada de muralhas, por causa da multidão de homens e de animais que estarão no meio delas...” (Zacarias 2:4)
Por outro lado, chegado a um certo nível espiritual, o verdadeiro Adepto será levado a constatar que ele sofre premonições, dolorosas e angustiantes, que geralmente se traduzem por sufocações de tipo cardíaco, na véspera e durante as grandes catástrofes que afligem a Humanidade. E isto antes que a notícia tenha chegado ao seu conhecimento consciente. Isto é para esse Adepto o indício de que ele finalmente realizou o contato com o Universal. Que os Maçons que nos lêem, que tiverem atingido a idade de trinta e três anos, e viajaram para encontrar a palavra perdida, tomem consciência da importância do estudo e da prática desta virtude se quiserem realmente ser regenerados pelo Fogo. 2º) A Beneficência — que faz com que sejamos imediatamente e sempre levados a impedir o Mal e facilitar o Bem, tanto no domínio espiritual e moral, como no domínio material. O Homem, ser dotado de uma consciência que por si não participa de seus próprios compromissos, não poderia nem ignorar efetivamente o Mal e o Bem, nem, conhecendo um e outro, pretender situar-se além de um e de outro, isto é, eludir suas próprias responsabilidades! E tais teorias somente serviram para velar o amoralismo latente daqueles que as adotaram. Um exemplo nos fará compreender melhor esta questão. Eu ando na floresta e no caminho à minha frente há um pássaro ferido. Eu posso juntá-lo, cuidá-lo, nutri-lo e depois de curado dar-lhe a liberdade em sua floresta natal. Este é o amor desinteressado, superior. Eu posso ainda fazer o mesmo porém conservá-lo na gaiola, para minha própria satisfação. É o amor egoísta e o bem incompleto. Eu posso ainda passar por cima do pássaro e seguir, indiferente à sua miséria. Isto já é a ausência de amor, e o Mal muito próximo. Eu posso ainda me recusar a modificar minha marcha e esmagá-lo com indiferença. Isto é a perversidade e a ausência total do amor, da caridade. Eu posso ainda juntálo, furar-lhe os olhos com uma agulha em brasa, quebrar-lhe as asas e as patas, faze-lo morrer lentamente assando-o em fogo lento. Isto será o mal em estado puro, a perversidade e a c rueldade elevada ao máximo.
Que não nos venham portanto sustentar a teoria especiosa de que “o Mal é a ausência de Bem”, sem mais! O Mal existe, ele é potencialidade espiritual,
intelectual, físico. Assim como o Bem.
A conclusão que se impõe é que, se é necessário para chegar a uma perfeição relativa, multiplicar os atos de Caridade , de amor, de misericórdia, de benevolência, não é menos necessário multiplicar os atos de sacrifício, pois que não se pode amar sem sacrificar-se. Pode-se por outro lado sustentar que todas as nossas ações boas são ao mesmo tempo atos de amor e atos de sacrifício. Enquanto nos separam das coisas materiais, das criaturas, de nós mesmos, eles são sacrifícios. Enquanto nos unem ao Universo, ao Absoluto, eles são atos de amor. A Caridade corresponde, na vida iniciática cotidiana, ao voto de Pobreza das diversas religiões, e este é o seu primeiro postulado. Para o Maçom, submetido somente à disciplina moral, a Pobreza consistirá no menosprezo das honras, dos prazeres grosseiros e das riquezas adquiridas sem que elas sejam realmente justificadas pela necessidade. É a prática da Pobreza um dos melhores elementos constitutivos do dom de sabedoria , o se o termo choca, substituamo-lo pelo de desinteresse. A
FACULDADE DE SABEDORIA
Aquilo que se entende tradicionalmente na antiga escolástica medieval e cristã sob esta denominação não é a Sabedoria , virtude filosofal e que estudaremos em seguida ligada ao simbolismo da Régua . É simplesmente uma faculdade que faz com que o homem (e mais particularmente o Maçom digno desse nome) julgue todas as coisas com sua inteligência, tomando por norma ou por regra própria de seus julgamentos e de suas apreciações a mais alta e a mais sublime das Causas, aquela que ele observa em obra no Universo, aquela que leva o Mundo para a sua finalidade, ordenando o caos das origens, simbolizado pelo Sulfur dos Filósofos e pelo Esquadro. A faculdade da Sabedoria está assim ligada sutilmente à virtude de Fé , pois ela será exercida em função daquilo que dissemos desta última no que diz respeito à Fé Maçônica , e pela Fé à Esperança , esta virtude inerente à Franco-Maçonaria, a sua Fé em um porvir sempre melhor, qualquer que seja o tempo vindouro. Isto é, alias, esotericamente demonstrável em função dessa equação filosófica que constitui nossa Tetractys alquímica. Efetivamente, para a Alquimia operativa e material, o Sal dos Filósofos é o produto, a combinação do Mercúrio e do Enxofre . Quer dizer que esse dom de Sabedoria é o resultado dos dons de Inteligência (Fé) e de Ciência (Esperança) . CARISMA DA FÉ (OU DA PERSUASÃO) Aquilo que a antiga escolástica medieval entendia sob esta denominação evidentemente não tem nenhuma relação com a Fé , virtude teologal. Trata-se simplesmente de uma facilidade, inerente a todo homem, como já o dissemos, que é suscetível de ser desenvolvida pela ascese religiosa, pela via filosófica ou pela iniciação e pelas técnicas dela decorrentes, quer se trate de iniciação maçônica ou de qualquer outra, se for válida. Tratar-se-á aí da aquisição de uma segurança real, de uma certeza pessoal tal que, quando desenvolvida em nós, ela é capaz de produzir resultados espantosos, mesmo prodigiosos, de modo persuasivo. Este dom não é somente capaz de permitir que persuadamos outrem, mas ainda que impulsionemos correntes de massas populares muito numerosas, e infelizmente não podemos fazer melhor do que citar o exemplo de Adolf Hitler, seu domínio sobre o povo alemão e
(o fato é de sublinhar, pois ele foi relatado por numerosos diplomatas e jornalistas) sobre toda individualidade que dele se aproximava. Vê-se, o dom de fé é o da persuasão , o misterioso poder de persuadir outrem e de restabelecer nele uma fé (certeza, opinião solidamente assentada, etc.) totalmente nova e imposta inconscientemente por aquele que a tiver judiciosamente desenvolvido, em si53. A
GRAMÁTICA
A Gramática em seu aspecto exotérico já foi suficientemente estudada e não voltarmos a ela aqui. Mas chamamos a atenção do Maçom para a importância da Gramática maçônica. Esta consiste na observação e scrupulosa: da linguagem e da terminologia maçônica, em Loja, das prescrições rituais (abertura e fechamento dos Trabalhos, cerimônias iniciáticas) do uso das vestes tradicionais, exatas, completas, dos gestos e das atitudes. Tudo isto são coisas que pouco a pouco penetram o novo Maçom, lhe insuflam o espírito maçônico e fazem com que ele se torne insensivelmente o veículo deste último, sua expressão vivente, nos planos intelectual e moral. A qualidade de uma Loja se reconhece pela observância atenta de todos estes elementos e é assim que se pode dizer que seus membros se expressam Maçonicamente, de acordo com a gramática esotérica da Ordem ... OS ALFABETOS , TROLHAMENTOS E PALAVRAS DE PASSE À Gramática Maçônica podemos ligar tudo aquilo que concerne à criptografia da Ordem. Quantos Maçons se encontram muitas vezes em suas pesquisas nas bibliotecas e nos arquivos das Lojas e das Obediências em presença de documentos ou de esquemas cujas inscrições, transcritas em alfabetos convencionais, lhes ficam totalmente incompreensíveis? As diversas subdivisões hierárquicas nas quais se distribuem os Altos Graus têm igualmente os seus alfabetos particulares. É necessário lembrar que um documento de base essencial da Alta Maçonaria Templária do décimo oitavo século é redigido em diversas línguas mortas, transcritas com o auxílio de um muito grande número de alfabetos esotéricos, todos diferentes? A este respeito, e para aqueles a quem os documentos antigos interessam, aconselhamos o estudo da Virga Aurea , coletânea de doze grandes pranchas iniciáticas, compostas pelo monge Jacques Boaventura Hepburn, bibliotecário do Papa Paulo V e verdadeiro compêndio de Magia cabalística. Essa obra considerável permitiu a de Mély constatar que as faixas decorativas de algumas obras de arte antigas eram em realidade inscrições secretas que os setenta e dois alfabetos mágicos da Virga Aurea permitiam decifrar. O Calendário Mágico , de Tycho de Brahé, o de 53
Alguém nos dirá que, se Hitler possuiu o dom da fé, ou da persuasão, fez dele uso voltado para o Mal. Retorquiremos que ele o havia adquirido em cenáculos esotéricos e ocultisantes, segundo técnicas certamente muito válidas, que estas foram estranhas ao emprego ulterior de seu objetivo e que, apesar de tudo, não se poderá negar a Hitler um amor extremo, total, embora moralmente desviado, do povo alemão, e deste apenas. Havia aí, no entanto, matéria para a obtenção de resultado. E convêm meditar sobre a profundidade imensa desta reflexão de São Francisco de Sales: A pureza total só se encontra no Paraíso, ou no Inferno... A Adolfo Hitler, missionário do Mal, não se poderá recusar esse dom!
Duchanteau (maçom célebre, membro dos Filaletes), são documentos muito próximos da Virga Aurea , e muito ricos em ensinamentos esotéricos. Acrescentemos que o estudo paciente e perseverante das Palavras Sagradas e das Palavras de Passe dos diversos altos graus da Franco Maçonaria e de sua criptografia 54 (5) colocará, pouco a pouco e insensivelmente, o Maçom perseverante na posição de aproximar-se intelectualmente de determinadas formas do Segredo Maçônico . 6 - A PERPENDICULAR O MERCÚRIO DOS FILÓSOFOS (Profundidade na Observação) Em Maçonaria aquilo que nós denominamos Perpendicular nada mais é do que o Fio a Prumo . Sabe-se que o que é assim designado consiste em uma massa pesada de volume bem pequeno, presa na extremidade de um cordão, indicando a direção da gravidade, isto é, da vertical, e servindo assim para colocar a prumo as obras de vigamento de maçonaria. O termo aprumo designa igualmente o fato de se apresentar ou de falar com segurança, sem temor, e é o sinônimo de audácia, por vezes, pelo fato de evocar ainda um estado, uma posição, perfeitamente reta (vertical), sem servilismo nem humildade. Em seu ―Dicionário Réa‖, a Ir Amélie-André Gedalge diz que o Fio a Prumo é o
emblema da pesquisa, em profundidade, da verdade, do aprumo, do equilíbrio: parece mostrar o caminho que leva à Câmara do Meio .
Ela nos diz além disso que pode ser vista a Perpendicular esculpida abaixo do Olho Divino e acima da efígie de Viswakarma , deus dos ferreiros e arquiteto dos deuses, no Templo subterrâneo de Ellora (Índia). Esta noção de pesquisa é realçada por diversas locuções populares: não se diz encontrar o fio , seguir o fio , para expressar o fato de estar sobre o caminho certo, de se aproximar da solução? Conseqüentemente, estudando os últimos arcanos do Instrumental maçônico, veremos que efetivamente o Fio a Prumo permite construir um Gnomon , isto é, orientar-se corretamente. Sabe-se que quando ainda não havia bússola nem cartas geográficas, não era possível se orientar de dia a não ser pelo Sol, e sendo necessária uma orientação muito precisa, era preciso um Gnômon . Conhecido dos babilônios, dos caldeus, o gnômon permitiu a orientação precisa das Pirâmides do Egito e de nossas Catedrais góticas, que ainda hoje causam admiração aos sábios co ntemporâneos. Ora, sem Fio a Prumo , não há gnômon. Eis as correspondências analógicas da Perpendicular: Sentido...................................................................a Imaginação Vício Capital................................................... a Cólera Cor do Prisma..................................................o Azul 55 Forma Acética ................................................ a Castidade 56 Fazemos aqui alusão aos alfabetos ditos Athbash, Albam e Atbakh, que os cabalistas hebreus utilizam para decodificar a Tora. 54
55 56
Diz-se ―azul de cólera‖. Alcançado este estágio, ele deixa de ser. Procura -se uma combinação dos quatro precedentes: Silêncio, Vigília, Jejum, Solidão .
Virtude Teologal.............................................. a Esperança Faculdade Espiritual.........................................a Ciência Carisma Secundário.........................................os Prodígios 57 Artes Liberais .............................................a Dialética (ou Lógica) Elemento da Obra ......................................o Mercúrio dos Filósofos. * *
* A IMAGINAÇÃO
Existe uma relação evidente entre o Mercúrio dos Filósofos , isto é, a Perpendicular ou Fio a Prumo , e a Imaginação , ou ―Folle du Logis‖ . Os loucos , ou bobos do rei, outrora, possuíam e usavam realmente atributos bem mercurianos , como a marota (bastão com uma cabeça de boneco e guarnecido de guizos, símbolo da loucura), que lhes era entregue em uma cerimônia muito especial. Ora, a marota significa a idéia fixa, ou seja, o excesso de imaginação . Os portugueses tiram a etimologia do termo maroto do árabe maruto : insolente, o que designa o bobo ou louco , e a insolência é muitas vezes punida pela expulsão e pela queda. A Imaginação é, com a Memória , um de nossos dois Sentidos interiore s. A Imaginação corresponde ao Mercúrio dos Filósofos e nós encontraremos novamente a segunda quando estudarmos o Esquadro e o Enxofre dos Filósofos . A Imaginação é uma faculdade que nos permite lembrar vivamente e ver de algum modo objetivados aos nossos olhos cenas e objetos que não mais pertencem ao presente, ou que ainda não chegaram a ele. É incontestavelmente uma faculdade criadora quando se trata de coisas novas, mas ela provém e depende da Memória , quando se trata do passado. Ambas são, pois, faculdades preciosas que fornecem à Inteligência (que estudaremos em seguida) os materiais de que necessita para se exercer e trabalhar. Não devemos atrofiar essa faculdade, mas discipliná-la e de subordinar a sua atividade ao império da razão e da vontade. Senão, deixada a si mesma, ela inundará a alma de uma multidão de lembranças, de imagens que a dissiparão e desgastarão suas energias, fazendo-a perder um tempo precioso e lhe suscitarão mil tentações e recaídas. Que a Perpendicular ou Fio a Prumo se encontre associada, pela Tetractys alquímica, à Imaginação não é coisa de espantar. Para disciplinar dita Imaginação não é necessário‖ter chumbo na Cabeça‖?... É, pois, absolutamente necessário submetê-la e colocá-la ao serviço da Inteligência , procurando-se, antes de mais nada, eliminar do nosso consciente e desde o início de suas manifestações, as imagens e lembranças perigosas, que nos possam lembrar possíveis (futuros) e realidades (passadas) que, nos transportando para o meio de tentações do presente, do passado e do porvir, seriam ipso facto uma fonte de desfalecimentos e de quedas intelectuais e morais. Mas, como existe freqüentemente uma espécie de determ inismo psicológico, que nos faz passar dos sonhos sem importância aos jogos perigosos da Imaginação parcialmente invadida, nos devemos premunir contra esse perigo rejeitando, imediatamente e de maneira incessante, os pensamentos inúteis. Eles nos fazem perder um tempo precioso e abrem o caminho, preparando-o, para outros pensamentos infinitamente mais perigosos. 57
‗Virtute prodigiorum‘ da antiga escolástica.
O melhor método para sermos bem sucedidos nesta espécie de filtragem, é seguramente nos aplicarmos de maneira total ao dever do momento, por banal que seja, isto é, ao nosso trabalho, aos nossos estudos, às ocupações habituais, por modestas e materiais que sejam. É esta, por outro lado, a melhor maneira de fazer bem feito o que se tem que fazer, concentrando toda a nossa inteligência e atividade à necessidade presente. A CÓLERA A Perpendicular ou Fio a Prumo une simbolicamente o Zênite e o Nadir, o Alto e o Baixo. É curioso constatar o caráter universal do gesto pelo qual o homem exprime seu furor, lançando ao solo um objeto com a finalidade de quebrá-lo, ou batendo com o pé no chão, como se tivesse a intenção de evocar, de chamar, de despertar as potências do Baixo. Nas diversas teogonias, aliás, os deuses ou os anjos rebeldes são precipitados do Céu para as profundezas da Terra, pelo Deus Supremo. A Perpendicular tem muito precisamente como vício analógico a Cólera . A Cólera é um movimento desordenado da alma que se acredita ofendida, e ela se manifesta por uma viva irritação, expressa por gestos ou pela palavra, revestindo por vezes uma violência extrema. Observemos, todavia, que há uma cólera legítima, que é somente um desejo ardente mais razoável e equilibrado de impedir uma ação má ou de infligir ao culpado um castigo justo, obrigando-o a reparar o malfeito. Trata-se aí de uma sanção ao mesmo tempo de purga e reequilibrante, destinada a retirar-lhe, por sua própria decisão, o interesse e o desejo de reiterar sua má ação. Em seu aspecto ilegítimo, a Cólera faz com que o indivíduo perca o controle de si mesmo. Seu autoritarismo e sua atividade desbordante, desenvolvidos com a única finalidade de afirmar sua vontade ou de destruir aquilo que se lhe opõe, não lhe permitirão admitir que tal ou qual de seus semelhantes seja menos bem dotado do que ele. Seus julgamentos serão tão precipitados quanto definitivos, e sua impaciência o levará a maltratar os fracos, os ignorantes. E se ele tiver a má sorte de se encher de ódio (forma ainda mais tenebrosa do que a Inveja ), então seus pseudo conhecimentos farão dele um iniciado negro. As conseqüências da Cólera , quando não reprimida de maneira permanente, são muitas vezes terríveis em sua maleficência. Sêneca as descreveu em termos expressivos: ele lhes atribui traições, assassinatos, envenenamentos, divisões intestinas nas famílias e nas sociedades humanas, guerras, com todas as suas funestas conseqüências. Ela nos faz perder, se não a reprimirmos: a sabedoria, ou ponderação; a amabilidade, que faz o encanto das relações sociais e sobretudo dos encontros com Irmãos; o cuidado da justiça, porque a paixão impede de reconhecer os direitos do próximo; o recolhimento interior, base de toda evolução humana, e sobretudo do Maçom. O Maçom deve pois se acostumar a refletir antes de agir, de replicar ou de contra-atacar; trabalho de fôlego, mas muito eficaz. A ESPERANÇA A Perpendicular ou Fio a Prumo une o Céu e a Terra , o Zênite e o Nadir. O homem que formula uma esperança , um desejo, e faz para isto um apelo ao Divino, levanta os olhos para o Céu, para o Zênite . Ao contrário, o homem desesperado marcha com a cabeça baixa, olhando o chão (Nadir ). Isto justifica que na Tetractys alquímica, a Perpendicular esteja associada à Esperança A Esperança é a própria alma da Franco-Maçonaria. O que realmente caracteriza
esta última é a sua fé inabalável em um futuro melhor; é sua certeza de que, o que quer que advenha, a Humanidade marcha para uma expansão do ser-melhor, para uma realização indefinida e ilimitada de todo ideal. Àqueles que põem a sua confiança em uma revolução única, sangrenta e brutal, mesmo legitima, ela adverte que a revolução é antes de mais nada a re-evolução , isto é, uma evolução ininterrupta. Ainda que algumas doutrinas queiram que o Homem de hoje curve a cabeça diante da falta cometida por um genitor único, presente na aurora dos tempos, ela faz sua a palavra de Moisés: ―Não se fará morrer os filhos pelos pais, cada um não morrerá senão por seu próprio pecado...‖ (Deuteronômio 24:l6). E os melhores agentes do Progresso são ainda o descontentamento e a insatisfação . Sem eles o Homem atual, vestido com uma pele de urso, ainda estaria de guarda na entrada da caverna natal. Esta fé maçônica no futuro é perfeitamente expressa por duas das célebres ― Tríades da Ilha de Bretanha ‖: - Três coisas vão crescendo sem cessar no Universo. Elas são: a Luz, a Verdade e a Vida. Três coisas vão decrescendo sem cessar no Universo. Elas são: a Ignorância, o Erro e a Morte. Pode-se, sem medo de errar, afirmar que a tradição maçônica, passando pela Escócia , impregnou-se de numerosos elementos druídicos, e portanto célticos : ternário (tríades ), colunas (menires ), oriente (sol levante ) , delta (Deus com três aspectos e três raios ), culto da luz , esperança no porvir , etc. Na alma do Maçom, a Esperança é, pois, uma virtude que faz com que a sua vontade, apoiada na Iniciação recebida, sobre a sua fé na Franco Maçonaria, em seus ideais e em seus princípios, se dirija para os ensinamentos iniciáticos , assim como nosso Simbolismo lhe revelou, como aquilo que um dia pode e deve ser a sua iluminação total. Esta virtude é absolutamente inacessível sem a Fé Maçônica , a qual ela pressupõe necessariamente, pois é somente esta Fé Maçônica que dá à Esperança o seu objetivo e o motivo sobre o qual ela se apóia. A Esperança corresponde, na vida iniciática cotidiana, ao voto de Castidade das diversas religiões, que não é para a maioria delas o voto de Continência sexual. O voto de Castidade é a justa moderação do desejo dos sentidos, para o indivíduo normalmente constituído. É este justo equilíbrio que permite ao Iniciado libertar-se pouco a pouco das servidões grosseiras da vida sexual, da atração tão freqüente pela devassidão, e para o casal humano normal é o agir de maneira natural e legítima na perpetuação das formas da espécie, sem decair nem se depravar mutuamente. É inegável que a função sexual é equilibrante do psiquismo, e que as permutas hormonais entre homens e mulheres são necessárias pela mesma razão no plano fisiológico. Mas isto nunca justificou o excesso, e muito menos os desvios. E se o termo Castidade choca alguns, digamos que se trata ai de ―equilíbrio sexual ‖. A FACULDADE DE CIÊNCIA Sob a ação da iniciação maçônica, a Ciência é para o Maçom uma faculdade que lhe permite julgar com uma certeza quase absoluta e uma verdade raramente falível, sem usar um procedimento sobrenatural de raciocínio mas instintivamente, de maneira absolutamente intuitiva, o verdadeiro caráter das coisas criadas, em suas relações com as da Esperança , segundo elas devam ser admitidas e professadas, ou elas devam servir de finalidade e objetivo à sua conduta, percebendo imediatamente aquilo que no mundo material e contingente está em harmonia com os princípios da Franco-Maçonaria ou, pelo contrário, lhe está oposto. Ela implica em ter compreendido definitivamente a significação da palavra ―Progresso‖.
OS PRODÍGIOS Trata-se ai de uma faculdade que nos permite executar as coisas não habituais, fora das normas médias da vida corrente e das possibilidades clássicas do indivíduo profano. Entre os diversos aspectos desta faculdade, podemos citar: - o desenvolvimento da força do trabalho, seja no plano maçônico ou no domínio iniciático; - o dom de cura, terapêutico, psíquico ou moral, que permite exercer sobre outrem uma influência tal que, fora dos tratamentos materiais da medicina clássica, se obtenha uma melhora certa do estado do paciente. Se uma grande parte dos assim chamados curandeiros é constituída de charlatães, muitas vezes perigosos, há também seres excepcionais que, por meio de um magnetismo pessoal, uma influência psíquica sobre o paciente, ou por qualquer outro dom misterioso, são capazes de exercer uma influência benfazeja sobre o seu estado. E possível separar nitidamente estes seres excepcionais de qualquer curandeiro que se permite, sem qualquer qualificação médica, fazer um diagnóstico, liberar uma receita e, sobretudo, tem a pretensão de afastar e de substituir o médico titulado. O verdadeiro curador nunca afasta o médico autêntico, nem procura substitui-lo nunca, e só trata pelo verbo ou pelo gesto. (Ver especialmente, do inesquecível Oswald Wirth, o seu livr o ―A imposição das mãos e a medicina filosófica ‖). - o autodidatismo intenso; é próprio de certos seres que incontestavelmente têm o dom de aprender fora das possibilidades normais do indivíduo médio. Nestes é constatada uma facilidade e uma rapidez de assimilação absolutamente surpreendente; - as faculdades físicas, evidenciadas por qualificação esportiva ou por sua permanência até uma idade avançada. A LÓGICA Vimos que a ciência do Trivium da escolástica medieval que corresponde à nossa Perpendicular é a Dialética , mas que é em realidade a Lógica . E efetivamente a Lógica é um dos Instrumentos do Maçom, mais do que a arte de discorrer. Já vimos que ela é a ciência que permite distinguir o verdadeiro do falso e, como tal, a Lógica é a arma essencial da Razão. É a este título que nos vamos estender um pouco mais sobre esta ciência. A Lógica é a arte de regular o uso das faculdades do entendimento e de ligar metodicamente as nossas idéias. Perceber de maneira exata, comparar, julgar com conhecimento e justeza, discorrer com nitidez são as condições essenciais de uma boa lógica. A retidão, a força do raciocínio em cada um de nós, são proporcionais às possibilidades de perceber, de comparar, de refletir que nos foram transmitidas pelo nascimento, por nossa herança, pela nossa educação. A cultura pode fazer muito por esta ciência, mas ela não pode suprir a falta das faculdades inatas. É por isto, sem dúvida, que há tão poucos lógicos, e que a Lógica vem sendo há tanto tempo a ciência das vãs disputas, sob o nome de Dialética! E ,desde o mundo antigo, foi necessário esperar o décimo sétimo século e Francis Bacon para que se abrissem novos caminhos, mais amplos, ao espìrito humano. Em sua obra ― Novum Organum ‖ ele não hesita em proclamar que só a experiência apoiada pela indução, pode conduzir à verdadeira ciência, a verdade. Ele oferece um novo método de experimentação e de dedução, único meio, segundo ele, para aumentar o conhecimento humano. Ele não hesita em dizer, nesta obra principal, que: ― O homem somente sabe quando descobre a ordem da natureza, através de fatos e deduções. A Lógica atual é incapaz de aumentar a ciência. É necessário ter cuidado para não passar rápido demais dos fatos particulares às idéias gerais, recusar qualquer conhecimento antecipado, e submeter as coisas prematuramente conhecidas a um novo exa me...‖
Após Bacon, Descartes, cuja influência se sabe que foi imensa, depois de se ter desembaraçado, como ele, de todos os erros chamados por François Bacon de ―err os da espécie, erros do indivìduo, erros da linguagem, erros da escola, etc.‖ ( idola tribus, specus, fori, theatri ), faz pelo entendimento aquilo que Bacon havia feito pela Natureza. Admitir uma coisa como verídica somente quando ela assim nos parecer incontestavelmente; ver as dificuldades por todas as suas faces, sem nada dissimular; dividi-las em suas menores partes, a fim de submeter tudo ao exame para chegar a uma base sólida, a uma solução rigorosamente válida; subir dos objetos mais simples, cujo conhecimento é fácil, aos objetos mais complexos; dedicar uma atenção especial à sua enumeração, a fim de que nada seja omitido no inventário que é feito. Estas são as condições que Descartes prescreve em sou célebre ― Discurso do Método ‖. Não se pode negar o imenso caminho aberto a todas as investigações por este mesmo método, nem a sua superioridade sobre os diversos sistemas que o precederam. Mas Descartes, tomando por único ponto do partida as faculdades do entendimento, parece não tomar em conta os sentidos nem as faculdades sensitivas , tão diferentes em seus efeitos e em suas repercussões, de um ser humano a outro. Descartes, sem o dizer, pôs em princípio um verdadeiro postulado de partida, saber que o Homem é sempre e em tudo igual a si próprio, ele peca por excesso de espiritualismo , por estranho que isto pareça no primeiro momento. Reconheçamos todavia que o seu ―Método ―, procedendo pela análise e pela sìntese, é sem contradição o melhor meio de formular um julgamento com segurança, precisão e clareza.
O Maçom não poderia admitir o Inexplicável porém, ainda que para ele não exista o Incognoscível , pode ainda haver um tempo do Desconhecido , mesmo em nossa época58. Toda a fenomenologia parapsíquica e metapsíquica, sobre a qual na Maçonaria só poderíamos reter as explicações dadas pelas diversas religiões ou o ocultismo clássico, toda esta fenomenologia, dizemos, reserva à introspecção 58
Os progressos científicos, assim como os progressos sociais, o obrigam a crer na Evolução , e diante dela nada há de imutável, de fixo. Até há pouco tempo, a Ciência se considerava como absoluta e infalível, ela pretendia ser facilmente dogmática. Sua atitude mudou porque ela estendeu suas ambições com seu domínio, porque ela aborda fatos que outrora lhe pareciam inacessíveis. Em sua audácia, ela não mais se limita à dedução, cada vez mais se permite ser experimental, tem agora todas as audácias. Há pouco tempo impessoal por ser dogmática, a Ciência autoriza hoje em dia a intervenção individual na manifestação dos fenômenos, tomando assim uma orientação que a dirige para as preocupações próprias do espírito religioso. Mas aquém de seus limites, ela deixa o Homem estabelecer seu Ideal. Visto que o objetivo que a Franco-Maçonaria procura antes de tudo: a Verdade , parece pertencer inteiramente a uma pesquisa científica não limitada em nossos dias, indo da física e da química mais materiais, à psicologia, à parapsicologia, e mesmo à metapsíquica, esta Ciência que já não quer ser dogmática se esforça por tornar-se uma indução indefinidamente perfectível, deixando livre o campo à inteligência e à liberdade humana, parece bem indicado que o ideal maçônico encontre seus alicerces em um sincretismo ao mesmo tempo espiritualista e racional. Então, no século vindouro, ou no seguinte, a Humanidade poderá formular os princípios de um ecumenismo em que o humano e o universal encontrarão cada um o seu lugar, verdadeiro crisol onde virão se fundir a Ciência e a Fé . Mas então será conveniente ter ―a cabeça a prumo‖, este mesmo prumo da
nossa Perpendicular . 7 - O ESQUADRO
O ENXOFRE DOS FILÓSOFOS (Retidão na ação) Esquadro se diz em latim norma, que significa regra, modelo, exemplo, tipo. Este mesmo termo Esquadro tem a sua origem no latim quadrare, com o prefixo e , significando tornar quadrado . Nos velhos tratados de medicina chinesa, muitos séculos antes da nossa era, o Homem-Arquétipo , análogo ao Adam Kadmon da Cabala, era representado tendo o Compasso na mão esquerda e o Esquadro na mão direita. Ora, para o esoterismo da velha China, Esquadro e Quadrado são tidos como significadores do espaço e da ordem terrestre, e o caráter que os desig na (tch‘eou) exprime a Ciência e os sábios : astrônomos, astrólogos, geomantes, mestres do calendário, etc. Marcel Granet, em seu livro ― O Pensamento Chinês ‖ , nos mostra o Demiurgo da
velha China sob o mesmo aspecto de Adam Kadmon :
humana, cientificamente conduzida , domínios ainda mais surpreendentes do que o inventário da Lua, atualmente na ordem do dia. Mas é preciso que os homens de ciência que se dedicarem a isso um dia, se livrem totalmente dos postulados de partida emitidos pelas diversas religiões! Em uma palavra, é preciso começar do zero.
―O Esquadro é o símbolo de todas as artes, e sobretudo das artes religiosas e
mágicas. Ele é a insígnia de Fo-Hi, primeiro soberano, primeiro adivinho. Fo-Hi é o esposo ou o irmão de Niu-Koua, cuja insígnia é o Compasso. Este Casal Primordial inventou o casamento. Também, para dizer- se ―bons costumes‖, se diz ―compasso e esquadro‖. Os gravadores representam Fo-Hi e Niu-Koua enlaçados pela parte baixa do corpo. Niu-Koua, que ocupa a direita, tem o Compasso na mão direita, Fo-Hi, à esquerda, tem o Esquadro na mão esquerda. O Esquadro, que produz o quadrado, emblema da Terra, só pode ser a insígnia do Masculino após a permuta hierogâmica de atributos. Mas como o Quadrado produz o Redondo (que ele contém), o Esquadro merece ser conseqüentemente o emblema do feiticeiro, que é yin-yang (andrógino), e sobretudo de Fo-Hi, conhecedor das coisas do Céu e da Terra. Fo-Hi pode, pois, segurar o Esquadro na mão esquerda e com a mão esquerda (com o Esquadro) evocar a Obra Real, a hierogamia primeira, a atividade mágico- religiosa...‖ Em sua ― Simbólica Maçônica ‖ , Jules Boucher observa com toda razão que no
esoterismo pitagórico, o Esquadro era o signo do Gnômon , palavra grega que possui sentidos bem diversos. Como substantivo, significava ―regulador‖ ou ―regra‖, designava a agulha do quadrante solar ou o próprio quadrante, mas como adjetivo significava ― aquele
que conhece, que compreende ‖. Vê -se então que o Esquadro é bem o símbolo da Gnose , do Conhecimento e efetivamente no alfabeto grego a célebre letra G , expressando este mesmo Conhecimento, é representada por um gama , ou seja, um Esquadro . Vimos que o Esquadro simbolizava igualmente o Homem , o Compasso representando o Grande Arquiteto , o primeiro sendo a Terra , o segundo sendo o Céu . A tradição egípcia antiga nos diz que Atem ou Atoum , o deus vermelho , é feito de terra e de água. A tradição judaica vê seu Adam (palavra próxima de Atem ou Atoum ) feito de terra e de água, a palavra significando ―terra vermelha‖. Ora, na Cabala, tradição esotérica do Gênesis, o Homem-Total, feito de todas as almas, é igualmente o regulador , o guardião e o segundo ordenador do plano terrestre, ele é a Terra , Malchut , em hebraico o Rei . Eis as correspondências analógicas do Esquadro : Sentido........................................................ a Memória Vício Capital............................................... o Orgulho 59 Cor do Prisma............................................. o Vermelho 60 Forma Ascética........................................... a Obediência Virtude Teologal.......................................... a Fé Faculdade Espiritual................................... o Dom da Inteligência Carisma Secundário..................................... o Dom de Curar Artes Liberais............................................... a Retórica Elemento da Obra..........................................o Enxofre dos Filósofos. * * *
A lenda diz que Lúcifer, príncipe do Conhecimento , se transformou, desviando-se espiritualmente, no do Orgulho . Há, portanto, uma relação sutil entre estas duas coisas. 60 Os potentados do mundo antigo, os patrícios romanos, os príncipes de sangue da Idade Média se vestiam de vermelho ou de púrpura. E F. Portal, em se u livro ― Das Cores Simbólicas ‖ nos mostra que o vermelho é também a cor da falsa sabedoria e do erro (op. cit. pg. 83). 59
A MEMÓRIA A Memória é a faculdade e que possui o espírito humano para representar os objetos ausentes ou os fatos passados como se estivessem presentes e fazê-los reviver em nossa Imaginação com suas circunstâncias e seus detalhes. A Memória deve ser considerada como um dos modos de exercício, uma das sub-faculdades da inteligência humana. Na Memória distinguimos duas espécies de manifestações: 1. memória espontânea ou passiva , que se exerce fatalmente e sem o socorro da vontade; geralmente chamada de reminiscência ; 2. memória livre e ativa , que se exerce com o concurso e pelo esforço da vontade. Esta é a Memória propriamente dita. A Mitologia, esse vasto tratado de esoterismo iniciático, vai nos dar preciosas indicações. Mnemósine , nome da deusa da Memória , era a mãe das nove Musas. Isto quer dizer que sem esta faculdade não existe instrução e educação possíveis ao espírito humano. O que dissemos anteriormente da Imaginação , aplica-se em sua totalidade à Memória , remetemos o leitor àquela referência. No entanto acrescentaremos alguns conselhos de ordem prática, destinados aos Maçons que poderiam temer que esta faculdade não esteja neles ao nível de suas necessidades ou de suas exigências intelectuais. Contrariamente às afirmações de seus adversários, a Franco-Maçonaria não manda assassinar aqueles que a traem! A violação de seu juramento inicial, a auto-execração sobre si mesmos que ele contém, os condena por antecipação, são condenados por si próprios . Não existe qualquer exemplo de Maçons que tenham traído a Ordem e que tenham escapado a uma sorte miserável, e às vezes mesmo a uma morte infamante. Quanto à Franco-Maçonaria, ela se contenta em ―esquecê -los‖, seus membros não falam mais dos renegados. Para as faltas menos graves, ela coloca os faltosos ―em adormecimento‖. Existe aì uma misteriosa lembrança da tradição da Cabala que diz que, além das esferas involutivas (quliphot), antes do último desaparecimento do ser, vem primeiro: o Vale do Sono (Gehenne), depois o Vale do Esquecimento (Gehenum), e finalmente o Vale da Morte (Gehenomoth). Os Maçons, leitores deste livro, que tenham ―cem anos e mais‖, ou ainda ―que não contem mais‖, perceberão a relação do seu Grau com a Gnose , pois que se reúnem em um ―Vale‖ 61! Como quer que seja, o Maçom desejoso de consagrar sua Memória à conservação somente de conceitos úteis à sua vida profana ou à sua evolução intelectual e moral, deverá, Microcosmo imitador do Macrocosmo, fazer o mesmo. As coisas perigosas ou inúteis, serão por ele esquecidas sistematicamente ; fazendo isto, ele as destruirá em si mesmo. Todo pensamento inútil ou degradante, ele se esforçará por sufocar no momento que apareça no plano mental. Assim limpara os seus ―arquivos‖ cerebrais, fará lugar, e os dados úteis e necessários se armazenarão muito mais facilmente. O ORGULHO Diz-se de um homem que vive fácil, que ele é franco e decidido ( rond en affaires ). Isso que implica em que um homem intransigente (e portanto orgulhoso) possa ser chamado ―quadrado‖ , ou de um espìrito ― anguloso ‖ . Assim, pois, o Esquadro (em latim 61
Em hebraico, ‗ vale‘ se diz ‗ gehena‘ .
‗quadrare‘ ) está ligado analogicamente, em seu mau aspecto, ao Orgulho .
O Orgulho é
chamado o pai de todos os vícios, com justa razão. Não se tem visto, e com freqüência, no curso da historia, famílias orgulhosas de seu passado e de seus escudos d‘armas, levar secretamente suas filhas aos leitos dos príncipes, com a única esperança de obterem, em troca, um novo título ou funções compensadoras na corte? Quanto ao jovem Maçom, sobretudo no estágio de Aprendiz, o Orgulho o levará a se imaginar superior moralmente, e sobretudo maçonicamente, a alguns Irmãos de sua Loja, porque intelectualmente ele está mais enriquecido do que eles em alguns setores. Se ele tiver um pouco d e lógica, examinando bem a questão, constatará que as áreas que
ele domina são freqüentemente bem estranhas àquilo que se entende por iniciação e formação maçônica . Ignorando quais as vias tradicionais pelas quais aqueles que fraternalmente o tomaram a seu cargo e se propõem a fazer dele aquilo que ele lhes pediu: ser um Maçom, tem a intenção de fazê-lo passar, ele considerará com certo menosprezo uma técnica secular e que dá suas provas indiscutivelmente. No decorrer das trocas de idéias que se desenvolvem ao longo dos Trabalhos, ele terá muita dificuldade em conservar o silêncio prescrito aos Aprendizes. Toda exposição contrária às suas próprias concepções, ele a considerará como um erro que vicia a Tradição Maçônica. Se ele for espiritualista, ficará chocado com qualquer exposição de princípios racionalista e, se for racionalista, todo desenvolvimento de ordem espiritualista excitará nele a ironia ou a hostilidade. Ele esquecerá que a verdadeira tolerância (e não dizemos aqui tolerância maçônica!) exige que escutemos uma exposição contrária às nossas idéias com calma e serenidade, e que apresentemos a contraposição muito cortesmente e sem ferir nosso interlocutor. Por este motivo, o uso maçônico que exige que, para usar da palavra, seja neces sário pedi-la em primeiro lugar ao Vigilante da sua Coluna, e que este tenha transmitido o pedido ao Venerável, que este a tenha concedido, e que o Maçom só a use quando estiver de pé e ―à ordem ‖, é uma coisa excelente. Nos gritos e no tumulto de uma reunião eleitoral, no meio dos excessos de linguagem habituais em tais lugares, o observador, ainda que pouco perspicaz, reconhecerá facilmente um Maçom pela maneira cortês e pacífica que usará perante seus interlocutores.
Com o Maçom mais antigo acontecerá o mesmo. Encontram-se às vezes nas Lojas Irmãos que, embora estejam revestidos do Avental de Mestre já há um certo tempo, nem por isto se despojaram de seus metais profanos, e não fazem senão alimentar e desenvolver os defeitos que eram seus antes da iniciação. Neles o Orgulho os levará a ambicionar títulos, ornamentos, funções, honras. É necessário dizer que, se é legítimo que os Franco-Maçons rendam honras maçônicas a uma função , aqueles que são apenas os veículos e os responsáveis momentâneos pela função imaginam freqüentemente que é à glória de seus méritos pessoais que as chamas se elevam e os precedem, que as espadas se alçam para constituir a clássica ―abobada de aço‖, e que os malhetes batem em cadência, ritmando a marcha ritual de sua entrada solene em Loja. É por isto que o Maçom digno desse nome, evitará sempre pedir a palavra inutilmente, só pelo prazer de ―dizer alguma coisa‖. E o alto dignitário demonstrará sem contestação possìvel sua real qualificação iniciática evitando o máximo possível demonstrações que, embora sejam tradicionais e regularmente usadas, nem por isto são menos perigosas para a sua própria modéstia62. A FÉ Por sua etimologia (norma, quadrare ), o Esquadro é o rigoroso sìmbolo ―daquilo que deve ser‖ imprescritivelmente. Nada há de surpreendente, pois, que a Tetractys alquímica o associe a Fé . A Fé maçônica não pretende superpor-se à Fé religiosa, e o Maçom espiritualista deve saber fazer a diferença entre a confiança que ele deposita em sua doutrina religiosa assumida com plena consciência e liberdade (o que é o seu mais absoluto direito ), e a confiança que ele deposita em uma técnica iniciática que não pretende ultrapassar os planos moral e intelectual. No entanto, os princípios do desenvolvimento de uma Fé religiosa e de uma Fé em uma doutrina filosófica ou política são exata mente os mesmos. A Fé é uma virtude (do latim virtus : potência, isto é, uma potencialidade) que faz com que nossa inteligência aceite muito firmemente o sem temor de se enganar, ainda que não perceba sempre de maneira inteligível, tudo aquilo que lhe chega pela via de um ensinamento tradicional. É aí que se pode, não sem espanto, ver um jesuíta sábio como o R. P. Teilhard de Chardin chegar a esta magnífica esperança maçônica seguindo o caminho árduo da Ciência: ―Se, em conseqüência de uma confusão interior, eu viesse a perder
sucessivamente minha fé no Cristo, minha fé em um Deus pessoal, minha fé no Espírito, parece-me que eu continuaria a crer no Mundo. O Mundo (o valor, a infalibilidade e a bondade do Mundo), esta é, em última análise, a primeira e a única coisa em que creio. É por esta fé que eu vivo, e é a esta fé, eu sinto, que no momento de morrer, acima de todas as dúvidas, eu me entregarei. A fé confusa em um Mundo, Uno e Infalível, eu me entrego, para onde quer que ela me conduza. (Teilhard de Chardin: ―Como Eu Creio‖). Palavras terrivelmente heréticas quanto à tradição cristã e sobretudo gnóstica, mas que o sábio jesuíta teria bem depressa modificado se tivesse tido contato com outras tradições iniciáticas, além do simples dogma romano. No caso, e para o Maçom a Fé maçônica consiste nesta Esperança em um Progresso indefinido, não limitado, nesta certeza de que o Homem, livrando-se O que dizemos aqui, de modo geral, acerca das honras maçônicas, se aplica também a certas presunções eclesiásticas! 62
penosamente, no decorrer dos milênios, do envolvimento original em uma animalidade terrena, alcançará pouco a pouco um estado intelectual e moral que farão da sociedade humana uma sociedade quase perfeita. Se ele for de boa fé, se possuir conhecimentos bastantes em paleontologia e em história, ele será levado aos poucos a esta certeza. Se é verdade que o embrião humano passa, no útero materno e durante a gestação de nove longos meses, pelos diferentes estados atravessados pela Humanidade ao longo dos milênios, o Maçom observador será levado a admitir que na sociedade contemporânea acontece o mesmo. Alguns indivíduos se conservaram como bestas, instintivos e cruéis, que nos revelam as pesquisas dos primeiros habitantes humanos. Outros indivíduos, por sua extrema elevação moral e espiritual, por algumas faculdades desconhecidas da grande massa, fazem pressentir aquilo que o Porvir reserva ao Homem digno desse nome. Se ele estiver bastante impregnado de esoterismo, o Maçom será levado a constatar que as regras e os costumes da Ordem Maçônica fazem da vida em Loja a imagem, o reflexo, daquilo que deve ser uma Sociedade humana perfeita. E se o Homem possui assim o plano d a Cidade Ideal, é que ele alcançou sua ―imagem‖, no sentido platônico da palavra. Ele já tomou contato com o arquétipo dessa cidade, no sutil mundo da Essência , e cabe-lhe realizar esse plano no mundo da Substância . E esta Fé no Porvir, outro aspecto da Esperança , ele a estenderá à excelência da formação maçônica, de sua iniciação, pois que seus princípios serão realizados, desenvolvidos e manifestados na Cidade Futura . A Fé corresponde, na vida iniciática, ao voto de Obediência , comum às diversas religiões, e este voto é seu primeiro postulado. Para o Maçom consistirá na observância absoluta de seus Juramentos iniciáticos, no fato de submeter-se escrupulosamente aos costumes e às leis da Franco-Maçonaria tradicional, aos seus Ritos, ao seu Código, bem como aos regulamentos particulares da sua Obediência e da sua Loja. Se a palavra desagrada, substituamo-la pela expressão ―disciplina maçônica‖ . A FACULDADE DE INTELIGÊNCIA O dom de Inteligência (que não é a Virtude Filosofal desse nome) assiste a Fé no conhecimento da Verdade Maçônica , fazendo com que o espírito do Maçom, sob a própria ação do Espírito Maçônico , lentamente adquirido na Loja, penetre o sentido dos termos que comportam as diferentes fases da Iniciação Maçônica, as diversas formas rituais dos três Graus Simbólicos, o esoterismo dos elementos didáticos próprios daquela e destes. A Inteligência , como faculdade, ou como dom natural, permite ainda ao Maçom penetrar amplamente o sentido das diversas proposições filosóficas que se possam relacionar com a doutrina maçônica em sua totalidade, de maneira a plenamente compreendê-las, ou pelo menos, no caso de um esoterismo muito profundo, poder aproximar-se deles intuitivamente, apanhar sua importância esotérica e desta maneira, embora sem os assimilar em sua totalidade, ao menos respeitar e observar tanto a sua forma como as suas modalidades de transmissão. O CARISMA DA CURA O poder de Curar está misteriosa e esotericamente ligado ao simbolismo do Esquadro , ao Enxofre dos Filósofos , à Virtude da Fé , ao dom da Inteligência . De fato, é a analogia com o famoso Enxofre dos Filósofos que faz compreender e justifica esta relação comum. É a própria base da misteriosa e simbólica ― Veram Medicinam ‖. Este dom é particularmente desejável para o Maçom que na vida profana exerce as funções de médico ou de cirurgião. Ele acompanhará maravilhosamente o conhecimento humano da Medicina , que permite desenvolver a intuição inteligente que é
a base de uma necessária segurança de diagnóstico, bem como a elaboração de um tratamento eficiente. No Maçom não-médico, e sem que ele se aperceba, uma vez adquirido e desenvolvido, lhe permitirá inconscientemente aconselhar a qualquer pessoa doente que se confiar a ele, tanto na escolha do médico consciencioso como na rejeição de todo tratamento charlatanesco. Enfim, ele poderá exercitar-se no plano psíquico e moral pela excelência dos conselhos e dos diversos modos de conforto, assim como em matéria de magnetismo curativo, com respeito aos animais.
A RETÓRICA Ligada à forma iniciática simbolizada pelo Esquadro , símbolo da retidão, das normas racionais, e do sentido do dever, a Retórica permitirá ao Maçom expressar elegante e claramente aquilo que deva transmitir a outra pessoa. E como aquilo que se concebe bem, se enuncia claramente, aos poucos ele experimentará a necessidade, antes de usar a palavra para se expressar sobre o comportamento de outrem, ou para retificar o seu modo de pensar, a necessidade de colocar em ordem instantânea e antecipadamente suas próprias idéias. E assim terá observado a velha divisa maçônica: ―Ordo ab chao ‖. No entanto, que ele se lembre daquilo que dissemos acerca da Retórica . Agora ele compreenderá a necessidade, para convencer outra pessoa, de adquirir a arte do ritmo no enunciado de suas idéias, a ciência das quedas em matéria de prosa, assim como ocorre no terreno poético. Ele compreenderá intuitivamente a razão pela qual a Loja Maçônica pode tão bem simbolizar o próprio tempo consagrado ao Logos criador, a este poder do verbo tão bem expresso para os Maçons ditos de São João pelos primeiros versículos do evangelho desse nome, e porquê Loja e Logos têm uma raiz lingüística comum.
8 - O COMPASSO A PRATA DOS SÁBIOS (Exatidão na Realização) O Compasso corresponde esotericamente ao Mercúrio Filosofal , chamado ainda Prata dos Sábios , que não se deve confundir com o Mercúrio dos Filósofos . Diz-se em latim Circinus ,de Circen : círculo, O Circitor latino é aquele que faz a roda, que descreve um círculo. Vemos aí o grande arquiteto agindo em um campo submetido a limites , isto é, o Demiurgo platônico . É por isto que o esoterismo cr istão ortodoxo faz do Cristo o ―Verdadeiro e Santo Demiurgo‖ (de acordo com a palavra de Clemente de Alexandria) , pois que ele é ao mesmo tempo ― o único Mediador ‖ entre o Homem e Deus (São Paulo, Hebreus 12:24). O significado simbólico do Compasso é a Exatidão na realização, quer dizer a precisão nas relações de medida. Por isto no estágio do Instrumental magistral ele é o gêmeo da Régua , que estudaremos em seguida. Vimos, quando estudamos o Esquadro que, se este simbolizava a Terra (parte material do Cosmos), o Compasso simbolizava o Céu , por isto o Homem-Primeiro, o Andrógino primitivo, tanto nas gravuras da velha China, como no ―Rebis‖ de Basìlio Valentim, monge alquimista dos séculos XIV e XV (conforme seu ―Tratado do Azot‖) , segura o Compasso na mão direita e o Esquadro na mão esquerda 63. Na Maçonaria Simbólica dos três primeiros graus o Compasso deve ser aberto em 45 graus, sendo a abertura do Esquadro naturalmente de 90 graus. No primeiro grau (Aprendiz ) o Esquadro é posto sobre o Compasso . No segundo grau (Companheiro ) o braço esquerdo do Compasso é colocado por cima da parte esquerda do Esquadro , as duas ―jóias‖ da Loja se entrelaçam assim harmoniosamente. No terceiro grau ( Mestre ), o Compasso repousa complemente sobre o Esquadro . O significado esotérico é facilmente dedutível destas representações sucessivas. Para o Aprendiz a Matéria (Esquadro ) domina o Espírito (Compasso ). Para o Companheiro Matéria e Espírito estão harmoniosamente inseridos um no outro. É a antiga tradição ocidental das religiões chamadas abrahamitas (judaísmo, cristianismo, islamismo), segundo a qual o Homem inicial e definitivamente é um ser composto de um espírito e de uma forma , enquanto que para as mesmas tradições, o Anjo é somente espírito informal . No estagio de Mestre o Espírito domina completamente a Matéria, que se apaga. Ora, ritualmente o Mestre está morto, ele ultrapassou o ―Limiar― a Matéria desaparece, pois o cadáver já está em decomposição, de onde nos vem a resposta: ―M... B...―. Porque o Compasso deve ser aberto em 45 graus? Aqueles de nossos leitores que leram a obra de Marcel Granet.: ―O Pensamento Chinês‖ e a do Coronel B. Favre: ― As Sociedades Secretas na China ‖ terão tido a oportunidade de constatar que o simbolismo maçônico tem ligações mais remotas com a tradição chinesa, muito antes da tradição mediterrânea. Ora, se colocarmos o ângulo de 45 graus do nosso Compasso a partir do ponto vernal (0º de Áries), estaremos sobre uma das vinte e oito divisões celestes do Zodíaco chinês chamada Tse (a Cabeça de Or ion), significando a ― independência do Pensamento ‖. Se fizermos o mesmo com o Esquadro , cairemos sobre a divisão ou sieou , denominada Sing pelos astrônomos chineses e que, segundo eles, é o indicador ― da caridade, da necessidade de se devotar e mesmo de se sacrificar pelo próximo e por um 63
Vimos, no entanto, que na China há inversão de mãos.
ideal ‖. Ora, o astrólogo André Volguine, em seu livro ―A Astrologia Lunar ‖ afirma ter observado que todas as pessoas que no nascimento têm a Lua colocada nesta casa celeste possuem tendência filantrópica inegável. Que não se considere esta explicação fantasista. Lembremos que em outros graus maçônicos o Compasso é representado sobre um fragmento de Círculo, graduado ou não. Ele aí representa o Céu , e o Zodíaco é representado pelo Círculo graduado , curso solar anual, caminho percorrido pelo Compasso emblemático , imagem do Sol . Assim, pois, o Compasso , apto a aumentar seu percurso pelo artifício da marcha espiroidal e pelo afastamento progressivo e regular da sua haste exterior, simboliza o espírito, lançado na incansável e permanente conquista do desconhecido, do ignorado. Ele é, por isso, a Liberdade . E a partir daí é fácil admitir, em vista do simbolismo celeste do Esquadro , que ele evoca a noção de Fraternidade , assim como o Nível implica a Igualdade . Eis as correspondências analógicas do Compasso: Sentido..........................................a Clarividência Vício Capital...................................a Cegueira Cor do Prisma.................................o Violeta Forma Ascética...............................a Austeridade Virtude Sublimal..............................a Inteligência 64 Faculdade Espiritual........................o Dom de Integridade Carisma Secundário........................a Palavra de Ciência Ciência Mãe....................................a Astrologia Elemento da Obra ..........................o Mercúrio Filosofal (Prata dos Sábios) A
CLARIVIDÊNCIA
Intuições, premonições, sagacidade, adivinhação, todos os fenômenos que podem ser classificados sob termos tão diversos, podem, de um modo geral, ser definidos pelo vocábulo genérico de ―vidência‖ ou ―clarividência‖ e incluir todos os mo dos de premonição. A Clarividência natural , isto é, despojada de todos os procedimentos irracionais provenientes do Ocultismo prático pode ser definida assim: o conhecimento de pensamentos, de coisas e de fatos sensíveis, que o espírito não poderia perceber em seu procedimento habitual, e que são percebidos de maneira pouco precisa pelos sentidos normais, que ocorre com o auxílio de uma faculdade que oferece todas as aparências de um sexto sentido . Os sábios que estão voltados com interesse para esses fenômenos lhes deram 64
A escolástica medieval católica (e igualmente aquela ligada à Ortodoxia, no Oriente) só conhece quatro Virtudes Cardinais (Prudência, Temperança, Força e Justiça ) e três Virtudes Teologais (Fé, Esperança, Caridade ) , que são a própria base de um dos principais Altos Graus da Franco-Maçonaria. Mas a Igreja jamais ign orou as duas Virtudes Sublimais , que são a Inteligência e a Sabedoria , constituindo assim a enéada completa daqui lo que ela chama a ―divinização progressiva do Homem‖. Se duvidarmos, basta nos reportarmos às Escrituras, que a escolástica considera como sua própria titulação à primazia espiritual. Veremos aí que estas duas Virtudes (potencialidades latentes no Homem) são então freqüentemente evocadas, e geralmente ambas, em muito numerosas passagens do Antigo e do Novo Testamento. Citaremos simplesmente duas passagens que, por seu assunto, estão particularmente ligadas ao Simbolismo maçônico: ―E Deus disse a Salomão: Eis que agirei segundo a Tua palavra, e Te darei a Sabedoria e a Inteligência , de tal modo que antes de ti igual não houve e nunca se verá depois de ti (I Reis 3:12). ―Hiram era cheio de Sabedoria e de Inteligência...‖ (I Reis 7:14). Observemos que na Cabala, Binah (a Inteligência ) e Hokmah (a Sabedoria ) constituem as duas últimas Sefirot, antes de Kether (a Coroa ou o Umbral da Eternidade ) e que elas são geminadas sobre a árvore Sefirótica, Otz Chiim.
nomes de caráter científico bastante diversos: Myers desejava chamar esta faculdade de Telestesia , ou de Telepatia , Richet falava de Criptestesia , Wasielewski falava de Panestesia, enquanto que Boirac e René Sudre preferiam o termo Metagnomia . Roger Heim, diretor do Museu de História Natural, e R. Gordon Wasson descreveram a matéria em uma enorme obra a respeito das propriedades dos cogumelos alucinógenos do México e suas relações com o desenvolvimento da clarividência no homem. Eles dão exemplos espantosos e relatam experiências das quais eles foram protagonistas. Uma missão do mesmo professor Heim em Nova Guiné permitiu estudar as propriedades dos boletos e dos russais (cogumelos) dessas regiões. Mas essa Clarividência está ligada à ingestão desses cogumelos e a formas ritualísticas oriundas do velho fundo mágico primitivo. Bem outra é a Clarividência desenvolvida no psiquismo de um ser naturalmente intuitivo e que, pela via iniciática, uma formação altamente espiritualista e moral, um modo de raciocínio lúcido e um perfeito conhecimento simbolístico universal, poderá alcançar o sentido interior e profundo dos clichês emblemáticos que seu inconsciente tiver detectado e lhe tiver transmitido. Pois nos diz o doutor Carrel em ― O homem, esse desconhecido ‖: ―Dir - se-ia que o pensamento se transmite de um a outro ponto do espaço como
ondas eletromagnéticas. Nós não sabemos com que rapidez. Não foi possível, até o presente momento, medir a velocidade das comunicações telepáticas. Os físicos e os astrônomos não têm em conta o fenômenos metapsíquicos. A telepatia, no entanto, é um dado imediato da observação. Se se demonstrar um dia que o pensamento se propaga no espaço como a luz, nossas idéias a respeito do Universo poderão ser modificadas. ... É também permitido supor que uma comunicação telepática consista em um encontro, fora das quatro dimensões do nosso Universo, de partes imateriai s de duas consciências...‖ Estas linhas, escritas pelo doutor Carrel e bem antes de 1935, receberam confirmação da própria ciência experimental. De fato, em 1961 experiências científicas permitiram demonstrar que o pensamento humano, isto é, uma emissão estritamente mental, era bastante potente para, a alguns metros, fazer acender ou apagar uma lâmpada-testemunha de um aparelho especial. Ora, é esta Clarividência , feita de intuição, de sagacidade, e às vezes de manifestações repentinas, que permite ao Maçom a lcançar o sentido último e profundo da Simbólica Maçônica. E sem este sexto sentido, racionalmente desenvolvido e controlado, o Maçom permanecerá incapaz de penetrar até os últimos arcanos da Franco-Maçonaria de Tradição. Então, assim como o assinala mu ito justamente Jules Boucher na introdução ao seu livro ―A Simbólica Maçônica‖, o iniciado deve poder quebrar o cascão mental, isto é, evadir-se do racionalismo esterilizante, para chegar finalmente à transcendência. E é somente quebrando esse cascão que lhe será possível alcançar a verdadeira iniciação. Todos os símbolos abrem portas, sob a condição de que não nos detenhamos, como geralmente é o caso, na definição moral! A Clarividência e os fenômenos semelhantes foram longamente estudados pelos sábios s oviéticos em Moscou. Eles os definiram assim: ―Sobrevivência de uma adaptação biológica, que remonta a um estado pré- histórico‖. Uma tal definição implica a noção da ―queda inicial‖, isto é, da regressão psíquica sucedendo a um estado inicial privilegiado . É estranho ver a ciência materialista chegar involuntariamente a uma tal conclusão, até agora própria das tradições iniciáticas que ela desejava ignorar... A CEGUEIRA Às duas ―‘Virtudes Sublimais‖ Inteligência e Sabedoria , da antiga escolástica esotérica, se opõem duas ―Virtudes Tenebrosas‖, que são a Cegueira e o Erro .
A Cegueira consiste na perda (às vezes progressiva) do discernimento do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas, e na impossibilidade de perceber, sob as espécies e sob os objetos materiais, tanto quanto nos próprios seres vivos, o que os religa a esses dois pólos opostos. Ela consiste igualmente na recusa das realidades objetivas. Encarar a vida de frente, perceber a iminência de um perigo, a ameaça de uma guerra, o aparecimento de uma ideologia destruidora dos ideais tradicionais, tudo isto será imutavelmente penoso e desagradável para aquele que for acometido de Cegueira . Ele se persuadirá de que a destruição desses perigos ocorrerá com a simples negação da sua existência. Certo pacifismo mistagógico do período 1930-1938 leva em parte a marca da Cegueira e a responsabilidade parcial de um dos maiores massacres da História. Para o Maçom esta degradação espiritual consistirá na obturação do sentido oculto das palavras, ela lhe velará irremediavelmente o esoterismo dos ritos e dos símbolos, o sentido superior dos rituais e das expressões, o conteúdo intelectual e moral dos catecismos e das instruções maçônicas. Fará com que ele prefira a letra que mata ao espírito que vivifica, ela o afastará pouco a pouco do sentido, superior, permanente e verdadeiro da Franco-Maçonaria. O Maçom será levado a submeter esta a ideais momentâneos e impermanentes, ele perderá de vista o objetivo supremo da Ordem Maçônica que é o de unir os seres humanos e fazer com que se amem. As preocupações políticas de cada um, a defesa de interesses materiais terão maior relevo do que estes objetivos seculares. E ele progressivamente virá a negar a importância dos próprios elementos da iniciação maçônica que são os ritos e os símbolos . E para ele a Ordem Maçônica se rebaixará insensivelmente ao nível de um ―cìrculo‖ onde se trocam Idéias sem grande convicção. A INTELIGÊNCIA A Inteligência , primeira Virtude Filosofal, é o atributo daquilo que corresponde à visão, à intuição, à percepção e à informação dos seres e das coisas. Compreende-se que esteja associada ao simbolismo do Compasso investigador, o qual engloba já a Clarividência . Como tal, a Inteligência é então o conhecimento (em grego: gnosis ) dos princípios eternos, dos aspectos pleromáticos do Absoluto, a ciência do Bem e do Mal, mas no que diz respeito à sua percepção relativamente confusa, e até mesmo imprecisa 65. É ela que nos dá, ao contrário da Cegueira , a possibilidade de perceber sob as espécies, os objetos ou os seres materiais aquilo que os religa aos pólos opostos do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas. Ela nos faz conhecer quase que instantaneamente o valor real de uma doutrina política, social ou filosófica e sua compatibilidade ou sua oposição com a Tradição Maçônica. A Inteligência faz com que penetremos no sentido profundo dos termos, no esoterismo dos textos, em sua significação superior, no papel real de um rito ou de um símbolo no ritualismo maçônico. Ela faz com que apanhemos sob as aparências , as realidades espirituais e nos reflexos imperfeitos aqui de baixo as realidades transcendentes assim deformadas ou veladas. Assim como, em Hiram, arquiteto do templo de Salomão, uma Imagem: o Grande Arquiteto do Universo , o Logos Criador do sistema platônico. Depois, no assassinato do mesmo Hiram pelos três maus Companheiros, a sanha das Potências do Erro por sufocar a Verdade, a perseguição ao homem justo pelos três flagelos que são o Fanatismo, a 65
Orígenes nos mostra o FILHO, tirando sua eternidade própria da contemplação extática deste Abismo metafísico que é o PAI. A tese é curiosa por mais de um motivo, pois ela sublinha a excelência das relações analógicas entre o Verbo-Demiurgo, o Compasso (circitor ) e a Inteligência , virtude filosofal. Também aí a noção gnóstica tradicional associa o Conhecimento e a Salvação . Igualmente, ela nos mostra a aplicação da palavra dos Evangelhos: ―Ninguém vai ao Pai senão por Mim...‖, pois é da sua integração no Filho que o Homem alcançará a sua compreensão do Pai, segundo a doutrina cristã.
Tirania e a Ignorância. Finalmente, na ressurreição do mesmo Hiram, a última esperança de que a Humanidade, involuída no número e na matéria , chegaria um dia a reencontrar a sua unidade original e todos os atributos do espírito. E muitas outras imagens paralelas, muitas outras analogias que não nos é permitido abordar aqui, porque constituem o misterioso ― jardim‖ que o Maçom deve limpar, cultivar e proteger, a exemplo do Adão bíblico, e que é a própria essência do muito real segredo maçônico... A Inteligência nos apresenta as Realidades eternas alcançadas pela Fé maçônica sob uma luz tal que, embora sem aproximar-se delas e atingi-las totalmente, nos reafirma em nossa certeza, não mais intuitivamente como pela Fé , mas por uma espécie de visão intuitiva e subconsciente das coisas. Este o motivo pelo qual ainda aqui a encontramos associada à Clarividência . Em um grau superior ela nos dará uma visão parcial do que se pode chamar o ―Grande Arquiteto do Universo ‖ , não no -lo revelando totalmente, o que é impossível, no estágio atual de nosso conhecimento, mas fazendo com que compreendamos com uma certeza absoluta aquilo que não se poderia classificar sob um vocábulo. A Inteligência corresponde, na vida iniciática cotidiana, ao voto de Austeridade das diversas religiões, Austeridade que de nenhum modo é o puritanismo estreito de algumas formas exotéricas da vida religiosa profana. A palavra deriva do grego austeros , que significa severo, rude, dessecado. Em Atenas, a festa de Ceres ou Deméter, que era denominada Tesmoforia , era a festa mais severa e a mais austera do ano. A Austeridade consiste em um modo de viver rigorosamente para si mesmo , e não para outrem, como tantos puritanos hipócritas a concebem. É necessário lembrar aqui que a Austeridade tem um sentido mais restrito do que a Severidade . Ele é a Severidade nos costumes daquele que a pratica, enquanto que esta última é sobretudo ativa nos costumes de outrem! A Austeridade consistirá no fato de menosprezar todo luxo inútil e chamativo, no fato de limitar os prazeres da mesa a um mínimo, bem como os dos sentidos em geral, e procurar os espetáculos e as leituras suscetíveis de trazer proveito à inteligência e ao coração, preferindo-os às inépcias tão freqüentemente procuradas pelo mundo profano. É uma palavra muito raramente compreendida pela Mulher, devemos admitir! Esta é rigorosa, puritana, ou o oposto, frìvola, leviana, vaidosa, tanto do ―seu‖ interior como de ―suas‖ vestimentas, mas raramente está no justo meio. A FACULDADE DE INTEGRIDADE Sob a denominação de dom da Integridade , a antiga escolástica medieval entendia um tríplice privilégio: a ciência infusa , o domínio das paixões , a incorruptibilidade corporal . Estas três coisas foram de resto reivindicadas pelos Rosa+Cruzes do século dezessete como sendo os elementos probatórios absolutos de uma real participação em sua fraternidade e a assinatura iniciática por excelência. É evidente que uma vida sabiamente preenchida, na observação regular dos princípios iniciáticos essenciais, que não hesitaremos em definir sob o nome de ascese maçônica , esta vida está, mais do que qualquer outra, apta a permitir o desenvolvimento destas faculdades transcendentais que aqui estudamos, ligadas ao simbolismo de humildes Instrumentos . A partir disto, intuição, clarividência, inteligência das coisas, tudo isto nos facilitará o manejo das ciências constitutivas do Quadrivium , do Trivium e do Bivium , precedentemente analisadas. E conhecimento e Intuição, assim associadas, estão muito perto de constituir esta ciência infusa , primeiro privilégio da Integridade . A mesma ascese maçônica , tendo levado o Maçom até o Mestrado , deve logicamente permitir-lhe que vença e domine as suas paixões. É insensato, então, falar no domínio das paixões? Um indiscutível desprendimento das coisas do mundo profano, a certeza de que as manifestações superiores do Homem digno deste nome não seriam capazes de se desenvolver ao nível dos elementos grosseiros constitutivos do mundo profano, e o Maçom está então bem perto de alcançar este domínio das paixões ....
Resta um ponto delicado e aparentemente impossível de abordar, se não nos afastarmos de certas posições materialistas. Trata-se da incorruptibilidade corporal , e sobretudo póstuma . Em uma obra de alto conteúdo científico, o doutor Larcher abordou este problema: ― Pode o sangue vencer a morte ?66‖, verdadeiro ensaio de tanatologia . Por outro lado, autênticos documentos atestam a surpreendente conservação de corpos cujos possuidores, em vida, foram sempre ascetas , no bem ou no mal. Atestam que às vezes subsistem, após a morte, determinadas características inexplicáveis da vida. E sensacionais e recentes operações cirúrgicas conduziram as mais altas autoridades médicas a admitirem que a definição da ―morte legal‖, que até agora repousava sobre a constatação da parada absoluta do coração e da respiração, deve agora ser revisar em vista das conclusões decorrentes dessas operações. Por outro lado, sábios soviéticos descobriram que as últimas lutas da agonia suscitam, no corpo humano, o nascimento de anticorpos dotados de propriedades vitais particulares . Ora, o que dizer da imputrescibilidade do corpo e do sangue, das vísceras essenciais, por secreção dos óleos necessários a uma espécie de auto-embalsamento, da manutenção de urna temperatura muitas vezes muito próxima da dos vivos, da flexibilidade dos membros, e isto depois de muitos anos decorridos após o sepultamento? Alguns casos remontam a aproximadamente dezoito séculos 67 . Todos estes casos apresentam estranhos problemas. Se acrescentarmos o exsudato sangüíneo em determinados cadáveres assim anormalmente conservados, exsudato que implica uma renovação hormonal do sangue e, por outro lado, uma certa e misteriosa circulação sangüínea (hemorragia ininterrupta na sepultura), todas estas coisas observadas em indivíduos que pertencem a ideologias totalmente opostas, todas estas coisas espantosas implicam a presença de um elemento psíquico análogo ao duplo do antigo Egito. Pois não se poderia atribuir à natureza do solo com o qual o corpo em questão não tem nenhum contato (devido ao caixão e ao túmulo) uma tal misteriosa conservação, tanto mais quando nas sepulturas vizinhas os demais cadáveres estão sempre normalmente decompostos. É por isto que o doutor Lar cher, em sua obra: ― Pode o Sangue vencer a morte ?‖
se permite avançar esta hipótese, decorrente de sua longa e altamente científica pesquisa: ―Uma morte que seria puramente fisiológica, sem a menor alteração orgânica, ainda seria a morte, ou seria ela antes um grande êxtase irreversível, como o nirvikalpasamâdhi, um sono particular, uma dormição negada à natureza doente, mas permitida totalmente à natureza imaculada e parcialmente à natureza regenerada? Pensemos também na virtude iluminadora da consciência, que Milosz atribuía ao contraveneno anticorruptor...‖. E aqui tornamos a encontrar o símbolo essencial do Mestrado maçônico, a misteriosa Acácia . Pois segundo a nossa tradição secular, é um ramo de Acácia que dá sombra ao túmulo de Hiram. Ora, se analisarmos esta palavra segundo a cabala solar, ou cabala fonética 68, constatamos que é apenas a deformação verbal da palavra sânscrita Akasha , que designa o Éter, quinto elemento e representando ―o estado primordial de equilíbrio indiferenciado ‖, nos diz René Guénon 69, ou seja, o Eterno Presente ou o Pleroma dos antigos gnósticos. Que o leitor releia a frase citada algumas linhas acima e tirada da obra do Dr. 66 67 68 69
Paris 1957, Gallimard editores. Possuímos copioso arquivo sobre esses fatos extraordinários. Cf. Fulcanelli: ―O Mistério das Catedrais‖. Cf. René Guénon: ―O Homem e s eu Futuro segundo o Vedanta‖.
Larcher. E toda a virtude misteriosa do tão belo ritual de Mestre Maçom se torna claro! Compreende-se, então, que a ascese maçônica, bem conduzida, pacientemente sustentada ao longo de toda uma vida, pode assegurar ao Iniciado o retorno ao Oriente Eterno evocado por nossas Cerimônias Fúnebres. E que a nossa Tradição não poderia admitir a negação da alma imortal, em virtude da própria salmodia que acompanha estas mesmas Cerimônias Fúnebres: ―Gemamos, meus Irmãos! Gemamos! Gemamos! Mas esperemos...‖ Aliás, é bastante curioso constatar que este termo (―gemamos...‖) é repetido três vezes. Ora, a sua inicial, a letra ―G‖, quer seja um gama grego ou de ghimel hebraico,
vale como número ao três nesses alfabetos. O que, pela repetição (3x3: gemamos... gemamos... gemamos...) dá nove , o número da morte e da ressurreição de Hiram, o número dos Mestres , o número de Saturno , a Foice , a Fome , o Fim ... Henri Bergson 70 nos diz:‖A Humanidade geme esmagada sob o peso dos progressos que fez. Ela não sabe que seu futuro depende dela. Cabe a ela ver primeiro se quer continuar a viver! Depois tem de perguntar a si própria se somente quer, ou se quer fazer o esforço necessário para que se cumpra, até mesmo sobre nosso planeta refratário, a função essencial do Universo, que é a de ser uma maquina de fazer deuses...‖ A PALAVRA DE CIÊNCIA A Palavra de Ciência é uma faculdade, um ―dom‖ ( sermo scientiae ) que nos permite utilizar os conhecimentos e as ciências clássicas a fim de fazer melhor compreender aos nossos Irmãos as verdades essenciais da nossa Tradição. Ela nos permite distinguir (fruto da Inteligência ) e fazer os outros distinguirem a presença de uma Inteligência misteriosa agindo em todo o Universo, e sobretudo demonstrar a sua ex istência pelo fato de que é necessária. Eddington, em sua obra ― O Universo em Expansão ‖, manipulando a moderna mecânica quântica ondulatória, não hesita em nos dizer que: ―A noção de um espírito ou logos universal é, assim creio, uma inferência bastante plausível a fazer do estado atual das teorias físicas, ou ao menos não está em contradição com elas. Mas se assim é, tudo o que a nossa investigação nos permite afirmar com razão é puro panteísmo sem cor. A Ciência não pode dizer se o espírito do mundo é bom ou mau! E seu argumento capenga em favor da existência de Deus poderia igualmente transformar-se em argumento em favor da existência de um Demônio!...‖ A Palavra de Ciência implica evidentemente a posse perfeita do Quadrivium e do Trivium : Aritmética, Música, Astronomia, Geometria, Dialética, Retórica, Gramática. A ASTROLOGIA Vimos que na antiga escolástica medieval exotérica o Quadrivium compreendia a Geometria, a Astronomia, a Música e a Aritmética , e acima, o Trivium englobava a Lógica (ou Dialética), a Retórica e a Gramática . A escolástica esotérica medieval compreendia mais duas ciências que todos os Hermetistas, tanto da Idade Média como da Renascença, e os Rosacruzes dos séculos XVII e XVIII estudaram e praticaram, ciências que constituíram o Bivium , isto é, a Astrologia e a Alquimia , constitutivas, com a última ciência que coroava esta dupla via, de um ternário iniciático completo, que nós chamamos a Mística . O Compasso , imagem perfeita do curso dos Astros, e do Universo no qual eles 70
Cf. Henri Bergson: ―As duas Fontes da Moral e da Religião‖.
se movem, dóceis a leis aparentemente eternas, está em nossa classificação iniciática associado analogamente à Astrologia . Tomando em consideração a repulsa de determinados meios a respeito desta última, repulsa geralmente ligada a uma absoluta ignorância do problema, e que associa espíritos profundamente religiosos como também espíritos ferozmente racionalistas, parece-nos indispensável apresentarmos de maneira exata aquilo que é a Astrologia moderna, denominada Astrologia científica. A Astrologia, esta ciência florescente no Egito, na Caldéia e na Europa medieval, e que parecia abandonada há mais de um século, renasce lentamente em nossos dias. Mas, por vezes, ela é tão depreciada na opinião pública profana que quase é necessário, para tornar-se o advogado defensor de sua causa, justificar-se antes de defendê-la71. Se considerarmos que ela contava entre seus adeptos os espíritos mais eminentes dos tempos antigos, tais como Ptolomeu, Cassini, Kepler, Cardan, Newton, Gerson, Tomás de Aquino, Lutero, e centenas de outros sábios, filósofos, teólogos de primeira ordem, e que, por outro lado, seria talvez muito difícil encontrar entre seus detratores um único que se tivesse dedicado seriamente a estudá-la, parece que a tentativa de pôr à prova seriamente os seus ensinamentos tradicionais com o uso de nossos métodos positivos de investigação moderna, deve escapar à censura de não encontra justificativa, e que seja então permitida sem ser ridicularizada. Além disto, se as pesquisas assim dirigidas produzissem a prova de que os Astros móveis que nós vemos luzir no firmamento em um instante determinado sobre um dado horizonte exercem, tal como o afirma a Astrologia, uma ação determinante sobre o temperamento, sobre as faculdades e sobre a evolução dos seres que vem à vida nesse instante e sob o horizonte dado, esse fato teria incontestavelmente um interesse se e uma importância consideráveis. Ora, todos os que tiveram a perseverança necessária para se iniciarem nos ensinamentos dos antigos mestres dessa ciência e para verificá-los pela experiência e pelas estatísticas, todos esses se convenceram da influência astral. No sentido mais positivo, a Astrologia é, pois, ―a ciência experimental das potencialidades latentes do caráter humano e das causas determinantes dos fenômenos72‖. Porém duas questões fundamentais se impõe : 1° Existe realmente uma relação entre as tendências inatas no homem e a posição dos Astros no momento preciso do seu nascimento? Quais são as provas? 2° - Esse aspecto do Céu no momento do nascimento dá as indicações sobre o destino humano, e as épocas podem ser conhecidas previamente? Nós responderemos que numerosos sábios dos tempos modernos admitiram a influência planetária: Transon, em sua ― Enciclopédia ‖ declara que ― a idéia da influencia dos Astros pode muito bem ser reconhecida pela razão ‖. Flammarion, o grande Flammarion, estava convencido disso. Lembremos as observações do abade Moreux a respeito da influência das manchas solares sobre a recrudescência dos suicídios e sobre a turbulência dos estudantes! Todos os seres na Natureza têm uma existência intimamente ligada às variações do aspecto solar. A época de floração para a planta, de reprodução para o animal, de doença crônica para o homem, não é estranha aos diferentes aspectos do sol, 71
J. Bricaud: ―Elementos de Astrologia‖, Paris, Libr.du Magnétisme.
72
P. Choisnard: ―Langage Astral‖, Paris, Chacornac éditeur.
às suas estações. Ora, o astrólogo reconhece que, não somente o homem é submetido aos influxos celestes de essência solar e análogos, mas ainda afirma que o sol não é o único astro cuja influência sofremos, mas que todos os elementos do nosso sistema solar nos influenciam igualmente. Acontece que se acabou de descobrir corpos celestes, situados a milhões de anos-luz de nossa Terra . São tão grandes como milhões de sóis ; ultrapassam em brilho mais de cem vezes o brilho da nossa galáxia inteira . Eles se assemelham a estrelas, mas seu próprio gigantismo impede que se lhes dê esse nome. Dir-se-ia que são a aglomeração de um plasma de luz. Nenhuma teoria astrofísica permite explicar sua existência, nem definir sua natureza, eles são um desafio ao raciocínio científico. Emitem ondas rádio com uma profusão equivalente a milhões de vezes aquilo que poderia emitir uma galáxia composta de milhões de estrelas. E se quer que o cérebro humano seja insensível a tais emissores? Que ridículo... 73 Todos conhecem a banal experiência que consiste, nas observações astronômicas, em transformar as radiações luminosas vindas dos astros mais distantes em radiações sonoras. E atualmente, em Nançay, perto de Vierzon, o laboratório de rádio astronomia registra diretamente raios siderais de ondas diversas, pode dizer-se que se ouve cantarem as estrelas... Mas que homem de ciência terá a audácia de construir um robô cibernético munido das possibilidades humanas clássicas: deslocamento, movimento, manipulação autônoma, e sobretudo memória registradora , e eletronicamente determinante (existem muitos dotados desta ―memória‖ artificial), e de submetê-lo, como agente motor, somente às radiações siderais luminosas, tornadas radiações sonoras dentro do laboratório ? Qual seria o comportamento desse robô cibernético? E, de qualquer maneira, que triunfo para a Astrologia ... Acrescentemos que os sábios soviéticos acabam de estabelecer (1964) que radiações invisíveis são emitidas pelos Astros, radiações totalmente diferentes em sua natureza daquelas que nós conhecemos . A mesma experiência, aplicada a esses influxos misteriosos, que resultado produziria? Não daremos aqui um curso de Astrologia. Há muitas obras sobre esta ciência. Seu aspecto científico foi superabundantemente demonstrado pela estatística, pela observação. Isto não é uma ―ciência oculta‖ que se trate de admitir a priori . É uma ciência conjetural, do mesmo modo que a Meteorologia (que era outrora apenas um ramo desta). Seu estudo complexo repousa sobre cálculos matemáticos, sobre a observação de regras, baseadas sobre a experiência. Dela podem ser exigidos fatos, provas. É uma ciência experimental e de observação . 9 - A RÉGUA O OURO DOS SÁBIOS (Regularidade na Aplicação) A Régua corresponde esotericamente ao Enxofre Filosofal , também chamado Ouro dos Sábios e que é necessário não confundir com o Enxofre dos Filósofos . Em latim se diz regula, norma, praeceptum , ou seja: regra, norma, preceito. Evoca também o cetro, 73
Lembraremos aqui a bem pertinente nota do Grande Comendador de Honra do Grande Oriente de França, o Muito Ilustre Irmão Jean Corneloup, em uma cerimônia solene das Lojas tradicionalistas dessa Obediência, em fevereiro de 1964: ― O homem recebe, sem seu conhecimento, os impulsos que lhe chegam do fundo do universo...‖
pois o latim regulus quer dizer pequeno rei, reizinho. Com os termos norma e praeceptum (norma o preceito) ela justifica o fato de que a Franco-Maçonaria a tenha freqüentemente substituído pelo Livro Sagrado : Bíblia, Evangelho Joanita, Alcorão, Vedas, etc., segundo a região e a religião local. Mas o inverso é igualmente verdadeiro. E o Livro Sagrado pode do mesmo modo ser representado por uma Régua , imagem da ―lei eterna‖, daquilo que é autenticamente o bom, o belo e o verídico. Se estas coisas são susceptíveis de mil nuances, segundo as raças e as épocas, não é menos verdade que certos princípios são absolutamente incontestáveis quanto ao seu valor absoluto. A Régua significa, para o Maçom, a regularidade na aplicação dos princípios maçônicos à vida corrente, tanto iniciática como profana. Para o Mestre suficientemente informado das altas correspondências esotéricas dos nossos Símbolos, revela muitas chaves desconhecidas. Ela possui primeiro a significação de medida , em latim mensura , e numerus (número) . É também o símbolo da Autoridade . A Régua é o Cetro do Professor , é dela que ele vai servir-se como pedagogo quando ele bater na sua cátedra a fim de obter de seus alunos o silêncio que deve acolher sua palavra. E acontecerá, por vezes, que ela lhe sirva igualmente de instrumento de correção tanto quanto de afirmação de sua autoridade legítima... É pela ligação que tem com a noção de realeza que se pode unir termos aparentemente sem relações: 1) régio (do latim regalis ; real): direito real sobre a vacância de um episcopado; 2) realengo (direitos realengos), direitos ligados à soberania real; 3) regalo , regalar, alimentação ou festim digno de um rei. Ora, se o latim regula significa Régua , deriva do verbo regere , dirigir, próximo de regnare ; reinar. A Régua era outrora, na Compagnonnage, das dimensões de um côvado . Mas havia muitos côvados no antigo Egito: côvado natural : de 0,45m de comprimento côvado real : de 0,525m de comprimento côvado sagrado : de 0,635 m de comprimento. Este último, que também era chamado de côvado piramidal porque havia servido de medida durante a construção da grande pirâmide, monumento misterioso entre todos, tornou-se em seguida aquilo que o mundo árabe denominou de o côvado haschémico (0,640 m) 74. O côvado piramidal serviu igualmente de norma para a construção do Templo de Salomão, em Jerusalém. O côvado piramidal se dividia em duas partes, valendo cada uma um pé real , ou seja doze polegadas cada uma, vinte e quatro ao todo. A Maçonaria inglesa possui uma Régua , dividida em vinte e quatro subdivisões e ela atribui cada uma destas a uma hora do dia, sendo a Régua a imagem da jornada. Vê-se que a significação prática parece ter sido esquecida... Pois o nosso côvado sagrado ou côvado piramidal é muito mais misterioso do que se pensaria de início. Seu comprimento, de fato, nada mais é do que a secção áurea do metro , com aproximação de alguns milímetros. Realmente, a secção áurea do metro , calculada de maneira precisa, é de 0,618m, ou seja, aproximadamente 0,62m. E o côvado sagrado é de 0,63m. A diferença é de 1,7 por 100, o que é irrisório tendo em conta a variação dos instrumentos de medida material no decorrer dos séculos. De fato, um Compasso rombudo de talhador de pedra (compasso muitas vezes de um metro de altura), um Cordel de quinze metros (o comprimento do Cordel antigo era exatamente de 74
De hakim : mestre, em árabe. Era o côvado dos mestres .
15,24 m) são instrumentos suscetíveis de dar diferenças de medida que importam em muitos milímetros em cada operação. É isto que explica que em certas regiões do Oriente Médio o côvado haschémico , que o sucedeu, seja de 0,640 m em lugar de 0,635m e que o pé real (1/2 côvado piramidal ) tenha tido o valor de 0,324m após a Idade Média, no Ocidente, em lugar de 0,317m como no Egito antigo. Ou seja, uma diferença de sete milímetros, o que, convenhamos, é bem pouco. Mas o mistério aumenta se, considerando que o côvado piramidal, ou côvado sagrado, nada mais é do que a secção áurea do metro, se perceber que isto implica o conhecimento deste último pelos arquitetos e os sacerdotes do Egito antigo. Pois isto subentende o conhecimento da esfericidade da Terra e da medida de seu meridiano... 75 Vê-se que os sacerdotes do Egito antigo não eram ignorantes e que as descobertas estupendas feitas pela decomposição das medidas dos elementos constitutivos da grande pirâmide, o segredo da sua mist eriosa orientação provam, por sua vez, o perfeito conhecimento da ― Letra G ‖ , da arte da Geometria . A Régua da Maçonaria é, pois, igualmente um dos símbolos do Saber esotérico , e não dos menores, o que veremos em seguida. Eis as correspondências analógicas da Régua: Sentido .....................................................a Clariaudiência Vício Capital..............................................o Erro Cor do Prisma ..........................................o Alaranjado Forma Ascética.........................................a Meditação Virtude Sublimal....................................... a Sabedoria Faculdade Espiritual................................. o Dom da Graça Carisma Secundário................................. a Palavra de Sabedoria Ciência Mãe .............................................a Alquimia Elemento da Obra ....................................o Enxofre Filosofal (Ouro dos Sábios) A CLARIAUDIÊNCIA A Clariaudiência é, no campo auditivo, aquilo que a Clarividência é no campo visual, ou paravisual se ela se exerce no estado onírico. Notemos, pois, que existe uma Clariaudiência de modo onírico como existe no estado de vigília.
75
Denomina-se Número Áureo ou Secção Áurea uma relação particular, de tal modo que a menor parte, em relação à maior, será como a maior em relação ao todo. É a isto que se chama, em geometria clássica, a divisão da linha reta em média e extrema razão . Encontra-se em ― O Número de Ouro ‖, de Matila C. Ghyka, obra fundamental em dois grandes volumes (Gallimard editor) um muito vasto estudo sobre o assunto, desde a Antigüidade até nossos dias, na Arte, no Oculto, etc. Por outro lado, em sua ―Simbólica Maçônica‖, Jules Boucher consagrou quatro páginas ao estudo das demonstrações práticas deste mesmo Número de Ouro , notadamente a respeito do ― Quadrilongo ‖ (Pavimento de Mosaicos) da Franco -Maçonaria. Diversas outras obras abordaram o estudo desta mesma Secção Áurea na Arte em diversas épocas.
Parece que em Israel antigo as faculdades superiores dos profetas se manifestavam sobretudo neste último modo de percepção, e menos em modo visual ou paravisual. Ás vezes, em seus aspectos mais elevados, elas se manifestavam simultaneamente de modo visual e auditivo. É o caso do profeta Jeremias, o caso de Ezequiel, de Oséias, de Joel, de Jonas, de Miquéias, de Sofonias, de Ageu, de Zacarias, nos quais se encontra imutavelmente este modo de apresentação: ―A palavra do Eterno me foi dirigida nestes ternos...‖ Ao contrário, em João de Patmos, o Apocalipse é recebido de maneira simultaneamente visual e a uditiva. Não falaremos aqui das ―vozes‖ de Joana d‘Arc. Historiadores de valor, que
pesquisaram suas verdadeiras origens 76, pensaram poder concluir que essas vozes eram as dos conselheiros que vigiavam sua juventude, em sua família adotiva, que lhe haviam ensinado a técnica das armas da época e sua estratégia! Remetemos o leitor aos estudos sábios de Jean Jacoby e de Gérard Pesme. Se o interesse pelo maravilhoso perde, a História ganha! Os Maçons ocultistas poderão documentar-se a respeito de todos estes fenômenos psíquicos por meio de sérias e numerosas ob ras, e principalmente pela grande obra que o doutor Paul Joire, professor do Instituto Psico-Fisiológico de Paris, publicou em 1909 (em Vigot Irmãos, livraria muito séria) e intitulado ―Os Fenômenos Psíq uicos e Supranormais‖. Ele aí se antecipa aos trabalhos do saudoso doutor Osty em seu Instituto de Pesquisas Metapsíquicas. Deve-se notar que em toda a fenomenologia relatada neste campo, não se trata de previsão do futuro. Estudam-se aí os fenômenos de audição psíquica provocados. E, em sua simplicidade e em sua banalidade mesmo, eles são extremamente curiosos e abrem horizontes insuspeitos sobre as possibilidades do personagem que o doutor Carrel designava e estudava em sua célebre obra: ―O Homem, este Desconhecido‖. Melhor ainda, eles permitem encarar as modalidades de criação do clima psíquico favorável à premonição auditiva . O ERRO A Régua sendo a própria imagem da exatidão , é também a da Verdade . É então lógico que o vício, que se lhe opõe, seja o Erro . O sujeito que vir desenvolver-se em si mesmo uma das duas faculdades estudadas acima, Clarividência e Clariaudiência , deverá, antes de tudo, encouraçar-se com uma capa de desconfiança. De maneira alguma deverá colocar as mesmas em ação para os problemas sem conteúdo iniciático. Que ele deixe a percepção do futuro aos gabinetes de cartomantes e aos videntes que se consideram extralúcidos. Tais aplicações absolutamente não são dignas de um Maçom. Mas que ele se contente em fazê-las servas da sua Intuição, no domínio da introspecção iniciática, na percepção dos aspectos interiores do esoterismo maçônico. Quantos pontos de história obscuros em nossa Ordem, quantos rituais que ficaram obscuros, quantos símbolos mudos que a ele caberá
Segundo toda uma escola histórica sobre a qual não foi possível organizar totalmente a conspiração do silêncio e sufocar a voz, Joana d‘Arc seria a filha ilegítima do duque Louis de Orleans e de Isabel da Baviera, esposa de Carlos VI, e portanto meia-irmã do Bastardo de Orleans, filho de Louis de Orleans e de Mathide de Enghien. Pesquisas pessoais foram feitas por nós mesmo durante cinco anos, o que nos permite aderir a esta tese, extremamente válida . Documentos da época, particularmente perturbadores, fazem justiça em todo caso à ―pastorinha‖ ignorante e ingênua. Joana era uma filha extremamente inteligente, altiva, sabendo levar os homens, e conhecia, quando chegou a Chinon, a estratégia da época, a equitação e a esgrima daquele tempo... 76
fazer falar e despojar de seus segredos seculares. Sobretudo ele não deverá, se pertencer às correntes da Maçonaria espiritualista, se além disto for membro de organizações mais ou menos próximas do Ocultismo, imaginar que esteja em relações psíquicas com Deus, com a Virgem Maria ou com o Apóstolo João! Ele deverá lembrar-se de que toda manifestação inferior de forças desconhecidas, no homem, está imutavelmente e em um ponto qualquer marcada pelo grotesco, inconseqüente, o irracional, e traz em si os germes de anarquia. Se os períodos de manifestação destas manifestações aberrantes coincidirem com um clima geral interior imoral ou amoral, se a sexualidade se revela mais exigente, às vezes marcada de depravação oculta, se as teorias de facilidade acompanham estes fenômenos, que o Maçom saiba que ele abriu em si as ―portas―por onde escapam, subindo à superfície, e aí se espalham em seu consciente forças desconhecidas até aí presas nas profundezas do seu ser. Com muito maior razão se ele crê que foi chamado a completar ou a modificar um corpus religioso ou filosófico qualquer, ou a alterar ensinamentos tradicionais, conhecidos por sua excelência e por seu alto nível moral. Neste caso ele está sendo vítima do Erro , esta potência tenebrosa, oposta à Sabedoria , que rapidamente nos tira o senso do bem e do Mal, do Justo e do Injusto, do Belo e do Feio, do Bom e do Mau. Nesse domínio, para o Maçom prisioneiro do Erro , toda discriminação se apaga de pouco a pouco. Ela se torna mais grave ainda, quando nos obnubila o senso do verídico e do autêntico em matéria de filosofia. O Maçom desencaminhado não está mais em estado de perceber aquilo que lhe é realmente útil no domínio iniciático. Os velhos símbolos tornam-se letra morta para ele, quando não acontece que ele os inverta conscientemente. Quando o Maçom chegar tão longe na descida para as trevas espirituais, dificilmente pode imaginar-se uma subida por seus próprios meios.
A SABEDORIA A Sabedoria só poderia fazer aceder, revelar ou exprimir a verdade absoluta . Não é de admirar então que tenha por símbolo a Régua . A Sabedoria consiste na escolha e na adoção do melhor entre os dados acessíveis à Inteligência . Ela pressupõe então a Inteligência , ela opera em seu seio somente por eliminação. É a submissão espontânea, inteligente e compreensiva a um bem que ela percebe como se a dominasse a ela mesma. Como tal, ela é uma discriminação entre o Bem e o Mal, a ciência destes dois opostos. Ela figura como primeira luz da Ordem Maçônica , com a Força e a Beleza , suas acompanhantes e suas irmãs, ao mesmo tempo. Na Maçonaria de Tradição, a luminária que a representa em um dos ângulos do Quadrilongo tem o privilégio de ser acendida pela mão do próprio Venerável da Loja, e a aparição de sua chama saudada em alta voz por ele com es ta fórmula secular: ― Que a Sabedoria presida os nossos Trabalhos... ― Ele se contenta em acender em silêncio as duas outras luminárias, e suas chamas são então saudadas pela voz somente do Primeiro e Segundo Vigilantes, quando estes vem acender suas próprias velas: ― Que a Beleza os orne ...‖ ―Que a Força os complete...‖. Se, para o Maçom, a Inteligência é o Conhecimento total, a Gnose evocada pela celebre ―letra G‖, a Sabedoria é então o uso que dela se faz. É de algum modo o aspecto superior, pois que o resultado da ação da Fé e da Caridade , do Mercúrio e do Sal Princípios na própria alma do Iniciado.
A Sabedoria faz com que julguemos todas as coisas apreciando-as segundo as normas da Razão pura, da qual todas as outras dependem, porém ela própria não depende de nenhuma outra. Um exemplo nos fará compreender melhor. É banal e muito conhecido. Todavia, é perfeitamente adequado ao caso. 1) Se Deus existe, ele é necessariamente perfeito, pois um Deus que não fosse perfeito não seria Deus, e um Deus imperfeito não poderia existir. Este nada mais seria do que uma criatura imperfeita e o Criador perfeito ficaria por descobrir. 2) Se Deus existe e é então necessariamente perfeito, ele não teria podido, sadicamente, tirar do Não-Ser e criar ex-nihilo criaturas que ele sabe, em sua presciência e em sua onisciência perfeitas , deverem se perder e se danar eternamente . Sua bondade, sua justiça, seu amor se opõem a isto. 3) Se, portanto, Deus existe , e é necessariamente perfeito , o inferno eterno não existe, nem pode existir. Este é um raciocínio maçônico, é a sacrossanta Razão maçônica dirão nossos adversários clericais. Nos responderemos que, maçônica ou não, é isto que a razão humana considera como um raciocino lógico , e como não possuímos qualquer outro, este nos basta. E todos os raciocínios farisaicos de certos teólogos nada mudarão aí. É então pela Sabedoria que o Maçom pode atingir o mais alto grau de conhecimento acessível. ao ser humano aqui, pois que este conhecimento não reside em um fenômeno de percepção geral, (como na Inteligência , ciência do Bem do Mal), mas em um fenômeno de percepção particular, que é a ciência do Bem e do Mal, do seu conhecimento absoluto. E é a Caridade que está na base do nascimento da Sabedoria em nós, e também a Fé na validade dos ensinamentos maçônicos, assim como o esquema anterior o demonstra. A Caridade é um ato do amor total, universal, pelo qual o Maçom quer, para todos os seres, este Bem absoluto que a Fé lhe deu a conhecer e que ele deseja legitimamente tanto para si mesmo como para todos os outros seres. A partir daí, procurando somente este Bem, tendo -o compreendido, definido, ele não mais poderá confundi-lo com o seu contrário. E tudo aquilo que recolhe esta rede de rocegar que é a sua inteligência das coisas, a sua visão de to dos os ―possìveis‖, é este ato de amor universal que lhe servirá de pedra de toque para experimentar a pureza do seu ouro . A Sabedoria será o filtro depurador dos conceitos evocados nele pela Inteligência . A Sabedoria tem por corolário, na vida iniciática cotidiana, a Meditação , ou o Estudo . A Meditação é a aplicação do espírito a um assunto que se deseja íntrojetar. É necessário encará-la como se fizesse com toda realidade parte da ascese maçônica, pois é o primeiro ensinamento que a Ordem confia ao Profano. A Meditação está inteiramente nos símbolos da Câmara de Reflexões . Ela pode ser exercida sobre tudo aquilo que ai está figurado, pode ser aplicada igualmente a cada um dos elementos da enéada dos Instrumentos da Franco-Maçonaria, às relações que ligam entre si todos os símbolos que ai estão reunidos. Eis, em nossa opinião, o melhor método de Meditação, para o Maçom: I. Prelúdio
Lembrança rápida do tema da Meditação Construção da imagem mental.
Projeção do desejo de introspecção II. Corpo de Meditação : Exercita-se em seguida sucessivamente: a) a Memória : representar para si mesmo o tema, dentro do espírito e das circunstâncias do seu emprego ritualístico,
b)
o Entendimento : Examinar aquilo que deve ser considerado sobre o tema, que conclusões tirar, seus motivos, como se tirou partido anteriormente, como fazer melhor no futuro, quais são os obstáculos a afastar, quais os meios para obter bons resultados,
e)
a Vontade :
determinar as resoluções que permitem chegar a isso, desenvolver o entusiasmo iniciático e a fé maçônica nos Ideais da Ordem, estabelecer a conclusão em algumas palavras simples, fáceis de reter.
O DOM DA GRAÇA Para o místico cristão, o dom da Graça equivale à descida de Deus nele, à fusão com o Divino. Transmutado pelo jogo sutil destas potencialidades que ele sabiamente esmerou em si, tendo pouco a pouco, e na ordem legítima da sua aparição , despertado estas faculdades latentes que dormiam no mais profundo de seu ser, o místico tornou-se um vaso de eleição . Ele criou um vazio , e nesse vazio não mais é possível que esta força misteriosa que se convencionou chamar de o Divino deixe de se expandir. Mas no plano estritamente intelectual e moral, onde a Franco-Maçonaria procura se acantonar, o que se deve entender por Graça ? Se, por si mesma, a Franco-Maçonaria se limita em suas ambições espirituais, se o Compasso , que simboliza para ela a Inteligência das coisas, fica aberto de acordo com um ângulo imutável, ela não poderia alcançar os domínios superiores do pensamento humano. Nós não pensamos que estes limites existam verdadeiramente. Para nós esse dom misterioso que se vai desenvolver no Iniciado, essa faculdade latente que finalmente se vai abrir, fruto de todas as outras, ela se manifestará em um aspecto de síntese. Nele, ela será a manifestação, permanente, coletiva, geral, sintética de todas as outras faculdades. Será a dinamização de todo este organismo, psíquico e suprapsíquico, seu desabrochar e seu exercício, natural e ininterrupto, que permitirá ao Iniciado ser colocado entre os Adeptos . Iniciado , ele estava no caminho, no começo (initium ); adepto (do latim adeptus : aquele que adquiriu ) ele possui a plenitude de todas as faculdades, ordinárias e transcendentes. A PALAVRA DE SABEDORIA Entende-se, sob esta denominação, utilizada sobretudo na escolástica medieval cristã, uma faculdade que ajudará o Maçom a extrair as verdades essenciais, consideradas como princípios , das conclusões que enriquecem a Tradição e o Esoterismo maçônicos. Igualmente, esta faculdade lhe permitirá evitar todo erro quando abordar o estudo de tradições diferentes, de diversas Religiões. Em uma palavra, a Palavra de Sabedoria (sermo sapientiae ) é a faculdade que permite ao Maçom a discriminação e a compreensão dos princípios , filosóficos e religiosos. A ALQUIMIA Integrada na trilogia tradicional, expressa pelos construtores, mestres do obras e cortadores de pedra medievais no tríplice portal de nossas grandes metrópoles góticas de enigmáticos baixos-relevos, a Alquimia e suas irmãs, a Astrologia e a Mística , são conhecimentos tradicionais e não ciências suscetíveis de decantação, de evolução e de progresso.
Elas constituem, pois, completa, total, absoluta, esta soma que se denomina as doutrinas de Hermes . Imutáveis em seus princípios (mesmo não o sendo sempre em suas aplicações) foi com sabedoria que aqueles que, espiritual e misteriosamente, guiaram a mão dos Construtores medievais, as associaram, misteriosos guardiães do ―Umbral‖, ao simbolismo esotérico da trìplice e ntrada nas Catedrais. Talvez mais do que suas irmãs, a Alquimia dissimula sob seu vocábulo algo bem diferente daquilo que o profano vê geralmente. Já as alusões ambíguas e cheias de subentendidos, encontradas nas obras de velhos mestres, nos fizeram suspeitar: L. Grassot: em ―A Luz Tirada do Caos‖, Amsterdam (Lyon) 1784, nos diz:
―A Grande Obra dos Sábios tem o primeiro lugar entre as mais belas coisas; a
Natureza, sem a Arte, não pode alcançar a conclusão, e a Arte sem a Natureza não ousa começar. É uma obra-prima que limita a força de ambas. Seus efeitos são tão miraculosos que a saúde que ela proporciona e conserva nos vivos, a perfeição que ela dá a todos os compostos da Natureza e as grandes riquezas que ela produz de uma maneira totalmente química não são suas mais altas maravilhas. ―Se o Grande Arquiteto Do Universo fez dela o mais perfeito Agente da Natureza, pode se dizer sem temor, que recebeu o mesmo poder do Céu para a Moral. Se ela purifica o corpo, ela ilumina os espíritos. Se ela conduz os mistos 77 ao mais elevado ponto de sua perfeição, ela pode elevar nossos entendimentos até os mais altos conhecimentos. Ela é o salvador do grande Mundo, (macrocosmo), porque ela purga todas as coisas das impurezas originais e repara por sua virtude a desordem de seu temperamento. Ela subsiste em um perfeito ternário de três princípios puros, realmente distintos, que perfazem, todavia, uma mesma natureza. É originalmente o Espírito Universal do Mundo, corporificado em uma terra virgem, sendo a primeira produção, ou a primeira mistura dos elementos no primeiro ponto de seu nascimento. Ela é trabalhada em sua primeira preparação, ela verte seu sangue, morre, entrega seu espírito, é sepultada em seu ―vaso‖, e sobe ao Céu, em quintessência, para examinar os sãos, e os doentes, destruindo a impureza central de uns, exaltando os princípios de outros; de maneira que não é sem motivo que ela é chamada pelos Sábios o Salvador do Grande Mundo (macrocosmo), e a figura daquele de nossas almas. Com justiça pode -se dizer que, se ela produz maravilhas na Natureza, introduzindo nos corpos uma pureza muito grande, faz também milagres na moral, iluminando nossos espìritos com as mais brilhantes luzes...‖ Também Serge Hutin faz esta pergunta sagaz: ―Não seria possível distinguir, n o Imponente edifício que é a Alquimia, ―andares‖ hierárquicos, como os escalões sucessivos na Grande Obra ?‖ 78 Desde logo somos levados a supor a existência de uma metafísica e de uma filosofia da Alquimia, associadas a conhecimentos práticos materiais, operativos, à criação de substâncias misteriosas para finalidades bem definidas, tudo terminando,por analogia, em uma doutrina política evidente, que foi aquela, bem entendido, dos Rosa+Cruzes do décimo sétimo século. Então agora, como Serge Hutin o fez em sua obra já citada, podemos dividir o estudo da Alquimia em quatro etapas: 1) A Gnose Alquímica Para o historiador da Alquimia todos os adeptos desta Arte procuraram a Iluminação antes que a obtenção dos assim chamados ―poderes ocultos‖. Todos se declararam detentores de uma filosofia secreta , transmitida de mestre a discípulo, e que cada Adepto real pode redescobrir apesar de tudo, em si mesmo, por si mesmo , por uma 77
78
Chama-se misto , em Alquimia, toda espécie de corpos compostos, oriundos dos corpos simples.
Cf. Serge Hutin: ―Os Segredos da Grande Obra Alquìmica‖, na revista ―A Iniciação‖, 1957, n° 2.
espécie de revelação intuitiva, por um ato de conhecimento suscetível de proporcionar aquilo que os antigos gnósticos chamavam ―salvação ― ao feliz beneficiário. Existe de fato, uma Gnose alquímica, e em todos os tratados antigos se poderá encontrar, quando se sabe ler nas entrelinhas, as especulações tradicionais das antigas escolas gnósticas sobre o princípio luminoso , aprisionado na matéria tenebrosa , sobre a Mãe Cósmica , sobre a interdependência e o paralelismo estreito do que chamamos Macrocosmo (o Universo) e o Microcosmo (o Homem). 2) A Grande Obra Transmutatória A Gnose alquímica provinha incontestavelmente de uma das três ciências mãe, a Mística . (Nós veremos o que o Maçom deve entender por este nome, que habitualmente designa bem outra coisa no mundo profano) . Assim, expressa antes de tudo em postulados oriundos dos flancos fecundos desta, a Alquimia operativa exige do Iniciado que ele primeiro entre na escola da Natureza, antes de lhe confiar as chaves do Adeptado. É assim que ditos postulados serão aplicados materialmente e experimentalmente no segredo do laboratório do hermetista. E isto de acordo com procedimentos arcaicos e meios materiais rigorosamente os mesmos usados nas longínquas origens da Arte Real, no Egito, aplicados a uma ―matéria prima‖ metálica cujo nome, imutavelmente mantido em segredo, já constitui um primeiro arcano. Todavia, aparentemente desprovido de bases racionais, e sem qualquer possibilidade de aplicações industriais, o processo utilizado nem por isso deixará de constituir um verdadeiro enriquecimento espiritual do hermetista, pois que a Vida lhe terá liberado enfim um de seus maiores segredos. E, transmutado ele mesmo por esta segunda Revelação , o Iniciado, enfim tornado Adepto, poderá então transpor, no plano da sua espiritualidade interior , o Arcano finalmente conquistado, para se tornar e permanecer para sempre: o Iluminado . E como a misteriosa Pedra se gera e se multiplica por si mesma em progressões matemáticas contínuas, o Iluminado , por sua vez, transmitirá a sua própria luz espiritual àqueles que tiverem sabido, eles próprios matéria prima inteligente e dócil, aceitar morrerem como chumbo para melhor renascerem ouro... Esta teoria da iluminação do alquimista operativo, consecutiva às operações materiais da Arte e às atividades espirituais que devem necessariamente acompanhá-las, foi ressaltada, com seu agnosticismo marcado, por C. G. Jung em sua ― Psicologia da Alquimia ‖, e René Alleau, em seu estudo ― Aspectos da Alquimia Tradicional ‖, condensou a muito bem: “Os esforços incessantes que exigia a elaboração da Grande Obra
parecem ter sido destinados a produzir, por um lado a projeção da consciência, do estado de vigília para o plano de um estado transracional de acordar e, por outro lado a ascensão da matéria até a luz ígnea que constitui s eu limite.”
3) O Elixir da Longa Vida Nós ignoramos completamente se a ciência chegará um dia a vencer a morte em suas manifestações físicas. Isto não é uma coisa impossível a priori . Nós remetemos o leitor à obra do doutor Hubert Larcher: ― O Sangue vencerá a morte?‖ Mas está fora de dúvida que os alquimistas antigos, aqueles que conseguiram obter o famoso pó, composto de cristais de um vermelho rubi, levemente fosforescentes na escuridão, encaravam esta imortalidade sob um outro aspecto que não aquele procurado pela ciência moderna, e mais particularmente pelos sábios soviéticos. Para os antigos hermetistas, a imortalidade consistia primeiro em uma incorruptibilidade corporal absoluta , após a morte física, e isto, no túmulo . Sucedendo a
esta primeira vitória sobre a morte, vinha em seguida uma associação definitiva dos elementos superiores do ser , impedindo, assim, a lenta dispersão destes, sua desagregação progressiva; em urna palavra, suprimindo a ―segunda morte‖ de todas as tradições. Vinha, então, a manutenção da consciência , e de todas as atividades sensoriais pelo intermédio desse ―duplo‖ de que os labora tórios modernos de metapsíquica nos demonstraram cientificamente a existência. De onde esta frase de um bem antigo tratado: ― Turbae Philosophorum ‖ , frase cheia
de mistério mas que se esclarecerá melhor ag ora: ―E sabei que o fim não é senão o começo. E que a morte é causa da vida e o começo do fim. Vede então negro, vede branco, vede vermelho, é tudo. Pois esta morte é vida eterna depois da morte, vida gloriosa, vida perfeita...‖ 79 . De maneira alguma é irracional, em nossa época, admitir que esta incorruptibilidade corporal póstuma possa estar ligada à absorção regular de um produto secreto , elemento bem material, associado a um regime alimentar particular (observação relativa ao papel dos alimentos azotados ), tanto quanto à uma espiritualização progressiva mais intensa do Adepto, e isto de acordo com uma técnica iniciática apropriada. Não esqueçamos, que para o mundo antigo: ― Iniciar-se é aprender a morrer .‖
4) A Reintegração Universal Se esta Reintegração Universal nada mais é do que o restabelecimento do universo material, imperfeito, grosseiro, nesse ―pleroma‖ tão caro aos platônicos, mundo perfeito, sutil, porque é constituído de elementos que retornaram à perfeição primitiva, ela deve vir acompanhada, por urna verdadeira reversibilidade preliminar, de uma melhora da cidade terrestre. É este o ambicioso plano da Rosa+Cruz . Esta cidade terrestre, cuja perfeição relativa é o reflexo prenunciador daquela que se constrói em um plano mais sutil, a Franco -Maçonaria trabalha em sua realização desde há quase três séculos. Nisto a Ordem Maçônica é de fato o Instrumento da Rosa+Cruz . Um dos adeptos da Arte, dos mais célebres, e conhecido sob seu nome iniciático Philalèthe (o verdadeiro nome é desconhecido, supõe-se que se trate de Thomas de Vanghan), fala disso desde o décimo sétimo século e isto numa época em que todos os postulados deste plano rosacruciano estavam em oposição aos conceitos políticos e sociais habituais . Em termos apocalípticos, ele anuncia uma república universal, isto é, o desaparecimento das monarquias, existentes por toda parte na época, que se baseavam sobre o assim chamado ―direito divino‖. Ele anuncia o desaparecimento do reino do dinheiro , isto é, o desaparecimento dos privilégios decorrentes do nascimento e da herança, bem como da fortuna adquirida. Ele finalmente anuncia uma reviravolta total do mundo pelas conquistas científicas. Pode-se representar melhor, com três séculos de antecipação, as grandes conquistas das revoluções sucessivas que tiveram lugar no mundo e de que a Inglaterra e a França, primeiros estados onde a Franco Maçonaria se desenvolveu livremente, foram os promotores? ―Eu anuncio , nos diz ele, todas estas coisas aos homens como um predicador, a fim
de que antes da morrer, pelo menos não seja inútil ao mundo. Sede, ó meu livro, sede o precursor de Elias, preparai o caminho do Senhor... ―Vós não tendes por que me acusar de inveja, porque escrevo com coragem,
por um estilo pouco comum, em honra a Deus, e para a utilidade do próximo, para fazê-lo 79
Negro, branco, vermelho são as etapas essenciais da Obra.
menosprezar o mundo e suas riquezas. E isto, porque já Elias Artista nasceu 80 , e se dizem coisas admiráveis da Cidade de Deus... (Philalèthe: Introitus, Cap. XIII). Sabe-se que este Elias Artista , predestinado a cumprir a mais feliz, bem como a mais radical de todas as revoluções, nos diz Louis Figuier em seu livro: ―A Alquimia e os Alquimistas‖ , não somente no mundo hermético, mas por toda a Natureza, moral e material, era, segundo a pretensão dos Rosa+Cruzes, um Messias coletivo , que havia tomado para corpo místico a sua própria confraria . A Cidade de Deus era o universo, transformado por este Elias, de quem Philalèthe fala em termos magníficos: ―Alguns anos ainda, e eu espero que o dinheiro será tão menos prezado como a escória, e que se verá cair em ruínas esta besta contrária ao espírito de Jesus Cristo. O povo está louco por ele, e as nações insensatas adoram como uma divindade este inútil e pesado metal. É isto o que deve servir à nossa próxima redenção e às nossas esperanças futuras? ... Eu prevejo que meus escritos serão tão estimados quanto o ouro e a prata pura e que, graças às minhas obras, esses metais serão tão menosprezados quanto o estrume. Crede-me, jovens homens, e vós, anciãos, o tempo virá sem demora. Eu não o digo por uma imaginação ilusória, mas vejo em espírito que todos, tantos quantos somos, vamos nos reunir dos quatro cantos do mundo. Então não mais temeremos as ciladas que foram armadas contra a nossa vida 81 e daremos graças a Deus. Meu coração me faz pressentir maravilhas desconhecidas. Meu espírito me faz estremecer pelo sentimento do bem que logo chegará para todo Israel, o povo de Deus...‖ (Obra citada, Cap. XIII) Um século e meio mais tarde, como se fosse uma bomba explodindo em um mundo corrompido, e chegado a seu fim, a França promulgava a Declaração dos Direitos do Homem . De suas palavras imortais, todas as revoluções futuras iriam nascer, com a unidade da Europa, bem próxima, e prefigurada pela Organização (muito imperfeita) das Nações Unidas , a do Mundo Inteiro... * * *
Devemos convir em que toda esta exposição, tão reveladora dos planos ocultos esotéricos da Alquimia , ultrapassa consideravelmente o quadro habitual da banal iniciação maçônica, tal como é encarada por alguns Maçons, insuficientemente documentados a respeito dos fins e dos meios verdadeiros da Ordem toda. E não se poderia negar que, para certas formas (não de todo antigas...) da mentalidade religiosa, a Alquimia assim desvelada não tem qualquer cheiro a ―enxofre‖, segundo a sua ―correspondência‖. Nada podemos fazer. A Régua possui outras, ainda mais comprometedoras! E nossos Irmãos anglo-saxões, que põem em evidência uma Régua de vinte e quatro divisões, que eles acreditam com toda a cândida boa fé ser a imagem das vinte e quatro horas do dia (o que lhes parece ser uma revelação ―iniciática‖ essencial!), poderão descobrir o que se dissimula atrás destas vinte e quatro ―horas‖, examinando atentamente o Relógio Mágico e Planetário que figura na célebre ―Virga Aurea‖ de R. P. J. B.Hepburn, monge escocês, secretário e bibliotecário do Papa Paulo V. Nós o reproduzimos na página 47, figura 2, de nosso ― Tratado das Interrogações Celestes ‖ , tomo primeiro. Não se duvide que nossos Irmãos ingleses, geralmente muito conformistas em matéria de 80
Sobre o profundo mistério de Elias Artista , ver o capítulo que nós lhe consagramos em nossa obra ― Templários e Rosa+Cruzes ‖ (pgs. 99 a 117), assim como as passagens relativas a Metatrôn ou Kether Elyon , em ―Noção Gnóstica do Demiurgo ― (pgs. 41 e seguintes). Pare ce que para os Rosa+Cruzes do 17º século, muito evangelistas, Elias Artista seja a manifestação superior do Espírito Santo , do Paracleto, que se opõe ao Príncipe do Mundo , Sar-Ha-Olam . 81 Um hermetista não mais temerá então a intolerância e o despotismo.
religião, fechem essas pranchas, horrorizados. * * * Não nos alongamos tanto sobre o quádruplo aspecto da Alquimia , ligada ao simbolismo da Régua 82, se não para melhor alertar o Maçom avisado acerca da importância dos símbolos, que nossa tradição secular lhe colocou sob os olhos, na Câmara de Reflexões : - crânio humano, símbolo da necessária Putrefação , - Sal, imagem velada do Sal Filosofal , - Enxofre , imagem velada do Enxofre dos Sábios , - Galo mural, imagem muito esotérica do Mercúrio Filosofal , - a celebre divisa alquímica V.I.T.R.I.O.L. e sua significação lapidar: ―Visita o interior da Terra, retifica, e tu encontrarás a pedra oculta...‖ Que ele saiba, pois, que além das palavras comuns, além da ciência aparentemente limitada ao mundo metálico e às suas experiências, a Alquimia dissimula alguma coisa mais profunda. Pois ela é a Arte de desenvolver no Iniciado as potencialidades que, embora sejam puramente fisiológicas em suas raízes, são suscetíveis de se tornarem psíquicas , para eclodir e desabrochar finalmente em sua espiritualidade interior, e fazerem dele o Adepto esperado.
10
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A TROLHA
A CRISOPÉIA (Perfeição e Unificação) Com a Trolha , último Instrumento do Mestre e particularmente do Venerável (ela figura necessariamente sobre o Altar), nós chegamos ao último arcano dos Instrumentos maçônicos. Significando ―Perfeição e Unificação‖, ela impõe ao Mestre de Loja 83
o principal de seus deveres: aperfeiçoar seus Irmãos, uni-los em um mesmo amor fraternal, mas também em um mesmo conhecimento, uma igual iniciação. Como o Instrumento material deste nome, a Trolha permite, ao ser passada, retirar os e xcessos da argamassa; igualmente ela significa a unificação dos Irmãos.
82
Observe-se quanto a Régua pode, muito judiciosamente, ser substituída pelo Livro Sagrado , quer se trate para os Maçons judeu-cristãos dos Dez Mandamentos , ou para os Maçons racionalistas, desta mesma Declaração dos Direitos do Homem . Toda regra moral pode substituir, em Maçonaria Especulativa a régua linear da Maçonaria Operativa . Acontece, aliás, o mesmo com o antigo Cordel da Maçonaria operativa, citado por Platão com o Compasso e o Esquadro como um elemento essencial da Beleza, que se tornou a nossa ―Corda de Nós‖, e cujos nós são chamados ―laços de amor‖, e evocam a Cadeia de União . 83
Termo que designava no 18° século o Mestre Maçom fundador e condutor ad vitam de uma Loja Simbólica.
Sem ela, nada de construção ou de agregação durável das pedras de um Templo. O latim truella , que designa este Instrumento, é também sinônimo de trulla, que designa uma espécie de bolsa para pôr o vinho no crater (taça romana de servir vinho e água) e daí colocá-lo nas taças dos convivas... Ora, como já dissemos, no sufismo, que é o depositário do esoterismo islâmico, o Vinho é a imagem do Conhecimento ( gnosis ) e a embriaguês que ele proporciona é a da ―alegria de conhecer‖ . No Cristianismo acontece o mesmo. O Cristo é a Vinha , os Discípulos são as vides e o Pai é o Vinhateiro . Já abordamos o simbolismo particular da Trolha . Retomemos aquela passagem, e constataremos que o Instrumento deste nome evoca curiosamente a noção de Reintegração , cara a Robert Fludd e aos Rosa+Cruzes do século XVII. Sabe-se em quê ela consiste. O universo material é duplicado por um universo espiritual, sutil, infinitamente menos denso, que constitui de algum modo esta misteriosa quarta ―dimensão‖, cara à ciência moderna. Nesse universo (tipicamente platônico), as inteligências vivem uma vida livre e quase perfeita. Por razões mal definidas pelos filósofos antigos mas que consistiriam sobretudo no desejo de transformação, elas se corporizam e descem progressivamente ao universo material. Aí elas perdem a noção da sua unidade original, suas altas faculdades espirituais aí se obscurecem pouco a pouco, e o amor, que era o cimento deste ser coletivo , se desfaz nelas insensivelmente. A progressão em modo inverso, sua liberação para fora das emboscadas de ste mundo imperfeito e grosseiro, sua re -espiritualização progressiva, seu novo nascimento em um universo sutil, espécie de biosfera, constituirão aquilo que os Rosacruzes chamavam a Reintegração . À dispersão, ao isolamento individual nos despojos carnais, sucederá então a reconstituição do ser coletivo único , constituído primitivamente por estas inteligências e que cimentava-se em um comum e total amor. Esta lei metapsíquica, a Rosa+Cruz queria aplicar aqui em baixo, daí seu plano de um vasto estado universal e de uma unificação dos múltiplos povos em uma única nação terrestre. Realizar isto, no mundo material, era facilitar e acelerar a realização no universo sutil. Cara ao Martinismo, a Reintegração pode ser definida como uma tomada superior de consciência pela Humanidade Total , o famoso ―Adam - Primeiro‖, este acesso a um modo superior de pensar que lhe permite alcançar as faculdades espirituais e psíquicas absolutamente ignoradas pela humanidade em geral, individualizada e dispersa , que temos sob nossos olhos a cada dia. Por sua vez, estas faculdades transcendentes são suscetíveis de modificar sensivelmente a Humanidade física por uma espécie de reversibilidade do espiritual sobre o psíquico e do psíquico sobre o físico, o superhomem. o santo , refletindo-se finalmente na Massa . É interessante notar que esta noção de uma Humanidade Total , constituída de um único ―ser coletivo‖, não é estranha ao pensamento de Karl Marx, nem ao do Padre de Chardin. Mas a expressão Maçônica “ passar
a trolha ”, significando simultaneamente perdão e esquecimento , evoca ainda uma curiosa tradição gnóstica. Segundo a Gnose, de fato, este vasto movimento filosófico contra o qual a Igreja nascente lutou quase cinco séculos, o esquecimento é a condição essencial do caráter definitivo do Pleroma 84. Ora, a embriaguez evocada pela Trolha implica no Esquecimento... Esta noção de um estado universal , constituído por uma raça humana , no seio 84
―Pois Eu criarei um novo Céu e uma nova Terra, e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais voltarão ao espírito...‖ Isaías 65:17.
da qual as noções perigosas de raças, de nações, de interesses particulares, de cor da pele, já fizeram correr tanto sangue inocente, se ela choca os elementos reacionários, está implícita e explicitamente exposta nas escrituras judeu-cristãs. Neste caso um Maçom que se faz campeão de tais idéias é, mesmo que seja racionalista, mais cristão do que um devoto intolerante! Demos estas referencias escriturísticas em outra obra e cremos inútil acrescentá-las aqui. Se a divisa hermética tirada da célebre ― Tábua de Esmeralda ‖: ―O que está em
cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo, é como o que está em cima...‖ , não é um ensinamento vão, nenhum Maçom espiritualista e esoterista poderia negar que a restauração do Homem-Indivíduo não implica na do Homem-Coletivo . A construção do Templo Interior deve duplicar-se na do Templo Exterior . Tal é o ensinamento iniciático incluído na célebre lenda de Zorobabel, segundo arquiteto e restaurador do Templo, e portanto sucessor de Hiram : ―Aqueles que construíam a muralha tinham a trolha numa das mãos e sua espada na outra...‖ (Nehemias 4:17). A Trolha na mão direita significa pois ―construção, misericórdia‖; é a sefira Hochmah (Misericórdia) da Cabala. A Espada na mão esquerda significa ―destruição, rigor‖, é a sefira Geburah (Rigor) da Cabala. Assim, pois, a Trolha na mão do Maçom, é uma das mais al tas imagens de sua doutrina: unidade na perfectibilidade, amor, perdão, esquecimento das coisas vãs, transcendência do espírito sobre a matéria . Mas o Maçom que se interessa pelo esoterismo dos Símbolos não deixará de observar que a Trolha evoca curiosamente o Deita Luminoso que irradia ao Oriente do Templo. E se ele tiver sido admitido nos altos graus, ele se lembrará da misteriosa lâmina de ouro triangular de que se trata às vezes em alguns deles. O esquema da Tetractys alquímica tradicional que ilustra esta obra é exatamente esta misteriosa ―lâmina de ouro‖... Nesta obra, limitada ao estudo dos Instrumentos maçônicos não estudaremos o Delta nem a lâmina de ouro . Diremos simplesmente que, se o Delta 85 exprime a existência e a presença do Grande Arquiteto do Universo, é em seu aspecto estático, de ser imanente, permanente, intransitório, existente por si e em si. Ao contrário, a Trolha o exprime em seu aspecto dinâmico, de ser transcendente, providencial, de manifestações múltiplas e ilimitadas. Eis as correspondências analógicas da Trolha : Sentido ............................ a Iluminação Vício Capital .................... o Entenebrecimento ou Loucura Cor do Prisma .................. Púrpura ou Jacinto Forma Ascética ................ a Confiança ou Abandono Virtude Sublimal ................a Divinização ou Transelementação 86 Faculdade Espiritual ......... a Luz Carisma Secundário ..........a Palavra de Ciência Mãe...................... a Mística ou Elemento da Obra .............a Crisopéia 85
Paz Teurgia
Sobre o estudo do Delta , indicamos a ― Simbólica Maçônica ‖ , de J. Boucher, pg. 86 a 94. Este termo era usado pelos protestantes, em lugar de transubstanciação . Não é no seu significado teológico habitual que a utilizamos aqui. Trata-se da transmutação do Iniciado em um verdadeira Adepto , este último termo tomada em seu significado antigo de Iluminado , isto é, de depositário da lu z . Igualmente, a transelementação iniciática designa o fato de ver desenvolvidas e ampliadas todas as faculdades naturais, em potência no ser humano, e que foram analisadas nos capítulos precedentes, com relação a cada um dos Instrumentos Maçônicos . 86
A ILUMINAÇÃO É normal, que a Trolha , imagem da embriaguês proporcionada pelo Conhecimento (gnosis), seja o símbolo de Iluminação . A Iluminação consiste em uma harmoniosa e perfeita síntese das duas Virtudes Sublimais precedentes, a Inteligência e a Sabedoria . Não é por nada que a tradição maçônica com tanta freqüência estabelece um paralelo entre a imagem do Venerável de uma Loja e o célebre rei Salomão . Sabe-se que o Venerável é chamado ―Mestre Instalado‖ quando passou por um Ritual iniciático específico, exclusivamente na presença de Veneráveis que tiverem passado pelo mesmo Ritual. Ele é então instalado numa cadeira (stalle) chamada ―cadeira de Salomão‖. Considra -se que daí em diante possua as duas Virtudes Sublimais que a lenda diz haverem sido conferidas a essa rei por Iaveh , deus de Israel, a saber a Inteligência e a Sabedoria : ―E Deus disse a Salomão: pois que não me pediste uma longa vida, riquezas, ou a morte de teus inimigos, e que tu Me pediste a Inteligência e a Sabedoria, a fim de agir com justiça, então agirei segundo a tua palavra e te darei um coração cheio de Sabedoria e de Inteligência...‖ (I Reis 3:10-12, versão protestante). Para que se realize esta última manifestação superior, que é a Iluminação , é necessário que o exercício destas duas Virtudes Sublimais seja perfeitamente sincronizado. Em uma palavra, nunca deve haver hesitação, nunca alguma dúvida, nunca uma suspensão em seu exercício. Trata-se de fato da Infalibilidade espiritual . Bem entendido está que esta Infalibilidade espiritual não poderia se exercer nos domínios puramente materiais. Nunca ela fará do seu beneficiário um campeão em lançamento de disco, ou um virtuose musical ou um rival dos cérebros eletrônicos. Mas se exercerá sempre com conhecimento de causa no domínio da metafísica, da filosofia; ela será realmente a Razão Pura e a Compreensão Perfeita. Por este duplo exercício, o Iluminado acederá facilmente e sem dificuldade às grandes verdades científicas, filosóficas, metafísicas, e tirará as conclusões necessárias em uma harmoniosa síntese. Não mais arriscará errar nestes domínios, não arriscará desviar seus Irmãos. De uma sã introspeção do Universo e de suas leis a parentes, ele saberá extrair as conclusões científicas ou morais que acompanham suas leis. Jam ais cairá nas mistagogias sem merecimento; nele a observação será exata, a conclusão será racional. Tendo sabido libertar-se dos entraves do exoterismo, tanto religioso como maçônico, ele sa berá mergulhar útil e duradouramente em seu esoterismo, preferindo assim o espírito que vivifica à letra que mata.
O ENTENEBRECIMENTO OU LOUCURA ESPIRITUAL A Trolha e o símbolo da Embriaguez Extática do Iniciado, proporcionada pelo Conhecimento . Não é de admirar que, em seu mau aspecto, seja ela o da própria Loucura . O bêbedo não é semelhante a um louco? Este Vício Capital consiste, pois, no exato contrário da Iluminação , quer dizer, na manifestação conjunta, sincronizada, da Cegueira e do Erro . Por ele, o Entenebrecido acede ipso facto a pseudo leis científicas, a pseudo verdades morais, a conceitos ilusórios. Quando por acaso ele chega a apanhar alguma Verdade transcendental, ele a considera com menosprezo como um erro de sua imaginação. Em uma palavra, a Falibilidade é seu estado permanente.
Quanto a tudo que ultrapassa suas próprias possibilidades de compreensão ou de acesso, ele o nega, simplesmente. Em lugar de procurar a solução do enigma, ele suprime o problema. E se alguém colocar sob seus olhos algum argumento suscetível de esclarecê-lo, por pouco que seja, ele penderá invariavelmente para a solução falsa. Um dos aspectos do Entenebrecimento , ou Loucura , reside no fato de se apaixonar pelas formas pseudo místicas inferiores, com pleno conhecimento de causa. Como ressaltou muito bem René Guénon, nada é mais perigoso, psiquicamente falando, do que a inversão dos Símbolos . O Satanismo reside essencialmente na profanação ou no sentido oposto consciente de toda forma espiritual ou religiosa, e não somente nas tomadas de posição especificamente anticristãs. Em relação a isto, o incêndio da Biblioteca de Alexandria pelo Califa Ornar, o da Biblioteca Imperial de Pequim pelas tropas inglesas, as destruições pelo fogo de livros, tanto pela Inquisição como pelo Nazismo, são outras tantas manifestações satânicas, out ras tantas ―marcas da Besta‖. E o ato de pilhagem sistemática dos Templos Maçônicos pela milícia do Governo de Vichy, em 1940-1941, sob a benevolente proteção da Alemanha nazista, foi mais um exemplo. A DIVINIZAÇÃO OU TRANSELEMENTAÇÃO O entrelaçamento do Compasso (o Arquiteto) e do Esquadro (o Homem) exprime a divinização do segundo por incorporação progressiva da essência do primeiro, ou na essência do primeiro, como vimos anteriormente. Este é o grande arcano, o último segredo, veiculado esotericamente por este símbolo-tipo da Franco-Maçonaria, nessa Jóia tão comum, que orna com seu ouro brilhante o azul da Faixa dos Mestres, O ramo de Acácia completa este ensinamento, lembrando-nos o túmulo de Hiram e a obrigação de morrer para melhor renascer... Se o Iniciado é um homem que procura a Verdade, a Perfeição, o Adepto é aquele que já as alcançou. A partir daí ele não é mais um homem como os outros. Se fizermos o inventário dos dons e das faculdades intelectuais, morais, espirituais que são suscetíveis de serem atingidos e conservados pela Via Iniciática da Maçonaria, e se as imaginarmos atingidas e conservadas por um Adepto, é evidente que nos encontramos em presença de um ser que se tornou sobre-humano , aquilo que os meios religiosos designariam pelo termo de santo . Maçonicamente não nos poderíamos ater a esta definição. A técnica maçônica não faz intervir outra coisa além do processos de ordem psíquica ou parapsíquica naquilo que ela entende remodelar ou restabelecer.
Por observações científicas indiscutíveis, sabemos que certas formas das faculdades superiores podem ser suscitadas pela ingestão de diversos produtos, sem que por isto ocorra a evolução moral ou espiritual do experimentador . Assim, as faculdades de Clarividência e de Clariaudiência , estudadas nos capítulos anteriores, podem ser suscitadas peja ingestão de determinados alcalóides vegetais. Citaremos: a Coca, o Ololihuqui, o Huanto, a Huachuma, a Ayahuasca, o Yajé e o Peyotl. Todas essas plantas são evidentemente alucinógenas, mas todas são igualmente (e aí está seu interesse) metagnomígenas 87 . Paralelamente a eses vegetais da América Central e da América do Sul, nós temos criptogâmicas, e toda uma série de cogumelos que também são alucinógenos e metagnomígenos .
87
Cf. Dr. A. Rouhier: ― As Plantas Divinatórias ‖.
R. Gordon Wasson e Reger Heim (este último diretor do Museu da História Natural de Paris), estudaram os cogumelos mexicanos chamados teonanacatl , Eles descreveram a matéria em um denso livro: ― Os Cogumelos Alucinógenos ‖ . Ora, estes dois sábios chegaram a espantosas conclusões: a) - as vaticinações do curandeiro (adivinho) que operou diante deles, foram reconhecidas logo como absolutamente verídicas em seus menores detalhes. Isto a respeito de fatos sobre os quais os dois sábios não possuíam qualquer informação prévia; b) - o valor metagnomígeno dos cogumelos é inseparável dos ritos que codificam o seu emprego desde há séculos. Sem esses ritos, não passam de cogumelos comuns. Em seguida, Roger Heim prosseguiu em sua pesquisa sobre os cogumelos divinatórios estudando aqueles que os indígenas usam na Nova Guiné. Lá também as criptogâmicas usadas são muito levemente tóxicas : são apenas vulgares bolotas e russais . Também lá a sua ação é amplificada pelo rito, oriundo do velho fundo de magia primitiva indígena. Mas a ação do mundo vegetal sobre o homem não se limita ao domínio da Clarividência e da Clariaudiência . Os estados místicos superiores também são influenciados por ela. Da revista ― Religions Education ‖ , pela pena de Timothy Leary e Walter H.
Clark, da Escola de Teologia de Endower Newton (EUA), retiramos estas linhas: ―A eletrônica permite estimular, graças a uma droga, chamada ‗ p silocibina, a sensibilidade religiosa em indivíduos submetidos à sua ação. É até mesmo possível, graças a ela, provocar êxtases místicos, que desapareceram desde as primeiras épocas do Cristianismo, aos quais misteriosamente é feita alusão na Bíblia.. ―. (citado pela revista ―Arts‖, n° 968, junho de 1964). Esclarecemos que a psilocibina é o alcalóide extraído da Psilocyba , cogumelo da família das Agaricíneas , da qual faz parte a ― Girolle‖ . E isto lança um raio de luz sobre as misteriosas escolas de profetas, citadas pela Bíblia, no primeiro livro de Samuel, versículos de 1 a 13. Pois quem diz escola, diz ensinamento, e certamente ensinamento secreto no caso88. Assim pois, estados de alma de forma particular (misticismo, profecia, êxtase, etc.) podem ser obtidos pela ingestão de produtos vegetais dinamizados e amplificados em seus efeitos naturais por ri tos apropriados. Experiências científicas, extremamente sérias foram feitas em França, em 1962, que estabeleceram que o vegetal era sensível a formas particulares de magnetismo animal.
Paralelamente, estados de alma de formas passionais, tais como a cólera, ódio, podem suscitar a criação e a projeção, no organismo, de substâncias autogeradas que, por sua vez, serão capazes de modificar ou de perturbar o comportamento dos indivíduos. A adrenalina , por exemplo. Inversamente, a autogeração de certas substâncias pode criar estados de alma passionais. Citaremos simplesmente o esperma, gerador do desejo sexual, e cujo acúmulo nos órgãos genitais pode criar, a longo prazo, climas psíquicos às vezes degradantes, outras vezes perigosos. A eliminação de tais substâncias implica ipso facto , no retorno ao equilíbrio psíquico. Sábios soviéticos descobriram recentemente que o moribundo, nos combates que acompanham sua agonia, gera em si anticorpos que são poderosos revitalizantes, e que somente em tais circunstâncias podem ser gerados. A milenar técnica do tantrismo chinês conhece procedimentos de rejuvenescimento que utilizam secreções hormonais 88
Quando Nostradamus fala da sua misteriosa faculdade profética, que está no ―seu estômago encerrada‖, talvez es teja fazendo alusão á absorção de determinadas substâncias metagnomígenas
somente geradas no ato sexual, e somente utilizáveis no decorrer do ato, tanto para o homem, como para a mulher 89. Assim, pois, a prática de certas Virtudes , criadora de certos estados de alma, é capaz de suscitar no homem a autogeração de determinadas substâncias capazes de provocar o desenvolvimento de certas faculdades transcendentais. Mas ao contrário dos produtos vegetais, exteriores e estranhos à natureza humana , e que são capazes de despertar essas faculdades, apenas acidentalmente e por um espaço de tempo muito curto, a via iniciática que tiver desenvolvido essas mesmas faculdades, saberá inevitavelmente perpetuá-las. Paralelamente, a mesma técnica, no decorrer do tempo, terá criado no Adepto o clima fisiológico e psicológico necessários para a geração dessas substâncias misteriosas, capaz de permitir a incorruptibilidade póstuma, a consciência além da morte física , que estudamos com a Faculdade de Integridade no capítulo referente ao Compasso . Por esta projeção misteriosa em todos os aspectos do ser, por esta explosão luminosa na psique do Adepto de todas as faculdades analisadas uma a uma, mas que se manifestarão necessariamente como uma verdadeira ex plosão espiritual, total, única, a Transelementação é finalmente realizada. A Divinização ou a Transelementação corresponde, na vida iniciática cotidiana, à Confiança, o que alguns chamam de Abandono . A palavra Confiança vem do latim confidentia , significando uma fé comum, partilhada com os companheiros ou irmãos . Mas também é, e sobretudo, a certeza de que aquilo que nos usamos até esse dia daí em diante será inútil, e constitui somente uma bagagem pesada. No estado precedente, o Iniciado ainda perscrutava atentamente os símbolos que decoram a Câmara de Reflexões . No último umbral o Adepto estabelece sua permanência definitiva. Um único símbolo torna-se para ele a regra: o Caput mortum , rindo com escárneo por suas órbitas vazias e por sua boca desdenta da. Realmente, o termo Renúncia seria de melhor escolha. Primeiramente ele consiste na renúncia aos bens exteriores, aos títulos, às possessões, o que é igualmente uma renúncia de si mesmo, e convém agora desligar-se de si, do terrível instinto de conservação. Sacrificar-se por outro é então uma coisa que deve parecer totalmente natural ao Adepto , a menos que este sacrifício não esteja em proporção com o seu objeto e beneficiário. Pois a Razão deve permanecer a Regra sacrossanta do Maçom. E, efetivamente, o desaparecimento do inocente da cidade é menos prejudicial à Coletividade do que o desaparecimento definitivo do médico da cidade. Enfim, esta Renuncia, a morte do velho homem , é um ato que fere irremediavelmente a natureza inferior e atrofia as suas más tendências; o Adepto está então maduro para sacrificar-se pelo Ideal Comum . Nada melhor podemos fazer do que descrever o estado de alma do Adepto que chegou a este ponto, que para ele a significação misteriosa da rosa , depositada no centra da cruz , expressa todo o seu valor: ―A existência dos Rosa -Cruz, ainda que historicamente incerta, é cercada de um tal prestígio, que força a assentimento e conquista a admiração. Eles falam da Humanidade como infinitamente abaixo deles; sua nobreza d‘alma é grande, a inda que seu exterior seja modesto. Eles amam a pobreza e declaram que ela é para eles uma obrigação, ainda que eles possam dispor de imensas riquezas. Eles se recusam às afeições humanas, ou se submetem somente como obrigações de conveniência, que são 89
Infelizmente, nos estados civilizados, o etnólogo que se arriscasse tratar em detalhe de semelhantes métodos, se veria logo levado à justiça por pornografia.
necessárias para a sua estada no mundo. Eles se comportam muito cortesmente na saciedade das mulheres, ainda que sejam incapazes de ternura e que eles as considerem como seres inferiores. Eles são simples e deferentes no exterior, mas sua confiança em si mesmos, inflando seus corações, só deixa de se irradiar ante o infinito dos Céus. Estas são as pessoas mais sinceras da mundo, mas o granito é tenro em comparação com sua impenetrabilidade. Perante estes Adeptos, os monarcas são pobres; frente a estes teósofos, os mais sábios são estúpidos. Nunca buscam a reputação, porque eles a desdenham, e quando se tornam célebres, é independente da sua vontade. Não procuram honras, porque nenhuma gloria humana é conveniente a seus olhos. Seu grande desejo é o de viajar incógnito pelo mundo. Assim eles são negativos para com a humanidade e positivos para com todas as outras coisas; auto- impulsionados e auto-iluminados em tudo, eles estão prontos a fazer o bem o quanto is - to for possível aqui em baixo. Que medida pode ser aplicada a esta imensa exaltação? Os conceitos críticos se desvanecem diante dela. O estado destes filósofos é o sublime ou o absurdo. Não podemos compreender nem sua alma, nem sua finalidade, o mundo declara que um e outro são fúteis. Todavia, os tratados destes escritores profundos abundam em discursos sutís sobre os assuntos mais áridos, e contém páginas magnificas sobre todos os assuntos: sobre os metais, sobre as propriedades dos simples, sobre a teologia e a ontologia, e em todas estas matérias eles alargam ao infinito o horizonte intelectual.‖ (Cf. Hargrave Jen nings: ― The Rosicrucians, their rifes and mysteries ‖ . Londres, 1870) A LUZ OU CONTEMPLAÇÃO DA SABEDORIA ETERNA Se o Adepto põe sua alma em um perfeito estado passivo deixando suas faculdades superiores aptas para serem livremente penetradas pelo Absoluto , indefinido e incomunicável, bem como intraduzível, ele está apto a ser inundado pela Luz Interior . Entendemos por estas palavras aquilo que há de mais elevado na Inteligência e na vontade. É a Inteligência , não enquanto raciocina, mas enquanto percebe a verdade por um simples olhar, sob a influência das Virtudes Sublimais : a Inteligência e a Sabedoria . É igualmente a vontade, em seu ato mais simples, que é o de amar e de gostar das coisas relacionadas com o Infinito . Então, no centro da alma do Adepto , lá onde as faculdades superiores se fundem em uma coisa única, lá reina então uma soberana tranqüilidade e um perfeito silêncio, pois jamais qualquer imagem perturbadora consegue aí chegar 90 . É nesse ―centro da alma ‖ do , onde se dissimula a imagem do Absoluto, como o santo dos santos do Templo de Salomão e sua obscuridade total abrigavam a misteriosa Arca do Testemunho , é lá que aos poucos o Adepto realizará a sua própria divinização 91. E nada melhor poderíamos fazer, para terminar, do que citar o maçom e rosacruciano notório que foi Charles d‘Eckhartshausen (1752 - 1803), em seu livro ― A Nuvem sobre o Santuário ‖: “Agora, como para um homem que não tem órgãos, não tem olhos para a luz, a luz então n ão existe realmente, quando todos aqueles que têm este órgão usufruem dela, assim muitos homens não podem gozar de alguma coisa da qual outros todavia podem. Quero dizer que um homem poderia ser organizado de tal maneira que ele sentisse, ouvisse, visse, degustasse coisas que um outro não poderia nem sentir, nem ouvir, nem ver, nem degustar, porque lhe faltasse o órgão necessário...
―Assim, neste caso, todas as explicações seriam infrutíferas, pois misturaria 90
É curioso observar como estes termos: ― Perfeito Silêncio ‖ são freqüentemente tomados como nomes de Capítulos Rosacruz, 18° grau da Maçonaria Escocesa. 91 Se o termo divinização pode espantar alguns Maçons cristãos que nos lerem, tranqüilizemo-los! É perfeitamente ortodoxo, em matéria de teolo gia cristã.
sempre as idéias que tivesse recebido por se u órgão particular com as idéias do outro, e não poderia degustar e compreender alguma coisa a não ser que isto se aproximasse das suas próprias sensações. E como nós recebemos todas as nossas idéias pelas sentidos, e como todas as operações ae nossa razão são abstrações de impressões sensíveis, assim não podemos fazer qualquer idéia de muitas coisas, porque ainda não temos sensações destas coisas. Somente aquilo para que tivermos um órgão, se torna sensível para nós...‖ Especificamos ainda que, por vezes, as técnicas da Iluminação clássica levam a diversos fenômenos luminescentes, de ordem particular. Citaremos, para memória, o da fosforescência dos olhos do Adepto no decorrer de um sono profundo, no qual ele conserva os olhos abertos; ou, então, no instante do seu despertar, na obscuridade total e no decorrer de uma noite das mais escuras, uma luminescência ocular suficiente para lhe permitir distinguir os objetos próximos ao seu re dor, num raio de muitas metros. A PALAVRA DE PAZ A Palavra de Paz constitui o carisma secundário associado ao simbolismo da Trolha . Daì a expressão maçônica: ―passar a Trolha‖ . Ela consiste principalmente na faculdade de perdoar nossos inimigos, quando estes nos causarem sofrimento ou dano e, em conseqüência do Amor que irradia naturalmente da alma do Adepto . Ela eqüivale à Crisopéia alquímica , pois transmuta o ódio em amor, absorvendo o Mal para transmutá-lo em Bem. De fato, a perfeição implica em multiplicação dos atos de amor. Não é menos necessário multiplicar os atos de sacrifício, no mundo material, porque nele não podemos amar sem nos desfazermos do nosso egoísmo. Alias, é lógico considerar nossas abras boas ao mesmo tempo como atos de amor e atos de sacrifício . Enquanto essas obras boas nos desligam dos interesses materiais baixos, e das coisas vãs daqui de baixo, tanto como de nós próprios , elas são sacrifícios . E enquanto elas nos unem a todos os seres, elas são atos de amor. Este último carisma, que é a Palavra de Paz (sermo pacis ) é, pois, análogo à Crisopéia, pois ela permite atingir o adversário lá onde é necessário, com os termos que convêm. Todavia, a Palavra de Paz jamais deve ter por efeito a supressão da ação da Virtude de Justiça . Devemos lembrar que todo castigo deve ser corretivo , e não destrutivo . Depois de ter vencido o mau, devemos transmutá-lo por sua vez. E lá, a Justiça e a Força , aliadas e vitoriosas, cedem o passa à Palavra do Paz. A MÍSTICA OU TEURGIA Iniciado .
Místico e Mistagogo são palavras que saíram do grego mustés , designando o
Em Mistagogo encontramos ainda o grego agôgos : condutor . Era de fato o sacerdote iniciador nos mistérios gregos, o ― condutor dos iniciados ‖ . Em nossos dias ele tomou o sentido pejorativo de ingênuo com o termo de gìria ― simplório (gogo)‖. A palavra mistério vem do próprio grego musterion (de mustes : iniciado) e designava o conjunto das doutrinas e das práticas que só os iniciados podiam conhecer. Assim a Mística , terceira Ciência-Mãe, com a Astrologia e a Alquimia , para os Companheiros construtores que as expressaram tão bem nos tímpanos de nossas velhas catedrais góticas, a Mística é o conjunto de tudo aquilo que vem de ser tratado
nestas páginas. Às vezes é associada a Teurgia , aliás com alguma razão.
Observaremos que sua significação deriva do grego theos : deus, e do mesmo grego ergon : trabalho. Em primeiro lugar lhe é dada a significação de magia superior , de técnica, de arte, que permite ao Adepto se colocar, pela ação da magia cerimonial, em relação com as Inteligências que povoam a biosfera constituída pela quarta ―dimensão‖. Esta é a sua significação profana e vulgar. Nós preferimos a que os néo-platônicos lhe conferiam. Para eles, a Teurgia era o conjunto de técnicas iniciáticas pelas quais o homem podia realizar esse ato de transferência do divino sobre si próprio, esta transelementação pela qual o Adepto se divinizava progressivamente. E aqui, nós nos limitaremos a citar o pitagórico Jâmblico : “ C onsidera, se q u ize res, a ú l tima das essências divinas, a alma p u ra de corpo. Que necessidade tem da gênese na volúpia, ou da regressão à natureza que nela se faz, pois
que ela é sobrenatural e animada de uma vida que em nada depende do nascimento? Porque participaria ela das penas que conduzem à destruição e dissolvem a harmonia corporal, pois que está tão bem fora de todo corpo e de toda nature za inerente ao corpo, absolutamente separada da harmonia que desce para o corpo da quela que se encontra na alma? Ela não tem necessidade das paixões que precedem a sensação, pois não es tá de um todo contida num corpo , e não estando ai presa, ela não tem nenhuma necessidade de órgãos corporais para se colocar em relação com os outros corpos que são exteriores. Assim, para os seres vivos gerados e corruptíveis, a alma é a primeira geradora, ficando ela própria sempre não-gerada e incorruptível. E enquanto o que participa da alma e não possui plenamente a vida e a existência, está ligado ao indefinido, e à diferença da matéria, ela própria continua sendo imutável...‖ (Jâmblico, em ― Os Mistérios Egípcios ‖). Assim pois, a Teurgia e a Mística , nesta tradição da Franco - Maçonaria Operativa medieval, nada mais são do que a ciência da alma, o conhecimento de técnicas pelas quais esta mesma alma opera simultaneamente a sua própria sublimação e a de seu envoltório corporal.
O GNÔMON Na linguagem comum, o termo orientar só exprime o fato de dispor alguma coisa, um edifício, um navio, etc., em relação aos três outros pontos cardeais. De fato, esta palavra deriva de oriente , em latim oriens , significando o ―que se levanta‖. Trat a-se então do fato do situar a coisa em questão em relação ao leste , ângulo do céu onde o Sol parece levantar-se, no fim das trevas da noite. É isto que explica que o oriente , como ângulo cardeal, tenha desempenhado um papel na orientação dos monumentos antigos, quase todos orientados face ao leste. No ocidente cristão, as igrejas, e sobretudo as catedrais, são orientadas para leste quanto ao seu altar – mor, e seu eixo maior é assim situado na direção leste-oeste. A orientação não apresenta mais problemas desde o aparecimento da bússola. A vulgarização do relógio igualmente permitiu aperfeiçoar uma fórmula de orientação muito satisfatória. O relógio estando colocado no plano, dirige-se o ponteiro pequeno para o Sol. A linha que une as horas O - XII e o pequeno ponteiro, formam então um ângulo cuja bissetriz dá a direção Norte Sul. O Sul estando orientado para o Sol, bem entendido, evidente que se terá que ter em conta nesta fórmula o desvio da hora de
verão. De noite, e em tempo claro, a Estrela Polar, e no inverno particularmente a constelação de Orion, permitem localizar aproximadamente a direção Norte. Por outro lado, quando a Lua é crescente, suas pontas estão orientadas para o Leste. Ao contrário, quando ela é decrescente, as pontas estão orientadas para o Ocidente. No décimo quinto dia de seu curso, a Lua se levanta ao Leste, no mesmo momento em que o Sol se põe a Oeste. Quando a gente se coloca de maneira a ter a Lua à sua esquerda e o Sol à sua direita, o Norte está exatamente atrás e o Sul à frent e do observador. Esta observação só se pode fazer no momento do pôr do sol, evidentemente. Mas nos longínquos tempos em que a bússola ainda era desconhecida, e onde o relógio ainda era mais desconhecido, as corporações de construtores da bacia do Mediterrâneo utilizavam o gnômon . O gnômon dos antigos era uma espécie de obelisco, encabeçado por uma bola. As observações da sombra do gnômon permitiram conhecer a diminuição progressiva da obliqüidade da Eclíptica. A tradição quer que tenha sido Anaximandro quem, na Lacedemônia, erigiu um gnômon por meio do qual observou os equinócios e os solstícios. Eis o modo como os antigos usavam o gnômon . Seguindo o curso dos Astros, eles são vistos quando se levantarem acima do horizonte e depois descem abaixo do horizo nte. Para determinar o ponto em que o Astro deixa de subir, os astrônomos utilizaram diversos métodos, entre os quais o dito gnômon , tirado das corporações de construtores do mundo antigo. Sobre a área essencial do seu futuro canteiro de construção, estes começavam por determinar uma superfície absolutamente plana, com o auxílio do Cordel e do Nível . Traçavam, com o auxílio do primeiro, uma vasta circunferência, cujo raio era igual ao comprimento do Cordel . No centro exato dessa circunferência era cravada uma haste vertical de cuja ponta pendia o Fio a Prumo , a fim de controlar cuidadosamente essa verticalidade. A haste podia até mesmo ser um dos dois braços do muito grande Compasso dos construtores e dos cortadores de pedras. Tomando essa haste como eixo, e sempre com o Cordel , traçavam então diversas circunferências concêntricas inclusas na primeira. Marcavam, em seguida, cuidadosamente sobre cada uma delas os pontos que correspondiam às extremidades das sombras projetadas pelo Sol, em diversas alturas, antes e depois do meio-dia. Em seguida dividiam em duas partes iguais o arco compreendido entre os dois pontos que haviam sido traçados pela sombra sobre cada circunferência, e assim obtinham uma linha reta que passava pelo próprio pé da haste e determinava o plano no qual o Sol se encontrava quando ele atingia o ponto mais alto do seu curso cotidiano. Este plano era o Meridiano. Ele passava, pois, pelo Zênite do lugar e pelos pólos terrestres, cortando o horizonte segundo uma reta à qual foi dado o nome de Meridiano. Tinha-se desse modo a linha Norte-Sul. Quem inventou o gnômon ? É um mistério. Cita-se Anaxímenes de Mileto, outros o atribuem a Anaximandro, e outros ainda a Thales. Vitrúvio nos fala do um gnômon que construiu o sacerdote e astrólogo caldeu Berose, e que ele colocou sobre um plano quase paralelo ao equador. O gnômon de Aristarco era uma espécie de quadrante horizontal com o limbo levantado ao redor a fim de Impedir que a sombra lançada fosse mais longe. Quanto aos gnômons de que os hebreus se serviam na época de Achaz, eles já eram comuns na Grécia na época de Eudóxio. Os romanos só mais tarde se utilizaram deles. Vê-se que no traçado de um gnômon, os membros das corporações antigas utilizavam necessariamente o Cordel , o Fio a Prumo , o Compasso , o Esquadro (sendo
este freqüentemente denominado gnômon diretamente) . No caso de um gnômon de pequenas dimensões, o Cordel era substituído pela Régua 92. A Régua foi em seguida substituída, pelos Maçons Especulativos, pelo Livro Sagrado , que serve para orientar o Templo Interior do Homem , assim como a Régua ou o Cordel serviam para orientar os Templos materiais. É por isto que se deu o nome de gnomônicos aos poemas que são chamados igualmente gnômons , assim como seus autores. A poesia gnomônica , espécie de coleções de versos de preceitos morais, é anterior, em todos os povos, à aparição da Filosofia. Podem ser classificados neste gênero primitivo da literatura e da moral os Provérbios de Salomão, as obras de Hesíodo, de Sólon, de Pitágoras, de Theognis, de Focilides, etc. Assim como o Apólogo , a poesia gnomônica tinha por objetivo a instrução religiosa, e também a instrução moral, do povo. Geralmente ela ensinava uma sabedoria prática, recomendava as virtudes usuais e tudo o que pode melhorar o bem-estar do homem ou aperfeiçoar a vida social. O Maçom avisado perceberá imediatamente as relações estranhas entre esta denominação, a natureza daquilo que ela designa, e a Régua ou o Cordel , e o Livro Sagrado que os substituiu. Desejamos, pois, que as Obediências maçônicas que ignoram voluntariamente o simbolismo profundo deste uso, retornem a ele sem demora e que um Livro de alto valor moral , de sua escolha, venha a preencher este vazio sobre seus Altares ou, na falta deste, a Régua graduada dos arquitetos do antigo Egito. O ternário rege toda a Maçonaria, e esta deve oferecer aos olhos dos Maçons esses três objetos que são chamados muito justamente as Três Jóias e que são: o Compasso, o Esquadro e a Régua. Desta maneira, aos poucos, na Franco-Maçonaria e em seus Templos primeiramente, depois na Cidade profana que ela deve proteger e logo conduzir, será realizada a palavra profética: ―Por isto assim fala o Senhor, o Eterno: Eis que eu coloquei por fundamento em Sião uma pedra, uma pedra angular de valor, solidamente colocada. Aquele que a tomar por apoio, não terá pressa de fugir, pois Eu farei da Equidade uma Régua e da Justiça, um Nível...‖ (Isaías 28I:16-17).
CONCLUSÃO A Franco-Maçonaria é uma sociedade iniciática , indiscutivelmente. Não se conclui daí que seus membros devam se desinteressar dos assuntos da Cidade. Eles continuarão, o que quer que alcancem no plano da iniciação, sempre cidadãos. E a Franco-Maçonaria, convém não esquecer, recebeu no décimo oitavo século, dos Rosa+Cruzes, a missão de trabalhar pela realização do seu vasto plano universal, imaginado e aperfeiçoado por seus promotores. De fato, e em primeiro lugar, a Maçonaria deve formar individualidades de valor no plano iniciático e conduzi-los, sábia e metodicamente, pelo acesso aos conhecimentos essenciais, para o Adeptado . Ela deve despertar em seus membros as potencialidades intelectuais, morais, psíquicas, neles adormecidas. Deve orientá-los
A Astrologia divide o dia em parte diurna (da meia-noite ao meio-dia), e noturna (do meio-dia à meia-noite). É para se situar fora do tempo e para o retorno a um estado inicial incondicionado que os Maçons abrem simbolicamente seus Trabalhos ao meio-dia . 92
para o estudo das ciências tradicionais correlatas ao seu programa iniciático e que, s em elas, permaneceriam desconhecidas ou negligenciadas pelos Maçons deixados à sua própria sorte. A fim de despertar essas forças misteriosas, ela deve criar neles um clima interior que levará o Mestre Maçom a uma indiscutível Sabedoria, que implica o dom ínio de suas paixões e o desenvolvimento de suas virtudes. Fora disto, a técnica maçônica será uma pratica vazia. E os Maçons que, por serem refratários a toda pesquisa filosófica ou metafísica, se acantonarem em estudos didáticos dignos no máximo dos círculos usuais de estudos especializados do mundo profano, não seriam muito melhor orientados. Por outro lado, apenas a política não deve ser a finalidade dos trabalhos maçônicos. Para abordar seus múltiplos aspectos, não haveria necessidade de submeter-se a ritos complicados, de receber ensinamentos sabiamente velados e revestir emblemas esotéricos para isto; o clube local seria suficiente, ou então o círculo do chefe da comarca, ou em grau superior o partido. A política , em Maçonaria, deve ser seguida e orientada unicamente em função desta herança, planificada pela Rosa+Cruz e confiada à Ordem Maçônica inteira há bem dois séculos e meio, e deve sempre ceder o passo aos interesses superiores, o que implica uma perpetuação iniciática de importância indiscutível. A pseudo ―regularidade‖ maçônica, que consiste no ―reconhecimento‖ epistolar
de uma Obediência por uma outra, não justifica a existência e o comportamento desta mesma Obediência. E por outro lado, a ruptura geral com todas é ainda menos a prova de seu real valor e d e sua independência em relação à outra.
É então no valor individual de seus membros que as Obediências apóiam a justificação de sua própria existência, não no seu número. A membros fúteis ou vãos, superficiais, correspondem Obediências sem valor iniciático. Esta é a verdadeira conclusão. Elas estão no mesmo nível de tantas grandes igrejas, cuja maioria dos fiéis, por sua tibiez ou por sua mediocridade intelectual, já não refletem mais de maneira alguma a mensagem inicial. São corpos mortos e sem alma. É para lembrar aos Maçons que lerem esta obra, os próprios princípios da sua herança secular, que estas páginas foram escritas. Possam eles ao menos conceder ao seu autor o benefício do zelo, do devotamento à Ordem Maçônica e, finalmente, do desejo de trazerem mais uma pedra ao Templo Ideal em perpétua gênese, pois: ―Nós quisemos esboçar esta imagem em um esquema rápido e fiel, não
segundo os homens alistados sob sua bandeira, mas de acordo com a Tradição da qual a Franco-Maçonaria se entende detentora...‖ (C.Chevillon: ―O Verdadeiro Rosto da Franco - Maçonaria).
A GNOSE MAÇÔNICA Para quem quer que vá explorar alguma Terra incógnita, é imprudente traçar antecipadamente os mapas e a descrever. A aventura de Cristóvão Colombo é a prova peremptória disso. Ocorre o mesmo com a Gnose Maçônica. Sabemos que, segundo a Tradição, a ―Letra G‖ que irradia no centro da
Estrela Flamejante significa Gnose , Geração, Geometria . E isto nos leva a formular o postulado de que a Franco-Maçonaria possui efetivamente uma Gnose . Mas esta Gnose , qual é? Eis o problema! Pois em nenhuma parte, em nenhum dos documentos mais antigos, está indicado que se trate da Gnose clássica, ou da de Valentino, de Cerinto, de Marcion, ou de Simão. No entanto, e por estas três palavras exatamente, sabemos que se trata de um Conhecimento (Gnose), relativo a uma Geração , e a uma Geração Harmoniosa (Geometria). Observemos, porém, (e isto será útil mais adiante), que se trata de uma Geração , e não de uma Re-Generação . O Esquadro maçônico é, aliás, a chamada, pois o ―G‖ do nosso Pentagrama é o gama grego, ou seja, um Esquadro : Formularemos então um certo número de conclusões. *
* * Querer que a Maçonaria transmita o que esta ou aquela religião ensina é um erro fundamental. Pois é dogmatizar , o que é antimaçônico antes de mais nada. Devemos abandonar nossos ―metais‖ à porta do Templo. E este foi o erro dos
reformadores clericais da Convenção de Lyon, em 1778, e da de Wilhelmsbad em 1782, o de afirmar que ―nossa Ordem é cristã‖. A Maçonaria de obediência anglo -saxônica, que exige que a Bìblia não apenas figure sobre o altar de toda Loja ―regular‖, mas ainda seja considerada como um Livro Revelado , se contradiz quando, para agradar suas Obediências de além-mar, ela coloca um Corão, um Bhagavad-Gita, ou um Cânon Pali, sobre o altar, em lugar da Bíblia, dita insubstituível. De fato, a Maçonaria não é nem cristã, nem anticristã, ela possui sua própria crença, e não tem necessidade de a tomar emprestada às religiões do mundo profano, que não nos oferecem senão um conjunto de contradições, como se Deus mudasse de opinião mudando de ―profeta‖. A Gnose Maçônica, aquela que lhe é própria repetimos, não lhe poderia vir do mundo profano, mas é extraída e explicada em função dos seus Símbolos, de seus próprios Ritos, e apenas deles : Colunas ―Jakin‖‘ e ―Booz‖, Colunas ―Sabedoria‖, ―Força‖, ―Beleza‖, Pavimento de Mosaicos, Cerimônias Rituais e usos próprios dos três graus ―azuis‖: Aprendiz, Companheiro, Mestre. Jamais devemos perder de vista que o leigo, ou o doutor de não importa qual religião, é, e permanece para nós um profano, uma vez que não foi recebido Maçom. Pode-se comparar o espírito maçônico, em seus efeitos e suas repercussões no psiquismo, à ação do espírito-santo dos Cristãos no plano espiritual. Isto não deveria chocar ninguém: um doutor em teologia nem por isso o é em medicina. Para compreender a Maçonaria é preciso tornar-se maçom. * * *
Voltando à Gnose Maçônica, constataremos que todas as gnoses anteriores atualmente à nossa disposição, repousam sobre um dado revelado de bases judaico cristãs. Ora, para a Franco-Maçonaria não existe dado revelado , e nada deveria ser interditado à introspecção do Homem. Considerar, com nossos Irmãos anglo-saxões ou de obediência anglosaxônica, que a Bíblia foi revelada por Deus a Moisés, em todos os textos anteriores à morte deste, é desdenhar das descobertas modernas relativas aos velhos poemas cosmogônicos da Babilônia. É ignorar que nenhum texto manuscrito existe anterior ao Cative iro na Babilônia, e que foi Esdras, ―inspirado pelo Espìrito -Santo‖, que os reconstituiu ... na Babilônia, e graças, justamente, à sua descoberta desses mesmos poemas babilônicos. *
* * Todas essas Gnoses, aliás, partem de um postulado inicial, colocando em princípio que a Alma humana se degradou, e que ela deve retornar ao seu habitat ontológico primeiro. A Maçonaria não nos ensina isto! Ela toma, no Mundo Profano, um ser que ela considera como incompleto, adormecido, não estabilizado , e ela o acorda , transmitindo-lhe a Luz . Esta mesma Luz que, ao fazer aparecerem os seres e as coisas , lhes dá realmente existência. Ora, a este ser incompleto, adormecido, ela não diz que lhe restitui a Luz, mas que ela a confere . E segundo sua formula própria, que analisaremos em seguida, ela o cria , o recebe , o constitui. *
* * Pode-se então admitir que a Gnose Maçônica considera o Homem Profano como o resultado de um longo caminho ontológico, que ele tenha chegado diante de um umbral, que ele tenha batido a uma porta, e que não possa franqueá-la sem receber, daqueles que a franquearam bem antes dele, a Chave necessária para a sua abertura. Há aí um postulado maçônico inicial conforme às mais modernas conclusões científicas, e que alegrarão os admiradores de Teilhard de Chardin. De onde a expressão maçônica ritual quando da iniciação de um Aprendiz: ―Eu vos crio , recebo , e constituo Aprendiz Maçom...‖ Ora, o latim constituere significa criar a essência de uma coisa. Criar vem do latim creare : produzir, que (producere ) significa engendrar. Esta última palavra significa dar a existência . Quanto a receber, vem do latim recipere : aceitar, admitir. Vê-se que não há, na fórmula tradicional e sacramental da Franco-Maçonaria, nenhuma alusão a um pecado original, a uma degradação inicial, a uma restituição a um estado anterior. Bem ao contrário, há uma idéia de criação . E nos Símbolos tradicionais colocados sob os olhos do Impetrante na ―Câmara de Reflexões‖ também não. O Crânio ali é a imagem do Nada , da Morte , do Não-Ser , tão bem evocado pela tese maçônica. E o Galo (quando aí figura) é a imagem clássica dos antigos gnósticos, do deus inferior e imperfeito que é o demiurgo de baixo, e também nos grimórios mágicos do Princípio do Mal. *
* * Do Nada , da Morte , do Não-Ser , a Maçonaria extrai uma ―matéria prima‖ que ela vai empenhar-se por seu Ritual e, ao termo dessa Cerimônia, em tornar um ser
realmente vivo, livre e pensante . Melhor ainda, em fazendo dela um Maçom , isto é, um construtor , ela vai guindá-lo ao nível dos demiurgii de que fala Empédocles de Agrigento: ―O Demiurgo e os demiurgii unem o Criado e o Incriado...‖. O Incriado . .. Pode-se melhor sublinhar esta diferença em relação ao Mundo Maçônico , fechado, abrigado, refugiado, neste Templo ao qual têem acesso apenas aqueles que, graças à Luz, vivem realmente. *
* * Esta ―criação‖ pneumatológica, a Maçonaria a realiza em conformidade com um Plano , que lhe é confiado justamente por este Princípio Supremo que ela chama o ―Grande Arquiteto do Universo‖. E ela executa este Plano por Amor , pois a fórmula usual diz: ―À Glória d o Grande Arquiteto do Universo...‖. Ela o executa igualmente por Obediência , pois a mesma fórmula evoca uma ordem recebida: ― Em nome de . .. (este ou aquele Rito) ...‖. Ela o executa legitimamente : ― Em virtude dos Poderes que me foram conferidos...‖. Pois atrás dessas palavras sacramentais do Mestre de Loja, é a Maçonaria inteira que fala , pois que é dela, da sua Tradição, que ele tem estas fórmulas assim transmitidas, sem alteração, por séculos . *
* * O que a Gnose Maçônica tem em comum com as Gnoses Clássicas e conhecidas, é esta noção de umbrais intermediários , de portas a franquear , e que o Ritual afirma serem ―extremamente baixas‖. Pois umbrais e por tas são tradicionalmente guardados por Arcontes , isto é, Princípios, e esses Princípios , é preciso franqueá-los. Tais são essas fases impropriamente chamadas batismos em nossos Rituais. Pois não se entende como um Elemento (Água, Ar, Fogo) do qual se libera o Impetrante, poderia, por esse fato, purificá-lo. Seria o mesmo que dizer de uma pessoa com tifo que a arte da medicina tivesse curado, que ele foi ―purificado pelo tifo‖. Uma tal hipótese equivaleria, aliás, a sustentar que, passando pela ―Câmara de Reflexões‖, o Profano foi ―purificado pela Terra ‖ . Isto seria conferir - lhe de imediato, pelo fato de ter passado pela ―Câmara de Reflexões‖, um caráter e uma qualidade que
o fizessem, antes da própria Iniciação , um ser diferente dos Profanos comuns.
Ora, a Tradição Maçônica não sustenta esta hipótese, e o texto de diversos Rituais (francês, escocês, egípcio), a contradiz certamente. * * * Uma outra diferença entre as Gnoses clássicas e a Gnose Maçônica (além da noção da Preexistência das Almas , que ela ignora deliberadamente, como vimos de constatar), é a ausência de qualquer alusão, quanto à Vida Futura do Maçom , dessas hipóteses que são a metempsicose ou a metensomatose (reencarnação). Para a Tradição Maçônica, a morte carnal conduz o Maçom ao Oriente Eterno . É tudo. Desçamos ao plano dos Símbolos e vejamos se eles nos precisam alguma coisa a este respeito. *
* * No Templo há um lugar chamado Oriente , elevado por três degraus, que se opõe ao e domina o Ocidente . Este sendo o ―umbral‖ do Mundo Prof ano, isto é, do Não- Ser , da Morte , e das Trevas , o Oriente será, por oposição, o lugar do Ser (em sua plenitude, é portanto a imagem do Pleroma dos gnósticos), da Vida (Verdadeira), e da Luz . Eis porque ele é dominado pelo símbolo da Causa Primeira , símbolo muito iluminado, e que é ou o Delta Luminoso, ou a Estrela Flamejante. Tomarão lugar no Oriente, cedo ou tarde , e pelo jogo das instituições maçônicas, todos os Irmãos que o tenham merecido, por seu zelo, seu conhecimento da Maçonaria, seu elevado valor moral. E se não desmerecerem, eles aí permanecerão. Se um dia forem afastados daí, será para franquear as Colunas do Ocidente , e assim retornar ao Mundo Profano, quer dizer, ao Não-Ser, à Norte, às Trevas . Por um tempo estarão ― adormecidos ‖ e, se rejeitados para sempre, eles se tornarão ― esquecidos ‖ . Pode -se expressar melhor este retorno às Trevas , à Noite ? * * * Poderão objetar o uso, muito recente aliás, de certas Lojas, de que o Venerável da Oficina, ao final de seu mandato, vá, no umbral do Templo, preencher o cargo de Cobridor , ou de ―Guardião do Umbral‖. Mas, além de ser este um uso recente, não é nenhuma desgraça, bem ao contrario! Pois bem antes do Venerável, o Irmão Cobridor é aquele que permite o acesso ao Templo , isto é, à Luz, à Vida, ao Ser. Além disso, essa função não é definitiva, e não o priva de modo algum, como Past Master (antigo Venerável), de ter, em toda parte , acesso ao Oriente em qualquer outra Loja. *
* * Pode-se bem considerar a existência da hierarquia dos Altos graus, ac ima dos três graus ―azuis‖ da Maçonaria Simbólica, como probatória em modo esotérico da crença em uma evolução em ―Planos Superiores‖, simbolizada pelos Altos Graus. A estes ―Planos Superiores‖ acenderiam, em função de uma necessária
evolução póstuma, variável de acordo com cada individualidade psíquica, todos aqueles Mestres que tivessem a possibilidade de ir ―além‖ do simples acesso ao Oriente Eterno, isto é, à imortalidade pura e simples. E desde logo, com suas ― Palavras de Passe ‖ , verdadeiras ―Palavras de Poder‖,
com seus Sinais Probatórios , suas Marchas diferentes, podemos adivinhar nesses mesmos Altos Graus, e no simbolismo material dos Templos que lhes são próprios, o dos ―Umbrais‖ de que falamos no inìcio deste estudo, ―Umbrais‖ guardados por um Arconte em todas as escolas gnósticas antigas, e que é preciso franquear, graças a ―Nomes de Poder‖ , e a ― Selos ‖ , para poder ir mais longe.
E se os títulos surpreendentes que acompanham os Altos Graus: Muito Ilustre, Muito Poderoso, Muito Sublime , infelizmente nem sempre parecem se aplicar a seus detentores humanos oficiais, talvez não esteja interditado crer que se aplicam, e muito realmente , a detentores que pertencem a essa Comunidade psíquica que se chama justamente o Oriente Eterno. * * *
Observa-se, aliás, que esses termos possuem, para quem sabe analisá-los, uma verdadeira ressonância esotérica. Ilustre vem do latim illustris , expressando aquilo que é luminoso, e portanto suscetível de dar a luz , de iluminar . E para isso é necessário tê-la em si mesmo . De onde a divisa de um alto-grau mui to oculto: ―Lux Inens Nos Agit..‖. , ou seja, ― a Luz que está em nós nos move. ―. Poderoso deriva do latim potentis , significando o poder supremo, e o fato de haver obtido aquilo que se deseja . Qualificando um Gra nde Comendador de ―Três Vezes Poderoso...‖ se evoca o Hermes Trismegisto (três vezes grande) do mudo antigo. Ora, esse deus era o Condutor das Almas no além, daí o seu qualificativo de Psicopompo . O Grande Comendador está assim à testa de uma corégia oculta, e é o seu Mistagogo (condutor dos iniciados), ainda um termo antigo designando Hermes. Sublime vem do latim sublimis , significando aquilo que é elevado, mas também, em química, a ação de separar em uma retorta os elementos voláteis de uma substância seca, e recolhê-los . Ocultamente, um ser sublimado é, portanto, aquele no qual se efetuou uma separação, uma ruptura, ou ainda um ser no qual desceu uma substância previamente sublimada. Em uma palavra, este ser se tornou o veículo de uma entidade ou de uma força oculta, que age por seu intermédio. *
* * Dir-se-ia que a Gnose Maçônica ignora as noções de pluralidade das formas vitais no Mundo Profano? Em uma palavra, a Maçonaria ignora a metempsicose e a metensomatose ? Parece que ela conservou a esse respeito a tradição pitagórica, tradição que afirmava que os Iniciados recebem, como primeiro benefício de sua iniciação, o privilégio de escapar à roda das vidas. Apenas os profanos permaneceriam sujeitos a ela. Esta noção era a da Gnose cristã clássica, o cristão tendo recebido os batismos da água e do fogo , livrava-se por isso do Príncipe deste Mundo, e não dependia mais senão do Cristo. E já muito antes deles, P latão afirmava que ―aqueles que se aproximaram das santas iniciações e aqueles que as ignoraram, não terão, no reino das Sombras, destinos semelhantes...‖. Ora, o Mundo Profano, votado ao Nada, ao Não-Ser, às Trevas , é simbolizado pela ―Câmara de Reflexões‖. E o que é que se põe, nesse reduto sinistro, sob os olhos do recipiendário? Emblemas alquímicos , evocando ipso facto as múltiplas transmutações que opera nesse Mundo material aquilo que impropriamente chamamos a Vida. De fato, o recipiente com sal, o recipiente com enxofre, o outro em que treme o mercúrio vulgar, o crânio descarnado, não são eles símbolos do Sal, do Enxofre, do Mercúrio Filosofal, do Vitriol Filosófico ? E transposto ao plano humano, essas transmutações , assim discretamente evocadas, não lembram as vidas sucessivas desfilando diante dos olhos do Profano? Ao tirá- lo da ―Câmara de Reflexões‖ para lhe dar acesso ao Templo o à Luz, a Maçonaria não lhe faz compreender, por meias palavras, que ela pretende liberá-lo dessas formas múltiplas, transitórias e dolorosas , que são as Vidas sucessivas? *
* *
Tais são as noções preliminares de uma Gnose, exclusivamente maçônica , e que se pode depreender de nossas T radições e de nossos Símbolos. Enquanto guardiães e defensores de tudo isso, cabe aos Oradores das Lojas Maçônicas lembrá-lo e confirmá-lo periodicamente 93. E se acontecesse que Irmãos, incompletamente penetrados do espírito maçônico, inconscientemente submetidos a disciplinas confessionais estranhas à própria Ordem, tentassem conciliar sua submissão a essas disciplinas com o desejo de se tornarem (nos não dizemos permanecerem , por isso mesmo...), bons e legítimos maçons, lhes restaria meditar sobre esta copla, tirada dos cantos maçônicos do século dezoito, e conhecida desde 1737: Para o público, o Franco-Maçom Será sempre um verdadeiro problema! Que ele não conseguiria resolver a fundo
a não ser tornando-se ele próprio Maçom... *
* *
O TETRAGRAMA DOS VENERÁVEIS
“As invocações onde predominam as séries aaa, eee, iii, etc., são verdadeiras evocações feitas apenas com a voz, e onde o som opera sem o auxílio das palavras.”
G.Maspero: Sobre a Enéada
Nesse estudo o grande egiptólogo nos demonstra como a Ciência das vibrações sonoras tinha importância na teurgia egípcia antiga. É um fato curioso, a ser lembrados aos que estão ativos da Maçonaria francesa, a presença do tetragrama IHVH no centro do Deita luminoso, assim como a sua presença, desde há bem dois séculos, na ponta dos colares de bom número de veneráveis do rito francês e do rito escocês antigo e aceito. Observemos antes de mais nada que ele está inscrito em um Deita , e não em um banal triângulo, segundo a definição muito precisa da tradição maçônica. E um deita , é uma letra, a quarta do alfabeto grego. É a inicial da palavra grega demiurgos , significando a inteligência criadora na antiga filosofia platônica. Vê-se que não tem qualquer relação com a santa trindade, e com essa noção esotérica discretamente formulada vemos aparecer a Gnose, essa gnose expressa pela nossa letra G, que em grego se expressa por um gama , isto é, por um esquadro . E a mesma Gnose clássica diz que o deus dos judeus não é o Deus Supremo, mas apenas o seu auxiliar no plano da criação, pois o Deus Supremo é necessariamente incognoscível por essência.
Entre os dez Oficiais encarregados de administrar uma Loja, o Orador é, antes de tudo, o guardião da Lei Maçônica, das Constituições e Regulamentos Gerais, e das Tradições da Ordem Maçônica. Só ele tem o direito e o dever de lembrar à ordem o Venerável , se este comete um erro ou uma omissão. 93
Esta noção essencial da filosofia gnóstica por longo tempo impediu de dormir os padres da Igreja. Celso, em seu terrível Discurso da Verdade , nos demonstrou como o nível intelectual dos primeiros cristãos era insuficiente, exceção feita a algumas belas inteligências como Clemente de Alexandria, Orígenes Adamantius e o conjunto de seus discípulos. Também, cedendo à lógica dos pais da Gnose, os pais da Igreja procuraram para si um demiurgo que fosse apresentável, um Obreiro Divino (é o significado do termo demiurgo). Voltando-se para Filon de Alexandria, tomaram dele por empréstimo seu Logos, que batizaram de Verbo. E progressivamente os concílios de Nicéia, Constantinopla, Éfeso, Calcedônia, definiram ex cathedra o que o grande Orígenes já chamava o santo demiurgo e que, no seio do cristianismo, toma o lugar anteriormente ocupado por Metatrôn-saar-ha-panim Metatrôn-saar-ha-panim no judaísmo. E chegamos assim ao estudo do nome misterioso misterioso por essência, Tetragrama impronunciáv Tetragrama impronunciável, el, que era substituído, em Israel, por Adonai , senhor.
o
Em sua obra A Magia no Egito Antigo , F. Lexa nos diz: ―Os Egípcios supunham que os nomes usuais dos deuses não eram seus verdadeiros nomes, mas apenas pseudônimos, e que os deuses dissimulavam seus verdadeiros nomes a fim de não ser obrigados a se submeter a uma vontade estranha.‖ É bem evidente que a diversidade de línguas humanas conduz a diferenças consideráveis de pronúncia de uma mesma palavra. E para nossos vizinhos alemães, a palavra ―egìpcio‖ se dirá como toda naturalidade ―éhibzio‖, a palavra ―pelica‖ se tornará ―belika‖, e da fórmula ―tanto pior‖, eles farão ―dand biorr‖. Como os franceses pronunciam o alemão? Melhor será não se deter nisso, é claro! Isto se deve em boa parte a que os sons vocalizados não correspondem ao número de letras que os exprimem nos inúmeros alfabetos imaginados pelo homem. Possuímos em nossos arquivos os caracteres de 76 alfabetos, esotéricos, esotéricos, o que eleva a aproximadamente 152 o número das séries de letras utilizadas pelos homens para exprimir suas idéias. De fato, tudo isso pode se resumir em oito sonoridades de base : BP
CGXQ
DT FV LR M N SXZ
exemplo: bato, pato, pasto, basto
capa, gaba, kapote, quepe
doma, toma, tono, dono foi, vou rumar, lunar Margarida Argarida ( com freqüência não pronunciado) Nestor: Estor Suzana, Susana, Zuzana, Xavier, Savier, Zavier, etc.
Trata-se evidentemente de consoantes. A vocalização exigirá outros sinais. No hebraico dito ―quadrado‖, proveniente do cativeiro na Babilônia, são os célebres pontos vocálicos que permitem silabar uma seqüência de consoantes. Possuímos em francês um exemplo tradicional com o célebre ba-be-bi-bo-bu dos pequenos oradores ainda em fraldas. Esses pontos vocálicos, que apareceram nos primeiros séculos de nossa era, permitiram suprir uma tradição, oral e portanto frágil, que pretendia transmitir o verdadeiro significado das palavras que compunham a Torá. É assim que, segundo a sua pontuação, as letras que compõem a palavra Hiram significar Hiram significarão ão ou o rei de Tiro ou a palavra nobre , ou a palavra livre.
Se o hebraico possuí cinco vocalizações essenciais, repartidas em seis signos, há apenas quatro sonoridades principais : A, E, I, O, pois U é apenas uma acentuação particular do O. Percebe-se que em francês ― supe o chu ‖ equivale a uma ―soupe ― soupe aux choux‖ (sopa de repolho), e que a palavra ―kusmugoni‖ ― kusmugoni‖ designa designa a ―cosmogonie‖ ― cosmogonie‖ . Podemos concluir que a linguagem humana exige apenas oito sinaisconsoantes e quatro sinais-vogais para se expressar por escrito, ou seja, doze a o todo. Alguém poderia objetar a ausência da letra H. Mas para que ela serve? ―Hénurme...‖ exclamava Flaubert quando queria exprimir um exagero. Poderia ter escrito ―Enorme...‖ e todos teriam compreendido, a deformação ortográfica tinha por finalidade sublinhar um sentido particular da palavra habitual. A adju ad junç nção ão da letr le tra a H à letr le tra a P, para pa ra dar da r um exem ex empl plo, o, a palav pa lavra ra ―phy ―p hysi sico co‖‖ é
inútil no plano puramente fonético. Transcrevendo o Ph por um F, se obtém o mesmo resultado: ―fìsico‖. Se desejarmos falar de um amigo que se chame Charles Dumont a pronuncia ―Jarles Dumont‖ cumprirá a função, e a palavra chapéu pode ser pronunciada ―japéu‖. Ora, o célebre Nome Divino do povo hebreu se compõe apenas de vogais, as quatro vogais essenciais que enfatizamos acima, porém, dispostas de uma certa maneira: IEOA Retenhamos este dado, pois já se delineia em nosso pensamento a hipótese de que este Nome Divino seja um mantra , um encantamento , uma palavra de poder , no sentido mágico destes termos. E, em caso afirmativo, estamos na obrigação de lhe dar uma um a sonorização particular, sonorização particular, verdadeira vocalização no vocalização no sentido absoluto da palavra. De fato, é muito provável que este Nome Divino não Divino não se pronuncie, mas se module , se cante de um certo modo. Demetrius de Falera nos diz, no III século de nossa era: ―No Egito, os sacerdotes cantam louvores aos deuses servindo-se das sete vogais, que eles repetem sucessivamente, e a agradável eufonia do som dessas letras pode soar como flautas e cítara.‖ (Cf. Demetrius de Falera: Péri erméneias ) Tratava-se aí evidentemente de uma invocação aos sete deuses planetários, de onde sete e não quatro vocalizações diferentes. Em seu pequeno opúsculo O Canto das Vogais , Edmond Bailly havia dado a reconstituição, segundo ele, da música para harpas e flautas doces dessa invocação sonora. No segundo século da nossa era, o matemático Nicômaco de Gerase nos diz que: ―.. o som possui aqui o mesmo valor que a unidade em aritmética, o ponto em geometria, a letra em gramática. Eis porque os teúrgos, quando adoram a Divindade, a invocam simbolicamente de modo sibilante, seja estridente seja suave, com sons inarticulados e sem consoantes.‖ (Cf. Nicômaco de Gerase: Manual de Harmonia , 5° fragmento). No quarto século, Eusébio de Cesárea reconhece que: ―Quanto ―Quanto ao que se diz
das sete vogais, que reunidas constituem um nome, um som so m misterioso que os filhos dos hebreus transcrevem em quatro letras, e que eles referem ao supremo poder de Deus, é uma tradição transmitida de pais a filhos, e é interditado à multidão proferi-lo, pois é um mistério.‖ (Cf. Eusébio de Cesárea: Preparação evangélica , V, XIV).
A transmissão de pais a filhos se justifica pelo fato de que o sacerdócio juda ju daic icoo era er a here he redi ditá táririo, o, pois po is apen ap enas as a desc de scen endê dênc ncia ia carn ca rnal al a poss po ssuí uíaa de dire di reitito, o, desd de sdee
Aarão e seus filhos. (Cf. Levítico : 8:1 a 36; 21:1, 16 a 24; 22:1 a 9). Quais eram as correspondências desse setenário ―astrovocal‖? Ei-las aqui
resumidas, segundo a ótica do mundo antigo: 1° céu Saturno Omega 2° Júpiter Ipsilon 3° Marte Ômicrom Ômicr om 4° Sol Iota 5° Vênus Vênu s Eta 6° Mercúrio Epsilon 7° Lua Alfa
ô u o i ê e a
Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá
Este conjunto harmônico se reduzia do setenário ao quaternário por uma operação da qual nós ignoramos a chave, mas que tinha estas correspondências: I E O A mi sol ré lá ou ainda:
Sol.......................mi..........................I Mercúrio..............sol.........................E Marte....................ré..........................O Lua.......................lá..........................A
Uma tal formação esotérica implicava, para que fosse utilizada, em conhecer perfeitamente o domínio misterioso dos sons ; não esqueçamos que a ciência moderna se volta para o estudo, para fins não pacíficos, bem entendido, do misterioso poder dos ultra-sons , que são no domínio sonoro o que são os infravermelhos e os ultravioletas ultravioletas no domínio das radiações e da cromática. Até o presente, se conseguiu matar camundongos em laboratório, mas a muito curta distância, com os ultra-sons . Quanto aos ao s infra-sons ... .. . ―Conhecer o nome de uma divindade, era ter poder sobre ela. Mas não se
tratava apenas de conhecer seu nome, era preciso saber pronunciá-lo corretamente, pois o mínimo erro tornaria a invocação nula. Teria mesmo sido considerado perigoso pronunciar incorretamente o nome de uma divindade. Está dito em uma inscrição egìpcia: ‗Tende cuidado em relação a Ptah, o mestre da Verdade, e temei pronunciar o nome de Ptah falsamente, pois certamente ele atingirá aquele que o pronunciar falsamente, e o arruinará.‘‖ (Cf. W.Groff: Estudos sobre a Feitiçaria ou o papel da Bíblia para os para os Feiticeiros ). ). É provável que o nome tetragramático tetragramático IEOA estivesse muito próximo de nomes semelhantes usados para as divindades caldaico-assírias. Sabe-se que eram dele feitas contrações em quatro fases, formando o célebre ―Grande Nome de setenta e duas letras‖:
IO.................. Iod.....................................10 = ...10 IAH...................Iod-Hé............................10+5 = ...15 IOAH...................Iod-Hé-Vaw.................10+5+6 = ...21 IEOAH...................Iod-Hé-Vaw-Hé.......10+5+6+6 = ...26 total : ... 72
Os números utilizados são aqueles atribuídos como valor numeral às letras do alfabeto hebraico. Ora, nas inscrições caldaico-assírias, notadamente nas de Borsippa, encontram-se as duas formas Houh, Haoh , aspectos semíticos do assírio Ao , formas que designam o deus da Sabedoria: ―Aquele que conhece todas as coisas‖. Houh, Haouh, Haoh (ou (o u Héa Hé a ), ) , é o deus da Inteligência e da Sabedoria , um dos três grandes deuses
dos caldeus: Anou, Bel, Houh . Observa-se como as sobrevivências calcaico-assírias eram vivas então no seio de Israel, constatando o papel que desempenham os deuses ―pilares‖: Inteligência e Sabedoria , no Livro de Reis : ―E Deus disse a Salomão: Eis que agirei segundo a tua palavra, e te darei a Sabedoria e a Inteligência , de tal sorte que não haverá ninguém antes de ti, e jamais se ve rá alguém semelhante a ti.‖ (I Reis 3:12). ―Hiram estava cheio de Sabedoria e de Inteligência . ..‖ (I Reis 7:14). Entre os Instrumentos maçônicos, a Inteligência corresponde ao Compasso e a Sabedoria à Régua . E quando o Compasso mede o comprimento da Régua entre suas duas pontas, ele desenha um Deita , inicial do nome do Obreiro Divino: o Demiurgo . No que concerne ao aspecto inefável do Nome Divino , este princípio era originário do Egito, como se vê em Heródoto (II, 86, 132, 170). Esse historiador se recusa a pronunciar o nome do deus egìpcio pois que ―ele não poderia fazê -lo sem impiedade‖. Se Heródoto se tivesse convertido à religião egìpcia, esse escrúpulo se justificaria por um temor puramente místico. Mas não é o caso. Heródoto não sabe como pronunciar exatamente esse nome, com o tom exato que é segredo dos sacerdotes, de Mênfis como de Tebas, de Karnak como de Hierópolis. É, portanto, por prudência justificada pelo mistério dos sons, e que ele pressente, que Heródoto se abstém de fazê lo... Cícero no s confirmará o testemunho de Heródoto: ―O deus de que os egìpcios não crêem poder, sem cometer um crime, pronunciar o nome...‖ (Cf. Cìcero: De natura Deorum , III, 22). Esse nome não era outro senão Hamoun , de que os gregos fizeram Amon . Em uma obra a ser editada, e que existe como manuscrito terminado, nós apresentaremos as provas de que a religião judaica, assim como nos apresenta a Bíblia, só apareceu sob o reinado do jovem rei Josias, e que ela se impôs definitivamente quando do retorno do cativeiro da Babilônia. Antes disso Israel conheceu apenas os cultos cananeus clássicos, com o sacrifício dos primogênitos, as prostituições sagradas e o culto dos baalim locais. Iavé era um entre eles. Era o deus dos cananeus desde sempre, nos revela o Targum . Ora, acontece que Moisés era o genro de um deles: ―Heber, o cananeu, se havia separado dos cananeus, dos filhos de Hobab, sogro de Moisés...‖ (Juìzes 4:11).
Ora, foi do nome desse Heber que os hebreus tiraram seu nome nacional. Vêse que Moisés simplesmente se converteu ao culto de Iavé, deus dos cananeus , para desposar Séfora, filha desse Hobah, que o Êxodo denomina Jetro, (op.cit. III, 1). Como se chamava esse deus? Na realidade, não sabemos. Às vezes é chamado Eheyeh (Eu sou), às vezes Iavé (Ele é), às vezes Shaddai (Todo Poderoso), etc. É suficiente reler o Êxodo para se convencer pelo próprio texto hebraico. O que é certo é que o assírio e o acadiano só possuíam quatro vogais para dezenove consoantes. As vogais eram: A I U E (cf. M.Rutten: Elementos de acadiano, assírio-babilônico. Noções de Gramática ). Não é necessário ser grande conhecedor para constatar que as quatro vogais reproduzem exatamente o Tetragrama I E U A, e o célebre Nome Divino . Não se pode afirmar então o que é dito acima, que o Nome tetragrama só apareceu em Israel após o cativeiro na Babilônia? E que esse Nome misterioso tem a ver com um conhecimento secreto agora
perdido, o da ciência dos sons ? Jovem Venerável, meu muito querido Irmão, tu que estás tão orgulhoso desse belo colar ricamente bordado a ouro, sabias que levas sobre o peito o eco deformado e diminuído de um tal saber?...
COMO RACIOCINAR MAÇONICAMENTE Na Maçonaria convém raciocinar ao invés de se expressar instintivamente ? A resposta é evidentemente afirmativa. Nada pode ser retido que não tenha, antes, sido submetido ao controle da razão . Pois esta retém as conclusões , enquanto o instinto não emite senão opiniões , e a priori . Ora, se todas as opiniões são respeitáveis quando são sinceras, nem por isso são todas válidas . Pois sobre dez opiniões expressas a respeito de um dado assunto, uma apenas será provavelmente exata, e nove outras serão, mais ou menos, erradas. E o erro não poderia se beneficiar do mesmo privilégio que a Verdade, é evidente. Assim, posso sustentar a necessidade de suprimir a polícia, os tribunais, as prisões, em um Estado e isto em nome do perdão das ofensas e da misericórdia erigidas em princípio. Mas enquanto houver assassinos, sádicos e ladrões, esta opinião será totalmente errada, e o dever daqueles que estão encarregados do Estado será de proteger as pessoas pacíficas contra os criminosos e os anti -sociais. Concluamos que, nem todas as opiniões sendo necessariamente boas, é importante passá-las todas pelo crivo da razão antes de concluir por sua adoção. E é justamente isso que a Franco-Maçonaria impõe a todos os seus membros. Convém igualmente definir os métodos gerais que permitem fazê -lo. Sabemos que a letra G que desempenha um papel tão grande em nossa Ordem, significa Geometria e Gnose , este último termo significando Conhecimento , em grego. Assim, a Geometria e o Conhecimento podem estar associados. E Pascal tem razão quando afirma que ―a Lógica tomou emprestadas as suas regras da Geometria . ..‖ (Cf. Do Espírito da Geometria ). Que é, pois, a lógica ? É a ciência que tem por objeto os processos e as fórmulas do raciocínio, aplicando-se em distinguir o verdadeiro do falso, o exato do inexato. É a primeira das três ciências que constituem o célebre trivium da escolástica medieval, e seu elemento principal de trabalho é o silogismo . De fato, a lógica é a própria expressão, estruturada e verificada, da razão . Mas o que é a razão , esta perpétua razão que a Maçonaria latina coloca bem à frente da fé da maçonaria anglosaxônica? A razão e a faculdade pela qual o homem distingue aquilo que está conforme com a verdade, o bom senso, o real. E a razão tem por modo de introspecção a lógica .
Ora, esta última possui, no trivium da escolástica medieval, três irmãs menores. São: a) a retórica , que é a arte de falar de maneira a persuadir o interlocutor. É a dialética do que é verossímil, a exposição daquilo que exprime uma verdade, uma evidência, uma coisa exata. Dependendo da lógica , ela deve, pois, estar conforme com a razão, sendo sua decorrência.
b) a gramática, que é e a arte de expressar seu pensamento, pela palavra ou pela escrita, de maneira conforme às regras estabelecidas pelo bom uso. Ela repousa sobre quatro princípios que são: a razão, a Antigüidade, a autoridade, o uso. Assim pois, a l ógica corresponde ao pensamento , a retórica à palavra , a gramática ao ato . Mas o que é esta geometria de que a lógica tira suas fórmulas, segundo Pascal? É a ciência que tem por objeto a definição e a medida das linhas , das superfícies e dos volumes . E uma analogia evidente nos permite estabelecer correspondências entre essas duas ciências, aparentemente tão diferentes: à lógica corresponde o pensamento ; ao pensamento , a medida das linhas ; à retórica corresponde a palavra : à palavra , a medida das superfícies ; à gramática corresponde a ação : à ação , a medida dos volumes . Constata-se por este paralelismo, como se efetua uma certa densificação , do domínio da linha ao do volume , passando pela superfície , densificação análoga ocorre indo do pensamento ao ato , passando pela palavra , que profere a intenção . É o que permitiu a tantos fundadores de religiões estabelecer uma teoria sobre o tríplice aspecto da unidade divina , e o papel mediato de um Logos , de um Verbo , entre o Deus supremo e o Demiurgo, criador material. “
Vimos que a lógica tomou suas fórmulas da geometria , e que seu principal argumento , que permite concluir segundo a razão, é o silogismo . ”
Ora, o silogismo tira sua justificação matemática dos princípios do triângulo retângulo , e não se poderia negar ou contradizer o que repousa sobre uma demonstração matemática . E o que é um triângulo , pois teremos necessidade em seguida de sua definição precisa? É urna figura da geometria plana possuindo três lados e três ângulos. Pode ser eqüilátero, isósceles, escaleno, retângulo, obtusângulo, acutângulo, plano, esférico, ou seja, oito tipos de triângulos ao todo. Mas todos devem corresponder à definição geral, e não se poderia admitir qualquer definição de fantasia a seu respeito. Assim, é absolutamente impossível considerar como aceitável a hipótese de que haja um triângulo entre as duas colunas J e B e o Quadrilongo (Pavimento de Mosaicos) no centro do Templo. Pois se unirmos essas colunas e o segundo, obtemos um hexágono irregular e não um triângulo ... Ora, a regra do silogismo evocada acima repousa sobre as propriedades do triângulo retângulo. E um triângulo retângulo é um triângulo que comporta um ângulo reto. Assim, é visível que o nosso Quadrilongo é constituído pela associação estreita de dois triângulos retângulos, unidos por uma hipotenusa única , comum aos dois . E aquele que desejar sondar o esoterismo do desenvolvimento completo dessa figura, cairá em um domínio dos mais enriquecedores quanto ao oculto da geometria. válido?
Mas o que é, pois, esse silogismo , fórmula imperativa de todo raciocínio É um ―argumento‖ constituìdo de três afirmações, de modo que a conclusão
está contida em uma das duas primeiras, a outra demonstrando que ela está contida ali. O silogismo se estabelece, pois, em três afirmações: 1) a maior 2) a menor 3) a conseqüência ou conclusão .
Constata-se que quando a maior e a menor são demonstradas e incontestáveis, a conclusão ou conseqüência também o é. Um exemplo fará melhor compreender o processo de todo silogismo : 1) Maior : todos os índios tem a pele cobreada 2) Menor : Jerônimo, o chefe apache, era um índio 3) Conclusão : Jerônimo tinha a pele cobreada. Cada uma destas três afirmações sendo incontestavelmente exata. Lembraremos agora as célebres propriedades do triângulo retângulo , que os estudantes de antigamente chamavam ―ponte dos asnos‖, os parvos estando na impossibilidade de fazer a respectiva demonstração. Ei- las: ―O quadrado erguido sobre a hipotenusa de um triângulo retângulo é igual em superfície à soma dos quadrados construìdos sobre os lados do ângulo reto.‖ Constata-se a analogia evidente entre esta regra e as do silogismo : a) b) c)
a altura do triângulo retângulo corresponde à maior do silogismo , a base do triângulo retângulo corresponde à menor do mesmo, a hipotenusa do triângulo retângulo corresponde a sua conclusão .
To memos agora um exemplo de raciocínio maçônico e coloquemos uma questão: de qu ê servem as três colunas que enquadram o quadrilongo? Pode-se evidentemente admitir que servem para suportar o teto do Templo, embora uma quarta coluna fosse necessária para evitar que ficasse perigosamente em falso. Ora, nunca houve, mesmo nos altos graus da Maçonaria, uma quarta coluna em qualquer Templo. Além disso, constatemos que em todos os ritos maçônicos onde elas figuram, essas três colunas servem para sustentar luminárias com chamas visíveis, e que elas constituem assim verdadeiros tocheiros. Coloquemos agora os três termos do nosso silogismo : a) maior : são chamados tocheiros todo candelabro, lampadário, estrela ou coluna, sustentando não importa qual tipo de luminária ígnea, e isto é indiscutível. b) menor : nenhum tocheiro poderia sustentar o que quer que fosse pesado e opaco, e que apagaria a chama da luminária, e isto é indiscutível, c) conclusão : as três colunas que enquadram o quadrilongo são tocheiros por seu aspecto e sua função e, em conseqüência, não suportam o teto de um Templo material, nem de um Templo emblemático. Uma outra questão vai agora se delinear: por quê, no curso do ritual, se utilizam tocheiros para materializar três princípios metafísicos, a saber: - a Sabedoria , correspondendo à lógica , ao pensamento e á linha , - a Força , correspondendo à retórica , à palavra e a superfície, - a Beleza , correspondendo à gramática , à ação e ao volume. A resposta, também aqui, vai nos ser fornecida pelo processo do silogismo : a) maior : Sabedoria, Força e Beleza são princípios metafísicos oriundos da teoria das Idéias Eternas de Platão, e isto é uma evidência, b) menor : o Fogo é o elemento mais imaterial e mais puro entre os quatro elementos do Hermetismo, pois que não tolera praticamente nada de grosseiro em seu seio, e é o purificador por excelência, e isto também é uma evidência,