Número 5 – Abril 2011
Judiccaël Perro oy Miguel Carva alhinho Alan n Rawstho orne
Guita arra Clássica
Editorial: Na sua entrevista, Judicaël Perroy refere como acha extraordinário ver que existem cada vez mais crianças dedicadas à música clássica. Os efeitos positivos no desenvolvimento cerebral das crianças encontram‐se amplamente estudados e muitos de nós já ouvimos falar sobre o efeito Mozart (nome que poderá suscitar incorrectas interpretações dado que muitas pessoas pensam que se deverá ouvir apenas música de W. A. Mozart). O que mais poderá fascinar será como nos dias de hoje, apesar de todas as distracções possíveis e imaginárias, encontramos jovens plenamente dedicados ao estudo da música. As horas passam muito mais rapidamente quando nos encontramos embrenhados em distracções que nos induzem a um estado hipnótico, estado alfa, actividades como ver televisão ou jogar computador. Tal como em toda a educação, a facilidade não pode estar presente. O carácter individual do estudo musical reclama uma atenção e exclusividade por parte do músico. O músico não deverá favorecer a comodidade de um passatempo em detrimento de uma relação, de afecto e constante pesquisa, com a sua arte. Pedro Rodrigues Estará o meio artístico português sentenciado? Para quem ainda se encontra em negação, a resposta é inequivocamente sim. A Holanda, um dos expoentes máximos da cultura europeia verá o seu orçamento para as artes reduzido em cerca de 25% o que levou milhares de músicos às ruas em protesto em Outubro de 2010. Não estamos mais no campo do desconhecido. O caminho que será tomado no futuro no que às artes diz respeito é mais do que previsível, é uma certeza. Estaremos preparados para tal cenário? Portugal não estando só na cauda da Europa geograficamente mas também social e economicamente, terá forçosamente de evoluir ideias e conceitos em prol da sua sobrevivência. Parafraseando António Pinho Vargas em Música e Poder, é o momento das respostas individuais criativas, independentemente do destino do património artístico. João Henriques
Índice: Entrevista a Judicaël Perroy Entrevista a Miguel Carvalhinho Estratégias de estudo Novas Gravações Páginas com Música
4 13 17 62 64
Equipa: Marcos Vinícius Araújo, João Henriques, Tiago Cassola Marques, Pedro Rodrigues, Manuel Tavares Guitarra Clássica
Entrrevista a Judicaël Pe erroy Por Pedro Rod drigues C – Go ostava que fa alasse um po ouco sobre o seu início na a guitarra, os seus Revistta Guitarra Clássica princiipais professorres e os princiipais ensinamentos que retirou de cada u um deles. erroy ‐ Comecei a estuda ar guitarra qu uando Judicaël Pe
tinha 7 anos mas inicialmentee queria esstudar acordeão por razões que não sei bem expliccar. O m pouco dee guitarra como meu pai tocava um a esclarecido no o que amador, mas um amador a música clássica. E foi portanto ele e que respeita a me impulssionou a esttudar guitarrra e me insccreveu no conservvatório do centro de Parris. Apesar d de não estar particularmente motivado n nos primeiro os seis a coisa acontecceu e con nsegui meses, alguma perceber perfeitamen nte como tudo funcionava na É algo que não sei exp plicar muito o bem guitarra. É como aco onteceu maas consegui tocar todas as músicas do livro em leitura à primeira vista. E te er esta capacidade indiccava que era e bastantee dotado para a guitarra. Na alturra tinha um professor m mediano, que e aliás não to ocava guitarra clássica, o o meu etente e foi ffalar com Ro oberto Aussel após pai procurou um novo professsor, alguém mais compe oncerto. E os primeiros eestudos a sério começaraam aos 9 ano os pois estud dei com ele e e com um co Delia Estrada durante d doiss anos. Co omo era ne ecessário qu ue tivesse um diplom ma do c Raymon nd Gratien que q foi o meeu professorr mais conseervatório, esstudei posteeriormente com importante pois eestudei com ele entre oss 11 e os 15 anos. Foi com ele igualm mente que fizz mais progrressos. Após bastantes hesitações decidi, verd dadeiramentte, fazer da guitarra a minha pro ofissão nte pois quando era mais novo, fui bastante exxposto quando tinha 20‐21 anos. Heesitei bastan havia muitass crianças pro odígio (no seentido em que em Françça, na altura que era maiis novo não h em guitarra) g e to odas as pesssoas pensavaam que eu iria obrigato oriamente seer guitarristaa e eu não ttinha tantas certezas assim. E tudo issto foi bastan nte pesado ee só decidi reealmente ap pós ter parad do durante o os 17 e os 19 9 anos. E só aapós ter reto omado aos 2 20 anos é qu ue tomei a de ecisão de me m tornar profissional p e fui paraa a École Normale N dee Musique e para o CNSM C (Consservatoire National de M Musique de Paris) onde estudei com m Alberto Po once. Este pe eríodo Guita arra Clássica
de aulas correu de modo relativamente difícil pois tive dificuldade em ajustar‐me às aulas. Tinha um imenso respeito por Ponce enquanto professor, alguém que é muito dedicado aos seus alunos mas aquilo que me queria ensinar não se adequava de todo a mim e foram aulas muito difíceis. Após este período de estudo, fiz poucos concursos, fiz o GFA em 1997 e a partir desse momento comecei a ter bastantes concertos o que também motivou que fizesse poucos concursos em comparação com muitas pessoas. Devo ter feito 7 concursos tendo começado em concursos internacionais aos 14 anos. Nessa idade ganhei o segundo prémio, pois aos 14 anos já tinha as mesmas capacidades técnicas que actualmente possuo. Musicalmente diferente como seria de esperar mas tecnicamente era bastante semelhante ao que sou hoje. RGC – Em entrevistas mais antigas, refere frequentemente o piano como instrumento de referência. Que outros músicos considera que influenciaram a sua maneira de pensar a música? JP ‐ Quando era mais novo nunca ouvi outra música sem ser a erudita e até aos 13‐14 anos ouvi unicamente música para guitarra clássica. A partir dos 14 anos comecei a ouvir outras coisas, comecei com as cassetes que existiam em casa dos meus pais e consistiam em Polonaises de Chopin tocadas por Maurizio Pollini e obras de Granados interpretadas por Alicia de Larocha. Fui de certo modo influenciado pelo meu pai que ouvia bastantes vezes os Impromptus de Schubert por Brendel e assim fiquei também eu imerso nesta música. Na altura em que parei de estudar guitarra, por coincidência, fui ver um concerto do pianista Nikita Magaloff que estava a fazer a integral de Chopin e partir desse momento comecei a ouvir cada vez mais este instrumento. No que respeita aos intérpretes não diria que me influenciaram, mas sim que marcaram, pois não tenho a pretensão de dizer que tenho a influência de tais músicos na maneira como toco. Muito especificamente, existem quatro: Pollini que devo ter visto em concerto pelo menos umas vinte vezes; Brendel que vi igualmente em diversas ocasiões; Richter que vi apenas uma vez em 1995 e finalmente Rudolf Serkin que conheci através dos seus discos de Beethoven. Após ter ganho o concurso Bartoli, a primeira coisa que fiz foi comprar a integral das sonatas de Beethoven. RGC – E o que admira mais em cada um desses músicos? JP – É bastante difícil definir. Evidentemente, após alguma reflexão chegamos à conclusão que existe um ponto comum: a ausência de compromisso perante o repertório há muito estandardizado, algo que o piano permite com alguma facilidade pois o seu repertório é de facto enorme. E cada um desses músicos tem as suas características: destaco em Brendel a maneira como cada interpretação é estudada e aprofundada, mesmo que tenha gravado várias vezes as mesmas obras, cada gravação apresenta sempre novidade e frescura e é algo que acho admirável, tal como o facto de ser alguém que escreveu bastante sobre a música, análise, interpretação e a sua profissão. Em Richter, que é o meu pianista favorito, admiro as suas escolhas radicais. Tem uma quantidade de repertório alucinante, maior que qualquer outro pianista. O facto de tomar riscos em concerto e há mais do que essa ausência de compromisso: quando o vi ao vivo, tocava no escuro e com alguém ao lado que lhe virava as páginas.
Guitarra Clássica
Não víamos as mãos e como não as víamos, tínhamos a capacidade de ouvir muito melhor. Para ele havia esta necessidade de concentração na audição por parte do público. Em Pollini salientaria a perfeição técnica mas esta perfeição não é um objectivo em si, como se nota nos concertos onde sentimos uma urgência em comunicar. Sinto, no entanto, que acabo por ter uma maior ligação com Brendel. RGC – Quais os factores que o motivam a escolher determinadas obras e qual o seu método de estudo e aproximação às peças? JP – É um método muito lento e está a tornar‐se cada vez mais lento (o que é um pouco inquietante). Há muitas obras que gosto muito e à medida que as vou trabalhando dou‐me conta que "não, não é isto que quero fazer". Como agora não tenho de fazer concursos, não tenho imposições. Há imensas obras que gosto de ouvir e que gostaria de tocar, mas uma vez que para tocar bem as peças preciso de as trabalhar muito, eu tenho de gostar muito delas o que acaba por limitar a minha escolha. Por exemplo, a sonata de Tedesco, é uma peça que gosto muito e que trabalho frequentemente com os meus alunos. Já a comecei a estudar 3‐4 vezes porque tinha evidentemente vontade mas de cada vez que a estudava perdia o interesse pela obra. Como sou alguém bastante ocupado com concertos e aulas, preciso de uma enorme motivação para encetar o estudo de uma obra nova. Por exemplo, um amigo transcreveu a partita de Bach (Tristan Manoukian – Partita nº2) e essa obra sim, tive uma grande vontade de estudar pois era algo que gostava mesmo muito. Uma peça que comecei por tocar e depois deixei, seja por achar que não era capaz de a tocar bem ou porque não tinha inspiração suficiente, foi a Introdução e Capricho de Regondi. Portanto, o mais importante agora é considerar que as obras valem realmente a pena. RGC – E foi esse o critério para o novo disco que irá sair brevemente editado pela Naxos? JP – Os dois discos anteriores a solo foram discos com programa tipo recital, diversas obras sem uma verdadeira ligação entre elas. O próximo disco, com obras de Bach, não surgiu com esse propósito de ter uma coerência temática porque é algo que já foi feito. Não reivindico o facto de tocar bem Bach, não tenho essa pretensão, aliás quando me pedem para falar da música de Bach sinto‐me completamente incapaz de o fazer. Mas, é uma música que sempre esteve comigo e sem me dar conta apercebo‐me que quando tinha 16 anos, bastante isolado a nível guitarrístico, já tocava duas suites (uma para alaúde, outra para violoncelo e a Chaconne). A vontade de tocar a música de Bach esteve portanto sempre presente e para este novo disco, esta escolha, muito pessoal, foi aceite pela Naxos especialmente graças à Partita nº2. A suite BWV 997 foi a primeira peça de Bach que estudei seriamente, aprendi‐a quando tinha 13 anos. Para este trabalho tive de a reaprender após um hiato de mais de 20 anos e evidentemente surgiram muitas alterações tal como o grau de exigência e trabalho que se modificou substancialmente. É sobretudo um projecto pessoal e tal fará com que toque bastante Bach, não sendo no entanto uma reivindicação, é obviamente
Guitarra Clássica
um dos grandes compositores de sempre e o prazer que retiro das suas obras é suficiente para justificar esta escolha. RGC – Em outros artigos seus menciona frequentemente a música de Bach e a problemática que dela surge. Nomeadamente o Prelúdio, Fuga & Allegro BWV 998. JP – Sim, comecei a tocar essa obra há cerca de 4 anos. De vez em quando retiro‐a do repertório e depois volto a tocá‐la e isso é algo que acontece com alguma frequência. Não sei porque tal acontece, pois tenho a sensação que a trabalhei bem e tenho a obra tecnicamente bem dominada. Há no entanto sempre algo que não me agrada e acho que esse é um problema que acontece com muitas pessoas, não apenas em Bach mas em toda a música (talvez particularmente evidente em Bach). Há um equilíbrio hiper‐complicado entre o rigor e a vertente mais lírica e podemos sempre pensar na frase "tocar Bach como Chopin e Chopin como Bach" pois Chopin é um compositor muito clássico, longe da imagem ultra‐ romântica que temos actualmente. A música de Bach, por seu lado, tem muita sensualidade e penso que esse equilíbrio é realmente difícil de atingir. Convém dizer que estudei parcamente as disciplinas de análise e contraponto e a capacidade de análise que possuo surgiu de modo instintivo. Desenvolveu‐se muito com a audição de discos e a verdade é que aprendemos muito de análise e solfejo ao ouvir. É muito difícil fazer a ligação entre aquilo que estudamos e o que tocamos e parece‐me urgente a necessidade de criar a disciplina de "estudos de interpretação". Por exemplo, analisar boas interpretações e ver quais os pontos que fazem com que gravação X ou Y se destaque das outras. Tal permitiria uma ligação entre a análise e a interpretação e é algo sobre o qual tenho vindo a pensar recentemente e faço‐o regularmente com alunos, ouvindo diferentes versões da mesma obra. Em França, e em mais países, temos a análise de um lado e o instrumento de outro e estes dois nunca estão conectados e é frequente ver pessoas que são muito boas em análise e que quando tocam fazem erros típicos de pessoas que não têm uma boa capacidade de análise. RGC – É curioso notar como existe muitas vezes uma sobrecarga de disciplinas teóricas sem uma verdadeira aplicação prática na disciplina principal. JP – É um facto. E consideremos ainda o facto de muitas vezes os guitarristas trabalharem paralelamente ao curso, todos estes elementos que "roubam" tempo são flagrantes sobretudo nesta altura em que surgem guitarristas muito bons cada vez mais novos. Tenho alunos que tiveram muito sucesso por volta dos seus 20 anos e por outro lado tenho outros alunos que são muito bons também mas que com 23‐24 anos têm a impressão de já estarem completamente ultrapassados e "velhos". É algo que compreendo mas não deixo de achar absurdo pois quando alguém toca bem, simplesmente toca bem seja qual for a sua idade e aos 23‐24 anos temos uma vida inteira para continuar a evoluir. Contudo, estes alunos têm a impressão de estar atrasados porque com esta idade não ganharam o GFA por exemplo. É preciso notar que nem todas as pessoas que tocam bem vão ganhar este tipo de concurso e é por isso que é importante desenvolver outros caminhos. Para além disso, o facto de ganhar concursos ou fazer
Guitarra Clássica
conceertos não garaante que uma pessoa contin nue a evoluir musicalmentee. Há imensass pessoas que fazem muito os concertos p por ano e tem mos sempre a noção que algo dentro deelas já morreu u. O essenciall passa por deesenvolver o interesse e a ssua maneira d de se exprimirr através da m música. RGC –– Dessa consta ante procura d de desenvolvimento surge o o duo com Jérrémy Jouve? JP – SSim, é muito importante reeferir isso. Co onheci Jérémyy quando ele tinha 19 ano os e eu teria 2 25. Na alturaa já tocava muitíssimo m bem m e tornámo‐nos amigos antes de term mos decidido fazer o duo.. Certa alturaa tive vontade de fazer música m de câm mara, por um ma necessidad de de pesquiisa, para não o estar sempre a viajar sozzinho e por vo ontade de parrtilha musical.. Evidentemen nte, não é fáccil encontrar aalguém com quem nos entendamos e e que simultaneamente gostemos g com mo instrumen ntista, alguém m que mutuamente. estimule a criatividade musical m E assim propus a Jérémy que fizzéssemos estee duo, algum tempo antes de ele ganhaar o GFA. Ape esar de eu serr mais velho, ele tinha basttante mais experiência que e eu a nível daa música de cââmara, uma vez que tive apenas raras eexperiências n neste campo. Temos uma maneira semeelhante de veer a música, m mesmo se exiistem diferençças consideráveis entre nós, por exemplo o Jérémy, o ouve imensos estilos de mú úsica e impro ovisa bem, musicalmente aberto (fez música m indianaa) enquanto eu, faço exclusivamente música m clássicca e ouço excclusivamente m música clássicca. Não foi um ma decisão minha o facto d de ouvir apenaas este génerro musical, maas foi este gén nero que me m motivou e que e presentemeente desperta interesse. Ao níível do repeertório a solo o temos tam mbém as nosssas diferençças, Jérémy ttem um pro ograma actualmente dedicaado à música espanhola e aacaba de gravvar uma parte da integral de Rodrigo e Rodrigo é um compositor q que não se enquadra nos m meus gostos e que não toco o. Assim, somos muito dife erentes em deeterminados aaspectos mass existe uma u uniformidade de opiniões ssobre a músicca e mesmo quando não teemos a mesm ma opinião con nseguimos sem mpre compree ender a escolh ha do outro. RGC –– Quais são oss próximos pro ojectos do vossso duo? JP – Existe o projeecto de gravar um disco co om música de e compositorees franceses. Tristan Mano oukian, que fez a traanscrição de Bach, transccreveu recentemen nte
a
Suiite
Bergamasque.
Teremos César C Franckk (francês à à sua maneira…) e uma transcrição de Rave el. Será mos para a Naxxos. uma gravaçção que farem
Guita arra Clássica
RGC – A sociologia é uma das suas grandes paixões. Sente que a situação de crise económica tem paralelo com uma crise cultural? JP – É muito difícil comparar as histórias das diversas culturas. É certo que há cerca de uma/duas centenas de anos, a cultura pertencia a 0,1% da população. Existe actualmente o fenómeno da cultura de massa mas simultaneamente temos sempre tendência a pensar que no passado era bastante melhor. O que tenho a certeza é que quando dou aulas a alunos jovens, que estão a começar a estudar guitarra, parece‐me sempre milagroso como estes jovens de 10‐11 se interessam por música erudita uma vez que esta é muito pouco valorizada. É algo que me impressiona sempre, como se a necessidade de cultura do Homem, não pudesse ser apagada, independentemente da necessidade, da crise, do desemprego ou da necessidade de fazer mais dinheiro. Como disse, durante algum tempo imaginei a minha vida sem música, mas penso que a vida sem Arte, sem cultura, ficaria desprovida de sentido. Sobra certamente o Amor mas falta‐lhe uma vertente espiritual (e não sou crente) que apenas a Arte poderá dar. Acredito que a mais forte espiritualidade reside na cultura e é algo vital. Se nos contentarmos meramente com comida, dormir e por aí fora, se perdermos a componente cultural da nossa existência não seremos diferentes dos animais. O Amor, é difícil saber o que é, existem definições complicadas mas muitos animais vivem em casal para sempre e isso acaba por ser amor também. Ao fim ao cabo, a Cultura é uma produção exclusivamente do Homem e é uma necessidade, infelizmente pouco valorizada no momento presente. RGC – Enquanto professor (e um dos professores mais pretendidos actualmente) o que procura especificamente nos seus futuros alunos? JP – É complicado de definir. Tenho a sorte de, desde há 9‐10 anos, ter alunos muito bons à partida. Quer isto dizer que chegam com um nível já muito alto o que como é evidente, torna mais fácil o trabalho futuro. Actualmente, tenho também a sorte de poder escolher e é um pouco difícil de dizer o que motiva a selecção. Mas, gosto que os valores que tenho na vida musical sejam semelhantes aos dos futuros alunos. Se um aluno quer apenas ser muito famoso e tocar coisas de um gosto duvidoso aí tenho a certeza de não querer trabalhar com ele. Procuro alguém que seja realmente dedicado à Arte, que tenha necessidade da Música para se exprimir, que tenha necessidade de viver a Música que seja relativamente similar à minha. Depois deste período de aulas, cada um terá o seu próprio percurso e vejo isso nos alunos que tenho pois todos fazem percursos incrivelmente diferentes, e dentro desses percursos, vejo que a minha influência é relativamente fraca o que é muito bom, pois o percurso deve pertencer exclusivamente às pessoas. Poderão ser pessoas com objectivos comuns: melhorar ou trabalhar determinados aspectos mas no fundo ficarão sempre eles mesmos. RGC – E quais são aqueles que considera como os seus principais ensinamentos?
Guitarra Clássica
JP – Fico muito contente se sentir que os alunos são felizes enquanto estão a fazer música ou que eventualmente vão continuar a fazer música durante muito tempo, sempre com esta felicidade presente. Tal felicidade poderá tomar formas diferentes pois nem todos serão concertistas, como por exemplo Gabriel [Bianco] ou Florian [Larousse], mas se todos chegarem a esta relação positiva com a música, seja com um concerto por ano ou por ser um professor entusiasta que faz com que os seus alunos gostem de música, ou músicos de ensembles maiores. Em resumo, quando as pessoas estão vivas no que respeita a música, posso dizer que cumpri a minha missão quanto ao que deveria acrescentar à vida de cada um dos alunos. É preciso compreender que não tenho espaço para todos os alunos mas há espaço para que cada aluno encontre o seu caminho. Durante um curso que leccionei inserido num festival e cursos de outros instrumentos, havia muitos violinistas entre 15 e 18 anos, mais novos que os guitarristas, que queriam estudar exclusivamente concertos. Durante esse curso, foi‐lhes pedido que fizessem música de câmara com outros instrumentos, algo que não tinham muita vontade, de tal modo que sabotaram o concerto final e tocaram mal de propósito. Apercebi‐me que dentro destes 300‐400 alunos que estudavam unicamente concertos, apenas um número restrito irá realmente tocar ao longo da sua vida estas obras e é pena que não desenvolvam outros aspectos para além deste. E é isso que gostava de expandir no trabalho com os meus alunos, que possam gostar de música de câmara, que possam gostar de ensinar, que possam estar vivos com a Música. Evidentemente, sinto‐me muito feliz com o facto de ensinar e sinto que há uma comunicação e retorno maior durante as aulas do que por exemplo durante um concerto, onde toda a gente diz que foi muito bem no final, onde não é possível saber exactamente o que as pessoas pensam, que é algo que acho meio frustrante: perceber que há pessoas que gostam dos concertos por razões absurdas como tocar rápido. Durante as aulas temos a noção do que a pessoa ouviu e compreendeu pois houve um verdadeiro intercâmbio de comunicação. RGC – Como utilizador frequente das novas tecnologias de comunicação, quais as principais vantagens e desvantagens que destaca deste enorme mundo? JP – No campo da música, há imensas possibilidades. Se, eu fiz poucos concursos e nunca parti para o estrangeiro para estudar, tal se deve ao facto de na minha altura ser bastante mais complicado e caro viajar. Nesse sentido é de invejar a comunicação possível actualmente, comunicação entre alunos e comunicação também possível com determinados professores. Tenho alunos de diversos países graças a este poder de correspondência. Do mesmo modo, determinados aspectos mais pueris, como por exemplo a questão do ataque à esquerda vs ataque à direita, desapareceram pois as pessoas viajaram muito e consequentemente evoluíram. Enquanto cada um estava isolado no seu canto ou país, referíamo‐nos a escolas de uma pessoa, "Escola Lagoya", "Escola Carlevaro", "Escola Ponce" e por aí fora. A partir do momento em que viajamos apercebemo‐nos que há coisas interessantes um pouco por todo o lado e isso foi muito positivo. Naturalmente, o verdadeiro problema coloca‐se na indústria discográfica, mesmo que tal não afecte do mesmo modo os músicos clássicos que não são os principais motivos de venda das editoras. Ao gravar
Guitarra Clássica
para a Naxos, fiquei muito contente naturalmente mas pensei que foi muito bom gravar para eles antes que deixassem de fazer discos. Os 1500 discos que comprei, perfazem uma bela soma mas se os comprasse actualmente seria muito mais barato. E este desconto dos preços é demonstrativo da perda de valores que damos à música. Comprei uma integral de piano, 100 discos por 90 euros, e cada disco é realmente incrível. É fantástica esta possibilidade mas ao mesmo tempo é perigoso pois podemos pensar: "Por quê comprar um disco a 15 euros quando posso comprar 100 a um euro cada?" A globalização faz com existam muitos guitarristas que estejam constantemente em tournée mas de igual modo faz com que muito poucos sejam realmente conhecidos, não só em guitarra mas em todos os instrumentos. O que torna impossível que exista um novo Karajan, Rostropovich, etc, pessoas que se tornam conhecidas apenas pela música. Actualmente, existe uma razão paralela à música para que os intérpretes sejam conhecidos. Por exemplo, Lang‐Lang é um representante do novo poderio asiático, Helène Grimaud apoia os lobos, e cada um tem algo que para além da música faz com que tenha destaque através do media. Antes existiam pessoas como Horowitz, Rubinstein, Rampal, Lagoya, que eram muito conhecidos unicamente por aquilo que faziam musicalmente. RGC – Mas é preciso considerar a força que o marketing tem… JP – Sem dúvida que há um marketing muito forte. Li recentemente uma entrevista de uma pianista chinesa que ganhou diversos concursos e nesta entrevista falou de Lang‐Lang e menciona como muitas histórias em torno deste pianista não correspondem propriamente à verdade. É verdade que o marketing joga uma carta muito importante mas não deixo de o constatar sem sentir alguma pena. É óptimo que se queira dar cultura a todas as pessoas mas observo que em vez de levarmos, ou levantarmos o nível cultural das pessoas, estamos constantemente a baixar o nível da cultura para que corresponda à média das pessoas. É algo que não posso fazer na minha vida. Vivo confortavelmente, tenho os alunos que quero, os concertos, portanto não tenho razões para me deixar controlar por um determinado marketing. Estou num contexto onde uma vez que não morro de fome, não tenho razões para fazer coisas que não correspondem com a minha forma de ser. Naturalmente, é preciso pensar que nem todas as pessoas se encontram nesta situação, que cada um de nós tem os seus próprios motivos, e a verdade é que infelizmente pode ser muito lucrativo. Certas pessoas fazem certas coisas para serem conhecidas, é a sua escolha. Se vivemos correctamente não há grandes razões para criticar. RGC – No entanto a escolha que uma pessoa faz no sentido de querer mais ou menos mediatismo e exposição acaba por influenciar a sua maneira de pensar a música.
Guitarra Clássica
JP – Claro. Peensemos no m músico erudito o mais conhecido, c peenso que pod demos dizer que q foi Pavarotti. Algguém que já eera muito conh hecido como c cantor de ópera ee que mais para p a frente se torn f nou ainda maiis conhecido aa fazer esses eventos e s de nível fracco. Ele afirmavva que se divertia a f s fazer esses co oncertos, portanto é um u direito seeu, mas se no os perguntarm mos se este tipo de c e concertos levaava mais gente e a ver e e ouvir óperaa, acabo por não ter a cerrteza e não n estou co onvencido qu ue as pessoaas que compravam o c os bilhetes paara ver "Pavarrotti & Friends" fosseem comprar b bilhetes para ópera. Tal sucede igu T ualmente com m o violinista André Rieu, R que háá uns anos atrás foi, so ozinho, re esponsável po or 20% das vendas de música m eruditta em França.. As pessoas q que compram m estes discoss não vão depois ver conccertos ao vivo o de formaçõ ões eruditas. Por muito qu ue se diga qu ue trás novoss públicos à música m clássicca, tal não é verdade. v Que em trouxe as pessoas à música foi Bern nstein, atravéés dos seus programas de ttelevisão, Gleenn Gould e outros grandess comunicado ores. É preciso o notar que m muitas vezes o o músico clásssico quer guarrdar qualquerr coisa de mággico à sua volta como se trratasse de um m mundo heermeticamente fechado. Estive recen ntemente num m cruzeiro ee algumas pessoas disserram‐me que para músico clássico era muito simpáático e achavva isso algo iimpressionante. Há portanto essa noçãão transmitida pela televisão de que o músico clássicco é um génio, incompree endido, torturrado, etc. etc. quando na reealidade são p pessoas que têm talento e sensibilidade mas sobretud do que trabalham e que accima de tudo são pessoas n normais. Mass muitos gostaam de transm mitir esta imaggem de magiaa à semelhançça do que aco ontece por exeemplo com oss cientistas: teemos sempre presente a id deia do cientista louco de ccabelos espetaados quando são sobretudo trabalhadorres incansáveiis. RGC –– Qual a sua im mpressão sobre a vida mussical portuguesa? JP – D Devo dizer qu ue conheço m muito mal apesar de ter visitado algumas vezes Portu ugal. Como to odas as pesso oas, conheço a pianista Maaria João Pirees. No que re espeita a guitaarra, é um po ouco mais diffícil de falar, evidentemen nte conheço‐te a ti e tivee a possibilid dade de conh hecer músico os portuguese es que estudaram em França. Recordo que a primeiira vez que esstive em Portugal, no festival de Sernan ncelhe, assisti a um concerrto de guitarra portuguesa e este concerto teve muitto mais públicco que qualqu uer um dos outros o concerttos de guitarrra, tinha iguaalmente um público p bastante mais joveem e um ambiente mais ccaloroso. Estaa relação próxxima com a m música de caráácter mais tradicional/popu ular foi algo que me marco ou bastante pois tem um accolhimento qu ue não vemoss em todos os países.
Guita arra Clássica
Entrrevista a M Miguel Carvalhinho o Por JJoão Henrriques Revistta Guitarra Clássica C – Ca aro Miguel, obrigado po or ter aceita ado o nosso convite. Falle‐nos
sobree o seu trajeccto como mú úsico. Miguel Carvaalhinho ‐ Obrrigado pelo co onvite. Eu comeceii a estudar gguitarra clássica no Conservatório de Castelo o Branco em 1983, em 1986 enttrei na classe do professor Carlos Gouveia, e a a par das disciplinas teóriccas do curso, fiz o exame de 5 5º grau. Entre etanto como havia uma orquestra de cord das no Conservatório, fizemos o o concerto em e Ré Maior de Vivvaldi sob a dirrecção do pro ofessor António dee Oliveira ee Silva e com a participação o Vasconcelos,
da
profeessora duas
Luísaa
de
personalidades
importantes no meio musical porttuguês nomeadameente na área da música baarroca. Simultaneam mente realizeei a licenciatu ura de professores do ensino b básico varian nte de português p in nglês na Esscola Superio or de Educcação de Casttelo Branco. Frequ uentei ainda cursos c de Veerão com o professor p José é Diniz. Quan ndo conheci o o professor Alberto A Poncee nos cursos d do Estoril, em 1991, fiquei m muito impressionado com a sua forma impar de ver m música e partticularmente aa guitarra. Intterpelei‐o no ssentido de saber se poderiaa estudar em Paris com ele e. Deu‐ me indicações sobrre o programaa que teria dee estudar e, no ano seguintte, em 1993, d depois da ediçção do referido curso, fui para Paris onde o entrei no n Conservato oire d’Aubervvilliers La Cou urneuve. Doiss anos depoiis fiz o exame do “Prix” e fiq quei a fazer o “Perfectionnement” no mesmo conservvatório. Tenteei ainda entraar no “Conservatoire Natio onal Supérieu ur de Musiqu ue de Paris” mas, depois de ter chegaado à final, nãão fui aceite. Frequentei então, durante e dois anos, aa “École Norm male de Musiq que de Paris – 6éme annéée” sempre co om o professo or Alberto Ponce. Regresseei a Portugal eem 1998 e de esde aí que teenho trabalhaado em diverssas escolas. Há oito anos co omecei a classse de Guitarraa na Escola Su uperior de Arttes Aplicadas do Instituto P Politécnico dee Castelo Bran nco, e desde eentão que reaalizei o Mestraado na Univeersidade da Esstremadura em m Espanha on nde concluí o D Doutoramento no passado mês de Feverreiro. RGC –– Sendo docen nte na Escola a Superior de Artes Aplicad das do Institutto Politécnico de Castelo B Branco, qual éé o seu parecer no que diz respeito ao eensino e desempenho artísstico da guitarrra em Portug gal e o que see poderia fazeer para melho orar a qualidad de destas dua as vertentes?
Guita arra Clássica
MC ‐ Penso que esste instrumen nto tem uma grande aceitaação no públiico em geral devido talvezz à sua versattilidade. Assim m, o número de interessad dos em aprender a tocar guitarra é conssiderável. Porr outro lado, a presença na n Internet da d guitarra, quer q a nível de d partituras,, quer a nível de prestaçõ ões no YouTu ube é enormee. Eu costumo dizer que nos n anos oite enta noventa do século paassado, em Castelo C Brancco, não tocávvamos o quee queríamos mas sim as partituras qu ue apareciam m trazidas que er por professores quer pela frequênciaa de alunos nos cursos que e aconteciam. Juntando estes dois factores pen nso que o dessafio para o prrofessor de Gu uitarra Clássicca é importantte. Por um laado terá que adequar o programa à no ova realidade que é ter ob bras novas qu uase todos os dias, bastando para isso o consultar a internet. Porr outro lado ter t alunos cad da vez mais iinformados so obre o “mundo global” da d Guitarra Clássica. C O prrofessor tem que ter a competência c para aceitar novas partituras, e ter a capacidade de d as executaar à primeira vista, ou num curto espaaço de tempo o, para satisfaazer a curiosidade do alun no em relação o à obra. Teráá ainda que teer uma visão bastante abe erta do mund do da guitarra para estar acctualizado em relação ao qu ue se passa naa actualidade,, tendo a posttura de quem m não sabe tud do o que se paassa mas está interessado e em saber… Em reelação ao desempenho artíístico penso q que é bastantte melhor porrque há cada vez mais alun nos de nível superior em Portugal. A oferta o das insttituições de ensino e superio or tem qualid dade e a oferrta dos Conseervatórios e outras o Escolaas de Música também. De epois há todaas as actividaades como fe estivais organ nizados com in nstrumentistaas nacionais o ou internacion nais ou cursoss, que vão accontecendo durante todo o o ano. Esta dinâmica faz co om que a Guittarra Clássica sseja um instru umento com u uma boa divulgação e aceiitação. RGC – Qual é a sua opinião sobre a imp plementação do processo de Bolonha nas universidades portuguesas? Justiffica‐se esta m mudança? olonha, MC – O prrocesso de Bo na sua essência, é muito positivo p pois cria umaa rede europeia de ensino sup perior. Eu
vivi,
com
alguma a
amargura, o drama de tentar que
reeconhecessem m
habilitaçõ ões
obtidass
estrangeirro
para
as no
poder
trabalhar no meu paíss. Com este modelo o de créditos ECTS’s torna tudo mais fáácil, a mobilidade deixa de ter tanta burrocracia e crittérios menos claros na avaaliação dos diplomas. d Com mo aspecto positivo p há ain nda a mobilid dade que se torna mais aapetecível. A Escola Superrior de Artes Aplicadas reecebe todos anos alunos estrangeiros e vê alunos seus partirem por períod dos de um ou u dois semesttres para insttituições estraangeiras com protocolo. Esstes alunos quando
Guita arra Clássica
voltam m à sua esco ola vêm mais ricos com ou utras experiê ências que são o creditadas no seu diplo oma. O aspeccto que me parece menos positivo é a redução o da licenciattura para três anos. Parra um instru umentista é pouco p tempo de trabalho a nível supe erior. No enttanto, se enccararmos a po ossível realizaação de um mestrado, qu ue será inevitável para qu uem quiser ingressar no ensino ou te er uma formaação sólida paara fazer carrreira artística, esse tempo o passa para cinco c anos e não três. O ensino superrior tem agoraa um desafio importante q que será ofere ecer mestrados com temas interessante es que aliciem m os alunos a continuar na escola ou o atrair outros, detentorres de uma licenciatura noutra n institu uição nacional ou estrangeira. RGC – Com a situ uação grave que Portugall enfrenta nesste momento o, que previsã ão faz para o o meio artístiico portuguêss? Serão os mecenas e as a privatizaçõ ões dos estab belecimentos de ensino a única esperança para o m meio artístico?? MC – – Em tempos de crise o meio m artístico o sofre sempre muito poiis exerce uma actividade que é consid derada supérfflua. Quando o cinto apertaa cortamos prrimeiro no supérfluo… Seria muito impo ortante que q quem governa tivesse outraa visão: Consid derar a música e a arte em geral como u um bem de prrimeira necesssidade, tão importante como o “pãão para a boca”. b Todas as formas de organizaação e financciamento das instituições d dependeriam d deste sinal qu ue o governo q quiser dar. RGC –– De que modo o veria a asceensão de uma associação na acional de guiitarra em Porttugal? MC – Penso que seeria muito bem‐vinda uma associação que ajudasse àà dinâmica qu ue já existe. Poderia ser um m grupo impo ortante para reeivindicar os d direitos dos guitarristas e aao mesmo tem mpo potenciarr todas as acttividades que se realizam a nível nacionaal. RGC – Durante D a sua formação ccomo músico o quais foram ass suas principa ais influênciass musicais? MC – As A influências são tão variadas e tantaas que enumeráá‐las será fastiidioso. Diria eem traços geraais que a músicaa barroca mee influenciou e foi determinante no início do meu perccurso enquantto instrumenttista. É claro que e me emocion no com os lieeder de Schub bert ou Schuman nn ou com a ccomplexa estrrutura das ob bras de Mahler ou M.M.Ponce ou o com as propostas inovaadoras da Música Contem mporânea. Deepois a outross níveis fui in nfluenciado pela Música C Country, Blue Grass, Rock, Jazz Rock e Jazz. J Neste capítulo surgeem nomes com mo Neil Youn ng, Fleetwood d Mac, Chick Corea, Williee Nelson, Petee Seeger, John n Cougar Melleencamp, entrre outros. Maiis recentemen nte, devido ao o tema do meeu doutorameento e a projeectos que tenh ho desenvolviido, redescobri a magia e o o encanto da m música portuguesa de raizz, nomeadam mente a músicca de tradição oral da min nha região e o fado. Estass duas influêências estiveraam sempre presentes mas ssó agora conssigo perceber a sua dimensãão.
Guita arra Clássica
RGC –– Que conselho deixaria parra os futuros g guitarristas po ortugueses? PA – O O conselho qu ue deixo é que trabalhem m muito. Só trab balhando no liimite se abrem m novas portaas e se sobem m os degraus para atingir o o seu melhor nível. Depois de se ter chegado ao máxiimo de si próp prio se perceebe que há sem mpre muito m mais para atin ngir, o que torrna a nossa arrte um desafio o para a vida. Outro conseelho que deixo o é que se acrredite no trabalho de quem m nos orienta. É essencial confiar no proffessor, só asssim se pode merecer a co onfiança e gaarantir o total empenho de d quem trabalha connoscco. Por último o, estar aten nto a tudo o que se passsa na música em geral e na guitarra em particular para desen nvolver um saaudável espíritto crítico quee nos torne m mais exigentes connosco próprios e com o que nos ro odeia. RGC –– Que projecto os musicais levva a cabo nesste momento ee quais os proj ojectos para o futuro? MC –– O meu le ema é experiimentar o maior númerro de situaçõe es que estão ao alcancce da Guitarrra. Tenho sempre prep parado um
para
repertório
concerrto a solo, inccluindo compo osições
pró óprias.
Depoiss em músicca de câmara tenho um prrojecto q que gravou um CD o o ano passado, o Ninho,, com influên ncias da música de tradiçção oral da Beira B Baixa, ee que continu ua em digresssão. Graveei este ano co om a Cantoraa Cristina Maria e o mestrre da guitarraa portuguesa Custódio Casstelo o tema “Melífico” no o CD Percursu us participand do, desde enttão, nos conceertos de apreesentação. Participo em co oncertos com m Custódio Caastelo no âm mbito do CD Tempus T e em m duo com o o clarinetista Pedro Ladeirra. Estou também a traabalhar num duo com Pian no para aprese entar um repeertório variado que vai da m música clássicca até ao sééculo XX. Deepois há doiss projectos, que q estão prreparados paara quando houver h solicittações, que sãão dois Quinttetos de Bocccherini com o Quarteto Capela e o trio com a violoncelista Mariaa José Falcão ee a cantora Maria Salazar. RGC –– Caro Miguel, em nome d da Revista Guiitarra Clássica a, o nosso obrrigado pela su ua disponibilid dade e votos de muito suceesso.
Guita arra Clássica
ESTRATÉGIAS DE ESTUDO UTILIZADAS POR DOIS GUITARRISTAS NA PREPARAÇÃO PARA A EXECUÇÃO MUSICAL DA ELEGY DE ALAN RAWSTHORNE. Marcos Vinícius Araújo RESUMO Através da análise das atividades inseridas nos processos de estudo de dois experientes guitarristas professores universitários, o presente trabalho investiga as estratégias de estudo utilizadas na preparação da execução musical da Elegy (1971) de Alan Rawsthorne. A construção da execução musical, quando vista como atividade de solução de problemas (problem solving activity), através da utilização consciente de estratégias de estudo, pode ser otimizada em termos de qualidade e quantidade de estudo. A elaboração do modelo analítico, a partir das bases teóricas expostas no presente trabalho, permitiu a identificação das estratégias de estudo utilizadas pelos violonistas, bem como o enfoque dado por cada um a essas. Palavras‐chaves: Execução musical – Estratégias de estudo – Elegy (1971). ABSTRACT By analyzing the activities included in the study processes of two experienced classical guitarist’s academics, this paper investigates the study strategies used in the preparation of the musical performance of Elegy (1971) by Alan Rawsthorne. The construction of musical performance, when viewed as an activity of problem solving (problem solving activity), through the conscious use of practice strategies, can be optimized in terms of quality and quantity of study. The elaboration of the analytical model, based on the theoretical basis outlined in this study, permitted the identification of practice strategies used by guitarists as well as the emphasis given by each of these. Key‐words: Musical performance – Practice strategies – Elegy (1971) INTRODUÇÃO Guitarra Clássica
Com o intuito de melhor compreender o processo de construção da execução musical e, a partir disso, alimentar os processos de ensino e aprendizagem de outros estudantes, o conhecimento tácito no aprender a executar uma obra necessita ser explicitado. Nesse contexto, o presente artigo1 é uma investigação das estratégias de estudo utilizadas na preparação de uma obra nunca antes estudada por dois guitarristas. A obra selecionada foi a Elegy (1971), de Alan Rawsthorne. Os modelos analíticos construídos à luz do referencial teórico adotado permitiram a identificação, classificação e discussão das estratégias utilizadas, tentando responder as seguintes questões: Como os guitarristas relatam seu estudo? Como eles concebem a preparação de uma obra por eles nunca antes estudada? Quais são as estratégias de estudo utilizadas na preparação de uma obra desconhecida? Qual o enfoque dado a cada estratégia? 2 ESTRATÉGIAS DE ESTUDO Segundo Gabrielsson, o planejamento da execução instrumental está diretamente relacionado com “como formar representações mentais da música, testar planejamentos para a execução e estratégias para o estudo eficiente” (2003, p. 236) 2. As estratégias de estudo, uma das temáticas abordadas pela linha de pesquisa do planejamento da execução instrumental, constituem um caminho para se alcançar o nível de excelência instrumental que, durante muito tempo, esteve associado a um dom divino ou talento nato (SLOBODA, 2004). Autores como Hallan (1995, 2001), Jorgensen (2004), Chaffin (2004) e Lemieux (2004), mostraram que a utilização flexível de estratégias de estudo é uma das características de músicos de excelência. Considerando a importância da temática das estratégias de estudo, sendo apontada como um fator decisivo para atingir um nível de excelência instrumental, a investigação das estratégias de estudo utilizadas por músicos experientes com nível profissional pode proporcionar caminhos mais seguros durante o estudo, sem que o tempo seja desperdiçado, por exemplo, com meras repetições exaustivas de alguns trechos problemáticos de uma obra. As pesquisas dentro dessa temática também podem influenciar positivamente a qualidade do ensino do instrumento, visto que as estratégias de estudo “podem ser utilizadas como parâmetro para o ensino [...] por estarem baseadas na vivência e na experiência prática de especialistas (músicos profissionais, professores e pedagogos do instrumento)” (BARROS, 2008, p. 109).
1
O presente artigo é parte da dissertação de mestrado intitulada “Estratégias de estudo utilizadas por
dois violonistas na preparação para a execução musical da Elegy de Alan Rawsthorne” (Araújo, 2010) 2
“How to form mental representations of the music, devise performance plans and strategies for
efficient practice” (Gabrielsson, 2003, p. 236).
Guitarra Clássica
No presente artigo, estratégias de estudo são consideradas como “o conjunto de táticas e técnicas empregadas durante a prática do instrumento com o intuito de alcançar um objetivo específico” (BARROS 2008, p. 105). Nielsen esclarece que “uma atividade na prática instrumental só pode ser considerada como estratégia se levar a alcançar as metas estabelecidas, pois as estratégias são definidas como um processo intencional e direcionado para atingir determinado objetivo” (1999, p.276). Portanto, foram investigados somente os procedimentos diretamente relacionados com o objectivo do aprendizado da obra, através da análise das declarações dos guitarristas a cerca das próprias actividades realizadas na construção da execução musical, identificando, analisando e discutindo as estratégias de estudo. METODOLOGIA DA PESQUISA 3 PROCESSO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS Adotei a técnica da entrevista semi‐estruturada, a qual utiliza perguntas pré‐concebidas como em uma entrevista estruturada. Entretanto, o entrevistador fica mais livre para aprofundar e ampliar as respostas, proporcionando um maior direcionamento para o tema. Esse tipo de procedimento metodológico faz com que o entrevistado se sinta mais à vontade para falar, onde respostas espontâneas podem ser decisivas no resultado da pesquisa, trazendo a perspectiva do entrevistado em relação às estratégias de estudo. Este tipo de entrevista também “colabora muito na investigação dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos” (BONI, 2005, p. 8). Assim, podem‐se obter informações profundas a respeito das práticas de estudo comumente empregadas pelos guitarristas. Inicialmente foram colocadas as mesmas perguntas para os sujeitos, e, a partir de cada resposta, outras questões emergiram, gerando assim outros questionamentos. A utilização dos diários de estudo serviu para complementar as informações obtidas na entrevista e em questionários, que também foram enviados via e‐mail. Neles foram indicados todos os procedimentos realizados durante o estudo da obra, bem como a duração e a data. Um roteiro concebido na fase inicial da pesquisa permitiu a abordagem de aspectos pontuais da temática. Esse roteiro tomou por base os tipos de estratégias de estudo identificadas no modelo analítico. A seção de entrevista foi registrada em áudio, e os diários de estudo enviados pelos guitarristas foram recebidos também através de e‐mail.
Guitarra Clássica
4 CONSTRUÇÃO DO MODELO ANALÍTICO As estratégias de estudo apresentadas por pesquisas empíricas nessa temática (HALLAM, 1995a, 1995b, 1997a, 1997b; JORGENSEN, 2004; CHAFFIN et al., 2002; WILLIAMON e VALENTINE 2002; PROVOST, 1992) foram tomadas como modelo analítico para a condução desse trabalho. Elas serviram tanto como parâmetro para a elaboração dos roteiros que guiaram a sessão de entrevista e a formulação dos questionários, assim como para a coleta dos dados. As estratégias obtidas para o modelo analítico foram as seguintes: •
Estudo através de repetições: caracterizado pela repetição de trechos selecionados
ou da obra inteira durante o estudo. Existem evidências de que os músicos menos experientes adotam essa estratégia de uma forma pouco reflexiva, constantemente tocando a obra do início ao fim nas suas seções de estudo (HALLAM, 1997). As repetições, quando utilizadas com objetivos claros podem ser muito úteis. Elas podem contribuir, por exemplo, para a memorização de um trecho, para o aumento gradativo do andamento (com metrônomo), ou para a resolução de uma passagem difícil. • Estudo
através de seções musicais: é caracterizado pela divisão do estudo para
trabalhar trechos curtos, intercalando‐os com a execução de partes maiores. Chaffin et al. (2002) observaram que pianistas profissionais utilizam o estudo de seções no início do processo de aprendizagem. Essas seções musicais podem ou não estar de acordo com a visão do compositor (JORGENSEN, 2004). Pesquisas igualmente indicam que quanto mais complexa a obra menores são as seções escolhidas (CHAFFIN et al., 2002, WILLIAMON, VALENTINE, 2002). • Estudo
de passagens difíceis: Jorgensen (2004) sugere o estudo das passagens
difíceis de duas formas: utilizando exercícios e estudos musicais que trabalhem determinado aspecto técnico‐musical problemático, ou o estudo das partes difíceis repetidamente e intensivamente até que a dificuldade seja vencida. Em contrapartida, Fernández (2000) propõe um conceito diferente para o termo “passagem”: O que é então uma passagem? Não deve de maneira alguma ser confundido com um mero local onde habitualmente ocorre um erro. Esse local é necessariamente parte de um gesto musical mais amplo, é parte de um contexto, e está integrado a ele. Nada seria mais contraproducente que estudar somente o local onde o erro habitualmente ocorre; é necessário estudar todo o gesto, pela razão elementar de que desejamos fazer música, e a única maneira de aprender a fazê‐la é fazê‐la em cada momento de nossa aprendizagem (FERNÁNDEZ, 2000, p. 41).
Guitarra Clássica
A idéia de vencer uma dificuldade através de estudos geralmente não funciona quando colocamos essa dificuldade em seu contexto real. Da mesma forma que Fernández (2000), David Russel em outras palavras aponta a importância de se conferir unidade às passagens difíceis: Se há uma passagem extremamente difícil, buscar produzir uma mensagem unitária. Não importa se não se toca todas as notas, o importante é dotá‐las de sentido, tocar com precisão rítmica e com consciência da direcionalidade (CONTRERAS, 1998, p. 4). • Estudo de mãos separadas: O estudo de mãos separadas é uma estratégia bastante
utilizada por pianistas de nível avançado (CHAFFIN et al., 2002). Provost (1992) aponta a necessidade de o violonista saber separadamente o dedilhado de mão direita e a digitação da mão esquerda para a memorização de um trecho, assim como para otimizar a identificação dos problemas de cunho mecânico. Essa estratégia pode contribuir ainda para um aperfeiçoamento na coordenação entre as mãos. Isso poderá ajudar no controle dos níveis de força empreendidos em cada mão em passagens complexas (por exemplo, trecho polifônico, em dinâmica forte, e andamento elevado). A dinâmica é um elemento controlado somente pela mão direita do guitarrista, e a dificuldade pode residir na aplicação de força excessiva na mão esquerda, causando defeitos na mobilidade e precisão necessária para a resolução do trecho. Outro aspecto da execução musical que poderá ser resolvido trata‐se da articulação. Melodias com execução non‐legato formam um exemplo de aplicação dessa estratégia de estudo, onde somente o ato de pressionar e soltar as cordas com a mão esquerda já contribui para o dito efeito. • Estudo
em andamentos distintos: Músicos profissionais se utilizaram dessa
abordagem nos estudos de Hallan (1995) e Chaffin et al (2002). Consiste em estudar a obra ou trechos aplicando diferentes andamentos com o objetivo principal de adquirir fluência na execução com o andamento final. Jorgensen (2004) aponta como estratégias: o estudo gradual do andamento, aumentando o andamento aos poucos; o estudo alternado dos andamentos lento e rápido, comentando que a utilização dessa estratégia pode fazer com que o andamento final seja alcançado em menos tempo; e o estudo no andamento final desde o início da aprendizagem. Sobre o estudo alternado de andamentos, BARROS acredita que [...] seja uma das estratégias que apresenta grande probabilidade de que a música aprendida também assimile um número maior de falhas cometidas durante a execução [...], pois nas fases iniciais do processo de aprendizagem
Guitarra Clássica
o músico m ainda não dominou u todos os desafios d enco ontrados na música m (BAR RROS, 2008, p p. 162). • Estudo
com metrô ônomo: Com mumente utilizado paraa aumentar o andamen nto, o
ônomo se to orna um ótiimo aliado após a o intérprete ter do ominado tod do o conteúdo da metrô obra (ritmos, diggitações, deedilhados, articulação, etc.). e O insttrumentista vai aumentando os andamenttos nas seçõees de estudo o, até chegarr ao tempo final. gradaativamente o • Estudo de digitaçõe es e/ou ded dilhados: A digitação dee uma obra violonística é um
fator decisivo naa interpretaçção. Isso po orque a possibilidade dee se tocar u uma mesmaa nota es distintas da escala gera diferrentes (mesma altura) em pelo menos quaatro posiçõe possibilidades paara uma messma passageem (execução com mais legato, articulações disstintas bra polifônicca, variação do timbre, eetc.). O exem mplo a para diferentes vvozes no caso de uma ob m mesmo fraggmento. 3 seguiir ilustra duas possibilidaades para um
Exemplo 1 – Duas D possibilid dades para a ex xecução da meesma passagem m
A partir desse pequeno p exeemplo, ondee foram mostradas som mente duas possibilidades de m outras), podemos, p m mesmo sem tocá‐lo, já prever p a difeerença de timbre digitaação (existem entree as duas, já que a seggunda digitaação é realizada somen nte sobre a quarta cord da do instru umento. Essaa corda, assim como a q quinta e a se exta, possui material diferente das o outras três que q são de náilon e, po ortanto, prop porciona um ma sonoridad de distinta. Nesse trabalho, o termo o “digitação”” designa a u utilização do os dedos da mão esquerda (1, 2, 3 e 4), e “dedilhado” os deedos da mão direita (poleegar, indicador, médio e anular). A esccolha da diggitação está relacionada a diversos fatores, enttre os quais se encontraam “a dificu uldade técnicca da obra, as caracteríssticas individ duais (anatom mia das mão os, nível técn nico e sonoridade do in nstrumento),, estilo da obra o e a inte erpretação (ffraseado, arrticulação, timbre, 3
Os n números repreesentam os deedos da mão eesquerda, e os que estão ciirculados as cordas em que e se
devem m tocar as nottas.
Guita arra Clássica
etc.)” (WOLFF, 2001). Importantes violonistas e professores discorreram sobre a estreita relação entre a digitação e os dois últimos fatores. Eduardo Fernandez (2000), por exemplo, menciona que:
É necessário que a busca de uma digitação seja extremamente rigorosa e, que tenhamos a paciência de buscar todas as variáveis imagináveis, tendo sempre em conta a relação inseparável entre a digitação e o resultado musical. [...] digitar é já interpretar, não é simplesmente buscar a maneira mais fácil de tocar as notas. [...] [...] [caso contrário] nossas idéias musicais correm o risco de ficar afogadas dentro de um modo de digitação estabelecido quase que ao acaso (FERNANDEZ, 2000, p.15).
A busca de todas as variáveis imagináveis é salientada por Fernandez (2000) como o procedimento ideal para então podermos escolher a digitação que mais estará de acordo com as características de determinada peça musical. No entanto, vale‐se lembrar de que nem sempre existirão muitas variáveis, pois “passagens tecnicamente complexas como, por exemplo, trechos contrapontísticos a várias vozes oferecem freqüentemente não mais do que uma ou duas opções de digitação” (WOLFF, 2001, p.1). David Russel (1998) igualmente aconselha realizar a digitação de uma obra “buscando sempre a fluidez no fraseado. Deve‐se tocar a frase em questão por partes, e ver onde se pode cortar o som e onde não se pode, para estabelecer a digitação mais adequada” (CONTRERAS, 1998, p. 4). No contexto pianístico, Barros adiciona: A escolha do dedilhado é fundamental, pois é mais difícil recondicionar a mente a um novo dedilhado que aprendê‐lo no início do processo de estudo. Assim, pianistas experientes geralmente fazem suas decisões sobre o dedilhado considerando a antecipação das decisões interpretativas, a facilitação do trabalho técnico, o conforto da execução, além de suas características físicas, como o tamanho da mão e dos dedos (BARROS, 2008. p. 169).
A escolha das digitações e dedilhados deve, segundo instrumentistas experientes, estar relacionada com as intenções interpretativas, que, desde os estágios iniciais de aprendizado de uma obra, devem ser antecipadas.
. Estudo mental: “Visualização” foi o nome dado por Leimer (1932) ao processo de estudo visual da obra musical e da mentalização da execução, apenas imaginando como a música irá soar e como será a sensação física ao tocar somente olhando a partitura. Assim, o estudo mental é realizado sem o instrumento. É caracterizado pela imaginação do ato de tocar o instrumento, audição interna das próprias intenções interpretativas, ou até mesmo por um ensaio imaginário dos movimentos do corpo empregados numa performance. Jorgensen
Guitarra Clássica
(2004) salienta que “não há execução sem atividade cognitiva, significando que a performance é inevitavelmente uma combinação entre esforço mental e físico”. •
Estudo de técnica pura e atividades de aquecimento: Penso que a execução musical
transcende os aspectos motores, mas ainda assim depende desses para concretizá‐la. O estudo da técnica pura é caracterizado pela utilização de exercícios, tais como arpejos, escalas, ligados de mão esquerda, traslados, exercícios com dedos fixos, etc. Jorgensen (2004) recomenda que antes de utilizar esses tipos de exercícios como aquecimento, o músico deveria se questionar a finalidade da utilização de determinado exercício, e se existem outros exercícios mais apropriados para determinada situação particular. Ele ainda ressalta que os exercícios podem trazer benefícios, mas precisam ter foco direcionado e ser empregados somente se contribuírem para solucionar dificuldades técnico‐musicais de um determinado repertório. Ainda que Provost tenha afirmado que “os maiores concertistas demandam bem pouco tempo para o estudo da técnica” (1992, p.53), não foram encontrados estudos relevantes acerca da eficácia dessa prática, apesar de David Russel recomendar simplesmente ser “necessário dedicar uma parte do dia à técnica” (CONTRERAS, 1998, p. 3). •
Memorização: A memorização foi o primeiro elemento da construção da execução
musical a ser pesquisado, no início do século XX. Os estudos já citados da psicóloga americana Grace Rubin‐Rabson confirmaram os resultados provindos da pesquisa pioneira de Sandor Kovacs, entre eles, “que a memorização é melhor quando um pré‐estudo analítico é empreendido antes do estudo; quando a prática é distribuída ao longo do tempo; quando as mãos são aprendidas separadamente; quando algum ensaio mental ocorre no desenrolar da agenda de prática e quando a obra é aprendida em seções curtas” (SANTIAGO, 2001, p. 173). Pesquisas posteriores ampliaram as informações, e os estudos de Hallam (1995, 1997a, 1997b), Jorgensen (2004), e Chaffin et al. (2002) revelaram que tanto músicos profissionais quanto iniciantes memorizaram as obras através de processos automatizados, visualizando as notas, baseando‐se na memória auditiva da música, ou através da memória motora cinestésica (associada ao movimento). Além disso, os músicos profissionais também utilizaram alguma análise da estrutura da música para ajudar nesse processo (WILLIAMON e VALENTINE, 2002). Há indícios de que o tempo atribuído para a memorização está relacionado com a experiência do intérprete com o estilo de determinada obra. •
Fixação de metas e objetivos: metas são necessárias para se alcançar o aprendizado
e desenvolvimento. Essas podem estar relacionadas com os mais diversos aspectos da interpretação e execução musical. Jorgensen (2004) recomenda incluir as intenções expressivas nos objetivos para as sessões de prática, salientando que essas “são imbuídas de mais ou menos idéias musicais conscientes ou mensagens comunicativas a serem
Guitarra Clássica
desenvolvidas e incorporadas na performance”4(2004, p.89). O autor menciona que alguns instrumentistas deixam suas intenções expressivas serem guiadas pelo trabalho técnico. Já Nielsen (2001) encontrou o desenvolvimento de um plano de performance, através da fixação dos objetivos somente após o domínio das dificuldades técnicas da obra. Embora existam várias situações para a formulação de metas e objetivos, a utilização dessas vai depender das características de cada músico, bem como da natureza da obra. Jorgensen deixa uma recomendação geral: “no início da sessão, formular algumas de suas intenções gerais com essa sessão (quaisquer que sejam elas) o mais claro e preciso possível. O que você quer especificamente desenvolver ou dominar?” 5(2004, p.89) • Estudo
através de gravações da própria execução: Concordando com Juslin, o
registro da própria gravação poderá informar com precisão se as intenções expressivas estão ou não sendo realizadas pelo executante (WILLIAMON, 2004, p.249). Jorgensen (2004) ao sugerir entender como os movimentos corporais podem influenciar a percepção da audiência durante uma apresentação confirma a utilidade da estratégia da gravação da própria execução. Daniel adiciona que “além da auto‐avaliação, o aluno poderá obter uma maior independência, visto que ele geralmente precisa dos comentários do professor para avaliar seu desenvolvimento musical” (2001, p.96). • Estratégias para motivação para o estudo: Segundo Provost (1992), algumas ações
podem contribuir para o aumento da motivação para o estudo. São elas: exercícios brandos, podendo ser através de uma corrida no parque, uma leve caminhada, alongamentos ou qualquer outro tipo de exercício que aumente o fluxo sanguíneo; ouvir uma gravação do artista favorito ou uma peça que se está aprendendo, como inspiração e motivação para a prática; e ainda deixar o estojo do violão aberto, explicando que o problema sempre é começar. Para o autor, o estojo aberto pode funcionar como um forte convite para a prática. Praticar é estar energizando. Não precisar abrir o estojo para estudar pode ser uma motivação. • Estratégias
para preparação de uma apresentação: Uma apresentação musical
comumente envolve preocupações com os mais diversos erros. Esses podem ser, por exemplo, lapsos de memória, ansiedade e nervosismo. Jorgensen sugere considerar a perspectiva do público durante a prática como estratégia. O autor explica: Instrumentistas experientes têm colocado que levam em consideração a perspectiva do público quando desenvolvem suas idéias expressivas, e trabalham deliberadamente na comunicação de idéias musicais nos estágios
4
Which is comprised of more or less conscious musical ideas or communicative messages to be
developed and incorporated into performance. 5
At the beginning of a session, formulate some of your overall intentions for the practice session
(whatever these may be) as clearly and precisely as possible. What do you specifically want to develop?
Guitarra Clássica
finais de estudo de uma peça. Muitos têm igualmente reportado que imaginam como o público poderá perceber a performance numa grande diversidade de ambientes acústicos (2004 p.95)6
A partir das informações acima, o autor trouxe as seguintes estratégias: trabalhar deliberadamente sobre a comunicação de idéias musicais nos estágios finais da aprendizagem, sendo que as intenções expressivas devem ser analisadas e trabalhadas desde os estágios iniciais de estudo; e estudar e ensaiar o comportamento de palco, tentando entender como os movimentos do corpo influenciam na percepção do ouvinte durante uma apresentação pública. O autor sugere que os movimentos corporais estejam de acordo com as intenções da mensagem musical. • Análise da estrutura da obra musical: Jorgensen (2004, p. 92) apresenta a análise
detalhada da partitura como estratégia para a prevenção de erros. A análise da partitura, estando ela ou não provinda de teorias formais, pode proporcionar algumas ferramentas ao instrumentista para a identificação de aspectos importantes da música, muitas vezes, difíceis de serem encontrados auditivamente ou numa análise superficial. A análise das estratégias de estudo utilizadas pelos sujeitos foi realizada em duas etapas: a identificação, classificação e a discussão. A identificação foi realizada a partir do cruzamento dos dados provindos dos diários de estudo, além da entrevista com o modelo analítico. Isso proporcionou as informações necessárias para a identificação das estratégias e a posterior classificação. Na segunda etapa, foi realizada uma discussão a cerca da utilização dessas estratégias por parte dos violonistas, sendo salientadas as ações mais significativas na preparação da obra. O processo de análise das estratégias utilizadas encontra‐se no seguinte diagrama: ENTREVISTA DIÁRIOS DE ESTUDO
MODELO ANALÍTICO
IDENTIFICAÇÃO/ CLASSIFICAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS
6
Experienced performers have reported taking the audience’s perspective into account when
developing their expressive ideas and working deliberately on the communication of musical ideas in the final stages of practice on a piece. Many have also reported imagining how the audience will perceive the performance in a range of different acoustical environments.
Guitarra Clássica
DISCUSSÃO
Figura 1 - Processo de análise das estratégias de estudo utilizadas. 5 A OBRA ESTUDADA: Elegy (1971), de Alan Rawsthorne O compositor Alan Rawsthorne nasceu em Lancashire, Inglaterra, no ano 1905. Iniciou seus estudos na Royal Manchester School of Music em 1925, onde teve classes de composição com o Dr. Thomas Keighley, violoncello com Carl Fuchs, e piano com Frank Merrick. Os estudos ao piano intensificaram‐se quando Rawsthorne iniciou na classe do pianista alemão Egon Petri, com o qual estuda até o ano 1929. Após o retorno para a Inglaterra em 1932, ele assume o posto de professor no Dartington Hall School of Dance and Mime, diga‐se de passagem, o único posto permanente ocupado. Ele deixa a cidade de Dartington em 1934, fixando residência em Londres a partir de então. Seu reconhecimento como compositor ocorreu a partir dos trinta e três anos. A primeira obra a receber algum tipo de reconhecimento foi “Theme and variation for two violins”, e a primeira performance de seus Symphonic Studies na International Society of Contemporary Music, evento realizado em Varsóvia, Polônia também constitui um marco inicial de sua carreira. A partir daí, ele passa a receber várias encomendas de obras, escrevendo diversos arranjos. Outras obras de destaque são o Concerto para Piano n.2, talvez sua obra mais conhecida, o Concerto para Violoncelo, comissionado pela Royal Philarmonic Society, e “Street Corner Overture” (1944). Entre seus trabalhos, destacaram‐se sinfonias, concertos para instrumentos de sopro, música de câmara e obras corais, além de vinte e seis trilhas para filmes. Em 1971, ano de sua morte, Alan Rawsthorne deu início ao que vem a ser a sua única peça para guitarra, a Elegy, editada em 1975, e finalizada pelo violonista britânico Julian Bream. A obra possui uma macro‐forma ternária (A B A’), sendo as três partes baseadas na mesma série dodecafônica original:
Guitarra Clássica
Exxemplo 2 – Eleggy, c.1 – c.6. Séérie dodecafôn nica
mo, contorno o melódico e e das ligaduras longas, p percebe‐se aa série Atravvés da perceepção do ritm dividaa em três en ntidades rítm mico‐melódicaas distintas, aqui chamad das motivos A, B e C.
Exemp plo 3 - Elegy, Motivo M A
Cham mo a atenção o para o deeslocamento da nota fá bequadro (c.2, ( 4º tempo, Ex. 2) para p o motivvo A, já quee podemos perceber qu ue essa notaa pertence ao motivo B B. Sendo issso um proceedimento reccorrente em m obras seriaiis inglesas de essa época, o o motivo B n na frase apre esenta a notta fá bequad dro como um ma anacrusee que preparra esse motiivo, indicado o pela ligadu ura de frase. Já o motivo o gerador (m motto) A, com a nota fá bequadro in nserida, pod de ser identifficado nuação da an nálise. atravvés da contin
Exemplo 4 – Elegy, Motivo M B
M C Exemplo 5 – Elegy, Motivo
Guita arra Clássica
A primeira partee da obra esttá subdividaa em três pequenas seçõ ões menoress: “Andante molto 3), “Pochiss. più mosso” (c. 24 – 31), e o “Ancorra più mosso o” (c. 33 – 54 4). No serioso” (c.1 – 23 é apresentad da três veze es em “Andante molto serioso”, a série dodecafônica (Exxemplo 2) é o (c.7 – 10), os motivos A e B seqüêência com trratamentos distintos. Naa primeira apresentação apareecem em um ma textura p polifônica a ttrês e duas vvozes respecctivamente, com a ordem m dos intervvalos modificados, e com m ritmos distintos em re elação à apreesentação orriginal. No m motivo B, a última nota é modificad da (Sol ao in nvés de Ré bequadro). b M Mesmo assim, o intervaalo de dente entre as notas lá b bemol e sol ssustentam aa sensação original flutuaante e semittom descend não conclusiva do d motivo. A A mesma nota sol é trransportada para a vozz inferior, on nde é apressentado o motivo C, iguaalmente mod dificado e orn namentado:
Exemplo 6 - Elegy, E Motivo A modificado
Exemplo 7 – Elegy, Motivo B modificado
E Exemplo 8 - Elegy E Motivo C na voz inferioor
Na seegunda apreesentação daa série, entrre os c.11 e c.14, o mottivo A aparece com o mesmo m conto orno melódico do que na apariçãão anterior (c.7), porém m, uma quaarta justa acima, a acom mpanhada po or acordes, e e com a rein nserção das duas primeiras notas do e si, com ritmo mais curto na rep petição desssas. Os motivvos B e C se e apresentam m uma quartta justa acim ma em ntação origin nal. relaçãão à apresen
Guita arra Clássica
Exemplo 9 - Elegy Motivo A transposto
M B Exemplo 10 - Elegy Motivo
M C Exemplo 11 - Elegy Motivo
mpleta nessa seção musiccal. Os Entree os compasssos 15 e 19, a série aparece pela últiima vez com motivvos A e B são apresentados como no original, co om modificaações irrelevvantes no disscurso (apen nas uma bordadura infeerior no motivo A e aco ordes de co olorido tímbrrico entre os três motivvos). A senssação de reepouso ao fiim da apressentação daa série é proporcionadaa pela alteraação do mottivo C, começçando pela n nota si. Saliento a mudan nça de registtro da últimaa nota sol su ustenido, reaalizada oitavaa acima:
Exemplo 12 - Elegy Motivo M C
“Poch hiss. Più Mosso”: O trataamento maiss livre dado à série nessa seção mussical, em con njunto com a escrita em ritmos irrregulares alternados, produzem p em m conjunto uma espéccie de otivos apareccem intercalaados com diversos mateeriais melódicos evocativvos da indeccisão. Os mo série,, através da mistura de fragmentos d dos intervalo os constituinttes. A série, portanto, ap parece modificada atravvés da expan nsão, com rittmo aumenttado. As nottas do motivvo A aparece em na ul, e C em am marelo: em veermelho, as de B em azu Guita arra Clássica
Exemplo 13 - Elegy Pochiss. Più Mosso. Motivos A, B e C
“Ancora Più Mosso”: As sensações de angústia e incerteza, ou de algo que ainda está longe de acabar, são expressas através de afastamentos da série original nessa seção, além da própria indicação do andamento (sempre acelerando). Percebem‐se apenas fragmentos dos motivos da série distribuídos até o compasso 47, modificados melodicamente e ritmicamente (ex. 14 e 15).
Exemplo 14 - Elegy Motivos A (vermelho) e B (azul)
A partir do compasso 47, a série é apresentada com a mesma textura polifônica da seção musical do Pochíss. Piú Mosso (Ex. 14). Chamo a atenção para a dificuldade desse trecho, sendo ele um ponto relevante de aplicação de estratégias de estudo. Uma possibilidade seria o motivo A aumentado (c. 47 – 50) ser salientado em termos de intensidade ou timbre, em relação às outras notas. Ainda que a própria escrita já se incline para essa percepção, o violonista deverá ter um cuidado para que as notas graves desse motivo não sejam executadas com indiferença, justamente por elas formarem um dos motivos geradores (motto):
Guitarra Clássica
Exemplo 15 – Elegy Motivos A (vermelho), B (azul) e C (amarelo) em diversas aparições.
As estratégias de estudo por mim aplicadas para esse trecho foram o estudo de dinâmicas distintas para as notas do motivo gerador A aumentado, estudo de timbres distintos, e o estudo através da execução separada das vozes, algumas vezes cantando o motivo A e tocando as vozes superiores, e vice‐versa. “Allegro di bravura e rubato”: essa longa seção musical é motórica, dotada de poucas respirações, num movimento fluído de semicolcheias. Esse trecho apresenta dificuldades técnico‐motoras em virtude da articulação proposta na edição, dotada de ligados, em andamento rápido, sendo uma possível fonte de aplicação de determinadas estratégias de estudo. Quando estudei essa seção, um dos critérios estilísticos que adotei para executá‐la foi não modificar as articulações contidas na edição, e as estratégias de estudo que utilizei foram: o estudo da técnica de ligados, preferencialmente em momentos do dia em que não estivesse estudando a obra. O estudo através de repetições também foi utilizado, onde pequenas frases eram repetidas até o completo domínio dessas. Nos primeiros momentos, as repetições foram realizadas com o objetivo de não cometer erros técnicos, procurando uma execução musical clara. Posteriormente, as repetições foram necessárias para tentar atingir o meu ideal de caráter para determinados trechos, sendo a dinâmica, expressão, timbres e rubato os principais elementos norteadores. Também utilizei a estratégia do estudo invertido de seções musicais, iniciando a prática muitas vezes pelos últimos compassos da referida seção. Isso contribuiu para uma memorização homogênea de toda a parte, evitando que os primeiros compassos fossem mais estudados que os últimos.
Guitarra Clássica
Abaixo apresento algumas aparições dos motivos A (vermelho), B (azul), e C (amarelo) em diversos procedimentos, principalmente em aumentação (Ex. 19), transposição (Ex.16, 17 e 21) e inversão (Ex.16, 17):
Exemplo 16 – Elegy Motivo A em diminuição rítmica, transposição e inversão
Exemplo 17 - Elegy Allegro di bravura e rubato. Motivo A
Exemplo 18 ‐ Elegy Fragmentos do motivo B em reiteração
Guitarra Clássica
Exemplo 19 – Elegy Motivos A e B em aumentação. Os intervalos de quartas em amarelo são característicos do motivo C.
Exemplo 20 - Elegy Motivo A em aumentação e diminuição. Motivo B em aumentação.
Guitarra Clássica
Exemplo 21 - Elegy Motivo C em transposição.
A Seção A’ (“dos harmônicos”) foi composta por Julian Bream, pois, conforme já dito anteriormente, o compositor faleceu compassos antes do início dessa seção. A reexposição de parte do Andante molto serioso aparece em harmônicos oitavados:
Exemplo 22 - Elegy Parte do Andante molto serioso reexposto em harmônicos. c.132 – c.135
Na seqüência, é reexposto parte do Ancora Piú Mosso (c.136 – c.148):
Guitarra Clássica
Exemplo 23 - Elegy, c. 136 – C. 148. Reexposição parcial do Ancora Piu Mosso
A partir do compasso 148, há a construção de material novo em harmônicos, constituindo outro provável ponto relevante de aplicação de estratégias de estudo. A dificuldade dos harmônicos oitavados em fusas reside na precisão rítmica, pois o braço ou mão direita deverá se movimentar rapidamente por locais precisos da região sobre aguda do braço do instrumento, enquanto a mão esquerda também se movimenta. O estudo separado dos harmônicos, através de repetições, variações de andamento, variações rítmicas, e dinâmicas distintas constituíram o meu conjunto de estratégias para o domínio desse trecho. Os motivos A, B e C aparecem com modificações, alterações rítmicas e transposições:
Exemplo 24 - Elegy, c. 149 – 153. Material novo em harmônicos. Motivos A (vermelho), B (azul) e C (amarelo).
Guitarra Clássica
Exemplo25 - Elegy, c154 – c. 157. Motivos A (vermelho) e C (amarelo) em inversão
A breve análise apresentada possibilita uma visão da organização da obra, e de como os três motivos que constituem a série dodecafônica foram tratados pelo compositor ao longo das seções musicais.
6 Os participantes da pesquisa
Os dois sujeitos selecionados possuem trajetórias e características distintas em relação as suas carreiras. Isso proporcionou resultados contrastantes não só de estratégias de estudo utilizadas, mas igualmente no que diz respeito ao enfoque da utilização dessas. Por uma questão ética, bem como solicitação dos próprios participantes, seus respectivos nomes não serão citados no corpo do trabalho, sendo então chamados de Sujeito 1 (S1) e Sujeito 2 (S2).
6.1 Análise das estratégias de estudo utilizadas pelo Sujeito 1
A partitura da Elegy de Alan Rawsthorne foi entregue ao S1 precisamente no dia 21 de julho de 2009, ocasião da primeira e única sessão de entrevista (Anexo 3). Nessa sessão foram requeridos dados biográficos relevantes e informações a cerca do seu processo de preparação de uma obra, que puderam ser cruzadas com os dados dos diários de estudo. Após um total de treze sessões de estudo até a gravação, o processo de estudo de S1 encontra‐se resumido na tabela de atividades realizadas:
Guitarra Clássica
DATA
DURAÇÃO
Leitura do andante e pochiss. Più mosso.
Digitação dos compassos 7, 12, últimas notas dos compassos 13 e 16.
02/08/2009
45 minutos
ATIVIDADES REALIZADAS
Leitura do compasso 1 ao 33. Repetição do Ancora più mosso Leitura do Allegro di bravura rubato
06/08/2009
50 minutos
Leitura do Allegro di bravura e rubato. Semínima = 90 bpm Leitura do Allegro di bravura e rubato. Semínima = 100 bpm Leitura do compasso 90 ao fim.
13/08/2009
1 hora
Leitura do Allegro di bravura e rubato. Semínima = 80 a 100 Leitura da parte A.
14/08/2009
30 minutos
Leitura completa.
30 minutos
Leitura completa.
15/08/2009
Guitarra Clássica
Leitura do Allegro di bravura e rubato. Rápido.
Leitura completa.
20/08/2009
40 minutos
Limpeza da parte B. Leitura da parte A’.
21/08/2009
1 hora
Leitura do Allegro di bravura e rubato. Semínima=100 bpm. Estudo da peça completa. Estudo parte A’. Estudo de B e A’. Estudo das partes A e A’.
Estudo das partes B e A’ sem partitura.
23/08/2009
1 hora
Execução da peça inteira.
Leitura completa.
01/09/2009
20 minutos
Estudo da parte A solfejando junto. Estudo de limpeza da parte B.
Guitarra Clássica
Leitura completa.
28/09/2009
1 hora
Estudo das seções musicais separadamente.
Toca a peça inteira de memória.
Estuda trechos separadamente
16/01/2010
1 hora
Toca algumas vezes as partes A e A’ cantando a melodia. Toca o Allegro di bravura e rubato sem metrônomo, mas em velocidades alternadas entre 110 e 120 bpm. Assiste a um vídeo da internet da execução peça.
18/01/2010
1 hora
Estuda a peça com a partitura buscando memorizar corretamente algumas partes que não estavam bem, tais como os harmônicos dos compassos 132 ao fim. Diminui a dinâmica de toda a obra, por achar que está tocando de uma forma muito agressiva.
19/01/2010
30 minutos
Aquecimentos e gravação da própria execução musical da Elegy em vídeo.
Tabela 1. Resumo do processo de estudo de S1
Guitarra Clássica
6.1.1 Classificação Segue a Tabela com as estratégias de estudo utilizadas por S1 para a resolução dos problemas encontrados em seu processo de estudo. Os comentários provindos dos diários de estudo a cerca dos problemas também são apresentados:
ESTRATÉGIA DE ESTUDO
COMENTÁRIOS
PROBLEMA/DIFICULDADE
Estudo da passagem difícil;
Mudança de articulação;
Compasso 7
Repetição do inúmeras vezes;
“No c. 7 tem um ré que não faz parte da melodia, mas, por características do violão, trecho sempre soa como sendo melódico. Ainda não estou satisfeito com isso.”
Estudo de dinâmicas distintas para a nota ré.
Estudo em distintos;
Allegro di bravura e rubato: Execução da articulação proposta na edição em andamento rápido.
Guitarra Clássica
“Na parte rápida os ligados nem sempre saem bem, é difícil ser ritmicamente preciso com tantos ligados e é uma falta de costume minha em particular usar tanto esse recurso. Neste andamentos caso achei importante fazê‐ los por uma questão estilística.” “Variava entre os andamentos subitamente.” ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐
“Em uma das últimas Estudo através de seções sessões tirei um tempo para musicais. fazer um pouco de ligados ascendentes e descendentes, com exercícios improvisados imitando a parte rápida da
‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐
peça.”
‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐
“Usei o metrônomo principalmente para manter uma regularidade de ritmo em todo o Allegro, para não correr.”
Estudo da técnica de ligados ascendentes e Allegro di bravura e rubato: descendentes. Execução da articulação proposta na edição em andamento rápido.
Estudo com metrônomo.
Compasso 12
“No 12 o problema era com o ligado do Bb para o Eb, Alteração de aspectos mas achei melhor acatar a interpretativos para decisão do Bream para solucionar problema de manter o acorde soando por execução mais tempo.”
Compasso 13
Alteração de aspectos interpretativos para solucionar problema de execução
“No 13 era o sol solto. Tenho feito assim mesmo, mas não descarto a possibilidade de mudar.”
Estudo de dinâmicas distintas entre o motivo A (forte) e o acorde (pianíssimo, segundo plano).
Compasso 16
Estudo da passagem difícil
Guitarra Clássica
“O c. 16 é utópico como está escrito, simplesmente não há como deixar soando tudo.”
Estudo através de repetições dos trechos; Variações súbitas de andamento;
Trecho em harmônicos (c. 132 – 135). Variações de dinâmica; Harmônicos (c. 149) Harmônicos (c. 151) Estudo através de seções Harmônicos (c. 154) musicais.
“Os harmônicos do final também são uma grande dificuldade da peça. É dificílimo fazer com que eles tenham equilíbrio dinâmico e tímbrico”.
Estudo da passagem difícil. Mudanças no posicionamento da mão direita. Tabela 3: Estratégias de estudo utilizadas por S1
6.1.2 Discussão As ações de S1 durante o estudo da obra confirmaram seu depoimento a respeito do próprio processo de preparação de uma obra nunca antes estudada, salvo uma pequena divergência a respeito da memorização. Em sua primeira sessão de estudo, ele baseia sua memorização na memória conceitual (também conhecida como memória declarativa ou analítica), de uma forma intuitiva, visto que passou 45 minutos sem utilizar o instrumento, apenas realizando o que chamou de “análise superficial”, memorização de trechos recorrentes, caráter das partes e macro‐forma, tudo isso colaborando para um profundo entendimento das relações cognitivas que irão sedimentar o conteúdo na memória de forma mais eficiente. Segundo Barros, “a memória conceitual tem sido a mais estudada por pesquisas empíricas, sendo, também, a mais destacada nas entrevistas, as quais denotam que esse é o tipo de memória com resultados mais eficazes para a retenção do conteúdo musical” (2008, p.118). Ainda, parte da sua penúltima sessão de estudo (18/01/2009) foi destinada à memorização de trechos e a outra
Guitarra Clássica
leitura sem o instrumento, onde um dos objetivos precisamente foi a memorização de algumas passagens recorrentes. Abaixo o fragmento da entrevista e a contradicente anotação em diário de estudo: – Então tocando durante o estudo, tu não faz nada específico no violão com o intuito de Eu memorizar. Isso ocorre naturalmente durante o estudo né? S1 – “Naturalmente. Eu não sei como memorizar.” Eu – Tu não separas isso né..por exemplo, hoje é memorização? 18/01/2010: “Estudei a peça com a partitura buscando memorizar corretamente as partes que não estavam bem”. A divergência encontrada, entretanto, ocorreu em função de uma pausa de três meses sem estudar a Elegy, entre os dias 28/09/2009 e 16/01/2010 estando, portanto, a necessidade de memorizar alguns trechos relacionada com a proximidade à data da gravação, realizada três dias após (19/01/2010). Esse dado demonstra que a despeito de S1 relatar não se preocupar com o aspecto da memorização da obra em sua rotina de estudos, o processo de armazenamento do conteúdo estudado permitiu a ele conseguir resgatar a obra em apenas uma sessão de prática. Sobre o processo de memorização de uma música, Barros (2008) sintetiza: A memorização de uma música é feita através de sua representação mental armazenada na memória de longo prazo, a qual o músico utiliza quando executa. Diferentes tipos de estratégias podem contribuir para o desenvolvimento da representação mental da música, a exemplo das informações coletadas pelo armazenamento sensório (memória tátil, visual e auditiva da música) as quais são essenciais nas primeiras etapas de memorização (p.121)
Duas observações qualitativas emergem a partir disso: a primeira, que as estratégias utilizadas por S1 em seu processo de estudo estiveram, de alguma forma, direcionadas à capacidade de armazenamento do conteúdo aprendido na memória de longo prazo, tipo de memória vital para a memorização de uma música (GINSBORG, apud WILLIAMON, 2004, p. 126). Segundo, que esse processo permitiu a S1, mesmo após três meses sem praticar a obra, ir diretamente aos trechos que necessitavam mais trabalho. S1 relata as atividades realizadas:
Guitarra Clássica
Neste dia fiz uma revisão da leitura constatando que algumas notas já estavam deturpadas pela memória. Assisti a um vídeo no youtube da peça gravada de uma forma bastante amadora. Estudei a peça com a partitura buscando memorizar corretamente as partes que não estavam bem. Consegui fazer funcionar melhor os harmônicos da parte A2, dando um pouco mais de liberdade no ritmo e diminuindo o ataque das notas. Talvez eu tenha diminuído um pouco toda a dinâmica, percebi que a minha maneira de tocar estava agressiva demais para a Elegy.
O enfoque da utilização da estratégia de estudo de exercícios de técnica converge absolutamente com aquele sugerido por Jorgensen (apud Williamon, 2004), o qual recomenda uma atitude reflexiva quanto à utilização desses. S1 realizou o estudo da técnica de ligados ao final de uma das sessões, em virtude da articulação da seção musical do Allegro di bravura e rubato, quase toda com ligados de mão esquerda em andamento rápido. Em seu total de dez horas e cinco minutos de estudo da obra, houve constatação de poucas atividades sem o instrumento: a apreciação de um vídeo da execução musical da obra disponível na internet e audição da gravação de Julian Bream; e uma “leitura superficial sem o instrumento”, tendo como objetivos “a observação de trechos recorrentes, caráter das partes e a forma da peça”. Ainda que S1 tenha mencionado somente esses objetivos, essa leitura foi o elemento chave para S1 fundamentar todo o desenvolvimento da interpretação da obra, debruçada na experiência e vivência com o repertório das obras dessa época dedicadas a Juliam Bream. Esse processo nos remete à idéia dada por Heinrich Neuhaus (1973) sobre imagem artística de uma composição musical, que nada mais é do que todas as informações que se apresentam em nosso pensamento ao simplesmente ouvirmos falar em uma determinada peça, ou ao abrir a partitura, antes mesmo de se pegar o instrumento. Essas informações podem ser, por exemplo, a idéia de como a música realmente deve soar, com todos os seus elementos da interpretação musical (dinâmica, fraseado, articulação, rubatos, etc.), uma estrutura formal específica, alguma informação sobre o compositor ou o contexto histórico da obra, seu conteúdo emocional ou poético, entre outros. A leitura igualmente demonstrou seu enfoque da utilização da estratégia do estudo mental, conforme a definição exposta no modelo analítico, onde estudo mental também é caracterizado audição interna das próprias intenções interpretativas. Assim, S1 não mencionou realizar considerações analíticas quanto a forma, frases e parâmetros musicais diversos em seus diários de estudo. A utilização da estratégia de estudo através de seções musicais foi recorrente, corroborando uma divisão da obra sem a preocupação de estar em acordo com alguma teoria formal para a identificação da divisão proposta pelo compositor. As repetições utilizadas foram todas realizadas posteriormente à identificação dos problemas dos trechos, proporcionando assim que tais repetições somente Guitarra Clássica
ocorressem com objetivos claros. A identificação dos problemas se deu durante a fase inicial do estudo, por ele chamada de “leitura”. Quanto aos andamentos, S1 utilizou a estratégia do estudo alternado dos andamentos. Essa estratégia só foi utilizada após a assimilação do conteúdo musical e da definição de digitações e dedilhados na fase inicial (“leitura”). S1 o fez dessa forma para não correr o risco de estudar algo errado em andamento rápido, impedindo a fixação de movimentos incorretos. O metrônomo só foi utilizado na seção rápida da música, com o objetivo da elevação do andamento. Para isso, ele variou subitamente entre os andamentos por ele estipulados. Momentos antes da gravação da execução da obra, S1 realizou atividades brandas de aquecimento. Essas atividades incluíram escalas curtas, execução de fragmentos de outras obras, bem como de partes do Allegro di bravura e rubato da Elegy. Nesses instantes pré‐ gravação ele não tocou a peça do início ao fim, mas sim, somente algumas partes, com o objetivo único de aquecimento. No vídeo, percebi que a obra não foi tocada de memória, e, por isso, as estratégias para a memorização não puderam ser minuciosamente analisadas. Quando perguntado sobre sua própria execução da Elegy, S1 comenta ter gostado da própria execução, e que considera a obra pronta. Ele considerou ainda que alguns pequenos erros durante a gravação poderiam ter sido evitados com um pouco mais de prática. De acordo com o seu retrospecto, imagino que não seria demandado mais do que uma semana pra isso, já que os erros na sua execução foram pouco relevantes. 6.2 Análise das estratégias de estudo utilizadas pelo Sujeito 2 A partitura da obra foi entregue ao S2 precisamente no dia 02 de agosto de 2009, ocasião da primeira e única sessão de entrevista (Anexo 4) . Nessa sessão foram requeridos dados biográficos relevantes e informações a cerca do seu processo de preparação de uma obra, que puderam ser cruzadas com os dados dos diários de estudo. Por motivos de força maior, foi somente no dia 27 de novembro de 2009 que S2 deu início ao seu estudo da Elegy. Após um total de dez sessões de estudo, a tabela abaixo resume as ações de S2 durante todo seu processo de estudo da Elegy:
Guitarra Clássica
DATA
DURAÇÃO
ATIVIDADES REALIZADAS
Leitura geral da obra, tocando‐a duas vezes em seqüência muito lentamente.
27/11/2009
1 hora
Divisão da obra em partes. Fixação de objetivos para a próxima sessão de estudo. Considerações analíticas.
Leitura detalhada do Andante molto serioso.
Leitura detalhada do Pochiss. Piu mosso e Ancora Piu mosso.
07/12/2009
1 hora
Considerações analíticas. Mudança de digitações e articulações na segunda parte do Allegro di bravura e rubato. Estudo de acordes e passagens do Allegro di bravura e rubato. Fixação de objetivos para as próximas sessões de estudo
Toca a peça lentamente até o compasso 54, revisando dedilhados definidos nas seções de estudo anteriores.
Guitarra Clássica
09/12/2010
1 hora
Estuda a primeira parte do Allegro di bravura e rubato, modificando digitações. Toca três vezes a segunda parte do Allegro di bravura e rubato. Fixa objetivos para a próxima sessão de estudo.
Toca a primeira parte da peça (c. 1‐54)
11/12/2009
1 hora
Estuda o Allegro di bravura e rubato, tocando e parando em algumas partes que não soam bem enquanto toca. Testa dedilhados distintos. Estuda a segunda parte do Allegro di bravura e rubato. Muda digitações nessa parte.
26/01/2010
Estuda a relação entre os andamentos em toda a peça.
28/01/2010
2 horas
Toca o Allegro inteiro.
02/02/2010
1 hora
Estudo lento dos harmônicos da obra
Modifica os andamentos das seções musicais em função do andamento pré‐estabelecido para as seções constituintes da parte A da peça.
Guitarra Clássica
04/02/2010
1 hora
Toca o Allegro di bravura e rubato muito lentamente, aumentando o andamento aos poucos até a semínima = 75 bpm.
Assiste a um vídeo da execução da obra na internet.
05/02/2010 20 minutos
06/02/2010
Estuda o Allegro di bravura e rubato em andamentos distintos.
2 horas
Toca repetindo pequenas partes do Allegro di bravura e rubato.
Tabela 3 – Resumo das atividades realizadas por S2
6.2.1 Classificação A seguir, apresento a tabela com os problemas e dificuldades de S2 e as estratégias de estudo utilizadas na resolução desses:
PROBLEMA/DIFICULDADE
ESTRATÉGIA DE ESTUDO
COMENTÁRIOS
Trecho em harmônicos (c. 132 Estudo em andamento lento. – 154)
‐
Escala em fusas (c. 157)
Estudo com metrônomo.
‐
Estudo através repetições.
Guitarra Clássica
de
Toquei uma vez sem metrônomo e logo em Fixação de objetivos para a seguida coloquei em 75. próxima sessão de estudo. Alguns minutos depois – 80, depois 82, 84, 85 e, finalmente, 86, sempre do início ao fim (c. 55‐ 131). Ta começando a ficar bom. Estudo com metrônomo. Allegro di bravura e rubato: Por ter estudo há dois atrás, Execução da articulação me senti mais em casa proposta na edição em tocando. Havia mudado andamento rápido. algumas digitações e Estudo em andamentos mexido em alguns ligados, distintos. para deixar as frases mais fluentes e claras
Está soando muito bem, mas em razão das Mudança das articulações redigitações. indicadas, bem como de digitações e dedilhados.
Mudança de articulação e digitação. Havia mexido nas escalas cromáticas (digitações e Estudo com metrônomo. C. 123 – 124 (escala cromática ligados). Manterei assim, só descendente) preciso estudar mais.
Estudo através repetições.
de
Guitarra Clássica
Minha impressão hoje, é que dependendo do andamento que fizer no Allegro, ele poderia ser em até 90 a semínima”. “Pochiss. Piu mosso‐ ficou bem assim, mas deve ser definido de acordo com o que vem antes (andante) e o que vem depois (ancora p. m).”
Hoje ficou evidente que, apesar de não aparecer na partitura a mudança de Estudo da relação de andamento, o Allegro não proporcionalidade entre os está mais ali. Creio que Definição dos andamentos das andamentos das seções volto para o andamento seções musicais da obra inicial, ou próximo dele. Os musicais. harmônicos oitavados, além da escala em fusa deixam evidente que a variação do Estudo com metrônomo. retorno ao tema não está no andamento, mas sim, nas s em fusa e harmônicos Tabela 4: Estratégias de estudo utilizadas por S2
6.2.2
Discussão
O tempo total de preparação da obra por parte de S2 foi dez horas e vinte minutos. Atividades realizadas sem o instrumento foram relevantes durante o processo, e entre elas destacaram‐se: a leitura sem o violão, de uma forma não sistemática, fazendo‐o em momentos que S2 julgava oportuno; pesquisa na internet sobre a obra e o compositor; e audição da gravação, sendo esses dois últimos realizados um pouco antes da gravação da própria execução musical e dias após, respectivamente. Sobre tais atividades, Jorgensen (2004) sugere: Balancear estudo com e sem o instrumento numa sessão ou em um determinado período de tempo. Com foco, o estudo sem o instrumento proporcionará mais tempo para o ensaio mental e reflexão, prevenindo igualmente a sobrecarga dos músculos. No montante total, esse não se trata de um tempo desperdiçado, mas de fato, o oposto.
Guitarra Clássica
Os depoimentos de S2 a respeito da própria prática revelaram que as leituras sem o instrumento não foram realizadas com objetivos pontuais, ao contrário da sua “leitura geral da obra”. Essa foi realizada com o violão, e teve como objetivo a percepção dos principais elementos musicais constituintes (frases, dinâmicas, articulações, mudanças de caráter, etc.). Percebi a necessidade de S2 estar se relacionando constantemente com a obra durante seu processo, o que ocorreu através da estratégia das leituras sem o instrumento. Observei a inexistência de atividades de preparação para o estudo nos diários de S2, ainda que ele as tenha destacado como comum em sua prática (Anexo 3). Jorgensen (2004), vendo a prática como uma atividade de auto‐ensino, considera fundamental o estágio de observação e avaliação dos próprios procedimentos durante o estudo. A natureza reflexiva do processo de estudo de S2 foi revelada na estratégia de fixação de objetivos, contribuindo assim para uma abordagem cíclica e contínua da prática. Os objetivos para as próximas sessões de estudo foram fixados através de uma auto‐percepção dos seus pontos fortes e fracos perante aos elementos problemáticos da peça, característica encontrada em músicos profissionais (Hallan, 1995, 1997a, 1997b). Os objetivos declarados nos diários de estudo estiveram relacionados com as intenções interpretativas de S2, que foram surgindo à medida que a percepção do discurso musical melhorava. As estratégias de repetição foram utilizadas em função de dois objetivos distintos: primeiro, já a partir da segunda sessão de estudo (07/12/2009), as repetições serviram para melhorar a sonoridade de alguns acordes e passagens; segundo, com o propósito da memorização dos trechos, foi somente após o estabelecimento das digitações, dedilhados e articulações que elas entraram em cena. Apesar de o aspecto da memorização não ter sido analisado minuciosamente, justamente pelo fato de S2 não ter tocado a obra de cor, pude constatar que o violonista não utilizou uma forma de memorizar, apesar de admitir a existência de um processo: Dependendo da linguagem tem peças que são muito fáceis de decorar, e tem outras que são muito difíceis. E aí tu tem que estudar..bom, então agora eu vou entrar nesse processo de memorização. E aí tu precisa usar vários elementos pra ir memorizando ela, né. [...] Então eu pego o violão, saio tocando e percebo bah, mas eu não decorei isso tche. Aí eu volto com a partitura, olho de novo, penso na harmonia, penso no que tem antes e no que tem depois. Penso nas notas, penso na armadura, penso em várias coisas. Às vezes tu precisa pensar em várias coisas mesmo pra tu poder realmente tocar aquilo de cor.
Guitarra Clássica
A estratégia do estudo de seções musicais foi utilizada, sendo mais tempo dedicado ao estudo do Allegro di bravura e rubato. Essa seção foi dividida em várias partes, sendo essas estudadas separadamente. Logo na primeira vez que o violonista foi estudar a referida seção, no segundo dia de estudo (07/12/2009), ele praticou somente sua segunda parte. As seções musicais para o estudo não foram escolhidas de acordo com um planejamento prévio, sendo essas praticadas sem ordem estabelecida. Isso ocasionou um desequilíbrio em relação ao tempo de prática dedicado a cada uma das partes da obra. Os diários de estudo de S2 mostraram que a primeira parte da obra (c.1 a 54) foi estudada durante três dias7∙. Já para o Allegro di bravura e rubato foram dedicados oito dias de prática. O estudo da terceira parte da obra (c.132 ao fim) foi realizado somente na 6ª sessão (28/01/2010) através da estratégia de estudo em andamento lento. Sobre essa terceira parte da Elegy, ressalto, portanto, que não foi tocada no andamento estipulado por S2. S2 realizou diversas considerações analíticas em seus diários, demonstrando uma preocupação com o entendimento da organização da obra como um todo, tentando desvelar os andamentos através de uma relação de dependência entre eles, e observar as mudanças de caráter entre as seções musicais. O andamento foi o aspecto mais mencionado em seus diários de estudo, e a estratégia de estudo com o metrônomo foi fundamental, mesmo após a definição dos andamentos para as seções musicais, realizada na sétima sessão de prática (02/02/2010). Optando por não ouvir qualquer gravação da obra, fazendo isso somente às vésperas da gravação da própria execução em vídeo (penúltima sessão de estudo, 05/02/2010), ele assim o fez para evitar qualquer tipo de influência das gravações. Sobre a questão da obra não ser tão difundida no repertório, S2 menciona: Então entendi outras coisas. Por exemplo: porque a Elegy “não pegou”? Em outras palavras, porque uma peça tão interessante não é daquelas que muitos passam a tocar? Ora... como poderia ser... está no mesmo disco das 5 Bagatelas, nada mais do que isso. E tem o Berkeley. Como em um bom disco que seja brilhante, com o lançamento de várias obras novas, originais, algumas se sobressaem, outras passamos por cima. Creio não ser um problema da obra em si, mas da força das outras.
7
O que não significa que não tenha sido tocada em outras sessões de estudo.
Guitarra Clássica
CONCLUSÃO Através da análise das atividades inseridas nos processos de estudo de dois experientes guitarristas professores universitários, concluo que a construção da execução musical, quando vista como atividade de solução de problemas (problem solving activity), através da utilização consciente de estratégias de estudo, pode ser otimizada em termos de qualidade e quantidade de estudo. A construção do modelo analítico, a partir das bases teóricas expostas no presente trabalho, permitiu a identificação das estratégias de estudo utilizadas pelos violonistas, bem como o enfoque dado por cada um a essas. Os resultados, da mesma forma, mostraram a importância da pesquisa empírica para a área de práticas interpretativas, visto que a observação e análise de alguns itens realizados durante a fase de aprendizado mostraram‐se diferentes do que foi informado pelo relato verbal dos sujeitos na entrevista, à exemplo da memorização por parte de S1. Com uma abordagem pragmática, constatei que todas as ações realizadas por S1 durante seu processo de estudo estiveram diretamente relacionadas com o objetivo final de tocar a obra, salvo a apreciação de um vídeo da execução da obra na internet, e a rápida e consistente “análise superficial sem o instrumento” 8. Já S2 utilizou além de estratégias para a execução da música, algumas atividades empreendidas para a melhor compreensão da construção da obra. Exemplos dessas atividades foram as considerações analíticas realizadas durante todo o seu processo de estudo, e a preocupação com a definição dos andamentos das seções musicais. Apesar das diferentes perspectivas na construção da execução musical, foram encontradas algumas estratégias de estudo comuns, as quais são apresentadas abaixo: • Leitura sem o instrumento: chamada por S1 como “análise superficial”, foi essa atividade que permitiu ao instrumentista formar uma imagem artística da obra, identificando as seções musicais, frases, dinâmicas, caráter, andamentos, e notas melódicas e harmônicas. Observo o pouco tempo empreendido por S1 nessa que foi a principal atividade norteadora de sua interpretação (somente a primeira sessão de prática, com duração total de 45 minutos, entre outras atividades). S2 também utilizou a leitura sem o instrumento. Diferentemente de S1, ele a realizou ao longo de todo o processo de estudo, apesar de não mencionado em seus diários.9 Ele comentou que essa atividade não foi sistemática em seu processo, sendo realizada 8
O termo “superficial” foi utilizado por S1, e denota análise de superfície.
9
Apontado em questionário respondido via e‐mail em 16/03/2010.
Guitarra Clássica
com o intuito de manter uma relação estreita com a obra, estando assim a pensar constantemente em algum aspecto da peça. • Estudo através de seções musicais: essa estratégia de estudo foi utilizada pelos dois violonistas, porém, de maneiras distintas em termos de quantidade de prática e tamanho de cada seção musical. O Allegro di bravura e rubato foi divido somente em duas seções para estudo por parte de S1 (c.55 – c.89 /c.90 – c.131). Já S2 dividiu essa seção em dois momentos: nos estágios iniciais de prática, a divisão foi realizada em duas partes, como S1 o fez em todo seu processo. Já para os últimos dias de estudo, S2 realizou a divisão da referida seção musical em partes ainda menores (ver tabela 4). A respeito da quantidade de tempo gasto na prática, os gráficos abaixo demonstram a ênfase dada a cada seção musical por parte dos sujeitos, através do número de atividades realizadas em cada uma:
Figura 3 – S1. Distribuição da quantidade de atividades realizadas em cada seção musical
Guitarra Clássica
Figura 4 – S2. Distribuição da quantidade de atividades realizadas em cada seção musical
A análise comparativa dos gráficos gerados a partir da quantidade de atividades realizadas em cada seção musical permitiu identificar o equilíbrio na distribuição das atividades realizadas por parte de S1. A seção do Allegro di bravura e rubato demandou mais ações em virtude de seu tamanho e características, com passagens virtuosísticas e articulação de difícil execução em andamento rápido. No processo de S2, constata‐se o desequilíbrio na quantidade de atividades empreendidas entre as seções do Allegro di bravura e rubato e a seção A’ (seção musical final). • Estudo através de repetições: As repetições realizadas por S1 estiveram relacionadas com a resolução de passagens difíceis, as quais foram realizadas inúmeras vezes até o completo domínio dessas, e com o processo por ele intitulado “limpeza” das seções musicais da obra, com o objetivo da execução musical clara e sem erros. S2 utilizou a estratégia de repetições somente para pequenas passagens, entre elas os harmônicos da seção musical final, e trechos desafiadores do Allegro. Além disso, S2 repetiu diversas vezes essa seção musical com o intuito de alcançar o andamento por ele objetivado. • Estudo com metrônomo: Apesar do fato de os dois sujeitos terem utilizado o metrônomo em seus processos de estudo, saliento aqui a diferença de abordagem em relação a sua utilização. Enquanto S1 o utilizou para manter uma regularidade rítmica somente na seção do Allegro di bravura e rubato, variando subitamente entre os andamentos, S2 utilizou o metrônomo como um moderador de andamentos, com objetivo de estabelecer uma relação entre os andamentos das seções musicais.
Guitarra Clássica
• Estudo através de andamentos distintos: Os andamentos praticados por S1na seção do Allegro di bravura e rubato estiveram entre 80bpm e 120bpm, andamento no qual foi gravada a referida seção, sendo sua abordagem sempre crescente na medida em que os dias passaram. Saliento que S1 não mencionou ter utilizado essa estratégia de estudo para as outras seções musicais. Por outro lado, S2 utiliza a estratégia na obra inteira, variando entre diversos andamentos (semínima entre 65bpm e 90bpm). Apesar de S2 ter mencionado que o andamento da seção musical do Allegro poderia ser 90bpm, ele o gravou aproximadamente em 80bpm. • Estudo de passagens difíceis: As passagens consideradas difíceis por S1 e S2 coincidem apenas em relação aos harmônicos oitavados da seção musical final da obra:
PASSAGENS DIFÍCEIS S1
PASSAGENS DIFÍCEIS S2
c. 7
‐
c. 12
‐
c. 13
‐
c. 16
‐
‐
c. 95 – c. 98
‐
c. 120 – c. 124
c. 132 – c. 135
c. 132 – c. 135
c. 149
c. 149
c. 151
c. 151
c. 154
c. 154
Tabela 5 – Passagens consideradas difíceis por parte de S1 e S2
S1 mencionou a existência de oito passagens com algum tipo de problemática técnica ou interpretativa, enquanto S2, apenas seis. Nenhuma passagem difícil foi apontada por S1 na seção musical do Allegro di bravura e rubato, apesar de ter sido a seção mais praticada pelo violonista. S2 anotou duas passagens difíceis da referida seção musical, não apontando
Guitarra Clássica
qualquer problema nas seções anteriores ao Allegro di bravura e rubato. Quanto às estratégias não comuns aos dois sujeitos, o estudo de timbres distintos para a execução do compasso 12 realizado por S1, sendo a única estratégia utilizada que não consta no modelo analítico construído. Apesar de S1 ter acatado a digitação proposta na partitura, constatei a preocupação com a igualdade de timbres entre as notas harmônicas e melódicas da passagem, problema resolvido com a referida estratégia. A abordagem de estudo de S1 também compreendeu o estudo da técnica de ligados, e atividades de aquecimento como preparação para a execução final da obra, tais como escalas curtas, e a execução de fragmentos da seção musical do Allegro di bravura e rubato. Para S2, as estratégias de análise da estrutura da obra, fixação de objetivos e estudo de dedilhados e digitações distintas foram relevantes, contribuindo paulatinamente para a compreensão e organização da Elegy. Acredito que isso deve estar de alguma forma relacionado ao fato de S2 ser, além de violonista, compositor. Através da biografia dos sujeitos da pesquisa, e da análise de todas as informações provindas dos diários de estudo, entrevista e questionários, constatei que a utilização das estratégias, bem como o enfoque dado a cada uma delas também está relacionada, dentre outras questões, com as características pessoais de cada instrumentista, construídas através da vivência e experiência na área. S1 encarou as estratégias de estudo como táticas e técnicas empregadas nas sessões de prática com o intuito final de tocar a obra, num processo pouco declarativo, por não ter apontado em seus diários de estudo pensamentos ou dúvidas sobre qual estratégia utilizar. Isso demonstra que, além de S1 já possuir um repertório de estratégias armazenadas para as diversas situações e dificuldades apresentadas pela obra, ele soube exatamente quando utilizá‐las. S2, por outro lado, não realizou depoimentos que remetessem à identificação de estratégias pré‐concebidas. As estratégias utilizadas por S2 durante seu processo de estudo apareciam na medida em que sua percepção do discurso musical ia melhorando, sobretudo através da análise da estrutura da obra. As modificações nas articulações da seção do Allegro di bravura e rubato também demonstraram que o objetivo principal de S2 na construção da execução musical da Elegy foi “seguir a percepção do desenho da música, o contorno das frases, e a direção das linhas melódicas”. Saliento ainda que nenhum dos guitarristas comentou sobre o significado do termo elegia, que dá título à música, nem mesmo da concepção retórica de tristeza, sofrimento ou caráter fúnebre, expostos nos legatos em semitom e escalas descendentes cromáticas. Também três estratégias do modelo analítico não foram mencionadas em nenhum momento durante o processo: o estudo de mãos separadas (CHAFFIN, 2002; PROVOST, 1992), estudo mental
Guitarra Clássica
(GIESEKING E LEIMER, 1972; JORGENSEN, 2004), e o estudo através de gravações da própria execução (JUSLIN, 2004; JORGENSEN, 2004; DANIEL, 2001). O estudo de mãos separadas, apesar de abundante nas pesquisas com pianistas, pode contribuir na prática guitarrística para a identificação e o desmembramento de problemas técnicos motores, coordenação e relação de força empregada entre as mãos, entre outros. Assim, as estratégias de estudo podem constituir um caminho para a otimização da performance, e uma conseqüente melhoria qualitativa no campo das práticas interpretativas. Como demonstrado, a utilização e enfoque dado às estratégias irão depender do nível e diferenças individuais de cada intérprete, construídos ao longo de suas carreiras através da experiência na área. As estratégias de estudo, no contexto da execução instrumental, promovem subsídios práticos para o violonista resolver diversos problemas técnicos e interpretativos de uma obra, além de igualmente contribuírem para uma melhoria no ensino do instrumento. Quanto maior o repertório de estratégias de estudo que um professor possuir, mais caminhos poderá oferecer ao seu aluno para a resolução dos diversos problemas que permeiam a interpretação e execução musicais.
Guitarra Clássica
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUADO, D. Nuévo método para guitarra (Madrid, 1843). Heidelberg: Chanterelle Verlag, 1994. Ed. Michael Macmeeken. BARROS, L. C. A pesquisa empírica sobre o planejamento da execução instrumental: uma reflexão crítica do sujeito de um estudo de caso. RS. 2008 Tese (Doutorado em Música) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008. BONI, V. e QUARESMA S. J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em ciências sociais. Revista eletrônica dos pós‐graduandos em sociologia política da UFSC. Vol. 2, n. 1 (3), janeiro‐julho 2005, p. 68‐80. Disponível em: < http://www.emtese.ufsc.br/3_art5.pdf CARLEVARO, A. Escuela de la Guitarra: Exposición de la Teoría Instrumental. Buenos Aires: Barry editorial, 1979. CHAFFIN,R.; IMREH, G. A comparison of practice and self‐report as sources of information about the goals of expert practice. Psychology of Music 2001; 29; 39. CHAFFIN, R.; IMREH, G.; CRAWFORD, M. Practicing perfection: memory and piano performance. Mahwah. NJ: Erlbaum, 2002. CHAFFIN, R; LEMIEUX, A.F. General perspectives on achieving musical excellence. In: WILLIAMON, A. Musical excellence: Strategies and techniques to enhance performance. Oxford University Press, 2004. CHAFFIN, R; LEMIEUX, A.F. Spontaneity and creativity in highly practiced performance. 2006 COFFMAN, D. Effects on mental practice, physical practice and knowledge of results on piano performance. British Journal of Music Education, v. 38 n.3, p.187‐196, 1990. CONTRERAS, A. A Técnica de David Russel em 165 Conselhos. Trad. André Borges Pinto. Publicação autônoma. Sevilha, 1998. COSTE, N. Método completo para guitarra de Ferdinando Sor. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1983. DANIEL, R. Self assessment in performance. B. J. Music Ed. 2001. 18:3, 215–226. Cambridge University Press, 2001. DAVIDSON, L.; SCRIPP, L. Surveying the coordinates of cognitive skills in music. In: Colwell, R. The new handbook of research of music teaching and learning: a project of the music educator’s national conference. New York: Schirmer Books, 1992. 392‐413. FERNANDEZ, E. Tecnica, Mecanismo y Aprendizaje: Una investigación sobre Llegar a ser Guitarrista. Montevideo: Art Ediciones, 2000. GABRIELSSON, A. Music performance research at the millenium. Psychology of Music, v.31, p.221‐272, 2003. GIESEKING, W.; LEIMER, K. Piano Technique. Dover, New York, 1972.
Guitarra Clássica
GILARDINO, A. Nuovo Trattato di Tecnica Chitarristica: Princìpi e Fondamenti. Itália, Ancona: Bèrben, 1993. HALLAM, S. Professional musician’s approaches to practice and performance: Learning new music. Newsletter of the European Society for the Cognitive Sciences of Music, 6, 2‐10. 1995a. ___________ Professional musician’s orientations to practice: implications for teaching. British Journal of Educational Psychology, 12, 3‐19. 1995b. ____________ Approaches to instrumental music practice of experts and novices: Implications for education. In: H. Jorgensen & A. C. Lehman (Eds.), Does Practice Make Perfect? Current Theory and Research on Instrumental Music Practice. Oslo: Norwegian Academy of Music, 1997, cap. 25. p. 89‐107 ____________ What do we know about music practicing? A research review. In: H. Jorgensen & A. Lehman (Eds.), Does practice make perfect? Current theory and research on instrumental music practice. Oslo, Norway: Norges Musikkhogskule, 1997b. IZNAOLA, R. Ricardo Iznaola on practicing: a manual for students of guitar performance. Mel Bay publications, 2000. JORGENSEN, H.; LEHMAN A.C. Does practice make perfect? Current theory and research on instrumental music practice. Oslo: Norges musikkhogskole, 1997. JORGENSEN, H. Strategies for individual practice. In: WILLIAMON, A. Musical excellence: Strategies and techniques to enhance performance. Oxford University Press, 2004. cap. 5, p. 85‐103. JUSLIN, P. et al. Feedback learning of musical expressivity. In: WILLIAMON, A. Musical excellence: Strategies and techniques to enhance performance. Oxford University Press. 2004, cap. 13, p.247‐270. LEHMANN, A.C. and ERICSSON, K.A. Historical developments of expert performance: public performance of music. In: STEPTOE, A. (ed.) Genius and the Mind studies of Creativity and Temperament, Oxford University Press, 1998. p. 67‐94. MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004. NEUHAUS, H. The art of piano playing. New York: Praeger Publishers Inc., 1973. NIELSEN, S. G. Learning strategies in instrumental music practice. British Journal of Music Education, v. 16 n. 3, p.275‐291, 1999. O`BRIEN, C. Part and whole methods in the memorization of music. Journal of Educational Psychology, p.552‐560, 1943. PROVOST, R. The art and technique of practice. Guitar solo publications of San Francisco, 1992. RAWSTHORNE, A. Elegy (1971). Oxford: Oxford University Press, 1975.
Guitarra Clássica
RIBEIRO, C. Metacognição: um apoio ao processo de aprendizagem. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 16(1), p. 109‐116, 2003. RUBIN‐RABSON, G. The influence of analytical pre‐study in memorizing piano music. Archives of Psychology, n. 220, p. 7‐53, November, 1937. SLOBODA, J. Individual differences in music performance. Trends in Cognitive Sciences v.4, n. 10, p.399, 2000. ____________ Exploring the musical mind. Oxford: Oxford University Press, 2004. SOR, F. Method for the Spanish guitar. New York: Da Capo, 1980. TENNANT, S. Pumping Nylon: The Classical Guitarists Technique Handbook. Nathaniel Gounod (Ed.), 1995. WILLIAMON, A, VALENTINE, E. The role of retrieval structures in memorizing music. Cognitive Psychology, n. 44, p.1‐32, 2002. _________ Quantity and quality of musical practice as predictors of performance quality. British Journal of Psychology, 91, 353‐376, 2000. __________ Musical Excellence: strategies and techniques to enhance performance. Oxford University Press, 2004. WILLIAMON, A. VALENTINE, E., VALENTINE, J. Shifting the focus of attention between levels of musical structure. European Journal of Cognitive Psychology, 14, 493‐520. WILLIAMS, J. The interface: Guitar. In: I. Winspur; C. B. Wynn Parry (Eds.): The Musician’s hand: A clinical guide. London: Martin Dunitz, 1998. p.22‐24 WOLFF, D. Como Digitar uma Obra para Violão. in Violão Intercâmbio No. 46 (2001).
Guitarra Clássica
Novvas Gravaçções SOLO DUO: MATTEO M M MELA & LORENZO L MICHEL ‐ FERDINA AND REBA AY – ATAS GUITAR SONA Por Tiago Casssola Marq ques
“Este disco tenta t reparaar uma injustiça m esta citaçção assaz fo orte e hisstórica.” Com en nigmática, ab bre‐se o bo ooklet deste novo dissco, premiaado pelas revistas italianas Am madeus e Mu usica, ambass com 5 estre elas. Vo olta a este esspaço uma m monografia, desta vez sobre um ccompositor m menos conhe ecido, mpo dirá co om justiça o lugar maas que o tem qu ue merece na n nossa histtória da música e paarticularmentte na históriaa da guitarraa. Ferdinand Rebay (1880‐1953 3), composito or nascido em e Viena, é possuidor de uma vastaa obra para guitarra, graande parte dela desconhecida ou porr editar, que vai desde so onatas e variiações o até pequen nas ou grand des formações em duos, trios ou sep ptetos geralm mente para guitarra solo d sopro. As A suas obras são reveeladoras de uma inequ uívoca com outros insttrumentos de dade compo ositiva, onde se denotam influências de Brahms, W Wagner ou R Richard Strau uss no qualid tratamento da to onalidade, nu um estilo póss‐Romântico. Embora po or vezes anaccrónico, dado o que, de fazer quaalquer aproxximação à música m da seegunda esco ola de apareentemente, não pretend Vienaa, no reperttório guitarrrístico poderremos pô‐lo o ao lado daa densidade de Castelnuovo‐ Tedesco, Ponce, ou Villa‐Lobos, com as d devidas distââncias às carracterísticas da música d de raiz mânica. As su uas obras são revelado oras de umaa forte inspiração meló ódica, equilíb brio e germ engenho no trataamento das vozes, num ma escritura quase camerística, de fo ormas clássicas, e um interessante conhecimeento idiomáttico da partte instrumeental. A fam miliaridade com c a mental, provaavelmente é um legado d dos estudos no Conservatório músicca vocal, corral e instrum da caapital austríaaca. Aluno de d Fuchs e de d Mandyczzevski, a este último se deve a profunda admiração pela m música de Scchubert, send do praticamente uma fo onte inesgotáável de inspiiração m forma de vaariações sobre temas do imortal com mpositor de liieder. para as suas composições em m neste disco o encontram mos duas das seis sonatass para guitarrra solo compostas por R Rebay, Assim as Va ariações sob bre um tema a de Schubeert, e ainda um curioso Grande Duo o para Guita arra e Quintt‐bassgitarree. Se pouco cconhecimentto existisse em relação àà música de Ferdinand R Rebay,
Guita arra Clássica
já os intérpretes têm vindo a fomentar uma carreira de altíssimo nível pelos mais famosos palcos internacionais. Seja em duo ou a solo, as interpretações de Mela & Micheli têm sido agraciadas com óptimas críticas aos seus concertos e às suas inúmeras gravações. Imprimindo uma carreira pautada pela descoberta e interpretação de música mais invulgar ou pouco conhecida e por interpretações muito expressivas e virtuosísticas, deste duo, sem desvalorizar a qualidade de Matteo Mela, sobressai individualmente Lorenzo Micheli, afirmando‐se cada vez mais como uma personalidade incontornável da nova geração de guitarristas italianos com projecção internacional. Repartindo a interpretação das sonatas a solo, os dois virtuosos juntam‐se no Grande Duo. Também neste disco os dois intérpretes correspondem às expectativas. Fraseados muito claros e equilibrados, virtuosismo e elegância nas passagens mais densas, expressividade e compreensão perfeita do discurso musical fazem da sua audição um enorme prazer pela descoberta desta música ainda desconhecida. Gravado entre 2007 e 2008 e acabado de editar pela Stradivarius, apresenta‐se com um design ligeiro e interessante. O som da captação é excelente, notando‐se todas as nuances pretendidas pela execução primorosa dos dois guitarristas. Este disco junta‐se a outros grandes discos de uma extraordinária colecção de 20 volumes da editora italiana. Pela interpretação sempre fiável ou pelo prazer de ouvir música nova, este é um belo disco que sem dúvida vale a pena ter, e que pode ser encontrado numa loja da vossa confiança ou através da www.amazon.com/Ferdinand‐Rebay‐Guitar‐Sonatas/dp/B003V9EIH8 ($8.99), a um preço atraente. Ferdinand Rebay – Guitar sonatas Solo Duo: Matteo Mela & Lorenzo Micheli, guitars Obras: Grosses Duo für Gitarre und Quint‐Bassgitarre (Lorenzo Micheli, guitar; Matteo Mella, Quint‐Bassgitarre); Variationen über Schuberts Wiegenlied (Lorenzo Micheli); Sonate in A moll für Gitarre‐solo (Matteo Mela); Sonate in D moll für Gitarre (Lorenzo Micheli) – t.t. 68’43” Stradivarius, STR 33859
Guitarra Clássica
Págiinas com Música Trêss meninas–– Manuel Tavares Sobrre a obra: "Estass três pequenas peças surggiram em altuuras temporaiss distintas quee não sei preccisar, com o teempo decidi que seeria interessa ante agrupá‐la as numa só ob bra porque o seu carácter assim o parece permitir. A As pequenas peçass tornaram‐se assim em and damentos con ntrastantes qu ue respeitam a a velha fórmu ula rápido ‐ len nto ‐ rápido. A prim meira peça toma assim a fo forma de uma a espécie de prelúdio barroco com um sa abor grave e iintrodutório que a a tonalidade de d Ré menor tão bem emp presta à guita arra. Para o seegundo andamento escolh hi uma peça com u um tema lírico o, quase mela ancólico, mas que vai busca ar traços lumiinosos à tona alidade de Lá M Maior. Para último o andamento o volto a Ré menor m e prop ponho uma da ança com inffluências latin nas que vai buscar o seu movim mento a pequ uenas célulass rítmicas quee acentuam o o vigor e coeesão estrutura al da peça. Apenas A uma destas pequenas peças não posssuía originalm mente um nom me feminino (a a primeira qu ue rebaptizei ccom o nome mé em homena agem à minha a filha) daí o n nome da obra,, Três menina as." Salom
Manu uel Tavares eu no Manuel Tavvares nasce P Porto. Com meçou os seus e estudos mu usicais na Escola E P Profissional de Música do P Porto onde estudou gu uitarra c com Christo opher Lyall, Paula M Marques e A Augusto Paccheco. E 1996 iniciou o cursso de Em L Licenciatura em Ensino da M Música na Universidad de de A Aveiro, na áárea específica de g guitarra, sob b a orientaçãão de Paulo Vaz de Carvvalho. Con ncluiu a Liccenciatura sob s a orientaçção de Jozzef Zsapka, com quem m estudou mais m dois an nos após finalizar o cu urso. Particip pou em várrias master class. Conju ugou o estudo com m a a actividade de guittarra de doccente. Em 2009 concluiu u o mestrado o em perform mance (música de câmara) na Univeersidade de A Aveiro sob a a orientação da Professo ora Helena Marinho M e co o‐orientação o do Professsor João Ped dro De Alvarrenga (componente teeórica) e do guitarristta Odair Assad A (comp ponente práática). Leccio ona actualm mente no Con nservatório d de Música de e Ovar. Deseenvolve igualmente activvidade no caampo da mússica antiga ccomo executante de vihu uela e guitarrra latina em várias formaações.
Guita arra Clássica
Salomé Allegro
Manuel Tavares
«« ˆ««« «« « « ««« 0««« «« ««« «« . « «« « « « « 3 « « « 0j ˆ« 4«ˆ« «j « «« ˆ««« ˆ«« ««ˆ« ««ˆ ˆ« ˆ«« ˆ«« 4««ˆ« 1ˆ««« «« « ««j ˆ « #ˆ. « 4 «ˆ 2 ˆ«« 3ˆ«« «ˆ« « «« « b 44 2 «j ˆ ˆ j « « 1 0j ˆ« 4_j ˆ«˙» 2«ˆ« 1ˆ«= ˆ« «ˆ« 2 ============================= & “ { ˙»» ˙ » ˙ » 4 _ _ ˙ » »» »˙»˙» 2 2 0 1_ _»˙»» 2 2 »» 4 »» f » 3» «« «« 4««« 2«« «0 «4 « « « «« 0 «ˆ.« ˆ«« #ˆ3« . « 3«« 0ˆ«« ˆ«« #ˆ««« «ˆ« ˆ«« œ . « a«tempo « « « «« ««j ««« ««ˆ« « «j «j « 4 « b ˆ « ˆ « « « « « 3»» ˆ ˆ ˆ . ˆ « « « « 4 ˆ « ˆ « ˆ « « « 2 3 2 ============================= & 0_˙»» ”{ “ {0 _»œ »»œ _»œ2_ˆ« 0 2 _ #_»œ œ»» _»œ ˆ« «ˆ« 0_«ˆ« #_««ˆ = »˙»»˙ » œ 2_ _ _ _ _ _ » ˙ » œ » œ » _ _ _ _ » œ » _ _ ˙ » » ≈ »» 0»» 1 »» »œ»» ≈0 »» 4 »» 0»» » ≈ »» »» »» »œ»» 4_»˙»» 3 » »» »» 3 »˙»» 1» 4 3 » 1 F Rall. f P BIII BI « « « « « « « « « « « « « « «« «« 1««ˆ« . 4 ˆ««« 1ˆ««« ««« 1ˆ««« 0««« «« ««ˆ« 0««« 2«« «ˆ« 4ˆ««« 3«« 1««« ≈ ««ˆ« «« ««« «««ˆ «««ˆ« ««« ««« « « « «« « « «ˆ. ˆ« 3 «ˆ« ˆ« ˆ«« œ» ˆ« ˆ« ˆ« ˆ« œ» ˆ« ˆ« ˆ« ˆ« #ˆ«« ˆ« b 2#ˆ« 0 »œ 1 ««ˆ«œ» 2ˆ«« 4 «ˆ« . œ» œ» «j œ » œ » œ » » » œ _»»» = œ»»» œ»» 2 »» ============================= & _ » » » » » » » œ » » 3 » » » » » » _ » _ œ _ _ _ _ »œ»» »» _»œ» œ»»» »» _»»œ 0»» _»œ» »» » _œ»» »» » » » _»œ »» » » »» 0»» »» »» » » p p f BI
BVII BV BVIII «« «« 4««« 4««« 4«« 2 «« « BVI £ «« «« BVII « « « « « « « « « « «« « « « « « « «1« « «« «« 3_ˆ««« _ˆ«« _ « ˆ « ˆ « « « « « « _ # _ « ˆ « « « « « « « 4_ 4« 2« 0« 4_ « ˆ « ˆ . . « « « « 4 3 3 _ _ _ ˆ « _ « « _ « ˆ _ « « ˆ « « 4 1 ≈ ˆ« 0ˆ«« 4ˆ«« ˆ« ««ˆ «« #ˆ« #ˆ« «ˆ ˆ«« 2ˆ«« nˆ« nˆ« 2 ˆ«« 4 ˆ« ˆ« ˆ« « ˆ ˙ ˆ » œ » 3 » #œ ‰ » 2 »» »»» 3 œ»»» 2 œ»»» 2 »» œ»»» ============================= & b 2 œ»»» 3 œ»»» _ œ»»» = _ _J»œ» _ œ » _J»œ» . _»˙»» 1 ≈ » 1 2» 1 » » » f piano súbito P ƒ BIII
«« « « « « « « « « « « « « « 0«« 4«« «« « « « « « « « « ˆ« ˆ« ˆ« #ˆ2««œ . «j . ˆ««« ˆ«« «ˆ« «« « « «j ˆ« «ˆ« «j «« ˆ««« ˆ«« ««ˆ« ˆ« «j ««ˆ «ˆ ««ˆ ««ˆ «««ˆ ««ˆ« «« « ««j ˆ « ˆ « #ˆ. b ˆ ˆ ˆ« » « « « ˆ« j ˆ«»˙ «ˆ« = j ˆ«˙ «ˆ« ============================= & ‰ »Jœ» 3 œ»»» 0 œ»»» 1»» ”{ »˙» ˙ » ˙ » _ _ _ ˙ » »» »» _»»˙» _»˙»» »» » 0» » f a tempo
Rall. BII « « « « «« »˙»» «« ˆ«« «« «ˆ« ««ˆ. 4_ « « « « « ˆ g « ˆ « « ˆ « #ˆ . #ˆ « ˙»» « « g ˆ« «ˆ ˆ j « g »˙» ============================= &b _ = g _ _»˙» gg _ _˙»»»˙» _»˙»» _ » ˙ » g »» »
Rallentando molto
© Manuel Tavares
Vanina «« 4 « « « «ˆ« «ˆ« . 2«j « 1«« ««j 2« 0« 0« ### 3 1««ˆ« _«˙ ˆ« 3««ˆ« 2««ˆ« . 0««j ˆ « ˆ « « 1 ˙ . . . ˆ « « ˆ« . «ˆ« 44 » 4 ˙ . œ » 4 ˙ œ » » » 1 1 œ œ n ˙. » » » ======================== & = »œ» »» œ»» »»˙ . 3#œ»» » 2 _»œ»»» _ »»˙ . » ˙»»» 2 #˙ _ _ _ 3» _ _ _ œ » » » » » » » 1 »œ»» 0 »» 3 » 4 » 1 3» » 3 F . .
Andante
Manuel Tavares
legato e lírico 4
«« «« « «« « « 0 « « « 4 _ ˆ « « 4 2ˆ # ˆ« .. 3«j «ˆ« 2 «˙ . 0« ## 4 «« « 0«ˆ« . 2«j ˆ « 1 3 ˆ ˆ « « 2« ˙ « ˙ » «˙«œ» #œ = 0 »œ œ»» 1_œ»»»œ _ ======================== & 4 _˙« . _ _ ”{ “ { 4 4 1 œ»»» #˙»» œ » » »»» #œ»» » » » 1» ˙ » » 1 4 _ _ _ ˙ » » » » 2 » » 3» 3 _»œ» . 3 J»œ»» 4 »» P 3 1» » dolce u BI
BII
«« «« « « « «« « « «« «« « « _ ˙ « 4 # ˆ ˙ . ˆ « « « « « « « ## 2 «ˆ« . 0 «j ˆ j « « ˆ« .. ˆ« ˆ«œ «ˆ« 4 ˙» . «ˆ« 3 «ˆ« . j 1 ˆ « ˆ « 4 1»œ» . Jœ» _˙ ”{ 4 4 œ»» ˙» ˙»»œ œ»» œ» œ_»» #œ» »»» = ======================== & #˙»» . »» » »» » » 3» F » »» _»»˙» . »» 0» »» 3» » 3u a tempo
« 0« «« . ««j « ««˙« ### ««˙«˙. . ˆ « œ « » 1 ˆ « 2˙ ˆ« . ˆ« »» . 1 »˙. n_»œ˙.»»»» » ======================== & #˙ =” » » _ _ _»˙» . 3» _»œ» _»œ» »» » » » » ggg g ggg g
rallentando
© Manuel Tavares
Dança da Catarina «« 4 ««« 3_ˆ««« «« «« «« « 4«« g 2 3 4« ˆ j ˙ . ˆ j 4« 2« « « « « « « « « 4« « _ « ˆ _ _ _ _ g ˆ« « « « ˆ j œ œ J » œ « » » « « 2 ˆ« ˆ« ˆ« j ˆ« j j «j «ˆ« j g 4 œ»» » ˆ« ˆ« » œ » œ ˆ j » « #ˆ « g » b 44 » » » g 1 œ»»» » »»»œ »»» »» Jœ» _œ . ============================= & = 3 œ»» g 1 œ»» . 3 »» _ _ _ g ‰ _ ‰ » » _ _ œ _ œ J _ œ J » » » » » g »» _ Rítmico g _»Jœ»» 0 »» 0 »» 1» 0
Moderato 6ª em Ré (D) 4 4
Manuel Tavares
BV
«« 4 « «« 3««« 4«« 4 «« « 1« 0« « « 1 ˆ j ˆ j ˆ« 2 ˆ«œ»œ «˙« . Jœ « « « « «ˆ« ˆ« k «˙« . ˙ « « « « « b œ»»» = 2 ˆ« «ˆ« 0 Jœ»» ≈ ≈ 3 »»»œ ‰ »»» œ»» «ˆˆ« «« œ J œ » » ============================= & 2 3 œ»»» » » 3 »»» _ _ » 1_ »»» _ n_«ˆ b_»»œ _ » _ _ _»Jœ»» _ _ _ _œ»» »»» »»» 0 _ _ _ _ . Preciso » _»˙» . _ œ _ œ _ œ » » » » 3» » » 1 »» »» »» » ggg g ggg g ggg g
1
VII
BIII
4« « «« « « «« « « « « « ««j « 4« 4 _ ˆ j « « « 4 2#ˆ«j 4 « ˆ ˆ j « « « 2 « « « 2 2 0 ˆ ˆ « « « « « « « ˆ« ˆ« ˆ« « 4 ˙« ˆ« #ˆ«« 1«««ˆ nˆ0«« 2ˆ«« 41 ˆ«œ» j 2 #ˆ«« b œ J » 3 ˙ œ J » » 1 2 »œ»» »˙»» »» œ» . = 0 œ»»œ 3 œ»» ============================= & ‰ _ ”{ ‰ »» 1 œ»» . 3_ 3_ _ » 1_ » »» _ œ _ œ J _ ˙ _ » _ » » » »»œ» »»˙» _ _ »» 0 »» 0 »» _ _ 0 »» 0 »» Con grazia 4
4«« 1« 1« ««« « « « 4 «« 1 «« 2««« « « 1 «« 0« 2 «« ˆ j « 2 « « 4 _ _ ˆ j _ « ˆ « « 4 ggg 4 ««j ˆ«œ» ˙« . Jœ» ˆ j ˆ j « « « ˆ ˆ ˆ j ˆ ˆ « « « « « ˆ« . ˆ«« 3 œ»» g 3 œ»» b » œ » œ J » 2 g » » » œ » 2 »» œ»» 0 »» _ #_œ» 3 ˙» . » ============================= & gg 2 _»»» œ»»» = _ » ‰ 1 » 5 » _ » œ _ » gg _ 0 » » 0 »» 1 » _ _»»œ»» _»œ»» gg _ g
«« « «« 3ˆ««« «« «« « «« « « « « « « «« 4_««k (sem fazer repetições) Fine ««j « « « 4ˆ«« 1« « 0«« « «« « «« 4 ˆ _ ˆ _ ˆ « _ _ « ˆ « « « 3 « ˆ « « 0w 2 0 ˆ « « « « « « 1 ˆ«4 «˙« ≈ ≈ ˙ « ˆ ˆ « . « « « « « « ˆ«˙» 4 ˆ« ˆ« ˆ« nˆ«« ˆ« ˙»» «ˆ«œ» «j b Jœ» »»œ »œ0 Jœ» «ˆ ˙»» œ » 2«ˆ« 2 #œ»»» ˆ«œ» ”{ 0#ww1w1 » » » 2 œ»œ» 0 œœ»» 1 3œ»» 3 ============================= & _ » » » =” » 3» _ » » » » »»» »˙»» »˙»» » _ »œ»» _ _ _ 3_ »»» 1_ n_œ»»» »» b_»»»œ »»» _ 3 _ _ _ œ » _ w _ » _ _ _ _ » ‰ 0 » _ _ _ _ _ 4 » » 0_w » » _»œ»» _»œ»» . _œ»» 0 » _J»œ»» 1» » 0 BV
2
D.C. al Fine
g ggg g ggg g
BIII
© Manuel Tavares