O Senso Comum – Thomas Paine
O autor e a obra.
Nascido na Inglaterra, Thomas Paine foi um autor engajado não apenas no plano das ideias, mas também no plano da ação. Foi exilado da Inglaterra onde seria morto se retornasse e preso em Paris, !uando "obespierre e os jacobinos assumiram ass umiram o poder. Paine foi, a seu tempo, um liberal. #efendeu $igorosamente as liberdades indi$iduais e foi autor de uma se$era cr%tica anticlerical. &oje, no entanto, o autor dificilmente seria considerado um 'liberal puro(, na medida em !ue defendia pol%ticas como a educação uni$ersal, a pensão para os idosos, o aux%lio tempor)rio para os necessitados *central nas pol%ticas de +elfare, radicalmente atacadas pelos liberais de hoje e até mesmo a taxação progressi$a, defendida por -arx, n/ 0uestão 1udaica, como o meio de abolição gradual da propriedade pri$ada. Ficam e$identes certas contradiç2es relati$as aos princ%pios b)sicos do liberalismo cl)ssico, pro$enientes em grande parte de uma certa ingenuidade ao se pensar !ue tais pol%ticas resultariam exatamente nos objeti$os propostos, ignorando o fato de !ue o poder pol%tico corrompe tanto o go$erno mon)r!uico cujas injustiças ele busca$a remediar !uanto o go$erno representati$o. 3 ensaio panflet)rio denominado '4enso 5omum( *ou '6om 4enso, se acordo com a tradução foi uma espécie de catalisador de e$entos, $indo a influenciar muitos dos acontecimentos !ue se seguiram. 3 alcance da obra foi imenso para os padr2es da época, chegando a atingir todas as camadas da sociedade7 $enderam8se 9:;.;; exemplares em trpias dessa obra !ue foi das mais $endidas em todo o século ?@III. Aste sucesso se de$e a certos aspectos aspectos marcantes do texto7 a linguagem linguagem f)cil e inflamada, inflamada, a argumentação clara, o apelo emocional e até religioso. /demais, trata8se uma obra incisi$a, !ue discute um contexto então atual, muito bem delimitado no espaço e no tempo. Não resgata uma discussão sobre os $alores iluministas, mas os toma como dados para, com eles, olhar para o maior e mais imediato problema !ue se tinha em mãos7 a Independ
3 autor começa por estabelecer uma distinção entre sociedade e go$erno7 en!uanto a primeira corresponde a uma forma de cooperação $olunt)ria entre os indi$%duos, o segundo funciona como uma instituição coerciti$a sempre a regular o comportamento destes mesmos
indi$%duos. 3 go$erno é, na melhor das hip>teses, um mal necess)rio. Isto por!ue, dados os des$ios da natureBa humana, o indi$%duo concorda em abrir mão de uma pe!uena parcela de sua propriedade a fim de ter protegido todo o restante. /s pe!uenas parcelas extra%das de todos os indi$%duos por meio de impostos sustentam o funcionamento do go$erno, !ue é essencialmente improduti$o e, portanto, não gera ri!ueBas. / origem do go$erno estaria, então, na impossibilidade de um mundo regido pela $irtude moralC seu prop>sito e finalidade seriam a liberdade e a segurança. / alternDncia de poder engendraria um ciclo $irtuoso atra$és da cooperação constante entre go$ernantes e go$ernados, e disso resultariam a força do go$erno e a felicidade do go$ernado. / defesa de Paine a essa forma de go$erno se baseia na ideia de !ue !uanto mais simples for algo, menos pass%$el de desordem ele éC e, uma $eB, desordenado, mais f)cil ser) reorden)8lo. E este mesmo princ%pio !ue fundamenta sua cr%tica 5onstituição inglesa, !ue, por complexa, é também contradit>ria e ineficiente em tempos modernos. Ala incorpora categorias republicanas a res!u%cios absolutistas7 a figura do rei e a casta dos nobres se coadunam ao lado da 5asa dos 5omuns, de representação popular. / contradição fica por conta do funcionamento desse es!uema. /s medidas do rei de$em ser a$aliadas pela 5asa dos 5omuns, o !ue implica nos pressupostos de !ue a figura do rei não é totalmente confi)$el e, portanto, de$e estar sob constante $igilDnciaC e !ue os 5omuns, ao !uais se atribui o papel de tal $igilDncia, são mais sensatos !ue o pr>prio rei de onde se origina a !uestão7 como pode o poder estar nas mãos de uma figura suspeita, !ue necessita ser sempre controladG Por outro lado, o rei tem poder para rejeitar as leis ad$indas da 5asa dos 5omuns, o !ue acaba por in$erter o racioc%nio anterior. 3utro apontamento negati$o em relação exist
No cap%tulo em !ue aborda a noção de monar!uia, Paine aponta para a problem)tica distinção forçada entre reis e sHditos, !ue não encontra suporte na natureBa ou na religião. Na natureBa não h) nada !ue justifi!ue a diferenciação de pessoas supostamente tão mais ele$adas !ue as demais. /lém disso, os contextos li$res do go$erno de um rei teriam sido sempre os mais pac%ficos, en!uanto a figura do rei, !uando existente, apontou sempre para guerras e opressão. Nas
Ascrituras, a monar!uia foi sempre condenada por constituir uma afronta ao reinado di$ino, na medida !ue sup2e a natureBa sagrada da!uele !ue não é mais !ue um homem a ocupar arbitrariamente uma posição. / monar!uia traB consigo a !uestão da sucessão heredit)ria, !ue não se sustenta por meio de argumentos l>gicos. / ideia de igualdade entre os homens, base formal dos no$os mo$imentos iluministas, não suporta a imposição de um go$erno perpétuo de uma fam%lia ou linhagem sobre todas as outras. /inda !ue um primeiro rei seja merecedor de tal t%tulo, nada indica !ue todos os seus descendentes também o sejam. Tratando8se de um rei eleito, a insensateB dessa instituição seria ainda maior, dado !ue um grupo decidiria não apenas !uem go$ernaria sobre si, mas também sobre todos os !ue $iriam a seguir, incorrendo no perigo de deixar seus descendentes, cujo direito de escolha lhes foi negado, nas mãos de um go$ernante ineficiente ou injusto !ue, de outra forma, jamais ocuparia tal posição. 3 monarca moderno, assumindo um cargo injustificado, tem suas atribuiç2es reduBidas a um m%nimo. /lém de distribuir cargos de interesse, nada faB !ue compense seus gastos. III.
/o analisar o estado das coisas em uma /mérica em in%cio de guerra por sua independpole, as colnias dependiam da dominação inglesa para seu desen$ol$imento. Ignora8se no entanto !ue a /mérica de$e seu crescimento ao comércio, !ue, estando ela independente ou não, seguiria existindo. A tanto mais !uanto mais li$re ela fosse. Para os !ue insistiam no importante papel protetor da Inglaterra em relação /mérica, Paine respondia !ue tal proteção ser$ia a interesses pr>prios do reino a saber7 a $iabiliBação do comércio e a manutenção do dom%nio sobre as colnias. Pouco importa$a, também, !ue o !ue se entendia por sociedade americana tinha sua origem na Inglaterra. Pois da mesma forma os ingleses seriam, originalmente, franceses e, em racioc%nio an)logo, eternos sHditos do go$erno da França. Por outro lado, uma ligação de depend
de$eria ser adiado para as pr>ximas geraç2es, retardando a estabilidade pol%tica e o progresso da /mérica en!uanto uma sociedade li$re. 5omo indicação da in$iabilidade de uma reconciliação, Paine cita$a a crescente intensificação dos problemas da /mérica, j) complexos demais para serem tratados a um oceano de distDncia o !ue sempre demanda uma grande !uantidade de tempo. /demais, o preço em dinheiro e sangue da luta pela independpole !ual!uer forma de relação amistosa. /ssumindo a possibilidade de reconciliação, neste caso, as colnias s> teriam a perder. Primeiro por!ue uma /mérica legislada por um tirano $ingati$o seria rebaixada a uma posição onde não mais representasse !ual!uer ameaça metr>pole. 4egundo, por!ue as medidas tomadas pelo rei seriam sempre incondicionalmente fa$or)$eis a Inglaterra, mesmo !ue, para tanto, incorressem preju%Bos para a /mérica, !ue não é mais !ue um objeti$o secund)rio. Também em um cen)rio de reconciliação, a instabilidade pol%tica de um go$erno constantemente !uestionado causaria o afastamento de empres)rios estrangeiros e de nati$os descontentes. Antretanto, o argumento mais forte contra um retorno relação de dependtese, como o mostram as repHblicas europeias, sempre mais pac%ficas !ue seus $iBinhos absolutistas. 4e existia um problema concreto em relação independ
Paine aponta para a capacidade e a necessidade da criação de uma es!uadra, unindo comércio e proteção. Na /mérica, as condiç2es para tanto supera$am a de !ual!uer outra nação. 3 momento era prop%cio para a luta, dado !ue as colnias esta$am unidas pela mesma opressão sofrida. 4endo jo$ens, mais facilmente se estabeleceriam sob o mesmo go$erno.