Gabriela Isaias – A A Sociedade do Espetáculo. DÉBORD, Guy. "A Sociedade do Espetáculo", Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 13-38. Conforme afirma Débord (2000), a conjuntura moderna de produtividade apresenta-se como uma grandiosa
acumulação de espetáculos ” que transforma
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vivências em representações. As imagens e símbolos, portanto perdem relação com a vida de modo irrecuperável já que certa fração da realidade torna-se um mundo à parte de mera contemplação. Dessa forma, segundo o autor, o espetáculo integra a sociedade agindo tanto como instrumento de unificação quanto de separação generalizada. Enquanto parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência.
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Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência ” (DÉBORD, 2000, p. 14). O raciocínio exposto ao longo dos dois primeiros capítulos tem como objetivo introduzir o leitor à sociedade capitalista do espetáculo, explicar o processo social das realidades individuais, discutir a dominação da mercadoria sobre a economia política, dentre outros. Já no início do primeiro capítulo, intitulado “A separação consolidada ”, Débord (2000) procura contextualizar o leitor e fala um pouco sobre os amplos significados da cultura do espetáculo e o curso de degradação do ser para o ter. Para ele, o espetáculo pode ser entendido como uma relação social entre indivíduos, intermediada por imagens. Para o escritor: “A linguagem do espetáculo é constituída por signos da produção reinante, que são, ao mesmo tempo, princípio e a finalidade última da produção” (DÉBORD, 2000, p. 15). Dessa maneira, a realidade acaba influenciada pela contemplação do espetáculo e dá origem à ele, assim como o espetáculo surge a partir do real. A reafirmação da aparência surge, portanto, como representação do momento histórico em que se encontra, gerando uma espécie de monopólio simbólico em toda a sociedade. Ainda sobre essa primeira fase de dominação da economia sobre a vida social, Débord (2000) ressalta uma marcante “degradação do ser em ter ”. Para ele, o espetáculo age discretamente e busca a abstração generalizada das pessoas. A fase presente da ocupação total da vida social em busca da acumulação de resultados econômicos conduz uma busca generalizada
do ter e do parecer, de forma que todo o “ter ” efetivo perde seu prestígio imediato e a sua função íntima. (DÉBORD, 2000, p. 1819).
A divisão de tarefas do trabalho desfez a interação direta entre produtores e produto, afinal “a unidade e a comunicação tornam-se atribuições exclusivas da direção do sistema” (DÉBORD, 2000, p. 23). É dessa forma que o espetáculo faz seu próprio produto e desenvolve a si mesmo em um mercado cada vez mais amplo, deixando o trabalhador à mercê contemplativa das necessidades e resultados de produção. Nesse contexto, observa-se o isolamento necessário e consequente da técnica, formando o que Débord (2000) chama de “multidões solitárias ”: o espetáculo une o separado, mas reúne-o enquanto separado, fazendo com que o espectador não se sinta absolutamente confortável em qualquer parte já que toda parte contém o espetáculo. Nesse movimento crucial do espetáculo, Débord (2000) apresenta o segundo capítulo do livro nomeado “A mercadoria como espetáculo ”, a partir do qual apresenta ao leitor o princípio do “fetichismo da mercadoria ”. O teórico explica que, uma vez que o mundo sensível é substituído por imagens, a mercadoria domina tudo o que é vivido em um processo similar ao afastamento dos homens explicitado na primeira parte do livro. Débord (2000) analisa o detrimento do qualitativo em prol do quantitativo traçando um paralelo explicativo com as condições de comércio e acumulação de capital que deram início à economia mundial no passado. Outrossim, Débord (2000) pontua a segunda revolução industrial como o momento em que o consumo alienado tornou-se um dever para as massas, que prosperaram” sob o disfarce do consumidor. O autor explica que os operários, antes
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desprezados pelas organizações, passam a ser tratados com aparente importância pelas organizações. O humanismo da mercadoria toma a cargo os “lazeres e humanidade” do trabalhador, muito simplesmente porque a economia pode e de ve
dominar, agora, também estas esferas, enquanto economia política. (DÉBORD, 2000, p. 33-34). O intelectual francês (2000) sugere também a confusão social acerca de bens e mercadorias e satisfações e sobrevivência no mundo do espetáculo. É a partir daí que surge a pauta do modelo de automação da indústria moderna, que acaba por definir toda uma prática de produção e comércio. Segundo Débord (2000), a criação de novos
empregos no setor terciário é indispensável para a organização trabalhista uma vez que o consumidor real é, também, um
consumidor de ilusões ” proporcionadas pelo
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espetáculo – a outra face do dinheiro. A dependência da sociedade quanto à economia é outro aspecto explorado e explicado por Débord (2000). “A economia autônoma separa-se para sempre da necessidade profunda, na própria medida em que sai do inconsciente social que dela dependia sem o saber ” (DÉBORD, 2000, p. 38). Para reforçar sua declaração, o autor cita a luta de classes, que constitui o produto e também é produtora da fundação econômica histórica. A dissertação, por fim, analisa brevemente a consciência do desejo e o desejo da consciência, que constituem um mesmo projeto. Enquanto sua forma negativa prefere a posse por parte dos trabalhadores de todos os momentos de suas atividades, sua forma positiva almeja uma sociedade em que a mercadoria contemple a si mesma em um mundo próprio.