UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA IPP - INSTITUTO DE PSICOLOGIA E PSICANÁLISE DEPARTAMENTO DEPARTAMENTO DE GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA EST 215 – INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS PROFESSORA AMANDA COSTA REIS
RESENHA CRÍTICA MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA
Resenha elaborada pelo aluno Silvio de Souza Aguiar Carvalho - Matrícula 081005368, como requisito para aprovação na Disciplina Introdução às Ciências Sociais.
Rio de Janeiro 2012.1
RESENHA CRÍTICA DO TEXTO DE KARL HEINRICH MARX E FRIEDRICH ENGELS: “MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA”. INTRODUÇÃO Para que possamos analisar de forma crítica o referido texto, faz-se necessário uma breve introdução para contextualiza-lo no cenário político no qual os autores se inseriam na época da sua publicação, bem como alguns dados biográficos de cada um.
Os Autores Karl Heinrich Marx (1818 – 1883), filho de um advogado bem sucedido, nasceu em Trier, na Renânia, então província da Prússia. Estudou direito, filosofia, arte e literatura na Universidade de Bonn, transferindo-se para Universidade de Berlin para estudar filosofia de Hegel, integrando o Grupo dos Jovens Hegelianos. Aos 24 anos começa a trabalhar como jornalista em Colônia. Por motivos políticos, mudou-se para Paris (1843) e posteriormente para Bruxelas (1845). Nesse período conheceu Friedrich Engels, que muito lhe ajudou durante toda a vida, inclusive financeiramente. Friedrich Engels (1820 – 1895), filho de um rico industrial do ramo têxtil, nasceu em Barmen, também na Renânia. Ainda como estudante vai trabalhar nos negócios de sua família em Manchester, na Inglaterra, onde toma contato com a difícil vida do trabalhador fabril. Completou os seus estudos em Filosofia na Universidade de Berlin como discípulo de Hegel. Aderindo às ideias de esquerda encontra Karl Marx, de quem se torna amigo, coautor em diversas obras e principal colaborador na luta pelos direitos dos trabalhadores. (http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias)
O Cenário Quando o Manifesto do Partido Comunista foi publicado, a Europa vivia um quadro político de intensa agitação, com revoluções eclodindo em diversos países. O período, conhecido como A Primavera dos Povos, é descrito por Melo e Costa (1999): O ano de 1848 é marcado pelo avanço das ideias liberais e nacionalistas, pela consolidação da burguesia no poder e pela entrada no cenário político do proletariado industrial, particularmente na França. Nesse ano irromperam levantes por toda a Europa. Na França, com a participação do proletariado urbano, o movimento adquiriu características mais sociais, 1
enquanto na Itália e na Europa central as manifestações visavam à unificação e ao estabelecimento de governos constitucionais. (MELO; COSTA, 1999, P. 226)
Para Melo e Costa (1999), devemos entender as revoluções de 1948 como um prolongamento da Revolução Francesa de 1789, com a burguesia consolidando o seu poder em diversos países da Europa, e a entrada do proletariado industrial como força política organizada. Finalizando, para emoldurar o quadro, é oportuno destacar os seguintes fatores sócio-políticoeconômico-ideológicos: (a) a burguesia, que havia se beneficiado pela acumulação primitiva de capital no período do mercantilismo, assume o poder econômico e busca fortalecer sua posição político-financeira junto ao Estado; (b) o mundo, e principalmente a Europa, vivenciava alterações no sistema de produção, de forma acelerada, fruto da Primeira Revolução Industrial, conhecida como a “era do carvão e do ferro” que iniciara em 1760 e que se prolongaria até 1860; (c) de 1842 a 1846 a Europa enfrenta períodos de péssimas colheitas, com redução do poder aquisitivo da população, produzindo um excedente na produção industrial e gerando falências e desemprego; (d) a instabilidade política, provocada pelas lutas por maior participação popular nas decisões de governo, a implantação de assembleias constituintes e pela unificação de regiões, como na Alemanha e na Itália, acirravam os desentendimentos entre as classes sociais; (e) no plano social, o proletariado industrial crescia na mesma proporção que a Revolução Industrial avançava, alimentado pelo êxodo rural, porém, com jornadas de trabalho de 14 a 16 horas, baixos salários e condições insalubres de trabalho. (f) nasciam os partidos socialistas que reivindicavam direito de greve, redução da jornada de trabalho e melhores condições de vida. (MELO; COSTA, 1999)
O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA O texto, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels e publicado pela primeira vez em Londres em fevereiro de 1848, apresenta-se como a necessidade dos comunistas darem ciência ao mundo “do modo de ver, seus fins e suas tendências”, como força política emergente.
Burguesia x Proletariado Na sua primeira parte, intitulada “Burgueses e Proletários”, os autores articulam aquele que será o núcleo da questão: a luta entre as classes sociais, Burguesia X Proletariado.
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Introduzem uma rápida análise explicativa do “como” e do “por que” das duas classes serem antagônicas, classificando a burguesia como opressora e o proletariado como a classe oprimida. Focalizam a evolução histórica da divisão de trabalho e das relações de produção e troca, enfocando o acelerado enriquecimento da burguesia, da Idade Média à Revolução Industrial, bem como o processo político e a dinâmica social no período, caracterizado pela conquista da “soberania política exclusiva no Estado representativo moderno” pela burguesia e seu papel como agente da “profanação” de tudo que era “sagrado, secular e venerado” até então. Para Marx e Engels, a burguesia é caracterizada como o grande vilão, sob as seguintes acusações:
O Estado se caracteriza hoje como um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa;
Despedaçou sem piedade os laços “superiores naturais” que uniam o homem, substituindo-os por laços frios, comerciais e egoístas;
Transformou todas as categorias profissionais em seus servos;
Revolucionou os instrumentos e as relações de produção, com efeito nas relações sociais, “esfumando” tudo que era sólido e estável;
Globalizou sua influência imprimindo um caráter cosmopolita à produção, às matérias primas e ao mercado, substituindo o antigo isolamento comercial dos países pelo intercâmbio e interdependência universal, com reflexo na produção intelectual e na cultura;
Levou a “torrente da civilização” às nações mais bárbaras, burguerisando todos os povos e culturas, e subordinando o Oriente ao Ocidente;
Centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos, articulando-se pela a centralização política e pala unificação de províncias em nações;
Estabeleceu a livre concorrência, despedaçando os entraves que o regime feudal impunha aos meios de produção e troca;
Criou a “epidemia da superprodução” que reconduz periodi camente a sociedade à um “estado de barbaria momentânea”, levando à “destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas” e “pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos”; 3
Produziu, como subproduto do capital, o operário moderno, os proletários, transformando o homem em mercadoria, constrangendo-os “a vender -se diariamente”;
Banalizou o trabalho, tornando o operário um simples apêndice da máquina, substituindo, em muitos casos, os homens pelas mulheres e crianças, possibilitando assim a redução dos salários;
Utilizou o pagamento do trabalho em dinheiro tornando o operário “presa de outros membros da burguesia, do proprietário, do varejista, do usuário, etc.”;
Modernizou os meios de produção, aniquilando a concorrência dos pequenos produtores, transformando as camadas inferiores da classe média (pequenos industriais, pequenos comerciantes, pessoas que possuem renda, artesãos e camponeses) em proletários;
Depois de caracterizar todos os males que a burguesia causa ao homem, Marx e Engels passam o foco para o proletariado, sua organização como força política e para as razões pelas quais a burguesia deve ser aniquilada pelo uso da força. Para os autores, o proletário “logo que nasce começa sua luta contra a burguesia”. Essa luta se articula a princípio em motins isolados, atacando os instrumentos de produção, destruindo as mercadorias estrangeiras, as máquinas, queimando as fábricas, no esforço de retornar à sua condição de artesão da Idade Média. O ódio comum une cada vez mais os trabalhadores que, utilizando-se do progresso e da cultura criados pela própria burguesia, se transformam na arma “que lhe darão a morte”. Enaltecem o proletariado como “classe verdadeiramente revolucionária” e como único “produto autêntico” do desenvolvimento burguês, caracterizando os expurgos da classe média como conservadores, preocupados exclusivamente com seus interesses futuros. Os pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos e camponeses, são para Marx e Engels, o “lumpen-proletariado , cuja condição de vida “o predispõem mais a vender -se a reação”. ”
Prosseguem traçando um paralelo entre a vida do proletariado e à ideologia comunista, recomendando que o proletariado, por não ter nada mais a perder, deva cada qual em seu país, antes de tudo, “liquidar a sua própria burguesia” . Convocam os operários à “revolução aberta” onde o proletariado estabelecerá a “sua dominação pela derrubada violenta da burguesia” e tudo aquilo que lhe atribui a condição de classe dominante.
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O porquê dos Comunistas liderarem os Proletários Nessa parte do texto, os autores passam a justificar o porquê dos Comunistas serem a classe mais preparada para administrarem o processo de transição proposto pelo manifesto, uma vez que “são a fração mais resoluta dos partidos operários” e seu alvo imediato “é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado”. Em seguida, passam à análise do antagonismo entre capital e t rabalho, como justificativa para “abolição da propriedade privada”, ideia central da teoria comunista, recomendando “efetivamente abolir a individualidade burguesa, a independência burguesa, a liberdade burguesa” através do aniquilamento do “indivíduo burguês”. Dialogam com a burguesia, rebatendo as críticas feitas à ideologia comunista quanto: ao modo de produção e apropriação do trabalho intelectual, à abolição da família e os vínculos parentais, a imposição da educação social, a criação da comunidade das mulheres, a extinção da ideia de pátria e nacionalidade, a abolição da religião, o controle social e cultural. Justifica que todas essas prerrogativas e ideias se aplicam apenas à classe burguesa e que o proletariado já não disfruta delas, assim, “nada de estranho, portanto, que no curso do seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as ideias tradicionais”. Marx e Engels passam então a descrever a estratégia para tomada do poder, iniciando pela supremacia política, “arrancando pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante, e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas”. Enumeram as dez ações econômicas que devem ser postas em prática “nos países mais adiantados”, objetivando a “violação despótica do direito de p ropriedade e das relações de produção burguesas”, explicando que apesar de parecerem “insuficientes e insustentáveis”, serão “indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção”. Na concepção dos autores, as medidas visam à centralização dos meios de produção, o controle social, econômico, político, como monopólio do Estado comunista, denominado de “indivíduos associados”. Com a extinção da burguesia e o proletariado assumindo o poder como única classe social existente, surgem as condições para extinção de todos os 5
antagonismos, substituindo as classes sociais por “uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos”.
O porquê de o Comunismo ser o único socialismo autêntico Os autores passam à analise histórica das diversas correntes da ideologia socialista, ridicularizando-as e atacando-as uma a uma, no propósito de eliminar toda a concorrência político-ideológica, reforçando a posição comunista como único movimento revolucionário autêntico, tendo como principal crítica o caráter pacifista, generalista e utópico das demais ideologias. Diferente do pensamento comunista de Saint-Simon e Owen que buscavam benefícios para todas as classes pelas vias políticas, Marx e Engels defendem uma posição radical revolucionária, onde os benefícios devem ser direcionados apenas ao proletariado, uma vez que todas as demais classes serão extintas.
Alianças partidárias O texto encerra enumerando as alianças que os comunistas mantinham na ocasião do manifesto, com destaque para o movimento político na Alemanha, que na visão dos autores se encontrava “nas vésperas de uma revolução burguesa” a qual eles acreditavam ser “o prelúdio imediato de uma revolução operária”. Deixa clara a posição comunista de apoio total e em toda parte, a “qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisas social e político existente”, desde que esse movimento tenha como foco principal a questão da propriedade e a derrubada violenta de toda ordem social existente.
CONCLUSÃO Antes de iniciar o trabalho em questão, procurei me desfazer de toda e qualquer posição prédefinida sobre as ideias marxistas, base do texto em análise. Reli a história contemporânea, da Idade Média ao ano de 1848, procurando me abastecer das informações que me levassem a entender e justificar a posição dos autores perante o cenário em que viviam. Muitos fatos recordados me ajudaram a clarificar grande parte das motivações que levaram os partidos operários europeus a buscar, pelas vias políticas, as importantes e necessárias mudanças nas relações de trabalho então vigentes. 6
Porém, as mesmas informações, reforçaram a minha convicção de que o marxismo foi um mal desnecessário. O caráter revolucionário e o tom belicista e odioso que o manifesto proclama,
resultaram apenas em regimes totalitários, campos de concentração e extermínio de todos que a eles se opunham, em todos os países que adotaram o comunismo. Não vou aqui entrar no mérito do legado hediondo que o comunismo marxista deixou, pois são fatos posteriores ao manifesto. Porém, o que fica da sua releitura é a imagem de um texto preparado habilmente, repleto de estratagemas, que visa manipular a massa operária que se organizava em busca dos seus direitos, tendo como principal objetivo a tomada do poder por uma minoria intitulada “comunista”, que, na busca desse poder, proclamava a extinção de todas as classes com o pretexto de extinguir assim todo o antagonismo social. Para Marx e Engels, os fins justificavam os meios, mesmo que esses levassem ao extermínio de todos que não se alinhassem ao idealismo comunista, que de forma simplista creditava todo o mal da humanidade à existência da burguesia e do seu “maldito capital”. Assim, não tinham dúvida da vitória do comunismo sobre o capitalismo, pois esse produzia no seu interior as armas e os algozes da sua própria destruição. Em minha opinião, a única coisa que se possa ser destacado como positivo no texto é a previsão de como o mundo iria se desenvolver de forma globalizada; previsão essa que inclui a transposição do antagonismo entre burgueses e proletários, para o antagonismo entre o Ocidente e o Oriente, já que o segundo só viria a se concretizar quase um século mais tarde, ao término da Segunda Grande Guerra Mundial.
Bibliografia COSTA, Luis; MELLO, Leonel. História moderna e contemporânea. 5. ed. São Paulo: Scipione, 1999. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. Disponível em: http://www.pstu.org.br/biblioteca/marx_engels_manifesto.pdf. Acesso em: 06 jan 2012. 7