FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ
JUCELMA SACRAMENTO ALVES MALENA CAMPOS LIMA SILVA ROSANGELA MARIA DA SILVA CALMON
RELATÓRIO DO ESTÁGIO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO E INSTITUCIONAL
CURITIBA – PARANÁ – BRASIL Outubro/2006
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JUCELMA SACRAMENTO ALVES MALENA CAMPOS LIMA SILVA ROSANGELA MARIA DA SILVA CALMON
RELATÓRIO DO ESTÁGIO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO E INSTITUCIONAL
Relatório de Estágio Supervisionado Psicopedagógico como exercício da prática apresentado à Faculdade de Artes do Paraná e ao Segmento Instituto de Educação como requisito para obtenção do titulo de Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Orientadora: Profª Ms. Genigleide Santos da Hora
CURITIBA – PARANÁ – BRASIL Outubro/2006 11
JUCELMA SACRAMENTO ALVES MALENA CAMPOS LIMA SILVA ROSANGELA MARIA DA SILVA CALMON
RELATÓRIO DO ESTÁGIO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO E INSTITUCIONAL
Relatório de Estágio Supervisionado Psicopedagógico como exercício da prática apresentado à Faculdade de Artes do Paraná e ao Segmento Instituto de Educação como requisito para obtenção do titulo de Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Orientadora: Profª Ms. Genigleide Santos da Hora
CURITIBA – PARANÁ – BRASIL Outubro/2006 11
... já podaram seus momentos, desviaram seu destino, seu sorriso de menino tantas vezes se escondem, mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia, e há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê flor e fruto... f ruto... Milton Nascimento
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Aos educadores da Escola Círculo Operário Católico.
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À N. B., uma brasileirinha.
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RELATÓRIO DO ESTÁGIO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO E INSTITUCIONAL RESUMO As reflexões que compõem o presente trabalho do Relatório de Estágio Supervisionado Psicopedagógico Institucional e Clínico, estão fundamentadas na metodologia científica e em atividades diretas sob orientação do Professor de Estágio. A partir da delimitação do contexto a ser investigado, definimos a temática a ser aprofundada para melhor identificação da dificuldade de aprendizagem a ser analisada. Inicialmente a nossa investigação se deu no âmbito institucional partindo do estudo de caso com o grupo de Professores, através da realização de Seminário Vivencial para traçamos um provável diagnóstico. Analisamos também uma classe de 2.ª Série do Ensino Fundamental da Escola C.O.C. do Município de Santo Amaro da Purificação/BA, com alunos da faixa etária entre 10 e 11 anos. Assim, a partir da observação institucional e grupal, de suas respectivas análises, dos estudos comparativos e dos dados obtidos, optamos por uma criança (com histórico de multirepetência), que evidenciou algumas dificuldades de aprendizagem. Daí obtivemos as informações necessárias e elaboramos a Matriz do Pensamento Diagnóstico Clínico definimos os instrumentos de investigação Psicopedagógica Clínica a saber: EOCA, aplicação de provas piagetianas, projetivas, atividades lúdicas fundamentados em: Dotti (1991); Fernández(2001): Scoz(1996); Vygotsky(1998); Weiss(2004) dentre outros. A reflexão quanto às questões do contexto e do fracasso escolar concluíram que; muitas vezes são desconsideradas as influências do sistema educacional, da escola, do professor e, até mesmo, do ambiente familiar que de um modo ou de outro influenciam no universo individual do aluno; e, sobretudo na sua aprendizagem. Palavras-Chave: Fracasso Escolar; Família; Psicopedagogia Clínica; Psicopedagogia Institucional.
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LISTA DE FIGURAS Página Figura 1 Foto da Igreja do Senhor Santo Amaro, 2006 .............................
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Figura 2 Foto da Prefeitura Municipal de Santo Amaro, 2006 ...................
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Figura 3 Foto da Igreja de Nossa Senhora da Purificação ........................
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Figura 4 Foto da Escola Círculo Operário Católico – Fachada do prédio... Figura 5 Escola Círculo Operário Católico – Corredor interno....................
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇAO ...................................................................................................10 2 REFERNCIAL TEÓRICO 2.1 Contexto geral da educação ......................................................................15 2.2 Um breve histórico dos problemas de aprendizagem ...............................18 2.3 Contexto geral da educação ......................................................................19 2.4 Diferença entre fracasso escolar e problema de aprendizagem................23 3 METODOLOGIA ................................................................................................26 4 CONTEXTO INSTITUCIONAL 4.1 Caracterização da cidade .........................................................................27 4.2. Breve Histórico Escolar.............................................................................29 4.3 Espaço escolar ..........................................................................................30 4.4 Queixa Escolar ..................................................................................................... 31 5. CONTEXTO CLÍNICO 5.1 Dados de Identificação da criança.............................................................33 5.2 Entrevista com a mãe /responsável pela criança.......................................33 5.3 História Familiar .........................................................................................34 5.4 História Clínica...........................................................................................34 5.5 Hipóteses do caso .....................................................................................34 5.6 Diagnóstico psicopedagógico ....................................................................34 5.7 Indicações de Acompanhamento...............................................................35 5.8 Instrumentos de diagnóstico psicopedagógico ..........................................36 5.8.1 A E.O.C.A ..............................................................................................37 5.8.2 Provas do Diagnóstico operatório .........................................................37 5.8.3 Prova de Conservação de volume .........................................................38 5.8.4 Prova Seriação de Palito........................................................................39 5.8.5 Provas projetivas....................................................................................39 5.8.6 Planta da minha casa..............................................................................40 5.8.7 Desenho livre .........................................................................................40 5.8.8 Anamnese..............................................................................................41 17
6 CONSIDERAÇOES FINAIS...............................................................................42 7. REFERÊNCIAS.................................................................................................44 8. APÊNDICES Apêndice 01– Inventário Escolar ......................................................................
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Apêndice 02– Recursos humanos.................................................................... 46 Apêndice 03– Alunos matriculados em 2006 ................................................... 47 Apêndice 04– Aproveitamento dos alunos – 2005 ....................................... .... 48 Apêndice 05 –E.O.C.A 1ª Sessão .................................................................... 50 Apêndice 06 – E.O.C.A 2ª Sessão .................................................................... 51 Apêndice 07 – Prova Diagnóstica Operatória (Conservação de Volume).......... 52 Apêndice 08 – Prova Diagnóstica Operatória (Conservação de Peso).............. 53 Apêndice 09 – Prova Diagnóstica Operatória (Conserv. de Comprimento)....... 54 Apêndice 10 – Prova de Seriação de Palitos ............................................... ..... 54 Apêndice 11 – Avaliação Anamnese............................................................ ...... 55 Apêndice 12 – Informe Diagnóstico Pedagógico.......................................... ...... 56 Apêndice 13 – Matriz do Pensamento Diagnóstico Clínico .......................... ...... 60 Apêndice 14 – Desenho Livre 01......................................................................... 61 Apêndice 15 – Desenho Livre 02......................................................................... 62 Apêndice 16 – Eu e meus companheiros............................................................. 63 Apêndice 17 –Planta da minha casa .................................................................... 64 Apêndice 18 –Minha família ........................................................................ 65 Apêndice 19 – Psicogênese da língua escrita..................................................... 66 9. ANEXOS ANEXO A Roteiro Entrevista Clínica ................................................................... 67 ANEXO B Entrevista com o aluno ....................................................................... 69 ANEXO C Entrevista com a professora ............................................................... 70 ANEXO D Questionário – professor .................................................................... 71 ANEXO E Declaração ................................................................................... 72 ANEXO F Termo de aprovação............................................................................. 75 18
1 INTRODUÇAO
O presente Relatório de Estágio Supervisionado Psicopedagógico Clínico e Institucional vem atender a necessidade de por em prática a formação psicopedagógica. E, para que assim, o fizéssemos nos propomos realizá-lo na Escola C.O.C., localizado na zona urbana do município de Santo Amaro da Purificação/BA, que atende alunos de faixa etária entre 7-12 anos da 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental, com um total de 300 alunos. A partir daí traçamos o perfil diagnóstico da instituição e do sujeito (este último o nosso caso Clínico) que apresenta dificuldades de aprendizagem; com a finalidade de experienciar o fazer psicopedagógico in locus e para a obtenção do grau de Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, o que se constitui uma exigência para o Trabalho de Conclusão do Curso(TCC), da Segmento Instituto de Educação e Serviços Ltda. Nesse sentido, esse trabalho foi construído pelas docentes:
JUCELMA SACRAMENTO – Licenciada em Letras Vernáculas, professora do ensino fundamental; MALENA CAMPOS LIMA SILVA – Licenciada em Letras Vernáculas, professora do ensino fundamental; ROSANGELA MARIA DA SILVA CALMON – Bacharela em Direito; Licenciada plena em Pedagogia – Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental.
Tendo como base a fundamentação teórica das abordagens científicas e do objeto de estudo da psicopedagogia, tido como a dificuldade de aprendizagem e as suas respectivas causas, este relatório vem investigar e analisar as causas das freqüentes repetências da aluna N.B.P.M. da 2ª série da Escola C.O.C., na cidade de Santo Amaro da Purificação/BA; com o intuito de se realizar o Diagnóstico Psicopedagógico Clínico, para se traçar o provável encaminhamento e, para um provável tratamento adequado e eficaz.
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Em busca da compreensão das características da aprendizagem do ser humano, nos propomos investigar as questões que impedem o sujeito aprender, apresentando dificuldades de aprendizagem, as quais muito nos interessam como professores e psicopedagogos. A nosso ver, o desempenho escolar é só a ponta do iceberg. Na realidade, ele sinaliza que algo não vai lá muito bem. Mas nem sempre diz prontamente onde está a raiz do problema. Pode ser na própria criança ou jovem, nos pais, nos educadores, ou na falta de percepção de ambos, para atentar às necessidades reais do sujeito investigado naquele momento ou até mesmo no desenrolar de um problema de aprendizagem. A priori, a prática tradicional docente e gestora, ainda, perpetuam acentuados impedimentos da aprendizagem, ou seja, dificuldades de ensinagem que, pode estar no espaço físico da escola, na forma como eles se organizam na prática pedagógica inadequada; em classes numerosas, com 40 ou mais alunos por sala; rotatividade de professores; impossibilidade de oferecer um atendimento personalizado para cada aluno etc.; fatores que muito distanciam a realidade cotidiana dos objetivos gerais da educação pública. Assim nos propomos conhecer as variáveis que incidem na problemática deste nosso estudo de caso: Diagnosticar as causas desse déficit de aprendizagem do sujeito como estudo de caso; Conhecer fatores que podem determinam a repetência da aluna do 2 .a ano do ensino fundamental na Escola C.O.C., na cidade de Santo Amaro da Purificação/BA; Verificar a relação existente entre formação/atualização docente e a desestruturação familiar e a multirepetência escolar. Cientes de que a maioria do insucesso escolar das crianças brasileira, mais especificamente a baiana, nem sempre é de ordem cognitiva. Ás vezes corresponde apenas ao espelho do insucesso social e pedagógico que não permite responder adequadamente às exigências ou demanda da escola, passamos a analisar por diferentes perspectivas este fenômeno. Nesse trabalho utilizamos à metodologia científica, de abordagem qualitativa. Inicialmente realizamos uma revisão bibliográfica, a qual teve por finalidade o levantamento de teóricos como: Fernandez(2001); Weiss(2004); Bossa(2000): 20
Dotti (1991) e outros que trabalham fracasso escolar visando fornecer subsídios para o desenvolvimento do objeto a ser pesquisado efetuar registro observação e correlação dos fatos sem manipulação ou interferência dos dados. Em seguida o trabalho caracterizou-se por pesquisa de campo, in locus, através de observações, entrevistas e questionários que requereu uma interação entre pesquisador e pesquisados, cujos sujeitos foram professores, alunos e gestores. Nesse sentido, a pesquisa de campo permitiu conhecer, a freqüência com que o fenômeno pesquisado ocorreu, sua relação e sua conexão com outros aspectos, sua natureza e suas características principais. Daí, buscamos também, conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano tanto do indivíduo (o tomado isoladamente) como de grupos e da comunidade (como um todo) de forma mais complexa. No âmbito da execução de nossa pesquisa, os instrumentos utilizados para coleta e análise dos dados foram: Roteiro de Observação, questionários, entrevistas e registro visual. A partir dos referidos instrumento, elaboramos a Matriz do Pensamento Diagnóstico tanto Institucional quanto Clínico (APÊNDICE 13) e definimos os instrumentos de investigação Psicopedagógica Clínica, a saber: Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem (EOCA), aplicação de provas piagetianas, projetivas, atividades lúdicas que compõe o nosso fazer psicopedagógico. Até chegarmos, ao objetivo de final deste, trabalho que favorece a reflexão quanto às questões do contexto do fracasso escolar, constatamos as influências do sistema educacional, da escola, do professor e até mesmo do ambiente familiar que de um modo ou de outro influenciam no universo individual do aluno, e, sobretudo, na sua aprendizagem. Todo o sistema influi nesse processo. Através de aplicação e análise dos instrumentos de pesquisa e dos instrumentos de investigação Psicopedagógica Institucional e Clínica emergiu o nosso questionamento: como os contextos escolar e familiar e a atuação docente podem interferir positivamente e negativamente no fracasso escolar? Para responder este questionamento foi observado a vivência e o cotidiano dos envolvidos no processo educativo da instituição pesquisada. 21
Definimos uma amostra de 08 professores e um grupo de 32 alunos. Deste último grupo, selecionamos uma criança que apresentava um histórico de multirepetências (que não conseguiu aprender nem a escrever nem a ler, apresenta dificuldades em matemática), consequentemente , a priori com dificuldades de aprendizagem. Assim, através do dialogo que estabelecemos com os sujeitos, alicerçados com a teoria, confirmamos as hipóteses, as quais foram configuradas e demarcadas em campo e se complementaram através da observação participante e das atividades realizadas em classe, conforme tabela de aproveitamento e avaliação escolar (Apêndice 4). Apesar de muitos estudos e reflexões sobre essa temática, muito pouco das diversas teorias e abordagens de autores que possam subsidiar o contexto educativo. Portanto, muito há a fazer em se precisar os processos de Diagnósticos Psicopedagógico Institucional e Clínico os quais procurem sanar as denominadas dificuldades de aprendizagem, as quais levam muitos à repetência escolar. A analise contextual da repetência nas escolas, dá suporte para reflexões e o encaminhamento das possíveis saídas para as dificuldades de aprendizagem que levam ao fracasso escolar. Com isso, pretendemos subsidiar a escola na elaboração de ações pedagógicas pertinentes à condução das limitações ou mesmo dos problemas detectados não de forma linear, mas de preferência de forma sistêmica. Cientes de que a educação avança, cresce quando se acredita que é através da interação de forma ativa com o meio ambiente que o cerca, que o aluno torna-se inovador e criador de novas possibilidades; E, não apenas memorizando para “aprender”, mas construindo um aprendizado mediado que lhe servirá de base para toda a vida. Cremos que só assim, a criança terá prazer em buscar e em encontrar significados em aprender. A nosso ver, a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende a aprender; como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada ou não por vários fatores; como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Dessa forma, cremos que o profissional de psicopedagogia poderia interferir 22
positivamente nos espaços institucionais e em especial nas escolas públicas, onde reside uma maior incidência da necessidade desse tipo de intervenção. Concentremo-nos então, no estudo dos fatores e condições em que se desenvolvem aprendizagens significativas, normal e atípica, procurando sempre estabelecer uma análise multi, inter e transdisciplinar, cada vez mais aberta e sistêmica fazendo com que se realizem cada vez mais as potencialidades humanas. Experimentemos esse desafio no sistema educacional público. Daí porque o nosso Relatório de Estágio Supervisionado Psicopedagógico Institucional e Clínico foi subdividido em etapas: Introdução – apresentar as partes princiais desse trabalho; Sendo que no Referencial Teórico – realizamos aprofundamento dos autores que fundamentam os espaços educativos, da psicopedagogia e do atendimento clínico e institucional de indivíduos que desejam investigar a prática educativa principalmente na questão do fracasso escolar os quais influem tanto na organização pedagógica quanto no processo ensino aprendizagem dos sujeitos; Por fim, as Considerações Finais – sumariza os aspectos gerais da construçào dessa experiência. Neste sentido, com essa prática psicopedagógica do Estágio Supervisionado, procuramos atender conjuntamente os processos de aprendizagens, formais ou não formais, procurando considerar o entorno social, e tentando descobrir como desenvolver as capacidades/habilidades do sujeito investigado no sentido de (re) orientá-los para o atendimento das próprias necessidades e as da sociedade vigente. Eis o nosso maior desafio!
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1
Complexidade da Educação
Educação vem do latim ( educatio – ação de criar). Alimentação; instrução; educação – ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais. Ciente disso, consideramos a educação como um fenômeno próprio dos seres humanos. Assim sendo, a compreensão da natureza da educação passa pela compreensão da natureza humana. Daí, o homem, necessita produzir continuamente sua própria existência para tentar adaptar-se a natureza e a si mesmo, na tentativa de transformá-la. E isto é feito através do trabalho. Assim, o processo de produção da existência humana implica, primeiro, na garantia da sua subsistência material o “trabalho material”. E o “trabalho não-material” que inclui o aspecto de conhecimento das propriedades do mundo real, a ciência, de valorização a ética e de simbolização a arte. É nessa segunda modalidade que se situa a Educação, que não se reduz ao ensino já que o trabalho educativo: É o ato de produzir, direta e indiretamente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens (SAVIANNI, 1992, p.122).
Assim sendo, a espécie e a extensão da educação distribuída por uma sociedade a seus membros são funções de seu estado de desenvolvimento material e cultural. Este é o que determinam as possibilidades da educação tanto em qualidade quanto (conteúdos e métodos) quanto em quantidade (a quem e a quantos serão distribuídas). Do ponto de vista do indivíduo, as probabilidades de receber educação diferenciada e de recebê-la em determinado grau dependem de sua posição no contexto social, da natureza de seu trabalho e do valor atribuído a este pelos interesses de consciência social dominante. Por outro lado as relações político-pedagógicas e econômicas, o tipo de cultura, o tipo de estrutura social, as ideologias dominantes e as relações explícitas ou 24
implícitas desses aspectos determinaram para o indivíduo o tipo de Educação Escolar. Nesse sentido, o diagnóstico psicopedagógico do fracasso escolar de um aluno não pode desconsiderar as relações significativas existentes entre a produção escolar e as oportunidades reais que determinada sociedade possibilita aos representantes das diversas classes sociais. Principalmente para os alunos de escolas públicas brasileiras provenientes das camadas de mais baixa renda da população são com freqüência incluídos nas chamadas “classes especiais” depois das seguidas repetências. Na realidade: Lhes faltam oportunidades de crescimento cultural, de rápida construção cognitiva e desenvolvimento de linguagem, que lhes permita maior imersão num meio letrado, o que, por sua vez, facilitará o desenvolvimento da leitura e da escrita (WEISS, 2004, p.15).
Dessa forma, a atual Política Educacional Brasileira, como a LDB 9394/96 garante à todas as crianças de 7 a 14 anos (com transição para 6 anos) o direito à educação, sendo esta obrigatória e gratuita. Em contra partida, estudos e estatísticas apontam que nem todas as crianças estão aprendendo como deveriam, ou seja, não estão recebendo uma educação necessária às demandas futuras, sejam elas sociais ou de adaptação psicossocial positiva. Nesse sentido, numa avaliação basicamente numérica, pode-se dizer que a imensa maioria das crianças em idade escolar está matriculada no ensino fundamental, mas esse dado não garante que esteja sendo atendidos de forma adequada conforme a referida lei determina. Registros da população atendida na área educacional demonstraram que: em 1991, 89% dos jovens entre 7 e 14 anos estavam matriculados no ensino fundamental; em 1999 eram 95,4% e em 200 um percentual superior a 96% (dados do IBGE); isto representa aproximadamente 5 milhões de alunos a mais na escola, ao longo deste período. Mesmo assim, especialistas no assunto apontam que esses índices estão longe de refletir um sucesso absoluto das recentes políticas públicas para o setor. 25
Outros fatores preocupantes são a evasão e repetência. Nosso país tem uma grande expectativa de repetência das crianças ao entrar no ensino fundamental. Em 1995, uma em cada quatro crianças da 2.ª série do ensino fundamental apresentavam defasagem de idade, e em relação à evasão escolar, as pesquisas mostram que a expectativa de conclusão do ensino fundamental é de 72% (IBGE). O índice de abandono da escola é de 17% ao ano na média do país. Muito há para fazer, e a psicopedagogia com o seu olhar diferenciado e abrangente deve atuar no espaço epistemológico que lhe cabe, clínica, institucional e preventivamente. Algumas teorias já são fatos que penetram na prática educacional e refletem os sintomas do crescimento obtido no processo ensino-aprendizagem. São esses aspectos positivos que devem reluzir na mente de todo profissional em educação que visa contribuir com seriedade para a formação de cidadãos, visto que não se pode pensar nestes seres como seres apáticos, distantes do mundo que o cerca. Assim, investigar a criança que está em contato com o meio, é observar através dessa interação(sujeito e objeto; sujeito e o mundo), tendo-se o cuidado de verificar como ela aprende, constrói e reconstrói novos conhecimentos. É o nosso fazer educativo e principalmente psicopedagógico. E, através dessas buscas, de novas teorias que sustentam esse nosso fazer pedagógico que investimos nesse nosso trabalho de elaboração do Estágio Supervisionado Psicopedagógico Institucional e Clínico. Portanto, se, desde a tenra idade, a educação está presente na vida do ser humano, é imprescindível que seja percebida como algo que faz parte do indivíduo, sendo assim difícil separar momentos especiais para a aprendizagem acontecer, pois ela faz parte do próprio crescimento humano. Dessa maneira, separar a escola dos acontecimentos vivenciados pelos alunos é mais do que uma ilusão, torna-se certamente uma agressão e descontextualização desse sujeito com a sua essência. Por essas características, da educação, percebemos que, para a criança, estar inserida nesse processo é preciso mais do que a tarefa cotidiana de ir freqüentar uma instituição escolar, mas, também, compreender as entrelinhas destas relações complexas.
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É fazer parte de uma massa crítica pensante e, ao longo de todo o processo seletivo dos mais capazes, que as elites sempre nos fizeram acreditar ser algo natural, entender que este fenômeno poderá intervir em toda a sua vida. Para tanto, fazer parte com sucesso de processo educacional é tudo que almejamos como docentes preocupados com as futuras gerações; não só em favor dos alunos, mas principalmente dos pais e da própria sociedade.
2.2 Um breve histórico dos problemas de aprendizagem
Durante o século XVIII e XIX Scoz (1996) havia uma grande preocupação com a relação binária normal-anormal. Nessa época, as crianças que não acompanhavam o “ritmo” estabelecido pelo grupo eram rotulados e estigmatizados de incapazes. Acompanhando esta tendência, os psicólogos passaram a ter um papel no grupo educacional, através do uso de instrumentos avaliativos, que pudessem intervir nos problemas de aprendizagem da criança e, geralmente, ficavam associados ao ambiente familiar (alcoolismo do pai, divórcio, etc.). Em seguida, na década de 60, esse problema do fracasso escolar tomou espaço dentro do discurso pedagógico, através da Neurologia, atribuído-se à Síndrome da Disfunção Cerebral Mínima (DCM) a responsabilidade das dificuldades apresentadas pelo aluno Cypel(1986 apud SCOZ, 1996, p.24) afirma que 40% das crianças atendidas em consultório neste período eram assim diagnosticadas. No sentido de rever a forma com a qual a educação estava se delineando em relação aos problemas de aprendizagem, nos anos 60 surge a Escola Nova, que suscita questionamentos relacionados à doença e ao fracasso escolar. Passou-se a olhar para as diferenças individuais dos alunos baseado no desejo da sociedade igualitária, preocupada com os rótulos que eram impressos sem contextualizar o sujeito. Entretanto, esta tendência torna-se inviável, pois numa sociedade dividida em classes reforçam-se as diferenças no sentido de pobre-/rico, capaz/incapaz. (DOTTI, 1994). Já nos anos 80, a psicopedagogia formada por equipe multidisciplinar apresenta um novo corpo de conhecimento e postura em relação aos problemas de aprendizagem e ao fracasso escolar. Há uma revisão de situação, onde a pobreza 27
deixa de ser considerada a causa do fracasso, advindo dos déficits de aprendizagem ou da privação cultural.. Daí os psicopedagogos, à luz de alguns teóricos, passam a compreender a causa do fracasso de aprendizagem e dos processos pelos quais as crianças passam; assim procurarem fundamentar seus estudos em autores como: Piaget(1978), que se ocupa do sujeito intelectual; Vygotsky(1984), que se ocupa do sujeito social; Wallon, que concentra no sujeito desejante e Freire (1990), com idéias centradas na antropologia da aprendizagem, vinculando o aprender à vida. Este repensar do fracasso escolar, hoje, faz com que redimensionemos o estigma e o preconceito em relação ao aluno, conforme afirma Dotti (1992, p.25). Assim sendo, sabemos que a questão do fracasso escolar está mais ligados aos preconceitos que temos a respeito da criança e da pobreza. Na realidade, não procuramos ver as crianças e as classes populares sob a ótica de uma matriz dialética, vemos o que a criança tem de feio e bonito; desconsideramos a sua diversidade contextual. Na visão Psicopedagógica, faz-se necessário compreender a inter-relação de vários fatores, sejam eles: hereditários, sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e/ou orgânico. Isto se quisermos compreender globalmente o desenvolvimento da criança e não fazermos avaliações superficiais que estigmatizem o aluno, reforçando uma baixa auto-estima cheio de preconceitos do professor e do meio com relação a ele. Mais do que adotar esta ou aquela teoria de aprendizagem, o educar hoje, precisa construir uma postura de respeito diante dos diferentes saberes, dos saberes dos outros, repensar mais sobre o papel e a função da escola nessa sociedade ainda discriminatória e excludente.
2.3 O Fracasso Escolar
Cientes de que no início da década de 80 começam a se configurarem teorias sócio-políticas a respeito do fracasso escolar e dos problemas de aprendizagens
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escolares, aos quais passam a serem conhecidos como problemas de ensinagem (processo ensino e aprendizagem). Concluímos que muitos são os fatores que determinam à dificuldade de aprendizagem e variados são os métodos de intervenção hoje utilizados, embora não muito eficazes. Mas continuamos tentando. Assim, a produção do fracasso escolar em série passa a ser problema não meramente educacional, mas também social, cultural, político e econômico. Vale ressaltar que esta situação de fracasso escolar é uma experiência dolorosa para os alunos e, onerosa para o país e, no entender de um número crescente, da prática, de educadores é também ineficaz. Por compreendermos que essa realidade faz parte de um número significativo de escolas e de vivencia de educadores com práticas pouco eficazes para a aprendizagem, é que resolvemos aprofundar essa temática. Por temos a crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por fatores meramente orgânicos perdurou por muitos anos e determinou a forma de tratamento dada à questão do fracasso escolar até bem recentemente. Tal concepção organicista e linear apresentava uma conotação nitidamente preconceituosa. Hoje, abrem-se o campo de observação para incluir fatores que até agora permaneciam obscuros. O fenômeno é encarado como uma demonstração prática, ou ao menos um índice, de que também pode haver problemas na escola, no sistema educacional e, por extensão, no país. Conforme Dotti (1991, p.24) o objetivo central de estudo da Psicopedagogia: está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos como a influencia do meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento.
Para a autora, os diferentes aspectos que compõe a investigação da dificuldade de aprendizagem que apresenta o indivíduo deixa de ter um caráter parcial para se tornar mais complexa, levando em consideração também o seu contexto, que de acordo com Scoz (1996, p.12):
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A psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais, ela procura estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos.
Portanto, é objeto de estudo da psicopedagogia a aprendizagem humana, que adveio de uma demanda – o problema de aprendizagem, colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que embrionários, para atender a essa demanda, constituído, assim numa prática inovadora. Assim, o ato de aprender envolve processos complexos de determinado número de condições e oportunidades. Tais processos, uns de natureza psicológica outros de natureza neurológica, os quais compreendem o perfil individual do educando, assim como do educador; procurando identificar questões que remetem ao estudo da neuropsicologia e da neurolingüística dentre outros conteúdos relacionados, as condições e oportunidades, que compreendem o perfil relacional dos sujeitos da aprendizagem para as teorias da comunicação e do comportamento humano. A nosso ver, a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Dessa forma, cremos que o profissional de psicopedagogia poderia interferir positivamente nos espaços institucionais e em espacial nas escolas públicas, onde reside uma maior incidência desse tipo de intervenção. A psicopedagoga Fernández (2001, p.179) aborda vários outros aspectos subjetivos do saber em jogo da psicopedagogia. Nele a autora posiciona autorias de pensamentos e o caráter subjetivo da aprendizagem. As quais muitas vezes, é esquecido por certos professores e pais, desta forma, a autora pretende despertar o desejo de aprender de seus alunos e filhos. Além de que alerta que no cotidiano, para despertar o aluno para o ato de estudar é necessário que se realize um bom trabalho, assim como para ganhar dinheiro ou para ser reconhecido socialmente. Neste, ela desmente o que, lamentavelmente a 30
sociedade atual oferece e, o que é mais grave, desvirtua-se o ato e o objeto de aprender, deixando muitas crianças e adolescentes fora de seu próprio desejo de aprender. Foi a partir de seus estudos, que Vygotsky(1998) elaborou e fundamentou os conceitos de zona de desenvolvimento real e zona de desenvolvimento proximal . Para ele a zona de desenvolvimento real tem como característica a estrutura cognitiva já amadurecida, pronta e bem estabelecida e a zona de desenvolvimento proximal se definem como o estabelecimento de capacidades potenciais. Ou seja, quando há condições possíveis da estrutura cognitiva se tornar amadurecidas, principalmente a partir da interação social, da influência de determinados instrumentos psicológicos perante o indivíduo. A visão sociointeracionista propõe um processo simples, dinâmico, interessante e inerente a todo ser humano; pode ser aplicado independente de faixa etária, situação socioeconômica, limitações de aprendizagem ou não, possibilitando ao docente acreditar em seu potencial. Na realidade, o sentido do sociointeracionismo não se apresenta apenas como responsável pela constituição de fatores biológico, nem somente em fatores ambientais, mas dos dois aspectos; bem como acredita na troca de experiências entre sujeitos, confirmando assim nas possibilidades de crer cada vez mais nas diferenças e na diversidade humana, como também em muitos outros aspectos em comum conforme afirma Vygotsky(idem). Assim sugerimos essa abordagem teórica com processo de resignificação das ações docentes da atualidade, pois exige ao mesmo conhecer-se seja através de reflexões para resoluções de problemas de ordem cultural ou metodológica. Tratase de um mecanismo didático que, também, atenta-se para as questões afetivas e, de grande relevância para um bom desempenho na pratica Psicopedagógica. Daí se deve buscar a explicação para o sucesso escolar por esta não ser uma condição definitiva. E o sistema educacional atual, não deve se limitar aos padrões estereotipados, pois, é ele que reforça expectativas e que justifica projetos e esperanças familiares. Com uma forma Pode-se garantir até, que o sucesso escolar é um meio de higiene mental a todos os níveis sociais.
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Por isso, uma criança com insucesso escolar transporta um peso frustracional que se reflete na família, no professor e no grupo dos seus companheiros. Esse aspecto, além de ser impregnado de tendências anti-sociais que se verificam no cotidiano, converte-se em um sentimento de auto-desvalorização que urge ser combatido. No entanto, a crença da expansão da democratização do ensino não foi, entre nós, sinônimo de democratização sócio-cultural. A escola alimenta a sociedade de consumo e a produção de técnicas especializadas e, como conseqüência, a competição é o seu sistema básico de sobrevivência e avaliação. Apesar de muitos estudos e reflexões sobre o assunto, muito pouco destas idéias são implementadas na prática dos sistemas educacionais brasileiros. Muito há a fazer para precisar melhor os processos de diagnósticos e de interesse nas dificuldades de aprendizagem que levara e levam à repetência inúmeros brasileiros, em especial, os baianos. Assim, as informações contidas nesse relatório se propõem a analisar quais os reais fatores, ou fator, capaz de interferir na aprendizagem dessa aluna tri-repente da 2ª série do ensino fundamental, que não conseguiu aprender, nem a escrever nem a ler totalmente e apresenta dificuldades também na disciplina de exatas (matemática).
2.4 Diferenças entre fracasso escolar e problema de aprendizagem Embora, geralmente estejam associadas, as diferenças entre o fracasso escolar e os problemas de aprendizagem existem e, muitas vezes, são difíceis de detectar antes que um determine o outro. Quando se trata de resolver o problema de aprendizagem que provém prioritariamente de causas que se referem à estrutura individual e familiar da criança, torna-se necessária a intervenção psicopedagógica no processo contextual. No entanto, quando o problema é referente ao fracasso escolar nem sempre essas precauções são tomadas de imediato. Isto se dá porque, a criança que está nessa
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situação não precisa, na maioria das vezes, de tratamento psicopedagógico psicopedagógico clínico, mas sim de um acompanhamento institucional especializado. Dessa forma, percebemos que para prevenir o fracasso escolar, é necessário trabalhar com a organização escolar, com todos os envolvidos no processo.. E, para isso, torna-se imprescindível o auxílio de um psicopedagogo o qual trará dispositivos inovadores, além de favorecer atitudes específicas fundamentadoras das competências e habilidades necessárias ao contexto do trabalho docente. Essa questão do fracasso escolar torna-se mais séria do que se pensa, principalmente se for tomado como base de que ele afeta o aprender do sujeito em suas manifestações muitas vezes, sem chegar a aprisionar a inteligências, mas podem causar choques e segregar novos conhecimentos humanos. Na realidade, o grande problema é que, os fracassos escolares são geralmente, diagnosticados de forma equivocada e tratados sempre como problemas de aprendizagem. O efeito de tal confusão resulta em marginalização, expulsão e culpa do aprendente, eximindo o sistema educativo e a instituição ensinante de serem interpelados e de interpelarem-se por sua participação na produção e/ou manutenção desse fracasso na aprendizagem. Concordamos com Savianni (1992) quando ressalta: [...] o fracasso escolar é uma patologia recente. Apareceu recentemente com a instauração da escolaridade obrigatória nos finais do século XIX e adquiriu uma importância considerável entre as preocupações de nossos contemporâneos devido à mudança radical da sociedade. Também, neste caso, não é somente a exigência da sociedade moderna a que engendra os problemas, como se pensa com freqüência, mas um sujeito que expressa seu mal-estar na linguagem de uma época em que o dinheiro e o êxito social são valores predominantes [...]
Com essa análise, podemos percebe a grande diferença entre o fracasso escolar e o problema de aprendizagem. Em ambos os alunos mostram que não aprendem, mas, no primeiro caso, a patologia está instalada nas modalidades de ensino na escola, e esse é o lugar sobre o qual se deve, prioritariamente intervir; enquanto que no segundo caso, por ser o problema de ordem orgânica ou cognitiva, a intervenção deve ser individual (sem deixar de instrumentalizar os contextos família, escolar e o meio), e, portanto, acaba sendo mais cautelosa e significativa. 33
Assim sendo, baseados em observações e coleta de dados e pesquisas aqui apresentada, os quais têm o objetivo de contribuir para a analise do contexto do sujeito investigado no que concerne à questão do fracasso escolar e seus processos numa abordagem Psicopedagógica; Daí justifica-se a escolha da aluna N.B. com histórico de multirepetência para nosso estudo de caso. Com a finalidade de realizarmos um cruzamento desses vetores de análise sobre o diagnóstico identificando, a respeito do problema apresentado pela escola, família e, consequentemente, pela criança, os quais a impede de evoluir para as séries posteriores; e assim, possamos fazer o encaminhamento necessário no sentido de resolver ou tentar amenizar essa limitação de aprendizagem ora apresentado a seguir.
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3 METODOLOGIA Investigamos o sujeito da nossa análise através das ações da Psicopedagogia com a finalidade de compor o nosso Relatório de Estágio Supervisionado em Psicopedagogia Clínica e Institucional, utilizando mais especificamente o Estudo de Caso da Escola C.O.C. e da aluna N.B. por ser uma instituição da rede municipal e um sujeito com histórico de repetência. E, para melhor compreender esse processo de inserção do psicopedagogo na prática de pesquisa utilizamos do estudo de caso/ revisão bibliográfica/ pesquisa de campo e dos instrumentos Psicopedagógicos Clínico como: EOCA, Provas Piagetianas e de Diagnóstico Operatório, Anamnese dentre outras. Nesse sentido, a nossa investigação gira em torno do fracasso escolar para aprofundar e/ou refletir nas ações da atuação psicopedagógica no ensino fundamental. Dessa forma, assim se constituiu a nossa reflexão teórica e prática da educação e das ações psicopedagógicas, através dos quais discutimos e analisamos as semelhanças e diferenças entre o fracasso escolar e a dificuldade de aprendizagem; considerando a complexidade da educação e o momento histórico dos problemas de aprendizagem, tendo-os como referencia e objeto de estudo fenômenos que acontecem no cotidiano escolar da cidade de Santo Amaro.
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4. CONTEXTO INSTITUCIONAL 4.1 Caracterização do Município
O município de Santo Amaro da Purificação distante 72Km da Capital do Estado localizado no Recôncavo Baiano, situado às margens do Rio Subaé, historicamente a primeira povoação do município surgiu em 1557, às margens do rio Traripe, nas proximidades do mar. Sendo que os primeiros colonizadores construíram habitações, estabelecimentos comerciais, capela e residências; tendo o rio e o mar como fonte de subsistência. Os historiadores contam, a partir de um incidente trágico resultante na morte de um jesuíta fez o local ficar amaldiçoado. Assim, os colonos se mudaram para um local próximo, edificando uma nova capela, sob a invocação de Santo Amaro da Purificação, neste ponto desenvolveu-se a cidade.
Figura 1: Igreja do Senhor Santo Amaro da Purificação/BA, 2006.
A área do município é de 446 Km 2, esta situada na Região Econômica Recôncavo Sul, conta com uma população de 58.414 habitantes, 44.505 hab.na zona urbana e 13.909, na zona rural (IBGE 2000). Limita-se com os municípios de Amélia Rodrigues, Conceição do Jacuípe, São Francisco do Conde, São Sebastião do 36
Passe, Cachoeira, Feira de Santana, São Gonçalo dos Campos, Saubara, fazendo parte do entorno da Baía de Todos os Santos.
Figura 2: Prefeitura Municipal de Santo Amaro da Purificação/BA, 2006.
A população de Santo Amaro, segundo o Censo de 2000, é de 58.414 habitantes, 76% dos quais ocupam a zona urbana, resultando uma densidade total de 120,15 h/km2. O município apesar de registrar no período 1970-2000, apresentou uma sensível redução de sua taxa geométrica anual, passando de 0,94%aa na década de 70, para 0,84%aa na década de 90. O ritmo de crescimento da população urbana, apesar de uma queda relativamente maior no intervalo censitário 1970-2000, registrou uma elevada taxa na década de 80, que corresponde, segundo indica o Plano Diretor Urbano PDU/2000, ao processo de ocupação de áreas precariamente urbanizadas da cidade através de invasões. Nesse período, a população municipal apresentou um crescimento de 0,78%aa, ao passo que os moradores urbanos cresceram a uma taxa média de 3,28%aa.
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Figura 3: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação/BA, 2006.
A cidade possui um patrimônio arquitetônico de valor histórico e cultural, com potencial para o desenvolvimento do turismo regional. Destacando-se no patrimônio arquitetônico, a Igreja de Nossa Senhora da Purificação, construção do século XVII, a Prefeitura Municipal/Antiga Casa da Câmara e Cadeia, a Matriz de Oliveira dos Campinhos do Séc. XVIII, a Santa Casa de Misericórdia, o Solar Paraíso e o Sobrado de Biju do séc. XIX; atualmente sede do Campus Avançado da Universidade Estadual de Feira de Santana, dentre outros prédios antigos existentes.
4.2 Breve Histórico da escola A instituição pesquisada é a Escola C.O.C., que tem como gestora a professora V.P.J. a escola localiza-se na Praça Joviniano Barreto, Centro, n.º 23/25, na cidade de Santo Amaro da Purificação/BA; atende os alunos do ensino fundamental da 1.ª a 4.ª séries. A escola foi fundada em 1963, a sua construção foi de iniciativa de pessoas da própria comunidade junto a um cônego da cidade, Padre Fenelon Costa sendo que as atividades educacionais iniciaram, a partir de um convênio firmado entre com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura o pároco. Recentemente a escola tornou-se municipalizada e conta com esses recursos para a sua manutenção.
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A clientela é de baixa renda, vindos de bairros periféricos próximos, e a maioria dos pais participa ativamente dos eventos e das reuniões promovidas pela escola, demonstrando com isso, o interesse pela vida escolar de seus filhos.
Figura 4: Escola Círculo Operário Católico – Fachada do prédio, 2006.
4.3 Contexto escolar A educação pretendida para as crianças nesse espaço institucional passa necessariamente por uma visão tradicional de educação. O plano escolar tem objetivado nos últimos anos desenvolver um trabalho que preserve as tradições da escola o que tem se tornado difícil fase a democratização do acesso a educação, que não permite que se escolha apenas alunos de um determinado contexto social para atender. Por outro lado o respeito da comunidade pela disciplina imposta aos estudantes, aumenta a matrícula e da acesso a clientela que não seria aceita em outra época. A observação das dependências escolares e suas condição de uso (Apêndice 1 e 2), detectou espaços de ação coerentes (salas de aula, cantina) e de enormes contradição como má utilização de espaços, que ficam ociosos (quadra de esporte, pátio coberto). O grupo de educadores, com alguns professores que a décadas trabalham na instituição, demonstraram coerência nas suas histórias e ações pedagógicas, mesmo que não sejam as mais recomendas pelas novas teorias. 39
4.4 Queixa Escolar do Grupo de professores Dentre as diversas queixas relatadas pelos professores, as principais e freqüentes em todos foram: •
•
•
Falta de espaço e momento para lazer e descontração das crianças, pois os alunos não saem das aulas de aula para o intervalo, e, até a merenda escolar é servida na sala de aula; Falta de material didático para realização de atividades diferenciadas; Falta de uma coordenação pedagógica para orientar as atitudes em relação a alunos com dificuldade de aprendizagem e a indisciplina.
Figura 5: Escola C.O.C. – Corredor interno, 2006.
3.5 Queixa Escolar do Grupo de Alunos Condizendo com as queixas dos professores, as principais reclamações dos alunos em relação à instituição foram: •
Falta de horário para atividades recreativas;
•
Ambiente escolar bastante escuro e sem atrativo nenhum;
•
Falta de material didático diferente para tornar as aulas mais agradáveis.
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5. CONTEXTO CLÍNICO 5.1 Dados de Identificação da Criança Nome: N.B.P.M. Endereço: Rua do buraco Doce, S/N – Trapiche de Baixo; St. Amaro/BA. D ata de Nascimento: 23/10/95. Idade: 10 anos e 06 meses. Série: 2ª Série do Ensino Fundamental. 5.2 Entrevista com a Mãe/responsável da criança Estado civil dos pais: Separados Nome do pai: Antônio Carlos Moraes Data de Nascimento: 24/04/73 Profissão: Serviços Gerais Local de trabalho: Indústria Está empregado? Não Religião: Católica Grau de instrução: primário incompleto. Mora em residência própria? Não. Nome da mãe: Eliana da Purificação Data de Nascimento: 16/03/77 Data de Nascimento: Serviços Gerais Local de trabalho: Funcionária Municipal/ Sanitário Público Está empregado? Sim Religião: Católica Grau de instrução: primário completo. Mora em residência própria? Sim. Número de Filhos: 04 Quantos filhos de 6 a 14 anos? 03 Quantos filhos maiores de 14 anos? 01 41
Quantos filhos estudam? 04 Existem outras pessoas que residem com a família? A avó. 5.3 História Familiar
A terceira de quatro irmãos homens, mora com a mãe e o namorado dela. As vezes o irmão menor, que mora com a avó, dorme com ela. A mãe trabalha o dia inteiro até as 22:00h e N.B. fica com a avó que nem sempre consegue tomar conta dela. O pai tem outra família e N.B. parece gostar muito dele.
5.4 História Clínica
Segundo informações da família e da própria escola, N.B. é uma criança que apresenta um quadro clínico normal. Dificilmente fica doente, apenas uma gripe de vez em quando, e o seu histórico clínico desde o seu nascimento não apresentou nada de excepcional. A grande dificuldade de colher esses dados foi porque a mãe não se lembrava de quase nada do histórico clínico da menina, principalmente dos seus primeiros meses e anos. (APÊNDICE 09).
5.5 Hipóteses do caso • • •
• •
A escrita é silábica; O nível intelectual é normal; Estágio de pensamento transição entre o pré-operatório e o concreto com oscilações? Conceito intermediário nas provas de Diagnóstico Operatório; Baixo nível de atenção.
5.6 Diagnóstico Psicopedagógico Nível intelectual normal, estágio de pensamento em transição entre o préoperatório e o operatório concreto com oscilações. 42
Durante a E.O.C.A., apresenta-se com acentuada capacidade de realizar as tarefas de recorte, colagem quebra-cabeças, desenho, desenho livre. Percebemos a grande dificuldade na escrita e na leitura. Recusou-se a ler guardando na mochila todo material que disponibilizamos para leitura. Na sondagem diagnóstica de linguagem escrita verificamos ser a escrita silábica na hipótese da quantidade mínima de letras para ser considerada palavra. É urgente que N.B. seja alfabetizada, isto tem trazido grandes problemas para ela na sala de aula, os colegas a discriminam. É provável que as dificuldades apresentadas possam decorrer de algumas carências afetivas na relação familiar, é forte a ligação de N.B. com seu pai que não vive com ela e tem outra família. O Pai mora com os outros filhos e uma nova mulher. A mãe trabalha em tempo integral, sobra pouco tempo para N.B. Quanto à escola, percebe–se que alunos com histórico de repetência e vindos de outros colégios são vistos com reservas, reforçando os problemas de relacionamento entre os alunos. Outra dificuldade percebida é a troca constante de professores, no caso de N.B. esteve na primeira escola onde passou por 2 professoras e 1 estagiária, e este ano trocou de professora no 2º semestre. O método de alfabetização adotado não leva em consideração as deficiências individuais e a professora confessou não gostar nem saber alfabetizar. Durante a sessão de diagnóstico de N.B., do ponto de vista afetivo , demonstrou ser uma criança amável, carinhosa, ausência de traços compulsivos e/ou repetitivos, percebemos a auto–estima rebaixada principalmente na sala de aula ou em face das dificuldades apresentadas. No caso de N.B., aos 10 anos na 2ª série (pela 2ª vez), constatou–se dificuldade de leitura e escrita, vinculação inadequada com o objeto da aprendizagem escolar. História familiar – problemas emocionais, separação dos pais, mudança de residência. História escolar – alfabetização com professores variados (atualmente N.B. mudou de professor). História clínica – sem dados. Informou a mãe que ela é saudável, tem apenas uma gripe de vez em quando.
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5.7 Indicações de acompanhamento A partir de todas as informações colhidas, preliminarmente, sugerimos que seja submetida a um acompanhamento psicológico individual e familiar, além de um acompanhamento psicopedagógico. Mudança de concepção de alfabetização na escola mudando método de ensino. Avaliação neurológica, endocrinológica e nutricional. 5.8 Instrumentos de Diagnóstico Psicopedagógico • • • • •
Entrevistas; Observação; Questionário; Levantamento de Dados; Anamnese;
•
Provas de Diagnósticos Operatório: • Conservação: Peso, volume, comprimento • Seriação: Palitos
•
E.O.C.A
•
Provas projetivas: • Eu e meus companheiros • Parelha Educativa • Família Educativa
Construção da Matriz Pensamento Diagnóstico (Provas nos Apêndices – 5 a 19) •
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5.8.1 Entrevista Operatória Centrado na Aprendizagem (E.O.C.A.)
A primeira sessão diagnóstica foi feita através de Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (E.O.C.A.), proposta por Jorge Visca (1987, p.72). Em todo momento, a intenção é permitir ao sujeito construir a entrevista de maneira espontânea, porém dirigida de forma experimental. Interessa observar seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical, etc (p.72)
A proposta feita a N.B., inicialmente, foi a que ela mostrasse o que sabe e o que lhe ensinaram usando o material disponibilizado (papel ofício, lápis de cor, tesoura, livro). Durante esta primeira sessão foram observados a dinâmica de postura e corporal, gestos, tom de voz, modo de sentar, de manipular objetos, etc.; a temática que envolveu o significado do conteúdo das atividades e o produto feito pelo sujeito, a escrita, o desenho, a leitura etc. Tranqüila, falante e segura, desenhou e conversou animadamente durante toda a sessão. Para melhor compreendermos em que etapa da língua escrita o sujeito se encontra, nos fundamentamos nos conhecimentos de Ferreiro(1990) conforme a Psicogênese da Língua Escrita. Defende, esta teoria que a aprendizagem da língua passa por várias hipóteses até sua aquisição plena. Para esta análise utilizamos a Sondagem Diagnóstica da Psicogênese de Língua Escrita que nos remetem para a hipótese diagnostica de escrita silábica, principalmente a hipótese da quantidade mínima de caracteres para a construção do conjunto de letras. Assim N.B.P.M. apresentou apenas três letras no mínimo em cada palavra, o que cria um problema para as palavras monossílabas e dissílabas. A solução encontrada foi agregar letras sem valor para a construção das palavras.
5.8.2 Provas do Diagnostico Operatório As dificuldades escolares podem estar ligadas à ausência de estrutura cognoscitiva adequada que permita a organização dos estímulos, de modo a possibilitar a 45
aquisição dos conteúdos programáticos ensinados em sala de aula. As provas piagetianas têm o objetivo de identificar em que estágio de desenvolvimento o sujeito se encontra, já que ele não pode aprender algo que esteja acima de seu nível de competência cognitiva. Assim sendo, utilizamos para Diagnostica Operatória alguns instrumentos do kit Piagetiano, tais como: Prova de Conservação de volume, prova de conservação de matéria, prova de conservação de comprimento, prova de seriação de palitos.
5.8.3 Prova de Conservação de Volume Utilizamos dois copos e duas bolinhas de massa de modelar, e no primeiro momento levamos o sujeito a constatar que a igualdade no nível da água. A seguir perguntamos o que aconteceria se fosse colocada uma bola dentro do copo? Transformamos a bola em cobra e perguntamos o que aconteceria com a água no copo. Nesta prova N.B esta no nível 3 – conservativa. Em todas as transformações o volume é julgado igual, ao afirmar o sujeito que a água subirá para o mesmo nível, independente da forma da bola. Os juízos de conservação se mantêm apesar de contra-argumentação. (APÊNDICE 07) Conservação da Quantidade de Matéria – Para esta prova utilizamos 02 bolas de massa de cores diferentes e uma balança, solicitando a N.B. que informasse para que serve uma balança e em seguida, que fizesse com a massa duas bolas com o mesmo peso. N.B. preocupou-se muito com a cor das bolas (massa de modelar) e menos com o peso. Transformado, por nós, um das bolas numa forma de cobra N.B. diz que os pesos são diferentes “por que ficou comprida”. Ante a contra-argumentação de equipe N.B. montou o seu julgamento evidenciando uma conduta não conservativa nível 1. (APÊNDICE 08) Conservação de comprimento – o material utilizado 2 pedaços de barbante. N.B. foi levada a constatar e afirmar a igualdade dos fios e fazer o julgamento que os dois são iguais. Propomos uma brincadeira em que formigas andariam pelos caminhos (barbantes). Será que andariam a mesma coisa? 46
O julgamento de N.B. foi correto era primeira transformação e incorreto na segunda o que nos leva a concluir sobre um conduta intermediaria – nível 2.
5.8.4 Prova de Seriação de Palitos Foram disponibilizados para N.B 10 palitos graduados de 16 a 10, solicitamos que ordenasse os palitos em ordem crescente de forma plana. O que foi feito em ordem crescente. Pediu-se que fechasse os olhos e procedemos a primeira transformação, retirando um palito e solicitando que ela informasse de onde o tiramos. A segunda transformação os palitos foram desordenados e um substituído. Concluímos que N.B. teve uma conduta intermediaria – nível 2, em que o sujeito vai por anseio compondo a série. É uma seriação intuitiva por regulação sucessiva. (APÊNDICE 10)
5.8.5 Provas projetivas Minha família
Foi solicitado que N.B. desenhasse a sua família fazendo o que cada um sabe fazer, que fosse indicado o nome e idade de cada um. O desenho é de seus pais na sua casa com céu e flores. N.B. disse ser o seu e sua mãe de mãos dadas. Percebe-se o vínculo afetivo fonte entre ela e seus pais além da fantasia da união feliz dos dois. (Apêndice 18)
Eu e meus companheiros
Foi desenhada a professora e Tielly a colega preferida por ser mais inteligente e ter cabelos compridos, Ismael e um primo que não estuda na escola e Vinicius é um colega muito estudioso. O título do desenho foi a professora ensinando a eles e eu. N.B. colocou-se no externo do grupo o que revela uma situação relativa a presença de alguém que não é da escola, indica falta de limites.
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Parelha Educativa
Foi solicitado que N.B. desenhasse dois personagens: um que ensina e outro que aprende. Desenhou a professora Genilda, personagem que ensina, e o irmão Wanderson, personagem que aprende. A professora disse ter 50 anos e o irmão dez. O tamanho total do desenho esta razoavelmente dimensionado, a professora maior mais velha, a que ensinar, e o que aprende o irmão menor e sorridente. N.B., não se incluiu em momento algum na cena. Fez rasgados elogios ao irmão “bom aluno e sabe ler tudo” e também a professora. O título dado ao desenho “Tia Genilda ensinando Wanderson” se constituiu na expressão dos seus sentimentos em relação ao ensinar e o aprender. Duas pessoas boas e inteligentes que não era ela. Durante a sessão N.B. falou muito da qualidade e inteligência do irmão sempre se depreciando “não aprendo” “não sei ler”. Concluímos pela dificuldade de vínculo com a aprendizagem.
5.8.6 Planta da minha casa N.B. disse o nome da escola e fez o desenho sem muito rápido. As palavras escritas são: apagador e giz. Quanto às carteiras da sala não quis desenhar porque achou muito difícil. Mesmo conversando para não ter pressa, ela mesma disse que só queria desenhar e não pintar o desenho. (APÊNDICE 17)
5.8.7 Desenho livre O uso do desenho livre em psicopedagogia é uma forma de utilizar a expressão espontânea da criança seus desejos de atividade lúdica. Os temas mais pesquisados no grafismo são a figura humana, a árvore e a casa, podendo ser avaliados isoladamente ou constituindo–se no chamado HTP (house, tree and person).
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Piaget (1986, p.5) reforça a importância dos estudos de Luquet (1927) em que pretende traçar uma evolução do desenho infantil e sua interpretação, e assim define: O desenho é uma forma de função semiótica que se inscreve a meio caminho entre o jogo simbólico, cujo o mesmo prazer funcional apresenta a imagem mental com a qual partilha o esforço de imitação do real.
Os símbolos expressos, tem significado apenas, na história pessoal do paciente, de sua família nuclear e dos seus ancestrais. Durante a realização dos desenhos livres por N.B. observou–se a postura corporal, a motricidade fina, o ritmo de trabalho e a forma de elaborar as figuras. Conclui–se que: o tema escolhido no desenho (1) foi a casa, longe do chão, numa construção típica de uma criança, sem muito colorido, apesar de lápis de cor à disposição. Sem perspectiva, a casa pareceu flutuar nas nuvens. No desenho (2), o céu: sol sem cor, nuvens, pássaros e montanhas. Desenho (3) N.B. começou a desenhar a casa, apagou e desenhou o mar, peixes, sol. Sem comentar sobre o desenho. Demonstrou algum nervosismo, imaturidade e pequena maturidade intelectual.
5.8.8 Anamnese
Assim sendo, o método utilizado a nosso ver que melhor corresponde a conhecer o histórico de vida do sujeito é a anamnese, a fim de que pudéssemos conhecer as dificuldades de aprendizagem. (APÊNDICE 11).
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A intenção deste trabalho monográfico é contribuir para uma melhor compreensão dos contextos onde acontecem o Fracasso Escolar, visualizando principalmente numa abordagem Psicopedagógica fundamentada e baseada na prática docente Institucional e Clínica. Essa prática teve sempre o respaldo de teóricos e abordagens que facilitaram a análise das questões por nós levantadas em variados ângulos e contextos. Assim sendo, através do espaço institucional como processo optado, procuramos refletir sobre a natureza da educação, sobre a história dos considerados problemas de aprendizagem, a definição do que vem a ser fracasso escolar e a diferença que se pode estabelecer entre dificuldade de aprendizagem e fracasso escolar. Dentro daquilo que nos propomos analisar contextualmente sobre o fracasso escolar, através de um recorte da ampla questão de aprendizagem humana. Considerando a visão psicopedagógica construtivista, a observação da prática e a reflexão respaldada nas diversas teorias, deram-nos subsídios para concluir que o fracasso escolar é uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda da escola. Essa questão pode ser analisada por diferentes perspectivas tanto da sociedade, a da escola quanto do aluno. Nesse sentido, a sociedade abarca no seu âmbito a cultura, as condições relacionais político-sociais e econômicas vigentes; bem como o tipo de estrutura social, as ideologias dominantes e as relações explícitas ou implícitas desses aspectos com relação à educação escolar e as práticas do psicopedagogos institucional e clínico. A escola, por sua vez, não é isolada do sistema socioeconômico, é um reflexo dele. Portanto, as possibilidades de absorção de certos conhecimentos pelo aluno dependerão dessa cadeia das condições sócias que determinaram à qualidade de ensinagem(processo ensino e aprendizagem). Ao aluno, caberá como sujeito aprendente e, devem ser analisadas as condições internas de aprendizagem, focando-se para as questões inter e intra-subjetiva. Tais enfoques não são mutuamente excludentes, muito pelo contrário. O fracasso 50
escolar geralmente é causado por uma conjugação de fatores interligados que impedem o bom desempenho do aluno/sujeito aprendente. De acordo com a nossa experiência aqui apresentado, o caso descrito e investigado nessa pesquisa retratou as dificuldades de aprendizagem de uma criança em termos conceituais, procedimentais e atitudinais em virtude de sua constante relação com o fracasso escolar. Daí concluímos que a aprendizagem é um processo de construção na relação sujeito e meio e, as teorias sócio-construtivistas acrescentam a essa relação o entorno social e, os outros sujeitos que interagem nesse processo atribuindo-se um caráter mais dialético e mediador do processo. Entretanto, as práticas escolares apesar das teorias, não modificaram. Encontramos na nossa estágio/pesquisa, inúmeros desencontros que perpassam a prática pedagógica; revestidos, ou melhor dizendo, por trás do rótulo construtivista, ainda se destacam práticas positivistas que classificam e discriminam seres humanos. Nesse sentido, mais do que adotar essa ou aquela teoria de aprendizagem, é preciso repensar a função de escola nessa sociedade que possam cada vez mais incluir as diferenças no espaço educativo. E, com a atuação do psicopedagogo no espaço institucional e clínico, certamente, irá minimizar as exclusões do processo, deve ocupar-se cada vez mais dos espaços de aprendizagem humana nas suas múltiplas facetas e caminhos.
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7 REFERENCIAS DOTTI, Corina. Fracasso escolar e classes populares. In: GROSSIN E.; Bordin J. Paixão de aprender. 6. ed. Vozes: 1994. FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo. Porto Alegre: Artmed, 2001. _____. A inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1990. FREIRE, P. e MACEDO, D. Alfabetização, leitura de mundo, leitura da palavra. São Paulo: Paz e terra, 1990. WEISS, M. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica. Porto Alegre, Editora Artes Médicas Sul, 1994. SAVIANNI, Dermeval. Pedagogia Histórico-crítica: primeira aproximação. São Paulo: Cotez/Autores associados, 1996. SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade escolar. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. TEBEROSKY, A. Psicopedagogia da língua escrita. Campinas: Trajetória Cultural/Unicamp, 1990. _____. Aprendendo a escrever: perspectivas psicológicas e implicações educativas. São Paulo: Ática, 1992. VISCA, Jorge. Psicopedagogia: Teoria, clínica, investigación. Buenos Aires: Taller Gráfico Enrique Titakis, 1993. _____, Jorge. Clínica psicopedagógica: Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1998. _________, L. A formação Social de mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
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8. APÊNDICES APÊNDICE 01 INVENTÁRIO ESCOLAR Utilização Dependências
Quantidade
Adequada
Sala de aula Biblioteca Sala de Professor Secretaria Área de Lazer Quadra Esportiva Pátio Coberto Auditório Cantina Banheiro Laboratório
06 01 00 01 01 01 01 01 01 4 00
X
Inadequada X
X
X X X X X X
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APENDICE 02 RECURSOS HUMANOS Cargo/função
Quantidade
Formação
Diretor Secretário Professor
01 01 08
Apoio
01
Magistério – 2ª Grau Magistério – 2ª Grau 04-magistério 04-cursando Pedagogia Ensino Fundamental
54
APÊNDICE 03 ALUNOS MATRICULADOS NO ENSINO FUNDAMENTAL, EM 2006. Matutino Série 1ª 2ª 3ª 4ª
Turmas 01 02 01 02
Alunos 29 60 33 64
Vespertino Turmas 02 01 01 01
Alunos 46 26 35 35
Total Turmas 03 03 02 03
Alunos 75 86 68 99
Total geral
326 alunos
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APÊNDICE 04 0 APROVEITAMENTO DOS ALUNOS – ANO 2005. Série 1ª 2ª 3ª 4ª
Taxa de Aprovação 58% 62% 70% 57%
Taxa de repetência 36% 30% 23% 32%
Taxa de Abandono 6% 8% 7% 11%
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APÊNDICE 05 E.O.C.A. – 1ª SESSÃO REGISTRO
ESTRATÉGIA DO ENTREVISTADOR
Apresentação O material foi apresentado (papel, lápis de cor, tesoura, material. livro e a consigna) R. Apresentei o material sobre a mesa R. Vamos trabalhar juntas para que você me mostre o que sabe. Pode usar o material como quiser. N.B. – Resolveu desenhar (as amigas e as bonecas). N.B. – Recortou e fez balão com o papel. R. – Pediu para que ela escrevesse o nome completo. NB. – Não conseguiu escrever o sobrenome, apenas o nome.
CONDUTA DO ENTREVISTADO
do Reconhecimento do material. Tranqüila, falante e muito segura. O que se propôs a fazer, fez com rapidez e firmeza. Mostrou que sabe escrever os dois prenomes e para os sobrenomes pediu ajuda. Recusou–se a deixar o livro guardado na pasta.
Hipótese Diagnóstica: Nível intelectual prejudicado? Silábico?
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APÊNDICE 06 E.O.C.A. – Sondagem diagnóstica psicogênese da língua escrita. 2ª SESSÃO REGISTRO
ESTRATÉGIA DO ENTREVISTADOR
CONDUTA DO ENTREVISTADO
Apresentação do Se mostrou M.R. – Solicitamos a escrita de quatro palavras (uma material. interessada em polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e uma realizar as monossílaba nessa ordem e uma frase do mesmo campo atividades. semântico). Teve muita M.R. – As palavras solicitadas foram: dinossauro, jacaré, Pediu que as atividades fossem dificuldade na gato, boi e a frase foi: O gato dormiu na sala. executadas. escrita e até para M.R. – Solicitamos que N.B. escrevesse do jeito que desenvolver as soubesse e se achasse necessário que desenhasse os diferenças entre os animais. desenhos. N.B – Fez as atividades com presteza e com espontaneidade. Desenhou os animais preocupada apenas com o número de patas de cada um. N.B. – Não conseguiu escrever nenhuma palavra corretamente e até os desenhos foram difíceis de serem identificados.
Hipótese Diagnóstica: A escrita é silábica, na hipótese da quantidade mínima de caracteres para que o conjunto de letras possa ser considerado uma palavra. N.B. exige três letras no mínimo, o que cria um problema para as palavras monossílabas e dissílabas. A solução que ela encontrou foi agregar letras sem valor dentro das palavras.
58
APÊNDICE 07 PROVAS DIAGNÓSTICAS OPERATÓRIA PIAGETIANA
PROVA DE CONSERVAÇÃO DE VOLUME
MATERIAL: 2 Copos com água e duas bolinhas de massa de modelar.
REGISTRO
ESTRATÉGIA DO ENTREVISTADOR
Apresentação O material foi apresentado ao entrevistado (dois copos com material. água e massa de modelar) R. – N.B. o que eu trouxe aqui?
Conversa com N.B.
CONDUTA DO ENTREVISTADO
do Reconhecimento do material. informal
N.B. – Dois copos e massinha. R. – Observe se coloquei a mesma quantidade de água nos dois copos.
Receptiva
N.B. – Estão iguais. Espere, deixe eu olhar bem, é estão iguais. R. – Vou pedir que você faça duas bolas iguais com essa massinha. É possível? N.B. – Claro.
Resposta conservadora
R. – Se eu colocar esta bola dentro do copo o que acontecerá com a água? N.B. – Aumenta até a boca. R. – Por que você acha isso?
Transformou a bola Resposta em cobra. conservadora R. – Se eu coloco esta massinha desse jeito a água subirá 1ª transformação – mais ou menos? contra–argumentação N.B. – Do mesmo jeito, ué. Resposta R. – E agora, desta forma. O que acontece? 2ª transformação – conservadora bola achatada N.B. – Também vai subir, tia. N.B. – Porque é assim.
R. – Vou colocar tudo aí, o que acontece? N.B. – A água sobe e pronto.
3ª transformação – a massa foi fragmentada em várias partes
Muito tempo calada. Suspende o copo e pensa.
Hipótese Diagnóstica: N.B. nesta prova está no nível 3 – Conservativa. Idade mental aproximadamente 8 anos. Em todas as transformações os pesos foram julgados iguais, sem respostas lógicas e argumentos definidos.
59
APÊNDICE 08 PROVAS DIAGNÓSTICAS OPERATÓRIA PIAGETIANA
PROVA DE CONSERVAÇÃO DE MATÉRIA
MATERIAL: 2 bolas de massa de cores diferentes e uma balança.
REGISTRO
ESTRATÉGIA DO ENTREVISTADOR
CONDUTA DO ENTREVISTADO
Apresentação do Reconhecimento do O material foi apresentado (2 bolas de massa de modelar e material. Pegou material. uma balança) alguns objetos da mesa. N.B. – Duas bolas e uma balança? M. – Você sabe para que serve uma balança? N.B. – Para ver o peso das coisas. M. – Você pode fazer duas bolas para mim que tenham o mesmo peso? Use a balança. N.B. – De qualquer cor? M. – Sim, a escolha é sua. N.B. – Estas vermelhas. M. – Tem o mesmo peso? N.B. – Tem. M. – Será que agora o peso é igual? N.B. – Não, ficou comprida. M. – E o peso, será que é igual? N.B. – Não, ficou mais fininho.
1ª transformação – uma das bolas foi transformada em cobra. 2ª transformação – transformou a bola em Conduta pizza. conservativa.
M. – Será? Parece que não. N.B. – Ficou sim, bem fininho.
Hipótese Diagnóstica: Em cada uma das transformações N.B. considera um dos pesos mais pesado que o outro. Conduta não conservativa – nível 1.
60
não
APÊNDICE 09 PROVAS DIAGNÓSTICAS OPERATÓRIA PIAGETIANA
PROVA DE CONSERVAÇÃO DE COMPRIMENTO
MATERIAL: 2 pedaço de barbante com cerca de 15cm.
REGISTRO O material foi apresentado (2 pedaços de barbante)
ESTRATÉGIA DO ENTREVISTADOR
Apresentação material.
CONDUTA DO ENTREVISTADO
do Reconhecimento do material.
N.B. – Dois pedaços de cordão? Pra que tia? M. – Para brincar mais um pouco. É como se fossem dois caminhos. Qual será o mais longo? Este ou aquele? N.B. – (Em silêncio, pensando) Este é mais comprido. M. – Será que uma formiga, uma em cada caminho vai 1ª transformação – um Resposta dos barbantes foi conservadora. andar a mesma coisa? transformado em N.B. – Não. triangulo. M. – Tem certeza? Acho que vai. Se terminaram iguais. N.B. – É mesmo, vão andar juntinhas. M. – E agora? Quem vai andar mais? N.B. – A que o cordão está estirado, porque é maior.
2ª transformação – um Conduta dos barbantes foi intermediária ondulado sobre a mesa
Hipótese Diagnóstica: Nível 2 – conduta intermediária. Correto na primeira transformação e incorreto na segunda.
61
não
APÊNDICE 10 PROVAS DIAGNÓSTICAS OPERATÓRIA PIAGETIANA
PROVA DE SERIAÇÃO DE PALITOS
MATERIAL: 10 Palitos graduados (1 pintado de vermelho em uma das extremidades).
REGISTRO O material foi apresentado (10 palitos graduados)
ESTRATÉGIA DO ENTREVISTADOR
Apresentação material.
CONDUTA DO ENTREVISTADO
do Reconhecimento do material.
M. – Pediu para que N.B. ordenasse os palitos em ordem crescente numa forma plana. N.B. – Sentiu dificuldade em ordenar os palitos de forma plana, mas conseguiu a ordem crescente. N.B. – Fechou os olhos, sentindo muita vontade de abri–los para ver o que estávamos fazendo. M. – Solicitei que N.B. descobrisse de onde foi retirado o palito.
1ª Transformação: retiramos um palito do meio dos outros e pedimos que ela verificasse de onde foi retirado (pedimos que N.B. – Sentiu muita dificuldade em descobrir, deus muitos ela fechasse os palpites e só depois conseguiu. olhos).
Não conseguiu completar a ordenação e mostrou–se muito ansiosa.
2ª Transformação: os M. – Pedi a N.B. que ordenasse os palitos e descobrisse de palitos foram onde estava faltando um (que foi escondido). desordenados e 1 foi N.B. – Sua resposta foi aproximada mais não exata. Não ocultado. conseguiu perceber de imediato a ordem.
Após um tempo, conseguiu realizar a seriação, mas sem firmeza nas respostas.
Hipótese Diagnóstica: Nível 2 – êxito por tentativas. N.B. consegue fazer a seriação através de tentativas empíricas, consegue intercalar elementos mediante novas tentativas e, em ocasiões, recomeça tudo.
62
APÊNDICE 11 AVALIAÇÃO ANAMNESE 1.
Roteiro de Entrevista Clínica
•
Nome da mãe: Eliana da Purificação
•
Endereço: Rua do Buraco Doce – Trapiche de Baixo
•
Como foi o parto? Normal
•
Filho foi desejado? Mais ou menos.
•
•
Mora com o marido? Sou separada, tenho um companheiro que não é o pai de N.B. Mora junto com os filhos? Só com N.B. e minha mãe.
DESENVOLVIMENTO MOTOR •
Quantos meses ele começou a andar? Não lembro, acho que foi com um ano.
•
A criança cai muito? Não.
•
A criança se bate muito nas coisas? (objetos) Normal.
LINGUAGEM ORAL •
Com quantos anos começou a falar? 1 ano, aproximadamente.
•
Qual a primeira palavra que falou? Da da.
•
Troca as letras? Não.
•
Tem linguagem tatebitate? (fala como bebezinho) Não.
•
Tem gagueira? Não.
•
Consegue se expressar com clareza? Sim.
•
Compreende as ordens dadas? Sim.
LINGUAGEM ESCRITA •
Com quantos anos aprendeu a ler? Ainda não aprendeu.
•
Lê o que escreve ou é apenas uma copista? Copista. 63
•
Tem uma linguagem lacônica? Não.
•
Teve dificuldade de ler e escrever? Sim.
HÁBITOS •
•
•
Chupa dedo, bico ou língua? Não. Com quantos anos ela começou a controlar os esfíncteres? (apresenta sintomas enurese / deixou de fazer xixi ou coco) Aos 5 anos (não lembra). A criança tem onicofagia? (roe unhas) Não.
APRENDIZAGEM •
Com quantos anos entrou na escola? 7 anos.
•
Teve dificuldade de aprendizagem? Sim.
•
Consegue executar as ordens dadas? Sim.
Apesar do pronto atendimento a nossa solicitação, a mãe de N.B. foi lacônica sem aprofundar muita as respostas. A avó estava doente e o pai não compareceu. Não foi observado nenhum problema neurológico (salvo melhor juízo). N.B. acumula uma história de Fracasso Escolar, agravado pela desestruturação familiar.
64
APÊNDICE 12 Informe Diagnóstico Psicopedagógico A – Identificação Nome – Natália Berenice da Purificação Morais – N.B. Sexo – Feminino Idade – 10 anos e 7 meses Data de Nascimento: 23.12.1995 Escolaridade – 2ª série do Ensino Fundamental Aspecto Funcional – Normal Aspecto Cognitivo – Dentro da normalidade B – Recursos utilizados • •
• • • • •
E.O.C.A. – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem. Provas Piagetianas 1. Conservação de volume 2. Conservação de Comprimento 3. Conservação de peso Técnicas Projetivas 1. Família Educativa 2. Eu e meus companheiros 3. Parelha Educativa Desenho livre Sondagem hipótese da escrita Anamnese Entrevista com a professora Entrevista com a mãe
C – Informe O diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação que visa esclarecer uma queixa do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. No caso de N.B. trata–se do não–aprender, do aprender com dificuldade de fugir de situações de aprendizagem de esquecer o que parecia ter aprendido. N.B. é uma criança de 10 anos e 7 meses, única mulher de 4 irmãos, filha de pais separados já com vários relacionamentos; cursa a 2ª série do Ensino Fundamental numa escola Católica Municipal. Segundo a mãe de N.B., a mesma é muito desatenta e gosta mais de “rua”, e atribui a esta característica as dificuldades que apresenta na escola. Faz segundo 65
ela, o que pode, colocando–a no reforço e reclamando sempre de suas atitudes. Reconhece que a menina fica mais com a avó, que com idade avançada tem dificuldade para cuidá–la. N.B. tem dificuldade de aprendizagem não lê nem escreve com autonomia é dispersa com baixo rendimento nas avaliações. Apresenta frágil capacidade de atenção e concentração. Quanto ao desenvolvimento intelectual, mostra–se nitidamente em processo de transição, supomos aquém de idade cronológica. Durante a Avaliação Psicopedagógica, realizamos a E.O.C.A., testes projetivos e provas piagetianas, dentre outros e concluímos que: Nível intelectual normal, estágio de pensamento em transição entre o pré–operatorio e o operatório concreto com oscilações. Durante a E.O.C.A., apresenta–se com acentuada capacidade de realizar as tarefas de recorte, colagem quebra–cabeças, desenho, desenho livre. Percebemos a grande dificuldade na escrita e na leitura. Recusou–se a ler guardando na mochila todo material que disponibilizamos para leitura. Na sondagem diagnóstica de linguagem escrita verificamos ser a escrita silábica na hipótese da quantidade mínima de letras para ser considerada palavra. É urgente que N.B. seja alfabetizada, isto tem trazido grandes problemas para ela na sala de aula, os colegas a discriminam. É provável que as dificuldades apresentadas possam decorrer de algumas carências afetivas na relação familiar, é forte a ligação de N.B. com seu pai que não vive com ela e tem outra família. O Pai mora com os outros filhos e uma nova mulher. A mãe trabalha em tempo integral, sobra pouco tempo para N.B. Quanto à escola, percebe–se que alunos com histórico de repetência e vindos de outros colégios são vistos com reservas, reforçando os problemas de relacionamento entre os alunos. Outra dificuldade percebida é a troca constante de professores, no caso de N.B. esteve na primeira escola onde passou por 2 professoras e 1 estagiária, e este ano trocou de professora no 2º semestre. O método de alfabetização adotado não leva em consideração as deficiências individuais e a professora confessou não gostar nem saber alfabetizar. 66
Durante a sessão de diagnóstico de N.B., do ponto de vista afetivo , demonstrou ser uma criança amável, carinhosa, ausência de traços compulsivos e/ou repetitivos, percebemos a auto–estima rebaixada principalmente na sala de aula ou em face das dificuldades apresentadas. No caso de N.B., aos 10 anos na 2ª série (pela 2ª vez), constatou–se dificuldade de leitura e escrita, vinculação inadequada com o objeto da aprendizagem escolar. História familiar – problemas emocionais, separação dos pais, mudança de residência. História escolar – alfabetização com professores variados (atualmente N.B. mudou de professor). História clínica – sem dados. Informou a mãe que ela é saudável, tem apenas uma gripe de vez em quando. A partir de todas as informações colhidas, preliminarmente, sugerimos que seja submetida a um acompanhamento psicológico individual e familiar, além de um acompanhamento psicopedagógico. Mudança de concepção de alfabetização na escola mudando método de ensino. Avaliação neurológica, endocrinológica e nutricional.
67
APÊNDICE 13 MATRIZ DO PENSAMENTO DIAGNÓSTICO CLÍNICO N.B.P.M. DATA
Nº DE SESSÕES
CARGA HORÁRIA
06/06
02 – 1ª
2 horas
07/06
08/06
2ª
1ª
2 horas
2 horas
ATIVIDADE REALIZADA
E.O.C.A.
E.O.C.A.
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
Apresentei a consigna “vamos trabalhar juntas para você mostra o que sabe”. “Pode usar o material que quiser” (papel, lápis de cor, tesoura e livro).
ATIVIDADES DOS SUJEITOS
HIPÓTESES
Tranqüila, falante e Nível intelectual segura. prejudicado? Silábico? O que se propôs a fazer, fez com rapidez e firmeza.
Desenhou os amigos e as bonecas, recortou e fez um balão com o papel. Sondagem diagnóstica da Fez as atividades psicogênese da língua escrita. com presteza e Solicitamos a escrita de 4 espontaneidade. palavras: uma polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e uma monossílaba, além de uma frase do mesmo campo semântico.
Foi pedido que escrevesse do jeito que soubesse e se achasse necessário desenhasse as palavras. Prova do Prova de conservação de Oscilou entre Diagnóstico volume conservação e não Operatório conservação. As Clínico Prova de conservação de justificativas foram
A escrita é silábica na hipótese da quantidade mínima de caracteres para que um conjunto de letras possa ser considerado uma palavra. NB exige três letras no mínimo.
Nível intelectual normal. Estágio de pensamento: talvez transição entre o pré–operatório e o
68
comprimento 09/06
2ª
2 horas
12/06
1 – 1ª
4 horas
Prova de conservação de peso Prova do – Prova de seriação de palitos Diagnóstico Operatório Clínico
Técnicas Projetivas psicopeda– gógicas
Prova da família educativa Eu e meus companheiros Parelha educativa
pouco explícitas.
operatório concreto, com oscilações.
Respostas sem Conduta intermediária, argumentação utilizando ensaio e erro compensando a série. Oscilou entre respostas Baixo nível de atenção conservadoras e e dificuldade de não conservadoras concentração. Traços seguros Vínculo inadequado com a aprendizagem Executou de forma escolar. segura. Dificuldade na separação dos pais. Confusão com o tamanho das pessoas
13/06
1 – 1ª
2 horas
Anaminese
Entrevista Livre
Aspectos patológicos que exprimem uma possível regressão, fratura emocional.
69
comprimento 09/06
2ª
2 horas
12/06
1 – 1ª
4 horas
Prova de conservação de peso Prova do – Prova de seriação de palitos Diagnóstico Operatório Clínico
Técnicas Projetivas psicopeda– gógicas
Prova da família educativa Eu e meus companheiros Parelha educativa
pouco explícitas.
operatório concreto, com oscilações.
Respostas sem Conduta intermediária, argumentação utilizando ensaio e erro compensando a série. Oscilou entre respostas Baixo nível de atenção conservadoras e e dificuldade de não conservadoras concentração. Traços seguros Vínculo inadequado com a aprendizagem Executou de forma escolar. segura. Dificuldade na separação dos pais. Confusão com o tamanho das pessoas
13/06
1 – 1ª
2 horas
Anaminese
Entrevista Livre
Aspectos patológicos que exprimem uma possível regressão, fratura emocional.
69
Apêndice 14 – Desenho livre 01
Apêndice 14 – Desenho livre 01
70
Apêndice 15 – Desenho livre 02
71
Apêndice 16 – Minha casa
72
Apêndice 17 – Eu e meus companheiros
73
Apêndice 18 – Prova Projetiva – Minha família
74
75
Apêndice 19 – Psicogênese da língua escrita
76
9. ANEXOS ANEXO A
9. ANEXO Roteiro de Entrevista Clínica Sessão: 1 Data: 06 de junho de 2006 Horário: 10:50 QUESTÃO DE IDENTIFICAÇÃO •
Nome do Aluno: Natália Berenice da Purificação Moraes.
•
Idade: 10 anos e 7 meses.
•
Local de moradia: Bairro Trapiche de Baixo, no Buraco Doce.
•
Com quem vive? Mãe, namorado da mãe, irmão só dorme, fica na casa da avó.
•
Sentimentos em relação ao local de moradia. Gosta muito
•
•
•
Coisas que faz em casa. Lava casa, lava prato, cozinha arroz, machuca tempero, faz café, forra cama e varre a porta da rua. Brincadeiras preferidas. Boneca (não tem boneca), brinca com a prima, pula corda, pula elástico, brinca de carrinho. Amigos. Adriele, Tiele e Gê. Da escola, Adriele e Tiele, Milady e Lore.
COMO SE VÊ COMO ESTUDANTE •
•
•
•
•
Gosta de freqüentar a escola? Porque? Gosto, porque os meninos que me abusam vão para diretoria. Como se acha como aluno? Por que? Se acha mais ou menos, porque não sabe ler muito. E sua professora, seus colegas, pais e irmãos? Os colegas abusam, puxam o cabelo. Não falou sobre os pais e irmãos. Quem ajuda nas tarefas escolares? A professora do curso. Reação da professora e dos pais quando não vai bem na escola? Diz que ela não presta atenção.
COMO VÊ A PRÓPRIA LEITURA
77
•
O que pensa sobre a leitura? Acha qeu lê bem, medianamente ou tem dificuldades? Não sabe ler. Precisa de ajuda.
•
Acha que lê melhor que os colegas? Ou pior? Os colegas sabem ler melhor.
•
Foi fácil ou difícil aprender a ler? Difícil.
•
O que sua professora pensa de sua leitura? E os pais ou responsáveis? E os irmãos e colegas? Não responderam.
COMO VÊ A PRÓPRIA ESCRITA •
O que pensa sobre sua escrita? Acha que escreve bem, medianamente ou tem dificuldades? Tem dificuldades.
•
Acha que escreve melhor do que os colegas ou pior? Pior.
•
Foi fácil ou difícil aprender a escrever? Fácil.
•
•
O que sua professora pensa de sua escrita? E os responsáveis? E os irmãos e colegas? Não sabe. Em casa mais alguém escreve/quem? O que? Meu irmão.
ESCRITA DO NOME •
Solicitar a escrita completa do nome: Colocam só o prenome. Não sabe o resto.
•
Quem colocou este nome? Meu Pai.
•
Você gosta do próprio nome ou não? Por que? Sim. É bonito.
•
Qual o significado do seu nome? Não sabe.
78
ANEXO B ENTREVISTA COM O ALUNO 1. Durante as aulas o que a professora realiza para ajudar você a aprender? Passa cópia, faz conta.
2. Você tem liberdade para perguntar sempre o que não entendeu? Sim.
3. Quando você realiza uma tarefa de forma incorreta, qual a reação de sua professora? Fica zangada.
4. Você gosta de ir à escola? Porque? Gosto as vezes. Gosto quando a diretora coloca na diretoria os meninos que me “abusam” na sala.
5. Quando você realiza uma tarefa de forma correta, qual a reação de sua professora? Fica contente.
6. A professora se interessa pela sua vida fora da escola? Não sei.
7. Seus pais costuma ir a sua escola? O que fazem lá? Minha mãe. Vai pegar meu boletim.
8. Como a professora recebe seus pais? Você sabe o que eles conversam? Bem. Não.
9. O que você gostaria de mudar em sua professora? O que você gostaria que ela não fizesse? Minha professora tem um cabelo comprido, é bonita. Me levasse para a diretoria.
79
ANEXO C ENTREVISTA COM A PROFESSORA Professora: Genilda Moura Data: 01 de junho de 2006. 1. Quais as dificuldades de aprendizagem que a criança tem na Língua portuguesa? Não consegue ler nem escrever com autonomia.
2. Como você define a qualidade dos programas de capacitação postos em prática? São importantes para o embasamento teórico do professor.
3. O que deve ser ensinado na área de Língua Portuguesa aos alunos? Ler, escrever e atividades de comunicação.
4. Que recursos você utilia durante as aulas de Língua Portuguesa? Não temos muitos recursos disponíveis. Utilizo textos variados, música e filmes.
5. Qual a sua metodologia aplicada? Construtivismo. Apesar das dificuldades da prática.
80