“á “á para o Diac!o"# $ O morro dos ventos uivantes en%uanto o&ra dial'tica
/elat0rio de %ualifca1ão apresentado pro)rama de p0s2)radua1ão Depa Depart rtam amen entto de Teo eori ria a Liter iterár ária ia Literatura Comparada da Universidade São Paulo
ao do e de
*rientador3 4arcelo Pen Parreira
São Paulo 2 +-.
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“á “á para o Diac!o"# $ O morro dos ventos uivantes en%uanto o&ra dial'tica
/elat0rio de %ualifca1ão apresentado pro)rama de p0s2)radua1ão Depa Depart rtam amen entto de Teo eori ria a Liter iterár ária ia Literatura Comparada da Universidade São Paulo
ao do e de
*rientador3 4arcelo Pen Parreira
São Paulo 2 +-.
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Índice 5tividades reali6adas 2 p7 8 5presenta1ão 2 p7 9 :uest;es de pu&lica1ão 2 p7 < Percurso Percurso &io)ráfco e conte=to !ist0rico 2 p7 > Painel cr(tico 2 p7 - 5 cr(tica materialista 2 p7 -8 ?strutura de tens;es e o&ra dial'tica 2 p7 -9 Tens;es Tens;es do realismo realismo em O morro dos ventos uivantes 2 p7 -@ /ealismo 2 p7 -> A0tico 2 p7 +@ * %ue di6em os cr(ticos 2 p7 8+ B(veis do pro&lema 2 p7 8< Fantasma)oria 2 p7 .@ Pitoresco Pitoresco e su&lime 2 p7 98
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Atividades realizadas Durante o primeiro semestre de min!a pes%uisa, cursei a disciplina do proessor 4arcelo Pen acerca de Henr Eames, 4ac!ado de 5ssis e o realismo7 Da disciplina pude aproveitar esclarecimentos a respeito do realismo, mas, acima disso, f6 uso das pes%uisas so&re a orma )0tico para a prepara1ão do tra&al!o fnal so&re The turn of the screw7 Bo se)undo semestre, cursei a disciplina do proessor Lui6 /enato 4artins, da ?C5, so&re Eac%ues2Louis David7 5proveitei muito as contri&ui1;es ri)orosas do proessor ao meu proeto e, para o seminário %ue serviu como avalia1ão fnal, estudei mais a undo as %uest;es de não2 confa&ilidade no discurso de LocGood, sua flia1ão com o /omantismo, e pude aproveitar as aulas de análise de %uadros para, num e=erc(cio de caráter mais livre e inormal, tentar criar pontes de compara1ão entre a pintura in)lesa e O morro dos ventos uivantes 7 5ca&ei usuruindo desse estudo mais do %ue eu mesmo ima)inava, pois os resultados oram do maior interesse e serão e=postos a%ui7 Cursei tam&'m a disciplina do proessor Homero 5ndrade so&re teorias do realismo, cua prepara1ão para o ensaio fnal tam&'m me oi muito Itil, no intuito de esclarecer min!as acep1;es de realismo e entender as rela1;es entre esse pro&lema e meu o&eto de estudo7 Durante toda min!a traet0ria de pes%uisa, ineli6mente, ainda não tive uma orienta1ão presente e constante %ue me permitisse recortar mel!or meus o&etos e a&orda)ens e aprimorar min!as análises, de orma %ue, at' a%ui, todo o meu tra&al!o se deu de orma mais ou menos solitária7 4eu primeiro orientador oi ausente de todas as ormas poss(veis, de modo %ue me vi na o&ri)a1ão de pedir por uma su&stitui1ão7 ?ssa ausência teve eeitos mais drásticos do %ue eu ima)inava %ue teria, mas a)ora á estou no camin!o de compensar o atraso7 4eu se)undo orientador se mostrou muito mais entusiasmado para com min!as ideias e
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á demonstrou ter uma propensão muito maior de eetivamente me orientar, por'm, ineli6mente, para mim, ele, em seu primeiro semestre como meu orientador eetivo, teve %ue ir viaar ao e=terior por seis meses para reali6ar pes%uisa de p0s2doutorado, o %ue aca&ou adiando meus planos de iniciar o mestrado com um orientador Jpara valerJ7 * te=to a se)uir ' resultado de uma pes%uisa mais ou menos solitária, como á disse, mas não a1o disso culpa de seus eventuais deeitos e pro&lemas7 Bo entanto, veo uma certa necessidade de, pelo menos, dei=ar tudo isso claro7 5l'm das atividades descritas acima, co2or)ani6ei, participei de e apresentei alas em dois eventos na Letras2USP7 Um deles no se)undo semestre do ano passado3 o Seminário discente anual reali6ado pelo meu pro)rama de p0s7 * se)undo, neste semestre3 um evento independente c!amado 5larme de Kncêndio, %ue mo&ili6ou intelectuais de diversas áreas do pensamento, em especial proessores de Literatura, para pensar a contemporaneidade cultural, pol(tica e social no rasil e no mundo7
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Apresentação O morro dos ventos uivantes M->.@N ' uma o&ra e=tremamente
di(cil de se analisar7 Sua estrutura narrativa ' comple=a, suas ima)ens são su)estivas, muitas de suas passa)ens são eni)máticas, e a difculdade de sua orma, %ue mescla prounda ori)inalidade e arroado tra&al!o interte=tual, pode ser e%uiparada O dos romances europeus do in(cio e meados do s'culo 7 Q um romance idiossincrático por e=celência, ora dos padr;es de seu tempo, e um dos primeiros desafos do cr(tico %ue se aventura a estudá2lo ' ustamente compreender as matri6es e as especifcidades de tal idiossincrasia7 Se, no entanto, o vi's da cr(tica or materialista, como ' o caso a%ui, tudo se complica ainda mais, pois al'm do contato com o material tradicional de cr(tica literária, %ue au=ilia o processo de análise te=tual, a62se necessário o con!ecimento proundo da mat'ria !ist0rica %ue deu vida a essa orma di(cil7 5 !istorio)rafa da Kn)laterra e da ?uropa modernas, mesmo %uando nos concentramos nos momentos !ist0ricos mais pertinentes ao romance, ' monumental, assim como a &i&lio)rafa a respeito tanto do romance in)lês em )eral %uanto dos muitos temas e assuntos espec(fcos presentes na o&ra7 *u sea, são dois passos %ue, para serem &em dados, e=i)em não s0 acuidade anal(tica e sa)acidade cr(tica como tam&'m o escrut(nio de um )i)antesco material &i&lio)ráfco ao %ual nem sempre tivemos acesso total7 :uando se trata de pes%uisa acadêmica, um desafo ainda maior sur)e3 colocar todos os poss(veis resultados dessa investi)a1ão no papel7 Se ela&orar e or)ani6ar mentalmente toda essa análise á dá tra&al!o, delineá2la ret0rica e te=tualmente ' ainda mais la&orioso7 Como come1arR Como encontrar um &om ponto de partida e, a partir dele, desenrolar, em te=to escrito, de orma or)nica e or)ani6ada, nossa lin!a de racioc(nioR :uais %uest;es, dentre as muitas %ue sur)iram durante o processo interpretativo, servem mel!or para dar o pontap' inicial O
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ree=ãoR 5 partir de e=periências pr'vias, pudemos perce&er %ue se a6 necessária, lo)o no in(cio, a &reve e=plica1ão de %uatro pro&lemas, dentre os muitos levantados por e a&ordados em nossa pes%uisa, pois isso permite, posteriormente, maior uide6 de e=posi1ão e análise7 * %ue aremos neste cap(tulo de apresenta1ão, então, '3 -N discorrer &revemente a respeito de al)umas %uest;es de pu&lica1ão, enati6ando, por'm, certas peculiaridades do processo +N um pe%ueno percurso &io)ráfco cuo o&etivo ' pensar a vida da autora em rela1ão com seu entorno social, e não omentar uma cr(tica de cun!o &io)rafsta %ue, no m(nimo desde o fm do s'culo K, não e6 avan1ar em %uase nada o de&ate a respeito da o&ra 8N delinear panoramicamente o painel cr(tico acerca do romance, principalmente no mundo an)lo2sa=ão M%ue ' onde mais se escreveu so&re eleN, para termos uma no1ão do %ue de interessante nos dei=ou a ortuna cr(tica dessa o&ra, e de onde podemos partir .N fnalmente esclarecer mel!or nosso pr0prio c!ão te0rico2cr(tico e esta&elecer nossos pr0prios crit'rios de análise e conceitos a serem utili6ados7 Somente a partir da(, nossa análise poderá se desenrolar de orma mais uida e ininterrupta7
Questões de publicação Wuthering Heights Mt(tulo do romance em in)lêsN oi pu&licado num
s0 volume em de6em&ro de ->.@7 Trata2se do primeiro e Inico romance de ?mil rontV, %ue á !avia pu&licado, em ->.<, al)uns poemas em conunto com suas irmãs C!arlotte e 5nne, tam&'m escritoras e autoras de romances &astante con!ecidos, como Jane Eyre M)rande sucesso, !oe clássico, de C!arlotte rontV, pu&licado poucos meses antes de O morro dos ventos uivantes N e Agnes Grey Mde 5nne rontV, a menos presti)iada
das irmãs oi pu&licado no mesmo volume %ue O morro dos ventos uivantesN7 * romance não oi pu&licado so& o nome de ?mil rontV, no
entanto a autora optou pelo pseudWnimo ?llis ell, como á !avia eito %uando da pu&lica1ão de seus poemas em conunto com as irmãs, %ue
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tam&'m tam&'m lan1aram lan1aram mão de pseudWnimo pseudWnimos7 s7 Somente em ->9, %uando oi pu&l pu&lic icad ada a a se se)u )und nda a edi1 edi1ão ão da o&ra o&ra,, so so& & supe superv rvis isão ão de C!ar C!arlo lott tte, e, a autori autoria a em nome nome de ?mil ?mil ront rontV, V, %ue á !avia !avia aleci alecido, do, oi revel revelada ada77 Trata2se Trata2se de uma edi1ão em %ue C!arlotte alterou alterou partes do te=to te=to ori)inal e incluiu um preácio cr(tico e uma nota &io)ráfca7 5s edi1;es comuns no mercado editorial !oe, ainda assim, são compostas do te=to ori)inal de ->.@, e ' com ele, o&viamente, %ue tra&al!amos e tra&al!aremos durante toda nossa pes%uisa-7 Três Três atos de interesse sur)em a partir da &reve descri1ão eita acima3 -N o uso de um pseudWnimo +N a pu&lica1ão do te=to completo, e não em asc(culos, como era muito comum na Kn)laterra oitocentista 8N as altera1;es eitas por C!arlotte na se)unda edi1ão7 So&re este Iltimo, ala alarrem emos os no ter terce ceir iro o mome moment nto o dest deste e ca cap( p(tu tulo lo,, %uan %uando do es esti tive verrmos mos discorrendo so&re a cr(tica do romance7 * uso de pseudWnimos não era incomum durante esse tempo, em especial especial mul!eres mul!eres %ue adotavam adotavam pseudWnim pseudWnimos os masculino masculinoss MAeor)e MAeor)e ?liot lo)o vem O menteN7 * caso das rontV, rontV , no entan entanto to,, ' revel evelad ador or,, no enta en tant nto, o, pois pois,, a part partir ir da nota nota &io) &io)rá ráfc fca a de C!ar C!arlo lott tte, e, pu&l pu&lic icad ada a na se)unda edi1ão de O morro dos ventos uivantes , em ->9, desco&re2se %ue o uso dos pseudWnimos não correspondeu a um simples capric!o, mas a uma estrat')ia de %ue&ra de e=pectativas de certa parcela do pI&lic pI&lico o lei leitor tor+7 Por ma mais is %ue %ue !ouv !ouves esse se um es espa pa1o 1o enor enorme me para para as mul!eres no campo da pu&lica1ão de romances 8, o e=emplo das irmãs rontV nos mostra %ue, ainda assim, esperava2se da literatura delas, 1 BRONTË,
E Wuthering Heights - A Norton Critical Edition. Ric!ard " #unn $ed% Ne& 'or(, )ondon* ++ Norton X Compan, +87 .a ed7 2 T!e sisters- custo. o/ concealin0 t!eir 0ender be!ind .ale pseudon1.s, a plo1 all t!e .ore necessar1 because o/ t!e indelicate, indecorous nature o/ t!eir turbulent te2ts $EA3)ETON, T T 4T!e Bront5s6 7n* The English novel: an introduction London3 lacGell, +97N pá)inaR +97N pá)inaR 3 Como á ' &em sa&ido, escrever e pu&licar romances, nessa 'poca, não era e=atamente considerada uma tarea de )rande apuro e destre6a intelectual7 * romance era um )ênero popular, sem nen!um tipo de prest()io art(stico7 Da( a enorme %uantidade de mul!eres escritoras na Kn)laterra dos s'culos KKK e K3 tratava2se de um dos Inicos espa1os de tra&al!o cere&ral e art(stico no %ual elas tin!am certa li&erdade de a1ão7 Havia outros, como o do ma)ist'rio e o do tra&al!o de )overnanta, so&re os %uais alaremos adiante7 7
mul!er mul!eres, es, certos certos tipos tipos de temas temas e ormas ormas77 * recur recurso so ao pseud pseudWni Wnimo mo revela um deseo de %ue suas o&ras ossem lidas e criticadas em c!ave “neut neutra ra#, #, á %ue %ue não não se trat tratav ava a de “e “esc scri rita ta emi emini nina na#, #, e elas elas sa sa&i &iam am disso.7 So&re So&re a %uestã %uestão o dos asc(cu asc(culos los,, s0 conv'm conv'm desta destacar car o ato ato de O morro morro dos ventos ventos uivant uivantes es não ter sido lan1ado conorme os moldes
!e)e !e)emW mWni nico coss de pu&l pu&lic ica1 a1ão ão de roman omance cess Mpu& Mpu&li lica ca1ã 1ão o se seri riad ada a em peri0dicos mensais ou semanaisN devido O precariedade da rela1ão entre as irmãs e o mundo editorial &ur)uês, e não por serem mul!eres, como á destacamo destacamoss anteriorm anteriormente ente97 ?ssa prec precar arie ied dade ade rem emet ete e ao ato ato de mora morarrem em cida cidade de pe%u pe%uen ena a e ter terem um es esti tilo lo de vida vida,, em )era )eral, l, provinciano7 5proveitemos o )anc!o e alemos mais a respeito da vida de ?mil rontV, pensando sua inser1ão no e rela1ão com o processo s0cio2 !ist0rico in)lês de meados do s'culo K na Kn)laterra7
8ercurso bio0r9:co e conte2to !ist;rico ?mil rontV nasceu em ->-> e morreu em ->.>7 * local de nascimento oi a pe%uena cidade de T!ornton, na re)ião de YorGs!ire, nort norte e da Kn)l Kn)lat ater erra ra77 5ind 5inda a cria crian1 n1a, a, oi oi mora morarr em Ha Hao ort rt!, !, cida cidade de ra6oav ra6oavelm elment ente e pr0= pr0=ima ima,, pouco pouco maior maior do %ue T!orn T!ornton ton77 ?m Ha Haor ort! t! 4Averse to personal publicit1, &e veiled our o&n na.es under t!ose o/
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we did not like to declare ourselves women !ecause -- without at that time suspecting that our mode o" writing and thinking was not what is called #"eminine#-- we had a vague impression that authoresses are lia!le to !e looked on with pre$udice% we had noticed how critics sometimes use "or their chastisement the weapon o" personality and "or their reward a &attery &attery which is not true praise6 $BRONTË, < 4Bio0rap!ical notice o/ Ellis and Acton Bell6 7n* BRONTË, E op. cit. Arios nossosN pá)inaR nossosN pá)inaR 5 5l'm
disso, /amond Zilliams di63 JPodemos encontrar essa ideolo)ia [&ur)uesa\ em muito da nova fc1ão de revista, a fc1ão pu&licada em s'rie nas revistas voltadas para a am(lia na d'cada de ->.J7 *u sea, at' mesmo em rela1ão a %uest;es ideol0)icas, a fc1ão das irmãs rontV, %ue ideolo)icamente não corresponde completamente aos valores e modos de vida &ur)ueses, não coaduna com a l0)ica da pu&lica1ão em asc(culos7 C7 ZKLLK54S, /7 JFormas da fc1ão in)lesa em ->.>J7 Kn3 A produção social da escrita7 São Paulo3 ?ditora UB?SP, +-87 Pá)inaR 5 %uestão da ideolo)ia &ur)uesa e da orma do romance será e=tensamente discutida nos cap(tulos a se)uir7 8
passou %uase a totalidade de seus 8 anos, vivendo uma vida reclusa e caseira<7 Seu pai, pai, PatricG atricG,, era rever reverend endo o an)lic an)licano ano,, respo responsá nsável vel pela pela par0%u par0%uia ia de Haort Haort!7 !7 Kmi)ra Kmi)rante nte irland irlandês, ês, do norte norte da Krland Krlanda, a, PatricG atricG estudo estudou u em Cam&ri Cam&rid)e d)e e tin!a tin!a alto alto )rau )rau de instr instru1ã u1ão7 o7 * so&re so&renom nome e ori)inal da am(lia era runt as ra6;es para %ue PatricG o ten!a mudado são ainda o&scuras3 !á os %ue pensem %ue oi por admira1ão a um tal du%ue de rontV, outros pensam %ue oi para esconder, em Cam&rid)e, a ori)em ori)em irland irlandesa esa !umild !umilde7 e7 Talve6 alve6 as duas duas coisas coisas@7 De %ual%uer orma, como veremos no decorrer de nosso estudo, ' interessante mencionar a ori)em irlandesa da am(lia e a troca de um so&renome simples por um de aparência mais no&re, no conte=to da vida na prov(ncia7 5 am(lia rontV oi marcada pela morte precoce por doen1a7 5 mãe de ?mil ?mil, , 4ari 4aria a ran rane ell ll,, %ue %ue veio veio de uma uma am( am(li lia a ra6o ra6oav avel elme ment nte e endin!eirada do sul da Kn)laterra, morreu %uando ?mil ainda era crian1a7 Suas duas irmãs mais vel!as morreram tam&'m crian1as7 Três dos seus irmãos alcan1aram a ase adulta unto com ela, mas, a partir de ->.>, a morte come1ou a alcan1á2los um por um7 Primeiro Primeiro oi PatricG, o %uarto em orde ordem m de nasc nascim imen ento to e Inic Inico o !ome !omem m dent dentrre os fl!o fl!os7 s7 Sue Sueit ito o de aspi as pira ra1; 1;es es romn omnti tica cas, s, era era vici viciad ado o em 0pio 0pio e &e&i &e&ia a muit muito7 o7 Pinta intava va,, desen!ava e escrevia poemas, assim como suas irmãs7 ?mil, a %uinta, morreu no mesmo ano, poucos meses depois, por conta de uma doen1a respirat0ria da mesma nature6a da tu&erculose Mdoen1a %ue levou muitos O morte durante todo o s'culo K, inclusive poetas e artistas romnticosN7 romnticosN7 5nne, a ca1ula, morreu em ->.] C!arlotte, a terceira, em ->99 e a morte do reverendo PatricG, em -><-, marca o fm da am(lia ranell runt^rontV, runt^rontV, pois não ele não teve netos7 ?mil ?mil e seus seus irmão irmãoss cresc crescera eram m num am&ien am&iente te intele intelectu ctual al muito muito vivo7 Possu(am uma vasta &i&lioteca em casa, liam tanto )randes clássicos Durante toda sua vida nunca esteve em Londres ou em %ual%uer outra )rande cidade in)lesa7 Sua Inica via)em internacional oi para ru=elas, onde, unto com C!arlotte, matriculou2se num internato para ampliar seus con!ecimentos ma)isteriais7 7 ' 'et, et, as To. To. +inni/rit! points out, !is adoption adop tion o/ t!e na.e Bront5, &oasts Bront5, &oasts o aristocratic Cam&rid)e riends!ips and crptic !ints o no&le ancestr s!o !o calculatedl !e cuts !is roots, to &ecome a fercel anti2Luddite reactionarJ7 M?5AL?T*B, T7 T7 JKntroductionJ7 JKntroductionJ7 Kn3 yths of power N pá)inaR 6
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como te=tos mais contemporneos, como os de Scott, ron e a !lac"wood#s aga$ine, %ue nessa 'poca era con!ecida por pu&licar
muitos contos de terror, al'm de á ter pu&licado muitos te=tos de poetas romnticos no in(cio do s'culo K7 Desde ovens, as irmãs á demonstravam interesse pelas artes3 desen!avam muito &em, escreviam poemas e, untas, criaram mundos antásticos M“Aondal# ' o mais con!ecido delesN, dos %uais desen!aram mapas e desenvolveram narrativas7 Sua inser1ão no mundo do tra&al!o ' e=tremamente di)na de comentário7 Por serem mo1as e2tre.a.ente instru(das e educadas, as três irmãs rontV se)uiram a carreira do ensino7 C!arlotte c!e)ou a tra&al!ar como )overnanta em mans;es sen!oriais, mas ?mil s0 tra&al!ou como proessora, atividade da %ual ela não )ostava7 * tra&al!o como proessora^)overnanta remete a uma dualidade &astante particular entre capital cultural e tra&al!o3 ao mesmo tempo em %ue se possui con!ecimento e intelecto e%uivalentes aos ou maiores do %ue os dos de mem&ros da classe dominante, ainda assim se está de&ai=o da autoridade deles en%uanto patr;es, de %uem se rece&e o salário como %ual%uer outro tra&al!ador contratado por eles>7 Bo caso e=clusivo da proessora de escola pe%uena, como era ?mil, ainda %ue não se estivesse de&ai=o de um contrato de tra&al!o com os )randes proprietários, mant'm2se , a nosso ver, a dualidade entre intelecto^cultura Msuposto elemento de distin1ãoN e po&re6a material, a nosso ver7 5 dualidade ' um elemento constante em várias eseras da vida de ?mil rontV3 ser mul!er correspondia a uma vida de muita e=clusão na sociedade vitoriana, por'm ser uma mul!er educada e instru(da permitia, em certo n(vel, mais reali6a1;es Mou pelo menos mais possi&ilidadesN em rela1ão a outras mul!eres de menor )rau intelectual ser de cidade pe%uena e provinciana, ainda por cima em um lar de alto cultivo intelectual, colocava2a numa posi1ão entre os “avan1os# da modernidade industrial e cient(fca em curso durante o s'culo K, e a realidade “atrasada#, ou arcaica, da vida 8 ?m
)eral, estamos pararaseando Terr ?a)leton, em&ora ele não use esses mesmos termos e e=press;es7 EA3)ETON, T 4T!e Bront5s6 7n* The English novel: an introduction London3 lacGell, +97 10
no campo e de modos de produ1ão pr'2industriais7 5 pr0pria dualidade entre campo e cidade, de importncia (mpar na literatura e na cultura desse per(odo, está na &ase das %uest;es principais do romance, como veremos durante a análise7 Passemos a)ora a %uest;es de cr(tica7
8ainel cr>tico Falar da cr(tica de O morro dos ventos uivantes ' di(cil, pois um volume )i)antesco de livros, arti)os, teses e te=tos de vários tipos oram escritos a respeito dessa o&ra, de sua autora, ou, ao menos, levando um dos dois em considera1ão7 5%ui nosso intuito ' apenas c!amar aten1ão para elementos de certa importncia para nossa pr0pria análise]7 5 recep1ão inicial do romance oi de mista a ne)ativa7 5 maioria dos cr(ticos, não muito dierente de !oe, destacou sua or1a, erocidade, intensidade7 Tratava2se de uma o&ra, para utili6ar duas palavras muito recorrentes nesse primeiro está)io cr(tico, ori)inal, por'm estran!a7 *s cr(ticos mais moralistas atacaram ero6mente o %ue !oe se convencionou c!amar de mali)nidade presente no romance, cuo suposto compasso moral torpe e repulsivo oi duramente criticado-7 Talve6 o documento 9 4elvin
Zatson, em “Wuthering Heights and t!e critics# M-].]N, empreende um e=celente percurso panormico da cr(tica de O morro dos ventos uivantes, desde sua pu&lica1ão at' o come1o do s'culo 7 4uito dessa nossa &rev(ssima e=posi1ão se deve a ele7 C7 Z5TS*B, 47 “Wuthering Heights and t!e critics#7 Kn3 The Trollopian, vol7 8, n7 ., mar7 -].]7 10 ?m The !ront%s& the critical heritage, de 4iriam 5llott, !á uma compila1ão de te=tos cr(ticos de diversos autores a respeito da o&ra, pu&licados em peri0dicos &ritnicos e norte2americanos %ue datam de de6em&ro de ->.@ a outu&ro de ->.>7 5l)uns dos comentários, a%ui tradu6idos e, ve6 ou outra, levemente alterados, são3 “!ist0ria desa)radável# “livro estran!o# “selva)em, conuso, desuntado e improvável# “estran!amente ori)inal# “tipo estran!o de livro# “[os leitores\ nunca leram al)o assim# “muito eni)mático e interessante# “!ist0ria ormidável# “!ist0ria estran!a, inart(stica# “[uma o&ra de\ poder e ori)inalidade# “um livro %ue nos captura com pun!o de erro# “um livro tão ori)inal %uanto este# “o livro ' ori)inal, ' poderoso, c!eio de su)estividade, mas ainda ' áspero# “%ue o livro ' ori)inal todos %ue o leram não necessitam ser alertados# “não estamos a par de nada %ue ten!a sido escrito dentro da mesma cate)oria a %ue devem ser inclu(das o&ras como O morro dos ventos uivantes# “tudo %ue ' realmente &om nesse livro poderia ter sido mostrado num estilo mel!or, sem suas ima)ens revoltantes# “como um ser !umano pWde ter se esor1ado em escrever um livro como este sem cometer suic(dio antes de ter terminado uma dI6ia de cap(tulos, ' um mist'rio# “' uma com&ina1ão de deprava1ão vul)ar e !orrores não naturais# 11
cr>tico mais relevante desse está)io inicial de cr>tica sea o preácio de C!arlotte, %ue á mencionamos acima7 Bele vemos uma conivência total de C!arlotte com os ar)umentos dos cr>ticos da o&ra de sua irmã, com a dieren1a de %ue o intuito do preácio parece ser o de uma ustifcativa, %uase um pedido de desculpas, pelo ato de o romance ter sido escrito da%uela orma, tanto ' %ue ela alterou certas passa)ens do te=to ori)inal, supostamente para compensar as “al!as# da o&ra de sua irmã--7 Com o passar dos anos, ar)umentos cr(ticos mais sofsticados sur)iram7 * interesse pelo ro.ance de ?mil aumentou muito, mas ainda assim !avia %uem criticasse o ro.ance por sua %ualidade t'cnica rIstica7 4uitas oram as cr(ticas apontando apontaram a má %ualidade da escrita propriamente
dita
do
te=to,
suas
irre)ularidades
e
alta
de
verossimil!an1a-+7 Houve cr(ticas elo)iosas, sem dIvida, destacando o tra&al!o em cima das pai=;es e da tra)icidade contida na o&ra, como se esta tivesse alcan1ado um caráter de transcedentalidade raro ao )ênero romance7 *utra tendência constante, como &revemente apontado acima, oi a da cr(tica de cun!o &io)rafsta, %ue procurou e=plicar al)uns dos eni)mas propostos pelo romance a partir de detal!es &io)ráfcos, sempre muito especulativos e sem muita validade o&etiva7 “o&ra de )rande !a&ilidade# “[sua prosa\ irrompe em cenas %ue c!ocam mais do %ue atraem# Mesta Iltima o&serva1ão oi escrita por C!arlotteN7 11 4+it! re0ard to t!e rusticity o/ -+ut!erin0 ?ei0!ts,- 7 ad.it t!e c!ar0e, /or 7 /eel t!e @ualit1 't is rustic all through 't is moorish and wild and knotty as a root o" heath Nor &as it natural t!at it s!ould be ot!er&ise= t!e aut!or bein0 !ersel/ a native and nurslin0 o/ t!e .oors $% (Wuthering Heights( was hewn in a wild workshop with simple tools out o" homely materials 6 $BRONTË, < 4Editors pre/ace to t!e ne& edition o/ Wuthering Heights6 Kn3 /*BT_, ?7 op' cit' Arios nossos7N 12 F7/7 Leavis, em seu A grande tradição M-].>N, á no come1o do s'culo , opta por não colocar O morro dos ventos uivantes em seu cnone do romance in)lês por ra6;es desse mesmo tipo7 O autor diz* 4T!e 0enius, o/ course, &as E.il1 7 !ave said not!in0 about Wuthering Heights because t!at astonis!in0 &or( see.s to .e a kind o" sport 7t .a1, all t!e sa.e, ver1 &ell !ave !ad so.e inCuence o/ an essentiall1 undetectable (ind* s!e bro(e co.pletel1, and in t!e .ost c!allen0in0 &a1, bot! &it! t!e Dcott tradition t!at i.posed on t!e novelist a ro.antic resolution o/ !is t!e.es, and &it! t!e tradition co.in0 do&n /ro. t!e ei0!teent! centur1 t!at de.anded a plane.irror reCection o/ t!e sur/ace o/ -real- li/e6 $3ri/os nossos% reerência completaR 5 pr0pria presen1a do romance no cnone literário in)lês !oe deu2se mais pelo amontoado de polêmicas %ue acumulou desde sua pu&lica1ão do %ue pelo pouco prest()io acadêmico propriamente dito %ue o&teve7 12
Foi no s'culo , no entanto, %ue a o&ra come1ou a )an!ar mais prest()io art(stico7 5s análises se aprimoraram teoricamente e, devido a mudan1as morais e ideol0)icas ocorridas na pr0pria sociedade europeia, uma nova orma de apreciar o romance sur)iu, destacando elementos de
interesse at' então não notados ou plenamente considerados7 5 o&ra despertou o interesse de muitos surrealistas, %ue deram novo sentido interpretativo a aspectos %ue, no s'culo K, pareciam não uncionar, por não condi6erem aos valores &ur)ueses da 'poca, ainda mais se tratando de um romance escrito por uma mul!er7 Ba Fran1a, a !ist0ria das irmãs rontV 0an!a men1ão no clássico eminista O segundo se(o M-].]N, de Simone de eauvoir, e O morro dos ventos uivantes 0an!a estudo e=tenso de Aeor)e ataille, em A literatura e o mal M-]9@N, ou sea, desenvolve2se um interesse pela o&ra das rontV para al'm das ronteiras de pa(ses de l(n)ua in)lesa7 Um dos campos do sa&er %ue mais alterou de orma mais si)nifcativa a percep1ão da cr>tica oi, defnitivamente, a psicanálise, %ue preenc!eu de si)nifcado novo a %uestão dos deseos, dos son!os, dos antasmas, da violência e outras pai=;es %ue estão ortemente presentes na narrativa7 Bo decorrer do s'culo at' os dias de !oe, com o advento e multiplica1ão das correntes cr>ticas em estudos literários, aumentou, e muito, o volume de cr>tica a respeito de O morro dos ventos uivantes , sempre !etero)êneo, no entanto3 e62se mais cr>tica
psicanal(tica, mas tam&'m eminista, desconstrucionista, p0s2colonial, mar=ista etc7 Falemos, então, especifcamente acerca da cr>tica materialista em torno do romance e de como nossa pr0pria cr>tica pretende se)uir seus passos e avan1ar em rela1ão a ela7
A cr>tica .aterialista Tenta2se esta&elecer o v(nculo entre a realidade aparentemente a2 !ist0rica f)urada na narrativa de O morro dos ventos uivantes e os pormenores s0cio2!ist0ricos in)leses propriamente ditos desde o in(cio do s'culo 7 C7 P7 San)er, autor de “T!e structure o Wuthering Heights#
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M-]+
Foi /amond Zilliams, contemporneo de ettle, %uem deu o primeiro passo na dire1ão de uma cr(tica materialista sofsticada do romance de ?mil rontV7 ?m seu &reve cap(tulo so&re C!arlotte e ?mil rontV, presente em The English novel from *ic"ens to +awrence M-]@N-9, ele perce&eu %ue, para captar o processo !ist0rico imanente O orma literária, ' preciso aerir tam&'m o pr0prio movimento das pai=;es e dos aetos delineado na narrativa, al)o %ue inspirou proundamente nossa pes%uisa7 ?le tam&'m dei=ou pe%uenas, mas interessantes contri&ui1;es ao estudo dessa o&ra em The country and the city M-]@8N, “Forms o ?n)lis! fction in ->.># M-]>8N, e em al)umas das entrevistas compiladas em ,olitics and letters M-]@]N7 13 DAN3ER,
< 8 T!e structure o/ Wuthering Heights 7n* Hogarth Essays )') )ondon* ?o0art! 8ress, FGHI 14 JETT)E, A E.il1 Bront5 Wuthering Heights6 7n* An introduction to the English novel Ne& 'or(* ?arper Torc!boo(s, FGIK 15 +7))7ALD, R
Seu disc(pulo Terr ?a)leton oi %uem nos dei=ou a contri&ui1ão cr(tica mais rica so&re O morro dos ventos uivantes 7 Primeiramente em yths of power M-]@9N, o&ra totalmente dedicada ao estudo dos romances
das irmãs rontV7 Bo cap(tulo so&re o romance de ?mil, ele a6 uma análise e=austiva das contradi1;es en)endradas na o&ra, e do interesse %ue elas )eram-<7 ?m “Heat!cli` and t!e )reat !un)er# M-]]
e na introdu1ão Os novas edi1;es de yths of power M-]>@, +9N-], ?a)leton oi capa6 de retomar aspectos de seu tra&al!o, a&ordar novas %uest;es, e a6er a cr(tica dos aspectos pro&lemáticos de seus ensaios anteriores acerca de O morro dos ventos uivantes , sempre pensando o movimento das diversas contradi1;es %ue o romance instaura7 5 terceira e Iltima contri&ui1ão materialista de interesse, a meu ver, ' a da norte2americana Banc 5rmstron), em ensaios presentes em *esire and domestic -ction M-]>@N+ e .iction in the age of photography
M-]]]N+-7 Beles, Banc a&orda %uest;es intri)antes presentes em O morro dos ventos uivantes , como o deseo, o poder, a se=ualidade, e at' mesmo
a ra1a Mmaterial car(ssimo O cr(tica p0s2modernaN, sem perder de vista o ri)or anal(tico e a conte=tuali6a1ão !ist0rica7 Ba esteira das contri&ui1;es desses três intelectuais, procuramos desenvolver nosso estudo, articulando análise te=tual prounda e detal!ista e ree=ão !ist0rica a contrapelo, para usarmos a e=pressão de Zalter enamin7 5inda %ue muito pautados em seus te=tos, ima)inamos, entretanto, termos sido capa6es de ela&orar nossos pr0prios conceitos e ormular nosso pr0prio aporte te0rico !etero)êneo, %ue, em )eral, 16 EA3)ETON,
T Wuthering Heights 7n* ,yths o" power 17 EA3)ETON, T ?eat!cli and t!e 0reat !un0er 7n* Heathcli and the great hunger )ondon* erso, FGGP 18 EA3)ETON, T T!e Bront5s 7n* The English novel - an introduction 19 EA3)ETON, T 7ntroduction to t!e anniversar1 edition= EA3)ETON, T 7ntroduction to t!e second edition 7n* ,yths o" power 20 ARLDTRON3, N ?istor1 in t!e !ouse o/ culture 7n* *esire and domestic ction O2/ord* O8, FGM 21 ARLDTRON3, N Race in t!e a0e o/ realis.* ?eat!cli-s obsolescence 7n* /iction in the age o" photography
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constitui2se do material dei=ado pela tradi1ão da cr(tica literária materialista an)lo2sa=ã Mda %ual Zilliams e ?a)leton á são )randes e=poentesN, alemã e &rasileira7
Estrutura de tensões e obra dialStica Bo in(cio de nosso processo de análise, omos acumulando %uest;es li)adas aos componentes estruturais do romance Mnarrador, persona)ens, enredo, ima)ens etc7N7 ?m separado, elas pareciam nunca encontrar respostas precisas, mas em c!ave panormica, todas elas pareciam pertencer a um mesmo pro&lema ormal, tin!am al)o em comum, a sa&er, uma tensão em o)o7 Desde a conf)ura1ão do oco narrativo O constru1ão do espa1o, tanto a caracteri6a1ão das persona)ens como o percurso )eral do enredo, tudo parecia remeter a uma tensão, a um descompasso pulsante, %ue, por sua ve6, dava vida ao corpo )eral do romance, servia2l!e de or1a motri67 Fi6emos desse elemento, o da tensão, nosso ponto de partida, %ue or)ani6aria e unifcaria o todo de nossa ree=ão e de nossas inda)a1;es7 Se pensarmos %ue toda o&ra literária ' um edi(cio mantido por uma estrutura ormal particular, a de O morro dos ventos uivantes ', defnitivamente, uma estrutura de tens;es, por mais contradit0rio %ue isso possa soar7 5 pr0pria ima)em a %ue o termo alude, a de uma estrutura Mal)o r()ido e ortifcadoN composta por tens;es Mconceito %ue remete a volatilidade e pulsãoN, nos serve2nos muito &em em sua contraditoriedade7 5 nosso ver, nosso conceito de estrutura de tens;es corresponde ao modo como Terr ?a)leton descreveu o romance de ?mil rontV, a sa&er, uma o&ra dial'tica7 Bas palavras do autor, “Wuthering Heights is less a middle2o2t!e2road t!an a dialectical wor" , !ic! allos us to see !at partial ustice t!ere is on &ot! sides it!out ceasin) to insist on t!eir tra)ic incompati&ilit, or
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ondl trustin) t!at t!ese to cases add up to some !armonious !ole#++ /amond Zilliams di6 al)o semel!ante3 JKts [t!e novelbs\ interaction, its e=traordinar intricac o opposed and moderated &ut still a&solute eelin)s, is an active, dnamic process3 not /alance /ut dialectic3 contrariesJ+87 * %ue pretendemos a6er a%ui ' ustamente analisar O morro dos ventos uivantes partindo do pressuposto de %ue se trata de uma o&ra
dial'tica, de %ue sua estrutura ormal ' uma estrutura de tens;es7 Cada momento de nossa análise procurará desvelar os meandros da constru1ão dessas tens;es nos diversos planos de si)nifca1ão do te=to7 Beste está)io da pes%uisa, o %ue temos preparado '3 -N uma análise das tens;es do realismo no romance, %ue consideramos serem o pr0prio undamento da estrutura de tens;es da o&ra +N uma análise da conf)ura1ão comple=a do ponto de vista no romance, pensando principalmente o discurso pro&lemático da persona)em LocGood7 5o fnal, o %ue esperamos compreender mel!or ' o modo como essas muitas tens;es f)uradas no romance e conf)uradas em sua estrutura são, na verdade, resultado de um processo de redu1ão estrutural, para alarmos como 5ntonio Candido, em %ue o interno da orma da o&ra literária ' a transmuta1ão do e=terno da mat'ria !ist0rica7 Ksto ', as tens;es ormais da o&ra correspondem Os tens;es !ist0ricas vividas na Kn)laterra do s'culo K, principalmente %uando pensamos nos eeitos da /evolu1ão Kndustrial, na )entrifca1ão do campo e nos impasses do processo de moderni6a1ão em )eral, do ponto de vista da prov(ncia e dos oprimidos7 Passemos, então, Os análises7
22 EA3)ETON,
T T!e Bront5s 3ri/os nossos 23 +7))7ALD, R
Tensões do realis.o e. 0 morro dos ventos uivantes
5s tens;es do realismo em O morro dos ventos uivantes constituem o %ue acreditamos ser o pr0prio undamento da estrutura de tens;es da o&ra7 5 nosso ver, todas as outras tens;es presentes no romance são sustentadas e at' mesmo ener)i6adas por essa tensão undamental, á %ue se trata de uma %uestão de )ênero, cate)oria %ue en)lo&a todos os componentes ormais, temáticos e estil(sticos da o&ra literária7 * principal, mas não Inico elemento %ue se coloca em contradi1ão ao do realismo no romance de ?mil rontV, sem dIvida, como á atestado por muitos estudiosos, ' o do romanesco^)0tico+.7 ?ssa tensão, lon)e de acidental, a6 parte de um conunto ainda maior de tens;es no campo da fc1ão in)lesa por volta de ->.>, como descreve /amond Zilliams +97 De acordo com o autor, por mais %ue se sai&a %ue ' por volta de ->.> %ue sur)e um realismo &ur)uês caracter(stico na fc1ão, “o %ue o &ur)uês lia não era fc1ão &ur)uesa#, “a &ur)uesia [lia\ fc1ão predominantemente aristocrática#, al)o %ue, no plano da vida social, correspondia a um “entrela1amento comple=o e central para a cultura in)lesa dessa 'poca entre MsucintamenteN os aspectos aristocráticos e &ur)ueses dos sistemas de vida e valor#MBotaRN7 ?ssa fc1ão aristocrática ', no entanto, residual, se)undo Zilliams, pois a partir da d'cada de . do s'culo K come1a a ser menos escrita, por mais %ue sea ainda muito lida pelo pI&lico &ur)uês+<7 ?m&ora Zilliams não ale em romance )0tico %uando se reere 24 /omanesco
a%ui serve como tradu1ão para o portu)uês de “romance#, %ue, em in)lês, di6 respeito a um conunto de ormas literárias precedentes ao romance &ur)uês Mem in)lês, “novel#N, e %ue por ele oram, de certo modo, dominadas, ainda %ue não completamente, como comprova, al'm de outros atores, a e=istência do romance )0tico, )ênero no %ual persistem as ormas do romanesco e %ue, ustamente por isso, estão colocados em certo )rau de sinon(mia em nosso te=to, por mais %ue sai&amos %ue am&os não correspondem O mesma coisa7 Da%ui em diante usaremos o termo )0tico %uase %ue e=clusivamente, at' por%ue o romanesco, em O morro dos ventos uivantes, unciona %uase sempre a partir dos aspectos espec(fcos do )0tico7 25 ZKLLK54S, /7 “Formas da fc1ão in)lesa em ->.>#7 Kn3 A produção social da escrita7 São Paulo3 ?ditora UB?SP, +-87 18
aos tipos de fc1ão aristocrática, acreditamos %ue tal )ênero possa ser um deles, tendo em vista estas coloca1;es de David Punter3 “Aot!ic attends to a set o pro&lems concernin) relations &eteen &our)eoisie and aristocrac M777N all t!e di`erent Ginds o fction [t!at\ ere popular in t!e later ei)!teent! centur MN plaed upon t!e remarGa&l clear ur)e o t!e middle class to read a&out aristocrats M777N [)ot!ic novels\ ere ritten or middle2class audiences MN t!e all deal primaril in ima)es o t!e aristocrac#+@ /amond Zilliams coloca O morro dos ventos uivantes como um dos diversos romances %ue, de al)uma orma, emer)iram Mele ala em Jormas emer)entesJN no campo da produ1ão literária por conta desse entrela1amento entre JresidualJ Maristocrático, e %ue a%ui entendemos como )0tico, no campo da fc1ãoN e JdominanteJ M&ur)uês, e %ue a%ui entendemos como realistaN, sem, no entanto, corresponder a nen!um desses tipos de produ1ão7 4as ' necessário esclarecer, primeiro, o %ue, nesta pes%uisa, entendemos como realismo e como )0tico7 Somente ap0s esses dois momentos preliminares, discorreremos acerca de como esses dois elementos entram em tensão no romance de ?mil rontV7
Realis.o “* de&ate atual, ou mel!or, a ausência de de&ate, so&re o realismo ', em essência, um tipo de luta de &o=e com um oponente ima)inário, onde os )olpes nunca acertam por%ue o rin)ue ' amplo demais, não !á cordas# Kan Zatt+> :uando se utili6a, em cr(tica literária, o termo “realismo#, ' necessário, antes de %ual%uer coisa, sa&er se a o&ra estudada possui, 26 *
au)e da produ1ão de fc1ão )0tica ocorre no fnal do s'culo KKK7 ?m meados do s'culo K, %uando ?mil pu&lica seu romance, o )ênero á está em decadência7 27 8NTER, # 4Docial relations o/ 0ot!ic :ction6 7n* AERD,#, -7 28 Z5TT, K7 “Can!estro e deteriorado3 as realidades do realismo#7 Literatura e Sociedade, São Paulo, n7 -., +-7 19
eetivamente, al)o a ver com tal termo7 Lem&remo2nos de %ue não se trata de uma a&stra1ão universal e trans2!ist0rica aplicável a %ual%uer o&eto em %ual%uer conte=to7 “/ealismo# ' um conceito polissêmico %ue possui dierentes acep1;es de acordo com as dierentes áreas do sa&er nas %uais está inserido Mflosofa, !ist0ria da arte, teoria literária etc7N7 Cada uma dessas acep1;es possui matri6 !ist0rica, conte=tos de utili6a1ão, desenvolvimentos te0ricos particulares, %ue Os ve6es se entrecru6am7 Bo caso dos estudos literários, a no1ão de realismo está proundamente li)ada ao conte=to de ascensão, consolida1ão e crise da orma romance na ?uropa durante os s'culos KKK, K e in(cio do 7 Bão %ue sea totalmente desca&ido o uso do termo em rela1ão a outros o&etos literários, de outros per(odos !ist0ricos, mas o cuidado para com a !istoricidade do conceito e sua rela1ão eetiva com o o&eto investi)ado ' o %ue torna um estudo de vi's materialista, como este, r()ido e preciso teoricamente7 :uest;es de representa1ão literária de determinados aspectos da realidade material, e=traliterária, não necessariamente pertencem ao campo conceitual do realismo, por mais %ue as duas coisas esteam proundamente interli)adas7 Com eeito, a no1ão de realismo sur)iu na tentativa de pro&lemati6ar e, muitas ve6es, solucionar tais %uest;es7 ?=ploremos este pro&lema !ist0rico mais a undo7 * conceito de realismo )an!ou importncia no campo da pintura e, posteriormente, do romance em meados do s'culo K na Fran1a, como á ' &em sa&ido7 Tornou2se escola e se espal!ou por diversas re)i;es do )lo&o, )erando polêmica e dividindo as opini;es de muitos intelectuais e artistas %ue se pun!am ou contra ou a avor desse /ealismo com “r# maiIsculo7
Correspondia
a
princ(pios
art(sticos
espec(fcos
de
representa1ão da realidade e da vida social M%ue constituem o !oe c!amado
“Baturalismo#N
e
advo)ava
em
prol
de
um
contato
supostamente mais direto e sem media1;es entre o&ra de arte e mundo concreto, material7 ?ra, nas palavras de /amond Zilliams, “M777N um m'todo ou uma atitude na arte e na literatura $ primeiro uma e=atidão e=cepcional de 20
representa1ão, e mais tarde um compromisso de descrever os acontecimentos reais e mostrar as coisas tal como elas e=istem#+] Bo come1o do s'culo , no entanto, em decorrência de muitos atores s0cio2!ist0ricos %ue não e=ploraremos a%ui, seu si)nifcado soreu uma importante transorma1ão3 para al'm de m'todos prescritivos de representa1ão Mna pintura ou no romanceN, o realismo passou a di6er respeito
a
mIltiplas
e
diversas
possi&ilidades
de
representar
artisticamente um “todo# real, sea psicol0)ico sea !ist0rico2social, ainda %ue as prescri1;es est'ticas do Baturalismo não ossem se)uidas7 ?stas, inclusive, perderam &oa parte de seu prest()io, uma ve6 %ue os artistas perce&eram %ue a tal tentativa de rompimento com as media1;es entre vida real e o&ra de arte não podia ser eetivamente empreendida7 Bas palavras de Terr ?a)leton, em te=to conciso, por'm e=tremamente esclarecedor a esse respeito,
4Artistic realis., t!en, cannot .ean represents t!e &orld as it is, but rat!er represents it in accordance &it! conventional realli/e .odes o/ representin0 it But t!ere are a variet1 o/ suc! .odes in an1 culture, and in accordance &it! conceals a .ultitude o/ proble.s +e cannot co.pare an artistic representation &it! !o& t!e &orld is, since !o& t!e &orld is is itsel/ a .atter o/ representation68 Ba mesma esteira, /amond Zilliams di6 %ue “* eeito da representa1ão veross(mil, a reprodu1ão da realidade, ', na mel!or das !ip0teses, uma conven1ão art(stica espec(fca e, na pior, uma alsifca1ão %ue nos a6 tomar como reais as ormas da representa1ão# 8-
29 ZKLLK54S,
/7 “/ealismo#7 Kn3 ,alavras1chave& um voca/ul2rio de cultura e sociedade7 Dão 8aulo* Boite.po, HKKM Mpá)inaRN 30 EA3)ETON, T 48or(
5ntonio Candido, em te=to &astante elucidativo acerca do realismo !eterodo=o de 4arcel Proust, adianta os termos do “novo realismo#3 “M777N a la&oriosa descri1ão realista constr0i uma ima)em colorida e animada, mas no undo não passa de um acImulo de pormenores %ue valem pouco en%uanto possi&ilidade de compreensão eetiva7 ?la estende aos seres a mesma mirada e=terna com %ue se diri)e aos o&etos, apresentando2os como unidades autWnomas de si)nifcado Inico, %ue produ6em uma simples aparência de sentido# “M777N talve6 a realidade se encontre mais em elementos %ue transcendem a aparência dos atos e coisas descritas do %ue neles mesmos7 ? o realismo, estritamente conce&ido como representa1ão mim'tica do mundo, pode não ser o mel!or condutor da realidade#8+ /amond Zilliams resume &em os novos parmetros da %uestão3 “5 realidade a%ui ' vista não como uma aparência estática, mas como o movimento de or1as psicol0)icas, sociais ou (sicas o realismo ', assim, um compromisso consciente de compreendê2las e descrevê2las#88 Por fm, citemos Banc 5rmstron), so&re %uem alaremos mais um pouco lo)o adiante, para arrematarmos isso %ue estamos c!amando de realismo J!eterodo=oJ em compara1ão a um realismo JtradicionalJ3
7 call realis. an1 representation t!at establis!es and .aintains t!e priorit1 o/ t!e sa.e social cate0ories t!at an individual could or could not actuall1 occup1 Realis. so de:ned can be distin0uis!ed /ro. &ritin0 t!at reCects or re/ers to people and t!in0s t!e.selves +!ile (no&led0e o/ an individual .ade it possible to identi/1 !is or !er i.a0e &!en one sa& it, t!at i.a0e rarel1 i/ ever 0ave one access to t!at individual- c!aracter, .ind, or soul T!ere &as, in t!is 32 C5BDKD*,
57 “/ealidade e realismo Mvia 4arcel ProustN#7 Kn3 0ecortes7 São Paulo3 Compan!ia das Letras, -]]87 33 +7))7ALD, R op. cit. 22
crucial sense, no suc! t!in0 as a per/ect cop1 $% science &as discoverin0 to its dis.a1 t!at even p!oto0rap!s could not 0uarantee a onetoone relations!ip bet&een i.a0e and obXect, :ction &as insistin0 t!at i.a0es did in /act provide an accurate .ap o/ t!e &orld 7n contrast to t!e notion o/ realis. 7 a. pursuin0, literar1 realis. in t!e si.ple and restrictive sense is &ritin0 t!at re/ers to t!e cate0ories o/ t!e visual order as i" t!ose cate0ories &ere indeed t!e t!in0s and people t!e1 label Realis. t!at re/ers to t!e &orld as t!in0s $/or e2a.ple, t!e (ind o/ realis. &e :nd in t!e scienti:c literature o/ t!e period% &as an entirel1 dierent (ind o/ &ritin0 and .uc! less i.portant to literar1 production t!an t!e (ind o/ realis. t!at re/ers to t!e &orld as i.a0e YDo.eZ novels carr1 out t!e &or( o/ realis. all t!e .ore eectivel1 b1 virtue o/ t!eir departures /ro. it ?ence t!e proli/eration o/ /antastic sub0enres durin0 a period (no&n /or realis.8. Bo decorrer do s'culo , com o desenvolvimento da Teoria Literária, esse novo ol!ar em rela1ão ao realismo atin)iu o interesse de uma )ama enorme de cr(ticos Mos á mencionados acima %ue o di)amN, %ue ampliaram ainda mais o alcance do conceito e comple=ifcaram ainda mais a %uestão7 Desde os ormalistas russos at' os pensadores dos estudos
culturais,
passando
pela
cr(tica
mar=ista
e
pelo
p0s2
estruturalismo, não !ouve %uem não se interessasse, em maior ou menor n(vel, pela %uestão do realismo, e assim ' at' !oe7 Um desses cr(ticos oi o in)lês Kan Zatt, cuo interesse maior residia não no realismo em si, mas em sua cone=ão com a ascensão da orma romance na Kn)laterra setecentista7 Zatt, em sua o&ra2prima, The rise of the novel M-]9@N, retomou a no1ão tradicional de realismo e a reormulou a fm de entender %ual era, e como uncionava, o imperativo de verossimil!an1a %ue 34 ARLDTRON3,
N Race in t!e a0e o/ realis.* ?eat!cli-s obsolescence 7n* /iction in the age o" photography 23
dierenciava a orma romance de ormas literárias precedentes7 Bas palavras do pr0prio, tratava2se de compreender as “transorma1;es flos0fcas, sociais, econWmicas e educacionais %ue aetaram tanto os autores como o pI&lico leitor, transorma1;es %ue condu6iram a uma ênase so&re o indiv(duo, so&re a particularidade do tempo e do espa1o, so&re o universo material e a vida cotidiana3 todos esses, entre outros atores !ist0ricos, criaram uma versão su&stancialmente nova da anti)a preocupa1ão da literatura com a verossimil!an1a#89 ?le ela&orou, então, um novo conceito, “realismo ormal#, %ue, a nosso ver, ' uma das tentativas mais refnadas de compreender, de orma )eral, uma s'rie de procedimentos narrativos maoritariamente comuns aos primeiros romances “realistas# in)leses7 ?sse conceito não s0 ilumina o campo do romance in)lês do s'culo KKK como tam&'m esclarece todo um conunto de caracter(sticas %ue viria a defnir o realismo romanesco europeu do s'culo K7 Lon)e de se ade%uar O acep1ão tradicional de realismo, o realismo ormal de Zatt ', na verdade, “&astante independente do tipo de considera1ão envolvida com o realismo como nome de uma determinada escola literária interessava2me menos ainda o realismo como uma doutrina cr(tica consciente %ue supostamente proessa %ue a fc1ão ' ou deveria ser uma reprodu1ão oto)ráfca ver&al da realidade, ou uma imita1ão direta, não mediada, da vida#8< Há muitos elementos importantes e di)nos de discussão no te=to de Zatt8@ Mcomo, por e=emplo, a undamental %uestão da ênase na e=periência do indiv(duo presente no romanceN, mas tra&al!aremos a%ui somente com o %ue mais nos interessa dentro do campo do realismo ormal, a sa&er, o %ue o autor c!ama de “particularidade da descri1ão#7 Dierentemente da descri1ão no mito, na poesia 'pica e no romanesco 35 +ATT, 36
7 op. cit
'dem
37 +ATT,
7 4Realis. and t!e novel /or.6 7n* The rise o" the novel: studies on *e"oe 1ichardson and /ielding London3 Pimlico, +7 24
MJromanceJN, no romance realista o detal!e do particular, !ist0rica e socialmente especifcado, era crucial7 ?ssa descri1ão particulari6ada se aplicava a uma s'rie de elementos do romance, mas %ueremos c!amar aten1ão somente a estes3 persona)ens, atrav's do destino determinado pelas pr0prias a1;es e do uso do nome pr0prio espa1o, composto de am&ientes (sicos “verdadeiros#8> e tempo, ordenado cronolo)icamente, pautado em uma l0)ica de causa e conse%uência, onde passado inuencia presente %ue inuencia uturo7 Todos sempre especifcados, demarcados, nomeados, particulari6ados, de acordo com os padr;es de reerência do pI&lico leitor &ur)uês, ou sea, a verossimil!an1a na orma romance operava conorme as no1;es de verdade e realidade nutridas por esse pI&lico7 *utra e=pressão interessante de Zatt ' “presentation o &acG)round [apresenta1ão de pano de undo\#, pois cada aspecto ela&orado pela orma romance possu(a especifcidade !ist0rica %ue aparecia no te=to, de tal orma %ue s0 pudesse pertencer ao seu tempo e lu)ar, sem a possi&ilidade de ser )enerali6ado7 4uito do %ue Kan Zatt c!ama de “particularidade da descri1ão# no romance in)lês do s'culo KKK adianta certas %uest;es %ue Banc 5rmstron) e=plora em seu comple=o e interessant>ssi.o te=to so&re o realismo
na
fc1ão vitoriana8]7
Se)undo
esta
autora,
uma
das
caracter(sticas mais e=pressivas %ue constituem o realismo romanesco da se)unda metade do s'culo K na Kn)laterra ' a sua visualidade ima)'tica, oto)ráfca7 E. suas palavras,
47 e2a.ine nineteent!centur1 Britis! culture as t!e ti.e &!en and t!e place &!ere i.a0e and obXect be0an to interact accordin0 to t!e rules and procedures co..onl1 called 4realis.6 $% 7t &as to cas! in on t!e 0idd1 e2pansion o/ re/erential possibilities aorded b1 t!e reversal o/ t!e .i.etic priorit1 o/ ori0inal over cop1 t!at :ction developed t!e 38 *
termo em in)lês, de di(cil tradu1ão, ' “actual#7 39 ARLDTRON3, N 47ntroduction* +!at is real in realis.[6 7n* /iction in the age o" photography
25
repertoire o/ tec!ni@ues .ost co..onl1 associated &it! realis.6 4:ction e@uated seein0 &it! (no&in0 and .ade visual in/or.ation t!e basis /or t!e intelli0ibilit1 o/ a verbal narrative6 5o associar visual e ver&al, fc1ão e oto)rafa, no realismo romanesco vitoriano, 5rmstron) não s0 comple=ifca e sofstica o tão citado caráter “descritivo# da prosa realista^naturalista, como tam&'m ornece um elemento a mais para a no1ão de realismo %ue estamos ela&orando7 5 rase a se)uir, de sua autoria, resume &em os pro&lemas %ue nos são de interesse3
4it is .ore accurate to t!in( o/ realis. and p!oto0rap!1 as partners in t!e sa.e cultural proXect +ritin0 t!at ai.s to be ta(en as realistic is p!oto0rap!ic in t!at it pro.ised to 0ive readers access to a &orld on t!e ot!er side o/ .ediation and sou0!t to do so b1 oerin0 certain (inds o/ visual in/or.ation $% t!e &ritin0 &e no& call realis. provided t!is in/or.ation in suc! a &a1 t!at t!e reader &ould reco0nize it as indeed belon0in0 to t!e obXects and people o/ t!e &orld t!e.selves6 Na .es.a esteira, porS. e. ensaio .enos co.ple2o, de car9ter introdut;rio, o nortea.ericano 8eter Broo(s ta.bS. diz @ue 4realist literature is attac!ed to t!e visual, to loo(in0 at t!in0s, re0isterin0 t!eir presence in t!e &orld t!rou0! si0!t $% p!oto0rap!1 co.es into bein0 alon0 &it! realis.6. Deste autor, nos interessou a aten1ão %ue ele c!ama O cone=ão entre e=periência ordinária no romance realista e modo de vida &ur)uês MO %ual Zatt tam&'m dá desta%ue no cap(tulo so&re /o&inson Crusoe de The rise of the novelN3 “M777N ne valuation o ordinar e=perience and its ordinar
BROOJD, 8 4Realis. and representation6 7n* 1ealist vision Ne& ?aven* 'ale niversit1 8ress,+97 40
26
settin)s and t!in)s7 T!is ne& valuation is o/ course tied to t!e rise
o/ t!e .iddle classes to cultural inCuence6.- Eá %ue alamos em e=periência ordinária, voltemos a Zatt e Os suas ree=;es &reves, mas proundas, acerca do realismo posterior a Deoe, /ic!ardson e Fieldin), os pioneiros da orma romance7 ?le destaca dois autores, Laurence Sterne e Eane 5usten7 São seus apontamentos so&re esta Iltima, muito mais do %ue os so&re o primeiro, %ue nos são relevantes7 Conorme Zatt, 5usten ' continuadora do realismo ormal “ori)inal#3 sua o&ra unciona como uma esp'cie de s(ntese das am&ivalências postas pelas o&ras de /ic!ardson e Fieldin)7 5o mesmo tempo em %ue ornece descri1;es precisas do cotidiano M/ic!ardsonN, ornece tam&'m material de avalia1ão a respeito do %ue narra MFieldin)N, sem intrus;es proundas, no entanto7 5usten constr0i narradores com aparência de o&etividade, lucide6 e “esp(rito impessoal de compreensão social e psicol0)ica#, se)undo Zatt7 :uem avan1a a esse respeito são dois cr(ticos cuos te=tos não discorrem acerca da %uestão do realismo propriamente dito, mas ortaleceram muito a no1ão !etero)ênea de realismo %ue adotamos a%ui3 /amond Zilliams, mais uma ve6, e Franco 4oretti7 5 e=pressão “unidade de tom#, de Zilliams, ao alar dos romances de Eane 5usten, ' certeira, condensa pereitamente o %ue Zatt di6 a respeito dos narradores austenianos, esse controle narrativo %ue tão “&em# or)ani6a e delineia seus enredos e a caracteri6a1ão de suas persona)ens.+7 “em# no sentido do “estilo s'rio# adotado pelo romance realista europeu na primeira metade do s'culo K, como ela&ora Franco 4oretti em ensaio a&uloso .87 Um de seus muitos ar)umentos ' o de %ue Eane 5usten escreveu seus romances conorme a seriedade do modo de 41
3dem7
42 C7
ZKLLK54S, /7 “Três escritores na re)ião de Farn!am#7 Kn3 O campo e a cidade7 São Paulo3 Compan!ia das Letras, +--7 5 e=pressão Junidade de tomJ se torna ainda mais interessante O nossa ree=ão %uando lem&ramos %ue Zilliams a usa pensando no %uadro !ist0rico e pol(tico tur&ulento no %ual Eane 5usten estava inserida, mas %ue não aparece nos seus romances7 Zilliams inclusive di6 %ue a unidade de tom ' um verdadeiro parado=o do romance austeniano7 43 4*/?TTK, F7 “* s'culo s'rio#7 Kn3 4*/?TTK, F7 Mor)7N O romance 4 vol' 5& a cultura do romance7 Dão 8aulo*
27
vida
&ur)uês
da%uele
per(odo,
composta
de
valores
como
“impessoalidade#, “precisão#, “conduta de vida re)ular e met0dica#, “certo distanciamento emotivo#, e investida pela l0)ica da racionali6a1ão e&eriana7
Da(
seus
enredos
muito
mais
marcados
pelos
“preenc!imentos# Meventos %ue acontecem entre uma mudan1a e outraN do
%ue
pelas
J&iurca1;esJ
Meventos
%ue
)eram
poss(veis
desdo&ramentosN, e compostos por persona)ens cua vida ' “s0lida e responsável#7 * “s'rio# corresponde O “!onestidade comercial#, ' “confável, met0dico e claro#, di6 4oretti, e a isso tam&'m correspondem as persona)ens e enredos de Eane 5usten, cuo modelo de romance serve de prot0tipo O nossa acep1ão de romance realista, da( a importncia %ue estamos dando a ela neste Iltimo momento de nossa discussão so&re essa complicada %uestão7 4ais adiante, fcará mais claro como ' undamental estarmos a par do modus operandi dos narradores e dos enredos austenianos para %ue as contradi1;es e pro&lemas do realismo em opera1ão no romance de ?mil rontV ven!am O tona7
3;tico * conceito de )0tico, cuo uso nem sempre ' o mais apropriado .., ' tam&'m &astante comple=o mas, em Teoria Literária, constitui um pro&lema &em mais espec(fco e delimitado do %ue o de realismo7 Luito
.ais do @ue u. 0\nero propria.ente dito, acredita.os, con/or.e palavras de #avid 8unter e 3lennis B1ron, @ue 4t!e 3ot!ic is .ore to do &it! particular .o.ents, tropes, repeated .oti/s t!at can be /ound scattered, or disse.inated, t!rou0! t!e .odern &estern literar1 tradition6.9 44 #e
acordo co. "a.es +att, a pr;pria cate0oria do 0;tico S u.a construção .oderna* 4A !istoricall1 0rounded stud1 o/ 3ot!ic :ction .ust be0in b1 ac(no&led0in0 t!at t!e 0enre itsel/ is a relativel1 .odern construct T!e 3ot!ic ro.ance as a descriptive cate0or1 is t!e product o/ t&entiet! centur1 literar1 criticis., and speci:call1 o/ t!e revival o/ interest in lateei0!teent! centur1 ro.ance in t!e FGHKs and FGVKs6 +ATT, " 47ntroduction6 7n* Contesting the gothic
Bão
aremos
a%ui
uma
e=posi1ão
e=austiva
das
matri6es
etimol0)icas, !ist0ricas e sociais do )0tico ao inv's em ve6 disso, iremos e=por &revemente al)umas das principais caracter(sticas li)adas a tal conceito no campo do romance Mos tais “moments#, “tropes# e “motis# mencionados acimaN7 Bas palavras de Sandra asconcelos, “o )0tico sur)e para pertur&ar a super(cie calma do realismo e encenar os medos e temores %ue rondavam a nascente sociedade &ur)uesa#.<7 4a))ie il)our, em seu livro The rise of the gothic novel M-]]9N, di6 %ue
“o )0tico ' portanto uma visão de pesadelo de um mundo moderno, eito de indiv(duos separados, %ue se dissolveu em rela1;es predat0rias e demon(acas %ue não podem ser reconciliadas numa ordem social saudável#.@ *s dois trec!os resumem &em a no1ão de )0tico %ue nos interessa, pois destacam sua emer)ência e presen1a em rela1ão Mou mel!or, em contraposi1ãoN ao mundo &ur)uês iluminista, em contraposi1ão a ele, na verdade7 * )0tico ' a%uilo %ue vai na contramão do realista, do dom'stico, do amiliar e do cotidiano, ou sea, do “s'rio# morettiano7 Para reali6ar tal empreitada, lan1a mão de uma s'rie de ormas, tais como3 “ênase na representa1ão do terr(vel, a insistência dos cenários arcaicos, o uso do so&renatural, as persona)ens estereotipadas, o uso da t'cnica do suspense#.>7 5inda conorme Sandra asconcelos, al)uns dos temas principais do )0tico são “a tirania, a opressão e a supersti1ão# .]7 Punter e ron destacam estes elementos como al)uns dos mais recorrentes na fc1ão )0tica3 o castelo assom&rado, o monstro, o vampiro, a perse)ui1ão 45 8NTER,
# X Y/*B, A7 “Kntroduction#7 Kn3 The gothic O2/ord* Blac(&ell 8ublis!in0, HKK] "a.es +att ta.bS. a:r.a @ue 43ot!ic :ction &as /ar less a tradition &it! a 0eneric identit1 and si0ni:cance t!an a do.ain &!ic! &as open to contest /ro. t!e :rst, constituted or structured b1 t!e o/ten anta0onistic relations bet&een dierent &riters and &or(s6 Z5TT, E7 op' cit 7 46 5SC*BC?L*S, S7 “/omance )0tico3 persistência do romanesco#7 Kn3 *e$ liç6es so/re o romance ingl7s do s8culo 9:333 7 São Paulo3 oitempo ?ditorial, ++7 47 KLA*U/, 47 apud 5SC*BC?L*S, S7 op' cit 7 48 AD
e a paranoia, o unheimlich Mno sentido reudianoN, o a&uso, a alucina1ão e os narc0ticos97 De orma )eral, %uem resume &em a acep1ão de )0tico %ue nos ' relevante ' Fred ottin), ao destacar o aspecto do “e=cesso# %ue marca o )ênero7 ?m suas palavras, “ 2othic signies a writing o" e3cess #7 4ais adiante ele di63
47n 3ot!ic productions i.a0ination and e.otional eects e2ceed reason 8assion, e2cite.ent and sensation trans0ress social proprieties and .oral la&s A.bivalence and uncertaint1 obscure sin0le .eanin0 #ra&in0 on t!e .1t!s, le0ends and /ol(lore o/ .edieval ro.ances, 3ot!ic conXured up .a0ical &orlds and tales o/ (ni0!ts, .onsters, 0!osts and e2trava0ant adventures and terrors Associated &it! &ildness, 3ot!ic si0ni:ed an overabundance o/ i.a0inative /renz1, unta.ed b1 reason and unrestrained b1 conventional ei0!teent!centur1 de.ands /or si.plicit1, realis. or probabilit169Q esse caráter de e=cesso %ue encontraremos a&undantemente em O morro dos ventos uivantes 7 Q* importante, entretanto, ' sempre dei=ar
claro %ue ele esse e=cesso possui ra6ão de ser, corresponde a um processo s0cio2!ist0rico e, neste caso, conf)ura sim&olicamente um )rande pro&lema !ist0rico li)ado O ascensão da &ur)uesia, ao decl(nio ideol0)ico da aristocracia e O emer)ência de or1as revolucionárias oposicionistas, sea ao 5nti)o /e)ime, aos &ons modos corteses, ao advento da ra6ão iluminista ou ao avan1o da modernidade industrial7
"a.es +att, resu.indo #avid 8unter, diz* 48unter reads t!e 3ot!ic as a .aterialist 0enre, a literature o/ sel/anal1sis &!ic! e.er0ed at a sta0e &!en t!e bour0eoisie be0an to tr1 to understand t!e conditions and !istor1 o/ t!eir o&n 50 8NTER,
# X Y/*B, A7 op. cit 51 BOTT7N3, ^ 47ntroduction6 7n* 2othic )ondon* Routled0e, FGGI 30
ascent 7n a period o/ industrialization and rapid social c!an0e, accordin0 to 8unter, 3ot!ic &or(s insistentl1 betra1ed t!e /ears and an2ieties o/ t!e .iddle classes about t!e nature o/ t!eir ascendanc1, returnin0 to t!e issues o/ ancestr1, in!eritance, and t!e trans.ission o/ propert1* nder suc! circu.stances, it is !ardl1 surprisin0 to :nd t!e e.er0ence o/ a literature &!ose (e1 .oti/s are paranoia, .anipulation and inXustice, and &!ose central proXect is understandin0 t!e ine2plicable, t!e taboo, t!e irrational69+ * pr0prio Punter, em “Social relations o )ot!ic fction#98, di6 %ue
43ot!ic &riters &ere tr1in0 to co.pre!end t!e relations bet&een !istorical present and past, tr1in0 to assess &!at !ad been 0ained and &!at lost in t!e transition to t!e e.er0ent capitalist state6 Q nesse sentido %ue O morro dos ventos uivantes mais se apro=ima da est'tica da fc1ão )0tica, inclusive por ela&orar uma narrativa %ue não se passa na mesma 'poca de sua pu&lica1ão, mas no fm do s'culo KKK, au)e da produ1ão de romances )0ticos na Kn)laterra, como á apontado acima7 ?=ploraremos a)ora, em mais detal!e, parte das contri&ui1;es
i.portant>ssi.as de David Punter ao de&ate so&re o )0tico, sempre pensando a cone=ão entre suas o&serva1;es e elementos espec(fcos presentes em O morro dos ventos uivantes 7 Bo ensaio á mencionado acima, Punter empreende um &reve, mas proundo percurso anal(tico acerca de %uatro dos romances )0ticos mais importantes dessa tradi1ão, a sa&er, O castelo de Otranto M-@<.N, de Horace Zalpole, O monge M-@]9N, de 4att!e Leis, Os mist8rios de ;dolpho M-@].N e O italiano M-@]@N, am&os de 5nn /adcli`e7 5o comentar a respeito do romance de Zalpole, Punter destaca a “interspersal o scenes o !i)! lie and lo lie#, %ue ' al)o %ue em O 52 +ATT,
" op. cit. 53 8NTER, # op. cit. 31
morro dos ventos uivantes se vê, de certa orma, na dualidade entre os
modos de vida da Arana M“!i)! lie#N e do 4orro M“lo lie#N destaca tam&'m o tema da “visitin) o t!e sins o t!e at!ers on t!eir c!ildren#, %ue ' uma orma poss(vel de se pensar a rela1ão entre a primeira e a se)unda )era1ão das am(lias do romance7 5l'm disso, o critico ala tam&'m dos vil;es )0ticos, %ue costumam ser conun1;es de &ar;es e f)uras de poder antissocial, um modo &astante interessante de se compreender a persona)em Heat!cli` M%ue, em certo n(vel, unciona como um &arão sem o t(tuloN7 5o alar so&re Os mist8rios de ;dolpho , menciona a persona)em Ludovico, servente %ue “locGed or a ni)!t in a !aunted room, reads a )!ost stor !ic! eventuall s!ades into realit#, o %ue nos remete ao o %ue se assemel!a muito ao narrador LocGood, assom&rado em son!o pelas ima)ens su)eridas nos te=tos de Cat!erine7 lendo os te=tos de Cat!erine e sendo, lo)o em se)uida, assom&rado em son!o pelas ima)ens ali su)eridas7 Ainda sobre 4dolpho, diz* 4T!e
in!abitants o/ dolp!o .a1 be 0!osts, bandits or devils* to E.il1 Ypersona0e. desse ro.anceZ t!e1 are t!e incarnation o/ evil, and t!eir realit1 can onl1 be read t!rou0! t!e .ediu. oered b1 !er dislocated .ind6 MnotaRN Ksso a6 lem&rar, mais uma ve6, LocGood, ao c!e)ar ao 4orro pela primeira ve6 e se derontar com a%uela realidade %ue, por não l!e ser amiliar, ' descrita e interpretada com muito preconceito e vi's de classe7 :uando comenta so&re O monge , MPunterRN menciona as “stories it!in stories#, um processo semel!ante ao %ue vemos na %ue ' e=atamente como unciona a estrutura narrativa de O morro dos ventos uivantes, dividida entre dois narradores principais, mas %ue passam a
palavra a outros narradores em diversos momentos da o&ra7 ?m /adcli`e e Leis, Punter encontra Jpersecuted !eroines [t!at are\ martrs also to t!e repressed parts o t!eir on psc!esJ, descri1ão %ue tam&'m poderia se aplicar %ue ' um modo de encarar tanto a Cat!erine mãe %uanto a Cat!erine fl!a7 , ?em&ora a primeira defnitivamente não sea alvo de perse)ui1ão, a se)unda não demonstra sorer de repressão ps(%uica tão intensamente %uanto a mãe7 5demais,, e nen!uma das duas sea
32
caracteri6ada e=atamente como uma !ero(na7 Fala tam&'m das “an=ieties a&out social institutions, in particular t!e amil and t!e C!urc!#, %ue são duas institui1;es em claro estado de emer)ência no romance, afnal tanto a am(lia ?arns!a %uanto a am(lia Linton entram em verdadeiro colapso, ocasionando o )rande drama da o&ra, e o cristianismo das persona)ens não passa de conven1ão social ou, no caso do empre)ado Eosep!, instrumento de antipatia, crueldade e repressão7
oltando a /alar sobre 4dolpho, 8unter diz @ue 44nderlings and servants are mostly malicious 5...6 and when they are not they are "oolish and presumptuous. City li"e 5...6 is portrayed as wholly destructive o" real "amilial virtue 6 MnotaN 5 parte Sua
descri1ão dos serventes condi6 com a orma como são caracteri6ados Eosep! e illa!, os dois Inicos empre)ados %ue possuem, ao lado de , com e=ce1ão de Bell Dean, %ue possuem al)uma importncia7 Todos os outros, %ue aparecem em cenas &rev(ssimas, se%uer são c!amados pelo nome, uncionam %uase como uma se)unda nature6a da narrativa7 Tam&'m nos interessa o comentário de Punter so&re a vida na cidade7 5 parte da vida na cidade tam&'m ' de interesse ,M5ainda %ue não !aa, em momento al)um, cena %ue se passe em cidade, vilareo ou local propriamente pI&licoN, se pensarmos %ue o tempo %ue Heat!cli` passou ora do 4orro pode muito &em ter sido na cidade, e o %ue, ao voltar, ele tra6 ao voltar ' apenas desesta&ilidade O rec'm2ormada am(lia de Cat!erine e ?d)ar Linton7 Dobre o t;pico da /a.>lia, 8unter destaca,
ainda e. 4dolpho, 4the nostalgic emphasis on the "amily unit as sacred and inviola!le !eing all too o"ten in direct con"rontation with
the
themes
o"
claustropho!ia
and
connement 6
*
confnamento, elemento da maior importncia na narrativa de O morro dos ventos uivantes, em muitos momentos remete O desordem da
unidade amiliar, principalmente %uando pensamos nos aprisionamentos %ue ocorrem no 4orro a mando e, Os ve6es, pelo pun!o de Heat!cli`7 5o alar outra ve6 do romance de Leis, Punter comenta a respeito da f)ura do demWnio, a %ual, no romance de ?mil, e=iste de duas ormas3 na &oca das persona)ens %ue constantemente e=clamam seu
33
nome Mtam&'m o do inerno, %ue l!e ' correlatoN, e em Heat!cli`, %ue ' re%uentemente comparado a um demWnio ou ao pr0prio dia&o durante toda a narrativa7 4enciona tam&'m as “ !ar!arities o" "eudal social li"e a world dependent on "orce and violence rather than colla!oration and sneers at our repressions #, @ue t\. tudo a ver
com o romance, em especial a %uestão da or1a e da violência, como %ueremos e=plorar em nosso tra&al!o no uturo7 Concluindo nessa mesma toada, citemos uma passa)em &astante relevante em %ue Punter destaca a %uestão contradit0ria entre realismo e )0tico3
4&!ere realis. &as appropriate /or dealin0 &it! t!ose areas o/ social li/e &!ic! &ere re0arded as securel1 under bour0eois control, 3ot!ic occupied a border0uard position, /orever on t!e loo(out /or t!reats /ro. &it!out, &!et!er /ro. t!e undead aristocrac1 or si.pl1 /ro. t!e past, or even /ro. &it!in t!e bour0eois order itsel/, /ro. t!ose aspects o/ realit1, ps1c!olo0ical and social, &!ic! t!reatened to brea( t!rou0! t!e t!in &eb o/ ideolo0ical con/or.is. and disrupt conservative s1nt!esis6
O @ue dize. os cr>ticos 7-ve been 0reatl1 interested in Wuthering Heights, t!e :rst novel 7-ve read /or an a0e, and t!e best $as re0ards po&er and sound st1le% /or t&o a0es, e2cept 7idonia But it is a :end o/ a boo( _ an incredible .onster, co.binin0 all t!e stron0er /e.ale tendencies /ro. Lrs Bro&nin0 to Lrs Bro&nri00 The action is laid in hell only it seems places and people have English names there Did ou ever
read it RJ Dante /ossetti9.
Aa&riel
54 RODDETT7,
#3 +etters o" *ante 2a!riel 1ossetti to William Allingham. 5<=>1 5@7 Carta datada de -] de setem&ro de ->9.7 Arios nossos7 34
5)ora %ue á dei=amos esta&elecido o %ue JrealismoJ e J)0ticoJ si)nifcam no conte=to desta pes%uisa, passemos ao momento de entender como se dá a tensão dos elementos realistas em O morro dos ventos uivantes , sea no re)istro do )0tico Mo mais evidente, como á dissemosN, sea em outros re)istros7 5 cita1ão em ep()rae do poeta Dante Aa&riel /ossetti á sinali6a o pro&lema %uando di6 %ue a a1ão do romance se passa no inerno Mima)em )0ticaN, mas os lu)ares e as pessoas têm nomes in)leses Maspecto realistaN7 :ue o romance tra&al!a em cima de aspectos %ue remetem ao transcendental, ao universal, ao espiritual etc7 Mou sea, a todo um campo conceitual, em teoria, oposto ao do realismoN, á ' al)o &astante sa&ido entre os cr(ticos7 5s se)uintes afrma1;es, de ?din 4uir, resumem &em esse n)ulo de visão3 JWuthering Heights e The return of the native , pelo contrário, escondem a%uela por1ão da Kn)laterra %ue fca al'm da cena concentrada de sua a1ão o mundo e=terior ' antasmal e remoto e as f)uras incontáveis %ue o povoam são completamente es%uecidas, e=tin)uidas, como se a intensidade e rapide6 com %ue o tempo se consome na a1ão as tivesse destru(do tam&'m7J J* cenário a%ui $ o cenário nos romances de Hard e em Wuthering Heights $ não ' de modo al)um um cenário comum e particular, como a sala de visitas de Sedle, ou a propriedade rural de Sir Pitt Crale, mas antes uma ima)em do am&iente temporal da !umanidadeJ99 Bo entanto, al)uns cr(ticos tam&'m puderam perce&er o tanto de realismo, em acep1ão convencional, %ue e=iste no romance7 Eá mencionamos, no cap(tulo anterior, 5rnold ettle, %ue procurou, sem sucesso, a nosso ver, esta&elecer as rela1;es mim'ticas entre o campo f)urado no romance e o campo JrealJ da re)ião de YorGs!ire Mseu ensaio ' repleto de afrma1;es cate)0ricas, mas po&re em análise cerradaN7 E7 Hillis 4iller, em&ora em c!ave cr(tica muito dierente da de ettle, ela&orou
55 4UK/,
?7 JTempo e espa1oJ7 35
&em os termos, e ainda por cima apontando o JtistJ %ue a o&ra opera em rela1ão Os conven1;es realistas3
'n spite o" its many peculiarities o" narrative techni8ue and theme it is in its e3treme vividness o" circumstantial detail a masterwork o" 9realistic ction 7t obe1s
.ost o/ t!e conventions o/ ictorian realis., t!ou0! no reader can .iss t!e /act t!at it 0ives t!ese conventions a t&ist T!e reader is persuaded t!at t!e novel is an accurate picture o/ t!e .aterial and sociolo0ical conditions o/ li/e in 'or(s!ire in t!e earl1 nineteent! centur19<
/amond Zilliams, Terr ?a)leton e Banc 5rmstron) oram os Inicos cr(iticos %ue, em maior ou menor n(vel, e=ploraram essa dualidade Me outras semel!antes a elaN em termos mais dial'ticos, mas nem sempre dando o nome de JrealistasJ aos elementos %ue, neste estudo, assim são c!amados7 Durante todo o decorrer de nosso te=to, procuraremos e=por e tra&al!ar em cima de suas ri%u(ssimas contri&ui1;es O análise do romance de ?mil rontV7 Por en%uanto, concentremo2nos somente no %ue eles disseram a respeito da rela1ão entre a o&ra e o realismo7 /amond Zilliams somente afrmou %ue romances como O morro dos ventos uivantes , *om/ey and son , ary !arton e A feira das vaidades,
todos pu&licados Os voltas de ->.>, Jpodem ser caracteri6ados como realismo &ur)uês apenas mediante um esva6iamento e=traordinário, uma composi1ão mItua %ue esconde os processos reais e eetivos, a orma1ão comple=a das ormas reaisJ 9@7 Terr ?a)leton, por sua ve6, e=plorou o pro&lema &em mais a undo, conf)urando2o de orma %ue inuenciou &astante a nossa análise, como demonstram as cita1;es a se)uir3
T!e Bront5s, !o&ever, !ad been nouris!ed on so.e ric! le0acies o/ .1t! and le0end, 56 ?7))7D
L7))ER, " Wuthering Heights Repetition and t!e uncann1 7n* /iction and repetition .>J7 Kn3 A produção social da escrita7 36
/ol(tale and /antas1 'et t!e1 neit!er s!ran( de/ensivel1 into t!is !er.etic &orld, nor casuall1 abandoned it /or t!eir conte.porar1 .o.ent 7nstead, t!eir :ction brin0s t!e t&o di.ensions to0et!er in intricate &a1s, &eavin0 3ot!ic and realis., /air1tale and social docu.entar1, into stri(in0 ne& con:0urations +!at ot!er En0lis! novel is at once i.a0inativel1 audacious and tenaciousl1 realistic as Wuthering Heights[9> Wuthering Heights trades in spite and sti nec(edness, but al&a1s -obXectivel1-, as t!e po&er o/ its tenaciousl1 detailed realis. to survive unru`ed even t!e 0ustiest o/ e.otional crises &ould su00est9]
situate t!e.selves at t!e opposite pole /ro. realis. b1 virtue o/ t!eir palpable 58 EA3)ETON,
T 7ntroduction to t!e anniversar1 edition 7n* ,yths o" power 59 EA3)ETON, T +ut!erin0 ?ei0!ts 7n* op.cit. 60 EA3)ETON, T +ut!erin0 ?ei0!ts 7n* op.cit. 61 EA3)ETON, T T!e Bront5s 7n* The English novel - an introduction 62 ARLDTRON3, N Race in t!e a0e o/ realis.* ?eat!cli-s obsolescence 7n* /iction in the age o" photography.
37
disdain /or t!e co.ple2ities o/ .odern urban li/e But &!ile t!ese novels are unrealistic un@uestionabl1 in crucial respects, t!e1 are not anti realistic Lais adiante e. seu te2to, diz @ue Bront5 makes it clear that the rules o" realism can !e suspended only within the "rame dened !y ction dream or legend .a de suas observações
.ais interessantes S esta* T!e critical tradition !as used E.il1 Bront5-s onl1 novel, Wuthering Heights, to e2e.pli/1 a ran0e o/ literar1 p!eno.ena /ro. popular ro.ance, to !i0! Ro.antic l1ricis., to t!e sui 0eneris product o/ a delusional &o.an but it !as never, to .1 (no&led0e, read t!is novel as one t!at observes t!e protocols o/ realis. Wuthering Heights did in /act carr1 out t!e &or( o/ realis., !o&ever, in collaboration &it! t!e bur0eonin0 industr1 o/ ictorian /ol(lore and t!e precocious art o/ re0ional p!oto0rap!1, as it de.onstrates t!e conse@uences o/ abandonin0 realistic protocols * percurso de análise de 5rmstron) ' particularmente intri)ante e inovador pois o imperativo realista nunca ' contraposto ao )0tico, mas ao olclorismo vitoriano e as no1;es de Joutro de ra1aJ e Joutro de classeJ implicadas nesse olclorismo, %ue iremos discutir em mais detal!e no cap(tulo a se)uir7
N>veis do proble.a Aostar(amos a)ora de, a partir de trec!os, passa)ens e elementos da o&ra em si, compreender mel!or a dimensão das afrma1;es supracitadas7 *s autores acima atestam o ato de %ue ' e=tremamente e%uivocado aplicar no1;es tradicionais de realismo ao romance de ?mil ronte, assim como no1;es simplistas de romanesco, )0tico etc7 ?ntretanto, acreditamos ser
38
poss(vel, atrav's por meio de e=emplos concretos presentes na narrativa, capturar os dierentes n(veis %ue esse pro&lema assume7 * pro&lema do realismo en%uanto Jparticularidade da descri1ãoJ, como á mencionamos, e fdelidade aos dierentes movimentos da vida emp(rica, pode ser levantado a partir de dois e=emplos contradit0rios em O morro dos ventos uivantes 7 * primeiro, @ue mencionamos &revemente
no cap(tulo anterior, tem a ver com a análise de C7P7 San)er, @ue procura esta&elecer ustamente a cone=ão entre a estrutura JpeculiarJ do romance e um certo (mpeto realista, em&ora o autor nunca utili6e esse termo<87 San)er se concentra em dois aspectos3 -N a estrutura cronol0)ica do romance, a %ual, num primeiro momento pode parecer conusa e irre)ular, mas, na verdade, ' e=tremamente or)ani6ada e veross(mil, %uando se analisa o pro&lema a undo e se capta todos os (ndices temporais^cronol0)icos da narrativa +N as mano&ras empreendidas por Heat!cli` para tomar, como vin)an1a em cima das am(lias ?arns!a e Linton, posse das propriedades do 4orro e da Arana7 ?m princ(pio, não se leva muito o pro&lema em considera1ão, pois, no romance, nen!um es%uema espec(fco de compra e venda ' descrito, s0 se di6 %ue Heat!cli` tem esse o&etivo e %ue planea alcan1á2lo arranando casamentos entre certas persona)ens7 San)er,
no
entanto, demonstra
com muita
perspicácia o %uanto o processo de tomada das propriedades por parte de Heat!cli` condi6 com as leis de posse de terras do fm do s'culo KKK e come1o do K, %ue ' %uando se passa o romance7 * ponto a %ue %ueremos c!e)ar ' %ue, principalmente atrav's de leituras como a de San)er, não !á como ne)ar a presen1a de uma orte est'tica literária realista Mno sentido de social e !istoricamente veross(mil e precisaN em O morro dos ventos uivantes 7 Bosso se)undo e=emplo, por'm, serve para
demonstrar o rev's desse realismo7 ?stamos alando do retorno de Heat!cli` ao 4orro ap0s três anos de sumi1o7 ?le retorna endin!eirado sem %ue, no entanto, sea e=plicado como ele conse)uiu enri%uecer, ato
63 DAN3ER,
< 8 T!e structure o/ +ut!erin0 ?ei0!ts 5o inv's de JrealistaJ ou Jveross(milJ, o autor usa termos como JaccurateJ, Jsim'tricoJ e JcuidadoJ, para demonstrar, contudo, o %ue !oe se nomeia usando os dois primeiros termos7 39
%ue permanece um mist'rio não2 revelado durante toda a narrativa<.7 *ra, um ato como o enri%uecimento, da maior importncia para o romance oitocentista europeu, não ser devidamente e=plicado, muito menos narrado, ' altamente su)estivo, al'm de ir na contra2mão da tendência do romance realista, %ue pre6ava temas como a ri%ue6a, em especial %uando con%uistada pelo tra&al!o, o %ue, no caso de Heat!cli`, tam&'m ' de se duvidar, pois sair de um está)io de total mis'ria e se tornar rico em apenas três anos não ' plaus(vel do ponto de vista econWmico, a não ser %ue por meios e=cusos ou ile)ais, como o crime ou o o)o, %ue, de acordo com o criado Eosep!, torna2se atividade re%uente no 4orro depois do retorno de Heat!cli`, e ' assim %ue ele conse)ue empo&recer seu anti)o JpatrãoJ Hindle7 * %ue c!amamos de rev's do realismo a partir dessas passa)ens se dá, então, de duas ormas7 Primeiramente, pelo mist'rio %ue enco&re o modo como Heat!cli` enri%ueceu7 ?m se)undo lu)ar, pela su)estão sutil de %ue esse modo de enri%uecimento não correspondeu aos imperativos da ideolo)ia li&eral2&ur)uesa de con%uista da ri%ue6a pelo tra&al!o le)al assalariado, como era do eitio do romance realista &ur)uês<97 Um outro n(vel do pro&lema di6 respeito aos elementos estruturais da orma romance %ue, se)undo Kan Zatt, como vimos, dão a cara do realismo ormal %ue o caracteri6a, dentro de uma certa conf)ura1ão, o&viamente7 ?stamos alando de assunto, persona)ens, tempo e espa1o7 :uanto ao assunto, interessante notar como a cr(tica pouco comenta o ato de a o&ra tra&al!ar em cima de temas tão convencionais e previs(veis Mpara o romance europeu oitocentistaN como casamento, vida amiliar, posse de terras, vida no campo, propriedade, !eran1a etc7, car(ssimos ao 64 ?eat!cli
drops out o/ t!e novel and t!en reappears, .iraculousl1 trans/or.ed, &e presu.e, b1 t!e eects o/ capitalis. $ARLDTRON3, N Race in t!e a0e o/ realis.% 65 JBos anos ->., o aristocrata, %ue parecia a f)ura natural da novela, come1ava a ser aetado, em certa cate)oria de fc1ão, pela nova 'tica &ur)uesa do !omem %ue se a6 so6in!o7 De ato, uma orte ênase no tra&al!o, distinto da diversão, tra6ia com ela, como um dos principais incentivos a esse tipo de fc1ão, um dia)n0stico claro da po&re6a como diretamente li)ada O alta de esor1o pessoal ou mesmo a al)um v(cio realJ JM777N fc1ão dominante e especifcamente /urguesa 2 a associa1ão entre a ri%ue6a con%uistada pelo pr0prio esor1o e a virtude a po&re6a como uma al!a moralJ7 MZKLLK54S, /7 JFormas da fc1ão in)lesa em ->.>JN 40
romance realista tradicional como, por e=emplo, o de Eane 5usten7 Besse sentido, a o&ra se distancia &astante das e=trava)ncias e mira&olncias das !ist0rias de terror, fc1ão )0tica e est0rias romancescas com as %uais ' constantemente comparada7 5 %uestão a ser destacada, por'm, ' o dierente tratamento dado a esses temas corri%ueiros, %ue, no entanto, estão na &ase da a1ão7 Se no romance realista convencional o tratamento corresponde ao Jestilo s'rioJ de Franco 4oretti, a%ui corresponde muito mais ao conceito de Je=cessoJ %ue Fred ottin) utili6a para caracteri6ar o )0tico<<7 ?=cesso %ue, contudo, não se dá e=clusivamente na orma e=clusivamente do mira&olante antástico, so&renatural e^ou antasioso, como no caso do )0tico e seus castelos assom&rados, vil;es malvados, mocin!as oprimidas e antasmas assustadores M%ue em O morro dos ventos uivantes, como á mencionamos, tam&'m aparecem em certa
medidaN7 * e=cesso na o&ra se dá muito mais na orma de violência, cárcere privado, amea1as, a)ress;es (sicas e ver&ais, e em tudo %ue remete Os pai=;es e aos aetos em )eral e=acer&ados presentes nas persona)ens7 /amond Zilliams não ala nem em e=cesso nem em s'rio, mas ala de uma antinomia conceitualmente muito parecida a essa %ue estamos colocando, a sa&er, intensidade e controle7 Ele diz*
+!at is .ost re.ar(able about it, t!ou0!, as a /or. is its e2ceptional /usion o/ intensit1 66 *s
cr(ticos interessados nas rela1;es interte=tuais e=istentes no romance á apontaram a pro=imidade de certos elementos de seu enredo com os enredos de o&ras de autores %ue, nem todos eles in)leses, tam&'m pertencem a uma tradi1ão romntica desvinculada do realismo ormal e do estilo s'rio, a sa&er, JDas maoratJ M->-@N, de ?7T757 Ho`mann JDer fndlin)J M->--N, de Heinric! von leist e The /lac" dwarf M->-
and control No novel in En0lis! contains .ore intense and passionate /eelin0, but contains, t!en, is a &ord to consider +!at &e .ost re.e.ber /ro. t!e novel, t!e passion o/
apra6(vel7 5creditamos,
inclusive, %ue
'
ustamente o recal%ue dos deseos pela mão da ordem social %ue transorma toda a domesticidade da vida amiliar presente no romance numa domesticidade torcida, o&scurecida<>7 ?sse recal%ue, assim como no romance )0tico, se)undo a leitura de Punter, remete a uma socia&ilidade ainda irresoluta %uanto ao arca(smo e O modernidade dos modos de produ1ão, so&re a %ual esperamos dar mais ênase no uturo7 Bão e=ploraremos a)ora, no %ue di6 respeito Os persona)ens, %uest;es de caracteri6a1ão e percurso individual, pois, para tanto, ' necessário um cap(tulo e=clusivo7 5teremo2nos Oa %uestão dos nomes, %ue ' aspecto destacado por al)o %ue Kan Zatt tam&'m destaca ao alar do realismo 67 +7))7ALD,
R
ormal7 * tra&al!o com os nomes em O morro dos ventos uivantes ' e=tremamente peculiar e !á uma s'rie de pro&lemas a( envolvidos7 Há a %uestão da repeti1ão, da su)estividade e da incompletude %uanto a primeiro nome ou so&renome7 :uem destacou a repeti1ão dos nomes oi E7 Hillis 4iller, em ensaio %ue á mencionamos<]7 5o inv's?m ve6 de nomes dierenciados, dando uma ideia de diversidade veross(mil, o romance reor1a o uso dose mesmos nomes a ponto de complicar conundir a ca&e1a do leitor %ue mal conse)ue identifcar a %ual persona)em o narrador está se em rela1ão a %ue persona)em se está reerindo7 5 fl!a de Cat!erine ?arns!a, %ue ao se casar se torna Cat!erine Linton, tam&'m se c!ama Cat!erine Linton7 * fnal do romance indica %ue ela irá se casará com a persona)em Hareton ?arns!a, tornando2se então Cat!erine ?arns!a, %ue ' como sua mesmo nome de sua mãe se c!amava no in(cio do romance7 ?d)ar Linton ' constantemente c!amado de Linton, %ue ' tam&'m o primeiro nome de seu so&rin!o, Linton Heat!cli`, %ue )an!a esse so&renome pelo ato de seu pai, Heat!cli`, ser tanto o primeiro nome %uanto o so&renome do sueito assim c!amado7 5 esse respeito, interessante notar %ue diversas persona)ens do romance não possuem nome completo, al)o %ue, na est'tica realista, não costuma ocorrer com tantas persona)ens importantes em uma o&ra7 * narrador LocGood não possui primeiro nome, assim como o advo)ado 4r7 Areen, o m'dico Dr7 ennet! e at' mesmo os pais de Hindle e Cat!erine, 4r7 e 4rs7 ?arns!a7 Eosep! e illa!, serventes no 4orro, inversamente, não possuem so&renome, e são persona)ens de muito mais importncia, principalmente o primeiro@7 * caso mais interessante, sem dIvida, ' o de Heat!cli`, sem dIvida, pois seu primeiro nome ' tam&'m so&renome ao mesmo tempo, al)o %ue, no re)istro da verossimil!an1a realista, ' uma impossi&ilidade, ainda mais por se tratar de uma persona)em %ue 69 ?m
seu ensaio, Hillis 4iller enati6a a %uestão de %ue a repeti1ão ' %uase uma or1a motri6 da o&ra, onde tudo, desde os nomes at' o pr0prio enredo, remete a uma repeti1ão7 Por não encontrarmos muitas semel!an1as entre suas ideias e nossa análise, não tra&al!aremos a undo, por en%uanto, com elas7 70 Knteressante notar a posi1ão social dessas persona)ens e a orma como se dá a nomea1ão7 ?mpre)ados não possuem so&renome e persona)ens de maior inuência social não possuem primeiro nome7 43
defnitivamente precisaria de nome e so&renome para sair de sua casa ori)inal e ir 0an!ar din!eiro /ora@-7 5 su)estividade de certos nomes tam&'m ' di)na de men1ão7 Ksa&ella, a persona)em %ue mais se assemel!a Os princesas coitadas e enclausuradas do romance )0tico, )an!a o nome mais )0tico e menos in)lês de todas as persona)ens @+7 * JlocGJ [trava ou tranca\ de LocGood possivelmente remete a sua personalidade pouco e=pansiva e travada, se ormos compará2lo com as outras persona)ens, inclusive devido O sua procedência s0cio2cultural Mtrata2se de um gentleman endin!eirado de modos corteses e aristocráticosN, completamente diversa O das persona)ens com %uem convive7 * JearnJ [)an!ar por merecer\ de ?arns!a pode ter a ver com a posi1ão social da am(lia, em&ora o romance nunca entre em detal!es a esse respeito7
The Earnshaws were "armers and not likely to have their estate settled T!e propert1 !ad been in t!eir /a.il1 since FPKK We may take it then that ,r Earnshaw was owner in "ee-simple that is in eect a!solute owner o" Wuthering Heights and was not likely to have possessed any investments 7t is .ore
li(el1 t!at t!ere &as a .ort0a0e on t!e !ouse and /ar.@8
?, fnalmente, no nome Heat!cli`, encontramos J!eat!J, %ue remete O terra, O ve)eta1ão in'rtil predominante na JmoorlandJ onde se passa o romance Ma tradu1ão %ue encontramos ' Jc!arnecaJN, e Jcli`J, %ue si)nifca pen!asco ou desfladeiro7 5m&as as palavras pertencem ao campo da nature6a, da topo)rafa, enati6ando o pertencimento da persona)em mais no m&ito da Bature6a do %ue da Cultura, como Terr ?a)leton destaca em yths of power , al'm tam&'m de terem uma 71 Como
sa&emos, em pa(ses de lin)ua in)lesa o so&renome ' o verdadeiro nome social da pessoa, sendo, Os ve6es, mais usado do %ue o pr0prio primeiro nome, o %ue aca&a por enati6ar a ideia su)erida durante todo o romance de %ue Heat!cli` ' um sueito a2social e a2cultural7 72 Bo romance )0tico, a presen1a de nomes estran)eiros, principalmente italianos, como Ksa&ella, era e=tremamente comum, at' por%ue os cenários tam&'m costumavam ser estran)eiros, pendendo sempre para o lado do e=0tico e do incomum7 73 DAN3ER, < 8 op. cit Arios nossos7 44
conota1ão o&scura e ne)ativa, ressaltando o caráter vilanesco e J dark J da persona)em7 :uanto O %uestão do tempo, interessante notar %ue, no %ue concerne tanto ao tempo do discurso %uanto ao tempo da !ist0ria @., temos pro&lemas %ue acentuam as tens;es do realismo no romance7 * tempo da !ist0ria se caracteri6a pela mistura de precisão e imprecisão, como á pudemos adiantar anteriormente a partir de San)er e Zilliams7 5 cronolo)ia se)ue sem incon)ruências, mas as marca1;es de tempo são va)as, de tal orma %ue ' di(cil para o leitor sa&er at' mesmo a idade das persona)ens em dierentes .o.entos da !ist0ria7 Há somente três
.o.entos em %ue o ano em %ue se passa a a1ão ' mencionado de resto, s0 o %ue nos )uia os Inicos )uias para o leitor são as mudan1as de esta1ão, indica1ão de mudan1a passa)em dos dias, rases %ue di6em %ue semanas se passaram etc7 Uma no1ão %uantifcada de passa)em do tempo nunca ' constru(da, mas, se pe)armos cada um dos elementos temporais^cronol0)icos dados pelo romance, perce&eremos %ue se trata de uma estrutura temporal sem atropelos ou incoerências, como comprova C7 P7 San)er, %ue se viu impelido a montar uma cronolo)ia or)ani6ada do romance para ter uma mel!or no1ão da temporalidade na o&ra7 * tempo do discurso oerece ainda mais pro&lemas, pois, devido tam&'m O multiplicidade narrativa %ue caracteri6a o romance Me so&re a %ual discorreremos no cap(tulo se)uinteN, o tempo se a6 no re)istro do vai2e2vem, numa alternncia constante de entre passado e presente, ainda %ue, por &oa parte da narrativa Mdiscurso de Bell DeanN, uma se%uencia temporal mais ou menos una se esta&ele1a @97 Predomina, na narrativa, o recurso ao * predom(nio narrativo ' o do as!&acG, at' mesmo no discurso de LocGood, %ue inicia o romance narrando eventos á ocorridos7 Bo caso da !ist0ria de Bell Dean, a interpola1ão com o presente ' constante, se pensarmos nas interrup1;es eventuais da
7 O tempo na narrativa7 Dão 8aulo* tica, FGGP 75 +ut!erin0 ?ei0!ts reveals a .ore convoluted relation bet&een past and present, pro0ress and re0ression, t!e ti.esc!e.e o/ a narrator and t!e ti.e sc!e.es o/ &!ic! !e or s!e spea(s $EA3)ETON, T T!e Brontes% 74 BUB?S,
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narra1ão @<7 *utro detal!e muito menos percept(vel, mas talve6 ainda mais interessante, tem a ver com o tempo de narra1ão )asto dependendo do evento narrado7 O morro dos ventos uivantes ' um romance %ue )asta muito mais tempo narrando &iurca1;es do %ue enc!imentos, para usarmos voca&ulário de 4oretti7 Bo te=to desse autor, á citado anteriormenteMnotaN, ele destaca o uso muito mais re%uente de enc!imentos do %ue de &iurca1;es no romance Orgulho e preconceito, de Eane 5usten, al)o %ue cola&ora na constru1ão do estilo s'rio MrealistaN presente nessa o&ra7 Bo caso do romance de ?mil, temos o contrário7 iurca1;es como o epis0dio de LocGood encurralado pelos cac!orros M%ue, em tempo real, deve ter durado poucos minutosN, lo)o no primeiro cap(tulo, são narradas em detal!e, em vários pará)raos7 Eá enc!imentos como a conversa de LocGood com Heat!cli`, no fm do mesmo cap(tulo, so&re assuntos cotidianos envolvendo a terra, a propriedade etc7, Me %ue em tempo real deve ter durado muitos minutos, talve6 mais de uma !oraN são narrados em poucas lin!as, sem detal!es precisos7 Se pe)armos a narra1ão de Bell, teremos ainda mais e=emplos7 *s três anos Jtran%uilosJ de sumi1o de Heat!cli` nem narrados são, %uanto menos os tre6e anos ap0s o nascimento de Cat! fl!a e da u)a de Ksa&ella com seu fl!o Linton7 4as os momentos tur&ulentos, marcados pela violência e^ou pela e=alta1ão dos nimos, )an!am narra1ão detal!ada7 Por fm, ' necessário alar so&re um dos pro&lemas mais pertinentes, por'm mais comple=os de O morro dos ventos uivantes , o do espa1o7 5 come1ar, o pr0prio t(tulo do romance remete a dois tipos de am&iente %ue, em certo n(vel, são incompat(veis3 o puramente natural, por conta simplesmente do nome, e o da propriedade privada amiliar, %ue ' o %ue o leitor desco&re eetivamente ser ao ler a o&ra7 5s tens;es )eradas por essa incompati&ilidade, %ue têm a ver com a antinomia entre nature6a e cultura, estão na &ase dos pro&lemas %ue a o&ra nos oerece7 5s ima)ens 76 ?ssa
mistura de passado e presente, de !ist0ria contada e !ist0ria vivida, a62nos lem&rar da antinomia r'cit^roman %ue Fredric Eameson destaca como sendo de importncia para a conf)ura1ão !ist0rica do realismo7 5 narrativa de Bell, um lon)o as!&acG %ue percorre duas )era1;es de uma am(lia, tem muito de r'cit, inclusive por ser oral e pautada na mem0ria de %uem vivenciou, ainda %ue com certa distncia, o drama narrado7 C7 E54?S*B, F7 The antinomies of realism 7 London3 erso, +-87 46
do t(tulo remontam ao universo ima)'tico do )0tico, se ormos pensar nas alturas [heights\ e nos ventos uivantes MJut!erin)J, como o pr0prio romance e=plica, %uer di6er JtempestuosoJ, ao ponto de o vento uivarN7 Contudo, , mas numa palavra como Jut!erin)J, como o romance tam&'m aponta, !á o elemento provinciano e local, pois se trata de uma palavra incomum no voca&ulário )eral da l(n)ua in)lesa, a não ser na esera do re)ional7 Se ormos pensar em descri1;es (sicas do espa1o, a antinomia realismo^)0tico permanece, como evidencia o lon)o trec!o a&ai=o, e=tra(do do primeiro cap(tulo3
+ut!erin0 ?ei0!ts is t!e na.e o/ Lr ?eat!clis d&ellin0 +ut!erin0 bein0 a si0ni:cant provincial adXective, descriptive o/ t!e at.osp!eric tu.ult to &!ic! its station is e2posed in stor.1 &eat!er ;ure !racing ventilation they must have up there at all times , indeed* one .a1 0uess t!e power o" the north wind !lowing over the edge, b1 t!e e2cessive slant o/ a /e& stunted :rs at t!e end o/ t!e !ouse= and b1 a range o" gaunt thorns all stretching their lim!s one way as i" craving alms o" the sun ?appil1, t!e arc!itect !ad /oresi0!t to build it stron0* t!e narrow windows are deeply set in the wall , and t!e corners de/ended &it! lar0e $utting stones
Be/ore passin0 t!e t!res!old, 7 paused to ad.ire a @uantit1 o/ grotes8ue carving lavished over the "ront , and especiall1 about t!e principal door= above &!ic!, a.on0 a &ilderness o/ cru.blin0 0rins and s!a.eless little bo1s, 7 detected the date <=>??@, and t!e na.e ?areton Earns!a& 7 &ould !ave .ade a /e& co..ents, and re@uested a s!ort !istor1 o/ t!e place /ro. t!e surl1 o&ner= but !is attitude at t!e door appeared to de.and .1 speed1 entrance, or co.plete departure, and 7 !ad no desire to a00ravate !is i.patience previous to inspectin0 t!e penetraliu. One stop brou0!t us into t!e /a.il1 sittin0roo., &it!out an1 introductor1 lobb1 or passa0e* t!e1 call it !ere t!e !ouse pree.inentl1 7t includes (itc!en and parlour, 0enerall1= but 7 believe at +ut!erin0 ?ei0!ts t!e (itc!en is /orced to retreat alto0et!er into anot!er @uarter* at least 7 distin0uis!ed a c!atter o/ ton0ues, and a clatter o/ culinar1 utensils, deep &it!in= and 7 observed no si0ns o/ roastin0, boilin0, or ba(in0, about t!e !u0e :replace= nor an1 0litter o/ copper saucepans and tin cullenders on t!e &alls One end, indeed, reCected splendidl1 bot! li0!t
47
and !eat /ro. ran(s o/ i..ense pe&ter dis!es, interspersed &it! silver Xu0s and tan(ards, to&erin0 ro& a/ter ro&, on a vast oa( dresser, to t!e ver1 roo/ The latter had never !een under-drawn: its entire anatomy lay !are to an in8uiring eye , e2cept &!ere a /ra.e o/
&ood laden &it! oatca(es and clusters o/ le0s o/ bee/, .utton, and !a., concealed it Above t!e c!i.ne1 &ere sundr1 villainous old 0uns, and a couple o/ !orsepistols* and, b1 &a1 o/ orna.ent, t!ree 0audil1painted canisters disposed alon0 its led0e T!e Coor &as o/ s.oot!, &!ite stone= t!e c!airs, !i0!bac(ed, pri.itive structures, painted 0reen* one or t&o !eav1 blac( ones lur(in0 in t!e s!ade
?m am&os os casos, ' di(cil discordar de %ue predomina o imperativo realista da particularidade da descri1ão %ue á viemos discutindo7 ?ntretanto, as descri1;es em )eral apontam ima)eticamente em dire1ão ao castelo anti)o, desolado e pr'2moderno do universo )0tico MJ-9J, Juttin) stonesJ, J)rotes%ue carvin)J, Jnarro indos are deepl set in t!e allJ, J)aunt t!ornsJ, Jpoer o t!e nort! indJN, por mais %ue a descri1ão do espa1o interno se a1a apontando o detal!e da precariedade material e do provincianismo, e não o do local assustador e^ou assom&rado, como ' comum da est'tica literária )0tica@@7 Se ormos pensar a)ora na conf)ura1ão )eral do espa1o social da o&ra, as coisas fcam ainda mais intri)antes7 Bão se sa&e e=atamente onde, na Kn)laterra, o romance se passa7 5 partir de dicas %ue a narrativa nos dá, desco&re2se %ue ' no norte Mdevido O pro=imidade em rela1ão a Liverpool e a uma &reve men1ão do nome YorGs!ireN, mas em nen!um momento 77 5s
passa)ens %ue escol!emos destacam um elemento importante, mas %ue at' a)ora não oi e=plorado3 a %uestão da rusticidade presente na o&ra7 Para al'm da cara )0tica %ue a descri1ão de LocGood dá ao 4orro dos entos Uivantes, !á tam&'m todo um aspecto rIstico %ue, para al'm das caracter(sticas (sicas do local, está presente tam&'m nas pessoas %ue ali !a&itam7 Sea nos maus modos de todos, na lin)ua)em re)ional de Eosep! e Hareton, no (mpeto violento de Heat!cli`, e na alta de eti%ueta aristocrática em )eral7 ?sse oi um dos muitos elementos %ue desa)radou os primeiros cr(ticos do romance e %ue, a nosso ver, nesse momento especial do romance in)lês, pode servir tam&'m de contraponto O est'tica realista pautada na representa1ão s'ria da vida cotidiana &ur)uesa ou aristocrática, mas nunca na mis'ria dos po&res7 Knteressante notar %ue isso %ue en=er)amos como rusticidade, sea na orma de violência, lin)uaar re)ional ou maus modos, será um dos o&etos mais recorrentes no %ue, da se)unda metade ao fnal do s'culo K, veio a ser con!ecido como Baturalismo, um dos desdo&ramentos mais importantes da est'tica realista no m&ito do romance europeu7 48
isso fca e=pl(cito7 5 vila de Aimmerton, muito mencionada, ' um local fct(cio, ou sea, não nos auda %uanto a esse respeito, mesmo caso dos roc!edos de Peninstone Cra)s7 Sup;e2se %ue se trata do mesmo lu)ar em %ue ?mil rontV vivia, mas s0 temos como sa&er disso !oe por%ue con!ecemos a !ist0ria da autora os primeiros leitores não tin!am como sa&erdesco&ri2lo, at' por%ue, como á comentamos, o romance oi pu&licado so& um also nome, como á esclarecemos no cap(tulo anterior7 Bo %ue concerne puramente ao te=to, fca2se sem sa&er com e=atidão de onde na Kn)laterra ocorre a a1ão7 * mais importante, no entanto, ' destacar a redoma espacial na %ual toda a a1ão do romance se locali6a e o %uanto ela cola&ora para esse eeito de se estar ora da sociedade, paralelo ao processo !ist0rico, na contramão do %ue Kan Zatt defniu como Jpresentation o &acG)roundJ, conorme dito acima7 Dentro dessa redoma s0 !á três am&ientes3 de um lado, a Arana da Cru6 do Tordo diametralmente oposto a ela, o 4orro dos entos Uivantes no meio, separando em . mil!as os dois p0los anteriores, a JmoorlandJ in0spita e ina&itável, cuo Inico ponto de reerência nomeado são as Peninstone Cra)s, conunto de )randes roc!as reerenciado em determinados momentos@>7 4enciona2se Liverpool, Londres e a aldeia fct(cia de Aimmerton, mas nada nen!um evento do enredo transcorre nesses lu)ares ' narrado, nem mesmo na i)rea, Inico local de conv(vio social supostamente re%uentado pelas %ue di62se %ue as persona)ens re%uentam7 Lem&remo2nos tam&'m de %ue as crian1as não vão O escola e os adultos não possuem empre)o ora, afnal a6em parte da Jlanded )entrJ, %ue vive de !eran1a e de renda7 ?m&ora ela di)a %ue vá ao vilareo reali6ar tareas, nen!uma cena de Bell ' narrada ali Mno má=imo, Os ve6es ela escuta, de outra pessoa, al)o %ue ali ocorreuN7 LocGood, por sua ve6, tam&'m não narra a&solutamente nada %ue se passou em sua volta a Londres7 * %ue estamos %uerendo destacar ' o modo como o romance reor1a a ideia de redoma a2!ist0rica e a2social %ue caracteri6a 78 ?,
como destaca /amond Zilliams, a separa1ão entre esses dois mundos não ' s0 (sica7 JHá um contraste ormal de valores entre as duas casas, Zut!erin) Hei)!ts [4orro\, vulnerável e sustentada pelo tra&al!o, e T!rus!cross Aran)e [Arana\, prote)ida e vivendo de alu)u'isJ MZKLLK54S, /7 JComunidades co)nosc(veisJ7 Kn3 O campo e a cidade7 Colc!etes nossos7N 49
seu pr0prio espa1o social, como se a vida comunitária ora dessa redoma osse somente uma remissão, uma o&serva1Oo, al)o a parte, sem necessariamente transmitir a sensa1ão de %ue tudo se passa num am&iente universal e transcendental como nas lendas ou nos mitos7 A
esse respeito, Terr1 Ea0leton diz* +ut!erin0 ?ei0!ts is mythical in a more traditional sense o" the term: an apparently timeless highly integrated mysteriously autonomous sym!olic universe
No entanto, The world o/ +ut!erin0 ?ei0!ts is neither eternal nor sel"-enclosed% nor is it in the least unriven !y internal contradictions ?sse pro&lema, como pudemos ver anteriormente,
causou uma certa fssão na cr(tica7 Ainda con/or.e Terr1 Ea0leton,
Wuthering Heights !as been alternatel1 read as a social and a .etap!1sical novel as a &or( rooted in a particular ti.e and place, or as a novel preoccupied &it! t!e eternal 0rounds rat!er t!an t!e s!i/tin0 conditions o/ !u.an relations!ip@] Banc 5rmstron), na mesma esteira, di63
T!e eects o/ industrialization are notoriousl1 absent /ro. Bront5-s Wuthering Heights, /orcin0 critics eit!er to divorce !er &or( /ro. its !istorical .o.ent, or else to ta(e t!e bait and render visible &!at s!e c!ose to leave un.entioned> B0s, particularmente, en=er)amos essa dualidade entre realidade !ist0rica e realidade m(tica como um dos muitos elementos %ue remetem Os tens;es do realismo %ue viemos e=plorando no decorrer deste cap(tulo7 Para fnali6armos nossas ree=;es a esse respeito, a1amos uma considera1ão so&re o aspecto antasma)0rico %ue permeia o romance de ?mil rontV, e de como ' poss(vel esta&elecer um paralelo entre os pro&lemas levantados a partir da( e %uest;es li)adas O pintura romntica in)lesa7 79 Todas
as cita1;es são de yths of power 7 80 ARLDTRON3, N Race in t!e a0e o/ realis. 50
^antas.a0oria 5 ima)'tica antasma)0rica em O morro dos ventos uivantes não ' recorrente, mas, %uando sur)e, demonstra possuir alto )rau de si)nifcncia7 Há nas peram&ula1;es de Heat!cli`, sea ap0s a morte de Cat!erine ou durante os acontecimentos do fnal do romance, um aspecto antasma)0rico interessante, mas, neste momento, nossa preocupa1ão ' com as su)est;es de presen1a die)'tica de antasmas7 * termo su)estão ' ade%uado por%ue em momento al)um a narrativa dá como certa a e=istência de antasmas na die)ese da o&ra, e ' a( %ue ca&e a n0s, interessados nas tens;es do realismo, analisarmos o re)istro su)estivo Mno sentido de %ue pode ser real ou nãoN do antasma)0rico Melemento antirrealista por e=celênciaN no m&ito do romance7 Comecemos pela, talve6, por uma passa)em %ue ', talve6, a mais importante a esse respeito3 , a do o son!o de LocGood no %uarto3
7 be0an to nod dro&sil1 over t!e di. pa0e* .1 e1e &andered /ro. .anuscript to print 7 sa& a red orna.ented title_Devent1 Ti.es Deven, and t!e ^irst o/ t!e Devent1^irst A 8ious #iscourse delivered b1 t!e Reverend "abez Brander!a., in t!e
51
.1 o&n residence T!en a ne& idea Cas!ed across .e 7 &as not 0oin0 t!ere* &e &ere Xourne1in0 to !ear t!e /a.ous "abez Brander!a. preac!, /ro. t!e te2t _Devent1 Ti.es Deven= and eit!er "osep!, t!e preac!er, or 7 !ad co..itted t!e ^irst o/ t!e Devent1^irst, and &ere to be publicl1 e2posed and e2co..unicated +e ca.e to t!e c!apel 7 !ave passed it reall1 in .1 &al(s, t&ice or t!rice= it lies in a !ollo&, bet&een t&o !ills* an elevated !ollo&, near a s&a.p, &!ose peat1 .oisture is said to ans&er all t!e purposes o/ e.bal.in0 on t!e /e& corpses deposited t!ere T!e roo/ !as been (ept &!ole !it!erto= but as t!e cler01.ans stipend is onl1 t&ent1 pounds per annu., and a !ouse &it! t&o roo.s, t!reatenin0 speedil1 to deter.ine into one, no cler01.an &ill underta(e t!e duties o/ pastor* especiall1 as it is currentl1 reported t!at !is Coc( &ould rat!er let !i. starve t!an increase t!e livin0 b1 one penn1 /ro. t!eir o&n poc(ets ?o&ever, in .1 drea., "abez !ad a /ull and attentive con0re0ation= and !e preac!ed_0ood 3od &!at a ser.on= divided into "our hundred and ninety parts, eac! /ull1 e@ual to an ordinar1 address /ro. t!e pulpit, and eac! discussin0 a separate sin +!ere !e searc!ed /or t!e., 7 cannot tell ?e !ad !is private .anner o/ interpretin0 t!e p!rase, and it see.ed necessar1 t!e brot!er s!ould sin dierent sins on ever1 occasion T!e1 &ere o/ t!e .ost curious c!aracter* odd trans0ressions t!at 7 never i.a0ined previousl1 O!, !o& &ear1 7 0ro& ?o& 7 &rit!ed, and 1a&ned, and nodded, and revived ?o& 7 pinc!ed and pric(ed .1sel/, and rubbed .1 e1es, and stood up, and sat do&n a0ain, and nud0ed "osep! to in/or. .e i/ !e &ould ever !ave done 7 &as conde.ned to !ear all out* :nall1, !e reac!ed t!e /irst o" the 7eventy-/irst At t!at crisis, a sudden inspiration descended on .e= 7 &as .oved to rise and denounce "abez Brander!a. as t!e sinner o/ t!e sin t!at no
didst t!ou 0apin0l1 contort t!1 visa0e_sevent1 ti.es seven did 7 ta(e counsel &it! .1 soul_)o, t!is is !u.an &ea(ness* t!is also .a1 be absolved T!e ^irst o/ t!e Devent1^irst is co.e Bret!ren, e2ecute upon !i. t!e Xud0.ent &ritten Duc! !onour !ave all ?is saints +it! t!at concludin0 &ord, t!e &!ole asse.bl1, e2altin0 t!eir pil0ri.s staves, rus!ed round .e in a bod1= and 7, !avin0 no &eapon to raise in sel/de/ence, co..enced 0rapplin0 &it! "osep!, .1 nearest and .ost /erocious assailant, /or !is 7n t!e conCuence o/ t!e .ultitude, several clubs crossed= blo&s, ai.ed at .e, /ell on ot!er sconces 8resentl1 t!e &!ole c!apel resounded &it! rappin0s and counter rappin0s* ever1 .ans !and &as a0ainst !is nei0!bour= and Brander!a., un&illin0 to re.ain idle, poured /ort! !is zeal in a s!o&er o/ loud taps on t!e boards o/ t!e pulpit, &!ic! responded so s.artl1 t!at, at last, to .1 unspea(able relie/, t!e1 &o(e .e And &!at &as it t!at !ad su00ested t!e tre.endous tu.ult[ +!at !ad pla1ed "abezs part in t!e ro&[ Lerel1 t!e branc! o/ a :rtree t!at touc!ed .1 lattice as t!e blast &ailed b1, and rattled its dr1 cones a0ainst t!e panes 7 listened doubtin0l1 an instant= detected t!e disturber, t!en turned and dozed, and drea.t a0ain* i/ possible, still .ore disa0reeabl1 t!an be/ore T!is ti.e, 7 re.e.bered 7 &as l1in0 in t!e oa( closet, and 7 !eard distinctl1 t!e 0ust1 &ind, and t!e drivin0 o/ t!e sno&= 7 !eard, also, t!e :r bou0! repeat its teasin0 sound, and ascribed it to t!e ri0!t cause* but it anno1ed .e so .uc!, t!at 7 resolved to silence it, i/ possible= and, 7 t!ou0!t, 7 rose and endeavoured to un!asp t!e case.ent T!e !oo( &as soldered into t!e staple* a circu.stance observed b1 .e &!en a&a(e, but /or0otten 7 .ust stop it, nevert!eless 7 .uttered, (noc(in0 .1 (nuc(les t!rou0! t!e 0lass, and stretc!in0 an ar. out to seize t!e i.portunate branc!= instead o/ &!ic!, .1 :n0ers closed on t!e :n0ers o/ a little, icecold !and T!e intense !orror o/ ni0!t.are ca.e over .e* 7 tried to dra& bac( .1 ar., but t!e !and clun0 to it, and a .ost .elanc!ol1 voice sobbed, )et .e in_let .e in +!o are 1ou[ 7 as(ed, stru00lin0, .ean&!ile, to disen0a0e .1sel/
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&ailed, )et .e in and .aintained its tenacious 0rip, al.ost .addenin0 .e &it! /ear ?o& can 7 7 said at len0t! )et me 0o, i/ 1ou &ant .e to let 1ou in T!e :n0ers rela2ed, 7 snatc!ed .ine t!rou0! t!e !ole, !urriedl1 piled t!e boo(s up in a p1ra.id a0ainst it, and stopped .1 ears to e2clude t!e la.entable pra1er 7 see.ed to (eep t!e. closed above a @uarter o/ an !our= 1et, t!e instant 7 listened a0ain, t!ere &as t!e dole/ul cr1 .oanin0 on Be0one 7 s!outed 7ll never let 1ou in, not i/ 1ou be0 /or t&ent1 1ears 7t is t&ent1 1ears, .ourned t!e voice* t&ent1 1ears 7ve been a &ai/ /or t&ent1 1ears T!ereat be0an a /eeble scratc!in0 outside, and t!e pile o/ boo(s .oved as i/ t!rust /or&ard 7 tried to Xu.p up= but could not stir a li.b= and so 1elled aloud, in a /renz1 o/ /ri0!t To .1 con/usion, 7 discovered t!e 1ell &as not ideal* !ast1 /ootsteps approac!ed .1 c!a.ber door= so.ebod1 pus!ed it open, &it! a vi0orous !and, and a li0!t 0li..ered t!rou0! t!e s@uares at t!e top o/ t!e bed 7 sat s!udderin0 1et, and &ipin0 t!e perspiration /ro. .1 /ore!ead* t!e intruder appeared to !esitate, and .uttered to !i.sel/ At last, !e said, in a !al/&!isper, plainl1 not e2pectin0 an ans&er, 7s an1 one !ere[ 7 considered it best to con/ess .1 presence= /or 7 (ne& ?eat!clis accents, and /eared !e .i0!t searc! /urt!er, i/ 7 (ept @uiet +it! t!is intention, 7 turned and opened t!e panels 7 s!all not soon /or0et t!e eect .1 action produced >Concentraremo2nos, por en%uanto, na se)unda metade desse lon)o e=certo Mem %ue o e=cesso )0tico, so&re o %ual viemos alando, se maniesta veementementeN, a partir do momento em %ue LocGood son!a pela se)unda ve67 oltaremos lo)o adiante O primeira metade, %uando alarmos so&re o su&lime apocal(ptico7 * %ue nem sempre se perce&e a respeito dessa passa)em ' %ue ela ocorre no re)istro do son!o MJ' listened dou!tingly an instant% detected the distur!er then turned
and
doed
and
dreamt
again JN,
ou
sea, %ual%uer
possi&ilidade de e=istência eetiva do antasma de Cat!erine cai por terra, ainda %ue a transi1ão entre o momento do son!o e o da realidade se dê de orma muito sutil, como se um osse continua1ão, e não interrup1ão, do outro3
81 *s
)rios em todas as cita1;es da o&ra, da%ui em diante, são nossos7 54
7t is t&ent1 1ears, .ourned t!e voice* t&ent1 1ears 7ve been a &ai/ /or t&ent1 1ears T!ereat be0an a /eeble scratc!in0 outside, and t!e pile o/ boo(s .oved as i/ t!rust /or&ard Y)oc(&ood ainda est9 son!andoZ 7 tried to Xu.p up= but could not stir a li.b= and so 1elled aloud, in a /renz1 o/ /ri0!t To .1 con/usion, 7 discovered t!e 1ell &as not ideal* !ast1 /ootsteps approac!ed .1 c!a.ber door Y)oc(&ood, se. diz\lo, X9 acordouZ * material do son!o á estava dado no momento em %ue LocGood lê os te=tos de Cat!erine e fca a par de sua !ist0ria, de tal orma %ue ele á tin!a como sa&er previamente as inorma1;es dadas pelo antasma, possivelmente á re)istradas em seu su&consciente a partir da leitura7 5 orma de antasma assustador e perse)uidor assumida por Cat!erine aponta, talve6, um aspecto de parano0ia despertado em LocGood não s0 ao ler as !ist0rias desconortantes de autoria da mo1a como tam&'m por acumular e=periências de !ostilidade e desconorto dentro do 4orro dos entos Uivantes>+7 5 ideia de %ue son!o e realidade parecem se cru6ar tam&'m se dá pelo ato de, no primeiro son!o, LocGood escutar um &arul!o %ue, na verdade, provin!a do )al!o de uma árvore &atendo na anela3
And &!at &as it t!at !ad su00ested t!e tre.endous tu.ult[ +!at !ad pla1ed "abezs part in t!e ro&[ Lerel1 t!e branc! o/ a :r tree t!at touc!ed .1 lattice as t!e blast &ailed b1, and rattled its dr1 cones a0ainst t!e panes 82 5
afrma1ão de Punter a se)uir concerne o )0tico, mas corresponde, de al)uma orma, a esse pro&lema3 JT!e Ginds o ear in !ic! Aot!ic deals are, rom one aspect, )eneral psc!olo)ical orces3 ear o isolation, claustrop!o&ia, paranoia7 But t!e1 are consistentl1 presented as connected &it! a &orld o/ /eudal class relations in &!ic! baron, priest and .on( are seen as t!e principal a0ents o/ evil, t!us displacin0 evil /ro. t!e ever1da1 Lost o/ t!e .aXor 3ot!ic &or(s are /ables o/ persecution, in &!ic! !eroes and !eroines &it! lar0el1 .iddleclass values, not al&a1s under&ritten b1 t!e aut!ors, are !aunted and pursued b1 t!ese a0ents, but on t!e &!ole e.er0e, presu.abl1 to t!e relie/ o/ t!e reader, untainted b1 t!e crude social violence &!ic! t!e1 represent $8NTER, # Docial relations o/ 3ot!ic :ction% 55
Son!o e realidade parecem intererir um no outro, como ilustra a passa)em acima7 Q nessa intererência %ue se locali6a o primeiro re)istro veemente de antasma)oria no romance, fltrado pelo aspecto de son!o Mou mel!or, pesadeloN e, em certo n(vel, de paranoia, tornando2o, por conta disso, su)estivo7 * outro trec!o %ue )ostar(amos de e=aminar está locali6ado no Iltimo cap(tulo, em discurso de Bell Dean3
But t!e countr1 /ol(s, i/ 1ou as( t!e., &ould s&ear on t!e Bible t!at !e walks* t!ere are t!ose &!o spea( to !avin0 .et !i. near t!e c!urc!, and on t!e .oor, and even &it!in t!is !ouse 7dle tales, 1oull sa1, and so sa1 7 'et t!at old .an b1 t!e (itc!en :re ar.s !e !as seen t&o on e. loo(in0 out o/ !is c!a.ber &indo& on ever1 rain1 ni0!t since !is deat!*_and an odd t!in0 !appened to .e about a .ont! a0o 7 &as 0oin0 to t!e 3ran0e one evenin0_a dar( evenin0, t!reatenin0 t!under_and, Xust at t!e turn o/ t!e ?ei0!ts, 7 encountered a little bo1 &it! a s!eep and t&o la.bs be/ore !i.= !e &as cr1in0 terribl1= and 7 supposed t!e la.bs &ere s(ittis!, and &ould not be 0uided +!at is t!e .atter, .1 little .an[ 7 as(ed T!eres ?eat!cli and a &o.an 1onder, under t nab, !e blubbered, un 7 darnut pass e. 7 sa& not!in0= but neit!er t!e s!eep nor !e &ould 0o on so 7 bid !i. ta(e t!e road lo&er do&n ?e probabl1 raised t!e p!anto.s /ro. t!in(in0, as !e traversed t!e .oors alone, on t!e nonsense !e !ad !eard !is parents and co.panions repeat 'et, still, 7 dont li(e bein0 out in t!e dar( no&= and 7 dont li(e bein0 le/t b1 .1sel/ in t!is 0ri. !ouse
Bell, nessa passa)em, reere2se aos antasmas dos alecidos Cat!erine e Heat!cli`, %ue, aparentemente, se)undo al)uns locais assustados, peram&ulam pela re)ião da JmoorlandJ7 4ais uma ve6, o antasma)0rico no romance se dá no n(vel da su)estão, dessa ve6 não pelo pesadelo paranoico, mas pela supersti1ão provinciana, propa)ada pelos !a&itantes do campo MJcountr olGsJN e &aseada em crendices pa)ãs7 Knteressante notar %ue o menino %ue vê os
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antasmas ' um pe%ueno pastor )uiando a ovel!a e os cordeiros, ou sea, ima)em mais cristã imposs(vel7 5 tensão entre reli)iosidade pa)ã e cristã ' uma das mais intensas f)uradas no romance, al)o so&re o %ual %ue )ostar(amos de e=plorar mais a undo no uturo7 :uanto O importncia !ist0rica da presen1a do so&renatural numa o&ra como O morro dos ventos uivantes , )ostar(amos de fnali6ar com uma rase de David Punter %ue, a nosso ver, parece elucidar &em as su)est;es de so&renatural %ue encontramos na o&ra, por mais %ue se refra O fc1ão )0tica3
T!e supernatural beco.es a s1.bol o/ our past risin0 a0ainst us, &!et!er it be t!e ps1c!olo0ical past t!e real. o/ t!ose pri.itive desires repressed b1 t!e de.ands o/ a closel1 or0anized societ1 or t!e !istorical past, t!e real. o/ a social order c!aracterized b1 absolute po&er and servitude>8
8itoresco e subli.e Lo)o no in(cio do romance, LocGood descreve a nova re)ião onde resolveu ir morar de maneira %ue merece aten1ão3 JT!is is certainl a /eautiful country " 7n all En0land, 7 do not believe t!at 7 could !ave
:2ed on a situation so co.pletel1 removed "rom the stir o" society 5 perect misanthropist#s heaven J7 5 descri1ão ' de teor positivo
e remete ao campo ideali6ado Mpac(fco, %uase ina&itado, id(licoN do /omantismo de Zilliam Zordsort!3
7 &andered lonel1 as a cloud T!at Coats on !i0! o-er vales and !ills, +!en all at once 7 sa& a cro&d, A !ost, o/ 0olden daodils= Beside t!e la(e, beneat! t!e trees, 83 PUBT?/,
D7 op' cit' 57
^lutterin0 and dancin0 in t!e breeze>. Se Wssemos ima)inar como ' esse campo %ue LocGood descreve no primeiro pará)rao da o&ra, supon!o %ue seria al)o como os %uadros Wivenhoe ,ar" M->-->N, de E7 47 Z7 Turner3
:uadros como os reprodu6idos acima correspondem O est'tica do pitoresco, %ue, se)undo Aiulio Carlo 5r)an, pode ser e%uiparada O do /omantismo7 84 JK
andered lonel as cloudJ, poema de Zordsort! cua primeira versão oi pu&licada em ->@7 58
JBos meados do KKK o termo romntico ' utili6ado como e%uivalente de pitoresco e reerido O ardina)em, isto ', uma arte %ue não imita nem representa, mas, em consonncia com as teses iluministas, opera diretamente so&re a nature6a, modifcando2a,
corri)indo2a,
adaptando2a
aos
sentimentos !umanos e Os oportunidades de vida social, isto ', colocando2a como am&iente da vidaJ>9 Dessa primeira impressão de LocGood em rela1ão ao campo, no in(cio do primeiro cap(tulo -, Os tur&ulências %ue ele irá vivenciará, em especial durante os epis0dios do terceiro cap(tulo 8, muita coisa muda7 * %ue se nota ' uma esp'cie de movimento )radativo do pitoresco ao su&lime no decorrer desses cap(tulos7 * teor positivo se torna ne)ativo e as ima)ens %ue caracteri6am essa vivência dei=am de remeter O ardina)em paisa)(stica do pitoresco e passam a corresponder O est'tica do su&lime, tam&'m vinculada ao /omantismo><7 *s e=certos descrevendo os son!os de LocGood, em especial o primeiro, repleto de elementos &(&licos e apocal(pticos, a6 lem&rar a est'tica do su&lime de Zilliam laGe>@, 85 5/A5B,
A7C7 JClássico e romnticoJ7 Kn3 Arte moderna7 São Paulo3 Compan!ia das Letras, -]]+7 86 JPara o pitoresco, a nature6a ' um am&iente variado, acol!edor, prop(cio, %ue avorece nos indiv(duos o desenvolvimento dos sentimentos sociais para o su&lime, ela ' um am&iente misterioso e !ostil, %ue desenvolve na pessoa o sentido de sua solidão Mmas tam&'m de sua individualidadeN e da desesperada tra)icidade do e=istirJ M5/A5B, A7C7 op' cit'N 87 Q /amond Zilliams %uem c!ama aten1ão mais constantemente O rela1ão entre ?mil rontV e laGe7 De acordo com este autor, am&os e=pressam pro&lemas de ordem social e !ist0rica a partir do tra&al!o em cima de elementos do (ntimo, do psicol0)ico e do passional7 Nos trec!os a se0uir, ele esclarece essa relação* T!e &orld o/ Bla(e* a &orld o/ desire and !un0er, o/ rebellion and o/ pallid convention* t!e ter.s o/ desire and /ul:ll.ent and t!e ter.s o/ oppression and deprivation pro/oundl1 connected in a single dimension o" e3perience A partir do e2certo a se0uir, cre.os não ser descabido dizer @ue !9 sintonia entre nossas ideias e as do 0rande cr>tico 0al\s* +!at &as directl1 e2pressed in Bla(e and in Jeats and in dierent &a1s in D!elle1 and B1ron see.s to !ave 0one under0round, b e/ore t!e F]Ks $% in the dark images o" the 2othic and in the produced straining e3travagances o" melodrama T!e ac!ieve.ent o/ t!e Bront5 sisters Yis t!atZ t!e1 re.ade t!e novel so t!at t!is (ind o/ passion could be directl1 co..unicated $+7))7ALD, R
inclusive por conta da presen1a do antasma)0rico, como se pode ver em The +overs Whirlwind Mentre ->+< e ->+@N3
5s cores ortes e vivas aplicadas Os cenas &(&licas e apocal(pticas dramáticas tam&'m se encontram num pintor posterior, mais ou menos contemporneo de ?mil ronte, c!amado Eo!n 4artin, e=tremamente popular na 'poca7 5 )ravura a se)uir, em preto e &ranco, no entanto, ' de ->8- e se c!ama The .all of !a/ylon&
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* espa1o social de O morro dos ventos uivantes tem como caracter(stica principal ustamente isso3 sua conf)ura1ão se dá na tensão entre pitoresco convencional^realista e su&lime )0tico^antasma)0rico Macentuado pelas ima)ens de reli)iosidade escatol0)ica de Zilliam laGe e Eo!n 4artinN7 ?ste Iltimo sur)e no plano do son!o^pesadelo M%ue, como vimos no e=certo, conunde2se com a realidade e, parece at' mesmo atin)i2laN no intuito de desesta&ili6ar as normas e os padr;es do primeiro sem necessariamente ne)á2lo por completo e tornar2se um romance de antasia ou proundamente )0tico7 De nossa parte, vemos a( um mecanismo esteticamente muito avan1ado ela&orado por ?mil rontV3 voltar2se ao aspecto gnão 2realista do )0tico e do su&lime para pWr em c!e%ue o conteIdo ideolo)icamente constru(do do realismo tradicional do pitoresco, do Js'rioJ e do romantismo ordsrt!iano7 Talve6 não sea incoerente associar um romance como o de ?mil rontV O produ1ão pict0rica do se)undo Turner, ustamente da d'cada de . do s'culo K, onde essas duas caracter(sticas aparentemente contradit0rias parecem se mesclar, apontando os impasses uma da outra7 eamos The Har/our of *ieppe, de ->+<3
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5)ora pensemos nas dieren1as do %uadro acima em rela1ão a uma de suas o&ras primas, Bnow Btorm& Bteam !oat OF a Har/our M->.+N, cuo o&eto M&arcos, am&iente mar(timoN ' semel!ante3
Há uma dieren1a estil(stica &astante veemente, al)o do tipo Jmesmos o&etos, dierente tratamentoJ, como á e=ploramos anteriormente7 * tra1o não 2representacional do se)undo Turner a6 lem&rar a pintura moderna a&strata, assim como muito do %ue investi)amos em O morro dos ventos uivantes a6 lem&rar o romance moderno Mo tra&al!o com o
son!o, a o&scuridade, os elementos %ue su)erem sem di6er, a comple=idade da estrutura narrativa e temporal etc7N7 5l)o a ser investi)ado com mais minIcia ' a particularidade do processo !ist0rico in)lês na d'cada de ->., no intuito de compreender como Me por %ueN se dá a emer)ência de ormas como as do se)undo Turner e de O morro dos ventos uivantes, %ue a%ui colocamos em e%uipara1ão, pensando as
tens;es do realismo^pitoresco e as inuências do )0tico^su&lime7 5centua1ão massiva do processo de industriali6a1ão>> aetando a estrutura de sentimento dos artistas, resultando em novos e=perimentos ormaisR 5inda não temos resposta certa, mas o %ue sa&emos ' %ue at' mesmo um narrador incompetente como LocGood, assunto so&re o %ual 88 H*S5Z4,
?7 A era das revoluç6es7 São Paulo3 Pa6 e Terra, +]7 62