LAÇOS por
R. D. Laing Tradução de
Mário Pontes
2' EDIÇÃO
FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de Catalogação na fonte do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, GB)
Laing, Ronald David, 1927L1871 Laços Iporl R. D. Laing; tradução de Mário Pontes. Petrópolis, Vozes, 1974. 100 p. 21 cm (Psicanálise, v. 9). Do original em inglês: Knots. 1. Poesia inglesa. 2. Psicanálise. Psicanálise. I. Titulo. II. Série. Série. CDD - 821.914 821.00931 821.00931 CDU - 820 820.1 194574-0387 820-1:159.964.2
EDITORA VOZES LTDA. Petrópolis
1977 Os elementos que aqui apresentamos em esboço
Edição original publicada em 1970 por Tavistock Publications Limited 11 New Fetter Lane, London EC4 © The R. D. Laing Trust 1970 Titulo do original inglês: KNOTS
© 1974 da tradução tradução portuguesa Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 Petrópolis, RJ Brasil
Os elementos que aqui apresentamos em esboço não tinham merecido até agora o esforço classificatório de nenhum Lineu da servidão humana. O que não impede sejam todos eles, talvez, estranhamente familiares. Limitei-me, nas páginas seguintes, a mostrar alguns daqueles que eu próprio vi. As palavras que me ocorrem para designá-los são: nós, laços, labirintos, impasses, disjunções, redemoinhos, ligaduras. Eu poderia ter permanecido mais fiel à "pureza" dos dados em que tais elementos se apresentaram. Por outro lado, poderia tê-los trabalhado ainda mais, dando-lhes um tratamento próximo ao do cálculo lógico-matemático abstrato. No final de contas, espero não tê-los esquematizado tanto ao ponto de tornar impossível relacioná-los outra vez às mui particulares experiências de que vieram. Mas espero também que permaneçam bastante independentes de qualquer "conteúdo", para que possamos perceber a acabada elegância formal desse tecido de maya. R. D. Laing Abril de 1969
1 Eles estão jogando o jogo deles. Eles estão jogando de não jogar um jogo. Se eu lhes mostrar que os vejo tal qual eles estão, quebrarei as regras do seu jogo e receberei a sua punição. O que eu devo, pois, é jogar o jogo deles, o jogo de não ver o jogo que eles jogam.
Eles não estão se divertindo. E se eles não se divertem eu também não me divirto. Somente se eu puder levá-los a se divertir poderei divertir-me juntamente com eles. Mas não é nada divertido levá-los a divertir-se; pelo contrário, é trabalho muito árduo. Quem sabe, eu talvez me divertisse se descobrisse por que não se divertem. Mas não fica nada bem que me divirta procurando saber o porquê não se divertem. Ainda assim é um pouco divertido o ato de fingir que não encontro diversão em descobrir o motivo por que não se divertem. Vamos nos divertir? — convida a garotinha que surge de repente não sei donde. E contudo divertir-me é perder tempo, já que me divertir não contribui para mostrar o motivo por que não se divertem. Como podes tu te divertir se Jesus na cruz morreu por ti? Achas acaso que na cruz Jesus se divertia?
O nosso dever é fazer com que os nossos filhos nos amem, nos honrem e nos obedeçam. Se não nos amam, não nos honram e não nos obedecem, o nosso dever é castigá-los; do contrário não estaremos a cumprir nosso dever. Se crescem nos amando, nos honrando e nos obedecendo — benditos sejamos por tê-los feito crescer no bom caminho. Se crescendo não nos amam, não nos honram e não [ nos obedecem bem, talvez lhes tenhamos indicado o bom caminho, talvez não. Se lhes mostramos o caminho bom é com eles que algo está errado. Se não lhes mostramos o caminho bom é conosco que algo está errado.
O dever dos filhos seria respeitar os pais sem que fosse necessário ensinar-lhes tal respeito, pois o respeito é algo natural — e afinal de contas foi assim que eu eduquei meu filho. É claro que os pais devem ser dignos de respeito e, claro também, é possível que percam tal respeito. Mas ao final de contas espero que meu filho me respeite nem que seja porque lhe dou a liberdade de respeitar-me ou não me respeitar.
Algo de errado deve haver com ele pois é certo que assim não agiria se algo de errado não houvesse; portanto se é assim que ele age é porque há com ele algo de errado Ele não se apercebe de que há com ele algo de errado porque uma das coisas que nele andam erradas é não se aperceber de que há com ele algo de errado portanto temos que ajuda-lo a aperceber-se de que o fato de não se aperceber de que há com ele algo de errado é uma dessas coisas que nele andam erradas
algo de errado com ele está havendo posto que ele pensa que é conosco que algo anda errado porque tentamos ajudá-lo a perceber que algo de errado com ele deve haver por pensar que conosco algo anda errado porque tentamos ajudá-lo a perceber de que o estamos ajudando a perceber que o não estamos perseguindo quando o estamos ajudando a perceber que não o estamos perseguindo quando o estamos ajudando a perceber que se recusa a perceber que algo de errado deve haver com ele quando não percebe que algo de errado deve haver com ele
quando não nos agradece sequer pelo fato de tentarmos ajudá-lo a perceber que algo de errado deve haver com ele quando não percebe que algo de errado deve haver com ele quando não percebe que algo de errado deve haver com ele quando não percebe que algo de errado deve haver com ele quando não nos agradece pelo fato de que nunca tentamos fazer com que nos agradeça
O dever dos filhos é respeitar os pais E o dever dos pais é ensinar os filhos através do bom exemplo a respeitar os pais. Pais que não dão aos filhos bons exemplos não merecem respeito. Se nós os pais lhes dermos bons exemplos podemos esperar pela sua gratidão quando crescidos eles próprios forem pais. De um filho malcriado não teremos respeito porque não o castigamos porque não nos respeita Não devemos estragar com mimos nossos filhos. Decerto o mais cômodo é fazer o que eles querem, mas eles não nos respeitarão quando crescerem por deixá-los fazer o que eles querem. Eles não nos respeitarão se não os castigarmos por não nos respeitarem.
Mamãe me ama. Eu me acho bom. Eu me acho bom porque ela me ama. Eu sou bom porque me acho bom Eu me acho bom porque sou bom Mamãe me ama porque sou bom. Mamãe não me ama. Eu me acho mau. Eu me acho mau porque ela não me ama Eu sou mau porque me acho mau Eu me acho mau porque sou mau Eu sou mau porque ela não me ama Mamãe não me ama porque sou mau.
Eu não me acho bom logo sou mau logo ninguém me ama Eu me acho bom logo sou bom logo todos me amam. Eu sou bom você não me ama logo você é mau. Logo eu não amo você. Eu sou bom você me ama. logo você é bom. Logo eu amo você. Eu sou mau você me ama logo você é mau.
Mamãe me ama porque ela é boa Eu sou mau, pois acho que ela é má Logo se eu sou bom ela é boa e me ama porque eu sou bom por saber que ela é boa. Eu sou mau pois duvido que ela me castigue por duvidar de que me ama quando me castiga por duvidar de que me ama. Diz mamãe que deve ser por culpa sua se eu duvido que me ame. Ela se acha má quando não percebo que me ama quando se acha má quando não percebo que me ama. Mamãe acha que é por culpa sua que posso ser cruel ao ponto de duvidar de que me ama quando me faz sentir que sou cruel quando penso que tenta me fazer achar que sou cruel.
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E bom ser bondoso. É nau ser cruel. E mau achar que mamãe é cruel comigo e portanto má. Mamãe é cruel comigo mas é cruel apenas para ser bondosa por eu ter achado que era cruel quando foi cruel por ter me castigado por eu ter sido cruel para com ela por pensar que ela era cruel para comigo por ter me castigado por eu ter pensado que ala era cruel por ter me castigado por eu ter pensado... Você é cruel por me fazer achar que sou mau por pensar que sou cruel por fazer você se achar cruel por eu me achar mau por você ser tão cruel a ponto [de pensar que não amo você, quando bem sabe que eu [amo você. Se você não sabe que eu amo você, algo de errado está [havendo com você.
Lúcio sofre por achar que Lúcia acha que ele a faz sofrer porque (ele) sofre por achar que ela acha que ele a faz sofrer por fazê-la achar que é culpada de fazê-lo sofrer porque (ela) acha que ele a faz sofrer porque (ele) sofre por achar que ela acha que ele a faz sofrer pelo fato de que da capo sine fine
2 Era uma vez um menininho chamado de Lúcio querendo ficar o tempo todinho com sua mãezinha temendo que ela o deixasse sozinho quando o menininho ficou maiorzinho quis ficar longe de sua mãezinha agora temendo que ela quisesse ficar junto dele o tempo todinho e ficando crescido Lúcio amou Lúcia e queria estar com Lúcia o tempo todinho temendo que Lúcia o deixasse sozinho quando Lúcio cresceu ainda mais não quis mais ficar todo tempo com Lúcia ele tinha ficado com medo de que ela quisesse ficar todo o tempo com ele e de que ela tivesse ficado com medo de que ele não quisesse ficar todo o tempo com ela Lúcio leva Lúcia a temer que ele a deixe porque Lúcio teme que Lúcia o deixe.
Lúcio teme que Lúcia seja como a mãe dele Lúcia teme que Lúcio seja como a mãe dela Lúcio teme que Lúcia ache que ele é como a mãe dela e que Lúcia tema que Lúcio ache que ela é como a mãe dele Lúcia teme que Lúcio ache que ela é como a mãe dele e que Lúcio tema que Lúcia ache que ele é como a mãe dela
Lúcio quer devorar a mãe e ser devorado por ela mais tarde, ele hesita entre querer devorá-la sem querer contudo ser devorado por ela e não querer devorá-la querendo contudo ser devorado por ela. Mais tarde ainda, ele não quer devorá-la nem quer que ela o devore. Lúcio acha que Lúcia o devora. Lúcio é devorado pelo medo devorador de ser devorado pelo desejo devorador de Lúcia de que Lúcio devore Lúcia.
Ele acha que ela o devora com a sua exigência de que a devore Duas pessoas que inicialmente queriam devorar e ser devoradas estão devorando e sendo devoradas Ela é devorada por ele que é devorado pelo devorador desejo dela de ser devorada por ele Ele é devorado por ela que é devorada por não ser por ele devorada Ele é devorado pelo medo de ser devorado Ela é devorada pelo desejo de ser devorada Seu pavor de ser devorado nasce de seu pavor de ser devorado pelo seu devorar Seu desejo de ser devorada nasce do seu pavor do desejo de devorar
LÚCIA Eu não me respeito Eu não posso respeitar a ninguém que me respeite Eu só posso respeitar alguém que não me respeite. Respeito Lúcio porque ele não me respeita Desprezo Luís porque ele não me despreza Somente uma pessoa desprezível pode respeitar alguém tão desprezível quanto eu Não posso amar alguém a quem desprezo Logo, como eu amo Lúcio não posso acreditar que ele me ame Que provas me daria de que me ama?
Lúcia se sente segura quando briga com Lúcio porque Lúcio não reage Lúcia briga com Lúcio porque Lúcio não reage Lúcia briga com Lúcio porque Lúcio não lhe mete medo Lúcio não lhe mete medo porque não reagindo é inofensivo Lúcia se sente segura diante de Lúcio logo Lúcia o despreza Lúcia se apega a Lúcio porque Lúcio não lhe mete medo Lúcia despreza Lúcio porque se apega a ele porque ele não lhe mete medo Lúcia é cônscia da própria inferioridade logo Lúcia é superior a quem quer que a suponha superior a Lúcio.
Lúcia Tenho medo Lúcio Não tenhas medo Lúcia Tenho medo de ter medo quando me dizes que não tenha medo medo medo de ter medo sem medo de ter medo sem medo com o medo de não ter medo sem medo de não ter medo
Lúcia Me aborreço por estares aborrecido Lúcio Não estou aborrecido aborrecido Lúcia Me aborreço pelo fato de não te aborrecer o fato de eu me aborrecer por estares aborrecido Lúcio Me aborreço pelo fato de que te aborreças pelo fato de que me aborreço pelo fato de que te aborreças pelo fato de eu estar aborrecido quando na verdade não estou aborrecido. Lúcia Estás me julgando mal Lúcio Não estou te julgando mal Lúcia Estás me julgando mal quando pensas que me julgas mal. Lúcio Desculpa-me Lúcia Não Lúcio Nunca te desculparei por não me desculpares
Lúcia Lúcia Tu me acha achass idiot idiotaa Lúcio Lúcio Nã Não o te acho acho idio idiota ta Lúcia Lúcia Sou idiota idiota quan quando do acho acho que tu acha achass que sou idiota quando na verdade não o achas: ou então estás mentindo. De qualquer forma sou uma idiota: quando acho que sou uma idiota, e sou uma idiota quando acho que sou uma idiota, e não sou uma idiota quando acho que tu achas que sou uma idiota quando na verdade não o achas. Lúci Lúciaa Sou Sou ridí ridícu cula la Lúcio Lúcio Nã Não, o, não não és ridí ridícu cula la Lúcia Lúcia Sou ridícul ridícula a por me acha acharr ridíc ridícula ula quando quando na verdade não o sou. Com certeza estás rindo de mim por achar que estás rindo de mim quando na verdade não estás rindo de mim.
Até onde ser inteligente para ser idiota? Os outros disseram que ela era idiota. Então ela se fez de idiota para não ver até onde os outros eram idiotas por achar que ela era idiota, pois não ficava bem achar que eles eram idiotas. Ela preferiu ser idiota e boa a ser inteligente e má. É mau ser idiota: ela tem que ser inteligente para ser idiota e boa. E mau ser idiota, pois assim demonstraria até onde os outros foram idiotas quando lhe mostraram o quanto era idiota.
Me chateia o fato de que tenhas medo de me chatear pelo fato de te interessares por mim. Quando tentas me interessar nem calculas o quanto me chateias. Tendo medo de chatear tentas ser interessante não sendo interessada e só te interessas em não não seres chata. Não estás Interessada por mim. Só estás interessada em que me interesse por ti. Tu finges que te sentes chateada porque eu não estou interessado em que te amedrontes de que não me amedronte de que não te interesses por mim .
Lúcio Lúcio O teu teu err erro o é ter teres es inv invej ejaa de mim mim Lúcia Lúcia O teu teu erro erro é pensa pensarr que que tenho tenho inve inveja ja de ti Lúcio Lúcio Lúcia Lúcia
Tu nunc nuncaa recon reconhec heces es as as minh minhas as qualida qualidades des.. Nem suportas a idéia de reconhecê-las. É aí que que está estáss errado errado.. Não Não podes podes supo suporta rtarr a idéia de que não possam me importar.
Lúcio Lúcio Lúcia Lúcia Lúcio Lúcio Lúcia Lúcia
Tu és tal tal qual qual a min minha ha mãe mãe.. Tu me me trata tratass exata exatamen mente te como como a ela. ela. Pois Pois é só só não não agir agires es como como ela. ela. Tu a odeias odeias e por por isso isso me tent tentas as destr destruir uir..
Lúcio Lúcio
Não podes podes para pararr com com as tuas tuas proj projeçõe eções. s. Tu Tu é que és a frígida. Eu não não o era quando quando te enco encontr ntrei. ei.
Lúcia Lúcia
Lúcio Lúcio Vê lá lá se não não cospe cospess em tua tua vag vagin inaa para para cuspir por tabela em meu pênis Lúcia Lúcia Quando Quando desces desces a tal níve nívell sinto que que tudo tudo está está [perdido Lúcio Lúcio Já é um pont ponto o de partid partida. a. Pela Pela prim primeira eira vez vez admites algum sentimento de inadequação. Lúcia Lúcia Lúcio Lúcio
Espero Espero que possam possamos os pelo pelo meno menoss ser amigos amigos Claro. Claro. Tenho Tenho sido sido sempre sempre teu amigo. amigo.
Sou feliz porque és feliz sou infeliz porque és infeliz Lúcio é infeliz porque Lúcia é infeliz Lucia é infeliz porque Lúcio é infeliz porque Lúcia é infeliz porque Lúcio é infeliz porque Lúcia é infeliz Lúcia se sente culpada de ser infeliz se Lúcio é infeliz porque Lúcia é infeliz... Lúcio se sente culpado porque Lúcia é infeliz pois acha que deveria fazê-la feliz Lúcia se sente culpada porque Lúcio se sente culpado porque Lúcia se sente culpada porque Lúcio se sente culpado
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Ele não pode ser feliz havendo no mundo tanto sofrimento Ela não pode ser feliz não sendo ele feliz Ela deseja ser feliz Ele não se sente com direito a ser feliz Ela quer vê-lo feliz Ele quer vê-la feliz Ele se sente culpado se ele é feliz e sente-se culpado se ela não é feliz Ela quer os dois felizes Ele quer ela feliz Logo nenhum deles é feliz Ele a acusa de ser uma egoísta por tentar fazê-lo feliz a fim de que ela possa ser feliz Ela o acusa de ser um egoísta por só pensar em si e mais ninguém Ele acha que pensa em todo mundo Ela acha que antes de tudo pensa nele porque é a ele que ela ama
Como poderia ela ser feliz se o homem a quem ama é infeliz Para ele é como se ela o chantageasse quando o faz sentir-se assim culpado de ser ela infeliz porque é ele infeliz Para ela é como se ele procurasse destruir o seu amor quando a acusa de ser egoísta estando o mal, na verdade, em não poder ser ela egoísta o bastante para ser feliz se o homem a quem ama é infeliz Ela sente que algo de errado deve haver com ela para amar alguém cruel a ponto de destruir o amor que tem por ele e sentir-se assim com culpa em demasia para ser feliz e não ser feliz por culpa de sentir a culpa Ele se sente infeliz por ser culpado de ser feliz quando os outros não o são e por ter cometido o erro de casar-se com alguém que só pode pensar em ser feliz.
Agora ela começou a beber a beber para criar coragem e cada vez é menor a sua coragem quanto mais ela bebe maior o seu medo de ser escrava da bebida quanto mais ela bebeu menor o seu medo de estar bêbada maior o medo de estar bêbada quando não bebeu menor o medo quando já bebeu maior o medo quando não bebeu quanto mais ela se auto-destrói maior o medo de que ele venha a destruí-Ia quanto maior o medo de vir a destruí-lo mais a si própria ela destrói
Lúci Lúcio o
Tu és um pé no saco saco e para defender meu saco deste pé que tu és, aperto as pernas e eu próprio sou um pé no saco tu és
Lúcia Lúcia E a mim mim a cabeça cabeça me dói dói quan quando do me me esfor esforço ço por evitar que me faças doer a cabeça.
Narciso enamorou-se da própria imagem ao tomá-la pela imagem de outro. Lúcio está enamorado da imagem que Lúcia faz de Lúcio tomando essa imagem pela própria. Lúcia não deve morrer para que Lúcio a si mesmo não se perda. Lúcio tem ciúmes de que a imagem de um outro possa refletir-se no espelho de Lúcia. Lúcia é um espelho deformante de si própria. Lúcia precisa deformar-se como forma de aparecer indeformada aos próprios olhos. Para não se deformar ela quer que ele deforme a imagem deformada de Lúcia no espelho deformado de Lúcio Ela espera que se ele deformar a sua deformação ela veja indeformada a sua imagem sem ter que ela mesma deformá-la.
Não consegui nunca aquilo que queria. Só tenho conseguido aquilo que não quero. Aquilo que eu quero não consigo nunca. Para conseguir, portanto, portanto , aquilo que eu quero não devo querer aquilo que eu quero pois só consigo aquilo que não quero só consigo aquilo que não quero aquilo que consigo é o que não quero Não o consigo porque o quero Só o consigo porque não o quero Eu quero aquilo que não consigo porque o que não consigo é o que quero Eu não quero aquilo que consigo porque o que consigo é aquilo que não quero Não consigo nunca aquilo que eu quero Não quero nunca aquilo que consigo
Eu consigo aquilo que mereço Eu mereço aquilo que consigo Eu o consegui, logo o mereço Eu o mereço porque o consegui Tu não o conseguiste, logo não o mereces Tu não o mereces porque não o conseguiste Tu não o conseguiste porque não o mereces Tu não o mereces, logo não o conseguiste.
logo
Eu não tenho direito àquilo que tenho tudo o que tenho foi roubado. Se eu consegui o que agora tenho e se não tenho direito ao que tenho devo tê-lo roubado certamente.
porque
Eu não tenho direito àquilo que tenho aquilo que tenho foi roubado.
logo
Eu roubei aquilo que tenho não tenho direito aquilo que tenho.
logo
Eu não tenho direito àquilo que tenho devo tê-lo roubado certamente.
porque
Ou então alguém que tinha direito aquilo que tenho me deu por um grande favor aquilo que tenho e assim é justo que eu deva agradecer por tudo o [ que tenho tudo aquilo que tenho a mim me foi dado e não roubado por mim.
Laços positivos e laços negativos. Negativo : Não posso vencer.
Tudo que faço é errado. Positivo: Não posso perder.
Tudo que faço é direito. Eu o faço porque está direito. Está direito porque eu o faço.
Quero Consigo Portanto sou bom Quero Não consigo consigo Portanto sou mau Sou mau porque não consegui Sou mau porque quis o que não consegui O que devo fazer é tentar conseguir o que quero querer o que consigo e não conseguir o que não quero
bom mau
conseguir não conseguir
querer não querer
consigo aquilo que quero não consigo aquilo que quero consigo aquilo que não quero não consigo aquilo que não quero de um modo geral não consigo aquilo que quero logo para conseguir aquilo que quero finjo que não quero aquilo que quero sou mau porque quero aquilo que não consigo não tenho conseguido aquilo que quero logo sou mau por querer aquilo que quero se sou mau por querer aquilo que quero não serei menos mau por conseguir aquilo que quero sou mau porque me acho mau e mau porque me acho bom pois é verdade que quanto mais má a gente é menos má a gente se acha Algo de errado deve haver comigo já que não acho que algo de errado deve haver comigo
poder não poder
Tudo aquilo que a gente tem a gente tem porque foi dado a gente logo a gente tem direito a ter tudo aquilo que a gente tem. Quanto mais a gente tem melhor a gente é pois quanto mais a gente tem mais a gente foi recompensada porque a gente é boa. Logo quanto mais muito mais eu faço melhor muito melhor eu sou
quanto mais eu faço mais eu tenho quanto melhor eu sou mais eu sou
Tudo o que tenho me foi dado e a mim pertence Se tenho o que tenho é que decerto me foi dado Logo o que tenho a mim pertence. Não o tenho mas posso conseguir o que não tenho e assim já que me foi dada a capacidade de obter o que não tenho que não tenho me pertence. Não me pertence mas a mim foi dado e eu o tenho sou grato pois pelo que tenho ou que a mim foi dado. Ser grato contudo me irrita pois se o que tenho me foi dado é que nem sempre me pertenceu logo se não me sinto grato é que me não foi dado logo eternamente eternamente (passado, (passado, presente, futuro) futuro) me pertence.
[Se me pertence não é parte de mim
Moderato .....1
[Se não me pertence não é parte de mim
.....2
Se não é parte de mim não me pertence ]
.....3
Se é parte de mim me pertence ]
.....4
Mas, se me pertence não é parte de mim e se não é parte de mim não me pertence Portanto, Portanto, se, se, se não é parte de mim não me pertence
.....1 .....3
.....3
se, se, se não me pertence não é parte de mim
. ....2
se, se, se me pertence não é parte de mim
.....1
assim sendo, sendo , se não é parte de mim me pertence Laços Ec) 2918 — 4
.....5
Se não é parte de mim me pertence Se me pertence não é parte de mim Se me pertence não é parte de mim Se não é parte de mim não me pertence se não me pertence não é parte de mim se não é parte de mim me pertence Se, Se , se me pertence não é parte de mim se não é parte de mim não me pertence logo, logo, Se me pertence não me pertence Se, Se , se me pertence não pertence se ( 1 2 3 4/ 1 3/ 3 2 1 5/ 5 1 1 3 2 5 1 então, então, se não me pertence não é parte de mim e se não é parte de mim me pertence se me pertence não é parte de mim, se, se , se não é parte de mim não me pertence se não é parte de mim me pertence então, então , Se me pertence é parte de mim
.....5 .....1
poco a poço accelerando al fine
.....1 .....3 .....2 .....5 .....1 .....3 .....6 .....6 3)
.....2 .....5 .....1 .....3 .....5
.....7
se, se me pertence é parte de mim .....7 se (1 (1 2 3 4 1 3 3 2 1 5 5 1 1 3 2 5 1 3 6 6 2 5 1 3 5) se é parte de mim, me pertence .....4 se me pertence não é parte de mim .....1 logo se não é parte de mim não me pertence .....3 conseqüentemente, conseqüentemente , Se não me pertence é parte de mim .....8 Se não me pertence é parte de mim .....8 se (1.....5 7 7 4 1 3) se é parte de mim me pertence .....4 se me pertence não me pertence .....6 se não me pertence não é parte de mim .....2 se não é parte de mim me pertence .....5 Então, Se não me pertence me pertence .....9 Se não me pertence me pertence .....9 se (1.....3884625) se me pertence não me pertence .....6 se não me pertence não é parte de mim .....2 se não não é parte parte de mim mim me perte pertence nce .....5 .....5 se me pertence pertence é parte parte de mim .....7 .....7 Então, Então ,
se é part partee de mim mim não é part partee de de mim] mim] .... .....1 .10 0 (cf. uma alteração alteração en-armônica)
se não não e parte parte de de mim me me perten pertence ce se me pertence é parte de mim Se é parte parte de mim mim não me pertence pertence Se não me pertence não é parte de mim se não é parte de mim me pertence
..... .....5 5 .....7 .....1 .....11 1 .....2
se me pertence não me pertence se não me pertence me pertence se me pertence não é parte de mim se não é parte de mim não me pertence se não me pertence é parte de mim se é parte de mim não me pertence se não me pertence não é parte de mim logo, se não é parte de mim é parte de mim se não é parte de mim não me pertence se não me pertence não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se é parte de mim não me pertence se não me pertence é parte de mim se é parte de mim me pertence se me pertence não é parte de mim portanto, se não é parte de mim me pertence se me pertence me pertence
se me pertence me pertence se me pertence não me pertence se não me pertence me pertence se me pertence me pertence se me pertence não me pertence se não me pertence é parte de mim se é parte de mim me pertence se me pertence não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se é parte de mim não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se é parte de mim não é parte de mim se não é parte de mim se é parte de mim se é parte de mim se é parte de mim se é parte de mim se não é parte de mim se não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se é parte de mim não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se é parte de mim se não é parte de mim se é parte de mim
se não é parte de mim se é parte de mim se não é parte de mim se é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim se não é parte de mim não é parte de mim não é parte de mim se é parte de mim se é parte de mim é parte de mim é parte de mim se não é parte de mim se não é parte de mim não é parte de mim se não é parte de mim é parte de mim é parte de mim se é parte de mim se não é parte de mim não é parte de mim não é parte de mim se não é parte de mim se é parte de mim é parte de mim se é parte de mim é parte de mim eu o sou se é parte de mim se não é parte de mim, eu o sou, se não o sou, eu o sou, se eu o sou, não o sou
Ela deseja que ele a deseje Ele deseja que ela o deseje Para conseguir que ele a deseje ela finge que o deseja Para conseguir que ela o deseje ele finge que a deseja Lúcio deseja o desejo de Lúcia por Lúcio daí porque Lúcio diz a Lúcia que Lúcio deseja Lúcia
Lúcia cia deseja eja o desejo de Lúcio por Lúcia daí porque Lúcia diz a Lúcio que Lúcia deseja Lúcio um contrato perfeito
Lúcia e Lúcio desejam ser desejados. Lúcia deseja Lúcio porque ele deseja ser desejado Lúcio deseja Lúcia porque ela deseja ser desejada. Lúcia deseja que Lúcio deseje *que Lúcia deseje o desejo que Lúcio tem do desejo de Lúcia pelo desejo de Lúcio pelo desejo de Lúcia pelo desejo de Lúcio que Lúcia deseje que Lúcio deseje que Lúcia deseje o desejo de Lúcio pelo desejo de Lúcia pelo desejo que tem Lúcio de que Lúcia deseje que Lúcio desej * * repetir sine fine
Ela não consegue que ele dê a ela o que deseja dele ela acha por isso que ele é mesquinho Ela não consegue dar a ele o que dela ele deseja ela acha por isso que ele é insaciável Ele não consegue que ela dê a ele o que deseja dela ele acha por isso que ela é mesquinha e ele não consegue dar a ela o que dele ela deseja ele acha por isso que ela é insaciável
Lúcia acha que Lúcio é mesquinho e insaciável Lúcio acha que Lúcia é mesquinha e insaciável quanto mais Lúcia acha que Lúcio é mesquinho tanto mais Lúcio acha que Lúcia é mesquinha quanto mais Lúcia acha que Lúcio é insaciável tanto mais Lúcio acha que Lúcia é insaciável quanto mais mesquinho Lúcia acha Lúcio tanto mais mesquinho Lúcia acha Lúcio tanto mais insaciável Lúcio acha Lúcia se Lúcio acha que Lúcia é insaciável por Lúcia achar Lúcio mesquinho Lúcia acha que Lúcio é mesquinho por Lúcio achar Lúcia insaciável se Lúcio acha que Lúcia é mesquinha por Lúcia achar Lúcio insaciável Lúcia acha que Lúcio é insaciável por Lúcio achar Lúcia mesquinha
Lúcio acha Lúcia mesquinha insaciável
porque
porque
mesquinho mesquinho insaciável
Lúcia acha Lúcio Lúcio acha que Lúcia é insaci ável
mesquinha porque
Lúcia acha que Lúcio é
insaci ável
mesquinho
Quanto mais Lúcio acha Lúcia mesquinha por achar Lúcio insaciável tanto mais Lúcia acha Lúcio mesquinho por achar Lúcia mesquinha por Lúcia achar Lúcio insaciável por Lúcio achar Lúcia mesquinha Quanto mais Lúcia acha Lúcio mesquinho por achar Lúcia mesquinha por Lúcia achar Lúcio insaciável por Lúcio achar Lúcia mesquinha tanto mais Lúcio acha Lúcia mesquinha por Lúcia achar Lúcio mesquinho por Lúcio achar Lúcia mesquinha por Lúcia achar Lúcio insaciável por Lúcio achar Lúcia mesquinha por Lúcia não dar a Lúcio o que Lúcio deseja de Lúcia Ele deseja dela que seja mais generosa em sua opinião sobre ele, quer dizer, que não o ache mesquinho por ele achá-la mesquinha por ela achá-lo insaciável por ele achá-la mesquinha por ela achá-lo mesquinho por ele achá-la mesquinha por ela achá-lo insaciável por ele achá-la mesquinha
Ela acha que ele está querendo demais (insaciável) quando espera que ela não ache que ele está querendo demais (insaciável) quando espera que ela não o ache nem mesquinho nem insaciável quando acha que ela é mesquinha quando acha que ele é insaciável quando acha que ela é mesquinha quando acha que ele é mesquinho quando acha que ela é mesquinha quando acha que ele é insaciável quando acha que ela é insaciável quando na verdade tudo o que ela quer dele é que ele seja mais generoso em sua opinião sobre ela quer dizer, que não a considere mesquinha por ela considerá-lo mesquinho por ele considerá-la insaciável por ela considerá-lo mesquinho por ela considerá-la mesquinha por ela considerá-lo mesquinho por ele considerá-la insaciável por ela considerá-lo mesquinho por ele desejar que seja mais generosa em sua opinião [sobre ele quer dizer,
3 Se eu não sei que não sei penso que sei Se eu não sei que sei penso que não sei
Há qualquer coisa que não sei e que pelo visto deveria saber. Eu não sei o que é isso que não sei e que pelo visto deveria saber. e me sinto como se fosse um idiota quando dou mostras de não saber o que é isso nem de não saber o que é que eu não sei. Finjo então saber o que não sei. E assim fico com os nervos rebentados já que não sei o que devo fingir que estou sabendo. Finjo então que de tudo estou sabendo. Acho que sabes o que eu pelo visto deveria saber e contudo não me podes dizer do que se trata porque não sabes que eu não sei do que se trata. É possível que saibas aquilo que não sei, mas que não saibas que não sei e que não posso dizer-te que não sei. Terás portanto que dizer-me tudo.
Lúcio pode ver que está vendo aquilo que Lúcia não pode ver e pode ver que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver aquilo Lúcio pode ver que está vendo aquilo que Lúcia não pode ver mas Lúcio não pode ver que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver aquilo Lúcio tenta levar Lúvia a ver que Lúcio pode ver o que Lúcia não pode ver mas Lúcio não pode ver que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver aquilo Lúcio vê que qualquer coisa há que Lúcia não pode ver e Lúcio vê que Lúcia não pode ver que não pode ver aquilo Embora Lúcio possa ver que Lúcia não pode ver que não [pode ver aquilo ele não pode ver que também ele não o pode ver
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1. 2. 3. 4.
Lúcio pode ver que que qua qualq lque uerr coi coisa sa há que que Lúci Lúciaa não não pode pode ve verr e que que ela ela pode pode ve verr que que qual qualqu quer er coi coisa sa há há que que ela ela nã não o pod podee vver er e que que toda todavi viaa ela ela não não pod podee ver ver o que que é que que não não pod podee ver ver (Lúcio pode ver que) ela pode ver que Lúcio pode ver qualquer coisa que ela pode ver que não pode ver mas não pode ver o que é que não pode ver
Lúcio pensa que não sabe que ele pensa que Lúcia pensa que ele não sabe Mas Lúcia pensa que Lúcio sabe Lúcia não sabe portanto que ela não sabe que Lúcio não sabe que Lúcia pensa que Lúcio sabe e Lúcio não sabe que ele não sabe que Lúcia não sabe que ela não sabe que Lúcio não sabe que Lúcia pensa que Lúcio sabe que Lúcio pensa que ele não sabe
Lúcio não sabe que sabe e não sabe que Lúcia não sabe. Lúcia não sabe que não sabe e não sabe que Lúcio não sabe que ele sabe e que ele não sabe que Lúcia não sabe. E assim tudo corre às maravilhas para os dois.
Lúcio pensa que o que ele sabe que Lúcia não sabe é que não há coisa alguma por saber acerca daquilo que Lúcia procura saber, mas isto é a própria Lúcia que deve descobrir. Lúcia pensa que Lúcio sabe que Lúcia pensa que Lúcia não sabe. Lúcio não sabe que qualquer coisa há por saber que Lúcia pensa que Lúcia não sabe e que Lúcio sabe. Daí, Lúcio convence Lúcia de que nada há por saber.
Lúcio sabe que ele não sabe e percebe que Lúcia não sabe que ela não sabe. Quando diz a Lúcio o que Lúcio sabe que ele não sabe Lúcia ajuda Lúcio a ajudar Lúcia a saber que ela sabe o que ela não sabe que ela sabe. Mesmo assim Lúcia acha que ela sabe que ela não sabe e que Lúcio sabe que ela sabe que ela não sabe e que Lúcio sabe o que Lúcia não sabe.
Lúcia acha que qualquer coisa há que ela sabe que ela não sabe que o sabe. Ela acha que Lúcio não o sabe que Lúcio sabe que ele não o sabe. Lúcia espera que por meio de Lúcio Lúcia venha a saber que ela sabe o que Lúcio sabe que ele não sabe — mas só se Lúcio puder perceber que Lúcia sabe que Lúcio sabe que Lúcio não sabe e que Lúcia não sabe que ela sabe.
Lúcio sabe que ele não sabe Lúcia acha que ela sabe o que Lúcio não sabe, mas ela não sabe que ele não o sabe. Lúcio não sabe que Lúcia não sabe que ele não sabe, e acha que ela sabe o que ele sabe que ele não sabe. Lúcio crê em Lúcia. Lúcio não sabe agora que ele não sabe. Um final feliz. Lúcio acha que Lúcio vê o que Lúcio não vê* e que Lúcia vê o que Lúcia não vê. Lúcia crê em Lúcio. Agora ela acha que vê o que Lúcio acha que Lúcio vê e que Lúcio também o vê. É provável que por ora os dois estejam totalmente errados.
•
Existe aqui algo de ambíguo. Lúcio acha que está vendo miragens; estará ou não? Lúcio acha que não está vendo miragens. Estará ou não? Melhor examinar a coisa pelos dois lados.
Qualquer coisa há que Lúcio não vê. Lúcia acha que Lúcio não o vê. Lúcio acha que o vê e que Lúcia não o vê. E Lúcia por sua vez não vê o que Lúcia acha que Lúcio vê. Lúcio diz a Lúcia o que Lúcio acha que Lúcia não vê. Lúcia se apercebe de que se Lúcio acha que Lúcia não vê aquilo que Lúcia acha que vê, Lúcio não vê o que Lúcia achava que Lúcio via.
Lúcia acha que Lúcio acha que algo existe que Lúcia não vê. Lucio acha que Lúcia o vê mas Lúcio não vê que Lúcia acha que Lúcio acha que Lúcia não vê.
Lúcia acha que não pode ver o que ela acha que Lúcio pode ver e que o próprio Lúcio acha que Lúcia não o vê. Lúcio vê que Lúcia vê que ela acha que ela não vê, e que ela acha que ele acha que ela não Mas Lúcio não pode ver o que Lúcia não pode ver rezão por que ela acha que ela não pode ver o que Lúcio acha que ela pode ver, e acha que ele acha que ela não pode. Por exemplo: exemplo: Lúcia acha que Lúcio acha que Lúcia é idiota. Lúcio não acha que Lúcia é idiota, mas não pode ver porque Lúcia acha que Lúcio acha que Lúcia é idiota quando Lúcio não acha. Lúcia também não, só que para ela Lúcio está mentindo.
Lúcio vê que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver e que Lúcia não pode ver que Lúcio pode ver e ver que ele vê o que Lúcia não pode ver que ela não pode ver. Lúcio tenta levar Lúcia a perceber que qualquer coisa deve haver que ela não pode ver que ela não pode ver. Lúcia acha que Lúcia o vê e pode ver que Lúcio acha que Lúcia acha que ela o vê mas que Lúcio acha que Lúcia não pode ver que ela não pode ver. Lúcia acha que Lúcio não pode ver que ele não pode ver o que ele acha que pode ver e que ele não pode ver (portanto) que ela vê o que ele acha que vê mas não vê.
Lúcio acha que sabe Lúcia acha que Lúcia não sabe Lúcio diz a Lúcia o que Lúcio sabe e sabe que sabe e sabe que Lúcia não sabe e sabe que Lúcia por vezes acha que sabe quando de fato não sabe. As vezes Lúcio percebe que Lúcia idealiza Lúcio quando o acha onisciente (onipotente) e então ele lembra a Lúcia que é somente um ser humano que não sabe de tudo nem tudo pode fazer. Lúcio diz que Lúcia eleva Lúcio à onipotência para que ela mesma permaneça impotente [para tornar Lúcio impotente para torná-la potente para destruir a potência de Lúcio que Lúcia inveja... Lúcia acha que Lúcio está errado.
Lúcio acha que ele não sabe o que (ele pode ver) Lúcia acha que Lúcio sabe, e que Lúcia sabe o que Lúcio pensa que Lúcio sabe que ele acha que ele não sabe. Lúcio diz a Lúcia: "Tu achas que eu o sei, mas não o sei". Lúcia acha que ele sabe, porém se recusa a dizer-lhe [o que sabe.
Lúcio sabe que não sabe mas não sabe que Lúcia não sabe que ela não sabe que ele sabe que ele não sabe. Lúcio acha que Lú cio
sabe que Lúcio não sabe sabe que Lúcia sabe sabe que Lúcia sabe que ela sabe sabe que Lúcia acha que Lúcio sabe sabe que Lúcia acha que Lúcio não sabe que Lúcio sabe
é que Lúcia percebe que é isso o que ele acha mas que ela acha que ele está em erro. Lúcio está vendo que Lúcia não sabe que Lúcio não sabe o que Lúcia acha que Lúcio sabe. Mas Lúcio não pode ver porque Lúcia não sabe que Lúcio não sabe o que Lúcia acha que ele sabe.
Lúcio descobre que sabe que Lúcia não sabe que Lúcio sabe que ele não sabe o que ela acha que ele sabe sem que seja contudo o que ela acha que ele sabe. Lúcio percebe ainda que a própria Lúcia sabe o que Lúcia acha que Lúcio sabe, sem que Lúcia perceba que ela não sabe. Lúcio está vendo que Lúcia sabe o que Lúcia acha que Lúcio sabe e que Lúcia não sabe que ela sabe e Lúcio sabe que ele não sabe. Lúcio não pode dizer a Lúcia do que se trata pois embora ele possa ver que Lúcia sabe do que se trata ele próprio não sabe do que se trata.
Lúcia não sabe que Lúcio não sabe o que x vem a ser e que tudo o que Lúcio lhe pode dizer é que algo há, ele não sabe o quê, algo há que ele não sabe. Algo há que Lúcio não pode ver. Ele sabe que algo há que não pode ver mas não sabe o que é que não pode ver. E contudo Lúcio pode ver que Lúcia pode ver que algo há que Lúcio não pode ver. Lúcio não sabe o que é que não sabe mas Lúcio acha que Lúcia sabe seja o que for desse algo que ele não [sabe.
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Lúcio não pode dizer a Lúcia o que é que ele quer que Lúcia lhe diga. Lúcia por sua vez não pode dizê-lo pois embora Lúcia saiba o que x vem a ser Lúcia não sabe que Lúcio não sabe o que x vem a ser. Lúcio pode ver que Lúcia sabe que ele percebe que ela não sabe que ela sabe o que x vem a ser. Lúcia só pode descobrir que ela o sabe se perceber que Lúcio não o sabe. Lúcia contudo não pode ver o que é que Lúcio não sabe. Se o visse teria satisfação em dizê-lo.
Lúcio pode ver que está a ver o que ele pode ver que Lúcia não pode ver e que ele pode ver que Lúcia não pode ver que ela não pode ver mas ele não pode ver PORQUE Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver. Lúcia pode ver que Lúcio não a compreende e pode ver que ele não pode ver que não a compreende: e pode ver que ele não pode ver que ele não pode ver que ela vê que ele não pode ver que ele não pode ver. Por que Lúcia continua então a sentir-se perplexa? Lúcia não pode compreender porque ele não pode ver que ela vê que ele não pode ver que ele não compreende .
Lúcia pode ver que Lúcio não pode ver e que pode ver que ele não pode ver. Lúcia pode ver PORQUE Lúcio não pode ver mas Lúcia não pode ver PORQUE Lúcio não pode ver que ele não pode ver. Lúcio "vê" que Lúcia está cega e que Lúcia não pode ver que está cega. Lúcio percebe que tanto ele quanto Lúcia estão cegos. E quando um cego tem de guiar outro cego pouco importa que o guia saiba que é cego. Lúcio não pode ver que ele não pode ver e não pode ver que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver. E vice-versa.
4 Lúcio tem medo de Lúcia Lúcia tem medo de Lúcio Lúcio Lúcio tem mais mais med medo o de Lúci Lúciaa quando Lúcio acha que Lúcia acha que que Lúci Lúcio o tem tem medo medo de Lúci Lúciaa
Lúci Lúciaa tem tem mais mais medo medo de Lúci Lúcio o quando Lúcia acha que Lúcio acha que que Lúci Lúciaa tem tem medo medo de Lúci Lúcio o
E já que Lúcio tem medo de que Lúcia possa achar que Lúcio tem medo dela Lúcio passa a simular que Lúcio não tem medo de Lúcia para que Lúcia tenha mais medo de Lúcio e já que Lúcia tem medo de que Lúcia possa achar que Lúcia tem medo dele Lúcia passa a simular que Lúcia não tem medo de Lúcio Assim Lúcio tenta fazer com que Lúcia o tema ao ver que Lúcio não a teme e Lúcia procura fazer com que Lúcio a tema ao ver que Lúcio não o teme
Quanto mais Lúcio tem medo de Lúcia tanto mais Lúcio tem medo de que Lúcia possa achar que Lúcio tem medo de Lúcia Quanto mais Lúcia tem medo de Lúcio tanto mais Lúcia tem medo de que Lúcio possa achar que Lúcia tem medo de Lúcio quanto mais Lúcio tem medo de Lúcia tanto maior é o medo de Lúcio de não ter medo de Lúcia pois é muito perigoso deixar de ter medo quando se tem pela frente alguém tão perigoso Lúcio tem medo porque Lúcia é perigosa Lúcia parece perigosa porque Lúcio tem medo quanto mais Lúcia tem medo de Lúcio tanto maior é o medo de Lúcia de não ter medo de Lúcio
Quanto mais Lúcio tem medo de não ter medo mais medo ele tem de parecer que tem medo quanto mais Lúcia tem medo de não ter medo maior é o medo de Lúcia de parecer que tem medo quanto maior é o medo de ambos menor a aparência do medo de ambos Lúcio tem medo de não ter medo de Lúcia e de parecer que tem medo de Lúcia e de que Lúcia não tenha medo de Lúcio Lúcia tem medo de não ter medo de Lúcio e de aparentar ter medo de Lúcio e de que Lúcio não tenha medo de Lúcia Lúcio procura portanto criar medo em Lúcia aparentando ele mesmo sem medo de que Lúcia pareça sem medo e Lúcia procura criar medo em Lúcio aparentando ela mesma sem medo de que Lúcio pareça sem medo
Quanto mais Lúcio aparenta sem medo mais medo ele tem de não ter medo de parecer que tem medo de que Lúcia não tenha medo Quanto mais Lúcia aparenta sem medo mais medo ela tem de não ter medo de parecer que tem medo de que Lúcio não tenha medo Quanto é assim que se dá mais Lúcio amedronta Lúcia por parecer que não se amedronta e mais Lúcia amedronta Lúcio por parecer que não se amedronta Chegarão ambos a ter medo de ter medo e criar medo ao invés de ter medo de não ter medo e de não criar medo?
Poderão Lúcio e Lúcia no pavor de que nem um nem o outro estejam [apavorados chegar ao ponto de apavorar-se por tanto um como o outro estarem [apavorados, e, alguma vez, não apavorar-se por tanto um como o outro não [estarem apavorados?
5 Tudo em tudo Cada homem em todos os homens todos os homens em cada homem Todos os seres em cada ser Cada ser em todos os seres Todos em cada um Cada um em todos Toda distinção é mente, pela frente, na mente, da mente Sem distinção não há mente para distinguir
A gente está dentro logo a gente está fora daquele dentro onde a gente esteve A gente se sente vazia porque não há nada dentro da gente A gente trata de pôr dentro da gente aquele dentro do fora dentro do qual a gente já esteve quando a gente trata de por a gente dentro daquilo de que a gente está fora: para devorar e ser devorado para pôr o fora dentro e para estar dentro do fora Mas é pouco ainda. A gente trata de chegar ao dentro daquele fora do qual a gente está dentro e chegar ao dentro do fora. Mas a gente não chega dentro do fora pondo o fora pra dentro pois — embora a gente esteja toda dentro do dentro do fora a gente está fora do próprio dentro da gente quando a gente entra no fora a gente permanece vazia porque enquanto a gente está dentro mesmo o dentro do fora está fora e ainda não há nada dentro da gente Nunca houve nada dentro da gente e nunca haverá nada dentro da gente
Estou fazendo aquilo que estou fazendo é o eu que está fazendo aquilo que o eu está fazendo é aquilo que estou fazendo o eu está fazendo que eu esteja fazendo estou sendo feito pelo que estou fazendo fazendo-o A gente tem medo do eu que tem medo do eu que tem medo do eu que tem medo A gente pode falar talvez de reflexos
Embora seres inumeráveis tenham sido levados ao Nirvana ser nenhum foi levado ao Nirvana Antes de atravessar a porta a gente pode não estar consciente de que tem lá uma porta A gente pode pensar que tem lá uma porta por atravessar e procurar a porta durante muito tempo sem a porta achar A gente pode achar a porta e não abrir-se a porta Se ela se abre a gente pode atravessar a porta e ao atravessar a porta a gente vê que a porta atravessada foi pelo eu que foi atravessada ninguém atravessou a porta não havia porta para ser atravessada ninguém jamais encontrou uma porta ninguém jamais percebeu que jamais houve porta
Dizem aqueles que sabem o que se disse dos dharmas que como numa jangada deveriam ser largados os dharmas e como eles também os não-dharmas Quando escutam dizer que os dharmas e além deles ainda os não-dharmas deveriam ser largados alguns acham que não há porta é isto o que eles acham não há como saber se há porta exceto atravessand atravessando o a porta
um dedo indica a lua Coloque-se a expressão um dedo indica a lua entre parênteses (um dedo indica a lua) A afirmação: afirmação: "Um dedo indica a lua está entre parênteses" é uma tentativa de dizer que tudo o que está entre parênteses ( ) está para aquilo que não está entre parênteses, como um dedo para a lua Coloque-se toda possível expressão entre parênteses, Coloque-se toda possível forma entre parênteses e coloque-se também os parênteses dentro de parênteses Toda-expressão-e-toda-forma está para o desprovido-de-express desprovido-de-expressãoão-e-forma e-forma como um dedo para a lua toda-expressão-e-toda-forma Indica o desprovido-de-expressão-e-forma a proposição proposição "Toda forma indica o desprovido-de-forma" é em si uma proposição formal
Não — o dedo está para a lua como a forma está para a não forma e sim o dedo está para a lua como qualquer possível expressão, forma, proposição, inclusive esta, feita ou por fazer, inclusive parênteses, inclusive colchetes está para
Ah que dedo mais engraçadinho deixe-me chupá-lo Ah mas não é nada engraçadinho tire esse dedo daqui
A afirmação indica o nada O dedo diz o nada