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ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS ME DICINAIS DO MUNICÍPIO DE CASA BRANCA – SP. ETHNOBOTANY STUDY OF MEDICINAL PLANTS THE CITY OF CASA BRANCA – SP GARRIDO1 , Juliana; LIMA LIMA1 , Cristiane Roberta Roberta de; 2 COLLI , Áurea Maria Therezinha Therezinha 1- Graduação pela Faculdade Euclides da Cunha - FEUC-SP 2- Docente da Faculdade Euclides da Cunha - FEUC-SP
RESUMO O presente trabalho tem como objetivo realizar o estudo etnobotânico de plantas medicinais utilizadas pela população de Casa Branca-SP, através de um levantamento realizado na região central da Cidade. Foram elaborados sessenta questionários com dez questões referentes ao uso, ao cultivo e a utilização das plantas medicinais e distribuídos a sessenta habitantes da cidade de Casa Branca. Verificou-se que vinte e cinco espécies diferentes de plantas medicinais são cultivadas e utilizadas pela população. As espécies de plantas medicinais mais utilizadas são cidreira, camomila, hortelã, guaco, boldo e babosa. A maioria das plantas medicinais utilizadas é cultivada e consumidas na forma de chá. A maioria das pessoas não lê, nem participa de eventos sobre este assunto. O conhecimento é adquirido através de outras pessoas. Palavras-chave: etnobotânica; Casa Branca; plantas medicinais.
ABSTRACT The objective of this work is to study the ethnobotany survey of medicinal plants utilized by people of the city of Casa Branca – SP, through of survey in the Central region of city. Sixty questionnaires with ten questions about the use, cultivation and the utilization of medicinal plants were used and distributed to sixty people of Casa Branca. It was observed that about twenty five species of medicinal plants are cultivated and utilized by population. The species of plants more cultivated were cidreira, camomila, hortelã, guaco, boldo and babosa. The majority of medicinal plants is cultivated in the house’s yard, and is drinking as tea. The majority of people doesn’t read books or magazines about medicinal plants and don’t participated of meetings about this subject. The knowledge is obtained through by others people.
Key words: ethnobotany; Casa Branca; medicinal plants.
Revista LOGOS, n. 17, 2009.
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INTRODUÇÃO O Brasil detém a maior diversidade biológica do mundo, contando com uma rica flora, despertando interesses de comunidades científicas internacionais para o estudo, conservação e utilização racional destes recursos (SOUZA & FELFILI, 2006). A etnobotânica desponta como o campo interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação do conhecimento, significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora (Caballero, 1979 citado em PASA et al., 2005). A degradação ambiental e a intrusão de novos elementos culturais acompanhados pela desagregação dos sistemas de vida tradicionais ameaçam, além de um acervo de conhecimentos empíricos um patrimônio genético de valor inestimável para as futuras gerações. (AMBROZO & GELY, 1988 citado em PINTO et al., 2006).
OBJETIVO Este trabalho teve como objetivo catalogar, sistematizar e analisar, de forma integrada o conhecimento que os moradores da região central do município de Casa Branca, possuem a respeito da flora local, bem como a utilização desses recursos vegetais.
MATERIAIS E MÉTODOS O município de Casa Branca está localizado no interior do estado de São Paulo a 21 46´26´´ de latitude Sul e 47 05´11´´ de longitude oeste a um altitude de 684m. Possui uma área de 865Km e a temperatura média é de 220C nos meses mais quentes e 180C nos meses
mais frios. (http://www.camaracasabranca.sp.gov.br). O clima da região é cwa, clima subtropical de inverno seco (com temperaturas inferiores a 180C) e verão quente (apresentando temperaturas superiores a 220C) (http://www.cnpf.embrapa.br/pesquisa/efb/ clima.htm). Neste estudo foram distribuídos 60 questionários para a população na região central da cidade. Os dados obtidos foram tabulados e foram montados gráficos utilizando o software Excel.
RESULTADOS E DISCUSSÃO As espécies de plantas medicinais mais freqüentes no município de Casa Branca foram: cidreira, camomila, hortelã, guaco, boldo e babosa. A família mais representativa foi a Compositae com 6 espécies (Tabela1). No município de Marília, as espécies de plantas medicinais mais freqüentes foram hortelã, poejo, boldo, capim-limão, erva-cidreira-de-folha, alecrim, arruda (JACOMASSI & PIEDADE, 1994). TOSTI & COLLI (2007) observaram que no município de Colômbia-SP, as famílias melhores apresentadas foram Lamiaceae (8 espécies) e Asteraceae. (5 espécies). AZEVEDO & SILVA (2006) observaram que as famílias de plantas medicinais mais representativas comercializadas em mercadas e feiras livres do município do Rio de Janeiro foram Asteraceae (17 espécies) e Lamiaceae (9 espécies). SOUZA & FELFILI (2006) observaram que na região do Alto Paraíso de Goiás (GO) as famílias de plantas medicinais mais utilizadas foram Compositae (14 espécies) e Leguminosae (11 espécies).
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Tabela 1. Plantas medicinais utilizadas pelas pessoas entrevistadas da região Central do município de Casa Branca. Família/Nome Científico Acanthacea
Nome Popular
Altenanthera brasiana (L.) O. Kunt.
Besetacil
Número de pessoas que utilizam as plantas. 1
Apiaceae Foeniculum vulgare L.
Erva-doce
4
Solidago microglossa DC.
Arnica
2
Asteraceae
Caricaceae Carica papaya L. Celastraceae Maytenus ilicifolia Mart. Compositae Achillea millefolium L. Artemisia verlotorum Lamotte Baccharis trimera D.C. Matricaria chamomilla L. Mikania glomerata Spreng. Plectranthus neochillus Schlecher Euphorbiaceae Chamaesyce prostrata (Aiton) Small Gramineae Cymbopogon citratus (DC.) Stapft Sinaba ferruginea St Hill Hippocastanaceae Aesculus hippocastanum
Folha de mamão
1
Espinheira Santa
1
Novalgina Losna Carqueja Camomila Guaco Boldo
1 1 1 12 9 8
Quebra-pedra
4
Capim-limão Calunga
1 1
Cáscara sagrada
2
Cidreira Poejo Hortelã Manjericão
15 3 1 1
Alfavaca
2
Folha de Abacate
1
Babosa
6
Coentro
1
Melissa
4
Insulina
3
Fugativo
1
Labiateae Melissa officinalis L. Mentha pulegium L. Mentha x villosa Huds. Ocimum basilicum L.
Lamiaceae Ocimum sp. Lauraceae Persea americana Mill. Lilliaceae Aloe vera L Umbelliferae Cichorium endivia L Verbenaceae Lippia sp. Vitaceae Cissus sicyoides L. -
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A quantidade e a distribuição dos indivíduos também são dados muito importantes a serem levados em consideração, como se percebe no estudo de GUARIM NETO et al. (1994). Ao nível nacional, outros trabalhos têm encontrado Leguminosae como família representativa (PAGANO et al., 1989). Neste estudo as espécies mais utilizadas foram guaco ( Melissa oficinalis L.); camomila ( Matricharia L.), guaco ( Mikania chamomilla
glomerata Spreng.) e neochillus Schlecher).
boldo (Plectranthus
TOSTI & COLLI (2007) observaram que as espécies mais citadas no município de Colômbia foram boldo (Plectrantus barbatus Andr) com 12 citações, seguida de hortelã ( Mentha peperita) com 08 citações, arnica ( Brickelia brasiliensis) com 07 citações. A maioria das pessoas entrevistadas usa plantas medicinais no tratamento de doenças e as cultivam no quintal de suas casas (Figuras 1, 2 e 3).
100 s a d a t s i v e r t n E s a o s s e P
80 60 40 20 0
Sim
Não
Figura 1. Utilização das plantas medicinais pelas pessoas entrevistadas da região Central do município de Casa Branca.
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A lelopat ia
Homeopat ia
Figura 2. Tratamento feito pelas pessoas entrevistadas da região Central do município de Casa Branca. Revista LOGOS, n. 17, 2009.
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Quintal
Vaso
Jardim
Figura 3. Local de cultivo das plantas medicinais pelas pessoas entrevistadas da região Central do município de Casa Branca. TOSTI & COLLI (2007) observaram que no município de Colômbia a maioria das pessoas entrevistadas utilizava remédios alopáticos. SILVA et al. (2006) observaram que no povoado Lagoa Treze, Lagarto, SE, as pessoas entrevistadas utilizam plantas medicinais no tratamento de doenças gastrointestinais, devido ao alto custo dos remédios alopáticos. A maioria das plantas medicinais utilizadas pela população do município de Colômbia é cultivada nas residências
e os sitiantes da Reserva Rio das Pedras mantém ao redor de suas casas um jardim onde cultivam plantas medicinais (TOSTI & COLLI, 2007; MEDEIROS et al., 2004). PINTO et al. (2006) observaram que nas comunidades rurais de Itacaré, BA, a maioria das plantas medicinais são cultivadas pelas pessoas. A maioria das pessoas entrevistadas não lê a respeito de plantas medicinais e não participa de eventos a respeito (Figuras 4 e 5). As pessoas aprenderam com outras pessoas a utilizar as plantas medicinais.
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Lê
Não lê
Às vezes
Figura 4. As pessoas entrevistadas da região central do município de Casa Branca lêem sobre plantas medicinais. Revista LOGOS, n. 17, 2009.
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Paticipa
Não Participa
Às vezes
Figura 5. Participação em eventos a respeito de plantas medicinais pelas pessoas entrevistadas da região Central do município de Casa Branca.
Na comunidade rural de Itacaré o conhecimento das plantas está relacionado à sua transmissão através de pessoas idosas e de outra faixa etária (PINTO et al., 2006). Das pessoas entrevistas, 52 utilizam as plantas medicinais na forma de chá, 10 pessoas na forma de
emplastro e 4 pessoas na forma de pomada (Figura 6). Os habitantes da Reserva Rio das Pedras e das comunidades rurais de Itacaré (BA) utilizam a decocção como a forma mais difundida de preparo seguida pelo xarope (MEDEIROS et al., 2004; PINTO et al., 2006).
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80 60 40 20 0
Chá
Emplastro
Pomada
Figura 6. Modo de utilização das plantas medicinais pelas pessoas entrevistadas da região Central de Casa Branca.
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REFERÊNCIAS AZEVEDO, S. K. S.; SILVA, I. M. Plantas medicinais de uso religioso comercializadas em mercados e feiras livres no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica , v.20, n.1, p. 185-194, 2006. CÂMARA MUNICIPAL DE CASA BRANCA. A cidade. Disponível em http://www.camaracasabranca.sp.gov.br >. Acesso em 14 nov. 2008. <
CLIMA. Disponível em http://www.cnpf.embrapa.br/pesquisa/ef b/clima.htm>. Acesso em 14 nov. 2008. <
GUARIM NETO, G.; V. L. M. S.; FRANCE, G. T. Struture and floristic composition of the trees area of Cerrado near Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Kew Bull, v. 49, n.3, p. 499 - 509,1994. JACOMASSI, E.; PIEDADE, L. H. A importância das plantas com finalidades terapêuticas e suas aplicações na cidade de Goioêre – PR. Revista UNIMAR, v. 16, n. 2, p. 335 - 353, 1994. MEDEIROS, M., F. T.; FONSECA, V. S.; ANDREATA, R. H. P. Plantas medicinais e seus usos pelos sitiantes da Reserva Rio das Pedras, Mangaratiba, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasílica , v. 18, n.2, p.391-1999, 2004.
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PASA, M.C.; SOARES, J.J.; GUARIM Neto, G. Estudo etnobotânico na comunidade de Conceição-Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu, MT, Brasil). Acta Botanica Brasilica , v. 19, n.2, p. 195-207, 2005. PINTO, P. P. E; AMBROZO, M.C.de M.; FURLAN, A. Conhecimento popular sobre plantas medicinais em comunidades rurais de mata atlântica – Itararé, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica , v.20, n.4, p. 751762, 2006. SILVA, M. S.; ANTONIOLLI, A. R.; BATISTA, J. S.; MOTA, C. N. Obtenção de plantas medicinais usadas nos distúrbios do trato gastrointestinal no povoado colônia Treze, Lagarto, SE, Brasil. Acta Botanica Brasilica , v. 20, n.4, p. 815-829, 2006. SOUZA, C. D.; FELFILI, J. M. Uso de plantas medicinais na região do Alto paraíso de Goiás, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v20, n.1, p. 135-142, 2006. TOSTI, E.; COLLI, A. M. T. Estudo etnobotânico no município de Colômbia – SP. Revista FAFIBE-on line, n 3, 2007.
PAGANO, S. N.; CESAR, O. LEITÃO – Filho, H. F. Composição florística do estrato arbustivo – arbóreo da vegetação de cerrado da área de proteção ambiental (APA) De Corumbá – Estado São Paulo. Revista Brasileira de Biologia, v49, n1, p. 37 - 48, 1989.
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