CUIDADOS PALIATIVOS EM ONCOLOGIA PALLIATIVE CARE IN ONCOLOGY
TABOSA, Andreutt Vasconcelos
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RESUMO
No quadro de saúde brasileiro vê-se um aumento das manifestações oncológicas e para tal cresce a necessidade de se ampliar
o
entendimento
das
neoplasias
malignas, bem como estender o entendimento do cuidado paliativo como uma ciência do cuidar, ampliando o campo de ação da assistência humanizada da enfermagem.
Palavras-chave: oncologia, enfermagem, cuidado paliativo, humanização.
ABSTRACT Under Brazilian health board sees an increase cancer manifestations and for it need to grows our understanding of malignancies, as well as extend the understanding of palliative care as a science of caring, expanding the purview of the humanized nursing Keywords: oncology, nursing, palliative care, humanization.
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Acadêmico, cursando terceiro semestre em Bacharelado de Enfermagem - UDF – Centro Universitário. E-mail:
[email protected]
INTRODUÇÃO Cada vez mais, vivencia-se o aumento significativo das neoplasias malignas. No quadro sanitário brasileiro, esta realidade tem ampliado a discussão sobre esse grupo de doenças, incluindo-as como uma das prioridades em saúde. Apesar de ainda haver áreas obscuras na compreensão da etiologia do câncer, já se tem conhecimentos suficientes para embasar ações de controles capazes de diminuir a sua incidência e mortalidade. Assim, a assistência ao paciente oncológico dá mostra de sua complexidade, pois precisa envolver a consideração de múltiplos aspectos, tais como: físicos, psicológicos, sociais, culturais, espirituais e econômicos, bem como os preconceitos e tabus existentes, pois a palavra câncer ainda vem carregada da ideia de maldição e morte. Como a maioria dos pacientes tem confirmado o seu diagnóstico somente em fase avançada, além da cura de múltiplos tipos de câncer ainda não ser possível e como o quadro que grande parte dos pacientes apresenta, geralmente, é doloroso de se ver e acompanhar, os subterfúgios aumentam, decorrendo daí o emprego de termos substitutos ou sinônimos: “a doença ruim”, “aquela doença”, “tumor”, dentre tantos outros. Ao ser abordada a questão do câncer como uma perspectiva de finitude, pode-se afirmar que se mostra tão ameaçador porque representa não apenas uma ameaça de morte, mas uma tríplice ameaça: de dor física, de mutilação, e de morte. (Rev. Bras. Enferm. Vol. 56 nº 3 Brasília Maio/Junho 2003). METODOLOGIA Foi realizado um levantamento bibliográfico, no qual foram identificadas bases de dados na internet (LILACS; Scientific Eletronic Library Online – Scielo; ACTA Paulista de Enfermagem - ACTA Paul Enferm. da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP; Revista Brasileira de Enfermagem – REBEn), artigos científicos com
textos considerado fundamentais para a análise, coleta e interpretação da
literatura pesquisada. É importante frisar que as três fases (análise, coleta e interpretação) realizadas, serviram como norteador para a construção deste texto. Os dados foram agrupados em dois grupos: O ser humano com foco no ser humano e a morte além do morto.
DISCUSSÃO E RESULTADOS A partir de um estudo ecológico aprofundado em artigos relacionados às manifestações oncológicas, tendo como aprofundamento a complexidade na assistência ao paciente com câncer na base do trabalho fundamentado e humano, contextualizado no modelo biopsicossocial, observando toda a faceta social; psicossocial, emocional e espiritual, traz um reforço na importância deste tipo de cuidado, pois deve haver um entendimento da morte e as situações violentas que podem se acometer com o percorrer do tempo. O SER HUMANO COM FOCO NO SER HUMANO O paciente com câncer não deve ser considerado, apenas como mais um caso. Nessa perspectiva precisa ser empreendida uma visão holística e multidisciplinar, buscando compreendê-lo nas suas relações para proporcionar uma abordagem profissional humanizada profundamente solidária, geradora não só de saúde, mas principalmente de vida. Que trabalham em oncologia está exposto no seu dia-a-dia de trabalho, a situações geradoras de conflitos. Os fatores que predispõem aos conflitos são, dentre outros, as frequentes perdas por morte; as pressões que expõem o modelo médico tradicional de responsabilidade em relação à cura e à longevidade; o trabalho constante com doenças graves e com tristeza dos familiares, o contato frequente com os familiares a paciente, levando à criação de vínculo com maior envolvimento com o problema vivido. A assistência humanizada ao paciente com câncer e seus familiares consiste no emprego de atitudes que originem espaços que permitam a todos verbalizar seus sentimentos e valorizá-los; identificar áreas potencialmente problemáticas; auxiliá-los a identificar fontes de ajuda, que podem estar dentro ou fora da própria família; fornecer informações e esclarecer suas percepções; ajudá-los na busca de soluções dos problemas relacionados ao tratamento; instrumentalizá-los para que tomem decisões sobre o tratamento proposto; e levar ao desempenho de ações de autocuidado, dentro de suas possibilidades. Entre as múltiplas ações de saúde necessárias para propiciar cuidados que privilegiem, dentre outros, os aspectos psicológicos, estão a disponibilidade, a atitude de aceitação e de escuta e a criação
e a manutenção de um ambiente terapêutico. (Rev. Bras. Enferm. Vol 56 nº 3 Brasília Maio/Junho 2003). No contexto dos cuidados paliativos na oncologia, é preciso considerar que os objetivos da assistência, em conformidade ao que é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), compreendem a promoção da qualidade de vida e do conforto dos clientes e seus familiares que enfrentam juntos a doença que põe em risco a vida, pela prevenção e alívio dos sintomas e apoio às necessidades psicossociais, emocionais e espirituais. A abordagem da complexidade nesta área de atuação de enfermagem admite o necessário empenho da equipe de saúde, por meio do trabalho interdisciplinar, para atender às necessidades de cuidado do cliente e da família dentro das possibilidades diante das incertezas, diversidades e imprevisibilidades que demarcam a realidade complexa, mediante a instabilidade do quadro clínico do cliente e a proximidade da morte. Desta forma, considera-se que a prática de enfermagem sistematizada favorece a identificação das necessidades de cuidado manifestadas e /ou referidas pelos clientes e familiares em sua totalidade, bem como a articulação e negociação com os demais membros da equipe de saúde em nome da concretização e melhorias do cuidado, construindo uma estratégia adequada a uma prática centrada na pessoa e não apenas nas tarefas. Durante
a
experiência
profissional
em
um
hospital
público
federal
especializado em cuidados paliativos na oncologia, as autoras observaram de forma empírica que a abordagem teórica – filosófica não estava clara nos prontuários dos clientes, e que a prática de enfermagem apresentava-se de forma fragmentada. As fases do processo de enfermagem identificadas no contexto da internação hospitalar – histórico e evolução de enfermagem – priorizavam aspectos orientados pelo modelo biomédico/cartesiano, e na maioria das vezes não contemplavam questões relacionadas com as necessidades psicossociais. Contudo observou-se que no cenário há uma forma de organização, planejamento e coordenação das ações, cuja prática se expressa no trabalho cooperativo da equipe de enfermagem, de forma participativa com o cliente e o familiar, com evidencias da preocupação com os aspectos não físicos do cuidado. (Acta Paul Enferm. 2011; 24(2): 172-8).
A MORTE ALÉM DO MORTO A sociedade contemporânea tem cada vez mais dificuldade em pensar a questão da morte e do morrer, apesar de tornar-se uma sociedade de risco, com múltipla possibilidade de experimentar a vulnerabilidade e enfrentar a morte em situações violentas de vários tipos. No século XX a morte outrora tão presente na vida familiar, vai sendo recalcada. A presença da morte gera incômodo provocado pela sua presença numa sociedade que vive pelo prazer. A partir da década de 30, o local da morte é transferido das residências para os hospitais. A expulsão da morte (individual) da cena contemporânea, da interdição do luto e do direito de chorar seus mortos são componentes característicos da civilização contemporânea ocidental. Este recalcamento do pensamento da morte na persistência das ocasiões de experiência da morte pode ser considerado como uma consequência do processo civilizador. Uma vez que a morte é ocultada, e que sobre ela se fixem um conjunto de valores negativos, o moribundo é algo que incomoda. Seu sentido no ambiente hospitalar é negativo, é algo que precisa ser escondido sob o discurso técnico da biomedicina. Irreconhecível como humano. Ao mesmo tempo na sociedade avançada, a consciência da legitimidade moral da cultura do respeito da autonomia do indivíduo acrescenta uma nova atmosfera ao redor do morrer, na qual a tarefa dos médicos de fazer todo o possível para impedir ou postergar a morte é discutível. É sobre essa construção social que os cuidados paliativos emergem como uma alternativa às práticas instituídas. Cuidados paliativos ocupam um espaço entre a competência técnica da medicina curativa e a cultura do respeito à autonomia do indivíduo no que se refere às suas decisões extremas (incluindo a prerrogativa de dizer que não quer mais viver sofrendo). Toda a sociedade tem de dar conta da morte e dos mortos, e por conta disso, há padrões dicotômicos de comportamento. De um lado há sistemas que se preocupam com a morte, de outro, os que se preocupam com o morto. Há uma tendência em ver a morte como importante, descartando o morto, e outra que tende a ver o morto como básico, descartando a morte. Na sociedade moderna não há luto nem qualquer tipo de contato com os mortos. Uma atitude inversa é encontrada nas culturas tribais e tradicionais (relacionais), onde o sujeito social não é o indivíduo,
mas as relações entre indivíduos. Nelas, ocorre uma grande elaboração relativa ao mundo dos mortos, que são invocados, chorado, relembrados, homenageados e usados sem cerimônias pela sociedade. Dentre os que já tiveram oportunidade de acompanhar as fases finais de um indivíduo ao final da vida, muito experimentam desconforto, principalmente se esse indivíduo foi um ente querido. É fácil compreender a dificuldade que os médicos, bem como outros profissionais da saúde, têm em lidar com essas situações. Muitas vezes sob o disfarce da afirmativa “Não há mais nada a fazer por ele”, esconde-se a dificuldade em lidar com a morte. Na verdade não é exatamente a morte a principal dificuldade, mas sim o acompanhamento do indivíduo que está morrendo. Nas ultimas décadas, a literatura tem sido pródiga em publicações sobre as atitudes do médico diante da morte e do doente terminal. Apesar de grande projeção sobre o assunto em anos recentes, os sentimentos dos médicos e dos estudantes de medicina em relação à morte e o morrer são poucos conhecidos. (Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(10): 2055-2066, out, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo aqui apresentado visa evidenciar ainda mais a necessidade de humanizar a assistência de enfermagem em oncologia, tanto na fase em que não há mais cura, durante a fase “pré” morte quanto na fase pós-morte. O cliente oncológico, em todo seu processo, é carecedor de atenção, cuidados clínicos, psicológicos e afetivos, inclusive nos quesitos espirituais. Lembrando que a equipe de enfermagem deve manter-se atualizada e aberta às diversas culturas, costumes e religiões. Cada membro da equipe de enfermagem é um ser humano e como ser humano, deve estar atento a todos os estágios em que a oncologia se manifesta. Consequentemente, o enfermeiro deve estar apto aos cuidados paliativos, sabendo se portar e se comunicar ao cliente e aos familiares que necessitam de cuidados paliativos, tanto na fase “pré” quanto na fase pós-morte, com um sentimento humanista no coração e na ação de ser um ser humano.
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