Minha Amada Mona Lisa
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Mirian Fidelis Guimarães
Minha Amada Mona Lisa
© 2008 M. F. Guimaãs Diits dsta diçã sads à Nbl Fanquias S.A. (Mac Z um sl ditial da Nbl Fanquias S.A.) Publicad m 2008
Dads Intnacinais d Catalgaçã na Publicaçã (CIP) (Câmaa Basilia d Li, SP, Basil) Guimaãs, Miian Fidlis Mina amada Mna Lisa / Miian Fidlis Guimaãs. — Sã Paul : Mac Z, 2008. ISBN 978-85-279-0470-4 1. Ficçã basilia 1. Títul 08-05870 Índic paa catálg sistmátic: 1. Ficçã : Litatua basilia 869.93
CDD-869.93
I
O céu se echou repentinamente. O branco assustador dos raios invadia a sala naquele naquele momento. Os sons estrondosos estrondos os
dos trovões pareciam querer querer quebrar tudo. Guilherme desceu as escadas resmunga resmungando: ndo: — Era uma linda manhã há pouco! Mais uma rajada de ventos, novamente os raios e, por m, o corte da energia elétrica. — Droga! — gritou Guilherme, que saía do banheiro e entrava no quarto da mãe. Começou a revirar o aposento na intenção de arranjar velas. Não demorou muito e encontrou um maço logo na entrada do guarda-roupa, ao lado das otograas. Tirando uma vela do maço, grudou-a grudo u-a junto à penteadeira. — Rapaz, já estou atrasado! — queixou-se Guilherme, que desceu as escadas euórico, pegou a jaqueta de couro, o capacete vermelho, sentou-se na moto e já ia saindo, quando a mãe apareceu na varanda. — Já vai? Não está esquece esquecendo ndo nada, Gui?
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— Não, mãe, tchauzinho! — e, virando a cabeça, mandou-lhe um beijo. Saiu cantando pneus e, em menos de quinze minutos, lá estava ele na universidade. — Vamos Guilherme, só alta você! — disse a inspetora, dona Sueli, que se dirigia ao ônibus. — Rapidamente, hem? Guilherme guardou a moto e o capacete, chegou junto ao espelho e só então percebeu o grande erro cometido. Não lembrara de prender os cabelos, estavam quase na cintura cintura e a pressa ora tanta que se esquecera de levar um elástico. — Bom — disse ele —, pego emprestado de alguma garota. Voltou correndo para o ônibus e, ao entrar, esbarrou em alguém. Virando-se para trás, deu de cara com uma aluna nova. — Me desculpe! — pediu ele. — Estou com um pouco de pressa! Ela se virou para o lado oposto, ignorando a presença dele, e começou a olhar a paisagem através da janela. Retirando-se daquele local, em que o clima estava um pouco pesado, ele oi para o undo do ônibus, onde os amigos o esperavam. — E aí, Mona Lisa? Pensei que você não viria, venha cá, só alta você. Mona Lisa era o apelido que os amigos colocaram em Guilherme, não por ele ser parecido com ela, mas pelo jeito como penteava os cabelos, sempre repartidos ao meio e pela expressão dos lábios, nunca com um sorriso total e nunca com o rosto totalmente tot almente sério. Sempre enigmático, sempre intrigante. — E aí, que cara de espanto é essa, meu chapa? — Nada não, Nicky. Viu só que tempo eio? Nem parece, mas na hora em que me levantei, o sol brilhava alto!
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— Mona, tudo o que a gente vir por lá tem que ser anotado. Vamos ter que azer um trabalho em equipe sobre isso. O pior é que eu não trouxe nada. — Eu trouxe uma caneta. — Ótimo, arranjar papel é mais ácil, é só pedir para as meninas, que que elas sempre trazem tudo! — Então vai lá e pede uma olha... — Pede você, Mona. — Eu? Por que eu? Foi Foi você quem teve a idéia; id éia; além do mais, eu sempre peço. — Ah, não. Vai lá e pede enquanto é cedo e ninguém tá lembrando disso agora, Mona. — Tá bom, tá bom. Rosana, tem uma olha para me emprestar? — De novo, Gui? — De novo? É a primeira vez que peço hoje... — Ainda bem que você é cara-de-pau e diz que é a primeira vez de hoje. — Obrigadão, Rô. Tá aqui, Nicky. — Boa, agora é só guardar e esperar chegar lá. Já vamos chegar anotando, só para azer presença, viu? Para pensarem que a gente se interessa pela arte, pelos quadros, por aqueles rabiscos que os pintores azem e depois cam amosos e valiosos. Vou Vou virar pintor, o que acha disso? — e virou-se v irou-se no banco do ônibus, parando em pose. Os dois começaram a sorrir; sem dúvida aquele passeio seria bom, pelo menos até aquela hora.
II
Trimmm... trimmm... — Alô?
— Oi, eu poderia alar com o Mona? — Quem gostaria? — Raael. É que nós estamos montando uma banda e eu precisava alar com ele. — Olha, o Guilherme saiu, oi com a turma da universidade em uma excursão para o museu. Ele só vai chegar à noite. — Tudo bem. A senhora pede para ele me ligar, quando chegar? — Claro! Raael, né? — Isso! — Ele tem o seu teleone? — Tem, sim. Tchau e obrigado. — De nada. Sarah levantou-se do soá preguiçosamente, oi até a cozinha e viu um bilhete na porta da d a geladeira. Chegou perto e
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leu: “Mãe, pede para a Benê lavar minha calça preta! Um beijo, Guilherme”. Enquanto Sarah lia o bilhete, Benedita apareceu na porta, carregada de sacolas; ela voltava da eira. Pela Pela expressão do rosto, Benê mostrava que não estava est ava de bom humor. — Bom dia, patroa! — disse ela se dirigindo a pia para descarregar as sacolas. — Bom dia, Benê. Já leu? — disse Sarah apontando para o bilhete do lho, preso junto à porta da geladeira. — Já, Dona Sarah. E já vou lavar; mas ele deixou a chave da porta? — Deixou, ela está lá na sala, perto do bar. Benedita se retirou da cozinha, arrastando os chinelos como sempre azia quando o reumatismo de sua perna doía. Sarah sentou-se na cadeira, olhou em volta: a cozinha sem Guilherme era vazia. Todas as manhãs, na hora do caé, ele descia e a cumprimentava cumpriment ava com um beijo no rosto. TomaTomava um copo de água em jejum, dizia que não criava barriga e sentava-se de rente para ela. Logo atrás descia Walter, esse sempre apressado para ir ao trabalho. Sarah sabia que o esposo era muito nervoso, por isso, só para irritá-lo mais, dizia as horas. Guilherme era lho único, tinha 22 anos e estudava História da Arte. Tinha uma banda de rock e era o vocalista, por isso havia eito aulas de canto durante d urante algum tempo. No undo da casa, só se ouvia o barulho da água e o som chiado do rádio de pilha de Benedita. Sarah lembrou-se de quando Benedita entrou em sua casa pela primeira vez. Tinha acabado de chegar do Ceará e precisava de um emprego, trazia nos braços uma criança pequena. Sarah, penalizada com a estória daquela mulher, aceitou-a em casa como empregada. De repente, tudo isso saiu da mente de Sarah, que já estava com os olhos úmidos de lágrimas.
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— Que bobagem! — disse ela. — É só hoje que estou sem o Gui que já começo a pensar no passado. É o costume de vê-lo todos os dias comigo, de quando ele era pequeno e era tão meu. Agora ele tem a banda e, daqui a alguns anos, quem sabe uma amília e aí quem vai cuidar dele d ele será a mulher e não eu. Sarah era uma mulher nova, tinha 3 anos. Casou-se nova, na época tinha apenas 1 anos. Estava grávida. Os pais não queriam que que ela se casasse com Walter, Walter, mas ali estava est ava ela hoje, casada com o Walter, com um lho lindo, adulto adult o e muito muito eliz. — A vida é engraçada! — disse ela enxugando os olhos, quando Benedita Benedita entrou. — Realmente, Sarah. Eu pensava o mesmo, enquanto lavava a calça do Gui. — É. O Guilherme... — Ih, já vai começar? Eu, hem! Daqui a pouco ele já está aí, é só uma excursão. — Eu sei, Benê, mas é que ele não é mais um garoto, e eu sinto que vou perdê-lo logo. — Ah, Sarah, deixe disso, vai! Vamos azer um bolo? Que tal um foresta negra? — Acho uma ótima idéia. Quer uma mãozinha?
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III
O ônibus passava por um túnel escuro e as poucas luzes que restavam não clareavam nem a metade da pista. Os alunos já estavam cansados de tanto t anto rodar para achar o museu, o motorista era novo no emprego e tinha ido ao museu apenas uma vez, quando pequeno. Guilherme, ao undo do ônibus, pensava. Estava Est ava muito sério naquela manhã. Estava sentado com as pernas em cima do banco, o cabelo em desalinho. O olhar era perdido, vazio, xo em alguma coisa que ninguém via. Suspeitava de algo, mas não sabia o quê. Começou a olhear uma revista, virou v irou as páginas e bem na página central estava est ava a gura de Mona Lisa. Ficou olhando aquela gura por um bom e longo tempo. Prestava atenção a todos os detalhes. Nos dedos nos, nas mãos delicadas que pareciam lhe acariciar os cabelos. Os olhos num olhar perurante, xo. Um olhar enigmático que o azia car preso àqu àquela ela gura. O sorriso, esse sim s im era dierente. Parecia que estava sorrindo e ao mesmo tempo parecia que estava séria e se olhasse mais um pouco se tornava triste. Era 11
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uma coisa extraordinária. De repente se viu surpreso ao ver sua própria mão acariciando a gura. Passava a mão pelo rosto da pintura, era tudo isso muito conuso. Fechou a revista e começou a olhar pela janela, mas não conseguia se concentrar nas paisagens. Suas mãos tremiam e seus pensamentos estavam todos voltados para Mona Lisa. Abriu novamente a revista e, ao olhear as páginas procurando a gura, seus olhos cruzaram com os da aluna nova. Ele sorriu e abaixou o olhar para a página da revista. Ela, por sua vez, levantou-se do seu lugar e aproximou-se dele. — Oi — disse ela —, gostaria gost aria de me desculpar pelo incidente na entrada do ônibus. Creio Creio que ui um pouco ríspida ou até mesmo estúpida, eu estava chateada, nervosa e não devia ter descontado em você. Me desculpe, mais uma vez. — Que é isso, eu não me importo, aliás, ui mal-educado em não pedir licença e o erro mais grave que cometi oi dizer dizer que estava apressado, pois todos estavam, então acho que eu também tenho que me desculpar. — Não, você estava certo; eu é que estava errada. — Não era mesmo. Era eu. — Não era, era eu. — Tá bom — disse ele sorrindo —, vamos parar com isso senão vai começar tudo de novo. Os dois estavam errados então, tudo bem? — Não concordo ainda, mas por via das dúvidas, tudo bem. — Então tá, você está perdoada. — E você também. — Aliás, qual é o seu nome? — perguntaram os dois ao mesmo tempo. Começaram a sorrir, realmente tinha sido engraçado. — Pode alar — disse Guilherme ainda com o sorriso nos lábios. — Então? — Marina. E o seu, qual é? 12
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— Guilherme. Bonito nome o seu. — Obrigada. O seu também. — Quer sentar? — Guilherme oereceu o banco ao lado para que Mariana sentasse e assim conversasse melhor. — Obrigada, mas logo vou voltar ao meu lugar, minha amiga está me esperando. — Tudo Tudo bem, você pode po de car o tempo que quiser. Você Você mora perto da aculdade? — Moro na rua de cima, e você? — Moramos um perto do outro. Moro a três quadras, pertíssimo. — Legal. Você az o quê? — História da Arte e você? — Também Também aço, comecei ontem. Deve ser superinteressante. — Se é... Eu adoro esse tipo de coisa! — Que bom, aliás, estou na sua sala. Ah... minha amiga está me chamando, depois conversamos. — Tá bom. — Tchauzinho, Guilherme. — Tchau, mas prero que me chame de Gui ou de Mona Lisa. — Mona Lisa? — É, dizem que meu olhar lembra o dela e o sorriso também, pois é diícil eu sorrir por completo; a expressão do meu rosto ca em meio-termo, ou seja, nem sorrindo, nem sério. — Interessante, Gui. Até logo! — Até.
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IV
Smesa,entadoestavana Fred cadeira, com suas botas bot as de cowboy em cima da Gibson. Usava calça jeans surrada com enormes rasgos disormes, brincos de argola nas orelhas e cabelos presos em um rabo-de-cavalo. A jaqueta de zuarte mostrava pelo aspecto que já havia visto dias melhores. Fumava seu cachimbo bem tranqüilo, quando o teleone tocou. — Inspetor Gibson, às suas ordens. Escutou por uns instantes e por m disse: — Pode mandar entrar. Rapidamente oi até o banheiro e ez um penteado melhor. Sentou-se em sua cadeira giratória, em que até mesmo as molas estavam postas post as para ora. Apagou as luzes e acendeu a luz da luminária, o que não adiantou muito, pois ela estava que queimada. imada. Novamente acendeu as luzes e sentou-se na cadeira. Secas batidas à porta, um momento de espera e nalmente a porta se abriu. — Gibson, trabalho para você. — Sim? 14
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— Quero que me traga estes dois caras e esta garota — disse ele batendo nas chas. — Estão planejando roubar o Banco, como já zeram dias atrás. Por Por avor, traga-os até aqui, sim? — Pode deixar — disse Gibson sorrindo, deixando à mostra seus dentes quebrados e amarelados pela nicotina.
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V
O museu em si era lindo, enorme, com suas paredes altas e trabalhadas. Sua escadaria imensa se abria em orma de leque e, sentados um em cada lado do corrimão, havia leões de cimento. cimento. Guilherme cou olhando aqueles leões por um bom tempo e quanto mais olhava, mais parecia que eles tinham vida própria. As janelas do Museu eram imensas e em orma de arcos. Começaram a subir as escadas e um arrepio percorreu a espinha de Guilherme. Chegaram até a porta de entrada. — Tá com rio, cara? — perguntou Nicky olhando assustado para Guilherme. — Você Você está tremendo, bicho! Guilherme se recusava a alar qualquer palavra, com medo de quebrar o encanto daquele momento único e mágico. Não queria quebrar o silêncio daquelas pinturas expostas nas paredes, que agora eram vistas por ele. Sentiu que estava estranho, mas mal podia explicar para Nicky o que sentia. 1
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— Mona, o que você tem? — perguntou Roger, mostrando-se interessado. Guilherme sentia sua própria respiração tensa. Algo estava acontecendo com ele, mas não sabia o que era. Sentiu seu sangue sumir das veias, estava gelado. O rosto estava est ava numa palidez estarrecedora, as mãos, sempre rmes e sempre acompanhando algum ritmo que estava escutando, agora estavam trêmulas.s. Os grandes olhos escuros estavam trêmula es tavam arregalados e pareciam saltar saltar das órbitas. órbit as. Suava rio; o cabelo estava todo caído para rente, tampando metade de seu rosto e deixando para ora apenas o olho direito. Sentia as pernas bambas. Nicky arrancou a blusa e num gesto decidido colocou-a em Guilherme, esregou-lhe os pulsos e caminhou com ele apoiado em seu ombro. Guilherme continuava assim, parecia que havia saído de nosso mundo e penetrado em outro do qua quall só ele azia parte. Piscou os olhos várias vezes seguidas, passou a mão pela ace e, num impulso, jogou a cabeça para trás, deixando à mostra todo o seu rosto e os brincos de argola prateada. Tentou xar o olhar à sua rente e, quando por m conseguiu, estava diante do quadro que minutos atrás o deixara ascinado pela gura. Seus olhos pareciam despertar para a realidade e viu que estava deitado em um banco, envolto num cobertor macio. Fez menção de sair; no momento em que levantava levant ava o cobertor, cobertor , uma mão o puxou pelas costas. — Espere um momento, Gui! Virou-se e viu que era Marina que seguia em direção à inspetora Sueli. Ela veio seguida de Marina, Nicky, Roger, dona Vera e o guia do museu. Sueli já se aproximou sorrindo. — O que aconteceu, Gui? Nicky me disse que estava estranho, assim que entramos. Aliás, não oi só ele quem disse. Roger notou também t ambém algo estranho em você, o que era? 1
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Guilherme sentou-se no banco, estava vestindo a blusa de Nicky. Sentiu uma orte vertigem, a cabeça doía e parecia que iria explodir. Os olhos estavam vermelhos, sentia rio e estava com ebre; sua boca estava seca e sentia uma enorme dor no peito. Todos a sua volta estavam es tavam olhando ansiosos, esperando que ele, por sua vez, dissesse algo. — Estou me sentido horrível! horr ível! — disse Guilherme com a voz rouca. — Não sei o que aconteceu comigo, mas não quero que quem parados aqui por minha causa. Vamos continuarr a visita... tinua visit a... — Nem pensar! — disse dona Vera. — Para você ter outro aniquito e nos matar de susto? Vamos voltar para casa agora mesmo e combinarmos de vir aqui outro dia! dia! — Dona Vera! — disse Guilherme. — Não queria estragar seus planos, me desculpe! — Não diga estragar, Guilherme — corrigiu Lourdes, proessora de português —, diga desapontar! — e sorrindo passou a mão por sua cabeça. A volta oi insuportável. Ninguém conversava no ônibus para não entediar Guilherme. Marina a toda hora vinha ver se ele precisava de algo, se estava melhor, e Nicky não parava de lhe contar piadas, achava que assim Guilherme se sentiria melhor e o enado dim diminuiria. inuiria.
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VI
D eitado na cama com os olhos echados, Guilherme dormia.
Sarah estava ao seu lado aagando-lhe os cabelos. Mediu a temperatura e constatou que ele estava com ebre. Benê trouxe o analgésico e Sarah deu para Guilherme tomar. — O que aconteceu com esse menino? — disse Benê para Sarah. — Na ida ele estava est ava tão bem, o que houve? — Não aço a mínima idéia, Benê. Dois amigos dele precisaram trazê-lo, um menino e uma menina. — Nossa, Sarah, nunca vi o Guilherme neste estado. Imagina quando o pai dele souber... s ouber... — Vai acabar tendo um treco! — Realmente. O Guilherme é a menina dos olhos dele. Desça, Sarah, tome alguma coisa, dê uma volta pelo jardim, nade um pouco, sei lá. Vai azer alguma coisa, tente se distrair. O Gui já está melhor. — Eu sei, Benê — dizia Sarah levantando a cabeça de Guilherme, azendo com que ele tomasse o analgésico —, mas é que é diícil e eu quero estar ao seu lado quando acordar. 1
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Guilherme dormia proundamente, seus olhos estavam echados e da sua testa escorriam grossas gotas de suor. Sarah puxou o cobertor até sua cintura e tirou sua blusa, deixando ele apenas de regata branca. Seus cabelos estavam soltos e, por causa do suor, grudavam no pescoço. Sarah pegou um elástico e prendeu seus cabelos num rabo-de-cavalo rouxo e baixo. Guilherme começou a se bater na cama. Benedita precisou segurá-lo, enquanto Sarah lhe aplicava uma injeção recomendada pelo médico. Ele se debateu mais um pouco e parou. Seu cabelo estava parcialmente solto e seu rosto estava rosado como se ele tivesse ido à praia. Em uma pequena ração de segundos, seus olhos se abriram e tornaram a se echar por causa da intensidade da luz vinda da janela. — Está se sentindo melhor, Gui? — Ah... estou sim. Nossa, como eu suei, olhe as minhas costas! — Eu sei, mesmo eu descobrindo você e prendendo seu cabelo não adiantou muito. — Ai, quero tomar um banho, comer alguma coisa e... — Teleonar para o Raael. — O Fael Fael ligou? Oh, não, é sobre a banda, az tempo? — De manhã. — Vou ligar para ele agora mesmo. — Primeiro tome banho, Gui. — É uma boa idéia. Que oi, Benê? — Está bonzinho, Gui? — Novo em olha! — e dizendo isso deu um beijo no rosto da empregada. Benê cou vermelha, não sabia onde enar a cara. Sarah sorriu e Guilherme dirigiu-se para o banheiro. — Que ótimo que ele está melhor, Benê. — Está bom até demais, não acha? Os jovens são assim, estão de cama e logo em seguida já estão bem. São como os passarinhos... 20
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— Como passarinhos? Não diga isso, Benê, ele continua como um garotinho, não é ótimo? — Sim, é ótimo. — Manhêêêê? Me traz a toalha? Eu esqueci. — Um minuto, Gui. Aqui está... — Obrigado. — O que você quer comer? — Bie acebolado, salada de tomates e suco s uco de laranja.
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VII
Sme entado no soá com o roupão branco, estava Guilherenxugando os cabelos. Ouvia música e pensava na banda. Ainda não tinha um nome deinido e para escolher estava sendo uma barra. A dúvida estava entre dois nomes. Ele iria ligar para Raael para p ara ver o que ele achava e, dependendo do nome escolhido, iriam pensar em um logotipo. Realmente tudo isso is so era muito complicado, mas o que azer? — Raa? — Oi. — Sou eu, o Mona, tudo bem? — Oh, Mona, tudo em cima. E aí, o que resolveu? — Estou indeciso em dois nomes. — Diga. — Mr. Boris e Mona Lisa. — Mr. Boris é legal, mas Mona Lisa não. Onde você está com a cabeça, cara? 22
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— Não sei direito, direito, Fael. Fael. Preciso conversar conv ersar com você, voc ê, não estou legal e tudo aconteceu depois que ui ao museu. Eu estava bem e agora o meu astral baixou de novo. Você já jantou? — O quê? — Já jantou? Fale rápido! — Não, por quê? — Quer jantar? Venha aqui, assim jantamos juntos e também conversamos. — Sobre o quê? — Cara, eu não estou esto u legal. Preciso de sua s ua ajuda... Você Você sabe que você e o Nicky são os caras em quem eu cono. — Eu vou, Gui, G ui, pede para a Benê azer aqueles pasteizinhos de carne? — Fechado. — Ok. Estarei aí em quinze minutos.
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VIII
C ama desarrumada, sapatos jogados, as gavetas vomitando para ora todo o seu conteúdo.
No chão, presilhas, brincos, relógio e até um lanche... Em cima da cama roupas, discos, CDs e tas, outra quantidade quantida de de roupas no chão, o violão meio escondido escondido atrás da porta e no guarda-roupa não havia nada. Absolutamente nada. Tudo Tudo estava est ava espalhado pelo quarto. — Que bagunça! — exclamou Marina ao entrar em seu próprio quarto. — Mas se não estiver bagunçado, o que a empregada vai azer? É até capaz de perder o emprego por alta de serviço. Jogou-se em cima da cama, só pensava em Guilherme. Como ele era bonito e o mais importante: era muito atencioatencioso. Conversou com ela num numaa boa... E quando ele desmaiou? Parecia Parec ia um boneco deitado deit ado naquele banco. Só o cabelo dele já tirava seu ôlego. Na cintura, liso e preto, os olhos castanhos e grandes, a boca bem-eita, grande e vermelha, as aces rosadas, os braços ortes, as unhas cortadas. A calça jeans 24
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desbot ada servia-lhe como uma luva, cava pereita desbotada pereita no corpo. A camiseta branca e a jaqueta de couro aberta, enm, ele inteiro era lindo! E quando ele colocou os óculos escuros do Nicky? Jogou o cabelo de lado e abaixou um pouco a cabeça... parecia um modelo. O Nicky tirou oto, iria pedir para ela. Resolveu teleonar para ele e perguntar se estava tudo bem. Sim, era isso que iria azer. Levantou-se da cama, oi para perto do teleone, olhou para a estante e em cima dela viu a oto de Ronaldo. Se pudesse, jogaria aquilo ora; só não jogou porque mãe não deixava. — Vou Vou colocar coloc ar no quarto dela! — pensou pe nsou Marina Mari na encaminhando-se para janela. A noite já havia caído e o céu estava estrelado. Havia muito mormaço, mas a brisa suave a ez lembrar da praia. Como queria estar na praia naquele momento. Queria andar pela areia com os chinelos nas mãos, um vestido curtinho e leve, correr com aquele céu estrelado e ao lado de Guilherme. De repente, lembrou-se de teleonar para ele e no momento seguinte saiu correndo para dentro.
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IX
G uilherme acordou com o barulho dos pássaros cantando, cant ando, sorriu ao se lembrar do teleonema de Marina; ela havia cado muito preocupada com o estado de saúde dele, por isso havia ligado. — Acho que ela está gostando de mim — pensou Guilherme. — Não é uma má idéia. Levantou-se e oi até a janela, aspirou proundamente o ar da manhã, sentia-se mui muitíssimo tíssimo bem para um novo dia. Tomou banho e desceu ainda de roupão para o caé. — Bom dia, Benê! — Bom dia, Guilherme. Dormiu bem? — Otimamente bem, e a mãe? — Saiu, oi ao médico. — Ah, o pai já oi trabalhar? — Acabou de sair. — Bem, vou subir e me arrumar para a aculdade. — Tome o seu caé primeiro, Gui. — Depois eu tomo, Benê, senão vou me atrasar. 2
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Subiu as escadas rapidamente, estava animado com a idéia de Marina estar gostando gost ando dele. Colocou uma calça jeans jeans clara e camiseta branca, passou seu perume avorito e desceu as escadas. Tomou Tomou seu caé rapidamente e escovou os dentes. Penteou os cabelos e saiu. — Benê, cadê a chave do carro? — Seu pai guardou. Acho que está na cômoda, no nal do corredor de cima. — Obrigado, Benê. Subiu as escadas displicentem displicentemente, ente, como sua mãe odiava; às vezes gostava de azer assim para provocá-la, mas desta vez estava com pressa. — Tchau, Benê, já vou! — Tchau, Gui, cuidado. — Pode deixar. Chegou à aculdade um pouco antes do normal, guardou o carro, pegou suas coisas e saiu do estacionamento. No corredor encontrou-se com Nicky. — E aí, Mona? Tudo bom? — Tudo Tudo ótimo. Alguma novidade? — Uma, já cou sabendo? — O quê? — Da Marina, ela está caída por você. — Sério? — Sério, ela me disse. — Conte mais! — Ela disse que você é uma gracinha e, quando desmaiou no museu, ela não parava de passar a mão no seu rosto. — Sério, cara? — Sério, ela me disse... verdade, meu! — Que legal! Você veio de carro hoje? — Não. — Ótimo, lhe dou uma carona! — Claro, eu aceito. 2
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— E aí, galera? — Oi, Roger. — Tudo em cima, Mona? — Tudo em cima. — Que bom cara, eu já estava preocupado. — Que é isso, Roger. Agora eu já estou bem, obrigado! — Que bom. Já estavam na sala conversando, quando chegaram MaMarina e Rosana. — Bom dia, garotos! — disse Rosana sentando-se. — Bom dia! — Oi, Gui! — Oi, Marina. — Oi, né, Marina! — Calma, Roger, oi. Olá Nicky. — Olá. — Já melhorou, Gui? — Já estou ótimo. Muito obrigado pelo teleonema de ontem. — Oh, que é isso, não oi nada, Gui. — Você cou sabendo? — Do que, Rosana? — Nossa, a Marina lhe teleonou e não o avisou? Amanhã, às oito horas da manhã, é para estar aqui, pois iremos a uma excursão em um sítio, onde tem pedalinho, piscina, sauna... e é só a nossa turma. — Nossa, que legal! Eu vou, Mona, e você? — Ah, eu também. Você vai, Roger? — É claro, e vocês duas? Também? — É, iremos... — Hum... quero beber alguma coisa — disse Roger encaminhando-se caminha ndo-se para a porta. — Vamos Vamos à lanchonete? 2
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— Claro! Vocês não vêm? — disse Guilherme olhando para as garotas. Entreolharam-se por um minuto e por m concordaram. Guilherme pediu um suco de morango e Marina um de manga. Roger e Nicky preeriram uma Coca light e Rosana se contentou com um suco de laranja. Sentaram-se nas mesinhas, hoje as aulas começariam às 10h30 e ainda eram h; tinham muito tempo pela rente. Conversavam animados os cinco e Marina não parava de olhar para Guilherme, que estava sentado a sua rente. Ele alava e gesticulavaa tanto, ticulav t anto, que que sua mão tocou a mão de Marina. — Me desculpe. — pediu ele. — Foi sem querer. — Não oi nada. — Creio que já havíamos vivido essa ess a cena antes — disse ele sorrindo e dando uma ormidável piscada.
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X
Q uando saíram, Nicky e Roger o acompanharam até o estacionamento, entraram no carro e já iam partindo quando encontraram com Marina e Rosana na esquina. Guilherme as chamou: — Querem uma carona? — Não precisa, Gui — disse Rosana. — Vou de ônibus, moro longe, e será diícil diícil para você me levar. Muito obrigada! — Que é isso, Rô? Eu levo sim, entra aí — disse ele descendo do carro e esperando Rosana entrar. — E você Marina, não vem? — Obrigada, moro na rua de cima. É muito perto, eu vou a pé. — Ah, não — disse ele segurando-a pela cintura. — Você vai sim, tá? — Tá bom! — disse Marina sorrindo. Entraram no carro. Guilherme ligou o rádio e estava tocando sua música avorita. 30
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— Oh, não — disse ele aumentando o volume —, eu adoro essa música! — Aqui, na próxima à direita — disse Marina. — Legal, pertinho. — Oh, meu, é aqui nesta rua! — disse Roger, quando Guilherme passou com o carro pela rua. — Na volta eu deixo você, tá? — alou Guilherme olhando para ela pelo retrovisor do carro. — Tudo bem — disse ela sorrindo. — Ih, qual é a dos dois? — Amizade... — disse Guilherme. Quando deixou todos os amigos nas suas casas, ele disse que não queria ir de choer e então Marina sentou-se na rente. — Quer tomar alguma coisa? — Não, não, Gui, mu muito ito obrigada. — Quer comer, então? — Também não, Gui. — Tudo bem, mas se quiser... Um suco então, vai... — Tá bom, de morango. — E eu vou querer um de manga. Desceu do carro e entrou na lanchonete. Marina cou sozinha no carro de Guilherme, ou seja, sozinha no carro daquele cabeludo lindo e atencioso... O rádio começou a tocar uma música e Marina sorriu eliz. Guilherme voltou com os sucos, deu o de Marina e tomou um gole do seu. Quando pararam no arol, Marina perguntou se ele que que-ria tomar o suco. Ele disse que sim. O arol abriu e ela pegou o copo e segurou, enquanto ele tomava com canudinho. — Obrigado, Marina. Quando chegaram à rua dela, ela indicou a casa e ele estacionou em rente. Desligou o motor do carro e olhou para ela. 31
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— Muito obrigada por me trazer até aqui, Gui — disse ela arrumando as coisas para descer. — Obrigada, mesmo. — Pode deixar que os copos eu jogo em casa; e você não precisa agradecer. Obrigado você, pela companhia. — Que é isso, Gui, não oi nada. Guilherme pegou a mão de Marina, sorrindo, olhou-a bem nos olhos e lhe deu um beijo. — Amanhã você vai? — Vou, e você? — Também. Posso passar aqui? — Claro! — Tchau. — Tchau. Ficou com o carro desligado até que ela entrasse e echasse o portão. Depois ligou o carro e oi embora. Marina entrou em casa pisando nas nuvens. Não queria acreditar no que acabara de acontecer, estava muito eliz e isso era tudo.
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XI
Stou-seábadodisposto ensolarado, um belo dia para uma piscina. Levane bem-humorado, anal de contas ia a um passeio muito muito legal e sua companhia era admirável. Pegou a mochila e colocou dentro os óculos de sol, toalha, calção e chinelo. Colocou também uma camiseta e bermuda, para depois da piscina e para a volta; só iria trocar de camiseta. Levou máquina otográca e, em vez de d e um, ele levou dois elásticos para o cabelo. Desta vez não queria o cabelo solto. Do outro lado da mochila, colocou uma malha, caso o tempo mudasse, escova de dentes e de cabelo, os documentos e, o que não podia altar, alt ar, dinheiro. dinheiro. Tomou banho, colocou tênis, calça jeans escura e camiseta, desceu apressado para o caé, ainda colocando o relógio no pulso. — Bom dia, Gui — disse sua mãe lhe dando um beijo no rosto. — Não está esquecen esquecendo do nada? 33
Minha Amada Mona Lisa
— O perume! — gritou ele já subindo as escadas. Passou o perume, oi até a cômoda, pegou o antitranspirante e colocou os dois na mochila. Para qualquer emergência pegou mais uma camiseta. Fechou a mochila e novamente desceu. — Tudo pronto — disse ele triunante. — Não estou esquecendo nada. Bom dia! — Resolveu andar de cabelo solto? — É, só que hoje estou levando dois elásticos. Cadê a Benê? — No quintal. — Ah, eu não a vi hoje ainda, az um lanche para eu levar? — Tá vendo aquela cesta ali? A Benê já arrumou para você. — Boa, a Benê é um amor. Subiu as escadas e pegou no seu quarto a mochila. Passou na cozinha e pegou a cesta. Deu tchau para a mãe e no quintal deu de cara com Benedita. — Bom dia, Benê. Obrigado pela cesta e tchau. Deu um beijo na ace dela, entrou no carro e saiu.
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XII
D eitado na cama, Guilherme recordava como havia passado o dia. Tinha Tinha conversado conversado com todos, com Marina em especial, e lembrava-se da expressão séria no rosto de Roger. Será que ele estaria com algum problema? Guilherme se lembrou que a mãe dele era muito doente, a expressão séria devia ser por isto. Roger estava esquisito, inquieto e Guilherme havia cado preocupado. Anal de contas, o que isso importava? Só Marina importava para ele naquele momento. Lembrava-se dela na parte da manhã, durante os dez minutos antes de encontrá-la. Lembrava-se também de que, assim que ela abriu a porta e apareceu com os cabelos molhados, estava lindíssima. A calça preta caía-lhe tão bem quanto a camiseta branca que usava. Do seu corpo emanava um cheiro adocicado de perume, a pele estava lisinha e cheirava hidratante, as longas unhas estavam pintadas de vermelho, o mesmo vermelho do seu batom, orte e sensual. Carregava uma bolsa de couro. Sua boca em orma de coração se abriu 3
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suavemente em um sorriso cínico e provocante, que no undo trazia algo de ingênuo, mostrando seus dentes brancos e pereitos. Os olhos castanhos e redondos, redond os, de sobrancelhas nas e arqueadas, davam um certo charme àquela gura ali parada, abrindo o portão. Ela era pereita. Cintura na, magra, não muito alta, mas também não era daquelas baixinhas. O cabelo castanhoclaro, levemente encaracolado nas pontas, caía-lhe sobre os ombros. Suas mãos eram nas e delicadas... De repente, lembrou-se das mãos de Gioconda, para ser mais exato, lembrou-se das mãos de Mona Lisa. Eram nas e delicadas, assim deduzira ele aquele dia no museu. museu. Começou a se lembrar do seu estado est ado de choque na hora em que colocou os pés nas lajotas rias do museu, daquela escadaria imensa de corrimão comprido e dos dois gigantescos leões de cimento. Lembrou-se do tapete vermelho de veludo que recobria metade da sala, dos lustres sinistros e pesados. — Por que estou pensando nisso? Era diícil, diícil, mas, por mais que Guilherme tentasse, tent asse, não conseguia tirar isso da cabeça. Realmente Leonardo da Vinci havia pintado aquele quadro muito bem. O engraçado era que ele, Guilherme, havia cado tão impressionado que não conseguia parar de pensar nele. A aculdade havia marcado uma nova visita ao museu e Guilherme não via a hora de chegar lá, de ver o quadro, de poder analisar com todo o cuidado os mínimos detalhes, de poder rever aquele rosto tão bem conhecido e de que se lembrava tão bem. Foi assim, pensando em Mona Lisa, Lis a, que adormeceu. Sonhou com museus, quadros, prisões, policiais, amigos, campos. Um sonho muito estranho, mas que ele saberia o signicado muito antes do que esperava. No dia seguinte, Guilherme acordou assustado. — Nossa, que sonho estranho! 3
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O dia amanhecera rio. Uma chuva na caía sobre a terra, pintando a natureza com tons mortiços. Grandes nu nuvens vens escuras se juntavam no céu, o vento soprava impetuoso e constante. Guilherme olhou pela vidraça e constatou que aquele domingo seria nada animador... — Que tempinho eio. Não dá nem vontade de sair da cama com um tempo desses. Entrou no banheiro e se despiu, ligou o chuveiro e entrou. Não se mexeu, cou imóvel, lembrando apenas do sonho que tivera na noite passada. Começou a se esregar com vigor, lavou os cabelos e terminou o seu banho como entrou no chuveiro: imóvel. Colocou o roupão, enrolou os cabelos na toalha e saiu do banheiro. Sentou-se na cama e começou a enxugar os cabelos. Ligou o rádio baixinho, eram sete e meia da manhã, e estava passando um programa que só tocava música antiga. Começou a tocar uma música e Guilherme voltou a pensar em Marina. Era muito bonita, sem dúvida, mas algo dizia que que ele não gostava gost ava dela e isso o preocupava pr eocupava e muito. muit o. Desligou o rádio e desceu para caé, ainda de d e roupão. Sarah e Walter ainda não haviam se levantado e Benê ainda estava dormindo. Guilherme tomou um copo copo de leite e cou na janela vendo a chuva cair lentamente sobre a terra e molhar as plantas. — Em que está pensando? Era Benedita quem azia a pergunta a Guilherme, que agora tinha a cabeça encostada na vidraça. — Não sei — respondeu ele pensativo. — Em Marina, em Mona Lisa, no amor, no museu, na aculdade... enm, não sei! — Você anda esquisito, sua mãe é que não percebeu ainda, mas eu percebi desde o dia em que você voltou do museu. Benedita Bened ita baixou os olhos para o bolo que estava est ava azendo. — Estou notando not ando que você está dierente, só isso! 3
Minha Amada Mona Lisa
— Eu não sei, Benê, quando eu estava indo para o museu, vi em uma revista o retrato da Mona Lisa, quei aturdido, sei lá. Tudo cou dierente e desde desde então não paro de pensar no quadro. Quando olho para aquela pintura, os olhos dela revelam uma certa tristeza, tristeza, como se ela quisesse que que eu a libertasse libertasse dele. Eu... não... não consigo explicar, Benê, e mesmo que eu conseguisse, você não iria compreender. Não disse nada ainda a ninguém, nem a minha mãe, você é a primeira pessoa a quem eu alo isso. Para você ter uma idéia, até o nome da minha banda é Mona Lisa. Estou azendo uma música para ela; não consigo parar de pensar nela; estou começando a passar noites em claro por causa dela... Não sei o que está acontecendo comigo, Benê. Me ajude! Benedita estava com a boca seca, os olhos úmidos; ela sabia que seu menino estava sorendo com o que acontecia acontecia e não sabia como ajudar. — Oh, Gui, eu vou ajudá-lo do d o jeito que eu puder, tá? — Tá bom, Benê, obrigado. Guilherme calou-se e sentou-se na mesa com a cabeça baixa. Não sentia ome, tentou comer uma torrada mas não descia, mordeu um pedaço de pêra, mas não conseguia engolir; olhou para Benedita com os olhos vermelhos e úmidos. Como uma criança, abraçou-se à empregada e começou a chorar, era um choro angustiado e ebril, como se tivesse perdido alguém muito querido. Parou de chorar, enxugou os olhos e subiu as escadas. Benedita permaneceu petricada do lado da mesa, sabia exatamente o que estava acontecendo com Guilherme e isso iss o a deixava muito triste. Deitado na cama, Guilherme começou a escrever algumas linhas da canção para ela; ao escrever a última linha, olhou para rente e se viu refetido no espelho; percebeu, então, que no seu olhar havia muito cansaço e em seu rosto muita olheira. Sua expressão era de exausto, revelando a noite mal dormida. — Puxa, preciso me cuidar! — disse ele se levantando da cama e se dirigindo ao guarda-roupa: — O que vou vestir? 3
XIII
—
S—enhora Sarah? Sim, doutor, o que ele tem?
— Nada grave, senhora, ele está apaixonado. Creio que a senhora cará espantada, espant ada, mas ele está amando um quadro e não sabe disso. É coisa da idade, quantos anos ele tem? — Vinte e dois! — Então, isso az parte desta ase, não é nada grave, eu acho! Pelos sintomas, é totalmente saudável, mas precisa de cuidados imediatos ou poderá se tornar obsessão. — Mas como, doutor?! Ele não come, não dorme, não conversa quase comigo e não me deixa entrar no quarto. Ele tem uma banda de rock com o nome Mona Lisa, até já ez uma música para ela, já leu biograas, livros, curiosidades, enm, uma porção de coisas. E o que eu mais acho estranho é ele ter gostado dessa imagem, sendo que tem uma namorada linda... mas anda muito rio ultimamente com ela. Um horror, doutor! — Não sabia a gravidade do caso dele. O que ele az mais? 3
Minha Amada Mona Lisa
— Foi no mês passado com a escola a um museu e, só de entrar, cou com ebre, desmaiou, teve dor de cabeça, tontura, tremia e várias outras coisas que no momento não me recordo. Chegou a nossa casa acompanhado de dois amigos, deu muito trabalho, pois suava rio e se batia na cama... Horrível, doutor Raul! — Bom, traga-o aqui no meu consultório que irei acompanhá-lo com um tratamento rigoroso. Este caso é mais sério do que eu imaginava, senhora Sarah. — Por avor, doutor Raul, me chame de você, e aça isso pelo Gui, pelo amor de Deus! — Eu arei, senhora, não se preocupe. — Ele precisará ser internado? — Por enquanto não. Se mais tarde precisar, avisarei a senhora com antecedênc antecedência, ia, creio que não será preciso! — Obrigada, doutor... — Não precisa agradecer e qualquer qualquer coisa é só me teleonar, tá bom? — Tudo bem, então. — Tenha um bom dia! — Igualmente. Até logo!
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XIV
—
G—uilherme, no que está pensando? Em nada proessora, me desculpe.
— Guilherme, é a terceira vez que chamo sua atenção hoje. O que você tem? — Já disse que não é nada, oi apenas uma pequena distração... — Você chama isso de pequena distração? Três vezes seguidas chamei-o e é apenas uma pequena distração? distração? Que é isso? Onde você está com a cabeça, Guilherme? — Desculpe! — Deixe-me ver sua redação! — Não z. — O quê? Não presta mais atenção às aulas, não escuta quando o chamo e não az mais lição? Não vou suportar isso por mais tempo, Guilherme! Você não era assim, o que aconteceu? Guilherme, com os olhos vermelhos, estava de cabeça baixa. Não conseguia pensar em nada, queria mesmo era ir embora e se deitar, conversar com Benê e dormir. 41
Minha Amada Mona Lisa
— O que aconteceu, Guilherme? Estou esperando sua desculpa; ainda não a escutei. Guilherme levantou a cabeça, o cabelo estava preso em um rabo-de-cavalo, usava bermudão xadrez, camiseta branca, meia e tênis, passou a mão pela p ela cabeça e disse: — Não estou passando bem, posso descer? — Pode, o que você tem? — Não sei, me sinto esquisito... — Pode descer, sim, deixe uma menina ir com você. — A Marina! — Tudo bem, como você achar melhor. Desceram as escadas em silêncio, cada qual com o seu próprio pensamento. Guilherme descia as escadas segurando no corrimão, Marina o olhava pelo canto dos olhos. O que ele estaria pensando? Notara que estava estranho já azia tempo, só que ele não se abria com ela. Não alava alava o que se passava com ele, a não n ão ser que ela perguntasse; perguntasse; mas só ela perguntar era chato, seria mais legal se ele já chegasse e contasse o que estava acontecendo. Ela não agüentou o silêncio, abraçou Guilherme pela cintura e perguntou: — Muito bem, Gui, o que você tem? Eu sei que você tem algo, mas não quer me contar o que houve? Pode Pode se abrir comigo. Guilherme empurrou a mão de Marina, azendo com que ela parasse de abraçá-lo. Ela cou surpresa e parou rapidamente. Ele, por sua vez, continuou descendo os degraus, parou e olhou para trás, viu Marina parada no topo da escada, olhando para ele, estava com os olhos úmidos. Ele subiu as escadas correndo e a enlaçou pela cintura, deitou sua cabeça no ombro dela e começou a chorar; ela o desencostou de seu ombro e o ez olhar nos olhos. — Por que você ez isso comigo, Gui? Sabe que gosto muitoo de você e azendo isso, você me machuca... não podia muit ter eito isso! 42
Minha Amada Mona Lisa
Ela ez menção de sair correndo, mas ele oi mais rápido e a segurou. — Eu preciso demais da sua ajuda, Marina. Não suportaria perdê-la por nada no mundo. Você é tudo para mim, mas vai ter que me ajudar, pois estou numa situação complicada, nem eu mesmo sei o que é direito! — De mim, Guilherme, você pode esperar tudo, mas desta vez você oi longe demais. Primeiro, porque não oi em casa nem ontem, nem domingo, como combinamos; e segundo, que você chegou hoje, nem me cumprimentou e, quando eu o abracei, você me empurrou. Não quero mais suportar isso e não vou! Sei que você só quis brincar comigo... Para mim, você morreu! Pensa que eu não sei que a Rosana vive lhe teleonando? Se pensa que é ciúmes, pode ter certeza que é. Não quero ver você mais na minha rente! Subiu as escadas rapidamente, r apidamente, Guilherme cou parado, as lágrimas teimavam em cair, desceu os degraus e sentou-se em uma das mesinhas da lanchonete com a cabeça baixa. Pediu um suco de morango e cou olhando para ora da janela. Havia um cipreste alto que, balançado pelo vento, dava a impressão de estar acenando tristemente. Lá ora, no pátio, havia um grupinho de meninas que olhavam para Guilherme; ele, meio sem jeito, deu um sorriso e abaixou novamente a cabeça; estava escutando uma música e pensava em Marina, ela tinha dito que não queria mais vê-lo e isso o deixou muito chateado. Levantou a cabeça e tomou um gole do suco. Viu-a chegar e sentar numa mesinha distante, estava com os olhos vermelhos e chorava sem parar. Em menos de dez minutos desceu Nicky e oi direto alar com ela, conversaram um pouco e Guilherme ouviu quando Marina disse que estava arrependida. Depois disso, Nicky veio ao encontro de Guilherme. — E aí, Mona? O que aconteceu? Por que você ez aquilo com a Marina? 43
Minha Amada Mona Lisa
— Nicky, eu já pedi desculpas e ela disse que não queria mais me ver, me deixou alando sozinho na escada. Eu não sei o que está acontecendo comigo, cara, eu não sei! — Bom, chegue lá e ale com ela. Olhe lá, ela se levantou e está indo embora. — Não saia daqui, Nicky! Eu já volto. Saiu correndo, Marina de costas passava a mão pelo cabelo. Guilherme chegou por trás e a segurou pela cintura, colocou a boca no ouvido dela e sussurrou: — Não aça isso comigo, por avor! Marina parou no mesmo instante, inst ante, cou assim o quanto pode, queria ser orte e não dar o braço a torcer, mas gostava tanto dele que não agüentou e virou-se de rente. Guilherme a abraçou com toda a doçura do mundo, acariciou seu rosto, seus cabelos, sua cintura e a beijou suavemente, um beijo demorado, arrependido. Marina abraçou-o com orça, uma onda de sentimentos invadiu sua cabeça, mas ela não se importou, estava com Guilherme e nada mais interessava. Lá ora, o tempo echava-se e uma chuva na e triste começava a cair naquele momento. Guilherme e Marina caram por algum tempo abraçados, olhando a chuva cair e, então, retornaram para a mesa onde Nicky os esperava, sorridente.
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XV
Sbalançava ábado chuvoso. O vento batia nas olhas das árvores e as reneticamente. Guilherme acordou e notou que dormira com a janela aberta. Viu uma olha da árvore cair, o vento soou orte e aí a chuva apertou. Tinha combinado com Nicky, Roger, Artur e Pedro de irem ao clube, mas, com aquele tempo, nenhum dos quatro iria sair de casa. Conhecia-os muito bem e sabia que eles curtiriam mais um bom lme alugado embaixo das cobertas do que irem para o shopping, em último caso. Aliás, odiavam shopping. Virou-se para o outro lado da cama. O teleone tocou. — Droga! — disse Guilherme pegando o one. — Alô? — Oi, Mona? — Sim? — Puxa, cara, que voz de sono! Vamos Vamos ao shopping? — Shopping? Uma hora dessas? Tá brincando?! Nem me levantei da cama ainda, meu... Tô ora! E outra coisa: odiamos shopping, o que aremos lá? 4
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— Não, o que é isso? Tá cando rouxo? Vamos Vamos passar aí na sua casa, todos nós, nossa galera de sempre. Está chovendo mesmo, então qual o problema de azermos um programa não muito agradável? Podemos ir ao cinema, depois comer alguma coisa, jogar boliche... enm, podemos azer um monte de coisas. O shopping tem suas vantagens... — Não é questão de passar em casa. O ato é que eu não estou a m de passear. p assear. Quero car em casa. — Ou será que oi a Marina que o proibiu de sair s air com os amigos? — Escute aqui, cara, minha namorada não interere em nada! Não quero ir e pronto, tudo bem? — Tudo bem. Iremos às sete horas da noite. É só para dar uma olhada, comer alguma coisa e voltar. Quero ver o que está passando no cinema também. Please, Mona Lisa, Por alar em Mona Lisa, como vai a banda, Gui? please. Por — Muitíssimo bem. Cada dia que passa é um dia de vitória para mim. — Que bom, cara, e aí? Vai ou não? — Tudo Tudo bem, vocês venceram... vou. — Sete, então? — Ok. Desligou o teleone e pulou da d a cama. — O sossego acabou! Entrou no banheiro e ez o ritual de sempre, tomou banho e saiu. Colocou um conjunto de moletom azul-marinho e cinza, desceu as escadas e oi tomar caé. Comeu bem e oi até a sala, ligou a TV e começou a assistir um seriado inantil. — O que o ez pular da cama tão cedo numa manhã chuvosa de sábado? — era Sarah entrando na sala. — Falta de sono! — disse ele com um sorriso nos lábios. — Já tomei meu caé. — É, vejo que você me deixou d eixou para trás — disse Sarah indo para a cozinha. 4
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Guilherme desligou a TV e subiu para o quarto. Sentou-se na cama, com o olhar xo na porta, e cou pensando. Por que co pensando em Mona Lisa? Acho que estou me apaixonado por ela, estou cando louco por ela, não paro de pensar nela. Meu Deus, como é ruim gostar de alguém... Nunca pensei que eu pudesse um dia gostar de um quadro, o que minha mãe vai pensar de mim quando souber? E o meu pai? Não quero nem pensar! Por mais orça que Guilherme zesse, volta e meia o pensamento retornava, era uma gozação. Foi até a janela e cou olhando para ora. A chuva havia passado, mas o rio continuava. Pegou Pegou a chave do portão e desceu. Abriu o portão e oi andar um pouco na rua; encontrou Nicky no portão da casa dele. — Aonde vamos, Mona, de moletom e chinelo? — Andar um pouco, vamos? — Claro. Andaram lado a lado conversando, entraram em uma lanchonete no nal da rua, sentaram em uma mesinha e pediram dois mistos-quentes mistos-quentes e sucos de morango. Conversavam animados e riam alto. — Poxa, meu — disse Nicky olhando para ora or a —, que tempinho chato! Não dá nem para andar de patins, pois toda hora chove. — Dá, sim, cara, olha para o céu, está começando a clarear, quer dizer que o tempo vai melhorar. — Se melhorar, vamos amanhã ao clube. — Estarei lá! — Vai ao shopping? — Fazer o quê? Quem passa na casa de quem? — Nós passamos na sua. — Ótimo. — Por avor, mais um misto? — Para mim também. 4
XVI
D eitado na cama, Guilherme lembrava do shopping. Fazia tempo que não ia lá e hoje tinha sido legal. Ele havia se divertido bastante com os amigos e conhecido várias garotas. Mas o que isto tinha a ver se ele já tinha a dele? Adormeceu logo. Acordou de manhã bem cedo com buzinas, sirenes de ambulância, choro de criança, gritos desesperados e bater de portas. Abriu a janela do quarto e olhou para a rua. Havia um aglomerado de pessoas em rente sua casa. Em poucos minutos, com uma rápida passada de olhos reconstruiu a cena inteira. Havia um skate jogado na guia e o corpo de um menino estava na rua, perto de um carro. A mãe estava chorando desesperada. Pensou logo: a criança estivera andando de skate na rua, não viu o carro e oi atropelada. Guilherme echou a janela e deitou-se na cama; estava com pena daquela senhora e principalmente do menino. Ele morava na casa em rente à sua, tinha nove anos e chamava-se 4
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Marcelo. Ficou pensando nisso por algum tempo e, de repente, tudo começou a car embaçado, trêmulo, escuro, seus olhos oram se echando e ele adormeceu. Acordou com o teleone tocando. — E aí Mona? Vamos à praia? — Praia? — Isso, Ilhabela! — Puxa, Ilhabela é legal... — E aí? Topa? Já alugamos a casa. Vamos eu, o Pedro, Roger, Artur e você. Desta vez queremos uma praia dierente, chega de irmos sempre para as praias em que temos casa. VaVamos inovar, azer uma coisa nova, nós mesmos alugarmos uma casa e ver o que acontece. É sempre bom mudar um pouquinho... — Opa, claro que sim, quando vamos? — Que tal t al na quarta-eira? — Quarta? Não seria melhor na quinta à noite? — Quinta? — É melhor. — Tudo bem, quinta, então! Desceu as escadas euórico, encontrou-se com Sarah na cozinha. — Bom dia, mãe! — Bom dia, Gui. Já de pé, tão cedo? — Pois é, mãe, vou à praia com o Nicky e os outros na quinta à noite. — Quinta? Vão em quantos? — Cinco, já temos a casa alugada. Tudo já está certo. — Que bom, Gui. E voltam vo ltam quando? — Segunda, por causa das aulas... — Por Por causa das aulas ou por causa da Marina? — Pelos dois motivos. — Com licença, dona Sarah. Bom dia, Guilherme, teleone para você. É a Marina. 4
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Guilherme saiu correndo, atendeu ainda com a boca cheia, estava surpreso, pois Marina não era de ligar para sua casa, ainda mais de manhã tão cedo. — Gui, por que não me disse que vai à praia com os meninos? Guilherme engoliu o pão com rapidez. — Bom dia, Marina. Eu não a avisei nada porque o Nicky me ligou agora e acabamos de combinar. Ele queria ir na quarta-eira, mas pedi para ir na quinta e ele achou tudo bem. — Mas, Gui, como você v ocê combina uma coisa sem antes me avisar? Assim que ele alasse com você, tinha que ter me ligado e me avisado. Poxa, não deixar que o Roger me avisasse... é chato isso. — Marina, ele me ligou, desci para o caé e estava dizendo isso para a minha mãe, aí você ligou; não deu tempo de avisá-la. — Não é questão de tempo, é questão de consideração comigo, Gui. — Eu ia avisá-la na sala. — Não é o certo! — Tudo bem, me desculpe, não cairei em outra, tá? — Tudo bem. E quando voltam? — Se quiser, eu não vou. — Não, Gui, nem pensar. p ensar. Não quero proibi-lo de nada, nem ser mandona. Só quero que você me avise antes quan quando do or viajar e de preerência me leve junto. Já estou cansada de ser trocada pelos seus amigos; você não sai comigo, sai mais com eles... e não sei se sabe, mulher leva em consideração os detalhes... então, por avor, não se esqueça de mim da próxima vez, pois para ter um namorado assim é mais ácil não ter, pois, independente de ter ou não, eu estou sempre sozinha mesmo. 0
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— Não que assim. Já lhe pedi desculpas e disse que não arei isso novamente. Eu prometo que arei o que me pede, e assim que chegar, na segunda-eira, irei direto para sua casa. — Tá bom. Vai hoje à aculdade? — Vou. — Então tá, nos encontramos lá. Tchau. — Tchau, Marina, um beijo. — O quê? — Um beijo. — Ah... outro.
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XVII
—
O—Mona está? Já vou, querem entrar?
— Não precisa não, obrigado. Da janela Guilherme gritou: — Entrem, estou acabando. Entraram e se sentaram no soá. Benedita serviu iogurte e bolacha para eles e se retirou. Guilherme desceu as escadas com duas malas de viagem. Ele estava est ava de calças jeans escura, tênis, camiseta branca e o cabelo estava preso. — Ih, o que aconteceu, Nicky? Cortou o cabelo? — É, tenho que car mais bonito... — Vamos, então? — maniestou-se Guilherme pegando uma bolacha. — Não agüento mais. Sarah apareceu na sala. — Tchau, mãe — disse Guilherme dando-lhe um beijo no rosto. — Tchau, Benê. — Tchau, Gui. Saíram bagunçando e, ao passarem pela porta, port a, derrubaram o one do gancho. — Esses meninos... 2
XVIII
Scincoexta-eira ensolarada, duas horas da tarde e já estavam os na praia, de bermudas, chinelos e sem camisas. Guilherme oi o primeiro a mergulhar, jogou-se na água acompanhado de Nicky e logo depois Pedro, Pedro, Artur e por último, como sempre, Roger, o mais bagunceiro da turma. Ele mais parecia um bobo da corte com o chapéu que estava usando. Voltaram para casa amintos, e ninguém sabia cozinhar. — Quem az o rango? — disse Nicky olhando para os outros. — Estou com muita ome. — Bem — disse Guilherme —, sei azer salada de tomates, arroz e ritar bie, tá bom? — Tá ótimo, Mona, pode ir para a cozinha. Vou comprar os bies, pois esqueci em casa os que traria. — Ótimo, vou azendo o arroz! À noite, depois do banho e do jantar, se arrumaram, pegaram o carro e saíram. Chegaram de madrugada e oram dormir.. A casa era pequena, dois cômodos apenas; na hora de dormir de 3
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alugar, como ora de última hora, só sobrara aquela. Dormiram três na cama de casal e dois no chão; até os colchões esqueceram de levar, e agora teriam que dormir amontoados. As quatro noites que passaram assim, se revezando, oram até hilárias, mas Guilherme não parava de pensar no quadro de Mona Lisa. Não contara nada aos amigos; só o Nicky sabia; os outros certamente não entenderiam e acabariam rindo da cara dele, já que eram tão bagunceiros... bagunceiros... Esorçou-se o máximo para parecer bastante alante e disposto, mas no undo pensava em Gioconda. Pensava em Marina também, mas como se ela osse uma amiga e não sua namorada. Fazia orça para não se lembrar do quadro, mas era tudo em vão. Por mais orça que zesse, a imagem sempre voltava. Via-se no museu, depois o quadro de Gioconda, lembrava-se de seu tratamento com o psicólogo e achava tudo aquilo muito estranho. O que mais achava estranho era como o quadro tinha um poder tão grande de azer com que ele se sentisse tão desgastado daquele jeito. Nem o doutor Raul sabia explicar o que acontecera com Guilherme, tinha sido uma coisa repentina e ao mesmo tempo extraordinária. Assim que Guilherme chegou em casa, ligou para Marina para não ter a surpresa de receber um outro teleonema bronqueado. Deitou-se na cama e echou os olhos, ligou o som e cou escutando música. Pensava em Mona Lisa, na música e na homenagem que havia eito a ela. Sentia-se tão bem cantando a música. Quando estava triste, tris te, bravo, chateado ou até mesmo muito eliz, cantava ou se contentava revendo-a nos pensamentos, e isso o deixava novo em olha. Com muito custo, Sarah conseguiu entrar no quarto de Guilherme, espantou-se ao abrir a porta e ver tantos livros 4
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de biograa da Mona Lisa. Eram duas pilhas com uns seis livros mais ou menos cada uma. Havia pelas paredes otos espalhadas, otos de diversos tamanhos, desde a menor até a maior, de diversos ângulos, um absurdo, uma coisa hiperbólica. Sarah sentou-se na beira da cama com um copo de suco de laranja e duas pêras; Guilherme nem a viu chegar e muito menos sair. Ele estava muito cansado e ela não queria acordá-lo. Saiu e echou a porta atrás de si.
XIX
Som Asbaixo,meinhas luz apagada, tênis jogado nos pés do soá. brancas, estampadinhas de borboletas azuis, estavam parcialmente ora dos pés, o cabelo estava est ava preso em um rabo-de-cavalo todo solto e a camiseta estava jogada por cima do short; uma cena um tanto desleixada, mas era assim que Marina preeria car em casa, bem à vontade, sem nada que a atrapalhasse. Enquanto ouvia música, pensava em Guilherme. Como será que ele havia se comportado na praia longe dela? Conhecera muitas garotas? Ficara com alguma? Não, não e não. Guilherme não era desses tipinhos que namoram uma aqui, cam com outra ali, conhecem outra lá e assim por diante. Não, ele era muitíssimo dierente, era educado, inteligente, atencioso, romântico, bonito e, o melhor de tudo, era seu namorado e de mais ninguém. O que será que ele estaria azendo naquele instante? Será que pensando nela como ela estava est ava pensando nele? Não, os homens são dierentes de nós, mulheres; eles gostam, mas
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de um jeito dierente, precisam sempre dar uma olhadinha para os lados de vez em quando, coisa que nós não azemos. Não gostam que usemos roupas curtas, mas adoram olhar para as que usam. Não gostam de ser românticos a ponto de nos enviarem fores como esperamos receber, nem nos escreverem cartas, como adoramos azer... Os homens são todos iguais e depois dizem que nós é que somos, pode? Nunca nos compreendem quando estamos irritadas, irrit adas, e acham que a TPM é rescura de mulh mulher. er. Se eles soubessem... Mas é claro que ele estaria pensando nela, anal de contas ela era sua namorada e ambos se gostavam, então não havia possibilidade de ele pensar em outra. Sorriu sozinha do seu próprio pensamento, levantou-se e oi até a janela da sala e olhou: o tempo mostrava claramente que logo uma chuva impetuosa iria cair sobre a terra. Deu de ombros, anal de contas não iria hoje à aculdade. O Guilherme até poderia ir, mas ela não. Se ele quisesse vê-la, que passasse depois da aula, oras. Saiu da janela e, encaminhando-se até a cozinha, tomou um copo de leite, colocou o copo dentro da pia e subiu para seu quarto.
XX
D eitado na cama, Guilherme estava est ava só de bermu bermuda. da. Aquela manhã estava abaada, olhou para a janela e viu que logo cairia
uma chuva daquelas. Pensou em não ir à aculdade; depois pensou bem e resolveu ir. Não estava pensando em nada naquele momento, até que olhou para uma das otos e começou a pensar nela. Sorriu para a oto, era impossível acreditar que ele, Guilherme, estava apaixonado por uma pintura de mais de cinco séculos atrás, isso era extraordinário e ao mesmo tempo absurdo. Onde já se viu uma pessoa normal gostar de um quadro? De uma pessoa que já morreu há tanto tempo e a qual nunca mais ele iria ver? Bem, nunca viu, nem veria. Isso era monstruoso e ao mesmo tempo engraçado. Mas ele não azia isso por quere querer;r; por mais que tentasse, não conseguia esquecêla. Marina quase não azia mais parte do seu mundo. Gostava demais de car com ela, de abraçá-la, de poder conversar com ela, coisas que com Mona Lisa eram impossíveis. Para ele, Mona Lisa era como uma namorada que ele tivera no passado, mas que até hoje continuava viva em seus pensamentos. Era isso: ela não era apenas uma pintura e sim uma pessoa como as outras. Para ele, Mona Lisa era Marina.
XXI
E stava em um lugar deserto. A lua estava cheia e o céu estrelado. Nenhum vestígio de vida no mar, apenas as ondas, os barcos à vela, o cais, as rochas, a areia solta solt a da praia e a linha do horizonte. Lá longe, com sua luz vermelha, o arol brilhava no meio do mar, que, àquela àquela hora, estava est ava calmo e o vento soprava sobre seus cabelos e acariciava suavemente seu rosto e suas pernas; seus braços estavam soltos. Estava sentado na areia apenas de bermuda e camiseta; camiseta; com os pés descalços, o cabelo solto, ele contemplava o céu, o luar, as estrelas, o mar, enm, toda aquela imensidão. De repente, o mar cou revolto, suas ondas tornaramse gigantescas e se quebravam ruidosas nas rochas. Guilherme cou assustado e quis levantar-se para ir embora, mas suas pernas não obedeciam e ele continuou ali sentado, só prestando atenção ao que aconteceria a seguir. seguir. Lá no undo, na linha do horizonte, viu um peixe p eixe grande pulando. Ficou estarrecido est arrecido com o que via. O peixe pulava
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de um lado para o outro e mergulhava no mar. Numa espécie de brincadeira, cou azendo isso por um bom tempo e Guilherme continuava ali paralisado, olhando para aquele peixe gigantesco que mergulhou e não apareceu mais. Ele cou chateado, estava gostando de car ali parado na praia vendo aquele peixe pular com tanta pereição e sem se cansar. Continuava ali na areia, quando na margem algo começou a se mexer. — O peixe! — exclamou Guilherme. — Deve ser um golnho que veio até a margem brincar comigo. Começou a levantar-se para chegar até perto da margem, quando viu emergir do mar uma sereia: da cintura para cima era uma linda mulher, da cintura para baixo era uma cauda enorme de peixe. Mas não era uma cauda normal, era dierente de cauda de baleia, por exemplo. Ela era esverdeada, com uns refexos avermelhados atrás dela; d ela; da cintura para baixo, igual a uma linha que chegava até o rabo, havia pêlo... p êlo... Não, não era pêlo, era cabelo, da mesma cor dos cabelos de sua cabeça, castanho-escuros e lisos. Não era uma sereia comum, dessas que se costuma ler nas estórias de olclore. Ela tinha asas, lindas asas cintilantes e leves, não muito grandes, eram pequenas e delicadas, mas verdadeiras asas de... ada? Algo estava acontecendo de anormal, pois até pouco tempo atrás ela não tinha asas... Seu rosto era semelhante a de alguém que conhecia, mas não sabia quem. Seus olhos eram enigmáticos, xos e perurantes, mas eram tristes, sua boca não estava com um sorriso, mas também não estava séria, cava no meio-termo..., mas parecia que ela estava mais triste. Ela começou a acenar para Guilherme e a cantar uma música suave e encantadora. No meio da canção, ela o chamava: — Venha! — dizia ela como uma súplica. — Venha! — sua voz era muito distante, parecia um eco que se perdia no meio do rugir do mar. 0
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Guilherme esregou os olhos e ela continuou chamando-o: — Venha... venha... Guilherme notou suas mãos; eram nas e delicadas como as mãos de Mona Lisa. Era isso, aquela sereia sereia era Mona Lisa, bem que ele notara not ara desde o começo que conhecia conhecia aqueles olhos e aquele sorriso sinistros. Guilherme deu um sorriso para ela e levantou-se; ela se aastou um pouco, quase nada e olhava assustada assust ada para ele. — Não precisa car com medo, meu amor! — disse ele. — Quero ser seu amigo, não irei machucá-la. Ela sorriu e continuou meio aastada. Guilherme viu com horror que seus dentes caninos eram muito compridos e pontudos, iguais aos de um vampiro. Olhou novamente para suas mãos e viu que seus dedos eram compridos e nos, suas unhas eram enormes e pintadas de vermelho; olhou bem e reparou que não era esmalte, era sangue. A sereia estava olhando para Guilherme e, percebendo que ele notara sangue em suas unhas, echou a cara, seus olhos caram transparentes na hora, mostrando apenas o branco e preto da pupila. Começou a bater sua cauda na água com orça, suas asas abriram-se gigantescas e negras e da sua boca saiu um grito no e estridente. Os olhos de Guilherme encheram-se de lágrimas e ele gritou: — Não vá embora, meu amor! Por avor, volte. Eu preciso de você! Ela mergulhou nas proundas águas escuras do mar e oi embora; ele continuou parado no meio da praia olhando para a água com um desejo enorme de que ela surgisse novamente, mas oi em vão. Lá, ao longe, no horizonte, ela apareceu de novo linda e majestosa como uma sereia normal, sem asas, pulando e parou, olhou para a direção de Guilherme, sentou-se em uma rocha, acenou tristemente para ele, mergulhou na água e oi 1
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embora. Via-se apenas sua cauda encurvada, ora para cima, ora para baixo até car minúscula e sumir nas águas proundas, indo para o seu mundo submarino. Guilherme, parado sem saber o que azer, gritou com toda a orça de seus pulmões: — Volte, Mona Lisa, volte, por avor! Não me deixe assim... não posso viver sem você. Volte Volte para mim, por avor... Volte aqui, meu amor... Esperou muitos minutos, minutos, horas a o e nada aconteceu. Jogou-se no chão e começou a chorar. Justo agora que ele a tinha tão perto, tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Não negou que cou com horror só de ver a simples aparição dela naquela orma estranha e diabólica, mas não deixava de ser ela ali, tão perto, tão ao alcance das mãos que podia jurar sentir a textura macia de sua pele quente e envolvente. Continuou deitado na areia, virou-se de costas e olhou para o céu. Levantando-se, saiu correndo na direção do mar, com os braços abertos. Enquanto corria, ouviu uma voz que o chamava e sentiu uma mão pressionando-o pelo ombro. — Vamos, Mona, perdeu a hora? — Nicky? O que você está azendo aqui? — Nós não íamos sair? Vim buscá-lo e sua mãe disse que estava dormindo; aí resolvi acordá-lo. Nossa, seu sonho devia estar est ar muito bom, pois az tempo que estou chamando e só agora você acordou. Estava sonhando com a Marina? — Sabe que nem me lembro? Foi tudo tão rápido... me desculpe cara, eu só vou tomar um banho e já sairemos, ok? — Tudo bem, mas que você se lembra do seu sonho e não quer me contar..., isso se lembra. — Tá legal, Nicky, eu estava sonhando com uma mulher, sim, mas não era a Marina, e agora deixe-me tomar meu banho sossegado. — Tá bom, tá bom. Pronto, não se ala mais nisso. Guilherme saltou da cama e saiu correndo para o banheiro. 2
XXII
T udo estava marcado, tudo estava pronto. Não podiam cometer nenhum deslize ou tudo iria por água abaixo. Um ronco de carro parou em rente à casa velha. A construção cava em um terreno baldio; suas paredes estavam esburacadas e metade do muro em ruínas. Na rente da casa havia um poço seco. Dentro dela, uma escada interminável em caracol dava para um pátio escuro, com algumas mesas distribuídas, como se osse um reeitório. Na parede havia um armário embutido cuja nalidade era uma passagem secreta, por onde, andando um pouco encurvado, saía naquele poço em rente à casa. Estava lá no poço, no lugar onde sempre se escondia. Ele encontrara aquele esconderijo por acaso, num dia, quando criança, em que brincava de esconde-esconde com os amigos dentro da casa velha. Nesse dia, um deles havia entrado no armário, cedendo para a passagem. Dali em diante, qualquer qualquer reunião que que aziam era sempre naquele poço seco. Ouviu alguns passos, o barulho do armário cedendo para a passagem e nalmente ele apareceu. 3
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— Tudo pronto! A excursão para o museu será na próxima semana, na terça-eira. — Bom garoto! Ele vai? — É claro! Fique Fiqueii sabendo por cima que que ele está vidrado; vai dar tudo certo. — Que bom, cara! Ninguém vai desconar de d e nada. — Tenho certeza, concordo com você!
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XXIII
R
— ápido, Guilherme, o Roger está lá embaixo esperando por você. Não demore! — Já estou indo, mãe! — Tá, não demore! Guilherme colocou uma calça de moletom preta, blusa branca, chinelo, prendeu o cabelo e desceu as escadas. — E aí, cara? Tudo legal? — Opa, Mona, tudo em cima. Como você está se sentindo? Já melhorou? — Melhorou do quê? — Você não estava indo em um psiquiatra? — Como você cou sabendo? — Ora, eu sei de tudo. Já se esqueceu? Fiquei Fiquei sabendo que você estava se tratando, só isso. Aí resolvi perguntar. — Bem, estou me tratando sim, mas é um assunto delicado. Quando chegar o momento apropriado eu lhe alo, ok?
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— Claro. Bom, quei sabendo também t ambém que a sua musa inspiradora oi Mona Lisa, aquela pintura amosa. Bem, até que para uma banda de rock Mona Lisa não cou eio, pegou legal! — Você achou? Quanta gentileza a sua, Roger. Percebi que hoje você quer investigar bastante, acertei? O que mais você quer saber?
XXIV
N a manhã seguinte, Guilherme levantou-se e oi até a janela. O tempo havia mudado, azia um sol quente e o céu estava azul. Olhou para o anel e viu que estava violeta, sinal de que ele estava est ava calmo. Aspirou undo o ar matinal. Fazendo Fazendo isso todos os dias, ele se sentia muito bem. Ficou mais um pouco na janela e viu Nicky passar correndo. — E aí Mona? Tudo legal? — Tudo, Nicky. — Ok, depois eu passo aí! — Tudo bem. Saiu da janela jan ela e ligou o rádio. Foi Foi até o banheiro e ez e z a barba. Desceu para o caé e sentou-se na sala. Ligou a televisão e começou a assistir. Benedita apareceu na porta port a e trouxelhe um sanduíche. — Bom dia, Guilherme. — Bom dia, Benê, e a mãe? — Saiu com o Sr. Walter. — Faz tempo?
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— Uma meia hora, mais ou menos. — Ah, obrigado, Benê. Olha, se ligarem e perguntarem por mim, diga que não estou. — Até se or a Marina? — Ela não, nem o Nicky e o Fael; para os outros, diga que não estou. — Tudo bem. — Obrigado, Benê. Benedita se retirou da sala. Guilherme comia o sanduíche e assistia a TV. O calor era grande e ele estava de bermuda, camiseta e chinelo. A janela estava aberta. Ficou assim o dia todo. Lá pelas quatro da tarde, o teleone tocou. — Gui, é a Marina. — Marina? O que oi? — Nada não, Gui, é que não é para você passar em casa hoje, vou sair. — Ontem, não era para eu passar aí, quinta também não, terça também não, e hoje, que é sábado, também não? Algum problema? — Oh, Gui, não dá! — Tudo bem, Marina, não vou passar. Tchau! Desligou o teleone e cou pensativo. O que será que estaria acontecendo? Subiu as escadas e tomou banho. Colocou bermuda preta, camiseta branca e tênis. Desceu correndo as escadas. — Onde vai, Gui? — Na casa da Marina. — Mas ela não alou para não passar lá? — Falou, mas é por isso que vou passar. Desde terça que não posso ir lá. Ela liga e sempre tem algo mais importanimport ante para azer do que me ver. Vou até lá vericar o que está acontecendo, o que ela está azendo! — Ai, Guilherme, já vai começar?
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— Benê, ela é minha namorada. Tudo o que eu aço, ela me obriga a contar e eu conto. Agora, por que ela não quer me contar? Vou ver se está havendo algo. Ela nunca ez isso antes, não vai continuar azendo e muito menos começar a azer, senão acabo com tudo. Não gosto mesmo dela, gosto é de Mona Lisa, entendeu? — Você tem que parar para pensar, ela pode estar azendo isso porque você pode ter mudado. Você tem tempo para ela? Ou você só tem tempo para a banda e Mona Lisa? Você V ocê cuida dela? Escreve Escrev e cartas? Manda fores? Liga? ApareAp arece de surpresa? Tem sempre passeios divertidos e dierentes? Sempre está ao lado dela quando ela precisa? As mulheres, Gui, são dierentes, gostam de homens românticos, ro mânticos, galanteadores, sensíveis... Para elas, o importante são os detalhes. Os detalhes azem toda a dierença. Pare para pensar, refetir... será que você está dando valor para aquilo que recebeu nas mãos? Está dando o real valor? Você já a viu com outra pessoa? Atendendo a outros rapazes ao teleone? Saindo com amigos? Viajando e deixando-o para trás, como você costuma azer com ela? Pense, não me ale nada, só pense e aça o que achar que é o certo! Guilherme escutou tudo e não disse uma palavra. Saiu urioso, bateu a porta e pegou a moto. Benedita apareceu na porta afita: — Não corra, Gui, pelo amor de Deus! — Pode deixar, Benê, vou bem calminho. Não vou azer nada de que possa me arrepender depois! Colocou o capacete vermelho, montou em sua moto e lá se oi. Quando chegou à esquina da rua de Marina, viu um carro branco na porta da casa dela. Ficou parado, desligou a moto, mas continuou montado nela. Viu um cara descer do carro e cumprimentá-la, estavam de mãos dadas, quando Guilherme parou na rente dos dois.
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— Oi, Marina, não vai me apresentar apresent ar seu novo amigo? Marina cou vermelha de vergonha, soltou as mãos rapidamente e cou olhando para Guilherme. — É por isso que você me ligou desde desd e terça-eira pedinpedindo para eu não vir até aqui? Mas, agora, parece que você está muitoo contente com seu novo amigo... Às vezes, até alou para muit ele que não tem namorado. Se você alou isso, prazer, sou Guilherme, ex-namorado dela! — disse Gui estendendo a mão ao rapaz. — Acho que não temos mais nada para conversar, Marina. Mari na. Talvez Talvez seu novo nov o amigo queira queira saber alguma a lguma coisa depois disso, não sei. Se ele or cauteloso, irá ter uma conversinha com você. Tchau, caro amigo. E Marina, por avor, não ligue mais lá para casa não, tá? E não encha o Nicky com suas estórias sentimentais... Vou dar a boa-nova para ele agora, como você me ensinou, lembra? Desculpe o incidente, mas oi necessário! Guilherme ez a volta com a moto e, quando passou por eles, buzinou. Chegou em casa, abriu o portão num arranco. BenediBenedita, na varanda, estava est ava com as mãos cruzadas, do mesmo jeito, desde quando ele saiu apressado; até parecia estar petricada. Guilherme estacionou a moto, pegou o capacete e entrou. Subiu as escadas, abriu a porta port a do quarto, jogou o capacete no canto e sentou-se na cama. Ficou pensando por um bom tempo. Não queria se apaixonar por Mona Lisa, mas se apaixonou. Não pediu para conhecer Marina, mas acabou conhecendo. Não pediu para nascer, mas nasceu. Não pediu para Mona Lisa morrer, mas morreu. Agora não pedia e sim suplicava para esquecer Marina e não conseguia. Ela, com aquele jeitinho jeitinho meigo e carinhoso, o havia conquistado de tal t al maneira que agora cava diícil esquecê-la. Por que ela ez isso? Tudo bem, ele podia ter eito alguma coisa errada desde o começo, como estar apaixonado por outra, mas era por uma morta! Por um quadro! Ele sempre 0
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ez de tudo para ser sincero com Marina, mas ela não tinha jeito de que o trairia nunca, mas as aparências enganam. O jeito como ela o tratava trat ava era dierente, sempre atenciosa, sempre meiga, sempre alegre. Nunca se deixava abater, e agora quem estava abatido era ele. Uma leve batida à porta ez com que ele despertasse de seus pensamentos. — Quem é? — disse Guilherme passando as mãos pelos cabelos. — Sou eu, Gui, a Benê! — Pode entrar. Benedita entrou com uma bandeja cheia de chocolates e rutas e colocou na cabeceira de Guilherme. Parou na rente dele e disse: — O que você tem, Gui? Foi à casa dela? — Fui, Benê. Não queria contar para ninguém, mas, como desde pequeno sempre contei tudo a você, não será desta vez que não arei isso, certo? — Então comece, comec e, meu lho, estou es tou muito curiosa. curios a. Você Você chegou muito nervoso. O que houve? Brigaram? — Antes osse isso, Benê, oi muito pior. — Anda logo, Gui. O que aconteceu? — Fiquei parado na esquina. — Sei. — E aí vi um carro branco parado na rente da casa dela. — E daí? — Daí ui até lá e vi que ela estava de mãos dadas com o cara, conversando. Assim que cheguei perto, ela soltou as mãos dele e cou vermelha. Falei algumas coisas que ela precisava escutar e vim embora. Eu nunca esperaria isso dela, Benê, oi horrível! — Calma, Gui! Você pode ter conundido as coisas. 1
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— Não sei, Benê, acho que que não. Sabe, gostaria gost aria de car um pouco sozinho, posso? — Como quiser, Gui, com licença! Guilherme levantou-se da cama e oi até o guarda-roupa. Colocou um macacão jeans bem largo. Em uma das prateleiras de dentro do guarda-roupa estava a oto de Marina. Guilherme pegou a oto com todo carinho e passou a mão pela oto. Seus olhos se encheram de água e aí ele leu a dedicatória: “... com todo amor e carinho, Marina”. Recolocou a otograa no lugar de onde havia tirado e sentou-se na cama. Benedita bateu novamente à porta: port a: — Guilherme, tem um carro aí ora, é um dos seus amigos que está chamando. — Obrigado, Benê. Desceu as escadas, abriu a porta da sala e da varanda avistou um carro branco. Do carro desceu o mesmo cara que estava com Marina. Guilherme já echou a cara, abriu o portão e saiu. Parou na rente do cara. — É você que é o Guilherme? — Sim — disse Guilherme secamente. — O que você quer? — Calma... Você entendeu tudo errado a respeito da Marina. — Errado? Como? Eu vi com os meus próprios olhos que ela estava de mãos dadas com você, eu não sou cego! — Não. Não vamos misturar as coisas, certo? Deixe eu me apresentar. Sou Luciano, primo da Marina. Na hora em que você chegou, ela estava me alando justamente de você. — E as mãos dadas? — Calma. Então, como eu dizia, eu não moro aqui, moro no Guarujá. Eu vim visitar minha tia e a estava est ava cumprimentando, quando você chegou tão repentinamente e oi embora, que não deu tempo nem de lhe explicar. 2
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Guilherme estava pensando. Realmente, se ele estivesse cando com ela, não viria atrás dele para justicar nada. Simplesmente continuariam continuariam cando ou iria embora. — Guilherme, a Marina, na hora em que você saiu, entrou em casa chorando. Está com os olhos inchados. Com muitoo custo, consegui pegar seu endereço da agenda dela. E, muit então, o que você diz? Vai lá conversar com ela? — Claro, mas vou trocar de roupa! — disse Guilherme, animado. — Que nada cara, tá bom demais assim. — Será? — Claro, entre aí logo. — E se ela não quiser me atender depois d epois disso tudo que z? — Diícil. O que ela mais quer é alar com você. — Então vamos, não quero perder tempo. Saíram logo em seguida.
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XXV
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G—uilherme, posso alar com você? Claro, pai, o que é?
— Sabe, não sei, mas suponho que você não esteja indo mais ao psicólogo! Guilherme cou quieto, não sabia o que responder. — Vamos, Guilherme — disse Walter sentando-se na rente dele —, estou esperando sua desculpa. — Não estou indo mais! — Sim, eu sei. E? — Porque não vejo motivos para continuar indo. Por que, já que que estou gostando gost ando de um quadro, tenho que começar a me tratar com psicólogo? Por que todos os dias tenho que chegar àquele consultório, me deitar naquele divã e car descrevendo o que z durante o dia? Descrevendo o meu dia anterior? anterio r? Tenho Tenho que car conta con tando ndo o que z e o que deixei de azer? Por quê? Acho tudo isso pura perda de tempo. Não quero mais ir lá, é horrível! Walter cou pensativo. 4
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— Sabe, Guilherme, certa vez, um homem começou a gostar de uma mulher que estava em uma revista. Ele ez de tudo: entrou em contato com a revista e com muito custo deram-lhe o seu teleone. Ele ligou e, no meio da conversa, a mulher lhe disse que ele era muito bobo, que não era mais para ligar para ela e que se esquecesse dela de uma vez. O que quero lhe dizer com isso é que com você está acontecendo a mesma coisa, por isso o tratamento é necessário. Por exemplo, depois desse teleonema, o homem caiu em prounda depressão e um dia suicidou-se. suicidou-se. Sei que isso não passa por sua cabeça, mas, como pai, tenho o direito de avisá-lo e exigir que prossiga com o tratamento até o nal! — Mas comigo não vai acontecer isso, pai, pois ela oi pintada em 100, ou seja, já morreu há mui muitos tos anos... — Eu sei, mas só de você saber que nunca a terá, vai acabar se tornando um amor impossível, quer dizer, já é um amor impossível! Você Você irá chegar a um ponto em que achará que só a morte irá tirá-lo dessa afição afição e estará completamente complet amente errado. — Pai, há certas providências na vida que devem ser tomadas sem a autorização de ninguém. Basta a pessoa querer e, pronto, já ez o que deu na telha! — E quais são as providências? — São muitas. O casamento é uma delas; ninguém manda em ninguém, obrigando a se casar. Há pessoas que obrigam, essas são chamadas de ignorantes, mas não são todas. O outro exemplo é a prossão, são essas e outras coisas que costumo chamar de “certas providências”. Mas nunca nunca irá passar pela minha cabeça um suicídio, s uicídio, que que tranqüilo! — Eu sei, Guilherme, mas é bom b om você continuar indo ao psicólogo, azer o tratamento, esquecer esse quadro, procurar alguém... E a Marina? — Vai indo!
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— Como assim? Cadê a euoria do começo? Era Marina para cá, era Marina para lá. Vamos, me diga o que aconteceu? — Nada pai, não aconteceu nada. — E quem era o cara do carro branco? br anco? Aquele que que apareceu ontem e disse coisas da Marina? Guilherme sorriu, olhou para o rosto de seu pai, que estava convertido em uma careta engraçada. — Quer dizer que o senhor andou ouvindo? — Não, Gui, quei sabendo pela sua mãe. — Bom, não dá mais para esconder. Terça-eira, ela me ligou dizendo para eu não ir lá, quinta-eira também, sexta e ontem a mesma coisa; aí eu me arrumei e ui lá. Ao chegar, eu a vi com um cara, conversando. Briguei e voltei para casa. Depois, ele veio me explicar que era primo dela e estava cumprimentando-a; e como cheguei rapidamente, compreendi tudo errado. — E os dias que não eram para você ir lá? — Surpresa. No meu aniversário, ela planejou uma estinha... — Coitada, Gui! — Pois é, mas já está tudo bem. — Que bom! — disse Walter levantando-se e caminhando até a porta. po rta. — Vou Vou ver minha princesa...
XXVI
O tempo havia mudado novamente, o céu estava nublado. Uma garoa na começava a cair naquele momento. Guilherme estava de moletom, cabelo molhado e chinelo. Estava ao portão vendo o movimento da rua e estranhou um carro que passava toda hora e alguém que olhava para ele; não dava para ver quem estava dentro do carro, pois os vidros eram escuros. Guilherme entrou e oi se arrumar. Hoje, terça-eira, iriam novamente ao museu para azer a pesquisa. Era um trabalho sobre alguns pintores amosos, dentre eles se destacavam dest acavam Leonardo da Vinci, Michelangelo, Michelangelo, Raael Sanzio, Filippo Brunelleschi, Donatello, Caravaggio e Botticelli. Também iriam procurar sobre Ticiano, Tintoretto (que oi o grande mestre do contraste da luz e sombra), Albrecht Duren e Hans Holbein (que pintou os retratos Erasmo e Henrique VIII). Além disso, iriam pesquisar sobre Pedro Lescot, construtor da achada ocidental do pátio do d o Louvre e da Fonte dos Inocentes, mas isso ele já sabia. Guilherme não via a
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hora de chegar até o museu e poder rever o quadro de sua amada. Não gostava de pensar que ela estava morta, contentava-se em dizer para si mesmo que ela simplesmente dormia, com isso cava um pouco mais animado. Queria ir logo ao museu para ver sua Mona Lisa, rever seus traços e poder analisar minuciosamente cada linha, cor, orma, textura e volume. — Mãe, já vou! — Cuidado, Gui, está levando tudo o que precisa? — Estou. Abriu o portão e pegou p egou o carro. Passou na casa de Nicky e os dois oram para a aculdade. — Oi, galera! — disse Roger se aproximando de Nicky e Guilherme. — Tudo beleza? — Tudo Tudo beleza. A Marina ainda não veio, Guilherme. — Eu sei. — Ih, Mona, o que houve? Você nunca alou assim a respeito da Marina, vocês brigaram? — Não, Roger, só alei que sabia que ela não estava aqui, só isso! — É que você está meio nervoso, o que aconteceu? Briguei com a Benê, ela queria que eu não viesse hoje, não sei por qual motivo; eu disse que viria, então brigamos. Ela disse que estava pressentindo que algo muito ruim iria acontecer, pode? — Poxa, que chato, cara! — É, muito chato, mas quando quando eu voltar, volt ar, vou alar com ela. — É isso aí, Mona. Você Você vai precisar precisa r azer as pazes com c om a Benê. — Que história é essa, Roger? — Nada não, Gui, alei por alar; você não consegue car um minuto longe dela, não é? E aí, vamos lá para o ônibus? — Claro!
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O sol brilhava alto. Guilherme encontrava-se no undo do ônibus juntamente com Nicky e Marina estava em outro. Roger não parava de girar entre os dedos uma pequenina pequenina corrente de metal com um pingente em ormato de círculo que azia um barulho enervante. Todos estavam quietos, talvez pelo tempo quente, talvez por ser muito cedo, ou talvez por perceberem algo no ar. O ônibus em que Guilherme estava passou de raspão pelo ônibus em que Marina estava e os dois olharam-se pela janela. Marina mandou-lhe um beijo e ele, por sua vez, retribuiu. — Roger, pegue aquela mochila para mim? — Está alando comigo, Mona? — Estou, Roger, pegue-a, por avor! Roger parou de girar a correntinha entre dedos e tirou o one do ouvido. — Está aqui! Desculpe, mas é que não escutei bem, sabe, estou com o one... — Obrigado, Roger. O que houve contigo? Estou notando que parece meio irritado esses dias. Algum problema? Roger, percebendo que Guilherme notara algo de estranho nele, resolveu alar de seu problema. — Sabe, Gui, problemas em casa com minha mãe. Mas tudo bem, preciso aprender a conviver com isso, certo? — Certíssimo. Guilherme deu a mochila de Nicky e voltou a olhar para a janela. Naquela manhã, manhã, pensava em tanta t anta coisa. Nada estava bom para ele. Primeiro brigou com a Benê, que não queria que que ele viesse. Mas, por qual motivo? Depois, Marina chegara atrasada tendo que ir em outro ônibus. E, para nalizar tudo, Roger estava com sérios problemas. Virou-se mais ainda para o lado e começou a olhar a paisagem. Viu várias lojas, bares, bazares, praças, percebeu a pressa em cada pessoa, começou a prestar atenção aos seus rostos e notou que a maioria não tinha uma expressão alegre; todos estavam com
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as aces contraídas, aparentando preocupação ou nervosismo. Poucas pessoas se cumprimentavam e se olhavam. Para ele, isso era uma nova surpresa, pois nunca se preocupara em olhar absolutamente para ninguém. Sempre com pressa, ele passava pelos outros quase voando. Sentiu uma mão cutucarlhe o ombro, olhou para trás e deu de cara com Roger. — Mona, não precisa se preocupar não, tá? Isso I sso sempre acontece com ela, logo passa. — Tudo bem! O ônibus parou, os alunos desceram e Guilherme oi encontrar-se com Marina. — Mari, preciso alar com você uma coisa muito importante, não sei como será sua reação, pois é uma coisa muimuito delicada. Não sei como alar e nem por onde começar... — Sobre o que seria, Gui? O que houve? Parece estar tão nervoso! — Não. Eu preciso lhe dizer uma coisinha e você tem que me ajudar. — Pode contar comigo, Gui. — Ai que bom, Mari. Da outra vez que disse isso, você alou que não me ajudaria; quei muito triste, mas agora estou muitíssimo eliz. Não sei o que seria de mim sem você, sinceramente, não sei. — Oh, Gui, ale logo, o que você quer? — Sabe, eu me trato com um psicólogo, eu já lhe disse, não é? — Disse. — Então, eu me trato tr ato com ele porque comigo acontece e está acontecendo uma coisa que não acontece com mais ninguém. Eu estou apaixonado... — É, Gui, até agora tudo muito normal, pelo menos eu acho. — Sim, isso seria normal se osse um amor por uma pessoa normal. Eu amo um quadro, Marina! 0
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O rosto de Marina continuou com a mesma expressão séria. — Eu sei que este não é o lugar e nem a melhor hora para alar isso. Conversar sobre este assunto é muito chato, eu sei, você pode pensar e dizer o que quiser... — Eu já sabia, só estava esperando você me dizer, Gui! — Como você sabia? — Eu conversei com sua mãe e ela me disse. — Bom, e o que achou? O que me diz a respeito disso? — Bem, é uma coisa surpreendente e ao mesmo tempo chata; quei chocada ao ouvir isso de você, mas pelo menos vi que você me conta tudo sem esconder nada, só omite um pouco, mas acaba contando, cono em você por isso. — Oh, Mari, muito obrigado. Você não sabe o quanto me deixa eliz... Eu adoro estar com você, car com você, abraçá-la, conversar, enm, eu a amo. Mas a Mona Lisa tem um poder que me vidra e não consigo parar de pensar um só instante nela. Eu não via a hora de vir até aqui novamente só para poder vê-la. Sei que nunca a terei comigo, por isso digo que não sei o que seria de mim sem você. Você, minha mãe, meu pai e a Benê são as únicas pessoas que me entendem. O Nicky também, t ambém, mas você é a mais interessada em me ajudar. Obrigado, Mari. — Gui, não precisa me agradecer, sei que aria o mesmo por mim. Eu vou v ou ajudá-lo do jeito que eu puder. — Obrigado. Caminharam juntos até o meio do pátio. Lá chegando, oram separados em grupos de cinco e caram Marina, Nicky, Roger, Rosana e ele, os cinco de sempre. Cada grupo cou com um pintor dierente, o deles era Caravaggio, o trabalho era o seguinte: teriam que observar o quadro, analisar e escrever um texto dizendo tudo o que viam, se existia perspectiva, som1
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breamento, textura, volume etc. Guilherme cou louco, pois um outro grupo havia pegado Leonardo da Vinci e ele é quem queria ter pegado. Começaram a azer o trabalho. — Pode deixar, galera, que eu mesmo escrevo tudo. Sei os mínimos detalhes. — Ótimo, Mona, isso é muito bom. Pode começar quando quiser! — Bem, vamos começar: nessa gravura vemos os cinco elementos visuais, ou seja, linha, orma, cor, volume e textura. Aparentemente notamos vários ormatos na pintura, como o deslize das linhas, a cor das imagens, a expressão do contraste entre a luz e a sombra e o domínio das cores. — Olha o Mona... gostei cara! — Roger, dá um tempo, deixe eu terminar, depois você az seus comentários, ok? — Tá bom, já entendi. — Esse quadro nos revela a composição artística e não a natural. Mas o que é “composição artística”? Composição artística é quando os elementos visuais passam pela mão do homem, ou seja, Caravaggio quis nos mostrar, numa composição clássica, a maneira objetiva, subjetiva e ormal de se pintar o quadro. A seguir, passemos a analisar a gura. Como se apresenta o conteúdo de uma obra de arte? O conteúdo de uma obra de arte se apresenta como aquilo que ela contém, ou seja, a imagem principal é o que serviu de modelo, isto é, o que denominamos conteúdo objetivo, mas não é só isso, tendo olho e a boca, a resposta sempre sai. — Só uma coisinha, Gui, você não vai alar sobre o título? — Vou alar agora! — Ok! — O título entre aspas signica que cada um sente o que quer, quer, porque o título ez a obra até a hora hor a em que ele, o pintor, terminou. Depois cada um interpreta da maneira 2
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que desejar. Bem, a pintura também pode ser eita com um conteúdo ormal, que, na verdade, é a orma como a pintura oi tratada, é a maneira como ela oi pintada e é um modo de representação do espaço. — Puxa, Mona, tá legal mesmo. — Obrigado. Nessa mesma gravura podemos ver que a superposição mostra o eeito visual de proundidade. A sobreposição se encontra claramente com o claro e escuro e nos dá um jogo de contraste, azendo com que notemos o eeito visual de proundidade, que é o das mãos estendidas e para rente, parecendo com que elas quem menores e os braços mais compridos e largos. Também percebemos, assim que olhamos para o quadro, que a primeira coisa que os nossos olhos enxergam é a gura principal, ou seja, nossa visão percorre em torno da gura e sempre chega até a principal, onde todas as linhas nos levam até a imagem central, sem que precisemos descobri-la. Mais interessante ainda é a técnica do claro e escuro que nos revela a intensidade da cortina sobreposta no teto, azendo com que ela pareça real. E aí? Está bom? Gostaram? — Está ótimo, Mona, simplesmente magníco, vamos tirar uma boa nota. Você é um crânio, cara! — Obrigado, mas não precisa exagerar, Nicky. Por avor. — Precisa, sim, anal de contas, dependo desta nota para passar de ano, Mona. — Se depender desta, já passou! — Vou conar, hein? — Dou minha palavra. Entregaram a pesquisa e oram passear pelo museu, anal de contas, queriam ver as pinturas, o jardim e conhecer melhor o museu. 3
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Guilherme desceu uma imensa escadaria, entrou na porta central, caminhou por um corredor deserto e escuro. Ao nal deste havia duas entradas, entrou à esquerda, depois à direita e nalmente lá estava ela. Caminhou até a parede central e cou admirando a gura. Ali, naquela sala, jazia o quadro de Mona Lisa, o quadro mais lindo do mundo. Dentro de quatro paredes rias, repousava tranqüilamente o quadro de Gioconda. Um quadro raro, apreciado, idolatrado, venerado e acima de tudo amado, querido quadro idealizado. Ela era linda! Não tinha mais como denir isso, não existiam palavras para expressar tamanha beleza. Seus cabelos longos e pretos, seus dedos compridos e nos e seu sorriso sor riso enigmático. Seu belo sorriso triste e melancólico... essa sim era a Gioconda de quem ele tanto ouvia dizer e que, nalmente, conseguia ver o seu quadro, mesmo sendo uma cópia, mas uma pereita cópia. Sentiu um orte arrepio percorrer-lhe a espinha, seu coração batia orte, suas mãos tremiam. Realmente Realmente ela tinha um poder inacreditável sobre ele. Como ela conseguia exercer tamanho ascínio assim? Que poderes ocultavam-se naquela pintura por trás daqueles olhos tristonhos? — Meu Deus! — exclamou Guilherme estarrecido. — Como essa pintura consegue causar um domínio d omínio tão orte sobre mim? Parece que que ela não morreu. Seus olhos me dizem isto. Eu sinto. Parece que eles querem pedir clemência; é um olhar triste, como se ela estivesse presa neste quadro e pedisse para tirá-la dele. Isso tudo é simplesmente antástico! Guilherme continuou ali parado, ascinado por aquela pintura. No que será que Leonardo da Vinci estava inspirado quando pintou o quadro de Gioconda? Era óbvio que era em uma mulher, mas... ao pintar esse quadro, ele deixara todo o 4
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seu sentimento tomar conta de cada pedacinho pedacinho que ele pintava. Esse quadro é tão real que, creio eu, quando ele o terminou, deve ter cado encantado, encant ado, assim como eu quei. Guilherme ouviu passos no corredor e, quando ia se virar, sentiu uma paulada ortíssima em sua cabeça que o ez cair no chão desacordado. Tudo aconteceu em uma pequena ração de segundos, mas a realidade é que ao acordar Guilherme viu que havia muitas pessoas ao seu redor. Tentou orçar vista e viu que todos estavam ali, sem exeção: o diretor do museu, todos da universidade, os visitantes que estavam no museu, os seguranças, dois policiais e até mesmo o motorista motorist a do ônibus. Guilherme Guilher me não entendia o que que estava est ava acontecendo. acontecen do. Foi Foi aí que percebeu que no seu colo estava o quadro de Mona Lisa e em suas mãos algumas erramentas do tipo pé-decabra, cab ra, uradeira, broca... Guilherme cou atônito. O que que signicava tudo aquilo? aquilo? Sentiu uma leve vertigem ao abaixar um pouco a cabeça e levou as mãos à nuca; suas têmporas latejavam e ele não conseguia entender nada, só se lembrava da pancada minutos minutos antes de desmaiar. Não sabia ao certo, mas, no momento seguinte, os dois policiais oram para cima dele e o algemaram. — O que é que está acontecendo? — disse Guilherme assustado. — Por que que estão me algemando, Marina? — Não sei, Gui. — O que aconteceu, Roger? — Não sei, cara. — Nicky? — Mona, não sabemos o que está acontecendo, mas iremos descobrir tudo, ok? Esse desentendimento logo, logo, será esclarecido, eu garanto. Não gosto de vê-lo numa pior, sei que você nunca nunca aria uma coisa dessas, mas essa sua obsessão
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por este quadro acaba complicando um pouco as coisas. Sei lá o que é isto que você chama, mas já está se tornando perigoso. Para você, está virando uma ameaça! — De que você está alando, Nicky? — Nada não, Mona. Sei que está nervoso e entendo como se sente. Acredito que que não oi você quem ez isso, mas, com todas as provas voltadas para você, a coisa se complica, entende? — Ainda não entendo... eu z o quê? E o que este quadro azia em cima mim? mim? E estes policiais? — Ao que parece, você arrancou o quadro da parede, Mona. Eu cono em você, sei que não ez isso. Pode deixar que tudo se resolverá e a Marina vai me ajudar a encontrar uma solução, e rápido! — É isso aí, Gui. Eu vou ajudar o Nicky a tirar você desta. Nós conamos em você! — Antes de qualq qualquer uer coisa, proessora Sueli, a senhora pode me explicar o que aconteceu? aconteceu? — Oh, Guilherme, realmente você sumiu, se separou dos outros e então começamos a procurá-lo. Ouvimos o alarme ser disparado, corremos para cá e encontramos você no chão, desmaiado, com o quadro nos braços. — Mas eu não z nada, proessora! Diga para eles que eu não z nada, diga que deve ter acontecido um engano, que estão acusando a pessoa errada, por avor! — Guilherme, não tem como mudar sua situação por enquanto, enquan to, nós o vimos com o quadro... — Mas, proessora, enquanto estava aqui vendo o quadro, eu ouvi passos no corredor, mas não deu tempo de me virar, pois recebi na cabeça uma pancada e já caí desmaiado; quando acordei, encontrei todos aqui em volta de mim me apontando e me algemando. Isto não está certo, é uma humilhação o que estão azendo comigo. Não sei o que houve du
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rante o tempo em que permaneci desacordado, mas isso só pode ser um pesadelo. Não consigo entender o que está acontecendo. — Deixe, Guilherme, aça o que eles mandarem e espere que vamos comunicar a seus pais. Tudo será esclarecido em breve e você se verá livre novamente. Agora, por avor, acompanhe-os sem mais perguntas para acabarmos logo com esta cena triste, tris te, ok? Cone em nós. Sabemos que oi algo que aconteceu e você simplesmente estava no local errado e na hora errada, só isso. — Mas, proessora... — Guilherme, por avor, não complique mais as coisas, aça o que eu lhe pedi e vá com eles. — Está bem. Guilherme olhou para Marina e Nicky, eles estavam chorando. — Marina! Marina levantou os olhos e olhou o lhou para Guilherme. — Esqueça o que aconteceu nessa tarde, saiba que eu amo muito você e que nunca aria isto para entristecê-la. Nunca a trocaria por nada neste mu mundo. ndo. — Nem pelo quadro de Mona Lisa? Guilherme olhou para Roger e notou que ele sorria com sarcasmo. — Nunca pensei que ouviria isto de você! Realmente cheguei a pensar que osse meu amigo, Roger. É isto que pensa de mim? Que sou um ladrão? — Mas o que é que está acontecendo aqui? Todos os problemas resolveram aparecer hoje neste museu? Ninguém saia da sala! Encontraram um corpo na sala ao lado, está caído na escada. — Mas de quem é o corpo? — Do senhor Francisco. — O quê? Do guia do museu? — Exatamente.
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— Mas como, se ele estava est ava presente na hora do acontecido? Como pode estar morto agora? — Não sei, só sei que está! — Mais que depressa temos que prender este garoto. Veja V eja só o transtorno que ele está causando... — Mas não ui eu. Como pode ter sido eu, se estou algemado aqui com vocês? — Não interessa, você pode ter os seus truques, pode ter eito isto antes de conseguir arrancar o quadro, quando este pobre homem entrou e o surpreendeu, aí você o silenciou antes que ele desse o alarme, mas a justiça conseguiu prender o verdadeiro culpado disto tudo. — Essa não, era só o que me altava! — Silêncio, chega de prosa, levem-no logo antes que aconteça mais alguma coisa neste lugar! No horizonte brilhava uma luz tristonha, era de raca luminosidade e o vento que soprava lembrava um sonho que tivera. Estava sentado em um canto com as pernas cruzadas. As barras de erro à sua volta lhe davam uma certa melancolia. A dor que seu peito sentia era enorme. Estar preso injustamente era muito humilhante. — Por que ninguém acreditou em mim? Lembrava-se de como a imprensa chegou e já começou a querer entrevistá-lo e a tirar otos. Lembrava-se também t ambém pereitamente da eição de Marina, ela tinha os olhos vermelhos de chorar e com muito sacriício conseguiu sorrir para ele. Pois ali estava ele. Preso. Sem ninguém para conversar e sendo culpado de ter roubado o quadro de Gioconda, sua deusa. Bem que seu pai lhe disse que isso não podia acabar bem... mas azer o quê? Quem iria imaginar que algo assim tão ruim aconteceria com ele?
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Bem que a Benê pediu para ele não ir ao passeio pas seio naquele dia, mas ele queria tanto, esperou tanto tempo para ir... e oi. Mas agora estava onde estava e não tinha outra escapatória a não ser esperar e esperar. — Guilherme. — Oi. — Visita para você! — E aí, Mona? Tudo em cima? — Tudo embaixo, Nicky. E a Marina? — Não quis vir. Disse que não agüentaria vê-lo assim e achou melhor car em casa. Você sabe, né?... — Coitada... mas ela tem que entender que eu preciso dela agora mais do que nunca, preciso que ela venha me ver e que converse comigo. Preciso me sentir vivo! — Eu sei Mona, mas vamos dar um tempo para ela, ok? Foi demais o que aconteceu. Nós sabemos que você não ez isso, mas vamos esperar que ela se recupere. — Eu sei, Nicky, e os meus pais? Como estão? Você os viu? — Claro, Mona, eu passei p assei na sua casa antes de vir aqui, aí conversei com eles e aqui estou! — Ah. Como está minha mãe? — Triste. — E o meu pai? — Cabisbaixo, não ala com ninguém. — Oh, Nicky, o que eles estão pensando de mim? — Nada, Mona, eles sabem que não oi você quem despregou o quadro. — Ai, Nicky, só az dois dias que estou aqui e não agüento mais, vou ter que car aqui até quando? — Não sei, Mona, mas vamos tirar você daqui o mais rápido possível, tá? — É o que espero!
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— Ficou sabendo sobre o policial do museu? — Não, o que aconteceu? — Foi Foi assassinado e obviamente o bviamente colocaram a culpa em você. Pelo jeito jeito está em péssimos lençóis, Mona! — Essa não, Nicky, toda hora acontece alguma coisa que só me prejudica mais... até parece que estão azendo de propósito. Como vou me livrar disto? Era só o que me altava! E agora? O que azer? — Agora é só dar tempo ao tempo!
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XXVII
—
M—anhê? Oi!
— Traz o meu roupão? — Já vai, Marina. Aqui está! Vai sair? — Sim, vou dar uma volta. — Não demore, viu? Ou então terei que alar para o Guilherme. Marina baixou o olhar e dona Nívea percebeu que havia alado demais. — Me desculpe, querida, ele irá sair de lá rapidinho, é o que todos esperarmos. Subiu as escadas e se trancou no quarto. Procurou o que vestir, mas não encontrou nada. Colocou um short, uma camiseta, tênis e prendeu os cabelos. Sentou-se na cama. A janela do quarto estava aberta, o vento soprava uma brisa suas uave e leve. Olhou para a árvore e viu como as olhas se movimentavam conorme o vento as balançava; escutou seu aralhar e sentiu seu perume suave. 1
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— Cheirinho de mato! Parece que estou em um sítio sentindo este agradável aroma... Por que será que isto estava acontecendo com ela e com Guilherme. Por Por que justo ele tinha que ser preso? Isso era tudo por causa de Mona Lisa. Era ela a culpada por tudo aquilo que estava acontecendo. Desde o início, ela sempre atrapalhou o relacionamento deles... Lembrou-se de como havia conhecido Guilherme na entrada do ônibus, quando ele esbarrara nela e ela ignorou sua desculpa, depois oi até ele se desculpar, começaram a conversar e aí estavam até hoje. É claro que ainda estavam namorando, ele podia estar preso, p reso, mas isso não signicava nada demais, eram namorados e isto bastava. Desceu para jantar. Depois do jantar, estava assistindo à televisão, quando mostraram a reportagem report agem do roubo do quadro no museu. museu. Eram alguns comentários mais recentes, mas todos deixavam evidente que Guilherme era o culpado. Mostraram-na chorando e também a Nicky, pois eles estavam bem próximos de Guilherme. Numa rápida passada, viu que lmaram alguns alunos que cochichavam, dentre eles se destacava Roger, que sorria com sarcasmo e conversava com alguém que ela não conhecia. Assim que o jornal acabou, saiu para o alpendre e cou debruçada no muro, olhando as estrelas. A noite havia caído rápido durante esses quatro dias em que Guilherme estava preso. Todos Todos os dias eles tinham uma coisa nova para mostrar, se não era um guia do museu assassinado, era um guarda. Marina estava triste. Já havia se passado quatro dias dias que Guilherme estava preso e ela não o via. A única coisa que sabia dele era o que passava na televisão e o que Nicky lhe dizia. dizia. Não podia mais sair na rua que já vinham perguntar coisas a respeito de Guilherme. Depois que ele oi preso não conseguiu mais encontrar ninguém da amília dele em casa. Nicky 2
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viajara, pois estava de viagem marcada e não podia adiar. adiar. Ele iria visitar visit ar um parente no interior que não estava est ava muito bem. Assim, ela acabou cando sem companhia. Não ia à aculdade há quatro dias; dona Nívea estava preocupada, seu Dario, então, nem tinha mais nada a dizer. Marina andava quieta. quieta. Onde já se viu seu namorado ser preso p reso sem ter nada a ver com o pepino? Isso I sso era demais, mas a lei é impiedosa e não acredita em nada; também, se eles acreditassem, o mundo estaria pior do que já está. Desceu para o jardim e caminhou até um banco branco, sentou-se e começou a pensar em um plano para livrar seu amado, quando a campainha tocou. — Marina, é para você! — Quem é? — Camilla. — Camilla? Não conheço nenhuma Camilla. Marina caminhou até o portão e viu uma garota garot a da sua altura, morena clara com os cabelos compridos e encaracolados, devia ter sua idade mais ou menos e seus olhos eram verdes tão escuros que pareciam ser castanhos. — Oi — disse a estranha. — Meu nome é Camilla e sou namorada do Guilherme Marina estancou no meio do caminho. — O que disse? — Que sou namorada do Guilherme. Ele me pediu para vir até aqui ver como você está. — Eu é quem sou namorada do Guilherme e, outra coisa, ele não conhece nenhuma Camilla. — É claro que conhece e muito bem por sinal. E quem é você para dizer que é a namorada dele? — Como você já sabe, pois oi “ele” quem mandou você até aqui, sou a Marina. — Então, queridinha, ele ez e az você de palhaça, pois a verdadeira namorada dele sou eu. Sou eu quem aço 3
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tudo para ele, é ele quem me conta tudo sobre você... ou você pensa que apareci aqui aqui por acaso? Como acha que tenho seu endereço? Como sei seu nome? — Não importa como você conseguiu meu endereço, não me importa também se é você quem az as coisas para ele, o que me importa é que sou a namorada dele e oi comigo que ele estava quando oi preso. Fui eu que apareci ao lado dele para todos verem, e neste caso a única que az o papel de palhaça é você, pois ninguém sabe da sua existência. Aliás, ele nunca citou nenhuma Camilla, e olha que nos vemos todos os dias... Claro, ele não teria amizade com uma pessoa tão baixa e vulgar como você! — Pois é, minha querida, mas é desta vulgar que ele gosta e sempre gostou! — Eu não acredito no que você diz, eu perceberia algo, se você realmente existisse na vida dele. — Tapada do jeito que é? Impossível! Nunca passou isso pela sua cabeça inantil. Ele me conheceu quando oi à praia com o Nicky, Artur, Pedro e o Roger, você se lembra? Você V ocê não oi, né? né ? Por quê? quê? Ficou Fico u em casa estudando es tudando,, enquanto ele se divertia com os amigos e conhecia pessoas mais interessantes? — Olhe aqui, minha cara, eu não sou obrigada a car ouvindo certas lorotas ditas por você, uma qualquer que não tem nada para azer e que só sabe bater perna por aí, correndo atrás do namorado dos outros. Agora, se me dá licença, vou entrar e descansar, pois já perdi muito tempo conversando com você. — O quê? Espere aí, não me deixe assim, preciso lhe alar mais algumas coisas a respeito r espeito dele... volte aqui! Marina entrou lentamente e oi até a cozinha tomar um copo de água; estava muito nervosa, mas não deixou que ninguém percebesse. — Quem era, querida? 4
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— Ninguém importante, papai, estava me conundindo com um conhecido... — Bem, querida, então se sente aqui e venha assistir a um lme! Camilla ainda cou um bom tempo do lado de ora, olhando para a casa, depois atravessou a rua rapidamente e saiu cantando pneus.
XXVIII
O vento soprava lá ora gelado e impiedoso, as paredes também geladas davam um ar de coisa velha, esquecida. O rio era de gelar os ossos. Guilherme estava sentado com as pernas para cima da cama, o cabelo estava sujo e meio despontado, sua barba estava crescendo, ele não tinha vontade de se arrumar, não agüentava agüent ava mais car naquele lugar esqueesquecido e usar sempre as mesmas roupas. Desde que ora preso, só podia receber visitas através das grades e não podia receber nada de ninguém. Sentia-se como um ladrão qualquer, abandonado, esquecido naquela cela, isso tudo para ele era tão conuso. Nunca zera nada de errado e agora ninguém acreditava acreditava nele. Ainda, para piorar, p iorar, o guia do museu ora assassinado juntamente junt amente com dois guardas. Até quando ele iria agüentar? Olhava para ora das grades, pela janela que cava em cima de sua cama, observava o vento que soprava triste e balançava as olhas das árvores, lembrava de quando estava em seu quarto com o tempo assim e cava ouvindo música ou
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conversando com os amigos, passeando ou até mesmo na companhia maravilhosa de Marina. Depois que ele ora preso, nunca mais ela apareceu... Será que não acreditava nele? Será que não o amava mais? Será que tinha vergonha dele ou será que já estava com outro? Não, não ia pensar nisso pelo menos agora, ia pensar em como reagir quando saísse de lá, como as pessoas iriam recebê-lo. E os seus amigos? O Nicky ora visitá-lo apenas uma vez e cara de voltar, mas até agora nada. O Roger era o único que que não aparecera e no dia em que que ele ora preso nem sinal de Roger para lhe dar uma orça, só mesmo Nicky e Marina. Pensava nisso e outras coisas quando o policial apareceu na porta da cela. — Visita para você. — Para mim? mim? Não gostaria gost aria de ver ninguém no momento... quem é? — Marina. Os olhos de Guilherme brilharam de alegria. Na porta apareceram Marina e Luciano. Marina, ao vê-lo, correu em sua direção, e os dois caram abraçados por alguns instantes. inst antes. Guilherme nem acreditava que aquilo estava est ava acontecendo. Sentia-se como uma criança que acaba de receber um doce, tamanha a alegria que sentia. Cumprimentou Luciano sem soltar das mãos de Marina, pois estava tão contente com o que aconteceu que que não queria nem pensar em soltar-se solt ar-se dela. — E aí cara, tudo bem? — Mais ou menos, né Luciano. Agora estou bem melhor com vocês aqui. Pensei que você não gostasse mais de mim, Mari. — Oh, Gui, que é isso? Só não tive tempo de vir v ir antes, mas consegui arranjar e estou aqui. Para alar a verdade, eu não tinha coragem de vê-lo assim, por isso demorei tanto para aparecer e resolvi vir com meu primo, né, Lóri?
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— Não, eu sei, só estava brincando! — É, cara, sujaram eio para você, hem? — Lóri, o que combinamos? comb inamos? Você disse que não tocaria toca ria no assunto! — Deixe, Mari... Pois Pois é, você viu só? s ó? Ninguém acredita em mim! — Mas é assim, cara, quando essa ase passar e encontrarem o verdadeiro culpado, aí eles pagarão com a língua, você vai ver! — Puxa, Luciano, você tem me ajudado um bocado, não sei mesmo como agradecer-lhe por tudo. Muito obrigado. — Que é isso Mona, não z nada demais, mas cá entre nós: você não está nada bem. — Por quê? — Porque quando assassinaram o guarda, você não estava com o pessoal, depois de uns cinco minutos minutos encontraram você com o quadro nos braços, daí começou esse equívoco todo. Se você não aparecesse com o quadro, isso tudo não teria acontecido com você. — Aconteceria, sim, Lóri! — Como, Mona? Não aconteceria não. — Aconteceria sim. Eles iriam pensar que ui eu, pois sou apaixonado por aquele quadro. quadro. Eu amo Mona Lisa. L isa. Desde a primeira vez em que eu a vi, senti algo muito orte, dierente, até z uma música para ela. O nome da minha banda é em homenagem a ela. Eu só consigo pensar nela, já está virando um tormento, e z de tudo para esquecê-la, mas ela não sai de meus pensamentos. O pior p ior é que eu sei que nunca a terei nos meus braços, como eu tenho você hoje Marina, e isto me deixa um pouco triste... Estou azendo orça para esquecê-la, quecêla, vocês precisam me ajudar! — Puxa, eu não sabia de nada disso, o tempo todo você se mostrou orte o quanto pode e chega agora, nesse momento, ninguém o compreende.
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— Pois Pois é, Luciano, desde o começo co meço que eu me trato com um psicólogo, que vou ao psiquiatra. Não que eu seja louco, mas é que o tratamento trat amento é rigoroso e requer muitos cuidados. — Olhe aqui, o horário de visita acabou, só mais cinco minutos, min utos, tão me entendendo? — gritou o policial. — Claro. Então, Mona, ca assim, eu e a Marina vamos ver se descobrimos algo a respeito disso tudo, depois a gente volta, ok? — Tudo bem, tchau e muito obrigado pela visita, oi ótima! — Gui... que sabendo sabend o que desde o dia em que você oi preso estou procurando ajudá-lo de algum modo, pois o Lóri vai voltar para casa e aí só o Nicky cará para me auxiliar. Não se preocupe que irei visitar sua mãe, ela está meio triste, mas será passageiro, ok? Logo, logo, você irá ir á para casa, tenha paciência! — Muito obrigado por tudo, Marina! — Não precisa agradecer, Gui! — Pronto, acabou o horário de visita. — Tchau! — Tchau!
XXIX
C éu cinza, uma chuva grossa e o vento rio a soprar rigoroso. Camilla desceu do carro com suas botas pretas e seu casaco de lã, pegou a bolsa e entrou em casa. — Que horror, molhei todo o meu cabelo! — disse ela olhando para o espelho. Ouviu um barulho na cozinha, Camilla Camilla arregalou seus grandes olhos verdes e levantou-se da penteadeira. Caminhou até o corredor e pegou a vassoura que dias atrás esquecera do lado da estátua de porcelana. Pensou consigo mesma: “valeu a pena esquecê-la aqui, agora você vai me ajudar”. Desceu as escadas vagarosamente olhando para todos os lados. Novamente o ruído se repetiu, agora com mais intensidade, Camilla estancou no nal da escada, levantou os braços com a vassoura para cima e partiu com voracidade para o interior da cozinha, onde a luz permanecia acesa. Tudo aconteceu numa pequena ração de segundos. A princípio só se ouviu um suspiro de exclamação que oi logo cortado por uma batida seca e violenta. 100
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— Você?! — exclamou Camilla com a voz trêmula. — Nunca pensei que você entraria em casa sem me avisar e além do mais neste estado... est ado... O que aconteceu? — Ainda não aconteceu nada, mas irá acontecer já! — O que você quer dizer? dizer? Não estou gostando gost ando de nada disso! — Você Você sabe o que eu quero dizer com isso! isso ! Não se aça aç a de hipócrita, Camill Camilla, a, você alhou e eio. Quem mandou você contar a verdade para o Nicky? — Mas eu não z isso! — Você é mentirosa Camilla, como eu pude acreditar em você? Fui conversar com o Nicky e ele estava est ava alando com a Marina sobre uma Camilla que ele nunca nunca vira na vida, aí a Marina conrmou com ele que devia ser a mesma que dias atrás ora na casa dela e inventara coisas horrendas a respeito de Guilherme. Como você pode ser tão mesquinha, armou toda a cilada comigo comigo e de última hora dá para trás indo contar cont ar tudo para o Nicky? — Mas eu não contei nada! — disse Camilla chorando; e o pânico brilhava com intensidade nos seus olhos úmidos. — Eu já alei. Eu não contei nada para o Nicky.. Nicky.... não consegue entender isso? Só acredita no que o Nicky diz? Fui azer o nosso combinado, disse para ela que eu era a namorada do Guilherme, só isso, nada mais! — É claro que acredito nele sim, anal de contas ele não a conhece e oi você quem oi alar com ele, sua cabeçuda! Você quer ser tão esperta e acaba sendo tola como uma mula,, se não or pior mula p ior ainda! Camilla cou junto a pia encolhida com a vassoura vassour a nas mãos. Chorava sem parar, queria saber o motivo pelo qual resolvera entrar naquele plano maluco e agora para sair dele estava tão diícil... Quer dizer, impossível. Quem mandou o Nicky abrir a boca? Mas isso não podia car assim. Camilla iria azer alguma coisa, era só ele se acalmar um pouco... 101
XXX
E
— ntão, Mona, oi tudo isso que eu lhe disse o que aconteceu. Ela apareceu lá na aculdade procurando por mim e pela Marina e nos disse tudo isto afita, e que sentia muito por ter ajudado a colocar você aqui neste lugar, que estava arrependida, mas que iria achar uma boa solução para tirá-lo daqui rapidamente. — Eu já desconava mesmo dele! — Dele quem? Não alei nenhum nome a você... como descona de alguém? Ela não me disse nome algum e não sabemos quem possa estar por trás disto tudo. — Eu sei, Nicky. Acontece que eu já desconava de uma pessoa, mas ainda não tenho certeza, creio que seja esse alguém. Não vou citar nomes nem nada, vamos dar tempo ao tempo certo? Eu investigo daqui e você, Marina e o Lóri investigam de ora, tudo bem? — Ok, Mona. Pode deixar que eu vou procurar essa Camilla e conversar melhor com ela, vou obter mais inormações a seu respeito. Agora tchau, vou embora e assim que eu descobrir algo, venho correndo avisar você. 102
XXXI
E ra sábado, duas horas da tarde, t arde, o sol queimava queimava como ogo em brasa. Havia um leve vento resco, mas mesmo assim o sol continuava intenso. continuava Ao longe, alguns pássaros cantavam nas copas das árvores. Era uma rua muito gostosa, calma e tranqüila, dicilmente passavam carros e, no sábado, algumas pessoas costumavam lavar os automóveis nas calçadas. Marina estava na sala assistindo a um lme de terror. Como azia muito calor, a janela estava aberta e a luz apagada, deixando a sala numa atmosera resca e relaxante. Dona Nívea, mãe de Marina, havia saído para azer compras, e seu Dario estava viajando; ela cara esta tarde sozinha, apenas com Maria. Maria trouxe da cozinha cozinha um copo de suco de laranja e um hambúrguer para ela. Assim que terminou o lme, subiu para seu quarto a m de descansar um pouco e esvair a cabeça. Deitou-se na cama e começou a pensar em Guilherme. Lembrou-se da primeira vez em que o viu, no passeio ao museu, 103
Minha Amada Mona Lisa
da primeira vez que o beijou; beijou; sentia tanta t anta saudade de tê-lo por perto, de poder abraçá-lo, de conversar com ele, de expressar seus sentimentos e de dizer o quanto ele era importante para ela. Queria poder dizer o que achava a respeito de tudo o que estava acontecendo com ele, de poder ajudá-lo. Não gostava de ir visitá-lo na prisão, achava muito triste vê-lo numa cela escura, como se tivesse eito algo que realmente não cometera. Oh, como podia suporta aquilo por tant anto tempo? Estava com tanto t anto sono, mas não conseguia dormir; era só echar os olhos e na sua rente aparecia Guilherme no ônibus ou no parque. Aquele dia tinha sido maravilhoso, ninguém poderia prever que dali a dois dias Guilherme seria preso.
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XXXII
R apidamente jogou algumas pedras por cima, plantou algumas rosas e pronto, o serviço já estava eito. A noite era escura e ria, no ar só pairava o silêncio. Passou as costas das mãos pela ace e testa, que suavam sem parar. Apesar do vento gelado, havia no ar um bao quente. Terminado todo o serviço, ser viço, voltou volto u para dentro de casa. cas a. No chão havia manchas de sangue e no tapete havia se ormado uma poça; tratou logo de lavar o tapete e o chão da cozinha. Foi até o banheiro e tomou banho. Na sala, sentou-se no soá e começou a assistir à televisão o mais calmo que pode. No quarto de Camilla revirou seus papéis, encontrou seu diário dentro da gaveta à direita, começou a olheá-lo e deparou-se com uma página toda em branco: br anco: só na última linha havia uma rase escrita: escrit a: “Hoje entrei em um plano diabólico, vou deixar o Guilherme em situações muito diíceis...” Sorriu com sarcasmo ao ler aquela rase escrita por Camilla. Sentiu um orte orgulho dela; sem dúvida, no começo do plano, ela estava decid decidida ida a arruinar a reputação reput ação de Guilherme. 10
Minha Amada Mona Lisa
Virou as páginas a seguir e de repente não gostou do que leu: “Hoje conversei com Nicky e Marina, contei o plano para eles mas não disse que oi o...” Subitamente jogou o diário no chão e começou a pular em cima. Sim, ele tinha razão, ela havia estragado o plano dizendo para aqueles idiotas que tudo não se passava de um plano. Como podia ter se enganado redondamente, acreditando em Camilla? Agora mesmo é que não se arrependia de ter eito o que ez. Lembrava-se bem de seu rosto lindo espantado de tanto terror, seus olhos verdes retratavam todo o horror que sentia; ela tremia e repetia sem parar: “Você não vai azer isso comigo, vai?”. Essa havia sido sua última pergunta. Lembrou-se, saboreando cada minuto, de quando pegou a aca e num gesto lento e delicado passou-lhe a lâmina pelo pescoço. O sangue não mais escorria e sim jorrava pelo corte aberto; ela se debatia e ele sorria. Ainda assim, ela conseguiu jogar-se para cima dele e arrancar-lhe o brinco, rasgando sua orelha em duas partes. Procurou por todo o lugar o brinco, mas não o encontrou. Tratou Tratou em seguida de levar o corpo para ora e enterrá-lo na estrada de terra bem próxima ao jardim. Depois oi até a cozinha e, lavando muito bem a aca, devolveu-a para a gaveta. Foi até o quarto e deitando-se na cama dela, onde havia um retrato seu, adormeceu tranqüilamente.
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XXXIII
O sol brilhava alto e Marina acordou disposta. dispost a. Desceu para o caé e, assim que terminou, ligou para Nicky e convidou-o para correrem. — Eu sempre corria com o Gui, todas as manhãs de sábado. Fiquei esses meses sem me cuidar direito, pois não tinha cabeça para mais nada, mas hoje resolvi que vou voltar a me cuidar. Já pensou só se ele sai da prisão e me encontra ora do peso? Ainda não aconteceu isso e não vou esperar esp erar que aconteça, então, vamos correr? — Tudo bem, eu vou sim, a que horas? — Dá para ser agora? É que não agüento mais esperar... — Claro que sim, em alguns segundos estarei est arei aí!
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XXXIV
AGuilherme corde, visita para você! abriu os olhos e sorriu de alegria. Levantou-
—
se e deu um caloroso abraço em Roger. — Oi, cara, puxa vida, quanto tempo, não? — É, Mona, muito tempo, uns seis meses? Eu andava sem tempo, comecei a trabalhar e aí já viu... O pouco tempo que me sobrou, eu o deixei para o descanso. Mas como está? — Estou bem, na medida do possível. Mas você está trabalhando? Quem diria hem? — É, às vezes precisamos azer algum tipo de esorço... — Bem, sente aí — disse Guilherme apontando para os pés da cama. — Não é aquelas coisas, mas dá para quebrar um galho! Roger olhava tristemente para a cela em que se encontrava Guilherme. Sentia muito pelo amigo, para ele, que sempre tivera tudo, não devia estar sendo muito ácil. Lembravase de como Guilherme cava em sua casa e o recebia, era tudo tão conuso agora. 10
Minha Amada Mona Lisa
— E aí, cara, como vão as coisas? E o pessoal, como está? — Bem, a galera está bem. Sempre perguntam de você e dizem que que estão com saudades. Estão combinando de virem visitá-lo. — Que ótimo! Assim, essa sensação de abandono se desaz um pouco. Sabe, me sinto bem melhor ouvindo você dizer isso, que bom que o pessoal acredita em mim e me considera ainda como amigo! — Sim, nunca deixamos de considerá-lo nosso amigo! E a Marina, ela tem aparecido? — Claro, não muito reqüentemente. Sabe, ela não gosta de d e me ver aqui, mas de vez em quando az um esorço e me dá a honra de sua visita! — Ah, legal! Ontem estive na sua casa à noite, ui saber notícias da sua mãe para lhe contar. cont ar. — Que ótimo, como ela está? — Está bem. Pediu Pediu para não car triste por ela demorar tanto para visitá-lo, sabe, seus pais não conseguem vê-lo aqui... Pediram para lhe dizer que morrem de saudades! Agora sua mãe está mais conormada, seu pai também está melhor... ele diz que sente alta de suas partidas de baralho... Só a Benê que não está legal. — A Benê? O que ela tem? Está doente? — Bem, vive reclamando de dor de cabeça, enjôo, insônia... Sua mãe disse que desde que você oi preso, ela anda assim deprimida. — Pobre Benê, gosto tanto dela. Ela cuidava de mim quando eu era pequeno e minha mãe saia para trabalhar... Espero que se recupere logo, estou morrendo de saudades de seus bolinhos de chuva... — É o que todos nós esperamos, Mona, que ela se recupere logo e que você saia rápido! 10
XXXV
A noite já havia caído impiedosa e ria. O vento soprava sop rava com vigor e as olhas se soltavam acilmente das copas das árvores e de seus galhos. As ruas estavam desertas e escuras, pois as poucas luzes que restavam, muitas delas, estavam que queimadas. imadas. Ao longo da calçada um casal de namorados estava ao portão conversando. Marina apertou os passos e apressou-se ao passar por eles, para não car se lembrando de Guilherme. Era triste pensar que tinha namorado, mas que não o via há pelo menos seis meses. O caso estava est ava meio parado, não havia nada denido ainda, pois não tinham provas quanto à inocência dele, tudo andava devagar... Na aculdade havia um cara que não parava de dar em cima dela; era alto como Guilherme, bonito, educado, simpático e bem mais musculoso que Gui. Tinha os cabelos curtos e os olhos azuis. Marina não agüentava mais; dizia-lhe que tinha namorado, aliás, ele conhecia Guilherme, mas continuava a insistir nessa história absurda. Ele, em vez de animá-la, 110
Minha Amada Mona Lisa
gostava de tirar uma com a cara de Guilherme para, quem sabe assim, ela se cansar de esperar por ele e lhe dar uma chance. Marina não mediu esorços e deu-lhe um tapa no rosto da última vez em que ele alou absurdos de Guilherme em público. Marcelo — assim era seu nome — cou tão abismado com o que ela zera que não conseguia acreditar. Ela também cou tão horrorizada que, mesmo ele sendo o errado, lhe pediu desculpas e se retirou, chateada. Agora estava caminhando pela rua sozinha, pensando no que acontecera; realmente se sentia chateada demais com o que zera, mas ela simplesmente havia preservado a imagem de Gui. No nal das contas, bem que ele mereceu! Ultimamente a vida andava meio amarga para ela. Primeiro oi a prisão de Guilherme, depois a briga com os garotos amigos de Guilherme e por último se desentendera com Marcelo, dias antes de brigar com os pais... O que mais de ruim estaria por acontecer? Tinha os nervos à for da pele, tudo a irritava, irrit ava, a chateava, a magoava, queria que que tudo voltasvolt asse a ser como era antigamente, sem problemas, sem brigas, sem tristeza, sem solidão... Marina sabia que tudo isto estava acontecendo por causa da prisão de Gui e isso a deixava mais triste ainda, pois descontava nos outros a dor que sentia por estar longe de seu amor. Passou em rente ao casal de namorados e escutou eles se despedirem: — Então você vem amanhã? — Claro! Marina sentiu um aperto no coração, mas mesmo assim conseguiu dar um suspiro proundo e sorrir timidamente. Caminhou mais um pouco e, dobrando a esquina, oi para casa. 111
XXXVI
O tempo havia mudado novamente. O vento rio gelava os ossos. A garoa começava a cair, pintando a natureza com tons
mortiços. Nicky caminhou até a lanchonete, onde Roger o estaria esperando. Ao chegar, sentou-se à mesa do canto, um pouco aastada, mais ao undo, onde costumava sentar-se com Guilherme para esperá-lo. Começou a lembrar das muitas vezes em que ali estiveram para conversar sobre garotas, sobre Marina e, claro, sobre Mona Lisa. Sim, Mona Lisa, a bela que o levou à prisão, um quadro que teve o poder de prender um grande admirador seu, uma obra de arte capaz de dominar a todos e principalmente um rapaz de apenas vinte e dois dois anos com uma vida inteira pela rente, azendo aculdade, com uma amília ótima e uma namorada incrível; um homem inocente e preso às garras de uma mulher que não passa de uma pintura em um quadro antigo. Sim, um quadro que o levou por caminhos que ele nunca devia ter trilhado, caminhos que até ele mesmo desconhecia, uma coisa ora do comum, que agora custava a liberdade de Guilherme. — Puxa, quanta alta o Guilherme az! 112
Minha Amada Mona Lisa
Durante toda a vida oram amigos, desde pequenos brincavam juntos. Sempre unidos em tudo, como em brigas, estas, escola, rua. Em toda a parte estavam juntos como se ossem irmãos, tanto que, quando eram menores, o que um tinha, o outro também tinha que ter. Depois que caram adultos pensavam um pouco dierente, mas nunca perderam aquele contado da inância. Nicky lembrou-se da primeira vez em que oram dormir sozinhos na casa de uma tia de Guilherme. Divertiram-se muito mesmo e, à noite, quando oram dormir, resolveram sair e dar uma volta. Como já era de madrugada e a azenda era gigantesca, os dois acabaram se perdendo por entre as árvores. Depois do susto, tia Adelaide colocou-os de castigo. Nicky tinha os acontecimentos vivos em sua memória como se tivessem acontecido ontem. Sentiu um aperto no peito e uma lágrima escorreu por sua ace. Viu uma sombra sentando-se à sua rente. — O que houve? Algum problema? — Não, Roger, estava me lembrando do Guilherme e de quando éramos pequenos. Foram bons tempos que nunca mais voltarão. — É, realmente, o Mona az alta. Quem diria, hem? Já se passaram seis meses... — É, sinto muito a alta dele. Sabe, ele sempre oi o irmão que não tive, e tenho certeza de que ele pensa do mesmo jeito. Ele é um cara muito legal, e imagino como a Marina se sente, sinto o mesmo que ela! — Em péssimo estado, eu acho! — Isso mesmo, em péssimo estado. Mas ela é orte o bastante para superar tudo isso e então, quando menos esperarmos, ele estará de volta. — É isso aí, Nicky, ele voltará... volt ará...
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XXXVII
Sdo corredor, arah levantou-se, saiu de seu quarto, caminhou até o nal girou a chave na echadura e abriu a porta port a cuidadosamente. Penetrou Penetrou naquele lugar como se alguém estivesse dormindo ali. Foi até a estante e pegou um retrato de Guilherme. Estava tão eliz naqu naquela ela otograa! Ele era seu lho e naquela hora ele estaria em casa assistindo à TV ou ouvindo música, estaria sorrindo e cantando junto; sim, este era o Guilherme, uma pessoa viva e eliz. Agora ele devia estar est ar sentado nu numa ma cama dura, em uma cela escura quem sabe, malcheirosa, sem ninguém para conversar. Isso era tão triste. Sarah sentou-se na cama ainda com o retrato nas mãos e recordava-se daquele dia em que se sentou na cozinha e começou a se lembrar dele. Sarah sabia que ele logo, logo, seria tirado dela, mas não daquel daquelaa maneira. Ninguém acreditava nele e, justamente quando ele mais precisou de ajuda, ela não soube ajudá-lo... Quando elee com el c omeç eçou ou a gostar de Mona Lisa, ela não disse disse nada a respei respei-to, achou achou melhor deixar tudo por conta cont a do psicólogo; justo ela que sempre ora mãe companheira, a mãe que azia tudo. Na114
Minha Amada Mona Lisa
quela hora não ez nada, deixou-o a mercê de sua própria sorte. Ela, que sempre ora uma mãe amiga, que sabia ouvir e dar conselhos, que realmente azia parte do mundo de Guilherme; ela mesmo, que sempre ora tão absoluta, absolut a, tinha pisado na bola com ele e não conseguia mais voltar no tempo. Se pudesse voltar, volt ar, aria tudo dierente... A casa sem Guilherme era uma casa vazia, pois, no undo, ele ainda continuava sendo o seu garotinho, o menininho levado que só dava trabalho, que vivia se esolando e caindo, que todos os dias, quando voltava da escola, trazia tr azia um bilhete da proessora. Mas, apesar de tantos t antos bilhetes, sempre teve notas ótimas. Walter bateu à porta e entrou. Sentou-se ao lado de Sarah e permaneceu quieto. — Fiquei com saudades, azia tempo que não entrava aqui. É tão diícil se acostumar com a ausência de alguém, então resolvi azer uma visita. Você também não conseguiu pegar no sono? Walter sorriu tristonho para a esposa e olhou o retrato de Guilherme em suas mãos. — É, Sarah! — disse ele olhando para a janela aberta, com o olhar perdido no nada. — Realmente o Guilherme az muita alta. Já se passaram seis meses e nada aconteceu. A polícia não procura indícios de que possa haver um suposto engano e não quer mover nem mesmo uma palha, cambada de imprestável! — Calma, Walter, vamos esperar mais um pouco que tudo se resolverá. Marina e Nicky estão procurando descobrir descobr ir alguma coisa... — É muito diícil, Sarah! — Eu sei, Walter, mas não vamos dizer nada disso para eles, pois estão tão dedicados quanto ao que estão azendo... seria muita injustiça de nossa parte jogar um balde de água ria nas esperanças deles. — E o que eles estão azendo? 11
Minha Amada Mona Lisa
— Não sei, não me disseram muita coisa ainda. Mas alaram que, assim que descobrirem algo, virão nos avisar! Acho que isto é uma orma de nos acalmar e de acalmar a eles mesmos. Creio que devam estar azendo isso para que consigam agüentar a dor d or que sentem. É uma orma de amenizá-la. — Queira Deus que descubram algo logo! Vamos nos deitar, querida... já é tarde! — Só um momento, querido, quero sentir mais um pouco a presença dele. Aqui neste quarto me sinto bem mais calma, vou car mais um pouco, se você deixar... Não quero chateá-lo, mas não quero sair daqui agora! — Claro, querida, o tempo que quiser! Walter levantou-se, caminhou até a porta e olhou para trás. Ali estava Sarah sentada, o olhar xo no retrato do lho. — Eu já sabia que ia perdê-lo, Walter! — Perdê-lo? Como? — Algo me dizia isso. Não sei explicar. No dia em que ele oi ao museu pela primeira pr imeira vez com os o s amigos, quei muitíssimo preocupada e só conseguia pensar no tempo em que ele era pequeno e era tão meu. A Benedita não acreditava, dizia que que era só porque ele não estava em casa que eu começava a antasiar, mas no undo eu sabia o que estava alando, não sabia a dimensão disso tudo, mas pressentia que algo terrível estava por acontecer. Na época, eu não sabia, mas agora sei que que era meu instinto materno me alertando alert ando que algo estava acontecendo. — Mas, querida, eu não estou entendendo! — Eu sei, Walter, é diícil diícil explicar, mas o real motivo é que eu pressentia algo, não sei como explicar, mas só quem é mãe sabe do que estou alando. — É, pode ser que você esteja certa. Mas que tal você echar o quarto do Gui, imaginar que ele está na praia com os 11
Minha Amada Mona Lisa
amigos e azer um pouco de carinho no seu maridão que anda meio carente e se sentido deixado um pouco de lado? Podemos azer alguns sanduíches e assistirmos a algum lme, o que acha? — Sabe... até que não é uma idéia ruim... um lme com sanduíches e um maridão um pouco carente? Acho que vou gostar deste programa!
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XXXVIII
E
— ntão, inspetor Gibson, não tem um meio de tentarmos descobrir quem tenha eito isso com o Gui? Não adianta, não consigo acreditar que ele tenha eito isso, não entra na minha cabeça... Ele jamais aria isso! Por nada no mundo ele roubaria algo de alguém, quanto mais um quadro valioso. Isso não az sentido! — Minha cara... — Marina! — Sim... minha cara Marina, não podemos mover uma palha porque todos nós vimos pela p ela televisão que ele oi preso por estar com as erramentas na mão e o quadro do outro lado. Não podemos azer nada a respeito disso. disso. — Mas, inspetor Gibson, creio que o Mona não teve culpa alguma. — Pode até não ter tido culpa, mas por que você tem tanta certeza? — Porque Porque ele é completamente vidrado pelo quadro! — Aí, está vendo só? Mais uma razão para querer pegá-lo. 11
Minha Amada Mona Lisa
— Um momento, por avor. Ele é apaixonado por este quadro, ele realmente ama o quadro como se Mona Lisa osse viva e ele a tivesse consigo. Ele tem uma banda de rock e o nome é em homenagem a ela; ez música, tem biograas, otos de todos os tamanhos imagináveis, sabe de tudo a respeiresp eito dela, colecionador de esculturas dela que eu nem sabia que existiam. Tenho certeza de que, se há alguém que não goste dele, alguém que tenha inveja, descobrindo esse seu ponto raco, tenha eito isso para se vingar. Alguém, querendo acabar com sua reputação e sua auto-estima, causou todo esse equívoco, essa bagunça, e todos se viraram contra ele, inclusive o senhor. — O que o az pensar assim? — Como ele pode ter eito isso, ter pegado o quadro, se estava desmaiado? — Às vezes o susto, o choque de ter o quadro nas mãos oi muito grande, pode até ser que alguém o tenha surpreendido quando quando estava tirando o quadro e aí ele desmaiou. — E o que o senhor me diz de uma paulada na nuca? Guilherme insiste em dizer que levou uma bordoada na cabeça, mas ninguém lhe dá crédito... o que me diz? — Bem, meu lho, isto já é um caso muito complicado... precisamos apurar e ver se ele não está inventando isso para se saar. Além do que, isto pode ser verdade como pode ser mentira. O exame de corpo de delito realmente mostrou que ele soreu uma pancada na cabeça, mas que pode ter sido eita por ele mesmo, não acha? Ele, escutando passos, acertou a própria cabeça para despistar, o que acha? Original, não? — Não mesmo, inspetor. O Guilherme nunca aria isto; ele jamais roubaria algo de alguém, nem mesmo um doce, quanto mais um quadro! Ele não precisa disso. — Eu sei que vocês querem ajudar o seu amigo, mas sem provas não dá. Se vocês conseguirem alguma pista que 11
Minha Amada Mona Lisa
prove o que estão dizendo, aí sim, a perícia pode investigar... Caso contrário, o amiguinho de vocês terá que permanecer na celinha por mais tempo, ok? — Tudo Tudo bem, inspetor — disse Nicky levantando-se levant ando-se da cadeira. — Muito obrigado por nos ajudar, qualquer qualquer coisa inormaremos ao senhor. — Tudo bem, só mais uma coisinha — disse ele entregando um papel. — Aqui estão meus teleones, me ligue a qualquer qualq uer hora, também t ambém não acredito que tenha sido ele.
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XXXIX
N
— icky, vamos correr? Faz tempo que não me exercito um pouco. A última vez oi há duas semanas, e preciso manter a orma! — Nossa, quanta rescura... — Frescura nada, pois preciso estar linda para quando o Guilherme voltar. — Tudo Tudo bem, Marina, era brincadeira, br incadeira, passo aí em um minuto; primeiro vou passar no Guilherme e dizer um alô. Quer ir também? — Não, não, obrigada. Prero que você vá sozinho e me traga notícias... É muito triste para eu vê-lo naquele estado, depois ele caria triste em me ver e não poder car comigo. Diga-lhe que mandei um beijão, que o amo demais e que vou aparecer logo, eu prometo. Diga também t ambém que da próxima vez levarei um bilhetinho para ele. — Ok, seu desejo é uma ordem, darei seu recado. 121
Minha Amada Mona Lisa
— Então até daqui a pouco. — Até. Marina desligou o teleone apreensiva, as lágrimas saltando dos olhos aos turbilhões, apagou a luz e, echando as cortinas, se atirou na cama aos prantos. pr antos.
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XL
H á quanto tempo estou aqui? Há uns seis meses mais ou menos. Era tão bom aquele tempo em que eu estava com a minha amília, minha namorada, namorad a, meus amigos... Tempos Tempos perper didos que não voltam mais e, se voltarem, não serão mais como antes, pois sempre terei esse ressentimento dentro de mim, minha minha alma cará marcada para sempre. Agora são três horas da tarde e eu estaria ouvindo música em meu quarto, pensando em Marina ou, melhor ainda, estaria com ela, passeando, conversando, sorrindo e dizendo palavras doces e amáveis, mostrando-lhe tudo o que tenho de bom para azê-la eliz sempre ao meu lado. Marina, Marina, quanta alta você me az! Por que tive que gostar de Mona Lisa? Por que, desde a primeira vez que a vi naquele quadro, me encantei? Por que, quando olhava para ela, me sentia sugado para dentro da pintura? Seus olhos me prendiam proundamente, me levando por caminhos desconhecidos, por vales de águas escuras e proundas, águas negras. Olhos de águia, olhos insanos que 123
Minha Amada Mona Lisa
viviam me vigiando onde quer que eu osse, me atormentando, me azendo car paralisado. Sim, era isso mesmo, ela, com aqueles olhos, me hipnotizava. Eu não conseguia azer outra coisa a não ser olhar para eles, escuros e sinistros, aqueaquele rosto, aquela boca... sim, naquela boca onde paira um sorriso diabólico, enigmático, nunca desvendado por ninguém. Ninguém, com toda a sua sabedoria, conseguiu descobrir o que realmente signica aquele aquele sorriso. Parece uma expressão zombeteira, mas, se olharmos bem no undo, é uma expressão séria com um ar triste... uma gura encantadora, os o s olhos, os mesmos olhos que hipnotizam, também entristecem; ela parece estar triste de viver naquele quadro... está triste de ser esquecida pelos outros, de viver há tantos séculos presa em lembranças. Uma gura surpreendente, que az qualquer um car abismado com a ormosura que exala de seu interior. É como se possuísse uma estranha orça capaz de mu mudar dar tudo e todos, que me transormou da água para o vinho e capaz ainda de levar um inocente para a prisão, só por estar aprisionado aos seus encantos. Por que Mona Lisa ez isso comigo? Eu sempre a amei e nunca menti sobre isso para Marina. Não entendo o porquê disso tudo comigo. Estou me sentindo um verdadeiro lixo, um marginal, um delinqüente. Às vezes, na hora de deitar, as lembranças sempre voltavam, por mais que Guilherme zesse orça para esquecêlas, elas sempre estavam est avam ali presentes. Os atos permanecia p ermaneciam m vivos na mente dele. Lembrava-se pereitamente do dia em que ora com Nicky à casa de tia Adelaide; tinha sido um dia inesquecível para ambos. Agora os acontecimentos passados misturavam-se com os reais, com os que ele estava vivendo no momento. — Puxa vida, como eu não havia pensado nisso? NaqueNaquele sonho que tive havia prisões, campos, quadros e museus... 124
Minha Amada Mona Lisa
Sim, tudo isso parecia muito conuso para a cabeça de Guilherme; talvez aquele sonho osse uma dádiva divina, avisando-o de que tomasse cuidado e ele, por sua vez, não conseguiu entender o recado. É claro que oi isso, só pode ter sido isso. Por que ele não pensou nisto antes? Se aquele sonho oi um aviso, algo mais estava por acontecer ou já havia acontecido... Guilherme se levantou e sentou-se na cama, tinha a respiração acelerada e um brilho de elicidade no olhar. — Será que isso tudo signica que logo sairei daqui?
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XLI
V—amos, Nicky, você precisa correr mais no ritmo! Eu sei, Marina, mas acontece que eu não estou acos-
—
tumado. — Mas é muito ácil, venha, é só correr igual a mim, aí não tem erro. — Vou tentar. — Nicky, o que acha de irmos por trás daquelas casas, por lá têm descidas e isso ajuda mais, o que acha? — Tudo bem, por mim está ótimo! Começaram a correr e havia muitas descidas e subidas, havia lugares por onde não se passava correndo, só andando e com muito cuidado. Era um lugar de diícil acesso, ninguém iria imaginar que por trás daquelas casas bonitas havia lugares tão eios. — Puxa, Nicky, quando vi as primeiras ruas achei que seria bacana, pois gostei das primeiras ladeiras, mas, como estava sozinha da outra vez, eu não prossegui. Achei que seria melhor ter a companhia de alguém conhecido, mas não pensei que sairíamos nessa bocada, desculpe! 12
Minha Amada Mona Lisa
— Não tem importância, Marina, já sabemos, e da próxima vez não viemos para cá. Vamos voltar? Eu não agüento mais! — Claro, Nicky, só vamos passar mais estas est as três casas e, aí, voltamos por cima, dando a volta, ok? — Ótimo! Enquanto corriam Marina percebeu muitas pedras no meio do caminho. Qualquer Qualquer deslize poderia ser atal, at al, pois do outro lado havia uma espécie de penhasco pouco adiante adiante.. — Escuta uma coisa, Nicky, aqui está perigoso, vamos passar andando, correr é muito arriscado. — Tudo Tudo bem, vou na rente r ente e seguro sua mão; onde eu pisar, pise também e seja cuidadosa, já estamos enrascados o suciente para acontecer alguma coisa pior! — Nicky, obrigada, mas não precisa tanto. Não é tão diícil assim. — É, não é tão diícil diícil assim, mas, se você v ocê cair e acontecer algo, o Guilherme não me perdoará nunca; agora seja boazinha e aça o que estou pedindo, tá? Para o bem de todos nós. — Pode car tranqüilo, se acontecer algo eu mesma alarei com ele, direi que oi por minha causa, ele sabe como sou teimosa... Sabe, Nicky, pensando bem, vá na rente e segure minha mão; meus pés estão escorregando e estou começando a car com medo. Tudo aconteceu rapidamente, em uma ração de segundos. Marina escorregou e cou pendurada segurando nas mãos de Nicky. — Marina, balance o corpo e jogue suas pernas para cima, eu as segurarei e a puxarei para cima. Vamos, garota, você consegue, segure nas bordas do penhasco, p enhasco, ca mais ácil para eu ajudá-la e puxá-la. — Nicky, estou com muito medo, não vou conseguir! 12
Minha Amada Mona Lisa
— Marina, por avor, aça isso pelo Gui. Se acontecer alguma coisa com você, aí sim, o mundo terá acabado para ele. Seja orte, não está assim tão ruim, você consegue, vamos, orça! — Não consigo, minha mão está escorregando! — Consegue sim, balance o corpo, veja, estou segurando suas mãos novamente, balance o corpo, assim pegará embalo e cará mais ácil para levantá-la, vou puxá-la para cima! — Não consigo! — Consegue sim, balance o corpo mais rápido. — Eu não consigo, Nicky, estou sentindo que vou despencar, me solte ou irá junto. — Não, Marina, não vou soltar solt ar suas mãos, se or precipr eciso, cairemos juntos, balance o corpo mais orte! — De que jeito? — De qualquer jeito, ande rápido, balance o corpo mais rápido, minhas mãos começam a suar e você irá escorregar. escorregar..... — Nicky, por avor, me ajude! — Isso, Marina, isso mesmo, assim, calma, só mais um pouco, continue, estou conseguindo, só mais um pouco, calma... é agora, vou conseguir, estou quase, só mais um pouco vai... vai... consegui! — Oh, Nicky, não acredito! Com um gesto rme e rápido, Nicky puxou p uxou Marina e a colocou em terra rme. — Oh, Nicky, muitíssimo obrigada! — disse Marina abraçando-o. — Não sei o que seria de mim agora se não osse você! Muito obrigada! Minhas pernas estão tão bambas que nem consigo andar direito, é um alívio estar em terra rme novamente, muito obrigada mesmo. — É melhor nós sairmos daqui agora! Com este monte de pedras meio soltas, podemos escorregar os dois! 12
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Marina tropeçou e uma pedra rolou e caiu lá embaixo. Marina teve a impressão de ter visto um pé, agachou-se e começou a retirar algumas pedras. Nicky olhou para trás e perguntou: — O que está procurando? — Tive a impressão de ter visto um pé, venha cá e me ajude a remover algumas pedras para tirar esta dúvida! Nicky aproximou-se com cautela e viu as mãos ávidas de Marina que arrancavam as pedras com muita rapidez. Nicky cou horrorizado. Havia realmente um corpo, era verdade o que Marina havia dito. Ao olhar para ela, estava est ava radiante, anal de contas, ela havia encontrado um corpo. Jazia ali uma perna de d e mulher, uma bonita perna, meio arroxeada pelo tempo. Há quanto tempo estava ali? Não sabiam. Marina olhou para Nicky e, como se ele tivesse lido seus pensamento, disse: — Vamos chamar a polícia! Colocaram algumas pedras em cima do corpo novamente para tampá-lo e se retiraram. — Escute uma coisa, Marina, isso não pode ser contado para ninguém, entendeu? — Claro... mas nem para o Gui? — Nem para o Gui. Só depois de sabermos alguma coisa sobre o corpo, promete? Já pensou só se tem algo a ver com o caso dele? Arruinaria tudo novamente. Espero que não seja mais ninguém daquele museu!
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XLII
D
— roga! — disse Roger pegando sua jaqueta de couro. — Caiu o botão! Tomou seu banho, ez a barba e saiu do banheiro. Foi até o quarto e se vestiu. Colocou uma calça jeans desbotada, camiseta branca e a jaqueta de couro preta. Estava de rente ao espelho quando notou seus cabelos: — Preciso cortá-los ou irei parecer com o Guilherme! Continuou na rente do espelho por mais um tempo, depois, sorrindo, virou-se, pegou seu material e saiu. s aiu. Chegou em vinte minutos na aculdade e oi direto para a lanchonete. — Olá, tudo bom? — Tudo beleza, andava sumido, cara? O que aconteceu? — Comecei a trabalhar, Artur, aí sobra pouquíssimo tempo. Como não tinha ânimo para levantar cedo, cava deitado mais um pouco e acabava perdendo a hora! —Ah... está explicado! 130
Minha Amada Mona Lisa
— Nossa, quem diria hem? O Roger aqui? Tudo bem? — Eu estou, Pedro e o Rogério? — Viajando, só volta no nal da semana. — Sério? Para onde ele oi? — Foi à praia. — Legal, vai voltar volt ar vermelhão, ele é muito branquelo! branquelo! — Vai Vai mesmo, vai voltar v oltar um verdadeiro camarão... — Poxa vida, Pedro, Pedro, hoje tem prova de matemática! — Matemática? — disse Roger espantado. — Eu não sei nada, meu, passa as respostas respost as para mim? — Olha Roger, se der eu passo, senta na minha rente e aí vamos ver o que acontece... acontece... — Ok, cara, obrigado!
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XLIII
N a cela escura e ria Guilherme repousava, seu cabelo estava todo despontado, despont ado, só a barba estava eita, pois a única coisa que a amília podia levar, além de alguma roupa e guloseimas, eram as lâminas de barbear. Mas era assim: ele as usava e a amília levava de volta. Ouviu passos em sua direção, sentou-se na cama e xou um homem gordo a sua rente. — Guilherme! — disse o guarda. — Visita Visit a para você. Guilherme levantou-se para receber o estranho, estendeu sua mão e cumprimentou. — Bom dia, Guilherme, meu nome é Fred Gibson, sou inspetor! — Prazer, caro Gibson, mas em que posso lhe ajudar? Não entendo, como me conhece? Eu mesmo nunca o vi antes. — Eu sei, vim por meio de Nicky e Marina. — Nicky e Marina? O que eles zeram? — Me pediram para ajudá-lo e aqui estou! Contaramme sobre seu romance com o tal quadro e eu achei tudo isso uma tremenda loucura, mas resolvi res olvi ajudar. 132
Minha Amada Mona Lisa
Guilherme abaixou a cabeça e passou as mãos pelos cabelos. Tornou a olhar para o inspetor com uma expressão séria, longe e triste... — Então, quer dizer que o senhor já sabe de tudo a respeito de Mona Lisa? Sim, sim... oi ela — disse Guilherme com os olhos cheios de água, xos em um ponto qualquer. — Foi por ela que me apaixonei. Eu era um cara muito ocupado, não tinha namorada, mas tinha muitos amigos e uma banda, tudo o que quisesse. quisesse. Fazia Fazia aculdade e ainda aço, pois alta apenas um semestre, estava no auge e aí tudo aconteceu, o mundo desmoronou sobre minha cabeça. — Me diga, Guilherme, como tudo aconteceu. — Ah... tudo aconteceu quando ui ao museu com os amigos da aculdade. Não estava me sentindo bem, parecia que eu ia morrer e aí tudo aconteceu rápido demais. Assim que entrei no museu, não me senti bem, suava rio e sentia arrepios, não conseguia parar de tremer e que queimava imava de ebre; minha vista escurecia toda hora e tudo girava ao meu redor; minha voz cou rouca e desmaiei. Acordei e me levaram para casa. Desde aí só consegui pensar na Mona Lisa, ela não saía de minha cabeça, de meus sonhos. Eu tive um sonho muito estranho, uma alucinação, oi o que aconteceu, o psicólogo até me chamou de alucinóge alucinógeno. no. — Mas eram ortes suas alucinaç alucinações? ões? — Fortíssimas, Fortíssimas, eu a sentia perto de mim e ainda a sinto, é só olhar uma oto dela. Quando minha mãe vem me visitar, sempre traz uma oto para eu ver, não que seja um incentivo, mas eu insisto muito para que ela traga... — Sei, Guilherme, e me ale só mais uma coisa: é sobre a Marina, você amando outra e namorando ela... como explica isso? Ela sabe? Como você se sente tendo o seu amor por um lado correspondido e por outro não? Como é se sentir dividido? — Olhe, Gibson — Guilherme tinha o pensamento longe, nem sei como lhe explicar. Quem disse que meu amor 133
Minha Amada Mona Lisa
não é correspondido? Eu sinto que Mona Lisa é viva e quer me ajudar, ela quer me ver eliz, é só eu olhar para o seu retrato que de seus olhos eu sinto um calor que me envolve, entendeu? O seu olhar me envolve, me az ver que nem a morte é capaz de apagar e azer esquecer um grande amor, uma pessoa. A morte não passa de um sono proundo, pro undo, que um dia todos iremos enrentar, por isso, não há motivos para deixar de amar a mulher de um quadro que se oi há mais de quatro séculos. Sim, é isso mesmo, esse quadro oi pintado no século XVI e mesmo assim não deixa de ser importante para mim, Gibson. Ninguém entende que sou inocente. Acham que ui eu quem tirou o quadro da parede, mas para quê? Não ui eu. Só pode ter sido alguém que não goste de mim, que ez isso para me incriminar. incriminar. O que mais poderia ser, então? Guilherme tinha os olhos vermelhos. Era só começar a alar de Mona Lisa e já acontecia isso. Ele queria provar a todos que era inocente, mas como azê-lo? — Bem, Guilherme, eu já vou e espero que logo você saia daqui e descubram o real criminoso, se é que existe. Eu também não acredito que tenha sido você, mas as aparências enganam e, você sabe, estou do lado da lei! Guilherme sentiu uma ponta de esperança naquele homem que estava ali e abraçou-o com alegria. — Muito obrigado, senhor Gibson! — Gibson, por avor! — Como quiser. — Eu não queria que se sentisse constrangido ao me contar isso, mas eu precisava saber, precisava ouvir de sua boca. — Não oi nada, Gibson; de vez em quando é muito bom desabaar. — Nos vemos em breve! — Até mais. 134
XLIV
O salão estava arrumado. O dia da grande esta chegara. Guilherme estava antasiado ant asiado de príncipe com aquelas aquelas roupas todas eitas em cetim, com meias compridas brancas e sapatinhos de bico preto. Estava Est ava de rabinho e sua calça era resumida em um short com elástico nas pernas num tom orte de azul royal. Sua camisa era de mangas longas e buantes, na cor creme e azul royal. roy al. Sobressaía uma capa que chegava até o tornozelo, também no mesmo tom de azul, orte e vivo. As garotas estavam todas de roupas de época. Seus vestidos eram longos e rodados com muitas rendas, babados, bordados, tas e pregas; pr egas; usavam luvas, cabelos cacheados, presos em coques ou em rabos de cavalo artísticos, perucas e sombrinhas de babadinhos e rendinhas e bolsas. Marina ainda não havia chegado e Guilherme resolveu dar uma volta pelo jardim. Sentou-se em um banco e começou a olhar o céu, aquela imensidão toda cheia de estrelas, estrelas de brilho raro. Havia algumas nuvens no céu, nuvens que na verdade lembravam algodão-doce, e Guilherme lem13
Minha Amada Mona Lisa
brou-se de uma música que dizia que as nuvens não eram de algodão; nuvens de algodão estavam ora da realidade, ou seja, mostravam para eles que a vida não era só de antasias, como ele que amava Mona Lisa, uma louca antasia. Guilherme continuou com o seu olhar perdido no espaço. Fazia calor naquela noite e a leve brisa que soprava, rerescava. Levantou-se e se encaminhou na direção do salão para ver se Marina havia chegado. Entrou no salão e viu uma linda moça. Não, não ia chamá-la de linda moça e sim de mulher. Havia no salão uma linda mulher, uma gura espetacular que era capaz de atrair todos os olhares para si. Ela olhou para Guilherme e, ao acorde da primeira valsa, ele a tirou para dançar. Rodopiavam alegres pelo salão. De repente não havia mais ninguém ali, todos haviam sumido, nem se ouvia mais a valsa ser tocada, só havia eles que continuavam continuavam dançando sem se importar import ar com o sumiço de todos; todos ; dançavam no meio da névoa cintilante que tomava conta de todo o espaço; a brisa suave balançava seu vestido longo e no. Ela dançava com tamanha pereição, rodopiava pelos braços de Guilherme, mas nunca sorria, sempre mantinha o rosto enigmático, misterioso, mas com um leve ar zombeteiro. Continuaram Continua ram a dançar no meio daquela umaça branca cintilante e sem música e as horas iam passando, passando, passando... Quando o relógio deu doze badaladas, ela parou e olhou-o. Só então percebeu que estivera dançando com Mona Lisa. Ele cou atônito, não sabia o que azer, tomou as mãos dela entre as suas e as beijou. Ela continuava continuava olhando para ele com o mesmo ar enigmático. Ele se inclinou para beijá-la e, quando nalmente seus lábios estavam se encostando, quando podia até sentir o calor que emanava deles, ela desapareceu suavemente como um arco-íris. 13
Minha Amada Mona Lisa
Guilherme saiu correndo de dentro do salão para procur pro curá-l á-la, a, mas só restava rest ava ele naquele naquele imenso jardim. Voltou Voltou o olhar para o céu e aí viu o rosto dela ormado pelas últimas estrelas que restavam, pois o sol já começava nascer. Olhou para dentro do salão e as luzes se apagaram. Deu uma última olhada para o céu e não havia mais nada. Caiu no chão chorando e soluçando; não sabe quanto tempo permaneceu assim, mas, quando se levantou, abaixou a cabeça e, virando as costas, saiu triste pelo portão. Acordou sobressaltado e suado. Podia sentir o perume dela até aquele instante. Viu, penalizado, que tudo não havia passado de um simples sonho e, virando cabeça, adormeceu novamente.
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XLV
N icky e Marina estavam no necrotério esperando ansiosos pelo inspetor Gibson. — Por Por que demorou tanto, senhor Gibson? — Porque Porque ui azer uma visita ao Guilherme. Realmente não pode ter sido s ido ele quem ez isso, mas como provar? — Ainda não sabemos ou pelo menos, por enquanto. Mas estávamos correndo um pouco e encontramos um corpo, teleonamos para a polícia e o trouxeram para cá. Viemos o mais depressa possível para ver de quem é o corpo. Estamos muitoo curiosos. muit curiosos . — Então veremos juntos, garotos. Estou ansioso também. Entraram em uma sala escura e ria. Em cima das mesas havia corpos cobertos e um estava descoberto, no canto da parede, próximo à janela. Marina segurou a mão de Nicky e caminhou até lá. Quando olhou para o corpo, entrou em estado de choque e não parava de gritar, estava histérica. Quando realmente conseguiram acalmá-la, ela disse: 13
Minha Amada Mona Lisa
— Foi Foi ela, inspetor inspeto r Gibson, Gibso n, oi ela quem esteve em casa e me disse coisas horríveis sobre Guilherme. Chamava-se Camilla. É certo que eu não gostava dela, mas isso era a última coisa que eu a desejava. Nunca pensei em vê-la deitada num numaa mesa de mármore com a garganta cortada... Marina começou a chorar e lembrou-se de que ela havia dito a Nicky que havia participado participado de um plano para p ara prender Guilherme, mas havia se arrependido e por isso estava dizendo a verdade para eles. Ela não podia dizer o nome da pessoa, pois havia sido ameaçada. E parece que acabaram descobrindo que ela tinha aberto a boca. O resultado estava ali bem na sua rente, assassinaram-na. — Pobre Camilla! Camilla! — disse Marina ao inspetor Gibson. — Ela contou que participara de um plano com uma pessoa e, se essa pessoa descobrisse que ela havia contado tudo, ela seria morta, mas, mesmo assim, alou, e aí está ela agora. Não consigo entender como puderam azer uma coisa dessas com ela inspetor, ela não era má. — Bem, você disse um plano? — Isso mesmo, ela disse que participou de um plano para colocar o Guilherme na cadeia, só que se arrependeu, não resistiu e nos contou a verdade. Ela era nossa única prova. Nós íamos combinar um dia para ela vir até aqui e conversar com o senhor. Ela não alou o nome da pessoa, pois, se essa pessoa descobrisse, a mataria. mat aria. Mas pelo jeito, tudo indica indica que a pessoa acabou descobrindo. — Pobre garota. Mas como vamos provar se isso é verdade? — Vamos dar mais um tempo e esperar o resultado da autópsia. — Tudo bem, caso vocês descubram alguma coisa, me liguem. O Guilherme sabia alguma coisa sobre esta garota? 13
Minha Amada Mona Lisa
— Não, não dissemos nada a ele. Achamos melhor contar para o senhor primeiro, e depois contaríamos a ele. — Ótimo, zeram bem. Agora me deixem trabalhar e qualquer coisa me liguem, a qualquer hora do dia ou da noite, Até mais. — Até mais!
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XLVI
M arina e Nicky já se encontravam na aculdade quando a galera toda chegou. — E aí, gente? Tudo bem? — disse Roger beijando a ace de Marina. — Hum... como está cheirosa! — Como estão as coisas? — Bem, estão muito bem... Logo depois chegaram Artur, Pedro e Rogério. — Tudo bom? — Tudo ótimo! Andava sumido, Rogério, por onde esteve? — Praia, eu adoro praia. Fui passear um pouco, descansar a cabeça, sabe como é, né? Fiquei por lá duas semanas, mas passaram tão rápido... — É, dá para perceber, você está bem vermelho, mas deu para pegar uma boa cor. Muito sol por lá? — Muito, as duas semanas inteiras de muito sol e calor... Marina era a única que que não dizia nada, apenas observava os amigos inexpressivamente. Primeiro olhava para Nicky. 141
Minha Amada Mona Lisa
Será que ele estaria por trás daquele jogo sujo? Quem havia assassinado Camilla? Não, o Nicky não. E os outros? Olhou à sua volta, Pedro era um cara legal, era amigo de Guilherme e sempre esteve perto quando ele precisou; sempre esteve ali ajudando, dando orça. Ele não tinha medo de expressar seus sentimentos, sempre ora compreensivo e atencioso. E Roger? O que ele estaria sabendo que não dividia com ninguém? Será que ele sabia de alguma coisa que ninninguém mais sabia? Do jeito que ele é, deve saber um monte de novidade e só vai dizer quando der vontade; assim deixa todo mundo surpreso, como ele sempre gostou de azer... Será que ele estaria envolvido em alguma coisa? Ele também sempre ora amigo de Gui. Além do mais, Guilherme sempre o ajudou em tudo o que pode, e Roger sempre ora grato por isso. Achava que Roger também não tinha nada a ver com o ocorrido. Quanto ao Artur e ao Rogério, eles são amigos de inância... mas Guilherme sempre oi mais apegado a Nicky e Roger. É tão diícil observar uma pessoa e achar se ela tem algo a ver ou não com o ocorrido. Esta é mesmo uma tarea para a polícia. Ah... tem o Raael, que que é o guitarrista guit arrista da banda, esse era demais. Guilherme sempre contou tudo a ele e vice-versa. Pensando bem, é tão diícil ter que pensar qual deles ali reunidos poderia ter culpa no caso. Como Guilherme não possuía inimigos, cava complicado, muito complicado analisar. Quanto aos garotos ali reunidos, parece que nenhum aria isso com Gui, pois todos gostavam gost avam muito muito dele! — Oi, Marina, em que está pensando? — disse Roger estalando os dedos na rente de seu rosto. — Estou alando com você az um bom tempo, o que houve? Preocupada com alguma coisa? 142
Minha Amada Mona Lisa
— Não, Roger, não oi nada. Eu só estava pensando no Guilherme, como ele az alta, não acha? Me desculpe por eu não estar prestando atenção. O que você perguntou mesmo? — Deixe para lá, não era nada importante mesmo! Entendo você, ele az muita alta... — Me desculpe mesmo, Roger! — Tudo Tudo bem, esqueça isso garota! garot a!
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XLVII
U
— m botão? Não estou entendendo, inspetor Gibson! O que um botão tem de estranho? — Gibson, Nicky, não se esqueça! — Claro, claro, mas não consigo entender ainda... O que o senhor quer dizer com isso? — Venha para cá rápido, assim passarei tudo e você mesmo poderá tirar suas próprias conclusões. — Sim, Gibson, já estou indo, só vou passar e pegar a Marina em casa. A propósito, isso tem alguma ligação, alguma coisa a ver com o caso do Mona? Digo, do Guilherme? — Talvez, Talvez, quem sabe? É sobre isso que gostaria de conversar com você! — Estou indo agora mesmo, inspetor, obrigado! Gibson desligou o teleone e com o one ainda na mão disse: — Gibson, Nicky, Gibson!
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XLVIII
—
M—ãe,Só pegue minha calça preta? um instante inst ante Marina... aqui aqui está.
— Obrigada. Marina saiu correndo do banheiro e entrou no quarto. Colocou tênis, camiseta camiseta branca, prendeu os cabelos e passava batom, quando sua mãe entrou no quarto. — Para que que tanta tant a pressa? — É que o inspetor Gibson ligou para o Nicky pedindo para irmos até lá, parece que ele tem novidades sobre o caso do Gui. Temos que ir ao necrotério ver o corpo novamente, parece que ele encontrou algo e quer nos mostrar, disse que pode ser alguma pista. pist a. Dependendo do que or, se conseguirmos provas concretas, poderemos soltar o Gui mais cedo do que esperamos, não é maravilhoso, mamãe? — É ótimo, Marina. Então se arrume mais rápido. Aonde você vai se encontrar com o Nicky? — Ele vai passar aqui! 14
Minha Amada Mona Lisa
— Com licença, Marina, o Nicky acabou de chegar! — Pede Pede para esperar só um instante, Maria? Obrigada! — Tchau, mãe, me deseje sorte! — Boa sorte, minha lha. Até mais tarde! t arde!
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XLIX
T omou o leite rapidamente e jogou o copo contra a parede. Uma chuva de cacos de vidro caiu sobre o piso da cozinha e também em cima da pia. Foi para o quarto e se deitou na cama. Estava nervoso e não conseguia parar de tremer. O motivo disso tudo era Guilherme; por causa dele acabaram descobrindo o corpo de Camilla. Mas como oi possível? Por que estou assim? Eu não comentei nada com ninguém... logo não vão desconar de mim! Se z o que z, oi porque ela mereceu! Não z nada de errado, eu até gostava dela, eu só z isso para ajudá-la a não ir para a cadeia, azer companhia para o Guilherme. Quanto a ele, sempre nos demos bem, sempre gostei dele, mas aí ele começou a namorar a Marina e então armei tudo isso, iss o, aproveitando que ele é apaixonado por aquele quadro estúpido. Além do mais, ele é meu amigo e estou assim preocupado porque ele é muito esperto. Espero que ele não descubra nada. — Oi, Gibson, tudo bom? — Tudo bem, crianças, que bom que vieram logo. 14
Minha Amada Mona Lisa
— Não nos aça esperar mais. O que você já sabe que ainda não sabemos? Alguma novidade? — Claro, Nicky, claro. Bem, como eu já disse pelo teleone teleo ne e volto vo lto a dizer, na autópsia que que zemos no corpo de Camilla, encontramos encontramos dentro de sua boca um botão. — Um botão? — disse Marina horrorizada. — Como assim um botão dentro da boca de Camilla? Alguém colocou lá? — Não é só isso, como ela tinha as unhas compridas, encontramos enganchado um brinco de argola prateado pr ateado com um crucixo. Detalhe do brinco: não era o dela, ela estava com os dois e eram duas bolinhas douradas. O que me dizem sobre isto? Estranho, não? — Bem, ela pode ter sido violentada bruscamente; pelo menos isso oi a primeira coisa que que me passou pela cabeça. — Não, Marina, não acredito que tenha sido violentada. Na autópsia não apareceu nada a respeito disso. Acho que a hipótese mais provável é que ela, percebendo que a matariam, tentou obter de alguma orma algo para que, quando a encontrassem, descobrissem o assassino — e virando-se para Nicky. — Será que acertei? É uma boa teoria pelo menos, não é? — É, acho que é boa mesmo! Essa garota, se ez isso com esta intenção, oi brilhante. Quem poderia imaginar? Agora é só descobrir a quem pertence esses objetos, e aí o acusado estará preso, não é? Assim estará desvendado o caso do Guilherme, já que ela participou do plano... — Mas é lógico que tem tudo a ver com o caso do GuiG uilherme. Se antes de morrer, ela procurou vocês, disse que ia revelar um assunto importante import ante e que o “mandante” não poderia saber, tudo já se encaixa. E de repente ela apareceu morta, depois de ter contado o plano, o que mais poderia ser? Coincidência? cidênc ia? Claro que não, isso é resposta para o nosso pequeno mistério! 14
Minha Amada Mona Lisa
— É, essa história é mais complicada do que imaginávamos, não é, Marina? Como vamos descobrir o assassino? Sei que que será através do brinco b rinco e do botão, mas como? — Bem, vocês terão que começar pela própria aculdade, pelos amigos... pois se ela não podia dizer o nome da pessoa, isso quer dizer que vocês a conhecem e que poderiam comentar com ela sem querer e colocar tudo a perder. — É... Concordo com sua teoria Gibson, mas não seria melhor nos mostrar os objetos? Acho que deve car mais ácil. Se conhecemos a pessoa, como você sugere, então se olharmos os objetos, eu acho que poderemos descobrir a pessoa! — É essa a intenção, que reconheçam os objetos e quem sabe descubram se pertencem a algum conhecido... Aqui estão eles! Ficaram um bom tempo olhando uma caixa de veludo escura. Marina oi a primeira a abrir a caixa e não pode conter a surpresa; arregalou seus grandes olhos castanhos e cou perplexa! — O que oi, Marina? Me mostra o que você viu. O que oi? — Nicky, eu não acredito. É muito para minha cabeça, não pode ser, deve haver algum engano. — Não acredita no que, Marina? — Olhe você mesmo, Nicky. Nicky pegou a caixa de veludo que estava sobre s obre a mesa e não pode conter a surpresa também. Olhou para Marina boquiaberto. — Você tem certeza, Marina? — Claro, Nicky, ui eu que dei esse brinco para ele, como eu não o reconheceria? r econheceria? Isso nunca passaria pela minha cabeça... Ele sempre ora nosso amigo e bem... ca tão diícil diícil de acreditar que seja ele. Eu nunca pensei que ele aria isso, não consigo acreditar, Nicky. Preciso ter certeza; ver se ele está usando outro brinco ou se está sem. Como ele pode ter sido tão cínico? Visitando o Gui na prisão e dizendo palavras 14
Minha Amada Mona Lisa
conortadoras... alando que ele sairia dessa, que era orte e que iria superar tudo. Ia à casa dele e conversava com os pais dele. O que ele estava azendo? O que pensava então? Por que azer isso com uma pessoa que sempre só quis o bem dele? Realmente não entendo o que se passa pela p ela cabeça das pessoas... não sei mais em quem conar. — Mas agora tudo ca mais claro... no dia do museu... museu... lembra? Quando o Gui oi preso, o Roger estava estranho, esquisito, tratou Guilherme dierente. Eu quei intrigado na hora, sei lá, achei que ele estava est ava dierente, meio nervoso, mas não sabia o motivo. Até o Gui notou dierença, mas não conseguiu compreender o que era. Depois ele, percebendo que notamos algo estranho, se desculpou e disse que que estava chateado e não devia ter descontado em nós... Deixamos para lá o incidente e até chegamos a esquecê-lo, mas agora tudo ca claro para mim; ele já sabia que aquele dia algo aconteceria com o Gui e estava só esperando. Ele também disse que o Gui iria precisar de muita sorte quando o acusaram de ter roubado o quadro de Mona Lisa e deu a entender que ele era um ladrão. Disse tudo isso brincando, mas agora entendo o que ele queria dizer. Tudo Tudo isso iss o o deixou muitíssimo muitíssim o triste, trist e, pois ninguém acreditou nele. Isso oi o pior de tudo, um amigo azer o que ez... nunca passou pela cabeça do Gui como o Roger é cruel. — Tem razão, Nicky, mas o que não consigo entender é o que tudo isso signica, como o Roger conseguiu ser tão also com uma pessoa que só quis o bem dele? E se ele desmentir o crime? Não acredito que tenha assassinado Camilla... Ele pode dizer que não oi ele, e quem poderá provar contra? Só esses dois objetos são o bastante para incriminá-lo? — Não sei, Marina, mas como tem tanta certeza que oi Roger? — Porque Porque a Camilla disse que havia participado parti cipado do plapl ano para incriminar Guilherme, só que aí se arrependeu e 10
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contou toda a verdade. Não me disse o nome dele, mas disse que alaria depois, depois, pois temia ser morta por ele se ela o entregasse... E sobre o brinco, eu ui comprar com o Gui de presente de aniversário para ele. Lembro-me de que ele me disse que queria um igual ao meu, mas que não comprava por ser caro. Então, ui até a mesma loja onde o encomendei e pedi para azer outro par totalmente igual, pois eles desenham na hora o modelo que você pede. O brinco acaba se tornando peça única, e por isso sei que é do Roger! Ainda não consigo entender, Gibson, o motivo que o levou a azer isso com ela! Ele é um verdadeiro monstro. — Calma, Marina, não vamos perder a cabeça agora que sabemos que pode ser o Roger. Precisamos pegá-lo no pulo; continuem conversando com ele normalmente para que não perceba nada. Agora estamos chegando ao m de todo esse pesadelo, tente se acalmar. Como iremos pegá-lo? Notaram algo errado com relação ao brinco? — Agora que tocou neste assunto, Gibson, me recordo pereitamente. Ele apareceu na aculdade com esparadrapo na orelha e eu perguntei o que era. Ele disse que era uma espinha enorme que estava muito infamada, a orelha estava completamente vermelha. Ficou assim por vários dias. Geralmente, quando se espreme uma espinha, ela seca no mesmo dia, ou se está muito infamada, sei lá... em alguns dias e não em semanas... Ele podia estar querendo disarçar algo... um corte... um rasgo! — Isso, Nicky, e sobre o botão, recorda-se de quando ele colocou a jaqueta, o Artur viu que estava sem e brincou dizendo que alguém o arrancara? Lembra como ele cou nervoso com esta observação e saiu da roda minutos depois? Sei lá, mas tudo isso pode ser pura coincidência, não quero imaginar que o Roger é capaz de azer tamanha brutalidade! 11
Minha Amada Mona Lisa
Estava tudo tão claro e nós não percebíamos o que se passava diante de nosso próprio nariz. Ele devia se divertir à nossa custa, rindo por trás! — Agora que sabemos, o que azer, Gibson? — Voltem para casa e amanhã apareçam na aculdade normalmente, conversem com ele e vejam se o curativo ainda está lá ou se há uma cicatriz no lugar, depois me liguem e aí veremos como o pegaremos. Até lá, pensarei em alguma coisa! — Ótimo, adorei a idéia! — Eu também, Gibson. Não sei o que aríamos sem você. Até amanhã. — Até e cuidado, isso pode ser muito perigoso, entendeentenderam? Não resolvam azer nada sem me consultar primeiro, esperem novas instruções! Quero ver este garoto livre, Nicky!
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LI
—
O—i,Marina, Gui! quanto tempo, como está? Estou morrendo
de saudades suas e de todos, todos , pensei que que houvesse se esquecido de mim... — Oh, meu amor, eu nunca esqueceria esqueceria de você, estou es tou ótima e morrendo de saudades também, não vejo a hora de carmos juntinhos novamente... como antigamente, vendo um bom lme, comendo uma boa pipoquinha... — Mas me diga, como está o Nicky? E o Roger? Faz tempo que não aparecem... — É... o Roger, está bem... mandou lembranças! — Ele está bem mesmo? — Claro, e por que não estaria? — Não sei, você vacilou um pouco para alar dele, o que aconteceu? Ele está doente? Aconteceu algo com ele? — Não, Gui, não aconteceu nada! — Não sei não... Você Você está querendo querend o me esconder escond er algo, me diga, o que é? 13
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Guilherme soltou-se de Marina e oi andando para trás até encostar-se na parede, que cava no undo da cela, onde entrava uma raca luminosidade pela janela. Ficou de costas e passou as mãos pelos cabelos. Parou, respirou undo e, virando-se de repente, encarou-a bem nos olhos o lhos e disse: — Já chega, me diga o que está acontecendo... Ele está envolvido, não está, Mari? — Ai, Gui, não vou mentir para você, você sabe, nunca menti e não vou azer isso agora... eu... eu... sim. Ele está, Gui! — Eu já desconava... desconava mesmo, mas não podia dizer dizer nada sem provas. — Como? E você nunca nos contou nada sobre isso, Gui? Qual a razão? — Porque eu não via necessidade, queria ter certeza do que ia alar, isso é uma acusação muito séria... não pode pod e ser dita assim sem certeza. Sabe, não queria culpar meu amigo... — Seu amigo, Gui? Pelo amor de Deus, nunca oi seu amigo, ele é uma víbora. Onde já se viu, um amigo de verdade nunca teria eito isso! — Acontece, Mari, que eu o conheço desde d esde pequeno e nunca me passou pela cabeça que ele aria isso comigo. Não consigo aceitar... — Bem, amigos você tem muitos, o Nicky, Fael, Fael, seus pais, pais, a Benê, eu... enm, todos os outros, menos ele, nunca mais repita o que você disse agora, Gui. Ele nunca oi seu amigo! — Tudo bem, irei me acostumar... O que mais ele ez? — Você não sabe nem o começo, meu amor. Ele matou uma garota; Camilla era o nome dela! Guilherme cou atônito, petricado, parecia ter recebido uma paulada na cabeça, bem mais orte que aquela do museu, um verdadeiro balde de água ria. Olhou para Marina com os olhos úmidos e perguntou, com um o de voz: — O que você disse? 14
LII
—
O—lá,Tudo cara, tudo legal? legal, Nicky, e a Marina?
quê?
— Visitando o Mona! — Ah... e ele... como está? Tudo bem? — Tudo ótimo, melhor agora com algumas descobertas... — Descobertas? Como assim? Descobertas sobre o
— Sobre nada, Roger, curioso! Depois ele ala sobre isso... Primeiro é preciso ter certeza! — Oh, sim, claro! — Oi, gente. — Oi, Mari, como vai? — Muito bem, Roger. Escuta, esse botão é seu? Se não me engano vi sua jaqueta sem... mas se não or, eu jogo ora! Roger olhou abismado para o botão na mão de Marina. — Onde você encontrou isto? — Não precisa car vermelho, não. Eu o encontrei na sala, perto de onde você costuma se sentar... Você está bem? Parece meio nervoso... O que oi? 1
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— Eu, nervoso? Imagine, impressão sua... — Pelo menos pareceu! — Não, não ligue não, não é nada. Mas onde mesmo você o encontrou? — Por aí... Estou brincando, na sala. — Ah... mas pensando bem, acho que se enganou, Mari; não é meu, é muito parecido, sem dúvida, mas não é o meu. — Roger, onde está o brinco que eu lhe dei de aniversário? Não gostou? Nunca mais o vi usando... Resolvi perguntar! — Mas é claro que gostei, você sabe que adorei... Se lembra que minha orelha estava est ava ineccionada? Pois Pois bem, não o estava usando por este motivo, mas assim que melhorar, voltarei a usá-lo. — É mesmo, você apareceu com esparadrapo... Deixeme ver? Está melhor? — Não... bem... quero dizer, olhe, mas cuidado ainda está muito dolorida... por avor, não ponha a mão, ok? Marina olhou assustada para Nicky e se aproximou de Roger. Estava ansiosa por ver o curativo dele e quem sabe acabar de vez com esta dúvida que vivia martelando sua cabeça. — Nossa, Roger, oi muito eio o machucado, pois até agora se vê a marca... Mas parece um pequeno rasgo... como uma espinha poderia ter eito isso tudo? Foi uma espinha, não oi? Lembro de você ter comentado algo a respeito. Mas o importante é que está melhor. Sabe o que parece esta cicatriz que se ormou? Parece que seu brinco oi arrancado... arranca do... que se enganchou em alguma coisa e que a orça que usou para se livrar acabou rasgando a orelha... Nossa, como gosto de d e imaginar coisas, não? Me desculpe, Roger, não oi minha intenção deixá-lo chateado... desculpe, tá? Sua orelhinha está ótima! Roger não disse nada, mas sentia o suor escorrendo, queria sumir sumir dali, sair correndo, mas suas pernas estavam est avam trêmulass e ele não conseguia sair do lugar, não conseguia sequer mula articular uma única palavra. 1
Minha Amada Mona Lisa
— Pois é, Roger, você precisa usar o brinco de novo para não echar o urinho, ou terá que urá-lo novamente... E olha, vou lhe alar uma coisa... urar a orelha depois de grande dói pra chuchu! Por isso precisa cuidar para não sorer mais tarde. — Eu sei, Marina, irei colocá-lo assim que estiver completamente bom... agora deixe eu costurar este botão antes que eu o perca novamente. — Mas você disse que não é seu... — Pois é, tem razão, estou meio conuso... Vou até a lanchonete, alguém quer alguma coisa? — Não, obrigada. Só mais uma coisinha... — Pode alar, o que é? — Descobrimos algumas coisas sobre o caso do Gui; não temos certeza ainda, mas parece que há provas do autor do crime, de quem roubou o quadro e colocou a culpa nele. Como pode alguém azer uma coisa dessas? E quem você acha que aria isso com ele? Não é estranho? O inspetor insp etor disse que pode ser uma pessoa conhecida... mas não azemos idéia de quem possa ser... — Ah... só um instante, inst ante, Mari, lembrei que que não consigo entender os exercícios de matemática, será que poderia me dar uma ajuda? — Claro, Roger, será um prazer... então chegamos mais cedo amanhã? — Não, podemos chegar no mesmo horário... Você pode passar em casa? — Na sua casa? — disse Marina meio desconada, olhando de rabo de olho para Nicky, que já pretendia abrir a boca para se oerecer e ir junto, quando Roger respondeu: — É, em casa. Você vai mais cedo, me explica e então, quando der o horário da aculdade, a gente vem! — Ótimo, muito boa a sua idéia, será muito legal! — Ok, então, até amanhã! — Até! 1
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Com passos largos e rápidos Roger se aastou. Nicky e Marina caram observando-o até dobrar a esquina. — Nossa, você viu como ele estava estranho? Fiquei morrendo de medo. — Eu também. Acho que você não devia ir à casa dele. Lembra do que o Gibson disse? Para não carmos com ele sozinhos? — Eu sei, Nicky, mas o que azer? Se dissesse que não, ele poderia desconar de que sabemos de alguma coisa; tive que concordar para ele pensar que não estamos por dentro do assunto. O que eu poderia azer? — Não sei, só sei que devia dar o cano e não aparecer lá amanhã! — Pode deixar que tudo dará certo. Não passa pela cabeça dele que sabemos de tudo; pode car tranqüilo quanto a isso! — Não sei. Ainda acho que ele desconou de algo e quer azer alguma coisa... e se ele quiser matá-la? — Não seja ridículo, Nicky. Tenho uma idéia: é só mandarmos o Gibson até lá, ele ca por perto e, qualquer coisa estranha, ele entra na casa e dá fagrante! — Como você é um gênio, mas espero que dê certo. Vamos correr e avisá-lo!
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LIII
O sol brilhava alto e o vento leve que soprava era deliciosamente rerescante. Roger cou por algum tempo sentado na cama, pensando. Gostava muito de Marina, desde a primeira vez em que a viu na aculdade. Era capaz de azer qualquer coisa para conseguir conquistá-la e era o que estava azendo naquele momento... Já havia conseguido tirar Guilherme do caminho, culpando-o do roubo. Onde já se viu um cara inteligente como ele gostando de um quadro simplório? Estúpido era o que ele era! Depois conseguira tirar Camilla do caminho, matando-a; ela só iria atrapalhar o andamento das coisas... Guilherme tinha tudo o que queria e o que não queria: casa, banda, pais, amigos e Marina... Ele poderia ter todas as garotas que quisesse, mas não, resolveu que queria justamente Marina e por isto estava est ava pagando. Ele poderia escolher outra garota. Era chegar e dizer suas qualidades: rico, bonito, estudante de música, vinte e dois anos, lho único, carro, universitário... Poxa, o que mais uma garota poderia querer? A 1
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mulherada, hoje em dia, não só quer homem de grana e com carro? Pois Pois então, ele conseguiria outra namorada, não haveria problemas quanto a isso. Roger começou a pensar em voz alta. — Foi até bom o que z com ele! Fiz um avor, ele é meu amigo, sempre ez tudo por mim. Tá aí, resolvi agradecer. Sempre viajamos juntos e como sempre ele azendo sucesso com a mulh mulherada; erada; detalhe, det alhe, ele e o Nicky. Deste, preciso tomar conta mais tarde. Não z nada de errado, eu simplesmente o ajudei. Agora é hora de ajudar Marina, como ajudei Camilla. Vou ajudá-la a se libertar dele, pois naquela cabecinha de vento ela esconde mu muita ita coisa ainda que que não sei, mas saberei assim que ela chegar. Vou propor um acordo a ela: ou eu ou a morte. Se não quiser car comigo, mato-a. Será um alívio para ela. A morte nada mais é do que um sono proundo; então não devemos ter medo de morrer. A morte é minha amiga; sempre me acompanhou e me ajudou a aliviar o sorimento de várias outras pessoas... Ela já deve estar chegando, deixe eu me aprontar. Pegou a aca que usara para matar Camilla. Passou o dedo levemente pela lâmina e sorriu de prazer. Chegou até a estremecer de tanta satisação. Não, pensando bem, não iria usar a aca para cortar seu belo pescoço, iria usar uma substância mais rápida e com resultados extraordinários. Foi Foi até o quarto e pegou sua arma. Carregou-a e guardou embaixo da almoada. Depois, indo até a cozinha, pegou um rasco que continha um pó branco com o título de morna e misturou uma dose generosa em um suco de maracujá que estava na jarra sobre a mesa, quando um alto-alante começou a berrar lá ora: — Por avor, Roger, estamos cercando sua casa inteira, saia numa boa com as mãos na cabeça! — Cadela! Conseguiu me enganar! 10
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Começou a suar realmente. Marina estava por trás de tudo aquilo mesmo. Agora não se entristeceria, nem se arrependeria de matá-la. Ela bem que merecia. Como pôde acreditar naquela desequilibrada? Foi até a sala e pegou sua arma. Colocou-a na cintura e encaminhou-se até a janela. Marina e Nicky estavam lá ora, dentro de uma viatura da polícia. p olícia. — Então, quer dizer que que os dois estavam est avam armando uma emboscada para mim? Eu devia ter desconado de que ela não estaria sozinha. Ainda não entendo como ui acreditar neles. — Roger, é a última vez que vou pedir isso. Saia, que será melhor para todos. Saia com as mãos na cabeça e não tente nenhuma gracinha, ou já sabe o que irá acontecer. acontece r. Se demorar mais um minuto, entraremos aí e o tiraremos à orça! Esperaram alguns minutos e quando se preparavam para entrar, ele apareceu na porta. — Bem, creio que meus amigos me apunhalaram pelas costas... me entregaram... zeram um plano e eu caí como um patinho. Agora não adianta mais ugir... vocês me traíram tr aíram e deviam pagar caro por isso como a outra alsa pagou, mas acho que arei uma coisa melhor... Marina estremeceu, evitou olhar para Roger ali na sua rente, tão transormado. Reuniu orças e conessou: — Você Você oi a última pessoa p essoa em que pensei, pens ei, mas quando eu e o Nicky encontramos o corpo dela e omos até a polícia ver os objetos encontrados com ela... não queríamos acreditar; quando mostrei o botão e toquei no assunto do brinco... você... você cou muito nervoso, oi então que descobrimos... me desculpe, Roger! — Não precisa se desculpar, nem chorar, guarde suas lágrimas para o Guilherme, pois ele precisa mais do que eu. O que z, conesso, não tem como mentir. Eu sabia que ele amava aquele quadro estúpido e por isso providenciei tudo: 11
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dei a panca nele, soltei o quadro da parede e me mandei. A Camilla, aquela sonsa, se arrependeu e contou tudo a vocês. Eu precisava me proteger e o único jeito oi silenciando-a. Como sempre, vocês estragaram tudo e a descobriram; eu, de um jeito ou de outro, não consegui me livrar. — Mas, Roger, não consigo entender, cara, você ez tudo isso por que razão? — Pela única razão da minha vida: pela Marina! Você ainda me pergunta isso? Tudo Tudo bem, veja: o Guilherme é rico, bonito, tem banda, amigos, é bem-aceito em todos os lugares e tem uma namorada que devia ser minha, e não dele. E eu? Eu quei metade da minha vida passando por diversos psiquiatras, não sou rico, não sou bonito, a vida toda vivi das migalhas do pão dele, não tenho banda nem tantos amigos quanto ele; tenho que trabalhar para me sustentar, para ter o que comer, tenho que ajudar minha mãe, tenho um monte de irmãos e a única garota de que gostei, que amei verdadeiramente na minha vida, ele tirou de mim. Precisei Precisei matar mat ar minha própria namorada, pois me traiu, azendo meu plano ir por água abaixo. Se bem que não perdi nada, anal de contas, cont as, eu nunca a amei; só ela é que era louca por mim. Agora você, Marina, me traiu contando para a polícia meu plano. Eu devia matá-la agora, na rente de todos, como castigo, mas vou azer coisa bem melhor! — Mas, Roger, o que eu não entendo, cara, é o motivo pelo qual você não explicou isso para o Mona, ele iria entender... — Não seja burro! Não é questão de entender ou não... A questão é de ele ser mais do que eu, poder mais, ser melhor do que eu, entendeu agora? Nunca suportei isso, só Deus sabe o quanto sori durante esses anos todos... Perto dele, eu não sou nada, sou um zé-ninguém, não valho nada, não tenho nada. Não me arrependo do que z. Se pudesse voltar no tempo, aria tudo de novo, sem mudar exatamente nada. 12
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— Acontece, Roger, que se o Gui ez tudo isso, oi porque realmente gosta de você e não sabia que você se sentia humilhado. Se soubesse, com certeza, teria eito tudo dierente. Ele ez tudo isso só para ajudá-lo, para não vê-lo assim numa pior. Acredite, ele nunca aria nada para prejudicá-lo. — Não, Mari, nunca mais vou cair nos seus truques, nuncaa mais vou acreditar em você! nunc v ocê! Eu juro! Marina abaixou os olhos e começou a chorar. Não gostava de azer isso, ainda mais com um amigo seu, mas desta vez oi preciso. — Não adianta chorar, o que começou errado, sempre termina errado, nunca lhe disseram isso? — Acontece que não começou errado. O erro está com você, Roger, com você. v ocê. Você Você é o errado! — Isso, Marina, o erro está comigo, o errado sou eu, mas acontece que sempre gostei dele, do Nicky, do Rogério, do Pedro, da Rosana, enm, de todos, mas quantos deles realmente gostaram de mim? Meu grande amor oi por você, pensei que, azendo o que z com Guilherme, você caria livre e olharia para mim, mas me enganei. Você nunca me olhou, nunca me deu bola e tinha o Nicky para dicultar tudo, que não saía de perto de você, cuidando, correndo junto, indo a estas, passeios, não deixava ninguém conhecê-la. Percebi que o que eu havia eito com Guilherme não estava dando certo, precisava azer algo mais. Foi aí que Camilla entrou em campo e logo em seguida pisou no tomate e teve o que mereceu! Eu sempre amei você e sempre gostei dos meus amigos... mas não consigo car sem azer o que aço, essas coisas, sabe, não consigo. Elas me atraem, me puxam para si e quando percebo, pronto, já z e não me arrependo e se pudesse eu aria novamente. Por Por isso, vou azer uma coisa que será boa para mim e para todos vocês. Será bom para o Guilherme também. t ambém. Venham, Venham, podem me prender... mas antes... 13
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Tirou da cintura a arma já engatilhada e olhando para Marina, antes que pudessem azer alguma coisa, apontou-a em sua direção. — Roger, abaixe isso ou iremos atirar! — Calma, Gibson, era apenas uma brincadeira... — e, colocando a arma na cabeça, gritou — se não vai ela, vou eu! Ouviu-se um estrondo e um gemido alto. Marina virou o rosto para não ver a cena, mas não agüentou e olhou rapidamente. No chão jazia o corpo sem vida de Roger. Sua cabeça estava estourada e toda ensangüentada, ensangüent ada, seus cabelos loiros estavam vermelhos, seus olhos saltados, suas mãos ainda se debatiam contra o asalto e de sua boca aberta escorria uma grossa gota de sangue. Terminou de se debater e um policial cobriu o corpo com jornais. Gibson veio ajuntar-se a eles. — Sinto muito pelo amigo de vocês. Agora acabou tudo; todo o pesadelo chegou ao nal! Na delegacia, o pôr-do-sol era magníco. O vento soprava uma brisa suave, que balançava tranqüila as palmeiras que apontavam orgulhosas para o céu azul sem nenhuma nuvem. Ao longe, os pássaros cantavam cant avam uma canção monótona que era espetacular de se ouvir. Guilherme, em pé na janela, olhava a paisagem que durante oito meses ora obrigado a esquecer. Durante oito meses, teve que viver longe de sua amília, sua namorada, seus amigos. Guilherme lembrava-se de que passou horas horríveis trancado naquela cela escura e úmida. Foram oito meses angustiantes, mas ali estava ele agora, livre, solto, eliz. É claro que cou triste quando soube que Roger se matou, anal de contas, ele era seu amigo. — Mas, Gibson, o que não consigo entender é o motivo pelo qual ele ez isso. — Isso é simples, Guilherme. Primeiro ele disse que sempre teve ciúmes de você por você ser quem é: rico, bonito etc. Ele cou sabendo de sua paixão por Mona Lisa e acabou achan14
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do que era um prato cheio, coisa que não deixou de ser. Planejou tudo e conseguiu o que queria, que você osse preso e Marina casse livre. Só que Nicky e Marina se envolveram e acabaram conhecendo Camilla, que, arrependida, disse toda a verdade sobre o plano. Quando Roger descobriu, desco briu, a matou, e, por uma coincidência, seus amigos encontraram o corpo, azendo com que chegássemos ao nal de mais uma bela história! — Mas, me conte os detalhes. det alhes. Depois que ele a matou, como conseguira descobrir que oi ele? — Pelo Pelo brinco e pelo botão b otão na boca da morta. mort a. Ela, para se deender, puxou a orelha dele com a mão, arrancando o brinco, e com a boca arrancou o botão da jaqueta sem que ele percebesse. Ele só se deu d eu conta depois d epois que que a enterrou. Quando já estava tudo pronto p ronto para prendê-lo, ele se matou na rente de todos. Com isso, vimos que erramos eio ao prender você, e agora o soltamos. A televisão, que só mostrava você com o quadro na mão, não o deixou sossegado enquanto não conseguiu uma entrevista, e assim acabou o caso de d e sua amada Mona Lisa. O que me diz? Alguma dúvida? — Por que ele ez isso? — Porque Porque sempre quis ser você. Investigamo In vestigamoss a vida dele e descobrimos que era um psicopata, ele sentia um ciúme tão incontrolável de você que preeriu a morte a pagar pelos crimes que cometeu; cometeu; ele não se conormaria de ter que car preso. Guilherme cou pensativo por algum tempo, não queria acreditar no que acabara de escutar. Então era isso; tudo não passava de pura alsidade! Mesmo assim, ele não sentia raiva de Roger; ao contrário, sentia pena, pois ele era doente. Tentou segurar as lágrimas que, teimosas, escorriam pelo seu rosto. Levantou-se da cadeira e se despediu de Gibson. — Obrigado por tudo. Nunca irei esquecê-lo! Fechou a porta, port a, pegou sua mala e se dirigiu ao aeroporto; Nicky e Marina o acompanharam. Quando chegaram, havia muitos amigos e parentes esperando por eles. Sarah e Walter eram os que mais choravam. 1
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— Sabe, Gui, quei oito meses sem ter você por perto, queria tanto protegê-lo e não podia; me sentia um racasso só de pensar que não conseguia tranqüilizar seu coração no dia em que oi preso... mas... mas que sabendo, Gui... Gu i... que... que eu amo você demais! Sarah abraçou o lho com todo amor e carinho do mundo e começou a chorar. Um choro sentido, angustiado, triste, mas era um choro sincero que saía lá de dentro do coração, lá do undo, lá de onde dói mais e de onde é mais sensível e delicado. Walter Walter também t ambém veio e se entregou à emoção daquele abraço. — É isso aí, lhão... se cuida... e... e... — Walter não podia terminar terminar de alar, abraçou o lho e o beijou. Marina oi a última a se despedir des pedir.. Guilherme não segurava mais o choro. Ele chorava, deixando toda a tristeza, toda a amargura que sentia, sair do peito! — É isso aí, gente! — disse Guilherme já na porta do avião. — Vou a Paris ver a verdadeira Mona Lisa no museu do Louvre. Só que desta vez não precisarei de seguranças, nem de guardas; não haverá prisões, assassinatos, nem nada. Desta vez, eu vou vê-la, apreciá-la, admirá-la. Não sei o que vai acontecer por lá ou até mesmo o que encontrarei lá, mas sei que serei bem mais eliz. Nunca esquecerei de vocês, Nicky, Benê, meus pais, Lóri, Rogério, Pedro, Raael, Rosana, Marina... Mari, você que teve tanta t anta paciênc paciência ia comigo. Nunca soube corresponder ao amor que você sente por mim, por isso me perdoe! Amo todos vocês, não vou me esquecer do Roger, apesar do que me ez, de tudo que me ez passar, todos os transtornos... enm, não o esquecerei, pois ele soria de um distúrbio. Ele gostava de nós, mas era de um jeito dierente; ele só sabia maltratar, era o jeito de ele demonstrar o aeto que sentia por nós. Minha grande tristeza é saber que nunca 1
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percebemos o quanto ele era doente... Deixemos os mortos descansarem em paz! Nós ainda nos encontraremos um dia e seremos elizes, todos nós. Eu amo todos vocês! Guilherme entrou e a porta port a atrás de si oi echada. Sentou-se na janela e o avião começou a decolar. Acenou tristemente, enquanto enquanto se distanciava, até o avião levantar levant ar vôo.
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