(Mensagens (Mensage ns 12)
Grupo I Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada .
Ressurreição Porque a forma das coisas lhe fugia, O poeta deitou-se e teve sono. Mais nenhuma ilusão lhe apetecia, Mais nenhum coração era seu dono. 5
Cada fruto maduro apodrecia; Cada ninho morria de abandono; Nada lutava e nada resistia, resistia, 10
Porque na cor de tudo havia Outono.
Só a razão da vida via mais: Terra, sementes, caules, animais, Descansavam apenas um momento.
E o vencido poeta despertou Vivo como a certeza de um rebento
Na seiva do poema que sonhou. Miguel Torga, Libertação (Coimbra, 1944), in Poesia Completa, Vol. I, Lisboa, Dom Quixote, 2007, p. 179.
quadras, quatro razões que justifiquem o sono do do poeta. 1. Apresenta, com base nas duas quadras, O poeta «deitou-se e teve sono» porque nada motivava ou inspirava a sua arte poética: não tinha sentimentos amorosos («nenhum coração era seu dono»), estava incapaz de viver ilusões («Mais nenhuma ilusão lhe apetecia»); tudo nele e à sua volta era decadência e abandono («Cada fruto maduro apodrecia; / Cada ninho morria de abandono». Tudo aponta para o desaparecimento e morte do poeta. terceto e o «despertar» «despertar» do poeta. 2. Estabelece uma relação entre o primeiro terceto No primeiro terceto, fica claro que o adormecimento do poeta, referido anteriormente, se integra na «razão da vida» porque só esta é capaz de perspetivar a organização cíclica, o ritmo das estações do ano. Assim, se no inverno a natureza descansa, na primavera a natureza acorda e os seus rebentos brotam. O mesmo acontece ao poeta que, após ter «adormecido», «hibernado», «desperta» do seu sono capaz de deitar os seus rebentos: o poema. 3. Analisa a expressividade da metáfora final do poema, relacionando-a com o título. A metáfora associa o ofício do poeta à Natureza. O poeta, após ter «adormecido» (no período do inverno), acorda com a energia da Natureza em plena primavera: a sua seiva, cheia de vitalidade, está pronta para gerar nova vida. Da mesma forma, a «seiva do poema» está pronta para dar vida a nova arte poética que significará a ressurreição do poeta que se anuncia no título.
Respira. Um corpo horizontal, tangível, respira. Um corpo nu, divino, respira, ondula, infatigável. 5
Amorosamente toco o que resta dos deuses. As mãos seguem a inclinação do peito e tremem, pesadas de desejo. 10
Um rio interior aguarda. Aguarda um relâmpago, um raio de sol, outro corpo. 15
Se encosto o ouvido à sua nudez, uma música sobe, ergue-se do sangue, prolonga outra música. 20
Um novo corpo nasce, nasce dessa música que não cessa, desse bosque rumoroso de luz, debaixo do meu corpo desvelado. Eugénio de Andrade, in Poesia de Eugénio de Andrade , s/l, Fundação Eugénio de Andrade, 2000, p. 75.
As mãos movimentam-se em direção ao peito e tremem de desejo; poderão, por isso, ser entendidas como símbolo desse desejo, e representantes da união física dos amantes. Tendo em conta a simbologia erótica da água (“Um rio interior”), o sentido remete para a presença ansiada (“aguarda/Aguarda”) de um outro corpo, em harmonia, ideia subjacente à referência ao sol -luz. A referência à música sugere o movimento ritmado dos corpos (“Se encosto o ouvido à sua nudez, / uma música sobe”), indiciando a harmonia da relação amorosa, ideia reforçada pelo facto de se destacarem no poema as formas verbais “respira”, “aguarda”, “nasce”, esta última aliada à música: “nasce, / nasce dessa música que não cessa”, o que poderá sugerir o progresso/evolução dessa união.
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada. A
Leia o poema.
São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. 5 Outras, orvalho apenas. Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam: barcos ou beijos, 10 as águas estremecem. Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. 15 E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda. Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
1.
EUGÉNIO DE ANDRADE, Coração do dia , Lisboa, Assírio & Alvim, 2013. Interprete a primeira estrofe do poema. Nesta estrofe, o eu poético refere ‑se ao poder criador das palavras. Ao compará ‑las a «um cristal» (v. 1),
que se caracteriza pelo brilho, pela beleza e por ter vários lados, o sujeito poético evoca a capacidade das palavras de terem vários sentidos (o valor polissémico das palavras) e de poderem ser interpretadas de diferentes formas e salienta a sua beleza, pureza e inocência. A identificação com um punhal e com um incêndio salienta o seu poder destruidor. A identificação com um orvalho sugere a frescura, a delicadeza e a suavidade que nelas pode existir; pode igualmente evocar esperança (pela associação do orvalho à madrugada). 2.
Comente a expressividade das metáforas e da antítese presentes nos versos 13 e 14.
A metáfora presente no verso 13 salienta o entrelaçamento de sentidos que pode existir nas palavras e o seu poder criador (por serem («[t]ecidas […] de luz», as palavras «iluminam»). No entanto, também podem ser «a noite», isto é, podem evocar escuridão, sofrimento, angústia,… O carácter antitético destas metáforas
(«luz»/«noite») contribui para realçar estas duas ideias e, portanto, a riqueza que caracteriza as palavras. 3.
Explicite a intenção subjacente às interrogações da estrofe final.
As interrogações retóricas finais constituem um apelo do eu poético a prestar atenção às palavras («Quem as escuta?», v. 17) e a abrir as «suas conchas puras» (v. 20), isto é, a conhecê ‑las verdadeiramente e a interpretá ‑las.
(Novo Plural 12) GRUPO I Apresente as respostas de forma bem estruturada.
Texto A Leia o texto.
Aos Poetas 1
Somos nós As humanas cigarras.
5
25
E bebo em vossa honra o doce vinho
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Da amizade e da paz.
Nós,
Vinho que não é meu,
Preguiçosos insetos perseguidos.
Mas sim do mosto que a beleza traz. 30
Que sejais menestréis
Nós, a tribo faminta de ciganos
Duma gesta de amor universal.
Que se abriga
Duma epopeia que não tenha reis,
Nós, que nunca passamos,
Mas homens de tamanho natural. 35
Homens de toda a terra sem fronteiras.
A passar...
De todos os feitios e maneiras,
Somos nós, e só nós podemos ter
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Asas sonoras.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Asas que em certas horas Palpitam. Asas que morrem, mas que ressuscitam Da sepultura.
20
E vos digo e conjuro que canteis.
Da fábula burguesa da formiga.
Ao luar.
15
A taça fraternal deste meu canto,
Nós,
Somos nós os ridículos comparsas
10
Por isso a vós, Poetas, eu levanto
E que da planura Da seara Erguem a um campo de maior altura
40
Homens da torre de Babel. Homens do dia a dia Que levantem paredes de ilusão. Homens de pés no chão, Que se calcem de sonho e de poesia Pela graça infantil da vossa mão.
A mão que só altura semeara. Miguel Torga , in Odes, 1946.
1. «Somos nós / As humanas cigarras.» (vv. 1-2) • Na primeira parte do poema, o sujeito poético cara cteriza o ofício de poeta, aludindo à fábula da «cigarra e da formiga». Explique e justifique essa alusão nas duas primeiras estrofes. A partir dos versos iniciais, o sujeito poé tico estabelece uma identificação dos poetas com a cigarra da fábula de Esop o. Como a cigarra, os poetas são considerados preguiçosos, uma espécie de saltimbancos cujo trabalho não é levado a sério e que pagam com a miséria a vida levada a cantar, ou seja, a vida dedicada à poesia. 2. Explicite a exortação feita nas três últimas estrofes, apontando três valores universais da poesia para os quais apela o sujeito poético. Na segunda parte do poema, o sujeito faz uma saudação fraternal e uma exortação aos Poetas, no sentido de cantarem, de exercerem o seu ofício. Mas a poesia a escrever deverá ser um hino de humanidade, orientada por valores universais: «amor universal», igualdade entre os homens, canto do homem comum. 3. Interprete o valor da metáfora «asas» usada na terceira estrofe, relacionando-a com o conteúdo geral do poema.
São as asas da cigarra que produzem o seu canto e que, neste contexto de associação entre a cigarra e o poeta , são a metáfora da voz do poeta, o seu canto. Como as asas / canto da cigarra, a voz do poeta ora triste, ora pujante de energia, ergue-se acima da contingência, elevando a condição humana. (Palavras 12) A. Lê o texto.
Pequena Elegia Chamada Domingo
5
10
15
O domingo era uma coisa pequena. Uma coisa tão pequena que cabia inteirinha nos teus olhos. Nas tuas mãos estavam os montes e os rios e as nuvens. Mas as rosas, as rosas estavam na tua boca. Hoje os montes e os rios e as nuvens não vêm nas tuas mãos. (Se ao menos elas viessem sem montes e sem nuvens e sem rios…) O domingo está apenas nos meus olhos e é grande. Os montes estão distantes e ocultam os rios e as nuvens e as rosas .
Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas / As Mãos e os Frutos / Os Amantes sem Dinheiro , Porto: Quasi, 2006, p. 21.
1.Com base numa interpretação global do poema, identifica as diferenças do domingo em tempos diferentes e infere o acontecimento que terá provocado essa mudança. O sujeito poético contrapõe o tempo passado, pelo uso do pretérito imperfeito, ao presente, introduzido pelo
advérbio “Hoje”. No passado, o domingo era “uma coisa pequena”, um dia especial, enquan to no presente é um dia “grande”, vazio, marcado pelo tédio, pela saudade. O acontecimento que terá provocado a mudança na perceção do domingo terá sido o afastamento do "tu", que conduz à separação; o tom da segunda estrofe, um tom elegíaco, reflete esse acontecimento. Em suma, o domingo ganha uma conotação positiva quando associado ao passado e à presença
do “tu”, mas um valor negativo quando é lido em função do presente do sujeito, tempo de ausência do ser amado.
2.Explicita a função dos elementos da natureza na caracterização emocional do “eu”. A natureza serve para demonstrar os diferentes estados de espírito do sujeito poético. Por um lado, no passado, tudo era felicidade, harmonia, beleza e perfeição; por o utro, no presente, tudo é infelicidade, pois a natureza
está distante e oculta. É a ausência do “tu” que leva o sujeito poético a percecionar a natureza de maneira diferente: na sua presença (primeira estrofe), o sujeito poético sente a natureza mais próxima de si; na segunda estrofe, o
segundo momento do poema, a natureza fica longínqua (“Os montes estão distantes”). No entanto, é possível encontrar no poema uma ambiguidade relativamente ao que a natureza significa: de facto, na primeira estrofe, a natureza parece estar / ser o corpo do "tu"; na segunda estrofe, a natureza deixa de estar no "tu" (o sujeito poético coloca a possibilidade de o "tu" vir sem a natureza). Conclui-se que os elementos da natureza assumem diversos sentidos simbólicos e tornam-se obstáculos que impedem o sujeito de recuperar o lugar e o tempo paradisíacos.
3.Comenta a expressividade do recurso expressivo presente no verso “O domingo está apenas nos meus olhos”(v. 15). A metáfora presente nesta expressão intensifica o sentimento de perda que domina o sujeito. De facto, gora,
o “eu” lírico vive o domingo e perceciona a natureza de forma diferente, sem a presença do “tu”, cujas mãos já “não vêm”. O sujeito, de forma lúcida, tem consciência da perda da plenitude e da beleza que emanavam do ser am ado, mas está presente um desespero contido, em que o “eu” se confronta com a certeza da alteração irreversível da medida do tempo (“domingo”). Este recurso contribui, assim, para a construçã o de um tempo marcado pela plenitude e pela harmonia, que não volta. (Encontros 12)
A Lê o poema.
Identidade
5
Matei a lua e o luar difuso. Quero os versos de ferro e de cimento. E em vez de rimas, uso As consonâncias que há no sofrimento. Universal e aberto, o meu instinto acode A todo o coração que se debate aflito. E luta como sabe e como pode: Dá beleza e sentido a cada grito.
10
Mas como as inscrições nas penedias Têm maior duração, Gasto as horas e os dias A endurecer a forma da emoção. TORGA, Miguel (2000). Poesia Completa. Lisboa: Dom Quixote, p. 494.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Evidencia as duas conceções de poes ia presentes na primeira estrofe. Poesia dita “romântica”, isto é, vaga e abstrata, m arcada pela ambiguidade e pelo convencionalismo (v. 1) – com que o sujeito poético não se identifica. Poesia como forma de expressão real de forma concreta e “dura” – com que o sujeito poético
se identifica (vv. 2-4).
3. Interpreta o sentido dos versos “Universal e aberto, o meu instinto acode / A todo o coração que se debate aflito.” (vv. 5-6).
Versos que acentuam a função da poesia como instrumento ao serviço da solidariedade e do humanismo. 3. Justifica o título do poema.
Título que associa o ato de escrita à construção da identidade do sujeito poético.