Mercantilismo INTRODUÇÃO No período medieval o pensamento vigente era a aversão a motivações materialistas e individualistas, com o propósito de manter unida a Europa. Já no período moderno, com o surgimento do capitalismo comercial, essas motivações antes condenadas e associadas ao desejo de acumular riquezas seriam a força propulsora do sistema capitalista. O pensamento mercantilista Ibérico foi baseado, principalmente, na busca de metais valiosos com a finalidade de fortalecer e consolidar o seu próprio Estado Nacional. Para a obtenção desses metais, esses países lançaram-se às navegações e à exploração colonial. O mercantilismo francês de Colbert não podendo se beneficiar de fontes diretas de metais preciosos, promoveu a indústria por meio de medidas protecionistas e incentivou a produção de manufaturas de luxo. Essa singularidade francesa viria ganhar prestígio no mercado internacional. Na Alemanha, o mercantilismo foi conhecido como Cameralismo. Esse tipo foi o menos interessado nas relações internacionais dando mais ênfase ao caráter quantitativo do que ao qualitativo. Importava principalmente atenuar o atraso de sua economia. O pensamento mercantil inglês se desenvolve principalmente no comércio, encontrando apoio em Thomas Mun, fiel defensor do comércio exterior. Foi a partir do tráfego de mercadorias que eles descobrem e colonializam novas áreas, transformando-se posteriormente no maior Império Colonial que já existiu.
O PROGRESSO ECONÔMICO E O MERCANTILISMO (Camila Sousa e Priscila Pinho) O mercantilismo foi um sistema econômico vigente durante o período do Capitalismo Comercial . Para entendermos melhor esse sistema econômico é preciso compreender o progresso histórico que culminou nele. O período que compreende a Idade Média (séc. V-XV) foi marcado pelo modo de produção feudal, que se iniciou com o colapso do mundo escravista romano do ocidente (476d.C.) e as invasões dos bárbaros germânicos. O feudalismo era baseado numa economia agrícola, amonetária, auto-suficiente e não comercial; sua sociedade era fixa e possuía duas classes: senhores feudais e servos, possuindo como unidade de produção o feudo. Com o declínio do Antigo Império Romano do Ocidente, a Europa foi privada das leis e garantias que o Império lhe proporcionava e criou no lugar delas uma hierarquia feudal, na qual o servo, isto é, o camponês, recebia proteção do senhor do feudo que, por sua vez, devia lealdade e era protegido por outro senhor mais poderoso, e assim por diante, culminando no rei, a figura máxima da hierarquia. A dependência é uma das características mais marcantes do feudalismo, pois toda a organização medieval se baseava num sistema de obrigações e serviços mútuos. Evidenciado principalmente no pacto de fidelidade, que consistia na pratica de retribuir serviços prestados com concessões de terras entre os nobres. A chave para a compreensão das relações medievais está nos costumes e tradições, já no capitalismo, sustenta-se na imposição de contratos e leis de caráter universal e obrigatório, sendo rara a participação dos costumes. Nessa época, o ensino religioso ministrado pela Igreja também exerceu uma influência considerável, extremamente persuasiva sobre toda a Europa Ocidental. Sendo assim, havia duas espécies de feudos: os seculares e os eclesiásticos. Os senhores feudais seculares e eclesiásticos e clesiásticos encontraram na versão medieval da tradição judeu-cristã, denominada ética paternalista cristã, a ideologia que proporcionou um cimento moral capaz de manter coesa a Europa feudal e proteger seus governantes. A ganância, a avareza, o egoísmo, a ânsia de acumular riquezas, enfim, todas as motivações materialistas e individualistas eram severamente condenadas. O homem ganancioso e individualista era considerado a própria antítese do homem bom. Assim, os abastados sentiam-se moralmente obrigados a agir de modo paternalista, administrando seus negócios temporais com a finalidade de promover o bem-estar de seus semelhantes. São Tomás de Aquino, predominante porta-voz da Idade Média, assim como quase todos os padres da Igreja medieval, reafirmava a idéia de que as relações econômicas e sociais que caracterizavam o sistema senhorial refletiam uma ordenação natural e eterna, ou seja, de que essas relações emanavam de Deus. Assim sendo, a
ética paternalista cristã poderia ser usada para justificar como naturais e justas as profundas desigualdades e a intensa exploração decorrentes da concentração das riquezas e do poder em mãos da nobreza e da Igreja. Deste modo, os pecados severamente censurados à luz da ética paternalista cristã se converteriam, posteriormente, em ideais de comportamentos em que se basearia a economia capitalista de mercado. Uma série de mudanças profundas provocou o declínio do feudalismo e a emergência de uma nova política econômica voltada para o mercado. Essa nova política econômica seria o Capitalismo Comercial (séc. XVXVIII). O capitalismo é um sistema socioeconômico em que os meios de produção (terras, fábricas, etc.) são propriedade privadas. A produção destina-se à venda (definindo o produto como mercadoria), o dinheiro é a base das trocas e o objetivo é a reprodução contínua do lucro. Entre os séculos XV e XVIII (Idade Moderna) o capitalismo comercial ou mercantil se consolidou, baseado nas trocas comerciais, cada vez mais internacionalizadas e na colonização das Américas, da África e da Ásia. Foi o período do Mercantilismo. O surgimento do capitalismo comercial está fundamentado no progresso econômico dos séculos XI-XIII, que contribuiu para a formação da burguesia, para o desenvolvimento urbano e a intensificação agrícola; e também baseado na crise no fim da Idade Média (séculos XIV-XV), que desorganizou a sociedade européia tornando necessária a intervenção do Estado para superar as dificuldades. Com essa intervenção, ocorre o fortalecimento do Estado, o que levou ao Absolutismo no plano político e ao Mercantilismo no plano econômico. O Mercantilismo foi a política econômica aplicada pelos governos absolutistas durante a Idade Moderna (séculos XV-XVIII) com os objetivos de fortalecer o poder político do Estado Nacional Monárquico, desenvolver o máximo possível o comércio nacional (geração de lucro), aplicar os princípios da Balança Comercial favorável e a concepção do Metalismo. A primeira característica do mercantilismo era o metalismo , ou seja, a idéia de que a prosperidade de cada país estaria na razão direta da quantidade de metais preciosos que este possuísse. Os países que não tivessem suas próprias fontes de metais preciosos deveriam obtê-los de outras nações, através da venda de mercadorias que seriam pagas em metal. Portanto o fundamental era exportar mais do que importar, de forma que houvesse saldo positivo na balança comercial . Adotava-se, deste modo, uma política econômica protecionista , cobrandose altos impostos alfandegários sobre os produtos importados. Essa política mercantilista gerou rivalidades entre os países europeus por Tratados comerciais que os favorecessem sendo solucionado com a obtenção de colônias, regiões politicamente submetidas, que se tornavam mercados consumidores exclusivos da metrópole e fornecedoras de matérias-primas e produtos que poderiam ser exportados pela metrópole. Portanto, graças à exploração de suas colônias, as economias européias conseguiam acumular capitais e atingir os objetivos do capitalismo. Por fim, esse sistema econômico foi o instrumento que assegurou as condições financeiras necessárias a garantir a expansão dos estados Absolutistas europeus.
MERCANTILISMO PORTUGUÊS Portugal foi o primeiro país europeu a lançar-se às grandes navegações porque contou, afora as necessidades impulsionadoras, com vários fatores que o favoreceram. Essas necessidades eram evidenciadas na insuficiência portuguesa em metais preciosos para a cunhagem de moedas, a falta de produtos agrícolas e de mão-de-obra, o desejo de expandir a fé cristã e a necessidade de novos mercados. Entretanto, Portugal possuía uma posição geográfica favorável , uma situação de paz interna (comparada aos outros países europeus envolvidos direta ou indiretamente na guerra dos 100 anos); além da prática da navegação e uma formação precoce do Estado Nacional associado aos interesses mercantis que vieram favorecê-lo. No início do século XV, os portugueses já praticavam intensamente a navegação em virtude de suas atividades pesqueiras. A pesca regular ocorria paralelamente ao desenvolvimento de estudos teóricos náuticos e à sistematização das experiências de navegantes na famosa Escola de Sagres. Sendo assim do interesse das classes que detinham controle sobre o Estado, a canalização das energias do reino para a expansão marítima. O marco inicial da expansão ultramarina portuguesa foi a conquista de Ceuta, em 1415. A aventura ultramarina portuguesa é denominada Périplo Africano, porque alcançou as Índias contornando a África, no decorrer do século XV. Discute-se a maior ou menor racionalidade da decisão de expansão Atlântica por parte dos portugueses, mas é inegável que motivos econômicos (acumulação) e motivos religiosos (cristianização) estiveram sempre lado a lado. Estes dois elementos presentes no ato colonizador, podem ser pensados como uma necessidade histórica e parte da estratégia de consolidação do Estado Nacional Português.
Durante o século XVII, os escritores portugueses juntaram-se ao movimento geral que contestava o metalismo a favor da tentativa de descrever como uma balança de transações favorável poderia ser criada através de uma política comercial adequada. Embora a mentalidade mercantilista em Portugal seguisse as linhas principais do pensamento econômico europeu, o seu espírito estava naturalmente condicionado pelos problemas, limitações e potencialidades da economia portuguesa. Portugal foi, sem dúvida, um pioneiro ao estabelecer que as colônias eram para ser exploradas para benefício exclusivo da metrópole e, todo comércio devia ser regulado de modo que a metrópole tivesse um excesso de exportação sobre as importações e, a riqueza nacional fosse medida pelo montante de metal precioso que um estado possuísse dentro das suas fronteiras. Em conseqüência da expansão marítima portuguesa, descobriu-se o Brasil, e posteriormente, efetuou-se a colonização. A princípio, houve um relativo desinteresse pela exploração econômica do novo território, por conseqüência da concentração dos esforços da Coroa Portuguesa nos negócios da Índia e da incerteza ou completa ignorância sobre a existência de ouro no interior daquele território. Dos documentos da época, na qual se implantavam as capitanias hereditárias, aqueles que maior interesse apresentavam para a reconstituição do pensamento português sobre o Brasil (rotulado de "mercantilismo primitivo"), são as cartas de doação das capitanias. Através destas cartas, chegam-nos com precisão as recomendações ou deveres que conduziriam aos objetivos econômicos e religiosos, dentre os quais, as normas específicas para o comércio que, se por um lado estimulam a liberalização das trocas e a iniciativa privada, por outro, estabelecem com rigor o reforço do monopólio real sobre comércio. O pensamento mercantilista português passou por três fases distintas, a primeira, estende-se aproximadamente do século XVI a meados do século XVII e foi principalmente influenciada pelos pensadores italianos e espanhóis. A segunda fase, foi aproximadamente entre os séculos XVII e XVIII, sendo marcada por influências francesas e inglesas. Finalmente, durante a última metade do século XVII as doutrinas mercantilistas caíram sob o fogo do pensamento liberal inglês e do pensamento fisiocrático francês.
MERCANTILISMO ESPANHOL A expansão comercial, provocada pelo ciclo das grandes navegações, foi um dos fatores que contribuiu para o surgimento da teoria econômica do mercantilismo nos países europeus. A Espanha foi o primeiro país a desenvolver um modelo mercantilista e teve como base o bulionismo, ou metalismo, que era a acumulação de metais preciosos através da exploração das colônias americanas. Senhores que eram de colônias produtoras desses metais na América (retirando principalmente o ouro do México e a prata do Alto Peru) podiam importar todos os alimentos e artigos manufaturados que desejassem dos países estrangeiros, porque sua balança comercial sempre seria favorável, na medida em que tivessem as minas produtoras de metais. Porém, a Espanha não desenvolveu indústrias em condições de fornecer produtos para o mercado europeu, e assim, tinha que pagar altos preços pelo produto de que necessitava. De certa forma, o mercantilismo era uma forma embrionária do capitalismo. Outro fato importante, e que merece ser citado, é que a Igreja, no começo da época das navegações, não aprovou de imediato a prática do mercantilismo, mas com o tempo, observando que esse modelo gerava altos lucros, acabou por absorver esta idéia e tirar proveito com o evangelho e o catecismo. Como a produção de metais se encontrava abundante, houve então um desinteresse pela produção de bens agrícolas e industriais, o que ocasionou uma queda na produção e a disparada dos preços, gerando assim, uma altíssima inflação no país (decorrente da alta vertiginosa do preço das mercadorias então em escassez), conhecida como Revolução dos Preços. Os efeitos dessa crise econômica, que atingiu, sobretudo, as camadas populares, chegaram a provocar o decréscimo da população espanhola: a Espanha era obrigada a adquirir os gêneros que precisava e sem nada exportar em contrapartida, não conseguiu assim reter os metais preciosos, que acabaram escoando para outros países europeus. A economia francesa ajustou-se, de certa forma, à economia espanhola, desenvolvendo suas manufaturas de luxo para acender o mercado sofisticado existente na Espanha e, expandindo suas companhias de comércio e a construção naval. A política industrialista francesa passou a ser identificada como Colbert, nome do ministro que mais a estimulou; daí o colbertismo ser sinônimo de mercantilismo industrial. A Espanha tornou-se, assim, a "garganta" por onde passava o ouro para o estômago de outros países mais desenvolvidos do ponto de vista comercial e industrial, como a França, a Inglaterra e a Holanda. A Holanda, por exemplo, firmou-se como potência marítima. Esta, logo absorveu quase todo o tráfego marítimo europeu e desalojou portugueses e espanhóis das rotas marítimas no ocidente e no oriente, estabelecendo colônias na Ásia e no continente africano. Por último, outra conseqüência do mercantilismo foi a montagem do sistema de exploração colonial, que marcou a conquista e a colonização de toda a América Latina (incluindo o Bra sil). Como vimos, diversos Estados europeus acumularam metais preciosos e protegeram seus produtos em busca de uma balança
comercial favorável. Surgiu, por isso, um choque econômico entre a política de paises mercantilistas concorrentes, possibilitando a esses Estados, a percepção que o ideal seria cada país mercantilista dominar uma região colonial, pois deste modo conseguiriam o controle do seu comércio, impondo preços e produtos com o máximo de lucros.
MERCANTILISMO FRANCÊS Assim como as outras nações européias, a França também se tornou adepta do mercantilismo. Porém, esse conjunto de práticas foi aplicado com uma certa singularidade, diferindo dos outros estados europeus. Na França, o mercantilismo também é chamado de "industrialista" ou "colbertista" (em homenagem ao pensador Jean Baptiste Colbert). O estado francês não possuía territórios com abundância de metais preciosos, então foi necessária uma política específica para obtê-los. Em decorrência disso, o Estado começou a empregar medidas rigorosas quanto à indústria. O governo teria o direito de controlar a produção, podendo determinar um salário máximo ao operário para que a produção não ficasse muito cara. Além disso, a taxa de juros seria controlada para facilitar as exportações e adotar-se-ia uma política demográfica populacionista no intuito de aumentar o número de trabalhadores e fortalecer o exército Francês. Com todas essas medidas, o produto francês ganhou um grande espaço no mercado internacional, inclusive as indústrias de luxo. Em função desse crescimento, a nação foi capaz de acumular uma quantidade considerável de metais preciosos. A agricultura não foi ignorada nesse processo, ela foi regulamentada para atender as exigências das indústrias, criando uma perfeita parceria entre produção agrícola e industrial. O Estado incentivou as culturas industriais (linho, amoreira, bicho-da-seda), adiantou sementes e gado aos camponeses, e comprou deles trigo, aguardente, vinhos e conservas salgadas para o consumo do exército e empresas públicas. Dos pensadores do mercantilismo francês destacam-se três nomes: Sully, Richelieu e principalmente Colbert. Sully foi responsável pela fundação de Quebec no Canadá iniciando um processo de colonização, incentivou a agricultura e aumentou as tarifas alfandegárias. Richelieu favoreceu a construção naval, a expansão colonial, a melhoria dos portos e a organização das companhias de comércio; essas medidas tiveram como efeito um grande impulso no comércio. Em 1661, Jean Baptiste Colbert assume a responsabilidade de restaurar a economia francesa que se encontrava em crise. Para começar, Colbert procurou regular as atividades econômicas acabando com a corrupção e diminuindo as despesas da corte. Estimulou a abertura de manufaturas e indústrias dando liberdade aos empresários que desejavam contratar operários além do limite imposto pelas corporações do oficio. O sistema de transporte francês sofreu uma revolução, pois houve a criação em grande número de estradas e canais o que facilitou o comércio interno. Para garantir a balança comercial favorável Colbert proibiu a importação de produtos estrangeiros os quais havia similares no governo e, além disso, criou um grande e eficiente aparelho de colonização, exercendo forte controle sobre as colônias para que essas trouxessem riqueza. O êxito da política mercantilista, como instrumento de enriquecimento do Estado, foi verdadeiro. Os produtos franceses ganharam fama no mercado internacional, colocando a França em posição de destaque. Infelizmente, os sucessivos conflitos e administrações trouxeram a França para novas crises financeiras.
MERCANTILISMO ALEMÃO Ocorrida na época de transição do feudalismo para o capitalismo, entre os séculos XVI e XVIII, esta doutrina, conhecida pelo nome de " cameralismo", é dominada por uma filosofia e por uma situação política que diferem daquelas da França, Inglaterra e Espanha, já que permanecia dividida, sem integração territorial, onde grande número de principados lutavam entre si para impor sua soberania, constituindo pequenos Estados isolados na sua economia e opostos pela sua política. Como o mercantilismo favorecia a existência de um governo centralizado forte para garantir a regulamentação dos negócios, adotou-se essa política econômica, a fim de promover o rendimento interno do Estado através do aumento dos tributos, da proibição das exportações de matéria-prima e da proibição das importações de manufaturados. Sendo assim, caracterizou-se pela união dos capitalistas que desenvolveram atividades ligadas ao comércio marítimo e às finanças das Câmaras de Comércio. No século XVII um dos mais importantes cameralistas foi Ludwig von Seckendorff (1626 –1692), partidário de uma população numerosa, pregava medidas para aumentar a produtividade da agricultura e das manufaturas. Insistia na necessidade de leis que reduzissem as importações dos bens não necessários, e reservasse a mãode-obra e as matérias primas às produções indispensáveis. Propôs rígidas medidas para lutar contra a ociosidade e que favorecessem os trabalhadores empenhados nas atividades mais produtivas, notadamente aqueles que contribuíam para a exportação, um dos maiores princípios do mercantilismo.
Johan Joachim Becker (1625-1685) insistia nos problemas do comércio; condenava a importação e exportação quando realizadas em proveito dos particulares, já que estes importam produtos que podem ser obtidos no próprio país, contribuindo assim para a "destruição de sua própria comunidade". É, pois, o Estado que deve tomar conta do comércio exterior, recomendando a constituição de sociedades comerciais estatizadas. Os produtos exportados deveriam ser vendidos pelo menor preço possível, pois via a venda de produtos manufaturados no estrangeiro uma fonte abundante de metal precioso. O destaque dado ao quantitativo se encontra na maior parte das preocupações alemãs. O pequeno interesse pelos aspectos qualitativos dos problemas econômicos (por haver sido menos profundamente atingido pelo humanismo do Renascimento) distingue os cameralistas dos outros mercantilistas. Tanto na forma como no fundo, a obra dos cameralistas carece de síntese. É uma análise de casos particulares, não atingindo a clareza e o alcance de grande número de Tratados e de Ensaios de mercantilistas ingleses e franceses. O que não quer dizer, porém, que não tenham exercido importante influência na solução dos problemas políticos e econômicos da Alemanha. Ao contrário, as explicações da doutrina cameralista contribuíram de maneira decisiva para garantir a evolução estrutural da economia alemã, criando – quando o mercantilismo deixou de se manifestar e quando, a partir de 1848, se realizou a unidade política dos Estados da Confederação Germânica – as condições favoráveis ao progresso rápido de sua industrialização e, posteriormente o crescimento do sistema bancário interno e internacional e a formação de uma sociedade competitiva.
MERCANTILISMO INGLÊS No período feudal, a população inglesa era predominantemente rural, vivendo em comunidades locais que produziam lã e víveres para a subsistência. Cada família camponesa possuía sua faixa de terra na propriedade senhorial, a qual era cultivado, num sistema denominado " campo aberto". Utilizavam também as " terras comuns", áreas de floresta onde se praticavam a criação de gado, a extração de madeira e a caça. A partir do século XV, essas pequenas comunidades auto-suficientes passaram a comercializar com regiões cada vez mais afastadas, vendendo seus produtos agrícolas, e, principalmente, a lã, iniciando a formação de um mercado nacional. Pela facilidade de obtenção de matéria-prima, a indústria lanífera se desenvolveu, espalhando-se pelas aldeias através de um sistema doméstico de produção, desvencilhando-se das restrições impostas pelas corporações de ofício nas cidades. No século XVI, novas indústrias despontaram, como a de extração de carvão, a de produção de ferro, estanho, vidro e a de construção naval. Surgiram novas técnicas de exploração do sal, de fabrico de papel, de refino do açúcar e de fundição do ferro e do cobre. Concomitantemente, os grandes proprietários de terras iniciaram o cercamento de suas posses, num processo denominado "enclausure" (cercamentos), cujo objetivo era a criação intensiva de carneiros para o fornecimento de lã. Dessa forma, milhares de camponeses foram expulsos das terras que exploravam, tornando-se assalariados ou desocupados, que passaram a servir posteriormente como mão-de-obra industrial. A necessidade de expandir o mercado consumidor dos variados produtos da grande indústria nascente fez com que as atenções do governo da Inglaterra recaíssem sobre a navegação. Assim, dão-se os primeiros passos inglês rumo à criação de sua prática mercantil. O Mercantilismo na Inglaterra está intimamente ligado ao Absolutismo. Foi este que forneceu a base para a criação daquele, através da modernização da frota marinha inglesa, da cunhagem de moedas, da criação de leis nacionais e da padronização da defesa militar, fatores que forneceram a estabilidade necessária para o sucesso dos empreendimentos burgueses, viabilizados principalmente pelo comércio monetário surgido após a reabertura do Mediterrâneo, atividade esta que foi a grande responsável pela acumulação de capitais no contexto do Mercantilismo. A centralização do poder na Inglaterra teve início com a dinastia Tudor, com Henrique VII. Este rei subordinou os nobres e submeteu as administrações locais ao seu controle. Seu sucessor, Henrique VIII, continuou o processo, efetivando a união do Estado e da Igreja em sua pessoa, através da fundação da Igreja Anglicana, após um rompimento com a Igreja Católica. As terras pertencentes à última foram confiscadas e vendidas para a nobreza e burguesia. No âmbito mercantilista, Henrique VIII quadruplicou a frota inglesa. Porém, é com Elisabeth I, rainha pertencente à mesma dinastia, que o governo volta-se mais para o comércio. A doutrina Mercantilista manifesta-se em diversos atos reais, como a proibição de exportação da lã em bruto e a da importação de tecidos e fios; na distribuição de prêmios a quem fabricasse bons navios; na concessão de monopólios temporários àqueles que introduzissem novas atividades no país; na criação de leis que previam castigos e penas de morte àqueles que se recusassem a trabalhar; e nas intervenções estatais na Economia, através de medidas que buscavam fortalecer a agricultura, as manufaturas, o comércio e a navegação.
Foi também no governo de Elisabeth I que os galeões da frota real passaram a ser equipados com canhões de longo alcance, os quais permitiam que se atingisse o inimigo a uma grande distância. Dessa forma, os navios ingleses passaram a ser utilizados também para a guerra, além do comércio. Porém, após contribuir para a liquidação da ordem feudal, o rei passou a ser visto pelos burgueses não mais como um aliado, mas sim como um obstáculo: as intervenções estatais na Economia eram cada vez menos protecionistas e cada vez mais limitadores de um maior acúmulo de capital. Nesse contexto, surge a Revolução Puritana, durante a dinastia Stuart, e logo depois a Revolução Gloriosa,. Desses fatos resultaram o fim do Absolutismo inglês e a ascensão do poder da burguesia, a qual passou a governar o país através do Parlamento. Assim, essa camada social pôde continuar o seu crescente acúmulo de capitais livres de obstáculos estatais, caracterizando-se dessa forma o Estado Liberal Inglês. No século XVI, o país mais poderoso da Europa era a Espanha. Através da Invencível Armada esquadra de guerra formada por mais de 130 navios, o rei Filipe II dominava as trocas comerciais marítimas entre os oceanos.A frota inglesa era completamente diferente da espanhola: uma centena de navios pequenos, de tonelagem inferior aos navios espanhóis, os quais eram usados principalmente para a pirataria. Seu comandante de maior destaque era Sir Francis Drake, que era tido como o terror das costas espanholas do Velho e do Novo Mundo. Em vista de tais ataques de piratas contra a Espanha e da má vontade da rainha Elisabeth I em combatê-los, o rei espanhol Filipe II resolve mandar a Invencível Armada em direção à Grã-Bretanha. No combate que se seguiu ao encontro das duas esquadras, a Inglaterra venceu, devido à maior facilidade de manobra de seus navios e por estarem eles mais bem equipados militarmente. As perdas da Espanha foram enormes: 20000 homens, 40 milhões de ducados e 100 navios. Posteriormente, a Inglaterra se envolveu num conflito com a Holanda, outra força dos mares. Os Atos de Navegação impostos por Oliver Cromwell durante seu governo, após a Revolução Puritana, estabeleciam que os produtos importados pelos ingleses só poderiam ser transportados até o país através de navios ingleses ou dos países que produziam as mercadorias importadas. A Holanda, que obtinha grandes lucros com o comércio marítimo inglês, sentiu-se prejudicada e decidiu reagir. O resultado foi uma guerra que durou dois anos e terminou com a vitória da Inglaterra, dando início efetivo à sua hegemonia marítima. A partir desse momento é que se dá início realmente à prática mercantilista inglesa, denominada Comercialismo. A posição insular, a atuação dos corsários, os Atos de navegação de Cromwell, a marinha mercante e a Revolução Gloriosa que deu um governo livre à Inglaterra, foram os principais fatores que transformaram a nação na " Rainha dos Mares". Com a Invencível Armada derrotada, intensificaram-se os saques ingleses a navios espanhóis nas costas americanas, objetivando a apreensão do ouro e da prata neles transportados, o que gerou grande afluxo de metais preciosos para a Inglaterra. Com o crescimento da navegação, multiplicaram-se as trocas comerciais e foram fundadas companhias inglesas de comércio – como a Companhia da África, da Virgínia, da Turquia e das Índias Orientais – que reuniam capitais de acionistas e recebiam monopólio do Estado para a exploração de um determinado produto ou de uma zona comercial. O desenvolvimento do transporte marítimo trouxe o progresso para a Indústria, culminando mais tarde, no início do século XIX, na Revolução Industrial. A descoberta e colonização de novas áreas pela Inglaterra em todos os continentes transformaram-na no maior Império Colonial que já existiu. A exploração das riquezas de suas colônias, e o monopólio do comércio elevaram-na à categoria de país mais rico e poderoso da época. As relações e ntre Metrópole e colônias foram oficializadas pela criação da Commonwealth, comunidade que perdura até hoje, como um sistema de ajuda mútua entre os países que a integram. Thomas Mun nasceu em 1571, morrendo 70 anos mais tarde. Em 1615 foi nomeado um dos diretores da Companhia das Índias Orientais, da qual era ferrenho defensor, sendo um mercantilista típico. Sua principal obra é England’s Treasure by Forraign Trade (A Riqueza da Inglaterra pelo Comércio Exterior). Neste trabalho, escrito como se fosse um manual para o comerciante prudente e para o estadista prevenido, Mun lança sua teoria da riqueza "natural " e da riqueza "artificial ", sendo a primeira a que se encontra no próprio país e a segunda a que deve ser buscada em outros países. Patriota, Mun diz que "O reino da Inglaterra está dotado de ambas as riquezas, primeiro por ter grande quantidade de riquezas naturais, tanto no mar, de pesca, como em terra, da lã, trigo, ferro e muitas outras coisas para o alimento, a vestimenta e munições; de sorte que, em estritos extremos de necessidade, pode viver sem ajuda de nenhuma outra nação". Mun coloca o comércio no plano mais alto da economia. Segundo suas idéias, o tráfego de mercadorias não é só a prática econômica que realiza o intercâmbio entre as nações, sendo também a pedra angular da prosperidade de um reino. Entusiasmado, diz que o comércio exterior é "a grande renda do rei, a honra do reino, a nobre profissão do comerciante, a escola de nossos ofícios, o abastecimento de nossas necessidades, o emprego de nossos pobres, o melhoramento de nossas terras, a manutenção de nossos marinheiros, a muralha dos reinos, os recursos de nosso tesouro, o nervo de nossas guerras, o terror de nossos inimigos".
PETTY & HUME William Petty nasceu na Inglaterra, estudou medicina e depois foi à Paris trabalhar com T.Hobbes. Chamou a atenção para a natureza do capitalismo de provocar uma divisão internacional do trabalho e a importância do Estado na geração de emprego. É difícil enquadrar Petty em alguma linha de pensamento devido ao caráter eclético de suas contribuições à Ciência Econômica. Uma dessas contribuições foi a idéia de ganhos no comércio internacional a partir de uma crescente especialização e divisão territorial do trabalho. Já David Hume (1711-76), filósofo e historiador escocês, teve uma profunda influência na vida intelectual européia. Em seus escritos políticos, argumentava que o governo apesar de basicamente má, é necessário para manter a felicidade humana. Em sua teoria econômica ele argumentava que bens, mais do que dinheiro, são a base da riqueza. Humes acreditava que cada parte do mundo tinha produtos e serviços especiais para oferecer, sendo um defensor do aumento das trocas entre diferentes países. CONCLUSÃO Mercantilismo, conjunto de doutrinas econômicas dominadas pelo nacionalismo e intervencionismo, ocorreu no período de transição entre as práticas regulamentórias da economia no feudalismo e o nascimento das concepções liberais do século XVIII. Enfatizou e ampliou a importância do comércio e da indústria, em virtude da expansão do volume de produção e da conversão da economia de auto-suficiência em economia de mercado; realçou o valor da economia nacional , através da transformação da moeda num papel ativo na progressão econômica, gerando maior circulação daquela e, conseqüentemente, desenvolvendo o sistema bancário, apesar de seu conceito errôneo de riqueza, pois esta, para os mercantilistas, consistia apenas no acúmulo de metais preciosos. Contribuiu para o crescimento da indústria, do comércio e da expansão colonial , notadamente na França e Inglaterra. Superou a ética medieval e os escrúpulos religiosos sobre usura, visto que na concepção da Idade Medieval a contração do lucro era considerada pecado. Influenciou permanentemente as atitudes vigentes em relação aos negociantes, já que eram considerados cidadãos desprezíveis, imersos no lodo dos negócios e do dinheiro. Assim, os mercantilistas valorizaram os negociantes, afirmando que enriqueciam não apenas a si mesmos, mas também ao reino e ao rei. Expandiu a economia de mercado devido à colonização no exterior e transformou a organização econômica mundial através do crescente incentivo ao investimento de capital e também pela expansão do sistema bancário interno e internacional .