Formador: Miguel Rodrigues
Manual
Saúde da Pessoa Idosa - Cuidados Básicos
Área: 3538
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Índice Introdução .................................................................................................................................. ..................................................................................................................................... ... 1 Capítulo 1 - Prestação de cuidados básicos .................................................................................. 1 - Envelhecimento Envelhecimento da população .............................................................................. ................................................................................. ... 1 - Promoção da qualidade de vida: Metas da OMS ..................................................... ..................................................... 3 - Envelhecimento Envelhecimento físico e psicológico psicológico .......................................................... ......................................................................... ............... 3 Capítulo 2 – Agente em Geriatria ..................................................... ................................................................................................ ........................................... 15 2.1 - Características inerentes ao agente em Geriatria .................................................. 16 Capítulo 3 – Processos de comunicação e observação ............................................................... ............................................................... 19 - Características da comunicação comunicação e elementos do processo de comunicação......... 19 - Princípios da observação ....................................................... ....................................................................................... ................................ 22 - Jogos e simulações….............................................................. ............................................................................................... ................................. 24 Capítulo 4 – Conforto da pessoa idosa ....................................................... ........................................................................................ ................................. 25 - Sono e repouso............................................................ ....................................................................................................... ........................................... 25 - Camas… ........................................................... .................................................................................................................. ....................................................... 33 Capítulo 5 - Bibliografia .......................................................... ............................................................................................................... ..................................................... 35
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Introdução Neste módulo pretende-se transmitir informações acerca duma população muito particular e das suas características, a Terceira idade, visando um aspeto fundamental que é a saúde. Deste modo, serão abordados determinados assuntos como os seguintes objetivos:
Reconhecer alguns aspetos do envelhecimento da população;
Descrever as características do Agente em Geriatria;
Enumerar os processos de comunicação e observação;
Abordar os cuidados que proporcionam conforto à pessoa idosa.
Capítulo 1 – Prestação de Cuidados Básicos ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO O envelhecimento da população é um dos principais problemas do século XXI (Cabral et al., 2013). As alterações demográficas e o aumento da esperança média de vida da população impõem vários desafios aos indivíduos e à sociedade, conduzindo, a nível individual, ao aumento da longevidade, e a nível coletivo, a mudanças e deficiências das relações sociais e familiares, assim como implicações económicas (Pocinho, 2014). O envelhecimento é um fenómeno que desperta interesse há vários séculos, tendo o conceito de envelhecimento sofrido diversas alterações ao longo dos tempos, evoluindo consoante as atitudes, crenças, cultura, conhecimentos e
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relações sociais de cada época (Sequeira, 2010). Atualmente o conceito de envelhecimento, na sociedade portuguesa, encontra-se frequentemente associado a uma fase específica do ciclo de vida, a idade de reforma (65 anos), sendo esta percecionada como o anúncio do início da velhice (Squire, 2002). A idade cronológica associada à idade da reforma é o único parâmetro que a sociedade portuguesa atribuiu na definição da população idosa, uma vez que o seu desenvolvimento sofreu modificações quer no seu sistema de produção de bens, quer a nível laboral a partir do momento que o trabalho começou a ser renumerado. O envelhecimento deve ser compreendido como um processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível que acompanha o ser humano desde o seu nascimento até à sua morte. Este é um fenómeno pessoal e de variabilidade individual, ou seja que varia de indivíduo para indivíduo, e que está associado a um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais que se processam ao longo do ciclo vital (Jacob 2013; Sequeira, 2010). Durante o último século, assistiu-se a um grande progresso na medicina dos países desenvolvidos e a esperança de vida aumentou de um modo considerável. Primeiro, a mortalidade na infância tornou-se menos provável, devido à melhoria das condições sanitárias e ao desenvolvimento de vacinas e tratamentos para as doenças da infância (antibióticos). Segundo, o desenvolvimento da doença e a invalidez tornaram-se menos frequentes ou aparecem mais tarde nos idosos porque melhoraram os cuidados de saúde e a medicina preventiva. Atualmente, a pessoa considerada a mais velha do mundo é um homem com 146 anos, natural da ilha Java na Indonésia. Envelhecer hoje ilustra como o crescente envelhecimento da população se percebe num país. Quem é velho, quais os meios de que dispõe, onde vive e qual a sua qualidade de vida, são interrogações que merecem respostas pertinentes da nossa comunidade. Em Portugal, a esperança de vida à nascença foi estimada em 80,62 anos para o total da população, sendo de 77,61 anos para os homens e de 83,33 anos para as mulheres, no período entre 2014 e 2016 (INE, 2017).
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No espaço de uma década verificou-se um aumento de 2,44 anos de vida para o total da população, de 2,80 anos para os homens e 2,00 anos para as mulheres (INE, 2017). O aumento da esperança média de vida nos países desenvolvidos é um triunfo, mas traz o desafio de conseguirmos envelhecer saudavelmente, pois viver mais tempo nem sempre é sinónimo de viver melhor. A migração e a baixa taxa de natalidade, também têm contribuído, de forma notável, para o envelhecimento da população em Portugal. A população portuguesa está envelhecida. Em 2011, 19,1% tinha 65 ou mais anos, situação que se prevê que aumente para os 32% em 2050. A diminuição da população jovem, juntamente com o aumento da população idosa, o índice de envelhecimento mais do que duplicará, passando de 147 para 317 idosos, por cada 100 jovens, em 2080.
PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA – METAS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE A Organização Mundial de Saúde divulgou o conceito de envelhecimento ativo. Este depende de vários fatores, que não envolvem apenas os indivíduos, mas também as suas famílias e o próprio meio onde estes se inserem. A principal meta dos dias de hoje, tendo em conta o envelhecimento populacional, é ganhar anos de vida com independência, ou seja “Capacidade para realizar funções relacionadas com a vida
diária, isto é, a capacidade de viver com independência na comunidade sem ajuda ou com pequena ajuda de outrem.” As políticas de saúde devem, assim, promover:
O Envelhecimento bem-sucedido/ativo;
A Coesão e interação familiar;
A proteção do idoso de negligência, de más práticas, de violência física e psicológica.
ENVELHECIMENTO FÍSICO, PSICOLÓGICO E SOCIAL Cada pessoa desde o nascimento tem um ritmo próprio de envelhecimento biológico. O que significa que pessoas da mesma idade cronológica podem apresentar diferentes idades biológicas.
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A mudança dos hábitos, mesmo nas idades mais avançadas, traz sempre benefícios para a saúde. Pertencer ao grupo da Terceira Idade não significa ser incapacitado para desempenhar atividades que requerem esforço físico ou mental. As pessoas idosas que estão na fase inicial (média idade) da Terceira Idade apresentam melhores condições de saúde, quer física, quer mental e menores alterações naturais do envelhecimento do que as outras. No entanto, é a partir dos 80 anos que a necessidade de auxílio para a realização de algumas atividades quotidianas acaba por ser importante, por exemplo, para se alimentarem, vestirem, tomarem banho, sentarem e levantarem, andarem, fazerem compras, preparem as refeições, e muitas outras atividades. Apesar de isto não ser uma regra, existem idosos de 80 anos que são mais saudáveis do que outros com 60 anos, o que mostra a importância do ritmo de envelhecimento, tendo em conta patologias (doenças); condições económicas; herança genética; cuidados primários de saúde; estilo de vida, alimentação, atividade ou exercício físico, ansiedade e stress, integração e aceitação social; entre outros, de cada indivíduo. A classificação da pessoa pela idade engloba quatro idades:
Idade Cronológica – é definida como a idade que a pessoa tem, ou seja, a idade em anos. Esta forma numérica de idade nem sempre corresponde à idade biológica.
Idade Biológica – indica as condições de saúde, física e psicológica da pessoa. Esta idade carateriza os ritmos diferentes do envelhecimento.
Idade Psicológica – relacionada com as competências comportamentais que a pessoa pode mobilizar, incluindo a inteligência, memória e motivação.
Idade Social – refere-se ao papel e aos hábitos da pessoa, relativamente aos outros membros da sociedade e é muito influenciada pela cultura e pela história de um país.
Envelhecimento Físico A nível biológico (senescência), ocorrem um conjunto de alterações orgânicas, morfológicas e funcionais (Sequeira, 2010), que resultam na perda gradativa da capacidade de funcionamento dos órgãos e sistemas, e na consequente alteração progressiva das capacidades de adaptação do corpo, verificando-se um aumento
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gradual do risco de desenvolver comorbilidades, e da probabilidade de morrer. Estas alterações nem sempre se convertem em incapacidades, e a ocorrência e intensidade com que ocorrem variam de pessoa para pessoa (Serviço de Estudos sobre a População do Departamento Estatísticas Censitárias População, 2002). As células do corpo têm uma longevidade precisa e a sua capacidade para se dividir e multiplicar diminui com a idade. Como são organismos vivos, também envelhecem e morrem. Existe uma perda significativa do número de células do nosso organismo, estimando-se que entre os 20 e os 70 anos, a perda será de 30%. Com a passagem dos anos, a maioria das pessoas toma consciência das modificações do próprio corpo. Algumas modificações são óbvias enquanto outras poderão passar despercebidas até surgir alguma doença. Conhecer estas alterações pode ajudar o indivíduo a adaptar-se ao processo de envelhecimento. As modificações a nível físico são as seguintes:
Visão
Entre os 40 e os 50 anos de idade, a maioria das pessoas nota que é difícil ver objetos a uma distância inferior a 60cm, pois os olhos, já não conseguem focar com facilidade os objetos próximos. Com o envelhecimento, torna-se, também, difícil ver em condições de pouca iluminação, pois ocorre entrada de menor quantidade de luz no olho. Em média, as pessoas de 60 anos necessitam de três vezes mais de luz do que as de 20 anos (ex: para ler). Com o avançar da idade, a pupila reage mais lentamente às alterações da luz. Por conseguinte, os idosos podem ter dificuldade em adaptarem-se, quer ao escuro quer ao excesso de luminosidade.
Audição
A nível do ouvido, com a idade, a capacidade auditiva pode diminuir, tornando o equilíbrio, ligeiramente, mais difícil de manter, devido à deterioração de algumas estruturas. Os idosos podem apresentar uma determinada dificuldade em ouvir sons de tons agudos. Podem ter problemas em entender o que dizem as mulheres e as crianças,
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dado que a maioria das mulheres e crianças tem vozes com tons mais agudos que os homens. No entanto, falar em voz alta não é útil dado que se tende a acentuar mais as vogais (sons agudos) do que as consoantes (sons graves). Por exemplo, a frase “Diz-me exatamente o que queres tomar” soa como “iz exaee o e e soar”. A
frase soa como se a pessoa que está a falar não pronunciasse claramente as palavras e o sentido perde-se.
Paladar
Após os 50 anos, o paladar começa a diminuir gradualmente, pois o número e a sensibilidade dos recetores do paladar. Estas modificações tendem a reduzir a capacidade de reconhecer os sabores doces e salgados mais do que os amargos ou ácidos.
Olfato
O olfato só diminui ligeiramente. Os odores fortes continuam a ser fáceis de cheirar, mas os mais subtis tornam-se mais difíceis de reconhecer e de identificar.
Pele
A pele tende a tornar-se mais fina, menos elástica, mais seca e finamente enrugada. A camada de gordura que se encontra debaixo da pele diminui. Esta camada de gordura atua como uma almofada para a pele, protegendo-a e também conserva o calor corporal. À medida que esta camada se reduz, a pele é lesada mais facilmente, sendo mais provável o aparecimento de rugas e diminuindo a tolerância ao frio. Também o número de células sensitivas (terminações nervosas) da pele diminui, reduzindo a sensibilidade à dor, aumentando a probabilidade de lesões. O número de glândulas sudoríparas (glândulas que produzem o suor) e de vasos sanguíneos também se reduz. Por isso, os idosos têm mais probabilidade de sofrer perturbações devido ao excesso de calor (insolações), assim como ao excesso de frio, como a hipotermia. Também a pele tende a cicatrizar mais lentamente quando o fluxo sanguíneo é reduzido.
Ossos e Músculos
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Os ossos tornam-se mais frágeis e mais propensos a fraturas. Principalmente, nas mulheres, a perda de densidade óssea aumenta depois da menopausa. Os ossos mais afetados são o fémur, a pélvis (anca), as extremidades dos ossos do braço (rádio e cúbito), os ossos do pulso e os ossos da coluna vertebral (vértebras). Ao envelhecer também a quantidade de medula óssea diminui, o que leva a uma menor produção de células sanguíneas, podendo surgir problemas quando surge anemia, infeção ou hemorragia. Ao envelhecer, a cartilagem que reveste as articulações tende a ficar mais fina. As superfícies de uma articulação podem não deslizar tão bem uma em cima da outra e a articulação pode tornar-se, ligeiramente, mais suscetível às lesões. E os ligamentos, que unem as articulações, tendem a ser menos elásticos com a idade, tornando-as rígidas e menos flexíveis. A perda de massa muscular inicia-se aos 30 anos e continua ao longo da vida, pois os níveis da hormona do crescimento e da testosterona que estimulam o desenvolvimento muscular, diminuem com a idade. A maioria das pessoas mantém uma massa muscular e uma força suficiente para realizar todas as suas atividades. O exercício físico regular pode retardar, significativamente, a perda de massa muscular e de força.
Cérebro
Com a idade, o número de células nervosas (neurónios) do cérebro só se reduz levemente. Vários fatores ajudam a compensar essa diminuição. Ao perderem-se células, estabelecem-se novas ligações entre os neurónios restantes. Podem, também, formar-se novos neurónios em algumas áreas do cérebro, inclusive durante a velhice. Além disso, o cérebro possui mais neurónios do que necessita para levar a cabo a maioria das atividades. Contudo, as substâncias e as estruturas implicadas no envio de mensagens do cérebro para o resto do corpo e vice-versa alteram-se. Os níveis de alguns mensageiros químicos (neurotransmissores), bem como os seus recetores sofrem alterações. Devido a estas alterações, o cérebro pode funcionar, ligeiramente, pior. As pessoas idosas reagem e executam tarefas mais lentamente. Algumas funções mentais podem estar um pouco reduzidas. Entre elas incluem-se o vocabulário, a memória a curto prazo, a capacidade de
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reter novas aprendizagens e a de recordar palavras. Depois dos 60 anos, os neurónios conduzem os sinais mais lentamente.
Coração
As paredes do coração tornam-se mais rígidas, dificultando o enchimento do coração com sangue. As paredes das artérias ficam, igualmente, mais rígidas e mais grossas e menos elásticas, não respondendo, devidamente, às variações da quantidade de sangue que passa por elas. Por isso, a pressão arterial é mais alta nas pessoas idosas. Apesar destas modificações, um coração idoso saudável funciona bem. Apenas não pode aumentar tanto a frequência dos batimentos nem tão rapidamente como um coração jovem. O exercício físico regular reduz muitos dos efeitos do envelhecimento sobre o coração e sobre os vasos sanguíneos.
Pulmões
Os músculos utilizados na respiração (como diafragma) tendem a debilitar-se. Além disso, absorve-se um pouco menos de oxigénio do ar respirado. As pessoas idosas podem, também, ter dificuldade em respirar a elevadas altitudes. Os pulmões tornam-se menos aptos para combater as infeções, pois as células que eliminam os produtos tóxicos da respiração são menos capazes de o fazer. A tosse, que também ajuda a limpar os pulmões, costuma ser mais fraca.
Sistema Digestivo
O envelhecimento afeta o sistema digestivo de diferentes modos. Os músculos do esófago contraem-se com menor força, contudo não é afetado o movimento da comida no esófago. Os alimentos são eliminados mais lentamente pelo estômago que, para além disso, não pode reter grandes quantidades de comida, uma vez que é menos elástico. No entanto, na maioria das pessoas estas modificações são tão leves que passam despercebidas. Porém, em alguns indivíduos, a diminuição do tempo de esvaziamento do estômago pode, inclusivamente, contribuir para a obstipação. O sistema digestivo produz menor quantidade de lactase, uma enzima necessária para a digestão do leite. Como resultado é mais frequente que os idosos desenvolvam uma intolerância aos produtos lácteos (intolerância à lactose). O
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fígado também muda, é irrigado por menor quantidade de sangue e tende a tornarse mais pequeno. Como as enzimas do fígado trabalham menos, o idoso pode ter mais dificuldade em eliminar do corpo os medicamentos (os efeitos destes duram mais tempo) e outras substâncias tóxicas.
Sistema Urinário
Os rins tornam-se mais pequenos (uma vez que o número das células dos rins diminui) e circula menos sangue. A partir dos 30 anos, os rins começam a filtrar o sangue com menor eficácia. Com a passagem dos anos, não eliminam tão bem os produtos do metabolismo do nosso corpo (desperdício). Podem também eliminar demasiada água, pelo que a desidratação se torna mais provável. No entanto, quase sempre funcionam suficientemente bem para cobrir as necessidades do organismo. O sistema urinário modifica-se de diversas formas que podem tornar mais difícil o controlo da micção (urina). O máximo volume de urina que a bexiga pode reter diminui. As pessoas idosas possuem uma capacidade menor de reter a micção depois de terem notado o primeiro estímulo para urinar. Os músculos da bexiga podem também contrair-se de forma esporádica, independentemente da necessidade de urinar. Os músculos da bexiga debilitam-se. Em consequência, fica uma maior quantidade de urina retida na bexiga. Estas modificações explicam, pelo menos em parte, por que razão a incontinência urinária (perda de urina incontrolável) se torna mais comum com a idade. Nas mulheres idosas, a uretra (que transporta a urina para fora do corpo) torna-se mais curta e mais fina. O músculo que controla o peso da urina pela uretra (esfíncter urinário) é menos capaz de se fechar de modo adequado e prevenir as perdas de urina. Estas modificações podem ser o resultado da diminuição dos níveis de estrogénios que se verifica na menopausa. Nos homens, ao envelhecer, a próstata tende a aumentar de volume. Por vezes, ao ponto de bloquear parcialmente a passagem da urina.
Sistema Reprodutor Os efeitos do envelhecimento no sistema reprodutor são mais óbvios nas
mulheres que nos homens. Nas mulheres, a maior parte destes efeitos estão relacionados com a menopausa, quando os níveis das hormonas femininas
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(sobretudo os estrogénios). A diminuição dos níveis de hormonas determina a redução das dimensões dos ovários e do útero. Os tecidos da vagina tornam-se mais finos, mais secos e menos elásticos (uma afeção chamada de vaginite atrófica). Os seios tornam-se menos firmes e mais fibrosos, pelo que tendem a perder a sua turgidez. Nos homens, as modificações do sistema reprodutor são menos dramáticas, a maioria dos homens mantém sempre a fertilidade.
Sistema Endócrino
O sistema endócrino é formando por numerosas glândulas e órgãos que produzem hormonas. As hormonas comportam-se como mensageiros para ajudar na regulação e na coordenação das atividades de todo o organismo. Com a idade, os níveis e a atividade de algumas hormonas (para além das hormonas sexuais) reduzem-se. A maioria das modificações hormonais não tem um efeito sobre as funções do organismo. No entanto, em algumas circunstâncias, as funções do corpo podem ser afetadas. Por exemplo, depois da ingestão de uma comida forte, a insulina libertada pelo pâncreas pode não ser utilizada de modo tão eficaz como era habitualmente. A insulina ajuda a controlar o nível de açúcar (glicose) no sangue. Se a função da insulina for menos eficaz, o nível de açúcar no sangue pode ser mais elevado do que o normal e demorar muito mais tempo a voltar aos valores normais. Esta modificação pode ter efeitos não evidentes. No entanto, em algumas pessoas, pode ser um sinal precoce de diabetes.
Sistema Imunológico
Ao envelhecer, o sistema imunológico sofre alterações ligeiras que a maioria das pessoas idosas não se apercebem deste se tornar menos eficaz. Muitos indivíduos só notam que o corpo é menos capaz de se defender das infeções quando estas persistem ou se tornam graves. Os indivíduos que foram infetados pela tuberculose no início da idade adulta podem não apresentar sintomas até à velhice. Desenvolvem-se, então os sintomas porque o sistema imunitário está mais frágil. O sistema imunitário pode ser menos capaz de distinguir as células do corpo das substâncias estranhas que invadem o organismo. Por conseguinte, tornam-se mais frequentes as perturbações cujo sistema imunitário ataca as células do próprio
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corpo (doenças autoimunes). As células do sistema imunitário destroem mais lentamente as células cancerosas, as bactérias e outras substâncias estranhas. Esta lentidão pode ser uma das razões pelas quais o cancro é mais frequente nas pessoas idosas. Além disso, as vacinas costumam proporcionar menos proteção às pessoas idosas. Estas modificações do sistema imunitário ajudam a explicar a razão que algumas infeções, como a pneumonia e a gripe, são mais frequentes nas pessoas idosas e muitas vezes provocam a morte. As modificações do sistema imunitário têm também um efeito benéfico. Os sintomas alérgicos tornam-se muito menos severos.
Envelhecimento Psicológico O envelhecimento psicológico resulta das repercussões psicológicas das alterações corporais, que se traduzem numa mudança de atitudes. Nesta dimensão, podem verificar-se perdas de memória ou maior dificuldade no raciocínio. Por outro lado, as pessoas mais idosas estão também sujeitas a determinantes externos que podem desencadear algumas perturbações mentais ou comportamentais (Squire, 2002; Serviço de Estudos sobre a População do Departamento Estatísticas Censitárias População, 2002). Erikson (1983), defendia que a velhice se enquadra no oitavo e último estádio da sua teoria de desenvolvimento pessoal: Integridade pessoal versus desespero – permanece o desejo de sentir prazer em viver e envelhecer com dignidade e a ansiedade associada à antecipação da idade avançada, da perda de autonomia e da morte. Inicia-se, em média, a partir dos 65 anos. Segundo a teoria do desligamento de Cumming, os idosos mostram uma inclinação natural para diminuir o seu envolvimento afetivo com o meio circundante, estreitando o seu espaço de vida e preocupando-se cada vez mais consigo próprios. Trata-se de um mecanismo natural influenciado pela redução da energia mental e física ligada à idade. Contudo, estudos atuais mostram que o envelhecimento não corresponde à fatalidade de um caminhar sombrio e confinado. Os acontecimentos são analisados numa perspetiva diferente e mais equilibrada. A forma como cada um vê e se sente inserido, com as suas características peculiares é fulcral na sua interação com o meio e,
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consequentemente, na aquisição de um maior ou menor grau de satisfação e bemestar. Infelizmente, muitos de nós, quando falamos de pessoas idosas, atribuímos conotações negativas a esta faixa etária. Principalmente devido aos mitos e estereótipos enraizados na nossa sociedade/cultura. Os principais problemas de saúde mental apresentados pelas pessoas idosas são:
depressão (muito frequente, mas pouco diagnosticada ou confundida com outras doenças);
ansiedade;
isolamento;
suicídio;
perturbações do sono;
alcoolismo.
Existem também alterações mentais causadas por medicamentos ou outras intervenções que visam a cura ou o tratamento das pessoas idosas (causas iatrogénicas) assim como, devido ao stress relacionado com o internamento (hospital, lar). Quanto aos fatores que influenciam o envelhecimento psicológico, estes são:
O estado de saúde física - Existem pessoas que têm a capacidade de se percecionarem como saudáveis, ainda que apresentem algumas patologias crónicas ou agudas. Estas pessoas têm a capacidade de se adaptarem às suas limitações. Assim, mais importante do que o estado de saúde é a perceção que cada um tem da sua própria saúde;
A mudança de papel - A passagem de um papel utilitário tanto para a família como para a sociedade, para um papel mais passivo traz geralmente problemas psicológicos. Para se ultrapassar esta fase é necessário que a pessoa idosa adquira novos papéis, mantendo-se ativa e útil. A falta de ocupação tem efeitos nefastos sobre a perceção de si e pode conduzir à depressão;
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A personalidade – Uma pessoa que ao longo da sua vida sempre demonstrou capacidade de adaptação terá mais facilidade em se adaptar a situações de privação ou de stress;
O estatuto familiar e conjugal – A família e os amigos constituem muitas vezes a principal rede de suporte das pessoas idosas. A separação da família ou dos amigos, qualquer que seja a causa, aumentará os sentimentos de solidão, que por sua vez irão dilatar a insegurança e diminuir seriamente a capacidade de adaptação;
Funções cognitivas - uma diminuição das funções cognitivas poderá ser vivida de forma dramática pelo próprio e pela família.
Nos idosos, as funções cognitivas mais atingidas são a velocidade de pensamento, memória de trabalho/imediata e as habilidades visuoespaciais. E as que se mantêm inalteradas são a inteligência verbal, atenção básica, habilidade de cálculo e a maioria das habilidades de linguagem. A velocidade em que a informação é processada representa a alteração mais evidente do idoso. A lentificação cognitiva influencia todas as outras funções como a atenção e a memória, sendo responsável pelo défice cognitivo. Esta lentificação pode ser verificada em determinadas situações, tais como: dificuldade em compreender textos, necessidade de explicações mais extensas e de maior tempo para executar cálculos. A inteligência fluida – processo básico de informação, capacidade de raciocinar, perceber a relação entre os objetos, criar novas ideias, adaptar-se e organizar a informação em situações concretas – atinge o seu potencial máximo aos vinte e cinco anos, iniciando-se a partir daí o seu declínio (Sequeira, 2010). A inteligência cristalizada – processo de aquisição do conhecimento centrado na educação (acumulação de informações), no conhecimento e na experiência que os indivíduos adquirem no contexto sociocultural – aumenta a sua capacidade ao longo da vida. Assim, o desempenho de atividades, independentemente da sua natureza, tem influência de forma positiva nas funções intelectuais e contribui para uma maior eficiência mental (Morris, 1991 citado por Sequeira, 2010). A memória constitui uma das funções cognitivas essenciais para um envelhecimento ativo.
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Com o avançar da idade ocorre uma diminuição da velocidade de recuperação dos vários recursos da memória, ocorre também declínio na memória imediata, de curto prazo ou de trabalho, o que dificulta o processo de aprendizagem. Há maior comprometimento da atenção (dificuldade para selecionar a atenção por vários tópicos) e da recuperação das informações, previamente armazenada e também na consolidação de informações recentes (memória episódica recente, por exemplo, localização de objetos, recados, repetir números de forma inversa, etc.) A memória remota, também designada por memória de recordação, mantém-se estável ou declina muito pouco com a idade. Os idosos são capazes de adquirir novos conhecimentos, desde que lhes dêem tempo para assimilar a informação. Além disso, na maioria dos casos, a aprendizagem depende mais da motivação do que da memória (Berger, 1995). Ao longo da vida, as pessoas têm uma grande plasticidade cognitiva e capacidade de reserva. Estas capacidades podem melhorar através da intervenção, com programas de estimulação cognitiva tanto em pessoas com demência, como em pessoas idosas saudáveis (Fernández-Ballesteros, 2009 cit in Teixeira, 2010). O envelhecimento cognitivo normal é influenciado por diversas variáveis:
os fatores genéticos (que explicam cerca de 50% da variabilidade cognitiva na terceira idade);
a saúde (as pessoas saudáveis apresentam menos alterações cognitivas);
a escolaridade (um nível de instrução mais elevado funciona como fator protetor das funções cognitivas);
a atividade mental (realizar as atividades mentalmente estimulantes melhoram o desempenho do cérebro);
a atividade física (a boa forma física está relacionada com uma melhor preservação das aptidões cognitivas);
a personalidade, humor, meio social e cultural, treino cognitivo, género e conhecimentos especializados (influenciam positiva ou negativamente áreas como a memória ou a atenção) (Spar e La Rue, 2005 cit in Sequeira, 2010).
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Envelhecimento Social As redes sociais alteram-se de acordo com o contexto familiar, laboral, participação na comunidade, entre outros. As redes de apoio fundamentais para a saúde mental, satisfação com a vida e para um bom envelhecimento, pelo que, de forma a manter a independência e a participação social, é necessário reorganizar as redes de apoio informal, tentando combater a falta de pessoas significativas que vão desaparecendo (amigos, família, etc.). Atualmente verificam-se diversas alterações sociais em comparação com o passado:
diminuição das famílias alargadas que cuidam de todos os seus membros;
predominância de famílias nucleares com diminuição da estabilidade familiar (incremento do número de divórcios e novos casamentos que criam instabilidade e dificuldade nos processos de cuidar);
existência de vários tipos de família (monoparentais, uniões de facto, etc.);
dificuldade e competitividade no trabalho (maior mobilidade geográfica dos elementos familiares, fragilizando a solidariedade familiar);
reduzida dimensão das habitações (dificulta a coabitação de vários membros a família);
entre outros.
O envelhecer é definitivamente real, mas não existe apenas uma forma correta de ocorrer. Assim, não se poderá respeitar a pessoa idosa, sem ter em conta a sua personalidade, a sua experiência, condição social e valores culturais. Cada idoso é dotado de uma entidade própria que deve ser respeitada.
Capítulo 2 – Agente em Geriatria O Agente em Geriatria é o profissional que presta cuidados de apoio direto a idosos, no domicílio e em contexto institucional (lares e centros de dia), cuidando do seu bem-estar físico, psicológico e social, de acordo com as indicações da equipa técnica e os princípios deontológicos.
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CARATERÍSTICAS INERENTES AO AGENTE EM GERIATRIA Relações humanas O agente de geriatria deve possuir caraterísticas específicas para o cuidar/relacionamento humano. Deste modo, deve ser: responsável; paciente; meigo; bem-disposto; educado; humilde; assíduo; honesto; atento;
justo;
simpático; bom ouvinte; flexível; competente; dedicado; e profissional. Um bom profissional também deve saber: colocar-se no lugar ou situação dos idosos (empatia); prestar-lhes a devida atenção; respeitar o idoso, os colegas e superiores hierárquicos; ter capacidades psicológicas, sociais e de relacionamento com os outros, especialmente com os idosos; considerar o idoso como um ser humano, com todas as suas necessidades; mostrar disponibilidade para o idoso; ajudar o idoso a exercitar as suas aptidões físicas e intelectuais, promovendo ao máximo as suas capacidades e autonomia. Um profissional de geriatria deve possuir conhecimentos necessários
para cuidar dos idosos em áreas como:
alimentação (dietas, cuidados com sondas, etc.);
saúde e primeiros socorros (como atuar em caso de asfixia, administração de medicamentos, cuidados a ter com as algálias, etc.);
higiene e prevenção de acidentes (higiene pessoal, posicionamentos, prevenção de quedas etc.);
comunicação e atividades de animação;
processo de envelhecimento, cultura, hábitos e crenças.
Entre as principais atividades do Agente em Geriatria destacam-se:
a prestação de cuidados de higiene ao idoso;
a distribuição e auxílio nas refeições;
administração de medicação (ter atenção à sua toma);
auxílio, se necessário, na deslocação ao WC, colocação de fraldas e/ ou urinóis e arrastadeiras;
prevenção de quedas e acidentes, organizando o espaço físico onde o idoso se insere;
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organização e promoção de atividades de lazer e animação adequadas às capacidades dos idosos;
acompanhamento do idoso nas idas a consultas e tratamentos.
Relativamente aos principais deveres do Agente em Geriatria , estes são os seguintes:
respeitar sempre a privacidade do idoso, mantendo sigilo, sempre que ele o solicite, sobre qualquer assunto;
ser sempre responsável pelas suas ações, reconhecendo e assumindo os erros cometidos, como prova de humildade e honestidade;
assegurar, quanto possível, que os seus serviços não são mal utilizados, respeitando as indicações dadas pelos superiores hierárquicos;
respeitar o sigilo profissional, não divulgando situações e informações relacionadas com os idosos, colegas de trabalho ou instituição obtidas no decorrer do horário de trabalho.
Cuidados a ter em consideração
Higiene pessoal: tomar banho diariamente; promover a saúde oral; unhas curtas (não roídas), limpas e sem verniz; mãos e antebraços limpos; manter os pés secos; evitar passar as mãos no nariz, orelhas, cabeça, boca ou outra parte do corpo durante a prestação de cuidados; no caso dos homens, evitar usar barba e bigode; evitar trabalhar com ferimentos nas mãos ou se estiver doente (diarreia, febre, vómitos, contato com pessoas com doenças infectocontagiosas, infeções os olhos, garganta, nariz ouvidos pele, etc.); comunicar situação de doença; assoar o nariz em lenços de papel e posteriormente rejeitar e lavar as mãos; não limpar o suor com as mãos, panos ou uniforme (mas sim em toalha descartável).
Apresentação pessoal : cabelos limpos, apanhados e protegidos (sem tocar no uniforme); não usar adornos (anéis, brincos, relógio, pulseiras, colares, piercing, etc.); não utilizar utensílios que foram colocados na boca; utilizar equipamento de proteção individual; evitar maquilhagem e perfumes com cor e/ou odor intenso (utilizar desodorizante sem cheiro ou com odor
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suave); apresentar identificação adequada (nome, fotografia e função); evitar falar, cantar, tossir ou espirrar sobre os outros ou alimentos; não mascar pastilhas elásticas ou fumar durante o trabalho; não manusear dinheiro; o fardamento deve ser feito apenas no local de trabalho; e deve-se utilizar o cacifo para colocar a roupa pessoal. A apresentação pessoal correta e adequada bem como o uso de uma farda limpa para além de prevenir infeções são o espelho do nosso asseio e a imagem que transparecemos da instituição onde trabalhamos.
Atitude: o profissional de saúde deve ter uma atitude positiva, pois deste modo vai-se sentir entusiasmado, criativo, vai contagiar os outros com a sua boa disposição e isso vai-se refletir na qualidade do seu trabalho.
Ter conhecimento sobre as tarefas a executar no posto de trabalho é importante, mas não é tudo. É também necessário conhecer os clientes e adaptarse a estes. O cliente deve ser considerado a pessoa mais importante, pois é dele que depende o trabalho do agente em geriatria. Este não deve ser alvo de juízos de valor e deve ser tratado de forma individual, respeitando as suas caraterísticas. Para tal, o profissional deve evitar:
Efeito de halo - Não se deve formular uma opinião sobre um cliente, baseado na generalização de uma caraterística. Exemplo: desconfiança;
Efeito lógico – Não se deve supor que certas qualidades do cliente se encontram associadas às suas atitudes. Exemplo: um cliente indeciso, não quer dizer que não vá marcar uma consulta;
Efeito dos estereótipos – Não se deve qualificar os clientes somente porque detetamos caraterísticas nele que nos permitem enquadrá-lo em certos tipos pré-qualificados. Exemplo: se a pessoa tem um ar sisudo, não significa que seja antipático;
Efeito da tendência central – não se deve classificar os clientes como sendo
todos
iguais,
sem
considerar
as
diferenças
individuais.
(personalidade, crenças, cultura). Exemplo: “Os utentes são todos iguais”.
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Formador: Miguel Rodrigues
Capítulo 3 - PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO E OBSERVAÇÃO CARACTERÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO/ELEMENTOS DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
A comunicação trata-se de um processo de criação e de recriação de informação, de troca, de partilha e de colocar em comum sentimentos e emoções entre indivíduos. A comunicação ocorre de maneira consciente ou inconsciente pelo comportamento verbal e não-verbal, e de modo mais global, pela maneira de agir dos intervenientes. Por seu intermédio, chegamos, mutuamente, a apreender e a compreender as intenções, as opiniões, os sentimentos e as emoções sentidas pela outra pessoa e, até, criar laços significativos com ela. Os elementos do processo de comunicação deverão estar presentes e adequados para que a sua mensagem atinja a eficácia desejada:
Estímulo - motiva uma pessoa a comunicar com outras. Pode ser um objeto, experiência, emoção, ideia ou um ato;
Emissor - pessoa que inicia a comunicação interpessoal ou a mensagem. O emissor põe o estímulo dentro de uma forma de modo a poder ser transmitido e assume responsabilidade quanto à precisão do conteúdo e ao tom emocional da mensagem;
Mensagem - informação enviada ou expressada pelo emissor. Pode consistir em símbolos de linguagem verbal e não-verbal (palavras faladas, expressões faciais ou gestos). Uma apropriada quantidade de informação deve ser transmitida e o Recetor deve estar pronto para ouvir a mensagem;
Recetor - pessoa para quem a mensagem é enviada, através dos cinco sentidos – visão, audição, paladar, tato e olfato. A mensagem do emissor incita o recetor a descodificar e a responder. Idealmente, a intenção do emissor é recebida pelo recetor;
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Formador: Miguel Rodrigues
Canal de transmissão - meio através do qual as comunicações são transmitidas entre os intervenientes – ar, voz, carta, livro, rádio, telefone, rede de tv, fax, correio, internet, etc.;
Codificação da mensagem - escolha de uma forma verbal ou não verbal (palavras escritas ou faladas, gestos ou ações) capaz de transferir e transmitir significado. O código é um conjunto de sinais com significado;
Descodificação - atribuição de significado aos símbolos;
Retroalimentação ou feedback: retorno da informação que permite ao emissor verificar se a comunicação foi ou não perfeitamente percecionada.
A maior ou menor eficácia no relacionamento depende do nosso poder e habilidade na comunicação. Cerca de 75% do nosso tempo é passado a relacionarnos com outras pessoas. Deste modo, é fundamental desenvolvermos determinados aspetos, tais como sensibilidade social e a flexibilidade de comportamento. Para desenvolver estas características é necessário:
Melhor conhecimento de nós próprios;
Melhor compreensão dos outros, interpretando-os pelo que eles são e não pelo que desejaríamos que eles fossem;
Melhor convivência em grupo, pela perceção dos vários comportamentos em grupo, o seu funcionamento e a interação dos indivíduos.
Não são as palavras utilizadas que nos ferem, mas antes as atitudes com que são pronunciadas, as emoções que as subentendem e que nos fazem reagir. Existe algo que pode facilitar ou dificultar a nossa comunicação com as pessoas, que é o nosso estilo de comunicação. Os estilos de comunicação são quatro:
Passivo - evita os conflitos; espera que as pessoas compreendam o que deseja; muito preocupado com a opinião dos outros a seu respeito; culpa-se de tudo; não é capaz de se defender; justifica-se excessivamente; tem dificuldade em dizer que não.
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Expressão corporal: voz hesitante, mínimo contacto visual, quieto, atitude defensiva, postura encolhida, mexendo as mãos e inquieto.
Agressivo - ansioso por vencer, mesmo à custa dos outros; muito preocupado com os seus desejos e vontades; culpa os outros; crítica os outros, mas não a si próprio; interrompe com frequência; autoritário; e conflituoso. Expressão corporal: máximo contacto visual, voz alta – “grita” e a postura – 21
cerra os punhos ou aponta o “dedo como uma espada”.
Manipulador: utiliza a simulação; evita dizer o que verdadeiramente pensa; manipula a informação e as pessoas; e não olha a meios para atingir os fins. Expressão corporal: a linguagem corporal não coincide com a verbal.
Assertivo: vontade de defender os seus direitos, mas ao mesmo tempo capaz de aceitar que os outros também tenham os seus; ouve bastante os outros e procura entender; trata as pessoas com respeito; aceita acordos, soluções; e vai direito ao assunto sem ser áspero. Expressão corporal: contato visual suficiente para dar a entender que está a ser sincero; tom de voz moderado, neutro, mas firme; postura comedida e segura; e expressão corporal de acordo com as palavras. Cada um de nós pode ter um pouco de cada uma destas formas de
comunicar com o outro, dependendo do contexto em que nos encontrámos. Existem pessoas que são passivas no local de trabalho, mas em casa são agressivas ou assertivas, por exemplo. Mas há sempre um estilo que predomina. Quanto aos princípios gerais da comunicação são os seguintes:
A comunicação encontra-se em toda a parte;
É impossível não comunicar;
A comunicação situa-se nos planos cognitivo e afetivo;
A comunicação pode ser intencional ou acidental;
Em mensagens verbais e não-verbais contraditórias, é o significado da mensagem não-verbal que é retido;
A comunicação é dificilmente reversível;
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Os primeiros minutos da comunicação são muito importantes: dão o tom à relação.
Emoções na comunicação Podemos então perceber que numa mesma situação podemos agir de duas formas muito diferentes que provocam, em nós e nos outros, emoções muito diferentes. (emoções negativas: tristeza, zanga, raiva, inveja, frustração, entre outras ou emoções positivas: felicidade, amor, alegria, entusiasmo, entre outras). As emoções são contagiosas. Um estudo realizado na Escola de Gestão da Universidade de Yale, chegou à conclusão que a alegria e o amor são as emoções que se espalham mais facilmente, enquanto a irritabilidade é menos contagiosa e a depressão quase não se espalha. Esta maior taxa de difusão dos estados de espírito favoráveis tem implicações diretas para os resultados nas empresas. Em sentido neurológico, o riso é a distância mais curta entre duas pessoas, porque liga instantaneamente os seus sistemas límbicos (corrente límbica). Uma boa gargalhada (riso como reação a observações vulgares e não como reação a gracejos) transmite uma mensagem amistosa que dá segurança: estamos na mesma onda, entendemo-nos bem. Indica confiança, bem-estar mútuo, sentimentos comuns sobre o mundo. Tal como o ritmo de uma conversa, rir é um sinal de que, de momento, está tudo bem.
PRINCÍPIOS DA OBSERVAÇÃO A observação é o ato ou efeito de observar. Exame. Análise. Acompanhar a evolução, o comportamento ou o funcionamento. Observar é examinar atentamente os indivíduos e ou o ambiente que os rodeiam. Instrumento de coleta de dados que subsidia o processo de cuidar. Elemento fundamental no trabalho científico e em toda a ação inteligente. Baseia-se no conhecimento, interesse e atenção do observador, dentro deste método de reunião de informações. A observação é a primeira etapa ou passo que conduz à ação do agente em geriatria, ou seja, a execução de todos os cuidados necessários na assistência ao cliente.
Caraterísticas do processo de observação
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As informações recolhidas através da observação chegam ao cérebro do observador por intermédio dos sentidos:
Visão: observamos a cor da pele, o aspeto geral, a postura, os movimentos do corpo, fazemos a leitura de instrumentos (termômetro, ECG, monitores, etc.);
Audição: presença de ruídos respiratórios, intestinais, etc.; Olfato: sentimos odores característicos de alguns quadros clínicos: hálito cetónico (maçã podre) nos diabéticos descompensados; odor caraterístico de algumas secreções (infeções); substâncias tóxicas em casos de intoxicações, etc.
Paladar: podemos verificar o tempero dos alimentos.
Tato: utilizado para detetar texturas, temperatura da comida e corporal, pulso, rubor da pele, entre outros;
Intuição (sexto sentido): são sensações descritas como um “estado de alerta” que nos leva a perceber que “algo está fora do padrão normal”, mas não conseguimos evidenciar exatamente do que se
trata. Devemos compreender que observar é perceber com todos os órgãos dos sentidos o mundo que nos rodeia. No entanto, as nossas perceções podem sofrer influências de experiências anteriores, expectativas, motivações e emoções, podendo alterar o resultado de nossas observações. Existem dois tipos de observação:
Observação Assistemática : também designada de não estruturadas são aquelas que realizamos espontaneamente, sem utilizarmos meios técnicos especiais, roteiros ou perguntas específicas. Ocorre em uma experiência casual, sem que se tenha determinado de antemão quais os aspetos relevantes a serem observados e que meios utilizar para observá-los;
Observação Sistemática : também chamada de estruturada ou planeada, é aquela que fazemos para responder a propósitos preestabelecidos, ou seja, sabemos de antemão o quê, como e quando vamos observar. A grande vantagem da observação sistematizada é que os dados já são colhidos de
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forma organizada, além do que, o mesmo roteiro pode ser utilizado por diversos observadores. Desde que eles compreendam as situações e os detalhes da mesma forma. A escolha do tipo de observação utilizada ficará na dependência do fenômeno ou situação que queremos estudar.
JOGOS E SIMULAÇÕES O jogo tem um papel essencial na educação e na animação e também no processo de socialização e de desenvolvimento intelectual, social e motor. A realização de jogos com grupos de crianças, adultos ou idosos é das melhores formas de transmissão de mensagens, de aprender e de diversão. Com o jogo consegue-se: aumentar o grau cultural e o compromisso coletivo; aumentar o número de amizades e relacionamentos; canalizar a criatividade; divertir; libertar tensões e emoções; obter integração intergeracional; orientar positivamente as angústias quotidianas; refletir; ter predisposição para realizar outros trabalhos.
Jogos e Paródias Os jogos de mesa e as paródias são um excelente promotor de entretenimento e lazer entre os idosos, estabelecendo o convívio e a interação entre eles. Alguns jogos que podem ser desenvolvidos são as Damas, o Pictionary (jogo em que é necessário adivinhar uma palavra através de desenhos), o Dominó, o Xadrez, o Monopólio (jogo em que o objetivo é ganhar dinheiro com a venda e compra de imóveis), Trivial pursuit (jogo de cultura geral), o Scrable (jogo de construção de palavras), Jogo do galo, entre outros. Nas paródias estão incluídas as anedotas, histórias, pequenos atos teatrais, mímica, provérbios, entre outras. Os jogos de magia não são utilizados com frequência na animação, mas podem proporcionar bons momentos de entretenimento. Existem truques simples de cartas, cordas ou moedas, que qualquer idoso pode aprender para depois apresentar aos colegas numa festa ou passeio.
Desporto e Recreio
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Esta animação engloba atividades físicas que podem ser praticadas em equipa ou individualmente, com ou sem fins competitivos. Os desportos mais aconselháveis para os idosos são o atletismo, os jogos tradicionais, a natação, o ténis, a pesca, o golfe e a marcha. As atividades recreativas são realizadas em e para o grupo e têm por objetivo o recreio, o convívio, a solidificação das relações sociais e o desenvolvimento comunitário. Os bailes (carnaval, final de ano, etc.), os torneios de jogos de cartas, os desfiles de moda, as marchas populares, as festas de aniversário e dos santos populares, as procissões, os jornais de parede, os piqueniques, a decoração de casas ou ruas com flores e outros adereços de papel, concursos de poesia, prosa ou fotografia, entre outras, são exemplos de atividades recreativas.
Capítulo 4 – CONFORTO DA PESSOA IDOSA SONO E REPOUSO O sono é uma necessidade básica dos seres humanos e, portanto, tem influência na nossa qualidade de vida. Sabe-se que a experiência de um sono insatisfatório ou insuficiente é muito desagradável, refletindo no desempenho da pessoa em suas atividades diárias, comportamento e bem-estar. Particularmente para os idosos, as perturbações do sono também representam fatores de risco ligados à institucionalização e à mortalidade. As consequências da privação de sono são diversas:
Sonolência;
Fadiga e falta de vigor;
Ansiedade e irritabilidade;
Falta de concentração;
Confusão;
Alucinações;
Distorções de perceção;
Lapsos e acidentes;
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Defeitos de compreensão da linguagem verbal
O mundo organiza-se em torno de uma periodicidade de 24 horas, determinada pelo movimento de rotação da Terra. Os nossos ritmos biológicos mais conhecidos têm periodicidade semelhante e são chamados de ritmos circadianos (do latim circa diem, em torno de um dia). O ritmo circadiano é sincronizado de acordo com fatores: Geofísicos – a alternância entre o claro (dia) e o escuro (noite) e as estações do ano. De origem social – horários dos diversos compromissos sociais, trabalho, escola.
Fases do sono O sono é constituído por diferentes estágios, de acordo com a frequência e a amplitude típicas das ondas elétricas cerebrais geradas durante o fenômeno. A organização e a proporção que ocupam os vários estágios são conhecidas como o padrão do sono, que se modifica com o envelhecimento:
Sono NREM (N1, N2 e N3) – Sono lento, sincronizado. Não há movimento rápido dos olhos. Caracterizado por um EEG (eletroencefalograma) em que dominam as frequências baixas; ativação parassimpática é dominante; temperatura central decresce ligeiramente; a atividade cognitiva persiste, embora os sonhos sejam facilmente esquecidos; Possuí três níveis, N1, N2 e N3. A qualidade do sono da fase N1 à fase N3 torna-se sucessivamente profunda, à à medida que as ondas cerebrais se tornam progressivamente mais lentas e é mais difícil acordar uma pessoa.
Sono REM (Rapid Eyes Movement) – paradoxal. Existência de movimentos rápidos dos olhos; ocorre 90 minutos após início do sono; sonhos predominantemente emocionais, vividos e mais facilmente retidos se acordar nesta fase.
Uma noite de sono é constituída por ciclos com duração média de 70 a 100 minutos, que se repetem de 4 a 5 vezes, sendo que um ciclo típico é constituído das fases N1, N2 e N3 do NREM seguidos por um período de sono REM.
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Na primeira metade da noite, o sono é mais profundo (predomínio da fase NREM) e na segunda metade da noite predomínio das fases mais superficiais (N1 e N2) do sono NREM e de sono REM.
Funções do sono A principal função do sono é manter-nos acordados, pois tem um efeito reparador. O ser humano é o único ser vivo capaz de adiar propositadamente o sono, contudo esta capacidade não excede os dez dias. Durante o sono ocorrem diversos processos:
São segregadas todas as hormonas anabolizantes, que permitem o crescimento e a duplicação celular;
São estabilizados processos imunológicos (por isso, a redução do sono aumenta a probabilidade de ter doenças infeciosas).
São estabelecidos e sedimentados diversos processos cognitivos, sobretudo os que têm a ver com a memória, com o encontrar soluções e com a aprendizagem, entre outros;
Através dos sonhos é restabelecido o equilíbrio emocional e são reforçados os comportamentos próprios da espécie.
Fatores que provocam alterações no sono Na origem de uma perturbação do sono, frequentemente, ocorre a combinação de um ou mais fatores:
Doença física;
Fármacos e substâncias;
Estilo de vida;
Padrões habituais de sono e sonolência diurna excessiva;
Stress emocional e ambiental;
Ruído;
Exercício e fadiga;
Alimentos e ingestão calórica.
Padrões de sono e o envelhecimento
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O ciclo vigília-sono (períodos de sono e de vigília ao longo das 24 horas) sofre importantes modificações durante o envelhecimento do indivíduo. Nos bebês, o sono é fragmentado ao longo do dia e da noite; os adultos, em geral, dormem apenas durante a noite, exibindo um padrão chamado de monofásico e as pessoas idosas costumam apresentar um padrão de sono mais fragmentado, com episódios ocorrendo durante o dia e a noite, em diferentes proporções. Com o envelhecimento o padrão do sono sofre algumas alterações:
Diminuição da duração do sono profundo (N3 e NREN);
Aumento da duração das fases N1 e N2 do sono NREM (sono superficial);
Maior número de transições de um estágio para o outro, inclusive para a vigília, e maior número de interrupções no sono.
A eficiência do sono é a proporção entre o tempo que uma pessoa consegue realmente dormir e o tempo despendido na cama com esse objetivo. Constitui um parâmetro fundamental na avaliação da qualidade do sono. Uma pessoa que se deita às 22 horas e se levanta às 6 horas da manhã seguinte; ela terá 100% de eficiência do sono se dormir oito horas (oito horas de sono divididas por oito horas no leito), 75% se dormir seis horas (seis horas de sono divididas por oito horas no leito), e assim por diante. As pessoas idosas apresentam redução da eficiência do sono para cerca de 70% a 80%, variando conforme o sexo e a idade (em adultos jovens esse valor é da ordem de 90%). No processo de envelhecimento, o sono sofre mudanças quantitativas e qualitativas que são percebidas pelo idoso como perturbações e podem ser apresentadas na forma de queixas. As mudanças no sono são as seguintes:
Dificuldade em manter o sono noturno (os idosos demoram para adormecer e acordam várias vezes durante a noite);
Perceção do sono como mais leve e menos satisfatório (menor eficiência do sono);
Despertar muito precoce (alguns estudos sugerem que, com o envelhecimento, torna-se necessário um avanço no sistema circadiano para que o organismo se ajuste à periodicidade do ambiente e da organização social (como se um “relógio interno” fosse
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adiantado), o que determinaria a escolha de horários precoces para o início do sono e para o despertar, por exemplo.
Maior tendência a dormir durante o dia, intencionalmente ou não (sesta e cochilos). Parte dos idosos já não está sob a influência de pistas temporais importantes, como horários de trabalho, e, assim, pode não ter interesse, motivação ou necessidade de manter horários regulares para levantar-se, deitar-se, alimentar-se ou executar quaisquer outras atividades, o que contribui para acentuar ainda mais a fragmentação do sono.
Tais modificações, quando muito acentuadas, podem trazer alguns problemas:
Distúrbio do início e manutenção do sono (DIMS), que é a exacerbação da dificuldade em conciliar e em manter o sono noturno, queixa frequente entre as pessoas idosas;
Despertar muito precoce (em torno das 3 ou 4 horas da manhã), que pode ser indício de um quadro depressivo;
Sonolência diurna excessiva, resultante de síndrome da apneia do sono, mioclonia noturna ou outros distúrbios.
A qualidade percebida do sono é uma experiência subjetiva. Não cabe ao cuidador afirmar que a pessoa idosa “dormiu muito bem” e está “a queixar-se sem motivo”, apenas por ter observado que ela dormiu uma noite inteira, de forma
aparentemente profunda e tranquila. A observação contínua ao longo da noite não é o habitual; o que se costuma fazer são observações intermitentes, entre as quais podem ocorrer episódios de interrupção do sono que passam despercebidos pelo observador. O cuidado com o sono requer, inicialmente, uma avaliação de seu padrão habitual:
Existem ou não queixas;
Horários de dormir e despertar;
Quanto tempo demora para adormecer;
Número, duração e motivo das interrupções do sono;
Número e duração de sestas;
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Queixas relatadas pelo companheiro ou outras pessoas próximas;
Satisfação do idoso com a qualidade do sono, bem como sensação de bemestar ao despertar;
Sonolência ou fadiga durante o dia.
É preciso verificar se o idoso estabeleceu uma rotina antes de deitar para
dormir (ex.: tomar banho ou fazer outro tipo de higiene, rezar o terço, fazer uma refeição leve), a sua regularidade e a sua possível influência na qualidade do sono. O ambiente físico em que o idoso dorme também tem de ser observado (a temperatura, iluminação, sons, presença de outrem, características da cama e segurança do local). Além disso, deve-se analisar a qualidade da vigília, pois alguns fatores, típicos de quando se está acordado, podem contribuir decisivamente para a qualidade do sono, bem como sofrer a influência desta (realização de atividades de lazer, prática de exercícios físicos, presença de interação social, qualidade da alimentação do idoso, entre outros). Os idosos costumam ser responsáveis por grande parte do consumo de
medicamentos para dormir (de diversos tipos). A utilização de medicamentos não assegura um sono de melhor qualidade, uma vez que:
A pessoa idosa torna-se mais vulnerável aos efeitos colaterais dos medicamentos indutores do sono, bem como a indesejável sonolência durante o dia, aumentando o risco de possibilidade de quedas e suas consequentes complicações;
A prescrição de medicação de efeito sedativo ou hipnótico é de responsabilidade exclusiva do médico após minuciosa avaliação de todos os fatores que possam estar resultando em prejuízo para o sono do idoso. O cuidador deve ficar atento aos efeitos colaterais indesejáveis que o medicamento venha a ocasionar e nunca, em hipótese alguma, aumentar a dose prescrita sem consulta médica prévia;
Sugestões para uma melhor qualidade do sono;
Cabe ao cuidador atuar na promoção da denominada higiene do sono, conjunto de hábitos e comportamentos que auxiliam a melhorar ou manter
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Formador: Miguel Rodrigues
a qualidade do sono. Envolve hábitos regulares, desenvolvimento de atividades físicas e ambiente físico adequado para dormir;
A manutenção de hábitos regulares contribui para um sono menos fragmentado e de melhor qualidade;
Idosos com perturbações do sono e sonolência diurna excessiva devem estabelecer horários e rotinas regulares para: deitar-se e despertar, refeições, lazer, realização de atividade física;
Hábitos que sinalizem a aproximação do horário de dormir (preparo da cama, roupa apropriada, banho morno, rezar o terço) são especialmente importantes;
Os cochilos ou a sesta (que resultam em maior sensação de bem-estar) podem ser inseridos em horário regular como parte da rotina diária, o que não vai interferir na fragmentação do sono noturno;
A ingestão de alimentos leves antes de dormir não costuma ser prejudicial para o idoso, especialmente se é um hábito antigo (copo de leite morno) e se ele não possui disfunções do trato alimentar, como refluxo gastroesofágico, caso em que deve ser contraindicada, pelo maior risco de aspiração;
A ingestão de líquidos deve ser restrita a algumas horas antes de deitar-se, sobretudo na presença de noctúria (levantar à noite para urinar) ou de incontinência urinária;
Bebidas com cafeína (café, chá-preto, achocolatados e refrigerantes à base de cola), por suas propriedades estimulantes, precisam ser evitadas em horários próximos ao de dormir. O mesmo se aplica a cigarros (efeito estimulante) e álcool (provoca sonolência inicial, mas prejudica a qualidade do sono).
Os efeitos fisiológicos dos exercícios sobre o sono ainda não são bem conhecidos, porém os efeitos psicológicos são positivos e devem ser valorizados. A atividade física tem de ser adequada às condições de saúde do idoso e desenvolvida com regularidade e critério. Embora o período da manhã seja tradicionalmente recomendado para sua prática, vários estudos têm evidenciado
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que é nesse período que ocorrem os maiores valores da pressão arterial e da viscosidade sanguínea. Tais fatores, em conjunto com o esforço despendido no exercício e a perda de líquidos, aumentam o risco de ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVC) e cardíacos isquémicos (enfarte), especialmente nas primeiras horas da manhã. Sugere-se, assim, a realização de exercícios de leve ou moderada intensidade no final da manhã ou da tarde, mas não logo antes de dormir, pois poderiam prejudicar a qualidade do sono. A exposição à luminosidade solar contribui para a regularização do ritmo circadiano de secreção da melatonina e para a consolidação do padrão de sono do idoso. Também o ambiente físico deve proporcionar conforto, segurança e permitir o contraste entre o dia e a noite. O estabelecimento de contrastes entre o dia e a noite auxilia o sistema de temporização circadiana (responsável pela organização dos ritmos circadianos) do idoso a distingui-los. Esse sistema historicamente adaptou o organismo humano a dormir em um ambiente escuro e quieto, à noite. O conforto envolve a avaliação das condições do mobiliário (bom estado de conservação), colchões, travesseiros e roupas de cama (macias e bem esticadas), iluminação (indireta, de baixa intensidade), temperatura do ambiente (temperaturas muito baixas ou muito elevadas são fatores de perturbação do sono) e presença de ruídos (ambientes ruidosos provocam redução da quantidade de sono de ondas lentas e respostas cardiovasculares, como taquicardia e vasoconstrição, e interrupção do sono). Diminuir a dor se presente, posicionando o idoso em posição antiálgica e, confortável (com almofadas, esticar a roupa). Assim como garantir a segurança do idoso, permite a tranquilização da pessoa contra a ocorrência de situações de violência (ex.: assaltos). Uso de grades nas janelas (casas térreas) e revisão de portas e fechaduras podem contribuir para amenizar o problema. Quando o idoso se encontra no domicílio deve-se aconselhar os familiares a:
Ter em atenção e evitar portas a bater ou televisões muito altas;
Não ter conversas preocupantes à noite a frente do idoso;
Programar atividades do dia seguinte, de manhã e não à noite;
Os familiares devem evitar discussões e conflitos frente aos idosos;
Evitar de falar do cônjuge falecido;
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Os familiares devem evitar conversas sobre a situação socioeconómica.
Além das recomendações mencionadas quanto ao conforto, é importante aumentar os estímulos oferecidos durante o dia e diminuí-los à noite (minimização de ruídos e iluminação no quarto do idoso). A pessoa idosa deve procurar deitar-se apenas para dormir e, de preferência, quando sentir sono, evitando uma permanência longa e desnecessária na cama, sobretudo durante o dia. Idosos institucionalizados ou acamados tendem a apresentar um sono noturno muito fragmentado e pouco satisfatório, aumentando a sonolência diurna e criando um círculo vicioso. A experiência subjetiva do sono é particular e complexa, e elevar a qualidade do sono significa melhorar a qualidade da vigília e, consequentemente, a qualidade de vida da pessoa idosa.
CAMAS As camas articuladas são camas especiais que foram desenhadas com o intuito de auxiliar todas as pessoas com mobilidade reduzida, como no caso de um idoso ou de um acamado. As camas articuladas são uma ferramenta muito útil para as pessoas que cuidam de um idoso ou de um acamado pois com o mínimo de esforço conseguem mudar a sua posição e, ao mesmo tempo, para o próprio idoso ou acamado é sinónimo de um maior conforto, segurança e descanso. As camas articuladas começaram a ser utilizadas nos hospitais, pois prestavam um melhor auxílio às pessoas que apresentavam um determinado problema de saúde, aos idosos e a todos os acamados. Porém, graças à sua versatilidade e comodidade, uma vez que um idoso ou um acamado precisa de apoio e cuidados constantes, as camas articuladas depressa se estenderam a todos os lares em geral. As camas articuladas são compostas por secções articuladas que podem ser levantadas através da utilização de manivelas ou motores elétricos específicos que possibilitam a colocação de um idoso ou de um acamado em várias posições diferentes. Esta garantia de mobilidade é excelente para um idoso ou acamado na medida em que as tarefas mais básicas do dia-a-dia como dar banho, comer, sentar-se e levantar-se de uma cama estarão salvaguardadas. Existem vários tipos
de camas articuladas que podem ser adquiridas – as camas articuladas manuais, elétricas e rotacionais.
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Camas articuladas manuais As camas articuladas manuais possuem estrados articulados com secções que podem ser levantadas através da utilização de uma manivela que permite levantar as costas e as pernas de um acamado ou de um idoso que tenha dificuldades de movimentos. Este tipo de cama requer a ajuda de uma segunda pessoa, na medida em que é exigida que uma outra parte dê à manivela de forma a posicionar a cama para um melhor conforto do idoso ou do acamado.
Camas articuladas elétricas As camas articuladas elétricas têm o mesmo funcionamento que os manuais, com a enorme vantagem de serem automáticas. O idoso ou o acamado não necessita de uma segunda pessoa para mudar de posição e para mudar a posição da cama, basta pressionar os botões correspondentes no comando que, automaticamente, a cama faz o restante. Na composição das camas articuladas, existem elementos que possibilitam uma segurança adicional e um maior usufruto no descanso/repouso de uma pessoa com limitações físicas e/ou de um idoso. Como por exemplo:
As grades: no caso de um acamado e/ou idoso é recomendável usar guardas laterais ou grades nas camas articuladas de forma a evitar que o acamado caia da cama ao mudar de posição ou mesmo quando está a dormir;
Os colchões: existem colchões especiais anti-escaras para utilizar numa cama articulada. Estes colchões garantem o alívio das áreas de pressão e facilitam a circulação sanguínea no idoso ou no acamado, mesmo que estes se mantenham na mesma posição;
As almofadas especiais: as almofadas especiais ou em cunha podem ser colocadas sob as pernas para elevar os pés e as pernas ou sob as costas de um idoso ou acamado, o que possibilita um maior conforto e relaxamento. Não acumulam germes ou odores e têm fácil higienização;
Os rolos especiais: que podem ser colocados por debaixo dos joelhos ou apoiar a região dorsal e a sua utilização garante ao idoso ou acamado um
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Formador: Miguel Rodrigues
melhor posicionamento e desempenho na realização de uma determinada tarefa.
Capítulo 5 - BIBLIOGRAFIA
Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I.P. (2008). Perfil
Profissional
Agente
em
Geriatria.
Disponível
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