MÓDULO 1
FORMADOR: SISTEMAS, CONTEXTOS E PERFIL Formação Pedagógica Inicial de Formadores
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL
COMPETÊNCIAS A ADQUIRIR
Caraterizar os sistemas de qualificação com base nas finalidades, no público-alvo, nas tecnologias utilizadas e no tipo e modalidade de formação pretendida;
Identificar a legislação, nacional e comunitária, que regulamenta a formação profissional;
Enunciar as competências e capacidades necessárias à atividade de formador;
Discriminar as competências exigíveis ao formador no sistema de formação;
Identificar os conceitos e as principais teorias, modelos explicativos do processo de aprendizagem;
Identificar os principais fatores e as condições facilitadoras da aprendizagem;
Desenvolver um espírito crítico, criativo e empreendedor
CONTEÚDOS SUB-MÓDULO – O FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO
Politicas Europeias e Nacionais de educação/formação;
O Sistema Nacional de Qualificações;
O Catálogo Nacional de Qualificações;
Principais ofertas formativas disponíveis;
Conceitos e fundamentos da formação profissional;
Legislação de enquadramento da formação profissional;
Legislação de enquadramento da atividade de formador;
Tipos de formação profissional: Inicial; Contínua; Modalidades de formação profissional:
Educação e Formação de Jovens;
Educação e Formação de Adultos; Formação para públicos diferenciados (p.e., com incapacidade ou deficiência);
Formador em Contexto de Trabalho (empresa e outras organizações);
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Modalidades de Intervenção Formativa: Presencial; e-learning; b-learning (blendedlearning);
Processos de RVCC
Perfil do formador (atividades, competências e capacidades) – formador profissional multitarefa;
Código deontológico: direitos e deveres;
SUB-MÓDULO – APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE E EMPREENDORISMO
Princípios da teoria de aprendizagem: pedagogia, andragogia, didática e psicologia da aprendizagem;
Processos, etapas e fatores psicológicos da aprendizagem;
Conceitos, caraterísticas e percursos da aprendizagem (individualizada/em (i ndividualizada/em grupo);
Fatores cognitivos de aprendizagem (memória e atenção);
A aprendizagem disruptiva como metodologia de facilitação;
Espírito empreendedor na formação (conceito, competências e principais obstáculos);
Pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica: conceitos, tipos e formas de diferenciação; Diferenciar porquê?
Aprendizagem através da Programação Neurolinguística (PNL);
Princípios da criatividade pedagógica (abordagem criativa e promoção de competências)
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Objetivos
Caraterizar os diferentes sistemas de formação, com base nos objetivos, públicos-alvo, metodologias e meios pedagógicos utilizados;
Conhecer a legislação nacional e comunitária que enquadra a formação profissional;
Enunciar as competências necessárias à atividade de formador nos diferentes sistemas de formação;
Identificar conceitos, teorias e modelos de aprendizagem;
Identificar fatores e condições facilitadores de aprendizagem
Caraterísticas e educação de adultos.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL
Índice Introdução ........................................................................................................................................5 O sistema de formação e o sistema educativo ................................................................................ 7 A formação profisional inserida no sistema educativo .................................................................... 8 A organização do sistema educativo ................................................................................................ 9 A formação profissioal inserida no mercado de emprego/trabalho.............................................. 24 Tipos de formação.......................................................................................................................... 25 O Sistema Nacional de Certificação Profissional ............................................................................ 27 O Sistema de Certificação de Entidades Formadoras .................................................................... 28 Formação Pedagógica Inicial de Formadores ................................................................................ 31 Competências do formador ........................................................................................................... 32 Funções do formador ..................................................................................................................... 33 Código deontológico: direitos e deveres do formador .................................................................. 34 Princípios da teoria da aprendizagem............................................................................................ 35 A Andragogia .................................................................................................................................. 53 Caraterísticas da Andragogia ......................................................................................................... 54 Fatores de aprendizagem............................................................................................................... 54 Condições facilitadoras da aprendizagem ..................................................................................... 56 Estratégias pedagógicas adequadas............................................................................................... 59 Carateristicas da Edcucação de Adultos......................................................................................... 61 Bibliografia e netgrafia ................................................................................................................... 59
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL
SUB-MÓDULO – O FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO
Introdução A formação profissional em Portugal conheceu um grande desenvolvimento com a integração de Portugal na actual União Europeia no ano de 1986. Nesta adesão, Portugal beneficiou de apoios financeiros provenientes da União Europeia (mais concretamente, de uma dotação orçamental de cada Estado membro). Estes fundos, designados por Fundos Estruturais, tinham por principal objetivo, fazer recuperar o país de atrasos verificados em quase todos os sectores da economia. Assim, a formação profissional era encarada como um meio privilegiado para o país poder recuperar desses atrasos estruturais.
A experiência empresarial em termos da organização da formação era até esse momento pouco significativa. Só as grandes empresas, sobretudo da área da grande Lisboa (metalúrgicas,
metalomecânicas,
construção
naval,
transportes
e
multinacionais)
executavam formação profissional (nas suas diferentes modalidades – inicial ou contínua).
A experiência das associações empresariais era igualmente limitada, bem como de outras entidades de natureza pública ou privada que começavam a intervir ao nível do desenvolvimento de cursos e acções de formação profissional. Efetivamente, apesar das inúmeras iniciativas desenvolvidas, a formação profissional manteve até 1986 uma reduzida expressão em termos do número de profissionais qualificados. Importa ainda compreender algumas circunstâncias específicas da história da formação profissional em Portugal. Ela surge inicialmente ligada ao sistema educativo. Contudo, mudanças em termos da conjuntura socioeconómica verificadas a partir de 1960, tornam evidente a insuficiência da formação profissional que é promovida através do sistema educativo, designadamente a emergência de uma maior procura de mão-de-obra para a indústria que na altura detinha um peso significativo na economia portuguesa, mas que também estava relacionada com outros fatores como o aumento do êxodo rural, o aumento da emigração e os problemas causados pela guerra colonial com a mobilização massiva de efetivos.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Acrescentemos a estes fatores uma taxa de analfabetismo elevada e podemos compreender a importância que a formação profissional poderia ter para colmatar lacunas na sociedade portuguesa e as limitações do sistema educativo. Eram estes os condicionalismos que caracterizavam a formação profissional até à entrada de Portugal na actual União Europeia e que explicam por exemplo o surgimento do Instituto de Emprego e Formação Profissional - IEFP - em 1979, procurando dar expressão às questões da formação profissional. Desta forma, e com a adesão de Portugal à CEE (Comunidade Económica Europeia, atual União Europeia) e estimuladas pelos Fundos Estruturais surgiram então múltiplas intervenções relacionadas com a formação profissional. Face a este conjunto alargado de iniciativas e de práticas procurou-se regular os processos através de diplomas legais. Assim, em 1991, tentou estabelecer-se um quadro geral para a formação profissional, abrangendo a formação inserida no sistema de ensino e a inserida no mercado de emprego (Decreto-lei 401/91) e foi criada a Direção-Geral do Emprego e Formação Profissional (atual Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho - DGERT), tendo por objetivo “conceber políticas e prestar apoio técnico e normativo nos domínios do emprego e da formação profissional”.
Para além desta iniciativa regulamentar, e correspondendo ao crescente número de entidades formadoras existentes em Portugal, surgem outras iniciativas que procuram regular a qualidade do processo formativo. Começou-se a exigir condições para o exercício de atividades de formação (inicialmente designada Acreditação de Entidades Formadoras e atualmente designada por Certificação de Entidades Formadoras) e a disciplinar a formalização dos resultados formativos (Certificação). Desta forma, foi criado, em 1997, o Instituto para a Inovação na Formação - INOFOR (posteriormente designado por IQF – Instituto para a Qualidade na Formação e atualmente extinto e integrado na DGERT), visando a promoção da inovação e da qualidade na formação profissional, e ao qual foi atribuída, entre outras, a responsabilidade da Acreditação das entidades formadoras (a responsabilidade de Certificação de Entidades Formadoras está a cargo da DGERT - Portaria nº 851/2010 de 6 de Setembro).
É então neste contexto que podemos compreender o surgimento da formação profissional em Portugal.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL O sistema de formação e o sistema educativo Como vimos anteriormente, a formação profissional em Portugal ganha expressão sobretudo devido aos apoios estruturais provenientes da União Europeia. Contudo, a formação profissional nos seus múltiplos aspetos e dimensões a que convencionamos chamar “Sistemas” teve o seu início no S istema Educativo.
Com efeito, a formação profissional é legalmente enquadrada pela Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro) e pelos Decretos-Lei 401/91 e 405/91.
Estes diplomas diferenciam a formação profissional (inicial) inserida no sistema educativo da formação profissional inserida no mercado de emprego. Esta distinção é efectuada sobretudo pelo suporte institucional e pela tutela predominante, respectivamente o Ministério da Educação (ME) e o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS).
A atuação destes ministérios é transversal. Contudo, existem ainda ministérios e organismos (por exemplo, Ministério da Agricultura) que também desenvolvem formação profissional e a que designa por Formação Setorial. Assim, o Ministério da Educação (ME) é o responsável pela formação profissional inserida no sistema de ensino. O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) entidade sob tutela do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS) coordena a formação profissional inserida no mercado de emprego. Falamos de sistema educativo e de sistema formativo, por terem um conjunto de características como por exemplo, metodologias, públicos-alvo, profissionais envolvidos, tipo de avaliação, entre outras características, que funcionam como um todo articulado. Estes dois sistemas são complementares, mas apresentam também diferenças. Cada um destes sistemas, por seu turno, diferencia-se em subsistemas com caraterísticas específicas. Seguidamente iremos caraterizar de forma breve a formação profissional inserida no sistema educativo e a formação profissional inserida no mercado de emprego.
A formação profissional inserida no sistema educativo
Em termos legais, o Decreto-Lei n.º 401/91, de 16 de Outubro, veio regular as atividades de formação dentro do sistema educativo, diferenciando simultaneamente, o tipo de formação 7
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL com base na instituição dominante (Ministério da Educação e/ou Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social). Interessa compreender o que é a formação e como pode ser definida. Esta pode ser descrita da seguinte forma: “é o processo global e permanente através do qual jovens e adultos,
a inserir ou inseridos na vida activa, se preparam para o exercício de uma actividade profissional”.
O Decreto-Lei acima mencionado refere ainda que “(…) consiste na aquisição e no desenvolvimento de competências e atitudes, cuja síntese e integração possibilitam a adoção dos comportamentos adequados ao desempenho profissional”.
Assim, esta questão da aquisição de competências para o exercício de uma profissão é específica e caraterística da formação profissional por oposição a uma visão mais tradicional do ensino
À luz desta definição podemos compreender que a formação inserida no sistema educativo será aquela que possua ou que apele a uma componente mais “prática”, mais ligada ao exercício e
aprendizagem de uma profissão.
São cursos desenvolvidos por estabelecimentos de ensino secundário (público, privado ou cooperativo) em que estão englobados os cursos tecnológicos, os cursos das escolas profissionais, os cursos de educação-formação (CEF) e os cursos do ensino recorrente (com componente de formação profissional ou vocacional). Para melhor compreendermos esta questão da formação inserida no sistema educativo interessa agora caracterizar de forma breve a organização do sistema educativo português.
Organização do sistema educativo
Como podemos constatar na figura abaixo apresentada, atualmente existem diferentes graus e níveis de ensino:
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL
Figura 1. Sistema Educativo Português Fonte: GEPE – Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação – Ministério da Educação.
Podemos então distinguir 3 categorias de educação:
Educação pré-escolar; Educação escolar; e Educação extra-escolar
Seguidamente, iremos caraterizar cada uma destas três categorias de educação.
Educação pré-escolar
A educação pré-escolar é complementar da acção educativa da família. A sua frequência é facultativa, no reconhecimento de que à família cabe um papel no processo educativo no nível etário a que se destina: crianças com idade compreendida entre os três anos e a idade de ingresso no ensino básico (6 anos).
Educação escolar
A educação escolar compreende o ensino básico, o ensino secundário e o ensino superior.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Os alunos que concluam o ensino básico com aproveitamento têm direito à atribuição de um diploma, podendo prosseguir estudos no ensino secundário. A conclusão do ensino básico coincide com o primeiro momento de opção por parte dos alunos: o prosseguimento de estudos em qualquer das diferentes modalidades que o ensino secundário oferece. O ensino básico compreende três ciclos (4 anos + 2 anos + 3 anos). A articulação entre os 3 ciclos é progressiva.
De referir ainda que atualmente a escolaridade obrigatória situa-se ao nível do 12º ano.
O ensino secundário estrutura-se segundo formas diferenciadas contemplando a existência de cursos orientados para o prosseguimento de estudos (cursos científicohumanísticos) e/ou para a vida ativa (cursos tecnológicos), estando garantida a permeabilidade entre eles. As escolas profissionais e os cursos de educação e formação (CEF) constituem modalidades de formação alternativas ao sistema regular de ensino na formação de técnicos intermédios (Nível III – 12º Ano).
Nota: A conclusão dos diferentes cursos de nível secundário confere o direito à atribuição de um diploma que certifica a formação adquirida. No caso dos cursos tecnológicos, dos cursos profissionais e dos cursos de educação e formação (CEF), a qualificação obtida certifica também para efeitos do exercício de atividades profissionais. É o que atualmente se chama de Dupla Certificação: qualificação escolar e certificação no âmbito de uma determinada profissão. A conclusão dos cursos das várias modalidades do ensino secundário coincide com o segundo momento de opção por parte dos alunos: o prosseguimento (ou não) dos estudos: ensino superior. O ensino superior encontra-se organizado em dois subsistemas: Ensino universitário, tendo por objetivo primordial o aprofundamento de conhecimentos teóricos;
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Ensino politécnico, com uma orientação marcadamente profissionalizante .Os dois subsistemas encontram-se articulados, sendo garantida a possibilidade de transição de um para outro. Têm acesso ao ensino superior: os indivíduos habilitados com curso secundário ou equivalente que realizem as provas de avaliação definidas por cada estabelecimento de ensino. Podem ainda ingressar no ensino superior: os indivíduos maiores de 23 anos que, não tendo aquela habilitação, façam provas especialmente adequadas ao referido ingresso (este regime de ingresso substitui os antigos exames “Ad- Hoc”).
De notar ainda que, como podemos constar pela Figura 1, o ensino universitário consagra já as revisões efectuadas à luz do Tratado de Bolonha. Procura-se, com este tratado, uniformizar em termos europeus o ensino superior, procurando entre estados a mobilidade de cidadãos e do reconhecimento das habilitações e dos conhecimentos que estes adquiriram – Espaço Europeu do Ensino Superior (que será abordado mais à frente neste capítulo). Em termos da educação escolar, existem ainda outras modalidades que se regem por regulamentações específicas. Essas modalidades são as seguintes: A educação especial; O ensino profissional; O ensino recorrente de adultos; O ensino à distância; O ensino de português no estrangeiro. Educação extra-escolar A educação extra-escolar integra-se numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida e visa complementar a formação escolar ou suprir a sua carência.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Englobadas no quadro de continuidade da ação educativa, as atividades de educação extra-escolar podem realizar-se em estruturas de extensão cultural do sistema escolar, ou em sistemas abertos, com recurso a meios de comunicação social e a tenologias educativas específicas. Pela sua pertinência para o tema que estamos a abordar – a formação inserida no sistema educativo – interessa aqui analisar de forma mais detalhada as seguintes temáticas: Cursos Tecnológicos; Cursos Profissionais; Cursos de Educação e Formação (C.E.F.); Cursos de Especialização Tecnológica (C.E.T.); Cursos Artísticos Especializados Iniciativa Novas Oportunidades Ensino Recorrente Sistema Nacional de Validação, Reconhecimento e Certificação de Competências Ensino Superior: o processo de Bolonha
Cursos Tecnológicos Os cursos tecnológicos destinam-se, principalmente, aos alunos que, tendo concluído o 9.º ano de escolaridade, pretendam obter uma qualificação profissional de nível intermédio que lhes possibilite o ingresso no mercado de trabalho. A oferta educativa e formativa do currículo nacional consiste em dez cursos tecnológicos. A conclusão de um curso tecnológico confere dois tipos de diplomas (novamente aqui a questão da Dupla Certificação): Diploma de qualificação profissional (equivalente ao 12º ano de escolaridade), que, de acordo com as classificações do Conselho das Comunidades Europeias, certifica o jovem para o ingresso no mercado de trabalho, como técnico intermédio;
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Diploma de conclusão dos estudos secundários, possibilitando a candidatura ao ensino superior, preferencialmente a cursos do ensino superior politécnico ou a cursos pós-secundários não superiores (Cursos de Especialização Tecnológica – CET).
A estrutura curricular destes cursos favorece a aproximação ao mundo do trabalho, quer com a introdução do projecto tecnológico a concretizar ao longo dos três anos, quer com a inclusão obrigatória de um período de estágio em contexto de trabalho.
Os cursos tecnológicos são os seguintes:
Curso tecnológico de Construção Civil e Edificações Curso tecnológico de Electrotecnia e Electrónica Curso tecnológico de Informática Curso tecnológico de Design e Equipamento Curso tecnológico de Multimédia Curso tecnológico de Administração Curso tecnológico de Ordenamento do Território e Ambiente Curso tecnológico de Desporto Curso tecnológico de Acção Social Curso tecnológico de Marketing
Cursos profissionais
O ensino profissional tal como consagrado na Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei 46/86 de 14 de Outubro) é uma modalidade especial de educação que visa, essencialmente, o desenvolvimento da formação profissional qualificante de jovens. Pelo facto de uma parte significativa da carga horária ser dedicada à formação técnica, tecnológica ou artística, os cursos profissionais permitem desenvolver competências específicas para o exercício de uma profissão, reconhecidas através da atribuição de um diploma de qualificação profissional de nível 4 (12º ano de escolaridade). O ensino profissional pretende simultaneamente responder às carências do mercado de trabalho, a nível local e regional, pelo que se procura que os cursos leccionados em cada escola estejam relacionados com as características e necessidades da região em que se insere. Os cursos profissionais ministrados em escolas profissionais são regulamentados e reconhecidos pelo Ministério da Educação, embora a sua criação seja normalmente resultado da 1
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL iniciativa da sociedade civil, designadamente de autarquias, empresas ou associações empresariais e sindicatos, entre outras. Atualmente existem mais de 90 cursos profissionais, distribuídos por cerca de 39 áreas de formação.
Cursos de Educação e Formação (CEF) Os Cursos de Educação e Formação (CEF), criados pelo Despacho Conjunto n.º 453/20 04, de 27 de julho, são uma oportunidade para jovens com idade igual ou superior a 15 anos que, não tendo concluído a escolaridade de 6, 9 ou 12 anos, na idade própria, pretendem adquirir uma certificação escolar e simultaneamente obter uma qualificação profissional – Dupla Certificação. Estes cursos também se destinam àqueles que, após conclusão dos 12 anos de escolaridade, não possuindo uma qualificação profissional, pretendam adquiri-la para ingresso no mundo do trabalho. Nota: Estes cursos são da responsabilidade conjunta do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, podendo ser desenvolvidos em escolas, centros de formação e outras instituições de natureza pública e/ou privada. Distribuem-se por vários Tipos, do Tipo 1 ao Tipo 7, escalonados de acordo com as condições de acesso, a duração mínima de horas de formação e a certificação correspondente. No que se refere ao nível secundário de educação, existem Cursos de Educação Formação de tipo 4, 5, 6 e 7 , que conferem qualificações profissionais de níveis 2 (9º ano) e 3 (12º Ano). De referir que estes cursos integram 4 componentes de formação: Sociocultural; Científica; Tecnológica e Prática. A componente sociocultural organiza-se em duas áreas de competência, que por sua vez se subdividem em domínios de formação. 1
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Assim: A área de competência Línguas, Cultura e Comunicação integra os domínios de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira e Tecnologias de Informação e Comunicação. A área de competência Cidadania e Sociedade é constituída pelos seguintes domínios: Cidadania e Mundo Actual; Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho e Educação Física. As componentes Científica e Tecnológica integram um conjunto de disciplinas específicas de cada curso. A componente de Formação Prática configura-se num período de Estágio em Contexto de Trabalho. Cursos de Especialização Tecnológica (CET) Os Cursos de Especialização Tecnológica (CET) proporcionam uma formação pós-secundária não superior e visam, entre outras finalidades, promover um percurso formativo que integre os objetivos de qualificação e inserção profissional, permitindo também o prosseguimento de estudos. Os CET conferem um Diploma de Especialização Tecnológica (DET) e um certificado de qualificação profissional de nível 4, e integram três componentes de formação: Sociocultural, Científico-tecnológica Formação em contexto de trabalho. As componentes de formação sociocultural e científico-tecnológica têm uma carga horária que varia entre as 840 horas e as 1020 horas, das quais 15% e 85% são atribuídas a cada uma das componentes, respetivamente. A componente de formação em contexto de trabalho tem uma carga horária que varia entre as 360 e as 720 horas e visa proporcionar o desenvolvimento de práticas que complementem e consolidem as aprendizagens adquiridas nas outras componentes de formação, bem como proporcionar aprendizagens específicas decorrentes das práticas de trabalho. Os CET destinam-se aos seguintes alunos: 1
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Titulares de um curso de ensino secundário, ou habilitação legalmente equivalente, que possuam qualificação profissional de nível 4 (12º Ano); Titulares de um curso de ensino secundário ou habilitação legalmente equivalente que não possuam qualificação profissional de nível 4 podem também frequentar um CET, sujeitandose à realização de um plano de formação complementar, com a duração global mínima de 1000 horas e máxima de 1200 horas; Titulares de um curso de ensino secundário ou habilitação legalmente equivalente e de qualificação profissional de nível 4 (12º Ano) em área não afim ao CET ficam sujeitos à realização de um plano de formação complementar com a duração global mínima de 300 horas e máxima de 850 horas. Cursos Artísticos Especializados O ensino artístico especializado consiste numa formação especializada, destinada a indivíduos que revelam potencialidades para o ingresso e progressão numa via de estudos artísticos. Esta oferta formativa, nos domínios das Artes Visuais e dos Audiovisuais é vocacionada, consoante a área artística, para o prosseguimento de estudos de nível superior ou orientada na dupla perspectiva da inserção no mundo do trabalho e do prosseguimento de estudos. De acordo com o estabelecido no Decreto-Lei n.º 74/04, de 26 de Março, entraram em vigor, no ano de 2004/2005, os cursos artísticos especializados que a seguir se indicam: Área das Artes Visuais; Curso de Design de Comunicação; Curso Design do Produto; Curso de Produção Artística; Área dos Audiovisuais; Curso de Comunicação Audiovisual A matriz e respetivos planos e estudo incluem a componente de formação geral, comum a todos os cursos de nível secundário, as componentes de formação científica e técnico – artística, podendo esta última integrar, consoante a área artística, formação em contexto de trabalho. 1
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Iniciativa Novas Oportunidades A iniciativa “Novas Oportunidades” sob coordenação da Agência Nacional pa ra a
Qualificação (ANQ) tem como principais objetivos elevar os níveis de educação e qualificação de base da população, jovem e adulta, sendo um factor chave a organização, a nível nacional, de um sistema articulado de educação e formação, numa perspectiva da aprendizagem ao longo da vida. Por forma a concretizar estes objetivos, desenvolvem-se atualmente várias estratégias de acção centradas nas estruturas de formação do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social se constituem como vectores de desenvolvimento nos domínios da educação e formação de jovens e adultos. Basicamente, esta iniciativa congrega e potencia oportunidades de qualificação/formação, muitas vezes sobre o princípio da Dupla Certificação (questão já aqui abordada) de (1) jovens, procurando junto desta população diminuir o insucesso e o abandono escolar e (2) adultos; Nos adultos, o enfoque centra-se no processo de Validação, Reconhecimento e Certificação de Competências (RVCC) profissionais e escolares, ou então na possibilidade de frequentar o ensino recorrente ou os cursos EFA (Educação e Formação de Adultos). Cursos EFA Os cursos EFA destinam-se aos cidadãos com idade igual ou superior a 18 anos à data do início da formação, não qualificados ou sem qualificação adequada para efeitos de inserção no mercado de trabalho e que não tenham concluído quer a escolaridade básica de quatro, seis, nove anos e doze anos de escolaridade. Dão acesso a uma certificação escolar equivalente ao 1º ciclo, 2º ciclo e 3º ciclo ou secundário e/ou a uma Dupla Certificação (escolar e profissional). Ensino Recorrente O ensino secundário recorrente corresponde a uma vertente da educação de adultos, proporcionando uma segunda oportunidade de formação que permita conciliar a frequência de estudos com uma actividade profissional. O ensino secundário recorrente funciona em sistema de módulos capitalizáveis.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Existem cursos científico-humanísticos, cursos tecnológicos e cursos artísticos especializados no domínio das artes visuais e dos audiovisuais. Os cursos do ensino recorrente destinam-se a indivíduos que, tendo concluído o 9.º ano de escolaridade ou equivalente, pretendam obter uma formação de nível secundário e, consoante o curso, uma qualificação profissional de nível intermédio. Em termos de Certificação, estes cursos conferem um diploma de conclusão do ensino secundário, com possibilidade de prosseguimento de estudos de nível superior, e um certificado de qualificação profissional de nível 3, no caso dos cursos tecnológicos e dos cursos artísticos especializados nos domínios das Artes Visuais e dos Audiovisuais. Sistema Nacional de Validação, Reconhecimento e Certificação de Competências O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação (Sistema RVCC) de competências destina-se aos adultos maiores de 18 anos, sem a escolaridade básica de 4, 6, 9 ou 12 anos que pretendam elevar os seus níveis de certificação escolar e de qualificação profissional e realizar percursos subsequentes de formação numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida. Ao nível secundário apenas se podem candidatar os adultos que disponham num mínimo de três anos de experiência profissional e, a título excepcional, aqueles que tendo frequentado há mais de três anos o ensino secundário não tenham concluído. A Validação e Certificação de Competências permite que cada adulto, maior de 18 anos, aceda ao reconhecimento, validação e certificação das competências (escolares, profissionais e outras) que adquiriu em diferentes situações de aprendizagem (vida pessoal, social e profissional), para efeitos de atribuição de uma qualificação formal, escolar ou profissional. A certificação conferida por este Sistema pode ser escolar (RVCC Escolar) ou profissional (RVCC Profissional). O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências é desenvolvido nos Centros Novas Oportunidades que funcionam em estabelecimentos dos ensinos básico e secundário, em Centros de Formação Profissional do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e em outras entidades formadoras acreditadas, públicas ou privadas. Ensino Superior: o processo de Bolonha
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Optamos também por incluir neste capítulo uma breve descrição do Processo de Bolonha e as suas implicações sobretudo no ensino superior. O Processo de Bolonha visa a construção de um Espaço Europeu do Ensino Superior que promova a imobilidade de docentes, de estudantes e a empregabilidade de diplomados. Para a construção desse Espaço Europeu do Ensino Superior e para o estabelecimento de um sistema de graus académicos comparáveis e transferíveis entre os estados europeus procedeu-se à criação de, entre outras regulamentações, um sistema de unidades de créditos curriculares (ECTS - European Credit Transfer and Accumulation System). Importa também relembrar que a licenciatura em Portugal antes do processo de Bolonha equivalia a cerca de 5 anos (com exceções como por exemplo, o curso de Medicina) e um Bacharelato tinha a duração de 3 anos. O mestrado tinha uma duração de cerca de 2 anos. Com o Processo de Bolonha surgem as seguintes alterações: Os novos ciclos de estudos, conducentes quer ao grau de licenciado quer ao grau de mestre, organizam-se, predominantemente em semestres, compreendendo cada um deles um conjunto de unidades curriculares. A cada uma dessas unidades curriculares corresponde um determinado número de créditos curriculares (ECTS), que é calculado segundo o princípio de trabalho necessário, a tempo inteiro, que um estudante deve realizar para alcançar os objetivos e competências dessa mesma unidade. Assim, o ano académico, compreendendo dois semestres, realiza-se num período de tempo inteiro, de 36 a 40 semanas, tem uma duração que se situa entre 1500 e 1680 horas, correspondendo o trabalho desenvolvido pelo estudante no seu decurso a 60 unidades de créditos curriculares (ECTS). De salientar, em linhas gerais, que o ciclo de estudos conducente ao grau de licenciado tem, no ensino politécnico, uma duração normal de 6 semestres curriculares de trabalho dos estudantes, correspondendo a 180 créditos, enquanto, no ensino universitário, a sua duração se situa entre seis e oito semestres curriculares, correspondendo ao intervalo de 180 e 240 unidades de crédito. Do mesmo modo, o ciclo conducente ao grau de mestre tem uma duração normal de três a quatro semestres curriculares de trabalho do estudante, a que corresponde o intervalo de 90 a 120 créditos. 1
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL No ensino universitário o grau de mestre pode igualmente ser conferido após um ciclo de estudos integrado (com a frequência da licenciatura), com 300 a 360 créditos e uma duração normal compreendida entre 10 e 12 semestres curriculares, nos casos em que a duração para o acesso ao exercício de uma determinada actividade profissional seja fixada por normas legais da União Europeia ou resulte de uma prática estável e consolidada na União Europeia. No 2.º ciclo de estudos das instituições universitárias ou politécnicas o grau de mestre é conferido aosque através da aprovação em todas as unidades curriculares que integram o plano de estudos do curso de mestrado e da aprovação no acto público de defesa da dissertação, do trabalho de projecto ou do relatório de estágio, tenham obtido o número de créditos fixado. O grau de doutor é conferido unicamente pelas instituições universitárias. É conferido aos que tenham obtido aprovação nas unidades curriculares do curso de doutoramento, quando exista, e no ato público de defesa da tese. Em síntese, prevê-se a existência de 3 ciclos: 1º Ciclo – Grau de Licenciado – 6 a 8 semestres (180 a 240 unidades de crédito); 2º Ciclo – Grau de Mestre – concedido após um 2º ciclo de formação superior com a duração de 2 a 4 semestres e integrando uma parte escolar com a duração de 1 a 3 semestres, desde que seja cumprido, em conjunto com a formação do primeiro ciclo um mínimo de 10 semestres de formação superior. 3º Ciclo – Grau de Doutor – concedido após um ciclo de formação superior, com duração mínima de 6 semestres, desde que seja cumprida, em conjunto com formação dos ciclos antecedentes, um mínimo de 16 semestres de formação superior. A legislação relevante para uma análise mais pormenorizada deste tema é o Decreto-Lei n.º 42/05, de 22 de Fevereiro e o Decreto-Lei n.º 74/06, de 24 de Março. Para finalizar esta questão relacionada com o processo de Bolonha interessa agora apresentar as áreas de estudo do ensino superior português: Formação de Professores e Ciências da Educação; Artes, Humanidades; Ciências Sociais e do Comportamento, Informação e Jornalismo;
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Ciências Empresariais; Direito; Ciências; Engenharias, Arquitectura e Construção; Agricultura, Silvicultura e Pescas, Ciências Veterinárias; Saúde, Serviços Sociais; e Serviços. Para concluir esta temática da formação inserida no sistema educativo, podemos então mencionar que esta está sobretudo relacionada com uma dimensão mais prática e profissionalizante das estruturas curriculares que servem de suporte as suas intervenções. Existem mudanças em curso que vão definitivamente acentuar e valorizar este tipo de formação, sendo uma delas a questão da dupla certificação, questão já aqui abordada. A questão da formação em contexto de trabalho comum a alguns dos percursos aqui analisados constitui uma grande mais-valia em termos da formação desenvolvida, mas também um factor que diferencia e clarifica a formação inserida no sistema educativo de outro tipo de formação mais vocacionadas para a transmissão de um tipo de saber mais tradicional.
A formação profissional inserida no mercado de emprego/trabalho
Entende-se por formação profissional inserida no mercado de emprego a que é destinada especificamente a activos empregados, por conta própria ou de outrem , e desempregados, incluindo os candidatos ao primeiro emprego, cujo objetivo principal é o exercício qualificado de uma actividade profissional e que é realizada por empresas, centros de formação e outras entidades empregadoras ou formadoras, de carácter público, priv ado, entre outras. De notar que o Ministério competente nesta matéria é por definição o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS), sendo através do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) que é efectuada a coordenação da formação executada no âmbito deste sistema.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL A formação relacionada com o mercado de trabalho foi regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 405/91. Como referido anteriormente a Lei de Bases do Sistema Educativo é para esta temática igualmente relevante uma vez que é esta lei que contempla inicialmente a formação profissional, juntamente com o Decreto-Lei n.º 401/91 que regulamenta a questão da formação profissional inserida quer no sistema educativo quer no mercado de emprego. A formação profissional coordenada pelo IEFP adopta primeiramente um modelo mais intensivo e de menor duração horária do que aquela que é preconizada pelo sistema educativo e pelo Ministério da Educação, procurando responder também às necessidades específicas do mercado de trabalho e simultaneamente certificar competências. Importa reiterar que os destinatários últimos deste sistema são as empresas e é nesta lógica que é pensada a formação e sua organização. Neste contexto, podemos afirmar genericamente que a formação inserida no mercado de emprego é sinónimo de formação profissional. Tipos de Formação Sem equivalência escolar
Qualificação inicial
Especialização tecnológica
Inicial Aprendizagem Com equivalência escolar
Educação e Formação
EFA
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Assim, e entendida em termos genéricos, a Formação Profissional inclui as modalidades iniciais e contínua: Formação Profissional Inicial é a que visa a aquisição das capacidades indispensáveis para poder iniciar o exercício duma profissão. É o primeiro programa completo de formação que habilita ao desempenho das tarefas que constituem uma função ou profissão. Formação Profissional Contínua é a que engloba todos os processos formativos organizados e institucionalizados subsequentes à formação profissional inicial, com vista a permitir uma adaptação às transformações tecnológicas e técnicas, favorecer a promoção social dos indivíduos, bem como permitir a sua contribuição para o desenvolvimento cultural, económico e social.
Qualificação e reconversão profissional
Formação Contínua
Reciclagem Atualização e Aperfeiçoamento
Especialização Profissional
De notar, e como mencionado anteriormente a formação profissional conheceu um grande desenvolvimento graças sobretudo aos Fundos Estruturais provenientes da União Europeia. Estes fundos fizeram crescer exponencialmente o número de operadores e de atores que atuam neste mercado. A oferta formativa atualmente existente é, desta forma, vasta e não será aqui objeto de caraterização. 2
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Contudo, pela importância que se reveste para a compreensão da formação profissional, interessa aqui especificar dois aspetos que são atualmente incontornáveis na formação profissional: O Sistema Nacional de Certificação Profissional O Sistema de Certificação de Entidades Formadoras (anteriormente designada por Acreditação de Entidades Formadoras). Sistema Nacional de Certificação Profissional A Certificação é um processo que visa contribuir para a melhoria contínua dos trabalhadores, reconhecendo e certificando as competências profissionais que detêm de modo a tornarem-se mais competitivos no mercado de trabalho, aproximando-se das reais necessidades do tecido produtivo. Assim, a Certificação Profissional permite assegurar que um profissional detém as competências necessárias ao exercício de uma profissão, por referência a um descritivo de atividades de referência fixadas no âmbito do Sistema Nacional de Certificação Profissional (SNCP). A Certificação Profissional expressa-se pela emissão de um Certificado de Aptidão Profissional (CAP), atualmente o Certificado de Competências Pedagógicas, (CCP) e pode ser obtida, cumprido que seja o requisito das habilitações literárias exigidas, através de uma das seguintes formas: Com base em frequência de curso de formação profissional, devidamente homologado (por exemplo, o curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores); Com base em experiência profissional devidamente comprovada; Com base no reconhecimento/equiparação de títulos profissionais ou de formação emitidos noutros países comunitários ou, nos casos em que existam acordos de reciprocidade de reconhecimento de títulos, em países terceiros. A Homologação de Cursos de Formação é o reconhecimento pela Entidade Certificadora nomeada que um curso de formação tem as condições técnicas e pedagógicas que garantem a qualidade da formação.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Os requisitos a que o curso de formação deve obedecer para ser Homologado (reconhecido) são especificados no Manual de Certificação, elaborado pela Entidade Certificadora. A Entidade Certificadora é o organismo com competência para emitir Certificados de Aptidão Profissional (CAP), actual (CCP) relativo a um perfil ou conjunto de perfis profissionais e para homologar os respetivos cursos de formação profissional (por exemplo, ao nível dos cursos de Formação Pedagógica Inicial de Formadores a Entidade Certificadora é o IEFP).
Sistema de Certificação de Entidades Formadoras
O Sistema de Certificação de Entidades Formadoras foi criado pela Portaria nº 851/2010 de 6 de Setembro, sendo o sucessor do Sistema de Acreditação de Entidades Formadoras, que vigorou durante 13 anos.
A Certificação pode ser definida como um “acto de reconhecimento formal de que uma entidade detém competências, meios e recursos adequados para desenvolver atividades formativas em determinadas áreas de educação e formação.”
Constituem objetivos do Sistema de Certificação de Entidades Formadoras: Promover a credibilização das entidades formadoras que operam no âmbito do Sistema Nacional de Qualificações; Contribuir para que o financiamento das atividades formativas tenha em conta a qualidade da formação ministrada e os seus resultados nas quais desenvolve a sua atividade. A certificação por áreas significa uma intervenção especializada da entidade formadora em determinadas áreas temáticas (por exemplo, na área da formação de professores) e exige a avaliação técnica específica de dimensões como a adequação dos programas e conteúdos de formação, as competências técnicas dos formadores/as e os requisitos técnicos mínimos das instalações e equipamentos. Contrariamente, ao anterior sistema de Acreditação de Entidades Formadoras, a Certificação de uma entidade é concedida sem prazo de validade.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Mas a entidade certificada por este novo sistema receberá visitas regulares (Auditorias), cuja periodicidade ainda se encontra por definir, de acompanhamento das suas práticas efectivas ao nível da formação que desenvolve e/ou executa, tendo em conta um conjunto de requisitos (prévios e de qualidade) já estabelecidos e de outros indicadores a estabelecer futuramente. Para concluir este capítulo, resta efectuar uma breve referência ao Sistema de Aprendizagem ou Aprendizagem em Alternância , dado que esta modalidade de ensino/formação é da iniciativa do IEFP pelo que, e como vimos, pode ser incluída na presente rubrica - A formação profissional inserida no mercado de emprego/trabalho.
Sistema de Aprendizagem O Sistema de Aprendizagem ou Formação Profissional Inicial em Alternância - é um sistema da iniciativa do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em articulação com o Ministério da Educação, que visa qualificar candidatos ao primeiro emprego, de forma a facilitar a integração na vida activa. A Aprendizagem tem como finalidade a integração de profissionais qualificados nas empresas, com uma preparação técnica adequada a uma participação activa no desenvolvimento das organizações em que se inserem. Assim, destina-se, numa dupla perspectiva, a: Candidatos ao 1° emprego que procuram uma via alternativa para entrada na vida activa, adquirindo, simultaneamente, uma certificação profissional e escolar; Entidades com capacidade e interesse em pôr o seu potencial humano material à disposição do desenvolvimento dos jovens, constituindo-se como espaços qualificantes privilegiados para preparar futuros técnicos. A formação desenvolve-se em regime de alternância (ou seja, procura uma interacção constante entre a formação teórica e a formação prática, incluindo esta última, obrigatoriamente, formação em situação de trabalho distribuída, de forma progressiva, ao longo do processo formativo), num leque alargado de áreas profissionais, proporcionando Dupla Certificação (escolar e profissional), a partir de diferentes graus de acesso, em termos de níveis de escolaridade e de qualificação. 2
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Os cursos do Sistema de Aprendizagem têm uma duração que varia entre as 970 horas e as 4500 horas e possuem itinerários – programas – de aprendizagem muito diversos que vão desde a Metalurgia e Metalomecânica a áreas como a Banca e os Seguros ou a Silvicultura e Caça. Os cursos de Aprendizagem configuram um processo formativo integrado, com componentes de formação sociocultural, científico-tecnológica e prática, em proporção e combinação variáveis, conforme as áreas de actividade contempladas e os níveis de qualificação profissional que conferem, salvaguardando sempre a sua flexibilidade e coerência. A formação prática, realizada em contexto de trabalho, ocupa no mínimo 30 % da duração total, sendo completada com formação prática simulada. No final de um processo formativo estruturado, a partir de perfis-tipo devidamente regulamentados, os formandos/as do Sistema de Aprendizagem obtêm uma Certificação Profissional relativa a uma formação de nível 2 (9º ano) ou 3, (12º ano) associada respectivamente a uma certificação escolar equivalente ao 3° Ciclo do Ensino Básico ou ao Ensino Secundário. Podem ainda ser desenvolvidas formações pós-secundárias (os cursos CET referidos no capitulo relativo à formação inserida no sistema educativo), que atribuem um Diploma de Especialização Tecnológica (DET) e qualificação profissional de nível 4.
Formação Pedagógica Inicial de Formadores
O curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores tem o grande objetivo de dotar os formandos/as de competências pedagógicas para o exercício da função de formador/a. O referencial de Formação Pedagógica Inicial encontra-se estruturado em 9 módulos de formação de 10 horas cada. Estes módulos contemplam 2 sub-módulos de 4 ou 6 horas organizados em sessões de 2 horas, pelo que a cada módulo correspondem 5 sessões de formação. Estão organizados segundo as competências a adquirir e os conteúdos estruturantes de cada sub-módulo.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Atualmente, existem cursos de formação de formadores (as) organizados (as) de forma presencial (alternativa mais comum), à distância (e-learning ou b-learning) ou por unidades capitalizáveis. No final do curso (que deve estar HOMOLOGADO pelo IEFP) o formando/a terá direito à correspondente Certificação – Certificado de Competência Pedagógicas para a função de formador/a que é emitido pela entidade Certificadora (o IEFP). O formando/a para ser certificado tem que obter obrigatoriamente aproveitamento em termos do sistema de avaliação atualmente em vigor para estes cursos (avaliação contínua – testes escritos – e avaliação final – simulações pedagógicas finais) e cumprir a assiduidade
definida (assistir a 95% das horas de formação do curso). Com a entrada em vigor da Portaria n.º 994/2010, de 29 de Setembro, os Certificados de Competência Pedagógica de formador/a deixam de ter validade não carecendo de renovação. Competências do formador Iremos agora caracterizar as competências do formador. Esta caracterização tem por base o Perfil Profissional de Formador/a que é definido pelo IEFP que por sua vez se baseia na Classificação Nacional da Profissões, classificação esta também da responsabilidade do IEFP. Assim, o formador/a segundo a Classificação Nacional da Profissões (código da profissão - 2.3.5.9.05): Planeia, prepara, desenvolve e avalia sessões de formação de uma área científicotecnológica específica, utilizando métodos e técnicas pedagógica s adequadas; Elabora o programa da área temática a ministrar, definindo os objetivos e os conteúdos programáticos de acordo com as competências terminais a atingir; Define critérios e selecciona os métodos e técnicas pedagógicas a utilizar de acordo com os objetivos, a temática e as características dos formandos(as); Define, prepara e/ou elabora meios e suportes didácticos de apoio, tais como audiovisuais, jogos pedagógicos e documentação; Desenvolve as sessões, transmitindo e desenvolvendo conhecimentos;
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Avalia as sessões de formação e/ou os formandos/as, utilizando técnicas e instrumentos de avaliação, tais como inquéritos, questionários, trabalhos práticos e observação. Por vezes elabora, aplica e classifica testes de avaliação. Pode elaborar ou participar na elaboração de programas de formação. O perfil profissional de formador encontra-se englobado no “grupo 2 – especialistas das profissões intelectuais e científicas. A função de formador não se esgota na transmissão de conhecimentos. O formador tem uma função complexa e muito exigente porque deve actuar como um facilitador do desenvolvimento de competências. Para o desenvolvimento de competências dos formandos, o formador terá que primeiro lugar trabalhar de acordo com os objetivos pedagógicos que estão definidos para um determinado programa de formação que vai executar. Por outro lado, um formador terá que dominar tecnicamente (competências técnicas) os conteúdos que pretende transmitir e, simultaneamente terá que dominar técnicas e métodos pedagógicos, i.e., possuir competências pedagógicas – as competências pedagógicas constituem o essencial do curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Funções do formador
Preparar e organizar a formação
Desenvolver a formação
Identificar e analisar os perfis dos formandos; Analisar o programa; Identificar os objetivos Redigir o plano de sessão
Organizar espaços; Conduzir sessões de formação; Adaptar-se aos formandos; Avaliar resultados
Avaliar a evolução da formação
Elaborar processos dos formandos; Registar resultados; Verificar a consecução dos objetivos; Redefinir o plano pano
Código deontológico: Direitos e Deveres do formador Direitos: Apresentar propostas com vista melhoria Obter comprovação documental da ação dada Ser integrado em bolsas de formadores Cumprir legislação e regulamentos
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Avaliar a ação total Deveres: Definição de objetivos e metodologias Cooperação com entidade Preparação prévia das sessões Participar na preparação técnica e pedagógica Zelar pelos meios Assiduidade e pontualidade
SUB-MÓDULO – APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE E EMPREENDORISMO Princípios da teoria de aprendizagem: A Aprendizagem é: Um processo pessoal e contínuo de AQUISIÇÃO de novos comportamentos ou MUDANÇA de comportamentos já existentes decorrentes das características internas do formando e da sua interação com o meio. A aprendizagem consiste numa alteração estável no comportamento devido à experiência. Aprender é adquirir estruturas de comportamento e representações de objectos que nos permitam agir no e sobre o meio ou sobre as representações que dele temos. Processo através do qual se operam modificações relativamente estáveis no comportamento, resultantes de um treino específico, das contingências a que determinadas atividades ficam expostas ou ainda da imitação de determinados modelos. A aprendizagem define-se assim pela ideia de mudança e tem como objetivo permitir a “adaptação” do indivíduo a novas situações.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Procurando contextualizar esta definição de aprendizagem como mudança e como um processo sempre em evolução, interessa agora abordarmos as principais teorias da aprendizagem. O Modelo Comportamentalista A constituição da psicologia como ciência no início do séc. XIX, dado o contexto cultural que envolvia a comunidade científica na altura, exigia uma abordagem ao seu objecto de estudo – a mente – caracterizada pela mensurabilidade e objectividade, conceitos-chave da metodologia científica. Neste sentido, a emergência do comportamentalismo, que, como o próprio nome indica, foca o estudo dos comportamentos, deve ser compreendida pela necessidade de se observar um objecto mensurável, passível de ser quantificado objetivamente. Este paradigma conduziu, inevitavelmente, a um esquecimento deliberado dos processos internos subjacentes ao cérebro humano, pelo simples motivo de não serem esses processos passíveis de observação directa e mensurável. Esta abordagem baseia-se num processo mecanicista que considera o aluno e/ou o formando um recipiente vazio, passivo e moldável. A abordagem comportamentalista do estudo da aprendizagem pode ser ilustrada através das teorias de Pavlov, Thorndike, Watson e Skinner. Estes autores, os comportamentalistas, defendem que a aprendizagem envolve a formação de padrões ou comportamentos observáveis, ou seja, a aprendizagem consiste numa alteração estável no comportamento devido à experiência. Analisemos seguidamente alguns destes autores e as teorias que defendiam: O condicionamento clássico de Pavlov Chama-se clássico porque este tipo de condicionamento foi o primeiro a receber atenção. É particularmente importante para explicar o comportamento involuntário e as emoções. Neste tipo de condicionamento primeiro aparece o estímulo e só depois a resposta. 3
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Segundo Pavlov, o comportamento consiste essencialmente numa resposta a um determinado estímulo. Esses estímulos, designados de “EI” ( estímulos incondicionados) provocam respostas inatas, ou “RI” (respostas incondicionadas). Para Pavlov a aprendizagem ocorre quando há a transformação de um estímulo neutro em estímulo condicionado em virtude da sua apresentação repetida e emparelhada com o estímulo incondicionado, desencadeando deste modo uma resposta emocional condicionada. O processo de estímulo condicionado (campainha) – resposta condicionada (salivação) tende a extinguir-se após a ausência repetida de um estímulo incondicionado (comida). Na tabela seguinte (tabela 1) podemos encontrar um quadro resumo sobre as principais noções da Teoria de Pavlov: Terminologia
Definição É aquele que produz uma resposta natural e espontânea em grande
Estímulo Incondicionado
parte dos organismos É previamente neutro, e passa a provocar uma resposta semelhante à do
Estímulo Condicionado
Resposta Incondicionada
Resposta Condicionada
estímulo incondicionado após um emparelhamento repetido com este.
É a resposta natural e espontânea do organismo ao estímulo incondicionado. É idêntica à resposta incondicionada, mas produzida na sequência da apresentação de um estímulo condicionado
Consiste na produção de uma resposta condicionada para estímulos que Generalização do Estímulo
apresentam algum grau de semelhança com o estímulo condicionado.
Ocorre quando, para o mesmo estímulo, o sujeito passa a evidenciar Generalização de Respostas
várias respostas ligadas entre si por algum tipo de associação estrutural ou funcional
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Discriminação
Extinção
Verifica-se quando somente o estímulo condicionado é susceptível de desencadear a resposta condicionada Consiste na apresentação repetida do estímulo condicionado na ausência do estímulo incondicionado
Tabela 1. Principais noções da teoria de Pavlov Para explorar: Experiências de Pavlov | http://www.youtube.com/watch?v=YhYZJL-Ni7U
O condicionamento operante – conexionismo - de Thorndike Do conjunto de experiências efectuadas por Edward Thorndike o exemplo clássico que frequentemente surge é o de um gato preso dentro de uma “caixa puzzle”, tendo esta uma alavanca que quando pressionada permitia a fuga do gato. A situação de aprisionamento, e o consequente stress que provoca no animal, consiste no estímulo. Após um longo processo comportamental de tentativa e erro, o gato aprende a pressionar a alavanca (resposta) de modo a abrir a porta. Esta conexão (designada de S-R, ou estímulo-resposta) é estabelecida porque resulta numa situação satisfatória (a fuga da caixa). Este investigador fundamentou a sua teoria sobre a aprendizagem em vários princípios, os quais denominou de leis.
A lei do exercício postula que a conexão foi estabelecida porque os elementos S (estímulo) e R (resposta) ocorreram em conjunto muitas vezes. No entanto, esta lei só por si não justifica a conexão, sendo essencial a existência de uma recompensa ou punição, ou seja, uma conotação positiva ou negativa da resposta (lei do efeito) por parte do sujeito.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Neste caso, a obtenção de liberdade foi a recompensa associada à resposta (pressionar a alavanca). Em vezes posteriores, se o processo de aprendizagem estiver terminado, o gato ao ser colocado perante a situação de prisão na “caixa puzzle” procurará pressionar a alavanca, de
modo a obter assim a liberdade. A aprendizagem é efectuada por meio de tentativa e erro e consiste no estabelecimento de conexões entre determinados estímulos e as respostas (S-R) que contém ou provocam, de modo padronizado, um recompensa ou punição. Na tabela seguinte (tabela 2) podemos encontrar um quadro resumo sobre as principais noções sobre o conexionismo de Thorndike. Terminologia
Lei da Prontidão
Lei do Exercício
Lei do Efeito
Lei de Elementos Idênticos
Definição As respostas podem ser emparelhadas numa sequência linear de modo a satisfazer um objetivo Reforça a ideia de que quanto mais a conexão estímulo-resposta for usada mais forte se torna. A conexão estímulo-resposta é fortalecida se se seguir uma recompensa e enfraquecida se for seguida de punição Defende que quem aprende consegue confrontar-se melhor com novos problemas se estes possuírem elementos semelhantes aos anteriormente resolvidos com sucesso.
Tabela 2. Principais noções de Thorndike. O condicionamento operante de Skinner O condicionamento operante conta também com outros representantes um dos quais é Skinner. Este autor defende que a aprendizagem é uma associação entre estímulos e respostas (S-R) e respostas estímulos (R-S), associação que ocorre devido aos reforços e/ou punições. Deste modo, a aprendizagem é resultado dos reforços e punições.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Em suma, Skinner desenvolveu as noções associadas à Lei do Efeito primeiramente defendida por Thorndike. A principal distinção entre o condicionamento operante de Skinner e o condicionamento clássico de Pavlov é que o primeiro lida com comportamentos voluntários explicados pelas suas consequências, enquanto o segundo se refere a comportamentos involuntários despoletados pelos seus antecedentes. Skinner verificou que o meio não estimula unicamente o comportamento: o meio selecciona o comportamento através das suas consequências. A aprendizagem resulta pois de reforços e punições. Segundo Skinner, o comportamento é fundamentalmente regulado pelas suas consequências e são estas, e não os antecedentes ou estímulos, que ocupam um lugar privilegiado na aprendizagem humana. A frequência, duração ou intensidade de um comportamento é, na perspectiva, do condicionamento operante, orientada por dois motivos fundamentais: a busca do prazer e a fuga à dor. A busca do prazer tem a ver com aquilo que se entende por reforço positivo; a fuga à dor tem a ver com o reforço negativo. Na tabela seguinte (tabela 3) podemos encontrar um quadro resumo sobre as principais alterações introduzidas por Skinner na sequência das experiências de Thorndike. Terminologia
Definição Quando o estímulo adicionado à situação aumenta a probabilidade de ocorrência de resposta.
Reforço Positivo
Exemplo: Ao
elogiar
um
formando/a
pela
sua
intervenção, aumenta-se a probabilidade do mesmo intervir posteriormente. É positivo na medida em que é acrescentado a uma situação. Quando o estímulo retirado à situação aumenta a Reforço Negativo
probabilidade de ocorrência de resposta. Exemplo: O final da formação é antecipado em função de
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL um esforço de atenção por parte dos formandos/as que permita uma aprendizagem mais rápida e eficaz. É negativo pois retira algo à situação. Quando o estímulo adicionado à situação diminui a probabilidade de ocorrência de resposta. Exemplo: Punição Positiva
Ao
desvalorizar-se
a
opinião
de
um
formando/as, diminui-se a probabilidade do mesmo apresentar opiniões posteriormente. É positiva uma vez que acrescenta algo à situação, ou seja, acrescenta a “desvalorização” da opinião dada.
Quando o estímulo retirado à situação diminui a probabilidade de ocorrência de resposta. Exemplo: Ao verificar que os formandos/as não mantêm Punição Negativa
um nível de atenção desejado, o formador/a opta por não efectuar o primeiro intervalo. É negativo porque o intervalo é retirado à situação de formação.
Tabela 3. Principais noções de Skinner Para explorar: Experiências de Skinner: http://www.youtube.com/watch?v=1b-
O Modelo Cognitivista O cognitivismo surgiu na segunda metade do séc. XX e tornou-se rapidamente o modelo dominante na psicologia, substituindo o comportamentalismo.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL No entanto, não consiste numa refutação dos pressupostos comportamentalistas, assumindo-se mais como uma expansão dos mesmos, assente na aceitação de que os processos mentais internos existem e podem ser analisados. O termo “cognição” refere-se a qualquer processo mental subjacente ao comportamento humano, definindo como dimensões de estudo o pensamento, o raciocínio, os processos de tomada de decisão, a motivação e as emoções. Aborda áreas tão distintas quanto a perceção e a criatividade. Para os cognitivistas o comportamento observável, anterior objecto de estudo do comportamentalismo, é apenas um reflexo dos processos mentais internos. Mas o cognitivismo manteve-se fundamentalmente alinhado com os paradigmas do método científico, baseando a investigação na experimentação e observação do comportamento humano. Os cognitivistas recusaram sempre a ideia de que a aprendizagem se circunscrevia à reprodução de um comportamento e mais do que o resultado visível (comportamento observável) tentaram perceber o processo subjacente à aprendizagem. Estes teóricos defendem que os indivíduos têm uma postura activa perante a aprendizagem e que somente iniciam o processo quando se apercebem que os benefícios são compensatórios. Analisemos seguidamente alguns dos principais autores desta corrente e as suas teorias sobre a aprendizagem cognitivista.
Teoria de Vygotsky Apesar de ser uma teoria relativa ao processo de aprendizagem de crianças, os pressupostos da mesma foram posteriormente desenvolvidos por outros autores e as suas conclusões generalizadas para o ser humano em sentido geral.
O conceito fundamental na teoria de Vygotsky Vygotsky é designado por Zona de Desenvolvimento Proximal. Proximal. Baseada na investigação do processo de aprendizagem de crianças, o conceito de Zona de Desenvolvi mento Proximal estipula o “espaço” diferencial entre as competências detidas pela criança e o que a mesma pode/consegue aprender com a orientação de um adulto ou de um par com competências mais elevadas.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL A teoria postula dois níveis distintos: o nível actual de desenvolvimento da criança, competências detidas; o nível potencial de desenvolvimento, as competências que pode desenvolver com orientação e suporte de outra pessoa. Ao diferencial entre estes dois níveis Vygotsky designou de Zona de Desenvolvimento Proximal. O processo de aprendizagem ocorre neste “espaço”, e a tarefa do formador será a de
orientar, completando com as suas próprias competências as do formando. O processo pressupõe um enfoque essencial na actividade do formando, sendo que o formador/a fornece, essencialmente, instruções para o formando operacionalizar. Dada a importância da orientação, por alguém mais competente que o formando, no processo de aprendizagem, Vygotsky sublinha o caráter social e cultural de todo o processo. A aprendizagem consiste em trocas dinâmicas de saberes, onde os que detêm a competência a transmitem, instruindo os que não a detêm.
Teoria de Bruner Bruner realça a importância da motivação e da compreensão no processo de aprendizagem. A formação de conceitos globais, a construção de generalizações coerentes e a explicitação da estrutura funcionam como facilitadores da aprendizagem Para Bruner, a aprendizagem inicia-se ao nível do concreto, das percepções físicas, da manipulação de objectos da realidade envolvente. Posteriormente são construídas imagens mentais, gráficas e icónicas, que podem ser manipuladas mentalmente. A fase final diz respeito à manipulação lógica e mental de símbolos complexos, organizados em sistemas simbólicos.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Existe uma lógica sequencial inerente a esta estrutura, partindo sempre do simples para o complexo, construindo o saber através a través da associação e organização de constructos simples em constructos complexos e, eventualmente, em complexos sistemas de construtos. A direção da aprendizagem está necessariamente ligada à motivação intrínseca do indivíduo, sendo fundamentalmente influenciada pelo carácter de reforço/punição do feedback recebido ao longo do processo. Este autor apresenta 4 princípios explicativos do processo de ensino/aprendizagem: Motivação (reforços e motivação intrínseca); Estrutura (modo de apresentação - economia e poder da informação); Sequência (apresentação motora a que se segue a icónica e por fim a simbólica); Reforço (feedback da ação – reforçando ou inibindo a motivação). Para Bruner a aprendizagem deverá ter como princípio orientador a “exploração” por parte de quem aprende. aprende. Cabe ao formador/a potenciar a descoberta efectuada pelos formandos, estruturando a informação pela sequência adequada, numa “espiral de conceitos”, onde cada conceito se constrói sobre as aprendizagens prévias. Teoria de Gagné Robert Gagné classificou as aprendizagens baseando-se no tipo de resultados consequentes da mesma. Segundo o autor, uma forma eficaz de classificar e hierarquizar os diferentes tipos de aprendizagem consiste em analisar o “como” as mesmas podem ser demonstradas.
O estabelecimento de uma hierarquia implica que competências de maior complexidade exigem que a aprendizagem de competências mais simples já tenha ocorrido. Neste seguimento, o autor apresenta a seguinte caraterização: Aprendizagem de conceitos: conceitos : são demonstradas pela classificação/rotulagem mental de objectos; Aprendizagem de regras: são regras: são demonstradas pela aplicação das regras na demonstração de princípios; 4
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Resolução de problemas: são demonstradas pela criação de soluções eficazes ou procedimentos; Competências psico-motoras: são demonstradas pelo desempenho na execução de tarefas; e Competências afectivas – atitudes: são demonstradas pelas escolhas/preferências. Estes resultados são as consequências dos processos internos de aprendizagem dos indivíduos. As condições externas de aprendizagem (instruções) são diferentes para diferentes tipos de resultados da aprendizagem, ou seja, a aprendizagem de atitudes difere significativamente da aprendizagem de competências psico-motoras em termos de processo e nas instruções associadas. Apesar disso, Gagné sugere que os mesmos tipos de actividade instrutiva são necessários para todos os processos de aprendizagem. Desta forma, identificou 9 eventos de instrução que considera serem sempre relevantes, apesar de poderem variar em detalhe, consoante o tipo de resultado pretendido e os conteúdos abordados: 1 - Obter atenção (recepção): Mostrar uma variedade de triângulos gerados por computador 2 - Identificar os objetivos de aprendizagem (expectativa): Explicitar que se pretende conhecer o conceito e as características de um triângulo equilátero 3 - Estimular aprendizagens anteriores (recuperação): Rever as definições de triângulo 4 - Apresentar o estímulo (percepção selectiva): Dar a definição de triângulo equilátero 5 - Fornecer orientações para a aprendizagem (código semântico): Dar exemplos de como criar triângulos equiláteros 6 - Obter e analisar o desempenho (resposta): Pedir aos formandos/as que desenhem um triângulo equilátero 7 - Fornecer feedback (reforço): Verificar todos os desenhos efectuados e classificar os mesmos como correcto/incorrecto 8- Avaliar o desempenho (recuperação): Fornecer explicações para a classificação de correcto/incorrecto e garantir a remediação 4
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL 9 - Aumentar a retenção e a transferência (generalização): Mostrar figuras de diversos triângulos equiláteros e pedir aos formandos/as para os identificarem Teoria do Processamento da Informação O modelo básico de processamento de informação, tendo por origem o advento da ciência computacional e os pressupostos desta, procurou estabelecer as fases explicativas dos processos associados à “construção de conhecimento” no ser humano, nomeadamente a
transformação de inputs sensoriais em memórias. As percepções, como sons e imagens, bem como o conjunto de interpretações e emoções associadas às mesmas, são integradas na memória através de um processo de codificação. Inicialmente apreendidas pela “memória sensorial”, as informações são posteriormente transmitidas à “memória de curto prazo”, assim designada pelo seu carácter não permanente. Aqui, as informações são temporariamente retidas para que possam ser de alguma forma catalogadas e, eventualmente, para que lhes seja atribuído um significado. A atribuição de um “rótulo” e, essencialmente, de um significado, define em larga parte
a relevância que a informação detém para o sujeito, e deste modo a facilidade com que o mesmo consegue posteriormente evocá-la Isto porque a atribuição de significado consiste precisamente em estabelecer conexões entre a nova informação e a rede de informações que indivíduo já possui, transformando-a assim em “memória de longo prazo”. Quanto maior o número de ligações estabelecidas, maior o número de “caminhos” que conduzem à informação, logo, maior também a probabilidade de acedermos à mesma rapidamente. Seguidamente iremos abordar alguns dos conceitos principais desta teoria
Memória Sensorial: A memória sensorial processa essencialmente energia, modificando-a de uma forma para outra.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL O ambiente disponibiliza diversas formas de energia (luz, som, calor, etc.) que são transformadas pelas células associadas aos diferentes sentidos em energia eléctrica, dado que o cérebro humano lida unicamente com esta. Neste processo, a memória é criada sob a forma de impulsos eléctricos. A maioria dos mesmos não são retidos mais do que alguns segundos, mas os que de algum modo são interpretados pelo cérebro como relevantes (por possuírem características interessantes e/ou apresentarem um padrão que é reconhecido) são processados para a “memória de curto prazo”, tornando-se assim foco da nossa atenção consciente.
Memória de Curto Prazo: A memória de curto prazo, também designada de memória de trabalho, diz respeito, em certo sentido, à manipulação consciente de informação. A retenção de dados na mesma é bastante limitada, uma vez que tem unicamente como função a manipulação de dados vindos tanto da memória sensorial como da memória de longo prazo. Miller (1956) identificou como 7±2 as unidades possíveis de serem trabalhadas em simultâneo, e a sua retenção exige uma estratégia de repetição (onde se procura “forçar” a passagem da informação para a memória de longo prazo pela manutenção temporal da mesma na memória de curto prazo) ou uma estratégia de organização (onde se procura agrupar informação em conjuntos lógicos, sequenciais e padronizados). A
segunda
estratégia
é
evidentemente
mais
eficaz
porquanto
estabelece
automaticamente conexões mnésicas entre os conteúdos, facilitando posteriormente a evocação de todos eles pela evocação de apenas um. A repetição muitas vezes revela-se ineficaz porque este loop não procura estabelecer ligações com conceitos da memória de longo prazo (significados).
Memória de Longo Prazo: A memória de longo prazo constitui a rede de informação permanente que possuímos, ou seja, corresponde ao conhecimento detido.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Este encontra-se organizado em diferentes categorias: Memória Declarativa: Memória Semântica: factos e informação geral (símbolos, conceitos, conhecimento teórico, noções abstractas, como por exemplo: o nome do presidente da república); Memória Episódica: experiências pessoais (episódios do nosso passado, imagens de infância; por exemplo, o primeiro dia de aulas); Memória Procedural: saberes-fazer (por exemplo, conduzir um carro); Memória Pictórica: imagens, sons, odores, etc. (por exemplo, o rosto de uma pessoa). Refere-se a perceções sensoriais, sendo geralmente visuais na sua maioria e frequentemente de carácter Mais recentemente, investigadores desenvolveram a teoria do Processamento de Distribuição Paralela, postulando que o processamento de dados através das 3 memórias acima descritas não ocorre de forma linear e sequencial, mas sim utilizando em simultâneo diversas partes do sistema de memória. O Conexionismo moderno (não o conexionismo de Thorndike) acrescenta que a informação é guardada nestas redes neuronais em locais diversos (isto é, está biologicamente codificada nas ligações entre neurónios em grupos diferentes e que estes grupos não estão necessariamente ligados entre si de forma directa). A evocação, baseada sempre numa determinada pista (uma questão contém em si uma pista para a resposta desejada – ex. “Quem fundou o reino de Portugal?” – “Portugal”, “reino” e “fundou” são as pistas que definem a procura), consiste no despoletar de sinapses cujo foco se
inicia no local da rede onde a pista se encontra, e que as sinapses percorrem a rede neuronal até a resposta ser encontrada. As principais conclusões da teoria de processamento da informação são as seguintes: O cérebro é um processador paralelo, sendo que pode conduzir várias atividades em simultâneo, como ouvir sons, visualizar imagens e atribuir emoções; A procura de significado é inata; A procura de significado funciona através da padronização de informação; As emoções são essenciais para a padronização; 4
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL A aprendizagem envolve tanto uma atenção focada como a percepção periférica; A aprendizagem envolve processos conscientes e inconscientes; A aprendizagem é promovida pelo desafio. Teoria Construtivista O construtivismo surge como uma extensão da abordagem cognitivista e assenta numa filosofia de aprendizagem baseada na premissa de que, ao reflectirmos sobre as nossas experiências, construímos a nossa própria compreensão do mundo em que vivemos. Cada indivíduo gera os seus próprios “esquemas mentais”, que aplica no sentido de
atribuir significado às suas experiências. Aprendizagem é, deste modo, um ajustamento dos esquemas mentais às novas experiências. Para o construtivismo a aprendizagem consiste na procura de significado, pelo que o processo deverá começar pelos conceitos-chave a partir dos quais os formandos/as se encontram activamente a tentar construir esse significado. Dito de outro modo, a atribuição de significado implica a compreensão do todo bem como das partes, e as partes têm de ser compreendidas no contexto do todo. Assim, o processo de aprendizagem deve focar os conceitos primários , vistos como pontos de ligação entre todos os outros conceitos a assimilar e, portanto, referências fundamentais para a organização da informação, em lugar de simples factos isolados. Como formadores, a compreensão dos modelos mentais que os formandos utilizam para percepcionar a envolvente e as inferências que efectuam para suportar esses modelos revela-se essencial. Trata-se de compreender a matriz de esquemas mentais que utilizam para a atribuição de significados. O propósito da aprendizagem de um indivíduo é a construção dos seus próprios significados, em lugar da simples memorização de respostas correctas, pelo que a avaliação é inerentemente falaciosa e como tal deverá ser encarada unicamente como ferramenta de análise no sentido de identificar medidas corretivas para a melhoria do processo formativo. Mas quais são os impactos do construtivismo para o processo formativo?
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Este modelo apela à eliminação de currículos padronizados. Ao invés, promove a utilização de currículos com conteúdos personalizados em função dos saberes prévios de cada formando. O formador deve focar a criação de relações entre factos, recorrendo a estratégias de resolução de problemas, de análise e interpretação, fomentando a partilha de perspetivas e a discussão aberta. A atribuição de significado aos conceitos torna-se deste modo mais simples, pois constituem-se como soluções socialmente partilhadas para problemas concretos. A avaliação deverá ser parte integrante do processo formativo, sendo dinâmica e simultânea ao mesmo, dado que a sua função é de promover a auto-análise e não a classificação.
Modelo Humanista A concepção humanista da aprendizagem é marcadamente ideológica, preconizando uma visão pautada por um conjunto de princípios que são, na sua essência, de cariz filosófico, ao contrário dos modelos anteriores que são explicativos do processo de aprendizagem. Os teóricos da corrente humanista defendem as especificidades individuais no processo de aprendizagem, focando o papel social do ser humano e a motivação como factor primário da aprendizagem. Esta perspetiva: Centra-se no indivíduo enquanto único, singular mas complexo, com interesses, motivações e capacidades próprias; Sublinha o carácter único da experiência pessoal; e Defende as especificidades individuais no processo de aprendizagem. Ao contrário do cognitivismo e comportamentalismo, os humanistas desvalorizam a aplicação do método científico ao estudo da aprendizagem humana. Na Abordagem Humanista os elementos facilitadores da aprendizagem são: Aceitação incondicional do outro:
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL A noção de aceitação incondicional do outro refere-se a uma postura por parte do formador que possibilite nos formandos a perceção de ausência de juízos de valor Ser social, cujo comportamento é pautado por motivações de aceitação e integração por parte dos outros. A existência de um contexto de aprendizagem sem a presença de juízos sociais cria motivação intrínseca e fornece ao indivíduo liberdade para gerir e direccionar a sua própria aprendizagem. A ideia base deste conceito assenta na perspectiva de um ser humano como, tornando-a um processo mais satisfatório. Empatia A empatia, definida como a competência de “colocar -se no lugar do outro”, é vista como
o fenómeno essencial para a compreensão mútua entre indivíduos. De acordo com a concepção humanista, esta compreensão mútua é um fator chave para o ajuste de comportamentos eficazes nas relações humanas, relações essas que compõem os estímulos motivacionais param a aprendizagem. A criação de empatia é ainda um pressuposto do ponto anterior, sublinhando o relativismo de cada perspectiva. Criação de condições para a mudança Estando presente a motivação para a aprendizagem, é necessário providenciar ao formando as condições e ferramentas adequadas para a exploração e experimentação livre. A aprendizagem surge como um fenómeno individual, e como tal não é passível de ser avaliado ou julgado a não ser pelo próprio formando/a. Andragogia A Andragogia é encontrar a forma adequada para a melhoria do ensino de adultos através da investigação das condições ideais Características da educação de adultos: O Formando é: Autónomo Tem vontade própria
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Tem objetivos definidos Motivação intrínseca O Formador deve: Contextualizar Motivar Estruturar o assunto Explicitar assuntos Promover o envolvimento nas atividades Reforçar positivamente Promover o conceito de auto-eficácia Ser empático Características da Andragogia: Características individuais dos participantes. Criação de um ambiente informal que possibilite valorizar a experiência e a realidade vivida dos participantes. Necessidade de estimular a Aprendizagem por Descoberta. Resistência à mudança comportamental. Existência permanente de novas necessidades de formação
Fatores de Aprendizagem Fatores Pessoais; Inteligência; Memória; Fatores Sociais 4
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Fatores Pessoais: Motivação Estilo Cognitivo Locus de Controlo Experiência Anterior A inteligência Sujeitos com boas capacidades intelectuais, normalmente conseguem elaborar raciocínios mais elaborados e adequados, resolvem os problemas num ritmo mais rápido e com menos erros e fazem melhores transferências de conhecimentos. A estimulação do sujeito desenvolve o seu potencial cognitivo. A Motivação Motivação intrínseca - relacionada com o prazer de realização da actividade Motivação extrínseca - provém do exterior e pode constituir incentivos para a aprendizagem através da atribuição de recompensas Estilo Cognitivo Varia em função da organização e funcionamento intelectual Pensamento convergente e divergente Locus de Controlo Locus de Controlo Interno - auto-atribuição da responsabilidade sobre fracassos, êxitos e outros factos; Locus de Controlo Externo - atribuição a fatores externos, que não podem dominar A experiência anterior A inter-relação entre conteúdos prévios facilita a aquisição de novos conhecimentos.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Fatores Sociais A diversidade de valores, interesses, aspirações e atitudes dos formandos que advêm de meios socioculturais e familiares diferentes pode dificultar a aprendizagem, caso o formador não saiba aproveitar e rentabilizar a heterogeneidade do grupo. Memória A retenção de novas informações está dependente da existência ou não de informação prévia, mas a existência da informação prévia também está dependente de processos de retenção. Condições facilitadoras da aprendizagem Motivação No estudo do comportamento humano o termo motivação é sinónimo de forças psicológicas, desejos, impulsos, instintos, necessidades, etc. eimplica acção. De facto, o comportamento humano é uma actividade dirigida. As pessoas procuram saúde, conforto, bem-estar e realização pessoal. O comportamento do indivíduo não corresponde necessariamente aos seus conhecimentos ou capacidades mas está muitas vezes dependente da motivação, do impulso interno que o leva a agir com determinação e empenho numa dada direcção. O motivo divide-se usualmente em dois componentes importantes: Impulso e objetivo. O termo impulso refere-se ao processo interno que incita a pessoa à acção. Este pode ser influenciado pelo ambiente externo mas é interno. Um motivo termina ao ser atingido um objetivo ou quando é obtida uma recompensa. A valorização dos motivos é diferente para cada indivíduo. É na medida em que o indivíduo valoriza os seus motivos que canaliza maior ou menor quantidade de forças para obtêlos. A necessidade gera um impulso ou motivo . Este mobiliza as energias do indivíduo no sentido de procurar os objectos que satisfaçam a necessidade, atingindo, por isso, o objetivo: a saciedade ou satisfação. 5
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Contudo, podem surgir obstáculos à satisfação da necessidade o que pode provocar dois efeitos: Frustração: que se manifesta pela agressividade e apatia Compensação: a tensão diminui quando existem outros meios de compensar a necessidade não satisfeita Maslow classificou as necessidades humanas em 5 grandes categorias que se manifestam numa ordem hierárquica determinada: pirâmide das necessidades. Necessidades fisiológicas ou primárias: correspondem às necessidades cuja satisfação é necessária para a sobrevivência: necessidade de alimento, abrigo, sexo, sono. Enquanto estiverem insatisfeitas monopolizam a atenção não deixando aceder a outro nível de necessidades. Se satisfeitas perdem o seu poder motivador. Necessidades de segurança: referem-se à necessidade de protecção física e emocional contra perigos e ameaças no imediato e no futuro. Tornam-se motivadoras quando as necessidades fisiológicas estão satisfeitas e perdem o seu poder motivador assim que são satisfeitas. Necessidades sociais: referem-se às de relacionamento e estima e às de presença e integração social (ser aceite como mero de um grupo, estar incluído nos projectos de grupo). Necessidades de auto-estima e reconhecimento: corresponde ao desejo de valorização de nos próprios, por exemplo aquisição de um estatuto, ganhar prestígio social, desejo de independência e afirmação. Necessidades de auto-realização: relaciona-se com a competência e a realização. - O indivíduo sente necessidade de realizar o seu potencial, de se estar continuamente a desenvolver, tende para ser tudo o que pode vir a ser. Maximiza o seu desempenho.
Em síntese, podemos dizer que: A motivação é factor determinante do processo de aprendizagem. É necessário demonstrar aos formandos a valorização que irão obter com a formação; O formador deve identificar as necessidades individuais e do grupo de formação e procurar a melhor forma de as satisfazer através da formação.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Desenvolver sessões de formação atractivas Criar oportunidades de troca no grupo de formação e de reconhecimento do mérito individual Atividade A exploração de uma situação, recolher informações, efectuar exercícios ou estruturar conhecimentos aplicando-os a novas situações é essencial para que ocorra aprendizagem. Assim, o formador deve estar preparado para, além de ser detentor de conhecimentos, ajudar, controlar, facilitar e animar os trabalhos individuais e de grupo dos participantes. Conhecimento dos objetivos e dos resultados Em particular nos grupos de adultos, conhecer os pontos de referência, isto é os objetivos que o formador se propõe atingir é essencial para o formando se orientar na sessão. Ao comunicar os objetivos estamos simultaneamente a: Tornar o formando consciente do que lhe vai ser exigido; Marcar pontos de referência para que ele possa avaliar e ajustar os seus progressos; Distinguir elementos essenciais dos periféricos; Dar a possibilidade de homogeneização dos grupos através do doseamento dos esforços; Em segundo lugar, conhecer os resultados é uma forma de reforço e simultaneamente necessário para a averiguação do progresso e eficácia da aprendizagem. O adulto necessita de constante feedback, de forma a saber se vai bem, se está a atingir o que se espera dele. Assim é uma regra fundamental do ensino de adultos dar conhecimento da evolução da aprendizagem. A importância do reforço Fazer uso adequado do reforço quer positivo quer negativo. Considera-se como reforço as atitudes de aprovação, reprovação ou indiferença que o formador adopta face aos comportamentos dos seus formandos/as e que tem como objetivo a continuidade ou abandono de determinados comportamentos, por parte dos formandos. 5
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Com grupos de adultos, o reforço positivo é o único que aumenta a coesão interna do grupo. O reforço negativo implica sempre uma reacção afectiva negativa por parte dos formandos. Esta reação pode ser duradoura e provocar instabilidade no seio do grupo. Domínio dos pré-requisitos Os pré-requisitos constituem os conhecimentos prévios indispensáveis à aquisição de novos conhecimentos e têm de ser testados no início de cada sessão de formação no sentido de permitir orientar o formando/a para a continuação da aprendizagem. Estratégias pedagógicas adequadas Estruturação das tarefas e experiência É essencial fornecer aos formandos conteúdos estruturantes e formas de facilitar a organização da informação, sendo, assim, importante num primeiro momento relacionar as novas aprendizagens com o que o formando já sabe e indicar a finalidade da aprendizagem. Durante a sessão de formação é importante reagrupar o que se aprende em categorias lógicas efectuando sínteses e estabelecendo relações entre o que se aprende. A aprendizagem deve ser feita de modo progressivo do que se conhece para o desconhecido. Progressividade na dificuldade dos conteúdos A aprendizagem deve ser feita de forma estruturada mas a sua estrutura deve ser progressiva, isto é a matéria apresentada numa sequencia crescente relativamente a: Dificuldade Quantidade Estruturação Actividade Expectativa Isto é, o (a) formador/a deverá apresentar o item em quantidades inicialmente pequenas e de reduzida dificuldade, deverá apresentar estruturas lógicas simples no início, bem como dosear a quantidade de exercícios a realizar. 5
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Redundância A repetição de um comportamento ou conceito facilita a sua memorização e reprodução diminuindo o tempo de execução. A redundância para ser eficaz deve ser realizada sob formas diferentes ou em contextos novos como forma de tornar mais familiar o aprendido, enriquecer os significados e facilitar a transferência para situações novas. A redundância pode ser utilizada através do recurso a exercícios e a trabalhos de grupo, levando a que seja o próprio formando a reestruturar os conceitos aprendidos. Carateristicas da Educação de Adultos Vários autores que têm efectuado experiências com adultos defendem que a base da aprendizagem é a mesma, tanto para os adultos como para as crianças: forte motivação e muita actividade. Os adultos aprendem tanto melhor quanto menos precisarem de confiar na memória e mais recorrerem à sua própria actividade e a temas importantes para a sua vida quotidiana. Por outro lado é determinante para a assimilação de conhecimentos/comportamentos fazê-los decorrer da sua própria experiência, em vez de grandes formulações de cariz abstracto, normalmente menos aplicáveis ao quotidiano e mais afastadas do que "já sabem". Nos adultos, é menor a resistência ao fracasso, devendo haver o cuidado de criar situações de reforço positivo. Contudo, e apesar da aproximação defendida por alguns dos autores entre as aprendizagens nos adultos e em crianças, interessa realçar duas dimensões da aprendizagem que são em si distintas. Características do Adulto em Formação Sente-se pouco à vontade: Receio de vir a ser posto em causa; Antecipação do confronto Receia o fracasso, a crítica e cair no ridículo: Para se proteger não vai participar (pelo menos de início)
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Não quer expor-se para não ser corrigido em público Sente que será uma “presa fácil” per ante quadros teóricos
É a sua experiências contra os livros e modelos da moda Sedimentou as suas atitudes e convicções e não deseja mudá-las Mudar pode ser entendido como uma ameaça É pôr em causa um conforto e expor-se ao desconhecido sem garantias de que conseguirá resultados Conhece o valor do tempo e do esforço…deseja obter resultados rapidamente
Sente-se mais a vontade perante problemas concretos do que fazendo especulações abstractas Considerando este conjunto de características, o formador/a deve orientar a sua acção por princípios adequados aos adultos e às suas necessidades e expectativas. A experiência do adulto é completamente diferente da experiência da criança ou do adolescente. Por exemplo, os mais novos definem-se relatando o que fazem, para se identificarem recorrem a fontes externas. O adulto identifica-se relatando as suas experiências relacionadas com os meios a que pertence. Quando a experiência do adulto não é tida em conta ou devidamente valorizada, ele sente-se excluído e rejeitado enquanto pessoa. Assim, podem ser enunciados 6 princípios fundamentais do ensino de adultos: Métodos Ativos A redução progressiva da capacidade de memorização, que começa a fazer-se sentir a partir dos 30 anos, é um obstáculo à aprendizagem dos adultos. Assim, os meios a utilizar devem fazer apelo a múltiplos sentidos, obrigando o participante a ouvir e ver ao mesmo tempo e, sempre que possível a fazer coisas.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Adicionalmente os adultos têm geralmente um objetivo imediato ou a curto prazo quando frequentam uma acção de formação. Esperam encontrar na formação problemas e situações que estejam em ligação directa com a sua actividade profissional. Trabalhar a partir de casos reais, se possível trazidos pelos próprios participantes, exercícios concretos de aplicação e debates sobre as suas práticas permitirão melhor corresponder às suas expectativas. Individualização As estruturas biológicas e psicológicas, amadurecidas em processos complexos de influências sociais e culturais cimentadas por experiências de pequenas e grandes vitórias e derrotas a que o sujeito atribui cargas afectivas positivas e negativas produzem indivíduos "únicos", e por isso diferentes de todos os outros. Cada sujeito é uma entidade própria, individual e diferente, tem as suas habilidades, as suas capacidades, as suas motivações como tem também as suas dificuldades, dúvidas e os seus receios. Por tudo isto, cada um terá um ritmo de aprendizagem próprio, favorecido e dificultado por fatores diferentes de sujeito para sujeito. Por tudo isto, será importante que, mesmo em grupo, cada formando/a sinta que há uma resposta adequada a cada situação e que todos têm espaço e oportunidade para se exprimirem à sua maneira.
Material prático e útil As crianças têm uma capacidade espantosa para fazerem coisas sem qualquer aplicação prática. Porém, o adulto não tem essa mesma capacidade e reage mal a períodos longos de trabalho sabre questões que nada tenham a ver com os problemas do seu quotidiano. A questão "para que serve isto" está sempre na mente do adulto em formação. O factor de motivação mais importante é a certeza de que a formação corresponde a uma necessidade específica para a sua evolução profissional.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Apelo à experiência A experiência dos formandos pode funcionar positiva ou negativamente para a aprendizagem. Se o formador se limitar a ignorar que está diante de adultos, certamente com muitas experiências diferentes, que lhes proporcionam certezas mais ou menos definitivas (quase sempre definitivas), e que constituem um património de que cada um se sente orgulhoso, e que defenderá a todo o custo, vai certamente criar situações de rejeição de mensagens, de defesa face às ideias novas que quer transmitir e de agressividade por parte do grupo que se sente ameaçado e ofendido com tal sobranceria. O adulto em formação experimenta a necessidade de estabelecer ligação entre o que já sabe e o que está em vias de aprender. Se, pelo contrário o formador se mostra consciente deste fenómeno e dinamizar uma troca e confronto de experiências suscitando situações que ponham em causa a "indiscutibilidade" das opiniões e a verdade absoluta" dos princípios defendidos poderá gerar-se um ambiente muito produtivo, rico em ensinamentos, e com isso relaxar as defesas de cada um, abrindo espaços para a aprendizagem.
Prevenir o insucesso Os adultos não são muito abertos a que se lhes diga que erraram, ou que procederam mal e só aceitam isso se eles próprios o verificarem e conferirem ao formador/a autoridade para os corrigir. Esta correção deve vir em forma de "explicar como se faz", demonstrando as vantagens do novo método ou do comportamento diferente que se pretende, e nunca associando a correcção a avaliação ou a uma crítica pública dos resultados obtidos. O adulto aprende melhor em ambientes de sucesso, isto é, se lhe forem criadas condições em que se erre pouco e em que os êxitos sejam imediatamente reforçados. Dar conhecimento do resultado
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL O adulto necessita de constante feedback, de forma a saber se vai bem, se está a atingir o que se espera dele. Assim é uma regra fundamental do ensino de adultos dar conhecimento da evolução da aprendizagem. Este feedback deve ser imediato - reforçar no fim de cada tarefa - e mediato periodicamente medir a evolução do trabalho de cada um ou do grupo. A avaliação deve ser essencialmente formativa, permitindo ajustamentos e alterações da estratégia pedagógica para se alcançar os melhores resultados. Em suma, os fatores facilitadores da aprendizagem nos adultos são: Funcionalidade percebida A demonstração, através de casos práticos, metáforas e exemplos, da aplicabilidade e relevância da informação permite ao formando/a uma maior compreensão do “porquê” dessa
informação. Permite estabelecer relações com informações prévias e a atribuição de significado aos conteúdos discutidos, aumentando também a motivação para a aprendizagem. Contextualização Também a contextualização dos conteúdos se reveste de importância, permitindo compreender um maior número de variáveis implicadas na funcionalidade do assunto e estabelecer de modo mais eficaz a ligação entre a informação recebida e as experiências pessoais dos formandos. Estruturação do assunto Os conteúdos da formação devem estar organizados de forma lógica e sequencial, permitindo ao formando/as compreender o todo e as partes. A utilização de esquemas e conceitos-chave permite ao formando/a a utilização dos mesmos como informação “âncora” para atribuir significado à restante informação. Explicitação dos objetivos O conhecimento prévio dos objetivos dá ao formando/a uma maior noção da funcionalidade da informação a adquirir e permite-lhe gerir expectativas e ritmos de aprendizagem.
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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL Envolvimento nas atividades A existência de atividades e a participação activa do formando nas mesmas promove a atribuição de significado às informações, pela experimentação directa das mesmas. O envolvimento possibilita também ao formando a aplicação real dos conteúdos aprendidos, aumentando a eficácia do processo de internalização dos mesmos. A interação e a prática A discussão de assuntos e partilha de experiências fornece aos formandos pontos comuns de trabalho, maximizando a motivação pelo carácter social de aprendizagem e permitindo-lhe absorver perspectivas diferentes da sua, bem como reajustar as suas perspectivas em função do feedback dos outros. A utilização de uma pedagogia do sucesso A utilização exclusiva de reforços providencia ao formando um aumento da motivação, direccionando-o no sentido de uma aprendizagem satisfatória e participativa, evitando efeitos secundários de frustração e medo decorrentes do uso da punição. A empatia do formador A empatia emerge como factor transversal, dado que constitui a competência base para a compreensão do formando/a como indivíduo, devendo fundamentar todas as acções do formador.
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