1
LA DIVINA INSGUGLIAMBAÇÓ OU ‘COMO SE LÊ UM POEMA EM PORTUGUÊS MACARRÔNICO?’ Cesar Augusto de Oliveira Casella
“A artograffia muderna é una maniera de scrivê, chi a gentil scrive uguali come dice. Per isempio: - si a genti dice Capitó, scrive kapitó; si si dice Alengaro, si scrive Lenkaro; si si dice dice, non si dice dice, ma si dice ditche."
Juó Bananére
O Conhecimento Prévio na Leitura O que é necessário para se iniciar uma leitura? O que precisamos ativar em nossa mente para ler uma bula de remédio é o mesmo que precisamos ativar para ler um poema, e isto que ativamos para ler o poema é ainda o mesmo que precisamos ativar para a leitura de uma sentença judicial? Ler em português é o mesmo que ler em uma língua estrangeira? O que precisamos acionar para a leitura em língua materna é o mesmo que precisamos acionar para a leitura em outra língua? Em que influi a proximidade desta segunda língua com a nossa materna? Qual a diferença de se ler em português ou se ler em uma língua que intermedeia duas outras? Ângela Kleiman explica que a leitura é um processo interativo, um intervir de vários fatores individuais, inconscientes e conscientes, que nos fazem compreender um texto escrito. A compreensão de um texto envolve o entendimento gramatical de palavras e frases, o entendimento dos argumentos, das motivações e intenções inerentes ao próprio texto e ao autor, envolve o entendimento do contexto e do referido. Ou seja, a compreensão de textos envolve processos cognitivos múltiplos. E aqui, texto é tanto a bula de remédio quanto a cartilha técnica ou o poema. E tanto faz em que língua seja. O conhecimento prévio é o nosso repertório, os nossos conhecimentos adquiridos e que fazem parte de nossa memória e inteligência e que utilizamos quando necessários na leitura. O conhecimento lingüístico é o básico dos conhecimentos prévios de leitura, é o falar uma língua desde nascença, é o conhecimento de uso da língua nativa que cada indivíduo tem. Se falamos melhor o português do que outra língua, leremos melhor em português do que em outra língua. No conhecimento lingüístico é que entra o saber uma língua estrangeira, e este conhecimento será graduado conforme a extensão do entendimento que o individuo tem desta outra língua. Quando mais souber esta outra língua, melhor funcionará o seu conhecimento quando da leitura. O conhecimento textual diz respeito ao conhecimento dos tipos de textos existentes, de suas estruturas e tipos de discurso, e de seus usos, o que faz uma homilia diferente de um poema e um poema diferente de um despacho jurídico, formalmente falando.
2 O conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo trata-se de nosso embasamento cultural, dos conhecimentos que vamos acumulando no cotidiano, nas nossas experiências, vivências e aprendizagens. Se sabemos que Juó Bananére é um poeta pré-modernista, brasileiro, satírico, praticamente ignorado e esquecido pela crítica, de uma estética do falar paródico e macarrônico, leremos tendo estas informações ativadas na mente e isto interferirá na leitura. A leitura é um processamento onde os diversos conhecimentos prévios atuam concomitantemente, esforçando-se, revezando-se, para trazer-nos o entendimento do texto. A ativação do conhecimento prévio é essencial à compreensão do texto, pois são os conhecimentos do leitor que lhe permitem fazer as inferências necessárias para dar coesão à leitura. Se leio um poema de Juó Bananére em seu ítalo-português, o leio porque sei português, entendo ao menos alguma coisa de italiano, sei o que se espera seja a linguagem caricatural de um italiano imigrante no inicio do século passado no Brasil, reconheço sua forma poética e ativo meus conhecimentos enciclopédicos sobre o autor, sobre poesia, sobre historia, sobre o tema de que trata o poema.
O Poema MIGNA TERRA (Juó Bananére) Migna terra tê parmeras, Che ganta inzima o sabiá, As aves che stó aqui, Tambê tuttos sabi gorgeá.
Os rios lá sô maise grandi Dus rio di tuttas naçó; I os matto si perdi di vista, Nu meio da imensidó.
A abobora celestia tambê, Chi tê lá na mia terra, Tê moltos millió di strella Chi non tê na Ingraterra.
Na migna terra tê parmeras, Dove ganta a galligna dangolla; Na migna terra tê o Vapr’elli, Chi só anda di gartolla.
O Autor Juó Bananére é o pseudônimo literário do engenheiro, poeta e jornalista paulista Alexandre Ribeiro Marcondes Machado. Nascido em Pindamonhangaba, morou em Araraquara e Campinas durante a infância e estudou em São Paulo, na Faculdade Politécnica da USP. Ou seja, um grande conhecedor do interior de São Paulo de sua época. Como engenheiro deixou obra de arquitetura imponente, mas pouco original, segundo o pesquisador Mario Carelli. Como jornalista, escreveu artigos para o Estado de São Paulo, e crônicas irreverentes para O Pirralho, o tablóide modernista de Oswald de Andrade. Como poeta criou versos paródicos da produção de poetas laureados e famosos tais como Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Luís de Camões. Também atazanou a vida de políticos e poderosos de sua época, como o então prefeito Washington Luis e o marechal Hermes da Fonseca. Juó Bananére é um espalhafatoso personagem ítalo-paulistano, morador do ‘Abax’o Pigues’, como era conhecido o bairro do Bexiga e suas redondezas no início do
3 século passado, e que possui um falar todo particular, numa mistura de português e italiano feita com rara maestria, que parodiava a fala inculta da primeira leva de imigrantes italianos que ocuparam os bairros do Brás, Barra Funda, Bexiga e Bom Retiro, em São Paulo. Como bem sinaliza Cristiana Fonseca, a principal fonte de inspiração de Alexandre Machado estava nas ruas, e era para essas mesmas ruas de uma São Paulo pré-modernista que retornava a obra pronta, causando um irrefutável sucesso de época, tendo em vista as repercussões em textos de outros autores e relatos de pesquisadores.
Objetivos e Expectativas de Leitura Posto o poema, ativados os conhecimentos prévios de leitura, poderemos dele nos aproximar de outras formas e fazermos outras perguntas. Por que ler um poema ? O que se pode encontrar em um poema ? E por quê, dentre inúmeros poetas, ler Bananére? Ângela Kleiman cita Virgínia Woolf para enfatizar o individual na leitura, para lembrar-nos que é o leitor, e talvez deva ser mesmo só o leitor, que determina seus objetivos e propósitos de leitura. Mas há um objetivo básico e comum em qualquer leitura, seja uma bula de remédio, seja um poema, esteja em português ou esteja em italiano, ou mesmo numa linguagem macarrônica, e este objetivo é a coerência do texto. A compreensão, o esforço para recriar o sentido do texto, para ler o que foi escrito, pode ser descrito como um esforço inconsciente na busca da coerência do texto. Estabelecer objetivos e propósitos de leitura é um caminho de facilitação da busca da coesão, tanto quanto é a ativação de nosso conhecimento prévio relevante para o assunto do texto. Ter um objetivo de leitura melhora nossa capacidade de processamento. Formular hipóteses é outra atividade relevante para a compreensão de um texto escrito. Ao formular e testar suas hipóteses de leitura o indivíduo consegue se aperceber melhor do entorno do tópico, do entorno do tema, consegue reconhecer e recolher peças importantes para o estabelecimento do entendimento do assunto tratado no texto. É um modo de estruturar a leitura. Lemos porque entendendo o texto entendemos o assunto e entendendo o assunto acumulamos mais conhecimento para entendermos o mundo. Lemos por prazer. Lemos por obrigação profissional ou estudantil. Lemos para nos reconhecermos ou para nos afastarmos de nós mesmos. Lemos para confirmar nossas expectativas de mundo ou para ampliá-las. Escolher um autor faz parte também, de certo modo, dos objetivos traçados, do interesse que nos levou a sua leitura. Faz parte do processo de confirmar ou ampliar o nosso conhecimento. Faz parte também da verificação da impressão que temos sobre ele, da certificação do que pensávamos à priori sobre ele e sobre o que ele deveria escrever.
Estratégias de Processamento de Texto Há dois níveis de estratégias ativadas para o entendimento do texto. As cognitivas, as automáticas, que levam o leitor a perceber as marcas formais que ligam as instâncias do texto, as marcas contíguas da microestrutura, os dêiticos, os pronomes, as
4 repetições, a coerência local, e as marcas descontínuas da macroestrutura, os parágrafos, o tema, a coerência global. Quando as ligações de instância temática ou as articulações estruturais não estão explicitadas, seja por qual for o motivo, entra em cena as estratégias metacognitivas, isto é, faz-se necessário que o leitor desautomatize suas estratégias cognitivas e implemente o controle consciente sobre o processamento lingüístico. Faz-se necessário que o leitor controle e reja a leitura. A materialização das intenções do autor, do que ele pensou e quis escrever, se dá através de elementos lingüísticos e gráficos, e cabe ao leitor a recuperação dessas intenções através do formal, do escrito. Para este processo atuam os elementos lingüísticos, como a coesão e a estruturação do texto, e os extralingüísticos, como os conhecimentos prévios e o estabelecimento de objetivos. Ângela Kleiman quando trata 1[6] da coesão e da estrutura do texto explica que o entendimento de ambos são processos de natureza inconsciente, automáticos, pelos quais o leitor interpreta as marcas formais do texto. A coesão é o conjunto de elementos que relacionam as diversas partes do texto, são ligações que trazem tanto um sentido local quanto um sentido global para o texto. A estrutura do texto diz respeito tanto à microestrutura quanto à macroestrutura, ao formato local e global do texto. A capacidade de estabelecer objetivos é uma capacidade veiculada à estratégia metacognitiva, é uma capacidade de controlar e regular o próprio conhecimento, portanto é uma estratégia avançada em termos da compreensão. Formular hipóteses também está veiculada à estratégia metacognitiva.
Interação na Leitura de Textos O texto tem valor interacional. Ingedore Koch sintetiza em três principais as formas de conceber a linguagem humana: Como representação, como espelho do mundo e do pensamento. Como ferramenta, instrumento, de comunicação. Como forma, lugar, de interação. E onde se encaixa o texto dentro destas concepções de linguagem ? Como representação ? Talvez em parte, se levarmos em conta que o autor se exprime para representar o seu pensamento e/ou o seu sentimento. Como comunicação ? Talvez comunicar seja tão inerente à escrita que não se possa separá-los, isto é, comunicar é de alguma forma uma parte do escrever. Como interação ? Não há como restar dúvida, e talvez esteja aí a importância maior de escrever, buscar um lugar de interação, um modo de coexistir, de interagir, de discutir, de aprender e ensinar. Ou até, se estivermos falando no âmbito da poesia, um modo de buscar estar no mundo com consciência poética. Angela Kleiman define a atividade de leitura como uma interação a distância entre leitor e autor, via texto. Exemplifica as diferenciações entre os tipos de texto: o científico, o de propaganda, o poético, segundo se depreende das pistas textuais de autoria. As pistas textuais são as marcas formais deixadas pelo autor e que permitem a reconstrução do caminho que ele percorreu quando da escrita. São pistas textuais: As marcas modalizadoras, por onde o autor marca seu grau de comprometimento com o que escreve. Como no título que já satiriza um outro poema, e dá a certeza que o tom será de comédia. As marcas de posicionamento, por exemplo, a mistura de idiomas que caracteriza o nosso autor.
5 As marcas temáticas, já que o autor escolhe escrever sobre o que domina. Só Bananére poderia escrever sobre a cartola do respeitado professor Spenser Vampré, parodiando um poema emblemático da própria brasilidade e um autor tido como clássico, Gonçalves Dias, misturando duas línguas, criando um caldo de sabor forte e inconfundível. O texto, no conceber de Eco, está entremeado de espaços brancos, de interstícios a serem preenchidos, e o autor prevê estes brancos e lacunas para serem reconhecidos, e serem preenchidos pelo leitor. O texto quer deixar ao leitor a iniciativa interpretativa, embora costume só poder ser interpretado seguindo uma margem suficiente demarcada. Todo texto precisa que o leitor o ajude a funcionar Podemos depreender desta concepção a importância do leitor na interpretação do texto, na relação de interação proposta pelo autor e materializada no texto. E esta importância, ou ao menos a relevância do leitor, que então perde a pecha de mero receptor, cresce com o crescimento da capacidade de leitura crítica. A capacidade de uma leitura crítica está intimamente veiculada à capacidade de percepção das marcas de autoria de um texto, à capacidade de análise destas marcas formais, à reconstrução da intenção argumentativa do autor, às estratégias metacognitivas de interpretação de texto. Uma leitura crítica se faz com a passagem pelos estágios que vão desde a aprendizagem da decodificação, da alfabetização, até o entendimento de que é possível trazer à tona e reger consciente os processos de entendimento da leitura.
As Parmeras de Migna Terra “‘Migna Terra’ não é apenas uma paródia cômica do poema de Gonçalves Dias, mas um canto paralelo, pois ao mesmo tempo em que ironiza seus aspectos ufanistas e patrioteiros, presentifica o tema, atualizando-o para uma nova situação. Através do conflito operativo de dois idiomas, o italiano e o português, e sua resultante na invenção de uma nova linguagem, traz à tona um momento histórico diverso daquele cantado pelo poema romântico”, analisa Cristiana Fonseca]. Além deste aspecto histórico e social, e para além também do aspecto literário e estético, podemos trabalhar o imbróglio de idiomas de que se serve o autor. A oralidade subjacente à escrita de Juó é evidente. Pode-se ouvir um imigrante italiano que veio, ignorante e esperançoso, trabalhar braçalmente no Brasil, ou melhor, nas lavouras de café do interior paulista, território bem conhecido pelo engenheiro Alexandre Machado, e que por um motivo ou outro, acabou encravado em um bairro de imigração italiana na cidade de São Paulo. Temos a mistura explicita e gráfica dos idiomas em galligna , em dove, em tuttas, em moltos. Temos índices da suposta ignorância, atribuída aos imigrantes ítalo-paulistanos, em abobora celestia substituindo abobada celestial, em maise grandi no lugar de maior. Temos aspectos ligados a sonoridade em abobora, que não possui o acento para que haja uma maior aproximação com o idioma italiano, em tê e em tambê, quando o final é alterado para se aproximar foneticamente do linguajar italianado. Termos como sogramigna , galligna dangolla , povolada, insgugliambaçó , indisgraziado , otraveiz , que abundam na obra do autor, e nomes próprios como Vapr’elli , Oxinton, Garonello, sentenças como Migna terra tê parmeras,/ Che ganta inzima o sabiá onde se parodia Gonçalves Dias, ou Xiguê, xiguaste ! Vigna afatigada i triste / I triste e afatigada io vigna onde se parodia Olavo Bilac, têm em sua composição de sentido não só a sonoridade e a referência lingüística, não só signos, mas têm
6 também, permeando, entrelaçando e enredando a significação, aspectos como o humor, a sátira e a paródia, a história da política paulista do início do século XX, a imigração italiana, a mistura de duas línguas. Bananére opera a linguagem, misturando o léxico, confundindo a sintaxe, ludibriando a semântica, tirando a solenidade da poesia, no intuito de provocar uma espécie de quebra ideacional da própria linguagem, e com isto provocando o leitor e o obrigando a um aperfeiçoamento de suas reflexões e conceitos sobre a língua e o seu uso. E de certo modo, provocando reflexões sobre a linguagem intermediária, oral, que transportou e recriou na escrita. É claro que todo este trabalho de leitura e reflexão é vivenciado individualmente por cada leitor, cognitivamente e metacognitivamente, e não me pareceu ser possível tirar conclusões que não fossem as de um leitor, dentre todos os possíveis. Mas por outro lado, correndo o risco, não se pode negar a importância de um autor que criou um sistema de linguagem embasado em dois idiomas, e tão importante quanto, embasado numa mescla do oral com o literário. E em não se negando esta importância, pareceu-me vital trazer a tona aspectos, mesmo que sem férrea formulação teórica, desta poesia e desta linguagem esculhambada na aparência, porém firmemente pensada e fincada na composição.
CÍRGOLO VIZIOZO
Prú Maxado di Assizi O Hermeze un di aparlô _ Se io éra aquilla rosa che está pindurada Nu gabello da mia anamurada, Uh! che bô!
I o gaxorigno pigô di dizê: _ Se io fossi o Piedadô, Era molto maise bó! Ma o Garonello disse tambê Triste come un gabirú: _ Che bô si io fosse o Dudú!
A rosa tambê scramô, Xuráno come um bizerigno: _ Se io éra aquillo gaxorigno!... Uh! che brutta cavaçó!
O GORVO I O RAPOSO
Fabula di Lafontana Traduçó futuriste MESTRE gorvo n'un gaglio sintadigno, Tenha nu bico un furmaggio; Mestre rapozo sintino u xirigno, Aparlô nistu linguagio: _ Eh! dottore Corvo, bondí! Come stá o signore, stá bonzigno?
Come o signore é bunitigno! Té parece uma giurití Aparláno a virdade pura, O xirósa griatura! Si o vostro linguagio É uguali co vostro prumagio,
7 Giuro per Zan Biniditto Che in tutto isto distritto Non tê ôtro passarigno Che segia maise bunitigno. O gorvo ficô tô inxado con istas adulaçô, Chi até parecia o Rodorfo No tempo da intervençó. I pr'a amustrá o linguagio Abri os brutto bicô, I dixó gaí o furmagio Chi o Raposo logo pigô
I dissi: Sô gorvo, o signore é un goió Piore do Gapitó! Ma aprenda bê ista liçó, I non credite maise in dulaçó. I assi dizéno fui s'imbora, Se rino do gorvo gaipóra. O Gorvo, danado da a vida, I co logro cre illi livô, Pigô um pidaço di górda
I s'inforcô.
MIGNA TERRA
MIGNA terra tê parmeras, Che ganta inzima o sabiá. As aves che stó aqui, Tembê tuttos sabi gorgeá. A abobora celestia tambê, Che tê lá na mia terra, Tê moltos millió di strella Che non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi Dus rios di tuttas naçó; I os matto si perde di vista, Nu meio da imensidó. Na migna terra tê parmeras Dove ganta a galigna dangola; Na migna terra tê o Vap'relli, Chi só anda di gartolla.
VERSIGNOS
QUANDO vejo uma minina, Fico logo paxonado! Dô una ogliada p'ra ella, I vô saino di lado. *** Fui andáno pr'un gamigno, incontré un piga-pau. Fui guspí nu passarigno I guspi no Venceslau. *** Barbuleta di aza adurada, Minina de migna paxó!
Agiugué nu giacaré, I perdi meus duzentó! *** 0 Hermeze tê xirigno, 0 ratto morto tambê! 0 Capitó tê caguira, 0 migno saló tambê. *** Atiré un lemó verdi, Lá na torre du Belê; Dê nu gravo, dê na rosa, I no Capitó tambê.
8 ***
***
Lá vê a lua surgino, Uguali c'oa pomarolla; Si vucê, non gazá cumigo, Ti batto c'oa gaçarola.
Quando Gristo fiz o mondo, Uguali come una bolla, 0 Spensero Vapr'elli Andava giá de gartolla.
***
***
Genti veglia nin tê denti Griança tambê non tê; 0 Capitó non tê dignêro lo non tegno tambê.
Piga-pau é passarigno, 0 papagallo tambê. Tico-tico non tê denti, Migna avó tambê non tê.
AMORE CO AMORE SI PAGA
Pra Migna Anamurada XINGUÊ, xisgaste! Vigna afatigada i triste I tirste i afatigada io vigna; Tu tigna a arma povolada di sogno I a arma povolada di sogno io tigna.
Una veiz ti begiê a linda mó, I a migna tambê vucê begió. Vucê mi apiso nu pé, e io non pisé no da signora. Moltos abbracio mi deu vucê, Moltos abbracio io tambê ti dê. U fóra vucê mi deu, e io tambê ti dê u fóra.
Ti amê, m'amasti! Bunitigno io éra I tu tambê era bunitigna; Tu tigna uma garigna de féra E io di féra tigna uma garigna.
SONETTO FUTURISTE
Pra Marietta TEGNO una brutta paxó, P'rus suos gabello gôr di banana, I p'ros suos zoglios uguali dos lampió La da igregia di Santanna. Ê mesimo una perdiçó, Ista bunita intaliana, Che faiz alembrá os gagnó Da guerre tripolitana. Uguali d'un carrapatto.
Tê uns lindo pesigno Uguali cos passarigno, Chi stó avuáno nu matto; I inzima da gara della Té una pinta amarella,
9
O LOBO I O GORDERIGNO
Fabula di Lafontana Traduçó Du Bananére UN dia n'un ribeiró, Chi tê lá nu Billezinho, Bebia certa casió Un bunito gorderinho. Abebia o gorderigno, Chetigno come un Jurití , Quano du matto vizigno Un brutto lobo saì O lobo assí che inxergô O pobre gordêro bibeno, Os zoglios arrigalô I lógo giá fui dizeno: _ Olá! ó sô gargamano! Intó vucê non stá veno, Che vucê mi stá sujano A agua che io stô bibeno!? _ Ista é una brutta galunia Che o signore stá livantáno! Vamos xamá as tistimunia, Foi o gordêro aparlano... Nos vê intô Incelencia, Che du lado d'imbaixo stó io I che nessum ribêro ne rio, Non górre nunca p'ra cima?
Fui vucê chi a simana passada Andó dizeno qui io sô un pau d'agua. _ Mio Deuse! che farsidade! Che genti maise mentirosa, Come cuntá istas prosa, Si tegno seis dia d'indade?! _ Si non fui vucê chi aparlô, Fui un molto apparicido, Chi tambê tigna o pello cumprido I di certo é tuo ermô. _ Giuro, ó inlustre amigo, Che isto tambê é invençó! Perché é verdado o che digno, Che nunca tive un ermô. _ pois se non fui tuo ermó, Cabemos con ista mixida; Fui di certo tuo avó Che mexê c'oa migna vida. I avendo acussi parlato, Apigó nu gorderigno, Carregó illo p'ru matto I comeu illo intirigno. MORALE: O que vale nista vida é o muque!
_ Eh! non quero sabê di nada! Si vucê non sugió a agua,
A GARIBÚ
P'rú Dudu (Ganço) UNA lenda du Rio, Cuntá mediatamenti! O amor cua a Nairia Tigno co Presidenti. O pobre Maresciallo,
Con a gara di gavallo, Andava pelas ruas sê fi, Assuspirano assí. Ó mia Garibú! Migno fijò co angú!
10 Mi dá tuo goraçó, Ghe io tambe ti dó Migna Garibú.
Che io ê di gazá Só c'oa Garibú. Até a porta du palazzo, Insgugliambáro c'oelli I butáro ainda a sua gabeza, A gartolla do Vapr'elli. Ma nista mesima casió, Um milagre tive intó: Che o Maresciallo, inquanto xurava, A gartolla mormorava:
Un dia num brutto giantáro, Che tive in Gaxambú O Hermeze apidi a mó Da su Garibú Uvisi un gritto forte: Oglia o goió sê sorte! I Garibú, a pobre infilizi Xóra, inguanto illo dizi:
Ó dona Garibú! Zoglios di boi zebú! O Dudú tê urucubaca Chi dá na genti Ó Garibú.
Ó mia Garibú! Zoglios di boi zebú! Podi insgugliambá,
O STUDENTI DU BÓ RETIRO
POISIA PATRIOTICA (Premiata c'oa medaglia di pratina na insposiçó da Xéca-Slovaca i c'oa medaglia di brigliantina na sposiçó internazionale da Varzea du Carmo).
ANTIGAMENTE a scuola era rizogna e franga; Du veglio professora a brutta barba branga, Apparecia un cavagnac da relia, Che pugna rispetto inzima a saparia. O maestro éra um veglio bunitigno, I a scuóla era no Bellezigno, Di tarde inveiz, quano cavaba a scuola, Marcáno o passo i abaténo a sola, Tutto pissoalo iva saino in ligna, Uguali como un bando di pombigna. Ma assi chi a genti pigliava o portó, Incominciava a insgugliambaçó; Tuttos pissoalo intó adisparava, I iva mexeno c'oa genti chi passava. *** Oggi inveiz stá tutto mudado! O maestro é um uomo indisgraziado, Che o pissoalo stá molto chétamente E illo giá quére dá na gente. Inveiz u ndí intrô na scuóla un rapazigno
11 Co typio uguali d'un intalianigno, O perfilo inergico i o visagio bello. Come a virgia du pittore Rafaello. Stava vistido di lutto acarregado, Du páio che murreu inforgado. O maestro xamô elli un dia, I priguntô: - Vuc sabe giograffia? - Come nó!? Se molto bê si signore, Quale é o maiore distritto di Zan Baolo? - O maiore distritto di Zan Baolo, O maise bello e ch'io maise dimiro É o Bó Ritiro! O maestro furioso di indignaçó, Batte con nergia u pé nu chó, I gritta tutto virmeligno: - O migliore distritto é o Billezigno. Ma u aguia do piqueno inveiz, C'oa brutta carma dissa otraveis: - O distritto che io maise dimiro, É o Bó Ritiro! O maestro, viremglio di indignaçó, Alivantô da mesa come un furacó, I pigano un mappa du Braz Disse: Mostre o Bó Ritiro aqui si fô capaiz! Alóra o piqueno tambê si alevantô I baténo a mon inzima o goraçó, Disse: - O BÓ RITIRO STÁ AQUI!
ELLI
Sonetto Futuriste - P'ru Hermeze Io sugné certa notte Che vi un brutto cumbatto Nu meio du matto, Che tenia surdado piore dos gafagnotte. I Elle, o ermó du Giangotte, Bunito come un indisgraziato, Iva na frente du cumbatto, Amatáno os nimighio a xicotte.
Tuttos munno indisgambava, Quando o migno Dudú passava Uguali d'un Napoleó. Disposa una purçó de angio pigáro elli, Butáro ma gartóla du Vapr'elli, I liváro p'ru ceu come un rujó.
12
SOGRAMIGNA
SOGRAMIGNA infernale chi murré Vintes quetro anno maise tardi che devia, Fique aí a vita intêra e maise un dia, Che io no tegno sodades di vucê. Nu doce stante che vucê murrê Tive tamagnho attaque de legira Che quasi, quasi, murri aquillo dia, Co allegró chi apagné di ti perdê.
I oggi cuntento come un boi di carro, I mais libero d'un passarigno, Passo a vita pitáno o meu cigarro, I maginando chi aóra insatamente Tu stá interrada até o piscocigno Dentro d'un brutto taxo di agua quente.
O GORVO
P'ru Raule A NOTTE stava sombria, I tenia a ventania, Chi assuprava nu terrêro Come o folli du ferrêro. Io estava c'un brutto medó Lá dentro du migno saló, Quano a gianella si abri I non s'imagine o ch'io vi! Un brutto gorvo chi entrô, I mesimo na gabeza mi assentô! I disposa di pensá un pochigno, Mi dissi di vagarigno: _ Come vá sô giurnaliste? Vucê apparece chi stá triste?
_ Nos signore, sô dottore... Io stô c'un medo do signore _ Non tegna medo, Bananére, Che io non sô disordiére! _ Poise intó desça di lá I vamos acunversá. Ma assí che illo descê I p'ra gara delli io ogliê O Raule ariconecí, I disse p'ra elli assí: - Boa noute Raule, come vá!
Intó vuce come stá Vendosi adiscobrido o rapaise, Abatê as aza, avuô, i disse: nunga maise!
13
AS POMBIGNA
P'ru aviadore chi pigó o tombo VAI a primiéra pombigna dispertada, I maise otra vai disposa da primiéra; I otra maise, i maise otra, i assi dista maniera, Vai s'imbota tutta pombarada. Pássano fóra o dí i a tardi intêra, Catáno as formiguigna ingoppa a strada; Ma quano vê a notte indisgraziada, Vorta tuttos in bandos, in lilêra. Assi tambê o Cicero avua, Sobí nu spaço, molto alê da lua, Fica piqueno uguali d'un sabiá. Ma tuttos dia avua, allegre, os pombo!... Inveis chi o Muque, desdi aquilio tombo, nunga maisa quiz sabe di avuá.
UVI STRELLA
CHE scuitá strella, né meia strella! Você stá maluco! e io ti diró intanto, Chi p'ra iscuitalas montas veiz livanto, i vô dá una spiada na gianella. I passo as notte acunversáno c'oella, Inguanto cha as otra lá d'un canto St'o mi spiano. I o sol como um briglianto Nasce. Ogliu p'ru çeu: _Cadê strella?! Direis intó: _O' migno inlustre amigo! O chi é chi as strallas tidizia Quano illas viéro acunversá contigo? E io ti diró: _Studi p'ra intendela, Pois só chi giá studô Astrolomia, É capaiz de intendê istas strella.
14
BOANOTTE RAULE
BOANOTTE Raule! Io vô s'imbóra! Boanotte, boanotte, ó Bananére... Boanotte, Raul! é molto tardi... Ma non mi aperti a mó dista maniéra.
Ainda é notte Vamos durmi raule! Stá fazéno un frio indisgraziato. Vamos intr'a imbaixo os gobertore, I durmi como dois garrapato.
Boanotte io digo i tu mi dize, boanotte! Ma non basta só isso non signore... Raul! mi impresta duzentó p'ru bondi, I non scugliamba dispois faccia o fvaore.
A froxa luiz disto safado gaiz Giá stá só na ponta du biquigno! Stá tó scuro, Raule, stá tó scuro, Ch'io giá non vegio né teu golarigno.
Raule iscuita! um gallo alli na squina, Cantô un canto mesimo agurignha. Vucê diz chi é mentira?... intó é mesimo... Chi cantô fui di certo una galligna. Si lá na praça surgí o Bascualino, Cumprido, uguali d'una assombraçó, Intò dirê tremendo de paura: _ Guardimi Deus das paulificaçó!
Ai! conta a storia du "meu boi morrêu", Dá risada, sospira, ganta, xóra... Raule, Raule, é notte ainda; Che s'importa, Raule!... Non vô s'imbora!... Botti ingoppa di mim teu sopratuto Come a cappa d'un tirguri ô d'un garro, I dexami durmi amurmun'ano: _ Boanotte Raule! Mi dá un cigarro!?
SUNETTO CRASSICO
SETTE anno di pastore, Giacó servia Labó, Padre da Rafaella, serrana bella, Ma non servia o pai, chi illo non era trosa nó! Servia a Rafaella p'ra si gazá c'oella. I os dia, na esperanza di un dia só, Apassava spiano na gianella; Ma o paio, fugindo da gumbinaçó, Deu a Lia inveiz da Raffaela. Quando Giacó adiscobri o ingano, E che tigna gaida na sparrella, Ficô c'un brutto d'un garó di arara I incominció di servi otros sette anno dizeno: si o Labó non fossi o pai della Io pigava elli i lí quibrava a gara.
15
O GAZÚA I A POLIZIA
NU arto du Garvaglio tenia uma cruiz, I dindurado ingoppa, o corpo di Jesuis. Notte di tempestá. Nuvolas gôr di garvô, Corria pelo çéu comu um bando di leitô. A lua, redonda come uma melanzia I branga come um biglieto di lotteria, Derramava na terra uma iluminaçó Migliore du gaiz i migliore du lampió. Du Braiz a Barafunda, do O' ao Billezigno, Non si iscuitava né un barulignho. Jesuis, prigado na cruiz stava spirano I os corvo imbaxo stava spiano *** Numa óra chi stava mesimo a scuridó, O Gristo iscuitó un baruligno, i intó Oglió i viu surgi d'indo glaró da lua, C'uma lamparina na mó, o ju'o Gazua. Tó sereno i tó chetigno, apagô a luiz I indisgambô&ldots; Ma n'istu momento inaro, Pareceu na frenti delli o Lacarato i gridó: In mome da legge! Steje preso! O Gazúa fiz um gettigno di disperso, I aparlô: Passi di largo cumpagnèro, Che io sô amigo do Dudú i do Pignêro. _ Non si mexa dai sinó ti mato! O Gazúa, tremendo di paura, dissi: Dottore! Che disegia di mim? Chigné o signore? _ O Lacarato, subrindiligato lá nu Bó Ritiro I a maise di un meiz che io ando dano un giro P'ra pigá tuttos ladró d'ingoppa a zona. _ Iscuta sô Lacarato! Per la Madona! Mi dexa eu i s'imbora, faccia o favore Che io li dó um montó di prata p'ru signore. O Lacarato intó pegò di dá risada I disse: _ Guarde istu dignêro, gamarada, Che o dignêro rubado pertence p'ru ladró, Gome o figlio p'ru paio, i o paio p'ru av.'o. Guardi isto dignêro bê. dentro da argibêra Chi é p'ra pruvá chi é vucê o attor da robagliêra
16 Tu á di i p'ru xadrez sô indisgraziato! E io ê do mandá tirá o tuo retrato, Butá imbaxo: - Istu ritrato é d'un ladró I mandá pindurá in tuttas staçó. E di dá ordi p'rus surdado ti scondê, Chi é p'ru Giurio non podê ti bissorvê. I aóro va chéto, giunto co surdato, Che io vu pricurá aqui p'ra istu lado, Si incontro ôtro chi intrô na nigociata. *** Dissi istu i saiu pricurá o Xico Prata. *** O Gazúa assi cha xigó na prisó, Pigô una corda e s'inforcô.
A GREAÇÓ DA IGLIA FRANCESCA
O Giangotte, per arcugna antiga o Tabellió, Ermó du Maresciallo, o nostro Napoleó, Tive un dia un pensamento novo; Infiô an mó nu borso du Zé povo, Tirô di lá tuttos aramo chi incontrô, Cumprô una iglia i deu p'ru suo ermó, I assi dista maniéra molto fresca, Fui che illo fiz a tale iglia Francesca. Disposa, tirâno da gabeza um xapelló Un segolo mais veglio du migna avó, Agiugô inzima a iglia, I fiz un cielo uguali d'una meraviglia. In seguida pigô a dos Ciccio, goitadigno! Rancô d'ingoppa a gabeza de'elli tuttos gabelligno. Spagliô ingoppa a iglia molto bê spagliato, I dista maniéra illo criô o matto. Pigô disposa u Amanc,o co xalé , I fiz assi o alifanto, o porco, o giacaré, O mastrodonto i tutta bixarada. Prigáno disposa una brutta guspagliada Inzima a iglia, o guspo assi che caiu Si transfurmó i fiz o Ceano e fiz o rio. Aóra s o farta o uómo, disse elle. I pigô intô a gartolla du Vapr'elli, Butô dentro un giacá di estupideiz Amassô deize o vinte veiz, Misturô tambê nu meio un papagallo, I fiz dista maniéra u Maresciallo. Inda fartava una cosa certamente!
17 Una molhére p'ro inlustro presidente. Pigô intó una bunequigna tagalella, Assuprô o sopro da vita insima della, Intregô p'ru suo ermó I lacô as mó, Disposa, arubô, arubô, arubô, E fui otra veis sê tabellió.
OS MEUS OTTO ANNO
O Chi sodades che io tegno D'aquillo gustoso tempigno, C'io stava o tempo intirigno Brincando c'oas mulecada. Che brutta insgugliambaçó, Che troça, che bringadêra, Imbaxo das bananêra, Na sombra dus bambuzá. Che sbornia, che pagodêra, Che pandiga che arrelía, a genti sempre afazia No largo d'Abaxo o Piques. Passava os dia i as notte Brincando di scondi-scondi, I atrepáno nus bondi, Bulino c'os conduttore. Deitava sempre di notte, I alivantava cidigno. uguali d'un passarigno, Allegro i cuntento da vita. Dibia un caffé ligêro, Pigava a penna i o tintêro Iva curréno p'ra scuóla. Na scuóla io non ligava! nunga prestava tençó, Né nunga sapia a liçó. O professore, furioso, C'oa vadiação ch'io faceva, Mi dava discompostura; Ma io era garadura i non ligava p'ra elli. Inveiz di afazê a liçó, Passava a aula intirigna, Fazéno i giogáno boligna Ingoppa a gabeza dos ôtro. O professore gridava, Mi dava un puxó de oreglio,
I mi butava di gioeglio inzima d'un grão di milio. Di tardi xigava in gaza, Comia come un danato, Puxava u rabbo du gatto, Giudiava du gaxorigno, Dulia co'a guzignêra, Brigava c'oa migna ermá; I migna mái p'rá cabá, Mi dava una brutta sova. Na rua, na visinhança, Io era mesmo un castigo! Ninguê puteava commigo! Bulia con chi passaga, Quebrava tuttas vidraça, I giunto co Bascualino Rubava nus bottechino, A aranxia pera du Rio. Viva amuntado nus muro, Trepado nas larangiêra; I sempre ista bringadéra Cabava n'un brutto tombo. Mas io éra incorrigive, I logo nu otro dia, Ricominciava a relia, Gaia traveis di novo! A migna gaza vivia Xiingna di genti, assim!!... Che iva dá parti di mim. Sembrava c'un gabinetto Di quexa i regramaçó. Mei páio, pobre goitado, Vivia atrapagliado P'ra si liverá dos quexozo.
18 I assi di relia in relia, Passê tutta infança migna, A migna infança intirigna. Che tempo mais gotuba,
Che brutta insgugliambaçó, Che troça, che bringadêra, Imbaxo das bananêra, Na sombra dus bambuzá!
O DUDÚ
C'oa cabocla do caxangá FAIZE auattro anno inzatamente migna genti Che subi p'ra presidenti A xirosa griatura, Tuttos munno ariclamáro i prutestaro Ma nu fin tuttos cançáro I subi u "garadura". I o garadura subi I di lá non quiz sai. *** O Ri Barboza che non é di bringadêra I che non pega na xalêra Nê si vende pur dignêro Fiz un discorso la inzima du Gazino I xamô elli di gretino I di gaxôrro du Pignêro. i lá chetigno ficô, Mais o Hermeze non ligô *** Vignô disposa as inleçó qui di Zan Baolo I o nimal du maresciallo Quiz fazê a tervençó; Ma o Oxinton chi non tê medo di garetta Quanno vi a cosa pretta Mando cumprá uns gagnó I o Hermeze arripiô I non fiz maise a tervençó. *** Mas o pignêro c'umas parti di valente Vignó que direttamente P'ra tumá satisfaçó! Mais o Baolista chi é un pissoalo di valôre Prigôli un contravapóre Che illo fui pará no chó.
19 Uh, che bonito tombigno! Goitado du Pentifigno. *** Dissta maniéra in tuttas parte insgugliambádo O Dudú pobri goitado Apparedia un cão sê dono. Tuttos giurnale só xamava illo di vacca Di gretino, urucubacca, Di goió, gara di mono. Imbax'o dos assubio Vivêa o Dudú nu Rio. *** Fossi na rua, nu cinema o lá na praia O Dudú livava a vaia Até si aritirá. Dista maniêra insgugliambado in tuttas parti O Dudú virô "smarti", I pigô di anamurá. Ai! ai! oglia a gara delli Parece até o Vapr'elli. *** N'un instantigno illo cavô una piquena Una lindigna murena, La d'inzima o gorcovado. Di Nairia si xamava o nomi della I come una satanella Indominô o namurado. I o Hermeze, goitadigno Gaiu come un pattigno. *** I un die si gazàro con festanza I fizéro una liança Ella o Pignêro i o maresciallo, I desdi intó o goitadigno du Brasile Apparéci un covile Di gatuno di gavallo. Goitadigna da Naçó Gaiu na bocca do lió. *** O Maresciallo c'oa Nairia i co Pignêro Asuláro cos dignêro La du Banco da Naçó I un restigno che scapô distu pissoalo
20 o ermó du Maresciallo Passô a mó, abalô! I o Brasile goitado! Ficó pilado, pilado!!...
TRISTEZZA
Gançó da morte IO dexo a vitta come um tirburêro, Chi dexa as ruas sê cavá frigueiz; Come un pobri d'un indisgraziato, Chi giá ando na Centrale arguna veiz.
Só levo una sodades: - d'una sombra Che nas notte di inverno mi cubria... Di ti - ó Joóquina, goitadigna, Che io amatê con tanta cuvardia.
Come Gristo chi fui grucificato, I assubi p'ru çêu como um rojó! Só levo uns sodade unicamente: E' du chopigno lá du Bar Baró.
Discança migna cóva lá nu Piques, N'un lugáro sulitario i trista, Imbaxo d'una cruiz, i scrivan'ella; - Fui poeta, Barbiére i giurnaliste!
SODADES DE ZAN PAOLO
TEGNO sodades dista Paulicéa, dista cidade chi tanto dimiro! Tegno sodades distu çéu azur, Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.
Andove tê tantas piquena xique, Chi a genti sê querê dá un sospiro, Quano perto per caso a genti passa, Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.
Tegno sodades dus tempo perdido Sopano xoppi uguali d'un vampiro; Tegno sodades dus begigno ardenti Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.
Tegno sodades, ai de ti - Zan Baolo! Terra chi eu vivo sempre n'un martiro, Vagabundeano come un begiaflore, Atraiz das figlia lá du Bó Ritiro.
Tegnho sodades lá da Pontigrandi, Dove di notte si vá dá un giro I dove vó spiá come n'un speglio As bellas figlia lá du Bó Ritiro.
Tegno sodades da garôa fria, Agitada co sopro du Zefiro, Quano io dormia ingopa o collo ardenti Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.
21
O VARREDORE DA RUA
- CANÇÓ C'oa musica dus Condolero do Amore TEUS oglio só pretto, pretto, Uguali da pomarolla Só maise negro i oscuro Chi o fundo da gaçarolla
Tua risada quirida E' o toque d'un violó Chi vê battê diritigno Ingoppa u meu goraçó
Pindurada na gianella Imbaixo da luiz da lua Teus zoglios vê allegrá O Varredore da rua
Quano a notte stá safada I non tê gaiz i né lua Tê a luiz do teu sorrizo O varredore da rua
Tua voiz é una canzone Ma proprio napuletana Ghí faiz a genti vibrá Uguali c'oa barbatana
Teu amore é una stella I é una lamparina Che mais miliore d'un sole Migna vita n'inlumina
I come bebe a pinguigna O pirú i a pirúa Bebi os teus gantos aór O varredore da rua
Tu é o meu begliafôre _ Un passarigno che avua _ O amor a namurada Do varredore da rua
O MOLERO, O SEU FIGLIO I O BURIGNO
Fabula di La Fontana ERA una veiz un molêro veligno, Che tigna un figlio e tigna un burigno, I chi n'un dia di prontidó, Xamô o figlio i giunto risorvêro Vendê o burro per quarquere dignero Intó pigáro o pobri ruminante, Amarráro us p'e delli c'un barbante, I gada un intó pigô d'un lado, Butáro elli nas gosta i intusiasmado, La si furo s'imbora os dois gamponio Come si u burro fossi un Sant'Antonio.
22 Un uómo chi apassava per la strada, Assurtô una brutta gargagliada I disse: _ Aposto giá dieci testó Chi sô u Hermeze co Piedadó Perché só duas aguia come esta Era gapaiz di acarregá una besta. O molero molto invergognado, Di sê co Hermeze acumparado, Disamarrô as patta du burigno, Fiz amuntá inzima u rapazigno, Butô pr'a frente u burro co rapaiz E illo fui andáno a pé atraiz. Ma non tenia andado molto adiante, Che surgi na strada treiz viajante I un dos treiz gritô indignado: Desça daí ó figlio snaturado! Chi farta ingollossal di inducaçó I amuntado inzima o marmanjó I o goitado du veligno a pé. Desça daí feiçó di giacaré! O gamponez assi gh'isto iscuitô Fiz disapiá u figlio i amuntô, Ma logo adianti surge treis piquena Bunitignas ugual da Maddalena, I una disse ista ricramaçó; _ Mio Deuse do çéu, che brutta giudiaçó! I amuntado aquillo Xipanzé, Io pobri rapazigno a pé... _ Xipanzé, migna sinhóra , é a vó! Disse furioso c'o a gomparaçó, O pobri du molero, ma disposa Rifletti i pensó migliore na cosa, I achô che illas intim tigna razô, Pigô intó u figlio i amuntô Insima da garupa du burigno, I ingontinmuô be chetto o suo camigno. Non tigna andado quasi nada, Che s'inconrosi c'una rapaziada, I un dellis fiz ista insgulhambaçó: _ Oglia che dois suggeto garadura! Illos scaxa c'a cavargadura... Quano sigá nu fin do suo gamigno, Non resta mais chi os osso du burigno. _ Che trôxa chi só io, disso o molero! Quereno acuntentá o mundo intero! Tuttavia noiz vammo sprimentá Si ninguê áxá mais o que aparlá. Descêro intó d'ingoppa du burigno, I furo andáno a pé pelo gamigno. Trinta passo talveiz nun tigna andado,
23 Chi apassáro no strada dois surdado, I undisse pr'u otro: _ O' gamarata! I' os donno a pé i u burro na frescata, Sará per acaso arguna noda nóva? Só mesimo dando nellis uns sova!... Era migliore pigá giá nu gavallo, Butalo n'un altaro i aduralo Come un Santo. Daquillas griatura, Qual dus treiz é a maior cavargadura? _ Sê duvida sô io, disse o molero, Che quero acuntentá o mundo intêro; Ma diga chi quizé, o che quisé, Chi non mi faiz andá maise di a pé, Non dô Satisfaçó mais p'ra ninguê: _ E' di afazê o che quizé afazê. _ I fiz molto bê.
O QUEXO
Traduçó du Cyrano SEU gamarada! Vucê tê un quexó Di tó ingolossale proporçó, Che stá precisáno, uguali do orçamento, Un gorte de uns ottenta o cem por cento. Robba assi gollossale, assi tamagna, Si un di gaísse inzima da Lemagna, O formidave inzercito allemó Ficaria riduzido in pó. Istu quexo é un monte! E' un barranco! Molto maise! E' proprio o Monte Branco! P'ra che presta un quexo assi maiore du ceu? Sará per amatá us filisteu? O inzima dista ponta ingolossale, Vai o signore fazê una Gatedrale? O irá butà aí arguns pulêro, I transformà o seu quexo in gallignêro? Signore! io lastimo a vostra sina, Di non podê spià una vitrina, Percé ai du vidro della, goitadigno! Vuava en maise di milles pidacigno. Cuidado gabeza, con ista carga, Sinó terás un dia sorte amarga!...
P'ra invitá qualquére disabamento, E' bó scoràlo c'uns muro di cimento. Io non cunheço! ma tarveiz o Lumbroso Conheça ôtro quexo assi tó spantoso. P'ra serví di gabide di xapéllo, E' tutto quanto tê di maise bello! Che bô p'ra pindurà inzima d'elli, A celebre gartolla du Vapr'elli! Che barbiére sinó argun gampió, Ti potrà raspà nun dia só? A vostra barba é un mattagar colosso! E' un verdadêro sertó di Matto Grosso! E' un golosso o teu quexo, ó Gamarada! Che banquetó p'r'arguns millió di ratto! E' un belvedere! _ a genti podi spià? O che sarà chi a genti vê di là? Per San Gennàro, é quexo di sobra... Apparece un repoglio ô una abobra. Si si facessi c'oelli alutteria, Aposto deize contra un, come satia A maiore lutteria du Niverso, I p'ra cabà con istus verso, Diró: _ Tuo quexo fatale, uguale d'una giaca, Sará a tua eterna urucubacca.
24
VERSOS
FICAS n'un ganto da sala P'ra fingi chi non mi vê, E io no ôtro ganto Stô fingino tambê.
Tu spia intó p'ra Maria Con ar di querê dá n'ella; P'ra evitá quarquére asnêra Si afasto i vô p'ra gianella.
Ma vucê di veiz in veiz Mi dá una brutta spiada, E io tambê ti spio Ma finjo chi non vi nada.
O firmamento st'a scuro I na rua os surdato apita, Ingualto nu ganto da sala Tu fica afazéno "fita".
Cunversas co Bascualino P'ra mi afazê a gelosia, Ma io p'ra mi vingá Cunverso tambê c'oa Maria.
Marietta non segia troxa, Non faccia fita p'ra gente, Percê vucê quêra o non quêra Io ti quero internamente.
NOTAS
ARAMO - Designação popular de dinheiro (arame). ARTINHO - Dr. Altino Arantes, ex-presidente do Estado de São Paulo ARTINO ARANTESO - Dr. Altino Arantes. ARFERES GALLIGNA - (Alferes Joao Antonio de Oliveira) Antigo comandante da escolta policial. 0 terror dos ladrões de cavalos do interior. Foi assassinado, na Capital, pela esposa e parceiros. ANTONIGNO, dottore - Dr. Antonio Naccarato. AMANÇO - Amâncio. Proprietário de grande chalé de loterias, na capital. BELÊ - 0 bairro paulista do Belém. BAR BARÓ - Popular bar (Bar Barão) situado na travessa do Comércio. "BRIOSA" - A antiga Guarda Nacional. "BANDA DO FIERAMOSCA" - Antiga banda de música, formada de italianos e descendentes de italianos. BOLIDEAMA - Teatro Politeama, na rua São João, atual avenida São João. CAPITÓ - Senador Rodolfo Miranda. CENTRALE - Estrada de Ferro Central do Brasil.
25 CÍCERO - Aviador Cicero Marques. CONVENÇÓ - Convenção política na época. CONSIGLIERO - 0 conselheiro Rodrigues Alves (pai). CALINO - Personagem mais ou menos idiota do anedotário. CUSARUNHES - 0 "coisa ruim", o diabo. DUDU - Apelido vulgarizado do marechal Hermes da Fonseca. DEMÉTRIO SEABRE - Demétrio Seabra, advogado que militou no foro paulistano. DIRADENTESE - Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira. FRETASVALE - Senador Freitas Vale. FARRA - Emilio Faraht, comerciante sírio, assassinado por Miguel Tradd. GARONELLO - Coronel José Piedade, antigo vereador e Politico. GARIBÚ - Carabu, índia de uma canção em voga, na época. GIANGOTTE - Tabelião Fonseca Hermes, que tinha o apelido Jangote, em família. GIURIO - O juri. GARADURA - Caradura, desavergonhado. Em outra acepção, refere-se ao bonde de um tostão, para operários. GAZINO - Teatro Cassino Antártica. GARTOLA - Cardoso de Almeida, deputado e secretário da Fazenda do govêrno Altino Arantes. GAISER - 0 kaiser Guilherme II, da Alemanha. GEOFFRE - Marechal Joffre, vencedor da batalha do Marne. GARONÉ - Coronel José Piedade. GARONELLO - Idem. GORREIO - 0 "Correio Paulistano". GREMO SIMÓ - Crême Simon, famoso cosmético. GUIOMARA NOVASE - A pianista Guiomar Novais.
26 HERMESE - 0 marechal Hermes da Fonseca. IGLIA FRANCESA - Ilha da Baía da Guanabara. IZER - Afluente do rio Elba, onde se feriu batalha na guerra de 1914-1918. ISRAELO - Israel. KRONPIGNO - 0 Kromprinz da Alemanha. KIXO - (Lorde Kixo) - Marechal inglês, lord Kitchenes. KAKA, príncipe - Dr. Oscar Rodrigues Alves. LACARATO - Dr. Antônio Naccarato, antigo delegado de polícia de São Paulo LUMBROSO - Cesar Lombroso, o criminalista italiano. LUZIA - Os Lusíadas de Luis de Camões. MARESCIALLO - Marechal Hermes da Fonseca. MADDALENA - Igreja Madalena, em Paris. MARNO - Marne, rio e departamento da França. Ali se feriu a batalha do Marne, que, com a vitória dos franceses, evitou a invasão da Franqa em 1914. MILIO DI MENEZOS - 0 poeta paranaense Emílio de Menezes. NAIRIA - Caricaturista Nair Teffé, então noiva do presidente Marechal Hermes da Fonseca. OXINTON - Washington Luís, na época presidents da República. PIEDADO - Cel. Piedade. PIGNERO - General Pinheiro Machado. PENTIFIGNO - Alcunha dada ao general Pinheiro Machado. PIETRO GAPORALE - Pedro Álvares Cabral. "PIRRALHO" - Revista humorística e de crítica, na época. QUEXOSO - Dr. Altino Arantes. RODORFO - Dr. Rodolfo Miranda. RI BARBOZA - Rui Barbosa.
27 ROTISSERIA - Rotisserie Sportmans, antigo e famoso hotel e restaurante paulistano, na rua de São Bento. RAFAEL ÇAMPAIO - Deputado e antigo secretiho da Fazenda, Rafael Sampaio Vidal. RUBIÓ - Senador Rubiao Júnior. RODRIGUES ALVEROS - Dr. Rodrigues Alves, ex-presidente do Estado e da República. RUGE RAMO - Delegado Artur Rudge Ramos, famoso disciplinador do trânsito na Capital de São Paulo. STA DI ZAN BAULO - 0 jornal "O Estado de São Paulo". SPENSERO VAPRELLI - Professor Spencer Vampré, lente da Faculdade de Direito. SALÓ INGREIZ - Salão Inglês. Barbeiro e cabelereiro da época. SAMPA VIDALO - Rafael Sampaio Vidal. TIPERÊRA - Typerary - Cidade e condado da Irlanda. 0 Tipperary foi uma canção em voga. TIBIRIÇÁ - Jorge Tibiriçá, antigo presidente do Estado de São Paulo. TRADDO Miguel Tradd, assassino de Elias Farhat que cumpria pena, na época. VAP'RELLI - Professor Spencer Vampré. VENCESLAU - Wenceslau Brás, antigo presidente da República. VATERLÓ - Waterloo (a batalha de). XICO PRATA - Apelido depreciative dado a Francisco Sales, antigo presidente de Minas e que foi tainbém ministro. XICO GIUSÉ - 0 imperador austríaco Francisco José I. XICO PIRÚ - Conselheiro Rodrigues Alves. WENCESLAU - Presidente Wenceslau Brás.