História da Língua
6º
Rodrigo Tadeu Gonçalves Renato Miguel Basso
Período
Florianópolis - 2010
Governo Federal Presidência da República Ministério de Educação Secretaria de Ensino a Distância Coordenação Nacional da Universidade Aberta do Brasil
Universidade Federal de Santa Catarina Reitor: Alvaro Toubes Prata Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva Secretário de Educação a Distância: Cícero Barbosa Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Yara Maria Rauh Müller Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão: Débora Peres Menezes Pró-Reitor de Pós-Graduação: Maria Lúcia de Barros Camargo Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz Henrique Vieira da Silva Pró-Reitor de Inra-Estrutura: João Batista Furtuoso Pró-Reitor de Assuntos Estudantis: Cláudio José Amante Centro de Ciências da Educação: Wilson Schmidt
Curso de Licenciatura Letras-Português na Modalidade a Distância Diretora Unidade de Ensino: Felício Wessling Margutti Chee do Departamento: Zilma Gesser Nunes Coordenadoras de Curso: Roberta Pires de Oliveira e Zilma Gesser Nunes Coordenador de Tutoria: Josias Ricardo Hack Coordenação Pedagógica: LANTEC/CED Coordenação de Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem: Hiperlab/CCE
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Ficha Catalográfca G635h Gonçalves, Rodrigo Tadeu História da língua / Rodrigo Tadeu Gonçalves, Renato Miguel Basso. – Florianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2010. 190p. : il. Inclui bibliografa UFSC. Licenciatura em Letras-Português na Modalidade a Distância ISBN 978-85-61482-32-9 1. Língua portuguesa – História. 2. Linguística histórica. 3. Sociolinguística. 4. Ensino a distância. I. Basso, Renato Miguel. II. Título. CDD 806.90(091)
Catalogação na fonte elaborada na DECTI da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Sa nta Catarina.
Sumário Apresentação...................................................................................... 7 Unidade A - Do Latim ao Português ........................................... 9 1 Do Indo-Europeu ao Latim: primórdios da história das línguas......................................................................................................11 Introdução ..................................................................................................................11 1.1 O desenvolvimento da linguística histórico-comparativa ................. 12 1.2 O protoindo-europeu e as línguas indo-europeias.............................. 13 1.3 Do protoindo-europeu ao latim ..................................................................19
2 Latim e latim vulgar, ou de onde mesmo vem o português? ......21 2.1 Brevíssima história do latim ..........................................................................21 2.2 Características do latim clássico e do latim vulgar ...............................26
3 A Expansão do Latim: a România e sua Dissolução.........................41 3.1 Conceituação de România .............................................................................41 3.2 Inovações panromânicas ...............................................................................43 3.3 Infuências do substrato, superestrato e adstrato nas línguas românicas ............................................................................................................44 3.4 As línguas românicas .......................................................................................48
Unidade B - História do português ...........................................59 4 A Península Ibérica e sua ormação linguística.................................61 Introdução ..................................................................................................................61 4.1. Catalão .................................................................................................................61 4.2. Espanhol..............................................................................................................62 4.3 Formação histórico-linguística da Península Ibérica ...........................65
5 O português arcaico....................................................................................77 5.1 Periodização .......................................................................................................77 5.2 O português arcaico ........................................................................................79 5.3 Textos comentados ..........................................................................................87
6 O português clássico...................................................................................97 Introdução ..................................................................................................................97
6.1 Características do português clássico .......................................................98 6.2 Texto “Décadas da Ásia”................................................................................103
7 O Português em Portugal depois de 1500 e a Língua Portuguesa no mundo ............................................................................107 7.1 O português europeu depois de 1572 ....................................................108 7.2 Português no mundo ....................................................................................111
Unidade C - História do Português na América................. 117 8 Chegada do Português na América: a delimitação das ronteiras e a periodização do português brasileiro....................119 8.1 A ormação do território nacional.............................................................124 8.2 Panorama linguístico da América portuguesa.....................................128 8.3 A periodização do português brasileiro .................................................133
9 O português brasileiro e suas características..................................135 9.1 Fase ormativa (1550 a 1700) ......................................................................136 9.2 Fase dierenciadora (1700 a 1800) ............................................................137 9.3 Fase de desenvolvimento da escrita e do ensino (1800 a 1950)....141 9.4 Fase de nivelamento (1950 em diante)...................................................144
10 Línguas indígenas e aricanas na ormação do português brasileiro, sua unidade e diversidade .............................................149 10.1 Indígenas, aricanos, europeus e brasileiros: o caldeirão do português do Brasil .....................................................................................149 10.2 Unidade e diversidade no português alado no Brasil....................157
Epílogo ............................................................................................. 167 Conclusão........................................................................................ 171 Cronologia ...................................................................................... 173 Reerências...................................................................................... 177 Glossário .......................................................................................... 179 Apêndice – Atividades ................................................................ 181
Apresentação
E
ste livro tem por objetivo introduzir o leitor ao vasto e diversifcado domínio da história das línguas. Nosso objeto aqui é a língua portuguesa e sua história. Procuraremos entender um pouco so-
bre as origens do português, sua relação com o latim, sua fxação enquanto língua de um Estado e, posteriormente, seu translado e fxação na América, na Ásia e na Árica. Talvez a característica que mais chame a atenção do leitor seja o ato de que não é possível entender a história de uma língua sem levarmos em conta os
História Interna
Aspectos relacionados às mudanças estruturais que uma língua soreu ao longo do tempo.
eventos políticos e históricos pelos quais passou o povo que alava essa língua. Usando os termos da linguística histórica, para entender a
história interna
de
uma língua, é imprescindível que levemos em conta sua história externa. É por
História Externa
isso que em vários momentos apresentamos a situação política de um determi-
Eventos de ordem não linguística, políticos, econômicos, bélicos etc. que infuenciaram uma dada língua.
nado país, seus interesses econômicos e suas dinâmicas populacionais. O presente livro está dividido em três unidades. Na primeira delas, traçaremos uma história da língua latina, de sua origem até o início das línguas românicas, salientando as principais características da língua latina, a expansão do Império Romano e a ormação e dissolução da România. Na segunda unidade, olharemos para a história da língua portuguesa desde os seus primeiros documentos até a chegada do português ao Brasil, pontuando cada uma das grandes mudanças estruturais detectadas ao longo de sua história. Finalmente, na terceira unidade, apresentaremos a história do português no Brasil, algumas das hipóteses sobre sua ormação e oereceremos um panorama da língua portuguesa no Brasil de hoje. Ao longo deste livro, apresentaremos vários excertos e textos antigos que serão analisados, além de mapas e imagens, para ajudar o leitor a se situar no longo percurso histórico que o espera nas próximas páginas. No fm deste livro, o leitor encontrará uma série de atividades sugeridas para a sala de aula; procuraremos mostrar com as atividades que estudar a história de uma língua pode servir como uma ponte interessante para as disciplinas de História e Geografa, além de despertar o interesse dos alunos sobre as razões de o português ser como é hoje, ter a ortografa que tem e suas características distintivas. Ainda para auxiliar nessas atividades, o leitor encontrará um Glossário com os
principais termos técnicos utilizados e uma Cronologia com as datas mencionadas no texto e outras que são importantes para a história do português. Antes de terminar a Apresentação, gostaríamos de deixar registrado nosso agradecimento à leitura cuidadosa e às várias sugestões da proa. Izete Lehmkuhl Coelho, que em muito contribuíram para este livro. Boa leitura!
Rodrigo Tadeu Gonçalves Renato Miguel Basso
Unidade A Do Latim ao Português
Capítulo
1
Do Indo-Europeu ao Latim: primórdios da história das línguas O objetivo deste capítulo é compreender o processo de origem do latim, a partir de uma análise da história da hipótese do indo-europeu. O capítulo aborda o processo da história das línguas e da flologia, a fm de compreender as origens históricas do latim.
Introdução Ao dizermos que o português é uma língua latina, automaticamente indicamos a liação do português ao latim e também a outras línguas românicas, isto é, às outras línguas que têm como origem o latim. Do ponto de vista de sua estrutura gramatical e de seu léxico, dizer que o português é uma língua latina signica dizer que encontramos no latim as palavras que deram origem ao léxico do português, mas também que encontramos certas características sintático-moro-onológicas especícas do latim e das línguas românicas no português. Exploraremos a undo algumas dessas características ao longo deste livro.
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1.1 O desenvolvimento da linguística histórico-comparativa Desde há muito tempo, diversos estudiosos viram semelhanças entre o latim e o grego clássicos que não podiam ser resultado do acaso. No entanto, os estudos dos períodos anteriores ao século XIX eram muito esparsos e baseados em suposições muitas vezes inundadas, como a de que o latim derivava diretamente do grego, e este diretamente do hebraico, a suposta língua original cujo dialeto mais antigo Adão teria alado. Aos poucos, as hipóteses que ligavam o latim e o grego ao hebraico oram sendo descartadas, em grande parte devido ao interesse crescente pelas línguas do Oriente, que passaram a ser mais bem conhecidas pelo Ocidente europeu em virtude dos contatos crescentes entre os povos, derivados de um trânsito comercial e colonialista mais intenso, acirrado pelos movimentos expansionistas europeus.
Para que você possa relembrar como os pesquisadores estabeleceram o parentesco entre as línguas, sugerimos a releitura do livro-texto de História dos Estudos Linguísticos, de Heronides Moura e Morgana Cambrussi, especialmente o Capítulo 4 da Unidade A.
Muitos estudiosos, principalmente aqueles que participaram dos estudos linguístico-comparativos entre o século XIX e começo do século XX, descobriram semelhanças também entre diversas línguas da Europa, organizando essas línguas em amílias linguísticas, que, por sua vez, também eram aparentadas entre si. Exemplos mais comuns são justamente as línguas românicas, como o rancês, o espanhol, o italiano, o romeno, o português etc., cujo percurso do latim até seu estado moderno oi documentado através dos mais diversos tipos de texto (políticos, literários, jurídicos etc.), e também as línguas germânicas, como o inglês, o holandês, o alemão, o islandês, o dinamarquês etc., que descendem de uma língua chamada de protogermânico. O parentesco entre o grego, as línguas latinas (e o latim), as línguas germânicas e outras da Europa já estava razoavelmente estabelecido quando um jurista, lólogo e humanista inglês, Sir William Jones, demonstrou, em 1786, que o sânscrito, uma língua bastante antiga da Índia, era inequivocamente próximo ao latim, ao grego, ao protogermânico e também ao persa, língua alada no Irã. Seu discurso para a Sociedade Asiática (undada por ele mesmo em 1784), publicado em 1788, oi considerado o pontapé inicial da Linguística Histórico-Comparativa. Em uma passagem célebre, o lólogo armou que:
Capítulo O sânscrito, sem levar em conta a sua antiguidade, possui uma estrutura maravilhosa: é mais pereito que o grego, mais rico que o latim e mais extraordinariamente refnado do que ambos. Mantém, todavia, com estas duas línguas tão grande afnidade, tanto nas raízes verbais quanto nas ormas gramaticais, que não é possível tratar-se do produto do acaso. É tão orte essa afnidade que qualquer flólogo que examine o sânscrito, o grego e o latim não pode deixar de acreditar que os três provieram de uma onte comum, a qual talvez já não exista. Razão idêntica, embora menos evidente, há para supor que o gótico e o celta tiveram a mesma origem que o sânscrito. (ROBINS, 1983, p.107)
Com tal descoberta, estava aberto o caminho para que o termo “indo-europeu” osse cunhado, em 1813, pelo polímata inglês Tomas Young. O século XIX oi o período em que uma série de lólogos desenvolveu gramáticas comparativas entre várias línguas indo-europeias, entre eles Rasmus Rask, Jakob Grimm, Franz Bopp, August Schlegel, Wilhelm Von Humboldt e August Schleicher. rata-se do primeiro capítulo da história da linguística moderna, que viria a culminar em abordagens cada vez mais cienticizantes, como a dos chamados neogramáticos do nal do século, que abriram caminho para o estruturalismo no início do século XX.
1.2 O protoindo-europeu e as línguas indoeuropeias Entre as realizações mais interessantes dos lólogos/linguistas comparativistas do século XIX estão alguns estudos sobre mudanças onéticas das línguas indo-europeias, como as Leis de Grimm, e tentativas de reconstrução do protoindo-europeu, como a de August Schleicher, que inclusive chegou a tentar escrever textos na língua reconstruída.
Irmão de Wilhelm Grimm, com quem escreveu os amosos contos de adas dos Irmãos Grimm.
Hermann Ostho e Karl Brugmann são os mais conhecidos.
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Doravante, neste livro, abreviada como PIE.
Dos diversos estudos desses lólogos, linguistas, gramáticos comparatistas e humanistas, oi possível descobrir que o latim e o sânscrito eram aparentados o suciente para terem uma origem comum, nos moldes em que dizemos que o rancês e o português têm origem no latim. A suposta língua que deu origem ao latim, ao grego, ao sânscrito, ao protogermânico etc. oi chamada de “protoindo-europeu”. No entanto, como dissemos, não há praticamente nenhum resquício escrito da passagem do PIE para as línguas da amília indo-europeia e sua reconstitui-
Capítulo ção é eita com base nas mudanças linguísticas atestadas historicamente e também na comparação entre as diversas línguas indo-europeias. Os estudiosos oram capazes de identicar os ramos da amília indo-europeia mais antigos, como o anatólico, que se desenvolveu provavelmente por volta de 2000 a.C.; o indo-iraniano, por volta de 1400 a.C.; e o grego por volta de 1300 a.C. ou mesmo antes. Assim, o PIE oi alado prova velmente antes de 2500 a.C., mas as datações são todas muito diíceis de estabelecer e muito hipotéticas. Para termos ideia da extensão cronológica envolvida nas transormações entre as línguas indo-europeias, pode-se dizer que o latim tem origem em torno do século XI a.C. e o sânscrito entre 1500 e 1000 antes de Cristo. Vejamos abaixo exemplos das semelhanças no vocabulário de algumas das línguas indo-europeias, lembrando que em linguística histórica, ormas marcadas com asterisco são aquelas que não oram atestadas em documentos, mas reconstruídas a partir de dados da história da mesma língua ou das que derivaram dela; usaremos essa notação neste livro. Português
pai
mãe
irmão
lobo
Latim
pater
mater
rater
lupus
Grego Antigo
pater
meter
phrater
lykos
Sânscrito
pitar
matar
bhratar
vrkas
Espanhol
padre
madre
hermano
lobo
Francês
père
mère
rère
loup
Inglês
ather
mother
brother
wol
Alemão
Vater
Mutter
Bruder
Wol
PIE
*phatér
*méhater
*bhréhater
*wlkw os
Podemos ver como as palavras são semelhantes, e as reconstruções do PIE apresentadas, embora pareçam estranhas por causa da notação onética, são muito próximas das línguas antigas apresentadas cujos dados oram atestados, o sânscrito, o grego antigo e o latim. O quadro a seguir ilustra as principais amílias linguísticas que se originaram do protoindo-europeu:
As inscrições mais antigas encontradas datam do século VII, embora Roma tenha sido undada por Rômulo, segundo as lendas, em 753 a.C.
O símbolo “ †” indica que se trata de uma língua que não tem mais alantes nativos, ou seja, de acordo com a terminologia corrente, trata-se de uma língua morta.
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Protoindo-europeu (†) ramo anatólico
(†) assírio, (†) hitita
ramo helênico
(†) grego antigo
ramo indo-iraniano
persa, (†) sânscrito
ramo itálico
(†) latim
ramo céltico
galês, gaélico irlandês, gaélico escocês, bretão
ramo balto-eslavo
(†) antigo prussiano, (†) protoeslavo
letão, lituano, russo, tcheco, polonês, ucraniano, croata etc.
(†) protogermânico
islandês, norueguês, sueco, alemão, inglês, holandês, aroês etc.
ramo germânico ramo armênio
grego moderno
rancês, romeno, italiano, português, espanhol etc.
armênio
(†) ramo tocário ramo albanês
albanês
Podemos ver a extensão da cobertura das línguas indo-europeias em seus espaços de ocupação originais no Mapa 1: Perceba que outras amílias linguísticas também aparecem no mapa.
Indo-europeia - Românica Indo-europeia - Germânica Indo-europeia - Germânica Setentrional Indo-europeia - Eslava Indo-europeia - Báltico Indo-europeia - Helênica Altaica- Turcomana Urálica Afro Asiática - Semítica
Mapa – As línguas indo-europeias em seus espaços originais. (Adaptado do mapa disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2010.)
Capítulo O indo-europeu não é, obviamente, a única amília de línguas do planeta. Línguas como o árabe, o chinês e o turco não são indo-europeias e cada uma pertence a uma amília linguística, respectivamente, o semítico, o sino-tibetano e o altaico. Os métodos de comparação e reconstituição de línguas que oram empregados para o caso da amília indo-europeia e que resultaram no protoindo-europeu poderiam, a princípio, ser aplicados às outras amílias linguísticas do mundo, incluindo certamente as línguas indígenas brasileiras e do resto do continente americano. Qual seria o resultado de tal aplicação? Seria possível reconstituir todas as protolínguas? Se sim, o que isso nos mostraria? eriam todas as línguas uma mesma origem? Ou talvez não haja parentesco entre as protolínguas e a linguagem surgiu em momentos, lugares e com estruturas dierentes nos vários grupos humanos?
O estabelecimento do turco na amília altaica é incerto, mas esta amília inclui também o coreano e o japonês, entre outras.
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Capítulo
1.3 Do protoindo-europeu ao latim Uma história do protoindo-europeu demandaria muito mais do que pretendemos com este livro, mas algumas características importantes da passagem dos dados hipotéticos reconstruídos para o que conhecemos do latim serão importantes para entender alguns paralelos entre esse movimento e os movimentos posteriores da passagem do latim ao português. Na morologia, podemos vericar alguns enômenos interessantes de simplicação ocorridos no percurso PIE-latim. Por exemplo, o PIE declinava seus substantivos em número e gênero, como em português, mas também em caso, como em latim, grego, sânscrito e algumas línguas modernas como o russo e o alemão. rata-se da fexão morológica relacionada com unções sintáticas, como a que vemos ainda nos resquícios de morologia casual em português nos pronomes pessoais “eu” (orma de sujeito) e “me”. Dizemos “eu vi o cachorro” e “o cachorro me viu” com ormas dierentes para o pronome “eu” por causa do mesmo enômeno. Considera-se que o PIE possuía oito casos gramaticais, sendo eles o nominativo (caso basicamente de sujeito), acusativo (caso do objeto direto, como o “me” do português), o vocativo (o caso usado quando chamamos um interlocutor), o genitivo (caso de posse, como o genitivo woman’s “da mulher” do inglês), o dativo (caso do objeto
Forma átona que serve, por exemplo, como objeto; no próximo capítulo exploraremos mais a undo o conceito de caso e suas maniestações.
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