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CEFET - RJ Uned Angra dos Reis
Cinematica a´ tica e din ˆ din ˆamica amica de corpos r´ r´ıgidos ıgidos
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´ o conjunto de conceitos que buscam estudar a descric¸ ao O que e? e´ ? E a˜ o do movimento dos corpos r´ıgidos. ıgidos. Inicialmente e´ necess´ necess ario a´ rio definir o conceito de um corpo r´ r ´ıgido ıgido e em seguida entender quais os graus de liberdade em seus movimentos. movimentos. Nesses Nesses estudos, estudos, surgem surgem conceitos conceitos extremamente extremamente importantes importantes em f´ısica ısica e engenharia engenharia,, o momento angular e torque. Pra que serve? Em engenharia e em f ´ısica, ısica, o conhecimento total da din amica aˆ mica desses corpos ´e fundamental na elabor ela borac ac¸ ao a˜ o de motores e equipamentos. Como funciona? Primeiro, define-se o conceito de corpo r´ıgido ıgido e o momento de in´ercia; ercia; em seguida, define-se o conceito de momento angular - um conceito an alogo a´ logo ao de momento linear, mas aplic avel a´ vel para corpos r´ r´ıgidos ıgidos em rot r otac ac¸ ao a˜ o - e a alterac¸ ao a˜ o da dinˆamica amica do momento angular s´o pode ocorrer atrav´es es de, n˜ao ao exatamente ex atamente uma forc¸ a, mas do torque.
1.1 Movim Moviment ento o de corpos corpos r´ıgidos ıgidos Por definic¸ ao, a˜ o, um corpo r´ıgido ıgido n ao a˜ o consiste consiste necessari necessariament amentee de um sistema sistema cont´ cont´ınuo ınuo de mat´eria eria1 onde suas mol´ moleculas e´ culas est˜ estao a˜ o a dist ancias aˆ ncias fixas umas das outras, independente do movimento que o corpo r ´ıgido ıgido fac¸ a e das forc¸as ¸as aplicadas sobre ele. Esses conceitos s ao a˜ o completamente ideais, pois mesmo barras de ac¸o ¸o de construc¸ ao a˜ o civil podem se deformar elasticamente, discos em colis˜ao ao se deformam elasticamente, assim como bolas de ma˜ teriais duros ou n ao; a˜ o; entretanto, como vimos no curso de colis oes, as deformac defo rmac¸ oes o˜ es em corpos em corpos indestrut ´ ´ıveis s ıveis s ao a˜ o r´apidas apidas e de durac¸ ao a˜ o extremamente curtas de modo que n˜ao ao alteram o movimento do corpo r´ıgido ıgido de maneira significativa. significa tiva. Pela definic defin ic¸ ao a˜ o de corpo r´ r´ıgido, ıgido, n˜ nao a˜ o e´ necess´ necessario a´ rio que sua constituic constit uic¸ ao a˜ o seja se ja de d e alguma al guma distribuic distribui c¸ ao a˜ o cont´ınua ınua de mat´ materia; e´ ria; por exemplo, quatro avi˜oes oes percorrendo o c´eu eu com uma distˆancia ancia fixa entre eles - como os da esquadria da fumac¸a - podem ser um bom exemplo de corpos r´ r ´ıgidos; ıgidos; outro exemplo ´ exemplo ´e o de estrelas fixas no c eu, e´ u, como o Cruzeiro do Sul. A descric desc ric¸ ao a˜ o completa do movimento de um corpo r´ıgido ıgido pode ser composta de dois movimentos de origem completamente diferentes. A tran tr ansl slac ac¸ ao ˜ e´ o movimento do corpo onde cada um de seus constituintes se move em uma linha reta, de modo que as linhas descritas pelos movimento de cada constituinte s˜ sao a˜ o paralelas. paralelas. Todos os pontos sofrem o mesmo deslocame deslocamento nto durante o mesmo intervalo de tempo e, por isso, tˆem em as mesmas velocidades e acele ace lerac rac¸ oes; o˜ es; assim, a descric¸ ao a˜ o do d o movimento m ovimento de translac t ranslac¸ ao a˜ o de um corpo r´ıgido ıgido pode ser feita com o estudo de um unico u´ nico ponto representante do corpo; e´ muito comum que o ponto escolhido do corpo material seja seu centro de massa. O movimento de rot rotac¸ ao ˜ pode ser descrito a partir de considerar uma Figure 1: Composic¸ ao a˜ o de movilinha imagin´ imaginaria a´ ria que liga dois pontos A pontos A e e B B em em um corpo r´ r´ıgido; ıgido; ent˜ entao, a˜ o, qual- mentos. quer ponto neste corpo que estiver fora desta linha estar´a sempre a uma distˆancia ancia fixa desta linha. Assim, suponha que o corpo comece a girar ao redor da linha formada pelos pontos A e A e B B;; ent˜ao, ao, qualquer ponto fora desta linha executar a´ uma u ma rotac rot ac¸ ao a˜ o em torno deste eixo. Assim, a linha AB linha AB ´e a defini defi nicc¸ ao a˜ o de d e um eixo de rotac ro tac¸ ao, a˜ o, pois qualquer part´ıcula ıcula fora desta linha executa c´ırculos ırculos concˆ conc entricos eˆ ntricos com raios iguais a` suas respectivas distˆancias ancias com relac¸ ao a˜ o a este eixo. 1
Mas o conteudo u´ do de um copo de ´ de ´agua agua tamb´ tambem ´ e´ m ´e uma distribu ic¸ ao a˜ o cont´ cont´ınua ınua de mat´ materia! e´ ria!
1
Assim, o movimento completo de um corpo r´ r ´ıgido ıgido poder´ podera´ ser descrito como a composic¸ ao a˜ o dos movimentos de rotac¸ ao a˜ o e de translac t ranslac¸ ao a˜ o a partir de um eixo fixo definido; deste modo, a posic¸ ao a˜ o de qualquer part´ part´ıcula ıcula pertencente ao eixo de rotac ro tac¸ ao a˜ o ter´a apenas o movimento de translac¸ ao, a˜ o, cujas coordenadas ser ao a˜ o as do sistema de refer encia eˆ ncia em quest˜ questao; a˜ o; j´ ja´ para o movimento unico u´ nico de rotac¸ ao, a˜ o, qualquer part´ıcula ıcula fora do eixo necessitar´a apenas de uma coordenada angular
Figure 2: Rotac¸ ao a˜ o com eixo fixo.
O movimento movimento de rotac ¸ ao a˜ o tamb tamb´em e´ m pode pode ser descri descrito to atrav atrav´es e´ s de uma rotac ¸ ao a˜ o em torno de um ponto fixo P fixo P - uma u ma rotac r otac¸ ao a˜ o mais geral - de modo que qualquer outro ponto poder´a descrever uma trajet´oria oria esf´erica erica em torno de P de P,, com raio igual a` sua dist ancia aˆ ncia a P a P.. Assim, em comparac comp arac¸ ao a˜ o a` rota ro tacc¸ ao a˜ o em torno de um eixo fixo, que precisa de apenas uma coordenada angular, este tipo de rotac¸ ˜ao ao necessita de duas coordenadas angulares em uma descric¸ ao a˜ o em termos de coordenadas esf´ericas. ericas. Fig ure 3: Rotac Rota c¸ ao a˜ o com ponto fixo. Como definir d efinir a posic posi c¸ ao a˜ o de um corpo r´ıgido? ıgido? Suponha que se marque A Figure um ponto neste corpo; este ponto n ao ´ a˜ o ´e suficiente, j a´ que ele ainda pode estar em movimento com relac¸ ao a˜ o a este ponto. ponto. Ent˜ao, ao, marca-se dois pontos, adicionando um ponto B; B ; o corpo ainda pode executar um movimento de rotac¸ ao a˜ o em torno do eixo formado por AB por AB,, ou seja, ainda ainda n ao ´ a˜ o ´e poss´ poss´ıvel ıvel definir defin ir a posic posi c¸ ao a˜ o de um corpo r´ r´ıgido ıgido com dois pontos. Um terceiro ponto ainda pode ser inclu´ıdo; ıdo; se estes pontos forem colineare colineares, s, ent˜ao ao o corpo ainda pode girar em torno deste eixo; mas se os pontos forem n˜ao colineares, col ineares, a posic¸ ao a˜ o do corpo fica completam completamente ente definida. Definidos esses tr es eˆ s pontos, pon tos, pode-se p ode-se lanc¸ar ¸a r m aos a˜ os do teorema de Chasles: o movimento movimento de um corpo r´ıgido ıgido e´ a composic¸ ao a˜ o de um movimento de tran tr ansl slac ac¸ ao a˜ o com outro de rotac¸ ao. a˜ o. Para ver ver como isso funciona, funciona, sejam sejam tr es eˆ s pontos n˜ao ao colineares coli neares em e m um corpo c orpo r´ıgido, ıgido, O , A e seja O o ponto corre A e B e B e seja O spondente a O a O ap os o´ s sofre so frerr transl tr anslac ac¸ ao. a˜ o. Assim, a translac tran slac¸ ao a˜ o pode ser definida pelo vetor OO . Os pontos A pontos A e B formam, com O com O,, um triˆangulo angulo que e´ igual ao formado por A por A , B e O , j´a que o sistema ´e formado de um corpo r´ıgido. ıgido. Superpondo os dois triˆ triangulos aˆ ngulos em um ponto em comum, O , tem-se que a rota ro tacc¸ ao a˜ o do corpo e´ definida defini da como com o a rotac r otac¸ ao a˜ o do triˆangulo ABO angulo ABO A B O .
→
Figure 4: Teorema de Chasles.
relacc¸ ˜ ao a um Quantos Quantos parˆametros ametros s˜ao ao necess´arios arios para definir exatamente a posic¸ ao a˜ o de um corpo co rpo r´ıgido ıgido em rela dado referencial referencial? Primeiramente, Primei ramente, para definir defi nir a posic po sic¸ ao a˜ o de um ponto desse corpo, s ao a˜ o necess´ necessarias a´ rias 3 coordenadas; al´em em disso, qualquer outro ponto neste corpo a uma distˆancia r ancia r , necessitar´a tamb´em em de outras 3 coordenadas, que sao a˜ o o proprio r o´ prio r e e os ˆ os ˆangulos angulos de latitude e longitude. Assim, um corpo r´ r´ıgido ıgido precisa da definic¸ ao a˜ o de seis se is coordenadas coord enadas para pa ra ter sua posic¸ ao a˜ o descrita completamente e, por isso, isso, diz-se diz-se que um corpo r´ıgido ıgido possui possui seis graus de liberdade. liberdade. Os graus de liberdade liberdade s˜ao ao os parˆametros ametros necess´ necessarios a´ rios fixar para descrever o movimento do sistema; por exemplo, uma part´ part ´ıcula ıcula livre tem tr es eˆ s graus de liberdade, todos relacionados ao movimento de translac¸ ao; a˜ o; enquanto enquanto isso, um corpo r´ıgido ıgido tem seis, onde trˆes es deles est˜ estao a˜ o associados as sociados com a translac¸ ao a˜ o e outros trˆ tres ` eˆ s `a rota ro tacc¸ ao. a˜ o. ˜ onde Por´ Porem, e´ m, h´ ha´ situac sit uac¸ oes onde o sistem sistemaa pode pode ser simpli simplifica ficado; do; por exemp exemplo, lo, fixando fixando um dos pontos de um corpo r´ıgido, ıgido, tem apenas tr es eˆ s graus de liberdade, os quais est˜ estao a˜ o relacionados ` relacionados `a eventual eventu al rotac rot ac¸ ao a˜ o em torno deste ponto. Se um corpo r´ r ´ıgido ıgido estive tiverr girand girando o em em torno torno de um eixo eixo fixo, fixo, ele ele ter´a, ent˜ao, ao, apenas apenas um grau grau de liberd liberdade ade,, que e´ o angulo aˆ ngulo que descreve des creve a rotac r otac¸ ao a˜ o como em um movimento circular uniforme; o grau de liberdade seria, ent ao, a˜ o, um escalar θ . A general gen eralizac izac¸ ao a˜ o para os diferentes tipos de rotac¸ oes o˜ es necessita de mais informac¸ oes; o˜ es; no caso do pi˜ao, ao, por exemplo, a direc¸ ao a˜ o do d o eixo ei xo de d e rotac ro tac¸ ao a˜ o varia a todo instante - uma precess ao a˜ o - e s o´ o ˆ o ˆangulo angulo n˜ nao a˜ o e´ suficiente para descrever completamente o movimento. Assim, se faz necess´ario lanc lan c¸ ar maos a˜ os de uma representac represen tac¸ ao a˜ o vetorial das rotac¸ oes. o˜ es.
1.2
Representac¸ ˜ ao v vetor etorial ial das rotac rota c¸ ˜ oes
2
Figure 5: Rotac¸ ao a˜ o com eixo fixo.
˜ A descric¸ a˜ o cuidadosa de rotac¸ o˜ es necessita de certas considerac¸ oes. Por exemplo, as rotac¸ o˜ es podem ser definidas como sendo composic¸o˜ es de rotac¸o˜ es infinitesimais e vetoriais δθ , cujo mo´ dulo e´ dado por δ θ e sua direc¸ a˜ o e´ o eixo de rotac¸ a˜ o. A convenc¸ a˜ o e´ a adotada na Figura (6); por exemplo, um observador com os p´es na origem e olhando para baixo “v eˆ ” o vetor girando em sentido anti-hor a´ rio. Assim, ser´a muito comum adotar o eixo de rotac¸ a˜ o paralelo a z ˆ no caso de eixos fixos de modo que este eixo de rotac¸a˜ o fique perpendicular a um plano ( x, y).
Figure 6: Convenc¸a˜ o da ´ necess´ario relacionar o elemento de deslocamento δ θ com o eventual espac¸o E orientac¸ a˜ o do vetor. percorrido δ s; este deslocamento pode ser dado atrav´es da relac¸ a˜ o entre dois pontos P e P equidistantes da origem O, de modo que r = OP = OP , de uma maneira que δ s = PP . A relac¸a˜ o entre esses vetores ´e dada pelo produto vetorial
δ s
= δ θ
× r = |δ θ||r|sen φ .
(1)
O vetor de deslocamento δ s e´ , ent˜ao, o resultado do produto vetorial entre os vetores δ θ e r ; note que como esses dois ´ultimos s˜ao sempre perpendiculares na existˆencia de algum movimento de rotac¸a˜ o (δ θ = 0 ), ele sempre ser´a diferente de zero. Note tamb´em que δ θ r e´ sempre perpendicular ao plano formado por esses vetores; logo, δ s sempre ser´a perpendicular ao plano definido por este produto vetorial. Note tamb e´ m que a ordem do produto vetorial muda o sentido de δ s, ou seja, δ θ r = r δ θ ; o sentido de δ s e´ tal que o observador, com a cabec¸a na direc¸ a˜ o deste vetor, olha para baixo e ‘vˆe’ δ θ girando em sentido anti-hor´ario. No caso em que o ˆangulo formado Figure 7: Rotac¸ a˜ o em torno de ˆz. por δ θ e r e´ de π /2, tem-se que δ s = δ θ r (veja a Figura 7), ent˜ao pode-se dizer que o ponto P est´a no plano formado por Oxy; neste caso tamb´em se observa que o sentido de δ θ r ´e o eixo ˆy.
×
×
−×
| || |
×
Seja agora o caso em que o ponto P n a˜ o esteja mais em Oxy, ou seja, os vetores δ θ e r formam um aˆ ngulo φ entre eles, como est a´ representado na Figura (8); nesta, o vetor δ s ´e perpendicular ao plano do papel e aponta para fora, saindo do papel. Assim, a descric¸a˜ o deste movimento ser´a definida com ´ o resultado deste produto vetorial. O vetor δ s tem modulo dado por
δ s
=
|δ θ||r|sen φ
(2)
˜ temporais dessas quantiAgora e´ importante notar sobre as variac¸oes dades. A velocidade, por definic¸ a˜ o, e´ a taxa de variac¸a˜ o de s com relac¸a˜ o ao tempo, ou seja, um ponto P no corpo r´ıgido ter´a uma velocidade dada por
v
=
⇒v
=
d s d = (δ θ dt dt ω r
× r) = δ dt θ × r
×
(3)
onde foi usada a definic¸ a˜ o de que a variac¸ a˜ o de posic¸ a˜ o angular com relac¸ a˜ o ao tempo corresponde a` velocidade angular
ω =
lim
∆θ
→0 ∆t
∆t
=
d θ dt
Figure 8: Rotac¸ a˜ o geral em torno de ˆz.
e ω e´ , por isso, definido como o vetor velocidade angular. A magnitude deste vetor corresponde `a velocidade angular, que j a´ foi definida anteriormente. J´a a direc¸a˜ o de ω e´ a do eixo de rotac¸a˜ o, na mesma direc¸ a˜ o de δ θ , conforme ilustra a Figura (9). A determinac¸ a˜ o da velocidade de um ponto em um corpo r´ıgido, como foi definida no in´ıcio das discuss o˜ es, e´ a composic¸ a˜ o de duas velocidades, sendo uma delas a de translac¸ a˜ o e outra de rotac¸ a˜ o; desta forma, um ponto P em um corpo r´ıgido tem velocidade V dada por
V
= v + ω r.
×
(4) 3
Figure 9: Vetor ω .
Como representar graficamente o vetor ω ? A direc¸ a˜ o do eixo de rotac¸ a˜ o varia em geral a cada instante e o caso mais simples e´ onde ele permanece com direc¸a˜ o fixa. Para entender melhor, e´ necess´ario definir o que s˜ao os vetores polares e vetores axiais. Vetores como ω e δ θ se diferem dos demais porque mesmo tendo m o´ dulos e direc¸ o˜ es definidas usualmente, os sentidos s´o s a˜ o definidos por convenc¸a˜ o. Uma representac¸a˜ o apropriada para o vetor ω seria dada em termos de c´ırculos orientados como na Figura (10), de modo que poderia ter direc ¸ a˜ o definida para cima ou para baixo sem que nenhum problema deixasse de ser resolvido por isso. Devido a esta necessidade de convencionar o sentido de ω e de θ , eles s˜ao chamados de vetores axiais. Note que os vetores ordin´arios, como F, x, p e muitos outros estudados at´e aqui, tˆem suas orientac¸o˜ es encontradas sem a necessidade de nenhuma convenc¸ a˜ o, os quais s˜ao chamados de Figure 10: Representac¸a˜ o do vevetores polares. tor ω . Uma importante diferenc¸a entre vetores polares e axiais e´ com respeito a` s suas reflex o˜ es frente a um espelho. Na pr´atica, vetores polares n a˜ o mudam de sentido ap´os uma reflex˜ao por espelhos. J´a vetores polares se invertem quando refletidos por um espelho, ou seja, eles trocam de sinal. Essa situac¸a˜ o pode ser exemplificada quando abrimos a palma da m˜ao direita em frente ao espelho: a imagem da m a˜ o no espelho ´e idˆentica `a da m˜ao esquerda, uma situac¸a˜ o que e´ conhecida por quiralidade; mas, ao girar a m˜ao em uma direc¸a˜ o, o que equivale a uma rotac¸a˜ o axial, vemos que a rotac¸a˜ o n˜ao e´ alterada pela imagem. Pode-se perceber, da Figura (11) que um c´ırculo orientado com seu plano Figure 11: Reflex˜a o de vetores axparalelo ao do espelho se reflete de tal forma que o vetor axial ω associado, iais e polares. que e´ perpendicular ao espelho, n a˜ o se altera: observe, para isso, que x e´ paralelo a ω e, por ser um vetor polar, inverte seu sentido depois da reflex˜ao; o mesmo ocorre para qualquer vetor polar r . Uma observac¸ a˜ o importante: ω r e´ o produto vetorial entre um vetor axial, ω , e um vetor polar, r e o resultado disso e´ o vetor v que e´ um vetor polar; este ´e um exemplo de uma regra geral onde o produto vetorial ´ entre um vetor polar com um vetor axial resulta em um vetor polar; o mesmo resultado vale para δ s = θ r. E poss´ıvel mostrar, tamb´em, que o produto vetorial de dois vetores polares ´e um vetor axial.
×
×
2
Torque
No caso onde o movimento de um corpo r´ıgido ocorre com um eixo fixo, tem-se que qualquer ponto P deste corpo gira em torno deste eixo de rotac¸ a˜ o e seu movimento ´e totalmente descrito apenas com a coordenada angular - que no nosso caso ´e chamada de θ ; neste caso, ent a˜ o, tem-se que o movimento ´e idˆentico aos movimentos circulares uniformes e, por isso, ´e poss´ıvel fazer algumas analogias com o movimento unidimensional:
Deslocamento linear Velocidade linear Aceleracao linear
= x = v = a
↔ ↔ ↔
θ = ω = α =
Deslocamento angular Velocidade angular . Aceleracao angular
Entretanto, ainda e´ necess´ario definir o an´alogo dinˆamico de F para os movimentos circulares. Para tal, ser´a feita a comparac¸ a˜ o sobre o trabalho realizado por uma forc¸a em um sistema unidimensional, ∆W = F ∆ x com o an´alogo desta forc¸a que realizaria o eventual trabalho, ∆W = τ ∆θ em um sistema circular; o sistema est a´ ilustrado na Figura (12). Considere uma forc¸ a F sendo aplicada em um ponto P pr´oximo a` extremidade de uma r´egua, onde a outra extremidade, O, est´a fixa. Assume-se que: o aˆ ngulo formado entre a forc¸a e OP = r seja φ ; e que num deslocamento angular inifintesimal ∆θ , o deslocamento linear PP se confunde com a tangente do c´ırculo de centro em O e raio r , o que implica que o deslocamento linear e´ praticamente perpendicular a r . Ent˜ao, a projec¸ a˜ o de F sobre a direc¸a˜ o do desloca-
4
Figure 12: Torque em uma r´egua.
mento ser´a dada por F cos(π /2
− φ ) = F sen φ
(5)
e a magnitude do deslocamento onde a forc¸a e´ aplicada, uma vez que considera-se que a variac¸a˜ o de ∆θ seja suficientemente pequena, um racioc´ınio que j a´ foi usado para a demonstrac¸a˜ o dos resultados das equac¸o ˜ es de r∆θ . movimentos da cinem´atica, pode-se usar a aproximac¸ a˜ o PP
| |≈
Assim, o trabalho realizado por essa forc¸a ser´a ∆W
= F sen φ r ∆θ
(6)
de modo que pode-se identificar imediatamente que
τ =
Fr sen φ
(7)
Este resultado fica ainda mais interessante quando se faz as decomposic¸ oes ˜ da forc¸a nas direc¸o˜ es paralela e vertical `a r: nota-se que a u ´ nica componente da forc¸a que atua na realizac¸ a˜ o do trabalho e´ a componente na direc¸a˜ o ortogonal a r, que e´ F ⊥ = F sen θ , ou seja, apenas esta componente ´e eficiente na produc¸ a˜o de rotac¸ a˜ o; enquanto a outra componente exerce apenas trac¸ a˜ o sobre a barra contra o ponto de fixac¸ a˜ o O. Assim, pode-se simplificar a Eq. (7) por
τ =
F ⊥ r = F b
Figure 13: F e τ .
(8)
A u´ ltima equac¸ a˜ o leva em conta que b = r ⊥ = r sen θ e´ a magnitude de OQ que e´ a distˆancia da linha de ac¸ a˜ o PQ ao ponto O; esta distˆancia, b, tamb´em e´ chamada de brac¸o de alavanca. Logo, quanto maior o brac¸o de alavanca, maior ser´a o torque realizado. Da mesma maneira, pode-se aplicar um mesmo torque com menos forc¸a dispon´ıvel, desde que se tenha um brac¸ o de alavanca maior. Como exemplos, pode-se considerar uma porta que, ao ser aberta. usa-se muito menos forc¸a se esta for apli´ cada quanto mais pr oximo estiver da extremidade solta da porta, ou seja, o mais longe poss´ıvel do eixo de rotac¸ a˜ o. Outro exemplo e´ sobre a engrenagem de bicicleta: nesta, a tens˜ao e´ transferida dos pedais para a roda traseira atrav e´ s da corrente; assim, em uma subida, e´ comum se usar as marchas mais ‘leves’, correspondendo `as engrenagens maiores na roda traseira e, somente quando j a´ se tem certa velocidade, usa-se as engrenagens menores, proporcionando maior velocidade. Um racioc´ınio inverso Figure 14: F e τ . pode ser usado para explicar o motivo das marchas mais leves corresponderem `as engrenagens menores nos pedais. No in´ıcio dos estudos sobre torque, foi assumido que τ seria o an´alogo da forc¸a para o movimento circular; contudo, a forc¸a no caso geral e´ um vetor e e´ necess´ario englobar essas informac¸o˜ es na formulac¸a˜ o. Lembrando da relac¸a˜ o do produto vetorial entre dois vetores arbitr´arios, a a = a a sen α , e levando em conta que quanto mais pr´oximo de π /2 o aˆ ngulo φ estiver, maior ser´a o valor de sen φ , pode-se dizer que
×
τ =
| || |
|r × F|.
(9)
A direc¸a˜ o do torque e´ de extrema importˆancia. No exemplo da r´egua sujeita a uma forc¸a em uma de suas pontas, tem-se o vetor r, que liga a origem do eixo de rotac¸a˜ o at´e o ponto onde a forc¸a e´ aplicada; F, a forc¸a aplicada, onde apenas a componente perpendicular a r e´ respons´avel pela variac¸ a˜ o do movimento e ω , que surge da variac¸a˜ o angular. A direc¸ a˜ o de τ e´ , ent˜ao, perpendicular a estes dois vetores e o sentido ´e escolhido como o mesmo do eixo de rotac¸a˜ o. Assim, pode-se definir
τ =
r
× F.
(10) Figure 15: Direc¸o˜ es de τ .
5
Assim como no caso de ω , o sentido de τ e´ escolhido de modo que o observador sobre a extremidade do eixo de rotac¸a˜ o, no caso de uma forc¸ a positiva F aplicada, o vˆe girando em sentido anti-hor´ario; a invers˜ao do sentido da forc¸a implica na invers˜ao do sentido do torque. O torque e´ definido a partir de um ponto O que e´ escolhido como o ponto onde se localiza o eixo de rotac¸ a˜ o; ou seja, mudando o ponto O por onde se deseja medir o torque, o resultado em geral poder´a ser diferente. Nesta definic¸ a˜ o, o eixo OP ´e o eixo que liga o ponto fixo do movimento com o ponto P por onde a forc¸a e´ aplicada. Um caso de muita importˆancia em aplicac¸ o˜ es de f´ısica e de engenharia e´ no caso de forc¸as centrais F (r) = F (r)rˆ . Nestes casos, a forc¸a tem origem em O e, al´em disso, note que a forc¸a e´ sempre paralela a r, e isso implica que o torque nesses casos sempre ser´a
τ =
F (r)rˆ
× r = 0
(11)
que se traduz a: forc¸as centrais s˜ao incapazes de produzir torque com relac¸a˜ o Figure 16: Torque de forc¸as cena origem O. Entretanto, em outros referenciais com O = O encontra-se que trais. o torque e´ em geral diferente. Para concluir as definic¸o˜ es sobre o torque, observa-se suas unidades, que s a˜ o de Newtons vezes metro, ou seja, a mesma unidade de trabalho; entretanto, o torque e´ muito diferente dos conceitos de trabalho e de forc¸a, como veremos em seguida.
O fato do torque ser nulo para forc¸as centrais parece totalmente intrigante quando imaginamos o sistema solar, onde os planetas giram em torno do Sol onde se imagina que ele seja a fonte do movimento; os conceitos a respeito da rotac¸a˜ o da Terra em torno do Sol dependem de uma outra lei de conservac ¸ a˜ o, semelhante a` quela da primeira lei de Newton, onde na ausˆ encia de forc¸as externas, o momento total do sistema se conserva. Aqui encontraremos um an´alogo ao momento linear, que ser a´ o momento angular e em seguida sua lei de conservac¸ a˜ o.
3
Momento Angular
Na definic¸ a˜ o de torque para uma part´ıcula em um ponto P de um corpo r´ıgido que gira em torno de um ponto fixo O, encontrou-se que
τ =
r
× F.
Este torque seria capaz de alterar a posic¸a˜ o angular de uma part´ıcula em um corpo r´ıgido. Quanto a` alterac¸ a˜ o do momento linear desta part´ıcula, pode-se dizer que ela ´e alterada pela forc¸a F aplicada, de modo que
F
d p, dt
=
ent˜ao
τ =
r
× dt d p.
Observando que d (r p) = r dt
(p) d (r) + × d dt ×p (12) dt mas como d (r)/dt × p = d (r)/dt × (mv) = md (r)/dt × (v) = 0, pode-se es-
×
crever o torque como
τ =
d (r dt
× p)
que ainda pode ser escrita como
τ = 6
d l dt
(13)
Figure 17: Torque de forc¸as centrais.
(14)
onde ´e definido que
l
= r
×p
(15)
e´ o momento angular da part´ıcula em relac¸ a˜ o ao ponto O. Aqui, tem-se que o momento angular est´a para o momento linear assim como o torque est´a para a forc¸a. Neste caso, pode-se definir uma vers˜ao an´aloga da segunda ˜ lei para a din aˆ mica de rotac¸oes: a taxa de variac¸ao ˜ temporal do momento angular l com relac¸ ao ˜ a um ponto 0 e´ igual ao torque em relac¸ ao ˜ ao mesmo ponto O aplicado `a part ´ıcula. Em termos de direc¸a˜ o, o vetor momento angular e´ ortogonal tanto a p quanto a r , ou seja, ele e´ perpendicular ao plano formado por esses vetores. A direc¸ a˜ o de l ´e aquela onde um observador na extremidade deste vetor vˆe o movimento no sentido anti-hor´ario. A magnitude de l pode tamb´em ser dada em termos de componentes perpendiculares a r na forma l
= r ⊥ p = r p⊥
(16)
Figure 18: Brac¸o de alavanca.
onde r ⊥ ´e a componente de r que ´e perpendicular a p e, analogamente, p ⊥ ´e a componente de p que ´e perpendicular a r . Uma part´ıcula em MRU tem momento angular? Neste caso, ilustrado na Figura (19), uma part´ıcula em MRU passa pr o´ ximo a um ponto O, por onde se deseja medir seu momento angular; no ponto mais pr´oximo em que a part´ıcula est´a de O, podemos medi-lo, encontrando mvb, onde b e´ o valor desta distˆancia - e que coincide com o parˆametro de impacto. De quanto momento angular varia com o tempo? De in´ıcio, lembramos que na ausˆencia de Figure 19: Torque em um MRU. um torque externo, o momento angular deve se conservar; como o momento angular e´ um vetor, ele e´ constante n˜a o s´o em m´odulo, mas tamb´em em direc¸ a˜ o e em sentido. Logo, o momento angular de qualquer part´ıcula livre com relac¸a˜ o a um ponto O ´e uma constante de movimento.
3.0.1
Forc¸as centrais
As forc¸as centrais, como foi visto anteriormente, s a˜ o aquelas que apontam na direc¸ a˜ o de r = OP, que liga o ponto de ac¸ a˜ o da forc¸a ao centro de forc¸as, e por isso n a˜ o realizam torque. Com isso, pode-se concluir que o momento angular, com relac¸a˜ o ao centro de forc¸as, de um sistema sujeito a forc¸as centrais ´e constante. Uma implicac¸ a˜ o direta (um pouco abstrata) e´ sobre o plano em que o movimento ocorre; se o momento angular ´e constante, ent˜ao a o´ rbita do movimento da part´ıcula est´a sempre num mesmo plano; isso significa que, se uma part´ıcula de massa m tem movimento inicialmente descrito pelo vetor r0 , com relac¸a˜ o a O, e velocidade v 0 , ent˜ao seu momento angular l = m r0 v0 , em um tempo posterior, tem que ser igual a l 0 de modo que r e v se ajustam de forma a manter o momento angular invari´avel, ou seja, no mesmo plano da o´ rbita.
×
Figure 20: Plano da o ´ rbita.
Considera-se agora uma part´ıcula em uma ´orbita tal que num ponto P ela se desloca por uma quantidade infinitesimal d r; neste deslocamento, o raio vetor r varre, dos pontos P a P , uma ´area triangular dada por dA
=
1 r 2
| × d r|;
(17)
Pode-se, ent˜ao, perguntar sobre a variac¸a˜ o temporal da a´ rea varrida - que e´ definida como velocidade aerolar - enquanto a part´ıcula se move em sua ´ Figure 21: Area ‘varrida’.
7
o´ rbita; para cada deslocamento d r, a ´area varia temporalmente por dA dt
= =
⇒ ddt A
=
|r × d r| = 1 r × d r 2 dt 2 dt
×
1 r 2m 1 l, 2m
md r 1 = r 2m dt
||
| × p|
(18)
mostrando que a velocidade aerolar ´e diretamente proporcional ao momento angular. Isso implica que em um sistema onde uma part´ıcula executa uma trajeto´ ria orbital sob ac¸a˜ o de forc¸as centrais tem momento angular conservado e, como consequˆencia disso, que sua velocidade aerolar ´e tamb´em uma constante. Se considerarmos o sistema solar, desprezando a ac¸ a˜ o m´utua entre os planetas, tem-se que a forc¸a gravitacional do Sol atua como uma forc¸a central e, assim, a velocidade aerolar dos planetas em ´orbita no sistema solar ´e constante: esta e´ uma maneira diferente de expressar a segunda das leis de Kepler, onde os planetas varrem ´areas iguais em tempos iguais. Assim, como a velocidade do movimento se ajusta `a distˆancia em que o planeta est´a do Sol, tem-se que o movimento dos planetas e´ mais r´apido quando est a´ mais pr´oximo do Sol - ou seja, no peri´elio - e mais lento quando est´a mais distante dele - no af e´ lio. Como o momento angular se conserva r A v A = r P vP
Figure 22: Segunda lei de Kepler.
r A vP = r P v A
⇒
(19)
Considere agora um disco deslizando sem atrito sobre uma mesa, executando um MCU, onde e´ puxado por um fio que passa por um orif ´ıcio em O, como na Figura (23), por uma forc¸a F atrav´es do orif´ıcio. Considerando que o fio seja ideal, a forc¸a e´ integralmente transferida ao disco de modo que o disco reage com uma forc¸a centr´ıpeta mv 2 /r . Como a forc¸a e´ central, o momento angular se conserva e, como o raio n a˜ o varia, a velocidade e´ a mesma para qualquer ponto da trajet´oria circular. Pode-se, ent˜ao, aumentar a forc¸a F deste pux˜ao; assume-se que isso seja feito lentamente. O raio r ir a´ , ent˜ao, diminuir e, para que o momento angular seja conservado, o sistema aumentar´a o m´odulo da velocidade v. Como quantificar isso? Uma maneira Figure 23: Disco puxado por fio. direta e´ encontrar a variac¸ a˜ o de velocidade diretamente com a variac¸a˜ o de r pela conservac¸ a˜ o de l . Por outro lado, pode-se estudar atrav´es da variac¸ a˜ o de energia no sistema: do teorema do trabalho e energia cin´etica ∆K =
=
1 1 2 m(v + ∆v)2 mv 2 2 v2 ∆W = m ∆r . r
−
≈ mv∆v,
Ent˜ao m∆v = mv
∆r
r
⇒
mr ∆v = mv∆r
⇒ ∆(mrv) = 0,
(20)
que e´ a conservac¸ a˜ o do momento angular, como esperado. Continuando a analogia entre cinem´atica unidimensional e movimento circular, como a velocidade linear tem um an´alogo que e´ a velocidade angular e o momento linear tem o an´alogo que e´ o momento angular, como se definir o an´alogo da massa? Notando que l = mrv = mr (r ω ) = mr 2 ω
≡ I ω
(21)
onde a quantidade I = 8
mr 2
(22)
e´ definida como o momento de in e´ rcia da part´ıcula com relac¸a˜ o ao ponto O. Esta analogia permite escrever a energia cin´etica de rotac¸ a˜ o como K =
1 2 1 1 1 mv = m(ω r )2 = mr 2 ω = Iw 2 . 2 2 2 2
(23)
3.1 Exerc´ıcios 1. Uma part´ıcula de massa m se move sobre uma superf ´ıcie horizontal lisa com uma velocidade v 0 . Ela est´a presa a uma das extremidades de um fio ideal de comprimento l cuja outra extremidade est´a fixa no ponto ´ retil´ınea cuja distˆancia ao ponto O. Inicialmente, o fio n˜ao est´a esticado e a part´ıcula descreve uma trajet oria O ´e b, como indica a Figura (24). Num dado instante, o fio ir´a se esticar. Suponha que a partir desse instante a part´ıcula passe a descrever um movimento circular uniforme de raio l.
O
b
v0 Figure 24: Part´ıcula presa a fio. (a) Considere as grandezas da part´ıcula: momento linear, momento angular relativo ao ponto O e energia mecˆanica. Quais, dentre elas, s a˜ o conservadas desde um instante em que o fio est a´ frouxo at´e um outro em que o fio est´a esticado? Justifique. (b) Determine o m´odulo da velocidade da part´ıcula quando ela estiver em movimento circular uniforme. Calcule o per´ıodo desse movimento, isto ´e, o intervalo gasto para ela dar uma volta completa.
Conservac¸ ˜ ao do momento angular, simetrias e leis de conservac¸ ˜ ao
4
Assim como no caso do momento linear no qual pela segunda lei de Newton se nenhuma forc¸a atua no sistema ent˜ao o momento total e´ conservado, tem-se que quando o torque externo resultante com relac¸ a˜ o a um ponto O ´e nulo, o momento angular com relac¸a˜ o ao mesmo ponto tamb e´ m se conserva:
τ ext = 0
⇒
L = L
(24)
No sistema Terra-Sol, o torque devido a` forc¸a gravitacional do Sol e´ nulo porque esta forc¸a e´ central; entretanto, a Terra ainda gira em torno de seu eixo e o motivo desse movimento se d a´ porque a Terra n˜ao e´ perfeitamente esf´erica ao interagir gravitacionalmente com o Sol e com a Lua; esses efeitos levam a um movimento terrestre conhecido como precess a˜ o dos equinocios. ´ Um fato muito importante ´e que a Eq. (24) ´e uma regra de conservac¸a˜ o vetorial; ou seja, al´em de ser conservado o modulo ´ destes vetores, a direc¸ a˜ o e sentido tamb´em o s˜ao! Isso implica tamb´em que a lei de conservac¸ a˜ o e´ v´alida para cada componente e isso implica que se uma componente do torque externo se anula, ent a˜ o a componente correspondente do momento angular vai ser conservada independente do que ocorra com as demais. Por exemplo, muitos professores de f´ısica gostam de fazer esse experimento, onde ele fica sentado sobre uma cadeira girat´oria e segurando um bast a˜ o com uma roda de bicicleta 2 em uma de suas extremidades. 2
Veja um dos mais bem feitos aqui: https://www.youtube.com/watch?v=YrTQfEMXu6o
9
O professor ent˜ao comec¸a a girar a roda e, segurando a outra extremidade, ele levanta o sistema da roda com o bast˜ao na vertical. Pode-se observar essas situac¸ o˜ es ainda sem precisar fazer c a´ lculos: quando o sistema rodabast˜ao est´a em rotac¸a˜ o, o momento angular do sistema, suponha de modulo L x , est´a apontando na direc¸ a˜ o do bast a˜ o - vamos assumir que seja xˆ - e no sentido da velocidade angular ω em que a roda gira; observe que as outras componentes, nas direc¸ o˜ es yˆ e zˆ , s˜ao nulas nessa situac¸a˜ o inicial. Quando o professor coloca o bast a˜ o na vertical, o que chamamos de situac¸ a˜ o final, o sistema apenas sobre interac¸ o˜ es internas, ou seja, o momento angular L total do sistema deve se conservar; isso implica que L y e L z tamb´em ter˜ao de ser conservados. Ocorre que o bast˜ao na direc¸a˜ o vertical tem vetor momento angular L x ; assim, para que o momento angular na direc¸ a˜ o zˆ se conserve, o professor comec¸ a a girar em direc¸ a˜ o oposta a` da roda com momento angular de m´odulo igual a L x , tamb´em na direc¸ a˜ o ˆz.
−
Exerc´ıcio: no caso em que o professor faz uma variac¸a˜ o onde ele inicia direcionando o bast˜ao para baixo com a roda girando em um sentido, de modo que tenha momento angular L z e, em seguida, ele levanta o bast˜ao de modo que a roda fique sobre sua cabec¸a. Assumindo que forc¸as dissipativas realizem torque desprez´ıvel no sistema, qual e´ o novo momento angular da roda?
Figure 25: Conservac¸ a˜ o de L z .
Esta explicac¸a˜ o serve para mostrar porque um girosc o´ pio, ou um pi˜ao, se mant´em em equil´ıbrio quando est´a girando com altas rotac¸o˜ es em torno do eixo vertical. Um girosc´opio pode ser usado para corrigir defeitos em simetrias de sistemas que precisam de alta sime´ tria para se manterem estabilizados; aeromodelos, helic opteros e muitos outros s a˜ o exemplos3 . Assim, pec¸as de motores que atuam em rotac¸a˜ o e que apresentam oscilac¸ o˜ es indevidas, mostram que algumas componentes indesejadas de momento angular est a˜ o aparecendo, mostrando que a pec¸a deve ser reparada ou substitu´ıda. Outros exemplos s˜ao dados no cotidiano. Por exemplo, muitos professores - antissociais! - de f ´ısica tamb´em gostam de levar halteres para suas aulas e, n˜ao como educadores f´ısicos, se aventuram em rodar em uma cadeira girat´oria segurando os halteres com os brac¸os abertos, como na Figura (26(a)); em seguida, eles encolhem seus brac¸os e sentem variac¸o˜ es em suas velocidades de rotac¸ a˜ o. Por quˆe? Observe que ao encolher o brac¸o, o nosso professor realiza uma forc¸a central em cada um dos halteres e, como essas forc¸as n˜ao realizam torque, o sistema conserva momento angular e por isso, como o raio de rotac¸ a˜ o e´ menor, a velocidade angular aumenta; ele faz isso sem beleza nenhuma na apresentac¸ a˜ o. De maneira completamente an´aloga, uma patinadora - a despeito do ˜ professor desengonc¸ado - completamente graciosa efetua, em suas acrobacias, rotac¸ oes; nestas, ela inicia com os brac¸os e pernas abertos de modo que quando ela os fecha, aumenta sua velocidade de rotac¸ ˜ao; ela faz isso sem saber o m´ınimo da f ´ısica da situac¸ a˜ o.
(a)
(b)
Figure 26: Sistemas simples onde o momento angular ´e conservado O momento angular e sua conservac¸ a˜ o mostram a validade de leis t˜ao fundamentais quanto a` da conservac¸ a˜ o do momento linear; seus efeitos n˜ao se limitam na f´ısica macrosc o´ pica, mas tamb´em em sistemas absurdamente grandes, como gal´axias e aglomerados delas 4 , e absurdamente pequenos, que podem ser descritas apenas atrav e´ s da teoria quˆantica. 3 4
Um exemplo fant´astico pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=n 6p-1J551Y. Violac¸ o˜ es dessas regras de conservac¸a˜ o permitiram que cientistas descobrissem v´arias anomalias em distribuic¸ a˜ o de mat´eria no Universo,
10
De uma maneira geral, a conservac ¸ a˜ o do momento angular est´a relacionada a` simetria espacial. Por exemplo, a Terra executa o movimento de precess˜ao dos equin´ocios, um movimento que s´o ocorre porque sua distribuic¸a˜ o de massa n˜ao e´ sim´etrica. Podemos encontrar tamb´em o momento angular L de um sistema de part´ıculas que gira em torno de um eixo fixo; uma vez que o momento angular e´ um vetor, vale o princ´ıpio da superposic¸ a˜ o, ou seja, para um sistema de N part´ıculas, o momento angular total ´e
L
= m1 r1
× v + m r × v + ... + m ∑m r ×v . 1
2 2
N r N
2
N
=
i i
×v
N
(25)
i
Figure 27: Imagem gravitacional da Terra.
i=1
Define-se tamb´em o torque externo ao sistema como a soma dos torques individuais de cada part´ıcula do sistema
τ ext =
r1
×F
ext 1 + r2
×F
ext 2 + ... + r N
ext N .
×F
(26)
Um outro resultado de grande importˆancia em sistemas de part´ıculas e´ encontrar o torque com relac¸a˜ o ao centro de massa do sistema; para isso, seja r i = ri rCM , ent˜ao o momento angular com relac¸a˜ o ao centro de massa LCM ser´a
−
LCM
= m1 r1
× v + m r × v + ... + m
= m1 (r1 =
1
2 2
N r N
2
×v
N
− r ) × v + m (r − r ) × v + ... + m 1
CM
2
2
N (r N
2
CM
−r × (m v + m v + ... + m CM
1 1
N v N ) + m1 r1
2 2
N
CM
× v + m r × v + ... + m 1
= L M rCM vCM
−
−r )×v
×
2 2
N r N
2
×v
N
(27)
onde foi usada a definic¸ a˜o de posic¸ a˜ o e velocidade do centro de massa para um sistema de part ´ıculas. Ent˜ao, a taxa de variac¸ a˜ o temporal desta quantidade e´ dada por d LCM dt
d L dt
=
− M r × d rdt M C
CM
= τ ext rCM
× ( M a M )
= τ ext rCM
×F
− −
C
ext
.
Sabendo que
τ ext = ext
F
r1
× F + r × F + ... + r × F 1
2
N
2
N
(28)
= F1 + F2 + ... + F N
encontra-se que d LCM dt
= r1
× F + r × F + ... + r × F − (r
= (r1
1
2
N
2
N
cm F1 + rcm F2 + ... + rcm F N )
− r ) × F + (r − r ) × F + ... + (r − r ) × F CM
1
2
CM
= τ ext
2
N
CM
N
(29)
como a mat´eria escura.
11
que implica na conservac¸ a˜ o do momento angular com relac¸a˜ o ao centro de massa de um sistema de part´ıculas; este teorema pode ser estendido para qualquer ponto fixo Q no sistema, de modo que a conservac¸ a˜ o do momento angular indepentemente do referencial.
5
Din ˆamica de corpos r´ıgidos
O tipo de rotac¸a˜ o de corpos r´ıgidos mais simples ´e aquele onde o corpo gira em torno de um eixo fixo, assim como ilustra a Figura (28); vimos que neste caso cada part´ıcula executa um MCU com raio fixo igual a` sua distˆancia do eixo de rotac¸ a˜ o OO . Convencionando que o eixo OO est´a na direc¸ a˜ o zˆ , o movimento da part´ıcula se restringe ao plano formado por O , x , y e o u´ nico grau de liberdade e´ o aˆ ngulo de rotac¸ a˜ o φ . A velocidade de rotac¸a˜ o v, na notac¸a˜ o de coordenadas polares planas, ´e ortogonal ao vetor ρ = O P e sua magnitude ´e
|v|
= ρω = ρ
d φ . dt
(30)
O momento angular de uma part´ıcula de massa m no ponto P com relac¸ a˜ o `a origem O ser´a
l
= mr
× v = m(OO + O P) × v
(31)
que, conforme a Figura (28), pode-se escrever que OO = Z e O P = ρ , ou seja
= m(Z
l
Figure 28: Rotac¸a˜ o em torno de OO .
× v + ρ × v).
×
(32)
Pelas regras do produto vetorial, pode-se concluir que o resultado de Z v ´e um vetor ortogonal tanto a ˆz quanto que a v , ou seja, ele sempre a ponta na direc¸ a˜ o da forc¸a centr´ıpeta; j´a o resultado de ρ v e´ paralelo a zˆ . Como estamos interessados na equac¸a˜ o fundamental da dinˆamica das rotac¸ o˜ es, τ ext = d L/dt , vamos nos concentrar apenas na parte azimutal dos resultados, ou seja, na componente ˆz do momento angular que resulta de (32): l z
×
= mρ v = mρ 2 w.
(33)
Cabe mais uma analogia neste ponto; como l est´a para p, tem-se que suas componentes tamb e´ m s˜ao rec´ıprocas, ou seja, p z = mv z est´a para l z = mρ 2 ω ; esta analogia seria ideal se m ρ 2 fizesse um papel de massa. Assim como foi ˜ definido em energia cine´tica de rotac¸oes, m ρ 2 e´ o que se chama de momento de in e´ rcia da part´ıcula com relac¸a˜ o ao eixo de rotac¸ a˜ o. O resultado pode estrapolar o limite de uma part´ıcula apenas, passando para o caso em que todo o corpo r´ıgido seja dividido em massas ∆mi , de modo que a componente ˆz de seu momento angular seja dada por L z
=
∑ l zi = ∑ ∆mi ρi2 i
i
ω ,
j´a que todas as part´ıculas se movimentam com a mesma velocidade angular ω . No limite em que ∆mi pode-se escrever que L z
= I ω
(34)
→ dm, (35)
onde foi usado que I =
ρ 2 dm ,
(36)
que e´ definido como o momento de in´ercia de um corpo r´ıgido com relac¸a˜ o ao eixo de rotac¸ a˜ o. O c´alculo de I normalmente e´ feito com a descric¸a˜ o do elemento de massa dm ∝ dV , onde a proporcionalidade e´ dada com o coeficiente chamado de densidade volum´etrica de massa de cada elemento de volume dV . Em seguida, ser˜ao 12
˜ feitos os c´alculos de momentos de in e´ rcia de v´arios objetos. A equac¸ a˜ o fundamental da dinˆamica das rotac¸oes fica, para a Eq. (35), dada por L z dt
d ( I ω ) = τ zext . dt
=
(37)
Observe bem duas informac¸o˜ es muito importantes: a primeira e´ que o momento de in´ercia e´ a integral da distribuic¸ a˜ o da massa com o quadrado de ρ para todo o corpo, independente do eixo de rotac¸ a˜ o escolhido; a segunda e´ que a velocidade ω tamb´em n˜ao depende do ponto O j a´ que todas as part´ıculas, na situac¸ a˜ o inicial do problema que e´ de rotac¸ a˜ o em torno de um eixo fixo, se movimentam com a mesma velocidade angular, independente da escolha do ponto O. Sendo assim, τ ext tamb´e m n˜ao deve depender de O. Esta observac¸ a˜ o pode ser verificada alterando-se a origem para um outro ponto O do eixo, de modo que o torque externo em relac¸ a˜ o a este ponto ser´a Z F, onde Z = OO e esta variac¸ a˜ o ´e perpendicular a Oz, de modo que n a˜ o altera a componente ˆz do torque; isso implica que o torque pode ser tomado de qualquer ponto do eixo de rotac¸ a˜ o.
×
Como o caso considerado ´e o de um corpo r´ıgido, tem-se que o momento de in´ercia I n a˜ o varia com o tempo na Eq. (37) e isso implica que ela pode ser reescrita para sistemas semelhantes por d ω dt
L z dt
= I
≡ I α ,
(38)
¨ sendo a acelerac¸ a˜ o angular. Desta forma, a Eq. (38) representa uma analogia da segunda lei de ˙ = φ para α = ω Newton para sistemas unidimensionais, onde I tomaria o papel da massa e α o da acelerac¸ a˜ o linear. Desta forma, pode-se revisitar os exemplos da Figura (4), sobre o professor desengonc¸ado e a patinadora. Neles, os momentos angulares se conservavam e, por isso I 0 ω 0
= I 1 ω 1
(39)
de modo que ao encolher os brac¸os, tanto a bailarina quanto o professor, alteram seus momentos de in´ercia e a natureza, ao conservar seus respectivos momentos angulares, faz com que suas velocidades angulares se alterem. Entretanto, o c´alculo dos momentos de in´ercia n a˜ o s˜a o t˜ao simples de se efetuar na grande maioria dos casos, salvos aqueles com altos graus de simetria. Ampliando a discuss˜ao sobre analogias, pode-se encontrar novamente o an a´ logo da energia cin e´ tica K ; um elemento de massa dm a uma distˆancia ρ do eixo de rotac¸a˜ o tem energia cin´etica dada por dK =
1 1 1 dmv 2 = dm (ρω )2 = dm ρ 2 ω 2 , 2 2 2
(40)
(41)
de modo que a energia cin´etica de rotac¸ a˜ o de todo o corpo ser´a K =
1 2 1 ρ dm ω 2 = ω 2 2 2
1 2
ρ 2 dm = I ω 2 .
sendo que I =
ρ 2 dm .
(42)
O teorema do trabalho e da energia cin e´ tica pode ser facilmente encontrado. O elemento de trabalho dW realizado por um torque τ ext em uma rotac¸ a˜ o por um elemento de rotac¸ a˜ o d φ e´ dado por ext
≈ τ
dW
φ dt d φ = I α ˙
¨ , encontra-se que o trabalho total realizado pode ser escrito como onde, substituindo o usando que α = φ 2
dW
=
˙ 1 d φ d ω 2 ¨ ˙ )dt = I ( )dt = d I ω 2 I φ φ dt = I ( 2 dt 2 dt 2
como desejado.
13
= dK ,
(43)
Figure 29: Tabela de analogias entre translac¸o˜ es e rotac¸o˜ es em torno de um eixo fixo.
5.1
C´alculos de momentos de in´ercia
Sabendo agora que o momento angular pode ser dado em termos do momento de in´ercia I = ρ 2 dm, pode-se calcular todas as propriedades da din aˆ mica de corpos r´ıgidos onde for poss´ıvel calcular seus momentos de in e´ rcia. Assim, os casos onde as distribuic¸ o ˜ es de massa tem maiores simetrias s˜ao os mais simples de se resolver; estes ser˜ao tratados a seguir. Este c´alculo pode chegar a resultados incoerentes quando eles forem feitos sem muito cuidado; assim, o segredo para calcul´a-los corretamente e´ sempre definir a raz˜ao
dm , M
(44)
onde M e´ a massa total do corpo r´ıgido e d m deve levar em conta a forma da distribuic¸a˜ o de massa, de modo que esta raz˜ao deva ser uma func¸ a˜ o de coordenadas e n a˜ o das massas. Anel circular delgado girando em torno de ˆz no centro: O caso mais sim˜ de massa s a˜ o completamente sim´etricas com ples e´ onde as distribuic¸oes relac¸a˜ o ao eixo de rotac¸ a˜ o; ou seja, nos casos onde o eixo de rotac¸ ˜ao se confunde com algum eixo de simetria do corpo r´ıgido. O caso mais simples e´ o de um anel, desde que ele seja suficientemente delgado, toda a massa estar´a a uma distˆancia fixa ρ do centro e ent a˜ o seu momento de in e´ rcia com relac¸a˜ o ao centro ser´a
=
I A
ρ 2 dm
Figure 30: Anel circular.
= ρ 2 M .
(45)
Disco circular girando em torno de ˆz no centro: Este c´a lculo pode ser feito considerando que o disco seja a composic¸a˜ o de an´eis infinitesimais concˆentricos de raios d ρ . Assim, a raz˜ao dM / M pode ser encontrada relacionando a massa dm de cada anel em relac¸ a˜ o a` massa total M do disco: dm M
2πρ d ρ
=
π R2
=
2 R2
ρ d ρ ,
(46)
e ent˜ao o momento de in´ercia ser´a R
I D
=
0
=
Figure 31: Disco circular.
2 M 2 ρ ρ d ρ R2
2 M R2
R
0
ρ 3 d ρ =
2 M R4 MR2 = . 2 R2 4
14
(47)
Cilindro circular em torno de ˆz no centro: O caso do cilindro pode ser considerado de maneira muito simples, uma vez que j´a seja conhecido o momento de in´ercia do disco circular. Basta pra isso considerar que a raz a˜ o dm M
=
2πρ d ρ L π R2 L
=
2ρ d ρ R2
(48)
que ´e a mesma do disco; ou seja, o disco ter a´ momento de in´ercia
Figure 32: Cilindro circular.
2
MR . 2
=
I D
(49)
igual ao do disco, desde que ambos estejam girando em torno do eixo de simetria e em torno de ˆz, t eˆ m os mesmos momentos de in´ercia, independente da altura que o cil´ındro tenha. Barra delgada em torno do centro: A massa contida em um elemento d m de uma barra delgada e homog eˆ nea de comprimento L ´e dada por dm
=
d ρ M , L
(50)
ent˜a o seu momento de in´ercia pode ser feito atrav´es de duas integrais sim´etricas com relac¸ a˜ o ao centro, na forma L
I B
=
Figure 33: Barra delgada.
ρ 2 dm
0
2 M L
=
L/2
0
2 M ( L/2)3 ML 2 = . ρ d ρ = 3 12 L 2
(51)
Observe que este resultado tamb e´ m deve valer para uma barra de espessura arbitr´aria, como na Figura (34), devido novamente a` distribuic¸a˜ o de massa ser sim´etrica. Esfera em torno de um di aˆ metro: O c´alculo do momento de in´ercia da esfera pode ser feito levando em conta que ela seja formada por um empilhamento de discos de espessuras infinitesimais e cujos centros formem o eixo de rotac¸a˜ o.
Figure 34: Barra arbitr´aria.
A Figura (35) mostra quais como os discos s˜ao medidos; por exemplo, um disco que est´a a uma altura z tem raio dado por R2 z2 e espessura dz; a massa de cada um dos discos est´a para a massa da esfera assim como ´e a raz˜ao entre seus volumes, ou seja
√ −
dm M
=
πρ 2 dz 4 3 π R 3
=
3 ρ 2 dz . 4 R3
Como momento de in´ercia de cada disco de raio ρ , pela Eq. (47), ´e I D
=
M ρ 2 , 2
(52)
Figure 35: Esfera em torno de ˆz.
ent˜ao, para a esfera formada de discos de espessuras dz, tem-se a relac¸ a˜ o dI E
1 2
= I D dz = dm ρ 2 = =
3 M 4 ρ dz 8 R3 15
M 2 3 ρ 2 dz ρ 2 4 R3
(53)
O momento de in´ercia da esfera ser a´ R
I E
= 2
0
3 M 4 R3
=
3 M 4 R3
=
⇒
3 M 4 ρ dz 8 R3
× R
R4 + z4
− 2 R z
0
R
2
R2 z2
−
0
=
3 M 5 1 R 1 + 3 4 R 5
=
2 MR 2 . 5
dz 2 2 2
− 2 3
dz
3 MR 2 8 = 4 15
(54)
Observa-se que em todos os casos tratados at e´ aqui, os momentos de in´ercia s˜ao sempre proporcionais ao produto MR 2 ; por isso, define-se uma quantidade chamada de raio de girac¸ao, k = MR 2 , de modo que os momentos ˜ de in´ercia de cada corpo que foi estudado at´e agora pode ser dados em termo de k onde I =
mk 2
(55)
de modo que cada corpo r´ıgido tenha um raio de girac¸ a˜ o k espec´ıfico. Revisando todos os resultados encontrados at´e aqui, pode-se sumariz´a-los em temos dessa quantidade I A
⇒
k A = R
I D
⇒
k D = R/ 2
I B
⇒
k B = R/(2 3)
I E
⇒
k E = R
(56)
√
(57)
√
2/5.
(58)
(59)
Nos casos estudados at´e aqui, s´o se considerou que os corpos giram em torno de seus centros de massa; entretanto, esse n˜ao e´ o caso mais geral. Por exemplo, um p eˆ ndulo pode ser feito com uma barra que fica presa em uma de suas pontas de modo que ele executa oscilac¸ o ˜ es pr´oximas ao ponto de equil´ıbrio est´avel. Neste caso e em outros onde as rotac¸o˜ es ocorrem em torno de eixos que n a˜ o passam pelo centro de massa, ´e necess´ario usar o teorema de Steiner, que tamb´em e´ conhecido como o teorema dos eixos paralelos.
5.2 Teorema de Steiner H´a v´arios problemas cotidianos e de engenharia onde o movimento ocorre sem que o eixo de rotac¸a˜ o coincida com um eixo por onde passa o centro de massa do corpo. Nestes casos, pode-se lanar m a˜ os do teorema de Steiner, tamb´em chamado de teorema dos eixos paralelos. Isso pode ser feito para qualquer distribuic¸a˜ o de massa. Isso e´ feito relacionando um momento de in´erica I de um corpo qualquer em relac¸ a˜ o a um eixo paralelo arbitr´ario O z com o momento de in´ercia do centro de massa, I CM deste corpo; considera-se que o corpo seja constitu´ıdo de uma infinidade de fatias de larguras infinitesimais empilhadas perpendicularmente ao eixo. Sabendo que o momento de in´ercia de cada fatia ´e dado por dI Fatia
=
16
ρ 2 dm
Figure 36: Teorema de Steiner.
(60)
e sabendo que
ρ
=
ρ+l
(61)
encontra-se que I =
I CM + Ml 2 ,
(62)
onde foi usado que a integral ρ dm = 0 pois ρ pode ser escrito em termos da coordenada do centro de massa numa forma com componentes ortogonais e, como j a´ foi visto em sistema de part´ıculas, a soma total das distribuic¸ o˜ ees de r dm com relac¸ a˜ o ao centro de massa devem se anular. Sendo assim, para qualquer corpo que tenha um movimento por um eixo paralelo ao eixo de rotac¸a˜ o (como uma lata cilindrica rolando no ch˜ao, por exemplo), pode-se encontrar o momento de in e´ rcia atrav´es da Eq. (62). O teorema diz: “O momento de in e´ rcia de um corpo qualquer em relac¸a˜ o a um eixo e´ a soma de seu momento de in´ercia em relac¸ a˜ o ao um eixo paralelo passando pelo centro de massa, mais o produto de sua massa total vezes o quadrado da dist aˆ ncia l entre os dois eixos”. Assim, os momentos de in e´ rcia dos corpos estudados at e´ agora podem ser recalculados para v a´ rias diferentes posic¸ oes ˜ do ponto de fixac¸ a˜ o por onde o corpo vai executar sua eventual rotac¸ a˜ o. Barra delgada em torno de uma extremidade: Para resolver corretamente este problema, n˜ao se necessita de nada al e´ m do conhecimento do momento de in´ercia a partir do centro de massa da barra e da distˆancia do centro da barra ao ponto fixo da rotac¸a˜ o. Isso, como foi visto na sec¸a˜ o anterior, vale sempre que os eixos de rotac¸ a˜ o forem paralelos. Assim, como o momento de in´ercia da barra em torno de seu centro ´e dado na Eq. (51) e com o uso do teorema de Steiner, encontra-se que I B,O
=
1 L ML 2 + M 12 2
2
1 3
= ML 2 .
Figure 37: Barra delgada em torno de uma extremidade.
(63)
Cilindro circular em torno de uma geratriz: O racioc´ınio e´ exatamente o mesmo do caso anterior. Usando a Eq. (49), encontra-se que I C ,Geratriz
=
3 MR2 + MR2 = MR2 . 2 2
(64)
Este exemplo e´ de extrema importˆancia no caso de cilindros em rolamento sobre alguma superf ´ıcie plana ou no caso de polias, como na m a´ quina de Atwood. A determinac¸ a˜ o da energia cin´etica total de um corpo em rolamento deve Figure 38: Cilindro circular em levar em conta as energias cin e´ ticas de translac¸ a˜o e rotac¸a˜ o; em casos onde torno da geratriz. os rolamentos ocorrem de maneira independente das translac¸ o˜ es, ´e necess´ario medir as duas diferentes velocidades, o que n˜ao vale para casos onde o rolamento ocorre sem deslizamento, onde o espac¸o percorrido linearmente ´e igual ao espac¸o percorrido angularmente, atrav´es da relac¸ a˜ o x = Rφ .
5.2.1
M´aquina de Atwood
A primeira importante aplicac¸a˜ o dos conceitos de torque em corpos r´ıgidos com aplicac¸a˜ o em engenharia e´ a m´aquina de Atwood. Esta m´aquina e´ composta de uma roldana no formato de um cilindro de raio r e massa M que gira por um eixo que passa por seu centro em O e de duas massas, m1 e m 2 s˜ao presas a cordas ideais, ou seja, de massas desprez´ıveis; o movimento da corda ocorre sem que ela deslize pela roldana, mas mesmo assim o sistema conserva energia total, pois o atrito n a˜ o deve realizar trabalho. Nessas condic¸ o˜ es, o movimento exato deve considerar as trˆes massas, ou seja, o movimento da roldana tamb´em deve ser considerado. O movimento das duas massas ´e calculado exatamente como j´a foi feito ˜ das leis de Newton, onde encontra-se anteriormente com as aplicac¸ oes
− T m g − T m2 g 1
2
1
= =
m2 a
−m a 1
⇒
a =
(m2
− m )g − (T − T ) 1
2
m1 + m2
17
1
(65)
˜ s˜ao de mesmos m o´ dulos porque o sistema est´a ligado por onde as acelerac¸ oes uma corda. Como encontrar o movimento da polia? De in´ıcio, e´ necess´ario ˜ levar em conta os torques existentes nela; as forc¸as que atuam s a˜ o as tensoes T 1 e T 2 , executando um torque externo `a roldana com relac¸a˜ o ao ponto O dado por
τ ext =
−T r + T r . 1
2
(66)
´ necess´ario relacionar, agora, a acelerac¸a˜ o angular da roldana com a E acelerac¸ a˜ o linear das massas; como a corda passa pela roldana sem deslizar, ent˜ao existe o que se chama de v´ınculo do sistema
= α r.
a
(67)
Um cuidado interessante deve ser tomado com relac¸a˜ o ao sinal de α : se for considerado que a acelerac¸a˜ o e´ positiva para a massa m 2 , ent˜ao α ser considerado positivo. Assim, j´a se tem todos os ingredientes para definir corretamente o movimento da roldana, usando o equivalente da segunda lei de Newton para rotac¸ o ˜ es
τ ext =
⇒ T − T 2
1
(T 2
− T )r 1
=
r 2 I α = M 2
=
Ma . 2
a 1 = Mra r 2
(68)
Assim, usando os resultados em (65) e (68), encontra-se que a acelerac¸a˜ o no sistema ´e dada por
a
=
⇒a
=
(m2
− m )g − Ma 2 1
m1 + m2
(m2
− m )g 1
M m1 + m2 + 2
.
(69)
Este resultado so´ e´ equivalente aos casos estudados na sec¸ ˜ao sobre aplicac¸ o˜ es das leis de Newton quando a massa ˜ ˜ o diferentes no caso geral. da polia ´e desprez´ıvel ou quando a acelerac¸ a˜ o ´e nula; desta forma, as tens oes T 1 e T 2 s a Exerc´ıcio: Encontre as tens o˜ es T 1 e T 2 do exemplo da m´aquina de Atwood acima. E quanto a` s velocidades? Uma maneira de se calcular ´e usando o fato de que a energia do sistema se conserva; supondo que o ponto inicial do sistema ´e quando as duas massas est˜ao nas mesmas alturas, ent˜ao, quando a massa m2 desce uma altura h, a massa m 1 o acompanha, mas agora subindo uma altura h. Al´em disso, o sistema ganha energia cin´etica de translac¸ a˜ o nas massas m 1 e m 2 e de rotac¸ a˜ o na polia. Assim, assumindo a condic¸ a˜ o inicial como o zero de energia, tem-se E =
=
⇒v
2
0
−m gh + m gh + 12 m v 2
1
1
2
1 2
1 2
+ m2 v2 + I ω 2 2
= gh(m1
− m ) + 12 v (m + m ) + 14 Mr vr
= gh(m1
− m ) + 12 v (m + m + 12 M )
=
2
2
2gh(m1
2
2
−m ) 2
1 m1 + m2 + M 2
1
1
= 2ah,
18
2
2
2
2
(70)
ou seja, exatamente como a equac¸a˜ o de Torricelli para um sistema com uma acelerac¸ a˜ o a depois de percorrer uma distˆancia h. De agora em diante, ser´a considerado que todo o movimento seja limitado a um plano, que ´e chamado de plano de movimento; as equac¸ o˜ es de movimento se reduzem, ent a˜ o, aos movimentos de translac¸ a˜ o ser˜ao restritos a este plano ( x, y); o movimento de rotac¸a˜ o fica ent˜ao definido ao eixo ˆz. Estudaremos alguns exemplos a seguir.
5.2.2 Rolamento de um cilindro Um rolamento puro e´ aquele onde o movimento ocorre sem deslizar; na pr a´ tica, isso ocorre por conta do atrito. Mesmo com atrito tendo este papel essencial, ´e poss´ıvel considerar que o movimento conserve energia; isso porque o atrito n˜ao realiza trabalho. A forma de movimento de um ponto na superf´ıcie do corpo e´ o que se chama de cicl´oide. Consideremos o caso de um cilindro rolando sobre uma superf ´ıcie plana que, inicialmente, a trataremos como horizontal - que quer dizer, paralela ao plano ( x, y).
Figure 40: Trajet´oria cicl´oide de um rolamento puro, sem deslizar. A Figura (40) mostra o movimento depois da primeira revoluc¸a˜ o. Para quando o corpo est´a localizado um ponto P logo ap´os o in´ıcio do movimento, ele ter a´ percorrido uma distˆancia s
= Rφ ;
V
= Rω .
(71)
a velocidade instant aˆ nea ser´a dada por
(72)
Para um ponto qualquer no corpo, a composic¸a˜ o do movimento e´ de um movimento de translac¸a˜ o com um de rotac¸ a˜ o, de modo que a velocidade ´e dada por
= V + ω r,
×
v
(73)
onde V ´e a velocidade de translac¸ a˜ o, ω e´ a velocidade angular e r ´e a posic¸ a˜ o deste eventual ponto com relac¸ a˜ o ao centro de massa do corpo. Como r ´e um vetor que tem componentes na direc¸a˜ o de ˆz e na direc¸a˜ o ρ, a componente na direc¸a˜ o ˆz n˜ao contribui para a velocidade e, com isso, tem-se
ω r
×
= ω ρ,
×
(74)
(75)
tal que a velocidade, composta dos movimentos de translac¸a˜ o e de rotac¸ a˜ o, e´
= V + ω ρ.
×
v
A energia cin´etica total do cilindro, cujo rolamento ocorre sem deslizar, ´e dado por 1 2 I ω , 2
K =
(76)
mas o momento de in e´rcia de rotac¸ a˜ o n˜ao deve ser com relac¸ a˜ o ao ao momento de in e´ rcia do centro de massa, pois ele rola sobre uma geratriz; com isso, ´e necess´ario o uso do teorema de Steiner, sobre os momentos de in´ercia dos eixos paralelos dado na Eq. (64). Com isso, a energia cin´etica total e´ K =
1 1 I CM ω 2 + MV 2 . 2 2 19
(77)
5.3
Rolamento sobre um plano inclinado
Estuamos aqui o caso de um corpo com sec¸a˜ o circular, como cil´ındro, esfera ou anel, rolando sem deslizar sobre um plano inclinado de ˆangulo θ e altura h. O problema pode ser dividido em dois; o primeiro e´ aquele onde o corpo ainda est´a rolando sobre o plano; o segundo ´e aquele onde o corpo j´a desceu do plano. Esta diferenciac¸ a˜ o e´ necess´aria porque os planos de movimento s˜ao diferentes. Devido a` forma do corpo, pode-se usar o fato que a forc¸a que atua no centro de massa C . Observe que nem a forc¸a peso nem a normal realizam torque com relac¸a˜ o ao centro de massa no sistema; ´e interessante que se apenas essas forc¸as estivessem atuando no sistema, o objeto deslizaria de maneira idˆentia aos casos estudados em cinem a´ tica bidimensional. A forc¸a que atua de maneira definitiva na causa do rolamento ´e a forc¸a de atrito F a ; esta forc¸a atua no ponto de contato entre o corpo e o plano.
Figure 41: Rolamento em plano inclinado.
´ O torque realizado pelo atrito tem m odulo igual a F a R = µ e Mg cos θ R, onde R e´ o raio do objeto e µ e e´ o coeficiente de atrito est´atico. As equac¸ o˜ es de movimento, nas direc¸o˜ es xˆ e yˆ do plano inclinado, respectivamente, s˜ao dadas por Mgsen θ
− F
at
N Mg cos θ
−
= ma, (78)
= 0,
enquanto a equac¸ a˜ o de movimento da rotac¸a˜ o do corpo relativa ao centro de massa ´e dada por
τ =
F at R = I CM α .
(79)
O v´ınculo do sistema, ou seja, a condic¸ a˜ o onde o corpo rola sem deslizar, implica em V = Rω
⇒
a = Rα = R
d ω . dt
(80)
Sendo assim, j´a temos todos os ingredientes para encontrar a acelerac¸a˜ o do sistema levando em conta a rotac¸ a˜ o do objeto5 . De in´ıcio, como o problema e´ o mesmo para qualquer corpo de sec¸a˜ o circular, pode-se escrever o momento de in e´ rcia em termos do raio de girac¸a˜ o I CM
= mk 2 ;
(81)
o torque do sistema d´a a relac¸ a˜ o para a forc¸a de atrito 2
F at R = I CM α
2
mk a ⇒ F = mk α = R R R
(82)
at
a qual, substituindo na equac¸ a˜ o de movimento em ˆx encontra-se a
=
gsen θ , 1 + k 2 / R2
(83)
que, no caso em que k = 0, que eq¨uivale a uma part´ıcula, retorna-se ao caso estudado no segundo cap´ıtulo. Nota-se que aqui, com relac¸ a˜ o `aquele caso, o fator 1 /(1 + k 2 / R2 ) atua como um atenuador da acelerac¸ a˜ o; este resultado ´e intuitivo no sentido de que a energia potencial e´ transformada, al´em de energia cin´etica de translac¸a˜ o, em energia cin´etica de rotac¸a˜ o. Exerc´ıcio: Calcule a acelerac¸ a˜ o do plano inclinado para os casos do cilindro, anel e da esfera, rolando sen deslizar pelo plano inclinado. Qual e´ a forc¸a de atrito necess´aria para que o corpo role sem deslizar? Para tal, e´ necess´ario apenas que a condic¸ a˜ o de igualdade de componentes de forc¸a dada na Eq. (78), de modo que F at
= mgsen θ
5
R2 . k 2 + R2
(84)
O estudante deve ter claro, desde a primeira parte do curso, que a acelerac¸a˜ o j´a ´e suficiente para encontrar todas as informac¸o˜ es cinem´aticas e dinˆamicas de um sistema.
20
Qual ´e a velocidade ao fim do plano inclinado? Pode-se simplesmente usar Torricelli, obtendo V 2
= 2al = 2glsen θ
R2 R2 = . 2gh k 2 + R2 k 2 + R2
(85)
Qual e´ a energia cin´etica m´axima do objeto? Para encontrar isso, basta usar que K =
⇒ K
=
1 1 1 1 ω MV 2 + I CM ω 2 = MV 2 + Mk 2 2 2 2 2 R 2 1 k mV 2 1 + 2 = Mgh , 2 R
2
(86)
mostrando assim que, mesmo com o papel extremamente essencial do atrito nestas descric¸ o˜ es, o sistema conserva energia! Exemplo: Um cilindro homogˆeneo de massa M e raio R ´e puxado por um fio ideal, que est´a preso no centro do disco e faz um ˆangulo θ com a horizontal. Seja F o m´odulo da forc¸a exercida pelo fio, como ilustra a Figura (42). O cilindro rola sem deslizar sobre a superf´ıcie.
F
M
θ
R
Fat
N
P
Figure 42: Cilindro homogˆeneo de raio R puxado por um fio ideal.
• Usando que o momento de ine´rcia do cilindro em relac¸a˜ o ao eixo de simetria que passa pelo seu centro de massa vale I CM = MR 2 /2, calcule a acelerac¸ a˜ o do centro de massa
Escrevendo a Segunda Lei de Newton de acordo com o diagrama de forc¸as apresentado, tem-se
F + Fat + P + N
= M ACM ,
(87)
onde ACM e´ a acelerac¸ a˜ o do centro de massa do disco. Escrevendo a componente horizontal da equac¸ a˜ o (sabendo que a normal e o peso s o´ t eˆ m a componente vertical): F cos θ
= MACM .
− F
at
(88)
Por outro lado, somente a F at gera torque no disco, ent˜ao:
τ = F at R
=
⇒ F
at
= =
r F = I CM α 1 MR 2 ACM 2 MACM 2
×
(89)
onde usou-se a condic¸ a˜ o de rolamento sem deslizamento α = ACM / R . Substituindo (89) em (88): F cos θ
− MA2
CM
F cos θ
= MACM =
= ACM =
⇒
21
3 MACM 2 2 F cos θ 3
(90)
´ • Calcule o modulo da forc¸a de atrito e indique qual a direc¸ a˜ o e sentido da mesma, justificando sua resposta ´ muito simples encontrar o m o´ dulo desta forc¸ a quando se usa a equac¸ a˜ o (88), onde tem-se E F at
1 F cos θ 3
=
(91)
e essa forc¸a de atrito e´ para a esquerda, pois quando se aplica a forc¸a F , a tendˆencia do disco e´ deslizar para a direita. Dessa forma, o atrito se op o˜ e a esse movimento, gerando uma forc¸a para a esquerda.
• Qual o menor valor que o coeficiente de atrito est´atico µ deve ter para que o disco n˜ao deslize? Justifique e
sua resposta.
≤ µ N e, por isso, a condic¸a˜ o de
Sabe-se que a forc¸a de atrito est´atico deve obedecer a F at rolamento sem deslizar implica que 1 F cos θ 3
=
e
µ e N .
(92)
No caso em que a forc¸a aplicada fosse maior que este limite, o cilindro comec¸aria a deslizar enquanto fosse puxado. Para encontrar qual o valor de atrito est´atico nessa situac¸ a˜ o, tomamos a componente vertical da segunda lei de Newton F sen θ + N Mg
−
= 0
(93)
e, aplicando ao caso limite (92), tem-se 1 F sen θ + F cos θ Mg 3
− ⇒ µ
e
= 0 =
F cos θ 3( Mg F cos θ )
−
(94)
Exemplo: Dois patinadores de mesmas massas M est˜ao num ringue de patinac¸a˜ o. Um deles est´a parado enquanto o outro se move com velocidade constante v o . Ao passar pela menor dist aˆ ncia entre eles (ou seja, essa distˆancia d mostrada na Figura (43)), eles se d a˜ o as m˜aos. A figura abaixo mostra o ringue visto de cima, em um instante antes de eles se darem as m˜aos. Considere que o patinador que est´a parado se encontra a uma distˆancia x0 da origem sobre o eixo x.
Y
v0
O
d
x0
X
Figure 43: Dois patinadores idˆenticos em uma pista de patinac¸ a˜ o.
• Qual a posic¸a˜ o do centro de massa r
CM (0) no
instante em que os patinadores se d˜ao as m˜aos? Escolhendo esse instante como o inicial (t = 0), qual o vetor posic¸ a˜ o do centro de massa rCM (t ) em func¸ a˜ o do tempo? A posic¸a˜ o do centro de massa de um sistema formado por dois corpos ´e
rCM
= 22
m1 r1 + m2 r2 m1 + m2
(95)
tal que no instante em que eles se d a˜ o as m˜aos
rCM (0)
=
Mx0 xˆ + M ( x0 + d )xˆ d xˆ . = x0 + 2 M 2
(96)
Uma vez que a resultante das forc¸as externas que atuam sobre os patinadores ´e nula, o momento linear do sistema se conserva. Dessa forma, sabemos que o momento linear e velocidade do centro de massa valem
PCM
=
⇒v
CM
= M v0 = Mv 0 yˆ =
−
− v2 yˆ 0
(97)
Como a velocidade do centro de massa ´e uma constante, fica bem f´acil de encontrar a equac¸a˜ o de movimento subsequente: t
rCM (t )
= rCM (0) + =
0
− x0 +
1 v0 yˆ dt 2 1 v0t ˆy 2
−
d xˆ 2
(98)
5.4 Exerc´ıcios 1. Dois patinadores sobre gelo, de mesma massa m se aproximam um do outro com velocidades em relac¸ a˜ o ao solo de mesmo m´odulo v 0 , segundo trajeto´ rias paralelas separadas por uma distˆancia r . Ao chegarem na situac¸ a˜ o de maior aproximac¸a˜ o, eles se d a˜ o as m˜aos e comec¸am a girar mantendo sempre a distˆancia r entre eles. Despreze o atrito dos patins com o gelo e considere os patinadores como part´ıculas nesse problema. a) Calcule o momento angular do sistema relativo ao seu centro de massa e a velocidade angular de rotac¸a˜ o ω que os patinadores adquirem ap´os se darem a m˜aos. b) Suponha, neste item, que depois de estarem em rotac¸a˜ o com velocidade ω , os patinadores diminuam para r /2 a distˆancia que os separa. Nessa situac¸ ˜ao, calcule a nova velocidade de rotac¸ a˜ o do sistema dos dois patinadores. 2. Considere uma haste homogˆenea de massa m e comprimento l que pode girar em torno de um eixo fixo horizontal que est´a a uma distˆancia l /3 de um de seus extremos, como mostra a figura. Despreze o atrito com o eixo e a resistˆencia do ar.
/3
Figure 44: Haste presa a` distˆancia l /3 da ponta.
a) Calcule, inicialmente, o momento de in´ercia com relac¸a˜ o ao ponto fixo. b) Suponha que a haste seja abandonada a partir do repouso de uma configurac¸ a˜ o na qual ela est a´ na horizontal. No instante em que a haste atinge a configurac¸a˜ o vertical, calcule: ( i) a sua energia cin´etica; (ii) o m´odulo de sua velocidade angular e ( iii) o m´odulo da velocidade de seu centro de massa. 3. Uma barra homogˆenea fina, de massa M e comprimento a, est´a em repouso na horizontal, quando uma forc¸a impulsiva, vertical e para cima, age sobre uma de suas extremidades, transmitindo `a barra uma impuls˜ao I . ¨ encia, a barra ´e arremessada para cima girando. Al e´ m da momentˆanea forc¸a impulsiva e do Como consequˆ peso, nenhuma outra forc¸a age sobre a barra. Determine para que valor do m o´ dulo I da impuls˜ao a barra d´a, exatamente, uma volta completa quando o seu centro de massa volta `a altura inicial em que recebeu a impuls˜ao.
23
cm I
Figure 45: Impulso I aplicado `a extremidade da barra. 4. Uma barra homogˆenea de massa M e comprimento L tem uma de suas extremidades presa a um suporte no teto e a outra livre, formando um sistema chamado de p eˆ ndulo f ´ısico. Essa barra ´e abandonada do repouso na posic¸a˜ o horizontal. Considere que as forc¸as que realizam trabalho na barra s˜ao o peso e a resistˆencia do ar. A barra realiza seu movimento conforme a trajet o´ ria pontilhada at´e parar novamente, quando faz um aˆ ngulo β com a vertical, conforme a figura (4)
L
L
β ∆h
2
β
Figure 46: Pˆendulo f´ısico com atrito (a) A energia mecˆanica do sistema se conserva? (b) Qual ´e o momento de in´ercia da barra? (c) Considere o intervalo de tempo entre momento em que a barra ´e abandonada at´e o momento em que ela p´ara; calcule o trabalho realizado pela forc¸a peso e pela resistˆencia do ar nesse tempo. 5. Uma part´ıcula de massa m desliza sobre uma superf ´ıcie horizontal sem atrito com velocidade de m o´ dulo v0 e colide com uma haste uniforme de massa M e comprimento L que, inicialmente, encontra-se em repouso na vertical. Embora o extremo superior da haste esteja fixo, ela pode girar em torno de um eixo horizontal que passe por esse ponto (ponto 0). Ap´os a colis˜ao, a part´ıcula fica grudada na haste e o conjunto (hastepart´ıcula) gira at´e atingir um aˆ ngulo de inclinac¸ a˜ o m´aximo θ max com a vertical, como indica a figura. Despreze, nessa quest˜ao, o atrito na articulac¸ a˜ o da haste e a resistˆencia do ar. Determine a energia cin´etica O
M, L θmax
v0
m
Figure 47: Colis˜ao inel´astica de massa com haste. transferida ao sistema. 6. Um astronauta est´a ligado a uma nave no espac¸o atrav´es de uma corda de 120m de comprimento, que est´a completamente estendida inicialmente. Sem querer, ele aciona repentinamente o seu dispositivo de propuls˜ao, adquirindo uma velocidade tangencial de 2 , 5m/s. Para tentar retornar a` nave, ele comec¸a a puxar a corda lentamente, com uma forc¸a F (r ), de maneira que a velocidade radial v r seja constante. Considere que, por ter uma massa muito maior que a do astronauta, a nave n˜ao se move enquanto o astronauta puxa a corda e que a massa do astronauta com seu equipamento ´e de 180kg 24
(a) Utilizando a conservac ¸ a˜ o do momento angular L, calcule a velocidade tangencial do astronauta quando est´a a uma distˆancia de 60m da nave. Justifique a conservac¸ a˜ o de L . (b) Quais s˜ao as forc¸as que atuam no astronauta quando ele puxa a corda e executa simultaneamente um MCU? Qual a forc¸a que ele precisa fazer quando ele estiver a 60 m da nave? (c) Supondo que a corda que o liga a` nave ag¨uenta uma tens˜ao de 105 N , a que distˆancia da nave a corda arrebenta e com que velocidade o astronauta seria lanc¸ado no espac¸o quando isso ocorre?
25