Como “ Como
organizar a prática diária do Instrumento"
por Daniel Kovacich Para todos os Níveis
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Primeiramente as 12 regras para a prática eficaz de “ Wynton Marsalis Marsalis”: ”:
1º) Busque o “melhor” professor particular que puder; 2º) Escreva e desenvolva uma tabela para a prática regular/diária; regular/diária; 3º) Estabeleça alvos realistas; 4º) Quando praticando, concentre-se; 5º) Relaxe e pratique lentamente; 6º) Pratique o que não consegue tocar (as partes difíceis); 7º) Sempre toque com o máximo de expressão; exp ressão; 8º) Não seja rígido consigo mesmo; 9º) Não se exiba com ostentação; 10º) Pense por si próprio; 11º) Seja otimista - “Música lava a poeira do dia-a-dia”; 12º) Procure por relações entre as coisas.
Índice • Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 • Planejamento dos Estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04 • Comentários e sugestões sobre cada tópico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 • “Dicas” e conselhos práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 • Transcrições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . 16 • Links . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
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Introdução
“ Se você perder um dia de prática ninguém vai perceber. Se você perder dois dias você percebe. Se você perder três dias os seus amigos irão perceber. Mas se você perder quatro dias ou mais... todo mundo irá perceber.“ "Existem apenas três maneiras de ser um bom músico: praticar, praticar e praticar!"
Ambas são frases que provavelmente todos nós já ouvimos em algum momento de algum professor, e também citada por “Jerry Coker”, em seu livro "How to Practice Jazz ". E ele continua dizendo: "Essas frases são muito comuns, com certeza, mas pouco ou nada é dito ou escrito sobre COMO praticar" Eu acho que um dos elementos mais importantes para o progresso de um estudante de música, ou um músico já formado que busca evoluir é o “talento”, e também a maneira como ele organiza o estudo e a prática diária.
É tão importante o COMO praticar como também O QUE e O QUANTO se prática. Muitas vezes encontramos algum tempo todos os dias para a pratica do nosso instrumento e não sabemos por onde começar, quanto de tempo praticar de cada coisa, o que praticar e como praticar. Enquanto você pode aprender muitas coisas de vários livros dedicados ao aprendizado, e talvez (espero eu!) também deste artigo (que também inclui vários conceitos desses livros), parece-me essencial a orientação de um "Professor" experiente, que vai ser capaz de sugerir o melhor para cada aluno, de acordo com suas características pessoais e/ou necessidades. Tenha em mente que quanto mais ocupado você é (ensinando, trabalhando, etc.) mais eficiente e concentrado deve ser o seu estudo, a fim de aprender o máximo possível no pouco tempo que se tem disponível. Será, portanto, muito importante para os alunos, que em muitos casos ainda possuem o privilégio de viver com seus pais ou ainda não precisam trabalhar, adquirir o mais rapidamente possível em sua evolução hábitos de estudo produtivos. Neste artigo vou oferecer várias idéias, exemplos práticos de planos possíveis, recomendações, etc, pensando em estudantes com interesses diferentes: tocar o instrumento fluentemente com um bom som e uma boa técnica, improvisar sobre qualquer progressão de acordes, ler com facilidade qualquer partitura que lhe foi proposta, etc... Mais uma frase, do filme “Matrix” Morpheus: "Neo, mais cedo ou mais tarde você vai perceber, como eu fiz, que existe uma diferença entre conhecer o caminho e percorre-lo ..." 3
Planejamento dos Estudos
Faça um plano semanal, quinzenal, mensal ou anual, dividindo o estudo em certas categorias básicas, dependendo do objetivo de cada aluno. Por exemplo: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
Aquecimento e Sonoridade Leitura de estudos clássico e/ou popular Transcrições Técnica Improvisação Repertório Teoria e percepção auditiva “Tocar Livre” (momento de lazer/distração)
Atribuir a cada um destes tópicos um tempo pré determinado, levando em conta o quanto de tempo você tem disponível para estudar. Suponhamos, por exemplo, que você tenha a disponibilidade de estudar duas horas por dia. Vamos, então, dividir esses 120 minutos entre os 8 tópicos anteriores, além de dedicar algum tempo para descansar entre eles, o que é muito necessário. Obviamente, nem todos os alunos têm os mesmos pontos fracos, metas e preocupações, por isso é essencial a analisar cada caso individualmente. Mas aqui vou dar apenas um exemplo: • • • • • • • • • • •
Aquecimento e Sonoridade: 10 minutos Leitura de estudos clássico e/ou popular: 10 minutos DESCANSO (5 minutos) Transcrições: 15 minutos Técnica: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) Improvisação: 15 minutos Repertório: 10 minutos DESCANSO (5 minutos) Teoria e percepção auditiva: 15 minutos “Tocar Livre”: 10 minutos
Também pode-se aumentar o tempo destinado para cada tópico, e distribuí-los em dois dias, fazendo um "Plano A" e um "Plano B" . Por exemplo:
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“Plano A” (segundas, terças e quartas) • • • • • • • • •
Aquecimento e Sonoridade: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) Leitura de estudos clássico e/ou popular: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) Transcrições: 25 minutos DESCANSO (5 minutos) Improvisação: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) “Tocar Livre”: 15 minutos
“Plano B”(terças, quintas e sábados) •
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Técnica: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) Técnica: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) Repertório: 20 minutos DESCANSO (5 minutos) Teoria e percepção auditiva: 30 minutos DESCANSO (5 minutos) “Tocar Livre”: 10 minutos
Domingos: descanso Mais uma vez insisto que é muito importante "personalizar" o plano, de acordo com as necessidades e capacidades de cada aluno. As combinações são infinitas. Muitas pessoas me perguntam quantas horas devem praticar diariamente? Não tenho resposta para isso, porque esse tempo depende inteiramente de cada um de seus objetivos, suas habilidades, e do seu tempo disponível, etc... A resposta seria: "o máximo possível". Mas não é só o tempo, mas também o que e como é feito, como disse anteriormente. 30 minutos por dia, bem praticados, significaram, depois de um mês, cerca de 13 horas de prática (incluindo um dia de descanso semanal). Isso é muito melhor do que nada! Recomendo estudar aproximadamente à mesma quantidade de tempo todos os dias, em vez de estudar muito em um dia e nada no seguinte. E na medida do possível, sempre no mesmo horário. Dessa forma, o corpo vai adquirir um hábito que é muito mais produtivo do que se desgastar e depois ter que dar tempo para o corpo (e a mente) se recuperar. Este hábito no estudo tem de ser desenvolvido. Um aluno pode se acostumar a praticar todos os dias ou a praticar de vez em quando. Alguns dos meus alunos demonstram ambos os casos maravilhosamente. De qualquer forma, mesmo uma pessoa acostumada a prática diária pode não sentir vontade de fazer isso um dia. Nestes casos recomendamos o item "8" acima: "Tocar Livre" . Basta pegar o instrumento e tocar o que você quiser. Em alguns casos após um tempo pode se sentir vontade de praticar outra coisa. Mas, se não, não importa. 5
Também pode acontecer que depois de alguns dias praticando o mesmo estudo o nível de satisfação é atingido. Nesse caso, eu recomendo duas alternativas: a) mudança de rotina e voltar mais tarde em um momento que o material seja necessário, b) alguns dias de descanso. Muitas vezes, ao fazer o último volta-se mais ansioso para estudar o instrumento, e até mesmo a sensação de tocar é melhor do que antes, o que provavelmente é verdade.
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Comentários e sugestões sobre cada tópico
Não é o objetivo deste artigo esgotar o assunto. Alguns alunos já saberão o que eu quero dizer quando lerem a parte a seguir, enquanto outros não terão a menor idéia. Mas a minha esperança é de que, pelo menos, todos possam entender a idéia ou o "espírito" do que eu estou tentando passar aqui. São oferecidos apenas alguns comentários e exemplos de estudos possíveis em cada tópico, mas cada um deles também merecia um "COMO" fazer, porque? para citar alguns exemplos: existem muitas maneiras de se praticar escalas, aquecimento, afinação, leitura ...
1) Aquecimento e Sonoridade
É muito importante começar o estudo de forma gradual, de modo que os músculos que são usados para tocar o instrumento e que não estamos acostumados a utilizar na nossa vida cotidiana possam começar a trabalhar lentamente. É também aqui se prepara mentalmente para estudar e atingir a concentração adequada que vai nos permitir ter um estudo produtivo. Obviamente, o tipo de exercício vai depender muito do instrumento que você está estudando. Os exercícios mencionados aqui são principalmente para saxofone/clarinete.
• Exercícios respiratórios • Exercícios para fortalecer a embocadura • Intervalos de quintas lento em todo o registro • Notas longas, vários intervalos. • Exercícios de flexibilidade • Harmônicos: Exercícios “Joe Allard”. • Afinação: com notas pedais, afinando uníssonos e intervalos. O uso inteligente do afinador eletrônico (não treinar os olhos, mas o ouvido) • o saxofonista americano Bob Reynolds tem uma idéia bem interessante de um exercício de aquecimento/alongamento.
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2) Leitura de estudos clássico e/ou popular
Os estudos clássicos são muito úteis para aqueles que querem se dedicar à música popular, enquanto os estudos de música popular também vão ser de grande utilidade para aqueles que tem a música clássica como sendo o principal objetivo. Eu acho que os dois estilos podem muito bem se complementar e oferecer diferentes benefícios para o aluno. • Diversos estudos para clarinete e/ou saxofone • Diversos exercícios lendo à primeira vista • Transposição (Ler partes de clarinete em "A" no "Bb", ler temas do Real Book ou outros livros temáticos que são escritos em "C" com o sax alto , tenor, etc...)
3) Transcrições Ler o artigo específico para transcrição ao fim deste título (pag. 16)
4) Técnica São muitos e importantes os tópicos listados abaixo. Mas vai depender da inteligência e/ ou estratégia do professor e do aluno saber administrar o tempo gasto em cada um deles. É muito importante memorizar escalas, arpejos, modos, etc, etc, etc... porque essas são as bases de construção da música. • Stacatto / Detaché • Escalas maiores e menores em todos os tons (ligado e articulado) • Modos e outras escalas • Escalas cromáticas • Escalas em intervalos (2ª, 3ª, 4ª...) • Diferentes tipos de articulações • Arpejos (tríades e tétrades) • Articulações (estudos staccato - combinações diferentes) • Glissandos, multifônicos, efeitos "especiais" • "Patterns of Jazz" (Jerry Coker), muito bom também para os músicos "clássicos"
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5) Improvisação
Aspecto essencial para o estudante de jazz e outros gêneros populares, que penso eu também muito útil para os estudantes que querem tocar apenas música clássica, uma vez que isso dá mais facilidade e musicalidade com o instrumento. É claro que, neste último caso, o material escolhido e o tempo dedicado a estudar não deva ser o mesmo.
• Standards (Temas) • Trabalhos sobre a harmonia dos Temas: Arpejos sobre as notas dos acordes. Praticar também com o play-alog Aebersold Vol. 21 ou com os aplicativos “iReal Pro” e "Band in a Box". - Jerry Bergonzi (Inside Series Improvisation) - Relações de acordes. Movimento melódico na mudança de acordes. • Solos com notas fixas (ex.: mesma figura rítmica ou alguma nota específica de cada acorde) • II V I (progressões) • Temas Modais • Blues e Rhythm Changes em todos tons • Temas baseados em "Tonic Systems" ou multitonicas. • Patterns e expressões idiomáticas em todos tons
6) Repertório
A ênfase deverá ser colocada sobre os estilos de maior interesse para o aluno. Mas incluir outros estilos também vai contribuir para a formação do músico. Será importante aqui também dedicar algum tempo para “Memorizar” obras.
• Standards • Blues • Rhythm Changes • Temas Modais • Choros • Peças Específicas para Saxofone • Obras clássicas do repertório
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7) Teoria e percepção auditiva
Este ponto pode (e deve) também ser incluído na prática diária. Ir além da teoria: tentar aplicar os tópicos aqui estudados no próprio instrumento ou no piano ou violão (se esses não forem os primeiros instrumentos). • Enric Herrera - Teoria Musical e Harmonia Moderna (em espanhol) • Andy Jaffe - Jazz Harmony (em Inglês) • Livros de Maria del Carmen Aguilar • Cante intervalos a partir de notas tocadas no piano ou no clarinete / sax • Os sistemas básicos de composição: multitónicas ou "Tonic Systems", Blues, dodecafonismo, harmonia modal, etc... • Modos relativos e paralelos
8) “Tocar Livre”
Basta tocar o que quiser, sem qualquer exigência, sozinho ou com outros músicos. Esse tipo de atividade é muito importante no final de um dia de estudo, por que lentamente muitos dos elementos estudados no dia, ainda na nossa mente e ouvidos, vão ser incorporados de uma forma inconsciente à execução.
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Algumas contribuições muito boas do meu amigo Daniel Blech , que complementam ou reforçam as idéias deste artigo:
Existe uma velha frase que diz: "dividir para reinar". Ou seja: resolver os problemas separadamente. Os outros fatores permanecem iguais no subconsciente. Por exemplo, se um estudante tem um bom som, que vai continuar bom enquanto ele pratica outra coisa, ele não deve prestar atenção ao som (porque se ele fizer isso, ele estará desviando sua atenção do objetivo específico do exercício). Se você está estudado afinação (quintas, por exemplo) não deve se distrair com a respiração, ou a dureza ou suavidade da palheta, etc..., mas exclusivamente dedicado para afinar as quintas. Se você está estudando técnica, não deve se distrair com o som ou o fraseado. E assim por diante. Na minha experiência, esse esforço e essa concentração da muito resultado.
Observação de Daniel Kovacich: “Claro, a idéia não é negar a importância dos tópicos que não estão sendo trabalhados no momento, e que serão incorporados separadamente, de forma especifica. Nem muito menos sugerindo que se estude técnica com um som ruim!. Se o aluno pratica regularmente exercícios de sonoridade (para continuar com este exemplo), certamente os seus exercícios técnicos (ou qualquer outro) sempre irão soar melhor, porque esse elemento (o som) será incorporado a execução progressivamente ao longo do tempo. Eu acho que em alguns casos, pode-se até começar a praticar dois tópicos ao mesmo tempo, mas isso vai depender do estudante e dos tópicos em particular." O “Plano de Estudos” pode parecer bom no papel, mas na prática ele pode não funcionar, ou funcionar parcialmente (claro sempre falando de situações particulares, cada pessoa funciona de uma maneira diferente, etc...) Se for este o caso, convencer o aluno a fazer as alterações necessárias e/ou busca-las com a ajuda de um professor, mas em todo caso não se contente mecanicamente com uma programação diária auto-imposta , mas sim desenvolva uma de forma flexível, auto-crítica e de acordo com as metas específicas que você deseja alcançar . E é claro, projetar outra se os objetivos são outros. Parece óbvio, mas eu conheço muita gente que repetiram ao longo de sua vida o mesmo grupo exercícios como um ritual, sem ao menos se perguntarem o porque o faziam. E como você sabe se o plano escrito esta funcionando ou não? Se não houver nenhum resultado (ou mínimo) em 10 ou 15 dias, algo deve ser mudado.
Técnica, warm-ups (aquecimentos), afinação, sonoridade: Para evitar a rotina e o tédio, fazer um rodízio (por períodos) dos exercícios entre as muitas alternativas que temos disponíveis. No clarinete por exemplo temos: Klose, Bärmann, Albert, Kroepsch, David Weber, Burke entre outras mil... Incentivar o aluno a criar e escrever seus próprios exercícios, e que os leve ao professor e aos colegas para que eles possam analisar, criticar e expandir. A idéia é manter a mente ativa e não presa em um único ponto de vista. "
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Repertório: pegar uma peça, ou um movimento ou uma parte dela e tentar tocar de forma diferente. Por exemplo: a primeira frase do Adagio do concerto para clarinete de Mozart é considerado um exemplo perfeito de legato. Bem, tentando tocar Detaché de uma forma tão doce e expressiva como no seu original (ou que soe totalmente inexpressivo). Ou tocar a frase de abertura do 1º movimento do Concerto No. 2 de Weber a tempo, mas pianíssimo. Ou coisas mais loucas como adicionar ornamentação barroca ao concerto de Copland. As variações são infinitas. Eu não estou dizendo que você tem que tocar as peças assim no concerto. A idéia de "deformar" pode ajudá-lo a vê-las de uma forma mais clara e achar algum detalhe que foi esquecido. Como olhar uma imagem através de uma câmera , coloca-la fora de foco, e ir corrigindo gradativamente até que a imagem aparece claramente.
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“Dicas” e conselhos práticos
• A organização do estudo deve de ser “Escrita” em um papel, e se possível, o plano ser colocado em um lugar visível onde você estuda (no quarto, na sala…), ou no case do instrumento. Eu também recomendo deixar um espaço no papel para fazer anotações a cada dia, a fim de acompanhar o desenvolvimento do plano e planejar melhor o estudo posterior. • MUITO ÚTIL: Use um "timer", que vai te dar um aviso após a conclusão da quantidade atribuída de minutos, sem ter de estar contando o tempo durante a prática (coisa essa que poderia tirar sua concentração). Uma vez que este tempo tiver acabado anote até que ponto você foi e continue no outro dia com esse tópico. • Às vezes o estudo de algo novo que não se conhece pode ser exaustivo. De qualquer forma, eu recomendo um pouco da aprendizagem e a apreciar aprender algo novo, ainda que seja lento e doloroso. Mas não há ponto de ficar com raiva ou mau humor. • Mudar de posição com frequência: sentado em uma cadeira, tocar andando, de pé. • Tenha preparado todo o material necessário antes de começar o estudo, para evitar ter que parar de vez em quando: lápis, papel pautado e folhas em branco, métodos, playbacks, real book, metrônomo, fones de ouvido, afinador eletrônico, um piano (afinado!) ou teclado, "pedal de sustain" do teclado, gravações, livros, computador com aplicativos de música, anotações, etc... • Uma iluminação adequada também ajuda a criar um ambiente estimulante para o estudo: uma boa luz sobre a estante para os estudos que envolvam a leitura, luz suave e quente (ou a escuridão absoluta) para estudos que têm mais a ver com o lado criativo e espontâneo. • Durante o intervalo de descanso entre os tópicos não ouvir música, ou fazer coisas que tenham a ver com música. Basta tomar um chá ou um café, fazer algum exercício, caminhar, etc... A idéia é limpar a mente e dar ao corpo uma pausa. O tempo de descanso pode ser maior do que o sugerido acima, se desejado. 13
• Incenso, óleos essenciais e fragrâncias naturais (aromaterapia) também pode ajudar a criar uma boa atmosfera de estudo (depende do aluno, muitos vão preferir não…). • Se possível escolher ambientes onde a prática não seja ouvida por outras pessoas. Dessa maneira, você não sentira vergonha quando estiver praticando algo que não ainda não domina. • Não começar cada um dos tópicos com a parte mais difícil, estudar progressivamente. • Dedicar um dia da semana para o descanso. • Estude o que você não sabe, não o que já domina ... Parece óbvio, mas muitas vezes eu me encontrei com pessoas que tocam todos os dias coisas que já sabem... É claro, você também tem que dedicar algum tempo para "lazer" ou tocar "o que vem a mente", mas isso não deve ocupar o todo o seu tempo de estudo ! • Tocar ou trabalhar com o instrumento também pode ser considerado como uma prática, sempre que dedique uma parte da concentração para observar e aprender com a execução do próprio grupo. • Desligue o telefone. Você pode deixar uma mensagem de voz e gravar todas as mensagens pessoais e de negócios. Estas últimas serão mais abundantes quanto mais e melhor for a sua prática;-) E a campainha da sua casa também vai tocar com mais freqüência, mas talvez podem ser os vizinhos para reclamarem ... • Evite estudo inconsciente repetitivo. Não toque duas vezes a mesma passagem da mesma forma, procure sempre algo novo. Repetição mecânica apenas fortalece os dedos das mãos e mente. • Nem toda prática deve ser feita com o instrumento. Dedique parte do seu tempo de estudo para VISUALIZAR o que se vai tocar antes de executar no instrumento em si. Ou seja "programar/praticar" mentalmente o dedilhado que terão seus dedos, imagine como vai soar, etc. • Estudar com o metrônomo. E também estudar sem o metrônomo. Existem alguns usos "criativos" do metrônomo não tão conhecidos que excedem os limites deste artigo. • Idem sobre o uso do afinador eletrônico. • Tocar frequentemente em cima de gravações, tanto do repertório que esta sendo preparando como das inúmeras gravações " minus-one " ou "play-along " que são obtidos hoje em dia. Claro, o melhor mesmo é tocar com outros músicos ao vivo, especialmente se eles forem bons músicos! Os benefícios de ambas as alternativas são óbvios e numerosos. É também mais divertido, claro. Também podem ser feitas "bases " como outras opções em um sequenciador ou com aplicativos como o " iReal Pro " ou o "Band in a Box " disponíveis no mercado e que são ótimas opções. • São preferidas as salas de estudo com um som "seco", assim você vai se sentir mais confortável quando se mudar para um lugar mais sonoro. • Algumas vezes pratique em frente a um espelho, se possível de corpo inteiro, a fim de ter uma clara consciência/visão sobre a sua postura e modificar o que for necessário. • Quando retornar das férias volte a rotina aos poucos, praticando um pouco mais a cada dia. De ênfase aos exercícios de sonoridade, já que este aspecto é o mais prejudicado. Seja paciente e tolerante com você mesmo, pois praticamente ninguém tem um bom som depois de passar um tempo sem tocar. • Praticar ocasionalmente com microfone e fones de ouvido, especialmente se você espera fazer trabalhos de gravações em geral. Dessa forma você não vai se sentir confuso diante das condições habituais dos estúdios. • Algumas vezes gravar a si próprio e depois dedicar algum tempo a auto-crítica ouvindoas. Mostrar também as gravações a amigos bem-intencionados que podem oferecer uma crítica construtiva e verdadeira. • As trocas de instrumentos exigiriam um capítulo à parte (aos casos em que se toque mais de um instrumento). O "multi-instrumentista" deve considerar dedicar algum tempo a cada um dos seus instrumentos, especialmente enfatizando a passagem rápida de um 14
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para outro (pratica que pode ocorrer eventualmente em situações de Big Bands, Musicais entre outros trabalhos). Use roupas confortáveis, tire o relógio. Mesmo quando você está preparando um concerto que exija roupas de "concerto" não faz mal para a prática, por vezes, se vestir dessa forma (sapatos, casaca, terno, gravata, etc.), Para evitar uma sensação estranha no dia da apresentação (essa última é uma idéia que eu li no livro "Flauta", do grande James Galway). Não toque com dor !!! Pare ao menor sinal de problema, faça alguns alongamentos, corrija sua postura e confira a técnica/dedilhado, etc. Se a dor persistir procure a ajuda de algum especialista no assunto. Procure sempre a posição mais confortável, anatômica e "correta" possível para tocar. Note que você pode se acostumar a uma má postura e sentir-se relativamente confortável nela, mas com o tempo podem e irão aparecer problemas físicos/dores irreversíveis . Sempre consulte algum especialista no assunto. Sempre ajuste a altura da estante e cadeira, procurando conforto. Dedique algum tempo antes e depois do estudo diário para alongamento e consciência corporal/atividade física. Yoga, Feldenkrais, Eutonia, Tai-chi, etc, etc. Isso vai ajudá-lo a se sentir melhor e evitar dores e lesões que podem se tornar muito graves.
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Transcrições
Decidi escrever este artigo com a intenção de aproximá-los de uma prática que considero essencial para o desenvolvimento integral de um músico improvisador. É muito comum encontrar pessoas tocando um instrumento há anos (e até mesmo vivendo da música que não são capazes de cantar ou tocar "de ouvido" nem mesmo uma pequena melodia infantil. Isso me prova que há uma grande falha na formação desses músicos que poderia, creio eu, na maioria dos casos (sim, existem "casos perdidos"!), se beneficiar muito com o tipo de trabalho que desenvolvo nesta seção. Você notará que eu menciono muitas vezes a palavra "jazz" abaixo. Isso porque essa prática é muito comum dos músicos desse estilo, e que é algo que eu sempre incorporo nas minhas aulas, mas vão perceber que transcrever não precisa estar limitado a um determinado estilo de música. Outro ponto: Em geral, me refiro neste artigo a transcrição melódica, pois acredito que a maioria dos leitores desse artigo tocam instrumentos melódicos, como eu, e que isso venha ser prioridade nesses casos. Mas as transcrições não precisam ser restritas apenas as melodias, como você pode rapidamente assumir. Será útil também transcrever harmonias e por que não somente certas divisões rítmicas. Claro, eu não estou inventando nada, mas apenas dando o meu ponto de vista sobre algo que foi praticado e/ou ainda é praticado pela maioria dos bons músicos que eu admiro. Lembro-me que alguns dos grandes professores que tive na Berklee insistiram bastante sobre isso. Existem vários vídeos e livros sobre o tema. Mas aqui também vão encontrar, espero, algumas boas idéias e recomendações para principiantes no assunto. E de graça! :-)
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: Transcrever: (latim transcribo, -ere) • • • •
Copiar Escrever a mesma coisa noutro local. = COPIAR, REPRODUZIR Escrever o que foi ouvido. Fazer uma transcrição.
Copiar: (de Cópia) • Fazer cópia • Reproduzir uma obra • Produzir algo muito similar ou idêntico, imitar • Copiar ou imitar alguém. • Produzir uma imagem fotográfica em papel, a partir de um negativo ou de um registro digital 16
O que os músicos de jazz vêm fazendo há anos é exatamente a primeira definição de "transcrever" ("copiar"), e a quarta definição de "cópia" ("imitar ou imitar alguém"). Embora, em alguns casos pode compreender vários outros significados: • Arranjar para um instrumento a música escrito para outro ou outros. • Escrever o que alguém diz em um discurso contínuo.
Ou no Pior dos casos: • Descaradamente imitar o estilo ou as obras de escritores e artistas.
A “Definição” que usaremos aqui será a seguinte:
Transcrever: aprender no próprio instrumento, solos (ou melodias, ou frases individuais) gravadas por outros músicos. Para que serve a transcrição ? É uma forma muito eficaz de aprender a tradição, a linguagem, o estilo de uma forma de arte que nos precede, então (na melhor das hipóteses) incorporar elementos.
“Imitar, assimilar, inovar” Clark Terry (um dos maiores trompetistas na história do jazz)
O que transcrever ? Alguns acham que é bom transcrever frases que se possa vir a usar, e depois transpo-las para vários (ou todos) tons. Ouvi de Michael Brecker, mesmo pouco antes de sua morte, dizendo que ele ainda fazia essa prática. Outros acreditam que o mais adequado seria transcrever solos completos , o que trará muitas outras coisas, como o desenvolvimento melódico, a forma, o uso das pausas, fraseado, etc. Dizem que o grande pianista e professor Lennie Tristano pedia isso aos seus alunos. Sabe-se também que Charlie Parker memorizava no sax alto nota por nota dos solos de tenor de Lester Young. Pessoalmente acredito que ambas as práticas (frases ou solos completos) são muito importantes e extremamente úteis. Isso acontece com todos nós, ouvimos um solo ou uma frase qualquer e aquilo nos chama a atenção e desperta nossa curiosidade. Bem, essa frase /solo vai ser uma ótima opção para ser isolada e trabalhada (transcrita/estudada). Além disso, alguns intérpretes/solistas têm a capacidade de nos prender a atenção do início ao o fim de seus solos. Nesses casos, eu penso que seria uma boa idéia transcrever o solo na íntegra. Aos que transcrevem música clássica/erudita podem optar pelos compositores/composições que acham mais interessantes. Para começar, quando não se tem muita prática, acho conveniente transcrever frases simples ou fragmentos de melodias, em vez de solos ou temas inteiros. 17
É conveniente escolher gravações de interpretes que tocam o mesmo instrumento que toco ou isso não importa ? Inicialmente recomendo transcrever gravações executadas no mesmo instrumento que se toca. Isso vai ajudar desenvolver a memória auditiva dos sons que são produzidos no próprio instrumento, em muitos casos relacionados ao timbre particular de cada nota. Em seguida, será a vez de se adaptar as gravações de outros instrumentos, que em muitos casos irá fornecer outros elementos e idéias.
Objeções Claro, eu sei que algumas dos grandes solistas subestimam a importância deste tipo de trabalho. Mas no geral esses mesmos músicos, além de seu inegável talento, viveram toda a sua vida rodeados de jazz, de modo que absorveram a linguagem naturalmente. Para nós, especialmente porque não vivemos cercados do jazz, eu acho um trabalho essencial. Uma objeção muito comum a transcrição é a que "se você transcrever demais acabará soando como a pessoa que você transcreve". Eu não acho que a longo prazo isso virá ocorrer, porem, o máximo que vai acontecer é que depois de um tempo alguns elementos do intérprete escolhido estarão presente em seus solos. Agora eu pergunto, não seria muito bom soar como Sonny Rollins, Charlie Parker, John Cotrane, etc., Etc., Etc.? Deus queira que sim !! Além do mais, eu acredito que a personalidade de cada músico sempre vai se sobressair as suas influências, caso você tenha algo seu a oferecer (e todos nós temos algo nosso a oferecer). Caso contrário... bem, no mínimo ouviremos um boa homenagem aos grandes intérpretes que nos antecederam.
Para qual estilo é recomendada a transcrição ?
PARA TODOS !! Por exemplo: As vezes recomendo a alguns alunos de clarinete “clássico” transcreverem o adagio do concerto pra clarinete de Mozart, com o clarinete em Bb (esta escrito originalmente para Clarinete em A). É um exercício muito bom, faça um teste. Quais músicos transcrever ? Dentro de cada estilo se destacam artistas ou compositores que despertam nossa sensibilidade, tocando algo que sentimos e que gostaríamos de poder imitar em nosso instrumento, bem, eu recomendo começar a trabalhar com esses músicos. Recomendo também que você faça uma lista de seus músicos/intérpretes e compositores preferidos , classificando-os por estilo, instrumentos e até mesmo por ordem de preferencia (começando pelos que mais gosta), e também uma lista de seus discos preferidos (uma curiosidade sobre essa ultima é que se vc refizer a lista de tempos em tempos perceberá que alguns discos nunca saem do topo de sua lista...) Dentro do Jazz eu tenho a minha "lista de músicos de conhecimento obrigatório".
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Acho que é muito difícil, o que eu posso fazer? Tenho certeza de que você pode sempre encontrar algo para começar, de acordo com o nível de cada um. Ainda que seja uma canção infantil! Muitas vezes não será a música que buscamos para nos expressar, mas pelo menos ele vai ser um bom tra mpolim para as coisas mais difíceis. É muito importante, pouco a pouco aprender a ser realista. Com isso quero dizer que temos que aprender a selecionar muito bem e não escolher os solos que estão muito além de nossas capacidades atuais.
E xiste algu ma ferramenta que facilite o trabalho ? Sim, aplicativos de edição de áudio, tais como "Sound Forge", “Capo”, "WaveLab", etc., São muito úteis para diminuir o andamento e assim você poderá ouvir mais atentamente os detalhes de um solo. Eu recomendo especialmente o "Transcribe", projetado especialmente para músicos. Você pode baixar uma versão "Demo" aqui para testar por 30 dias. É ótimo: ele permite que você mude instantaneamente o andamento da música sem alterações significativas na qualidade do som ou da tonalidade, e também permite-nos transportar instantaneamente qualquer fragmento para qualquer tonalidade.
Onde posso conseguir transcrições já feitas ? Obviamente, depois de ler até aqui você terá notado que VOCÊ MESMO DEVE FAZER AS TRANSCRIÇÕES. De qualquer forma, nada te impede de ter algumas transcrições feitas por outras pessoas, mesmo que apenas para comparar com as que você já fez, ou para analisar rapidamente vários solos do mesmo intérprete em busca de elementos (padrões) em comum ou algo assim. Existe também alguns ótimos sites com transcrições: • Charles McNeal • Bob Keller • Doc Stewart
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Saxophone Transcriptions Neff Music Transcrições de Bob Berg Site Françês de Trasncrições
Altamente recomendado … O vídeo “The Improvisor's Guide to Transcription”, de David Liebman (Caris Music Services). Na verdade, neste pequeno artigo eu não estou dizendo nada que ele já não tenha falado em seu vídeo, mas eu o faço em português. Enfim: assista-o, vale a pena!
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Existe alguma maneira correta de transcrever ? Existem várias maneiras de se fazer, mas vou detalhar aqui a que me parece mais aconselhável. É importante que você não pula nenhuma das etapas: 1º) Escolha muito bem o que vai ser transcrito (poderá levar algum tempo até você ouvir detalhadamente o que escolheu, isso é muito benéfico, e faz parte do processo de aprendizagem). 2º) Escutar a melodia ou solo “muitas” veze s (e quando digo “muitas” quero dizer “muitas mesmo”). 3º) “Tocar junto” com a gravação e fazer os ajustes de oitavas que forem necessários (diminua o andamento se necessário com algum dos aplicativos aqui já mencionados). 4º) Tocar sem a gravação (volte a ouvir a gravação sempre que não se lembrar bem do original) . NOTA: Então, até aqui eu não teria que
usar o instrumento em tudo. É um trabalho que pode fazer até mesmo aqueles que estão começando a estudar o instrumento e ainda não podem tocar coisas com dificuldade mais avançada.
5º) Só agora pegar o instrumento e tentar tocar a melodia ou solo (volte a cantar ou ouvir a gravação se assim achar necessário). 6º) Tocar junto com a gravação atendo-se aos detalhes da original (diminuir o andamento se achar necessário). 7º) Tocar sem a gravação 8º) Escrever Por favor, note que "escrever" ocupa apenas o oitavo lugar, e eu acho que é muito importante que seja assim. É bastante comum saltar parcialmente os passos acima e tentar escrever tudo avidamente, com a ajuda do instrumento. Depois disso, com a partitura pronto aluno repete inúmeras vezes a música, lendo, até aprende-la, e a execução acaba parecendo com o que foi escrito, o que é uma aproximação, em vez de refletir o que realmente soa. NOTA: Eu
acho que até aqui o processo de transcrição em si já tenha terminado . Os passos seguintes são muito importantes, e vão ajuda-lo a tirar melhor proveito do trabalho feito.
9º) Recriar a melodia ou solo (criar a sua melodia/solo). 10º) Fazer uma “analise” melódica e harmônica. 20
Aqui segue uma matéria com o saxofonista Ademir Junior (um grande incentivador da prática da transcrição) falando sobre a sua experiência em todos esses anos de transcrição e dando algumas dicas.
Obs: alguns dos pontos de vista dele são diferentes dos meus mas nós dois visamos o mesmo objetivo, que você adentre no universo da transcrição, por isso leia e escolha o seu caminho. Ademir Junior: Imitação
Se tem uma escola que funciona em países que não dispõem de educação acadêmica de música popular, é a transcrição de solos. Essa prática se tornou cada vez mais popular depois dos belíssimos solos tocados pelos pais do jazz. Não se pode ignorar que a imitação pertence ao aprendizado humano em áreas como falar, dançar, cantar e tocar. Ninguém cria algo que já não esteja sendo feito de outra forma por alguém, portanto o que fazemos pode ser a extensão de algo já feito e assim podemos refazer ou construir algo novo com fragmentos já existentes. Imitar faz parte da cultura humana, pois é imitando que se pode aprender algo para se comunicar em uma mesma linguagem e de forma que todos sejam compreendidos. Isso faz parte das linguagens preexistentes e estabelecidas para a comunicação social do homem. Porém, a imitação tem o seu tempo de eficiência e isso se dá como no caso de uma criança que fala – nos primeiros anos de vida e até que se alfabetize, a imitação será uns dos instintos práticos para sua sobrevivência. Traduzindo toda essa teoria para música, podemos entender que a transcrição de solos é algo tão importante para um estudante de improvisação quanto a imitação o é para uma criança que imita as primeiras frases dos pais. A experiência de tirar as mesmas notas e tocar o solo de um músico que você tanto admira é essencial para a formação da linguagem na improvisação. Passar por cada nota, uma por uma, pacientemente trará experiências maravilhosas ao músico que sonha um dia fazer de forma semelhante o que faz o artista que tanto admira.
Tecnologia
De uma forma sensível, a tecnologia pode não ser tão benéfica quando se refere à transcrição de solos, pois os recursos disponíveis para a diminuição do andamento e até a escrita virtual em programas de edição de partituras privam o ouvido e o cérebro de passar por momentos de grande importância para a evolução do ouvido musical. Pode ser que com menos facilidade ao seu redor você desenvolva mais instintos para a percepção melódica, harmônica e rítmica. É o caso de tocar um solo ou uma frase na metade do seu andamento. Que bom poder ouvir ligeiramente todas as notas, mas a deficiência se instala quando você de- pende de ouvir sempre de forma lenta cada passagem, quando sabemos das riquezas e diversidades de andamentos que cada frase pode ter, uma sempre diferente da outra. Outra questão importante é que o contato do lápis com o caderno guiado pela mão causa no cérebro uma informação que aos poucos forma o reconhecimento ou domínio de determinadas alturas, e estas podem se estender para o ritmo e harmonias. Logo, o músico pode desenvolver seu ouvido musical em três diferentes percepções; nesse caso, a repetição dará a segurança no reconhecimento de intervalos e divisões. Imagens sonoras também se formam à medida que se desenvolve a percepção nos três quesitos. Isso seria semelhante ao que se faz com crianças ao lhes 21
ensinar o nome de cada objeto; nesse caso, uma identificação visual, e no nosso caso, a identificação é auditiva aprendendo a dar nome a tudo que se escuta.
Por que é tão Importante?
Pode alguém perguntar se isso seria tão necessário para a improvisação sendo que, para improvisar, não seria melhor sentir o feeling da música e mandar ver? De fato a inspiração constante com base em um rico vocabulário é suscetível a um grande sucesso, e sucessivos solos bem equipados de ricas melodias e formas verticais, ou seja, formas harmônicas de se pensar no mundo da improvisação. Resumindo, só se pode ganhar na transcrição de solos, pois desenvolver a percepção é criar um rico vocabulário que será necessário para a diversidade de estilos com que nós, profissionais, lidamos todos os dias, e precisamos ser cada vez menos repetitivos, pois a magia das notas e a beleza das frases se dão justamente em saber manipular consciente ou inconscientemente, teoricamente ou de forma prática e instintiva a física sonora dos intervalos, arpejos e escalas. Tudo isso poderá ser encontrado, analisado e esmiuçado quando você tem um solo à sua frente e depois de horas, dias ou semanas, e muito suor, tem algo que parece como se você mesmo tivesse criado, tamanho é o trabalho que se tem ao praticar a arte de transcrever solos. Trabalhei isso por exatos 13 anos da minha vida musical, até que cheguei ao ponto de não querer mais fazer, por razões óbvias e pela necessidade de não depender mais do pensamento dos grandes músicos e sim partir para a maior idade, ou sei lá, para uma adolescência rebelde, pois nunca se sabe se o tanto que sabemos, sabemos de fato, ou apenas estamos molhando os pés em novas águas. Agora quero compartilhar um pouco sobre a experiência da transcrição de solos com os leitores. Vamos à prática!
Mãos à obra
O que nos faz querer tocar o que ouvimos é que gostamos e nos identificamos com um solo, então basta escolher algo não muito complicado e de preferência de andamento médio para lento, até que se acostume com a velocidade das passagens melódicas. Os músicos de instrumentos melódicos poderão ter mais facilidade para essa prática, mas isso não é regra. No início você pode usar o seu instrumento, até que depois de algum tempo isso já não será tão necessário, dependendo da dificuldade do solo e do tanto que seu ouvido evoluiu em percepção. Resultados O trabalho poderá demorar dias, mas o importante é não se desesperar se o solo parecer muito difícil. É claro que seu ouvido terá um nível de percepção para poder se aventurar em cada solo, mas se o que você escolheu o fizer suar bastante, isso valerá a pena. Por vezes você poderá passar uma melodia 20 vezes e não ouvir o ritmo ou as notas com clareza. Isso é normal até que você desenvolva mais sua percepção. Faz parte do processo e não deve ser motivo de preocupação. Cuidado para não se viciar em tirar notas erradas e não conferir, se- não a escrita fica errada e o ouvido vicia. Isso é perfeitamente possível, e poderá ser um auto-engano. Por isso, ao tirar, você deverá tocar várias vezes para conferir todos os sons. A prova dos nove é pedir para alguém tocar com a gravação. Se for um bom executante, logo você mesmo perceberá as diferenças. Se você tocar e viciar em se enganar, com o tempo arrumará um problemão. Com esses cuidados será possível obter um nível satisfatório em cada solo. Com o passar dos anos, tudo vai clareando e aquela velha frase do ‘quebrou tudo’ vai dando lugar a um melhor 22
entendimento, em que você perceberá cada escala, divisão e passagem harmônica executada. Acredite, tudo é possível, basta praticar, e de forma exaustiva poderá chegar a um nível que jamais imaginou. Com um empurrãozinho, objetivo, paciência e auto-estima, as coisas vão ficando cada vez mais acessíveis, e depois de algum tempo você acabará entendendo as linhas de solo e analisará tudo por cima, sem a necessidade de esmiuçá-las.
Conclusão
Sei que existem várias linhas de pensamento sobre tirar ou não solos, mas deixo aqui a minha contribuição dizendo que para mim tudo isso funcionou, pois sempre pensei que não somos autossuficientes. Nossa inspiração vem das mínimas coisas até as mais complexas. Nesse caso, copiar solos é como gerar imagens musicais e conteúdo, para que você os tenha em seu cérebro e acesse sempre que precisar. É importante relembrar o legado de cada músico, mesmo que seja em uma frase, pois isso mostra a importância e a grandeza do que eles são para todos nós, estudantes e profissionais da improvisação. Terminando essa dica, lembro que é importante ir dificultando o nível para chegar a músicas tecnicamente mais complexas, e tornar esse exercício uma prática saudável. Nenhum músico cria todas as situações musicais de forma instantânea e sim acessa informações que estão no cérebro, pois se elas não estiveram lá, de onde se pode tirar? Nesses 13 anos cheguei a tirar cerca de cem solos. Entre eles, cito os seguintes músicos: Oliver Nelson, Freddie Hubbard, Miles Davis, John Coltrane, Michael Brecker, Branford Marsalis, Kenny Garrett, Joshua Redman, Eddie Daniels, Wynton Marsalis, Pat Metheny, Vitor Assis Brasil, Idriss Boudrioua, Lula Galvão, Alexandre Carvalho, Widor Santiago, Marcelo Martins e Moisés Alves. Lembro que um dos nossos maiores saxofonistas de todos os tempos disse que 90% do que ele tocava era tirado de John Coltrane. Quem é ele? Michael Brecker. E deixo aqui uma frase que a Elizabeth Taylor disse sobre Michael Jackson se inspirar em James Brown: “Um artista sempre se inspira em outro bom artista”. Para mim, a diferença é que o que você pode fazer é expandir o conhecimento adquirido uma vez que toma emprestada a inspiração de outros para seu laboratório musical. Por fim, tenho certeza de que por mais que se copie, não existem dois DNAs idênticos. Sua assinatura e alma estarão lá, soando sempre de uma nova forma. Boa Sorte, Ademir Junior
Minhas últimas observações • • • • • •
Procure sempre o melhor professor disponível e aproveite ao máximo as aulas. Ouça os grandes Intérpretes e procure identificar as suas características individuais. Seja ousado !! deixe a sua musicalidade falar. Estude, estude mais, depois estude mais um pouco e estude sempre !!! Faça a sua “Lista de Discos Preferidos”. Faça a sua “Lista de Músicos e Bandas” favoritos e organize-os por categorias.
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Material de estudo: Seção "Material" da página de Daniel Kovacich. Saxlessons.com Antosha Haimovich Sax on the Web Bob Keller
Venda de livros e partituras: Jazzbooks.com Ejazzlines.com Halleonard.com Advance Music Boosey & Hawkes Carl Fischer Dorn Publications Home Page JwPepper Kendor Music Online sheetmusicplus sunhawk 24
Técnicas e práticas corporais recomendadas para músicos Técnica Alexander Eutonia Feldenkrais
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Livros Recomendados
Existem vários livros excelentes (em inglês) relacionados ao tema da prática diária. Entre eles eu ainda gostaria de mencionar “How to Practice Jazz" (Jerry Coker), "How to Improvise" (Hal Crook) e "Ready, Aim, Improvise!" (Hal Crook). Apesar desses livros serem direcionados ao Jazz sinto que apresentam muitos elementos que podem ser aplicados a qualquer tipo de música com alguns ajustes que o aluno e/ou o professor podem fazer sem problemas. Existem muitos outros livros com materiais de estudos, e muito importantes, que veem sendo utilizados há muitos anos e com excelentes resultados na formação do músico “clássico”. Falando especificamente em jazz indico os livros de David Liebman, Jamey Aebersold, Lennie Nihaus, David Baker e Jerry Coker. Entre os livros mais recentes sobre improvisação, linguagem jazzística e organização dos estudos considero muito importante os de Jerry Bergonzi, Hal Crook (outros que aqui não foram mencionados) e do Bob Mintzer.
Enjoy !! Daniel Kovacich 25