˜ es Diferenciais Ordinarias ´ rias Equac ¸ oes o a Jorge Sotomayor
2
Sum´ ario Pref´ acio
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Introdu¸c˜ ao
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1 Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ encia co ˜es 1.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 O problema de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4 Teoremas de Picard e de Peano . . . . . . . . . . . 1.5 1.5 Solu Solu¸c˜ c¸oes o˜es m´aximas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6 1.6 Siste Sistemas mas e equa¸ equa¸ c˜ coes o˜ es dif difer eren enci ciai aiss de de ord ordem em supe superi rior or . 1.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Equa¸c˜ oes Diferenciais Lineares 2.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Propriedades gerais . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 2.3 Equa Equa¸c˜ c¸˜oes o es li line near ares es com com coefi coefici cien ente tess cons consta tant ntes es 2.4 Sistemas bidimensionais simples . . . . . . . . 2.5 2.5 Co Conj njug uga¸ a¸ c˜ c˜ao de sistemas lineares . . . . . . . . 2.5. 2.5.11 Intr Introdu odu¸c˜ c¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6 2.6 Clas Classi sifica fica¸c˜ c¸˜ao ao dos sistemas lineares hiperb´ olicos 2.7 Sistemas lineares complexos . . . . . . . . . . 2.8 2.8 Osci Oscila la¸c˜ c¸˜oes oes mecˆ anicas e el´etricas . . . . . . . . 2.9 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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9 10 11 12 17 22 23 26
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37 37 38 45 52 56 56 64 68 70 74
3 Teoria Qualitativa das EDOs: Asp ectos Gerais 89 3.1 Camp os vetoriais e fluxos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 3.2 3.2 Dife Difere renc ncia iabi bili lida dade de dos dos flux fluxos os de campo camposs vet vetor oria iais is . . . . . . . . . . . . 93 3.3 Retrato de fase de um campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 3.4 Equivalˆ Equivalˆencia encia e conjuga¸c˜ cao a˜o de campos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 3.5 Estrutur Estruturaa local dos dos pontos pontos singul singulares ares hiperb hiperb´ o´licos . . . . . . . . . . . 105 3
4
Sum´ario
3.6
Estrutura local de o´rbitas peri´ odicas . . . . . . 3.6.1 A transforma¸ c˜ao de Poincar´e . . . . . . 3.6.2 Ciclos limites no plano . . . . . . . . . . 3.6.3 Derivadas da Transforma¸ ca˜ o de Poincar´e 3.7 Fluxos lineares no toro . . . . . . . . . . . . . . 3.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. 107 . 107 . 109 . 110 . 113 . 115
4 Teorema de Poincar´ e - Bendixson 4.1 Conjuntos α-limite e ω-limite de uma o´rbita . . . . . . . . . . . . . 4.2 O Teorema de Poincar´e-Bendixson . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Aplica¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3.1 Pontos singulares no interior de uma orbita ´ peri´ odica . . . . 4.3.2 As equa¸c˜o es de Lienard e van der Pol . . . . . . . . . . . . . 4.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
129 . 129 . 134 . 140 . 140 . 141 . 144
5 Estabilidade no sentido de Liapounov 5.1 Estabilidade de Liapounov . . . . . . 5.2 O Crit´erio de Liapounov . . . . . . . 5.3 Teorema de Cetaev . . . . . . . . . . 5.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . .
155 . 155 . 159 . 162 . 164
Referˆ encias Bibliogr´ aficas
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167
Pref´ acio Este livro desenvolve a Teoria das Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´ arias. Isto ´e o estudo das propriedades gerais das fun¸ co˜es que s˜ ao solu¸c˜oes deste tipo de equa¸c˜oes, a partir de hip´oteses amplas sobre as fun¸co˜es que as definem, usando recursos da An´ alise ´ Matem´atica Cl´assica e da Algebra Linear, sem recorrer necessariamente a` forma particular das equa¸co˜es. A Teoria das Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´ arias se distingue tanto por sua riqueza de ideias e m´etodos como por sua aplicabilidade. O leitor obter´ a de seu estudo uma experiˆencia de grande valor formativo. Ter´ a a oportunidade de integrar, num unico ´ ´ corpo, os fundamentos da An´ alise Matem´ atica Cl´assica, Algebra Linear e Elementos de Topologia, disciplinas ami´ ude apresentadas isoladamente. Os trˆes primeiros cap´ıtulos, devotados respectivamente a` Existˆencia e Unicidade, `as Equa¸c˜oes Lineares e `a Teoria Qualitativa, s˜ ao basicamente auto-suficientes e podem ser abordados diretamente. Ao nosso ver, estes enfoques independentes d˜ ao uma vis˜ao mais ampla dos m´etodos dispon´ıveis. Todos os cap´ıtulos cont´em exerc´ıcios propostos. Quando n˜ ao rotineiros, estes representam complementos, aplica¸co˜es ou abordagens diferentes para a teoria; algumas vezes, eles visam fornecer informa¸c˜oes sobre assuntos correlatos importantes que n˜ao foram tratados com plenitude no texto. Recomendamos ao leitor abordar e pensar em todos os exerc´ıcios propostos. Quase sempre inclu´ımos sugest˜ oes para aqueles menos imediatos. Esta ´e uma vers˜ ao abreviada e revista de parte do j´ a esgotado “Li¸c˜oes de Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´ arias”, [23]. Ela cont´em os assuntos mais estudados na maioria dos cursos de mestrado e in´ıcio de doutorado em prestigiosos centros de p´ os-gradua¸ca˜o no Brasil. ` longa lista de agradecimentos de 1979, devo acrescentar com prazer os nomes A de Ronaldo A. Garcia, Daniel C. Panazzolo, Luis F. Mello, Anderson L. Maciel e Mariana S. V. Garcia pela invalor´avel ajuda prestada na diagrama¸c˜ao, arte gr´ afica e revis˜ao da edi¸ca˜o deste texto. Jorge Sotomayor S˜ao Paulo, novembro de 2009.
5
6
Sum´ario
Introdu¸ c˜ ao Uma equa¸ca˜o da forma F (t,x,x(1) , x(2) , . . . , x(n) ) = 0, onde a inc´ognita x ´e fun¸ca˜o de uma vari´avel, chama-se equa¸ca˜o diferencial ordin´ aria. Muitas das leis gerais da F´ısica, Biologia e Economia, entre outras Ciˆencias, encontram sua express˜ ao geral nestas equa¸c˜oes. Por outro lado, in´ umeras quest˜ oes dentro da pr´ opria Matem´ atica (por exemplo na Geometria Diferencial e no C´ alculo de Varia¸co˜es) formuladas convenientemente se reduzem a estas equa¸ c˜oes. As equa¸c˜oes diferenciais evolu´ıram dos m´etodos do C´ alculo Diferencial e Integral, descobertos por Newton e Leibnitz, e elaborados no u´ltimo quarto do s´eculo XVII para resolver problemas motivados por considera¸ c˜oes de natureza f´ısica ou geom´etrica. Estes m´etodos conduziram gradualmente a` consolida¸ca˜o de um novo ramo da Matem´ atica, que a meados do s´eculo XVIII transformou–se uma disciplina independente. Neste est´ agio, a procura e an´ alise de solu¸c˜oes tornou-se uma finalidade pr´ opria. Tamb´em nesta ´epoca ficaram conhecidos os m´etodos elementares de resolu¸ c˜ao – integra¸c˜a o – de v´arios tipos especiais de equa¸co˜es diferenciais, entre elas as de vari´ aveis ′ ′ ′ separ´ aveis (x = f (t)g(x)), as lineares (x = a(t)x+b(t)), as de Bernoulli (x = p(x)+ ′′ q (t)x ), as de Clairaut (f (x′ ) + tx′ = x), as de Riccati (x′ = a 0(t) + a1 (t)x + a2(t)x2 ), todas estudadas at´e nossos dias em cursos introdut´ orios. A natureza daquilo que era considerado solu¸ c˜ao foi evoluindo gradualmente, num processo que acompanhou e, a`s vezes, propiciou o desenvolvimento do pr´opio conceito de fun¸c˜ao. Inicialmente buscavam-se solu¸co˜es expressas em termos de fun¸co˜es elementares: polinomiais, racionais, trigonom´etricas, exponenciais. Posteriormente, passou-se a considerar satisfat´ orio expressar a solu¸c˜ao em termos de uma integral – quadratura – contendo opera¸ co˜es elementares envolvendo estas fun¸ c˜oes. Quando estes procedimentos deixaram de resolver os problemas focalizados, surgiram a solu¸c˜oes expressas por meio de s´ eries infinitas (ainda sem a preocupa¸ c˜a o com a an´alise da convergˆencia). Em fins do s´eculo XVIII a Teoria das Equa¸co˜es Diferenciais se transformou numa das disciplinas matem´ aticas mais importantes e o m´etodo mais efetivo para pesquisa cient´ıfica. As contribui¸co˜es de Euler, Lagrange, Laplace, entre outros, expandiram notavelmente o conhecimento dentro do C´ alculo de Varia¸co˜es, Mecˆ anica Celeste, Teoria das Oscila¸c˜oes, Elasticidade, Dinˆamica dos Fluidos, etc. 7
8
Sum´ario
No s´eculo XIX os fundamentos da An´ alise Matem´ atica experimentaram uma revis˜ao e reformula¸ca˜o gerais visando maior rigor e exatid˜ ao. Assim, os conceitos de limite, derivada, convergˆ encia de s´eries de fun¸ c˜oes e outros processos infinitos foram definidos em termos aritm´eticos. A integral, que no s´eculo anterior era concebida como primitiva (ou inversa da deriva¸c˜ao), foi definida como limite de somas. Este movimento de fundamenta¸c˜a o n˜ ao deixou de atingir as equa¸c˜oes diferenciais. Enquanto no s´eculo anterior procurava-se a solu¸ c˜ao geral para uma dada equa¸c˜ao diferencial, passou-se a considerar como quest˜ ao pr´evia em cada problema a existˆencia e unicidade de solu¸co˜es satisfazendo dados iniciais. Este ´e o Problema de Cauchy, ponto no qual o presente livro se inicia. O cap´ıtulo 1 estuda o Problema de Cauchy e quest˜ oes correlatas. O cap´ıtulo 2 aborda as propriedades b´ asicas dos sistemas de equa¸co˜es diferenciais lineares, classe para a qual um conhecimento bastante completo ´e poss´ıvel. Um marco de referˆencia fundamental na evolu¸ c˜ao das equa¸co˜es ´e o trabalho de Poincar´e M´ emoire sur les courbes d´efinies par une ´equation differentielle , de 1881, no qual s˜ao lan¸cadas as bases da Teoria Qualitativa das Equa¸ c˜oes Diferenciais. Esta teoria visa a descri¸c˜ao global das solu¸co˜es e o efeito nelas de pequenas perturba¸co˜es das condi¸c˜oes iniciais e de parˆametros. Os cap´ıtulos 3, 4 e 5 s˜ ao devotados respectivamente aos fundamentos da Teoria Qualitativa das Equa¸co˜es Diferenciais, ao Teorema de Poincar´e – Bendixson e a Estabilidade de Liapounov. Os cap´ıtulos que seguem cobrem boa parte dos assuntos cl´ assicos de equa¸co˜es diferenciais que tem conservado atualidade por sua aplicabilidade e interesse te´ orico. Eles formam um subconjunto pr´ oprio do j´a esgotado e mais abrangente “Li¸co˜es” [23]. Esta sele¸ca˜o obedece a` possibilidade da leitura da presente vers˜ao ser completada num curso semestral. Numerosos caminhos promissores se abrem a partir dos passos iniciais dados neste livro. Alguns foram abordados em [23], outros, visando a dimens˜ ao superior, podem ser encontrados em Palis e Melo [17], assuntos de interesse para as aplica¸co˜es podem ser vistos em Chicone [3]. Para um estudo inicial da estabilidade estrutural das equa¸co˜es diferenciais e de suas bifurca¸co˜es (a quebra da estabilidade estrutural) recomendamos Andronov e Leontovich [1], Sotomayor [24] e Roussarie [20]. As rela¸c˜oes entre a Geometria Cl´ assica e as Equa¸c˜oes Diferenciais podem ser estudadas em Sotomayor e Gutierrez [8] e Sotomayor e Garcia [7]. Citaremos aqui poucas obras de uma longa lista que evolui muito rapidamente e deve ser atualizada permanentemente.
Cap´ıtulo 1 Existˆ encia e unicidade de solu¸co ˜es Este cap´ıtulo introduz, de maneira precisa, os conceitos fundamentais da teoria das equa¸c˜oes diferenciais ordin´ arias, iniciando o seu estudo. Assim, em vez de lidar com “equa¸c˜oes que envolvem fun¸c˜oes e suas derivadas” damos na se¸ca˜o 1.1 a defini¸c˜ao de uma equa¸ca˜o diferencial ordin´ aria de primeira ordem x′ = f (t, x) e do que vem a ser uma solu¸ca˜o desta equa¸ca˜o. Na se¸c˜ao 1.2 formulamos o problema de Cauchy para a equa¸ ca˜ o acima. Isto significa que dados t0, x0 fixos queremos saber se existe alguma solu¸ca˜o da equa¸c˜ao que no ponto t 0 assume o valor x 0 e se essa solu¸ca˜o ´e u´nica. O problema de Cauchy com condi¸c˜ao inicial (t0 , x0 ) ´e denotado abreviadamente por x′ = f (t, x),
x(t0) = x 0 .
Na se¸ca˜o 1.3 discutimos alguns casos elementares de existˆencia e unicidade do problema de Cauchy, entre os quais est˜ ao o de vari´aveis separ´ aveis e o linear. O estudo geral do problema de Cauchy ´e feito na se¸ c˜ao 1.4. A´ı ´e provado o teorema de Picard que garante a existˆencia e unicidade com condi¸ c˜oes bastante ∂f gerais em f . Por exemplo, basta que f e ∂x sejam cont´ınuas. Provamos tamb´em o teorema de Peano que afirma que mesmo que f seja apenas cont´ınua, a equa¸ ca˜o diferencial que ela define admite pelo menos uma solu¸ ca˜o. Neste caso por´em a unicidade ´e, em geral, perdida. Na se¸ca˜o 1.5 consideramos as solu¸c˜oes que n˜ ao podem ser prolongadas, ou seja, as solu¸c˜oes m´aximas. Na se¸ca˜o 1.6 definimos as equa¸co˜es de ordem superior e mostramos que seu estudo se reduz ao dos sistemas de equa¸c˜oes de primeira ordem. 9
10
1.1
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
Preliminares
Sejam Ω um subconjunto aberto do espa¸co R E, onde R ´e a reta real e E = Rn um espa¸co euclidiano n-dimensional. Um ponto de R E ser´a denotado por (t, x), t R e x = (x1 , x2 , . . . , xn ) em E; salvo men¸c˜ao em contr´ ario, adotaremos em R E a norma: (t, x) = max t , x , onde x denota uma norma em E, por exemplo x = x21 + x22 + + x2n ou x = max x1 , . . . , xn ou ainda x = x1 + + xn . Seja f : Ω c˜ao cont´ınua e seja I um intervalo n˜ ao degenerado na E uma aplica¸ reta, isto ´e, um subconjunto conexo de R n˜ao reduzido a um ponto. O intervalo I pode ser fechado, aberto, semi aberto, limitado ou n˜ ao.
×
|
| ··· →
{| | | |} | |
|| {| |
×
| |}
∈ × || | | | | ·· · | |
→ E chama-se solu¸c˜ ao da equa¸ca˜o
Defini¸c˜ ao 1.1 Uma fun¸ca˜o diferenci´ avel ϕ : I
dx = f (t, x) dt
(1.1)
no intervalo I se: (i) o gr´ afico de ϕ em I , isto ´e, (t, ϕ(t)); t I est´a contido em Ω e (ii)
{
dϕ (t) dt
∈ }
= f (t, ϕ(t)) para todo t I . Se t ´e um ponto extremo do intervalo, a derivada ´e a derivada lateral respectiva.
∈
A equa¸ca˜o (1.1) chama-se equa¸c˜ ao diferencial ordin´ aria de primeira ordem e ´e denotada abreviadamente por x′ = f (t, x). Sejam f i : Ω R, i = 1, . . . , n as componentes de f ; ϕ = (ϕ1 , . . . , ϕn ) com R ´ ϕi : I e uma solu¸ca˜o de (1.1) se, e somente se, cada ϕi ´e diferenci´avel em I , (t, ϕ1(t), . . . , ϕn (t)) Ω para todo t I e
→ ∈
→
∈
dϕ1 (t) = f 1 (t, ϕ1 (t), . . . , ϕn (t)) dt dϕ2 (t) = f 2 (t, ϕ1 (t), . . . , ϕn (t)) dt
(1.1′ )
.. . dϕn (t) = f n (t, ϕ1 (t), . . . , ϕn (t)) dt
para todo t I . Por esta raz˜ ao diz-se que a equa¸c˜ao diferencial “vetorial” (1.1) ´e equivalente ao sistema de equa¸co˜es diferenciais escalares
∈
dxi = f i (t, x1 , . . . , xn ), i = 1, . . . , n . dt
(1.1′′ )
1.2 O problema de Cauchy
1.2
11
O problema de Cauchy
Consideremos inicialmente dois exemplos. (1) Ω = I R, f (t, x) = g(t), onde g ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo I ; ϕ ´e t uma solu¸c˜a o de x′ = g(t) em I se, e somente se, ϕ(t) = c + t0 g(s)ds onde t0 I e c ´e uma constante.
×
∈
(2) Ω = R2 , f (t, x) = 3x2/3 . Para todo c ϕc (t) =
∈ R a fun¸ca˜o ϕ : R → R dada por (t − c) , t ≥ c 0, t ≤ c c
3
´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao x′ = 3x2/3 em I = R, como se vˆe por verifica¸ ca˜o direta das condi¸co˜es (i) e (ii) da defini¸ca˜o 1.1. Mas a fun¸c˜ao constante ϕ = 0 tamb´em ´e solu¸ca˜o desta equa¸ca˜o. Ver Figura 1.1 Estes exemplos ilustram o fato de que as equa¸c˜oes diferenciais possuem em geral uma infinidade de solu¸co˜es. Por´em, no exemplo 1, por cada ponto de Ω passa uma u ´nica solu¸ca˜o; isto ´e, dado (t0 , x0 ) Ω existe uma u ´nica solu¸ca˜o ϕ tal que ϕ(t0 ) = x 0 .
∈
x
ϕc2
c2
x
ϕ0
ϕc1
ϕc2
ϕc1
c1
ϕc
c t
t0
0
c1
t
c2 2
x′ = g(t)
x′ = 3 x 3
Figura 1.1: Exemplos: (1) a` esquerda; (2) a` direita
O mesmo n˜ ao acontece no exemplo 2; neste caso para cada ponto da forma (t0, 0) existe uma infinidade de solu¸c˜oes passando por ele. Sob hip´ oteses bem gerais sobre ∂f f – por exemplo, se f e ∂x s˜ao cont´ınuas em Ω – existe uma, e s´o uma, solu¸ca˜o de (1.1) num intervalo que cont´em t 0 e tal que ϕ(t0 ) = x 0 . Uma tal ϕ ser´a chamada de solu¸c˜ ao do problema com dados iniciais (t0 , x0 ) para a equa¸c˜ao (1.1). Este problema ´e tamb´em conhecido como problema de Cauchy e ser´ a denotado abreviadamente por x′ = f (t, x),
x(t0 ) = x 0 .
(1.2)
12
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
Observa¸c˜ ao. A equa¸ca˜o (1.2) ´e equivalente a` equa¸ca˜o integral
t
x(t) = x 0 +
f (s, x(s))ds.
(1.3)
t0
Isto ´e, se t0 I , uma fun¸c˜ao cont´ınua ϕ : I afico est´ a contido em Ω ´e E cujo gr´ solu¸c˜ao de (1.3) se, e s´ o se, ´e solu¸c˜ao de (1.2). Isto decorre do Teorema Fundamental do C´alculo. A equa¸c˜ao (1.1) (ou (1.2)) admite a seguinte interpreta¸ c˜ao geom´etrica, ilustrada na Figura 1.2. ℓ(t′ , x′ ) E ℓ(t, x)
∈
x′
→
(t′ , x′ )
x
(t, x)
ϕ
Ω t′
t
R
Figura 1.2: Interpreta¸c˜ao geom´etrica A fun¸c˜ao f define em Ω um campo de dire¸co˜es. Isto ´e, associa cada ponto (t, x) `a reta ℓ(t, x) : ξ x = f (t, x)(τ t)
−
−
de “declividade” f (t, x) que passa por (t, x). A equa¸ca˜o (1.1) (ou (1.2)) coloca o problema de achar (se existirem) as curvas passando por (t0 , x0 ), cujas retas tangentes em cada ponto coincidem com as dadas pelo campo de dire¸c˜oes.
1.3
Exemplos
Discutimos a seguir quatro exemplos elementares de existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes para o problema de Cauchy que admitem um tratamento direto. ˜ autˆ onomas. Exemplo 1.2 Equa¸coes Seja Ω = R (a1 , a2) e f (t, x) = f (x). Supomos que f ´e cont´ınua e n˜ ao se anula em (a1 , a2 ). Dados x0 (a1 , a2 ) e t0 R , calculemos a solu¸c˜ao para o problema de Cauchy x′ = f (x), x(t0 ) = x 0 . (1.4)
×
∈
∈
1.3 Exemplos
13
Se ϕ ´e uma solu¸ca˜o de (1.4), ent˜ ao ϕ′ (t) = f (ϕ(t)) e ϕ(t0 ) = x 0 , donde segue-se
Se F : (a1 , a2 )
ϕ′ (t) = 1. f (ϕ(t))
→ R ´e dada por
x
F (x) =
x0
(1.5)
(1.6)
dξ , f (ξ )
vˆe-se que F ′ (x) = f (1x) = 0 em (a1 , a2 ), provando que F ´e invers´ıvel e aplica (a1 , a2 ) num intervalo (b1 , b2 ) onde F −1 est´a definida. De (1.5) e (1.6) resulta que
1=
ϕ′ (t) = F ′ (ϕ(t))ϕ′ (t), f (ϕ(t))
ou seja, (F ϕ)′ (t) = 1.
◦
Integrando ambos os lados entre t0 e t obtemos F (ϕ(t))
− F (ϕ(t )) = t − t 0
0
e como F (ϕ(t0 )) = 0, F (ϕ(t)) = t Logo, a solu¸c˜ao de (1.4) ´e dada por ϕ(t) = F −1 (t
− t ), 0
−t . 0
t (t0 + b1 , t0 + b2).
∈
Vˆe-se facilmente que esta ´e a u´nica solu¸ca˜o. Compare este exemplo com o exemplo 2 da se¸ca˜o 1.2, onde n˜ao existe unicidade de solu¸c˜oes e com a equa¸c˜ao do tipo x′ = g(t) apresentada no exemplo 1 da se¸ c˜ao 1.2. dt 1 Note tamb´em que dx = f (x) , que ´e deste tipo, tem solu¸co˜es que s˜ ao inversas das solu¸c˜oes de (1.4) e vice-versa.
Exemplo 1.3 Equa¸coes ˜ de vari´ aveis separ´ aveis. Consideremos o problema de Cauchy x′ = g(t)f (x),
x(t0 ) = x 0 ,
(1.7)
14
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes a2 ϕ(t)
x0
a1 b1
b1 + t0 b2 t0
b2 + t0 t
Figura 1.3: Ilustra¸ca˜o do Exemplo 1.2 onde g e f s˜ao cont´ınuas em intervalos abertos (t1 , t2 ) e (a1 , a2 ), respectivamente, e f n˜ao se anula em (a1 , a2 ). Procedendo como no exemplo anterior (que ´e o caso particular e que g(t) 1), se ϕ ´e solu¸c˜ao de (1.7), obtemos
≡
ϕ′ (t) = g(t)f (ϕ(t)), ou seja, definindo F (x) =
x x0
dξ/f (ξ ) obtemos,
g(t) = F ′ (ϕ(t))ϕ′ (t) = (F ϕ)′ (t).
◦
Integrando ambos os lados entre t0 e t resulta
t
γ (t) =
g(τ )dτ = F (ϕ(t))
t0
e da´ı, no intervalo I contendo t0 tal que t
t
∈ I implica b
1
<
t t0
g(τ )dτ < b2 , a solu¸ca˜o
´e ϕ(t) = F −1 t0 g(τ )dτ . O leitor deve verificar que esta ´e a unica ´ solu¸ca˜o de (1.7). Observe que a solu¸ca˜o obtida ´e dada implicitamente, para constantes de integra¸c˜ao apropriadas, pela rela¸c˜ao
g(t)dt =
entre as integrais indefinidas.
dx f (x)
1.3 Exemplos
15
F (x) x Ω
b2
a2
x0
ϕ(t)
a1 t0
t1
t2
t γ (t)
b1
Figura 1.4: Ilustra¸ca˜o do Exemplo 1.3 ˜ lineares. Exemplo 1.4 Equa¸coes Sejam a(t) e b(t) fun¸c˜oes cont´ınuas em (t1 , t2 ) e consideremos o problema de Cauchy x′ = a(t)x + b(t), x(t0) = x 0. (1.8) Se b 0 esta equa¸c˜ao chama-se homogˆenea e ´e do tipo de vari´ aveis separ´ aveis, vistas no exemplo anterior. Os casos x < 0 e x > 0 poderiam ent˜ ao ser analisados `a luz do exemplo anterior. Preferimos por´em seguir o m´etodo cl´ assico de “varia¸ca˜o de parˆ ametros”, que ´e aplic´avel mesmo no caso n˜ao homogˆeneo. Este m´etodo consiste em fazer a mudan¸ ca de vari´ aveis
≡
− − ∈ t
x = c exp
a(τ )dτ ,
(1.9)
t0
que transforma (1.8) no problema
t
c′ = b(t)exp
a(τ )dτ ,
c(t0 ) = x 0 ,
t0
cuja solu¸c˜ao u ´nica ´e
t
γ (t) = x 0 +
s
b(s)exp
t0
a(τ )dτ ds.
t0
Logo, o problema de Cauchy (1.8) admite como u´nica solu¸c˜ao t
ϕ(t) = γ (t)exp
a(τ )dτ , t (t1 , t2 ).
t0
(1.10)
16
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
Para ver qual ´e a mudan¸ ca de vari´aveis que transforma (1.8) em (1.10), basta derivar (1.9) e substituir em x′ = a(t)x + b(t). Obtemos ent˜ ao
− t
c′ exp
t
a(τ )dτ + ca(t)exp
t0
a(τ )dτ
t0
t
= ca(t)exp
a(τ )dτ + b(t),
t0
isto ´e,
t
c′ = b(t)exp
a(τ )dτ .
t0
O termo “varia¸c˜ao de parˆ ametros” deriva do fato de c(t)
≡ x no caso homogˆeneo. 0
ao a uma equa¸c˜ ao linear complexa. Exemplo 1.5 Redu¸c˜ Consideremos agora um sistema de duas equa¸ c˜o es lineares e o problema de Cauchy x′ = α(t)x β (t)y + δ (t), y ′ = β (t)x + α(t)y + η(t), (1.11) x(t0 ) = x 0 , y(t0 ) = y0 ,
−
onde α, β , δ e η s˜ao fun¸co˜es cont´ınuas num intervalo (t1 , t2 ) que cont´em o ponto t 0. Este problema n˜ ao difere em seu tratamento formal do exemplo anterior. Introduzindo nota¸c˜ao complexa, z = x + iy, a(t) = α(t) + iβ (t) e b(t) = δ (t) + iη(t), vemos que (1.11) se escreve z ′ = a(t)z + b(t), z (t0) = z 0, cuja u ´nica solu¸ca˜o ´e, para t
∈ (t , t ), 1
2
− t
ϕ(t) = γ (t)exp
a(τ )dτ ,
t0
t
s
onde γ (t) = z 0 + t0 b(s)exp a(τ )dτ ds. t0 Ilustremos o caso homogˆeneo (δ η 0), com coeficientes constantes (α(t) α e β (t) β ) e com t0 = 0. Neste caso, ϕ(t) = z 0 eαt eiβt . A figura 1.5 d´ a uma ideia das possibilidades para v´ arios valores de α e β .
≡
≡ ≡
≡
1.4 Teoremas de Picard e de Peano
17
y
y z 0 x
z 0
a) β > 0, α < 0
b) β < 0, α > 0
y
y z 0
x
z 0 x
x
c) β > 0, α = 0
d) β = 0, α < 0
Figura 1.5: Ilustra¸ca˜o do Exemplo 1.5
1.4
Teoremas de Picard e de Peano
Rn chama-se Lipschitziana em Ω relativamente Uma aplica¸ca˜o f : Ω R Rn `a segunda vari´ avel ou, simplesmente, Lipschitziana , se existe uma constante K tal que f (t, x) f (t, y) K x y
⊆ ×
→
|
−
|≤ | − |
para todos (t, x), (t, y) Ω. Uma K nestas condi¸co˜es chama-se de constante de Lipschitz de f . Por exemplo, se f admite derivada parcial em rela¸c˜ao a` segunda vari´ avel, D2 f , com D2 f K em Ω e Ωt = x; (t, x) Ω ´e um conjunto convexo para todo t, ent˜ ao f ´e Lipschitziana em Ω e K ´e sua constante de Lipschitz. De fato, pelo teorema do valor m´edio,
∈
≤
{
∈ }
|f (t, x) − f (t, y)| ≤ { sup |D f (t,θx + (1 − θ)y)|} |x − y| ≤ K |x − y|. 0<θ<1
2
A aplica¸c˜ao f diz-se localmente Lipschitziana em Ω se cada (t0 , x0 ) tem uma vizinhan¸ca V = V (t0 , x0 ) tal que f V ´e Lipschitziana em V . Por exemplo, se f admite derivada parcial em rela¸ca˜o a` segunda vari´ avel, D2 f , cont´ınua em Ω, ent˜ao f ´e localmente Lipschitziana em Ω. Isto resulta de se aplicar o argumento anterior a vizinhan¸cas convexas V onde D 2 f ´e limitada. Lembramos a seguir o Lema da Contra¸ ca˜o e, principalmente, um corol´ ario deste que ser´ a usado na demonstra¸c˜ao do Teorema 1.8, abaixo.
|
18
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
Lema 1.6 (Lema da Contra¸ca ˜o) Sejam (X, d) um espa¸co m´etrico completo e F : X X uma contra¸c˜ ao, isto ´e, d(F (x), F (y)) Kd(x, y), 0 K < 1. Existe um unico ´ ponto fixo p, para F , isto ´e, F ( p) = p. Mais ainda, p ´e um atrator de F , isto n ´e, F (x) p quando n , para todo x X . F n(x) ´e definido por F (F n−1 (x)).
→
≤
→
→∞
≤
∈
Demonstra¸ c˜ ao Unicidade: sejam p e p1 dois pontos fixos. d( p, p1 ) = d(F ( p), F ( p1 ))
≤ K d( p , p), 1
o que implica que d( p, p1 ) = 0, donde p1 = p. Existˆencia: sejam x X e xn = F n (x). Provaremos que xn ´e uma sequˆencia de Cauchy. Realmente, d(xn+r , xn ) K n d(x, xr ) e
∈
d(x, xr )
≤ ≤
{ }
≤
d(x, F (x)) + d(F (x), F 2 (x)) + + d(F r−1 (x), F r (x)) (1 + K + K 2 + + K r−1 )d(x, F (x)).
· ··
n
···
K Portanto, d(xn+r , xn ) d(x, F (x)). Logo, xn ´e convergente. Provemos 1−K que lim xn = p ´e ponto fixo de F . De fato:
≤
{ }
F ( p) = F (lim xn ) = lim F (xn ) = lim xn+1 = p.
Corol´ario 1.7 Seja X um espa¸co m´etrico completo. Se F : X X ´e cont´ınua e, para algum m, F m ´e uma contra¸cao, ˜ ent˜ ao existe um ´ unico ponto p fixo para F . Mais ainda, p ´e um atrator de F .
→
Demonstra¸ c˜ ao Seja p o ponto fixo atrator de F m dado pelo Lema da Contra¸c˜ao (Lema 1.6). Seja n = mk + ℓ com 0 ℓ < m. Dado x X , como p ´e atrator de F m, temos (j´ a que F ℓ (x) , 0 ℓ < m, ´e finito) [F m]k (F ℓ (x)) p, quando k . n m k ℓ Da rela¸ca˜o F (x) = [F ] (F (x)) e do fato que quando n tem-se k , segue-se que F n (x) p, quando n , isto ´e, p ´e um atrator de F . Provaremos agora que F ( p) = p. Com efeito,
≤
∈
{ } ≤ → → ∞
→ → ∞
→ ∞ → ∞
p = lim F n (F ( p)) = lim F n+1( p) = lim F (F n( p)) = F (lim F n ( p)) = F ( p).
Teorema 1.8 (Teorema de Picard) Seja f cont´ınua e Lipschitziana com rela¸cao ˜ `a segunda vari´ avel em Ω = I a Bb , onde I a = t; t t0 a , B b = x; x x0 b . Se f M em Ω, existe uma unica ´ solu¸cao ˜ de
×
| | ≤
{ |− |≤ }
x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 em I α , onde α = min a, b/M .
{
}
{ | − | ≤ }
1.4 Teoremas de Picard e de Peano
19
E
(t0 , x0 )
Ω
b x0
t0
− a t0 − α
t0 + α t0 + a
R
t0
Figura 1.6: Teorema de Picard
Demonstra¸ c˜ ao Seja X = (I α , Bb ) o espa¸co m´etrico completo das fun¸co˜es cont´ınuas ϕ : I α B b , com a m´etrica uniforme
C
→
d(ϕ1 , ϕ2 ) = sup ϕ1 (t) t I α
∈
|
− ϕ (t)|. 2
→ E definida por
Para ϕ X , seja F (ϕ) : I α
∈
t
F (ϕ)(t) = x 0 +
f (s, ϕ(s))ds, t I α .
∈
t0
Assim a correspondˆencia ϕ propriedades:
→
F (ϕ) define uma fun¸ca˜o F com as seguintes
(1) F (X )
⊂ X ;
(2) F n ´e uma contra¸c˜ao, para n suficientemente grande. Ou seja, F : X X ´e uma fun¸ca˜o tal que F n ´e uma contra¸c˜ao. De fato, para todo t I α ,
→
∈
t
|F (ϕ)(t) − x | = 0
f (s, ϕ(s))ds
t0
Isto prova (1). Quanto a (2), para todo par ϕ1 , ϕ2
≤
M α
≤ b.
∈ X e todo n ≥ 0, |F (ϕ )(t) − F (ϕ )(t)| ≤ K |tn!− t | d(ϕ , ϕ ), t ∈ I , n
1
n
n
2
0
n
1
2
α
∗
( )
20
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
onde K ´e a constante de Lipschitz de f . Verificamos esta desigualdade por indu¸c˜ao em n. Para n = 0 ela ´e o´bvia. Suponhamos que ´e v´alida para k. Ent˜ao, k+1
|F
(ϕ1 )(t)
≤ | ≤ | ≤ t
t0 t
k+1
− F
f (s, F k (ϕ1 )(s))
K F k (ϕ1 )(s)
t0
t
K
t0
(ϕ2 )(t) = F (F k (ϕ1 ))(t)
| |
k
− F (F (ϕ ))(t)|
| | | − |
k
2
− f (s, F (ϕ )(s)) ds k
2
− F (ϕ )(s) ds 2
K k (s t0 )k K k+1 t t0 k+1 d(ϕ1 , ϕ2 )ds = d(ϕ1 , ϕ2 ). k! (k + 1)!
−
n
n
K α Portanto, d(F n(ϕ1 ), F n (ϕ2 )) d(ϕ1 , ϕ2 ) e, para n grande, K n αn /n! < 1, n! pois este ´e o termo geral de uma s´erie cuja soma ´e eKα , donde F n ´e uma contra¸ca˜o em X . Pelo corol´ a rio do Lema da Contra¸ca˜o, existe uma u´nica ϕ X tal que F (ϕ) = ϕ. De fato, o ponto fixo ϕ ´e de classe C 1 e isto prova o teorema de Picard.
≤
∈
Corol´ario 1.9 Seja Ω aberto em R E e seja f : Ω E cont´ınua com D 2 f tamb´ em cont´ınua. Para todo ponto (t0 , x0 ) em Ω existe uma vizinhan¸ca V = I (t0 ) B(x0 ) tal que x′ = f (t, x), x(t0) = x0 , tem uma unica ´ solu¸c˜ ao em I (t0 ). Al´ em disso, o gr´ afico desta solu¸c˜ ao est´ a contido em V .
×
→
×
Demonstra¸ c˜ ao Seja U uma vizinhan¸c a de (t0, x0) tal que f U ´e Lipschitziana e f M em U . Seja α > 0 suficientemente pequeno para que V = I α (t0 ) Bb (x0 ) U , onde b = αM . Conclui-se o argumento aplicando o Teorema 1.8.
|
| |≤
Proposi¸c˜ ao 1.10 Seja f cont´ınua e Lipschitziana em Ω = [a, b] todo (t0 , x0 ) Ω existe uma ´ unica solu¸c˜ ao de (1.2) em I = [a, b].
∈
×
⊆
× E. Ent˜ ao, para
Demonstra¸ c˜ ao Considerar X = (I, E) e F : X tra¸ca˜o do Teorema 1.8
→ X definida como na demons-
C
t
F (ϕ)(t) = x 0 +
f (s, ϕ(s))ds.
t0
F tem um u ´ nico ponto fixo pois, para n grande, F n ´e uma contra¸ca˜o. Basta observar que a desigualdade ( ) da demonstra¸c˜ao do Teorema 1.8 ´e verificada.
∗
Corol´ ario 1.11 (Equa¸c˜ oes lineares) Sejam A(t) e b(t) respectivamente matrizes n n e n 1 de fun¸c˜ oes cont´ınuas num intervalo I . Para todo (t0 , x0 ) I Rn existe uma unica ´ solu¸c˜ ao de x′ = A(t)x + b(t), x(t0) = x 0 definida em I .
×
×
∈ ×
1.4 Teoremas de Picard e de Peano
21
Demonstra¸ c˜ ao Seja I = n I n, onde I n I n+1 s˜ao intervalos compactos que cont´em t0 . f (t, x) = A(t)x + b(t) satisfaz as hip´ oteses da Proposi¸c˜ao 1.10 em cada ´ claro intervalo I n . Seja ϕn a u ´ nica solu¸ca˜o neste intervalo passando por (t0 , x0 ). E ´ claro que ϕn+1 I n = ϕn . Logo, ϕ(t) = ϕn(t), t I n est´a bem definida em I . E tamb´em que ϕ ´e a u ´nica solu¸ca˜o em I passando por (t0 , x0 ).
⊂
|
∈
Se retirarmos a hip´ otese de f ser Lipschitziana, ainda temos existˆencia de solu¸c˜oes. Antes de provar este fato, lembramos o Teorema de Arzel´ a.
Teorema 1.12 (Teorema de Arzel´a) Seja (X, d) um espa¸co m´etrico compacto. R. Isto ´ Seja F uma fam´ılia equicont´ınua de fun¸c˜ oes ϕ : X e, para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que se d(x, y) < δ ent˜ ao ϕ(x) ϕ(y) < ε para todo ϕ F . Se F ´e uniformemente limitada (isto ´e, existe M > 0 tal que ϕ < M para todo ϕ F ), ent˜ ao toda sequˆencia ϕn de elementos de F tem uma subsequˆencia ϕnk uniformemente convergente em X .
|
∈
−
→
|
∈ { }
| |
{ }
Demonstra¸ c˜ ao Ver Espa¸cos M´etricos, E. Lima [12], pg. 244. Teorema 1.13 (Teorema de Peano) Seja f cont´ınua em Ω = I a Bb como no Teorema 1.8. Se f < M em Ω, (1.2) tem pelo menos uma solu¸c˜ ao em I α , onde α = min a, b/M .
×
| | }
{
Demonstra¸ c˜ ao Pelo Teorema de Aproxima¸c˜ao de Weierstrass, existe uma sequˆencia ao polinˆomios, que converge para f , uniformef n de fun¸co˜es, cujas componentes s˜ mente em Ω. Para n grande, f n satisfaz as hip´o teses do Teorema 1.8. Seja ϕn solu¸c˜ao de x′ = f n (t, x), x(t0 ) = x 0 em I α , cuja existˆencia e unicidade decorrem do Teorema 1.8. A fam´ılia ϕn ´e equicont´ınua e uniformemente limitada, pois
{ }
t′
|ϕ (t) − ϕ (t′)| = n
n
f n (s, ϕn (s))ds
t
≤
| − t′|
M t
e ϕn x0 b, para todo n suficientemente grande. Pelo Teorema de Arzel´ a existe uma subsequˆencia, que denotaremos tamb´em por ϕn , tal que ϕn converge uniformemente em I α para uma fun¸c˜ao ϕ. Provaremos que ϕ ´e solu¸c˜ao de (1.2). Aplicando a desigualdade triangular a f n (s, ϕn (s)), f (s, ϕn(s)) e f (s, ϕ(s)) resulta que f n (s, ϕn (s)) converge uniformemente em I α para f (s, ϕ(s)). Portanto, fazendo t n tender a em ambos os membros de ϕ n(t) = x 0 + t0 f n(s, ϕn (s))ds, temos, para t todo t I α , ϕ(t) = x 0 + t0 f (s, ϕ(s))ds.
| − | ≤
∈
∞
{ }
Corol´ ario 1.14 Seja Ω aberto em R E e f : Ω E cont´ ınua. Se C Ω ´e um conjunto tal que f < M em Ω0 , onde Ω Ω 0 C com dist(C, Ω Ω0 ) > 0, ent˜ ao existe α > 0 tal que, para todo ponto (t0 , x0 ) C , existe uma solu¸c˜ ao de x ′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 em I α (t0) = t R : t t0 α .
| |
{∈
×
⊇ ⊇ ∈ | − |≤ }
→
−
⊂
22
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
Demonstra¸ c˜ ao Seja 0 < a < dist(C, Ω Teorema 1.13 a I a (t0 ) Ba (x0) Ω 0 .
×
⊆
− Ω ). Tomar α = min{a, a/M } e aplicar o 0
Observa¸c˜ ao. Se C ´e compacto contido no interior de um outro compacto Ω0 as hip´oteses deste corol´ ario s˜ao satisfeitas para M > sup f em Ω0 .
||
1.5
Solu¸co ˜es m´ aximas
Proposi¸c˜ ao 1.15 Seja f cont´ınua num aberto Ω R E. Suponhamos que para todo (t0 , x0 ) Ω exista uma ´ unica solu¸c˜ ao de x′ = f (t, x), x(t0 ) = x0 definida num intervalo aberto I = I (t0 , x0 ) (por exemplo, se f ´e localmente de Lipschitz esta condi¸c˜ ao ´e satisfeita). Ent˜ ao, para todo (t0 , x0 ) Ω existe uma ´ unica solu¸cao ˜ ′ ϕ = ϕ(t, t0 , x0 ) de x = f (t, x), x(t0 ) = x0 , definida num intervalo M (t0, x0 ) = (ω− (t0 , x0 ), ω+ (t0 , x0 )) com a propriedade de que toda solu¸c˜ ao ψ de x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 num intervalo I satisfaz a I M (t0 , x0 ) e ψ = ϕ I .
⊆ ×
∈
∈
⊆
|
´ suficiente tomar M (t0 , x0 ) = I ψ , onde I ψ ´e o intervalo de Demonstra¸ c˜ ao E defini¸c˜a o de alguma solu¸ca˜o ψ de x′ = f (t, x), x(t0 ) = x0 . Se t I ψ definimos ϕ(t) = ψ(t). Esta defini¸ca˜ o n˜ a o depende da ψ usada. Com efeito, o conjunto C = t I ψ1 I ψ2 ; ψ1 (t) = ψ 2 (t) ´e n˜ ao vazio, fechado e aberto em I ψ1 I ψ2 . Como este u ´ltimo conjunto ´e conexo, segue-se que C = I ψ1 I ψ2 . O conjunto C ´e fechado pois ´e igual a (ψ1 ψ 2)−1 (0); C ´e aberto porque para todo ponto t′ ele cont´em I (t′ , ψ1(t′ )) I (t′ , ψ2 (t′ )).
∪
{∈ ∩
}
∩
∩
−
∩
∈
ao m´ axima de Defini¸c˜ ao 1.16 Chama-se solu¸c˜ x′ = f (t, x)
(1.12)
a toda solu¸ca˜o ϕ definida num intervalo I , denominado intervalo m´ aximo de ϕ, tal que se ψ ´e uma outra solu¸ca˜o no intervalo J com J I e ϕ = ψ I , ent˜ao I = J . Em outras palavras, ϕ ´e m´ axima se n˜ao admite nenhuma extens˜ ao que tamb´em ´e solu¸c˜ao de (1.12).
⊇
|
O exemplo 2 da se¸c˜ao 1.2 mostra que, em geral, existe uma infinidade de solu¸co˜es m´aximas por um ponto se apenas a continuidade da f ´e exigida. A Proposi¸c˜ao 1.15 mostra que se (1.12) tem por cada ponto (t0 , x0 ) uma u ´nica solu¸c˜ao local (isto ´e, num certo intervalo I (t0 , x0 )), ent˜ao (1.12) tem solu¸c˜oes m´aximas u ´nicas.
Teorema 1.17 Seja f cont´ınua num aberto Ω de R E. Se ϕ ´e uma solu¸c˜ ao m´ axima ′ unica ´ de x = f (t, x) definida em (ω− , ω+ ), ent˜ ao a aplica¸c˜ ao g(t) = (t, ϕ(t)) tende a ∂ Ω quando t ω ± . Isto ´e, para todo compacto K Ω existe uma vizinhan¸ca V de ω± tal que g(t) K para t V .
→
∈
∈
× ⊆
1.6 Sistemas e equa¸c˜ oes diferenciais de ordem superior
23
Demonstra¸ c˜ ao Suponhamos que para algum compacto K Ω exista uma seq¨ uˆen′ cia tn ω+ tal que g(tn) K . Seja tn uma subsequˆencia de tn tal que g(tn ) ´e convergente. Seja limn→∞ g(t′n ) = (ω+, x0 ) K . Para (t0 , x0 ) = (ω+ , x0 ), seja V = I α Bb a vizinhan¸ca dada pelo Teorema de Peano, onde α = b/M e M > f em V . Seja V 1 = I α/3(t0 ) Bb/3(x0 ). Para todo (t1, x1) V 1 existe uma solu¸c˜ao definida em I α1 (t1 ), com α 1 = α/2. De fato, aplicando o Teorema de Peano ao ponto (t1, x1 ) ˆ = I α (t1) B b (x1 ), b1 = αM , contida em V , encontramos uma da vizinhan¸ca V 1 1 2 solu¸c˜a o de (1.12) passando por (t1 , x1 ) definida para todo t I α1 (t1 ). Tomando ′ ′ t1 = tn com n suficientemente grande de modo que g(tn) V 1 temos que ϕ pode ser prolongada at´e t ′n + a2 > t0 = ω + , uma contradi¸ca˜o. Analogamente, procede-se para ω− .
→ ×
∈
⊆
{ }
{ }
∈
×
| |
∈
×
∈
∈
Observa¸c˜ oes. (a) N˜ao ´e verdade, em geral, que exista o limite da solu¸ c˜ao m´ axima ϕ de x ′ = g(t) quando t ω ± , mesmo que ω± < .
→
∞
Basta ver, por exemplo x′ =
, − cos1/t t 2
t > 0,
que tem como solu¸ca˜o m´axima a fun¸ca˜o ϕ(t) = sen 1t , t > 0. (b) No entanto, se f ´e limitada em Ω, digamos f limite existe. Pois se ϕ ´e solu¸c˜ao e t, s < ω+ < final da se¸ca˜o 1.2 sai que
| | ≤ M , e se ω± < ∞, ent˜ao o ∞, usando a observa¸c˜ao do
≤
t
|ϕ(t) − ϕ(s)| =
f (τ, ϕ(τ ))dτ
s
M t
| − s|.
Logo, a afirma¸c˜ao resulta do crit´erio de convergˆencia de Cauchy, pois quando t, s ω +, ϕ(t) ϕ(s) 0.
→ |
−
|→
Analogamente para ω− .
1.6
Sistemas e equa¸ co ˜es diferenciais de ordem superior
Sejam E1 , E2 , . . . , Em espa¸cos euclidianos e seja Ω um subconjunto de R E, onde E = E1 E 2 Em . Sejam f i : Ω Ei , i = 1, . . . , m, fun¸ co˜es cont´ınuas. Ei , i = 1, . . . , m, ´ Uma fam´ılia ϕ1 , . . . , ϕm , onde cada ϕi : I e uma fun¸ca˜o
× × ·· · × { }
→
×
→
24
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
diferenci´avel de um intervalo I em Ei , chama-se solu¸c˜ ao do sistema de equa¸c˜ oes diferenciais ordin´ arias
no intervalo I , se:
dx1 = f 1 (t, x1 , x2 , . . . , xm ), dt dx2 = f 2 (t, x1 , x2 , . . . , xm ), dt .. . dxm = f m (t, x1 , x2 , . . . , xm ), dt
(1.13)
(i) para todo t I , (t, ϕ(t)) = (t, ϕ1 (t), . . . , ϕm (t)) Ω;
∈
∈
(ii) para todo i = 1, 2, . . . , m, dϕi (t) = f i (t, ϕ1 (t), ϕ2 (t), . . . , ϕm (t)), dt para todo t I .
∈
O sistema (1.13), denotado abreviadamente por x′i = f i (t, x1 , x2 , . . . , xm ), i = 1, . . . , m ,
(1.13′ )
´e equivalente a` equa¸ca˜o diferencial ordin´ aria x′ = f (t, x),
(1.14)
onde f = (f 1 , f 2 , . . . , fm ) : Ω e, uma fam´ılia (ϕ1 , . . . , ϕm ) E = E1 Em . Isto ´ E ´ de fun¸c˜oes ´e solu¸ca˜o de (1.13) em I se, e somente se, ϕ = (ϕ1 , . . . , ϕm) : I e solu¸c˜ao de (1.14) em I . Em particular, a equa¸ca˜o “vetorial” (1.1) da se¸ca˜o 1.1 ´e equivalente a um sistema de equa¸co˜es “escalares” do tipo (1.13) acima, em que f i ´e a i-´esima coordenada de Em , onde Ei = R, i = 1, 2, . . . , m. Note que este fato o f em E = E1 ´bvio foi estabelecido na pr´ opria se¸c˜ao 1.1. O problema de Cauchy para sistemas de equa¸c˜oes da forma (1.13) formula-se do seguinte modo: dados t0 , x1,0 , . . . , xm,0 tais que (t0 , x1,0 , . . . , xm,0 ) pertence a Ω, encontrar uma solu¸c˜ao ϕ1 , . . . , ϕm de (1.13) num intervalo I que cont´em t0 tal que ϕi (t0 ) = x i,0 para todo i. Abreviadamente, escrevemos
→
×···×
→
×···×
{
}
x′i = f i (t, x1 , x2 , . . . , xm ), xi (t0 ) = x i,0 .
(1.15)
1.6 Sistemas e equa¸c˜ oes diferenciais de ordem superior
25
Este problema ´e equivalente ao problema de Cauchy x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 .
(1.16)
Para a equa¸c˜ao (1.14), onde x0 = (x1,0 , . . . , xm,0 ) tendo em conta que a fun¸ca˜o f em (1.14) ´e, respectivamente, cont´ınua, Lipschitziana com constante de Lipschitz K , diferenci´ avel em rela¸c˜ao a` segunda vari´ avel, etc., se, e somente se, cada uma das f i de (1.13) tamb´em ´e do mesmo tipo, temos que todos os teoremas de existˆencia, unicidade e solu¸co˜ es m´aximas das se¸co˜ es 1.4 e 1.5 s˜ a o v´alidos para solu¸c˜oes da equa¸c˜ao (1.13). E Seja agora Ω um aberto de R Em , onde E ´e um espa¸co euclidiano e f : Ω uma fun¸ca˜o cont´ınua. E, de classe C m , definida num intervalo, chama-se solu¸ Uma fun¸c˜ao ϕ : I cao ˜ da equa¸c˜ ao diferencial ordin´ aria de ordem m
×
→
→
dmx = f (t,x,x′ , x′′ , . . . , x(m−1) ) m dt
(1.17)
em I , se: (i) para todo t I , (t, ϕ(t), ϕ′ (t), . . . , ϕ(m−1) (t)) Ω;
∈ (ii) para todo t ∈ I ,
∈
dm(ϕ) (t) = f (t, ϕ(t), ϕ′ (t), . . . , ϕ(m−1) (t)). m dt A equa¸c˜ao (1.17) tamb´em ´e denotada por x(m) = f (t,x,x′ , x′′ , . . . , x(m−1))
(1.17′ )
e ´e equivalente ao sistema
x′r = x r+1, r = 1, 2, . . . , m x′m = f (t, x1 , x2 , . . . , xm) xi (t0) = x i+1 0 .
− 1,
(1.18)
Isto ´e, se uma fun¸c˜ao ϕ ´e solu¸ca˜o de (1.17), ent˜ ao ϕ, ϕ′ , ϕ′′ , . . . , ϕ(m−1) ´e uma solu¸c˜ao de (1.18); e se (ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕm) ´e uma solu¸c˜ao de (1.18), ent˜ ao ϕ = ϕ 1 ´e uma solu¸c˜ao de (1.17), isto ´e, ϕ ´e de classe C m e satisfaz (i) e (ii), acima. O Problema de Cauchy para a equa¸c˜ ao (1.17) formula-se do seguinte modo: dado m 1 − um ponto (t0 , x00 , x10 , . . . , x0 ) Ω, encontrar uma solu¸c˜ao ϕ de (1.17) definida num intervalo I que cont´em o ponto t 0 e satisfaz a
{
∈
−1 . ϕ(t0 ) = x 00 , ϕ′ (t0 ) = x 10 , . . . , ϕ(m−1) (t0) = x m 0
}
26
1. Existˆ encia encia e unicidade unici dade de solu¸c˜ c˜ oes oes
Abreviadamente escrevemos x(m) = f ( f (t,x,x′ , . . . , x(m−1) ), x(i) (t0 ) = x i0 , i = 0, 1, . . . , m
− 1.
(1.19)
Este problema problema ´e equivalent equivalentee ao seguinte seguinte problema de Cauchy Cauchy para sistemas sistemas de equa¸c˜oes x′r = x r+1, xi (t0 ) = x i0−1 , i = 1, 2, . . . , m , (1.20) x′m = f = f ((t, x1, . . . , xm), r = 1, 2, . . . , m 1. Assim, quest˜oes oes relativas a` existˆ ex istˆencia, encia , unicida u nicidade de e intervalos m´ aximos aximos de solu¸c˜ coes o˜es de (1.1 (1.17) 7) s˜ ao a o reduzi reduzido doss a quest quest˜ oes o˜es simi simila lares res para para siste sistema mass (1.18 (1.18)) e portan portanto to a equa¸c˜ c˜oes oes do tipo (1.1) da se¸ c˜ cao a˜o 1.1. Em particular particular,, todos os resulta resultados dos relativo relativoss a estas quest˜ oes demonstrados nas se¸c˜ oes coes o˜ es 1.4 e 1.5 s˜ ao a o v´ alidos alidos para equa¸c˜ coes o˜es de ordem m qualquer.
1.7
−
Exerc´ Exerc´ıcios
1. Seja g(t) = t22−1 , t = 1.
| |
(a) Mostre Mostre que toda solu¸ soluc¸˜ao de x′ = g( g (t) ´e da form fo rmaa ϕ(t) = c + c + log onde c R. (b) Fa¸ca ca um esbo¸co co destas solu¸c˜ coes o˜es em
∈
−
t 1 , t+1
{ ∈ R; |t| = 1} × R. Sugest˜ao: ao: Note que g (t) = − − . Ω= t 1
1 t+1
t 1
2
2. Seja f Seja f ((x) = x 2−1 . Mostre Mostre que que toda solu¸ solu¸ c˜ao ao de x de x ′ = f = f ((x) diferente das solu¸c˜ coes o˜es ϕ+ 1 e ϕ− 1 ´e da form fo rmaa
≡
≡ −
1 + cet , c = 0. 1 cet Qual ´e o intervalo m´ aximo I aximo I c = (ω− (c), ω+ (c)) de defini¸c˜ cao ˜ao destas solu¸c˜ coes? o˜es? 2 Fa¸ca ca um esbo¸co co geom´etrico etric o das solu¸c˜ c˜oes oes em Ω = R e compare compa re com o exerc exer c´ıcio anterior. ϕ(t) =
−
3. Denote por I por I ((t0 , x0 ) = (ω− (t0, x0 ), ω+ (t0 , x0 )) o intervalo m´aximo aximo de defini¸c˜ c˜ao ao da solu¸c˜ cao a˜o ϕ = ϕ = ϕ((t, t0 , x0 ) do problema de Cauchy x′ = f ( f (x)g(t), x(t0 ) = x 0, onde (t (t0, x0) (t ( t1 , t2 ) (a1 , a2 ) e f e g s˜ao ao como no exemplo 1.3 da se¸c˜ c˜ao ao 1.3. Pode supor primeiramente que f ´ f ´e posit po sitiva iva em (a1, a2 ).
∈
×
1.7 Exerc´ıcios
27
(a) Mostre que D = (t, t0 , x0 ); (t0 , x0 ) (t ( t1 , t2)
{
∈
I (t , x )} × (a , a ), t ∈ I ( 1
2
0
0
´e abert ab ertoo e que ϕ ´e cont´ınu ın ua em D. D . (b) Se f Se f e g s˜ao ao de classe C 1 mostre que ϕ ´e de clas cl asse se C 1 em D. (c) Calcule Calcule D e ϕ no caso x′ = x 2 cos t, x = 0.
4. Estenda Estenda os resultados resultados dos exemplos exemplos 1.2 e 1.3 da se¸ c˜ao ao 1.3 para o caso em que 1 f ´ f ´e de clas cl asse se C na vizinhan¸ca ca de cada um de seus zeros. Use o teorema de Picard para garantir a unicidade das solu¸ c˜oes o es da forma ϕ(t) a, a , onde f ( f (a) = 0. Estenda as conclus˜ oes oes do exerc e xerc´´ıcio anterior para este caso e fa¸ ca c a o c´ alculo alculo de D e ϕ para x′ = x 2 cos t, (t, x) R2.
≡
∈
5. Equa¸c˜ coes oe ˜ s homogˆ ho mogˆeneas en eas . Seja f Seja f : R
→ R.
(a) As equa¸c˜ c˜oes oes da forma
x x′ = f = f , t= 0, t
s˜ao ao chamadas chamadas homogˆ homogˆeneas. eneas. Prove Prove que a mudan¸ mudan¸ ca de vari´aveis aveis x = yt transforma equa¸c˜ coes o˜es homogˆeneas enea s em equa¸c˜ c˜oes oe s com co m vari´ variaveis a´veis separ´ aveis. aveis. (b) Resolv Resolvaa a equa¸ equa¸c˜ cao a˜o x′ =
x + t , x(1) = 0. 0. t
6. Encontre Encontre os valores valores de α de α e β para para os quais x′ = at α + bxβ se transforma numa equa¸c˜ c˜ao ao homogˆenea enea por meio de uma mudan¸ ca de vari´ aam veis da forma x = y = y . 7. Seja
dx at + bx + bx + c = F . dt dt + ex + f (a) Mostre que se ae vari´aveis aveis
∗
∗
( )
ao existem h, k tais que as mudan¸cas c as de − bd = 0 ent˜ao t = τ = τ − = y − k − h, x = y
transformam ( ) numa equa¸c˜ cao a˜o homo ho mogˆ gˆenea en ea..
28
1. Existˆ encia encia e unicidade unici dade de solu¸c˜ c˜ oes oes
(b) Se ae bd = bd = 0 encontre uma mudan¸ca ca de vari´ aveis aveis que transforme ( ) numa equa¸c˜ c˜ao ao com vari´aveis aveis separ´ aveis. aveis.
−
∗
8. Equa¸c˜ cao ˜ de Bernoulli . Mostre que que a mudan¸ mudan¸ ca ca de vari´aveis aveis x1−n = y transforma y transforma a equa¸c˜ cao a˜o de Bernoulli dx = a( a (t)x + c(t)xn dt numa equa¸c˜ cao ˜ linear . 9. Equa¸c˜ cao ˜ de Riccati . A equa¸c˜ cao a˜o do tipo = r((t)x2 + a(t)x + b(t) x′ = r
( )
∗
∗
chama-se equa¸c˜ c˜ao ao de Riccati. Suponha que os coeficientes em ( ) s˜ao ao fun¸c˜ coes o˜es cont co nt´´ınuas ınu as de t. Most Mostre re que que se ϕ1 ´e uma solu¸ sol u¸c˜ c˜ao ao de ( ) ent˜ ao ao ϕ = ϕ1 + ϕ 2 ´e solu so lu¸c˜ c¸ao a˜ o de ( ) se e s´o se ϕ2 ´e uma solu¸ sol u¸c˜ cao a˜o da equa¸c˜ cao a˜o de Bernoulli (veja exerc´ exe rc´ıcio ıci o anterio ante rior) r)
∗
∗
y ′ = (a(t) + 2r 2 r (t)ϕ1 (t))y ))y + r (t)y2 . Ache as solu¸c˜ coes o˜es de
x + t3x2 t5 t sabendo que esta equa¸c˜ cao a˜o admite ϕ admite ϕ 1(t) = t como solu¸c˜ c˜ao. ao. x′ =
−
10. Prove Prove que se ϕ(t, t0 , x0 ) ´e a solu so lu¸c˜ c¸ao a˜o da equa¸c˜ cao ˜ao de Riccati ( ) com ϕ(t0, t0 , x0 ) = x0 ent˜ ao ao a transforma¸c˜ c˜ao ao T : x 0 ϕ( ϕ(t, t0 , x0 ) ´e linear fracion´ aria na vari´ avel Ax0 +B x0 , isto ´e, e, pode po de exprimir-se na forma T ( T (x0 ) = Cx 0+D . Uma transforma¸c˜ cao a˜o de desta forma ´e dita de M¨ oebius. oebius. (Sugest˜ao: ao: Revise no seu livro favorito de Vari´ avel avel Complexa a no¸c˜ c˜ao ao de raz˜ de raz˜ ao cruzada e e a sua rela¸c˜ cao ˜ao com as tranforma¸c˜ c˜oes lineares oes lineares fracionais . Prove Prove que que T T preserva a raz˜ a raz˜ ao cruzada .) .)
∗
→
11. Em cada um dos seguintes exemplos, encontre ou demonstre que n˜ ao ao existe uma constante de Lipschitz nos dom´ dom´ınios indicados. n
| | | | ∈R . (b) f ( f (t, x) = x , |x| < 1. < 1. (c) f ( f (t, x) = 1/x, /x, 1 ≤ x ≤ ∞. (d) f ( f (t, x) = (x x , t + x , x ), |x| ≤ b, b , |t| ≤ a. a . 12. Seja f ( f (x, y ) : R → R definida por f ( f (x, y ) = |y|. (a) f ( f (t, x) = t x , t < a, x 1/3
2 1 2
2
diferencial
dy dx
3
2 3
= f ( f (x, y ) com a condi¸c˜ cao a˜o inicial y(0) = 0.
Cons Co nsid ider eree a equa equa¸c˜ c¸ao a˜o
1.7 Exerc´ıcios
29
(i) Dˆe uma solu¸ca˜o desta equa¸c˜ao. (ii) Ela ´e u´nica? (iii) Caso a resposta de (ii) seja negativa, contradiz o Teorema de Picard? Justifique. (Sugest˜ao: Use o m´etodo de vari´ aveis separ´ aveis para encontrar a seguinte solu¸c˜ao x2 , x 0, 4 y(t) = x2 , x 0 .) 4 13. Seja a equa¸ca˜o
dy dx
−
≥ ≤
= f (x, y), onde f : R2 f (x, y) =
→ R ´e dada por , se (x, y) = (0, 0)
xy x2 + y2 0 , se (x, y) = (0, 0)
(i) Mostre que a equa¸c˜ao acima admite solu¸co˜es para condi¸c˜oes iniciais y(x0) = y 0 arbitr´ arias. (ii) f satisfaz localmente as condi¸co˜es do Teorema de Picard? Justifique. (iii) E as do Teorema de Peano? Justifique. (Sugest˜ao: y(x) f (x, x) = 21 .) 14. Seja f : R solu¸c˜ao de
n
≡ 0 ´e solu¸ca˜o da equa¸ca˜o. n
×R →R
Note que se x
∈ R − {0}, ent˜ao
de classe C 1 e suponhamos que ϕ(t) definida em R ´e a x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 .
∗
( )
´ poss´ıvel que exista t1 = t 0 tal que ϕ(t1 ) = ϕ(t0 ), por´em ϕ′ (t1 ) e ϕ′ (t0 ) (a) E s˜ao linearmente independentes?
(b) Caso (a) seja afirmativo, estude isso em termos da unicidade das solu¸ c˜oes dadas pelo Teorema de Picard. d d 2 (Sugest˜ao: Note que dt (tsen t) = t cos t + sen t e dt (t sen t) = t 2 cos t + 2tsen t. Seja ϕ(t) a solu¸ca˜o de ( ) com f : R R2 R2 dada por
∗
× →
f (t, (x, y)) = (t cos t + sen t, t2 cos t + 2tsen t) e condi¸co˜es iniciais (x(0), y(0)) = (0, 0). Calcule ent˜ ao ϕ(π), ϕ(2π), ϕ′ (π) e ϕ′ (2π).)
30
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
ϕ(t0 ) = ϕ(t1 ) ϕ′ (t1 ) ϕ′ (t0 ) Figura 1.7: Exerc´ıcio 14 Rn cont´ınua e Lipschitziana com respeito a` segunda vari´ 15. Seja f : R Rn avel. n Prove que dado (t0 , x0 ) R R existe uma u ´nica solu¸c˜ao de
× →
∈ ×
x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 , definida em todo R. 16. Seja f : Rn de
n
→R
de classe C 1 e suponhamos que ϕ(t) definida em R ´e solu¸ca˜o x′ = f (x), x(t0 ) = x 0 .
´ poss´ıvel que exista t 1 = t 0 tal que ϕ(t1 ) = ϕ(t0 ) mas ϕ′ (t0 ) = ϕ ′ (t1 )? (a) E
(b) Compare (a) com o exerc´ıcio 14, parte (a). 17. Sejam g, f : R
→ R cont´ınuas sendo f Lipschitziana. Prove que o sistema
x′ = f (x), x(t0 ) = x 0 , y′ = g(x)y, y(t0 ) = y 0
tem solu¸c˜ao u ´ nica em qualquer intervalo (onde ela esteja definida). Pode-se retirar a hip´ otese de f ser Lipschitziana e obter a mesma conclus˜ ao? 18. Com as mesmas hip´oteses e nota¸co˜es do Teorema de Peano, sejam c [t0 , t0 +α] e S c o conjunto dos pontos x tais que existe uma solu¸c˜ao x ′ = f (t, x), x(t0) = x0 , definida em [t0, c] e que passa por (c, x). Prove que S c ´e um intervalo fechado, no caso n = 1.
∈
Nota: Este resultado ´e conhecido como Teorema de Kneser e ´e v´ alido para n 1 qualquer, substituindo no enunciado acima S c , intervalo fechado, por dom´ınio (i. e. , conexo e compacto). (Sugest˜a o: Seja xn uma sequˆencia de pontos em S c tal que xn x. Se ϕn ´e
≥
→
1.7 Exerc´ıcios
31 x z w gr´afico de ψ
gr´ afico de ψ
y ψ(t0 ) x0 t0
c
t
Figura 1.8: Teorema de Kneser solu¸c˜ao de
x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 ,
∗
( )
com ϕn (c) = x n, aplique o teorema de Arzel´a para encontrar uma solu¸ c˜ao ϕ de ( ) tal que ϕ(c) = x. Para provar que S c ´e conexo, sejam y, z S c , y < z . Se y < w < z ´e preciso provar que ω S c . Use o teorema de Peano para encontrar uma solu¸c˜ao ψ de x′ = f (t, x), x(c) = ω definida em [t0 , c]. Pode acontecer que ψ(t0 ) = x0 (ver Figura 1.8) por´em certamente existir´ a uma solu¸c˜ao θ de x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 , tal que θ(c) = w).
∗
∈
∈
19. Seja f cont´ınua no aberto Ω
⊆ R × E. Prove que se |f | ≤ M em Ω, ent˜ao
(a) Toda solu¸ c˜ao de x ′ = f (t, x) pode ser prolongada a uma solu¸ca˜o m´axima ϕ definida num intervalo (ω− , ω+ ). (b) (t, ϕ(t))
→ ∂ Ω quando t → ω±.
(c) Se ϕ ´e limitada, limt→ω ϕ(t) existe? Compare com a observa¸c˜ao 5.4. (d) Retire a hip´ otese de limita¸c˜ao de f e prove (a) e (b) neste caso. ±
(Sugest˜ao para (c): considere 2
2
2
{ ∈ R ; x + y < 1}, Ω = R × D e f (t,x,y) = (y + x(1 − x − y ), −x + y(1 − x − y )).) D = (x, y) 2
2
2
2
20. Sejam Ω, f e (ω− , ω+ ) como no exerc´ıcio 19(a). prove que se Ω ´e compacto ent˜ ao limt→ω ϕ(t) = x ± existe e (ω± , x± ) ∂ Ω. ±
∈
32
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
21. Seja Ω = R Rn e f (t, x) = f (x) cont´ınua, localmente Lipschitziana e tal que f M em Ω. Prove que
×
| |≤
∈ R
(a) Para todo x 0
n
a solu¸c˜ao ϕ(t, x0 ) de x′ = f (x), x(0) = x 0
∈ R. : x → ϕ(t, x ) ´e um homeomorfismo de R
est´a definida para todo t (b) Para todo t Rn .
∈ R, ϕ
t
0
n
0
(c) ϕt+s = ϕt ϕs , quaisquer que sejam t, s
◦
sobre
∈ R.
(Sugest˜ao para (b): suponha que x n x 0 mas ϕ(t, xn) n˜ao seja convergente a ϕ(t, x0 ). Considere ϕn (τ ) = ϕ(τ, xn ), τ [0, t]. Prove que ϕn ´e equicont´ınua e use o teorema de Arzel´ a para achar uma solu¸c˜a o de x′ = f (x), x(0) = x0 diferente de ϕ(t, x0 ).)
→
∈
22. (Aproxima¸ca˜o Poligonal) Sob as hip´ o teses do Teorema de Peano, defina a fam´ılia de fun¸co˜es ϕσ (t) da seguinte maneira: seja σ : t0 < t1 < < tm = t 0 + α uma parti¸ca˜o de [t0 , t0 +α] com norma σ = max(tk+1 tk ), k = 0, . . . , m 1. Em [t0 , t1 ] defina ϕ σ (t) = x 0 + (t t0 )f (t0 , x0 ). Se ϕ σ (t) for definido em [t0 , tk ], k < m, e ϕσ (t) x0 b, defina ϕ σ (t) = ϕσ (tk ) + (t tk )f (tk , ϕn (tk )) para t [tk , tk+1 ]. Este processo define ϕ σ como uma fun¸ca˜o cont´ınua e seccionalmente linear. Demonstre o Teorema de Peano obtendo uma solu¸ c˜ao como limite uniforme de uma sequˆencia de fun¸ co˜es da fam´ılia acima definida.
|
− |≤
−
||
···
−
−
− ∈
23. Sejam f 1 , f 2 , . . . uma sequˆencia de fun¸c˜oes cont´ınuas em Ω = (t, x); t0 t t0 +a, x x0 b tal que f n f uniformemente em Ω. Seja ϕn uma solu¸ca˜o de x′ = f n(t, x), x(tn) = x n,
| − |≤ }
{
→
≤ ≤
em [t0 , t0 + a], onde n = 1, 2, . . . e tal que tn t0 , xn x0 quando n . Prove que existe uma subsequˆencia ϕn1 , ϕn2 , . . . , ϕnj , . . . uniformemente convergente em [t0 , t0 + a] e que, para qualquer subsequˆencia nestas condi¸ c˜oes, o limite ϕ(t) = limk→∞ ϕnk (t) ´e uma solu¸ca˜o de
→
∞
→
x′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 , em [t0 , t0 + a].
→
∗
( )
Em particular, se ( ) possuir uma u ´ nica solu¸c˜ao ϕ(t) em [t0 , t0 + a], ent˜ao ϕ(t) = limn→∞ ϕn (t) uniformemente.
∗
1.7 Exerc´ıcios
33
24. (Aproxima¸co˜es Sucessivas) Com as mesmas hip´ oteses e nota¸co˜es do Teorema de Peano, prove que a seguinte sequˆencia, ϕn , chamada sequˆencia de aproxima¸c˜oes sucessivas, est´ a bem definida para t [t0 , t0 + α]:
{ } ∈
t
ϕ0 (t) = x 0 , ϕn+1 (t) = x 0 +
f (s, ϕn (s))ds, n = 0, 1, . . . .
t0
(a) Se f ´e Lipschitziana, foi provado (Teorema de Picard) que ϕn ´e convergente. Verifique que para a fun¸c˜ao f , n˜ao Lipschitziana, dada por
{ }
− − 2t
f (t, x) =
2t 2t
, t2 < x <
∞,
4x , 0 < x t2 , t t , x 0,
≤
≤
≤ 1,
a sequˆencia de aproxima¸co˜es sucessivas, para t0 = x 0 = 0, n˜ao ´e convergente. (b) No caso n = 1, seja t0 = x0 = 0 e seja f cont´ınua tal que f (t, x1 ) f (t, x2 ) se x1 x2 e f (t, 0) 0, para todo t [0, a]. Prove que as aproxima¸c˜oes sucessivas convergem para uma solu¸c˜a o de x′ = f (t, x), x(0) = 0.
≤
≥
≤
∈
25. (a) Seja f cont´ınua em Ω = (t, x); t a, x b R2 . Se f (t, x) < 0 quando tx > 0 e f (t, x) > 0 quando tx < 0, mostre que x′ = f (t, x), x(0) = 0, tem ϕ = 0 com u ´ nica solu¸c˜ao.
{
(b) Seja f : R2
→ R dada por f (t, x) =
||≤ | |≤ }⊂
− −
2t , se x t 2 , 2x , se x < t2 , t 2t , se x t2.
≥ | | ≤−
Prove que x′ = f (t, x), x(0) = 0, tem uma u ´ nica solu¸c˜ao, embora F n – definida na demonstra¸c˜ao do Teorema de Picard – n˜ ao seja contra¸ca˜o para nenhum n. R2 , sejam f, g duas 26. No retˆ angulo P = (t, x); t t0 < a, x x0 < b fun¸co˜es cont´ınuas e localmente Lipschitzianas. Se g < f em P , ent˜ao para ϕ e ψ solu¸co˜es de, respectivamente,
{
|− |
x′ = g(t, x), x(t0 ) = x 0
| − |
}⊂
e x′ = f (t, x), x(t0) = x 0 ,
definidas para 0 t c, prove que ϕ(t) ψ(t) para todo t0 < t c. Nas mesmas hip´oteses, se g f , prove que ϕ(t) ψ(t), t 0 t c.
≤ ≤
≤
≤
≤
≤ ≤
≤
34
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
27. Seja ϕn a sequˆencia de fun¸c˜oes definidas por
{ }
x
ϕ0 (x) = 1, ϕn(x) = 1 +
0
(ϕn−1 (t))2 dt.
Mostre que ϕn ´e um polinˆ omio de grau 2n 1, cujos coeficientes est˜ ao em [0, 1]. dy 2 Mostre que, para x < 1, ϕn ϕ, onde ϕ ´e a solu¸ca˜o de dx = y , y(0) = 1, a qual ´e dada por ϕ(t) = 1−1 t = 1 + t + t2 + .
− | | → ·· · 28. Seja f (t, x) definida e cont´ınua em Ω = R × E, onde f (t, x) = f (t + 1, x) e f ´e Lipschitziana em [0, 1] × E. Prove que toda solu¸c˜ao ϕ(t, t , x ) est´ a definida para todo t ∈ R e ϕ(t, t , x ) = ϕ(t + 1, t + 1, x ). 29. Seja H : E → E de classe C . Seja f (t, x) cont´ınua em R × E tal que f (t, H (x)) = DH (x) · f (t, x), para todo (t, x) em R × E. Se f ´e Lipschitziana ′ 0
0
0
0
0
0
1
e ϕ(t, t0 , x0 ) denota a solu¸c˜ao de x = f (t, x) que passa por (t0 , x0 ), prove que ϕ(t, t0 , H (x)) = H (ϕ(t, t0 , x0 )).
30. Se X = (X 1 , X 2 , . . . , Xn ) ´e um campo vetorial de classe C 1 em Rn e V ´e uma ∂v fun¸ca˜o real diferenci´ avel em Rn tal que ni=1 ∂x (x)X i (x) 0 e V (x) x 2, i para todo x Rn, prove que toda solu¸c˜a o de x′ = X (x) est´ a definida para todo t > 0.
∈
≤
≥ | |
31. No enunciado do Teorema de Peano, mude a condi¸ c˜ao f < M por f M e obtenha as mesmas conclus˜ oes que neste teorema. (Sugest˜ao: considere a sequˆencia de aplica¸ co˜es ϕk : [t0 , t0 + α k ] Rn , onde ϕk ´e a solu¸ca˜o de
| |
| | ≤
→
x′ = f k (t, x), x(t0 ) = x 0
e αk = b(M + εk )−1 ,
sendo εk = sup f k α] B(x0 , b).)
×
{| − f | em K }, onde K ⊂ Ω ´e compacto e cont´em [t , f + 0
0
32. (Extens˜ ao do dom´ınio da fun¸ca˜o inversa) Seja B(0, b) = x Rn ; x < b a Rn uma aplica¸ bola de centro 0 e raio b em Rn . Seja f : D = B(0, b) c˜ao de 1 classe C numa vizinhan¸ca de D tal que f (0) = 0 e A(x) = Df (x) ´e invers´ıvel x D, sejam M = max (A(x))−1 , M 1 = max A(x) para x D, e seja B1 = B(0,b/MM 1 ). Observe que B1 D (por quˆe?). Prove que existe um aberto B 0 , B 1 B 0 B, tal que f B0 ´e um difeomorfismo de B 0 sobre a bola B(0,b/M ). (Sugest˜a o: Seja ξ Rn com ξ = 1. Prove que a equa¸ca˜o f (x) = tξ tem uma solu¸c˜ao u ´nica x = x(t, ξ ) para 0 t b/M com x(0, ξ ) = 0. Para isto considere a equa¸ca˜o diferencial x ′ = (f ′ (x))−1 ξ e aplique o Teorema de Peano
→
∀ ∈
⊂ ⊂ ∈
|
| |
⊂
≤ ≤
{ ∈
||
∈
}
1.7 Exerc´ıcios
35
| |
na vers˜ ao do exerc´ıcio anterior. Prove que g(y) = x y , |yy| ´e uma inversa a` direita de f , definida em B(0,b/M ). Para encontrar B 0 aplique a mesma ideia a g.) 33. (Equa¸c˜oes anal´ıticas no Campo Complexo) Seja f : Ω Cn anal´ıtica no aberto Ω C Cn . Denotemos por (z, w) os pontos de Ω com w = (w1 , . . . , wn). Cn , holomorfa no aberto H C, chama-se solu¸ Uma fun¸c˜ao ϕ : H ca˜o da equa¸ca˜o w′ = f (z, w), se ( )
⊂ ×
→
→
⊂
∗
(i) graf ϕ Ω. dϕ (ii) = f (z, ϕ(z )), para todo z H . dz
⊂
∈
Demonstre o seguinte resultado: seja Ω = Ba (z 0 ) B b (w0 ), onde Ba (z 0 ) = z ; z z 0 < a , Bb (w0 ) = w; w w0 < b , e seja f tal que f M em Ω. Ent˜ ao existe uma u´nica solu¸c˜ao ϕ de ( ) em H = Bα (z 0 ) tal que ϕ(z 0 ) = w0 e α = min a, b/M . (Sugest˜ao: defina F (ϕ)(z ) = w 0 + Γ(z) f (ξ, ϕ(ξ ))dξ , onde
{ | − | } { }
{ | − | } ∗
Γ(z ) = θ(z
×
| | ≤
{ − z ) + z ; 0 ≤ θ ≤ 1} 0
0
´e o segmento que liga z 0 a z . Mostre que para cada a′ < a existe um u ´ nico ponto fixo atrator de F , considerada como aplica¸c˜a o de (Ba , Bb ). Utilize o Teorema de Montel, segundo o qual uma sequˆencia de fun¸ c˜oes anal´ıticas complexas convergindo uniformemente num aberto tem limite anal´ıtico.)
C
′
34. Formule e demonstre um teorema an´ alogo ao do exerc´ıcio anterior para fun¸ c˜oes anal´ıticas reais. 35. Nas hip´oteses do exerc´ıcio 33, prove que a s´erie ϕ(z ) = para a solu¸c˜a o de ( ), onde
∗
∞ a (z −z )i converge 0 i=0 i
1 ∂f ∂f a0 = w 0 , a1 = f (z 0, w0), a2 = (z 0 , w0 ) + (z 0 , w0 )a1 , etc. 2 ∂z ∂w Isto ´e, os a′i s˜ao determinados formalmente, derivando a express˜ao ϕ′ (z ) = f (z, ϕ(z )) e avaliando-a no ponto z = z 0 , assim ϕ′′ (z 0 ) =
∂f ∂f (z 0 , w0 ) + (z 0 , w0 )ϕ′ (z 0 ), ∂z ∂w
´e o coeficiente do termo de ordem 2 da s´erie de Taylor formal. 36. (Solu¸c˜oes aproximadas, Desigualdade de Gronwall)
36
1. Existˆ encia e unicidade de solu¸c˜ oes
Rn cont´ınua com constante de Lipschitz K relati(i) Seja f : R Rn vamente a` segunda vari´ avel. Sejam ϕ1 (t), ϕ2 (t) fun¸c˜oes seccionalmente diferenci´aveis num intervalo I = (a, b) que cont´em o ponto t0 . Suponha que para t I ϕ′i (t) f (t, ϕi (t)) ε i , i = 1, 2, ( )
×
→
∈
|
−
|≤
∗
mostre a seguinte forma aperfei¸coada da Desigualdade de Gronwall:
|ϕ (t) − ϕ (t)| ≤ |ϕ (t ) − ϕ (t )|e | − | + (ε +K ε ) (e | − | − 1). (Sugest˜ao: Seja t ≥ t . Integrando (∗) entre t e t obtenha |ϕ (t)−ϕ (t))− (ϕ (t ) − ϕ (t )) − [f (s, ϕ (s)) − f (s, ϕ (s))]ds| ≤ (ε + ε )(t − t ) e 1
1
0
2
2
1
0
2
0 t t0
0
da´ı conclua que
1
K t t0
0
2
K t t0
0
1
1
2
1
t t0
2
2
0
|ϕ (t) − ϕ (t)| ≤ |ϕ (t ) − ϕ (t )| + K |ϕ (s) − ϕ (s)|ds (∗∗) +(ε + ε )(t − t ). Defina agora R(t) = |ϕ (s) − ϕ (s)|ds, t ≤ t ≤ b. Ent˜ao, R′(t) − KR(t) ≤ |ϕ (t ) − ϕ (t )| + (ε + ε )(t − t ) e multiplicando ambos os − − 1
2
1
0
2
1
t t0
1
0
2
lados desta express˜ a o por e R(t)
2
0
1
0
2
1 K (t t0 )
− ϕ (t )| (e ≤ |ϕ (t ) K 1
+
0
2
0
0
2
0
2
0
e integrando entre t0 e t resulta
K (t t0 )
−
1
+ ε ) (1 + K (t − t )) − 1) − (ε K 1
2
0
2
(ε1 + ε2 ) K (t−t0 ) e . K 2
∗∗ tais que f → f uniformemente em I × R
Combinando esta desigualdade com ( ) segue-se o resultado.)
(ii) Sejam f m : R Rn Rn m 0 todas tˆem a mesma constante de Lipschitz K . Se ϕm ´e a solu¸ca˜o de
× →
n
e
x′ = f m(t, x), x(t0) = x m, use (i) para provar que ϕm tende uniformemente em I para ϕ0 se xm
→ x . 0
(iii) Usando a desigualdade em (i) e as aproxima¸ c˜oes poligonais contru´ıdas no exerc´ıcio 22, prove o Teorema de Picard. R cont´ınua. Suponha que existem duas solu¸ 37. Seja f : R2 co˜es ϕ1 , ϕ2 : [0, 1] ′ R de x = f (t, x) satisfazendo
→
Graf ϕ1
→
∩ Graf ϕ = {(0, p), (1, q )} 2
e Graf ϕ1 Graf ϕ2 = fronteira de uma regi˜ ao D homeomorfa a um disco . Prove que para todo x D existe uma solu¸ca˜o ϕ de x′ = f (t, x) tal que seu gr´afico cont´em (0, p), (1, q ) e x.
∪
{ ∈
}
Cap´ıtulo 2 Equa¸c˜ oes Diferenciais Lineares Para a classe das equa¸c˜oes lineares ´e poss´ıvel um alto grau de perfei¸ c˜a o no conhecimento das propriedades de suas solu¸c˜oes. No caso de coeficientes constantes ´e poss´ıvel resolvˆe-las, com aux´ılio da a´lgebra linear, em termos de fun¸ co˜es elementares. Este conhecimento apurado ´e importante para o estudo local das solu¸ c˜oes de uma equa¸ca˜ o n˜ ao linear, que ´e feito atrav´es da compara¸ ca˜ o com as solu¸co˜es do ´ sistema linear que a aproxima. E um processo semelhante ao que ocorre no C´ alculo Diferencial, onde obtˆem-se informa¸co˜es locais sobre uma fun¸c˜a o a partir de sua derivada. Assim, para compreender o comportamento das solu¸ c˜oes da equa¸c˜ao do pˆendulo com fric¸c˜ao x′′ + εx′ + g sen x = 0 na vizinhan¸ca de (0, 0), estuda-se a equa¸ca˜o linearizada x′′ + εx′ + gx = 0. Neste cap´ıtulo nos limitaremos a estabelecer as propriedades gerais das solu¸ c˜oes das equa¸c˜oes diferenciais lineares. Somente nos cap´ıtulos 3, 4, 5 e 6 relacionaremos com precis˜ ao as propriedades das equa¸co˜es n˜ ao lineares com as das obtidas delas por lineariza¸ca˜o. Para isso ser´ a fundamental o estudo que faremos nas se¸c˜oes 2.5 e 2.6, dos sistemas lineares hiperb´ olicos.
2.1
Preliminares
Salvo men¸ca˜o expl´ıcita em contr´ario, neste cap´ıtulo E representar´ a o espa¸co euclin n diano n-dimensional real R ou complexo C , com a norma
|x| = sup |x |, x = (x , x , . . . , x ), x ∈ R ou C. i
1
2
37
n
i
38
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Sejam I um intervalo e aij , bi , i, j = 1, . . . , n, fun¸co˜es cont´ınuas em I , com valores reais ou complexos. Consideraremos um sistema de n equa¸c˜oes da forma
x′1 = a11 (t)x1 + .. .
··· + a
x′n = an1 (t)x1 +
· ·· + a
1n (t)xn + b1 (t),
(2.1) nn (t)xn + bn (t),
que ´e denotado abreviadamente por n
x′ = i
aij (t)x j + bi (t), i = 1, 2, . . . , n .
j=1
Uma fam´ılia de fun¸c˜oes ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn , reais ou complexas, de classe C 1 num intervalo I 0 I , chama-se solu¸c˜ ao do sistema (2.1) em I 0 se para todo t I 0
{
⊂
}
∈
n
dϕi (t) = aij (t)ϕ j (t) + bi (t), i = 1, . . . , n . dt j=1 A equa¸c˜ao vetorial x′ = A(t)x + b(t),
(2.2)
onde A(t) = (aij (t)) ´e a matriz n n, cujos elementos s˜ ao aij (t), e b(t) = (bi (t)) ´e o vetor coluna cujas coordenadas s˜ ao b i (t), ´e equivalente ao sistema (2.1) no seguinte sentido: uma fam´ılia ϕ1, ϕ2 , . . . , ϕn ´e solu¸ca˜o de (2.1) em I 0 se, e somente se, a aplica¸ca˜o ϕ = (ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn ) ´e solu¸c˜ao de (2.2) em I 0 , isto ´e, se
×
{
}
ϕ′ (t) = A(t)ϕ(t) + b(t),
∀t ∈ I . 0
O sistema (2.1) ou a equa¸c˜a o (2.2) em I E chama-se linear ; se bi (t) = 0 , chama-se linear homogˆenea . Embora, neste livro, estejamos interessados principalmente no caso real (E = Rn ) trataremos, simultaneamente, do caso complexo que ´e obtido, na sua maior parte, sem esfor¸co adicional.
×
2.2
Propriedades gerais
Teorema 2.1 Para todo (t0 , x0 ) I E existe uma ´ unica solu¸c˜ ao ϕ(t) = ϕ(t, t0, x0 ) de (2.2) definida em I tal que ϕ(t0 ) = x 0 .
∈ ×
Nota. A prova dada a seguir ilustra o “m´etodo das aproxima¸ c˜oes sucessivas” e ´e direta e elementar. Por´em, ela ´e essencialmente idˆentica a` prova usando m´etodos
2.2 Propriedades gerais
39
de espa¸cos m´etricos de fun¸co˜es cont´ınuas, dada no cap´ıtulo 1, se¸ca˜o 4. Ver tamb´em exerc´ıcio 24, cap´ıtulo 1.
Demonstra¸ c˜ ao Consideremos a sequˆencia de aplica¸c˜oes ϕi de I em E, dada por
ϕ0 (t) = x 0 ,
t
ϕi (t) = x 0 +
t0
[A(s)ϕi−1 (s) + b(s)]ds, i
≥ 1.
( )
∗
Provaremos que para todo intervalo compacto [a, b] I , a sequˆencia ϕ i converge uniformemente em [a, b] para uma solu¸c˜ao de (2.2). Sejam
⊂
K = sup A(s) ; s [a, b] e c = sup ϕ1 (s) ϕ0 (s) ; s [a, b] .
{ {|
∈ } − | ∈
}
Notemos que
| ≤ | ≤ | − | | t
|ϕ (t) − ϕ (t) 2
1
=
A(s)[ϕ1 (s)
− ϕ (s)]ds
A(s)[ϕ1 (s)
− ϕ (s)] ds
t0 t
t0
Kc t
0
0
t0 ,
t
|ϕ (t) − ϕ (t) 3
2
A(s)[ϕ2 (s)
=
t0 t
≤ ≤
t0 2
|
− ϕ (s)]ds 1
|A(s)[ϕ (s) − ϕ (s)]|ds
K c t 2!
2
1
2
| −t | . 0
Por indu¸c˜ao, temos
|ϕ
i+1 (t)
− ϕ (t)| ≤ i
K i c t i!
i
| −t |. 0
Portanto, temos que sup ϕi+1 (t) t [a,b]
∈
i
|
− ϕ (t)| ≤ i
[K (b
i
− a)] c . i!
Por ser (K (b−i! a)) c uma s´erie convergente, a s´erie de aplica¸ co˜es ϕi = ϕ0 + (ϕ1 ϕ0 ) + + (ϕi ϕi−1 ) converge uniformemente em [a, b], pelo crit´erio de Weierstrass.
·· ·
−
−
40
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Denotemos por ϕ o limite (pontual) desta s´erie. Notemos que este limite existe em I , pois I ´e uni˜ ao de intervalos compactos da forma [a, b]. Fazendo i tender a infinito em ( ) temos que, para todo t I ,
∗
∈
t
ϕ(t) = x 0 +
[A(s)ϕ(s) + b(s)]ds.
t0
Derivando com respeito a t, verificamos que ϕ satisfaz (2.2). Suponhamos que existe outra aplica¸ c˜ao ψ que satisfaz (2.2) em I . Portanto, para t I ,
∈
t
ψ(t) = x 0 +
[A(s)ψ(s) + b(s)]ds.
t0
Denotemos por m o sup ψ(t)
|
− ϕ (t)|, t ∈ [a, b]. Para t ∈ [a, b], temos 1
| ≤ | t
|ψ(t) − ϕ (t) 2
=
A(s)(ψ(s)
− ϕ (s))ds
A(s)(ψ(s)
− ϕ (s))|ds ≤ Km|t − t |,
t0 t
t0 2
|ψ(t) − ϕ (t)| ≤ 3
.. .
|ψ(t) − ϕ (t)| ≤ i
1
1
0
K m t t0 2 , 2! .. . K i−1 m t t0 i−1 . (i 1)!
|− |
− |− |
Logo, ψ(t) = lim ϕi (t) = ϕ(t). Isto prova a unicidade de ϕ(t) = ϕ(t, t0 , x0 ).
Exemplo 2.2 Se E = C e A(t) = a
∈ R ou C e b(t) ≡ 0, temos que
ϕ0 (t) = x0, ϕ1 (t) = x 0 (1 + ta), t2 2 ϕ2 (t) = x0 1 + ta + a , . . . , 2! t2 2 ti i ϕi (t) = x0 1 + ta + a + + a . 2! i!
···
Portanto, ϕ(t, x0 ) solu¸ca˜o, em R, de x′ = ax, x(0) = x0 , ´e dada por ϕ(t, x0 ) = x 0 eta . Ver Figura 2.1.
2.2 Propriedades gerais
41 ϕ = e at ϕ2 ϕ1
x
ϕ0
x0 = 1
t
Figura 2.1: Aproxima¸co˜es sucessivas para ϕ = e at
Corol´ario 2.3 Sejam ϕ, ψ solu¸c˜ oes da equa¸c˜ ao homogˆenea x′ = A(t)x.
(2.3)
(a) Se a, b s˜ ao constantes arbitr´ arias, reais ou complexas, ent˜ ao γ = aϕ + bψ ´e solu¸cao ˜ de (2.3). (b) Se ϕ(s) = 0 para algum s I , ent˜ ao ϕ(t) = 0, t I .
∈
∀ ∈
Demonstra¸ c˜ ao (a) dγ (t) = dt = = =
dϕ dψ (t) + b (t) dt dt aA(t)ϕ(t) + bA(t)ψ(t) A(t)[aϕ(t) + bψ(t)] A(t)γ (t). a
´ consequˆencia imediata da unicidade das solu¸c˜oes, pois a fun¸ca˜o nula tamb´em (b) E ´e solu¸c˜ao de (2.3). Consideremos o espa¸co = (I, E) das fun¸co˜es cont´ınuas ϕ : I E como espa¸co vetorial munido das opera¸c˜o es de soma de fun¸co˜es e produto de uma constante, real ou complexa conforme o caso, por uma fun¸ c˜ao. Assim, neste espa¸co vetorial, ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn, s˜ao linearmente dependentes se existem constantes c1 , c2 , . . . , cn, n˜ao todas nulas, tais que ci ϕi = 0 , isto ´e, se para todo t I , ci ϕi (t) = 0. Observemos o seguinte:
C C
→
∈C
∈
A
(i) O Corol´ario 2.3, parte (a), mostra que o conjunto das solu¸c˜o es de (2.3) forma um subespa¸co vetorial de (sobre os reais ou complexos, conforme o caso).
C
42
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
(ii) Seja s I . Representemos por εs a aplica¸ca˜o de em E dada por εs (ϕ) = ´ ϕ(s); εs ´e um isomorfismo de espa¸cos vetoriais. E o´bvio que εs e´ linear. Ela ´e sobre E pelo Teorema 2.1, pois εs (ϕ(t,s,x0 )) = x0 para qualquer x0 E. Finalmente, o Corol´ a rio 2.3, parte (b), implica que o n´ ucleo de εs ´e 0 , portanto, ela ´e biun´ıvoca.
∈
A
∈ {}
Em particular, dim = dim E. Resumindo estas propriedades, temos:
A
A
oes de (2.3) ´e um espa¸co vetorial Proposi¸c˜ ao 2.4 O conjunto de todas as solu¸c˜ de dimens˜ ao igual `a dimens˜ ao de E. Mais ainda, para cada s I , a aplica¸c˜ ao que a x0 E associa a solu¸cao ˜ ϕ(t,s,x0 ), que passa por (s, x0), ´e um isomorfismo de E sobre . Em particular, se v1 , v2 , . . . , vn formam uma base de E, ent˜ ao ϕ1 = ϕ(t,s,v1 ), . . ., ϕn = ϕ(t,s,vn ) formam uma base de ; isto ´e, toda solu¸cao ˜ de (2.3) se exprime como combina¸c˜ ao linear unica ´ de ϕ1 , . . . , ϕn , com coeficientes reais ou complexos, segundo o caso.
∈
∈
A
A
1 Demonstra¸ c˜ ao Imediata, por (i) e (ii), acima. Observar que ε− s (x0 ) = ϕ(t,s,x0 ).
Corol´ario 2.5 A aplica¸c˜ E dada por φts (x) = ϕ(t,s,x), onde ϕ(t,s,x) ao φts : E ´e a solu¸cao ˜ de (2.2) passando por (s, x) e tomada no ponto t, ´e um isomorfismo que tem as seguintes propriedades:
→
(a) φss = identidade; (b) φts φsu = φ tu ;
◦
(c) φts = [φst ]−1 . 1 Demonstra¸ c˜ ao Imediata, pois φts = ε t ε− s .
◦
Consideremos agora as equa¸co˜es matriciais lineares X ′ = A(t)X,
(2.4)
em I M (n), onde M (n) ´e o espa¸co das matrizes X = (xij ) com n linhas e n 2 2 colunas, de elementos reais ou complexos, identificado com o espa¸ co Rn ou Cn , com a norma X = sup xij . A equa¸c˜ao linear (2.4) chama-se linear homogˆenea . Por ser (2.4) equivalente ao sistema do tipo (2.1),
×
| |
| |
n
x′ij =
k=1
aik (t)xkj , 1
≤ i, j ≤ n,
2.2 Propriedades gerais
43
e, portanto, a uma equa¸ca˜o do tipo (2.2), o Teorema (2.1) se aplica neste caso para garantir a existˆencia e unicidade, em I , das solu¸co˜es de (2.4) que passam por (t0 , X 0 ) I M (n). Isto tamb´em decorre da seguinte observa¸ c˜ao: φ(t) ´e solu¸ca˜o de (2.4) se, e somente se, para todo 1 j n a j-´esima coluna φ j (t) de φ(t) ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao homogˆenea x ′ = A(t)x.
∈ ×
≤ ≤
Defini¸c˜ ao 2.6 Uma matriz φ(t) de ordem n n cujas colunas formam uma base do espa¸co de solu¸c˜oes de (2.3) chama-se matriz fundamental de (2.3).
×
A partir do Corol´ ario 2.3, parte (b), temos que uma matriz φ(t) ´e uma matriz fundamental de (2.3) se, e somente se, φ(t) ´e uma solu¸c˜a o de (2.4) tal que para algum t0 I , e portanto para todo t0 I , φ(t0 ) ´e n˜ ao singular. Pelo Teorema 2.1, dado t0 I e M 0 uma matriz n˜ ao singular, existe uma u ´ nica matriz fundamental φ tal que φ(t0 ) = M 0 . Por substitui¸c˜ao direta verifica-se que se φ(t) ´e uma solu¸c˜ao de (2.4), ent˜ ao para toda matriz C , n n, ψ(t) = φ(t)C ´e tamb´em solu¸c˜ao de (2.4).
∈ ∈
∈
×
Proposi¸c˜ ao 2.7 Sejam φ(t) e ψ(t) solu¸c˜ oes de (2.4), sendo φ fundamental. Existe uma unica ´ matriz C de ordem n n tal que para todo t I
×
∈
ψ(t) = φ(t)C. C ´e n˜ ao singular se, e somente se, ψ(t) ´e fundamental.
Demonstra¸ c˜ ao Temos (φ−1(t)ψ(t))′ = (φ−1 (t))′ ψ(t) + (φ−1 (t))ψ ′ (t). Mas (φ−1 (t))′ =
1
1
1
−φ− (t)φ′(t)φ− (t) = −φ− (t)A(t). Portanto, (φ− (t)ψ(t))′ = −φ− (t)A(t)ψ(t) + φ− (t)A(t)ψ(t) = 0. 1
1
1
Por conseguinte, φ−1 (t)ψ(t) = C.
Exemplos 2.8 (a) No caso n = 1, A(t) = a(t) e x′ = a(t)x, temos que φ(t) = t t e t0 a(s)ds ´e uma matriz fundamental. Aqui, ϕ(t, t0 , x0 ) = x 0 e t0 a(s)ds ´e a solu¸ca˜o que passa por (t0 , x0 ).
(b) Seja A(t) definida em I = R e peri´ odica de per´ıodo τ , isto ´e, A(t + τ ) = A(t), R. Seja φ uma matriz fundamental de (2.3). Existe C n˜ para todo t ao singular tal que φ(t + τ ) = φ(t)C.
∈
De fato, ψ(t) = φ(t + τ ) ´e tamb´em matriz fundamental, pois ψ ′ (t) = φ ′ (t + τ ) = A(t + τ )φ(t + τ ) = A(t)ψ(t). A aplica¸ca˜o da Proposi¸ca˜o 2.7 conclui o argumento.
44
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
O teorema seguinte mostra que o conhecimento de uma matriz fundamental de (2.3) implica no conhecimento da “solu¸ ca˜o geral” de (2.2).
Teorema 2.9 Se φ(t) ´e uma matriz fundamental de (2.3), ent˜ ao a solu¸c˜ ao ϕ(t, t0 , x0 ) de (2.2) tal que ϕ(t0 , t0 , x0 ) = x 0 ´e dada por
ϕ(t, t0 , x0 ) = φ(t) φ−1(t0 )x0 +
t
φ−1 (s)b(s)ds .
t0
(2.5)
Em particular, ϕ(t, t0, x0 ) = φ(t)φ−1 (t0 )x0, no caso homogˆeneo.
Demonstra¸ c˜ ao Imediata por substitui¸c˜ao direta em (2.2). Indicaremos o processo heur´ıstico que motiva a f´ ormula (2.5), chamada na terminologia cl´ assica “f´ ormula de varia¸c˜ao dos parˆ ametros”. Seja C (t), vetor coluna, tal que ϕ(t) = ϕ(t, t0 , x0 ) = φ(t)C (t). Ent˜ ao A(t)ϕ(t) + b(t) = ϕ′ (t) = φ ′ (t)C (t) + φ(t)C ′ (t) = A(t)φ(t)C (t) + φ(t)C ′ (t) = A(t)ϕ(t) + φ(t)C ′ (t). Por conseguinte, C ′ (t) = φ −1 (t)b(t) e como C (t0 ) = φ −1(t0 )x0 , temos C (t) = φ −1 (t0 )x0 +
t
φ−1 (s)b(s)ds.
t0
Proposi¸c˜ ao 2.10 (F´ ormula de Liouville) Seja φ(t) uma matriz cujas colunas s˜ ao solu¸c˜ oes de (2.3). Ent˜ ao para todo t I e t0 I fixo,
∈
det φ(t) = det [φ(t )]e tra¸co 0
onde tra¸co A =
n i=1
∈
t t0
A(s)ds
,
aii , se A = (aij ).
´ suficiente provar que ϕ(t) = det φ(t) ´e solu¸c˜a o da equa¸ca˜o Demonstra¸ c˜ ao E x′ = [tra¸co A(t)]x. Derivando ϕ(t) = det φ(t) = det (φ1 , . . . , φn ), como fun¸c˜ao n-linear alternada das colunas de φ(t), temos n
ϕ′ (t) =
det(φ1 (t), . . . , φ′i (t), . . . , φn (t))
i=1 n
=
i=1
det(φ1 (t), . . . , A(t)φi (t), . . . , φn (t)).
2.3 Equa¸co ˜es lineares com coeficientes constantes
45
´ suficiente supor que φ(t) ´e fundamental, caso contr´ario o teorema ´e trivialE mente satisfeito. Exprimamos para cada t o vetor A(t)φi (t) em termos da base φ1 (t), . . . , φn (t) de E,
{
}
n
A(t)φi (t) =
αij (t)φ j (t).
j=1
Isto ´e, a matriz (αij (t)) ´e a matriz do operador x A(t)x na base φi (t) . Lembrando que o tra¸co n˜ ao depende da express˜ ao matricial do operador, temos
→
n
tra¸co A(t) =
{
}
n
αii (t) =
i=1
aii (t).
i=1
Logo, n
ϕ′ (t) =
n
det(φ1 (t), . . . ,
i=1 n
=
αij (t)φ j (t), . . . , φn (t))
j=1
αii (t)det(φ1 (t), . . . , φi (t), . . . , φn (t))
i=1
= [tra¸co A(t)]ϕ(t).
2.3
Equa¸c˜ oes lineares com coeficientes constantes
Consideremos agora a equa¸ca˜o linear homogˆenea x′ = Ax,
(2.6)
onde A ´e uma matriz real ou complexa de ordem n n. Esta ´e a equa¸c˜ao associada ao campo vetorial definido pela aplica¸ c˜ao linear x Ax. ´ claro, Seja φ(t) a matriz fundamental de (2.6) tal que φ(0) = E (identidade). E pelo Teorema 2.1, da se¸ca˜o 2, que φ est´a definida para todo t R. No caso n = 1, A = a R ou C, e temos φ(t) = eat . Na seguinte proposi¸ca˜o mostraremos que a aplica¸ca˜o t φ(t) tem propriedades an´ alogas a` fun¸c˜ao exponencial. Isto motivar´ a a defini¸c˜ao de exponencial de matrizes.
× →
∈
Proposi¸c˜ ao 2.11
→
(a) φ′ (t) = Aφ(t), φ(0) = E ;
∈ R, φ(t + s) = φ(t)φ(s); = φ(−t);
(b) para todo t, s (c) [φ(t)]−1
∈
46
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
(d) a s´erie
∞ tk Ak
k=0
k!
(2.7)
converge para φ(t) em R, uniformemente em cada intervalo compacto. ´ o´bvio, por defini¸c˜ao de φ. Demonstra¸ c˜ ao (a) E (b) Fixado s, ψ(t) = φ(t + s) e θ(t) = φ(t)φ(s) s˜ao solu¸c˜oes de X ′ = AX , X (0) = φ(s). A prova segue ent˜ ao da unicidade das solu¸co˜es. (c) Segue de (b), fazendo s =
−t.
´ imediata a partir da prova do Teorema 2.1 aplicada a` equa¸ca˜o linear ho(d) E mogˆenea X ′ = AX , X (0) = E . ´ suficiente observar que a sequˆencia φk de aplica¸co˜es de R no espa¸co das E matrizes n n definida por
×
t
φ0 (t) = E, φk+1 (t) = E +
Aφk (s)ds
t0
´e a sequˆencia das somas parciais da s´erie (2.7). De fato,
t
φ1 (t) = E +
AE ds = E + tA,
0
t
φ2 (t) = E + .. .
0
t 2A2 A(E + As)ds = E + tA + , 2! k 1 j
t
φk (t) = E +
A
0
− s A j
j=0
j!
k
ds =
j=0
t j A j . j!
Defini¸c˜ ao 2.12 A matriz eA definida por φ(1) chama-se exponencial da matriz A. Reescrevendo a Proposi¸c˜ao 2.11 temos que detA (a) = Ae tA , e0A = E ; dt (b) e(t+s)A = e tA esA ; (c) (etA )−1 = e−tA ;
2.3 Equa¸co ˜es lineares com coeficientes constantes (d) etA =
∞ tk Ak
k=0
k!
47
,
sendo a convergˆencia da s´erie uniforme em cada intervalo compacto.
Defini¸c˜ ao 2.13 Uma aplica¸ca˜o ϕ : R
1
× E → E de classe C
´e dita um fluxo se:
(i) ϕ(0, x) = x;
∈ R. Um fluxo chama-se linear se para cada t ∈ R, ϕ (x) = ϕ(t, x) ´e uma aplica¸c˜ao linear (ii) ϕ(t + s, x) = ϕ(t, ϕ(s, x)), t, s
t
em E.
Demonstramos a seguir que para cada fluxo linear existe uma u´nica matriz A tal que ϕt (x) = e tA x. De fato, se f ´e dada por
∂ϕ f (x) = (t, x) ∂t
ent˜ ao f ´e linear, pois
∂ϕ(t,ax + by) f (ax + by) = ∂t = af (x) + bf (y).
t=0
t=0
,
∂ [aϕ(t, x) + bϕ(t, y)] = ∂t
t=0
Logo, f ´e definida por uma matriz A, f (x) = Ax e isto implica ϕ(t, x) = etA x, pois para x fixo, ambas s˜ ao solu¸co˜es de y′ = Ay, y(0) = x. Um estudo mais geral dos fluxos e sua rela¸c˜a o com as equa¸co˜es diferenciais ordin´arias ser´ a feito no cap´ıtulo 3.
Exemplo 2.14 (a) Introduzimos a matriz A1 0 .. .
0
nota¸ca˜o diag(A1 , A2 , . . . , Am) para designar a 0 A2 ...
· ·· · ··
0 0 ...
0
· ··
Am
,
que tem blocos quadrados, A i , de diversas ordens, na diagonal principal, sendo nulos seus elementos restantes. Temos etA = diag(etA1 , etA2 , . . . , etAm ).
48
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
De fato, tA
e
=
∞ 1
k=0
=
k!
∞ 1
k=0
k!
= diag
[diag(A1 , A2 , . . . , Am )]k tk diag(Ak1 tk , Ak2 tk , . . . , Akm tk )
∞ Ak tk 1 k!
k=0 tA1 tA2
= diag(e
,e
∞ Ak tk 2
,
k!
k=0 tAm
,...,e
,...,
∞ Ak tk m
k=0
).
k!
∈ R ou C, ent˜ao
Em particular, se A = diag(a1 , a2 , . . . , am ), ai
etA = diag(ea1 t , . . . , eamt ).
(b) Se I (α, β ) =
α β β α
−
, ent˜ao
etI (α,β ) = e tα
cos tβ sen tβ sen tβ cos tβ
−
.
Este fato segue-se, por verifica¸ca˜o direta de que ϕ1 (t) = eαt (cos tβ, sen tβ ) e ϕ2 (t) = eαt (sen tβ, cos tβ ),
−
as colunas da matriz, s˜ ao solu¸co˜es da equa¸ca˜o (2.6), com A = I (α, β ), e satisfazem a ϕ1 (0) = (1, 0) e ϕ2 (0) = (0, 1). (c) Se A ´e nilpotente, isto ´e, existe inteiro positivo r tal que A r = 0, ent˜ao tA
e
= E + At +
···
Ar−1 tr−1 + . (r 1)!
−
Um exemplo de matriz nilpotente ´e o seguinte:
E 1 =
0 0 0 .. .
1 0 0 ...
0 1 0 ...
·· · ·· · ·· ·
0 0 0
·· ·
0 0 0 1 0
.
2.3 Equa¸co ˜es lineares com coeficientes constantes
49
Isto ´e, E 1 ´e a matriz n n, com todos os elementos da forma a i (i+1), localizados uma posi¸ca˜o a` direita da diagonal principal, iguais a 1 e o resto dos elementos iguais a 0. E 1 ´e nilpotente, pois E 1k ´e a matriz cujos elementos k posi¸co˜es `a direita da diagonal principal s˜ao iguais a 1 e os restantes elementos s˜ a o iguais a zero. Logo, E 1n = 0. Em particular,
×
tE 1
e
t 2 E 12 = E + tE 1 + + 2!
· ··
t n−1 E 1n−1 + (n 1)!
−
ou mais explicitamente,
etE 1 =
Proposi¸c˜ ao 2.15
1 t t2 /2! 0 1 t t2/2! .. . .. . .. .
· ·· · ·· · ··
0 0
· ··
0
tn−1 /(n tn−1 /(n ...
− 1)! − 2)!
t2 /2! t 1
0
.
(i) Seja C tal que BC = CA. Ent˜ ao etB C = CetA .
(ii) Se AB = BA, ent˜ ao para todo t etA B = BetA
e etA etB = e t(A+B) .
Demonstra¸ c˜ ao (i) Segue da Proposi¸ca˜o 2.11(d) por ser B k C = C Ak para todo k, donde tB
e C =
∞ B k tk
k=0
=
∞
k=0
k!
C =
(CAk )tk = C k!
∞ (B k C )tk
k=0
∞
k=0
k! Ak tk = C eAt . k!
(ii) A primeira parte de (ii) segue imediatamente de (i). A segunda parte de (ii) decorre de que tanto etA etB como et(A+B) s˜ao solu¸co˜es da equa¸c˜ao X ′ = (A + B)X , X (0) = E . De fato, (etA etB )′ = Ae tA etB + etA Be tB = Ae tA etB + Be tA etB = (A + B)etA etB . ao Observa¸c˜ ao. Trabalhando com exponenciais de matrizes ´e preciso lembrar que n˜ (A+B) A B ´e verdade, em geral, que e = e e . Tamb´em n˜ao ´e verdade, em geral, que t e t0 A(s)ds seja uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao X ′ = A(t)X . Ver exerc´ıcios 16, 17 e 18.
50
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Exemplo 2.16 (a) Seja J (λ) = λE + E 1 , onde E 1 ´e a matriz nilpotente definida no Exemplo 2.14(c). Temos λE E 1 = E 1 (λE ). Portanto, a Proposi¸c˜ao 2.15 implica em
·
etJ (λ) = et(λE +E 1) = eλt etE 1 E 12 t2 λt = e E + E 1 t + + 2!
λt
= e
·
1 t
··· ···
0 1 .. . 0 0
···
0
· ··
E 1n−1 tn−1 + (n 1)!
n−1
t (n 1)!
− ...
−
.
t 1
(b) Analogamente, para J (α, β ) = diag[I (α, β ), . . . , I ( α, β )] + E 2 , onde I (α, β ) = α β e E 2 = E 12 , temos β α
−
diag[I (α, β ), . . . , I ( α, β )]E 2 = E 2diag[I (α, β ), . . . , I ( α, β )]. Portanto,
etJ (α,β ) = diag etI (α,β ) , . . . , etI (α,β ) onde R(t, β ) =
cos tβ sen tβ sen tβ cos tβ
−
·
etE 2 = eαt diag [R(t, β ), . . . , R(t, β )] etE 2 ,
. Ver Exemplo 2.14(b).
Observa¸c˜ ao. No Exemplo 2.16(a) o valor pr´ oprio λ de J (λ) tem multiplicidade n, se J (λ) ´e n n. No Exemplo 2.16(b), com α e β reais, J (α, β ) tem os valores pr´oprios λ = α + iβ e λ = α iβ , cada um com multiplicidade n/2, se J (α, β ) ´e n n. As matrizes J (λ) e J (α, β ) s˜ao os blocos que aparecem na diagonal da forma de Jordan real de uma matriz, que ser´ a considerada com maiores detalhes na se¸ c˜ao 2.5. Para referˆencia futura determinaremos o comportamento assint´ otico de suas exponenciais. Precisaremos do seguinte lema.
×
−
×
Lema 2.17 (Lema de C´ alculo) Seja ε > 0. Ent˜ ao para todo k > 0, limt→∞ e−εttk = 0. Da´ı, para qualquer polinˆ omio p(t), e−εt p(t) ´e limitado para t 0.
≥
arias vezes a s−k /eε/s , obtida Demonstra¸ c˜ ao Segue da regra de l’Hospital aplicada v´ da fun¸c˜ao e−εttk ap´os a mudan¸ca de vari´ aveis t = s −1 . Isto tamb´em decorre da observa¸ c˜ao seguinte: para t 0,
≥
eεt/tk > (ε t)k+1/(k + 1)!tk , εt k
∞ se t → ∞. Portanto, lim →∞ e−
que tende para +
t
t = 0.
2.3 Equa¸co ˜es lineares com coeficientes constantes
51
Proposi¸c˜ ao 2.18 Seja 0 < µ < que
−α = −Re (λ). Ent˜ ao existe constante K ≥ 1 tal
tJ (λ)
e ≤ e ≤ tJ (α,β )
Ke−tµ, t Ke−tµ, t
≥ 0, ≥ 0.
Demonstra¸ c˜ ao Pelo Exemplo 2.16(a) temos, para ε = tJ (λ)
λt
E 1n−1 n−1 E + E 1 t + + t (n 1)! e−εt (a0 + a1t + + an−1 tn−1 ) ,
e ≤ |e | ≤ e− µt
E i
·· ·
···
onde a0 = E = 1 e ai = i!1 , i = 1, . . . , n 1. Pelo lema 2.17, existe K tal que para t 0,
−µ − Re(λ) > 0,
− ≥
≤
−
n 1
e−εt
−
ai ti
K .
i=0
A prova do outro caso ´e similar.
Lema 2.19 Seja A uma matriz complexa (respectivamente, real). Se λ ´e um valor pr´ oprio complexo (respectivamente, valor pr´ oprio real) de A e v ´e um vetor pr´ oprio λt correspondente, ent˜ ao ϕ(t) = e v ´e uma solu¸c˜ ao da equa¸c˜ ao complexa (respectivamente, real) (2.6). Demonstra¸ c˜ ao Av = λv. Logo, ϕ′ (t) = λe λt v = A(eλt v) = Aϕ(t). Proposi¸c˜ ao 2.20 Se a matriz complexa (respectivamente, real) A de ordem n n tem valores pr´ oprios complexos (respectivamente, valores pr´ oprios reais) λ1 , λ2 , . . . , λn e v1 , v2 , . . . , vn s˜ ao vetores (pr´ oprios) linearmente independentes, com Avi = λi vi , ent˜ ao a matriz V (t), cuja coluna i-´esima, i = 1, . . . , n, ´e ϕ i (t) = v i eλi t , ´e uma matriz fundamental de x′ = Ax. Em particular,
×
etA = V (t)V −1 (0). ´ Demonstra¸ c˜ ao Obvia a partir do Lema 2.19 e da independˆencia linear dos vi = ϕi (0). A u ´ ltima parte segue da unicidade da solu¸ca˜o de X ′ = AX , X (0) = E .
Observa¸c˜ ao 2.21 Sejam A uma matriz real, λ = α + iβ um valor pr´oprio e v = v1 + iv2 um vetor pr´ oprio de A correspondente a λ. Ent˜ao, v = v 1 iv2 ´e um vetor pr´oprio correspondente a λ = α iβ , pois λ v = Av = Av, por ser A real.
−
−
52
2. Equa¸c˜ coes o ˜es Diferenciais Lineares
Pela Proposi¸c˜ cao a˜o 2.20, ϕ(t) = eλt v e ϕ(t) = eλt v s˜ao ao solu¸c˜ coes ˜oes linearmente independentes da equa¸c˜ cao a˜o (2.6), com A com A considerada complexa. Logo, 1 ϕ1 (t) = [ϕ [ϕ(t) + ϕ(t)] 2
e ϕ2 (t) =
1 [ϕ [ ϕ(t) 2i
− ϕ(t)]
s˜ao ao solu¸c˜ coes o˜es reais de (2.6), com ϕ1 (0) = v1, ϕ2 (0) = v2 , como equa¸c˜ c˜ao a o rea real. l. Por n serem v serem v1 , v2 vetores de R linearmente independentes, segue-se que estas solu¸ c˜ c˜oes oes s˜ao ao linearmente independentes. Os vetores v vetores v 1 e v2 s˜ao ao linearmente independentes, pois, caso contr´ ario ar io ter te r´ıamo ıa moss v2 = cv 1 , donde v = (1 + ic + ic))v1 e v = (1 ic) ic)v1 resultariam linearmente dependentes em Cn . Por exemplo, se A ´e 2 2 temos que
−
×
ϕ1(t) = eαt [v1 cos βt v2 sen βt] βt ] = Re ϕ(t), ϕ2(t) = eαt [v1 sen βt + v2 cos βt] βt ] = Im ϕ(t)
−
´e uma base de solu¸c˜ coes o˜es de (2.6), onde v1 + iv 2 ´e vetor veto r pr´oprio oprio associado a λ = α + iβ . iβ . No caso caso gera geral, l, onde onde A ´e n n, n , temos que toda solu¸c˜ cao ˜ao cuja condi¸c˜ c˜ao ao n inicial pertence ao plano gerado por v1 , v2 de R ´e comb co mbin ina¸ a¸c˜ c˜ao ao linea lin earr de ϕ1 e ϕ2 e, consequenteme consequentemente, nte, est´ a contida neste plano.
× { }
A seguir aplicaremos a Proposi¸c˜ c˜ao ao 2.20 2.2 0 e a Observa¸ Obs erva¸c˜ cao ˜ao 2.21 na determina¸c˜ cao a˜o da configura¸c˜ c˜ao ao geom´etrica etrica de todas as solu¸ c˜ coes o˜es dos sistemas lineares bidimensionais.
2.4
Sistem Sistemas as bidime bidimensi nsiona onais is simple simpless
Consideremos agora sistemas reais da forma
x′1 = a 11 x1 + a12 x2 , x′2 = a 21 x1 + a22 x2 ,
(2.8)
det A = 0.
(2. (2.8′ )
com a com a ij R e a11 a22 a12 a21 = 0. Ou, equivalentemente, equa¸c˜ c˜oes oes lineares homogˆeneas eneas do tipo
∈
−
x′ = Ax, com A =
a11 a12 a21 a22
e
Estas equa¸c˜ coes o˜es s˜ao ao associadas a campos vetoriais lineares A em R2 . A condi¸c˜ cao a˜o 2 det A = 0 ´e equivalente equivalente a que a origem 0 R seja o unico u ´ nico ponto onde A se anula, tA ou seja, o unico u´nico ponto fixo do fluxo linear ϕ(t, x) = e x. Este ponto fixo, ou todo o sistema, chama-se simples chama-se simples se se det A = 0. O polinˆomio omio caracter carac ter´´ıstico de A de A ´e
∈
λ2
co A)λ + det A. − (tra¸co
2.4 Sistemas bidimensionais simples
53
Logo, os valores pr´ oprios oprios s˜ao ao λ1 , λ2 =
tra¸co co A
±
(tra¸co co A)2 2
− 4det A .
Distinguimos os seguintes casos: (a) Os valores valores pr´ oprios λ oprios λ 1 , λ2 de d e A s˜ A s˜ao ao reais e distintos. distintos. Necessariamen Necessariamente, te, λ λ 1, λ2 = 0.
(b) Os valor valores es pr´ oprios oprios s˜ao ao complexos complexos conjugados: conjugados: λ1 = α + iβ , λ 2 = λ 1 = α = α com β = 0.
− iβ ,
(c) Os valor valores es pr´ oprios oprios s˜ ao ao reais e iguais: λ1 = λ 2 = λ = 0.
Caso (a) E 2
E 2
E 1
E 1
(a1 ) n´ o atrator
(a2) n´o inst´avel avel (fonte)
Figura 2.2: N´os os Sejam v1 , v2 vetores pr´ oprios correspondentes aos valores pr´ oprios oprios oprios λ1 , λ2 . Denotemos por E 1 , E 2 as retas geradas por estes vetores. A Proposi¸ c˜ cao a˜o 2.20 da se¸c˜ c˜ao ao 2.3 garante que toda solu¸c˜ c˜ao ao de (2.6’) (isto ´e, e, trajet´ tra jet´ oria oria de A) pode ser escrita na forma ϕ(t) = c 1 eλ1t v1 + c2 eλ2t v2 . Caso (a 1 ). λ2 < λ1 < 0, n´o atrator. Toda trajet´ oria oria tende a 0, quando t quando t + ; exceto a origem que permanece fixa, toda a trajet´ oria oria tende a , quando t quando t . Se c Se c1 = 0, a reta tangente a` tra tr a jet´ je t´oria or ia λ2 t tende a` reta E 1 , quando t + . De fat fato, o, se se t + , cc21eeλ1 t = cc21 e(λ2−λ1 )t 0, pois λ pois λ 2 λ1 < 0. Se c1 = 0, as solu¸c˜ coes o˜es s˜ ao ao semiretas de E 2 .
−
∞ → ∞
→ ∞ → −∞
→ ∞
→
54
2. Equa¸c˜ coes o ˜es Diferenciais Lineares
Na Figura 2.2 (a (a1) est´a ilustrado o comportamento de todas as trajet´ orias. orias. As setas indicam o sentido de percurso com t crescente. Caso (a 2 ). λ2 > λ1 > 0, n´o inst´avel avel (fonte). Discuss˜ao ao similar ao caso anterior, mudando o sentido das setas. Ver Figura 2.2 (a2 ). Caso (a 3 ). λ2 > 0 > 0 > λ1 , sela. As trajet´ o rias que passam por pontos de E 1 (c2 = 0) (ou de E 2 (c1 = 0)) orias permanecem nesta reta e tendem para 0, quando t + (ou t ). S e c1 , c2 = 0, as solu¸c˜ coes ˜o es tendem a , quando t . A compone component ntee segundo segundo E 1 (respectivamente, E 2) tende a 0 (respectivamente, ), quando quando t + , a componente componente segundo E segundo E 2 (respectivamente, E (respectivamente, E 1) tende a 0 (respectivamente, ). Ver Figura 2.3.
→ ∞ → ±∞ ∞
∞
→ −∞ → ∞ ∞
E 2
E 1
(a3) sela Figura 2.3: Sela
Caso (b) Da Observa¸c˜ cao a˜o 2.21 segue que toda solu¸c˜ cao a˜o de (2.8) pode ser escrita na forma ϕ(t) = c1 ϕ1 (t) + c2 ϕ2 (t), onde ϕ1 (t) = eαt [cos βtv 1 sen βtv 2 ] e ϕ2 (t) = eαt [sen βtv 1 + cos βtv 2 ].
−
Escrevemos c1 = ρ cos ω, c 2 = ρsen ρ sen ω . Temos ϕ(t) = eαt ρ[(cos ω cos βt + sen ω sen βt)[ βt )[vv1 + (sen ω cos βt = eαt ρ[cos(ω [cos(ω βt) βt )v1 + sen sen (ω βt) βt )v2].
−
−
βt )v ] − cos ωsen βt) 2
2.4 Sistemas bidimensionais simples
55
Caso (b1 ). α = 0, centro. Todas as solu¸c˜oes, exceto a solu¸ca˜o nula, s˜ao elipses. Ver Figura 2.4. E 2
E 2
E 2
E 1
(b1 ) centro
E 1
(b2 ) foco est´ avel
E 1
(b3 ) foco inst´ avel
Figura 2.4: Centro e focos.
Caso (b2 ). α < 0, foco atrator. Toda solu¸c˜ao tende para 0 espiralando em torno da origem quando t + . Isto ´e, ϕ(t) 0 e ω β , ˆangulo entre ϕ(t) e E 1 , tende para + ou , segundo β seja negativo ou positivo. Ver Figura 2.4 para o caso em que β < 0.
| | →
−
∞ −∞
→ ∞
Caso (b3 ). α > 0, foco inst´avel. Toda solu¸c˜ao tende para 0 espiralando em torno da origem, quando t Ver Figura 2.4.
→ −∞.
Caso (c). n´o impr´oprio. Distinguimos dois casos. Caso (c 1 ), n´ o estrelado O n´ucleo de A λE ´e bidimensional. Em outros termos, λ tem vetores pr´ oprios v1 , v2 linearmente independentes. Pela Proposi¸ c˜ao 2.20 da se¸c˜ao 2.3, toda solu¸ca˜o de (2.8) pode ser escrita na forma
−
ϕ(t) = e λt (c1 v1 + c2 v2 ). Todas as o´rbitas, exceto a solu¸ca˜o nula, s˜ao semiretas. Ver Figura 2.5. Caso (c 2 ) O n´ucleo, E 1, de A λI ´e unidimensional. Seja v um gerador de E 1 e w um vetor n˜ ao colinear com v. A matriz do operador x Ax na base v, w ´e da forma
−
λ α 0 µ
→
, α = 0,
{ }
56
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
λ < 0
λ > 0
Figura 2.5: N´o impr´oprio estrelado (c1 ) pois Av = λv, Aw = µw + αv. Os valores pr´oprios desta matriz s˜ ao λ e µ. Logo, λ = µ. Definindo v1 = αv e v 2 = w, temos Av1 = λv 1 , Av2 = λv 2 + v1 . Usando estas propriedades da base v1 , v2 , verifica-se, por substitui¸ca˜o direta, que
{
}
ϕ(t) = eλt [(c1 + tc2)v1 + c2 v2 ] ´e a solu¸c˜ao de (2.8) por ϕ(0) = c 1 v1 + c2 v2. As ´orbitas que passam por E 1 (c2 = 0), exceto a origem que ´e ponto fixo, s˜ ao semiretas. Para toda outra o´rbita (c2 = 0), a sua reta tangente tende a E 1 , quando t , pois c2 eλt 1 = 0 . c 1 (c1 + tc2 )eλt + t c2
→ ±∞
→
Se λ < 0 (respectivamente, λ > 0), toda trajet´ o ria tende a 0, quando t (respectivamente, ). Ver Figura 2.6.
−∞
2.5 2.5.1
→ +∞
Conjuga¸c˜ ao de sistemas lineares Introdu¸ c˜ ao
Como em toda estrutura matem´ atica, nas equa¸c˜oes diferenciais e nos fluxos ou sistemas dinˆ amicos, levanta-se o problema de comparar dois objetos com a mesma estrutura, identificando-os se tiverem as mesmas propriedades essenciais pertinentes ´ `a estrutura. Assim, na Algebra, dois grupos s˜ao considerados equivalentes se eles s˜ ao isomorfos; na Topologia, dois espa¸cos topol´ ogicos s˜ ao identificados se s˜ ao homeomorfos. Estas no¸co˜es de equivalˆencia ou identifica¸c˜ao revelam o que h´a de essencial da estrutura nos dois objetos comparados. No primeiro caso o isomorfismo preserva a
2.5 Conjuga¸c˜ ao de sistemas lineares
57 E 2
E 2
E 1
E 1
Figura 2.6: N´o impr´oprio (c2) opera¸ca˜o do grupo, no segundo caso o homeomorfismo preserva os conjuntos abertos ´ dos espa¸cos. Sendo a opera¸c˜ao, na Algebra, e os abertos, na Topologia, os elementos essenciais da estrutura respectiva, os conceitos de isomorfismo e homeomorfismo s˜ ao satisfat´orios para a compara¸ca˜o de dois objetos. No caso das equa¸co˜es diferenciais ou fluxos, ´e ineg´ avel que as solu¸c˜o es ou tra jet´orias s˜ao os elementos mais relevantes. Portanto, ´e de se esperar que nesta estrutura qualquer no¸c˜ao de equivalˆencia preserve, em alguma forma, as solu¸ c˜oes ou trajet´o rias. Nesta se¸c˜ao trataremos dos sistemas de equa¸c˜oes lineares ou fluxos lineares. A quest˜ ao geral, para o caso n˜ ao linear, ´e abordada no Cap´ıtulo 3.
Defini¸c˜ ao 2.22 Sejam x Ax e x Bx campos vetoriais lineares em Rn . Estes campos, seus fluxos ϕ(t, x) = eAt x, ψ(t, x) = eBt x ou seus sistemas de equa¸co˜es lineares associados
→
→
x′ = Ax, x′ = Bx s˜ao ditos conjugados se existe uma bije¸c˜ao h : Rn tal que para todo t R e x Rn tem-se
∈
∈
(2.9) (2.10)
n
→ R , chamada de conjuga¸c˜ ao,
h(ϕ(t, x)) = ψ(t, h(x)). Se h ´e, respectivamente, um isomorfismo linear, C r -difeomorfismo, homeomorfismo, diz-se que (2.9) e (2.10) s˜ ao linearmente conjugados , C r -diferenciavelmente conjugados , topologicamente conjugados .
Observa¸c˜ ao 2.23 Claramente, a rela¸c˜ao de conjuga¸c˜ao ´e uma rela¸ca˜o de equivalˆencia entre sistemas lineares.
58
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Exemplo 2.24 (1) Seja A matriz real 2 2 com valores pr´oprios reais λ1 = λ2 e vetores pr´ oprios v1 , v2 . Ent˜ao h(x1 , x2 ) = x 1 v1 + x2 v2 define uma conjuga¸ca˜o linear λ1 0 entre x ′ = x e x′ = Ax. Este ´e o caso (a) da se¸c˜ao 2.4. 0 λ2 Analogamente, nos casos (b) e (d) da se¸c˜ao 2.4, resulta que os sistemas
×
x′ =
α β β α
−
x e x′ =
λ 1 0 λ
x
s˜ao conjugados linearmente ao sistema x′ = Ax, onde A tem respectivamente valores pr´oprios λ1 = α + iβ , λ2 = α iβ e λ1 = λ 2 = λ, com A λE = 0. O leitor verificar´ a que h(x1, x2 ) = x1 v1 + x 2v2 ´e uma conjuga¸ca˜o linear, onde v1 , v2 s˜ao os vetores definidos em 2.4, caso (a).
−
−
(2) Um centro n˜ ao pode ser conjugado a uma sela. Pois teremos que h(ϕ(2π/β,x)) = ψ(2π/β,h(x)) = h(x) uma vez que ϕ(2π/β,x) = x, isto ´e, todas as trajet´ orias do centro, fora da origem, s˜ao peri´ odicas de per´ıodo 2π/β . Contradi¸c˜ao, pois a sela n˜ ao tem trajet´ orias peri´ odicas, isto ´e, ψ(t1 , y) = ψ(t2 , y) se t1 = t2 e y = 0.
∈ − −
(3) h(x) =
xλ , x > 0, 0, x = 0, ´e uma conjuga¸c˜ao topol´ ogica entre x′ = x e x′ = λx, ( x)λ , x < 0
λ > 0, x R. De fato, para x > 0, h(et x) = e λt xλ = e λt h(x); para x = 0 ´e o´bvio; e para x < 0 ´ claro que se λ = 1, h n˜ao ´e difeomorfismo. ´e similar. E Da Proposi¸ca˜o 2.28 resultar´ a que se λ = 1, n˜ao existe nenhuma conjuga¸c˜ao diferenci´avel entre estes sistemas.
Proposi¸c˜ ao 2.25 A transforma¸c˜ ao linear h : x Cx ´e uma conjuga¸c˜ ao linear entre (2.9) e (2.10) se, e somente se, a matriz C satisfaz a CA = BC . Em particular, (2.9) e (2.10) s˜ ao linearmente conjugados se, e somente se, as matrizes A e B s˜ ao similares.
→
Demonstra¸ c˜ ao Se C A = BC , a Proposi¸ca˜o 2.15 da se¸c˜ao 2.3 implica que C etA x = etB Cx, para todo x. Isto ´e, h(x) = Cx ´e uma conjuga¸ca˜o linear entre (2.9) e (2.10). Se h(x) = Cx satisfaz a CetA x = etB Cx, derivando com respeito a t em t = 0 resulta CAetA x t=0 = C Ax = BetB Cx t=0 = BCx.
|
|
Logo, CA = BC .
2.5 Conjuga¸c˜ ao de sistemas lineares
59
´ claro que a rela¸ca˜o de conjuga¸ca˜o linear ´e uma rela¸ Observa¸c˜ ao 2.26 E ca˜ o de equivalˆ encia entre sistemas lineares. Segundo a proposi¸ c˜ao anterior, as classes de conjuga¸c˜ao linear dos sistemas lineares est˜ ao determinadas pelas classes de similaridade das matrizes correspondentes. Consequentemente, o problema de determinar a ´ classe de conjuga¸c˜ao linear de um sistema reduz-se ao seguinte Teorema da Algebra Linear, cuja demonstra¸ca˜o pode ser encontrada em Hoffman-Kunze [10] ou CoelhoLouren¸co [4].
Teorema 2.27 (Forma Canˆ onica de Jordan) Caso complexo. Seja A uma matriz complexa. Existe uma matriz complexa C , n˜ ao-singular, tal que J = C −1 AC = diag(J 1 , J 2 , . . . , Jk ), onde cada J i ´e da forma J (λ) = λE + E 1 , definido no Exemplo 2.16, e λ ´e um valor pr´ oprio de A. A soma das ordens dos blocos da forma J (λ) ´e igual a` multiplicidade de λ como raiz do polinˆ omio caracter´ıstico de A. A matriz J chama-se forma de Jordan de A e ´e unica, ´ salvo a ordem dos blocos J i . Finalmente, duas matrizes s˜ ao similares se, e somente se, elas tˆ em a mesma forma de Jordan. Caso real. Seja A uma matriz real. Existe uma matriz real C , n˜ ao-singular, tal que J = C −1 AC = diag(J 1 , J 2 , . . ., J k ), onde cada J i ´e da forma J (λ) ou J (α, β ) definidos no Exemplo 2.16 da se¸cao ˜ 2.3, onde λ ´e valor pr´ oprio real e α + iβ ´e valor pr´ oprio complexo. A soma das ordens dos blocos da forma J (λ) ´e igual a´ multiplicidade de λ como raiz do polinˆ omio caracter´ıstico de A. A soma das ordens dos blocos da forma J (α, β ) ´e igual ao dobro da multiplicidade de α + iβ como raiz do polinˆ omio caracter´ıstico de A. A matriz J chama-se forma canˆ onica real de A e ´e unica, ´ salvo as ordem dos blocos e o sinal da parte imagin´ aria β das ra´ızes complexas de A. Duas matrizes reais s˜ ao similares se, e somente se, tˆ em a mesma forma canˆ onica real.
Proposi¸c˜ ao 2.28 Os sistemas (2.9) e (2.10) s˜ ao C 1-diferenciavelmente conjugados se, e somente se, A e B s˜ ao similares. Em particular, dois sistemas s˜ ao C 1 diferenciavelmente conjugados se, e somente se, s˜ ao linearmente conjugados. Demonstra¸ c˜ ao Se A e B s˜ao similares, a Proposi¸ca˜o 2.25 implica que (2.9) e (2.10) s˜ao linearmente conjugados. Portanto, C 1-diferenciavelmente conjugados. Seja h um difeomorfismo de classe C 1 tal que h(etA x) = etB h(x), para todo t e x. Suponhamos inicialmente que h(0) = 0. Derivando com respeito a t, em t = 0, temos Dh(x)Ax = Dh(etA x)Ax t=0 e Be tB h(x) t=0 = Bh(x), para todo x. Em
|
|
60
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
particular, para x = λy, Dh(λy)Ay = B h(λy) . Quando λ 0, Dh(λy) Dh(0) λ h(λy) por continuidade de Dh, e tamb´em λ Dh(0)y. Logo, Dh(0)A = BDh(0). Se h(0) = c = 0, k : x x c ´e uma conjuga¸c˜ao C ∞ diferenci´ avel de (2.10) tB tB tA com ele pr´ oprio. De fato, e c = e h(0) = h(e 0) = h(0) = c. Logo, k(etB x) = etB x c = e tB x etB c = etB (x c) = e tB k(x). Portanto, h1 = k h ´e uma conjuga¸ca˜o C 1 -diferenci´avel entre (2.9) e (2.10) tal que h1 (0) = 0. A u ´ ltima afirmativa decorre da Proposi¸c˜ao 2.25.
−
−
→
→
→ − −
→
◦
Defini¸c˜ ao 2.29 Um sistema linear x′ = Ax (ou a origem de Rn ) chama-se atrator (do sistema) se para todo x Rn , etA x 0, quando t .
∈
→
→∞
´ claro que se h ´e uma conjuga¸c˜ao topol´ E ogica entre um atrator x′ = Ax e um sistema x′ = Bx, ent˜ao este u ´ltimo tamb´em ´e um atrator. De fato, h(etA h−1 (x)) = etB x, logo para todo x, etB x h(0), quando t ; mas h(0) = 0, pois etB 0 = 0. O teorema seguinte caracteriza os sistemas lineares atratores.
→
→∞
Teorema 2.30 As seguintes proposi¸c˜ oes s˜ ao equivalentes: ( 1) O sistema x′ = Ax ´e um atrator. (2) Todos os valores pr´ oprios de A tˆem parte real negativa. (3) Existem µ > 0 e K 1 tais que etA x
µt
n
| ≤ Ke− |x| para todo x ∈ R e t ≥ 0. (4) O sistema x′ = Ax ´ e topologicamente conjugado a x′ = −x. Demonstra¸ c˜ ao O sistema x′ = −x ´e um atrator pois e− x → 0, t → ∞. Logo, (4) → (1), pela observa¸ca˜o anterior. Suponha que λ ´e um valor pr´ oprio de A com parte real n˜ ao negativa. Se λ ´e real e v um vetor pr´ oprio, |e v | = e |v | n˜ao tende a zero. Se λ = α + iβ ´e complexo, pela Observa¸ c˜ao 2.21, |e v | = e | cos βv − sen tβv |, que tamb´em n˜ao tende a zero se α ≥ 0. Logo (1) → (2). Notemos que (3) n˜ao depende da norma | · | em R pois se α| · | ≤ · ≤ β | · |, e x ≤ β |e x| ≤ βK e− |x| ≤ β/αKe− x, com β/αK ≥ 1. ≥
|
t
tA
λt
tA
αt
1
2
n
tA
tA
µt
µt
Observemos que (3) n˜ ao depende da classe de similaridade de A. De fato, se C ´e uma matriz real ou complexa invert´ıvel, temos tC −1 AC
|e
x
|
= C −1 etA Cx = K 1 e−µt x ,
|
||
1
tA
| ≤ |C − | |e
1
µt
| ≤ |C − |Ke− |C | |x|
Cx
2.5 Conjuga¸c˜ ao de sistemas lineares
61
onde K 1 = C −1 C K . Verifique que K 1 1. Portanto, na prova de (2) (3) ´e suficiente supor que A est´a na forma de Jordan complexa e que x ´e o sup dos valores absolutos das coordenadas de x. Ent˜ ao A = diag(J 1 , J 2 , . . . , Jk ), J i = λi E + E 1. Seja µ < Reλi , i = 1, . . . , n. Pela Proposi¸c˜ao 2.18 da se¸c˜ao 2.3 temos
| || |
≥
||
→
−
At
|e x|
=
≤
x1 , eJ 2 t x2 , . . . , eJ k txk ) sup K i e−µt xi K e−µt x ,
|(e
J 1 t
| |≤
i=1,...,k
| ||
onde K = sup K i e x = sup xi , pois trabalhamos com a norma de sup. Isto mostra que (2) (3). Demonstremos que (3) (4). Seja < x, y >= xi yi e x =< x, x >1/2 . Destaquemos o seguinte:
→
| |
{| |}
→
(i) A forma quadr´ atica q (x) =
∞ < etAx, etAx > dt ´e definida positiva e 0
dq (etA x) = dt
tA
− < e
x, etA x >,
(a)
para todo x Rn e t R. A convergˆ encia da integral impr´ opria ´e consequˆencia da desigualdade em (3). Por outro lado,
∈
∈
tA
q (e x) =
∞
0
=
∞
< euA etA x, euA etA x > du < e(u+t)Ax, e(u+t)A x > du.
0
Fazendo a mudan¸ca de vari´ aveis u + t = v, temos tA
∞
q (e x) =
< evA x, evA x > dv;
t
derivando resulta a express˜ ao (a). (ii) Para toda forma quadr´ atica q , definida positiva, existem n´ umeros positivos α e 2 2 n β tais que α x q (x) β x , para todo x R . Verifica-se este fato tomando α = min q (x); x = 1 e β = max q (x); x = 1 .
≤ ≤ ∈ { } { } (iii) Para todo x = 0, a trajet´oria e x intercepta todos os esfer´oides q (x) = r > 0. tA
De fato, por (a) e (ii),
− α1 ≤ dtd q (e
tA
x)/q (etA x)
≤ − β 1 .
62
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Logo,
− αt ≤ log q (e
tA
Portanto, se t
≥ 0
e−t/αq (x)
x)
≤ q (e
− log q (x) ≤ − β t .
tA
t/β
≤ e−
x)
q (x).
(b)
Se t 0 temos a mesma desigualdade trocando β por α. Da´ı, quando t percorre R, q (etA x) percorre todo o eixo positivo. Note-se que, em virtude de (a), etA x corta cada esfer´ oide uma u ´nica vez, apontando para o seu interior. Se x = 0, denotemos por t x o (´ unico) n´ umero real tal que q (etxA x) = 1.
≤
(iv) A fun¸ca˜o tx ´e de classe C ∞ em Rn 0 . Este fato decorre do Teorema da Fun¸ c˜ao Impl´ıcita aplicado a` equa¸c˜ao q (etA x) = 1, pois por (a), ∂t∂ q (etA x) = 0, se x = 0. Passamos a definir a conjuga¸ca˜o topol´ ogica h, da seguinte maneira:
−{ }
h(0) = 0 e h(x) = etx etxA x, se x = 0.
tx x
tx
h(x) y
y h
q = 1
q = 1
Figura 2.7: Conjuga¸ca˜o Topol´ ogica de Atratores ´ claro por (iv) que h (Rn 0 ) ´e um difeomorfismo de classe C ∞ sobre Rn E Provemos a continuidade de h em 0. Por (ii) temos
| −{ }
h(x)
≤ 1 α
1/2 tx tx A
(q (e e
x))
1/2
=
pois q (etxA x) = 1. De (b) obtemos e−tx /β q (x)
tx A
≥ q (e
x) = 1
1 α
1/2
etx ,
−{0}.
2.5 Conjuga¸c˜ ao de sistemas lineares
63
e da´ı etx Logo,
β
≤ [q (x)] .
≤ 1 α
h(x) e claramente, se x → 0, h(x) → 0. − A continuidade de h
1
1/2
[q (x)]β
em 0 resulta de sua express˜ ao: h−1 (z ) =
e−
1 2
log
√
q(z)A
q (z )
z ,
pela desigualdade em (3), observando que z/ q (z ) ´e limitado e que , quando z 0. Verifiquemos agora que h ´e conjuga¸c˜ao:
∞
→
−
1 log 2
q (z )
→
h(etA x) = h(e(t−tx )A etxA x) = e(−t+tx) etxA x = e −t (etx etx A x) = e −t h(x). No passo do segundo para o terceiro termo destas igualdades usamos o fato que para y = e tA x tem-se ty = (t tx).
− −
|
|→∞
→∞
n
∈ R ) chama-se fonte
Defini¸c˜ ao 2.31 Um sistema linear x′ = Ax (ou a origem 0 se para todo x = 0, etAx quando t . oes s˜ ao equivalentes: Teorema 2.32 As seguintes condi¸c˜ (1) x′ = Ax ´e uma fonte. (2) Todos os valores pr´ oprios de A tˆem parte real positiva. (3) Existem n´ umeros µ > 0 e K 1 tais que
≥ |e x| ≥ K − e |x|, se t ≥ 0. tA
1 tµ
(4) x′ = Ax ´e topologicamente conjugado ao sistema x′ = x.
Demonstra¸ c˜ ao A demonstra¸c˜ao ´e imediata serva¸c˜ao seguinte: x′ = Ax ´e topologicamente conjugado a x′ ´e topologicamente conjugado a x′ = ( B)x. e−t(−B) h(x) = etB h(x). Logo, se h conjuga x′ = Ax com x′ = x′ = Bx.
−
−
a partir do Teorema 2.30 e da ob= Bx se, e somente se, x′ = ( A)x De fato, h(etA x) = h(e(−t)(−A) x) =
−
−Bx, tamb´em conjuga x′ = Ax com
64
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Assim (4) implica que x′ = ( A)x ´e topologicamente conjugado a x′ = portanto os valores pr´ oprios de A tˆem parte real negativa, donde segue (2). Aplicando o Teorema 2.30 a A, temos que (2) implica que
− − − |x| = |e −
t( A) tA
µt
tA
| ≤ Ke− |e x|,
e x
donde segue (3). Obviamente (3) (1). Deixamos a cargo do leitor a prova de (1) implica¸c˜ao (2) (4) decorre do Teorema 2.30 aplicado a A.
→
2.6
→
−x,
→ (2).
−
A
Classifica¸c˜ ao dos sistemas lineares hiperb´ olicos
Defini¸c˜ ao 2.33 Um sistema linear x′ = Ax (ou o campo vetorial linear x Ax, n ou a origem 0 olico se todos os valores pr´oprios de A tˆem R ) chama-se hiperb´ parte real diferente de zero. O n´ umero s = s(A) de valores pr´oprios, contando suas multiplicidades, que tˆem parte real negativa, chama-se ´ındice de estabilidade do sistema.
→
∈
Note-se que esta defini¸c˜ao depende apenas da classe de similaridade da matriz A, ou equivalentemente da classe de conjuga¸ c˜ao linear do sistema.
Exemplo 2.34 Dos sistemas bidimensionais simples considerados na se¸c˜ao 2.4, todos s˜ao hiperb´ olicos, exceto o centro. O ´ındice de estabilidade da sela ´e 1 , do foco e n´o atratores ´e 2, do foco e n´ o inst´aveis ´e 0. Em geral, o ´ındice de estabilidade de um atrator ´e n e de uma fonte ´e 0. A Figura 2.8 mostra os retratos de fase de alguns sistemas lineares hiperb´ olicos 3 em R . O leitor justificar´ a analiticamente estas configura¸ c˜oes com base nos dados sobre os valores pr´ oprios que nelas aparecem.
Defini¸c˜ ao 2.35 Chama-se subespa¸co est´ avel de x′ = Ax o subespa¸co maximal E s , invariante por A (i. e. Av E s , v E s ) tal que A/E s tem todos os valores pr´ oprios ′ com parte real negativa. Analogamente, define-se o subespa¸co inst´ avel de x = Ax u u como o subespa¸co maximal invariante E onde A/E tem todos os valores pr´ oprios com parte real positiva. Para um atrator E s = Rn e E u = 0 ; para uma fonte E s = 0 , E u = Rn .
∈
∈
{}
{}
Proposi¸c˜ ao 2.36 Seja x′ = Ax um sistema linear hiperb´ olico de ´ındice de estabilidade s.
2.6 Classifica¸ c˜ ao dos sistemas lineares hiperb´ olicos
65
x3
x3
λ2
λ1 λ2 λ3 0
x2
x1
0 λ3
x3 λ3
λ1
λ2
0
λ1 x2
x2
x1 x3 λ2
x1 x3 λ1 λ2 0 λ3
λ3 0
λ1
x1
x2
x2
x1
Figura 2.8: Sistemas lineares hiperb´ olicos em R3 (1) Rn = E s E u e E s e E u s˜ ao invariantes pelo sistema, isto ´e, para todo i x E , i = s, u, a trajet´ oria do sistema, etA x, pertence a E i para todo t R. A dimens˜ ao de E s ´e igual a s.
⊕
∈
∈
(2) Existem µ > 0 e K 1 tais que
≥ (a) |e x| ≤ K e− |x|, para x ∈ E e t ≥ 0; (b) |e x| ≤ K e |x|, para x ∈ E e t ≤ 0. tA
µt
tA
s
µt
u
Demonstra¸ c˜ ao A demonstra¸ca˜o ´e imediata a partir das seguintes observa¸ c˜oes: (i) Se h ´e uma conjuga¸ca˜o linear entre dois sistemas x′ = Ax e x′ = Bx, cujos subespa¸cos est´ aveis s˜ao E s e E 1s , ent˜ao h(E s ) = E 1s . Imediato, pois A E s e B h(E s ) resultam similares e, portanto, tˆem os mesmos valores pr´ oprios. Verificar este fato. Analogamente para o subespa¸co E u .
|
|
| · | nem da classe de similaridade da
(ii) A conclus˜ao (2) n˜ao depende da norma matriz A.
A prova desta afirmativa ´e similar a` dada no Teorema 2.30 da se¸ca˜o 2.5 e fica a cargo do leitor.
66
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
(iii) Se x′ = Ax ´e um sistema linear hiperb´olico de ´ındice de estabilidade s, ent˜ao ele ´e linearmente conjugado a um sistema da forma
s
∈ R ,− ∈ R ,
x′1 = A 1 x1 , x1 x′2 = A 2 x2 , x2
∗
( )
n s
onde os valores pr´ oprios de A1 tˆem parte real menor do que 0 e os valores pr´ oprios de A 2 tˆem parte real maior do que 0. Para verificar este fato ´e suficiente conjugar A com sua forma de Jordan real J , na qual aparecem agrupados na parte superior da diagonal os blocos correspondentes `as ra´ızes de parte real negativa. O bloco de ordem s s da esquina superior esquerda de J ´e A 1 ; o bloco de ordem (n s) (n s) da esquina inferior direita ´e A2 . Com base nas observa¸co˜es acima, ´e suficiente demonstrar a Proposi¸ c˜ao 2.36 para s s n−s sistemas da forma ( ). Para estes sistemas, E = R 0 R e E u = 0 Rs Rn−s . Donde resulta (1). A parte (2) resulta de que x′1 = A 1 x1 ´ e um atrator ′ e x 2 = A 2 x2 ´e uma fonte, aplicando os Teoremas 2.30 e 2.32 da se¸ c˜a o 5 a A 1 e A 2 .
×
− × −
∗
}×
× { ∈
}
{ ∈
oteses da Proposi¸c˜ ao 2.36, temos Corol´ ario 2.37 Nas hip´ (a´) etA x
1 µt
u
| | ≥ K − e |x|, para todo x ∈ E e t ≥ 0; (b´) |e x| ≥ K − e− |x|, para todo x ∈ E e t ≤ 0. tA
1
µt
s
Demonstra¸ c˜ ao Pela desigualdade (b) da Proposi¸c˜ao 2.36 (2), aplicada a τ = tA e x = e x E u , temos
∈
|x| = |e
(τ +t)
x = eτ Ax
| |
µτ
µt
−t ≤ 0
tA
| ≤ K e |x| = K e− |e x|.
Logo, tA
Isto prova (a′ ); (b′ ) ´e similar.
1 tµ
|e x| ≥ K − e |x|.
Observa¸c˜ ao. A desigualdade (a) da Proposi¸ca˜o 2.36 (2) significa que todas as trajet´o rias que passam por pontos de E s tendem a 0 exponencialmente quando t . A desigualdade (b′ ) do Corol´ ario 2.37 implica que estas mesmas trajet´ orias, exceto a nula, se afastam exponencialmente de 0 quando t . Em outras palavras, o comportamento de um sistema hiperb´ olico em E s ´e an´ alogo ao comportamento de um atrator. Considera¸ co˜es an´ alogas s˜ ao v´alidas para E u onde o comportamento das trajet´ orias ´e similar ao caso de uma fonte. Finalmente, as trajet´ orias que passam por pontos x fora de E s E u se comportam de forma similar a`s hip´erboles: as suas componentes segundo E s tendem a 0,
→∞
→ −∞
∪
2.6 Classifica¸ c˜ ao dos sistemas lineares hiperb´ olicos
67
enquanto as suas componentes segundo E u tendem a , quando t + ; quando t as componentes segundo E s tendem a , e as componentes segundo E u tendem a zero. Isto decorre de que eAt x = e At xs + eAt xu , onde xi E i , i = s, u, e x = x s + xu.
→ −∞
∞
∞
→ ∞
∈
olico. Um ponto x Rn pertence a E s Lema 2.38 Seja x′ = Ax um sistema hiperb´ se, e somente se, etA x ´e limitado para t 0. Um ponto x Rn pertence a E u se, e somente se, etA x ´e limitado para t 0.
≥
≤
∈
∈
Demonstra¸ c˜ ao Seja x = x s + xu com x i E i , i = s, u, donde etA x = etA xs + etA xu . Em virtude de (a′ ) do Corol´ario 2.37, temos
∈
tA
tA
tA
1 µt
tA
| − |e x | ≥ K − e |x | − |e x |. Ou ´ ltimo termo tende para ∞ quando t → ∞ se, e somente se, |x | = 0, pois |e x | → 0, logo e x ´e limitado para t ≥ 0 se, e somente se, x ∈ E (i. e. x = 0). Analogamente para t ≤ 0 e E . Lema 2.39 Se x′ = A x ´e topologicamente conjugado a x′ = B x , x ∈ R , i = |e x| ≥ |e
xu
s
u
s
u
tA
tA
s
s
u
u
i i
i
1, 2, ent˜ ao
´e topologicamente conjugado a
i
i i
i
n
x′1 = A 1 x1 x′2 = A 2 x2
(α)
x′1 = B 1 x1 x′2 = B 2 x2
(β )
Demonstra¸ c˜ ao Seja hi uma conjuga¸ca˜o topol´ogica entre x′ = Ai xi e x′i = Bi xi , i = 1, 2. Ent˜ao h = (h1 , h2 ) ´e uma conjuga¸c˜ao topol´ ogica entre (α) e (β ). De fato, h(etA1 x1 , etA2 x2 ) = (h1(etA1 x1 ), h2 (etA2 x2)) = (etB1 h1 (x1 ), etB2 h2 (x2 )) = (etB1 , etB2 )(h(x1 ), h(x2 )).
olicos x′ = Ax e x′ = Bx em Rn Teorema 2.40 Dois sistemas lineares hiperb´ s˜ ao topologicamente conjugados se, e somente se, ambos tˆem o mesmo ´ındice de estabilidade.
Demonstra¸ c˜ ao Se x′ = Ax tem ´ındice de estabilidade s, ele ´e conjugado linearmente ao sistema ( ) da observa¸c˜ao (iii) da Proposi¸ca˜o 2.36. Em virtude do Lema
∗
68
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
2.39, o sistema ( ) e consequentemente o sistema x′ = Ax ´e conjugado topologicamente ao sistema x′1 = x1, x1 Rs , x′2 = x 2 , x2 Rn−s .
∗
−
∈ ∈
Ver Teoremas 2.30 e 2.32. Disto resulta que dois sistemas hiperb´ olicos de ´ındice s s˜ao topologicamente conjugados entre si. Por outro lado, se h ´e uma conjuga¸c˜ao topol´ ogica entre dois sistemas hiperb´ olicos n s s s ′ ′ x = Ax e x = Bx em R , temos que h(E A) = E B , onde E i denota o subespa¸co est´avel de x′ = ix, i = A, B. De fato: etB h(x) = h(etA x). Logo, se s E As e t , temos por continuidade que h(etA x) h(0) = 0. s Portanto, h(x) E B , pelo Lema 2.38. O Teorema da Invariˆ ancia da Dimens˜ a o de Brouwer implica que dim E Bs = dim E As . A demonstra¸c˜ao deste teorema foge ao car´ ater deste livro. Daremos por´em uma ideia dela. A Teoria da Homologia associa a cada espa¸co topol´ ogico X uma subsequˆencia de grupos H i (X ), i = 0, 1, . . . e a cada homeomorfismo h : X Y uma sequˆencia ′ h1 : H i (X ) H i (Y ) de isomorfismos destes grupos. Para X = S k , esfera kdimensional, calcula-se
∈
∈
→∞
→
→
→
H i (S k ) =
Z (inteiros), i = k, 0, se k = 0; 0, i = k; H 0 (S 0 ) = Z2 .
∗
( )
Em nosso caso, compactificamos E Bs e E As adjuntando o ponto infinito (compactifica¸c˜ao de Alexandrov), obtemos S n(A) e S n(B) , onde n(α) = dim E αs , α = A, B, e n(a) ˆ estendemos h para h : S S n(B) , que ´e um homeomorfismo. ˆ ′ : H n(A) (S n(A) ) = Z H n(B) (S n(B) ) ´e isomorfismo. A express˜ Temos que h ao n(A) ( ) prova que n(A) = n(B). O leitor encontrar´ a em Greenberg e Harper [6] os fundamentos da Teoria da Homologia.
→
→
∗
2.7
Sistemas lineares complexos
Nesta se¸ca˜o vamos considerar brevemente a equa¸ c˜ao linear ω ′ = A(z )ω + b(z ),
(2.11)
onde A(z ) ´e matriz n n e b(z ) ´e um vetor n-dimensional, ambos anal´ıticos num conjunto simplesmente conexo D C.
×
⊂
2.7 Sistemas lineares complexos
69
Por solu¸ca˜o de (2.11) entendemos uma fun¸ca˜o anal´ıtica ω : D ω ′ (z ) = A(z )ω(z ) + b(z ),
n
→ C
tal que
para todo z D.
∈
n
´ solu¸c˜ ao de (2.11) (em ∈ D, ω ∈ C , existe uma unica
Proposi¸c˜ ao 2.41 Dados z 0 D) tal que ω(z 0 ) = ω0 .
0
Demonstra¸ c˜ ao Se z D e se γ 1 , γ 2 s˜ao caminhos em D com extremidades z 0 e z , sabemos que para toda fun¸c˜ao f (z ) anal´ıtica em D, γ 1 f (z )dz = γ 2 f (z )dz . z Denotaremos esta integral por z0 f (τ )dτ . Definamos ent˜ ao
∈
ϕ0 (z )
≡
ω0 ,
z
ϕn (z ) = ω0 +
z0
[A(τ )ϕn−1 (τ ) + b(τ )]dτ, 1 < n.
Fixemos agora um dom´ınio compacto K com z 0 K D e sejam M > 0, L > 0 tais que A(z ) < M , b(z ) < M em K e todo ponto de K possa ser ligado a z 0 por um caminho de comprimento menor que L. Sejam z 1 K e γ um caminho entre z 0 e z 1 de comprimento menor que L. Se s ´e o comprimento de arco ao longo de γ , partindo de z 0 , e z γ , temos
|
| ∈
∈ ⊂
| |
∈ |ϕ (z ) − ϕ (z )| ≤ M (|ω | + 1)s ≤ M L(|ω | + 1) 1
0
0
0
e em geral M n sn M n Ln ϕn (z ) ϕn−1 (z ) ( ω0 + 1) ( ω0 + 1). n! n! Da´ı, ϕ n(z ) converge uniformemente nas partes compactas de D a uma fun¸c˜ao ϕ que deve ent˜ ao ser anal´ıtica. Al´em disso,
|
−
|≤
| |
≤
| |
z
ϕ(z ) = ω 0 +
[A(τ )ϕ(τ ) + b(τ )]dτ.
z0
Logo, ϕ(z 0 ) = ω 0 e
ϕ′ (z ) = A(z )ϕ(z ) + b(z ).
Se ψ ´e outra solu¸ca˜o de (2.11) em D com ψ(z 0 ) = ω 0 , fazendo m = supz ∈K ψ(z ) ϕ1 (z ) e procedendo como acima obtemos para z γ ,
|
M n−1m n−1 s (n 1)!
|ψ(z ) − ϕ(z )| ≤ − provando que ψ(z ) ≡ ϕ(z ) em D.
∈ M − L − ≤ (n − 1)! m n 1
|
−
n 1
O leitor pode agora verificar facilmente que todos os resultados das se¸co˜es 2.1 e 2.2 mant´em-se v´alidos para o sistema (2.11).
70
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Observa¸c˜ ao 2.42 Suponhamos que o sistema (2.11) esteja definido numa bola aberta de centro z 0 ao A(z ) e b(z ) admitem expans˜ oes C e raio r > 0. Ent˜ ∞ ∞ A(z ) = m=0(z z 0 )m Am , b(z ) = m=0 (z z 0 )mbm v´alidas para z z 0 < r, onde Am ´e matriz n n constante e b m ´e vetor constante n-dimensional.
− ×
∈
−
| − |
Consideremos agora uma s´erie formal (isto ´e, uma s´erie para a qual n˜ ao sabemos em princ´ıpio se converge em algum ponto z = z 0 )
∞
(z
m=0
− z ) 0
m
am ,
(2.12)
onde am ´e vetor constante m-dimensional. Se seus coeficientes satisfazem para m as rela¸c˜oes de recorrˆencia
≥ 1
m 1
mam =
−
j=0
A j am− j −1 + bm−1 ,
(2.13)
ent˜ ao a s´erie (2.12) converge para z z 0 < r e ´e a´ı a u´nica solu¸ca˜o de (2.11) que no ponto z 0 assume o valor a 0 . Pois, se
| − |
ω(z ) =
∞
(z
m=0
m
− z ) 0
cm
(2.14)
´e a u´nica solu¸ca˜o de (2.11) em z z 0 < r com ω(z 0 ) = a 0 , ent˜ao claramente c = c 0. Para obter cm , m 1, substitu´ımos (2.14) e sua derivada ω′ (z ) = ∞ m=1 mcm (z m−1 m z 0 ) em (2.11) e igualamos os coeficientes de cada termo (z z 0 ) . Obtemos ent˜ ao que cm , m 1, deve satisfazer as rela¸c˜oes de recorrˆencia (2.13). Logo, cm = am, donde resulta a afirma¸c˜ao feita acima.
≥
≥
2.8
|− |
−
−
Oscila¸co ˜es mecˆ anicas e el´ etricas
O objetivo dessa se¸ca˜o ´e dar uma ilustra¸c˜ao simples de como as equa¸co˜es diferenciais lineares aparecem na descri¸ca˜o dos fenˆ omenos oscilat´ orios mecˆ anicos e el´etricos. Consideremos uma massa m presa a uma mola horizontal cuja outra extremidade est´a fixa, como na figura (2.9). Suponhamos que o atrito entre m e a superf´ıcie S ´e desprez´ıvel e que quando o sistema est´ a em repouso a massa ocupa a posi¸c˜ao x = 0. Pela lei de Hooke, quando uma mola ´e esticada ou comprimida, ela reage com uma for¸ca proporcional a` sua deforma¸c˜a o e que tende a restaurar sua posi¸c˜a o de equil´ıbrio. Isto significa que quando a massa est´ a em x, a for¸ca sobre ela ´e cx, onde c ´e a constante de rigidez da mola.
−
2.8 Oscila¸ c˜ oes mecˆ anicas e el´ etricas
71
m
S Figura 2.9: Lei de Hooke Da´ı, se o sistema ´e afastado de sua posi¸ c˜ao de equil´ıbrio e em seguida ´e solto, a equa¸c˜ao do movimento de m ´e dada, a partir da segunda lei de Newton, por d2 x m 2 + cx = 0, dt que ´e igual a
d2 x + ω02 x = 0, 2 dt
(2.15)
onde ω0 = mc . A solu¸ca˜o geral de (2.15) ´e x(t) = c 1 cos ω0 t + c2sen ω0t, ou seja, x(t) = R cos(ω0t
− α),
com R = c21 + c22 e α = arctg cc21 . Vemos ent˜ ao que o sistema oscila perpetuamente com per´ıodo T 0 = ω2π0 em torno de sua posi¸ca˜o de equil´ıbrio sendo que R x(t) R. Por causa disso, R ´e chamado amplitude m´ umero de oscila¸co˜es axima do sistema e ω0 , que denota o n´ num tempo igual a 2π chama-se frequˆencia natural do sistema. Notemos que a express˜ao ω0 = mc confirma quantitativamente a ideia de que a frequˆencia cresce com a rigidez da mola e diminui com a massa. O tipo de movimento que acabamos de considerar chama-se movimento harmˆ onico simples . Uma situa¸ca˜o mais realista ocorre se levarmos em conta o atrito produzido pela resistˆencia do meio. Em condi¸c˜oes ideais esta fric¸ca˜o ´e proporcional a` velocidade e tem sentido contr´ ario ao da velocidade dx . A equa¸ca˜o do movimento passa a ser dt ent˜ ao d2 x dx m 2 +k + cx = 0. (2.16) dt dt
− ≤
≤
√ √ k+ k −4mc k− k −4mc − − Como as ra´ızes de mλ + kλ + c = 0 s˜ao λ1 = e λ2 = , 2m 2m 2
temos trˆes casos a considerar:
2
2
72 (i) k2
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
− 4mc > 0; neste caso λ
1
< 0, λ 2 < 0 e a solu¸ca˜o geral de (2.16) ´e x(t) = c 1 eλ1t + c2 eλ2t .
(ii) k2
− 4mc = 0; neste caso λ
1
= λ 2 =
−
k e 2m
a solu¸c˜ao geral ´e
x(t) = c 1 e−kt/2m + c2 te−kt/2m. Em ambas as situa¸c˜oes o sistema tende exponencialmente para zero, sem oscilar. (iii) k2
− 4mc < 0; neste caso a solu¸c˜ao geral ´e √ 4mc − k x(t) = e − c cos t kt/2m
1
2m
ou seja, x(t) = Re −kt/2m cos
√ − √ − − 2
+ c2 sen
4mc k 2 t 2m
4mc k2 t 2m
,
α ,
onde R = c21 + c22 e α = arctg cc21 . Segue-se que o gr´ afico de x(t) ´e dado por uma fun¸c˜ao coseno que decresce exponencialmente, isto ´e, x(t) oscila enquanto tende para zero. Em qualquer dos trˆes casos x(t) tende rapidamente para a posi¸c˜ao de equil´ıbrio do sistema. Este ´e dito ent˜ ao um sistema amortecido. Quando interessa manter uma oscila¸ c˜ao n˜ ao trivial, aplicamos uma for¸ca externa F (t) = F 0 cos ωt `a massa m. Temos ent˜ao um sistema mecˆ anico for¸cado e a oscila¸ca˜o que resulta chama-se oscila¸cao ˜ for¸cada . A equa¸ca˜o do movimento ´e ent˜ ao d2 x dx m 2 +k + cx = F 0 cos ωt. dt dt
Uma solu¸ca˜o particular de (2.17) ´e dada por F 0 [(c (c mω 2 )2 + k2 ω 2 F 0 cos(ωt β ) = , (c mω 2 )2 + k2 ω2
g(t) =
−
−
2
− mω )cos ωt + kωsen ωt]
−
onde β = arctg c−kω . Logo, a solu¸c˜ao geral de (2.17) ´e mω2 x(t) = f (t) + g(t),
(2.17)
2.8 Oscila¸ c˜ oes mecˆ anicas e el´ etricas
73
onde f (t) ´e a solu¸ca˜o geral de (2.16). Como, por hip´ otese k > 0, f (t) tende rapidamente para zero, conclu´ımos que para todo t suficientemente grande, x(t) ´e dado praticamente por g(t), quaisquer que tenham sido as condi¸c˜oes iniciais. Por esse motivo, g(t) ´e dita a parte estacion´ aria da solu¸ca˜o e f (t) a parte transiente . Analisemos finalmente o caso em que o atrito pode ser desprezado (k = 0) e c a for¸ca externa ´e dada por F (t) = F 0 cos ω0 t, onde ω0 = . A equa¸ca˜ o do m movimento ´e ent˜ ao d2 x F 0 2 + ω x = cos ω0 t. 0 dt2 m
Uma solu¸ca˜o particular desta equa¸c˜ao ´e F 0 t sen ω0 t. 2mω0 Logo, x(t) = c 1 cos ω0 t + c2 sen ω0 t +
F 0 t sen ω0 t. 2mω0
Resulta que quando o atrito pode ser desprezado e a for¸ca externa tem a frequˆencia natural do sistema, as oscila¸c˜oes s˜ao ilimitadas quando t . Tal fenˆ omeno chama-se ressonˆ ancia . Suponhamos agora que ao inv´es de um sistema mecˆ anico temos um circuito el´etrico como na figura 2.10, com indutˆ ancia, resistˆencia e capacitˆ ancia respectivamente L, R e C . Se o gerador produz uma voltagem E (t) = E 0 sen ωt, ent˜ao a corrente I no circuito ´e dada pela equa¸ ca˜o
→ ∞
d2 I dI 1 L 2 + R + I = E 0 cos ωt, dt dt C que ´e semelhante a (2.17). Logo, a an´ alise desenvolvida anteriormente tamb´ em se aplica aqui. I R E (t)
L C
Figura 2.10: Circuito El´etrico
74
2.9
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Exerc´ıcios
1. Seja φ(t) uma matriz n n cujos elementos s˜ ao fun¸c˜oes de classe C 1 , n˜ao singular para cada t R. Prove que existe uma u ´ nica matriz A(t) cont´ınua ′ tal que φ(t) ´e matriz fundamental de x = A(t)x.
∈
×
2. Sejam a0 , . . . , an−1 fun¸co˜es cont´ınuas, reais (ou complexas), num intervalo I . A seguinte equa¸ca˜o linear dn x dn−1 x = a n−1 (t) n−1 + dtn dt
··· + a (t)x, chama-se “equa¸ca˜o linear de ordem n”. Considere C = C
∗
( )
0
n
n
(I, R) (ou n (I ; C)) o espa¸co vetorial das fun¸co˜es reais (ou complexas) de classe C n em I . Prove que:
C
(a) O conjunto das solu¸ co˜es de ( ) ´e um subespa¸co vetorial de n de dimens˜ ao n. (Sugest˜ao: escreva x1 = x, x2 = x′ , . . . , xn = x(n−1) e verifique que ( ) ´e equivalente a um sistema linear da forma x′ = A(t)x.)
∗
C
∗
(b) Sejam ϕ1 , . . . , ϕn em n e W (t) = W (ϕ1 , . . . , ϕn )(t) o determinante da i 1 i 1 matriz n n cuja i-´esima linha ´e formada por ddti ϕ11 , . . ., ddti ϕ1n , as derivadas de ordem i 1, i = 1, . . . , n, de ϕ1 , . . . , ϕn . Ent˜ao W (t) = t W (t0 )exp t0 an−1(s)ds desde que ϕ1 , . . . , ϕn sejam solu¸c˜o es de ( ). (W (t) ´e chamado o Wronskiano do sistema de fun¸ c˜oes ϕ1 , . . . , ϕn .) Prove que n fun¸co˜es ϕ 1, . . . , ϕn , solu¸co˜es de ( ), s˜ao linearmente independentes se, e somente se, para todo t, W (t) = W (ϕ1 , . . . , ϕn)(t) = 0.
C −
×
−
−
−
−
∗
∗
(c) Sejam ϕ , . . . , ϕ n fun¸c˜oes de C , tais que W (ϕ , . . . , ϕ )(t) = 0 em I . Prove que existe uma u´nica equa¸ca˜o da forma (∗) que tem {ϕ , . . . , ϕ } 1
n
n
1
n
1
n
como base de solu¸c˜oes.
3. Se A(t) ´e anti-sim´etrica para todo t I , i. e., ∗ A(t) = A(t), onde ∗ A(t) ´e a transposta de A(t), prove que toda matriz fundamental Φ(t) de x′ = A(t)x satisfaz a ∗ Φ(t)Φ(t) = C , constante. Em particular, se Φ(t0) ´e ortogonal para algum t0 , ent˜ao Φ(t) ´e ortogonal para todo t I .
∈
−
∈
Aplica¸ca ˜o: Prove o Teorema Fundamental da Teoria das Curvas : dadas duas fun¸co˜es cont´ınuas k(s) > 0 e τ (s), existe uma u ´ nica curva parametrizada pelo comprimento de arco (m´ odulo congruˆencia em R3 ) cuja curvatura e tor¸ca˜o s˜ao, respectivamente, k(s) e τ (s). (Sugest˜ao: primeiro lembramos alguns fatos da teoria das curvas. Sejam I um intervalo e x(s), s I , uma curva diferenci´ avel em R3 , tal que x′ (s) = 1,
∈
|
|
2.9 Exerc´ıcios
75
para todo s I . Se t(s) = x′ (s), ent˜ ao k(s) = t′ (s) ´e chamada curvatura de x. Denotemos por n(s) o vetor unit´ ario tal que k(s)n(s) = t′ (s). Dado R chamada tor¸ b(s) = t(s) n(s) existe uma fun¸ca˜o τ : I ca˜o, satisfazendo db (s) = τ (s)n(s). Note que t(s), n(s) e b(s) s˜ao unit´ arios e mutuamente ds ortogonais. As f´ormulas de Frenet s˜ ao:
−
∈ ×
|
|
→
dt dn = kn, = ds ds
−kt + τ b,
db = ds
−τn.
Para provar o teorema fundamental da teoria das curvas escrevemos a seguinte equa¸ca˜o diferencial matricial: d ds
− −
com a condi¸c˜ao inicial
t n b
0 k 0
=
t(0) n(0) b(0)
k 0 0 τ τ 0
1 0 0 0 1 0 0 0 1
=
t n b
,
, onde supomos que 0 I .)
∈
4. Sejam A, B,C e D matrizes de ordem n cujos elementos s˜ ao fun¸c˜oes cont´ınuas, reais ou complexas, definidas num intervalo I . (a) Seja U = U (t) uma matriz fundamental de x′ = A(t)x. Prove que a inversa de U satisfaz a equa¸c˜ao y ′ = yA(t).
−
(b) Sejam U e V solu¸c˜oes de X ′ = A(t)X , X (t0 ) = E e X ′ = X B(t), X (t0 ) = E . Prove que Φ(t) = U (t) X 0 V (t) ´e a solu¸ca˜o de X ′ = A(t)X + XB(t), X (t0 ) = X 0 .
· ·
(c) Seja U, V uma solu¸ca˜o do seguinte sistema
{
}
X ′ = A(t) X + B(t)Y Y ′ = C (t) X + D(t)Y.
· ·
Prove que se V ´e invers´ıvel em I , ent˜ao W (t) = U (t) V −1 (t) ´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao
·
Z ′ = B(t) + A(t) Z
· − Z · D(t) − Z · C (t) · Z.
5. Seja A(t) cont´ınua em I = [0, s]. Suponha que x′ = A(t)x
∗
( )
tem a solu¸ca˜o nula como u ´ nica solu¸ca˜o de per´ıodo s. Ent˜ao para toda fun¸c˜ao cont´ınua b(t) existe uma u ´ nica solu¸ca˜o ϕb , de per´ıodo s, de x′ = A(t)x + b(t).
76
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Mais ainda, existe uma constante C > 0, independente de b, tal que ϕb C b . (Sugest˜ao: use o fato de ψ(t) = 0 ser a u ´ nica solu¸ca˜o de ( ) que satisfaz ψ(0) = ψ(s) para provar que se φ(t) ´e matriz fundamental de ( ) tal que φ(0) = E , ent˜ ao φ(0) φ(s) = E φ(s) ´e invers´ıvel. Depois use a f´ ormula de “varia¸c˜ao de parˆ ametros” para provar que se ϕ(t, 0, x0 ) ´e solu¸c˜ao de x′ = A(t)x + b(t) e satisfaz ϕ(0, 0, x0 ) = ϕ(s, 0, x0 ), ent˜ ao
| | ≤
||
−
∗ ∗
−
x0 = (E − φ(s))−1 φ(s)
s
φ−1 (u)b(u)du .)
0
6. Seja A(t) cont´ınua e peri´odica de per´ıodo s em R. Suponha que ( ) (Exerc´ıcio 5) tem ϕ 0 como u´nica solu¸ca˜o peri´ odica de per´ıodo s. Prove que existe odica de per´ıodo E, peri´ δ > 0 tal que para toda fun¸ca˜o cont´ınua f : R E s na primeira vari´ avel com D2 f (t, x) < δ para todo (t, x), ent˜ ao
∗
≡
|
× →
|
x′ = A(t)x + f (t, x) tem como u´nica solu¸ca˜o ϕf peri´odica de per´ıodo s. Prove tamb´em que se f 0 uniformemente, ent˜ ao ϕ f 0 uniformemente. (Sugest˜ao: use o Exerc´ıcio 5 para concluir que, para toda fun¸ c˜ao cont´ınua b de per´ıodo s, existe uma u´nica solu¸c˜ao ϕ b de per´ıodo s, de x ′ = A(t)x + f (t, b(t)). Prove que a aplica¸ca˜o b ϕb ´e uma contra¸ca˜o, se δ ´e pequeno.)
→
→
→
7. Considere o sistema n-dimensional x′ = A(t)x tal que A(t) pode ser desenvolvida em s´erie de potˆencias A(t) =
∞
Amtm
m=0
Rn para t ( r, r), onde Am ´e matriz constante n n. Seja x : ( ε, ε) m uma solu¸ca˜o do sistema com desenvolvimento em s´erie x(t) = ∞ m=0 am t , am Rn . Mostre que
∈ −
×
∈
−
→
m
(m + 1)am+1 =
j=0
para todo m em ( r, r).
−
Am− j am
∗
( )
≥ 0. Deduza que o desenvolvimento em s´erie de x(t) ´e convergente
2.9 Exerc´ıcios
77
(Sugest˜a o: sejam 0 < ρ1 < r. Da convergˆencia absoluta da s´erie em t = ρ, deduzir que existe c > 0 tal que
A
m
≤ c
1 ρ
∞ A tm m=0 m
m
, m
≥ 0.
Da´ı , usando ( ), provar por indu¸c˜ao, em m, que existe K > 0 tal que
∗
|a | ≤ m
1 K ρ1
m
.)
8. Suponha que f ´e de classe C 1 em R E e que para todo (t0 , x0 ) R E, ϕ(t, t0 , x0 ), solu¸c˜ao de x ′ = f (t, x), x(t0 ) = x 0 , est´a definida para todo t R.
×
∈ × ∈
∂ϕ (a) Prove que se D3 ϕ = ∂x (t, t0 , x0 ) existe e ´e cont´ınua, ent˜ ao X (t) = 0 ′ D3 ϕ(t, t0 , x0 ) ´e solu¸ca˜o da equa¸c˜ao matricial X = D2f (t, ϕ(t, t0 , x0 ))X , X (t0 ) = E (a matriz identidade). (Sugest˜a o: note que ϕ(t, t0 , x0 ) ´e solu¸c˜a o de x′ = f (t, x), x(t0 ) = x0 se t e s´o se ϕ(t, t0 , x0 ) = x 0 + t0 f (s, ϕ(s, t0 , x0 ))ds. Use ent˜ao o teorema de Leibnitz: sejam [a, b] intervalo em R, U Rn aberto e g : [a, b] U R p cont´ınua com ∂ 2 g : [a, b] U (Rn , R p ) cont´ınua. Ent˜ao φ : U R p b b definida por φ(x) = a g(t, x)dt ´e de classe C 1 e φ′ (x) = a ∂ 2 g(t, x)dt.)
⊂
× → L
× → →
(b) Suponha que f : R E Λ e de classe C 1 , onde E e Λ s˜ao espa¸cos euE´ clidianos e que para todo λ Λ, ϕ(t, t0 , x0 , λ), a solu¸c˜ao de x′ = f (t,x,λ), ∂ x(t0 ) = x 0 , est´a definida para todo t R. Se D 4 ϕ = ∂λ ϕ(t, t0 , x0 , λ) existe e ´e cont´ınua, prove que Y (t) = D4 ϕ(t, t0 , x0 , λ) ´e solu¸ca˜o da equa¸c˜ao matricial
× × → ∈
∈
Y ′ = D 2 f (t, ϕ(t, t0 , x0 , λ), λ)Y + D3 f (t, ϕ(t, t0 , x0 , λ), λ), Y (t0 ) = 0. R de classe C 1 com f < M em R2 . Prove que ϕ(t, t0 , x0 ) (c) Seja f : R2 est´a definida e ´e de classe C 1 em R3 . Demonstre que
→
| |
∂ϕ (t, t0 , x0 ) = e ∂x 0
t t0
∂f/∂x(s,ϕ(s,t0 ,x0 ))ds
.
(Sugest˜ao: defina a sequˆencia de fun¸c˜oes ϕi como segue:
{ }
ϕ0 (t) = x0 ,
t
ϕi (t) = x0 +
t0
f (s, ϕi−1 (s))ds.
78
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares Usando o mesmo argumento do Teorema 2.1 da se¸c˜ao 2.2 prove que ϕ(t) = limi ϕi (t) ´e solu¸c˜a o de x′ = f (t, x), x(t0) = x0 . Depois use (a) para escrever
2 t ∂ ϕ(s,t0 ,x0 ) ∂t∂x0 ds = ∂ϕ(s,t0 ,x0 ) t0 ∂x 0
t
D2 f (s, ϕ(s, t0 , x0 ))ds .)
t0
9. Sejam
A =
4 0 0 0 0
1 4 0 0 0
0 1 4 0 0
0 0 0 1 1
−
0 0 0 1 1
B=
−
1 0 0 0 0
1 1 0 0 0
−
0 0 2 0 0
0 0 0 0 3
− 0 0 0 3 0
(a) Encontrar uma base de solu¸ c˜oes para x ′ = Ax e provar que toda solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao tende para 0 quando t .
→ −∞
(b) Calcular a solu¸c˜ao ϕ de x′ = Bx, x(0) = (a1 , a2 , a3 , a4 , a5). Provar que ϕ(t) ´e limitada se, e somente se, a1 = a 2 = a 3 = 0.
|
|
t
10. Seja p(t) um polinˆomio em R. Defina p0 (t) = p(t), p1(t) = 1 + 0 p 0(s)ds, t . . ., pk (t) = 0 p k−1(s)ds. Prove que pk (t) converge uniformemente em cada intervalo compacto de R, quando k . Calcule limk→∞ pk (t).
→ ∞
11. Se V ´e um subespa¸c o de E = Rn ou Cn , invariante por A, prove que V ´e tamb´em invariante por e tA , para todo t. (V ´e invariante por A se Av V para todo v V .)
∈
∈
12. Prove que: (a) eA
| | ≤ e|
|; (b) det eA = e(tra¸co A) .
A
13. Suponha que µ n˜ao ´e valor pr´oprio de A. Prove que para todo b, a equa¸ca˜o x′ = Ax + eµt b tem uma solu¸c˜ao da forma ϕ(t) = veµt. 14. Encontre a solu¸ca˜o de x′′ + x = g(t), x(t0 ) = x0 , x′ (t0 ) = x′0 onde g ´e uma fun¸ca˜o cont´ınua em R. (Sugest˜a o: use o Teorema 2.9. Melhor ainda, desenvolva uma f´ ormula de varia¸ca˜o dos parˆ ametros para equa¸c˜oes de segunda ordem.) 15. Seja Φ(t) uma matriz de n n fun¸c˜oes de classe C 1 . Se Φ(0) = E e Φ(t + s) = Φ(t)Φ(s) para todo t, s em R, prove que existe uma u ´ nica matriz A tal que Φ(t) = e tA . (Sugest˜ao: considere A = Φ′ (0).)
×
2.9 Exerc´ıcios
79
16. Seja A(t) uma matriz n todo t
× n de fun¸co˜es cont´ınuas num intervalo de R. Se para
t
t
A(s)ds A(t) = A(t)
t0
prove que Φ(t) = e
t t0
A(s)ds ,
t0
A(s)ds
´e uma matriz fundamental de x′ = A(t)x. (Sugest˜ao: Imite a prova da Proposi¸c˜ao 2.11, tendo em conta que a condi¸ca˜o acima implica d dt
t
m
A(s)ds
t
= mA(t)
t0
m 1
A(s)ds
−
, m = 1, 2,
t0
· ·· .)
17. Sejam A, B matrizes reais ou complexas. Prove que et(A+B) = etA etB , para todo t R se, e somente se, AB = BA.
∈
18. Sejam A, B matrizes n n de n´ umeros reais ou complexos. Defina o colchete de A e B por [A, B] = BA AB. Se [A, [A, B]] = [B, [A, B]] = 0, prove que para todo t R 2 tB tA t(A+B) t2 [A,B] e e = e e .
×
∈
−
(Sugest˜ao: verifique que Φ(t) = e−t(A+B) etB etA ´e solu¸ca˜o de X ′ = t[A, B]X .) 19. Considere o seguinte sistema complexo em C2 : dz 1 dz 2 = ω 1 z 1 , = ω 2 z 2 , ω1 = 0. dt dt
Denote por ϕ(t, z 1 , z 2 ) a solu¸c˜ao deste sistema tal que ϕ(0, z 1 , z 2 ) = (z 1 , z 2 ). Seja T 2 = (z 1, z 2 ); z 1 = z 2 = 1 o toro bidimensional em C2 = R4 , T 2 = S 1 S 1 .
×
{
| | | |
}
(a) Prove que T 2 ´e invariante por ϕ (i. e., ϕ(t, z 1 , z 2 ) T 2 para todo t, se (z 1 , z 2 ) T 2 ), se, e somente se, Re (ω1 ) = Re (ω2 ) = 0.
∈
∈
C2 , se, e (b) Prove que ϕ(t, z 1 , z 2 ) ´e peri´odica em t, para todo (z 1 , z 2) somente se, Re (ω1) = Re (ω2 ) = 0 e Im (ω2 )/Im (ω1 ) ´e racional.
∈
(c) Se Re (ω1 ) = Re (ω2) = 0 e Im (ω2 )/Im (ω1 ) ´e irracional, prove que para todo (z 1 , z 2 ) T 2 a aplica¸ca˜o t ϕ(t, z 1 , z 2) ´e biun´ıvoca e sua imagem ´e densa em T 2 .
∈
→
(d) Seja S 3 = (z 1 , z 2 ) C2 ; z 1 2 + z 2 2 = 1 a esfera tridimensional em C2 = R4 . Prove que ´ e poss´ıvel decompor S 3 como uni˜ ao disjunta de curvas simples e fechadas, i.e, curvas homeomorfas a c´ırculos. (Sugest˜a o: (c) Defina ξ (z 2 ) = e2πiω2/ω1 z 1, ξ : S 1 S 1 . Prove que para todo z 2 S 1 , θ(z 2 ) = z = ξ n (z 2 ), n Z ´e denso em S 1 . Prove que o
{
∈
∈
| | | |
{
∈ }
}
→
80
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares conjunto dos pontos onde a solu¸c˜ao ϕ(t, 1, z 2 ) intercepta 1 S 1 T 2 ´e 1 θ(z 2 ). (d) Considere as solu¸co˜es da equa¸ca˜o acima com Re (ω1) = Re (ω2 ) = 0 e Im (ω2 )/Im (ω1 ) racional. Observe que S 3 ´e invariante por ϕ.)
{ } × ⊂
{ } ×
20. Seja x′ = Ax um sistema bidimensional real. Em termos de ∆ = detA e τ = tra¸co A, decida quando este sistema define uma sela, n´ o est´ avel, foco inst´avel, n´o impr´oprio, centro, etc. Por exemplo, se ∆ < 0, temos uma sela, etc. Ilustre graficamente suas conclus˜ oes. 21. Seja o conjunto das matrizes reais 2 2 tais que o sistema x ′ = Ax, A , define (a) uma sela; (b) n´ o atrator; (c) n´ o fonte; (d) foco atrator; (e) n´ o impr´oprio; (f) centro, etc. Prove que ´e aberto nos casos (a), (b), (c), (d) e tem interior vazio no caso (e).
U
×
∈ U
U
U
22. Fa¸ca um esquema aproximado das solu¸co˜es de x′ = Ax nos seguintes casos: 2 1 1 8 1 1 (1) A = (2) A = (3) A = 3 4 1 1 3 2
−
−
− − −
2 0 0 0 3 0 (4) A = (5) A = (6) A = 0 1 3 Nos casos (1) a (5) diga se o sistema define uma sela, centro, foco est´ avel, n´o inst´avel, etc. 2 1
3 2
−
5 3 3 1
−
23. Equa¸coes ˜ lineares de ordem superior com coeficientes constantes (I) Caso das ra´ızes simples
Defini¸ca ˜o A equa¸c˜ao linear homogˆenea de n-´esima ordem com coeficientes constantes ´e a equa¸c˜ao da forma z (n) + a1 z (n−1) +
(1)
·· · + a − z n 1
+ an z = 0,
(I.1)
onde z ´e a fun¸c˜ao inc´ ognita na vari´ avel independente t e os coeficientes a 1 , a2 , . . ., an s˜ao constantes (reais ou complexas). Tamb´ em indicamos que z ( j) ´e a j-´esima derivada de z . (a) Escrever a equa¸ ca˜o (I.1) na forma de uma equa¸c˜ao matricial (X ′ = AX , sendo A uma matriz com coeficientes constantes). omio Defini¸ca ˜o Dada a equa¸ca˜o (I.1), o polinˆ L( p) = p n + a1 pn−1 +
·· · + a − p + a n 1
n
2.9 Exerc´ıcios
81
´e chamado polinˆ omio caracter´ıstico da dita equa¸ ca˜o. (b) Suponhamos que o polinˆ omio caracter´ıstico da equa¸ c˜a o (I.1) n˜ a o tem ra´ızes m´ ultiplas e que as ra´ızes s˜ ao λ1 , λ2 , . . . , λn . Se consideramos z 1 = e λ1t , z 2 = e λ2 t , . . . , zn = e λn t ,
(1)
ent˜ ao para constantes complexas quaisquer c 1 , c2 , . . . , cn , a fun¸ca˜o z = c 1 z 1 + c2 z 2 +
n
··· + c z
n
(2)
´e solu¸ca˜o da equa¸c˜a o (I.1). Esta solu¸ c˜ao ´e a solu¸ca˜o geral no sentido seguinte: cada solu¸ca˜o da equa¸c˜ao (I.1) pode ser obtida de (2) por uma apropriada elei¸ca˜o das constantes c1 , c2 , . . . , cn . Aqui ditas constantes, chamadas constantes de integra¸c˜ ao, est˜ao definidas de modo u´nico para cada solu¸ca˜o z dada. As fun¸co˜es de (1) constituem uma base para o espa¸co vetorial de solu¸c˜oes de (I.1) e chamam-se sistema fundamental de solu¸c˜ oes de (I.1). (c) Sejam z 1 , z 2 , . . . , zn
(3)
um sistema de n vetores complexos linearmente independentes em um espa¸co n-dimensional que satisfa¸cam z 1 = z 2 , . . . , z 2k −1 = z 2k , z j = z j , j = 2k + 1, . . . , n ,
(4)
sendo z i = conjugado de z i . Ent˜ao o vetor z = c1 z 1 +
n
··· + c z
n
(5)
´e real se e s´ o se os coeficientes de todo par de vetores conjugados s˜ ao conjugados e os coeficientes de todos os vetores reais s˜ ao reais. Esta proposi¸ca˜o ser´ au ´til no exerc´ıcio seguinte. (d) Suponhamos que os coeficientes do polinˆ omio caracter´ıstico L( p) de (I.1) s˜ao reais. Ent˜ ao para que a solu¸c˜ao (2) de (I.1) seja real ´e necess´ ario e suficiente que os coeficientes de pares de solu¸ co˜es complexas conjugadas sejam conjugados e os coeficientes de solu¸ c˜oes reais sejam reais. Observe que se a raiz λ de L( p) ´e real, e λt ´e solu¸c˜ao real, se λ ´e complexa e λt e e λt s˜ao solu¸co˜es mutuamente conjugadas.
82
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
(Sugest˜ao: Denotemos por Z k o vetor com coordenadas z k (0), z k′ (0), . . ., (n−1) (0) (sendo z k como em (1)). Ent˜ ao ´e f´acil ver que Z 1, Z 2 , . . . , Zn z k s˜ao linearmente independentes e assim pode-se usar o Exerc´ıcio (c) para provar a necessidade da condi¸ca˜o.) (e) Provar que se substituirmos cada par de solu¸ c˜oes complexas conjugadas λt λt a rias Re(eλt ), Im(eλt ) no e , e de (I.1) pelas partes reais e imagin´ sistema fundamental (1), obtemos um sistema fundamental de solu¸ co˜es reais. (f) Se as solu¸co˜es (1) satisfazem
{
}
z 1 = z 2 , . . . , z 2k −1 = z 2k , z 2k−1 = z 2k+1 , . . . , z n = z n , ent˜ ao cada solu¸ca˜o real z pode ser escrita na forma z = ρ1 eµ1t cos(ν 1t + α1 ) + + ρk eµk t cos(ν k t + αk ) +c2k+1 eλ2k+1t + + cn eλn t ,
···
···
onde ρ1 , . . . , ρk , α1 , . . . , αk , c2k+1 , . . . , cn s˜ao constantes reais arbitr´ arias. Observe que, intuitivamente, para j 1, 2, . . . , k , ν j d´a um car´ater oscilat´orio a` solu¸c˜ao com frequˆencia ν j e µ j tende a afastar ou aproximar a solu¸c˜ao da origem segundo seja µ j > 0 ou µ j < 0.
∈{
(II) Caso das ra´ızes m´ ultiplas Defini¸c˜ ao Seja L( p) = a 0 pn +a1 pn−1 +
}
·· ·+a − p+a um polinˆomio arbitr´ario n 1
n
com coeficientes constantes (reais ou complexos) com respeito ao s´ımbolo p, e seja z uma certa fun¸c˜ao real ou complexa na vari´ avel real t. Definimos: L( p)z = a 0 z (n) + a1 z (n−1) +
··· + a − z ′ + a z. n 1
n
(6)
Pela nota¸c˜ao introduzida na equa¸ca˜o (I.1), (6) pode ser escrita na forma L( p)z = 0, onde L( p) = a 0 pn + a1 pn−1 +
(7)
·· · + a − p + a . n 1
n
(g) Se L( p) e M ( p) s˜ao dois polinˆ omios arbitr´ arios no s´ımbolo p (ou, como em geral se diz, no operador diferencial p), z 1 , z 2 e z s˜ao fun¸co˜es de t e λ ´e qualquer n´umero complexo, ent˜ ao temos as identidades L( p)(z 1 + z 2 ) (L( p) + M ( p))z L( p)(M ( p)z ) L( p)eλt L( p)(eλt z )
= = = = =
L( p)z 1 + L( p)z 2 L( p)z + M ( p)z (L( p)M ( p))z L(λ)eλt eλt L( p + λ)z
2.9 Exerc´ıcios
83
(h) Seja L( p) um polinˆomio arbitr´ ario no s´ımbolo p, e seja a fun¸ca˜o ω r (t) na vari´avel real t definida pela f´ ormula ωr (t) = L( p)tr eλt , onde λ ´e um n´ umero complexo. Temos que, se λ ´e raiz de multiplicidade k de L( p), ent˜ ao as fun¸co˜es ω 0 (t), ω1 (t), . . . , ωk−1 (t) s˜ao identicamente zero. (i) Seja L( p)z = 0 uma equa¸ca˜o linear homogˆenea de n-´esima ordem com coeficientes constantes. Ademais, sejam λ 1 , λ2 , . . . , λm o conjunto de ra´ızes mutuamente distintas do polinˆ omio L( p), a raiz λ j tendo multiplicidade k j , assim que ki = n. Se considerarmos
z 1 = e λ1 t , z 2 = te λ1 t , . . . , zk 1 = tk1−1 eλ1t ; z k1+1 = e λ2t , , . . . , zk1 +k2 = t k2−1 eλ2 t ; , . . . , zn = tkm−1 eλmt
(8)
ent˜ a o as fun¸c˜oes (8) s˜ ao solu¸co˜es da equa¸ca˜o L( p)z = 0; al´em disso a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao L( p) = 0 tem a forma z = c 1 z 1 +
n
· ·· + c z .
(9)
n
sendo c1 , c2 , . . . , cn constantes complexas. (j) Suponhamos que os coeficientes do polinˆ omio caracter´ıstico L( p) da equa¸c˜ao L( p)z = 0 s˜ao reais. A fim de que a solu¸ca˜o (9) seja real, ´e necess´ ario e suficiente que os coeficientes das solu¸ c˜o es reais sejam reais, e os coeficientes de pares de solu¸co˜es complexas conjugadas sejam complexos conjugados. (k) Sejam tr eλt e tr eλt duas solu¸co˜es complexas conjugadas de (8). No caso de uma solu¸ca˜o real z , a parte da soma (9) correspondente a estas solu¸ c˜oes pode ser escrita na forma zˆ = ct r e(u+iv)t + ctr e(u−iv)t . Se consideramos c = 21 ρeiα , teremos zˆ = ρt r eut cos(vt + α).
(10)
Deste modo ´e poss´ıvel substituir cada par de solu¸ c˜oes complexas conjugadas que aparecem em (9) por uma fun¸c˜ao real da forma (10) contendo duas constantes reais arbitr´ arias ρ e α.
84
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
24. Polinˆ omios est´ aveis e equa¸c˜ oes lineares n˜ ao homogˆ eneas com coeficientes constantes Defini¸ca ˜o Um polinˆomio L( p) ´e dito est´ avel se todas as suas ra´ızes tˆem parte real negativa. R, ´ Prove que se pn + a 1 pn−1 + + a n , com ai e est´avel, ent˜ao ai > 0 para todo i. Demonstre tamb´em que toda solu¸ c˜ao ϕ da equa¸c˜ao diferencial L( p) = 0, onde L ´e est´ avel, ´e tal que ϕ(t) 0 se t .
···
∈
→
→∞
(a) O polinˆ omio L( p) = a 0 p3 + a1 p2 + a2 p + a3 , a0 > 0, com coeficientes reais ´e est´ avel se e s´o se os n´ umeros a1 , a2 , a3 s˜ao positivos e a1 a2 > a0 a3 .
Defini¸ca ˜o Um quase-polinˆomio ´e qualquer fun¸c˜ao f (t) que pode ser escrita na forma F (t) = f 1 (t)eλ1t + f 2 (t)eλ2t + + f m (t)eλmt , (1)
···
onde λ 1 , λ2, . . . , λm s˜ao n´ umeros complexos e f 1 (t), f 2 (t), . . . , fm (t) s˜ao polinˆomios em t. Nos exerc´ıcios seguintes estudaremos a equa¸ ca˜o L( p)z = F (t),
(2)
onde F (t) ´e um quase-polinˆo mio. Junto com a equa¸ c˜ao (2) estudaremos a equa¸ca˜o homogˆenea correspondente L( p)u = 0.
(3)
(b) Se zˆ ´e alguma solu¸c˜a o da equa¸c˜ao (2) (ou tamb´em dita, uma solu¸ c˜ao particular), ent˜ ao uma solu¸ca˜o arbitr´ aria z desta equa¸ca˜o pode ser escrita na forma z = zˆ + u, onde u ´e solu¸c˜ao da equa¸ca˜o (3). (c) Consideremos a equa¸ca˜o n˜ ao-homogˆenea L( p)z = f (t)eλt
(4)
na qual f (t) ´e um polinˆ omio de grau r em t e λ ´e um n´ umero complexo. Seja k = 0 caso L(λ) = 0 e seja k a multiplicidade da raiz λ se L(λ) = 0. Nestas condi¸co˜es, existe uma solu¸ca˜o particular da equa¸c˜ao (4) da forma
z = t k g(t)eλt , sendo g(t) um polinˆomio em t de grau r.
(5)
2.9 Exerc´ıcios
85
25. Seja A uma matriz n
× n de n´umeros reais ou complexos.
n
(a) Prove que limn→∞ E + An = e A, E = identidade. n (Sugest˜ao: desenvolver E + An usando o Teorema do Binˆ omio de New∞ ton e comparar com eA = i=0 Ai /i!.) Rn e xk+1 = xk + f (xk )∆t, (b) Sejam f um campo vetorial em Rn, x0 k = 1, . . . , n 1, onde ∆t = t/n. A poligonal cujos v´ertices s˜ ao os pontos xi chama-se poligonal de Euler. Se f (x) = Ax, prove que para todo t R o extremo xn = x n(t) desta poligonal converge para eAt x0 . n (Sugest˜ao: verifique que xn (t) = E + At x0 .) n
−
∈
∈
d (c) Prove que dθ det(E + θA) θ=0 = tra¸ co A. (Sugest˜ao: Se λ1 , λ2 , . . . , λn s˜ao os autovalores de A, ent˜a o det (E +θA) = n n 2 i=1 (1 + θλ i ) = 1 + θ i=1 λi + O(θ ).)
|
(d) Usando as ideias do exerc´ıcio prove que det (eA ) = e tra¸coA . n (Sugest˜ao: Note que det eA = det limn→∞ E + An e que n n det E + An = 1 + n1 tra¸co A + 0 n12 .)
(e) Em que condi¸ c˜oes nos valores pr´ oprios de eA a matriz A define um sistema linear atrator, uma fonte, um sistema hiperb´ olico? 26. Se x′ = Ax e x′ = Bx s˜ao atratores e AB = BA, prove que x′ = (A + B)x tamb´em ´e atrator. Reformulando se nescess´ ario a conclus˜ ao, desenvolva a mesma quest˜ ao mudando atrator por fonte e por sistema hiperb´ olico. (Sugest˜ao: use o Teorema 2.30). 27. Seja f o campo vetorial associado a um fluxo ϕ(t, x) = ϕ t (x), de classe C 2 em Rn , isto ´ e, f (x) = ϕ′ (0, x). Prove que para todo subconjunto de Rn aberto limitado B, v(t) = volume [ϕt (B)] satisfaz a dv (t) = ϕt (B) div f . dt Lembramos que vol [D] = Rn χD , onde χD = 1 em D e χD = 0, fora de D, ∂f i e que a divergˆencia de f = (f 1 , . . . , fn ) ´e definida como ni=1 ∂x = tra¸ c o de i Df . Em particular, se div f 0, vol[ϕt (B)] = vol [B] para todo t. Isto ´e, ϕt preserva o volume. (Sugest˜a o: Aplicar a f´ ormula de mudan¸ c a de vari´ aveis para obter v(t) = det (Dϕt ) e usar a F´ ormula de Liouville, Proposi¸ca˜o 2.10, para uma matriz B fundamental do sistema linear x′ = Df (ϕt (x0 ))x.)
≡
× n identificado com R
28. Sejam M n o conjunto das matrizes de ordem n S = A M n; x′ = Ax ´e hiperb´olico . Mostre que S ´e aberto e denso em M n .
{ ∈
}
n2
e
29. Sejam x′ = Ax um sistema hiperb´olico com ´ındice de estabilidade s. Escreva E s = x Rn tal que etA x 0 quando t e E u = x Rn tal que
{ ∈
→
→ ∞}
{ ∈
86
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
etA x 0 quando t . s Mostre que E ´e um subespa¸co vetorial de dimens˜ ao s; e Rn = E s
→
→ −∞}
u
⊕ E . 30. M denota o conjunto de matrizes de ordem n × n. Seja C = {A ∈ M que x′ = Ax ´e hiperb´olico e tem ´ındice de estabilidade i}. n
i
n
tal
Mostre que C i ´e aberto em M n . Lembre que i denota o n´ umero de valores pr´oprios com parte real negativa.
31. Um sistema linear x′ = Ax chama-se estruturalmente est´ avel se existe uma vizinhan¸ca V (A) tal que para toda matriz B V (A) o sistema linear x ′ = Bx ´e topologicamente conjugado a x ′ = Ax. Prove que x ′ = Ax ´e estruturalmente est´avel se, e somente se, x′ = Ax ´e hiperb´olico. (Sugest˜a o: para a prova de observe que se λ ´e autovalor de A e v ´e um autovetor correspondente a λ, ent˜ao ϕ(t) = eλt v ´e solu¸c˜a o de Ax = x′ . Al´em disso, ϕ(t) = eαt v se α = Re (λ).)
∈
⇒
| |
||
32. Prove que x′ = Ax ´e um atrator se e s´ o se existe uma forma quadr´ atica q definida positiva tal que Dq (x) Ax < 0 para todo x = 0.
·
33. Seja C uma matriz n n complexa com det C = 0. Prove que existe uma matriz B complexa tal que C = e B . (Sugest˜ao: use a forma de Jordan complexa de C .)
×
34. Para toda matriz real D com det D = 0 prove que existe uma matriz real B tal que eB = D 2 . (Sugest˜a o: observe que se A ´e uma matriz complexa e A denota a sua con jugada, ent˜ ao eA = (eA). Use ent˜ ao o exerc´ıcio 33. Alternativamente, use a Forma de Jordan Real.)
35. (Teorema de Floquet) Seja A(t) peri´ odica de per´ıodo τ como no Exemplo 2.8(b) da se¸c˜a o 2. Prove que existem uma matriz P = P (t) peri´ odica de per´ıodo τ e uma matriz B, em geral complexa, tais que, para a matriz fundamental φ(t), tem-se φ(t) = P (t)eBt . (Sugest˜a o: se φ(t + τ ) = φ(t)C , defina B por C = eBt e P (t) = φ(t)e−Bt .) 36. Seja A(t) como no exerc´ıcio 35. Prove que existe uma matriz peri´ odica P (t) tal que a transforma¸ca˜o ϕ(t) P (t)ϕ(t) transforma biunivocamente as solu¸c˜oes de x′ = A(t)x nas solu¸c˜oes de uma equa¸ca˜o linear x′ = Bx com coeficientes constantes.
→
2.9 Exerc´ıcios
87
37. Mostre que as partes reais dos valores pr´ oprios de B n˜ao dependem da matriz fundamental φ escolhida. Estes valores pr´ oprios chamam-se expoentes caracter´ısticos da equa¸ca˜o x′ = A(t)x. Prove que eles tˆem parte real negativa se, e somente se, φ(t) Ke−µt para certos K , µ > 0 (veja o exerc´ıcio anterior).
| | ≤
38. Um sistema linear peri´odico x′ = A(t)x chama-se hiperb´ olico se os valores pr´oprios da matriz B obtida no exerc´ıcio 36 tˆem parte real diferente de zero. Prove que esta defini¸ca˜o n˜ ao depende de P (t) e desenvolva uma teoria an´ aloga `a das se¸co˜es 2.5 e 2.6 para estes sistemas. 39. Achar a u´nica solu¸c˜ao limitada da equa¸c˜ao x′′ + bx′ + ω02 x = A cos ωt, onde b > 0, ω0 > 0 e b2 4ω02 < 0. Se x ω : R e esta solu¸c˜ao, definir f (ω) = supt∈R xω (t) . Para que valor de R´ ω esta fun¸ca˜o toma seu valor m´ aximo? (Sugest˜ao: Tentar uma solu¸ca˜o da forma x(t) = k 1 sen ωt + k2 cos ωt. Compare com a parte estacion´ aria das oscila¸c˜oes for¸cadas e tamb´em com o fenˆ omeno de ressonˆancia tratados na se¸ca˜o 2.8.)
→
−
|
|
88
2. Equa¸co ˜es Diferenciais Lineares
Cap´ıtulo 3 Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais Iniciaremos neste cap´ıtulo o estudo de sistemas de equa¸ c˜oes diferenciais da forma
x′1 = X 1 (x1 , . . . , xn ), x′2 = X 2 (x1 , . . . , xn ), .. .
(3.1)
x′n = X n (x1 , . . . , xn ),
chamados autˆ onomos (isto ´e, as fun¸co˜es X i s˜ao independentes de t). N˜ao procuraremos solu¸co˜es na forma expl´ıcita ou mesmo aproximada, mas propomo-nos a determinar, pelo estudo direto das fun¸ c˜oes X i , o retrato de fase de (3.1), isto ´e, a forma global da fam´ılia de solu¸co˜es m´aximas de (3.1). No Cap´ıtulo 2 fizemos uma descri¸c˜ao completa do retrato de fase de um sistema linear hiperb´ olico por meio do estudo da exponencial etA . Entretanto, quando os X i ’s s˜a o n˜ ao lineares, a determina¸c˜ao do retrato de fase de (3.1) tem real interesse, pois na maioria das vezes n˜ao ´e poss´ıvel encontrar explicitamente as solu¸ c˜o es e, por outro lado, as solu¸c˜oes aproximadas convergem para solu¸ c˜oes verdadeiras somente em intervalos compactos, sendo a convergˆencia tanto mais lenta quanto maior for o comprimento do intervalo. O pioneiro no estudo do retrato de fase de um sistema de equa¸co˜es diferenciais foi H. Poincar´ e, que encontrou em problemas da Mecˆ anica Celeste a motiva¸ca˜o inicial. Um dos problemas que recebeu sua particular aten¸ c˜ao foi o da estabilidade do sistema solar, sendo o movimento modelado pelas leis de Newton. V´arias quest˜ oes s˜ao relevantes para o estudo global das solu¸ c˜oes de (3.1). Desejase saber, por exemplo, quais solu¸c˜oes x(t) = (x1 (t), , xn(t)) de (3.1) s˜ ao peri´ odicas ou permanecem numa regi˜ ao limitada do espa¸co. Ou ent˜ ao, se convergem para um ponto de equil´ıbrio (que ´e uma solu¸c˜a o constante) ou para uma o´rbita peri´ odica quando t ou t . Os m´ etodos desenvolvidos para responder estas
···
→∞
→ −∞
89
90
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
quest˜oes constituem um corpo de resultados que Poincar´e chamou de Teoria Qualitativa. Atualmente esta teoria ´e significativa para muitos problemas n˜ ao lineares que transcendem a` Mecˆ anica Celeste. Assim, no estudo matem´ atico da dinˆ amica das popula¸c˜oes aparecem equa¸c˜oes do tipo (3.1), onde cada xi denota a densidade da popula¸ca˜o de uma esp´ ecie e as fun¸ c˜oes X i exprimem a lei de intera¸c˜ao entre as esp´ecies. Nestas registram-se fatos como a competi¸ c˜ao pelo mesmo alimento e espa¸c o ou a a¸ca˜o predat´ oria de uma esp´ecie sobre outra. Se as solu¸ c˜oes xi (t), i = 1, . . . , n, tendem para um ponto de equil´ıbrio (a1 , . . . , an ) quando t e ai > 0 para i = 1, . . . , n, interpreta-se este comportamento dizendo que as popula¸c˜oes evoluem para uma situa¸c˜ao de coexistˆencia. Se as solu¸c˜oes tendem para uma solu¸c˜ao peri´ odica γ (t) = (x1 (t), . . . , xn (t)), xi (t) > 0, i = 1, . . . , n, tem-se uma flutua¸ca˜o de popula¸co˜es no dom´ınio do habitat em um ciclo ininterrupto. Os pontos singulares ou de equil´ıbrio desempenham um papel crucial na descri¸ c˜ao do retrato de fase. Poincar´e fez um cat´ alogo destes pontos para n = 2, classificando sua estrutura local por compara¸ca˜o com os sistemas lineares (s˜ ao o foco, a sela, o n´ o, etc.). Veja a se¸c˜ao 2.4. De igual importˆancia s˜ ao as solu¸co˜es peri´ odicas, cujo estudo ´e mais sutil. Poincar´e idealizou m´etodos geom´etricos e anal´ıticos para analisar a existˆencia e estabilidade de solu¸c˜oes peri´ odicas. Neste cap´ıtulo apresentamos os fundamentos da Teoria Qualitativa e discutimos, sem pretender esgot´ a-los, alguns problemas importantes. Este estudo tem continuidade nos Cap´ıtulos 4, 5, na Estabilidade Estrutural e Bifurca¸ c˜oes [18], [24], e na Teoria dos Sistemas Dinˆ amicos [17].
→∞
3.1
Campos vetoriais e fluxos
Seja ∆ um subconjunto aberto do espa¸ co euclideano Rn . Um campo vetorial de classe C k , 1 k em ∆ ´e uma aplica¸c˜ao X : ∆ R n de classe C k . Ao campo vetorial X associamos a equa¸c˜ao diferencial
≤ ≤ ∞
→
x′ = X (x).
(3.2)
As solu¸c˜oes desta equa¸c˜ao, isto ´e, as aplica¸c˜oes diferenci´ aveis ϕ : I ∆ (I intervalo da reta) tais que dϕ (t) = X (ϕ(t)), (3.3) dt para todo t I , s˜ao chamadas trajet´ orias ou curvas integrais de X ou da equa¸ca˜o diferencial (3.2). Um ponto x ∆ ´e dito ponto singular de X se X (x) = 0 e ´e chamado ponto regular de X se X (x) = 0. Se x ´e ponto singular ent˜ ao ϕ(t) = x, < t < , ´e solu¸c˜ao de (3.2). Reciprocamente, se ϕ(t) = x, < t < , ´e solu¸c˜ao de (3.2) ent˜ ao x ´e ponto singular
→
∈
∈
−∞
∞
−∞
∞
3.1 Campos vetoriais e fluxos
91
de X , pois 0 = ϕ ′ (t) = X (ϕ(t)) = X (x).
→
Uma curva integral ϕ : I ∆ de X chama-se m´ axima se para toda curva integral ψ : J ∆ tal que I J e ϕ = ψ I ent˜ ao I = J e, consequentemente, ϕ = ψ. Neste caso, I chama-se intervalo m´ aximo. A equa¸c˜ao (3.2) (ou (3.3)) admite a seguinte interpreta¸ c˜ ao geom´etrica: ϕ ´e uma ′ curva integral de X se e s´o se seu vetor velocidade ϕ (t) em t coincide com o valor do campo X em ϕ(t). Veja a Figura 3.1.
→
⊆
|
∆ ϕ′ (t) = X (ϕ(t)) ϕ
I
ϕ(t)
t Figura 3.1: Campo de Vetores e Curva Integral
Uma equa¸ca˜o diferencial do tipo (3.2) ´e chamada equa¸c˜ ao diferencial autˆ onoma , isto ´e, o campo de vetores X = (X 1 , , X n ) ´e independente de t. Para coloc´ a-la R por f (t, x) = X (x), onde no contexto do Cap´ıtulo 1, podemos definir f : Ω ′ Ω = R ∆. Por outro lado, toda equa¸ ca˜o x = f (t, x) n˜ao autˆ onoma em Ω Rn+1, pode ser considerada como uma equa¸ ca˜o autˆ onoma z ′ = F (z ) em Ω, onde z = (s, x) ´ f´acil verificar a correspondˆencia biun´ıvoca entre as solu¸ e F (z ) = (1, f (z )). E c˜oes da equa¸c˜ao n˜ ao autˆ onoma x ′ = f (t, x) e as solu¸c˜oes da equa¸ca˜o autˆ onoma associada ′ z = F (z ).
·· ·
→
×
⊆
Teorema 3.1 (a) (Existˆencia e unicidade de solu¸c˜ oes m´ aximas) Para cada x ∆ existe um intervalo aberto I x onde est´ a definida a unica ´ solu¸cao ˜ m´ axima ϕx de (3.2) tal que ϕx (0) = x.
∈
(b) (Propriedade de grupo) Se y = ϕx (s) e s I x , ent˜ ao I y = I x I x , ϕy (0) = y e ϕy (t) = ϕ x (t + s) para todo t I y .
∈
}
∈
− s = {r − s; r ∈
(c) (Diferenciabilidade em rela¸c˜ ao a`s condi¸coes ˜ iniciais). O conjunto D = (t, x); n+1 Rn dada por x ∆, t I x ´e aberto em R e a aplica¸c˜ ao ϕ : D ϕ(t, x) = ϕ x (t) ´e de classe C k . Mais ainda, ϕ satisfaz a` equa¸cao ˜
∈
∈ }
→
D1D2 ϕ(t, x) = DX (ϕ(t, x)) D2 ϕ(t, x),
·
D2 ϕ(t, x) t=0 = E
|
{
92
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
para todo (t, x) D. Aqui E denota a identidade de Rn
∈
A prova ser´a dada na se¸ca˜o 3.2.
Defini¸c˜ ao 3.2 A aplica¸ca˜o ϕ : D
→ ∆ chama-se fluxo gerado por X .
Note-se que as condi¸c˜oes da defini¸c˜ao de fluxo de classe C k est˜ao satisfeitas, isto ´e, ϕ(0, x) = x e ϕ(t + s, x) = ϕ(t, ϕ(s, x)), sendo que a segunda condi¸ca˜o ´e ´ claro que se I x = R v´alida apenas no contexto da parte (b) do Teorema 3.1. E para todo x, o fluxo gerado por X ´e um fluxo de classe C k em ∆, veja se¸c˜ao 2.3. Entretanto, muitas vezes I x = R. Por este motivo o fluxo gerado por X ´e chamado frequentemente de fluxo local ou grupo local a um parˆ ametro gerado por X . Esta u ´ ltima denomina¸c˜ao decorre do fato de que a condi¸c˜ao (b) do Teorema 3.1 define, quando D = R ∆, um homomorfismo do grupo aditivo dos reais no grupo dos difeomorfismos de classe C r de ∆ munido da opera¸c˜ao de composi¸ca˜ o. Ou seja, o 1 homomorfismo ´e t ϕ t e temos ϕt+s = ϕ t ϕs e ϕ−t = ϕ − t , para ϕt (x) = ϕ(t, x). ´ v´alida assim a imagem de que os pontos de ∆ fluem ao longo das trajet´ E orias de X do mesmo modo que um fluido desloca-se ao longo de suas linhas de corrente.
×
→
◦
c˜oes e do Observa¸c˜ ao 3.3 A parte (b) do Teorema 3.1 decorre da unicidade de solu¸ fato da equa¸c˜ao ser autˆ onoma. De fato, neste caso, ϕy (s) e ϕx (t + s) s˜ao solu¸co˜es do mesmo problema de Cauchy. 1, em ∆ ∆ e Corol´ario 3.4 Seja X um campo vetorial C k , k Rn . Se x I x = (ω− (x), ω+(x)) ´e tal que ω+ (x) < (resp. ω− (x) > ) ent˜ ao ϕx (t) tende a ∂ ∆ quando t ω + (x) (resp. t ω − (x)), isto ´e, para todo compacto K ∆ existe ε = ε(K ) > 0 tal que se t [ω+ (x) ε, ω+ (x)) (resp. t (ω− (x), ω− (x) + ε]) ent˜ ao ϕx (t) K .
→
→
∈
∈
≥
∞
−
−∞
⊆
∈
⊆
∈
Demonstra¸ c˜ ao Por contradi¸c˜ao, suponhamos que exista um compacto K ∆ e uma sequˆencia tn ω + (x) < tal que ϕx (tn ) K para todo n. Passando a uma subsequˆencia se necess´ ario podemos supor que ϕ x (tn ) converge a um ponto x 0 K . Sejam b > 0 e α > 0 tais que Bb I α D, onde Bb = y R n ; y x0 b ∆ e I α = t R; t < α . Pela parte (c) do Teorema 3.1, D ´e aberto. Pela parte (b), ϕ x (tn + s) est´ a definido para s < α e coincide com ϕ y (s) para n suficientemente grande, onde y = ϕ x(tn ). Mas ent˜ ao tn + s > ω+ (x), contradi¸ca˜o.
→
{ ∈
||
∞
∈
× ⊆
}
{ ∈
Corol´ario 3.5 Se ∆ = R n e X (x) < c para todo x x Rn .
|
∈
|
∈ R
n
⊆ ∈ | − |≤ }⊆
, ent˜ ao I x = R para todo
para algum x Demonstra¸ c˜ ao Suponhamos que ω+ (x) < Rn . Como x t ϕx (t) = 0 X (ϕs (x))ds ct cω + (x), resulta que para todo t [0, ω+ (x)), ϕx (t) est´a na bola fechada de centro x e raio cω+ (x), o que contradiz o Corol´ ario 3.4. Logo, ω+(x) = para todo x Rn . Do mesmo modo, prova-se que ω− (x) = para todo x Rn .
|
∈
∞
≤
≤
∈
∞
∈ ∈
| − −∞
3.2 Diferenciabilidade dos fluxos de campos vetoriais
93
Corol´ario 3.6 Se ϕx ´e uma solu¸c˜ ao regular de (3.2) definida no intervalo m´ aximo I x e ϕx (t1 ) = ϕ x (t2 ) para t 1 = t2 , ent˜ ao I x = R, ϕx (t + c) = ϕ x(t), para todo t, onde c = t 2 t1 . Isto ´e, ϕx ´e uma solu¸c˜ ao peri´ odica.
−
Rn por ψ(t) = ϕ x (t c), tem-se ψ ′ (t) = Demonstra¸ c˜ ao Definindo ψ : [t2, t2 + c] ϕ′x (t c) = X (ϕx (t c)) = X (ψ(t)) e ψ(t2 ) = ϕx (t1) = ϕx (t2 ). Em virtude da unicidade das solu¸co˜es, tem-se [t2 , t2 + c] I x e ϕx (t) = ϕx (t + c) se t [t1 , t2 ]. Prosseguindo desta maneira, obtemos I x = R e ϕx (t + c) = ϕx (t) para todo t R.
−
3.2
→ ⊆
−
−
∈
∈
Diferenciabilidade dos fluxos de campos vetoriais
Nesta se¸c˜ao daremos uma demonstra¸ca˜o autosuficiente do Teorema 3.1. Usamos um m´etodo baseadonuma elabora¸ca˜o muito u ´ til do lema da contra¸c˜ao (Lema 1.6). ˙ ˙ d) espaTeorema 3.7 (Teorema da contra¸c˜ ao nas fibras) Sejam (X, d) e (X, ˆ : X X ˙ ˙ uma aplica¸c˜ ˆ x) ¸cos m´etricos completos e F X X ao na forma F (x, ˙ = ˙ (F (x), F (x, x)). ˙ Suponha que
× → ×
(a) F : X X tem um ponto fixo atrator p. Isto ´e, F ( p) = p e limn→+∞ F n(x) = p para todo x X .
→
∈ ˙ a aplica¸c˜ (b) Para todo x˙ ∈ X ao F
x˙
: X
cont´ınua.
˙ x) ˙ ´e → X ˙ definida por F (x) = F (x, x˙
˙ x : X ˙ ˙ definida por F ˙x (x) ˙ (c) Para todo x X a aplica¸cao ˜ F X ˙ = F (x, x) ´ ˙ e uma ˙ F ˙ x, ˙x (x), ˙ x (y)) ˙. λ-contra¸cao, ˜ com λ < 1, isto ´e, d( ˙ F ˙ λ d( ˙ y) para ˙ todo x, ˙ y˙ X
∈
→
≤
∈
˙ p , o ponto pˆ = ( p, p) Ent˜ ao, se p˙ denota o unico ´ ponto fixo atrator de F ˙ ´e um ˆ ponto fixo atrator de F .
A demonstra¸c˜ao deste teorema depende dos seguinte lemas. umeros reais n˜ ao negativos tal que Lema 3.8 Seja cn , n 0, uma sequˆencia de n´ cn 0, e seja λ tal que 0 < λ < 1. Ent˜ ao, σn 0, onde
→
{ } ≥
→
n
σn =
i=0
λn−i ci .
94
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais ˙ X ˆ = (x, ˙x) x ˆ (ˆ F x) pˆ = ( p, p˙ )
p
F 2 (x)
X
x
F (x)
Figura 3.2: Contra¸ca˜o nas fibras
Demonstra¸ c˜ ao Seja M k = sup ci , i k , temos M k ci 0. Tomemos k = n2 (parte inteira de n2 ); temos
→
n
σn =
{
k
λn−i ci =
i=0
≤
M 0
≥ }
n
k
λn−i ci +
i=0
→ 0, quando k → ∞, pois
λn−i ci
i=k+1 n
n i
λ − + M k
n i
λ −
≤ M
0
λn−k 1 λ
+
M k . 1 λ
− − Quando n tende para ∞, n − k e k tamb´em tendem a ∞, logo λ − para 0 e, portanto, σ → 0. i=0
i=k+1
n k
e M k tendem
n
Lema 3.9 Seja F n uma sequˆencia de λ-contra¸c˜ oes de um espa¸co m´etrico completo (Y, d). Se para todo y Y a sequˆencia F n (y) converge para F ω (y), F ω tamb´em ´e uma λ-contra¸cao. ˜ Denotemos por yω seu unico ´ ponto fixo atrator. Ent˜ ao para todo y0 Y , a sequˆencia yn definida por
∈ { }
∈
y1 = F 1 (y0 ), y2 = F 2 (y1 ), . . . , yn = F n (yn−1 ) converge para yω , quando n
→ ∞. Demonstra¸ c˜ ao Temos y = F ◦ F − ◦ · · · ◦ F (y ) e d(y , y ) ≤ d(F ◦ · · · ◦ F (y ), F ◦ · · · ◦ F (y )) + d(F ◦ · · · ◦ F (y ), y ) ≤ λd(F − ◦ · · · ◦ F (y ), F − ◦ · · · ◦ F (y )) +d(F ◦ · · · ◦ F (y ), F (y )) + d(F (y ), y ) ≤ λ d(y , y ) + λd(F − ◦ · · · ◦ F (y ), y ) + d(F (y ), y ) n
n
ω
n
n
n 1
1
0
n 1
0
n
1
n
n
1
ω
1
1
0
ω
n 1
0
ω
n 1
n
n
1
ω
n
1
ω
1
ω
ω
ω
ω
ω
n
ω
ω
ω
3.2 Diferenciabilidade dos fluxos de campos vetoriais
≤
95
λn d(y0 , yω ) + d(F n (yω ), yω ) + λd(F n−1(yω ), yω ) +λ2 d(F n−2 (yω ), yω ) + + λn−1 d(F 1 (yω ), yω )
···
n 1
= λn d(y0 , yω ) +
−
i=0
λi d(F n−i (yω ), yω ).
O primeiro termo desta u ´ ltima parcela tende para 0, pois 0 < λ < 1; o segundo termo tamb´ em tende para 0, pelo Lema 3.8, aplicado a c n = d(F n (yω ), yω ). Observe que cn 0. Por hip´otese F n (yω ) y ω . Consequentemente,
→
→
d(yn , yω )
n
→ 0,
→ ∞.
Demonstra¸ c˜ ao do Teorema 3.7 Seja xˆ0 = (x0, x˙ 0) e xn = F n(x0 ), temos ˆ n (ˆ ˙ xn F x0 ) = (xn, F
◦ · · · ◦ F ˙
˙ 0 )). x0 (x
−1
˙ xn , resulta pelo Lema 3.9 que F ˆ n(ˆ Logo, fazendo F n = F x0 ) 1 −
˙ → ( p, p).
Teorema 3.10 (Teorema local de diferenciabilidade, [21]) Seja f uma aplica¸c˜ ao de classe C 1 definida num aberto ∆ Rn . Para todo ponto x0 ∆ existem n´ umeros positivos α, β e uma ´ unica aplica¸c˜ ao ϕ de classe C 1 em
⊆
I α
×B
β
∈
= (t, x); t < α, x
{
| − x | < β }
||
0
com valores em ∆ tal que D1ϕ(t, x) =
∂ϕ (t, x) = f (ϕ(t, x)), ϕ(0, x) = x, e ∂t
D1 D2ϕ(t, x) = Df (ϕ(t, x))D2 ϕ(t, x), para todo (t, x) I α
D2 ϕ(t, x) t=0 = E
|
∗
( ) ( )′
∗
∈ ×B . β
b ∆ e sejam m = Demonstra¸ c˜ ao Seja b > 0 tal que B b = x; x x 0 sup f (x) , x B b , ℓ = sup Df (x) , x B b , onde Df (x) = sup Df (x)v , v = 1 . Tomamos α e β tais que αm + β < b e λ = ℓα < 1. Seja X o espa¸co de aplica¸co˜es cont´ınuas de I α Bβ em B b , munido da m´etrica
{ | − | ≤ } ⊆ {| | ∈ } { ∈ } {| | | | } × d(ϕ, ψ) = sup |ϕ(t, x) − ψ(t, x)|, (t, x) ∈ I × B . Para ϕ ∈ X , definimos F (ϕ)(t, x) = x + f (ϕ(s, x))ds, a condi¸c˜ao αm + β < b implica que F toma valores em X e, assim, F : X → X est´a bem definida. Ser´ a α
t 0
visto abaixo que λ = ℓα < 1 implica que F ´e uma contra¸ca˜o.
β
96
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Denotemos por o espa¸co de aplica¸co˜es lineares de Rn em Rn com a norma ˙ espa¸co de aplica¸c˜oes cont´ınuas e limitadas de L = sup Lx ; x = 1 . Seja X o I α Bβ em munido da m´etrica
×
L {| | | | } L
˙ ϕ, ˙ = sup ϕ(t, d( ˙ ψ) ˙ x)
{
˙ x), (t, x) ∈ I × B }. − ψ(t, α
β
t ˙ : X X ˙ ˙ por F (ϕ, ˙ Definimos F X ϕ)(t, ˙ x) = E + 0 Df (ϕ(s, x)) ϕ(s, ˙ x)ds, onde E denota a identidade em . ˆ = (F, F ) ˙ satisfaz as hip´oteses do Teorema 3.7. De fato: A aplica¸ca˜o F
× →
L
·
(a) F ´e uma λ-contra¸ca˜o:
|
| ≤
t
d(F (ϕ), F (ψ)) = sup
[f (ϕ(s, x))
0
− f (ψ(s, x))]ds
t
− ψ(s, x) ds αℓd(ϕ, ψ) = λd(ϕ, ψ). Portanto, F tem um u´nico ponto fixo atrator ϕ ∈ X . ≤
ℓ ϕ(s, x)
sup
0
´ imediata, por ser Df uniformemente cont´ınua em B b . (b) E ˙ F ˙ = sup ˙ ϕ (ϕ), ˙ ϕ (ψ)) (c) d( ˙ F
t Df (ϕ(s, x))[ϕ(s, ˙ x) 0
−
˙ x)]ds ψ(s,
≤
˙ ϕ, ˙ λ d( ˙ ψ).
ˆ ´e da forma ϕ = O ponto fixo atrator de F ˆ (ϕ, ϕ), ˙ onde F (ϕ) = ϕ. Donde resulta, derivando com respeito a t, que ( ) ´e satisfeita; ϕ ´e u ´ nica, por ser u´nico o ponto fixo de F , e cont´ınua em I α Bβ , por ser elemento de X . Obviamente D1 ϕ = f ϕ ´e cont´ınua. Provaremos a seguir que ϕ ´e de classe C 1 com respeito a x e que D2 ϕ = ϕ. ˙ Disto resultar´a que ϕ ´e de classe C 1 em I α Bβ . ˆ n (ϕˆ0), onde ϕ0(t, x) = x e ϕ˙ 0(t, x) = E . ClaraDe fato, seja ϕˆn = (ϕn, ϕ˙ n ) = F mente ϕn ϕ e ϕ˙ n ϕ uniformemente ˙ em I α Bβ . Mais ainda, toda ϕn ´e de 1 classe C e D2 ϕn = ϕ˙ n, para todo n, como se verifica por indu¸ca˜o. Portanto, por ˙ , temos que D 2ϕ existe e ´e igual a ϕ, ser ϕ˙ n = D 2 ϕn cont´ınua, pois pertence a X ˙ que ´e cont´ınua em I α Bβ . Usamos aqui o teorema de intercˆ ambio da ordem entre as opera¸c˜ oes de limite uniforme e diferencia¸cao; ver ˜ [16]. A igualdade ( )′ decorre imediatamente por deriva¸ ca˜o da rela¸ca˜o
× ◦
→
∗
×
→
×
× ∗
˙ D2 ϕ(t, x) = F (ϕ, D2ϕ(t, x)) = E +
t
Df (ϕ(s, x))D2 ϕ(s, x)ds.
0
Teorema 3.11 (Teorema global de diferenciabilidade) Seja f um campo vetorial de classe C k , k 1, num aberto ∆ Rn.
≥
⊆
(a) Para cada ponto x ∆ existe um intervalo aberto I x, onde est´ a definida uma unica ´ curva integral m´ axima ϕx : I x ∆, do campo passando por x; i. e., ϕx satisfaz em I x a equa¸cao ˜ dy = f (y), y(0) = x. dt
∈
→
3.2 Diferenciabilidade dos fluxos de campos vetoriais
97
(b) Se y = ϕ x (s), s I x, ent˜ ao
∈
I y = I x
− s = {τ − s; τ ∈ I } e ϕ (t) = ϕ (t + s), para todo t ∈ I . (c) O conjunto D = {(t, x); x ∈ ∆, t ∈ I } ´e aberto em R ϕ : D → R , definida por ϕ(t, x) = ϕ (t) ´e de classe C . y
x
x
y
x
n
n+1
e a aplica¸cao ˜
k
x
A menos de nota¸ca˜o, este ´e o mesmo enunciado do Teorema 3.1. A sua demonstra¸ca˜o ´e dividida em trˆes partes.
Proposi¸c˜ ao 3.12 Seja f um campo vetorial C 1 em um aberto ∆ de Rn. Dado x ∆, seja I x = I ψ , onde ψ : I ψ ∆ percorre o conjunto das solu¸ coes ˜ de ′ x = f (x), x(0) = x. Ent˜ ao
∈
∪
→
(a) ϕx : I x ∆ definida por ϕx (t) = ψ(t) se t m´ axima de f por x;
→
(b) se s I x e y = ϕ x (s), ent˜ ao I y = I x tem-se ϕy (t) = ϕx (t + s).
∈
´ curva integral ∈ I ´e a unica ψ
− s = {τ − s; τ ∈ I } e para todo t ∈ I x
y
´ suficiente verificar que ϕx est´a bem definida. Isto ´e, se ψ1 Demonstra¸ c˜ ao (a) E e ψ2 s˜ao solu¸co˜es do problema de Cauchy x′ = f (x), x(0) = x, ent˜ao ψ1 = ψ2 no ´ claro intervalo (a, b) = I ψ1 I ψ2 . De fato, seja A = t (a, b); ψ1 (t) = ψ2 (t) . E que A ´e fechado em (a, b) e n˜ao vazio. Vamos provar que A ´e aberto. Sejam t′ A e y = ψ 1 (t′ ) = ψ 2 (t′ ). Ent˜ao, pelo Teorema 3.10, existe uma unica ´ curva integral ψ do problema de Cauchy x′ = f (x), x(0) = y, definida em um certo intervalo aberto I . Notemos que ψ˜1 (s) = ψ 1 (t′ + s) ´e tamb´em uma solu¸c˜ao de x′ = f (x), x(0) = y. d ˜ d De fato, ds ψ1 (s) = ds ψ1 (t′ + s) = f (ψ1 (t′ + s)) = f (ψ˜1(s)). Portanto, por unicidade, ψ1 = ψ em (a, b) (I + t′ ). Do mesmo modo ψ˜2 (s) = ψ 2 (t′ + s) coincide com ψ em (a, b) (I + t′ ). Logo, ψ1 = ψ 2 em (a, b) (I + t′ ) e isto prova que A ´e aberto. Por conexidade, A = (a, b).
∩
{ ∈
∩
∩
}
∈
∩
(b) Temos ϕy (s) = ϕx (t + s); logo, ϕy (s) est´ a definida para s I x t, donde I x t I y . Por outro lado, ϕy ( t) = x e ϕx (s) = ϕy ( t + s), donde ϕx (s) est´ a definida para todo s I y + t. Logo, I y + t I x e da´ı I y I x t. Fica provado que I y = I x t.
− ⊆ −
∈
−
⊆
− ⊆ −
∈ −
Proposi¸c˜ ao 3.13 Seja f um campo vetorial de classe C 1 em um aberto ∆ de Rn . Ent˜ ao D = (t, x); x ∆ e t I x ´e aberto em Rn+1 . Ainda, ϕ(t, x) = ϕ x (t) ´e uma aplica¸c˜ ao de classe C 1 em D e
{
∈
∈ }
D1 D2 ϕ(t, x) = Df (ϕ(t, x))D2 ϕ(t, x),
D2 ϕ(t, x) t=0 = E
|
∗
( )
para todo (t, x) D. I x ´e o intervalo maximal da solu¸cao ϕ ˜ x do problema de Cauchy ′ x = f (x), x(0) = x.
∈
98
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Demonstra¸ c˜ ao Seja C o conjunto dos pontos t I x0 , t > 0, tais que existe uma vizinhan¸ca Bt de x0 tal que [0, t] B t D e ϕ ´e de classe C 1 e satisfaz ( ) em (0, t) Bt . Pelo Teorema 3.10, C = . Seja s o supremo de C . Provaremos que s ´e o extremo superior de I x . De fato, se for s I x , seja x1 = ϕ(s, x0 ). Pelo Teorema 3.10, existe I B, vizinhan¸ca de (0, x1 ), na qual ϕ satisfaz ( ). Sejam d o comprimento ˜ uma vizinhan¸ca de x0 tal que do intervalo I , u tal que u < s e s u < d/2 e B ˜ Se y B ˜ e t [0, u + d/2] temos pela Proposi¸ca˜o 3.12 ϕ(u, y) B para todo y B. que ϕ(t, y) = ϕ(t u, ϕ(u, y)). Portanto, ϕ ´e de classe C 1 em (0, u+d/2) ˜ B. Vamos verificar que ϕ satisfaz ( ) neste conjunto. A partir de ϕ(t, x) = ϕ(t u, ϕ(u, x)), temos que D2 ϕ(t, x) = [D2ϕ(t u, ϕ(u, x))]D2 ϕ(u, x).
× ⊆ ∅ ∈ − ∈ ∈
×
× ∈
∈ ∗
−
∈
∗
∗
× −
−
Portanto, derivando com respeito a t e usando o fato de que t
− u ∈ C , temos
D1 D2ϕ(t, x) = [D1 D2 ϕ(t u, ϕ(u, x))]D2 ϕ(u, x) = [Df (ϕ(t, x))D2 ϕ(t u, ϕ(u, x))]D2 ϕ(u, x) = Df (ϕ(t, x))D2 ϕ(t, x).
−
−
Portanto, u + d/2 C ´e maior do que s, o que ´e uma contradi¸ ca˜ o. Logo, s = sup I x . Tomando agora pontos t I x0 , t < 0, conclui-se a demonstra¸ca˜o.
∈
∈
Demonstra¸ c˜ ao do Teorema 3.11 Procedemos por indu¸ca˜o em k. A Proposi¸ca˜o 3.13 prova o caso k = 1. Supomos v´ alido o teorema para k 1. Consideremos 2 o campo F = (f,Df ), que ´e de classe C k−1 em ∆ Rn , definido por F (x, L) = (f (x), Df (x)L), onde L ´e uma matriz n n identificada canonicamente com uma 2 aplica¸ca˜o linear de ou com um ponto de Rn . Pela Proposi¸c˜a o 3.13 e a hip´ otese de indu¸c˜ao aplicada a F , temos que o seu fluxo Φ(t,y,Y ) = (ϕ(t, y), D2 ϕ(t, y) Y ) ´e 2 de classe C k−1 em D′ = D Rn . Portanto, D2 ϕ ´e de classe C k−1 em D. Tamb´em D1 ϕ = f ϕ ´e de classe C k−1 , pois f ´e C k e ϕ ´e C k−1 . Logo, ϕ ´e de classe C k em D. Isto termina a demonstra¸ca˜o do Teorema 3.11.
×
L
·
×
◦
3.3
×
−
Retrato de fase de um campo vetorial
I p , isto ´e, a imagem da curva Defini¸c˜ ao 3.14 O conjunto γ p = ϕ(t, p); t integral de X pelo ponto p, chama-se orbita ´ de X pelo ponto p.
{
∈ }
Observe que q γ p γ q = γ p . De fato, se q γ p , q = ϕ(t1 , p) e ϕ(t, q ) = ϕ(t + t1 , p) e I p t1 = I q . Em outros termos, duas o´rbitas de X coincidem ou s˜ao disjuntas. Isto ´e, ∆ fica decomposto numa uni˜ ao disjunta de curvas diferenci´ aveis, podendo cada uma ser
−
∈
⇔
(a) imagem biun´ıvoca de um intervalo de R,
∈
3.3 Retrato de fase de um campo vetorial
99
(b) um ponto, ou (c) difeomorfa a um c´ırculo, correspondendo cada caso a uma das alternativas do Teorema 3.15 a seguir. No caso (b) p = γ p ; a o´rbita chama-se ponto singular ; no caso (c) a o´rbita chama-se fechada ou peri´ odica . ao m´ axima de (3.1) ou (3.2) em I x , verifica-se Teorema 3.15 Se ϕx ´e uma solu¸c˜ uma unica ´ das seguintes alternativas: (a) ϕx ´e 1
− 1, i.e, ϕ ´e injetiva; x
(b) I x = R e ϕx ´e constante; (c) I x = R e ϕx ´e peri´ odica, isto ´e, existe τ > 0 tal que ϕx (t + τ ) = ϕx (t) para todo t R e ϕx (t1) = ϕx (t2 ) se t1 t2 < τ .
∈
| − |
Demonstra¸ c˜ ao Se ϕx n˜ao ´e biun´ıvoca, ϕx (t1 ) = ϕ x (t2 ) para algum t1 = t 2 . Logo, pelo Corol´ a rio 3.6 da se¸ca˜o 3.1, I = R e ϕx (t + c) = ϕx (t) para todo t R e c = t 2 t1 = 0. Provaremos que o conjunto
−
∈
{ ∈ R; ϕ (t + c) = ϕ (t) para todo t ∈ R}
C = c
x
x
´e um subgrupo aditivo de R que tamb´ em ´e um subconjunto fechado de R. De fato, se c, d C , ent˜ao c + d, c C , pois ϕx (t + c + d) = ϕx (t + c) = ϕx(t) e ϕx (t c) = ϕ x (t c + c) = ϕx (t) e, portanto, C ´e um subgrupo aditivo de R. Por outro lado, se cn C e cn c temos que c C , pois
−
∈
−
− ∈ →
∈
∈
ϕx (t + c) = ϕx t + lim cn = ϕ x =
n
→∞
lim (t + cn)
n
→∞
lim ϕx (t + cn ) = lim ϕx (t) = ϕ(t).
n
n
→∞
→∞
Como demonstraremos no lema seguinte, todo subgrupo aditivo C de R ´e descrito na forma τ Z, τ 0 ou ent˜ao C ´e denso em R. Aqui Z denota o subgrupo aditivo dos n´ umeros inteiros. Por ser C = 0 e fechado, segue que C = R ou C = τ Z, τ > 0. Cada uma destas alternativas corresponde, respectivamente, aos casos (b) e (c) do enunciado.
≥ { }
Lema 3.16 Todo subgrupo aditivo C = 0 de R ´e da forma C = τ Z, onde τ > 0, ou C ´e denso em R.
{ }
100
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Demonstra¸ c˜ ao Supor que C = 0 . Ent˜ao C R+ = , onde R+ denota os reais positivos, pois existe c C , c = 0, o que implica que c ou c est´a em C R+ . Seja τ = inf[C R+ ]. Se τ > 0, C = τ Z, pois se c C τ Z, existe um u ´nico K Z tal que Kτ < c < (K + 1)τ e, portanto, 0 < c Kτ < τ e c Kτ C R+. Contradi¸ca˜o com τ = inf[C R+ ]. Se τ = 0, verificamos que C ´e denso em R. De fato, dado ε > 0 e t R, existe c C tal que c t < ε. Para ver isto ´e suficiente tomar c0 C R+ tal que 0 < c0 < ε. Todo n´ umero real t dista menos de ε de um ponto c0 Z C , pois este conjunto divide R em intervalos de comprimentos c0 < ε, com extremos nele.
∩
∈
{ }
∈
∩ ∅ − ∈ − −
∩
∈
| − |
∩ − ∈ ∩ ∈ ∈ ∩ ⊆
Defini¸c˜ ao 3.17 O conjunto aberto ∆, munido da decomposi¸ca˜ o em o´rbitas de X , chama-se retrato de fase de X . As ´orbitas s˜ ao orientadas no sentido das curvas integrais do campo X ; os pontos singulares s˜ ao munidos da orienta¸ca˜o trivial. Exemplos 3.18 (a) Descrevamos o retrato de fase de um campo X de classe C k , k 1, em R, onde X tem um n´ umero finito de pontos singulares. Sejam a1 < a2 < < an esses pontos e fa¸camos a0 = e an+1 = . Em cada intervalo (ai , ai+1), i = 0, . . . , n, X tem sinal constante. Fixemos um intervalo (ai , ai+1 ) no qual X ´e positivo. Ent˜ao, se x (ai , ai+1) temos que ϕ(t, x) ´e estritamente crescente no seu intervalo m´ aximo I x = (ω− (x), ω+(x)). Al´em disso, podemos afirmar que
≥ ·· ·
−∞
(i) quando t
∞ ∈
→ ω−(x), ϕ(t, x) → a e quando t → ω (x), ϕ(t, x) → a . Pois se ϕ(t, x) → b > a quando t → ω− (x), como ϕ(t, b) ´e estritamente crescente segue-se que as o´rbitas γ e γ interceptam-se; em consequˆencia, γ = γ , o que ´e uma contradi¸c˜ao. Isto mostra que ϕ(t, x) → a se t → ω − (x). Da mesma forma vˆe-se que ϕ(t, x) → a se t → ω (x). (ii) se i ≥ 1, temos que ω− (x) = −∞. Pois, para todo t ∈ I temos ϕ(t, x) > a > −∞ e isto implica, devido a` Proposi¸ca˜o 3.4, que ω − (x) = −∞. (iii) se i < n, temos que ω (x) = ∞. i
+
i+1
i
x
x
b
b
i
i+1
x
+
i
+
A prova ´e idˆentica a` de (ii). O leitor deve formular e provar o caso em que X ´e negativo no intervalo (ai , ai+1 ).
(b) Sistemas bidimensionais simples e sistemas hiperb´ olicos: ver os retratos de fase nas se¸co˜es 2.4 e 2.6. (c) Sejam X = (X 1 , X 2 ) e ∆ = R2 , onde X 1 = x e X 2 = y + x3 . O fluxo de X ´e dado por a3 −t a3 3t t ϕ(t, (a, b)) = ae , b e + e , 4 4
−
−
3.4 Equivalˆ encia e conjuga¸ca ˜o de campos vetoriais
a1
a2
a3
101
a4
a5
Gr´afico de X
a1
a2
a3
a4
a5
Retrato de fase de X Figura 3.3: Retrato de fase em R onde t R e (a, b) R2 . Seja ψ(t, p) o fluxo da “sela” Y = (x, y). O leitor deve verificar que h : (x, y) 3 x, y + x4 satisfaz h(ψ(t, p)) = ϕ(t, h( p)).
∈
∈
−
y
→
y h
x
retrato de fase de Y
x
retrato de fase de X
Figura 3.4: Conjuga¸ca˜o de duas selas, sendo uma n˜ao linear
3.4
Equivalˆ encia e conjuga¸ c˜ ao de campos vetoriais
Introduzimos a seguir v´ arias no¸co˜es de equivalˆencia entre dois campos vetoriais, as quais permitem comparar seus retratos de fase.
102
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Defini¸c˜ ao 3.19 Sejam X 1 , X 2 campos vetoriais definidos nos abertos de Rn , ∆1, ∆2 , respectivamente. Diz-se que X 1 ´e topologicamente equivalente (resp. C r -equivalente ) a X 2 quando existe um homeomorfismo (resp. um difeomorfismo de classe C r ) h : ∆1 ∆ 2 que leva ´orbita de X 1 em o´rbita de X 2 preservando a orienta¸c˜ao. Mais precisamente, sejam p ∆ 1 e γ 1 ( p) a o´rbita orientada de X 1 passando por p; ent˜ ao h(γ 1 ( p)) ´e a o´rbita orientada γ 2 (h( p)) de X 2 passando por h( p).
→
∈
Observe que esta defini¸c˜ao estabelece uma rela¸c˜ao de equivalˆencia entre campos definidos em abertos de Rn . O homeomorfismo h chama-se equivalˆencia topol´ ogica (resp. diferenci´ avel) entre X 1 e X 2. Rn e ϕ2 : D2 Rn os fluxos gerados pelos Defini¸c˜ ao 3.20 Sejam ϕ1 : D1 Rn e X 2 : ∆2 Rn respectivamente. Diz-se que X 1 ´ campos X 1 : ∆1 e topologir camente conjugado (resp. C -conjugado) a X 2 quando existe um homeomorfismo (resp. um difeomorfismo de classe C r ) h : ∆1 ∆ 2 tal que h(ϕ1 (t, x)) = ϕ 2 (t, h(x)) para todo (t, x) D 1 . Neste caso, tem-se necessariamente I 1 (x) = I 2 (h(x)), onde I 1 (x) e I 2 (h(x)) denotam os intervalos m´ aximos das respectivas solu¸c˜oes m´aximas. O homeomorfismo ogica (resp. C r -conjuga¸ca˜o) entre X 1 e X 2 . h chama-se conjuga¸ca˜o topol´
→ →
→
→
→
∈
Observa¸c˜ ao 3.21 Esta defini¸ca˜o estende a campos vetoriais quaisquer os conceitos de conjuga¸c˜ao topol´ ogica e diferenci´ avel definidos no Cap´ıtulo 2 para campos lineares. A rela¸ca˜o de conjuga¸ca˜o ´e tamb´em uma rela¸ ca˜o de equivalˆencia entre campos n ´ definidos em abertos de R . E claro que toda conjuga¸ca˜o ´e uma equivalˆencia. Uma equivalˆencia h entre X 1 e X 2 leva ponto singular em ponto singular e o´rbita peri´ odica em o´rbita peri´ o dica. Se h for uma conjuga¸ca˜o, o per´ıodo das o´rbitas peri´ odicas tamb´em ´e preservado. 2
Exemplo 3.22 (a) h : R
x3 4
2
r
→ R definida por h(x, y) = x, y + ´e uma C -conjuga¸ca˜o entre X (x, y) = (x, −y) e Y (x, y) = (x, −y + x ). De fato, Dh(x, y)X (x, y) = 3
Y (h(x, y)). Veja o exemplo 3.18 (c).
0 a 0 b e B = matrizes de R2 com a > 0 e b > 0. Os a 0 b 0 ′ ′ sistemas x = Ax e x = Bx definem centros cujas o´rbitas peri´ odicas tˆem per´ıodo 2π/a e 2π/b, respectivamente. Se a = b, estes sistemas n˜a o s˜ao conjugados. Por outro lado, h = identidade de R2 ´e uma C r -equivalˆencia. (b) Sejam A =
−
−
O lema seguinte fornece uma caracteriza¸ c˜ao para a conjuga¸c˜ao diferenci´ avel.
Lema 3.23 Sejam X 1 : ∆1 Rn e X 2 : ∆2 Rn campos C k e h : ∆1 ∆2 um r difeomorfismo de classe C . Ent˜ ao h ´e uma conjuga¸c˜ ao entre X 1 e X 2 se, e somente se, Dh( p)X 1 ( p) = X 2(h( p)), p ∆ 1 . ( )
→
→
→
∀ ∈
∗
3.4 Equivalˆ encia e conjuga¸ca ˜o de campos vetoriais
103
Demonstra¸ c˜ ao Sejam ϕ 1 : D 1 ∆ 1 e ϕ 2 : D 2 ∆ 2 os fluxos de X 1 e X 2 , respectivamente. Suponhamos que h satisfaz ( ). Dado p ∆1 , seja ψ(t) = h(ϕ1 (t, p)), t I 1 ( p). Ent˜ao ψ ´e solu¸c˜ao do problema de Cauchy x′ = X 2 (x), x(0) = h( p), pois
→
∗
∈
ψ ′ (t) = Dh(ϕ1 (t, p))
→
∈
· dtd ϕ (t, p) = Dh(ϕ (t, p))X (ϕ (t, p)) 1
1
1
1
= X 2 (h(ϕ1 (t, p))) = X 2 (ψ(t)). Portanto, h(ϕ1 (t, p)) = ϕ 2(t, h( p)). Reciprocamente, suponhamos que h seja uma C r conjuga¸ca˜ o. Dado p ∆1, tem-se h(ϕ1 (t, p)) = ϕ2 (t, h( p)), t I 1 ( p), intervalo contendo 0. Derivando esta rela¸c˜ao com respeito a t em t = 0, obt´em-se ( ).
−
∈
∈
∗
Rn um campo de classe C k , k 1, ∆ Rn aberto Defini¸c˜ ao 3.24 Sejam X : ∆ e A Rn−1 um aberto. Uma aplica¸c˜ao diferenci´ avel f : A ∆ de classe C r chamase se¸c˜ ao transversal local de X (de classe C r ) quando, para todo a A, Df (a)(Rn−1 ) e X (f (a)) geram o espa¸co Rn . Seja Σ = f (A) munido da topologia induzida. Se f : A Σ for um homeomorfismo, diz-se que Σ ´e uma se¸c˜ ao transversal de X .
→
⊆
≥ → ∈
⊆
→
Observa¸c˜ ao 3.25 Sejam p ∆ n˜ao singular e v1 , , vn−1 , X ( p) uma base de n R . Seja B(0, δ ) uma bola de Rn−1 com centro na origem e raio δ > 0. Para δ −1 x v suficientemente pequeno, f : B(0, δ ) ∆ dada por f (x1 , . . . , xn−1 ) = p + ni=1 i i ´e uma se¸ca˜o transversal local de X em p.
∈
{ · ··
}
→
ao singular de Teorema 3.26 (Teorema do fluxo tubular) Seja p um ponto n˜ n k R de classe C e f : A X : ∆ Σ uma se¸c˜ ao transversal local de X de classe k C com f (0) = p. Ent˜ ao existe uma vizinhan¸ca V de p em ∆ e um difeomorfismo h : V ( ε, ε) B de classe C k , onde ε > 0 e B ´e uma bola aberta em Rn−1 de centro na origem 0 = f −1 ( p) tal que
→ → −
(a) h(Σ
→
×
∩ V ) = {0} × B;
(b) h ´e uma C k -conjuga¸cao ˜ entre X V e o campo constante Y : ( ε, ε) Y = (1, 0, 0, . . . , 0) Rn .
|
∈
−
n
× B → R ,
Demonstra¸ c˜ ao Seja ϕ : D ∆ o fluxo de X . Seja F : DA = (t, u); (t, f (u)) D ∆ definida por F (t, u) = ϕ(t, f (u)). F aplica linhas paralelas ao eixo t em curvas integrais de X . Vamos mostrar que F ´e um difeomorfismo local em 0 = (0, 0) R Rn−1 . Pelo Teorema da Fun¸ c˜ao Inversa , ´e suficiente provar que DF (0) ´e um isomorfismo. Temos d D1 F (0) = ϕ(t, f (0)) = X (ϕ(0, p)) = X ( p) dt t=0
→
}→
{
∈ ×
∈
104
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais ( ε, ε)
−
B
V
f (B)
×B h−1
Σ h ε
0
−ε
Figura 3.5: Fluxo Tubular Σ ϕ(t, f (u)) = F (t, u) F (t, u)
u
f (u)
t X Figura 3.6: Prova do Teorema 3.26 e D j F (0) = D j−1 f (0) para todo j = 2, . . . , n, pois ϕ(0, f (u)) = f (u), u A. n Portanto, os vetores D j F (0), j = 1, . . . , n, geram R e DF (0) ´e um isomorfismo. Pelo Teorema da Fun¸c˜ao Inversa, existem ε > 0 e uma bola B em Rn−1 com centro na origem 0 tais que F ( ε, ε) B ´e um difeomorfismo sobre o aberto V = F (( ε, ε) B ). Seja h = (F ( ε, ε) B)−1 . Ent˜ ao h(Σ V ) = 0 B, pois F (0, u) = f (u), u B. Isto prova (a). Por outro lado, h−1 conjuga Y e X :
∀ ∈
− ×
∀ ∈ Dh− (t, u) · Y (t, u) 1
para todo (t, u) ( ε, ε)
∈−
|− × | − ×
∩
{ } ×
= DF (t, u) (1, 0, . . . , 0) = D 1 F (t, u) = X (ϕ(t, f (u)) = X (F (t, u)) = X (h−1 (t, u)),
·
× B. Isto termina a demonstra¸ca˜o.
ao transversal de X . Para todo ponto p Σ existem Corol´ ario 3.27 Seja Σ uma se¸c˜ R de classe C k ε = ε( p) > 0, uma vizinhan¸ca V de p em Rn e uma fun¸c˜ ao τ : V tais que τ (V Σ) = 0 e
∩
→
∈
3.5 Estrutura local dos pontos singulares hiperb´olicos
105
(a) para todo q V , a curva integral ϕ(t, q ) de X V ´e definida e biun´ıvoca em J q = ( ε + τ (q ), ε + τ (q ));
−
∈
|
(b) ξ (q ) = ϕ(τ (q ), q ) Σ ´e o unico ´ ponto onde ϕ( , q ) J q intercepta a se¸c˜ ao Σ. Em particular, q Σ V se e s´ o se τ (q ) = 0;
∈ ∈ ∩
· |
(c) ξ : V Σ ´e de classe C k e Dξ (q ) ´e sobrejetiva para todo q V . Mais ainda, Dξ (q ) v = 0 se e s´ o se v ´e colinear com X (q ), i. e., v = αX (q ) para algum α R.
∈
→ ·
∈
Demonstra¸ c˜ ao Sejam h, V e ε como no Teorema 3.26. Ponhamos h = ( τ, ξ ). O campo Y daquele teorema satisfaz a todas as afirma¸ co˜es acima. Como h ´e uma k C -conjuga¸ca˜o, conclui-se que X tamb´em satisfaz estas afirma¸ c˜oes.
−
ξ (q )
h(q ) q h
−ε
ε
t
−τ (q ) (−ε, ε) × B
V Σ
Figura 3.7: Prova do Corol´ario 3.27
ater local do Teorema 3.26. Nem Observa¸c˜ ao 3.28 Gostar´ıamos de enfatizar o car´ todo campo sem singularidades no plano admite um homeomorfismo que trivialize suas o´rbitas. Um exemplo ´e dado na Figura 3.8, ilustrando o chamado Fluxo de Reeb. Verifique que X = (ey (x2 1), 2xey ), o Hamiltoniano de f (x, y) = e y (x2 1), tem este retrato de fase.
− −
3.5
−
Estrutura local dos pontos singulares hiperb´ olicos
Seja p um ponto regular de um campo vetorial X , de classe C k , k 1. Pelo teorema do fluxo tubular, sabemos que existe um difeomorfismo de classe C k que conjuga
≥
106
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Figura 3.8: Fluxo de Reeb X ,numa vizinhan¸c a de p com o campo constante Y (1, 0, . . . , 0). Consequentek mente, dois campos X e Z s˜ao localmente C -conjugados em torno de pontos regulares. Por causa desta observa¸ca˜o podemos considerar satisfat´ orio o conhecimento qualitativo local das ´orbitas de um campo vetorial em torno de pontos regulares, sendo que existe apenas uma classe de conjuga¸ca˜o diferenci´ avel local. Se p ´e um ponto singular, a situa¸ c˜ao ´e bem mais complexa. Mesmo nos sistemas lineares estudados no Cap´ıtulo 2 j´ a se apresentam v´ arias classes diferentes de conjuga¸c˜ao diferenci´ avel. Em R2 temos a sela, o centro, o n´ o, etc. Nesta se¸ca˜o estudaremos os pontos singulares hiperb´ olicos. Na seguinte trataremos das o´rbitas peri´ odicas.
≡
Defini¸c˜ ao 3.29 Um ponto singular p de um campo vetorial X de classe C k , k 1, chama-se hiperb´ olico se todos autovalores de DX ( p) tˆem parte real diferente de zero.
≥
´ f´acil ver que esta defini¸ca˜ o n˜ Observa¸c˜ ao 3.30 E a o depende da classe de con2 juga¸c˜ao local C de X em p. Sejam X e Y campos de classe C k , k 2 e h uma 2 C -conjuga¸ca˜o entre X e Y em torno de uma singularidade p0 de X ; q 0 = h( p0 ) ´e uma singularidade de Y e pelo Lema 3.23 da se¸c˜ao 3.4 tem-se Y = Dh h−1 X h−1 . Da´ı
≥ ◦ · ◦
DY (q ) = D2 h(h−1 (q ))Dh−1 (q )X (h−1 (q )) + Dh(h−1 (q ))DX (h−1 (q ))Dh −1(q ). Logo, DY (q 0 ) = Dh( p0 )DX ( p0 )[Dh( p0 )]−1 . umero de autovalores de Defini¸c˜ ao 3.31 Com a nota¸ca˜o da Defini¸c˜ao 3.29, o n´ DX ( p) que tˆem parte real menor do que 0 chama-se´ındice de estabilidade de X em p. A Observa¸c˜ao 3.30 acima mostra que ´e o mesmo o ´ındice de dois campos C 2conjugados em torno de uma singularidade hiperb´ olica. Entretanto, vale mais do que isto: o ´ındice determina a classe de conjuga¸ ca˜o topol´ ogica local. Este ´e o conte´ udo do teorema de Hartman.
3.6 Estrutura local de ´ orbitas peri´ odicas
107
Teorema 3.32 (Teorema de Hartman-Grobman) Sejam X : ∆ Rn um campo vetorial de classe C 1 e p um ponto singular hiperb´ olico. Existem vizinhann ¸cas W de p em ∆ e V de 0 em R tais que X W ´e topologicamente conjugado a DX ( p) V .
→
|
|
A demonstra¸ca˜o deste teorema pode ser encontrada em [17] e [23]. Aqui limitarnos-emos a dar sua interpreta¸ ca˜o geom´etrica na Figura 3.9. Os teoremas 3.32 e 2.40 permitem classificar localmente os pontos singulares hiperb´ olicos. Entretanto, os exerc´ıcios 16 a 19 deste cap´ıtulo tratam da determina¸ c˜ao dos retratos na vizinhan¸ca de pontos singulares em casos bidimensionais importantes, alguns n˜ ao hiperb´ olicos. E u
W
V
conjuga¸c˜ao E s
x′ = X (x)
x′ = DX ( p) x
·
Figura 3.9: Teorema de Hartman-Grobman
3.6 3.6.1
Estrutura local de o ´rbitas peri´ odicas A transforma¸c˜ ao de Poincar´ e
A transforma¸c˜ao de Poincar´e associada a uma orbita ´ fechada γ de um campo vetorial ´e um difeomorfismo π que definiremos a seguir. Esta transforma¸ c˜a o descreve o comportamento do camponuma vizinhan¸ca de γ . Seja ent˜ ao γ = ϕ(t, p); 0 t τ 0 uma ´orbita peri´ odica de per´ıodo τ 0 de um k n campo X de classe C , k 1, definido em ∆ R . Seja Σ uma se¸ca˜o transversal a X em p. Em virtude da continuidade do fluxo ϕ de X , para todo ponto q Σ pr´oximo de p a trajet´ oria ϕ(t, q ) permanece pr´ oxima a γ , com t em um intervalo compacto pr´e-fixado, por exemplo, [0, 2τ 0 ]. Define-se π(q ) como o primeiro ponto onde esta o´rbita, partindo de q , volta a interceptar novamente a se¸ c˜a o Σ. Seja Σ0 o dom´ınio de π. Naturalmente p Σ 0 e π( p) = p.
{
≥
≤ ≤ }
∈
⊂
∈
108
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais Σ π(q )
γ
p q
Figura 3.10: Transforma¸c˜ao de Poincar´e Muitas propriedades do retrato de fase de X perto de γ se refletem em π e reciprocamente. Por exemplo, as o´rbitas peri´ odicas de X vizinhas de γ correspondem aos pontos peri´ odicos de π, que s˜ao pontos q Σ 0 para os quais π n (q ) = q para algum inteiro n 1. O comportamento assint´ otico das o´rbitas de X perto de γ tamb´em n ´e descrito por π. Assim, limn→∞ π (q ) = p implica limt→∞ d(ϕ(t, q ), γ ) = 0, onde d(ϕ(t, q ), γ ) = inf ϕ(t, q ) r , r γ .
∈
≥
{|
− | ∈ }
odico Defini¸c˜ ao 3.33 Com as nota¸c˜oes acima, a o´rbita fechada γ ´e um atrator peri´ (ou ent˜ ao γ diz-se orbitalmente est´ avel) quando limt→∞ d(ϕ(t, q ), γ ) = 0 para todo q numa vizinhan¸ca de γ .
Observa¸c˜ ao 3.34 A se¸c˜ao Σ tomada acima ´e uma hipersuperf´ıcie ou uma subvariedade diferenci´ avel (n 1)-dimensional do aberto ∆ Rn . Pode-se supor que a variedade Σ que aqui aparece ´e um disco de um subespa¸ co vetorial ou afim de Rn, sem que isto constitua uma restri¸c˜ao s´eria.
−
⊂
A seguir, demonstraremos que π : Σ0 Σ ´e um difeomorfismo de classe C k sobre sua imagem Σ1. Vamos usar o teorema do fluxo tubular 3.26 e seu corol´ ario 3.27 para dar precis˜ ao a` defini¸c˜ao de π. Seja V uma vizinhan¸ca de p dada pelo Corol´ ario 3.27. Como ϕ(τ 0 , p) = p, existe uma vizinhan¸ca Σ0 de p em Σ tal que ϕ(τ 0 , q ) V para todo q Σ0 . Seja ξ : V Σ a aplica¸ca˜o definida no Corol´ ario 3.27. Pomos π : Σ0 Σ, π(q ) = ξ (ϕ(τ 0 , q )). Outra express˜ ao para π ´e π(q ) = ϕ(τ 0 +τ (ϕ(τ 0 , q )), q ), onde τ : V e o tempo R´ τ (x) que leva a o´rbita por x em V para interceptar Σ. Do Teorema das Fun¸ c˜oes k Impl´ıcitas , τ ´e de classe C . Destas express˜ oes resulta que π ´e da mesma classe de diferenciabilidade que X . A inversa π−1 : Σ1 Σ0 de π ´e definida tomando-se o campo X . Fica provado que π ´e um difeomorfismo C k .
→
→
∈
∈
→
→
→
−
3.6 Estrutura local de ´ orbitas peri´ odicas
3.6.2
109
Ciclos limites no plano
R2 um campo vetorial Defini¸c˜ ao 3.35 Sejam ∆ um aberto de R2 e X : ∆ de classe C 1 . Uma o´rbita peri´ odica γ de X chama-se ciclo limite se existe uma vizinhan¸ca V de γ tal que γ ´e a u ´nica o´rbita fechada de X que intercepta V .
→
Proposi¸c˜ ao 3.36 Com as nota¸c˜ oes da defini¸c˜ ao acima, existem apenas os seguintes tipos de ciclos limites (diminuindo V se necess´ ario): (a) Est´ avel, quando limt→∞ d(ϕ(t, q ), γ ) = 0 para todo q V ;
∈ (b) Inst´ avel, quando lim →−∞ d(ϕ(t, q ), γ ) = 0 para todo q ∈ V ; t
(c) Semi-est´ avel, quando limt→∞ d(ϕ(t, q ), γ ) = 0 para todo q V limt→−∞ d(ϕ(t, q ), γ ) = 0 para todo q V Int γ , ou o contr´ ario.
∈ ∩ Ext γ ;
∈ ∩
e
Demonstra¸ c˜ ao Diminuindo a vizinhan¸ca V se necess´ario, podemos supor que ela n˜ao cont´em singularidades. Sejam p γ e Σ uma se¸ca˜o transversal a X em p. Seja π : Σ0 Σ a transforma¸c˜ao de Poincar´e (veja a Figura 3.11). Suponhamos que Σ esteja ordenado, sendo o sentido positivo de Ext γ para Int γ . Dado q Σ 0 Ext γ , temos π(q ) > q ou π(q ) < q . Suponhamos π(q ) > q . Considere a regi˜ ao A limitada ) e pelo segmento qπ(q ) por γ , pelo arco de trajet´ oria qπ(q Σ0 . A regi˜ao A ´e homeomorfa a um anel e positivamente invariante, isto ´e, dado x A, ϕ(t, x) A para todo t 0. Isto segue pela unicidade de solu¸c˜oes e pela orienta¸ca˜o das o´rbitas. Ainda, ϕ(t, x) intercepta Σnuma sequˆencia estritamente mon´ otona de pontos x n que converge para p. Conclui-se que limt→∞ d(ϕ(t, x), γ ) = 0.
∈
→
∈ ∩
⊂
≥
Σ
∈
∈
q π(q ) p
γ
Figura 3.11: Ciclo Limite no Plano Se π(q ) < q , considerando o campo X , fica provado que limt→−∞ d(ϕ(t, x), γ ) = 0 para todo x A. As mesmas considera¸co˜es podem ser feitas em Int γ . Combinando todas as possibilidades podemos provar a proposi¸c˜ao.
∈
−
110
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Observa¸c˜ ao 3.37 Com as nota¸c˜oes da proposi¸c˜ao, temos que γ ´e um ciclo limite se e s´o se p ´e um ponto fixo isolado de π. Ainda, (a) γ ´e est´ avel se, e somente se, π(x) p;
|
− p| < |x − p| para todo x = p pr´oximo de
(b) γ ´e inst´ avel se, e somente se, π(x) p > x p para todo x = p pr´oximo de p;
|
− | | − |
(c) γ ´e semi-est´avel se, e somente se, π(x) p < x p para todo x Σ Ext γ pr´oximo de p e π(x) p > x p para todo x Σ Int γ pr´oximo de p, ou o contr´ ario.
|
| − | | − | − | | − | ∈ ∩
∈ ∩
Veja a Figura 3.12 para uma ilustra¸c˜ao destes comportamentos. Em particular, se π ′ ( p) < 1, podemos aplicar o teorema do valor m´edio e concluir que γ ´e est´ avel. Por outro lado, γ ´e inst´ avel se π′ ( p) > 1.
3.6.3
Derivadas da Transforma¸c˜ ao de Poincar´e
O teorema abaixo estabelece uma condi¸ca˜o suficiente para que uma o´rbita peri´ odica seja um ciclo limite est´ avel.
Teorema 3.38 Sejam ∆ R2 um aberto e X = (X 1 , X 2 ) : ∆ R2 um campo vetorial de classe C 1 . Seja γ uma ´ orbita peri´ odica de X de per´ıodo T e π : Σ0 Σ a transforma¸c˜ ao de Poincar´enuma se¸cao ˜ transversal Σ em p γ . Ent˜ ao
⊂
→
∈
T
π′ ( p) = exp
→
div X (γ (t))dt ,
0
onde div X (x) = D 1 X 1 (x)+D2 X 2 (x). Em particular, se T γ ´e est´ avel e se 0 div X (γ (t))dt > 0, γ ´e inst´ avel.
∗
( )
T div X (γ (t))dt 0
< 0 ent˜ ao
Demonstra¸ c˜ ao Para cada t, ponhamos A(t) = DX (γ (t)). Seja φ(t) a matriz fundamental de x′ = A(t)x, com φ(0) = E ; pela f´ormula de Liouville (Proposi¸c˜ao 2.10),
T
det φ(T ) = exp
div X (γ (t))dt .
0
Vamos provar que π′ ( p) = det φ(T ). Seja ϕ o fluxo gerado por X . Pelo Teorema 3.11 temos φ(T ) = D 2 ϕ(T, p). Notemos primeiro que D2 ϕ(T, p) X ( p) = X ( p). De d fato, como dt ϕ(t, p) = X ( p), vem
·
t=0
d d D2 ϕ(T, p) X ( p) = ϕ(T, ϕ(t, p)) = ϕ(T + t, p) dt dt t=0 d = ϕ(t, p) = X ( p). dt t=0
·
t=0
3.6 Estrutura local de ´ orbitas peri´ odicas
111 Σ
Σ
γ
γ y
est´avel
x = y
graf π x = y
y
inst´avel
graf π x
x Σ
Σ
γ
γ
y graf π x = y
y
x = y graf π
x
x
semi-est´aveis Figura 3.12: Comportamentos est´ avel, inst´avel e semi-est´ avel dos ciclos limites no plano Por outro lado, se g : ( ε, ε) Σ ´e uma parametriza¸ca˜ o de Σ tal que g(0) = p, o conjunto B = X ( p), g ′ (0) ´e uma base de R2 . Por defini¸ca˜o, π(g(s)) = ϕ(T + τ (ϕ(T, g(s)), g(s)), donde
−
{
→ }
d π g(s) = D 1 ϕ(T, p) a + D2 ϕ(T, p) g ′ (0) ds s=0 = aX ( p) + D2ϕ(T, p) g ′ (0),
π′ ( p) · g ′ (0) =
◦
·
·
·
onde a ´e a derivada de τ (ϕ(T, g(s))) em s = 0. Portanto, a matriz de D 2 ϕ(T, p) na base B ´e 1 a ′ 0 π ( p)
−
e obtemos det φ(T ) = π′ ( p). As u ´ ltimas afirma¸c˜o es do teorema seguem da Observa¸c˜ao 3.37. O teorema a seguir conduz a` uma express˜ ao para a derivada da Transforma¸ ca˜o de Poincar´e com rela¸c˜ao a um parˆ ametro.
112
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Teorema 3.39 Seja γ (t) = (γ 1 (t), γ 2 (t)) uma curva integral do campo vetorial Y = (Y 1 , Y 2 ), isto ´e, uma solu¸c˜ ao de
x′1 = Y 1 (x1 , x2 ) x′2 = Y 2 (x1 , x2 ).
(3.4)
Seja Z = (Z 1 , Z 2 ) um campo vetorial em R2 , ent˜ ao a componente normal a γ (t), η(t) =
−v .Y (γ (t)) + v .Y (γ (t)) , |Y (γ (t))| 1
2
2
1
de uma solu¸c˜ ao (v1 (t), v2 (t)) do sistema linear n˜ ao homogˆeneo
v1′ = v2′ =
∂ Y (γ (t)).v1 + ∂x∂ 2 Y 1 (γ (t)).v2 + ∂x 1 1 ∂ Y (γ (t)).v1 + ∂x∂ 2 Y 2 (γ (t)).v2 + ∂x 1 2
Z 1 (γ (t)) Z 2 (γ (t))
(3.5)
satisfaz a` equa¸c˜ ao diferencial
Y |′ det(Y, Z ) | ′ η = σ(Y ) − (γ (t)) .η + (3.6) |Y | |Y | (γ (t)), onde Y = Y (γ (t)), |Y |(γ (t) ) = (Y (γ (t)) + Y (γ (t))) , |Y |′ (t) = |Y |(γ (t)), det(Y, Z ) = Y .Z − Y .Z e σ(Y ) = div(Y )(γ ) = Y (γ (t)) + Y (γ (t)). 2 1
1
2
2
2 2 ∂ ∂x 1
1
1 2
1
∂ ∂x 2
d dt
2
Mais ainda, a solu¸cao ˜ η = η(t) da equa¸c˜ ao diferencial linear (3.6), com a condi¸c˜ ao inicial η(0) = η 0, ´e dada por
|Y (0)| .exp |Y (t)|
− t
t
σ(Y )dτ . η0 +
0
τ
exp
0
0
det(Y, Z ) σ(Y )du . dτ Y (0)
|
|
(3.7)
Demonstra¸ c˜ ao Para demonstrarmos esse lema, basta que derivemos a express˜ ao (3.7) dada acima para η = η(t). Observa¸c˜ ao 3.40 A equa¸c˜ ao (3.7) tamb´em permite concluir que a derivada da Transforma¸c˜ ao de Poincar´e ´e dada por
T
π ′ (0) = exp
σ(Y )dt.
0
Para isso ´e suficiente tomar Z 0 e η0 = 1. Compare com o Teorema 3.38
≡ ao de Poincar´e associada a Teorema 3.41 Se π(., λ) : L −→ L ´e a Transforma¸c˜ uma ´ orbita peri´ odica γ 0 de um campo X 0 = X (x, λ0 ), onde X ´e uma fam´ılia de campos, que depende de um parˆ ametro real λ, ent˜ ao, se L ´e normal a γ 0, temos
3.7 Fluxos lineares no toro
∂ π(u0 , λ0) ∂u
|X (u , λ )| 0
0
− T
.
113
∂ π(u0 , λ0) ∂λ
t
exp
0
=
σ(X )(γ 0 (u))du .det(X (γ 0 (t)), λ0),
0
∂ X (γ 0 (t), λ0 ))dt. ∂λ (3.8)
∂ X (., λ0 ); Demonstra¸ c˜ ao Para verificar isso, ´e suficiente tomar η0 = 0 e Z (.) = ∂λ assim a equa¸ca˜o (3.5) coincide com a equa¸ca˜o que d´a a derivada do fluxo com rela¸ca˜o a um parˆametro. ∂ A f´ormula (3.8) decorre de (3.7) pois ∂u π = π ′ .
3.7
Fluxos lineares no toro
Os fluxos de campos vetoriais lineares com valores pr´ oprios puramente imagin´ arios conduzem ao estudo de fluxos em superf´ıcies toroidais. Assim, consideremos em R4 o seguinte sistema de equa¸co˜es diferenciais
x′1 x′2 x′3 x′4
= αx2 , = αx 1 , = βx 4 , = βx3 .
− −
α, β > 0.
(3.9)
Usando coordenadas complexas z 1 = x 1 + ix2 e z 2 = x 3 + ix4 , o sistema (3.9) se escreve z 1′ = iαz 1 , (3.10) z 2′ = iβ z 2 ,
cujo fluxo ´e ϕ(t, z 1 , z 2 ) = (ϕ1 (t, z 1 ), ϕ2 (t, z 2 )) = (z 1 eiαt , z 2 eiβt ). Fixemos r1 , r2 > 0 R4 tais que z 10 = r1 e z 20 = r2 . A curva t e sejam (z 10, z 20 ) C2 ϕi (t, z i0 ) (isto ´e, a imagem desta curva) est´ a contida em C i = z C; z = ri , i = 1, 2. Portanto, o toro T 2 = C 1 C 2 de R4 ´e invariante pelo fluxo ϕ. As solu¸co˜es de (3.9) que est˜ ao contidas em T 2 s˜ao imagens pela aplica¸ca˜o R : R2 T 2, R(θ1, θ2 ) = (r1e2πiθ1 , r2 e2πiθ2 ), das solu¸co˜es do seguinte sistema de equa¸co˜es em R2 :
∈
≈
| |
| |
×
{ ∈ | | →
θ1′ = α/2π, θ2′ = β/2π.
→ }
(3.11)
Observamos que o toro T 2 pode ser obtido de outras maneiras. Uma delas consiste em identificar os lados opostos do quadrado [0, 1] [0, 1] R2 . Isto equivale a tomar a aplica¸ ca˜o quociente Q : R2 e o grupo aditivo dos inteiros. R2 /Z2 , onde Z ´ 3 Outra maneira consiste em tomar no espa¸ co R = (x,y,z ) o c´ırculo de raio 1 e
→
×
{
⊂
}
114
3. Teoria Teoria Qualitativ Qualitativa a das EDOs: Aspectos Gerais
centro (2, (2, 0) contido no plano (x, (x, z ) e rod´ a-lo a-lo em torno do eixo z eixo z . A superf sup erf´´ıcie obtida obtid a 2 3 R definida por desta maneira ´e a imagem da aplica¸ c˜ cao a˜o R
→
(θ1 , θ2 )
)cos2πθ , (2 + cos cos 2πθ )sen2πθ )sen2πθ , sen2πθ sen2πθ ). → ((2 + cos 2πθ )cos2πθ 2
1
2
1
2
Veja a Figura 3.13 como ilustra¸c˜ cao. a˜o. x4
C 2
x3 T 2
⊂R
4
orbita ´orbita de (3) x2
θ2
R
a
C 1
b
x1 z
b a
Q θ1
T 2
⊂R
3
y
x Figura 3.13: Toro T 2
C2 . Para Seja C = 1 C 2 ara todo (1 (1, z 20 ) C a orbita o´rbita ϕ(t, 1, z 20 ) intercepta C (n) (n) numa sequˆencia encia de pontos ponto s (1 ( 1, z 2 ) dada por z 2 = z 20e2πniβ/α, n Z . Na realidade estes pontos s˜ ao ao os iterados π n (z 20) pela transforma¸c˜ cao a˜o de Poincar´ Poin car´e π : C C , 2πiβ/α π (z ) = ze z e .
× ⊂
∈
∈
→
/α ´e racional, todas as orbitas ´ de (3.10) contidas em T 2 s˜ ao Teorema 3.42 Se β /α 2 peri´ odicas. Se β/α ´e irracional, elas s˜ ao densas em T . ao inteiros primos entre si e q > 0. Demonstra¸c˜ ao Seja β /α = p/q , onde p e q s˜ao Ent˜ ao, ao, todas as orbitas ´orbitas de π tˆem per´ıo do q , o que significa que as orbitas o´rbitas de (3.10) s˜ao ao peri´ odicas odica s de per´ıodo ıodo 2π/q .
3.8 Exerc´ıcios
115
Suponhamos β/α irracional. Para provar a afirma¸c˜ cao ˜ao acima basta fixar z 20 C 2 e provar que a sequˆencia encia π n (z 20 ) ´e densa no c´ırculo. ırcul o. Para isto ´e suficiente sufici ente mostrar mostr ar que o subgrupo de R gerado por 1,β/α ´e dens de nsoo em R. Mas esta afirma¸c˜ c˜ao ao decorre do Lema 3.16.
∈
{
}
ao as imagens pela aplica¸c˜ cao a˜o R dos pontos Observa¸c˜ ao ao 3.43 Os iterados πn (z 20 ) s˜ao 2 de abscissa inteira da orbita o´rbita correspondente de (3.11) em R . Obse Observ rvee que esta esta orbita ´orbita ´e uma reta de inclina¸ c˜ cao β a˜o β /α /α..
3.8
Exerc´ Exerc´ıcios
Rn . Uma 1. Seja X um X um campo vetorial de classe C 1 num aberto ∆ Uma fun¸ fun¸c˜ cao a˜o R chama-se integral primeira de X em cont´ınua nu a f : ∆ em ∆ se:
⊂
→
(a) f ´ f ´e constante ao longo de toda orbita ´ de X ; (b) f n˜ao ao ´e constante em nenhum ab erto de ∆. Resolva as seguintes quest˜ oes: oes: R de classe C 1 tal que Df ( (i) Seja f : ∆ Df ( p) p) X ( p) p) = 0 e Df ( Df ( p) p) = 0 para todo p ∆. Ent˜ao ao f ´ f ´e uma integral integr al primeira prime ira de X de X ..
∈
→
·
(ii) Se p ∆ n˜ao ao ´e ponto singular de X X ent˜ ao ao existe uma vizinhan¸ca ca V de p tal que X V tem n 1 integrais primeiras f 1 , . . . , fn −1 de classe C 1 funcionalmen funcionalmente te independentes independentes (isto ´e, e, tais que df 1 (q ), . . . , df n−1 (q ) s˜ao ao linearmente independentes para todo q V ). V ). (Sugest˜ao: a o: Use Use o corol corol´ a´rio do teorema do fluxo tubular, pensando priario meiro em um campo paralelo (1, (1, 0, . . . , 0).)
∈
|
−
∈ ∈
(iii) Encontre Encontre uma integral primeira primeira do centro dado por x′1 = βx 2 x′2 = βx 1
−
e da sela x′1 = λ1 x1 x′2 = λ2 x2 onde λ1 < 0 < 0 < λ2. (iv) N˜ao ao existe nenhuma integral primeira em R2 nem para os n´os os nem para os focos definidos na se¸c˜ c˜ao ao 2.4 do Cap´ Cap´ıtulo 2. (v) Generalize Generalize (iii) e (iv) para sistemas lineares em Rn .
116
3. Teoria Teoria Qualitativ Qualitativa a das EDOs: Aspectos Gerais
R uma fun¸ (vi) Seja H : R2n c˜ c˜ao ao de classe cla sse C r , r 2. Supon Suponha ha que que os pontos onde dH dH q ´e nula nul a s˜ao ao isolados e encontre uma integral primeira para o campo
→
X =
≥
∂H ∂H ,..., , ∂x n+1 ∂x 2n
−
∂H ,..., ∂x 1
−
∂H ∂x n
(tal campo ´e conhecido como Hamiltoniano ). R de classe C 2 , tal que df (vii) Dada uma fun¸c˜ c˜ao ao f : ∆ df n˜ao a o se anula em nenhum aberto, encontre um campo X cuja cuja integral primeira seja f . f . 2 Suponha Suponha ∆ R .
→
⊂
(viii) (viii) Se X 1 e X 2 em ∆1 e ∆2, respectivamente, s˜ao ao topologicamente equivalentes e X 1 tem uma integral primeira, ent˜ ao ao o mesmo mes mo ´e v´ alido alido para X para X 2 . (ix) Se f ´e uma integral primeira de X , ent˜ao ao M c = f −1 (c) ´e invariante invaria nte por po r como M c n˜ao ao cont´em em abertos, podemos po demos considerar as X . Em particular, como M orbitas ´orbitas contidas em M c como um “subsistema”, com dimens˜ ao ao inferior em uma unidade com respeito ao sistema definido por X por X .. (x) Se X X tem uma integral primeira f e df ( f ( p) p) = 0 ent˜ ao ao existe uma vizinhan¸ca V ca V de p de p tal tal que X que X V ´ V ´e diferenciavelme difer enciavelmente nte conjugad con jugadoo a um sistema si stema da forma Y = (Y 1 , Y 2 , . . . , Yn −1 , 0). 0).
|
V X V
|
Y = (y1, y2 , . . . , yn−1 , 0)
Figura 3.14: Campo com Integral Primeira (xi) Generalize Generalize este ultimo ´ resultado para o caso em que X que X possui possui k k integrais primeiras funcionalmente independentes (ver (ii)) em um ponto p ponto p ∆. (Sugest˜ao: ao: Compare com o teorema do fluxo tubular 3.26 e imite a prova, usando o Teorema da Fun¸c˜ cao ˜ao Inversa.)
∈
3.8 Exerc´ıcios
117
2. Sejam Σ1 , Σ2 hiperplanos transversais a um campo X de classe C k num aberto ∆ Rn. Se pi = ϕ(ti ) Σi (i = 1, 2) e t1 < t2 , existe uma vizinhan¸ca V i de R de classe C k tal que pi e uma fun¸ca˜o τ : V 1
⊂
∈ →
f : q
→ ϕ(τ (q ), q ) ´e um difeomorfismo de V ∩ Σ sobre V ∩ Σ . 1
1
2
2
(Sugest˜ao: Use o teorema do fluxo tubular.)
3. Seja f (x, λ) de classe C 1 em Rn
n
×R
tal que
x′ = f (x, 0) tem uma solu¸ca˜o peri´ odica p(t) n˜ao constante. Suponha que ω ´e o per´ıodo desta solu¸c˜a o e que as u ´ nicas solu¸c˜oes y(t) de
y ′ = D 1 f ( p(t), 0)y, y(0) = y(ω) s˜ao as fun¸co˜es da forma ap′ (t) com a
∈ R.
Prove que existe δ > 0 e uma fun¸c˜ao τ (λ) de classe C 1 em λ < δ tal que τ (0) = ω e x′ = f (x, λ)
| |
tem uma solu¸c˜ao p(t, λ) de classe C 1 peri´ odica de per´ıodo τ (λ) com p(t, 0) = p(t). (Sugest˜a o: Seja H o hiperplano normal a` curva p(t) no ponto p(0). Sem perda de generalidade, pode-se supor que p(0) = 0 e p ′ (0) = (1, 0, . . . , 0) e da´ı H = Rn−1 . Para h = (h2, . . . , hn ) H seja a solu¸ca˜o ϕ(t,h,λ) do problema de valores iniciais x′ = f (x, λ), x(0) = h.
∈
Aplique o Teorema das Fun¸c˜oes Impl´ıcitas `a equa¸ca˜o ϕ1 (t,h,λ) = 0 (ϕ1 ´e a primeira coordenada de ϕ) para obter ξ (h, λ) com ξ (0, 0) = ω e ϕ(ξ (h, λ), h , λ) H . Fica assim definida uma transforma¸ c˜ao de Poincar´e de H em H de 1 classe C . Para encontrar p(t, λ) resolva a equa¸c˜ao ϕ(ξ (h, λ), h , λ) = h usando o Teorema das Fun¸co˜es Impl´ıcitas.)
∈
4. Sejam f 1 , f 2 de classe C 2 em R2 . Dado a > 0 prove que uma condi¸ca˜o necess´aria para que o sistema x′1 = x2 + µf 1 (x1 , x2 ) x′2 = x 1 + µf 2 (x1, x2 )
−
( )
∗
118
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
tenha uma solu¸c˜ao peri´ odica ϕ(t,a,µ) de per´ıodo τ (µ) para todo µ suficientemente pequeno tal que ϕa = ϕ(t,a, 0) = a(cos t, sen t) e τ (µ) ´e diferenci´ avel com τ (0) = 2π, ´e que β (a) =
f 2 dx1
ϕa
− f dx 1
2
= 0.
Prove que se β (a) = 0 e β ′ (a) = 0, ent˜ao ( ) tem de fato uma solu¸c˜ao peri´ odica com as propriedades acima. (Sugest˜ao: Introduza coordenadas polares
∗
x1 = r cos θ x2 = rsen θ
∗
transformando ( ) em r ′ = µR1 (r,θ,µ) θ′ = 1 + R2 (r,θ,µ) que ´e equivalente a uma equa¸c˜ao do tipo dr = µR(r,θ,µ). dθ
(
∗∗)
Prove que a solu¸ca˜o ρ(r,θ,µ) de ( ), com ρ(r, 0, µ) = r, satisfaz a ρ(r, 2π, µ) = r + µ(β (r) + ε(r, µ)µ).)
∗∗
5. Use o exerc´ıcio 4 para mostrar que a equa¸ c˜ao de van der Pol x′′ =
2
−x + εx′(1 − x )
possui, para todo ε > 0 suficientemente pequeno, um u´nico ciclo limite est´ avel 2 2 ′ na vizinhan¸ca do c´ırculo x + (x ) = 4. Prove tamb´em que quando ε 0 este ciclo tende para o c´ırculo mencionado.
→
6. Que condi¸c˜oes dever˜ ao satisfazer a e b para que a curva
√
√
γ (t) = (A cos at,B cos bt) seja densa no retˆ angulo [ A, A] [ B, B]? (Sugest˜ao: Considere o sistema de osciladores harmˆ onicos x′′ + ax = 0, y′′ + by = 0. Analise a possibilidade das curvas integrais em R4 (x, x′ , y , y ′ ) serem densas em toros.)
−
×−
3.8 Exerc´ıcios
119
7. Sistemas conservativos unidimensionais: Considere a equa¸ c˜ao x′′ = F (x) num intervalo da reta. Claramente ela ´e equivalente ao sistema x′ = v v ′ = F (x)
∗
( )
(i) Mostre que a energia total E = T + U ´e uma integral primeira de ( ) 2 x onde T (v) = v2 ´e a energia cin´etica e U (x) = F (ξ )dξ ´e a energia x0 potencial.
∗
−
(ii) Mostre que todos os pontos de equil´ıbrio de ( ) est˜ a o no eixo dos x. Mostre tamb´em que todas as o´rbitas peri´ odicas de ( ) interceptam o eixo dos x e s˜ao sim´etricas em rela¸ca˜o a ele.
∗
∗
(iii) Mostre que se U (x1 ) = U (x2 ) = c e U (x) < c para x 1 < x < x2 ent˜ ao ( ) tem uma o´rbita peri´ odica passando pelos pontos (x1 , 0) e (x2 , 0). 2 (Sugest˜a o: A o´rbita que passa por (x0 , 0) ´e dada por v2 +V (x) = E , onde dv E ´e sua energia. Use o fato de dx = F (x) para concluir que esta o´rbita v torna a encontrar o eixo dos x e que isto deve acontecer em (x2 , 0). Use ent˜ ao (ii).)
∗
v
U (x) c
x1 x1
x2
x2 x
x
Figura 3.15: N´ıveis de energia, Potencial e Total, (iii) (iv) Suponha que F (x) = 0 para 0 < x x0 < a. Mostre que ( ) tem um centro ou uma sela em (x0 , 0) conforme U (x0 ) seja um m´ınimo ou um m´aximo relativo.
| − |
∗
8. Com base no exerc´ıcio anterior, determine o espa¸ co de fase das seguintes equa¸co˜es: (i) x′′ =
−x (mola)
120
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais v
U (x)
x
b a
b
a
x
Figura 3.16: N´ıveis de energia, Potencial e Total, (iv) (ii) x′′ =
−sen x (pˆendulo) (iii) x′′ = − (gravita¸ca˜o.) 1 x2
9. Considere a equa¸ca˜o (ver exerc´ıcio 7) x′′ + q (x) = 0, onde q C 1 , q ( 0) = 0 e xq (x) > 0 se x = 0. Interprete-a como a equa¸ c˜ao do movimento de uma massa unit´ aria presa a uma mola el´ astica que reage a um deslocamento x com uma for¸ca q (x). Defina a rigidez h(x) da mola por h(x) = q(x) . Por (iv) do exerc´ıcio 7, sabemos que (0,0) ´e um centro no espa¸ co x de fase (x, v).
∈
−
(i) Dada uma o´rbita na vizinhan¸ca de 0, com energia E e limites de oscila¸ca˜o B e A (ver Figura 3.17), mostre que seu per´ıodo ´e
−
− − A
T = 2
dx . 2(E U (x))
−B
(Sugest˜ao: note que x′ = v =
2(E
U (x)).)
(ii) Considere duas molas com h 1(x) h(x) que oscilam dentro dos mesmos limites (ver(i)). Se T 1 , T s˜ao seus per´ıdos de oscila¸c˜ao, ent˜ ao T T 1 . A (Sugest˜a o: Note que no ponto A, E = U (A) = 0 q (u)du e da´ı E A U (x) = x q (u)du. Use isso para provar que E U (x) E U 1 (x). Aplique ent˜ ao (i).)
≥
−
≥
≤ −
−
(iii) Uma mola para a qual h(x) = h( x) ´e dita sim´etrica. Neste caso, U (x) = U ( x) e B = A em (i). O n´ umero A ´e dito amplitude da oscila¸c˜ao. Dizemos que uma mola sim´etrica ´e dura se h′′ (0) > 0 e macia se h′′ (0) < 0. Mostre que o per´ıodo de uma mola dura (resp. macia) descresce (resp.
−
−
3.8 Exerc´ıcios
121 v
−B
A
x
´ Figura 3.17: Orbita com energia E, Exerc´ıcio 9 cresce) quando a amplitude das oscila¸c˜oes cresce. (Sugest˜a o: seja A1 = cA com c > 1. Por simetria ´e preciso considerar apenas o tempo que a mola gasta para oscilar entre 0 e A (resp. 0 e A 1 ). Fa¸ca x = cy e obtenha a equa¸c˜ao y′′ + yh(cy) = 0. Note que a oscila¸ca˜o de amplitude A para a equa¸c˜ao original, ambas com o mesmo per´ıodo. Use ent˜ao (ii).) 10. No enunciado do Teorema 3.11 substitua a classe C k de f pela classe C ω (anal´ıtica real) em ∆. Prove que ϕ, o fluxo gerado por f , ´e anal´ıtico em D. Lembramos que uma fun¸c˜ao real (resp. complexa) num dom´ınio n-dimensional real (resp. complexo) ´e anal´ıtica se cada ponto do dom´ınio tem uma vizinhan¸ca onde ela ´e a soma de uma s´erie de potˆencias uniformemente convergente. O Teorema de Montel garante que uma sequˆencia de fun¸ c˜oes anal´ıticas complexas, convergindo uniformemente em partes compactas do seu dom´ınio, tem como limite uma fun¸ca˜o anal´ıtica complexa. (Sugest˜ao: Prove uma vers˜ ao do Teorema 3.10 para f anal´ıtica complexa em n ∆ c˜ao C e obtenha ϕ anal´ıtica complexa. Para o caso real estenda a fun¸ para uma vizinhan¸ca complexa de seu dom´ınio e aplique a ideia anterior.)
⊂
11. Duas esp´ecies animais A e B coexistem num meio ideal onde o alimento para A ´e ilimitado. Esta esp´ecie, por´em, constitui o alimento principal de B. Denotemos por x e y as densidades (elementos por unidade de a´rea) de A e B respectivamente. Segundo Volterra e Lotka, temos que a evolu¸ c˜ao destas densidades obedece ao sistema x′ = αx βxy y′ = γy + δxy
−
−
( )
∗
onde α,β, γ,δ s˜a o n´ umeros positivos. Justifica-se o sinal de α a partir da Lei de Malthus segundo a qual a popula¸ca˜o de uma esp´ecie A em condi¸c˜oes ideais cresce exponencialmente. Este crescimento ´e inibido pela presen¸ ca da esp´ecie
122
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
B. A inibi¸ca˜o ´e, nesse caso, proporcional aos encontros por unidade de area ´ entre predadores B e v´ıtimas A; isto acarreta o sinal negativo antes de β . Analogamente para γ e δ . Prove que ( ) tem uma integral primeira E que possui em (γ/δ, α/β ) um ponto de m´ınimo n˜ao degenerado (D2 E ´e definida positiva nesse ponto). Conclua que todas as solu¸c˜o es de ( ) no quadrante positivo s˜ ao peri´ odicas. Interprete os resultados obtidos em termos de oscila¸co˜es ininterruptas das densidades das esp´ecies. (Sugest˜ao: Transforme ( ) numa equa¸ca˜o de vari´ aveis separ´ aveis e encontre α γ −βy −δx E = y x e e .)
∗
∗
−
∗
12. Seja X um campo vetorial anal´ıtico em R2 . Prove que uma o´rbita fechada de X ´e um ciclo limite ou ´e interior ao conjunto P X = x R2 ; γ x ´e peri´odica de o´rbitas fechadas de X . (Sugest˜ao: Use o exerc´ıcio 10 e prove que a transforma¸ c˜ao de Poincar´e associada a` o´rbita fechada de um campo anal´ıtico ´e anal´ıtica.)
{ ∈
}
13. Sejam a,b,c,d n´umeros reais e f, g : B c˜oes de classe C 1 definidasR fun¸ numa bola B de centro na origem (0,0) de R2 e raio r. O sistema
→
x′ = ax + by + f (x, y), y′ = cx + dy + g(x, y),
(3.12)
chama-se sistema perturbado do sistema linear
x′ = ax + by, y′ = cx + dy.
(a) Prove que se f = o(r), g = o(r) e ad ponto singular isolado de (3.12).
(3.13)
− bc = 0, ent˜ao a origem (0,0) ´e um
(b) Suponha que f (0, 0) = g(0, 0) = 0 e Df (0, 0) = Dg(0, 0) = 0. Determine condi¸c˜oes sobre a, b, c, d para que (0,0) seja uma singularidade hiperb´ olica de (3.12). Neste caso, descreva o retrato de fase (3.12)numa vizinhan¸ ca da origem. Existem trˆes tipos topol´ ogicos. (c) Desenhe o retrato de fase dos sistemas abaixo. Mostre que n˜ ao s˜ ao topologicamente equivalentes entre si ou a um dos tipos encontrados em (b). z ′ = z 2, x′ = x2 ,
z = x + iy, y ′ = y, 1 2 x′ = e−1/x sen , y ′ = x
−
(3.14) (3.15)
−y.
(3.16)
3.8 Exerc´ıcios
123
(d) Dˆe exemplo de um sistema (3.12) tal que a origem ´e um ponto singular e toda vizinhan¸ca da origem possui uma o´rbita fechada. 14. Sejam Σ, Λ espa¸cos m´etricos, o primeiro deles completo. Seja φ : Σ cont´ınua tal que existe 0 < λ < 1 satisfazendo d(φ(x1 , τ ), φ(x2 , τ ))
× Λ → Σ
≤ λd(x , x ) 1
2
para todo (x1 , τ ), (x2 , τ ) Σ Λ. Se τ Λ, seja x ∞ (τ ) o u´nico ponto fixo da fun¸ca˜o φ r : Σ Σ definida por φτ (x) = φ(x, τ ).
→
∈ ×
∈
(i) Prove que x ∞ (τ ) depende continuamente de τ . (ii) Seja agora Σ espa¸co m´etrico completo e Φ : Σ Σ˙ Λ Σ Σ˙ ˙ uma aplica¸ca˜o cont´ınua da forma Φ(x, ˙ τ ) = (φ(x, τ ), φ(x, x, ˙ τ )) com x, ˙ ˙ ˙ ˙ d(φ(x, x˙ 1 , τ ), φ(x, x˙ 2 , τ )) λd(x˙ 1 , x˙ 2 ). Prove que o ponto fixo (x∞ (τ ), ˙ = (φ(x, τ )) depende contix˙ ∞ (τ )) de φˆτ : Σ Σ Σ˙ dada por φτ (x, x) nuamente de τ . ˙ (Sugest˜ao: Note que x˙ ∞ (τ ) ´e ponto fixo da aplica¸ c˜ao φ˙ 1 : Σ˙ Σ, ˙ ∞ (τ ), x, φ˙ 1(x) ˙ = φ(x ˙ τ ) e por (a) x∞ (τ ) depende continuamente de τ .)
× × → ×
× ×
≤
→
(iii) Aplique as conclus˜ oes de (ii) e o m´etodo da se¸ c˜ao 3.2 para provar que se 1 f 0 , f 1 , f 2, . . . s˜ao campos vetoriais de classe C em ∆ tais que f n f 0 e Df n Df 0 uniformemente em partes compactas de ∆, ent˜ao ϕ n ϕ 0 e Dϕn Dϕ0 uniformemente em partes compactas de D0 R ∆ onde D0 ´e o dom´ınio do fluxo gerado por f 0 . Generalize este resultado para classe C k , k > 1.
→ →
⊂ ×
→ →
15. Prove que a defini¸c˜ao de ponto singular hiperb´ olico 3.29 depende apenas da 1 classe de C -conjuga¸c˜ao local. (Sugest˜ao: Ao contr´ ario do feito na Observa¸ca˜o 3.30, trabalhe com a equa¸ca˜o de conjuga¸c˜ao entre os fluxos de X e Y .) 16. Suponha que r = r(x, y) e s = s(x, y) s˜ao fun¸co˜es de classe C 2 numa vizinhan¸ca de (0, 0), ponto no qual elas e suas primeiras derivadas parciais se anulam. Sela. Sejam λ < 0 < µ. Prove que existe uma u´nica curva de classe C 1 , da forma y = S (x), para x [ ǫ, ǫ], nula com derivada nula em 0 tal que uma solu¸ca˜o de
∈ −
x′ = λx + r(x, y),
y ′ = µy + s(x, y)
(3.17)
tende a (0, 0) quando t se, e somente se, existe um t0 tal que, para t t 0 ela est´a contida em y = S (x).
≥
→∞
124
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Diz-se que a curva y = S (x) ´e dividida por 0 em duas separatrizes est´aveis. Analogamente para as separatrizes inst´aveis. Nota. Este resultado vale tamb´em para r(x, y) e s(x, y) de classe C 1 [23]; se elas s˜ao apenas diferenci´ aveis, com derivadas parciais limitadas a unicidade da separatriz n˜ao ´e u´nica. Ver Exerc´ıcio 18 abaixo. A vers˜ ao aqui apresentada deve-se a Pontrjagin [19]. N´o. Suponha agora que λ < µ < 0 e que r = r(x, y) e s = s(x, y) s˜ao ainda de classe C 3 . Prove que existe uma u ´ nica curva de classe C 1 , da forma y = N (x), para x [ ǫ, ǫ], nula com derivada nula em 0 tal que uma solu¸c˜ao de de 3.17 tende a (0, 0) com sua reta tangente tendendo ao eixo x quando t se, e somente se, existe um t0 tal que, para t t0 ela est´a contida em y = N (x). Prove tamb´em que as solu¸co˜es que tendem a (0, 0) quando t sem encontrarem y = N (x), s˜ao tais que as suas retas tangentes tendem ao eixo y.
∈ −
→ ∞
≥ → ∞
17. Suponha que r = r(x, y) e s = s(x, y) s˜ao fun¸co˜es de classe C 3 numa vizinhan¸ca de (0, 0), ponto no qual elas e suas derivadas parciais at´e ordem 2 se anulam. Prove que (0, 0) ´e um ponto singular isolado de x′ = y + r(x, y),
y ′ = x 2 + kxy + s(x, y), k
∈ R,
(3.18)
e que existe uma u ´ nica curva de classe C 1 da forma y = A(x) (resp. y = R(x)) definida em [0, ǫ] tal que uma solu¸c˜ao de (3.18) tende a (0, 0) quando t (resp. t ) se, e somente se, dita solu¸ca˜o encontra y = A(x) (resp. y = R(x) ).
→ ∞
→ −∞
Este ponto de equil´ıbrio ´e denominado de cuspidal . Tenha uma ideia inicial das solu¸co˜es considerando o caso Hamiltoniano que resulta de supor k = 0 e r = r(x, y) e s = s(x, y) identicamente nulas. Para o caso geral transforme o sistema usando as coordenadas polares generalizadas x = r 2 cos θ, y = r 3 sen θ. Prove que o sistema transformado tem duas selas. Prove que por mudan¸cas de coordenadas, todo sistema da forma x′ = y + ax2 + bxy + cy 2 + r1 (x, y),
y ′ = x 2 + dxy + ly 2 + s1 (x, y), (3.19)
R, e r1 e s1 como r e s acima, pode ser transformado em com a,b,c,d,l um da forma (3.18), para algum k R e fun¸c˜oes r e s com as condi¸co˜es de anula¸c˜ao at´e ordem 2 em (0, 0) acima.
∈
∈
3.8 Exerc´ıcios
125
18. Sela com Funil Est´ avel [25]. Seja τ uma fun¸c˜ao real de class C ∞ , crescente no intervalo [0, 1], τ (−∞,0) = 0, τ (1,∞) = 1. Ver Figura 3.18. Considere a
|
|
Figura 3.18: Fun¸c˜oes τ (v), a esquerda, e τ (v)/v, a direita. seguinte familia de campos de vetores em R2
− − ǫx τ ( xy )).
X ǫ (x, y) = ( x, y
2
2
(3.20)
Prove que este campo ´e diferenci´ avel em R2 , com derivadas parciais de primeira ordem limitadas numa vizinhan¸ca de (0, 0), mas n˜ao cont´ınuas em (0, 0). Assim ele ´e de Lipschitz e portanto tem solu¸ c˜oes u ´nicas. Encontre um numero ǫ0 > 0 tal que: 1. Para 0 < ǫ < ǫ0 o retrato de fase de X ǫ near pr´ oximo a (0, 0) ´e topologicamente equivalente a uma sela linear. 2. Para ǫ ǫ 0, o conjunto de solu¸c˜oes que tendem a (0, 0) tem interior n˜ ao vazio, formando dois funis est´ aveis , contidos na regi˜ao (x, y); 0 y 3 2 x . Ver Figura 3.19 ǫ0
≥
}
{
≤ ≤
Figura 3.19: Dois funis est´ aveis, duas separatrizes inst´ aveis Encontre ǫ0 de modo que 3/ǫ0 seja o m´aximo de τ (v)/v, o qual ´e atingido no intervalo ]0, 1[. Ver figura 3.18. Para tanto estude os pontos de equil´ıbrio do campo acima, depois de fazer a mudan¸ca de vari´ aveis x = u, y = vu2 .
126
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
19. Considere o seguinte sistema, cuja parte linear em (0, 0) ´e um centro: x′ = P (x, y) = y + p2 (x, y) + p3 (x, y) + P 4 (x, y), y ′ = Q(x, y) = x + q 2 (x, y) + q 3 (x, y) + Q4 (x, y).
(3.21) (3.22)
−
Suponha que pi , q i 2 i 3 s˜ao polinˆomios homogˆeneos de grau i e P 4 , Q4 s˜ao fun¸c˜oes de classe C 4 com todas as suas derivadas parciais at´e ordem 3 nulas em (0, 0).
≤ ≤
Escreva os polinˆ omios explicitando os coeficientes, na forma: p2 (x, y) q 2 (x, y) p3 (x, y) q 3 (x, y)
= = = =
p20 x2 + p11 xy + p02 y2 q 20 x2 + q 11 xy + q 02 y 2 p30 x3 + p21 x2y + p12 xy 2 + p03 y 3 , q 30 x3 + q 21 x2 y + q 12 xy 2 + q 03 y3 .
(3.23) (3.24) (3.25) (3.26)
Prove que existem polinˆ omios f i , i = 3, 4, homogˆeneos c´ ubicos e qu´articos, 2 2 tais que L(x, y) = (x + y )/2 + f 3 (x, y) + f 4 (x, y), com f 3 (x, y) = f 30 x3 + f 21 x2 y + f 12 xy 2 + f 03 y 3 , f 4 (x, y) = f 40 x4 + f 31 x3 y + f 22 x2 y2 + f 13 xy 3 + f 04 y4 ,
(3.27) (3.28)
verificam:
L′ = (∂L/∂x)P + (∂L/∂y)Q =
Λ1 2 (x + y2 )2 + L5 (x, y), 8
(3.29)
onde L5 ´e uma fun¸ca˜o de classe C 4 tal que as derivadas parciais at´e ordem 4 se anulam em (0, 0) e Λ1 R, denominado o primeiro n´ umero de Liapounov do sistema (3.22), ´e dado por
∈
Λ1 = 3 p30 + p12 + q 21 + 3q 03 p20 p11 + q 11 q 02 2 p02 q 02 p02 p11 + 2 p20 q 20 + q 11 q 20 .
−
−
−
(3.30) (3.31)
Conclua que se Λ1 < 0 (resp. Λ1 > 0 ) a origem ´e um atrator (resp. repulsor) para as solu¸c˜oes com condi¸co˜es iniciais vizinhas a ela. Os coeficientes de f 3 (x, y), organizados como vetor coluna [f 30 , f 21 , f 12 , f 03 ], s˜ao u´ nicos, pois eles satisfazem um sistema de equa¸ co˜es lineares cuja matriz, A4 , 4 4, tem por linhas (0, 1, 0, 0), (3, 0, 2, 0), (0, 2, 0, 3) e (0, 0, 1, 0), a qual ´e n˜ao singular.
×
−
−
−
3.8 Exerc´ıcios
127
Os coeficientes de f 4 (x, y), organizados como vetor coluna [f 40 , f 31 , f 22 , f 13 , f 04 ], que denotaremos por f 4 , devem satisfazer um sistema de equa¸c˜oes lineares cuja matriz, A5, 5 5, tem por linhas (0, 1, 0, 0, 0), (4, 0, 2, 0, 0), (0, 3, 0, 3, 0), (0, 0, 2, 0, 4) e (0, 0, 0 1, 0). Denote por d ( e calcule-o em termos dos coeficientes at´e ordem 3 do sistema (3.22)), o lado direito desta equa¸ca˜o, organizado como vetor coluna.
−
×
−
−
−
A matriz A 5 , entretanto, ´e singular pois seu n´ ucleo ´e gerado pelo vetor coluna n = [1, 0, 2, 0, 1]. Observe que e a sua imagem (como operador), i. e. o espa¸c o gerado por suas colunas, consiste no n´ ucleo da forma linear a, cuja express˜ao, como (co-) vetor linha, ´e dada por (3, 0, 2, 0, 3). ´ claro que o sistema A 4 f 4 = d - a (d)n/a(n) que deve ser identificado com os E termos de ordem 4 da equa¸c˜ao (3.29), tem solu¸ca˜o u ´nica, f 4 , desde que a (f 4) = 0. Para concluir identifique Λ1 com o resultado do c´ alculo de a(d)/a(n). Dˆe exemplos de pontos de equil´ıbrio atratores e repulsores, de sistemas n˜ ao n lineares em R , n 2, cujas partes lineares tˆem dois valores pr´ oprios no eixo imagin´ario.
≥
Compare o resultado acima com o c´ alculo da derivada terceira da transforma¸c˜ao de Poincar´e associada ao sistema (3.22). Prove que os dois resultados s˜ao equivalentes. Isto ´e, os resultados diferem por um fator positivo; assim a conclus˜ao de estabilidade ou instabilidade ´e a mesma com os ambos m´etodos de calculo. Suponha que Λ1 < 0, somando um campo radial da forma (ǫx,ǫy), com ǫ > 0, pequeno, ao sistema (3.22), obtenha uma o´rbita peri´ odica que n˜ ao ´e repulsora para o sistema modificado. 20. Seja f de classe C 2 num aberto ∆ de Rn . Prove que, na demonstra¸ ca˜ o do ˆ ˙ Teorema 3.10, os dom´ınios da transforma¸c˜ao F = (F, F ) podem ser escolhidos ˆ = X X ˙ , com a m´etrica dˆ = tais que esta ´e uma contra¸ c˜a o do espa¸co X sup(d, ˙d). Isto ´e, com esta hip´ otese de Df n˜ao ser s´o cont´ınua mas tamb´em ter derivada cont´ınua, o Teorema de Contra¸ ca˜o nas Fibras 3.7 n˜ao ´e necess´ ario, bastando o Lema da Contra¸ca˜o 1.6.
×
Nota. Exerc´ıcio baseado em Arnold [2] e Sotomayor [21]. 21. Seja f = f (x, λ) com derivadas parciais com rela¸c˜ao a x cont´ınuas em Rn R p . Prove que o fluxo local ϕ(t,x,λ) de x′ = f (x, λ) no Teorema 3.10 tamb´em ´e cont´ınuo em (t,x,λ).
×
22. Seja f de classe C 1 em R3 tal que ∂f/∂x > 0. Seja ϕ = ϕ(t, a0 , a′0 ) a solu¸ca˜o de x′′ = f (t,x,x′ ), x(0) = a 0 , x′ (0) = a ′0.
128
3. Teoria Qualitativa das EDOs: Aspectos Gerais
Prove que ∂ϕ(1, a0 , a′0 )/∂a ′0 > 0. Nota. Exerc´ıcio baseado em Coddington e Levinson [5], p.38. (Sugest˜a o: Prove que u = u(t) = ∂ϕ(t, a0 , a′0 )/∂a 0 satisfaz a` equa¸c˜ao u′′ = A(t)u + B(t)u′ , onde A(t) > 0, com as condi¸co˜es iniciais u(0) = 0, u′ (0) = 1. Assim, u(t) ´e n˜ao decrescente e portanto positiva em [0, 1]. Caso contrario, ela teria um m´ aximo em um ponto onde u ′ = 0 e portanto u ′′ 0, em contradi¸ca˜o com u′′ = A(t)u > 0.)
≤
Cap´ıtulo 4 Teorema de Poincar´ e - Bendixson A conclus˜ao deste cap´ıtulo, que lhe d´ a o nome, constitui um dos primeiros resultados da Teoria Qualitativa das EDOs. Sob hip´ oteses simples, estabelece o comportamento assint´ otico das o´rbitas de campos vetoriais no plano ou na esfera, havendo apenas trˆes padr˜ oes poss´ıveis para os conjuntos limites das o´rbitas. Como visto em 3.7 estes padr˜ oes se complicam consideravelmente em dimens˜ oes superiores, onde aparecem tamb´em os sistemas dinˆamicos ditos ca´ oticos como o de Lorenz.
4.1
Conjuntos α-limite e ω -limite de uma ´ orbita
Sejam ∆ um subconjunto aberto do espa¸co euclidiano Rn e X : ∆ Rn um campo vetorial de classe C k , k 1. Seja ϕ(t) = ϕ(t, p) a curva integral de X passando pelo ponto p, definida no seu intervalo m´ aximo I p = (ω− ( p), ω+ ( p)). Se ω+( p) = , define-se o conjunto
→
≥
ω( p) = q ∆;
∞ ϕ(t ) → q, quando n → ∞}.
{ ∈ ∃{t } com t → ∞ e Analogamente, se ω − ( p) = −∞, define-se o conjunto α( p) = {q ∈ ∆; ∃{t } com t → −∞ e ϕ(t ) → q, quando n → ∞}. n
n
n
n
n
n
Os conjuntos ω( p) e α( p) s˜ao chamados, respectivamente, de conjunto ω-limite e conjunto α-limite de p.
Exemplo 4.1 (a) Seja X : R2
2
→R
o campo C ∞ dado por
X (x, y) = (x, y).
−
As curvas integrais de X s˜ao representadas pela sela da Figura 4.1, em R2 . Se p = 0, α( p) = ω( p) = 0 ;
{}
129
130
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson E 2
E 1
Figura 4.1: Conjuntos limites, sela Se p E 1
∈ − {0}, ω( p) = ∅ e α( p) = {0}; Se p ∈ E − {0}, ω( p) = {0} e α( p) = ∅; Se p ∈ / E ∪ E , ω( p) = α( p) = ∅. 2 1
2
(b) Se ϕ(t) = ϕ(t, p) ´e peri´odica de per´ıodo τ , ent˜ao ω( p) = γ p = ϕ(t, p) tal que 0
{ ≤ t ≤ τ } = α( p). De fato, se q ∈ γ , existe t′ ∈ [0, τ ] tal que ϕ(t′ , p) = q . Definindo a sequˆencia t = t′ + nτ , tem-se que t → ∞ e ϕ(t ) = ϕ(t′ + nτ,p) = ϕ(t′ ) = q . Para provar que α( p) = γ , basta tomar a sequˆencia t = t ′ − nτ . (c) Seja X : R → R com X (x, y) = (X (x, y), X (x, y)) um campo C cujas o´rbitas p
n
n
n
p
2
2
n
1
2
k
s˜ao espirais exteriores e interiores ao c´ırculo C de centro na origem e raio 1, como mostra a Figura 4.2 . Por exemplo, se X 1(x, y) = y + x(1 x2 y2 ), X 2(x, y) = x + y(1 x2 y 2),
−
ent˜ ao X satisfaz a condi¸ca˜o acima. Ent˜ ao: α( p) = 0 , se p ´e interior a C ;
{} α( p) = ∅, se p ´e exterior a C ; α( p) = C , se p ∈ C ;
− − − −
4.1 Conjuntos
-limite e
α
ω
-limite de uma ´ orbita
131
C Figura 4.2: Conjunto limite, o´rbita peri´ odica ω( p) = C , qualquer que seja o ponto p diferente da origem.
Observa¸c˜ ao 4.2 (a) Se p ´e um ponto singular do campo X , ent˜ao qualquer que seja o ponto p, α( p), ω( p) = p , pois neste caso ϕ(t) = p, para todo t R.
{}
∈
(b) Se γ p ´e a o´rbita de X pelo ponto p e q γ p , ent˜ao ω( p) = ω(q ). Com efeito, se q γ p , existe c R tal que ϕ(t, p) = ϕ(t + c, q ). Analogamente, α( p) = α(q ).
∈
∈
∈
Em virtude da observa¸c˜ao (b), podemos definir
Defini¸c˜ ao 4.3 O conjunto ω-limite de uma ´ orbita γ , que denotaremos por ω(γ ), ´e o conjunto ω( p), para qualquer p γ . O conjunto α-limite de uma ´ orbita γ , que denotaremos por α(γ ), ´e o conjunto α( p), para qualquer p γ .
∈
∈
Observa¸c˜ ao 4.4 Sejam ϕ(t) = ϕ(t, p) a curva integral do campo X pelo ponto p e ψ(t) = ψ(t, p) a curva integral do campo X pelo ponto p, ent˜ao ψ(t, p) = ϕ( t, p). Segue-se da´ı que o ω-limite de ψ(t) ´e igual ao α-limite de ϕ(t) e, reciprocamente, o ω-limite de ϕ(t) ´e igual ao α-limite de ψ(t). Por este motivo, para estudarmos as propriedades gerais dos conjuntos α-limite e ω-limite de ´orbitas ´e suficiente nos restringirmos ao estudo do conjunto ω-limite.
−
−
Teorema 4.5 Sejam X : ∆ Rn um campo de classe C k , k 1, definido num n + − aberto ∆ R e γ ( p) = ϕ(t, p); t 0 (respectivamente, γ ( p) = ϕ(t, p); t 0 ) a semi´ orbita positiva (respectivamente, a semi´ orbita negativa) do campo X pelo ponto p. Se γ + ( p) (respectivamente γ − ( p)) est´ a contida num subconjunto compacto K ∆, ent˜ ao
⊂
{
→
≥ }
⊂
(a) ω( p) = (respectivamente, α( p));
∅
(b) ω( p) ´e compacto (respectivamente, α( p));
≥
{
≤ }
132
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
(c) ω( p) ´e invariante por X (respectivamente, α( p)), isto ´e, se q ω( p), ent˜ ao a curva integral de X por q est´ a contida em ω( p);
∈
(d) ω( p) ´e conexo (respectivamente, α( p)).
Demonstra¸ c˜ ao Pela observa¸ca˜o anterior ´e suficiente mostrar o teorema para o conjunto ω( p). (a) ω( p) = . Seja t n = n N. Temos, por hip´ otese, que ϕ(tn) K compacto. Existe ent˜ao uma subsequˆencia ϕ(tnk ) que converge para um ponto q K . Temos ent˜ ao: tnk , quando nk e ϕ(tnk ) q . Logo, por defini¸c˜ao, q ω( p).
∅
∈
{
∈
{ →∞
} →∞
}⊂ ∈ →
(b) ω( p) ´e compacto. Temos que ω( p) γ + ( p) K , por conseguinte ´e suficiente mostrar que ω( p) ´e fechado. Seja q n q , q n ω( p). Vamos mostrar que q ω( p). Desde que q n ω( p), (n) existe para cada q n uma sequˆencia t(n) e ϕ(t(n) q n , quando m tal que t m m , p) m . Escolhamos para cada sequˆencia t(n) um ponto tn = t(n) m m(n) > n e tal que d(ϕ(tn , p), q n ) < n1 . Temos ent˜ ao:
⊂ ∈
→
⊂
∈ →∞
{ } { }
→∞
∈
→
≤ d(ϕ(t , p), q ) + d(q , q ) < n1 + d(q , q ). Segue-se, ent˜ ao, que d(ϕ(t , p), q ) → 0, quando n → ∞, isto ´e, ϕ(t , p) → q . Como t → ∞ quando n → ∞, segue-se que q ∈ ω( p). d(ϕ(tn, p), q )
n
n
n
n
n
n
n
(c) ω( p) ´e invariante por X . Seja q ω( p) e ψ : I (q ) ∆ a curva integral de X passando no ponto q . Seja q 1 = ϕ(t0 , q ) = ψ(t0 ) e vamos mostrar que q 1 ω( p). Como q ω( p), existe uma sequˆencia tn tal que tn e ϕ(tn , p) q , quando n . Como ϕ ´e cont´ınua, segue que
∈
→
∈ { }
∈ →∞
→∞
→
q 1 = ϕ(t0 , q ) = ϕ(t0 , lim ϕ(tn , p)) = lim ϕ(t0 , ϕ(tn, p)) n
=
→∞
n
→∞
lim ϕ(t0 + tn, p).
n
→∞
Temos ent˜ ao a sequˆencia (sn ) = (t0 + tn ) tal que sn , isto ´e, q 1 ω( p). n Para uma ilustra¸c˜ao geom´etrica, ver Figura 4.3 .
→∞
∈
→ ∞ e ϕ(s , p) → q , quando n
1
4.1 Conjuntos
-limite e
α
ω
-limite de uma ´ orbita
133
ϕ(tn)
q
ψ(t) ϕ(t0 + tn ) q 1 = ϕ(t0, q )
Figura 4.3: Invariˆancia do conjunto limite (d) ω( p) ´e conexo. Suponhamos que ω( p) n˜ao ´e conexo. Ent˜ ao ω( p) = A B , onde A e B s˜ao fechados, n˜ ao vazios e A B = . Sendo A = , existe uma sequˆencia t′n tal que t′n e ϕ(t′n ) a A, quando n . Analogamente, existe uma ′′ ′′ ′′ sequˆencia tn tal que tn e ϕ(tn) b B, quando n . Logo, podemos construir uma sequˆencia tn , tn , quando n e tal que d(ϕ(tn), A) < d/2 e d(ϕ(tn+1 ), A) > d/2 (onde d = d(A, B) > 0) para todo n ´ımpar. Como a fun¸c˜ao g(t) = d(ϕ(t), A), t n t t n+1, para todo n ´ımpar ´e cont´ınua e g(tn) < d/2 e g(tn+1 ) > d/2, segue-se do teorema do valor intermedi´ ario que existe ∗ ∗ tn , tn < tn < tn+1 tal que
→∞ { }
∪
∩ ∅ ∅ → ∈ →∞ → ∞ → ∈ { } → ∞ → ∞ ≤ ≤
{ }
→ ∞
g(t∗n ) = d(ϕ(t∗n ), A) = d/2. Desde que a sequˆencia ϕ(t∗n ) est´a contida no conjunto compacto Q = x ∆; d(x, A) = d/2 K , ϕ(t∗n ) possui uma subsequˆencia convergente, que denotaremos tamb´em por ϕ(t∗n ) . Seja p∗ = limn→∞ ϕ(t∗n ). Ent˜ao p∗ ω( p). Mas, p∗ A, pois d( p∗ , A) = d/2 > 0; tamb´em, p∗ B, pois d( p∗ , B) d(A, B) d( p∗ , A) = d/2 > 0. Chegamos portanto a uma contradi¸c˜ao.
}∩ { { }
{
}
}
∈
≥
˜ do teorema anterior, se q Corol´ario 4.6 Nas condi¸coes integral de X , pelo ponto q , est´ a definida para todo t R.
∈
∈
∈
−
{ ∈ ∈
ω( p), ent˜ ao a curva
´ de X Demonstra¸ c˜ ao Como ω( p) ´e compacto e invariante, segue-se que a orbita passando por q est´a contida no compacto ω( p). O resultado segue do Corol´ ario 3.4.
Os exemplos (a) e (b) abaixo mostram que a existˆencia de um compacto K contendo γ + ( p) n˜ao pode ser retirada do Teorema 4.5.
⊂ ∆
134
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
ω( p)
p
Figura 4.4: Conjunto limite n˜ ao compacto
Exemplo 4.7
(a) O leitor dar´ a as express˜ oes para o exemplo na Figura 4.4.
(b) Consideremos X o campo do Exemplo 4.1 (c) restrito ao aberto ∆ = R2 p1 , p2 , onde p 1 e p 2 s˜ao pontos distintos sobre o c´ırculo unit´ ario C . Se p = 0 e p C p1 , p2 , ω( p) ´e o c´ırculo unit´ario menos os pontos p1 e p2 , mostrando que ω( p) ´e desconexo.
{
4.2
}
∈ −{
}
−
O Teorema de Poincar´ e-Bendixson
No que se segue, vamos supor ∆ um subconjunto aberto de R2 e X um campo vetorial de classe C k , k 1, em ∆. Lembremos que a semi´ orbita positiva por p, + + denotada γ p , segundo o Teorema 4.5, ´e definida por γ p = ϕ(t, p); t 0 .
≥
{
≥ }
Teorema 4.8 (Poincar´e-Bendixson) Seja ϕ(t) = ϕ(t, p) uma curva integral de X , definida para todo t 0, tal que γ p+ esteja contida num compacto K ∆. Suponha que o campo X possua um n´ umero finito de singularidades em ω( p). Tˆem-se as seguintes alternativas:
≥
⊂
(a) Se ω( p) cont´em somente pontos regulares, ent˜ ao ω( p) ´e uma orbita ´ peri´ odica. (b) Se ω( p) cont´em pontos regulares e singulares, ent˜ ao ω( p) consiste de um con junto de orbitas, ´ cada uma das quais tende a um desses pontos singulares quando t .
→ ±∞
(c) Se ω( p) n˜ ao cont´em pontos regulares, ent˜ ao ω( p) ´e um ponto singular. Os lemas seguintes facilitar˜ ao a demonstra¸c˜ao do teorema. ao transversal a X e γ = ϕ(t) uma Lema 4.9 Se p Σ ω(γ ), sendo Σ uma se¸c˜ orbita de X , ent˜ ´ ao p pode ser expresso como limite de uma sequˆencia de pontos, ϕ(tn), de Σ, onde tn .
∈ ∩ → ∞
{
}
4.2 O Teorema de Poincar´ e-Bendixson
135
Demonstra¸ c˜ ao Suponhamos que γ = ϕ(t) = ϕ(t, q ) e p Σ ω(γ ), como mostra a Figura 4.5. R dadas no Corol´ Consideremos a vizinhan¸ca V e a aplica¸ca˜o τ : V ario 3.27. Como p ω(γ ), existe uma sequˆencia (t˜n ) tal que t˜n e ϕ(t˜n ) p quando . n Σ ϕ(tn ) ϕ(t˜n )
{
→∞
} {
}
→
∈
∈ ∩
→ ∞
→
p V
q γ
Figura 4.5: Ilustra¸c˜ao do Lema 4.9
Logo, existe n0 N tal que ϕ(t˜n ) para n n 0 , temos
∈ V para todo n ≥ n . Se t
∈
≥
0
n
= t˜n + τ (ϕ(t˜n ))
ϕ(tn) = ϕ(t˜n + τ (ϕ(t˜n)), q ) = ϕ(τ (ϕ(t˜n)), ϕ(t˜n)) e por defini¸c˜ao de τ resulta que ϕ(tn) Σ. Como τ ´e cont´ınua, segue-se que
∈
lim ϕ(tn ) =
n
→∞
pois ϕ(t˜n ) p e τ (ϕ(t˜n )) Isto prova o lema.
→
lim ϕ(τ (ϕ(t˜n )), ϕ(t˜n ))
n
→∞
= ϕ(0, p) = p,
→ τ ( p) = 0 quando n → ∞.
Observamos que uma se¸c˜a o transversal Σ a um campo X tem dimens˜ao um, pois estamos considerando o campo X em R2 . Logo, localmente, Σ ´e a imagem difeomorfa de um intervalo da reta. Consideraremos daqui por diante que toda se¸ca˜o transversal Σ ´e a imagem difeomorfa de um intervalo. Assim, Σ tem uma ordena¸c˜a o total “ ” induzida pela ordena¸c˜ao total do intervalo. Podemos, pois, falar em sequˆencias mon´otonas em Σ.
≤
136
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
Lema 4.10 Seja Σ uma se¸c˜ ao transversal a X contida em ∆. Se γ ´e uma orbita ´ de + X e p Σ γ , ent˜ ao γ p = ϕ(t, p); t > 0 intercepta Σ numa sequˆencia mon´ otona p1, p2 , . . . , pn , . . .
∈ ∩
{
}
Demonstra¸ c˜ ao Seja D = t R+ ; ϕ(t, p) Σ . Decorre do teorema do fluxo tubular que D ´e discreto. Podemos portanto ordenar o conjunto
{ ∈
∈ }
D = 0 < t1 < t2 <
{
··· < t < ·· ·}. n
Seja p1 = p. Definamos, caso exista, p2 = ϕ(t1 , p). Por indu¸ c˜ao, definiremos pn = ϕ(tn−1 , p). Se p1 = p2 , ent˜ao γ ´e uma tra jet´ oria fechada de per´ıodo τ = t1 e p = pn para todo n. Se p1 = p 2 , digamos, p1 < p2 e se existir p3, vamos mostrar que p3 > p2 . Orientemos a se¸c˜ao Σ, segundo a Figura 4.6 (a) e observemos que devido ao fato de Σ ser conexo e a` continuidade do campo, as o´rbitas de X cruzam a se¸c˜ao sempre no mesmo sentido, digamos, da “esquerda” para a “direita”, como mostra a Figura 4.6 (b).
Σ
(a)
(b) Figura 4.6: Orienta¸ca˜o da se¸c˜ao Σ
Lembramos tamb´em que em R2 vale o Teorema da Curva de Jordan , ou seja, “Se J ´e uma curva fechada, cont´ınua e simples (J ´e a imagem homeomorfa da um c´ırculo), ent˜ao R2 J tem duas componentes conexas: S i (limitada) e S e (n˜ao limitada) as quais tˆem J como fronteira comum.” Consideremos ent˜ ao a curva de Jordan formada pela uni˜ ao do segmento p1 p2 Σ com o arco p1 p2 da o´rbita, p1 p2 = ϕ(t, p); 0 t t 1 , como mostra a Figura 4.7. Em particular, a o´rbita γ , a partir de p2 , isto ´e, para valores de t > t1 , fica contida em S i . De fato, ela n˜ao pode interceptar o arco p1 p2 devido `a unicidade das ´orbitas (Figura 4.8 (a)) e n˜ ao pode interceptar o segmento p1 p2 porque contraria o sentido do fluxo (Figura 4.8 (b)).
−
{
⊂
≤ ≤ }
Pelo que foi visto acima, caso p 3 exista, devemos ter p1 < p2 < p3 , como mostra a Figura 4.9. Continuando com este racioc´ınio, obteremos p1 < p2 < p3 < < pn < .
···
· · ·
4.2 O Teorema de Poincar´ e-Bendixson Σ
137 p = p 1 S e
p2 S i
Figura 4.7: Curva de Jordan Σ
Σ
p1
p2
p2 (a)
p1
(b)
Figura 4.8: Impossibilidades Portanto, pn ´e uma sequˆencia mon´otona. Se p2 < p1 , a demonstra¸ca˜o ´e an´ aloga. Σ p1 p2 p3
{ }
Figura 4.9: Ordena¸ca˜o da interse¸c˜a o de o´rbita com se¸c˜ao
Lema 4.11 Se Σ ´e uma se¸c˜ ao transversal ao campo X e p ∆, ent˜ ao Σ intercepta ω( p) no m´ aximo em um ponto.
∈
Demonstra¸ c˜ ao Em virtude do lema anterior, o conjunto de pontos de γ p+ em Σ tem no m´aximo um ponto limite pois o mesmo forma uma sequˆencia mon´ otona. Da´ı o resultado segue do Lema 4.9.
138
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
Lema 4.12 Sejam p ∆, com γ p+ contida num compacto, e γ uma ´ orbita de X com γ ω( p). Se ω(γ ) cont´em pontos regulares ent˜ ao γ ´e uma orbita ´ fechada e ω( p) = γ .
∈
⊂
Demonstra¸ c˜ ao Seja q ω(γ ) ponto regular e sejam V vizinhan¸ca de q dada pelo Corol´a rio 3.27 e Σq a se¸ca˜o transversal correspondente. Pelo Lema 4.9 existe uma sequˆencia tn tal que γ (tn) Σq . Como γ (tn ) ω( p), a sequˆencia γ (tn) reduz-se a um ponto, pelo Lema 4.11. Isto prova que γ ´e peri´ odica. Provemos agora que γ = ω( p). Como ω( p) ´e conexo e γ ´e fechado e n˜ ao vazio, basta provar que γ ´e aberto em ω( p). Sejam p γ , V p uma vizinhan¸ca de p dada pelo Corol´ a rio 3.27 e Σ p a se¸ca˜o transversal correspondente. Mostraremos que V p γ = V p ω( p). Obviamente V p γ V p ω( p). Por contradi¸ca˜o, suponhamos que exista q V p ω( p) tal que q γ . Pelo Teorema do Fluxo Tubular, 3.26 e pela invariˆ ancia de ω( p), existe t R tal que ϕ(t, q ) ω( p) Σ p e ϕ(t, q ) = p. Da´ı existem dois pontos distintos de ω( p) em Σ p , o que ´e imposs´ıvel pelo Lema 4.11. Logo, V p γ = V p ω( p). Obviamente U = p∈γ V p ´e aberto em M , γ U e U ω( p) = U γ = γ , isto ´e, γ ´e a interse¸ca˜o de um aberto de R2 com ω( p). Ent˜ao γ ´e aberto em ω( p).
∈
→∞
∈
∈
∈
∩
∈
∩ ⊂ ∩ ∈
{
∩
∈
∩
∩
∈
⊂
}
∩ ∩
∩
∩
Demonstra¸ c˜ ao do Teorema de Poincar´ e-Bendixson (i) Se acontece a hip´ otese de (a) e q ω( p), ent˜ a o a o´rbita γ q ω( p). Sendo ω( p) compacto resulta ω(γ q ) = . Decorre imediatamente do Lema 4.12 que ω( p) = γ q = ´orbita fechada. Ver Figura 4.10. p
∈
∅
q
⊂
γ q ω( p) = γ q
Figura 4.10: Caso (a) no Teorema
(ii) Se acontece a hip´ otese de (b) e γ ´e uma ´orbita contida em ω( p), γ n˜ao reduzida a um ponto singular, ent˜ a o, pelo Lema 4.12, e por α(γ ) e ω(γ ) serem conexos sai que α(γ ) e ω(γ ) s˜ao ambos pontos singulares do campo X (lembre-se que X tem somente um n´ umero finito de singularidades em ω( p)). Ver Figuras 4.11 (a), (b) e (c).
4.2 O Teorema de Poincar´ e-Bendixson
139
(iii) O caso (c) decorre diretamente do fato de ser ω( p) conexo e do fato de X possuir somente um n´ umero finito de singularidades, em ω( p). Ver Figura 4.12. p γ 1
p2
(b)
(a)
p1
p1
p
p3 γ 2 p1
p2 p
ω( p) = γ 1 (c)
∪ γ ∪ { p } 2
1
p3
p4
Figura 4.11: Caso (b) no Teorema p
ω( p)
Figura 4.12: Caso (c) no Teorema
Exemplo 4.13 Seja X um campo vetorial de classe C 1 em R2 que n˜ao possui pontos singulares em Br,R = (x, y); r2 x2 + y 2 R2 , com 0 < r < R. Se X aponta para o interior de Br,R, em todo ponto de sua fronteira, ent˜ ao X tem uma ´orbita peri´odica em Br,R. Isto pelo Teorema de Poincar´e-Bendixson aplicado a qualquer semi´orbita positiva por um ponto da fronteira de Br,R.
{
≤
≤ }
140
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
Teorema 4.14 (Teorema de Poincar´ e - Bendixson na Esfera S2) Seja X : R3 R3 um campo vetorial de classe C 1 em R3 tal que se x S2 = (x1 , x2 , x3 ); x21 + x22 + x23 = 1 , ent˜ ao ϕ(t, x) S2 para todo t R. Se X tem um n´ umero finito de pontos singulares em S2 , ent˜ ao o conjunto ωlimite de uma ´ orbita por x S2 apresenta as mesmas possibilidades (a), (b), (c) como no Teorema de Poincar´e - Bendixson em R2 .
}
∈
∈
∈
{
∈
A demonstra¸ca˜o deste teorema ´e similar a` dada para R 2 , usando o fato que uma curva de Jordan J em S2 divide S2 J em duas componentes conexas cujas fronteiras coincidem com J . O leitor dar´a os detalhes da prova.
−
Observa¸c˜ ao 4.15 A hip´ otese de que ϕ(t, x) S2 ´e equivalente a X (x) T S2x para todo x S2 . Aqui T S2x denota o plano tangente a S 2 em x, que coincide com o plano ortogonal a x. O leitor justificar´ a estes fatos.
∈
∈
4.3 4.3.1
∈
Aplica¸c˜ oes Pontos singulares no interior de uma o ´rbita peri´ odica
Teorema 4.16 Seja X um campo vetorial de classe C 1 num conjunto aberto ∆ R2 . Se γ ´ e uma orbita ´ fechada de X tal que Int γ ∆ ent˜ ao existe um ponto singular de X contido em Int γ .
⊂
⊂
Demonstra¸ c˜ ao Suponhamos que n˜ ao existem pontos singulares em Int γ . Consideremos o conjunto Γ de o´rbitas fechadas de X contidas em Int γ , ordenadas segundo a seguinte ordem parcial γ 1
≤ γ → Int γ ⊇ Int γ . 2
1
2
Mostraremos que todo subconjunto S totalmente ordenado de Γ, (i. e., γ 1 = γ 2 em S implica que γ 1 < γ 2 ou γ 2 < γ 1) admite uma cota superior ; isto ´e, um elemento maior ou igual que qualquer elemento de S . Um conjunto ordenado nestas condi¸co˜es chama-se indutivo. De fato, seja σ = Int γ i ; γ i S . Notemos que σ = , pois cada Int γ i ´e compacto e a fam´ılia Int γ i ; γ i S tem a propriedade da Interse¸c˜ ao Finita . Isto ´e, qualquer interse¸c˜ao finita de elementos da fam´ılia ´e n˜ ao vazia. Seja q σ. Pelo Teorema de Poincar´e-Bendixson ω(q ) ´e uma o´rbita fechada contida em σ, pois este conjunto ´e invariante por X e n˜ao cont´em pontos singulares. Esta o´rbita ´e uma cota superior de S . Pelo Lema de Zorn, Γ tem um elemento maximal , µ, pois Γ ´e indutivo. Lembremos que, segundo Lang [11], p. 10, isto quer dizer que n˜ ao existe nenhuma o´rbita fechada de Γ contida em Int µ. Mas, se p Int µ, α( p) e ω( p) s˜ao o´rbitas fechadas
{∩ {
∈ } ∈ }
∅
∈
∈
→
4.3 Aplica¸ c˜ oes
141
pelo Teorema de Poincar´e-Bendixson (pois n˜ ao existem pontos singulares). Como α( p) e ω( p) n˜ao podem ser ambos iguais a µ (Por quˆe?), um deles estar´ a contido em Int µ. Esta contradi¸c˜ao prova que devem existir pontos singulares em Intγ .
Exemplo 4.17 A equa¸ca˜o x′′ + x4 + 3 = 0 n˜ao tem solu¸co˜es peri´ odicas. De fato, o sistema bidimensional associado ´e x′ = y, y′ = x4 3, que n˜ao tem pontos singulares.
− −
4.3.2
As equa¸c˜ oes de Lienard e van der Pol
Seja g : R
1
→ R uma fun¸ca˜o de classe C
(a) G(u) = (b) G(u)
u 0
tal que
g(s)ds ´e ´ımpar em u, isto ´e, G( u) =
−
−G(u).
→ ∞ se u → ∞ e existe β > 0 tal que se u > β , G ´e crescente.
(c) Existe α > 0 tal que G(u) < 0 se 0 < u < α. oes acima, a equa¸c˜ ao de segunda ordem Teorema 4.18 Nas condi¸c˜ u′′ + g(u)u′ + u = 0 (Equa¸c˜ ao de Lienard)
(4.1)
admite uma solu¸c˜ ao peri´ odica n˜ ao constante.
Demonstra¸ c˜ ao A equa¸ca˜o (4.1) ´e equivalente ao sistema u′ = v G(u) v ′ = u.
− −
(4.2)
Anotemos as seguintes propriedades do sistema (4.2). (a) O u ´nico ponto singular de (4.2) ´e 0 = (0, 0), pois G(0) = 0. (b) Vˆe-se de (4.2) que toda solu¸ c˜ao (u(t), v(t)) ´e tal que u(t) ´e crescente onde v(t) > G(u(t)) e decrescente onde v(t) < G(u(t)). Tamb´em v(t) ´e decrescente se u(t) > 0 e crescente se u(t) < 0. Al´em disso, o campo (v G(u), u) ´e horizontal no eixo v e vertical na curva v = G(u).
−
−
Segue-se que qualquer solu¸ c˜a o de (4.2) saindo do ponto A = (0, v0 ), com tal como o v0 suficientemente grande, tem uma o´rbita com um arco ABCD mostrado na Figura 4.13.
142
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson v A
B
K
v = G(u)
J (α, 0)
(β, 0)
F
u
E
D
C
Figura 4.13: Teorema de Lienard (c) As solu¸co˜es de (4.2) s˜ ao invariantes por reflex˜ o es (u, v) ( u, v), isto ´e, (u(t), v(t)) ´e solu¸ca˜o de (4.2) se, e somente se, ( u(t), v(t)) tamb´em o for. Isto decorre de G ser ´ımpar. Portanto, se conhecemos um arco de trajet´ oria ABCD como na Figura 4.13, ent˜ ao sua reflex˜ ao com respeito a` origem tamb´em ´e um arco de trajet´ oria. Em particular, se A = (0, v0 ), D = (0, v1 ) e v 1 < v0, ent˜ ao a semi´orbita positiva que passa por A ser´a limitada e, de fato, contida sua na regi˜ ao limitada pela curva de Jordan J formada pelo arco ABECD, reflex˜ao com respeito a` origem e os segmentos do eixo v que ligam os extremos destes arcos. Ver Figura 4.14.
−
→ − − − −
A seguir provaremos que se v0 ´e suficientemente grande temos que v1 < v0. Portanto, o conjunto ω(A) estar´ a contido na regi˜ ao limitada por J . Verificaremos que (0, 0) ´e uma fonte de (4.2). Portanto, ω(A) = (0, 0) e pelo Teorema de Poincar´eBendixson ω(A) ser´ a uma o´rbita fechada. Isto terminar´ a a prova.
Consideremos a fun¸c˜ao R(u, v) = 21 (u2 +v 2 ). Para uma solu¸ca˜o u = u(t), v = v(t) de (4.2) temos dR(u(t), v(t)) = u(t)G(u(t)). (4.3) dt
−
4.3 Aplica¸ c˜ oes
143 v
v0
J u
v1
Figura 4.14: Simetria na Equa¸c˜ao de Lienard Com referˆencia a` Figura 4.13, temos 1 2 (v 2 1
2 0
− v )
− −
= R(D)
R(A) =
dR
ABECD
=
+
AB
=
CD
+
AB
=
dR +
CD
+
AB
CD
dR
BEC
dR dt dR dt du + dv dt du BEC dt dv uG(u) du + G(u)dv. v G(u) BEC
−
As primeiras duas integrais tendem monotonicamente a zero quando v0 , pois o denominador do integrando tende uniformemente para . Se F ´e um ponto qualquer no eixo u, entre (β, 0) e E (veja a Figura 4.13), temos que
∞
φ(v0) =
G(u)dv satisfaz a
BEC
=
CE B
G(u)dv >
EK
−
G(u)dv − φ(v ) = G(u)dv > FJ × F K. 0
BEC
→ ∞
144
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
Au ´ ltima desigualdade resulta do fato que G ´e crescente e seus valores a` direita de F s˜ao maiores do que F J . Como F K se v 0 , isto prova que φ(v0) 2 2 se v0 . Portanto, v1 < v0 , se v0 ´e grande. Por (4.3) se 0 < u < α, dR (t) > 0. Portanto, 0 ´e uma fonte de (4.2), isto ´e, 0 ´e dt o α-limite de todo ponto numa vizinhan¸ca de 0.
→ ∞
→ ∞
→ ∞
→ −∞
||
Observa¸c˜ ao 4.19 N˜ao ´e dif´ıcil provar que se α = β ent˜ao (4.2) admite uma u´nica ´orbita peri´ odica que, necessariamente, ser´ a est´ avel. Ver exerc´ıcio 15. ao de van der Pol x′′ + ε(x2 1)x′ + x = 0 com ε > 0 tem Corol´ ario 4.20 A equa¸c˜ uma unica ´ solu¸c˜ ao peri´ odica n˜ ao constante que ´e est´ avel.
−
Demonstra¸ c˜ ao Imediata pelo Teorema de Lienard e a observa¸ ca˜o anterior.
4.4
Exerc´ıcios
1. Seja X um campo vetorial de classe C 1 em ∆ Rn . Prove que se ϕ(t) ´e uma trajet´oria de X definida no intervalo m´ aximo (ω− , ω+) com limt→ω+ ϕ(t) = p ∆, ent˜ao ω+ = e p ´e uma singularidade de X .
⊂
∈
∞
2. Seja X = f = grad f , onde f ´e uma fun¸c˜ao de classe C r , r 2, definida num aberto ∆ Rn . Prove que X n˜ao possui o´rbitas peri´ odicas. Se X tem pontos singulares isolados, ent˜ ao, para todo p ∆, o conjunto ω-limite de p ´e vazio ou ´e um ponto singular. (Sugest˜a o: Se ϕ(t) ´e uma tra jet´ oria de X , note que df (ϕ(t)) > 0, isto ´e, f ϕ ´e dt crescente.)
∇
≥
⊂
∈
◦
3. Seja ϕ(t, x) o fluxo gerado por um campo vetorial X de classe C 1 em Rn . Um subconjunto S Rn n˜ao vazio chama-se minimal (de X ), se ele ´e invariante (i. e., x S ϕ(t, x) S , t R), compacto e n˜ao cont´em subconjuntos pr´oprios com estas propriedades.
⊂ ∈ →
∈ ∀ ∈
Prove que em R2 (i. e., n = 2) os u ´ nicos subconjuntos minimais de X s˜ao os pontos singulares e as o´rbitas peri´ odicas de X . Se n > 2, ´e v´ alido este resultado? Justificar. 4. Determinar ω( p) e α( p), para p por Y 1 =
2
∈ R , no caso do campo Y = (Y , Y ) dado 2 1
1
2 2
−y + y (y + y )sen 2
1
Y 2 = y1 + y2 (y12 + y22 )sen
π
y12 + y22
π
y12 + y22
.
,
2
4.4 Exerc´ıcios
145
(Sugest˜ao: Estude o produto interno < x, Y (x) >= x 1 Y 1 + x2 Y 2 .) 2
∈ R , no caso do sistema x′ = y[y + (x − 1) ] + x(1 − x − y ), y ′ = −x[y + (x − 1) ] + y(1 − x − y ).
5. Determine o conjunto ω( p), para todo p
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
(Sugest˜ao: idˆentica a` do exerc´ıcio 4.) 6. (Crit´erio de Bendixson) Se X = (X 1 , X 2 ) ´e um campo de classe C 1 em ∆ ∆ um conjunto simplesmente conexo, com div X =
2
⊂R ,
∂X 1 ∂X 2 + =0 ∂x 1 ∂x 2
para todos os pontos de ∆, ent˜ ao X n˜ao tem o´rbitas peri´ odicas em ∆. (Sugest˜a o: suponha que X tem o´rbita peri´ odica e aplique o teorema da divergˆencia na regi˜ ao limitada por ela.) 7. Determine os pontos singulares do seguinte sistema
x′ = y y ′ = b sen x
−
− ay, a, b > 0.
Prove que ele n˜ a o tem o´rbitas peri´ odicas. Fa¸ca um esbo¸co do retrato de fase deste sistema. Compare com o caso em que a = 0. (Sugest˜ao: use o exerc´ıcio 6.) 8. Verifique se as seguintes equa¸ c˜oes diferenciais possuem solu¸co˜es peri´ odicas. (a) x′′ + (x6
2
− x )x′ + x = 0. (b) x′′ + (x′ ) − (1 + x ) = 0. 2
2
(Sugest˜ao: use o Teorema de Lienard ou o teorema sobre existˆencia de pontos singulares.) 9. Sejam X 1 e X 2 campos em ∆1, ∆2 , abertos do Rn . Ent˜ a o, para toda con juga¸c˜ao topol´ ogica h : ∆1 ∆ 2
→
temos que h(ω( p)) = ω(h( p)), para todo p em ∆1 . 10. Dˆe um exemplo de um campo X em R3 tal que o conjunto ω-limite de um de seus pontos ´e compacto, conexo e n˜ ao cont´em singularidades mas n˜ ao ´e uma ´orbita peri´ odica.
146
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
11. Prove que
x′ = 2x x5 y 4 x y′ = y y 3 yx 2
− − − −
n˜a o tem o´rbitas peri´ odicas. (Sugest˜a o: Mostre que o campo acima s´ o possui singularidades nos eixos coordenados. Considere o retrato de fase deste campo restrito a estes eixos e procure demonstrar que a existˆencia de uma orbita ´ fechada leva a uma contradi¸c˜ao.) 12. Seja X um campo de classe C 1 em R2 . Se p ´e um ponto regular de X tal que p ω( p) ent˜ ao ω( p) ´e o´rbita peri´ odica.
∈
13. Seja X um campo em R2 de classe C 1 e γ uma ´orbita de X . Prove que se γ n˜ao ´e singularidade nem ´orbita peri´ odica, ent˜ ao ω(γ ) α(γ ) = , ou ent˜ao ω(γ ) α(γ ) ´e ponto singular. Suponha que X possui apenas singularidades isoladas.
∩
∩
∅
14. Seja X um foco linear em R2 . (a) Prove que existe δ > 0 tal que se Y ´e um campo C 1 em R2 com sup DY (x) x
∈R
2
≤ δ,
ent˜ ao X + Y n˜ao possui ´orbitas peri´ odicas. (b) Prove que existe δ > 0 tal que se Y ´e um campo C 1 em R2 com sup DY (x)
sup Y (x) < δ,
|x|≤1
x
≤ δ e
2
∈R
|
|
ent˜ ao X + Y n˜ao tem o´rbitas peri´ odicas. (Sugest˜ao: use o exerc´ıcio 6.) 15. Com as hip´ oteses do Teorema de Lienard (4.18) mostre que se α = β , ent˜ao o sistema u′ = v G(u) v′ = u
− −
admite uma u ´ nica solu¸ca˜o peri´ odica, que ´e est´ avel. (Sugest˜ao: Com a nota¸ca˜o usada na prova do Teorema de Lienard mostre que se u0 β , ent˜ao
≤
R(D)
− R(A) =
ABECD
G(u)dv > 0
4.4 Exerc´ıcios
147
A = (0, v0 )
B
G(u)
(β, 0) E = (u0, 0)
C
D
Figura 4.15: Unicidade do ciclo de Lienard e que se u0 > β , ent˜ao R(D)
− R(A) =
− +
AB
CD
uG(u) du + v G(u)
−
G(u)dv
BEC
tende monotonicamente para quando v0 . Para provar esta u´ltima afirma¸c˜ao analise separadamente cada uma das trˆes integrais acima.)
−∞
→ ∞
16. Seja X = (X 1 , X 2 ) campo em R2 , onde X 1 = X 2 =
2 1 2 1
2 2 2 2
−x + x (1 − x − x ) x + x (1 − x − x ) 2
1
1
2
Prove que este campo tem uma u´nica o´rbita peri´ odica γ . Calcule a transforma¸c˜ao de Poincar´e π associada a γ e prove que π′ = 1. (Sugest˜ao: Em coordenadas polares o sistema acima se transforma no sistema
r′ = r(1 θ′ = 1. Usando que
r(1
dr
−
1 = log r2) 2
conclua que π: eixo positivo x1
2
−r )
r2
2
|1 − r |
,
→ eixo positivo x ´e dada por 1
148
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
π(r) =
√ 1 −
re2π .) r2 + r 2 e4π
17. Seja X um campo de classe C 1 em R2 tal que existe uma vizinhan¸ca V de 0, onde X/V ´e o campo linear (x1 , x2 )
→ (λ x , λ x ) 1 1
2 2
com λ1 λ2 < 0 e λ1 + λ2 < 0. 2
∈ R , p = 0 tal que α( p) = ω( p) = {0}. Prove que se L = γ ∪ {0} ent˜ ao existe uma vizinhan¸ca W de L tal que, para todo q ∈ W ∩ J , onde J ´e uma componente conexa de R − L, tem-se Suponha que existe p
p
L
L
L
2
L
ω( p) = L. (Sugest˜ao: Considere a Figura 4.16.
γ p
f
Σ
p g J L
0 Σ0
Figura 4.16: Gr´afico la¸co Note que se pode definir uma transforma¸c˜ao de Poincar´e π para o la¸co L usando o segmento da se¸c˜ao Σ que est´a contido no quadrado superior direito. Mostre que π = f g, onde g leva pontos deste segmento em Σ0 e f : Σ0 Σ. Prove que g(x) = x ρ com ρ = λ2 / λ1 > 1 e conclua que π(0) = 0 e π ′ (x) < 1. Analise tamb´em o caso em que a transforma¸ c˜ao de retorno est´ a definida na 2 parte n˜ ao limitada de R L.)
◦
| || |
−
→
4.4 Exerc´ıcios
149
18. Seja um campo X com as hip´ oteses do exerc´ıcio 17, mas suponha agora que existem dois pontos p1 , p2 diferentes de 0, com γ p1 = γ p2 e tal que
ω( p1 ) = α( p1 ) = ω( p2 ) = α( p2 ) = 0 .
{}
Se L = γ p1 γ p2 0 prove que existe uma vizinhan¸ca W L de L tal que se q W L , ent˜ao ω(q ) L. (Sugest˜ao: Considere a Figura 4.17.
∈
∪ ∪ { } ⊂
π1 p1
π3 p2 π2
Figura 4.17: Gr´ afico em forma de “oito” Estude as transforma¸co˜es de Poincar´e π1 , π2 e π3 . Considere tamb´em a configura¸ca˜o onde o retorno est´ a definido na componente n˜ ao limitada do “oito”.) 19. Analise o caso λ1 + λ2 > 0 para os exerc´ıcios 17 e 18. Considere tamb´em o caso λ1 + λ2 = 0. No caso do la¸co, dˆe um exemplo em que ´e um atrator e outro onde ´e repulsor. No caso do “oito”, dˆe um exemplo onde este ´e atrator e os la¸ cos s˜ao de estabilidades opostas. Rn tal 20. Seja X λ = X (x, λ) um campo de classe C 1 em R2 para cada λ que X : (x, λ) X (x, λ) ´e de classe C 1 em Rn+2 . Se X 0 tem uma ´orbita peri´ odica γ 0 com γ 0 div X 0 = 0, prove que existe uma vizinhan¸ca W de γ 0 e uma vizinhan¸ca V de 0 em Rn tal que para todo λ V , X λ tem uma u´nica ´orbita peri´ odica γ λ W ; al´em disso γ λ tem com respeito a X λ o mesmo car´ater de estabilidade que γ 0 com respeito a X 0 . (Sugest˜ao: Aplique o Teorema das Fun¸c˜oes Impl´ıcitas a π(x, λ) x = 0, onde
∈
→
⊂
∈
−
150
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
π( , λ) ´e a transforma¸ca˜o de Poincar´e em rela¸ca˜o ao campo X λ por uma se¸ca˜o transversal a γ 0 .)
·
21. Seja γ uma o´rbita peri´ odica est´ avel de X = (X 1 , X 2 ), campo de classe C 1 num aberto ∆ de R2 . Seja X θ =
cos θ sen θ sen θ cos θ
−
X 1 X 2
.
Este ´e o campo vetorial em R2 , obtido a partir de X dando-lhe uma rota¸ca˜o de um aˆngulo θ. (i) Prove que existe ε > 0 tal que X θ com θ < ε tem uma ´orbita peri´ odica γ θ tal que γ θ γ quando θ 0.
→
| |
→
(ii) Prove que as γ θ s˜ao todas disjuntas, isto ´e, γ θ1 e prove que
∩ γ
θ2
=
∅
se θ1 = θ 2
|θ|≤ε γ θ ´e uma regi˜ao anular do plano.
(iii) Se γ ´e inst´avel, prove uma vers˜ ao an´ aloga.
(iv) Se γ ´e semi-est´ avel prove que para θ com sinal apropriado (positivo ou negativo, conforme o caso), existem duas o´rbitas peri´ odicas γ 1θ e γ 2θ com γ iθ γ , quando θ 0, com i = 1, 2. Analise a existˆencia de o´rbitas peri´ odicas quando θ tem sinal oposto ao considerado na primeira parte deste item.
→
→
(v) No caso do la¸co L do exerc´ıcio 17, prove que a rota¸ c˜ao, em sentido apropriado, produz uma o´rbita fechada γ θ tal que γ θ L, quando θ 0.
→
→
(Sugest˜a o: Para (iv) veja na Figura 4.18 que se γ 1 e γ 2 s˜ao o´rbitas de X ent˜ ao o α-limite da ´orbita de X θ passando por a e o ω-limite da ´orbita de X θ passando por b s˜ao o´rbitas peri´ odicas distintas. Adapte a Figura e a ideia para tratar dos casos (i), (ii) e (iii). S´o quando γ div X = 0, chamado caso em que γ ´e o´rbita hiperb´ olica de X , estes trˆes u´ltimos casos podem ser tratados usando a sugest˜ ao do exerc´ıcio anterior. Para (v) procure pensar de maneira semelhante.)
22. Um cientista tem uma amostra de l´ıquido que cont´em v´ arias esp´ecies misturadas de “platelmintos fototr´ opicos”, i. e, “minhoquinhas” que reagem a` luz e nadam em dire¸ca˜o a ela. Sabe-se que cada esp´ecie nada a diferente velocidade. Para isolar e extrair aquela esp´ ecie de velocidade v, o cientista coloca o l´ıquido num recipiente transparente cil´ındrico, de raio R. Depois, submete
4.4 Exerc´ıcios
151
γ
a
X X θ
b
X θ X θ Figura 4.18: Campo rodado este recipiente a` rota¸c˜ao, perto de uma fonte luminosa, com uma velocidade angular α > v/R. Ver Figura 4.19. Os platelmintos nadam em dire¸c˜ao a` luz, contra o sentido de rota¸ca˜o do l´ıquido. O cientista espera que os platelmintos que ele procura se acumulem num ponto P do recipiente, quando t + (o experimento inicia com t = 0), de modo que, mergulhando uma colher nesse ponto, possam ser retirados.
→ ∞
Prove que, com as condi¸c˜oes acima especificadas, o ponto P = P (v, α) existe e ´e u ´nico. Prove tamb´em que P = P (v, α) varia continuamente com v e α, e que, quando α v/R, P tende ao ponto (R, 0), o foco luminoso.
→
Estude o limite quando α
→ 0.
Esbo¸co da prova As trajet´ orias dos platelmintos de velocidade v s˜ao solu¸c˜oes do sistema X de equa¸co˜es diferenciais
X =
x′ =
y′ = αx
R
x x)2 + y 2
−− − −
−αy + v v
(R
(R
(1)
y . x)2 + y 2
Se (x(t), y(t)) ´e solu¸ca˜o de (1), seja U (t) = x(t)2 +y(t)2 . Prove que U ′ = dU < 0 dt 2 2 se, e somente se, o ponto (x(t), y(t)) est´ a fora do c´ırculo C : x R2 +y 2 = R4 .
−
152
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
.. . .. . . .. . . . .. . .. . .. ... .. . . . . ... . . . . . ... . . . . . . . .. ... . . ... . . . .. . . ... .. . .. .. ... .. . .. . . .. .. .. . . . . .. . .. . . .. . . . .. . .. . .. . . .. .. .... .. . . . .. . .. .. . . .. . . . . . .. .. . . .. .... . . .. .. .. . .. . . .. . . .. . . . .. .. .. . .. . . . . . . ... .. .... .. . .. .. . . .. . ... .. . . .. . ... . .. . . . .. . . . . .. .. .. . . . .. .. . . .. .. . .. .. .. . . ... . .. .. . .. . . .. . . .. .. . .. . . .. .. . ... . .. . . . .. . . .. . .. .. ... . ... . . . .... . ... . .. . .. . . .. .. .. ... . .. . .. . . .. . .. . .. . . .. . .. . . .. . . . . . . .. . .. . . .. ... . . . . .... . .. . . . . . .. . .. .. .. . .. . .. . ... . . .. . . . . . . . . . . .. .. .. . .. . .. . . .. . . .. .. . ... . . . . .. . . . . . . . . . .. . . .. . ... .. . .. .. .. . . . .. . . . . .. . .. . . ... . ... . ... . . .. . .. .. . .. ... .. .. . . .. .. . ... . .. . .. . .. . . . .. . . . . . .. .. .. . .. . . .. . . . . . .. . ... . . .... .. .... . .. . . . . . .. .. .... . . . . .. . . . .. .. . ... . . . . .. . . . .. . .. . . . ... . . .. . .. ... . . . . . . . . . . ... . . . . . . .. ... . . ... .. . .... . .. .
.
Figura 4.19: Platelmintos fototr´ opicos (*) Prove que uma solu¸ca˜o ϕ(t) com condi¸ca˜o inicial em G = x2 + y 2 < R permanece em G, para todo t 0, e que, de fato, n˜ ao existe nenhuma tal solu¸c˜ao com ϕ(t) (R, 0) quando t ξ +, onde ξ + ´e o extremo superior do intervalo m´ aximo, que neste caso satisfaria a ξ + < + . Prove tamb´em que, exatamente uma o´rbita por ponto de G tende a (R, 0) para tempo negativo.
≥
→
{
→
}
∞
P
G 0
(R, 0) ´e a fonte luminosa C
Figura 4.20: Esbo¸co do retrato de fase.
Prove que n˜ ao existem o´rbitas peri´ odicas de X em G (usar o crit´erio de Bendixson: se div X = 0numa regi˜ ao G, simplesmente conexa, n˜ao existem o´rbitas peri´ odicas de X , em G).
Para provar (*), introduza coordenadas polares em torno de (R, 0), com (R, 0) como polo, e conclua que as trajet´ orias do sistema acima correspondem a` Figura 4.20.
4.4 Exerc´ıcios
153
Nota. Este exerc´ıcio ´e baseado em modelo no livro de Wilson [27], onde, entretanto, n˜ a o aparece a parte (*). Por sua vez, sem citar fonte, Wilson atribui a L. Markus a autoria do modelo. Ver tamb´em Sotomayor [26] onde uma solu¸c˜ao da parte (*) ´e apresentada. 23. Mostre que y(t) ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Rayleigh y ′′
√
2
− ε(1 − (y′) )y′ + y = 0,
ε > 0,
∗
( )
se, e s´o se, x(t) = 3y′ (t) ´e solu¸ca˜o da equa¸ca˜o de van der Pol. (Sugest˜ao: Diferencie ( ).)
∗
24. Mostre que se g satisfaz as condi¸co˜es do Teorema de Lienard e f C 1 ´e uma fun¸ca˜o ´ımpar com f (u) > 0 se u > 0 ent˜ ao as conclus˜ oes daquele teorema s˜ ao v´alidas para a equa¸ca˜o
∈
u′′ + g(u)u′ + f (u) = 0. (Sugest˜ao: Considere o sistema u′ = v G(u) v′ = f (u)
− −
e proceda como no Teorema de Lienard.) 25. Mostre que as equa¸co˜es x′′ + (5x4 9x2 )x′ + x5 = 0 x′′ + (x6 x2 )x′ + x = 0
− −
possuem uma o´rbita peri´ odica.
154
4. Teorema de Poincar´ e - Bendixson
Cap´ıtulo 5 Estabilidade no sentido de Liapounov Considere uma solu¸ca˜o x(t), peri´odica ou singular, de um sistema de equa¸c˜oes diferenciais. Grosso modo dizemos que x(t) ´e est´ avel quando toda solu¸ca˜o com valores iniciais pr´oximos aos de x(t) est´ a definida para todo t 0 e permanece pr´ oxima a x(t) quando t + . Se o sistema de equa¸c˜oes descreve a evolu¸ca˜o de um processo natural ou um mecanismo, as solu¸co˜es est´ aveis adquirem uma importˆancia especial para o estudo do mesmo. Um exemplo simples ´e o funcionamento do rel´ ogio com pˆendulo, que possui dois regimes estacion´ arios est´ aveis: um ´e o funcionamento normal, quando o pˆendulo se movimenta com uma amplitude bem determinada ario temos θ, durante um tempo, pode-se dizer, infinito; no outro regime estacion´ ausˆencia de movimento. Os dois regimes s˜ ao est´ aveis. De fato, afastemos o pˆendulo de sua posi¸ca˜o vertical com a for¸ca de um impulso. Se esta for¸ ca for pequena, o pˆendulo para depois de um certo n´ umero de oscila¸co˜es. Se a for¸ca for suficiente para dar ao pˆendulo um movimento de amplitude pr´ oxima a θ, ele funcionar´ a normalmente ap´ os um pequeno intervalo de tempo. Portanto, toda solu¸ c˜ao se confunde com um dos dois regimes estacion´ arios ap´ os certo tempo. Neste cap´ıtulo desenvolvemos os elementos b´ asicos da teoria de estabilidade.
≥
→ ∞
5.1
Estabilidade de Liapounov
Consideremos o sistema x′ = f (t, x), onde f : Ω
n
→R
´e cont´ınua, Ω
n
⊂ R×R
(5.1)
aberto.
Defini¸c˜ ao 5.1 Seja ϕ(t) uma o´rbita de (5.1) definida para t 0. Diz-se que ϕ(t) ´e est´ avel se para todo ε > 0 existir δ > 0 tal que se ψ(t) ´e solu¸ca˜ o de (5.1) e
≥
155
156
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
|ψ(0) − ϕ(0)| < δ , ent˜ao ψ(t) est´a definida para todo t ≥ 0 e |ψ(t) − ϕ(t)| < ε, ∀t ≥ 0. Se al´em disso existir δ tal que |ψ(0) − ϕ(0)| < δ implica lim → ∞ |ψ(t) − ϕ(t)| = 0, 1
1
t
+
ent˜ ao ϕ diz-se assintoticamente est´ avel .
δ
y x ε
x = ϕ (0) y = ψ (0)
t ´orbita est´ avel
δ 1
y x
´orbita assintoticamente est´ avel
t
´ Figura 5.1: Orbitas est´ avel e assintoticamente est´ avel Um ponto singular x 0 de um sistema autˆ onomo x′ = f (x), x ∆
n
∈ ⊂R ,
(5.2)
´e est´ avel quando para toda vizinhan¸ca U de x0 existe uma vizinhan¸ca U 1 de x0 tal que toda solu¸c˜ao ϕ(t) de (5.2) com ϕ(0) U 1 est´a definida e contida em U para todo t 0. Se al´em disso limt→+∞ ϕ(t) = x 0 , diminuindo U 1 se necess´ario, ent˜ ao x 0 ´e assintoticamente est´ avel.
≥
∈
5.1 Estabilidade de Liapounov
157
U
x0
U
U 1
U 1
x0
singularidade assintoticamente est´ avel
singularidade est´ avel
Figura 5.2: Singularidades est´ avel e assintoticamente est´ avel
Exemplo 5.2 Seja A um operador linear em R n cujos autovalores tˆem todos parte real < 0. Existem K e µ > 0 tais que At
µt
|e | ≤ Ke−
,
∀t ≥ 0.
Rn ´ Conclui-se que 0 e um ponto singular assintoticamente est´ avel do sistema ′ x = Ax. Ver Teorema 2.30.
∈
Exemplo 5.3 Seja x′ = Ax um centro em R2 ; 0 R 2 ´e uma singularidade est´avel mas n˜ao assintoticamente est´ avel. Seja ϕ(t) uma solu¸ca˜o de (5.1). Verificar a estabilidade de ϕ equivale a testar a estabilidade da solu¸ca˜o nula de x′ = f (x + ϕ(t), t) f (ϕ(t), t). O leitor pode constatar facilmente esta afirma¸ ca˜o. Suponhamos ent˜ a o que (5.1) tenha solu¸c˜ao 1 nula e f seja C . O desenvolvimento de Taylor de f (x, t) em torno de x = 0 nos fornece o sistema x′ = A(t)x + g(t, x), (5.3)
∈
−
onde A(t) (Rn), g(t, 0) 0 e g(t, x) = o( x ) quando x 0, para cada t. Um sistema deste tipo chama-se quase-linear. O teorema abaixo estabelece uma condi¸c˜ao suficiente para que a solu¸c˜ao nula seja assintoticamente est´ avel em (5.3).
∈L
≡
||
→
Teorema 5.4 Consideremos o sistema quase-linear x′ = Ax + g(t, x), (t, x) Ω b ,
∈
(5.4)
onde Ω b = (t, x) R Rn ; x < b , A ´e um operador linear em Rn cujos autovalores tˆem parte real < 0, g ´e cont´ınua e g(t, x) = o( x ) uniformemente em t. Suponhamos ainda que (5.4) tenha solu¸c˜ oes unicas ´ em todo ponto. Ent˜ ao a solu¸c˜ ao nula de (5.4) ´e assintoticamente est´ avel.
{
∈ × || }
||
158
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
Demonstra¸ c˜ ao Provamos no Teorema 2.30 que existem µ > 0 e K 1 tais que tA tµ − e K e , t 0. Ainda, existe δ 1 > 0 para o qual x < δ 1 implica g(t, x) µ x , para todo t R. 2K δ1 Dado x < δ = K , seja ϕ(t) a solu¸c˜ao de (5.4) em Ωδ1 , com ϕ(0) = x e intervalo maximal (ω− , ω+ ). Sabemos que
| |≤ ||
| |
∀ ≥ ∈
≥
| |
t
tA
ϕ(t) = e x +
|
|≤
e(t−s)A g(s, ϕ(s))ds
0
para todo t (ω− , ω+ ). Como ϕ(t) < δ 1 , t, isto implica, para t
∈
| |
∀
|ϕ(t)| ≤ K e−µt|x| + K
t
t
≥ 0,
e−µ(t−s) g(s, ϕ(s)) ds,
|
0
|
donde e µt ϕ(t) K x + µ2 0 e sµ ϕ(s) ds. Aplicando a desigualdade de Gronwall (Exerc´ıcio 36, Cap´ıtulo 1), obtemos
|
|≤ | |
|
|
eµt ϕ(t)
µ/2
| | ≤ K |x|e , t ≥ 0. , t ≥ 0. Afirmamos que ω = ∞. Se n˜ao, pelo Teorema
Portanto, ϕ(t) δ 1e−µ/2t 1.17, ter´ıamos que δ 1 = lim ϕ(t)
|
|≤
t
→ω
+
+
µ/2ω+
| ≤ δ e−
|
1
< δ 1 ,
∞
absurdo. Portanto, ω + = , e ´e imediato concluir que a solu¸ ca˜o nula ´e assintoticamente est´ avel, a partir da desigualdade µ/2t
|ϕ(t)| ≤ δ e− 1
, t
≥ 0, se |ϕ(0)| < δ.
∗
( )
Corol´ario 5.5 Seja x0 um ponto singular de x′ = f (x), f : ∆
n
→R
de classe C 1 , ∆
n
⊂R
aberto,
(5.5)
e suponhamos que Df (x0 ) tem todos os autovalores com parte real < 0. Ent˜ ao existem uma vizinhan¸ca U de x0 e constantes K > 0 e ν > 0 tais que para todo x U a solu¸c˜ ao ϕ(t) de (5.5) tal que ϕ(0) = x est´ a definida em U , para todo t 0, e ϕ(t) x0 Ke−νt x x0 , t 0. Em particular, x0 ´e assintoticamente est´ avel.
∈ | − | ≤
≥
| − | ∀ ≥
∗
Demonstra¸ c˜ ao Imediata a partir da rela¸ca˜o ( ) da demonstra¸c˜ao anterior.
5.2 O Crit´ erio de Liapounov
5.2
159
O Crit´ erio de Liapounov
Consideremos o sistema autˆ onomo x′ = f (x), f : ∆
n
→R
(5.6)
onde f ´e de classe C 1 no aberto ∆ Rn . A solu¸c˜a o de (5.6) passando por x ∆ ser´a sempre indicada por ϕx (t), com ϕx (0) = x. Seja V : ∆ c˜ao diferenci´ a vel. Ponhamos, para cada x ∆, R uma fun¸ d ˙ ˙ V (x) = DV x f (x), ou seja, V (x) = dt V (ϕx (t)) .
⊂
·
→
∈
∈
t=0
ao de Liapounov para Defini¸c˜ ao 5.6 Seja x 0 um ponto singular de (5.6). Uma fun¸c˜ x0 ´e uma fun¸ca˜o V : U R diferenci´avel definida em um aberto U x 0 , satisfazendo `as seguintes condi¸c˜oes:
→
∋
(a) V (x0 ) = 0 e V (x) > 0, x = x 0 ;
∀
˙ (b) V
≤ 0 em U .
A fun¸ca˜o de Liapounov V diz-se estrita quando (c) V˙ < 0 em U
− {x }. 0
O crit´erio de Liapounov para o sistema (5.6) ´e:
Teorema 5.7 Seja x0 um ponto singular de (5.6). Se existe uma fun¸ c˜ ao de Liapounov para x0 , ent˜ ao x0 ´e est´ avel. Se a fun¸c˜ ao for estrita, x0 ´e assintoticamente est´ avel. ca˜o de Liapounov para x0 . Dado B = Demonstra¸ c˜ ao Seja V : U R uma fun¸ x Rn ; x x0 δ U , o n´ umero m = min V (x); x x0 = δ ´e positivo. Em virtude da continuidade de V , existe um aberto U 1 x 0 , contido em B, tal que V (x) < m para todo x U 1 . Como V ´e n˜ ao crescente ao longo das o´rbitas de (5.6), temos que ϕ x (t) permanece no interior de B para todo t 0 e x U 1 . Portanto, x 0 ´e est´ avel. Vamos supor agora que V˙ < 0 em U x0 . Sejam x U 1 e tn uma sequˆencia crescente de n´ umeros reais positivos tal que ϕx (tn ) y B. Temos V (ϕx (tn)) ao V (ϕy (t)) < V (y) e V (y) e V (ϕx (t)) > V (y), t 0. Suponhamos y = x0 . Ent˜ para todo z suficientemente pr´ oximo de y, V (ϕz (1)) < V (y). Mas ent˜ ao, se n for suficientemente grande, V (ϕx (tn + 1)) < V (y), absurdo. Portanto, y = x 0 . Como B ´e compacto, isto ´e suficiente para provar que x0 ´e assintoticamente est´ avel.
{ ∈
| − |≤ }⊂ ∈
→
∀ ≥
{
| − |
∋ ≥ −{ } ∈ → ∈
∈ { }
}
→
160
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
Corol´ario 5.8 Nas condi¸c˜ oes do Corol´ ario em 5.5 existe uma fun¸c˜ ao quadr´ atica definida positiva que, numa vizinhan¸ca de x0 , ´e de Liapounov estrita para f . Portanto x0 ´e assintoticamente est´ avel. Demonstra¸ c˜ ao Tomar como fun¸ca˜o de Liapounov a forma quadr´ atica q associada a` parte linear de f (que ´e um atrator linear), usada na prova da parte (4) do Teorema 2.30. Exemplo 5.9 Consideremos o sistema x′ =
2
y ′ =
−x + 2x(x + y) ,
−y
3
+ 2y3 (x + y)2, (x, y)
2
∈R .
A origem (0,0) ´e um ponto singular isolado. Observe que n˜ ao ´e poss´ıvel aplicar o 1 2 2 Teorema 5.4. Consideremos a fun¸ca˜o V (x, y) = 2 (x + y ). Temos V (0, 0) = 0 e V (x, y) > 0, Ainda,
∀(x, y) = (0, 0).
˙ V (x, y) = xx ′ + yy ′ = [2(x + y)2
2
− 1](x
+ y 4 ),
˙ donde V (x, y) < 0numa vizinhan¸ca de (0,0) (exceto em (0,0)). Em virtude do teorema de Liapounov, (0,0) ´e assintoticamente est´ avel. avel do sistema Exemplo 5.10 A origem (0,0) ´e uma singularidade est´ x′ = y
2
− xy ,
y′ =
3
−x ,
2
∈ R .
(x, y)
∗
( )
De fato, V (x, y) = 41 x4 + 21 y 2 ´e uma fun¸ca˜o de Liapounov do sistema ( ). Note que (0,0) ´e uma singularidade n˜ ao est´ avel da parte linear x ′ = y, y′ = 0 deste sistema.
∗
Defini¸c˜ ao 5.11 Seja x0 uma singularidade assintoticamente est´ avel de (5.6). O conjunto B(x0 ) = x ∆; ϕx (t) x 0 quando t chama-se bacia de atra¸cao ˜ ou variedade est´ avel de x0 . Um conjunto P ∆ diz-se positivamente invariante para (5.6) quando para cada x P , ϕx (t) est´ a definido e contido em P para todo t 0.
{ ∈
∈
→
→ ∞}
⊂
≥
Observe que B(x0 ) ´e um conjunto aberto em ∆. Quando (5.6) representa um sistema f´ısico, ´e importante determinar B (x0), pois a´ı todo estado confunde-se com x0 depois de certo tempo.
Teorema 5.12 Sejam x0 uma singularidade de (5.6) e P ∆ uma vizinhan¸ca de x0, compacta e positivamente invariante. Seja V uma fun¸c˜ ao C 1 tal que V˙ < 0 em P x0 . Ent˜ ao x0 ´e assintoticamente est´ avel e P B(x0 ).
⊂
− { }
⊂
5.2 O Crit´ erio de Liapounov
161
Demonstra¸c˜ ao Sejam x P e ω(x) = y ∆; tn com ϕx (tn ) y o conjunto ω -limite de x. Como P ´ P ´e fechado fech ado,, temos tem os ω(x) P . P . Ainda, Ainda, sabemos sabemos que ω (x) ´e invarian invariante. te. Por outro lado, V ´e constante cons tante em ω(x). De fat fato, o, com comoo V ´e cont co nt´´ınua, ınu a, lim n→∞ V ( V (ϕx (tn)) = V ( V (a) para toda to da sequˆencia encia tn de n´ umeros umeros positivos positivos tal que limn→∞ ϕx (tn ) = a. de ϕ x (t), donde a . Mas, V decresce V decresce ao longo de ϕ
∈
{ ∈ ∃ →∞ ⊂ { }
→ }
lim V ( V (ϕx (tn )) = lim V ( V (ϕx (t)). )).
n
t
→∞
→∞
Assim, V ( con stante nte em ω (x). V (a) = V ( V (b) quaisquer que sejam a e b ω (x), e V ´e consta ˙ Mas, ent˜ ao ao V 0 em ω (x), donde ω(x) = x0 , o que prova o teorema.
≡
{ }
∈
Exemplo 5.13 Consideremos o sistema:
x′ = x 3 y′ = x,
− x − y,
2
∈ R .
(x, y )
Observe que (0,0) ´e a unica u´nica singularidade e a parte linear do sistema em (0,0) tem autovalores com parte real < 0. Portanto, Portanto, (0,0) ´e assintoticamen assintoticamente te est´ avel. 1 2 2 2 ′ ′ ˙ (x, y ) = xx + yy = x (1 Consideremos a fun¸c˜ cao V a˜o V ((x, y ) = 2 (x + y ). Temos V ( V ˙ (x, y ) < 0. x). Porta ortan nto, to, 0 = x < 1 implica V ( V 0. Seja 0 < r < 1 e ponhamos 2 2 P = (x, y ); x + y r . Obser Observ ve que P P ´e fechado fech ado e V˙ < 0 em P (0, (0, 0) . Vamos provar provar que P P ´e positivamente invariante. invariante. Seja z = (x, y ) P . P . Entao a˜o 1 r 2 2 V ( V (x, y ) = 2 (x + y ) . Co Como mo V decresce V decresce ao longo das orbitas o´rbitas positivas em P , P , 2 r vem V ( , para todo t 0, e da´ı ϕz (t) P , teoremaa acima acima V (ϕz (t)) P , t 0. Do teorem 2 conclu´ conclu´ımos que a bola aberta de centro em zero e raio 1 est´ a contida na bacia de (0,0).
{
≤
|| ≤ } ≤
∈
≥
− − − {
− }
∈ ∀ ≥
Co nsideremos remos um pˆendulo endu lo de massa m oscilando na ponta de uma Exemplo 5.14 Conside linha de comprimento ℓ. Supon Suponha hamo moss que que a for¸ for¸ ca c a de fric¸c˜ cao ˜ao seja proporcional a` velocidade veloc idade do pˆendulo, endul o, sendo send o k > 0 a constante de proporcionalidade. Supondo que a acelera¸c˜ cao a˜o da gravida grav idade de ´e g = g = 1, o sistema siste ma que qu e descreve des creve o movimento do pˆendulo endul o ´e
−
∗
( )
x′ = y, y ,
− 1ℓ sen x − mk y. As singularidades deste sistema s˜ ao ao (nπ, 0), n 0), n ∈ Z; (0,0) ´e uma singularidade assiny′ =
toticamente est´ avel, pois a parte linear do sistema em (0,0) tem autovalores com avel, parte real < 0. Vamos amos estima estimarr o taman tamanho ho da baci baciaa de (0,0). (0,0). A energi energiaa total total do 1 2 sist si stem emaa ´e E (x, y ) = mℓ 2 ℓy + 1 cos x . E ´ ´e uma um a fun¸ fu n¸c˜ cao ˜ao de Liapounov de ( ). Ainda, E ( π, y ) = 21 mℓ2 + 2mℓ 2 mℓ 2mℓ 2 mℓ.. Portanto, Portanto, E (x, y ) < 2mℓ 2 mℓ implica implica x = π. Da´´ı se conclui que o conjunto P a = (x, y ); E (x, y ) a e x < π ´e fechado Da fech ado para par a
±
− ≥
{
≤ | |
}
∗ ±
162
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
todo 0 < 0 < a < 2mℓ. mℓ. Ainda, Ainda, P a ´e positivamente invariante. De fato, seja (x(t), y (t)) ˙ 0, temos E (x(t), y (t)) < a uma orbita o´rbita de ( ) com (x (x(0), (0), y (0)) P a . Co Como mo E para todo t 0. Ainda, Ainda, x(t) = π, t 0, donde x(t) < π, t 0. Po Portan rtanto, to, (x(t), y (t)) P a para todo t 0 e P a ´e positivamente invariante. Em virtude do ´ claro, portanto, que teorema acima, P a B(0 B (0,, 0). E
≥ ∈
∗
∈ ± ∀ ≥ ≥
⊂ < 2mℓ mℓ {(x, y); E (x, y) < 2
≤ | |
e
∀ ≥
B (0,, 0). 0). |x| < π} ⊂ B(0
l x m
Figura Figur a 5.3: Pˆendulo endul o
Exemplo 5.15 Considere o sistema x′ = y, y , y′ = ay
− − bx − x
2
.
Determine os pontos de equil´ equil´ıbrio, suas localiza¸c˜ coes o˜es e seus tipos; dˆe uma descric˜ ¸c˜ao a o gr´ afica afica do retrato retrato de fase. fase. Use o Teorema eorema 5.12 para estimar estimar quantita quantitav vamente amente a bacia de atra¸c˜ cao a˜ o do unico u ´ nico ponto atrator. Para tanto tanto considere V ( V (x, y ) = y2 /2 + bx2 /2 + x3/3.
5.3 5.3
Teore eorema ma de Ceta Cetaev ev
diz-se inst´ avel quando quando n˜ao ao Defini¸c˜ ao ao 5.16 Um ponto singular x0 do sistema (5.6) diz-se inst´ for est´ avel. avel. Por exemplo, seja A um operador linear em Rn que tenha algum autovalor com parte real > real > 0. 0. Ent˜ao ao zero ´e um ponto singular inst´ avel avel do sistema linear x linear x ′ = Ax. Ax. O teorema teor ema abaixo, devido a Cetaev, fornece for nece um crit´erio erio para par a a instabilidade.
5.3 Teorema de Cetaev
163
Teorema 5.17 Consideremos um sistema autˆ onomo (5.6) onomo (5.6) admitindo admitindo um ponto singular x0 . Seja D um dom do m´ınio ın io em ∆ tal que x0 ∂D ∂ D. Suponhamos que exista uma 1 R tal que V > 0 e V˙ > 0 em D e V 0 em ∂D. fun¸c˜ c˜ ao C , V : ∆ ∂D . Ent˜ ao x0 ´e e inst´ avel.
∈
→
≡
Demonstra¸c˜ ao Seja B uma bola fechada com centro em x0 e contida em ∆. Seja que ϕx (t) esteja definida e contida contida em B em B para para todo t todo t 0. x D int B e suponhamos que ϕ Em D, V cresce V cresce ao longo das solu¸c˜ c˜oes oes de (5.6), (5.6) , donde V ( V (ϕx (t)) V ( V (x) > 0 para todo t todo t 0 tal que ϕ que ϕ x(t) D. D . Conclui-se que para um compacto U compacto U disjunto de ∂ de ∂ D, ϕx (t) U para U para todo t todo t 0 (veja a Figura 5.4). Ainda, em virtude da continuidade continuidade de 1 V , V , existe δ existe δ > 0 tal que d que d((ϕx (t), ∂U ) ∂U ) δ , t 0. Como f Como f e V s˜ao C ao C , existem m existem m > 0 t ˙ (ϕx (t)) m, t 0. Da´ı V ( para o qual V ( V V (ϕx (t)) > V ( V (x) + 0 md m ds = V ( V (x) + mt + mt,, para todo t 0. 0. Entretanto, Entretanto, V ´e limitad limi tadaa em B , absurdo. absurdo. Ent˜ Ent˜ ao, ao, ϕx(t) deve sair de B de B e x0 ´e ins in stavel. a´vel.
∈ ∩ ≥ ∈
≥
∈
≥ ≥ ∀ ≥ ≥ ∀ ≥
≥
≥
B
D x U
x0
∂D Figura 5.4: Teorema de Cetaev
Exemplo 5.18 Consideremos o sistema em R2
x′ = x = x + + ax2 + bxy + bxy + cy 2 y ′ = dx = dx 2 + exy + exy + f y2 .
Vamos provar provar que (0,0) ´e uma singularidade inst´ avel. avel. Sejam Sejam V ( V (x, y ) = x2 y 2 e D = (x, y ); 0 < y < x . Temos V > 0 em D e V = V = 0 na fronteira de D. Ainda,
{
||
−
}
˙ (x, y ) = 2[x2 + ax3 + (b V ( V (b = 2x2
2
2
3
− d)x y + (c(c − e)xy − f y ] y y 1 + ax + ax + (b ( b − d)y + (c ( c − e) y − f y x x 2
2
2
.
Em D Em D,, o termo ax termo ax+( +(bb d)y +(c +( c e) xy y f xy 2 y tende para zero quando (x, (x, y ) (0, (0 , 0). ˙ (x, y ) > 0 para todo Ent˜ ao, a o, existe uma bola B com centro na origem tal que V ( V (x, y ) D B . Em virtude do teorema de Cetaev, (0,0) ´e inst´ avel.
−
∈ ∩
−
−
→
164
5.4
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
Exerc´ıcios
1. Prove que a origem ´e um ponto singular assintoticamente est´ avel do sistema
2. Seja f : Rn Prove que x em x = 0.
n
x x′ = −x −
3
− 2sen y,
3 3
y y′ = −y − ,
(x, y)
3
2
∈R .
de classe C 1 tal que f ( 0) = 0 e < x, f (x) > < 0, x = 0. 2 ´e uma fun¸ca˜o de Liapounov estrita para o sistema x′ = f (x)
→R → |x|
∀
Rn de classe C 1 , 3. Seja x 0 uma singularidade do sistema ( ) x ′ = f (x), f : ∆ ∆ Rn aberto. Seja V : U R uma fun¸c˜ao de Liapounov de x0 . Suponha que ˙ n˜ao exista trajet´ oria de ( ) inteiramente contida em Z = x U ; V (x) =0 , exceto x0 . Ent˜ao x0 ´e assintoticamente est´ avel.
⊂
∗
→ ∗
→ { ∈
}
4. Considere o sistema n
x′ = A(t)x + g(t, x), 0
(∗) ≤ t < +∞, |x| < b, x ∈ R , onde A e g s˜ao cont´ınuas, g(t, x) = o(|x|) uniformemente em t. Seja Φ(t) a matriz fundamental de x′ = A(t)x tal que Φ(0) = E e suponha que existam constantes K > 1 e µ > 0 tais que |Φ(t)| ≤ Ke− , t ≥ 0. Ent˜ a o a solu¸c˜ao nula de (∗) ´e assintoticamente est´ avel. 5. Seja x um ponto singular de x′ = f (x), onde f : ∆ → R ´e de classe C , ∆ ⊂ R aberto. Seja V uma fun¸ca˜o C definidanuma vizinhan¸ca de x tal que ˙ V (x) > 0 para todo x = x e V (x ) = 0. Se em toda vizinhan¸ca de x existe µt
n
0 n
1
0
1
0
0
0
x tal que V (x) > 0, ent˜ao x0 ´e inst´ avel.
Rn ´ 6. Seja x0 um ponto singular de x′ = f (x), onde f : ∆ e de classe C 1, Rn aberto. Seja V : U R uma fun¸ ∆ c˜ao de Liapounov estrita de x0 . 1 − Ent˜ ao, para cada c > 0 tal que V [0, c] ´e compacto, tem-se V −1 [0, c] B(x0 ) (bacia de atra¸c˜ao de x0).
⊂
→
→
⊂
7. Sejam ∆ Rn um aberto e V : ∆ c˜ao de classe C 2. O campo R uma fun¸ gradiente associado a V ´e definido por
⊂
onde grad V (x) = classe C 1 e satisfaz
→
x′ =
−grad V (x), x ∈ ∆,
∂V ∂V (x), . . . , ∂x (x) ∂x 1 n
. Observe que o campo gradV ´e de
DV x y =< grad V (x), y >,
·
5.4 Exerc´ıcios
165 ˙ derivada de V ao longo das trajet´ orias do ∈ R . Seja V a n
para todo x ∆, y campo. Prove:
∈
˙ (a) V (x)
˙ = 0 se e s´o se x ´e uma singularidade de grad V ; ≤ 0, ∀x ∈ ∆, e V (x)
(b) Se x0 ´e um m´ınimo isolado de V , ent˜ao x0 ´e uma singularidade assintoticamente est´ avel de grad V ;
−
−grad V n˜ao possui trajet´orias peri´odicas n˜ao singulares. 8. Seja V : ∆ → R de classe C , ∆ ⊂ R aberto. Dado c ∈ R, o conjunto V − (c) ´e chamado superf´ıcie de n´ıvel de V . Se x ∈ V − (c) ´e ponto regular (isto ´e, DV = 0), ent˜ ao V − (c) ´e uma superf´ıcie C de dimens˜ ao n − 1 em torno de x. Prove que, neste caso, grad V (x) ´e perpendicular a V − (c) em x. Em cada um dos casos abaixo, esboce o gr´ afico de V e o retrato de fase de −grad V . (c)
2
n
1
1
1
x
1
1
(a) V (x, y) = x 2 + y 2 ; (b) V (x, y) = x 2 (c) V (x, y) = x 4
2
−y ; −x +y . 2
2
R de classe C 2 , ∆ Rn aberto, e p um ponto α-limite ou 9. Sejam V : ∆ ω-limite de uma trajet´ oria do campo grad V . Ent˜ao, p ´e uma singularidade deste campo. (Sugest˜ao: dado x ∆, prove que V ´e constante em α(x) e em ω(x).)
→
⊂ −
∈
10. Considere uma part´ıcula movendo-se sob a influˆencia de uma fun¸ c˜ao potencial 2 3 R, de classe C , ∆ R aberto. O sistema dinˆ P : ∆ amico correspondente ´e x′ = v, ( ) v ′ = grad P (x), (x, v) ∆ R3 .
→
⊂
∗ Prove o teorema de Lagrange, segundo o qual uma singularidade (x , 0) de (∗) −
∈ ×
0
´e est´ avel se x0 for um m´ınimo local estrito de P .
11. Seja A uma matriz real n n cujos autovalores λ1, . . . , λn satisfazem λi +λk = 0, i, k. Seja S (Rn ) o conjunto das matrizes sim´etricas reais n n e consideremos o operador T : S (Rn ) S (Rn ) dado por T (B) = At B + BA, onde At ´e a transposta de A. Prove que T ´e sobrejetiva. Conclua que existe B S (Rn ) ˙ ˙ tal que a forma quadr´ atica V (x) =< x, Bx > satisfaz V (x) = x 2 , onde V ´e a derivada de V ao longo das trajet´ orias de x′ = Ax. Ainda, se Re λi < 0, 1 i n, ent˜ao V (x) > 0 para todo x = 0. (Sugest˜ao: Observe que T ´e linear. Seja B = 0 tal que T (B) = µB. Ent˜ ao (At µI )B = BA, donde A t µI e A tˆem um autovalor comum. Conclua que µ = 0.)
× →
∀
×
−| |
≤ ≤ −
−
−
−
∈
166
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
R de classe C 1 tal que f ( 0) = 0. A solu¸ Rn diz-se 12. Seja f : Rn ca˜o 0 globalmente est´ avel quando for est´avel e limt→∞ ϕ(t) = 0 para toda solu¸c˜ao ϕ(t) de x′ = f (x). ( )
→
∈
∗
Seja V : Rn ca˜o de Liapounov estrita para ( ) em 0. Suponha Rn uma fun¸ que para cada c > 0 dado exista R > 0 tal que x > R implica V (x) > c, x Rn . Ent˜ ao, 0 ´e uma solu¸ca˜o globalmente est´ a vel de ( ). Observe que ´ suficiente supor que n˜ao ´e necess´ aria a condi¸ca˜o x Rn; V (x) = 0 = 0 . E este conjunto n˜ ao cont´em tra jet´ oria inteira de ( ) distinta de x(t) 0.
→
∗
| | ∀ ∈ ∗ { ∈ } {} ∗ ≡ 13. Mostre que toda forma quadr´ atica V : R → R definida positiva satisfaz a` condi¸ca˜o: dado c > 0, existe R > 0 tal que |x| > R implica V (x) > c. Prove ′ n
novamente que a solu¸ca˜o nula ´e globalmente est´ avel para x = Ax, onde A ´e um operador linear em Rn cujos autovalores tˆem parte real < 0.
14. Seja f : R
1
→ R de classe C
tal que f (0) = 0. Considere o sistema
x¨ + ax + ˙ f (x) = 0, x
∈ R.
∗
( )
Se a > 0 e f (x)x > 0, x = a, ent˜ao a solu¸c˜ao nula ´e uma solu¸c˜ao assintoticamente est´ avel para o sistema ( ) (isto ´e, para o sistema de primeira ordem associado). Se f (x)/x > ε > 0, x = 0, ent˜ ao a solu¸ca˜o nula ´e globalmente est´avel. x (Sugest˜ao: Tome V (x, y) = y 2 + 2 0 f (x)dx.)
∀
∗ ∀
15. Considere a equa¸ca˜o
x¨ + g(x)x˙ + f (x) = 0,
x
∈ R.
∗
( )
Sob quais condi¸c˜oes em f e g a solu¸ca˜o nula ´e globalmente est´ avel? (Sugest˜ao: Transforme ( ) no sistema
∗
−
x
x = y ˙
ϕ(x)dx, y˙ =
0
usando a mudan¸ca de vari´ aveis y = x + ˙ exerc´ıcio 14.)
x 0
−f (x),
ϕ(x)dx. Proceda ent˜ a o como no
16. Seja p uma singularidade da equa¸c˜ao Lipschitziana n
∈ ⊂ R .
x = f (x), ˙ x U
5.4 Exerc´ıcios
167
(a) Se p ´e est´ avel, prove que n˜ao existe q tal que p α(q ) . Se p ω(q ) prove que ω(q ) = p . (Sugest˜ao: Se p α(q ), existem tn + tais que ϕ( tn , q ) p. Sejam z n = ϕ( tn, q ) e W uma vizinhan¸ca de p tal que q W . Ent˜ ao ϕ(tn , z n ) = q W . Deduza que p n˜ao ´e est´a vel. Se p ω(q ) e p1 = p com p1 ω(q ), existem tn + tais que ϕ(tn , q ) p1 e sn + tais que sn < tn e ϕ(sn , q ) a o, se W ´e p. Seja z n = ϕ(sn, q ) . Ent˜ uma vizinhan¸ca de p tal que p1 W , como ϕ(tn sn, z n ) p1 resulta ϕ(tn sn , z n) W para todo n suficientemente grande.)
∈
−
∈
{} ∈ − ∈
∈ − ∈
→ ∞
∈ →
→ ∞ → ∈
∈
−
→ → ∞
→
(b) Se p ´e assintoticamente est´ avel, prove que existe uma vizinhan¸ca W de p tal que α(q ) W = implica q = p.
∩ ∅
(c) Suponha n = 2. Se p ´e uma singularidade isolada est´ avel e n˜ ao assintoticamente est´ avel, ent˜ao toda vizinhan¸ca de p cont´em uma o´rbita peri´ odica n˜ao trivial. 17. Considere a equa¸ca˜o Lipschitziana x = f (x), ˙ x tal que < grad V (x), f (x) > 0 para todo x.
∈ U ⊂ R
m
≤ (a) Prove que V (ϕ(t , p)) ≤ V (ϕ(t , p)) para todo p, se t ≥ t ; (b) Prove que p ∈ ω(q ) implica V ( p) ≤ V (q ); 1
2
→ R
. Seja V : U
1
m
2
(c) Prove que todo conjunto limite est´ a contido no conjunto Σ = x; < grad V (x), f (x) >= 0 .
{
}
(Sugest˜a o: Se p ω(q ) e < grad V ( p), f ( p) >> 0, existe t0 > 0 tal que V (ϕ(t0, p)) < V ( p). Ent˜ao, existe ε > 0 tal que x p < ε implica V (ϕ(t0 , x)) < V ( p). Seja T > 0 tal que ϕ(T, q ) p < ε. Ent˜ao V (ϕ(t0 + T, q )) = V (t0 , ϕ(T, q )) < V ( p), e da´ı
∈
|
− |
|−|
p ω(ϕ(t0 + T, q )) = ω(q ).)
∈
168
5. Estabilidade no sentido de Liapounov
Referˆ encias Bibliogr´ aficas [1] A. Andronov, E. Leontovich et al, Theory of Bifurcations of Dynamic Systems on a Plane. Jerusalem, Israel Program of Scientific Translations, 1973. [2] V. Arnold , Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´ arias. Moscou: Editora Mir, 1985. [3] C. Chicone, Ordinary Differential Equations with Applications. New York: Texts in Appl. Math. 34, Springer, 1999. ´ [4] F. Ulhoa Coelho e M.L. Lourenc Linear. S˜ ao ¸o , Um Curso de Algebra Paulo: Editora Edusp, 2001. [5] E.A. Coddington e N. Levinson, Theory of Ordinary Differential Equations. New York: McGraw–Hill Book Co., 1955. [6] M.J. Greenberg and J. Harper, Algebraic Topology: A First Course. New York: Westview Press, 1982. [7] R. Garcia e J. Sotomayor, Differential Equations of Classical Geometry, a Qualitative Theory, 27th Brazilian Math. Colloquium, Rio de Janeiro, IMPA, 2009. [8] C. Gutierrez e J. Sotomayor, Lines of Curvature and Umbilic Points on Surfaces, 18th Brazilian Math. Colloquium, Rio de Janeiro, IMPA, 1991. Reimpresso e atualizado como Structurally Stable Configurations of Lines of Curvature and Umbilic Points on Surfaces, Lima, Monografias del IMCA, 1998. [9] P. Hartman, Ordinary Differential Equations. New York: J. Wiley & Sons Inc., 1964. [10] K. Hoffman e R. Kunze , Algebra Linear. S˜ ao Paulo, Editora Pol´ıgono SA, 1971. [11] S. Lang, Analysis II, Addison - Wesley, 1969. [12] E. Lima, Espa¸cos M´etricos, Rio de Janeiro: IMPA–CNPq, Col. Proj. Euclides, 1977. 169
170
Referˆencias Bibliogr´aficas
[13] E. Lima, An´alise Real, Vol. 1. Rio de Janeiro: IMPA–CNPq, Col. Mat. Univ., 1989. [14] E. Lima, An´alise Real, Vol. 2. Rio de Janeiro: IMPA–CNPq, Col. Mat. Univ., 2004. [15] E. Lima, An´alise Real, Vol. 2. Rio de Janeiro: IMPA–CNPq, Col. Mat. Univ., 2004. [16] E. Lima, Curso de An´alise, Vol. 2, Rio de Janeiro: IMPA–CNPq, Col. Proj. Euclides, 1981. [17] J. Palis e W. de Melo , Geometric Theory of Dynamical Systems: An Introduction. New York: Springer-Verlag, 1982. [18] M. C. Peixoto e M. M Peixoto , Structural Stability in the Plane with enlarged Boundary Conditions. An. Acad. Bras. Cien. 31, 1959. [19] L.S. Pontrjagin, Ordinary Differential Equations, Reading, Mass: Addison– Wesley, 1962. [20] R. Roussarie, Bifurcation of Planar Vector Fields and Hilbert’s Sixteenth Problem, Basileia: Birkh¨auser - Verlag, 1989. [21] J. Sotomayor , Smooth Dependence of solutions of Differential Equations on Initial Data: A Simple Proof, Bol. Soc. Bras. Mat. 4 (1973), 55–59. [22] J. Sotomayor , Singularidades de Aplica¸co˜es Diferenci´ aveis, Curso proferido ra no 3 ELAM. Rio de Janeiro: IMPA, 1976. [23] J. Sotomayor, Li¸co˜es de Equa¸co˜es Diferenciais Ordin´ arias, Rio de Janeiro: Projeto Euclides, IMPA- CNPq, 1979. [24] J. Sotomayor, Curvas Definidas por Equa¸co˜es Diferenciais Ordin´arias, Rio de Janeiro: Curso proferido no 13◦ Col´oquio Brasileiro de Matem´ atica, IMPACNPq, Po¸cos de Caldas, 1981. [25] J. Sotomayor, R. Garcia , Saddle Funnels of Vector Fields in the Plane, Progress in Nonlinear Science, Proc. Intern. Conf. 100th Anniv. of A.A. Andronov, Vol. I, Inst. of Appl. Physics, RAS, 2002, Nizhny Novgorod, Russia. [26] J. Sotomayor , On the motion under focal attraction in a rotating medium, Bull. Belg. Math. Soc. - Simon Stevin 15 (2008) 921-925. [27] H. K. Wilson, Ordinary Differential Equations. Addison - Wesley, 1971.