Émile Durkheim As Regras
Método Sociológico
Tradução
PAULO NEVES
Revisão da tradu\'ão EDUARDO BRANDÃO
Martins Fontes São Paulo
2007
INDICE Esta obra foi publicada originalmente em francês com o título LES REGLES DE LA METHODE SOClOLOG/QUE. Copyright Flammarion, 1988, para o aparelho crítico. Copyright © 1995, Livraria Martins Fontes Editora Ltda São Paulo, para a presente edição.
I'
3'
edição /995 edição 2007 Tradução
PAULO NEVES
Revisão
da
tradução
Eduardo Brandão
Revisões gráficas Luzia Aparecida dos Santos Maria Cecilia Vannucchi Dinarte Zorzanelli da Silva
Nota sobre esta edição............................................... VII f'refácio da primeira edição ..................................... XI f'refácio da segunda edição...................................... XV {Iltroduçào ...................................... ........................................... ..... ...................... XXXIII
Produção gráfica
Geraldo Alves Composição
Renato C. Carbone
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CW) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Durkheim. Émile. 1858-1917. Émile Durkheim ; tradução As regras do método sociológico Paulo Neves; revisão da tradução tradução Eduardo Brandão. 3ª ed. ed. - São Martins Fontes, 2007. - (Coleção tópicos) tópicos) Paulo: Martins Título original: Les regles de la méthode sociologiq ue. ISBN 978-85-336-2364-4 978-85-336-2364-4 1.
Sociologia Metodologia 1. Título.
JI.
Série.
07-1664
I. 11. 111.
IV. V.
VI.
qu um fato social? ......................................... Regras relativas observação do fatos sociais .... .... 15 Regras relativas distinção entre normal patológico ...................................................................... . 49 Regras relativas constituição do tipos soci ais ... ... . 77 Regras relativas explicação do fatos sociais ...... ...... . 91 Regras relativas administração da prova ............ . 127
CDD-301.018 catálogo sistemático: 1. Metodologia: Sociologia Sociologia 301.018 2. Métodos sociológicos 301.018 índices para
Todos Todos os direitos desta edição reservados Livra,*, Martins Fontes Editora LIda. Rua Conselheiro Conselheiro Ramalho. 330 01325-000 São Paulo SP Brasil Tel. ( l I ) 3241.3677 Fax (lI) 3105.6993 e-mail:
[email protected] http://www.martinsfonteseditora.com.br
c
145
153
NOTA SOBRE ESTA EDIÇÃO
foi baseada na primeira edição, de 1895, considerada texto de referência para As regras do método sociológico. Esta primeira edição, no entanto, dife re em alguns pontos da versão inicial publicada na Revue fJhilosophique. As modificações qu constituem acréscimos acréscimos ou implicam reformulações do texto estão assinaladas sis tematicamente através de asteriscos qu indicam e delimi tam o texto corrigido, fornecendo-se em nota de rodapé redação inicial. As duas notas acrescentadas edição de 1901, a 2ª, publicada ainda em vida de Durkheim, foram também assinaladas. trabalho do professor Jean-Michel Berthelot, da Universidade de Toulouse II (Flammarion, 1988), serviu de hase para estabelecimento da presente edição. presente tradução
memória de Raymond LEDRUT Fundador do Institut de sciences sociales
do Centre de
recherches sociologiques da Universidade de Toulouse.
PREFÁCIO
DA
PRIMEIRA EDIÇÃO
tão pouco habitual
tratar
os
fatos sociais cientifica
mente que algumas das proposições contidas nesta obra correm
o risco
de surpreender
o leitor. Entretanto,
se
exis
te um ciência das sociedades, cabe esperar que el nã consista em um simples paráfrase dos preconceitos tradi cionais, mas nos mostre as coisas diferentemente de como as vê o vulgo; pois o objeto de toda ciência é fazer desco hertas, e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões aceitas. Portanto, a menos que se atribua ao sen so comum, em sociologia, uma autoridade que há muito nã se percebe de el nã possui nas outras ciên ciênci cias as (mde lhe poderia advir essa autoridade
sociólogo
tome decididamente
cumpre que
partido de nã
se
intimi
dar com os resultados de suas pesquisas, se estas foram metodicamente conduzidas.
prio
Se
buscar
paradoxo
pró
sofista, fugir dele, quando imposto pelos fatos, espírito se coragem ou sem fé na ciência. Infelizmente, é mais fácil admitir essa regra em prin cipio teoricamente do qu aplicá-la co perseverança. de um
denota um
XII
REGRAS
/j
Ainda estamos po
DO
MÉTODO SOCIOLÓGICO
demais acostumados
resolver essas
questões com base nas sugestões do senso comum para
qu
possamos facilmente mantê-lo a distância da
discus
sões sociológicas. Quando nos cremos livres dele, el impõe seus julgamentos sem que um
prática longa
de
de vista. Qu
percebamos. Somente
capaz de prevenir seme
especial
lhantes lapsos. Eis o qu
no
pedimos ao leitor para nã
per
tenha sempre presente no espírito qu
suas maneiras de pensar mais costumeiras sã antes con trárias do que favoráveis ao estudo científico do fenôme no sociais e, po conseguinte, qu se acautele contra suas primeiras impressões. Se se entregar elas se resistên cia, arrisca-se a julgar-nos sem nos haver compreendido. Assim, pode acontecer qu nos acusem de ter querido ab
solver
crime, so
pretexto de fazermos dele um fenô
meno de sociologia normal. No entanto,
objeção seria
normal qu em toda sociedade haja cri pueril. Pois, se mes, nã menos normal qu eles sejam punidos. A insti
um fato menos tuição de um sistema repressivo nã a existência de uma criminalidade, ne me
universal qu
saúde coletiva. Para qu
nos indispensável
crimes, seria preciso individuais que, po nã
é possível ne
houves
nivelamento das consciências
razões
ue veremos mais adiante,
desejável; mas, para qu
se repressão, seria preciso um
dade moral qu
nã
nã
houves
ausência de homogenei
inconciliável co
existência de uma
sociedade. Todavia, partindo do fato de que
crime
de
testado e detestável, o senso comum conclui erradamente
qu
ele deveria desaparecer po
plismo costumeiro, nã pugna possa te um
concebe que um
razão de se
sim coisa qu re
completo. Com se
útil. No entanto, nã
há
nenhuma contradição nisso. Não há no organismo funções repugnantes cuja atividade regular individual? Acaso nã
detestamos
saúde sofrimento? E, nã necessária
/ N/:FÁCJO DA
PRIMBRA
Ef)JÇ'ÂO
XIII
conhecesse seria um monstro. ()I lstante, um se qu nã ( ) caráter normal de uma coisa e os sentimentos de aver ~ ; I ( } qu el inspira podem inclusive se solidários. A do crime IIIll fato normal, contanto qu nã seja apreciada; " normal, contanto qu seja odiado Nosso método, por certo sentido, LlI1to, nada tem de revolucionário. Nu ,Itl' essencialmente conservador, pois considera os fatos dócil e maleá ~ ' l c i a i s como coisas cuja natureza, ainda qu
\VI, nã modificável à vontade. Be mais perigosa é produto de combinações ,I, lutri na qu vê neles apenas Illentais, qu um simples artifício dialético pode, nu ins tante, subverter de cima a baixo! Do mesmo modo, como
habitual representar-se
desenvolvimento lógico de conceitos vida social como ideais, ideais, julgar-se-á talvez grosseiramente um método qu evolução coletiva depender de condições objetivas, Llz nã (Iefinidas no espaço, impossível qu nos acusem (Ic materialista. Entretanto, poderíamos co maior justiça nã I'l'ivindicar 11;1
essência do espiritualismo
idéia de que os fenôme-
podem se
imediatamente derivados
110S
psíquicos nã
do
fenômenos orgânicos? Ora, nosso método não é, em
parte, senão uma aplicaçào desse princípio ao fatos so ('iais. Assim como os espiritualistas separam reino psico I,'lgico do reino biológico, separamos primeiro do reino S( lcial; da mesma forma qu eles, recusamo-nos explicar () mais complexo pelo mais simples. Na verdade, ne outra denominação nos convém exatamente; lima ne de racionalista. Nosso principal lú1ica qu aceitamos é (lhjetivo, co efeito, é estender conduta humana o racio nalismo científico, mostrando que, considerada no passa do, ela
redutível
relaçôes de causa
efeito qu
()peração nào menos racional pode transformar
('Ill regras de ação para o futuro. O qu
um
seguir
chamamos nosso
XIV
AS
REGRAS DO
MÉTODO
SOC1OLÓGICO
senão uma conseqüência desse racio Só podemos se tentados superar os fatos, seja para explicá-los, seja para dirigir se curso, na medida em qu os julgarmos irracionais. Se forem inteiramente inteli gíveis, eles bastam ciência e prática: ciência, pois nã há motivo para buscar fora deles suas razões de ser; à prática, pois seu valor útil é uma dessas razões. Parece no portanto, sobretudo nesta época de misticismo renas cente, qu tal empreendimento pode deve ser acolhido sem inquietude mesmo com simpatia po todos aqueles que, embora divirjam de nós em certos pontos, partilham nossa fé no futuro da razão. positivismo nã
nalism0
PREFÁCIO
DA
SEGUNDA EDIÇÃO
Quando foi publicado pela primeira vez, este livro suscitou controvérsia bastante fortes. As idéias correntes, tal como que desconcertadas, resistiram a princípio co energia que, durante um tempo, no foi quase impossível fazer-nos ouvir. Até nos pontos em que nos expressára mos mais explicitamente, atribuíram-nos gratuitamente
idéias que nada tinham em comum com as nossas, e acre ditaram refutar-nos ao refutá-las. Embora tenhamos decla rado várias vezes qu quanto social, nà
er
consciência, tanto individual para nós nada de substancial, ma
apenas um conjunto mais ou menos sistematizado de fe nômenos su
generis,
tacharam-nos de realismo e de onto
logismo. Embora tenhamos dito expressamente de todas as maneiras qu
repetido
vida social era inteiramente
feita de representações, acusaram-nos de eliminar ele mento mental da sociologia. Houve at quem chegasse restaurar contra nós procedimentos de disçussão qu po diam se considerar definitivamente desaparecidos. Impu taram-nos, co efeito, certas opiniões qu nã havíamos
XV
AS
REGRAS
sustentado, sob pretexto de qu
co
nossos
princípios". A
DO
MÉTODO SOCIOLÓGICO
elas estavam "d
experiência
já
acordo
havia mostrado,
porém, todos os perigos desse método que, permitindo
sistemas esforço.
construir arbitrariamente os
também
triunfar deles
se
em questão, permite
PREFÁCIO mo
DA
XVII
SEGUNDA EDIÇÃO
de aproveitar esta segunda edição para acrescentar acrescentar
já
todas aquelas qu
algumas explicações
a certas críticas e fazer sobre esclarecimentos.
ponder
demos, res
alguns pontos novos
Não acreditamos nos enganar ao dizer que, desde
qu
as resistências progressivamente diminuíram. Claro mais de um proposição nos ainda contestada. Mas
nã
poderíamos nos surpreender ne
então,
contestações salutares; nã
resta dúvida de qu
se
fórmulas estão destinadas
sumo de uma prática pessoal experiência mais ampla
social. Em senão
matéria de método,
nossas
forçosamente
futuro. Re restrita, elas
medida qu
se adquira
reformadas no
deverão necessariamente evoluir um
nos queixar dessas
aprofundada da realidade
aliás, jamais
se pode
provisório, pois os métodos mudam
fazer
medida
qu a ciência avança. Apesar disso, nestes últimos anos, despeito das oposições, causa da sociologia objetiva,
específica
metódica ganhou terreno se
certamente contri resultado. Por abarcar um só domínio da ciência, a A n n é e pôde, melhor do ve todo que qualquer obra especial, da um idéia do qu a socio logia pode deve se tornar. Deste modo foi possível ve qu el nã estava condenada permanecer um ramo da filosofia geral, sendo capaz, po outro lado, de entrar em detalhe do fatos sem degenerar em pura contato com erudição. Po isso, nunca seria demais homenagear o ar do e dedicação de nossos colaboradores; foi graças fundação da
revista
interrupção.
A n n é e sociologique
buiu em muito para esse
eles qu
pode
essa demonstração pôde de fato se
prosseguir.
No entanto, po contestável qu
reais
qu
os enganos
sejam
e as
tais
tentada
é in ain que gostaría-
progressos,
confusões passadas
da não se dissiparam completamente.
Eis por
proposição segundo
qual os
proposição qu
ser tratados como coisas de nosso método
mais
qu
da
dições. Consideraram paradoxal milássemos
social. Era
às
fatos sociais
está na base
têm provocado
contra assi
escandaloso qu
realidades do mundo exterior
as
equivocar-se singularmente sobre
alcance dessa assimilação, cujo objeto não formas superiores do se
devem
do mundo sentido
e
rebaixar
as
às formas inferiores, mas, ao
as primeiras um grau de reali ao que todos reconhecem nas se
contrário, reivindicar para
dade pelo menos
igual
efeito, qu coisas
gundas. Não dizemos, co
materiais, e si sas materiais, embora
coisas
qu
sã
qu
que se conhece
fatos sociais sã as coi à idéia
a partir de fora se opüe ao dentro. É coisa todo objeto do naturalmente penetrável à inteli
se conhece
a partir
conhecimento qu
nã
de
gência, tudo aquilo de que nã
çã
os
tanto quanto
de outra maneira. ser uma coisa? A coisa se opõe
ve
assim como
qu
podemos fazer um
no
adequada por um simples procedimento de análise
mental, tudo
rreender servações
qu
menos qu
espírito não pode chegar
saia
de
si
mesmo, po
com
meio de ob
experimentações, passando progressivamente
do caracteres mais exteriores e mais imediatamente a c e ~ a síveis ao menos visíveis e aos mais profundos. Tratar os fatos de um certa ordem como coisas nã é, portanto, classificá-los nesta ou naquela categoria do real; é obser-
c e ~
XVIII
AS
var diante deles uma
certa
REGRAS DO MÉTODO SOCTOLÓGIC SOCTOLÓGIC atitude
mental.
abordar seu
estudo tomando po qu eles sã qu suas propriedades característi mente cas, bem como as causas desconhecidas de que estas de pendem, nã podem se descobertas pela introspecção, princípio qu
se ignora absoluta
a mais atenta. Assim definidos os termos,
mesmo
nossa proposição, longe de ser um paradoxo, poderia ser quase considerada considerada um
truísmo,
se ainda nã
fosse
co
muita
freqüência desco
nhecida nas ciências qu tratam do homem, sobretudo efeito, pode-se dizer, neste sentido, em sociologia. Co
fatos mentais a partir de fora, isto é, como coisas. fatos sociais, e co mais ra zà ainda; pois consciência nã poderia ser mais com petente para conhecê-los do qu para conhecer su vida própria Objetar-se-á que, como eles sã obra nossa, só precisamos tomar consciência de nós mesmos para saber os
() qu
neles pusemos
de que maneira os formamos.
Mas, em primeiro lugar, a maior parte das instituições so ciais nos são legadas inteiramente prontas pelas gerações anteriores; nã tomamos parte alguma em su formação e, po conseqüência, nã nos interrogando qu podere
guiam; cremo-nos desinteressados
das, pois as representações qu
como
todo
do
objeto
tudar
() mesmo deve ser dito do
de ciência é um coisa, com exceção tal matemáticos; pois, quanto a estes, como nós mesmos os construímos, do mais simples ao mais qu são, olhar den complexos, é suficiente, para saber tro de nó e analisar interiormente processo mental de qu resultam. Mas, quando se trata de fatos propriamente ditos, eles sã para nós, no momento em que empreende mo fazer-lhes a ciência, necessariamente coisas ignora qu
ve
objetos
vida,
fizemos eventualmente
feitas sem método crítica, sã desprovidas de valor científico e devem se ser deixadas de lado. Os próprios fatos da psicologia indi vidual apresentam esse caráter e devem ser considerados so esse mesmo aspecto. Co efeito, ainda qu no se jam interiores po definição, a consciência qu temos de les nã no revela ne su natureza interna ne sua gê nese. Ela no faz conhecê-los be at um certo ponto, ma somente como as sensações nos fazem conhecer ou calor ou a luz, o so eletricidade; ela no oferece impressões confusas, passageiras, subjetivas, mas nã no ções claras e distintas, conceitos explicativos desses fatos. E precisamente po essa razão qu se fundou neste sé culo um psicologia objetiva, cuja regra fundamental é esdeles ao longo da
tendo sido
XIX
I'REFÁCTO DA SEGUNDA EDIÇÃO
mo
descobrir as causas que lhes deram origem. Além
disso, mesmo qu tenhamos colaborado na gênese delas, só vislumbramos da maneira mais confusa, e muitas vezes mais inexata, as verdadeiras razões qu nos determinaram a agir e a natureza de nossa ação. Mesmo quando se trata simplesmente de nossas atitudes privadas, conhecemos
bastante mal as motivações relativamente simples
qu
no
na verdade agimos
egoístas, julgamos obedecer ao ódio quando cede mo ao amor, à razão quando somos escravos de precon ceitos irrefletidos, etc. Assim, como teríamos faculdade
maior clareza as causas, muito mais de discernir co complexas, de que procedem as atitudes da coletividade? I'ois, de mais a mais, cada um só participa dela numa ínfi
ma parte; temos um multidão de colaboradores e qu passa nas outras consciências nos escapa. Nossa regra nà implica portanto nenhuma concep ~ . · à o metafísica, nenhuma especulação sobre âmago do seres. O qu ela reclama é qu o sociólogo se coloque no físicos, químicos, fisiologi fisiologis s mesmo estado de espírito dos físicos, tas, quando se lançam numa região ainda inexplorada de seu domínio científico. preciso que; ao penetrar no mun do social, ele tenha consciência de que penetra no descose
xx
REGRAS DO MÉTODO S0G70LÓGICO
PREFÁG10
ele se sinta diante de fatos cujas
ção, mas
AS
preciso qu
nhecido;
DA
SEGUNDA EDIÇÃO
XXI
concepção que dela te
grupo; somente essa
socialmente eficaz. Ora, ela nã
leis são tão insuspeitas quanto podiam ser as da vida,
concepção
quando
nhecida po simples observação interior, um
biologia nã
estava constituída;
ele esteja pronto a fazer descobertas qu
e
desconcertarão. Ora,
preciso qu surpreenderão
sociologia está longe de te
chegado
um grau de maturidade intelectual. Enquanto
cientista
ue estuda
muito vivo da
natureza física te
sentimento
vencidas co
resistências qu ela lhe opõe que só sã dificuldade, parece qu sociólogo se mo
ve em meio
coisas imediatamente transparentes para
alguns sinais exteriores qu
mais, el
nã
qu
evolução; apenas começamos
um efeito de
preciso conhecer, para poder apre
ciar seu papel no futuro. Seja como for, é sempre ao mes mo método que necessário voltar.
como exteriores ao
dependem, as funções qu
que não
tornem sensível. Além do
surgiu do nada; ela própria
causas externas qu
bilidade; ignoramos quase
qu
ve
está inteira em nenhum de nós; é preciso, pois, encontrar
vemos resolver espírito, tamanha a facilidade co qu as questões mais obscuras. No estado atual da ciência, nã sabemos verdadeiramente qu sã nem sequer as princi pais instituições sociais, como o Estado ou a família, o di reito de propriedade ou o contrato, a pena ou responsa as causas de
pode se co
II
Outra proposição nã
precedente:
qu
cumprem, as leis de su
grado, atualmente, qu
vislumbrar algumas luzes
vida coletiva sã
foi menos vivamente discutida apresenta os fenômenos sociais
indivíduos. Concedem-nos de bo os fatos da vida individual e os da
heterogêneos em certo grau; pode-se at
em certos pontos. No entanto, basta percorrer as obras de
dizer qu
sociologia para ver como
muito geral, está em via de se formar sobre esse ponto.
rância
sentimento dessa igno
dessas dificuldades. Os sociólogos nã
se consideram como qu do
raro
obrigados
somente
dogmatizar sobre to
os problemas ao mesmo tempo, mas acreditam poder,
um entendimento, se nã
Quase não há mais sociólogos qu nã ga qu
cia mesma dos fenõmenos mais complexos. Vale dizer
consciência individual; se
os fatos qu nã prenoção tal rapidez, ma qu deles tinha pesquisa. Certa autor, anteriormente mente a idéia qu fazemos das práticas coletivas, do qu elas sã ou do que devem ser, é um fator de seu desenvol vimento. Mas essa idéia mesma um fato que, para ser convenientemente determinado, deve igualmente se estu dado desde fora. Pois o qu importa saber nã é manei ra como tal pensador individualmente concebe tal institui-
pairando no vazio.
qu
semelhantes teorias exprimem, nã esgotados co
neguem
sociologia
qualquer especificidade. Mas, como sociedade composta senão de indivíduos", o senso comum jul
toda
em algumas páginas ou em algumas frases, atingir a essên
poderiam se
unânime, pelo menós
vida social não pode te
outro substrato qu
isso, ela parece solta no ar
Entretanto, o qu se julga tã facilmente inadmissível quando se trata do fatos sociais é normalmente admitido no
outros reinos da natureza. Toda ve
qu
quaisquer, ao se combinarem, produzem, po
elementos su
combi
naçào, fenômenos novos, cumpre conceber qu esses fentl1nenos estão situados, nã nos elementos, mas no todo r( JrInado po su uniào. A célula viva nada contém senão partículas minerais, assim como
sociedade nada mais
XXII
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
contém além dos indivíduos; no entanto, é evidentemente
impossível qu da
os fenômenos característicos da vida resi
em átomos de hidrogênio, de oxigênio, de carbono
de azoto. Pois de que maneira os movimentos vitais pode
riam se produzir no seio de elementos nã vivos? De qu maneira, além disso, as propriedades biológicas se reparti riam entre esses elementos? Elas não poderiam se verificar igualmente em todos, já qu eles nã são da mesma natu reza; o carbono nã é o azoto, portanto não pode adquirir as mesmas propriedades ne desempenhar mesmo pa pel. Também nã é admissível qu cada aspecto da vida, cada um de seus caracteres principais, se encarne nu poderia se decom
grupo diferente de átomos. A vida nã
e, em conseqüência, só pode ter por sede a substância viva em su totalidade. Ela está no todo, nã na partes. Não sã as partículas nã vivas da célula qu se alimentam, se reproduzem, em suma, qu vivem; é a própria célula, e somente ela. O qu dizemos da vida poderia ser dito de todas as sínteses possíveis. A no esta dureza do bronze nã está nem no cobre, ne no chumbo que serviram para formá-lo e qu nho, ne sã corpos brandos ou flexíveis; está na mistura deles. A po
desta forma; el
un
fluidez da água, suas propriedades alimentares
nã
estão nos dois gases qu
outras
compõem, mas na substân
cia complexa qu formam po sua associaçào. associaçào. Apliquemos esse princípio à sociologia. Se, como nos generis qu constitui toda socie concedem, essa síntese sui generis dade produz fenômenos novos, diferentes dos que se consciências solitárias, cumpre admitir qu
passam na
esses fatos específicos residem na sociedade mesma qu
não em suas partes, isto é, em seus mem bros. Neste sentido, portanto, eles sã exteriores às cons
os produz,
ciências individuais, consideradas como tais, assim como os caracteres distintivos distintivos da vida sã exteriores às substân-
PREFÁCIO
DA
XXIII
SEGUNDA EDIÇÃO
cias minerais que compõem o ser vivo. Não se pode reab sorvê-los nos elementos se qu haja contradição, um vez que, po definição, eles supõem algo mais do qu es ses elementos contêm. Assim se acha justificada, por uma razão nova, a separação qu estabelecemos mais adiante entre a psicologia propriamente dita, ou ciência do indiví du mental, e a sociologia. Os fatos sociais nã diferem apenas em qualidade do fatos psíquicos; eles têm outro substrato, nã evoluem no mesmo meio, não dependem das mesmas condições. O que não quer dizer que não se jam, também eles, psíquicos de certa maneira, já qu to dos consistem em modos de pensar ou de agir. Mas os es tados
consciência coletiva sã
de
diferente
dos estados da consciência individual individual são representações
outra espécie. A mentalidade do grupos nã é particulares; tem suas próprias leis. Portanto as duas ciências sã tão claramente distintas quanto podem se duas ciências, nã importam as relações qu possam exis tir entre elas. Todavia, convém fazer sobre esse ponto um distin çã qu talvez lance alguma luz sobre debate. Qu matéria da vida social nã possa se explicar po fatores puramente psicológicos, ou seja, po estados da consciência individual, é o que nos parece de todo evi dente. Com efeito, o qu as representaç ões coletivas coletivas tradu modo como grupo se pensa em suas relações ze é com os objetos qu o afetam. Ora, o grupo nã é constituí do da mesma maneira qu o indivíduo, e as coisas qu ;lfetam sã de outra natureza. Representações que não ex primem ne os mesmos sujeitos, ne os mesmos objetos, de um
do
11;10
poderiam depender da
mesmas causas. Para com-
preender a maneira como a sociedade representa a si mes
ma e o mundo que a cerca, é a natureza da sociedade, do particulares, qu se deve considerar. Os símbo-
11;10
XXIV
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
los co os quais ela se pensa mudam conforme qu ela é. Se, po exemplo, ela se concebe como originada de um animal epônimo, qu constitui um desses grupos espe ciais chamados clãs. Se o animal é substituído po um an qu o clã tepassado humano, mas igualmente mítico, mudou de natureza. Se, acima das divindades locais ou fa miliares, el imagina outras das quais julga depender, qu os grupos locais e familiares qu compõem tendem se concentrar e se unificar, e o grau de unidade qu apresenta um panteão religioso corresponde ao grau de unidade
atingido
no mesmo momento pela sociedade.
Se
condena certos modos de conduta, qu eles ofen alguns de seus sentimentos fundamentais; esses de sentimentos estão ligados su constituição, assim como os do indivíduo a seu temperamento físico e à sua organi
el
mental. Deste modo, mesmo qu a psicologia indi vidual nã tivesse mais segredos para nós, ela nã poderia zação no
eles
da
solução de nenhum desses problemas, já qu
relacionam a ordens de fatos qu ela ignora. Mas, um vez reconhecida essa heterogeneidade, po de-se perguntar se as representações individuais e as re presentaçôes coletivas nã se assemelham pelo fato de ambas serem igualmente representações, e se, devido a es sas semelhanças, certas leis abstratas nã seriam comuns ao dois reinos. Os mitos, as lendas populares, as concep ções religiosas de toda espécie, as crenças morais, etc. ex primem uma realidade diferente da realidade individual; ma poderia acontecer qu a maneira como essas realida se
des se atraem ou se repelem, se agregam ou se desagre gam, fosse independente de se unicamente bora
feitas
conteúdo
se devesse
geral de representações. Em matéria diferente, elas se comportariam
sua qualidade
de uma
em suas relações mútuas como fazem as sensações, as imagens ou as idéias no indivíduo. Acaso nã
se pode
PREFÁCIO
DA
SEGUNDA EDIÇÃO
:x:x'V
exemplo, qu contigüidade e a semelhança, contrastes e os antagonismos lógicos atuam da mesma forma, quaisquer qu sejam as coisas representadas? Che ga-se assim a conceber a possibilidade de uma psicologia inteiramente formal, qu seria uma espécie de terreno co à psicologia individual e à sociologia; e talvez esteja mu aí causa do escrúpulo que sentem certos espíritos em distinguir co demasiada nitidez essas duas ciências. No estado atual de nossos conhecimentos, questão assim colocada nã poderia, a rigor, encontrar solução ca tegórica. Co efeito, tudo qu sabemos, por um lado, sobre maneira como se combinam as idéias individuais algumas proposições, muito gerais e muito va se reduz pensar, po os
gas, qu
idéias.
chamamos comumente leis de associação de ãs leis da ideação coletiva, elas sã ain
E, quanto
da mais completamente ignoradas.
psicologia social,
deveria ter po tarefa determiná-las, nã é mais do qu palavra qu designa todo tipo de generalidades, vari adas e imprecisas, se objeto definido. Seria preciso in vestigar, pela comparação dos temas míticos, das lendas tradições populares, da línguas, de que forma as repre qu
um
sentações sociais se atraem ou se excluem, se fundem umas na
outras ou se
distinguem, etc.
Ora, se
proble
mal se tiver encontrado algumas dessas leis, será evidentemente im possível saber co certeza se elas repetem ou não as da psicologia individual. pelo menos prová Entretanto, na falta de cçrteza, vel que, se semelhanças existeVl entre essas duas espécies. de leis, as diferenças nã devem ser menos acentuadas. Parece inadmissível, co efeito, qu a matéria de qu sã feitas as representações nã influencie maneira como elas se combinam. verdade que os psicólogos falam às ma merece tentar
pode dizer qu
el
curiosidade dos pesquisadores,
foi
abordado;
enquanto não se
XXVI
AS
idéias como se elas fos tipos de representações in dividuais. Mas nada é mais inverossímil do qu isso; as imagens nã se compõem entre si como as sensações, ne os conceitos como as imagens. Se a psicologia fosse mais avançada, ela certamente constataria qu cada cate goria de estados mentais possui leis formais qu lh sã próprias. Sendo assim, deve-se a fortíorí esperar que as leis correspondentes do pensamento social sejam tã es pecíficas como esse pensamento mesmo. Na verdade, po pouco que se tenha praticado tal ordem de fatos, é difícil nã ter o sentimento dessa especificidade. ela, co efei to, qu no faz parecer estranha a maneira tã especial co mo as concepções religiosas (que sã coletivas po exce lência) se misturam, ou se separam, se transformam umas na outras, dando origem compostos contraditórios qu vezes das
as
se
leis
REGRAS DO MÉTODO SOG1OLÓGIC SOG1OLÓGIC
os produtos ordinários de nosso pensa
Se,
portanto, como
presumível, certas
social lembram efetivamente algumas estabelecidas pelos psicólogos, nã qu as pri meiras sã um simples caso particular das segundas, ma qu entre ambas, ao lado de diferenças certamente impor da mentalidade
daquelas
tantes, há similitudes qu sã
ainda
abstração poderá extrair,
ignoradas. Vale dizer
sociologia poderia tomar pura
que em caso nenhum simplesmente de em
à psicologia esta ou aquela de suas proposições, aplicá-la tal e qual ao fatos sociais. O pensamento coletivo inteiro, em sua forma e em sua matéria, deve ser sentimento estudado em si mesmo, po si mesmo, co do qu ele tem de específico, e cabe deixar ao futuro a ta refa de saber em que medida ele se assemelha ao pensa mento individual. Esse é inclusive um problema relacio nado antes à filosofia geral e à lógica abstrata do que ao estudo científico do fatos sociais i . préstimo para
XXVII
SEGUNDA EDIÇÃO
de associação de
mento privado.
qu
DA
II
mesmas para todos os
contrastam co
leis
PREFÁCIO
Resta-nos dizer algumas palavras da definição qu demos do
fatos sociais
semos qu
consistem em
em nosso
maneiras
primeiro capítulo. Dis de fazer ou de pensar,
reconhecíveis pela particularidade de serem capazes de exercer sobre
coercitiva.
as consciências particulare
um
influência
produziu-se uma confusão Sobre esse ponto produziu-se
assinalada. habitual aplicar às coisas sociológicas as formas do pensamento filosófico, qu muitos viram nessa defini ção preliminar uma espécie de filosofia do fato social. qu
merece se tã
Disseram qu
explicávamos os fenômenos sociais pela
coerção, do mesmo modo qu pela
imitação.
Gabriel Tarde os explica
Não tínhamos uma
tal
ambição
ocorreu sequer que pudessem atribuí-la contrária
nã
nós, po
no se
todo método. qu propúnhamos era, nã um visão filosófica as conclusões da ciên
antecipar po
cia, mas simplesmente indicar em que sinais exteriores é possível reconhecer os fatos qu ela deve examinar, a fim de que o cientista saiba percebê-los onde se encontram não os confunda com outros. Tratava-se de delimitar campo da pesquisa tanto quanto
volver
possível,
não de se en
numa espécie de intuição exaustiva. Assim aceita mos de muito bo grado a censura feita a essa definição,
de não exprimir todos os caracteres do fato social e, po conseguinte, de não se a única possível. Não há nada de inconcebível, co efeito, em que o fato social possa ser caracterizado de várias maneiras diferentes; nã há razão para qu el tenha apenas uma propriedade distintiva Tudo qu importa é escolher qu parece melhor pabe possível, até, empregar si ra o objetivo proposto. multaneamente vários critérios, conforme as circunstâncias. Nós mesmos reconhecemos ser às vezes necessário isso
XXVIII
AS
REGRAS DO M i n a D O SOCIOLÓGICO
em sociologia, pois há casos em qu
caráter de coerção
é facilmente reconhecível. O qu preciso, já que se trata de uma definição inicial, é qu as características utili zadas sejam imediatamente discerníveis e possam ser per cebidas antes da pesquisa. Ora, é essa condição qu nã cumprem as definições qu ãs vezes opusemos nossa. Foi dito, po exemplo, qu o fato social é "tudo que se pela sociedade", ou ainda "aquilo qu interes produz na sa e afeta o grupo de alguma forma". Mas só é possível sa be se ou não causÇl de um fato ou se esse sociedade fato te efeitos sociais quando a ciência já avançou. Tais objeto da in definições nã poderiam, pois, determinar vestigação qu começa. Para qu se possa utilizá-las, é pre estudo dos fatos sociais já tenha avançado bas ciso qu tante e, portanto, que tenha sido descoberto algum outro meio preliminar de reconhecê-los lá onde se encontram. Ao mesmo tempo qu consideraram nossa definição demasiado estreita, acusaram-na de ser demasiado vasta e de compreender quase todo o real. Co efeito, disseram, todo meio físico exerce um coerção sobre os seres qu sofrem sua ação, pois estes sã obrigados, numa certa me dida, adaptar-se a ele. Mas entre esses dois modos de coerção existe toda diferença qu separa um meio físico de um meio moral. A pressão exercida po um ou vários nã
PREFÁCIO
DA
XXIX
SEGUNDA EJ)JÇ'ÀO
teiros em cada um de nós. Ao contrário, as crenças práticas sociais agem sobre nó fluência exercida po
diferente. Aliás, nã
un
po
as
desde fora; assim, a in outras é, no fundo, muito
devemos nos surpreender de qu
os de
outras for
mais fenômenos da natureza apresentem, so
mas, o mesmo caráter pelo qual definimos os fenômenos sociais. Essa similitude decorre simplesmente de ambos serem coisas reais. Pois tudo qu é real tem uma nature qual se deve contar za definida qu se impõe, co que, mesmo quando se consegue neutralizá-la, jamais completamente vencida. E, no fundo, aí está
qu
há de
mais essencial na noção de coerção social. Pois tudo
qu
el
implica
pensar tê
um
qu
as maneiras coletivas de agir e de
realidade exterior ao
indivíduos que,
cada momento do tempo, conformam-se a elas. São coi sas qu
tê
sua existência própria. O indivíduo as encon
tra inteiramente formadas
nã
pode fazer qu
elas nã
corpos sobre outros corpos, ou mesmo sobre vontades,
são; assim, ele obrigado a levá-las em conta, sendo mais difícil difícil (não dize em impossível) modificá-las modificá -las qu elas par mo na medida ticipam, em graus diversos, da supremacia material e mo ral qu sociedade exerce sobre seus membros. Certa mente o indivíduo desempenha um papel na gênese delas. Mas, para qu haja fato social, preciso qu vários indiví
não poderia ser confundida com aquela qu exerce consciência de seus
combinação tenha produzido algo novo. E, como essa sín
consciência de um grupo sobre
sejam diferentes do qu
duos, pelo menos, tenham juntado sua ação
qu
essa
de inteiramente es rigidez de certos arranjos moleculares, ma ao prestígio de que seriam investidas al gumas representações. verdade qu os hábitos, indivi
certos julgamentos que não dependem de cada vontade
duais ou hereditários, têm, so
particular isoladamente. Tal como foi assinalad0
membros.
pecial
qu
coerção social te
existam ou qu
qu
ela se deve, nã
propriedade. Eles no
práticas. Só qu
no
certos aspectos,
mesma
dominam, nos impõem crenças ou
dominam desde dentro, pois estão in-
tese ocorre fora de cada um de nó
(já qu
envolve um
pluralidade de consciências), ela necessariamente te
efeito fixar, instituir fora de nó
palavra qu
certas maneiras de agir e
exprime bastante be
muito especial (contanto qu
po
há um
essa maneira de ser
se estenda um pouco su
xx
AS
acepção ordinária} se
é
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
palavra instituição. Co
efeito,
sentido dessa expressão, pode-se chamar instituição todas as crenças e todos os modos de conduta alterar
instituídos pela coletividade; a sociologia pode então se definida como a ciência das instituições, de sua gênese de se funcionamentos. Sobre as outras controvérsias qu este livro suscitou, parece-nos inútil voltar a falar, pois nã se referem a nada de essencial. A orientação geral do método não depende do
procedimentos qu
se prefira empregar, seja para
classificar os tipos sociais, seja para distinguir o normal do muita freqüên patológico. Aliás, essas contestações co cia resultaram da recusa em admitir, ou de não se admitir se
reservas, nosso princípio fundamental:
objetiva
realidade
fatos sociais. nesse princípio, afinal, qu tu do repousa se resume. Por isso nos pareceu útil colocá lo um ve mais em evidência, separando-o de toda ques tão secundária. estamos seguros de que, ao atribuir-lhe do
preponderância, permanecemos
lógica, pois, no fundo, é dessa concepção que a sociolo gia inteira emergiu. Com efeito, essa ciência só podia nas ce no di em que se pressentisse qu os fenômenos so ciais, embora nã sejam materiais, nã deixam de se coi sas reais qu comportam estudo. Para se chegar pen qu são, er preciso sar qu havia motivos de pesquisar ter compreendido compreendido qu eles existem de um forma defini da, qu têm uma maneira de ser constante, uma natureza que não depende do arbítrio individual e da qual derivam relações necessárias. Assim a história da sociologia é ape na um longo esforço para precisar esse sentimento, apro fundá-lo, desenvolver todas as conseqüências qu el im plica. Mas, apesar dos grandes progressos qu foram fei to neste sentido, veremos pela continuação deste traba lho qu ainda restam numerosas sobrevivências do postu-
PREFÁCIO
DA
lado antropocêntrico,
caminho
XXXI
SEGUIVDA EDIÇ'ÀO
o qual,
aqui como
alhures,
barra
ciência. Desagrada ao homem renunciar ao
ilimitado que por muito tempo ele se atribuiu sobre social, e, po outro lado, parece-lhe que, se exis tem realmente forças coletivas, ele estaria necessariamen te condenado a sofrê-las se poder modificá-las. isso qu o leva a negá-las. Em vão, experiências repetidas lhe ensinaram qu essa onipotência, em cuja ilusão se man tém complacentemente, sempre foi para ele uma causa de fraqueza; que seu domínio sobre as coisas realmente só poder
ordem
começou
elas co
cias,
partir do momento em que reconheceu qu
própria, e se elas são. Expulso de
têm uma natureza
elas o
qu
resignou todas
as
aprender outras
ciên
esse deplorável preconceito se mantém obstinada
sociologia. Portanto, nã há nada mais urgente do que buscar libertar nossa ciência definitivamente dele. esse o principal objetivo de nossos esforços. mente em
INTRODUÇÃO
Até o presente, os sociólogos pouco se preocuparam caracterizar e definir o método qu aplicam ao estudo assim que, em toda obra de Spencer, do fatos sociais. problema metodológico não ocupa nenhum lugar; pois
em
Introdução ã ciência social,
poderia da
essa
ilusão, destina-se a demonstrar as dificuldades e a possibi lidade da sociologia, nã expor os procedimentos qu ela deve utilizar. Stuart Mill, é verdade, ocupou-se longa mente da questão!; mas ele nã fez senão passar sob crivo de su dialética o qu Comte havia dito, se acres centar nada de verdadeiramente pessoal. Um capítulo do Curso Curso de filosofia positiva, eis praticamente único estu do original e importante qu possuímos sobre assunt0 Essa despreocupação aparente, aliás, nada tem de surpreendente. De fato, os grandes sociólogos cujos no mes acabamos de mencionar raramente saíram das gene ralidades sobre natureza das sociedades, sobre as relà ções do reino social e do reino biológico, sobre marcha geral do progresso; mesmo
volumosa sociologia de
XXXIV
AS
REGRAS DO MÉTODO SOG7OLÓGICO
mostrar como aplica ãs sociedades. Ora, para tratar essas questôes filosóficas, nã sã necessários procedimentos especiais e complexos. Era suficiente, porda in tanto, pesar os méritos comparados da dedução
Spencer quase não te
a lei
outro objeto senão
da evolução universal se
dução
fazer um
CAPÍTULO I QU
UM FATO SOCIAL?
inspeção sumária dos recursos mais
gerais de que dispõe investigação sociológica. Mas as tomar na observação dos fatos, a maneira precauções
como os principais problemas devem ser colocados, sentido no qual cas especiais qu
as
dirigidas, as práti permitir chegar aos fatos, as re presidir a administração da provas, tudo pesquisas devem ser
podem
gras qu devem isso permanecia indeterminado.
Uma série de circunstâncias justo destacar
a iniciativa
qu
felizes,
entre
as
quais
criou em nosso favor um
curso regular de sociologia na Faculdade de
Letras
de qual qu nos dedicássemos desde Bordéus, possibilitou cedo ao estudo da ciência social inclusive fizéssemos dele objeto de nossas ocupações profissionais, no fez sair dessas questões demasiado gerais e abordar um certo número de problemas particulares. Assim, fomos levados, qu pela força mesma das coisas, a elaborar um exatamente adaptado julgamos mais definido, mais exatamente na tureza particular dos fenômenos sociais. São esses resulta do de nossa prática qu gostaríamos de expor aqui em de submeter à discussão. Claro qu eles estão conjunto
implicitamente contidos
no
livro
qu
publicamos recente-
Mas nos parece destacá-los, formulá-los à parte, acompanhaprovas e ilustrados de exemplos tomados tan
mente sobre A divisão do trabalho social. interessante
do
de suas
to dessa obra como de trabalhos ainda inéditos. Assim poderão julgar melhor orientação qu gostaríamos de tentar da
ao
estudos de
sociologia.
Antes de procurar qual método convém ao estudo dos fatos sociais, importa saber quais fatos chamamos assim. questão ainda mais necessária porque se utiliza essa qualificação se muita precisão. Ela é empregada correntemente para designar mais ou menos todos os fe nõmenos que se dã no interior da sociedade, po menos qu apresentem, com uma certa generalidade, algum inte resse social. Mas, dessa maneira, nã há, po assim dizer, acontecimentos humanos que não possam ser chamados
sociais.
Todo indivíduo come, bebe, dorme,
sociedade tem todo
raciocina, e a
interesse em que essas funções se
exerçam regularmente. Portanto, se esses fatos fossem so ciais, a sociologia nã teria objeto próprio, se domínio se confundida co da biologia e da psicologia. na realidade, há em toda sociedade um grupo Mas,
determinado de fenômenos qu
racteres
definidos daqueles que
tureza estudam.
se distinguem po
as
ca
outras ciências da n{l-
Quando desempenho minha tarefa de irmão, de ma rido ou de cidadão, quando executo os compromissos
AS
REGRAS DO
MÉTODO SOCIOlÓGiCO
() QUE É {IM FATO S O C I A l '
eu
expie, se nã
puder se reparado de outro modo. Em
assumi, eu cumpro deveres qu estão definidos, fora de mi de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda
se tratando de máximas puramente morais,
qu
pública reprime todo at
qu
eles estejam de acordo com meus sentimentos pró
qu
prios
eu sinta interiormente
realidade deles, esta
objetiva; pois nã fui eu que os fiz, ma os recebi pela educação. Aliás, quantas vezes não nos ocorre ignorarmos detalhe da obrigações qu no in cumbem precisarmos, para conhecê-las, consultar o Có digo seus intérpretes autorizados! Do mesmo modo, as crenças e as práticas de su vida religiosa, o fiel as encon trou inteiramente prontas ao nascer; se elas existiam antes dele, é qu existem fora dele. O sistema de signos de qu nã
deixa de se
me sirvo para exprimir meu pensamento,
sistema de
moedas qu emprego para pagar minhas dívidas, os ins trumentos de crédito qu utilizo em minhas relaçôes co
merciais, as práticas observadas em minha profissão, etc. funcionam independentemente do us qu faço deles. Qu se tomem um sociedade;
um todos os membros de qu qu
precede poderá ser repetido
composta propósi
to de cada um deles. Eis aí, portanto, maneiras de agir, de pensar
de sentir qu
apresentam essa notável proprieda
de de existirem fora das consciências individuais. na
exerce sobre
qu
as ofenda através da vigilân
conduta do
cidadãos
especiais de que dispõe. Em outros casos, menos violenta, ma
da
penas
coerção
deixa de existir. Se nã me sub meto ãs convençôes do mundo, se, ao vestir-me, nã levo em conta os costumes observados em me país e em mi afastamento em relação nh classe, o riso qu provoco, mi
nã
produzem, embora de maneira mais atenuada, os ue um pena propriamente dita. Ade
mesmos efeitos
mais, a coerção, mesmo sendo apenas indireta, continua sendo eficaz. Não so obrigado a falar francês com meus compatriotas, nem empregar as moedas legais; ma impossível agir de outro modo. Se eu quisesse escapar essa necessidade, minha tentativa fracassaria miseravel mente. Industrial, nada me proíbe de trabalhar co cedimentos certo qu
pro métodos do século passado; mas, se o fizer,
me arruinarei. Ainda que, de fato, eu possa li
bertar-me dessas regras e violá-las co
mais ocorre se ainda qu
qu
sucesso, isso ja
eu seja obrigado a lutar contra elas.
elas sejam finalmente vencidas, demonstram
Esses tipos de conduta ou de pensamento não ape
suficientemente su
sã
opõem. Não há inovador, mesmo afortunado, cujos em
exteriores ao indivíduo, como também sã
dos de um
força imperativa
qual se impõem
ele, quer el
dota
coercitiva em virtude da
preendimentos
queira, quer não. Certa
desse tipo. , Eis portanto um
mente, quando me conformo voluntariamente a ela, essa
coerção nã
se faz ou pouco se faz sentir, sendo inútil.
isso ela deixa de ser um caráter intrínseco des qu ela se afirma tão logo ten to resistir. Se tento violar as regras do direito, elas reagem contra mi para impedir me ato, se estiver em tempo, ou para anulá-lo restabelecê-lo em su forma normal, se tiver sido efetuado e for reparável, ou para fazer co qu Ne
cia qu
consciência
po
ses fatos, e a prova disso
força coercitiva pela resistência qu
ão venham
deparar co
ordem de fatos qu
oposiçôes
apresentam ca
racterísticas muito especiais: consistem em maneiras de
agir, de pensar sã
de sentir, exteriores ao indivíduo,
qu
dotadas de um poder de coerção em virtude do qual
esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles nã poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, já
qu
consistem em representações
em ações; nem com
os fenômenos psíquicos, os quais só têm existênci
na
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGiCO SOCIOLÓGiCO
dela. Esses fatos consti tuem portanto uma espécie nova, e é a eles qu deve se dada reservada a qualificação de sociais. Essa qualifica çã lhes convém; pois é claro que, nã tendo indivíduo po substrato, eles não podem te outro senão socieda de, seja a sociedade política em se conjunto, seja um dos grupos parciais qu ela encerra: confissões religiosas, es colas políticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, é a eles só que ela convém; pois a palavra social só tem sentido definido co condição de desig consciência individual
através
nar unicamente fenômenos que nhuma da
categorias de
nados.
são portanto
Eles
fatos já
ão se incluem em ne constituídos
denomi
sociologia. verdade qu a palavra coerção, pela qual os definimos, pode vir a assustar os zelosos defensores de um individua lismo absoluto. Como estes professam qu indivíduo diminuímos sem perfeitamente autônomo, julgam qu pr qu mostramos qu el nã depende apenas de si domínio próprio da
mesmo. Sendo hoje incontestável, porém, qu parte de nossas idéias borada po
nós,
de nossas tendências nã
mas nos vem de
fora, elas
é ela
só podem pe
significa nossa definição. Sabe-se, aliás, que nem toda coerção social ex clui necessariamente personalidade individuaP. Entretanto, como os exemplos qu acabamos de citar (regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, religiosos, sistemas finan netrar em nó
impondo-se;
eis
maior
tudo
qu
ceiros, etc.) consistem todos em crenças
em práticas
constituídas, poder-se-ia supor, co base no qu precede, qu só há fato social onde há organização definida. Mas existem outros fatos que, se apresentar essas formas cris cris talizadas, tê mesma objetividade e a mesma ascendên qu chamamos de correntes so cia sobre o indivíduo. ciais. Assim, numa assembléia, os grandes movimentos de entusiasmo ou de devoção que se produzem não tê
po
() QUE
UM
FATO SOC1AL?
lugar de origem nenhuma consciência particular. Eles no vêm, a cada um de nós, de fora e são capazes de no arre batar contra
nossa vontade. Certamente pode ocorrer
eles se que, entregando-me reserva, eu não sinta pressão que exercem sobre mim. Mas ela se acusa tã lo
eles. Que um indivíduo tente se manifestações coletivas: coletivas: os sentimentos qu ele nega se voltarão contra ele. Ora, se essa força de coerção externa se afirma co tal nitidez nos casos de re sistência, é porque ela existe, ainda qu inconsciente, no casos contrários. Somos então vítimas de uma ilusão qu no faz crer qu elaboramos, nó mesmos, qu se impôs nós de fora. Mas, se complacência com que nos entre pressão sofrida, el nã gamos essa força encobre suprime. Assim, também ar nã deixa de ser pesado, embora não sintamos mais seu peso. Mesmo que, de nos
go procuro lutar contra opor
um
dessas
sa parte, tenhamos colaborado espontaneamente para emoção comum, rente da qu
impressão qu
sentimos
muito
dife
teríamos sentido se estivéssemos sozinhos.
Assim, a partir do momento em que assembléia se dis solve, em que essas influências cessam de agir sobre nós nos vemos de novo a sós, os sentimentos vividos no dã impressão de algo estranho no qual nã mais nos reco nhecemos. Então nos damos conta de qu sofremos esses sentimentos be mais do qu os produzimos. Pode acon tecer até qu nos causem horror, tanto eram contrários nossa natureza. É assim qu indivíduos perfeitamente ino fensivos na maior parte do tempo podem se
atos
levados
multidão. Ora, o qu dizemos dessas explosões passageiras aplica-se identi camente aos movimentos de opinião, mais duráveis, qHe todo instante a nosso redor, seja em toda se produzem extensão da sociedade, seja em círculos mais restritos, so bre assuntos religiosos, políticos, literários, artísticos, etc. de atrocidade quando reunidos em
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGiCO SOCIOLÓGiCO
Aliás, pode-se confirmar po uma experiência carac terística essa definição do fato social: basta observar a ma neira como sã educadas as crianças. Quando se obser vam os fatos tais como sã e tais como sempre foram, sal ta aos olhos qu toda educação consiste nu esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir de agir às quais ela nã teria chegado espontaneamen te. Desde os primeiros momentos de sua vida, forçamo las a comer, beber, dormir em horários regulares, for çamo-las
forçamo-las
limpeza,
calma,
para qu
aprendam
respeitar os costumes,
trabalho, etc., etc. Se, co sentida, é que pouco
se
tendências internas qu substituem pelo
fato
as
obediência; mais tarde,
a levar
em conta outrem,
conveniências,
forçamo-las
ao
tempo, essa coerção cessa de pouco
ela
tornam
dá origem
inútil,
ma
a hábitos, qu
só
verdade que, de derivarem dela. segundo Spencer, uma educação racional deveria repro va tais procedimentos deixar criança proceder com
a liberdade; ma como essa teoria pedagógica jamais praticada por qualquer povo conhecido, el constitui
toda
foi
desideratum pessoal, nã um fato qu se pos qu torna estes sa opor ao fatos qu precedem. Ora, últimos particularmente instrutivos é qu educação tem justamente po objeto produzir se social; pode-se por tanto ve nela, como qu resumidamente, de que maneira esse ser constituiu-se na história. Essa pressão de todos os instantes qu sofre a criança é a pressão mesma do meio social qu tende modelá-la sua imagem do qual os pais e os mestres nã são senão os representantes os in termediários. sua generalidade qu pode servir para Assim, nã caracterizar os fenômenos sociológicos. Um pensamento qu se encontra em todas as consciências particulares, um movimento qu todos os indivíduos repetem nem po isso apenas um
QUE É
UM FA
TO SOCiAl?
esse caráter para sã fatos sociais. *Se se contentaram co defini-los, é qu os confundiram, erradamente, co qu se poderia chamar de suas encarnações individuais. O qu os constitui sã as crenças, as tendências e as práticas do grupo tomado coletivamente; quanto às formas qu assu me os estados coletivos ao se refratarem nos indivíduos, sã coisas de outra espécie.* O qu demonstra categorica qu essas duas ordens mente essa dualidade de natureza de fatos apresentam-se geralmente dissociadas. Co efei algumas maneiras de ou de dessas pensar adqui to, agir rem, po causa da repetição, uma espécie de consistência qu as precipita, po assim dizer, e as isola do aconteci mentos particulares *'que as refletem**. Elas assumem as si um corpo, um forma sensível qu lhes própria, constituem um realidade sui generis, muito distinta do fatos individuais qu a manifestam. O hábito coletivo nã existe apenas em estado de imanência nos atos sucessivos qu ele determina, ma se exprime de uma vez po todas, po um privilégio cujo exemplo não encontramos no reino hiológico, numa fórmula qu se repete de boca em boca, qu se transmite pela educação, qu se fixa através da es crita. Tais sã origem e natureza das regras jurídicas, morais, do aforismos do ditos populares, dos artigos de fé em que as seitas religiosas ou políticas condensam suas crenças, dos códigos de gosto qu as escolas literárias literárias estabelecem, etc. ***Nenhuma dessas maneiras de agir ou de pensar se acha po inteiro nas aplicações qu os partirepetição que os constitui, qu eles existem fora nos quais se realizam. Cada fato social consiste numa crença, ou numa tendência, aL numa prática. qu (l do grupo tomado coletivamente qu é muito distinta das formas em qu "Ia se refrata nos indivíduos." (Revue philosophique, tomo' XXXVII, do
, "Tanto nã casos particulares
1894, p. 470.) elas se encarnam todo dia". (RP., p. 470.) ,,* Frases qu nã figuram no texto inicial.
1:II1./jun.
** "em qu
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGiCO SOCIOLÓGiCO
culares fazem delas, já qu elas podem inclusive existir sem serem atualmente aplicadas.
Claro qu
essa dissociação nem sempre se apresenta
ela exista de uma ma neira incontestável no casos importantes e numerosos qu acabamos de mencionar, para provar qu o fato social é distinto de suas repercussõe s individuais. Aliás Aliás mesmo qu observação, pode-se el nã seja imediatamente dada co freqüência realizá-la realizá-la co o auxílio de certos artifícios de método'; é inclusive indispensável proceder a essa ope ração se quisermos separar o fato social de toda mistura para observá-lo no estado de pureza'. Assim, há certas cor rentes de opinião que nos impelem, co desigual intensi dade, conforme os tempos os lugares, uma ao casamen to, po exemplo, outra ao suicídio ou uma natalidade mais ou menos acentuada, etc. 'Trata-se, evidentemente, primeira vista, eles parecem insepará de fatos sociais.' veis das fonuas qu assumem nos casos particulares. Mas a estatística nos fornece o meio de isolá-los. Co efeito, eles sã representados, não sem exatidão, pelas taxas de natali dade, de nupcialidade, de suicídios, ou seja, pelo número que se obtém ao dividir a média anual total do nascimen tos, do casamentos da mortes voluntárias pelo total de homens em idade de se casar, de procriar, de se suicidar2. Pois, como cada uma dessas cifras compreende todos os distinção, as circunstâncias indivi casos particulares se duais qu podem ter alguma participação na produção do fenômeno neutralizam-se mutuamente e, portanto, nã contribuem para determiná-lo. 'O qu esse fato exprime um certo estado da alma coletiva. co
mesma nitidez. Mas basta qu
Eis o qu
sã
os fenômenos sociais, desembaraçados
de todo elemento estranho.' Quanto às suas manifestações Frases que não figuram no texto inicial.
()
QUE É UM F A l O SOCIAL?
privadas, elas tê
claramente algo de social, já qu
duzem em parte um modelo coletivo; ma
depende também,
repro
cada uma delas
em larga medida, da constituição or
gânico-psíquica do indivíduo, da
circunstâncias particu
lares na quais ele está situado. Portanto elas nã sã fe nômenos propriamente sociológicos. Pertencem simulta neamente dois reinos; poderíamos chamá-las sociopsí sociólogo se quicas. Essas manifestações interessam constituírem a matéria imediata da sociologia. No interior do organismo encontram-se igualmente fenômenos de na
tureza mista qu
ciências mistas, como a química biológica,
estudam.
Mas, dirão, um fenômeno só pode se coletivo se for todos os membros da sociedade ou, pelo me comum nos, ã maior parte deles, portanto, se for geral. Certamen
te, mas, se el é geral, é porque é coletivo Cisto é, mais ou be diferente de se coletivo menos obrigatório), o qu por se
um estado do grupo, qu
fenômeno
repete nos indivíduos porque
impõe a eles. Ele em cada parte porque está no todo, qu diferente de estar no todo po estar nas partes. Isso sobretudo evi dente nas crenças e práticas que nos são transmitidas in teiramente prontas pelas gerações anteriores; recebemo
las e adotamo-las porque, sendo ao mesmo tempo uma obra coletiva e um obra secular, elas estão investidas de uma particular autoridade que
educação nos ensinou respeitar. Ora, cumpre assinalar qu reconhecer e imensa maioria dos fenômenos sociais no chega dessa forma. Mas, ainda qu se deva, em parte, à nossa colabo ração direta, o fato social é da mesma natureza. Um senti mento coletivo qu irrompe numa assembléia nã exp,i me simplesmente qu havia de comum entre todos os sentimentos individuais. Ele
to, conforme mostramos.
algo completamente distin uma resultante da vida co-
10
AS
mum, das ações
las, é
reações qu
individuais; e,
consciências
REGRAS DO MÉTODO SOOOLcJGICO se estabelecem entre as
se repercute em cada uma de
social qu ele deve precisa coletiva. Se todos os corações vibram
em virtude da energia
mente
su
origem
em uníssono, nà pontânea
po
causa de uma concordância es
preestabelecida;
move no mesmo sentido.
Cada
qu
uma mesma força os
um
arrastado po
todos.
Podemos assim representar-nos, de maneira precisa, domínio da
sociologia. Ele
compreende apenas um gru
po determinado de fenômenos. Um fato social se reco nhece pelo poder de coerçào externa qu exerce ou é ca
()
QUE
outra
UM FATO SOCIAL?
forma
duzir, qu
da
11
primeira; pois,
se um
maneira de se con
existe exteriormente às consciências indivi
generaliza, ela só pode fazê-lo impondo-se Entretanto, poder-se-ia perguntar se essa definição completa. Co efeito, os fatos qu no forneceram su ba se são, todos eles, maneira s de fazer; sã de ordem fisio lógica. Ora, há também maneiras de ser coletivas, isto é, fatos sociais de ordem anatômica ou morfológica. A socio duais, se
logia não pode desinteressar-se do que di substrato da
vida coletiva. No
respeito ao
número
entanto,
paz de exercer sobre os indivíduos;
reza das partes elementares ele qu se compôe de, a maneira como elas estão dispostas, o grau
poder se reconhece, po
cência
su
e presença desse vez, seja pela existência de
alguma sanção determinada, seja pela resistência qu
fato opõe toda tentativa individual de cia. *Contudo, pode-se defini-lo também
fazer-lhe
violên
pela difusão qu
apresenta no interior do grupo, contanto que, conforme
as
observações precedentes, tenha-se
centar como segunda
existe
cuidado de
acres
essencial característica qu
el
formas individuais qu as sume ao difundir-se.* Este último critério, em certos casos, é inclusive mais fácil de aplicar qu precedente. De fa to, a coerção é fácil de constatar quando se traduz exterior mente po alguma reação direta da sociedade, como é caso em relação ao direito, à moral, às crenças, aos costu mes, inclusive às modas. Mas, quando apenas indireta, como qu exerce uma organização econômica, ela ne independentemente da
sempre se deixa perceber tão bem. binada com de estabelecer.
generalidade com
objetividade podem então se
Aliás,
mais
essa segunda definição nã
fáceis
senão
"Pode-se defini-lo igualmente: uma maneira de pensar ou de qu geral na extensáo do grupo, mas qu existe independente mente de suas expressões individuais." (R.P., p. 472,) agir
qu
superfície
do
chegaram,
território, o
comunicação,
natu
socieda
de
coales
distribuição da população pela
número
e
natureza das
forma das habitações,
etc.
nã
primeiro exame, de se reduzir
capazes, nu
e
agir,
de
du
tanto quanto as maneiras de fazer
vias
de
parecem modos de
sentir ou de pensar. Mas, em primeiro lugar, esses diversos fenômenos apresentam mesma característica qu no ajudou a defi nir os outros. Essas maneiras de se se impõem ao indiví De fato,
a forma
quando se quer conhecer
qu
falamos.
como uma so
ciedade se divide politicamente, como essas divisões se
compôem,
fusão mais ou menos completa qu
l'ntre elas, nà
po
meio de um
inspeção material
a isso; divisões sã morais, ainda qu tenham alguma natureza física. somente através do direito pú
por observaçôes geográficas qu
pois
existe
se pode chegar
essas
hase na hlico qu
se pode estudar essa organização, pois
esse
direito qu determina, assim como determina nossas re LI,,'ôes domésticas e cívicas. Portanto, ela nã menns (lhrigatória. Se a população se amontoa nas cidades em Vl'Z
dl'
de se dispersar no
campos,
opinião, um movimento
qu
coletivo qu
há um
corrente
impõe ao
indiví-
12
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
podemos escolher a forma casas, como tampouco de nossas roupas; pe lo menos, um é obrigatória na mesma medida qu ou tra. As vias de comunicação determinam de maneira imperiosa sentido no qual se fazem as migrações interioduos essa concentração. Nã
de nossas
re
as trocas,
dessas
mesmo
intensidade dessas trocas
migrações, etc., etc. Em
seria,
conseqüência,
caso de acrescentar
enumeramos como possuidores do
maneira como os diferentes segmentos qu se habituaram sã
a viver
tradicionalmente
uns com os
próximas, os
outros. Se
confundir; caso contrário, tendem
de habitação qu
se impõe
como todos ao nosso redor riores se acostumaram
e,
nó
compõem suas
relações
segmentos tendem
se nã
distinguir. O senão
se tipo
maneira
parte, as gerações antecasas. As vias de o leito escavado pela própria em
construir suas
comunicação não são senão
corrente regular das trocas
da
migrações, correndo
etc. Certamente, se morfológica fossem os únicos
sempre no mesmo sentido,
os fenô-
menos de ordem
apresen-
ta
essa
fixidez, poderíamos pensar que eles à parte. Mas um regra jurídica é
uma espécie
não menos permanente qu
no entanto
constituem
arranjo
um
um modelo arquitetônico,
um fato fisiológico. Uma simples máxima
moral é, seguramente, mais maleável; porém el
formas
be
mais rígidas
qu
possui
um simples costume
profis-
sional ou que uma moda. Há assim toda uma gama de nuances que, sem solução de continuidade,
liga
os
FA1D
SOC1AU
estruturais mais social ainda nã qu
13
caracterizados submetidas
entre os primeiros
e as
às
correntes
. ivres da vida definido. É
nenhum molde
segundas apenas há diferen-
ças no grau de consolidação qu
apresentam.
Uns e
ou
tras são apenas vida mais ou menos cristalizada. Claro
interesse em reservar o nome de morfolófatos sociais qu concernem ao substrato social, condição condição de não perder de vista qu eles sã ma co da mesma natureza qu os outros. Nossa definição com-
que pode haver
quan-
à lista dos fenômenos sinal distintivo do fato social um categoria a mais; e, como essa enumeraçã nã tinha nada de rigorosamente exaustivo, a adição nã seria indispensável. Mas el nã seria sequer proveitosa; pois essas ma neiras de se nã são senão maneiras de fazer consolidadas. A estrutura política de uma sociedade não senão do muito,
qu
QUE i,' UM
fatos
gicos
ao
preenderá portanto todo
definido se dissermos:
fato
social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre indivíduo um coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que geral na extensão de um sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui um existência própria, própria, indepe ndente de suas man{festações man{festações individuais4. individuais4.
CAPÍTI lLO II
REGRAS RELATIVAS OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS
primeira regra
e a mais
fundamental
considerar
os./àtos sociais como coisas.
nos
No momento em que um torna-se objeto de
tados no
espírito,
ciência,
nova ordem de fenôme eles já se acham represen
do
primeiros rudimentos da
Illens já ,'(les qu
;1
física e
possuíam sobre os fenômenos ultrapassavam
por exemplo, qu
giôcs.
que, de
sensíveis, ma formados. Antes
não apenas por imagens
por espécies de conceitos grosseiramente
da química, os ho
físico-químicos
no
pura percepção, como aquelas,
encontramos mescladas
fato, a reflexão é
anterior
penas se serve dela com mais método.
todas as reli à ciência, qu
homem nã
respeito delas pode viver em meio às coisas se formar idéias, de acordo com as quais regula su conduta. Acon tl'Ce que, como essas noçôes estão mais próximas de nó
16
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
e mais ao nosso alcance do qu
as realidades qu cor a substituir estas últi respondem, tendemos naturalmente fazer delas matéria mesma de nossas ma po elas e especulações. Em vez de observar as coisas, de descrevê las, de compará-las, contentamo-nos então em tomar consciência de nossas idéias, em analisá-las, em combiná
las. Em ve de uma ciência de realidades, ão fazemos mais do qu um análise ideológica. Po certo, essa análi se nã
exclui necessariamente toda observação. Pode-se
recorrer aos fatos para confirmar as noções ou as conclu
sões qu
se tiram. Mas os fatos só intervêm então secun
NEGRAS NEGRAS RELAT7VAS RELAT7VAS Ã OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCI AIS
17
tam essa justeza prática de um maneira aproximada e so mente na generalidade do casos. Quantas vezes elas sã tã
perigosas como inadequadas! Não
portanto elabo
rando-as, pouco importa de que maneira o façamos, qu descobrir as leis da realidade. Tais noções, ao contrário, sã como um vé que se interpõe entre as
chegaremos coisas
nós,
qu
as encobre tanto mais quanto mais
transparente julgamos esse véu.
Tal ciência nã
apenas truncada; falta-lhe também
matéria de que se alimentar. Mal el
existe, desaparece,
po assim dizer, transformando-se em arte. De fato, supõe
essas noções contenham tudo qu há de essenci al no real, já qu são confundidas com próprio real. isso, parecem te tudo qu Co preciso para qu seja
dariamente, a título de exemplos ou de provas confirma
se qu
tórias; eles não são objeto da ciência. Esta vai da idéias ãs coisas, não das coisas às idéias. claro qu esse método não poderia dar resultados objetivos. Co efeito, essas noções, ou conceitos, nã im porta nome qu se queira dar-lhes, não são os substitu tos legítimos da coisas. Produtos da experiência vulgar,
só de compreender qu é, ma de os meios de executá-lo. Pois é qu está de acordo com ho natureza das coisas; o (Iue é contrário a elas é mau, e os meios para alcançar um
or objeto, antes de tudo, colocar nossas ações
eles tê
em harmonia co
mundo que nos cerca; sã
formados
pela prática e para ela. Ora, uma representação pode se capaz de desempenhar utilmente esse papel mesmo sen
do teoricamente falsa. *Copérnico*, há muitos séculos, dissipou as ilusões de nossos sentidos referentes aos mo vimentos dos astros; no entanto,
ilusões qu
nosso tempo. Para qu movimentos qu necessário qu
qu
no
ainda com base nessas
regulamos correntemente um
distribuição de
idéia suscite exatamente os
coisa reclama, nã exprima fielmente essa natureza; basta natureza de um
el
faça perceber
qu
coisa te
de útil ou de
desvantajoso, de que modo pode nos servir, de que modo no contrariar. Mas as noções assim formadas só apresen"Galileu" (R.P., p. 476.)
mo
capazes nã
prescrever o qu
deve se
evitar o outro derivam dessa mesma natureza. Portanto, dominamos de saída, o estudo da realidade presente mais interesse prático, e, como esse interesse é a n ~ l ( ) te razão de se de tal estudo, este se vê desde então sem fi nalidade. A reflexão é, assim, incitada a afastar-se do qu () objeto mesmo da ciência, a saber, o presente e o passaúnico salto em direção ao futuro. I(), para lançar-se nu I':m ve de buscar buscar compreender os fatos adquiridos e reali1.:ldos, ela empreende imediatamente realizar novos, mais ('( mformes ao fins perseguidos pelos homens. Quando se saber em qu consiste (T essência da matéria, parte-se filosofaI. Essa intromissão da arte Illgo em busca da pedra aliás facifaciimpede qu esta se desenvolva, é aliás 11:1 ciência, qu líl:lda pelas circunstâncias mesmas qu determinam o des jllTtar da reflexão científica. Pois, como esta só surge para vitais, é natural qu se oriente para , ~ : l l i s b z e r , ~ necessidades : l l i s b z e r
I'
Sl
18
AS
As
prática.
REGRAS DO MÃTODO SOCIOLÓGICO
necessidades qu
chamada
el
são sempre prementes, portanto
socorrer
pressionam para obter
resultados; elas reclamam, nã explicaçôes, mas remédios. Essa maneira de proceder tào conforme tendência encontramos inclusive na natural de nosso espírito qu ela qu diferencia a alquimia origem das ciências físicas. po da química, be como a astrologia da astronomia. ela qu Bacon caracteriza () método que os sábios de seu qu ele combate. As noçôes qu acaba tempo seguiam de mencionar são aquelas
mo
notiones
qu
elas
nas quais tasmas qu
sas e po
el
assinala na base de todas
tomam
no
notiones vulgares ou praefatos São
lugar do
desfiguram
esse meio imaginário nã
construir, apenas
idola, fan
coi as coisas mesmas. E
oferecer ao espírito ne
este, não se sentindo contido
ambiçôes se
nada, entrega-se
os
ciências
verdadeiro aspecto da
que, no entanto, tomamos como
nhuma resistência qu
as
limite e
julga possível
ou melhor, reconstruir o mundo com suas ao sabor de seus desejos.
Se foi assim
or
forças
as ciências naturais, co mais forte a sociologia. Os homens não espe advento da ciência social para formar idéias sobre raram o direito, a moral, a família, o Estado, a própria socieda de; pois não podiam privar-se delas para viver. Ora, é so bretudo em sociologia qu essas prenoçôes, para retomar co
razão tinha de se co
expressão de Bacon, estão em situação de dominar os
espíritos e
de tomar
lugar das
coisas.
Co
efeito, as coi
homens ; elas sã sas sociais só se realizam através dos homens;
Portanto, parecem não outra coisa senão a realização de idéias, inatas ou não, trazemos em nós, senão aplicação dessas idéias às
um produto da atividade humana. se
qu
diversas circunstâncias qu
homens entre
acompanham as relaçôes do
si. A organização da família,
repressão, do Estado, da sociedade
NEGRAS NEGRAS RELATIVAS Ã OBSERVA ÇÃO
um simples desenvolvimento das idéias qu
o Estado, a justiça, etc.
19
SOCIAIS
DOS FA1DS
temos sobre
es fatos e outros análogos só parecem ter realidade nas is pelas idéias qu sã seu germe qu se tornam, co so, a matéria própria da sociologia. sociedade,
Em conseqüência,
ses
qu
reforça essa maneira de ve
que, como os
detalhes da vida social excedem po todos os lados um percepçào suficientemente consciência, esta nã te
forte
desses detalhes para
em nó
ligaçües bastante
tudo
isso
de
nada
no
sentir sua sólidas ne
dá facilmente
flutuar
realidade. Não tendo bastante próximas,
impressão de não se pren
vazio, matéria em parte irreal e indefinidamente plástica. Eis po qu tantos pensadores nã viram no arranjos sociais senão combinaçôes artifi ciais e mais ou menos arbitrárias. Mas, se os detalhes, se as formas concretas e particulares nos escapam, pelo me de
no
nos representamos os aspectos mais gerais da exis
no
tência
coletiva de maneira genérica
rias
para
qu
constituem
as práticas
pensar em pô ;1
as
prenoções de qu
vida. Não podemos a existência delas, um
percebemos ao mesmo tempo que
;Ipenas
no
sumá
servimos portanto
correntes da
em dúvida
sã
aproximada,
precisamente essas representações esquemáticas
nossa.
vez qu
Elas
nà
estào em nós, como também, sendo um produto
de experiências repetidas, obtêm da
repe repeti ti<, <,'ã 'ãoo -
do há
lito resultante um espécie de ascendência de autori (Lide. Sentimos su resistência quando buscamos libertar ! l O S delas. Ora, não podemos deixar de considerar como rl'al o qu se opôe nós. Tudo contribui, portanto, para verdadeira realidade social. (llIC vejamos nelas E, de
do contrato, da
Illl'nOS
vista assim como
ll11te,
fato, até o
presente,
a sociologia
tratou
mais
ou
exclusivamente não de coisas, mas de conceitos. verdade, proclamou qu
os fenômenos sociais
20
AS
REGRAS DO
MÉ7DDO
SOCiOLÓGICO
fatos naturais, submissos a leis naturais. Deste modo, implicitamente reconheceu seu caráter de coisas, pois na natureza só existem coisas. Mas, quando, saindo dessas generalidades filosóficas, ele tenta aplicar se princípio extrair a ciência nele contida, sã idéias qu el toma po objeto de estudo. Com efeito, o qu faz a matéria princi progresso da humanidade no pa de sua sociologia é tempo. Ele parte da idéia de que há uma evolução contí sã el
nua do gênero humano que consiste numa realização problema qu el trata é descobrir ordem dessa evolução. Ora, su pondo qu essa evolução exista, sua realidade só pode ser estabelecida uma vez feita a ciência; portanto, só se
sempre mais completa da natureza humana, e
pode fazer dessa evolução
objeto mesmo da pesquisa
se ela for colocada como um
concepção do espírito, nã
como um
coisa. E, de fato, é tão claro qu
se trata de
uma representação inteiramente subjetiv que, na prática, esse progresso da humanidade nã única coisa dada
res qu
existe. O qu
existe, a
observação, são sociedades particula
nascem, se desenvolvem
morrem independen
temente umas das outras. Se pelo menos as mais recentes continuassem as qu
as precederam, cada tipo superior
poderia ser considerado como imediatamente inferior, co
simples repetição do tipo
alguma coisa a mais; poder
se-ia, pois, alinhá-las umas depois da outras, po assim di zer, confundindo as qu se encontram no mesmo grau de desenvolvimento, e a série assim formada poderia se vis ta como representativa da humanidade. Mas os fatos nã se apresentam com essa extrema simplicidade. Um povo qu substitui outro não simplesmente um prolongamen to deste último co outro, te
algumas características novas; el
algumas propriedades a mais, outras
constitui um
individualidade nova,
menos;
todas essas indivi
dualidades distintas, sendo heterogêneas, não podem se
NHeRAS RELA77VAS RELA77VAS Ã OBS ERVAÇÃO
DOS
FATOS SOCiAIS
21
fundir numa mesma série contínua, nem, sobretudo, nu ma série única. Pois a seqüência das sociedades nã po deria se figurada po um linha geométrica; el asseme lha-se antes
um
árvore cujos ramos se orientam em
sentidos divergentes. Em suma, Comte tomou po
desen
volvimento histórico a noção que dele possuía qu nã difere muito da qu faz o vulgo. Vista de longe, de fato, a história adquire bastante claramente esse aspecto serial e simples. Percebem-se apenas indivíduos qu se sucedem aos outros
un
marcham todos numa mesma direção,
porque têm uma mesma natureza. Aliás, como não se evolução social possa ser outra coisa qu nà desenvolvimento de um idéia humana, parece na tural defini-la pela idéia qu dela fazem os homens. Ora, procedendo assim, nã apenas se permanece na ideolo gia, mas se dá como objeto sociologia um conceito qu de propriamente sociológico. nada te concebe qu
Esse conceito, Spencer o descarta, mas para substituí lo po outro que não formado de outro modo. Ele faz das sociedades, e não da humanidade, o objeto da ciência; ~ ( . )
qu
ele dá em seguida, das primeiras, um
definição
faz desaparecer a coisa de que fala para colocar no lu g:lr a prenoção que possui dela. Com efeito, ele estabelece (IUC
('( )1110
uma proposição evidente qu
"uma sociedade só
('xiste quando ~ ( ' n d o
justaposição acrescenta-se a cooperação", somente então que união do indivíduos se torna
Illlla sociedade propriamente dita Depois, partindo do princípio de que cooperação é a essência da vida social, <'Iv distingue as sociedades em duas classes, conforme ILlIureza da cooperação qu nelas predomina. "Há, diz ('ll', uma cooperação espontânea qu se efetua sem pre-' ll11'ditação durante perseguição de fins de caráter priva (l(): há também uma cooperação conscientemente instituí (LI qu supõe fins de interesse público claramente reco-
22
AS
REGRAS DO MÉTODO SOGOLÓGiCO
nome de sociedades in nhecidos."'> Às primeiras, ele dá dustriais; às segundas, de militares, e pode-se dizer dessa distinçào qu ela é a idéia-mãe de su sociologia. Mas essa definição inicial enuncia como coisa o qu tão-só uma noção do espírito. Co efeito, el se apre senta como expressão de um fato imediatamente visível observação constatar, já qu qu basta formulada desde o início da ciência como axioma. No entanto, é im possível saber
or um
cooperação é
essência da vida social. Tal afirmação só
simples inspeção se realmente
cientificamente legítima se primeiramente passarmos
em revista as manifestações da existência coletiva mostrarmos qu
se
todas são formas diversas da coopera
ção. Portanto,
ainda certa maneira de conceber a reali
dade social qu
substitui essa realidade!>. O qu
é
definido nã Spencer.
sociedade, mas a idéia qu
E, se el nã
er deste modo, nã
é
nã
assim
dela faz o sr.
menor escrúpulo em proce te sociedade que, também para
pode ser senão
realização de um
idéia, is
to é, dessa idéia mesma de cooperação pela qual a defi
ne
Seria fácil mostrar que, em cada um do
particulares mo
problemas ue aborda, seu método permanece mes
Assim, embora dê
impressão de proceder empiri
camente, como os fatos acumulados em sua sociologia sã empregados para ilustrar análises de noções nã explicar coisas, eles parecem estar ali
para descrever
REGRAS RELATiVAS À OI3StiRVAÇ OI3StiRVAÇ'ÀO 'ÀO
essas noções vulgares; vemo-las
do
nos proibíssemos todo uso desses conceitos, enquanto eles nã
estivessem cientificamente constituídos. Entretan
to, as palavras qu
os exprimem retornam
se
a coisas be
conhecidas e definidas, quando apenas
despertam em nós noções confusas, misturas indistintas de impressões vagas, de preconceitos bamos hoje do
de paixões. Zom singulares raciocínios qu os médicos da
Idade Média construíam co
de úmido, de seco, etc., fenômenos qu
comporta menos que qualquer outro,
Nos ramos especiais da sociologia, esse caráter ideo ainda mais pronunciado. caso sobretudo da moral. De fato, pode-se dizer que não há um único sistema em qu ela nã seja repre
lógico
sentada como
inicial qu
da diferentes formas de cooperação. Pois, se só pu de dermos optar entre um cooperação tiranicamente im um cooperação livre posta espontãnea, evidente
()
qu
será
ideal para
qual
huma
ordem de
po causa de sua extrema complexidade.
qu
deve tender.
as noções de calor, de frio, não nos apercebemos de qu
aplicar esse mesmo método
continuamos
simples desenvolvimento de um
conteria po
dentro dele desde se
mente esta última
todo momen
to nas discussões do sociólogos. Elas são empregadas correntemente co segurança como se correspondes
se imediatamente deduzido de sua definição da socieda
nidade tende
todo instante na trama
tos, não sabemos com certeza qu é o Estado, a sobera nia, a liberdade política, a democracia, o socialismo, o co munismo, etc.; o método aconselharia, portanto, qu
do
Spencer pode
se encontram
raciocínios. No estado atual de nossos conhecimen
LIns crêem qu
há de essencial na doutrina
23
FATOS SOGAIS
somente na base da ciência qu
Nã
apenas para figurar como argumentos. Em realidade, tu
qu
DOS
homem
idéia
inteiro em potência. Essa idéia, encontra inteiramente pronta
nascimento; outros, ao contrário,
ela se forma mais ou menos lentamente ao longo da
história. Mas, tanto para uns como para outros, tanto para tudo qu empiristas como para os racionalistas, el há de verdadeiramente real em moral. No qu ~ I O
po
concerne
detalhe das regras jurídicas e morais, elas nã assim dizer, existência po
teriam, si mesmas, mas seriam
24
AS
REGRAS DO MÉTODO SOGlOLÓG1CO SOGlOLÓG1CO
REGRAS REJA 77VAS Ã OBSERVAÇ' ÃO
DOS
25
FATOS SOGlAIS
apenas essa noção fundamental aplicada às circunstâncias
po
qual sinal é possível reconhecer aqueles qu
diversificada conforme os casos.
ze
essa condição. Ora, no início da ciência, nã
particulares da vida
Portanto, o objeto da moral não poderia ser esse sistema realidade, ma a idéia da qual decorrem de preceitos se da qual não são mais qu aplicações variadas. Assim, todas as questões qu a ética se coloca ordinariamente se referem, nã a coisas, ma a idéias; o qu se trata de sa be em que consiste a idéia do direito, a idéia da moral, nã qual natureza da moral e do direito considerados em si mesmos. Os moralistas ainda nã chegaram con
sequer o direito de afirmar qu
cepção muito simples de que, assim como nossa repre
qu
sentação das coisas sensíveis provém dessas coisas mes
pel preponderante. Em conseqüência,
ma
e as exprime mais ou menos exatamente, nossa re
satisfa se te
existe algum, muito me
nos ainda se pode saber quais são. Em toda ordem de pesquisas, co do
somente quando
efeito,
fatos está suficientemente avançada que
explicação possível
um objetivo e qual esse objeti há problema mais complexo ne menos suscetí
estabelecer qu
eles tê
vo. Nã vel se resolvido de saída. Portanto, nada nos garante de antemão que haja um
esfera da atividade social em
desejo de riqueza desempenhe realmente esse pa matéria da eco
nomia política, assim compreendida, é feita não de reali
presentação da moral provém do próprio espetáculo da
dades que podem se
regras qu
veis, de puras concepções do espírito; a saber, fatos qu economista concebe como relacionados ao fim conside rado, e tais como el os concebe. Digamos, po exemplo, qu ele queira estudar qu chama produção. De saí da, acredita poder enumerar os principais agentes com passá-los em revista. Por auxílio dos quais ela ocorre tanto, ele não reconheceu a existência desses agentes ob servando de quais condições dependia a coisa qu ele es tuda; pois então teria começado por expor as experiências de qu tirou essa conclusão. Se, desde o início da pesqui sa em poucas palavras, el procede essa classificação, obteve po um simples análise lógica. Parte da qu idéia da produção; decompondo-a, descobre qu ela im plica logicamente as de forças naturais, de trabalho, de instrumento ou de capital, e trata a seguir da mesma ma neira essas idéias derivadas A mais fundamental de todas as teorias econômicas, do valor, é manifestamente construída segundo mes mo método. Se o valor fosse estudado como uma realida de deve sê-lo, veríamos primeiro o economista indicar em
funcionam so
nossos olhos e as figura esque
maticamente; de que, conseqüentemente, são essas re
gras, e nã noção sumária qu temos delas, qu formam a matéria da ciência, da mesma forma qu a física te co mo objeto os corpos tais como existem, e nã a idéia qu deles faz o vulgo. Disso resulta qu se toma como base que não senão da moral topo, saber, maneira como ela se prolonga nas consciências individuais e nelas repercute.
ciência qu
nã
apenas nos problemas mais gerais da
esse método é seguido: el
permanece
questões especiais. Das idéias essenciais qu
mes
estu da no início, o moralista passa às idéias secundárias de fa mília, de pátria, de responsabilidade, de caridade, de justi ça; ma sempre a idéias que se aplica sua reflexão. Não diferente co po economia política. Ela te objeto, di Stuart Mill, os fatos sociais que se produzem principalmente ou exclusivamente em vista da aquisição de riquezas Mas, para qu os fatos assim definidos pu dessem ser designados, enquanto coisas, à observação do cientista, seria preciso pelo menos qu se pudesse indicar mo na
indicadas, mas de simples possí
AS REGRAS DO Mt"J'ODO SOCiOLÓGICO
26
que se pode reconhecer a coisa chamada com esse nome, depois classificar suas espécies, buscar po tódicas as causas em função da
induções me
quais elas variam, com
fórmu la geral. A teoria portanto só poderia surgir quando a ciên cia tivesse avançado bastante. Em ve disso, encontramo la desde o início. que, para fazê-la, o economista con parar enfim os diversos resultados para obter um
tenta-se em recolher, em tomar consciência da idéia qu el
te
do valor, ou seja, de um objeto suscetível de ser
trocado; descobre qu
etc., e é co
ela implica a idéia do útil, do raro,
esses produtos de su
análise qu
constrói
definição. Certamente ele confirma po alguns su definição. exemplos. Mas, quando se pensa nos inumeráveis fatos qu semelhante teoria deve explicar, como atribuir o me no
valor demonstrativo aos fatos, necessariamente muito
raros, qu
sã assim citados ao acaso da sugestão? isso, tanto em economia política como em moral, parte da investigação científica é muito restrita; a da ar te, preponderante. Em moral, a parte teórica se reduz a al gumas discussões sobre a idéia do dever, do bem do di reito. Mesmo essas especulações abstratas nã constituem po objeto um ciência, para falar exatamente, já qu tê determinar nã qu é, de fato, a regra suprema da mo qu qu ela deve ser. Do mesmo modo, ralidade, ma Po
mais preocupa os economistas
exemplo, se
sociedade
concepções do
questão de saber, po
deve ser organizada
segundo as
individualistas ou segundo as do
socia
listas; se melhor Estado intervir nas relações industri ais e comerciais ou abandoná-las inteiramente ã iniciativa privada; se
sistema monetário
deve ser
monometalis
mo ou o bimetalismo, etc., etc. As leis propriamente ditas sã pouco numerosas numerosas nessas pesquisas; mesmo as qu nos habituamos
chamar assim geralmente nã
merecem
essa qualificação, não passando de máximas de ação, pre-
REGNAS RELA71VAS
27
08SERVAÇ'ÃO DOS FATOS SOCiAIS
ceitos práticos disfarçados. Eis, po exemplo,
famosa lei
da oferta e da procura. Ela jamais foi estabelecida induti vamente, como expressão da realidade econômica. Jamais uma experiência, um para estabelecer
comparação metódica foi instituída
de/ato,
segundo essa lei qu
qu
cedem as relações econômicas. Tudo tudo
qu
qu
pro
se pôde fazer
se fez foi demonstrar dialeticamente qu
os
indivíduos devem proceder assim, caso entendam be
qu
seus interesses; de
qualquer outra maneira de proce
lhes seria prejudicial e implicaria, da parte dos qu
entregassem a isso, um lógico qu
se
verdadeira aberração lógica.
as indústrias mais produtivas sejam as mais
procuradas; qu
os detentores dos produtos de maior de
mais raros os vendam ao mais alto preço. Mas
manda
essa necessidade inteiramente lógica em nada se asseme
lha ãquela qu apresentam as verdadeiras leis da nature za. Estas exprimem as relações segundo as quais os fatos se encadeiam realmente,
qu
qu qu
nã
maneira como
bo
eles se encadeiem.
dizemos dessa lei pode ser dito de todas as
escola econômica ortodoxa qualifica de naturais
sinal, não são muito mais do que casos parti culares da precedente. Elas são naturais, se quiserem, no que, po
ou que pode sentido de que enunciam os meios qu parecer natural empregar para atingir determinado fim su
posto; ma elas não devem se chamadas po esse nome, se, po lei natural, se entender toda maneira de ser da na tureza, indutivamente constatada. Elas nã passam, em suma, de conselhos de sabedoria prática, e, se foi possí vel, mais ou menos especiosamente, apresentá-las como expressão mesma da realidade, é que, com ou sem razão,' acreditou-se poder supor qu tais conselhos eram efetiva mente seguidos pela generalidade dos homens ralidade dos casos.
na gene
28
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
No entanto, os fenômenos
sociais
sã
coisas e
devem
se tratados como coisas. Para demonstrar essa proposi ção, nã necessário filosofar sobre su natureza, discutir as analogias qu apresentam com os fenômenos dos rei no inferiores. Basta constatar qu eles sã único datu oferecido ao sociólogo. É coisa, co efeito, tudo qu dado, tudo qu se oferece ou, melhor, se impôe observação. Tratar fenômenos como coisas é tratá-los na qualidade de
ciência.
data qu
constituem
Os fenômenos
mente esse
caráter. O
os homens fazem do
sociais
qu
valor,
ponto de partida da
apresentam incontestavel
no pois
dado não é a idéia qu ela é inacessível; são os
qu no da idéia esta ou aquela econômicas. Nã conjunto das regras qu determinam efetiva moral; é mente conduta. Não é idéia do útil ou da riqueza; possí toda a particularidade da organização econômica. desenvolvimento vel qu vida social nã seja senão de certas noçôes; mas, supondo que seja assim, essas no çôes não são dadas imediatamente. Não se pode portanto atingi-las diretamente, ma apenas através da realidade fe nomênica qu as exprime. Não sabemos a príorí qu idéias estão na origem da
diversas correntes entre as quais se
divide a vida social, ne se existe alguma; é somente de pois de tê-las remontado até suas origens qu saberemos de onde elas provêm. em
si
preciso portanto considerar os fenômenos sociais
sujeitos conscientes qu os estudá-los de fora, como coisas exte
mesmos, separados dos
concebem; riores, pois
preciso
nessa qualidade qu
eles se apresentam
nós. Se essa exterioridade for apenas aparente, a ilusão se dissipará medida qu a ciência avançar veremos, po assim dizer, o de fora entrar no de dentro. Mas a solução nã pode ser preconcebida e, mesmo qu eles nã tives-
NlX;RAS RELATIVAS
OBSERVAÇÃO
DOS FA1DS
29
SOCIAIS
afinal todos os caracteres intrínsecos da coisa, deve-se primeiro tratá-los como se os tivessem. Essa regra aplica-se portanto realidade social inteira, sem que haja motivos
sem
para qualquer exceção. Mesmo os fenômenos que mais
parecem
consistir em arranjos artificiai artificiai devem se consi vista. O caráter convencional de
derados desse ponto de
lima prática ou de um instituição jamais deve ser presumido. Aliás, se nos for permitido invocar nossa experiên
cia pessoal, acreditamos poder assegurar que, procedendo dessa maneira, co freqüência se terá a satisfação de ve os fatos aparentemente mais arbitrários apresentarem,
;lpÓS um observação mais atenta do caracteres de cons t:mcia e de regularidade, sintomas de sua objetividade. De resto, e de um maneira geral, o qu foi dito an teriormente sobre os caracteres distintivos do fato social é natureza dessa objeti . ~ u f i c i e n t e para nos certificar sobre vidade efeito, para provar qu el nã é ilusória. Co reconhece-se principalmente um coisa pelo sinal de que 11<10 pode se modificada po um simples decreto da von t;lde. Nã qu ela seja refratária a qualquer modificação. Mas, para produzir uma mudança nela, nã basta querer, l' preciso além disso um esforço mais ou menos laborio so, devido à resistência qu ela nos opõe qu ne sem pre, aliás, pode se vencida. Ora, vimos que os fatos sociais t0 IH
essa propriedade. Longe de serem um produto de
)ssa
de
vontade, eles
no
freqüência
('scapar
(lposição (k qu
determinam de
quais somos obrigados
até,
essa necessidade
ela. Mas ainda qu
qu
encontramos
fora;
são como
vazar nossas
é tal
qu
ações.
nã
mol
Co
podemos
consigamos superá-la,
suficiente
para nos
estamos em presença de algo qu
nã
advertir
depende
nós. Portanto, considerando os fenômenos sociais co I!lO coisas, apenas nos conformaremos su natureza.
(k-
30
AS
Em suma,
ciologia é
reforma qu
se
trata
de introduzir em
em todos os pontos idêntica
psicologia no
qu
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
Comte
qu
so
transformou
últimos trinta anos. Do mesmo m o d o
Spencer declaram qu
os fatos sociais sã
fatos de natureza, sem no entanto tratá-los como coisas, as diferentes escolas empíricas há muito haviam reconhe cido
caráter natural dos fenômenos psicológicos, 'em
bora continuassem ideológico'. Co
qu
intros
fatos que só observamos em nó mes demasiado raros, demasiado fugazes, "'demasia
pecção". Ora, os
DOS
FATOS SOCIAIS
31
se efetuou nesse tipo de estudos. Todos os procedi
mentos particulares, todos os métodos novos qu queceram essa de
realizar mais
ciência,
não são mais qu
enri
meios diversos
completamente essa idéia fundamental.
resta fazer
mesmo progresso qu ciso qu
em
sociologia.
pre
ela passe do estágio subjetivo, raramente
até agora, fase objetiva. Essa passagem, aliás, é menos difícil de efetuar do em psicologia. Co efeito, os fatos psíquicos sã na
qu
turalmente dados como estados do sujeito, do qual eles não parecem sequer separáveis. Interiores po definição, parece qu
só se pode tratá-los como exteriores exteriores violen
do maleáveis para poderem se impor às noções corres
tando su
pondentes que
abstração, mas todo um conjunto de procedimentos
fixou em nó estabelecer-lhes lei. Quando estas últimas não são submetidas outro con trole, nada lhes faz contrapeso; po conseguinte, elas to ma lugar do fatos'" e constituem matéria da ciên cia. Assim, ne Locke, ne Condillac consideraram os fe nômenos psíquicos objetivamente. Não é sensação qu eles estudam, mas um certa idéia da sensação. Po isso, hábito
ainda que sob certos aspectos eles tenham preparado advento da psicologia
be çã
mais
de qu
esta só surgiu realmente
tarde, quando se chegou finalmente
os estados de consciência podem
considerados de ciência qu
científica,
fora, e
nã
do ponto de
os experimenta. Ta
foi a
concep devem se
vista
da cons
grande revolução
• "e declarado qu eles deviam ser estudados segundo método ciências físicas. Entretanto, na realidade, todos os trabalhos que lhes devemos reduzem-se a puras análises ideológicas, nào menos qu os da escola metafísica". metafísica". (R.P., p. 486.) método introspectivo". (R.F., p. "também só empregavam 486.) O " ~ "para controlar eficazmente as noçôes correspondentes que permanecem portanto sem contrapeso; em hábito fixou em nós. Estas permanecem conseqüência, elas se interpõem entre os fatos e nós" (R.P., p. 487.) das
ultra
passado
aplicar-lhes um método puramente
efeito, os empiristas, " n ã o menos qu
seus adversários, procediam exclusivamente exclusivamente po mos são
REGRAS REJA 77VAS Ã OBS ERVAÇÃO
preciso não apenas um esforço de
natureza.
artifícios para chegar trário, os fatos sociais
viés. Ao mais naturalmente e mais
considerá-los desse
tê
diatamente todas as características da coisa. existe no
estatísticos,
no
monumentos da
roupas, os gostos nas obras de
as modas na
Em virtude de sua natureza mesma eles tendem
tituir fora
ime
direito
códigos, os movimentos da vida cotidiana se
inscrevem nos dados
tória,
de con
his arte.
se cons
individuais, visto qu as domi aspecto de coisas, nã é preciso,
das consciências
vê-los sob seu torturá-los co engenhosidade. Desse ponto de vista, a sociologia te sobre a psicologia um séria vanta ge qu nã foi percebida at agora qu deve apressar se desenvolvimento. Os fatos talvez sejam mais difíceis nam. Para
portanto,
de interpretar po fáceis de atinar. te
serem mais complexos, mas sào mais psicologia, ao contrário, não apenas
dificuldade de elaborá-los, como também de perce
bê-los. qu
Em conseqüência, é lícito imaginar que, no dia em esse princípio do método sociológico for unanime
mente reconhecido gredir co
praticado, veremos
uma rapidez qu
a sociologia
pro
lentidão atual de seu de-
AS REGRAS DO MÉTODO SOG70LÓGICO
32
faria supor, e inclusive reconquistar dianteira qu a psicologia deve unicamente sua anterio ridade histórica 10 senvolvimento nã
Mas a qu
experiência de nossos predecessores nos mos realização prática da verdade
estabelecida, nã
acaba de se
monstração teórica ne
basta oferecer um
de
mesmo compenetrar-se dela.
espírito tende tão naturalmente
desconhecê-la qu
re
cairemos inevitavelmente nos antigos erros, se não nos
disciplina rigorosa, cujas regras prin cipais, corolários da precedente, iremos formular. 1) primeiro desses corolários é que: preciso descartar sis tematicamente todas todas as prenoçõ prenoções. es. Uma demons tração especial dessa regra nã é necessária; ela resulta de tudo qu dissemos anteriormente. Aliás, ela é a base de todo método científico. A dúvida metódica de Descartes, no fundo, nã senão uma aplicação disso. Se, no mo mento em que va fundar ciência, Descartes impõe-se como lei pôr em dúvida todas as idéias qu recebeu ante riormente, é qu el quer empregar apenas conceitos cien tificamente elaborados, isto é, construídos de acordo co método que el institui; todos os qu el obtém de uma submetermos
um
outra origem devem ser, portanto, rejeitados, ao menos
provisoriamente. Já
vimos qu
con, não tem outro sentido. freqüentemente
da
nesse ponto
ciólogo,
a teoria As duas
Ídolos, em Ba grandes doutrinas
do
foram opostas uma à outra, concor essencial. É preciso, portanto, qu o so
qu
tanto no momento em que determina
objeto de
suas pesquisas, como no curso de suas demonstraçôes, proíba-se resolutamente
qu
FA
TOS SOCIAIS
33
fora da ciência e po necessidades qu científico. É preciso qu ele se liberte dessas
se formaram
nada têm de
falsas evidências qu se livre, de uma vez
dominam
espírito do vulgo, qu
po todas, do jugo dessas categorias empíricas que um longo costume acaba geralmente or
tirânicas. Se a necessidade obriga às vezes a re correr a elas, pelo menos qu o faça tendo consciência de se pouco valor, a fim de nã as chamar desempenhar na doutrina um papel de que não são dignas. qu torna essa libertação particularmente difícil em sociologia é qu sentimento com freqüência se introme te. Apaixonamo-nos, co efeito, po nossas crenças polí ticas e religiosas, po nossas práticas morais, muito mais do qu pelas coisas do mundo físico; em conseqüência, esse caráter passional transmite-se maneira como conce explicamos as primeiras. As idéias fazemos seu respeito no são muito caras, assim como seus objetos, e adquirem tamanha autoridade qu nã su portam a contradição. Toda opinião qu as perturba é tra tada como inimiga. Po exemplo, uma proposição não es tá de acordo com a idéia qu se faz do patriotismo, ou da dignidade individual? Então ela é negada, nã importam as provas sobre as quais repousa. Nã se pode admitir qu seja verdadeira; ela é rejeitada categoricamente, e paixão, para justificar-se, nã te dificuldade de sugerir razões qu são consideradas facilmente decisivas. Essas noções podem mesmo te tal prestígio qu nã toleram sequer um exame científico. O simples fato de submetê las, assim como os fenômenos qu elas exprimem, um análise fria e seca, revolta certos espíritos. Quem decide l'studar a moral a partir de fora e como uma realidade ex tornar
II
trou que, para assegurar
REGRAS RELA77VAS À OBSERVAÇ40 DOS
emprego daqueles conceitos
terior
visto po
esses delicados como desprovido de
Sl'nso moral, da mesma forma qu o vivissecionista pare 'l' ao vulgo desprovido da sensibilidade comum. Em vez
34
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGiCO
*de admitir qu esses sentimentos são do domínio a* da ciência, é a eles qu se julga dever apelar para fazer a ciên cia da coisas às quais se referem. "Infeliz o sábio", escre ve um eloqüente historiador das religiôes, "que aborda as coisas de Deus se fundo
no fundo de sua consciência, no
te
indestrutível
de seu
ser, lá
onde dorme
alma do
antepassados, um santuário desconhecido do qual se
ele
instantes um perfume de incenso, uma linha de
va po
salmo,
um
grito
doloroso ou
ao céu junto co comunhão co
triunfal qu
seus irmãos
criança,
que,
os profetas de outrora ll
lançou
repôe em súbita
força contra misticismo, aliás -
Nunca nos ergueremos com demasiada essa doutrina
nã do
mística
qu
como todo
é, no fundo, senão um empirismo disfarçado, nega de toda ciência. Os sentimentos qu têm como obje tê
tos as coisas sociais pois nã
origem.
outra su
privilégio
demais,
Também eles sã
formados
historicamente; são um produto da experiência humana, ma
de um
sei
nã
se devem
lidade,
experiência confusa
qu
inorganizada.
Eles
antecipação transcendental da
nã
rea
resultante de todo tipo de impressões
mas são
de emoções acumuladas sem ordem, ao acaso da
cir
interpretação metódica. Longe de no
cunstâncias, se
proporcionarem luzes superiores às luzes racionais, eles
NliGRAS RELA7lVAS
luminosas da razão.
cientes
ciência,
o critério
nã
força
um estudo
oratória. espíritos qu
mais ou menos
os
sibilidade
ciência feita
objetivo deles. investigação científica
definição. O primeiro procedimento do sociólogo ser, portanto, definir as coisas de que el trata, a fim
mesma
deve
de qu questão.
submeter
confusas da sensação
esses sentimentos
ao
controle"
preferem
ãs análises
(R.P.,
p. 489,)
as
de que ele saiba
se saiba
Essa é a
primeira
(,;ào de toda prova
e
de toda
em
qu
está em
mais indispensável condi
verificação;
um
teoria,
co
efeito, só pode ser controlada se se sabe reconhecer os
cia,
qu
explicar. Além
ela deve
este será um
constituído'
coisa ou não, for feita.
do
mais, visto
se
objeto mesmo da conforme
po
ciên
maneira pela
qual essa definição
assim só pode
gostam de pensar com sua sen
não com seu entendimento, qu
sínteses imediatas
• "de
Uma
físicas. ciência em ciên ciências
po objeto um grupo te determinado de fenômenos que correspondem um Toda
fatos
satisfazer
moral,
como deve se apoderar desses últimos para empreender
essa definição qu
uma logomaquia
ou
Pode-se portanto supor que, expulso de
verdade,
condenar-se
religioso
ao estabelecimento da
tendo eles
cia, esse preconceito acabará po desaparecer da própria sociologia, se último refúgio, para deixar terreno livre ao cientista. 2) Mas a regra precedente inteiramente negativa. Ela ensina sociólogo escapar ao domínio da noçôes vulgares, para dirigir sua atenção aos fatos; ma nã di
conceder
mais elevadas,
senti
opunham-se com
não menos
preponderância
as
os
próprios um caráter
confusos.
br
nã
tenha encontrado
físico,
feitos exclusivamente de estados fortes,
supremacia so
resto,
De
análogas. Houve um tempo em qu
sã
às faculdades inferiores da inteligência
científica.
mentos relativos às coisas do mundo
ma
Atribuir-lhes tal
objeto de
sentimento
da verdade
há ciência que, em seus começos, nã
resistências
35
OBSERI'Aç:40 DOS FATOS SOCIAIS
Para qu
qu do
ela seja objetiva,
exprima os fenômenos, nã
espírito,
preciso evidentemente em função de uma
mas de propriedades qu
idéia
lhe são inerentes.
paqu
• "Concebe-se facilmente a importância dessa definição inicial ela que constitui" (R.P., p. 490.)
já
AS REGRAS DO MfTODO SOCIOLÓGICO
36 preciso qu
ela
os
caracterize
po um elemento
integrante
da natureza deles, não pela conformidade deles
mais ou menos ideal. Ora, no momento pesquisa vai apenas começar, quando os fatos
noção
em que
nã estão nenhuma elaboração, os únicos des-
ainda submetidos se
um
caracteres que podem ser atingidos são os qu
mostram suficientemente exteriores para serem
se
imediata
visíveis. Os qu estão situados mais profundamente são, po certo, mais essenciais; se valor explicativo maior, ma nessa fase da ciência eles são desconhecidos mente
só podem se antecipados se substituirmos realidade po alguma concepção do espírito. Assim, é entre os pri meiros qu
deve ser buscada
fundamental. Por outro lado,
matéria dessa definição claro qu
deverá compreender, sem exceção ne os fenômenos qu
essa definição
distinção,
todos
apresentam igualmente esses mesmos
caracteres; pois nã
temos nenhuma razão
meio de escolher entre
eles. Essas
nenhum
propriedades são, enconseqüência,
devem determinar soberanamente
to
devem ser agrupados. Nã
critério qu
maneira como os
fa
possuímos nenhum outro
possa, mesmo parcialmente, suspender os
a regra seguinte: jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo de fenômenos previamente d ~ f i n i d o s po certos caracteres exteriores qu lhes lhes são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos os qu correspondem a essa definição. Por exemplo, consefeitos
do precedente. Donde
tatamos
existência de certo número de atos qu caráter exterior de, um
sentam, todos,
determinarem de parte da sociedade essa reação
lar
qu
neris,
crime
apre-
vez efetuados,
particu
chamada pena. Fazemos deles um grupo
sui ge-
ao qual impomos uma rubrica comum; chamamos todo at
e fazemos do crime assim definido ciência especial, a criminologia. Do mes-
punido
objeto de uma
"N/RAS RElATlVASÀ OBSERVAÇÀO DOS FATOS SOOAIS
37
interior de todas as sociedades a existência de um sociedade parcial, reconhecível pelo sinal exterior de ser formada de indivíduos consangüíneos uns dos outros, em su maior parte, e qu l'stão unidos entre si po laços jurídicos. Fazemos do fa lo qu se relacionam el um grupo particular; sã os fenômenos da vida doméstica. Chamamos família todo agregado desse tipo e fazemos da família assim definida o (lbjeto de uma investigação especial qu ainda nã recehe denominação determinada na terminologia sociológi sociológi ca. Quando, mais tarde, passarmos da família em geral mesma reao diferentes tipos familiares, aplicaremos gra. Quando abordarmos, por exemplo, estudo do clã, ou da família maternal, ou da família patriarcal, começaremesmo método. mo po defini-los, e de acordo co objeto de cada problema, geral como particular, deve ser constituído segundo mesmo princípio. Ao proceder dessa maneira, sociólogo, desde se primeiro passo, toma imediatamente contato com a reali efeito, o modo como os fatos sã assim classi classi dade. Co ficados nã depende dele, da propensão particular de se espírito, ma da natureza da coisas. O sinal qu possibili ta serem colocados nesta ou naquela categoria pode se
1110 modo, observamos, no
conhecidas,
mostrado
todo
mundo, reconhecido po
todo
mun-
do, e as afirmações de um observador podem se contro ladas pelos outros. É verdade qu noção assim constituí da nem sempre se ajusta, ou, até mesmo, em geral nã se ajusta, à noção comum. Po exemplo, evidente que, pa ra senso comum, os casos de livre pensamento ou as faltas à etiqueta, tã regularmente tão severamente punidos numa série de sociedades, não são vistos como crt mes, inclusive em relação a essas sociedades. Assim tam um família, no sentido usual da pala hém, um clã nã vra. Mas nã importa; pois não se trata simplesmente de
38
AS
REGRAS DO MÉ7'()f)O SOG7OlcJGIC
descobrir um meio qu nos permita verificar co suficien te certeza os fatos a qu se aplicam as palavras da língua corrente e as idéias qu estas traduzem. qu preciso constituir inteiramente conceitos novos, apropriados ãs
necessidades da ciência um
expressos co
auxílio de
terminologia especial. Não, certamente, qu
con
ceito vulgar seja inútil ao cientista; ele serve de indicador. Po ele, somos informados de qu
existe em alguma parte
um conjunto de fenômenos reunidos so
nominação
uma mesma de
que, portanto, devem provavelmente ter ca
racterísticas comuns; inclusive, como
conceito vulgar ja
mais deixa de ter algum contato com os fenômenos, ele
no
indica éls vezes, ma
de maneira geral, em qu
çélo estes devem ser buscados. Mas, como el
dire é grosseira
mente formado, natural que não coincida exatamente co conceito científico, instituído em seu lugar l2 importante qu seja essa regra, mais evidente muito observada em sociologia. Precisamente
el
Po nã
po
esta tratar de coisas da
quais estamos sempre falan
do como a família, a propriedade, o crime, etc., na maio
NHGRAS RH 77VAS 77VAS Ã OBSERVAÇ ÃO
eles são monógamos, embora nada exista entre eles
qu
se assemelhe
palavra monogamia, se
do no qual as empregamos. As pessoas se referem sim plesmente
noção comum. Ora, esta
muito freqüente
mente ambígua. Essa ambigüidade faz qu um mesmo nome
se reúnam sob
numa mesma explicação coisas, em
realidade, muito diferentes. Daí provêm inextricáveis con
fusões. Assim, existem duas espécies de uniões monogâ sã de fato, outras de direito. Nas primei micas: umas ras, o marido só tem um mulher, embora, juridicamente, legalmente proibido possa ter várias; na segundas el de se polígamo. monogamia de fato verifica-se em vá-
estudo do casamento, emprega
defini-la, com seu sentido usual
equívoco. Disso resulta qu
lh qu
evolução do casamento
parece apresentar uma incompreensível anomalia, já el
crê observar a forma superior da união sexual já
nas primeiras fases do desenvolvimento histórico, ao pas
regular entre
todo instante
obrigação jurídica. Ora, o sr.
um
Spencer, abordando
vir-nos dessas palavras, qu
voltam
39
qu
so qu
parece inútil precisar o senti
FATOS SOCiAIS
rias espécies animais em certas sociedades inferiores, nã de forma esporádica, mas co mesma generalidade como se fosse imposta po lei. Quando população está dispersa numa vasta superfície, a trama social é mais frou xa, portanto os indivíduos vivem isolados uns dos outros. Por isso, cada homem busca naturalmente obter uma mu lher e um só, porque, nesse estado de isolamento, lhe difícil te várias. A monogamia obrigatória, ao contrário, só se observa nas sociedades mais elevadas. Essas duas espécies de sociedades conjugais têm portanto um signi ficação muito diferente, no entanto mesma palavra ser ve para designá-las; pois comum dizer de certos animais
ria das vezes parece inútil ao sociólogo dar-lhes uma defi nição preliminar e rigorosa. Estamos télo habituados a ser curso das conversaçôes, qu
DOS
el
parece desaparecer no período intermediário
para retornar a seguir. Ele conclui da que não há relação progresso social em geral e
avanço pro
um tipo perfeito de vida familiar. Uma definição oportuna teria evitado esse crro 13 cuidado de definir o ob Em outros casos, toma-se
gressivo em direção
jeto sobre
qual incidirá
abranger na definição
pesquisa; mas, em vez de
de agrupar so
mesma rubrica
as mesmas propriedades ex teriores, faz-se um triagem entre eles. Escolhem-se al guns, espécie de elite, qu sã vistos como os únicos CGm todos os fenômenos qu
() direito
tê
ter esses caracteres. Quanto ao
considerados como tendo usurpado vo
nã
esses
demais, sã
sinais distinti
são levados em conta. Mas é fácil prever qu
40
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
dessa maneira só se pode obter um truncada. Essa eliminação, co
noção subjetiva
feita co base numa idéia preconcebida, um vez que, no co meço da ciência, nenhuma pesquisa pôde ainda estabele ce realidade dessa usurpação, supondo-se qu ela seja efeito, só pode se
podem ter sido
possível. Os fenômenos escolhidos só
porque estavam, mais do qu concepção ideal qu
os outros, de acordo co
se fazia desse tipo de realidade. Por
exemplo, o sr. Garofalo, nó começo de su
Criminologie,
REGRAS RELAl1VASÀ OBSER'é4ÇÃO DOS FATOS SOCIAIS
41
me iras passaram testemunham apenas que as próprias coisas variaram. Em zoologia, as formas específicas às es pécies inferiores nã sã vistas como menos naturais do qu as qu se repetem em todos os graus da escala ani mal. Do mesmo modo, os atos tachados de crimes pelas sociedades primitivas, e qu perderam essa qualificação,
sà
realmente criminosos para essas sociedades, tanto
quanto os qu
continuamos
reprimir hoje em dia. Os
ue ofendem parte média imutável do senso moral. Quanto aos sentimentos morais qu de
primeiros correspondem às condições mutáveis da vida social, os segundos às condições constantes; ma uns não sà mais artificiais qu os outros. mais: ainda qu esses atos tivessem adquirido te indevidamente o caráter criminológico, nem por isso deve riam ser separados radicalmente do outros; pois a nature za da formas mórbidas de um fenômeno não é diferente da natureza das formas normais e, po conseqüência, ne
sapareceram durante
cessário observar tanto as primeiras quanto as segundas
ponto de partida dessa ciên cia deve ser "a noção sociológica do crime"14. Só que, pa
demonstra muito bem que
ra constituir essa noção, ele nã todos os atos que, no primidos po eles,
compara indistintamente
diferentes tipos sociais, foram re
penas regulares, ma
apenas alguns dentre
saber, os
evolução, eles nã
fundados na natureza das coisas, po
nã
do se manter; po conseguinte, os atos qu derados criminosos porque os violavam, lh ver essa denominação apenas
lhe parecem
terem consegui
foram consi parecem de
circunstâncias acidentais
mais ou menos patológicas. Mas é em virtude de um
concepção inteiramente pessoal da moralidade qu el procede essa eliminação. Ele parte da idéia de que evolução moral, tomada em su
fonte mesma ou no arre
dores, arrasta todo tipo de escórias
de impurezas, qu
elimina a seguir progressivamente, de que somente hoje ela conseguiu desembaraçar-se de todos os elemen
el
tos adventícios que, primitivamente, perturbavam-lhe
curso. Mas esse princípio nã ne qu
um
nem um axioma evidente
verdade demonstrada;
apenas uma hipótese,
nada inclusive justifica. justifica. As partes variáveis do senso
coisas do as partes imutáveis; as variaçôes pelas quais as pri-
para determinar essa natureza.
doença não se opõe
saúde; trata-se de duas variedades mesmo gênero qu se esclarecem mutuamente. Essa é um regra há mui to reconhecida
praticada, tanto em biologia como em
psicologia, e qu sociólogo nã pcitar. A menos qu se admita qu possa ser devido ora
l11enos qu
causa, or
menos obrigado a res um mesmo fenômeno um
outra, isto é, a
se negue o princípio de causalidade, as causas
(Iue imprimem nu ato, mas de maneira anormal, o sinal distintivo do crime não poderiam diferir em espécie da mesmo efeito; elas distin (IUC produzem normalmente guem-se apenas em grau ou porque não agem no mesmo ('( lIljunto de circunstâncias. O crime anormal ainda é, por1;lI1to, um crime e deve, po conseguinte, entrar na defini" ocorre? O sr. Garofalo toma ~ ; I ( ) do crime. Assim, o qu
moral não são menos fundadas na natureza da
1)(
qu
. ~ i l l 1 p l e s
>1"
gênero
qu
nã
senâo
espécie ou mesmo uma
variedade. Os fatos aos quais se aplica su
fórmu-
42
AS
la da criminalidade nã noria entre os qu
REGRAS
DO
Mf-TOJ)O SOG1OLÓGICO
representam senão uma ínfima mi-
ela deveria compreender; pois el
nã
REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÀO
DOS
43
FATOS SOG1AIS
acusado de querer derivar o crime da pena ou, conforme
um
citação be
conhecida, de ver no patíbulo
fonte
crimes religiosos, religiosos, ne ao crimes contra a etiqueta, o cerimonial, a tradição, etc., que, se desapare ceram de nossos códigos modernos, preenchem, ao contrário, quase todo o direito penal da sociedades anteriores. mesma falta de método qu faz qu certos obser
da vergonha, não no ato expiado. Mas a objeção repousa
vadores recusem aos selvagens qualquer espécie de mo
ulteriormente. Ela te
Eles partem da idéia de qu nossa moral é desconhecida desconhecida dos povos moral; ora, é evidente qu el
em contato co
convém ne
ralidade
ao
".
primitivos ou qu
só existe neles em estado rudimentar.
sobre um
mo
de dar está situada no começo da ciência, ela nã
poderia te el
definição cuja regra acaba
confusão. Como
po
objeto exprimir
deve apenas no
pô po
essência da realidade;
em condições de chegar a isso única função fazer-nos entrar
as coisas e, como estas nã
podem se
atingidas pelo espírito a nã se de fora, é po seus exteriore qu el as exprime. Mas isso nã quer dizer qu as
Mas essa definição é arbitrária. Apliquemos nossa regra e
explique; ela apenas fornece
tudo se modifica. Para decidir se um preceito
necessário às nossas explicações. Claro, nã
primeiro ponto de apoio
exterior da moralidade; esse sinal consiste numa sanção
é pena que faz o crime, mas po el qu el se revela exteriormente nós, e dela portanto qu devemos partir se quisermos
repressiva difusa, ou seja, numa reprovação da opinião
chegar
moral ou
não, devemos examinar se ele apresenta ou não
pública qu
sinal
vinga toda violação do preceito. Sempre qu
estivermos em presença de um fato qu
apresenta esse
caráter, nã temos o direito de negar-lhe a qualificação de da mesma nature moral; pois essa é prova de que el za qu os outros fatos morais. Ora, regras desse gênero não só se verificam na
sociedades inferiores, como sã
mais numerosas aí do que entre os civilizados. Um quan tidade de atos atualmente entregues livre apreciação dos indivíduos são, então, impostos obrigatoriamente.
compreendê-lo. objeção só seria fundada se esses caracteres exte
riores fossem ao mesmo tempo acidentais, isto é, se nã
estivessem ligados às propriedades fundamentais. De fato, nessas condições,
ciência, após tê-los assinalado, nã
teria meio algum de ir mais adiante; nã poderia aprofun dar-se mais na realidade, já que não haveria nenhuma relação entre superfície e fundo. Mas, a menos qu de princípio causalidade seja um palavra vã, quando caracteres determinados se encontram identicamente
se
qu erros somos levados quando não definiPercebe-se mos, ou quando definimos mal.
nenhuma exceção em todos os fenômenos de certa or
Mas, dirão, definir os fenômenos po seus caracteres aparentes não será atribuir às propriedades superficiais um espécie de preponderância preponderância sobre os atributos fundamentais? Nã será, po um verdadeira inversão da ordem
te natureza destes últimos e qu sã solidários co eles. Se um grupo dado de atos apresenta igualmente a parti-
lógica, fazer repousar as coisas sobre seus topos,
sobre suas bases?
nã
assim que, quando se define o crime
pela pena, corre-se quase inevitavelmente
risco de se
dem, pode-se estar certo de que eles se ligam intimamen
cularidade de uma sanção penal estar
eles associada,
ligação íntima entre pena os atributos. constitutivos desses atos. Em conseqüência, po mais su perficiais qu sejam, essas propriedades, contanto qu tequ
existe um
nham sido metodicamente observadas, mostram clara-
44
AS REGRAS DO MÉTODO SOOOLÓGICO
mente ao cientista penetrar
mais
caminho qu
dispensável el
da cadeia qu
seguir no curso de suas
Visto
coisas;
fundo na
el
deve seguir para
elas sã
primeiro
ciência
explicações.
irá
e in
desenrolar
coisas no dado, pode-se portanto dizer, em resumo: a ciência, pa ra se objetiva, deve partir, nã de conceitos qu se for maram sem ela, mas da sensação. dos dados sensíveis el diretamente qu deve tomar emprestados os elemen tos de suas definições iniciais. E, de fato, basta pensar em qu consiste a obra da ciência para compreender que ela não pode proceder de outro modo. Ela tem necessidade de conceitos qu exprimam adequadamente as coisas tais como elas são, nã tais como é útil ã prática concebê-las. Ora, aqueles conceitos ue se constituíram fora de su preciso, pois, qu ação não preenchem essa condição. ela crie novos que, para tanto, afastando as noções co muns
se
pela sensação qu
as palavras qu
matéria-prima necessária sação que emanam todas
falsas, científicas
ou não.
exterior das
as exprimem, volte
sensação,
conceitos. da sen as idéias gerais, verdadeiras ou Portanto, o ponto de partida da
de todos os
ciência ou conhecimento especulativo nã
poderia ser
vulgar ou prático. somen te além dele, na maneira pela qual essa matéria comum elaborada, qu as divergências começam. 3) Mas a sensação é facilmente subjetiva. Assim é de regra, na ciências naturais, afastar os dados sensíveis qu correm o risco de ser demasiado pessoais ao observador, para reter exclusivamente os qu apresentam um suficien te grau de objetividade. Eis o qu leva o físico a substituir outro que
do conhecimento
as vagas impressões qu
temperatura ou
produzem pela representação mômetro ou do eletrômetro.
visual
das
eletricidade
oscilações do ter as
sociólogo deve tomar
mesmas precauções. Os caracteres exteriores em função
NEGRAS RELATIVAS
el objetivos
dos quais tã
ciais
define
objeto de suas pesquisas devem se
quanto possível. Pode-se estabelecer como princípio qu sã
45
OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOOA!S
tanto mais suscetíveis de se
os
fatos so re
objetivamente
mais completamente separados dos fatos individuais qu os manifestamo. De fato, uma sensação tanto mais objetiva quanto maior a fixidez do objeto ao qual ela se relaciona; pois condição de toda objetividade é a existência de um ponto de referência, constante e idêntico, ao qual representa presentados *quanto
çã
pode se
ela
relacionada
qu
permite eliminar tudo
variável, portanto, de subjetivo. Se os úni co pontos de referência dados forem eles próprios variá veis, se forem perpetuamente diversos em relação a si nã teremos meio mesmos, faltará um medida comum qu depende algum de distinguir em nossas impressões de fora e o qu lhes ve de nós. **Ora, a vida social, en quanto não chegou a isolar-se do acontecimentos parti culares qu jus encarnam para constituir-se à parte, te tamente essa propriedade, pois, como esses acontecimen to nã tê mesma fisionomia de um ve a outra, de um instante a outro, como ela é inseparável deles, estes transmitem-lhe su mobilidade. Ela consiste então em li vres correntes** qu estão perpetuamente em via de trans qu formação olhar do observador não consegue fi po esse lado qu o cientista po xar. Vale dizer qu nã de abordar estudo da realidade social. Mas sabemos qu esta apresenta a particularidade de se deixar de se el mesma, ser capaz de cristalizar-se. Fora do atos indi-
qu
te
de
"quanto mais estiverem consolidados". (RP., p. 497.) " "Ora, a vida social, no estado de liberdade, infinitamente Illóvel e fugaz. Ela nào está isolada, pelo menos imediatamente, do fenômenos particulares nos quais se encarna, e estes diferem de um a outra, de um caso a outro. Sào correntes" (R.P., p. 497.) vez
46
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO SOCIOLÓGICO
viduais qu
so
suscitam, os hábitos coletivos exprimem-se
formas definidas, regras jurídicas, morais, ditos
popu
lares, fatos de estrutura social, etc. Como essas formas existem de um
maneira permanente,
*como
as diversas aplicaçôes que delas sã
co
constituem um objeto
fixo,
não mudam
feitas,*
um padrão constante qu
sempre ao alcance do observador
elas está
que não dá margem
e às observaçôes pessoais. Uma regra de direito é o qu el é, nào há duas maneiras de percebê-Ia. Por outro lado, visto qu essas práticas nada mais sà qu vida social consolidada, é legítimo, salvo in dicaçôes cemtrárias](', estudar esta através daquelas. às impressões subjetivas
Quando, portanto, sociólogo empreende a explora ção um ordem qu alque r defat os sociais, sociais, ele deve deve esforçar esforçar se em considerá-los po um lado em que este ** se apresen tem isolados isolados de suas mantfestações i n d i v i d u a L ~ * . em vir
estudamos solidariedade social, formas diversas e su evolução através do sistema da se jurídicas qu as exprimem!7. Do mesmo se tentar distinguir e classificar os diferentes tipos familia res com base nas descrições literárias qu deles no ofere cem os viajantes e, às vezes, os historiadores, corre-se risco de confundir as espécies mais diferentes, de aproxi ma os tipos mais afastados. Se, ao contrário, tomar-se po base dessa classificação a constituição jurídica da família e, mais especificamente, o direito sucessório, ter-se-á um cri tério objetivo que, sem ser infalível, evitará no entanto mui tos erroslH. Queremos classificar os diferentes tipos de cri mes? Então nos esforçaremos po reconstituir as maneiras de viver, os costumes profissionais praticados no diferen tes mundos do crime, e reconheceremos tantos tipos critude desse princípio qu
suas
• Elemento que nã figura "apresentam um grau s l ~
..
no
texto inicial. de crmsolidação". crmsolidação". (RP ., p. 497.)
r i c i e n t e
N/iGRAS REIA77VAS À OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS minológicos quantas forem
as formas
diferentes qu
essa
organizaçào apresenta. Para identificar os costumes, as
dita do qu os exprimem. Certamente, ao proceder assim, dei xamos provisoriamente fora da ciência a matéria concreta da vida coletiva, e no entanto, po mais mutável qu esta ininteligi . ~ e j a , . ~ nà e j a , temos o direito de postular a priori su hilidade. Mas, se quisermos seguir um via metódica, pre cisaremos estabelecer os primeiros alicerces da ciência so hre um terreno firme e nào sobre areia movediça. preci
crenças populares, recorreremos aos provérbios, ao
. ~ o
abordar
:Ihre
reino social pelos lados o n d e el
mais se
investigação científica. científica. Somente seguir será possí vellevar mais adiante pesquisa e, po trabalhos de apro ximaçào progressivos, cingir pouco pouco essa realidade fugidia, da qual espírito humano talvez jamais possa se poderar completamente.
CAPÍTULO
IH
REGRAS RELATIVAS DISTINÇÃO PATOLÓGICO ENTRE NORMAL
A observação, Ihantes ()5
qu
1l1ais
so
as regras qu
conduzida de acordo co
precedem, confunde duas ordens de
certos aspectos:
deveriam se os fenômenos
os qu
fatos,
muito desseme
qu
sã
devem ser
de outro modo, os fenômenos nor-
patológicos. Vimos inclusive
qu
er
Iwcessário abrangê-los igualmente na definição pela qual (leve se iniciar toda pesquisa. Mas, se eles, em certa medida, sã da mesma natureza, nã deixam de constituir duas \';Iriedades diferentes, qu importante distinguir. A ciên(i dispõe de meios qu permitem fazer essa distinção? questão qUl'
se der
t()111
pete
el
da maior importância; pois da solução
depende
a idéia
ciência, sobretudo
qu
se
faz
do papel qu
ciência do homem. De
.I('()rdo com uma teoria cujos partidários se recrutam nas ('scolas mais diversas, a ciência nada nos ensinaria sobre '''Iuilo qu devemos querer. Ela só conhece, dizem, fatos mesmo valor e mesmo interesse; ela os ob ( P l l ' tê nã os julga; para ela, os fatos nada ~ ( ' r \ ' a , os explica, ma 1('I'iam de censurável. be e ma nã existem para
50
AS REGRAS DO Mi:TODO SOOOLÓGICO
ela. A ciência pode perfeitamente nos dizer de que ma neira as causas produzem seus efeitos, não que finalida qu é, ma de devem ser buscadas. Para saber, nã qu é desejável, deve-se recorrer às sugestões do incons ciente, nã importa nome que se dê a ele: sentimento, instinto, impulso vital, etc. A ciência, diz um escritor já ci tado, pode muito be
mundo, mas ela deixa
iluminar
fazer su luz. A ciência se vê assim destituída, ou quase, de toda eficácia prática, nã tendo portanto grande razão de ser; pois, de que serve trabalhar para conhecer o real, se conhecimento qu dele adquirimos não nos pode servir na vida? Acaso dirão qu ela, ao nos revelar as causas do noite nos corações; compete ao coração mesmo
própria
fenômenos, nos fornece os meios de produzi-los
gosto
e,
fins qu supracientíficas? Mas
portanto, de realizar os
persegue por razôes
próprio um
fim,
nosso
nossa vontade todo meio
el
um lado; pois, para empregá-lo,
o fim cuja realização ele pre sempre vários caminhos qu levam um objeti preciso, portanto, escolher entre eles. Ora, se não pode nos ajudar na escolha do objetivo me
preciso querê-lo tanto como para. Há vo dado; ciência
lhor,
como
qu
el
poderia nos ensinar qual
ela nos recomendaria mais rápido de preferência ao mais econômico, o mais seguro em vez do mais simples, ou vice-versa? Se nã capaz de no guiar na determinação dos fins superiores, ela nã menos impotente quando se trata desses fins se cundários subordinados que chamamos meios. caminho para chegar
a ele?
melhor
Po qu
método ideológico permite,
esse
misticismo, e foi aliás o
verdade, escapar
desejo de escapar
el
o res
ponsável, em parte, pela persistência desse método. Os qu
praticaram
eram, com· efeito, demasiadamente racio
nalistas para admitir qu necessidade de ser
dirigida
conduta humana nã pela
reflexão;
tivesse
no entanto, eles
51
mSTlNç'ÃO hiV1NE NOR1V!AL E PA TOLÓGICO
si mesmos inde subjetivo, nada que permi tisse classificá-los segundo seu valor prático. Parecia por único meio de julgá-los seria relacioná-los tanto qu isso, o emprego algum conceito qu os dominasse; co de noções qu presidiram comparação do fatos, em vez de derivar deles, tornava-se indispensável em toda so ciologia racional. Mas sabemos que, se nessas condiçôes prática se torna refletida, a reflexão, assim empregada, nã é científica. nã
viam
nos fenômenos, tomados em
pendentemente de todo dado
problema qu
acabamos de colocar no
permitirá
reivindicar os direitos da razão sem cair de novo na ideo logia. Co efeito, tanto para as sociedades como para os indivíduos, a saúde bo e desejável, enquanto doença qu deve se evitado. Se encontrarmos por algo ruim tanto um critério objetivo, inerente aos fatos mesmos, qu saúde da doença nos permita distinguir cientificamente na diversas ordens de fenômenos sociais, a ciência será capaz de esclarecer a prática, sem deixar de se fiel a se verdade que, como não consegue pre
próprio método. . ~ e n t e m e n t e
atingir
indivíduo,
cer-nos indicações gerais qu temente
l'm
diversificadas, a
contato co
do de saúde,
tal
nã
nã
se
particular
como ela
ela
só
capaz de forne
podem se qu
através
convenien
se entre diretamente da sensação.
define, nã
O esta
poderia convir
nenhum sujeito individual, já qu só pode S l ' f estabelecido em relação às circunstâncias mais co Illuns, da quais cada um se afasta em maior ou menor l'xatamente
grau; ainda assim, esse p:lra orientar conduta. . ~ v g u i r
um ponto de referência precioso Do
fato
cada caso especial, nã
de ser preciso se conclui qu
ajustá-lo a nã
haja
Ill'nhum interesse em conhecê-lo. Muito pelo contrário,
,Iv é norma que deve servir de base todos os nossos Llciocínios práticos. Nessas condições, nã se tem mais o
52
AS REGRAS DO MÉTODO
SOG1OLÓGICO
direito de dizer qu ciência e a arte nã
53
IJ1S77NÇ'ÀO ENTRE NORMAL E PATOLÓGICO
pensamento é inútil à ação. Entre a existe mais um abismo, mas se passa de um outra se solução de continuidade. A ciência, é verdade, só pode descer ao fatos po intermédio da arte, senão prolongamento da ciência. Po ma a arte nã
algum estado externo. Além do mais, e mesmo qu esse critério fosse realmente distintivo do estado de saúde, ele próprio teria necessidade de outro critério para poder se
de-se também perguntar se
qu
última nã
insuficiência prática desta
deverá diminuir, ã medida qu
as leis qu ela estabelece exprimam cada vez mais completamente a rea lidade individual.
reconhecido; pois seria preciso, em todo caso, que nos dissessem de acordo com que princípio se pode decidir
tal modo de se adaptar é mais perfeito qu outro. Será de acordo com maneira como um outro afe tam nossas chances de sobrevivência? A saúde seria o es
tado de um organismo em qu scu máximo, enquanto
Vulgarmente, o sofrimento é visto como indicador certo que, em geral, existe entre esses dois fatos um relação, ma qu carece de constância de pre cisão. Há graves diáteses que são indolores, ao passo qu da doença, e
perturbações sem importância, como as qu
resultam da
introdução de um grão de poeira no olho, causam um verdadeiro suplício. Em certos casos, inclusive, a ausência de dor ou ainda
prazer
qu
sã
os sintomas da doen
ça. Há uma certa invulnerabilidade qu é patológica. Em circunstâncias na quais um homem sã sofreria, acontece ao neurastênico experimentar uma sensação de gozo cuja natureza mórbida
incontestável. incontestável. Inversam ente,
dor
acompanha muitos estados, como a fome, a fadiga, o parsão fenômenos puramente fisiológicos.
to, qu
Diremos qu mento favorável da
saúde, consistindo nu
desenvolvi
forças vitais, se reconhece pela pcrfeita adaptação do organismo se meio, e chamaremos, ao contrário, doença tudo que perturba essa a d a p t a \ . ' ; \ ( ) ~ Mas em primeiro lugar adiante teremos de voltar a de modo nenhum está demonstrado que ('a. esse ponto da estado do organismo esteja em correspondência COIl1
essas chances estão em
doença seria tudo
qu
tem por
d d t o diminuí-las. Não há dúvida, de fato, de qu em ge doença tem realmente po conseqüência um enfra r;d quecimento do organismo. Só qu el nã é única produzir esse resultado. As funções de reprodução, em ('crtas espécies inferiores, ocasionam fatalmente morte (', mesmo nas espécies mais elevadas, comportam riscos. os N<) entanto elas sã normais. A velhice e a infância tê velho e IlIcsmos efeitos; pois criança estão mais ex 1)( )stos ãs causas de destruição. São eles, então, doentes nã se o adulto? Eis o se admitirá outro tipo são da fisiologia singularmente encolhi domínio da saúde 1<)1 Aliás, se a velhice já for, po si só, um doença, como distinguir o velho saudável do velho doentio? Do mesmo mto de vista, será preciso classificar a menstruação en tl'l' os fenômenos mórbidos; pois, pelas perturbações qu 'I crmina, ela aumenta a receptividade da mulher doen V;l. Entretanto, como qualificar de doentio um estado cuja ,1\I.'>t'ncia ou desaparecimento prematuro constituem in , "I1ll'stavelmente um fenômeno patológico? Raciocina-se ~ " I )rl' essa questão como se, num organismo sadio, cada d<'l;tlhe, po assim dizer, tivesse um papel útil a desempe111); como se cada estado interno correspondesse exata uma condição externa e, po conseguinte, contriIIl<'l1tl' parte, o equilíbrio vital e a 111 IIS.'>l' para assegurar, po su
54
AS
REGRAS
redução das chances de morte. trário, qu
nã
DO
MirrODO
SOCIOLÓGICO
legítimo supor, ao con
certas disposiçôes anatômicas ou funcionais
servem diretamente para nada, mas simplesmente sã
porque são, porque não podem deixar de ser, dadas as condiçôes gerais da vida. Não se poderia no entanto qua
lificá-las de mórbidas; pois doença é, antes de tudo, al go evitável que não está implicado na constituição regular do ser vivo. Ora, pode acontecer que, em ve de fortale ce organismo, tais disposiçôes disposiçôes diminuam su força de resistência e, conseqüentemente, aumentem os riscos
mortais. Por outro lado, sempre
ão
seguro qu
doença tenha
resultado em função do qual se quer defini-la.
Acaso nã
há uma série de afecções demasiado leves para
inf1uência sensível sobre as bases vitais do organismo? Mesmo entre as mais graves, há algumas cujas conseqüências nada tê de deplorável, se soubermos lutar contra elas co as armas de qu dis qu
possamos atribuir-lhes um
pomos. Quem sofre de problemas gástricos, ma segue homem sadio. um bo dieta, pode viver tanto quanto
Claro qu
obrigado a ter cuidados; ma
nã
somos todos
obrigados a isso, e acaso pode a vida manter-se de outro modo? Cada um de nós tem sua higiene; a do doente não se assemelha ãquela praticada pela média dos homens de
se
tempo
ele se
meio; mas essa é
única diferença
existe entre eles elesse ponto de vista. A eloença ne estado ele inadapta çã irremeeliável; ela apenas nos obriga adaptar-nos de modo diferente do da maior parte de nossos semelhantes. Quem no eliz, inclusive, qu não existem doenças qu acabam po se mostrar úteis? A varíola qu no inocula qu
sempre nos deixa elesamparados, nu
mos através da vacina
um
verdadeira doença que no
damos voluntariamente; no entanto el
aumenta nossas
chances ele sobrevivência. Talvez haja muitos outros casos
/ J/STlNÇ'ÀO El"TRE NORMAL E PATOLÓGICO L'l11
qu
55
problema causado pela doença é insignificante
as imunidades qu ela confere. Enfim, e sobretudo, esse critério é na maioria da ve zes inaplicável. Pode-se muito be estabelecer, a rigor, (Iue a mortalidade mais baixa qu se conhece encontra-se ('m determinado grupo de indivíduos; ma nã se pode
comparado co
dcmonstrar que não pnderia haver outra mais baixa.
<)uem no diz que não sã possíveis outras disposiçôes (Iue teriam po efeito diminuí-la ainda mais? Esse mínimo portanto prova de um perfeita adaptação, (IL' fato nã !lem, po conseguinte, um indicador seguro do estado de . ~ : I ú d e , . ~ se : I ú nos d e ,
basearmos na definição precedente. Além
( I i s . ~ o , ( I um i s . ~ o , gmpo
dessa natureza
muito difícil de se cons
tituir e de se isolar de todos os outros, como seria necessá I'i( l, para qu
dl' qu
se pudesse observar
ele tem o privilégio e qu
~ l l p e r i o r i e l a d e . ~ l Inversamente, l p e r i o r i e l a d e .
se
constituição orgânica
é
suposta causa dessa
óbvio, quando se trata
(k' um doença cujo desdobramento geralmente mortal, ' l l I l ' as probabilidades de sobrevivência do indivíduo sã Ililllinuídas, a prova singularmente difícil quando a afec I.;!(
nã
de natureza
ocasionar diretamente
morte.
( >111 efeito, só há uma maneira objetiva de provar qu
in
divíduos situados em condições definidas têm menos demonstrar que, de 11:lI1ces de sobreviver qu outros: maior parte deles vive menos tempo. Ora, se essa LII(),
freqüentemente possível nos casos de ,I, )1 '11,,'as puramente individuais, ela é inteiramente imprati-
dl'lllonstração
1,1\'(,1 em sociologia. Pois aqui nã
ponto de refetemos número da biólogo, saber, '1ll'ia de que dispôe IIII >I't:didade média. Não sabemos sequer distinguir co 1'\,ltid:l0 simplesmente aproximada em que momento nas11
11' Ill11a sociedade I ' . ~ . ~ ( ' S
em que momento el
morre. Todos
problemas que, mesmo em biologia, estão longe de
1,,1.11' claramente resolvidos, permanecem ainda, para o so-
56
AS
REGRAS DO M f n O D O SOG1OLÓGICO
ciólogo, envoltos em mistério. Aliás, os acontecimentos
que se produzem no curso da vida social e qu
se repetem
por vantagens que não se percebem. Além do mais, há
;Ipenas uma razão qu
mais ou menos identicamente em todas as sociedades do mesmo tipo são demasiadamente variados para qu seja
perturbar
possível determinar em que medida um deles pode te
~ l '
desenlace final. Quando se
contribuído para apressar
trata de indivíduos, como eles sã muito numerosos, po de-se escolher aqueles qu sã comparados de maneira qu
tenham em comum apenas uma única
mesma 'ano
malia'; "esta é assim isolada de todos os fenômenos con comitantes c, portanto, pode-se estudar natureza de su influência sobre organismo". Se, po exemplo, um gru po de mil reumáticos, tomados ao acaso, apresenta uma mortalidade sensivelmente superior à média, há boas razôes para atribuir esse resultado diátese reumática. Mas, em sociologia, como cada espécie social conta apenas um pe queno número de indivíduos, o campo das comparaçôes demasiado restrito para " ' q u e agrupamentos desse gênero possam se demonstrativos"'.
Ora, na falta dessa prova de fato, nada mais é possí vel senão raciocínios dedutivos cujas conclusôes só po de te valor de conjeturas subjetivas. Demonstrar-se-á, não que tal acontecimento enfraquece efetivamente o or ganismo social, ma qu el deve ter esse efeito. Para is so, mostrar-se-á qu el nã pode deixar de ocasionar es ta ou aquela conseqüência qu se julga nociva à socieda de e, po esse motivo, ele será declarado mórbido. Mas mesmo supondo qu
el
qüência, pode ocorrer qu
engendre de fato essa conse os inconvenientes que esta
apresente sejam compensados,
at
mais do qu
isso,
"doença" (R.P., p. '582,) Frase que nào tlgura no texto inicial. inicial. "que se possa proceder agmpamentos desse gênero". (R.I'" p. '582,) *.
57
/ J/Sl1NÇ'ÀO ENTRE NORMAL E PATOLÓGICO
V:I supõe IH
permitiria chamá-la de funesta: ela desempenho normal das funçôes. Mas tal pro possível problema já resolvido; pois ela só
determinarmos previamente em que consiste mnal e, portanto, se soubermos sob qu
sinal el
estado
pode
reconhecido. Tentar-se-á construí-lo integralmente
~ l ' l '
/u'jori? Nà
necessário mostrar
q u e p o d e valer ta
"mstrução. Eis como, tanto em sociologia como em histó
riJ, os mesmos acontecimentos podem vir a se qualifica
,I, lS,
conforme os sentimentos pessoais do estudioso, de
todo mo Assim, acontece . ~ : i l l l t a r e s . ~ ou : i l l de l t a r e desastrosos. s 11Il'nto que um teórico incrédulo assinale, no restos de fé 'Illl' sobrevivem em meio ao desmoronamento geral da
'Tl'nçaS religiosas, um fenômeno mórbido, enquanto, para incredulidade mesma qu hoje ,) crente, é grande ,I, ll'nça social. Do mesmo modo, para o socialista, a orga "i/.ação econômica atual um fato de teratologia social, , I ' ) pJSSO que, para economista ortodoxo, as tendências '" >l'ialistas é qu são, po excelência, patológicas. E cada 11111
encontra em apoio de sua opinião silogismos
")Ilsidera be
ue
construídos.
erro comum dessas definições é querer atingir pre
mlluramente 111')
essência do
fenômenos. Elas supõem co-
Jdmitidas proposições que, verdadeiras ou não, só
a ciência já estiver suficientemeno caso, porém, de nos conformarmos à re de pretendermos ~ 1 . 1 l'stabelecida anteriormente. Em ve d,'ll'I'lllinar de saída as relações do estado normal de as forças vitais, busquemos simples',,'li contrário co 1I\t'lIll' algum sinal exterior, imediatamente perceptível, III,IS ()hjetivo, qu no permita distinguir uma da outra es ~ , I . ~ dllas ordens de fatos. 1)( )( 1l'111 ser provadas se 1<'
:Ivançada.
58
AS REGRAS DO MÉTOIJO SOC'!OLÓGICO
Todo fenômeno sociológico, assim como, de resto, todo fenômeno biológico,
é suscetível
formas
de assumir
diferentes conforme os casos, embora permaneça essen
cialmente ele próprio. Ora, essas formas podem se
de
duas espécies. Umas sã
gerais
pécie; elas se
se não em todos os indivíduos,
verificam,
pelo menos
em toda
e,
deles
se
identicamente em todos os casos no variam de um sujeito
ma
extensão da
es
se repetem
quais se observam,
outro, essas variações estão
limites muito próximos. Há outras, ao contrário, qu são excepcionais; elas não apenas se verificam só na minoria, mas também acontece que, lá mesmo onde elas se produzem, muito freqüentemente
compreendidas entre
/ J/S77iVçÀO ENTRF NORMAL
59
PA10lé)GICO
distinguir as espécies sociais umas das outras tratamos mais adiante questão sempre possível descobrir (IUal a forma mais geral qu apresenta um fenômeno nu ma espécie determinada. Vê-se qu um fato só pode se qualificado de patoló gico em relação um espécie dada. As condições da . ~ ; ! ú d e da doença não podem se definidas in ahstractu (' de maneira absoluta. A regra nã contestada em bio qu I( >gia; jamais ocorreu alguém qu normal para IIIll molusco o também para um vertebrado. Cada espé ('iL' te
su
saúde, porque tem seu tipo médio qu
lh
Elas são uma exce Estamos, pois, em presença de duas variedades distintas de fenCm1enos qu devem ser designadas or termos diferentes. Chamaremos normais os fatos qu apresentam as formas mais gerais daremos aos outros nome de mórbidos ou patológicos. Se concordarmos em chamar tipo médio se esquemáti
Ilr(>prio, e a saúde da espécies mais baixas nã menor (Ille a da mais elevadas. mesmo princípio aplica-se ~ ( > c i o l o g i a , embora freqüentemente el seja ignorado aí. Ilreciso renunciar esse hábito, ainda muito difundido, de Illigar um instituição, um prática, uma máxima moral, 11110 se elas fossem boas ou má em si mesmas po si IllVsmas, para todos os tipos sociais indistintamente. Visto qu ponto de referência em relação ao qual . ~ l ' pode julgar o estado de saúde ou de doença varia co
co qu
, I ~
a vida
nã
duram toda
çã
tanto no tempo como no espaçol.
do indivíduo.
constituiríamos ao reunir nu
mesmo todo, numa
espécie de individualidade abstrata, os caracteres mais freqüentes na espécie com suas formas mais freqüentes, poderemos dizer qu
tipo normal se confunde com
o ti
po médio qu todo desvio em relação esse padrào da um fenômeno mórbido. tipo saúde verdade que médio nã poderia se determinado co mesma clareza constitutivos que um tipo individual, já qu seus atributos constitutivos nã
estão absolutamente
variar. el
Todavia
possa se
ciência; pois o fisiologista co
fixados,
ma
sã
suscetíveis de
que nào se pode pôr em dúvida
constituído,
já
qu
é
ele se confunde com
estuda são
as funções é diferente.
qu
matéria imediata da tipo genérico.
qu
do organismo médio, qu
se sabe
espécies, ele pode variar também para uma única
IIll'sma espécie, se esta vier mudar. assim que, do normal para 1)( >11 to de vista puramente biológico, o qu I) s('\vagem ne para o civilizado, e vice-ver sempre o impor ~ , I ' . Há sobretudo uma ordem de variações qu I.1l1le levar em conta, porque elas se produzem regular Illl'nle em todas as espécies: são aquelas relacionadas Ill;lde. A saúde do velho nã é adulto, assim como
l'sl:l nã é da criança; e o mesmo ocorre co as socie d,ldL's'. Um fato social não pode portanto se dito normal nã se em rela ,11':1 um espécie social determinada, um fase, igualmente determinada, de seu desen ~ , I ( > "Illvimento; em conseqüência, para saber se el te direi II 1:1 L'ssa denominação, nã basta observar sob que forma
60
AS
ele
REGRAS DO MÉTODO S0G10LÓGICO
se apresenta na generalidade das sociedades qu
a essa espécie; é preciso também te considerá-las na fase correspondente de su Parece qu
definição
um
per
cuidado de
tencem
evolução.
acabamos de proceder simplesmente de
palavras;
mais fizemos
pois nada
senão
suas di assim formados. Mas,
agrupar fenômenos segundo suas semelhanças
ferenças e
impor nomes aos grupos
em realidade, os conceitos qu tempo que tê po
grande vantagem de ser reconhecíveis
caracteres
objetivos e facilmente perceptíveis,
afastam da noção que se te doença. Com
constituímos, ao mesmo
efeito,
nã
é
nã
comumente da saúde
se
da
po todo
doença concebid
natureza do se vivo mundo como um acidente, qu certamente comporta, mas nã costuma engendrar? É o qu os antigos filósofos exprimiam ao dizer qu ela nã deriva da natureza das coisas, qu el é produto de uma espécie de contingência imanente ao organismos. Tal concepção, seguramente, é negação de toda ciência; pois saúde;
Só
qu
doença não possui nada mais miraculoso qu igualmente fundada na natureza dos seres.
ela está nã
está fundada na natureza
normal; nã seres, ne
im ligada
está
plicada no temperamento ordinário do
às
condiçôes de existência da quais eles geralmente de tipo da pendem. Inversamente, para todo mundo, saúde se confunde co se po espécie. Inclusive nã da de se contradição, conceber uma espécie que, po si mesma em virtude de su constituição fundamental, fos se irremediavelmente doente.
cia e,
Ela é a
norma po
portanto, nada de anormal poderia
conter.
excelên
verdade que, correntemente, entende-se também po
saúde um estado geralmente
preferível à
doença. Mas
essa definição está contida na precedente. De caracteres
cuja
reunião forma
fato,
se
os
tipo normal puderam
se
generalizar numa espécie, há um
razão para
isso.
EsslI
J/S17NÇ'À
generalidade
ela mesma um
de ser explicado
()ra,
el
61
ENTRE NORMAL E PA TOLÓGICO
fato
qu
te
necessidade
que, para tanto, reclama um
causa.
seria inexplicável se as formas de organização
difundidas não fossem também, pelo menos em seu ,()}zjunto, as mais vantajosas. Como teriam elas podido se Illanter numa tã grande variedade de circunstâncias, se 11;10 capacitassem os indivíduos a resistir melhor às causas (k- destruição? Ao contrário, se as outras são mais raras, é ('videntemente porque, na média dos casos, os indivíduos ( l l I l ' as representam têm mais dificuldade de sobreviver. A "';Iior freqüência das primeiras é portanto prova de su I I l ~ L Í S
~ I I
perioridade
11
Essa última observação fornece inclusive um meio de ( ('!ltrolar os resultados do precedente método. lJma ve qu a generalidade, qu caracteriza exterior111('nte os fenômenos normais, é ela própria um fenômeno ('''plicável, compete, depois qu ela foi diretamente esta I" 'Il'cida pela observação, procurar explicá-la. Certamente 1)( Illcmos estar seguros de antemão de que ela tem um saber co , I I I . ~ ; I , mas o melhor precisão qual é essa cau '"I (:, J!l1 efeito, o caráter normal do fenômeno será mais II\(, 11ltestável se demonstrarmos qu o sinal exterior qu puramente aparente, mas II.IVI:I revelado a princípio nã fundado na natureza das '01111 coisas; em um palavra, se 1'11' Il'rll1os erigir essa normalidade de fato em normalidade di' direito. Essa demonstração, de resto, ne sempre con ~ h t l f ' ; 1 ctn mostrar qu fenômeno é útil ao organismo, qu este seja o caso mais freqüente, pelas razões ,11".1:1 '1"(' :1l':lhamos de mencionar; ma pode ocorrer também, 111111' assinalamos mais acima, qu um disposição seja
62
AS
normal se
servir
REGRAS
MÍ<.Tono SOCiOLÓGICO SOCiOLÓGICO
nada, simplesmente porque está ne
cessariamente implicada na natureza do ser. Assim, talvez
fosse útil qu
parto nã
violen impossível. Em
causasse problemas tã
ao organismo feminino; mas isso normalidade do fenômeno será explicada pelo simples fato de estar ligada às condições de existên cia da espécie considerada, seja como um efeito mecanica to
conseqüência,
mente necessário dessas condições, seja como um meio qu
permite aos organismos adaptarem-se a elas".
Essa prova nã
simplesmente útil a título de cem
trole. Convém não esquecer, com efeito, que, se há inte resse em distinguir
co
normal do anormal,
sobretudo
vistas a esclarecer a prática. Ora, para agir co
co
qu devemos nhecimento de causa não basta saber querer, ma po qu devemos. As proposições científi
cas, relativas ao estado normal, serão mais imediatamente aplicáveis aos casos particulares quando estiverem acom panhadas de suas razões; pois então saberemos reconhe cer melhor em que casos convém modificá-las, ao aplicá las, e em qu sentido. Há inclusive circunstâncias em qu essa verificação é rigorosamente necessária, porque
primeiro método, se
fosse empregado sozinho, poderia induzir a erro. acontece nos períodos de transição em que teira está em vi
de evoluir, se
qu
espécie in
estar ainda definitiva
mente fixada em um
po normal qu fatos é
forma nova. Nesse caso, o único ti se encontra desde já realizado dado no
do passado; no entanto el
nã
está mais em
as novas condições de existência. Um fato pode assim persistir em toda extensão de um espécie, embora nã mais corresponda às exigências da situação. Nesse caso, portanto, ele só tem as aparências da normali senão um rótu dade; generalidade qu apresenta nã lo mentiroso, posto que, mantendo-se apenas pela força harmonia co
DiS7JNÇ'ÀO FJViRE FJViRE NORMAL E PATO LÓGICO cega do hábito, ela nã
é mais o indicador de que
63 fenCJ-
meno observado está intimamente ligado às condiç()es
gerais da existência coletiva. Essa dificuldade, aliás, é es pecífica à sociologia. Ela nã existe', po assim dizer, para biólogo. Com efeito, é muito raro qu as espécies ani mais ~ ; e j a m obrigadas tomar formas imprevistas. As úni cas modificaçôes normais pelas quais elas passam sã aquelas qu
se reproduzem regularmente em cada indiví
a int1uência da idade. Portanto se realizaram numa grande quantidade de casos; em vista disso se pode saber, a cada momento do desenvolvimento do animal, e estado mesmo no períodos de crise, em que consiste normal. O mesmo acontece em sociologia em relação às duo, principalmente so
elas sà
conhecidas ou podem sê-lo, já qu
. ~ o c i e d a d e s
que pertencem às espécies inferiores. Como
muitas delas já cumpriram toda
sua carreira, a lei de sua
estabeleci da. Mas, quando se trata das sociedades mais elevadas mais recentes, essa lei é desconhecida po definição, já (ILle elas ainda nã percorreram toda su história. O so ciúlogo pode, assim, te dificuldades para saber se um fe Il<)meno é normal ou não, estando privado de qualquer 1)( lllto de referência. Ele sairá da dificuldade procedendo como acabamos .](' dizer. Após tcr estabelecido pela observação qu o fa determinaram I, l' geral, el remontará às condições qu procurará saber, a seguir, , · . ~ . ~ a generalidade no passado ',(' lais condições ainda se verificam no presente ou ao ")Illr;üio, se alteraram. No primeiro caso, el terá o direi I' til' qualificar o fenômeno de normal e, no segundo, de 1I'(IISar-lhe esse caráter. Por exemplo, para saber se o esausên 1.1\ I,) l'Conômico atual dos povos europeus, com qu normal é su característica, 1.1 (1(' organizaçã0 ori1111 Ilao, investigar-se-á aquilo que, no passado, de l'volução normal está ou pelo menos pode se
64
AS REGRAS DO MÉTODO S0C10LÓGICO
ge
a ele. Se essas condições são ainda aquelas nas quais
se encontram atualmente nossas sociedades, situação é normal, a despeito do
porque
provoca. Se, ao contrário, verificar-se qu ela está ligada a essa ve lha estrutura social qu qualificamos alhures de segmen tar ossatura essencial das socieda que, após ter sido des, vai-se apagando cada vez mais, deveremos concluir qu ela constitui presentemente um estado mórbido, po mais universal qu seja. mesmo méto de acordo co do que deverão ser resolvidas todas as questões contro versas desse gênero, como as de saher se enfraqueci protestos qu
desenvolvimento mento das crenças religiosas ou se dos poderes do Estado são fenômenos normais ou nã
Contudo, esse método não poderia, em caso nenhum, precedente, precedente, nem mesmo se empregado pri começar porque ele levanta questões que tere meiro. suhstituir
mo
de examinar adiante
qu
só podem ser ahordadas
essa utilidade. Portanto só podemos servir-nos desse mé todo se o tipo normal estiver constituído, e isso somente possível po outro procedimento. Enfim, e sobretudo, se verdade qu tudo condição qu normal é útil, co de se necessário, é falso qu tudo qu é útil seja nor mal. Podemos ter certeza de que os estados qu se gene ralizaram na espécie sã mais úteis do que os qu perma neceram excepcionais, ma
tatada
os resultados
importante que, desde
início da pesquisa, se possam classificar os fatos em nor mais
anormais, ressalvando-se alguns casos excepcio
nais, a fim de poder atribuir à fisiologia e à patologia os respectivos domínios. Em seguida,
em relação ao tipo
normal que um fato deve ser considerado útil ou necessá rio para poder ele próprio ser qualificado de normal. Caso doença se confun contrário, poder-se-ia demonstrar qu de com saúde, já qu ela deriva necessariamente do or
apenas com organismo médio qu mesma relação. Do mesmo modo, nã mantém aplicação de um remédio, sendo útil ao doente, poderia ser vista como um fenômeno normal, quando é evidente-, mente anormal, pois só em circunstâncias anormais tem ganismo afetado;
el
os mais úteis
foram tentadas no curso da experiência e, entre aquelas ja mais realizadas, mas concebíveis, talvez muitas sejam mais vantajosas qu as qu conhecemos. noção de útil exce de de normal; ela está para esta assim como gênero es tá para a espécie. Ora, é impossível deduzir o mais do me nos, a espécie do gênero. Mas pode-se encontrar gênero na espécie, já qu esta o contém. Po isso, um vez cons
plica, em suma, um
causas ou suas funções. Ora,
não de qu
existem ou que podem existir. Não temos nenhuma razão para acreditar qu todas as combinações possíveis
qu
quando a ciência já avançou suficientemente; pois ele im
explicação quase completa dos fenô menos, na medida em que supõe sejam determinadas suas
65
mS77Nç'ÀO ENTRE NORMAL NORMAL E PATOLÓG ICO
generalidade
fenômeno, podem-se confirmar
primeiro método, mostrando como el
serve') Podemos assim formular as três regras seguintes: 1) Um fato social é normal para um tipo social deter minado, considerado numa fase determinada de seu de senvolvimento, quando ele se produz na média das socie dades dessa espécie, consideradas na fase correspondente de sua evolução. 2) Os resultados resultados do método precedente podem ser veri ficados mostrando-se mostrando-se qu a generalidade do fenômeno se deve ãs condições gerais da vida coletiva no tipo social considerado. 3) Essa verificação é necessária quando esse fato se relaciona a um espécie social qu ainda não consumou sua evolução integral.
66
AS REGRAS DO MÉTODO
SOC70LcJGICO
minalidadc. Esta
II
muda de
forma,
dos não são os mesmos em toda
Estamos tão habituados
essas
resolver com uma palavra
difíceis e a decidir rapidamente, a partir de e base de silogismos, se um fato social é normal ou não, qu esse procedimento talvez vá questões
observações sumárias
ser considerado inutilmente complicado. Não parece pre
dar-se tanto trabalho para distinguir a doença da saú de Acaso nã fazemos diariamente distinções desse tipo? verdade; ma resta saber se as fazemos devidamente. qu nos mascara as dificuldades desses problemas qu vemos biólogo resolvê-los co relativa facilidade. Mas muito mais fácil para ele do qu para esquecemos que sociólogo perceber como cada fenômeno afeta a força de resistência do organismo co isso determinar se ca ciso
67
f)JSl1NÇ'ÃO bNTRE NORMAL E PATOLcJGICO os atos assim
parte; mas,
qualifica
sempre
em
parte, houve homens qu se conduziram de maneira a atrair sobre si a repressão penal. Se pelo menos, à medi da qu as sociedades passam dos tipos inferiores ao mais elevados, o índice de criminalidade criminalidade isto é, a relação relação en tre o número anual do crimes e o da população tendes se a diminuir, poder-se-ia supor que, embora permaneça um fenômeno normal, o crime tende, no entanto, a perder esse caráter. Mas nã temos razão nenhuma que nos per mita acreditar na realidade dessa regressão. Muitos fatos toda
pareceriam antes demonstrar
existência de um movi
julgamentos contraditórios feito sobre mes diferentes partidos. Para mostrar be quanto essa cautela é necessária, façamos ver, po alguns exemplos, em qu erros se incorre quando el nã é res sob que luz nova os fenômenos mais essenciais peitada
mento no sentido inverso. Desde começo do século, l'statística no fornece o meio de acompanhar marcha da criminalidade; ora, po toda parte ela aumentou. Na Fran de cerca de 300 po cento. Nã há por <.;a, aumento tanto fenômeno qu apresente da maneira mais irrecusá vel todos os sintomas da normalidade, qu ele se mostra intimamente ligado às condições de toda vida coletiva. Fa zer do crime uma doença social seria admitir qu doença algo acidental, mas, ao contrário, deriva, em certos nà casos, da constituição fundamental do se vivo; seria apa gar toda distinção entre o fisiológico e o patológico. Certa
aparecem quando sã
mente pode ocorrer qu
ráter normal ou anormal co
suficiente. Em sociologia, a
um
exatidão praticamente
complexidade
maiores dos fatos obrigam
e
mobilidade
muitas precauções, como
provam os
mo fenômeno po
Se
há um
testável,
é
fato
tratados metodicamente.
cujo caráter patológico parece incon
crime. Todos os criminologistas estão de
Ainda qu expliquem essa morbidez diferentes, eles são unânimes em reconhecê
acordo nesse ponto.
de maneiras
la. O
problema, porém, deveria se
tratado com menos
presteza.
Apliquemos,
co efeito, as regras precedentes. O cri me não se observa apenas na maior parte das sociedades
desta ou daquela todos
os tipos.
espécie,
ma
em todas
Não há nenhuma onde nã
as
anormais;
;Itinge qu
esse excesso
efeito, duvidoso, co mórbida. O qu nor qu haja um criminalidade, contanto ultrapasse, para cada tipo social, cer nã seja impossível fixar de acordo
seja
mal é simplesmente (Iue esta atinja e nã t() nível qu
('om as regras
talvez
de natureza
precedentes 10.
Eis-nos em presença de uma conclusão, aparente
IIIl'nte,
um
qllanto
cri-
acontece quando, por exemplo, el
qu
um índice exagerado. Nã
sociedades de
exista
é
próprio crime tenha formas
bastante paradoxal. Pois nã
a ela. Classificar o
devemos iludir-nos
crime entre os fenômenos de
68
AS
REGRAS DO MÉTODO SOC!OLÓGICO
não apenas dizer qu ele um fenôsociologia normal meno inevitável ainda qu lastimável, devido à incorrigível maldade dos homens; é afirmar qu el um fator da saúde pública, uma parte integrante de toda sociedade sadia. Esse resultado, à primeira vista, é bastante surpreen dente para qu
tenha desconcertado
nós próprios
po
muito tempo. Entretanto, um
ve
ra impressão de surpresa, nã
é difícil encontrar as razões
qu
dominada essa primei-
explicam essa normalidade e, ao mesmo tempo,
confirmam. Em primeiro lugar, o crime é normal porque um
sociedade que dele estivesse isenta seria inteiramente impossível. O crime, conforme mostramos alhures, consiste nu at um
qu
ofende certos sentimentos coletivos dotados de
energia e de um
clareza particulares. Para que, numa
até então lhes eram mais refratários. Para qu nos desapareçam,
preciso qu
se recrutam os assassinos; mas, para tanto, é preciso qu
el
se torne maior em toda
produzir esse resultado; pois um sentimento mostra-se muito mais respeitável quando el
mente respeitado. Mas nã
qu possuíam at então. preciso que comunidade como um todo os sinta co mais ardor; pois eles nã podem obter outra fonte
força maior
lhes permite
aos indivíduos
uniforme
fortes da consciência comum nã podem se assim reforos estados mais fracos, cuja violação dava antes origem apenas a faltas puramente morais, sejam igualmente reforçados; pois os segundos são apenas prolongamento, a forma atenuada dos primeiros. Assim, o
roubo e único
simples indelicadeza não ofendem senão um mesmo sentimento altruísta: o respeito
do de modo mais fraco po
uma intensidade superior
sempre
se percebe que esses estados
çados sem qu
deixar de se cometidos, seria preciso qu
para conter os sentimentos contrários. Ora, supondo que essa condição pudesse efetivamente se realizada, nem por isso o crime desapareceria, ele simplesmente mudaria de forma; pois causa mesma qu esgotaria assim as fontes da criminalidade abriria imediatamente novas. efeito, para qu os sentimentos coletivos prote Co gidos pelo direito penal de um povo, nu momento de terminado de su história, consigam penetrar na consciências qu lhes eram então fechadas ou te mais influência lá onde não tinham bastante, preciso qu eles adquiram
extensão da sociedade. Aliás,
ausência mesma do crime contribuiria diretamente para
dade de outrem. Só qu
os sentimentos
os assassi-
horror do sangue der
ramado torne-se maior naquelas camadas sociais em que
sociedade dada, os atos reputados criminosos pudessem qu eles ferem se verificassem em todas as consciências individuais sem exceção co grau de força necessário
69
lJISTTNÇÀO ENJ'RE NORil1AL E PATOLÓGICO
proprie
esse mesmo sentimento é ofendi-
um desses atos do que pelo
como, além disso, ele não tem na média das consciências uma intensidade suficiente para sentir viva-
outro;
mente
mais leve dessas duas ofensas, esta será objeto
de uma maior tolerância. Eis por que se censura simplesmente o indelicado, ao passo qu
ladrão
punido. Mas
mesmo sentimento tornar-se mais forte, a ponto de fazer calar em todas as consciências aquilo qu inclina o homem ao roubo, el se tornará mais sensível às lesões que, at então, apenas tocavam levemente; ele reagirá portanto co mais firmeza contra elas; tais lesões serão ()bjeto de um reprovação mais enérgica qu fará passar :tlgumas delas, de simples faltas morais qu eram, ao estado de crimes. Po exemplo, os contratos indelicados ou se
indelicadamente executados, qu
implicam apenas uma
reprovação pública ou reparações civis, se tornarão deli-
(os. Imaginem uma sociedade de
um
70
AS
exemplar
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO SOCIOLÓGICO
perfeito. Os crimes propriamente ditos nela
serão desconhecidos; mas as faltas que parecem veniais ao vulgo causarão
mesmo escândalo qu
produz o deli
to ordinário nas consciências ordinárias. Portanto, se essa
sociedade estiver armada do poder de julgar
de punir,
qualificará esses atos de criminosos os tratará como homem honesto julga suas tais. pela mesma razão qu
el
menores fraquezas morais com uma severidade qu multidão reserva aos atos verdadeiramente delituosos.
DIS'J1NÇÀO DIS'J1NÇÀO ENTRE NORMAL E PATOLÓG ICO
nula. Assim, como não pode haver sociedade em que os indivíduos nã divirjam em maior ou menor grau do tipo coletivo, é também inevitável que, entre essas divergências, haja algumas qu apresentem um caráter criminoso. Pois qu
confere
intrínseca, ma
elas esse caráter nã
qu
lhes atribui
sua importância
consciência comum.
Se esta é mais forte, se te
suficiente autoridade para tor na essas divergências muito fracas em valor absoluto, ela será também mais sensível, mais exigente, e, reagindo energia qu
Outrora, as violências contra as pessoas eram mais fre
contra os menores desvios co
respeito pela dignidade qüentes do qu hoje, porque individual era menor. Como este aumentou, esses crimes
atribuir-lhes a mesma gravidade, ou seja, irá marcá-los co
mais
muitos atos
qu lesavam esse sentimento entraram no direito penal, no qual primitivamente nã constavam ll Talvez se pergunte, para esgotar todas as hipóteses
logicamente possíveis, por que essa unanimidade não se todos os sentimentos coletivos se
estenderia
exceção;
po qu mesmo os mais fracos nã adquiririam suficiente energia para prevenir qualquer dissidência. A consciência moral da sociedade se manifestaria os indivíduos
di
todo at
or inteiro em todos
com uma vitalidade suficiente para impe
qu
ofendesse, tanto as faltas puramente
morais como os crimes. Mas uma uniformidade tão uni versal
tão absoluta
radicalmente impossível; pois
meio físico imediato no qual cada um de nós se encontra, os antecendentes hereditários, as influências sociais de
que dependemos variam de um indivíduo
.conseguinte, diversificam as consciências. Nã qu
outro e, po possível
todos se assemelhem nesse ponto, pela simples razão
de que cada um te
se
organismo próprio,
esses orga
nismos ocupam porções diferentes do espaço. Por isso, mesmo nos povos inferiores, nos quais dividual
originalidade in
muito pouco desenvolvida, ela nã
chega
se
manifesta
alhures apenas contra dissidências mais consideráveis, irá
mo criminosos.
O crime é portanto necessário; ele está ligado ãs con isso mes solidário são mo é útil; pois as condições de que el elas mesmas indispensáveis evolução normal da moral
dições fundamentais de toda vida social e, po
do direito. De fato, nã
possível hoje contestar que não
apenas o direito e a moral variam de um tipo social a ou
tro, como também mudam em relação um mesmo tipo, se as condições da existência coletiva se modificam. Mas, para qu essas transformações sejam possíveis, é preciso qu os sentimentos coletivos qu estão na base da moral nã
sejam refratários
mudança, qu
tenham, portanto,
apenas uma energia moderada. Se fossem demasiado for
tes, deixariam de se plásticos. Todo arranjo, co efeito, é um novo arranjo, e isso tanto mais quanto um obstáculo mais sólido for o arranjo primitivo. Quanto mais fortemen te pronunciada for um estrutura, mais resistência el opo rá qualquer modificação, e isso vale tanto para os arran jos funcionais como para os anatômicos. Ora, se nã hou vesse crimes, essa condição nã seria preenchida; pois tal hipótese supõe que os sentimentos coletivos teriam chega-
72 do
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
um grau de intensidade sem exemplo na história. Na
medida. preciso qu autoridade qu a consciência moral possui nã seja exces siva; caso contrário, ninguém ousaria contestá-la muito facilmente ela se cristalizaria numa forma imutável. Para qu el possa evoluir, é preciso qu a originalidade indivi dual possa vir à luz; ora, para qu do idealista qu sonha do superar seu século possa se manifestar, é preciso qu criminoso, qu está abaixo de seu tempo, seja possível. Uma nã existe se a outra. da
bo
indefinidamente
se
nã é tudo. Além dessa utilidade indireta, o próprio crime pode desempenhar um papel útil nessa evolução. Não apenas ele implica qu caminho permanece aberto às mudanças necessárias, como também, em certos casos, prepara diretamente essas mudanças. Não apenas, lá on de el existe, os sentimentos coletivos encontram-se no estado de maleabilidade necessário para adquirir um for ma nova, como ele também contribui às vezes para pre forma qu esses sentimentos irão tomar. determinar efeito, o crime nã senão uma an Quantas vezes, co tecipação da moral po vir, um encaminhamento em dire çã ao qu será! De acordo com direito ateniense, Só crates er um criminoso sua condenação simplesmente justa. No entanto seu crime, a saber, a independência de
útil, não somente humanidade, ma su pátria. Pois el servia para preparar uma moral um fé novas, das quais os atenienses tinham então ne cessidade, porque as tradições segundo as quais tinham vivido at então nã mais estavam em harmonia com suas seu pensamento, er
condições de existência. Ora,
caso de Sócrates nã
isolado; ele se reproduz periodicamente na história. A li berdade de pensar que desfrutamos atualmente jamais proibiam poderia ter sido proclamada se as regras qu nã
tivessem sido violadas antes de serem solenemente
73
mS77Nç'ÃO FNTRE NORMAL NORMAL E PA7DLÓG ICO
abolidas. Entretanto, naquele momento, essa violação er um crime, já qu era uma ofensa a sentimentos ainda mui to fortes na generalidade das consciências. Todavia esse crime er útil, pois preludiava transformações que, di após dia, tornavam-se mais necessárias. A livre filosofia teve po precursores os heréticos de todo tipo qu o bra ço secular justamente perseguiu durante toda Idade Mé dia, at as vésperas dos tempos contemporâneos. Desse ponto de vista, os fatos fundamentais da crimi nologia apresentam-se nós sob um aspecto de todo no criminoso nã vo. Contrariamente às idéias correntes, mais aparece como um se radicalmente insociável, como uma espécie de elemento parasitário, corpo estranho
inassimilável, introduzido no seio da sociedade 12 ele é um agente regular da vida social. O crime, po su vez, nã deve mais ser concebido como um mal qu nã possa ser contido dentro de limites demasiado estreitos; mas, longe de haver motivo para nos felicitarmos quando lh ocorre descer muito sensivelmente abaixo do nível ordinário, po demos estar certos de qu
esse progresso aparente
ao
mesmo tempo contemporâneo e solidário de alguma per turbação social. Assim, o número de agressões
de feri
mentos jamais cai tanto como em tempos de penúria!:l. Ao
po via indireta, a teoria da pena se mos mesmo tempo tra renovada, ou melhor, po renovar. Co efeito, se o cri me um doença, pena não pode se seu remédio concebida de outro modo; assim, todas as discussões qu suscita tê po objeto saber qu el deve ser para cumprir seu papel de remédio. Mas, se o crime nada tem de mórbido, pena não poderia te po objeto curá-lo e . ~ l l a verdadeira função deve se buscada em outra parte. Portanto as regras precedentemente enunciadas estão longe de terem como única razão de ser UlIl
satisfação de
formalismo lógico sem grande utilidade, um
ve
que,
74
AS
REGRAS DO MÉTODO SOC70LÓGICO SOC70LÓGICO
ao contrário, conforme as apliquemos ou não, os fatos so ciais mais essenciais mudam totalmente de caráter. Se es se exemplo, aliás, é particularmente demonstrativo po isso julgamos qu er preciso no determos nele há muitos outros qu poderiam se utilmente citados. Nã existe sociedade na qual nã seja de regra qu pena de ve ser proporcional ao delito; entretanto, para escola italiana, esse princípio nã passa de um invenção de ju ristas, desprovida de qualquer solidez14 Inclusive, para esses criminologistas, é a instituição penal inteira, tal co mo funcionou até o presente em todos os povos conheci dos, qu um fenômeno antinatural. Já vimos que, para sr. Garofalo, a criminalidade específica às sociedades infe riores nada te de natural. Para os socialistas, é a organi zação capitalista, apesar de sua generalidade, qu consti tui um desvio do estado normal, produzido pela violência e o artifício. Para Spencer, ao contrário, nossa centrali zação administrativa, é a extensão do poderes governa mentais o vício radical de nossas sociedades, e isso apesar de ambas progredirem de maneira mais regular e univer sal à medida qu avançamos na história. Não cremos qu em nenhum desses casos se aceite como critério sistemáti co decidir do caráter normal ou anorma.l do fatos sociais com base no grau de generalidade deles. sempre à for ça de muita dialética qu essas questões são decididas. Entretanto, não respeitado esse critério, incorre-se nã somente em confusões em erros parciais, como os qu acabamos de lembrar, ma ciência mesma torna-se impossível. Co efeito, esta te po objeto imediato o es tudo do tipo normal; ora, se os fatos mais gerais podem tipo normal jamais tenha se mórbidos, possível qu existido no fatos. Sendo assim, de qu serve estudá-los? Eles podem apenas confirmar confirmar nossos preconceitos en raizar nossos erros, já qu deles resultam. Se a pena, se
/ J/ST/iVÇÀO ENTRE NORMAL E PA TOLÓGICO
75
responsabilidade, tais como existem na história, não são senão um produto da ignorância da barbárie, de qu Jdianta dedicar-se conhecê-Ias para determinar suas for ma normais? Assim, o espírito levado afastar-se de uma realidade desde então sem interesse, voltando-se so hre si mesmo buscando dentro de si os materiais neces . ~ j r i o s para reconstruí-Ia. Para qu sociologia trate os fa los como coisas, é preciso qu sociólogo sinta a neces sidade de aprender com eles. Ora, como objeto princi pal de toda ciência da vida, tanto individual como social, C" em suma, definir estado normal, explicá-lo e distin gui-lo de se contrário, se normalidade nà acontecer na coisas mesmas, se ao contrário, ela fo um caráter qu imprimimos desde fora nestas ou que lhes recusamos po razões quaisquer, acaba-se essa salutar dependência. () espírito se acha vontade diante do real, qu nada de lh ensinar; el nã mais é conti muito importante te do pela matéria qual se aplica, uma vez qu é ele, de certo modo, qu determina. As diferentes regras qu es tabelecemos até o presente são portanto intimamente soli (brias. Para qu sociologia seja realmente um ciência de coisas, preciso qu generalidade dos fenômenos normalidade. . ~ L ' j a tomada como critério de su Nosso método, aliás, te vantagem de regular ao tempo que : I ~ . · à o mesmo pensamento. Se o desejável IÜ objeto de observaçào, ma pode deve ser determi nado po uma espécie de cálculo mental, nenhum limite, po assim dizer, pode ser imposto às livres invenções da imaginação em busca do melhor. Pois, como atribuir à per I'('ic,;ào um termo qu ela nã pode ultrapassar? Ela escapa, po definição, a qualquer limite. O objetivo da humanidade' rl'l'ua portanto ao infinito, desencorajando un po se :ll'astamento mesmo, estimulando apaixonando outros qllL', para dele se aproximar um pouco, aceleram passo
76
AS
REGRAS DO Mi'TO[)O SOCIOLÓGICO SOCIOLÓGICO
se precipitam na revoluções. Escapamos desse dilema prá tico se o desejável for a saúde, se saúde for algo de de finido e de dado na coisas, pois termo do esforço é da do e definido ao mesmo tempo. Nào se trata mais de per seguir desesperadamente um fim qu se afasta à medida um regular perse qu avançamos, ma de trabalhar co estado normal, para restabelecê-lo verança para manter se for perturbado, para redescohrir suas condições se elas vierem a mudar. O dever do homem de Estado nà é mais impelir violentamente as sociedades para um ideal qu lhe parece sedutor, mas seu papel é do médico: ele previne a eclosào das doenças mediante uma hoa higiene e, quan do estas se manifestam, procura curá-Iasl';.
CAPÍTULO
IV
REGRAS RELATIVAS DO TIPOS SOCIAIS
Visto
qu
um
fato social
CONSTITUIÇÃO
só pode se
normal ou de anormal em relação
qualificado de
uma espécie social
determinada, qu precede implica que um ramo da so ciologia é dedicado à constituição dessas espécies e su classificação. Essa noção de espécie social tem, aliás, a grande van tagem de nos fornecer um meio-termo entre as duas con cepções contrárias da vida coletiva que por muito tempo dividiram os espíritos: refiro-me ao nominalismo dos his toriadores ao realismo extremo dos filósofos. Para historiador, as sociedades constituem individualidades he terogêneas, incomparáveis entre si. Cada povo tem sua fisionomia, su constituição específica, se direito, sua mo raI, su organização econõmica qu convêm só a ele, e toda generalização praticamente impossível. Para o filó sofo, ao contrário, todos esses agrupamentos particulares, qu chamamos trihos, cidades, nações, nã sã mais qu
comhinações contingentes
própria.
Apenas
humanidade
provisórias se
é real e é
do
realidade
atributos ge-
78
AS
RHGRAS DO MATaDO SOCIOLÓGICO
rais da natureza humana qu decorre toda evolução so cial. Para os primeiros, portanto, história nã senão uma seqüência de acontecimentos qu
se encadeiam sem.
se reproduzir; para os segundos, esses mesmos aconteci mentos só tê gerais qu
valor
interesse como ilustração da
estão inscritas na constituição do homem
dominam todo
leis qu
desenvolvimento histórico. Para aqueles,
para uma sociedade nã poderia aplicar-se às outras. As condições estado de saúde variam de um
qu
povo
bo
outro
não podem se
determinadas teoricamen
te; é uma questão de prática, de experiência, de tentati vas. Para os outros, essas condições podem se calculadas de uma vez po
todas
para
gênero humano inteiro.
Parecia, portanto, qu realidade social ou seria o objeto de um filosofia abstrata e vaga, ou de monografias pura mente descritivas. Mas escapamos essa alternativa tã multidão confusa das so logo reconhecemos que, entre ciedades históricas e o conceito único, ma ideal, da hu manidade, existem intermediários: sã as espécies sociais. Na idéia de espécie, co efeito, acham-se reunidas tanto unidade que toda pesquisa verdadeiramente científica exige, como diversidade qu dada nos fatos, já qu espécie é mesma em todos os indivíduos que 'dela fa parte' e, po outro lado, as espécies diferem entre si. ze Continua sendo verdade qu as instituições morais, jurídi cas, econômicas, etc. sã infinitamente variáveis, ma es sas variações nã sã de natureza nã permitir nenhu ma apreensão pelo pensamento científico.
Foi po ter desconhecido a existência de espécies so ciais qu Comte julgou poder representar progresso das sociedades humanas como idêntico ao de um povo único "ao qual seriam idealmente referidas todas as modificações "a
encarnam" ( R P , p. 599.)
NEGRAS NEGRAS RELA'llVAS À CONS77TU lç:40
DO
77POS SOCIAIS
79
consecutivas observadas nas populações distintas"2. que, de fato, se existe apenas um única espécie social, as socie dades particulares nã podem diferir entre si nã ser em graus, conforme apresentem mais ou menos completa mente os traços constitutivos dessa espécie única, confor
me 'exprimam' mais ou menos perfeitamente humanida de. Se, ao contrário, existem tipos sociais qualitativamente distintos uns dos outros, nã se poderá fazer qu eles se unam exatamente como as seções homogêneas de um re la geométrica, po mais qu os aproximemos. desenvol vimento histórico perde deste modo unidade ideal e sim plista qu lhe atribuíam; el se fragmenta, po assim dizer, numa infinidade de pedaços que, po diferirem especifica mente uns do outros, não poderiam ligar-se de maneira contínua.
famosa metáfora de Pascal, retomada depois
po Comte, mostra-se assim desprovida de verdade.
Mas como fazer para constituir tais espécies?
primeira vista, pode parecer que nã
haja outra
Illaneira de proceder senão estudar cada sociedade em particular, fazer dela uma monografia tão exata
tã
possível, a seguir comparar todas essas Illonografias entre si, ve em que ponto elas concordam ( ' 1 1 1 qu ponto divergem e, então, conforme importância n'lativa dessas similitudes dessas divergências, classifi
(.( lmpleta quanto
(';If
os povos em grupos semelhantes ou diferentes. Em
.I!)()io a esse método, faz-se notar qu ele só é admissível Illlma ciência de observação espécie, co efeito, é n ' . ~ l I m o do indivíduos; portanto, como constituí-Ia se não • "encarnem" ( R P , p. 599.)
80
AS
REGRAS
MÉ'TOnO SOCIOLÓGICO
se começa por descrever cada um deles
inteiramente? Acaso
nã
um
regra a
se ao geral após se ter observado
po
descrevê-lo elevar
de somente particular
todo
particular? Foi po essa razão qu se quis às vezes adiar sociologia até um época indefinidamente remota, em qu a história, no estudo qu realiza das sociedades particula res, terá chegado a resultados suficientemente objetivos e definidos para poderem se proveitosamente comparados. Mas, em realidade, essa cautela só aparentemente científica. É inexato, co efeito, qu a ciência só possa ins tituir leis após te passado em revista todos os fatos qu elas exprimem, ou só formar gêneros após ter descrito, descrito, em qu compreendem. su integralidade, os indivíduos eles verdadeiro método experimental tende, antes, a substituir a condi os fatos vulgares - qu só são demonstrativos co çã de serem numerosos que, portanto, permitem apenas po fatos decisivos ou cruconclusões sempre suspeitas ciais, como dizia Bacon-\ que, po si mesmos indepen dentemente de se número, têm um valor um interesse científicos. sobretudo necessário proceder deste modo quando se trata de constituir gêneros e espécies. Pois fazer o inventário de todas as características de um indivíduo um infinito e o um problema insolúvel. Todo indivíduo infinito nã pode ser esgotado. Iremos nos ater às proprie dades mais essenciais? Mas co base em que princípio fa remos a triagem? Para isso é preciso um critério qu supere o indivíduo e qu as monografias mais bem-feitas não po deriam, portanto, no fornecer. Mesmo sem levar as coisas esse rigor, pode-se prever que, quanto mais numerosos os caracteres qu mais
difícil
servirão de base
será qu
classificação, tanto
as diversas maneiras como eles se
casos particulares apresentem semelhanças claras e diferenças bastante nítidas para permitir a constituição de gmpos subgmpos definidos. combinam nos bastante
REGRAS RElA1lVAS À CONS77TUlÇÀO
Mas
81
77POS SOCIAIS
classificação fosse possível co um classificação ela teria o grande defeito de nã pres ta os serviços qu são sua razão de ser. Co efeito, ela deve, antes de tudo, ter po objeto abreviar o trabalho cien tífico ao substituir a multiplicidade indefinida dos indiví duos por um número restrito de tipos. Mas ela perde essa vantagem se esses tipos só forem constituídos após todos os indivíduos terem sido passados em revista e analisados inteiramente. Um tal classificação nã facilitará muito pesquisa, se nã fizer mais qu resumir as pesquisas já fei tas. Ela só será verdadeiramente útil se nos permitir classi classi ficar outros caracteres qu nã aqueles qu lhe servem de base, se nos proporcionar quadros para os fatos futuros. Seu papel é de nos munir de pontos de referência ao ainda qu
base nesse método,
quais possamos relacionar outras observações qu aquelas qu
no
nã
forneceram esses próprios pontos de
r e ~
ferência. Mas, para isso, é preciso qu ela seja feita, nã partir de um inventário completo de todos os caracteres partir de um pequeno número deles, individuais, ma cuidadosamente escolhidos. Nessas condições, el nã
servirá
conheci outros. Ela poupa r:l muitos passos ao observador, porque irá guiá-lo. Assim, lima vez estabelecida a classificação sobre esse princípio, para saber se um fato é geral numa espécie, nã será ne cessário te observado todas as sociedades dessa espécie; algumas serão suficientes. Inclusive, em muitos casos, bas tará somente uma observação bem-feita, assim como um vxperiência be conduzida é suficiente, muitas vezes, pa estabelecimento de um lei. ra Devemos portanto escolher para nossa classificação ('aracteres ('aracteres parti cularmente essenciais. essenciais. verdade que não se 1)( lde conhecê-los a não ser qu a explicação do fatos es Ivia suficientemente avançada. Essas duas partes da ciência apenas para pôr um pouco de ordem nos
mentos já
obtidos; servirá
para produzir
82
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
solidárias e progridem uma através da outra. No entan to, mesmo se avançar muito no estudo dos fatos, nã difícil conjeturar onde preciso buscar as propriedades ca racterísticas do tipos sociais, Sabemos, co efeito, qu as sociedades sã compostas de partes reunidas umas às ou tras. Já qu a natureza de toda resultante depende necessa sã
riamente da natureza, do número dos elementos compo nentes
de se
modo de combinação, esses caracteres sã
devemos tomar po base, e ve efeito, qu deles que dependem os fatos gerais da vida social. Po outro lado, como eles sã de ordem morfológica, poderíamos chamar Mm/ologia soevidentemente aqueles qu
remos a seguir, co
cial
parte da sociologia qu
te
po
tarefa constituir
classificar os tipos sociais. Pode-se inclusive precisar ainda mais dessa classificação, Sabe-se, co
princípio
efeito, qu
as partes
constitutivas de qu formada toda sociedade são socie formado pela dades mais simples do que ela. Um povo de reunião precederam, Por dois ou vários povos que tanto, se conhecêssemos
sociedade mais simples qu
até hoje existiu, precisaríamos apenas, para fazer nossa classificação, seguir
maneira como essa sociedade se
compõe consigo mesma
como seus compostos se com
põem entre si.
II
Spencer compreendeu muito bem que a classificação
tipos sociais nã podia ter outro fundamento, "Vimos, diz ele, qu evolução social começa or pequenos agregados simples; qu ela progride pela união metódica do
de alguns desses agregados em agregados maiores
após se consolidarem, esses grupos se unem co
que, outros
'UX ;RAS HEIA 77VAS À CON Sl1171!ÇÀO
DO
83
77POS SOCIAIS
eles para formar agregados ainda maiores,
, ~ v m e l h a n t e s
Nossa classificação deve portanto começar po sociedades da primeira ordem, isto é, da mais simples,"!] Infelizmente, para pô esse princípio em prática, seria qu se entenpreciso começar po definir co precisão Iv po sociedade simples, Ora, essa definição, não apenas ,'ipencer nã a dá, como também considera mais ou me qu en nos impossívelS. simplicidade, tal como el Icnde, consiste essencialmente numa certa rudeza de orga nização. Ora, nã é fácil dizer co exatidão em que 1110tllento a organização social é suficientemente rudimentar para se qualificada de simples; é um questão de aprecia Assim, a fórmula qu ele oferece tã vaga qu ce)il v0m a todo tipo de sociedades, "Nada de melhor temos Lizer, diz ele, do qu considerar como sociedade simples :Iquela qu forma um todo não subordinado outro e cu j:ls partes cooperam com ou sem centro regulador, tendo vista certos fins de interesse público,"() Mas há muitos l'm
povos qu
satisfazem
essa condição. Disso resulta qu
l-lc confunde, um pouco ao acaso, so (':1,
qu
essa mesma rubri
todas as sociedades menos civilizadas, Imagine-se
pode ser, co
semelhante ponto de partida,
resto
classificação. Vemos aproximadas nela, na mais es p:lntosa confusão, as sociedades mais diversas: os gregos IH lméricos postos ao lado dos feudos do século X e abaixo dos bechuanas, dos zulus do fijianos, a confederação :tll'niense ao lado dos feudos da França do século XIII e .")aixo do iroqueses do araucanos.
ll('
su
palavra simplicidade só te , ~ i g n i f i c a r um , ~ i l 1 l p l e s ,
sentido definido se
ausência completa de partes, Por sociedade
portanto, deve-se entender toda sociedade qu
tl:lO encerra outras, mais simples do que ela; .Ipenas está atualmente reduzida
IlIas também qu
ue
ão
um segmento único,
não apresenta nenhum traço de um
84
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
horda,
tal como definimos alhures corresponde exatamente a essa definição. Trata se de um agregado qu nã compreende e jamais com preendeu em se seio nenhum outro agregado mais ele mentar, mas qu se decompõe imediatamente em indiví grupo total, gru duos. Estes nã formam, no interior po especiais e diferentes do precedente; eles se justapõem segmentação anterior.
maneira de átomos. Concebe-se que não possa haver sociedade mais simples; esse é
protoplasma do reino
social e, conseqüentemente, base natural de toda classi ficaçào. verdade qu talvez nà exista sociedade histórica qu corresponda exatamente a essa identificação; mas, tal como mostramos no livro já citado, conhecemos um quantidade delas qu sã formadas, imediatamente se po outro intermediário, um repetição de hordas. Quan do horda se torna, assim, um segmento social em ve de se sociedade inteira, ela chama-se clã; ma conserva efeito, é um os mesmos traços constitutivos. O clã, co agregado social qu não se decompõe em nenhum outro, mais restrito. Poderão talvez assinalar que, geralmente, lá onde observamos hoje, el encerra um pluralidade de famílias particulares. Mas, em primeiro lugar, po razões que não podemos desenvolver aqui, cremos qu a forma çã desses pequenos grupos familiares posterior ao clã; além disso, essas famílias nã constituem, para falar co exatidão, segmentos sociais porque elas nã sã divisões políticas. Onde quer que encontremos, o clã constitui a última divisão desse gênero. Em conseqüência, ainda qu nã tivéssemos outros fatos para postular a existência da e eles eles exist existem, em, como teremos a· ocasião de expor horda um di -, a existência do clã, isto é, de sociedades forma da po uma reunião de hordas, no autoriza a supor que houve primeiramente sociedades mais simples qu se re-
85
NRGRAS RELAT iVAS À CONSTiTTTI CONSTiTTTIÇ'ÀO Ç'ÀO DO TiPOS SOOAIS duziam
horda propriamente dita e a fazer desta
tronco
de onde saíram todas as espécies sociais. Uma vez estabelecida essa noção de horda ou socie dade de segmento único
j a e l concebida como uma
realidade histórica ou como um postulado da ciência
tem-se o ponto de apoio necessário para construir a esca la completa do tipos sociais. Iremos distinguir tantos ti pos fundamentais quantas maneiras houver, para
de se combinar consigo mesma dando origem
horda, socieda
des novas, e, para estas, de se combinarem entre si. En contraremos primeiramente agregados formados por uma
simples repetição de hordas ou de clãs (para dar-lhes se novo nome), se qu esses clãs estejam associados entre si de maneira grupos entre po total que compreende cada um deles. Eles todos estão simplesmente justapostos como os indivíduos da horda. Encontram-se exemplos dessas sociedades, qu
polissegmentares simples, em cer australianas. O arch, ou tribo da Ca
poderiam ser chamadas
tas tribos iroquesas e Ilília, te mesmo caráter; trata-se de um reunião de d;ls fixados em forma de aldeias. Muito provavelmente, houve um momento na história em que cúria romana ;1 fratria ateniense eram sociedades desse gênero. Acima \'iriam as sociedades formadas po uma reunião de socie (!aLies da espécie precedente, isto é, as sociedades polis,'(',f!,mentares simplesmente composta compostas, s, Tal é o caráter da ('( lnfederação iroquesa, daquela formada pela reunião das trihos cabilas; o mesmo aconteceu na origem, co cada IlllIa da três tribos primitivas cuja associação de origem, cidade romana. Encontraríamos seguir as 111;lis tarde,
,,,ciedades polissegmentare
1 < ' , ~ l I l t a m
duplamente
compostas,
qu
da justaposição ou da fusão de várias sociedades
I.1 issegmentares simplesmente compostas,
,i,lade, agregado de tribos, qu
sã
caso da
elas próprias agrega-
86 do
AS RHGRAS DO MÉTO[)O SOCWLÓGlCO
de cúrias, que, po
su
vez, se decompôem em gentes
ou clãs, e da tribo germânica, co
seus condados, que se
subdividem em centenas, os quais, or su vez, tê unidade última o clã transformado em aldeia. Não precisamos desenvolver ne
essas poucas indicaçôes, já qu
nã
po
levar mais adiante
é
caso de efetuar
classificação das sociedades. Esse é um proble ma demasiado complexo para poder se tratado assim, de aqui um
passagem; el longas
supôe, ao contrário, todo um conjunto de
especiais pesquisas. Quisemos apenas, por al
guns exemplos, precisar as idéias ser aplicado
mostrar como deve
princípio do método. Inclusive nã
veria considerar
se de
classifi cação completa das sociedades inferiores. Simplificamos um pouco as coisas para maior clareza. Supusemos, co efeito, qu cada tipo superior era formado po uma repe tição de sociedades de um mesmo tipo, a saber, do tipo imediatamente inferior. Ora, nã impossível qu socie diferentes ní dades de espécies diferentes, situadas veis da árvore genealógica do tipos sociais, se reúnam de maneira formar uma espécie nova. Sabe-se de pelo me que precede como sendo um
no um caso: Império romano, qu compreendia em se interior povos das mais diversas naturezasH.
Mas, um ve constituídos esses tipos, será preciso distinguir em cada um deles variedades diferentes, confor me as sociedades segmentares, qu servem para formar a sociedade resultante, conservem uma certa individualida de, ou então, ao contrário, sejam absorvidas na massa to tal. Compreende-se, co efeito, qu os fenômenos sociais natureza do elemen devem variar, nã apenas segundo tos componentes, ma segundo se modo de composição; eles devem sobretudo ser muito diferentes, conforme cada um dos grupos parciais conserve sua vida local ou sejam todos arrastados na vida geral, isto é, conforme estejam
!(f!(;RAS RHfA 71VAS À CONS7171JfÇ'ÀO DOS
71POS
SOCIAfS
87
mais ou menos estreitamente concentrados. Deveremos portanto investigar se, num momento qualquer, se produz uma coalescência completa desses segmentos. Reconhece remos qu ela ocorre se composição original da socieda de não mais afetar sua organização administrativa e políti ca. Desse ponto de vista, a cidade distingue-se nitidamente ba das tribos germânicas. Nestas últimas, a organização se de clãs se manteve, embora apagada, até término de sua história, ao passo que, em Roma, em Atenas, as gentes divisôes políticas l' as yÉvll deixaram muito cedo de se para se tornarem agrupamentos privados. No interior dos lineamentos assim constituídos, po
der-se-á buscar introduzir novas distinçôes a partir do ca racteres morfológicos secundários. Entretanto, po razoes qu
daremos mais adiante, nã
julgamos muito possível
superar com proveito as divisoes gerais qu se
indicadas. Além disso, nã
acabam de
precisamos entrar nesses
detalhes, bastando-nos ter estabelecido
princípio de
classificação qu pode se assim enunciado: Começar-se-á I)()r c l a s s ~ f i c a r as sociedades de acordo co grau de cumposiçào que elas apresentam, tomando po base a so
ciedade p e ~ f e i t a m e n t e p simples e ~ f e i t a ou m e n de t e segmento único; no illterior dessas dessas classes classes,, dis tinguir -se-ào var iedad es diferen um coalescência com /es conforme se produza ou nà li/ela dos segmentos iniciais.
II
Essas regras respondem implicitamente a um questão (Iue o leitor talvez se tenha colocado ao nos ver falar de es11L'cies sociais como se elas existissem, se termos direta lIlente estabelecido su existência. Essa prova está contida 11<) princípio mesmo do método qu acaba de se exposto.
88
AS
Acabamos de
eram
mais
qu
ver,
co
REGRAS DO M f T O D O SOClOLÓGICO
efeito,
qu
as
sociedades não
combinações diferentes de uma mesma
/(/;'GRAS RELA 11 VAS À CONSrrTlJIç'Ào DO 1JPOS SOCIAIS qu
as
sociedades geradoras, porque estas
combinarem, dã
única sociedade original. Ora, um mesmo elemento só
Somente
pode compor-se consigo mesmo,
geração po
le
resultam só podem, po
sua
gundo um número de modos
os compostos qu de vez, compor-se entre si, se limitado, sobretudo quando
os elementos componentes sã
é
caso dos segmentos
possíveis
portanto finita e, po pelo menos, deve se
conseguinte,
maior
repetir. Do que se con clui qu há espécies sociais, possível, aliás, qu algumas dessas combinações se produzam apenas uma vez, Isso não impede que haja espécies, Apenas se dirá, nesse ca so, qu espécie tem somente um indivíduo Há portanto espécies sociais pela mesma razão qu existem espécies em biologia, Estas, co efeito, devem-se ao fato de os organismos nã serem senão combinações variadas de uma mesma unidade anatômica. Há todavia, desse ponto de vista, uma grande diferença entre os dois reinos. Pois, entre os animais, um fator especial confere aos caracteres específicos um força de resistência qu os outros nã têm: é a geração. Os primeiros, po serem co muns toda linhagem dos ascendentes, estão be mais fortemente enraizados no organismo. Portanto eles nã se deixam facilmente afetar pela ação do meios individuais, ma se mantêm idênticos a si mesmos, apesar da diversi dade da circunstâncias exteriores. Há um força interna qu os fixa a despeito das solicitações para variar qu po de vir de fora: a força do hábitos hereditários. Po isso parte
delas,
sociais,
pouco numerosos, como A gama de combinações
eles sã
claramente definidos
podem ser determinados
precisão. No reino social, falta-lhes essa causa inter na. Os caracteres nã podem se reforçados pela geração, porque duram apenas um geração. É de regra, co efei to, qu as sociedades engendradas sejam de outra espécie co
paração
origem
últimas,
ao se
arranjos inteiramente novos.
colonização poderia ser comparada germinação; mesmo
seja exata, é
89
preciso qu
assim,
para qu
um com
grupo de colonos nã
se misture com uma sociedade de outra espécie ou de
distintivos
da espécie nã recebem portanto da hereditariedade um acréscimo de
outra variedade. Os atributos
força
qu
lhe permita resistir às variações individuais.
I·:les se modificam
das
se matizam ao infinito so
ação
quando se quer
de
circunstâncias; assim,
pois de afastadas todas as variantes qu
co
atingi-los,
os encobrem,
freqüência se obtém apenas um resíduo bastante
in
determinado. Essa indeterminação cresce naturalmente Unto mais quanto maior for a complexidade complexidade dos caracte
res; pois,
qu
quanto
mais
complexa uma
coisa, mais as
partes
compõem podem formar combinações diferentes. tipo social específico, para além dos result qu
I )isso l'aracteres mais gerais e mais simples, nã lornos tã definidos como em biologia 10,
apresenta con
CAPÍTULO V
REGRAS RELATIVAS EXPLICAÇÀO DOS FATOS SOCIAIS
Mas a
constituição das espécies
antes de tudo um
de fatos facilitar interpretação; interpretação; morfologia social é um encaminhamento para parte real método próprio des mente explicativa da ciência. Qual ta última?
sociólogos acredita ter explicado os mostrou para qu eles servem que papel desempenham. Raciocina-se como se tais fenô nã tives menos só existissem em função desse papel maior parte do
fenômenos uma ve
qu
sem outra causa determinante além do sentimento, claro
confuso, do serviços qu sã chamados a prestar. Por isso julga-se ter dito tudo qu é necessário para torná-los inteligíveis, quando se estabeleceu realidade desses ser viços e se mostrou qu necessidade social eles satisfa zem. Assim Comte reduz toda a força progressiva da espéou
92
cie
AS REGRAS DO MÉTODO SOC70LÓGICO
humana
mente
direta os aspectos
tendência fundamental "que impele
homem
melhorar sempre
so
todos
condiçào, seja ela qual for ", e Spencer, à necessidade de um maior felicidade. É em virtude desse princípio qu ele explica a formação da sociedade pelas vantagens qu resultam da cooperação, a instituição do governo pela uti su
lidade qu
cooperação militar as transformações pelas quais passou a família pela necessi dade de conciliar cada ve mais perfeitamente os interes ses do pais, do filhos e da sociedade. há em regularizar
Mas esse método confunde duas questões muito dife rentes. Mostrar em que um fato é útil nã explicar como qu é. Pois os usos qu el surgiu nem como el é serve supõem as propriedades específicas qu o caracteri zam, ma nã o criam. A necessidade qu temos das coi sas não pode fazer qu elas sejam deste ou daquele jeito essa necessidade qu pode e, conseqüentemente, nã tirá-las do nada conferir-lhes ser. É causas de um outro gênero qu elas devem sua existência. O sentimen to qu temos da utilidade qu elas apresentam pode mui to be no incitar a pôr em ação essas causas e obter os efeitos qu elas implicam, nã a suscitar do nada esses efei tos. Essa proposição evidente quando se trata apenas os fenômenos materiais ou mesmo psicológicos. Ela tampouco seria contestada em sociologia se os fatos so ciais, po causa de sua extrema imaterialidade, nã no parecessem, erradamente, destituídos de toda realidade
intrínseca. 'Como neles se vêem apenas combinações pu mentais, parece qu devem se produzir esponta neamente tão logo os concebemos, desde que os consi deremos úteis.' Mas, visto qu cada um desses fatos um força e essa força domina a nossa, visto qu cada um ramentc
• Frase
que não
figura
no
texto inicial. inicial.
!aX;RAS RELAT7VAS À EXPLICAÇ ÃO DOS FATOS SOCIAIS
Icm
93
é própria, te desejo ou vonta suficiente para conferir-lhes exis também qu forças capazes de produzir
uma natureza qu
lh
de deles nào poderia ser
lência. É preciso essa força determinada,
qu naturezas capazes de produ I.ir essa natureza especial, sejam dadas. Somente em tal condiçào o fato social será possível. Para reanimar o espí rito da família onde ele se acha enfraquecido, nã basta que todos compreendam as vantagens disso; é preciso fa I.cr agir diretamente as causas qu sã as únicas capazes
Para devolver um governo autoridade é necessária, nã basta sentir a necessidade disso; preciso recorrer às únicas fontes de que deriva toda au loridade, ou seja, constituir tradições, um espírito comum, etc., etc.; para tanto, é preciso também remontar mais aci ma na cadeia das causas do efeitos, até se encontrar ação do homem possa se inserir efium ponto em que
de engendrá-lo. que lhe
cazmente.
qu
mostra be
dualidade dessas duas ordens
de pesquisas que um fato pode existir se servir da, seja porque jamais esteve ajustado algum fim
a na vital,
útil, perdeu toda utilidade existir pela simples força do hábito. Co continuou efeito, há be mais sobrevivências na sociedade do que no organismo. Há casos, inclusive, em que uma prática ou uma instituição social mudam de funções sem po is so mudar de natureza. regra is pater est quem justae
seja porque, após ter sido
Iluptiae declarant [é
indicam] permaneceu materialmente em nosso Código, tal como L'xistia no velho direito romano. Mas, se essa regra tinha então por objeto salvaguardar os direitos de propriedade do pai sobre os filhos provenientes da esposa legítima, é antes direito do filhos qu el protege hoje. O jura mento começou por se um espécie de prova judiciária, para tornar-se apenas um forma solene imponente do pa
aquele qu
as
núpcias
94
AS
REGRAS
DO MÉTODO
SOCIOLÓGICO
testemunho. Os dogmas religiosos do cristianismo contipapel qu
nuam os mesmos há séculos; ma
desempe-
é mais o mesassim, ainda, qu as palavras
nham em nossas sociedades modernas nã mo qu
na Idade Média.
servem para exprimir idéias novas se
ra se modifique. De resto,
um
qu
proposição verdadeira
tanto em sociologia como em biologia qu
dependente da função, ou seja, qu ferentes embora permaneça
qu quais el
sa
fazem existir sã
sua contextuórgão é in-
pode servir a fins di-
serve.
cessidades, os desejos dos
as tendências, as ne intervenham,
de maneira ativa, na evolução social. *Ao contrário, certapossível, conforme
maneira como agem
sobre as condiçc)es de que depende um fato, acelerar ou conter
desenvolvimento deste. Só que, além de não po
derem, em caso nenhum, tirar alguma coisa do nada, sua própria intervenção, sejam quais forem os efeitos dela, só
pode ocorrer em virtude de causas eficientes.* De fato, m e s m o nessa medida restrita, um tendência só p o d e concorrer para
produção de um fenômeno novo se ela
própria for nova, quer se tenha constituído a partir de Ze-
ro, quer seja devida alguma transformação um tendência anterior. Pois, a menos qu se postule um harmonia preestabelecida verdadeiramente providencial, nã Sl poderia admitir que, desde a origem, o homem trouxessl' em si, em estado virtual, mas inteiramente prontas para concurso das circunstâncias, t"odas aS despertar co • "Se eles não podem tirar alguma coisa do nada, lhes é possiV\'l, ao agirem sobre as condições de que depende um fato, acell'rar 011 desenvolvimento dele. Só qu essa própria intervenç;lo ocorr'" conter em viItude de causas eficientes." (Revue philosophique, tomo XXXVIII, julho a dl'zembro de 1894, p. 16.)
DOS
95
FATOS SOCIAIS
tendências cuja oportunidade haveria de se fazer sentir na
seqüência da evolução. Ora, uma tendência lima coisa; el
nã
(;a qu , ~ e j a
também
pode portanto se constituir ne
modificar pelo simples fato de a julgarmos útil. tem sua natureza própria; para qu
suscitada ou alterada, nã
basta qu
um
se
for-
essa natureza
nela encontre-
mos alguma vantagem. *Para determinar tais mudanças,
preciso qu
atuem causas qu
as impliquem fisicamente.*
Por exemplo, explicamos os progressos constantes da
mesmo. Portanto, as cau-
independentes dos fins ao
Não queremos dizer, aliás, qu
mente lhes
NEGRAS RELA77VAS RELA77VAS Ã EXPLICAÇÃO
divisão do trabalho social ao mostrar qu eles sã necessáhomem possa se manter nas condições norios para qu vas de existência na quais se vê colocado medida qu :lvança na história; atribuímos portanto essa tendência, qu muito impropriamente chamada de instinto de con, ~ e r v a ç ã o , um papel importante em nossa explicação. Mas, c'!ll primeiro lugar, ela não poderia po si só explicar a especialização, mesmo a mais rudimentar. Pois ela nada po de se as condições de que depende esse fenômeno nã individuais \ ' . ~ t i v e r e m já realizadas, isto é, se as diferenças individuais 11:10 tiverem aumentado suficientemente em conseqüência da indeterminação progressiva da consciência comum Inclusive foi preciso qu a di,!;IS influências hereditárias ,'is:l0 do trabalho já tivesse começado existir para qu sua necessidade se fizesse ~ I U utilidade fosse percebida somente desenvolvimento das divergências in~ \ ' n t i r ; ,Iividuais, ao implicar um maior diversidade de gostos ti" aptidões, haveria necessariamente de produzir esse priIllc'iro resultado. Além disso, nã foi po si mesmo se , ,I lisa qu instinto de conservação veio fecundar esse Ilrilllciro germe de especialização. Se el se orientou no • "Mas é preciso algo be ""l\'ico"
I'
I<>.l
qu
diferente da representação do elas podem prestar para determinar tais mudanças." (RP.,
96
AS
REGRAS
orientou nesse novo caminho,
foi
MÁTODO SOOOLÓGJCO
em primeiro lugar por
fazia seguir anterior mente se viu como qu barrado, pois a intensidade maior da luta, devida maior condensaçào das sociedades, tor no cada ve mais difícil a sobrevivência do indivíduos qu continuavam se dedicar a tarefas gerais, Foi assim necessário mudar de direção. Por outro lado, se esse ins tinto faz um volta e virou principalmente nossa atividade, qu
caminho qu
el
DO
seguia
no
no sentido de uma divisão do trabalho sempre mais de
senvolvida, é porque esse era também sentido da menor resistência. As outras soluções possíveis eram a emigração, o suicídio, o crime. Ora, na média dos casos, os laços qu no ligam a nosso país, à vida, a simpatia qu temos po nossos semelhantes, sã sentimentos mais fortes e mais re sistentes qu os hábitos capazes de nos afastar de um es pecialização mais estreita. São esses últimos portanto qu haveriam necessariamente de ceder cada nova arremeti da. Assim, nã se cai, ne mesmo parcialmente, no fina lismo pelo fato de se aceitar da um lugar às necessidades humanas nas explicações sociológicas. Pois estas só po
ter influência sobre evoluçào social se elas próprias evoluírem, e as mudanças qu elas atravessam só podem se explicadas po causas qu nada têm de final. Mas o qu é mais convincente ainda qu as conside rações qu precedem é a prática mesma dos fatos sociais. Lá onde reina o finalismo, reina também uma contingên cia maior ou menor; pois nã existem fins, e muito menos meios, qu se imponham necessariamente todos os ho mens, ainda qu os suponhamos situados nas mesmas cir cunstâncias. Sendo dado um mesmo ambiente, cada indi el su manei víduo, conforme seu humor, adapta-se ra, qu el prefere qualquer outra. Um procurará modi ficá-lo para colocá-lo em harmonia co suas necessida des; outro preferirá modificar a si mesmo moderar SClJ.'1 de
REGRAS RELATTVAS Ã EXPLICAÇÃO
desejos. Para
DOS rA 70
97
SOOAI)'
objetivo, quantos cami seguidos! Portanto, se fosse verdade qu desenvolvimento histórico se fez em vista de fins claramente ou obscuramente sentidos, os fa tos sociais deveriam apresentar mais infinita infinita diversida qualquer comparaçào haveria de ser quase impossí de, chegar
nhos podem se
vel. Ora,
sã
contrário
um mesmo
efetivamente
qu
verdade. Claro qu
os
exteriores, cuja trama constitui a parte su perficial da vida social, variam de um povo a outro. Mas assim qu cada indivíduo te su história, embora as ba se da organizaçào física e moral sejam as mesmas em to dos. Na verdade, quando entramos um pouco em contato co os fenômenos sociais, surpreendemo-nos, ao contrá qu estes se repro espantosa regularidade co rio, co
acontecimentos
duzem na
mesmas circunstâncias. Mesmo as práticas
mais minuciosas e aparentemente mais pueris repetem-se co a mais espantosa uniformidade. Uma cerimônia nup cial qu parece puramente simbólica, como rapto da noiva, verifica-se exatamente em toda parte em que há
familiar, ligado ele próprio toda uma organi política. Os costumes mais bizarros, como couvade, o levirato, a exogamia, etc., observam-se nos povos mais diversos e sà sintomáticos de certo estado social. O direito de testar aparece numa fase determinada da histó ria e, a partir da restriçôes mais ou menos consideráveis qu o limitam, pode-se dizer em qu momento da evolu ,';10 social nos encontramos. Seria fácil multiplicar os l'xemplos. Ora, essa generalidade da formas coletivas se ria inexplicável se as causas finais tivessem em sociologia preponderância qu se atribui a elas. certo tipo zação
:1
Portanto, quando se procur a explicar um fenômeno' ieial, preciso preciso pesquisar separadamente separadam ente a causa eficiente '11Ie () produz e a função qu ele cumpre, Servimo-nos da SI
p:davra função
de
preferência às palavras fim
ou
objetivo,
98
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
sociais nã existem, resultados úteis qu produzem. qu é preciso determinar se há correspondência entre o fato considerado e as necessidades gerais do organismo social, e em que consiste essa correspondência, se se preocupar em saber se ela foi intencional ou não. aliás, são demasiado subje Todas as questões de intenção, aliás, tivas para poderem ser tratadas cientificamente. Essas duas ordens de problemas nã apenas devem se separadas, mas convém, em geral, tratar a primeira an tes da segunda. Esta ordem, com efeito, corresponde dos fatos. natural investigar a causa de um fenômeno antes precisamente porque os fenômenos
de modo
geral,
tendo em
vista
os
de tentar determinar seus efeitos. Esse método
ainda
mais lógico porquanto a primeira questão, um vez resol vida, ajudará a resolver a segunda. De fato, o laço de soli um caráter de re dariedade qu un causa ao efeito te ciprocidade qu nã foi suficientemente reconhecido. Cer tamente o efeito nã pode existir sem sua causa, ma esta, po su vez, tem necessidade de se efeito. É dela qu efeito tira su energia, ma el também lha restitui eventual mente e, em vista disso, não pode desaparecer sem qu ela disso se ressinta
pena
constitui
coletivos
exemplo,
Po
reação social qu
intensidade do
devida
sentimentos
o crime ofende; mas, po outro lado, ela tem po função útil manter esses sentimentos no mesmo grau de intensidade, pois estes nã tardariam a se debilitar se as qu
ofensas qu
sofrem nã
fossem castigadas
i.
Do mesmo
modo, medida qu meio social torna-se mais complexo mais móvel, as tradições e as crenças estabelecidas sã
mais reflexão
abaladas, adquirem um caráter
mais flexível, e as faculdades
de
indeterminado se
desenvolvem;
mas essas mesmas faculdades são indispensáveis para as sociedades móvel
os
indivíduos
mais complex0
se adaptarem
um meio mais
medida que os homens
sà
I
RELAT7VAS RELAT7VAS À EXPLlC AÇÀO
DOS
FATOS SOCIAIS
99
a fornecer um trabalho mais intenso, os produtos desse trabalho tornam-se mais numerosos de melhor qualidade; ma esses produtos mais abundantes melhores sà necessários para reparar desgaste ocasionado po esse trabalho mais consideráveP. Assim, longe de causa dos fenômenos sociais consistir numa antecipação mental da função qu eles são chamados desempenhar, essa função consiste, ao contrário, pelo menos num bom número de casos, em manter causa preexistente da qual de derivam; 'portanto, descobriremos mais facilmente a primeira se segunda já for conhecida*. Mas, ainda qu só em segundo lugar devamos proceder determinação da função, ela nã deixa de ser necessária para qu explicação do fenômeno seja completa. Com efeito, se a utilidade do fato nã aquilo qu o faz existir, em geral é preciso qu el seja útil para poder se manter. Pois, para se prejudicial, é suficiente qu ele nã obrigados
tenha serventia, um
vez que, nesse caso, ele custa se
algum. Portanto, se generalidade do fenômenos sociais tivesse esse caráter parasitário, o orça mento do organismo estaria em déficit, a vida social seria impossível. Em conseqüência, para proporcionar desta lima compreensão satisfatória, é necessário mostrar como
produzir benefício
()s fenômenos qu
formam sua substância concorrem en
t re si, de maneira colocar sociedade em harmonia co o exterior. Certamente, fórmula consigo mesma
llsual, qu define a vida como uma correspondência entre () meio interno e meio externo, apenas aproximada; !l entanto, ela verdadeira em geral, portanto, para de nã l'Xplicar um fato ordem vital, basta explicar a cau .sa da qual ele depende, preciso também, ao menos na Illaior parte do casos, encontrar parte qu lh cabe no ('stabelecimento dessa harmonia geral. • Frase
que nào
figura
no
texto inicial. inicial.
100
AS
REGRAS DO
MinODO
SOCIOLÓGICO
REGRAS RELAT7 VASÀ EXPLICAÇ'ÀO
101
FATOS SOCIAIS
lado, o progresso depende de um fator exclusipsíquico, a saber, a tendência qu leva o homem desenvolver cada ve mais su natureZa. Os fatos sociais derivariam inclusive tão imediatamente da natureZa hu mana que, nas primeiras fases da história, poderiam se po
II
DOS
outro
vamente
Distinguidas essas duas questões, devemos determi
devem ser resolvidas. é finalista, o método seguido geralmente pelos sociólogos essencialmente psicológiduas sã co. Essas solidárias uma da outra. De tendências senão um sistema de meios insfato, se sociedade nã tituídos pelos homens tendo em vista certos fins, esses fins só podem se individuais; pois, antes da sociedade, não podia haver senào indivíduos. portanto do indivídu qu emanam as idéias e as necessidades qu deter minaram formação da sociedades, e, se dele qu tuna
método pelo qual
Ao
elas
mesmo tempo qu
do procede,
necessariamente po
explicar. Aliás, não cias particulares; é
el
qu
tudo deve se
há nada na sociedade senão consciên
últimas portanto qu se acha social. Po conseguinte, as leis sociológicas só poderão se um corolário da leis mais gerais da psicologia; a explicação suprema da vida coletiva fonte de toda
nestas
evolução
consistirá em mostrar como ela decorre da natureza hu
mana em geral, seja por dedução direta e se observação prévia, seja po associação natureza humana depois de feita a observação. Esses termos são mais ou menos textualmente os qu Augusto Comte utiliza para caracterizar seu método. "Uma vez, diz ele, qu fenômeno social, concebido em totalidade, não é, no fundo, senão um simples desenvolvimento
da humanidade, sem nenhuma criação de faculdades quaisquer, tal como estabeleci anteriormente, todas as
disposições
efetivas qu observação sociológica puder revelar deverão portanto se verificar, pelo
sucessivamente
menos em germe, nesse tipo primordial qu construiu de antemão para dominante da vida
social,
sociologia."8
segundo
ele, é o
biologia
qu
o fato
progresso
l'
diretamente deduzidos sem necessidade de recorrer
servação
possível
verdade que, como Comte reconhece, aplicar esse método dedutivo ao
períodos
ob
é immais
evolução. Mas essa impossibilidade é pura prática. Deve-se ao fato de a distância entre pon partida e o ponto de chegada ser muito grande para
avançados da mente
to
de
qu
guia,
espírito humano, se resolvesse percorrê-la sem nã
corresse
o risco
de se
extraviar 1o Mas a
relação
as leis fundamentais da natureza humana os resultados últimos do progresso não deixa de se analítica. As formas mais complexas da civilização vida sã psíquica desenvolvida. Assim, ainda qu as teorias da psicologia nã sejam suficientes como premissas ao raciocípedra de toque capaz de pro nio sociológico, elas sã var sozinha validade das proposições indutivamente estabelecidas. "Nenhuma lei de sucessão social, diz Comte, indicada pelo método histórico, mesmo co toda auto entre
ridade possível, deverá se
finalmente admitida senão
após te sido racionalmente ligada, de um maneira direta ou indireta, ma sempre incontestável, teoria positiva da natureza humana."ll Portanto
sempre
psicologia qu
terá a última palavra. Tal é igualmente método seguido po Spencer. Segundo ele, os dois fatores primários dos fenômenos sociais sà meio cósmico e a constituição física e moral do indivíduo l2 Ora, primeiro não pode te influência sobre a sociedade não ser através do segundo, qu acaba sendo ;Issim o motor essencial da evolução social. Se a sociedade forma, é para permitir ao indivíduo realizar sua nature-
102
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO SOCIOLÓGICO
za, e todas as transformações pelas quais ela passou nã como único objeto tornar essa realização mais fácil e mais completa. em virtude desse princípio que, antes de tê
proceder
alguma pesquisa sobre
Spencer acreditou dever dedicar todo seus
Princípios de sociologia ao
organização social, primeiro tomo de
estudo do homem primiti
vo físico, emocional e intelectual. "A ciência da sociologia,
diz ele, parte das unidades sociais, submetidas às condições vimos, constituídas física, emocional e intelectualmen te, e de posse de certas idéias cedo adquiridas do senti mentos correspondentes."13 E é nestes dois sentimentos, temor dos vivos e o temor dos mortos, qu el encontra do governo religioso 14 . Ele origem do governo político admite, é verdade, que, um ve formada, a sociedade re age sobre os indivíduosl'í. Mas disso nã se segue qu ela tenha poder de engendrar diretamente menor fato so cial; el nã te eficácia causal desse ponto de vista, a qu
nã
se
po
intermédio das mudanças qu
indivíduo. Portanto
primitiva, seja derivada, qu
qu te
determina no
sempre da natureza humana, seja tudo decorre. Aliás, a ação
corpo social exerce sobre seus membros nada pode de específico, já qu os fins políticos nada sã em si
mesmos, sendo um simples expressão resumida dos fins individuaisló . Ela só pode ser portanto um espécie de re torno da atividade privada a si própria. Sobretudo, nã se percebe em que pode consistir tal ação nas sociedades in dustriais, qu têm precisamente po objeto restituir o indi víduo a si mesmo e seus impulsos naturais, desembara çando-o de toda coerção social. Tal princípio nã está apenas na base dessas grandes doutrinas de sociologia geral; ele inspira igualmente um assim CjUl' número muito grande de teorias particulares.
se explica
qu
organização doméstica pelos sentimento,'! em relação ao filhos e os segundos a( IN
os pais tê
REGRAS RELA77VAS À EXPLICAÇ'ÀO DO FATOS SOCIAIS
103
primeiros; a instituição do casamento, pelas vantagens qu apresenta para os esposos
sua descendência;
pena, pe
la cólera provocada no indivíduo po toda lesão grave seus interesses. Toda a vida econômica, tal como conce e explicam os economistas, sobretudo os da escola be ortodoxa, depende, em última instância, deste f ~ l t o r pura riqueza. Trata-se de explicar mente individual: o desejo a moral? Faz-se dos deveres do indivíduo para consigo base da ética. A religião? Vê-se nela U t l l produto mesmo das impressões qu as grandes forças da natureza ou certas personalidades eminentes despertam no homem, etc., etc. Mas tal método só é aplicável ao fenômenos socioló gicos desnaturando-os. Para te prova disso, basta repor tar-se à definição que demos desses fenômenos. Visto qu sua característica essencial consiste no poder que eles tê de exercer, de fora, uma pressão sobre as consciências in dividuais, conclui-se qu eles nã derivam destas e, po conseguinte,
sociologia nã
um corolário da psicolo
gia. Esse poder coercitivo testemunha *que eles exprimem uma natureza diferente da nossa, uma vez que só pene
tram em nó
pela força ou, pelo menos, pesando mais ou
menos sobre nós*. Se a vida social fosse apenas um pro
longamento do se
individual, nã
veríamos remontar
e invadi-la impetuosamente. Se deste sua :Iutoridade diante da qual se inclina o indivíduo, quando ('ste age, sente ou pensa socialmente, o domina a tal pon to, conclui-se qu el **é um produto de forças qu su peram
(·ar**. Nã
qu
el
nã
poderia, conseqüentemente, expli
dele que pode provir essa pressão exterior
"que eles provêm de algo que não apenas está fora de nós, mas l.illlhém é de um natureza diferente da nossa, já que lhe superior" l U ' " p. 23,) ** "não emana dele, mas é um produto de forças que superam '1'1<', portanto, não podem ser deduzidas dele". dele". (R.P., p. 23.)
104 qu
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
el
le qu
qu se passa dentro de sofre, 'portanto não é pode explicá-la'. verdade qu nâ somos incapa
de coagir
dências, nossos hábitos, até mesmo nossos instintos, e de te se desenvolvimento po um ato de inibiçâo. Mas os co
do
aqueles qu
primeiros
constituem centrífugo;
poderiam ser confundidos coerção social. O
dos segundos, centrípeto.
Uns são elaborados na consciência individual
em seguida a exteriorizar-se; outros sã teriores ao indivíduo
su
desde fora
tendem
primeiramente ex
tendem em seguida
imagem.
processo
modelá-lo
inibição, se quiserem, é
meio pelo qual coerção social produz seus efeitos psí quicos; ela nã é essa coerção.
Ora, descartado o indivíduo, resta apenas
socieda
portanto na natureza da própria sociedade qu
de
se
explicação da vida social. Como ela supera
deve buscar
infinitamente o indivíduo tanto no tempo como no espa ço, concebe-se, com efeito, qu seja capaz de impor-lhe as maneiras de agir
de pensar que consagrou po
autoridade. Essa pressão, sinal distintivo do aquela qu todos exercem sobre cada um
Mas, dirão, visto qu formada
su
fatos sociais,
os únicos elementos de q u ~ q u ~
sociedade são indivíduos,
origem primeir
dos fenômenos sociológicos só pode se psicológica. Racio cinando deste modo, pode-se também facilmente estabele
ce
qu
os fenômenos biológicos se explicam analitica
mente pelos fenômenos inorgânicos. Co
efeito, é bastan te certo qu na célula viva há apenas moléculas de matéria bruta. Só qu estas se encontram ali associadas, e essa as sociação qu é causa dos fenômenos novos qu carac terizam
vida
, Frase qu
cujo germe
impossível descobrir em
nào figura no texto inicial.
105
qualquer um dos elementos associados. Um todo nã soma de suas partes, el
idêntico
alguma outra coisa
cujas propriedades diferem daquelas qu
nós mesmos; podemos conter nossas
movimentos inibidores nã
REGRAS RELA77VASÀ EXPllCAÇÀO DOS FATOS SOCIAIS
partes de que
formado.
acreditou algumas vezes, um fenômeno po
téril, qu
apresentam as
associação nã
é, como se
si mesmo es
consiste simplesmente em colocar em relaçües
exteriores fatos realizados
propriedades constituídas.
Não é ela, ao contrário, a fonte de todas as novidades qu se produziram sucessivament no curso da evolução geral elas coisas? Qu diferenças existem entre os organismos in se vivo organizado e o sim feriores e os demais, entre ples plastídio, entre este e as moléculas inorgânicas qu compõem, senão diferenças de associação? Todos esses
seres, em última análise, decompõem-se em elementos da mesma natureza; mas esses elementos são, aqui, justapos tos, ali, associados; aqui, associados de um maneira, ali, de outra. lícito inclusive perguntar se essa lei não pene tra at mundo mineral, e se as diferenças qu separam os corpos inorganizados nã tê mesma origem. Em virtude desse princípio, simples soma de indivíduos, ma associação deles representa um
sociedade nã
um
sistema formado pela realidade específica qu
tem seus caracteres próprios. Certamente, nada de coletivo
pode se produzir se consciências particulares nã sã da das; ma essa condição necessária nã é suficiente. pre ciso também qu combinadas,
essas consciências estejam associadas,
combinadas de certa maneira; é dessa com
resulta a vida social e, po conseguinte, é essa a explica. Ao se agregarem, ao se pene trarem, ao se fundirem, as almas individuais dã origem um ser, psíquico se quiserem, ma qu constitui um indi-. vidualidade psíquica de um gênero novo l7 Portanto, é na natureza dessa individualidade, não na das unidades com de ponentes, qu se devem buscar as causas próximas
binação qu
combinação qu
106
AS REGRAS DO MÉTODO SOaOLÓGICO
terminantes do
fatos qu
nela se produzem.
grupo
diferente do que o fa riam seus membros, se estivessem isolados. Assim, se par tirmos desses últimos, nada poderemos compreender do qu se passa no grupo. Em um palavra, há entre a psico logia e a sociologia a mesma solução de continuidade qu biologia e as ciências físico-químicas. Em conse entre qüência, toda vez que um fenômeno social é diretamente explicado por um fenômeno psíquico, pode-se ter a certe za de que a explicação é falsa. Responderão talvez que, se sociedade, um vez for mada, de fato a causa próxima dos fenômenos sociais, as causas qu determinaram su formação sã de nature za psicológica. Concedem que, quando os indivíduos es tã associados, su associação pode da origem um vi da nova, mas dirão qu ela só pode ocorrer po razões in dividuais. Todavia, em realidade, po mais longe que se remonte na história, o fato da associação o mais obriga tório de todos; pois el é fonte de todas as outras obri gações. Po me nascimento, estou obrigatoriamente liga pensa, sente
do um
age de maneira be
um povo determinado. Diz-se que, da po diante, adulto, do minha aquiescência a essa obrigação
ve
pelo simples fato de continuar a viver
país. Mas qu importa? Essa aquiescência nã retira ao fato se ca ráter imperativo. Uma pressão aceita e suportada de bo pressão. Aliás, qual pode nã deixa de se se importância de tal adesão? Em primeiro lugar, ela é forçada, pois, na imensa maioria do casos, no é material moralmente impossível despojar-nos de nossa nacionali dade; 'tal mudança
me
inclusive considerada, geralmente,
um apostasia'. Em segundo lugar, ela nã pode concer que, no ni ao passado que não pôde se consentido , Frase que não figura no texto inicial.
107
REGRAS RELAl1VAS À EXPLlCAÇ'ÀO EXPLlCAÇ'ÀO DOS FA10S S()OAIS entanto, determina
presente: eu nã
educação el que, mais do que qualquer outra qu recebi; ora, causa, me fixa ao solo natal. Enfim, el nã poderia te quis
valor moral em relação ao futuro, na medida em que este desconhecido. Ne
sequer conheço todos os deveres qu podem me incumbir um dia ou outro em minha qua lidade de cidadão; como poderia eu aquiescer eles de antemão? Ora, tudo
qu
obrigatório, conforme de
monstramos, tem sua fonte fora do indivíduo. Assim, en
quanto não sairmos da história, o fato da associação apre sentará
mesmo caráter qu
os demais e, conseqüente
mente, explica-se da mesma maneira. Po
outro lado, co
mo todas as sociedades nasceram de outras sociedades solução de continuidade, podemos estar certos de se que, no curso de toda evolução social, não houve um momento em que os indivíduos tenham realmente neces sitado deliberar para saber se entrariam ou não na vida questào pu coletiva, e se nesta e nã naquela. Para qu desse se colocar, seria preciso remontar até as origens pri meiras de toda sociedade. Mas as soluções, sempre duvi dosas, qu podem ser dadas a tais problemas, de modo
nenhum poderiam afetar
método segundo
qual de
vem ser tratados os fatos dados na história. Não precisa mos portanto discuti-las.
Mas seria um estranho equívoco sobre nosso pensa mento se, do que precede, tirassem a conclusão de que
sociologia, para nós, deve ou mesmo pode fazer abstra çã do homem de suas faculdades. Ao contrário, nào há dúvida de que os caracteres gerais da natureza humana entram no trabalho de elaboração de qu
resulta
vida
qu lhe· suscitam ne social. Só qu não são eles qu tornam possível. As dão sua forma especial; eles apenas representaçôes, as emoções, as tendências coletivas nã tê
po
causas geradoras certos estados da consciência consciência
108
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO SOCIOLÓGICO
indivíduos, ma sim as condições em que se encontra social em se conjunto. Certamente, estas só po de se realizar se as naturezas individuais nã forem re fratárias a elas; ma as naturezas individuais são apenas do
corpo
matéria indeterminada qu
fator social determina
transforma. Sua contribuição consiste exclusivamente em estados muito gerais, em predisposições vagas e, po con seguinte, plásticas que, po si mesmas, nã poderiam ad quirir as formas definidas
os fenômenos Qu
sociais,
abismo, po
complexas qu
se outros agentes nã
caracterizam
interviessem.
exemplo, entre os sentimentos qu
homem experimenta diante de forças superiores su a instituição religiosa, co suas crenças, suas práticas tã variadas e complicadas, sua organização material e moral; entre as condições psíquicas da simpatia qu dois seres esse emara do mesmo sangue sentem um pelo outro 1H nhado de regras jurídicas e morais que determina a es trutura da
família, as relações da as pessoas, etc.! Vimos
coisas co sociedade se reduz
pessoas entre si, da que, mesmo quando uma multidão nã organizada, os
sentimentos coletivos qu nela se formam podem, nã apenas não se assemelhar, ma ser opostos média dos sentimentos individuais. Quão mais considerável ainda
so fre é a de uma sociedade regular, na qual se acrescenta, ação dos contemporâneos, das gerações anteriores e da tradição! Uma explicação puramente psicológica do fatos sociais só pode portanto deixar escapar tudo qu elt's de específico, isto é, de social. tê qu mascarou aos olhos de tantos sociólogos a insuficiência desse métod, é qu freqüentemente, tomando () efeito pela causa, lhes ocorreu atribuir como condições dl'terminantes dos fenômenos sociais certos estados psíquicos, relativamente definidos e especiais, mas que, na vt'rdadeve ser
a distância
quando
pressão qu
indivíduo
REGRAS RElATIVAS À FXPlJCAÇÀO DO FATOS SOCIAIS
109
deles. Assim, considerou-se inato no homem certo sentimento de religiosidade, um certo mí n i m o de ciúme sexual, de piedade filial, de amor paterno, etc., e deste modo se quis explicar a religião, o casamento, a família. Mas a história mostra qu essas inclina<;ôes, longe de serem inerentes natureza humana, ou estão totalmente ausentes em certas circunstâncias sociais, ou, de uma socie dade a outra, apresentam tais variações qu o resíduo obti do ao se eliminarem todas essas diferenças, o único po de ser considerado como de origem psicológica, psicológica, se reduz a algo vago esquemático qu deixa a um distância infi nita os fatos a serem explicados. É qu esses sentimentos, base da organização coletiva, resultam longe de serem dela. Inclusive nã está de todo provado qu a tendência sociabilidade tenha sido, desde a origem, um instinto con de, sã
conseqüência
gênito ao gênero humano.
muito mais natural ve
nele
social, qu lentamente se organizou fato de observação qu os animais sã
um produto da vida
em
nós; pois
um
ou não conforme
de seus
vida em comum ou dela os afastem. E cabe ~ I i n d a acrescentar que, mesmo entre essas inclinações mais determinadas e realidade social, a distância permanece considerável. Existe aliás um meio de isolar mais ou menos com poder preci pletamente o fator psicológico, de maneira sar a extensão de su ação: é saber de qu forma a raça ;Ifeta a evolução social. Co efeito, os caracteres étnicos vida social deve por S;IO de ordem orgânico-psíquica. (;Into variar quando eles variam, se os fenômenos psicoló gicos tiverem sobre sociedade a eficácia causal qu lhes ,lIrihuem. Ora, não conhecemos nenhum fenômeno social' dependência inconteste da raça. q l l l ' esteja colocado so (:l'rtamente, nã poderíamos atribuir a essa proposição \,;tlor de um lei; ma podemos pelo menos afirmá-la co-
(l
obriguem
110
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
fato constante de nossa prática. Formas de organi as mais diversas verificam-se em sociedades da mes ma raça, enquanto similitudes impressionantes observam cidade existiu se entre sociedades de raças diferentes. os gregos; tanto entre os fenícios como entre os romanos vemo-la em via de formação entre os cabilas. A família pa triarcal er quase tã desenvolvida entre os judeus quanto entre os hindus, mas el nã se verifica entre os eslavos, que, nã obstante, sã de raça ~ r i a n a . Em compensação, mo um
zação
tipo familiar qu
aí se encontra também existe entre os
A família materna e cl se observam em toda parte. Certos detalhes das provas judiciárias, da cerimônias árabes.
os mesmos
nupciais
mais dessemelhantes
do ponto de vista étnico. Se isso ocorre, é porque a contri buição psíquica demasiado geral para predeterminar
sociais. Como essa contribuição forma social e nã outra, ela nã
curso dos fenômenos
implica
qu
haja
um
de explicar nenhuma. de
fatos
si
qu
qu
letras
po
verdade que há um certo número
se costuma
se explica, po
mento da
nã
da
atribuir ã influência
da
raça.
as
exemplo, por que
desenvolvi
rápido
intenso em
artes
foi
tã
Atenas, e
tão lento
Roma. Mas essa inter pretação dos fatos, apesar de clássica, jamais foi metodica mente demonstrada; ela parece tirar quase toda su au toridade da mera tradição. Nã se examinou sequer se se ria possível um explicação sociológica dos mesmos fenô menos,
estamos convencidos de qu
medíocre em
esta poderia ser
tentada com sucesso. Em suma, quando se relaciona co
tal
caráter artístico da civilização ateniense a fa estéticas congênitas, procede-se mais ou menos como fazia a Idade Média quando explicava fogo pelo flogisto e os efeitos do ópio po su virtude dormitiva. Enfim, se realmente evolução social tivesse su ori na constituição psicológica do homem, nã se percege
rapidez
culdades
REGRAS REIAl1VAS Ã EXPLlCAÇ'ÃO DO be como el preciso
FA
TOS SOCIAIS
111
teria podido se produzir. Pois então seria
admitir
qu
po
te
el
motor algum impulso
in im
natureza humana. Mas qual poderia se esse pulso? Seria aquela espécie de instinto de que fala Comte qu leva o homem a realizar cada vez mais sua nature za? Mas isso é responder pergunta co pergunta e ex plicar o progresso po um tendência inata ao progresso,
terior
verdadeira entidade metafísica cuja existência, de resto,
nada demonstra; pois as espécies animais, inclusive as
mais
elevadas, de maneira nenhuma sã
cessidade de progredir,
e,
mesmo entre
movidas pela ne
as
sociedades hu
in estacionárias. Seria esse impulso, como pa rece acreditar Spencer, a necessidade de um maior felici dade, qu as formas cada vez mais complexas da civiliza çã estariam destinadas a realizar sempre mais completa felicidade mente' Seria preciso então estabelecer qu aumenta com a civilização, expusemos alhures todas as tudo. Ain dificuldades qu essa hipótese levanta 19 Nã manas, há muitas qu
se comprazem em permanecer
definidamente
da qu
um ou outro desses dois postulados devesse se
admitido, ne
po
isso
desenvolvimento histórico se
tornaria inteligível; pois explicação resultante seria pura mente finalista, mostramos mais acima qu os fatos so ciais, assim como todos os fenômenos naturais, não são L'xplicados pelo simples fato de se mostrar qu eles ser ve algum fim. Quando se provou qu as organizações sociais cada vez mais elaboradas qu longo da ' . ~ t a
história tiveram
po
se sucederam ao
efeito satisfazer sempre mais
ou aquela de nossas inclinações fundamentais, ne
se fez compreender como elas se produziram. rato de serem úteis não nos ensina qu as fez existir. Ainda qu se explicasse como chegamos imaginá-las, plano antecipado capaz de no re raçando como que lresentar os serviços qu poderíamos esperar delas e por
isso
112
AS REGRAS no MÉTODO S0G10LÓGICO
problema já objeto nã
palavra,
é difícil -, desejo do qual elas seriam assim teria a virtude de tirá-las do nada. Em um
admitindo-se qu
essas inclinações sã
os meios
atingir o objetivo perseguido, questão permanece inteira: como, isto é, de qu e através de que esses meios foram constituídos? necessários para
A causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais a n t e c e d e n t e ~ ~ e nâo entre os estados estados da consciência individual. Por outro lado, concebe-se facilmente qu tu Chegamos portanto
do çã
que precede se
aplica
regra seguinte:
tanto
determinaçào da
fun
da causa. função de um fato social nã quanto pode se senão social, isto é, ela consiste na produção de efeitos socialmente úteis. Certamente pode ocorrer, acontece de fato, que, po via indireta, o fato social sirva também ao razão de se
indivíduo. Mas esse resultado feliz nã imediata. Podemos portanto completar
su pro
Afunçâo de um. /àto social deve sempre ser buscada na relação qu ele mantém com algum fi social.
posição precedente, dizendo:
Foi po terem os sociólogos ignorado freqüentente es sa regra e considerado os fenômenos sociais de um ponto de vista demasiado psicológico, qu suas teorias afiguram se numerosos espíritos excessivamente vagas, vacilantes e distantes da natureza especial da coisas qu eles crêem explicar. O historiador, em particular, qu vive na intimi. dade da realidade social, nã pode deixar de sentir forte. quanto essas interpretações demasiado gerais sà mente incapazes de coincidir com os fatos; e certamente foi isso qu produziu, em parte, a desconfiança qu a história se guidamente demonstra em relação à sociologia. O qu nüo quer dizer, po certo, qu estudo dos fatos psíquicos n:10 seja indispensável ao sociólogo. Se a vida coletiva nã dl'. outra estão intimamente rl'. riva da vida individual, um
113
REGRAS RELATIVAS Ã EXPliCAÇÃO DOS FAIDS SOOAlS
lacionadas; pode, pelo tramos,
se
explicar a primeira, ela explicação. Conforme mos primeiro lugar, qu os fatos
segunda não pode
menos, facilitar
su
incontestável, em
sociais sã produzidos po um elaboração sui generi de fatos psíquicos. Além disso, essa própria elabora(,;ão nã qu se produz em cada cons deixa de ter analogia co qu
ciência individual elementos
ela é
transforma progressivamente os
primários (sensações, reflexos, reflexos, instintos) instintos)
originalmente constituída. Nã
pôde dizer do eu que
ele
próprio
se
constituía
de que
razão qu
se
socieda outra manei
um
de, tanto quanto organismo, ainda que de ra, e os psicólogos há muito já mostraram importância do fator associação para explicação da vida do espírito. Uma cultura psicológica, mais ainda qu um cultura bio lógica, constitui portanto para sociólogo uma propedêu tica necessária; ma el só lhe será útil se ele libertar-se dela após tê-la recebido e superar, completando-a po um cultura especialmente sociológica. É preciso qu el renuncie a fazer da psicologia, de certo modo, centro de ponto de partida e de chegada de suas suas operações, incursões no mundo social, e qu se estabeleça no núcleo mesmo do fatos sociais, a fim de observá-los de frente e se intermediário, solicitando à ciência do indivíduo ape nas um preparação geral e, se preciso, úteis sugestões20
II
Um
ve
qu
os fatos de morfologia social são da
fisiológicos, eles de se explicar segundo mesma regra qu acabamos de ve l'nunciar. Todavia, de tudo que precede resulta qu eles desempenham um papel preponderante na vida coletiva conseguinte, nas explicações sociológicas. L', po mesma natureza qu
os fenômenos
114
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
efeito, se condição determinante dos fenôme no sociais consiste, como mostramos, no fato mesmo da associação, eles devem variar co as formas dessa associa ção, isto é, conforme as maneiras como são agrupadas as partes constituintes da sociedade. Por outro lado, já qu Co
conjunto determinado, qu
os elementos de toda natureza
ue entram na composição de um po su
reunião,
assim como
constitui o
sociedade formam
meio interno dessa sociedade,
conjunto dos elementos anatômicos, pela
Rb'GRAS RELATlVAS À hXPLICAÇ'À
de caracteres qu
te
mo dissemos também,
der não
coisas
do
pessoas. Entre
as coisas, é
preciso
objetos materiais que são incorporados
os produtos da
incluir,
além
sociedade,
atividade social anterior, o direito constituí
os costumes estabelecidos, os monumentos literários, artísticos, etc. Mas é claro que não ne de un nem de do
as trans formações sociais; pois eles nã contêm nenhuma capaci dade motora. Seguramente, há qu levá-los em considera pe çã nas explicações qu tentarmos. Com efeito, de alguma forma sobre evolução social, cuja veloci sa dade mesmo direção variam conforme qu forem; necessário pa ma eles não possuem nada daquilo qu matéria sobre ra colocá-la em movimento. Eles sã qual se aplicam as forças vivas da sociedade, mas, or si mesmos, nã liberam nenhuma força viva. Resta portanto, como fator ativo, o meio propriamente humano. outros que pode provir
impulso qu
determina
esforço principal do sociólogo será portanto pro
curar descobrir as diferentes propriedades desse meio curso dos fen(l-
suscetíveis de exercer uma ação sobre
massa,
ou
qu
denominamos
den
palavra, convém enten puramente material do agregado
estreitamento
grupos de
nã
possível at precisar ainda mais. De fato, os ele mentos que compôem esse meio sã de dois tipos: há
sociais ou, co e grau
volume da sociedade,
que não pode ter efeito se os indivíduos, ou melhor, os
meio interno dos organismos, poderemos
de todo processo social de alguma importância deve ser buscada na constituição do meio social interno.
maneira eminen
sidade dinâmica. Por esta última
morais, ma
primeira
presente, encontramos duas séries número das unidades
de concentração da
115
FATOS SOCIAIS
correspondem de um
essa condição:
maneira como estão dispostos no espaço, constitui
dizer: A origem
Até o
menos SOClalS.
DOS
indivíduos,
permanecem separados po
estreitamento moral do qual
o auxiliar e,
senão
geral, a definida,
de maneira gastante
densidade dinâmica pode se
seqüência.
vazios
precedente con para
um volume igual, em função do número de indivíduos
efetivamente em relações nã apenas comerciais, ma morais; ou seja, que não apenas trocam serviços ou se fazem concorrência, ma qu vivem um vida comum. Pois, como as relações puramente econômicas deixam os
qu
estão
homens exteriores uns aos outros, essas relações podem ser muito freqüentes se ma existência
coletiva.
isso
co
participarem da mes
Os negócios contratados po
fronteiras qu essas fronteiras nã existam. Ora, a vida separam os povos nã
da
qu
ser afetada pelo número do mente. Po
mica
isso, o
de um povo
qu
é
fazem co
qu
comum só pode
nela colaboram
exprime melhor
cima
eficaz
densidade dinâ
grau de coalescência dos segmentos
sociais. Pois, se cada agregado parcial forma um todo, um
individualidade distinta, porque
barreira,
separada das outras po um
ação de seus membros, em geral,
permanece
aí localizada; se,
de
se confundem todas no seio da sociedade
tal
parciais
ou tendem
medida, 'o "a
ao contrário, essas socieda
nela se confundir,
círculo da vida social
vida social se generalizou".
porque, na mesma
se ampliou'.
(R.P.,
to
p. 32.)
116
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCiOLÓGICO
densidade material
Quanto
se entendermos po
número de habitantes po unidade de isso nã apenas desenvolvimento das vias de comunica superfície, ma ela marcha ordinariamente no çà de transmissão mesmo passo qu densidade dinâmica e, em geral, po
de servir para medi-la. Pois, se as diferentes partes da po inevitável qu elas pulaçào tendem se aproximar, abram caminhos qu permitam essa aproximação, e, po outro lado, só podem se estabelecer relações entre pontos distantes da massa social se essa distância nã for um obstáculo, isto é, se ela de fato for suprimida. Há no en tanto exceções 21 incorreríamos em sérios erros se jul gássemos sempre
concentração moral de uma socieda de com base no grau de concentração material qu el apresenta. As estradas, as vias férreas, etc., podem servir mais ao movimento do negócios do qu à fusão das po pulações, qu
elas então só exprimem muito imperfeita
caso da Inglaterra, cuja densidade material superior da França, e onde, não obstante, coalescência do segmentos muito menos avançada, 'como demons tra a persistência do espírito local e da vida regional*. mente.
Mostramos alhures como todo aumento no volume na densidade dinâmica da sociedades, ao tornar a vida so cial mais intensa, ao estender horizonte qu cada indiví du abarca com seu pensamento preenche com sua ação,
117
REGRAS RELA71VAS RELA71VAS Ã EXPLICA ÇÃO DOS FATOS SOCIAIS
coberto todas as particularidades particularidades do meio social suscetíveis
de desempenhar um papel na explicação do
fatos sociais.
Tudo que podemos dizer qu essas sã as únicas qu percebemos qu nã fomos levados a busc ar outras
Mas essa espécie de preponderância preponderância qu atribuímos ao meio social e, mais particularmente, ao meio humano, nã implica qu se deva ver aí algo como um fato último absoluto para além do qual nã evidente, ao contrário, qu esse meio
preciso remontar.
estado no qual se encontra
cada momento da história depende ele pró
prio de causas sociais, algumas inerentes
própria socie
dade, enquanto outras se devem às ações
reações entre
essa sociedade
suas vizinhas. Aliás, a ciência nã
co
nhece causas primeiras, no sentido absoluto da palavra.
Para ela, um fato é primário simplesmente quando for su ficientemente geral para explicar um grande número de
outros fatos. Ora,
meio social
desse gênero; pois as mudanças qu
certamente um fator nele se produzem,
sejam quais forem suas causas, repercutem em todas as direções do organismo social e nào podem deixar de afe tar em maior ou menor grau todas as suas funções. qu acabamos de dizer do meio geral da socieda
de pode se
dito do
meios específicos
qu
Po
cada um dos
exemplo,
modifica profundamente as condições fundamentais da
me a família for mais ou menos volumosa, mais ou menos
existência coletiva. Não precisamos falar de novo da aplica çã qu fizemos então desse princípio. princípio. Acrescentemos ape na qu ele nos serviu para tratar não somente questão
voltada para si mesma, muito diferente será a vida domés
ainda muito geral qu
er
objeto daquele estudo, ma
muitos outros problemas mais específicos, e que pudemos assim verificar su exatidão po um número já respeitável de experiências. Todavia, Todavia, esta mos longe de pensar ter desqu
nà
no texto
tica. Do mesmo modo, se as corporações profissionais se qu cada um delas se ramifi qu em toda extensão do território, em ve de permane ce encerrada, como outrora, no limites de uma cidade, a ação qu irão exercer será muito diferente da qu exerce ra outrora. De um maneira mais geral, a vida profissio meio próprio a ca nal será completamente diferente se
organizarem de maneira
da profissão for fortemente constituído ou se su
trama
118
AS
frouxa, como
fo
particulares nã
REGRAS DO MÉTODO SOGlOLÓGICO ação desses meios
hoje. Todavia,
poderia ter
importância do meio geral;
pois eles próprios suhmetem-se à influência deste último.
sempre
este qu
se deve voltar.
exerce sobre os grupos parciais qu çã
pressão
ue el
faz variar a constitui
destes. Ta concepção do meio social como fator determi
nante da evolução coletiva
da mais alta importância.
Pois, se a rejeitarmos, a sociologia será incapaz de estabe lecer qualquer relação de causalidade.
De fato, descartada essa ordem de causas, nã
há
condições concomitantes das quais possam depender os fenômenos sociais; pois, se
meio social externo, isto é,
suscetível de exercer alguma ação, só exerce sobre as funç()es qu tê ataque e a defesa; além disso, el só po po ohjeto de fazer sentir su influência po intermédio do meio so cial interno. As principais desenvolvimento his tórico nã estariam portanto entre as coisas, circunfusas, ma estariam todas no passado. Elas próprias fariam parte aquele formado pelas sociedades ao redor,
desse desenvolvimento, do qual constituiriam simples mente fases mais antigas. Os acontecimentos atuais da vi
do estado atual da sociedade, acontecimentos anteriores, do precedentes his
da social derivariam nã ma
do
tóricos, e as explicaçôes sociológicas consistiriam exclusi vamente em ligar o presente ao passado.
Isso pode parecer, de fato, suficiente. Nã se costu ma dizer qu a história tem precisamente po objeto enca dear os acontecimentos segundo su ordem de sucessão? 'Mas
impossível conceher de qu
maneira
estado em
certo que toda mudanp. uma vez realizada. deve ter se repercussões que ela explica. o que não se percebe, nessa concepção, de que maneira a própria mudança possíveL" CR.P., p. 34,)
REGRAS RELA TIVAS Ã EXPLICAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS qu
a civilização se encontra nu
119
momento dado poderia
se
causa determinante do estado seguinte. As etapas
qu
humanidade percorre sucessivamente n
gendram umas às outras.* Compreende-se hem qu os progressos realizados numa época determinada na ordem jurídica, econômica, política, etc, tornem possíveis novos progressos; mas em qu os primeiros predeterminam os segundos? Eles são um ponto de partida qu
permite ir
mais adiante; ma qu qu no incita a ir mais adian te? Seria preciso admitir então uma tendência interna qu leva a humanidade ultrapassar constantemente os resul tados adquiridos, seja para se realizar completamente, se ja para aumentar su felicidade, e o objeto da sociologia seria descobrir
ordem segundo
qual se desenvolveu
essa tendência. Mas, " s e m voltar às dificuldades qu
melhante hipótese implica", a lei qu
se
exprime esse de
senvolvimento nada teria de causal. Uma relação de cau salidade, co
efeito, só pode se estabelecer entre dois fa
tos dados; ora, tal tendência, qu desse desenvolvimento, nã
se supõe se causa apenas postulada dada;
construída pelo espírito co
base nos efeitos qu
huem a ela. Trata-se de um
espécie de faculdade motora
qu
imaginamos so
se atri
movimento, a fim de explicá-lo;
causa eficiente de um movimento só pode se
ma
um
outro movimento, nã um virtualidade desse gênero. Portanto, tudo qu obtemos experimentalmente, aqui, é um série de mudanças entre as quais nã existe vínculo conseqüen causal. O estado antecendente não produz te, ma relação entre eles exclusivamente cronológica. Assim, nessas condições, toda científica é sível. Podemos' perfeitamente dizer como as coisas se su cederam até
presente, não em que ordem elas se suce-
"M3S,
*'
Elemento que nã
figura no texto inicial.
120
AS
derào daqui po
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
diante, porque
mente dependem nã
causa de qu
determinável. Geralmente,
mo meio que se deve medir
verdade, admite-se qu
evolução prosseguirá no mesmo sentido do passado, mas isso em virtude de um simples postulado. Nada no rante qu
ga
os fatos realizados exprimam de maneira bas
tante completa
natureza dessa tendência para qu
possa prejulgar o termo
se
ela aspira co base naque les pelos quais passou sucessivamente. Inclusive, po qu seria retilínea a direção qu ela segue e imprime? Eis aí, de fato, a razão de número da relações cau sais, estabelecidas pelos sociólogos, se tã restrito. Co poucas exceções, das quais Montesquieu é o mais ilustre exemplo, antiga filosofia da história limitou-se unica descobrir sentido geral em que se orienta a hu mente manidade, se procurar ligar as fases dessa evolução a al guma condição concomitante. Po mais qu Comte tenha prestado alguns grandes serviços ã filosofia social, os ter mos nos quais ele coloca o problema sociológico nã dife rem dos precedentes. Assim, su famosa lei do três esta dos nada possui de um relação de causalidade; ainda qu fosse exata, ela nã é não pode se mais qu empírica. Trata-se de uma visão sumária da história transcorrida do muito arbitrariamente qu Comte consi gênero humano. dera o terceiro estado como estado definitivo da huma nidade. Quem no diz que não surgirá outro no futuro? Do mesmo modo, a lei que domina sociologia de Spencer nã parece ser de outra natureza. Ainda qu fosse verdade que tendemos atualmente buscar nossa felicidade numa civilização industrial, nada assegura que, posteriormente, não venhamos a buscá-la em outra parte. Ora, o qu faz a qu na maio generalidade e a persistência desse método ria da vezes se viu no meio social uJ1l meio pelo qual () progresso se realiza, nã causa qu o determina. qu
Por outro lado, é igualmente em relação
suposta
é cientificamente determinada, ne
121
REGRAS RELATIVAS À /;XPLICAÇÀO DOS FATOS SOCIAIS
valor útil ou
esse mes
como disse
mos, a função dos fenômenos sociais. Entre as mudanças causa, servem aquelas que estão em relação de que é estado no qual esse meio se encontra, já qu el co condição essencial da existência coletiva. Também des se ponto de vista, acreditamos, concepção que acaba mo de expor é fundamental; pois só ela permite explicar caráter útil do fenômenos sociais pode variar como se no entanto depender de arranjos arbitrários. Se, de fato, representa-se evolução histórica como movida po um espécie de vis a tergo [força propulsora] qu impele os homens para a frente, já que uma tendência motora só pode te um objetivo e apenas um, nã pode haver senão um ponto de referência em relação ao qual se calcula utilidade ou
nocividade dos fenômenos sociais. Disso
resulta que só pode haver um único tipo de organização social perfeitamente adequado humanidade qu as di ferentes sociedades históricas são apenas aproximações
sucessivas desse modelo único. Não quanto semelhante simplismo variedade e
necessário mostrar
hoje inconciliável co
complexidade reconhecidas das formas
sociais. Se, ao contrário, a conveniência ou nã
da
tuições só puder se
um meio
dado,
estabelecida em relação
insti
como esses meios são diversos, haverá então uma
diversidade de pontos de referência e, po
conseguinte, de tipos que, embora qualitativamente distintos uns dos outros, estão todos igualmente fundados na natureza do meios sociais. questão qu
po
acabamos de tratar está assim estreita
ti sociais. Se há espécies sociais, é porque a vida coleti
mente vinculada
qu
diz respeito
constituição do
va depende antes de tudo de condições concomitantes apresentam uma certa diversidade. Se, ao contrário,
qu
122 as
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO SOCIOLÓGICO
principais causas dos acontecimentos sociais estives
sem todas no passado, cada povo nã prolongamento daquele que
seria mais qu
precedeu,
e as
diferentes
sociedades perderiam sua individualidade para se torna re único apenas momentos diversos de um mesmo
Uma vez que, po outro lado, a consti meio social resulta do modo de composição do
desenvolvimento. tuição do
agregados sociais
qu
essas duas expressões são, elas
próprias, no fundo, sinônimas, temos agora
prova de
que não há caracteres mais essenciais do qu aqueles qu atribuímos como base para a classificação sociológica. Enfim, deve-se compreender agora, melhor do qu antes, o quanto seria injusto apoiar-se nas palavras "condi ções exteriores" e "meio" para acusar nosso método e bus ca as fontes da vida fora do que é vivo. Muito pelo contrá rio, as considerações qu acabam de ser lidas resumem-se na idéia de que as causas dos fenômenos sociais sã inter na à sociedade. É antes a teoria qu deriva a sociedade do indivíduo qu se poderia justamente recriminar po querer tirar o interior do exterior, já qu ela explica se social po outra coisa que não el mesmo, po querer tirar o mais do menos, já qu ela empreende deduzir todo da parte. Os princípios que precedem ignoram tão pouco
caráter espontâneo de todo vivente que, se aplicados à bio logia e à psicologia, dever-se-á admitir qu também a vida individual se elabora po inteiro no interior do indivíduo. IV
regras qu acabam de ser estabelecidas resociedade e da vida coletiva. coletiva. ponto, duas teorias contrárias dividem os
Do grupo de
sulta certa
concepção da
Sobre esse
espíritos.
REGRAS RELAl1VAS
EXPLICAÇÃO DOS
Para uns, como Hobbes
70
123
S( )ClAIS
Rousseau, hei s o l u ~ : ; l o de
homem e sociedade. refratário à vida comum, somente forçado pode resignar-se a ela. Os fins sociais nà S;IO simplesmente ponto de encontro do fins individuais; sà antes contrários a eles. Assim, para fazer o indivíduo buscar esses fins, é necessário exercer sobre ele uma coe çào, e é na instituiçào e na organização dessa coerção qu consiste, po excelência, a obra social. Só que, como o in divíduo é visto como única e exclusiva realidade do rei
continuidade entre
indivíduo
portanto naturalmente
no humano, essa organização, qu
te
po
objeto cons
trangê-lo e contê-lo, nã pode ser concebida senão como artificial. Ela nã está fundada na natureza, uma vez qu se destina a fazer-lhe violência impedindo-a de produzir suas conseqüências anti-sociais. Trata-se de uma obra de máquina construída pela mã arte, de do
homens
ro, é o
qu
que, como todos os produtos desse gêne
apenas porque os homens
quiseram
assim;
um decreto da vontade criou, um outro decreto pode Hobbes nem Rousseau parecem te transformá-la. Ne
que há de contraditório em admitir qu autor de uma máquina indivíduo seja el próprio constrangê-lo, qu te po tarefa essencial dominá-lo
percebido tudo
lhes pareceu que, para fazer desaparecer essa contradição, bastava dissimulá-la, aos olhos daqueles qu sã suas vítimas, pelo hábil artifício do pacto social. Foi na idéia contrária qu se inspiraram tanto os teó ricos do direito natural quanto os economistas e, mais re centemente, Spencer 22 Para eles, a vida social é essencial mente espontãnea e sociedade um coisa natural. Mas, porque lhe reconhe se conferem a ela esse caráter, nã çam uma natureza específica; é porque encontram sua ba
ou pelo menos
se na natureza do indivíduo. Do mesmo modo que os precedentes pensadorés,
eles
nã
vêem na sociedade um
124
AS
REGRAS DO MÉTODO SOClOLÔGICO
exista po si mesmo, em virtude de lhe sejam específicas. Mas, enquanto aqueles
REGRAS RELAllVAS À bXPLICAÇ'ÀO nos FATOS SOCIAIS
12'5
sistema de coisas qu
um justo emprego.
causas qu
social é mais rico, mais comple xo se individual, não pode dei mais duradouro qu as de xa revelar-lhe razões inteligíveis da subordina\';10 do sentimentos de apego qu dele exigida de res peito qu hábito fixou em se coraçã0 25 Portanto, somente uma crítica singularmente superfi cial poderia acusar nossa concepção da coerção social de reeditar as teorias de Hobbes de Maquiavel. Mas, se, contrariamente esses filósofos, dizemos qu a vida social
concebiam apenas como um arranjo convencional qu nenhum vínculo prende
qu
realidade
assim dizer, no ar, estes lh
dã
se sustenta, po
base os instintos fun
po
homem tende natural
damentais do coração humano.
mente à vida política, doméstica, religiosa, às trocas, etc., dessas inclinações naturais qu deriva organização e social. Em conseqüência, sempre qu for normal, esta nã tem necessidade de impor-se. Quando ela recorre
coer
ção, é porque não é que deve se ou porque as circuns tâncias sã anormais. Em princípio, basta deixar as forças individuais desenvolverem-se em liberdade para qu elas se organizem socialmente. Nenhuma dessas duas doutrinas é a nossa. Certamente, fazemos da coerção
todo fato social. Só qu
essa coerção
característica de
ão resulta de um
maquinaria mais ou menos engenhosa, destinada
mas
preender
quanto
natural, nã
reflexão, fazendo
homem com
se
po
encontrarmos sua fonte na natureza
do indivíduo; é porque el
deriva diretamente do ser co é, po si mesmo, uma natureza su generis; porque el resulta dessa elaboração especial qual estão submetidas as consciências particulares devido su as sociação da qual se desprende uma nova forma de exis letivo, qu
tência 24 Portanto, se reconhecemos com un social apresenta-se ao indivíduo so
qu
homens as armadilhas nas quais eles próprios se homem pegaram. Ela simplesmente se deve ao fato de
ção, admitimos com os outros qu
estar em presença de uma força qu
dois elementos, aparentemente contraditórios, é qu
carar ao
domina
diante da
qual se curva; mas essa força é natural. Ela nã
deriva de
um arranjo convencional qu
vontade humana acres
centou completamente ao real; ela provém da
mesmas da realidade; é
entranhas
produto necessário de causas
dadas. Assim, para fazer o indivíduo submeter-se
bo
vontade, nã
preciso recorrer
el
de
nenhum artifício;
basta fazê-lo tomar consciência de seu estado de depen
dência
de inferioridade naturais
quer el
faça disso
uma representação sensível e simbólica pela religião, quer chegue a formar uma noção adequada e definida pela ciên sociedade tem sobre el cia. Como superioridade qu nã simplesmente física, ma intelectual e moral, ela na da tem temer do livre exame, contanto qu deste se fac;
pontâneo da realidade; e lidade da qual el
qu
emana supera
as palavras coerção
nossa terminologia, meira
Spencer
qu
vida
aspecto da coer el
um produto es
liga logicamente esses
a rea
indivíduo. Vale dizer
espontaneidade não têm, em
sentido que Hobbes confere à pri
segunda.
maior parte das tentativas qu
Em resumo,
foram
feitas para explicar racionalmente os fatos sociais, pôde se objetar ou qu
elas faziam desaparecer toda ideia de
disciplina social, ou que só conseguiam manter essa idéia co auxílio de subterfúgios mentirosos. As regras qu acabamos de expor permitiriam, ao contrário, fazer um sociologia qu
visse no espírito de disciplina
condição
essencial de toda vida em comum, embora fundando-o na
razão
na verdade.
CAPÍTULO
VI
REGRAS RELATIVAS
ADMINISTRAÇÃO
DA PROVA
fenô eles es
Temos apenas um meio de demonstrar que um
meno
é causa
de
outro:
comparar
os casos
em que
tão simultaneamente presentes ou ausentes
examinar se
as variaçôes qu apresentam nessas diferentes combinações de circunstâncias testemunham que um depende do outro. Quando eles podem se
artificialmente produzidos pelo
experimentação propriamente é experimentação dita. Quando, ao contrário, a produção dos fatos nã está nossa disposição e só podemos aproximá-los tai como se método empregado é produziram espontaneamente, da experimentação indireta ou método comparativo. explicação sociológica consiste exclusi Vimos qu observador,
método
vamente em estabelecer relações de causalidade, quer se
trate de ligar um fenômeno su causa, quer, ao contrário, um causa seus efeitos úteis. Uma vez que, po ou tro lado, os fenômenos sociais escapam evidentemente método comparativo é único qu ação do operador,
128
AS REGRAS DO Mf'TODO SOCIOLÓGICO
convém
ue Comte nã
verdade
sociologia.
derou suficiente; julgou necessário completá-lo po qu
ele chama
método histórico; ma
concepção particular da
relações de
qu
sentido
evolução humana em geral; assim elas nã
se dirige
p o d e m se
o auxílio da comparação, *pois, para po
der comparar as diferentes formas qu
cial assume em diferentes povos,
um fenômeno so
preciso tê-lo separado
ue pertence. Ora, se se começa
das séries temporais
fragmentar deste modo
surge
su
leis sociológicas. Segundo Com
finidas de causalidade, ma
po
aquilo
isso se deve
te, estas devem principalmente exprimir, nã
descobertas co
consi
desenvolvimento humano,
impossibilidade de reencontrar sua seqüência. Pa
ra chegar a ela, nã
po
qu
convém proceder.
do
outros.
análises, ma po largas sínteses qu
preciso
aproximar uns
reunir numa mesma intuição, de certo mo
do', os estados sucessivos da humanidade de maneira perceber "o crescimento contínuo de cada disposição físi ca
intelectual, moral
desse método qu conseguinte, rejeitou
política"l. **Tal é a razão de ser
Comte chama histórico e** que,
desprovido desprovido de qualquer objeto, tã
concepção fundamental da sociologia comtiana.
Também
verdade
ue Mil! declara
ção, mesmo indireta, inaplicável
já
or
logo se
experimenta
REGRAS RElATIVAS
qu
aos fenômenos biológicos, micos mais complexos
aplicava igualmente
mesmo aos fatos físico-quí
(xa, hoje nã
mais preciso de
"já que estas têm por objeto considerar isoladamente os pares grupo de suas condiçôes. formados por cada fenômeno social co preciso, ao contrário, aproximar uns dos outros e reunir numa mesma síntese" (R.P., p. 169.) ** "Tal é o papel desse método histórico" (R.P., p. 169.)
sejam mais bem fundamentadas no qu
precedentes apenas po
um
maior
concerne
c o m p l e x i d ~ l d e . c o Essa m p l e x i d ~ l d e .
diferença pode de fato implicar qu
emprego do racio
cínio experimental em sociologia ofereça mais dificulda
des ainda qu
nas outras ciências; mas nã
se percehe
seria radicalmente impossível nesse caso.
por que el
De resto, toda
teoria de Mill repousa sobre um pos
tulado que, sem dúvida, está ligado aos princípios funda mentais de sua lógica, ma
qu
está em contradição com
todos os resultados da ciência. Co
ne
efeito, el
admite qu
sempre um mesmo conseqüente resulta de um mes antecedente, mas que pode ser devido ora
sa, or
um
cau
outra. Essa concepção do vínculo causal, retiran
do-lhe toda determinação, torna-o praticamente inacessí análise científica; pois introduz tal complicação na
ve
espírito nela se per do efeitos qu de sem retorno. Se um efeito pode derivar de causas dife
trama das causas
rentes, para saber
determina num conjunto de
qu
circunstâncias dadas,
experiência teria de se
feita em
praticamente impossíveis, sobre condições de isolamento praticamente
tudo em sociologia.
Mas esse pretenso axioma da pluralidade das causas
sociologia. Mas o qu
el
suas críti
há razão para qu
sociologia; pois os fenômenos sociais distinguem-se do
um
suficiente para retirar de sua argumentação grande
parte de sua autoridade
química e a biologia sú podem se ciências
monstrar qu
experimentais. Portanto nã
ca
129
ADMINlSTRAÇÀO nA PROVA
negação
princípio de causalidade. Certamente,
se supusermos com Mill qu
causa e
efeito sã
abso
lutamente heterogêneos, que nào há entre eles nenhuma relação lógica, nã
há nada de contraditório em admitir
que um efeito possa acompanhar or
um
causa, ora ou
tra. Se a relação que une C a A é puramente cronológica, el
nã
uniria C
exclui um
outra relação do mesmo gênero que
B, po exemplo. Mas, se, ao contrário, o víncu algo de inteligível, el nã poderia ser indl'-
lo causal te
130
AS
REGRAS DO MÉ"lDDO SOCiOLÓGICO
esse ponto. Se ele consiste numa relação qu resulta da natureza das coisas, um mesmo efeito só pode
terminado
manter essa relação co exprimir mais qu
um
um
única causa, pois não pode
só natureza. Ora, somente os filó-
131
REGRAS RELA 11 VAS À ADMJNISTRAÇ'ÀO DA PROVA
mesmo acontece com o suicímais diversas causas; qu pena, etc. Praticando-se co dio, co esse espírito o raciocínio experimental, po mais qu se reúna um número considerável de fatos, jamais se poderão obter leis preci-
inteligibilidade da relação
sas, relações determinadas de causalidades. Apenas se
supos causal. Para o cientista, el nã se questiona; el ta pelo método da ciência. Como explicar de outro modo
poderá atribuir vagamente um conseqüente ma definido
papel tão importante da dedução no raciocínio experi
método comparativo de ma to, se quisermos empregar neira científica, ou seja, conformando-se ao princípio de causalidade tal como el se depreende da própria ciência, deveremos tomar como base da comparações que instiproposição seguinte: tuímos um mesmo efeito corresponde sempre um mesma causa. Assim, para retomar os
sofos puseram em dúvida
mental, assim como o princípio fundamental da proporcio nalidade entre causa e o efeito? Quanto aos casos qu sã citados nos quais se pretende observar um pluralidade de causas, para qu eles fossem demonstrativos, se ria preciso ter estabelecido preliminarmente ou que essa pluralidade nã simplesmente aparente, ou que uni dade exterior do efeito nã recobre um real pluralidade. Quantas vezes aconteceu ã ciência reduzir
unidade cau
primeira vista, parecia irredutível! cuja diversidade, próprio Stuart Mill dá um exemplo disso ao lembrar que, segundo as teorias modernas, produção de calor pelo atrito, pela percussão, pela ação química, etc. deriva
sa
de uma mesma
única causa. Inversamente, quando se
trata do efeito, o cientista distingue co vulgo confunde. Para designa um
freqüência
senso comum,
qu
um grupo confuso
indefinido de antecedentes. Portan
exemplos citados mais acima, 's
mais de um
suicídio depende de
causa, é porque, em realidade, há várias eso crime. Em
pécies de suicídios. O mesmo acontece co relação
pena, ao contrário, se se acreditou qu
explicava da mesma forma po
que não se percebeu
em todos esses antecedentes produzem se
causas diferentes,
elemento comum qu
ela se
por
se verifica
em virtude do qual eles'
efeito comum).
palavra febre
mesma e única entidade mórbida; para a ciên-
cia, há uma quantidade de febres especificamente dife rentes e pluralidade da causas está em relação co do efeitos; e, se entre todas essas espécies nosológicas obstante algo em comum, qu essas causas, igualmente, se confundem por alguns de seus caracteres. há nã
II
Contudo, se os diversos procedimentos do método comparativo nã
têm, nela, um
sã inaplicáveis à sociologia, ne força igualmente demonstrativa.
todos
importante exorcizar esse princípio da sociologia, sobretudo porque muitos sociólogos sofrem ainda sua influência, e isso apesar de não fazerem objeção contra
emprego do método comparativo. Assim, costuma-se dize
ue
crime pode se
igualmente produzido pelas
"se o crime, se o suicídio admitem causas diferentes, é que, em realidade, há espécies muito diferentes de crimes e de suicídios. Em pena, ao contrário, é em virtude de um elemento comum relação todas as causas aparentemente diferentes que lhe atribuem" (R.P.,
p.
171.)
132
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
método dito do um
resíduos, se
qu
forma de raciocínio experimental, nã
el
constitui
tem, po
as
dizer, nenhuma utilidade no estudo dos fenômenos sociais. Além de só poder servir às ciências bastante avan çadas, um ve qu el supõe já conhecidas um número importante de leis, os fenômenos sociais sà demasiado si
complexos para que, nu
caso dado, se possa exatamen
te suprimir o efeito de todas as causas menos uma. mesma razão torna dificilmente utilizáveis tanto método de concordância como de diferença. Eles su põem, com efeito, qu os casos comparados ou concor da só nu ponto, ou diferem nu só. Se dúvida, nã há ciência qu alguma vez tenha podido instituir experiên caráter rigorosamente único de um con cias em que cordância ou de um diferença fosse estabelecido de ma neira irrefutável. Jamais estamos seguros de nã ter deixa do escapar algum antecedente que concorda ou difere como conseqüente, conseqüente, ao mesmo tempo da mesma ma neira qu único antecedente conhecido. Entretanto, em eliminação absoluta de todo elemento adventício bora seja um limite ideal que não pode se realmente atingido, as ciências físico-químicas e mesmo as ciências biológicas grande núme aproximam-se bastante dele para que, nu ro de casos, a demonstração possa ser vista como pratica mente suficiente. Mas isso já nã ocorre em sociologia de vido complexidade demasiado grande dos fenômenos, impossibilidade de qualquer experiência arti acrescida da impossibilidade ficial. Como nã se poderia fazer um inventário, ainda qu só aproximadamente completo, de todos os fatos qu coexistem no interior de um mesma sociedade ou que se sucederam ao longo de su história, jamais se pode estar seguro, mesmo de maneira aproximada, de qu dois po vos concordam ou diferem so todos os aspectos, exceto um As chances de deixar um fenômeno escapar são bem
133
REGRAS RELA77VAS À ADMINISTRAÇÃO DA PROVA
superiores às de nã negligenciar nenhum. Em conse qüência, tal método de demonstração só pode da origem
a conjeturas que, reduzidas a elas só, são quase desprovi da de todo caráter científico. qu acontece co Muito diferente é método da variações variações concomitantes. Com efeito, para qu demonstrativo, nã
necessário qu
cl
scja
todas as varia(:Clcs
diferentes daquelas qu se comparam tenham sido rigoro samente excluídas. O simples paralelismo do valorcs pe los quais passam os dois fenômenos, contanto qu tcnha sido estabelecido nu número suficiente de casos suficien temente variados, é a prova de que existe entrc eles um relação. Esse método deve esse privilégio ao fato de atin gir a relação causal, nã a partir de fora como os prece partir de dentro. Ele nào nos mostra sim dentes, mas plesmente dois fatos qu se acompanham acompanham ou que se ex cluem exteriormente de sorte que nada prova direta mente que estejam unidos po um vínculo interno; ao contrário, tais fatos no sã mostrados participando um de maneira contínua, pelo menos no qu diz do outro sua quantidade. Ora, essa participação, po si só, é suficiente para demonstrar que eles nã sã estra nhos um ao outro. A maneira como um fenômeno se de senvolve exprime sua natureza; para qu dois desenvolvi mentos se correspondam, preciso qu haja também uma
respeito
correspondência na
naturezas qu
eles manifestam.
portanto, po si mesma, um concomitância constante lei, seja qual for o estado dos fenômenos qu permanece ra fora da comparação. Assim, para invalidá-la, nã bas qu ela é posta em xeque por algumas aplica mostrar ta ções particulares do método de concordância ou de dife rença; seria atribuir a esse tipo de provas uma autoridade
qu
ele não pode te
em sociologia. Quando dois fenô
menos variam regularmente tanto um como
outro,
134
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
casos, o outro. Pois
preciso manter essa relação ainda que, em alguns
um desses fenômenos se apresentasse se causa tenha sido impedida de pode ocorrer, ou qu produzir se efeito pela ação de alguma causa contrária,
ou que ela se encontre presente, ma so um rente daquela anteriormente observada. Se caso de conferir, como se novo,
ma
nã
diz,
de abandonar de
de
vez
~ x a
os
forma dife dúvida, é o m i n a r os fatos de resultados de um
demonstração regularmente conduzida.
as leis estabelecidas po esse procedi imediato so a for causalidade. concomitância pode se ma de relações de causalidade. causa do outro, mas a devida, nã um fenômeno se serem ambos efeitos de uma mesma causa, ou então po existir entre eles um terceiro fenômeno, intercalado, ma despercebido, qu é o efeito do primeiro e a causa do se gundo. Os resultados a qu esse método conduz têm por tanto necessidade de se interpretados. Mas qual o méto verdade qu
mento ne
sempre se apresentam de
do experimental qu
relação
permite obter mecanicamente uma
fatos qu ele estabele espírito? Tudo qu im porta qu essa elaboração seja metodicamente conduzi da, e eis aqui de que maneira se poderá proceder a isso. Em primeiro lugar procuraremos saber, co o auxílio da dedução, como um do dois termos foi capaz de produzir o outro; a seguir, no esforçaremos po verificar o resulta do dessa dedução com o auxílio de experiências, isto é, de novas comparações. Se 'a dedução é possível e a veri ficação bem-sucedida, poderemos considerar prova co mo feita. Se, ao contrário', não percebemos entre esses fatos nenhum vínculo direto, sobretudo se hipótese de semelhante vínculo contradiz leis já demonstradas, sairede causalidade se
qu
os
ce precisem ser elaborados pelo
Frase
que não
figura
no
texto inicial.
REGRAS REJA 77VAS 77VAS À ADMI NISTRA ÇÃO nA I'R()VA
135
em busca de um terceiro fenômeno dos quais os dois outros dependam igualmente ou que tenha podido servir de intermediário entre eles. Po exemplo, pode-se estabe mo
lecer da maneira mais certa qu
tendência ao suicídio
tendência instrução. Mas é im varia de acordo co possível compreender como a instrução pode conduzir ao suicídio; tal explicação está em contradição co as leis da psicologia. A instrução, sobretudo reduzida ao conheci mentos elementares, nã atinge senão as regiões mais su perficiais da consciência; ao contrário, o instinto de con servação uma de nossas tendências fundamentais. Por tanto, este não poderia se sensivelmente afetado po um fenômeno tã distante de tã fraca repercussão. Assim somos levados a perguntar se um outro fato nã seriam conseqüência de um mesmo estado. Essa causa comum é enfraquecimento do tradicionalismo religioso qu re força ao mesmo tempo necessidade de saber e ten dência ao suicídio. há outra
qu
método da
o instrumento po excelência da pesquisas sociológicas. Co efeito, mesmo quando as circunstâncias métodos só p odem se lhes sã mais favoráveis, os outros métodos empregados proveitosamente se número de fatos com parados for muito considerável. Se nã é possível e n c o n ~ e trar duas sociedades qu diferem ou qu se assemelham
concomitantes
apenas nu
ponto, pode-se pelo menos constatar qu
dois fatos ou se acompanham, ou se excluem de maneira muito geral. Mas, para qu essa constatação tenha um va10r científico, é preciso qu tenha sido feita um grande nú mero de vezes; seria preciso estar quase seguro de qu to do os fatos foram passados em revista. Ora, nã apenas um inventário tã completo é impossível, mas também os fatos assim acumulados jamais podem se estabelecidos com uma precisão suficiente, justamente po serem dema-
n c o n ~
136
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
137
REGRAS RELAl1VAS Ã ADMINISTRAÇÃO nA PROVA
siado numerosos. Nào apenas se corre o risco de omitir al guns essenciais e qu contradizem os que são conhecidos, ma também não se tem certeza de conhecer be estes úl timos. Na verdade, o qu muitas vezes desacreditou os ra ciocínios do sociólogos que, po terem empregado de preferência o método de concordância ou de diferença, sobretudo o primeiro, eles se preocuparam mais em acu mular documentos do que em criticá-los e escolhê-los. assim qu lhes acontece todo momento colocar no mes mo plano as observações confusas e rápidas do viajantes os textos precisos da história. Diante de tais demonstra ções, nã apenas somos levados a afirmar que um único fato poderia se suficiente para invalidá-las, ma também
circunscreverá, co mais discernimento, a ex tensão de suas comparações, mas as conduzirá co mais crítica; pois, exatamente po se prender uma ordem res trita de fatos, poderá controlá-los co maior cuidado. Cla
qu
nã
os próprios fatos sobre os quais sã
estabelecidas
nem sempre inspiram confiança. método das variações concomitantes não nos
obri ga ne a essas enumerações incompletas, ne a essas ob servações superficiais. Para qu ele dê resultados, poucos fatos sã suficientes. Tã logo se prova que, em um certo número de casos, dois fenômenos variam um de acordo co o outro, podemos ter a certeza de estar em presença de um lei. Não tendo necessidade de ser numerosos, os documentos podem se escolhidos e, mais do qu isso, es tudados de perto pelo sociólogo que os emprega. Portanto el não só poderá como deverá tomar po objeto principal de suas induções as sociedades cujas crenças, tradições, costumes e direito se materializaram em monumentos es critos e autênticos. Certamente, el não desdenhará as in formações da etnografia (não há fatos qu possam se des denhados pelo cientista), mas irá colocá-las em se verda deiro lugar. Em vez de fazer delas centro de gravidade de suas pesquisas, só as utilizará em geral como comple mento daquelas qu deve história, ou pelo menos se es forçará po confirmá-las através destas últimas. Assim el
não apenas
ro qu
ma
nã
el
precisa refazer
obra do
historiadores;
pode receber passivamente informações de que se serve.
também nã
nadamente
Mas
as
e indiscrimi
a sociologia esteja nu estado de sensível sensível inferioridade em face da outras ciências ciências por não poder utilizar muito mais qu um único procedi mento experimental. Esse inconveniente, co efeito, é compensado pela riqueza da variações qu se oferecem não se deve pensar que
espontaneamente às comparações do sociólogo
da qual
se encontra nenhum exemplo nos outros reinos da
natureza. As mudanças qu
ocorrem nu
organismo ao
existência individual sã pouco numerosas restritas; as que podem ser provocadas artificial
longo de uma muito
mente sem destruir
estreitos limites. É
vida situam-se também dentro de
verdade qu outras mais importantes se produziram na seqüência da evolução zoológica, mas elas
só deixaram raros e obscuros vestígios, e é ainda mais di fícil descobrir as condições que as determinaram. Ao con trário, a vida social é um série ininterrupta de transfor mações, paralelas a outras transformações nas condições da existência coletiva; e temos nossa disposição nã so
mente as qu se relacionam um época recente, pois um grande número daquelas pelas quais passaram os po vo
desaparecidos também chegaram até
lacunas, a história
nós.
Apesar de
mais clara animais. Além disso, existe uma quantidade de fenômenos sociais qu se produzem extensão da sociedade, mas qu assumem for em toda mas diversas conforme as regiões, as profissões, as confis sões, etc. Tal é o caso, po exemplo, do crime, do suicísuas
completa qu
da humanidade
das espécies
be
138
RHGRAS DO MÉTODO SOC!OLÓGICC
139
,RFX;RAS RE1Al1VASÀ ADMIN1STRAÇÀO nA I'R()VA
dia, da natalidade, da nupcialidade, da poupança, etc. D3
II
diversidade desses meios especiais resultam, para cada
Mas
uma dessas ordens de fatos, novas séries de variaçôes, além daquelas qu se
evoluçào histórica produz. Portanto,
igual eficácia to
sociólogo não pode empregar co
dos os procedimentos da pesquisa experimental, método qu
el
deve utilizar, quase co
único
exclusão dos ou
tros, pode, em suas mãos, ser muito fecundo, pois, para fazê-lo funcionar, el dispôe de recursos incomparáveis. *Mas esse método só produz os resultados qu
porta se for praticado co
com
rigor. Nada se prova quando,
como acontece com freqüência, apenas se mostra, po exemplos mais ou menos numerosos, que, nesses casos esparsos, os fatos variaram como previa sa
hipótese. Des
concordâncias esporádicas e fragmentárias nã
se po
de tirar nenhuma conclusão geral. Ilustrar um idéia nã é demonstrá-la. O qu é preciso é comparar, nà variaç()es isoladas, ma séries de variaçôes, regularmente constituí das, cujos termos se ligam un ao outros po um grada ção tão contínua quanto possível e que, ademais, tenham uma extensão suficiente. Pois as variações de um fenôme no só permitem induzir sua lei se elas exprimem clara mente maneira como el se desenvolve em circunstâncias dadas. Ora, para tanto mesma seqüência qu
preciso qu
haja entre elas
entre os momentos diversos de
uma mesma evolução natural e, além disso, qu lução qu
essa evo
elas representam seja suficientemente prolon
gada para qu
seu sentido nã
seja duvidoso.
*a
maneira como devem se formadas essas séries* séries*
difere conforme os casos. Elas podem compreender fatos
tomados ou de uma única sociedade de
da mesma espécie
ou de várias socieda
ou de várias espécies sociais dis
tintas. primeiro procedimento pode se suficiente, a rigor,
quando se trata de fatos de um grande generalidade sobre os quais temos informaçôes estatísticas bastante ex tensas e variadas. Po exemplo, aproximando-se curva qu exprime evolução do suicídio, durante um período de tempo suficientemente longo, da
variações qu
apre
mesmo fenômeno segundo as províncias, as clas
senta
ses, os hábitats rurais ou urbanos, os sexos, as idades, estado civil, etc., pode-se chegar, mesmo sem estender pesquisa para além de um único país, a estabelecer ver dadeiras leis, ainda qu
seja sempre preferível confirmar
esses resultados através de outras observações, feitas so
br
outros povos da mesma espécie. Ma
contentar-se com comparaçôes tã
só
possível
limitadas quando se
estuda uma dessas correntes sociais qu
se espalham em
sociedade, embora variem de um ponto
toda
outro.
Quando, ao contrário, trata-se de uma instituição, de um regra jurídica ou moral, de um costume organizado, qu
sã
idênticos
funcionam da mesma maneira em toda
extensão do país nã
qu
só se modificam co
tempo,
possível restringir-se ao estudo de um único povo;
pois, nesse caso, ter-se-ia como elemento da prova ape
ex primem marcha histórica do fenômeno considerado e da causa conjeturada, mas nessa única exclusiva socieúnico par
na
• Esse parágrafo, em se
conjunto, está ausente do texto inicial. inicial.
"a
curvas paralelas, a
as
natureza mesma das compar ações sociológicas· sociológicas· (R.P.. p. 175.)
140
AS
REGRAS DO MÉTODO S0C10LÓGICO
REGRAS RELA77VAS RELA77VAS
AfJMINISTRAÇÀO nA IJNOVA
141
dade. Certamente, mesmo esse único paralelismo, se for
recebe pronta, em parte, das sociedades que
constante, já
ramo
um fato considerável, mas nã
po si só, constituir um
poderia,
mesma espécie, dispõe-se já de um campo de compara mais extenso. Primeiramente, pode-se confrontar
história de um co isoladamente,
le
do
outros
ve se, em cada um de
mesmo
evolui
em função das mesmas condições. A seguir, podem-se es tabelecer comparações entre esses diversos desenvolvi mentos. Po
exemplo, determinar-se-á a forma qu
o fato
estudado adquire nessas diferentes sociedades no mo mento em que ele chega
se
apogeu. Como essas socie
dades, embora pertençam ao mesmo tipo, sã lidades distintas, a forma em questão nã
individua
em toda parte
mesma'; ela é mais ou menos pronunciada conforme os casos'. Deste modo se terá uma nova série de variações
qu
serão aproximadas daquelas qu
apresenta, no mes
mo momento
em cada um desses países, condição '*presumida". Assim, após te seguido evolução da fa
mília patriarcal através da história de Roma, de Atenas, de Esparta, essas mesmas cidades serão classificadas confor me grau máximo de desenvolvimento qu atinge em ca da um delas esse tipo familiar, e a seguir se verá, em re lação ao estado do meio social do qual parece depender tipo familiar de acordo com primeira experiência, se elas se classificam ainda da mesma maneira. Mas mesmo esse método não pode ainda ser suficien te. Ele só se aplica, co efeito, ao fenômenos qu tê origem durante vida dos povos comparados Ora, um sociedade nã cria completamente sua organização; ela a ••
Frase que nà figura no texto inicial. "conjeturada." (R.P., p. 176.)
lh
história, nã
demonstração.
Fazendo entrar em consideração vários povos da çã
qu
precetk
assim transmitido, no decorrer de su
é
produto de um desenvolvimento seu,
portanto não pode ser explicado se não sairmos do te
mo
da espécie de qu
qu
limi faz parte. Somente os acrésci esse fundo primitivo e transfor el
se juntam podem se tratados dessa maneira. Porém, quanto mais no elevamos na escala social, tanto menor a im
ma
portância do
caracteres adquiridos po
cada povo com
parados aos caracteres transmitidos. Aliás, essa é a condi çã
de todo progresso. Assim, elementos novos qu
intro
duzimos no direito doméstico, no direito de propriedade,
na moral, desde
começo de nossa história, sã
mente pouco numerosos dos aos qu
passado no
relativa
pouco importantes, compara legou. As novidades qu
se
produzem não poderiam portanto ser compreendidas se primeiro nã
fossem estudados aqueles fenômenos mais
sã suas raízes, *e estes só podem se o auxílio de comparações muito mais ex estado atual da família, do tensas. Para poder explicar casamento, da propriedade, etc., seria preciso conhecer
fundamentais qu
estudados co
quais são suas origens, quais os elementos simples qu compõem essas instituições, e, sobre esses pontos, a his tória comparada das grandes sociedades européias nã
no
daria grandes esclarecimentos.
preciso remontar
mais acima. Conseqüentemente, para explicar um instituição so cial, pertencente um espécie determinada, iremos com parar as formas diferentes qu el apresenta não apenas no povos dessa espécie, mas todas as espécies anterio res. Trata-se, po exemplo, da organização doméstica? Constituiremos primeiramente o tipo mais rudimentar qu Elemento que nào figura no texto inicial.
142
AS REGRAS
no MÉTODO SOC70LÓGICO
possa ter existido, para em seguida acompanhar passo passo a maneira como ele progressivamente se complicou.
Esse método, qu
poderíamos chamar genético, efetuaria
de uma só vez a análise e a síntese do fenômeno. Pois, po
um lado, no
qu
mostraria em estado dissociado os elementos
compôem, pelo simples fato de no
mostrar esses
elementos acrescentando-se sucessivamente un
ao
ou
tros; ao mesmo tempo, graças ao extenso campo de com paração, ele seria be mais capaz de determinar as condi çôes de que dependem
formação
associação desses
Conseqüentemente, só se pode explicar um fato social de alguma complexidade se se acompanhar seu desenvolvimento integral através de todas as e ~ p é c i e s sociais. A sociologia comparada não um ramo particular da mesmos elementos.
sociologia; é a sociologia mesma, na medida em que el explicar os deixa de ser puramente descritiva e aspira fatos.
No decorrer dessas comparaçôes extensas, comete-se
falseia os resultados. Algu
co
freqüência um erro qu
ma
vezes, para julgar em que sentido se desenvolvem os
acontecimentos sociais, simplesmente se comparou se passa no declínio de cada espécie co
qu
qu
se pro
duz no começo da espécie seguinte. Procedendo deste modo, acreditou-se poder afirmar, po exemplo, qu enfraquecimento das crenças religiosas e de todo tradicio nalismo nunca podia ser mais que um fenômeno passa povos, porque ele só aparece no último existência para cessar assim que uma no va evoluçào recomeça. Mas, co semelhante método, corre-se o risco de tomar como marcha regular necessá um causa muito dife ria do progresso é efeito rente. De fato, o estado em qu se encontra um socieda geiro da vida do
período de su
de jovem nà
simplesmente
prolongamento do estado
em que haviam chegado no final de sua carreira as socie-
REGRAS RElATlVAS
AlJMINIS'f7
143
ela substitui, mas proVl'lll l'lll parte dessa pr() pria juventude que impede que os produtos das experi0n cias feitas pelos povos anteriores seja II todos Illed ia ta mente assimiláveis e utilizáveis. Assilll, a crianl.·a recehc de seus pais faculdades e predisposiçC)cs qu sú tardia mente entram em jogo em sua vida. Portanto possível, para retomar o mesmo exemplo, qu o retorno do tradicio nalismo observado no começo de cada história seja devi do, nã ao fato de que um recuo do mesmo fenômeno só pode se transitório, ma às condições especiais em qu dades qu
se acha colocada toda sociedade qu
çã
só pode se
começa.
compara
demonstrativa se eliminamos esse fator
bastará considerar as sociedades comparadas no mesmo período de seu desenvolvimento. Assim, para saber em qu sentido evolui
da idade, qu
perturba; para tanto,
um fenômeno social, iremos comparar
qu
ventude de cada espécie com aquilo em qu
el
na ju
se transfor
ma na juventude da espécie seguinte, e, conforme apre sentar, de um
etapa
tensidade, diremos qu
outra, maior, menor ou igual in el
progride, recua ou se mantém.
CONCLUSÃO
Em resumo, as características desse método são as
seguintes. independente de toda filo Em primeiro lugar, el sofia. Por ter nascido das grandes doutrinas filosóficas, a sociologia conservou hábito de se apoiar em algum sis tema do qual se acha, pois, solidária. Assim, ela foi suces sivamente positivista, positivista, evolucionista, espiritualista, espiritualista, quando deve contentar-se em se sociologia e nada mais. Inclusi ve hesitaríamos em qualificá-la de naturalista, qu
co
isso
se queira simplesmente
menos
indicar qu ela
con
sidera os fatos sociais como explicáveis naturalmente;
caso, o epíteto é inútil, pois significa apenas sociólogo pratica a ciência e nã um místico. Mas repe limos a palavra, se lhe quiserem da um sentido doutrinai a essência coisas sociais, se, po dis serem qu elas sã redutíveis às outras forças cósmicas. sociologia nã te de tomar partido po um da grandes afir hipóteses qu dividem os metafísicos. Ela nã precisa afir liberdade ne mar o determinismo. Tudo qu ela pe nesse
146
AS
de qu
qu
lhe concedam
aplique aos fenômenos
po
cípio
racional,
foi
DO
MÉTODO S0G10LÓGICO
princípio de causalidade se
sociais.
E, ainda
assim,
esse prin
ela estabelecido não como uma necessidade
empírico, pro a lei da causali
mas somente como um postulado
duto de um
dade
REGRAS
indução
legítima. Visto
qu
verificada nos outros reinos da natureza
progressivamente el
qu
fí psi
estendeu seu domínio do mundo
biológico, e deste ao mundo cológico, é lícito admitir qu ela igualmente seja verdadei ra para mundo social; e é possível afirmar hoje qu as sico-químico ao mundo
pesquisas empreendidas sobre tendem
za
a confirmá-lo. Mas a
base desse postulado
questão de saber se
nature
do vínculo causal exclui toda contingência nem por so está resolvida. De
resto, a
filosofia te sociologia. Pois,
própria
sa emancipação da
todo
is
interesse nes
enquanto
sociólogo
filósofo, el só consi mais geral, aquele pelo qual elas mais se assemelham às outras coisas do univer so. Ora, se *a sociologia assim concebida pode servir para ilustrar co fatos curiosos um filosofia, el nã poderia enriquecê-la com idéias novas, uma vez qu ela nada as sinala de novo no objeto qu estuda. Mas, em realidade, se* os fatos fundamentais d o ~ outros reinos se verificam no reino social, é so formas **especiais qu fazem com nã
se separou suficientemente do
as coisas sociais
dera
po
seu lado
preender melhor sua natureza, po mais
elevada**. Só
serem su
que, para percebê-los so
expressão esse aspec
to, é preciso sair das generalidades entrar no detalhe do fatos. deste modo qu sociologia, medida qu se especializar, irá fornecer materiais materiais mais originais para Desenvolvimento que não
"novas e que por isso natureza". (R.P., p. 179,) *'
flgura
mesmo
no texto inicial. fazem compreender
melhor sua
147
CONCLUSÃO
filosófica. O q uc prccede foi ca pa de fazer is como as entrever de qu maneira no(:()es essencia is, de espécie, de órgão, de fun(,'ão, de saúde l' dl' t!oen(:a, de causa de fim, apresentam-sc ncla so luzes inteira mente novas. Aliás, será qu a sociologia não estarj dest ireflexão
realçar plenamente um
nada
idéia qu
podcria muito
psicologia, mas de to da uma filosofia, a idéia de associação? Em face da doutrinas práticas, nosso método permite requer mesma independência. A sociologia, assim en tendida, nã será ne individualista, ne comunista, né socialista, no sentido qu se dá vulgarmente essas pala vras. Po princípio, irá ignorar essas teorias, às quais nã poderia reconhecer valor científico, já qu elas tendem di retamente, nà exprimir os fatos, ma a reformá-los. Pelo menos, se se interessa po elas, é somente na medida em qu as vê como fatos sociais capazes de ajudá-la com preender realidade social, ao manifestarem as necessida des que movem sociedade. Isso não quer dizer, porém, qu a sociologia deva se desinteressar das questões práti
be
base não apenas de um
se
cas. Põde-se ver, ao contrário, qu constante er resultados
nossa preocupação
orientá-la de maneira que pudesse alcançar
práticos. Ela
depara necessariamente co
esses
pesquisas. Mas, exatamente a ela nesse momento po decor fatos e nà da paixões, pode-se pre
problemas ao término de suas
por só se apresentarem rerem portanto dos ve
qu
tais
problemas devam se colocar para
diferentes do aliás parciais, qu
em termos muito
as
soluções,
que para el
sociúlogo
a Illul! id;ío, l' qlll'
capaz de propor n;I()
nenlilllll;1 d;lqlll'l;IS na quais se detêm os partidos. papel s()ci()l()gia, desse ponto de vista, devc justamcnte c()nsist ir l'lll n()s libertar de todos os partidos, nã tanto po ()por lIlll;1 d()ll trina às doutrinas, e sim po fazcr os espíritos asslllllirclll,
poderiam coincidir exatamente co
148
AS
diante de tais questões, um
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
atitude especial qu
somente
ciência pode proporcionar pelo contato direto co
as
coisas. Co efeito, somente ela pode ensinar a tratar co respeito, ma se fetichismo, as instituições históricas se jam elas quais forem, fazendo-nos perceber qu elas tê ao mesmo tempo de necessário de provisório, sua força de resistência e su infinita variabilidade. Em segundo lugar, nosso método é objetivo. Ele é in teiramente dominado pela idéia de que os fatos sociais sã como tais devem se tratados. Certamente, esse coisas princípio se encontra, so forma um pouco diferente, na base das doutrinas de Comte de Spencer. Mas esses grandes pensadores deram muito mais su fórmula teórica do que puseram em prática. Para qu el nã permane cesse letra morta, nã bastava promulgá-la; era preciso tor ná-la a base de toda um disciplina qu se apoderasse do objeto de cientista no momento em que ele abordasse suas pesquisas
qu
acompanhasse em todos os seus
passos. Foi a instituir essa disciplina que nos dedicamos.
Mostramos como tecipadas qu
sociólogo deveria afastar as noções an
possuía dos fatos, a fim de colocar-se diante
fatos mesmos; como deveria atingi-los atingi-los po seus carac teres mais objetivos; como deveria requerer deles próprios meio de classificá-los em saudáveis em mórbidos; co mo, enfim, deveria seguir mesmo princípio tanto nas ex plicações qu tentava quanto na maneira pela qual prova sentimento de va essas explicações. Pois, quando se te do
estar em presença de coisas, ne
sequer se pensa mais em explicá-las po cálculos utilitários ou por raciocínios de
qualquer espécie. Compreende-se muito be
qu
há entre tais causas e tais efeitos. Um
distância coisa
um
força que não pode se engendrada senão por outra força. para os fatos sociais, capazes de produzi-los. As explicações nã apenas sã
149
CONCLUSÃO
outras, como são demonstradas de outro modo, ou me necessidade de de lhor, é somente então qu se sente monstrá-las. Se os fenômenos sociolúgicos forem apenas sistemas de idéias objetivas, explicá-los repens;i-Ios em sua ordem lógica e essa explicação su prúpria prova;
q u a n d o muito será
caso de confirmá-la po
alguns
exemplos. Ao contrário, somente experiências metúdicas sã
capazes de arrancar da
coisas se
segredo.
Mas, se consideramos os fatos sociais como coisas, é como
coisas sociais.
nosso método
um terceiro traço característico de
de ser exclusivamente sociológico. Mui
tas vezes se pensou que tais fenômenos, po causa de su extrema complexidade, ou eram refratários à ciência, ou
só poderiam entrar nela reduzidos
suas condições ele
mentares, sejam psíquicas, sejam orgânicas, isto é, despo
jados de sua natureza própria. Procuramos estabelecer, ao era possível tratá-los cientificamente se nada retirar-lhes de seus caracteres específicos. Inclusive recusamos reduzir a imaterialidade su generis qu os ca racteriza àquela, nà obstante já complexa, do fenôme no psicolqgicos; co mais forte razão no proibimos de absorvê-Ia, como faz a escola italiana, na propriedades gerais da matéria organizada 1. Mostramos que um fato so
contrário, qu
cial só pode ser explicado po
outro fato social, e, ao
mesmo tempo, indicamos de que maneira esse tipo de explicação é possível ao assinalarmos *no meio sodal in
terno
motor principal da evolução coletiva".
gia, portanto, não é ela própria
um
sociolo
anexo de nenhuma outra cii'nda;
ciência distinta e auttH1ollla, l'
() sl'nti
"uma ordem de causas dotadas dl' sul"ki"I1I,' "'1<'1"11<'1'1 1',11,1 tornar inteligível a produ\;ào dos l'fl'ilos '1Ul' 111<',' ai lÍ"lIl11 11 ", ,. ",1"1,1111,, próximas desses efeitos para podl'r l'xplicí-Ios ,"'111 '111l' "'1,1 lu""',,,,"III, desnaturá-los po um s i m p l i f i c l ~ ' : i o arlilki,lI: Irala M' ela" pr"l"f,'e1,"I<'"
do meio social". (R.P., id., p. lH
150
AS
REGRAS DO MÉTODO S0G10LÓGICO
mento da especificidade especificidade da realidade social tã
necessário ao sociólogo, qu
pecificamente sociológica compreensão do
somente uma cultura es
capaz de prepará-lo para
fatos sociais.
Consideramos qu
te do
inclusive
esse progresso é o mais importan
feitos em sociologia. Certamente, ciência está po nascer, somos obrigados, pa ra formá-la, a no referir ao únicos modelos existentes, ou seja, às ciências já constituídas. Existe aí um tesouro de ex periências proQtas qu seria insensato nã aproveitar. En tretanto, um ciência só pode considerar-se definitivamen te constituída quando conseguir formar-se um personali dade independente. Pois el só terá razào de ser, se tiver po objeto um ordem de fatos qu as outras ciências nã estudam. Ora, é impossível qu as mesmas noções possam convir identicamente a coisas de natureZa diferente. Tais nos parecem ser os princípios do método socio lógico. Esse conjunto de regras talvez parecerá inutilmente qu
restam
se
quando um
complicado, se
compararmos aos procedimentos cor
rentemente utilizados. Todo esse aparato de precauções pode parecer muito trabalhoso 'para um aqui, reclamava dos que mais do que um
el
ciência que, at
se consagravam pouco
cultura geral e filosófica,' e é certo qu
põr em prática tal método não poderia ter po garizar
efeito vul
curiosidade das coisas sociológicas. Quando se
pede às pessoas, como condição de iniciação prévia, para se desfazerem dos conceitos qu
tê
hábito de aplicar
novos esfor ços, nà se pode esperar recrutar um clientela numerosa: Mas esse nã é objetivo qu almejamos. Acreditamos, um
ordem de coisas para repensá-las co
facilidade espíritos elegantes e sutis "quando se sahe com que facilidade se divertem em meio aos fenômenos sociais," (R.P., p. 182.)
1')1
CONCLUS'ÃO
ao contrário, qu
chegou, para
sociologia,
momento
assim dizer, e cOIwl'm a toda ci0ncia.
de renunciar aos sucessos mundanos, po de assumir
caráter esotérico qu
em autoridade Ela ganhará assim em dignidade qu perderá talvez em popularidade. Pois, enquanto lwrmane ce misturada às lutas do partidos, enquanto se contentar em elaborar, co vulgo, as idl'ias maís lógica do que comuns e, po conseguinte, enquanto nã supuser nl'
nhuma competência especial, el
nã
estará habilitada
falar suficientemente alto para fazer calar as paixôes preconceitos. Seguramente, ainda está distante
em que el no entanto, qu
os tempo
poderá desempenhar essé papel com eficácia; para torná-la capaz de representá-lo um dia
precisamos, desde agora, trabalhar.
NOTAS
Prefácios 1. Mas, objetam-nos, se saúde contém elementos execrá veis, como apresentá-la, tal como fazemos mais adiante, como objetivo imediato da conduta? Nisso não há nenhuma contradi ção. Acontece a todo instante qu um coisa, embora prejudicial po algumas de suas conseqüências, seja, po outras, útil ou mesmo necessária à vida; ora, se os maus efeitos qu el te sã regularmente neutralizados por uma influência contrária, ve rifica-se de fato qu el serve se prejudicar, nã obstante con tinue sendo execrável, pois nà deixa de constituir po si mes
ma um perigo eventual qu
força antagônica. dade
só
conjurado pela ação de um
caso do crime; o mal qu
el
faz à socie
anulado pela pena, se esta funcionar regularmente. Por
tanto, o mantém com as condições fundamentais da vida as relações positivas qu veremos a seguir, se produzir o mal qu implica. Só que, como el se torna inofensivo contra sua vontade, po assim dizer, os sentimentos de aversão qu suscita nã deixam de ter fundamento. qu significa qu ele nào deve ser confundido com 2. metafísica positivista de Comte de Spencer.
154 rio
AS REGRAS DO MÉTODO
3. Vê-se
admitir essa proposição, nã necessá social é feita de algo mais do que repre estabelecer qu as representações, individuais
que, para
afirmar qu
vida
sentações; basta ou
coletivas,
SOCIOLÓGICO
só podem ser estudadas cientificamente co
con
dição de serem estudadas objetivamente.
4.
proposição,
as
indivíduos, há
aliás, é
sã
coisas qu
verdade, porém, qu
dade. mentos
5.
ativos. inútil
ra de nó
qu
elementos integrantes da
os indivíduos sã
mostrar como, desse ponto de
de de estudar os evidente, um
só parcialmente exata. Além do
fatos a partir
vez qu
vista, a
6.
poder coercitivo qu
fato social,
interiores.
lhe atribuímos nã
tanto assim qu
do be
caráter oposto.
do dever, qu
igualmente
reais,
letivas qu
nã
contraditória,
da vida
Ora,
talvez
nã
em aparência.
Se
nã
haja
só
assim que, ao pensar
faz
su
há conformismo social qu
campo da
v;lriae;(lL'S
é limitado. Ele é nulo ou muito p e q u e n o no círculo dos fenômenos religiosos e morais, onde variaçào torna-se fa cilmente um crime; mais amplo em tudo qu concerne ;, vi da econômica. Mas, cedo ou tarde, mesmo nesse último caso, chega-se um limite qu nã pode ser franqueado.
Introdução
mundo sensível, cada um
de Logique, I, VI, capo VII-XII. Cours de phil osophie positive, 2ª ed.,
1. .s:Vsteme
2. Ver
pp.
294-336.
Capítulo I 1.
qu
nã
normal. Voltaremos
2.
As
3.
quer dizer, todavia, qu toda cocrçào seja mais adiante esse ponto.
pessoas nã
todas as idades. co
essa
desinteressada,
simplesmente porque esta nã se manifesta po sinais exterio res, facilmente perceptíveis. O be tem algo de mais interno, de mais íntimo qu dever, portanto de menos discernível. 7. Ver o artigo "Sociologie" da Grande Encyc!opédie, redigi do po Fauconnet e Mauss. 8. Do fato de qu as crenças e as práticas sociais nos pene tram a partir do exterior, nã se segue qu as recebamos passi vamente se lhes imprimir modificação. Ao pensarmos as ins tituiçües coletivas ao assimilá-Ias internamente, nó as individua lizamos, conferimos a elas, em maior ou menor grau, nossa mar ca pessoal;
sujeilos dikrellles se adap físico. Por is"o, l'lll cerLl mora!, su religi;lo, su Il'Cllicl. nà comporte loda um g;IIlU qu
mesmo meio
permitidas
práticas co
as definimos po
adesão especial, ao mesmo tempo interessada
Ulll
de nuances individuais. Não obstante,
ao mesmo tempo que 'as
exerçam sobre nós essa dupla ação, qu
aliás,
Nã
representa
exprimem dois aspectos diferentes, ma
moral.
sua maneira,
colore
medida, cada um de nós
este p o d e apresentar
insti tuições se impõem nós, aderimos a elas; elas no obrigam e as amamos; elas nos constrangem vemos vantagens em se fun nesse constrangimento mesmo. Essa antítese é cionamento freqüência assinalaram entre as noções qu os moralisLls co igualmente
Pois,
mais fo
de nó
tam diferentemente
ocorrem
percepção confusa
temos sequer
consciência pode nos dar dos fenômenos
totalidade do
necessida
do exterior afigura-se afigura-se ainda
eles resultam de sínteses qu
das quais nã
socie
seus únicos ele
i
NOTAS
Vê-se o
se suicidam em qualquer idade, nem em mesma intensidade.
quanto essa definiçàodo
fato social distancia-se
da que serve de base ao engenhoso sistema de Gabriel Tarde. Primeiramente, devemos declarar qu f i ~ e r a m
constatar em parte alguma essa
influência
n;ío
!10S
preponderallll'
atribui à imitação na gênese dos falos cole! i V C l , ~ , i V C l , ~ , definic,;ão precedente, que n;lo é um Il'oria, 111;\.' um simples resumo do dados imediatos da o!lSl'rV;I,'ao, p;m'('(' (' resultar claramente que não apenas i l 1 l i ! a ~ ' ; l o i l IH'III 1 l i ! a ~ ' ; M'l1lpl'l' l o prime, ma inclusive também jamais exprillll' () qlll' lia d(' ('"",'11 cial e característico no fato social. Claro qlll' ICldCl LI!Cl ,'CI('i;iI (' imitado; ele possui, como a c a h a l l l o , ~ a dl' c a h a 1 l 1 l 1 (l ) o , , ~ ! ~ r a r , 11111;1 1('IHIl'I1l'ia ,I se s()l'Íal, i . ~ ! c l (', ClhrigalClriCl, ,"11,1 generalizar-se; ma isso por força de expansào é, n;ío a causa, Illas a (,Cl!1Sl'qiil"I1l'i;1 dl' , ~ ( ' I I (';1 qu
o sr.
nossas pesquisas
Tarde
Ademais, da
156
AS
REGRAS
DO MfTODO
S0G10LÓGICO
ráter sociológico. Se os fatos sociais fossem os únicos a produzir
10.
essa conseqüência, a imitação poderia ainda servir, senão para
torna su
exprimi-los, ao menos para defini-los. Mas um estado individual qu é imitado nem por isso deixa de se individual. Além disso, pode-se perguntar se a palavra imitação é exatamente qu con vém para designar um propagação devida a um influência coer citiva. Sob essa expressão única, confundem-se fenômenos muito diferentes e qu precisariam se distinguidos. 4. Esse íntimo parentesco da vida e da estrutura, do órgão estabelecido e da função, p o d e s e r facilmente estabelecido
sociologia
porque, entre esses dois termos extremos, existe toda um
série mostra a li gação entre eles. A biologia nã dispõe do mesmo recurso. Mas é lícito supor que as induções da primeira dessas ciências sobre tal questão são aplicáveis outra que, tanto no organismos de intermediários imediatamente observáveis
qu
como nas sociedades, existem apenas diferenças de grau entre
essas duas ordens de fatos.
Capítulo II 1.
2.
3.
4. 5.
organum, I, p. 26. Ibid., I, p. 17. Ibid., p. 36. Sociol., tr. fr., I1I, pp. 331, 332. Ibid., p. 332. Novum
6. Concepção, aliás, controversa. (Ver Division du travail 11, p. 2, < > 4,) 7. "A cooperação nã poderia portanto existir sem socieda de e é o objetivo para qual uma sociedade existe." (Principes de Sociol., m, p. 332.) 8. Systeme de Logique, Logique, 111, p. 496. 9. Esse caráter sobressai das expressões mesmas emprega
social,
da
pelos economistas.
todo instante se trata de idéias, da
idéia do útil, da idéia de poupança, de emprego do dinheiro, de despesa. (Ver Gide, Principes d'économie politique, liv. m, capo I, < > 1; capo 11, < > 1, capo m, < > 1.
157
NOTAS
verdade qu
complexidade maior do
ciência mais árdua. Mas, em
mente porque a sociologia
fatos sociais
c o m p e n s a ~ : , í o , c o precisa m p e n s a ~ : , í o ,
a última a chegar, ela est:l em con
dições de aproveitar os progressos realizados pelas ciências in
feriores e de instruir-se na escola delas. Essa utilização da expe riências realizadas nã pode deixar de acelerar se desenvolvi mento. 11. J. Darmesteter, Les prophetes d'L'irai.H, p. • 12. Na prática, sempre do conceito vulgar e da palavra vulgar qu se parte. Busca-se saber se, entre as coisas qu essa palavra confusamente conota, há 'algumas qu apresentam carac teres comuns exteriores. Se houver. se o conceito formado pelo grupamento dos fatos assim aproximados coincidir, se não total mente (o qu é raro), pelo menos na maior parte, com o concei to vulgar, poder-se-á continuar a designar o primeiro pela mesma conservar na ciência a expressão em segundo palavra qu pregada na língua corrente. Mas, se a distância for muito consi derável, se noção comum confundir um pluralidade de noções distintas, a criação de termos novos e especiais se impõe. • Essa nota nã figura no texto inicial. 13. mesma ausência de definição qu fez dizer, às ve zes, qu democracia se encontrava igualmente no começo democracia primitiva e a no fim da história. A verdade qu atual sã muito diferentes uma da outra. 14.
Criminologie, p.
2.
15. Ver Lubbock, Les origines de la civilisation, capo VIII. Mais geralmente ainda, diz-se, nã menos falsamente, qu as re ligiões antigas são amorais ou imorais. A verdade qu elas tê um moralidade própria. 16. Seria preciso, por exemplo, ter razões para acreditar que, nu momento dado, o direito nã mais exprima estado verdadeiro das relações sociais, para qu essa substituição nã seja legítima. 17. Ver Division du trava il social 1. I. 18. Cf. nossa Introduction la Sociologie de la famille, in Annales de la Faculté des lettres de Bordeaux, an de 1889.
158
AS REGRAS DO MÉ7DDO SOClmÓGICO
Capítulo 1II 1. Pode-se sidade.
fica
distinguir
segunda só
um
desse modo
doença da monstruo
exceção no espaço;
na média da espécie, mas dura toda
ela
vida do
nã
se
veri
indivíduos
manifesta. Percebe-se, de resto, qu essas duas or fatos só diferem em graus são, no fundo, da mesma natureza; as fronteiras fronteiras entre elas sã muito indecisas, pois doen ça nã incapaz de qualquer fixidez, ne monstruosidade de qualquer transformação. Nã podemos portanto separá-las mui to radicalmente quando as definimos. distinção entre elas nã morfológico e o fisioló pode ser mais categórica do que entre gico, uma vez que, em suma, mórbido anormal na ordem assim como fisiológica, teratológico é anormal na ordem nos quais se
dens de
anatômica.
Essa nota não figura no texto inicial. 2. Po exemplo, selvagem que tivesse tubo digestivo sistema nervoso desenvolvido do civilizado sadio reduzido e seria um doente em relação se meio. 3. Abreviamos essa parte de nossa exposição; pois não pode mo senão repetir aqui, a propósito dos fatos sociais em geral, o qu dissemos alhures a propósito da distinção dos fatos morais em normais e anormais. (Ver Divisirm du trauail social, pp. 33-39,) mórbido verdade, distinguir *4. O sr. Garofalo tentou, cio anormal (Criminologie, pp. 109, 110). Mas os dois únicos ar gumentos sobre os quais ele apóia essa distinçào são os seguin tes: 1) palavra doença significa sempre algo qu tende des truição total ou parcial do organismo; organismo; se não houver destruição, há cura, jamais estabilidade como em várias anomalias. Mas aca bamos de ver qu também anormal uma ameaça ao ser vivo na média do casos. f: verdade qu nem sempre assim; mas os perigos qu doença implica só existem igualmente na genera lidade das circunstâncias. Quanto ausência de estabilidade qu distinguiria o mórbido, esquecer as doenças crônicas separar radicalmente teratológico do patológico. As monstruosidades as raças, dizem, sã fixas. 2) O normal () anormal variam co enquanto a distinção do fisiológico e do patológico é válida pa-
159
NOTAS
ra todo genus homo. Acahamos de moslrar, a() conlJ';Íri(), qu muitas vezes qu múrhid() para selvagem n;úl o l' para civilizado. As condi,;<'les da saúde física variam c()m ()s mei()s. • Essa nota nã figura no texto inicial. verdade, se, quand() um kntlllll'n() 5. Pode-se perguntar, condiç
mais pronunciado
sociedades se aproximam de nosso tipo atual
medida qu
qu
as
este, po
vez, é mais desenvolvido (Division du travail social, social, pp 73182). Mas, no fundo, esse método apenas um caso particular normalidade desse fenômeno pôde ser do precedente. Pois, se estabelecida dessa forma, é que, com isso, el foi associado às condições mais gerais de nossa existência coletiva. De fato, po um lado, se essa regressào da consciência religiosa é tanto mais acentuada quanto mais determinada for a estrutura de nossas so su
ciedades,
qu
el
se deve não
uma causa acidental, mas
social; e como, po outro la particularidades características desta última sã certamen
constituição mesma de nosso meio do, as
te
mais desenvolvidas hoje do que um tempo atrás,
normal
160
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
qu os fenômenos qu delas dependem sejam eles próprios am plificados. Esse método difere do anterior somente no fato de qu as condições qu explicam e justificam a generalidade do fenômeno sào induzidas nà diretamente observadas. Sabe-se qu esse fenômeno está ligado natureza do meio social se saber em que nem como.
9. Mas nesse caso, dirào, a realização do tipo normal nà o objetivo mais elevado qu se pode propor, e, para superá-lo, preciso também superar a ciência. Não precisamos tratar aqui essa questão ex professo; respondamos apenas: 1) qu ela é in teiramente teórica, pois, na verdade, tipo normal, o estado de saúde, já é bastante difícil de realizar e muito raramente alcança imaginaçào em busca de algo do para qu façamos funcionar melhor; 2) qu esses melhoramentos, objetivamente mais vanta josos, ne po isso sà objetivamente desejáveis; pois, se nã alguma tendência latente ou em ato, eles nada correspondem acrescentariam ã felicidade, e, se correspondem alguma ten dência, é porque tipo normal nã está realizado; 3) enfim que, para melhorar tipo normal, é preciso conhecê-lo. Portanto, se ja como for, só se pode superar a ciência apoiando-se nela. 10. Do fato de o crime ser um fenômeno de sociologia nor criminoso seja um indivíduo normal mal, nà se segue qu mente constituído do ponto de vista biológico e psicológico. As duas questões sào independentes uma da outra. Compreender se-á melhor essa independência quando tivermos mostrado,
mais adiante, a diferença existente entre os fatos psíquicos fatos sociológicos.
os
11. Calúnias, injúrias, difamação, dolo, etc. 12. Nós mesmos cometemos erro de falar assim do crimi noso, po nã termos aplicado nossa regra CDivision du travail social, pp. 396).
13. Aliás, de qu nà
se segue qu
o crime seja um fato de sociologia normal do nada tem não se deva odiá-lo. Também
de desejável; o indivíduo a odeia assim como sociedade odeia ver com a fisiologia normal. o crime, e não obstante ela te Ela nã apenas deriva necessariamente da constituiçào mesma de todo ser vivo, mas também desempenha um papel útil na vi-
NOTAS
161
da, no qual nào pode ser substituída. 'Seria portanto desnaturar singularmente nosso pensamento apresentá-lo COIllO ullla apolo gia do crime. Nào pensaríamos sequer em protestar contra tal in terpretação, se nà soubéssemos qu estranhas a c u s a ~ ' ( ) e s a ec u s a qu mal-entendidos alguém se expõe, quando empreende estu da os fatos morais objetivamente e falar deles numa linguagem que não é do vulgo.' • Frases que não figuram no texto inicial. , 15. Da teoria desenvolvida neste capítulo concluiu-se ãs vezes que, em nossa opinião, marcha ascendente da criminali dade ao longo do século XIX era um fenômeno normal. Nada mais distante de nosso pensamento. Vários fatos qu indicamos propósito do suicídio (ver Le Suicide, p. 420 e ss.) no levam a pensar, ao contrário, que esse desenvolvimento é, em geral, mórbido. Contudo, poderia ocorrer qu certo crescimento de al gumas formas de criminalidade fosse normal, pois cada estado de civilizaçào tem sua criminalidade própria. Mas a esse respeito não se podem emitir mais qu hipóteses. , Nota introduzida na ediçào de 1901.
Capítulo IV foi freqüe nte entre os historia1. Chamo-o assim porque el foi dores, ma não quero dizer qu se verifique em todos. 2. Cours de philos. pos., IV, p. 263. 3. Novum organum, n, < > 36. 4. Sociologie, n, p. 135. 5. "Nem sempre podemos dizer co precisào qu constitui uma sociedade simples." CIbid., pp. 135, 136.) 6. Ibid., p. 136. social, p. 189. 7. Division du travail social, 8. Todavia provável que, em geral, a distância entre as sociedades sociedades componentes nà fosse muito grande; caso contrá rio, nà poderia haver entre elas nenhuma comunidade moral. esse caso do Império romano, qu parece nào 9. Nã ter equivalente na história?
~ ' ( ) e s
162
AS
REGRAS DO Mh7'ODO SOClOLC)GIC SOClOLC)GIC
• 10. Ao redigirmos este capítulo para a primeira edição desta obra, nada dissemos do método que consiste em classificar as socie dades segundo seu estado de civilização. Naquele momento, co efeito, nã existiam classificações desse gênero qu fossem propos tas por sociólogos autorizados, exceto talvez aquela, evidentemente arcaica, de Comte. Desde então, várias tentativas foram feitas nesse sentido, notadamente po Vierkandt (Die Kulturtypen de Menscheit, in Archiv .f A nthropologie, nthropologie, 1898), po Sud1erland (The Orígin Growth 0/ he Moral Instinct) po Steinmetz (Cla":'i'/lcation an des t}pes sociaux, in Année sociologique, m, pp. 43-147). Todavia, nã nos deteremos a discuti-las, pois não respondem ao problema colocado neste capítulo. Nelas são classificadas, nã espécies sociais, mas, o qu diferente, fases históricas. A França, desde suas be origens, passou por formas de civilização muito distintas: começou po ser agrícola, passando a seguir ao artesanato ao pequeno co mércio, depois manufatura e finalmente ã grande indústria. Ora, é impossível admitir qu uma mesma individualidade coletiva possa mudar de espécie três ou quatro vezes. Uma espécie deve ser defi nida por caracteres mais constantes. O estado econômico, tecnoló gico, etc., apresenta fenômenos demasiado instáveis e complexos para fornecer base de um classificação. possível, inclllsive, que uma mesma civilização industrial, científica, artística possa se verifi car em sociedades cuja constituição congênita seja muito diferente. Japão pode vir a incorporar nossas artes, nossa indústria, até mesmo nossa organização política; nem por isso deixará de perten da Alemanha. ce uma espécie social diferente das da França Acrescentemos que essas tentativas, embora conduzidas po soció logos de valor, forneceram apenas resultados vagos, contestáveis e de pouca utilidade. Nota introdU7:ida na edição de 1901.
163
NOTAS
4. Não gostaríamos de levantar questôes de filosofia geral, . qu
nã
estariam aqui em se
rém que, mais be
lugar apropriado. Notemos po
estudada, essa reciprocidade da causa
efeito poderia proporcionar um meio de reconciliar
mo científico co
finalismo qu du
travail, 1. lI, capo lI, e notadamente pp
6. Ibid., pp. 52, 53. 7. Ibid., pp. 301 ss. 8. Cours de philos. pos., IV, p. 333. 9. Ibid., p. 345. 10. Ihid., p. 346. 11. Ihid., p. 335. sociologie, I, 14, p. 14. 12. Príncipes de sociologie, 1.3. Op. cit., I, p. 583. 14. Ibid., p. 582. 15. Ibid., p. 18. 16. "A sociedade existe para proveito de seus membros, os membros não existem para proveito da sociedade .. os di reitos do corpo político nada são em si mesmos, eles só se tor
na
alguma coisa se encarnarem os direitos do
indivíduos qu
compõem." (Op. cit., lI, p. 20,) *17. Eis em que sentid po qu razões se pode se deve falar de uma consciência coletiva distinta da consciências indi viduais. Para justificar essa distinção, nã necessário hipostasiar primeira; ela
algo de especial
deve ser designada po
termo especial, simplesmente porque os estados qu diferem especificamente especificamente d aqueles qu
um
constituem
constituem as consciências
especificidade decorre de esses estados nã particulares. Essa especificidade serem formados dos mesmos elementos. Uns, co
efeito, resul
orgânico-psíquico tomado isoladamente,
pluralidade de seres desse ti As resultantes não podem portanto deixar de diferir, visto qu os componentes diferem a tal ponto. Nossa definição do fa to social, aliás, apenas assinalava de outra maneira essa linha de
os outros da combinação de um
Cours de philos. pos., IV, p. 262. 2. Sociologie, m, p. 336. 3. Division du travail, 1. lI, capo III e IV.
lOS
ss.
tam da natureza do se
Capítulo V
sobretudo
existência
persistência da vida implicam.
5. Diuision
do
mecanis
po
demarcaçao
• Essa nota nã
figura no texto inicial.
164
AS
REGRAS DO MÉTODO SOCIOlÓGICO
18. Se é qu ela existe antes de toda vida social. Ver sobre esse ponto Espinas, Sociétés Sociétés animale s, p. 474.
social, 1. lI, capo I. 19. Division du travai l social, 20. Os fenômenos psíquicos só p o d e m te conseqüências sociais quando se encontram tão intimamente unidos fenôme nos sociais qu ação de ambos se confunde. caso de cer tos fatos sociopsíquicos. Assim, um funcionário um força so cial, ma ao mesmo tempo um indivíduo. Disso resulta qu ele sentido deter pode servir-se da energia social qu detém, nu minado po sua natureza individual e, deste modo, ter um in qu
constituição da sociedade.
fluência sobre
acontece
com os homens de Estado e, de maneira mais geral, com os ho
165
NOTAS
doutrina, a vida coletiva só se
mais gerais da organização social podem, a rigor, se
do
da extrema generalidade da
poderem se
los dessa escola, tão artificiais quanto para seus adversários. Pa ra nós, ao contrário, tudo é natural, mesmo os arranjos mais es peciais; pois tudo está fundado na natureza da sociedade.
Capítulo
VI
Cours de philoso phie positive, positive, IV, p. Systeme de Logique, Logique, II, p. 478. Diuision du travai l social p. 87.
2.
percebe-se qu
*4. No caso
e, po
conseguinte, nã
da espécie social, qu
é
devidos
poderiam afetar os traços constitutivos único objeto de ciência. A restrição ao
21. Cometemos o erro, em nossa densidade material como
dinâmica. Todavia,
Division du travail, de qu
tudo
concerne ao
divisão do trabalho
22. A posição de Comte sobre esse assunto mo bastante ambíguo. 23. Eis por que nem toda coerção corresponde
se
de um ecletis
normal. Somente mere
alguma superioridade social,
isto é, intelectual ou moral. Mas a qu bre outro po
real
substituição da primeira pela segunda
efeitos econômicos desta, po exemplo, como fato puramente econômico.
qu
3.
exclui
do método de diferença,
328.
ausência da causa
presença do efeito.
Essa nota nã
figura no texto inicial.
Conclusão
expressão exata da densidade
absolutamente legítima em relação
ce esse nome
1.
portanto de grande im
princípio enunciado mais acima nã portância para sociólogo. ça
acidentes individuais
propriedades psíquicas para
ligados a elas; assim eles parecem, para os discípu
cial, extraem dos sentimentos coletivos de qu sã objeto uma constitui, el própria, um força social, qu eles podem, em certa medida, pô serviço de idéias pessoais. Mas esses casos sã
derivadas
dessa origem. Quanto aos detalhes, encontram-se muito afasta
mens de gênio. Estes, mesmo que não cumpram uma função so autoridade qu
natural na medida em que pode
d e d u z i d a da natureza individual. Ora, s o m e n t e as formas
um indivíduo exerce so
mais forte ou mais rico, sobretudo se essa ri
queza não exprime seu valor social, mantida pela violência.
anormal
24. Nossa teoria é inclusive mais contrária
só pode se
de Hobbes qu
do direito natural. Com efeito, para os defensores desta última
*1. Portanto,
nã
há motivo para qualificar nosso método
de materialista.
Essa nota nã
figura no texto inicial.