RESENHA CRÍTICA Do Mágico ao Social Trajetória da Saúde Publica Diego V. de Souza Prof.ª LÍGIA DIALA MAFRA FAMEBLU – Faculdade Metropolitana de Blumenau Bl umenau Fisioterapia (FIS21) - SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA 24/05/2010
Do mágico ao social, livro de Moacir Scliar, em sua 2ª edição, sendo catalogado como livro de historia, demonstra a trajetória humana, na busca de cura para as enfermidades que o atacava, nos mostrando muitos exemplos de pessoas, com idéias de saúde, ou pelo menos com o intuito de acabar com as enfermidades, onde em algumas épocas eram tidas como um simbolismo maligno, sendo demonstrado através dos anos a “evolução” do que podemos chamar de “sistema de saúde”. Seu livro inicia com a “Nota de editor” onde Marcus Marcus V. B. Alves nos da à idéia da onde o escritor quer chegar “que salienta ser a “medicina do corpo social”. Essa medicina “vai em busca das pessoas”, pessoas”, mob mobilizan ilizando do equi equipes pes mult multiprofi iprofission ssionais ais de méd médicos”. icos”. Sendo Sendo segu seguido ido pela introdução e doze capítulos, não numerados, que nos contam a história da trajetória humana em relação à saúde e doença através dos séculos. Moacir Scliar nascido em Porto Alegre em 23 de março de 1937, no bairro do Bom Fim, onde reúne a comunidade judaica, recebendo a primeira educação de sua mãe, Sara Scliar, professora do primário, em 1943 foi para a Escola de Educação e Cultura transferindo-se em 1948 para o Colégio do Rosário, em 1955 foi para faculdade de medicina na UFRGS, em 1963 começa carreira medica trabalhando com o Serviço de Assistência Medica Domiciliar e de Urgência (SANDU). Publica sua primeira obra em 1962 “Historias de Um Medico em Formação”, publicando publicando futuramente mais de de 67 livros dos quais recebeu inúmeros prêmios literários, em 1965 casa-se com Judith Viviem Oliven, em 1970 faz pós graduação em Israel, tornando-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública, sendo depois chamado para ser professor, visitante na Brown University (Departamento de Português e Estudos Brasileiros) em 1993, e na
Universidade do Texas, em Austin. E em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em seu livro de historia, Moacir Scliar, constrói a idéia de concepção de saúde e doença no decorrer da historia da “evolução” humana sendo iniciado pelo capitulo “ O olhar mágico” onde se descreve como teria sido o uso do conhecimento dos xamãs, que para isto passava por um longo tempo de estudo “Para isso passava por um treinamento longo e rigoroso, com prolongada abstinência sexual e alimentar; neste período aprende as canções xamanisticas e utiliza plantas com substancias alucinógenas que são chamarizes para os espíritos capazes de combater as doenças.”(p. 14 e 15). Mais por outro lado esses conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais ajudaram para o isolamento de princípios ativos que eram de uso medicinal “William Withering, medico inglês do século XVIII, aprendeu com uma curandeira a tratar pacientes hidrópicos, inchados, utilizando a dedaleira; desta planta foi extraída mais tarde a digital, utilizada para o tratamento de insuficiência cardíaca.”. Sendo ainda a proibição de determinados costumes, que por acaso acabavam “prevenindo” algumas doenças da época, por exemplo: “cozinhar uma animal novo no leite da mãe” (p.18), a circuncisão, que muitos acreditavam prevenir doenças sexuais e o câncer de pênis, mas que devido a certas ideologias religiosas foi proibido, devido o mesmo ser um símbolo da religião judaica, o que nos mostra o preconceito contra o mesmo, mas que devido à “força da tradição” (p.19) continuaram a praticar o ato, mesmo sendo imposta uma tarifa aos homens circuncidados como maneira de diminuir a tradição sendo ela judaica ou islâmica. No capitulo “O olhar empírico” vemos como os gregos utilizavam-se exclusivamente da experiência e da observação para o tratamento de seus doentes, sendo venerados os deuses Asclepius (deus da medicina) e Hygieia ( deusa da saúde) e Panacea (deusa da cura), e para a cura os mesmos usavam alem de rituais, usavam também plantas e métodos naturais (como o uso de águas termais e exercícios), sendo o precursor Hipocrates, mas o mesmo não acreditava na explicação divina, e sim como a doença causada por um agente da natureza, que o mesmo via a explicação divina como o reflexo da ignorância humana. Seu modelo de trabalho era o miasma, acreditava-se que “ar de regiões insalubres transmitiria enfermidades, como a malaria, cujo nome (latino) vem daí: maus ares” (p.25). Na época não existia a saúde pública, já
que as mediadas sanitaristas eram dirigidas totalmente a nobreza. Em Roma o estado de saúde do setor agrícola também se exauria devido às ondas de malaria o que fazia os agricultores migrarem para as cidades, sendo assim a abertura do conhecimento sobre esgotos e drenagem de pântanos, sendo aprendido com os etruscos, para assim impedir o miasma, mais mesmo assim continuou se as ondas de malaria. Em fim, observa-se que essa época teve grande interesse sobre a saúde do corpo humano, mas que devido a não existência de aparelhos que detectavam os agentes patogênicos, não houve um grande avanço nesta área. Na idade media vemos o que se chamou de “Idade das Trevas” devido à grande pressão da igreja em querer ditar as regras em relação ao corpo humano, que por ideologias ignorantes temos a decadência do estudo do corpo humano, já que o mesmo é tido como algo impuro e a alma é tida como divina. A partir do século XVI houve um leve progresso em relação ao estado ser encarregado do social, sendo assim trazidos debates por grandes pensadores como Karl Marx que afirmava que o estado acorrentado pelos burgueses nada poderia fazer pelos trabalhadores, a não ser iludi-los. Após alguns anos em 1779 surge na Alemanha à idéia de intervenção do estado, sendo criado o conceito de policia medica ou sanitarista. A partir do século XIX inicia-se o olhar social, usando de aparatos científicos para a confirmação de doenças na população, sendo então criado um grupo de cientistas que discutiram unidades de medidas, depois nota-se que o corpo humano pode-se ser medido a partir de índices matemáticos, com o trabalho dirigido aos corpos de cadáveres, estarem em alta o medico Semmelweis, nota que devido os estudantes e companheiros médicos palparem os defuntos e ficarem doentes o mesmo, construiu a idéia da lavagem das mãos, o que foi tido como loucura na época, sendo boicotado por cientistas da época, acabou ficando “perturbado emocionalmente” (p.69) e terminado seus dias em um “asilo de alienados” (p.69) em Budapeste. Depois Louis Pasteur sendo desenvolvedor da teoria microbiana da doença e depois o desenvolvimento de vacinas e antibióticos. Com o passar do tempo a revolução industrial demonstra a necessidade de haver um planejamento de Saúde publica, já que o numero de acidentes de trabalho, aumenta a lacuna de trabalhadores sem a possibilidade de trabalhar e ainda mais sobre o absurdo de haver “taxa sobre janelas”(p.81) o que fazia com que as pessoas não tivessem grandes aberturas em suas casas, diminuindo assim a ventilação e a luz, o que
comessou a trazer grandes epideimas
às grandes áreas industriais. Sendo então
adotado pelos burgueses o investimento em medicina o que causou o progresso na área de cura, reabilitação e tratamento de doenças. No Brasil a saúde publica só foi incorporada a partir de 1930 com o aparecimento da peste e por grandes surtos da doença de chagas o que culminou na estratégia de prevenção e vacinação na época. Chegando aos dias atuais nota-se o grande advento da saúde publica como forma de preservar o corpo humano, já que devido às guerras na Europa, devastaram e mutilaram milhares de pessoas, fazendo assim um refino na área de saúde já que os médicos e cientistas deveriam encontrar maneiras de cura, prevenção e reabilitação do povo, sendo assim levada para todo o mundo a concepção que a saúde publica é a solução para os problemas enfrentados pela sociedade. Observamos nesta obra o grande fascínio do ser humano em criar causas e curas para as doenças em determinadas épocas, o que torna ainda mais estranho é o ser humano, em algumas épocas como a idade media, simplesmente ignorar os conhecimentos antigos, em relação a doenças e suas causas, sendo apenas trocado por uma idéia ignorante de que são manifestações demoníacas, mas que por sorte, ate mesmo em plena época de Inquisição, dentro de mosteiros, homens cuja razão prevaleceu ante a ignorância, faziam estudos anatômicos “Numa cela no mosteiro de Santo Spirito, dissecava cadáveres obtidos de coveiros em troca de suas estatuetas. À luz de uma vela inserida no umbigo do cadáver, estudava os músculos, tendões e ligamentos.”(Hebron Atualidades, p.23. maio e jun de 2006) e como o ser humano apenas por interesses econômicos, obrigou-se a ter de inventar a “saúde publica” já que o mesmo apenas se interessa pela recuperação e reabilitação do outro, para que volte ao trabalho, mas como diz Karl Marx em relação ao trabalho e o capitalismo: “mutila o trabalhador, degrada-o, transforma-o num apêndice da máquina, traz miséria, escravidão, ignorância...”(p.50) e isto se mostra ate os dias de hoje, quem sabe a historia de saúde, doença, tratamentos, remédios e todas as formas de cura para as moléstias humanas seriam diferente, mais também não desmerecendo alguns médicos e cientistas que por muitas vezes foram tidos como loucos, pelos próprios colegas de trabalho.