SUMÁRIO CARTA-PREFÁCIO AO LEITOR: COMPLETA REPORTAGEM DO QUE FOI EM CAMPINA GRANDE A MEMORÁVEL PUGNA ENTRE O PASTOR PROTESTANTE SYNÉSIO LYRA E O RELIGIOSO CATÓLICO FREI DAMIÃO REPAROS À “COMPLETA “COMPLETA REPORTAGEM DO QUE FOI EM CAMPINA GRANDE A MEMORÁVEL PUGNA ENTRE O PASTOR PROTESTANTE SYNÉSLO LYRA E O RELIGIOSO RE LIGIOSO CATÓLICO FREI DAMIÃO”, DAMIÃO”, PUBLICADA PELO PADRE JOSÉ DELGADO, NA "A IMPRENSA", DE JOÃO PESSOA E TRANSCRITA POR ESTE VIBRANTE MATUTINO, (*) EM SUA EDIÇÃO DE ONTEM: RESPOSTA AOS REPAROS QUE O SR. LYRA QUIZ DAR À REPORTAGEM DA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA DE CAMPINA GRANDE. RESPOSTA A FREI DAMIÃO DE BOZZANO A este artigo fulminante, Frei Damião deu a resposta r esposta que se segue, declarando, assim de público, sua completa derrota. Ao seu artigo despedida, respondi respondi assim: ANEXO
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CARTA-PREFÁCIO Meu caro Rev. Synésio Lyra: Trago-lhe os meus parabéns pela lembrança feliz e oportuna, que você teve, de enfeixar em folheto a sua memorável polêmica com o notável missionário católico-romano Frei Damião, o furibundo e tronitoante Golias romanista que ameaçava, à frente de uma horda de fanáticos, de completo extermínio as vidas e os bens dos humildes e pacatos evangélicos evangélicos da Paraíba. Tão rápida, tão cabal e brilhante foi, porém, a sua vitória sobre o campeão papalino que, torná-la amplamente conhecida de quantos se interessam pelas cousas religiosas e espirituais, não só é um dever cristão como ainda um inestimável serviço prestado à Causa do Evangelho no Brasil. E a sua vitória é tanto mais notável e digna de admiração, quanto você a obteve das mãos do um sacerdote arrogante, soberbo e presunçoso que, para cobrir a você de ridículo e humilhação perante p erante os homens cultos da Paraíba, publica e ostensivamente, alardeou ser doutor em filosofia e teologia, enquanto que você, afirmava ele, só tinha a seu favor a sua grande audácia e a sua desmedida ignorância... Ter-lhe-ia sido bem melhor silenciar, guardar recato e reserva sobre os seus altos títulos culturais, para não ter a desventura de verificar, pouco depois, descoroçoado e triste, envergonhado e confuso, que as armas apologéticas da sua panóplia romanista tinham o brilho do ouro, é verdade, mas a resistência delas era de latão; aparentavam força invencível, mas era eram m [02 – [02 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA]
fracas; arremetiam napoleonicamente contra você; mas acutilavam dãoquixotescamente o ar; ostentavam ostentavam a arrogância arrogância soberba da da vitória, vitória, mas conquistaram-lhe, afinal, o prêmio irrisório da mais ridí r idícula cula derrota. Tentar justificar e impor como verdades divinas, à luz celeste e eterna das Sagradas Escrituras, os dogmas, os erros e as monstruosas heresias da Igreja de Roma, é tarefa tão impossível, e causa tão inglória que, para os defender os mais eminentes luminares da hermenêutica romanista e os mais graduados da teologia e da filosofia papalinas encontram sempre, no campo raso da polêmica pela imprensa, o seu triste e sombrio Waterloo1. É que essa Igreja, que outra cousa não é senão um híbrido conúbio entre a religião e o poder secular; construiu o edifício das suas incongruências doutrinárias sobre os alicerces instáveis das meiasverdades, sobre os fundamentos da areia movediça de passos bíblicos truncados, sobre as bases falsas de mandamentos de homens, sobre o solo aluvial dos decretos conciliares, e não sobre a verdade divina, completa, integral e absoluta — Jesus Jesus Cristo — Rocha Rocha inamovível dos séculos. Daí se depreende porque fracassou tão ruidosa e surpreendentemente a orgulhosa e alardeada sapiência com que Frei Damião procurava intimidar e humilhar a você, cobrindo-o de um ridículo que, na última fase da luta, ricocheteou, em cheio, sobre ele próprio. O seu triunfo sobre Frei Damião, tanto pelas circunstâncias como pelas aparências, muito muito se assemelha, ao meu ver, com a vitória de David sobre Golias, tão surpreenden s urpreendente, te, total e fulminante foi ela. *** Sua ideia, pois, de dar à publicidade a sua polêmica além de enriquecer o patrimônio da literatura evangélica do Brasil com mais essa contribuição apo1 Confronto
militar ocorrido a 18 de junho de 1815 perto de Waterloo, na atual Bélgica, entre as forças francesas do imperador Napoleão Bonaparte e uma coligação de britânicos e alemães, terminando com a vitória desta última, o que resultou na deposição e exílio de Napoleão.
[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 03] 03] logética de caráter eminentemente prático e real, tem ainda o mérito de elucidar os católicos católicos romanos a respei r espeito to do erro fundamental funda mental da doutrina "mater " do seu culto — culto — a a "transubstanciação". A argumentação por você aduzida em defesa da tese bíblica e em oposição á tese romanista, é, incontestavelmente, irretorquível, inelutável, lógica, dentro de cujas premissas constritoras Frei Damião marchou e contramarchou, coçou a barbaça e agitou o pesado hábito, contorceu-se em espasmos de cólera e esperneou em desespero, mas terminou vencido e esmagado pelo apertão formidável da sua lógica de aço. Com efeito, se Cristo está na hóstia e esta é conforme ensina a Igreja de Roma, o corpo do Cristo, e, portanto, Deus transubstanciado, uma de duas cousas deveria acontecer, inevitavelmente, ao que manducasse a Deus:
1ª) ou o homem se tornaria divino, santo, impecável e eternamente perfeito, disso tendo plena consciência (o que o católico romano absolutamente não tem), mesmo porque ninguém pode alimentar-se fisicamente de Deus sem deixar também de fisicamente viver para sempre, de vez que a substância divina, assimilada pelo fenômeno da nutrição, não pode morrer como o homem, pois a tanto nos leva a concluir a interpretação literal romanista das palavras do Jesus: " Isto é o meu corpo", "se alguém comer deste pão, viverá eternamente, e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne " (Luc. 22:19; João 6:51); 2ª) ou teria de morrer instantaneamente, como fulminado por um raio, de vez que não podendo ninguém ver a Deus sem morrer, muito menos poderia continuar a viver comendo-o e pecando; mas nem uma, nem outra cousa se verifica; logo Cristo Cr isto ou Deus não está na hóstia, hóstia, nem ne m esta, portanto, pode ser o corpo real de Cristo, o que vale por dizer que a doutrina da transubstanciação é uma reverendíssima heresia da igreja Romana.
Além disso, seria absurdo admitir, em face da pureza, da moral e da santidade intangível da doutrina [04 – [04 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] cristã, que homens inconversos, irregenerados, mil vezes pecadores, alheios ao conhecimento experimental da comunhão pessoal com Deus, possuam o dom mágico e sobrenatural sobr enatural de transubstanciar t ransubstanciar uma oblata de farinha de trigo, que se deteriora com tempo, que é comida pelos ratos e raptada pelos ladrões, num Deus santo, puro e onipotente! Não! A doutrina evangélica, que você tão lógica e brilhantemente defendeu, é que é a verdade: o pão e o vinho da Ceia são símbolos, são figuras, são imagens do corpo e do sangue do Senhor Jesus, oferecidos sacrificialmente por nós sobre o altar ignominioso da cruz para eterna remissão dos nossos pecados! Parabéns, pois, a você e a Causa Evangélica do Brasil, pela sua inconcussa vitória sobre o ilustre campeão romanista, incontestavelmente incontestavelmente uma u ma das mais belas culturas cultura s do clero pernambucano. Do sou colega, amigo e admirador, MUNGUBA SOBRINHO 2.
2 José
Munguba Sobrinho (1895-1972), pastor batista natural de Murici, Alagoas, foi reitor do Seminário Batista do Norte (1937-1939) e pastor da Igreja Batista da Capunga (1930 a 1967), no Recife. Serviu também como Presidente da Convenção Batista Brasileira em 1926, em 1932, em 1936 e em 1947.
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AO LEITOR:
Este opúsculo é o resultado de uma controvérsia entre mim e Frei Damião de Bozzano, iniciada verbalmente em Campina Grande, no dia 23 de Abril do corrente ano [1935], e concluída pelas colunas do “Diário da Manhã” Manhã ”3, desta capital [Recife]. Frei Damião vinha, já há longos meses, no interior da Paraíba, lançando desafio após desafio aos pastores evangélicos, para uma discussão pública com ele. Para isso ele tinha o ambiente preparado, pois que dispunha da massa fanática que que,, ao seu primeiro aceno, “vaiaria” vaiaria” o contendor adverso, impedindo-o de falar. Assim Frei Damião teria uma vitória líquida e fácil. fá cil. Mas a coisa se deu de modo contrário. O cartel do desafio foi aceito, para Campina Grande. Providências foram tomadas. As bases da discussão estabelecidas. E no tempo aprazado foi a mesma realizada, sob a sábia direção do Dr. Vergniaud Vanderlei, então chefe de Polícia da Paraíba. Isto posto, não foi possível a Frei Camião conquistar a palma da vitória, pois que lhe faltou o concurso formidando e eloquentíssimo das “vaias merecidas” merecidas” adrede preparadas.
3 O
jornal Diário da Manhã foi fundado em 16 de abril de 1927 pelos irmãos Carlos e Caio de Lima Cavalcanti, filhos de Arthur de Lima Cavalcanti, proprietário da Usina Pedrosa, em Cortês. Carlos de Lima Cavalcanti, à época da controvérsia religiosa entre Synésio Lyra e frei Damião de Bozzano, era o interventor nomeado para Pernambuco (1930-1935) pela ditadura varguista, retornando novamente ao cargo de governador com eleição de forma indireta (1935-1937) pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, sendo posteriormente deposto. O Diário da Manhã sofreu com a oposição política feita por Agamenon Magalhães após a deposição de Carlos de Lima Cavalcanti, seu rival, reduzindo gradativamente seu número de páginas e tiragens, tira gens, até se transformar em semanário, s emanário, em julho de 1941. Após várias mudanças de proprietários, chegou a fechar por algum tempo as suas sua s portas em 1950.
Realizada a polêmica num ambiente de calma, devido a atitude enérgica do Dr. Chefe de Polícia, a multidão dispersou-se em ordem. Dias depois aparece no “Diário “Diário da Manhã” Manhã” uma reportagem da polêmica, feita pelo padre Delgado, a qual opus alguns reparos, em artigo publicado no mesmo jornal, tendo posto os fatos no seu verdadeiro lugar. Surge então em tom agressivo Frei Damião — surge surge como leão bravio — bravio — tentando tentando respon[06 – [06 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] der o meu artigo, mas o faz desastradamente. Armado com a Espada do Espírito — Espírito — a a Palavra de Deus — corri corri ao encontro de meu opositor em apuros, e publiquei o meu segundo artigo, fulminante que impressionou fundamente a quantos o leram. O público aguardava ansioso a resposta de Frei Damião — Damião — mas, mas, ó tremenda decepção! — o o fogoso frade abandonou de modo doloroso o campo campo da honra, dizendo que estava “ missionando no Interior do tinha “tempo para perder com queres se obstina em Estado” e que não tinha negar a verdade”. Respondi a esta despedida precipitada de Frei Damião com o artigo que encerra este opúsculo. Por um princípio de lealdade, resolvi enfeixar neste opúsculo os artigos do Padre Delgado, os de Frei Damião o os meus. Assim os leitores poderão confrontar os argumentos evangélicos com os romanistas e concluir do que lado está a verdade. Ao meu mestre, colega e amigo, Rev. Dr. Jerônimo Gueiros 4 meu espontâneo agradecimento polo auxílio inestimável que me prestou, esclarecendo-me sobre a melhor forma do orientar o debate, já fornecendo-me argumentos, já sugerindo-me pensamentos e finalmente, pondo livros à minha disposição. disposição. 4
Jerônimo de Carvalho da Silva Gueiros (1880-1953) foi um pastor presbiteriano, natural de Quipapá, em Pernambuco, assumindo o pastorado da 2ª Igreja Presbiteriana do Recife (atual Igreja Presbiteriana da Boa Vista) entre 1921 e 1953.
Como estava em jogo, não a minha pessoa, mas a Causa de Deus, não podia prescindir de tão precioso contingente. Devemos este triunfo magnífico do Evangelho às milhares de pessoas que vinham orando de há muito, por esta almejada vitória. Entregando este opúsculo ao leitor, esperamos seja lido calmamente, sem paixão e que o Espírito da Deus ilumine a mente e o coração do cada um, de sorte que a Verdade Verdade triunfe. SYNÉSIO LYRA5
5 Synésio
Artiliano Pereira de Lyra (1895-1993), pernambucano natural de Timbaúba, foi pastor, dentre outras igrejas, da Igreja Evangélica Pernambucana (1925-1938), em Recife, e da Igreja Evangélica Fluminense (1938-1956), no Rio de Janeiro, e da Igreja Bíblica Evangélica do Rio de Janeiro, entre 1956 e 1993, (todas Congregacionais). Serviu também como Presidente da ALADIC (1951-1954), Vice-Presidente da ALADIC (1954-1956), Secretário-Executivo da CIEF (19561960), Vice-Presidente da CIEF para o Sul do Brasil (1960-1966); Membro da Comissão Executiva do CIIC (1958-1979). É pai do pastor presbiteriano Synésio Lyra Júnior.
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CONTROVÉRSIA RELIGIOSA COMPLETA REPORTAGEM DO QUE FOI EM CAMPINA GRANDE A MEMORÁVEL MEMORÁ VEL PUGNA ENTRE O PASTOR PROTESTANTE SYNÉSIO LYRA E O RELIGIOSO CATÓLICO FREI DAMIÃO Padre JOSÉ DELGAD DEL GADO O6 Vigário de Capina Grande. Grande. Eram as 16 horas de 23 de abril [de 1935] no RINK PARK de Campina Grande. Estavam presentes os Srs. chefe de polícia e o diretor da “A União”7, Drs. Vergniaud Vanderlei e Orris Barbosa, como príncipes da Ordem e da harmonia, har monia, pois que, aliás, bem desempenharam cada um com as suas qualidades de caráter e temperamento, e com eles inúmeros sacerdotes e pastores protestantes, cabeceando duas massas de fiéis católicos e evangelistas respectivamente. Este encontro foi uma repercussão das missões missões populares p opulares pregadas na vila de Esperança. A disputa foi presidida pelo Dr. Hortênsio do Souza Ribeiro. Iniciou-a Frei Damião com uma pergunta ao pastor Synésio Lyra sobre o que era a Bíblia. Apesar de justifica-la como preâmbulo quase necessário numa discussão bíblica a pergunta foi julgada extra programa. Synésio Lyra, en entretanto, tretanto, tentou uma resposta. Disse que a Bíblia é o livro da palavra divina inspirada. Frei Damião exigiu que S.S.ª. indicasse na Bíblia aquela definição. Não o pode fa6 José
de Medeiros Delgado (1905-1988) foi um padre católico romano, natural de Pombal, na Paraíba, formado em Teologia pelo Seminário da Paraíba e pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, ordenado sacerdote em 1929. Veio a ocupar, posteriormente, altos cargos eclesiásticos: bispo de Caicó (1941-1951); arcebispo de São Luís do Maranhão (1951-1963); e arcebispo de Fortaleza (1963-1973). O jornal do Governo Estadual “A União”, baseado em João Pessoa, foi fundado em 0 3 de fevereiro de 1893, sendo um jornal estatal oficial de orientação política pró-Integralismo. 7
[08 – [08 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] zer o contendedor desde que Frei Damião estendia as suas exigências, com uma sob questão, ao ponto da determinação numérica de livros e autores, das partes e do todo da Bíblia. Esta verificação realmente realmente não se se obterá jamais pelo exame das Sagradas Escrituras. O católico não ignora e é justamente para derribar pela raiz, o sistema cristão reformado, que atira uma pergunta daquelas a um pastor protestante. No limiar do seu edifício cristão, com efeito, está a tese: Só a Bíblia é regra de fé cristã, fora da Bíblia não há verdadeira revelação . Não é pouco importante uma verificação negativa daquele tamanho. Só ela bastaria para converter todo o mundo protestante. Nós católicos respondemos com a definição dogmática tridentina: O Sr. Synésio procurou sair do evidente embaraço em que todos o viam com a passagem de São Paulo (II Tim. II, 16 “toda a escritura. divinamente Ora, é patente que o texto não esclarece plenamente a inspirada...”). Ora, questão. Não diz: — “toda escritura, que é composta de tantos e tais livros, divinamente. Inspirada”, ele. Entrou-se no programa da discussão. Frei Damião que dera aos pastores a faculdade faculdade de impor imp or todas as condições, para que a mesma mesma se realizasse, sujeitou-se a tudo. Ficou determinado que nem o diálogo se permitiria sob a alegação de que uma das condições condições impostas era a de não se apartear o orador que estivesse com a palavra. Frei Damião tomou o primeiro tema da lista oferecida pelos pastores — a transubstanciação à Luz das Sagradas Escrituras . Seguiu a forma clássica das exposições dogmático-católicas. Demonstrou cabalmente com as palavras da promessa, no capítulo VI do Evangelho de São João, e as da instituição nos textos paralelos de S. Mateus (26, 17 a 29), São Marcos (14, 12 a 25), São Lucas (22, 19 e seguintes), aproximando-os de São Paulo (I Cor. 11, 23 a 26) a presença real de N. S. Jesus Cristo Cr isto na Eucaristia. O Sr. Synésio Lyra criticou a interpretação da-
[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 09] 09] aquelas passagens, explicando-as em sentido figurado. Firmou-se nas palavras “em memória de mim" (I Cor. 11, 24 e 25) para sustentar que estas afastavam a ideia da presença real. Não se memoriza o que está presente. Logo Jesus Cristo não se acha real na hóstia, mas lembrado. lembrado. Foi adiante. Tomou as palavras da promessa nas alturas “eu sou e pão vivo que desceu do céu ”8 e como se tivesse achado a chave de um enigma argumentou assim: “o corpo e o sangue de Jesus Cristo não vieram do céu, mas do seio da Santa Virgem Maria, logo não estão no pão eucarístico”. Com as palavras paulinas: “todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha ” (I Cor 9, 1-20), achou o Sr. Synésio o seu argumento amiúdes. Não se anuncia como vindouro aquilo que está presente logo não está realmente presente Jesus Cristo na hóstia dos altares romanos. Terminou sua oração com a promessa de que depois apontaria a data da criação do mistério da transubstanciação transubstanciação pela igreja romana. Novamente com a palavra frei Damião reforçou seus argumentos. Comentou a apostasia havida entre os discípulos por ocasião do sermão da promessa (S. João, cap. VI). Disse que Jesus Cristo seria um criminoso se as suas palavras naquele sermão e nos textos eucarísticos clássicos não fossem tomados literalmente, Jesus Cristo cometera o crime do precipitar na apostasia uma massa de fiéis o que sem qualquer incômodo teria evitado com simples declaração de que falava figuradamente. Respondeu ao Sr. Synésio que se pode fazer memória sensível daquilo que está invisivelmente presente, disse que Deus está em toda parte e que manda constantemente que se tenha nele o pensamento e a lembrança. Esqueceu-se realmente frei Damião de acrescentar, logo ali, que o mesmo se entendesse das outras palavras “até que eu venha ”. Nosso Senhor reportava-se a sua vinda triunfante e visível do último dia. Desta omissão gloriou-se Sy[10 – [10 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] 8 João
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nésio duas vezes sem que Frei Damião se desse por achado nem respondesse senão implicitamente. Frei Damião primou na sua discussão por não deixar de vista o assunto e o contendor. Veio — de cheio ao texto “eu sou o pão que desceu do céu”9 para explicar ao Sr. Synésio que as Escrituras estão cheias destas comuns atribuições do suposto à pessoa e da pessoa ao suposto. Mostrou como, se diz — diz — ““eu sou imortal ” e “eu sou mortal”, falando da mesma pessoa e atribuindo-lhe totalmente qualidade qua lidadess que são somente de uma ou de outra parle do ser. Aplicou a doutrina ao acaso, salvando toda a surpreendente força dos seus argumentos, todos de pé. Uma vez novamente com a Palavra; o Sr. Synésio desviou a discussão da transubstanciação, que asseverou ter sido inventada no século XIII, por Inocêncio III10, para o sacrifício da missa e comunhão sob uma única espécie. Foi sobremodo infeliz agora quando afirmou que não se gostava, não se cheirava, não se via, não se tocava acidentes do corpo de Jesus na hóstia e que o objeto se identificava pelos acidentes, quando afirmou que uma prova das corruções cristãs feitas pela igreja romana estava patente no caso da comunhão sob uma espécie, contra o costume secular do princípio, quando finalmente disse que o sacrifício da missa era um sacrifício de morto porque incruento, isto é, sem sangue. Perorando, asseverou que a vida vem ou está no sangue, ao que um rapaz das Obras Contra as Secas aparteou em voz pouco ouvida: “ Isto já é materialismo materialismo”. Frei Damião falou a última vez. Estranhou como o Sr. Synésio pudesse dizer que a Igreja inventou a transubstanciação pelo simples fato de ter dado este nome ao divino mistério cristão da transformação do pão em corpo e do vinho em sangue do N. S. Jesus Cristo. Em seguida deu uma bela lição de gramática ao Sr. Synésio Lyra. Mostrou como a igreja apoiada em São Paulo, no mesmo texto aos Coríntios, acima referido, justifica-se perfeitamente da alteração disci9 João 10
6,51.
Nascido Lottario dei Conti di Segni (1160-1216), eleito papa Inocêncio III (1198-1216), convocou o IV Concílio de Latrão (1215) que definiu a transubstanciação como dogma de fé da Igreja Católica Romana.
[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 11] 11] plinar na comunhão, comunhão, realmente realmente depois de séculos introduzida para uma só espécie em vez de duas. Eis o texto: “ quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor ”11. A conjunção alternativa ali esconde toda a luz que a miopia interpretativa não via. Num auditório mais culto uma réplica fulminante desta acabaria, uma discussão, sagraria uma vitória, esmagaria um contendor. Mas, nada se passou. Continuou-se serena a disputa, dentro da mais perfeita ordem e do mais completo silêncio. A parte culta do auditório pasmou no momento em que o Sr. Synésio negou a presença real; alegando não se ver, não se gostar na hóstia a carne e o sangue, sacrificados. Frei Damião mostrou-lhe a doutrina da filosofia perene. Disse-lhe como não era pelos acidentes, mas, pelas substâncias, de sua própria natureza invisíveis e intangíveis, que se especificavam os objetos. Disse-lhe como maior peso ou o menor peso, a cor tal e o gosto qual não fazem as cousas tais ou quais. De substância e acidente falou, apenas, assim de passagem, Frei Damião e isto mesmo mesmo veio escandalizar escandalizar o Sr. Synésio. Synésio. Frei Damião Damião para maior maior edificação do povo e valorização mais edificante da missão divina de ensinar as verdades reveladas, publicou que se o Sr. Synésio Lyra ignorava os preceitos e conquistas mais universais da filosofia, ele lhe asseverava asseverava que é doutor em filosofia e teologia. Pela última vez com a palavra para concluir a discussão, findas as duas horas que o Sr. chefe de polícia marcara, o Sr. Synésio começou por dizer que não sabia sa bia filosofia, que só s ó se gloriava de Jesus crucificado que não viera discutir palavras humanas, que pregava a Sagrada Escritura e que aquela discussão, terminando sem vencidos nem vencedores, apenas tivera a finalidade de mostrar a concepção romana e a concepção evangélica de uns mistérios cristãos.
11 1Coríntios
11,27.
[12 – [12 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] Não quero deixar sem uma referência o argumento do Sr. Synésio Lyra contra a presença real pregada nas palavras de São João (6, 63); “a carne... nada vale ”. Com este modo de interpretação da Sagrada Escritura seria fácil negar que o verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós. Aceitam as consequências? Ressuscitem o maniqueísmo. Aí fica uma reportagem criteriosa que não tem a pretensão de ser completa. Penso não ter sido injusto nos meus juízos. Muitos não viram o que eu vi. Não admira. O tema da discussão foi eminentemente elevado. Não houve originalidade nas exposições e respostas católicas. Apenas se viveu, em duas grandes e memoráveis horas, um grande mistério cristão afirmado em sua plenitude sobrenatural pelos católicos e diminuído para um arremedo caricato dos irmãos separados. Os da fé ficaram com mais fé, os indiferentes e os incrédulos continuaram mais frios e secos. Frei Damião pediu-me que registrasse o desprezo que o Sr. Synésio parece votar à filosofia. Mandou que exalte o amor que nós dedicamos a todas as conquistas das ciências e das artes. Passados foram os tempos em que se sustentava que há conflito entre ela e a religião. As verdades não se repelem. Verdadeiras, porém, ao mesmo tempo a afirmação da presença real evangélica e da presença simbólica é que não se concebe, se de um sim e de um não, ao mesmo tempo e sobre a mesma cousa. Se alguém julgar falha, complete-o; errado, corrija-o. Aguardo sereno o juízo dos outros. (Da A Imprensa de João Pessoa 12).
O jornal “A “ A IMPRENSA” IMPRENSA”, era o jornal semanal da Diocese da Paraíba, fundado em 27 de maio de 1897, por Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques (1855-1935), 1º Bispo (1894) e 1º Arcebispo da Paraíba (1914), era um jornal católico doutrinário e noticioso que alcançou importância na imprensa paraibana, tornando-se um órgão de projeção. Em 1903 o jornal para de ser produzido por questões financeiras e volta a circular entre os anos de 1912 a 1943. O primeiro redator-chefe foi o padre José Tomaz, que trabalhava em conjunto com outro religioso, Manoel Paiva. Este jornal teve grande aceitação por parte da opinião pública, sendo um jornal totalmente anticomunista. Existiam também colunas de propaganda abertamente pró-Integralismo. 12
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CONTROVÉRSIA RELIGIOSA
REPAROS À “COMPLETA REPORTAGEM DO QUE FOI EM CAMPINA GRANDE A MEMORÁVEL PUGNA ENTRE O PASTOR PASTOR PROTESTANTE PROTESTANTE SYNÉSLO LYRA LYRA E O RELIGIOSO RELIGIOSO CATÓLICO FREI DAMIÃO”, PUBLICADA PELO PADRE JOSÉ DELGADO, NA "A IMPRENSA", DE JOÃO PESSOA E TRANSCRITA POR ESTE VIBRANTE MATUTINO, (*) EM SUA EDIÇÃO DE ONTEM: Meu bom amigo, padre José Delgado, testemunha ocular e auricular do prélio religioso entre mim e Frei Damião publicou “uma reportagem criteriosa que não tem a pretensão de ser completa ”. Desejando completa-la e tendo ele me oferecido ensanchas para corrigir o que estiver errado, quando escreveu: “Se alguém Julgar... errado corrija-o” tomo a liberdade de fazê-lo destas colunas. Estabelecidas as bases da discussão entre mim e Frei Damião, o Exmo. Sr. Dr. Chefe de Polícia e os Drs. Orris Barbosa e Hortêncio Ribeiro, ficou assentado que seriam discutidos os assuntos a ssuntos constantes de uma lista já em poder de Frei Damião; que a polêmica seria realizada no espaço improrrogável de duas horas, falando cada orador 20 minutos, alternadamente, sem qualquer aparte. Iniciada a discussão às 10 horas e 14 minutos, sob a presidência do Dr. Hortêncio Ribeiro, Frei Damião levantou-se, interpelando-me com esta pergunta: “ ‘Seu’ Lyra, diga- me que é a Bíblia? ” Permaneceu calado, cumprindo o que havíamos antes convencionado. Frei Damião, porém, insistiu na sua pergunta. pergunta. Levantei-me e disse-lhe que aquele aquel e assunto não entrara em o número dos convencionados, mas visto sua insistência ia responder-lhe: responder-lhe: “ A Bíblia , disse-lhe eu, é a Palavra de Deus; revelação de Deus Deus es[14 – [14 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA]
crita à Humanidade, dividida em duas partes: primeira constante do Velho Testamento, revelação de. Deus ao povo de Israel, por intermédio de seus santos profetas; a segunda constante dos Santos Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse dirigida a todos os povos da terra”. O meu amigo, padre Delgado, não expressou fielmente o meu pensamento ao registrar minha resposta nestes termos: “... a Bíblia é o livro da palavra divina inspirada ”. Eu não diria tal. Frei Damião exigiu que eu “indicasse na Bíblia aquela mesma, como divina definição”, Respondi-lhe que a Bíblia se defina a si mesma, e citei II Tim. III, 16. O Dr. Chefe de Polícia, bastante contrariado com a atitude do frade, chamou-lhe a atuação para os assuntos convencionados encerrando-se este " preâmbulo QUASE necessário” segundo a opinião do padre Delgado. Se a definição que eu dei da Bíblia não é verdadeira, peço licença ao padre Delgado para inserir aqui a definição do abade Bergier 13, bem conhecido, por certo, de S.S.ª. No seu Dictionnaire de Théologie , tomo 1°, titulo BÍBLIA: — “ — “Esta coleção de livros sagrados ou escritos pela inspiração do Espírito Santo se divide em duas partes, a saber: o Antigo e o Novo Testamento Testamento. Os primeiros são os que foram escritos antes da vinda de Jesus. Crista. O Novo Testamento contém os livros que foram escritos depois da morte de Jesus Cristo, por seus apóstolos ou por seus discípulos ”. Lê-se em The Century Dictionary , universalmente conhecido, Vol. 1º, título: BÍBLIA: “ consta de duas partes: o Velho e o Novo 13 Nicolas-Sylvestre
Bergier (1718-1790), sacerdote e teólogo católico-romano francês, conhecido por seu trabalho tra balho no campo ca mpo da apologética ap ologética e da teologia. Foi cônego da Catedral Cat edral de Notre N otre-Dame -Dame de Théologie ” (1788), surgiu Paris (1769-1790). (1769-1790). Sua obra “ Dictionnaire “ Dictionnaire de Théologie” surgiu como expansão de sua colaboração como corretor na “Enciclopédia “ Enciclopédia”” de Denis Diderot (1713-1784) (1713-1784) e Jean le Rond d'Alembert (1717-1783), sendo publicado na primeira vez em três volumes. As edições posteriores desta obra, com a segunda edição, em doze volumes, publicada pela "Sociedade "Sociedade tipográfica de Liège”, Liège”, em 1789; edição por Jacques-Paul Jacques-Paul Migne (1800-1875), em 1859, com quatro volumes; edição expandida de Jean-Joseph Gaume (1802-1879), com comentários de Thomas-Marie-Joseph Gousset (1792-1866), em 1854, dividindo-a em oito volumes; e com adições de Jean-Marie Doney (1794-1871), em 1858; tornaram-na uma obra de referência.
Testamento . O V. Testamento, contendo a Lei, os Profetas e os Sagrados Escritos ou Hagiografia; e o Novo Testamento, os 4 Evangelhos, os Atos, Epístolas de São Paulo e de outros escritos apostólicos e do Apocalipse ou Livro da Revelação, o único livro estritamente profético que ele contém”. [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 15] 15] Mas, deixemos lá este caso de definição da Bíblia. Este assunto entrou na discussão como Pilatos no Credo. Iniciada, propriamente, a polêmica, Frei Damião citou grande parte do discurso de Jesus, regi r egistrado strado no capítulo VI de São S ão João dando ênfase às palavras de Jesus: “ A minha carne verdadeiramente verdadeiramente é comida e o meu sangue verdadeiramente é bebida ”14. Citou estas outras palavras de Jesus: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu ”15. Mostrou que muitos dos discípulos, escandalizados com este discurso, abandonaram a Jesus e que os crentes fazem a mesma coisa e ficam escandalizados com a doutrina da transubstanciação. Frisou as palavras: “ Isto é o meu corpo, corpo, isto é o, meu sangue, afirmando afirmando que a hóstia se transubstancia no corpo, sangue, alma e divindade de Jesus ”. Falou apenas por 10 minutos e, dirigindo-se dirigindo-se a mim, disse: “ Agora o Sr. pode falar ”. Respondi-lhe que logo que chegasse a minha vez, falaria. Com a palavra, demonstrei que as Palavras de Jesus não deviam ser tomadas ao pé da letra, mas figuradamente, pois, tanto não queria dizer que sua carne teria de ser manducada, ou comida, que, ao se retirarem escandalizados muitos dos seus discípulos, ele se dirigiu aos que ficaram, explicando-lhes o sentido figurado de suas palavras: — “ Isto escandaliza-vos? escandaliza-vos? Que seria se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava? O Espírito é o que vivifica A CARNE PARA NADA APROVEITA APROVEITA; as palavras que eu vos digo são Espírito e vida”16. Interroga-os, em seguida: “Quereis vós também retirar-vos?”17 14 João
6,55.
15 João
6,51.
16 João
6,61-63.
Simão Pedro, porém, falando om nome dos companheiros, responde: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as PALAVRAS DA VIDA ETERNA e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus”18. Provei, destarte, que as palavras de Jesus tinham um sentido figurado e dada a deserção de alguns discípulos, porque as tomaram em sentido literal, o Salvador, pacientemente, pacientemente, esclarece o sentido de [16 – [16 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] suas palavras palavras aos que ficaram com Ele. Citei mais mais as palavras da instituição eucarística, — “Fazei isto em memória de mim ”19 demonstrando à luz da razão que aquilo que se faz em memória de alguém é porque este alguém não está presente... Afirmei que a expressão de São Paulo: “... até que ele venha ”20 era um golpe fulminante na pretensa transubstanciação do pão eucarístico no corpo de Jesus, e que, se temos de celebrar a Ceia do Senhor até que ele venha, é porque ele não está corporalmente presente pr esente.. Logo, não tem razão de ser a transubstanciação. Pedi a Frei Damião que explicasse a expressão de Jesus: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu ”21, visto que o corpo de Jesus não desceu do céu, mas foi gerado no ventre da bendita virgem Maria. Ora, disse eu, se temos de nos alimentar com o pão vivo que desceu do céu, é claro que não temos do comer sua carne nem beber o seu sangue literalmente. De novo com a palavra, Frei Damião afirmou que “se pode fazer memória sensível (sic!) daquilo que está invisivelmente presente e que Deus está em toda parte e que manda que se tenha nele o pensamento e a lembrança”. Mostrei ainda ser impossível a transubstanciação, porque forçoso era admitir-se que Cristo ao instituir a Eucaristia tinha dois corpos: o 17 João
6,67.
18 João
6,68-69.
19 1Coríntios
11,24-25 (Cf. Lc 22,19).
20 1Coríntios
11,26.
21 João
6,51.
corpo resultante da transubstanciação do pão eucarístico que ele detinha em sua mão e o seu próprio corpo gerado no ventre da Virgem Maria. Abro aqui um ligeiro parêntesis: Se a hóstia se transubstancia no corpo de Jesus, este não deveria em hipótese nenhuma, “estar invisivelmente presente”, mas visivelmente . Deus é Espírito e como tal, pela Onipresença, está está invisivelmente em toda parte, porque Elo enche o céu e a terra, mas o mesmo não sucedia com o corpo humano do Cristo. Como HOMEM, Ele ocupa um lugar apenas no espaço, podendo ser observado por nossos sentidos cor[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 17] 17] porais. Se Ele está está invisivelmente na hóstia; não o está está corporalmente. Frei Damião; esgotados todos os recursos de sua dialética, e u’ Lyra, o Sr. nunca estudou avançou esta afirmativa gratuita: “‘ S Seu’ filosofia, não conhece conhece filosofia. Eu sou doutor em filosofia, filosofia, doutor em levar,, perante seus teologia”22. Com este autoelogio, julgou S.S.ª. levar adeptos, a palma da vitória. Não pronunciei as palavras que Padre Delgado pôs nos meus lábios, quando disse: “o Sr. Synésio começou por dizer que não sabia filosofia... que não viera discutir palavras palavras humanas”. Eu nunca disse tal. Houve aí um lapso de memória de S.S.ª, desculpável, é bem do ver. Declarei de começo que não estava ali para revelar sabedoria humana, pois com São Paulo: “não me me propunha saber outra coisa, senão a Jesus Cristo a este crucificado”; que Frei que Frei Damião se gloriava em ser doutor em muita cousa e que eu ainda com o apóstolo dizia: “ Longe esteja de mim gloriar-me a não ser na cruz do nosso Senhor Jesus Cristo”23. Não gosto de fazer propaganda de meus conhecimentos. Estudei filosofia não para gloriar-me de que a estudei, mas para usa-la quando necessário. 22 Frei
Damião de Bozzano possuía apenas a formação de teólogo, com doutorado em Teologia Dogmática, conferido pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, em 1925. 23 Gálatas
6,14.
Mostrei em seguida que meus argumentos se mantinham de pé e que Frei Damião não respondera a nenhuma de minhas perguntas. Tomando a expressão: expressão: “ Isto é o meu corpo”, citei vários textos análogos em que aparece o verbo “Ser ” com a significação de: representar, simbolizar, tipificar. Vão aqui alguns deles: “Filho do Homem, disse (Ezeq. XXXVII, Deus a Ezequiel, estes ossos ossos são toda a casa de Israel ” (Ezeq. 11). Apocalipse 1: 20 “... os sete castiçais que viste são as sete Igrejas ”. Jesus: “EU SOU a videira verdadeira”24. Perguntei, então, ao frade, se aqueles ossos da visão do profeta se transubstanciaram mesmo na casa de Israel; se os sete castiçais se transubstanciaram nas sete igrejas vistas pelo vidente de Patmos; Patmos; se Jesus mesmo mesmo se transubstransubs [18 – [18 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] tanciou numa parreira. Afirmei, em seguida, que é um princípio filosófico axiomático que os nossos sentidos nunca nos enganam e que nós é que somos enganados, interpretando mal os objetos dos sentidos; que na hóstia depois de consagrada permanecem os mesmos acidentes ou qualidades sensíveis, existentes antes da consagração e os nossos sentidos, que não nos enganam, confirmam a existência na hóstia de farinha de trigo mal cosida. Cristo — Cristo — convém convém observar — observar — sempre sempre apelou para o testemunho dos sentidos corpóreos, dizendo aos seus discípulos, no dia de sua assunção: “VEDE as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um Espírito não tem carne nem ossos, como também João, J oão, XX: 27-29. vades que eu tenho” (Luc. XXIV, 39). Vede também Sentei-me e Frei Damião bastante desconcertado, tentou responder a uma pergunta minha, sobre a expressão: “Fazei isto em memória de mim”. Disse que na Eucaristia se fazia memória era da morte e não do corpo de Jesus... E eu intimamente lhe disse: “muito obrigado!, porque sua-resposta veio em. apoio do meu argumento ”. Antes eu já havia demonstrado que a Igreja Romana alterara a instituição divina da Eucaristia, negando o vinho aos fiéis. E perguntei a 24 João
15,1.
Frei Damião com que autoridade a Igreja fez isto. E li, abrindo um compêndio de “Curso de Instrução Religiosa ”, de Monsenhor Cauly25, este trecho: “Verdade é que nos primeiros séculos, costumavam receber a Eucaristia debaixo das espécies do pão e vinho, mas ninguém cuidava que este uso fosse necessário. A contar contar do SECULO XIII o costume de dar Eucaristia aos fiéis somente debaixo da única espécie do pão, prevaleceu”. A leitura deste trecho foi uma verdadeira bomba, deixando o antagonista mais uma vez visivelmente visivelmente desconcertado. Para uma igreja que faz tanto alarde das tradições este fato é bem grave. Uma Uma nota curiosa. Frei Damião, procurando uma [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 19] 19] situação sobre a Eucaristia e não a achando, pedia que os padres (8 ou 9) 9) que estavam presentes, a procurassem, mas os bons dos padres não a acharam. Então, gentilmente, eu disse a Frei Damião: “Veja Lucas, XXII:19 XXII:19”. Logo depois, novo embaraço: o auxílio dos padres falhou, e eu disse: “Veja 1ª aos Coríntios de XI:23 em diante ”. Frei Damião outra vez estava desconcertado... desconcertado... E, sem mais argumentos, lançou-me de novo nov o a pergunta: “‘Seu’ Lyra, pela sua honra de pastor, diga-me que é a Bíblia? Diga-me, diga-me diga-me”. Afastando-se de novo do assunto, Frei Damião declarava-se implicitamente derrotado. E de fato estava derrotado. Demonstrando que o sacrifício de Cristo não pode ser repetido; citei Hebreus IX:11; 12, 25-28, em que o apóstolo afirma que “Cristo foi UMA SÓ VEZ IMOLADO para esgotar os pecados de muitos ”.
25 Eugène-Ernest
Cauly (1841-1912), vigário geral de Reims, França. Sua obra possui o seguinte
título original “ Cours d'instruction religieuse, à l’usage des catéchismes de persévérance, des maisons d'éducation et des personnes du monde”, monde ”, publicada inicialmente em 1885, em Paris. Em 1913, foi traduzida e publicada em português.
Logo, o concílio de Trento errou, quando dogmatizou que no “sacrifício” da missa Cristo é imolado. Agora, a história da “lição de gramática”, que que diz o padre Delgado ter me dado Frei Damião. É sobre a conjunção “ou” do texto: “quem comer pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor ”. Muito ancho, o padre Delgado afirma: “ Num auditório mais culto uma réplica fulminante desta acabaria uma discussão, sagraria uma vitória, esmagaria um ”. Devagar, Padre Delgado! Delgado! Sua afirmativa está delgadinha, contendor ”. para resistir a uma análise análise mais acurada às provas. No texto citado (1ª aos Cor. XI:27), a conjugação é de fato a disjuntiva “hê” [ἢ], no grego o “ou “ ou”” em português, mas o que isto quer dizer e de fato o diz diz é que aqueles que que profanarem profana rem a Eucaristia, Eucarist ia, seja tomando o pão ou o vinho, será réu r éu do corpo e sangue do Senhor. Mal aplicando este texto à mutilação da Eucaristia, os teólogos romanistas caem neste dile[20 – [20 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] ma: “Ou a Igreja Romana estava certa, quando durante 13 séculos distribuiu a Eucaristia aos fieis nas duas espécies (pão e vinho), ou estava errada; se estava certa, por que enveredou por outro caminho, sonegando o vinho aos fiéis? Se estava errada, porque só descobriu o seu erro depois de 13 séculos? Onde estavam os seus teólogos?... ” Onde sua infalibilidade dogmática? Agora vamos ao versículo 26 do mesmo cap. e Epístola. “Porque todas as vezes que comerdes este pão e BEBERDES este cálix, anunciais a morte do Senhor até que ele venha ”. Padre Delgado, a conjunção empregada no texto acima é no grego —“ kái” [καὶ], [καὶ], que só se traduz, em português, por “e” e “ também”, mas nunca por “ou”. E deve S.S.ª. notar que no versículo o versículo 26 vem antes do 27 e ali a conjunção é “ e” e não “ ou”. No vers. 28 ainda se diz: “Examine-se o homem a si mesmo e assim coma deste pão e ( kái) BEBA
deste cálix”. Veja também o vers. 29 onde “ kái” aparece duas vezes... “o que come e ( kái) BEBE indignamente, come e ( kái) BEBE para si mesmo o juízo”. Está satisfeito o meu douto mestre de gramática sobre a conjunção do texto? Sinto não poder ser mais extenso, pois só hoje à tardinha li a reportagem criteriosa. Passe bem e disponha do seu amigo e servo em Jesus Cristo. SYNÉSIO LYRA. (*) — (*) — Diário Diário da Manhã, do Recife.
[21]
RESPOSTA AOS REPAROS QUE O SR. LYRA QUIZ DAR À REPORTAGEM DA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA DE CAMPINA GRANDE. Peço ao Sr. Synésio Lyra que seja mais sincero, se quiser publicar algum artigo sobre a controvérsia de Campina Grande. Eu aqui responderei aos pontos principais da sua reportagem publicada anteontem neste DIÁRIO. As primeiras palavras que dirigi ao meu ilustre contendor, foram as seguintes: “discutir sobre o conteúdo de um livro sem saber o que é, parece-me parece-me tempo perdido. Portanto, Portanto, antes de começarmos começarmos a discussão, peço ao Sr. Sr. Pastor que tenha tenha a bondade bondade de dizer-me dizer-me o que que é a Bíblia ”. Isto não era desviar a discussão: era somente um preâmbulo, um prólogo que todos os bons professores fazem antes antes de explicar um livro. E o Sr. Lyra deu a definição da Bíblia mais ou menos exata: mas teria sido mais exato, se tivesse dito: — dito: — ““ A Bíblia é a palavra de Deus; revelação de Deus: escrita à humanidade sob o influxo sobrenatural do próprio Deus, pois, somente desta maneira Deus se torna autor principal dos livros sagrados”. Mas a esta definição se seguem naturalmente outras perguntas: — perguntas: — “Quais são os livros sagrados? ”. O Sr. Lyra respondeu mostrando-me os livros do Velho e do Novo Testamento. Testamento. — Quem lhe disse que todos estes livros foram escritos sob o influxo divino e que por isso mesmo fazem parte da Sagrada Escritura? — o o Sr. Lyra respondeu a esta pergunta citando estas palavras de São Paulo (2 Tim. 3, 16): “toda a Escritura divinamente inspirada é também ”. útil para ensinar, para repreender, para corrigir ”. — E com esta passagem, acrescentei, podemos
[22 – [22 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] ”. Façamos uma suposição; sabendo saber quais são os livros sagrados? ”. Façamos que o Sr. Lyra é professor de português, digo ao povo: — “todas as obras do Sr. Lyra são muito úteis para aprender a língua Portuguesa ” — com com isto o povo já sabe quais são as obras que o Sr. escreveu? Não, meu meu amigo: é necessário que as conheça conheça por outro meio. Pois bem, do mesmo feitio é a proposição de São Paulo: — Paulo: — ““toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, ”. Com estas palavras inda não posso saber quais são os livros etc.”. inspirados e quantos são. Além disso, lembre-se o Sr. que São Paulo aqui fala somente da Escritura que Timóteo aprendeu na infância, isto é, do Velho Testamento, pois Timóteo era hebreu de origem e por isso mesmo na sua infância infância aprendeu ap rendeu somente o Velho Testamento. E assim, por meio deste texto, nem por meio de outros, que se podem achar na divina divina Escritura, é possível dizer quais são os livros inspirados e quantos são. Era isto que pedia e peço ao Sr. Lyra, disposto a abraçar o protestantismo, se me responder. Não diga que nós católicos nos achamos nas mesmas condições, como de fato me disse durante a discussão. Isto seria verdade se a nossa regra de fé fosse a mesma dos protestantes: Ora, pelo contrário, contrár io, é muito muito diversa. Esta regra r egra de fé para os protestantes é a Bíblia explicada, por cada qual para si próprio; para nós católicos é um magistério vivo, autêntico, infalível, isto é, a Igreja docente constituída por Jesus Cristo depositária do patrimônio das verdades. E as fontes aonde essa Igreja vai beber, sem possibilidade de erro, os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a tradição. Portanto, nós podemos dizer quais e quantos são, os livros inspirados, ouvindo o que ensina a Igreja; mas os protestantes, que não admitem senão a Bíblia, como podem dize-lo, se isto não se acha na Bíblia? [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 23] 23]
Compreendeu, Sr. Lyra, a questão? Se devemos aceitar como verdade revelada somente o que encontramos na Bíblia, conforme a doutrina protestante; deveremos achar nela também quais são os livros inspirados e quantos são, pois também estas são verdades reveladas. Se o senhor resolver esta questão, lhe asseguro que todo Recife amanhã se tornará protestante. Entrando a criticar o que o Sr. diz a respeito da nossa discussão em Campina, visto que se quer apresentar ao público como vencedor, eu, aqui repetirei todos os argumentos em favor da presença real de Jesus Cristo na Eucaristia e o senhor, durante estes dias destrua cada um destes argumentos com razões fortes e esmagadoras. esmagadoras. — Argumentos deduzidos das palavras da promessa — (Jo. (Jo. 6, 48 e seguintes). Comer as carnes de alguém no sentido figurado, metafórico, 1 — Comer significa na linguagem da Escritura: — Escritura: — fazer fazer injúria a alguém; calunialo, (cf. Salm. 27:2 — 27:2 — Micheas Micheas 3,3 — 3,3 — Jer. Jer. 10,25 — 10,25 — Gal. Gal. 5,15). Logo se as palavras de Jesus devem ser interpretadas em sentido figurado como querem os protestantes, deverão ser traduzidas desta maneira: “Se não me caluniardes, não tereis a vida em vós ”. O mesmo se pode dizer da fórmula “beber o sangue” que, entendida figuradamente, exprime uma péssima maldição. (cf. L. 3,17; Isaías 40,26; — 40,26; — Apos. Apos. 16,6). Isto, porém, repugna. Portanto, as palavras de Jesus devem ser entendidas no sentido real.
2 — Os ouvintes entendem que Jesus quer dar a comer o seu corpo verdadeiro e real, e não somente uma figura dele; por isso exclamam: “Como pode este dar-nos a sua carne a comer? ”26. Jesus, porém, não os desengana, dizendo que é somente uma figura de seu corpoque dará; pelo contrário, confirma com juramento o que acaba de declarar (5, 4). A estas insistências do divino Mestre muitos dos 26 João
6,52.
[24 – [24 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] discípulos se revoltam e exclamam: “É duro este discurso e quem o pode ouvir?”27. E abandonam a Jesus. E Ele não os detém. Teria podido impedir a apostasia com uma simples explicação de suas palavras, e pelo contrário, permite que o abandonem. Mas en então tão não foi Jesus um criminoso? Explique isto Sr. Lyra; se quiser lhe posso propor o argumento sob forma sensível: Alguém está para afogar-se. Eu posso salvá-lo facilmente, estendendo-lhe apenas a mão, e não o faço. Peco contra o preceito da caridade, que me obriga a ajudar, quando me é possível, ao meu próximo nas suas necessidades espirituais e temporais. Da mesma forma Jesus teria pecado, não explicando no sentido figurado as suas palavras, se deveras devia falar de uma manducação espiritual e metafórica. Muito mais que Ele mesmo tinha dado a ocasião. Explico-lhe melhor o meu pensamento. Muitos dos discípulos estavam para cair na apostasia, por terem compreendido em sentido real as palavras de Jesus. Ele podia podia com uma uma simples palavra palavra impedir est estee mal, dizendo que era em sentido figurado que falava. Não o fez. Logo, ou Cristo faltou à caridade ou queria falar em sentido real. O discurso de Jesus provoca discussão gravíssima entre os 3 — O discípulos E afinal permanecem fiéis a Jesus somente os que creem nas suas palavras, a saber: Os que creem ser necessário comer comer a sua carne e beber o seu seu sangue para ter a vida vida eterna. eterna. Abandona-o Abandona-o os que não podem admitir tantos milagres e que por certo não teriam achado dificuldade em ficar e em crê, se se tratasse duma simples figura de corpo e do sangue de Jesus. 27 João
6,60.
Ora se Jesus tivesse falado em linguagem figurada, qual teria sido a consequência? Esta e não outra: teria detido junto a si como seus discípulos, [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 25] 25] os que não compreendiam as suas palavras e caíam num erro gravíssimo; teria permitido que se separassem dele os que tinham compreendido a sua linguagem e se afastavam para não admitir isto. Podemos dar lugar a uma hipótese tão ímpia e tão absurda? Todavia esta seria a consequência inevitável, aceitando a interpretação protestante: Ficaram com Jesus os enganados e o abandonaram os que repeliam o erro. Estes foram os argumentos que deduzi das palavras da promessa. Sr. Lyra, não tendo respondido durante a discussão, responda pelo menos agora, por escrito, e provem que não valem nada. — Argumentos deduzidos das palavras da instituição . — Mt 26, 16 — 16 — M. M. 14, 22 — 22 — Lc Lc 22, 19 — 19 — 1 1 Co 11, 23.
1 — Jesus, instituindo a S. S. Eucaristia, queria deixar a sua Igreja um penhor do amor que nutria para com ela, amor que lhe fez aceitar a morte de cruz. Ora, parece-vos que um pedaço de pão fosse o penhor de um tal amor e um presente digno de Deus? Não por certo. Portanto a Eucaristia não é um simples pedaço de pão, como querem os protestantes, mas sim o corpo verdadeiro e real de Nosso Senhor Jesus Cristo. S. Lc. (22, 13) diz que o que se derrama pela remissão dos 2 — S. pecados é o cálix, cálix, tomando o continente pelo conteúdo. conteúdo. Ora, Cristo não derramou por nós senão o seu sangue. Logo, somente podia dizer que o cálix era derramado por nós, enquanto continha o seu sangue e não vinho.
O texto evangélico (Mt 26, 27) é perfeitamente paralelo ao 3 — O do Êxodo (21, 8). De fato, em ambos se institui um testamento e se sancionará com o sangue; em ambos são sã o usadas as mesmas palavras. Ora, no Êxodo (24, 8; trata-se de verdadeiro san[26 – [26 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] gue. Logo também no texto correspondente de S. Mt (26, 27) se trata de verdadeiro sangue. [4] — O O texto grego em que foi escrito o Evangelho, assim refere as palavras de Jesus: “Este é o meu corpo, o meu próprio corpo, o mesmo que é dado por vós ... Isto é o meu sangue, sangue, o meu próprio sangue da nova aliança, o sangue que é derramado por vós pela remissão dos Como é possível entender em sentido figurado estas palavras? pecados”. Como é São Paulo (1 Cor. 23) diz: “Quem come esse pão ou bebe o 5 — São cálix do Senhor, indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor ". Ora, se a Eucaristia fosse somente uma figura do Corpo e do sangue de Jesus, isto não seria verdade. Seria porventura réu do corpo do chefe da Nação o que ultraja seu retrato? Não. Portanto, a Eucaristia não é simples figura do Cristo. S. Paulo (1 Cor. 23 e seguintes) diz também: “Quem come e 6 — S. bebe indignamente o pão e o cálix, come e bebe para si a condenação, ”. não discernindo o corpo de Senhor ”. Ele afirma aqui, evidentemente, a presença real do Jesus na Eucaristia, pois que, declarando a razão pela qual é réu quem comunga indignamente, diz: “Porque desta maneira não discerne o corpo do Senhor ”, isto é, não considera a Eucaristia o que é na realidade, a saber, o Corpo do Senhor. Sr. Lyra, estes foram os meus argumentos para defender a presença real. E o Senhor, Senhor, como os refutou? Procurando textos de significado ambíguo e dizendo asneiras filosóficas. Teria sido multo melhor que deixasse de parte a filosofia
para não cair em paradoxos, paradoxos, que qu e merecem cinquenta vezes vezes palm pa lmatória, atória, e também para manter as condições que o próprio Senhor impôs, entre as quais havia também esta: — esta: — A A discussão será á luz da Escritura. Mas deixemos isto de parte. Vejamos o que va[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 27] 27] lem os seus argumentos. Sigo a ordem que o Senhor manteve durante a discussão e não a que inventou no artigo. [1] — O O seu primeiro argumento foi este: Jesus, instituindo a S. S. Eucaristia, disse: “ fazei isto em memória de mim”. Ora não se faz memória do que está presente. Logo, o corpo de Cristo não está presente na Hóstia. — Hóstia. — Respondi Respondi que, para fazermos memória de alguma coisa, não é absolutamente necessário que esteja ausente; basta que esteja invisivelmente presente. Ora, o Corpo de Cristo está invisivelmente presente na Hóstia — Acrescentei que o texto estava fora de debate, porque na celebração da Eucaristia fazemos memória da paixão e morte do Nosso Senhor, conforme o que diz São Paulo.
2 — Diz S. Paulo: “ Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálix, anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha ”. Cristo ainda não veio. Logo, na celebração da Eucaristia fazemos memória de Cristo ausen a usente. te. Note bem, senhor s enhor Lyra: Lyra : digo sinceramente sinceramente diante de Deus que eu não sei quando alegou este argumento ou não se expressou bem; do contrário me teria sido fácil refuta-lo. Refiro-o porque o encontrei na reportagem do Padre Delgado. Se houvesse apartes, como eu desejava, não se data isto. Em todo o caso, já tinha respondido, de alguma maneira, a este argumento, pois afirmei que o Corpo de Jesus está presente invisivelmente na Hóstia; ao passo que S. Paulo fala da vinda gloriosa de Nosso Senhor.
Cristo diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu ”. Ora o 3 — Cristo corpo de Cristo não desceu do Céu. Logo, na Eucaristia não comemos o corpo de Cristo. Respondi que as Escrituras Escr ituras estão cheias cheias destas [28 – [28 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] comuns atribuições do suposto à pessoa, e da pessoa ao suposto. De resto, Sr. Lyra, responda a este argumento que é do mesmo feitio do seu: Cristo (S. Jo. 6, 62) diz: “ Que seria, se vísseis o filho do homem subir aonde estava antes? ”. Ora, Cristo antes do seu nascimento não estava no Céu com o corpo. Logo, o corpo de Cristo não está no Céu. Aprova o senhor este modo de argumentar? Penso que não. Portanto, deixe de abusar da divina Escritura.
4 — Cristo — Cristo dizendo: “ Eu sou a porta, a via, a videira... ” não quer afirmar que é uma via, uma videira. Logo, também quando diz: “Isto “Isto é o meu corpo” não corpo” não se transubstanci transubsta nciaa na hóstia. Lembre-se bem V.S.ª. que não disse essa asneira no decurso, e sim no fim da discussão, quando não pude mais responder, por se terem esgotado as duas horas convencionadas. Semelhante argumento não honra a um professor. Como é possível considerar considerar iguais estas estas proposiçõe pr oposições? s? Cristo diz: “Eu sou a porta ” mas não diz, “Eu sou esta porta”, pois quando uma cousa se torna como figura de outra, não se toma em indivíduos, mas em gênero. Além disso, quando a divina Escritura fala em sentido metafórico o dá a conhecer. Mas nas palavras eucarísticas tudo impele a toma-las em sentido próprio e literal.
5 — Jesus em S. Jo. (6, 62 e seguintes) afirma abertamente que fala em sentido metafórico; que dará a figura de seu corpo e de seu sangue. — sangue. — Lembre-se Lembre-se V.S.ª. que também essa estultice foi pronunciada nos últimos 20 minutos; por isso não me fui permitido responder.
No artigo que publicou anteontem V.S.ª. con contrafez trafez o texto evangélico. Quero pensar que o tenha feito incorretamente. Leia melhor o capítulo VI [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 29] 29] de S. João e verá que as palavras: palavras : “ Isto vos escandaliza? escandaliza?” Jesus não as dirigiu aos que ficaram, mas a todos em geral; a que os discípulos escandalizados o abandonaram depois dessas palavras. Portanto compreenderam que Jesus ainda insistia na manducação real do seu corpo. De fato, apelou para a sua futura ascensão para dar crédito às suas palavras, ou melhor, segundo outros, em lugar de diminuir a grandeza do mistério eucarístico, aumentou-a ainda mais predizendo a sua ascensão. Como se quisesse dizer: “Custa-vos a crer que eu possa dar-vos minha carne em alimento e meu sangue em bebida, agora que estou no meio de vós; quanto mais não vos parecerá isso incrível, quando, depois de me terdes visto subir de novo ao céu, vos for preciso crer que esta carne, ao mesmo tempo em que está no céu, é dada na terra em alimento? ”. — A palavra — “carne” — no inciso: “a carne para nada aproveita” não tem o mesmo significado que tem nos outros passos em que Jesus fala da manducação de sua carne. Aliás, se teria contradito, pois antes afirmou que, para termos a vida eterna, é preciso comer a sua carne, agora diz que a carne para nada aproveita: Como devemos, pois, entender essas palavras: “ a carne para nada aproveita . As palavras que Eu vos digo são espírito e vida ”28? Ei-lo. De duas maneiras se podem explicar: A palavra “espírito” quando quando se opõe à carne não significa a) — A sentido espiritual e metafórico, como querem os protestantes, mas o elemento espiritual ou divino de Cristo; e, assim, o significado das palavras acima acima é este: “ Somente a carne não pode verificar, mas, unida à minha divindade vivifica ”.
b) — A palavra “espírito”, quando se opõe à carne, frequentemente na divina Escritura significa a inteligência do homem 28 João
6,63.
iluminada pela graça: ao passo que a carne significa o homem considerado na sua corrução corru ção nativa. nativa. (Cfr. Mt 16, 17; 1 Cor. 2, 14 e 15). E assim, o sentido das palavras acima acima é este: “ As minhas pa[30 – [30 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA]
lavras não se devem explicar carnalmente; isto é, segundo a inteligência natural, enferma e escrava dos sentidos, pois o homem carnal não pode compreender as cousas de Deus; e sim espiritualmente, [para] isto é necessária a ilustração do Espírito Santo, para compreender e crer nas minhas Palavras, as quais não se podem ”. Nesse sentido Jesus disse a Pedro: “ A tornar salutares senão pela fé ”. Nesse carne e o sangue não te revelou, e sim meu Pai que está no céu ”. Sr. Lyra, satisfazem-lhe essas explicações? Se não lhe agradam e quiser ainda sustentar que, por aquelas palavras, Jesus declarou declarou que tinha falado em sentido figurado, então explique porque, apesar dessa declaração, os discípulos o abandonaram; explique a contradição em que caiu Nosso Senhor, que afirma várias vezes que a sua carne dá a vida a quem a come; e depois diz: — “a carne Para nada aproveita ”. Esses foram todos os argumentos escriturísticos que V.S.ª. alegou para provar que Jesus não está realmente presente na hóstia. Quase todos foram rebatidos durante a discussão e se não dei a resposta a alguns deles, foi porque foram apresentados no fim da discussão; e quando eu ia começar a refutação o Sr. Chefe de polícia deu a mesma por terminada. Mas, respondeu V.S.ª. a um só dos meus argumentos? Não: apelo para o testemunho testemunho de Deus e de todas as pessoas que assistiram a discussão. Portanto, tenha a bondade de responder agora a cada um deles.
Quanto aos argumentas filosóficos não me digno responder, pois, lendo o vosso artigo, cada vez mais firme se tornou a minha persuasão de que V.S.ª. nem se quer quer conhece os primeiros pr imeiros elementos elementos da filosofia. f ilosofia. Já os respondi durante a discussão, ainda que estivessem fora do debate, uma vez que o assunto versava sobre — a a transubstanciação à luz das Escri[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 31] 31] turas — Li no vosso artigo estas palavras que V.S.ª refere como ditas por mim: mim: — “a hóstia se transubstancia no corpo, no sangue, alma e divindade de Jesus ”. Sr. Lyra, eu nunca disse semelhante paradoxo — paradoxo — quem quem fala desta maneira sobre a transubstanciação merece palmatória e a excomunhão da Igreja. Por transubstanciação entendemos: — entendemos: — a a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo, e de toda a substância do vinho na substância do sangue de Cristo, ficando somente os acidentes — Por Por concomitância, como se diz em teologia, sob os acidentes do pão se torna presente também o sangue, e sob os acidentes do vinho se torna presente também o corpo de Cristo. C risto. Pel P elaa união hipostática, tanto sob os acidentes do pão, como sob os acidentes do vinho, se torna presente a divindade de Jesus. Não ridí r idícularize cularize esta doutrina: acha-se na Escritura. O apóstolo São Paulo diz: “Quem comer desse pão ou beber o cálice do Senhor indignamente é réu do corpo e do sangue do Senhor ”. — Ora Ora se na hóstia estivesse presente somente o corpo e no cálix somente o sangue, não seria verdade que, alguém, comendo indignamente o pão, fosse réu do corpo e do sangue de Cristo. Sabemos tombem que o corpo de Cristo é inseparável da divindade. Portanto, se na Eucaristia está, o corpo do Cristo, está também a sua divindade. — Li também no seu artigo que, tendo eu esgotado os meus argumentos, desviei a discussão, pedindo ao Sr. que pela sua honra de pastor me dissesse: — “o que é a Bíblia? ” — Sim, Sr. Pastor, fiz
novamente esta pergunta; mas quando? No fim: depois que o chefe de polícia mandou por terminada terminada a con controvérsia trovérsia sobre a transubstanciação. transubstanciação. Pode dizer que isto não é verdade? Se ousar nega-lo dentre de poucos dias será publicado o testemunho de pessoas insuspeitas... Além disso, eu posso invocar o testemunho do próprio Deus em meu favor; e V.S.ª, pode? [32 – [32 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] Fiz esta pergunta para mostrar ao povo católico que os pastores protestantes explicam explicam um livro que não conhecem. Portanto, nunca desviei a discussão. Só no princípio, como preâmbulo, perguntei: — “O que é a Bíblia?”. V.S.ª, sim, foi quem desviou a discussão começando a falar da distribuição da comunhão sob uma espécie e da missa. Então, transubstanciação, distribuição da comunhão sob uma espécie e missa para V.S.ª são a mesma mesma coisa? — Li também no artigo um conceito muito errado sobre a tradição da Igreja Católica. Porque se atreve a combater uma doutrina que jamais conheceu? conheceu? Quanto à nota curiosa a que se refere V.S.ª, por não ter encontrado o passo da Santa Escritura, respondo-lhe que isto não me desonra e sim a V.S.ª, pois dá a conhecer que cheguei ao lugar da discussão sem nada preparar, tendo recebido a lista de assuntos meia hora antes da discussão, ao passo que V.S.ª teve um mês inteiro para estudar o assunto; e não se julgando devidamente preparado, trouxe uma mala de livros. Passe bem, Sr. Lyra, quisera continuar, mas espero vossa resposta. Frei Damião de Bozzano 29. 29 Pio
Giannotti, conhecido como Frei Damião de Bozzano (1898-1997), nome que tomou para si ao ingressar na Ordem dos Capuchinhos em 1914, foi um sacerdote católico romano. Convocado pela Força Militar do Exército E xército da Itália para serviu na frente de d e batalha da I Guerra Mundial (1914(1914 1918), período que lhe marcará profundamente. Voltando da guerra, ingressou no Seminário, sendo ordenado sacerdote, obtendo posteriormente o doutorado em Teologia Dogmática, desempenhando, após, o cargo de professor. Em 1931, Frei Damião aceitou o convite de seus superiores para ser missionário no Brasil, vindo a celebrar sua primeira missa no Brasil em 05 de abril de 1931, na cidade de Gravatá, agreste pernambucano.
[33]
CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA RESPOSTA RESPOSTA A FREI DAMIÃO DAMIÃ O DE BOZZANO Folgo em defrontar-me de novo com Frei Damião e desta vez em tribunal mais amplo: o da imprensa pernambucana. Lamento, apenas, o modo rude e agressivo com que o ilustrado corifeu católico atira-se contra mim, com afirmativas gratuitas do que eu disse asneiras . Não retribuirei, por uma que questão stão de educação, educação, a de descortesia scortesia da linguagem. Acho até natural a explosão do ânimo exacerbado do meu opositor em apuros. Mesmo classificado, indelicadamente, como asno, não tema Frei Damião, pois não costumo dar coices... Continuarei a acatar a pessoa, para mim sempre respei r espeitável, tável, de d e Frei Damião. Combatendo Co mbatendo erros, como o faço, não viso à pessoa do adversário. No caso vertente ponho apenas em confronto o erro da tradição católica sobre a Eucaristia, com a verdade das Santas Escrituras, a Bíblia, que, mais uma vez, afirmo ser a única e infalível regra de fé e conduta do verdadeiro cristão. Sobre a tecla já muito batida: “Que é a Bíblia? ”, Frei Damião diz, em seu artigo, o que não quis dizer na polêmica em Campina Grande — que “o Sr. Lyra. deu a definição da Bíblia mais ou menos exata ...”. ...”. Soulhe grato por esta confissão espontânea. Insiste, porém, V.S.ª em considerar pertinente à nossa discussão a sua pergunta sobre a Bíblia. E, agora, considerando “mais ou menos exata”, nossa resposta, levanta novas perguntas, com novos becos de saída. Com efeito, já agora V.S.ª quer saber quem escreveu estes livros, como se prova sua inspiração, e nessa fuga, perguntará, como se prova a existência daquele que os inspirou... Que evasivas ilustrado Sr.!
[34 – [34 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] Quererá V.S.ª porventura, com a nova pergunta, repetir o costumado círculo vicioso dos que dizem derivar-se a autoridade dos livros sagrados da Igreja Romana; porque ela, nalgum tempo, os guardou e que a autoridade autoridade da Igreja “ como regra de fé ”, ”, se, deriva do santo volume”? volume”? Basta que desde logo lhe diga que ainda [que] ficasse provado que foi sua Igreja que exclusivamente guardou os divinos oráculos, não ficaria ela em posição melhor do que a dos judeus a quem — quem — diz diz Paulo — “ foram, por certos, confiados confiados os oráculos de Deus Deus” (Rom. 3: 22); mas de quem Jesus tomou a velha Bíblia por eles guardada para dizerlhes “Errais não sabendo, as Escrituras...”30. À sua pergunta sobre quais são os livros sagrados, respondo que são todos os que a Igreja Primitiva aceitou como oriundos direta ou indiretamente dos apóstolos e que sobre o número destes livros foi muito tardia a palavra de sua Igreja nos Concílios de Florença e de Trento. Ouça o que a respeito confessa, honestamente, o tradutor da Bíblia católica em português, padre A. P. de Figueiredo: “Se me perguntam agora donde procedeu procedeu duvidar-se por tantos séculos entre os mesmos católicos da divina autoridade de certos livros sagrados respondo que isto foi porque até os tempos do concilio Florentino não tinha a Igreja Universal publicado algum decreto que decidisse afinal esta matéria e obrigasse os fiéis a convirem todos no mesmo; o que é fácil de mostrar discorrendo por todos os concílios ecumênicos ecumênicos e gerais que por todo o decurso de tantos séculos se celebraram no Oriente e no Ocidente, entre os quais até o Florentino se não achara nenhum que definisse terem os livros deutero-canônicos a mesma e igual autoridade Sagrada, trad. de. A. P. Figueiredo, que os proto-canonicos” (Bíblia Sagrada, aprovada pelo pelo arc. da Bahia, 2.ª 2.ª ed., ed., 1881, tom, 1º, p. 3). Quero; agora, saber para quando V.S.ª marca a
30 Mateus
22,29 // Marcos 12,24.
[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 35] 35] solenidade de sua profissão de fé f é protestante, já prome pr ometida. tida. Agora, vejamos se Frei Damião, de fato, não se afastou do assunto convencionado quando me fez f ez a pergunta: Que é a Bíblia? Suponhamos que nossa discussão versasse sobre uma questão jurídica à luz da Constituição. Constituição. Pressupõe-se, desde logo, que ambos aceitávamos a Constituição. Ora, para discutirmos a mencionada questão jurídica, seria, por ventura, preciso que um dos contendores respondesse à pergunta do outro: outro: “Que é a Constituição? ”. De modo nenhum. Se devemos aceitar como verdadeira expressão jurídica fundamental o que se acha na Constituição, será preciso buscar nela também declarações a respeito de quais e quantas são as partes que a constituem? Certamente não. Os dois casos são sã o idênticos. Não nos propusemos discutir o que é a Bíblia ou a Escritura: sua origem; seus autores, sua inspiração e sua constituição — mas “A Transubstanciação à Luz das Escrituras ”. Lamento que Frei Damião esteja estragando sua alardeada filosofia, na defesa de uma causa indefensável, como esta em que precisa de preâmbulos preâmbulos que a natureza do assunto não exige. exige. Ainda, neste caso de definição da Bíblia, Frei Damião cai realmente num círculo vicioso, coisa bem grave para um filósofo, quando afirma que “a Igreja docente” é a regra de fé dos católicos e que “as fontes onde essa igreja vai beber, sem possibilidade de erro, os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a tradição ”. Aprendam os filósofos esta lição. Sócrates, Platão e Aristóteles onde estais? Vejamos, agora, a que absurdo o argumento de Frei Damião conduz. Se “a Igreja docente” é a regra de fé, como afirma S.S.ª, esta Igreja se constituiu sem regra de fé, pois antes de ser constituída não podia ser regra de
[36 – [36 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] fé de si mesma. E, neste caso, mediante que fé se constituiu ela? Aceita Aceita V.S.ª as consequências de seus s eus argumentos filosóficos ? Agora, vamos à “ crítica” com que V.S.ª tentou mais uma vez, inutilmente, inutilmente, destruir meus argumentos argumentos indestrutíveis. indestrutí veis. Começarei parodiando seus próprios argumentos “deduzidos das palavras da promessa promessa". Comer a carne de uma pessoa no sentido literal, significa na linguagem da Escritura, como em qualquer linguagem, devorar essa pessoa. Veja-se Veja-se 2ª Reis 6: 28-29. Jesus, porventura, ensinou tal monstruosidade? O mesmo se pode dizer do “beber do sangue” que, entendido “literalmente ” exprime uma péssima maldição. Veja-se Apocalipse 16:6, texto citado por, V.S.ª: “visto que derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também tu lhe deste o sangue a beber , porque disto são merecedores”. Portanto, as palavras do Jesus devem ser interpretadas não no sentido literal, que é monstruoso, mas figuradamente. Afirma V.S.ª, em seu segundo argumento: “ Os ouvintes entendem que Jesus quer dar o seu corpo verdadeiro e real e não somente uma ...”. figura dele...”. É possível que assim o entendessem os que se escandalizaram. Os fiéis, porém, entenderam, como Pedro, que o que alimenta ou dá vida à alma são as palavras de Cristo: “Tu tens as palavras da vida eterna ”. E Cristo mesmo ensinou: “ Não só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mateus 4: 4), “ A carne, diz Cristo, para nada aproveita aproveita” (João 6: 63). E, realmente, o alimento da alma deve ser-lhe correlato, isto é, deve corresponder à sua natureza, deve ser espiritual. E daí, dizer Jesus: “ As palavras que que eu vos digo digo são espírito e vida”. De passagem, como contendor leal, aceito o reparo feito por V.S.ª de que os discípulos só abando-
[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 37] 37] naram a Jesus depois do esclarecimento dado nestas palavras: “ Isto vos escandaliza?... escandaliz a?... O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita: as palavras pal avras que eu vos disse são espírito e vida”. Agradeçolhe a lembrança porque ela trouxe novo contingente ao meu já inabalável argumento. Vamos às provas, V.S.ª diz que Jesus seria um criminoso por deixar tantos discípulos se precipitarem na apostasia quando com uma palavra teria evitado tal coisa. Exemplifica sua asserção, dizendo: “ Alguém está para afogar-se. Eu posso salvá-lo facilmente; estendendo-lhe estendendo-lhe apenas a mão, e não o faço. Peco Peco contra o preceito da caridade... caridade...”. Ora, se Jesus disse que a carne para nada aproveita, que o espírito é o que vivifica, porque suas palavras são espírito e vida, tinha feito tudo quanto era necessário para evitar a apostasia daqueles obstinados no erro, os quais revelaram este triste estado da alma próprio de tanta gente recalcitrante neste mundo que prefere continuar no erro, como Frei Damião, mesmo tendo conhecimento da verdade, com todas as suas evidencias, V.S.ª é, realmente, um exemplo vivo disto, pois diante dos lampejos da verdade tão claramente exposta por mim, neste prélio incruento, prefere afogar-se no erro de uma interpretação ao pé da letra, sobre a Eucaristia — Interpretação Interpretação que atenta contra a razão, contra o testemunho dos sentidos e ainda contra os princípios mais elementares da Hermenêutica que manda interpretar um texto à luz de seu contexto e das passagens paralelas. Jesus não constrangeu aqueles discípulos a ficarem com ele, pois a salvação é dom gratuito de Deus (Romanos 6: 23), e tem de ser s er aceita voluntariamente. voluntariamente. Passo, agora, a usar sua ilustração: “Alguém “Algué m está para afogar-se”. afogar-se”. Mas, por um princípio de caridade, eu lhe conhecendo as intenções, antecipo razões que revelam a loucura desse ato. Esse pobre recalcitrante, recalcitrante, entretanto, atira-se ao abismo. Terei [38 – [38 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA]
eu, porventura, culpa na morte desse louco? Não, mil vezes não! Ele era livre para atirar-se no abismo ou não. Não foi isto justamente justa mente o que se s e deu? Os discípulos murmuravam e Jesus docemente explica-lhes o sentido figurado de suas palavras. Mostra-lhes que não está se referindo à sua própria carne, em sentido literal, pois “a carne para nada aproveita " e o espírito é o que vivifica. Mostra ainda em que sentido teríamos de nos alimentar espiritualmente dele, pois disse: “Eu sou o pão da vida: o que vem a mim, não terá jamais fome, e o que CRÊ em mim não terá jamais sede. E a vontade de meu Pai.... é esta: que todo o que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna” (vers. 35 e 40). Finalmente, Jesus realça a verdade preciosa de que a salvação é pela fé e não por se comer materialmente sua carne dizendo: “Em verdade, em verdade vos digo: O que crê em mim, tem a vida eterna” (vers. 47). Pela sua natureza espiritual, a alma não pode alimentar-se com um corpo humano, no sentido material. E, pois, o pecador salvo recebe a vida vida eterna, é alimentado alimentado espiritualmente, espiritualmente, CRENDO em Jesus. Ora, todos os vers. acima citados, sobre cujo sentido não pode haver a menor sombra de dúvida, fazem parte do sermão “da promessa”. Mas há coisa bem grave naquele discurso, se admitirmos o sentido literal. Frei Damião ensina com todos os teólogos de sua igreja, que a transubstanciação é “ a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo, e de toda a substância do vinho na substância do sangue de Cristo, ficando somente os acidentes ” do pão e do vinho. Prestemos toda a atenção a estas palavras de Jesus: “Se qualquer comer deste pão viverá eternamente” (Jo. 6:52). Perguntamos agora, quando um católico come a hóstia ou o pão eucarístico, come a Cristo, segundo ensina a Igreja Romana. Mas quando este católico abandona a fé e a própria igreja, para onde [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 39] 39] vai? Não irá diretinho para o inferno, segundo a teologia católica?! Então, meu bom frade, este ex-católico vive ou não vive eternamente? Pois Cristo disse que o que come deste pão vive eternamente. Aconteceu
em tempos idos — o V.S.ª não o ignora — ter um rato audacioso devorado a hóstia consagrada. Este rato vive eternamente ? Ou Cristo, neste caso, destransubstanciou-se e fugiu? Esta blasfêmia é a conclusão lógica, admitida a transubstanciação. Não vê Frei Damião que, quem se afogou foram seus argumentos ilógicos! Sua decantada filosofia falhou mais uma vez, meu caro. Seguindo os passos de V.S.ª vamos agora ao caso do pão como penhor, referido em seu artigo. Não se deve confundir um penhor deixado por uma pessoa com a pessoa que o deixa. Frei Damião fez-se protestante neste argumento, pois ensinamos que a Eucaristia é, de fato, um sinal do amor de Cristo, é um penhor de sua volta — volta — Apenas, Apenas, S.S.ª acha que “um pedaço de pão ” não é “ um penhor ”: desse amo, nem “um presente digno de Deus”. O presente digno do Deus — caro Sr. — é Cristo. E Cristo nos deixou como lembrança, como penhor deste presente divino, não “um pedaço de pão ”, mas o pão e o vinho eucarísticos. Mas que fosse um pedaço de pão... Um pedaço de pano, uma bandeira não representa a pátria, não é a imagem representativa, da nação? E quem ultrajar a bandeira, no todo ou em parte, não ultraja o país que ela repre r epresenta? senta? O ped pedaço aço de pano não vale por si, mas pelo que representa. O pão é uma coisa comum, mas na eucaristia ele tem alta e grande significação, porque representa, simboliza ou tipifica o corpo de Jesus, e nossa comunhão com ele. E todas as vezes que comemos o pão e bebemos o vinho eucarísticos, lembramo-nos do sacrifício de Cristo, por nós, na cruz. Anunciamos Anunciamos sua morte e aguardamos sua vinda. “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálix, anunciareis a morte do Senhor Senhor até que Ele [40 – [40 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] 11: 26). E isto fazemos com toda reverência, compunção venha” (1 Cor. 11: 26). e solenidade. V.S.ª fez lamentável confusão, citando Luc. 22:13, quando devia ser 22:20. E ainda, pelo sentido de suas palavras, me parece que queria citar Mat. 26:28. Mas qualquer dos textos é contra a teoria da transubstanciação. O texto de Luc. 22:20 — “Este cálix, é o Novo
22:19 — ““Este é o meu corpo”, Testamento em meu sangue” e o de Luc. 22:19 — por um princípio de coerência deviam ser, tomados no mesmo mesmo sentido: literal ou figurado. Não agem, porém, assim os teólogos romanistas. Para o primeiro dão um sentido figurado, isto é, o cálix não se transubstancia em o Novo Testamento, pois testamento não tem substancia... Para o segundo dão o sentido literal, porque melhor se adapta ao seu erro dogmático. dogmático. Que hermenêutica hermenêut ica de dois pesos e duas medidas! Diz mais o ilustre campeão romanista: “O texto grego, em que foi escrito o Evangelho, assim refere as palavras de Jesus: ‘ Este Este é o meu corpo, o meu próprio corpo o mesmo’ ... ...” etc. Falso! Falsíssimo, Frei Damião! O texto grego jamais disse tal coisa! As palavras “ próprio” e “mesmo” não estão, em absoluto, no texto grego, mas na cabeça de V.S.ª. Examinei os textos, no original grego, referentes à Eucaristia os quais translitero aqui: “Toutó esti tó sôma mou” (Mat. 20:26). “Toutó ésti tó sôma mou ” (Mar. 14:22). “Toutó ésti tó sôma sôma mou” mou” (Luc. (Luc. 22:19). Na 1ª Epist. aos Coríntios, 11:24, temos a mesma expressão grega, com uma construção diferente significando, porém, a mesmíssima coisa: “Toutó mou ésti tó sôma ”. A tradução exata destes textos é: “Este é o meu corpo ”. Veja como foi traduzido o texto, nas versões que tenho à mão: Versão francesa: Luc 22:19 — 22:19 — Ceci est mon corps . [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 41] 41] Versão inglesa: Luc. 22:19 — 22:19 — This is my body. Versão italiana: Luc. 22:19 — 22:19 — Quest’ é iI mio corpo. Versão Espanhola: Luc. 22:19 — 22:19 — Esto es mi cuerpo . Versão de Frei Joaquim de N. S. do Nazareth: Luc. 22:19 — Isto é o meu corpo .
Vulgata Latina: Luc. 22:19 — 22:19 — Hoc est corpus meum (Veja-se 1 Cor. 11:24, como também Mat. 22:20; Marc. 11:22). Introduzir as palavras “ próprio” e “mesmo”, nestes textos é agir de má fé e demonstrar que está à serviço de uma causa insustentável. E agir assim é incorrer na maldição divina (Apocalipse 22:18). Não falsifique, Frei Damião, Damião, a Palavra divina! Afirma V.S.ª que não ouviu, em Campina Grande, um argumente meu, referido fielmente pelo padre Delgado em seu artigo — artigo — argumento argumento alusivo à expressão paulina: “... até que ELE venha”. Refiro logo aqui, ter V.S.ª renovado a pergunta sobre a Bíblia, nos seus últimos 20 minutos de discussão e não após esgotado o prazo de duas horas. Não preciso do testemunho de pessoas, como prometeu dar-me, porque lhe poderia opor outras tantas. Do mais, V.S.ª tem-se revelado tão desmemoriado nesta discussão... Admitida, porém, a hipótese de a terme feito depois, V.S.ª fica na mesma situação esquerda, porque, voltando a falar, V.S.ª devia responder aos meus últimos agourentos e não fugir do assunto, para me fazer nova pergunta sobre a Bíblia. V.S.ª não afirmou que não respondeu a certos argumentos meus, a que chama asneira e estultícia, “ por terem se esgotado as duas horas convencionadas ”? A pergunta foi, portanto, de um contendor vencido. Não estrebuche. estrebuche. Conforme-se com a derrota, que é mais mais decente... Sobre o texto que citei: “ Eu sou o, pão vivo que desceu do céu”, V.S.ª responde apenas “que as Escrituras estão cheias destas comuns atribuições do [42 – [42 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] Esqueceu-se V.S.ª de dizer suposto à pessoa e da pessoa ao suposto ”. Esqueceu-se qual, no caso vertente, é o suposto e qual a pessoa. Diga-o agora... V.S.ª foi muito infeliz, quando quis explicar o sentido das palavras: “a carne para nada aproveita ”. Creio que não queria escrever o que escreveu. Porque é coisa horrível! Senão vejamos. Diz V.S.ª:
espírito” quando quando se opõe à carne; não a) A palavra “espírito” significa sentido (sic!) espiritual e metafórico, como querem os protestantes, mas o elemento espiritual ou divino de Cristo; e, assim, o significado das palavras palavra s acima, acima, é este: “Somente a carne não pode vivificar, mas, unida à minha divindade, vivifica”. ”, quando se opõe a “carne”, b) A palavra “espírito”, frequentemente na divina escritura significa a inteligência do homem iluminada pela graça; ao passo que a carne significa o homem considerado na sua corrução nativa. nativa. Ora, meu caro frade, a que propósito iria Cristo falar, no texto que estudamos, do “homem considerado na sua corrução nativa ”, se a carne a respeito da qual vem ele falando aos discípulos é a sua carne e não a do homem “na sua corrução nativa ”? V.S.ª admite que havia “corrução nativa” no Homem ideal e singular, concebido sem pecado, pela operação do Espírito Santo, no ventre da bendita Virgem Maria, aquele Homem que podia dizer: “Qual de vós me pode arguir de pecado ”? A que propósito o Divino Mestre, explicando como se podia comer a sua carne, introduziria a ideia da carne do homem em sua natureza corrompida? E, se a carne em contraste com o espírito tem aí essa significação tão má, como então dá V.S.ª a entender que Cristo quis dizer que “Somente a carne não pode vivificar, mas unida à minha, divindade, vivifica?”. Então, “ o homem considerado na sua corrução nativa ”, vivifica unido à divindade? Quanta balburdia! Quanta heresia, Frei Damião! Lembre-se de que não está escrevendo apenas para mim, mim, mas [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 43] 43] para um grande público inteligente que saberá distinguir a ve verdade rdade do erro. Cuidado com essas asse a sserções rções disparatadas d isparatadas e heréticas! Como V.S.ª passou de largo por vários argumentos meus, vou reproduzi-los, sumariamente, aqui, esperando a devida resposta:
1 — As palavras do Jesus: “Fazei isto em memória de mim” e as de São Paulo: “... até que ele venha ”, indicam claramente que o pão e o vinho eucarísticos não se transubstanciam no corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. O que se faz em memória de uma pessoa supõe não estar essa pessoa corporalmente presente. E se a Eucaristia tem de ser celebrada celebrada “até que Ele venha” é porque Ele não veio e, portanto, não está corporalmente presente. Salvo se é o caso de “ fazer memória sensível” (sic!) como Frei Damião imaginou. 2 — Admitida Admitida a transubstanciação, forçoso é aceitarse que Cristo ao instituir a Eucaristia tinha dois corpos: um corpo sentado à mesa e outro levantado e partido pelas mãos do-que estavam sentados. — Sobre a expressão: “ Este é o meu corpo ”, citei 3 — Sobre vários textos análogos em que aparece o verbo “Ser” com a significação de — representar, simbolizar, tipificar, etc. ex.: “Filho do homem, disse Deus a Ezequiel, estes ossos 37:11). “Os sete castiçais são toda a casa de Israel ” (Ezeq. 37:11). que viste são as sete Igrejas” (Apoc. 1:20). “ Eu sou a videira verdadeira”. Frei Damião não pôde explicar os dois primeiros versículos acima citados, porque são análogos a este outro: — “Este é o meu corpo”, e seria obrigado, por coerência, a interpreta-los ao pé da letra e lá teríamos os ossos transubstanciados em toda a casa [44 – [44 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] de Israel e os sete castiçais nas sete Igrejas da Ásia. Procurou dois outros textos e apresentou-os, falsamente, como citados por mim: “Eu meu amigo! a migo! sou, a porta, a via ”. “Seja mais leal”, meu
4 — A respeito da sonegação do cálix aos comungantes, propus em meu artigo, o seguinte dilema: “Ou a Igreja Romana estava certa, quando durante 13
séculos distribuía a Eucaristia aos fiéis nas duas espécies (pão e vinho), ou estava errada; se eslava certa, por que enveredou por outro caminho, sonegando o vinho aos fiéis? Se estava errada, por que só descobriu o seu erro depois de 1.300 anos? Onde estavam os seus teólogos? Onde sua infalibilidade dogmática? Não sou eu quem quer a resposta. São os católicos que estão perguntando, por que não tomam o vinho na comunhão, não obstante o Salvador dizer: “ Bebei dele todos”31. Diga, de público, Frei Damião, por que é isso assim? Demonstrei que o sacrifício de Cristo não pode 5 — Demonstrei ser repetido, citando Hebreus 9:11, 12, 25-28. Registrei esta expressão do apóstolo: “Cristo foi uma só vez pecados de muitos” e mostrei que imolado , para esgotar os pecados o Concílio de Trento errou, quando ensinou que no “sacrifício” da missa Cristo é imolado. Sobre a conjunção “ou”, contrapus a conjunção 6 — Sobre “e”, no grego “ kái”, ”, em vários textos que mostram que a Eucaristia deve ser distribuída nas duas espécies (pão e vinho), e não numa só como sacrilegamente faz a igreja romana. O público fica esperando que, V.S.ª responda, além dos outros argumentos, a estes estes seis en enumerados. umerados. Passe bem. Espero sua reposta. reposta. SYNÉSIO LYRA.
31 Mateus
26,27.
[45]
A este artigo fulminante, Frei Damião deu a resposta que se segue, declarando, assim de público, sua completa derrota. CONTROVÉRSIA RELIGIOSA Finalmente alcancei o que desejava pela famosa pergunta: “O que é a Bíblia?” e por esta outra que naturalmente se segue à primeira — quais são os livros sagrados e quantos são? Para que o meu ilustre contendor não procurasse uma evasiva na resposta, que dele esperava, no meu artigo, propus-lhe a questão nestes termos exatos: “Se devemos aceitar como verdade revelada, somente o que encontramos na Bíblia, conforme a doutrina protestante, nela deveremos também achar quais são os livros inspirados e quantos são, pois, também estas são verdades verdades reveladas reveladas”. E o Sr. Lyra me respondeu: “Os livros sagrados são todos os que a Igreja primitiva aceitou conto oriundos direta ou indiretamente dos apóstolos”. Muito bem, ilustre filósofo e exegeta, portanto admite com a Igreja Católica que nem todas as verdades reveladas se acham na Bíblia, e nega o princípio fundamental do protestantismo, que apenas aceita como verdade revelada o que se acha na Bíblia. Quanto ao círculo vicioso, em que segundo o Sr. caí quando afirmei que “a Igreja docente é a regra de fé dos católicos e que as fontes onde esta igreja vai beber, sem probabilidade probabilidade do erro, os r esposta. ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a tradição ”, ouça a resposta. Com a autoridade histórica do Novo Testamento, provamos que a regra de fé estabelecida por Nosso Senhor, isto é, o meio lógico, objetivo, que escolheu para conservar, ensinar e explicar a sua doutrina, foi a instituição de uma Igreja infalível (cf. Mat.
[46 – [46 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] 28,18 — Mc. 16,15 — Lc. 10-16); só depois deste preâmbulo recebemos da Igreja os Evangelhos, e os demais livros da Bíblia, não como documentos históricos, mas como livros inspirados; e recebemos também outras verdades que não se acham na Bíblia. Há nisto círculo vicioso, Sr. Lyra? Quanto a tudo o mais que diz o Sr. no seu artigo, não merece uma resposta. Apenas quero observar que o Sr. para refutar a eficácia do argumento, que eu deduzia do texto grego, traduziu somente o começo da frase e deixou o resto, acrescentando que as palavras “ próprio” e “mesmo” não estão em absoluto no texto grego. Está, porém, nele o que equivale às palavras portuguesas, “ próprio” e “mesmo”. E com isto dou por terminada a minha controvérsia com o Sr., pois estou missionando no Interior do Estado e não tenho tempo para perder com quem se obstina em negar negar a verdade. Mais uma palavra Sr. Lyra, e termino. Visto que o senhor é um exegeta tão profundo, que veio descobrir nas palavras do Jesus um sentido de que não puderam descobrir, um Santo Agostinho, um S. Jerônimo, um S. João Crisóstomo, um Santo Ambrósio, um S. Bernardo, Bernardo, um S. Tomás, um S. Boaventura e nenhum dos outros grandes teólogos da Igreja, tenha a bondade de resolver também esta questão que, para mim, foi sempre um enigma. Passe bom Sr. Lyra. Se quiser ainda discutir comigo pode apresentar-se, porém, não mais determine o número dos ouvintes, não impeça os apartes, e não convide o Chefe de Polícia para impedir as vaias se forem justas. Quanto à ordem, garantirei sempre.
Frei Damião de Bozzano.
Com esta resposta, Frei Damião declarou-se derrotado nesta controvérsia. Fugindo do terreno hon[SYNÉSIO LYRA – LYRA – 47] 47] roso da Imprensa, propõe-se ainda discutir comigo, sem as garantias legais, sem estabelecermos as bases da discussão, onde ele domina, pelo fanatismo, a massa ignara. Frei Damião gosta da vitória conquistada com vaias.
Ao seu artigo despedida, respondi assim:
CONTROVÉRSIA RELIGIOSA Frei Damião deu por terminada sua controvérsia comigo, dizendo-se “missionando no interior do Estado ” e proclamando-me obstinado no erro. Tentou, porém, nessa despedida, demonstrar que não caiu em círculo vicioso, quando fez a autoridade da Igreja Romana, como regra de fé, derivar-se do Novo Testamento (segunda parte da Bíblia) e a autoridade da Bíblia, como co mo fonte dos “ensinamentos de Jesus... sem possibilidade possibilidade de erro”, da autoridade dessa mesma Igreja. Para isso, recorreu S.S.ª a outro “PREÂMBULO” PREÂMBULO”... a saber, — que para provar ser a Igreja regra de fé, socorre-se socorre- se da “ autoridade histórica do Novo Testamento”. Ora, a autoridade histórica do Novo Testamento não decide das questões de exegese resultantes da leitura do sagrado texto. Depois de certificarmo-nos, não pelo testemunho suspeito da Igreja Romana — mas por provas internas e externas de quais são os livros do Novo Testamento e sua ipsíssima verba, não temos, com isto, a interpretação de seus textos. Para sabermos o que estes textos, autênticos, genuínos, dizemsobre a Igreja, isto é, para interpretarmos a Bíblia, não ternos de recorrer
agora à autoridade histórica, mas aos princípios da Hermenêutica para uma racional exegese. E, tal é o que faz, livremente , a Igreja Romana, usando aí o livre exame que ela mesma condena e nega aos protestan[48 – [48 – CONTROVÉRSIA CONTROVÉRSIA RELIGIOSA] tes. Daqui não há fugir. O círculo vicioso aí está. Mas, por amor ao argumento, admitamos que a autoridade histórica da Bíblia decidisse de uma questão de exegese em controvérsia. Neste caso, o direito que tem a Igreja Romana de recorrer a essa autoridade — autoridade — antes antes de ter provado que é regra de fé infalível — infalível — temo-lo nós, a par. E é com essa direito que tomamos a Bíblia, como livro histórico da Revelação divina, para provar que esse valiosíssimo documento está em antagonismo com os ensinos da Igreja Romana; pois, nele encontramos, por exemplo, exemplo, Deus proibindo, nos mandamentos, não só adorar, mas “dar culto ás Imagens ” (“... não as Êxodo 20:5); 20:5); enquanto a Igreja Igreja Romana adorarás, nem lhes dará culto ” Êxodo preceitua e pratica p ratica esse culto, e, para encobrir sua transgressão, altera o decálogo em seus catecismos, omitindo aquela proibição. Encontramos, ainda, nesse precioso documento histórico Jesus dizendo: dizendo: “ Ninguém vem ao Pai senão por mim ” (João 14:6) e São Paulo: “Só há um Deus e só, só há um mediador entre Deus e os homens ” (1 Tim. 2:5), enquanto a pretensa “ Igreja infalível” diz, pelos seus exegetas, que há tantos mediadores quantos são os santos e os anjos — “mediadores secundários e imperfeitos” (Padre A. P. Figueiredo). E diante disso, já se vê por que a Igreja Romana tanto condena o livre exame da Bíblia e se arroga, no círculo vicioso de Frei Damião, regra de fé ou única autoridade a dizer o que é que a BÍBLIA diz... É que essa Igreja reconhece o grande perigo existente para o seu interesse, no livre exame do sagrado volume que, como disse Roberto Boile32, “é entre os livros o que o diamante é entre as pedras: o mais 32 Robert
Boyle (1627-1691) foi um cientista anglo-irlandês, conhecido por enunciar a Lei de Boyle-Mariotte, que descreve o comportamento dos gases em função da pressão e temperatura. Incentivou financeiramente algumas sociedades missionárias, além de publicar obras de teologia, Scriptures ” (1663), de onde Synésio Lyra retirou tais como “ An Essay upon the Style of the Holy Scriptures”
precioso e o mais brilhante, brilhante, o mais apto para refletir luz e, todavia, o mais forte para fazer impressões”. E eu digo — fazendo minhas as palavras do Rev. Dr. Jerônimo Gueiros — Gueiros — ““ A Bíblia é, é, entre os livros, livros, [SYNÉSIO LYRA – LYRA – 49] 49] o que o sol é entre os astros. Para termos a evidência do brilho do sol, basta que o contemplemos. Os astrônomos podem descrevê-lo em pormenores: seus elementos elementos constitutivos, constitutivos, seu núcleo, sua fotosfera, sua camada de inversão, sua cromosfera e coroa, seu tamanho, sua distância da Terra, suas protuberâncias e fáculas, seus movimentos, etc. Mas o seu poder iluminante é para todos os que tiverem olhos e os quiserem abrir. Não é necessário ser astrônomo para perceber a influência iluminadora e calorífica do astro rei ”. Se Frei Damião prefere fechar os olhos ao esplendor do livro de Deus ou contempla-lo com os óculos turvos da interesseira exegese romana, lamento, mas isso é lá com S.S.ª... Fique ele ensinando o que lhe ensina Roma, e eu, o que aprendo no mais célebre dos documentos históricos da humanidade: A BÍBLIA, a inspirada regra de fé e conduta que Deus ofereceu aos homens, dizendo-lhes dizendo-lhes nela mesma: “ Buscai diligentemente diligentemente no livro do Senhor e lede...” (Isaías 34:16). E passe bem Frei Damião e não me queira mal, pois eu continuo a prezá-lo, desejando-lhe, não vaias que forem merecidas , mas muita felicidade na sua viagem e sincera fé em Cristo Jesus, o suficiente Salvador, o único Mediador — Mediador — o o Caminho, Verdade e Vida: Deus que tudo pode a nosso favor e Homem, que todo amor sentiu por nós, que nos convida a si, assegurando-nos: assegurando-nos: “... e o que vem a mim não o lançarei fora” (João 6:37). SYNÉSIO LYRA
sua citação. No original: “... The Bible is indeed, amongst books, what the diamond is amongst stones, the preciousest, and the sparklingst, the most apt to featter light, and yet the solidest, and the most proper to make impressions”. impressions ”.
ANEXO SYLVESTRE, Josué. Fatos e personagens de perseguições a evangélicos – antes que as marcas apaguem. Curitiba: Editora Mensagem, 2014, 344 p. Excerto das páginas 63 a 65; 69.
CAPÍTULO 5
POLÊMICA DE FREI DAMIÃO COM O REV. SYNÉSIO LYRA EM CAMPINA GRANDE-PB A iniciativa do encontro de frei Damião com um pastor protestante para uma discussão doutrinária nasceu na cidade de Esperança, vizinha a Campina Grande, PB, no primeiro trimestre de 1935. As provocações partiram do vigário da cidade e do próprio frei Damião, que, no dia 22 de março, enfatizou o desafio, chamando para a “arena” o missionário norte-americano norte-americano Carleton F. Mathews 33. Ficou acertado então o confronto para o domingo 29 daquele mês, às 17 horas, no Paço Municipal. Os pastores congregacionais da região, sobretudo o rev. João Clímaco Ximenes 34, titular da Igreja Evangélica Congregacional de Campina Grande (a maior do Estado), depois de uma avaliação, concluíram que o debatedor deveria ser um obreiro nacional, com pleno
33 Carleton
F. Mathews (-1966), missionário americano formado pelo Instituto Bíblico Moody, chegou em 1932 à Paraíba, enviado juntamente com sua esposa, Mary Adelaide (-1996), enviado pela missão União Evangélica Sul Americana (UESA). 34 João
Clímaco Ximenes (1895-1963), pernambucano natural do distrito de Camela, município de Sirinhaém, dedicou 33 anos e 6 meses ao ministério pastoral na Igreja Evangélica Congregacional de Campina Grande, no Estado da Paraíba.
domínio do idioma. O escolhido foi o rev. Israel Gueiros 35, presbiteriano, que veio do Recife para pa ra a polêmica polêmica marcada para o início de abril. Quando chegaram a Esperança, os pastores constataram que o clima era de guerra. Milhares de pessoas, da cidade de Esperança e de outros municípios, fanáticos por Damião, estavam lá para apoiar o frade, vaiar e certamente espancar os ministros evangélicos. Era fácil verificar também que o reduzido contingente policial não seria capaz de assegurar plenas garantias aos pastore pa stores. s. Responsáveis e prudentes, os ministros comunicaram ao pároco que não iriam comparecer ao encontro. Este, conhecido perseguidor, passou a desqualificar os líderes evangélicos espalhando que eles "ficaram com medo da barba de frei Damião e correram do debate.” A Imprensa, jornal católico de João Pessoa, divulgou a versão na sua edição de 6 de abril de 1935, comentando inclusive que pedir garantias e a presença de autoridades era uma "corriqueira evasiva dos senhores protestantes quando se acham em aperturas.” E mais adiante: “Nada faltou. Até o povo, as 15 mil almas que estavam em frente ao prédio da prefeitura prometera prometeram m ao Revmo. Revmo. frei Damião toda a ordem possível. Coibiram Coibira m até as a s mofas, caso ca so os senhores pastores pa stores perdessem p erdessem a discussão (o que era certíssimo).” E ainda: “Fugiram vergonhosamente sob o balofo pretexto de que a ordem não seria mantida.” (...)
35 Israel
Furtado Gueiros (1907-1997), foi pastor da 1ª Igreja Presbiteriana do Recife (1932-1984), era sobrinho do Rev. Jerônimo Gueiros. Em 1956, liderou uma campanha contra o Seminário do Norte sob a acusação de modernismo. Gueiros fundou outro seminário e foi deposto pelo Presbitério de Pernambuco em julho de 1956. Serviu também como Presidente da CIEF em 1958, por ocasião da II Assembleia Geral da CIEF, CI EF, no Rio de d e Janeiro, e Presidente da ALADIC em 1960, por ocasião do V Congresso C ongresso da ALADIC, em Bu enos Aires, Argentina. Em 1962 foi eleito el eito ViceVice Presidente do CIIC para o Norte do Brasil, por ocasião do V Congresso Mundial do CIIC, em Amsterdam, Holanda; e Primeiro-Vice-Presidente do CIIC, por ocasião do VIII Congresso Mundial do CIIC, em Cape May, Nova Jersey, EUA, em 1968. Ocupou a Presidência do CIIC em 1975, quando o Presidente, Dr. CARL McIntire, foi deportado do Quênia, País Africano em cuja capital, Nairóbi, ocorreu o IX Congresso Mundial do CIIC, ocasião em que foi eleito Vice-Presidente Vice -Presidente da Associação Internacional Presbiteriana e Reformada.
O CONFRONTO EM CAMPINA GRANDE Tendo chegado ao Brasil em 1931, frei Damião envolveu-se rapidamente de corpo e alma em peregrinações pelo interior nordestino, iniciando, também, junto com suas pregações, a outra “missão especial’’ da sua vida: perseguir os evangélicos. Dava continuidade, com maior ênfase ainda, ao exemplo de outro capuchinho italiano, seu antecedente no Nordeste, frei Celestino de Pedavoli, responsável por sucessivos absurdos contra os evangélicos no Estado de Pernambuco, nos últimos anos do século XIX e início do século XX, conforme relatado no capítulo 2. Em poucos anos, a triste fama de Damião permeou o reduzido universo evangélico nordestino. Sua sanha fazia escola entre muitos clérigos da região. Até que, em 1934, começou a surgir a oportunidade de um confronto de ideias entre o pertinaz perseguidor e um ministro evangélico. Damião fazia desafios por onde passava, chamando um pastor para de debater bater com ele. Segundo relato do pesquisador rev. Júlio Leitão Neto, o contendor protestante seria o rev. João Clímaco Ximenes (pastor da IEC de Campina Grande, de 1926 a 1960). Com o decorrer dos preparativos e articulações para o confronto, acertou-se entre os pastores da denominação que seria mais apropriado entregar a responsabilidade ao rev. Synésio Lyra, que já havia alcançado maior renome na região pelo fato de pastorear uma igreja da tradição da Igreja Evangélica Pernambucana, a mãe de todas as comunidades congregacionais congregacionais do Nordeste. Assim, efetivaram-se as preliminares. A cidade seria Campina Grande, o local, um cinema existente na época — o o Rink Park — Park — , e os mediadores do enfrentamento, o chefe de Polícia do Estado, Vergniaud Wanderley; o advogado radicado em Campina Grande, Hortênsio de Souza Ribeiro e o jornalista da capital do Estado, Orris Barbosa. O dia, 23 de abril de 1935. (...)
A INTENSA REPERCUSSÃO Após o debate ocorrido na cidade de Campina Grande, a polêmica entre o rev. Synésio Lyra e frei Damião de Bozzano continuou durante algum tempo, através de artigos de ataque e defesa, assinados pelos dois e publicados pelo Diário da Manhã, da capital pernambucana, pernambucana, cidade onde ambos residiam. A discussão pela imprensa ampliou a repercussão do fato e atraiu a atenção e o envolvimento de padres, pastores, homens públicos, intelectuais e pessoas do povo que não haviam tido a oportunidade de assistir ao encontro dos dois líderes religiosos ocorrido no Rink Park no dia 23 de abril de 1935. Jornais do Recife, de João Pessoa, de Natal, abriram espaço para que defensores das ideias expostas pelos polemistas emitissem também suas opiniões. À imprensa secular, juntaram-se, evidentemente, evidentemente, periódicos periód icos evangélicos e católicos. Encarregavam-se, assim, de aprofundar a repercussão de um acontecimento notável ocorrido numa época em que não havia emissoras de rádio em Campina Grande e muito menos televisão, que só chegaria ao Brasil e à Paraíba duas décadas depois. (...)