Início da narração: A ação é narrada por ordem cronológica cronológica dos acontecimentos, mas inicia-se já no decurso dos acontecimentos acontecimentos (“in medias res”), sendo sendo a parte inicial narrada posteriormente num processo de retrospetiva, “ flash-back ” ou “analepse”;
A narrativa organiza-se em quatro planos: planos : de Vasco Vasco da Gama de Plano da viagem Plano vi agem - A viagem de Lisboa Lisb oa até até à Índi Índia. a. Saída Saída de Belém, Belém, parage paragem m em Melinde e chegada a Calecut. Plano Mitológico, Mitológico , em alternância, os deuses ocupam uma posição importante. Quando Vasco da Plano Pla no da História Históri a de Portugal – Portugal –Quando Gama ou outro narrador conta, por exemplo ao rei de Melinde, a História de Portugal. Está Está encaixada na viagem. Plano Pla no do d o Poeta –ou Poeta –ou as cons consideraçõe ideraçõess pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo. A narrativa organiza-se de forma anacrónica: Passado – reconto reconto da da anacrónica: Passado História de Portugal Portugal desde as origens origens até D. Manuel I (analepse); (analepse); Presente – tempo da ação central central do poema, ou seja, da viagem de Vasco da Gama, Gama, iniciada “ in media res ”; Futuro –Profecias . (prolepse)
Narração Começa no Canto I, est.19 • Constitui a ação principal que, à maneira clássica, se inicia “ in media res”, isto é, quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam” (estr. 19), encontrando-se já os portugueses em pleno Oceano Índico. • Este começo da ação central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir: A
narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético); A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama); A inclusão da narração da primeira parte da viagem; A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).
Consílio dos Deuses -plano mitológico Canto I –19-41c
Consílio dos Deuses -plano mitológico Canto I –19-41c Os Deuses reúnem-se para decidir se ajudam ou não os portugueses a chegar à Índia. Esta reunião foi presidida por Júpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados. Os Deuses sentem a necessidade de reunir face aos feitos gloriosos conseguidos até ao momento. Júpiter decide ajudá-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados, são dignos de tal ajuda. Baco , pelo contrário, não queria que os portugueses fossem para a Índia, com medo de perder a sua fama no Oriente. Vénus apoia Júpiter , pois vê refletida nos portugueses a força e a coragem do seu filho Eneias e dos seus descendentes, os romanos. Vénus defende os portugueses não só por se tratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e comum a língua derivada do Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte de África. Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vénus o leva a tomar essa posição e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegue convencer Júpiter a não abdicar da sua decisão e assim, os portugueses serão recebidos num porto amigo. Pede a Mercúrio – o Deus mensageiro – que colha informações sobre a Índia, pois começa a desconfiar da posição tomada por Baco.
Este consílio termina com a decisão favorável aos portugueses e cada um dos deuses regressa ao seu domínio celeste.
Já no largo Oceano navegavam, As inquietas ondas apartando; Os ventos brandamente respiravam, Das naus as velas côncavas inchando; Da branca escuma os mares se mostravam Cobertos, onde as proas vão cortando As marítimas águas consagradas, Que do gado de Proteu são cortadas,
Perífrase: deus marinho
Conj. Sub. Temporal
Quando os Deuses no Olimpo l uminoso, Onde o governo está da humana gente, Se ajuntam em consílio glorioso, Sobre as cousas futuras do Oriente. Pisando o cristalino Céu fermoso, Vem pela Via Láctea juntamente, Convocados, da parte de Tonante, Perífrase: Mercúrio Pelo neto gentil do velho Atlante.
A narração começa “in média res”. Já no oceano Pacífico. Faz-se referência ao domínio da técnica da navegação, dominada pelos portugueses.
Apresenta-se então: -o local da reunião - Olimpo; -o objetivo da reunião – decisão sobre as coisas do Oriente. Indicação da forma como os deuses foram convocados: foi Mercúrio que avisou todos os deuses cumprindo a vontade de Júpiter.
21 Reunião dos deuses Deixam dos sete Céus o regimento, vindos de todos os Que do poder mais alto lhe foi dado, quadrantes: N, S, E, O. Perífrase: Alto poder, que só co pensamento Governa o Céu, a Terra e o Mar irado. Júpiter Ali se acharam juntos, num momento, Os que habitam o Arcturo congelado Perífrases: E os que o Austro têm e as partes onde Norte, Sul, Oriente A Auro ra nasce e o claro Sol se esconde. e Ocidente 22 Estava o Padre ali, sublime e dino, Que vibra os feros raios de Vulcano, É apresentada Num assento de estrelas cristalino, a descrição de Com gesto alto, severo e soberano ; Júpiter –um deus Do rosto respirava um ar divino, poderoso, Que divino tornara um corpo humano; soberano, Com ũa coroa e ceptro rutilante, severo. De outra pedra mais clara que diamante.
Descri ção de um local rico, 23 luxuoso, Em luzentes assentos, marchetados sublime.
De ouro e de perlas, mais abaixo estavam Os outros Deuses, todos assentados Caracterização do espaço do Olimpo e Organização Como a Razão e a Ordem concertavam do espaço. (Precedem os antigos, mais hon rados, Os deuses sentam-se Mais abaixo os menores se assentavam ); segundo a sua hierarquia. Quando Júpiter alto, assi dizendo, Introdução ao discurso de Cum tom de voz começa grave e horrendo: Júpiter – discurso direto. 24 Apóstrofe, indicação dos destinatários «Eternos moradores d o l uzente, Apó strofe do seu discurso –os restantes deuses. e perífrase Estelífero Pólo e cl aro Assento: Início do discurso de Júpiter (morada Se do grande valor da forte gente cheia de De Luso não perdeis o pensamento, Júpiter começa por luz) recordar que é do Deveis de ter sabido claramente conhecimento geral que os Como é dos Fados grandes certo intento Fados têm a intenção de Que por ela se esqueçam os humanos tornar este povo luso superior aos antigos (Enumeração) De Ass írios, Persas, Gregos e Romanos. heróis.
Sinédoque Os inimigos que teve de enfrentar são apresentados como “ fortes” e “temidos”, reforçando o seu valor
25 Já lhe foi (bem o vistes) concedido, Cum poder tão singelo e tão pequeno, Tomar ao Mouro for te e guarnecido Toda a terra que rega o Tejo ameno. Pois contra o Castelhano tão temido Sempre alcançou favor do Céu sereno : Assi que sempre, enfim, com fama e glória, Teve os troféus pendentes da vitória. 26 Deixo, Deuses , atrás a fama antiga, Que coa gente de Rómulo alcançaram, Quando com Viriato, na inimiga Guerra Romana, tanto se afamaram; Também deixo a memória que os obriga A grande nome, quando a levantaram Um por seu capitão, que, peregrino, Fingiu na cerva espírito divino.
Júpiter recorda as vitórias e a proteção concedidas e realizadas pelos lusos. Lutou contra os Mouros e contra os castelhanos e sempre foi protegido pelas divindades.
Vocativo Júpiter continua a relembrar as raízes do povo português: a guerra com os Romanos; a importância e valor de Viriato que lutou pela Lusa Pátria.
O advérbio “ ago ra” – realça o facto de Júpiter ter estado, até aqui, a falar do passado e, “ agora” , passar a falar do presente
perífrase
27 Agor a vedes bem que, cometendo O duvidoso mar num lenho leve, Por vias nunca usadas, não temendo de Áfrico e Noto a força, a mais se atreve: Que, havendo tanto já que as partes vendo Onde o dia é comprido e onde breve, Inclinam seu propósit o e perfia A ver os ber ços onde nasce o dia.
Júpiter reconhece a força, a coragem para descobrir e explorar territórios em locais tão diferentes.
E diz que agora querem explorar o oriente.
28 Júpi ter reafirm a que os Prometido lhe está do Fado eterno, Fados já determinaram a Cuja alta lei não pode ser quebrada , glória dos po rtugueses. Que tenham longos tempos o governo Júpiter consi dera os Do mar que vê do Sol a roxa entrada . portugueses merecedores de algum Nas águas têm passado o duro Inverno; recobro e reconforto, A gente vem perdi da e trabalhada; pois as tripulações Já parece bem feito que lhe seja estão cansadas. Apresenta assim a sua Mostrada a nova terra que deseja. posição pessoal.
E porque, como vistes, tem passados Na viagem tão ásperos perigos, Tantos climas e céus experimentados, Tanto furor de ventos inimi gos, Que sejam, determino, agasalhados Nesta costa Afri cana como amigos; E, tendo guarnecido a lassa fro ta, Tornarão a seguir sua longa rota.» Final do di scurso de Júpiter
A viagem t em levado a enfrentar perigos, clim as, intempéries… Júpi ter apresenta a sua determinação em apoiar os portugueses, mostrandolhes terra e assegurandolhes que serão bem “ agasalhados” para que depois possam seguir viagem.
Posição de Baco
Estas palavras Júpiter dezia, Quando os Deuses, por ordem respond endo, Na sentença um do ou tro di firia , Razões diversas dando e recebendo. O padre Baco ali não consentia No que Júpiter disse, conhecendo Que esquecerão seus feitos no Oriente Se lá passar a Lusitana gente.
Júpiter terminara o seu discurso e os deuses apresentam as suas posiçõ es, nomeadamente Baco Baco, deus do vinho, teme perder a sua fama no Oriente.
31 Ouvido tinha aos Fados que viria Hũa gente fortíssima de Espanha Perífrase: Pelo mar alto, a qual sujeitaria Pacífico/ Da Índia tudo quanto Dóris banha, Oriente E com novas vitórias venceria A fama antiga, ou sua ou fosse estranha. Altamente lhe dói perder a glór ia De que Nisa celebra in da a memóri a.
Baco já tinha ouvido a fama deste povo e sabe que este levará ao esquecimento dos antigos heróis, entre eles, o próprio Baco. E mais uma vez se reforç a a ideia de que perderia a fama que ainda tem no Oriente (Nisa).
32 Vê que já teve o Indo sojugado Baco nunca fora posto em causa E nunca lhe tirou Fortuna ou caso por nenhum herói ou poeta. Perífrase: Por vencedor da Índia ser cantado poetas De quantos bebem a água de Parnaso. Baco teme agora que o seu Teme agora que seja sepul tado metáfora: nome seja votado ao Seu tão célebre nome em negro vaso esquecimento e à “morte” – este esquecimedo reforça o valor dos lusos, D' água do esquecimento, se lá chegam mento pois representam um poder fora Os fortes Portugueses que navegam. do comum.
Posição de Vénus Sustentava contra ele Vénus bela, Afeiçoada à gente Lusitana Por quantas qualidades via nela Da antiga, tão amada, sua Romana ; Nos fortes corações, na grande estrela Que mostraram na terra Tingitana , E na língua, na qual quando im agina, Com pouca corrupção crê que é a Latina . 34 Estas causas moviam Citereia, E mais, porque das Parcas claro entende Que há-de ser celebrada a clara Deia Onde a gente belígera se estende. As si que, um , pela in fâmia que arreceia, E o outro, pelas honras que pretende, Debatem, e na perfia permanecem; A qualquer seus amigos favorecem.
Vénus defendia os portugueses: -Descendentes dos romanos; -coragem e força demonstrada; -Uso da língua com origem latina.
Vénus defendia os portugueses, pois sabe que se eles tiverem sucesso ela também será louvada. Enquanto Baco se opõe, porque não quer perder a fama, Vénus defendia, pois deseja ser louvada.
Balanço da discussão Vento sul
Qual Austro fero ou Bóreas na espessura De silvestre arvoredo abastecida, Rompendo os ramos vão da mata escura, Com ímpeto e braveza desmedida; Brama toda montanha, o som murmura, Rompem-se as folhas, ferve a serra erguida: Tal andava o tumulto, levantado Entre os Deuses, no Olimpo consagrado.
Vento norte
A agitação dos ventos era grande, evidenciando a agitação da discussão gerada no Olimpo. A natureza reflete o humor dos deuses.
Posição de Marte Mas Marte, que da Deusa sustentava Entre todos as partes em perfia, Anáfora Ou porque o amor antigo o obrigava, Ou porque a gente forte o merecia, De antre os Deuses em pé se levantava: (Merencório no gesto parecia), O forte escudo, ao colo pendurado, Deitando pera trás, medonho e irado, 37 A viseira do elmo de diamante Alevantando um pouco, mui seguro , Por dar seu parecer se pôs diante De Júpiter, armado, forte e duro ; E dando ũa pancada penetrante, Co conto do bastão no sólio puro, O Céu tremeu, e Apolo, de torvado, Um pouco a luz perdeu, como infiado;
Marte, porque amava Vénus, ou porque a gente lusa o merecia, tomou a palavra e uma posição.
Descr ição de Marte
Descri ção de Marte – deus forte, decidido, duro. Faz-se ouvir e respeitar.
Discurso de Marte Apóstrofe
E disse assi: –« Ó Padre, a cujo império Tudo aquilo obedece que criaste, Se esta gente que busca outro Hemisfério, Cuja valia e obras tanto amaste, Não queres que padeçam vitupério, Como há já tanto tempo que ordenaste, Não ouç as mais, pois és juiz direito, Razões de quem parece que é suspeito. 39 Que, se aqui a razão se não mostrasse Vencida do temor demasiado, Bem fora que aqui Baco os sustentasse, Pois que de Luso vem, seu tão privado; Mas esta tenção sua agora passe, Porque enfim vem de estâmago danado, Que nunca tirará alheia enveja O bem que outrem merece e o Céu deseja.
Discurso de Marte – Começa por reforçar o poder de Júpiter. Considera que Júpiter é soberano e que não deve ouvir as opiniões dos restantes deuses. Deuses esses que são “suspeitos”.
Marte tenta provar que a opinião de Baco é fundada na inveja.
Considera ainda que a inveja nunca poderá roubar as glórias merecidas e oferecidas pelo céu, como é o caso dos portugueses.
Aposto Apóstrofe
E tu, Padre de grande fo rtaleza, Da determinação que tens tomada Não tornes por detrás, pois é fraqueza Desistir-se da cous a começada. Mercúrio, pois excede em ligeireza Ao vento leve e à seta bem talhada, Lhe vá mostrar a terra onde se informe Da Índi a, e onde a gente se refor me .»
Reforça novamente o poder de Júpiter. Considera que Júpiter é soberano que se voltar atrás com a sua posição é uma mostra de fraqueza. Finaliza o seu discurso, dizendo que Mercúrio deverá, rapidamente, indicar um porto seguro, onde os portugueses sejam reabastecidos e orientados.
Fim do discurso de Marte Como isto disse, o Padre poderoso, A cabeça inclinando, consentiu No que disse Mavorte valeroso E néctar sobre todos esparziu. Pelo caminho l ácteo glorioso, Logo cada um dos Deuses se partiu, Fazendo seus r eais acatamentos, Pera os determinados apousentos.
Júpiter concorda e termina este consílio.
Todos os deuses regressaram aos respetivos aposentos, aceitando a decisão tomada.
A armada em Moçambique (est. 42 – 99) Enquanto isto se passa na fermosa
Casa etéria do Olimpo omnipotente, Cortava o mar a gente belicos a
Já lá da banda do austro e do Oriente, Entre a costa Etiópica e a famosa Ilha de São Lourenço ; e o Sol ardente
Queimava então os Deuses, que Tifeu Co temor grande em pexes converteu.
Passa-se do Plano do Maravilhoso para o Plano da viagem, de novo. A simultaneidade é dada pela conjunção temporal ENQUANTO. Nesta estrofe, os dois planos aparecem juntos. É dada a inform ação geográfica da posição da frota e, mais uma vez, há referência ao cli ma : faz um sol abrasador.
43 Tão brandamente os ventos os levavam Como quem o Céu tinha por amigo ; Sereno o ar e os tempos se mostravam, Sem nuvens, sem receio de perigo.
O promontório Prasso já passavam, Na costa da Etiópia, nome antigo, Quando o mar, descobrindo, lhe mostrava 44 Vasco da Gama, o forte Capitão, Novas ilhas, que em torno cerca e lava. Que a tamanhas empresas se oferece, De soberbo e de altivo coração, A quem Fortuna sempre favorece, Pera se aqui deter não vê razão, Que inabitada a terra lhe parece. Por diante passar determinava, Mas não lhe sucedeu como cuidava
Vasco da Gama recebe o regedor e, este último, incitado por Baco, ataca os Portugueses mas é vencido. Mostra-se arrependido e oferece um falso piloto a Vasco da Gama que dirige as Naus para Quiloa. Vénus intervém e afasta os Portugueses do perigo de uma emboscada.