Manuel de Oliveira Paiva
A Afilhada Publicado originalmente em 1989.
Manuel de Oliveira Paiva Kacetudo de Lima (1861 — 1892) “Projeto Livro Livre” Livro 203
Poeteiro Editor Digital São Paulo - 2014 www.poeteiro.com
Projeto Livro Livre O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que propõe o compartilhamento, de forma livre e gratuita, de obras literárias já em domnio p!blico ou que tenham a sua divulga"#o devidamente autori$ada, especialmente o livro em seu formato %igital& 'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos %ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), o direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a morte do criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgada postumamente& O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol da divulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhum direito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por alguma ra$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe, a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo& :speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejam repensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectual uma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidor ao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos; 3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento da educa"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obras sob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro
> isso;
5ba
BIOGRAFIA Manoel de Oliveira Paiva, filho de João Francisco de Oliveira e de D. Maria Izabel de Paiva Oliveira, nasceu a 12 de julho de 181 e! For"aleza na en"ão rua #!$lia, hoje %enador Po!&eu, casa n' 12. (s"udou no %e!in)rio do *ra"o e foi aluno da (scola Mili"ar do +io de Janeiro, ue dei-ou e! 188, j) doen"e de infec/ão &ul!onar a ue sucu!biu. De colabora/ão co! João 0o&es e #n"nio Mar"ins escreveu A semana, crnica ue o Libertador &ublicava &ublicava aos s)bados, assinada &or il, Per3 4 *.a. 5 o au"or da Zabelinha ou Tacha Maldita , con"o e! verso, Ceará, oferecido 6 !e!7ria de 0uiz a!a, e de u! ro!ance co! o ""ulo A afilhada, ue foi &ublicado no roda&$ do Libertador , co!o fora! "a!b$! uns sone"os seus sob o ""ulo Sons da viola. Zabelinha $ u! "rabalho de &ro&a9anda abolicionis"a co!o !ui"os ou"ros de Oliveira Paiva, en"re os uais o &anfle"o in"i"ulado Vinte e cinco de Março. (!
188:, co! João 0o&es, #n"nio Mar"ins, #bel arcia, Jos$ de ;arcelos e Jos$ Ol3!&io redi9iu A Quinzena, &ro&riedade do Club Litterario , &ublicando nela v)rios con"os co!o A corda sensível , velho vov!, ar do vento Ave Maria, A melhor cartada e"c. es de %ecre")rio do overno e de 1' oficial da %ecre"aria do *ear). A $adaria %s#iritual &ublicou &ublicou a = de Ou"ubro u!a #ol&anth'a co! seu re"ra"o e "ra/os bio9r)ficos &or #n"nio %ales. Oliveira Paiva dei-ou u! ro!ance () *uidinha do $oço , ue foi &ublicado e! 18==, na +evista ,rasileira)
De Manoel de Oliveira Paiva escreveu o se9uin"e #rari&e Junior no ?e!&o, do +io de Janeiro, e! ar"i9o sob ""ulo -m romancista do norte @ Aes &ol"icas, "odas as for/as vivas da na/ão se levan"a! &ara a!&arar o fu"uro e consolidar a cren/a no &r7&rio valorB não es"ranharão os lei"ores do Tem#o ue u! a!oroso da "erra venha le!brar aui o no!e de u! escri"or desconhecido, ue !ui"o "rabalhou &ara o en9randeci!en"o das le"ras de seu &as co! o a!or de u! ar"is"a e a cora9e! de u! ba"alhador. ?ra"aCse de u! !o/o cearense, ue dis&ersou !ui"o "alen"o e e-"asia &elos jornais de sua &rovncia, e ue es"ava des"inado a re&resen"ar u! &a&el brilhan"e en"re os ro!ancis"as
brasileiros. Infeliz!en"e refiroC!e a u! !or"o, &orue, uando os seus escri"os &ro!e"ia! a conversão dos &roje"os e! for!osa realidade, a e"erna ini!i9a des!oronou os cas"elos, ue se esbo/ava! nu!a i!a9ina/ão j) &erfei"a!en"e cul"ivada &ara as for"es cons"ru/>es do ro!ance de observa/ão. *ha!avaCse Manoel de Oliveira Paiva esse !o/o, ue a 2= de %e"e!bro de 18=2 sucu!biu do !al dos &oe"as brasileiros, aos 1 anos de sua idade, dei-ando a"r)s de si u!a saudade i!orredoura "raduzida no solu/o da nova 9era/ão do *ear). %en"i!en"o i9ual a es"e &un9iu o cora/ão do au"or des"as linhas, e! 18:8, uando se finou +ai!undo da +ocha 0i!a, ou"ro cearense de 9randes es&eran/as, ue a fa"alidade sur&reendeu no a!anhecer de 9loria, jus"a!en"e no !o!en"o e! ue no seu cul"ivado es&ri"o se conjurava! os ele!en"os &ara a fa"ura de dois !onu!en"os de cr"ica E u! sobre a A+evolu/ão e ou"ro sobre AJesus. (ra Oliveira Paiva u! observador e u! for"e, no ual se jun"ava! ualidades &o$"icas ue o "ornaria! u! !es"re na ar"e de co!&or se con"inuasse a viver. Pobre, se! &ro"e/ão "eve de lu"ar co! a vida &ara abrir ca!inhos ao e-erccio de suas faculdades. Foi %e!inaris"a no *ra"o, &ara ob"er os &ri!eiros rudi!en"os de educa/ão, e de&ois sen"ou &ra/a, &ara ilus"rarCse nu! curso de 9uerra. O ue fez duran"e esse &erodo de sua e-is"ncia dize! as "radi/>es da escola Mili"ar, a A*ruzada onde o &oe"a ensaiou as suas &ri!eiras ar!as &ublicando versos hu!ors"icos e ro!ances, ue desde lo9o anunciara! a sua a&"idão &ara o 9nero descri"ivo e &ara an)lise dos carac"eres. Pouco "e!&o de&ois abriuCse a ca!&anha abolicionis"a e Oliveira Paiva foi u! dos incendiados &or essa convulsão sen"i!en"al, e! ue o *ear) devia "o!ar a dian"eira e os seus filhos re&resen"ar o &a&el de i!edia"os &recursores da +e&ublica.
?er!inada a faina liber"adora, co!e/ou en"ão &ara o &oe"a u!a fase "ranuila, duran"e a ual, no A0iber"ador, 7r9ão li"er)rio, diri9ido &elo de&u"ado João 0o&es, dedicouCse !ais cal!o aos "rabalhos de sua voca/ão. #fir!a! "odos os ue conhecera! o au"or da AGabelinha nesse &erodo, ue a&esar de !inado &ela enfer!idade, ele !os"rou na &rosa u!a fecundidade ue de dia a dia "o!ava !aiores &ro&or/>es. Foi nesse jornal e na AHuinzena ue "ive ocasião de a&reciar o "alen"o ar"s"ico de Oliveira Paiva, ue ) &ri!eira ins&e/ão se a&resen"ava co!o u! na!orado de for!as 9oncourianas. 0o9o de&ois, fui sur&reendido co! a &ublica/ão, e! folhe"i! no A0iber"ador, de u! ro!ance de fle9o,, in"i"ulado A# afilhada, no ual não sabia o ue !ais ad!irasse, sua habilidade co! ue o ro!ancis"a ado"ava o na"uralis!o no !eio ue descrevia, se as aud)cias &ro&ria!en"e Acearenses, ue dava! ao ro!ance u! saine"e s7 a&reci)vel aos filhos da "erra. (s"a obra, &or !o"ivos secund)rios, não se edi"ou e! livro, o ue $ u!a &ena. *o! o adven"o da +e&ublica nasceu a a"ividade &ol"ica, do &oe"a. (scolhido &ara secre"ario do 9overno &rovis7rio do (s"ado, foi de&ois escolhido &ara 1 oficial de u!a das res&ec"ivas secre"arias, uando se or9anizara! os servi/os &blicos. # !edida da vida desse !o/o, &ore!, "inha enchido. # !or"e, ue o na!orava havia "an"os anos, escolheuB &ara ful!in)Clo jus"a!en"e o !o!en"o e! ue os seus esfor/os ia! ser coroados, não s7 &or u!a coloca/ão defini"iva na sociedade, !as "a!b$! &ela confir!a/ão do concei"o e! ue os a!i9os "inha! os seus "alen"os. PodeCse afir!ar ue co! Oliveira Paiva bai-ou ) se&ul"ura u!a das a&"id>es !ais en$r9icas, ue o *ear) "e! &roduzido &r oduzido &ara o ro!ance de cos"u!es. #9ora che9aC!e a no"cia de ue no es&olio li"er)rio do !or"o encon"rouCse o !anuscri"o de u! ro!ance de e-"enso desenvolvi!en"o, o ual ele "inha &ron"o &ara o &relo. DizC!e u! dos seus saudosos a!i9os, a&7s a lei"ura e! roda co!&e"en"e, ue () *uidinha , "al $ o no!e do livro, A"e! &or A!o"ivo &rinci&al u! desses dra!as san9uinolen"os a ue servia! de cen)rio as nossas fazendas, reves"idos de circuns"Kncias ao !es!o "e!&o b)rbaras e cavalheirescas ue dava! ) vida dos an"i9os ser"anejos u! acen"uado "o! !edieval. Pela na"ureza do assun"o vejo ue se "ra"a de u! livro escri"o sob "ese idn"ica a ue serviu de arcabou/o ao A%er"anejo de Jos$ de #lencar. %ucede, &or$!, ue o au"or do Auarani, não conhecendo os ser">es do *ear) Ade viso, ficou !ui"o a barlaven"o da verdade, e no ro!ance deuCnos a&enas u!a so!bra &o$"ica da vida do in"erior e das fazendas. %e não !en"e! os !eus va"icnios, se $ e-a"o ue Oliveira Paiva &s e! con"ribui/ão "odos os &rocessos !odernos deno"a/ão &ara co!&or o livro ue se anuncia, não recuso &ensar
ue () *uidinha vir) &reencher u!a lacuna no 9nero ro!ance, oferecendoCnos u! uadro violen"o de si"ua/>es uen"es, no ual se a9i"a! "i&os os !ais curiosos criados &ela vida crioula na re9ião cen"ral, onde os horrores da seca "riunfa! &eriodica!en"e.
,ar.o de Studart (iccionario ,io/biblio0ra#hico Cearense" 1213
CAPÍTULO 1
O Desembargador Osório Pereira de Góis dava o seu dedo de conversa na roda que todas as tardes costumavam fazer na Botica da Feira Nova. Ali falavam sobre tudo e sobre todos, ogavam gam!o e fumavam o cigarro do caf" do antar. A Fortaleza n!o tin#a aristocracia, nem classes, e n!o sei se #oe tem$ %or modos que a florescente cidade %oderia com%arar&se a um organismo em forma'!o, a uma semente fermentando, onde só o ol#o do s(bio divisa o que ter( de ser caule, fol#a, raiz. )onquanto #omem de observa'!o, era o Dr. Osório corredio em leis feitas e contrafeitas %elos #omens, troveando contra esse nivelamento social da ca%ital dos cearenses, que ele c#amava o *)aos*. +alvez tivesse raz!o, se con#ecesse bem o sentido daquela %alavra. sto #avia de %rovir do querer&se avaliar uma %o%ula'!o ainda n!o caracterizada, tomando %or termo de com%ara'!o a civiliza'!o de ultramar, demorado %roduto de s"culos sobre s"culos. O menino que e-igir, daquele solo ardente e inclinado, que o aguaribe sustentasse as suas (guas, ou que a lagoa Porangaba gelasse %ara se %atinar e ir de trenó. / %ois, o Dr. Osório vivia meio desquitado da sociedade fortense. Por"m, como quem tem l0ngua " %reciso sem%re dar um %ouco 1 tarmela, cifrava %or esse tem%o as suas rela'2es 1 estreita conviv3ncia da roda r oda da botica. A %ar disto, sabiam&no %ol0tico dos que o %ovo c#ama %"&de&boi, servindo cegamente ao gru%o liberal moderado. 4uando se calculava %elos dedos uma decis!o dis%utada %elas goelas famintas dos %artidos, o seu nome era logo o dedo mindin#o. )asado com uma volumosa sen#ora, D. 5aria Fabiana, dos )astros da 6argem da On'a, #avia uma fil#a7 a gentil menina 5aria das Dores. Pou%!o, metódico, temente a Deus, o casal Góis Tinha, Deus louvado, bem segura Esta vida presente e a futura. Fabiana de Góis as%irava, entretanto, %artici%ando das avers2es do es%oso 1 democracia cabeça-chata, cabeça-chata, um nome nobiliar na sua fam0lia. 8ertanea dos
1
antigos tem%os em que os meninos #(beis, os curiosos, eram dedicados, n!o 1 lavoura ou ao livro, sim ao ma'arico de ourives ou ao semin(rio$ em que a #os%italidade era um dever, mas a vingan'a um direito$ sertanea da era dos sen#ores territoriais que dis%un#am dos #omens, das mul#eres, dos bois e dos cam%os$ #oe em dia, ambicionava a%enas casar a fil#a com um titular. 5eu esus9 quanta arenga n!o teve ela com o marido %or amor disso9 No %artido, o mais que #avia eram comendadores, e estes, casados. Nem um bar!o, nem um visconde9 : Fica tu certa, Fabin#a, que nossa fil#a n!o %ode fazer o casamento que deseas : dizia&l#e o #omem, alta noite, ambos deitados. Decididamente eu n!o me %asso %ara os conservadores9 : 5as ent!o #(s de cas(&la a0 com um bac#arelete; : / tu com quem casaste; : Os tem%os eram outros. / da0 sabes com quem " que a menina sim%atiza; : acentuava o filósofo. : sto de sim%atia nasce com a continua'!o... 4uando me casaram contigo eu te enoava demais. : / quem sabe l( se n!o a%arecer( um negociante rico que fique caidin#o %or ela; )om esta
2
com a %o%ularidade do gru%o c#efado %elo deseado genro. /m todo caso, es%erava %elo ditame dos fatos. =abituou&se a resingar com a consorte, em%regando agora o racioc0nio, agora a frase brutal, agora a risada, at" que, %or fim, a%esar das dis%utas, da diverg3ncia a%arente, res%iravam ambos as mesmas convic'2es. +in#am invenc0vel confian'a nos dotes da menina. 5uito gabada %elas rm!s de )aridade, 5aria das Dores dei-ara o col"gio com inten'!o de voltar. )ontinuava a ser confessada do %adre reitor e ia fazer l( a sua comun#!o. Passava esse dia com as outras, e 1 tarde, o Dr. Osório, no seu modesto carro, ia busc(&la todo embebido nas inef(veis %al%ita'2es de %ai. A ra%ariga, tendo ficado mo'a no col"gio, e sendo, como em geral as crian'as, muito afei'oada ao que a cercava, encontrava ali na vaga del0cia daquelas amizades coloridas de recorda'2es, daqueles corredores, daquelas salas, daqueles %(tios aardinados, e daquela ca%elin#a catita e incensada, bastantes nin#os onde adormecessem as revoadas do amor n!o definido ainda. )ontinuava em estudos cl(ssicos com %rofessores que vin#am lecionar em casa, e os con#ecidos %ossu0am&se de um certo res%eito %ela sua sim%licidade, riqueza, formosura, instru'!o. /s%al#avam que ela sabia como um doutor, e e-ageravam os %ossu0dos do %ai, que n!o eram l( essas coisas. : Pode&se mesmo afirmar, sem susto, que em verdade o Dr. Osório era %obre$ um arremediado$ e que o saber da fil#a n!o %assava de umas lambuens variadas, muito 1 flor. Para 5aria das Dores, quando ia ao col"gio, a %alavra ungida do %adre reitor, se aconsel#ando, dis%un#a %ara a contri'!o$ se graceando, fazia abrir&se sutil o riso, como as bobinas com a fresca da noite$ ral#ando, a%ertava o cora'!o, como a rama da mal0cia. /la estremecia de 0ntima saudade quando, entre as antigas com%an#eiras, %regava nos ombros os alfinetes que seguravam a fita azul das filhas das filhas de Maria, Maria, cua medal#a ca0a no rega'o, %or sobre o vestido afogado, na altura onde se coc#ic#avam a%ertados %elo cor%in#o os dois seios adormecidos na noite aluarada da virgindade$ as%irava, como um aroma antinevr(lgico o ar da ca%elin#a, cua influi'!o es%ecial agora " que ela sentia, acidulado %elas emana'2es das carnes inocentes, amornentado %elas c#amas das velas, %enumbreado %ela vidra'aria gótica g ótica 1 luz do sol obl0quo. 8entia um qu3 de estran#o, de comovente, dessas im%ress2es que nos trazem silenciosamente o %ranto num riso, quando %assavam as irm!s %ara os seus genufle-órios, metidas em grosso burel, as m!os desa%arecidas nas mangas encruzadas, e da carne só a%arecendo o rosto com os ol#os %ara a terra, o c"rebro circundado %elo c#a%eir!o alvo, gelando as rumina'2es das bocas
3
mundanas e batendo %ausadamente as duas abas em %onta, como a marcar v>o %ara o alto c"u. / quando %or detr(s das duas colunas do santu(rio, douradin#as e leves, o %adre reitor vin#a subindo da sacristia, na ca%a de as%erges, e lan'ava um manso ol#ar %ela ca%ela, o sol, que batia em ca%ric#os do alto da %arede, alumiava mais, e %arecia que at" a l?m%ada estremecia. De%ois o %adre subia %ara o ta%ete onde ro'ava o frontal e abria o sacr(rio. Nossa 8en#ora estava l( em cima, com o manto azul, a coroa de rain#a, e as m!os abertas em gra'as %ara o globo celeste que ela %isava adornado de estrelas. As flores artificiais do altar orval#avam&se e tin#am seiva e aroma, com as frases do Tantum ergo, ergo, cantadads %elas órf!s, ao gemido da serafina. serafina. / ao Genitore genitoque, genitoque , quando o acólito a%resentava o tur0bulo e a naveta, e o incenso caindo nas brasas subia em %al%itantes nuvenzin#as, a #óstia, no meio da custódia, que se abria num sol de %rata, %arecia ir tamb"m subindo e levando as almas das criaturas. De%ois do Tantum ergo o %adre reitor aoel#ava, recebia o v"u d@ombros, a ca%ela num sil3ncio es%ectante. Abatiam&se diante dele todas as frontes. /ra a ben'!o do 8ant0ssimo 8acramento. 8us%ira'2es, quantas naquele momento9 4uantos segredos que as meninas contavam su%licativas ao bom esus 8acramentado9 5aria das Dores n!o dizia coisa nen#uma. 8entia l(grimas nos ol#os, %rostrada, e, m!os abertas no cora'!o, em asa de borboleta que re%ousa. Ador(vel. 6ia&se& l#e o colo, metido no es%artil#o que come'ara a usar de%ois que sa0ra do col"gio, agitado como se fora e-alar o nio, mas era sen#ora deste sueito e ol#ava&o com desd"m, %ela grande confian'a que de%ositava em Nossa 8en#ora.
4
Algumas %essoas diziam&na anti%(tica, e outras orgul#osa %ela sua reserva ou acan#amento. /ntretanto, ia&l#e, sobrevindo o mesmo t"dio de que sofreu no ncavo des%en#ante da onda. Os quadris muito desenvolvidos na (gua %areciam ter molas ocultas, eles que na #ora do t"dio e dos boceos, %esavam a dobrar sobre os %ezin#os de cabocla. Dei-ava constrangida o mar. A
5
a%resentava em%olamentos de seios, fundos rec>nditos setinosos de sovacos e grossa macieza de ventres. 8ubiam 1 5aria das Dores deseos de largar&se %or ali fora, curiosamente, como se %&r tr(s de cada morro se %re%arassem novas %aisagens, como se novas %raias beirassem outros mares e regi2es de outra natureza. Arranc#aria nas %ovoa'2es %lantadas de coqueiros, nos arraiais de %escadores, nas %al#o'as metidas na areia como no gelo a cova dos esquimós$ es%raiar&se&ia como aquelas ondas de mar, de vento, de c"u, de %oeira nevada. A terra %arecia findar&se na duna enorme da %onta do 5ucuri%e,de onde descia uma alvura vagamente corada %elos tons das nuvens. 8ob o fundo de coqueiros da %ovoa'!o, via&se branquearem as velas das angadas em%oleiradas no seco e sa0das da %esca7 um acam%amento de alvas barracas %ontudas no %oeiramento do cre%
6
tamb"m. /ntretanto os %obres %assaram, ela se com%razendo nessas del0cias de imagina'!o, e nem re%arou que em todas aquelas fei'2es acentuadas %elos revezes %ousava sossegada a doce resigna'!o da ignor?ncia. Adiante as colegiais encontraram uma %reta, sumida num mol#o de ramos com que ia remendar as %aredes da sua ta%era$ a %reta ol#ou %ara uma das meninas, de quem tin#a sido escrava, com uma frase de satisfa'!o, mostrando sua dentadura de #iena. 4uando a %u%ila subia, %orque o %eso for'ava o cor%o a curvar %ara diante, clareava muito o branco dos ol#os. Aquela rigidez de #omem fazia medo, e a maneira com que a negra mudava as %ernas, e a tens!o dos bra'os estendidos %ara tr(s. / fez bater o cora'!ozin#o das Das Dores, como o %eito de uma rolin#a ine-%erta. /m frente, %elo conunto de morros, de coqueirais, de matos, donde sobressa0am longinquamente as duas grossas torres da 8", e as mastrea'2es distantes no oceano a%lanado, abriam&se os derradeiros raios e-%irantes do sol, que a%ontavam %ara o infinito azul indiferente. A rm! %u-ou o relógio. +in#am dado seis #oras. Avistava&se o s0tio, com a sua floresta de caueiros emba'ada %or um ador(vel efeito de luz. As meninas iam gostosamente com os %"s na (gua, sem se lembrar de cansa'o. A mar" estava enc#endo, e lamberia at" as areias frou-as. A Das Dores, quando enfrentaram com a altura da %orteira, largou&se adiante sozin#a. N!o encontrava mais a satisfa'!o que dantes sentia na %rivan'a com a mestra. 4ue %ena ( n!o ser menina, %ara %assar todo o tem%o a gritar e a %ular, estirando a l0ngua %elas costas da rm!, c#orando %or birra, inventando saudades de mam!e %ara n!o %erder um dia de sa0da, e fazendo caretas ao 8!o 6icente do recreio9 )omo era bom esse tem%o, cuas imunidades agora " que ela recon#ecia9 Obrigavam&na #oe em dia a ser %essoa de modos, a %autar a sua conduta, os seus movimentos, a sua voz, a estar com o es%0rito sem%re de vigia, a dar dire'!o obrigada aos ol#os como ao leme de um barco. A %rinc0%io l#e dava um secreto gozo o ( n!o ser menina. Por outro lado, 1 medida que os %ais foram se aborrecendo, um tanto enciumados %ela %refer3ncia que a fil#a dava ao col"gio, ela foi se im%regnando dos atrativos do lar, foi querendo bem 1 sua camarin#a, 1 sala, aos corredores, aos móveis, ao quintal, aos f?mulos da casa %aterna. No momento em que, sozin#a, rumava %ara a %orteira do s0tio em que as %ensionistas estavam #os%edadas %or consel#os m"dicos, a sua alma ia como a vela da angada quando o vento bambeia. /ra %reciso virar de bordo. Decididamente recon#ecia n!o ter voca'!o %ara rm! de )aridade.
7
No dia seguinte o %ai ainda n!o viria busc(&la. 4uando o %adre reitor entrou de man#!zin#a montado no seu cavalo, estava ela no terra'o esfregando os dentes. Admirou&se de ac#ar muito feio agora aquele #omem metido naquela coisa %reta. 4ue triste im%ress!o9 i m%ress!o9 Aos seus ouvidos c#egava, %or"m, o coro de uns sabi(s nos mel2es do cercado. O mar, de um azul %recioso, adiante dela, enc#ia o #orizonte. O dia vin#a forte %or detr(s dos caueiros. 5aria ac#ava&se %ertencendo 1quele ar, 1quelas (rvores, 1quele %ó, Aqueles %(ssaros, e queria ser bot!o, ser flor, ser fruto$ e de%ois ressuscitar em (tomos daquela natureza que a gerara. Foi quando viu&se mel#or. / foi %ara a missa adorando muito ao autor da )ria'!o. Assistiu 1 cerim>nia, que antes l#e era um fim, como a um sim%les e%isódio da e-ist3ncia di(ria. No ban#o de mar, no rebuli'o da onda, %osse a meditar de vez em quando. 4ue diferen'a9 / durante o dia %referia andar %elos caueiros, a ficar debru'ada sobre o bastidor do bordado. A tarde fez&l#e muito bem contem%lar o curral, cuas emana'2es a confortavam, e guardou na memória a %oesia bucólica de uma vaca azeit! que de %esco'o estirado se dei-ava lamber %ela bezerra ( crescida, de formas carnudas e virginais, douradin#a de sol, e com uns grandes ol#os de fil#a. Gostava de avistar os camin#antes, l( %or longe, %ela beira da %raia, meio ocultos %ela ribanceira do areal, e fitava agudamente o %onto branco das angadas na risca azul do mar. O grito dos ma'aricos %roduzia&l#e arre%iamentos, quando 1 noite ela tin#a ins>nias e %un#a&se a ol#ar %ara os buraquin#os luminosos do tel#ado, ouvindo a ventania arrastar, a luz da lua, %or sobre o arvoredo como que um vestido de sedas. O rolo do mar l#e des%ertava na imagina'!o um can#oneio long0nquo. ezava&se o ngelus o ngelus ali mesmo no terra'o, de%ois da ceia, que ainda era com dia. /ra esta a
5ucuri%e, uma enorme estrela avermel#ada, e foi abrandando, at" que entrou a desa%arecer e rea%arecer vagarosamente e %or medida. As meninas ficaram no terra'o at" bater a cam%ain#a %ara a ora'!o da noite. Ali mesmo fizeram o recreio. Delas, um gru%o numeroso, sentadas em c0rculo no solo, brincava o lim%o, lim%o, e cantavam com%assadamente %ara a do meio7 lesa, menina, lesa... lesa... A claridade da lua %roetava sombras densas, e vin#a ( descendo meia %arede. Os recortes da bandeirola, na %orta do lado, iam desen#ar&se no tiolo da saleta escura. solada no %ara%eito a Das Dores coc#ic#ava as frescas ave&marias e os longos %adre&nossos do seu ter'o de marfim, e o ar frio, brandamente agitado, fazia a%arecer de vez em quando entre os seus l(bios a %ontin#a da l0ngua %ara umedec3&los. A claridade, a %rinc0%io muito forte %or debai-o das (rvores, %or modos a luzirem as fol#as ca0das, %enetrava deslumbrantemente nas co%as e ramadas, e em breve o disco da lua foi sobranceiro 1 tona do arvoredo. Por fora do cercado, %ara o mar, as %equenas dunas sal%icadas de moitas de ca%im, na encosta interior, mostravam o lombo nitente, ou a cava escura dos %equenos vales, e em frente 1 %orteira estendia&se um alagado em cua face tr3mula boiava em i bril#ant0ssimo, bril#ant0ssimo, de margem a margem, a luz da lua. O areal da %raia a%arecia como umas camadas de algod!o, e a es%uma da onda, refervia com uma alvura e-cessiva. A direita da %orteira as salsas estendidas na irregularidade do terreno abriam os seus c(lices ro-os, in
9
claridade. As l(grimas da 5aria das Dores esconderam&se no cora'!o. As meninas continuavam no recreio, ao %asso que ela %rosseguia debul#ando as contas do seu ter'o. O luar lavava am%lamente o terra'o. O %ó entrava a fazer&se luz. A imagina'!o fazia&se realidade no mundo interior. Da altura do %ara%eito a Das Dores, a son#ar acordada, como que se debru'ava de um castelo fortificado, a desoras, %ara um cavaleiro de ca%a e largo sombreiro desabado. Brincara muito com uma figura assim, da tam%a de um bocet!o oblongo onde mam!e guardava a c#a%elina. O bigode e a %era do conversado, que %arecia ter entrado %ela %orteira como o %adre reitor, eram ver o ti%o do %rimo 6icente. A Das Dores esqueceu desta vez de esconurar a tenta'!o de 8at!. )#egou ao fim do ter'o e recome'ou. Proferia as santas %alavras sus%irando. /ra com efeito o %rimo 6icente, um oficial de artil#aria, que a imagina'!o fizera entrar, a cavalo, no russinho russinho do %adre reitor. A Das Dores admirava&se de ter guardado t!o bem as fei'2es dele, %or modos a sentir& l#e at" a res%ira'!o, a ouvir&l#e o timbre da fala, e a sofrer no rosto uma forte im%ress!o de c#oro, de saudade, de amor, talvez9 Ali, no im%al%(vel do ideal, na fantasmagoria, da natureza, ao aroma %enetrante das (rvores, %ensara coisas, de que, no dia seguinte, quando a brutalidade do sol com a sua grande risada universal de luz e de calor %enetrasse tudo, ela %asmaria e teria vergon#a. Pois a Das Dores era l( ra%ariga %ara a%ertar um mancebo a dizer&l#e : /u te amo; /u te amo; /ntretanto era t!o inocente aquela %ai-!o %elo %rimo9 /la n!o %rocurara, n!o fizera cavila'2es. 6iu&o, gostou de ol#ar. Cm mo'o de estudos. +ornou a ver, e ambos gostaram de ol#ar&se. 5ais nada. 8on#ou. / veio logo a id"ia natural, o casamento, com todo o ador(vel corteo das encantadoras ingenuidades do %rimeiro amor. )omo era es%erado, de man#!zin#a o %ai veio busc(&la. Acordou mais cedo %orque era %reciso fazer um ramil#ete de flores silvestres %ara %>r num arrozin#o de b
10
carro, ao arranco da %arel#a, e ouvia&se o estalo do c#icote agitado no ar. O ve0culo navegava mansamente %rocurando a areia menos frou-a, at" desa%arecer %or detr(s de uma ribanceira. A rm! teve uma forte recorda'!o da lenda do rei de +#ule, cua ta'a, ogada ao mar, virou e revirou e desa%areceu. /ntrou, a%ertando os bei'os. &'en est fait, mon p(re : p(re : disse ela tristemente ao reitor que ia atravessando a sala. / voltou&se %ara a rm! 8u%eriora, com um gesto c#istoso, como arrancando uma coisa da boca e dei-ando cair7 : Ma M(re... babau) )om toda certeza a Das Dores n!o %odia ser rm! de )aridade. /ntrava %elos ol#os. As %rovas mentiram. O seu amor %elo )ol"gio viera desmaiando at" dar num esbatido que fazia transi'!o %ara outro g3nero de afei'2es. Por isso " que a rm! dizia %enalizada ao reitor7 : Mon p(re, c'en est fait . Acabou&se. O %adre era um #omem s(bio nisso de voca'2es. ncumbido da acerb0ssima e delicada miss!o de %re%arar os mo'os %ara as ordens sacras, quanta desilus!o n!o tin#a sofrido9 Acontecera muito o seminarista ser um %redestinado, e o %adre um r"%robo. Assim, o seu %roceder cifrava&se em uma negativa constante. 8alvo rar0ssimos casos em que dizia ao ordenando7 : +em voca'!o, mas %e'a a Deus que o ilumine. 8e ac#ar em si uma %art0cula mundana, fua, fua do sacril"gio9 4uanto 1 Das Dores, disse&l#e francamente7 : Pense noutra coisa. /stas %alavras a menina recebeu&as de %eito c#eio. Cm al0vio. /stremeceu toda. / da0 ulgou&se #abilitada %ara o concurso da vida. Ao lado do %ai, ao corredio deslizar das rodas %or sobre o ta%ete luzente das areias batidas %elo mar, o cor%o, desa%arecido na seda %reta, agitava&se de mol"cula em mol"cula, como se a faculdade imaginativa estivesse nele todo, desde as veiazin#as invis0veis da un#a at" aos ignotos do es%0rito. O dia cerrava& l#e as %(l%ebras a meio. Pendia %ara o fundo do carro. A odorante carnadura dos seios %ulsava levemente. No rega'o, entre os oel#os, %ousava, ou antes boiava, o arrozin#o de conc#as, feito %elas suas bentas m!os, tri%ulado %or umas flores silvestres amarelas, violetas e azuis, com umas fol#in#as muito verdes, agitadas de manso %elo ferver daquelas art"rias e-travasantes de sensa'!o e de sentimento. As m!ozin#as gorduc#as, metidas na luva de retrós, ca0am sobre as dobras do vestido. A seus %"s sumia&se uma cestin#a de vime. Na bol"ia, ao lado do coc#eiro, faiscava ao sol matutino um %equeno ba< de fol#as. A direita, o mar, e 1 esquerda, a %raia, avan'avam. O %ai fazia eternamente algumas %erguntas, que ela res%ondia mais com o sorriso do que 11
com as %alavras. /ra %reciso falar alto, %or causa do vento. *8e ia contente, se ainda tin#a %recis!o dos ban#os de mar, se tivera saudades deles, isto ", dos %ais...* : 5uita, %a%ai, voc3 bem sabe disso : soltava ela na sua voz %rolongada e rica de nuan'as de timbre, ol#ando a cidade que ia a%arecendo na sinuosidade da costa, detr(s dos morros e do coqueiral. O bom #omem sentia&se bem, com aquela %reciosidade a seu lado, que n!o cederia %or todas as riquezas de mar e terra. )aidin#o %ela fil#a. Bastante feliz %ara distinguir, avaliar, e %rezar a nova es%"cie de sensa'2es que l#e nasceram desde que foi %ai, era de uma grande avidez %or estes #austos inef(veis que sofre uma %essoa quando sente&se ao %" de outra a quem adora. /ntretanto acontecia ser um tanto %arvo e desastrado diante da fil#a. O coc#eiro n!o quis %assar %or debai-o do tra%ic#e, cuo conunto ro-o&terra anin#ava&se na areia e metia %elo mar uma %onte sus%ensa %or grossa e longa estacada, muito nua e alta com aquela mar" t!o seca. 8ubia um frescor salgado dos %o'os que a mar" dei-ara, e o arrecife, com uma %arte no seco, abrol#ava negro e (s%ero entre es%umas e verdes ondas. )#egando %ró-imo ao tra%ic#e o carro fez&se logo %ara a Alf?ndega, conquanto #ouvesse de vencer um %eda'o de areia muito frou-a, %rinc0%io de uma duna$ era inconveniente ir mais adiante, %orque, 1quela #ora, o com"rcio a%roveitava a mar" %ara fazer a descarga e o embarque, e #avia grande tro%elia. A Dorzin#a avisou mesmo ao coc#eiro que n!o fosse %or l(. Os trabal#adores que entravam mar adentro com fardos %ara os lanc#2es andavam como o %ai Ad!o, a%enas com uma guisa de tanga em vez de fol#a de %arreira. Os tel#ados gigantescos dos armaz"ns que formavam a ala avan'ada das edifica'2es da cidade, sobre as frentes caiadas de ocre, iam&se %raia al"m, %residindo 1quela balb
12
A Alf?ndega inda estava fec#ada, e o tril#o, que sobre um estreito viaduto de madeira, corta o %?ntano coberto de salsedo, que forma a (rea da %ra'a, tin#a a%enas um vag!o, e vazio, como 1 es%era que se abrisse a grande %orta da entrada. No canto, um %" de mongubeira sacudiu %ara dentro do carro um %un#ado do aroma doce das suas grandes flores, e o sol acendia uma fita de alv0ssima luz no sabre calado da sentinela. Na %assagem das saretas era %reciso %revenir contra o balan'o violento. O arrozin#o de b
13
dever. 5arido, %ai, irm!o, fil#o, amores igualmente sagrados %ela natureza e %ela religi!o. a e-%erimentando o consolo suave de uma crian'a cuo c#oro desa%arece no seio da m!e. Para bem dizer, n!o via a fresca arboriza'!o que transformava a rua numa avenida de %arque, a cor%oratura cinzenta da fortaleza 1 direita, com os seus antigos can#2es negros, e a alegre fac#ada do quartel, dominando uma emin3ncia relvada onde %astavam animais, nem um fundo de cidade que ia subindo %elo manso 1 medida que as rodas se moviam$ nem as boudas torres da 8", to%ando no azul, quase escondidas %elas (rvores, e cuas c<%ulas a%areciam como c#eias de ar, semel#antes a dois bal2es a des%render&se e nem ouvia mesmo o sino grande, que estava a tocar *osso +ai . O renque de mongubas 1 esquerda era uma verde mural#a gigantesca e sus%ensa. A direta, no so%" da emin3ncia do 4uartel, a arboriza'!o menos alimentada %intava no %ó incertos c0rculos de sombra, e a %roe'!o da co%a dos tamaringos de%au& %erados %ela carga de frutos eram frou-as cabeleiras estendidas no gramado. 5uito ao fundo, como um an!o com um c#a%"u armado des%ro%osital, d es%ro%osital, a%arecia o Pal(cio do Governo, sob um rolo de nuvens de ver!o. )#egados 1 Pra'a da 8", de onde se desfrutava uma bela vista %ara a banda de Eeste, %araram ao %" do 8anto )ruzeiro, %orque o 8ant0ssimo ia saindo. A%earam, e abateram&se ante os #omens de o%a encarnada, tr3s dos quais, iam na frente com a cruz e os lam%i2es %rateados. 4uem dera que fosse ali de o%a o %rimo 6icente9 5aria, %rotegida %ela sombrada sege, es%almava as duas m!os sobre o %eito, e %edia ao bom esus %rote'!o %ara o seu ferido %eito. O vel#o aoel#ava com os ol#os na %edra, segurando com as duas m!os adiante o seu c#a%"u alto. O coc#eiro dobrava a %erna militarmente, al"m da sareta, e %u-ava a o%a do ra%azito que ia atroando a cam%ain#a, bem na avan'ada e %erguntava&l#e %ara donde era. : /u sei que " %ro Outeiro, res%ondia o acólito. : 5as %ra quem; O ra%azin#o, que ia camin#ando, n!o %odia res%onder mais. e%etiu&se a %ergunta ao sacrist!o, que vin#a com o tur0bulo, uma bolsa de baeta e uma toal#a a tiracolo7 : 5as %ra quem "; : %ro diabo que o carregue, rosnou o #omem, que ia bem consigo e mal com os outros. Das Dores que ouviu isso ficou escandalizada como se l#e fizesse uma desfeita. / disfar'ou a contem%lar a modesta %rociss!o. 14
O %(lio descia os degraus do %atamar, e %assou, da vasta sombra que a igrea %roetava envolvendo os altos bra'os do )ruzeiro, %ara o sol do meio da rua. Fazia um belo efeito aquela fieira de o%as escarlates. O brocado amarelecido do %(lio abria e encol#ia com a marc#a, fazendo tremer as com%ridas franas cadentes, es%ecado %elos seis varais %rateados. am de%ressa, na consci3ncia de quem leva a (gua de salva'!o %ara acudir a
15
O desembargador #avia entrado na igrea, acom%an#ando a fil#a, que ia fazer ora'!o. )( fora, da alvenaria do tem%lo se des%egava %elo %atamar e %elo em%edramento uma enorme sombra. Cma sinfonia de sol, de sombra, e de ru0dos. O adro se estendia em %lataforma, beirado %or um ante%aro de sof(s de alvenaria, e na frente agigantava&se a (rvore do 8anto )ruzeiro, a sair de um elevado gradeamento de ferro. s %ortas da igrea, escuras, %ercebiam&se as velas acesas, na %enumbra que se fazia l( dentro, coradas e inquietas como estrelas ao cre%nia nem se lembra dele9 : 4ue Ant>nia; A +oin#a que est( em casa de 8i( Dona Fabiana; N!o sen#or, abai-o de Deus, foi quem mandou de comer %ara onte e %ra #oe. Por"m a )#iquin#a est( morre n!o morre. Deus me salve tal lugar, mas est( co@a barriga %or aqueles mundos, de inc#ada : e arqueava largamente os bra'os sobre o ventre. Deu 1 taramela, at" ac#ar enseo de dizer em voz com%rida e confidenciosa *que l#e desse a sua esmolin#a*. A0 o coc#eiro, fazendo um ar de grande sen#or na cara retinta, atirou&l#e com um vint"m. )ontinuava a dar 1 l0ngua com a mendiga, de cigarro entre os dedos, es%evitado e grande coisa. O 8anto )ruzeiro ia a %ouco e %ouco emergindo ao sol. Cm %ei-eiro que %assava carregado %ara a Feira, %arou em frente ao gradil sagrado, de c#a%"u na m!o, a%ro-imou&se, beiou uma das cruzes de ferro cravadas no meio de um c0rculo
16
no %onto donde sai cada lam%i!o, meteu a m!o no uru, tirou um vint"m e sacudiu %ara dentro. O disco de cobre foi tinir no ladril#o, unto 1 enorme %ean#a adornada de assuntos religiosos em meio&relevo de barro nas faces do %risma. As cercanias, 1 dist?ncia, %or tr(s do tem%lo, al'avam os seus coqueiros, as suas mangueiras e %lanta'2es, uma %ovoa'!o de fol#agens %or tr(s da de casarias. Para al"m desses blocos unidos de verdura, adivin#ava&se o as%ecto desolador do e-tenso bairro do Outeiro. Cma zona irregular e ca%ric#osa de alegrias da vegeta'!o, entre o mundo da cidade e o vasto aldeamento dos %escadores, dos lanc#eiros, dos trabal#adores da %raia, dos #omens do gan#o, dos o%er(rios, e de uma numerosa %o%ula'!o deca0da, uns #abitando cabanas, verdadeiras covas de %al#a desses esquimós do areal ardente. Atrav"s dos ru0dos ouvia&se o cantar do galo ao longe. Para a cidade, os tetos se destendiam esquentando sol. Na ua de Bai-o, ali %ertin#o, o 5ercado, com as suas %aredes cor de sangue de boi, %roduzia uma zoada alegre, e era assim a modo de uma grande colm"ia de gente. Defronte dele, ao meio da rua, estacionavam animais devolutos, quase a dormir em %", sob as cangal#as. Nos armaz"ns, carroa'as carregavam a'
17
Amaz>nia9 / morrer9 A %rocura de qu3; De fama; Ora a fama valia muito menos que o amor que ela sentia rebentar com todo o es%lendor e franqueza do sol e do c"u da sua terra. / de%ois... Devia es%erar que fossem ambos, casadin#os, %orque ela %or si era bastante %ara salv(&lo do nferno, quanto mais de doen'a e de flec#a do 0ndio9 8e os ingleses ainda n!o #aviam conquistado o Pólo do Norte, era %orque n!o se #aviam #av iam lembrado ainda de ir com as suas mul#eres. 4uer em camin#o %ara a ela'!o, onde ia desobrigar&se da %a%elada dos %rocessos, quer ogando gam!o na roda da botica, ou dando seu girozin#o %elos arrabaldes na com%an#ia seleta de uns tr3s 0ntimos$ quer 1 noite, de %a%o %ara o ar, cruciado %ela ins>nia, Osório, a seu %esar, malucava no casório inventado %ela mul#er. 4ue diabo9 Cm destem%ero9 sso de amor ser( um fenómeno de afinidades naturais; Assentaria bem aos %ais armar casamento %ara os fil#os, ou o direito seria es%erar %elo que desse e viesse; Cma tarde, ainda %alitando os dentes, ia cal'ada acima, em demanda da Feira Nova, com as m!os %ara tr(s segurando a bengala ao meio, o rosto %ara o ar, o sobrecasaco desabotoado como %ara receber no est>mago a frescura ves%ertina, as costas das m!os aderindo sobre o roli'o das n(degas, indo %ara um lado e %ara o outro as abas da vestimenta ao im%ulso das %assadas, quando, na esquina, quase abalroou no gua%o oficial sobrin#o da sua mul#er. Fez uma cara fec#ara %ara aquele sueito que n!o %revira que o seu dever seria tomar imediatamente %ara o cord!o do %asseio. Ambos, %or"m, buscaram desvio %elo mesmo lado, uma vez %ara dentro e outra %ara fora, terminando %elo oficial, que ia 1 %aisana, safar&se ra%idamente %ela co-ia, c o-ia, e seguir camin#o. )ontrariad0ssimo ficou o %obre do )entu, %orque sentiu&se t!o abestal#ado com a s
18
)avaqueava com o botic(rio acerca dos %re%arados e dava&l#e boas cacetea'2es assistindo&o a trabal#ar no modesto laboratório7 Por que n!o decom%un#a tais e tais subst?ncias; Por que n!o analisava o cau e seus %rodutos, que %oderiam dar uma riqueza %ara a %rov0ncia; O botic(rio res%ondia&l#e com o seguinte rasgo, sa0do como das suas barbas im%regnadas de c#eiro t0%ico da farm(cia7 : 8en#or desembargador dos trezentos diabos9 )uide nas suas leis artificiais, que as da natureza só ser!o descobertas a seu tem%o$ e inda mesmo descon#ecidas agem sem%re, quer a ci3ncia queira, quer n!o. Ficava de quei-o ca0do. Disfar'ava, : com o riso emocionado de quando se abarca subitamente uma id"ia :, o efeito que aquilo %roduzia na solu'!o do %roblema levantado %ela Fabiana. Absolutamente n!o, fazer a %equena conquistar o amor do Afrod0sio, sim%lesmente %or este sen#or ser #oe em dia o 6isconde de 8!o Galo, absolutamente n!o. / mais, a nobreza dele seria um fenmeno um fenmeno natural; natural; /ra ele de fato um nobre, nobre, segundo os seus nervos, segundo o seu cora'!o, segundo o seu c"rebro; c"r ebro; / gramaticava7 : Nobre vem do gnobil , isto ", digno de ser con#ecido. A an(lise biológica escal%elando, e a sociológica descobrir( em todas as suas mol"culas com%lei'!o que satisfa'a aos requisitos; O desembargador de si ( era uma d
19
%ró%rio cavalo ossudo com a dura cangal#a a conduzir a carga de len#a, o mendigo mesmo, a c#orar o eterno refr!o de *esmola %elo amor de Deus*, n!o tin#am a %ung3ncia que se notava agora na e-%ress!o fision>mica, acerbamente ac#acada, do desembargador. )oitado, as suas dedu'2es filosóficas, de encontro 1 tirana decreta'!o da sua vel#a, %odiam valer&l#e duros tratos. A botica, situada ao %oente, era muito afreguesada. +amb"m, a Feira Nova era a bem dizer o centro da cidade, e quase todo mundo cruzava&a diariamente, quer em diagonal %ara abreviar camin#o, quer %elo abaulado em%edramento que l#e era como um cai-il#o gigante. Alcantilada de sobrados, cedo ficava aquela face do largo metida em fresca umbria. Pensativo, o Osório, as m!os no cast!o da bengala, ca0do %ara o es%aldar da cadeira, contem%lava. Por entre a arboriza'!o, as outras faces da %ra'a, esmaeciam ao sol. Ao %" dos troncos, alteavam&se os fei-es do marcado de ca%im. Os moleques e as crioulas agru%avam&se em torno ao liso cacimb!o de %edra lioz, no meio da (rea, e enc#iam os %otes e canec2es no c#afariz da ater &ompan , um quiosque de ferro, miudin#o e bem acabado. Algumas cavalgaduras coc#ilavam, %resas %elo cabresto aos frades de %edra, no %er0metro. / mais uma %or'!o de minuciosidades na #armonia do quadro, que o bom #omem soia destacar, como geralmente acontece, somente naqueles instantes de atribula'!o 0ntima, quando os nervos se tornam a%tos acidentalmente %ara mil variadas sugest2es. Nessa noite quei-ou&se de nevralgia. 5enos verdade$ queria evitar dialoga'2es com a mul#er, " o que era, convencido de que a sua cara&metade fosse v0tima de um quer que sea de doentio na cac#ola, e %or ser um tanto c#egado a frou/id%o, frou/id%o, que outros c#amavam bondade, bondade, ele, que se tin#a a si %or cabe'a que regula, ia no recavem como o boi cansado, e ela no varal. esolvido a contem%orizar na batal#a. O tal nobre sueito que Fabiana queria incrustar na fam0lia era do %artido contr(rio e seria o que se c#ama uma vileza um integro magistrado virar casaca. A fil#a n!o #avia de des%osar um inimigo %ol0tico, bem se v3. A velha obetava, velha obetava, %or"m7 : / o que " que um %ai n!o deve fazer %or amor da sua fil#a; 6oc3 deve se %assar %ara os conservadores9 : Por amor da sua fil#a, " uma grand0ssima %eta. %reciso es%erar a manifesta'!o das afinidades, ver qual " o amor que l#e vem.
20
: 4ual afinidade, nem 5an" afinidade9 De onde este #omem arrancou agora este %alavr!o, meu 8anto Deus9 5as a ignor?ncia al#eia "
21
/ncai-il#ados em acarand( subiam dois es%el#os rente 1 %arede, bilateralmente 1 %orta do corredor, re%roduzindo %or'2es da quadra. Cma mesa octogonal a%arava a luz c#eia, dos bicos de g(s, no centro, e %or sobre os bordados a l!, da coberta que a forrava, diversas %reciosidades aziam, como fossem o (lbum de retratos, uma corbel#a de cart2es, duas broc#uras, e, bem de frente %ara o oficial, que se em%ertigava no sof(, o retrato de 5aria das Dores, num quadrozin#o de metal. O bon" ele o #avia %osto ao %" de si$ mas come'ou a entender que isto era matutice. De%>&lo sobre a mesa. De %", no meio da sala, estava mais sen#or de si, e %odia %assar os minutos menos tolamente, %ercorrendo o (lbum, fol#eando as broc#uras, ou coisa que o val#a. /stas eram romances. : Frivolidades, murmurou no seu %eso de ci3ncia. Antes de abrir o fec#o do (lbum %egou no quadrin#o da fotografia que alevantava&se quase 1 beira da mesa. 4uase o leva aos l(bios. A 5anin#a, como ele a c#amava, estava ali encarando& o, com a e-%ress!o firme do desen#o fotogr(fico$ a m!o %rofana do retratista, com a detur%a'!o dos retoques, n!o conseguira arrancar&l#e 1s fei'2es o timbre francamente sim%(tico$ dos cabelos, %u-ados %ara cima, ca0a um la'in#o, 1 banda, da fita que os %rendia$ uma rosa abria&se no %eito esquerdo e %elo gosto da gola do vestido calculava&se que ela traava 1 moda, sinal de que ( n!o trazia o casaco e a saia de asc"tica sim%licidade detest(vel das colegiais do Outeiro, e a fita azul das Fil#as de 5aria... O %rimeiro encontro deles, %ois quando embarcou %ara o io ela *ainda n!o era nada*, #avia cerca de dous meses. Foi logo ao c#egar. De carruagem ela, e ele %u-ando a guarda da )adeia, no ordin(rio, ao berro da corneta. Ol#aram&se forte, de longe, fito. De%ois que ela voltou do 5eireles, encontrou&a na 8". /stava 5ariin#a em uma tribuna. +entaram&se 1 vontade com o demo dos ol#os. Ao sair, n!o %>de se dominar, e foi beiar a m!o da tia, : %ela %rimeira vez desde que c#egou9 A0 foi que a matrona instou %ara que a%arecesse, que n!o fosse esquisit!o como o %ai, que ele %recisava de distrair&se em fam0lia, que se afastasse mesmo de ra%aziadas. Eogo nessa tarde %assou %ela anela da %rima. +r3s dias de%ois " que l( foi, acoro'oado %elo guenzo do Eucas. /stava recordando esses antecedentes, quando o retrato, vai, e cai&l#e da m!o, de re%ente, com uma %ancadin#a frou-a no m(rmore da mesa, amortecida %ela
22
coberta de l!. 8imultaneamente fazia&se um ru0do de %orta que se abre. /ra 5anin#a que a%arecia... A%ro-imou&se %ara o cortear... O )entu %referia agora n!o ter tido aquele enseo de tocar a sua m!o na dela... 8ofria no bra'o uma dor f0sica somente em lembrar&se que ia tocar naquela %il#a voltaica... A delgada m!ozin#a estendia&se %ara ele. / quando as carnes se a%ertaram, o abalo foi t!o grande que fremiu na alma de ambos. Anelariam que se n!o desligassem nunca9 Amor9 s isto; Fru0ram, naquele rel?m%ago, um gozo sobrenatural, sublime unifica'!o, %aladar n!o e-%erimentado. +ormentoso e grato suorzin#o atraente do c>ncavo das %almas, emborcadas uma sobre a outra. O es%a'o entre elas, um v(cuo, c#u%ava as duas e%idermes %ara a%ro-im(&las, %ara fundi&las, %ara que se austassem #ermeticamente, geometricamente, em delicioso arroc#o. 4ue universo num (tomo de tem%o9 Eevar 1 face, ao l(bio, aos ol#os, ao nariz, abafar o rosto, cada um com a m!o do outro9 Ao soltarem&se, foi um al0vio. A menina disse uma banalidade %ara afugentar com a voz a sr da lua, e um nevoeiro desde %ela tardin#a fec#ava o alto firmamento. Cm deseo romanesco atormentava&a %ara que fosse debru'ar na anela, e de l( c#amasse a aten'!o do mo'o %ara alguma nonada, e que este fosse a a%ro-imar&se dela, e ambos conversassem de seu. De feito, emoldurados %elo v!o da %arede, de %", untin#os, e recostados, %arece que o sentimento se tornaria mais franco e seria natural, %elo %inturesco, uma efus!o. A luz do candelabro deveria estar mais 1 surdina... A fina claridade do g(s n!o frisava com a nublada sensa'!o que eles sofriam.
23
/ a menina, com o cotovelo 1 beira da mesa, recostada na m!o a face direita, como al#eada. O mancebo %ousava&l#e no todo o seu ol#ar de sol. )oitados9 8e%arados, tin#am um livro inteiro a dizer&se$ a%ro-imados, o ano com a es%ada de fogo, fria na sua incandesc3ncia cruel, cortava&l#es n!o a volta, mas a entrada %ara o %ara0so entre real e ideal dos assuntos de amor. De re%ente a donzela feriu o sil3ncio com um estouvamento de ave7 : e-ato que tem gostado muito da min#a terra; : Da nossa, min#a %rima... /la riu do timbre com que ele res%ondeu. : / a que %ro%ósito vem isso; %rosseguiu o oficial de%ois de uma demora. 8em%re dei %rovas de querer bem 1 %rov0ncia9 /la n!o soube o que re%licar. : Disseram&me que ia %ara uma comiss!o do Alto Amazonas... titubeou. : Pode ser, %oder ser, verdade " que me em%en#ei... : /m%en#ou&se; / calaram&se. : A vida " esta, e sta, min#a %rima. 6ou, irei, Deus sabe como. : Os #omens deviam ser mais com%an#eiros das mul#eres, isto sim. : /m que sentido; : )om elas em tudo, no re%ouso r e%ouso ou no %erigo. : /las n!o resistiriam, sorriu. A menina arre%iou carreira no assunto, %orque receou denunciar&se mais, com a e-alta'!o do momento. Aquelas %alavras seriam sementes bastantes %ara %lantar no c"rebro de )entu mais um %ezin#o de cogita'2es. /stava entran'ado o fio daquela inclina'!o rec0%roca. Ambos verificaram que se queriam %or um 0m%eto org?nico. +iveram %or felic0ssimos aqueles instantes, bem %ode que os %ode ser os mel#ores da sua vida. 5udando %rodigiosamente de tom, a mo'a indicou as duas broc#uras que aziam %ró-imas do retrato, e com um disfarce admir(vel %ediu friamente ao oficial que desse a sua o%ini!o a res%eito.
24
/le n!o tin#a ouvido ainda tanta riqueza de e-%ress!o, nem %resenciado tanta gra'a, nem taman#o dom0nio sobre o seu ser insubmisso. / fol#eando os livros, aguardava a entrada da tia. A menina fez&se toda sil3ncio, a %rete-to de o dei-ar e-aminar o livro. /s%iava %rofundamente %ara o mancebo. A res%ira'!o tornava&se intensa. )omo fugindo n!o sei a que, ela %reci%itou&se %ara a cadeira de balan'o. =orr0vel %ara ele, #orrivelmente atormentadores aqueles dois %"s que a%areciam agora na fimbria da saia, ora tocando no ta%ete, ora sus%ensos no ar, metidos num sa%atin#o de fivelas e em meias t!o macias como a c
25
sabe que nem vig(rio9 4ue %ensa; : findava ele, de m!os nos quadris, refrat(rio ao arzin#o de riso do )entu e a franca risada da menina. Foram interrom%idos %or uma voz da %orta da rua7 : H seu Eucas, ( voc3 %ega a dizer as suas barbaridades9 : vin#a dizendo o desembargador, que ao entrar na sala, onde n!o es%erava %essoa estran#a, estacou diante do oficial. : /ste " o )entu, %a%ai, o %rimo, do io... : A#9 " este; )om efeito, descul%e n!o recon#ec3&lo 1a prima fac2e1 . 5udou tanto9... 6i&o %equenito, como este moc#o do %iano. / abra'aram&se. : N!o calcula o %razer que sinto9 / a Fabiana, %or que n!o vem %ara c(; : ( vou9 : /la est( acabando uma %romessa, e-%licou a menina. : /sta %romessa, esta %romessa9 : rosnou o Osório, em a%arte, mordendo os bei'os. Agora sim, o %rimo estava de dentro. /-%andiu&se com o vel#o, que era #omem lido. )asaram as sim%atias. Fabiana veio com a sua volumosa cor%oratura de barco ronceiro. +razia vestido com decote, 1 antiga, %ulseiras, colares e transelins de um ouro brutalmente %recioso e trabal#ado, e um grande e craveado %ente, no cocó grisal#o, que %arecia um astro nascendo detr(s da cabe'a, dentre as n"voas do cabelo idoso. O rosto, ainda liso. A dentadura im%rimia na voz um sotaque esquisito, como se tivesse uma coisa no c"u da boca. /-celentes maneiras, linguagem muit0ssimo %inturesca e errada, onde cada %alavra ela soltava como se estivera saboreando frutas. Cns quadris enormes, e uma barriga idem, que %areciam ser a %reocu%a'!o das fun'2es nutritivas. O ol#ar n!o era bambo$ firme e doce. A gesticula'!o, %arca. No meio da conversa, como era #(bito seu adquirido, trazia sem%re o 6isconde de 8!o Galo. )on#ecia&o; O c#efe da nobreza da %rov0ncia. N!o; Digno dos nossos ante%assados9 O desembargador ou concordava, ou n!o tugia. 5as o engen#eiro " que ficou embatucado. 8en#or, que nobreza era aquela no )ear( moleque;9 /nfim, como n!o con#ecia aquilo bem... O velho obrigou velho obrigou a fil#a a ir %ara o %iano, o que foi %ara esta uma doce viol3ncia. /stava desafinado, %rete-tava a menina. / de%ois, era um %iano t!o ruim... 26
: Prima, n!o faz mal. Fa'a usti'a em me ter %or discreto$ e sobretudo... ora, eu n!o sei mnias... 5ariin#a foi como que arrastada. ar rastada. A%rumada no tamborete, a cintura da donzela vinculava&se nitidamente disfar'ando %ara o suave %iramidal do tronco ungido no es%artil#o$ as duas tran'as negras, des%rendendo&se %elo %iloso e %elo nu do cangote, escorregavam %elo dorso e beiavam finalmente o alcantil das ancas lu-uosas. )antou7 4uis embalde varrer&te da memória em voz %ouco forte, ressoante, e timbrada. Nem uma vez a altura da nota foi mais do que a do sentimento. 4uando dizia7 / teu nome arrancar do cora'!o acolc#oava o som, como se ta%asse as v(lvulas da alma. Arrancar do cora'!o o teu nome9 Nem %or morte9 / se 1s vezes gemia, ou se cantava, n!o " certo. As nove #oras o )entu quis retirar&se, %or"m o tio afim obrigou&o a demorar dois minutos %ara o c#(. O Eucas dis%ensava teimosia semel#ante, mesmo %orque n!o se des%edia sem irem %ara a mesa. O engen#eiro, em al0vio da forte carga de sensa'2es que %eava&#e o organismo, dirigira&se 1 %rima, efusivamente. 4ue o %iano era e-celente sob as suas m!os, que n!o ouvira ainda magias assim, que at" aquele momento descon#ecia que o som tivesse taman#os %oderes... : )onforme o instrumento, e-%licava o metedi'o do Eucas, e o tocador. O estudioso mancebo come'ava, conquanto longinquamente, a acreditar na Arte, e na sua necessidade. maginava agora o #omem uma ave : a que a ci3ncia era asas, e a arte o meio a"reo. Dormiu mal naquela noite. A 5ariin#a l#e atravessava os son#os %ertinazmente. / de man#! ele sentia que ela, como um es%0rito tang0vel, andava diante dele, tocava nele, e os seus cabelos %assavam&l#e em cócegas %elo rosto, e as suas m!os o acarin#avam, e os seus ol#os entravam %elos dele como duas abel#as. )#ovia, quando entrou em casa. Por coincid3ncia, #abitava uma re%
trocavam flores, n!o muito 1s claras. Os %ais tin#am os ol#os vendados$ e de%ois, #avia a confian'a do %arentesco. 5!e Iefa, uma %reta alforriada que vivia do seu tabuleiro de arroz 1 noite, e de #ortali'as %ela man#!, servia&l#es %ara certas embai-adas, e contava a cada um, coisas do outro. /ntrava sem cerim>nia na re%
/ de%ois de uma %ausa triunfante, levando a %alavra com a es%(tula 1s ventas dos circunstantes7 : At" nas formas, at" nas formas9 que n!o se acentuam como as a s do #omem9 : +eorias, dizia o magistrado recuando. Palavreado. /ra este o meio óbvio de Osório se descartar. : 8!o teorias, s!o modos de ver, s!o o%ini2es$ o mundo %ara nós n!o " o que ", " o que nós vemos e o que entendemos ser. /ntretanto essas boas cenas eram raras #oe em dia, de%ois da tal #istória do 6isconde. N!o sei que frieza ia %elo desembargador. O botic(rio, que o %rezava imenso, %roferia encol#endo os ombros7 : N!o sei que diabo de burrice l#e %egou agora. Foram escasseando, com efeito, na botica liberal os %asseios do Desembargador Osório de Góis. Ora, isto era ustamente quando o )entu acabava de ter entrada em t!o escol#ido c0rculo. 8eria que o vel#o desconfiasse da coisa; Pegaria o magistrado algum ind0cio veemente do crime d@amor %or %arte de alguns dos co&r"us; / come'ava o coitado de notar diversas %assagens. /m tal dia deu&se isto assim, assim, e ele fez isto, quando devia fazer aquilo. Dei-ou de cum%riment(&lo tantas vezes, n!o res%ondeu a tantas %erguntas, falou (s%ero com a fil#a em sua %resen'a... N!o #avia d
29
Na entrada da Feira Nova sai&l#e ao encontro um vulto enfron#ado em v"stia de vaqueiro. +razia es%oras de grande roseta e um %ar de %eias como rebenque. O largo c#a%"u de couro cobria&o %acatamente como um sombreiro de alde!o que tange o seu burreco$ as al%ercatas batiam&l#e contra a sola dos %"s$ o gib!o vin#a a%enas abotoado em cima, e a camisa oculta %elo guarda&%eito. 8a0a&l#e do canto da boca um cac#imbo de sertaneo. Pron sim. /st( tudo muito a'ulerado. Nestas inlei'2es sai macaco c#umbado... : Diga&l#e que sim, que eu vou. : 8eu 6isconde me di-e que eu di-esse que 6ossa 8en#oria rasgasse a carta. : Pronto. / voaram os %edacin#os da breve e%0stola, 1 luz do combustor, como um en-ame de mari%osas. O mensageiro re%etiu7 : Deus d" boas noites, e rumou %ara a casa do desembargador, estalando as suas al%ercatas no sil3ncio das ruas. : 5agn0fico9 e-clamava consigo o tenente. Absolutamente ele n!o es%erava %or uma daquelas.
/s%l3ndido9
/norme9
O %ai da sua 5anin#a em%en#ar&se %ara que ele fosse o comandante do destacamento que ia %ara as elei'2es de Baturit", a %edido do 6isconde de 8!o Galo9 Dizia a carta7 *Os governistas, %or n!o terem mais no batal#!o, sen!o oficiais desafetos, indicaram o seu nome ao Presidente, %orque ao menos voc3 " de todo al#eio 1s intrigas locais. Disse&nos o maor fiscal que n!o l#e cabe destacamento e que 30
voc3 " adido, e que " de artil#aria, e que %oderia dar %arte de doente, %ois que realmente est(. N!o fa'a isto. Pe'o&l#e encarecidamente, como amigo e como %arente, que v(. O 6isconde, que encontrei em nossa casa, agora mesmo ao voltar do baile, com alguns amigos, tamb"m l#e %ede %or min#a intercess!o.J *Garanto&l#e, meu caro doutor, que n!o se #( de arre%ender.* O %alavreado ia mais adiante. /ra e-ato que o 6isconde, 1 meia&noite, fora com alguns amigos, bater 1 %orta do desembargador, e que a Fabiana, que estava des%erta, f3&los entrar, oferecendo&l#es do bom caf", e dos bons alcoólicos na licoreira, e esteve a fazer&l#e sala, at" virem do )lube, %ai e fil#a. )omo a Fabiana estava orgul#osa %or ter alcan'ado a sua %romessa9 Agora ia cum%ri&la. 8eis libras de velas 1 8en#ora de Eourdes. Nem antes nem de%ois de c#egar o dono da casa, as %ortas estavam abertas. )erradas, como se #ouvera algu"m adoecido. /ra aquilo a gra'a da ma'onaria %ol0tica, no que a Fabiana sentia um %razer de ra'a, inato, ind0gena, dos seus sert2es. 4uando saiu o %ortador com a carta %ara o sobrin#o, foi ela quem o trou-e 1 %orta da rua, e quem segredou que o 6isconde mandava que rasgasse& a de%ois de ler. 5ariin#a fingia&se des%ercebida. 4uando, %or"m, de l( do quarto ouviu %ronunciar o nome do %rimo, estremeceu. Parte; 6ai fazer elei'2es;... O seu 0m%eto era largar&se na carreira e atirar&se aos bra'os do %ai im%lorando que %or vida de seus ol#os n!o dei-asse o )entu destacar, que %oderia morrer de facadas, morrer a cacete, ser varado %or um tiro de bacamarte9 Pelo amor de Deus, %a%ai9 %ensava ela no seu cora'!o, de %", no meio do quarto, como uma 8en#ora Das Dores, as m!os %ostas, aflitivamente, o seu lind0ssimo ol#ar %ara o teto. Aoel#ou, rezou a 8!o 6icente de Paulo, o santo vel#in#o do )ol"gio, todo caridade e ternura. O cora'!o batia, vascoleava desa%iedadamente. Prostrava& se diante do retrato do 8!o 6icente, e sua fronte abai-ava&se t!o %rofundamente %ara o c#!o, que o %esco'o, ca0dos os cabelos %ara os lados, evidenciava&se, como se fora ser degolada, es%erando o corte certeiro do alfane. / seria mel#or. Deca%it(&la, e sus%ender %elos cabelos a sua cabe'a morta, %orque imaginava tamb"m o )entu ban#ado em sangue e es%ezin#ado %elo cabroeiro. A#9 mas se enganavam9 /le %odia morrer, mas de%ois que matassem mais de cem9 / via&o de es%ada em %un#o, entre o fumo da %ólvora, ao fervil#ar dos cacetes e das parna2bas das parna2bas... ... /ram tal#adas de cego. 5as... escuta um tiro, foi bruto, um clar!o que ofuscou o sol, a boca do bacamarte era como um sino, e tin#a&o um cabra de to%ete infernal... As balas ca0ram sobre o valente guerreiro, abriu&se&l#e no %eito uma enorme rosa de sangue...
31
Ant>nia entrou sorrindo, no quarto, com muitas momices, seca %or ac#ar com%an#ia. Cma sagita, como l#e gritava a madrin#a Fabiana, que %assava o dia a ral#ar com ela %or mor dos treeitos, correrias e cavila'2es. : 4ue " isso , 3em-3em; 3em-3em; fez ela correndo a confundir&se com a outra. @8t( rezando; @st( c#orando; @star( doente; A outra caiu&l#e %rofusamente no seio, ela sentada na esteira. 8olu'ava sentida como a crian'a que desafoga em sua m!e um c#oro longamente retido. re tido. : 3em-3em, 3em-3em, fale9 : N!o %osso, +on#a, n!o %osso... murmurava a Das Dores esmorecidamente, como )risto que diz7 Pai, se " %oss0vel, retirai este c(lice9 5aria se entregava com%letamente 1quela descarga de #umores. As id"ias ruins, os deses%eros, os sentimentos venenosos, sa0ram, entretanto, %ela mor %arte, com as l(grimas %rofusas, como arrasta aos cardumes de %ei-e o grosso da (gua de um a'ude que arrombou. O %ior " que a Ant>nia entrou a fazer duo. )#oravam ambas e assoavam 1 surdina, %ara que n!o as ouvisse a vel#a, que ent!o seria um Deus nos acuda. : /u n!o disse; +on#a, n!o disse;9 : O qu3; /le vai embarcar; : Antes fosse9 6!o mand(&lo %ara as elei'2es. : Ora " isso; N!o " nada. O %adrin#o inda #oe dizia que nessas coisas só morre quem " %equeno. : 5as ele n!o " alto9 abugal#ou a ingenuidade da 5ariin#a, na sua cegueira de amor. : N!o " de alto nem bai-o9 3em, 3em. 3em. /m barul#o só morre " gente %obre, os cabras, a gente de %"&no&c#!o9 isto. : / %or qu3; : /u sei l(9 4uem estava dizendo era o seu %ai mesmo, 1 madrin#a. Pergunte a eles. A vela, no casti'al de lat!o, assente no m(rmore do toucador, du%licava&se ao es%el#o, semel#ante a umas l(grimas. O %avio estava mourr!o, e a %ouca luz fazia errarem na camarin#a umas id"ias tristes. Am>nia ergueu&se e es%evitou, sacudindo ao c#!o a %ontin#a do %avio
32
esbraseado %reso 1 tesoura$ e a Bem&Bem, como se c#amava adoravelmente em casa a 5aria das Dores, correu a esmagar com o %" a niquin#a de fogo ca0da na %al#a da esteira, cuas quadr0culas de encarnado, azul e amarelo, %intavam grande %arte do c#!o. Ant>nia inveava o seu cora'!o n!o t3&la obrigado ainda a sofrimentos daquela ordem. )om o seu belo donaire de ra%ariga loira, com uns ol#os verdes e uns l(bios de carne viva, era toda um deseo. 4uase n!o acreditava que aquilo da 5ariin#a fosse deveras9 5as a curiosidade a fazia cada vez mais confidenciosa %ara com a sua morena amiga. /stava de luto, a madrasta era falecida, no Outeiro, onde #abitava m0sero casebre. a&l#e bem lindo o vestido %reto, que l#e dava uma a%ar3ncia mais adelga'ada, %un#a&l#e mais oval o rosto, tornava&a mais s"ria, acentuava as lin#as, e gerava uns fluidos sim%(ticos. O ouro dos cabelos ondeava no negrume do dorso, e se usasse cor%in#o decotado, o colo e es%(dua desabroc#ariam como %"talas de magnólia, ou como n0vea flor do cardeiro no denso da noite. Knsias tin#a ela disto9 5as a condi'!o inferior, de fil#a de um %obre cego, mantin#a ainda sua alma deserta das ambi'2es a que l#e dava direito a sua carne. Cm al'a%!o sem engodo e sem c#ama. 4ueriam&se, ela e 5aria das Dores. +in#a uns arrancos de estu%idez, denominado : mau g3nio :, que desgostava a amiga$ verdadeiras crises de dana'!o, em que maldizia dos %adrin#os, dos %ais e de tudo que l#e era afeto. Cma id"ia vaga assaltava&l#e 1s vezes, de obter um namorado, ver diante de si um #omem, um desses le2es cuo cor%o %arece %edra, derretido ante ela como no sol um %rato de ban#a. Ac#ava certo que4inho que4inho no )entu, e gostava de ter a outra %elo bei'o, de confi& denciar com ela. )omo certas %essoas que se fossem milion(rias com%rariam casas %ara ter o %razer selvagem de incendi(&las, num es%et(culo neroniano, assim, gozava imensamente, como e-%ectadora daquele ine-tingu0vel inc3ndio de amor da 5aria das Dores. Ambas sentadas na rede, m!os sobre os ombros, balan'avam de manso, com o ouvido atento aos ru0dos da sala. )onversavam #omens l( fora7 a fala, elas descon#eciam. 8abiam que estava ali o Afrod0sio, 6isconde de 8!o Galo, com outras %ersonagens. 5aria es%erava que o )entu viesse logo ao c#amado da carta. Cma id"ia9 teve a ca%eta da Ant>nia7 %assarem %ara o outro quarto, e tre%arem na %orta, es%iar %elas bandeirolas. : Bota&se o %" nas costas da cama, e segura&se no armador. 5aria vacilou. 4ue o )entu estivesse a0, isso sim9 4uem sabe se ele vin#a;...
33
/ra t!o esquisito e incom%reens0vel9 /ram t!o im%revistos os seus atos, que n!o davam enseo a que se calculasse #avia de %roceder assim ou assado. A +on#a instava7 : N!o sea mole, 3em-3em9 3em-3em9 6amos embora. Parece que tem uma %or'!o de mo'os l(. : 4ue im%ortam agora os mo'os, mul#er; : Pode vir o seu9 : Ora... O cor%o l#e %edia, 1 morena a%ai-onada, quieta'!o, como e-aurido, como surrado. 6in#a&l#e uma %rostra'!o, e ceder a este convite da natureza, e ao sono, %ara uma cabe'a re%leta de imagin(rias, era viver. D3&se que o )entu viesse$ inda bem, um mo'o como ele n!o #avia de a%rovar que, 1quela #ora, uma donzela estivesse tre%ada %elas %ortas a es%iar os #omens na sala. A%rova a min#a conduta, comungou a Das Dores consigo. / decidiu7 : N!o vou, +on#a. 6ai tu só. : Pois fique&se... Eargou&se a estabanada, num rodo%io de saias. O corredor, a%enas alumiado %or um bico de g(s, e a grade do vest0bulo, meio aberta, dei-avam %assar a mulata Kngela %ara a sala de visitas, com uma bandea onde reluziam facetas de co%os e o boo de garrafas. Ant>nia %egou&a, deu&l#e um belisc!o, e segredou&l#e ao ouvido n!o sei o qu3. A mulatin#a deu um ai surdo, a rir. Da sala de visitas, o g(s vin#a abrir no c#!o do vest0bulo um %ano de claridade, onde Kngela %isou$ e viu&se&l#e a estatura frescal, vestida de americano, com um avental %reto que %rendia&se nas costas$ e a cara%in#a mal %enteada$ e a tez, cor de c#ocolate esmaecido com uma %ontin#a de leite. Ant>nia escorregou %ara o quarto dos %adrin#os$ uma %e'a folgada, c#eia daquele ressonar de carnes ( sem aroma e sem bril#o. O guarda&rou%a alteava& se de um lado, e de outro avultava a cama do casal, aberta ao ar, sem cortinados, com os cobertores estendidin#os e com um mont!o de travesseiros. A ra%ariga estribou na cabeceira da cama, de madeira enflorada, alta cerca de um metro, e segurando a corda que %endia do armador, onde enfiava o %un#o de uma rede, i'ou&se at" botar o rosto na altura dos ental#es da bandeirola.
34
Aconteceu bater com um oel#o na %orta, o que a fez est(tica um momento, es%reitando se ouviram a %ancada$ %recisou morder o vestido %ara n!o rir, que aquilo ac#ava gra'a em tudo. Ouvia o ganir quase im%ercebido dos armadores da rede em que a 3em-3em ficara 3em-3em ficara embalan'ando. O gritito do ferro ia a menos, degradativamente, sinal de que a morena adormecia, %orque mesmo ela ficara muito %esada de sono. 5e-iam em lou'as na sala de antar, #avia de ser a =onorata lavando as -0caras da ceia, %ara a%roveitar tem%o, : que a senhora fazia naquela noite em casa um revirado, desde que entraram entrara m aqueles #omens9... Da sala ningu"m via a es%iona. mesa do centro, com umas garrafas de cervea e co%os c#eios, sentavam&se o Eucas, que se ulgava a si mesmo de um tino %ol0tico admir(vel$ o )a%it!o Desid"rio, da Guarda Nacional, c#efe de uma localidade %ró-ima, que viria votar na 8" 1 frente de um enorme cabroeiro$ e o o!o Batista, cai-eiro de escritório da casa Afrod0sio Pimenta L )ia., a escrever cartas, %or ordem do %atr!o : de combinata com o desembargador. /stes dois, no sof(, serviam&se do vin#o do Porto que Kngela trazia na bandea de c#ar!o, discutindo assuntos de que Ant>nia n!o entendia %itada. E( num %onto, o desembargador estava dizendo7 : 5as " %reciso din#eiro... : N!o sea %or isso, obtem%erou o 6isconde. A fisionomia serena deste, com um grande bigode, e o seu cor%o fornido e alto, a %ele trigueira semel#avam&no a um (rabe, a um turco que Ant>nia vira vendendo mi'angas %ela rua. Disse aquele : n!o sea %or isto : e ergueu&se de m!o no bolso. O Eucas ol#ava&o como entendido, com as %u%ilas confundidas no bril#o dos óculos. Faltavam ali muitas %essoas do estado maior do general0ssimo. O advogado )unegundes, eloquente e cora'udo, redator d@A !portunidade, !portunidade, r(bula$ v(rios negociantes, coron"is e comendadores$ o cura da 8"$ o vig(rio&geral$ uns %rofessores do Eiceu$ uns u0zes de diversas varas$ uns c#efes de re%arti'!o, etc. Donde se v3, %elo n
35
Desde que voltou o %ortador que fora ao )entu, era meio camin#o andado. O Eucas, %ela man#!zin#a, daria destino ao ma'o de missivas %ara as cabalas matutas, fora as que iriam %elo )a%it!o Desid"rio. Nada mais #avendo a tratar, retiraram&se todos. A Fabiana, que segundo as %ra-es da sua educa'!o, fora %ara dentro uma vez que os #omens iam discutir os seus negócios, que ao menos em a%ar3ncia n!o t3m que ver com mul#eres, com%areceu 1 sa0da do 6isconde, %razenteira, a%resentada, anc#a. 8ua /-cel3ncia continuasse a visitar aquela %obre c#ou%ana, que era %obre, mas o cora'!o muito. 8e quisesse vir um dia %assar mal, assim... almo'ar, ou antar... : Pobre sou eu, min#a sen#ora, res%ondia o #omem, sem saber o que %ronunciar sobre o convite que a matrona l#e atirava com aquele garbo e %ros(%ia dos )astro da 6argem da On'a. O desembargador nisto era zero. O %rinci%iozin#o de admira'!o que l#e ia nascendo %ela arguta intelig3ncia do titular, acan#ava&o$ e tin#a que n!o saberia #aver&se em civilidades de mesa, com um #omem viaado, e de #(bitos, com devia ser aquele. +odavia, fez coro com a mul#er. : =ei de a%arecer, com muito gosto todas as vezes que %uder, dizia o titular, a%ertando a m!o em des%edida. / at" dobrarem eles na esquina, o casal Góis ficou na %orta. 5as diz que amor " uma coisa que faz uma %essoa %ensar constantemente noutra. Ora, só uma coisa #avia que fizesse o 6isconde matutar : o seu negócio. Assim, nem %or longe %ercebia o fluido que o casal Góis l#e %roetava. ntroduzido naquela casa, todas as vezes que a Ant>nia vin#a 1 sua %resen'a, ac#ava&se ele confortado, feliz, %elo que, entrou a desconfiar que viria a quer3& la, e muito. Dado a mul#eres, isso o era. 8egredos virginais n!o l#e eram novidade. Bateu m!o 1 %r(tica no of0cio de lidar com o animal do outro se-o. Avan'adas e retiradas, guerril#a, em vez de batal#a cam%al. )ertamente, receava cair nalguma asneira romantica. /m vez de %ensar, conseguintemente, em levantar Ant>nia do %ó, calculava descer at" l(. De%ois, subir ileso, escoteiro, triunfante. A%licar&l#e&ia o beio escariótico, e entreg(&la&ia 1s turbas. 4uanto ao seu negócio, o 6isconde voltava&se novamente %ara a luta %ol0tica. )omo dizia o Osório, convencendo&se a si mesmo que deveria %oliticar em regra, a %ol0tica #avia rendido muito ao 6isconde. +ornara&o nobre. 8e ele n!o se tivesse encara%itado no trono de uma fac'!o, n!o teria %assado de um
36
burgu3s a%enas rico e obscuro. Assim, a tudo dominava. Agora, %or"m, que ( era con#ecido na )orte %elos a %edidos do 5ornal do 5ornal do &om0rcio, &om0rcio, queria uma luta clara, de id"ias, bonita, que satisfizesse a sua moment?nea e intermitente as%ira'!o %ara o bem. /ntretanto, meditava ainda o Osório, arrastavam o #omem a combater o outro ramo do %artido, %ara o que, era %reciso fazer uma liga incongruente com uma fac'!o contr(ria999 contr( ria999 ngratos cearenses, n!o dei-arem o Afrod0sio subir a grande #omem9 : /u, no seu caso, disse&l#e uma vez o desembargador, fazia&me c#efe re%ublicano, e reagia contra o io de aneiro. : Bem sei, res%ondeu o 6isconde na sua sabedoria, mas a gente " como o queio, cua figura de%ende " da f>rma. 8e esta " quadrada, %or mais que o queio queira, n!o ficar( redondo. : 5as, 6ossa /-cel3ncia, isto ", seu es%0rito, deveria buscar os #orizontes largos, uma coisa que frizasse com o am%lo a m%lo f>lego das suas as%ira'2es9 Cma coisa era ver o Osório dantes, e outra v3&lo agora. O que ol#os n!o v3em, o cora'!o n!o sente. Eonge do magnata, era como os liberais re%ublicanizados quando os conservadores est!o no %oder. Cma vez que 8ua /-cel3ncia dignou& se a res%irar o mesmo ar que ele, servir&se da sua cervea e do seu caf", o Osório sentiu&se mais alto. O #omem, tamb"m, n!o era t!o ruim. 4ue for'a de argnia que dei-ara ali como que o rastro dos seus doidos %ensamentos, reuvenescia, como se a loira tivera soltado um dem>nio dos muitos que turbil#onavam nas suas saias. N!o abriu&se o oratório, fizeram as ora'2es da noite 1 beira do leito, num %elo&sinal garatuado e numas ave&marias aferventadas. )ontentaram&se com a luz morti'a da lam%arina, que atrav"s do co%o es%argia na toal#a um c0rculo cor de rosa. A Fabiana deitou&se %rimeiro. / entrou numa confus!o de amor e de son#os. +rans%ortava&se aos seus dias do sert!o. A modo que ouvia o c#orar do carro ao longe, a vida dos currais, e o sussurro da mata %ró-ima. Eembrava&se do formoso touro, orgul#oso e bravo, a rondar e a gemer$ e da fresca enfieira dos sa%os na lagoa, a coa-ar$ e dos beia& flores, velozes, com o biquito fino e as asas tremendo es%asmodicamente no ósculo das corolas, des%edindo ao sol fa0scas da sua %enugem catita, incrusta'!o de variad0ssimas %edras %reciosas geradas no nin#o sus%enso das (rvores. /n-ergava o lume da (gua do a'ude, %or onde o vento se esfregava
37
encres%ando a esteira l0quida, e donde sa0am as flec#as dos uncos, e, como caudas de castor, as fol#as da bananeira brava$ as associa'2es do %acaviral$ as a'an!s, galin#as&d@(gua, marrecas, %aca%aras, e %otri2es$ nos cercados, os gavi2es a %egar no %" o uru($ o %ica&%ei-e caindo como seta$ e o sol devassando a %aisagem, enc#endo o azul e rasteando %elo cam%o, a clarear a e%iderme nua das ra%arigas que se atiravam ao ban#o sem as cavila'2es do %eo. /ntre as fol#agens da gig?ntea gameleira ribeirin#a saltava agac#ado, de vestimenta vermel#a e azul, o %ica&%au atrevido$ e o f"rreo bico dos bem&te&vis acossava os negros urubus nos ares. A areia,aqui branca e ali corada dos camin#os ia$ e os cargueiros sumiam&se nas descidas e nas voltas$ galo%avam os magotes de "guas, e os %oldros de cauda alevantada$ as vacas %astavam lentamente. O sol adormentava as %u%ilas, e %esavam as sobrancel#as. As fol#as tenras %endiam, 1 sesta. Acontecia sem%re, 1 Fabiana, nos momentos felizes, sentir uma forte ressurrei'!o dos seus dias de mo'a, e ao Osório uma certa fi-idez %ensativa no ol#ar. Para Fabiana o real era o %assado, que deveria reconstruir&se$ %ara o marido o aman#!. Foram encerradas as discuss2es acerca do casamento da 5aria das Dores. /stavam de rela'2es travadas com o titular, e agora iam de vento em %o%a. O Osório n!o tin#a f". A a'!o deste #omem era n!o agir. A sua filosofia %r(tica, e a sua religi!o cifravam&se no dogma dos ociosos : a es%eran'a. / a mul#er, no querer. A #abita'!o do casal Góis mudou, como o ar quando o inverno fec#a. ebenta a babugem, o gr!o de areia sente a %ress!o da (gua e da raiz, o %3lo do gado aveluda&se, as borboletas ressuscitam, os anf0bios se desenterram$ %assou a grande s0nco%e da seca, a estia'!o da natureza. verdade que o desembargador continuava a %>r&se de %" 1s cinco e meia, vestir a cal'a, 1s vezes sem botar de todo a camisa %ara dentro, e em seguida ir %ara o gabinete ler os ornais que ac#ava metidos %ela rótula. /ra entretanto nova a im%ress!o que l#e fazia agora a leitura. Gostava de A !portunidade, !portunidade, cuo tino, que dantes ele c#amava estradeirice, %roduzia&l#e %razeres n!o contados, im%revistos, de ogador %i-ote que a%erua uma %artida de mestres. Da0, Kngela trazia&l#e o caf", ele virava a -0cara, devagarzin#o, fungava uma %itada, e ia estudar o seu %ouco. Ban#ava o rosto, ou ban#ava&se todo, %erto do almo'o. A amofina'!o dos trabal#os do cargo era %ara as onze, ou %ara a noite. As tardes continuavam %ara a %rosa. +in#a&se reformado um bocadin#o o Passeio P
38
dos castan#eiros de grandes fol#as verdes e coralinas$ todos como ele, sentindo esmorecer em si o car(ter %ol0tico. )om a mul#er, ainda rezava, quando n!o %odia %rete-tar sono. Dizia&se católico, %or"m os outros o tin#am %or livre&%ensador. A Fabiana ficou muito ma'ada %orque o sobrin#o n!o veio tomar&l#e a ben'!o antes de %artir %ara o Baturit". Perguntou ao marido a raz!o, este res%ondeu que, naturalmente, a %ressa da viagem. 5aria das Dores, %or"m, n!o admitia isto. 8entiu&se muito, mas n!o deu mostras. O que %areceu " que )entu estava esfriando. ( #avia dei-ado de %assar de tarde, a #oras certas. Ora, ela n!o fizera coisa alguma que motivasse esse des%rezo. 5!e Iefa, %elo seu lado, urava que o ra%az n!o tin#a namoros %or a0. 5as a menina duvidava ainda, afian'ando que onde quer que fosse e-istia alguma ti%a que o estava a seduzir. +in#a raiva dele, muita, e deseava a morte a si. / o es%0rito feminino, nessa ang
39
: Aquilo sim, min#a fil#a, " um fidalgo, digno do nosso sangue9 63s como ele se %orta; N!o " como os outros. N!o faz caso de nada9 es%onde a tudo com uma sabedoria de 8alom!o9 O Eucas entoava %ela mesma cartil#a. 5aria com%arecia, de %ro%ósito, mal %enteada, 1 mesa, e com uma cara de en>o. 4ueria ter o %razer de desagradar. Ao %iano " que n!o %odia resistir, nem fingir$ mesmo que fosse tocar %ara o maldito 6isconde e sua comitiva. N!o %odia7 o sentimento fervil#ava nas teclas, daqueles dedos que tantas vezes retorciam&se no deses%ero, e o som das cordas, de dentro, só falavam no )entu, daquele ra%az franzino que l#e %arecia forte como um gigante, da sua fala virgulada, do seu riso %arco e ca'oador, e do seu cora'!o rico de segredos e de sur%resas. +amb"m, %ensava ela, mal ou %erfeitamente que tocasse, equivalia, %ara aquele tro'o de #omens sensabor2es. Passou a id"ia de que o oficial morresse em %elea. 6isionava&o sem%re de %re%aros %ara voltar, mandando tocar a corneta e avan'ando %resto e rison#o %elo camin#o da ca%ital. sto, vezes %or dia. /stava sem%re a vir. Cm dia #avia de c#egar. / ent!o, austaremos conta9 amea'ava ela como se fora de fato sua mul#er. Cma tarde, no quintal, col#endo ela umas rosas %ara os santos, c#ega&l#e a Ant>nia devagar, quebrando uma fol#a entre os dedos7 : 8abes; O Afrod0sio est( a%ai-onado %or mim... /sfregava as m!os, de contentamento. 5aria fez um ar de escandalizada. =avia algumas semanas que aquele #omem entrara ali. Pela insist3ncia da m!e, %ercebera que deseavam&na %ara noiva dele, e mais ainda, que ele " que queria casar com ela, que uma %oderosa %ai-!o o fizera angariar a dif0cil amizade do %ai. =avia estudado at" a res%osta a dar 1 m!e7 que se decidira a morrer solteira. : A%ai-onado %or ti9 franziu ela. : A#9 est(9 : 5as como con#eceste; : N!o se diz. sto agora " só com a baita. : /le te disse; : segredo9 N!o %ergunte mais nada. / largou a rir irresistivelmente. 40
: /u digo a %a%ai. 63 l( se me contas9 : 6( dizer logo, o camin#o est( aberto. 6oc3 %ensa que só voc3 " que %ode ter namorado; 6( contar, 5anin#a, v( Bem&Bem9 /u at" l#e %ago. 5as " voc3 ir %or um camin#o e eu %or outro. )onte o meu que eu conto o seu. / ficamos de conta usta, sabe; 5aria calou&se. Ol#ava %ara o sol es%al#ando&se %or cima dos tel#ados do quarteir!o. +ocaram na corda sens0vel. /ntretanto, artificiosa e vingativa quando ferida, a vaidade natural do se-o comungou consigo um : +u me %agas : que deslizou como um (s%ide %or cima de sua alma em flores. /m todo caso, era fil#a da Fabiana. A seu ver, na casa de seu %ai, onde ela era %rincesa, somente ela teria direito de ser amada. a mada. Kngela atravessava o quintal, carregando (gua, com o %ote a%rumado na cabe'a. Ouvia&se a ral#a'!o biliosa da Fabiana, com a crioula =onorata. 5aria lembrou&se de interrogar a cabroc#a, e foi. /ntraram %ela sombra do tamarindeiro, %or cua fol#agem renascida, miudin#a e basta, n!o era f(cil descer o sol, tendo sido %reciso, at", mutilar uma linda ramada %ara a luz ter franquia com o seu corteo de ar e de aromas at" as %rofundezas da cacimba, ao %" da (rvore, %or modos que quando a crioula =onorata vin#a %u-ar (gua a desoras via l( dentro os ol#os arregalados das estrelas. Ali o c#!o era fresco, entul#ado %ara o %" do muro do fundo, e no canto do galin#eiro, %or fora, entre as brec#as de um mont!o de cali'a antiga, nasciam urtigas e cama%uns, entressac#ados %or uma %rimavera. : Kngela, tu viste o 6isconde dar alguma coisa a Ant>nia; : n#ora n!o. : /... nem falou com ela; : Falou sim, a mode que trocou o nome dela, c#amou osa. : Deu a m!o a ela; : Deu, in#ora sim. : / o que mais; : /u n!o sei de mais nada, na da, mas %arece que beliscou. : Pois ol#a, tu re%aras, o que tu vires me dir(s. /u te %ago. ( ouviste; : n#ora sim.
41
/ a cabroc#a, com os seus bra'os ainda n!o rec#eados %ela %uberdade, %u-ava a corda, ao ganir intermitente do carretel. As abel#as zuniam no tamarindeiro em flores, que e-alavam um %erfume (cido. 5!e Iefa trou-e nesse mesmo dia 1s escondidas uma carta do )entu. A concordata fora ele endere'ar %ara um amigo da re%de %arar na leitura, e no es%0rito, %ela cal#a invis0vel das sensa'2es, derramava&se o sumo das %alavras, que #avia de fermentar. Deslizavam, as lin#as, %alavra %or %alavra, e v0rgula %or v0rgula, tudo, vividas, animadas, fonógrafo a re%etir a voz cativadora do namorado, que as %ronunciara, que as sentira, que as escrevera. O %a%el c#eirava a mais9 /ra cor de rosa. Dobrava em cruz$ e no canto su%erior, em ca%ric#oso monograma um 6 e um 5, 6icente 5oura, que a menina lia : 6ida 5in#a, 6inde 5aria, 6encer(s 5aria :, naquelas gostosas %uerilidades do amor %rimeiro. )#egando ao fim, tornou ao %rinc0%io. A com%reens!o estava dif0cil e demorada$ os %ensamentos a modo que se n!o mostravam %or inteiro, e sim %ela %ers%ectiva das %alavras mais frisantes com o sentimento que a dominava e absorvia. Pela quinta vez " que alcan'ou destacar como que o volume de cada id"ia. / relia com %ausa7 *Primeiro que tudo %e'o&l#e descul%a de uma grande falta, que es%ero voc3 me #( de %erdoar no seu cora'!o. /u sei o que se %assa em mim, só eu sei o que sofro. 8e n!d fosse %ara fazer os gostos a seu %ai, eu tin#a recusado o servi'o deste destacamento. N!o me aconteceria nada, %orque vim %ara o )ear( %or doente, e qualquer doutor me dava um atestado.
42
*A min#a vontade, querida 5aria, era im%lorar&te que te esquecesses de mim %ara todo sem%re, %orque... Ora, enfim %erdoa&me isto, que a min#a cabe'a n!o est( regulando. *Abri os livros e n!o %ude estudar$ aborreci a meticulosa calma, o %rocesso fatigante e absortivo dos estudos$ aquilo que era o meu maior %razer neste mundo9 Desde que afastei&me da0, o meu amor cresceu desbragadamente. 8ó ac#o gra'a, só com%reendo mesmo os livros que me em%restaste$ ! Guarani e e ! #eminarista. #eminarista. 4ue incom%atibilidade #aver( entre o amor e o estudo, entre a arte e a ci3ncia; /stas quest2es n!o estar!o talvez ao alcance da tua feliz organiza'!o de mul#er, eu escrevo&as, todavia, %orque n!o %osso escrever sen!o isto. /u vivo numa tristeza, num *s%leen*, macamblego, sus%irou, sacudiu&se como %ara verificar se ainda tin#a sangue nas veias, %roferiu %alavras em voz alta, correu o trinco, abriu a %orta, e saiu do quarto, la cantarolando e saltando %elo corredor.
43
/ntrou no gabinete, estava deserto, era meio&dia, %a%ai estava na ela'!o. O relógio cosia&se com a %arede, com a estatura de uma %essoa, e na altura do abdome abria&se no verniz uma vidra'a redonda %or onde vagarosamente %assava e re%assava o %lenilnico P@ 8r. que estava fazendo mal. 6en#a mais %a%el. 5eteu a m!o na %asta, e veio uma fol#a tarada. Euto; 5as que agouro, meu Deus9 +eria ele morrido9; Ouvia&se da rua o ru0do tim%anoso da carro'a d@(gua, que %roduzia um efeito estonteante no c"rebro, e o (rido calor do sol a %ino abafava. N!o %assava quase ningu"m, ao soturno daquela grande luz meridiana. O sino de 8!o Bernardo, magro e desafinado, batia o Kngelus, e em seguida a voz de estentor 44
do cam%an(rio da 8". A id"ia de morte %egou&a, como o cascavel ao magnetizado batr(quio. A raz!o trucidada, e a imagina'!o, ruim %iloto, iam&l#e com a mente aos escol#os da alucina'!o. 8entia&se inflamada, e %arecia que o seu cora'!o era uma %óstuma9 As duas tran'as, como duas cobras negras, amornentavam&se nas suas es%(duas ofegantes, mordendo o cerebelo$ e os lindos bra'os morenos faziam co-im 1 fronte %endida9 O %"s, nas sand(lias de marroquim, cruzavam, a%ertavam&se no %ano sala, debai-o da cadeira. Cm c(lido aroma de carnes virgens subia com a umidade daquele suor de agonia e de salva'!o. 5ansamente veio&l#e o receio de que o %ai entrasse, e, disfar'ando quanto %odia, tornou 1 camarin#a. Fez o que fazem as mul#eres em caso semel#ante : vazou&se em l(grimas. Eevava no %eito as fol#as de %a%el borradas de tinta, menos a de luto, que introduziu cautelosamente na %asta. A #ora do antar, dormia$ acordaram&na$ descul%ou&se com o deflu-o. : Deflu-o novo incomoda muito, n!o " fil#in#a; dizia&l#e o %ai, num afago desaeitado, tomando lugar 1 cabeceira da mesa. : , %a%ai. #orr0vel. : 5as devias ter dito, que eu mandava um c#(, re%reendeu a m!e. 6oc3s mo'as n!o a%rendem nunca a ter u0zo. /m caso %arel#o, se algum namorado escrevesse 1 Ant>nia declarando que agradecia o seu amor$ que o esquecesse$ a%esar de ele conservar o dito amor %ela sua %arte eternamente, ela dava uma rabanada de tra0ra, dei-ando, ao lume da (gua, numa borbul#a, a seguinte e-%ress!o canal#a e breeira7 : 8eu cau azedo, quando se quiser levanta&se o dedo9 5as com esta sueita acontecia ustamente o contr(rio. contr(r io. O o!o Batista, cai-eiro da casa Afrod0sio Pimenta L )ia, a%ai-onou&se %or ela. Cm namorado sem ventura. Naquela noite em que ela tre%ou %or detr(s da %orta a fim de es%iar os #omens que estavam na sala, foi a %rimeira vez que ele a viu. Antes sentiu&a, realmente, do que viu&a, %or entre os bordados da bandeirola. Babou&se logo %or aqueles ol#os de gata ruiva. Alcan'ou uma formosura imensa no cor%o a que deviam %ertencer uns ol#os assim. A %arel#a de luzios de esmeralda entrou a galo%ar&l#e %ela alma adentro, indefinidamente, e um grande %razer o abalava na sua obscuridade de mo'o econ>mico e recatado. Pensava #aver to%ado enfim o que deseava, a sua
45
mul#erzin#a. Aquilo, %arece, introduziu&l#e na %ele uma subst?ncia estran#a e salutar. A loira fisgou&o, sem saber. 6erdade " que l#e n!o %assou des%ercebida a insist3ncia com que o cai-eiro mantin#a o nariz %ara aquele lado$ mas ao descer, nem mais se lembrava daquela fisionomia enoada e inocentona. O %obre, com um m3s, sem trocar %alavra %ois se ia 1 casa do Osório a recados do %atr!o, a beldade o evitava de instinto %es%egou&l#e uma carta. A %ortadora foi a 5!e Iefa. Ant>nia ficou toda uma alegria7 su%un#a que era do 6isconde. O 8en#or 6isconde escrever&l#e9... que ac#ado, que fortun!o. / agora, onde ler aquilo bem de seu, com a maior seguran'a; Ocorreu&l#e a camarin#a das regras. /ntrou, escondidin#a. Cma claridade, encardida, um c#eiro de amon0aco e bodum$ a tel#a escurecida %elas fumaradas da cozin#a. /stendeu&se na cama de couro de boi, ao canto, onde dormia, 1 noite, a %enca de moleques. Foi logo 1 assinatura7 5o%o assinatura7 5o%o 3atista do *ascimento) Desa%ontou9 Batia&l#e o cora'!o, de insultada. 8entia um buraco no %eito esquerdo, como se estivera com tr3s dias de fome. /smorecia miseravelmente. 4uase teve um faniquito. o!o Batista do Nascimento9 Fosse %ara a casa do diabo9 ( se viu um bic#o mais besta; 4ue mal fizera a Deus; N!o l#e diriam; Amada %or uma figura daquelas, entristeceu. Cma ofensa 1 sua beleza e formosura. Pareceu&se muito feia a si mesma, uma vez que um ti%o daquela ordem sim%atizava com ela. De feito, entendia de seu natural, só #aver sim%atia, #avendo semel#an'a. Neste %onto se tin#a ou n!o raz!o, " com o botic(rio Fernandes, que sustentava7 aquela atra'!o do cor%o e alma su%2e sem%re certos %ontos de igualdade, a%arentes ou n!o, entre as duas %essoas$ o que o Osório combatia com uma teoria contr(ria. )om%leta o%osi'!o, dizia este, " a base do amor. O escrevente %edia licen'a %ara ofertar&l#e um vestido. 4ue %ediria a sua m!o, quando ela quisesse. 4ue só ia naquela casa %or amor dela, etc. etc. *8ei que seu %ai " um %obre cego, e que voc3 " quase só no mundo. 8eu %ai n!o %recisar( %edir esmolas, quando nós nos casarmos.* sto irritou&a. Falar assim naquela manc#a negra da mendic?ncia, que era como umas sardas na %ele rósea do seu rosto9 Eembrou&se de quando o vira %ela
46
%rimeira vez. 4ue ol#ar im%ertinente9 Dias de%ois, vindo a mandado do 6isconde, saudou&a muito sem vergon#a, deslambido, e da0, continuou. O %obre n!o sabia disfar'ar. Gostou da ra%ariga. Descon#ecendo, %or"m, com%letamente a vaidade e suscetibilidades femininas, ulgou que o maior agrado seria %edi&la c#atamente, : sem saber se ca0ra em gra'a. Pela carta, solicitava o seu consentimento, %ara ir aos %adrin#os, certo de que estes n!o recusavam. De bru'os, no couro cru, Ant>nia, meio %asma e meio enraivecida, erguia os ol#os de bic#ano %ara o altar das crioulas. Diria que sim; 5as anti%atizava #orrivelmente com aquele ra%az, sobretudo ao ver que ele, vin#a com isso de amor. Ante ele, de%ois dessa id"ia de fundirem&se os cor%os e a vida de ambos, tin#a sensa'2es de um sezon(tico ao %>r a vista em carne crua. 4uando ele a%ertava&l#e teimosamente a m!o, sentia ela uma im%ress!o fria e %egaosa, e se l#e revoltavam as entran#as. : m%oss0vel, min#a Nossa 8en#ora9 / re%etia a frase instintiva, dolorosa7 : N!o %osso. N!o %osso, meu %obre %ai9 O o!o de Paula, estava ali, %elo %oder sugestivo que se obrava nela, naquele raro momento. A fil#a escutava, no tiolo, as %ancadin#as do seu bast!o, guiando os %assos, e sentia&o %assar a m!o %ela %arede, como fazem os cegos na rua. 5irava, sem rumo, os santos do oratório das escravas, destas cua f" era assaz vidente %ara n!o descobrir as disformidades de uma 8anta ita de venta c#ata e de um 8!o os" de %ernas de berib"rico, desde que eram imagens benzidas. 8im, aos %obres negros tanto rendia um )risto %an'udo como um de barriga no es%in#a'o$ era o mesmo Bom esus dos Aflitos$ o mesmo cuo sangue era t!o rnia %rocurava como que uma res%osta ins%irada, no %eda'o de %arede reverenda. Ol#ava %ara aqueles tra%os de %a%el %intado, um %ouco acima das malas incrustadas de remelas de cera de carna
47
*Abrirei meus l(bios, em tristes assuntos Para sufragar os fi"is defuntos...* e transfigurava&se aquela camarin#a imunda, em fantasiosos com%artimentos do Purgatório. A corda de rou%a, que l#es era o guarda&vestidos$ as redes amarelentas entrou-adas entre os cord2es do %un#o do armador$ o v!o do tel#ado, fusco %elas fumaradas do fog!o vizin#o$ o tiolo catingoso do mio dos molecotes$ o bodum que recendia com um en>o de %anos abafados7 a triste indec3ncia daquelas mul#eres sem direito de amar$ os cafundós de sob o vasto leito de couro cru$ os vel#os trastes im%rest(veis que os sen#ores botavam %r@a0$ desa%arecia tudo na 0ntegra da im%ress!o auricular. Duas velin#as de vint"m, %regadas no tam%o das malas, alumiavam %arcamente a cai-a de cedro, feita %elo cabra +eodoro, sus%ensa na %arede forrada, a%in#ada de santos, entre os quais %om%eava o 8. Benedito de bei'o vermel#o e grandes ol#os lim%os, com um res%lendor de n0quel. / Ant>nia, estirada na cama de couro, de vestido %reto, com a sua tez, cuas im%erfei'2es a%agavam&se na %enumbra, e aqueles cabelos dourados, estava mesmo uma %intura. /ntrasse ali agora o Afrod0sio9 Aquele %ara quem ela se sentia de todo inclinada9 8on#ava des%os(&lo. +eve um susto com esta id"ia... O %ainel de mada%ol!o, que, na %arede, acima do nic#o, com abund?ncias de tinta azul e amarela, e-&bandeira das novenas do os(rio, seguro com %reguin#os, abria&se como um %(ssaro de grandes asas, a modo que agitou&se como se ainda estivera i'ado no mastro e %assasse um vento forte e re%entino... /nfim, foi&se o mau %ensamento. O %ano continuava estendido, com a sua r0gida %intura estraladin#a como o vidrado de lou'a vel#a, e a imagem de Nossa 8en#ora, a virgem das virgens, na sua %ureza imaculada. Na sala, a%roveitando uma discuss!o que os %ais travavam no gabinete, 5aria das Dores lia a segunda carta do )entu. Parecendo&l#e um ol#ar em cada %oro de %arede, balan'ava&se na cadeira de vime, unto 1 mesa do centro, muito a%licada com um livro que abria ante si, com as duas m!os7 Liç6es de 7ist8ria *atural , muito recomendado %elo vel#o. Assim, %odia vir quem quisesse. N!o estava %ara afli'2es7 uma %(gina, intercalada, era a %reciosa cartin#a, que dizia assim, com uma letra demorada e rabiscada7 *4uerida 5aniin#a7 5e deste uma li'!o de mestre9 N!o me confiaste uma %alavrin#a sequer. O#9 crueldade9 Cma fol#a de inde%end3ncia metida num envoltório de %a%el 48
avermel#ado, com o meu endere'o, eis a0 a res%osta que me enviaste9 / castigo merecido, eu te ofendi muito. 5as que queres; =ei de eu enganar&te; Dir(s7 5as neste caso voc3 devia ter %revisto no %rinc0%io, %orque #( meses que voc3 voltou ao )ear(, e sem%re que me via demonstrava, cada vez, mais amor9 / eu acrescentarei7 Antes de %artir %ara o io, sem con#ecer&te, ( eu te adorava em ideal. /ntretanto, nunca eu me ac#ei como agora. +en#o um %ressentimento de que a min#a carreira ser( cortada, se me casar9 4ue situa'!o dolorosa a min#a9 N!o sei o que ser( de mim. Por isso " que o meu deseo era isolar&me, %ronto %ara naufragar, mas sozin#o9 Bem v3s que o meu amor " muito maior do que ulgavas. /stou doido de amor, mas " dura em mim a %ertin(cia do bom senso. /u n!o estou doido inteiramente, antes o estivesse. Desde que resolvi entregar&me sim%lesmente 1s for'as naturais, tirar 1 min#a vontade o direito de imiscuir&se em tudo que n!o sea o estudo e o trabal#o, %asso mel#or, leio, rio, fa'o camin#adas de recreio. verdade que me dizem melancólico, e me c#amam filósofo$ e eu me sinto muito sens0vel. sto, %or"m, " o amor que me gravaste, que me agu'ou a %erce%'!o e-terna, me afinou os nervos e os sentidos. Bendito amor... /u ia %ondo aqui uma adversativa, ia dizendo um mas... que te faria muito mal. N!o quero, %or"m, agravar a tua ferida. +eu 6.J 8e com a outra carta a menina desa%ontou, com esta muito mais. : 4ue ingratos, estes #omens9 Cma carta com retic3ncias e mist"rios7 o 8en#or meu %rimo estar( me flauteando; 4uer me desfrutar9... 4uem sabe... /sta frase veio num turbil#!o #ist"rico$ a menina largou o livro e levou as m!os ao rosto, sacudida %elos solu'os. N!o #avia maior vili%3ndio, maior desilus!o, mais acerbo dissabor. /-%erimentava a mesma revolta que um #omem de bem associado de boa&f" a um tratante que o bigodeou %or fim. 5el#or n!o se im%ortar mais com aquilo. Abafar, com subido #ero0smo e frio disfarce, o sentimento$ fazer como 1 baleia fisgada, dar lin#a, at" o cet(ceo
49
cansar ou desa%arecer. 5as, se come'asse a ficar magra e amarela9 e ele viesse de re%ente, vendo&a desfigurada... 4ue eito; Dieut le veut . 8eguiu o consel#o que l#e dera o %adre reitor, %ara as atribula'2es7 : Fa'a&se a vontade de Deus, e n!o a min#a... A#9 mas, uma boa id"ia9... / de%ois que o %ai saiu %ara a rua, foi ao gabinete, tomou uma fol#a de %a%el de carta, escreveu transversalmente, em grandes e frisantes caracteres7 D9E: LE ;E:T Dobrou, Dobrou, meteu no envoltório e subscritou ao %rimo. : 8im, sen#or. Deus assim o quer. Agora, decifre 8r. s(bio9 /mbrul#ei&o9 A tarde esteve bonita. /la saiu de carro com o %ai. Deram uma volta %ela cidade, e, da ua de Bai-o, enfiaram %ela com%rida ladeira do Outeiro dos /ducandos, no #orizonte da qual a%ontava o muro branco do )ol"gio. Na subida, de um lado e outro as boas edifica'2es iam rareando. ( na es%lanada, estendia&se a cidade de casas %equenas, ruas de areia e #ervan'o, quarteir2es de mato, #abitada %or uma %o%ula'!o de vida vegetativa. O carro dobrou o canto do muro. Ac#aram&se marginando a frente do edif0cio, diante do qual abria&se um descam%ado que se destinava a uma futura %ra'a. A0, o mata&%asto, sal%icado de florin#as douradas, cobria o %ó, subia como um mandiocal$ e na tona viridante, avistava&se o busto de quem se internava %elas veredas. A 5ariin#a aliviara o abalo interno em demorar a vista na %aisagem. Cmas casin#as novas come'avam a delinear a %ra'a, agru%adas es%a'adamente, com o amarelo do ocre, ou o escuro do ro-o&terra, ou o alvo da cal. Cm %ro%riet(rio mais %oderoso sungava a frente aos %almos da marca da )?mara, e dei-ava o resto em meia&(gua. Ao fundo, onde o terreno descia %ara um a'ude, as #abita'2es, %or tr(s daqueles matos vivificados de maio, %un#am o quei-o acima da seara de erva, e de algumas se n!o via sen!o o to%ete. )om aquele cinzento ba'o e fofo do cor%o dos avestruzes, as casas de %al#a, com a frente em em%ena, insistiam %elo meio da futura %ra'a, e fora dos alin#amentos das ruas que come'avam a des%render&se$ e %or essas c#ou%anas arruinadas %odia&se tirar a ol#o o rumo das estradas antigas e e-tintas. 8outos de %au&ferro cobriam terrenos devolutos, ca%oeiras de antigos ro'ados$ e um ro-o l(cteo florescia como en-ames de mari%osas, %or mir0ades, nos urubebais. As cercas de fa-ina, as cai'aras, onde o mel!o tre%ava, alin#avam&se, toucadas de filó verde, e com o cinzento de casca de %au. O ar denunciava a %ancada dos %il2es, o canto dos galos, o latir da canzoada, o gritar dos meninos, naquele viver %rom0scuo e semi&selvagem.
50
Pela frente do edif0cio %assava o em%edramento, que um %ouco adiante morria na estrada de areia, art"ria dos roceiros da Aldeota e do io )ocó, %or cerca de duas l"guas ao 8udeste. O 8en#or Bis%o vin#a saindo %elo %ort!o do )ol"gio, constru'!o de forte alvenaria ladeada %or um gradeamento %reto. A cruz e o tran&selim de ouro, na mur'a cor da t
51
azul, os ol#os no c"u, e em torno um letreiro7 * 5E * 5E #:9# L'9MM&:L
52
*Cm raio desse teu ol#ar azul conserte o seu cora'!o quebrado %elos maus %ensamentos9 *lumina o escuro de sua alma, 8en#ora, Ave 5ana c#eia de gra'a9* Os ratos faziam uma correria %or detr(s do zinco e madeiras que re%resentavam a roc#a. Cm morcego ia e vin#a com o seu voar frou-o. Por uma anela entreaberta, %ara o Oriente, o desembargador avistava um s de Maria no Maria no caramanc#el dos asmins, num dos %(tios internos. Das Dores n!o quis. Beiou a m!o da sua antiga mestra, saiu e foi a meter&se no carro. A rm!, em com%an#ia da %orteira, que fec#ava o grande %ort!o de ferro do ardim, ouvindo&se ainda o forte ru0do das rodas no cal'amento, fazia balan'ar no dedo o ol#al da tesoura que l#e %endia do cinto, e cantarolava7 *Le monde fait son tapage...* tapage ...* A %erteira curvava&se %ara correr o ferrol#o de bai-o, com o Lu ar %iedoso, n!o entendendo o franc3s, nem o sentido mordaz daquelas %alavras. Ao %isar na soleira da %orta do %arlatório, a francesa relanceou um nia acoitava&se vizin#o 1 5aria, e era um %eda'o de lat!o areado unto a uma obra de lei. O Eucas seguia&se a Ant>nia, e c#amava&l#e sem%re Antonina, 1 maneira dos %ortugueses.
53
Parecia um re%asto de lu-o, a notar %elo bule de %rata. =avia bolos, %!o&de&ló, v(rios queios, torradas, carnes frias, %ast"is. A manteigueira, o a'ucareiro, e a fruteira do centro, de grande custo. que ali andou m!o de 5aria das Dores.Pela %rimeira vez, esta coadunou&se com a m!e. O diabo entrou&l#e. +omou uma tal avers!o %elo %rimo, com a sim%les id"ia de que ele a enganava, que o sangue materno, como os cururus da beira da lagoa, entrou a berrar&l#e naquela noite do sentimento. esolveu conquistar o 6isconde. /ste fidalgo estava caidin#o %ela Ant>nia, e %or isso, ol#ava, ria e falava %ara o lado delas, e a 5aria tomava que isso era consigo, %ois um 6isconde n!o ia l( se ocu%ar deveras com a fil#a do cego o!o de Paula. Fabiana, satisfeit0ssima. O desembargador, esse, nem como coisa. )on#ecia o magano %ela %inta do ol#o. 8abia&l#e agora agor a muitas mam%arras. O caso " que Ant>nia, dias de%ois, indo ao m3s de 5aria em 8!o Bernardo, n!o foi vista na igrea$ o que 5!e Iefa, que a acom%an#ara, contestou, alegando que at" #aviam estado todo o tem%o da novena ao %" do altar de 8!o oque. Neste entretem%o, a menina recebe a terceira carta do )entu e foi ca'oando mostr(&la 1 m!e7 : 6osmec3 quer ver como anda o seu sobrin#o com as manias de %a%ai; Ol#e c(. Fabiana estava assentada no banquin#o da costura, na sala de antar. )om os óculos na %onta do nariz, ins%ecionava a renda que a Kngela fazia, e ac#ava, como era fado seu, %elo menos, %reta de suo. Pu-ou a almofada %ara si, e desenrolava a quantidade de renda ( urdida$ media a %almos, avaliando quantos c>vados %recisava %ara um cabe'!o com tr3s carreiras de entremeios$ enrolou a %e'a e %regou&a de novo na almofada. Kngela, de %ernas cruzadas, no c#!o, a seu lado, entrou a trocar os bilros. Eargava uns e tomava outros, e quando um %onto ficava dado, segurava&o descendo um alfinete, e assim, im%erce%tivelmente, ao longo da tira de %a%el!o ia se formando aquele camin#ozin#o bordado. 5anin#a gritava do gabinete7 : 5am!e, ande ver9 A vel#a enfezada7 : Arre l(, que me im%orta isso agora9 Por certo, uma vez que a menina manifestou&se %elo 6isconde, merecia toda confian'a. Pudera, boa fil#a. Na cadeirin#a de %"s a%arados, Fabiana continuava costurando. Descansava os tac2es na travessa de um moc#o onde de%un#a o a'afate contendo a cai-a dos
54
óculos, o agul#eiro, a tesourin#a, o canivete, uma larana de madeira %ara consertar meias, o coto de cera branca, os novelos, os carret"is, alecrim seco e uma raiz de gengibre. No sil3ncio que %airava na #abita'!o, quase ouvia&se a ebuli'!o das %anelas e a voz dos %ró%rios %ensamentos. A mesa e-%un#a o seu verniz de s?ndalo, a coberta, de lin#o %ardo com estrias vermel#as, re%u-ada %ara uma das cabeceiras, ao lento esvoa'ar de umas duas moscas. Ant>nia, unto ao envidra'ado envidra'a do e alto guarda&lou'a, curvada sobre o bastidor do labirinto, levantava de vez em quando um ol#ar %ara a quente %ers%ectiva do quintal, ninando, aos estalin#os secos dos bilros da Kngela, as id"ias que l#e ador& meciam na mente. Kngela mudava automaticamente os alfinetes e estalava os bilros fortemente, sem mesmo re%arar na bela c#ita adamascada que revestia a frente do almofad!o. rmanada intimidade fazia&se entre todas. A Fabiana com o seu dedal de %rata, cerzia uma ceroula do marido. Os seus dedos sem bril#o %aravam %or momento, estendidos no travesseiro da costura, e dos seus l(bios secos desciam %alavras %elo brando, re%assadas de un'!o materna. Nos buracos da almofada, nos to%os, Kngela guardava um %eda'o de ra%adura, que ro0a 1s furtadelas. Pouco entendia dos consel#os da sen#ora, e a %rova " que sa0a&se com %erguntas tolas, indiscretas algumas, que %asmavam de %eo ou de riso. Faria a %rimeira comun#!o, ia inteirar treze anos, %recisava recordar a doutrina... : / como " isso; %erguntava 1 senhora. senhora. : )omo; No catecismo, tola9 /squecera a matrona de que o catecismo " %ara ser lido e decorado, e que, no seu %ensar, negro n!o se instrui. Foi desenvolvendo os ca%0tulos, que sabia de cor, e-%licando o mel#or meio de decorar, de com%reender as sagradas li'2es. 4uando encarava o quintal, nos vidros dos seus óculos, dan'ava em miniaturas catitas o dia e-terior com os obetos que ele ban#ava. Cm %rofundo %esar avermel#ava&l#e de costume esses fins de conversa de religi!o7 n!o ter ido %ara freira em Portugal. A n!o ter %odido, %or for'a da natureza, sustentar as carnes e a frescura de noiva, : nesses momentos de enlevo m0stico de%lorava n!o ter %referido %refer ido a abstin3ncia com%leta. Abai-ava %ara Ant>nia e Kngela um ol#ar duro, crivado de mist"rios e de interroga'2es. Da0, o deseo da virtude f0sica amadurecia em invea. A cabrin#a trocava %acatamente seus bilros, erguendo sobre os quadris es%arramados no c#!o o tronco esbelto e rio. Da Ant>nia, ro'avam na grade do labirinto os dois seios fatais, %arecendo %i%ilarem como %intin#os ao sair do ovo$ tremiam&l#e ao mais leve meneio, as argolas dos brincos %ostados como es%i2es na %ontin#a doce das orel#as$ a %ele, com a quentura, %oreava, e os
55
dois ol#os verdes, cambiando, amorneciam sob a fi-idez su%erciliar$ e o largo da testa, %ara ser %lantado de ósculos de amor, ia esconder&se %udico na
56
: ( re%arei... fez a donzela, entre sorrindo e desconfiada. : 5am!e, e soldado " soldado$ o )entu n!o devia %>r&se agora a idiotar estudando bobagens9 e-clamou intem%estivamente. A vel#a, na satisfa'!o da sua vontade, que costumava ante%or a tudo, n!o sur%reendia aquelas lucila'2es re%entinas que involuntariamente relam%eavam na conversa da fil#a, a res%eito do )entu, fosse qual fosse o assunto. /ra im%erfeito o %risma da sua com%reens!o, %ara decom%or a grossa luz do %ensamento da donzela e ler&l#e nas cores sim%les. A %ró%ria carta do oficial tra0a&se, a%esar da calculada frieza. Dizia que as elei'2es tin#am&se feito sem mais novidade. N!o revelava grande entusiasmo %ela vitória dos amigos do desembargador. /stendia&se muito em desen#ar a natureza baturiteense, sobretudo da serra, onde %assava semanas inteiras, dei-ando a for'a entregue ao sargento. 5as escrevia %or bai-o de tudo, em um *note bem*, que a 5ariin#a n!o leu %ara a m!e ouvir, que o estudo n!o l#e fora bastante %ara com%reender t!o a%ai-onadamente a esquisita natureza da sua terra, se antes, algu0m algu0m n!o l#e tivesse fornecido a c#ave do cofre dos sentimentos. e%etia a frase dela. dela . Dieu le veut) e veut) e acrescentava? acrescentava? 5'en doute) : 4ue blasf3mia9 vociferava, de dentro do cora'!o, a menina9 Deus quer, mas eu duvido9 A#9 sen#or meu %rimo9 O caso " que %assou a crise do ódio. aiva de amantes, que degenera em riso. 6eio, antes, dela mesma7 entendendo&se tra0da, e o ci
=avia, ali dentro da camarin#a, um trescalar long0nquo de %ai-!o e de flores. Num ?ngulo sombrio, %elo %un#o enfiado no armador, de%endurava&se a rede, cuo %aneamento dobrado entalava entre os cord2es distendidos, o todo %arecendo uma funda carregada, as voltas do tecido abra'ando&se cumulativamente. Abrol#ava esca%ulida, uma bolota com um %eda'o de varanda, em desmazelo de gente nova, em frou-o aconc#ego. Os cord2es do %un#o deslei-adamente enrolado no cor%o fofudo e alvo daqueles algod2es, a%areciam enla'antes, como dedos que abarcam e afagam. "stias de sol im%rimiam %elo recinto os seus to%os acesos, grandes ol#os de luz, %equenos ca%ric#os de claridade. Cm c#eiro de mato subia da esteira, nova, sobre a qual se estirava um %ar de sand(lias de marroquim, com o eito do %". Fec#ou sobre si a %orta, cor de fol#a madura, francate esvazada na %arede branca. Armou a rede. / dormiu. Ant>nia veio mostrar&l#e o Meirinho, Meirinho, ornalzin#o %icaresco e ocoso, que trazia umas c#avascadas no 6isconde$ %or"m recuou, %or n!o acord(&la. 4uando o desembargador foi %ara o antar, disse, como costumava, as novidades do dia$ entre as quais a nova de que seguira %ara Baturit" um oficial, render o )entu, que tin#a de ir %ara o Amazonas, dois dias de%ois, %or ordem do 5inistro, vinda %or telegrama. )ortando a carne assada, 5ariin#a, ao escutar esta not0cia, demorou um %ouquin#o o garfo 1 beira do %rato, bai-ando os ol#os como se estivesse engolindo alguma coisa com dificuldade. De%ois, voltando a si, %igarreou, e continuou a antar com a maior calma deste mundo. O %ai entrou a enfatuar de elogios o nome do mo'o, almeando&l#e uma es%osa condigna, %ossuidora de bens que garantissem&no contra a %ersegui'!o da sorte. Gabou muito a carta que ele dirigira 1 %rima, no sentido de atra0&la %ara o estudo s"rio das coisas. *8e ele fosse outro, acrescentou, cuidava era namor(&la.* Aquele post-scriptum Aquele post-scriptum fat0dico fat0dico a 5ariin#a arrancara, %ara mostrar a carta ao %ai, avan'ando que o %a%el rom%era no abrir do envoltório. /mbarcava %ela man#!, no %aquete brasileiro, o )entu. 6ivia agora numa calma feliz, tendo conseguido torcer o %esco'o, como ele dizia, ao %intain#o do amor. )oncretizou, na e-curs!o, v(rios con#ecimentos. Gozou do su%remo %razer de col#er, com%arar, deduzir, induzir, generalizar, formular %rinc0%ios, lendo no livro da observa'!o, fervil#ando na natureza bruta. ndo %ara a bacia do Amazonas, que antegozo o %icava, que curiosidade, que estremecimentos9
58
/ 5ariin#a; O desembargador, calculava que ele voltaria ca%it!o do )or%o de /ngen#eiros, ao que o tenente obetava dizendo que era %reciso ser transferido %reviamente %ara o /stado&5aior de )lasse. : Pois isso, %ois isso9 =ei de fazer valer v aler os seus trabal#os. : 6osmec3 cuida ainda que, mesmo no /-"rcito, voga o que mais age no desem%en#o dos seus deveres e no evoluir da d a sua voca'!o; : /st( bem, eu sei que tudo neste %a0s " muito %ela casca. %or isso que quem %rimeiro anda %rimeiro mana, contra o /vangel#o, que diz que os r&se em evid3ncia %ela ast
59
#orr0vel ciclone da morte, vou aloando 1s ondas do esquecimento, ou da abstin3ncia, v(rios %equenos v0cios e %razeres, e at" alguns sentimentos... : Bons ou maus; : 8e bons ou maus sentimentos, n!o sei. O mais %esado de todos, que %or um triz imerge o tombadil#o, tanto %esava, foi isso... de amor... : =ein, isso de amor;9 : 6osmec3 n!o calcula sequer... : /nt!o isso leva ao fundo do mar; : Avalie um negociante que se estabelece 1 fi
tarde volta o clar!o diuturno. Novas nuvens %assam de%ois, ou demoram. / assim vai. O #omem " como a nossa atmosfera, meu caro, sem%re a mesma e sem%re vari(vel, dom0nio do im%revisto, do %roblem(tico. : Ora diga&me, sen#or7 esse grande amigo seu, esse 6isconde, n!o se tem conservado refrat(rio aos afetos; O legista ficou em dde assen#orear&se, e mal findava ele aquele o venci ir>nico, ela avan'ou e atirou&l#e, como se fora uma bofetada a um malcriado7 : sto " ser bruto de mais9 Proferiu, ou antes gritou estas %alavras como a cobra que d( o bote, e o mo'o ficou como se l#e #ouvessem abanado os quei-os. 5udo e quedo. )obarde. 5ariin#a desa%areceu ato cont0nuo %elo corredor, e o %ai, caindo das nuvens, gritava&l#e7 @O que " isto9; O que " isto9; *seguindo&a, %or"m ela desa%arecia vertiginosamente adiante dele, at" que bateu&l#e a %orta da camarin#a. O %ai ordenava que abrisse, ela solu'ava de dentro. Passaram os minutos, num forte %al%itar de cora'2es. O %ai a %ouco e %ouco foi invocando o racioc0nio7 : Dar&se&( o caso que...8anto Deus9 5as...eu n!o l#e vi ind0cio algum de #isteria9... /la " s! como um abacate. A#9 /stes ladr2es... estes canal#as se amam9 Patifes, e me enganarem at" aqui9
61
Cm trans%orte de alegria relam%eou&l#e. /stava descoberto o meio de aniquilar %or uma vez a turrice da Fabiana, que queria 1 fina for'a casar a ador(vel crian'a com o re%elente %olitic!o do Afrod0sio. /, contra o natural dos %ais que se abalam com a sim%les id"ia de entregar sua fil#a a outro #omem, ac#ou conforto. +remente, sibilou %elo buraco da fec#adura7 : ( com%reendi, min#a fil#a, acalma&te, e conta&me a teu favor. Felizmente, rodava um carro na rua e %arou na %orta. O )entu, sozin#o na sala, veio 1 anela, e num longo sus%iro restabeleceu a calma %ara o sangue. )omo %oderia encarar ao desembargador, que era um #omem t!o estouvado e ing3nuo quanto fino, sem envergon#ar&se; : /le com%reendeu, %or for'a9 : cogitava o coitado. Ol#ando %ara o carro con#eceu a tia, que a%eava com a Ant>nia. : Anda com isso, mul#er9 gritava a Fabiana, desenganc#ando do estribo o rabo da saia. 4ue lesma9... O#, ent!o voc3 v oc3 est( a0, sen#or valente ca%it!o; : /stou, sim sen#ora, res%ondeu da anela o )entu. A sua b3n'!o. : Deus te aben'oe, e te fa'a um general. Anda com isso Ant>nia9 : 6ou (9 Ant>nia, com um %" no estribo, segurava uma trou-a de sa%otis. : Deu muito trabal#o a%an#ar, o len'o desatou&se todo e caiu tudin#o no carro. Pode ser que ten#a ficado algum, : e virando&se %ara o coc#eiro, que fec#ava a %ortin#ola7 : Procura %ara ti, oaquim. : /ste c( n!o vive dessas %orqueiras, c( " carne e %ir!o, resmungava o moleque, fec#ando a tromba de negro ruim. : 4uase que n!o ven#o, min#a gente, e-alava a Fabiana, subindo, os tr3s degraus, %egando o vestido na frente e arre%an#ando a cauda. A Dona Porcina " t!o agrad(vel, e a acarecanga " t!o longe... 8afa9 /stou como se viesse a %"... O carro sacode tanto... Osorin#o, " %reciso com%rar&se outro carro9 O )entu e o Osório vieram receb3&la na %orta. /la tomou %ara a camarin#a, ia desa%ertar&se, e meter o %" na c#inela$ o sa%atin#o de cordov!o era uma luva, mas arroc#ava como os trezentos. Ant>nia correu a guardar os sa%otis na des%ensa, que estavam de vez$ os %oucos maduros viera comerricando com a madrin#a, na viagem. / ficou o )entu de frente com o desembargador7 : 8im, sen#or, vosmec3 tem uma grande gr ande #abilidade. 62
/sta frase, dita %elo manso, com um certo ar de a%oio e su%erior%ers%ic(cia, %u-ou ao )entu o inevit(vel sorriso, irre%rim0vel, amarelo, de quem n!o ac#a termos %ara escudar&se, t!o flagrante est( a verdade. : 8ente&se na cadeira de balan'o... Aman#! vosmec3 embarca... / diga7 %romete escrever&me; : 8em%re. : +anto basta. Eouvo que sustente a sua maneira de %ensar. o mel#or camin#o de se mudar de id"ia$ %ara mel#or, bem entendido. : Agora " que eu rio francamente, e-clamou o mancebo, de um salto, %ondo& se em %", tomando de novo as r"deas do cora'!o7 /u; 5udar; / soltava uma gargal#ada seca. : isso mesmo9 gargal#ava tamb"m o desembargador. 6oc3; 5udar; / ria ir>nico, e riam ambos, %ondo no canto do ol#o uma %ontin#a de breeirice. : 6oc3 quer saber de uma coisa, sen#or futuro )a%it!o de /ngen#eiros; )#eguemo&nos 1s boas, e vamos a um gole de vin#o../ erguendo&se de m!os no bolso7 : O# Kngela9 : A %ra'a rendeu&se, : entressorriu o oficial, agitando o balan'o da cadeira,: com armas e bagagens. Defronte, nos fofos de l! que encobria o m(rmore como as rendas a alvura de um seio, em%inava&se o retratozin#o da 5aria das Dores, em busto, na do'ura dos quinze anos ( %assados. O ol#ar fito da fotografia molestou&o, e f3&lo mudar de cadeira, %rotestando contra o sol que batia nas %aredes do Nascente. /ntrou a brincar com a corrente do relógio. /stava outro. +endo feito sentir claramente ao %ai de 5ariin#a o seu modo de ver sobre isso de amor, foi uma verdadeira vitória. 8entia&se mais de casa, des%ira todo o acan#amento. Absorvia&se no %asseio ao Amazonas. Donzela que ia ao %rimeiro baile. Da0, cobria a tudo com um dourado sorriso de felicidade, todo rosas, lim%idez, candura, es%eran'as. 5il cegos %edissem&l#e esmolas naquele dia, que aos mil daria tudo, taman#os l#e eram a sensibilidade e os receios. Acentuavam&se&l#es os tra'os, e a fala fremia e ofegava nos %ontos e v0rgulas. 5ariin#a ficava. A cul%a n!o era dele, que resolvera, %ara ser forte, dedicar&se ao e-clusivismo da )i3ncia. N!o #( como um s(bio, embora rombo de sentidos, de #(bitos e de %aladar.
63
No insond(vel de sua alma, o )entu ficou lisonead0ssimo com a cena que dera a %rima$ e cada vez se tornou mais sobranceiro, %or ulg(&la mais cativa, com%letamente conquistada, de todo entregue. ( n!o #avia ali as sedu'2es de um %roblema. Kngela de%>s a bandea com uma garrafa e c(lices, e o desembargador serviu. No momento em que o Osório entregava&l#e o c(lice, o mo'o fez uma %ergunta, %assando de um %ólo a outro, com uns ares de mul#er quarentona e curiosa7 : Ora, meu tio, diga&me l(, quem " essa Dona Porcina, donde veio a tia Fabiana, e de quem muito ou'o tratar; : ... "... %roferia o outro bai-in#o, e %arou. elanceou o ol#ar %ela sala como se faz nas confid3ncias de teatro$ e debru'ando&se %or cima do mo'o, fazendo, com a m!o arqueada, sombra 1 boca, sibilou coc#ic#ando7 : uma vi
su%ondo que amoldava os #omens a mim %orque cada qual faz o mundo 1 sua imagem e semel#an'a. : Os mo'os querem ser %almatória do mundo... : De%ois, ca0 na baboseira da vida %r(tica$ os interesses da %ol0tica estragaram& me com%letamente, fui de%utado, fui %residente de %rov0ncia, fui grande, e finalmente queria cronificar a min#a grandeza7 ser senador, babau9 ( %assei dos cinquenta, e nada9 Cltimamente, a%areceu&me esse 6isconde. 8u%us que fosse uma adivin#a'!o de min#a mul#er, que tem a feminil %retens!o de ler no fundo dos cora'2es al#eios... Finalmente, o nosso #omem " um mercador, como eu fui, como todos os %artid(rios... 6oc3 sabe que isso de usti'a %o&l#e a corda. De%ois, a Fabiana gosta que eu assim %roceda$ e ela a%esar de seus defeitos de ra'a e de educa'!o, " todavia a %essoa que me ama sinceramente, que me sustenta o es%0rito nas crises de des?nimo, ela enfim " sem%re a min#a mul#er. Na noite do casamento, disse&l#e7 *Fa'a de conta que sem%re fomos casados, e todos os dias, no correr dos dec3nios, ulgue sem%re que est( casadin#a de novo. Assim a felicidade n!o nos abandonar(, decerto.* : 5as isso " #umano; : O divino " a%enas um caso %articular do #umano. : A raz!o " que n!o casaram somente #omem e mul#er, sen!o a sua natureza com a dela. : Diga&me l(: irrom%eu novamente o Osório, mudando de ar7 : O que " o Diabo; Deus em diverg3ncia consigo mesmo. O que " Deus; o #omem concebendo a su%rema for'a. O que " #omem;... : N!o sei aonde me quer levar... : 4uero l#e dizer que a )i3ncia n!o sabe o que " o #omem9 es%onda9 Penetre nas divers0ssimas organiza'2es que se embastem do %assado at" #oe, como 65
farin#a de nebulosas, nos mist"rios do 0ntimo, no mundo %s0quico, e tire uma fórmula geral. : 5as a que vem... : A que vem; A nada, " que voc3 %arte aman#!, e eu n!o sei se o verei mais9 =( só um recurso infal0vel de n!o transformar a nossa afei'!o em motivo de dor. A for'a do racioc0nio. Pois " essa for'a que assegura a %az do meu lar. 6oc3 ainda anda de sunga de al'a%!o9 6( %ara o seu Amazonas, " um futuro bril#ante. /stude, engorde o seu es%0rito. Fique certo de que nesse %au tem abel#a. N!o sur%reenda&se quando a%arecerem os favos de mel, e o zumbir de insetos a aferroarem&no. : 5isteriosas %alavras9 sso " filosofia ind0gena; A Fabiana gritava l( de dentro7 : O# seu Doutor Osório, dei-e de arreliar o menino9 Pelas cinco e meia foram antar. 5anin#a n!o com%areceu. O %ai am%arou&a contra as e-ig3ncias fulminantes da Fabiana que alegava re%etidamente gente mo'a n!o ter u0zo, que n!o dizem o que sentem cuidando bigodear aos vel#os, que devem " levar muita %eia, que se enganam aos %ais, a Deus n!o l#e botam %oeira nos ol#os$ e %or aqui assim, esvaziando uma grande %i%a de b0lis. A coisa " a Fabiana estar com os seus azeites, e sentir a m0nima contradi'!o a uma vontade sua. N!o saiu&se como ideara na visita a Dona Porcina$ %ois que... essa sen#ora n!o %erdera ainda os seus son#os a 6iscondessa... : 5as " o que tu n!o %egas, amargava consigo a Fabiana. +amb"m amava9 4uem %agou o %ato foi a 5ariin#a. 8im, %orque nessas %essoas de b0lis atroante, a causa do frenesi, : " como o ferro candente lan'ado %elo ferreiro 1 tina de (gua, e que faz efervesc3ncia na su%erf0cie, ou como a gruta do (lveo que %roduz o %erau nos rios, e fica fora das vistas. Na monstruosa engrenagem do rancor, do ódio, do amor %ró%rio contrariado, a roda motora fica ina%ercebida na sua insignific?ncia. Parecia que a f
66
As mul#eres quando se encontram se beiam, mas os #omens que ouvem aqueles regalados estalidos sorriem e comentam, sabe Deus o qu3. Fabiana, invadindo o s0tio da outra, e c#egando 1 #abita'!o, edificada entre os caueiros, abriu um grande ar de %asmo to%ando a Dona Porcina, e fingiu ter&se iludido7 : A#, min#a querida, descul%e... eu me enganei... ia %ara o s0tio do Dr. Barbosa, que " neste correr... : N!o #( de que, Dona Fabiana, ora esta, agora entre e descanse, fa'a favor. / %ronto. A Fabiana estava introduzida. 8erviu&se de gara%a de cana$ foram ver o riac#o, %ercorrer o s0tio, e bastou. A dona da casa %ressentiu que aquela %rincesa dos sert2es ia ali era farear o rosto do 6isconde, e com acinte feminil, dava a entender, tanto quanto %ermitisse o trato com uma sen#ora afidalgada, a amizade que o titular l#e dedicava. 8ó faltava dizer7 : /le e eu nos queremos9 A sen#ora c#egou tarde com a sua fil#a9 Fabiana tin#a, %or conseguinte, %edra no sa%ato. Ora, como quando uma %essoa est( de mau #umor, embora descarregue&o sobre uma dada criatura, a gente sem%re toma %ara si uma %arte daquela zanga : " o caso de estar bem consigo e mal com todos :, o coitado do )entu, ainda %or a v0tima ser a 5ariin#a, ficou %elos ares. )ada %alavra (s%era que a m!e botava contra a fil#a, era um a%erto no cora'!o dele. 5ais uma verifica'!o de que #avia um qu3 " de ine-tingu0vel entre as duas naturezas, dele e da menina. 5ariin#a n!o a%areceu, e nem era %oss0vel. Por seu lado, maldara que a m!e #avia descoberto o namoro dela com o )entu. A noite, %or"m, foi 1 sala. 4uanto 1 cólera brutal da Fabiana, tendo a%arecido o Afrod0sio, foi (gua na fervura. Fabiana abriu&se toda, como as fol#as do mata&%asto ao sair do sol, e desfez&se em car0cias %ara a fil#a, e %ara o sobrin#o, c#amando Osorin#o ao marido, e es%aneando gostosas gargal#adas de sertaneo. Aquela mul#er tin#a consigo uma qualquer morrin#a, alguma coisa no interior, assim como a semente de uma doen'a vagarosa e fatal, um broto raqu0tico #oe, aman#! vi'oso, e vice&versa$ %elo menos assim entendia o marido. Cm curandeiro matuto que a con#ecesse, diria logo na sua e-%eri3ncia, franzindo a cara, com um ar magistral7 : 8eo com%adre9 Neste %au tem formiga9
67
A%artados %ara a anela, em que a Fabiana atirava a fil#a a conversar com o 6isconde, o Osório e o )entu discutiam o caso7 : /la n!o era assim : dizia o marido. eceio que ven#a dar em aliena'!o9 : 4ual9 : /st( emagrecendo... : 5uito %ouquin#o. 8!o fatalidades da carne. Pode ser que sea a morte que comece a brocar o seu ro'ado. 8e assim ", n!o #( tol#er. ( f3&la e-aminar %or m"dicos; : /la mesma os c#ama. 4uando l#e d( na mania quei-a&se de quanta mol"stia #( no mundo9 : / o que eles dizem; : eceitam, e n!o fazem diagnóstico %ositivo. +amb"m eu n!o ten#o dado cavaco. : ( sei, " v0tima do grande mal do s"culo. : =ein; : Da nevrose. Aqui ao desembargador subiu&l#e sangue 1s orel#as, e dando um %asso %ara tr(s, largou um %rolongado7 : )om efeito9... O mo'o ficou como se #ouvera dito uma grande asneira. : Pois seu )entu, voc3 entoa com essa tro'a das outras terras, sem mais aquela;... : /st( dito. 5in#a tia " vitima de nevrose, o grande mal do s"culo. : Pr( que voc3s #!o de ser embusteiros9 8eo )entu, o grande mal do s"culo " a )avila'!o. Fabiana " uma grand0ssima cavilosa, como quase todas as mul#eres educadas com quindingues. 8e receio %elo u0zo dela, " %orque seu bisav> morreu doido, que voc3 bem sabe disso... Podia que fosse essa a
A menina estava uma tagarela. 5esmo com o 6isconde, : %or quem nas tredas #oras do ci
69
bonequin#a ao 6isconde. 4ue ele, )entu, n!ose arreceasse disto, mas que n!o era curial c#ofrar assim a Fabiana com uma %edra ines%erada9... : Asseguro&l#e que a sua tia nem se a%ercebe da sua benqueren'a9 /la v3 as coisas %elo seu %ró%rio %ensar. /st( certa de que a menina e o Afrod0sio se amam9 : 5eu tio, quer saber; Antes ven#a a ser como ela desea. A falar franco, #ei de envidar tudo %or a%agar essa candeia que se me ateou na alma 1 soca%a. Osório ria c0nico7 : 8ea. 5as o que eu n!o quero " a min#a Fabiana contrariada... : Nem eu tam%ouco, meu caro sen#or. : / quanto a desarraigar ou n!o isso de amor, digo&l#e que a erva " de caule subterr?neo, " como ca%im&gengibre. +en#o muita confian'a " numa coisa7 voc3s ambos s!o educados, e t3m o sentimento do verdadeiro, e n!o s!o organiza'2es %ervertidas. )onfio na #"lice e no leme dos dois %aquetes, nas im%uls2es das duas naturezas$ se atra0rem&se, mel#or, se afastarem&se, a fastarem&se, mel#or. : / que id"ia min#a tia far( de mim se eu n!o for tomar&l#e a ben'!o; : 6( 1s sete da man#!. Eevarei a menina %ara a missa de Eourdes$ tem de ir, que " s(bado. Foram %ara bordo 1s duas da tarde. Da0, o )entu viu&se no meio dos camaradas, uns da oficialidade do batal#!o, outros da ra%aziada %aisana, que se l#e tin#am afei'oado, e os com%an#eiros de comiss!o, boa tro'a do tem%o escolar. +udo nele transmudou realmente, da terra %ara o oceano. 4uando o escaler, 1 forte im%uls!o dos remos, estonteava em cima da onda, ele erguia o busto altaneiro, o mento %ara o ar, : como o c!o esca%o do outro, e que adiante, livre, na %rimeira emin3ncia, al'a o focin#o e late %or des%ique e desafogo. Agora ia %ertencer e-clusivamente ao seu verdadeiro amor7 1 )i3ncia, %alavra %roferida de boca c#eia. *O %assarin#o que comeu o -er"m e o queiin#o da gaiola, cuidado %or m!o amorosa e vigilante,quando foge, : %ensava o Osório, silencioso, sentado ao fundo :, tem %erdido muito da bo3mia das aves, e n!o tem o mesmo vigor no bando.* 5ariin#a em casa, estava %rostrada. nventou um estalido. / ent!o, 8anto Deus, a sua dor %odia gemer alto. O )entu ia naufragar... 4uando visse unicamente mar e c"u, e no tenebroso da tem%estade, a0 o va%or afundava... /la ta%ava os ol#os e dava um grito. )onsiderava&se vi
70
rm!9... 5as a congrega'!o n!o aceitaria mais, ela tin#a agora consigo, como a lou'a vel#a, as eivas do calor mundano im%regnadas de ran'o. A Fabiana trazia& l#e boc#ec#os, e ral#ava Porque ela re%elia o rem"dio7 : 5am!e eu sinto uma agonia no est>mago... n!o sei se engolir isso... : só %ara tomar na boca, e n!o se engole, fil#a9 Arre, com os diabos, val#a& me Deus9 +em efeito vomitivo. Agora, arrana&te9 : Pois dei-e estar, mam!e, ora esta9 res%ondia a menina c#orando,com m(goa. /ra o que mais do0a&l#e dentro7 n!o ser com%reendida %ela m!e, estar sob o ugo daquele animal tenaz, e desa%iedado, com do'uras e crueldades de tirano. Figurava a Fabiana como certos ara'(s, que tem um lado maduro e doce, um %eda'o verde e outro %edrado, e outro ( %odre. Antes n!o a tivessem %osto no )ol"gio, se queriam&na inteiramente moldada ao sabor da m!e. 5as n!o. Permitiram&l#e a%rendimentos que l#e germinaram gosto %ró%rio, al'aram seu %ensamento a alturas que a m!e n!o divisaria nunca$ e agora, for'arem&na ao v>o rasteiro; Antes bodocar de uma vez a andorin#a, e v3&la morta, do que atir(&la de %enas a%aradas roando no %ó. No dia seguinte, 1 noite, #ouve ter'o com alguma solenidade. Acendeu&se uma vela do 8anto 8e%ulcro, de muitos anos, ( com a cor e as manc#as %eculiares da cera antiga. tardin#a, teve de arrumar&se de novo o oratório, %ara #os%edar mais uma imagem, : 8anto António, c#egadin#o do Porto. 5ariin#a, de quei-o amarrado, e Ant>nia, au-iliavam de bom grado 1 Fabiana. Gostavam de %egar naquelas %astas de tinta viva e doiradas de rendas e sal%icos de flores, naqueles nariguin#os, boquin#as e ol#os de vidro$ tin#am 0m%etos de a%ert(&los, ou de bei(&los em c#eio na cara. iam dos malfeitores, e admiravam os bem acabados7 : /ste santo, sim, faz milagre... 5as aquele;... a quele;... Bem queria9 / soltavam mu-o-os. iam como os %re(s. Fabiana, com os seus óculos, muito a%licada na sua obra, n!o %restava&l#es ouvido. E( uma vez ou outra %assava um %ito em ar de graceo. /stava de um #umor admir(vel, o que era uma feliz com%ensa'!o %ara o mac#ucado cora'!ozito da 5ariin#a. Fabiana a%elidava o 8anto Ant>nio7 o seu namorado. A imagem, numa cai-a de fol#a envernizada 1 (gua&forte, sob o refle-o arg3nteo do flandres, estendia&se como um anin#o no seu cai-!o, ainda c#eirando a co%al, entre um rec#eio de fitin#as de %a%el, 1 es%era de que a arrancassem daquela modorra. 63nus de burela surgir das es%umas. +in#a %almo e meio de altura, fora o res%lendor. Ant>nia a%an#ou o santo num abra'o reverente, e %>&lo de %" sobre as suas 71
co-as, sentindo&se bem ao contacto transfigurado e c#eio da %ean#a. A cabe'a do amoroso frade e legend(rio %regador das turbas, muito redondin#a, naquele momento, sa0a do sono de uma viagem em %acote, %ara fisgar o ol#ar matreiro nas fei'2es da loira... /nfiaram&l#e, %or um buraquin#o do sinci%nia ficou muito escandalizada, e at" re%reendeu&a7 : Dorzin#a9 : e-clamava esta, como se acontecera alguma desgra'a. / indicava com um bei'o e um ol#ar severo o res%eito devido 1 Fabiana. /sta, %or"m, num riso nia ardia %or fazer&l#e cócegas, e %or ficar sozin#a no quarto, naquele c#eiro de #omem que l#e sa0a dos %ró%rios sentidos, ante o )risto %regado nu e musculoso na cruz, l( ao fundo do oratório, ante aqueles santos var2es barbados. A lam%arina, em um co%in#o ro-o,es%al#ava na toal#a odorante a roseiras, um clar!ozin#o viol(ceo. A toal#a, ao gume da %esada c>moda, ca0a em cac#oeira de rendas e babados, %or cima do frontal de damasco eri'ado ao de leve %elos %u-adores das gavetas, biquin#os de %eitos ocultos. O dia %oeirava ali, %ouco difuso, %arco, sobras an3micas da %erenal #armonia e-terior. No cam%o das %aredes bru-uleava um %ara0so de quadros bentos, bem&aventurados de diversas condi'2es e idades, mendigo at" rei, donzela at" messalina, salteador at" %ont0fice, o%er(rio at" a%óstolo$ dentre todos ressaltava o Batista, metido numa %ele de carneiro, com energia desusada, a desfraldar no to%e do caado a bandeira do Ecce gnus Dei $ revolucion(rio, selvagem, %uro, dos l(bios voando&l#e a sublime %alavra do s(bio e do %oeta$ e %obre, e nu, e sóbrio, era, : entre o lu-o e a ingenuidade de seus colegas de /m%0reo, ali %resentes na %arede em grande aur"ola em torno da c>moda, : como a casca de uma (rvore frut0fera que alevantava o %orte monstruoso dos seus bra'os %or sobre a casquil#agem de um ardim de flores ociosas. 5ariin#a ficava #oras de m!o no quei-o a admir(&lo sem o com%reender.
72
Fabiana %ediu mais claridade %ara ver bem o efeito da nova arruma'!o das imagens no oratório. Ant>nia, mais que de%ressa, escancarou as anelas da sala, e as %ortas do quarto$ mais uma %ouca de dia entrou, e tamb"m o vento, que atacou de s
N!o #ouve novena, nem ter'o, nem %romessa que fizesse os gostos 1 Fabiana. 4ual casamentos nem namoricos da fil#a com o 6isconde9 Cma mis"ria. Duvidou at" da masculinidade masculinidade do fidalgo, e classificou&o com um nome feio. 4ue aquilo era ver o bacorin#o de c#iqueiro, insens0vel 1s do'uras do Amor. Osório ria disto que era um gosto, e re%etia oco&s"rio7 : Fabiana, " isso mesmo, ele %arece que n!o " caro(vel a mul#eres. O que eu creio, %or"m, " que a nossa nobreza n!o " suficiente. 8ua /-cel3ncia %refere acabar solteir!o, a des%osar donzela que n!o sea da sua iguala. : =ome na verdade, com%reendia ela, mó de coisa que " isso mesmo9 / desse eito, Osório tornava&se mais cora'udo %ara com a dura Fabiana c#egando a dizer&l#e um dia nas ventas7 : Parece que n!o en-ergas; Pois n!o v3s, %elos modos, que esse Afrodisio Pimenta " sim uma boa criatura, mas que n!o tem coisa alguma das que e-iges; : N!o " caro(vel a mul#eres9 : / de%ois, a 5anin#a n!o casar( com ele. Por que n!o #avia de casar; /la se governava; Osório sabia o motivo. A mul#er quis %or for'a que o dissesse, mas ele teimou em n!o, e foi mudando de assunto. as sunto. : Fica %r( missa do dia. : /nt!o a menina n!o " caro(vel ao casamento. isota %or %arte do marido. 73
N!o, l( isso$ tu mo #(s de dizer. /st(s %egando uma moda que n!o tin#as. : 6amos, diga l(, %or que " que ela n!o casa;... : Porque... Ora gentes, a0 est(7 %orque n!o c#ove9 Fabiana, ol#a o que eu te digo7 83 menos cr"dula. / sen!o... Deus queira que tu n!o ten#as %lantado a desgra'a nesta casa9 : 4ue diabo est(s dizendo9 Osório, dei-emo&nos de mist"rios. Ora muito bem9 : Nada, fil#a$ vai %ara os teus arranos. /ntret"m&te a costurar, e governar a casa... Pelo amor de Deus, n!o me inventes mais coisas... : 4ue coisas; +er(s tu bebido sobrei osse; osse; : Nada. No frigir dos ovos " que se v3 que manteiga sobra9... Dize7 tens re%arado a Ant>nia; : A que res%eito; : 4uantas vezes mandaste Kngela com %resentes ao Afrod0sio; : 5uitas. : 5eia %alavra basta. Aqui ele coc#ic#ou no ouvido da mul#er, e esta fez %rimeiro um ar de %asmo, que transmudou em incredulidade. : Duvido muito, #omem. 4u3;9 O 6isconde; Duvido at" com os %"s9 N!o " caro(vel... : #ancta simplicitas9 simplicitas 9 : fez o Osório em atitude de ora'!o. /nfim, se for, n!o me %esa na consci3ncia. : Desse %ecado; 4uero eu arder no inferno9 : Pois est(s fritin#a... /m todo o caso, Fabiana, tu "s mul#er, e %e'o&te que re%ares. N!o cr3s, n!o " assim; 5as ol#a que somos donos desta casa, e res%ondemos %or todos que est!o sob o nosso tel#ado. Faze de conta que "s %ol0cia, tiveste uma den
74
: 5as se for uma calnia n!o saiu mais, foi&l#e vedado$ a n!o ser na com%an#ia da matrona. Dantes confiavam&na 1 m!e Iefa. =oe nem isso. /m uma daquelas ocasi2es em que ela fora com a m!e Iefa, 1s novenas, na Prain#a, que eram muito arroadas, voltou um bocadin#o tarde, alegando que #ouve muitos fogos de vista, e m(quinas, de maneira que a novena foi longe. 5as, se algu"m maldasse, notaria a tremura da fala, as titila'2es daquele cora'!o, a abundante verbosidade que ela des%eava %or cima de uma id"ia fi-a que a beliscava, que estava sem%re a %>r a cabecin#a de fora, como um dem>nio, quem atinasse, #avia de sur%reender a bondade flagrante e a satisfa'!o com que ela narrava, e descrevia$ a maneira saborosa %or que ela mordia ou c#u%ava os bei'os, na inversa, como se acabasse de beber mel$ o %assar da m!o %ela cabe'a 7afastando dos ol#os os cabelos fugidos do %ente de arrega'o, o encol#er dos ombros em arre%ios s
75
Ant>nia n!o %odia ser&l#e confidente, 5ariin#a entendeu&a logo, e %>&la de %arte. : uma doidela. /ntende que sou a%ai-onada %elo seu 6isconde, e %or isso lan'a&me uns ol#os revirados %ara o lado e uma cara muito bei'uda. )oitadin#a9 /u l#e queria tanto9 ( n!o me a%elida Bem&Bem, agora " nuamente7 5aria das Dores. Das Dores vivo eu, algu"m se farte de alegrias. Nessa noite dos fogos de vista Ant>nia dormiu um sono regalado. Deitou&se nuazin#a. Para isso es%erou que a 5ariin#a se recol#esse %rimeiro e a%agasse a vela. verdade que %or cima das %aredes do quarto a%arecia ainda claridade do a%osento dos donos da casa, que tin#a luz at" a Fabiana catar a derradeira %ulga. 5ariin#a ressonava bem$ e como ela estivesse voltada %ara o lado da %orta, a outra metade da rede, entesada, encobria&a %ara o as%ecto do fundo do quarto. Ant>nia sentia uma es%"cie de correrias %ela carne, e fazia&l#e bem o contacto imediato do ar. )#egou a rolar %ela esteira, debai-o da rede, como uma cadela ao sol. / beiava surdamente os %ró%rios cabelos e os %ró%rios bra'os, num solu'o abafado, num deses%ero de mordeduras e de a%ertos, de %aro-ismo e de es%asmo. Aoel#ada, %u-ou a beira da rede %ara si, e como o nadador agarrando&se 1 borda do escaler e i'ando&se com os %ró%rios mmago, o ventre, as %ernas, e devagarin#o estendeu&se ent!o na rede, ao com%rido, in?nime, como um cad(ver no esquife. Eembrara&se de que o %un#o do lado dos %"s enfiava no mesmo armador que o da rede da outra, e que o movimento comunicava. )obriu&se com o len'ol. / da0 a %ouco as varandas da rede estremeciam es%a'ada e levemente com a res%ira'!o dela, em come'o de um am%lo sono venturoso. A cabra Kngela, esta se %usera mo'a aos treze anos. Cma cuia de mangabas n!o a%eteceria tanto, nem um odorante abaca-i, nem uma dourada %enca de bananas ma'!s, das que ela ia levar de %resente ao 6isconde, em uma bandea de -ar!o coberta com guardana%o de frivolit" feito %elas m!ozin#as da Das Dores ainda no tem%o do )ol"gio. Cma vez foi Kngela assim, ao Afrod0sio, ao meio&dia em %onto, com uma com%ota de caus, naquela mania de %resentear que a Fabiana ainda conservava dos #(bitos do seu torr!o. O #omem, sozin#o em casa, veio receb3&la no to%o da escada, *%ensando que era gente*, como disse gaiatando. /stava mesmo de truz. De mangas curtin#as, vestido em leve decote, cintava&l#e %or cima dos cós da saia a fita do avental, de fazenda %reta %or mó do suo. Nas costas encruzava um - formado %elas al'as do sobre%eito. a mesmo %isando duro. 4ue me-er de quartos e de cotovelos9 4ue faceirice9 )om que c#iste arrebitava um mu-o-o9
76
ia, como uma sem&vergon#a9 A cara%in#a, de um castan#o fulo, formava um %!o, enfeitado com fita vermel#a e cravos brancos. /ra domingo. Aquilo era muito bruta e muito linda. As ventas e os bei'os volatilizavam ardor concu%iscente, atordoante, a%esar de que as m!os c#eiravam sem%re a ran'o de cozin#a, e os bra'os tin#am um %3lo miudin#o que %arecia suo %ermanente. Do cós, o %aneamento da saia, muito c#eio de %regazin#as verticais, descia rotundo e %arecia 0m%ar com as %ulsa'2es do sangue. Pelo fio do lombo descia uma concavidade, afogada logo al %ela com%ress!o do cor%in#o as%eado. Os ombros, como os da Ant>nia tin#am o voltear veludoso das dunas, %eados noite e dia %elo so%ro de )u%ido. No %esco'o anin#ava&se uma cobra de al>fares,e nas orel#as estavam sem%re a dan'ar uns brincos enormes, de vidro, com um donaire arrebatado e doming!o. A droga da cabroc#a inflamava9 As faces, carnosas como um cau de mimo, %or cima do %igmento escuro da ra'a, tin#am a trans%ar3ncia da fruta do imbu, a%esar de n!o serem como as da Ant>nia, que eram %"talas de rosa atrav"s da luz. O relevo do cabelo e o roli'o do cangote, com a firmeza turgescente da %uberdade, %orventura sacudiam %or todo o cor%o um flu-o de #umores c(lidos, uma %redis%osi'!o %ara o riso e %ara o c#oro, com mil nuan'as v(rias de animalidade. Cma alim(ria de %a%oco, aquela escrava. 4uando andava, estremecia como gel"ia. O quarto do Afrod0sio ficava no andar daquele seu casar!o %ortugu"s, de negociante, que destoava da ligeira e rison#a edifica'!o da cidade. )#eirava a mofo. Al"m, ainda tin#a um mirante, onde o amigo desembargador gostava de ir %ara gozar do %anorama urbano. Aqui, anelin#a %ara o nascente, e outra %ara o ocaso, com rótula e vidra'a estorricadas, e óculos na %arede ao sul e ao norte. 8em%re uma rede armada nos caibros, uma banca e casti'al, e dois moc#os. 5erendava l(, quando l#e %arecia, o solteir!o$ e at", ao canto, entre %al#as de nin#o de rato e garrafas esgotadas, reviravam&se latas vazias de doces e de biscoitos, e em cima de uma trave aziam %ratos cobertos de %ó e tal#eres ensebados de queio. +in#a gra'a era assim, 1 estudante do ecife, a%esar de que, o 8en#or 6isconde, quando l#e dava na veneta, esmurrava o moleque do servi'o, bradava contra aquela %orcaria, mandava lavar, %or erva de ratos, entu%ir os buracos, arsenicar os cu%ins, %rotestando %intar tudin#o de novo. Kngela de%>s a bandea em cima da mesa, com um ligeiro ofego da subida. Destam%aram as com%oteiras. O sol n!o entrava %elas anelin#as escancaradas, %orque estava a %ino$ mas o vento, que audava a agitar as bolotas da rede, a%licava nas tel#as um c#u%!o sensual. De quando em vez as bandas da rótula iam e vin#am, e em instante batiam furiosamente no %ortal, 1 refrega, %ara acalmar de novo. Cma raada, como sacudida adrede, esflorava a %oeira do assoal#o$ e, 1 guisa de um bal!o de festeo, a%agado, %erdido numa (rvore, a inflar o %a%el sussurrante, como um fantasma em noite de luar, %endia de um armador a saia 77
de c#ita, em fol#a, com que naquele domingo a cabroc#a *quebrara a tigela*. O vento entrava&l#e %elos babados, e enc#ia tudo. A guarda&%isa arrebitava, dei-ando ver a saia %or dentro, e abai-ava. O cord!o de enfiar, que franzia o cós, %reso ao armador, aguentava os em%u-2es do ar agitado. / boquiaberto, camale2es a engolir vento, os dois sa%atin#os verdes estiravam&se mesmo com a dorm3ncia de lezardos. Alva, como uma alva de %adre, sobre o arm(rio da sacristia %or cima dos %aramentos %ara ser vestida, encobria o casaco e o cor%in#o a an(gua, revirada na mesa, ao lado das com%oteiras cobertas de frivolit0. de frivolit0. Al"m da influ3ncia do ber'o e da educa'!o, 5!e Iefa estendia sobre Kngela e sobre a Ant>nia outras muitas. /ram estas duas quase da mesma fei'!o, %ois que a brancura de Ant>nia era enegrecida %ela mis"ria dos %ais, %or um descuido #eredit(rio, %ela e-ist3ncia vegetativa da sua lin#agem. Foi um tormento, quando a Fabiana l#e %ós nas m!os o M0todo =@cil %ara %ara A%render a Eer$ a menina gastava o tem%o abismada nas vin#etas, uma das quais, logo no %rinc0%io, era um mo'o a cavalo, correndo, quase nu, com um volumoso R e %or bai-o esta inscri'!o7 Aenofonte inscri'!o7 Aenofonte era um fil8sofo guerreiro. guerreiro. Por"m, a vin#eta %referida era uma, na letra E, em que se abeiram uns l0rios %erseguidos %or um moscardo$ os l0rios quietos no seu lugar, e o inseto a dar voltas como %rocurando o cora'!o de um deles %ara varar de uma feita. A crian'a atra0a&se %or esse namoro. : )ertamente n!o %odes ainda avaliar que de #orror e de n(useas %roduz uma beioca a%licada %or um besouro num imo virginal de uma flor, : dizia ent!o o %adrin#o, sem%re filosófico. Para Kngela, al"m de tudo, 5!e Iefa ostentava mais o %rest0gio de ser a rain#a dos %retos. A cabrita bem se lembrava de t3&la visto com uma coroa de lata vistosamente dourada, com assento 1 esquerda d@el&rei, tamb"m, de coroa, e mais os cal'2es e ca%a de grande varredura que enrolam no bra'o %ara dis%ensar criados do s"quito. +in#a bem %resente, gravada na recorda'!o de menina, aquele casar!o da Pra'a do Patroc0nio, que os %retos alugaram %ara a festa de S de aneiro. O dossel do trono, armado %elo sacrist!o do os(rio, num grande sal!o forrado e assoal#ado$ as %retas, vestidas longamente, de alvo, e de cor rosa, florescidas de ramal#etes, %eroladas com mi'angas, a camin#ar com ares de grandes damas, e mais elegantes que as mo'as brancas do )lube, mais c#eias de cane, mui destras e reme-idas na dan'a, desabridas na gal#ofa, e com estudados refinamentos e meneios de nobres sen#oras$ ;ossa 9ncelença pra qui, #ua Ma/tade d'acol@, d'acol@ , e de quando em vez, como estouro de bomba um tu e um n!o sea besta a entornar o caldo da civilidade. Kngela futurava vir a ser a rain#a da classe. Ant>nia, %or seu lado, at" isso almeou uma feita9 Num 0m%eto da sua natureza a'udada, num escouceamento da sua %obre alma votada ao inferno. 78
Arranc#avam&se nela o(sis de felicidade bruta e moment?nea, em um só dia, caravanas de deseos. ndo ao circo de cavalin#os, voltava querendo ser %elotiqueira. Do mesmo modo, se fosse ao )ol"gio das rm!s, ficaria %resa de um anelo org(stico de entrar %ara o recol#imento, amando ao bom esus, com a cabe'a metida em um c#a%eir!o semel#ante a uma enorme borboleta de goma. Assim como, %resenciando a cac#orrada de uma messalina do tom, arderia %or ser tamb"m cadela em cio cont0nuo de devassid2es aniquiladoras, e %estil3ncias, de abomina'2es de cloaca estucada com ouros e bril#antes. : 6irtude %ró-ima do v0cio " o amor, %roferia o Osório nas suas %ondera'2es : basta uma varea, e o belo nariz de )u%ido broca&se em bic#eira #orr0vel como um cancro. 8i( Dona Fabiana de%ositava em 5!e Iefa uma confian'a a ol#os fec#ados. N!o verificou em nada o que o marido %ediu com inst?ncia. / mesmo, a falar de cora'!o nas m!os, ela de si consigo n!o #avia em grande conta a #onra de uma escrava, cuos %artos seriam rendosos, nem a de uma ra%ariga de bai-a estir%e, que nascem mesmo " %ara o que " ruim. O que Fabiana sabia, conscientemente ou n!o, mas unicamente, era satisfazer a %ró%ria vontade, ca%ric#osa at" ali. 8oltou de novo as r"deas a Ant>nia, certificando ao marido *que aquilo era uma grand0ssima calnia, contudo, fingia n!o bater&l#e o %a%o com deseos de sair, %ois con#ecia o fraco da madrin#a. 8e botasse muita for'a %or %assear, o es%0rito contraditório da Fabiana sa0a&se logo7 : N!o, sen#ora$ n!o %erdeu nada em novenas, nem em Passeio Pnia ficava nas encol#as, e ao menor convite das vizin#as, %un#a&se com c#ove n!o me mol#a. A matrona metia ent!o o bedel#o7 : 6ai com as outras, #omem9 4ueres te fazer rogada, criatura; 5!e Iefa acom%an#ava como cabo de ordem e como aia.
79
O Afrod0sio, %ers%icaz como ele, ia menos 1 casa do desembargador. 6er o qu3; Pegou no ar as inten'2es da vel#usca, e riu entre as varandas da rede7 : )#>9 Arma tua ara%uca %r( l(. N!o se quer n!o, cau azedo9 Osório ca'oava da mul#er, e dava %inotes, esfregando as m!os. Cm ra%az, l( uma vez, aquele sueito sisudo. Dizia&l#e es%eran'osa7 : Dei-e estar, sen#or9 /u con#e'o estas coisas. Os fidalgos %rocedem diferente de nós. O letrado foi mudando de rumo, com a %rivan'a do titular. Farto de fam0lias como a da mul#er que tin#am %or bras2es o nascimento, a coloca'!o suntuosa, a solidariedade %artid(ria e de %arentesco, o sentimento da #onra traduzido em ódio e em e-termina'!o at" das galin#as do terreiro do ofensor, e um amor %ró%rio a %onto de só ac#ar su%erior o que era dos seus. )om todo o fulgurante corteo de %receitos estrelados engrinaldando o escudo de %au da fidalguia da fidalguia cabe'a&c#ata, cabe'a&c#ata, em forma de tartaruga$ diante do fulm0neo 8inai da lei dos nossos avós, com 5ois"s de c#a%"u de couro e garruc#a, e eov( de c#ile e es%oras, e coivara de ro'ado %or sar'a ardente, e t(buas de lei escritas com a %onta das %arna0bas, o desembargador soltava na cara da mul#er uma gargal#ada esvoa'ante e bul#enta como um bando de andaias devastadoras, e como Aar!o, %referia vir adorar na %lan0cie o bezerro de ouro, feitura #umana, recon#ecendo que só " admiss0vel a aristocracia dos mais inteligentes e mais educados cosmo%olitamente, e dos #abilmente lidadores. Por este lado valia o Afrod0sio, mas era abomin(vel o 6isconde. /ste, quando %il#ava o Osório nessas mar"s de gente nova, c#amava&o graceando7 *)abe'a erma de c!s e de riso*. 5ariin#a vivia resignada, muito amiga do %ai, e, Deus l#e %erdoe, enterrando no cora'!o, como um sa%o durante o estio, uma eterna quei-a da m!e. Fabiana um dia caiu na asneira de falar %elo claro, ( im%ando7 queria que namorasse o 6isconde e casasse com ele. A fil#a teve 0m%eto de res%onder7 Namore vosmec39 5as limitou&se a fazer como a rama verde ao toque da labareda. / a muito instar, su%licou7 : 5am!e, eu n!o me caso. : =avemos de ver. +olin#a9 : Fil#a de quem sou eu; : Pois ", %or isso mesmo... : Por ser sua fil#a, ten#o %alavra9 %alav ra9 disse com timidez.
80
: Gentes9 6en#am ver agora esta rain#a9 +ens %alavra, n!o ", 5aria; Pois bem, guarde&a, que " bem bonito. Aquele sarcasmo #irto de gente vel#a era irritante. A tens!o deliciosa em que vivia imersa a donzela, e a id"ia fi-a no )entu, faziam&na astuta. 6encia sem%re a m!e. Dizia&l#e %or e-em%lo, voltando 1s boas7 : 5am!ezin#a, confie em Deus. 6oc3 bem sabe que eu l#e quero bem. Pois ensine como #ei de fazer %ara agradar o 6isconde. /le n!o me gosta, quem n!o for cego que vea. 6oc3 bem me viu tentar muitas vezes... 5as eu n!o sei... N!o entendo de namoro... )omo " que se faz;... =ein; : +ola como o %ai9 : 5as como "; Fec#o o ol#o %r( ele; : 4ue ol#o, mul#er9 Faze... Derrenga&te um %ouco, amortece a vista, fala assim... : Assim como o gato no tel#ado; : 8im... N!o9 )omo teu %ai... 5as... : O que "; =ein; : )onversa com o 6isconde. Arre l(9 : 5as eu n!o conversei; : Faze de conta que ele vem e-%ressamente visitar&te... : Ofere'o fogo %ara o c#aruto e um c(lice de con#aque, n!o "; : Dei-a que te a%erte a m!o demoradamente, interessa&te %or ele, %ela sua sa
81
Ant>nia " que vivia feliz. Amada9 Ac#ava uma gra'a e-traordin(ria em tudo. Diligente. A Fabiana colmava&a de elogios %ela sua a%lica'!o 1 costura e ao labirinto, %elo cuidado com as coisas de casa, %ela brandura de g3nio, obediente, grata e boa, bem mandada, n!o indo 1 anela como no outro tem%o, n!o res%ondendo trombuda$ aquilo sim9 : Feliz o %ai que te gerou9 Deus d3 o reino do c"u 1 m!e que te %>s no mundo9... A ra%ariga era t!o estim(vel que at" o 6isconde %restava&l#e aten'!o9 / criminavam esta amorosidade dele9 )aluniosos9 4ue gente, meu Deus, o 6isconde era inca%az de abusar da #os%italidade9 Cm #omem temente a Deus9 / %or outro lado7 se fosse verdade, %odia faz3&la feliz, casando&a a0 com um ra%az %obre, com o seu dotezin#o e com %rote'!o %ara toda a vida. 5as era mentira. /nfim, Deus escreve direito %or lin#as tortas. / Fabiana ia sem%re direita ao alvo7 t3&lo %ara genro. Pulava %or cima de qualquer em%e'o. / tudo se descul%aria ao Afrod0sio, %orque n!o #( como a lógica da %ró%ria satisfa'!o e do %ró%rio interesse. 5anin#a, que vivia como o caramuo na sua conc#a, entretin#a&se em re%arar na vida nova da Ant>nia, como se estivesse incumbida de biograf(&la ou de %olici(&la secretamente. Cma ocu%a'!o %ara o seu es%0rito a%reensivo. Eogo ao aman#ecer, que a =onorata abria as %ortas, e entrava o arzin#o azulado e %uro de l( de fora, Ant>nia corria %ara o quintal. Atravessava o ardim e a #orta, e %enetrava no c#iqueiro das galin#as, desatando a correia da %ortin#ola rela-adamente engon'ada na cerca de fa-ina. Debatia&se ent!o no ar o branco volitar dos %ombos a descerem %ara o terreiro raso de mil#o que ela sacudia a manc#eias. )orriam %ara ela as aves, o %equeno e-"rcito galin(ceo encobria.a zona aliment0cia, a desfiar os gr!os %ela garganta adentro, engolindo gulosamente. Ant>nia %arecia m!e deles todos. A aurora %ara a %o%ula'!o do c#iqueiro. 8obranceira, como um gigante, na onda irrequieta e em%lumada, arengava ao mais forte que beliscava ao mais fraco, ral#ava com os atrevidos que %ulavam %ara ela vorazmente, sobretudo os sen#ores %ombos, que %ou& savam arrul#ando&l#e em torno ao %esco'o, fazendo cócegas com os %"s de coral na %ele nua. O sol ainda estava %elos tel#ados, e na cabeleira meio flava de um %" de oiti vizin#o cantava o galo de cam%ina. Ao fundo do quarteir!o, uma %almeira im%erial, lindissima e alta coluna, fantasiosamente dedil#ava com as %ontas das fol#as, no beiral de um sobrado, donde assemel#a&se que a luz cala. Pressentia&se o acordar das #abita'2es na sua alvenaria folgada e leve. Acolc#oavam&se %"s de fava na cerca do galin#eiro, e do c#!o %oeirento e nia e ei&la, corno um re%osteiro, %endente ao vinco da cintura, meio arroli'ado no ventre, meio cauteloso sobre o colo, onde " 82
%regado a bico de alfinete, e afastando&se um e a%ro-imando&se, 1 merc3 do ar, dos babados da saia. Cm arre%io de matinal frescura %ercorria&l#e a c
83
das florin#as incautas. / " nos dois cre%nia evidenciava&se ao sol, que descera at" aos seus sa%atos de marroquim. Da0 a %ouco os seus l(bios estavam da cor da crista do galo, e as faces com a ternura da rosa am"lia, e seus ol#os como um %ingo de verde&mar numa %"tala de asmim. Fec#ou sobre si a %ortin#ola do galin#eiro. 8acudiu o avental. )onsertou de novo o cabelo, foi ol#ar&se na cacimba, e soltou&o de novo. Eavou o rosto e as m!os na tina que a =onorata enc#ia. /n-ugou&se com o avental, e era um %razer v3&la esfregar com ele os bra'os que %areciam feitos de uma subst?ncia n!o classificada ainda, e o %esco'o, arrodeado de beios %or for'a da imagina'!o de quem a visse. O grito de Fabiana, tres%assando as %lanta'2es como uma seta im%ortuna, c#amou&a %ara casa, %erguntou&l#e *%ela saia de gorgor!o que ficou nas costas da cadeira*. Ant>nia veio devagarin#o. 5ariin#a ia. / a loira e a morena encontraram&se no meio do quintal, cada qual com o sorriso que l#e era %ró%rio. : 6ai aguar os seus craveiros, 5aria; : 6ou. N!o sei se o tio aimundo %re%arou o estrume. As fo, migas estavam roendo, mas eu botei algod!o... : N!o serve, menina9 8ó uma roda como eu fiz r@ sem%re&viva. : Para mim eu creio que nem isso, Ant>nia. /u sou cai%ora at" a t" com as min#as flores. : Pois esta c( " feliz at" com as galin#as. A min#a nin#ada est( que " um gosto. cada %int!o deste taman#o. Atrav"s das %lantas ouvia&se a fala biliosa da Fabiana, gritando %ela ra%ariga. /sta a%ressou o %asso, e correu, dei-ando a%ós si, como a catinga de certos animais, uma %eculiar emana'!o. 5ariin#a ficou um instante %arada, recebendo o #(lito feminil das flores. Figurava, como sem%re, ter a seu lado o )entu ou que ele a estivesse vendo. =avia escrito %ela terceira vez, la muito bem. /s%eran'oso, entusiasmado com o seu amor %ela )i3ncia. Parecia nem se lembrar daquela cuo %ensamento estava nele noite e dia9 Por"m os enlevos de amor, essa vida toda %elo im%al%(vel, na su%liciada menina, eram toldadas %ela id"ia feroz do ca%ric#o materno. /la estava no mais belo dos son#os acorda, l#e avan'ava essa id"ia, de dentes arregan#ados, e o seu cora'!o dava mais um grito de %avor. +in#a uma %asmosa sensibilidade %or todo o cor%o. Cma sim%atia imensa, adquirida, %ela natureza em bruto, e a%reciava o isolamento, a soledade naquele selvagem ego0smo de %ai-!o. No seu imaginar em%restava sentimento 1s %lantas, e foricava colóquios entre os seres inanimados, como fazem as crian'as com as
84
bonecas. A m!e ( l#e #avia dito que ela %arecia *ter %ai-!o %elo 8en#or Dom 6icente*. sto abalou&a no momento, como a queda de um raio, e 1 luz deslumbrante do rel?m%ago ela %ersuadiu&se de que a m!e leu&a toda %or dentro. 5as disfar'ou em sur%resa, %>de ac#ar nos l(bios uma dobra de riso, e de%ois no diafragma uma boa gargal#ada, e res%ondeu galantemente, com a incubada ironia das donzelas. : /ra só o que faltava... Nem %elo lustr0ssimo e /-celent0ssimo 8en#or 6isconde de 8!o Galo, mam!e, quanto mais... 4uando %asseava no quintal, ouvia trincarem as florin#as nos seus %ec0olos. quela #ora, em que ia em busca do regador %equenino %ara aman#ar as suas %lantas %rediletas, o vel#o crioulo aimundo, irm!o de 5!e Iefa, mas um %olo o%osto, e que " torto de um ol#o, ia e vin#a armado de dois enormes regadores que mergul#ava alternativamente nos barris do %" da cacimba, e alternativamente ia distribuindo %elas %lantas, de manso, camin#ando ora suave, ora a%ressado. )omo que sentia&se o cair das fol#as mortas e-%ulsas %ela selva, cuo 0m%eto a man#! desafiava. Para 5anin#a, corolas baforavam versidades de aromas$ corolas como borboletas fi-as, colibris abismados na %ró%ria contem%la'!o. e%ortava&se insensivelmente 1 idade infantil, e ao tem%o do )ol"gio, e cantava ingenuamente com a sua finin#a voz de crian'a7 *Acordei de madrugada Fui varrer a )oncei'!o /ncontrei Nossa 8en#ora )om seu ramin#o na m!o...J Ao %reto vel#o aimundo, ao ver a donzela morena, sur%reendia&se uma saudade com%rimida nas suas fei'2es de mono. /le %er%assava %ausadamente como quem conduz um defunto %ela al'a do esquife$ ouvia&se entre a rama de vereda em vereda, com as suas cal'as de azul!o, ao %eso de uma vida inteira de cativeiro, e rea%arecia, o cr?nio entoucado %or um len'o de ganga. / continuava a regar. Os fios de (gua tres%assavam em c#usma a ramaria delicada. A areia estrumada como que entumescia,des%rendendo um t3nue c#eiro de estrume e de esturro. Os ramos ficavam a gotear, e es%a'adamente, a (gua unta na %onta de uma fol#a, ca0a. A rega era a modo de uma vassoura de cristal fundido, a es%anar a %oeira que inquinava as %lantas. A terra das veredas %arecia u%ar ondeantemente, art"rias da circula'!o da luz sobre as ramadas. A #ortali'a, nos canteiros sus%ensos, afogava&se a meio na sombra, e a meio emergia no sol, e %or a0 adeavam borboletas brancas e amarelas. 5anin#a, entrou a matar as
85
lagartas das couves, de%ois de aben'oar as suas %lantin#as com a linfa do regadorzin#o verde. / de %eda'o em %eda'o, ouvia&se o grun#ir do carretel, seco e o des%en#ar da (gua no boo dos barris, ao bra'o negro da =onorata. O muro entrea%arecia, com as suas fieiras, a nu, refor'ado %elas %ilastras cuos lombos em%olavam na %enumbra. =avia um largo ogo de ensombra'2es, e tr3mulos de frondagens frescas. O %ino das altas (rvores fulminava ardente. Nesses toques de fogo e verde da clorofila %ulsava como um raro fulgor de %edrarias. =avia um saudoso encanto de florestas 0nvias. : )entu9 )entu9 : o grito surdo que se reme-e no cora'!o da morena. 4ue fazes; Aqui tamb"m #( a %oesia da selva, e mais a %oesia nia; Nessa infinidade de florestas mudas e %avorosas, sem o sol e sem mul#er$ que vales %ara esses #omens secarr2es que te acom%an#am e %ara os 0ndios bravios, e %ara as feras, e %ara tudo isso que " indiferente 1s tuas dores e 1s tuas alegrias; )entu ingrato9 )on#ece, no meu %adecimento e firmeza, como se " grande e forte9 )entu9 )entu, ingrato9... A garri-a soltava, no muro, aos saltin#os de cauda erguida, %ara o nin#o do beiral da cozin#a, o ru0do que a natureza l#e ensinou, semel#ante a fric'!o arrostada de um sei-o no outro$ e o vem&vem balan'ava docemente no macio do tamarindeiro, com o seu assobiozin#o afinado e afilado$ %equeninin#o feito de gema de ovo e de >ni-, coroado de ouro, um reizin#o a"reo e feliz. A ra%ariga, debru'ada sobre o canteiro, ( n!o catava as couves, e com a m!o no estrume, que estava afofando entre os %"s de coentro, acom%an#ava com a vista o voear de uma borboleta nas %rimaveras do al%endre. Kngela, de ciscador, lim%ava o terreiro, reunindo as fol#as e detritos em um mont0culo. O tio aimundo descansava um %ouco os regadores, e lan'ava um ol#ar con#ecedor %ara a #abita'!o, guiado %or uma vozeria, e resmungou %ara a menina7 : ( %ega o lel3, sin#azin#a. 5odelava&se, em fundo alteroso, a alvenaria da casa. Pela gril#agem miudin#a do %eitoril da varanda, cor de tel#a, oscilavam os sarmentos e as fol#as verde& escuras do maracu(&sus%iro, e uns bra'os, %or cord2es e varin#as, galgavam acima, com %retens2es de guarnecer o freste das colunas. Os largos ombros da Dona Fabiana %er%assavam de vez em quando, de uma %orta %ara outra, ( encobrindo alguns dos quadros e móveis da sala de antar, ( oculto. / ent!o, como se l#e en-ergasse bem o ol#ar l0vido e o car!o arro-eado, o %reto aimundo se escoava medroso %elas ramadas, e foi sentar&se na casin#a de
86
ban#os, de barro e zinco, c#u%itando no seu cac#imbo, anc#o %or estar fora do alcance da fr&se um crist!o de Deus se arreliando todo dia; Por mode qu3; )omo " que seo desembargador aguenta isto, sen#or; /u mesmo nem sei9 =um #um9 )#ega me d( um ve-ame9 O que " que os vizin#os n!o " de dizer desta mul#er, e da sin#azin#a; O#9 que mo'a boa. Nem %arece fil#a da sen#ora.. /ntra&l#e de re%ente %elo ban#eiro um molequin#o, nu, %erseguido %ela m!e, a Benedita, que o queria arrebentar com uma ac#a de len#a, sem que, nem %ra qu3$ talvez %or vingar&se da ama. O m0sero foi agarrar&se com o %reto arrul#ando numa vozin#a su%licativa7 : Dindin#o9 5eteu&se&l#e %ela rou%a, ac#ando no suor do cabra vel#o um c#eiro esquisito e bom. A Benedita, dei-ou&o de m!o, %or venera'!o ao crioulo. 5as este re%eliu a crian'a, obrigando a voltar %ara casa7 : que tu fizeste cousa, corno9 Passa Pa ssa ( %ra cima9 / o moleque re%etia7 : Dindin#o9 : Passa9 : re%licou o regadeiro, %egando num ci%ó. : O que est( dizendo, tio aimundo; : fez a 5ariin#a, que acordava do seu enlevo, e a%ro-imava&se da cacimba. Dei-e o moleque9 6ai brincar, Francisco... Ol#a, tira&me umas goiabas... 5as a donzela tomou um susto, com a voz da m!e, que assomava na varanda e gritava&l#e7 : 4ue est( tamb"m fazendo, sen#ora dona; : ( vou, mam!e. / virando&se %ara o moleque, tomou&o %ela m!o7 6amos. 4uero ver quem toca em voc3. 87
Aquela zoada era muito con#ecida em casa, e tolo " quem a estran#a. A Fabiana, usur(ria, %or um lado, e esbanadeira %or outro. 4ueria, %or e-em%lo, quando l#e dava na cac#ola, que a Benedita desse conta da %anela com dez r"is de al#o e dez r"is de %imenta. At" a len#a, dada %or contagem. O 6isconde %rezava&a %or isso, ele que, mesmo nos grandes negócios %ol0ticos n!o gastava sem o c(lculo %r"vio. 8e ele derramasse um saquin#o de ouro nas m!os da %lebe faminta que elege aos re%resentantes da na'!o, diz o Osório desiludido da sua candidatura a senador, " que estes n!o %assavam de %rocuradores de meia d
88
dentre os quais, como de folgadas unturas, surgia a claridade aqui e ali estrelando os combustores. O #omem sentia&se bem, com aquela %ers%ectiva da noite. As delicadas nuan'as da treva e da claridade, ora um %esado negror de carv!o, ora um sublime luzir de estrelas, e os mais melodiosos esbatimentos, os mais fant(sticos refle-os, uma frente de sobrado que subia vagamente, o interior arborizado de um quarteir!o, sombras coladas em sombras, a s"rie angulosa dos tel#ados, tudo se l#e desen#ava ao mais doce conunto, e um sentimento vago e dolorido %enetrava&o. Cm galo feria como uma estrela o escuro do sil3ncio, ao longe, sentinela a bradar as armas. s vezes quisera ter a sua mul#er e os seus fil#in#os. 5as era bastante abra'ar a Ant>nia, a Porcina, a Kngela, ou qualquer outra, e na id"ia do animal f3mea submergia&se a da es%osa. Ficava desconc#avado na atmosfera de um lar. /m com%ensa'!o as fam0lias ol#avam&no com desconfian'a. /stava com sono e dis%un#a&se %ara descer. Ao %egar na luz, corria um derradeiro ol#ar %elo com%artimento, o mais alto da cidade, %ovoado de sensa'2es amortecidas$ %ara a rede, %ara a esteira, %ara a mesa, onde num gram%o enrolava uma fita de veludo, atil#o do cabelo, beiava saborosamente a fita, e as sand(lias de mul#er, que aziam entre os obetos da mesa. Atirado na cadeira #avia um %ar de meias servidas, em cua catinga de suor feminino ele se absorvia. =avia mais uma ador(vel camisa de cambraia, cl?mide fin0ssima, com rendas de alto a bai-o, decotada, curta, sem mangas, %arecendo conservar um eito de seios. sso tudo ele tin#a ali, com%radin#o %or ele. /stava cansado de maquinar um meio de enc#er aquela camisa fora for a de #oras. Aquelas sensa'2es deslizavam num %lano inclinado, o coitado solto nele, rolava, e a velocidade, nestas soal#eiras, inda cada vez maior, quem sabe, a tro%e'ar no del0rio. O Afrod0sio tin#a o amor da Ant>nia, aviltado a %rinc0%io com o da Kngela$ e agora, o que servia era subir, subir at" 1s estrelas, no bal!o do amor. Ant>nia calculava subir at" ao casamento, iludida %elo e-em%lo ainda frescal, de um %ortugu3s que vivera com uma escrava e a des%osara em artigo de morte. Ant>nia cogitava tamb"m em um meio %laus0vel de dei-ar a casa da madrin#a. A inten'!o desta : e as suas inten'2es eram de ferro : era que a afil#ada só #avia da sair de sua com%an#ia, co m%an#ia, ou casada, ou %ara o cemit"rio. 5!e Iefa desem%en#ava %a%el im%ortante. Pro%usera ao #omem alvitres v(rios %ara arrebatar a ra%ariga e t3&la de %eito c#eio, sem #ora marcada. 5as nen#um era aceit(vel. Davam nas vistas. Cma terra %equena, " o diabo9 Ant>nia vivia no c"u. +udo a sensibilizava a boa %arte. 5ariin#a re%arava nela com tristeza. A Dona Fabiana queria cada vez mais a afil#ada. Aquilo sim9 =avia 89
ela de ser uma dona de casa, uma sen#ora, dando&se ao res%eito com os escravos, sem%re muito lim%a, e c#eirosa$ que noivo de m!o c#eia n!o ac#aria9 O o!o Batista babava&se %or ela9 Cm mo'o de u0zo, %ou%ado, um regalo, que %arzin#o de dar %encas9 Ant>nia estava mesmo de c#eirar e guardar. A carne a fazia feliz. De uma grande ternura %elos gatos, %elos c!es, %elas galin#as$ " cr0vel que ac#ava numa flor um segredo novo, uma beleza misteriosa e significativa. la ao ban#o, sozin#a, quase todos os dias. Passava l( um tem%!o, com sabonetes e (gua&florida. Dona Fabiana %erguntou&l#e a sorrir, donde l#e vin#a din#eiro %ara tanta coisa7 : O#, madrin#a, %ois o o!o Batista n!o botou na rifa aquela fron#a que acabei; /stava, %ortanto, ustificado e e-%licado. Cma obra feita %ela m!o de Ant>nia, rifada %elo o!o Batista, seria vendida a %eso de ouro. Cm dia a 5ariin#a, %ara mo3&la, %erguntou ingenuamente7 : 4ue fron#a " essa %ara render tanto; menina9 : Ol#e l(, cad3 essa din#eirama; 8ó nos frasquin#os de c#eiro, nos sabonetes, uma... : /st( bom, Am>nia, acudiu a 5ariin#a, ( %enalizada do embara'o da outra, eu estou brincando, n!o estou %edindo contas. Bem sei que "s uma ra%ariga e-em%lar, que n!o aceitarias din#eiro do... o!o Batista assim com um descaro de c>mica... : Por certo. : / ent!o; Para que come'aste a dizer o que com%raste; / de%ois, fosse como fosse, " teu, faze do que " teu o que te convier. : Por certo. : Parece que desconfias de que n!o sou mais tua amiga. Por que namoras o o!o Batista; Ora esta9 /u at" %oderia servir&lede onze letras, tanto a%rovo esse amor... %elo o!o Batista. A Ant>nia ia %rotestanto que *n!o #avia de namorar nunca esse ti%o$ que n!o sei que diabo tin#a, que n!o l#e entrava*$ mas acudia&l#e ao es%0rito ser necess(rio e vantaoso %ara o seu descanso de scanso ficar a outra na su%osi'!o.
90
5ariin#a feriu&a com um ol#ar rison#o, e malicioso, como um cardeiro com a sua linda flor, e foi estudar o seu %iano, cantando, aos saltin#os de valsa, corri no tem%o do col"gio$ e batendo %alma a ritmo7 *6irgem bela d(&me um beio, 8e me amas com ardor, D(&me um beio t!o&somente /m %rova do teu amor9* s dez #oras, a Kngela foi fazer o m"nage do galin#eiro, como era costume nos s(bados. N!o gostava daquela tarefa *%or mó dos cafutes*. O galin#eiro era situado em seguida 1 %u-ada, cuo nia, que ia ver os seus %intain#os. +amb"m, Ant>nia era a nia abominava um frangote roufen#o, que esgaratava t0mido a dist?ncia, como entristecido %or ideais ci
91
O grande %eru negro im%ara nas suas %enas v!s, %or entre aquela %equena #umanidade. )anin#ava maestoso %ara que todos o vissem. As carnia assobia, %ara v3&lo entoar o seu belo canto de corvo da f(bula, tossindo gl>&gl>&gl>. As frangas se com%razem na casquil#a com%an#ia do galo %im%!o que l#es arrasta a asa. As galin#as %oedeiras %assam com seu %ositivo con#ecimento da vida. 4ual se anin#a, qual se abebera no caco de %ote sob a %roe'!o da gravioleira, qual se es%oa na terra escandecida e fofa. Os frangotes %rocedem com um acan#amento de colegiais bison#os. Cm esgaravata na barrica do cisco, azente %erto da %orteira %or teira e esturrando ao sol, outro %rocura um derradeiro gr!o de mil#o enterrado, da ra'!o da man#!, e aquele cisca unto ao alicerce da cozin#a, numa areia gorda es%al#ada de cascas de abóbora e talos de #ortali'a. A um canto levanta&se tumulto %ela descoberta de uma cobra de duas cabe'as, que todos querem %a%ar. Pela anela da cozin#a o vento %u-a e desfia uma fuma'in#a va%orosa, e do %eitoril %ara o c#!o alarga&se na %arede uma fai-a encardida, esbo'ando no amarelo de ocre uma longa sil#ueta de res%ingos e de estrias, de (gua sua escorrida como %or uma boca abai-o. /storrica o terreiro
urubu. Ao galo, vem (gua nos ol#os, de medo, e ele, %assado o susto, ergue o %esco'o, com o ouvido alerta e a crista em%avesada. De%ois entra a ciscar, como se dissesse7 *N!o foi nada*. As aves tin#am corrido %ara o tel#eiro, que l#es serve de albergue. Pelo muro arrul#am os %ombos, frocados, e %elas traves, entrando e saindo de suas #abita'2es sus%ensas metidas no v!o da coberta em meia&(gua. meia&(g ua. Arde o zinco em cima, e %elos %eda'os da %arede de %al#a fervil#a a %assagem de algum %intain#o. Dos nin#os cavoucados no %ó macio e moreno acamados de toiro ca%im de gigo, irrom%e 1s vezes uma galin#a, em grita, fazendo ciente a Deus e a todo mundo que %>s um ovo ov o de suas entran#as. D( vontade de a gente se deitar na terra sombreada, e Ant>nia, tendo recol#ido uma %or'!o de ovos numa corbel#a, deseava tamb"m for'ar e sacudir&se. Cm ca%!o se l#e a%ro-ima, e ela avalia&l#e o %eso sus%endendo&o %elos encontros. Cns %intain#os correm %iando %ara ela e %elo %eito dos %"s, dei-ado a nu %ela c#inela rasa, ro'am com os biquin#os como fazem os %atos na flor da (gua. Os ol#os dela amolentam&se, 1 vista da grande luz que a tudo %enetra. Assalta&l#e um del0rio animal e es%orcado %ela recorda'!o que ela ( conta. 6"& se a titila'!o das veias das frontes e os seus dedos fremem at" aos ossin#os. O seu cor%o estremece, ao calor que descolora o limbo das fol#as e incendeia a cal dos rebocos. /la busca folgar ao contacto neloso da camur'a dos %intain#os. / dei-a&se cair na areia im%regnada do odor das aves sentindo os videntes segredos da solid!o. /ra como se fora no fundo de secular floresta, ou sob as abóbadas desertas de um tem%lo. Fervem&l#e os cinco sentidos, e ela estira&se no %ó. A natureza curva&a %ara a sesta. Ant>nia desaba sobre si mesma, como o teto de uma casa incendiada. / os %i%is l#e fossam na rou%a
93
cordas de cru( oco, abandonado, uma caba'a de ta%uia, onde, quando o vento d(, %roduz um assobio fnia #orrorizava como a uma coisa do outro mundo. )erta man#!, quando a loura ia %ara o ban#eiro, ele %>s& l#e o dito ol#o em cima, e a ra%ariga entendeu que aquele órg!o cego e innia se abrigava nelas, a do'ura daquele verde, o alourado das frondes maduras, o matiz da infloresc3ncia, o ar, a linguagem daqueles viventes, a indescrit0vel, a misteriosa, dis%osi'!o dos ramos e das fol#as, derramavam uma %rote'!o que ela n!o encontrava, nem na secura da mat"ria inerte, nem nos seres que t3m vista e ouvidos. De tamancos, a ra%ariga sumiu&se entre as bananeiras, com a toal#a dourada de cabelos soltos sobre a toal#a fel%uda que l#e abarcava as es%(duas. +in#a mais %eo que dantes. Acontecera, alguns meses atr(s, vir ao ban#o, de saia e cabe'!o, e toal#a mal %rotegendo o colo, mas agora nem %or nada. Ficou de %" na %ortin#a do ban#eiro, al#eada, bra'os cruzados, fronte recostada no umbral, em doce dorm3ncia. O bananedo agitava, sobre a associa'!o de %ilares lisos, os monstruosos %enac#os de %almas oblongas, enormes ramal#etes entressac#ando&se, com eleg?ncia de arcarias, de dóceis, de zimbórios imaginados.
94
O %al#i'o bril#ante dessas #elioc>nias, 1 guisa de l0nguas %ardas, subia do c#!o, a lamber o nia um acesso de nostalgia. )ontra a sua vontade, tin#a rubros assaltos de %eo, consigo mesma, figurando que estavam a ol#(&la. Por que n!o se criou no Outeiro com o %ai; +eria descon#ecido os a%aratos e confortos da gente rica, o verdadeiro tormento seu. +udo isto %oderia faltar&l#e de um momento %ara outro, e ela cair no c#inelo roto e na saia sua das ra%arigas da Feira9 Cma im%ress!o medon#a afogou&l#e a garganta. 5ul#er de feira9 6irgem 8anta9... Ainda %odia inventar um motivo qualquer, e buscar a com%an#ia do %ai, o mendigo o!o de Paula. Ningu"m adivin#ava. +in#a irm!os %equenos e irm!zin#as, uma quase mo'a. A madrasta morrera, ( se v3 que ia at" audar o %ai. 4ue vida no meio deles9 4uando #ouvesse o qu3, almo'ava$ sen!o, antariam$ e %or nia; )asar com aquele o!o Batista a quem abomina; A loura conservava o timbre r
95
Cm susto, %or"m, estremeceu&a$ o Afrod0sio iria bater l($ e ent!o a inf?mia invadiria a ta%era de seu %ai, o fundo roto das redes das suas irm!s, e cus%iria na fronte de seus irm!ozin#os. A#9, madrin#a Fabiana9 Para que introduziste este #omem na tua casa, onde a felicidade #abitava e donde mudou&se %ara sem%re; Desgra'ada madrin#a9 atiraste o osso ao c!o9 /ra %oss0vel que um 6isconde a des%osasse; /le tin#a dado a entender que n!o. / de%ois, contavam que ele e os outros, a gente endin#eirada, costumava %roceder assim. verdade que l#e ofereceu uma boa casa no Beco do os(rio, alta e es%a'osa, reformada %ela marca da )?mara, com mob0lia, %rontin#a de tudo. 5as diz que " assim que eles fazem mesmo. Aboletam uma ra%ariga inocente, frequentam&na %or uns tem%os, e v!o negaceando, negaceando, com esse desamor, a gente, que n!o " de %edra, vai gostando de outro, e de mais outro. )ai no v0cio. / vai se quei-ar ao 8em eito. Cm acesso de medo correu&l#e %elas untas, e a ra%ariga encol#eu&se toda. 5eu Deus, %or que " que n!o %odia c#orar; Por que " que n!o ac#ava l(grimas; Dantes n!o l#e era t!o f(cil; Aqueles ol#os secos a assassinavam, o cora'!o virava em brasa e a cabe'a tornava&se um coco ro0do da lua. =oe em dia, com que cara a%areceria ela ao o!o Batista; =orrivelmente des%eitado, e considerando&se inuriado, ele insultou&a numa carta em que dizia %elo claro todos os %assos ocultos da loura9 =istoriava diversos casos %arecidos com o dela. / dizia, como uns assomos de trag"dia7 *uma foi fulana, com o Doutor 8icrano, m"dico. 8abes que " dela; a )#ica de tal, com um a%elido indecente, e mora um m3s na 8anta )asa e dous na rua. Outra; Beltrana.* Assim %or diante. Ant>nia queimou aquela infame carta. / cada vez ficou odiando mais aquele #omem grosseiro que se atrevia a ofender %or tal modo os melindres de uma mul#er que, afinal de conta, n!o l#e devia coisa alguma nisso de amor. Bruto9 N!o com%reende a grandeza daquela fragilidade. : /sta %este, e-clamava ela, se fosse outra coisa, %oderia salvar&me. / vem com innia de Paula, am(sia do Afrod0sio Pimenta9 Na alucina'!o ouvia distintamente a voz encatarrada do miser(vel, e bateu subitamente a %orta do ban#eiro. )orreu a taramela, e o ferrol#o da %adieira e o de bai-o... 96
8ó, em frente do tanque de cimento, entre quatro %aredin#as caiadas, sob um teto sacudidin#o de teias de aran#a. O dia es%ionava %or esguic#amentos na cabeceira de cada tel#a. es%irou, e soltou um %rolongado e as%irado : ai de descanso. Acercou&se do banco de %au, corrido ao longo da %arede, e com um ador(vel %onta%" no ar, desfez&se dos tamancos, de couro e o!o&moleque, que fizeram soar como um sino f
97
6ia&se %or diversos modos, no es%el#o #orizontal. 5irava&se deste lado, daquele, estirava uma %erna, um bra'o, enrolava estes... descia um %" cerceando a (gua, sem feri&la, e via a %erna invertida... Admirou&se em v(rias %osi'2es, diretas e inversas... )om os diabos9 +in#a de des%ir&se, e vareou com a camisa %ara o banco. ntentou ver&se em %roe'!o #orizontal, mais ou menos %aralela com a flor da (gua... 8e o o!o Batista es%iasse agora gritava&l#e7 : Devassa9 Desequilibrou, e caiu na (gua. Foi ao fundo. /ra raso, naturalmente. Por felicidade n!o se mac#ucou muito... No tornozelo a%enas, na borda do tanque, uma %ancadin#a, que assim mesmo do0a como uma canelada. / retorcia&se gostosamente com a dor. Diabo9 sto a fazia rir e a fazia c#orar. N!o sabia que e-istia dor e %razer ao mesmo tem%o. / os ais catu%eavam aos inflamentos, ao arfar daqueles venerinos selos metidos na (gua. O que mais tem%o ela dei-ava fora eram as es%(duas, corcovada que estava %ara diante, a%ertando o %" mac#ucado. O cabelo, %arte boiava e %arte %regava&se em desordem naquela %ol%a de ombros que emergiam como em lu-uoso decote de vestido. N!o se l#e viam, ao todo, os bra'os, colados ao cor%o, e cortados, %elo lume de (gua$ e o sombrio louro do sovaco no aderir das carnes, mal denunciavam&se %or uma deliciosa lin#a terminando semel#ante a comissura dos l(bios fec#ados, semel#ante a um beioc(vel e a%etitoso cantin#o de boca. Foi estirando&se, desenrolando&se, como uma cobra, e mergul#ou ra%idamente$ agitou&se$ de%ois foi erguendo&se at" assentar 1 beira do tanque, de %ernas cruzadas. Branqueou&se, de %", sobre a borda, quase com a fronte nas tel#as, com a es%uma do sabonete$ %ulou %ara o c#!o, entrou a se desensaboar, tirando (gua com uma cuia. nstantaneamente aquela %al%itante imagem envolvia&se numa redoma de (gua$ como um rou%!o ao des%ir&se, a (gua descia no mesmo instante. m%rovisava&se de novo o cristal da redoma, e de novo ca0a, descortinando o %3lo todo, a gaze da idealizada vestimenta. /m derredor, tudo mol#ado. O sabonete, %ela metade. Novos mergul#os, e nova tem%orada de mol#o e de movimento. /ra bom que a ban#eira desse cam%o 1 nata'!o. N!o sabia nadar, mas com aquele %endor de %ei-e, aquela natureza instintiva e rudimentar nadaria como as alim(rias, sem ensino. )ome'ou a arre%iar&se. Fartara a sede de toda aquela %ele crivadin#a invisivelmente de %oros e de deseos. 8a0a demoradamente da (gua e de uma carreirin#a, como se #ouvesse agora muito %eo e vergon#a da sua nudez, foi acostar&se ao cabide, %ondo os %"s sobre um %equeno estrado, %u-ou a toal#a, cobriu&se %or diante, do seio aos oel#os, encol#ida, cingindo&se com os bra'os, como uma est(tua de 63nus. 8ur%resa. +remia de gosto, de %ro%ósito,
98
infantilmente, com os oel#os e com os bei'os, a si mesma e-agerando o frio. 8aturada de (gua. Cma lesma arrastava&se na %arede de, e encol#idin#a, como se l#e fugira todo o calor org?nico e sensual, meteu&se na camisa. /nt!o em%ertigou& se. Podiam v3&la. N!o lobrigavam mais que o roli'o dos bra'os, o co-im do decote, e o in0cio das %ernas. Agrad(vel sensa'!o %ercorreu&a, quando as formas se ac#aram %rotegidas %elo morim c#eiroso a trevos, en-utin#o e quente. / %assou a m!o cariciosamente %elo relevo das formas. +orceu os cabelos na toal#a, sacudiu&os, %assou&l#es o %ente. 8entou&se no moc#o, e descansando o tornozelo na co-a, esfregou os %"s, e meteu&os nos tamancos. /i&la de %", e avan'a nos res%iradouros, donde safa o casaco e a saia. Prontin#a agora. 8ente&se bem&estar, e ac#a a vida muito boa. Para com%lemento, devia ser noiva do 6isconde e sair com ele %elo bra'o a %ercorrer o quintal, readquirindo r eadquirindo calor, em um suave e-erc0cio de%ois do ban#o. )om%reendeu ent!o um ameno viver de sen#ora #onesta, com o seu maridin#o, amizade, amor, afei'!o, confian'a, res%eito. Cm raio de gra'a divina entrara&l#e. Por que n!o a des%osavam&na; / mais quem a queria; Da0, agora, agor a, ou 6iscondessa, ou... nada. / o corvo do remorso %eneirava sobre ela. Arre%endimento; m%oss0vel. A estrela que cai n!o volta. )asarem&na iludindo a boa&f" de um #omem de bem; /ste a re%udiava. )om um sem&vergon#a que a aceitasse conscientemente; 5etia noo. Antes a queda com%leta. / nesta ang
99
: / quem ser( o %ai, 5!e Iefa; : %erguntou a Ant>nia, assando castan#as no fog!o. A %reta arrebitou os bei'os. Ant>nia, com o rosto afogueado, revolvia as castan#as com o cabo da col#er de %au, e ficou imaginando. Ardendo, as castan#as figuravam uma fora de ferreiro asso%rada %elo fole. O óleo da %reciosa am3ndoa do cau fazia e-%los2es lind0ssimas, %roduzindo uma c#ama clara e forte, sem fumo quase. eme-ia&as, %ara assar bem$ retirava as %rontas, com%letamente negras, que largavam a fumegar. Deitava&l#e mais, das cruas, e a cada uma es%i%ava uma e-%los!ozita. Acabada a tarefa, amontoavam&se 1 beira do fog!o, as %rontas, com %ontin#as de brasa e esfumando at" esfriar. 5!e Iefa n!o res%ondia quem era o %ai da crian'a... Ant>nia desconfiou. : Por isso " que Kngela gostava tanto de ir l(9 )oitadin#a da mo'a branca, estava com o cora'!o denegrido instantaneamente. =orr0vel9 que sorte, que desdita, que desventura9 ival de uma cabra reles9 De uma negra cativa9 / ao derradeiro fumozin#o que esca%ava do carv!o das castan#as torradas %arecia fazer uma %ergunta %er gunta com os ol#os %asmos. O tio aimundo entrava naquele momento com os seus regadores, o ciscador, a %( e a en-adin#a de ardim. : 8i( +oin#a, quer que eu aude a quebrar; Aquela voz de #omem fez&l#e bem. /ra assim como uma %rote'!o, embora de um miser(vel %reto. : Obrigada, tio aimundo, eu mesma quebro. / segurando a castan#a, cora'Tozin#o alargado e de carv!o, entre o %olegar e o 0nde- da esquerda, batendo&l#e com um caco de tel#a, Ant>nia fazia abrir&se em bandas a noz e a%arecer a delicada am3ndoa ro&li'a, do eito de meia lua, alva e corada, metida numa casquin#a de %ele como uma ninfa da borboleta$ e sacudia&as num %rato. Alguma %rovocadora a mais, ela descascava e mastigava ali mesmo. Acontecia vir uma queimada, que ela guardava %ara lavar as m!os, ou alguma c#oc#a que era re%udiada. /ram as am3ndoas de cau %ara lardear bolos de carim!, que em casa estava um rebuli'o como em dia de farin#ada na ro'a. P!es&de&ló, bolin#os, bolo de arroz, bolo de mil#o novo, canica, assim só 1 v"s%era de um noivado. O acelero e o a'odamento em que a Fabiana %un#a os mais9 O tio aimundo, forneiro, ia deitar a len#a e acender o forno ao fundo da
100
cozin#a. Kngela, a batedeira de ovos, a %re%aradeira das massas como audante da sen#ora. O moleque oaquim reduzia as es%igas de mil#o, sentado no c#!o, com um ralo dentro de um alguidar de barro vidrado. Fabiana, de avental branco e touca, e mangas arre%an#adas, metia as m!os na bacia da massa de bolos. Cm %adeiro suarento. At" aos cotovelos, tin#a o branco da carim!. 5anin#a, o nia, Deus l#e %erdoasse, e %ela Kngela. / mais, que fazer; )onversava com o %ai, taramelava com os f?mulos, descarregava o bom #umor de donzela bem nutrida, era como as outras, na grea, no )ol"gio, nalgum %asseio. N!o fora mais ao )lube. /fetivamente n!o frequentava a sociedade. 8a0a com a m!e, a visitas da civilidade. Diante de gente de fora, mostrava&se %razenteira com a Fabiana. Birra contra birra. Assim como ela aguardava o advento do )entu, a m!e em%errava na seguran'a de que ela e o Afrod0sio viriam finalmente a querer&se. No seu cont0nuo raciocinar, o Osório entendia ainda que esse fen>meno que se %assava no entendimento da sua mul#er #avia de ser assim um es%"cie de %ai-!o retardat(ria, tardia, e-tem%or?nea, como atas em agosto, %elo Afrod0sio$ ou assim uma coisa assemel#(vel 1 %ai-!o de um %adre %or Nossa 8en#ora. Para engendrar inglesias de lógica e de filosofan'a ningu"m como o desembargador9 : 4ue ent!o, bolava ele, ela, vivendo na fil#a, casando esta com o dito, a%azigua&se. / coroava as suas dedu'2es, muito anc#o da sua ca%acidade, e-clamando sozin#o no gabinete7
101
: N!o tem nada, " uma nevrose9 6amos ver em que isto %(ra. "dea frou-a, doutor Osório$ o cavalo sabe o camin#o. Disse isto em voz alta, e a fil#a, que %arara o %iano naquele momento, foi a em%urrar&l#e a %orta, %erguntando %elo brando7 : 5e c#amou, %a%ai; /ncontrou&o de %", em atitude de qu0mico analista, que ele a%rendera do botic(rio, quando era morto e vivo l(. : /nt!o, me c#amou, ou n!o; : al'ava a menina a voz, segurando na %orta, com a cabe'a %ara dentro. : =ein; : 5e c#amou; Arre9 : N!o. /u n!o te c#amei... foi aqui... uma %essoa na rua, talvez... /nfim, ( que vieste... /nla'ou&a %elo %esco'o como se fora mo'a com mo'a, e beiou&l#e na testa. Pegou&l#e na m!o, beiou, e levou&a sobre o cora'!o7 : sto " o cora'!o do Doutor Osório, n!o "; O teu maior amigo, n!o sim%lesmente %or ser teu %ai$ que " erro %ressu%or&se infalivelmente que a %aternidade ou a maternidade s!o acom%an#adas, como o sol com a luz, da amizade real e verdadeira como eu a com%reendo. O la'o carnal " muitas vezes motivo de sus%ei'!o, n!o "; Cma coisa muito f0sica, muito sueita aos sentidos, e %ortanto a ac#aques. o caso de em%regar&se originalmente o baliro, adetivo sadio7 %ais doentes de nevrose, %or e-em%lo, devem con#ecer&se, e ter bastante bom senso %ara entender que s!o inca%azes de um amor sadio %ara com os fil#os, quero dizer, um amor sem %reconceitos, sem crises, em %leno desenvolvimento... : )reio eu, %or"m, que voc3 n!o est( com isso... : +amb"m eu... : / ent!o; Parece que est( #oe t!o namorado da sua fil#a; : verdade. O meu amor " grande realmente %ara contigo. 8entaram&se de frente um %ara o outro, 1 escrivanin#a. : Fa'a o favor de n!o me namorar tanto, sen#or9 /star( de nevrose; e sorriu como crian'a. : N!o. sso n!o " comigo. Passa a tua m!o %elo meu rosto, anda, %ela min#a fronte, e %elo meu cr?nio, que a tua %ureza se me filtre na alma. Assim... 5ais, ainda mais... Dei-a beiar&te essa m!ozin#a adorada. 102
: Por"m, n!o me dir(, o que " que voc3 quer assim t!o caidin#o; 4uerer( %edir a min#a m!o; /ntenda&se com a Dona Fabiana, a esse res%eito. : 4ue ins%ira'!o9 fez ele saltando da cadeira. D(&me um abra'o, tu adivin#as, " ustamente sobre isso que eu te queria falar. : 8obre isso; O qu3; A menina con#ecia quanto o %ai era desazado %ara com ela, %rinci%almente quando tomava um co%o de cervea. 8e fazia sim%lória, a fim de entrar mais suavemente %or aquele cr?nio de r(bula, e fazer o %ai discorrer com l#aneza e sem solavancos. : O 6isconde me deu a entender que te des%osar(9 A 5anin#a sentiu nesta not0cia, que ali(s n!o era de estran#ar, como que a maior sur%resa da sua vida. N!o %>de res%onder. Nem convin#a. Abai-ou os ol#os, assaltad0ssima de %udor, e de susto$ sentiu re%entinamente um mal&estar im%oss0vel de e-%rimir. Abandonaram&na %ensamento e memória. As %alavras do %ai ca0am&l#e %elas ou'as como setas seguidas, ou %edras lan'adas sucessivamente ao fundo soturno de um %o'o. Cm %eso queria tombar&l#e do cr?nio %ara os ol#os, um %ranto se acoc#ava nas órbitas como a (gua na m(quina #idr(ulica, as entran#as e os %ulm2es %areciam com%rimir fortemente os m
103
la acrescentar que ele devia era receber a Ant>nia em casamento, se " que era *#omem*. ( a Kngela, %un#a&se de %arte, era cativa, e ele cabra. a dizer mais que l#e adivin#ara o %lano$ fazer %resente da Ant>nia num ma'o de din#eiro, ao coitadin#o do o!o Batista$ e quanto a ela 5anin#a, como seria udiada, sendo feita mul#er de semel#ante indiv0duo9 Por"m calou&se. / c#oraram, sem qu3 nem %ra qu3, o %ai sobre o %eito dela, ela sobre o %eito do %ai. : eov( devia ser coisa muito ruim, %orque isto foi feito 1 imagem e semel#an'a dele9 : blasfemou o Osório, abanando a cabe'a. 5ariin#a soltou&se de snica. A mesa, ali %elas nove #oras, %residida %elo /-celent0ssimo Presidente da Prov0ncia, o desembargador fez ao 6isconde um brinde cam%anudo e entusiasta. Foi o mais li7 on"eiro toast que o anfitri!o recebeu %or aquele anivers(rio. Kngela %assou a noite fora. Andou ruando. +in#a sa0do com licen'a, gostosamente concedida %ela Fabiana, %ara sambar com os escravos do 6isconde. No outro dia estava e andava %or tal modo a rir que %arecia uma sem& vergon#a. : +u n!o me dir(s at" quando vais com esse desmanc#o, criatura; gritava&l#e a Benedita. O certo " que ambas ca0am na gargal#ada,sem saber %or amor de qu3. sso de riso e c#oro entre mul#eres " assim mesmo. Benedita estava tirando c almo'o, no fog!o, de manga arrega'ada, em%un#ando a col#er de %au. Arrastava a ca'arola, e ordenava %ara Kngela que fizesse rogo *essa farofa*. A outra n!o sabia orde estava a manteiga. : Pois tu n!o a trou-este neste instante, mul#er; Diabos te leve9 : / agora9 : fez a cabroc#a num mu-o-o. : Anda buscar a c#aleira de (gua fervendo9 O sen#or quer almo'ar cedo9 A cabrita foi %egar a c#aleira, %isando duro com os calcan#ares e me-endo com os quartos e com os cotovelos.
104
: 8ai da0 arrebitada9 : gritou&l#e a Benedita com des%rezo$ e virou a cara %ara n!o dar demonstra'!o de que estava estourando %ara rir. Kngela embicou a (gua fervendo %ara um %rato fundo, a%licou&l#e manteiga a dissolver, e entrou a resfri(&la um tanto, com a col#er. +em%erou com cebolas e coentro, e deitou farin#a aos %oucos at" formar um engrolado. Ambas, ela e a farofa estavam fresquin#as e quentes. Cma vez, isto antes de con#ecer ao Pimenta, Kngela quase afoga&se gargall#ando assim, mesmo 1 cara da Benedita, com grande desa%ontamento %ara esta, que enraivecia (, com as a s suas fei'2es sangradas e ro-as de s0filis7 : De que tu te ris, grand0ssima cac#orra; : berrou a cozin#eira. Kngela curvando&se ao %eso do acesso nervoso, am%arando os %eitos com as m!os, buscando f>lego, res%ondia&l#e no cacareo do riso7 : /stou rindo... da tua cara... / %erdia&se de novo na vascoleo do riso. Por isso " que as com%an#eiras a c#amavam sem&vergon#a e l#e queriam bem. Naqueles bons tem%os em que o Afrod0sio l#es era ainda descon#ecido Ant>nia fazia&l#es com%an#ia e nessas ocasi2es de destem%ero de riso e fala era&l#e tol#ida, 1 loura, %or %ouco mais a um nada. Para %roferir a %rimeira %alavra re%etia a %rimeira articula'!o uma r"cua de vezes, e a s0laba sumia&se na catadu%a convulsiva carregando o %er0odo inteiro. Pronunciava %alavras que e-%lodiam ao inflar das boc#ec#as, e delas que eram um gagueamento. A fisionomia, u%ada %or momentos, vinculava&se como as co-as de um menino gordo, vascoleava, e os ol#os vazavam lacrimeo e-%rimido, o suor acudindo a flu- do cor%o todo, e as ventas entu%idas. Baba&te, deses%erada9 gritava&l#e a Fabiana. ( est(s com o demo no couro, Ant>nia9 Kngela sem%re teve for'as e boas dis%osi'2es %ara o servi'o, #abilidade, e quando queria, ningu"m mani%ulava mel#or %it"u. 8e, %or"m, aman#ecia trombuda, ai meu Deus que desadoro9 /ra um dia de u0zo. +udo malfeito, alin#avado, escaldado, sem a%uro, sem eito, %or modos que l#e diziam7 *Dei-a isto$ vai&te embora.* Ol#ava ent!o fi-amente, abai-ava os luzios, metia&se no canto, ulgando&se inutilizada, e quando davam f" estava embiocada com a cabe'a escondida nos bra'os, de cócoras, derretendo&se ao sol do des%eito. : Ai gentes9 Acudam esta manteiga9 Ol#em mingau %ra Nen"m9 / a dona Fabiana, cantava numa toada %o%ular7
105
*A gente do )ariri +em ol#os, n!o tem %estana$ E( vem o carro cantando )#eio de ol#os de cana*. 5!e Iefa, a bem dizer, criara Kngela, e Ant>nia. A loura tin#a l( os quindingues dos brancos. 8e l#e davam os %ruridos maternais, que sói acometer as est"reis, %rinci%iava 5!e Iefa a narrar como Kngela nasceu, que todo mundo viu logo ali uma nen"m como n!o #avia de brancos. Bonitita, gordita, vivin#a, com umas manc#as ro-as nas n(degas, com uns bugal#os de gente grande e um c#oro dengoso de matar. /smiu'ava anedotas da inf?ncia da cabrin#a, abstendo&se discretamente de falar na m!e dela, que era uma coisa triste, %ois fora uma negra ruim, ladra, muito atirada ao mundo, %elo que, embarcou %ara o sul. Ant>nia viera, da casa do %ai, ainda %equenita, e assim era beiocada %or todas as donzelas da vizin#an'a, t!o rec#onc#uda era$ nos frenesis, c#egavam mesmo a fazer&l#e udia'2es. Parece que as mo'as cada uma delas tin#a %ara si que a Nini era sua, arrancada de suas entran#as %elo milagre de uma concei'!o su%ositiva, como em vadia'!o de bonecas. Naquele dia imediato ao anivers(rio do Afrod0sio, Kngela teve de su%ortar um %ar de bofetadas que l#e atirou a sen#ora7 Dissera&l#e um desaforo %or cima do ombro. : /s%era que te abai-o o fog!o, cabra9 /st(s com muito g(s9 / foi&l#e aos bei'os, que o sangue es%irrou. 5!e Iefa entrou com as suas fun'2es a%adrin#adoras, com o seu valimento %erante a sua e-&sen#orin#a, e a coisa a%lacou&se. : +ome cuidado com essa cabra, Iefa9 %ersurou a sen#ora. Ol#e que um dia eu mando surr(&la no tamarindeiro, de fundo %ara cima9 / #( de ser %elo )#ic!o9 A cabroc#a estremeceu de #orror e de medo. A %reta idosa entrou a sermonear que uma %essoa cativa n!o " como os forros, uma criatura deve trabal#ar %ara ser boa, ou ao menos fingir, sen!o adeus carta de alforria. 4uem quer %egar galin#a n!o diz c#2. / citava e-em%los, entre os quais deslumbrava sem%re o seu, uma #istória enoada, muito longa, que era ver umas %(ginas do Fios #anctorum. #anctorum. Cma santa m(rtir aquela sen#ora idosa, de c
106
)omandante 8u%erior Fulano, 8eu 6ig(rio Padre )#iquin#o, negro vel#o mestre Ant>nio, bons invernos, maus ver2es de um rol de vezes, gado morrendo, cavalarianos de Pernambuco, e coisa, e loisa7 vendida %ara a )a%ital, %restes a dar a volta do 5ucuri%e, esca%ando %or se ter valido aos %"s de Dona 8icrana que l#e goderava as a%tid2es$ de%ois, a viver de cozin#eira e engomadeira, o mial#eiro de barro$ " muito no finzin#o o dia da alforria, em que n!o falava sem regar&se de l(grimas de alegria, que eram uns diamantes naquele carvoedo9 Kngela, amuada a um canto, escutava. Assova&se, e-%elia as nia, onde foi confessar&se com um santo lazarista. )om %ouco, atroava na camarin#a, o abrir dos gavet2es %u-ados %elos seus bra'os em%oados, e quem a con#ecesse tin#a&a agora em imagem com o seu afogadil#o de seda %reta e o seu %ente de tartaruga, e na m!o, enrolado como luva de sa%ateiro, o ros(rio de vidro, de crucifi-o e ver>nica de ouro. /m camisa e saia, abeirou&se da cama, tirou os sa%atos, de couro de lustro e fivela, as longas meias %retas, e bradando bra dando %ela Kngela. )om a %orta entreaberta, e-%un#a ao ar, %osto no outro oel#o, o %" direito, congesto, com os seus calos abugal#ados, e re%assava, 1 guisa de serrote, a meia %or entre os dedos suados7 : Gentes9 5ode coisa que estou com um bic#o... %roferiu, fitando as carnes do %". / c#ilrou7 : Kngela9
107
A cabroc#a ia cair de novo em gra'a, de%ois da rusga do bofet!o. : Kngela9 6em c( min#a fil#a9 Por debai-o de seu dedo grande %arecido com uma cabe'a de calangro, #avia realmente um %ont0culo azulado, numa rodin#a l0vida. : )abra dos trezentos diabos9 Ol#a se o assoal#o tem es%in#os9 O ol#o do %ulgo, ( ta%uru, se l#e arregalava c0nico na %ele aquecida e vermel#a, com um %rurido insu%ort(vel. A dona re%u-ava o dedo ofendido, escangotando& o como se faz ao %esco'o de uma galin#a que se quer sangrar. Pes%egava&l#e dedadas acariciadoras de saliva, e co'ava infantilmente. O marido entrou&l#e %elo quarto7 : 4ue " isto, Fabiana; : um bic#o, #omem. 63 se mo tiras9 : Ora9 At" eu gosto quando eles me entram9... Fil#a, a gente deve temer " aos bic#os que n!o en-ergamos. +u vens da grea;... /u quero que arranques o bic#o " 1 Kngela e 1 Ant>nia9 : 8ai daqui : fez a mul#er, disfar'ando um arre%io de %avor. ( te afiancei que " isso cal
108
: O servi'o que l#e %osso %restar %elo momento, galanteou, " e-aminar esse odor0fero e-tremo da sua torneada %erna, e descobrir escru%ulosamente o que #( no seu martirizado dedin#o. : 6ai&te, #omem, que estou em gra'a de Deus. N!o me fa'as %ecar9 : 8im, o# c?ndida e %ura alma confundida com a min#a9 : %erorava ele, ( na %orta. /u te dei-o a sós com o cruciante inseto %arasita. A dona estirou&l#e, com um gesto de des%eito, um : v( bugiar : que acom%an#ou o vel#o uiz %acato e sorridente, %elo corredor afora. )om %ouco, a %orta afastou&se, e Kngela assomou, com o seu vestidin#o de riscado e o avental escuro. Osório veio atr(s, com ares de noivo, l"%ido e dormente. Kngela agac#ou&se, desenfiou um alfinete, e a%licou atentamente os seus belos ol#os castan#os nos dedos secretores do c#ul" da ilustre sen#ora. )om a m!o esquerda intumescia a resid3ncia do %ulgo c#uc#a&dor, es%remendo a carne. Da0, t!o airosamente esgarafunc#ou, %ac#orrenta e amor(vel, com uma a%lica'!o de m0o%e, que, ao cabo de instantes, se retesando sobre os oel#os dobrados debai-o do colc#!o dos quadris, %atentou aos quatro ?ngulos da camarin#a, na %onta daquele alfinete que tantas vezes mordera o %ec0olo de flores, um caro'in#o alvo, invis0vel quase7 : /is aqui o bu-o9 : bradou. Ali estava o tormento da matrona, dado 1 luz, morto, como a cabe'a do gigante na %onta do alfane do menino Davi. No dedo ficara a%enas um buraquin#o muito bem feito. Kngela tirou cerume do ouvido com a curva de uma gram%a e entu%iu a e-&resid3ncia do %arasita. A sen#ora c#u%ou um sus%iro de satisfa'!o, mas n!o se atrevendo a enfiar imediatamente o %" na c#inela, saiu %ulando num %" só, a alcan'ar o cabide %ara tirar a rou%a de casa. Acenou 1 Kngela que se retirasse, e disse que queria 1 noite lavar os %"s com cozimento de malva, %or mó de umas coceiras. O marido, em %aletozin#o de seda e cal'a %arda, foi assentar na mala de %regaria. 8em%re que, em certas dis%osi'2es de es%0rito, %resenciava em meia nudez o cor%o da mul#er, subia&l#e ao nariz o e-tinto aroma e a se%ultada sensualidade de dos bons tem%os... /la disse&l#e7 : Fa'a o favor de sair, sen#or desembargador.
109
/le n!o res%ondeu. Ol#ava&a. : )omo vai o buraco do bic#o; : fez ele, com indiferen'a. : )o'ando. : =( de sarar. N!o v( esfregar o %" que a%ostema. : N!o %reciso de li'2es, agrade'o os seus cuidados. : ealmente, %ara essa es%"cie de %arasita, " dis%ens(vel a interven'!o da medicina. =(, %or"m, uma outra que, sa0do o bic#o, n!o #( cera de ouvido, nem de moral, nem de religi!o... : =( o din#eiro, sen#or doutor9 =( o din#eiro, que sara a #onra, sen#or desembargador9 arremeteu a sertanea indignada. : 8im, o din#eiro que salva as almas 1 m0ngua de virtudes. : / que faz os burros botarem cabrestos nos doutores9 =( o din#eiro, sen#or doutor, que faz os bac#ar"is %obres casarem com as matutas ricas, desmioladas9 : 8afa9 que eu n!o es%erava %or este momento l
110
=avia ao %" do criado&mudo um trinque desocu%ado, servindo a%enas %ara de%endurar a azel#a de uma sacola de americano, %arecida com uma bolsa de confraria, abarrotando rou%a sua. /ntre as estam%as da %arede, coloridas, uma fai-a de sol, da tel#a de vidro, ban#ava a 8anta B(rbara, com a %alma do mart0rio semel#ante a um ol#o de %almeira$ o 8!o oque, de cabe'a a tiracolo, a%ontando %ara um c!o a lamber& l#e as c#agas$ e a 8anta osa de Eima, ao %" da roda de dentes que a serrou em vida. 5ais adiante 8anta )ec0lia, tocando Hrg!o$ 8anta sabel, rain#a, com o avental c#eio de biscoitos, que viravam em flores ante maridos sovinas$ 8anta Euzia, com um %ar de ol#os no %rato e outro no rosto$ 8!o 5anuel, advogado da %aci3ncia, nu, atado a uma (rvore, e varado de setas como seu vizin#o 8!o 8ebasti!o. Cm m(rtir virava sobre uma grel#a em brasa. Num fei-e de claridade celeste, entregava&se 1s del0cias do amor divino a freira +eresa, absorta, enlevada, e-t(tica e feliz. Fabiana %asseou um ol#ar %or aquilo tudo. )om%enetrou&se de estar em gra'a de Deus, re%etiu o ato de contri'!o aoel#ada ante a c>moda. *8en#or meu esus )risto, Deus e #omem verdadeiro, %or serdes 6ós quem sois, t!o bom e digno de ser amado... Abriu, de%ois, as %ortas, adotando um arzin#o meditativo. O dia, invadindo o a%osento, desfez a fantasmagoria das r"stias no oratório, e as estam%as da %arede e-%un#am&se agora no sim%les qualificativo de litografia de carrega'!o metidas em cai-il#os envernizados, com vidra'a %or diante. Fabiana saiu %ensando se n!o #averia um santo advogado %ara o mal de bic#os, visto como os #( %ara de garganta, o de madre, o de ol#os, es%in#ela ca0da, quebranto etc. etc. =( tanta gente cambada9 Afrod0sio, 1 anela do seu mirante, 1s #oras de um dia ardente e ventilado. O c"u deliciosamente azul, e mais um azul e-tasiante, %airando %or cima da cidade, querendo abocan#(&la. 5uito ao longe, recortava&se no ocidente, um gru%o de %equenas montan#as, sob os va%ores informes. Debai-o da anela, es%al#ava&se %elas tel#as um %un#ado de flores murc#as. 6entava %ouco. Ardia o sol ao contacto dos seres. Do meio de um quarteir!o subia o cor%o de um castan#eiro antigo, e aquela enorme fronde refrigerante, %ara onde convergiam os euros, aquele %al(cio vegetal, bebia os ol#os saciados do Afrod0sio. 4ue boa vida a das aves que volitam, sem #averes, sem teres, sem devedores nem d0vidas, sem casa, sem rou%a, a agitar&se no azul e no verde livre9 5as o c#umbo e a gaiola; Boa vida seria n!o viver9 N!o9 re%licava o 111
#omem a si mesmo. /m um universo onde #( uma ra%ariga do saber da Ant>nia, n!o #( sofrimento que se n!o su%orte, n!o #( dor, n!o #( gemido. As edifica'2es levantavam a fronte umas %or entre as outras, anin#ando uma %o%ula'!o de mil#ares de almas, de cua e-ist3ncia subia o ru0do a%enas. a%e nas. Do acervo de tel#ados, avistava&se, nalguns %ontos, a arboriza'!o das %ra'as. +ranseuntes amesquin#ados com a dist?ncia. Numa %aragem, dentre o vermel#o da coberta abrol#ava um mirante caiadin#o. /m trec#os de fac#ada bordavam&se gradis de varandas. 8e devassava, no quarteir!o, ao %oeiramento solar, uma zona de quintais sulcada de muros %aralelos aqui e ali ocultos %ela vegeta'!o, num #orizonte de tetos de (s%eras angulosidades e reentr?ncias. A luz a%licava&se como uma ra%ariga %ec#osa em n!o %erder um %ontozin#o a sombrear ou a iluminar, e o embei'amento das tel#as era uma s"rie indefinida e sucessiva de %lanos inclinados e confusos %elo conunto, embicadin#os. Ora %areciam canutil#os, ora umas telas encres%adas, frisadin#as, onde se %oderia bordar gigantescamente com o retrós da -antofila e da clorofila das (rvores, com os fios de ouro do sol, com a seda escura das sombras, e com os sal%icos da %lumagem dos %(ssaros, e debruar com o armin#o das nuvens, e enfeitar assim o manto azul da cidade. Da0, o 6isconde imaginava&se no sil3ncio da sala de visitas, em cuo ?mbito seria usti'a que Ant>nia viesse a dominar. /ncamisada, %elas #oras de luar, a vidra'aria aberta, em alv0ssimas rendas %er%assadas de fitin#as cor&de&rosa, como seria rom?ntico. /le devia t3&la como es%osa, ali, onde as cortinas trans%areciam levemente arrega'adas, meio velando os %udores do recinto, %resil#adas em ma'anetas de doirado fusco. Os elegantes consolos negros, sobre o m(rmore das l(%ides em branco, seriam uns tnia rolaria nos ta%etes onde correm (rabes a cavalo %erseguindo cor'as$ veria o invis0vel arfar dos ramal#etes nos arros cor de creme, ouvindo o tlimtlim dos %ingentes tocados de luar e de brisa no grosso candelabro que desce dos flor2es do estuque. De dia, #avia de arrastar o longo vestido branco, fazendo sala, e das %aredes forradin#as de verde com colunas de trigo dourado, e dos grandes es%el#os beirados de cai-il#os de tal#a, que sorriem de luz, e da vidraria de cristal, e de tudo, manaria um fino sabor de nobreza. Nos devassamentos de sol matutino, como um gato mimoso de nariguin#o de %itanga e la'in#o ao %esco'o %rendendo um guizo, ela deitaria nas alfombras em%alidecidas. Ostentaria valor inestim(vel, fronteiro ao dela, o retrato que ora inda e-istia entre as duas anelas$ des%en#ado %ara o es%a'o, #abitando numa moldura vistosa, em grande uniforme de galo %im%!o de crista alevantada, oferecido %elos oficiais da guarda nacional ao 9lustr2ssimo #enhor &oronel &omandante #uperior , naquele tem%o frod2sio tem%o frod2sio +imenta &arne;iva, ;iva, pelos seus merecimentos e amor $ p@tria. p@tria. As %u%ilas da %intura, muito abugal#adas #aviam de estar %regadin#as constantemente, nas do retrato da
112
Ant>nia. / a es%osa, tarde viria dar bons dias ao sol, e cedo bateria as %ortas e almeava boa noite 1s estrelas. CAPÍTULO 3
/m uma de suas cartas indagava o )entu se ( estava conclu0do o Passeio Pnia o ai 5esus9 5esus9 da 5am!e; Pois %egou a ficar ruim, mal ouvida, e %ediu %ara %agar semana, at" que uma tarde, muito %im%ona e bem vestida, veio com din#eiro %ara se forrar. sso #( cerca de seis meses. Dera 1 luz na semana %assada, em uns cafundós do Beco das +rinc#eiras, donde se dizem coisas que mo'a n!o %ode ouvir. 5am!e estava arre%endida de a ter alforriado, %orque ficou sem a cria. O tal de Afrod0sio %ouco ia l( em casa, a%esar de que mam!e c#egara a %ontos de me sacudir nas ventas que eu casava com ele e por força ou por vontade . /u tive uma raiva9 Ora voc3 ( n!o viu; /la obriga a ningu"m l( o qu39 Por"m resolveu n!o dar cavaco. < como se n%o fosse comigo. comigo . Devia res%onder como a Ant>nia, que tamb"m queriam casar 1 for'a com o o!o Batista. : Diabo " quem quer9 Da0 a 5ariin#a fartou&se. 5as n!o disse o que deseava. /ntretanto, o %rimo veio ao )ear( antes do que se %ensava. Arribou ali %elo meado de novembro, ac#acado de berib"ri. Cm g(udio %ara a Dorzin#a9 5as a %rinc0%io, quando o %ai mostrou&l#e o telegrama do Par(, em que o ra%az dizia #igo doente =ortale4a, =ortale4a , ela sentiu na alma um %rofundo gemido. maginava&o morto nos seus bra'os, e ela, como a 8en#ora da 8oledade, iste, c#orosa, inconsol(vel, deseava realmente sete es%adas que a trans%assassem %ara o outro mundo. 8on#ou que morriam ambos, e iam %ara a mesma se%ultura. /ra daquela natureza o son#ar& se feliz, mesmo na maior desgra'a. 5as qual9 O )entu desembarcou andando, a%enas arrimado 1 bengala. +razia um terno de casimira cor de caf", %aletó curto, e c#a%"u de %al#in#a. Parecia um cai-eiro de mercearia. )amin#ando devagar, firmando o bast!o a cada 113
%assada, as %ernas muito moles, bambeando ao mud(&las, e envergando o tronco %ara tr(s ao assentar o %", era mesmo de %rovocar o riso. 5as a 5ariin#a, que estava na anela, quando ele a%ontou na esquina, teve um 0m%eto de dor. 4ue %ena9 )omo ele foi, e como ele vem9 : /u bem dizia9 63&lo assim e-%osto aos ol#ares indiscretos, com uma mol"stia que faz o andar t!o rid0culo. As anelas eram altas, e ele de longe con#eceu a casa %ela frente de azuleo, e %elos drag2es de cobre da cornia. Abriu um sorriso quando sentiu o ol#ar da 5ariin#a, e ac#ou logo um encanto e-traordin(rio num %eda'o de bra'o nu que ela debru'ava na anela. / que m!os, que %areciam entrar&l#e %or dentro e reme-er na bagagem do %eito, e-aminando, %esquisando tudo, a ver se #avia algum afeto estran#o9 Parecia n!o fazer caso de si, e era toda ol#os %ara ele. Notou&l#e bem a vista lego. Deu um assobio de satisfa'!o, e um ar de bem&estar7 : Agora sim... isto " outra o utra coisa... )aramba, estou cansad0ssimo. : +oma um c(lice de vin#o; : Obrigado, sorriu o mancebo, com a cabe'a reclinada no es%aldar da es%regui'adeira. : Faz favor de tomar o vin#o9 re%etiu a menina. : )oragem, menino, isso n!o " nada9 animava o Osório. : Ora, fez o doente enfadado e cansado. /u bem sei. / mesmo... agora ( %osso morrer9 : N!o9 assustou&se a 5anin#a. Agora " que voc3 #( de viver direito9
114
: 4uem mo garante; /la res%ondeu num ol#ar. 8eguiu&se entre os dois uma fase de combate. /ncontrando&se de novo, e-%andiram&se mais familiarmente, e ardentemente, e cada qual estava curioso, ve-ado, e-cogitando %or meios indiretos, %or ver se o outro era ainda aquele dantes, se n!o sobreviera alguma erva danin#a, se a afei'!o revigorou na saudade... e 1 medida que a dnico. Os dias de en>o, o tratamento de bordo, com um disfarce de admir(vel sensatez. Ficou falante, como o n!o era sen!o raramente. A alegria assoberbava em id"ias e em verbosidade. : /nfim, o que me trou-e de l(; inquiriu docemente, com uma es%eciosa melodia de canto de ave. 5uita coisa, que eu mesmo nem sei. 8!o de nomes todos ind0genas... aman#!. +en#o um vocabul(rio, que organizei, com as e-%lica'2es que %ude col#er. : +rou-e alguma coisa do que levou; /le esteve em n!o com%reender. : ( sei que ficou %or l(... )om a sur%resa de ter entendido, subitamente ele bradou7 : +rou-e, trou-e. Pudera n!o9 +al como foi. : Direitin#o; 115
: Direitin#ozin#o. : 4ueira Deus9 O %ai entrava sem%re no cavaco, se #avia brec#a %ara uma senten'a. 6eio um moleque, tirou as botinas ao doente, e mudou&l#e as meias que estavam nia, do m3s das almas, que se fazia no 8anto )ruzeiro, tendo sa0do de casa antes do antar e andando n!o sei %or onde, ficou desa%ontada %or ver o sobrin#o instalado em um quarto, comunicando com o gabinete, e mais o Osório, que %or esse modo abandonava a c?mara nu%cial. +eve 0m%etos de %erguntar se a sua casa era ranc#o de comboeiro ou de %aruara. 8e o sen#or seu marido estava autorizado a meter em casa um ra%az solteiro, cuos costumes n!o eram con#ecidos, que andou %or esses mundos de meu Deus, com toda casta de gente. 8e... A 5ariin#a, %or"m, fez um ogo di%lom(tico e fino7 : 5am!e, o %rimo )entu, sabe; )oitadin#o, teve um ataque9... aqui em casa... +rou-e %ara o 6isconde uma %or'!o de %resentes9 das %rimeiras %essoas de
116
5anaus9 5am!e sabe que o dever de #os%italidade... O %a%ai, %egou, e disse a ele7 5enino, fique aqui, ao menos %or #oe... : Pobre ra%az9 fez a Fabiana comovida. Fizeste bem, fil#a. /le antou; / o que " que ele trou-e %ara o 6isconde; : 5am!e, ele antou, mas coitado... : Deitou fora; : +udo9 ( veio o doutor. Disse que foi do abalo... 5as n!o #( %erigo. Diz que o berib"ri faz isso mesmo. : Pois sim. 4uando eu acabar de mudar o vestido, vou v3&lo. Previne&o, #ein. : Pa%ai est( l(. /st!o lendo as fol#as de #oe. : 4ue trazia ele %ara o 6isconde9 re%etia a matrona. O )entu e-%erimentara um grande al0vio estirando&se na rede, enfron#ado num c#ambre de c#ita adamascada. N!o devia estar com as %ernas de%enduradas. A fisionomia, c#u%ada, mostrava uma %lacidez feliz$ a barba crescida escul%ia&l#e uns tons cadav"ricos. A cabeleira, em melenas %ara as frontes e sombreando %or tr(s das orel#as, dava id"ia de certos retratos de %oetas. Parecia um alucinado. /ntre os su%erc0lios negros, como a mar" quando come'a a %icar, nascia verticalmente o ind0cio de uma ruga que es%raiava, entretanto, %elo moreno da testa, um ar de res%eito e viril. A Fabiana entrou com um ar taciturno$ e logo que foi %ondo&l#e os ol#os se l#e re%resentou %erfeitamente nele o cun#o de fam0lia, esse timbre, essa afina'!o, %ara o qual nem sem%re se tem ouvido$ essa es%"cie de segredo que desa%arece na indiscri'!o das formas e na diversidade das educa'2es, das conviv3ncias, dos meios de vida, dos climas e dos alimentos. Cm tra'o, um vezo no ol#ar, uma %articularidade vocal, uma es%ecial dis%osi'!o das untas, ou de certos mr do sol a%arece e %erde&se no lato azul. Fisgaram&se as sim%atias da carta. ustamente o contr(rio dera&se cem a 5aria das Dores, que a%reendera n!o o %rimo, sim o #omem, de um salto, com as o%osi'2es e semel#an'as. O mal e o estudo #aviam carcomido ao )entu uma boa %arte do su%erficial, do adi%oso, do adquirido$ e a sua natureza vin#a a lume, como o solo das aguadas, na eva%ora'!o de dezembro. Firmou&se com os cotovelos na rede, e sentou&se %ara tomar ben'!o a tia Fabiana, que levou&l#e aos l(bios o dorso da destra rec#onc#uda e aromatizada com (gua da )ol>nia. O Osório %arou a leitura do ornal, que era de vante a r" uma verrina contra o
117
seu amigo Afrod0sio, fazendo rir ou indignar. 5anin#a gostava de estar ouvindo, %or ser outra quem era, a%esar da vis0vel re%rova'!o do %rimo 1quela degra& da'!o intelectual da sua gleba. )om um gesto maternal, a Fabiana, sentada num ba<, interrogava ao sobrin#o sobre o seu mal e sobre a sua vida, sobre o que ele trou-e %ara o 6isconde, e acabou %enalizada %elos sofrimentos dele$ entusiasmada %ela sua altivez nativa, e %elo amor arraigado que ele demonstrava %ara o que fosse dela, com%adre da rain#a, %or %rocura'!o. Cm teu av>, %reso %ara o Eimoeiro, em Eisboa, no tem%o das mil0cias. / amontava dados de nobreza. 5ariin#a ulgava aquele o dia mais feliz da sua vida. N!o sabia o que fazer. : 4uanto mais se vive, mais se a%rende, re%etia&l#e o %ai acendendo o g(s do gabinete. O rancor de tua m!e %elo 6icente " %orque eles nunca estiveram assim entrela'ando os es%0ritos %eito a %eito. Praza a Deus que aquilo n!o sea fogo de %al#a. A gravidade marcial, fazia&o, com efeito, anti%(tico$ #oe viam&no descascado. Nem todos tem o dom de ser logo im%ressionados %elo sim%les efeito da %resen'a.
118
O )entu n!o ceou, %orque %egou no sono, e o Osório n!o consentiu acordarem& no. 4uando, %or"m, ao alvorecer, o tio se ergueu da rede, e enfiou os %"s nas c#inelas de tran'a, ele ( estava, embrul#ado na frescura dos lin#os, com a vista grelada %ara o dia que ol#ava, %elos interst0cios do tel#ado. O m"dico ordenara mesmo que o doente ficasse num quarto de tel#a v!, conquanto o Osório, tamb"m entendido em 5edicina, se o%usesse$ mas o m"dico era o res%ons(vel, e o desembargador, submetendo&se, %roferia7 : 6eo que isso de medicina " como as a s sen#oras mul#eres7 #( de toda casta. O )entu acordara com a id"ia vaga, se estava ainda a bordo, ou em terra. A %aisagem amaz>nica, alfombrada de rios$ as florestas %antanosas e silentes, o vai&vem dos aventureiros com a sensibilidade embotada %ela gana$ as barracas dos seringueiros cearenses, sem%re com um ro'adin#o ao lado, com um tra'o de cultura, com um ind0cio de gente$ a flora e a fauna inclassificadas$ as bel0ssimas %arasitas, e os gigantes vegetais$ a abund?ncia de ca'a e de %esca$ o ócio e o mal #abitando o mais es%l3ndido eldorado$ de%ois o Par(, com o seu af! mercantil, o seu %ó vermel#o, e a sua %ortuguesada e caboclada e o seu forasteirismo$ de%ois o oceano$ o 5aran#!o, tradicional e rotineiro e vel#o e culto$ e mais oceano$ e enfim, o moreno colo das dunas a%arecendo no azul, como um %eda'o de c
119
cartas do %rimo, ainda as de Baturit", a balan'ar&se donairosa na cadeira. Agora " que aquelas e-%ress2es valiam deveras. )omo era er a bom o ter sofrido tanto9 4uase quatro anos, desde que o )entu c#egara do io. O %ai re%etia7 : O# 5ariin#a9 /la %enetrou no gabinete. /stavam os dois de %", o )entu com a toal#a de ban#o ao ombro. : Ac#as que o teu %rimo deve tomar ban#o frio; /la, de%ois de tomar&l#e a ben'!o, a%ertou indiferentemente a m!o ao mancebo, voltando %ara o %ai7 : N!o sen#or. De%ois ele tossiu de noite. : uma ligeira bronquite, descul%ou&se o ra%az. : /mbora. / encarando&o fi-amente7 N!o deve tomar ban#o frio9 : /st( bem, fez o mo'o, com uma cariciosa resigna'!o de le!o domado. Fabiana fez %re%arar a (gua morna, em uma grande bacia de arame, no seu quarto. P>s uma t(bua sobre o tiolo %ara botar os %"s, e des%eou (gua&de& col>nia, na (gua, e de%>s na cadeira um sabonete do mais caro. 5ais tarde o barbeiro, a escambou o #ós%ede. / ent!o o )entu ficou a%resent(vel, com o cabelo curto, o rosto liso disfar'ando a magreza. Passou o dia de blusa %arda, com os can#2es e gola azul, e cal'a branca. /m vez de bon", %un#a o c#a%"u de %al#a, quando, 1 tarde, foram a es%airecer no quintal. Ant>nia, a bem dizer, n!o e-istia agora naquela casa. a ficando ronceira, e alguma coisa esquecida. +odas as noites vin#am o Afrod0sio, e outros a %rosear com o #ós%ede, cuo nome come'ava a ser %ronunciado nas rodas %ol0ticas, 1 vista do favor que o governo l#e dis%ensava. Cma noite, quando a convalescen'a o %ermitia (, dan'ou&se algumas quadril#as e %olcas: %ela %rimeira vez em casa da Fabiana : com seis %ares, %orque estavam a0 umas vizin#as, curiosas %or travar&se com o doutor engen#eiro. /ste era uma roc#a %ara todas. +ocou, ao %iano, um ra%az, antigo com%an#eiro de casa do )entu. N!o foi sem vis0vel tremor que o oficial recebeu no seu bra'o o de 5aria das Dores, que foi o %ar da segunda.
120
/la %arecia estar dizendo : Agora sim9 Os seios dela c#ofravam %ositivamente na carne dele, com uma do'ura e uma intimidade confiante$ e, de lado, ela, mais bai-a que ele, deitava&l#e um constante ol#ar rison#o e
: Por qu3; : Ficou assim, " %orque... estava a dan'ar comigo, ( sei, (... : Ora7 isto só se res%onde com uma gargal#ada. %ena que n!o estea aqui o 8eu Eucas, que eu mandava dar uma %or mim. : Por isso n!o, eu em%resto uma. 4uer; : Pois me em%reste l(. : sso queria voc39... Fique sabendo que estou zangada. Ficamos mal. / acabada a quadril#a n!o falaram mais um com o outro. Ficar mal9 /m um namoro tem&se os doces efeitos de uma aus3ncia. 5aria das Dores, ficara com a sensibilidade de uns ol#os que est!o sem%re a visionar, uns ol#os %ara os quais uma centel#a toma o bril#o de um raio$ e com susce%tibilidades de uns ouvidos %ara os quais um mosquito zoa como uma trombeta. Bem que o 6icente n!o a magoasse, 5aria entendeu que sim, e torceu o rosto. )ontudo, arre%endeu&se de negar&l#e a %alavra, quando o mo'o %erguntou, #umildemente, se estava de feito zangada. N!o %odia voltar atr(s. /la n!o %odia e-%elir aquele #umor, %ois era uma coisa al#eia 1 vontade, dom0nio da carne. )omo a fol#a do maric(, quando a noite desce, assim murc#ou a alegria do mancebo. Desgra'ada lembran'a de dan'ar&se naquela noite9 )omo iria dormir, ele %ara quem a morena ( fazia %arte dos órg!os essenciais da vida;9 ( %elas onze #oras tentou as %azes novamente, %edindo&l#e que tocasse um trec#o do Guarani . N!o se atrevendo ele a falar de frente, ela envesgou&l#e um ol#ar malcriado e estendeu&l#e a %ontin#a da Cn&gua, muito entre os dois l(bios. : Desaforo9 : rosnou ele. )amin#ou %ara a anela, a desafogar&se com o ar frio. Debru'ado %ara a cal'ada deserta, desferia em devaneios cevando&se na sua %ai-!o. Ora, ali estava uma coisa que entendem %or desaforo, mas que ele tin#a na verdade %elo gesto mais ador(vel do mundo9 A linguin#a de fora9... / descia 1s demonstra'2es, como em uma sabatina escrita de matem(tica. /s%airecia %ara o longo d( rua, onde a ilumina'!o ardia solit(ria, diante dos beirais e das cornias desa%arecidos na terra. ealmente de%ois dos mist"rios de um ol#ar, nem o riso, que malda$ nem o sus%iro, que " %iegas$ nem o mu-o-o, que " c#ulo$ nem o %ranto, que finge$ 122
nem os arrufos, que magoam$ nem os acenos, que matos t3m ol#os$ nem um belisc!o$ nem um beio caval#eiroso e fidalgo nas costas da m!ozin#a... só um deitar de linguazin#a %or entre os bei'os c(lidos de amor9 4ue arrebite, que c#iste, que melodia n!o cantou aquela rubra ontin#a de l0ngua que ela quisera morder 1 larga9 /stava dis%osto a tomar a l0ngua como entidade, %ara a est"tica do seu uso$ a entregar esse órg!o rubicundo aos carin#os da )i3ncia e do Belo. /ntrou a a%ostrafar, %regando 1s estrelas, surdo aos rumores da sala7 : N!o ten#as sido com%reendida, veio da liberdade feminina$ tu que deso%rimes, imediato au-iliar das l(grimas9 A tua forma " a da c#ama, a tua cor " a das %artes mais sens0veis do ser, a tua morada inacess0vel9 s tu que %roferes aquilo que faz o nosso 0m! : a %alavra9 8em ti, que seria o beio; /st(s fora do regime do toucador, a moda n!o te estraga. /m ti reflete a sania, e nem ol#ou. Por"m, com o rabo
123
do ol#o, viu&o %erfeitamente, e notou&l#e a fisionomia muito ca0da. O %ai c#amou, e coc#ic#ou&#e7 : 63 o que tem o ra%az. /la res%ondeu alto7 : Ora9 denguice. / seguiu a%ressadamente %ara a sala. Da0 a %ouco, entretanto, 5aria voltou de novo 1 sala de antar, e desta vez abriu o guarda&lou'a demorando&se a %rocurar, certamente, o que n!o guardara. Aquilo era instintivo. De re%ente, rolou em cima uma ta'a de %orcelana, e os %edacin#os es%al#aram&se no tiolo. A Fabiana acudiu imediatamente l( de dentro, como bom rondante ao a%ito, ao baque demorado e sonoro7 : 4ue foi isso, menina; : N!o foi nada... Foi o gato, min#a tia, acudiu de l( o )entu. : 4ue ladr!o9 e-clamou a matrona. /u bem que l#e digo, 8eu Osório, que " %reciso acabar com essa gatarrada da vizin#an'a. N!o se aguenta mais, " um desaforo9 E( se vai mais uma -0cara, est( vendo, n#or; : Dei-a irem todas, Fabiana, " %reciso %roteger aos louceiros. +amb"m9 =omem$ que esta9 5ariin#a ro'ou %or tr(s do )entu, e re%reendeu&o ao ouvido7 : N!o l#e %edi favores, ( ouviu; O mo'o foi arrebatado ao s"timo c"u %or aquele so%ro que l#e acariciara nas ou'as. 4ue coisa9 4ue afago9 / como os bei'os dela im%rimiram&se&l#e fortemente assim, no %avil#!o da sua orel#a mortal9 Da0, foi brotando a fonte da alegria, e o ra%az se transfigurou. /s%eitou, e-%andiu&se, o que o tio botava %ara a virtude da cervea. /m ar de uma aquarela catita, mimosita, colorida finamente, que alcance as sutilezas e transcend3ncias de %erce%'!o, e a%an#e as radicelas do sentimento e da sensa'!o %elo cor%o adentro, e re%u-e, e arranque o gozo, %regava&se&l#e diante ainda o gesto da 5anin#a deitando&l#e a l0ngua7 : 6( bugiar. 6( as favas... Breeirice e cavila'!o. /la estendia&l#e o mento, c!ozin#o a farear, e abrindo um %ouco os ol#os a um %resto arrega'ar das sobrancel#as, os bei'os fastavam,
124
des%ontavam uns dentin#os, a %ol%a rubicunda e viva estirava&se %ara fora, num rel?m%ago. A%resentava&se o corteo das id"ias. O %ur%urino molusco, de um sangu0neo de %a%oula ao sol, se recol#ia 1 conc#a bucal. Os l(bios tin#am ligeiro congestionamento, com a momice r(%ida. A vista faiscou. 6ibrou no ar mais uma seta. Aquele ms, portugu>s , e da0 acalorou&se uma discuss!o que fez fe z de e-celente derivativo. De%ois daquela noite, n!o se dan'ou mais em casa da Fabiana. Aquilo era uma gente que vivia num estreito c0rculo, e n!o a%roveitava a boa e-ist3ncia trabal#ada e divertida da Fortaleza. A 5anin#a era %or isso mesmo alguma coisa matuta. 8e frequentou o )lube, foi levada %elo %ai e %ela curiosidade, %oucas vezes, quando #avia baile em que o desembargador, %ela sua nova condi'!o de amigo do 6isconde, era figura obrigada. O Osório, ent!o, a%arecia todo formal, de casaco, em verdadeiro magistrado, que mede as %alavras e n!o muda um %" sem a devida usteza.
125
N!o levava era claque, al#eio a essa francesia. Pun#a a sua aca e metia botinas de bezerro, engra-adas como a sua consci3ncia, que isso de %elica e %olimento era %ara anotas. O guarda&sol n!o dis%ensava, e nem a boceta de ra%", de grossa %rata escul%ida$ %ara fungar uma %itada, afastava&se, %or"m, como se fora fazer outra coisa, tirava a luva, e servia&se$ quase sem%re acom%an#ado %or outros, no conluio daquele viciozin#o que ele se arrogava como %rerrogativa dos %ensadores e dos #omens de res%onsabilidade. Acertou de #aver um baile, oferecido a um %residente demission(rio, %oucos dias de%ois de ser concedida ao )entu a m!o da %rima. O e-&%residente era o Doutor Benedito Rabregas, um uiz de direito que arrancaram de Goi(s e-%ressamente %ara a comiss!o de administrar a incom%reendida %rov0ncia dos )ariris, do aguaribe e do Baturit", do cangulo e do camuru%im, da ra%adura, da vela de carnania %osse no bredo. /ra ao entardecer. 5ariin#a todo o dia só falou no baile$ *%orque o baile, %orque eu saio cedo do baile, %orque eu só dan'o a segunda quadril#a*, etc. etc., bem que tudo isso n!o fora sen!o o enseo de gozar da festan'a ao lado do noivo.
126
O alvoro'o que se a%ossa dos mo'os ao %re%arar&se %ara uma festan'a, que c#ega a tirar&l#es o a%etite, a festa %ela festa, isso n!o era %ara a 5aria das Dores, que n!o se %ertencia mais$ Ant>nia %assara a semana macambos, entre os su%erc0lios dourados. Amostrava as comissuras dos l(bios ligeiramente ca0das, em ar de tristeza. )ada %assada, l#e %arecia ser a nia, %or causa da sua terminante recusa de casar com o o!o Batista. Ol#e que isso foi uma batal#a9 )asa, n!o casa, encurralaram a ra%ariga, amofinaram, ela dizia sem%re que n!o, que n!o, at" que %useram&na de %arte, conveVcidos do baldado esfor'o$ mas a Fabiana tomou a recusa como afronta sua autoridade, e %assou a detestar a afil#ada. /sta c#orava l(grimas de sangue, vendo, a urdir *toda essa inf?mia* a m!o oculta e fria do Afrod0sio, com, 5!e Iefa %or lan'adeira. esolvera fugir. 8air daquela casa, fosse %ara onde fosse, 1 toa mesmo. Perdida, %erdida meia, %erdida toda. Faltava&l#e a educa'!o que l#e desse uma norma, que a sustentasse, e %ro%usesse&#e mel#or sa0da daquele a%erto. Ao cair da tarde esteve com a Dorzin#a, no quintal, a sua Bem&Bem de outrora. 5anifestava um : *ar demudado*, um timbre doce, de violino, uma estran#a e %(lida frou-id!o fision>mica, um abatimento flagrante. A 5ariin#a isso %assou desa%ercebido$ se estava toda )entu9 Por tudo, via&se, entretanto, que vin#a 1 tona, a loura, o gravado afeto, que ela %ossu0a, %ela casa e %elas %essoas da 5ariin#a. O seu rosto estava des%edindo&se amargamente da outra, que %assou com ela naquela tarde um tem%!o e tagarelou sobre o seu %ró-imo casamento. / Ant>nia ol#ava demoradamente o c"u %or entre as (rvores. 8entia&se o %oente incendiado. =avia, %ara cima, um enorme c
inundamentos do dia %or cima dos tel#ados entremeados de verdura, es%argia a alma ao sussurro das frondes semel#antes ao marul#o de (guas, sentada no quintal, em uma cadeira, com uma %erna sobre a outra, ouvindo conversa nem que fosse do molequin#o que trazia o ti'!o %ara atear o cac#imbo. Acercou&se da 5anin#a e da Ant>nia. /stava de boa mar"$ e eram as suas #oras de bom #umor, no g3nero, as mel#ores do mundo. 4uando as %retas viam&na assim, regalavam. / todos em casa %rocuravam entrar&l#e %elas %ortas da alma, como se fora num %al(cio encantado. /ra um gosto v3&la, no quintal, cercada dos seus inferiores, 1 vontade, e-%ansiva como a galin#a c#oca es%oando&se na cinza. Na verdade, uma cadela rabugenta como a Fabin#a, era de ver quando se transmudava em um carneirin#o c?ndido que comesse %"talas de rosa. /ra o efeito sur%reendente, embora es%erado e costumeiro, do rom%er da aleluia, quando caem dos altares e da vidra'aria da igrea os v"us negros, rasgados %elo dia cre%itante, ao v>o dos %ombos alvos de fitin#a ao %esco'o, ao del0rio das cam%ain#as, ao troar da fortaleza, ao re%icar da sinaria, ao alegro da alegro da orquestra e das vozes. 5ostrou&se agrad(vel a Ant>nia, %or modos a esta vacilar na sua timbrada resolu'!o de %>r&se ao fresco. /stavam em tro'a, numa clareira formada %elas %a%oulas, es%irradeiras, inde%end3ncias e asmins corais$ a matrona assentada no tabuleiro de um carrin#o de m!o, e as demais, na areia lavadin#a %elas c#uvas recentes come'ada a forrar&se de zin#os tenros que a 5ariin#a a%an#ava %ara os %re(s. Aqui furava um carreiro %or bai-o das roseiras, ali uma vereda meandrava$ acol(, ao %" do muro anin#avam&se boas&noites e maravil#as, ao fim de uma estrada. 8al%icavam&se de flor0culas as romeiras escarlates. +odas ac#avam Kngela descarnada e amarela. /stava uma mul#er. Notavam&se nela as mamas ca0das, o cor%o imitando ao de #omem, as ma'!s do rosto agu'adas, e o %esco'o fino. 6iera %edir %ara alugar&se 1 sen#ora, que n!o aceitou&a. : /nt!o, sin#(, me em%reste dez tost2es. : Antes isso. Dera em beber, a cabra. +in#a ido ( 1 %ol0cia. 5uito faladeira, entreteve a Fabiana debul#ando mil #istórias, de casas con#ecidas, a dizer de gente branca e fina cobras e lagartas$ e com isso engabelava todas as vezes. A Fabin#a ent!o9 que %ara %u-ar %or um enredin#o estava só9 : embora tivesse de confessar ao %adre que %ecara murmurando contra o %ró-imo. As gargal#adas da Fabin#a retiniam, e %areciam comunicadas at" as %lantas. /smiudava mais, e a escangal#ada risada da Kngela ia com a dela num concerto %?ndego, e quem as ouvisse de longe, imaginava antes umas lindas ra%arigas brincando seminuas 1 beira de uma lagoa. Ant>nia dizia l( uma ou outra %alavra, sorria a%enas, e entrava a escrever com um %auzin#o na areia. 5anin#a erguera&se, avessa 128
1quelas #istórias onde a suinez da alma fo'ava im%lacavelmente na mis"ria dos outros. ealmente, na fase em que ela estava, só a%razia o otimismo, o %uro, o ideal, o divo. / entrou %or debai-o de duas goiabeiras entrela'adas sobre as quais formava um manto a ramada de uma %assiflora. 5anin#a sumia&se nesse caramanc#el. O %" de maracu( dei-ava cair alguns tent(culos, como que %rocurando mais bra'os de goiabeira. No lado %or onde a morena entrou, o te'ume da fronde da tre%adeira formava cortinas sal%icadas de flores violetas, cuos órg!os re%resentam os mart0rios da Pai-!o, e de %omos redondos, lindos globos verdes, lindos globos amarelos, como feitos de a"rea %orcelana, innia dirigia aten'!o agora. Avistava no imo do caramanc#el a cnia maracu(s maduros, de um lindo amarelo flavo e de um %erfume arraigado e agu'oso. Ficou absorta, ali dentro, como crian'a, tre%ada na goiabeira, e emaran#ada na rede de ramos. O amor fazia&a contem%lativa. / sentia um vago %razer no seio das (rvores, ali sem #orizontes, como num caldeir!o de serra, sob a cortina azul do c"u veiado de vermel#o cre%uscular, ol#ando o frisadin#o dos tel#ados, e os muros %aralelos dos quintais tufados de verdura. Cma %itangueira a%arecia nas frondes leves dos dedais&de&dama. No quintal vizin#o, dois meninos, a %edradas, %erseguiam calangos quase lesos que andavam a lambiscar formigas. Cm outro descia de um sa%otizeiro com uma gaiola de al'a%!o. 5ariin#a lembrou&se de que era o dia do baile, e desceu a%ressadamente7 : 5am!e, voc3 n!o vai tamb"m; : cedo, s!o seis #oras, menina. /s%era. Ant>nia sentiu um #orr0vel a%erto no cora'!o, ao lembrar&se %or sua vez que #avia deliberado fugir naquela noite, fosse como fosse.
129
s oito e meia #oras, com efeito, a loura %ara um lado, e o carro da fam0lia Góis %ara outro. 8aiu vestidin#a, como quem vai 1 novena, com a grande có%ia de vinte mil&r"is no bolso, %arte que reservara dos bons tem%os e %arte de engomados e trabal#os de agul#a, que foi auntando. Abeirar&se&ia da irm! vinia como que ria nervosamente, em falsete, de si consigo, de naqueles tremendos instantes de refle-!o, ac#ar a %ris!o su%erior 1 liberdade. Eutava %or dominar&se, %orque enfim, bem diz o mundo7 quem morre " que se vai. / largou a es%ancar, com um azorrague de id"ias %icarescas a boa com%an#eira de todos os momentos, a consci3ncia, a subleva'!o natural do ser. O seu nariz mergul#ava no bafo aquecido da %ró%ria carne, e no costumeiro odor de rosas metidas no seio. Os dentes deseariam trincar um bra'o musculoso, e a l0ngua coser&se com outra l0ngua numa fervura de amores... O bei'o arrega'ar&se&ia como se ela #ouvera emagrecido$ e o ol#ar #avia de afundar um %ouco$ as ma'!s do rosto ficariam da cor da manga madura, e as orel#as, cuo desem%en#o " nulo em lirismos$ %rovocariam contudo novas mordeduras. Assim " que ela quisera amar9 /stavam a%agando o g(s, %orque era #ora da lua sair. O em%regado, encostando o to%o da escada na cruzeta de cada combustor, subia ligeiro, e com o rosto unto ao boo de vidro que l#e iluminava o bon" de gal!o encarnado, torcia a 130
torneira, e a sombra ca0a re%entinamente. Os dois cord2es %aralelos da ilumina'!o iam %erdendo foco %or foco, e o escuro ia vagarosamente engolindo o claro. As luzes que %erfuravam o sombrio, de alguma sege, de algum sobrado long0nquo, avermel#avam. /ra sombriamente l0rico esse luar morti'o. Das loas, alargavam %ara o meio do cal'amento l0nguas acesas entre l0nguas de escuro, travando&se, no esbatido, mortos sobre vivos clar2es, %(lidas sobre escuras sombras. Ouvia&se o mais leve ru0do, como nas noites
131
Desceria a ladeira da Assembl"ia, %ara, atravessando a ua de Bai-o, subir o aclive do Outeiro, em rumo da casa %aterna; Bateu&l#e fortemente o cora'!o. /smoreceu. /ra mel#or %assar a noite com a 5!e Iefa, no tugnia %ercorreu todos ostabuleiros, %enetrou %elo enorme %ort!o de ferro, %ara o %(tio dos a'ougues, furou %or toda %arte, entrou %elo barrac!o do %ei-e, nada. No %(tio interno %airava muita tristeza, a%esar do movimento da venda de mi
132
A desonra a%arecia 1 m0sera como uma doen'a incur(vel. 8ania %erdera&se, indo bater no )am%o d@Am"lia em vez de no Eargo da 5isericórdia. /sse cam%o onde manobravam nos dias de gala as es%aventosas %aradas da guarda nacional, cobria&se de uma t3nue gaze de luar. Ouvia&se o ronrom das ondas, como de um gato gigantesco. O luar nevoentava os blocos de tel#ados da /sta'!o do camin#o de ferro. Ao %" das casuarinas afastadas, do cemit"rio de 8!o )aetano, deslumbrava a alvura do 5orro do )roat(, uma duna que estava a engolir aquele abandonado azigo dos mortos de #( trinta anos. O cemit"rio %rotestante confundia&se no cimo das casas de %al#a, onde fervil#avam rumores de samba e uma fogueira no terreiro. Ant>nia a%avorou&
133
se, e %areceu&l#e que surgia um #omem a %ersegui&la. Ouviu a corneta da guarda da )adeia tocar sil3ncio, beirou o cam%o, seguindo uma lin#a de casas rareadas. Dobrou %ara leste, enfiando %or entre a alta mural#a da %ris!o, e uma carreira de #abita'2es %or acabar$ era a ua da 5isericórdia$ res%irou faro de cidade. Atravessou a ua Am"lia, e continuou a derrota, %ela cal'ada da 8anta )asa. Descobriu a ilumina'!o do )lube, com embandeiramento %om%oso$ no sil3ncio, como um bando de gral#as, es%aveavam os derradeiros com%assos de uma quadril#a. : /st( animado, disse ela consigo. / %rocurou, %ara tomar f>lego, o assento de %edra que corre ao longo da fac#ada do #os%ital, ( no Eargo da 5isericórdia. O largo era ocu%ado %elo Passeio, cua arboriza'!o, com%acta com o luar, mal denunciava um ventozin#o modorrento. /ra #ora de vir&l#e o sono. 5as n!o o tin#a. Cma es%"cie de incandesc3ncia dos sentidos n!o %ermitia que a natureza a convidasse %ara o re%ouso. A vig0lia era, assim, um %razer. 8ua vontade era andar, desfrutar a franquia de ir %ara onde quisesse. O seu 0m%eto era fazer os %ró%rios gostos, irrefletidamente, imediatamente, sem a%elo nem agravo. Pensava no nios %ara que infamavam assim o se-o; Bem %odiam gan#ar com o trabal#o, e viver com quem quisessem. Pois " %oss0vel que #aa amor que se atole assim na %orcaria; Pasmava em n!o com%reender como uma criatura %ode e-istir assim enclausurada no v0cio, sem a liberdade de a%arecer onde bem quisesse e com desassombro. /ntristeceu. Eevantou&se e tocou a%ressadamente %ara o )lube. Na co-ia fronteira 1 %orta %rinci%al, #avia uns tabuleiros estabelecidos, e entre eles o de 5!e Iefa. Eobrigava&se a escadaria ata%etada e lu-uosa, com um grande es%el#o no %rimeiro %atim. O gradil do Passeio, detr(s dos vendel#2es, com a sua barra cor& de&rosa. As estrelas sal%icavam no firmamento o azul de ardósia, no remanso do luar a coroa do edif0cio bril#ava com o seu guarnecido franco, e o luar, gan#ando 134
for'a, es%al#ava %or cima uns borrifos de neve9 Das sacadas subiam como gir?ndolas de bandeirin#as$ e %ara as cimal#as fronteiras, atravessava o ar alguns cord"is com enormes %avil#2es de nacionalidades, de alto a bai-o, em estendal, alguns lambendo a fronte dos transeuntes, cadentes, morosos com a brisa$ e aqueles moles %anos de l!, variegadamente colorados, davam 1 vista da rua uma co&%artici%a'!o na festa. No meio da rua ainda estavam os bancos da fanfarra que #avia anunciado, com trec#os de marc#a grave, a entrada das sen#oras. Nos sal2es t"rreos, estalavam maciamente, elasticamente, as bolas de bil#ar, estouravam as bebidas, e tiniam os tal#eres. A0, divulgavam&se nitidamente as %essoas, mas em cima, era %reciso que estas viessem 1 sacada. De quando em vez %assavam bustos de dan'antes, e nas varia'2es da quinta %arte %oder&se&ia recon#ecer algum. 5aria das Dores, num vestido azul, de colar de ouro e bril#antes, com uma grande ca'oleta sobre o %eito, %assou muito tem%o numa varanda com o %ai e o noivo. +razia o %ente& ado sim%les, com uma rosa. Cm lu-o sim%lório de %rincesa. Ant>nia n!o viu o Afrod0sio, e nem a sua %rotetora conseguiria abeirar dele, %orquanto o %alacete estava todo luz e %om%a. Os #omens entretidos no ac#onc#ego das ninfas do sal!o, ou na tro'a com os demais, ningu"m %oderia dar aten'!o sen!o 1 festa. Cm grande t"dio e tristeza se a%ossaram da ra%ariga, um #umor insu%ort(vel$ e ela recriminava a si mesma, sentada nas %edras %edr as da cal'ada. Por que n!o se conformou com a sua sorte; Agora, tome9 N!o %odia estar ali, " verdade, n!o %odia frequentar os sal2es, que devem ser uma coisa muito boa, como nunca vira, mas assim mesmo %odia ser que mais tarde com casamento sofr0vel... e o qu3; Ali estavam algumas inferiores a ela, em tudo, menos na desgra'a... / querem saber; Podia estar l(... 5as aquele seu g3nio era que a atrai'oava sem%re... / entrou a analisar condi'2es de algumas damas do baile. A Francelina, mo'a %au%"rrima e que n!o tin#a l( esses bons sangues, que servia em casa do )onsel#eiro 8ucu%ira, estava dan'ando. Por qu3; Portava&se bem, e vestiam&na com estima. 4uanta asneira, %or"m, n!o dizia ela aos mo'os9 Ora, isto " mal de muitas e de muitos. As 5eneses quem eram; Primas de um servente de %edreiro. O )oronel Fagundes estava dan'ando com a costureira da mul#er. 6ia&se em%regados %nia uma %iora. )om efeito, ali naquela reuni!o oficial e aristocrata, se %un#a 1s claras a fei'!o da terra. A sociedade abria lugar %ara todos. /ra quest!o de dec3ncia, de boas rela'2es, de boa re%uta'!o. O abismo ent!o se abria mais adiante de Ant>nia.
135
/ntre as mul#eres da Feira e as de certas ruas, que acom%an#am os congos e o bumba&meu&boi, as que v!o %ara o sereno do circo de cavalin#os, as que fervil#am nos fandangos e no escuso das novenas de arrabalde$ entre mesmo as que tem %r"dio e din#eiro na )ai-a /con>mica, e que entretanto um #omem lim%o n!o l#es %ode falar em %nia en-ergava um %reci%0cio9 Aquelas n!o souberam, virgens loucas, alevantar na fortifica'!o da carne a bandeira da es%eran'a, n!o torceram o %esco'o ao bic#in#o do amor logo ao sair da casca, e ulgavam que o correr n!o cansa, e que o andar n!o c#ega. Antes de amarem, ca0ram na es%arrela da concu%isc3ncia. Ant>nia sentia a cabe'a desengon'ar&se. 5!e Iefa era do %arecer que voltasse. Aquilo n!o se fazia. +amb"m, n!o estava assim %erdida. +ivesse u0zo. Fugir, %ró mó de qu3; Dei-asse estar, que as coisas se arranariam %elo mel#or. =avia dois %artidos a escol#er7 ou casar com o noivo que 8eu 6isconde l#e desse ou ir %ara a casa montada de tudo que ele l#e oferecia na ua do os(rio. / levantaram acam%amento. A Ant>nia, em estado de dorm3ncia, era um concordar com tudo. : /u fa'o voc3 entrar outra vez na casa da sua madrin#a, e a%osto que ningu"m descobre. 4uem l#e viu sair; : Ningu"m. : Pois @st( direito. Ora, ora. /nt!o quem ser( osefa do /s%0rito 8anto; 8a nto; +oda confiante, como confessado %ara confessar, a menina seguia a %reta, vendo nela um ente e-traordin(rio, e sobrenatural. / seguiram, a %reta vel#a a co-ear de um quarto, a e-ibir de quando em vez um consel#o do re%ertório do seu recon#ecido senso %r(tico. s duas e tanto rodavam os carros, findo o baile. As fam0lias embrul#avam&se nos manteletes de l!, e ra%azes temendo os resfriados %un#am o len'o ao %esco'o abafando a garganta. As seges n!o eram muitas. Pela mor %arte os convidados iam de %" %ara casa. Agrad(vel, %elas ruas asseadas e desertas, com um luar es%l3ndido. O 6icente gozou son#os cor de rosa, naquela noite. A sua queda %ela 5anin#a arrastava&o a necessitar agora, n!o mais de um sim%les lance de ol#os, nem de %alestras, mas de contacto. Adeus9 voca'!o de a%óstolo da )i3ncia, se " que isso de%endia do celibato9 8ó uma cat(strofe o arrancaria dos bra'os da %rima. 8ó se dizia bem quando agril#oado aos %"s da noiva. Guardou no cofre da memória, donde ignorava ainda que as sensa'2es se eva%oram trai'oeiramente ao sabor carnal de quando ambos sa0ram de bra'o dado em %leno sal!o de 136
baile. Parecia&se nutrido como um gigante. A sua destra a modo que estava sem%re segurando na cintura dela, a esquerda cruzada com a m!ozin#a fragrante, cet0nea, a%etitosa, s0mbolo da car0cia e do afago. 4ue cafun"s n!o estalariam, ele com a cabe'a no colo dela, os ol#os semicerrados, numa te%idez de carnes mesmo e inquebrant(veis. 8entia no %eito direito, e como eterna& mente, a doce %ress!o dos seios dela, que l#e incutiam sugest2es de aromas descon#ecidos. O 0m%eto era dan'ar de %ar constante. Nem cogitava de leve que o namoro estava dando nas vistas, e que uma vel#a a conversar com a Fabiana e outras reformadas, na sacada, franziu o nariz dizendo que estava fedendo estava fedendo a a4eite de carrapato e que outra %erguntou se %recisava de ti"olos para fa4er uma casa. casa . A que a sen#ora Góis res%ondeu a sorrir que *eles tin#am licen'a, ela estava %edida e consentida*$ segredo esse que a cidade inteira ( sabia. +odo idealidades, o )entu aborrecia&se terminantemente se ouvia falar no %ositivo, no esqueleto, no real do casamento. : Feliz quadra9 batia&l#e o sogro no ombro. 8!o os mel#ores dias, a%roveite&os. : O# meu tio, n!o me filosofe a esse res%eito9 : Ol(, meu obcecado, a coisa " isso mesmo. 4uem cega n!o " a usti'a, " o Amor. : / o sen#or que o diga. : De c(tedra. O )entu c#egou a escrever numa carta os tó%icos seguintes a um dos seus antigos camaradas, casado e #abitante no io7 *)om a volta 1 min#a terra, ou %or outra, ao novo encontro com a %rima de que te falei, o meu ser virou outro. gnorava at" ent!o o %oderio enorme que a natureza concedeu 1 o%osi'!o dos se-os. / " tal o efeito desse sentimento em mim, a%esar de voc3s na /scola me acoimarem de #omem frio e insens0vel, que de inimigo da Arte, sou #oe um seu ferren#o a%ologista. Antes de sofrer a a'!o transformadora desse fluido, se bem digo, do Amor, eu considerava a mu#er %elo escal%elo, um animal como outro qualquer. =oe, %or"m, veo que, se a )i3ncia a encara t!o friamente, a Arte a eleva, se absorve no mist"rio das formas das sensa'2es e do sentimento. *O inverno " isso. ulgo&me um ente feliz. Podem sobrevir todos os %adecimentos. /stou convencido de que o #omem " ca%az de ser Deus.
137
*5ais uma for'a me trou-e este novo sentimento7 o amor ao torr!o natal. Anteriormente o )ear( me era uma regi!o tacan#a, um %ovo inconsequente e mal&educado, uma tribo de b(rbaros num território que em remoto futuro seria um deserto l0bio. =oe veo na min#a querida %rov0ncia um %a0s curioso, t0%ico, imorredouro, encurralado na sua modesta cordil#eira circular, lavado com os seus rios de seis meses, nele nascidos e nele mortos, com os sert2es de inverno e seca diferent0ssimos, com as serras cultivadas com os breais, com os ariscos, as dunas, o c"u lind0ssimo e cruel, o oceano amigo, e uma %o%ula'!o mal& aventurada, sóbria, nervosa, e conquistadora %ela arma do trabal#o, abatida %elo fogo do clima, a lutar %ela vida sem%iternamente. A nossa grandeza " toda 0ntima, e " nos sentimentos 0ntimos, do amor 1 mul#er, e 1 fam0lia, que o cearense frui o suco da vida. */stou convencido, al"m disso, que o #omem como for'a, na tr0%lice ace%'!o moral, f0sica e intelectiva, " o resultado do regular funcionamento do seu organismo. O #omem só entra em %leno desenvolvimento de suas a%tid2es, com o casamento. No dom0nio sobre a mul#er, na vibra'!o sim%(tica dos dois seres, adquirimos uma for'a incalcul(vel, a consci3ncia do nosso %oderio, a ca%acidade de conquistar, de adquirir, de medrar, a consci3ncia de que se e-iste, se ". Cm Ergo sum mais sum mais lato que o de Descartes. *Poder&se&ia c#egar 1 mesma conclus!o abstraindo da conven'!o matrimonial. Por"m a uni!o dos se-os como entre os irracionais, naquela %ureza, " im%oss0vel no #omem de #oe, %roduto artificial da civiliza'!o de s"culos sobre s"culos. *N!o me ven#as com o %onto de vista econ>mico. A base da economia " a utilidade. Desorganiza&se economicamente o casal que n!o toma a s"rio o seu nin#o...* / ia a carta %or a0 al"m. =avia um tó%ico em que assegurava ter estado redondamente iludido quando su%un#a que o sacerdócio da )i3ncia era incom%at0vel com o culto da mul#er. / e-clamava7 5ul#er9 me "s necess(ria como a flor 1 abel#a. 4uase deitou verso, em seguida a esse arranco. / ia tudo mais naquele entono da %ai-!o. Ant>nia %assou o domingo como n!o es%erava. N!o viu quando a Fabiana, o marido e a fil#a entraram do baile, %orque a fadiga muscular %rostrou&a logo no sono, e deliberada ao que desse e viesse, as cogita'2es n!o tiveram azo %ara t3&
138
la em vig0lia. 4uando acordou %or mais de sete #oras, só o vel#o, dos brancos, estava de %". A loura saiu %ara o ban#o, tendo armado as fei'2es e a mente contra algum resqu0cio da gorada fuga da v"s%era. Dos %retos, nen#um %arecia a %ar do acontecimento. : Gra'as a Deus9 recomecei bem$ fa'o de conta que #oe " que entrei %ara esta casa. De feito, saindo a Fabiana, ficou a casa deserta$ cada um tomou %ara seu lado, a%roveitando a noite divertida de s(bado$ a%enas o tio aimundo, na sala de antar, conc#ilando, c!o fiel, a beber fumo, ulgando que a Ant>nia estava de inc>modos %ara a camarin#a, ou que #avia acom%an#ado a dona da casa. Na rua, inda mesmo algum con#ecido #avendo notado, n!o era caso de es%anto, nem de novidade, em uma cidade onde uma sen#ora ou uma donzela atravessa livremente, sozin#a, ruas e ruas, com desassombro e sem receio. Ao fim do quintal agitava&se no sol as fol#as do )anavedo, e as fiadas singelas do muro ban#avam&se de sombra de ramadas e de f(culas deslumbrantes. A %aisagem rumoreante encurralava&se no quarteir!o. Cm so%ro abatia sobre a vegeta'!o, escoado em regra, de cima das casas, de %arceria com os luzimentos de um dia vigorosamente lim%o. /s%al#ava&se no ar a vida obscura das cozin#as. O moleque oaquim surrava um ta%ete, no al%endre, arrancando&l#e a %oeira, e o tio aimundo, regando as %lantas, escutava a conversa desengon'ada de um samangol" que estava 1 es%era que ele acabasse %ara irem 1 missa do os(rio, que naquele domingo #avia sess!o da irmandade. O %orco, um ba" muito gordo, com umas %a%adas ruivas, em%inava o focin#o com os %"s de diante a%eados na %ocilga, grun#indo com um su%licante ol#ar %ara Ant>nia que %assava. Cma goiabeira esfregava&se no muro, e %rovavelmente deitava %ara o vizin#o um ramo curioso. Pim%avam as coisas maiores e mais vivas. No te-to de ferro de uma cai-a de (gua que se erguia de outros quintais, girava doidamente uma ventoin#a. =ilariantemente ca0a sobre o tamarindo gigante um v>o de %eriquitin#os verdes. Cm %ort!o vizin#o batia com o vento, a ranger nas t(buas ressequidas. 6a%oravam eflnia, 1s W da noite, na 8", o s"quito de carruagem, desfiando %ela cidade, voltou 1 mans!o do Desembargador. Os noivos subiram adiante, solenemente, seguidos %elos %ares de convidados, que surdiam da aglomera'!o dos carros e de es%ectadores, que tomavam a rua.
139
A grande luz dos candelabros, nas salas e c?maras transformadas em sal2es, estre%itavam as dragonas dos oficiais, com os %eitos crivados de condecora'2es, o %ano fino das casacas cois0s cois0s na alvura dos colarin#os e %eitil#os, as caudas dos vestidos, o agitar dos leques, os decotes em%oados, e o sorriso aristocratizado. Os noivos estavam em e-%osi'!o, no sof(, a seus %"s a%lainava&se um ta%ete novo, e a um lado e outro as cadeiras eram ocu%adas %elas sen#oras e donzelas, como em guarda a #onra. A sala retinia da bul#a das conversas e das risadas com medidas. Cma sen#ora des%ac#ada tomou o ramal#ete da noiva e deu nova vida 1 sociedade, a distribuir os cravos, que arrancava um %or um, %elas mo'as e %elos mancebos. Outra, %egou o v"u nu%cial, e nele ia envolvendo as meninas nnia vin#a entrando nesse momento, de vestido azul&claro, %(lida e formosa$ de%ois de re%elir o filó, dizendo a rir que n!o tin#a f", as sen#oras obrigaram&na a receb3&lo$ e ela debatia&se gal#ofando que *só gostava de v"u %reto*. A Fabiana atravessava solenemente a casa, como um bis%o, no vigor da seda cor&de&rosa, com um %enteado em que des%endera uma #ora de relógio. /steve %elo bra'o do 6isconde, %or algum tem%o, a quem agora %arecia dedicar nova es%"cie de afei'!o. ( nem se lembrava de que o queria %ara genro, que %ara isto fizera o marido aliar&se&l#e, que l#e abrira as %ortas de sua casa, e que a0 o Afrod0sio só n!o fez o que n!o quis, encontrando a%enas o%osi'!o %or %arte da %ertinaz 5aria das Dores, que, enfim, triunfava. / a matrona botava %ara a figura melancólica do #omem um ol#ar, em que %arecia dizer7 : /u " que estava mesmo de eito %ara sua mul#er9 / sus%irou7 8e eu fora vi
140
%rontamente, %ara uma comiss!o de col>nias militares %ara o Paran(. )omo timbrava, cum%riu a ordem mas levou fortes em%en#os do 8!o Galo e de outros amigos %ol0ticos da %rov0ncia, %ara o 5inistro arran(&lo na. )orte, onde es%erava fazer concurso em uma das escolas su%eriores, e a0 fazer sede, que, dizia ele agora, do Brasil só onde se %ode morar " no io de aneiro. Osório sentiu %rofundamente a aus3ncia da 5aria das Dores, e do genro$ tal, que entrou a imaginar em uma licen'a %ara ir ao io, e arranar&se tamb"m %or l(, no quentin#o da fil#a. 8eria nova embirr?ncia com a Fabiana, que %or certo n!o se dei-aria arrancar do )ear( com duas raz2es. Ant>nia ac#ava&se desmastreada com%letamente. 5!e Iefa acabavade arranar&l#e na sua morada uma entrevista com o Afrod0sio, a desoras$ %orque de dia ou cedo, a ra%ariga teimava em n!o sair de casa, e declarava absolutamente n!o mais tornar a %>r os %"s no sobrado do 8!o Galo. De%ois que os noivos %artiram, Osório fez&se acess0vel, entrava fora de #oras, e %assava noites ogando no )lube$ fruindo, na vida de ra%az, enc#imento %ara o v(cuo moral e nervoso que %arecia ro3&lo dia %or dia. A %ouco e %ouco, reatou a sua antiga amizade com o botic(rio Fernandes. Na noite da entrevista da Ant>nia, uma noite sem g(s, como a do baile, viu casualmente o Afrod0sio desa%arecer, no Beco das +rinc#eiras, 1 entrada solit(ria do tug
141
enfiada num frasco. /m uma cama de ferro, cuo lastro e-alava amon0aco e bodum, estendia&se, envolto em camisa alv0ssima, um cor%ozin#o louro. A cortina caiu %or detr(s do vulto masculino. / transformou&se, 1 imagina'!o de ambos, toda aquela infecta sueira. Os ol#os da criaturin#a loura abriram&se %regui'osamente, %ondo a alma 1s claras. / talvez tivesse escorregado a %"rola de uma l(grima. A%areceu a fileira dos dentes, as doces curvas e a %rovoca'!o dos bei'os e o sonzin#o da sua voz danado e matador. ntumesciam as rendas do tal#e. O oel#o originava dobras graciosas. Eigeira secura re%elia do cor%o a es%essura va%orosa da camisa. Os %"s, %orventura titilavam nos tornozelos, e nos dedos, a descoberto, e nas un#as embutidas na carna'!o corada e nova. 5!e Iefa, erguendo&se %ara beber (gua, vacilou, e bateu casualmente na %aredin#a da alcova$ o cotovelo enfunou a esto%a, o moc#o caiu, l( dentro, o frasco revirou com o coto de vela que ningu"m reacendeu. meia&noite %assava uma serenata. A %rinc0%io o som era long0nquo, dominando unicamente a voz do trovador. A %ouco e %ouco foi refor'ando, e destacadamente se %ercebia, em brandas lufadas, a flauta e o viol!o. )essou, enfim, a modin#a$ ouvia&se o rum&rum dos ra%azes, gargal#adas francas, discuss2es e %il#"rias. Bateram na venda da esquina, estiveram muito tem%o, e como l#es n!o abriram a %orta, berraram descom%osturas$ e sa0ram modulando uma valsa triston#a e sentimental, que infiltrava nos nervos adormecidos da cidade, 1quela #ora, uns re%assa&mentos de angnia entrou com a 5!e Iefa, que ia buscar as verduras %ara a Feira, 1s cinco da man#!, de lencin#o c#eiroso, abanando&se, declarando que esteve muito boa a missa de madrugada. Fabiana admirou de n!o ter %ercebido quando ela saiu, que dizia ter sido 1s tr3s e tanto. O Afrod0sio nada adiantara sobre a cr0tica %osi'!o da ra%ariga. /sta insistira em querer abrigar&se na #onestidade da fam0lia, de maneira nen#uma aceitaria casa. 4uase deses%erada, vendo o tem%o estreit(&la no f"rreo c0rculo dos nove meses, deliberou adoecer. A Fabiana ve-ou&se, quis mandar vir o m"dico. Ant>nia res%ondeu que bastava o doutor vir no dia seguinte$ em que aman#eceu re%entinamente boa. 4uem a salvou da aflitiva situa'!o veio a ser o %adrin#o. Ban#ando o rosto, no al%endre, curvo, inundando as faces barbudas, a%reciava o fartum da aguardente com que matara a frieza da (gua. Os %un#os da camisa, arrega'ados, só queriam descer. Da bacia de lou'a, beirada de azul e encarnado, saltavam res%ingos e flocos. Do lavatório abai-o, cua tinta estava uma d
142
de ladril#o mol#ado. Deu de garra ao sabonete. / breve o seu busto a%arecia es%umado, como se todo fora cabelos brancos. De ol#os fec#ados, esfregando a cabe'a com as un#as, agradavelmente subia a umas regi2es ideais, donde se nota serem as conveni3ncias e v0cios sociais de uma toleima atroz, garroteando os verdadeiros 0m%etos do ser$ via fam0lias sacrificadas %elo descuro de um %ai, brocadas fatalmente %ela ruindade de um dos seus membros$ donzelas e mancebos adstritos 1 %ennia subia do ban#o, e tomava& l#e b3n'!o. O %adrin#o entendido botou&l#e uns ol#os, %or cima, que %areciam coados atrav"s de uns óculos %rofissionais$ disse %aternalmente7 : Ant>nia, isso n!o vai bem... tu %recisas... mudar de clima...
143
A ra%ariga tornou&se como a flor do algod!o. : , fil#a, re%etia o %adrin#o. sso " caso de mudar at" de tudo. / ado'ando a sua brutal franqueza7 assim a modo de umas sez2es... Ant>nia titubeou, mordendo os bei'os, com um nó na garganta, enterrada %elo c#!o adentro, envergon#ada e e-altada %or uma inunda'!o de l(grimas7 : , in#or sim. Procurava a ra%ariga odiar ao Afrod0sio. No fundo do seu cora'!o incriminava&o de ingrato, infame, %erverso. / %or qu3; /la n!o via logo; N!o via;9 /la n!o via coisa nen#uma9 4uando atirou&se, ulgava que se n!o viesse a casar, que ficaria vivendo com ele, mel#or do que se fora mesmo es%osa. gnorava e-istir em si aquele sentimento incubado que somente agora des%ontava, a sua natural re%ugn?ncia %ela vida airada, um %udor instintivo, um #orror %or tudo que n!o era sagrado 1 fam0lia. A ra%ariga a%an#ara %elo sueito um amor verdadeiro. Beleza e formosura %odem ser da casca, sim%atia nunca. De%ois de mul#er, de gr(vida, %referia, %or isso, morrer, a de%ravar&se diante dele, a ser a%ontada na rua como sua am(sia. A%roveitou a frase %rovidencial do %adrin#o, e adoeceu deveras com sez2es. O Osório %ro%>s 1 Fabiana que a afil#ada %assasse umas semanas fora, a ver se aquilo acabava sem %recisar recorrer&se a mezin#as. : 5as onde; : /la indicou&me a casa da irm!. sso %or l( " uma mis"ria que faz %ena9 8e ela quer ir %ra l(... que temos nós com isso; Pois sim, #omem, eu estou %or tudo. A Fabiana declinava das suas antigas as%ira'2es, e vivia #oe em boa %az com o seu vel#o, son#ando com os futuros netin#os, arengando com as escravas e ao mesmo tem%o em%regando nestas e nos molequin#os boa dose de ternura. Ant>nia des%ediu&se 1 noite. )#orava de cortar cora'!o. Acom%an#ou&a 5!e Iefa. A #abita'!o do casal Góis, sem Kngela, sem 5anin#a, sem Ant>nia, morreu, %or assim dizer. A liberta Kngela dera em beber, a %onto de, %or ocasi!o do recol#er do Eargo de Pal(cio, ir em%encada com outras dar com os quartos no -adrez do Garrote, vaiada %ela canal#a que %iruetava 1 frente da m
144
Osório %ateava 1s tardes com o seu antigo camarada, o botic(rio Fernandes$ e ambos, %assados na casca do al#o, sen#ores das virtudes e defeitos das influ3ncias comerciais, eclesi(sticas, e %ol0ticas da localidade, comentavam o livro da vida, e-%endendo na %rivan'a coisas que se %roferissem 1 luz da %ublicidade #aviam de valer&l#es a%edreamento. Narrava ao amigo o corteo de %eri%"cias das suas rela'2es com o Afrod0sio, e, ao ouvido, as desgra'as de Kngela e da Ant>nia. O botic(rio arregalou uns ol#os, e %ersignou&se. / a conversa continuando sobre o assunto, o Osório c#egou a erguer&se, e %egou a deitar filosofia7 que o outro ficasse certo do que ele dizia. Cm #omem que %ossua os meios e o vigor indis%ens(vel %ara o casamento, e %rocure em vez da es%osa, a meretriz, n!o %odia ser tomado absolutamente, no %roblema da evolu'!o, como uma quantidade %ositiva. /mbalde as donzelas n
145
: Arre9 que desembuc#as como um ovem9 e-clamou o outro, levantando&se, como os dedos na cava do colete. /st(s me %arecendo um %romotorzin#o da nia. / assim gastava o Osório as #oras vagas, entre o bom senso do Fernandes e o ogo do )lube, com o res%ectivo corteo da cerveada. Foi %reciso segurar nas crinas, e tocar com as es%oras, aconc#egar o cor%o 1 frente, %orque a areia frou-a fugia nas %atas do cavalo enterradas %elo c#!o adentro. O animal encol#eu&se, forceou e galgou arriba. O cavaleiro, %assado o %rimeiro instante, res%irou a %aisagem que o cercava a %erder de vista. O es%in#a'o das dunas ia, at" desa%arecer entre a %lan0cie e o mar. Cma nuvem gigantesca alaranava&se, a %artir do %onto onde o sol, como uma enorme moeda de ouro, ca0a %ara detr(s das serras long0nquas. / assim montado, do alto do 5orro do 5oin#o, a noroeste da cidade, Osório, %ela %rimeira vez sentia&se abalado %or um %anorama da sua %rov0ncia adotiva. O c"u l#e %arecia muito mais gigante do que fora at" ali. A terra, uma floresta intermin(vel, dando 1 %ers%ectiva o ar de uma %lan0cie indefinida. O #orizonte era fugidio, e suave at" na lin#a de serras destacadas que ao %oente e sul costumam ornar&se de nuvens no to%e. A cidade, %ertin#o, sa0a como de um lado vast0ssimo, bordada sobre um ta%ete verde, edificada numa c#(cara imensa. Para a esquerda, afundava&se a %raia, e entre ela e o semic0rculo ingente do oceano, enrolava&se e desenrolava&se o nevado cord!o do quebrar das ondas. N!o trou-era óculo de alcance. +amb"m, devia en-ergar o seu torr!o era mesmo com a for'a natural dos %ró%rios ol#os. )ome'ava a sentir com aquele %ó alvinitente, com aqueles matos retorcidos da encosta interior das dunas, que o vento ia aterrando$ com os gal#os ( meio carbonizados, re%resentantes de antigos bosques, que o mesmo vento e-umava no seu giro doidivanas. Batia&l#e na fronte o influ-o monstruoso das serranias meio sumidas no cre%rma que l#e ins%irava o 146
seu a%rendimento. A cavalo, no %onto mais elevado dos arredores, isto era er a %ó, e migal#as de mato a viver mais do ar do c"u que do suco da terra. Aquela encantadora %lan0cie verde que ia at" acinzentar&se, n!o eram searas e nem fazendas, e dariam frutos dourados mas n!o os frutos do ouro. Aquelas nuvens ricas de forma, de cores, com a frescura das donzelas n
Demorava a %al#o'a da Binga, irm! da Ant>nia, a casada, no Eonguin#o. /ntrea%arecia na rama do caueiral que subia, do lado de terra, morro acima. Ficava a meio do declive, numa es%"cie de %atim$ e l( embai-o, %assava um córrego, no breal do %equeno vale anesgado feito %ela ram%a do Outeiro com o cord!o das dunas. O Osório tin#a ido %ela ua da Alf?ndega, alagada e frondosa. /n-ergava&se l( no fim aquela tira alva, ta%ando o #orizonte$ era o morro em sua %arte nua. A%ro-imando&se mais e correndo a vista, a%areciam l( no alto, os coqueiros soterrados, uns só com a grim%a de fora, do antigo s0tio de um fu!o Eonguin#o, cuo nome imortalizou a areia inconstante. O marido da Binga, o Pedro )a'!o, c#amava lar ao ranc#o lar, na fina %ro%riedade e-%ressiva da linguagem %leb"ia. Cma constru'!o f(cil, e adequada ao clima. As %aredes, de %au a %ique entai%ados de ramo e de %al#a. Na coberta, leve e ungida com ci%ós, os caibros formavam -adrez com o envaramento : onde mordiam as cabe'as das %al#as de carnania e blasonava meio mundo que a cun#ada estava no seu ranc#o tomando ares, que todas as man#!s sa0a %ara se lavar na mar", que estava engordando, botando barriga. Omitia, %or"m, as visitas do sogro, o cego o!o de Paula. /ste era mendigo, e sustentava uma fil#a vinia. Fazia da loura um ide!o. /s%eran'ava um dia ter not0cia de que ela, criada e moldada no bem& estar, fizesse um bom %artido, e de que era sen#ora distinta e es%osa feliz. Dis%ensava que se lembrasse dos seus. Fizesse ela %or si, e cada um com a sua sorte. Fora sa%ateiro, e cegara de gota&serena, quando Ant>nia era ainda
148
crian'a. )omo a mul#er falecesse, entregara Ant>nia nen"m 1 madrin#a, Dona Fabiana, que era uma %essoa que c#eirava c#eirav a a santo. No instinto de %ai, n!o dei-ou de estran#ar aquela esquisitice de largar&se agora uma donzela a tomar ares na c#ou%ana de um m0sero lanc#eiro c#ambregado$ mas como se falava em ban#os de mar, efetivamente era quase na %raia e um %onto afamado aquele. ( andava meio leso, %erguntava e re%erguntava. A %aralisia a modo que ia alastrando&l#e ferrugem %elo cofre das id"ias. ndagou %orque raz!o n!o viera ainda ali nen#uma %essoa a n!o ser o Desembargador, e aquele mocin#o fan#oso, o o!o Batista, cai-eiro do 8eu 6isconde. /m res%osta e-%licaram que o estado da Ant>nia n!o era grave, ela andava era assim 1 es%"cie de um %asseio. Negócios de mul#eres, que #omem n!o entende assim do %" %ra m!o. Nas v"s%eras de ir %ara a cama, Ant>nia, 1 boca da noite, sentava&se no limiar da c#ou%ana, enquanto os sobrin#os brincavam ao luar, e a Binga escamava o %ei-e e %un#a no fogo a ceia do marido, que atirava&se na rede a curtir um derradeiro gole de cac#a'a. Naquele afastamento a ra%ariga, sentia renascer a sua antiga inclina'!o %elo Afrod0sio. Ac#ava&se em uma situa'!o como de namorada ausente, em que os menores incidentes e e%isódios, iluminados %ela suave const?ncia da saudade, ressurgem, um %or um, e desa%arecem e voltam, e v!o, e tornam, com uma vida e claridade %al%(veis$ em que se escuta a voz e se v3em os ol#os da %essoa amada e ausente... 8ofria, como " dado a mul#eres, at" aos %equenos nadas de uma se%ara'!o. / na lua clara, diuturna, na fluidez onde os cor%os salientam&se nditos e o bril#o do am%lo, ca0a&l#e dos l(bios tinta de deseos e negra de dndola misteriosa tri%ulada %or cu%idin#os invis0veis, %or entre cac#o%os de neve, rom%endo mansamente as (guas do c"u. Para as bandas da cidade, um %eda'o de c"u escamento, com uns sombreados, fingia moitas sobre ca%ric#oso d"dalo alvadio, realizando como que a có%ia de uns tabuleiros de %raia. 5as o meio da enorme cam%an#a estava nu, num mar fosforescente beirando regi2es sinuos0ssimas, variegadas de as%ecto$ e notavam&se %ontas, ba0as, cal#aus, restingas, es%raiamentos, alvo colo das dunas, roc#edos, sulcos de barras de rios da mesma cor az
Ant>nia encarava o novilnia acordava cedo, com eletrismos felinos. 6ivia em dorm3ncia de lua&de& mel. Fareava um vago encantamento no se-o o%osto$ que %razer no tato, e na %ele toda9 A tudo a%ertar, em tudo ro'ar. A man#! l#e trazia um c#eiro esquisito de novidade. / tendo son#ado, to%ava na natureza inteira aquele mesmo c#eiro cor%óreo do ingrato Afrod0sio amado. 8entira, sem%re, no correr do dia, atrav"s das mais %rosaicas ocu%a'2es os bra'os dele, o rosto dele. Cm enlevo sens0vel, real, vivo, de alucinado9 A uma segunda visita que fez o %adrin#o, e desta vez com o Fernandes, a ra%ariga #avia dado 1 luz %ela man#!, e n!o ia bem. Francamente, o botic(rio saiu duvidando que a %u"r%era esca%asse. Por felicidade ou n!o, a crian'a morreu ao nascer. A m!e, %or"m, n!o acreditava9 / a altos brados tresvariava que l#e dessem o seu fil#o9 nda bem que, naquele deserto, vizin#os n!o ouviam aquela confiss!o da %ró%ria entendida desonra. Foi mister, contudo, arredar o %ai, que estava no costume de vir ali todas as bocas da noite. O confessor, um sen#or Padre icord, incumbiu&se dessa obra de caridade. 5andou %or um criado do semin(rio tocaiar o vel#o no %atamar da ca%ela, que l#e desse aviso quando o cego a%ontasse, %ois ele morava no Outeiro da Prain#a, e tin#a de descer a ladeira. 4uando veio o cego, o %adre que fingia estar %asseando no %atamar, esbarrou nele e %roferiu em tom acre7 : O sen#or %arece que " cego; : 8ou, in#or sim. : Perd!o, fil#o, eu %ensei que n!o o era.
150
/ acrescentou que #avia adivin#ado em %assar %or ali, naquele momento... ecebera de uma %essoa muito crist! umas esmolas %ara distribuir %or alguns cegos mendigos... O vel#o sorriu, %ois infalivelmente seria contem%lado. : 5as, a mode coisa " que estou falando " com um %adre do semin(rio; : /st( sim sen#or. / " %reciso saber de uma coisa$ %ara receber a esmola vosmec3 ter( de %assar a noite em ora'!o, %or alma de uma mul#er, que morreu de %arto$ se quiser %ass(&la aqui em nosso recol#imento. O cego n!o quis, tin#a de voltar %ara casa. 4uanto a %assar a noite em ora'!o, isso era menos... : 5as como #ei de eu dizer que vi o sen#or guardar a noite %iedosamente; : /ntonce " %reciso eu vir sem%re... : A esmola " boa, vale o sacrif0cio9 : 8acrif0cio n!o " nen#um, n!o sen#or. 5as... %rimeiro eu ten#o de ir l( embai-o... : Onde; : No Eonguin#o. : 6er o qu3; : 6er uma fil#a que ten#o l(, uma que estava doente, a Ant>nia, que fora criada na cidade na casa da madrin#a, aquela dona que vin#a muito ao semin(rio, muito religiosa, benze&a Deus. : ( sei, ( sei. N!o ten#a cuidado... /le %adre icord " verdade que #avia confessado e sacramentado essa menina, mas n!o era %elo seu estado grave, e sim %or dever de boa crist!. Bem sabia que o 8ant0ssimo 8acramento muitas vezes servia de rem"dio cor%oral. : Grandes s!o os %oderes de Deus. : uma fadiga dis%ens(vel, o sen#or descer a0 %or essa escurid!o. A ra%ariga vai %erfeitamente bem. s cinco #oras tocou a sineta do semin(rio. O cego aman#ecera de %". O confessor de Ant>nia disse missa de %aramentos negros agaloados de retroses amarelos, 1s cinco e meia, assistida %or ele. De%ois de descer do altar, 151
des%aramentou&se, fez a ablu'!o das m!os, e deu a'!o de gra'as$ consecutivamente, o %adre foi ter com o vel#o, deu&l#e a esmola, uma c"dula de dez mil&r"is, novin#a, e acrescentou que *a sua mis"ria se transformara em riqueza*. : 4uem me dera9 : Aos ol#os de Deus. : A#, isto sim, eu logo vi9 Disse&l#e mais o %adre que ele era muito feliz, %ois tin#a sido Deus servido... levar %ara sua santa glória... gl ória... a alma %ur0ssima... da Ant>nia. : Deus ol#a %ara voc39 um %ai misericordioso. O gol%e foi brutal e 1 queima&rou%a. O mendigo cegou agora do es%0rito re%entinamente. /mbalde o %adre largou em consola'2es. O cego ensurdecera. )alou&se. /ncostou&se a uma coluna. Da cai-a do %eito subia&l#e um vulc!o. A %ele ardendo com a secura e o calor de um forno, ele ulgava co%iosamente suada, mas de um suor de (gua fervendo. )ada unta era um %onta'o. / veio a tornar&se dormente na dor e na agonia. 8entia tudo e nada sentia. )ada %ontin#a da %ele estava ligada ao ambiente %or um fio que o %u-ava %ara estourar como uma bomba. / a%arentemente calmo como um b3bado costumeiro, %or"m ofegante, quei-ava&se %elo brando de que estivera de noite a rezar %ela alma de sua fil#a, %ara gan#ar uma esmola, #ein; Ora bolas, que felizardo9 As nia falecera minutos de%ois de o lazarista coloquiar com o cego no %atamar da ca%ela. O %adre n!o es%erava que ela morresse t!o de%ressa, e %or isso
152
tentara im%edir o vel#o de ir at" l(, %ara este n!o ouvi&la gritar no del0rio da febre7 : /u quero o meu fil#o9 /u quero o meu fil#o9 5orta cessava tudo. Cm trabal#ador da casa, deu %arte ao o!o Batista do triste acontecimento, estando ele no bil#ar no *=otel de France*. s onze da noite ia %ara a casa do Pedro )a'!o. 8eguindo a ladeira da ua de Bai-o, dobrou na ua do )#afariz, deserta e
153
brisa do mar, de uma frescura im%ertinente, e o firmamento clareava, %om%osamente. O )amin#o de 8antiago, o )ruzeiro do 8ul, a Arca de No", o os(rio, as +r3s 5arias, o elógio ou 8ete&/strelas, a 5anc#a do 8ul, todo o ma%a celeste con#ecido e classificado %elo ol#o do %ovo, indicavam sem embara'o, tendo o cuidado de n!o a%ontar estrela com o dedo, %or mó de n!o nascer berruga. Ao longe, ouvia&se a %ancadaria de um c#infrim do Outeiro do 8emin(rio$ de vez em quando sobressa0a o berro do trombone. tro mbone. 5!e Iefa c#egava, com o tio aimundo, e a Benedita, esta es%al#ando a catinga sebosa da sua rou%a de cozin#eira. Da %orta do casebre a%an#ava&se a vista do interior, num lance d@ol#os. O cad(ver estendia&se ao meio do com%artimento, sobre uma esteira, escondido %or um len'ol branco, e %arecia muito inc#ado, maior do que era de es%erar. /mbora falsa, uma sensa'!o de mau c#eiro assaltava o nariz do indiferente, e %rovocava as gl?ndulas salivares. Ao fundo um -ale azul, novin#o em fol#a, %regava&se na %al#a, acima da tam%a de uma cai-a coberta %or um len'ol de tacos$ e a0, dominando a minguada formatura irregular de imagens de santos, al'ava na cruz o vulto de )risto na sua soledade dolorosa, %or quem Ant>nia c#amara ao morrer, nu, correndo sangue, mal feito, ol#ando %ara a terra, fronte %endida, na muda %rofundez do )onsumatum est. /m bocas de garrafa, e %almatórias de flandres, ardiam quatro velas de carnar as m!os, cruzava os bra'os, com o est>mago em%inado %ara a frente. O vel#o crioulo aimundo ficou 1 entrada, 154
%ara ter livre sa0da quando fosse l( %ara fora untar&se com os outros #omens$ dobrado sobre os oel#os ronceiros, segurava no seu bast!o como se este fora um brand!o aceso, s"rio e grave como um uiz. Eembrava&l#e aquilo um ter'o, que em casa da Fabiana era a ora'!o da noite %ara a fam0lia e escravos, em que a Ant>nia, com um vestidin#o vel#o, no aoel#ar, este rasgou&se na es%(dua, e quando ela come'ou a cantar o #ino de Nossa 8en#ora, a mode que uma niquin#a de sua abundante voz se esca%ava %or aquela brec#azin#a. 4uando ela abriu a garganta no Agora l(bios meus, a camarin#a de sin#( m8 de que se encheu de passarinho e de fulores. 4uem con#eceu a a%eritiva Ant>nia n!o %odia estar ali sem um %rofundo e entran#ado solu'o9 Num caco de tel#a, ao %" do altar, fumegava a alfazema. Ao ruir do mar, ao bul0cio das (rvores, a sinceridade e sim%leza daquela gente, ao sus%irar do vento na %al#a, o Batistin#a ficava n!o sabia como, em diverso mundo, arrebatado, como fora, de uma ogatina foliona, 1 m0sera obscuridade de uma c?mara ardente, c#ou%ana magramente alumiada, relic(rio de uns restos mortais verdadeiramente restos. )oitadin#a, %odia ter sido uma es%osa9 e%ugnou ustamente aquele que a faria feliz9 5orreu9 +eve medo de v3&la, receava en-ergar naquele rosto, que acendia&l#e a vida, a monstruosidade da morte. N!o entrou, absolutamente n!o entrou. /m todo caso a ra%ariga fora uma ingrata %ara quem fez tudo %or ela. 8e morreu, foi ainda %orque desden#ou aceit(&lo, at" a nia. D@esna do ano retrasado. /la nem como coisa. Nunca se viu udiar tanto com um %obre9... : / mó de que n!o se casou; : )omo #avia de casar; A%ois si ela re%unava ele de mais9 Neste mundo #ai de tudo9 A vizin#a, sacudindo o %ano do caf", re%rovava em muito o %rocedimento dela. /le %odia ac#ar outra bem boa. / ao clar!ozin#o do fog!o, desfiaram o assunto, entrando %elas anedotas e casos acontecidos como aquele.
155
Pela madrugada, ainda se ouvia de vez em quando o 5eu 8en#or e Amado, e outros c?nticos de %iedade %o%ular, como %ara manter alerta aos que faziam quarto. 5uitos ressonavam. 5!e Iefa, Benedita e o %reto vel#o foram embora 1 meia&noite. A uma #ora c#egaram uns soldados, da guarda da Alf?ndega. /stiveram %ouco tem%o. +omaram caf" e cac#a'a, que era o que eles queriam, e deram boas noites. Amea'ava c#uva. )om efeito de%ois da %rimeira cantada do galo, caiu um forte aguaceiro. A %ouco e %ouco, um estremecimento manifestou&se %ela rama das (rvores, um vago rumor, agita'!o ao de leve, como se %or sobre eles %assassem mir0ades de insetos. A escurid!o incidia do alto, mais es%essa e friorenta. O fogo recrudescia, como as c#amas da #ul#a na fora, ao so%ro do alcaraviz. Breve, a frondagem alu0a&se toda. O %al#i'o do c#!o, no vale, andava em vórtice, e o vento sacudia lufadas de areia. Alguns entraram logo, outros afrontavam o meteoro. O Pedro gritou7 : )#uva ra%aziada9 6en#am %ara dentro9 : Dei-e cair, falou um dos que teimavam em ficar debai-o do caueiro. /ste c( n!o tem medo daquilo que Deus manda9 Ainda n!o ca0am os %ingos d@(gua$ e mais o aguaceiro, estava anunciado %ela ventania nia. Ac#ou&se isolado no meio de tantas %essoas. +emia desmoralizar&se na %resen'a aterradora da defunta. / mesmo a tem%estade l#e a%razia, quisera ficar ali fora, mol#ar&se que nem um %into nuelo. Dormia, quando %assou a %rimeira desfiada do vento. O Pedro foi quem %>&lo de %", obrigando&o a entrar$ o que o cai-eiro só fez de%ois de acender o cigarro num ti'!o, virar uma golada e armar fisionomia de um certo recol#imento. Antes de %>r o %" na soleira, o %rimeiro rel?m%ago abriu e rolou o %rimeiro trov!o. +a%ou&se a %orta do fundo que ficava na barra do vento. A da frente %ermaneceu meio aberta. O )a'!o f3&lo abancar numa cadeira que #avia. A cantoria engrossou, com a sur%resa da tem%estade, e de mistura com as %reces de finados, entoou&se de%recatórias a 8anta B(rbara e a 8!o er>nimo, deitou&se %al#as bentas do
156
Domingo de amos no braseiro da alfazema, e rezou&se ! Magnificat , %or mó dos raios e coriscos. nvoluntariamente o Batistin#a teve de %regar os ol#os na falecida. Cm magnetismo9 Absorvia&se naquela massa informe, de uma im%ress!o re%ulsiva, do len'ol branco estendido %or cima de um cor%o frio onde ardeu tanto a carne e onde ardearam t!o lim%os deseos dele, coloridos de ideal$ es%arzia son#os %or sobre o em%olamento que ao meio fazia a barriga u%ada, azida de um órg!o gerador, mina que %oderia ter sido de bril#antes %ara ambos$ demorava o ol#ar no eito anguloso, de %ir?mide, que o algod!ozin#o tomava cobrindo aqueles %"s #irtos, que seriam a %rimeira coisa que ele beiava na noite de noivado, ao %u-ar&l#e cariciosamente as meias, e neles teria mergul#ado a fronte c#orando de alegria, e neles teria ro'ado os seus cabelos altivos, e %assaria neles demorado como a a%ai-onada 5adalena com seu belo esus. Parecia&l#e que o %ano agitava&se, e que os %"s frios da morta iam me-er&se... a de mais em mais a convuls!o c onvuls!o atmosf"rica. Da abertura da %orta, %or onde entrava um refrig"rio de ar frio, longe, no Outeiro, viam&se as %intas de luz dos combustores da Prain#a, esbatendo nos azuleos da fac#ada uma claridade triston#a e dif0cil. O g(s rolava %elo tiolo mol#ado e %incelava umas co%as de (rvores. Pela for'a do imaginar, en-ergara o Batistin#a, desviado subitamente da contem%la'!o da defunta, nas mangas daqueles lam%i2es long0nquos, escorrerem as gotas de c#uva em ar de l(grimas abundantes, como as que l#e queriam irrom%er... /ntretanto, a Binga, a%ro-imou&se do cad(ver da irm! e levantou um bocadin#o a %arte do len'ol que encobria a cabe'a, ol#ou, tornou a cobrir. O seu vulto c#amou o ol#ar do mo'o novamente %ara a defunta. 4uando inclinou&se que ia %egar no %ano, ele estremeceu, e n!o foi sen#or de si. Fisgou a vista cada vez mais, #i%notizado$ %ara fec#(&la re%entinamente guardando fotografada no c"rebro a mais #orr0vel im%ress!o que ( teve na sua vida. A fisionomia da morta, que l#e ficou gravada, re%ousava sobre um saran#!o de cabelos aloirados. O len'o amarrado %ara segurar o quei-o ocultava a bela carnadura do rosto, e es%remia %ara cima a boca arro-eada deitando um l0quido %elos cantos. A lividez da testa e das frontes metia&se a meio nos cabelos embara'ados$ o nariz e-agerava o seu belo atilamento$ %or"m o ol#ar, se%ultado nas %(l%ebras descidas eternamente,afundia com toda a criatura, e entregava aquele formoso, a%eritivo e bel0ssimo cor%o 1 fria #ediondez do nada. A%agara o fogo concu%iscente ao cora'!o do Batistin#a. Antes, no bil#ar, acabando de %erder tr3s %artidas, %agando a cervea, com um riso contrafeito sobre as ca'oadas dos %irus, que um seu trabal#ador c#amou&o de %arte e deu& l#e a nova do falecimento da ra%ariga, tivera um abalo mui diferente daquele
157
d@agora. E(, ao %ensamento, vin#a&l#e um rima de sensualidades, que ele afagou. Absolutamente, n!o %ensava no as%ecto re%ulsivo de um cad(ver, e o seu obstinado benquerer, ao em vez de estirar&l#e %or diante um cor%o #irto e (lgido, %un#a&l#e de %" e ao encontro uma vis!o ang"lica de cabelo de ouro e rostin#o fresco, voando ao z"firo a gaze da sua vestimenta,e %ensava correr %ara abra'(&la, fartando&se no olor embriagante que ela es%al#ava com uma claridade sobrenatural. Os com%an#eiros viram&no sair com o trabal#ador e gritaram frascariamente que queriam ir tamb"m, ulgando o caso muito outro. Eargou %ara a ladeira da )oncei'!o, que ficava %or tr(s da 8", %ois era mais %erto do que arrodear %ela %raia. )#egando, %or"m, ao 8anto )ruzeiro, foi tal a im%ress!o de tristeza que l#e infligiu o as%ecto soturno e angustioso daquela enorme cruz al'ada, carregadin#a de emblemas do mart0rio, que a id"ia de morte saltou&l#e em cima como um trai'oeiro e feroz cangu'u. Passou&l#e %ela vista uma rede, saindo da escurid!o, levando o cor%o frio, conduzida %or dois #omens. /stes andavam de c#outo, como os %ei-eiros quando v!o de cal!o carregado %ara o mercado, e os acom%an#avam outros %ara ir revezado. 4ue s"quito9 Fec#ou os ol#os e sentou&se um momento num dos bancos de alvenaria do %atamar9 Pior9 A rede %assava e re%assava. Cma coberta de c#ita vermel#a e desbotada %endia do %au, a um lado e outro, 1 maneira de cortinado, e escondia com%letamente o conte
158
)ome'ou a refletir, o Batistin#a, na atribulada %osi'!o do momento. A morte da Ant>nia era uma sur%resa. )omo " que um #omem, semel#ante a um ator de m(gica, se ac#a, de re%ente, assim de um cen(rio a outro9 5ola %oderos0ssima e quotidiana do descon#ecido9 P>s o caso em si. ealmente, o que devia fazer como #omem e sobretudo como idólatra e amigo, era ir logo 1 /m%resa Funer(ria, %ara ter tem%o de %re%arar cai-!o a%ro%riado, e tratar do enterro, com a e'a, carregadores, brand2es, etc. austando %or um %re'o que estivesse nas suas %osses. Pagaria tudo$ n!o se fiava no Desembargador e na vel#a Fabiana, uma gente sovina, que %arece que só queriam era ver&se livre da %obre ra%ariga9 8ó tin#am caridade na boca$ e religi!o, no manual. Outrossim, %ela man#! distribuiria cartas de convite a %essoas que n!o desden#ariam acom%an#ar um enterro de uma c#ou%ana do Eonguin#o. Para isso recorreria aos irm!os de 8!o 6icente de Paulo. Poria annia Ben0cia de Paula, %or esse ato de caridade e religi!o$ e convidavam de novo as mesmas almas caridosas %ara assistirem 1 missa do s"timo dia que seria celebrada na ca%ela da Prain#a 1s cinco #oras da man#!, se-ta&feira, do corrente. / da0, foi ter ao escritório da em%resa. 8e n!o cuidasse daquilo bem %odia ser que os caboclos do Eonguin#o, com o tonto do Pedro, fizessem o enterro de rede. e%ugnante9 8ubiriam a 0ngreme ladeira, em cuo to%e se a%resenta a ca%ela emendada na anelaria do semin(rio, e entrando no cor%o da igrea des%ovoada, estendiam o cad(ver no soal#o, sumido na %anaria de algod!o e cobertas, com a com%rida trave, onde amarravam fortemente os %un#os, ca0da %ara um lado, 1 es%era que seo %adre c#egasse %ara fazer a encomenda'!o... Foi %or isso que ele c#egou ao Eonguin#o ( noite alta. /stava ele, %ois, debai-o daquela sensa'!o que l#e %roduziu o semblante da defunta, quando a Binga levantou a %onta do len'ol9 8entia&se #irto como ela. O seu deseo
159
)orrido o tem%o, o c#uveiro ia dando de si. 6ia&se ( o vento %elas costas. A c#uva %rolongou, e afinal cedeu. De vez em quando ainda rosnava o trov!o, como o son#o agitado de um c!o imenso. Fuzilava um rel?m%ago frou-o e cansado, que dificilmente aclarava o dorso negro do c"u. As (guas su%eriores ( n!o regavam. Pingos ralos " que ca0am da fol#agem, como a cada sus%iro de%ois de um %ranto nervoso. Aos %rimeiros albores da madrugada, o Batistin#a ( #avia consumido quase um ma'o de cigarros. A luz amarelenta da vela de carnania. )ondenado agora a solteir!o. N!o devia ter consentido o cauirismo do casal Góis atirar a Ant>nia doente %ara a derradeira camada social, " verdade, mas %elo seu antigo des%eito, queria v3&la descer$ e ent!o viria a dizer&se7 : 8obe9 )on#ece que eu sou %ara ti como o )risto %ara o E(zaro9 +olin#o9 /la o abominava, de 0ndole, %or todo sem%re. ( as cornetas soltavam as notas da alvorada, no cora'!o da cidade. / aquele toque %rolongado e saudoso era %ara o Batistin#a, estatelado ante o cad(ver da Ant>nia, atirado ao c#!o, de uma %ung3ncia atroz. Aquela modula'!o long0nqua, entrava&l#e agudamente como so%rada ali %ro%ositalmente nas suas ou'as. Fingia um e-"rcito remoto dos duendes que vin#am %ara os restos mortais da ra%ariga. O seu cora'!o batia como se ouvira toque de inc3ndio, e se este fora nos armaz"ns de que ele era guarda. A ca%ela da Prain#a c#amava %ara a missa. )ome'ou na %al#o'a o alvoroto do aman#ecer. Os #omens foram %ara o servi'o, as mul#eres a ver os seus lares. O Batistin#a c#egou at" ao tra%ic#e, e a0 ficou, mandou o ca%ataz abrir o armaz"m, botar na beira da %raia o algod!o e os couros que tin#am de embarcar$ que n!o %erdesse a mar", que era cedo naquele dia. Cma %ontin#a de sol incandescia o azuleo da torre torr e da Prain#a. /ra %or esse tem%o que o cego o!o de Paula esmurrava %ara dentro da ca%ela uma #orr0vel blasf3mia, e vareava %ara o recinto sagrado o li-o de um desaforo, e descia, como se en-ergasse, a ladeira, %asso aqui, %asso acol(, com a vista do
160
instinto e do inveterado con#ecimento do camin#o, a ter m!o em casa do genro. )#egou a%lacado. 4uando os de casa viram&no galgar a areia da subida, a%arecendo subitamente num cotovelo do camin#o, estremeceram at" a raiz dos cabelos. 5omentos de ansiosa e-%ectativa. O vel#o foi falando %or aqui assim, quase sem f>lego7 : Deus d3 bom dia... / como viesse avan'ando como se o terreiro estivesse lim%o, gritaram7 : Ol#e o banco9... Antes, %or"m, de findar este grito, ( a Binga estava abra'ada com o %ai, e, bendito sea Deus, na mais benfazea efus!o de l(grimas. l(g rimas. Cma circunst?ncia ines%erada acertou de vir novamente %>r em acelero aqueles cora'2es rnia. Ac#ava arrimo na sua cren'a, e absorvia&se na fantasiosa contem%la'!o da fil#a, vestidin#a de branco e toucada de rosas, entrando no Para0so. ecorria inconscientemente 1s im%ress2es da inf?ncia, ao que #avia lido quando %ossu0a vista, ao que escutara nos serm2es, e formava no im%al%(vel um mundo onde bebia a consola'!o necess(ria ao equil0brio das suas fun'2es vitais. 8e as suas fei'2es conservavam uma rieza de %edra, como se a alma dele #ouvera fugido, era mesmo %ela abstra'!o. Fez queimar bastante alfazema, misturando com incenso. Deu&l#e, %or"m, o destino abra'ar o cad(ver, num desses arrancos naturais do amor e da loucura. Cm acesso, %aro-ismo da %rimitiva dor ilógica e brutal que o fizera inuriar a casa de Deus. )on#ece que a mortal#a " de seda. : Para que tanta riqueza; fez ele erguendo&se. 4uem arranou isto; : um vestido muito sim%les, meu %ai, e-%licou a Binga. saia e casaco... Foi o mel#or que eu ac#ei na ocasi!o... um que a 5aria das Dores, de 8in#( Dona Fabiana, deu a ela %ara a 8emana 8anta. : /nt!o " de seda %reta;9 Ningu"m res%ondeu. : 5as eu queria que a min#a fil#a fosse vestida de Nossa 8en#ora da )oncei'!o9
161
N!o #avia %ano azul. Por"m ele dava. /nt!o %ara que queria aqueles dez mil& r"is novin#os; O# 8eu Pedro9 O genro vin#a subindo com um %ote de (gua no ombro. O vel#o re%etiu7 : 8eu Pedro;9 : 4ue " l(9 : +emos de ir 1 cidade. : Pronto ao seu dis%or. =oe n!o vou ao servi'o, o %atr!o que se aguente. N!o " de morrer uma %essoa em min#a casa e eu me largar %ro trabal#o sem duas raz2es. N!o sen#or. nda ten#o um vint"m de d e meu. Pr@onde quer ir vosmec3; : 6amos, sen#or, de%ois ver(. O Pedro %>s o c#a%"u e seguiram. A mul#er coc#ic#ou&l#e no ouvido. O vel#o resmungando7 : Pois n!o deviam ver logo que a min#a fil#a devia ir com o trae da 8ant0ssima 6irgem; A Binga dizia ao %ai que n!o fosse, que tudo a terra #avia de comer, e que ficava muito tarde, que eram dez #oras. 5as o vel#o fez ouvidos de mercador, e abalou. /la %ossu0a o seu relógio de %arede : uma r"stia de sol. / mandou um recado ao Batistin#a %ara que em%atasse o vel#o at" de tarde, e a%ressasse o enterro. 4ue doidice, meu Deus9 /ra im%oss0vel a Ant>nia ir de Nossa 8en#ora. Ao menos se o %adre n!o a tivesse ouvido de confiss!o... 5as era o diabo9 O Padre icord n!o consentiria em uma falsidade semel#ante9 4uanto mais que ele " quem ia fazer a encomenda'!o... O %adre reservara %ara si o %rivil"gio de %ronunciar o derradeiro Cequiescat in pace naquele pace naquele cor%o cua alma ele arrancara s garras do dem>nio com o Ego te obsolvo. obsolvo. Dez e meia. Acom%an#ado %elo )a'!o e %elo Batistin#a, que subira %ara a cidade a toda %ressa, ao recado da Binga, o o!o de Paula entrava na /strela do 8ul, uma casa da ua da Palma, onde se vendiam obetos de enterro e %assamanes. : 5e d3 oito metros de cetineta branca e tr3s da azul, um diadema de rain#a... : 4ue " isso de diadema; obtem%erou o cai-eiro da loa.
162
: %ara a min#a fil#a que morreu. 6ai de 8en#ora da )oncei'!o, e quero com diadema. : /st( bem, fez o cai-eiro, #abituado e mestre no of0cio. sso arrana&se. : / quero um %a%el de arrebique. /st!o aqui dez mil&r"is. Dez mil&r"is n!o c#egavam. O Batistin#a mandou debitar&se %elo resto, e c#amou o colega de %arte. F3&lo vender fazenda %reta em vez de branca e azul, %orque ao menos, como era %rov(vel, c#egarem tarde a fam0lia no %ro%ósito de remanc#ar, serviria %ara o luto. Portou&se ant o outro, como se o cego e o Pedro )a'!o fossem fregueses l( da case dos muitos %arasit(rios que tem o 6isconde, aos quais ele servia de cicerone. 4uando estavam nisso entrou o Eucas, de guarda&sol aberto e d o%a encarnada, %edindo7 : Para o azeite do 8ant0ssimo. econ#eceu o Batistin#a, e escancarou&l#e um abra'o dos seus : O#, meu querido Batistin#a9 e-clamou, arregalando os ol#os admirativamente. =( que tem%o que o n!o veo em casa da comadre Fabiana9... )omo vai essa for'a; Abatido, #ein; 4uer enriquecer da noite %ro dia... / desfez&se no seu #abitual e %egaoso agradamento de filante. No abra'o a es%in#a dorsal do mo'o quase sofre uma avaria %roduzida %elo a'oite da bolsa endin#eirada segura %elas al'as de %rata ao gadan#o direito do andador. : )on#eceram&se, mandem botar9 %il#eriou o cai-eiro. O Pedro )a'!o deitou um vint"m na bolsa, cua grossa casimira e cartate ia esverdeando do cobre$ e o Eucas, na %ressa e na inesgot(vel %rosa, estendeu& l#e ra%idamente %ara beiar, como quem sacode um bofete com as costas da m!o. O lanc#eiro dobrou o oel#o direito e %lanto na custodiazin#a de %rata escul%ida, cosicada no %ano da semoleira, um ruidoso beio da sua
e que a sua vida era trocar %ernas. /ntrou no mundo com o %" direito9 8em%re embirrara com aquele mafamede9 N!o l#e dava dois anos que o maluco do desembargador n!o arrenegasse de tal genro. /ita9 5enos disso... Pois at" loguin#o. 4uer bem a gente, que n!o custa din#eiro. / foi&se. : Ora se custa9 obtem%erou o mo'o de si consigo, lim%ando r len'o a destra que a%ertara aquela m!o que l#e era moralmente noento como no f0sico a de um E(zaro. / ficou de %", na soleira, enquanto o colega arranava o tal diadema que o vel#o e-igia. O andador seguiu rua acima, sem c#a%"u, e de guarda&sol invariavelmente aberto. 4uando o vento dava, a%arecia %or bai-o da o%a o len'o de ra%", quase a sair do bolso de tr(s. O #omem se me-ia %resto, e de %orta em %orta ia gritando familiarmente7 : Pro azeite do 8ant0ssimo. Pro azeite do 8ant0ssimo. sso %or a0 al"m. Os tr3s n!o tardaram em seguir rua acima. As frontarias do ocidente e o r"s&do&c#!o estavam tomadin#os de sol. A%enas uma estreita umbria contra%un#a d"bil frescura. /ram atraentes aquelas varandas %intadin#as de verde, rindo no lim%o corolamento das frentes coroadas de %latibandas e encasquetadas de enormes tel#ados vermel#os. Dentre as casas do Nascente, a%arecia a meia cor%oratura de (rvores da Feira Nova, derramando e goteando sombras %ara aqueles lados. / eles iam a atravessar aquele vaiv"m de %essoas e de coisas, aquele bul0cio mercantil nos %asseios, no em%edramento, 1 sombra, ao sol, ligeiros uns, devagar uns certos, dentre tudo desafinando o ru0do das carro'as como o moer sei-os. Desenganados de que %or ali n!o arranava&se o tal diadema, iam de loa em loa, sem%re inutilmente. Cma tolice da imagina'!o do cego. No mercado n!o e-istia tal bugiganga. O Batistin#a, este a cogitar um %ouco, %ara ver se encontrava nalguma %arte. )orria a vista. As %adieiras, os claros de %arede, ostentavam letreiros, tabuletas e amostras. De uma Ourivesaria se destacava um gordo relógio alvo, com %onteiros gigantes, e mais longe balanceava no ar o encarnad!o de uma bandeira de leiloeiro com o d0stico7 Eeil!o #oe. Cm mastro de consulado esgueirava %ara o alto, ro'ando a %arede de uma esquina... Desimaginado da sua %retens!o, o cego estacou de re%ente. esoluto7 : =ome, quer saber de uma coisa; 6amos embora %ara casa. Da ua da Boa 6ista, desembocando na Feira %elo 8ul, via&se %ela nesga do arruado, abrir a fervura do 5ercado formigando de %ovo. Os ru0dos eram
164
im%elidos ou descamin#ados %elas correntes de ar. / ( na %ra'a, %resenciava&se um fundo de -i-azeiros altos a servir de sobre&c"u 1 barracaria ro-o&terra, verde, %intada a cores e-travagantes e suas. Do minavam os tons da rou%a branca. As (rvores se e-%andiam em cintila'2es e em sombras. N!o #avia meio de o entreter %or mais tem%o. O%ini!o e %ancada sua or'avam %ela mesma seguran'a e rigidez. )ontudo, ao atravessar a Feira, sem%re tentou ver se ac#ava %or aqueles bazares e armarin#os variegados, que dizem ter de tudo. 5as c#egava a um e dizia7 Aqui tem isto; : só o que falta, fa lta, meu amigo, res%ondia o afanoso loista, no seu a%rumo. a %rumo. +ocou o meio&dia, e soaram sinais %or defunto no sino long0nquo da Prain#a. O vento favorecia a nitidez das badaladas. O vel#o gritou %ara o Batistin#a. : O# o!ozin#o, se voc3 vem assim remanc#ando eu largo&me adiante9 / entrou na bodega seguinte, e-%licando o que queria. O vendeiro custou a com%reender. : 4uem foi que morreu; %erguntou um %ol0cia que acabava de com%rar coral %ara o correame. : 4uem sabe l(; : A%ois foi a se@Ant>nia, res%ondeu a Kngela, cua vida era arrastar o c#inelo e virar o co%o, : aquela que estava l( em casa. : / tu tens casa; : A casa da dona que foi min#a sen#ora. : A#9 eu con#ecia essa menina9 Bonitona9 e-clamou o vendeiro com sentimento. 5as com quem #avia casado; O cego entrou na conversa7 : N!o casou com ningu"m, meu sen#or9 O Batistin#a e o Pedro ficaram ficar am do lado de fora, es%iando uma briga de galos. : N!o casou; N!o casou; re%etiu a cabra, insolentemente, de m!os no quarto. / aqueles sinais s!o de donzela; Faz favor de me dizer;
165
6iu&se o cego revoltado at" os ossos. Nesse 0nterim o Batistin#a #avia sido ins%irado %or uma feliz lembran'a, dizendo ao )a'!o7 : H Pedro9 Agora " que me ocorre9 /stamos fazendo uma grande besteira. Admira como o vel#o n!o se lembrou disto9 : 5asoque"; : que voc3 ( devia ter ido adiante com a fazenda9 : )omo ent!o; : A fazenda " %reta9 Pode&se fazer a rou%a. : Ai #ome, " mesmo9 : Pois vai de%ressa, que assim o vel#o ao menos ficar( mais consolado9 / o Pedro largou, um %" aqui e outro l(. Assim, quando a Kngela meteu&se a tagarelar com o vendeiro acerca dos sinais, o Batistin#a entrava %ara dar %arte ao vel#o da resolu'!o tomada e cum%rida. O cego res%ondia solenemente 1 liberta7 que aqueles sinais que estavam ouvindo n!o %odiam ser %or quem ela dizia... : uro que s!o9 interrom%eu a cabra$ e beiando os dedos indicadores encruzados7 : %or esta cruz. Ainda agorin#a vim da casa da 8in#( Fabiana. Cm raio me %arta nesse momento... O cego %assava %or todas as cores. O Batistin#a %egou&o %elo bra'o, e com uma voz engasgada, l#e dizia7 : 4ue tolice9 /st( vosmec3 a dar trela a uma cabra tonta9 Foram saindo. A cabra, arro-eada de des%eito, gritou&l#es da %orta7 : )abra tonta eu sei quem ". 4uem sabe se tu n!o " o %ai da crian'a, amarelo de goiana9 O Batistin#a voltou e desandou&l#e um bofete, que a es%arrou na cal'ada. O dono da venda a%itou. 5as o criminoso desa%areceu no meio do %ovo, que se auntara num instante. A cabra erguendo&se no meio do c0rculo formado %elo auntamento, berrava7 : Anda dar aqui, miserave9 )abra desgra'ado9 Namorado sem ventura9 +u me deu " %orque foi de trei'!o9
166
/ desfiou uma carretil#a de nomes feios. /ntretanto foram aqueles os lego. / via sem%re, sem%re, a fil#a, n!o morta e estendida na esteira, mas viva, linda, formosa como a 6irgem 8anta, resistindo, resistindo... %ara afinal desvendar&se %or uma vez. +a%ava os ol#os. /n-ergasse ele com os da carne9 / subia&l#e de dentro um arroc#o. )aiu, debai-o de uma moita de %au&ferro entretecida de maracu(&silvestre, com vontade de n!o mais se levantar. 5andara o o!ozin#o um #omem a%ós ele, e ficou %ara o enterro. O gol%e era %rofundo, o mo'o n!o tin#a alma %ara assistir 1 dor daquele %ai. A Binga rolava com um ataque, a dar guinc#os na rede. Os circunstantes diziam que isto era doen'a do flato. As quatro e meia #oras da tarde assomava o enterro no adro da ca%elin#a. Os carregadores vin#am ofegantes da subida. A largas %assadas solenes, calcando o %", a um tem%o, os quatro #omens, de bon", aqueta e cal'as de lustrim, com um rio talabarte onde enfiavam as %ontas dos varais que su%ortavam o cai-!o, entraram, %endidos %ara tr(s com o %eso. Atroou a cad3ncia de muitas %essoas no assoal#o, e reboou a nave deserta. Os convidados abriram %ara os lados,
167
de%ois de cada um armar&se do c0rio. 8obre uma %obre e'a agaloada nas arestas, es%erava o cai-!o a vinda do sacerdote, ao meio da igrea. 6eio um menino acender as toc#as dos quatro casti'ais negros que arrodeavam o f"retro. nda #ouve momentos de e-%ectativa. /nfim, a%areceu %ela %orta lateral da ca%ela&mor um ra%azote de %aletó de al%aca, al'ando uma #aste ne& gra e alta, encimada %or uma a%ar3ncia de guarda&sol fec#ado, de veludo %reto com franas de retrós amarelo, da %onta do que uma cruz subia com os seus bra'os duros e cris%ados. O ra%azin#o dobrou o oel#o debai-o da l?m%ada, e avan'ou, com o com%rido emblema inclinado ao ombro, indo %ostar&se atr(s, um %ouco afastado, de costas %ara a sa0da. 6eio o %adre, com o roquete, a estola ro-a, o ritual, acom%an#ado %or outro menino que trazia a caldeirin#a de (gua benta$ e como se n!o estivesse ali %essoa viva, %ara ningu"m ol#ou. Fez uma genufle-!o 1 cruz, e colocando&se %ara um lado, leu no seu livro, rezou o +ater *oster , as%ergiu o cai-!o, n!o sei o que fez mais, e foi&se embora. Os carregadores meteram os varais %or debai-o do esquife, sus%enderam, tiraram de sobre a e'a, enfiaram as %ontas no talabarte, e sa0ram, envolvidos no %au& sado tro%el dos convidados %elo tabuado soturno. Da ca%ela, avistava&se a %aisagem dos s0tios da %raia, e l( %or detr(s o mar enorme de um azul fino que %rovocava deseos de abeberar. Para o Nascente um te'ume de coqueiros, e o cinzento do camin#o interior do 5eireles. Para o Poente a cidade, amostrando como a des%ontar do c#!o as torres e as %latibandas mais elevadas. /ra longe o )emit"rio. O Batistin#a n!o foi al"m da ua da Palma. /ntretanto, era at" andeo. Padecia, %or"m, um esmorecimento geral das for'as naquele momento, e quisera ficar só, a ver se %oderia consigo mesmo e-%andir&se, desabafar&se, %rantear, imaginar, endoidecer, morrer, estalar de febre. 5eteu& se no quarto, 1 ua das Flores. / de%ois de dar algumas ordens ao ca%ataz, que o acom%an#ava, mal este %>s o %" na soleira, a %orta fec#ou&se. CAPÍTULO 4
)#egou a 8emana 8anta. 8e-ta&feira da Pai-!o a Fabiana, de bra'o dado com o Osório, no rigor do trae %reto, seguia %ara os atos da 8". Cma com o manual, outro com o binóculo. /m toda cidade #avia o e-traordin(rio formigar do %ovar"u %edindo esmola para o "e"um d'ho"e, d'ho"e, como " costume naquele grande dia. A aus3ncia de sinos, de cornetas, de c#ocal#os nas cavalgaduras, de tr(fico, de toques de %iano, %un#a a cidade como edificada em corti'a. O arrabalde invadia a %ovoa'!o confortada. Ao longo das cal'adas a %lebe em turmas, ia de %orta em %orta. =avia aglomera'2es nas tabernas e mercearias,
168
nos armaz"ns das grandes casas comerciais, e nos bai-os dos sobrados das fam0lias de alta catadura que consagravam ainda aquele uso tradicional. 5ul#eres em quantidade, de c#inelo, -ale surrado, ou cobertas com um len'ol de tacos de c#ita, cabe'!o suo, com o ar disfar'ado do c!o que %isa em terreiro al#eio. aro uma %essoa branca. A modo que estava ali a grande maioria dos descendentes ta%uias raramente cruzados com os africanos, e a%enas de longe em longe retocados %elo sangue euro%eu. )rian'as acom%an#ando as %essoas grandes, e fazendo %ela vida. Ao es%0rito embora esterilmente observador do Osório, aquela multid!o, arrastando c#inela e %enr o %" na soleira da 8", notou&o %or entre os soldados que estavam a0 montando guarda. A soldadesca cercava&o e tirava %rosa. Fazia boas gaiatadas, que nem uma crian'a ou que nem um doido, torcia o bei'o, batia com os bra'os em ar de galo que vai cantar, sa%ateava, contrafazia&se em treeitos e mogangos, o que l#e rendia sem%re alguns dobr2es %ara a sacola. =avia naquilo um bom divertimento %ara a tro'a das ruas.
169
Cm %ano enorme, de casimira cor das o%as do 8ant0ssimo, com um sagrado emblema cosicado no meio, velava a abertura da grande %orta da entrada, encai-al#ada em fortes %un#ais de %edra lioz. Fabiana des%regou&se do bra'o do marido %ara %oderem rom%er. Eogo adiante da entrada o guarda&vento, envernizado a %incel com ro-o&terra, ta%ava a vista do interior, de alto a bai-o. 5eteram a m!o na %ia ostrada 1 %arede, e %ersignaram&se. O Batist"rio da direita com o seu 8anto Ant>nio no nic#o, estava escancarado %ara facilitar o tr?nsito. O casal Góis de Oliveira foi abrindo %or entre os #omens, numa atmosfera ruim, escurecida %elas colunas atarra-adas que sustentam o coro e %elas esguias, em ordem decrescente, onde re%ousam os %lanos escarlavados do coreto. Da nave direita, tomada %elos #omens, foram tomar ao fundo a grande escadaria em cotovelo que leva 1 ordem su%erior das varandas. No r o c#a%"u na cabe'a. De quando em vez, %or uma clarabóia, a%arecia&l#es um ato de cidade. Por uma de Eeste, avistava&se longamente uma tira de morros, como um gigante alvo e nu estirado entre o mar e o verde em%oado da %lan0cie.
170
: O#9 Fernandes, aquilo " realmente insu%ort(vel7 uma sen#ora n!o %ode vir c(7 re%ara estes desen#os %ela %arede9 4ue indec3ncia imunda9 Bonitos %alavreados, sim sen#or. Na verdade o casamento estava garatuado a carv!o. /ram caretas, nomes feios, e esbo'os imorais de uma tor%eza crassa. : 8abe quem faz isto, 8eu Osório; 8!o os nossos lindos fil#os. Agora n!o admira. Ei eu algures que a inf?ncia reflete a sociedade, e que %elo cac#orro da casa, e %elos %equenos, %ode&se concluir o que seam os donos. Os meninos borram e quebram as obras de %edra e cal, e voc3s as do ideal, o Direito, a Eei, a eligi!o, a Pol0tica... /ram c#egados ao meio do camin#o. =avia a0 um andar com%leto. : =omem, dei-e&me l(, que " feito do )entu; : Ai que aquilo est( um %ateta9 : Ora c( est( a sua
171
: )( a min#a vontade era formar o %artido re%ublicano. : Deus o livre, Deus livre o %artido re%ublicano o nascer desta degenera'!o mercantil9 8e eles en-ergassem com os ol#os da torre veriam a cidade, %airando %equenina l( embai-o, como o Gulliver diante do Eili%ut ou de Blefuscu. Os sinos, em seus nic#os, estavam com os badalos amarrados, e o Osório batendo na beira do grande com o nó do dedo, fez&se na abóbada da torre uma resson?ncia %rolongada. Eargaram a %arolar sobre a terra que se a%lainava %or aqueles #orizontes adentro. 6ia&se, nas ruas que o ol#ar a%an#ava, um formigamento de %igmeus. : /ste %a0s n!o ser( coisa nen#uma enquanto a cidade n!o ca%itular com a ro'a, formulava o Fernandes. O aumento da ca%ital " %ro%orcional ao des%ovoamento e abandono do interior9 sto assim vai 1 gaita9 O c"u azul estendia o seu toldo imenso. / os dois amigos entraram a discutir em voz alta, naquele isolamento de torre. N!o se %odia %erceber o %anorama sen!o %or nesgas, %elas fenestras dos sinos. Eobrigavam&se ind0cios da vila de 5eceana, a %ovoa'!o de Arronc#es, a matriz de 8oure, %ombin#a alva ca0da nos matos, cerca de tr3s l"guas de circuito. O mar, esse era a %erder de vista, uma vis!o gigantesca e indefin0vel. O Osório estava confederativo. O Fernandes, %or"m, mais 1s direitas, absolutista. Demonstrava o botic(rio que o rei absoluto %recisa do bra'o do %ovo, contra as cabe'as dos %oderosos, e testemun#ava com a =istória. O outro alevantava teorias de liberdade. : A liberdade faz isto que voc3 est( vendo, seu desembargador, estirava o Fernandes o bei'o indicando a cidade. /sta %rov0ncia ser, da )orte, uma afil#ada reles, em vez de uma fil#a querida. A liberdade faz " consagrar esses %arvenus em morubi-abas, sem flec#a e sem taca%e em tr"gua %ermanente com os dois maiores inimigos desta Prov0ncia, que s!o a Natureza e a )orte. 6oc3 est( vendo aquela em%ena;... Ali, #omem9 No cam%o da Am"lia. Aquela em%ena com andaimes... uma casa que estou construindo, 1 custa de rigorosa %arcim>nia. O fim dela ser( cair em m!os da oligarquia din#eirosa. 4uem edifica " o %equeno burgu3s. O grande %ossui a favila do ca%ital. N!o constrói, nem %lanta. Abocan#a de%ois com a #i%oteca. : =omem, isto " muita afoiteza, seu Fernandes9 / que servi'o
172
/ de %arado-o em %arado-o, um c#egou ao fim do cigarro, que teve de reacender mais de uma vez, e o outro a fungar umas tr3s %itadas atroantes. O Fernandes, riscando um fósforo, lembrou&se do c(lculo que fizera, das ri%as que #avia de com%rar %ara a coberta da casa. : =ein, #omem; /star( certo; Dei-a&me ver... De dez em dez %olegadas, um caibro... s!o cinquenta %almos... cinco vezes oito... / com a %ontin#a carbonizada do %alito do fósforo escreveu uns algarismos na %arede. Desceram devagarin#o, %orque as escadas eram muito em %". Findo o ato, concordaram %razo&dado %ara assistir de noite 1 Prociss!o do /nterro. / enfar%elados no %ano fino, ambos tomaram %ara suas casas, cada um com sua mul#er 1 banda. =aviam austado reunir no sobrado do finado 8enador 8ucu%ira, de onde gozariam do es%et(culo. ealmente, obra de sete e meia, a%ontou o s"quito ao fim da rua. Provocava uma sensa'!o %eregrina aquele funeral %or defunto su%ositivo. A cidade %rofundava ainda mais o religioso sil3ncio do dia. Cma cruz negra abria o saimento, com a n0vea toal#a que cingira os rins do 5orto, de um bra'o a outro estendida. 6in#am %elas co-ias duas int"rminas fieiras de irmandades, de vela acesa. O menino da 6er>nica es%ilongava o seu ti%le, ao ru0do seco e #orri%ilante da matraca, e tr3s meninos mais, tamb"m metidos em filós negros, re%resentando as santas mul#eres, res%ondiam. Ehu, ehu, #alvator noster . O andor da 5!e Dolorosa, o %(lio solene e munificente, o Bis%o com a fronte embu'ada de luto, os sacerdotes cantando, o mover das velas %elo manso, o frio luzir das baionetas da guarda de #onra, o %ulsar gemente da marc#a f
173
8eguiram se os ru0dos val%urgianos costumeiros daquela noite. A tradi'!o e o costume %o%ulares iam cum%rir&se na rua, como no tem%lo, a rubrica. Aos devotos estavam sus%ensos os gozos da carne, %arado o riso, fazia&se treva na alma. No ri%an'o an>nimo da %lebe e ra%azio ia entrar o diabolismo, os tumultos, a orgia, a inferneira da grande %?ndega do udas. O arrabalde n!o dormia. O s0tio do Bis%o, os quintais da ua de Bai-o, as c#(caras dos arredores, eram assaltados %ela tro'a em gru%os, de cal'a arrega'ada, fac!o em %un#o, e c#a%"u nos ol#os. A noite, como no oceano o ru0do das vagas, vibrava de gritaria, de a%itos, de gol%es de mac#ado. /m v!o a %equena %ol0cia da cidade, abugal#ava no escuro dos bairros. /ra um conluio de gente de gravata lim%a, disfar'ada em canal#a, que atravessava uma rua furtando um udas, uma malta de aracatienses, na serra'!o da vel#a, fazendo uma algazarra de arre%iar cabelo, na %orta de algum octogen(rio, a serrar num barril, e convid(&lo *%ara morrer, que ( era tem%o*$ uma noite selvagem, ta%uia, a%reciad0ssima. 8erraram o coitado do o!o de Paula, e o seu e-&futuro genro estava no meio. O cego idiota, mesmo receando isso, que " uma noite aquela dos vel#os dormirem a%avorados, albergara&se em casa de um %adre idoso, venerando e bonac#!o. 5as foi baldado. A uma #ora da madrugada bateu a0 a matil#a, e glosou %or todos os modos a imin3ncia da morte %ara o vel#o, com cantigas e duetos acom%an#ando a azucrina'!o do serrote cego no cor%o ressoante do barril. Desafinado e tredo vaiv"m. O o!o de Paula con#eceu a voz do Batistin#a. : Ai como demudas, roda da fortuna9 4uando Ant>nia era viva, que o Batistin#a vivia fascinado, agradava at" ao cac#orrin#o da %al#o'a do cego, a todos queria, 1s irm!s da Ant>nia, 1s sobrin#as da Ant>nia, a tudo que c#eirava a Ant>nia. : O mundo vira e revira mesmo como aquele barril que eles serram9 Por fim o %adre&mestre entreabriu a rótula, botou a cabe'a, e amostrando 1 luz do g(s e-terior a sua calva sal%icada de c!s, levantou os óculos, e falou %ara a motinada7 : O#9 ladr2es, como " que voc3s insultam desse modo a gente vel#a; 4ue " da educa'!o crist! que receberam; sso foi num abrir e fec#ar de ol#os. O bando, ao clarear da rótula, n!o es%erou que a0 a%arecesse algu"m, e debandou a toda carreira, com barris e tudo, a desa%arecer na esquina soltando uma gargal#ada sufocada e garota. 6oltaram uma #ora de%ois, e ent!o o %adre, a consel#o do mendigo, carregou a es%ingarda, e o outro abrindo, com tato de cego, uma brec#in#a do %ostigo, o reverendo %a%ocou&l#es um tiro de sal. Feriu o Batistin#a no ombro. /ste soltou um grito de
174
: Assassino9 / dis%araram ent!o numa tro%elia de gado es%antado, sacudidos longe %elo medo. : Assassino "s tu e o teu %atr!o9 gritou o cego, armado de bast!o, %ulando da %orta na cal'ada, saltando em cam%o. A mola do ódio e da revindita im%elira o coitado, e ai de quem o afrontasse afr ontasse naquele instante. : Anda infame9 )ac#orro, ladr!o, ladr!o9 Anda com todos os 6iscondes de 8!o Galo9 Aquela %alavra e-%losiva ladr!o, ele a %ronunciava com uma d
coqueiros, a mor das vezes entran'adas e fazendo arcada, de gal#os da mangueira, de goiabeira, e de toda es%"cie, obtidos no assalto noturno feito ao quintais, c#(caras e s0tios, re%resentando, talvez, o #orto em que se enforcou %rovavelmente o amaldi'oado scariotes. Por todos os ?ngulos da vis!o ocular encontrava&se, %erto ou distante, o cad(ver %endente de um boneco enforcado, enfar%elado em %aletó e gravata, %ode ser que %ara e-em%lo ao scariotes do eterno )risto que renasce diariamente nas %essoas dos m(rtires da vida, como obtem%erou o Fernandes. Para a %rolongada subida do Outeiro da Prain#a, donde o vision(rio ol#o do sol c#ameante ainda uma vez subia a derramar a sua gargal#ada e sua mir0ade candente de far%as, a luz fimbriava em sil#uetas um udas de fraque com a cara sumida num c#a%"u alto, sozin#o no fundo azul do c"u. Debai-o esga#avam ateiras em torno de uma alegre c#ou%ana. Perto do Pal(cio do Bis%o, quase na frente, %or tr(s do %ared!o que serve de assento a 8", #avia um, cua m(scara era uma cara de anci!o, com bigode e %era, c#a%"u&do&c#ile, sobrecasaca de %ano fino, botinas de cordav!o, cal'as de casimira cinzenta, e luvas de %elica, os dedos muito duros, %ara fora. O vento agitava&os %ara um lado e %ara o outro. Ao es%et(culo insistente dos bonecos enforcados, a%oderava&se insidiosamente do Osório a id"ia de enforcados de verdade, em e m carne e osso. Foi tem%o que rom%eu a Aleluia, com um grande gozo %ara os cora'2es o%rimidos. Foram, ato cont0nuo, atassal#ados os udas %ela molequeira desenfreada. 8ó se ouviu, ent!o, algazarra de re%icaria em todas as igreas, foguetaria no ar, salvas da fortaleza, tiros de bomba arrebentando as entran#as dos bonecos, um atroamento enorme e %rolongado que %arecia agitar at" a tolda do firmamento. /stremecera a lousa do se%ulcro. 5ais nada. Fumegava de v(rios %ontos o inc3ndio dos scariotes, e turmas de moleques rolavam %elo cal'amento, de cacete em %un#o, batendo nos restos esmolambados do suicida em ef0gie. A%areceu ent!o %or toda %arte o n
176
Para que a seu tem%o suba$ Porque em artes de din#eiro /u udas n!o fui %rimeiro / nem ele o derradeiro. : A#, a#, a#9 : 5agn0fico9 : /s%l3ndido9 O %oeta em seguida lan'ava a seguinte quadra com %retens2es 1 *%almatória do mundo*7 Para o le!o que na aula Fez a donzela em destro'os Ficam da Ant>nia de Paula Debai-o do c#!o os ossos. : )ontinua, que isto saboreia&se mais que %aulada %ascal9 Para n!o #aver %rivan'a Neste %a0s de vivório De usti'a, ao meu Osório Fica&l#e a min#a balan'a. : Ai que esta foi m(, #ein # ein sen#or desembargador;9 O #omem riu7 : 5eu amigo, " %ara todos9 : A cada um toca o seu quin#!o9 : 5as isto assim indigno9 )aramba9 O órg!o %lebeu e frasc(rio ia de c#outo com a sua bagagem de versaria, de l"ria, de c#an'as, com o direito e regalias dos escravos no dia das 8aturnais. Do botic(rio Fernandes, dizia que 1 custa de (gua do %ote e casca de %au, que se encontra a valer no Pae< e na Aldeota, agenciara do com%adre I" Povin#o. *Cm monte de ouro alto como os Andes.* : Nisto " que d!o as liberdades, 8eu Osório9 batia ele com o %a%el, desa%ontado.
177
: =omem, n!o se atre%e, que isso querem eles. A quem n!o tem rabo de %al#a, %rega&se, " o que dizem os nossos amigos. 5uito %ior do que isso ten#o eu lido na im%rensa s"ria. Ora se9 Cm #orror9 De meter 1 gente uns rom%antes, de agarrar na rua um diabo e cos3&lo na %onta de uma faca. O bacamarte trai'oeiro de detr(s das (rvores, do sert!o, metamorfoseou&se, merc3 do civilizamento, nos duetos, verrinas e diatribes da im%rensa lim%a da ca%ital. N!o fa'a caso. A %lebe, em nos atacando, est( no gozo de um direito seu. / da0, desceram o terra'o da 8", indo a escutar o o!o de Paula, na embocadura da A%ertada =ora, desandando a violin#a, numa taverna de soldados, onde #( %ouco a turba #avia queimado um calunga. )onsumiu&se mais um m3s. As c#uvadas #aviam em%atado a obra do Fernandes, %or modos que só agora #ouve de levantar a cumeeira. /stava ele na sua botica, um tanto nos seus azougues, %ara dentro e %ara fora, aviando os fregueses, em%estado %elo #umor negro das caseiras. Cma quizila, quando o Fernandes estava com as ditas. Parecia&l#e ser todo intestinos, e o asco subia& l#e at" aos escanin#os das id"ias. =el3nea beleza se l#e desvendando ali, As%(sia entre os u0zes, ele a condenaria ainda assim, e taman#as incongru3ncias baforavam&l#e as almorreimas %elo es%0rito acima9 8e n!o fora a boa fama das suas drogas e %re%arados, ningu"m se atreveria a %>r&l#e o %" na soleira. Al"m disso, mercava com un#as de fome. /ste
: n!o l#es dar bebida. : )omo; se " uso9 de mau agouro cumeeira sem festa. : Bem sei. Arrotaste contra as credulidades. : +olo n!o sou eu. =ora sem sombra, a cal'ada e-alava um calorzin#o (, e %arecia tinir sobre os tac2es. O Passeio P
179
: Para fam0lia " das mel#ores. 8!o vinte mil&r"is certin#os %or m3s. Cma sala, duas camarin#as, sala de antar, cozin#a, des%ensa e al%endre. )orredor lavado. 4uintal de meio quarteir!o. +el#a v!, e %avimento de tiolo. 6ia&se logo os dois enormes %anos %aralelos de alvenaria em %reto, com a frente e os andaimes, com a viga mestra, e tudo embandeirado. No meio da rua estendiam&se com%ridas lin#as de carna
180
mandamos indagar, col#er as devidas informa'2es das autoridades com%etentes. *Desgra'adamente a verdade ainda era mais crua9 Cm crime es%antoso9 /stamos dis%ostos a %rofligar at" a
181
ou de ego0smo de nós todos. )ada um brada contra o desastre, n!o com %esar %elo cego, sim %or medo de que a si aconte'a o mesmo9 O mestre da obra largara a bater boca a'ulando os o%er(rios %ara o servi'o. : Acabem com isso9 /u quero estas lin#as todas em riba, #oe mesmo9 / era ral#os a torto e a direito, como um antigo mestre&escola. De vez em quando borbotava&l#e uma gra'a, de que os o%er(rios riam, %ara ser&l#e agrad(vel, %orque sem%re se deve ac#ar bom aquilo que vem do alto. : +en#am %aci3ncia. O inverno a0 vem, se a gente n!o a%roveitar a estiada, l( se vai o din#eiro do #omem. /ste c( n!o " ladr!o. 8e n!o fosse %ro mó disso, n!o se trabal#ava mais #oe. 5as n!o #( eito. /is9 Ein#as arriba9 6amos, sen#ores9 +oca9 Breve, ro'agando ao fio das tr3s carnania, aos quais ele n!o foi bom em coisa nen#uma, a%esar do seu bom cora'!o. Agora, se o cego n!o sucumbira, #avia de fazer&l#e muitos benef0cios. / delineava se ante o %adrin#o a imagem da sua loura afil#ada. / reconstruiu se um %assado inteiro. Abalavam&no as notas dram(ticas de todo aquele e%isódio e-tinto. 5as como o demo as tece9 )omo " que se assiste ao crescimento e educa'!o de uma ra%ariga, se a v3 cair, a%odrecer, esvair no %ó, e "&se im%ass0vel; )omo " que só agora ele via abugal#ava, com uma ins%irada e dolorida lucidez de %oeta; Ali %ertin#o, sobre os tril#os ainda manc#ados de sangue fresco erigia&se um castelo de recorda'2es, que derru0am num so%ro. A Ant>nia camin#ava %ara ele Osório, sem amais c#egar, a %edir&l#e a ben'!o, com aquelas fei'2es coradas e aquele andar faceiro que l#e eram naturais em vida, e o %ai vagabundeava l( %or longe com o seu uru e o seu bord!o. A memória do %adrin#o se desdobrava e ia re%resentando coisin#as da Ant>nia, umas cenas dom"sticas muito ( toa, que entretanto iluminava&se acentuadamente na fantasmagoria do ideoso, um
182
cacoete %orque a re%reendiam, uma a'!o m( que ela %er%etrasse, um elogio que mereceu, e o todo a%arecia lógico, e-%licado, sim%(tico, %ela unidade das im%ress2es. Percorriam a rede sensória do Desembargador os mesmos im%ulsos inenarr(veis que diante do esquife do 8en#or 5orto, na Prociss!o do /nterro. O morma'o intenseava, %or"m. O sol batia mesmo de c#a%a. 8eguro de que o servi'o ia a bom correr, o Fernandes convidou&o a retirarem, que fossem antar com ele, que #( muito n!o l#e dava dav a essa ma'ada. : 5as " %reciso %revenir em casa a min#a mul#er. : Passamos %or l(. / fizeram torna&viagem. : O#oi, u#oi9 cantavam com%assadamente os o%er(rios, tre%ados no arcabou'o de alvenaria a i'ar as vigas, manobrando, a %u-ar %or enormes cordas de %oita. /ra uma interei'!o, o#oi, e o madeiro galgar mais uma bra'ada acima. O Osório e o Fernandes encontraram outra vez o 8eu Eucas, zumbindo %ela ua Formosa, de %orta em %orta7 : Para a missa das almas. al mas. Para a missa das almas. Abai-o do cord!o das cal'adas se deitava a areia frou-a, ao longo das co-ias, misturada de cisco e de fol#as das (rvores das %ra'as. O Eucas, %or um triz, n!o foi a%an#ado, ao atravessar a rua, %or uma carro'a escoteira a dis%arada, cuo condutor, um A%olo no seu carro de fogo, de %", rou%as ao vento, estalava o rel#o no %3lo do burro galo%ante. O cal'amento coleava abaulado embutido largamente %or entre as casarias flameantes. As ruas tre%idavam, rasas de calor, e delas via&se %eda'os abai-ados, assim como seios de rede, onde modorrasse um farniente equatorial. =avia uma salienta'!o geral sob o grande ol#o do sol, e a vista #umana trazia velozmente os mais im%erce%t0veis longes. O vento corria no encalce da luz, adutoriando&a no #ino das coisas$ levantava o %ó, aba&tia o, lim%ava aquilo que ele mesmo inquinara$ dis%arava de cabelo solto e mangas desabotoadas, a%ertava contra as vestimentas, escul%ia fores femininas teimando contra as coisas, e dis%ersava alegremente %elos arrabaldes$ cuos toques se avistavam %regadin#os no c"u, que sorria longe na sua calma antiga. Da fita das cimal#as esguinc#avam os ser%ent2es, que %arecia engolirem o ar quente, as%irando com as dentaduras longamente a esc?ncaras.
183
As %latibandas real'avam coroando lin#as inteiras de #abita'2es t"rreas e agru%a'2es de sobrados. Os beirais se em%inavam, como derramando goteiras de luz, as tel#as embei'adin#as em farto aconc#ego. O deslumbramento se identificava com as %essoas. : Arre9 bradava o Fernandes, que a gente %arece ter sol dentro de si mesmo9 /m alvos rou%2es, transitavam nuvens %ara o frio clima das serras. Cm v>o de %ombozin#os, batendo com%assadamente no fresco azul, ia e vin#a, amostrando ora o %eito ora o leme da cauda, agitando sem%re, quais bracin#os de neve, as brancas asas. )om a sua o%a verde, o Eucas inda sussurrava como uma enorme varea7 : Para a missa das almas. al mas. Para a missa das almas. 6erdade, verdade, verdade, aqueles alegr2es de cego, a truanear %ela Feira, %elas tavernas, %elas esquinas, de viola, eram antes fogac#os de uma candeia que se e-tinguia. N!o eram vitalidade, sim irrita'!o. N!o e-istir, mas estertorar. Por isso " que se l#e n!o %odiam des%egar da carranca, as voadas de um riso claro, como umas asas de gar'a. Naquele frontis%0cio os caracteres do Easciate ogni speran4asulcavam speran4asulcavam c#ameantes da febre derradeira. Planeta que desnorteasse, e entrasse em cambal#otas, a confundir no %lano do equador a lin#a dos %ólos em doidos movimentos, aquele cr?nio gelava e incandescia, negregava e fulminava. / como o ro!o de artif0cio #avia rebumbar, dei-ando a%ós si o sil3ncio do nada. 5ola im%endente equilibrada no gume de um tabique a %rumo, ao menor sussurro de uma %ancada, des%en#aria, como desabam as barreiras de uma escava'!o. Barragem arruinada de uma re%resa, abriria ao %rimeiro en-urro assoberbante. %rimeira id"ia m( que se l#e %egasse, )omo o esto%im da metral#a, aquele c"rebro #avia estil#a'ar. Andava, dormia, desfrutava os seus sentidos e o seu viver, ao %asso que sobressaltava se de que alguma coisa dentro dele n!o %artil#ava disto. /ra a modo que dois indiv0duos, e n!o um$ as%irando %ela vida, com os seus gozos ligados 1s suas necessidades, uma for'a oculta atarra-ava&o dorida ina'!o, que ele só vencia %or crises de alacridade$ e ficava consigo semel#ante a um #omem do lado de fora de sua casa, cua %orta n!o #( eito abrir. Da0, um mal&estar do inferno, um su%l0cio que ou acabava ou dava com ele na cova. /m aquele dia da sua desastrosa morte, aman#ecera com todas as boas dis%osi'2es. Dormiu em casa do %adre vel#o. Acordou ao ru0do acariciador de uma c#uva no tel#ado, e de%reendeu que iam&l#e quadrando bem os momentos. Afinou a viola, e, 1 corrida dos can(rios e de outros %assarin#os %resos, #armonizou a alvorada de um bai!o %elo brando, como se dan'assem ali
184
umas s0lfides, uns es%0ritos de donzelas e de anin#os, em idealidades de quem n!o v3 com os ol#os %erec0veis. O %adre n!o saiu %ara celebrar, %or via da c#uva, o que rendeu ao cego fazer& l#e com%an#ia no caf" e na isca. Z medida que o sol esquentava, %or"m, %or" m, o o!o ia ficando ruim de #umor. #u mor. )ostumava acocorar 1 sombra de alguma (rvore da Feira, se n!o ac#ava uma conversa que l#e sustentasse o ?nimo. 8em%re que bebia, fazia ato de atri'!o de%ois de curtir a mona, %orque a aguardente servia de agravar&l#e a sania, nunca mais son#ou de amores9 Os ru0dos e sons l#e c#egavam, n!o im%ressionando, n!o comovendo, n!o arroubando. Porventura n!o subiriam aos nic#os; O o!o ac#ava&se agora estran#o a coisas que ele con#ecia como as %almas %a lmas das suas m!os. )amin#ando, %endia um %ouco %ara o lado, como a galin#a a que deu o ar do vento. 8emel#ava ao %ignon das vel#as casin#as de %al#a em meio s novas edifica'2es. a bolinando, mar em fora. A cabe'a %or"m, em vez de fazer %arte do barco, era um %assageiro e-igente. Grande %esar o assaltava, quando sob as colunas do %órtico da Assembl"ia, recostado ao grosso umbral de cantaria, fazia %or gozar da vida ambiente. m%oss0vel identificar&se com o mundo e-terior, %or mais esfor'os que em%regasse9 Para o c#io das (rvores, %ara o rodar de uma sege, %ara o bater de um saltin#o alto, cal'ada acima, a vozeria dos %assantes, os sons musicais, %ara tudo isso, que anteriormente l#e acendia no cerrado do c"rebro id"ias, cores, grisódios, fisionomias, aromas, del0cias at", #oe em dia ele era como o cor%o de um ferido calcado indiferentemente na tro%elia da refrega. A tens!o e a contra'!o dos mmago e do ventre, iam as vezes como uma locomotiva desenfreada, ou ficavam em calmaria %odre. A consci3ncia teimava em n!o tomar con#ecimento nem mesmo do trabal#o cor%oral$ como um fidalgo es%adac#im viveur e e sibarita, que abandonasse a dire'!o dos bens ao mordomo, esbanando as rendas, com%rometendo os imóveis na un#a do usur(rio, e dei-ando a soldo da
185
ru0na com%leta ao mau 3-ito de um duelo de morte, em que entregasse a vida a um ligeiro %onta'o de florete. a o cego, na noite em que morreu, %or volta de dez #oras, %ela %arte sul do cam%o da Am"lia, cal'amento em fora, a%roando %ara o cemit"rio Novo, que era ustamente o termo daquela estrada em%edrada. =avia es%ica'ado a viola num combustor, a um rom%ante desasizado. / dera&l#e no destino ir deitar sobre a se%ultura da fil#a, como coisa que o cemit"rio n!o estivesse fec#ado. 5as #avia de %ular o gradil, e descer %ela s"rie de catacumbas ligadas 1 mural#a. Acertaria com a cova da menina, que era bem debai-o de um caueiro, quarenta %assos a contar do fundo da ca%ela. Deliberou que faria aquilo dali %or diante, todas as noites$ era o lego, dando a cada vogal o valor de tr3s ou mais semibreves com ligaduras e com andamento largo. O #omem da agul#a viu a%ontar o farol. Faltavam dois quil>metros somente. 5ais %erto, o a%ito bradou forte. O cego entendia %erfeitamente o a%ito gritar longamente7 ( vou, ( vou. 8e destacava o debater do monstro esbaforido, o ranger das unturas, o atrito das rodas, o ro'agar das ferragens, correndo %or todo ele um arre%io ao ansiar do va%or esca%ando %ela c#amin", a cada arranco dos %ist2es, a cada im%ulso dos c#avantes. Cma fascina'!o a%oderava&se do cego. Parecia subir ao %ara0so, ver muita claridade, destacar vultos, recon#ecer fisionomias... am&no carregando c"u arriba... Positivamente, a modo que dois bra'os macios e %oderosos #aviam&no erguido... ele sustentou& se, como as rodas da m(quina obedecem ao orro dos cilindros. Fizeram&no camin#ar, como a crian'a %elo carrin#o que ensina a mudar as %ernas... O trem internava&se %ela cidade, como um furac!o. A cidade adormecia entretanto. Faltava um nada. 186
O o!o argumentava equivalente a uma snios$ e conclu0a que n!o seria mau se atravessasse no tril#o a sua e-ist3ncia acabada. /ra a%enas uma formalidade, que ele ( n!o vivia. Podia ser que nem doesse. / de%ois, era t!o r(%ido... Cma vertigem, a%enas. Parecia que todo mundo estava com os ol#os nele, como se ele fora deitar %roeza em um circo. Amigos, descon#ecidos, con#ecidos, %arentes, inimigos, estavam a admir(&lo, e de%ois do caso %assado, o nome dele ia de boca em boca. Os es%ectadores queriam medir&l#e a coragem, %ara sair dizendo como foi. 5as o qu3; ali n!o estava ningu"m. A%enas o mendigo, encoberto %elo monte de madeiras. Pois bem, o caso seria narrado %or coneturas, e entrava o mist"rio, a maravil#a. Aquele ser estava devastado %or uma id"ia fi-a. O trem vin#a quase em cima. Cma %assada mais, e o cego ficava&l#e debai-o. O #omem teve um arranco de voltar. /ra tarde9 )aiu sorrateiramente, e %elo manso, como um cad(ver desce 1 se%ultura. O trem %arece que soltou um urro, como um gigante que sofresse uma to%ada na un#a. O lim%a&tril#o agarrara, mais breve que um rel?m%ago, o mole cor%o do suicida, que %or uma ligeira curva de re%uls!o, foi sacudi&lo %ara o monte de %aus, onde a %onta agu'ada de uma estaca de sabi( varou&#e o cr?nio %elo cerebelo. =9*9#, L:# DE!.
www.poeteiro.com
187
O LIVRO DIGITAL – ADVERTÊNCIA
O Livro Digital é – certamente - uma das maiores revoluções no âmbito
editorial em todos os tempos. Hoje qualquer pessoa pode editar sua prpria obra e disponibili!"-la livremente na #nternet$ sem aquela imperiosa necessidade de editoras. %raças &s novas tecnologias$ o livro impresso em papel pode ser escaneado e compartil'ado nos mais variados (ormatos digitais )*D+$ ,,$ ,+$ entre outros/. ,odavia$ trata-se de um processo demorado$ principalmente no âmbito da reali!aç0o pessoal$ implicando ainda em (al'as aps o processo de digitali!aç0o$ por e1emplo$ erros e distorções na parte ortogr"(ica da obra$ o que pode tornar inintelig2veis palavras e até (rases inteiras. 3mbora todos os livros do 4*rojeto Livro Livre5 sejam criteriosamente revisados$ ainda assim é poss2vel que alguns desses erros passem despercebidos. Desta (orma$ se o distinto leitor puder contribuir para o esclarecimento de algumas dessas incorreções$ por gentile!a entrar em contato conosco$ no e-mail6 [email protected] 7ugestões também ser0o muito bem-vindas8
#ba 9endes São Paulo, 2014