A ACENTUAÇÃO GRÁFICA EM UMA SÓ REGRA A LÓGICA DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA EM PORTUGUÊS[1] PORTUGUÊS[1]
José Pereira Pereira da da Silva (UERJ)
RESUMO Os livros didáticos de Língua Portuguesa, assim como as suas gramáticas normativas e pedagógicas, apresentam apresentam as regras de acentuação gráica de uma orma e!tremamente racionada e impregnada de e!ceç"es, desmorali#ando os proessores mais atentos $ lógica %ue levou a essas regras e desmotivando os alunos& Em primeiro lugar, o'servemos o'servemos %ue a acentuação gráica ( u ma normati#ação da lógica gramatical, esta'elecida estatisticamente a partir de sua on(tica 'ásica, %ue acentua naturalmente a pen)ltima vogal nas palavras com as terminaç"es racas a, as, e, es, o, os, am, em e ens& *s palavras %ue erirem a nature#a da língua são acentuadas graicamente por%ue o acento gráico oi criado para marcar o deslocamento da acentuação natural da palavra& Palavras+cavePalavras+cave- Ortograia, *centuação, Leitura, Ensino, .ramática
INTRODUÇÃO Mais de noventa e nove por cento das palavras da língua portuguesa se rege e!clusivaente por ua regra l"gica de acentua#$o gr%&ica' &icando enos de u por cento ue se usti&ica por outros crit*rios+ ,centua-se gra&icaente as palavras ue &erire a nature.a da língua' pois o acento gr%&ico &oi criado para arcar o deslocaento da acentua#$o natural/ 0oo % trataos deste tea e outros tra1al2os (3ilva' 4556 e 4556-a)' pretendeos c2aar a aten#$o' nesta palestra' para alguas re&le!7es apresentadas por 8rancisco Deui e duas o1ras ue citarei diversas ve.es+ Português Português+ &ono-orto-or&o (Deui' 4554) e Neopedagogia Neopedagogia da gramática gramática + 9: teses surpreendentes (Deui' 455;)/ TONI0ID,DE<4= Nua counica#$o ue &i. 2% algu tepo' le1rei ue a uest$o do acento e de sua noenclatura % c2egou con&usa nas prieiras gra%ticas latinas' de onde prov> as odernas gra%ticas ocidentais'visto ue o seu odelo &oi a gra%tica do grego' ue o descrevia coo língua tonal' nu oento e ue % n$o o era ou % estava e adiantado estado de evolu# $o para a &ase vigente na *poca dareda#$o de suas gra%ticas odelares/ Ernesto 8aria' e sua Fonética Histórica Histórica do Latim, % nos le1ra disso' nos seguintes teros+ ?, nature.a do acento latino no período cl%ssico constitui ua
das ais controvertidas uest7es da &ilologialatina///@' principalente se partiros de ?u arguento &reAenteente repetido e &avor da nature.a usical do acento latino e ue consiste e apresentar coo prova dessa nature.a usi cal aterinologia@' co teros coo accentus, grauis, acutus, altidudo, tonus, prosodia etc/ (c&/ op. cit., p/ 946 e 94;)/ ,inda * o eso &il"logo e latinista ue le1ra na p%gina 94B seguinte ue ?,l* de tudo' n$o podeos dei!ar de considerar ue eso na Cr*cia por esta ocasi$o a nature.a do acento % deveria terevolvido para a inte nsidade' ou tal evolu#$o estava e vias de se operar@/ Manuel ,lvar' na tradu#$o do Manual de Ling!stica "ománica de Iorgu Iordan e Maria Manoliu descarta copletaente a re&er>ncia ao acento usical de to no lati' relacionando a usicalidade do acento latino uantidade sil%1ica' ue esta1elece a ualidade rítica no lati cl%ssico' uando in&ora+ 0oo no indo-europeu' doinou no lati cl%ssico' at* a *poca iperial' o acento usical' ue dependia copletaente da uantidade da penltia síla1a/ 3o1re esta síla1a recaía o acento' se a sua vogal &osse longa (cant#re, $a%&re) e so1re a antepenltia' se a vogal da penltia &osse 1reve ( pálp'%ra, v!r(dis)/ For estar su1ordinado uantidade da vogal da penltia síla1a' o acento usical n$o participava do rito ue estava &orado pela sucess$o de síla1as longas e 1reves/ Era' portanto' u acento puraente uantitativo/ (Iordan G Manoliu' <9H:5=+ I' 949)
Mais adiante' na p%gina seguinte' acrescenta+ No indo-europeu' o acento usical desepen2ava u papel &onol"gico' as e lati' coo se relacionava co a uantidade da penltia vogal' perdeu pouco a pouco sua o1ilidade e dei!ou de ter &un#$o distintiva' o ue' e ltia instncia' de1ilitou consideravelente sua iportncia no processo de counica#$o/
,l* de contestar a terinologia graatical relativa tonicidade' tais coo as palavras ?atonicidade@' ?%tono@' ?o!ítono@' ?paro!ítono@' ?postnico@' ?pretnico@' ?proparo!ítono@' ?su1tnico@' ?tonicidade@' ?tnico@ e teros coo ?ri.otnico@ e ?arri.otnico@' ostrareos ua regra de acentua#$o gr%&ica ue' 1e aplicada e ensinada' resolver% a dor de ca1e#a ue esta uest$o te levado aospro&essores e aos alunos de língua portuguesa/ O pro&essor Evanildo Kec2ara' se se re&erir a esta uest$o terinol"gica' ensina ue a nossa arca acentual * de intensidade e n$o de tonicidade ou usicalidade' a&irando+ Di.-se ue o acento * de intensidade (acento de &or#a' acento dinico' acento e!pirat"rio ou icto)' uando o relevo consiste no aior es&or#o e!pirat"rio/ Di.-se ue o acento * musical (acento de altura ou tom)' uando o relevo consiste na eleva#$o ou aior altura da vo./ O portugu>s e as deais línguas ronicas' o ingl>s' o ale$o' s$o línguas de acento de intensidade //= (Kec2ara' 9HHH+ :B)
,0ENTU,ÇÃO N,TUR,L D,3 F,L,R,3 3EM ,0ENTO CR8I0O Levantada esta uest$o' a título de curiosidade terinol"gica' utili.areos a noenclatura vigente' assi coo &e. o Kec2ara' le1rando ue' 1asicaente' s" se arca gra&icaente as palavras ue t> acentua#$o irregular' peranecendo se acento gr%&ico as palavras de acentua#$o regular/ For isto' 8rancisco Deui le1ra ue a acentua#$o gr%&ica te duas &un#7es na língua portuguesa+ ?&un#$o deslocadora de tonicidade e &un#$o di&erenciadora de ti1re/@ (Deui' 455;+ B) P l"gico ue para se perce1er ue a acentua#$o &oi deslocada pelo acento gr%&ico * preciso sa1er ual * a acentua#$o ?natural ou regular das palavras se acento gr%&ico@/ Do con&ronto das palavras acentuadas gra&icaente co as n$o-acentuadas' &eito por 8rancisco Deui' ?veri&icou-se ue HH'BQ dos acentos gr%&icos dos l*!icos portugueses pode ser e!plicados co apenas ua regra@' tendo-se coo pr*-reuisito nico' doinar a acentua#$o natural das palavras se acento gr%&ico/ (0&/ Deui' 455;+ BB)/ ?8eli.ente' a gra%tica nata da nossa língua possui ua l"gica e as regras necess%rias para a correta leitura/ ,s palavras acentuadas t> leitura &%cil as se acento gr%&ico possue noras siples e claras///@ (Deui' 455;+ BS)/ ,ssi coo se e!plica a &ora de e!press$o do g>nero dos su1stantivos pela l"gica (se apoio na tradi#$o)' el2or ainda se ensina a acentuar gra&icaente se necessidade das nuerosas regras relacionadas nas gra%ticas tradicionais/ , acentua#$o regular ou natural nos indica as palavras ue n$o precisa de acento gr%&ico' contando-se as vogais da direita para a esuerda' coo ensina 8rancisco Deui (455;+ S5-S9)+ 9 3e a palavra terina nas vogais &racas (a, e, o, am, em, ens )' o acento natural estar% na penltia vogal<=+ ?o1etiva@' ?pro&eridas@' ?tonicidade@' ?preliinares@' ?sendo@' ?apoiados@' ?acentua@' ?cede@' ?ovens 4 3e a palavra terina de outra &ora (e ualuer ua das deais terina#7es n$o incluídas no rol acia)' essa terina#$o ser% &orte e o acento se &i!ar% na ltia vogal+ ?parti@' ?coatis@' ?Kauru@' ?uru1us@' ?1eiral@' ?papel@' ?&unil@' ?paiol@' ?a.ul@' ?a.ar@' ?la.er@' ?rugir@' ?2orror@' ?a1aur@' ?asi@' ?arro@' ?algu@' ?carta.@' ?re&e.@' ?atri.@' ?atro.@' ?avestru.@' ?ardins@' ?neon@' ?1atons@' ?alguns@' ?canguru@' ?Jesus@' ?ir$@' ?a#$s@/
Vuando pospostas a outras vogais' as letras ?i@ e ?u@ s$o noralente seivogais' &orando ditongos decrescentes' ualuer ue sea a sua posi#$o na palavra<6=+ vai' alcaide' au' caule' c%ustico' sei' seita' d>itico' seu' pleura' terap>utico' viu' &oi' &oice' sou' roupa/ Fortanto' uando &ore &ortes' ser$o acentuadas gra&icaente' &orando 2iatos co as vogais anteriores <;=+ ?aí@' ?saída@' ?ensaística@' ?1a@' ?1alastre@' ?Jacareí@' ?onoteísta@' ?politeístico@' ?pae@' ?acare1a@' ?tapií@' ?tei@' ?socoí@' ?aendoí@' ?corroído@' ?do@' ?tatuí@' ?Luísa@' ?concluísseos@' ?e1u@/
RECR,3 TR,DI0ION,I3 DE ,0ENTU,ÇÃO CR8I0, Na aioria das gra%ticas' al* de apresentar por volta de de.esseis regras de acentua#$o gr%&ica' e!ige ue se ten2a ua s*rie de con2ecientos coo pr*-reuisitos' tais coo as no#7es de divis$o sil%1ica' classi&ica#$o das palavras uanto posi#$o da síla1a ais &orte (o!ítonas' paro!ítonas' proparo!ítonas etc/)' recon2eciento dos diversos tipos de encontros voc%licos est%veis (ditongos' tritongos e 2iatos) ou inst%veis' distin#$o entre vogais e seivogais' al* da eori.a#$o de v%rias listas de terina#7es para as paro!ítonas e o!ítonas acentu%veis gra&icaente/ ,crescente-se a isto ue as pr"prias proparo!ítonas' ue t> ua regra siples de acentua#$o gr%&ica' ne sepre s$o iediataente identi&icadas' pois e!iste os casos ue envolve os encontros voc%licos inst%veis' ue pode ser considerados 2iatos ou ditongos crescentes' coo ?2is-t"-ria@ W ?2is-t"-ri-a@' ?t>-nue@ W ?t>-nu-e@ etc/
HH'BQ D,3 F,L,R,3 ,0ENTU,D,3 CR,8I0,MENTE N, LXNCU, FORTUCUE3, 3ECUEM UM, YNI0, RECR, 0o ua nica regra pode ser con2ecidas praticaente todas as palavras ue leva acento gr%&ico na língua portuguesa' ou sea+ O acento gráico anula o acento natural e acentua outra vogal, tornando orte a %ue seria naturalmente raca&
Noutros teros' podeos di.er ue' na língua portuguesa' a acentua#$o gr%&ica e!iste para indicar o acento irregular' porue as deais palavras n$o s$o acentuadas gra&icaente/ Desse odo' 2aver% sepre ua de duas situa#7es+ 3e a palavra n$o tiver acento gr%&ico' a vogal ais &orte est% na posi#$o da acentua#$o natural' as se tiver acento gr%&ico' a vogal acentuada * a arcada co acento agudo ou co acento circun&le!o/ (0&/ Deui' 455;+ S4)
,0ENTO CR8I0O M,R0,DOR DE TIMKRE ,KERTO , gra%tica natural da língua portuguesa nos leva ao &ec2aento das vogais /e0 e /o0 da 1ase voc%lica de todos os ditongos' porue as seivogais 1i1 e 1u1 in&luencia nas vogais ue as antecede' por sere altas e &ec2adas' coo se pode ver e ?aei@' ?,leida@' ?areia@' ?apareceu@' ?euro@' ?1oi@' ?oita@' ?costurou@ e ?roupa@' por e!eplo/ Fara indicar a irregularidade nesses ditongos' nas situa#7es e ue as vogais 1%sicas tivere ti1re a1erto' usa-se o acento agudo coo sinali.ador ou arca da e!centricidade/ ,ssi' t>-se ?pap*is@' ?europ*ia@' ?ta1ar*u@' ?dod"i@' ?1"ia@' ?2er"ico@ etc/
,0ENTO3 VUE 3E JU3TI8I0,M MOR8O33INT,TI0,MENTE ,l* do acento ue se usti&ica &oneticaente' 2% uns poucos casos ue t> &un#$o or&ossint%tica' levando sepre o acento circun&le!o na situa#$o arcada' tradicionalente c2aados de acentos di&erenciais/ O acento di&erencial pode indicar &atos or&ossint%ticos di&erentes/
a) para indicar siplesente a intensidade' coo o ver1o ?pr@ e oposi#$o preposi#$o ?por@ 1) para indicar o plural e oposi#$o ao singular na terceira pessoa do ver1o' coo nos onossíla1os e nos o!ítonos terinados e ?>@+ ?t>@ W ?te@' ?v>@ W ?ve@' ?cont>@ W ?cont*@' ?at>@ W ?at*@' ?ret>@ W ?ret*@' ?o1t>@ W ?o1t*@' ?a1st>@ W ?a1st*@' ?so1rev>@ W ?so1rev*@' ?interv>@ W ?interv*@' ?adv>@ W ?adv*@' ?conv>@ W ?conv*@ etc/
,0ENTO CR8I0O NÃO JU3TI8I0,DO Z% ua regra ortogr%&ica de acentua#$o gr%&ica ue n$o se usti&ica por nen2u crit*rio l"gico na gra%tica da língua portuguesa' ue * a situa#$o dos 2iatos /2em0 e /3o0' pois ela n$o * e!igida ne pelo ti1re ne por uest$o di&erencial de ualuer nature.a/ 0o certe.a' ser% eliinada na pr"!ia re&ora ortogr%&ica da língua portuguesa' coo pro&eti.a acertadaente o Fro&essor 8rancisco Deui (455;+ S;)/
0ON0LU3ÃO 0oo esta pol>ica relativa ao ensino da acentua#$o gr%&ica n$o * uito antiga' co a intensidade ue se ve levantando na ltia d*cada' pretendo concluir co a transcri#$o de u te!to de Evanildo Kec2ara ue * transcrito na uarta capa de uase todos os neros da s*rie Na ponta da l!ngua, da Editora Lucerna+
NO M,R DE DYID,3 Z% duas aneiras de aprender ualuer coisa+ ua' leve' suave' co in&ora#7es corretas as super&iciais' ue' pela incopletude da li#$o' n$o indo aos assuntos a ela correlatos' aca1a sendo insu&iciente para peritir a &i!a#$o da aprendi.age/ P u *todo ue pode agradar' e at* divertir o leitor enos e!igente as n$o l2e garante o sucesso do con2eciento/ , segunda aneira * auela ue procura dar u passo &rente da resposta 1reve e iediata+ esta1elece rela#7es entre a dvida apresentada e outros assuntos a&ins' de odo ue' apro&undando u pouco ais a li#$o' apli&ica o con2eciento e garante sua peran>ncia' porue n$o se contenta e &icar na super&ície dos pro1leas e das dvidas/ 8alaos e super&ície' e a palavra nos sugere agora ua copara#$o entre as duas aneiras de aprender de ue vios tratando/ , prieira ensina a pessoa' no ar de dvidas' a anter-se super&ície n$o a&unda' as n$o sai do lugar/ , segunda' al* de peritir pessoa peranecer super&ície' ensina-l2e a dar 1ra#adas' ir ais al*/ ,ssi' pela prieira aneira' a pessoa 1"ia pela segunda' nadando' avan#a e c2ega a seu destino/ (Kec2ara et alii' 455;' 6[ capa)
RE8ER\N0I,3 KIKLIOCR8I0,3 KE0Z,R,' Evanildo/ Moderna gramática portuguesa / [ ed/ rev/ e apl/ Rio de Janeiro+ Lucerna' 9HHH/ RODRICUE3' ,ntnio Kasílio 8REIT,3' Zor%cio Roli de/ (org/)/ Na ponta da l!ngua. Rio de Janeiro+ Lucerna Liceu Liter%rio Fortugu>s' 455;' vol/ S/ DEVUI' 8rancisco/ Português (&ono-orto-or&o). ;[ ed/ 0anoas+ 0entro de Estudos 3intagraaticais IFU0' 4554/ / Neopedagogia da gramática. 0anoas+ 0entro de Estudos 3intagraaticais IFU0' 455;/ 8,RI,' Ernesto/ Fonética $istórica do latim. Rio de Janeiro+ ,cad>ica' 9H;;/ IORD,N' Iorgu M,NOLIU' Maria/ Manual de ling!stica románica. <9[ ed/' 9[ reip/=' rev/ reela1ora#$o parcial e notas por Manuel ,lvar/ Madri+ Credos' <9H:5=' 4 toos/ (Ki1lioteca Ro%nica Zisp%nica' dirigida por D%aso ,lonso)/ 3IL,' Jos* Fereira da/ Inadeua#$o na oderna terinologia graatical/ 4n+ )adernos da *+F ' vol/ II' n] 4/ Rio de Janeiro+ ,K8' 4556' p/ ;6-S4/ Disponível e 2ttp+WW^^^/&ilologia/org/1rWa1&Wvolue4Wnuero4W5B/2t / , terinologia graatical+ alguns casos pol>icos na descri#$o lingAística/ 4n+ )adernos da *+F ' vol/ ' n] 59/ Rio de Janeiro+ ,K8' 4556-