a brusca elevação da curva da memorização "imediata' nessa idade se deve a que essa memorização, aqui, se torna de fato interiormente mediata. Verifica-se, deste modo, que o processo de desenvolvimento da memória na idade infantil é um processo de transformações psicológicas radicais cuja essência consiste em que as formas as formas imediatas naturais de memorização se convertem em "processos psicológicos superiores", sociais por origem e mediatos por estrutura, que distinguem decisivamente os processos psicológicos do homem dos processos psicológicos do animal. Vê-se facilmente que essa transformação radical dos processos de memória durante o desenvolvimento da criança não é apenas uma estrutura modificada da própria memória mas, ao mesmo tempo, uma mudança nas relações entre os processos psicológicos básicos. Se nas etapas iniciais de desenvolvimento a memória tinha caráter direto e era, até certo ponto, uma continuação da percepção, da percepção, com o desenvolvimento da memorização mediata ela perde a sua ligação imediata com a percepção e contrai uma ligação nova e decisiva com o processo o processo de pensamento. O aluno de nível superior ou o adulto, que fazem operações complexas de codificação lógica do material suscetível de memorização, executam um complexo trabalho intelectual e o processo de-memória começa, assim, a aproximar-se do processo de pensamento discursivo, sem entretanto perder o caráter de atividade mnemônica. Essa mudança radical da relação entre processos psicológicos isolados, bem como a formação a formação de novos sistemas funcionais, constituem o traço fundamental do desenvolvimento psíquico da criança, podendo o processo de desenvolvimento da memória durante a ontogênese ser entendido apenas como uma transformação radical dos processos cujas vias acabamos de expor. Patologia da memória Os estados patológicos do cérebro são muito amiúde acompanhados da perturbação da memória. Mas até recentemente eram muito pouco conhecidas as particularidades psi96
cológicas que distinguem as perturbações da memória m emória em afecções cerebrais diferentes pela localização, bem como os mecanismos fisiológicos que lhes servem de base. São amplamente conhecidos os fatos segundo os quais, dos traumas muito agudos ou intoxicações, podem resultar ocorrências de amnésia retrógrada e anterógrada; nestes casos, os doentes, conservando recordações de acontecimentos há muito ocorridos, revelam consideráveis perturbações da memória dos acontecimentos correntes, esgotando de fato os conhecimentos de que dispunham os psiquiatras e neuro patologias que descreviam as mudanças da memória nas afecções orgânicas do cérebro. A esses dados incorporavam-se os fatos que indicavam que as afecções das áreas profundas do cérebro podem levar a profundas perturbações da capacidade de fixar vestígios e reproduzir coisas memorizá-veis; no entanto a natureza dessas perturbações continuava obscura. Os dados, obtidos por muitos pesquisadores nos últimos decênios, enriqueceram substancialmente os nossos conhecimentos acerca do caráter da perturbação da memória durante afecções diferentes pela localização e permitiram precisar tanto os dados básicos sobre o papel de algumas estruturas cerebrais nos processos da memória quanto os mecanismos mecanismos fisiológicos que servem de base às suas perturbações. perturbações. As afecções das áreas profundas do cérebro — cérebro — regiões do hipocampo e do sistema conhecido como "círculo de Peipetz" (hipocampo, — núcleos do tálamo ótico, — corpos mamilares, — corpo amendoado) — costumam levar a perturbações a perturbações maciças da memória, que não se limitam a nenhuma modalidade. Conservando recordações de acontecimentos distantes (há muito consolidados no cérebro), os doentes desse grupo são incapazes, contudo, de gravar na memória os vestígios das ocorrências correntes; em casos menos nítidos eles se queixam de memória fraca, indicam que são forçados a anotar tudo para não esquecer. As afecções maciças dessa região provocam uma grosseira amnésia face aos acontecimentos correntes, levando às vezes o homem a perder a noção precisa de onde se encontra e começar a experimentar dificuldades consideráveis de orientar-se no tempo, ficando impossibilitado de mencionar o ano, o mês, a data, o dia da semana e às vezes a hora do dia. 97
É característico que, nesses casos, as perturbações da memória não têm caráter seletivo e se manifestam igualmente na dificuldade de retenção do material visual e auditivo, imediato e discursivo. Nos casos em que a afecção abrange ambos os hipocampos, essas perturbações da memória são especialmente nítidas. Pesquisas neuropsicológicas minuciosas permitiram fazer uma caracterização posterior tanto da estrutura psicológica dessas falhas da memória quanto analisar os mecanismos fisiológicos que servem de base às suas perturbações. Mostrou-se que, nos casos de afecções relativamente brandas relativamente brandas das referidas regiões do cérebro, as perturbações se limitam a falhas da memória elementar, imediata, desprezando a possibilidade de compensação dessas falhas por meio da organização semântica do material; os doentes que não podem não podem memorizar as séries de palavras isoladas, quadros ou ações, são capazes de executar bem melhor essa tarefa, recorrendo a meios auxiliares e organizando o material memo-rizável memo-rizável em determinadas estruturas semânticas. Nesses doentes a perturbação da memória imediata não é acompanhada de qualquer perturbação expressa do intelecto e, via de regra, eles não apresentam indícios de demência. Fatos importantes foram registrados durante a análise das possíveis das possíveis perturbações fisiológicas da memória nos casos em exame. Como mostraram essas pesquisas, os doentes com afecções das áreas profundas do cérebro podem reter séries de palavras e ações relativamente longas e reproduzi-las após um intervalo de 60-90 segundos. No entanto é bastante uma uma pequena pequena abstração, provocada por atividade interferente, para tornar-se impossível a reprodução da série de elementos re-cém-memorizada. Nestes casos, a base fisiológica da perturbação da memória não é tanto a debilidade dos vestígios quanto uma elevada inibição dos vestígios por ações inter-ferentes. Esses mecanismos de perturbação da memória nos casos descritos devem-se ao fato de que a firme conservação dos focos dominantes e dos reflexos seletivos orientadores é, aqui, facilmente perturbada em virtude da redução do tônus do córtex e da separação, do trabalho normal, dos aparelhos primários de confrontação dos vestígios que, como já como já foi dito, é função imediata do hipocampo e das formações a ele ligadas. 98
O quadro das perturbações da memória muda substancialmente quando à afecção das regiões profundas do cérebro incorpora-se a afecção dos lobos frontais (sobretudo de suas áreas mediais e basais). Nestes casos, o doente deixa de ter uma atitude crítica em relação às à s falhas da sua memória, é incapaz de lhe compensar as falhas e perde a capacidade de discernir a execução autêntica das associações que afloram desordenadamente. As confabulações e erros da memória ("pseudo-reminiscências") , , que surgem nesses doentes, incorporam-se às grosseiras perturbações da memória ("síndrome de Korsakov") e levam l evam àquelas ocorrências de embaraço que se encontram na fronteira das perturbações perturbações da memória e das perturbações perturbações da consciência. De todas as variantes do quadro acima descrito distin-guem-se as perturbações da memória, que surgem durante as afecções locais da superfície externa (convexa) do cérebro. Semelhantes afecções nunca são acompanhadas da perturbação geral da memória e jamais levam ao surgimento da "síndrome de Korsakov" e muito menos de perturbações da consciência com a desintegração da orientação no espaço e no tempo. Os doentes com afecções locais das áreas convexas do cérebro podem apresentar uma perturbação particular da atividade mnemônica, que costuma ter caráter ter caráter específico-modal, noutros termos, manifesta-se em alguma região. Assim, os doentes com afecção da região temporal esquerda apresentam sintomas de perturbação da memória au-ditivo-verbal não au-ditivo-verbal não podem reter as séries de sílabas ou palavras da menor extensão. No entanto eles podem não manifestar quaisquer falhas da memória visual e, a partir desta, em alguns casos podem podem compensar as suas falhas mediante mediante a organização lógica do material consolidável na memória. Os doentes com afecções locais da região occipto-pa-rietal esquerda podem apresentar perturbação da memória es-paço-visual mas, es-paço-visual mas, via de regra, conservam a memória auditi-voverbal em grau consideravelmente maior. Os doentes com afecção dos lobos frontais do cérebro não costumam perder a memória, embora sua atividade mnemônica possa ser essencialmente dificultada pela inércia patológica dos estereótipos uma vez surgidos e pela difícil transferência de um elo do sistema memorizável a outro. As tentativas de memorização ativa do material que se lhes 99
propõe são dificultadas ainda pela patente inatividade desses doentes, e toda memorização de uma série longa de elementos, que requer um trabalho tenso sobre o material memo-rizável, neles se converte em repetição passiva dos mesmos elos da série que são memorizados imediatamente sem quaisquer esforços. Por isto a "curva da memória", que tem normalmente um nítido caráter ascensional, deixa de crescer neles, mantendo-se num mesmo nível e começando a ter caráter de "platô", que reflete a inatividade de sua atividade ati vidade mnemônica. É característico que as afecções locais do hemisfério direito (subdominante) podem desenvolverse sem perturbações visíveis da atividade mnemônica. Os estudos dos últimos decênios permitiram que se enfocassem mais de perto as características daquelas perturbações da memória que surgem nas perturbações cerebrais genéricas da atividade psíquica. Se essas perturbações provocam debilidade e instabilidade das excitações no córtex cerebral (e isto pode ocorrer com diferentes afecções vasculares, a hidrocefalia interna e hipertensões cerebrais), as perturbações da memória podem manifestar-se na redução geral do volume de memória, na difi-cultação da memorização e da leve inibição dos vestígios pelas ações interferentes; elas levam a um brusco esgotamento do doente, resultando daí uma forte complicação da memorização e ocorrendo que a "curva da memorização" começa a não crescer, chegando até a reduzir-se nas repetições posteriores. A análise da "curva da memorização" pode ter grande importância diagnostica, permitindo distinguir as síndromes da mudança dos processos psíquicos em afecções cerebrais diferentes por caráter. Os traços característicos distinguem as perturbações da memória na demência orgânica (mal de Pick, Alzheimer) e nos casos de oligofrenia. Para tais afecções, costuma ser central a perturbação a perturbação das formas superiores de memória, predominantemente da memória lógica. Esses doentes não têm condições de aplicar os procedimentos necessários de organização semântica do material memorizável e apresentam falhas especialmente patentes nos testes de memorização mediata. É característico que nos casos de retardamento mental (oligofrenia) essas perturbações da memória lógica podem 100
Apresenta-se, ás vezes, no fundo de uma memória mecânica bem observada que, em casos particulares, podem ser satisfatória pelo volume. O estudo da memória é de importância muito grande para precisar os sintomas das doenças cerebrais e diagnosticá-las. 101
que automaticamente; a esse fenômeno o psicólogo James designou com o termo latino "fiat" (faça-se), vendo nele & prova mais simples da existência do livre arbítrio, que não se sujeita às leis da natureza mas determina o comportamento do homem. Observações posteriores mostraram que a simples idéia do iminente movimento do braço provoca neste uma nítida tensão, que pode ser registrada na mudança do eletromiograma do braço. Esses fenômenos receberam em Psicologia a denominação de "atos ideomotores" e foram freqüentemente citados como ilustrações das influências da concepção sobre o movimento. Por último, esses mesmos fenômenos da atenção arbitrária podem ser observados na atividade intelectual, quando o próprio homem se propõe determinada tarefa e esta determina o sucessivo fluxo seletivo de suas associações. Eis porque os fatos da atenção arbitrária eram incluídos nos manuais clássicos de Psicologia entre a seção "Vontade" e serviam para ilustrar a tese da psique segundo a qual o homem não está sujeito às leis objetivas da natureza mas depende das influências procedentes do espírito livre. É fácil perceber que todas essas observações descreviam fatos realmente existentes; não obstante, a explicação desses fatos dos limites da tradicional Psicologia naturalista era impossível, sendo justamente isto o que abria amplamente as portas a hipóteses idealistas anticientíficas, atinentes à influência do "livre arbítrio" sobre a ocorrência dos processos psíquicos do homem. O impasse a que levaram as tentativas de explicar os fenômenos da atenção arbitrária na Psicologia naturalista clássica pode ser superado se mudarmos as concepções tradicionais dos processos conscientes, se deixarmos de considerá-los primários, particularidades primárias sempre existentes da vida espiritual e abordá-los como produto de um complexo desenvolvimento histórico-social. Só após darmos esse passo e examinarmos o problema da gênese da atenção arbitrária é que poderemos ver as suas raízes autênticas e dar-lhe uma explicação científica. Como já tivemos oportunidade de salientar (Vol. I — Cap. III), a criança vive num ambiente de adultos e se desenvolve num processo vivo de comunicação com eles. 24
Essa comunicação, que se realiza através da fala, de atos e gestos do adulto, influencia essencialmente a organização dos processos psíquicos da criança. A criança de idade tenra contempla o ambiente costumeiro que a cerca e seu olhar corre pelos objetos presentes sem se deter em nenhum deles nem distinguir esse ou aquele objeto dos demais. A mãe diz para a criança: "isto aqui é uma xícara!" e aponta o dedo para ela. A palavra e o gesto indicador da mãe distinguem incontinenti esse objeto dos demais, a criança fixa a xícara com o olhar e estende o braço para pegá-la. Neste caso, a atenção da criança continua a ter caráter involuntário e exteriormente determinado, com a única diferença de que aos fatores naturais do meio exterior incorporam-se os fatores da organização social do seu comportamento e o controle da atenção da criança por meio de um gesto indicador e da palavra. Neste caso, a organização da atenção está dividida entre duas pessoas: a mãe orienta a atenção e a criança se subordina ao seu gesto indicador e à palavra. No entanto isto constitui apenas a primeira etapa de formação da atenção arbitrária: trata-se de uma etapa exterior pela fonte e social por natureza. No processo de sucessivo desenvolvimento, a criança domina a linguagem e torna-se capaz de indicar sozinha indicar sozinha os objetos e nomeá-los. A evolução da linguagem da criança introduz uma transformação radical na orientação da sua atenção. Agora ela já é capaz de deslocar com autonomia a sua atenção, indicando esse ou aquele objeto com um gesto ou nomeando-o com a palavra correspondente. A organização da atenção, que antes estava dividida entre duas pessoas, a mãe e a criança, torna-se agora uma nova forma de organização interior da atenção, social pela -origem mas interiormente mediata pela estrutura. É esta etapa a que deve-se considerar etapa do nascimento de uma nova jorma de atenção arbitrária, que não é uma forma de manifestação do "espírito livre" primariamente própria do homem mas um produto de um complexo desenvolvimento histórico-social. Nas etapas posteriores a linguagem da criança se desenvolve; criam-se estruturas intelectuais (discursivas) internas cada vez mais complexas e elásticas e a atenção do homem adquire logo os traços, convertendo-se em esquemas intelec25
tuais internos dirigíveis que são, por si mesmos, um produto da complexa formação social dos processos psíquicos. Tudo isto mostra que a atenção arbitrária do homens homens realmente existe com seu caráter elástico e independente dai ações exteriores imediatas mas tem caráter determinado expl: cável por ser social por origem e mediada por processos :'; linguagem internos por estrutura. Na medida em que se desenvolve, os processos de linguagem internos e intelectuais da criança vão-se tornando tão complexos e automatizados que a transferência da sua atenção de um objeto para outro passa a dispensar esforços especiais e assume o caráter da facilidade e, pareceria da "invo-luntariedade" que todos nós sentimos quando em pensamento passamos facilmente de um objeto a outro ou quando somos capazes de manter por muito tempo a atenção tensa numa atividade que nos interessa. Ainda examinaremos os mecanismos das modalidades superiores de atenção depois de esclarecermos os problemas da formação dos processos intelectuais complexos. Métodos de estudo da atenção Os estudos psicológicos da atenção costumam coloco, como tarefa o exame da atenção arbitrária: do volume, da estabilidade e distribuição. O estudo das formas mais complexas de atenção representa interesse maior do que o estud da atenção involuntária que, em determinado grau se revel mediante a aplicação dos procedimentos antes descritos de es tudo do reflexo orientado e pode sofrer distúrbio substanci somente nos casos de afecções maciças do cérebro, que conduzem a uma redução geral da atividade. O estudo do volume da atenção se faz habitualmente po meio da análise do número de elementos simultaneament apresentáveis, que podem podem ser aceitos com clareza pelo sujeito Para estes fins usa-se um dispositivo que permite sugerir deter minado número de estímulos num espaço de tempo tão curt que o sujeito não consegue transferir o olhar de um objeto a outro, excluindo o movimento dos olhos, permite medir o número de unidades acessíveis à percepção simultânea. 26
O aparelho empregado para esse fim é chamado taquis-toscópio (do grego taquisto = rápido, skopeo = olho). Este aparelho é constituído por uma janelinha, separada do objeto a ser examinado por uma tela cadente cujo corte pode mudar arbitrariamente de maneira que o objeto em exame aparece no espaço muito breve de tempo de número 10 a 50-100 m/seg. Às vezes, para uma exposição rápida do objeto emprega-se o flash, que permite examinar o objeto numa fração muito pequena de tempo (até 1-5m/seg.). O número de objetos nitidamente percebidos é o que constitui o índice do volume da atenção. Se as figuras sugeridas são bastante simples e dispersas desordenadamente num campo demonstrativo, o volume da atenção não costuma ir além de 5-7 objetos simultaneamente perceptíveis com nitidez. Para evitar a influência da imagem consecutiva, costuma-se fazer a exposição breve dos objetos sugeríveis ser acompanhada de uma "obliteração da imagem", para que no fundo escuro que continua visível se trace para o sujeito um conjunto desordenado de linhas sem mudar a imagem dos objetos sugeríveis que se manteve depois de todas as apresentações e é aparentemente "obliterante". Ultimamente têm sido feitas tentativas de exprimir o volume da atenção em números, adotados na teoria da comunicação para medir a "capacidade receptora dos canais" através da aplicação da teoria da informação. Mas essas tentativas de mudança do volume da informação em "bits" (unidades empregadas pela teoria da informação) têm importância apenas limitada e são aplicadas somente àqueles casos em que o sujeito opera com um número final de possíveis figuras que conhece bem, das quais apenas algumas lhe são sugeridas para um pequeno espaço de tempo. O conceito "volume de atenção" é bastante próximo ao conceito "volume de percepção", e os conceitos de "campos de atenção nítida" e "campos de atenção confusa", amplamente empregado na literatura, são muito próximos aos conceitos de "centro" e "periferia" da percepção visual para a qual foram minuciosamente elaborados. Paralelamente ao estudo do volume da atenção, é de grande importância o estudo da estabilidade da atenção: ele se propõe a estabelecer até que ponto é sólida e estável a manutenção da atenção por determinada tarefa durante longo tempo, a ver se neste caso se observam certas oscilações na Í7
estabilidade da atenção e quando surgem ocorrências de fadiga nas quais a atenção do sujeito começa a ser desviada por estímulos estranhos. Para medir a estabilidade da atenção costuma-se empregar as tabelas de Burdon, que consistem numa alternância desordenada de letras isoladas que se repetem, uma por uma, num mesmo número de vezes em cada linha. Propõe-se ao sujeito desenhar durante 3-5-10 minutos as a s letras dadas (nos casos simples, uma ou duas letras, nos complexos a letra dada somente se ela estiver diante de outra, por exemplo, de umi vogai). O experimentador observa o número de letras desenhadas durante cada minuto e o número de omissões encontradas. As oscilações da atenção se manifestam na queda da produtividade do trabalho e no aumento do número de omissões. São de importância análoga as tabelas de Kraepelin, formadas por colunas de números que o sujeito deve ordenar durante um longo período. A produtividade do trabalho e o número de erros podem servir de índice de oscilações da atenção. Para aumentar as exigências diante da organização arbitrária da atenção, a realização dos referidos testes é dificultada pela discriminação dos fatores de abstração. Deste modo, dá-se ao sujeito a tarefa de traçar determinadas letras não numa coletânea desordenada como ocorre nas tabelas de Burdon mas num texto de conteúdo interessante. Neste caso a influência abstraente do texto interessante pode levar ao aumento do número de omissões e a queda da produtividade do trabalho; ao contrário, a estabilidade da atenção arbitrária se manifesta no fato de que o cumprimento da tarefa exigida continua inalterável mesmo nas condições de introdução de influências que abstraem a atenção. Reveste-se de grande importância o estudo da distribuição da atenção. Os primeiros experimentos de Wundt já mostraram que o homem não pode concentrar a atenção em dois estímulos simultaneamente apresentados e que » chamada "distribuição da atenção" entre dois estímulos representa de fato uma substituição uma substituição da atenção, que se transfere rapidamente de um estímulo a outro. Isto foi demonstrado com o auxílio do chamado aparelho de complicação, que permitia apresentar um estímulo visual (por exem28
pio, o ponteiro de um relógio na posição "I" simultaneamente como um estímulo sonoro: um som. Os testes mostraram que se os sujeitos prestam atenção ao ponteiro em movimento, têm a impressão de que o sinal sonoro que acompanha a passagem do ponteiro ao lado do ponto correspondente se atrasa e aparece algumas frações de segundo após; se eles prestam atenção a tenção ao som, a percepção do ponteiro em movimento se atrasa e os sujeitos relacionam o surgimento do som com um momento anterior. Tem grande importância prática o estudo da distribuição da atenção num trabalho demorado; para este fim, aplicam-se as chamadas "tabelas de Schullt". Nestas apresentam-se duas séries de números vermelhos e negros dispostos desordenadamente. O sujeito deve indicar i ndicar em ordem sucessiva uma série de números, alternando cada vez o número vermelho e um negro ou indicar, em condições dificultadas, os números vermelhos em ordem direta e os negros em ordem inversa. A possibilidade de distribuição demorada da atenção é expressa por uma curva, que indica o tempo gasto para descobrir cada um dos números que fazem parte de ambas as séries. Como mostraram as pesquisas, aparece com a mesma nitidez as diferenças individuais em sujeitos isolados; tais diferenças podem refletir com segurança algumas variações de intensidade e mobilidade dos processos nervosos, podendo ser empregadas com êxito para fins diagnósticos. Desenvolvimento da atenção Os indícios do desenvolvimento da atenção involuntária estável manifestam-se nitidamente nas primeiras semanas de vida da criança. Podem ser observado nos primeiros sintomas de manifestação do reflexo orientado: a fixação do objeto pelo olhar e a interrupção dos movimentos de sucção à primeira vista dos objetos ou com a manipulação destes. Pode-se afirmar com todo fundamento que os primeiros reflexos condicionados começam a formar-se no recém-nascido com base no reflexo orientado, noutros termos, somente se a criança presta atenção ao estímulo, discrimina-o e se concentra nele. 29