CARACTERIZAÇÃO DE MARIA DE NORONHA
QUEM É? Maria de Noronha é uma jovem de treze anos, filha de D.Madalena de Vilhena e de Manuel de Sousa Coutinho. É nobre, tem o sangue dos Vilhenas e dos Sousas.
QUE DESAFIO (S) LANÇA? Maria de Noronha lança alguns desafios ao longo da tragédia, tais como: revoltar-se contra a profissão religiosa dos pais (hábito), revolta-se contra D. João de Portugal e contra Deus e convida os seus pais a mentir.
O QUE RECEIA? Maria receia as crises/agouros de sua mãe aquando esta fala do regresso de D. Sebastião; a personagem teme o facto de haver a hipótese de seu pai perder a pátria para os governadores castelhanos. Maria de Noronha tem medo de ser filha ilegítima, sofrendo moralmente, pois sendo Sebastianista (devido a Telmo), acredita também no regresso de D. João de Portugal.
COMO É? É uma jovem bela, muito frágil (discurso de D. Madalena – “É – “É a única filha; não tenho… nunca tivemos outra… e, além de tudo o mais, bem vês que não é uma criança… muito… muito forte.” Acto I Cena II página 27), perspicaz (discurso de Maria – “Não – “Não é isso, não é isso: é que vos tenho lido nos olhos… Oh, que eu leio nos olhos, leio, leio!... e nas estrelas do céu também – e – e sei coisas…” Acto I Cena IV página 40) , , criativa, criativa, com
uma audição e visão bastante desenvolvidas devido à doença (tuberculose, doença dos românticos) (Acto I Cena V página 44). Maria é culta, evoca constantemente o passado (temos um exemplo de Maria a citar Camões no Acto I Cena III, quando a jovem de treze anos cita Camões), muito intuitiva (discurso de Maria – “É – “É meu pai que
aí vem… e vem afrontado!” Acto I Cena V página 44 ; discurso de Maria – “Estas são as papoilas que fazem dormir; colhi-as para meter debaixo do meu cabeçal esta noite; quero-a dormir de um sono, não quero so nhar, que me faz ver coisas… lindas às vezes,
mas tão extraordinárias e confusas…” Acto I Cena IV página 40), sebastianista, o que martiriza a sua mãe (discurso de Maria – “ … é o outro, é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há- de vir, um dia de névoa muito cerrada…
Que ele não morreu; não é assim, minha mãe?” Acto I Cena III página 37) , é aventureira (discurso de Maria – “ Fechamos-lhes as portas. Metemos a nossa gente dentro – o terço de meu pai tem mais de seiscentos homens – e defendemo-nos. Pois não é uma tirania?... E há-de ser bonito!... Tomara eu ver seja o que for que se pareça com uma batalha! ” Acto I Cena V página 44), tem orgulho na pátria (patriota) e no
seu pai (discurso de Maria – “ É uma glória ser filha de tal pai, não é?” Acto II Cena I página 56) e dotada do dom da profecia, é vista como uma mulher anjo, modelo da
mulher romântica.
QUAIS AS CARACTERISTICAS DO SEU DISCURSO? No discurso de Maria são utilizadas com bastante regularidade as reticências, precisamente por Maria ser interrompida constantemente pela mãe, D. Madalena, pois esta tem medo que a filha saiba de mais e não quer ser confrontada. Exemplos: discurso de Maria - “Não é isso, não é isso: é que vos tenho lido nos olhos… Oh, que eu leio nos olhos, leio, leio!... e nas estrelas do céu também – e sei coisas…”
Discurso de Madalena - “Que estás a dizer, filha, que estás a dizer? Que desvarios? Uma menina do teu juízo, te mente a Deus… não te quero ouvir falar assim.” O discurso desta personagem é também marcado pela insegurança e desconfiança, pois esta não tem a confirmação nem certeza de factos que esta pensa serem verdade. Exemplo: discurso de Maria – “O que eu sou… só eu sei, minha mãe… eu não sei, não, não sei nada, se não que o que devia ser não sou.”
QUE DESENLACE TEM? Maria ao longo da obra demonstra sempre um grande interesse pela história e existência de D. João de Portugal. A enorme curiosidade da personagem permite que ao longo da obra esta vá descobrindo detalhes e pormenores acerca do misterioso homem que provoca na sua mãe um estado depressivo e assombroso. No final da tragédia, a cena desenrola-se no altar onde Maria se confessa diante seus pais, dizendo-lhes tudo o que sabe, nomeadamente, o saber que é filha ilegítima. No final do discurso, Maria acaba por morrer, caindo aos pés de seus pais. Maria é uma personagem marcada pelo Destino: a fatalidade acaba por atingi-la e consequentemente destrui-la.
Quer actuando, quer através das falas das outras personagens, Maria está sempre em cena, tornando-se assim o núcleo de construção de toda a peça. A figura desta personagem é totalmente idealizada, nunca nos aparece como uma personagem real. Em consequência dessa idealização, Maria não tem uma dimensão psicológica real, porque é em simultâneo criança e adulta, não se impondo com nenhum destes estatutos. Maria apresenta algumas marcas de personalidade romântica:
É intuitiva e sentimental;
É idealista e fantasiosa, acreditando em crenças, sonhos, profecias, agoiros, etc.
Tem a capacidade de desafiar as convenções pois ama a aventura e a glória;
Tem o culto do nacionalismo, do patriotismo e do Sebastianismo;
Apresenta uma fragilidade física em contraste com uma intensa força interior (é destemida);
Morre como vítima inocente.
CURIOSIDADE: Maria morre com treze anos, número do azar.