CALVINO O Teólogo do Espírito Santo "A doutrina sobre a obra do Espírito Santo é uma dádiva de João Calvino à Igreja de Cristo... os amplos departamentos doutrinários sobre "A !raa Comum"# "$egeneraão"# e "% &estemun'o do Espírito" do livro ter(eiro das Instituías, Calvino )oi o primeiro a desenvolver a doutrina da obra do Espírito Santo# e a dar a toda a doutrina do Espírito Santo uma )ormulaão sistemáti(a# )a*endo dela uma possessão inalienável da Igreja de +eus." ,-. -. ar)ield A/!/S&/S IC%+E0%S 1%2ES# 2'.+.# é brasileiro# (asado (om 0in3a S('al34ij3. 5 pastor presbiteriano. 6e* mestrado na 7)ri(a do Sul# e doutorado no estminster &'eologi(al Seminar8# em 6iladél)ia# nos Estados /nidos# (om (ursos espe(iais em 9ampen# na :olanda. Atualmente é pro)essor de E;egese -íbli(a e Coordenador de ovo &estamento do Centro de 2
ES E?A!51ICAS SE1ECI%A+AS $ua @ de 0aio# BB , D o andar , salas B,B FBFB,FFF , São 2aulo , S2
CALVINO O Teólogo do Espírito Santo Seu Ensino sobre o Espírito Santo e a Palavra de Deus AUGUSTUS NICODEMUS LOPES
INTRODUÇÃO % tema deste artigo é "Calvino# o &e
John Owen, The Holy Spirit: His Gifts and Power (Grand Rapids: Kregel, 1960); Abraham K!per, The Work of the Holy Spirit (Grand Rapids: "erdmans, 19#6)$ O%ros a%ores poderiam ser a&res&en%ados, &omo o pri%ano ingl's homas Goodwin, e mais re&en%emen%e, en*amim $ +arield e George -mea%on$
.$ Jo/o .alino, As Instituías, ou Tratado da Religio !rist, # ols$, %rad$ +ald!r.$ 2 (-/o 3alo: ."3 e 2 para o .aminho, 1949)$ .alino %ra%a da deidade do "sp5ri%o em liro 1,1:1#ss$, e da -a obra reden%ora (apli&ando a sala7/o) no liro 888, espe&ialmen%e nos &ap5%los 1$
Alguns tm (riti(ado Calvino por não 'aver dado atenão mais direta ao Espírito Santo em seus es(ritos# espe(ialmente nas Instituías. A (ríti(a é injusta. E;istem ra*Kes su)i(ientes para essa aparente )alta de atenão. Em primeiro lugar# a doutrina do Espírito Santo não era o )o(o do debate de Calvino (om a igreja (at
O %ermo es<erda %em sido empregado re&en%emen%e por algns his%oriadores para se reerir a esse grpo, sem <al<er &ono%a7/o poli%i&a$ =e*a abai>o p$ 9$ eon%ologia es%do da 3essoa de ?es$ *
Gue pre)eriram es(rever nove (apítulos em ve* de apenas um. A tentativa Gue )oi )eita em nossa épo(a# pela Igreja 2resbiteriana dos Estados /nidos# para suprir esta alegada de)i(in(ia# produ*iu um (apítulo a mais na Con)issão de 6é Gue# segundo ar)ield# nada mais é Gue um (urto sumário destes nove (apítulos originais. E por )im# não se pode e;igir de Calvino Me nem dos autores da Con)issão de 6éN uma abordagem do assunto Gue seja aguada pelas GuestKes rela(ionadas (om o surgimento do movimento pente(ostal# sé(ulos ap
.$ a no%a in%rod%@ria de $ + arield em K!per, The Work of the Holy Spirit, >>ii$
#
3ara ma lis%a das obras mais impor%an%es sobre o "sp5ri%o -an%o es&ri%as ap@s .alino nos sB&los C=88 e C=888, er K!per, The Work of the Holy Spirit, i>>$ $
K!per, The Work of the Holy Spirit, >>>iii>>>i$
santi)i(aão# os meios de graa# e o (on'e(imento de +eus# entre outros. A pneumatologia de Calvino# igualmente# abrangia e permeava todos os demais departamentos da En(i(lopédia &eol
O CONTEXTO TEOLÓGICO DE CALVINO Come(emos por lembrar,nos Gue a teologia de Calvino nas(eu e desenvolveu,se em meio ao intenso (on)lito doutrinário Gue mar(ou a $e)orma do sé(ulo R?I. Sua doutrina do Espírito Santo )oi moldada em meio à sua batal'a em duas )rentes. Em uma# ele en)rentava o (ativeiro das Es(rituras pela igreja (at
A igreja católica romana e o catieiro !a" E"crit#ra" Calvino e a igreja (at
edi)i(ada sobre o )undamento dos ap
Institutas, 888$ 1$1; 8$D$$
&"
Institutas, 1$4$1; 8$D$#$ .$ Ronald -$ +alla&e, !al#in$s %o&trine of the Word and Sa&ra'ent (Grand Rapids: "erdmans, 19D) 101$ '
Instituías, 888$1$1; 888$$#; 88$$0; 1$D$$ =e*a ainda !al#in$s !o''entaries, ol$ 0,1161D, e ol$ , D$
Ele a)irmaQ "% espírito Gue introdu* GualGuer doutrina ou novidade Gue vá além do evangel'o# é um espírito de mentira# e não o Espírito de Cristo." BF % e)eito do ensino de Calvino )oi libertador. BB Através da n)ase no testemun'o interno do Espírito Santo (omo a evidn(ia má;ima da divindade e da autoridade das Es(rituras# ele libertou as Es(rituras e a sua interpretaão do (ativeiro imposto pela Igreja 0edieval# e as (olo(ou de volta onde elas perten(iam de direito# nas mãos do Espírito Santo. esse sentido# estava (erta a avaliaão de alguns (at
O" re$orma!ore" ra!icai" e "e# !e"%re&o %ela 'alara A outra )rente de batal'a de Calvino era (ontra o ensino da Reforma radical, (on'e(ida (omo a "ala esGuerdista" da $e)orma.B@ :avia diversos grupos dentro dessa ala do movimento re)ormista. :avia# em primeiro lugar# (omo os Anabatistas# os "6anáti(os"# os "Espiritualistas" e os Anti,trinitarianos# Gue "embora di)erentes em seus prop
1(
!al#in$s !o''entaries, ol$ 14, 101$
11
?eemos, &om *s%i7a, no%ar <e .alino dee mi%o dessa perspe&%ia ao ensino desbraador de Ear%inho %ero, <e *F haia, an%es dele, denn&iado esse es%ado de &oisas$ 1
=e*a no%a $
1!
+illiam ale, !al#in and the Ana(aptist Radi&ais, %rad$ +$ He!nem (Grand Rapids: "erdmans, 1941) $
predestinaão# governo de Igreja# relaão entre Igreja e Estado# e interpretaão das Es(rituras.B 6oi (ontra os e;(essos dos "Entusiastas" ou "6anáti(os" M(omo eram (on'e(idosN na área de novas revelaKes (ontemporHneas do Espírito# Gue Calvino se (on(entrou em alguns de seus es(ritos. Ele es(reveu um tratado em BPP intitulado Contre la secte phantasti"ue et furieuse des #ibertines "ui se nomment spirituel$
MContra a seita )antásti(a e )uriosa dos 1ibertinos# Gue se ('amam de EspirituaisN# Gue ainda não )oi tradu*ido para o portugus.B 6reGentemente em suas Institutas e (omentários Calvino )a* menKes diretas ou sugestKes implí(itas sobre este movimento. %s "Entusiastas" en)ati*avam o ministério didáti(o do Espírito# um ponto Gue 'avia sido resgatado pelos $e)ormadores porém# estavam indo além deles# reivindi(ando serem ensinados diretamente pelo Espírito através de novas revelaKes# por meio de uma lu$ interior. A)irmavam Gue o Espírito não podia )i(ar restrito a palavras es(ritas# pois isso diminuiria Sua soberania. &estar as mani)estaKes espirituais seria desonrar o Espírito. C'egavam a ridi(ulari*ar os Gue se apegavam às Es(rituras# pois a (onsideravam (omo uma )orma in)erior e temporária de revelaão# e (riti(avam Calvino e os demais re)ormadores por se apegarem % letra "ue mata.
%s "Entusiastas#" portanto# eram uma reaão à es(ravidão das Es(rituras por parte da Igreja Gue 'avia vigorado até a $e)orma# mas uma reaão Gue estava indo longe demais. Calvino# naturalmente# simpati*ava, 1"
3ara ma anFlise mais pronda do deba%e de .alino &om os Anaba%is%as &onsl%e ale, !al#in and the Ana(aptist Radi&ais) Resmos sobre o moimen%o Anaba%is%a dran%e a Reorma poder/o ser 16 3ara ma anFlise mais pronda do deba%e de .alino &om os Anaba%is%as .onsl%e ale, .alin and %he Anabap%is% Radi&als$ Resmos sobre o moimen%o Anaba%is%a dran%e a Reorma poder/o ser en&on%rados nos liros &lFssi&os em por%g's de His%@ria da 8gre*a, &omo Rober% Ii&hols, +$ +aler e Js%o Gon2ale2 (ol$ 6)
se (om os "Entusiastas" em vários pontos. 2ara ambos# as Es(rituras# (omo a 2alavra de +eus# não estavam (ativas à interpretaão da igreja (at
O EN(INO DE CALVINO (O)RE O E('*RITO (ANTO E A 'ALAVRA DE DEU( Calvino não se limitou a (riti(ar os e;ageros dos "Entusiastas." Ele apresentou# de )orma positiva e (onstrutiva# o ensino bíbli(o sobre a direão divina para a Igreja vivendo ap
aborda o ensino dos "6anáti(os"# (omo eram (on'e(idos 1#*"
Institutas, 8, 9, 1$
1$*+
Instituías, 8, 9,
na épo(a# a partirda inseparável relaão entre o Espírito e a 2alavra.
O E"%+rito $ala %ela" E"crit#ra" % ponto (entral de Calvino era Gue o spírito fala pelas scrituras. ão Gue o Espírito estivesse restrito à pregaão da 2alavra e aos sa(ramentos# mas sim# Gue Ele não pode ser disso(iado de ambos. % Espírito 'avia sido dado à Igreja# não para tra*er novas revelaKes# e sim para nos instruir nas palavras de Cristo e dos pro)etas. +e a(ordo (om Calvino# o Espírito sela nossas mentes Guando ouvimos e re(ebemos (om )é a palavra da verdade# o evangel'o da salvaão ME). BQBDN. Ele limita,Se a guiar os (rentes e a iluminar seus entendimentos naGuilo Gue ouviu e re(ebeu do 2ai e do 6il'o# e não de Si mesmo MJoão BQBDN. Como o ensino divino se en(ontra nas Es(rituras# a obra do Espírito (onsiste em iluminá,las# )a*endo (om Gue esse ensino seja entendido pelos )iéis. Contra o despre*o pelas Es(rituras da parte de muitos "Entusiastas#" Calvino (itava o e;emplo do ap
Institutas, 8, 9, 1; &$ +alla&e, !al#in$s %o&trine of the Word and Sa&ra'ent, 10$
(#a -armonia com a" E"crit#ra" %utro ponto importante desta(ado por Calvino nas Institutas era Gue a atuaão do Espírito Santo poderia ser re(on'e(ida pela Sua 'armonia (om as Es(rituras# as Guais 'aviam sido inspiradas pelo pr
institutas, 8, 9, $
1'-
Para u' estudo 'ais aprofundado, #e.a W) /re&k, 0Wort und Geist (ei !al#in0, e' 1est&hrift f2r G2nther %ehn 34eukir&hen, *+567 *8"9*6) ; Institutas, 8, 9, $
iluminaão do Espírito aos (rentes.@F Assim# Cristo )ala 'oje através do ministro do evangel'o# Guando o mesmo e;pKe )ielmente a 2alavra. % Espírito torna efica$ a 2alavra e;posta nos (oraKes dos Gue a ouvem. Ao mesmo tempo# a relaão Espírito,2alavra não é mági(a# ou automáti(a. A 2alavra não é (omo um talismã, Gue sempre Gue invo(ado# libera seu poder mági(o# ao bel, pra*er do seu possuidor. A e)i(á(ia da 2alavra# ao (ontrário# está totalmente na depend*ncia da soberania do spírito.+ 2ara Calvino# a a)irmaão de 2aulo de Gue somos ministros de uma nova aliana# do Espírito Gue vivi)i(a M@ Cor. DQN# não é uma garantia de Gue nossa pregaão sempre será a(ompan'ada pelo poder vivi)i(ador do Espírito. 2astores não retém o poder de dispensar a graa do Espírito a GualGuer um Gue eles desejem# nem Guando o desejem. 5 por um ato soberano Gue o Espírito torna a 2alavra pregada em 2alavra e)i(a*.
Assim# a eloGn(ia# a 'abilidade# a erudião e o )ervor do pregador de nada adiantam# se a graa e o poder do Espírito não estiverem presentes. E assim o(orre# porGue o m(rito sempre deve ser de Cristo, e não dos pregadores.
A IN/LU0NCIA DE CALVINO NA CON/I((ÃO DE /1 DE 2E(T3IN(TER A Con)issão de 6é de estminster )oi elaborada no sé(ulo R?II# Guase um sé(ulo ap
8bid$
16 !al#in$s !o''entaries, #ol) -,*6;< #e.a ainda Walla&e, ! al#in$s %o&trine of the Word and Sa&ra'ent, "+9+-)
Institutas, I, +, ) Passagens &o'o * !or) *:*9, *;:+ e * =oo ;:*, entre outras, esta(ele&e' &rit>rios doutrin?rios pelos @uais pode9se .ulgar as profe&ias e os profetas) 8 !al#in$s !o''entaries, ol$ , 10$
vários anos era um s
RELEV4NCIA DO EN(INO DE CALVINO 'ARA NÓ( 5O6E A ,%oca em 7#e iemo" Y A in)lun(ia do movimento neopente(ostal# surgido na dé(ada de sessenta# tem,se )eito sentir de )orma pro)unda nas denominaKes evangéli(as
In&lusi#e a 8gre*a 3resbi%eriana do rasil
'ist
Em 7#e o en"ino !e Calino no" aj#!a -oje8 Em primeiro lugar# o ensino de Calvino sobre o testemun'o interno do Espírito vem lembrar à Igreja Gue# nestes tempos di)í(eis# ela deve bus(ar de +eus a íntima iluminaão do Espírito para (ompreender e apli(ar as Es(rituras à sua vida e missão. Corremos o ris(o de pensar Gue Calvino# em sua luta (ontra os
e;(essos dos "Entusiastas"# (aiu no e;tremo do a(ademi(ismo )rio. -al3e nos relata o Gue de )ato o(orreuQ "Calvino# o te
ale, !al#in and the Ana(aptist Radi&als, 6$
"9
O "sp5ri%o -an%o Ho*e Os ?ons de 5ngas e 3roe&ia, em !arias Pastorais (-/o 3alo: .asa "di%ora 3resbi%eriana, 199)$ O do&men%o oi elaborado pela .omiss/o 3ermanen%e de ?o%rina da 83$
épo(as distintas# jamais o )a* em (ontradião ao Gue nos revelou na 2alavra. +everíamos estar abertos para o )ato de Gue o Espírito tem en)ati*ado aspe(tos di)erentes da 2alavra em épo(as di)erentes , porém# jamais indo além dela ou (ontra ela. Em ter(eiro lugar# o ensino de Calvino nos alerta (ontra os Gue pretendem ter total (ontrole sobre o Espírito# Gue pretendem dispensar o batismo do Espírito pela imposião de mãos# Gue "ensinam" aos (rentes imaturos e in(autos a )alar em línguas. Alerta,nos a rejeitar todo ensino# movimento# (ulto# liturgia# onde a 2alavra de +eus não re(eba a devida proeminn(ia. Se o Espírito )ala pela 2alavra# a 2alavra deve ser o (entro. 0uitos presbiterianos (onsideram,se (alvinistas e re)ormados# mas Guantos realmente per(ebem as impli(aKes do ensino (alvinista re)ormado sobre a obra do Espírito para as práti(as neopente(ostais Gue são a(eitas em muitas das nossas igrejasO Calvino )oi# de )ato# um 'omem do Espírito Santo# Gue guiado por Ele# tornou,se o prin(ipal instrumento de +eus para a $e)orma do sé(ulo R?I# movimento Gue# na realidade# )oi um dos maiores avivamentos espirituais o(orridos na Igreja Cristã# ap
neopente(ostais# ini(iou,se# não em BUF# (om a reunião na rua A*u*a# nos Estados /nidos# mas desde o dia de 2ente(oste. As evidn(ias bíbli(as são numerosas. Em seu sermão no dia de 2ente(oste# o ap