GERALD GARDNER – O Significado da sua vida e trabalhos para a história da Bruxaria Moderna. Por Philip Heselton Tradução: Scathy Morrigan
Introdução Brux Bruxar aria ia e Pa Paga gani nism smo o são são atua atualm lmen ente te reco reconh nhec ecid idos os como como os gran grande dess movimentos religiosos na Bretanha, América e muitas outras partes do mundo. Ninguém pode saber, com certeza, quantos novos membros porque, diferente de outra outrass religi religiõe ões, s, não existe existe autori autoridad dadee centra centrall ou organi organizaç zação ão que que os indivíduos precisem fazer parte. Contudo, considerando apenas a Grã-Bretanha, a estimativa é que existam 40.000 bruxos e pagãos; um numero superior ao de budistas e quakers. Nos EUA este número pode ser superior aos 250.000 membros. Porém, o que são Paganismo e Bruxaria? Pagani Paga nism smo o é o term termo o abra abrang ngen ente te que que cont contem em toda todass as reli religi giõe õess que que reconhecem que o individuo pode experimentar o Divino diretamente; através de manifestações na natureza, sejam por forças abstratas, ou personificadas por Divindades. A maioria das bruxas 1, muito muito provav provavelm elment ente, e, ident identifi ificam cam a Bruxar Bruxaria ia como como tendo uma orientação pagã mas, em adendo, enfatizariam a importância do sentido psíquico, o qual remonta a criação do universo, e o uso da mágica, que tem tem capa capaci cida dade de de infl influe uenc ncia iarr nos nos ev even ento toss que que virã virão o a ocor ocorre rerr pelo pelo uso uso consciente consciente da força de vontade. Mesmo aqueles que não adotam o termo ‘Gardnerianos’, a grande maioria de bruxos e pagãos existentes hoje no mundo, devem muito do que praticam (talvez muito mais do que imaginam) a um homem – Gerald B. Garder. Portanto é importante para um movimento deste tamanho ter uma ciência de sua história, e para apoiar essa idéia, Mandrake Press está lançando novas edições de livros de e sobre Gerald Gardner. Alguns já esgotados a vários anos como ‘A Goddess Arrives’, ‘High Magic’s Aid’ e ‘Gerald Gardner: Witch’.
Gerald Gardner – Uma Infância de Aventuras Gerald Brosseau Gardner nasceu em 13 de junho de 1884 em Blundellsands, um bairro de classe alta nas proximidades da família. O negócio da família era importação de madeira e tinham acumulado uma considerável fortuna com os anos. Porém Gerald não era uma criança forte. Ele sofria de asma – doença dos ocultistas – e seus pais decidiram que seria melhor para o menino, em vez de ir para para a escola escola conven convencio cional nal,, visit visitar ar paíse paísess com clima mais mais quent quentee a cada cada inverno, acompanhado de sua enfermeira ‘Com’. 1
Nota da Tradutora: O uso da palavra no feminino é mera conveniência. No entanto se refere a bruxas e bruxos.
Sendo assim, a Ilha da Madeira e o oeste da África, para Gardner, se tornaram tão familiar quanto sua terra natal. Durante as viagens ele aprendeu a ler por esforço próprio e como conseqüência, passou a desenvolver um interesse em psiquismo e ocultismo. Um interesse que perduraria por toda a sua vida. Depois de comprar uma adaga nativa, com sua própria mesada, se tornou fascinado por todos os tipos de armas, particularmente em relação a antiguidades, e rapidamente obteve um considerável conhecimento sobre elas.
A Vida Profissional no Longe Leste Quando Gerald estava com 16 anos, ‘Com’ se casou com um fazendeiro de Chá e foi morar no Ceilão, ficando acordado que Gerald se juntaria a eles para aprender o ofício. Os 36 anos seguintes, Gerald Gardner trabalhou em Ceilão, Borneu e Malásia. Primeiro com plantação de chá, depois com plantação de borracha e no fim como oficial alfandegário. No seu tempo livre, Gardner cultivava amizades com nativos e quase sempre ele acabava estudando e aprendendo algo de suas crenças e práticas, incluindo o uso psíquico do poder e o trabalho com mágica. Deste modo ele conseguiu um grande conhecimento sobre as armas mágicas da Malásia; as kris, que ele registrou no seu primeiro livro ‘Keris e Outras Armas da Malásia’ (Keris and Other Malay Weapons), publicado em 1936. Ele também começou a se interessar em arqueologia, praticamente sendo o primeiro a descobrir uma cidade antiga em Johore (cuja existência se tornou oficial somente anos mais tarde). Ocasionalmente Gardner viajava para sua terra natal e em uma dessas oportunidades teve um romance relâmpago e se casou com Donna Rosedale, uma estudante de enfermagem. Gardner se aposentou em 1936, aos 51 anos, e hoje ele é amplamente lembrado por sua vida, descobertas e retorno à Inglaterra.
A Goddess Arrives A primeira novela de Gardner foi resultado de um sonho, ou de vários sonhos, em que ele parece encarregado da construção de uma muralha de defesa que visava repelir invasores. Ele suspeitou que tal memória pudesse ser oriunda de uma vida passada (possivelmente vivida em algum lugar do Mediterrâneo ou Oriente Médio). Em uma oportunidade que teve em visita a Cyprus, ele conseguiu identificar a geografia de seus sonhos, chegando a comprar um terreno onde ele esperava construir uma casa. No entanto, ele nunca conseguiu levar a frente este projeto em face do advento da 2ª.Guerra Mundial. Os sonhos eram tão claros que Gardner foi inspirado a escrever o livro ‘A Goddess Arrives’. A novela tem base nos fatos históricos sobre a invasão
egípcia, no ano de 1450AC, e conta como foram finalmente expulsos. A heroína da história, Dayonis, é descrita como uma bruxa, mas parecia que ela precisava de sacrifícios de animais, e em alguns casos de humanos, em seus rituais. A lenda de Vênus emergindo das ondas é dramaticamente incorporada na história. A novela é bem escrita e foi publicada no fim de 1939, logo após a iniciação de Gardner na Arte (ou Bruxaria, como é conhecida pelos seus membros). O livro demonstra que Gardner era interessado em Bruxaria e rituais mesmo antes de sua iniciação. Contudo ele foi forçado a mudar algumas de suas idéias quando conheceu Bruxas de verdade (como por exemplo, a necessidade de sacrifícios de sangue).
Entrando para Arte Quando Gardner retornou para Londres, o clima não lhe pareceu favorável depois de tantos anos morando no Leste, e ele acabou vítima de um forte resfriado, como quase sempre ocorria quando ele decidia visitar a Inglaterra. Seu médico sugeriu visitas a um campo naturalista (nudista) e, para surpresa de Gardner, o ajudou a recuperar sua saúde e força. Lá ele conheceu várias pessoas interessantes, que tinham gosto pelo ocultismo e que o apresentou outro clube naturalista em New Forest (Hampshire), o qual ele se afiliou. Gardner gostou da área de new Forest, das pessoas do clube e, como a guerra ameaçava ocorrer; ele e Donna decidiram tentar encontrar uma casa na vizinhança. Eles se mudaram no verão de 1938 para o vilarejo de Highcliffe (Christchurch). Gardner contou que durante um passeio, descobriu um novo prédio em Christchurch, que possuía os dizeres ‘O Primeiro Teatro Rosacruz da Inglaterra’ (‘The First Rosicrucian Theatre in England’). Ele sabia alguma coisa sobre a tradição esotérica do Rosacruz e começou a freqüentar as reuniões do teatro com a esperança de apreender mais sobre o assunto. O problema é que Gardner não se deu muito bem com George Alexander Sullivan, líder da Rosicrucian Crotona Fellowship e que dirigia o local, pois acreditava que ele não passava de um charlatão. Porém ele começou a perceber um pequeno grupo de pessoas que iam as reuniões, mas que eram diferentes das demais. Estas pessoas eram partes de uma família que vinha de Southampton para participar das atividades do teatro. Existia também, uma professora de elocução chamada Edith Woodford Grimes. Imediatamente Gardner simpatizou com este grupo, que por sua vez tinha muito orgulho dos seus antepassados, e contaram que um deles, Grizel Gairdner, tinha sido queimada como bruxa no século XVII (Escócia). Em uma noite, ele levaram Gardner para uma casa grande, na mesma área do teatro, onde retiraram todas as suas roupas e o iniciaram dentro da Arte. Somente depois de o ritual estar pela metade é que ele percebeu quem eles eram ao escutar a palavra ‘WICA’. Gardner ficou tomado de alegria ao sentir que algo que achava ter morrido, tinha conseguido sobreviver; e assim, quase que imediatamente começou a fazer todos os tipos de pergunta sobre o assunto.
A casa era de propriedade de Dorothy Clutterbuck. O grau em que ela estava envolvida dentro da Arte tem sido motivo de ampla discussão nos últimos anos, porém é certo que ela deve ter dado permissão para que o ritual de iniciação tivesse ocorrido em uma de suas propriedades – Mill House. Nota: Neste período a que nos referimos, final de 1939, ela passava maior parte do tempo em uma outra casa, Latimers, que era uma mansão maior ainda. Enquanto Dorothy era um ‘pilar da comunidade’ e uma mulher de ótima situação financeira, é também evidente pelas notas de seus diários (que conseguiram sobreviver), que ela era uma pessoa que tinha obtido suas grandes experiências espirituais pela natureza em vez de por uma igreja formal. Sendo assim, ela era, no verdadeiro sentido da palavra, uma pagã. Se ela era também uma bruxa, ainda é um caso a se provar.
Operação Cone do Poder A guerra tinha começado em Setembro de 1939 e por volta de 1940 a maioria das pessoas da Inglaterra acreditava que uma invasão era iminente. Consequentemente, aqueles que podiam se juntavam ao exercito, mas a geração mais velha, a qual Gardner e a maioria das bruxas pertenciam, sentiam que deveriam tentar impedir tal invasão pelos meios e forças que conheciam; e no caso era através da magia. O ritual ocorreu na noite de Lammas em 1940. Um grupo de 17 homens e mulheres se encontraram nesta noite em new Forest. O objetivo era projetar um pensamento nas mentes de Hitler e dos generais alemães: ‘Você não pode vir! Você não pode atravessar o mar!’ e um grande cone de poder foi produzido e direcionado ao propósito. Um esforço especial foi feito pela natureza do objetivo a ser atingido. Mesmo aqueles que eram mais idosos, doentes ou de alguma forma incapacitados, tomaram parte da forma que conseguiam. Ocorre que, este tipo de ritual demanda um grande esforço de cada um (Gardner o descreveu como uma “força viva”), mas todos os que tomaram parte, o fizeram de livre vontade, mesmo sabendo das possíveis conseqüências. O fato é que, pelo menos dois dos participantes morreram nas noites subseqüentes, em face de exaustão – física, mental e espiritual – e os outros ficaram permanentemente debilitados. No caso de Gardner, sua asma (que não o atormentava desde que ele tinha ido morar no Leste) voltou com força total.
‘High Magic’s Aid’ A iniciação de Gardner na Arte foi uma experiência que mais tarde ele descreveria como “a noite mais maravilhosa da minha vida”. Evidentemente, quase que imediatamente, ele perguntaria as bruxas todo tipo de assunto; sobre sua história, como elas geravam poder para objetivos mágicos e todo outro tipo de questionamento. Além disso, ele queria tornar público o fato de que as bruxas ainda existiam, porém elas se recusaram a permitir esse ato por alegarem que a perseguição ainda existia.
No entanto, depois de algum tempo acabaram permitindo que ele realizasse seu desejo, mas foram categóricas com a condição de que se Gardner quisesse escrever um livro, que este fosse uma obra de ficção e que não mencionasse nenhuma das técnicas mágicas que eles usavam. Em 1949, Gardner terminou de escrever sua novela chamada ‘High Magic’s Aid’; que foi publicado por Michael Houghton, que dirigia Atlantis Bookshop em Londres. A história conta a aventura de dois irmãos que tiveram suas propriedades usurpadas pelo malvado FitzUrse. Os irmãos procuram ajuda de um médico, Thur Peterson, que também é um mago ritual. Juntos eles resgatam uma bruxa, Morven, que conta algo que acredita ser verdade e acaba iniciando-os na Arte. O ritual de iniciação descrito no livro tem sido divulgado e largamente utilizado.
‘Bruxaria Hoje’ Em 1951, o Ato sobre Mediunidade Fraudulenta foi promulgado, graças ao esforço dos espiritualistas. Este foi um passo importante para o reconhecimento genuíno da mediunidade, pela primeira vez em caráter oficial. O Ato acabava com a última lei contra a bruxaria e isto significava que as bruxas poderiam admitir sua Arte sem medo de serem processadas (no entanto ainda com medo de serem perseguidas pela sociedade). Neste mesmo ano, ‘Old Dorothy’ faleceu e Gardner obteve permissão das bruxas (provavelmente praticantes dirigidas por Edith Woodford Grimes ou Dafo – seu nome pagão), para escrever, pela primeira vez, um livro não fictício que revelaria que a bruxaria ainda era praticada. A permissão para Gardner tinha sido influenciada pelo livro de Pennethorne Hughes, chamado ‘Bruxaria’ (publicado em 1952) e que abordava a Arte de uma forma distorcida. Consequentemente começaram a apoiar o projeto de Gardner, mas sempre cuidando que alguns aspectos não fossem revelados. Deste modo, Gardner começou a trabalhar no livro ‘New Light on Witchcraft’ (Nova Luz na Bruxaria), que foi aceito pelos editores Rider & Co e publicado com o nome de ‘Bruxaria Hoje’ em 1954. O livro foi editado e formatado nos moldes das publicações de Ross Nichols, um estudioso de ocultismo que mais tarde se tornaria chefe da OBOD (Order of Bards, Ovates and Druids). O livro foi basicamente produto das revisões e comentários de Gardner sobre questões históricas, mitológicas e material literário relacionado a bruxaria mas, entre estes elementos, encontram-se pedaços de informações que as bruxas tinham lhe contado e sobre as suas atividades.
Crença e Prática das Bruxas Gardner logo percebeu que ele tinha sido iniciado dentro de uma tradição que era transmitida por gerações de uma determinada família. Era em sua essência uma Arte prática, que tinha suas formas de levantar o poder de fazer magia, e para fertilidade e cura. As coisas eram feitas porque tinham experiência que daquela forma funcionaria. A sua historia dentro da Arte e o que podia se chamar de sua teologia, tinham sido esquecidos no tempo e não existia
nenhum ritual elaborado ou calendário de festivais. Era apenas uma representação natural da vida e que até poderia ter uma denominação diferente de bruxaria. Contudo Gardner tinha sido claramente e altamente, influenciado por essas pessoas e suas concepções sobre a vida. Ele nunca os esqueceu e respeitou os votos de segredo firmados em sua iniciação por toda a vida.
A Procura pela Magia Cerimonial Gardner tinha sido membro da Maçonaria-Livre enquanto morava no Ceilão e na sua juventude, ele tinha sido um colecionador de armas (com especial atenção para facas e espadas). Talvez por esses fatos aliados ao que as bruxas tinham relatado sobre suas crenças, do que ele tinha tido oportunidade de ver nos rituais e trabalhos mágicos; Gardner não se sentia plenamente satisfeito. Ele buscava algo mais elaborado e isso fazia parte de sua própria natureza. Os Druidas possuíam rituais elaborados e Gardner se tornou membro da Antiga Ordem Druida (em 1945), quase sempre comparecendo no seu ritual anual de verão em Stonehenge. Evento em que sua presença era sempre requisitada, em parte porque a sua espada se encaixava perfeitamente na Hele Stone. Além disso, Gardner se sentia parte desta Ordem e manteve-se envolvido com os estudos Druidas pelo resto de sua vida. Em 1947, Gardner conheceu Aleister Crowley, famoso ocultista, mago e chefe da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), e o visitou diversas vezes nos últimos meses de vida deste. Crowley conferiu a Gardner um certificado que o autorizava montar um templo da O.T.O. com o grau ‘Minerval’. Provavelmente devido ao estado moribundo da O.T.O. na Inglaterra e seu pequeno número de membros, Gardner foi reconhecido por Germer (sucessor de Crowley), como sendo o futuro responsável pela O.T.O. na Europa. Gardner gostava muito da magia cerimonial, mas provavelmente carecia de competências administrativas. A sua saúde também não estava nas melhores condições (ele tinha então 63 anos e ainda sofria muito com a asma), como decorrência o projeto não foi a frente. Em 1945 Gardner conheceu o Reverendo Ward, que era um homem carismático que tinha trabalhado como professor e fiscal de alfândega, mas que tinha ficado conhecido como autor de livros sobre Maçonaria-Livre. Depois de ter tido uma ‘visão’ o reverendo organizou uma pequena comunidade, que no inicio recebeu o aval da Igreja Inglesa, mas que depois foi rejeitada em face das idéias nada ortodoxas e até controversas, como a segunda vida de Cristo à terra e a posse comunitária das propriedades. Esta comunidade organizada pelo Reverendo, também buscava ‘resgatar’ e reconstruir construções oriundas da vários períodos da história, incluindo o ‘Witche’s Cottage’ do século XVI. Entre as construções mais famosas temos o Abbey Folk Park, que teve a reforma terminada em 1934.
Gardner que, muito provavelmente, conhecia Ward pelos livros e em razão do interesse que tinha em museus, acabou se encontrando com Ward e ambos se tornaram amigos. Devido as custas de um processo judicial, Ward teve que vender algumas posses e Gardner arrematou o ‘Witche’s Cottage’ e o alocou nas terras em que possuía nas proximidades do clube naturalista no bairro de Bricket Wood em Hertfordshire. Como pagamento ele entregou as terras que possuía em Cyprus.
O Bricket Wood Coven e o Livro das Sombras O ‘Witche’s Cottage’ serviu de base para as atividades de Gardner por muitos anos. Foi durante este período que ele elaborou uma amalgama entre as crenças, praticas e rituais das bruxas que o iniciaram, e as várias fontes mágicas que tinham tido contato: A Chave de Salomão, Aleister Crowley, ‘Aradia, O Evangelho das Bruxas de Leland’ e diversos manuscritos pessoais de diversos momentos e locais de sua vida. As fontes de inspiração para o Livro das Sombras compilado por Gardner são bem evidentes, assim como o fato dele ter sentido necessidade de buscar elementos de outras tradições, uma vez que as bruxas que o iniciaram não possuíam livros ou registros e as crenças, praticas e rituais que lhe tinham sido apresentados eram praticamente impossíveis de serem transcritos. Talvez em parte porque as explicações tinham sido passadas oralmente e ele provavelmente não se lembrava de todos os detalhe, e parte porque se apresentavam de modo fragmentado (além de possuir pontos ambíguos). De qualquer forma, eram bastante espontâneos, prontos para serem executados de modo diferente a cada ritual, se fosse o caso. Toda essa falta de base sólida e pouca lógica fizeram com que Gardner fosse buscar material complementar, para consolidar tudo em um livro singular; que posteriormente seria conhecido como Livro das Sombras e serviria de manual para os novos iniciados.
O Museu de Magia e Bruxaria Os museus já pertenciam a vida de Gardner como uma conseqüência natural de suas coleções e interesse em arqueologia. Em 1944 ele deu uma palestra em Christchurch em que criticou as antigas idéias de colocar animais e objetos em recipientes de vidro inadequados, além de mostrar sua desaprovação sobre o curador dos mesmos, já que este não conhecia nada sobre os objetos sobre sua guarda. Gardner enfatizou a necessidade de um museu para a cidade (que na época não possuía, mas que adquiriu um desde então). Pelo pensamento de Gardner, este deveria ter vários modelos e exibições que realmente dessem ao povo uma idéia de como as coisas eram, assim como possíveis de serem compreendidas e que fizesse com que as pessoas se entusiasmassem nas visitas. Deste modo, seria natural dele ter apoiado o trabalho de Wand no Abbey Folk Park e provavelmente foi nesta época que ele conheceu o reverendo (aproximadamente 1945), e também o momento em que ele estava idealizando um museu dedicado a bruxaria, onde ele poderia ter como base a sua vasta coleção de objetos peculiares.
O que era para ser apenas um sonho teve o seu destino alterado quando Gardner conheceu Cecil Williamson em uma livraria em Atlantis em 1949. Williamson tinha comprado um moinho e um Moinho em Castletown, Isle of Man. Ele já tinha um restaurante no local com uma área adjacente dedicada a exibição de itens pagãos. Começaram, então, os planos de expandir a exibição em um museu dedicado ao assunto. Em um curto período de tempo, Gardner adquiriu uma casa nas proximidades do museu e começou uma parceria com Williamson, sendo promovido a ‘Bruxo Residente’. Em 1952, Williamson planejava retornar a Inglaterra, dando a Gardner a oportunidade de comprar o museu, que recebeu um novo nome: Museu de Magia e Bruxaria. O livreto “A História das Bruxas Famosas no Moinho de Castletown, Isle of Man” fornece uma boa idéia sobre as exibições e como era o layout do museu na época.
“Gerald Gardner: Witch” – A Biografia O livro “Gerald Gardner: Witch”, que foi publicado em 1960, é a biografia de Gardner. Na verdade, de varias formas ele pode ser considerado uma autobiografia apesar de não ter sido escrita pelo próprio. Logo após a publicação de seus dois livros sobre bruxaria, ‘Bruxaria Hoje’ em 1954 e ‘O Significado da Bruxaria’ em 1959, Gardner começou a sofrer constantes ataques da mídia. Para esclarecer os fatos, uma biografia pareceu ser uma boa idéia. Na página principal do livro está o nome de ‘Jack L. Bracelin’, um dos membros do Bricket Wood Coven e administrador do clube naturalista de Gardner. O fato é que o livro não tinha sido escrito por Bracelin, mas na verdade por Idries Shah; um respeitado autor de obras sobre magia e religião. Shah conheceu Gardner e se sentiu inspirado em escrever a biografia porque tinha sido informado (no plano espiritual) que a bruxaria divulgada por Gardner seria uma importante religião no futuro. Entretanto, ele passou a ter uma segunda opinião depois que o livro foi concluído. Deste modo, Shah não quis usar seu próprio nome no livro; o que pode ter sido também pelo fato deste ser completamente diferente de tudo o que ele tinha feito antes. Jack Bracelin concordou em assinar a autoria, mesmo tendo a obra sido publicada pelo editor de Shah, a October Press. Ao ler o livro, fica claro que a informação veio diretamente de Gardner. Inclusive, em diversas situações, o autor confirma estar usando as palavras de Gardner; por exemplo, na passagem relacionada ao ritual ocorrido em 1940 para impedir a invasão da Inglaterra. Esta é uma passagem extensa para tantas citações, e é minha sugestão que o livro foi escrito com base em entrevistas gravadas em que Gardner relatava sua história, sendo guiado por perguntas. Como Shah deu uma atenção em particular na passagem acima mencionada, onde ele usa as palavras de Gardner (e também existem outras passagens onde Gardner é especificamente citado – marcas de citação são usadas). Ocorre que no resto do livro em que ele não usa as palavras de Gardner, fica
evidente que o material foi re-escrito, editado e de certa forma, podemos dizer que fez o trabalho lapidador de um escritor. Deste modo, hoje em dia, o livro é tido como sendo uma autobiografia. Ou seja, Gardner teria tido de ler o texto, revisando e fazendo ajustes que julgava necessário. Em tese, os pontos de interpretação confusa são considerados como decorrentes de uma compreensão errada de Shah sobre o que Gardner lhe tinha contado. Teoricamente isto ocorreu; porém conhecendo a personalidade de Gardner, ele pode não ter sido cuidadoso na sua revisão ou até ter deixado trechos de dupla interpretação de propósito, pois isto era peculiar do seu modo de ser. “Gerald Gardner: Witch” é um bom livro, fascinante de se ler e praticamente a única fonte de informação sobre a vida de Gardner antes de seu retorno para a Inglaterra em 1936. A parte frustrante é a descrição de como ele conheceu as bruxas e, exatamente onde todos buscam informação ele se torna vago. Provavelmente uma falha deliberada já que em 1960 os eventos ainda eram recentes e alguns participantes, certamente, ainda estavam vivos. Em alguns pontos ocorrem equívocos. Possivelmente em decorrência do lapso de memória de Gardner ou decorrente de interpretação errada de Shah, que por algum motivo, não foram corrigidas por Gardner. Apesar de todas as suas imperfeições, “Gerald Gardner: Witch” consegue nos fornecer um retrato da personalidade de Gardner e só por isso ele vale a pena ser lido.
Raízes da Wicca Sobre vários aspectos, mais se sabe sobre a origem do Cristianismo a 2000 anos atrás do que se sabe sobre o surgimento da Bruxaria Moderna, a qual começou com Gardner, apenas 60 anos atrás. Foi através desta constatação, aliado com o trabalho pioneiro de Doreen Valiente que conseguiu provar que ‘Old Dorothy’ tinha realmente existido, que fui imbuído do desejo de querer saber mais. Assim, com a ajuda de um grande número de pessoas, eu gradualmente consegui juntar algumas peças do quebra-cabeça. Através das informações garimpadas, que ao serem colocadas em conjunto conseguiram refletir o que pode ter ocorrido. Ainda que existam várias partes do quebra-cabeça que ainda precisam ser exploradas, eu consegui escrever detalhadamente sobre eventos de forma nunca antes publicada em meu livro.
O Significado de Gerald Gardner Gardner morreu em 12 de fevereiro de 1964 a bordo do SS ‘Scottish prince’ em que voltava de sua viagem ao Líbano. Ele estava com 79 anos e o barco aportou em Tunis, onde seu corpo foi enterrado.
Gardner deixou o Moinho e o Museu de bruxaria para Monique Wilson 2, que continuou a administrá-lo, mas que posteriormente acabou vendendo todo o acervo para os Ripleys na América. O que podemos dizer sobre o significado de Gardner? Bom, pelos últimos 20 anos (aproximadamente), nós agora sabemos, através de artigos escritos, sobre diversas tradições sobreviventes da pratica de bruxaria (independente de usarem ou não esta denominação) em diversas partes da Bretanha. No passado eles tinham como regra manter tudo em segredo e, portanto, muito de sua crença, práticas e rituais se encontram hoje fragmentados. Eu não estou quebrando nenhum voto de juramento ao afirmar que tive a honra de ser iniciado em uma destas tradições. Desta forma, o fato que Gardner teve contato com uma tradição sobrevivente não é mais uma surpresa como foi quando o fato foi apresentado na década de 50. No entanto, as tradições sobreviventes pareciam estar morrendo gradativamente, e aqueles que faziam parte delas pareciam querer que isso realmente ocorresse, uma vez que não queriam problemas e nem acender novamente a chama da perseguição; o que poderia perfeitamente ocorrer caso eles ‘saíssem do armário’ 3. Então, como quase sempre acontece, o novo convertido (Gardner) recebe a missão de compreender que as bruxas tinham algo importante a oferecer a sociedade moderna e, ele buscou persuadir os demais a não deixarem suas tradições morrerem, pois seria como trair os Deuses. Levaram alguns anos para que a persuasão funcionasse, até que alguns finalmente conseguiram entender que o modo de Gardner, apesar de aparentemente perigoso, era o mais correto. Assim sendo, pelo que vimos, através de livros (ficção e não ficção), jornais, revistas, rádio, televisão e pelo museu de magia e bruxaria; Gardner garantiu que a Arte tivesse um futuro e que no lugar de definhar, iria florescer. Basta esta razão para que Gerald Brosseau Gardner mereça ser lembrado com enorme gratidão.
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Última Sacerdotisa de Gardner. Em outras palavras: assumirem ser bruxos publicamente.