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ALVARENGA – JD. DAS ORQUÍDEAS Jd. das Orquídeas, Jd. Nosso Teto, Chácara União, Pq. Bandeirantes, Pq. Florestal, Jd. Las Palmas
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Avança a Grande Alvarenga Jardim das Orquídeas, Jardim Nosso Teto, Chácara União, Parque Bandeirantes, Parque Florestal e Jardim Las Palmas formam, na Grande Alvarenga, uma região embrionária que pode ser chamada de uma nova civilização dentro de São Bernardo. Em 2010... mais de 700 pessoas participaram da terceira noite de plenária do Orçamento Participativo (OP) de São Bernardo do Campo, realizada nesta quinta-feira (22/4), no Ginásio Esportivo Orquídeas. A assembleia reuniu moradores do Jardim das Orquídeas, Jardim Nosso eto, Chácara União, Parque Bandeirantes, Parque Florestal e Jardim Las Palmas. Entre os participantes, foram 328 credenciados com poder de voto.
A
ntecedentes - udo é muito recente. Entre 1979 e 1981, quando a Imobiliária Santa ereza planejava o Jardim das Orquídeas, ainda funcionavam olarias no lugar, à beira da Represa Billings. Os oleiros resistiram a sair. A Prefeitura fez pressão contra o novo loteamento, localizado em flagrante área de proteção ambiental. Manchetes do Dgabc da época dão uma clara ideia do quadro local. Seguem alguns exemplos do noticiário de 1981 do jornal:
“Imobiliária invade área em São Bernardo” . “Prosseguem obras em loteamento irregular”. “Jardim das Orquídeas pode ser embargado”. “Regularização depende da Prefeitura”. “Mais agressões a ocupantes da área”. “Jardim das Orquídeas, donos de área são multados”.
No corpo das notícias, informações jornalísticas de época que hoje são subsídios importantes para se compreender uma situação que, por certo, levou muitas famílias a desistir de comprar um lote no lugar.
1. Em 10 dias a Imobiliária Santa ereza ocupou áreas de duas olarias que funcionavam há anos no eixo da já denominada Estrada do Pônei Clube: a olaria Santa Rita, de Abdias Gouveia da Silva; e a olaria de Eugênio Rodrigues Chaves.
2. Chamados de posseiros, os oleiros informavam que desde 1980 vinham sofrendo pressão para deixar a área.
3. Em placas espalhadas pela área, a Imobiliária Santa ereza informava que o futuro loteamento, denominado Jardim das Orquídeas, media 744.492,78 m2. Procurada, a Prefeitura informava que a venda de lotes iniciada era irregular. As vendas não tinham autorização pública.
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4. Coube à família Faletti vender a área à Imobiliária Santa ereza.
Desenha-se um bairro Da sua parte, a Imobiliária Santa ereza escudava-se em despachos de órgãos estaduais. Exibia o processo 1272/81, da Secretaria dos Negócios Metropolitanos, pelo qual era expedida a licença 011.191/79, de 19-4-1979 da Cetesb; e a licença 011/81, de 294-1981, da Emplasa, além de parecer favorável da Secretaria de Saúde já no ano de 1976. Mas faltava a autorização da Prefeitura de São Bernardo. Com autorização ou não, em 1982 já se desenhava o bairro. Como eixo, a Estrada do Pônei Clube. Se muitos desistiram, uma maioria acreditou que o esforço para comprar um terreno naquele local distante seria a alternativa para conseguir o seu teto. O panorama de 30 anos atrás mostrava que na subida da Estrada do Pônei Clube, margeando a Rodovia dos Imigrantes, havia um eucaliptal. A
Primórdios do Orquídeas, o início da venda de terrenos (acima) e a resistência ensaiada pelos oleiros (abaixo): a ocupação de área definida como de proteção aos mananciais trouxe dificuldades às famílias compradoras de lotes e exigiu mobilização e resistência. Fotos: Dgabc.
Aqui também o rural tornou-se urbano. Afloram exemplos de conquista de brasileiros de várias partes que acreditaram num dos espaços mais pobres da cidade – e distante dos pontos mais desenvolvidos.
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água da represa chegava até ali, ponto de natação dos meninos do lugar.
2. Na Estrada do Pônei Clube, hoje a rias. Conheci o mangueirão (criação
3. A consolidação - Em 1984
7. Lá embaixo, onde hoje existem
o Jardim das Orquídeas, superadas todas as vicissitudes iniciais, estava consolidado. Mas era preciso ser completado, como diz um dos moradores pioneiros, Antonio Vitoriano da Silva, o onhão, que chegou a São Bernardo, e ao Jardim das Orquídeas, em 30 de janeiro de 1982.
nossa avenida, havia rede de energia e a gente conseguia pegar. Fui privilegiado porque sempre morei aqui na avenida. Inclusive a Estrada Pônei Clube passava dentro do meu terreno.
lante reúne-se com moradores do Jardim Las Palmas. Acervo: Maria Paixão Saroa Soares (dona Lia)
Terrão Depoimento: Antonio Vitoriano da Silva
tros pra obter água.
4. Condução, a gente descia, cami5. A Imobiliária Santa ereza ven-
1. Há 30 anos era tudo difícil. A gen- deu os lotes e a briga por melhorias te não tinha nada.inha as ruas abertas, mas era tudo terrão, não tinha energia elétrica, condução, água.
barracos, ainda tinha água. O pessoal pescava ali. Daqui para o Alvarenga (Região M) atravessava-se de barco.
3. Água era de poço. Cavei 20 me- SAB – Importante instrumento
nhando, até a Estrada dos Alvarengas. Prefeito Aron Ga-
de porcos) que havia no lugar.
ficou com a gente.
6. Cheguei a conhecer várias ola-
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na organização popular do Jardim das Orquídeas foi a Sociedade Amigos e Recreativa, cujo primeiro presidente foi o Sr. Moura. Luiz Gonzaga da Costa, o presidente atual, chegou ao bairro em 1984. Ainda havia muitos lotes em aberto. As ruas contavam com guias, mas faltava a pavimentação. Havia iluminação nas casas, mas não a iluminação pública.
Como tantas famílias, a de Luiz Gonzaga precisou cavar poço para obter água: “Defino o Jardim das Colinas como um bairro de trabalhadores metalúrgicos, da Volkswagen, da Mercedes-Benz, da Scania, da oyota, da Brastemp. odos esses metalúrgicos é que formaram o Jardim das Orquídeas”. Desde o início os moradores tinham consciência de estar ocupando área de proteção aos mananciais. Comprar o terreno e erguer as casas, mesmo sabendo que o bairro não estava regularizado, significou uma forma arriscada de sobrevi vência. Mesmo assim, nunca houve uma tentativa mais clara de retirada daquela população inicial.
As ruas – Jardim das Orquídeas é formado por 27 ruas a partir do eixo da Pônei Clube, avenida que interliga a Estrada dos Alvarengas ao Jardim Las Palmas, onde existiu, de fato, um clube criador de pôneis e cavalos. De início, as ruas eram simplesmente numeradas. Depois, ganharam os atuais nomes, escolhidos e eleitos pela população. Muitos nomes são homenagens a moradores antigos que faleceram. Outros lembram figuras nacionais importantes e santos da Igreja Católica. Pela vontade dos moradores, uma das ruas homenagearia uma religiosa que até hoje atua no bairro, voltada às causas sociais e religiosas: Irmã Adriana. Por estar viva, não pôde continuar a denominar a antiga Rua 22.
Irmã Adriana Rubino – Italiana de Lucania. Nasceu em 2811-1936. Pertence à Irmandade das
Sistema viário A princípio foram numeradas 30 ruas, mas três delas, as Ruas 13, 15 e 16, foram incorporadas às Ruas 2, 22 e 25. Rua 1 – Rua André Franco Montoro, ex-governador do Estado. Rua 2 – Rua Rita Mendes de Oliveira, antiga moradora. Rua 3 - Rua Professor Florestan Fernandes, ex-deputado federal. Rua 4 – Rua Luzia Francelina Cimas, antiga moradora. Rua 5 – Rua São Raimundo, padroeiro de Várzea Alegre (CE), cidade-irmã de São Bernardo, já que aqui residem muitas famílias procedentes daquela cidade. anto que existe a Associação Cultural Beneficente Várzea Alegrense, fundada em 14-11-1997, com sede no Bairro Ferrazópolis. Rua 6 – Rua Dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador. Rua 7 – Rua Luiz Lua Gonzaga, cantor e compositor pernambucano, o Rei do Baião. Rua 8 – Rua om Jobim, compositor. Rua 9 – Rua Chico Mendes, líder sindical assassinado no Acre. Rua 10 – Rua Padre Damião Calixto rajano. Rua 11 – Rua Dom Avelar Brandão Vilela, cardeal. Rua 12 – Rua Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do bairro. Rua 14 – Rua Vânia Silva Santos,
antiga moradora. Rua 17 – Rua Nelson Pizsolitto, antigo morador. Rua 18 – Rua Irmã Dulce, “beata Dulce dos pobres”. Rua 19 – Rua Santa Martins, antiga moradora. Rua 20 - Rua Lucidalva da Silva, antiga moradora. Rua 21 – Rua São José Operário. Rua 22 – Rua Irmã Adriana, hoje Rua Sheila Melo Sobral, menina do bairro. Rua 23 – Rua Herbert de Souza, o Betinho, liderança política brasileira Rua 24 – Rua ereza Barbosa de Oliveira, antiga moradora. Rua 25 – Rua Luzia da Costa Batista, antiga moradora. Rua 26 – Rua Sebastião Pacheco, antigo morador, morto em acidente de caminhão. Rua 27 – Rua Paulo Freire, pro fessor. Rua 28 – Rua Milson de Souza, antigo morador. Rua 29 – Rua Vinicius de Morais, poeta e compositor. Rua 30 – Rua Edson Roberto Vismara, filho de um caminhoneiro do bairro.
Várzea Alegre presente Raimundo, cognominado Cantemos fiéis louvores Nonato, filho de pais nobres, Com um eterno amor inteiro porém destituídos de for- Ao Padre São Raimundo tuna, nasceu em 1204, em Nosso fiel padroeiro Portel, na Catalunha. Fale- Fonte: site oficial da Prefeitura ceu em 31 de agosto de 1240. de Várzea Alegre (CE)
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Pias Operárias de São José, com sede em Firenze. Atua desde 1990 no Jardim das Orquídeas. Realiza trabalho pastoral na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. A paróquia tem matriz no bairro. Alcança toda a Grande Alvarenga, com 13 capelas. A chegada de irmã Adriana a São Bernardo ocorreu em 1980, no tempo do padre Leo Commissari, dentro do intercâmbio entre as igrejas irmãs das Dioceses de Imola e Santo André. A princípio, atuou no Jardim Farina. Em 1990, ao transferir-se para o Jardim das Orquídeas, irmã Adriana participou do inicio da nova igreja. As ruas eram ainda de terra, a atual matriz não havia sido construída. As atividades religiosas se realizavam no pátio da Escola Francisco Cristiano.
Hoje a ação das Pias Operárias de São José mantém duas casas no Jardim das Orquídeas: o Centro Comunitário Criança Vida Nova e a Creche Jesus de Nazaré, com uma segunda unidade no Jardim Las Palmas; outra unidade funciona no Jardim Laura e há o Centro Comunitário das Crianças Nossa Senhora de Guadalupe e a casa de formação para irmãs brasileiras.
Momento atual – O Jardim das Orquídeas chega a 2012 com 2.766 residências que possuem inscrição imobiliária e um total de nove mil eleitores. A sua rede de equipamentos é importante: linhas de ônibus, sistema educacional e de saúde, comércio forte. Um dos gargalos é o sistema vi-
Lentamente, a che gada dos primeiros benefícios, como a linha de ônibus: e um novo bairro nascia na Grande ABC. Foto: Dgabc
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ário, apenas com a saída clássica pela Avenida Pônei Clube. Faltam acessos ao Rodoanel e à Rodovia dos Imigrantes. Não há agências bancárias em toda a Grande Alvarenga, e somente em 8-3-2012 foi inaugurada a primeira lotérica, à Avenida Poney Clube. O sonho maior: a regularização fundiária, que poderá se tornar realidade quando da conclusão das obras dos coletores de esgoto pelo Estado, que eliminarão o despejo de esgoto in natura nos mananciais. Na área de lazer, há o EC Jardim das Orquídeas, fundado no início da criação do bairro, em 20 de março de 1982. Uma conquista, simples mas referencial: a feira livre. Não havia feira livre no Jardim das Orquíde-
Em torno da associação de moradores, da igreja, do time de futebol, gente das fábricas, estabelecimentos comerciais e de serviços, acreditou que seria possível vencer com dignidade. E eles venceram, construindo um novo espaço de convivência. E houve muita oposição. as e em nenhum outro bairro da Grande Alvarenga, ao mesmo tempo em que vários moradores eram feirantes, servindo a bairros mais centrais e urbanizados, geralmente como funcionários das famílias de origem japonesa que plantavam e produziam aves e ovos. Hoje, coincidindo com a divisão da Grande Alvarenga em três regiões, há feiras no Alvarenga/ Laura (Região M), Alvarenga/Orquídeas (Região N) e Alvarenga/ helma (Região O). “A primeira experiência de feira livre foi na Rua Paraguaçu, no Jardim Telma. Não deu certo. Faltou um pouco de incentivo do pessoal aqui para estimular o comércio. Deixava-se de comprar aqui para ir até à feira do Jardim do Lago” (cf. Francisco Antonio dos Santos).
Hoje é montada feira livre no Jardim das Orquídeas às terças-feiras; no Jardim Laura às quintas-feiras; e no Jardim Telma aos sábados.
Loteamentos da Região N Jardim Las Palmas – 1955 Jardim das Orquídeas – 1979 Jardim Nosso eto Chácara União Parque Bandeirantes Parque Florestal
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Urbanização – O Jardim das Orquídeas teve um papel importante na urbanização da Região N. Mas, não foi o primeiro loteamento local. Antes dele está o Jardim Las Palmas.
Jardim Las Palmas – Criado pelo menos 20 anos antes da legislação em defesa dos mananciais. Seus moradores se reúnem em torno da Associação de Adquirentes de Lotes do Loteamento Jardim Las Palmas, que teve entre outras lideranças Bosko Preradovic, hoje nome da EMEB do bairro. Maria Paixão Saroa Soares, a dona Lia, chegou ao Las Palmas nos anos 1980. Acompanhou a fase mais contemporânea do loteamento. Lembra que à época nem imaginava o que seria manancial. Criou os filhos à beira da Billings. E passou a guardar a documentação gerada no bairro, como fotos e recortes de jornais. São 545 lotes em ruas bem cuidadas, floridas, transformadas. Quando dona Lia chegou, as ruas mais pareciam trilhos. Diziam: “Las Palmas, terra de índios”. A transformação é visível. Como tantos outros bairros, o sonho acalentado é ver o Las Palmas legalizado.
Mutirão no Jardim Las Palmas. Acervo: Maria Paixão Saroa Soares (Dona Lia)
Sistema hídrico – A Região N localiza-se às margens da Billings e , a exemplo das outras Regiões da Grande Alvarenga e Grande Batistini, tem várias nascentes e um ribeirão referencial – Ribeirão Lavras, encoberto pelas águas da represa. Nas nossas andanças pelo Município, fotografamos as costas da Região N vista do outro lado da represa (Jardim Pinheiro – Região P) – e das margens do Ribeirão das Lavras - aparecendo o Jardim das Orquídeas e o Jardim Las Palmas.
Estrada do Poney Clube hoje: a urbanização do antigo caminho rural
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Irmã Adriana Rubino: desde 1980 em São Bernardo e desde 1990 no Jardim das Orquídeas
A saída da escola pela Rua Nossa Senhora de Guadalupe: no espaço antigo dos oleiros
A SAB reunida: presidente Luiz Gonzaga da Costa e moradores do Orquídeas que participam de cursos e atividades recreativas
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