BACIA DO RECÔNCAVO Arcabouço Estrutural A Bacia do Recôncavo compõe a porção sul do rifte intracontinental Recôncavo- Tucano-Jatobá, que se desenvolveu sobre um complexo mosaico de terrenos de idade predominantemente Pré-Cambriana. As estruturas de desse embasamento exerceram forte influência na geometria final do arcabouço da bacia, controlando a orientação das zonas de falha, dos altos do embasamento (N30E.A Bacia está limitada à leste pelo sistemas de falhas de Salvador, com direção N30ºE e seu rejeito total é de cerca de 6.000 metros, e à oeste é limitada pelo sistema de falhas de Maragogipe, com mesma direção porém com rejeitos inferiores à 500 mestros. Ao norte é separada da Bacia de Tucano pelo Alto de Aporá e ao sul é separada da Bacia de Camamu pela Falha da Barra e os falhamentos que lhe dão continuidade para sudeste. Duas direções principais de fraturas ocorrem na estruturação da Bacia do Recôncavo: N20-30ºE (sistema de grandes falhas Salvador, Maragogipe, Pedra do Salgado e Patioba) e N30-40ºW (falhas de Mata-Catu e Itanagra-Araçás). Itanagra-Araçás ). Evolução Tectono-Sedimentar evento rifte Eo-Cretáceo - separação das Placas Africana e Sul- Americana. A margem leste brasileira evoluiu segundo um modelo de rifteamento passivo originado por esforços distensivos, vinculados à separação dos continentes Sul-Americano e Africano. Durante o Jurrásico, houve uma subsidência da bacia devido à flexura crustal, relacionada à fase de deformação elástica. Alcançado o limite de resistência elástica, a crosta rompeu-se originando o rifte. Antecedendo a ruptura do rifte, houve um prolongado estágio com pequena taxa de subsidência, o qual propiciou o desenvolvimento de uma bacia com características intracontinentais que foi denominada de Depressão Afro-Brasileira. Nessa depressão foram depositados os sedimentos continentais (red-beds) do Andar Dom João (Grupo Brotas), Brotas) , provindos de sul e oeste. Estes sedimentos ocorrem sobrepostos à Formação Afligidos, Afligidos , a qual encontra-se associada ao desenvolvimento de mares epicontinentais no Paleozóico. Dentro desse contexto, o Rifte do Recôncavo-Tucano-Jatobá constitui-se por uma ramificação de direção oeste do lineamento principal de riftes geradores do Oceano Atlântico Sul, o qual foi abandonado, dando origem a um braço abortado. Este fato impediu a formação de uma crosta oceânica e a conseqüente sedimentação marinha que ocorrem nas bacias marinhas marginais. No início do Andar Rio da Serra, Serra, ocorreu um período de afogamento com a formação do lago Itaparica, que foi seguido por um período de ressecamento da bacia com recorrência do sistema fluvial com retrabalhamento eólico ( Formação Água Grande), Grande ), em uma fase tectonicamente estável. A implantação deste sistema flúvio-eólico, que prograda de norte para sul, representou uma mudança nas áreasfontes da bacia que, até então, se situavam a sul e a oeste. Devido ao aumento da taxa de subsidência e a uma brusca variação climática, foi implantado novamente um sistema lacustre, porém desta vez anóxico, que propiciou aformação de folhelhos escuros ( Membro Tauá da Formação Candeias). Candeias). O término da deposição desses sedimentos marca o início do rompimento da crosta (início da FASE RIFTE), RIFTE), cujos esforços distensivos geraram falhamentos normais de ângulos elevados e direção predominantemente N30E, dando origem a fossas tectônicas, onde se implantaram lagos profundos. Durante essa fase rifte, depositou-se o Membro Gomo que ocorre num lago restrito que posteriormente é ampliado e aprofundado durante o período de sedimentação da Formação Maracangalha (Membro Pitanga/Camadas Caruaçú). A intensa atividade tectônica neste período foi quem propiciou a formação de correntes de turbidez com fontes na borda oeste da bacia. Durante toda a fase rifte leques aluviais sintectônicos formaram-se junto ao sistema de falhas da borda leste, adentrando esporadicamente na bacia (Formação Salvador e Membro Sesmaria). Sesmaria ). No final do Andar Rio da Serra, a bacia já apresentava atividade tectônica e subsidências atenuadas, facilitando assim a progradação de sistemas deltaicos a partir de NW (Grupo Ilhas – formações Pojuca e Marfim). Marfim ). Observou-se também que durante a fase rifte houve a formação de diápiros de folhelho ao longo dos depocentros da Bacia do Recôncavo, principalmente nas regiões central e sul da bacia. As camadas que deram origem a esses diápiros dizem respeito aos sedimentos argilosos depositados durante o Andar Rio da Serra (RT 004.1). Concomitantemente, espessos pacotes de sedimentos arenosos finos, induzidos gravitacionalmente, foram depositados ao longo dos depocentros (Pitanga e Camadas Caruaçú da Fm Maracangalha), causando instabilidade nos depósitos lamosos que se diapirizaram. No Andar Aratu Médio, mesmo com um tectonismo de baixa intensidade ocorreu à reativação de falhas, propiciando o aparecimento de falhas de crescimento, e de rebaixamento de áreas próximas à Falha de Paranaguá no Compartimento Sul da bacia onde foi implantado o “Canyon” de Taquipe, que erodiu os sedimentos dos andares Aratu Inferior e Rio da Serra Superior. No final dessa idade, o Taquipe), sendo posteriormente recoberto por “Canyon” é preenchido por folhelhos, margas, calcários e arenitos turbidíticos ( Formação Taquipe), sedimentos deltaicos (Formação ( Formação Pojuca). Pojuca ). O início da Idade Buracica marca o começo do processo de assoreamento final da Bacia ( Formação São Sebastião), Sebastião), que coincide com o início da atividade tectônica no sistema de falhas de transferência com direção predominante N40W. Essa situação perdurou até o final da Idade Jiquiá, gerando a atual configuração das falhas de Mata-Catu e Itanagra-Araças. Os deslocamentos horizontais resultaram na compartimentação da Bacia do Recôncavo em três porções: Nordeste, Central e Su. Com a separação dos continentes e o afastamento da bacia das fontes de calor, inicia-se a fase de subsidência térmica PÓS-RIFTE. PÓS-RIFTE. De maior intensidade nas bacias marginais, esta se apresentou atenuada no continente, onde proporcionou a acumulação dos sedimentos fluviais da Formação Marizal, Marizal, que recobrem de maneira ampla o nordeste brasileiro. Finalizando o processo deposicional da bacia, houve durante o Mioceno a invasão da bacia por águas marinhas que depositaram a Formação Sabiá e no Plioceno depositaram-se os leques aluviais da Formação Barreiras
Litoestratigrafia Embasamento Pré- Cambriano: granulitos e migmatitos de Idade Arqueana do Cinturão Granulítico Atlântico e metassedimentos brasilianos da Formação Estância. FASE SINÉCLISE: rochas permianas da Formação Afligidos, subdividida pelos membros Pedrão (inferior) e Cazumba (superior). O membro basal é constituído por arenitos intercalados a finas camadas de lamitos e ainda por pelitos e evaporitos na parte superior. Os arenitos correspondem a depósitos de barras de maré e plataforma representando um ciclo marinho regressivo. Já o Membro Cazumba, é composto por folhelhos vermelhos intercalados com níveis sílticos que conferem um ambiente lacustre. FASE PRÉ-RIFTE (CONTINENTAL): rochas jurássicas das Formações Aliança e Sergi e Cretáceas Itaparica e Água Grande. A Formação Aliança abrange os Membros Boipeba e Capianga. O Mb. Boipeba consiste de arenitos avermelhados, variando de finos a conglomeráticos que representam depósitos de um sistema fluvial entrelaçado com retrabalhamento eólico. Já o Mb. Capianga, formado por folhelhos vermelhos com raras intercalações de arenitos finos, constituem uma sedimentação lacustre rasa. Estas rochas contém ostracodes não marinhos de idade Dom João. A Formação Sergi caracteriza-se por arenitos desde finos a conglomeráticos também com intercalações de folhelhos vermelhos e cinza esverdeados, foram depositados por sistemas fluviais entrelaçados, com retrabalhamento eólico. Sua idade, presumida néojurássica, é indicada pela presença de ostracodes não marinhos de idade Dom João. A Formação Itaparica é composta por folhelhos e siltitos com raras intercalações de arenitos finos. É o registro de depósitos lacustres, com pequenas incursões fluviais. As determinações bioestratigráficas com base em ostracodes não-marinhos conferem à Formação Itaparica uma idade eober iasiana. A Formação Água Grande é constituída por arenitos grossos a finos é interpretada como sistema fluvial entrelaçado e meandrante, com retrabalhamento eólico. A seqüência rifte é constiuída pelas rochas cretáceas que vão desde a Formação Candeias até a Formação São Sebastião (Lacustres, deltáicos, fluviais e eventualmente aluviais). A Formação Candeias abrange os membros Tauá e Gomo. O Membro Tauá, basal é constituído de folhelhos cinza
escuros, físseis, de partição acicular, ricos em matéria orgânica. O Membro Gomo é constituído por folhelhos também cinza esverdeados, intercalados a biocalcarenitos, calcicutitos e arenitos turbidíticos inseridos nesse sistema lacustre de lago profundo. Sua idade eo-Rio da Serra é atestada por datações bioestratigráficas com base em ostracodes não-marinhos. A Formação Maracangalha caracteriza-se por folhelhos cinza esverdeados e cinza escuros subdividida nos membros Caruaçú e Pitanga. O Membro Pitanga compõe-se de arenitos finos, maciços, siltícos, argilosos, ricos em fragmentos de matéria orgânica originados por fluxos gravitacionais. Já o Membro Caruaçú é representado por camadas lenticulares de arenitos finos a médios, as quais foram geradas por correntes de turbidez. A partir das análises bioe stratigráficas com base em ostracodes não marinhos, deduz-se as idades neo-Rio da Serra e Aratu para esta formação, depositada em ambiente lacustre com turbiditos intercalados. FASE RIFTE: A Formação Salvador ocorre em toda coluna cretácea e caracteriza-se pelos conglomerados e arenitos que ocorrem na borda leste da Bacia do Recôncavo. Esses conglomerados são o resultado de leques aluviais sintectônicos que marcam a atividade tectônica das falhas de borda, entre Berriasiano e o Eoaptiano. O atual Membro Sesmaria designa os arenitos que realmente correspondem as fácies distais da Formação Salvador e não aqueles pertencentes ao Membro Morro do Barro que não possuem nenhuma relação com os conglomerados da borda da bacia, como fora proposto anteriormente. Contituida de arenitos, a Formação Marfim é representada por arenitos finos a médios bem selecionados, intercalados a camadas de folhelhos cinzas, siltitos e biocalcarentos ostracoidais. As análises bioestratigráficas com base em ostracodes não marinhos apontam a idade neo-Rio da Serra para estes depósitos de origem flúvio-deltaica. A Formação Pojuca é constituída por arenitos muito finos a médios, ás vezes, calcíferos e folhelhos cinzas, siltitos e biocalcarentos ostracoidais. São também depósitos de origem flúvio-deltaica e as análises bioestratigráficas com base em ostracodes não marinhos, deduz-se as idades neo-Rio da Serra a Jiquiá para estes depósitos. A Formação Taquipe caracteriza-se por folhelhos cinzas, arenitos muito fino a fino, siltitos, e ainda margas. Esta unidade ocupa uma feição erosiva em forma de canyon, alongada na direção norte-sul e constatada na porção centro-oeste do Recôncavo. São depósitos de fluxos gravitacionais cuja as análises bioestratigráficas apontam idade Aratu. Os depósitos da Formação São Sebastião são subdivididos em três membros: Mb. Paciência (inferior), Mb. Passagem dos Teixeiras (médio) e Mb. Rio Joanes (superior). Estes membros são caracterizados por intercalações de arenitos grossos, amareloavermelhados, friáveis, intercalados com siltitos e folhelhos. Correspondem a depósitos de sistema fluviais cujas análises bioestratigráficas apontam idades Buracica a Jequiá. A Formação Marizal caracteriza-se por arenitos e conglomerados e secundariamente, por siltitos, folhelhos e calcários. São depósitos de leques aluviais com pequenos lagos restritos associados de idade Alagoas Durante o Terciário foram depositados os pacotes das Formações Sabiá e Barreiras. A Formação Sabiá é composta por folhelhos cinza esverdeados com intercalações de arenitos finos e lentes de calcários. Correspondem a depósitos de ambiente marinho. A Formação Barreiras representada por arenitos grossos e conglomerados com intercalações de lamitos caracterizam depósitos de leques aluviais
Bioestratigrafia Bacia do Recôncavo tem sua base bioestratigráfica fundamentada principalmente em ostracodes não-marinhos. Esta fauna de ostracodes é caracterizada na literatura como uma fauna bentônica pertencente à Sub-ordem Podocopina-Sars, 1866 e a família Cyprididae-Baird, 1850 e Cytheridae-Baird, 1850 (KROMMELBEIN, 1966; VIANA et al., 1971; SANTOS e BRAGA, 1990 in SILVA, 1993). Adicionalmente são descritos gêneros locais, dos quais pode-se citar o gênero Petrobrasia, Reconcavona, Salvadorriella e Iilhasina. Bastante comuns na Bacia e com sua distribuição estratigráfica limitada, estes gêneros constituem uma importante ferramenta nos estudos bioestratigráficos da Bacia do Recôncavo. Em termos de paleo-ambiente, estas espécies de ostracodes viveram em lagos de água doce à salobra, sem influência marinha. Baseado na ocorrência de 19 gêneros e 142 espécies e sub-espécies de ostracodes nãomarinhos, VIANA et al. (1871) estabeleceram o zoneamento bioestratigráfico da Bacia do Recôncavo. Eles reconheceram 9 biozonas (NRT* 001 à 009) e 26 sub-zonas. Estas biozonas abrangem os estratos depositados na Bacia deste o Jurássico Inferior até o Cretáceo Superior. Este zoneamento bioestratigráfico permitiu o estabelecimento do conceito de Zona de Amplitude (corresponde a estratos que representam ocorrência vertical ou horizontal de uma espécie selecionada) e Zona de Intervalo (definida pela primeira e última ocorrência de uma determinada espécie diagnóstica de uma biozona). A partir do zoneamento e caracterização dessas espécies foi possível a correlação de espécies brasileiras com espécies encontradas em formações do oeste africano, como é o caso dos ostracodes encontrados no Grupo Cocoabeach do Gabão. Na Bacia do Recôncavo também foram identificadas 5 palinozonas, porém estes palinomorfos possuem uma resolução vertical inferior quando comparada aos ostracodes. Além disso a correlação entre as biozonas de ostracodes e palinozonas é bastante problemática.
Sistemas Petrolíferos O Sistema petrolífero Candeias-Sergi (!) inclui rochas geradoras de origem lacustre de água doce à salobra neocomianas pertencentes aos Membros Gomo e Tauá (Fm. Candeias) e rochas reservatórios fluvio-eólicas neo-jurássicas da Formação Sergi. Outras rochas reservatórios de importância secundária também apresentam influência significativa em parte do volume de petróleo (óleo e gás). Estas rochas estão presentes em toda a coluna estratigráfica da bacia, dentre elas estão: areias do Membro Boipeba, Fm. Aliança e Água Grande; turbidíticas do Membro Pitanga (Fm. Maracangalha) e argilas fraturadas do Mb. Gomo; areias da Fm. Marfim, Pojuca e Taquipe. Os teores médios de carbono orgânico total no principal nível gerador da Bacia do Recôncavo giram em torno de 1% e o potencial gerador médio de 5 kg de HC/ton de rocha nas porções mais profundas da bacia, podendo localmente alcançar 10 kg de HC/ton de rocha. Credita-se estes baixos valores à alta convertibilidade da matéria orgânica em hidrocarbonetos.Estes geradores são mais favoráveis a gênese do petróleo dentro da porção nordeste da bacia, onde as características da matéria orgânica (qualidade e quantidade) estão mais bem preservadas (dentro da biozona NRT0003.1) . A Formação Pojuca também apresenta alto potencial gerador, porém ocorre acima da janela de geração em quase toda a bacia. O topo da zona matura ocorre em níveis mais rasos nas margens da bacia, estando as rochas sedimentares da Formação Candeias em estágio senil nos baixos deposicionais. As análises de reflectância de vitrinita (%RO) indicam que os Membros Tauá e Gomo (Fm. Candeias) estão maturos para geração de petróleo dentro dos grabéns de Camaçari, Miranga e Quiambina e juntamente com estudos de subsidência térmica situam a época de geração da bacia no Andar Jiquiá. Atualmente são aceitos três modelos de migração e acumulação (trapeamento) de petróleo na Bacia do Recôncavo (Figura 9a, b, c): (1) trapas estruturais formadas por horsts, basculados ou não, onde os reservatórios pré-rifte são alimentados lateralmente a partir de folhelhos geradores localizados nos baixos de falhas normais; (2) trapas estratigráficas ou combinadas, principalmente em reservatórios turbidíticos das formações Candeias e Marfim, conectados diretamente aos folhelhos geradores, com migração por pequenas distâncias e (3) rollovers formados em baixos de falhas de crescimento da seção sin-rifte, ao nível dos reservatórios deltaicos das formações Pojuca e Marfim, com migração vertical ao longo de falhas regionais. 9 - Modelos de migração e acumulação de petróleo da Bacia do Recôncavo. No que diz respeito aos selos, os mesmos provém de níveis argilosos que capeiam as rochas reservatórios. A reconstrução da história de soterramento junto à interação de outros fenômenos físico e químicos responsávei s pela geração, migração de petróleo revelam que o momento crítico da bacia, onde todos os elementos e processos inerentes ao sistema petrolífero estavam presentes e atuantes, ocorreu durante o Cretáceo Superior.