não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritavase. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. (9. ed. São Paulo: Ática,1970.p28-29). Exercícios: 1) Um procedimento característico da prosa naturalista é apresentar o ambiente físico e social detalhadamente, como se o narrador estivesse munido de uam máquina fotográfica com lentes do tipo zum, que lhe permitisse compor e decompor os detalhes de cada cena. Compare os dois textos: a) Que grupo social é retratado em cada uma das obras? O que os dois grupos têm em comum? b) Que elementos dos dois textos comprovam que as personagens levam uma vida difícil, miserável? 2) A linguagem da prosa naturalista caracteriza-se pela adoção de uma postura analítica e científica diante da realidade. Por isso, faz uso frequente da narração impessoal e de descrições minuciosas, com muitas sugestões visuais, olfativas, táteis e auditivas. Por conta desse detalhamento, a narrativa às vezes torna-se lenta. a) Por que o foco narrativo em 3º pessoa é o mais apropriado para esse fim? b) Identifique em O cortiço exemplos de sensações olfativas, auditivas, táteis e visuais. c) Identifique em O cortiço um exemplo de narrativa lenta. 3) No Naturalismo, homens e mulheres são vistos por uma perpectiva biológica, em que se destaca seu lado físico, instintivo, animal, por vezes até degradante. a) Identifique no texto um trecho que comprove a animalização das personagens do cortiço. b) Há no texto situações de degradação humana? Se sim, identifique-as. c) Releia esta descrição das mulheres:
“As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via -selhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo
todo para o alto do casco;” Em que essa descrição difere da descrição da mulher romântica? d) Um dos sentidos da palavra cortiço é “caixa cilídrica, de cortiça, na qual as abelhas se criam
e fabricam o mel e a cera”. Relacione esse sentido da palavra ao trecho “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e
fêmeas”. 104
CEREJA & COCHAR. Português: linguagens. São Paulo: Ática. 1999.
A seguir, faça a leitura de alguns poemas parnasianos. O primeiro é de Alberto de Oliveira e o outros são de Olavo Bilac.
Vaso chinês Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas,talvez por contraste à desventuraQuem o sabe?- de um velho mandarim Também lá estava a singular figura: Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa. Alberto de Oliveira
Vila Rica O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre: E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelus plange ao longe em doloroso dobre, O último ouro de sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema-unção. Agora, para além do cerro, o céu parece Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu... A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, Como uma procissão espectral que se move... Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. Olavo Bilac
Via láctea Soneto XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto 105
A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas".
A um poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço: e trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua Rica mas sóbria, como um templo grego Não se mostre na fábrica o suplicio Do mestre. E natural, o efeito agrade Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. Olavo Bilac Exercícios
01. O realismo foi um movimento de: a) volta ao passado; b) exacerbação ultra-romântica; c) maior preocupação com a objetividade; d) irracionalismo; e) moralismo.
02. A respeito de Realismo, pode-se afirmar: I – Busca o perene humano no drama da existência . II – Defende a documentação de fatos e a impessoalidade do autor perante a obra. III – Estética literária restritamente brasileira; seu criador é Machado de Assis. a) São corretas apenas II e III. b) Apenas III é correta. c) As três afirmações são corretas. d) São corretas I e III. e) As três informações são incorretas.
03. Considerando-se iniciado o movimento realista no Brasil quando: a) Aluísio de Azevedo publica O Homem. 106
b) José de Alencar publica Lucíola. c) Machado de Assis publica Memória Póstumas de Brás Cubas. d) As alternativas a e c são válidas. e) As alternativas a e b são válidas.
04. O realismo, como escola literária, é caracterizado: a) pelo exagero da imaginação; b) pelo culto da forma; c) pela preocupação com o fundo; d) pelo subjetivismo; e) pelo objetivismo.
05. Podemos verificar que o Realismo revela: I – senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado ou para o futuro. II – o retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um sentido para o encadeamento dos fatos. III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos fracassos. Assinale: a) se as afirmativas II e III forem corretas; b) se as três afirmativas forem corretas; c) se apenas a afirmativa III for correta; d) se as afirmativas I e II forem corretas; e) se as três afirmativas forem incorretas.
06. Das características abaixo, assinale a que não pertence ao Realismo: a) Preocupação critica. b) Visão materialista da realidade. c) Ênfase nos problemas morais e sociais. d) Valorização da Igreja. e) Determinismo na atuação das personagens.
07. Assinale a única alternativa incorreta: a) O Realismo não tem nenhuma ligação com o Romantismo. b) A atenção ao detalhe é característica do Realismo. c) Pode-se dizer que alguns autores românticos já possuem certas características realistas. d) O cientificismo do século XIX forneceu a base da visão do mundo adotada, de um modo geral, pelo Naturalismo. e) O Realismo apresenta análise social.
08. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo: Certo não lhe falta imaginação; mas esta tem suas regras, o astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões. Com base nesse texto, notamos que o autor: 107
a) Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária deve decorrer de uma elaborada produção dos autores. b) Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma estética oposta à clássica. c) Entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por movimentos literários específicos. d) Defende a idéia de que cada movimento literário deve ter um programa estético rígido e inviolável. e) Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideal para pôr termo à falta de invenção dos românticos.
09. Examine as frases abaixo I – Os representantes do Naturalismo faze aparecer na sua obra dimensões metafísica do homem, passando a encará-lo como um complexo social examinando à luz da psicologia. II – No Naturalismo, as tentativas de submeter o Homem a leis determinadas são conseqüências das ciências, na segunda metade do século XIX. III – Na seleção de “casos” a serem enfocados, os naturalistas demonstram especial aversão pelo anormal e pelo patológico. Pode-se dizer corretamente que: a) só a I está certa; b) só a II está certa; c) só a III está certa; d) existem duas certas; e) nenhuma está certa.
10. Das citações apresentadas abaixo, qual não apresenta, evidentemente, um enfoque naturalista? a) Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. b) ... as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas. c) Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos. d) ... batiam-lhe com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se estivesse a comprar cavalos. e) À porta dos leilões aglomeravam-se os que queriam comprar e os simples curiosos.
11. O mesmo da questão anterior: a) Viam-se deslizar pela praça os imponentes e monstruosos abdomes dos capitalistas. b) ... viam-se cabeças escarlates e descabeladas, gotejando suor por debaixo do chapéu de pêlo. c) O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço. d) A Praia Grande, a Rua da Estrela contrastavam todavia com o resto da cidade, porque era aquela hora justamente a de maior movimento comercial. e) ... uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, chio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas... 108
12. Considere o texto abaixo:
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. (...) — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma cr iatura o legado da nossa miséria.”
Esses parágrafos pertencem ao último capítulo do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, cujo autor, Machado de Assis, é representante do período literário denominado: a) Barroco b) Arcadismo c) Modernismo d) Realismo e) Romantismo
Resolução: 01. C 05. B 09. B
02. D 06. D 10. E
03. C 07. A 11. D
04. E 08. A 12.D
EXERCÍCIOS SOBRE PARNASIANISMO 1-(FEI-SP) São características do Parnasianismo, do qual Olavo Bilac é legítimo representante: a)Predomínio da razão, individualismo. b)Determinismo biológico, retorno à Idade Média. c)Culto da forma, arte pela arte. d)Objetividade, sentimentalismo exagerado. e)n.d.a 2-(Centec-BA) Todos os itens apresentam características do Parnasianismo, exceto: a)Prevalência de formas fixas de composição poética. b)Anseio de liberdade criadora. c)Preocupação com a perfeição formal. d)Gosto pela precisão descritiva. e)Ideal de objetividade no tratamento dos temas.
TEXTO 1 OS SAPOS O sapo tanoeiro, Parnasiano aguado,
Diz: _ “Meu cancioneiro É bem martelado” (...) Brada em um assomo O sapo tanoeiro:
_ “A grande arte é como Lavor de joalheiro”
(Manuel Bandeira)
TEXTO II PROFISSÃO DE FÉ Invejo o ourives quando escrevo Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor. (...) Torce, aprimora, alteia, lima a frase; e enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. (Olavo Bilac)
a)Compare os dois trechos acima e, a partir daí, caracterize a estética literária a que pertence o texto II, de acordo com as duas afirmações do texto I. b)O texto I, reforça ou nega os procedimentos estéticos apontados no texto II? Justifique sua resposta.
3- (PUC-RS) Alberto de Oliveira é caracterizado o mais característico poeta parnasiano, pois suas obras evidenciam: a)erudição lingüística, descrição subjetiva e alusão à mitologia greco-latina. b)culto à forma, descritivismo e retorno aos motivos clássicos. c)preciosismo lingüístico, recuperação dos moldes clássicos e devaneio sentimentalista. 109
d)lirismo comedido, sentimentalismo nacionalista e apuro vocabular. e)descrição pormenorizada, ruptura com os motivos clássicos e busca da palavra exata.
4-(UFRS) É na confluência de idéias anti-românticas, como a objetividade no trato dos temas e o Culto da forma, que se situa a poética do Parnasianismo. O nome da escola vinha de Paris e remontava a antologias publicadas (...). Seus traços de relevo: o gosto da descrição nítida, concepções tradicionalistas sobre o metro, ritmo e rima e, no fundo, o ideal de impessoalidade que partilhavam com os realistas do tempo. (Alfredo Bosi) Com base no texto acima, referente ao Parnasianismo brasileiro, são feitas as seguintes inferências. I-O Parnasianismo opôs-se a princípios românticos como a subjetividade e a relativa liberdade do verso II-Tendo seu nome calcado num tempo criado na França, o Parnasianismo brasileiro, seguiu um caminho estético próprio, independente do original III-Parnasianismo e Realismo são correntes literárias com ideais e princípios estéticos totalmente diferenciados. Quais estão corretas? a)I c)I e II b)II d)II e III
e)I e III
SIMBOLISMO Insatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial européia na segunda metade do século XIX, os simbolistas representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação racional. Os simbolistas defendiam que nenhuma arte é inteiramente objetiva. Para eles até uma fotografia, que tem por objetivo fazer um recorte do real, esconde intenções subjetivas que podem modificar o resultado final. Os simbolistas não acreditavam na possibilidade de a arte e a literatura poderem fazer um retrato total da realidade. Duvidam também das explicações “positivistas” da ciência, que julgava poder explicar todos os fenômenos que envolvem o homem e conduzi-lo a um caminho de progresso e fartura material. Os simbolistas representam um grupo social que ficou à margem do cientificismo da segunda metade do século XIX e que procurou resgatar certos valores do Romantismo varridos pelo Realismo. Essa reação antimaterilista situa-se num contexto mais amplo vivido pela Europa no último quarto do século XIX, o da forte crise espiritual a que se tem chamado de decadentismo do final do século.
Parnasianismo X Simbolismo O Simbolismo é um movimento oposto ao Parnasianismo no que diz respeito à ideologia. Porém, ambos apresentam em comum uma preocupação intensa com a linguagem e certo refinamento formal. Para alguns críticos literários isso pode ser explicado pelo fato dos dois movimentos terem nascido juntos, na França, na revista Parnase Contemporain.
A Linguagem da Poesia Simbolista Como movimento antimaterialista e anti-racionalista, o Simbolismo buscou uma linguagem que fosse capaz de sugerir a realidade, e não retratá-la objetivamente como queriam os realistas. Para isso, faz uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com o objetivo de exprimir o mundo interior, intuitivo, antilógico e anti-racional.
Misticismo, religiosidade: os simbolistas são espiritualistas, transcendestais e místicos, ligados tanto ao cristianismo quanto a outras formas de religião. Ex:
“O ser que é ser e que jamais vacila
Na guerras imortais entra sem susto, Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranquila.”
Cruz e Sousa 110
Desejo de trascendência e integração cósmica: Em oposição aos limites do mundo físico e material, os simbolistas apreciam situações de viagem interior ou cósmica com os astros, extravasamento e transcendência do mundo real.
Ex: “Para as estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo, Galgando azuis e siderais noivados De nuvens brancas a amplidão vestindo.” Cruz e Sousa
Interesse pelas zonas profundas da mente (incosciente e subconsciente) e pela loucura: Embora a maior parte das ideias de Freud –fundador da psicanálise - só viessem a público no início do século XX, os simbolistas já manifestavam interesse em explorar zonas da mente humana sobre as quais se conhecia muito pouco, como o sonho e a loucura.
Ex: “Quando Ismália enloqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.”
Alphonsus de Guimaraens
Atração pela morte e elementos decadentes da condição humana: Aproximando-se bastante dos ultra-românticos, os simbolistas voltam a explorar temas macabros e satânicos, ambientes noturnos e misteriosos.
Contexto Histórico O movimento simbolista surge no último quarto de século XIX, na França, e representa a reação artística à onda de materialismo e cientificismo que envolvia a Europa desde a metade do século. Tal qual o romantismo, que reagira contra o racionalismo burguês do século XVIII (o Iluminismo), o Simbolismo rejeita as soluções racionalistas, empíricas e mecânicas apresentadas pela ciência da época e busca valores ou ideais de outra ordem, ignorados por ela: o espírito, a transcendência cósmica, o sonho, o absoluto, o nada, o bem, o belo, o sagrado, etc. A origem dessa tendência espiritualista situa-se em camadas ou grupos da sociedade que ficaram à margem do processo de avanço tecnológico e científico do Capitalismo do século XIX e da solidificação da burguesia no poder. São os setores da burguesia decadente e da classe média que, não vivendo a euforia do progresso material, reagem contra ela. Os simbolistas procuram resgatar a relação do homem com o sagrado, com a liturgia e com os símbolos. Não aceitam a separação entre o sujeito e o objeto ou entre subjetivo e objetivo. Partem do princípio de que é impossível o retrato fiel do objeto, sendo papel do artista sugeri-lo, por meio de tentativas, sem querer esgotá-lo. Desse modo, a obra de arte nunca é perfeita ou acabada, mas aberta, podendo sempre ser modificada, ampliada ou refeita. O Simbolismo não sobrevive muito, já que o mundo presencia a euforia capitalista, o avanço científico e tecnológico. A burguesia vive a belle époque, um período de prosperidade, de acumulação e de prazeres matérias que só terminaria com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
O Simbolismo no Brasil Ao contrário do que ocorreu na Europa, onde o Simbolismo se sobrepôs ao Parnasianismo, no Brasil o movimento simbolista foi quase que inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as camadas cultas da sociedade, até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.
111
As primeiras manifestações simbolistas já eram sentidas desde o final da década de 80 do século XIX. Apesar disso, tem-se como marco inicial do movimento simbolista no Brasil a publicação em 1893 das obr as Missal (prosa) e Broquéis (poesia) de Cruz e Sousa.
Cruz e Sousa João da Cruz e Sousa, considerado o mestre do simbolismo brasileiro, nasceu em Desterro, hoje cidade de Florianópolis - SC, no dia 24 de novembro de 1861. Desde pequenino foi protegido pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, que o acolheram como o filho que não conseguiram ter. O referido marechal havia alforriado os pais do escritor, negros escravos. Educado na melhor escola secundária da região, teve que abandonar os estudos e ir trabalhar, face ao falecimento de seus protetores. Vítima de perseguições raciais, foi duramente discriminado, inclusive quando foi proibido de assumir o cargo de promotor público em Laguna - SC. Em 1890 transferiu-se para o Rio de Janeiro, ocasião em que entrou em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Vivia de suas colaborações em jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de "Missal" e "Broquéis" (1893), só conseguiu se empregar na Estrada de Ferro Central do Brasil, no cargo de praticante de arquivista. Casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, em 09 de novembro de 1893. O poeta contraiu tuberculose e mudou-se para a cidade de Sítio - MG, a procura de bom clima para se tratar. Faleceu em 19 de março de 1898, aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão. Sua obra só foi reconhecida anos depois de sua morte. Hoje, Cruz e Sousa é considerado o mais importante poeta simbolista brasileiro e um dos maiores poetas nacionais de todos os tempos. Sua obra apresenta diversidade e riqueza. De um lado, encontram-se nela aspectos aspectos noturnos do Simbolismo, herdados do Romantismo: o culto da noite, certo satanismo, o pessimismo, a morte.
Exemplo:
“Ó meu Amor, que já morreste,
Ó meu Amor, que morta estás! Lá nessa cova a que desceste Ó meu Amor, que já morreste, Ah! Nunca mais florescerás? Ao teu esqquálido esqueleto, Que tinha outrora de uma flor A graça e o encanto do amuleto Ao teu esquálido esqueleto
Não voltará novo esplendor?” De outro lado, há certa preocupação formal,que aproxima Cruz e Sousa dos parnasianos: a forma lapidar, o gosto pelo soneto, o verbalismo requintado, a força das imagens; há, ainda, a inclinação à poesia meditativa e filosófica, que o aproxima da poesia relista portuguesa.
Principais características da obra de Cruz e Sousa No plano temático: a morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca. No plano formal: as sinestesias, as imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e o emprego de maiúsculas, com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos. Antífona Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas! Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras 112
Formas do Amor, constelarmante puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas ... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes... Infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios. Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, todas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rima clara e ardente... Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente, luminosamente. Forças originais, essência, graça De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas... Cristais diluídos de clarões alacres, Desejos, vibrações, ânsias, alentos Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Os mais estranhos estremecimentos... Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue, abertas, escorrendo em rios.. Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte...
Cavador do Infinito Com a lâmpada do Sonho desce aflito e sobe aos mundos mais imponderáveis, vai abafando as queixas implacáveis, da alma o profundo e soluçado grito. Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito sente, em redor, nos astros inefáveis. 113
Cava nas fundas eras insondáveis o cavador do trágico Infinito. E quanto mais pelo Infinito cava mais o Infinito se transforma em lava e o cavador se perde nas distâncias... Alto levanta a lâmpada do Sonho, e com seu vulto pálido e tristonho cava os abismos das eternas ânsias! (Poesias completas, p.109.)
TRISTEZA DO INFINITO Anda em mim, soturnamente, uma tristeza ociosa, sem objetivo, latente, vaga, indecisa, medrosa. Como ave torva e sem rumo, ondula, vagueia, oscila e sobe em nuvens de fumo e na minh'alma se asila. Uma tristeza que eu, mudo, fico nela meditando e meditando, por tudo e em toda a parte sonhando. Tristeza de não sei donde, de não sei quando nem como... flor mortal, que dentro esconde sementes de um mago pomo. Dessas tristezas incertas, esparsas, indefinidas... como almas vagas, desertas no rumo eterno das vidas. Tristeza sem causa forte, diversa de outras tristezas, nem da vida nem da morte gerada nas correntezas... Tristeza de outros espaços, de outros céus, de outras esferas, de outros límpidos abraços, de outras castas primaveras. Dessas tristezas que vagam com volúpias tão sombrias que as nossas almas alagam de estranhas melancolias. Dessas tristezas sem fundo, sem origens prolongadas, 114
sem saudades deste mundo, sem noites, sem alvoradas. Que principiam no sonho e acabam na Realidade, através do mar tristonho desta absurda Imensidade. Certa tristeza indizível, abstrata, como se fosse a grande alma do Sensível magoada, mística, doce. Ah! tristeza imponderável, abismo, mistério, aflito, torturante, formidável... ah! tristeza do Infinito!
Alphonsus de Guimaraens Autor de uma poesia extremamente marcada pela religiosidade. Publicou Sentenário das dores de Nossa Senhora, Dona Mística, Kyriale e Pastoral aos crentes do amor e da morte, entre outros. A poesia de Alphonsus de Guimarães desenvolve-se em torno de um misticismo marcado pela morte, que surge como uma inevitabilidade, e é praticamente transformada em objeto de adoração. Utiliza uma linguagem mais suave e tranquila que Cruz e Souza.
Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... In: Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. p.467.)
A Cabeça de Corvo Na mesa, quando em meio à noite lenta, Escrevo antes que o sono me adormeça, Tenho o negro tinteiro que a cabeça De um corvo representa. 115
A contemplá-la mudamente fico E numa dor atroz mais me concentro, E entreabrindo-lhe o grande e fino bico, Meto-lhe a pena pela goela adentro. E solitariamente, pouco a pouco, Do bojo tiro a pena rasa sem tinta... E a minha mão, que treme toda, pinta Versos próprios de um louco. E o aberto olhar vidrado da funesta Ave que representa o meu tinteiro, Vai-me seguindo a mão correr lesta, Toda a tremer pelo papel inteiro. Dizem-me todos que atirar eu devo Trevas em fora este agoirento corvo, Pois dele sangra o desespero torvo Destes versos que escrevo. (Obra completa, p. 54)
A Catedral Entre brumas ao longe surge a aurora, O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma aurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral eburnea do meu sonho, Onde os meus olhos tao cansados ponho, Recebe a bencao de Jesus. E o sino clama em lugebres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" Por entre lirios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Poe-se a luz a rezar. A catedral eburnea do meu sonho Aparece na paz do ceu tristonho Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O céu e todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem acoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho 116
Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
PRÉ-MODERNISMO No início do século XX, a literatura brasileira atravessa um período de transição: de um lado, ainda é forte a influência das tendências artísticas da segunda metade do século XIX; de outro, já começa a ser preparada a grande renovação modernista, que se inicia no Brasil com a Semana de Arte Moderna (1922). A esse período de transição, que não chega a constituir um movimento literário, chamamos PréModernismo. Nas duas primeiras décadas do século XX, o Brasil passou por várias transformações que apontavam para uma modernização da vida política, social e cultural do país. Politicamente, vivia-se o período de estabilização do regime republicano e a chamada “política do café com leite”. Embora ainda não tivesse absorvido toda a mão -de-obra negra disponível desde a Abolição, o país recebeu nesse período um grande contingente de imigrantes para trabalhar na lavoura do café e na indústria. Os imigrantes italianos, que se concentravam na indústria paulista trouxeram consigo ideias anarquistas e socialistas que resultaram no aparecimento de greves, de crises políticas e na formação de sindicatos. Do ponto de vista cultural , o período foi marcado pela convivência entre várias tendências artísticas do século anterior ainda não totalmente superadas, e algumas novidades de forma e conteúdo.
As Mudanças Embora os autores pré-modernistas ainda estivessem presos aos modelos do romance realistanaturalista e da poesia simbolista, duas novidades essenciais podem ser observadas em suas obras: 1) o interesse pela realidade brasileira: os modelos literários realistas-naturalistas eram essencialmente universalizantes. Tanto na prosa de Machado de Assis e Aluísio Azevedo quanto na poesia dos parnasianos e simbolistas, não havia interesse em analisar a realidade brasileira. Os escritores pré-modernistas, ao contrário, interessavam-se por assuntos do dia-a-dia dos brasileiros, originando, assim, obras de nítido caráter social. Exemplos:
→Graça Aranha retrata em seu romance Canaã a imigração alemã no Espírito Santo; →Euclides da Cunha, em Os Sertões, aborda o tema da guerra e do fanatismo religioso em Canudos, no sertão da Bahia;
→Lima Barreto detém-se na análise das populações suburbanas do Rio de Janeiro. →Monteiro Lobato, descreve a miséria do cabloco na região decadente do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. A exceção está na poesia de Augusto dos Anjos, que foge a esse interesse social .
2) A busca de uma linguagem mais simples e coloquial: embora não se verifique na obra de todos os pré-modernistas, essa preocupação é explícita na prosa de Lima Barreto e representa um importante passo para a renovação modernista de 1922.
Augusto dos Anjos Augusto dos Anjos(1884-1914) nasceu na Paraíba, estudou Direito em Recife e viveu no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Depois de exercer a profissão de advogado, foi promotor e professor de literatura. Como poeta, produziu textos de grande originalidade. Considerado por alguns como poeta simbolista, Augusto dos Anjos é na verdade representante de uma experiência única na literatura universal: a união do Simbolismo com o cientificismo n aturalista. Os poemas de sua única obra Eu (1912), chocam pela agressividade do vocabulário e pela visão dramaticamente angustiante da matéria, da vida e do cosmos. Compõem sua linguagem termos até então considerados antipoéticos, como escarro, verme, germe, etc. Os temas são igualmente inquietantes: a prostituta, as substâncias químicas que compôem o corpo 117
humano, a decrepitude dos cadávares, os vermes, o sêmen, etc. Além dessa camada científica, há na poesia do autor a dor de ser dos simbolistas, marcada por anseios e angústias existenciais, provável influência do pessimismo do filósofo alemão Arthur Schoupenhauer. Para o poeta, não há Deus nem esperança; há apenas a supremacia da ciência. Quanto ao homem, as substâcias e energias do universo que o geraram, compondo a matéria de que ele é feito-carne, sangue, instinto, células-, tudo fatalmente se arrasta para a podridão e para a decomposição, para o mal e para o nada. Em síntese, a poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada pela união de duas concepções de mundo distintas: de um lado, a objetividade do átomo; de outro, a dor cósmica, que busca descobrir o sentido da existência humana.
Verso Íntimos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
Psicologia de um Vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas Come, e á vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!
A máscara Eu sei que há muito pranto na existência, Dores que ferem corações de pedra, E onde a vida borbulha e o sangue medra, Aí existe a mágoa em sua essência. No delírio, porém, da febre ardente Da ventura fugaz e transitória 118
O peito rompe a capa tormentória Para sorrindo palpitar contente. Assim a turba inconsciente passa, Muitos que esgotam do prazer a taça Sentem no peito a dor indefinida. E entre a mágoa que máscara eterna apouca A humanidade ri-se e ri-se louca No carnaval intérmino da vida.
Questões do Enem: Questão 01 (ENEM-2009): Cárcere das almas Ah! Toda a alma presa, Soluçando nas trevas, Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves Para abrir-vos as portas do Mistério?! CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993. Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Souza, são: a- a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos. b- a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista. c- o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais. d- a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras. e- a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.
Questão 02 (ENEM-2009):
Os melhores críticos da cultura brasileira trataram-na sempre no plural, isto é, enfatizando a coexistência de diversas culturas. Arthur Ramos distingue as culturas não européias (indígenas, negras) das européias (portuguesa, italiana, alemã etc), e Darcy Ribeiro fala de diversos Brasis: crioulo, caboclo, sertanejo, caipira e de Brasis sulinos, a cada um deles correspondendo uma cultura específica. MORAIS, F. O Brasil na visão do artista: o país e sua cultura. 119
São Paulo: Sudameris, 2003. Considerando a hipótese de Darcy Ribeiro de que há vários Brasis, a opção em que a obra mostrada representa a arte brasileira de origem negro-africana é:
a-
Rubem Valentim. Disponível em http://www.ocaixote.com.br . Acesso: em 9 jul. 2009. b-
Athos Bulcão. Disponível em http://irbr.mre.gov.br . Acesso: em 9 jul. 2009.
c-
Rubens Gerchman. Disponível em http://itaucultural.org.br . Acesso: em 6 jul. 2009.
d-
120
Victor Vassarely. Disponível em http://www.masterworksfineart.com. Acesso: em 5 jul. 2009. e-
Gougon. Disponível em http://www.ocaixote.com.br . Acesso: em 5 set. 2009.
Para o Mano Caetano
1
O que fazer do ouro de tolo Quando um doce bardo brada a toda brida, Em velas pandas, suas esquisitas rimas?
4
Geografia Geografi a de verdades, Guanabaras postiças Saudades banguelas, tropicais preguiças?
A boca cheia de dentes dentes 7
De um implacável sorriso Morre a cada instante Que devora a voz do morto, e com isso,
10
Questão 03 (ENEM 2009):
Ressuscita Ressuscit a vampiro, sem o menor aviso
Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. 121
Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:
a- “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v.2) b- “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v.3) c- “Que decora a voz do morto” (v.9) d- “lobo-bolo/Tipo pra rimar com ouro de tolo?’ (v.11-12) e- “Tease me, tease me outra vez” (v.14)
Questão 04 (ENEM 2000) : Em muitos jornais, encontramos charges, quadrinhos, ilustrações, inspirados nos fatos noticiados. Veja um exemplo:
Jornal do Commercio, Commercio, 22/8/93 O texto que se refere a uma situação semelhante à que inspirou a charge é:
(A)
Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida. (AZEVEDO, Álvares de. de. Poesias escolhidas. escolhidas. Rio de Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971) (B)
Essa cova em que estás Com palmos medida, é a conta menor que tiraste em vida. É de bom tamanho, Nem largo nem fundo, É a parte que te cabe 122
deste latifúndio. (MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e outros poemas em voz alta. Rio de Janeiro: Sabiá, 1967) (C)
Medir é a medida mede A terra, medo do homem, a lavra; lavra duro campo, muito cerco, vária várzea. (CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São Paulo: Summums, 1978)
(D)
Vou contar para vocês um caso que sucedeu na Paraíba do Norte com um homem que se chamava Pedro João Boa-Morte, lavrador de Chapadinha: talvez tenha morte boa porque vida ele não tinha. (GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983)
(E)
Trago-te flores, – restos arrancados Da terra que nos viu passar E ora mortos nos deixa e separados. (ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1986)
Questão 05 (ENEM 2000):
“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época. Poética Estou farto do lirismo comedido 123
Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o [cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas ............................................................................................ Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro. Aguilar, 1974) Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta: (A) critica o lirismo louco do movimento modernista. (B) critica todo e qualquer lirismo na literatura. (C) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico. (D) propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico. (E) propõe a criação de um novo lirismo.
Questão 06 (ENEM 2000):
Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de
“Bicho urbano”, poema sobre a sua relação com as pequenas e grandes cidades. Bicho urbano Se disser que prefiro morar em Pirapemas ou em outra qualquer pequena cidade do país estou mentindo ainda que lá se possa de manhã 124
lavar o rosto no orvalho e o pão preserve aquele branco sabor de alvorada. ..................................................................... A natureza me assusta. Com seus matos sombrios suas águas suas aves que são como aparições me assusta quase tanto quanto esse abismo de gases e de estrelas aberto sob minha cabeça. (GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991) Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do homem com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso. (A) "e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada." (B) "ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho" (C) "A natureza me assusta. / Com seus matos sombrios suas águas" (D) "suas aves que são como aparições / me assusta quase tanto quanto" (E) "me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de gases e de estrelas"
Questão 07 (ENEM 2004):
Cidade grande Que beleza, Montes Claros. Como cresceu Montes Claros. Quanta indústria em Montes Claros. Montes Claros cresceu tanto, ficou urbe tão notória, prima-rica do Rio de Janeiro, 125
que já tem cinco favelas por enquanto, e mais promete. (Carlos Drummond de Andrade)
Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a (A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem. (B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos. (C) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica. (D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo. (E) prosopopéia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.
Questão 08 (Enem 2003):
Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.
O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito. ‘Textos guardados acabam cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que, com esta frase, deu testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: publicar ou não publicar? guardar ou jogar fora?
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.) Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação literária. A idéia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons resultados está sugerida na seguinte frase:
(A) “A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa.” (B) “Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.” (C) “O período de maturação na gaveta é necessário, (...).” (D) “Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.” (E) “ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho.” Questão 09 (ENEM 2009):
126
ECKHOUT, A.”Índio Tapuia” (1610-1666). Disponível em: http://.diaadia.pr.gov.br . Acesso em: 9jul,2009.
A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br . Acesso em:12 ago,2009.
Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui -se que: a- ambos se identificam pelas características movimento romântico das artes plásticas.
estéticas marcantes, como tristeza e melancolia, do
b- o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. c- a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. d- o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a cultura indígena. e- há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica.
Questão 10 (ENEM 2009):
No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas independentes, dentro da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões segundo ele muito diferentes por formação histórica, composição étnica, costumes, modismos linguísticos etc. Por isso, deu aos romances regionais que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritor gaúcho, 127
Viana Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais diversas, refletindo as características locais. CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e
outros ensaios. São Paulo: Ática, 2003. Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-se que
a- o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática essencialmente urbana, colocando em relevo a formação do homem por meio da mescla de características locais e dos aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia. b- José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a temática da urbanização das cidades brasileiras e das relações conflituosas entre as raças. c- o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo temático local, expressando a vida do homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de vista dos menos favorecidos. d- a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso povo. e- Érico Veríssimo, Raquel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século XX, cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto com a modernização do país promovida pelo Estado Novo.
Questão 11 (ENEM 2002):
Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor. . Lembro-me de que certa noite . eu teria uns quatorze anos, quando muito . encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam carneado.. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...) Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.. VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978 .
128
Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura:
(A) criar a fantasia. (B) permitir o sonho. (C) denunciar o real. (D) criar o belo. (E) fugir da náusea.
Questão 12 (Enem 2003):
Pequenos tormentos da vida De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos, as nuvens desenrolam-se, lentas como quem vai inventando preguiçosamente uma história sem fim...Sem fim é a aula: e nada acontece, nada...Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Margarida, se ao menos um avião entrasse por uma janela e saísse por outra! (Mário Quintana. Poesias) Na cena retratada no texto, o sentimento do tédio (A) provoca que os meninos fiquem contando histórias. (B) leva os alunos a simularem bocejos, em protesto contra a monotonia da aula. (C) acaba estimulando a fantasia, criando a expectativa de algum imprevisto mágico. (D) prevalece de modo absoluto, impedindo até mesmo a distração ou o exercício do pensamento. (E) decorre da morosidade da aula, em contraste com o movimento acelerado das nuvens e das moscas.
Questão 13: (Enem 2007) Sobre a exposição de Anita Malfatti, em 1917, que muito influenciaria a Semana de Arte Moderna, Monteiro Lobato escreveu, em artigo intitulado Paranóia ou Mistificação:
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica das escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...). Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & cia.
129
O Diário de São Paulo , dez./1917. Em qual das obras abaixo identifica-se o estilo de Anita Malfatti criticado por Monteiro Lobato no artigo?
a)
Acesso a Monte Serrat – Santos b)
Vaso de Flores c)
A Santa Ceia d)
130
Nossa Senhora Auxiliadora e Dom Bosco e)
A Boba
Enem 2007 Textos para as questões 14 e 15 Texto I Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo. Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.
Texto II Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma 131
constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes. Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.
Questão 14: A partir do trecho de Vidas Secas (texto I) e das informações do texto II, relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas. I O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30. II A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendência da ficção brasileira da década de 30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares. III Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a posição social do sertanejo na realidade nacional.
É correto apenas o que se afirma em A I. B II. C III. D I e II. E II e III.
Questão 15: No texto II, verifica-se que o autor utiliza a) linguagem predominantemente formal, para problematizar, na composição de Vidas Secas, a relação entre o escritor e o personagem popular. b)linguagem inovadora, visto que, sem abandonar linguagem formal, dirige-se diretamente ao leitor. c) linguagem coloquial, para narrar coerentemente uma história que apresenta o roceiro pobre de forma pitoresca. d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa, para analisar determinado momento da literatura brasileira. e) linguagem regionalista, para transmitir informações sobre literatura, valendo-se de coloquialismo, para facilitar o entendimento do texto.
Questão 16: (Enem 2005) Cândido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX, tratou de diferentes aspectos da nossa realidade em seus quadros. 132
1
2
3
4
133
Sobre a temática dos “Retirantes”, Portinari também escreveu o seguinte poema: (....) Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhos Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos Doloridos como fagulhas de carvão aceso Corpos disformes, uns panos sujos, Rasgados e sem cor, dependurados Homens de enorme ventre bojudo Mulheres com trouxas caídas para o lado Pançudas, carregando ao colo um garoto Choramingando, remelento (....) (Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1964.) Das quatro obras reproduzidas, assinale aquelas que abordam a problemática que é tema do poema. (A) 1 e 2
(B) 1 e 3
(C) 2 e 3
(D) 3 e 4
(E) 2 e 4
Questão 17: (Enem 2005) O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio, denotativo ocorre em: (A)
“(....) É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida, cumprida a sol (....)” (Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos. setembro de 1992.) (B)
“Protegendo os inocentes 134
é que Deus, sábio demais, põe cenários diferentes
nas impressões digitais.” (Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.) (C)
“O dicionário-padrão da língua e os dicionários unilíngües são os tipos mais comuns de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório para as nações civilizadas e
desenvolvidas.” (Maria T. Camargo Biderman. O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)
(D)
(O Globo. O menino maluquinho. agosto de 2002.)
(E)
“Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas 135
espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é
verdadeiramente trágico para se fazer.” (Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br . acessado em julho de 2005.)
Questão 18: (Enem 2006) No poema Procura da poesia, Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelângelo fazia com mármore. O fragmento abaixo exemplifica essa afirmação. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. (...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14. Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante entre autores modernistas: a) a nostalgia do passado colonialista revisitado. b) a preocupação com o engajamento político e social da literatura. c) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos. d) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética. e) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista da pátria.
Questão 19: (Enem 2006) No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:
136
Não se conformou: devia haver engano. (...) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria? O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Ai Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence a variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho:
a) “Não se conformou: devia haver engano” (ℓ.1). b) “e Fabiano perdeu os estribos” (ℓ.3). c) “Passar a vida inteira assim no toco” (ℓ.4). d) “entregando o que era dele de mão beijada!” (ℓ.4-5). e) “Ai Fabiano baixou a pancada e amunhecou” (ℓ.11).
Questão 20: (Enem 2010) Soneto Já da morte o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!... já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece... 137
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade Olhos por quem viveu quem já não vive! AZEVEDO, A. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é: a) b) c) d) e)
a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda. o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
GABARITO: 1- C 2- A 3- D 4- E 5- B 6- D 7- C 8- B 9- C 10- C 11- C 12- C 13- E 14- D 15- A 16- C 17- C 18- C 19- A BIBLIOGRAFIA ABAURRE, Maria Luiza. Português língua e literatura. São Paulo: Moderna, 138