Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (nlacemos as mãos.! "epois pensemos, crianças adultas, #ue a vida $assa e não fica, nada dei%a e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao p& do 'ado, ais longe #ue os deuses. "esenlacemos as mãos, por#ue não vale a pena cansarmo-nos. Quer go)emos, #uer não go)emos, passamos como o rio. ais vale saber passar silenciosamente sem desassossegos grandes. Sem amores, nem *dios, nem pai%+es #ue levantam a vo), em inveas #ue dão movimento demais aos olos, em cuidados, por#ue se os tivesse o rio sempre correria, sempre iria ter ao mar. /memo-nos /memo-nos tran#uilamente, tran#uilamente, pensando #ue #ue podíamos, Se #uis&ssemos, trocar beios e abraços e carícias, as #ue mais vale estarmos sentados sentados ao p& um do outro 0uvindo correr o rio e vendo-o. 1olamos flores, pega tu nelas e dei%a-as o colo, e #ue o seu perfume suavi)e o momento ste momento em #ue sossegadamente não cremos em nada, $agãos inocentes da decad2ncia. /o menos, se for sombra antes, antes, lembrar-te-3s lembrar-te-3s de mim depois depois Sem #ue a mina lembrança te arda ou te fira ou te mova, $or#ue nunca enlaçamos as mãos, nem nos beiamos em fomos mais do #ue crianças. se antes do #ue eu levares o *bolo ao bar#ueiro sombrio4, u nada terei #ue sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-3s Ser-me-3s suave à mem*ria lembrando-te assim - à beira-rio, $agã triste e com flores no regaço. * Na mitologia grega, o barqueiro que trabalha para Hades é Caronte, responsável por transportar as almas dos recém-mortos sobre as águas dos rios Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos. ma moeda para pagá-lo pelo tra!eto, geralmente o "bolo, era, por ve#es, colocada dentro da boca dos cadáveres, de acordo com a tradi$%o &unerária da 'récia Antiga.
CARACTERÍSTICAS DO POEMA:
Pode-se perceber que na 1ª e 2ª estrofes, há um desejo epicurista de fruir o momento presente. Nota-se, também, a aceitação das eis do destino. !bser"e# 1ª estrofe: Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (nlacemos as mãos.!
$om reação a essa primeira estrofe, pode-se di%er que o sujeito poético está em busca de uma feicidade, e ea é reati"a, uma "e% que s& é encontrada nanature%a e nas coisas simpes ' remetendo-nos, portanto, ao epicurismo. (s e)press*es +beira do rio e +sosseadamente fitemos o seu curso remetem-nos ao aurea mediocritas e ao carpe diem horacianos, respecti"amente, uma "e% que refere-se "ontade de querer apro"eitar o momento, e isso s& é poss/"e se feito diante da nature%a, ao obser"ar o rio correr. Por meio da e)pressão +que a "ida passa, o sujeito poético prop*e pastora 0/dia sentar-se com ee para obser"ar o decorrer da "ida, coocando o curso do rio como met3fora do passar da "ida. $om reação ao timo "erso dessa primeira estrofe, o eu /rico prop*e pastora que ees se amem. 2ª estrofe: Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
$assa e não fica, nada dei%a e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao p& do 'ado, ais longe #ue os deuses.
Nessa seunda estrofe, percebe-se nitidamente a importncia que o pensamento tem para o sujeito poético já no primeiro "erso. 3 poss/"e perceber, também, um certo fataismo, em que ee di% que +4a "ida5 Passa e não fica, nada dei)a e nunca reressa, ficando imp/cito que o fu)o da "ida é sem "ota, e assim como o rio seue seu fu)o a caminho do mar, a "ida caminha rumo morte. ( paa"ra +6ado, no fim do terceiro "erso, remete-nos ao destino, do qua nem os deuses escapam. (ém disso, há refer7ncia aos deuses, o que nos remete aopaanismo reco-romano de que se disp*e o autor. 3 poss/"e perceber que da 8ª 9ª estrofe, há uma renncia por parte do poeta ao pr&prio o%o desse fua% momento que é a "ida. !bser"e# 3ª estrofe: Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer go)emos, #uer não go)emos, passamos como o rio. Mai s vale saber passar silenciosamente
sem desassossegos grandes.
No primeiro "erso, o eu /rico prop*e pastora que desenacem as mãos, ou seja, que não se amem, pois acredita não "aer pena se casarem, uma "e% que o fim será sempre a morte ' remete-nos, assim, ao estoicismo, em que nada "ae pena a não ser a aceitação das eis do destino. Pode-se perceber, no fina do seundo "erso, a fiura de inuaem comparação, conforme destacado, no framento acima, em nerito. $om reação aos dois timos "ersos, percebe-se, como fiura de inuaem, a aliteração :subinhada no framento acima;, em que há a repetição do som consonanta +s. !bser"a-se, ainda, nesses "ersos, que o sujeito /rico pretende afastar-se de tudo que possa he causar dor e sofrimento, demonstrando, assim, oepicurismo. 4ª estrofe: Sem amores, nem dios, nem pai!"es que levantam a vo#,
em inveas #ue dão movimento demais aos olos, em cuidados, por#ue se os tivesse o rio sempre correria, sempre iria ter ao mar.
Nessa estrofe, obser"a-se, no"amente, o epicurismo, em que o sujeito poético busca afastar-se do que poderá he causar sofrimento, di%endo que mesmo que haja amor, &dio, pai)ão, in"eja, cuidado, o fim de tudo será sempre a morte. 5ª estrofe: $memo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se #uis&ssemos, trocar beios e abraços e carícias, as #ue mais vale estarmos sentados ao p& um do outro 0uvindo correr o rio e vendo-o.
( quinta estrofe apresenta a ideia de que o sujeito poético poderia passar a "ida beijando, trocando car/cias, mas de quaquer forma a morte chearia. Por essa ra%ão, para ee, "ae mais pena moderar os pra%eres para que cheue morte +"a%io de sentimentos. Nota-se, ainda, a aurea mediocritas no fina dessa estrofe, em que o sujeito /rico fa% refer7ncia, no"amente, obser"ação do passar do rio :que metafori)a a "ida, como já dito anteriormente;. 6ª estrofe:
1olamos flores, pega tu nelas e dei%a-as o colo, e #ue o seu perfume suavi)e o momento ste momento em #ue sossegadamente não cremos em nada, $agãos inocentes da decad2ncia.
$om reação ao primeiro "erso da estrofe em questão, é importante obser"ar que quem pea as fores é a pastora 0/dia e não o sujeito poético ' como já dito, para
ee nada "ae pena. Percebe-se, no"amente, a aurea mediocritas e o carpe diem horacianos, em que ee contempa a nature%a ao sentir o perfume das fores que estão no coo da pastora, o que sua"i%a o momento e fa% com que o eu /rico o apro"eite. No timo "erso, há a refer7ncia ao paanismo, no"amente. Nas duas timas estrofes, há a e)picação dessa renncia ser a nica forma de anuar o sofrimento causado por essa ante"isão da morte. !bser"e# 7ª estrofe: $o menos, se for sombra antes, lembrar-te-%s de mim depois
Sem #ue a mina lembrança te arda ou te fira ou te mova, $or#ue nunca enlaçamos as mãos, nem nos beiamos em fomos mais do #ue crianças.
Nessa sétima estrofe, o sujeito /rico di% que se eemorrer primeiro, a embrança que 0/dia terá dee será sem sofrimento ou dor, uma "e% que "i"eram comtranquiidade e cama, sem randes sentimentos. 8ª estrofe: & se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio',
u nada terei #ue sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-3s suave à mem*ria lembrando-te assim - à beira-rio, $agã triste e com flores no regaço.
( tima estrofe refere-se ao mesmo que a anterior, mas e"ando em conta a morte de 0/dia ser antes da do sujeito /rico, o que não o dei)aria em sofrimento, uma "e% que "i"eu indiferente s pai)*es e amores. 3 poss/"e identificar, nestas duas timas estrofes, o eufemismo :marcado no te)to; , em que o uso de +se for sombra antes e +se antes do que eu e"ares o &boo ao barqueiro sombrio atenuam o caráter tráico da paa"ra +morte.