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Direitos Autorais Proibida cópia total ou parcial deste material. A Faculdade Teológica Teológica Batista do Paraná reserva todos os direitos, direitos, embasada na LEI N° 9.610, 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO FEVEREIRO DE DE 1998. Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se: VI - reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou cientíca ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de xação que venha a ser desenvolvido.
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Breve Biografia do Autor EDILSON SOARES DE SOUZA Doutor e Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), vinculado à linha de pesquisa Intersubjetividade e Pluralidade: reexão e sentimento na história. Graduado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), com formação em Teoria Relacional Relacional Sistêmica. Psicólogo Clínico. Graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB), curso convalidado pela Faculdade Teológica Batista do Paraná (FTBP). Professor de graduação e pós-graduação na FTBP. Editor Responsável pela Revista Via Teológica, publicada pela FTBP. Pesquisador vinculado ao Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER) (NUPPER) e ao CNPq. Acumula experiência na área de psicologia, com ênfase em psicoterapia individual, de casal e de família. Desenvolve estudos contemplando temas nas áreas de: história, psicologia, religião, política e educação.
Avaliação, Instrumentos, Critérios Avaliação única presencial: espera-se Avaliação espera-se que o aluno leia o conteúdo de cada unidade, unidade, preparando-se para a avaliação presencial que está marcada para o nal do semestre. Quando da avaliação, cada aluno receberá um texto (e o mesmo para todos). Após a leitura do mesmo, será solicitado que o aluno discorra sobre o conteúdo, propondo uma relação entre o texto sugerido e o conteúdo das unidades, que foi disponibilizado.
Apoio e Suporte ao Aluno Além do apoio do Tutor Tutor,, do apoio do Coordenador-T Coordenador-Tutor utor do Pólo, o aluno terá à sua disposição o suporte 0800, o suporte on-line via Internet, bem como a biblioteca na Sede da FTBP, as bibliotecas de apoio nos pólos e os links selecionadosemnossa biblioteca on-line. on-line.
Bibliografia Básica COLLINS, G. R. Aconselhamento R. Aconselhamento cristão. São Paulo: Vida Nova, 1995. MALDONADO, Jorge. Crises e perdas na família: consolando os que sofrem. Viçosa: sofrem. Viçosa: Ultimato, 2005. MARINO JÚNIOR, R. A R. A religião do cérebro: as novas descobertas da neurociência a respeito da Paulo: Editora Gente, 2005 fé humana. São Paulo:
Bibliografia Complement Complementar ar CLINEBELL, Howard J.J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento crescimento.. São Paulo: Paulinas/ São Leopoldo, RS: Sinodal, 1987. CRABB, Lawrence. Como compreender as pessoas: fundamentos bíblicos e psicológicos para desen volver relacionamentos relacionamentos saudáveis. São Paulo: Paulo: Editora Vida, 1998. ELIADE, Mircea. O sagrado sag rado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
HURDING, Roger F. HURDING, F. A árvore da cura: modelos de aconselhamento e de psicoterapia. São Paulo: Vida Nova, 1995. MALDONADO, Jorge. A família nos tempos bíblicos. In: Casamento e família: uma abordagem bíblica MALDONADO, e teológica. Jorge Maldonado (editor). 2.ed. Viçosa, MG: Ultimato, 2003, p. 11-29.
Plano de Ensino
Ementa Estudar os principais conceitos aplicados ao Aconselhamento Pastoral, buscando compreender as técni cas básicas que podem ser utilizadas no processo de acompanhamento das pessoas em aconselhamento, destacando as crises e algumas manifestações emocionais que são identicadas durante o processo.
Objetivo Geral Compreender a importância do Aconselhamento Pastoral no contexto do ministério cristão na atualidade, despertando nos participantes do curso a motivação para se conhecerem melhor, como também desempen harem um acompanhamento marcado pela empatia com relação ao outro.
Objetivos Especícos 1. Propor algumas breves considerações históricas e conceituais sobre o Aconselhamento Pastoral; 2. Entender a constituição do Aconselhamento Pastoral; 3. Discutir a presença das emoções no processo de Aconselhamento Pastoral; 4. Analisar a atuação dos conselheiros pastorais no contexto social;
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5. Compreender as expressões religiosas associadas ao sagrado no aconselhamento pastoral.
Conteúdo Programático Capítulo 01 - Breves considerações históricas e conceituais Capítulo 02 - Entendendo o Aconselhamento Pastoral Capítulo 03 - O Aconselhamento Pastoral e as emoções Capítulo 04 - Aconselhamento Pastoral e a sociedade Capítulo 05 - O sagrado sag rado no Aconselhamento Pastoral
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Sumário Plano de Ensino ...................................................................................................................................... 04 Apresentação geral ao tema .................................................................................................................. 07 Introdução ............................................................................................................................................... 08 Unidade 01 Breves considerações históricas e conceituais ................................................................................... 09 Unidade 02 Entendendo o Aconselhamento Pastoral ............................................................................................ 19 Unidade 03 O Aconselhamento Pastoral e as emoções ......................................................................................... 27 Unidade 04 Aconselhamento Pastoral e a sociedade .............................................................................................. 37
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Unidade 05 O sagrado no Aconselhamento Pastoral .............................................................................................. 46 Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 55
Apresentação Geral ao Tema O ministério de uma igreja local de confissão cristã procura glorificar a Deus e exaltá-lo em cada momento de sua trajetória eclesiástica, o que inclui a ministração da Palavra de Deus, as celebrações com os cânticos de gratidão e dedicação, o zelo na administração dos bens que o Senhor confiou aos fiéis e o compromisso com o desenvolvimento saudável daqueles que buscam se tornar mel hores discípulos de Jesus Cristo. Para que esta igreja local possa firmar-se ao longo de sua camin hada de fé, ela se coloca como instrumento da graça divina, desenvolvendo a sua sensibilidade com relação às necessidades daqueles que constituem a comunidade de fé, mas também procura perce ber as carências daqueles que estão ao redor e prontos a serem influenciados pelo seu ministério, tanto de orientação quanto de consolação. Das muitas oportunidades que a igreja local tem para servir aos fiéis, como também aqueles que ela deseja alcançar com a mensagem da graça transformadora de Jesus Cristo, o ministério de Aconselhamento Pastoral apresenta-se como um instrumento valioso no fortalecimento dos fiéis no Senhor. O Aconselhamento Pastoral prioriza o conhecimento e a prática da Palavra de Deus, levando os ensinamentos – adequadamente interpretados pelos conselheiros pastorais – àqueles que necessitam do suporte da igreja local, mesmo que a igreja – que são os seus membros – precise se deslocar para além das suas dependências físicas, chegando a escolas e universidades, postos de saúde e hospitais, como também a empresas e corporações militares. Quando a igreja local preparase para ministrar a partir do Aconselhamento Pastoral, ela precisa entender que pode fazê-lo em suas dependências, mas pode fazê-lo também em outros espaços que oferecem condições adequa das para a realização de tais atividades. No entanto, como analisaremos no desenvolvimento do estudo, o Aconselhamento Pastoral exige um preparo diferenciado por parte daquele que se dispõe a auxiliar aqueles que buscam nesta área ministerial o suporte para as suas dificuldades, tanto em nível pessoal quanto conjugal e familiar. Quando mencionamos um preparo diferencial, não pensamos num preparo melhor ou pior do que outros que são oferecidos no contexto da igreja. Por diferente, queremos considerar abordagens es pecíficas por parte dos conselheiros pastorais, que se colocam ao lado daqueles que estão sofrendo e precisam do apoio incondicional da igreja, que o faz com a atuação de conselheiros preparados, técnica e espiritualmente para a tarefa.
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Introdução Atualmente, existe uma produção literária considerável sobre o ministério de Aconselhamento Pastoral, o que favorece o estudo dessa temática no contexto acadêmico, mas também permite aos conselheiros pastorais uma atualização que se mostra fundamental no desempenho de um ministério tão relevante no contexto das igrejas cristãs em todo o mundo, inclusive, no contexto de América Latina e Brasil. Isso significa dizer que há uma variedade de títulos sobre os conceitos, as áreas de atuação e as técnicas que podem ser utilizadas no processo de Aconselhamento Pastoral (no desenvolvimento do texto utilizaremos também aconselhamento pastoral, numa referência ao trabalho de aconselhamento e não a área específica de ministério). O trabalho e as propostas de aconselhamento são objetos de estudos e aplicações nas mais variadas áreas de atuação educacional e profissional, mostrando-se pertinente para os estudantes de teologia. Tais estudantes serão desafiados a entenderem, aproximarem e aplicarem os ensinamentos da Bíblia às situações e dificuldades comunicadas pelas pessoas que procuram no aconselhamento o apoio para superarem as suas vicissitudes. Para os estudantes de teologia cristã, mas, sobretudo, para aqueles que desejam se aprimorar no ministério de acompanhamento de pessoas, o conheci mento dos diversos conceitos nesta área e o entendimento da utilização das técnicas revelam-se fundamentais. Assim, a presente disciplina foi montada em cinco capítulos, começando pela discussão dos conceitos e encerrando com uma compreensão sobre o sagrado no contexto do aconselhamento cristão. A estrutura do curso, como também o conteúdo de cada capítulo foi pensada tendo como refer ência os seguintes aspectos: a) breves considerações históricas e conceituais, que serão tratadas no primeiro capítulo, fornecendo apoio para os temas que se seguirão; b) entendendo o Aconselha mento Pastoral, que propõe uma compreensão sobre a percepção que temos desta área ministerial e a sua importância para o ministério da igreja local; c) o Aconselhamento Pastoral e as emoções, introduzindo uma discussão sobre alguns elementos que constituem esta área da estr utura humana, entendendo que outras emoções precisam ser conhecidas pelos conselheiros pastorais; d) Aconsel hamento Pastoral e a sociedade, procurando compreender como o Aconselhamento Pastoral atua no contexto social brasileiro, e e) o sagrado no Aconselhamento Pastoral, propondo uma com preensão das expressões do sagrado no acompanhamento pastoral.
Breves considerações históricas e conceituais Introdução Antes de identicarmos alguns elementos que fazem parte do Aconselhamento Pastoral ou mesmo de conceituarmos esta atividade que se mostra tão relevante no contexto da Igreja Cristã local, cabe entendermos parte da trajetória histórica do que nomeamos Aconselhamento. Assim, um dos objetivos deste primeiro capítulo é propor algumas breves considerações históricas sobre o tema de nossa disciplina, procurando entender como o aconselhamento se desenvolveu ao longo dos séculos, partindo dos registros do Antigo e do Novo Testamento. Para Gary Collins, autor do livro Aconselhamento Cristão, “a Bíblia contém vários exemplos de necessidades humanas”, pois “através de suas páginas lemos a respeito de solidão, desânimo, dúvida, tristeza, inveja, violência, pobreza, doença, tensão interpessoal e diversos outros problemas pessoais – algumas vezes manifestados na vida dos maiores santos”, (COLLINS, p. 18). Após citar a Bíblia como fonte para a compreensão
dos problemas humanos, o autor lembrou a condição de Jó, que “era um homem piedoso, conhecido, rico e grandemente respeitado por seus contemporâneos”, (COLLINS, p. 18). No entanto, acrescenta Collins, que aquele homem foi perdendo, gradativamente, bens, família e saúde, cando à mercê dos comentários de seus “amigos” mais próximos. Ao considerar as contribuições do Novo Testamento ao processo de aconselhamento, Gary Collins armou que “Jesus tinha (...) dois alvos para os indivíduos: vida abundante na terra e vida eterna no céu”, (COLLINS, p. 19). Na opinião do autor, os conselheiros que se colocam como seguidores dos ensinamentos de Jesus Cristo podem ou devem se esforçar pelos mesmos ideais: ajudar as pessoas na busca de uma melhor qualidade de vida terrena, esforçandose no sentido de indicar a eternidade ao lado de Cristo como um dos principais objetivos na vida do aconselhado.
Entrando no universo do Aconselhamento Essa é uma versão de um ditado popular, conhecido em muitos lugares. Embora seja bem conhecida, a expressão usada no senso comum revela uma visão limitada sobre o valor de um bom conselho na vida da pessoa que passa por momentos difíceis. Este “conselho” que se tornou alvo de críticas não se constitui, efetivamente, em conselhos ecazes, tratando-se de uma provável referência aos “conselhos” impensados, que são compartilhados no calor das discussões. Em contrapartida, temos o processo de Aconselhamento Pastoral, Se conselho fosse bom ninguém dava, vendia!
constituindo-se numa fala pensada e ponderada, que pode ser compartilhada com alguém que está próximo, sobretudo, quando esse alguém está envolvido emocionalmente em situações complexas e desaadoras. Assim, desejamos na presente disciplina avançar além dos bons conselhos, pois buscamos uma compreensão mais ampla e profunda da importância que o Aconselhamento Pastoral desempenha no contexto ministerial da Igreja local (doravante chamada apenas Igreja), como também diante das demandas de uma sociedade contemporânea
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caracterizada por sua complexidade. Inicialmente, propomos discutir os seguintes temas: a) uma breve análise do papel do conselheiro pastoral; b) a identicação dos principais requisitos para que o conselheiro ou a conselheira possa desempenhar com habilidade o seu trabalho, e c) a compreensão de alguns recursos técnicos disponíveis para o bom êxito no processo de aconselhamento na atualidade.
Antes de avançarmos em nossas reexões, é importante considerar o signicado da expressão Aconselhamento Pastoral, entendendo que ela remete a alguns sentidos, permitindo a construção de determinados conceitos, como veremos na sequência. A palavra Aconselhamento indica uma ação que envolve o ato de aconselhar, ou aconselharse. Pode ser entendido também como uma ação no sentido de solicitar e receber conselhos, como também determinadas orientações. Estamos considerando tão somente o termo Aconselhamento, sem as implicações associadas ao termo Pastoral , já que este último confere outro sentido à primeira palavra. A partir desta breve conceituação, podemos perceber que um bom processo de aconselhamento exige o devido preparo do conselheiro, como também a percepção da necessidade de um lugar ou espaço adequado e seguramente preparado para o ecaz desempenho das funções exercidas pelos conselheiros e pelas conselheiras. De acordo com Howard Clinebell, autor de Aconselhamento Pastoral , podemos entender que o Aconselhamento Pastoral “é a utilização de uma variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento e, assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento”, (CLINEBELL, p. 25). Para este mesmo autor, “o aconselhamento pastoral é uma função reparadora, necessária
quando o crescimento das pessoas é seriamente comprometido ou bloqueado por crises”, (CLINEBELL, p. 25). Notamos que a conselheira ou o conselheiro pastoral é a pessoa que se coloca disponível para auxiliar aqueles que passam por determinadas diculdades, utilizando-se de recursos adequados para que sejam superadas as diculdades. Objetivamos com a nossa análise até o momento esclarecer que o Aconselhamento Pastoral vai muito além de dar conselhos ao necessitado, embora isso possa ocorrer em determinadas circunstâncias. Assim, conhecer os objetivos que devem ser alcançados durante o processo de aconselhamento, enquanto o conselheiro ou da conselheira busca o devido preparo, apresentamse como fundamentais no trabalho e manejo do Aconselhamento Pastoral. Pessoalmente, tenho algumas reservas com relação ao conceito oferecido por Clinebell, sobretudo, quando o seu texto reforça a ideia de uma cura que a pessoa deve experimentar. A ideia de cura remete a outro conceito, que é o de doença. Neste ponto discordo do autor, pois, necessariamente, não lidamos com doentes e suas doenças, mas com distúrbios, crises e conitos que atingem pessoas, casais e sistemas familiares. Vamos, então, entender outro conceito. Para Roger Hurding, que escreveu A ár vore da cura: modelos de Aconselhamento e de Psicoterapia , “podemos denir o aconselhamento como uma atividade com o objetivo de ajudar aos outros em todo e qualquer aspecto da vida, dentro de um relacionamento de cuidado”, (HURDING, p. 36). É o próprio autor que sugere a seguinte divisão explicativa de seu conceito, destacando três partes: a) a ajuda direcionada ao outro; b) esta ajuda deve ser em todo e qualquer momento da vida, e c) a ajuda inserese num determinado relacionamento de cuidado.
Podemos compreender as considerações de Hurding a partir da constatação de que, “por mais que compreendamos a complexidade da natureza humana, o aconselhamento, eu diria, pode ajudar as pessoas em todo e qualquer aspecto da vida interior – emocional, volitivo, comportamental, racional, psicológico ou espiritual”, (HURDING,
p. 37). A ênfase do autor, portanto, recai num relacionamento entre pessoas; tal relacionamento é marcado pelo desejo de ajudar o outro, em todo e qualquer momento ou aspecto de vida. No entanto, essa ajuda é um pouco diferente de outras formas de ajuda. É o que buscamos perceber no desenvolvimento de nossa disciplina.
Requisitos para o desenvolvimento do Aconselhamento Pastoral Uma passagem bíblica que ajuda a compreender o papel do conselheiro pastoral está na carta que Paulo escreveu aos cristãos em Corinto. O texto sagrado não trata especicamente do trabalho de aconselhamento, mas lembra um dos principais objetivos dessa área ministerial: ajudar o próximo em seu processo de amadurecimento. Após tratar do amor entre os cristãos da Igreja local em Corinto, o apóstolo Paulo faz uma breve reexão de sua vida, dizendo que quando era criança comportava-se como uma criança, mas quando se tornou um homem – já amadurecido – deixou aquele comportamento infantil e passou a agir como um adulto. O trabalho do conselheiro ou da conselheira é ajudar a pessoa a superar as suas diculdades, favorecendo o amadurecimento pessoal, permitindo que ela alcance potencialidades em sua trajetória de vida, como também desenvolva bons relacionamentos. Paulo, então, escreveu aos coríntios: “Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, I Coríntios 13.11, p. 1521). E aqui está um dos pilares do aconselhamento pastoral: a capacidade da pessoa que trabalha com os outros de olhar para si mesmo e, em seguida, perceber as mudanças que ocorreram primeiramente em seu interior. Anal, como ajudar alguém no processo de transformação se a pessoa que assume esse papel
não é capaz de olhar para si e avaliar as mudanças que ocorreram consigo? Fica claro, portanto, que é necessário que a conselheira ou conselheiro pastoral faça uma análise sincera de sua vida, identicando as mudanças ocorridas e aquelas que ainda podem acontecer, num movimento de constante amadurecimento pessoal. Voltando a Gary Collins, o autor aponta para alguns aspectos que dizem respeito aos que desejam desenvolver um saudável ministério pastoral na área de aconselhamento. Collins entende que o conselheiro ou a conselheira deve apresentar as seguintes qualicações: a) cordialidade, já que o “termo implica cuidado, respeito ou preocupação sincera, sem excessos, pelo aconselhado – sem levar em conta seus atos ou atitudes”; b) sinceridade, entendendo que o signicado de sinceridade é ser autêntico, ou “uma pessoa aberta, franca, que evita o ngimento ou uma atitude de superioridade”, e c) empatia, que não pode ser confundida com simpatia, pois a empatia revela a sensibilidade do conselheiro ou da conselheira para se colocar no lugar do outro, que está em acompanhamento pastoral, (COLLINS, p. 20-21). Para o autor, tal empatia revela-se na capacidade de se colocar no lugar do outro e procurar sentir algo muito próximo do que ele está sentindo, numa busca de uma compreensão de uma empatia adequada.
Pode-se somar a essas três qualidades indicadas por Collins aqueles nove elementos tão relevantes que fazem parte do Fruto do Espírito Santo,
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como apresentado por Paulo quando escreveu aos cristãos da Galácia. Disse Paulo: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, delidade, mansidão e domínio próprio”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Gálatas 5.22-23, p. 1545). O desao colocado diante da conselheira pastoral ou do conselheiro é procurar perceber o que vai, primeiramente, em seu íntimo, para em seguida colocar-se como facilitadora no processo de crescimento do semelhante.
Vimos dois desaos que são colocados diante daqueles que se apresentam para o trabalho de aconselhamento pastoral: a) o primeiro desao focou a importância da pessoa atuante no aconselhamento desenvolver o que a Bíblia chama de “Fruto do Espírito Santo”, como visto no livro de Gálatas, e b) o segundo desao foi proposto por Gary Collins, chamando a atenção para a existência de certas qualidades que os conselheiros devem desenvolver no desempenho de suas funções.
A Bíblia e algumas técnicas na Aconselhamento Pastoral 2 1
Partindo das considerações anteriores, queremos agora entender a importância de algumas técnicas disponíveis e que podem ser utilizadas pelos que militam no aconselhamento pastoral. Tais técnicas são limitadas se não forem utilizadas sob a orientação de Deus, tendo como referência os corretos ensinamentos e as adequadas interpretações das Sagradas Escrituras (Bíblia Sagrada), objetivando alcançar aqueles que sofrem em determinados momentos as suas vicissitudes, experimentando as pressões da vida contemporânea. Antes, no entanto, é necessário mencionar a importância da Palavra de Deus, revelada nas páginas da Bíblia Sagrada, para o êxito do trabalho de aconselhamento pastoral.
envolvem a sua vida; como também será na Bíblia que ele identicará as palavras consoladoras do Espírito de Deus para continuar desenvolvendo o seu ministério pastoral, atendendo pessoas que passam por problemas semelhantes, com maior ou menor intensidade. Assim, desenvolver o hábito de ler e estudar a Bíblia sistematicamente contribuirá para um bom acompanhamento daqueles que estão sofrendo. Tendo o desejo de desenvolver ou fortalecer o hábito de consultar, primeiro para si mesmo, as Sagradas Escrituras, os conselheiros precisam conhecer algumas técnicas que estão à disposição para uma intervenção segura e responsável junto às pessoas que procuram por esse ministério.
A pessoa que deseja realizar um efetivo trabalho de aconselhamento, cujos resultados serão observados no amadurecimento gradativo do outro, precisará apropriar-se de um hábito de leitura e estudo sistemático da Bíblia Sagrada. Tal leitura e estudo não visam, apenas, ao conhecimento textual para orientar a pessoa em aconselhamento, mas ao fortalecimento do conselheiro ou da conselheira no desempenho de suas tarefas ao ajudar aqueles que pedem auxílio em momentos difíceis.
Gary Collins, citado anteriormente, pode auxiliar mais uma vez na compreensão dos elementos básicos inerentes ao processo de aconselhamento pastoral. Collins arma em seu livro que “o aconselhamento é, primariamente, uma relação em que uma pessoa, o ajudador, busca assistir outro ser humano nos problemas da vida”, (COLLINS, p. 21-22). Essa assistência, que passa pela empatia e cordialidade, exige um instrumental além da boa vontade daquele que se dispõe, efetivamente, a ajudar. Os familiares, irmãos em Cristo da Igreja local e amigos, colocam-se à disposição inúmeras vezes para ajudar. No entanto, falta-lhes (no que
Será na Bíblia que o conselheiro ou a conselheira encontrará respostas às situações delicadas que
pese demonstrarem uma verdadeira motivação) o conhecimento das técnicas adequadas para apoiar a pessoa no aconselhamento, principalmente, em momentos de crise. O autor, então, sugere as seguintes técnicas: 1) Atenção
Segundo a sua percepção, aqueles que atuam no aconselhamento devem procurar conceder total atenção ao aconselhado. Esta atenção passa, necessariamente, pelo contato de olhos, quando a conselheira ou o conselheiro pastoral demonstra o seu interesse pelo assunto, olhando diretamente para a pessoa, sem, contudo, intimidá-la ou constrange-la. O exercício da atenção passa, em segundo lugar, pela postura corporal demonstrada pelo conselheiro ou pela conselheira, quanto o corpo passa a mensagem de tranquilidade, embora o tema da conversa seja tenso. Por m, a atenção é transmitida durante o processo de aconselhamento com gestos naturais, cuidando para que não sejam excessivos, desviando a atenção para qualquer outra realidade, a não ser o processo de aconselhamento. O que se espera do conselheiro pastoral, em seu trabalho de acompanhamento do outro, é estar por inteiro com a pessoa que ele está atendendo. Deve evitar ser interrompido durante o processo, seja pessoalmente ou por telefone, como deve evitar iniciar um atendimento preocupado com o horário, em virtude de ter outros compromissos em seguida. A pessoa que procura ajuda no aconselhamento pastoral procura alguém que possa dar-lhe a devida atenção, ajudando-a em suas inquietações. 2) Ouvir Essa é a segunda técnica sugerida por Collins, dizendo que “ouvir é um modo de dizer-lhe, ‘Eu me interesso’. Quando não ouvimos, mas
aconselhamos falando, esta é com freqüência uma expressão da própria insegurança do conselheiro ou de sua incapacidade para tratar de situações ambíguas, ameaçadoras ou emocionais”, (COLLINS, p. 22). Ouvir é participar atentamente do relato que o outro está apresentando durante o atendimento. É perceber a narrativa, mas também observar os gestos do aconselhado. Somente saberá falar e responder algo que seja pertinente durante o processo de aconselhamento aquele ou aquela que souber ouvir atentamente o outro, percebendo a sua comunicação verbal, como também a mensagem que passa através dos gestos corporais. Jesus Cristo durante o seu ministério terreno deu outro signicado a algumas coisas que faziam parte de sua sociedade. Dentre essas coisas que foram (re) signicadas por Cristo encontram-se os mandamentos do Antigo Testamento, bastante conhecidos pelos seguidores do Senhor Jesus. Em determinado momento, após ser questionado por um perito da Lei de Moisés sobre o maior mandamento, o Mestre armou: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus 22.37-39, p. 1304).
Quando se pensa no ministério de aconselhamento pastoral, parece natural associar as palavras proferidas por Jesus Cristo, como citadas anteriormente, à aplicação das técnicas no manejo de intervenção. A naturalidade reside apenas na aparência, pois relacionar um genuíno amor ao próximo com o manejo de técnicas no aconselhamento tem a ver com uma disposição interior de colocar-se como elemento ajudador diante das carências humanas. Assim, é necessário desejar, optar e agir com amor fraternal em direção ao semelhante, buscando entender o seu
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sofrimento e a dor que experimenta em algum momento de sua trajetória humana. Norman Geisler, autor de Ética Cristã, ao considerar as contribuições de Joseph Fletcher, sobre o situacionismo no contexto da Ética, analisa uma das proposições dessa posição quando diz que o amor ao próximo não tem a ver com o gostar dessa mesma pessoa, pois “amor é uma atitude e não um sentimento”, (GEISLER, p. 56). Se para alguns que defendem o situacionismo o amor é uma atitude e não somente um sentimento, o mesmo não se pode dizer quando se pensa no amor pelo viés das ciências humanas, quando, em determinados momentos, amar alguém é demonstrar um sentimento singular pela pessoa. Assim, pode-se dizer que amar o seu próximo é, além de sentir algo por ele, fazer algo em direção a ele, mesmo que isso implique não gostar dele ou, sobretudo, não concordar com as suas atitudes. Cabe, neste caso, lembrar da empatia com relação ao outro no processo de aconselhamento, visto e comentado anteriormente. 3) Responder
A partir de uma disposição e uma postura que exaltam o amor em direção ao próximo, visando à realização de benefícios na vida da pessoa, pode-se pensar em outras duas técnicas sugeridas por Gary Collins, que complementam as primeiras, como tratadas anteriormente: Responder e Ensinar. Na percepção de Collins, a pessoa que trabalha com aconselhamento precisa desenvolver a capacidade de responder adequadamente, focando o processo de ensinar que está presente no processo de ajuda ao outro. Assim, uma atenção cuidadosa com relação à fala do outro permitirá ao conselheiro ou conselheira responder e/ou ensinar de maneira adequada diante dos anseios e das demandas daqueles que procuram no aconselhamento pastoral o apoio diante dos seus problemas.
Dos vários elementos que compõe a técnica de responder ecazmente durante o processo de ajuda, o autor cita 7 (sete) elementos. São eles: a) saber orientar ; b) ter a capacidade de reetir ; c) saber perguntar ; d) estar apto a confrontar ; e) ter o conhecimento para informar ; f) desenvolver a habilidade para interpretar , e g) conseguir apoiar na hora certa. Todos esses elementos, na visão de Collins, fazem parte da técnica de responder com relevância durante um atendimento ou numa intervenção de aconselhamento pastoral.
Podemos fazer alguns breves comentários sobre estes sete elementos dizendo que a orientação não se caracteriza, necessariamente, em dizer ao outro o que ele deve fazer ou deixar de fazer. Assim, orientar não é impor a vontade do conselheiro ou conselheira sobre a vontade do aconselhado, mas auxiliar a pessoa a encontrar as melhores alternativas diante dos conitos pelos quais está passando. Isso remete a capacidade de reetir de forma adequada sobre o que se passa com a pessoa em aconselhamento e o que está ao redor dela. Deve-se reetir também sobre as possíveis origens dos problemas enfrentados por ela. Quanto à habilidade na formulação de uma perguntar pertinente, que ajude no processo de aconselhamento, precisamos entender que elas (as perguntas) serão mais consistentes à medida que o conselheiro ou a conselheira obtiver um conhecimento mais amplo de cada caso, o que demanda tempo junto ao aconselhado. Perguntas levam a respostas, e algumas colocações feitas pelas pessoas em aconselhamento demandam uma capacidade por parte da conselheira ou do conselheiro em confrontar as armações feitas. Cabe, lembrar, no entanto, que confrontar não signica exercer qualquer tipo de julgamento sobre a vida e o comportamento da pessoa que solicitou ajuda. Nesse caso, confrontar o outro é ajudá-lo a pensar em suas decisões, o que demanda conhecimento para informar. Sobre este elemento
(o informar ), é suciente dizer que aqueles que ministram na área de aconselhamento pastoral precisam, necessariamente, estudar e ler sobre outras áreas do conhecimento humano, tais como: losoa, antropologia, sociologia e psicologia, entre outras áreas. A base de seu conhecimento é a teologia, fundamentada nas orientações bíblicas, mas isso não representa dizer que não devem ter um bom conhecimento sobre o ser humano, também focado em outras áreas além da teológica. Assim, bem preparados, os conselheiros pastorais saberão interpretar algumas colocações feitas pelos que estão em processo de aconselhamento, podendo apoiá-los em sua trajetória de superação pessoal, conjugal e familiar. 4) Ensinar
Quanto à quarta técnica apontada por Collins, que considera a habilidade de ensinar durante o aconselhamento, podemos ler: “Todas essas técnicas são na verdade formas especializadas de educação psicológica. O conselheiro é um educador, ensinando através da instrução e orientando o aconselhado à medida que ele ou
ela aprende a enfrentar os problemas da vida”, (COLLINS, p. 24). Dessa forma, os conselheiros pastorais são aqueles que usam o ensinamento para facilitar o amadurecimento das pessoas que se sujeitam ao processo de aconselhamento. Vale repetir que é importante destacar que a técnica de ensinar não deve ser confundida com a ação de dizer ao outro o que ele deve fazer ou deixar de fazer. A técnica de ensinar caracteriza-se por auxiliar o outro a perceber a dimensão de suas diculdades e buscar soluções saudáveis, utilizando-se dos recursos ao seu dispor. Os conselheiros pastorais podem desenvolver qualidades pessoais que, aliadas às técnicas de aconselhamento, produzirão bons resultados no processo de ajuda àqueles que experimentam diculdades em algumas circunstâncias da vida. Tais conselheiros colocam-se à disposição de Deus, junto ao seu semelhante, para que soluções adequadas sejam pensadas, discutidas durante o aconselhamento e aplicadas na vida daqueles que experimentam momentos delicados em seu viver.
Considerações finais Em nosso primeiro capítulo de estudo, percebemos e analisamos três aspectos relacionados ao Aconselhamento Pastoral: a) entrando no universo do aconselhamento pastoral; b) requisitos para o desenvolvimento do aconselhamento pastoral, e c) a Bíblia e algumas técnicas no Aconselhamento Pastoral. No desenvolvimento de nosso estudo sobre tema tão relevante no ministério cristão, teremos a oportunidade de considerar outros aspectos, também muito importantes.
O importante, nestas considerações nais de nosso capítulo, é entender que o aconselhamento pastoral constitui-se num universo complexo, que precisa ser compreendido de forma mais ampla
e profunda por todos aqueles e aquelas que se colocam em posição de ajuda do semelhante. Além da disposição e “boa vontade”, que são importantes, é necessário que os conselheiros desenvolvam requisitos pessoais para auxiliarem outras pessoas. A “boa vontade” é importante, mas as demandas do aconselhamento pastoral exigem um preparo especíco dos conselheiros. Assim, duas coisas são fundamentais para o desenvolvimento de um bom processo de aconselhamento: conhecimento e aplicação dos ensinamentos da Bíblia, e o aprimoramento com relação a técnicas básicas para o acompanhamento dos aconselhados.
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Indicações culturais Procure identicar num exemplar de jornal, que circula diariamente, ou numa revista de circulação semanal, algum tema que discuta questões que envolvem famílias e relacionamentos. Leia a reportagem ou a matéria, procurando aplicá-la ao aconselhamento pastoral, respondendo a duas
perguntas: a) qual a postura de um conselheiro ou conselheira pastoral diante deste quadro familiar ou relacional? b) que referências bíblicas poderiam ser aplicadas ao caso identicado no jornal ou revista?
Atividades Atividade de Auto-avaliação Identique nas questões a seguir a única resposta correta: 1. De quem é a armação: “podemos denir o aconselhamento como uma atividade com o objetivo de ajudar aos outros em todo e qualquer aspecto da vida, dentro de um relacionamento de cuidado”?
a) Howard Clinebell.
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b) Gary Collins. c) Merval Rosa. d) Roger Hurding. 2. Gary Collins indicou três qualidades que o conselheiro ou a conselheira pastoral deve desenvolver. Quais são estas qualidades?
a) cordialidade; simpatia e uma boa técnica. b) sinceridade, objetividade e assertividade. c) cordialidade, sinceridade e empatia. d) todas as opções anteriores. 3. De quem é a frase: “o aconselhamento é, primariamente, uma relação em que uma pessoa, o ajudador, busca assistir outro ser humano nos problemas da vida”.
a) Norman Geisler. b) Howard Clinebell. c) Gary Collins. d) Larry Crabb. 4. As quatro técnicas que podem ser utilizadas no aconselhamento pastoral, segundo Gary Collins são:
a) atenção; ouvir; responder e ensinar. b) acolher; ouvir; responder e ensinar. c) atenção; responder; ensinar e aconselhar. d) ouvir; responder; ensinar e conversar.
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Questão de Reflexão Vimos que, para Gary Collins, “a Bíblia contém vários exemplos de necessidades humanas”, pois “através de suas páginas lemos a respeito de solidão, desânimo, dúvida, tristeza, inveja, violência, pobreza, doença, tensão interpessoal e diversos outros problemas pessoais – algumas vezes manifestados na vida dos maiores santos”, (COLLINS, p. 18). Para a sua reexão, procure compreender como Jesus Cristo aproximou-se e tratou de pessoas que passavam por abatimentos e perdas.
Atividade de Aplicação Anote em uma cha, para o seu conhecimento, uma experiência de aconselhamento narrada no Antigo Testamento e outra registrada no Novo Testamento.
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Entendendo o aconselhamento pastoral Introdução O trabalho de aconselhamento pastoral no contexto do cristianismo contemporâneo revelase desaador, como observado e analisado no primeiro capítulo. Embora os avanços tecnológicos do período chamado moderno, e isto nos mais variados segmentos e áreas, as pessoas nos grandes centros urbanos ou até no contexto rural sentem a necessidade de estar ao lado de outras pessoas. Por outro lado, os índices sociológicos indicam um crescimento expressivo das Igrejas Protestantes ou Evangélicas, na
América Latina, e de forma especíca no Brasil. A sociedade brasileira continua majoritariamente de conssão cristã, mas experimenta um trânsito religioso que chama a atenção dos estudiosos dos fenômenos religiosos na atualidade. Assim, o aconselhamento pastoral é desaado a atuar neste contexto multifacetado da religiosidade brasileira. Percebemos, então, que segmentos da sociedade, de maneira geral, não conseguem dar todas as respostas às questões recorrentes do cotidiano das pessoas, com suas dores e sofrimentos.
Áreas de atuação do Aconselhamento Pastoral É nesse contexto que o trabalho dos conselheiros pastorais passa a ter um profundo signicado, pois esse ministério propõe estar ao lado das pessoas que experimentam diculdades pessoais e sistêmicas, identicadas nas diculdades que se revelam no contexto das crises conjugais, familiares, prossionais e sociais. Trata-se de um trabalho delicado, minucioso e algumas vezes imperceptível aos olhos dos que estão do lado de fora do processo. Mas para aqueles que são acompanhados – os aconselhados – os resultados mostram-se ecazes, gerando uma melhor qualidade de vida e de relacionamentos sociais. Trata-se de um trabalho que exige, além das habilidades e qualidades que podem ser desenvolvidas pelos conselheiros ou pelas conselheiras, um ambiente adequado para o bom desempenho do acompanhamento. O que desejo dizer é que o processo de aconselhamento pastoral não pode ser realizado de qualquer forma ou em qualquer lugar, pois se trata de um acompanhamento que exige um lugar tranquilo e
seguro para que as pessoas possam falar de suas diculdades, sem o risco de que tais conversas tornem-se de conhecimento público. A segurança do trabalho do conselheiro pastoral reside também no sigilo das informações compartilhadas pelos aconselhados. Podemos apontar algumas áreas de atuação dos conselheiros pastorais: a) atendimento daqueles que frequentam ou são membros das igrejas locais de conssão cristã; b) acompanhamento daqueles que desenvolvem atividades de caráter acadêmico, nas escolas e universidades; c) apoio àqueles que estão internados em instituições de saúde, em função de doenças ou transtornos os mais diversos, atendendo também os familiares, e d) assistência aos que atuam em instituições civis ou militares, como também em determinadas empresas. Destas quatro áreas de atuação dos conselheiros pastorais, provavelmente, a mais conhecida seja o trabalho de aconselhamento pastoral no contexto religioso ou eclesiástico. No entanto, cresce a demanda para o exercício do aconselhamento nas outras
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áreas citadas, além de oportunidades que estão se oferecendo, abrindo outros postos de atendimento para aqueles que passam por momentos difíceis em sua jornada pessoal e familiar. Vamos tecer breves considerações sobre estas quatro oportunidades ou áreas de atuação no aconselhamento pastoral. Como citado anteriormente, destacamos essas quatro áreas de atuação, embora saibamos que outras podem ser identicadas.
Vamos pensar, objetivamente, no:
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Aconselhamento pastoral no contexto eclesiástico. As igrejas cristãs, não importando o seu nome ou denominação, são caracterizadas pelas especicidades das pessoas que escolhem congregar e frequentar aquela determinada comunidade religiosa. No contexto brasileiro, dentre tantas Igrejas Cristãs locais, as pessoas fazem escolhas e decidem conhecer, para depois optarem por se inserir naquela comunidade religiosa. A beleza e a força de uma igreja cristã local repousam, entre outras coisas, nesta diversidade de experiências e trajetórias de vidas, destacando-se a pluralidade de recursos e talentos que cada membro agrega à sua igreja local. Nesse sentido, as igrejas cristãs devem, recorrentemente, abrir as suas portas para que todas e todos possam conhecê-las e, no momento próprio, fazer a escolha de formar, ao lado dos que chegaram antes, as suas leiras.
Assim, são para aqueles que já fazem parte da igreja local que os conselheiros pastorais devem se voltar, sabendo que as lutas da existência podem atingir as pessoas em momentos especícos do ciclo da vida, desde o nascimento até o momento de ruptura social, no que chamamos morte. Mas os conselheiros pastorais devem car atentos também àqueles que não são liados à Igreja local, mas frequentam à comunidade religiosa,
e que também passam por momentos difíceis. Eles também devem ser alvos da atenção e do cuidado dos conselheiros e conselheiras pastorais, que atentos, se colocam à disposição para ajudar a comunidade social que está ao redor da Igreja local. Aconselhamento pastoral no contexto acadêmico. Outra área de atuação dos conselheiros pastorais é o espaço acadêmico, tanto visando às famílias e aos seus lhos no Ensino Fundamental, quanto aos estudantes que já alcançaram uma vaga numa dada instituição de formação superior, buscando a sua graduação e capacitação para o desenvolvimento prossional. O trabalho de aconselhamento pastoral nessa área já conta com algum reconhecimento, já que os conselheiros são chamados e convidados para atender famílias, cujos lhos estão em processo de transição e desenvolvimento. Os conselheiros pastorais podem ampliar a sua atuação, visando atender àqueles que estão matriculados numa faculdade ou universidade. Evidentemente, por serem espaços de formação acadêmica e não religiosa, requer-se todo o cuidado daqueles que desejam atuar nessa esfera, sobretudo, tendo a autorização por escrito dos órgãos gestores da instituição, permitindo a assistência dos conselheiros.
Todos os anos, milhares de jovens ingressam nas faculdades e universidades de todo o Brasil. Muitos deixaram as suas cidades e famílias para perseguirem o sonho da formação superior em outra localidade, experimentando uma adaptação cultural e social, que algumas vezes não é simples e nem tão fácil de ser transposta. Alguns desses jovens chegados à cidade, como também os da própria localidade, experimentaram variados sentidos e se perceberam diante de desaos que precisam ser superados. Para alguns, a possibilidade de conversar com um conselheiro ou conselheira pastoral pode fazer uma grande diferença no processo de adaptação e superação
das primeiras diculdades enfrentadas no novo ambiente estudantil. Aconselhamento pastoral no contexto de saúde coletiva. Cresce a procura de conselheiros pastorais que possam desenvolver suas atividades na área de saúde coletiva, dando suporte e apoio ao processo de recuperação daqueles que foram vitimados por doenças e acidentes. Aqueles que passam pelos postos de saúde coletiva ou são internados em unidades de tratamento clínico, além dos cuidados dos prossionais da área de saúde, carecem do apoio e acompanhamento dos conselheiros pastorais, que podem se colocar ao lado dessas pessoas no processo de restauração. Deve-se ter, no entanto, alguns cuidados: a) ter a permissão daqueles que são responsáveis pelo tratamento dos que se recuperam em tais unidades, pois são eles que conhecem mais detalhadamente o quadro da pessoa e o seu estado de saúde; b) respeitar as normas estabelecidas pela instituição de saúde, não colocando em risco o processo de recuperação das pessoas, e c) ter o consentimento da pessoa que recebe a visita do conselheiro ou da conselheira pastoral para ministrar uma palavra de esperança e encorajamento, entendendo que alguns podem não estar dispostos à intervenção. Aconselhamento
pastoral
no
contexto
institucional e empresarial. As três áreas ou contextos anteriores são, provavelmente, os mais conhecidos. Talvez, sejam esses contextos que recebam o maior número de contingente de conselheiros pastorais, pois existe, aparentemente, uma tradição nessa esfera de atuação. No entanto, os mesmos recursos e técnicas aplicados ao aconselhamento pastoral em outras áreas podem ser utilizados também no aconselhamento empresarial. Não é incomum observamos a presença da inuência da psicologia nas empresas; como também podemos observar algumas empresas utilizando-se de orientações alternativas, de cunho religioso, na busca de soluções para os seus projetos e desaos.
A empresa, seja ela de grande ou pequeno porte, constitui-se na atualidade em outro contexto de atuação dos conselheiros pastorais. O conhecimento que os conselheiros possuem sobre dinâmicas relacionais e pessoais, aliado ao conhecimento que possuem também dos ensinamentos da Palavra de Deus, pode ser um instrumento ecaz no acompanhamento das pessoas que trabalham em determinada empresa. Muitas dessas pessoas se sentem pressionadas por vários fatores, como também podem chegar ao trabalho sobrecarregadas e desmotivadas, em função dos problemas pessoais e familiares.
Cuidados no processo de Aconselhamento Pastoral Então, é importante considerar os seguintes elementos no processo de aconselhamento: a) o local adequado para o desenvolvimento do processo de aconselhamento pastoral; b) a discussão do tempo durante o aconselhamento, tendo em vista o uso das técnicas que já foram mencionadas, e c) alguns perigos que cercam o processo de aconselhamento e os cuidados que o conselheiro ou a conselheira deve desenvolver.
Aqueles que se propõem trabalhar nessa área
do ministério, em qualquer localidade, precisam observar alguns cuidados no desempenho de suas atividades, tendo sempre em mente a ética cristã, como também o zelo no acompanhamento daqueles estão passando por sofrimentos e diculdades. Duas passagens da Bíblia podem motivar os conselheiros com relação ao local e tempo de aconselhamento. A primeira referência diz respeito a um homem – chamado Nicodemos – que
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procurou conversar com Jesus Cristo no período da noite. O texto está no Evangelho de João, capítulo 03. Inicialmente, somos levados a pensar que aquele homem, inuente em sua comunidade sócio-religiosa, procurou Jesus naquele período por temer uma exposição social. Mas, pode-se pensar que ele procurou Jesus naquele período para ter maior tranquilidade para expor as suas dúvidas. Anal, no período da noite, Jesus não estava cercado por multidões.
A segunda referência bíblica diz respeito ao lugar tranquilo para buscar a Deus em oração, quando orienta: “Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus 6.6a.). Algumas coisas devem ser ditas em lugares seguros e reservados, preservando a integridade das pessoas que falarão de assuntos tão delicados. São dois aspectos sob a responsabilidade dos conselheiros pastorais, pois cabe a eles cuidar para que o processo seja realizado em segurança, escolhendo um lugar confortável e caracterizado pela privacidade. O conteúdo do encontro deve ser guardado em sigilo absoluto, respeitando a privacidade do aconselhado durante o encontro. Igualmente, é de responsabilidade da pessoa que conduz o aconselhamento desenvolver uma sensibilidade com relação ao tempo durante a entrevista.
Nesse último caso, destaca-se o tempo como elemento presente em todos os eventos, não somente com relação à duração do encontro em si, mas também com relação à percepção que os conselheiros pastorais têm para entender que algumas coisas serão trabalhadas num período maior ou menor, dependendo da intensidade e dos signicados das questões colocadas, gradativamente, pelo aconselhado. O que se quer dizer, basicamente, é que o conselheiro ou a conselheira deve cuidar para não provocar –
consciente ou inconscientemente – a aceleração no compartilhamento dos assuntos introduzidos pelas pessoas que buscam esse acompanhamento.
Já que o assunto abordado é o tempo, vem em boa hora a lembrança do sábio no Antigo Testamento: “Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu... tempo de calar e tempo de falar”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Eclesiastes 3.01 e 07b). Essa orientação bíblica pode ajudar o conselheiro pastoral no uso do tempo, tanto para ouvir quanto para falar e auxiliar a pessoa que é assistida em suas reexões. Assim, também no aconselhamento há tempo para tudo, inclusive para calar ou falar; e esse tempo é trabalhado pelo conselheiro. Duas considerações nais quanto ao tempo. É necessário ter em mente que há um momento para se iniciar o encontro (se possível marcado com antecedência), como há um momento para se encerrar esse mesmo encontro. Na prática, cada atendimento pode variar entre 50 ou 60 minutos, com uma tolerância para mais ou para menos, dependendo do desenvolvimento dos assuntos tratados. Não é uma norma ou regra absoluta, mas apenas bom senso no desenvolvimento do aconselhamento pastoral. Esse tempo de atendimento precisa ser tratado entre as duas partes envolvidas no processo: o conselheiro ou a conselheira e o aconselhado. A segunda consideração é quanto ao tempo adequado para fazer uma interpretação daquilo que é dito pela pessoa em aconselhamento: a sensibilidade do conselheiro pastoral determinará se uma interpretação deve ser feita em dado momento, ou reservada para outro momento mais adequado à compreensão daquela ou daquele que está em acompanhamento. Assim, uma pergunta mostra-se pertinente: quais os perigos que rondam o processo de
aconselhamento? Quando se depara com essa questão, ca evidente que o trabalho realizado por homens e mulheres, que abraçam esse tipo de ministério no contexto do cristianismo contemporâneo, não está imune aos riscos e tensões que cercam outras atividades prossionais ou relacionadas ao ministério da Igreja local. Embora existam alguns riscos, que serão mencionados e comentados brevemente no texto, deve-se pensar que a dependência com relação a Deus, por parte do conselheiro ou da conselheira, é fundamental para superar tais tensões. Vale lembrar também que será no exercício desse ministério que a pessoa, que se dispõe a fazer tal trabalho, buscará habilitar-se constantemente, preparando-se para identicar e desviar-se desses riscos. Dos muitos riscos que cercam o trabalho de aconselhamento, podem ser indicados os seguintes: a) O sentimento de superioridade do conselheiro com relação ao aconselhado; b) a negligência da conselheira ou do conselheiro com leituras que ajudam a atualizar-se sobre as questões humanas; c) a ausência de sensibilidade com relação à dor do outro, e d) o pensamento dos conselheiros que acreditam que não vão sofrer com situações semelhantes às situações compartilhadas pelas pessoas que buscam ajuda. Assim, alguns breves comentários tornam-se importantes para uma melhor compreensão desses riscos. O sentimento de superioridade do conselheiro com relação ao aconselhado. A pessoa que trabalha no acompanhamento daqueles que passam por diculdades, em algum momento, pode – de forma equivocada – desenvolver um sentimento de superioridade, pois considera
que está numa posição superior à posição do aconselhado. Desenvolver esse tipo de sentimento é prejudicial no processo de ajuda ao próximo. Uma postura de negligência da conselheira com leituras que ajudam a atualizar-se sobre as questões humanas. Outro risco é negligenciar o constante aprimoramento no trabalho de aconselhamento cristão, deixando de ler obras atualizadas que contribuem para uma maior reexão no aconselhamento pastoral. A ausência de sensibilidade com relação à dor do outro. Com o passar do tempo e com as constantes intervenções por parte da conselheira, como também do conselheiro, podese experimentar – e isso de forma inconsciente – uma ausência de sensibilidade com relação à dor daqueles que procuram ajuda no aconselhamento. Esse risco existe, pois o conselheiro lida recorrentemente com pessoas em estado de angústia, tornando-se esse quadro rotineiro em seu trabalho. Imaginar que está livre de sofrer com situações semelhantes às situações compartilhadas pelas pessoas que buscam ajuda no processo de aconselhamento. O último risco que pode ser identicado tem a ver com o pensamento de que algo semelhante ao vivido pelo aconselhado nunca vai acontecer com o conselheiro, pois ele está acima de tais implicações.
Dessa forma, permanecendo atento aos riscos que foram mencionados, ao mesmo tempo em que percebe outras diculdades, aqueles que trabalham com o aconselhamento pastoral estão aptos para atuar com competência e misericórdia junto às pessoas que buscam esse ministério de apoio.
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Considerações finais Neste capítulo, consideramos brevemente algumas áreas ou contextos relacionados ao aconselhamento pastoral, partindo do contexto eclesiástico (Igreja local) até entendermos as oportunidades associadas ao aconselhamento empresarial.
Vimos também que existem alguns equívocos que os conselheiros pastorais devem evitar, começando com o sentimento de superioridade,
desenvolvendo-se até o estado de atenção ou alerta, sobretudo, com relação à sensação de que aquela situação numa vai atingi-los. Tomar consciência do sofrimento que experimentamos e das lutas que enfrentamos nos fortalecerá, capacitando-nos nos processo de aconselhamento pastoral junto àqueles que também estão com dores na alma e no corpo.
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Os Alcoólicos Anônimos – AA – realizam um trabalho muito importante no processo de recuperação de pessoas que enfrentam problemas com a dependência do álcool. Visite o site dos Alcoólicos Anônimos no Brasil e procure informações sobre o programa desenvolvido por eles. Disponível em: .
Atividades Atividade de Auto-avaliação Identique nas questões a seguir a única resposta correta: 1. Podemos apontar as seguintes áreas de atuação dos conselheiros pastorais:
a) atendimento aos que frequentam ou são membros das igrejas locais.
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b) acompanhamento no contexto acadêmico, nas escolas e universidades. c) apoio àqueles que estão internados em instituições de saúde. d) Em todas estas áreas, os conselheiros pastorais podem atuar. 2. Que cuidados os conselheiros pastorais devem ter durante o aconselhamento?
a) atender num local adequado e atender as pessoas apenas uma única vez. b) atender num local adequado e contar com a presença de outro conselheiro durante o atendimento. c) atender num local adequado e esclarecer sobre o tempo de cada encontro de aconselhamento. d) esclarecer sobre o tempo de cada encontro no processo de aconselhamento e nunca atender menos do que cinco vezes uma mesma pessoa. 3. Dos riscos que cercam o trabalho de aconselhamento, podemos indicar os seguintes:
a) não alcançar o sucesso na proposta e resultados do aconselhamento. b) o sentimento de superioridade e a ausência de sensibilidade com relação ao outro.
c) não obter o reconhecimento público sobre o trabalho realizado. d) car curioso com relação às histórias de vida das pessoas. 4. Que cuidados os conselheiros pastorais precisam ter no contexto de saúde coletiva?
a) permissão daqueles que são responsáveis pelo tratamento dos que se recuperam. b) respeitar as normas estabelecidas pela instituição de saúde. c) ter o consentimento da pessoa que recebe a visita do conselheiro ou da conselheira. d) todas as opções anteriores.
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Questão de Reflexão Vimos que a oração é muito importante para o amadurecimento humano, como fomos orientados pelo texto bíblico: “mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus 6.6a.). Mas como orientar aquelas pessoas que não desenvolveram o hábito da oração particular e nem da leitura da Bíblia?
Atividade de Aplicação Anote em uma cha, como material de apoio, cinco referências bíblicas, tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento, que indicam a importância da oração para o processo de crescimento pessoal.
O aconselhamento pastoral e as emoções Introdução Consideramos, anteriormente, os seguintes aspectos relacionados ao aconselhamento pastoral: a) o papel do conselheiro ou da conselheira pastoral, considerando os requisitos e algumas técnicas no processo de aconselhamento; b) o processo de aconselhamento, focando o local, a duração do encontro e os riscos relacionados a esse trabalho ministerial. São esses elementos básicos que nortearão aqueles que se sentem motivados a trabalhar com pessoas e sistemas conjugais ou familiares, apresentando-se como instrumento de apoio no processo de ajuda ao próximo.
Cabe dizer que, embora os conselheiros pastorais realizem o seu trabalho junto às pessoas arrependidas e perdoadas por Deus, ainda assim tais pessoas podem experimentar alguma forma de angústia ou algum tipo de crise. Assim, inicialmente, podemos armar que problemas vividos no cotidiano não são crises, mas algo que todos nós experimentamos em algum momento de nossa trajetória de vida. Mas vale lembrar também que determinados problemas podem se transformar em crises.
As crises como temas no Aconselhamento Pastoral Mas, o que é uma crise? O presente capítulo propõe responder essa questão, buscando compreender as crises na atualidade. Propomos, então, conceituar crises , partindo de uma proposta de tipologia. Num segundo momento, propomos analisar as possibilidades de ajudar as pessoas no sentido de prevenir algumas crises, sobretudo, aquelas que podem ser evitadas. Finalmente, avançamos no sentido de considerar uma crise como oportunidade de crescimento, compartilhando essa visão durante o processo de aconselhamento. Assim, como podemos conceituar crise? Existem vários conceitos que podem ser utilizados, diferenciando-se a partir da descrição do que seja uma crise, até considerar as consequências da mesma sobre a pessoa. Pensando no aprimoramento do processo de aconselhamento, optou-se pelo conceito de Jorge Maldonado. Maldonado armou que “crise é um estado temporal de transtorno e desorganização
caracterizado principalmente por: uma incapacidade do indivíduo, família ou grupo social para resolver problemas usando métodos e estratégias costumeiras; e um potencial para gerar resultados radicalmente positivos ou radicalmente negativos”, (MALDONADO, p. 15). A partir do conceito apresentado por Maldonado, podemos chegar a algumas considerações relevantes: a) o conceito de problema não é o mesmo de crise, mas alguns problemas mal conduzidos ou elaborados podem originar o aparecimento de determinadas crises, exigindo do sistema uma atenção adequada; b) todas as pessoas experimentam algum tipo de crise durante a sua trajetória de vida, mas o que muda é a intensidade dessas crises; c) o desao proposto para cada pessoa não é evitar a crise, que algumas vezes torna-se impossível, mas administrá-las da melhor forma possível, e d) o crescimento pode ser a melhor saída para uma crise, dependendo da maneira como as pessoas ou sistemas familiares
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encaram tal situação delicada em suas vidas.
Pensando no aconselhamento pastoral em momentos de crise, podemos considerar a importância de dois textos bíblicos, que ajudam no processo de intervenção quando de crises pessoais ou sistêmicas. O primeiro é o texto do Salmo 139.01-05; 13-16 e 23-24, e o segundo é o texto de Provérbios 4.01-04; 20-23. Anteriormente lembramos que problemas pessoais não têm o mesmo sentido de crises pessoais. O mesmo se aplica às famílias: um problema familiar não tem o mesmo sentido de crise familiar. Dessa forma, problemas não são, necessariamente, crises; mas alguns problemas, como enfatizado anteriormente, podem se transformar em crises, inclusive em crises recorrentes. Entender como as crises se manifestam e a sua tipologia pode auxiliar no trabalho de aconselhamento pastoral.
É importante que no processo de aconselhamento pastoral as pessoas se sintam seguras para compartilhar de suas crises pessoais ou conjugais, como também sobre aquelas que trazem desconfortos no contexto familiar. É igualmente importante que os conselheiros pastorais não vejam nas crises, necessariamente, um problema espiritual ou religioso, como se os distúrbios indicassem a afastamento das pessoas com relação a Deus e vice-versa. Algumas crises atingem pessoas éis e comprometidas com o Reino de Deus, não caracterizando falta de fé ou a existência de algum pecado não confessado. Lamentavelmente, alguns “conselhos” pastorais são dados a partir de uma premissa que não se sustenta: toda crise é resultado de pecado não confessado! Essa base de interpretação equivocada, que associa a crise a um pecado não confessado, não tem base nas Escrituras Sagradas – a Bíblia.
Uma tipologia sobre as crises O presente capítulo propõe indicar as quatro formas de crise consideradas por Jorge Maldonado, apresentadas e discutidas em seu livro Crises e perdas na família , ajudando a reetir sobre esse tema no processo de aconselhamento pastoral. De acordo com Maldonado, os quatro tipos de crise são: Crises circunstanciais Segundo o autor, basicamente as crises circunstanciais podem ser tidas como acidentais e ocorrendo de forma inesperada. Outro elemento que pode estar associado às crises circunstanciais é o fator contextual ou ambiental. As crises circunstanciais, em determinados momentos, não podem ser evitadas pelas pessoas e pelos sistemas conjugal e familiar, gerando transtornos e sofrimentos às pessoas envolvidas. Como exemplos de crises circunstanciais, podem ser apontados os fenômenos naturais e sociais, como tempestades, terremotos, perdas de empregos,
acidentes no trabalho, entre outros. Circunstâncias que podem atingir todas as pessoas, independente de sua condição religiosa ou espiritual. Crises de desenvolvimento As crises de desenvolvimento atingem as pessoas e os sistemas em todos os lugares, já que são tidas como universais, indicando certa previsão. Tais crises não podem ser detidas ou produzidas prematuramente, mesmo que a pessoa pense que pode se preparar para tal evento. Como exemplos de crises do desenvolvimento podem ser indicadas as variações e mudanças durante as etapas do ciclo da vida, pois as pessoas vão-se transformando à medida que amadurecem e se desenvolvem. Assim, as crises do desenvolvimento estão associadas à evolução humana. Crises estruturais
São crises mais difíceis de serem percebidas e, por isso mesmo, de serem acompanhadas no processo de aconselhamento pastoral. Elas foram consideradas por Maldonado como crises recorrentes, revelando a resistência que temos às mudanças que são necessárias ao longo de nossa trajetória de vida. Em determinados momentos ou etapas da vida humana, as pessoas desenvolvem formas de se comportar ou de se relacionar caracterizadas pela rigidez, produzindo resistência às mudanças indicadas e orientadas durante o processo de aconselhamento pastoral. Embora as crises estruturais apresentem tais características, como a recorrência e a resistência às mudanças, os conselheiros e conselheiras pastorais devem continuar o seu trabalho com esperança, acreditando que resultados positivos podem ser alcançados com o acompanhamento do aconselhado. Crises de desvalia Este tipo de crise exige, além da intervenção do aconselhamento pastoral, a ajuda de outros prossionais especializados, pois ocorrem quando o sistema se percebe diante de familiares com características disfuncionais ou dependentes. Em nossa sociedade contemporânea, nota-se o aumento do número de pessoas que dependem umas das outras, exigindo um tipo de apoio e acompanhamento durante a maturidade. Isso se dá pela idade avançada, como no caso dos adultos idosos, ou pelo envolvimento de algum membro da
família com substâncias químicas, podendo gerar dependência. Neste último caso, o abuso de tais substâncias pode prejudicar o desenvolvimento saudável do indivíduo e comprometer todo o equilíbrio do sistema familiar. Após identicarmos esses quatro tipos de crise, partindo das reexões e contribuições de Jorge Maldonado, podemos perceber que o importante é que os conselheiros pastorais podem ter o pensamento e o sentimento de esperança, e tal pensamento pode ser compartilhado com aqueles que passam por algum tipo de crise em sua vida. O trabalho daqueles que se colocam ao lado dos que sofrem não é questionar a origem ou o motivo da crise, mas entendê-la e ajudar a pessoa a superá-la. Igualmente importante é mostrar à pessoa que está em aconselhamento que ela pode transformar a sua crise em instrumento de superação. A crise, por ser temporal, não é permanente, embora se revele como uma força geradora de dor ou sofrimento, marcando a trajetória das pessoas que estão ao nosso redor e, algumas vezes, a nossa própria trajetória de vida. Assim, o conselheiro e a conselheira pastoral podem entender e trabalhar com as suas situações de crise, encontrandose habilitados para ajudar aqueles que ainda não superaram as suas diculdades. Cabe, então, ao conselheiro notar a possibilidade de transformar a sua experiência de crise em ferramenta motivacional, colocando-se ao lado do outro que ainda sofre.
Reações da estrutura humana: o ciúme Quando Paulo escreve aos cristãos na Galácia, ele o faz lembrando o Fruto do Espírito Santo , dizendo que tal fruto constitui-se de: “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, delidade, mansidão e domínio próprio”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Gálatas 5.22-23, p. 1545). Paulo colocou diante dos cristãos do passado
os desaos de uma vida segundo a Palavra de Deus. Os desaos dos cristãos no presente são semelhantes aos desaos dos cristãos no passado, considerando as diferenças sócio-culturais de épocas e lugares distintos. No entanto, na vida do cristão não existe apenas amor, alegria e paz, mas podem ser encontrados, em alguns momentos,
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sentimentos como ciúme e inveja. Os conselheiros pastorais precisam lidar com tais sentimentos, primeiramente em suas vidas, como também ajudar os aconselhados a lidar também com tais sentimentos quando identicados. Há um pensamento comum, embora equivocado, que defende que o ciúme só atrapalha o casamento ou qualquer outro relacionamento quando é muito intenso e doentio, mas se ele for controlado pode apimentar a vida conjugal. Essa forma de pensar é muito comum em nossos dias, sendo compartilhada por muitos casais na atualidade, alguns em comunidades religiosas de conssão cristã. Sempre que tenho oportunidade, procuro questionar como alguém consegue medir a intensidade do ciúme para saber se ele é bom ou ruim, ou ainda se ele é intenso e doentio, como também se o ciúme pode ser ou não controlado. Podemos perceber, em determinadas situações, é que algumas pessoas não têm uma compreensão muito clara da origem do sentimento que chamamos ciúme e nem sabem também como tratá-lo no contexto de um relacionamento conjugal que busca o crescimento. Visando a uma compreensão básica sobre o sentimento de ciúme, propomos algumas breves considerações. Cabe lembrar que tais considerações visam motivar àqueles e àquelas que desejam atuar no ministério de aconselhamento pastoral, entendendo que outras leituras complementares devem ser buscadas para uma compreensão mais detalhada dessa reação humana. Primeira consideração: o ciúme exerce alguma inuência no relacionamento conjugal ou
familiar.
O ciúme esteve como está presente em vários episódios da trajetória da humanidade, fazendo parte dos relatos históricos e bíblicos, sendo percebido nos primeiros registros da humanidade,
a partir das narrativas bíblicas. A Bíblia pode ser um instrumento valioso quando se deseja pensar na presença do ciúme entre nós. Temos duas referências que apontam para comportamentos que tiveram origem no ciúme: a) Gênesis 37.04; e b) Lucas 15.28.
No primeiro texto, que remete a uma situação familiar descrita no Antigo Testamento, é possível ler sobre os sentimentos dos irmãos de um jovem chamado José, pois perceberam que o pai daquela numerosa família demonstrava um afeto diferente ou especial com relação a um dos lhos, não demonstrando uma afetividade semelhante com relação aos demais. O segundo texto, que é uma parábola do Novo Testamento, coloca no centro da narrativa a gura de um pai e os comportamentos distintos de seus dois lhos. Em determinado momento da narrativa, o comportamento do lho mais velho com relação ao caçula ca evidente, já que o relato indica um sentimento de desprezo para com aquele que retornara de sua viagem, após ausentar-se dos vínculos e compromissos familiares. Embora os textos bíblicos não tragam a expressão que traduzimos como ciúme, o sentimento pode ser identicado na análise do pensamento daqueles que estão inseridos nos relatos: os irmãos. Além de outros sentimentos, o ciúme pode estar presente também na forma como os irmãos se comportaram com relação a outro membro da família, partindo das narrativas sobre os personagens das duas histórias da Bíblia. É impossível negar a existência do ciúme nos relacionamentos humanos, seja entre amigos e pessoas próximas ou entre pais e lhos, como também entre marido e mulher.
Assumir a existência do ciúme nos relacionamentos humanos não signica aceitá-lo como ele é, ou mesmo conformar-se à sua inuência sobre os relacionamentos. Aceitar a presença do ciúme é procurar elaborar tal sentimento, não permitindo
que ele cause danos à estrutura emocional das pessoas e, por conseqüência, aos sistemas familiares. Segunda consideração: conhecendo o ciúme e aprendendo a lidar com ele.
Partimos do pressuposto de que o ciúme está presente nas relações interpessoais, inclusive no relacionamento conjugal. Assim, é necessário conhecê-lo para lidar habilmente com ele. O desao não é um relacionamento conjugal sem os sentimentos tidos como negativos, mas um relacionamento que cresce a partir da reexão do lugar desses sentimentos na vida dos cônjuges. E aqui cabe uma pergunta: como se origina o ciúme no contexto relacional? O ciúme pode surgir – latente ou manifesto – quando a dinâmica relacional inclui um terceiro elemento, também chamado de “objeto”. Podemos voltar à narrativa de José e seus irmãos. Os irmãos de José podem ter desenvolvido aquele tipo de comportamento porque se sentiram menosprezados ou inseguros diante do favorecimento do irmão mais jovem, visto como um lho predileto. Com relação à parábola conhecida como do “lho pródigo”, o lho mais velho não quis participar da celebração que o pai estava oferecendo ao lho caçula, pois pode ter pensando que perdera o seu lugar ao lado do pai, com o retorno do outro. Essas são hipóteses com relação a um provável sentimento de ciúme nas narrativas bíblicas mencionadas. Nesses dois exemplos, encontramos a inclusão de uma terceira pessoa no relacionamento. Esse terceiro “objeto” é visto como ameaçador por algumas pessoas, podendo gerar alguma insegurança na convivência entre duas partes. Na Classicação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10, podemos ler sobre um dos aspectos
associados à rivalidade entre irmãos: “Rivalidade e/ou ciúme entre irmãos pode ser mostrada por
competição marcante com os irmãos pela atenção e afeto dos pais; para isso ser considerado como anormal, deve estar associado a um grau inusual de sentimentos negativos. Em casos graves, isso pode estar acompanhado de franca hostilidade, traumatismos físicos e/ou dolo e sabotagem do irmão. Em casos mais leves, pode ser mostrado por uma forte relutância em compartilhar, falta de respeito e escassez de interações amigáveis”, (Classicação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10, p. 270).
Em outra vertente, Pierre Weil arma que “o ciúme é baseado na desconança e num sentimento de inferioridade”, (WEIL, p. 187). Para ele, a pessoa que sente ciúme revela uma autoestima reduzida, não demonstrando segurança suciente para manter a pessoa querida e amada ao seu lado e temendo perdê-la. Nesse caso, mais uma vez, o sentimento de ciúme tem origem na insegurança com relação a uma terceira pessoal ou “objeto” que passa a fazer parte do relacionamento. Quando pensamos em aconselhamento pastoral para os casais inseridos numa comunidade religiosa cristã, duas situações podem ser colocadas: a) a primeira é que o ciúme é um sentimento real no íntimo de um dos parceiros ou cônjuges, já que o outro deu motivos para tal desconança, em razão de comportamentos inadequados dentro do vínculo relacional, e b) na segunda situação, o ciúme também é um sentimento real no íntimo de um dos parceiros ou cônjuges, embora o outro não tenha dado qualquer motivo para desconanças, pois o seu comportamento não foi inadequado dentro do vínculo relacional. Chegamos à conclusão de que o sentimento de ciúme pode estar presente quando existem motivos para se produzir alguma insegurança relacional, mas ele também pode ser gerado quando não existem motivos aparentes para a sua existência. Neste último caso, o sentimento de ciúme é real,
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embora produzido a partir de uma desconança infundada. Isto é, o sentimento é real, mas não há motivos identicáveis para tal sentimento, a não ser na mente da pessoa. Surge, então, a ideia de triangulação, baseado numa estrutura relacional que é objeto de inúmeros estudos na área dos relacionamentos humanos. A triangulação, que é estudada por vários pesquisadores, remete a uma dinâmica relacional que envolve três sistemas interdependentes. No contexto do casamento ou da família, essa triangulação pode acontecer entre a esposa, o esposo e um terceiro elemento que é incluído no relacionamento. O terceiro elemento nem sempre é um homem ou uma mulher, podendo até ser um dos lhos, como algum outro “objeto” tido como ameaçador ao equilíbrio do sistema. É importante lembrar que este “terceiro elemento” na triangulação pode existir somente na mente de um dos envolvidos no vínculo relacional. Otto Kernberg, em seu livro Psicopatologia das relações amorosas, argumenta que homens e mulheres temem a presença desse elemento que se inclui na relação, inclusive gerando ameaças à qualidade de vida sexual do casal. Terceira
consideração:
aprendendo
a
superar a força ou inuência do ciúme no
relacionamento conjugal.
Outra pergunta que podemos responder é: por que o ciúme é prejudicial ao relacionamento, como também ao casamento? Aqueles que acompanham casais e famílias em aconselhamento pastoral sabem que existem muitas perguntas, mas as respostas nem sempre são simples e objetivas, indicando com clareza o caminho a seguir. Por isso, para a pergunta anterior, propomos algumas observações que não são conclusivas:
a) Não é a ausência de ciúme que caracteriza um
relacionamento amadurecido, mas a capacidade de lidar com ele e torná-lo um instrumento de aproximação. Alguns mitos apontam para um casamento perfeito como um relacionamento livre de problemas, dores e sofrimentos. No lugar de casamentos perfeitos podemos falar em casamentos saudáveis, que revelam a capacidade de superar os problemas e vicissitudes da relação conjugal e familiar, inclusive quando o ciúme se instala.
b) Identicar a presença do ciúme no relacionamento, sem se acomodar, não é sinal de fraqueza pessoal ou conjugal. Nem sempre é possível evitar que o sentimento de ciúme se instale entre os parceiros ou cônjuges, mas é possível elaborar tal sentimento para que ele não abale a estrutura do relacionamento ou do casamento. c) O ciúme pode ser responsável por uma crise conjugal, mas uma crise não signica rompimento e sim oportunidade de crescimento relacional. Jorge Maldonado comenta sobre três momentos que fazem parte do processo de crise: a précrise, a crise propriamente dita e o período de recuperação, conhecido como pós-crise. O estímulo ameaçador, que pode se manifestar pelo ciúme, está no primeiro estágio do processo. A crise se instala em razão de algumas circunstâncias, dentre elas um determinado estímulo ameaçador à integridade da relação ou da própria pessoa e, ainda, do casal. A crise não precisa ser vista como o m de um relacionamento conjugal, mesmo quando originada pelo ciúme. Ao contrário, a crise que é provocada pelo ciúme, pode ser o instrumento que permitirá compreender a origem e a força desse sentimento entre os companheiros de jornada relacional e conjugal. Gosto de uma palavra que Jesus Cristo compartilhou durante o seu ministério terreno,
que se aplica aos sentimentos negativos e positivos, na busca do conhecimento pessoal: “Conhecereis
a verdade, e a verdade vos libertará”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, João 8.32, p. 1415).
Reações humanas: a autoestima Com um tema sugestivo – Rembrandt: e a arte da gravura – o Museu Oscar Niemeyer – MON –, instalado na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, fez uma exposição de parte do acervo de gravuras de Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669). Naquele ano de 2004, tive oportunidade de usar parte do dia para apreciar as noventa e três magnícas gravuras e duas matrizes originais; sendo que as últimas eram duas peças em cobre sobre as quais o genial mestre holandês projetou toda a sua criatividade.
Na entrada do salão que exibiu parte das obrasprimas de Rembrandt, o visitante recebia uma lupa para poder apreciar – nos mínimos detalhes – os traços rmes e os contrastes entre o claro e o escuro, revelado em cada uma das gravuras em exposição, muitas com temas religiosos. Lembrei-me do livro de Henri J. M. Nouwen, que traz uma interpretação da história bíblica narrada em Lucas 15.11-32, contando da volta de um lho que deixou seu pai e irmão para sair pelo mundo em busca de aventuras e prazeres imediatos. Nouwen se propõe analisar a história de um retorno para casa, a partir de um quadro que foi pintado por Rembrandt. A obra do artista holandês, que viveu durante o século XVII, tem como título A volta do Filho Pródigo e está em exposição no museu Hermitage, em St. Petersburg, na Rússia. O autor de A volta do lho pródigo construiu toda uma compreensão do signicado do discurso proferido por Jesus Cristo, conhecido como parábola do “Filho Pródigo”, após examinar, cuidadosamente, os detalhes da pintura de Rembrandt. Fico pensando como a imagem é importante. Não somente para entender o que se passa na mente
brilhante de artistas como Rembrandt, mas para a estruturação de cada pessoa. A imagem está presente em nosso cotidiano, e, a partir dessa imagem, elaboramos conclusões e estabelecemos interpretações. Com certeza, guardamos na memória algumas imagens que marcaram a nossa história de vida até o momento. E quando nossa memória não consegue reter todas as lembranças de uma vida, da infância até a vida adulta, recorremos às fotos e a alguns objetos de valor afetivo, que nos reportam aos momentos signicativos de nossa existência. Então, gostaria de perguntar: qual a imagem que você tem de si mesmo? Ao olhar-se no espelho, além dos traços que dão singularidade à sua identidade, o que mais você consegue perceber? Vivemos uma época marcada pela exigência de beleza estética, segundo padrões que foram determinados por poucos, mas abraçados por muitos. Vivemos a cultura da imagem perfeita, que valoriza mais a aparência do que o interior das pessoas. A imagem que cada pessoa tem de si está associada ao grau de autoestima que ela desenvolve ao longo de sua vida. Voltando a Gary Collins, no capítulo que trata da inferioridade e autoestima, o autor aponta para três conceitos que estão interligados: autoconceito, autoimagem e autoestima . Para ele, o equilíbrio emocional e o bem estar pessoal estão relacionados ao conceito que cada um tem de si, a imagem que cada um faz de si e o amor ou estima que cada um possui. E completa, armando que autoestima “refere-se à avaliação que um indivíduo faz de seu valor, competência e signicado.” (COLLINS, p. 298).
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Cabe lembrar que aquele que tem uma formação religiosa de conssão cristã está sempre atento a demonstrar o amor que sente com relação a Deus, como também a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, ampliando tal sentimento em direção ao próximo. Anal, essa foi uma das orientações deixadas por Jesus Cristo, quando disse: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus 22.37-39, p. 1304). Mas pode ser que alguém “se esqueça” de demonstrar ou expressar esse mesmo amor com relação a si mesmo. De maneira muito simplista é possível dizer que autoestima tem como signicado gostar
de si mesmo, ou de se valorizar e se amar. Esse sentimento, que se transforma em comportamento, é percebido quando a pessoa tem um conceito elevado de si, tem uma imagem saudável de si e passa a se gostar como é, embora as limitações inerentes a todo ser humano. A ciência avança indicando outras descobertas sobre a estrutura e as redes neurológicas, onde alguns agentes atuam como elementos estimulantes, ou inibidores, produzindo substâncias que dão uma sensação de bem estar. Sem nos alongarmos nesta discussão, podemos considerar que as pessoas podem dar a volta por cima quando o assunto é autoestima. Qualquer mudança na vida, seja na vida de um jovem ou de um adulto com maturidade, exige certo grau de envolvimento e comprometimento.
Considerações finais Neste capítulo, tivemos a oportunidade de considerar o signicado de “crise”, como também a constituição de suas múltiplas formas, partindo das reexões de Jorge Maldonado. Os estudos desenvolvidos pelo autor ajudam os conselheiros pastorais na compreensão das diculdades que os aconselhados enfrentam em determinados momentos de suas trajetórias de vida.
Avançamos, então, para analisar objetivamente a existência de duas reações humanas, presentes no cotidiano das pessoas: a reação de ciúme e a importância da autoestima no desenvolvimento
humano. Dentre outras reações que podem ser percebidas no desenvolvimento humano, optamos por essas duas em razão de sua recorrência no processo de aconselhamento pastoral. Os conselheiros pastorais podem car atentos aos sinais de uma crise que se instala no sistema conjugal ou familiar, como também podem car alertas às múltiplas reações apresentadas pelos aconselhados, colocando-se ao lado de cada um deles no processo de superação de suas diculdades.
Indicações culturais O Amor Exigente é um programa que procura dar apoio aos familiares de dependentes químicos, procurando (re) organizar a estrutura familiar.
Visite o site do programa e procure conhecer as propostas apresentadas pelo Amor Exigente. Disponível em: .
Atividades Atividade de Auto-avaliação Identique nas questões a seguir a única resposta correta: 1. Quem formulou o conceito de crise que se segue: “crise é um estado temporal de transtorno e desorganização caracterizado principalmente por: uma incapacidade do indivíduo, família ou grupo social para resolver problemas usando métodos e estratégias costumeiras; e um potencial para gerar resultados radicalmente positivos ou radicalmente negativos”?
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a) Gary Collins. b) Henri Nouwen. c) Otto Kernberg. d) Jorge Maldonado. 2. Jorge Maldonado indica quatro tipos de crise, que são:
a) da infância, da adolescência, da vida adulta e da vida de idoso. b) econômica, material, existencial e espiritual. c) circunstancial, de desenvolvimento, estrutural e de desvalia. d) de desenvolvimento, de desvalia, relacional e familiar. 3. Para Pierre Weil, o ciúme...
a) é um sinal de conança, que está presente em todos os relacionamentos. b) é baseado na desconança e num sentimento de inferioridade. c) é uma fantasia da mente humana, não exercendo qualquer inuência sobre as pessoas. d) é baseado na crise de desenvolvimento e nos traumas da infância. 4. Podemos dizer com relação às crises:
a) os cristãos sinceros nunca passam por crises.
b) os membros novos das igrejas estão mais vulneráveis às crises que os antigos. c) os conselheiros pastorais precisam se preparar para ajudar as pessoas em crise. d) os conselheiros pastorais nunca entram em qualquer tipo de crise.
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Questão de reflexão Na parábola bíblica de Lucas 15.11-32, podemos identicar três guras principais: o pai, o lho mais velho e o lho mais jovem. Este último pede a sua parte dos bens e deixa a sua família, para viver uma vida de acordo com a sua percepção. Faça uma reexão sobre as dinâmicas relacionais numa família, considerando a atitude de cada um destes três membros: o pai, o lho mais velho e o lho mais jovem.
Atividade de aplicação Anote em uma cha, como exercício de memória, os quatro tipos de crise indicados por Jorge Maldonado, identicando as principais características de cada uma delas.
Aconselhamento pastoral e a sociedade Introdução Quando se pensa na sociedade atual e nos desdobramentos das escolhas que são feitas por todos, percebemos as implicações e consequências de uma sociedade que vive uma modernidade bastante dinâmica.
É nesse contexto multifacetado e de profundas transformações sócio-políticas que os conselheiros pastorais desenvolverão o seu ministério. Cabe lembrar as palavras proferidas por Jesus Cristo,
durante o seu ministério terreno, quando orou em favor de seus discípulos: “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou. Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, João 17.1415, p. 1430). Assim, é nesse contexto complexo que o processo de ajuda se instala e se desenvolve, favorecendo o amadurecimento do aconselhado.
Dessa forma, o conselheiro ou a conselheira pastoral precisa conhecer as etapas básicas que fazem parte do Ciclo Vital, como também as suas principais características: 1ª Etapa – O nascimento Esse momento no ciclo da vida marca o ingresso do ser humano no contexto de uma sociedade já adaptada, ou em estado de adaptação. Após,
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O ciclo vital Os desaos dessa sociedade caracterizada por inúmeras identidades, que não são rígidas, mas exíveis, manifestam-se durante o Ciclo Vital ou o ciclo da vida. Esse ciclo começa no processo de constituição de outro ser, avançando para o momento do nascimento, que caracteriza outra forma de relacionamento do sujeito com o mundo, desenvolvendo-se pela infância, adolescência e vida adulta, encerrando-se com a vivência da morte, outra ruptura na trajetória da vida. Assim, do nascimento até a morte os dramas, as crises e as angústias são geradas no ambiente familiar, podendo inuenciar os comportamentos das pessoas no contexto social.
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aproximadamente, nove meses de uma gestação segura, numa íntima relação com a mãe, o bebê experimenta os primeiros momentos relacionais após o seu nascimento. Esse bebê também poderá encontrar uma família já organizada e constituída, necessitando ser integrado e incluso no sistema. O nascimento marca uma etapa fundamental no desenvolvimento humano, pois exige do sistema familiar uma adaptação necessária para que todos os integrantes da família continuem em seu processo de desenvolvimento. Algumas crises do desenvolvimento podem surgir com a chegada de uma criança ao contexto familiar. Cabe dizer que essa criança não é um problema para a família, mas como o sistema familiar percebe a chegada de um outro integrante será fundamental para o processo de organização do grupo familiar. O casal que está bem organizado no contexto da vida conjugal precisa se preparar para uma mudança na dinâmica relacional, pois um lho ou uma lha constitui-se em mais um elemento ou membro da família, que está crescendo. Tal crescimento exige adaptações e ajustes para que
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o lho ou a lha seja bem recebido como o mais novo integrante daquele sistema familiar. 2ª Etapa – A infância Alguns teóricos dividem a infância em etapas e vivências relacionais, permitindo uma compreensão mais objetiva de cada característica que marca este ciclo do desenvolvimento humano. Em nossa disciplina, tomamos a infância como um período de socialização para além do convívio familiar, pois caracteriza os múltiplos relacionamentos da criança com outras instituições, como escola, clubes, associações recreativas e comunidades religiosas, entre outras. Esse momento é marcado também por relações impulsivas, permitindo a criança descobrir-se, como também compreender o outro ao seu redor. Durante o período de infância, as descobertas fazem parte do processo de amadurecimento, pois a criança perceberá quem ela é e quem é o outro. Tratase de um processo que auxiliará na constituição da identidade pessoal, podendo, em determinadas circunstâncias, gerar conitos relacionais. Nesse período, a família consegue perceber as diferenças entre cada membro, sobretudo, as diferenças com relação aos lhos desse sistema e como eles interagem como irmãos. É importante lembrar que as diferenças entre os irmãos e a busca de autonomia tendem a produzir conitos, que devem ser bem administrados pela família.
Os conitos relacionais e também entre gerações não precisam ser vistos como ameaçadores, mas precisam ser considerados e elaborados. Os pais, então, têm uma função relevante neste processo de ajustes relacionais no contexto familiar, constituindo-se em facilitadores para o crescimento de todos os membros do sistema. 3ª Etapa – A adolescência Esse período é considerado por alguns estudiosos
como mais uma etapa no processo constituinte da organização familiar, mas é visto também como um momento de ajustes importantes, sobretudo, em razão do momento pelo qual passam os lhos e lhas da família. Parte da complexidade dessa etapa fundamenta-se no desejo de conhecimento que os adolescentes demonstram nesse período de crescimento. As perguntas, nem sempre fáceis de responder, fazem parte do processo estruturador do sistema familiar. As perguntas devem ser percebidas como algo natural no desenvolvimento humano, pois indicam o desejo de conhecimento. As respostas devem ser claras e sinceras, procurando atender às expectativas e aos anseios dos lhos e das lhas que demonstram um crescimento vigoroso.
É importante lembrar também que a complexidade desse período de desenvolvimento tem a ver com o processo de armação do adolescente com relação ao seu “eu” e aos outros que estão ao redor. É um momento de rupturas e apropriações por parte do adolescente, que já experimenta maior autonomia e liberdade para pensar e agir. Tal liberdade e autonomia permitirão ao adolescente a percepção das possíveis incoerências que existem entre o que se pensa e aquilo que se faz. Lidar com as possíveis incoerências que fazem parte do nosso desenvolvimento humano nos ajuda no processo de organização pessoal, conjugal e familiar. 4ª Etapa – O adulto jovem, maduro e idoso Como acontece no período da infância, alguns estudiosos dividem a fase adulta em três momentos ou subdivisão: a) adulto jovem; b) adulto maduro, e c) adulto idoso. No primeiro momento, geralmente, esse adulto jovem pode deixar a sua família de origem, que podemos nomear de “família educacional”, para formar outra família, que podemos chamar de “família gestacional”, produzindo outro sistema familiar. As funções educativas e de gestação podem ser
entendidas num sentido mais amplo, para além das implicações de caráter formal ou biológico. Num segundo momento, partindo de uma visão generalizante, o adulto maduro pode experimentar a sua armação prossional e um considerável crescimento econômico, permitindo a ampliação de sua inuência no contexto social, revelando um período de produtividade prossional.
No último momento deste ciclo que caracteriza a vida adulta, o adulto maduro ou chamado idoso, ainda dentro dessa proposta generalizante, pode vivenciar a experiência de sua aposentadoria, mas também as vivências marcadas pelos desligamentos e rupturas dos vínculos relacionais, deixando para trás atividades que zeram parte de sua trajetória durante décadas. Tais rupturas podem gerar algum desconforto nos adultos idosos ou maduros, exigindo deles outras adaptações, como também dos sistemas familiares que estão ao redor. 5ª Etapa – A morte
ninguém pode escapar. Esse período é difícil para as pessoas e famílias, pois elas nem sempre pensam e se preparam para tal realidade, revelando a dor e a saudade daqueles que partiram, sendo, no entanto, inevitável no que chamamos de ciclo da vida. Como foi considerado anteriormente, a conselheira ou o conselheiro pastoral ministra às pessoas em constante desenvolvimento. Tal desenvolvimento pode ser entendido pelo viés das transformações psicológicas experimentadas pela pessoa, desde o nascimento até a morte, ou ainda, a partir das mudanças que ocorrem no contexto da sociedade contemporânea. Cabe lembrar que, enquanto o conselheiro pastoral realiza o seu trabalho, considerando as mudanças pelas quais a pessoa que ele atende experimenta, ele próprio está em constante mudança. Assim, como a aconselhado não será o mesmo após o processo de aconselhamento, a conselheira pastoral também não será a mesma, após colocar-se ao lado da pessoa que solicitou a sua ajuda.
A última fase do ciclo da vida é a morte, da qual
Aconselhamento e personalidade Outro aspecto importante que o conselheiro ou a conselheira pastoral precisa tomar conhecimento tem a ver com a constituição da personalidade. Nesse sentido, a discussão que se segue procura identicar uma das muitas teorias relacionadas à formação da personalidade, entendendo que todos que atuam na área humana podem empreender uma busca mais profunda sobre a constituição da estrutura mental humana. Dois aspectos são relevantes quanto à teoria da personalidade: a) conhecer um conceito sobre a personalidade, e b) conhecer uma teoria da personalidade, no contexto de várias propostas. Sobre o primeiro aspecto, pode-se ler no livro Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia :
“personalidade refere-se ao modo relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo”, (BOCK, p. 100). Nesse conceito, é possível observar quatro elementos fundamentais relacionados à personalidade, de acordo com os autores: o perceber, o pensar, o sentir e o agir. Quanto à percepção, pode-se dizer que está relacionada à pessoa e ao seu interior, como também a percepção que ela tem do mundo ao redor. Quanto ao pensar , talvez seja interessante considerar a pertinência de desenvolver um pensamento positivo e construtivo, mostrando ao aconselhado os benefícios de tal postura. Já o sentir , podemos dizer que ele está relacionado à instância
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das emoções, já que as emoções constituem parte da estrutura mental de cada pessoa. E por último, tem-se o agir , que pode ser associado à coerência entre a relação dos elementos anteriores e um comportamento adequado nas inter-relações. O segundo aspecto relevante quanto à personalidade está relacionado ao conhecimento de uma teoria que ajude a conselheira pastoral ou o conselheiro no entendimento da estrutura mental da pessoa. Dessa forma, a Teoria da Personalidade proposta por Erich Fromm revela-se pertinente para a nossa disciplina, focando o aconselhamento pastoral. Mais uma vez, são os autores de Psicologia: uma introdução ao estudo da psicologia que podem oferecer uma compreensão da personalidade, como se poder ler: “Natural da Alemanha, Erich Fromm (1900-1980) concluiu os estudos de Psicologia, Sociologia e Filosoa em seu país, tendo-se radicado nos Estados Unidos, em 1933. Sua formação teórica foi em Psicanálise e é considerado um culturalista, isso porque defendia enfaticamente que os aspectos culturais, sociais e políticos são determinantes das possibilidades de realização humana e, portanto, da estruturação da personalidade. Este autor postula a existência de cinco necessidades especícas que se originam das condições da existência humana”, (BOCK, p. 104105). As cinco necessidades indicadas por Erich Fromm são as seguintes: a) a necessidade de relacionamento; b) a necessidade de transcendência; c) a necessidade de segurança; d) a necessidade de identidade, e e) a necessidade de orientação. Aplicando essa proposta de teoria da personalidade ao trabalho de aconselhamento pastoral, podemos considerar a importância dos conselheiros sondarem, junto aos aconselhados, como esses elementos foram percebidos ao longo da trajetória de vida de cada um deles.
Cabe destacar que esta proposta de constituição da personalidade foi formulada por um teórico, dentre outros teóricos, que também reetiram sobre a estrutura mental dos seres humanos. Para um aprofundamento sobre as várias teorias da personalidade, outros autores e teóricos precisam ser estudados e compreendidos. Voltando a Erich Fromm, que viveu e desenvolveu os seus estudos durante todo o século XX, um século marcado por profundas transformações sociais, podemos pensar objetivamente em algumas mudanças do século passado. Para o historiador Eric Hobsbawm, autor de Era dos extremos: o breve século XX , um dos eventos marcantes do século passado foi a primeira guerra mundial, envolvendo países e populações, impactando a civilização ocidental daquele período e produzindo desdobramentos nas décadas seguintes. Para Hobsbawm, aquela era uma “civilização capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem de sua classe hegemônica característica; exultante com o avanço da ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material e moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa, berço das revoluções da ciência, das artes, da política e da indústria e cuja economia prevaleceu na maior parte do mundo, que seus soldados haviam conquistado e subjugado”, (HOBSBAWM, p. 16). Em sua síntese, Hobsbawm indica os principais elementos que vão nortear os rumos das sociedades na primeira parte do século XX, não apenas na Europa, como também de outros continentes. Após os impactos de uma primeira guerra que envolveu vários países, o mundo assistiu e participou de uma segunda guerra mundial, cujas consequências puderam ser percebidas no processo de reconstrução de vários países e na (re) organização de outras tantas sociedades. Foram dois eventos que impactaram o mundo, além de
outros que trouxeram mudanças signicativas na ordem social e na forma como as pessoas concebiam a sua maneira de viver. O século XX foi marcado por profundas crises, mas também foi percebido como um século de oportunidades para o desenvolvimento humano, como acentuou Eric Hobsbawm. As religiões, inclusive o cristianismo ocidental, viram-se diante de desaos e questionamentos para os quais deveriam apresentar respostas adequadas, enquanto proclamavam uma mensagem de esperança aos povos. As instituições religiosas viram-se diante do dilema de uma adaptação aos novos tempos, procurando entender e ao mesmo tempo acompanhar os éis em suas mudanças pessoais. Assim, novas tecnologias passaram a fazer parte da estrutura institucional, introduzindo-se também nas celebrações ritualísticas do cristianismo. Ontem como hoje, a religião cristã é chamada a se posicionar diante das transformações sociais, e os conselheiros e conselheiras pastorais enfrentam tal desao na ministração de sua comunicação. Nesse sentido, os conselheiros pastorais precisam ouvir com sensibilidade, como também responder às inquietações dos aconselhados com sabedoria, tendo como base uma interpretação segura e coerente dos ensinamentos bíblicos. Foi neste contexto de transformações sóciopolíticas que Erich Fromm desenvolveu a sua teoria da personalidade. Quando procuramos entender a proposta de Fromm, e o fazemos estudando os acontecimentos que fazem parte da história do século XX, como indicados por Eric Hobsbawm e outros historiadores, começamos a entender a ênfase nas cinco necessidades apontadas por Fromm: a) a necessidade de relacionamento; b) a necessidade de transcendência; c) a necessidade de segurança; d) a necessidade de identidade, e e) a necessidade de orientação. Sobre estas cinco necessidades básicas apontadas
por Erich Fromm, podemos dizer que todas elas estão bem próximas de todos nós, como também trazem parte da reexão sobre as mudanças do século XX. Assim, podemos interpretar e propor algumas considerações sobre: A necessidade de relacionamento. Houve um crescimento populacional considerável ao longo do século XX. De acordo com Hobsbawm, “como comparar o mundo da década de 1990 ao mundo de 1914? Nele viviam 5 ou 6 bilhões de seres humanos, talvez três vezes mais que na eclosão da Primeira Guerra Mundial, e isso embora no Breve Século XX mais homens tivessem sido mortos ou abandonados à morte por decisão humana que jamais antes na história”, (HOBSBAWM, p. 21). Uma das queixas comuns durante os aconselhamentos pastorais é o da solidão. As cidades estão cada vez mais populosas, enquanto as pessoas estão mais solitárias. Fromm defendia a ideia da necessidade de relacionamento para o desenvolvimento da personalidade.
Um das diculdades das pessoas em aconselhamento pastoral fundamentase na quantidade e na qualidade dos seus relacionamentos pessoais, que se revelam no contexto dos sistemas familiares. Vivemos dias modernos, caracterizados pela agitação da procura de algo que nos esgota, não permitindo que coisas simples, como o conversar em família, sejam vivenciadas. Precisamos nos relacionar uns com os outros, como precisamos nos relacionar com um Ser Superior, que chamamos Deus. A necessidade de transcendência. Talvez, a nossa existência neste mundo em transformação seja uma das maiores demonstrações do potencial que cada ser humano traz dentro de si. A superação que todos nós enfrentamos, a partir do nascimento, e como vencemos diversos desaos nas primeiras
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semanas e meses de adaptação social. Em cada etapa do ciclo da vida, vamos conrmando a nossa capacidade de superação ou transcendência, surpreendendo-nos e surpreendendo aqueles que nos cercam. Dentro deste viés, o depoimento do Apóstolo Paulo é bem oportuno: “quando eu era menino falava com menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, I Coríntios 13.11, p. 1521). A ênfase do autor da carta aos coríntios está no processo de crescimento: ele deixou claro que, enquanto menino, pensou e agiu como menino, mas evoluiu até tornar-se um homem.
Podemos pensar que Fromm aponta para a necessidade de desenvolvermos processos evolutivos, vivenciando bem cada etapa do ciclo da vida, mas avançando para realizarmos coisas mais complexas e desaadoras. Nesse sentido, os conselheiros pastorais também são importantes, pois podem auxiliar as pessoas a compreenderem quem elas são e como podem desenvolver com maior aptidão as suas qualidades ou potencialidades. A necessidade de segurança. Geralmente, o ventre materno é tido com um lugar seguro, no qual o ser em formação pode desenvolver-se plena e saudavelmente, acompanhado pelos cuidados e ternura de uma mãe zelosa. No entanto, aquele ser que se constitui não pode car além do tempo estipulado pela natureza, usufruindo daqueles cuidados e segurança. E ele precisa romper com aquela condição favorável e segura, passando a enfrentar o desconhecido, e ingressando em outra dinâmica relacional. Se pensarmos dessa forma, as primeiras impressões e registros que temos remetem a uma sensação e a um lugar de segurança: o ventre materno e os primeiros cuidados de uma mãe amorosa. Embora a dinâmica relacional mude com o
nascimento de cada ser humano, ele ainda precisa desenvolver-se num contexto de segurança. A criança precisa sentir-se segura, embora não tenha consciência do signicado da palavra segurança. A segurança que é oferecida a ela ajudará em seu desenvolvimento pleno, embora ela não saiba que tais cuidados favoreçam o seu amadurecimento. Assim, a busca pela segurança interna nos mobiliza durante toda a nossa vida, sobretudo, quando somos ameaçados pelas expressões de uma violência social, que nos vem do mundo externo. A necessidade de identidade. Quando a criança nasce, dizem os especialistas em psicologia, ela não sabe quem ela é e nem quem são os outros que estão ao seu redor. Para a criança, existe apenas ela no universo. Com o passar dos primeiros meses de vida, essa criança começa a perceber os objetos que estão ao seu redor, inclusive as pessoas que lhe cercam. Ela ainda é o centro do universo, mas tal condição e percepção vão-se transformando com os passar dos meses e anos de existência. Provavelmente, uma das primeiras marcas de identidade é o nome que a criança recebe, inserido num documento que arma a sua existência para a sociedade. Esses e outros registros farão parte do processo de construção da identidade da pessoa. Embora tais registros civis, como uma certidão de nascimento, a construção da identidade passa por outros processos simbólicos, como a percepção de quem a pessoa é e o signicado de sua existência na sociedade, indicando, de alguma forma, a importância daqueles que estão ao redor. Para Fromm, o desenvolvimento da personalidade passa pelo suprimento da necessidade de identidade. No entanto, as mudanças rápidas que acontecem na sociedade, gerando perdas e prejuízos pessoais, podem levar algumas pessoas a questionarem quem elas de fato são. Um processo de aconselhamento pastoral bem conduzido pode ajudar, também, nesse sentido.
A necessidade de orientação. Se há uma discussão sobre as formas de educação e disciplina infantil na atualidade, colocando em dúvida e no centro dos debates as formas punitivas que as gerações passadas utilizaram, pode-se pensar que há certa concordância quando se fala sobre a necessidade de orientação. Para Fromm, orientação é algo que o ser humano necessita; ao suprir tal necessidade, contribui-se para o desenvolvimento da personalidade, permitindo à pessoa ajustar-se aos movimentos familiares e
sociais que experimentará no longo de sua vida. Que que claro que orientar não é punir ou castigar, mas colocar-se ao lado daquele que não tem o pleno conhecimento e a experiência para superar determinadas circunstâncias ao longo do desenvolvimento humano. Em determinados momentos, os conselheiros pastorais serão desaados a auxiliar as pessoas neste processo de (re) orientação de suas práticas de vida.
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Considerações finais Conselheiros e conselheiras pastorais são pessoas com uma personalidade que interagem com pessoas com personalidades distintas num
processo que objetiva o amadurecimento em todos os aspectos da vida.
Indicações culturais O Lar Batista Esperança é uma instituição dirigida pelo pastor batista Nathaniel M. Brandão Jr., que procura dar acolhida aos menores que passam por diculdades em suas famílias nucleares.
Visite o site do LBE e procure conhecer outros programas dirigidos por organizações religiosas que buscam dar apoio à família em momentos de diculdades. Disponível em: .
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Atividades Atividade de Auto-avaliação Identique nas questões a seguir a única resposta correta: 1. Quais as etapas do ciclo da vida
a) adulto jovem; adulto maduro e adulto idoso. b) infância; adolescência e juventude. c) adolescência; juventude e adulto jovem. d) nascimento; infância; adolescência; adulto jovem, maduro e idoso; morte.
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2. De acordo com o livro Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia, o conceito de personalidade refere-se:
a) a uma infância e adolescência marcada pela felicidade.
b) a um ciclo de vida que vai da infância até a morte. c) ao modo relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo.
d) a uma estrutura mental que não conhecemos. 3. Erich Fromm formulou cinco necessidades humanas, que são as necessidades de:
a) relacionamento; transcendência; afeto materno; identidade e orientação. b) relacionamento; transcendência; segurança; identidade e orientação. c) relacionamento; espiritualidade; afeto materno; identidade e orientação. d) relacionamento; transcendência; segurança; identidade e punição. 4. Podemos dizer que os conselheiros pastorais são pessoas com uma personalidade, e que interagem com pessoas...
a) com problemas totalmente diferentes dos seus.
b) que apresentam apenas transtornos associados aos relacionamentos afetivos. c) com personalidades distintas, buscando o amadurecimento em todos os aspectos.
d) que não conseguem alcançar uma vida de vitórias e conquistas.
Questão de reflexão Neste capítulo, lembramos uma das passagens bíblicas atribuídas ao Apóstolo Paulo, que fez menção de sua infância, quando disse: “quando eu era menino falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, I Coríntios 13.11, p. 1521). Partindo desta passagem de I Coríntios 13, faça uma breve reexão de sua trajetória de vida e das mudanças pelas quais já passou.
Atividade de aplicação
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Escreva numa cha as cinco necessidades indicadas por Erich Fromm, destacando uma característica em cada uma delas.
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O Sagrado no Aconselhamento Pastoral Introdução Para Mircea Eliade, “um fato espiritual pressupõe o ser humano integral, ou seja, a entidade siológica, o homem social, o homem econômico, e assim por diante. Todavia, todos esses condicionamentos não conseguem esgotar, por si sós, a vida espiritual”, (ELIADE, 1991, p. 28).
Partindo dessa armação de Eliade, podemos pensar que o sagrado está presente no processo de formação do ser humano. As pessoas que buscam o aconselhamento pastoral, mais do que produzir uma fala sobre as suas atividades e realizações
religiosas, compartilharão de suas experiências espirituais. Nesse sentido, cabe aos conselheiros pastorais perceberem e trabalharem com os discursos que remetem ao sagrado na vida dos aconselhados. Neste último capítulo de nosso estudo sobre o aconselhamento pastoral, queremos discutir a presença do sagrado no processo de acolhimento e acompanhamento das pessoas que procuram nos conselheiros pastorais o apoio para a superação de suas diculdades.
Compreensão do sagrado Numa denição muito objetiva sobre o sagrado, Mircea Eliade escreveu que “a primeira denição que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe ao profano”, (ELIADE, p. 17). Não é justo armarmos que Eliade não está correto em sua compreensão sobre o sagrado. Mas podemos considerar que, tomando apenas tal armação, a qualidade e os signicados atribuídos ao sagrado cam encobertos, já que ele existe em oposição ao profano. A armação do teórico permite algumas considerações, sobretudo, quando focamos o sagrado em relação ao profano. Por outro lado, Peter Berger propõe outra compreensão com relação ao sagrado, armando que, “por sagrado entende-se (...) uma qualidade de poder misterioso e temeroso, distinto do homem e, todavia, relacionado com ele, que se acredita residir em certos objetos da experiência”, (BERGER, p. 38). Ele acrescenta, complementando a sua compreensão do sagrado, dizendo que “essa qualidade pode ser atribuída a objetos naturais e
articiais, a animais, ou a homens, ou às objetivações da cultura humana”, (BERGER, p. 38). Como exemplo da presença do sagrado no processo de constituição da humanidade, observa-se que “há rochedos sagrados, instrumentos sagrados, vacas sagradas. O chefe pode ser sagrado, como o poder ser um costume ou instituição particular”, (BERGER, p. 38-39). Dessa forma, para o autor, “pode-se atribuir a mesma qualidade ao espaço e ao tempo, como nos lugares e tempos sagrados. A qualidade pode nalmente encarnar-se em seres sagrados, desde os espíritos eminentemente locais às grandes divindades cósmicas”, (BERGER, p. 39). Ao desenvolver a sua compreensão sobre o sagrado, discutida no livro O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião , Peter Berger entende que “o sagrado é apreendido como algo que ‘salta para fora’ das rotinas normais do dia a dia, como algo de extraordinário e potencialmente perigoso, embora seus perigos possam ser domesticados e sua força aproveitada para as necessidades
cotidianas”, (BERGER, p. 39). Em certo sentido, Berger concorda com Eliade, pois “num certo nível, o antônimo do sagrado é o profano, que se dene simplesmente como a ausência do caráter sagrado”, (BERGER, p. 39). As considerações de Peter Berger ajudam a compreender as especicidades relacionadas ao sagrado. Assim, tendo esse conhecimento, podemos observar que parte daquilo que os aconselhados introduzem durante o processo
de aconselhamento pastoral pode remeter às questões associadas ao sagrado. Identicá-las e compreendê-las no contexto existencial daqueles que buscam no aconselhamento pastoral a ferramenta para a sua superação é tarefa dos conselheiros pastorais. Por esse motivo, além de compreendermos o signicado do sagrado, a partir de dois teóricos (Eliade e Berger), podemos avançar para entendermos as discussões em torno do sagrado.
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Discussões em torno do sagrado Dentre os vários temas que ocupam o aconselhamento pastoral, observamos que a fala em torno do sagrado também está presente. Cabe lembrar que a abordagem do assunto que envolve o sagrado é pertinente ao aconselhamento cristão, sendo que tal assunto, geralmente, é introduzido por iniciativa das pessoas, que justicaram algumas de suas escolhas e as suas consequências ao longo da vida.
Embora consideremos, na presente discussão, o sagrado no processo de formação discursiva, a proposta de uma compreensão sobre a construção teórico-metodológica da Análise do Discurso deve car para outro momento. O mesmo aplica-se a uma leitura ou uma releitura das técnicas alusivas à Análise do Discurso, que podem ser percebidas, em diferentes momentos, no estudo dessas três abordagens mencionadas anteriormente.
Nesse sentido, visando a uma compreensão mais objetiva do tema, podemos considerar três abordagens teóricas que ajudam no entendimento do sagrado no processo discursivo do sujeito em aconselhamento pastoral: a) a Teoria Sistêmica; b) a proposta da Psicanálise, e c) as formulações da Logoterapia. As duas últimas, através de seus principais interlocutores (respectivamente Sigmund Freud e Viktor E. Frankl), apresentam contribuições e questionamentos signicativos ao estudo da constituição humana, abordando as questões de saúde e também da inuência da religião na vida das pessoas. Quanto à Teoria Sistêmica, considerando as suas múltiplas indicações e propostas de abordagens, parece que lhe falta uma reexão mais pertinente sobre o sagrado nas questões que envolvem os sistemas, sobretudo, quando trata do casamento e dos sistemas familiares.
Porém, é importante enfatizarmos que as pessoas podem apoiar-se no sagrado como mais um expediente que ajude no processo regulador da ansiedade. Ela – a ansiedade – apresenta-se como uma sensação associada à aição, ao receio ou ainda à angústia, estando presente na vida de todas as pessoas, em maior ou menor intensidade. Assim, as pessoas podem armar que suas escolhas não traduzem apenas as suas vontades e desejos, já que foram “orientadas” por um “outro”, visto e constituído como um Ser Superior ou uma divindade, remetendo ao sagrado numa tentativa de transferência de responsabilidades. Conquanto o discurso sobre o sagrado esteja presente no processo de aconselhamento pastoral, vale lembrar alguns cuidados que os conselheiros pastorais devem ter ao tratarem dessa área. Um primeiro cuidado é não generalizar as
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experiências ligadas à religião, ao espiritual e ao sagrado, apresentando “fórmulas mágicas” que visam recuperar as pessoas em acompanhamento pastoral. Com fórmulas mágicas me rero aos tratamentos enlatados ou empacotados, que inuenciam no aconselhamento pastoral, como se algumas ações realizadas pelos aconselhados fossem sucientes para a resolução de seus conitos e crises. O segundo cuidado é não se impressionar com um aparente discurso religioso ou espiritual, que objetiva revelar ou indicar alguém que tem um acesso exclusivo ao sagrado, estando acima de qualquer questionamento por parte do conselheiro ou da conselheira pastoral. Cabe lembrar que a experiência religiosa ou espiritual de alguém não é exatamente igual à experiência dos conselheiros, mesmo que todos façam parte da mesma conssão religiosa, como por exemplo, no caso o cristianismo. Mesmo confessando a fé em Jesus Cristo, podemos dizer que a experiência de conversão do Apóstolo Paulo foi diferente da experiência do Apóstolo Pedro. Ambos eram cristãos, convertidos a Cristo e conantes no Messias de Deus, mas tiveram trajetórias singulares e experiências distintas com o sagrado. O terceiro cuidado é procurar compreender o sentido de sagrado ou de religioso, ou ainda o signicado espiritual, apresentado pela pessoa que está em processo de aconselhamento pastoral. Tal cuidado ajudará o conselheiro ou a conselheira pastoral na compreensão das múltiplas experiências que a pessoa teve ou tem com o sagrado, inclusive, facilitando o entendimento sobre o processo de educação religiosa no qual ela esteve submetida, tanto pelo contexto familiar quanto pelo social. Assim, um cuidado importante deve ser dado às palavras que são colocadas durante o aconselhamento, sobretudo, quando há relatos sobre experiências com o sagrado.
Voltando às questões que envolvem o sagrado e a ansiedade no processo de aconselhamento, podemos fazer duas considerações: a) em primeiro lugar, não propomos trabalhar ou discutir o signicado de sagrado; mas partimos, no entanto, das duas contribuições anteriormente citadas: a de Mircea Eliade e as considerações de Peter Berger, e b) em segundo lugar, o termo ansiedade neste texto não tem o mesmo signicado que pode ser encontrado no CID 10, que apresenta a classicação da OMS – Organização Mundial de Saúde, quando se refere aos transtornos de ansiedade (CID 10, p. 137). Para uma melhor compreensão sobre a ansiedade, podemos nos basear no conceito formulado por Lawrence Kolb, quando diz que “a ansiedade pode ser descrita como uma dolorosa diculdade mental, um estado de muito alta tensão, acompanhado de um inexprimível temor, um sentimento de expectativa apreensiva”, (KOLB, p. 385). Para ele, tais reações ansiosas podem se revelar em qualquer situação “que constitua uma ameaça à personalidade”, (KOLB, p. 385). Quando consideramos temas como sagrado, religião, ansiedade ou saúde mental, somos levados a pensar se as experiências religiosas podem produzir um estado de alienação ou estagnação diante dos desaos da existência humana, que se manifesta no comprometimento com a vida em sociedade.
Partimos do princípio de que as estruturas religiosas foram constituídas para auxiliar as pessoas em sua trajetória de vida neste mundo, produzindo esperança com relação às aições que podem ocorrer no futuro, inclusive, com relação à vida após a morte física. Visto por esse ângulo, não podemos entender as vivências religiosas como inuências que levam à alienação. O que não signica dizer que não existam religiosos que optam pelo estado e pela condição de alienação,
diante dos problemas e sofrimentos inerentes à existência humana. Nesse sentido, não podemos responsabilizar a religião pelas escolhas de determinados religiosos.
Nesse caso, podemos pensar na pessoa que se utiliza do sagrado, a partir de uma construção discursiva, visando manter as suas resistências intactas com relação a não revelação de conteúdos ocultos e dolorosos, presentes em sua estrutura emocional e que revelam as disfunções sistêmicas que fazem parte de sua vida. É possível dizer que o risco de estagnação dessa pessoa existe, mas não se pode responsabilizar a religião ou a experiência com o sagrado. No processo de aconselhamento pastoral, desqualicar ou supervalorizar o discurso sobre o sagrado que a pessoa apresenta, indicando que ele (o sagrado) mostra-se o legitimador de suas escolhas, signica não acolher o ser – em toda a sua dimensão – de forma empática e incondicional. Ao contrário, quando o conselheiro pastoral acolhe a pessoa, como também o seu discurso sobre o sagrado, ele se coloca como um facilitador no processo de (re) organização sistêmica, respeitando eticamente a experiência religiosa do outro que está em acompanhamento. Outra questão que pode ser levantada é sobre os temas que são compartilhados no aconselhamento e que remetem às experiências com o sagrado. Podemos propor algumas aproximações entre o sagrado e os seguintes temas, que são recorrentes no desenvolvimento do aconselhamento pastoral: a) questões de ordem afetiva, incluindo vínculos relacionais entre cônjuges, vínculos relacionais entre amigos e vínculos relacionais entre e pais e lhos; b) questões de ordem prossional, questionando os resultados de algumas decisões e seus desdobramentos práticos, e c) questões de ordem espacial e temporal, sobre ser aquele o melhor momento ou o melhor lugar para se fazer
determinada escolha. Ao vincular um tema especíco ao sagrado, é razoável armar que existem traços de memória coletiva de um determinado grupo religioso, que também se apropria do sagrado em seu conjunto de dogmas e doutrinas e constrói várias modalidades discursivas. Ao aceitar a inuência do grupo religioso na vivência da pessoa, a partir de elementos ou conteúdos desta mesma memória coletiva, observamos que a pessoa passa a internalizar e a tomar como seu o discurso de uma dada comunidade, permitindo uma legitimação de escolha. Nesse sentido, quando o conselheiro ou a conselheira pastoral acolhe um determinado discurso sobre o sagrado, é relevante procurar compreender que inuências religiosas a pessoa recebeu, pois, talvez, parte do que esteja armando (o discurso pessoal) venha a se constituir em parte de um pensamento coletivo vinculado a uma determinada instituição religiosa (o discurso da instituição). Dessa forma, o discurso do aconselhado pode ser uma espécie de eco da instituição religiosa, na qual se está inserido ou se esteve inserido. Conquanto aquela fala sobre o sagrado seja uma aparente reprodução da formação discursiva do grupo religioso, no qual a pessoa está inserida, aquela fala especíca se torna a expressão do aconselhado ou da aconselhada, já que ele internalizou o conteúdo do grupo, mas escolheu apresentar somente aquela parte do discurso da instituição religiosa. De acordo com Raul Marino Júnior, autor de A religião do cérebro: as novas descobertas da neurociência a respeito da fé humana ,
William James entendeu que “para alcançar uma ciência crítica sobre as religiões, o material básico deve proceder de fatos da experiência pessoal”, (MARINO JÚNIOR, p. 15). Assim, os conselheiros pastorais, que trabalham mais especicamente com os fenômenos
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religiosos, podem identicar os fragmentos que aproximam ciência e religião, estabelecendo uma relação de diálogo entre o sagrado e as demais disciplinas. Num livro intitulado Cartas entre Freud e Pster (1909-1939): um diálogo entre psicanálise e fé cristã , podemos encontrar registros signicativos de um relacionamento entre dois homens que se interessaram pela mente e pelo comportamento humano. O primeiro, Sigmund Freud, foi um médico austríaco que trocou correspondências pessoais com Oskar Pster, durante trinta anos. O segundo, Oskar Pste foi pastor protestante, com doutorado em Filosoa, demonstrando ser um persistente inquiridor das questões que aigiam a estrutura humana de seu tempo.
Parte dos diálogos entre Freud e Pster cou registrada no livro citado anteriormente, constituindo-se numa referência bibliográca pertinente aos que desejam atuar no campo do aconselhamento pastoral, já que religião e psicanálise aproximam-se nessas cartas analisadas. Freud, então, escreveu ao pastor protestante, a quem chamou de cura de almas espiritual , agradecendo pelo envio de um trabalho intitulado Representações delirantes e suicídio de alunos, considerando a diferença do trabalho de um religioso e de um especialista. Para Freud, a “psicanálise em si não é religiosa nem antirreligiosa, mas um instrumento apartidário do qual tanto o religioso como o laico poderão servirse, desde que aconteça tão somente a serviço da libertação dos sofredores. Estou muito admirado de que eu mesmo não tenha me lembrado de quão grande auxílio o método psicanalítico pode fornecer à cura de almas”, (FREUD, p. 25). Após receber a carta de Freud, datada de 09 de fevereiro de 1909, Pster escreveu imediatamente de Zurique, em 18 de fevereiro de 1909, fazendo uma análise da Reforma. De acordo com Pste, “a
Reforma na essência nada mais é do que uma análise da repressão sexual católica, lamentavelmente uma análise muito insuciente, por isso a neurose de angústia da ortodoxia eclesiástica e seus sintomas correlatos, os processos de bruxaria, o absolutismo político, a sujeição social nas corporações, etc.”, (PFISTER, p. 27). Ao citar as contribuições teóricas de Sigmund Freud e Oscar Pster, que contemplam o tema religioso no contexto europeu, objetivamos compreender, mesmo que de forma supercial, uma discussão desenvolvida no início do século XX, quando os transtornos da estrutura psíquica foram observados por teóricos, como Freud, e por estudiosos dos fenômenos religiosos, como Pster, um pastor de formação protestante. Embora os diálogos entre teóricos do comportamento humano e estudiosos dos fenômenos religiosos tenham avançado signicativamente nas últimas décadas, ainda existe um longo caminho a ser percorrido, aproximando e fazendo convergir ciência e religião. Somente aqueles que se despirem de qualquer preconceito – seja com relação ao lugar da ciência na sociedade moderna, ou com relação ao lugar do sagrado na experiência individual de cada ser poderão desenvolver uma sensibilidade capaz de ouvir o outro em suas angústias. Cabe lembrar que algumas dessas angústias foram articuladas a partir dos discursos, que trazem o sagrado como tema dos processos de ajuda e apoio ao próximo. Partindo dos diálogos entre Freud e Pster, podemos considerar que as expressões que remetem ao sagrado não precisam ser desqualicadas como manifestações das disfunções e dos transtornos da alma humana. Ao contrário, essas expressões religiosas que remetem ao sagrado podem ser percebidas como elementos integradores numa busca de (re) conciliação da pessoa consigo mesma, mas também com o outro, que pode ser o Deus do cristianismo, ou um semelhante próximo.
Além de Freud e Pster, outros teóricos e estudiosos focaram o sagrado na estrutura emocional do sujeito. Viktor Emil Frankl, em A presença ignorada de Deus, abordou o diálogo entre a psicoterapia e a religião, chamando a atenção para o interesse dos prossionais que atuam na saúde para os elementos constitutivos da religiosidade do paciente. Viktor Frankl, então, armou: “não esqueçamos, porém, que seu interesse não é somente pela religiosidade do outro, mas pela espontaneidade desta religiosidade. Em outras palavras, ele deve ter o máximo interesse para que esta religiosidade possa se manifestar espontaneamente, devendo aguardar com paciência que esta manifestação ocorra”, (FRANKL, p. 55). Ao fazer a devida distinção dos objetivos da religião, da psicoterapia e do campo ético de atuação do sacerdote e do psicoterapeuta, Frankl entendeu que “a religião dá ao homem mais do que a psicoterapia, mas também dele exige mais. Deve ser evitada com todo o rigor qualquer contaminação entre esses dois campos, que podem até coincidir quanto a seus efeitos, mas são diferentes quanto à sua intencionalidade”, (FRANKL, p. 57). Outro teórico que discute a presença do sagrado no discurso humano é Carlos Hernández, autor de O lugar do sagrado na terapia . Hernández propõe
uma análise do sagrado no processo de formação discursiva e sua relação com o comportamento de pacientes psicóticos, que passaram pelo processo de internação em instituições psiquiátricas. Foi no contexto de connação que ele percebeu como os gestos, as falas e os objetos revelavam o sagrado no interior de homens e mulheres, que buscavam a reorganização emocional e relacional.
Hernández armou: “Se como terapeuta não ignoro o corpo de meu paciente, já estou fazendo algo, da mesma forma que não ignoro o aspecto sagrado dele e o meu”, (HERNÁNDEZ, p. 13). Em outro momento de suas reexões, ele armou que “a pessoa sempre tem um espaço sagrado e, por conseguinte, misterioso e cheio de signicado”, (HERNÁNDEZ, p. 18). Embora o autor considere a presença do sagrado no contexto da psicoterapia, podemos nos apropriar de suas contribuições, aplicando-as ao processo de aconselhamento pastoral, o que nos interessa na presente discussão. Quando se considera o sagrado no processo de formação discursiva da pessoa, apontando para a relação complementar entre religião e saúde, as considerações de Hernández ganham outra relevância. Ele situa o seu leitor, informando que: “estou usando como critério de saúde o desenvolvimento de condutas criadoras”, (HERNÁNDEZ, p. 42).
Considerações finais O que aprendemos com as pessoas que estão em aconselhamento pastoral é que o sagrado, que se manifesta nas múltiplas formas de discursividade e nas expressões comportamentais, precisa ser compreendido na totalidade do ser humano. Mais do que isso, o sagrado, quando visto e acolhido pelos conselheiros pastorais, diante das angústias da alma humana, pode ser percebido como pertencente à história de cada pessoa, merecendo ser entendido como elemento capaz de auxiliar no
processo de elaboração dos conitos e das tensões da estrutura emocional de cada pessoa. O que vimos neste último capítulo é que o sagrado está presente no processo de constituição da estrutura humana, manifestando-se nas expressões religiosas das pessoas, que falam de suas vivências no contexto de aconselhamento pastoral. Cabe ao conselheiro ou a conselheira pastoral perceber nos temas que são apresentados durante o
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aconselhamento a compreensão que se tem do sagrado, associado aos objetos e às vivências humanas. Este sagrado deve ser entendido a partir do discurso de cada aconselhado, pois os signicados associados a ele são diferentes dos signicados que outros podem dar aos fenômenos religiosos. Podemos concluir nossas considerações com o desao proposto por Paulo: “portanto, irmãos,
rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Romanos 12.01-02, p. 1501).
Indicações culturais
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O Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos – CPPC – nasceu em 1976, procurando discutir as aproximações entre psicologia e teologia. Desde a década de 1970, o CPPC tem promovido encontros e publicado literatura com enfoque psicoteológico. Procure conhecer o trabalho de cristãos que integram o CPPC, visitando o site do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos.
Disponível em: .
Atividades Atividade de Auto-avaliação Identique nas questões a seguir a única resposta correta: 1. Quem formulou este conceito de sagrado: “por sagrado entende-se (...) uma qualidade de poder misterioso e temeroso, distinto do homem e, todavia, relacionado com ele, que se acredita r esidir em certos objetos da experiência”?
a) Erich Fromm.
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b) Sigmund Freud. c) Peter Berger. d) Mircea Eliade. 2. Para Mircea Eliade, o sagrado opõe-se ao:
a) religioso. b) profano. c) transcendente. d) natural. 3. Sigmund Freud, a partir deste capítulo, relacionou-se com que pastor protestante?
a) Carlos Hernández. b) Viktor Emil Frankl.
c) Oscar Pster. d) Billy Graham. 4. Como o sagrado deve ser percebido pelos conselheiros pastorais?
a) pelos objetos que os aconselhados guardam em casa. b) a partir do discurso de cada aconselhado. c) a partir das múltiplas atividades religiosas dos aconselhados. d) pelo nível de liderança dos aconselhados no contexto eclesiástico.
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Questão de reflexão A partir do desao proposto por Paulo em Romanos 12.01-02, faça uma reexão sobre a importância do aconselhamento pastoral no crescimento daqueles que conam em Jesus Cristo.
Atividade de aplicação Observe ao seu redor e anote em uma cha algumas expressões relacionadas ao sagrado na cidade em que você mora (ex.: templos, objetos religiosos, etc.).
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