Introdução às jornadas temáticas*
Na noite de 15 de nov embro embr o de de 1997, Cla ude A llègre propô propôss- me, ao tilHone, a presidência de um “conselho científico” consagrado a fazer iugrslões para o ensino de segundo grau. Dois meses antes, o ministro nif havia concedido uma longa entrevista para o suplemento sobre edui ai.no do jornal Le Monde (Le Monde de Véducation), durante a qual eu | he MiR MiRcri cri uma refor re for ma da unive unive rs idade fr ancesa. ancesa. T al suges tão tão não de despertoii uma recusa de sua parte, mas sim uma reação de prudência: “O iii.ti-. difícil é c onseg uir uir mudar muda r as mentalidade s.” E u sabia que que o minist ro tra não apenas audacioso, mas também o promotor de uma das novas ilitn i,r, polidisciplinares que apareceram na segunda metade do século X X («'. («'. ciê c iênc ncia iass da T e r r a).* a) .*** E m v ista is ta disso, diss o, pens pe nsee i que ele el e me es colher co lher a tm i i, ,)<» de minhas idéias. Mini Mi ni ia missão limita limitavava- se ev idente mente ment e ao seg undo undo grau gra u, mas mas este pfíiiiirm.i di/. respeito ao ensino de maneira geral e, especialmente, ao i n i i n o ..........., formador dos professores do segundo grau. .
* f ..lias a?
1
1iM 1iMiiit iiitxl xl i-i-, ilr nolas de r odapé se rão feitas por u m aster isco. A s que contivecontive-
*s*m *s*m a a| .irviM .irviMi, i,Bo Bo N I
-..i -..in de autor ia da Ira dutora. As dem ais s ão dos dive dive rsos autores
tiè tièsfil sfil Itbfi Itbfi ( NI ) > da K dw .n," ..i.l. A l l ^y i í - r i i m i i i i - . l ■• .n,"lo lo (i.mcPs (i.mcPs desde a cheg ada do s ocialista ocialista L ione l | ..sj.il. ..sj.il. a . j p i i i l n r , e m I ' A l é m
f i
ii,tl (N I )
A R E L I G A Ç Â O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
O ministr o impôs impôs um conselho científico ao qual eu pude apenas apenas acrescentar alguns nomes, ao mesmo tempo em que impôs meu próprio nome a tal conselho. Este não podia ser o representante de uma “comu nidade científica”, pois não existe uma comunidade reunindo as mais diversas disciplinas, nem tampouco no interior de cada uma, em que se afrontam idéias opostas. E, acima de tudo, o caráter heterogêneo deste conselho não permitia a emergência de um pensamento comum devido, precisamente, ao tempo limitado de seu exercício. De qualquer forma, um comitê de especialistas geniais possuidores de idéias diversas só pode levar, na melhor das hipóteses, a uma média de sugestões medíocres.
O s desafios Quando da primeira reunião do conselho científico, em 16 de janei ro de 1998, coloquei uma questão que me parecia um duplo problema de impor tância capital: capital: 1) O desafio da globalidade, isto é, a inadequação cada vez mais ampla, pro funda e grave e ntre um saber saber fr ag mentado em e lementos desconj desconju untados e compartimentados nas disciplinas de um lado e, de outro, entre as realidades multidimensionais, globais, transnacionais, planetárias e os problemas cada vez mais transversais, polidisciplinares e até mesmo transdisciplinares. 2) A nãonão- pertinência, pertinência, por portanto, tanto, de nosso nosso modo de conheciment conhec imentoo e de de ensino, e nsino, que nos leva a separar (os objetos de seu meio, as disciplinas umas das outras) e não reunir aquilo que, entretanto, faz parte de um “mesmo teci do”. A intelig ência que só sabe sabe separar separar espedaça espedaça o complex complex o do m undo und o em fragmentos desconjuntados, fraciona os problemas. Assim, quanto mais os problemas problemas torn tornam am-- se multidimensionais , ma ior é a incapacidade para pensar sua multidimensionalidade; quanto mais eles se tornam pla netários, menos são pensados enquanto tais. Incapaz de enc arar o contex to e o comple com plexx o1plane o1 plane tário, tári o, a inte lig ência Iorn Iornaa- se c< c
Introdução às Jornadas Temáticas
Na primeira reunião, estes propósitos quase não retiveram a aten ção do conselho científico. Alguns preferiam a idéia de que cada qual se i I * ht i M :. 1'J'íl) 1'J'íl);; e 1 11 Mêthmfv, F.d F.d dn Sr uil, iccd. i ccd. na coicçao c oicçao "1’oint 1’oints”, s”,
3|
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
ministro, com uma sentença que aboliu todas as dificuldades: “Morin propõe as jornadas temáticas; que ele as faça. Quanto aos outros; que façam suas propostas.” Não houve outras propostas. Certos membros do conselho aceitaram contribuir com a experiência das jornadas: René Blanchet, Yves Bonnefoy, Daniel Pennac, Joèl de Rosnay, Mireille Delmaselmas- Marty Marty , A ndré Burguière, Burguière, Marc Fumaroli, A nnenne- Marie Marie Per rin Naffakh, Pierre Pierre L éna, A rmand Fr émont, émont, Év eline eline A nd ndréani, réani, JeanJean- Didie idierr V inc in c e nt , A la in T our ou r a ine in e , P hil hi l ippe ip pe M e ir ie u2. u2. Uma vez recebida a aprovação do ministro, era preciso trabalhar rapidamente. O prazo dado — final de março — era draconiano. Um escritório me foi cedido na rua Descartes. Ao contar sempre com o am paro de minha colabo colaboradora radora permane nte Michèle V ié- Demarti, Demarti, pude também encarregar Nelson Vallejo Gomez, que me assistia há um ano na A ss ociação ociação para para o pens ame nto complex o, da miss miss ão de aux aux iliá iliá- la. Chr istia ne Pey ron- Bonjan, Bonjan, filósofa, filósofa, s impatizante impatizante de minhas idéias, idéias, pro pro fessora de Ciência da Educação na Universidade de Aix-en-Provence, aceitou com dedicação participar da aventura; depois, tive a felicidade de contratar contratar Mar ius ius Muk ung u K akangu, filósofo, filósofo, que que difundira difundira minhas minhas concepções concepções nas faculdades faculdades católicas católicas de Kinshasa K inshasa (Zaire). (Zaire). SouSou- lhes lhes m ui tíssimo grato pela fidelidade e amizade. Agradeço especialmente aos dois por terem efetuado o trabalho austero de transcrição, de leitura e de preparação de certos textos cuja ausência teria comprometido seria mente a coerência do conjunto desta obra. Enfim, com Liliane Le Mehauté, que foi designada como nossa secretária, nasceu um apego mútuo. C o m meus me us colaborad colaboradores ores,, lançam lançamoo- nos nos desde desde o fina l de de janeir o na organização febril, ofegante, em condições de uma incrível improvi sação, das oito jornadas temáticas: apesar de inúmeros problemas, Nelson Vallejo Gomez deu provas, desde o início, de uma força de von2 T ambém am bém agr adeço pelo aux ílio, na época, época, do diret diretoror- geral do ensino de seg undo undo grau, da Missão da comunicação e da assessoria de imprensa do Ministério da K.ducaçrto Nacional, da Pes quisa quisa e da Tecnologia ( ME NRT NR T ), do chefe de gabinete
Introdução às Jornadas Temáticas
tade fer oz, de uma persev erança erança implacável implacável e às às vezes até imprudente . A i n d a q ue t e n d e n d o aos a c ide id e nte nt e s impr im pr e v is t o s e de c o ns e q üênc üên c ia s desastrosas, Nelson foi o “Lazare Carnot”*, organizador da concretiza ção das jornadas temáticas. A r e v is ão g e r a l e a pr e pa r a ção çã o de dess te v o l um e f o r a m c o nf ia da s a A g nè nèss B e a um ie r , que qu e f oi a ux ilia il ia da por po r M a r i us M u k u n g u K a k a ng u. Ag A g r adeçoade ço- lhe por po r esse ess e t r aba ab a lho penos peno s o. As A s jor jo r nada na dass t e m átic át icaa s real re aliz izar ar am- s e e ntr nt r e a s eg unda- f eir ei r a, 16 de março, mar ço, e a terçaterça- feira, 24 24 de de março. Elas for am inacessíveis par paraa divers diversos os professores ocupados com seus cursos, foram ignoradas por alguns, boi cotadas pelos “vigilantes”, negligenciadas pela imprensa, mas se benefi ciaram da aceitação geral e generosa daqueles aos quais eu fizera apelo, tanto no interior do conselho como fora dele: Jacques Labeyrie, Michel Cassé, Pasquale Pasquale Nar done, Pierre L éna, S éb ébastien astien Balibar, JeanJean- Marc Lévy- Leblon Leblondd, B randon Carter, Carter, T homas homas Morv an, Maurice Mattauer , A ug ust us t e C o mme mm e y r a s , R obe ob e r t R o c c hia hi a , J eanea n- Paul Pa ul De léa lé a g e , E m m a n ue l Le Roy L adurie, adurie, JeanJean- Marie Pelt, V incent L abeyrie, abeyrie, A rm and Fr émont, René Blanchet, Jean Gay on, Henri A tlan, Piotr Slonimski, Slonimski, JeanJean- Didier idier V inc in c e nt, nt , R obe ob e r t N a que qu e t , J acques ac ques R uf f ié , É t ienne ie nne-- É mil e B a ulie ul ie u, A nd ndrr é ( '.ior .iorddan, an, Boris Boris Cy rulnik, Michel Br unet, unet, Henry de L umleymley- Wood Woodyear, A ndr é L a ng a ne neyy , R e né Passe Pas set, t, A la in T our ou r a ine in e , Mir Mi r e ill il l e Delma De lmass - Mar Ma r ty , Mure Mure Fumaroli, Yves Bonnefoy, Françoi Françoiss B on, Franç François ois L ’Y v onnet, Gil I íclannoi, Éveline Andréani, Arnaud Guigue, Daniel Pennac, Paul Kicoeur, André Burguière, Serge Gruzinski, Jean-Pierre Rioux, François ( ,'ar ,'aroon, François François Dosse, A lbert lbert Grosser, D om inique Bor ne, Da v id Le Lepoutre, poutre, Georges Georges Ler bet, SimonSimon- Daniel Daniel K ipman, Patrick Mig non, No Norliril Rouland, Philippe Meirieu, Henri Meschonnic, Philippe Quéau, I lomiuique lomiuique Wo lton, J ean Ladrière, Ladrière, Do minique L ecourt, JeanJean- Louis Louis L e Mciigiu-, Jacques Ardoino, Joél de Rosnay... Cerca de sessenta professoip' ip', c pesquisadores pesquisa dores ded dedicaramicaram- se assim ass im a essas essas oit o jornadas jor nadas,, ddas as 9 às às 18 Itnt.r., mostrando a coerência e a exeqüibilidade das proposições indicail-r, r (| ut‘ lo ia m aprovadas pelos presentes na terceira ter ceira e últ últ im a sessão sessão do ■nir ni r .H l m t icnt ic ntíli ílicc o (tt (tt de abril). ♦iu IrtPtn i.) , i c i
frviiliii mnário
fi.iih c. 1,.1/uic
C
l, :i]> :i]>(* (*li li«h «hi( i(lo lo
<> Ornanizador da vitória,
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
Infelizmente, certos problemas relativos à gravação e ao registro em computador impossibilitaram alguns participantes de transmitir a tempo seus textos, segundo o prazo fixado pelo editor, o que privou este livro de algumas comunicações: as de Brandon Carter (“O Mundo”), de Boris Cyrulnik (“A Vida"), de Philippe Meirieu (“As Culturas adolescentes”), de 1’alrick Mig no u (‘ (‘A s Culturas adolescentes” adolescentes”)), de T homas Mo rv an (“O (“O M undo un do ”), de 1)anicl Pennac Pe nnac (“ (“A s Culturas C ulturas adolescentes”), adolescentes”), de JeanJean- Pierre Rioux (“A I listória”) listória”), de de 1’iotr Slonims ki (“A V ida” ida ”), de de A lain la in T oura ine (“A (“A Humanidade”) e de Dominique Wolton (“As Culturas adolescentes”). Lamentamos que isso tenha ocorrido e esperamos que uma reedição da obra possa integrar as contribuições desses autores. As A s jor jo r nadas nada s temáti te mática cass t in ha m c o mo obje ob je tiv ti v o f av ore or e cer ce r um a dupl du plaa adequação.
A adequação às finalidades educativas A prim pr imee ir a é a a de dequa quação ção de todas as dis di s cipli ci plina nass , cie ci e ntíf nt ífic icas as e hum hu m a nistas, às às f inalidades inalidades e ducativas ucativas fundame ntais , que que acabaram sendo ocul tadas tadas pelas pelas f rag mentações mentações discipl disciplin inares ares e pelas pelas compart imentações entre essas duas diferentes culturas: 1) formar espíritos capazes de organizar seus seus c onhecimento s em vez de armazen armazenáá- los los por um a a cumulaç ão de de saberes saberes (“ (“A ntes uma cabeça bembem- feita que uma cabeça m uit o che ia”, Montaig ne); 2) ensinar a condição condição human hum anaa (“Noss Nossoo v erdadeiro estudo é o da condição hum an a ”, Rouss Rouss eau, Emile); 3) ensinar a viver (“Viver é o ofí cio que lhe quero ensinar”, Emile); 4) refazer um a escola escola de cidadania. EncontramoEncontra mo- nos a qui diante dos dos problemas clássicos clássicos de de nossa nossa cultu cult u ra, ra, mas mas colocados colocados de maneira r enovada e ,ao mes mo te mpo, amplificada e intensificada. condição huma na encontia tolal Ensinar a condição humana : a condição mente a use nte do do ensino atual, atual, que que a desint desintegra egra em lia g m m lo s desc o u juntado junt ado ( )r de ol ime d. d i i d íi is da
Introdução às Jornadas Temáticas
que fizesse convergir todas as disciplinas, no sentido de fazer com que i .nl.i jovem espírito se conscientize do significado de ser humano. A s s im, por po r e x e mpl mp l o, a c os molo mo logg ia c o nt e mpo mp o r ân ânee a , que qu e r e s s usci us citt ou e imovou o conhecimento do mundo e que nos permite reconhecer nesso ne sso minús minús culo lug ar no terceiro planeta planeta de um sol de perifer perifer ia de uma gnl.i hi.i periférica de um gigantesco universo, ao mesmo tempo em que nm permite saber que cada um de nó nós tr az em e m si as part partícu ículas las que se forforrtim.iin desde o nascimento do universo, os átomos que forjaram os sóis aniniores ao nosso, as moléculas que se compuseram sobre a Terra Biitrs Biitrs de qualque qualque r vida. A s ciênci ciências as da T erra pe r mite m inserirmo inserirmo-- nos nos em nosso planeta e no seio da biosfera. As ciências biológicas permitem situain situainmm- nos na ev olução olução da v ida. ida. A nov a prépré- histó história ria mostra mostra-- nos, de de Ngoia goia em diante, a long a mar cha da hominiza ção que f ez ir ro mper a lilinfUfSgrin humana e a cultura, sem que deixássemos de ser animais, ao fiifs mu le mpo em que nos nos tornávamos tornávamos humanos. humanos. E nf im, o co njunto das das fjini íiis humanas deveria nos levara discernir entre nosso destino indi vidual. i k isso destino social, nosso destino histórico, nosso destino ecoRÔtfiU o, nosso destino imaginário, mítico ou religioso. 1)u lado da cultura humanista, a literatura, o teatro e o cinema fiiêtn i oin que vejamos os indivíduos em sua singularidade e subjetivid üti i, .ii-i inser ins er ção social e histórica, históri ca, suas paix ões , amores amor es , ódios, ódios, ambiambi■g s e i iúmes iúmes Essas Essas expressões expressões artísticas artísticas incitamincitam- nos à consc co nsciência iência das ffeaij.i ffeaij.i j. ir- • . huma hum a na s , es pecia pec ialme lmente nte nas relaçõ re lações es afet af etiv ivas as de pessoa pes soa a pespesf f > a im r iL ãoi ium a família, família, clas classe, se, socied sociedad ade, e, naçã nação, o, histó história, ria, em suma, suma, peitai....... . ã i iéueia iéueia do caráter complex complex o da condição co ndição huma na . A líiM Ía f ms üjtes mlloduzem- nos nas dimensões dimensões estéticas estéticas da ex istência lltiíü llt iíüaiH! aiH! i= na hu .i.i , 1 da qualidade poética da vida, a filosofia abre os hori jiMiilt s (Li (Li i f Uph.1i> Uph.1 i>ss obre obr e todo to doss os pro pr o ble bl e mas ma s f und un d a m e nt a is que qu e o ser jf t ima im a iii' ii i' i olm o lm a sr .i si mesmo. Convém, pois, reconhecer o que é o ser ptífT iBiin,1jn iBiin,1jnr' r' jijir-i ir-m r ao im ano an o te mpo à nature natur e za e à cultur cul tur a, que está IfiliMii IfiliMii liilo .i iip iip it lr i orno lodo animal, anima l, mas que é o únic o ser vivo que crê titim.i » Idsi 4l#m «I «Im tnnr tr r eiijn aventura ave ntura histórica conduziuconduziu- nos à era pliiiit liiiit I iii.i ! )ií )ií assim ir pode olirde er r à liualidade liual idade do ensino, ens ino, que é aju aju
A R E L I G A Ç Â O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
mun do e assumin assumindo do-- a. T udo isso de deve ve co ntr ibuir à forma fo rmação ção da da cons ciência humanis ta e ética ética de pertencer à human humanidade idade , que deve ser co m pletada pela consciência do caráter de matriz que tem a Terra para a vida e, por sua vez, daquele que tem a vida para a humanidade. A prender a viver significa sig nifica preparar preparar os espírito espíritoss para afr a fr ontar as incer tezas tezas e os os problemas da exis tência tência humana. O ens inamento da incer incerteza teza que caracteriza o mundo deve partir das ciências: elas mostram o caráter aleatório, acidental, até mesmo cataclísmico, às vezes, da história do cos mos (colisões de galáxias, explosões de estrelas), da história da Terra, da história da vida (marcada por duas grandes catástrofes que liquidaram grande parte das espécies) e da história humana, sucessão de guerras e destruições em razão das quais todos os impérios da Antiguidade desapa receram e, enfim, a incerteza dos tempos presentes. Os problemas da vida aparecem na literatura, na poesia, no cinema, e nessas expressões artísticas o adolescente pode reconhecer suas próprias verdades e distin g uir os os conflitos e tragédias tragédias que que encon e ncontrar trar á. O romance ou o filme s erão erão considerado consideradoss não tanto sob seus seus aspecto aspectoss f ormais mas, antes, co mo ex pe riências existenciais que se relacionam com a própria identidade do ado lescente. A poesia dará à cultura das humanidades uma dimensão mais enriquecedora, pois pois ela ela mostra que a “ver “ver dadei dadeira ra v ida” — para r etomar a expressão expressão do poeta poeta A r thur R imba ud — não se encontra nas necessida necessidade dess utilitária utilitáriass às quais quais ning ni ng uém pode escapar, escapar, mas s im na autoauto- realização realização e na qualidade poética da existência. A filosofia, enfim, permitirá especifi car os problemas éticos da existência humana. aprendizado da cidadania necessitará de um ensinamento, total O mente inexistente hoje, do que é uma nação. A história da França situa rá o aluno em sua condição de cidadão francês no seio de sua naçjlo, de sua cultura, de sua comunidade de destino. A aprendizagem da cidadã nia incluirá também, pelas vias da história da Kt tropa e da liistúiia da eia planetária (isto ú, os tempos modernos), a possibilidade* de* desenvolvei e‘in cada 1 1 1 n a cidadania cidada nia européia euro péia e a
Introdução às Jornadas Temáticas
sti sti.i história história e cultura e, ao mesmo mes mo tem po, demons trar tr ar que esta cultura e esta hist histó ória estão ligadas ligadas à da Eur opa e, além dela, à do pr pr ópri óprioo mundo m undo . Enfim, a jornada “A religação dos saberes” situa-se na finalidade da *í bembem- feita” feita”.. Ela trata de um ponto que se encontra igualmente íiUM iite do ensino e que deveria ser considerado como essencial: a arte de organizar seu próprio pensamento, de religar e, ao mesmo tempo, diferenciar. Trata-se de favorecer a aptidão natural do espírito humano a «i uüextualizar e a globalizar globalizar,, isto é, a relacionar cada informação e cada fifmh fifmhf ciment o a s eu contex to e conjunto. TrataTrata-se se de for tificar a aptidão aptidão i interr interr ogar e a ligar o sab s aber er à dú dúvv ida, de des envolver a aptidão para inte inte-gNi o '..tber particular em sua própria vida e não somente a um contexto global, a aptidão para colocar a si mesmo os problemas fundamentais dê sua própria condição e de seu tempo. <) quadro global das quatro primeiras jornadas temáticas (cosmos, T i! N, N, v ida, ida, humanidade) humanidade) tende a favorecer, favorecer, tanto por parte do profes profes sei sei quant o do aluno, aluno , a colocação colocação do saber particular par ticular ou es pecializado no ^Bnte*to em que ele se insere e, se possível, em seu conjunto global. A qui df- v cinos ins in s is t ir s obre obr e esse ess e a s pec pe c to f un d a m e n t a l da mis mi s s ão do ffUinii, que 6 favorecer a aptidão do espírito a contextualizar e globalif§àr, (inda mais que tanto é verdade que todos os problemas a serem fflfPíitrados pelos cidadãos do novo milênio necessitarão, cada vez Riais, dr u m a passarela permanente levando os saberes particulares ao ftijtliri miriito global. É a regressão da aptidão a apreender os proble(M ftmi lamentais e globais globais que deve incit incitarar- nos à reg eneração de de uma lyltuia que nno s e limite mais às humanidades clássicas, mas que seja piits iituli v a <| <|c novas humanidades, baseadas no enriquecimento mútuo t!?i í iillui i tiadieinual e da cultura científica. f lãn ha ha ia . ...... . as necessidades de contextualizar e de religar os §=<Í» H ^ p in imi imi amda enearar os os métodos, métodos, ins tr umentos , oper operado adores res e k)| | icii■ icii■ apto apto a puniu puniu,, ii essa reunião. Mnessa esfera que se situam as <* ft. ft. ur-i ur-i ,| ,i jornud jor nudaa "A le ligaçf lig açfio io dos dos saberes”. s aberes”. .
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
A adequação ade quação aos “objetos ” natur nat urais ais e cultur c ulturais ais As A s dis c iplina ipl ina s de devv e r iam, ia m, por po r out r o lado, la do, apr ap r e s e ntar nta r uma um a a de qua ção ;i "objetos” que sejam a um só tempo naturais e culturais, como o inundo, a T erra, a v ida, ida, a humanidade . Eles s ão naturais naturais por que que são são per per cebidos cebidos por cada um em sua g lobalidade lobalidade e parecemarecem- nos nos ev identes. identes. O r a, esse essess objetos naturais desaparecer am do ensino; eles eles encontram encontram-- se reta r eta lhados e dissolvidos não somente pelas disciplinas físicas e químicas, mas também pelas biológicas (posto que as disciplinas biológicas tratam de moléculas, genes, comportamentos etc. e rejeitam a própria noção de vida, considerada como inútil); da mesma forma, as ciências humanas retalharam e ocultaram o humano enquanto tal, e os teóricos do estruturalismo chegaram mesmo à presunção de pensar que era preciso dis solver a noção de homem. Esses objetos naturais são imediatamente identificáveis por qual quer adolescente. Eles correspondem a temas que estiveram todo o tempo presentes em nossos ensaios e poemas, a problemas que inces sa ntemente for am colocado colocadoss por nossa nossa tradição tradição c ultura ultura l e que que per mane cem vivos. Eles correspondem às curiosidades naturais da criança e do adolescente e, aliás, deveriam permanecer como curiosidade também para o adulto. Com os “objetos” naturais, nós reencontramos as grandes perguntas que por todo tempo agitaram a consciência humana e que todo adolescente faz a si mesmo: quem somos, onde estamos, de onde vimos, para onde vamos? Nós revigoramos as interrogações que foram sustentadas por nossa literatura e nossa filosofia e que se encontram hoje a limentadas , e nriquecidas nriquecidas e renovadas pelas pelas gr andes andes aquisições aquisições das ciências ciências contemporâneas. contemporâneas. Enquanto fragmentado, o saber não oferece nem sentido, nem inlr resse, ao passo que, respondendo às interrogações e curiosidades, ele interessa e assume um sentido. Como o mundo do professoi r o da uni teria ensinada, apesar de interferirem reeiproramente, s ão ao mestm» (empo (e mpo próx imos e distantes um do nutri», nutri», foi prev ista também ta mbém ttitui ttitui |«> |«>i
Introdução às fornadas Temáticas
N;lo houve jornada consagrada à filosofia. Por quê? Porque a filoso fia uflo é uma disciplina no sentido especializado e fechado do termo, mas sim um exercício sobre todos os problemas da experiência e dos i
P R I M E I RA J O R N A D A
O Mundo
PRIM PRIMEI EIRA RA JO RN AD A
Introdução ao estado atual do mundo Jacques Labe/rie
2 0 cosmos: cosmos: concepções concepções e hipóteses Michel Cassé
PRIM PRIMEI EIRA RA JO RN AD A
Introdução ao estado atual do mundo Jacques Labe/rie
2 0 cosmos: cosmos: concepções concepções e hipóteses Michel Cassé 3
Teorias cosmotógicas e ensino das ciências Pasquale Nardone 4
Nossa visão do mundo: algumas reflexões para a educação Pierre Léna 5
A física numa escala humana human a Sébastien Balibar
6 £ possível ensinar ensin ar a física moderna mod erna?? jean-Marc Lévy-Leblond Lévy-Leblond
Introdução Edgar Morin
( -Ve -Veio que todas as civ civ ilizaçõ ilizações, es, tod t odas as as comunidade s tiv er am uma um a ipn< rpçSo do mundo e a preocupação de situar, de inscrever os humafius nu cosmos. Ora, há cerca de quarenta anos, estamos diante de um Rtumln singularmente novo. E temos que nos situar neste mundo, do fjisü! nflo passamos, evidentemente, de uma minúscula parte. Mas o paH §x o r que, que, se essa parte se encontra num todo gigantesco, gigantesco, o todo se ifltnnli.i, ao mesmo tempo, no interior dessas parcelas ínfimas que nós p t n t »*. | ><»is a quilo quil o que q ue é a coisa coisa mais ma is ex ter ior a nós nós mes mos, mos , isto is to é, as pa par| | f til til i que se cons co nstit tituíra uíram m no início do unive univers rs o, esse essess átomos que se forfor j§FSiti j§FSiti ti,r. estr es trelas elas,, essas molé mo lécc ulas ula s que qu e se c o ns tit ti t uír a m na T e r r a o u e m Üjtr n lilü lilü- n... tudo t udo isso en enco conntra- se tam bém no interior inte rior de nós nós mesmos. I íh- .o ir s ulta essa essa situação situação paradox al que deve mos, cada v ez mais, ■lu m ir Somos os filhos filhos do cosmos e, ao mes mo tem po, com o disse disse Monod, nele vivemos como “ciganos”. Somos diferentes e disB U lê i d*le devido a nos nossa sa cultura, cultura, nosso nosso espírito, espírito, nosso nosso pens ame nto, ■Rs** «on«on- .rif.rif- nci.i ci.i,, e é esse esse dis ta nc iam e nto q ue nos per mit e te nta r | jm hf ! f In r miei mie i ro£ ro£;;í ;;í Io. Penso P enso que essa essa relação relação dupla que nos nos inscre va tio üiiuuh i (| iir nos nos difer difer encia d do clc
1
I ntrodução ao estado atual do mundo Jacques Jacques Labeyríe
título-, “Introdução ao estado atual do mundo”, quer dizer simpliimpntc: "De que forma representamos hoje o mundo que nos rodeia?” «il.iii .-íq .-íqui sobre sobre as grandes g randes idéias que nos per pe r mite mit e m f azer aze r uma um a reprerepre V «iu I«il. do cosmos. T his hi s k -| iresentações, é claro, não datam de hoje e remetem a um pasf ir ií >I 'n u distante. Citare Cita re i duas duas enormes e normes conqu c onquista istass científicas: aprox aproxim imaaigmantr três séculos antes do início da era cristã, Aristarco de Samos já i . min.i, o assim ensinava em Alexandria, que a Terra é redonda, qii. qii. Ha gira <* <*m tor no de de si si mesma a cada cada dia e que gira g ira també ta mbém, m, a cada | h(t, r iu tom t omoo do Sol; Sol; um sécu s éculo lo mais mais tarde, tarde, Eratóstenes, Eratóstenes, um outro greg o i1*» l 'r it ", rMu (iiitia, (iiitia , por sua sua vez, um meio para me dir o raio da Terr Te rr a — e pnHatilu 1 1 , 1 cire unler unler èneia — com uma precisão recisão bastante bastante razoável. razoável. Num i .impo mais geral, Demócrito (por volta de 400 a.C.) e depois | d* if i iu (| Mit votl votl i de de (lO (lO r C .)c onc e itua it ualiz liz a m a ex istência dos dos átomos por piim pii m iiitii iiitiiH H. io No <)i ideiite crisUlo, crisUlo, ao contrário, contr ário, dur ante an te os quinz quin z e sé sél u l o i -Mili .. c| iiriit iiriitii .. ning uém parece intere interessa ssarr- se pelo conhe co nheci cime me nto do jHMiiii jHMii ii .. i n ii i t |i i n pelo das leis leis natura nat urais is.. \ *m dipols dipo ls um despertar: despertar: o Renascimento. As descob descobertas come çam a aiiiliH! aiiiliH ! iitipttl iitipttl .o Ciii.i Ciii.i limitai limita i mo nos nos ao ca mpo do cosmos: Nico Ni co lau la u
A R E L I G A Ç À O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
Johannes Kepler elabora suas três leis sobre a revolução dos planetas. Galileu, perto de Florença, observa pela primeira vez a Lua e os maiores satélites de Júpiter com a ajuda de um telescópio; ele também faz expe riências sobre a queda dos corpos. Isaac Newton, em Londres, compreen de por sua vez que a luz branca comp compõe- se de luzes coloridas coloridas e ta mbé m que a matéria atrai a matéria (teoria da atração universal), mesmo a distân cia, o que é uma idéia extraordinária. Olaüs Rõmer, no Observatório de Paris, Paris, descobre descobre que a luz t em uma veloci ve locida dade de e conseg conseg ue med medii- la. la. O fr an cês Pierre Simon de Laplace imagina que o sistema solar é originário de uma nuv em de poeira poeira cósmica. cósmica. For am todos todos esse essess gigan gig antes tes do pens amen ame n to científico que que construí constr uíra ra m nossa nossa atual c oncepção do cosmo cosmos... s... Mais próximas de nós, pois elas datam de 1930, temos as observações do americano Edwin Hubble mostrando que a coloração avermelhada do espectro das estrelas estrelas e das das galáx galáx ias é pro proporc porcional ional a distân dist ância cia das mesmas. O u o univers univers o está em ex pansão, ansão, ou então uma interação ainda ainda desconhe desconhe cida afeta, a longo prazo, a energia dos raios luminosos. Se o universo está em expansão, em que ele vai se transformar? Será que um dia ele deixará de crescer? Mas, se ele está em expansão, é porque um dia ele foi menor, portanto mais condensado e, por conseguinte, mais quente. Quais foram então os primeiros estados do universo? Teria ele sido uma espécie de gás incriv incriv elmente quente e comprimido? comprimido? A respost resposta, a, no momento , não está ao alcance dos meios de previsão da física atual. A l é m de noss nos s o univ er s o a tua tu a l, ter te r ia re stado st ado dessa dess a ex plos ão or ig inal ina l uma irradiação eletromagnética que, mesmo bastante intensa, é forma da apenas de partículas de luz (fótons) possuidoras de uma energia ínfi ma, como se tivessem sido produzidas por uma matéria à temperatura próxima do zero absoluto. Essa bela teoria do Big Bang nã nãoo me m e r e c e
O Mundo
I hvrrsas descobertas recentes alimentam o desenvolver da física fíimii 1 1 i,i Um a das mais mais importa importa ntes fo i feita por por J ohn Da lto n, no início início ilfi séi iild XIX, em Manchester: ele reinventou a teoria atômica, que pa nii ii ,i ,r fundame ntar , a partir de de então, sobre sobre medidas medidas reais. reais. C e m anos ni.iis larde, ainda em Manchester, Ernest Rutherford descobriu o ■ÜflvQ do do áto mo e a maneir mane iraa pela qua q uall se pode tr ansmutá- lo, descob descobrinrinf b tam bém, port anto, co mo se faz s ua síntese síntese.. A análise análise dos espectro espectross fjã Itn daí. estrelas já ensinara, por outro lado, que não existem no ■Uhdü outras espécies atômicas além daquelas que temos na Terra. jJ j J l e s iir ii r r t il.i il .ioo , f ísica ísi ca e cos co s mog mo g onia on ia n ão pas s am de um a me s ma c iênc iê ncia ia,, l^staiiir p0pU]ar, o que é um testemunho da inclinação sensível dos lítHM. h . pelo puro conhecimento do universo. O conhecimento da superfície dos planetas fez alguns progressos tjgiílfi fjup dispomos de sondas espaciais. Alguns desses engenhos foram ■KVlidos a três planetas: Lua, Marte e Vênus. E até mesmo doze jj j j i f l l f n s , no tota to tal,l, já f or a m e nv nvia iados dos à L ua. ua . T a m bé m já se f oi s onda on darr de Bf tjn iliu il iu outros g randes planetas e alg uns uns de seus seus satélites. satélites. Graças Gr aças | | fit fitei| | ( tí**. r.otó r.ot ópicas obtidas e m labor atório at ório a par tir ti r de amos tra s, sab sabe y i i f a L ua, ua , Ma r t e e os mete me teor or itos it os t ê m a me s ma idade ida de que a T er ra: ra : 4,5 P i e i dr anos anos (< (<■temos temos quase quase certeza de que isso ta mbé m é v álid álidoo para p i l b s os ou tios planetas, planetas, até mes mo o próprio próprio Sol) Sol).. Qua tr o sin sinos antes do início início do s éculo éculo X X , a descoberta da radio radioati ati-■fhiíb da matei ia, no museu de história natural de Paris, permitiu tamg ff n 1' ioijii f pndr pn dr i de oi oi ide ide v em o calor das das estrelas: estrelas: elas elas que ima im a m sua É f fl fj iia iu o, iia iia Nosso S ol, por ex emplo, pro duz 3,8 3,8 x IO 33 ergs por JgUtidn r-, 1 1 1 * 1 n i-1 paia isso, ao mesmo tempo, 4,2 milhões de toneladas ^n)drogAniii(ou. 1 1 i u-. ex ata mente, transformatransforma- as em hélio). Mais tarde, tar de, ly g ft do env rtl in r ia, nosso Sol sintetiz sintetizará ará outros outros átomo átomos, s, especialmente especialmente | tjiiB • «»» «»» in< in <1í-% í-% | irns ir nsâv âvrr is à vida: c ar bono, azot az oto, o, ox ig ênio, ênio , enx e nx ofr of r e etc. et c. I p i s um.. .jiir ii. ii. mais prsados que o ferro), ferro), graças graças às tempera turas de pf f f s oi ii.illi... , (Ir (Ir ^i ai is que a gra vitaçilo g erou em sua reg ião ião central. §§je§ âtdfiiiif • . a.. . v:i| ii1 1 ai s p pouco a pouco da estrela sob a forma de
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
n
•
a
E D G A R M O R IN
Sabemos também de onde vêm os outros átomos, os mais pesados. Koi no momento da fase final da vida das estrelas mais pesadas, numa explosão resplandecente, que ocorreu, num instante, a síntese desses átomos que seriam, depois, projetados no espaço em forma de pó. Esse pó de átomos vindo de múltiplos sóis, reagrupado bem mais tarde em nuvens delgadas nos cantos sombrios da galáxia, servirá para reformar um dia, graças à gravitação, novos sistemas solares. Os átomos pesados não foram criados de forma contínua, como os leves, mas em explosões g randiosas, randiosas, e é isso que que chamamos c hamamos de “supernov “supernov as”. as ”. A parte e x terna ter na da estrela que compreende esses átomos pesados é então projetada no espaço numa velocidade de alguns milhares de quilômetros por segundo e, durante durante vá vário rioss milenários milenários , ela continua a expan expanddir- se. Por ex emplo, uma explosão como essa foi visível da Terra durante o verão de 1054. Ela brilhou então como uma Lua cheia durante diversos meses e, ainda hoje, pode perceber-se sua nuvem com a ajuda de uma boa luneta. No ponto em que se encontrava o centro da supernova, criou-se uma pequena maravilha, um minúsculo resíduo de matéria de um tipo extraordinário: o pulsar. É um aglomerado de nêutrons, de uma densida de espantosa, espantosa, rodopiando loucamente sobre sobre si mes mo, env olto por ca m pos magnéticos de uma intensidade inconcebível e que deverá emitii durante milenários, em enorme quantidade, toda a gama de partículas luminosas , os fótons, desde desde os raios raios gama g ama e X até as ondas ondas rádio. rádio. Mas passemos a uma um a outra escala, passemos a dimensões dezenas
es tudo tud o do cosmos cosmo s long ínquo pe im íliu i observai, observai,no no d e fa to i qun
O Mundo
fjjfkuld.ide para compreender certos fenômenos que estão muito n u á m do que que pode ser realizado realizado em nossos nossos laborató laboratórios. rios. Mas esse sses fcflênifMios imensos e longínquos não são os únicos a nos intrigar. jÉÉfím jÉÉf ím,, drs dr s de o iníc in ício io do s éculo éc ulo X X , o impa im pacc to da teoria da relatividade I f f d l d e A lbe lb e r t E in s t e in s obre obr e a c o s m o g o nia ni a tor to r nou- s e c o ns ide id e r áv ávee l, (ptífetudn após a verificação do fato que um raio luminoso tangente ao | nj §!ihr §!ihr tuH tuH desvio, o que que significa que que um f óton tem realmente re almente uma ' i uno Eins E ins te in havia prev isto. Por P or v olta de 1990, for am desco descobber■§Üt imagensgravíficas de uma galáxia longínqua, criadas pela massa de ,jpia galahli situada entre ela e a Terra, o que confirma mais uma vez | §| g propi irdade de os os fótons fótons te rem r ealmente uma massa. I )p5i I r o início início do século século X X impôs- se tam bém no campo c ampo da física física o jfÉy jf Éy dí» d i . par t ículas ícul as e leme le menta ntarr e s da maté ma térr ia (os (os átomo áto moss e os e létr lét r ons , pf t s d* iii.h iii.h'. ii.ula) e da luz (o (os fótons). fótons). Nesse Nes se m undo un do dos objetos consiconsi j§fa d,,= d,, = m u por um , as belas cer ce r teza te zass de outr out r or a de dess apar apa r e cer ce r am. am . T ais Rpliiàs drviani se ao fato que a menor partícula de matéria que conhe jjj jj j iíiu ií iu?? puino, puin o, o m e nor no r f lux o de luz lu z que t ínha ính a mo s o hábit háb it o de lev le v ar e m te f isidi isidi iiH ãu a me nor cor rente elétrica e létrica que éramos capazes capazes de medir llffi furmadu'., no mínimo, por um número imenso de elementos. E H j t n «lillt «lillt d - I r - 1 1 , , 1 1111 . 1 j'in'li j'i n'li si no, no iníc in ício io do s éculo X X . IpfiHi Unia dai t unsaqüêndas mais evidentes desses novos estudos é veri. .impo dos wHi w Hiic icon ontt lutor lut or es e do desenvolvimento quase imeÉ ãH lia lia liil' liil' iiiii iiiii ilii ilii i i| iir iir ocorreu em seguida seguida.. T odo um dom ínio, o dos j j f e l i h l d f t o d n , o ■ ■lipo li poss , f oi r e v o luc lu c io na do e m a lg uns un s anos an os ; u m o ut r o Hjppt), fi da imprensa, do rádio, do Iclelone, lanibém eslá sendo, pois | j§ etti dia jint jintlr lr Pm un tlãl e dilu ud ir pr alic a m c nlc todo todo tipo de
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
Essa mudança atinge ainda pouca gente. Mas os que estão a par de tais inovações têm a impressão bastante nova de que a superfície da Terra encolheu e não somente por meio dos progressos enormes das técnicas que per mitem, por ex emplo, emplo, que em menos menos de dois ois dias ias de v iage m seja possível transpo transportarrtar- se para para o pont o mais distante dis tante de nosso planeta. A maio ma iorr ia das cr ianças ia nças que qu e f r e qüent qüe ntaa m a e scola sc ola e às quais quai s s ão e nsi ns i nadas essas conquistas recentes do conhecimento não tem, ao que pare ce, ne nhum a dif iculdade para inte interes ressar sar-- se pelas pelas mes mas e domi dominá ná-- las. Mesmo quando o aspecto lúdico não existe e, mesmo ainda, quando as crianças são informadas somente pelas revistas populares ou pela televi são, elas se apaixonam de bom grado por conhecimentos tão abstratos quanto a astrofísica e até mesmo pela física quântica ou ainda pelas novas ciências da Terra ou ciências biológicas. Freqüentemente, essas crianças estão decididas a aprofundar seus conhecimentos nestes cam pos mais tarde, quando serão adultas. Creio que as coisas não se passa vam assim outrora, quando numa escola austera, quase que única dispensadora de conhec imento, iment o, as crianças crianças entediavam entediavam-- se com a r igidez ig idez da cosmografia ou com o ensino da matemática, porque se esqueciam de dizer-lhes que tais ciências não passam, em grande parte, de um maravi lhoso lhoso ins tr umento para para simplificar o conhecime nto das das leis leis naturais. naturais. Há algumas décadas, um novo ar paira sobre o ensino, ao que me parece. Há a inda inda um outro progresso: progresso: este conhecime nto encon encontratra- se hoje ao alcance de muito mais pessoas do que antes. Diante de tudo isso, penso que podemos nos alegrar.
2
O cosmos: cosmos: concepções concepções e hipó ipótes te s es Mich M ichel el Cassé
Introspecção cosmológica Para que que a pesqu pesquisa isa co ntinue florescendo florescendo no campo fr ag mentado e complexo do saber, escolho a palavra céu. Céu convoca, um pouco em desordem, as almas viajantes e as tecnologias galopantes. Nos últimos vinte anos aprendemos mais do céu do que tínhamos aprendido em dois mil, mil , e isso isso graças graças à uni ão da ast ronomia ro nomia e da física. A astr ofísica é o casa casa mento da Terra e do céu no pensamento humano, da física, prática de laboratório que consiste em extrair leis da matéria deste mundo, e da astronomia, que é um olhar dirigido para o inacessível. Sem a física, a astronomia não tem cabeça, mas, sem a astronomia, a física não te m asas. asas. A o a po nt a r par pa r a a L ua s ua lune lu ne t a , G a lil li l e u e nx e r g ou m o nt a nha nh a s ; ele ( (incluiu (incluiu disso disso,, com m uita justeza, que que a L ua é terro terrosa. sa. Inver Inver temos por qt in c r esta proposição proposição e dizemos dizemos que a T erra é celeste celeste.. A prime ira equ equad.i astrofísica astrofísica é: T erra = céu. céu. O que não não se encontr a aqui embaix embaix o nn<> it- e ncon nc ontr tr a e m luga l uga r alg um. C) espaço está perdido porque todos os lugares se eqüivalem, mas o tetnpo foi reencontrado, pois vivemos no tempo abençoado em que a
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
chuva, pois a molécula da água, H 2 O, reúne em seu seio 0 hidrogênio, vestígio da “explosão original” ou Big Bang, e 0 oxigênio, exalado pelas estrela estrelass que o produze m e m seu forno. forno. Ex iste, pois, pois, um a cadeia cadeia física da da quecimento, o gênese. No ponto em que 0 mundo se articula com 0 es quecimento, tema da ge nealogia da matéria põe põe e m r elação elação os os e lementos e as as estrelas, a Terra e o céu, a luz e a matéria, a criação e o aniquilamento, a gênese e o apocali apocalip pse... O home m resgata a amnésia cósmica através através da ciência. ciência. “Nosso projeto filosófico não é mais domínio e possessão da nature za, mas sim abertura para todas as luzes, visíveis ou invisíveis. Mehr Lichtl Estamos sempre pedindo mais luz, como Goethe em seu leito de morte. A f im de dar dar um se ntido ntido aos aos sinais sinais do do céu, decriptamos decriptamos a ling ua gem sutil dos mensageiros celestes, fótons, neutrinos e, brevemente, a das ondas gravitacionais. O olho natural, solar, dá lugar a um olhar uni versal. versal. A arte não se encontra mais mais numa cor, mas na c ombinação de todas as cores, visíveis ou invisíveis, de todas as irradiações, de todas as partículas móveis, fótons, neutrinos, raios cósmicos. A cr iação iaç ão da matér mat éria ia tornou tor nou-- se u m obje obj e to de pes pe s quisa quis a das ciência ciênc iass . A existência dos átomos estando firmemente estabelecida, convém agora pesquisar suas suas fon f ontes, tes, e tais fon f ontes tes estão no céu. A teoria do Big Bang, filha natural da relatividade geral e da astronomia conjugada à física nuclear, ensina que o hidrog hidrog ênio e 0 hélio sã s ão originais e que as as estrelas estrelas — lugar lug ar da fusão ter monuclea monuclea r — f orjaram orjar am em seu cadinho, a partir destes destes elementos simples, todos os outros, desde o carbono até 0 urânio. Elas abriram abriram-- se como flores e polvilharam pelo espaço miríades de átomos alados, semen te necessária à vida, aos próprios átomos que elas forjaram. Todas as humanida des que estão por por nascer nas cer encon encontramtram- se lá, em volta das sup supernoernovas, estrelas esquartejadas que deixaram escapar a própria substância. ' As estrelas estrelas semp s empre re for am caras ao coração coração das crianças crianças e dos dos poetas, mas eles eles não s abiam muito mui to bem por quê. A astrofísica dá corpo a este amor explicando que nossos átomos foram carregados pelo ventre das estrelas. estrelas. O elo entre as as estrelas estrelas e os home home ns , e de maneira maneir a mais ger al entre todas as formas existentes no céu, é genético, material e histórico.
O Mundo
Genealog ia da matéria matéria É da natureza do ser que pensa formar idéias a partir do zero, do inf init o e do do univer so, de eextas xtasia iarr- se co m elas e revogá revogá-- las las depois. depois. Des sa vertigem nasce uma ciência que combina cosmos e logos. A cosmologia visa dar um sentido à palavra universo. S ua hipó hipótes tes e crucial é que o uni verso é um cosmos ou, em outros termos, que a desordem é uma ordem oculta. oculta. Esse desafio promissor, romissor, c ujo bom fundam ent o é verificado a posteriori, é a base da física do céu. Uma ordem deve ser reencontrada, e essa essa ordem é tem pora l. O espírito do do obser obser vador deve deve infiltrarinfiltrar- se na juv j uv e nt ude ud e t ur bul bu l e nt a do univ er s o até at é a t ing in g ir os dias dia s te mpe s t uos os de sua infância. O univer s o ex pandi andiuu- se e m ddois ois planos consec consec utivos utivos : a ev olução olução “invisível” (aproximadamente até o primeiro milhão de anos) e a evolu ção “visível” (de (de 1 a 15 milhões milhões de anos). anos). A época opaca é acessível acess ível à te o ria, com ex ceção ceção do tempo zer o. A época época tr anspare nte é acessí acessível vel à obser observação, vação, por um período que se estend est endee sobre sobre 15 bilhõ bilhões es de anosanos- luz. luz. A dr a ma t urg ur g ia cós mica mi ca divide- se e m vários vár ios atos: atos : 0. Emergência por transgressão quântica da impossibilidade da existência. «Por que existe um universo e não o nada total numa paz impertur bávv el? 'A s leis de conserv ação bá ação da física opõ opõemem- se à idéia de que algo nasça do do nada, ex ceto no caso em que a energia total do unive nive rs o é nula, bem como sua carga elétrica e todas as outras quantidades conservadas. Nada nasce de nada, então. Nada impede de se pensar isto, pois existem energias positivas, como a energia de massa, e energias negativas, como a energia potencial e gravitacional, e elas poderiam se compensar. Se fosse assim, a criação seria gratuita e legal, pois ela não violaria nenhu ma das sacrossantas regras de conservação. Nos cenáculos quânticos, invoca-se uma abertura por efeito de lim r l ou ainda ainda uma flutuação flutuação do vazio. vazio. A lguns lguns falam de criação criação a partir partir
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
ra que que o uni univer ver so, antes antes mesmo de assumir uma aparência, é quântico e relativista. S upõe- se desta desta f orma , porta nto, a pree preexx istência das das leis leis sobre a matéria e mesmo sobre sobre o espaço espaço-- temp tempo, o que que não é neglig enciáve enciáve l... I. A era do caos caos quântico: quântico : a saída s aída da ne blina do espaç espaçoo- temp tempo. ' Um instante de opacidade total, verdadeiro deserto do espírito, IO-4 IO-43 se g undo, undo, mantém- nos a distância distância da insanidade ins anidade do te mpo zero. N a falta desse distanciamento reina o discurso teológico. * A cr iação, ia ção, que é a pass pas s ag em do inde in de te r mina mi na do ao de dete te r mina mi na do, do , per pe r manece em si mesma inacessível à razão. Do ponto de vista lógico, o tempo zero é um instante num tempo que ainda não existe. Do ponto de vista físico, não se pode tampouco escapar à catástrofe conceituai: zero é preciso demais para ser quântico. Desforra da imprecisão quântica sobre o determinismo relativista: uma auréola de indeterminação envolve o começo. O próprio tempo flutua, pois “quântico” é sinônimo de “flutuante”. Assim, ao passo que o universo tende em direção ao um, a linguagem tende em direção ao zero. Os conceitos quântico e relativis ta só podem servir-nos como instrumento teórico para determinar os valores mais extremos das quantidades físicas que estão em jogo: nenhu ma duração inferior a l(h43 segundo, nenhuma distância inferior a IO - 3 3 centímetro, nenhuma temperatura superior a 1.032 kelvins conserva um sentido físico. 10-43 segundo: menos que uma piscadela, comparado à idade do universo! Mas esta fração ínfima de segundo, impenetrável para o espí rito, é como uma eternidade. O que é um segundo? Se o tempo é real mente a medida da mudança, um segundo daquele momento não pode ser igual a um segundo de agora. Passaram-se mais coisas num segundo daquele daquele tem po do que em quinze bilhõ bilhões de nosso nossoss ano s ." U ma pérola de espaço espaço-- temp tempo emerg emerg e da es puma, puma, como que t omada pelo desejo de crescer e embe embeleza lezarr- se. S eu v azio é falso, pois ele está saturado de energia. Ela tira de si mesma sua ordem e suas leis. E essa bolha se faz universo sob o efeito da gigantesca inflação do espaço, indu zida pela pressão deste falso vazio. As leis do universo observável são as leis da bolha. Este universo é o nosso. Ele é como um relógio posto em
O Mundo
marcha há 15 bilhões de anos. Esta duração é comparável à idade dos mais v elhos elhos átomos e das das mais v elhas elhas estrela estrelass conhecidas. O modelo cosmológ mológ ico dete rminista g uiaia- nos de agora em diante de maneir a segura segura e dá corpo à história unive univers rsal. al. A sepa se paraçã raçãoo do espaçoespaço- temp tempo em espaço e tempo te mpo torn tornou ou-- se possível possível devido à unifor midade postulada pelo espaço espaço.. O unive unive rs o está em ev olução olução em e m todas todas as suas suas regiões, regiões, mas a ev olução olução mais mais g randiosa randiosa é a da da sua geometria. O espaço espaço se dilata. dilata. O univers o está em expansão. Há uma correspondência unívoca entre idade e densida de do universo e também entre idade e temperatura. Um universo jov jo v e m é de dens ns o e que nte nt e . U m univ er s o v e lho é dil di l uído uíd o e f r io. io . ' O cosmos atravessa diferentes eras de duraçõ durações es crescentes definidas segundo a densidade de energia da forma reinante: caos, vazio, irradia ção ou matéria. II. A era do vazio. O vazio é insensível insensível à ex tensão tensão uni univers vers al. S ua densidade densidade de energia é constante. Ora, uma densidade de energia constante induz uma expansão exponencial. O vazio é apartador de espaço: ele acelera a expansão deste (quem sabe ele até não a produza?). Essa expansão fre nética, cujo efeito é distender o universo, cessa quando a densidade de energ ia do vazio anu anula- se (ou quase) quase) em benef be nef ício da irra diação. diação. O poder passa das mãos do Vazio às da Luz. III. A era irradiante. V azio az io-- luzluz - matér mat éria ia:: ex iste is te u m a c ade ad e ia f ísic ís icaa de g ênes êne s e . C a d a q ua l reina por sua vez quando sua densidade de energia ultrapassa a dos outros.'No espaço de 10~32 segundo, a luz sucede ao vazio. Sua era dura rá aproximadamente um milhão de anos, e a da matéria, mais de 10 bilhões.'Sob o reino da luz, ocorre o assassinato da antimatéria pela matéri.i ri.i <■a g ênese do hélio* hélio* Pelo P elo f ato de a luz l uz (a irradiaçã irr adiação) o) ser s er uma forma fo rma material neutr neutra, a, po pode- se atribu atribuirir- lhe lhe o sinal zero, o que que pe rmite rmi te conceber
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN
A e limi li mina nação ção da a ntim nt imaa tér té r ia, ia , dupl du ploo e mor mo r t a l antag ant ag onis oni s ta da maté ma térr ia, ia , nascid nascidaa com co m ela, ela, termin terminaa- se por importante importantess perdas no campo cam po da matéria. Os sobreviventes (um em cada bilhão) fundam o universo material: você, as estrelas e eu. Somos os filhos de uma leve dissimetria. No final dessa guerra fratricida, subsiste apenas uma fraca concentração de prótons, nêutrons, elétrons e neutrinos, todos em suspensão num oceano de fó tons. tons. No primeiro segundo segundo,, os os neutrinos neutrinos deix am de interag interag ir com a ma té ria, ria, poi poiss a ex pansão ansão faz com c om que eles eles per percam cam energia. energ ia. A temper atura é, então, de um bilhã bilhão de grau gr aus. s. No N o terceiro minuto , os pr pr ótons pod e m liga ligarrse aos nêutrons sobreviventes sem serem importunados pelos fótons am bientes, bientes, muit o agressivo agressivoss em razão r azão de sua sua forte energia. A primeir a v aga de reações nucleares do universo termina-se pela síntese nuclear primor dial do deutério, do hélio e do lítio, e pelo fracasso da síntese do carbono. IV . A era estelar. Um milhão de anos mais tarde, tendo a temperatura do universo caído para aproximadamente 3.000 graus, o átomo do hidrogênio nasce da captura captura do elétron pelo próton. Des de e ntão, ntão, o univers univers o ilum iluminaina- se, pois os elétrons acorrentados não podem mais reter os fótons. É a alvo rada cósmica. cósmica. A luz desp despren rendde- se da matéria, matér ia, deixandoeixando- a livr livree par paraa que ela se estruture. As ondas eletromagnéticas liberadas nesse instante, dis tendidas pela dilatação do espaço, chegarão ao solo quinze bilhões de anos mais tarde. Por meio deste ato separador, o universo revela-se transparente e fértil. O gás gás univer niver sal fragmen fragmentata- se em imensas imensas nuv nuv ens que florescem em estrelas. estrelas. A s estrelas, indiv idualme idual me nte , opõ opõemem- se com co m todas as as suas suas forças (ou, melhor dizendo, com toda a força da gravitação, que é a atração da matéria pela matéria) à expansão do universo, essa corrida generalizada em direção ao difuso e ao frio. Elas concentram e reaquecem a matéria em seu seio. Sob a influência do calor, elas transformam em seu cadinho ang em carbono, os núcleos de hidrogênio e de hélio herdados do Big B ang
O Mundo
O ca minho que conduz da multidão das das partícu partículas las anônimas e ab abs tratas engendradas pela “explosão original" até a relva dos prados, até a chuva e o vento, até a variedade infinita de formas e estados e a profu são dos sentimentos passa, necessariamente, pela estrela. 0 'S uspensa entre a queda e a poss poss ibilidad ibilidadee de alçar vôo, ela viv e à beira beira de sua sua temper te mper atur a de destruição. destruição. A estrela é o lugar e m que a matér ia se desmaterializa, pois nela a matéria se transforma parcialmente em luz, Big- Bang, Bang, que contrariamente ao Bigque é o acontec imento no qual (parcialmen te, muito parcialmente) a energia se materializa. Ela brilha porque transmuta os elementos. A estrela é, portanto, o lugar em que os metais se aperfeiçoam. aperf eiçoam. Nos cadinhos estelares estelares o simples simples hidr og ênio transforma transforma-- se cm complexos carbono, azoto, oxigênio, ferro, ouro e urânio. Se quisesse quisesse agr adar as as crianças, crianças, e u poder poderia ia dizer que no cora ção ção das das estrelas estrelas celeb celebram ram-- se milhares de cas amentos entr e núcleos núcleos de átomos. átomos. O grito de alegria é a luz. E acrescentaria, para fazer com que gostem de matemática, que as estrelas fazem operações aritméticas: 3 hélios cortespond tespondem em a 1 carbono carbono,, da mesma mesma forma forma qu que 3 x 4 = 12. Mas elas não guardam embaixo do colchão os produtos de sua alqui mia. N o final f inal de sua sua ex istência luminos a, as estrela estrelass abrem abrem-- se como com o flo floi cs. Elas entregam ao vento celeste miríades de átomos alados.’ Dessa lorma, elas desempenham o papel de artesãs conscienciosas na econo mia geral do universo.°As grandes, revolucionárias, cuja explosão é aco lhida aqui embaixo pelo grito alegre de “supernova”, oferecem ao céu os átomos confeccionados em seu seio, e as pequeninas, como o Sol, distri buem em volta de si luz e calor duráveis. Nossos átomos foram carregados no ventre das estrelas e foi a luz quem os incubou. • Depois Depois de geraçõ gerações e mais mais geraçõ gerações de estr estrel elas as terem se suced sucedid idoo e r m iquecido iquecido com sua obra obra nuclear nuclear o gás gás da Via- Láctea, Láctea, um astro modes to da perif eria er ia galáctica, galáctica , o Sol, sep separaara- se de sua sua nuvemnuve m- mãe mãe e rodei rodeiaa- se .Ir .Ir planetas. lanetas. N uma delas elas emer g em a v ida ida e a consciência. consciência. E hoje a ma té ria «1 1 1 r pensa debruça se sobre seu passado de matéria inerte, estelar e nebulma. ( J i u i ik ê’. o lha ir m as estrelas, estrelas, façamfaçam- no com outr o olhar. i k Io viu ê’.
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
OlhemOlhem- nas co mo aquilo que elas realme re almente nte são são: as mã mães de nossos nossos áto áto mos. Ao virem das estrelas, nossos átomos retornarão para elas quando o Sol gigante e vermelho tiver feito evaporar a Terra. Então, os corpos de todos todos os mortos s epultado epultadoss sob a terra terra estarão estarão no Sol. Mas Mas por enquan to, to , imortais, esses átomos constituem espécies mortais e pensantes que admiram o Sol como como um deus, deus, um pai ou como uma centr al nu nuclear... ' V . A era solar. A pe le l um i n o s a do a s tr o do dia e s c o nd ndee , de f a t o , um a c e n t r a l nuclear de confinamento gravitacional. Ele traz em seu coração o infer no, mas sua face é serena. Cada ponto do Sol é a um só tempo atraído (atração da matéria pela matéria) e repelido pela força de pressão térmi ca. A flexibilidade do estado gasoso permite reajustes estruturais não explosivos. De fato, sua temperatura e sua luminosidade são estáveis há milhares de anos, o que faz dele uma maravilhosa incubadora biológica. O home m é um caçado caçadorr diurno diurno e a atmosfera atmosfera é transparente transparente numa gr ande par parte te da irr adiação adiação solar, solar, e é a per manência man ência da luz do do Sol que f or jo j o u nossos noss os olhos: seus átomo áto moss f alar al ar am s em par pa r a r a l ing in g uag ua g e m da l uz aos átomos de nossos olhos. O olho é sola solar: r: por isso, somos somos cegos em relação às às estrelas muit o mais quentes ou muito mais frias que este Febo da crina dourada. Mas nosso nosso olhar é universal: universal: o home m dotou dotou-- se de de pró próteses teses que lhe pe rm i tem perscrutar o céu pelo registro das ondas (rádio, infravermelhas, ultrav ioleta, X e gama). gama). O não- visto é o visível visível próx próx imo. A a s t r o nomi no miaa do inv is ível ív el,, e le t r ônica, ônic a, a uto ut o ma t iz a da e s a t e lit li t izad iz adaa revela que o céu noturno brilha com todo seu esplendor em gamas de irradiação que a visão natural não pode apreender. Não continuaremos a viver cegos em meio às realidades sublimes do céu. A Terra está per manentemente imersa numa irradiação universal. Fria, ela tirita diante de nnossos ossos radiotelescóp radiotelescópios. ios. O Sol dos dos neutrinos jamais descansa. descansa. A noite faz parte do domínio das aparências. Ela não é negra; antes, nosso olhar é que é obscuro.
3
Teorias cosmológicas e ensino das ciências Pasquale Nardone
O discurso discurso da física física é ta mbém discurso discurso ideoló ideológico. gico. A cosmologia demonstra muito bem isso. Menos do que qualquer outro capítulo da história natural, este não pode ser construído positivamente. O número re duzido duzido de medidas medidas próprias próprias e a impossibilid impossibilidade ade de pôr em e x perime n tação tação o objet objetoo de nossa nossa ate nção impõ impõem- nos um discurs discursoo especu es peculativ lativo. o. A c os molo mo logg ia aparece apar ece-- nos c o mo um a s ucess uces s ão de encai enc aixx es s e me lha nte nt e às bonecas russas,* em que empilhamos não somente conceitos e idéias, mas também fantasias. E é precisamente por essa razão que tal discipli na pode ser instrutiva. Para retomar um mote clássico entre os físicos, apenas três fatos determinam a cosmologia: — o primeiro deles é que a noite é negra; — o segundo é que estamos imersos numa irradiação eletrotuagiiê liea (que ela seja de 2,75 kclv k clv ins e que seja de or ig e m cos molóRii ■ '6 outra história); história); o terceiro é que é verdade que os espectros luminosos emitido? pelas naLí naLíxx ias ias desloca eslocam m- se s ist emat icame nte em dire ção ção ao v er melho (rv,r deslocamento é ligado à expansão cósmica, e o fato de elr sei pro pon lon.il ,i distancia também é uma outra história).
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
Mas, à parte esses três fatos, todo o resto, ou quase, não passa de dis curso. A cosmologia é, nesse sentido, exemplar de uma situação comum a todos os campos da física. Mesmo se é verdade que quase não se fala disso, o debate constante sobre modelos, teorias, experiências e ideolo gias cons titui de f ato a prática co tidiana tant o dos físicos físicos qua nto dos cos cosmologistas. A f ísica, ísi ca, tal ta l c omo om o f oi cons co ns ig nada na da nos prog pr og r amas ama s do e ns ino s e c undá un dá rio, impõe, entretanto, a nossos adolescentes, já de início, uma série de axiomas, de regras colocadas como dados estáveis e definitivos — e isso é de lamentar. Antes mesmo de passearmos com os alunos pela nature za, de de constituirmos constituirmos com eles eles um conjunto de fenômenos fenômenos , de trabalhar mos pela construção de “fatos”, antes, portanto, de darmos aos estudan tes uma “lição de coisas”, nós lhes apresentamos o modelo final. Essa abordagem esterilizada leva, às vezes, a dar aos alunos respostas para perguntas que eles nem sequer fizeram! O modelo tr adicional por ex celência celência em física, física, já que ele serve de molde para todos os outros, é o que foi inaugurado por Newton. Permi tamtam- me, pois, lembrá lembrá-- lo aqui aq ui em suas suas linhas gerais. ger ais.
O espaço espaço,, o tempo, o ponto ponto O espaço não pode ser definido “pr “pr aticame atic ame nte” nte ”, não se pode torn tornáálo concreto. Simplesmente, diz-se que ele se encontra lá, absoluto e indubitá indubitávv el. A partir de de Ne w ton, esse esse espa espaço ço absolu absoluto to adquire adquire um senti do mate mático. DáDá- se a ele “propriedades” “propriedades” g eométricas. eométricas. A part ir de então é possível desenhar nele mentalmente retas, triângulos e ângulos. Ele pode ser s ubmetido a um discu discurso rso lóg lóg ico- ded dedut utivo ivo s em que jamais se recorra à medida ou à verificação experimental das afirmações. Ne w ton precisa precisa de de um tempo. O físico físico deve deve narrar histó histórias. rias. E le não vai simplesmente desenhar figuras geométricas. Ele deve contar a ev olução dessa dessass figuras. Ne w ton propõe propõe um “tempo- modelo”, modelo”, um tempo impraticável, mas incontestável, que tem a qualidade especial de “passar” uniformemente. Newton nos dá também uma descrição do
O Mundo
que é a matéria. A matéria, por mais mais complex a que seja, seja, pode pode ser redu zida a um sistema de pontos materiais. Entre os pontos não há nada: é 0 "va zio”. zio”. O modelo new toniano é determinista: se temos o que se chamará de condiçõ condições es iniciais, podemos podemos predizer o f uturo uturo.. O objetivo do cientista é, cm parte, a previsão. Isso é bastante ambicioso, é mesmo extraordinaria mente ambicioso, mas é seu papel essencial. Neste mode lo ve m em seguid seguida um discurso iscurso comp complex lex o: o que é uma força e como a força vai ser religada ao movimento. Como terreno de validação disso, além do movimento planetário — grande sucesso da mecânica newtoniana —, temos também o “tiro parabólico” da bala de canhão, as fases da Lua e as marés, os cometas, tudo isso tendo uma açflo a distância: a lei da gravitação universal. Notável força que, instan taneamente, sem intermediário material, estabelece um elo invisível entre todos os corpos!
Campos e fluidos O que que é muito importante é que que foi preciso esperar esperar o século século X IX paia ver aparecer uma outra modelização, proposta por Maxwell. Para explicar as forças elétricas e magnéticas, Maxwell introduz um 1(ii íccito que será essencial para a física moderna: o conceito de campo. ('m»o num gramado em que cada fragmento de solo é coberto por um iíiminho de grama, um campo físico cola em cada ponto de espaçotempo um ou v ários rios números números . (
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN
que que deixe de existir entre os pontos materiais materiais to do e qualquer luga r para o vazio absoluto absoluto new toniano. A c o ns e qüênci qüên ciaa mais ma is s urpr ur pree en ende dent ntee das e quações quaç ões de Ma x w e ll é a predição de uma propagação ondulatória das forças elétrica e magnéti ca. Num jogo sutil de compensação mútua, no espaço e no tempo, do campo elétrico nasce gradualmente o campo magnético, e vice-versa. A onda eletromagnética revela-se experimentalmente como possuidora das mesmas propriedades propriedades físic físicas as que que a luz. A pr imeir a unif ica ção con ceituai acabava, assim, de ser realizada. O v ocabulário ocabulário e a for ma mate mática das equaçõ equações es desenvolvidas por Maxwell constituem ainda hoje referências, tanto na teoria quântica dos campos quanto na relatividade geral.
Conflitos e unificação E m 1905, 1905, Einste in levanta levanta uma contradiçã contradiçãoo entre o modelo modelo new to niano e o modelo maxwelliano. Das duas, uma: ou é Newton quem tem razão ou então é Maxwell. Einstein escolhe o modelo de Maxwell como teoria fundam ent al da físic física. a. A partir daí, daí, ele ele é obrig obrig ado a ref ormular a mecânica para torná-la compatível com o absoluto que se tornou o con ceito de velocidade da luz. O modelo chama do de “relativ idade idade restr ita” chega à re conciliação por meio da imbricação do espaço e do tempo numa única entidade: o espaçoespaço- temp tempo. A velocid ve locidade ade da luz, tornand tornandoo- se assim fr onteira absolu abs olu ta, cria pela pela prime ira v ez, nesse nesse espaçoespaço- temp tempo, uma noção de de hor izonte. izont e.
Generalização Einstein levaria cerca de dez anos para construir uma extensão de seu modelo: da relatividade restrita à relatividade geral. Ele mostrou que a genera ge nera lização impõe impõe um a lig ação ação entre o espaçoespaço- temp tempo e a matér ia. O espaçoespaço- tempo tempo é modificado em seus seus aspectos aspectos ge ométricos pela pres en ça da matéria.
O Mundo
que é remarcável é que a gravitação de Newton “não passa” da O manifes tação mecânica desta desta modific modificação ação geométrica. A trajetória tra jetória da T erra err a em tor no do Sol é uma uma “linha reta” do espaç espaçoo- temp tempo modifica modifica da pela presença do Sol. Segunda conseqüência importante: o desvio dos raios luminosos. Os raios luminosos que passam pelas vizinhanças de i una massa importante (e a única que temos aqui é o Sol) são desviados uo modelo einsteiniano. Uma experiência realizada durante um eclipse solar solar (o Sol S ol deve deve en enco conntrar- se ocultado para que as medidas poss am ser efetuadas) permitiu, aliás, medir os desvios luminosos sobre as estrelas, de acordo com o modelo einsteiniano de gravitação. Einstein, que foi informado infor mado des desses ses resulta resultaddos ex perim er imentais, entais, não não e x primiu ne nhum a rea rea(,‘ilo de alegria, pois seu modelo já previa isso! Real ou fictícia, esta ane dota é significativa, à medida que mostra que os modelos e fatos não dia logam todos entre eles da mesma maneira. Existe no modelo uma certa estética que, que, às às vezes, leva o físico a dizer dizer que o que ele ele e nuncia só pode (ri correto, ou seja, que o modelo é belo demais para ser falso.
Ilnivcrso
O que é muito importante na relatividade relatividade geral é que, que, e nfim, nfim , dispo mos de um modelo capaz de descrever o comportamento do universo r ü i m u i globalidade. É possível, finalmente, contar a história do univer so Nn< >se podia f azer az er isso com co m o mode lo de New Ne w ton. to n. Iv.sa história não é nada simples, pois, como mostrou Michel Cassé, êla %r alimenta de outros outros modelos. modelos. Mode M odelo lo da física nucle nuclear ar , modelo model o da fftí* a das partículas elementares, modelos termodinâmicos, e todos, fcofiiunií aiulo-se reciprocamente, escrevem uma cosmogonia que pre tendemos tendemos coerente. T\Ia \Ia', voltemos v oltemos ao proble ma da irr irr adiação adiação eletr ele tr omag nética nétic a ambie am biente nte,, <=tni a no iníc io dest a pales tra . E s ta irr adiação adiaç ão está es tá inte inte g r ada ao "itimlrl smológico standard”. Sua origem encontra-se no resfriamen
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
problema inaugural da mecânica quântica. Max Planck teve que “fabri car” um modelo para poder explicar a curva experimental que mede a quantidade de energia emitida por um corpo aquecido a dada tempera tura. Para “reencontrar” os valores medidos, a matéria, segundo Planck, deve absorver e emitir energia por múltiplos inteiros de uma quantida de finita. A energia deve ser “quantificada", contrariamente ao que é suposto por todos os outros modelos na mesma época: a mecânica, rela tivista ou não, não autoriza em nada este processo descontínuo. Depois disso, nasceria uma nova mecânica que viria dar conta, além do mais, de todos os fenômenos atômicos. Dessa forma se encontra na história cósmica a curva inaugural do modelo atômico. Isso é hoje facilm f acilment entee compre compreensível, ensível, posto que q ue em e m seu s eu “passado” “passado” o universo deve ter vivido períodos de tal forma quentes que somente os m odelos atômicos e nucleares dão conta de explicar suas diferentes fases e evoluções.
Especulações PermitamPermitam- me, enf im, dizer algumas algumas palavras alavras sobre sobre u m as pecto ain da mais especulativo: especulativo: a “criação “criação de matér ia”. A m e c ân ânic ic a q uân uâ n t i c a e a teo te o r ia q uân uâ n t i c a dos c a mpos mp os (que (q ue é s ua extensão) tentaram conciliar, de alguma forma, a visão newtoniana do ponto material e a visão maxwelliana do campo. Fala-se de “partículas elementares”, ao passo que toda a teoria foi escrita em termos de “cam pos”. Sem entrar nos detalhes técnicos, pode-se dizer que a teoria dos campos dá um conteúdo à noção de “criação”. Em seu quadro concei tuai, é possível possível “cr “criar” iar” e “dest “destruir” ruir” partículas. O “vazio” “vaz io” pode ter uma “estrutura” que, convenientemente alimentada, pode produzir resulta dos qualitativos interessantes. Se deslocamos a teoria quântica dos cam pos para um “meio” geométrico curvo, como quer a relatividade geral, ela oferece então a possibilidade de se ter uma “criação” de matéria ex nihilo e pode, talvez, levar à modelização da existência de toda a maté
O Mundo
Conclusão Pode-se, portanto, dizer que da mesma forma que a matemática, part indo do núme r o inteir o, acrescenta novas “entid “entidadesades- solução” solução” a pro blemas novos (os números negativos, os racionais, os reais, os comple xos... xos...), ), a cos mologia molog ia alimenta alimenta-- se de obser obser vações vações e de modelos a fi m de elaborar, sob a forma de questões e respostas, uma narrativa que, se non vero, è bene trovato*
\
4
Nossa visão do mundo: algumas reflexões para a educação Pierre Léna
Em meio às mais importantes evoluções ocorridas nas últimas décadas, a revolução radical de nossa visão do espaço, do tempo, da Terra, do lugar e da evolução do homem no universo tem sido tantas vezes lembrada que chega a aparecer como banal. E ainda mais: a per ce pção pção desta re volução, volução, longe de con confin finarar- se a alguns meios meios científicos científicos e intelectuais, viu-se difundida pela mídia e atingiu a maioria de nos sos contemporâneos: basta lembrar aqui todas as conotações popula extraterrestr stree o u viagem espacial. Como no res das expressões Big- Bang, extraterre tem po das das grandes grandes ex ploraçõ lorações es da Renascença ou do século século X V III, a cons ciência coletiva aprop apropriou riou-- se desta destass mudanças à sua sua ma neira , que que na maioria das vezes é mítica: novos mundos, novas representações, novas maneiras de pensar o ser humano. Como é possível que a educa ção permaneça de fora deste contexto? Porque tais aquisições são fun damentadas principalmente sobre o uso da ciência e da tecnologia. A propriar propr iar - s e delas de ma ne neir ir a jus ta é indis in dis pens pe ns áve áv e l, a f im de e quil qu ilib ibrr a r o poder dos mitos pela per tinência da razão. razão. Nosso pr opós opós ito é, assim, falar aqui a favor de condições que permitam ajudar o adolescente, em situar- se em tudo isso. todos os momentos de seus estudos, a situ
O Mundo
Sonhos e realidades “V ocês ocês nos f aze m sonhar! sonhar! ”: eis eis uma ex clamação clamação tantas vezes ouv ida a cada cada vez que novos horizontes do conhecime nto nos são propostos. ropostos. A realidade assim descoberta, ou construída pelo saber, situa-se de tal for ma fora dos dos campos da s ensibili ensibilidad dadee e da imag inação com uns que ela logo se vê relacionada ao sonho e, logo depois, ao mito. Entretanto, não há nada de surpreendente nessa exclamação: as imagens do espaço, as imagens dos planetas próximos ou as das galáxias mais distantes são impressionantes desde que são comentadas, pois a partir de então elas rev elam duraçõ durações es,, dimensões, dimensões, energias propr iame nte inconcebí inconcebívv eis por uma intuição construída apenas apenas sob sobre a ex per iência iência huma na do cotidia no. Em vez de estender-se ao domínio de uma região, de um estado ou de uma nação, a consciência do homem deve, de agora em diante, i c| >re >rese senntartar- se num espaço sem limites limites , sem fr onteira onteiras, s, moldado molda do pela lei da gravitação e pela presença da matéria, espaço no qual a Terra não passa de um frágil esquife, existindo por durações tão longas, perto das quais os ciclos da história humana não passam de um breve piscar de olhos. À pe r m a nê nênc ncia ia das coisas coisa s que qu e nos r o de deia iam, m, t ão be m e x pr imid im idaa pe l o Eclesiástico (“Não existe nada de novo sob o Sol”), ao ideal clássico do equilíbrio, todo o nosso saber vem agora opor a idéia contrária: desde a mulo dos tempos, o universo não deixa de estar repleto de novidades, a fv oluçâo é cósmica, cósmica, univers univers al, ela não poupa se quer quer o Sol. O estado de desequilíb desequilíbrio, rio, fonte de criatividade, criatividade, enco enconntratra- se por t oda a parte na lei fia-, coisas. Por bem menos que isso podemos sentir uma espécie de vertigem, i í onlir ço ge nte, mais mais idosa, idosa, que que prefer ia nem pensar nisso nisso para não ioçobiíir. Que o cinema se alimente de tais mudanças de perspectiva tipo r .surpreendente. Mas não podemos delegar unicamente a filmes f i m o ( ) Quinto Elemento ou Guerra nas Estrelas a tarefa apaixonante rif (pi omhuii íeterenciais diante dessas novas escalas.
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
A e x plor plo r ação aç ão do s iste is tema ma s olar ola r Primeiros passos em direção ao novo mundo e ponto de rivalidades terríveis durante a guerra fria, esta conquista mobilizou o imaginário de toda uma geração, de Gagárin aos exploradores da A poio, poio , este right right s tuff que traduziram como a essência dos heróis. Mas, se a coragem dos cos monautas permanece indubi indubitável, tável, o fe ito sofreu a usura usura do tempo: hoje a Copa do Mundo de Futebol é muito mais apaixonante para a humani dade do que a montagem, em plena órbita terrestre, das 460 toneladas da estação internacional A lpha lph a ou o encaminhamento dos homens que vão viver nela. É que um feito vale sobretudo pelas conquistas que ele propõe ou prepara: ora, essas reparações laboriosas de todo esse encana mento espacial em órbita, tão férteis em contratos para a indústria aeroespacial nortenorte- american americana, a, não apare apare cem mais mais c omo ligadas a um objetivo que seja legível por todos. A pes ar da dispe dis pendi ndios os a a v e ntur nt uraa da es tação ta ção orbit or bital al,, este est e mal- estar es tar é mais mais be m apreendido hoje hoje pela pela NA S A do que que por por muitos dirigentes europeus, persuadidos ainda de que o panem et circenses da modernida de passa pelo homem em órbita baixa. É preciso revisar o objetivo e rea nima r a febre da ex ploração, ploração, dirigindo dirigindo-- a para para essas essas parag ara g ens do s istema solar quase que nem minimamente desvendadas ainda hoje: os profun dos canyons de Mar te, as brumas brumas opacas de T itão, o gelo ge lo em f usão de de Europa, as neves impuras dos núcleos cometários. Portadora de uma interrogação sobre nossas origens e fonte de uto pias colonizadoras, esta utopia requeriria realmente a presença humana ou não? O deb debate ate é técnico, é claro, mas mas trata trata-- se ta mbém mbé m de um debate de civilização. O desenvolvimento dos robôs acarretou uma mutação profunda da relação do homem ao trabalho e, muitas vezes, levou ainda a um nã nãoo- trabalh trabalhoo que que ta mbém nã nãoo é lazer lazer — c onhecemos onhecemos muit o bem este problema em nossas sociedades desenvolvidas. São esses mesmos robôs, alimentados por uma inteligência artificial e programados para enfr entar o desaparecimento inevitáv inevitáv el da comunicação quase ins tantâ nea com a T erra, que deverão ass umir umir a maior parte dessas dessas ex plorações, lorações,
O Mundo
Como pode o adolescente não se ver confrontado a um julgamento de valor sobre tais aventuras? Será que ele se identifica aos heróis do «paço? Será que julga que a tecnologia passa por cima dos sofrimentos humanos de nosso nosso planeta para presen presentea tearr- se co m engenhocas eng enhocas de luxo? luxo? rducado muitas vezes em tradições culturais respeitáveis, porém fragili/íi> -i h »stas devem ser construídas, pois ainda não foi realmente elaborada Mnlmma ética da aventura interplanetária.
A T n r a , u m pla pl a ne t a e ntr nt r e out ou t r o s — A t o I N.lo podemos mais continuar pensando nessa pequena nau como filiamos. Achatada, transformada em seguida numa esfera, esfera que i t rev elou mais mais tarde achatada achatada nos pó pólos, a T erra é hoje u m objeto objeto flu fluifb, Agitada por placas em movimento e oceanos que respiram, deformáví I e deformada permanentemente, sacudida em sua rotação cuja velo■Made ve m, às às vezes, vezes, ser diminuída diminuída por um imprev imprev isível E l Nino, Nino, com a ífÍHit;ii,;io de seu eixo estabilizada devido à presença afortunada lia I »i-i ( ) solo — no s entido de “só “s ólido” — subtrai subtrai-- se lite r alme alm e nte a nos nos sipi sipi pe pe-, r v ivemos iv emos no f luido. luid o. F e liz me nte nt e , a ciênc ci ênc ia dos f luidos luido s col c oloc ocou ou • . , li tiiã tiiãã tlriH.nain ci cie sei sei tota lmente lme nte um a fatalidade. f atalidade. O es tudo desses fe uô Ã lif li f los lo s s ubli ub linh nhaa a dif di f ic ulda ul da de e a pcr pc r c c pça pç a o diss dis s o é i n t c u a i n c n l r tiiúilnihi de apree apree nd nder er de maneira maneira racional racional o com port ame nto e a dinS dinS iiih i dr sistem sist emas as acoplados c íusláveis íusláveis em que a mtilli mt illidilo dilo de van.í * *1* *1* tiiri tiiriiM iM sutil e í^s vezes innprccnsív innprcc nsív el o enc ade ame am e nto de causas causas r
fefiiloi
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
ameaça que pesaria sobre a vida é propriamente intolerável para aqueles que logo estarão estarão na idade idade de tr ans mitir a v ida. ida. A preciosa e a indis indis pensá vel visão planetária que nos dão os satélites fazem dos problemas do meio ambiente, definitivamente, um desafio planetário, da mesma forma que para outros mitos nascidos da ciência um julgamento crítico a respeito deles é fundamental e sem isso estaríamos sujeitos a graves derivas. Ora, é bastante difícil fazer com que este julgamento seja bem fundamentado, pois trata daquilo que é incerto. Será possível propor um projeto educativo para algo que é incerto? Os participantes devem lembrar-se do testemunho dos astronautas de uma das primeiras missões da A poio, poio , quando, pela primeira vez em órbita em volta da Lua, perderam completamente o contato com a T erra, no mom ent o e m que s ua rev oluçã oluçãoo arrasto arrastou u- os em direção direção à face oculta de nosso satélite: um instante de obscuro pânico tomou conta deles diante desta ruptura com o elo materno. Isso demonstra o quanto a consciência humana é ligada à Terra e, portanto, o quanto qualquer mudança na imag em de nosso nosso planeta planeta pode nos afetar. afetar. A geografia deve escrever novos capítulos, nos quais a psicologia não deveria mais, talvez, estar ausente!
A T e r r a, um pla pl a ne t a e ntr nt r e outr ou tr o s — A t o I I A div er s idade ida de pla pl a ne t ária ár ia no seio se io do s iste is tema ma s olar f oi r èv elada el ada pelas pela s grandes missões exploradoras das décadas passadas (Pioneer, (Pioneer, Voyager e muitas outras). A Terra perdeu então de certa forma sua singularidade absoluta para ganhar uma outra, mais relativa, porque resultante da comparação, e mais mais fe cunda, pela pela mes ma razão. razão. Este ex ercício, ercício, que f az de Mar te ou T itão itão primos de nosso nosso planeta planeta e que confr onta a his his tória tória da Terra e a da vida sobre ela à gênese do sistema solar como um todo, só produziu, até agora, seus primeiros frutos. Mas um abalo em nossas representações é evidente de agora em diante. A esse ess e pr ime im e ir o c hoqu ho quee v e m juntar- se a inda in da u m s e g undo und o que qu e a pa
O Mundo
mente avaliada. Trata-se da descoberta, certa desde 1995, da existência de planetas em volta de estrelas muito próximas — a algumas dezenas de anosanos- luz. luz. Me s mo limitan limitanddo- se ainda à observ observ ação ação de de enormes pla ne tas comparáveis a Júpiter e mesmo que a esperança de detectar novas “Terras” não possa se concretizar antes de alguns anos, o passo foi dado, e essa essa descoberta descoberta abre abre um imenso c apítulo apítulo de inves inves tigação. tigação. A hipó ipótes e milenar, formulada primeiramente por Epicuro, de que podem existir outros lugares e m que a v ida é possível, ve m jun juntar- se hoje hoje a poss poss ibilida ibilida de, ainda ainda fraca — é preci preciso so dizer — , de um a v erificaçã erificação. o. O século século X X foi o da descoberta da expansão do universo, e deste mergulho nas profun dezas do tempo e do espaço nasceu a cosmologia moderna. Será o sé culo X X I o da da descoberta descoberta de de outras outras “T erras ” portadoras de v ida, ida, e de de que forma de vida? T am bém para isso é preciso prepara r o adolescente, sob o risco da da criação de de mitos. PreparáPrepará- lo para a s util percepção per cepção do do luga r do home hom e m no universo, lugar tão grande e tão humilde, tal como Pascal, sem dúvi da melhor do que ninguém, soube explicar.
Uina história de mestiçagem Se existe uma construção de saberes tecida a partir de contribuições univer univer sais e enrique e nrique cida pelas pelas mais diversas culturas , só pode ser a co const n ição de nossas representações do espaço, do tempo e dos objetos que povoam o cosmos. Longe de figurar uma progressão linear que seria resultante da supremacia desta ou daquela visão de mundo, nossa visão moderna apóia-se, de fato, sobre tradições múltiplas e complementares. Podemos tirar diversas diversas lições lições dessa constataçã constata ção. o. A prime ira ir a é que a poderosa visão da cosmologia moderna, a exploração racional do sistema snlai atualmente em curso e a cartografia detalhada do universo próxi mo ou longínquo s;lo prodigiosos resultados — ainda provisórios, sem dú ida adquiridos adquiridos decorrei de correi de lon umulação
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN
que a astronomia revela de forma extrema, e cujo exame atento desven da o poder da inteligência humana diante de objetos que lhe foram e que, na maioria das vezes, permanecem inacessíveis a ela. De Demócrito a Eins tein, de Hiparco a Hubble, uma long a escada escada reúne todos todos os que não quiseram resignar-se aos mistérios dos céus. Segunda lição, que não é menos importante: nosso conhecimento moder no constru construiu iu-- se por por me io de um a incessante mestiçag em de c on tribu tri buiçõ ições es . O que que teria sido da astro as tronomia nomia greg a sem as as cont ribuições da babilônica, da pérsica ou da indiana? E da árabe sem a grega, a pérsica ou a indiana? Se é verdade que os catálogos milenares de observações chinesas chinesas for am integr integr ados ados ao fundo c om um tarde demais demais para dese mpe mpe nhar um papel de primeira impor tância (com exceção exceção do que diz respei to aos “sóis arrebentados” ou supernovas), nem por isso eles deixaram de preparar os “filhos do Céu” para inserir-se, de uma vez por todas, no grande impulso de conhecimento que arrasta a humanidade inteira. Estariam essas constatações reservadas apenas a alguns historiado res das ciências preocupados com o rigor de universalidade? Seria errô neo acreditar nisso. Elas são constitutivas da consciência moderna e podem ajudar, da mesma forma que os relatos de batalhas ou quedas de impérios, a situar os adolescentes no tempo e na diversidade das contri buições culturais cujas contradições eles experimentam muitas vezes na vida quotidiana. Explicar a medida do raio da Terra tal como a praticou Eratóstenes é um grande momento pedagógico, que pode ser vivido tanto no curso primário, com crianças de seis anos, como^no final do segundo grau. Comparar o texto que Aristóteles consagrou às dimen sões do universo e ao modo de pesá-lo com um enunciado moderno de cosmologia, utilizando o zero inventado pela índia e transmitido pela mat e mática árabe, é outro belo ex ercício. ercício. Os nomes das estrelas, estrelas, dos dos pla netas e seus satélites, mesmo não refletindo as culturas esquecidas dos maias, astecas e esquimós, são igualmente um bem comum da humani dade. dade. Q ue deslumbramento no olhar de de uma pequena pequena senegalesa senegalesa numa região pobre, de educação prioritária, ao descobrir que as constelações não são uma invenção dos brancos, mas que elas pertencem também, c
O Mundo
A m big bi g üida üid a de s Esse maravilhoso relato do do m undo não deixa deixa de te r suas suas armadilhas armadilhas e, sem dúv dúv ida, neste f inal do s éculo éculo X X , é útil desmasc esmascará ará-- las. las. Quanta Qua nta s capas de revistas revistas ou me smo sm o de de obras obras assinadas assinadas por po r eminen eminen-Ics cientistas já não propuseram a revelação do mistério das origens, o desvendamento da origem do mundo, da Terra ou da vida? Ora, o relato da da cos mologia moder mo der na é antes de mais nada um a c onstr ons tr ução ução do esp espííi ilo, racional, sem dúvida. Ela se estrutura a partir de fatos observáveis: i leslocamento das galáxias, irradiação do fundo do céu, abundância de elementos químicos no universo. Essa construção, elaborada com base cm nossos conhecimentos atuais, verídicos porém frágeis, pretende dar conta de uma multidão de transformações sucessivas que modelaram a K- presentaç resentaçãão do m und o de hoje a partir daquela daquela que pos pos suíamos suíamos dele dele nnlcm, antes de ontem ou ainda muito antes. Essa construção chega a fsi/,fi-lo de forma bastante convincente, mas, para o profano, tal reprexmtação assume ares de mito cósmico, quer se trate do passado, quer do Juturo. Assim o Big- Crunc Crunch, h, que deve suceder ao BigBig- Bang, Bang, seria a demonstr ação de de um univers o que está condenado a desapa desaparecer. recer. A ss im «i monstruoso inchaço do Sol, que deve se tornar um gigante vermelho em quatro bilhões e meio de anos, confirmaria, de maneira abusiva, o irlato mítico, ou seja, a morte de uma humanidade que aprendeu a andar há apenas um milhão de anos nas savanas africanas e que já foi i iip.iz rle levará Lua um dos seus filhos. Mais do que outras representações, a do cosmos se presta a todo t tj > 0 de confusões, às quais está exposto o adolescente devido a sua sensilulidadc extrema, sua necessidade imperiosa de encontrar um sentido estabelecida. a. Cite mos a inda a ausência de r sim lacionalidade ainda mal estabelecid uma dislinçílo clara entre as transformações cósmicas das quais fala a t Sfni Sfni ia e a noçHo noçHo de criação cr iação ou apar ecime ec imento nto a par tir do não- ser, que é dr ordem religiosa ou metafísica, e que é exprimida ou interpretada de Iniiii.r. Iniiii.r. ilileieiite s pelas elas grandes grandes t radiçõ radições es espirituais espirituais da humanida de.
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
freqüência sobre uma mistura de necessidades psicológicas fortes e noções noções científicas mal digeridas. digeridas. Or a, estas estas últimas últimas , fundamentando- s e sobre sobre as ações ações a distância distância ev idenciad idenciadas as pela física nu ma escala cósmica cósmica , diluem num holismo simplista a liberdade individual do homem, sua grandeza e também sua servidão. A lim li m e n t a r o ima im a g inár in ár io do adole ado less ce nte , t ão pr ope ns o a ex citarcitar - se, tão f am into de símbol símbolos os que es timulem sua criat ividade, sem saturá saturá-- lo com ilusões adulteradas, eis uma tarefa urgente para o pedagogo de hoje.
Complexidade Os propósitos contidos nestas linhas nasceram de uma constatação: a irrupção maciça da complexidade no desenvolvimento das ciências. Que outro assunto, a não ser o universo inteiro, apreendido modesta mente pela ciência, poderia ilustrar melhor essa evolução? Devemos entretanto ser prudentes. Desde Aristóteles e seus quatro elementos, desde a separação dos luminares da noite entre estrelas e planetas, desde a entrada em cena das galáxias, todo nosso conhecimento do cosmos esforça-se por distinguir, discernir, desfazer o emaranhado de informa ções múltiplas, por classificar e reduzir o múltiplo abundante ao mais simples inteligível. A bstenhamobstenhamo- nos, pois, pois, de ir rápido rápido demais e de dese nhar apress adamente adamente quadros quadros que, por serem ex tre mamente s intéti intéticos, cos, não pass pass ariam de de caricaturas. caricaturas. V er , observ observ ar, medir, estabelecer modelos, modelos, medir ainda, estabelecer novamente modelos são procedimentos claros que podem, à medida de nossas capacidades, organizar um pouco a pro fusão do real. Somente depois disso é que um alargamento do campo de visão permitirá compreender de outra forma e mais profundamente. A s s im, cons co nside iderr ar a T er r a c o mo u m plan pl anee t a e ntr e outr out r os dá prov pr ovas as de um olhar diferente. A a pre pr e ndiz ndi z a g e m da compl co mplee x idade ida de é r ude, ude , pois, pois , par a o adole ado le s ce nte , apenas apenas o simp simples é inteligível inicialmente. AdvcrtiAdvcrti- lo contra as s implifi cações abusivas é desejável. Fazer com que perceba o quanto o k m I
O tMundo
re do discurso discurso que faz emos sobre sobre eile ta mbém mbé m (e nesse nesse s entido as as ciências do universo são exemplares, pois ai abordagem sistêmica é indispensável para a compreensão dos objetos dee que elas tratam). Mas tenhamos cui dado para para n ão diluir n um procedirmento g lobal lobal demais demais a maravilhosa maravilhosa ale gria de compre compre ender; tenhamo s o cuidado de de prev prev er um mode lo do do mundo que, ainda que simples, sejja capaz de proporcionar esta alegria. Seria necessário repetir repetir a qui, (diante (diante de uma certa falta de interesse dos adolescentes em relação às ciêíncias, que esses jovens esperam que a ciência tenha um sentido, um semtido para a vida deles? Expectativa ;1rdu ;1rdua, diante da qual a ciênc ia e os oss que a ens inam — t ão certos de te r em .icesso a fragmentos da verdade pela via mais prestigiosa que existe — nflo podem deixar de estar atentoss.
5
A física num nu m a escala es cala hum hu m a n a Sébastien Balibar
Quando me pediram que falasse de “física numa escala humana”, pensei que se tratasse da compreensão física do mundo que nos rodeia, ao qual nossos sentidos ou diversos instrumentos de utilização freqüen te nos nos c onf ro nta m a miúde. miúde. PareceuPareceu- me que essa essa compre ens ão havia sido sido enriquecida considerav considerav elmente elmente no decorrer decorrer do século século X X , a ponto de tr ansformar radicalmente nossa maneira de viver. viver. Pareceu Pareceu- me ta m bém que essa física moderna era muito pouco abordada no ensino de segundo grau e que isso talvez fosse de lamentar. Os físicos dos séculos passados tinham de fato compreendido as grandes leis da mecânica, da hidrodinâmica, da propagação das ondas (luz e sons), do eletromagnetismo e da termodinâmica. Isse^é o que cons titui as bases de nossa compreensão física da natureza, que constitui também essencialmente os atuais programas de ensino da física no secundário. Não se trata aqui de negar a importância disso, que é sem dúvida uma introdução necessária ao que vem depois. Mas nã nãoo se pode pode mais mais ignorar que, que, durant e o sécu século X X , os progres progres sos da física foram consideráveis, da escala subatômica até a do univer so. Deixo a outros o trabalho de explicar que as partículas elementares do século século X X não são são mais mais as mesmas que as as do do século século X IX ou ainda
O Mundo Mundo
que os físicos compreenderam, entre outras coisas, o essencial das pro priedades da matéria, o que permitiu um desenvolvimento tecnológico que transformou profundamente nossa vida quotidiana (eletrônica, informática, audiovisual e transmissão de informações, imagística e aná lises médicas, observação da Terra, arquitetura, meios de expressão artística etc.). Ora, o ensino desta física moderna é muito pouco aborda do no segundo grau. Nenhuma alusão é feita, a fortiori, aos grandes debates científicos atuais ou às grandes questões que ainda estão por ser resolvidas. Podese, portanto, temer que o grande público sinta-se excluído de um saber reservado reservado a uma elite e privado de liberdade liberdade diante de experts em relação relação aos quais ele poderá desenvolver reações hostis que teriam conseqüên cias lamentáveis.
A s a q u i s i ç õe s d a f ís i c a n u m a e s c a l a h u m a n a ul o X X 1 1 0 s é c ul V a mos mo s r e s umir umi r r a pida pid a me nte nt e u m s éculo éc ulo de progre prog ress ssos os cie ci e ntíf nt ífic icos os .
A matéria homogênea Os físicos compreendem hoje as grandes propriedades macroscópicas da matéria pura e compacta, isto é, os estados da matéria homogê nea cm três dimensões: metais, semicondutores, supercondutores, magnclos, plasmas, cristais líquidos, semicristais, géis, polímeros fundidos (iii cm solução, colóides, emulsões, vidros (compreensão incompleta, ainda)... Esses progressos resultam, em muitos casos importantes, de uniii utilização aprofundada da mecânica quântica, como também das Intrusas interações com a química e a matemática. Eles levaram a iuiliii'. inIei.içOrs especialmente férteis com as ciências biológicas ecom ***»1 i p i i < !• ' •*l:i *l:i T a i;i. I ,(‘ ,(‘v ;iia ;i iam m t a mbém mb ém,, com c omoo aca a cabei bei de evoca ev ocar, r, a aplicaaplical í ijiir iuvmlíiam nossa vida quotidiana. Entretanto, não vi em lugar
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
EDGAR MORIN
algum, nos atuais programas de segundo grau, uma palavra tão funda mental como, por ex emplo, emplo, semicondutor. A partir da sexta série do pri meiro g rau, os alunos ma nipula m transisto transistores res dur ante as aulas aulas de te cno logia sem ter a mínima possibilidade de entender os princípios de seu funcionamento e isso, em minha opinião, acarreta nos programas esco lares um problema muito sério de coerência.
A matér ia inomog inomog ênea e desorganizad desorganizadaa Os físicos progrediram muito, em seguida, na compreensão da matéria de dimensões inferiores a três, isto é, superfícies, filmes e mem branas, fios e fibras, agregados e outros objetos de tamanho reduzido, sem esquecer porosos, aerogéis, dedritos e objetos mais ou menos fractais. As aplicações desta física são extraordinariamente numerosas, já que vão desde a eletrônica de ponta até a recuperação do petróleo, pas sando pelas colas, pela síntese dos matérias compósitos, pela tecnologia de pinturas ou pelo progresso no campo da cosmetologia. Automóveis, esquis, raquetes, barcos, instrumentos de música, todos esses objetos familiares incluem novos materiais compósitos. Quantos, entre nós, sabem as coisas mais elementares sobre a relação entre a composição desses materiais e suas propriedades? A l é m do mais ma is,, os físicos fís icos de dess en envv olv ol v er am méto mé todo doss de e s tudo tu do da m a t é ria desorganizada, chegando, por exemplo, a compreender como as ondas se propagam, o que levou a progressos notáveis noà métodos de imagística e análise médica. Pensemos na invenção da ecografia médica ou da ótica adaptativa dos telescópios: as imagens a nosso alcance no século século X X rev olucionaram olucionaram nossa percepção percepção do mundo.
A s mudanças do estado da matéria Como ferve um líquido, como um material pode tornar-se isolante
O Mundo
física neste campo também são consideráveis. A compreensão das mudanças contínuas e dos fenômenos chamados de críticos, que são associados associados a tais mudança m udançass , está, parece- me, em fase de conclusão, ao passo que a compreensão das mudanças descontínuas, como por exem plo a cristalização de um líquido, supõe ainda um entendimento por enquanto imperfeito da nucleação, dos fenômenos ligados à capilarida de, das das instabilidades, das ondas ondas de choque etc.
Interação matéria/meio ambiente A inte in te r a ção da l uz e de outr out r as irr ir r adiações adi ações c o m os átomo áto moss ou as m o l é culas com o gás, portanto, já foi bem explicada. Daí a invenção do laser e de métodos de análise espectroscópica especialmente úteis ao estudo de nosso nosso meio ambiente. A inte in te r a ção c o m a maté ma térr ia c o mpa c t a encontraencontr a- s e b e m me nos no s elucii Lula Lula.. Da í um dese nvolv imento importa nte e m outro c ampo, o da op optotoeletrônica, dos detectores (integrados ou não), das irradiações e das par tículas, a explosão da tecnologia das câmeras, telas, diodos e painéis luminosos luminosos de todo tipo em nossa vida de de todos todos os dias. T am bém é preci pre ci so mencionar aqui a revolução introduzida pela utilização dos raios X, sem os os quais a imag ística médica não seria o que é, sem os os quais quais tamp ta mpou ou-teríamos de descoberto scoberto a estrutura estrutura do D N A , suporte suporte da hereditariedade. hereditariedade. ( i >teríamos Nno vamos esquecer também que sem os supercondutores e sem a teoii.i do magnestismo não.existiria em nossos hospitais a imagística resul tante da ressonância magnética nuclear (os “scanners IRM”). Notemos, finalmente, que nosso conhecimento sobre o efeito das radiações ioni/uutcN sobre as matérias ou tecidos biológicos ainda é insuficiente; por ex emplo, emplo, definir rig orosamente o que que é um limite de ra dioativ dioativ idade idade tole tole-i i' 1 1continua sendo um problema delicado e isso explica por que alguns Kiupos antinucleares sempre encontram a possibilidade de • nt r e j íni ín i .1 manipulações demagógicas da opinião pública. Por outro lado, o mrinilo de dalaeílo poi meio do carbono 14 já demonstrou mais
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
A matér ma tér ia em m ov ime im e nto
T udo o que que se encontra na fronteira entre a física física e a matemática, entre a mecânica dos sólidos e a dos fluidos ou a dos meios granulares, bem como o estudo das instabilidades e o dos fenômenos não lineares são campos em plena evolução. Os progressos feitos já permitiram, por exemplo, à meteorologia e à climatologia a aquisição de um rigor quan titativ titativ o inex istente istente no século século X IX . A física física não não linear e a das instabilida instabilida des são essenciais, não somente para o controle de inúmeros procedi mentos industriais (hidráulica, combustão, aeronáutica...), mas também para a compreensão de vários problemas da medicina.
A “hipótese atômica ” Parec Parecee- me, enfim, interessante interessante notar que o final do século século X X pre senciou um desenvolvimento considerável das técnicas de observação e de manipulação dos átomos (ou moléculas) um a um, graças, por um lado, à invenção do microscópio de efeito de túnel e de seus derivados e, de outro, graças aos progressos da ótica quântica. Não se podia nem sonhar a confirmação tão surpreendente daquilo que continuamos a hipótese tese atômica. atômica . A via está agora chamar, por excesso de prudência, de hipó agora aberta ao estudo e à utilização de objetos físicos de tamanho muito reduzido, construídos átomo por átomo, e também ao estudo das pro priedades da matéria biológica na escala da molécula, este último um campo em plena revolução há alguns poucos anos.
A l g u n s p r o b l e m a s e a l g u n s de b a t e s Interdisc Inter discipl iplinar inaridade, idade, complex complex idade, idade, autoauto- organização, organização, o todo e as partes, o irracional
Por ocasião deste colóquio, fazendo eco a alguns textos que Edgar
O Mundo
rios rios sobre sobre certas palavras palavras cujo uso parece- me às às vezes um tanto ta nto abusivo, e chama r ass im a atenção dos dos nãonão- especia especialilistas stas contr a o empre g o às às vezes inadequado de um certo número de noções cujo conteúdo nem sempre é tão preciso quanto seria de desejar. Por exemplo: — Interdisciplinarídade: ela é às vezes uma virtude, mas não creio que seja uma necessidade, nem para fazer progredir o conhecimento, nem para fazer com que ele seja compreendido ou ensinado. As discipli nas não progridem unicamente por meio de contatos exteriores a seu campo tradicional, mas, antes, elas têm uma necessidade permanente de apro fundamento interno. interno. — Complexidade: não creio que haja unidade ou universalidade entre os diferentes problemas complexos, a fortiori, de uma teoria da complexidade. Por meio desta palavra, agrupa-se certo número de pro blemas para os quais ainda não foi encontrada uma solução rigorosa. IJm problema “complexo” comporta geralmente diversos parâmetros, mas não necessariamente. Não se trata tampouco, obrigatoriamente, de um problema interdisciplinar. Quando nos confrontamos com um des ses problemas difíceis de resolver, tentamos lançar mão da intuição ou (l
toda t'
ih
fuirtsH,
o
Irracional
contrariamente a Pascal, que foi
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
partes sejam conhecidas ou, inversamente, conhecer as partes sem conhecer o todo. Por exemplo: para entender e utilizar a termodinâmi ca dos dos gases, não é necess necessáário preocu preocup par- se com co m a traje tória indiv idua l de cada átomo. Essa é a grande contribuição da física estatística, que sabe fazer previsões precisas a propósito de um grande “todo”, mesmo no caso em que numerosas “partes” têm um comportamento aleatório. Inversamente, conhecer as leis elementares da hidrodinâmica e aplicálas las a uma parte da atmosf atmosfera era não é suficiente para prev er a f orma ção dos dos tornados. Mesmo assim, nenhum desses aspectos do conhecimento deix deix a de ser interessante. T am bém aí seria seria arriscado, arriscado, penso, penso, tirar qua l quer tipo de conclusão sobre uma eventual reabilitação do irracional e, a f ortiori, ortiori, sobre uma reconciliação necessária entre o racional e o irracio nal. A ciência é racional, sobretudo quando se interessa pelos fenôme nos aleatórios, e é isso que lhe confere esta força prenunciadora à qual nosso mundo conte mporâneo não pode renunciar. renunciar.
Ciência viva/ciência morta
Da for ma com o são são ensinadas ensinadas hoje hoje na escola, escola, parecearece- me que as as ciências não permitem que se perceba a existência de questões não resolvidas, de fenômenos que ainda não foram explicados e entendidos. O profess rof essor or aparec aparece, e, pois, pois, na s ituação ituação de alg uém que sabe e julga seus seus alunos que não sabem ou que ainda não sabem. Talvez iss©seja a conse qüência perversa do hábito adquirido de ensinar apenas conhecimentos que podem ser submetidos a uma avaliação baseada no sistema de notas, ou seja, uma avaliação feita a partir de problemas que devem ser resolvidos resolvidos quantitat iv ame nte. A inda que as as provas provas se jam ne necessá cessárias rias e que uma estruturação sólida dos conhecimentos ensinados seja eviden temente indispensável, será que não poderíamos imaginar a introdução, a partir do segundo grau, de algumas grandes questões ainda não elu cidadas pela ciência atual, mesmo que nem sempre se possa explicar precisamente por que ainda não se encontrou uma oxplicaçüo para as mesmas?
O Mundo
No primeiro plano dessas questões aparece certamente o problema da origem da vida, posto que, se não me engano, químicos e biólogos continuam a interrogar-se sobre a natureza exata da evolução que pôde levar, sobre a terra, de uma química elementar até a síntese dos primei ros aminoácidos, até a bioquímica em toda sua complexidade e, final mente, até o aparecimento dos primeiros seres vivos, sem falar de sua evolução. Outros exemplos: ainda não se pôde explicar realmente a turbulênlfn<>1i.ibalho, i.iba lho, e m vez v ez de apresentáapresentá- la como um c o njun nj unto to de conheconhefjf flímtu:. flímtu:. escolares escolares fixos destinados destinados às às prov provas as de aval iação? iação? A liada a uma Main M| ii. mli ar.eni ar.eni dos dos métodos de reflex ref lex ão e análise análise científ icas (cf. (cf. L a Main é1 la fnitk', A mão nu massa, de Georges Charpak, Flammarion, 1996), UiiiM ial evolin.ão podei ia despertar ou estimular o interesse dos estu-
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
Outra questão: no centro da ciência atual, não somente da física, enco en conntra- se certa mente o problema do acaso. acaso. O que é um fe nômeno aleatório? aleatório? Pode um f enômeno, mesmo obedecendo a lei leiss deterministas, ser imprevisível? A ciência do caos fez grandes progressos nesse campo. O acaso não é nnecess ecess ário somente some nte para a ev olução das das espécies, espécies, mas ele está presente todos os dias em nossa existência sob formas múltiplas (meteorologia, flutuações das bolsas de valores, riscos variados e seguros diversos, jogos e até mesmo astrologia...). Entretanto, o acaso não apare ce em ne nhuma parte dos dos programas do ensino secundá secundário. rio. Or a, o ex ce lente livro livro de Dav id Ruelle, Hasard et Chaos (A caso e Caos Ca os , Odile Jacob, 1988), prova que essas questões estão ao alcance de um aluno de tercei ro ano do segundo grau. Não seria possível imaginarmos uma educação mínima para os cidadãos de amanhã neste campo? Isso não poderia ajud ajudá- los los a resistir contra certas certas ma nipulações nipulações ? C o m certeza, muitas outras outras questões questões merece riam ser colocadas, colocadas, mas nãoo se pode nã pode r ev olucion olucionar ar o e nsino nsino em um dia dia nem mudar os prog prog ramas a cada nova legislatura. Tentei, aqui, apenas situar a física ensinada hoje em dia no seg undo undo gr au francês francês — que é um a f ísica sica do século século X IX — com relação relação à física física em ev oluçã oluçãoo do século século X X e, depois, depois, sugerir um de bate a partir desta confrontação. Claro, os programas de ensino da física para o segundo grau não deixaram de ter alguma evolução até recente mente. E u penso penso simples simples mente que a moder nização deste deste ensino é uma tarefa difícil que deve ser encarada permanentemente, caso não queira mos assistir a uma fratura lamentável entre a ciência contemporânea e os cidadãos cidadãos de ama a ma nhã. Or a, a liberdade apó apóia- se sobre a educação. educação.
6 /
E possível ensinar a física moderna? Jean-Ma Jean-Marc rc Lévy-L Lévy -Lebl eblond ond
Como ensinar a microfísica no segundo grau? é o que me pergun tam. Suponho que se trata, no caso, da física quântica, cujos conceitos, há um século, e cujas realizações, há algumas décadas, transformaram prof undame nte nossa ciência e, em s eg uida, ida, nossa nossa técnica. técnica. T anto é que que nem se trata mais de microfísica, pois agora ela opera em nossa escala, 1 1 0 laser de qualquer leitor de CD. Já nesse problema de formulação insin insinu ua- se a dificulda de para para um a av aliação correta dos aspectos mode r nos da ciência, o que leva a questionar até mesmo a possibilidade de msinámsiná- los a um g rande númer o de pessoas, o que que s ignifica ignific a confess confessar, ar, de início, início, me u cepticismo qua nto a tal possibil possibilid idade. ade. A única coisa coisa que ve m temperar um pouco meu pessimismo é o cepticismo simétrico em rela t o a uma uma real real necessid necessidad adee ddee tal ensino ensino.. O ens ino te m duas duas f unçõ unções es : uma um a profis sional e técnic a, outra outra cultu cultu-•il r formadora de cidadania. Ora, não é no segundo grau que vamos adquirir os saberes técnicos, iii*!*» sim durante formações especializadas, em outro lugar ou mais liiiitr liii itr I )< lato, para para utiliza r os os objetos técnicos, técnicos, mes mo os os mais mais mod moderer111 i'i, i'i, Ir li/ li /iiir ii ir r it c n.io v ne necessá cessário rio compre ender e m detalhe seu func ion a Ía
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
ros ou nossos televisores. É forçoso constatar que a tecnologia funciona como uma caixacaixa- preta. reta.** Se se trata, por outro lado, de saberes que têm um alcance cultural, certos certos conhecimentos da cosmologia cosmologia ou da quântica quântica tê m um a ver dadei ra vocação para modificar nossas representações do mundo. Mas não estou certo de que os detentores e produtores destes saberes estejam aptos a compartilh compartilháá- los com co m outros outros.. Pois, para para que um saber cient ífico possa mostrar sua plena dimensão cultural, é preciso que ele esteja inti mamente ligado ao conjunto do corpo dos conhecimentos e, antes de mais nada, ao saber comum (que na maioria dos casos é transmitido em outro lugar que a escola — pela família ou mesmo pela mídia). É preci so, além do mais, que este saber seja recolocado em seu contexto histó rico e filosófico, o que significa dizer que esta questão escapa aos pes quisadores quisadores de uma dada disc disc iplina iplina científica. Comparemos o ensino das ciências com o ensino daquilo que se chamava outrora outrora pelo belo belo nome , abandonado, de humanidades. Para os alunos de prime prime iro e se g undo undo graus, graus, tanto para os os menore menoress co mo para os maiores, o acesso à literatura contemporânea não pode ser separado do estudo dos dos g randes randes autores autores do passad passado. o. Nin g uém pensaria em ens inar o contex tualizá tualizá-- lo numa história história literária que incl ui Nouveau roman sem contex Rabelais, Stendhal, Proust. O mesmo ocorre com a música e as artes plásticas, sem falar da filosofia, na qual a modernidade só adquire um sentido relacionada a uma longa e complexa história. Ocor re que que nossa nossa ciência, ciência, há um século, século, pens pens ou poder limita limitarr- se a uma contemporaneidade absoluta e pretende recapitular o conjunto de seu passado no presente (Alfred N. Whitehead chegou a dizer: “Uma ciência que hesita em esquecer seus fundadores é uma ciência condena da.”) da.”). Mas ne nhum pesquisador pesquisador científico, científico, tra balhando de de agora e m dian te num campo muito estreito, conhece a história deste mesmo campo além alé m dos dos dez ou v inte últimos anos (da (da mes ma for ma, as bib bibliogr liografias afias dos trabalhos científicos quase não vão além de quatro ou cinco anos).
♦Expressão significando, aqui, elemento de um sistema do qual se ignora o funciona me nto inter no e do qual só sc conhe ce m as uiractcrlstl uiractcrlstlcws cws d r e ntrada e de ‘.. ‘..tl tldd.i (N, T .)
O Mundo
Esse funcionamento da ciência que se refere a um passado imedia to pôde, durante um curto século, permitir “ganhos de produtividade” reais. Mas esse período chega ao fim, e o passado faz seu reaparecimen to no centro da atividade científica. Os físicos de minha geração, educa dos há trinta ou quarenta anos, foram formados com a idéia de que a única física digna de consideração era a do mundo microscópico (física das partículas) ou a do megascópico (a astrofísica). No entanto, para grande surpresa de todos, eles viram o renascimento do interesse pelos problemas clássicos de dinâmica que tinham sido ocultados durante um século. No campo da biologia, a dominação absoluta da visão molecular cede lugar doravante a uma visão mais global dos seres vivos. Assim, a ciência só pode continuar a progredir à medida que se reinteressa por momentos de s ua hist hist ória que ela considerara considerara com o ultrapassados. ultrapassados. Mas , se é certo que em seu próprio interesse (relativamente limitado) os pes quisadores e engenheiros têm necessidade de uma abertura histórica muito mais ampla, essa exigência é ainda mais forte para os profanos, e ;intes para as crianças, se se quer que o ensino das ciências ajude cada qual a formar para si mesmo uma representação geral do mundo. Ens inar a ciência do passado passado pode pode s ignificar ensinar a ciência do f uturo. uturo. Vê- se por po r que qu e de dess conf co nfio io de t oda od a ins in s is tênc tê ncia ia unil un ilaa t e r a l de dema mais is s obre obr e a necessidade de um ensino “moderno”. A liás li ás,, estes saberes sa beres atuais at uais que g osta os tarr íamos de tr a ns miti mi tirr s er iam ia m r eal ea l mente saberes para os pesquisadores que os produziram? Isto é, teriam eles de fato total domínio intelectual sobre os mesmos? Paradoxalmen te, a chamada física moderna é ao mesmo tempo bastante arcaica: nicsmo tendo realizado impressionantes progressos técnicos, ela está longe de uma compreensão compree nsão pr pr of unda de seus seus próp próprios rios conceitos. A teo teoi i.i quântica permanece num estado epistemológico relativamente insatMalório, Certos debates dos anos trinta, por muito tempo ocultados, mi aliina ni por r eaparecer eaparec er e ne m por isso fo r am elucidados até at é agora. A s s im, muit mui t a s v ezes eze s en enss inamos ina mos hoje hoj e e m dia a f ísica ísi ca quân qu ântt ic a c o m o se no sé< ulo XIX tivéssemos ensinado a mecânica de Newton a partir de seus
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN IN
diferencial e integral — e felizmente ele se impôs até mesmo no ensino. A l é m do mais ma is,, o que pe r m it iu os progre prog ress ssos os no e ns ino in o da f ísica ís ica clássi clás sica ca até o início início do século X X foi o co njunt o de aplicaçõ aplicações es técnicas e sua sua forte presença na na vida quotidiana. quotidiana. Da mesma for ma, a idéia idéia de velocida velocida de instantânea colocava Galileu diante de um problema de importância maior (ele ainda não dispunha da noção de derivado); mas essa idéia é hoje perceptível erceptível por qual quer g aroto que, que, dentro de um carro, vê a ag u lha do velocímetr o deslo deslocan canddo- se. Clar o, ex istem hoje hoje objetos quânticos quânticos macrocóspicos (feixes laser, semicondutores e supercondutores etc.). Mas esse essess artefatos técnicos técnicos c ont inua m fora f ora do alcance de visão das das pes pes soas e quase não permitem a apropriação das noções subentendidas por seu funcionamento. Esse fenômeno duplo de atraso epistemológico e de ocultação técnica técnica tor na ex tremamente problemático o ensino bá básico sico das teorias quânticas. A s s im, im , e m v e z de que qu e r e r m o de r niz ni z a r a t o do c us t o os c o nt e údos údo s específicos específicos do ens ens ino científ ico, parec parecee- me muit o mais mais urg ente levar leva r os os alunos à compreensão do que é realmente ciência, de seus processos de tr abalho, seus seus desafios desafios epi e piste stemoló mológg icos, suas suas implicações implicações sociais. sociais. A con tr ibuição de disciplin disciplinas as como a história história,, a arte e a filosofia é ess encial encial em relação a este problema. O problema do ensino das ciências é sério demais para que fique entregue apenas às mãos dos próprios cientistas. [As idéi idéias as bre ve mente evocad evocadas a qui fora m desenvolvidas desenvolvidas nu m trabalho anterior do autor, La Pierre de touche (A Pedra de T oque), oque), Gallimard, 1996.]
S E G U N DA J O R N A D A
A
Terra
SEGUNDA JORNAD A
1
0 que dizem as pedras Maurice Mattauer
2 A Terra erra,, matriz mat riz da vida Auguste Commeyras
3 A fronteira fronteira entre o Cretáceo Cret áceo e o Terciá Terciário: rio: o retorno do catastrofismo nas ciências biológicas Robert Rocchia
4 Emergência da vida vegetal Jean-Marie Pelt
5 Bioesfera e biodiversidade: que desafios? Jean-Paul Deléage
6
As conseqüências ecológicas ecológicas das atividades tecno-indust tecno-industriais riais Vincent Labeyrie Labeyrie
7 O planeta plane ta solidário Armand Frémont
8 Conhecimento da Terra o educação Ren<5 Blanchet
Introdução Edgar Morin
E m me io aos aos objetos objetos globais, globais, entre os os objetos objetos naturais que quer quer emos r- .lu .ludar, a T erra é u m objeto objeto realmente priv priv ilegiado. Ela é nosso nosso planeta. planeta. <>
1
O que dizem as pedras Maurice Mattau Mattauer er
A c o m unid un idaa de c ie ntíf nt ífic icaa cons co ns ider ide r a g e r alme al ment ntee que qu e as ciênc ci ência iass da Terra vão de vento em popa desde a revolução que se produziu nessa «lisciplina no decorrer dos anos 70. Isso está longe de ser tão simples. Depois de uma fase triunfante, durante a qual foram formulados teore mas entre os quais quais muitos se tornar am sim s imp plistas, encontramoencontramo- nos agora numa fase de interrogações, de hesitações e às vezes até de regressões. A t e c t ônic ôni c a das placas plac as terre ter rest stre ress m udo ud o u de f ato at o m uit ui t a cois coi s a, c o ntr nt r i buindo, pela primeira vez, para uma visão global do funcionamento da T erra. O estudo dos dos oceanos oceanos per mitiu, graças graças às às anomalias anomalias magnéticas, dtier mina r de maneira precisa recisa em que que velocida velocidadde e c om que g eometria eometria ôs oceanos se abriram no curso dos períodos geológicos recentes. IV r mitiu tam bém c onhecer onhecer suas suas velocid velocidades ades atuais atuais de disjunção com a !>i f cis ão de centímetro s por ano, dando assim ass im uma boa idéia do desloca mento presente das grandes placas terrestres. É notável a constatação tir que os valores obtidos unicamente por meio dos oceanos estão hoje em dia confirmados, em suas grandes linhas, pelos resultados recentes adquiridos de lonna muito diferente pelas redes GPS. ív.s.i Icctônicn “oceânica” das placas, de natureza geométrica, conti nua totalmente v . ilida e aperfeiço aperfeiçoaa- se sem parar graças à ex ploração ploração dos f ií . iiM iiM>.. qur co ntinua ntin ua de maneir a ativa, apoian apoiando do-- se de agor agoraa em dian dia n Pode se eonsideiai definitivamente que te im d M
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN IN
conhecemos de agora em diante, com uma boa precisão (a margem de erro é de apenas 100 quilômetros), as posições sucessivas das placas durante um período de um pouco mais de 100 milhões de anos, com deslocamentos que atingiram às vezes vários milhares de quilômetros. Mas as dificuldades apareceram desde os primeiros anos, quando se tentou prever o que se passava nas zonas de convergência das placas, no interior dos continentes, especialmente nas cadeias montanhosas. Pen Pensavasava- se que era possí possível vel renovar o estudo estudo dos dos continentes utiliza ndo os dados quantitativos geométricos fornecidos pelos oceanos e que seriamos seriamos capazes capazes de faze r previsõ previsões es sob sobre a te ctônica intr acontinenta aco ntinenta l. Ocorreu aí um fracasso total do qual a tectônica das placas ainda não se recuperou. Na realidade, não encontramos nos continentes mar cas fronteiriças de placas comparáveis às que são observáveis nos ocea nos. nos. A defor mação nunca é localizad localizada, a, ao contrário, contrário, ela é s empre empre difusa difusa em grandes superfícies que podem atingir diversos milhões de quilôme tros quadrados. O encurtamento não corresponde a um fenômeno per manente. Estamos aí na presença de uma sucessão de instabilidades que se modificam incessantemente em conseqüência de bloqueios e desbloqueios. queios. A criaçã cria çãoo de de g randes randes relevos e sua sua erosão intr oduze oduz e m ainda um a complicação que não existe no caso dos oceanos. De fato, a abertura e disjunção dos oceanos, conseqüência do aumento de matéria quente originária do centro da Terra, não são com paráveis à convergência das placas, que cria relevos permanentemente mutantes, conseqüência do soterramento da matéria fria nas profunde zas. Raciocinar da mesma forma em relação aos dois casos era uma idéia simplista. Foi nesse contexto que a tectônica das placas formulou uma regra simples que continua ainda causando danos. Pensava-se que quan do duas placas continentais entravam em colisão, depois de se terem aproximado durante um longo período, o sistema convergente era blo queado. A credita creditavava- se que que a crosta terrestre terrestre co ntine nta l só podia ser ser arras tada tada em pr ofundid of undidade ade em razão de de sua densidade densidade fraca. fraca.
A Terra
Mas a convergência não parou, de forma alguma. Ela prossegue há 55 milhões de anos e opera ainda de maneira muito ativa, sob nossos olhos, a uma velocidade de 5 centímetros por ano e depois de ter provocado uma a prox imação imação de 3.000 3.000 quilô quilômetr metros. os. TemTem- se aí, port anto, u m con contraexemplo importante sobre o qual é indispensável parar para pensar. Comecemos por lembrar como evoluíram as idéias sobre esse problema. V olte ol te mos mo s ao iníc in ício io do s éculo éc ulo X X . W e g e ne r hav ia propo pr oposs to, to , e ntão nt ão,, a hipó hipótes tesee da deriva dos dos continente cont inente s (isto (isto é, a aber abertura tura dos dos oceanos), mas mas #la #la foi recusada recusada por quase quase toda a comunidade científica dura nte mais de cinqüenta anos. Muitos esqueceram que o principal responsável por Bssa rejeição foi S ir Harold Jeffreys, físico muito célébre que “demonsirou” que a teoria de W eg ener era “inaceitável”. “inaceitável”. De seu lado, lado, o geólogo geólogo A r g and hav ha v ia prop pr opos os t o e m s ua f amos amo s a obr a T ectôni ectônica ca da Á sia, publicada *m 1924, que uma parte da índia — de mais de 1.000 quilômetros — tinha sido soterrada sob a Ásia, especialmente sob o Tibete. Wegener adotou essa interpretação para argumentar a favor da deriva dos conti nentes. Sabe-se que ele foi reabilitado cinqüenta anos depois, com o aparecimento da tectônica das placas. Mas hoje, setenta e cinco anos p l i s tarde, A rg and ainda não não foi re abilitad abilitado, o, pois pois a tec tônica tônica das das placas placas §üüt inua postulando que o soterramento de que falamos é impossível. No entanto, o contrário já foi muito bem demonstrado, mas há vlutü anos alguns líderes da comunidade mundial teimam em propor modelos modelos s em soterramento. O mais mais célebre célebre corres pond pondee ao meca nismo iivib iivib>>'i<‘i i<‘iii se ,s istema is tematica ticamente mente a abor dag em teórica t eórica e f als ame n te <- ■[,f [,f t j iiir ii ir nt .il, .i l, A s mii, o mode lo do huiil fundam fundamentaenta- se num a exper experiiMM'iit;ii,.iu iitiim ,id;i de/>/ii/iii (impeiIr -,r ,i loiuiarno tlc irlevos recobrin
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B ERES ER ES
m
•
a
E D G A R M O R IN IN
do o todo por uma placa plástica) para explicar a formação de uma região em que se encontram os mais altos relevos do planeta. Um outro modelo apóia-se unicamente sobre uma modelização numérica na qual se injetam leis reologistas teóricas, sem levar em conta, de forma algu ma, os numerosos dados geológicos que possuímos sobre 50 milhões de anos de história da Ásia desde a colisão. Esses dois exemplos dão uma idéia da tendência atual. Ao se consi derar que é a teoria que cria o fato, são propostos modelos simplistas e também, cada vez mais, são apresentados modelos numéricos. Assim, mostra- se que se é “mo “modern derno” o” e “qua “quanti ntita ta tiv o” e pu publicablica- se nas g randes revistas internacionais nas quais se constituiu uma nomenklatura q ue censura as publicações, graças a um incrível sistema de reviewers-juízes anônimos que são escolhidos em equipes adversárias. Dessa forma, abandonou-se progressivamente a observação em campo, muito menos rentável e exigindo muito mais tempo. Ao contrá rio, privilegiamrivilegiam- se os os teóric teóricos os que, que, muitas vezes, não têm n e nhum a cul tura em ciências da Terra. Eles não têm nenhuma idéia das mensagens contidas nas pedras (que, todas, possuem uma idade e uma história); eles não sabem como evoluiu a Terra em 500 milhões de anos; eles não têm nenhuma formação de historiadores (da Terra). Eles são vítimas de sua própria própria ultra- especi especiali alizaç zaçãão. Esta é, com certeza, certe za, r ealmente ealme nte indis pens á vel; ela é fonte de progresso, pois contribui incessantemente com novas técnicas, novas abordagens. A recente técnica GPS é um magnífico exemplo disso. Mas quando se busca compreender os difícfeis mecanis mos da deformação intracontinental, faz-se necessária, evidentemente, uma abordagem pluri e transdisciplinar, que vai da paleontologia (geral mente desconhecida dos especialistas das ciências exatas) à tomografia geofísica. Mas o sistema atual privilegia a especialização a todo custo, que elimina os geólogos, que são, entretanto, os únicos capazes de reconstituir a história e a evolução dos fenômenos geológicos que dura ram dezenas, às vezes até mesmo centenas de milhões de anos. Por todas todas essa ssas razões, razões, pens pensoo que as ciências da T erra er ra e ncontr nco ntr am se
A T erra
vamos inevitavelmente perder contato com o real, esquecendo toda a nquisição que foi acumulada durante mais de um século em todos os cantos do globo. Vamos romper com a história natural, que é mais do que nunca indispensável, e vamos nos dirigir pouco a pouco rumo a uma Terra cada vez mais virtual. Vai se produzir então uma regressão comparável àquela provocada por Harold Jeffreys em relação a Weg We g e ne nerr , no iníc in ício io do s éculo écul o X X . A c ho que, que , apes ape s ar de t udo ud o , ex iste is tem m alg a lg umas uma s esper es perança ançass . U m r etor et orno no t r a i à Terra inicia-se com os mais jovens. Eles começam a ousar fazer * i II icas à nomenklatura que reina na mídia. Começa Começa-- se a perceber que é possível fazer com que a linha de frente passe para a retaguarda do bata lhão. Toda uma série de fatos novos é repertoriada. Na maioria das | idéias montanhosa montanhosa s, acab acabaa- se de de descobri descobrirr roch rochas metamórficas que se fiiirnaram fiiir naram sob pressões ressões ex tre mamente elevadas, ultrapas sand sa ndoo 30 qu quiloilo!.aic*s, isto é, a uma profundidade que varia de 100 quilômetros até, tal vez, 300 quilômetros. Eis uma prova de que, contrariamente à velha traia da tectônica das placas, rochas de superfície foram arrastadas para um» grande profundidade antes de serem, em seguida, exumadas. Uma vm ladeira modelização física que devemos a A. Chemenda conseguiu BWVar este fenômeno e abre uma nova via de pesquisa na qual traba lham cm estreita colaboração geólogos e modelizadores.* Porém, há muito mais: há menos de um ano nasceu uma nova tectflnii a das placas. placas. A tomog raf ia sísmica sísmica é capaz, capaz, dorav ante, de rastrear o siãniamento das placas até 2.700 quilômetros de profundidade. Até ih t ão nada se sabia sabia do do que se passava assava nas nas profundezas. profundezas. A tualme nte, p i ( B se a ver as placa placass soterrad soterradas as e a reconstituir a evolução evolução das mes ma? j mH um período período que que cobre cobre os últimos últimos 100 100 milhõ milhões de anos. anos. C om a íifeSH, jbet l a dessas dezenas de milhares de quilômetros de placas soterra♦ 11 . uma uma nova ura começa. T udo pode re começar começar sobre novas novas bases. bases. Por isso iitou novamente confiante no futuro. Graças a este formidável MVtiiM.", ao me s mo t em po g eológico e his his tórico, des conhe cido ainda ,
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN
infelizmente, as ciências da Terra vão mudar e a ridícula oposição entre ciências exatas e ciências naturais deixará talvez de existir. T udo isso nos nos sugere tendências para o ensino nos três anos anos do segundo grau. Nada mais deveria ser feito sem passar pelo “concreto”, sem as pedras, sem expedições em campo, sem medidas, sem experiên cias simples. Todos ensinam a tectônica das placas sem sequer lembrar aos estudantes que são as pedras (que pedras?) que estão na origem de tudo. Não nos encontramos sobre um planeta longínquo, intocável. Por toda a parte ca minhamos sobre sobre milhões milhões de anos anos que podemos tocar co m nossas mãos. Lembremos então que cada pedra tem uma idade e uma história. Cre io que é preci preciso so parar com um ensino de de ponta e chegar chegar a dedu zir leis gerais a partir de exemplos concretos bem escolhidos, insistindo sobre a duração dos fenômenos geológicos. E creio que os novos livros, muitas vezes escritos por uma profusão de autores que têm a preocupa ção de mostrar que estão “na crista da onda”, não vão na boa direção. É preciso ensinar pouco, mas bem. É preciso também pôr de pé uma ver dadeira dadeira pedagog ia própria própria às às ciências ciências da T erra e formar na unive unive rs idade especialistas que tenham uma verdadeira cultura nesse campo caracte rizado por escala escalass de de te mpo e de espaço espaço muit o v ariadas. ariadas. A nature za maravilhosa que nos rodeia aqui na França e que desperta um interesse e mes mo uma ver dadei dadeira ra paix paix ão no gra nd ndee público público deveria permiti permitirr- nos nos dar aos alunos, e a muitos amadores, uma nova visão da geologia e das ciências da Terra...
2
A T erra, mat ma t r iz da v ida Auguste Auguste Commeyras
() aco ntecime nto mais mais ex traordiná traordinário da história história da da v ida ida é mes mo a primeira “auto“auto- reprodução reprodução”” que deu nas cimento ao m undo und o vivo. () que sabemos deste acontecimento? Quase nada, a não ser, pelo menos, que ele ocorreu sobre a Terra. É claro que não é proibido pensar ijur ele se produziu também em outro lugar, mas por enquanto nada pijfmitc fazer tal afirmação. Evidentemente, são descobertos com regu larii lutlc alguns novos planetas em volta de astros longínquos, mas ainda URo sc | >ode dizer dize r que um desses esses s istemas plane planetários tários assemelh assemelhaa- se ao (tusso e ainda menos que um deles tenha engendrado a vida. Tais pes »| h í , r. la/.em la/.em assim mesmo me smo sonh so nhar ar e para para alimentá alimentá-- las nada melhor melho r do • pi- ir nhir nhi r saber mais sobre sobre a orig or igem em terrestre terres tre deste acont ac ontee cime cim e nto. nto . A bus c a de nossas, nossas , orig or ig ens é uma um a pre pr e oc upação upa ção de cada ca da um de nós nós h e p o i:. dos legistrosde nascimento, que naonos levam muito longe no l^inpn, temos os vestígios fósseis inscritos nas pedras que permitem àt| tirlr . (jiir saltem lí' lí'- Ios voltar v oltar no tem po e afirma af irmarr cji 1 0 os primeiros vrv lígim iIn vldii estavam presentes na Terra há 3,5, talvez mesmo h,1 i,M iiilhnn de anoa. ‘if m teioeutíirtios a essa infrnmiivão a idade da Tei ia, que se formou pftlgl PMÍvHliiriile e nlic nl ic e hilliftcs hilliftcs de unos, unos, pode se di/et di/et (| llr a Viila fjpaipi pil muito ( edo e multo depressa sol >ie estr pedaço de miivei su que
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
Mas antes antes de mais nada: a vida, tal como a ente ndemos hoje, é o quê? quê? Nada mais do que uma centena de moléculas “predispostas” que souberam cooperar entre si (vinte aminoácidos, cinco bases [A, G, U, C, T], cinco açúcares, dez ácidos lipídeos, fosfato e algumas outras). O ex tra ordinário é que que essa essa cente na de de moléculas, s ozinhas ozinhas ou associan associanddo- se (em macromoléculas macromoléculas)) e cooper ando entre si, si, soube es pon tane ame nte criar objetos objetos capazes de de reprodu reproduziremzirem- se e ev oluíre oluíre m. Objetos relativamente separados do resto do mundo por membranas de uma simplicidade molecular muito grande, mas também com uma com plex idade idade enorme de f uncionamento. uncionamento. Os que refletem sobre a origem da vida devem ter em mente, todo o tempo, essa imagem. Como é que essa extraordinária maquinaria autoauto- reprodutível reprodutível e evolutiva apareceu sobre sobre a T erra? T eria s ido ido a pri meira célula viva tão complicada quanto a mais simples que existe hoje? Com certeza, não. Que planos, que ferramentas, que energia foram uti lizadas para criá-la? Teria sido essa criação um acontecimento único (como normalmente se admite nos meios autorizados) ou, ao contrário, ela se repetiu de formas múltiplas até se tornar autônoma e adaptável a todos os meios? Segundo Fred Hoyle, não é possível imaginar que um tornado, ao devastar uma oficina de ferralheiro, tenha feito nascer um Boeing 747, o que significa, aplicando o princípio da continuidade evolutiva, que o nascimento da vida só pôde ser progressivo. É preciso, portanto, ter ima ginação suficiente para conceber uma máquina muito simples que teria espontaneamente evoluído em direção a uma maquinaria, molecular cada vez mais complex complex a, antes de atingir a autoauto- reprodu re produtibi tibilidad lidade. e. Sabe-se hoje que o conjunto dos organismos vivos, tanto do reino veg etal quanto quanto do animal, utiliza os os mesmos ácid ácidos os nucleicos nucleicos (R NA , DN A ) para a propaga propaga ção ção da da inform ação genética, genética, o mes mes mo código código g ené tico para a síntese protéica, os mesmos vinte aminoácidos em todas as proteínas e o mesmo sistema energético (ATP). Isso leva à noção, hoje amplamente aceita, segundo a qual os orga nismos nismos vivos prov prov êm de de um mesmo ancestral ancestral comum: JTi JTie Last Univer sal Common Ancestors (LUCA). Por mais simples que possamos imagi* uai ua i o L U C A , l o i assim mesmo preciso que 110 11 0 momento de seu nasci
A T erra err a
mento a pequena centena de moléculas predispostas necessárias tenha estado estado presente s obre obre a T erra primitiv a.
Síntes Síntes e pré- bió biótica das das m oléculas predispostas Desde a experiência histórica de Miller (1953) até hoje, pode-se dizer que quase todas as moléculas predispostas a partir das quais pôde nascer a vida (todas, com exceção de três aminoácidos [arginina, lisina, histidin istidina] a] , os ácido ácidoss lipíd lipídeos eos,, a porfir ina, o piridox piridox al, a tia t iamina mina , a ribo riboflavina, o ácido fólico, o ácido lipóico, a biotina) foram sintetizadas em bióticas, isto é, numa atmos laboratório em condições chamadas de pré- bió fera que poderia ter sido aquela da Terra primitiva — atmosfera consti tuída de uma mistura de água (H 2 O), de azoto (N 2 ), de gás carbônico ( C O 2 ), de metano (CH4) e de hidrogênio (H 2 ), sendo que a eficácia des sas sínteses depende da concentração em metano e hidrogênio. Para resumir os conhecimentos nessa matéria pode-se dizer que é possível ossível que a atmosf atmosfera era real da da T erra t enha sido sido entre redu re dutora tora (presen ça de metano e hidrogênio) e neutra (ausência dessas moléculas) ou cnlBo que tenha ocorrido uma transição gradual de redutora a neutra durante o período em que a vida apareceu. As molé mo lécc ulas ula s predi pr ediss posta pos tass que pude pud e r a m ser s inte int e tiza ti zadas das (dezess (deze sset etee dos v inte aminoácidos, os açúcares, açúcares, as bases bases [ adenin adenina, a, gua nina, citosina, oi.K il, timina] e alguns co-fatores) não se formaram sozinhas. Os aminoât idos foram obtidos num número aproximado de cinqüenta, ao passo que 1 vida utilizou apenas vinte. Da mesma forma, cerca de cinqüenta • >>. H' nes f or am f orma or mados dos par pa r a um únic o (a ribose) util ut iliz izaa do no no R N A , e quare quare nta e cinco cinco bases bases sintetizad sintetizadas as para cinco (A (A , G , C , U , T ), utilizadas utilizadas i ü> R N A <■1 1 0 l)N A . É preciso preciso acrescentar ainda que os aminoácidos e os os 9 1 , 1 1 . ares fomm obtidos por mistura racêmica (isto é, sob sua forma direi ta 1 rsqiKMda, imagem de uma na outra como num espelho), ao passo tjur vida sci ve se apenas dos aminoácidos (L) e dos açúcares (D) (cf.
■
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
•
▲
E D G A R M O R IN
E S Q U E MA MA 1 P a r a o D N A , T s u b s t i t ui ui U
M o l é c u la l a s p r e d is is p o s t a s d e R N A
e d e s o x i r r ib i b o s e s u b s t i tu tu i NHi
A
c ò A d e n i n a
í
n
O Jm G u a n in a
ribose
m
r
0
•0
_
o - U
0
Uracil
C ito s in a
r
T i m in in a
0= OH
OH
T0 r _
1
H
T
OH
Á c i d o f o s f ó r ic o
R i b os e D
"
oh
í*
H
Desoxirribose
E S Q U E MA MA 2 O s v i n te t e a m i n o á c i d o s n a t u r a i s (i ( i s t o é , o s q u e s ã o u t ilil iz i z a d o s p e l a v id i d a ) d if if e r e m u n s d o s o u t r o s a p e n a s pe p e l a n a t u r e z a d o a g r u p a m e n t o q u e f ig ig u r a e m n e g r i t o s n o e s q u e m a a b a ix ix o . E l e s s ã o d e s i g n a d o s p o r u m c ó d i g o d e u m a l e t r a (A ( A , C , D .. . . . ) . D e z e n o v e d e l e s tê tê m u m c a r b o n o a s s i m é t r i c o ( C * ) , d e t a l f o r m a q u e c a d a u m d e le l e s e x i s t e s o b o a s p e c t o d e d u a s f ig ig u r a s d if if e r e n t e s c o r a o a s im im a g e n s d e u m e d e o u t r o r e f le l e t id id a s n u m e s p e l h o . U m a d a s f i g u r a s é L ( le le v o g i r o ) , a o u t r a é D ( d e x t r o g i r o ). A v i d a s e l e c io n o u a pe n as a s é r i e L
Espelho
A l a n i n a L
J
c ó d ig ig o d e u m a l e tr a A
L R
C
D
A P F M E Q
H K
A c#'* c# '* H / s NH,
\
h o 2c
CO H
hw >-.L -.L * a
j
N
A W
w
P
M
I
A Terra
Ocorre, entretanto, que após cinqüenta anos de esforços começa mos a compreender como os tijolinhos predispostos da vida puderam aparecer aparecer sobre a T erra. É evidente que tais esforços não teriam servido para nada se não tivéssemos ido pelo bom caminho, isto é, se não tivéssemos tentado saber saber como a casa pôde pôde ser ser constr uída uída par tindo de tais tais tijolinhos, e ntre os quais alguns não serviram para nada, como se viu.
Organização das moléculas predispostas em condiçõe condiçõe s pré- bióticas ióticas Por onde começar quando se pretende compreender como apare ceu esta maquinaria terrivelmente eficaz e complexa que, a fim de criar réplicas de si mesma, utiliza ferramentas (os peptídeos e as proteínas) e planos lanos (o (o RN A e o DNA )? Mas que m precisa precisa de quem? quem? Para ler os pla nos tem-se necessidade das ferramentas, ou para criar as ferramentas tem-se necessidade dos planos? É o famoso impasse da galinha e do ovo. Que ferramentas e planos foram criados em primeiro lugar (ver nos esquemas 3 e 4 o que são as arquiteturas desses planos e ferramentas)? Muitos esforços foram feitos para tentar responder a estas perguntas. No período de 1960 a 1980, muitos autores tentaram construir prébioticamente os peptídeos e as proteínas a partir dos aminoácidos. Hia nte do insucesso insucesso dessa dessass tentativ as, a pesquisa orientou orientou-- se ent ão para a constr constr ução ução do R N A a par par tir de seus seus constituintes (base (bases, s, açúcar, açúcar, fosfa to) to), consider consider ando que esta macr omolécula poderia, poderia, s ozinha, dar dar orig em à vida. É o que chamam hoje de mundo feito obrigados feito de de R N A . Somos obrigados i cons tata r hoje hoje (em 1999) que essa essa or ienta ção não se rev elou muito fe cunda. Cer tos autores s olicitam olicit am que ela seja revist a. A ponto pon to que ■ >' liem na literatura especializada afirmações como: “É difícil, se nflo mesmo impossível, sintetizar longos polímeros de aminoácidos (piptl dio s ou proteínas) proteínas) ou de ácid ácidos os nucleico nucleicoss (RNA ) cm soluçflo soluçflo aqtiosa aqtiosa ho mogênea" mogênea" (L. R Orgel, Oiigins of Life and Evolution of tlie Biosphure,
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
E D G A R M O R IN
▲
E S Q U E MA MA 3 D M A
A s q u ata t ro r o lel e trt r as a s ( A , G , C U ) s ã o c a r rer e g ad a d a s p o r u m a m a c r o m o lél é -
*
c u i a c o n s t iti t u í d a d e e n c a d e a m e n t o s d e a ç ú c a r e f o s f a tot o . O a ç ú c a r é a r i b o s e d e c o n f igig u r a ç ã o D . A s p a la v r a s e s c r i t a s c o m e s t e a lf a b e t o p o d e m s e r m u i t o lo n g a s
■°*Ç.
( m i l h õ e s d e l e trt r a s ).). E s s a s p a l a v rar a s ( o s g e n e s ) s ã o o s p l a n o s d e c o n s
T A f
trução de tudo o que vive.
c q 'N;Hj
V W rçriw -O-ffO
DNA
jc ; n
[a
g
,
c
,t]
N o D N A , a lel e t rar a U é l e ve v e m e n t e m o d i fif i ca c a d a e m r e l a çã çã o a o R N A e t r a n sfs f o rm rm a - s e e m l e t r a T , d a m e s m a f o r m a q u e o a ç ú c a r , q u e s e
w
t r an a n s f o rm r m a e m d e s o x i rrr r ibi b o s e . C o n s i d e rar a - s e q u e o R N A , m e n o s c o m p l e x o q u e o D N A , a p a r ec e c e u n a T e r r a p r im i m i t iviv a a n t e s d e sts t e .
V°~ Lf' Lf 'cW ' G'c'°“T °“T
^
1
0
ESQUEMA4
H2 N—CH-
oI I
H -C - — N — C H —
C H 2
M
A
I ÇH2 s I
c h 3
ol H u C - - N - C
CH 3 T
H —
I C H - O I
011
C H
O -N—CH—CH | CH2
H I - N - C H — C — f
| -c h - c - - £
C H -C H 3
I ÇH2
C H 3
T NH
c h
CH 3 A
j- C H —
o
S
o II C - O
H
ch2 ch 2 | * O H
3
-
%
Acim Acimaa, o exem exemplo neal de de um uma pa palav lavra escrita com o alfabeto protéico. Uma vez escrita linearmente, a palavra adot«i espontaneamente a estrutura tridimen A lin lingua guagem gem dos peptíd tídeos e pro prote teín ínaas é um alfa alfabbeto de vinte vinte letr letraas, os os sional para a qual ela foi concebida. vinte vinte aminoácido aminoácidos, s, para escrever escrever palavras palavras curtas (os peptídeos) peptídeos),, ou longas longas (as proteínas). Todas as letras são ligadas do mesmo modo, por uma liga ção de tipo tipo C-N C-N, cham chamada ada ligação ligação peptídea. peptídea. Uma Uma vez escritas linearm linearmente, ente, as palav palavras ras dobramdobram-se se sobre sobre si mesm mesmas, as, formam hélices hélices em folh folhas, as, que se associam entre entre elas, o que que dá infinitam infinitamente ente mais possibilida possibilidades des do que a escrita dos homens para veicular a informação, pois ela utiliza as três dimensões.
\
A Terra
EsbarraEsbarra- se, pois, pois, contr a o obstáculo obstáculo da org anização das das moléculas predispostas. Temos as letras (esquemas 1 e 2), mas não sabemos como as palavras são escritas. Para os peptídeos e as proteínas, as palavras vão de algumas letras a alguns milhões de letras (com um alfabeto de vinte letras) letras),, enqua nto que que para para o RN A ou o D N A as palavras alavras tê m milhões milhões de letras, quando não mais (com um alfabeto de quatro letras). Mostramos há pouco tempo, contrariamente aos trabalhos prece dentes, que provavelmente não são os próprios aminoácidos que se for mar am sobre sobre a T err a primitiva , mas antes antes os NN- carbam carbamoyl- amin aminoá oácid cidos, os, e isso por meio de uma seqüência reacional convergente resumida no esquema 5. A dif e r e nça e ntr nt r e os a mino mi noáci ácido doss e os N- car ca r bamoy bamo y l- aminoácidos amin oácidos é pequena (é o oxigênio que contém as duas ligações da fórmula dos Ncarbamoy carbamoy l- aminoá aminoácid cidos os no e squema 5). 5). Ent r et anto, ant o, ela vai se revelar rev elar de uma importância considerável, mais tarde. De fato, é a adição desse E S Q U E MA 5
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
pequeno pequeno g rupo rupo suplemen suplementar tar ((- C O N H 2 ) que vai permitir aos aminoáci dos se ligarem entre eles, isto é, que formem as palavras do dicionário peptídico — as palavras que podem ter sido as primeiras da máquina que estava nascendo.
Polimer Po limerização ização prépré- bió biótica dos dos aminoácidos aminoácidos C o m toda ev idênci idência, a, esse sses N- carbamoylcarbamoyl- amin aminoá oácid cidos os formaram formaram- se na água. Nesse meio, eles são muito estáveis, incapazes de se auto-associarem, isto é, de escreverem palavras. Por outro lado, mostramos que, quando saem da água, esses N- carbamoylcarbamoyl- aminoá aminoácid cidos os (essa essass letras letras ligeir amente modificadas modifica das do alfa alf a beto protéico) podem ligar-se facilmente uns aos outros, constituindo palavras muito longas. Para isso eles devem ser colocados em presença da mistura gasosa oxigênio/monóxido de azoto (O 2 /NO). No decorrer dessa operação de escrita que funciona em 100% dos casos, os únicos resíduos repelidos são 0 azoto, a água e 0 gás carbônico. Esses gases totalmente reciclados vão propiciar outras moléculas predispostas. Para os iniciados, iniciados, diríamos que se fo r ma m N- carbamoyl- aminoá aminoácid cidos os que, espontaneamente, copolimerizam. Quanto à reciclagem, ela é fotoquímica, isto é, depende da energia solar. De toda forma, é 0 Sol que até hoje faz tudo viver e de maneira evidente é por ele que tudo começou. É de notar (ver Esquema 6) que o rendimento dessa reação (que em nossa opinião foi capital para o nascimento do mundo vivo) é sensível à relação O 2 /NO. Essa reação de “escrita” funciona muito bem se a quan tidade de oxigênio (O 2 ) é mais fraca do que que a de mo nóx ido de azo to (NO), (NO) , mas cessa cessa qua ndo a relação relação entre os dois dois gases torn tornaa- se ig ual a um. O interess interess e desse aspecto singular em relação à ev olução biológ biológ ica será evocado novamente (cf. discussão do esquema 8, p, 96).
A Terra
E S Q U E MA MA 6
Reação sólido-gás 0.5 0 2 + 2 NO
O
COOH COOH R- <
* ^
P
HN- ^
NH2
N-Carbamoyl-Aminoácido (CAA)
r
f
HN02
_ /~ ?
N "^n
H
0
N-Carboxianidro (NCA)
[ O 2] / [ N O ]
D o pont o de v ista pré- biótico iótico,, ess essees resultado resultadoss nos per mitir am pr opor (cf. (cf. es quema quema 7, p. 93) 93) um mo to r molecular que poder poder ia ter estado na ori gem da emergência dos peptídeos sobre a Terra primitiva. Esse mot or é alime ntado pelos pelos N- carbam carbamoyl- amin aminoá oácid cidos os (as (as letras modificadas) modificadas) f ormados em me io úmido (cf. (cf. esquema 5) 5). Qua Q ua nd o a ág ág ua se ev apora, essa essass letras letras cristali cristalizam zam-- se. Na pres ença da da mis tur a g asosa asosa O z /N C ), elas elas sSo e ntão transfor trans for madas em e m letras ativadas (N(N- carb carboxian oxianiidins) e, mais tarde, em palavras (peptídeos). Quando do período úmido
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
e essa essa reciclagem que t enham enha m per mitido às palavras palavras emerg entes, ilegíveis ilegíveis no início, evoluí evo luíre rem m em seqüên seqüências cias peptíd peptídicas icas privilegiadas, priv ilegiadas, isto isto é, em fr a ses representando uma ação concreta na linguagem da vida nascente. Esse funcionamento lembra o de um motor térmico em funciona me nto permanente. per manente. Ele utiliza os NN- carbam carbamoyloyl- amin aminoá oácid cidos os c omo ca carburante e a mistura gasosa O 2 /N O como comburente. Os resíd resíduos expelidos por este motor (azoto, água e gás carbônico) são totalmente recicláveis. Nomeamos este motor molecular de pompa primária. A v alid al idaç ação ão prépré - biótica biótic a dessa dess a hipóte hip ótess e s upõe: upõe: — que os continentes continentes t enha m emergido ra pidamente, pidamente, o que parece parece ter ocorrido (S. A. Bowring e T. Housh, “The Earth’s Early Evolution”, Science, 269,1995, pp. 1.535-1.540); — uma alternância entre fases úmidas e secas, o que pode ter sido um fenômeno natural; a característica redutora/básica necessária da fase úmida úmida pode ter sido sido assegu assegurad radaa pela pela dupla dupla F e ll /H C O ? — dos dos ocea nos nos primitivos primitivos (D. P. Summers Summers e S. Chang , “Pr “Pr eobiotic eobiotic A mm onia fr om Reduction of Ritrite by Iron (II) on the Early Earth”, Nature, 365,1993, pp. 630-633); — a formação regular dos compostos gasosos O 2 e NO numa boa proporção na atmosfera primitiva; essa hipótese foi confirmada por diversos autores; a proporção proposta, da ordem de 1/100, assegura perfeitamente 0 f uncio nam e nto de nosso nosso sistema sistema (R. NavarroNavarro- GonGonzález, M. J. Molina e L. T. Molina, “Nitrogen Fixation by Volcanic Lightning in the Early Earth”, Geophysical Research Letters, 25, 1998, pp. 3.1233.123- 3.125; 3.125; Franck Selsis Selsis e Jean- Paul Paul Parisot, Obse r v atório de Bordeaux, comunicação pessoal); ela assegura igualmente o caráter ácido/nitr ácido/nitr os ante indispensá indispensáve ve l da fase seca. seca. Quando da concepção desse motor molecular, notamos a existência de uma possível reação de bloqueio e de elongação das palavras (por carbamoila ção ção das das funçõ funções es aminoácidas aminoácidas ter minais). inais). Entr etanto, et anto, demons tra tr a mos que a senhora Natureza pôde com facilidade contornar esse risco.
A T err a
E S Q U E MA MA 7
P o m p a p r im im ár i a
N j + H j O+ COz
0.5 0 2>2 NO
R O . J|^
HOOC
N R I
HOOC
NHj
O ■ N
+ N-c arba moy l-
peptí peptíde deos os
R
+ peptídeos livres
^
+ N -c a rb a m o y l-
peptídeos
n h
V ? + peptídeos p e p tí . livres R M^O livr
Fase seca Fase aquosa pH 8
; bV A í
livres livres ^2
Ri
O
\
V / "S r3
R2 O tripeptídeos livres livres
^
/
CO,
1s
n-peptídeos n-peptíde os livres (n+l )peptídeos livres ] / HNCO
C ã
carbamoyl-peptideos elongação progressiva dos peptídeos acumulados
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
Os entraves científicos essenciais sobre a questão do caminho de emerg eme rg ência pré- biótica iótica parecem- nos, nos, assim, ter sid s idoo der derrubados. rubados.
Perspectivas É claro claro que um trabalho trabalho importa nte ainda está por ser feito a f im de estudar o funciona me nto dessa pompa primária. primária. Pensamos que durante seu funcionamento esse motor molecular selecionou os aminoácidos L e escreveu as frases correspondentes às açõ ações- chave chave da vida primitiv a. Se cheg cheg amos a demonst ra r que essa essa pompa pode produzir certas frases da vida atual (mesmo que seja de forma imperfeita), concordaremos com a hipótese sobre a evolução segundo a qual a grande maioria das proteínas modernas saiu sem dúvi da de de um núme núme r o muito pequeno de “arquétipos “arquétipos ancestr ancestrais”. ais”. Recri Recriáá- los los por meio de nossa maquinaria levaria ao primeiro elo indiscutível entre o mun do pré- bió biótico e o mund o vivo. viv o. V imos im os que qu e o “dog ma prépré - biótico biótic o a t ual ua l ”, a s aber , “uma “um a quím qu ímic ic a es tri tr i tamente em solução aquosa homogênea”, não permite nem a síntese dos peptídeos, nem a dos oligonucleotídeos (RNA). V imo im o s c o mo noss o f io c o nd ndut ut o r nos lev le v ou para par a f ora or a desse dog do g ma , em direção a uma alternância entre as fases úmida (básica) e seca (ácida), alte rnância que poderia poderia te r per mitido a síntese síntese prépré- bió biótica dos dos pept í deos. Segundo o nosso ponto de vista, os oligonucleotídeos (ARN) pode riam também ser formados na fase seca úmida. Esse aspecto, ainda no estado preliminar das experiências, não será desenvolvido aqui. A po m pa prim pr imár ária ia que ima im a g ina in a mos mo s encontraencontr a- s e, por po r outr ou tr o lado, la do, já validada validada ex perimentalmente. perimentalmente. Sobre a T erra primitiv primitiv a, ela poderia poderia ter es es crito as frases da vida de maneira contínua, via letras ativadas (os N-carboxianidros). Essas frases (proteínas) poderiam ter sido as primeiras fer ramentas ra mentas (catalisad (catalisadores) ores),, per mitindo ao sistema emerg ente um a comp complexificação. Essas ferramentas poderiam depois ter associado os açúcares, as bases, o fosfato, num segundo monômero, prmirsoi dos planos
■ A Terra
do sua energ ia das das letras ativadas (N(N- carbox carbox ianid ianidros); ros); estes, estes, como v imos, poderiam ter se formado de modo contínuo sobre a Terra primitiva. Os dois ois tipos tipos de macrom macromolé olécu culaslas- chave chave da vida (proteín (proteínas as e R NA ) poder iam assim ter ter aparecido qu quase que ao mesmo tempo, com uma ligeira v anta gem para as proteínas, e evoluído conjuntamente (por processos de hirlrnlisp p rpHHa rpHHatrem tremYY spcm spcmin inrln rln alter nâ nâncias ncias sazonais. sazonais. A energ ia inicial inic ial :er :er sido sido os NN- carboxianidros, carboxianidros, ag indo ito (A (A T P) de de hoje, tendo antes disso mos, mas uma mistura de gás consção de oxigênio e uma proporção )). )). Os O s químicos químico s s abem que essa essa mis mis-: nos nos famosos NO x que, saindo dos dos ros, poluem cidades e campos, entado no Esquema 8, esse motor ria ter sido posto em marcha muito a começa co meçado do por associar associar os aminoá aminoá-o de proteínas em contínua evoluirecido os primeiros catalisadores. dliado dliado na sín síntese do RN A e, assim, assim, rnei rneira ra maquinar ia pré- bió biótica. Foi Fo i a idade que os primeiros processos de ido. ente à opinão geral, não nos parece lha se realizado apenas uma vez. () e caso, aleatório demais. Ao contní )ompa primária tenha nasc ido .m dispostas e que seu funcionamento rir essas moléculas, e isso de m . m r i esmo alguns milhares de anos, tilr i nasc imentos r epetidos epetidos dr ,mlo it3o Invadir a Terra e evoluir, plural, c porque pensamos, diido o ti.i pompa primária, que essa nflo nu única A ssim, ('onlm iiat iitnt p A
■
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
•
E D G A R M O R IN IN
▲
ESQUEMA 8
d« NC CA A
T I
"
' '
' s á 9 1 ^
Oj/NO n
0 relativa
i
conc.de
j I
NO, Oi
~•mf]
i t io io Oj-N O como fonte de ewergi ewergia a O i como fonte de energia energia
Oj/NO
f ]
u ; ú c i r i , bu*«,
CotnH«lctate
d* tipo
LUCAs *-R N A d o , — Puptktaoi Puptktaoi LU C A s Comp Complex lexida idade de
u Variáveis demais para um a solução solução única
1
4,50 Gyr Gy r
A cian ciano obact bactér érfi fi
/
/ Evidência dln sta da vida de aJgurw aJgurw fósseis e estromatolitw
Co ncre çio da Te rra
1
¥
Evolução biológica
Z T t ld « » - » -
\ \
4
auto-reprodutíbllidade
CNO*
\
1 '
[NO] [NO]
^ 4Gyr
Evofci EvofcifIo fIo qulmka qulmka
[0 2 ]
1
1 4.0 Gy r
»
3.50 3.50 Gyr
sos L as t Universal Universal C om mon A ncesto cestors rs (LUCAs) e não no nascimento de ) apenas um. A e v o luç lu ç ão prog pro g r es s iva iv a desses dess es prim pr imee ir os “sis “s iste temas mas v iv os” os ” ter te r ia e m seguida acarretado, entre outras coisas, o aparecimento das primeiras cianobactérias capazes de utilizar o hidrogênio na água rejeitando o oxi g ênio. LembreLembre- se de que que os primeir os fó f ósseis de de cianobactér cianobactérias ias data m de pelo menos 3,5, 3,5, talve z mesmo 3,8 3,8 bilhõ bilhões es de anos. anos. Essa primeir a pr odu ção biológica contínua de oxigênio teria então lentamente modificado a
A T err a
O / N O f o i p r óx ó x i m o d e 1 , a p o m p a p r im i m á r i a t e r ia i a pa pa r a d o d e f u n c i o n a r 2
( v e r e s q u e m a 5 ), f a z e n d o d e s a pa p a r e c e r to t o d a f o r m a a n t e r i o r d e v i d a ne ne c e s s i t a n d o do d o s N - c a r b o x i a n id i d r o s c o m o f o r ç aa - m o tr t r i z . E s s e c e n á r i o s u p õe õe que a ev olução, olução, nessa nessa altura, já tivesse tivesse v encido m uitos obstáculos obstáculos e que, em especial, já tivesse provavelmente feito emergir
0
A T P c o mo m o no no va
f o r ç a - m o t r iz i z da d a v i d a , s u b s t i t u i n d o os o s N - c a r b ox o x i an a n id id r o s m o r i b u n d o s . E s s e é o ún ún i c o c e n á r i o q u e p r o p õ e u m a r a z ão ão m o l e c u l a r p a r a a t o x i c id id a de do oxigênio biológico nascente, toxicidade da qual se fala nos traba lhos especializados, mas cujos fundamentos moleculares permanece ram , até agora, misteriosos. mist eriosos. Se um cenário como esse é realista, podemos esperar encontrar em org anismos re centes cent es certas certas re miniscências miniscências de suas origens. P o r e x e m p l o , a o r ig i g e m d o m o n ó x i d o d e a z o t o ( N O ) d os os s i s te te m a s b i o lógicos lógicos atuais, que tan to intrig a os pesquisad pesquisadores ores , poder pod er ia não passar de de uma atividade residual de seu papel inicial de fornecedor de energia, p a pe p e l q u e f o i pr p r o g r e s s i v a m e n t e d e le l e g a d o a o o x i g ê n io io . É possível possível ig i g ualm en te pergunt perguntarar- se se os anidridos anidridos fosfóricos fosfórico s (A T P), fonte de energia celular atual, não teriam tido uma relação longínqua com os N- carbox carbox ianid ianidros. ros.
É possível, de fato, pergun perguntartar- se g lobalme nte se este “casal “casal de três"* (l 11 oteínas, ácidos nucleicos e energia) de hoje não teria sido, na verdade, Smlissociável todo o tempo. O 1
c o n j u n t o d e s te t e c e n ár á r i o t a lv l v e z n ã o s e ja ja o q u e f o i u t i lil i z a d o p a r a
on duz ir aos aos primeiros s istemas istemas autoauto- reprodut reprodutííveis. M as ele ele pelo me nos
tem a vantagem de já ter possibilitado procedimentos industrialmente utilizados por serem quantitativos e não rejeitarem nada no meio amb ír í r r i t r ( q u ím ím i c a l i m p a , q u a n t i t a t iv i v a , e m á g u a , e s e m s o lv l v e n te t e )).. Isso significaria que toda a química das origens era limpa? Nada é metia'. certo do que essa hipótese, mas ela pode em todo caso ser uma fpiitrt
< r. I . i . c i : p a r t ir i r d e u m a ut u t o - r e p r o du d u to to r s e m a m a r r a s ( s e m g e ne ne s 1
11líthfgt? ií trõll, (N. T.)
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
reguladores)! Sem dúvida ele nos guiaria rumo a mundos extraordiná rios, senão para descobrir, ao menos para explorar. Ele nos abriria hori zontes que permitiriam buscar matrizes semelhantes à Terra das ori gens. Seja como for, ele nos faria sonhar.
R
e f e r ê n c ia s
Brack, A. (éd.). The Molecular Origin ofLife. Assembling Pieces ofthe Puzzle. Cambridge University Press, 1998. Collet, H., B ied, ied, C ., Mion , L ., Taillad Taillades, es, J., J., Commeyras , A. “A new simple simple and quantitativ e synthesis synthesis of a- amin aminoac oacid id-- N- carbox carbox yanhydrid yanhydrides”. es”. Tetrahedron Letters, vol. 37, n° 50,1996, pp. 9.043-9.046. Collet, H., B oiteau, L ., Taillades, Taillades, J., Commeyr as, A . “Solid phase phase decarb decarbam amoylaoylation o f N- carbamoylpep carbamoylpeptid tides es and monoalky monoalky lureas lureas using gaseous gaseous NO x : a new simple deprotection reaction with minimized waste”. Tetrahedron Letters, n° 40, 1999, pp. 3.355-3.358. Commey ras , A . et T aillad aillades, es, J. “L ’orig ine de de Ia Ia vie, o u l ’émerge nce d’un d’un mote ur moléculaire permanent, évolutif, et le rôle clé du monoxyde d’azote”. Sciences chimiques. Lettres des départements scientifiques du CNRS, n° 56, 1996. Mo utou, G ., T ailla aillade des, s, J., Benefice Benefice-- Malou Malouet, et, S., Commeyr as, A ., Messina, G., Mans ani, R . “Equilibr ium of cc- amin aminoac oaceto etoni nitril trilee for mat ion fr om formalformaldehyde, hydrogen cyanide and ammonia in aqueous solution: industrial and prebiotic significance”, Journal of Physical Organic Chemistry, vol. 8, 1995, pp. 721-730. T ailla aillade des, s, J., Beuzelin, I., I., Garrei, L ., T abacik, abacik, V ., Commey Commey ras , A . “N“N- carbam carbamoyl' oyl' a- aminoac aminoacid idss rather rather than free aa- aminoa aminoaci cids ds f or mation in the pr imitive imitive hydrosphere: a novel proposal for the emergence of prebiotic peptides". Orig in o f L if e and Evolution Evolution o f th the Biosfi Biosfih here, ere, n° 28,1998, pp. 61-77. Taillades, J., Collet, H., Garrei, L., Beuzelin, I., Boiteau, L., Choukroun, 11., Comme y ras , A . “N“N- carbamoylcarbamoyl- aminoac aminoacid id soli solidd- gas gas nitro nitro sat ion by N O / NOx : a new route to oligopept oligopeptid ides es via a- aminoaci aminoacidd NN- carboxy carboxy anh anhydride. ydride. prebiotic implications”. Journal o f Molec Molecu ular E v olution, olution, 1999, vol, 48,
A T erra err a
Pa
t en t es
Collet, H., Mo in, L .( T ailla aillades, des, J., Commeyr as, A ., Barenschee, Barenschee, E., Kn aup, G . “V erf ahren zur Deca rbamoy lierung von N- carbamoylg carbamoylg eschutzen eschutzen Verbin Verbin-dungen, neue Carbonsãureanhydride und deren Verwendung”, German patant application 199 03 2688 (licence Dégussa). Commeyras, A., Collet, H., Moin, L., Benefice, S., Calas, P., Choukroun, H., T aillades, aillades , J. “Pr “Pr océdé de synthèse s ynthèse pe ptidique ptid ique à partir part ir des N- (N’(N’- nitroso) nitroso) carbamoy laminoacides laminoacides ”, dépôt dépôt international P CT le 19 octobre 1995, n° n° P C T /F R 95 /01 380 (lic (licen ence ce Dégussa) Dégussa).. V aiule ai ule nabe na beee le , O . , G a r r e lly ll y , L ., C o mme mm e y r a s , A ., M io n , L . “Ut ilis il is a tio ti o n d ’isocyanates pour le dosage de fonctions nucléophiles à 1’état de traces en milieu liumide”. IN P I n° 97.11.508, licence licence Institut BouissonBouisson- Bertrand.
T E RC R C EI E IR A J O R N A D A
DNA: programa ou dados? Henri Atlan
2 Ensinar a evolução Jean Gayon 3
As paixõ pa ixões es e o humano Jean-Didier Vincent 4
Ética e ciência da vida Robert Naquet
Introdução Edgar Morin
As duas prime pr ime ir a s jor jo r nadas nada s f or a m r e lati la tivv ame am e nte nt e f áceis áce is,, pois o coscos(Pli)s i um “objeto" tratado tra tado de maneir maneir a dire direta ta pela pela cosmologia. O caso caso da da 1* 11 a é realmente exemplar, pois o assunto foi tratado em sua unidade iM!i| iM!i| )lexa, em difer diferentes entes níveis, níveis, port rê s ciências ciências polidi polidisciplin sciplinare are s. I lojfi entramos no campo da vida, que é uma noção problemática, muit os biólog biólog os. A lém lé m do mais, não e x istem ist em relaçõ re lações es artiarti• | | m tr„iil;i por muitos fulud.is e coerentes entre biologia molecular, parasitologia e etologia ittimal. As ciências da Terra puderam articular-se porque a Terra era ■t u H >ida como c omo um sistema complex o que se auto- org anizou a partir par tir de líti Bios, enquanto que a biologia continua fragmentada em disciplinas limentadas. Além do mais, há uma polêmica não encerrada em ■ f i o ,l interpretação interpretação genética de toda org anizaçã anizaçãoo viva e à parte parte de Hfonumia "epigenética” própria aos indivíduos, especialmente os ■üimiioimiio- , T alv ez s ejam os os proble problemas mas que desper de sper tam discussõ discussões es e con conp t o i i iitn os bió biólogos logos que mere çam destaque. destaque. D a í a impor tância da da dc I ícuri Atlan, no decorrer dessa jornada. ( u n i u i indii indii ido ido por J ean Ga y on, é a teoria da ev olução olução que pf is tíi ui D nó gónlio dc todos todos os os problemas problemas da biologia, biologia, e isso incita a .1
.1
1
DNA: programa ou dados ? 1 Henri Atlan
v
í . Limites L imites da metáfora metáfora do progr program amaa gené g enético tico A noção no ção de programa genético é a metáfora mais conhecida e mais fecunda da biologia atual. Ela serve para representar os mecanismos pelos quais a estrutura dos genes determina o desenvolvimento do indi v í d u o e o aparecimento de caracteres normais ou patológicos das estru turas e nas funções do organismo. Mas isso não passa de uma metáfora ijlie permite dar nome a um conjunto de mecanismos que são ainda ffiuito mal conhecidos. Kssa metáfora, tomada literalmente e levada a seu extremo, desem p e n h o u um papel importante no lançamento do projeto chamado de fjffíofflci humano, fazendo com que se acreditasse que a decifração de Um tmoma, à maneira de um livro contendo instruções de um longo prngiania, permitiria decifrar e compreender toda a natureza humana §y, no mínimo, o essencial dos mecanismos de ocorrência das doenças. | ín suma, a lisiopatologia lisiopatologia poderia poderia ser re duzida duzida à ge nética, nética, já que toda
ffcssp tçniu l,n | )uh )uhli( li( lido n u BulUiin of lhe Kuropean Society for the Philosophy of m m m ..... I H e a l t h < ' i t v , vol M - i i : Ih ê anil PhllBstipliy, I W l
í, 1995,
s /m y m
I imie
C D - R O M , F ir i r s t W o r l d C oonn g r es es s
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
EDGAR MORIN
doença seria reduzida a um ou diversos erros de programação, isto é, à alteração de um ou de diversos genes. Gostaria de teniar mostrar os limites dessa metáfora, bem como os perigos de sua utilização literal e, ao mesmo tempo, a fim de focalizar um jogo de interações mais sutil com o genético, sugerir uma metáfora alternativa com o objetivo de deslocar o centro de interesse dessa postu ra que explica tudo pela genética. Chegaremos a uma conclusão que é paradoxal apenas na aparência, segundo a qual o genético não está no gene. Como as outras metáforas informáticas existentes em biologia, especialmente a do cérebro como computador, a metáfora do programa genético peca pelo fato de que a questão das significações da informa ção ção g eralmente era lmente não é colocada. colocada. T omou omou-- se o hábito de neg ligenciar lig enciar esse problema na informática e nas ciências da programática, considerando que ele sempre é resolvido implicitamente, simplesmente pelo fato de a fonte das significações ser os indivíduos humanos que emitem e rece bem uma mensagem ou os que escrevem um programa e fazem com que o mesmo seja executado. O importante importante é transmitir a mensag em corretamente ou fazer com que o pro progg rama seja seja executado, ex ecutado, sem preoc preocu upar- se c om a s ignificação da mensagem ou do programa, pois essa significação já está sempre lá, pro duzida pelo emissor da mensagem ou pelo programador. Portantoj não 6 de fato ne necessá cessário rio ex plicitar plicitar a sig nificação, nificação, ne m a fonte dessa significação quando se está ocupado com a formalização do tratamento da informa ção ção nos prog prog ramas de computador . O sig nificado dess desses es progr amas é evi dente: é o objetivo especial pelo qual foram escritos pelos autores huma nos intencionais que constituem a fonte dessa significação. Essa atitudr é justificada no caso dos programas clássicos de computador, sempre escritos com um objetivo especial, com vistas a realizar uma tarefa expli citamente definida, Mas ela não mais se justifica e portanto não se pod' mais ignorar a questão da fonte, quando se trata de máquinas iiatui.ii*> fabricadas pela evolução sem objetivo evidente e sem projeto expln ilo, seja somente pelo efeito da seleção natural, seja mesmo na iiin.Hicia dr tal efeito, como por exemplo nos casos tia evolução não ndaplaliva.
A \ ida ida
A idéia idé ia de u m prog pr og r a ma escr es crito ito nos nos g enes s ob a f o r ma de s e qü qüênc ência iass nucleicas nucleicas do dos D N A prov ém es quematicamen quematicamente te das das observaçõ observações es s eg uin tes e de sua utilização implícita num raciocínio falacioso: 1) O D N A é uma escrita escrita quaterná quaternária ria fac ilmente r edutível edutível a uma uma seqüência binária. 2) T odo prog rama de computador computador seqüencial seqüencial determinista determinista é re dutí dutí vel a uma seqüência binária. 3) Portanto: as determinações genéticas produzidas pela estrutura dos D N A f uncio na m à maneira maneira de um progr ama seqüencial seqüencial escrit escritoo nos nos DN A dos genes. genes. O caráter caráter falacioso falacioso implícito implícito nesse raciocínio raciocínio é ev iden temente a recíproca do item 2, a saber: “totja seqüência binária é um I irograma.” Mas, uma vez reconhecido tal ardil, devemos nos perguntar quais são as outras possibilidades para uma seqüência binária, além i iaquela iaquela de um progr ama. Uma primeira possibilidade seria que se trata de uma seqüência íilratória. Se se entende por isso uma seqüência sem significação, a aceiI.u.no seria difícil, pois teríamos dificuldade em compreender como tais irqüências poderiam deter minar as as f unçõ unções es biológicas iológicas que constituem, na metáfora informática, a significação da informação genética. Mas existe uma outra possibilidade que vamos examinar agora: a de qur a seqüência seqüência binária não seja nem prog rama, ra ma, nem ne m aleatória e sim que que i «ii istitua istitua um co njunto njun to de dado dados. s. A fim de considerar essa poss poss ibilid ibilidade, ade, f pieciso, antes, justificar a distinção programa/dados que, devido a ti ido o esforço feito pela informática teórica, foi suprimida. Será preciin, cm seguida, estipular por que tipo de programa tais dados seriam hitndos.
Í ! ’n>Ki;im >Ki;imaa e dados: dados: complex complex idade com sig si g nificação nif icação A dis di s t inção in ção e ntr nt r e prog pr og r ama am a e dados parec par ecee e v ident ide nte: e: um prog pr og r ama ijp tntilliplií açílo ou dr divisão, por exemplo, multiplica ou divide núme-
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN IN
a mesma estrutura, ainda que utilizando dados diferentes. Mas ocorre que essa distinção, bastante intuitiva, foi apagada em informática pela teoria dos programas e sua complexidade. Sab Sabe-se e- se de fato que no âmbito das máquinas máquinas univer universais sais de T uring ur ing uma seqüência binária pode ser indiferentemente tratada como progra ma ou como dados. A máquina de Turing lê a seqüência e a interpreta como uma descrição binária de um objeto a ser fabricado ou de uma tarefa a ser realizada, na qual as partes programa e dados são indiscerníveis e intercambiáveis. Mas esse estado de coisas resulta do fato de que a teoria se ocupa de artefatos — objetos ou máquinas funcionais, cuja significação só é implícita sob a forma do objetivo ou da tarefa encomendada pelo pro gramador, e ela jamais é levada em conta explicitamente pela teoria. É precisamente por isso que, de maneira aparentemente paradoxal, a complexidade algorítmica máxima é realizada por uma seqüência alea tória. tória. O que que parece ser ser um defeito da teoria teoria não é realmente um, qua n do se trata de artefatos, isto é, de algoritmos dos quais é sabido que pos suem uma significação, aquela que o programador lhes atribuiu sob a forma de uma tarefa a ser cumprida. A o c ont on t r ário ár io,, contentar conte ntar-- s e c o m uma um a me dida di da de c ompl om plee x ida id a de sem se m significação é uma insuficiência da teoria quando se trata de descrição de objetos naturais, que observamos sem pressupor a finalidade para a qual eles teriam sido formados. É preciso levar em conta o conteúdo semântico mais ou menos importante desses objetos, a ser definido de forma tal que uma seqüência que não fosse aleatória devesse ter unu complex complex idade portadora portadora de sig nificaçã nificaçãoo nula. nula. E para para f ormalizar uma tal tal complexidade portadora de significação, é preciso reter e explicar a dis tinção entre as partes programa e dados de uma descrição. É a parte pro grama que explicita uma fonte de significações. É ela que define iiiti.i classe de objetos que compartilham uma mesma estrutura. Ao conli.í rio, os dados especificam um objeto particular nessa classe. Um exemplo simples permite fixar essas idéias. Suponhamos uni obje to des crito pela s eqüência se g uinte: uinte: 001 I() I()()()()()()I 1001 I I --* seqüência 6 produzida dobran dobranddo- se cada cada dig digito ito da da s r qüf m i.i 01000 01000101 101
A V ida
Distingu istinguee- se, por por tanto, c om f acilidade acilidade uma parte programa, que consis te em dobrar cada dígito em qualquer seqüência, e uma parte dados, que qu e é a seqüência sobre a qual o programa de dobrar é aplicado. O programa define uma classe infinita de objetos que compartilham, todos, a estru tura em dígitos dobrados. Os dados especificam nessa classe um objeto especial. A d e f i n iç ão clás cl ásss ica ic a da c o m ple pl e x ida id a de a l g o r ítm ít m ic a de u m o bje bj e t o pode assim ser modificada de forma a levar em conta uma medida de (omplexidade com significação, o que, juntamente com meu colega Koppel, chamamos de sofisticação. Lembremos que a complexidade algorítmica clássica de um objeto descrito por uma seqüência S é o comprimento H (S) de uma descrição mínima, feita de um programa e de dados, de tal maneira que essa des« rição rição colocada sob a forma de dados dados num a máquina máqui na de T uring ur ing é su sufifieicnte para para gerar S. H (S) (S) = m in /P /+ /D /D /, send sendo que que (P, (P, D) geram S s endo endo coloca colocado doss numa máquina de T uring. uring. A de descriç scriçãão mínima (P, (P, D) contém uma parte respectivos vos /P / e programa P e uma parte dados D, de comprimentos respecti /I)/, mas o importante é o comprimento mínimo total sem que seja Heccssá eccssário rio dis dis ting uir de de f orma absoluta absoluta e invar iante, seg uind uindoo a m áqui na de T uring uring , entre entre a quilo que é progr ama e aquilo que são dado dados. s. Sem entrar em detalhes técnicos, definimos a sofisticação como o Õnic o comprimento da parte programa da descrição mínima. Uma das i mr.iíqüências mr.iíqüências dessa def inição corrige corrige o defeito da teoria, e m relação relação ao M o de que uma long a s eqüênci eqüênciaa aleatória aleatória que te m class icamente icamente uma § 1 atuir complexidade algorítmica tem, entretanto, uma sofisticação fjiií fjiiíi .r nula. De f ato, para reprodu reproduzi- la tal qual, qual, sua descr ição ição mínim míni m a ■fMitriu uma parte programa que que se reduz à instr instr uçã ução P R INT e uma l>iti' dados, que não passa passa da própria própria s eqüência. eqüência. A qui não é o momenmomentn dr enlim em detalhes já expostos em outra ocasião e que permitem Uitw grnei .ilização dessa distinção, como: a separação entre programa e dsid.*=((0 1 1 1 , 1 medida da sofisticação que decorre dela), seja ela tão inva-
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
te a me dida clássica clássica de de complex idade algor ítmica, ítmica, isto é, inva riante mais ou menos numa constância aditiva.
3. DNA DN A : programa rog rama ou dados? ados? Será suficiente notar aqui que essa distinção permite colocar o pro blema do papel da da se qü qüência ência nucleica dos dos D N A nas dete rminações rminações genéticas sob a forma de uma alternativa entre uma função de programa e uma função de dados. Essa alternativa permite então questionar o papel da maquinaria celular sempre associad associadaa aos aos D N A na produção produção de tais dete determinaçõ rminações es . Se os os D N A são são um progr ama, essa essa maquinar ia celular des des empenha o papel de programa tratando dados. Trata-se aí, é claro, de duas metáfo ras complementares cujos méritos respectivos para explicar as coisas foram discutidos em outro momento. A lé m de seus se us mér itos it os própri pr óprios os , a s e g unda me táf or a , “D N A c o mu dados”, tem a vantagem de provocar a discussão e de questionar a pu meira me táfora , clá clássica, ssica, do “D “D N A como prog rama”. ra ma”. Pois é claro que a noção clássica de programa genético teve em seu tempo um valor heu rístico e operacional inegável. Mas, como ocorre com freqüência, essa noção, utilizada de maneira não crítica, com o esquecimento de que 8# trata de uma metáfor metáfor a empreg empreg ada para para designar mecanismos mecanismos descoiih descoiihr cidos, e não o conhecimento explícito de mecanismos bem identiln a dos, pode tornartornar- se um empecilho empe cilho e impedir o progres progres so da pesqUn» pesqUn» científica sobre tais mecanismos. É nesse sentido sentido que uma metáfora alternativa pode ser ser útil. útil. Nessa qiir propomos, as deter determin minaçõ ações es genéticas genéticas que que res ultam da estrutura sci| ürn ciai dos D N A funcionam, portanto, portanto, não como um programa, mas mas mecanis mec anismo mo
.1
id a A V ida
t ia artifical mostram que tal máquina é capaz de adaptação, de aprendi zag em não não prog ra mada e, e, de de maneira maneir a geral, de de autoauto- org anizaçã anização estr u tural e funcional. A v a nt a g e m dessa dess a nov no v a m e t áf o r a é indi in dicc a r u m de s l o c a me nt o do centro de interesse. De uma atenção limitada quase que unicamente a uma ex plicação plicação baseada ex clusiv amente sobre o ge nético pa passassa- se à pes quisa de processos epigenéticos e à análise dos mecanismos reguladores dii expressão gênica. A s s im é que dia di a nte nt e da ques que s tão cláss cl ássica ica sobre so bre “como “co mo são r e g ulados ula dos os | en enes es reg r eg uladores uladores?? ”, somos somos levados levados a busca buscarr um a resposta resposta no citop citoplaslasnta, com sua informação de posição e seus estados funcionais regulados por mecanismos epigenéticos. A prop pr opós ósit itoo dessa nov a metáf me táf or a , dev e rá se s e ev e v itar it ar,, t a nt o q ua nt o pos po s sível sível,, de se se cair cair na mesma mes ma ar madilha que consistiria no fa to de tom tomá- la levá-- la a sério demais. demais. Imi iibém liter alme nte e de levá Pois é provável que a verdade se encontre em algum ponto entre as ilu.i'. metáforas. Entre a visão de um programa de computador inscrito nu*, seqüências nucleicas dos genes e a de dados memorizados tratados fim (iina rede de reações metabólicas, como num programa distribuído, a verdade deve se encontrar entre ambos, já que não se pode negar que « es trutura trutura dos genes genes determina, por sua vez, ainda que n um a escala escala de de \ r mpo mais longa, a estrutura da rede do metabolismo. A s s im é, que qu e po r trás tr ás de dess ssas as duas metáf me táf or as podeode- se c onc eb ebee r um a fide evolutiva em que duas dinâmicas estariam superpostas em escalas limporiiis diferentes. Uma dinâmica da primeira ordem dependeria da iiltuliiin da rede metabólica e dos dados que ela recebe sob a forma de geiir-, .ilivos. Mas Ma s para a dinâmica de segunda ordem, mais lenta, estados estáveis r i a retlr modificariam a atividade de certos genes, de forma que certas ■içõf. do metabolismo dependentes dessa atividade cessariam, ao ■liso que que ou Iras seriam desencadead desencadeadas, as, produz pr oduz indo um a modif ica ção ria ri a t i 1 1 itui.i di d i rede. rede. O metabolis mo seria, seria, assim, assim, levado por uma outra
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN IN
4. Capacidade de transmissão hereditária* epigenética Dizendo de outra forma: a rede metabólica trataria, em cada instan te, de dados que ela recebe em permanência do genoma num certo esta do de atividade, e o resultado desse tratamento seria a própria atividade da tal rede. Mas de forma mais lenta, em compensação, essa atividade da rede poderia poderia m udar os dad dados modifica ndo de for ma r elativ amente está vel a atividade do genoma e assim por diante... Já ex istem alguns alguns ex emplos emplos de mecanismos epige néticos pelos pelos quais um estado funcional de reações metabólicas é suficientemente estável para ter capacidade de se transmitir geneticamente, durante as divisões celulares, celulares, sem que as seqüênci seqüências as de DN A sejam modificadas modificadas es trutural mente. Essa hereditariedade citoplásmica chamada de hereditaribilidade enco conntra- se manife sta nas nas linhage ns de célu células las somáticas somáticas epigenética en diferenciadas, como as que se reproduzem permanecendo num dado estado de diferenciação que exprime um certo estado de atividade de uma parte do genoma; ou ainda como as células do sistema imunitário que, depois depois de ser em ativadas, multip multiplicam licam-- se re produzindo seu estado de ativação mesmo na ausência de estimulação antigenética. Mas alguns exemplos de hereditaribilidade epigenética através das divisões de células germinais também começam a ser documentados. O mecanismo mais mais estudado estudado é o da metilação metilação diferencial dos D N A , a propósito do qual Holliday fala de “epimutações”; trata-se de variações do estad estadoo funcional de DN A , e v entualmente entualmente induzidas induzidas pelo meio e transmitidas tais quais quando da divisão celular, sem modificações estruturais, isto é, sem verdadeiras mutações genéticas, mas que produ zem o mesmo efeito. Um outro exemplo é o da impressão genômica (g enomic imprinting ), em que se observa que o estado de atividade de um gene depende de seu meio não genético de origem parental e é transmitido tal qual quando
* No original, héritabilité, que corresponderia a uma idéia dc hereditaribilidade cm portn guCs, isto é, probabilidade ipie tem uma caraeterfstii a aparente manifesta im Irnólipo de um indiv íduo de sei sei traiisimlida tr aiisimlida her editaiiainr edita iiainr nte polo» polo» f ilnrr lnrr-% -% gs liétk ir, (N T )
id a A V ida
das divisões celulares que produzem os gametas, de forma que um mesmo gene poderá ser ativo de maneira estável quando provém do gameta paterno, mas não quando provém do gameta materno ou viceversa. De maneira geral, um fenômeno de hereditaribilidade epigenética é possível toda vez que o produto de um gene retroage sobre o gene que o produz, seja diretamente ou por intermédio de um promotor, seja por outros genes. Pode-se mostrar que a atividade do gene é determinante por meio de um sistema simples simples de dua duass equações equações diferenciais, difere nciais, cuja s olução olução admi te dois dois estados estados estáveis estáveis que cor respondem, re spondem, um ao ge ne ativo ativ o e a seu pro pro duto duto presente com um a c oncentração elevada, elevada, e outra outra ao gene inativo e ti lima concentração nula de seu produto. Um a v ariação ariação tr ansitória ansitória de concentr concentr ação do do produto aci ma e abaix abaix o dc um valor- limite limite faz oscilar o sistema de de um u m estado es tado estável estável a outr outro. o. E esse estado de atividade ou de inatividade pode ser transmitido tal qual, quando da divisão celular, com a condição mínima que essa se acompa nhe de uma eqüipartição aproximativa do citoplasma. Dizendo isso de itra forma: o que é transmitido não é somente uma estrutura molecular 01 r-.l.ílica, mas um estado de atividade funcional, isto é, uma certa expres são da significação funcional do conjunto das estruturas celulares. A té ag ora, or a, esses f e nôme nos no s de her he r e dita dit a r ibil ib ilid idaa de e pig e né nétt ica ic a apareaparei f m como co mo anomalias ou exceç ex ceçõ ões por comparação à te ndência de tudo iH.ic ionar a determinações genéticas sob a forma de seqüências de I IN A. P or isso eles são r e lat la t iv ame am e nte nt e pouc po ucoo e s tudados tuda dos,, a inda in da mais mai s que a'. Irônicas necessárias são mais complicadas e menos eficazes do que as clonagem de genes e de sua seqüencialização.
s (;< nos o v italis ita lismo: mo: consideraçõ considerações es históri históricas cas Na ultima parto dessa palestra gostaria de examinar como esse pro• ilr ,i,i< rnluação do do uma uma leitu leitura ra base basead adaa exclusivam exclusivamen ente te no no gen genétiti-
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
teoria teoria da lógica lógica tal como ela é ensinada e ainda mais ta l como ela é v ul garizada. Pois esse vocabulário joga incessantemente com uma ambigüidade entre o molecular, caracterizado por estruturas estáticas, e o ser vivo, concebido concebido de maneira global, global, sendo sendo o ser ser vivo toma do e nquant o objeto, simultaneamente, de nossas experiências da vida no sentido amplo do termo e das ciências da vida, no sentido técnico de biologia. Os genes eram outrora definidos de maneira formal num contexto v italista, sem se m que se conhecess conhecess e a nature za f ísica deles, deles, a par par tir da obser vação de transmissões hereditárias de caracteres, que constituem de fato os processos genéticos no sentido tradicional do termo, isto é, pro cessos de transformação e de produção, de gênese dos organismos a par tir daquilo daquilo que os os produz, como um e feito é produzido por sua causa causa ou como, tal dizia Aristóteles, “o pai é a causa da criança”. Esse contexto vitalista estava ainda muito presente nos fundadores da g enétic enéticaa no início início do do século século X X , tai taiss como A ugus t We isma nn, Hug o De Vries, Johannsen, William Bateson, que redescobriram, reinterpretand tando- as, as as leis leis de Me ndel. nde l. Os g êmu êmulas de Darw in e o plasma lasma g er minativo minativo de W eis mann, re uni dos nos nos pangenes de Hug o D e V ries (o que que co nduz iu à invenção inv enção da pala v r a gene, à distinção genótipo/fenótipo de Johannsen e à invenção da palavra genético por Bateson), Bateson), er am, suposta suposta mente, partículas partículas vivas, uni dades dades de de protoplasma protoplasma vivo, cujo suporte suporte era cer tamente mate rial no sen tido de que tais elementos eram compostos de moléculas, mas cujas pro priedades deviam ser diferentes daquelas das moléculas, pois eram as propriedades propriedades da vida, vida, especialme e specialmente nte a capacidade de autoauto- replicaçã replicação. o. O protoplasma era, supostamente, uma matéria composta de moléculas, mas que tinha propriedades fisiológicas diferentes das propriedades físico- quím químicas icas dessas dessas moléculas. De V ries, para isso, isso, opu opunhanha- se à noção noção de “prote “prote ína viva”, viv a”, pois pois uniu molécula, mesmo complicada como uma proteína, nâo poderia se i suporte desses pangenes, já que estes deveriam ser vivos. Os pangenrs
A V ida
res res e é mais mais correto comp comparáará- los aos aos menores menores org anismos v ivos conhe ci (Intracellular cellular Pangenesis, Pangenesis, 1889, Introdução). Ora, hoje, o que cha dos” (Intra mamos genes são moléculas ainda mais simples que as proteínas. Mas há aí um mal- entendido entendido.. Pois as as propriedades propriedades que D e V ries a tribuía aos aos genes não são são unicame nte as das das molécu moléculas las de DN A , mas, no m ínimo , as as de um conjunto dinâmico dinâmico DNADNA- proteín roteínas. Resulta desse malmal- entendi entendido do uma situaçã situação apar enteme nte para do xal, já que devemos admitir que as propriedades genéticas dos organis mos não estão contidas nos genes ou ainda que o processo genético — isto é, o processo de gênese e de formação dos organismos — não se encontra no gene. O paradox o não passa de uma aparência, aparência, de desde sde que que tomamos cons cons ciência de que o gene não é um processo, posto que ele é uma molécula. A es tr utur a mole mo lecc ula r estática es tática do g ene de d e s e mpenha mpe nha ce r tame ta ment ntee um pape l determinante, mas como elemento de um processo que implica, por oulio lado, outras moléculas e sobretudo um conjunto de reações, de trans formaç for maçõ ões físicas físicas e químicas químicas entre essa essas moléculas. A relação relação tr adicional mtre estrutura e função mudou de natureza. Uma estrutura não viva, a dc uma molécula, continua sendo tida como responsável por funções que n .u n percebidas ercebidas como f unçõ unções es vitais. vitais. Há um a g rande rande dificuldade para se livrar da conotação vitalista v italista apeg apegada ada à própr própr ia noção de funç ão, quando quan do se inear ine ar a o papel das das estrutu e struturas ras molecu oleculares. Em uma palavra, o gene não só é vivo, como também supostamen te explica a vida. Entre outras coisas, é essa dificuldade que esclarece, pniém sem justificar, o raciocínio falacioso que constatamos no início dr .sa palestra. Pois, Pois, de de f ato, considera ndo que os os genes genes são são moléculas moléculas de D N A , üt i. i preciso recis o atribu atribuir- lhes lhes outras propriedades propriedades a lém das das químicas , e as as itietáforas informáticas desempenharam o papel delas nisso; os DNA trun' trun'.form .formaram aram-- se em moléculas moléculas portadoras portadoras de infor mação; mas isso só Vêru ac rese re seent entar ar um a a mbig mb ig üidade üida de à noção no ção de v ida, ida , que qu e é a ambig ambi g üidat l r d . i uoçilo d e informação. Um irl.itúim (In Comitê hnl.inieo sobre a ética da terapia gênica <>l ( '.c iic Therapy, Cm 1788 (íif(íif- /'nif o/ t iú < o i u i i i i l /<• «* mi ll h‘ l.ll iir s <>
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
HMSO, ISBN 0-10-117882-4), publicado em 1992, mostra muito bem as ambigüidades do discurso sobre a genética. Esse relatório constata, de um lado, que a terapia gênica não traz problemas éticos novos em rela ção aos problemas que aparecem com todo novo método terapêutico em seu estágio de aplicação experimental sobre os doentes. Mas, por outro lado, o relatório afirma: “Os genes são a essência da vida.” E prossegue assim: “Fora das questões obrigatórias sobre o caráter inofens ivo de toda interv enção enção médica nova, nova, não é surpreendente que que o público sinta-se inquieto quanto a um procedimento que poderia ser utilizado para mudar os caracteres humanos herdados, sobretudo no caso em que essas modificações possam ser transmitidas às gerações futuras. Além do mais, temores irracionais são provavelmente produzi dos dos a part ir de mal- entendid entendidos os s obre obre a biologia biologia e confundidos conf undidos co m fic ficções populares, como por exemplo o monstro de Frankenstein.” No mesmo relatório, a observação seguinte é então formulada: não é somente o medo do desconhecido que faz com que devamos tomar precauções, mas também o reconhecimento de que a capacidade de modificar o patrimônio genético (genetic endowment) dos seres huma nos oferece possibilidades para influenciar a vida e a saúde de maneira mais fundamental do que qualquer outro tratamento disponível jamais pôde fazer, ou seja, seria realmente necessário tomar precauções espr ciais, mesmo para a terapia gênica somática, porque a terapia gênica atingiria a essência da vida. Ora, mesmo sendo verdadeira a necessidade de que sejam tomadas precauções especiais, não é por essa razão que ela existe, simplesmente porque essa linguagem é inadequada e comporta certos perigos. El:i i.il vez fosse adequada se Hugo De Vries tivesse razão e se tivéssemos real mente descoberto uma essência da vida sob a forma de pangenes como unidades unidades do protoplasma protoplasma vivo. Mas não é o caso: caso: os genes D N A não pas passa sam m de moléculas. St- e pos pos sível síve l ainda ain da que se fale fa le de es sência da vida — e me s mo assi as sim m niiu nii u <'•e n te za —, seria mais correto dizer que ela sc encontra nos sistema.-. (Imfimi cos que constituem as redes bioquímicas pelas quais os <-,l.nl(>, luuc k > nais mantêm- se, se , tra ns fo r mam ma m se <■tr ans an s mitem mit em se.
A V ida id a
Eis por que é preferível definir as precauções que devem ser toma das de maneira pragmática, analisando cada situação específica, para cada doença e cada técnica, a fim de saber quais são os efeitos potencial mente perigosos e indesejáveis que devem ser evitados. Por exemplo, os problemas éticos mais difíceis trazidos pela genéti ca médica, até agora, são relativos ao diagnóstico precoce de doenças que ainda não se declararam e a defasagem cada vez maior entre as pos sibilidades de diagnóstico precoce e as de tratamento. O problema pro blema criado dessa forma fo rma relacio relacionna- se ao es tatuto social e psi cológico de pessoas em bom estado de saúde, cujo único sofrimento é criado pelos temores e pela incerteza produzida pelo próprio diagnóstico. Podemos estar diante de: — uma doença mais ou menos grave — cujo aparecimento é previsto num futuro mais ou menos distante, — com uma possibilidade maior ou menor de manifestação. Esse problema é a conseqüência de um diagnóstico precoce de prolubilidade, precedendo a própria doença. Ele não é específico das doen ças gen ge néticas, éticas, pois pois o problema existe também em re laçã lação à A IDS . Esse problema não tem evidentemente nenhuma relação com uma suposta I tsência da vida.
6. As tentações tentações do pré- form for macionismo De um ponto de vista mais teórico, é importante evitar um retorno aii aii ei ros ros antigos do prépré- for macionismo, macionismo, e é f ala ndo disso disso que g ostaria ostar ia de de tf?i minar essa palestra. A v e lha quer que r e la e ntr e prépr é- f ormação or mação e e pig ênes êne s e atr at r av ess es s ou toda to da a história da embriologia durante duzentos anos e parecia ter terminado it v i( l( >ii necessidade a pare nteme nte re conhec conhecida ida de associar associar essa essas duas duas jclri.is opostas opost as — prépr é- f ormação or mação e e pigêne pig êness e — s ob uma um a f or ma a te nua da i i Ir maneira complem entar . Reconh Reconheceu eceu-- se, de desde sde o fina l do século século Kí necessidade de eliminar os erros que cada uma dessas duas teo-
A R E L IG A .Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN IN
O erro do pré- formacionismo formacionismo ex tremo era o de conceber o ger m como uma miniatura completamente formada do adulto, o homúnculus, de forma que o dese dese nvolv imento só contr ibuía ibuía para o aumen to da massa massa material, sem nada provocar do ponto de vista de mudança da forma. O erro do epige epige netismo e x tremo era o de de conceber o germe como algo algo sem estrutura e inorganizado, sendo que toda a organização do adulto seria decorrente do desenvolvimento. C om a biolo biologg ia molecular estamos estamos ainda ainda no mesmo impass impass e, no sen tido de que sabemos que o germe não é algo sem estrutura e que ele tem, portanto, um cer to elemento de prépré- formaçã formação, que é a estrutura do do genoma. Mas sabemos também que isso não é suficiente e que um ele mento de epigênese sobreposto a isso também é necessário para explicar o desenvolvimento. Mas eis que, sob influência da genética molecular, uma dissimetria insta instalo lou u- se e ntre esse essess dois ois fatores, por por que conhecemos me lhor a es tru tura dos genes do que os mecanismos da epigênese. Resulta disso que identificamos com maior facilidade os determinismos genéticos quando os genes são identificados como causas de caracteres, normais ou pato lógicos, do que os determinismos epigenéticos que apelam necessari.i mente para uma multiplicidade de fatores causais emaranhados. Assim, tem tem- se te ndênc ia a retom re tom ar em direção de de uma espécie espécie de de prépré- formacio nismo, segundo o qual tudo estaria contido nos genes (e a metáfora d< > programa genético reforça evidentemente essa tendência quando ela r tomada literalmente. É nesse sentido que as metáforas da atilo organização aplicadas à epigênese, tiradas ao mesmo tempo da cinétit > química e da dinâmica dos sistemas complexos, podem contribuir p.ua impedir a v olta da te ndência dessa interpre interpre tação tação pré- formaci formacion onista) ista).. É dif ícil esvaziar a interpret inter pretação ação prépré- formacionista, formacionista, pois pois ela cones cones ponde, parece, a uma tendência natural de nosso espírito para bus< ui sempre a causa, e tal tendência assemelha-se às vezes ao pensamento mágico ou teológico, no qual se tem necessidade de identificai iiuim causa que con tém um efe ito, ultra ultra pass ando am plame nte o que | >o.Ir mos mos conhecer conhecer e o próprio róprio efeito efeito.. Geoffr oy Sainl Sainl I lila lilaiire | á critic criticava < i ndênci do formacionismo, qual o
id a A V ida
Porém essa crítica deve sempre ser retomada, pois tal idéia da cau salidade mágica corresponde muito bem ao que Hume considerava como uma inclinação natur al de nosso nosso espírito, espírito, à se melhança de de um ins tinto que já nasce com o animal e a criança. É essa idéia da causa não proporcionada ao efeito que ele criticava, mostrando a vacuidade a pro pósito do argumento pelo plano (argument from design), supostamente capaz de provar a existência de Deus como causa primeira, a partir da organização da natureza vista como seu efeito. A interpretação pré-formacionista macionista da genética molecular encon encontratra- se muito mais difundida difun dida do que se imagina, e isso provavelmente porque, entre outras explicações, <*la responde a essa necessidade mágica de explicação por meio de uma causa sem proporções com seu próprio efeito. Ela leva a atribuir ao genoma as propriedades que eram atribuídas outrora ao germe. Thomas Huxley, por exemplo, definia em 1878 o germe como "matéria potencial viva contendo em si mesma a tendência a assumir uma forma viva definida”. E isso era normal, pois o vitalismo dominante «Ia época não permitia que se imaginasse outra coisa. Mas hoje, quando se interpreta o papel do genoma dessa maneira, f".< f".<|| ueceece- se evidentemente de que o genoma, reduzido às moléculas de I >N A, não passa de um pedaço de matéria, matéria estruturada, é verda de, mas não viva. lí é assim que, que, de forma mágic mágicaa e por meio dessa dessa concepção err ônea iIm causalidade, e m que a causa causa é despr oporcionada e m relaçã r elaçãoo a seu eleito, atribu atribuemem- se ao g enoma as misteriosas misteriosas propriedades propriedades daquilo que tnittora era chamado de vida. for trás dessa metáfora do programa aparece então a essência da esta é rapidamente trans formada em santuário santuário e em patr imônio. imônio. Vida, Vida, c esta « »gf i H>ma se se torna e ntão um fet iche, ger ador de medo, t anto an to quant o de Í íi s i i l Ii l Ç i l O .
K, como todo fetiche, este já se apresenta como uma fonte de prov r ít ". uno uno negligenciá neg ligenciáve veis, is, a ser ser ex plorado plorado de for ma hábil, hábil, através do jo jo| i> entif ent if medo c fas cínio cínio,, ou seja, como com o s empre empre e m volta de tudo o que que lir , i is mnc a do i es do T em plo não se se enco ntra m muit o longe , mas mas é Irtii lir, itijui itijui não não . provave prova ve lmente o lugar lugar,, nem o mom e nto, para se falar fala r disso. disso.
2
Ensinar a evolução Jean Gayon
Para falar da evolução foi convocado, aqui, um filósofo — filósofo que recebeu uma formação de biólogo, mas, mesmo assim, filósofo. Isso não me surpreende, pois pelo fato de ter trabalhado sobre o lugar resei vado à evolução no seio da cultura científica francesa, sei que por muito tempo, nesse país, teve-se tendência a considerar a teoria da evolução como algo que estivesse na fronteira do campo da ciência positiva. () ensino científico francês sempre privilegiou a biologia dos mecanismo'., relegando as pesquisas sobre a história do mundo vivo ora à poeira da velha história natural — quando a abordagem é descritiva —, ora domínio da pura especulação — quando se trata de teoria da evolução, Jovem filósofo, há cerca de vinte anos, quis adquirir uma formação em biologia tal como era possível naquela época no maior campus r i n i tífico francês de então. Do DEUG até a maitrise,* jamais ouvi lal.u, fosse apenas por uma hora, da evolução como objeto de uma teoria ou como algo suscetível de merecer um discurso articulado e exigindo uma ex plicaçã plicação. o. Cla ro , a ev olução olução estava estava pre pre sente em inúmer inúmer as maU- iuií iuií (paleontologia, zoologia, botânica, fisiologia comparada, gencMii .1 d,i? i u i i i iw i w í u U i í o t- e lo * DEUG: Diploma de Estudos Universitários Gemis; maítrlm- r u iu qual mina undo ciclo do ensino ens ino s erior (11lo r uiv nl 111 .Imilo .Imilo l> si
id a A V ida
populações, biogeografia), mas sempre de maneira implícita. Eu só fui me iniciar em biologia evolutiva contemporânea quando passei para o terceiro ciclo especializado do ensino universitário,* freqüentado somente por quatro estudantes, entre os quais dois eram estrangeiros. Foi, entretanto, uma iluminação para mim, e ela seria confirmada por minhas estadas em outros países nos quais a evolução era evidentemen te uma das dimensões fundamentais das ciências biológicas. Por que pri var de tal iluminação os alunos e universitários franceses? O te s te munho pessoal que que acabo de dar mereceria, sem dú dúvv ida, certa minimização. Alguns colegas biólogos abordam a teoria da evolu Vão em e m suas ativ at iv idade ida dess de e nsino ns ino,, no s e g undo g r au e nos prim pr imee ir os anos universitários. Entretanto, a coisa permanece rara e muito dependente de iniciativa s locais. Os bons bons livros de iniciação sobre sobre os os quais quais os prof prof es sore soress poder iam se apoiar são pouco numerosos numerosos ; a litera tura de vu v ulgarizalgarizaçflo çflo é com f re qü qüência ência terr ivelmente medío medíocre. cre. T udo se passa como se o iispecto mais teórico das ciências biológicas devesse permanecer margi nal e devesse ser considerado como objeto de desconfiança em meio às matérias matérias inicialme nte ensinad ensinadas. as. Entretanto, a teoria da evolução é, sem dúvida, a mais unificadora df* todas as teorias biológicas. E interessante fazer um paralelo com a bioquímica e a biologia molecular. Há cerca de meio século, elas de monstra ram a ex traordinária traordinária unidade material do mundo da vida. vida. T odos odos es seres vivos têm em comum um pequeno número de tipos macromoIfcülares Ifcülares , de de meta bolites* * e ddee proc processo essos. s. A té mes mo os os v írus írus c ompar tilham com os autênticos seres vivos suas propriedades elementares de i nmposição e de funcionamento (mais exatamente, eles são compostos j)i j)i ii e leme le ment ntos os análog an álog os às célula cé lulass v ivas iv as,, mas ma s f unc un c i o n a m ape ap e nas na s depois depo is tlr Introduzidos nessas células). Kssa unificação material do mundo da vida é sem precedentes na histuua tuua Ela vai vai muito a lém da unificação que que fora intr oduzida no s éculo éculo
»Ç«wr>, »Ç«wr>,|| MHwlr»itf*, wlr»itf*, g ins*) ins *) iiiodo, A etapa do doutor ado brasileiro. (N. (N. T .) !* I ml.i ml.i Milniatii w niK. niK.ln lni< i< ;i«| iir participa dos dos processos processos de metabolis mo ou que é forma
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN
X I X pela teor te oria ia celula ce lularr , pois real re alça ça a unid un idaa de e a or ig inal ina l idade ida de da v ida em relação à matéria que a compõe. Entretanto, tal unificação material não pode pode ser ser suficiente. suficiente. E preciso compre c ompreender ender a div div ers idade idade das coisa coisass da vida em todos os níveis de sua organização, a complexidade das inte rações, entre elas e com o meio físico, e a própria origem das estruturas moleculares que testemunham, hoje, sobre a incrível unidade do mundo vivo. Esse já é o objeto da teoria da evolução. Essa é uma teoria histórica. Ela não pode ser ensinada como certas teorias físicas nas quais alguns princípios permitem inúmeras e magnífi cas deduções, nem como a teoria química, na qual o conhecimento de alguns elementos e de suas propriedades reativas permite explicar a estr utura e o compor tame nto dos corpos corpos que são são feitos feitos co m os mesmos. mesmos. Teoria histórica, a teoria da evolução tem uma fraca capacidade de pre visão de fatos, mas uma imensa ambição explicativa: é com ela que a diversidade da vida pode tornar-se inteligível. Não se pode colocar uma teoria como essa no ponto de partida do ensino da biologia. Ela pressupõe de fato um grande número de conhe cimentos parciais, arciais, por ex emplo, emplo, em g enética, em ecologia, ecologia, em paleonto logia, mas oferece, em compensação, uma elucidação coerente do coi i jun j untt o das disci dis cipli plinas nas biológ bio lógic icas as . A teor te oria ia da e v olução ol ução t a m b é m não pos sui muitas aplicações práticas, mas ela está provavelmente destinada .1 ter cada cada v ez mais, mais, no f uturo; uturo; posso apostar apostar que que no século século X X I serão serão g as tos bilhões para compreender como evolui este tesouro que constitui .1 biodiversidade — especialmente nos países tropicais. Seja como for, a evolução continua sendo atualmente uma discipli na fundamentalmente teórica, no sentido mais belo e antigo do termo; um objeto que suscita uma curiosidade intelectual tão popular quanto universal. Isso é 0 que que faz c om que que esse objeto seja impor tante, tant e, caso n.ln se queira que o ensino da biologia seja reduzido a um conjunto de 1 <■
id a A V ida
ciliar as duas faces das ciências biológicas e adotar o famoso adágio de Theodosius Dobzhansky: “Em biologia, só tem sentido aquilo que é ana lisado à luz da evolução.” Deix ando de lado ess essaa pregação, pregação, gostaria agora agora de adianta r algumas sugestões gerais quanto à maneira de apresentar a evolução no âmbito do segundo grau. Não tenho a pretensão de indicar ponto por ponto o que seria necessário ensinar, mas gostaria de apontar três erros pedagó gicos comuns que são fonte de grandes confusões.
I . Falar sem precaução de um fato evolutivo Diziz- se sempre que é preciso preciso fazer um a distinção distinção entr e o fato e os "ifcanismos da evolução. Ora, é perigoso falar da evolução como um fito. Pois o fato evolutivo é na realidade uma audaciosa generalização i| iie levou muito tempo para amadurecer amadurecer historicamente e que envolve 'Iivorsas idéias sobre a história da vida. Se admitirmos que uma história das espécies que viveram sobre a Trrra é possível, vários cenários para a mesma podem ser concebidos. Eles não nos dizem nada a respeito das causas do destino das diferentes r ,| >c-ci -cies. Mas esses es quemas descritivos descr itivos têm tê m a pre tens te nsão ão de um a grangranflr generalidade: Descendência com modificação. Trata-se do esquema darwiniano, pelo qual se representa classicamente a evolução por meio de uma árvo re As espéc espécies ies muda mu dam m gra dualmente. dualmente. Oco rr em acontec imentos irrev irrever er-tfv rr , de secessão. secessão. Oc or re m ex tinçõ tinções. es. A div div ers ificação ificação se realiza de de f i r m a i i ;1o homogêne a, isto é, de de uma espécie espécie não nasce necess ariamen te u mesmo número de espécies que de uma outra. As espécies têm uma uilgriii comum ou pelo menos derivam de um pequeno número de tront o * 1oitmiis. oitmiis. Ne nhuma dessa essass hipó ipóteses é evidente, evidente, como mostram os (iiiltiii
A R E L I G A Ç A O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
— Nem modificação nem origem comum. Trata-se do fixismo. A s espécies não evoluem. Elas são diferentes desde o início. — Fixismo com extinções. É o esquema catastrofista proposto por Cuv ier no s écu éculo X IX . Ne m mudam, ne m aparecem aparecem novas espé espécies. cies. Mas algumas desaparecem no decorrer da história da vida. — Fixismo com extinções e substituições. As espécies são fixas. Elas se extinguem por causa de catástrofes generalizadas ou localizadas e são substituídas por outras. Essa interpretação era qualificada no século X I X de criacionismo. Ela é o alvo principal de Darwin em sua obra A Or ig em das das espé espécies. cies. T odos esse sses es quem quemas as corr es pondem a concepçõ concepções es que que f or am deba tidas tidas no decorrer ecorre r da da his história tória das das ciências. ciências. A aprox a prox imação entre entr e elas elas mos tra que a própria idéia de evolução é complexa e que ela não se deixa apreender, certamente, como uma evidência empírica. Terríveis proble mas metodológ metodológ icos, por outro lado, encon encontramtram- se associ ass ociad ados os à demo ns tração das diversas hipóteses constitutivas daquilo que chamamos de maneira um tanto imprudente de fato ev olutivo olutivo : — Os fe nômenos nômenos de ex tinção tinção f oram os mais fácei fáceiss de estabelecer, estabelecer, a partir do momento em que passamos a dispor de dados paleontológico.s, A obse obs e r v ação aç ão dir di r e ta de e x tinçõe ti nçõess atuai at uaiss é, a lém lé m diss dis s o, um u m pode pod e r os o argti arg ti mento. — A modific ação g radual das das espéci espécies es pode, pode, sem dúv dúv ida, ser ob obsei v ada, mas mas é difícil dif ícil estab estabelecê elecê-- la no passado, passado, desde desde que se queira t er cri c ri teza de estar lidando realmente com espécies, noção delicada que sei 1.1 preciso explicar muito mais aos alunos. — A origem co mum das formas formas que perte ncem a dados dados grupos grupos 6 uma conjetura tornada plausível há muito tempo pelas comparações da? anatomias e dos embriões e, há pouco tempo, pela biologia molcmlai Mas Ma s a gene g enerr aliza ali zação ção da mes me s ma (or igem ig em co c o m um a todos to dos os seres viv viv< >:.)
A V ida
pretenso fat o evolutivo quema que mobiliza tantas provas provas indire evolutivo é um es quema tas e põe em jogo, a um só tempo, diversas hipóteses generalizadoras. Desde seu primeiro contato com a evolução, um aluno deveria ser leva do a compreender que se trata de uma conjet ura altame nte genera generaliliza za-dt >i a e unific ador ado r a, cuja adoção ado ção só pode pode ser feita fe ita desde des de que se te nha um imModo.
1 . C o n t i n u a r o s de d e b at a t e s d o s é c ul ul o X I X No início do século X X , a ciência causai causai da da ev olução olução estrutu estruturavarava- se ini lorno de algumas grandes oposições doutrinais, sendo que cada douIfiita realçava um fat or domina nte da ev oluçã olução. o. Afrontavam A frontavam-- se, porta portannt<», a teoria da evolução por ortogênese, o neolamarckismo, o mutacionisM , o ultradarwinismo... Mas, nos anos 30, a irrupção da genética e espefia liac nte a da ge nética das das popu populaçõ lações es puse puse ram u m f im a esse sses tip tipos de ibotdagem. Os cientistas cessaram de opor esses fatores, a fim de se ■Ifguiltarem em que condições um certo número de forças (mutação, if H n o , migraçã migração. o... ..)) podi podiaa modificar a estrutu estrutura ra de uma população população e em ijtir | .1
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN
do e transmitido. Tal ensino é possível desde o segundo grau, mesmo s upondo upondo a aquisiçã aquisiçãoo de certos certos conhecime ntos em g enética e, par par ticular mente, em estatística. É realmente muito prejudicial o fato de que os formandos do segundo grau continuem representando a evolução com a ajuda de categorias e fer ramentas intelec tuais herdadas herdadas do século X IX .
3. Extrapolar Não se trata de cair no extremo oposto. Os professores deverm tomar cuidado ao dizer (ou sugerir) que tudo a respeito da evolução s;e dá por explicado, apenas porque são bem conhecidos os mecanismos dlc transformação das espécies a curto prazo. É importante que um alunio tenha consciência do alcance limitado das explicações microevolutivas para dar sentido à história global da vida. Há, de início, problemas paia os quais as explicações microevolucionistas são totalmente inadequa das: o problema da origem da vida é talvez o melhor exemplo disso. A história da bioesfera também não pode ser reduzida à soma das históri;is evolutivas das espécies, cada qual submetida a forças tais que mutação, seleção, migração e isolamento geográfico. Há outras escalas de estrutu ração dos fenômenos evolutivos. Os paleobiologistas insistem especuil mente sobre os episódios de extinção maciça. Tais acontecimentos tal vez tenham tido efeitos de importância maior sobre as feições da árvqir evolutiva e não são explicáveis somente pelas relações de concorrênt i.i entre espécies. Enfim, deve-se combater a tendência de alguns a extia polar. Me s mo que que fosse ve verdade rdade que que todos os fe nômenos ev olutiv olutiv os i controlados pela seleção natural, isso não significaria que eles s;"io detci minado s pela mes ma. A história hist ória da mo difica dif ica ção das espécies espécies dev devee ol >i I gatoriamente levar em conta diversos fenômenos: a variação gcnéli* a r a seleção, de um lado, e a especiação, de outro. K preciso também um siderar as múltiplas pressões que envolvem os processos dc modiíu ai, ãi <,
A Vida Vida
Em resumo, penso que o ensino secundário francês deveria: — oferecer um lugar mais explícito à evolução, enquanto teoria; — preparar uma apresentação decente dos mecanismos microevolutivos lutivos banalizados pela te oria s intética intética da ev oluçã olução; o; — indicar, indicar, por meio de alguns ex emplos emplos criter iosamente es colhid colhidos, os, os limites desse tipo de explicação. De maneira maneira g eral, um aluno tem tudo a ganhar ao compreender compreender que a teoria da evolução não é uma história de tudo ou nada, mas sim que ela exige a mobilização de um conjunto complexo de dados, de métodos e de modelos. P ermitam- me ainda nessa nessa ocasião ocasião lembra r a deplorável deplorável visão sobre a evolução veiculada com grande freqüência pelo debate público, público, especialmente na França. A prision prisionand andoo- nos indef inidament e no debate contra ou a favor de Darwin, damos a pensar que nada mais teria teria se passado ass ado desde desde a metade do século X IX . J á passa passa da hor horaa de dar i rédito à idéia de que, no decorrer do século XX, a evolução foi mu campo de investigação extremamente fecundo e que o grande mérito de I *arwin, se ele teve algum, foi precisamente o de ter aberto e não fecha do esse campo.
3
As A s paix ões e o hum hu m a n o Jean-Didier Jean-D idier Vincent Vinc ent
A ling li ng uag ua g e m ex prime pr ime a s epara epa ração ção r adica adi call en entr tr e o ho m e m e o a ni mal. Na tradição filosófica, ela é produto da razão e procede de um encadeamento de causas e efeitos sem ligação com o aqui e agora. Esquecese assim de que a fala é sempre também ato destinado ao outro, a um órg ão sensível sensível que que deve recol recolh hê- la. A linguag ling uag em, própria do huma no, no , jorra jor ra no seio se io de um c o nj unt un t o de s ensações ens ações porta por tador doras as de s en enti tido. do. E la é patética e emocionante, pois exprime elementos emocionais que tanto quanto os elementos lógicos — senão mesmo mais — determinam a essência do homem. Nela, de maneira especificamente humana, além dos gritos do animal falam a alegria e a dor que são as modalidades pri meiras do ser no mundo. A v ida, ida , t a l c omo om o é g e r alme al mente nte ens inada ina da e apres apr es en enta tada da nos prog pro g r a mas escolares, assume sempre uma feição de coisa morta. Ora, a vida tal vez seja a morte, de acordo com o célebre aforisma de Claude Bernanl, mas ela é com certeza totalmente o contrário de uma coisa: ela se defmr por um processo dinâmico, em perpétuo devir. Para Claude Bernaid, a vida resulta da destruição, ela própria compensada, a cada instante, pnt uma criação da qual o sexo é o cúmplice e talvez mesmo o autor. O ponto pont o que que eu gostaria gostaria de desenvolv desenvolver er aqui é o da subjet subjet iv idadr <• ser vivo é um sujeito no mundo, em sen mundo. Eu vou falai r . .cm ul mente do sujeito animal.
A V ida
t
Acusou A cusou-- se m uit ui t o o be beha havv ior io r is mo de a pre pr e en ende derr os c ompor om por t a me ntos nt os | dos animais animais neg ando a eles eles toda e qualquer subjetiv idade e de distanciar I os pesqu es quisadores isadores do estudo est udo de seus seus mecanismos mecanis mos nervosos nervos os subjacentes. I Essa acusação mereceria hoje, sem dú dúv ida, uma revisão. revisão. No primeiro período do darw inismo tr iunfa iunfa nte, alg uns, uns, e stabelecen stabelecen do a continuidade da evolução do psiquismo do animal com o do ho mem, tinha m cheg cheg ado a um exces excesso so de de antropomorf ismo, indo até mes mo a atribuir aos animais poderes de raciocinar, amar e julgar,aponto de torn tornáá- los los semelhantes s emelhantes aos aos her heró óis de La Fonta Fo ntaine. ine. Dissertava- se então K com g ravidade ravidade sobre sobre o ciúme dos dos peixes peixes e o orgulho dos dos papagaios. papagaios. A pre pr e oc upação upa ção c o m a obje ob je tiv ti v idade ida de e a r ecusa da intr int r os pec pe c ção e da analogia levaram esses autores a considerar o cérebro como uma caixapi$ta, e o comportamento como resultado da associação entre um estí^ mulo e um efe ito (condicionamento clá clássico) ssico) ou entre uma respost respostaa e s*i-i conseqüência (condicionamento instrumental ou operante). Isso I produzia a situação para dox al que consis consis tia em considerar o cérebro i num uma máquina de fazer associaç associaçõ ões, ao mesmo te mpo em que que se ; recu recusava o conhecimento de suas suas engrenagen engrenagenss e mecani mecanismos. smos. I ver dade que, parale lamente , esse esse de desejo sejo furioso de objetividade g| ü(lou (lou alg uns uns psicólogos psicólogos comparat comparatistas istas a estud es tudar arem em os os costumes cos tumes dos dos ani a ni mais (etologia) (etologia) ev itando as derivas antr opomó opomórf icas, icas , porém poré m re conhecendo ttn animal um estatuto de sujeito diante de um meio que lhe é próprio. () primeiro desses pesquisadores foi certamente Yerkes, que tudo es tudou, tudou, indo da minhoca até o mar inheiro inheiro nortenorte- america americano no,, passando passando pelo corvo e pelo macaco. Um primate center leva hoje seu nome em A tl a nla nl a , o nd ndee v ive iv e K a nz i, u m maca ma caco co bonobo (P an paniscus), paniscus), célebre por SUa inteligência e seus poderes de abstração. Yerkes tinha ensinado niiiílun as a reconhecerem os caminhos de um labirinto, em função de p t ........ .. ou recompensas. Além do mais, ele mostrou a existência de urna aprendi/,agem latente neste verme, quando familiarizado com o pipo s iti v o expei expei imental, imental, e concluiu pela ex istência, istência, neste neste anim al inte intelili-. de mapas cognitivos de seu meio ambiente: a minhoca é capaz de fa = r i r ,i,i o l h a s em seu vaslo mundo!
Í
A R E L I G A Ç Â O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
Yer Y erkk es, es , este est e não f oi mais o caso cas o dos tr abal ab alhos hos de v o n U ex k üll, ll , que qu e c he gou a conciliar uma abordagem objetiva do comportamento com a con sideração da subjetividade do animal. Esse pesquisador se distancia ao mesmo tempo do mecanicismo e do vitalismo, o que não o impede de descrever os comportamentos em termos de mecanismos. Esses são fer ramentas que um sujeito, sujeito, o animal, utiliza para perceber e adaptar suas suas ações. O animal contém o operador, mais ou menos da mesma maneira como, para Didero t, o cravo viv o é, é, a um só tempo, ins tr umento e mús i co (O Sonho de d’Alembert). O comportamento, diz von Uexküll, é “uma melodia de movimen tos cantados a duas vozes afinadas, a do sujeito que se comporta e a da situação”. A estrutura anatomofisiológica constitui um plano natural no interior do qual o sujeito constrói seu mundo perceptivo. O animal dá seu sentido ao objeto. Esse se torna, segundo a expressão de von Uexküll, um “motivo”. O exemplo de um pequeno crustáceo, o eremitabernardo,* ilustra esse propósito. Consideremos o animal em presença de um objeto do mundo real: uma anêmona marinha. Numa primeira situação, o animal está desprovido de concha, ele tenta deslizar para o interior da anêmona; o objeto tem então o significado de uma casa. Numa outra situação, o animal já possui uma concha; ele se cobre com a anêmona, cujos galhos ele utiliza como defesa contra predadores; o objeto cham chamaa- se e ntão arma. Numa última situação, o animal não possui uma concha e está com fome, ele come a anêmona: o objeto torna-se nl alimento. O mundo pertence propriamente ao corpo do sujeito que II ir dá uma significação. Em sentido inverso, se considerarmos os mecnnr, mos cerebrais que subentendem o desejo, observaremos que estes sno unívocos. Seja qual for a natureza exprimida (fome, sede, cio etc.), t-.lr é obrigatoriamente especificado por seu objeto. O antropomorf ismo consistiria consistiria em atribuir atribuir ao animal um mundo humano. Or a, a complex complex idade idade do mundo está ligada ligada à complex complex idade idade du cérebro. Não existe s ubjetividade sem cérebro, o que é uma ev idêm ia às às
* T am bém cham ado paguro, crustáceo de cápodr <| iir iir sc aloja em com Iw Iwis tilmm tilmmlu lunad nadtss tss
A V ida id a
vezes esquecida. E isso implica uma estrutura axial do animal com uma organização anteroposterior; a extensão e a riqueza do mundo apreendi do dependem das capacidades articulares do animal. Em seguida, Buytendijk introduziu a dimensão temporal na análise dos comportamentos animais. Esta é a expressão observável de uma sig nificação vivida pelo animal entre um antes e um depois. Ela opõe os animaisanimais- org anismos sem ação ação af etiv a sobre sobre o mun do e os anim animaisaissujeitos e estabelece por outro lado uma hierarquia entre o homem e o animal. Es te últ últim imoo possui, possui, como o primeiro, u m mundo mu ndo obje\ je\ ivo ivo orga org a nizado por um tempo e um espaço vividos, mas, paradoxalmente, é a faculdade de objetivação do tempo e do espaço que diferencia o liomem. Para este, o próprio sentido se torna perceptível. O animal conten contentata- se em c onhecer os fatos, mas mas sem saber que ele sabe. sabe. A co m plex idade idade lig ada ao a rtic ulado e à ação ação recíproca (flexão(flexão- exten ex tensã são) o),, da (| Ual a ling uag em representa a forma mais mais ev oluída, oluída, m ultiplica as lepresenta lepresentaçõ çõeses- ações. ações. E a ling uag em nasce f inalm ente ent e da subjetiv idade compartilhada. O indivíduo só existe enquanto sujeito sujeito nu m mundo que que lhe pert perten en-Cr e o define, esse mundo dele, que eu chamo de espaço extracorporal, pi)t oposição ao espaço corporal, que é o próprio corpo, espaço no qual sr manifestam os três sistemas comunicacionais: o nervoso, o hormonal e d imunológico imunológico.. O espaço espaço ex tracorporal tracorporal é a um só te mpo pr oduto do i uipo, seu criador e aquele que lhe dá ordens, graças à epigênese. O r ,| niço iço ex tracorporal é único, único, ele pertence r ealmente ao indiv íduo: íduo: é um mundo dele, cujo ta ma nho depende apenas apenas de seu saber. saber. Par a um astrô astrô-Homo, Homo, o espaço espaço ex tracorporal tracorporal vai até A lpha de Centa uro, enquant o que | iui iui ,1 utn gato gat o dos dos telhados ele não não vai além alé m da esquina. O m undo un do só s ó exisxis| r no corpo porque o corpo corpo pr pr oduz o mundo , ou seja, o corpo fabrica i«U próprio saber. O cérebro é o espaço privilegiado que resume o tntpo; tntpo ; "metáfora metáfora actante a ctante ”, a representação é nele inseparável da ação. ação. A í r opir op ir s cnt cn t a ções çõe s co mo s imples tr ans an s cr ição do r eal não t ê m v alor al or par a liniii drlmiçiio do ser que, nesse caso, não passaria de uma máquina de apirrtnd(*l O lr.ll.
A R E L IG A Ç Ã O DOS DO S SABE SA BERE RES S
EDGAR MORIN
O corpo é o teatro do mundo. O mundo se se ex prime prime nele sob as ins ins tâncias do patético e não da razão, o que não passa de um instrumento lógico de tratamento do mundo. São as paixões que fundamentam o humano e lhe dão a palavra. A escola não pode ir contra o humano, ela deve ser uma escola dos sentimentos. Eu defendo o prazer, é claro, mas, mais do que isso, defendo a totalidade das emoções. São elas que permi tem te m o reconhec rec onhec iment o do do outro. Processos Processos que se opõem encontram encontram-- se no centr o das das paix paixõ ões. A escola não deve, por tanto, ta nto, r ecusar ecusar a disc disc iplina, iplina, pois mais vale disciplin disc iplinar ar o prazer do que que ignorá ignorá-- lo. lo.
4
Ética e ciência da vida Robert Naquet
Na mesma semana em que que Edg ar Mor in entrou em contato comi comigg o, live a sorte de deparar com algumas palavras de Louis Armand, escritas durante os anos 60. Engenheiro formado numa excelente escola, A i ma m a nd era, er a, na n a époc a, dir e tor to r da S N C F * e me mbr mb r o de duas pres pre s tig iosas ios as m .idemias. Ele dizia o seguinte a um de seus correspondentes: “Seu apoio é extremamente precioso para aqueles que — como eu mesmo tento f azer — g ostariam de estabelece estabelecerr um novo humanis mo e um civis mo lortalecido diante do progresso desordenado, porém enriquecedor, da I ('cn ('cnica ica.. É de homens como v ocê, ocê, cuja cultura n ing uém põe em dú dúvv i da, da, <| <| iie nós nós espera e speramos mos essa bênção que deverá dever á ex orcizar orciza r o tecnocr tec nocrata ata,, qtir fará dele um descomplexado e, portanto, um participante ativo na sul u dade de amanhã.” I v.se v.sess propósit propósitos os pode m parecer distantes de me u as s unto, mas pen en-§ri que, modificand modificandoo- os um pouco, eu poder poder ia servir- me dele deless c omo fnííoduvflo. Kis o resultado de minhas elucubrações: “Como estabelecer uiM novo humanismo e um civismo fortalecido diante do progresso (faionlni,ido, fulminante, mas enriquecedor, das técnicas e pesquisas no ii m p o il.i l.is
1 Mmiétè miétè Nâii Nâiioi oitttih d$ d$is(V is( Vtmins
WF /WF i (N. T.)
A R E L I C A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN IN
objetivo é o conhecimento, diante de suas próprias descobertas e diante do uso que fazem delas a sociedade e a mídia, a fim de fazer com que elo se torne um participante positivo da sociedade de amanhã?" Será que tenho realmente razão ao dizer que o pesquisador das ciências biológicas é mesmo um complexado? Que suas descobertas são mal utilizadas, até mesmo mal interpretadas pela sociedade e pela mídia, apesar de toda a publicidade que é feita delas? “Você está enganado, vocês dirão, algumas dessas descobertas têm um impacto considerável sobre a sociedade. Veja por exemplo o suces so do T el et on! ” E u r es ponderia ponderia que sucesso sucessoss desse desse tipo tipo co ntin uam sendo raros demais, especialmente no campo biomédico. O século século X X brilhou, brilhou, e isso isso é válid válidoo tanto para a Fra nça como pa u vários outros países, pelo desenvolvimento fulgurante das pesquisas cm biologia, cujos resultados revolucionaram nossa vida. Mas não tenho tanta certeza de que no final deste século a pesquisa em biologia — especialmente a pesquisa fundamental — seja tão bem aceita como se diz nos países desenvolvidos que mais se beneficiaram dos resultados das últimas descobertas. Os objetivos precisos das pesquisas não são suficientemente esclarecidos, porém a mídia lhes dá grande destaque, muitas vezes mesmo os distorcendo. Na população, alguns se preoi u pam e perg untam untam-- se a quem c oube a decisã decisãoo de de iniciar ou aplicar ev a ou aquela pesquisa. Essas mesmas pessoas fazem questão de sublinhír que todo contribuinte participa do esforço pelas pesquisas e que, enquanto cidadão, ele acabará por beneficiar ou padecer, mais cedo nu mais tarde, de tais descobertas. Diante de um Jean-Pierre Changeux, que proclama em alto o bnffl som, num diálogo recente com Paul Ricoeur: “A audácia do sabei nan tem limites. E uma das características mais atrativas da pesquisa eieiitl fica”, alguns, no grande público, emitem reservas, considerando que qu e m cientistas cientistas “brincam “brincam com fogo” e nã nãoo hesitam hesitam em minimiza i o iu t n n ig , e até mesmo em considerar como desastrosos os resultados
A V ida id a
todos os benefícios que nosso século tirou dos resultados desses traba lhos e da utilização pacífica do radium! E ainda por cima poderíamos acrescentar que que os Cur ie não são são os inventores da bomba atômica. Outros se perguntam: “Para que serve a pesquisa fundamental?”, querendo ignorar que sem ela não existe boa pesquisa aplicada. Mal informados, eles não imaginam as aplicações futuras de uma pesquisa <| ue, inicia lmente lme nte , parec parecee- lhes lhes esotérica. esotérica. Q ua nd ndoo se faz pesqu pes quisa isa,, é pre pre nso saber “correr riscos”. Eu sempre cito a história da descoberta da i iclosporina.* Borel, um pesquisador dos laboratórios Sandoz de Bâle í (Suíç (Suíça), a), troux era de uma v iag em ao aos paí países ses escandi esc andinavos navos uns cogumelos cog umelos que que lhe par eciam poss poss uir propriedad propriedades es interessantes; interessantes; ele s olic ito u^ seus seus superiores uma autorização para consagrar-se durante dois anos à pes quisa desse assunto, que normalmente não entrava no programa desses laboratórios. laboratórios. A autor ização iza ção lhe foi dada: dada: dois anos anos mais tar de, as as proprie propri e dades antianti- rejeição rejeição da ciclosporina eram descobertas e, dez anos mais turde, os laboratórios Sandoz passavam a viver com os dividendos dessa [ jjficoberta. Outro s , ainda, rejeitam toda e qualquer qualquer ex perimentação perimentação feita sobre sobre animais. E verdade que eles não podem dar por escrito um consentifiir ulo, como pode pode fazer o homem! homem! A lguns grupos grupos ex tremista tremistass não hesi tam, em alguns países, em atacar os depósitos de animais e em usar o pfidr-i q u e têm para tentar proibir proibir completamente a ex perimentação perimentação em ■e du o terr itório itório nacional. nacional. Eles a dmite m que o hom em seja seja enviado para numa nave es pacia pacial, l, mas recu recusam sam-- se a admitir que ratos ratos embar quem junto com ele! à ex perimenta ção ção sobre sobre os os animais não é recente. N o iítliln XIX, Claude Bernard já se confrontava com o problema, mas, Ipisat da hostilidade
oposição i oposição
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN
serviços domésticos e para sua alimentação e que lhe seja proibido servir-se deles para instruir-se no campo de uma das ciências mais úteis à humanidade. Não há hesitação possível: a ciência da vida só pode se constituir por meio de experiências, e alguns seres humanos só podem ser salvos da morte após o sacrifício de outros. É necessário fazer expe riências sobre o homem ou sobre os animais. Ora, penso que os médicos já f a z e m po r demai dem aiss ex per iências iênc ias perig per igos osas as sobre so bre o ho h o m e m , antes ant es de têtêlas estudado cuidadosamente sobre os animais.” Dur an te as três três primeiras primeiras quartas quartas partes partes do século século X X , esse esse tipo de de ex perimentação continuou, cada vez com mais precauçõ precauções es para ev itar o sofrimento do animal; elas continuavam sendo consideradas como indis pensáveis. Há cerca de quinze anos, as coisas mudaram e os responsa veis esperaram que os progressos da biologia e da genética moleculares favoreceriam o desenvolvimento de métodos de substituição e pode riam diminuir muito, talvez até mesmo fazer desaparecer, a experimen tação sob s obre re mamífer mamífer os, especialmente especia lmente sobre sobre os os primata primata s infra infra-- humali humalios os A util ut iliz iz a ção de micr mic r oor oo r g anis ani s mos mo s , de inv erte er tebr brado adoss e de cultur cul tur a s célul cé lulaa res seria não somente suficiente, mas permitiria ir ainda mais longe na compreensão dos mecanismos elementares do funcionamento de todn ser vivo. Os “antidissectores” triunfavam. Mas com o passar do tempo eles tiveram que mudar de idéia, fí vir dade que a situação situação mudo u, mas não não no sentido de que que se esperava esperava A ex per imenta ime ntação ção sobre mamífe ros ro s v oltou olto u a ser uma prioridade, prior idade, e iss issee»i »■) diversas diversas r azões. azões. V ou citar alg umas. A prim pr imee ir a é a c o ns e qüênc qüên c ia da e mer me r g ência ênc ia de nov as doe do e nça nç a , k ü ves e de seus efeitos sobre o inconsciente coletivo; os medos que apaiP ceram com a ocorrência de doenças tão dramáticas quanto a A II #, eventualmente, a doença da “vaca louca”; as esperanças gerada-, prln# progressos que poderiam resultar de toda técnica nova que pemiilí?sb tratar essas doenças e, quem sabe, fazer a prevenção das mesma,, imnji ficaram as mentalidades. As pesquisas sobre modelos animais imitam)" essas enfermidades são hoje mais bem aceitas. Não se deve esqiiw i t que cientistas brilhantes, se guidos guidos pela mfdía, cog itara m triesuin triesuin t|t| Uf
id a A V ida
humana! Sabe-se o que não seriamos capazes de fazer para assegurar a própria sobrevivência, a nossa sobrevivência! A s eg unda r azão az ão te m a v er c o m as surpres sur presas as rese re serv rvadas adas pelo pe lo des en volvimento da pesquisa em biologia e genética moleculares. Como toda pesquisa fundamental inteligente, ela se viu seguindo vias que não eram obrigatoriamente aquelas traçadas pelos responsáveis governamentais e pelas elites. Os métodos substitutivos, apesar de toda sua importância, mosti aram ram- se insuficientes. insuficientes. C om o diz Lou L ouisis- Marie Houde bine: “Pre “P reconizar conizar a utilização sistemática de células em cultura em vez de animais é sim plesmente ignorar a grande complexidade da vida.” Isso é especialmen te verdade em se tratando de farmacologia. Antes de qualquer extrapo la- lo para a aplicação no home m, os testes testes s obre obre os animais permaneermanefptti necessários. 1*or outro lado, apareceram novas técnicas e vias de pesquisa que ■peessitam da utilização de espécies tão variadas quanto o ratinho de pboratório, o rato, o carneiro, a vaca ou o porco, às vezes mesmo o maÉ K o tais técnicas técnicas nem sempre sempre deix deix am de de ser ser arrisca arriscaddas e apontar am e ijjoiilani ainda para novos problemas, especialmente no plano ético. No que diz respeito às doenças genéticas, tomarei como exemplo a Ififéia (le Huntington. É uma doença rara que já sabíamos neurodegene■tiVíi, familiar, autossômica dominante, de alta penetração.* Essa jt j t i f f unid un idaa de c ome om e ça g er alme al mente nte e ntr e 30 e 45 anos ano s e e v olui ol ui inelutav inel utavelelperitc cm quinze anos. Os pacientes apresentam uma demência pro j| j| S> i i .ir .i r o m pa nha nh a da de mov mo v ime im e ntos nt os incon inc ontr tr o lados la dos . F o i ness nes s a enferMlliidr que se descobriu a primeira anomalia cromossômica presente In u
0111
111
A R E L IG A Ç Ã O D O S S A B E R E S
E D G A R M O R IN IN
uma ex pansão pansão do tripé C A G , mas ainda ainda não são são conhecidas conhecidas a razão dessa expansão e sua relação exata com a fisiopatologia da doença. A mutação descoberta é instável; o número de repetições dos tripés é variável de um paciente para outro; parece que a doença se revela tão mais cedo quanto o paciente apresente maior número de tripés. A conf co nfir ir mação ma ção da orig or igee m g enét en étic icaa da doen do ença ça lev le v a ntou nt ou numer nume r osos os os problemas problemas éticos. éticos. T ornou ornou-- se possível possível saber saber se se um paciente per fe itame n te são era ou não portador da marca genética responsável pela doença que ele apresentaria mais tarde. O que deve se dizer nesse caso ao por tador? Q ue conselho conselhoss lhe dar dar caso queira casa casarr- se e ter f ilhos? ilhos? Seria pre ciso aconselh aconselharar- lhe lhe um aborto ter apêutico, caso o feto s eja portador dessa essa marca marca genética? genética? A rtistas rtistas como V an G og h e Mozar Mozar t já tinham moi rido na idade em que normalmente se declara essa doença. Esses problo mas são são atualme nte ger enciado enciadoss pelos pelos neurologistas neurologistas , que estabeleceram estabeleceram toda uma série de regras e conselhos para as famílias. A ter te r apia api a g ênic êni c a tr az outr as questões ques tões.. SabeSabe- se hoje ho je int in t r o duz du z ir um D N A re combinante combinante num a célula, célula, tendo em vista diferent diferentes es objeti objetivos vos V o u cita ci tarr dois. N u m caso, cas o, trata- se da s ubsti ubs titu tuiç ição ão de u m g ene defeit def eituo* uo* so que está na origem de uma doença genética. Em outro, o mab c om um até agora, o D N A é ddestinado estinado à produção, a caráter caráter terapêutico, terapêutico, de uma proteína que tem um efeito antiviral ou antitumoral. Com <“ - * 1 estratégia pode-se atacar diretamente a causa da doença, quer seja r \a hereditária, quer adquirida. Já foram obtidos resultados em experiências sobre animais, imh a aplicação no homem continua em discussão. A difusão pela mídia de tais resultados ainda hipotéticos, pelo menos no homem, e as espruiti? ças que que nasc na scem em assim ass im em todos os os que que acr a credit editam am que poderi pode riam am l>t n> li ciar ciar-- se disso rapidame ra pidame nte não deix am de lev antar anta r certas qncslr qncs lrtc. tc. <'-tn iis A s técnic téc nicas as de trans tr ansgg ênes e são m uit ui t o intere inte ress ss antes ante s c poitadom de esperança es perança em inúmeros inúmer os campos. ca mpos. Ning N ing uém m ^a hoje o in l c n v .r <1. I=»s nos animais. Todos concordam em admitii «pie a liaiislcinii ia dr genei nas células oferece desde j;í a possibilidaiIr de ■ =f ^ll i dos (1 1 1 1
id a A V ida
I izar proteínas recombinantes de interesse farmacológico e criar uma seleção genética de um novo tipo, menos independente das probabilida des da naturez a. Sempre continuando no campo biomédico, podem ser citadas algu mas dessas aplicações eventuais: — Nos ratos ratos de laboratório, acrescen acrescentan tanddo- se um g ene es trangeiro trangeir o (Iransgênese) ou desativando um gene endógeno (kno ( knockode- se ck- out out), podefacilmente criar um modelo animal precioso para compreender e/ou ti.itar ti.itar certas certas doenças. doenças. Elas v ão do câncer câncer à A ID S , à doença doença da “vaca “vaca I louca”, às doenças cardiovasculares e ao diabetes — e sabe-se lá quais outras. outras. A cada dia dia aume nta o lote de novos novos modelos a nimais criados iis im , mas a umenta també m a séri sériee de animai animaiss que que apresentarri apresentarri sinto n i a s que os pesquisadores, sem treino nesse tipo de exploração, ainda I riflo riflo silo silo capazes de de diagnosticar diagnos ticar , o que é r uim e, cert ce rt ame nte, nte , nada ético. I D Minis Minis tér io da Pesquisa Pesquisa e os os grandes grandes org anismo anismoss conscientes conscientes de tais tais M i t o s re fletem s obre obre a maneira de e ncontrar uma solução solução para para o proble proble nw Para tal, tal, relançar rela nçar os estudos estudos fisiológ fisiológ icos icos é um a necess idade. idade. ^ - Por outro lado, a rar idade idade dos órg ãos e células células huma nas que podem ser transplantados nos doentes que teriam necessidade atinge, ituulmente , um ponto crític crítico. o. O aparecimento da A ID S e a doença doença da da PVí PV íie ii louca” é uma das razões, razões, mas não a única: o tráf ico de órg ãos é I n i i t r .i V ário ár ioss e s peci pe cial alis ista tass pe ns a m q ue a c o lhe lh e ita it a e m a nim ni m a is s erá er á a Üftit a icsposta possível para essa falta de órgãos. l iiitretanto, as xenotransplantações acarretam, apesar da utilização m ittiunodepressores poderosos, fenômenos de rejeição aguda. Suces■ i ip< r nle s no macaco (muit o trans itórios itórios , é ve rdade), rdade), com porcos porcos ■tido i" cbido genes símios para diminuir esses fenômenos, deixaram ici anças consideráveis. Entretanto, a rejeição não é o único feobirniii. mesmo para os transplantes de curta duração, feitos enquan|| iê fispei.i que um coração ou um rim humano esteja disponível. Fa j| j | n s. ilu poss pos s ibilida ibil idade de de que se de dess e nv olv ol v am, am , n o tr a ns pla nta nt a do, do , v írus ■ l i üfli i s;n i | ).ilogí ).ilogí‘‘ii(' ii('os no por por co, mas que, que , ass ociados ociados aos ex istentes ist entes no
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
alguns cirurgiões muito ansiosos por poderem começar os xenotransplantes, alguns pensaram em propor uma moratória. A Inglaterra já fez isso, isso, os os Estados Es tados Unidos preparamreparam- se para para o mes mo, mas os r esultados esultados recentes permitiriam que sejamos menos pessimistas em relação aos perigos de vírus suínos no homem. E u não posso posso te r minar essa palestra palestra sobre sobre ciências bioló biológg icas e ética sem falar da clonagem e do caso Dolly e suas conseqüências; raramente uma descoberta fundamentada sobre os resultados obtidos num único animal fez tanto barulho na mídia e provocou tais tomadas de posiçilo em todos os níveis da sociedade, quer se trate da França, aqui na Euro pa, quer em outros países — sem dizer que a aplicação imediata nos pi i meiros resultados obtidos na ovelha não deixa dúvidas para muitos. Sem entrar em detalhes é preciso, antes mesmo de tomar posiçílu, fazer uma distinção clara entre clonagem reprodutiva e clonagem nílo reprodutiva. reprodutiva. A clonagem r eprodutiva eprodutiva tem como objetivo levar ao nasci nasci mento de uma criança. Tal prática seria unanimemente inaceitável se tivesse como finalidade a reprodução de um grande número de indiví duos idênticos, de elite. Para alguns as coisas não seriam tão simples assim, quando se trata por exemplo de casais estéreis que não come guem procriar por meio das técnicas clássicas de reprodução medi< al mente assistida. Mesmo nesses casos os problemas éticos subsistiriam, e creio que é preciso continuar sendo firme e continuar impedindo c*s«f tipo de clonagem. A c lona lo nagg e m não r e prod pr odut utiv iv a te m como co mo f ina lida li dade de a util ut iliz iz a ção da < pacidade pacida de dos dos óvulos enucleados de reprog ramar as células células somá somática tica-- . d» adulto. adulto . A s células embrionárias embri onárias derivadas dessas dessas células somáticas p< ide ide riam ser diferenciadas in vitro e ser trans plantadas nos paci pacien entete- , p.iiá curar diversas doenças. Tal perspectiva ainda é longínqua e lambem não deixa de ser eticamente problemática, já que implica a utili/.aç.lo dr uni embrião que não está destinado a completar seu desenvolvimento Na França, por enquanto, toda e qualquer experimentação emii o embrião humano in vitro ô proibida, mesmo com aqueles que snu dr#
A V ida
(jue é prejudicial para toda pesquisa, sobretudo a pesquisa sobre os conhecimentos relativos aos primeiros estágios do desenvolvimento. Essas pesquisas com o embrião in vitro e também outras sobre as quais lhes falei levaram à criação de um Comitê consultativo nacional de ética, que a França foi a primeira a estabelecer. Alguns anos mais tarde, o mesmo país dotava-se de leis sobre a experimentação animal e textos textos re g ulando ulando as as inves inves tigações tigações no home m: a lei lei HurietHuriet- Sérusclat em 1988; as leis de bioética em 1994. Dado que a pesquisa evolui muito depressa e que essas leis não resolvem todos os problemas éticos atuais, al mesmas serão reexaminadas em 1999. Mas as leis servem para regulamentar e alguns pesquisadores, como Jr un- Did Didier V incent, cheg aram a afir mar um dia: ia: “A “A ética ética corèeça corèeça no no ponto em que a legislação termina.” Por outro lado, Antoine Danchin iosta.de dizer: “A ciência não nos permite, de forma alguma, decidir Hossas ssas posições posições éticas. éticas . Ela E la só pode ajuda ajudarr- nos nos a clarifica clar ificarr nossas idéias, mas não pode es tabelecer nossos valores .” O respeito re speito das das leis, leis, apenas, nflO é suficiente, a ética do pesquisador desempenha um papel primor dial. ial. Mes mo que cada u m possa possa pensar que t em sua “própria “própria ética”, essa deve ser compatível com a do meio em que ela se insere. Sabe-se que as posições éticas variam de um país para outro; a religião, a cultura itiliam em jogo; por exemplo, os mediterrâneos admitem mais facil mente a ex perime ntação sobre sobre os animais animais do que os angloanglo- saxôes, saxôes, ao pav.o que têm mais dificuldade para admitir a experimentação sobre embriões do que estes últimos. No seio de um mes mo g rupo, os resp res ponsáveis onsáveis pelas pelas g randes randes decisões ecisões iêvem levar em conta todas as sensibilidades depois de terem promovii e o debate debate entre os difer difer entes atores; atores; mas, mas, se não quise quisermos rmos criar uma pg f ur u Ia separação separação entre entre pesquisa pesquisa e sociedade, tod todos os dev em estar aptos aptos i fiompr ee nder os os desafios em jogo j ogo antes de poder pode r em debatê debatê-- los de mamalí> ii i H ii a/ K pre preciso ciso saber s aber que, que , no início, os desaf desaf ios dos dos pe pe s quisado quis ado ras são geralmente diferentes dos desafios dos tecnocratas, dos responMvi i . g ove rnamentais, dos dos polí políticos e da da mídia! E aí que que a educação e a pHHHi,no íMitiam
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
A
E D G A R M O R IN
Educação e formação de todos os atores serão minha conclusão em relação à pesquisa nas ciências biológicas que, todos os dias, acena com dados novos, uns mais surpreendentes que os outros! Educação e formação de todos e não somente do outro. Todos têm o que aprender. Os pesquisadores devem tomar consciência de suas res ponsabilidades diante de suas próprias descobertas, diante da regulamen tação em vigor e de sua ética. Os responsáveis pelas decisões devem encontr ar as soluçõ soluções es o menos tecnocráticas possível, possível, a f im de v alorizar os os pesquisadores pesquisadores e os os trabalh tra balhos os que for am subvencionados, subve ncionados, preocup preocupand andoo- se também com a difusão necessária, mas difícil, da informação científica. A mídia míd ia dev e c o mpr e e nde r melho me lhorr a impo im porr tânc tâ nc ia de s eu pape l. A busca atual de um sensacionalismo constante combina muito pouco com o espírito científico e, com o pretexto de que o público precisa ser informado, um excesso de informação desorganizada corre o risco de provocar, no final, uma desinformação prejudicial a todos.
Observações finais Edgar Morin
O que veio à tona nessas diferentes intervenções não foi somente que que o huma no en enco conntra- se no que é vivo, mas ig ualmente que que o que que é vivo en encon contratra- se no huma no. no . Or a, essa essa consideraçã considera ção, o, ev idente para para m ui tos, não é assim tão evidente para todo mundo, pois as estruturas do ensino promovem a disjunção entre o cérebro e o espírito, sendo o pri meiro estudado em biologia, biologia, e o segundo segundo,, em psicologia. psicologia. A lém do mais, mais, fxislem justificativas filosóficas para definir o homem por oposição à natureza, que impõem conseqüentemente a idéia de que o conhecifhento fhe nto do hom e m só seria seria possível possível suprim suprimin indo do-- se o natura l. No oposto ■iggo, as reduções à animalidade e à biologia são também da mesma ftii mu empobrecedoras. E preciso que tentemos pensar o complexo biosntropológico. A organização de nosso corpo é hipercomplexa, mas §!ém disso somos indivíduos integrados na complexidade cultural e nil A complex idade, lembremos , não não explica as coisas, coisas, mas mas sim aq ui lo qur deve ser explicado. A pales pale s tra tr a de I lenr le nr i A tla tl a n s ublin ubl inha ha o f ato at o de que , se os g enes ene s controcontr oJgfí! «* oiR.mismo, o organismo também controla os genes. Isso nos introjúi jú i tui irlria tlc auto organização. Se não concebermos o problema do
Q U A R T A JO R N A D A
Origem e meio ambiente dos primeiros primeiros hominídeos Michel Brunet
2
Hominídeos e hominizaçõo Henry de Lumley-Woodyear
3 Hereditariedade, genética: unidade e diversidade humanas André Langaney
4 As A s principais funções funçõe s de regulação do corpo co rpo humano André Giordan
5 A longevidade humana Étienne-Émile Baulieu
6
}
Biologia humana e medicina de predição jacques Ruffié Ruffié
7 Economia: da unidimensionalidade à transdisciplinarida René Passet
8 Acess Ac essoo à humanidade human idade em lermos lermo s jurfdk os Mircille Delmas M.uty
Introdução Edgar Morin
ijafc jafc " -* -* ■hu m a no seja ao m e s mo te m po biológico , psicolog psicolog l j, j , u m a i *i i l m a d e f e r r o s e p a r a o c é r e b r o d o e s p ir i r i t o , «? «? t| Íéíi Íéíi du IH IH ituem social. social. Q uise m os re unir aq ui as a s i Ií m uilina» I j iiii t s t i | t in i n r â m u m a s às à s o ut ut r a s . D a m e s m a f o r m a , qm qm . m . . ftibah r-nlic os pesquisadores de sociologia,
i: ..... i m l i:
>lia, a fim de examinar o que podrn.i c ligai «tirts .ju, .ju, ?r en co ntr am elas me sm as em clisjuni,n clisjuni,nu, u, uma s § m i l i i , i ü l r l i z m e n t e , c e r ta t a s i n d is is p o n i h i lil i d a d e s u n o no no s intuito. quf*
um dos aspectos essenciais dessas
j o i i M . l s n
■ IfirfiHt í I h i o para o espírito espíri to que um as das finalidades finalidades da ÍBjljf a <
u m te t e r c on o n s c iê iê nc n c ia ia de d e s ua ua c o nd n d i ç ílíl o h um um a n a ,
i | f y t n úf úf l d o fí f í s i c o , e m s e u m u n d o b i o l óg óg i c o , r m s e u gfti seu mundo social, a fim de que tal comlivflo pos^a | f P g üin; i pecto de nossa pers pectiva educai ioual • > tã
fjBN* levar A consciência da condi(;;l() ]>ai ti< iihit q u e l=| s e . Mui pe ii ift i
i) H
11 0
tl c u m a i d e n t i d a d e t e r r â q U M seio tlc
ilas oii^eiis humanas, eom os apaixnnâflt§§ I p de I lein y I aimley lyeai, paia i lirgat à
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
•
▲
E D G A R M O R IN IN
ocasião para compreendermos que prosseguimos numa grande aventu ra cujo futuro permanece, mais do que nunca, desconhecido. No decorrer da jornada, veremos que não podemos separar unidade e diversidade humanas, e que o indivíduo humano é um sujeito cuja inteligência não pode ser dissociada da afetividade, isto é, desse caráter que que J eanean- Didier idier V incent chama de patético. Por outro lado, a evocação dos problemas de saúde, de medicina g enética de longev idade idade trou trouxe- nos o problema proble ma bast bastante ante neg ligenciado lig enciado da qualidade da vida humana. Não é suficiente sobreviver durante o maior tempo po possível ssível.. O D H E A de E. E. B aulieu aulieu nos nos conv conv ida ida a viver mos até uma idade avançada sem realmente nos tornarmos velhos. T am bém é preciso viv er a vida poeticame nte, e m toda a sua sua inte intensida nsida de, e com tudo o que ela pode oferecer a nosso pathos, a nossas emoções (alegrias, (alegrias, felicidades felicidades inseparáveis da aptidão apti dão ao ao sofr imento). O ensino ens ino tem o dever de integrar essa abertura da reflexão, em consideração dos adolescentes que têm diante de si sua própria vida a enfrentar.
1
Origem e meio ambiente dos primeiros hominídeos Michel Miche l Brunet
As A s ciênc ci ência iass do s éculo écul o X I X mos mo s tr ar a m que qu e nossas noss as r aízes aíze s es tão proIlindamente Ilindamente ligadas ligadas ao mundo animal. animal. O Homo sapiens pertence assim rio ramo dos vertebrados, às classes dos mamíferos, à ordem dos primatíis, à subordem dos catarríneos (macacos do antigo mundo), à superfamllia dos homínidos e à família dos hominídeos... A busca busc a de f ósseis ss eis huma hum a nos no s data dat a da meta me tade de do s éculo écul o X IX . F o i ela que fez nascer em meio à comunidade científica a idéia de um ancestral di' r.i ande capacidade cerebral. Foi assim que se descobriu igualmente o homem de Piltdown, que, graças aos avanços tecnológicos, apareceria milhões de anos. anos.
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
O primeir o pré- humano umano foi de descob scoberto erto em 1924 na Á fr ica do S ul, na pedreira de Taung, numa camada de solo cuja idade foi datada entre 2 e us tr alopit al opithec hecus us afr af r ica ic a nus por 3 milhões de anos. Descrito e nomeado A ustr Dar t, e m 1925, 1925, tra tratata- se do crânio crânio de de uma criança de de aprox imadamente 6 anos, anos, com uma de ntição ntição já bastante bastante huma na e uma morfolog ia craniana compatível com uma posição bípede. Para Dart, não havia dúvidas de que se tratava de um ancestral nosso. Mas tendo em vista sua capacida de cerebral cere bral (500 (500 centímetro s cúbico cúbicos), s), próx ima da dos dos g randes randes macacos, macacos, for am necessá necessário rioss vinte e cinco anos anos para para que Da r t visse aceita a nature za humana da criança de Taung, considerada até então como um maca co pela pela c omunidade científica inter nacional, que estava mais mais intere interessa ssa da no hom em de Piltdow n, o qual, qual, como se viu, não não passava passava de uma tra paça, como se descobriu mais tarde. A par pa r t ir daí, da í, as des cober cobe r tas ta s de homi ho miníd nídee o s antig ant ig os v ão se s ucedei uce dei,, inicialme nte na Á frica do S ul, de dep pois na Áfr ica Or ient al a partir partir de 1959 1959,, us tr alopit al opithec hecus us,, P ar anthr an thr o * A t é hoj e , três tr ês g êner os f or a m r e conhec con hecido idoss : A ustr pus, Ardipithecus. af r icanus ic anus (Dail, Três espécies foram descritas na África do Sul: A . afr 1925), P. robustus (Broom, 1938) e P. crassidens (Broom, 1949). Cinc o f oram locali localizad zadas as na Á frica Oriental: P. boisei (Leakey, 195')). P . aethiopicus (Arambourg e Coppens, 1967), A. afarensis (Johanson t l alii, 1978 (trata-se de Lucy), A r dipithe dipit hecus cus r a midus mi dus (White et alii, 1994) # A . anamensis (Leakey et alii, 1995). Essa Es sa r epar tição geog ráfica é s ingular. O fato fa to de os mais antig os j >i ^ humanos se encontrarem na África Oriental e de que não encontrenm* aí fósseis de grandes macacos levou a imaginar um papel determina»!# do Rift nas primeiras fases da história dos hominídeos (Kortland, De acordo com essa hipótese, nomeada East Side Story p o r C o p p m i (1983), o R if t ter ia s erv ido de separaçã s eparaçãoo entr e um a zona de flore f lore sl.is sl.is .l.l>chimpanzés, densas, localizadas a oeste, e uma zona de habitats d< humanos, um espaço mais aberto, a leste. Entretanto, desde I’’ A badi ba diee , B a r be beau au e C oppe op pens ns des crev cr evem em nia ni a m ífe íf e m s fósseis que te .Ir m u nham a existência, na época Plistocena do Tcliad, dr- paisagem .ulnul;* das e de savanas. Koi aliás no T< had que Yves
A H um a n id a de
1961, o maciço craniofacial de um hominídeo fóssil: Tchadanthropus uxoris, provavelmente próximo do Homo erectus/ergaster. A pa r t ir de 1 9 8 4, a v o nt a de de t e s t ar a hipót hi pót e s e East Side Story levoulevou- me, pois, pois, a inicia in iciarr prog prog ramas de pesquisa pesquisa inte rna cionais ciona is e plu plurid ridisisciplinares, no oeste do vale do Rift. Inicialmente na República dos Camarões, com o programa internacional de pesquisa no Cretáceo cenozóico cenozóico da da Áf rica do oest oestee (PIR C A O C ), que levou, levou, entre entre outras, outras, à descoberta descoberta de f aunas e de de floras floras da época época plistocena. A par tir de 1993, pude pude iniciar iniciar a Mis Mis são Paleoantropológ Paleoantropológ ica Franco- T chadian chadianaa (MPFT ), colaboraçã colaboraçãoo científica científica entre a uni unive ve rs idade idade de de N ’Djam ena , o Centr o Nacional de Apoio à Pesquisa (CNAR), a universidade de Poitiers e o ( :NRS (Centr o Na ciona l da Pesqu Pes quisa isa Científica ) (programa (programa “Pale Paleoo- meio eio«mbiente e evolução evolução dos dos hominíd hominídeos eos ”). A M P F T re úne cerca de de quare quare n ta pesquisadores franceses (das universidades francesas e do CNRS), trtiadianos, africanos do sul, americanos, ingleses, canadenses, espa nhó nhóis, g regos, holan holandeses. deses. TrataTrata- se, ess encialmente, encialmente, de um prog rama de pesquisa multidisciplinar sobre o meio ambiente sedimentar, sobre a flíonomia, o estudo tefrocronológico, a magnetostratigrafia, a biogeoquímica isotópica, os hominídeos, as floras e faunas associadas. A pós c inc in c o c a m pa nha nh a s de c a m po r e aliz al izaa das no erg* do Djourab (flo (flori ri e do T chad), chad), a MP F T descobriu descobriu mais de uma cente na de síti sítios os jpilr jpi lr i Mitológicos Mitológi cos de v erte er tebr brado adoss . A s f a unas una s r ecol ec olhida hidass in dic di c a m idade ida dess das plioce na na passagem para para o per per íodo quater quater ná nário. rio. A té #| itn as miocena e plioce hnjc. os os trabalhos trabalhos da MP F T concen concentraram traram-- se mais mais e specialmente em fimailas que vão de -3 a -5 milhões de anos. Em 1995, um sítio da n gi.in gi.in dr Koro T oro, s ituado ituado a 2.500 quilô quilômetr metr os do Rif t lesteleste- africa africanno, | r#snitcf) r#snitcf)u u- nos, enfim, com a ma ndíbula ndíbula inferior de um australopiteco, australopiteco, 6 pfiinrim conhecido no oeste de Rift Valley. Em homenagem a nosso fôlega c amigo Abel Brillanceau, que desapareceu tragicamente duran te uma de nossas missões na República dos Camarões, esse hominídeo
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
com os os outros outros taxons taxons da Áfr ica Or iental e A ustral mostra que A bel pos pos sui uma associ ass ociaçã açãoo orig or iginal inal de caracteres caracteres primitiv os e ev oluídos oluídos (man (manddíbula encurtada, prépré- molares olares nitidame nte molarizados, molarizados, caninos caninos m uilo assimétricos...). Isso nos levou a considerado como o representante dr uma nova espécie: A ustr ust r alopit al opithec hecus us bahr elg el g hazal haz alii (Brunet et alii, 19%), A f a una un a dos v er tebr te brados ados assoc as sociados iados (peix es, es , r épte épt e is, is , mamíf ma mífee r os ) é com co m patível com uma idade de 3 a 3,5 milhões de anos, o que significa que A be l f o i c o nte nt e mpor mp or âne o de L ucy uc y (A. afarensis), sua prima do leste. Depois, no mesmo setor geográfico, um segundo sítio, de idade pró xima (Brunet et alii, 1997), 1997), pres enteou enteou-- nos nos ig ualme nte c om restos dr australopiteco. Entre a fauna associada, uma quinzena de espécies pôde até agora ser identificada. Trata-se especialmente de peixes: silurifot mes (silu (siluros), percicóideos (percas (percas do Nilo); répteis: duas duas espécies espécies de l.u taruga, uma terrestre e outra aquática; uma serpente do gênero Ikui Linnaeus (píton), um lagarto (o varari*), dois crocodilos Crocodilus (fo< i nho curto) e T omistona (focinho longo); mamíferos: um elefante primi tivo (L. exoptata), um hipopotamídeo, um grande girafídeo (Sivii therium), três bovídeos, um rinoceronte “branco” ( Ceratotherium ) c um cavalo tridátilo (Hipparion ). Essa fauna apresenta muitas simililudrs co m a de Hada r (na (na Etiópia) Etiópia) e seu grau ev olutivo olutivo permite permite-- nos es timai timai ia zoavelmente bem uma idade biocronológica de 3 a 3,5 milhões de ;m
A Humanidade
* * * A descobert descobertaa de A bel be l prova, assim, as sim, que h á 3 a 4 milhõe mil hõess de anos, a nos, a bio diversidad iversidadee dos pré- human humanos os era bem maior ma ior do que que se imag inav a até a té agora. I )e fato, pelo menos três taxons coexistiam nessa época. Agora está claro que a evolução humana é, portanto, muito variada. Abel, com algumas de '■nas características caracter ísticas m uit o huma hum a nas na s (região do do queix o plana pla na e ver tical), tical ), poderia muito bem pertencer a uma linhagem ancestral do gênero Homo, l>rôpria de meios ambientes mais abertos, a partir de 3 milhões de anos. Seja como for, Abel ampliou consideravelmente a área de reparti australopitecos. Sua pres pres ença no T cha d mostra que, m uito uit o ce ceção dos australopitecos. fio , ess essees prépré- human humanos os oc upar upar am um vasto território, indo do cabo da da Bo;i Esperança (África do Sul) ao golfo da Guiné (África do oeste), pas sand sando pela pela Áf rica Or ient al (Malawi, T anzânia, Q uêni a, E tiópia) tiópia) e pela Áf Á f r ica ic a C e nt r a l (T chad). cha d). ^ lissa nova distribuição geográfica evidencia que as concepções das primeiras fases da história dos hominídeos devem ser consideravelmen te irvistas. Nossa história não é somente East Side Story, mas também mostrara- nos que, que, m uito cedo, pelo pelo menos touth e Wes We s t S ide Story Stor y . A bel most l i 4 milhõ milhões es de anos, anos, a história história do do home m é pan pan-- african africana. a.
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN
los ou veados, fazia-se um buraco, uma abertura, retirava-se a membrana obturadora e com comia ia-- se o cérebro com um objeto que servia de de colher. Pode-se reconstituir, portanto, a maioria de suas práticas culinárias e isso sempre graças aos cruzamentos de métodos de diversas origens. M in ha intenção, inte nção, dura nte essa palestra, era mostrarmostrar- lhes lhes a int interdi erdiscisciplinar idade da ciência pré- histórica. istórica.....
Hereditariedade, genética: unidade e divenidade humanas André Andr é Linganey Lin ganey
Gostaria simplesmente de propor algumas idéias que poderiam levar à mudança de um certo núme:o de coisas em nossos sistemas de pensamento e de ensino.
Pr imeira imei ra idéia “Eu, estudante do segundo grau, ser humano, Homo sapiens, faço parte do programa de ensino...” No atual estado dos programas, o estudante não se estuda a si mesmo. mesmo. E isso isso é ex tremamente gravi. T udo aquilo aquilo que pode ajudar a pensar sobre o que somos é tratado apenas de maneira clandestina por tini certo número de ensinamentos. Ora, existe uma história de 100.000 anos que me interessa especialtiimlc, porque diz respeito aos Homo sapiens como vocês e eu. PodeÜln*. defini--la religiosamente, e isso é uma escolha pessoal. Quanto a fllim, ru a defino de maneira laica, o que é uma outra escolha. Mas estatíins Iodos dc acordo para a datação. A partir de 100.000 anos atrás, eles f uinn ui nn .íi m i sei sei iguais a nós, nós, os Homosapiens. E o fato de serem nossos
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
mos pouquíss pouquíss imos resto restos deles; deles; e o que sabemos sabemos de nossa nossa ge nética impli im pli ca também que, nesse horizonte temporal, os humanos descendiam de uma única pequena população, provavelmente uma dezena de milhares de reprodutores, no máximo. Isso dá um recenseamento de aproximada mente trinta mil pessoas como povoação de todo o planeta, algo mais ou menos se melhante co m a população da cidade de Arcueil Arcueil-- V al- de- Marne, arne, O u, mais mais ex e x atamente, podemos podemos dizer dizer que descendemos descendemos de uma espé espécie cie de Arcuei Arcueill- Val- de- Marne arne do paleolí paleolítico tico criada criada e m v olta do do ma r Me ditei râneo. E uma idéia importante, penso, demonstrada atualmente poi meio de técnicas bastante complexas de genética molecular. Temos uma outra história, uma história de 10.000 anos, que é a da época a partir da qual nos tornamos numerosos, passando de algum milhares ou dezenas de milhares para milhões. E isso mudou tudo. I >e fato, se alguém nos trouxer ao Museu do Homem um esqueleto cotn mais de 10.000 anos, será acolhido com grandes pompas, talvez será c<>n vidado para jantar (com nosso dinheiro pessoal, pois não dispomos d# verbas de representação). Mas se você trouxer esqueletos encontrado» em tumbas mais recentes, será mandado de volta com ele, porque 0 tempo todo nos trazem caminhões inteiros desses esqueletos. Não s,il»= mos mais o que fazer deles, porque dos últimos 10.000 anos para cá os humanos torn tornara aram m- se muito numerosos. numerosos. A o inve ntar em a agr icultu icultura, ra, eles eles começa ram a poder se reproduzir muit o mais, mais, tornan tornanddo- se insim insim muito mais numerosos. É uma mudança notável que trouxe inúmera» conseqüências. Uma outra idéia: “Eu, estudante de segundo grau, tenho uma liintârié de 15 anos.” E essa história de 15 anos, desde que papai e mamãe <«une tera te ram m o que o diretor diret or do colég io chama cham a de não sei que deriv ado d< d< ■pr ( n do orig inal, mas mas que pref iro cham ar de outro outro nome , em ter mos l>m l>m| nB| cos, me é contada m uito mal. A história do embrião, a liislói ia do do leio, s história história da criança, criança, como tudo iss oé mal contado... contado... T odas as as
A Humanidade
delinqüente suburbano mesmo morando nos bairros mais chiques da Cidade quando sou um garoto, na verdade, ninguém me conta toda essa história. Ela é uma história sociológica, uma história etnográfica, uma h^tórica cultural, uma história lingüística. Ninguém conta essa história. Isso é algo muito grave.
Segunda idéia “Eu me situo na história da rida, na história da população, na história é>a humanos, na história das sociedades e das culturas...” Seja qual for a história das civilizações passadas, ela é abordada |Hlt is programas, mais cedo ou mais tarde. Mas seria necessário abordáp desde desde a escola escola primária prim ária,, na idade em que se pode apre a pre nder mais coicoi§i« A par tir da 5? 5? série, série, “dan “dan çou”. T odas as inibições inibições f amiliares inter inte r vém, nada mais se pode fazer, os alunos se tornam complexados, o Hfastre está consumado. Ki itão, para que tudo isso possa ser evitado no segundo grau, é preíísii .mtes de mais nada, durante o começo, no primário, na 4? série e Hos um >s v izinhos izin hos,, ter te r feit f eitoo o que se dev devia ia fazer fa zer para r etoma et omarr as coisas coisas no §§(jUti(lo grau.
I* u rira idéia Ummdo um professor trata de uma idéia transdisciplinar, ele não ■ffwjít' tem te m o direito, mas também o dever de não se deter no limite de M ti i úci pl in a e de de mostrar o mesmo mesmo rigor, rigor, tanto na sua disciplina disciplina como na m m u i , i/i/c não é a dele. Exemplo: quando falarmos de história, de geografia ou de biologia | §i hislnu.i dos dos povoamentos humanos , deveremos deveremos obrig ator iamente M m .l.> ^c-in-t -in-t h ,i, ,i, dc ling üística íst ica,, de demog de mog r af ia, de ar queolog queol og ia, be bem m Bfti<) dr histi'm.1
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
Quarta idéia Um mínimo de ciências humanas faz parte da educação de base, da mesma forma que a matemática ou a química, e deve, portanto, ser previs to nos programas de segundo grau. V o u c it a r c o m o e x e m plo pl o a e t n o g r a f ia , q ue c o n t a a c ul t ur a dos outros, especialmente os outros que somos nós mesmos, pois eles vivem hoje conosco, refiro-me a esses descendentes de imigrantes de segunda ou terceira geração que não sabem sequer como viviam seus avós, mas cujo comportamento é diferente do nosso por razões perfeitamente explicáveis. Podemos compreender essas diferenças e viver com elas, quando as conhecemos. Mas quando não as conhecemos, não existe esperança. A etnografia tem pois uma importância fundamental. Mas há muito mais em matéria de ciências humanas. Há também o direito, não somente o direito da sociedade em que vivemos, mas também o de outras sociedades, que deve ser conhecido para que vejamos que nada é absoluto nessa matéria. Seria preciso ensinar as ciências humanas, mes me s mo que, para par a isso, isso, seja necessá necess ário choc chocarar- se contra os sindicatos e .1 inspeção geral, posto que para introduzir coisas novas é obrigatório tirar outras.
Quinta idéia Ensinar precocemente a genética, que é menos complicada qiif <1 % declinações e a regra de três. M in ha ex periência, feita fe ita clande c lande s tinamen tina mente te c om classes classes de 4;' 4;'. m-i íp, mostra que é perfeitamente possível, a partir desse nível, aprendn 1 1 % princípios da teoria da evolução, um certo número de idéias sobic .1 mi gem das populações humanas modernas, sobre o p a r e n t e s c o ent ir .1 J í u guas e sobre os meios para se reconstituirá história recente «In povoa mento de certos continentes... Isso pode fac ilmriitr sei ensinado um? classes de 4:1série, e quando começamos é possível conlimmí clrpnis
A H um a n ida id a de
absurdos absurdos dif undidos por publicaçõ ublicações es como V S D o u ParisParis- Match atch sobre as manipulações genéticas, cidadãos que vão perceber que a primeira das manipulações genéticas é a meiose, isto é, os mecanismos que fabrica ram as células sexuais, graças às quais nossos pais, ainda que involunta riamente, puderam nos conceber. E se pudermos entender bem tudo isso isso,, se se pudermos pudermos compre ender que que a clonag em não passa passa de uma var ia ção animal do enxerto vegetal, estaremos bem menos propensos às idéias fantasiosas que nos são impostas por essas narrativas de ficção científica que nada têm a ver com o estado da ciência.
Sexta idéia m A prende pr enderr o sexo. O sexo é o meca nismo de criação criação e de controle da divers divers idad idade. e. O sexo é a coisa principal na biologia dos organismos multicelulares. Ele trm, portanto, um lugar em todos os níveis da escolarização, de maneitn Iransdisciplinar. Penso que em todas as disciplinas, de todos os pon tos de vista, pois vivemos numa sociedade sexuada, vivemos numa sociedade sexual, e se não ensinarmos às crianças o que é o sexo, ao nir.sino tempo no campo da biologia e no da cultura, fabricaremos cidatlflns deficientes. Desde que começa a passear em seu carrinho, o bebê >tu he a cara” de sexo, simplesmente com as capas de jornais e essas jttiíií jttiíií- ims ims es tr anhas anha s que qu e v e mos nas bancas banc as de revi re vist stas as.. E nã nãoo v e jo o que qu e sp pode fazer para expor menos as crianças às formas mais atenuadas ilr .-.c' problema. É preciso, portanto, compreender o sexo, ele tem um iugui iugui ii.i ii.i escola. escola. Es tou to u me lembr lemb r ando an do ag ora de de certas certas r euniões de com comisi f i e s ( I r programa de biologia em que tentei inculcar essas idéias aos insP> I, iirs dc ensino...
A R E L I G A Ç Ã O D O S S A B E R E S
■
•
▲
E D G A R M O R IN IN
Sétima idéia O cérebro e os hormônios são, em todas as culturas, os determinantes dos comportamentos cotidianos. Os grandes universais são: beber, comer, dormir e contribuir para as gerações futuras. As interações entre essas atividades devem ser explica das de uma maneira interdisciplinar em todos os níveis do ensino. Há um certo número de coisas extremamente simples e claras que devem ser ensinadas às crianças, sobre o funcionamento do cérebro e dos hor mônios e sobre a maneira pela qual as diferentes culturas lidam com o cérebro e os hormônios, às vezes com mais atritos, às vezes com menos. Isso não é muito complicado.
Oitava idéia Em ciência, o desconhecido é mais importante que o conhecido. Em ciência, há muito mais coisas que não se sabe do que coisas que se sabe. Ora, devido a uma espécie de pudor totalmente lamentável, jamai ja maiss se f ala al a das coisas que n ão se sabe. N ão se t e m cor co r ag e m de diz.e-i .e-i isso. Paleontólogos bem menos honestos que meu colega M. Brunet. aqui prese nte, e pré- historiad istoriadores ores bem menos honestos honestos que me u orien tador têm o hábito de contar a hominização ou a vida dos australopitecos como se os ouvintes estivessem presentes no local em que se pas-..r ram os os fatos. fatos. É como uma reportagem do T F 1 * sobre sobre a Copa
A H uma um a nida ni da de
É preciso dizer o que não sabemos. O mesmo se passa com aqueles que contam o Big- Bang Bang como se eles tivessem assistido ao espetáculo. Ciênc Ci ênc ia não é isso isso.. C iência iênc ia é dizer que que o que que se sabe do do Big- Bang Bang é um a hipótese para explicar a irradiação cósmica, hipótese que repousa sobre uma ex trapolação trapolação que, que, em qualquer qualquer outra outra disciplin disciplina, a, em qualquer qualquer outro campo, pareceria escandalosa. Proponho, portanto, que se tire o BigBang dos programas para colocar em seu lugar um pouquinho de ciên cias humanas. Que tal falarmos um pouco das culturas árabes, das cul turas da Cabília ou do Mali? Como é que se vive, o que se come, como são os casamentos nessas sociedades das quais vêm nossos colegas de classe?... I *
Ultima idéia Existe algo de absolutamente essencial que nos é ensinado pelo com porta portamento mento anima ani mal:l: é qu que a aprendizagem aprendizagem resulta resulta unicamente unicame nte do condicio namento. E para condicionar só existem dois métodos: o prazer e a dor. Os dois ,.lo ,.lo indissociá indissociáveis veis.. Es colhi, pessoalmente, sempre que e nsinei, o máx i mo de prazer e o mínimo de dor. Mas acho que esse é um assunto sobre o qual todos os professores deveriam pensar um pouco mais e não somente os professores do segundo grau...